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Jacqueline Santos Magalhães

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Roberto Schima

Roberto Schima

Jacqueline Santos Magalhães Itaberaba/BA

Além do muro

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Me deixei levar por um desvario Kafkiano. Já não aguentava mais! Dias se arrastara contornando prolixos anos, aos poucos tecia uma relação afável. Involuntariamente passara a ser minha fiel e única companhia. Embora não foste anunciada, religiosamente adentrara aos cômodos da casa, silenciosa, calma e pousava-se como um ofício britânico diário. Já se tornara um ente agregado. Confesso que acabei me acostumando e até gostando dessa dissímil afinidade. Logo eu, que fora órfão de afinidades. Já era tarde, dessas tardes de inverno enevoado, neste dia não recebera sua visita, acabei ficando enferma dos olhos, velho ativador reticular. Imediatamente, uma atmosfera soturna submergia o ermo espaço. Após deglutir uma fórmula antiga, adormeci. A sensação revelara período maior. Ao despertar, amarrei meus anseios, retirei minhas aspirações do caixa-forte, somente após consultar meu fiel oráculo, saí à sua procura. Segui em frente, mergulhei ao mais profundo limite oceânico. Não pensei muito, o bastante. A ideia era absurdamente sóbria! De repente num salto célere e preciso pulo, escalei aquele muro. Tinha que fazer algo para acabar com aquela aflição. ─ O que havia além daquelas muralhas? ─ O que havia além daquele perfume agreste e daqueles ares que ofuscavam minha retina? Do outro lado do muro, havia um roseiral, apesar das lindas carolas, o jardim transmitia uma atmosfera abrumada e gélida, estava escuro, mas ainda, dia. Os espinhos das carolas penetraram-me feito flechas bélicas, logo o sangue desaguara como um puro Adan Merlot Malbec ao encontro dos sedentos lábios. Continuei essa jornada fantástica. Fui levada a um portal de um casarão

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arquitetado no próprio jardim, que deva acesso a uma sala ampla, deserta, pobre mobília opulenta. Um negro Steinway, era o anfitrião. Não havia receptividade mais bela. A sala dirigiume sem nenhuma tortuosa viela, a outra afetuosa diminuta área. Continue confiante em busca do meu objetivo alquímico. Finalmente, encontrara, prontamente acessível e voluntária à minha chegada. Subitamente fui tomada pelos seus braços acautelados, nunca sentira tamanha proximidade, confiança. Entreguei-me, não havia estação mais favorável, o chão era o limite do meu carnívoro desejo. Sem cerimônias, aos poucos fui me despindo dos pensamentos obsoletos. Conspícuo momento! Consagrei-o de modo sôfrego! Nunca mais conseguir regressar daquele exímio mundo. Passei habitálo. Abandonei minha vida módica, boemia de enfado. Seria uma descoberta de mim? Ou minha própria morte ideológica escancarada. Não quero mais saber o que há além do muro, que agora refugiei-me. Instale do meu íntimo! Encontro mais que empírico. Fui enlaçada pela Literatura e emancipada na terra dos poetas.

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