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Adriana Manduco

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Roberto Schima

Roberto Schima

Adriana Manduco Brasília/DF

Eu, Mulheres ...Mariana Crioula

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Novembro, 1838 - Rio de Janeiro - Brasil

A economia cafeeira desponta na região fluminense, Vale do Rio Paraíba. A mão de obra escrava corresponde a maioria da população da região. Grandes fazendas crescem e se multiplicam às custas do trabalho forçado de negros e negras, comprados no mercado de escravos, trazidos em navios negreiros sob condições totalmente desumanas. O crescimento financeiro deslumbra os grandes produtores de café que exigem cada vez mais de seus serviçais. Constantes e impiedosos castigos eram imputados aos serviçais, muitas vezes sem motivo algum. Grandes troncos, estrategicamente colocados no pátio das fazendas, serviam como mastro onde escravos eram amarrados e açoitados com um instrumento feito com tiras de couro, até quase a morte. O número de chicotadas eram definidas de acordo com o “delito” do homem ou mulher castigado. Quando uma das mucamas cozinheiras errava o tempero da comida de seus senhores era castigada com bolo, uma espécie de palmatória de madeira, simplesmente com o objetivo de aleijar as mãos das escravas. Caso um escravo se rebelasse ou negligenciasse uma de suas tarefas no plantio do café, era colocado em seu pescoço um colar de metal com pontas salientes, que dificultavam o seu descanso durante a noite. Para o escravo fujão, ou que tentava roubar comida, era imposto o castigo da máscara de ferro que o impedia de se alimentar. Com isso, muitos morriam subnutridos. Em alguns casos, mesmo após os castigos, escravos eram colocados no viramundo: espécie de algemas de ferro que prendiam suas mãos e pés.

Dia 05 de Novembro - Vila de Vassouras – Brasil

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Preocupados com as revoltas de Palmares, Haiti e Malês, os escravagistas tratavam seus escravos com muito mais rigor. Nas fazendas do capitão-mor, Manuel Francisco Xavier, não era diferente. No salão da casa grande, Francisca Xavier, sua esposa, conversa tranquila com Mariana Crioula, sua mucama. Mariana era considerada uma escrava dócil e gentil, por isso, era admirada e protegida por sua senhora. No cafezal e sob um sol escaldante, negros fortes carregam sacas de café recémcolhidos dos inúmeros pés espalhados pela verde montanha. Da cozinha, um delicioso cheiro de broa de milho se espalha por todo o casarão. No galpão, Manuel Gongo, o escravo ferreiro, trabalha com outros seis escravos. No cair da tarde a frágil calmaria é interrompida após um alto barulho de tiros vindos da senzala. Assustada, a senhora Francisca pergunta ao jardineiro: — O que houve? Esses barulhos foram tiros? Também temeroso o velho responde: — Sim, minha senhora! O capataz acaba de matar o escravo Camilo Sapateiro. — Mas, o que fez ele para merecer a morte? — Senhora, pelo que ouvi de um outro capataz, o escravo foi morto sem nenhum motivo aparente. Atenta, Mariana ouve o diálogo de sua senhora. A morte do pobre rapaz causou uma enorme revolta nos escravos da fazenda, crescendo o clima de ódio, sendo este o estopim para um grande levante. Por volta da meia-noite, um grupo de escravos, liderados por Manuel Congo, matam o capataz e arrombam as portas da senzala. Mucamas se juntam a eles, inclusive Mariana. Antes do dia nascer a rebelião se espalhou pelas outras fazendas de Francisco Xavier: São Luis da Boa Vista, Cachoeira, Santa Tereza e Monte Alegre. Cerca de quatrocentos escravos, entre homens e mulheres, embrenharam-se na Serra da Estrela planejando a formação de um novo Quilombo. Manuel e Mariana logo tornam-se os líderes do levante e foram intitulados pelos outros escravos como rei e rainha. Mais que um casal, eles eram guerreiros natos. Juntos, lutavam pela liberdade!

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Quem poderia imaginar que uma escrava de aparência tão frágil e delicada fosse na verdade uma grande e visionária mulher?! Fixaram-se nas matas da Serra da Mantiqueira e iniciaram a montagem de um Quilombo. Com as ferramentas saqueadas das fazendas de Manuel Francisco Xavier, os escravos planejavam iniciar uma plantação para o sustento de todos. As armas serviriam para a proteção do Quilombo. Inconformados, os fazendeiros da região solicitaram à Guarda Nacional que partisse em busca dos fugitivos.

Sob o comando de Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, os soldados localizaram o grupo de escravos. Após a troca de tiros entre a Guarda Nacional e os rebelados, onde dois guardas morreram e outros dois caíram feridos, desencadeou um intenso massacre. Todos os escravos recusavam a se entregarem, desobedecendo a ordem do comandante da Guarda. Cerca de vinte deles são mortos e outros tantos são alvejados por espingarda nas pernas para impedir a fuga. O restante dos escravos largaram suas armas e saíram correndo, desesperados. Manuel e Mariana mantiveram-se firmes. Aos gritos, ela declarava: —Morrer sim… Se entregar jamais! Levados prisioneiros, somente dezesseis negros foram julgados: Manuel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Bengala, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Bengala, Mariana Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Mesmo após a tentativa de linchamento pela população, Mariana e todas as mulheres do grupo foram absolvidas, a pedido de sua dona, Francisca Xavier. Porém, como forma de castigo, ela foi obrigada a assistir a execução pública de seu companheiro, Manuel Congo, o único sentenciado a pena de morte em 04 de

setembro de 1839.

Manuel subiu ao cadafalso no Largo da Forca e foi enterrado como indigente.

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Outros sete homens receberam seiscentos e cinquenta açoites e passaram três anos com um gonzo de ferro no pescoço. Entretanto, o Quilombo de Manoel Congo e Mariana Crioula era a evidência de que os escravos continuariam sua luta contra a escravidão. Mariana é lembrada por seu legado de garra e revolta contra a política de maus tratos, usada pelos Barões do Café. Somente em 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, sendo o Brasil o último país do continente americano a abolir a escravidão. Com isso, cerca de setecentos mil escravos foram libertos de sua humilhante condição.

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