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Dias Campos

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Roberto Schima

Roberto Schima

Dias Campos São Paulo/SP

Mezinha

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Conversava, há pouco, com um amigo ao telefone. A certa altura, perguntei se ele teria alguma dica que me ajudasse a dormir, pois tive insônia na noite anterior e queria garantir uma noite revigorante. Ele respondeu que bastava ir de carona com a sogra ao supermercado. Eu ri, mas insisti no pedido. E ele teimou na resposta; e pediu que prestasse atenção. Esta indicação, faço questão de compartilhar com você, amigo leitor, sobretudo nestes tempos de confinamento, em que rir é o melhor dos medicamentos. Em um determinado sábado, sua sogra teve a ideia de ir visitá-lo pela manhã. Na realidade, o que ela pretendia era rever a filha e o neto, e pedir para que ele a levasse ao supermercado, quando, então, faria dele o seu carregador. Antes de responder, meu amigo resolveu consultar sua esposa com um simples golpe de vista. Mas como ela permanecia de braços cruzados, sobrancelhas levantadas, e com a cabeça levemente inclinada para frente, alternativa não teve senão a de aceitar o pedido, buscando encobrir o sorriso amarelo. No entanto, como não digerisse o terrível ônus de mão beijada, aproveitou a oportunidade para economizar combustível, justificando que teriam que ir com o carro dela, pois o seu estava mais sujo que um utilitário recém-saído de um rali. Partiram logo depois do almoço. Ele foi no assento do carona, pois sua sogra jamais admitiria que dirigisse a sua preciosidade. Só que sua sogra nunca foi uma condutora exemplar. Daí que toda vez que ela cometia uma barbeiragem, além de ter que engolir as frases solidárias que vinham dos outros motoristas, ela ainda teve que aguentar os seus olhares que, vindos de esguelha e acompanhados de um levíssimo sorriso, incomodavam bem mais do que o linguajar alheio. Por óbvio que a alegria se manteve durante as compras, pois sua sogra se esforçava para agir como se nada tivesse acontecido, e ele se desdobrava para não rir a cada vez que trocavam palavras. O retorno não foi menos monótono que prazeroso.

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Sua sogra se despediu em torno das dezenove horas. E se você acha que ela saiu muito tarde, bem mais tarde teria saído se tivesse ficado para o jantar! Quando foi para a cama, ensaiou relatar para a esposa todas as imprudências, imperícias e violações que sua mãe tinha cometido, sobretudo as que foram registradas pelas câmeras do CET. No entanto, como sua esposa estava exausta, e morrendo de sono, o jeito foi deixar o relato para o dia seguinte. Mas como o sono não vinha, resolveu refazer mentalmente a ida e a volta até o supermercado. E a cada vez que se lembrava dos votos de felicidade que sua sogra recebia dos outros condutores, que calculava os pontos que acumularia na carteira de motorista, e que estimava o valor que teria que desembolsar para pagar as multas de trânsito, mais sorridente ficava, mais seu corpo relaxava, e mais sua alma se preparava para uma noite de belos sonhos. Daí foi só virar de lado, e dormir o sono dos justos. Depois de rirmos, eu agradeci a sugestão, mas dela declinei, pois além de gostar muito da minha sogra, era obrigado a confessar que ela dirigia muito melhor do que eu. O jeito seria apelar para os barbitúricos, caso a insônia retornasse. Aconselhou, então, que usasse esses venenos só em último caso, pois sempre ouviu dizer que diminuíam o tempo de vida. Sendo assim, ouso abusar da sua paciência, leitor amigo, e peço uma indicação. Por acaso você sabe de alguma mezinha que me ajude a dormir?

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