LiteraLivre Vl. 5 - nº 27– mai/jun. de 2021
Dias Campos São Paulo/SP
Mezinha Conversava, há pouco, com um amigo ao telefone. A certa altura, perguntei se ele teria alguma dica que me ajudasse a dormir, pois tive insônia na noite anterior e queria garantir uma noite revigorante. Ele respondeu que bastava ir de carona com a sogra ao supermercado. Eu ri, mas insisti no pedido. E ele teimou na resposta; e pediu que prestasse atenção. Esta indicação, faço questão de compartilhar com você, amigo leitor, sobretudo nestes tempos de confinamento, em que rir é o melhor dos medicamentos. Em um determinado sábado, sua sogra teve a ideia de ir visitá-lo pela manhã. Na realidade, o que ela pretendia era rever a filha e o neto, e pedir para que ele a levasse ao supermercado, quando, então, faria dele o seu carregador. Antes de responder, meu amigo resolveu consultar sua esposa com um simples golpe de vista. Mas como ela permanecia de braços cruzados, sobrancelhas levantadas, e com a cabeça levemente inclinada para frente, alternativa não
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teve senão a de aceitar o pedido, buscando encobrir o sorriso amarelo. No entanto, como não digerisse o terrível ônus de mão beijada, aproveitou a oportunidade para economizar combustível, justificando que teriam que ir com o carro dela, pois o seu estava mais sujo que um utilitário recém-saído de um rali. Partiram logo depois do almoço. Ele foi no assento do carona, pois sua sogra jamais admitiria que dirigisse a sua preciosidade. Só que sua sogra nunca foi uma condutora exemplar. Daí que toda vez que ela cometia uma barbeiragem, além de ter que engolir as frases solidárias que vinham dos outros motoristas, ela ainda teve que aguentar os seus olhares que, vindos de esguelha e acompanhados de um levíssimo sorriso, incomodavam bem mais do que o linguajar alheio. Por óbvio que a alegria se manteve durante as compras, pois sua sogra se esforçava para agir como se nada tivesse acontecido, e ele se desdobrava para não rir a cada vez que trocavam palavras. O retorno não foi monótono que prazeroso.
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