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Guilherme Isaac Tomás
Guilherme Isaac Tomás Zambézia – Moçambique Amores Em Vidas Passadas
Ela a estranha, magrinha de cabelos longos de uma cor incerta, e seus olhos eram incomuns de tanto emanar raios luminosos, que a alguns ardia-lhes o coração. Único vestido verde e longo que ao andar esparramava-se pelo caminho todo, era o que sempre vestia. Movia-se agilmente sem dificuldades, alguns até chegaram a questionar se os membros inferiores possuía, porque nunca tropeçava dentro daquele manto de pano que portava.
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Desde menino ouvira relatos que ela não possuía humanidade em seu interior, sua imagem física era apenas um símbolo, a prova concreta que sugava almas que a mantinham em forma. Era só de noite que notava-se sua presença naquelas ruas sólidas de Namarroi, não era comum vê-la de dia desde que a população pedira carta de restrição contra ela nas autoridades, alegando que queriam-na longe de seus filhos. Uma certa vez percebi que preambulava atona pelas ruas, já era meia-noite, a vontade de vê-la pela primeira vez me domou até que cruzei a estrada sem que ninguém percebesse, na verdade crescemos juntos, no mesmo lugar, apenas a conhecera por relatos, os tais que nunca chegaram a se materializar um dia. Vi-a como um vulto verde enorme se aproximar, e me virei de costas, as histórias que ouvira agora me atacavam, gerando-me medo e desconfiança que me fizesse algum mau, tremia e não queria me arrepender. Mas então num gesto ela disse em súplica — Não me fuja!
Portanto nunca percebi a visão das pessoas, quanto à especulações equivocadas que geravam-nas ódio e medo, ninguém nunca tinha-lhe abordado primeiro para conversar ou algo do tipo, nem os ditos autoridades também eram de opinião
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que a mantivessem isolada. A coitada mal sabia o que é ser vilão. Perdera os pais na tentativa de atravessar o rio Licungo, então ela prosseguiu sozinha, desamparada achou moradia no alto da montanha ao meio de cinco rochas grandes e fê-las seu lâr, e descobriu que no seu baixo haviam pessoas, famílias, uma comunidade completa. Assim que tentou fazer contacto, sentiu medo andar ao seu redor, viu pessoas repeliram-se diante de seus olhos, e sem perceber vieram em grupo, os homens cheios de terror, era o ódio que lhes consumia, e baniram-na.
Fiquei pasmo depois que a ouvi falar, voz dela era doce de ouvir. Consternado, perguntei se tinha família, me respondeu que sim, apenas os desconhecia, e mesmo que encontrasse eram poucas as chances de os reconhecer, poderia ser que acreditassem que não sobrevivera no incidente.
Me falou que se chamava Nayra já que os nossos encontros eram constantes, e disse-me que se sentia invasora no meio daquele ambiente, as ruas que frequentava não era apenas uma simples vontade, sentia lá a brisa humana que lhe isentava, a força de Deus que circulava nos arredores protegendo aquelas pessoas, queria se sentir protegida também.
Me convidou para sua casa na próxima vez que nos encontraríamos. Meus amigos sabiam que andava me encontrar com ela às escondidas, fizeram chegar isso aos meus pais, que então vieram, e me olharam com estranheza, talvez se perguntassem aonde é que tinham falhado ao me nascer. Sem demorar, os vizinhos vieram, e o resto da comunidade também veio, se juntaram no pátio da minha casa, gritavam pedindo que mo mostrasse são, que não estivesse revestido pela força do mau, ou pelo contrário aquele seria o meu derradeiro fim e a dela também. Então meu pai, ele que estivera desapontado com meu feito, jurou pela quinquagésima vez, nas almas de seus antepassados, que não pertencia mais seu sangue, ele me olhou como se fosse uma falsidade, a minha mãe, rezava para seus ancestrais e pedia que meu pai se acalma-se.
— Tirem-no para fora !
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As pessoas fora gritavam, segurando tochas, vêlas e até outras fizeram fogueira no pátio. Eu fervia de medo, meu velho, chutava os últimos bodes da casa e partiam-se em pedaços que corriam por toda parte, vendo os estilhaços me ocorreu que fosse aquele o fim da nossa casa, família, que era eu o suposto promotor.
— Ele foi contaminado com a besta. É um deles !
Festejavam por ter pego mais uma, eu era mais um estranho. Já era meia noite, a aquela altura já deveria estar a minha espera.
— Não ouse fazer besteira garoto.
Meu velho não se acalmava, falou quando me viu se levantar, decidido, a mãe despertou de suas rezas e veio até mim aos sobresaltos, preocupada.
— Oque vai fazer?
Segurou meu braço e senti seu cheiro, aquele afago de mãe me fez ter pena correlação as atitudes futuras, olhei para meu velho, queria abraçá-lo forte e dizer-lhe que já estou pronto para ser homem. Num gesto soltei-me dela e me virei de costas, havia uma janela, aquela que usara anteriormente indo para os encontros, a havia deixado preparada em caso deste tipo de emergência, me lancei nela e cai fora. Corri pelas esquinas afora cuidadosamente para não ser flagrado, e vi que não havia ninguém sobrando pelas casas, nem os bêbados, nem os mendigos, haviam se reunido todos em casa. Curvei e a vi logo que cheguei, estava debruçada sobre si, chorando.
Levantou-se depois que ouviu-me chegar aos rastros, me olhou e sorriu aliviada, preocupada percorreu seus olhos mágicos cautelosamente por todo meu corpo me revistando, para se certificar que não estava machucado. Assenti para ela que estava bem.
Não demoramos muito e partimos, para em sua casa no rochedo não fomos, sabíamos que chegariam lá em patrulha a qualquer instante. Depois que caminhamos uma certa distância segura, olhei para ela prosseguir incansativa e me senti victorioso, a abracei e prometi que acharíamos nossa própria família em breve.