LiteraLivre Vl. 5 - nº 27– mai/jun. de 2021
Guilherme Isaac Tomás Zambézia – Moçambique
Amores Em Vidas Passadas Ela a estranha, magrinha de cabelos
Uma
longos de uma cor incerta, e seus olhos
preambulava atona pelas ruas, já era
eram incomuns de tanto emanar raios
meia-noite, a vontade de vê-la pela
luminosos, que a alguns ardia-lhes o
primeira vez me domou até que
coração. Único vestido verde e longo
cruzei a estrada sem que ninguém
que
pelo
percebesse, na verdade crescemos
caminho todo, era o que sempre vestia.
juntos, no mesmo lugar, apenas a
Movia-se agilmente sem dificuldades,
conhecera por relatos, os tais que
alguns até chegaram a questionar se os
nunca chegaram a se materializar um
membros
dia.
ao
andar
esparramava-se
inferiores
possuía,
porque
certa
Vi-a
vez
como
percebi
um
vulto
que
verde
nunca tropeçava dentro daquele manto
enorme se aproximar, e me virei de
de pano que portava.
costas, as histórias que ouvira agora
Desde menino ouvira relatos que ela não possuía humanidade em seu interior, sua imagem física era apenas um símbolo, a prova concreta que sugava almas que a mantinham em forma. Era só de noite
me atacavam, gerando-me medo e desconfiança que me fizesse algum mau,
tremia
e
não
queria
me
arrepender. Mas então num gesto ela disse em súplica — Não me fuja!
que notava-se sua presença naquelas
Portanto nunca percebi a visão das
ruas
pessoas,
sólidas
comum
vê-la
população
de de
pedira
Namarroi, dia carta
desde de
não que
era a
restrição
quanto
à
especulações
equivocadas que geravam-nas ódio e medo,
ninguém
nunca
tinha-lhe
contra ela nas autoridades, alegando
abordado primeiro para conversar ou
que queriam-na longe de seus filhos.
algo
do
tipo,
nem
os
ditos
autoridades também eram de opinião
102