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Aldenor Pimentel

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Teresa Azevedo

Teresa Azevedo

Aldenor Pimentel Boa Vista/RR

Deus para presidência

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Depois de uma cassação, duas renúncias e um impeachment, a instabilidade política instalava-se no País. O povo saiu às ruas novamente por mudanças. Uma sensação e um grito ganhavam corpo, em meio àquele misto de indignação e desesperança: de que só Deus poderia resolver aquela situação.

Os grandes líderes da República, de todas as tendências partidárias e ideológicas, decidiram se reunir e atender ao clamor das ruas: conduziram, por unanimidade, Deus para presidente. Não havia nome mais oportuno: Ele gozava de popularidade e era relativamente bem quisto ou, pelo menos, tolerado pela maioria, da ala mais conservadora à mais radical.

Deus impôs uma condição: só assumiria por vontade soberana da totalidade da Nação. E assim foi: a voz do povo foi a voz de Deus. E Ele, enfim, ostentou no peito a faixa verde-amarela. Em seu discurso de posse, que mais pareceu um sermão, da montanha, bradou que ao, ouvir o clamor do seu povo oprimido, desceu para libertá-lo. Mas garantiu que não faria milagres, para a frustração de muitos.

Em seus primeiros dias de governo, impôs medidas paliativas: deu pão a quem tinha fome, remédio aos enfermos e casa aos desabrigados. Pelos corredores, os críticos chamavam-no de populista, mas as pesquisas de opinião apontavam que a aprovação do seu governo batia os 100%.

Com o tempo, vieram as primeiras medidas controversas: baixou os impostos e foi acusado de afugentar o capital estrangeiro; diminuiu o número de comissionados e o chamaram de perseguidor dos trabalhadores; quadriplicou o valor do salário mínimo e logo disseram que Deus arrombara de vez a Previdência. Ele também aumentou sobremaneira o valor real do investimento em

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educação para a vida e a saúde preventiva, ampliou os direitos trabalhistas, cortou as regalias de políticos, fez a reforma agrária e ajustou a distribuição de renda no País.

Os opositores até deixavam passar serem chamados publicamente de víboras ou vacas de Basã, mas achavam que Deus já estava passando dos limites quando começou a pôr em prática medidas que combatiam a corrupção de forma efetiva. “Quem ele pensa que é?” – Perguntavam alguns. “Só porque é Deus, acha que está acima de todas as coisas?” – Questionavam outros. Ora, corrupção é a engrenagem que faz o País girar. Eliminá-la significaria mandar para a rua milhões e milhões de pais de família.

Daí, os principais meios de comunicação do País, em sua maioria, sob a batuta de políticos e seus aliados, passaram a fazer duras críticas ao governo. Culpavam-no por chuvas intensas, tornados e tempestades de raios, enchentes e deslizamentos de terra, seca e incêndios florestais, abalos sísmicos, desertificação, epidemias e pragas agrícolas.

Do dia para a noite, Deus já não tinha apoio da população, muito menos base política que garantisse a sua governabilidade. Os índices de aprovação popular do governo caíam a 0%. O povo voltava às ruas. A oposição exigia renúncia. Deus disse ‘não’ e que jamais faria alianças sórdidas. Contrariado, o Congresso se reuniu às pressas, depôs o presidente, deu golpe de Estado e descansou no sétimo dia.

http://artedealdenorpimentel.blogspot.com.br

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