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Maria Pia Monda

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Teresa Azevedo

Teresa Azevedo

Maria Pia Monda Belo Horizonte/MG

Atraso

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O trem para Paris-Bercy está atrasado; um atraso que, conforme a diferença entre o horário planejado e aquele agora indicado no painel eletrônico, ultrapassa duas horas. Mas, para Matilde, Paris é apenas o nome de uma cidade que fica a bilhões de passos e de dias de distância do dia em que, talvez, ela poderá visitá-la. No entanto, ela morde seus lábios. É justo esperar por alguém que talvez não tenha vontade de chegar? Trinta e sete minutos se passaram, quantos ainda faltam é uma incógnita e, parada como um emplastro diante do quadro de embarques e desembarques, ao lado da escada de acesso ao metrô, Matilde olha para o relógio, depois dá dois passos, então volta a controlar o relógio. As palavras anotadas na estação são móveis como uma fita de escadas rolantes, que parece subir de um pensamento ao outro, mas que, na verdade, roda em vão. Ela repõe a caneta e o caderno na bolsa e começa a fantasiar com os estranhos que lhe passam, indiferentes, ao lado. Um homem, que seria perfeito em um papel de príncipe azul, a ultrapassa, ignorando-a. Não distante, onde se abre uma das enormes saídas da estação, quatro fumantes consomem seus cigarros perto dos cinzeiros. Matilde também quer fumar, mas recentemente apagou o último cigarro e sufoca o instinto de ir comprar outro maço, mordiscando o que sobrou das unhas.

Do i-pod, o som de um violino translitera em chave dramática algo que provavelmente, mais tarde, lhe parecerá muito cômico.

Está ciente que deveria ouvir músicas mais alegres, por isso, tira os fones de ouvido, desliga o aparelho e decide manter o ritmo apenas na respiração. — A questão não é essa. Vou pegar um táxi e daqui a pouco a gente pode discutir ...

… Cara a cara. A frase terminaria assim, Matilde tem quase certeza, embora o ruído de fundo e o distanciamento progressivo do homem, com o auricular na orelha direita e a alça da pasta

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agarrada na mão esquerda, tenham lhe impedido de ouvir o fim da frase. Quem sabe quem ele era, de onde veio e para aonde ia, pergunta-se Matilde, persistindo em um dos seus passatempos preferidos. Capturar trechos de conversas alheias, imaginar as histórias que, escondidas como icebergs em baixo da superfície da estranheza, se delineiam, graças a palavras que, como pontas afiadas, cortam o gelo de sua desatenção, é o jogo com o qual ela gosta de passar o tempo, quando a sensação de abandono se torna muito pesada. Mas ela não foi abandonada.

Entre trinta e sete e cinquenta e seis, há mais dezenove minutos de atraso. É justo esperar por alguém que talvez não tenha nenhuma vontade de chegar? Matilde deveria ir embora, mas fica parada e olha primeiro para a própria blusa e depois para a saia, refletindo sobre o quão curta é a distância entre o rosa e o preto, e viceversa.

E sobre o quão seria fácil dar as costas e ir para casa, sem sentir nenhum arrependimento. Mas ir embora é um ato de covardia. Para cair fora, basta aproveitar a oportunidade. O que é difícil mesmo é ficar. E Matilde sempre escolhe a opção mais difícil.

Entretanto, a vontade de fumar se tornou uma presença hostil. Um dia como este não pode ser romântico. Um dia como este começa com um sorriso, depois se torna triste e enfim só deixa uma vaga lembrança daquele sorriso inaugural. Mas se não fosse assim?

Ela decide escrever novamente. A emoção de uma nova página, toda em branco, é minada pela plenitude daquela anterior. Tem uma pena, mas não tem tinteiro e um velho acalanto bagunça suas memórias.

Matilde escreve duas linhas e, em um momento, o momento é o seguinte ao anterior. Parece não haver diferença, mas a fratura, patente apesar de uma costura forçada e sumária, é um abismo. Amanhã, talvez já daqui a pouco, tudo isso será uma lembrança. O pior é aceitar que daqui a pouco pode ser um prazo infinito.

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