LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Maria Pia Monda Belo Horizonte/MG
Atraso O trem para Paris-Bercy está atrasado; um
Um homem, que seria perfeito em um
atraso que, conforme a diferença entre o
papel de príncipe azul, a ultrapassa,
horário planejado e aquele agora indicado
ignorando-a.
no painel eletrônico, ultrapassa duas horas.
Não distante, onde se abre uma das
Mas, para Matilde, Paris é apenas o nome de
enormes
saídas
uma cidade que fica a bilhões de passos e
fumantes consomem seus cigarros perto
de dias de distância do dia em que, talvez,
dos
ela poderá visitá-la.
fumar,
cinzeiros. mas
da
estação,
Matilde
também
recentemente
quatro quer
apagou
o
último cigarro e sufoca o instinto de ir
No entanto, ela morde seus lábios. É justo esperar por alguém que talvez não tenha vontade de chegar? Trinta e sete minutos se passaram, quantos ainda faltam é uma incógnita e, parada como um emplastro diante do quadro de embarques e desembarques, ao lado da escada de acesso ao metrô, Matilde olha para o relógio, depois dá dois passos, então
comprar outro maço, mordiscando o que sobrou das unhas. Do i-pod, o som de um violino translitera em
chave
dramática
As palavras anotadas na estação são móveis como uma fita de escadas rolantes, que parece subir de um pensamento ao outro,
que
provavelmente, mais tarde, lhe parecerá muito cômico. Está ciente que deveria ouvir músicas mais alegres, por isso, tira os fones de ouvido, desliga
volta a controlar o relógio.
algo
o
aparelho
e
decide
manter o ritmo apenas na respiração. — A questão não é essa. Vou pegar um táxi e daqui a pouco a gente pode discutir ...
mas que, na verdade, roda em vão. Ela repõe a caneta e o caderno na bolsa e começa a fantasiar com os estranhos que
… Cara a cara. A frase terminaria assim, Matilde tem quase certeza, embora o ruído
lhe passam, indiferentes, ao lado.
de
fundo
e
o
distanciamento
progressivo do homem, com o auricular na orelha direita e a alça da pasta
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