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Charles Burck
Charles Burck
Rio de Janeiro/RJ
A ovelha-fera
Eu vejo a fera num dia de repouso, Eu sou como a loba
Limpando e afiando os dentes,
Um olhar condescendente às ovelhas que parem e se alimentam no campo
Estou cansado dos rebanhos e das pastagens sem flores
Eu fiz tantos filhos sem pais, e frutos do meu amor por mim mesma Eu tenho frutos maduros não ofertados
Amor sem leis e sem regras dispostas nos cenários que pintei
Enquanto as nossas feras descansam eu posso falar de amor
Ser como as outras quaisquer pessoas, gente do povo, o coletor de centeio cabisbaixo, o poeta admirado com seus versos fazendo festa no ar
Dizem que as ovelhas vivem à espera dos lobos,
O destino fatal implantado nos olhos mansos
Enquanto o grito não morre nos lábios, vivo da intenção, do som dos arados rasgando a terra, e do serrilhado dos dentes sendo afiados,
Afasto os cabelos dos olhos para ver mais longe
Recolho as sementes plantadas e me alimento do medo dos sorrisos nervosos,
A linha divisória foi violada, a fronteira do curral remarcada a arena está aberta a todos
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Da minha boca atrevida flui ao desejo da loba
O manejo das friezas caninas, as presas rangidas e os delírios para saciar sua sede natural
Somos nós os odores dos medos de crescer e ferir, mas rugimos esgares estranhos a nós,
Somos nós do rebanho e da casta, o pastor atacado pelos dentes das ovelhas,
Rio ainda porque minha mente é hábil, busco os cantos a apreciar o que sou, observo, admiro o gosto da surpresa, o arregalo dos olhos, o sangue correndo todo para o cérebro
Dou asas aos meus sustentos, e aprendo com os ventos sobre os voos, me atiro em voos cegos e profundo
Quem souber sobre os voos solitários me siga
Eu sou como a loba. No cenário que se abre na noite
Luz rasgando a escuridão e ela nua, sentada sobre a lua
Gemendo, gozando
Quem será que a desafiará?