LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Charles Burck Rio de Janeiro/RJ
A ovelha-fera Eu vejo a fera num dia de repouso, Eu sou como a loba Limpando e afiando os dentes, Um olhar condescendente às ovelhas que parem e se alimentam no campo Estou cansado dos rebanhos e das pastagens sem flores Eu fiz tantos filhos sem pais, e frutos do meu amor por mim mesma Eu tenho frutos maduros não ofertados Amor sem leis e sem regras dispostas nos cenários que pintei Enquanto as nossas feras descansam eu posso falar de amor Ser como as outras quaisquer pessoas, gente do povo, o coletor de centeio cabisbaixo, o poeta admirado com seus versos fazendo festa no ar Dizem que as ovelhas vivem à espera dos lobos, O destino fatal implantado nos olhos mansos Enquanto o grito não morre nos lábios, vivo da intenção, do som dos arados rasgando a terra, e do serrilhado dos dentes sendo afiados, Afasto os cabelos dos olhos para ver mais longe Recolho as sementes plantadas e me alimento do medo dos sorrisos nervosos, A linha divisória foi violada, a fronteira do curral remarcada a arena está aberta a todos
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