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Edgar Borges
Edgar Borges Boa Vista/RR
Sobre #TBTs, fotos e despedidas
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Quinta é dia de publicar fotos antigas nas redes sociais. É o dia do #TBT, quando todo mundo se sente autorizado pelos amigos virtuais a abrir e compartilhar o conteúdo de seus baús digitais. Fiz isso dia desses e publiquei no facebook e no instagram uma foto do tempo em que cursava o ensino médio na escola estadual Gonçalves Dias, o GD. Nessa época, em Boa Vista, Roraima, os fotógrafos iam na escola, batiam as fotos das turmas, expunham as cópias na vidraça da diretoria e quem quisesse pagava para ter a sua cópia. Eu quis. Apareço nela com o cabelo bem alto no topo, como se fosse um cantor sertanejo. Não era, mas na primeira metade dos anos 1990 tudo se permitia em relação aos cortes. Essa foto me rendeu depois um namorico: Karla, uma menina que havia conhecido em uma festinha meses antes, me reconheceu na imagem e me contatou pelo telefone convencional da casa dos meus avós (talvez o tenha obtido através de outra pessoa na foto). Marcamos, nos agradamos e ficamos várias vezes. Ela morava na frente da praça do bairro Aparecida, na casa dos tios, a uns 10 minutos de bicicleta. O namorico só não foi mais pra frente porque, no meio duma ligação, a gente discutiu um pouco e, para me despedir e deixar esse papo para outra hora, falei “adeus” achando que estava dizendo “depois te ligo”. Ela, meio espantada, ainda perguntou se era isso mesmo, eu estranhei que ela não entendesse e mantive o meu adeus. Karla não me ligou no outro dia e eu era muito orgulhoso nesse tempo, coisas de jovenzinho sem noção. Por isso, também não liguei de volta e ficamos assim, terminando nosso romance sem terminar. Depois disso, só lembro de tê-la visto uma única vez; eu dentro de um ônibus, ela
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esperando a sua vez de embarcar em outro. O engraçado da história é que na festinha em que nos havíamos conhecido eu havia gostado mais da prima dela, com cabelos castanhos e um par de olhos claros daqueles que sempre me fizeram perder a razão. Voltando ao telefonema do adeus: somente anos depois, em um estalo de sabedoria, compreendi que havia feito a tradução errada em minha jovem cabeça ainda muito cheia dos conceitos e dos usos das palavras em espanhol, minha língua materna e que até uns dois ou três anos antes era o meu idioma principal quando morava na Venezuela. Nessa epifania, entendi que "adiós" (adeus, na tradução literal), nunca será “até logo” em português. Entendi também que não é para sumir do nada quando se termina um romance. Pelo menos um “até aqui fomos” tem que rolar.
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