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Regilene Martins

Regilene Martins Fortaleza/CE

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O dia de sábado foi de um sol escaldante, mas à noite seria bastante gélida. Ainda assim, Rubênia decidiu-se trajar em desacordo ao evento nessa noite.

Como era um encontro de oração na casa de um jovem no bairro de sua comunidade, não via problemas em usar um macacão de sarja preto feminino pantacourt de cintura marcada. Afinal, o acessório principal ela tinha para o momento: o terço.

Chegando lá, os participantes do grupo de oração Pequena Via na sede em Gereraba falavam que ela estava muito elegante, que não precisava estar toda produzida para um simples evento.

Um pouco incomodada com o falatório, apenas cumprimentou-os num simples acenar de cabeça. Mal sabiam que a garota pouco estava desapontada em não ter usado a velha camisa do grupo e jeans.

Em se tratando de desacordo, Rubênia só estava assim por não ter usado algo a mais para suprir o frio, e não era aquele tipo de peça jovial.

Como estavam esperando duas pessoas para dar início à oração, os jovens dividiram-se na sala e foram arrumando o espaço.

Os retardatários não chegavam, e os participantes começaram a falar de forma aleatória naquela saleta.

Dois estavam conversando sobre futebol, três dialogavam temática de tatuagens do momento. Quatro comentavam de seus namorados. Tinha até gente que falava de produção de mel de abelhas sem ferrão.

Nesse momento, chega um dos atrasados e começa a falar de carros com os garotos que diziam o que achavam das disputas de rachas/pegas.

Ela era a única que não tinha o que conversar e nem com quem dialogar. Simplesmente ficou sentada no sofá da sala, em frente à televisão que disputava barulho.

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Fingiu que estava vendo a novela das dezenove em um canal popular. Assim, ninguém precisava incomodá-la e a deixariam só.

Queria sair dali. Não aguentava estar com pessoas que se importava com seu traje, pouco suportava aquele tipo de programação televisiva, e, definitivamente, não aturava esperar gente que nem dá satisfação ao atrasar.

A ponto de levantar do sofá e dar uma desculpa ao dono da casa para não participar do terço, eis que a pessoa que faltava chega: Carlos, garoto que Rubênia almejava interesse.

De repente, não teve mais vontade de fugir. Carlos estava também com um traje formal. Cumprimentou todos. Pediu desculpas pela demora que teve e caminhou até Rubênia.

Ele ficou sentado ao lado dela. Agora, poderiam prosseguir com a oração.

No meio do terceiro mistério, o garoto deu um sorriso empolgante, olhando firme para ela.

A garota ficou no mesmo instante com um diferente semblante.

Todos foram indo embora ao término do evento. Quando Rubênia estava saindo do local, sentiu um puxar de leve no braço esquerdo. Era Carlos que ao tocá-la, disse que precisava conversar.

Ali, o garoto confessou que gostava da jovem, que só perto dela ele não precisava forçar encaixe.

Nesse instante, Rubênia puxou Carlos para um abraço e também desabafou em pensamento: “Nossas peças de quebra-cabeças se encaixaram".

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