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Roque Aloisio Weschenfelder

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Rodrigo Leonardi

Rodrigo Leonardi

Roque Aloisio Weschenfelder Santa Rosa/RS

Na Rede

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O dedo apontado aos outros pesa na mão que o sustenta, mas é o indício de que há uma posição assumida. Assumir a defesa de um lado quando há outro –e sempre há – requer certa coragem de uma pessoa, que nem sempre está acostumada de ter de acusar, condenar e ter certeza de que está correta.

Nem sempre a posição que se assume é a correta para uma parte da cidadania que se coloca no oposto.

Por que isso acontece?

Há o futebol, há a política, há a religião, há a filosofia, há o “puta que pariu” para servirem de exemplo à bifurcação de opiniões. Tem quem defende respeito à decisão de ser homo ou heterossexual, mas tem aqueles que simplesmente nem querem ouvir falar disso.

O ser humano sempre vive em conflito, seja consigo mesmo ou com seu semelhante. Difícil é resolver o íntimo, mais complicado é aceitar a opinião alheia. Nos anseios mais anímicos sempre pode haver uma força para vencer, ou então a depressão chega e toma conta da pobre mente que sucumbe ao próprio pensar. No confronto com a opinião alheia, o furo é na mesma altura, todavia uma eterna rusga pode se instalar para sempre, ódio consegue pode destruir até uma boa amizade instalada.

No advento das redes sociais, parece haver um agravamento dos sintomas de enervamento das relações pessoais. Se Neimar se torna cai-cai e chacota é porque o time acaba não vencedor, se os messis e cristianos não conseguem sucesso nas suas seleções é porque há outros que desafiam a fama e jogam em conjunto e com a devida humildade. As redes têm assunto e cada integrante ou curte ou detona a opinião expressa. De repente, o que, nunca, ninguém sabia, todos, agora, dominam como verdadeiros experts. Há graça nas postagens, porém muita ironia é mal percebida, pouco entendida e quase sempre tida como afronta.

Enquanto isso, aparecem os escritores. Sim os escritores do século XXI que pouco leram em livros, que são fruto de uma midiática parafernália de entes criados para o domínio de índices de audiência, para a imersão das mentes em uma miscelânea totalmente turva, pela qual a mente pensante é reprimida ao mínimo esforço. Pobres escritores seguidores de pistas espúrias direcionadas!

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Na esteira de uma frase meramente dispersiva, muita serragem cai dos cortes da madeira podre que serve de matéria prima para a produção escrita. Seria literatura? Seriam “esses que aí estão para atravancar o caminho”? Seria “passarinhos”? Não parece nada disso. Literatura é criação baseada em muita leitura aprofundada. Atravancar caminhos só o conseguem aqueles que têm estrelismo demais e moral de menos. O que é moral em tempos de fácil acesso a tudo que é conhecimento? Sim, é fácil acessar ao conhecimento, no entanto, sem a orientação de algum mestre, facilmente o buscador do conhecimento se empanturra de muitos dados sem saber direito o que fazer com eles. Então o ser passa a ser escritor. Escreve sem dizer coisa com coisa, filosofa por citações sem sequer entender que todas as teorias têm fraquezas, todas as hipóteses devem ser testadas e teses são suscetíveis de falhas.

De repente, ser estrela parece importante para quem se aventura pela escrita. Tão importante como assumir um lado, lado contrário à posição de uma grande parcela que está do outro lado. Deve o escritor ter lado? Lógico que deve. O importante é que tenha consciência do que causa aos de opinião diferente. Se ele defende a posição com respeito à opinião diferente, então está do lado certo, diferente, sempre estará errado.

Então a crônica situação da quase terminante segunda década do século XXI, pode quase virar uma crônica, produzida por alguém que não ignora as redes da grande rede que pesca peixes de tudo que é mar ou rio, mas que deseja manter a posição de respeito a quem pensa diferente. Assim, a crônica pode ter um começo na mente do leitor.

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