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Neila Reis

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Rosangela Maluf

Rosangela Maluf

Neila Reis Feira de Santana/BA

Preciosa e Perigosa

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Safira nascera com nome de pedra preciosa, uma das mais caras do mundo, mas sua vida não foi nem um pouco fácil. A mãe a criara sozinha, se esforçando em dois empregos como diarista para poder dar o mínimo de dignidade a sua pequena e frágil menina. Safira cresceu bela, pequena e com um ar frágil de menina sonhadora mas também sofrida. Sonhava com príncipes encantados e com romances.

Conseguiu uma bolsa e fez o curso de cuidador de idoso e sua vida pareceu ganhar nova luz, quando o milionário septuagenário, o senhor Antoniel, a contratou para ficar com ele na sua mansão. Apesar de diabético e hipertenso, ele não apresentava nenhuma incapacidade, era bemhumorado e ativo. Precisava de alguém para lhe fazer companhia e lembrar da hora dos remédios. Ele vivia em uma casa linda com um cozinheiro e o motorista apenas, sempre preferira a companhia de homens, mas ultimamente estava pensando em ter um ar mais feminino dentro de casa. Não tinha filhos ou netos, sua esposa e único filho morreram de câncer anos atrás e a aparência doce e fresca da cuidadora com nome de pedra preciosa lhe causou boa impressão.

Nos primeiros três meses tudo correu bem, a cuidadora Safira era atenciosa, competente e educada. Suas histórias de vida eram simplórias e um tanto tristes, e isso despertou em Antoniel uma vontade de cuidar daquele passarinho indefeso. Tomado de coragem a pediu em casamento e para seu encanto, ela aceitou prontamente.

A vida correu bem para o casal, mesmo com os olhares desconfiados, a agora senhora Safira era devotada ao marido, que a chamava carinhosamente de “ minha preciosa companheira”. Até que ele teve um

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mal súbito e tiveram que chamar um médico às pressas no meio da noite.

Dr.Diógenes era um homem alto e muito simpático que atendeu prontamente o chamado. Ao avaliar o paciente, verificou que era apenas um mal estar leve, mas seus olhos se encantaram com a jovem e bela esposa. Procurando ter certeza que o paciente estava bem e buscando um motivo para ficar mais algum tempo perto daquela mulher encantadora, passou alguns exames e agendou nova visita para avaliação.

O interesse de Safira por Diógenes foi recíproco, era como se um raio atravessasse seu corpo numa mistura de êxtase e fogo. E logo o casal tornou-se amante. Procuravam manter a discrição e ela aconselhou o marido a contratar os serviços daquele médico tão educado, o que foi prontamente aceito.

Antoniel era bondoso com Safira, lhe dera uma vida confortável, mas lhe faltava desejo e calor, e isso ela conseguia finalmente obter com aquele médico jovem e voraz. O casal queria ficar junto o tempo todo, não conseguiam se afastar por muito tempo. Sentiam que era amor o que sentiam um pelo outro, mas que o destino pregava um peça nos seus corações.

Por coincidência, a saúde de Antoniel piorou muito depois daquele mal súbito, mesmo com a atenção prestimosa da esposa e do médico, que agora lhe fazia visitas diárias, o idoso estava cada vez mais debilitado e recluso. Seu corpo não atendia mais a seus comandos e sua mente lhe pregava peças.

Os outros empregados tentaram convencê-lo a ir para o hospital, mas a fé na sua dupla de cuidadores e a aversão ao cheiro do hospital o fez acreditar que era melhor estar em casa. Algumas semanas depois, ele descansou placidamente no seu leito sob o olhar atento de seu médico e segurando a mão da sua jovem e bela esposa.

Safira foi uma viúva inconsolável no princípio, chorou copiosamente a perda de seu marido, chegando a passar mal depois do velório, o que levou a necessidade de atendimento médico e de um período considerável de repouso. Inclusive lhe foi aconselhado uma viagem para espairecer a mente e lhe trazer mais alegria, pois poderia até mesmo ter

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depressão devido à saudade de seu amado marido morto.

Para diminuir seu sofrimento, resolveu doar os pertences de seu falecido, mandando tudo para a caridade. E estes remédios aqui? Perguntou um dos empregados. — Deixe-os comigo, são lembranças de meu pobre marido - disse chorosa e levemente pálida. — Até estes frascos de insulina? Não é melhor jogá-los fora logo?

Sem responder nada, tomou o frasco da mão e o apertou contra o peito, depois de alguns minutos falou tristemente - a insulina me traz lembranças dele, todos os dias eu pessoalmente lhe aplicava duas vezes...meu pobre Antoniel...olho para este frasco e lembro de você...

Naquela noite, Safira e Diógenes embarcaram em um navio de cruzeiro, ela precisava descansar um pouco em boa companhia.

Quando as luzes da cidade ficaram distante, ela se dirigiu a borda do navio pensativa. — Preciso ficar um pouco só para pensar...

Quando Diógenes se afastou, ela retirou do peito o frasco de insulina e jogou no mar..era somente água mesmo.

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