Nas ruas de Brasília, famílias fazem a caixinha do fim de ano
+ DESAFIO
TT Catalão propõe: vamos reinventar nossa cidade
U
Querem mudar o tamanho do DF
N°
10 Ano 1 | Fevereiro 2012 | www.meiaum.com.br
+ PEDINTES
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O JE
ESCRE
Nテグ
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EITO DE
EVER REPORTAGEM
É O MESMO Mas os princípios do bom jornalismo permanecem. Apuração
benfeita, compromisso com a informação, criatividade e respeito à língua portuguesa não ficam ultrapassados. Na internet ou no papel, produzimos o conteúdo de que você precisa para se comunicar com o seu público. Textos e imagens. Revistas customizadas. Boletins. Livros institucionais. Ou o que você inventar.
SHIN CA 1 Lote A Sala 349 | Deck Norte Shopping – Lago Norte Brasília/DF www.editorameiaum.com.br | 61 3468.1466
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Papos da Cidade
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Natal
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Artigo – Alberto do Carmo Brasil, o país que ignora a saúde mental
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Artigo –Aldo Paviani As crises das metrópoles brasileiras
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Conto – Hanna Xavier Ferreira
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Perfil
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Fora do Plano
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Caixa-Preta
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TexTTo – TT Catalão
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Arte, Cultura e Lazer
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Banquetes e Botecos
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ÍNDICE
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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília
Quem são e como vivem as pessoas que passam o fim do ano nas ruas da capital
De um tempo pra cá, ele começou a desejar ser vento
Noelle Oliveira tem uma má notícia sobre o Estádio Nacional
Precisamos reinventar a brasília que ainda existe no pulso inicial
Capa
Quatro propostas para alterar o território do Distrito Federal
As lições de Pézin, da borracharia 24 horas perto do autódromo
Luiz Cláudio Cunha conta o caso de um sobrevivente da ditadura argentina
Os destaques da programação da cidade
Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é
Na internet, nem tudo é o que parece ser. Acompanhe as atividades dos seus filhos na internet. Sites de jogos, redes sociais e comunidades podem esconder adultos que usam falsos perfis para aliciar crianças e adolescentes para a pornografia ou a violência sexual. Fique atento. Relacionamentos virtuais podem levar a problemas reais. Denúncias online: www.disque100.gov.br
Disque
DISQUE DENÚNCIA NACIONAL DE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Aldo Paviani
pág. 38
Gaúcho, é geógrafo com doutorado em Geografia Urbana (UFMG) e pósdoutorado na Universidade do Texas. Transferiu-se da Universidade Federal de Santa Maria (RS) para a UnB em 1969. Pesquisa emprego/desemprego em áreas metropolitanas e evolução urbana de Brasília. É professor emérito da UnB e cidadão honorário de Brasília.
Míriam Guimarães pág. 22
Nasceu em 1982 em Brasília e desenha desde criança. Formou-se em Desenho Industrial na UnB e trabalha como designer gráfica desde 2004. Tem grande interesse em projetos educacionais. Acredita que o design pode melhorar a vida das pessoas e levar a elas informação de qualidade.
Noelle Oliveira pág. 25
Brasiliense e jornalista. Aceitou o desafio de se enveredar pelos bastidores da política do Distrito Federal e, a partir de agora, assume a coluna Fora do Plano. Um comentário aqui, uma dica ali, aos poucos está aprendendo que “quase” tudo rende uma boa história no dia a dia das relações de poder na capital.
Maryna Lacerda pág. 12
Brasília é o lar que esta mineira que se diz goiana escolheu. Correu várias cidades no interior do estado vizinho até estacionar no Planalto Central. Aqui é o cenário perfeito para ela exercitar um de seus hobbies, a observação. Quando menina, passava horas acompanhando o movimento da rua, hábito que lhe rendeu excelentes flagrantes (e histórias). Olhos atentos, ouvidos abertos, esta jornalista é sensorial.
E mais...
Rose May pág. 48
É cineasta, fotógrafa, professora universitária e amiga de muita gente. “Paulioca” por natureza, já se considera uma candanga, após 14 anos bem vividos na capital federal. Muito embora ainda se perca nas tesourinhas, aprecia, e muito, um passeio de camelo. Seu hobby predileto é contar estrelas, conversar com os bichos e tentar entender as pessoas. Nas horas vagas, faz doutorado sobre cinema, dá aula de fotografia no IdA, trabalha na Varanda Projetos Culturais e lê muita poesia.
TT Catalão
pág. 26
Poeta, jornalista, carioca e cidadão honorário de Brasília. Editou cadernos culturais do Jornal de Brasília e Correio Braziliense; passou pela Última Hora e Tribuna da Imprensa; escreveu para o Crônicas da Cidade, DF-TV. Um dos criadores do Espaço 508. Foi do grupo criador dos Pontos de Cultura, gestão Gil-Juca, e secretário de Cidadania Cultural do MinC. É consultor Iphan-Unesco para salvaguardas do Patrimônio Imaterial. Mantém o blog braXil no portal Cultura Digital.
Francisco Bronze pág. 8 Paula Oliveira págs. 8 e 40 Sabrina Fiuza pág. 8 Priscila Praxedes págs. 9 e 45 Chico Sant’Anna pág. 10 Lúcio Flávio págs. 10 e 46 Suélen Emerick pág. 11 Alberto do Carmo pág. 20 André Zottich pág. 20 Hanna Xavier Ferreira pág. 22 Gougon págs. 25 e 44 Rafania Almeida pág. 28 Rômulo Geraldino págs. 38 e 54 Luiz Cláudio Cunha pág. 44 Ana Paula Ferraz pág. 51 Marcela Benet pág. 54
Fotos: Nilson Carvalho
Colaboradores
Carta dos editores
Tem um monte de Brasília por aqui
A
meiaum já evidencia no nome sua identidade brasiliense. Quase sempre nossas reportagens discutem questões do dia a dia do Distrito Federal e peculiaridades de Brasília. Os textos literários também são em maioria inspirados na capital inventada. Os personagens dos perfis são figuras locais que, se você não conhece, são familiares a alguém que você conhece. Esta décima edição é uma das mais brasilienses que já fizemos. Veja o caso da reportagem de Maryna Lacerda e Nilson Carvalho. Se há uma tradição no Natal da capital da República é a chegada de migrantes em busca de doações. Eles ficam ali, debaixo de lonas pretas, às margens de vias movimentadas, à espera das ofertas de gente de coração mole que vive na cidade com maior renda per capita do País. Passam semanas acampados, antes e depois das festas. O saldo de donativos deve
compensar o risco de viver na rua por uns dias, pois a maioria volta no ano seguinte e traz mais gente. Tem outra coisa que é a cara de Brasília. História de nordestino que deixou sua terra para fazer a vida na capital. Paula Oliveira chegou à Borracharia do Pézin – aquela no canteiro entre o autódromo e o depósito do Detran – certa de que sabia o que ia ouvir, cheia de preconceitos. Pois o borracheiro potiguar, em vez de reclamar do que lhe falta, ensinou à nossa repórter que o que vale mesmo é aproveitar cada oportunidade que a vida oferece. Vá à página 40 e leia o perfil de Raimundo Holanda. Um tema que volta e meia vira discussão por aqui é no que o Distrito Federal se transformou. A nossa unidade federativa carrega esse nome, mas não é território federal. Tem a mesma estrutura de um estado, com governador e assembleia legislativa, mas recebe recursos por meio do Fundo Constitucional.
A reportagem de capa, assinada por Rafania Almeida e ilustrada por Pedro Ernesto, detalha quatro propostas para mudar o tamanho da área ocupada pelo DF. Duas o aumentam e duas o reduzem. Enquanto tem gente querendo mudar Brasília com projetos, programas e leis, um dos maiores artistas da cidade quer mesmo é reinventá-la. TT Catalão nos deu de presente um texto em que convoca os brasilienses a tomarem a cidade de volta, a “reaprender com o cerrado como brotar depois de tanta labareda; descobrir onde se abriga a água quando queimam as veredas”. Depois de tantas devastações na nossa capital nos últimos anos, é algo a se pensar, né?
Anna Halley e Hélio Doyle
( ) MEIA
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(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br TIRAGEM 12 mil exemplares Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br
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Diretores: Anna Halley e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br
CAPA | Por Pedro Ernesto
Ilustração à caneta, colorida digitalmente. Designer gráfico, atua no mercado brasiliense, é autor de livro infantil e colabora na meiaum desde seu primeiro número. Faz parte do escritório Grande Circular. Veja os trabalhos da equipe em www.grandecircular.com.
Papos da cidade } ilustrações Francisco Bronze bronze@grandecircular.com
Vivo, Claro, Tim ou Oi? Sou uma das poucas pessoas do meu grupo de amigos que tem apenas uma linha de celular. Na agenda do meu telefone é comum ter gravado assim: Fulano Tim, mesmo Fulano Vivo e, de novo, Fulano Oi. Acho muito chato. Já me explicaram e comprovaram que isso diminui a conta no fim do mês. Tá certo, mas continuo achando um saco. Ainda não
me convenceram de que compensa eu ter que carregar mais de um celular na bolsa ou administrar em qual telefone fazer determinada ligação. Sempre pensei que fosse característica do meu grupo, mas descobri que não! O Distrito Federal tinha, em dezembro, 202 linhas de celular para cada cem pessoas; é primeiro no ranking nacional. A informação é da Agência Nacional de Telecomunicações. Ou seja, de maneira geral, quase todo mundo tem duas linhas. Menos eu. A média no Brasil é de 123 linhas para cada cem habitantes. Mas o pior de tudo nem é isso, é ter que ouvir: “Ah, o seu telefone é Vivo? Então vou dar um toque e você retorna a ligação. Só tenho chip Tim e Claro”. Acho que está aí o segredo de tanta economia. Paula Oliveira
De Londres para Brasília: um exemplo de transporte público Há dois meses na terra da rainha, onde o sol nasce às 8 horas e se põe às 16 horas, descobri como é um sistema de transporte público que funciona efetivamente e para todos. Londres tem cerca de 8 milhões de habitantes, sendo que mais de 50% deles utilizam transporte coletivo. No mundo subterrâneo há estações que levam para as seis zonas da cidade. E transitar por ele é tarefa fácil. Placas indicativas estão espalhadas pelos corredores, e nas escadas rolantes há uma regra básica: quem tem pressa sobe os degraus pelo lado esquerdo, enquanto os que têm mais tempo seguem do lado direito. Nas ruas, os passageiros contam com paradas de ônibus identificadas por letras, com mapas das linhas que param naquele local e também um painel eletrônico que indica quantos minutos o ônibus vai levar para chegar. Facilidade e tanto para quem aguarda, principalmente agora, durante o inverno.
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Para melhorar ainda mais, existem painéis eletrônicos dentro dos ônibus, que orientam os passageiros com o nome da rua de cada parada. Pra quem vem de uma cidade onde as ruas não têm nome, ajuda bastante a se localizar em Londres. Deve ser normal para os londrinos. Mas, para uma brasiliense, um sistema de transporte público assim é uma modernidade e tanto. Afinal, grande parte dos moradores da capital federal está acostumada a pegar o carro até para ir à padaria. Além disso, contamos com poucos e velhos ônibus, que custam a chegar. O que falar do metrô, que atende apenas a população do lado sul da cidade e cujos servidores cruzaram os braços por mais de trinta dias? Falta muito para alcançarmos o nível do sistema de transporte público londrino, mas quem sabe nós, brasilienses, não possamos contar com ao menos um que funcione em melhores condições, não é mesmo? Pelo menos novos ônibus (e não velhos reformados) e linhas de metrô que de fato sirvam para percorrermos toda a cidade, não para nos deixar no meio do caminho. Sabrina Fiuza
Na academia, falta a ala cor-de-rosa Qual mulher nunca se sentiu constrangida ao fazer uma série na máquina de abdução? É aquele aparelho em que as moças ficam abrindo e fechando as pernas. E o exercício em que você fica de quatro para malhar o bumbum? Nossa! E ainda há academias que colocam esses aparelhos em lugares inapropriados – em frente ao espelho, por exemplo. Qual é o objetivo disso? Deixar a gente com mais vergonha? Não é legal! O pior é quando você nota aquele “tio” com olhar de tarado e sorriso maroto. Conversei um dia desses com um amigo e
foi confirmado: “Nós olhamos mesmooooo, alguns disfarçam, mas sempre damos um jeito de acompanhar, então tome cuidado com os exercícios que você anda fazendo”. Depois dessa conversa fiquei mais atenta. Outra história. Uma amiga disse que em sua academia as esteiras ficam em duas fileiras e que os homens só correm na de trás. Por que será???? Para que assim as mulheres façam as suas caminhadas e corridas na primeira fileira, e eles possam ficar observando-as. Sem comentários. As academias poderiam ajudar. Em algumas nos Estados Unidos existe a ala feminina, “o lugar cor-de-rosa”, onde só as mulheres podem entrar e utilizar os aparelhos. Isso ajudaria nós mulheres a praticarem os exercícios sem preocupação. E os homens ficariam apenas focados nos seus exercícios, porque imagino que para eles realmente seja difícil manter a concentração vendo várias mulheres com shorts minúsculos e macacões apertados e decotados com estampa florida, que fazem com que elas fiquem um pouco mais “gostosas”. E as posições para malhar também não ajudam. Aposto que você já está pensando: Por que essa menina não vai malhar naquela academia só para mulheres? Acertei? Porque nem sempre tem uma perto da sua casa... e também gosto de ver movimento de ambos os gêneros. Depois de malhar é bom interagir com todas as pessoas, e não só com as mulheres. Priscila Praxedes
Do lixo ao luxo? Atônito. Assim o governador Agnelo Queiroz disse que ficarei quando a promessa de obras no Autódromo Internacional Nelson Piquet se concretizar. A palavra desafiadora e instigante apareceu em aspas do chefe do Executivo em nota à imprensa disparada aos
e-mails das redações dos jornais em 23 de dezembro. O governo do DF, que pouco falou quando perguntei sobre o autódromo durante a apuração da matéria de capa da meiaum de dezembro-janeiro, disse muito no texto enviado aos jornalistas. Misturou corrida de carros com promessas para a motovelocidade e colocou no meio depoimentos otimistas da nova estrela do automobilismo nacional: o campeão da Fórmula 3 Inglesa, Felipe Nasr. Felipe é sobrinho de Amir Nasr, um dos proprietários de empresas dentro da área do circuito que aguardam o fim do imbróglio judicial que vai regularizar a ocupação do espaço público. “Autódromo será referência nacional” é o título da nota, que diz que a meta é trazer, já em 2013, uma etapa do mundial de motovelocidade. Quem conhece o autódromo de Brasília sabe que a pista não foi feita para corrida de motos e que, para torná-la apta para essas provas, obras enormes devem ser feitas. Grandes a ponto de se considerarem alterações drásticas no traçado para permitir a ampliação das áreas de escape a um nível aceitável de segurança para as motocicletas. Em 16 de janeiro fui ao autódromo. Estava tudo igual, sem um trator para ao menos podar o mato alto. Concorrer a uma vaga para sediar uma etapa do mundial de motovelocidade é algo burocrático, depende de política, ótima pista e tempo. Se em janeiro as obras não começaram, não consigo enxergar de onde o governo pretende tirar tempo para finalizar a reforma e conseguir passar por todas as inspeções de segurança. Realmente, senhor governador, se eu puder fotografar Valentino Rossi e Casey Stoner dividindo a curva da vitória em uma etapa do mundial de motovelocidade em 2013 no nosso autódromo, ficarei no mínimo atônito. Nilson Carvalho
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Na capital do puxadinho tem até little pull Não seria de se estranhar, na capital do puxadinho, que até as representações diplomáticas se adaptassem à cultura local e também fizessem os seus little pulls. Exemplo disso é a embaixada dos Estados Unidos. Apesar de possuir um terreno no Setor de Embaixadas Sul maior do que qualquer outra representação diplomática existente na cidade, os norte-americanos resolveram colocar em ação o seu expansionismo em áreas públicas da capital federal. Nos fundos da representação diplomática, o estacionamento público foi privatizado – no caso, o melhor termo é desnacionalizado. A área foi incorporada ao mar territorial yankee como se fora uma zona de segurança. Barreiras de ferro delimitam as novas terras dos EUA no Planalto Central e impedem que o cidadão utilize um espaço que é por ele custeado com seus impostos. Não fosse isso o suficiente, agora, com o beneplácito do GDF, a embaixada embargou uma via pública inteira. Trata-se da Via S3. Liga a L2 Sul, a partir do Setor de Autarquias, à Avenida das Nações. Planejada para diminuir engarrafamentos, a via, que passa próximo às embaixadas da Rússia, de Portugal e dos Estados Unidos, foi construída em mão dupla. Barata não deve ter ficado, pois envolveu dois novos viadutos. Pronta, não pode nem ser inaugurada. Antes disso, foi ocupada pelos mariners. Alegando quebra na segurança, uma das vias foi totalmente obstruída pelas forças invasoras. Ninguém passa no local, que agora é território estrangeiro, muito menos do Detran ou da PMDF. Ali quem manda é a segurança norteamericana. O GDF alega que a ocupação é transitória, até a conclusão da ampliação da altura de um muro lateral. Talvez, depois da retirada das tropas do Iraque
e do Afeganistão, eles liberem a S3. Mas a construção de um muro mais alto no local não estará ferindo também o gabarito de construção do Plano Piloto projetado por Lucio Costa? Que, por sinal, proíbe muros na área tombada. Bem..., de muro os norte-americanos já têm muita experiência. Que o digam os mexicanos. Chico Sant’Anna
A Justiça encalacrada em pirâmides do poder Na mitologia grega, a figura da Justiça é personificada pela clássica imagem da deusa Têmis, cujos olhos, paradoxalmente, são tampados por uma venda. Talvez seja por isso que muita coisa “estranha” ande acontecendo no Judiciário. Bem, eu que sou um matusquela qualquer estou de olho em tudo e ando “p” da vida com essa turma de toga no Brasil. Acontece que sou um simples nobody, sem direito às regalias, aos salários robustos e a qualquer tipo de imunidade ou privilégio. Sou, assim como você e o seu vizinho, um legítimo representante do povo. De modo que só me resta abraçar a eterna indignação, velha companheira de sempre. Convivi um tempo, diretamente, com essa gente e confesso que fiquei assustado com tanta soberba, opulência e demonstração desnecessária de poder. Em alguns casos, chega a ser caricato, para não dizer ridículo. Claro, nem todos agem assim. Não me esqueço do dia em que fiz parte de uma comitiva de homens do Judiciário brasileiro que ciceroneava um grupo de representantes de magistrados de língua portuguesa pelas principais instituições do ramo. Todos, inclusive eu, ficaram boquiabertos com o luxo, o fausto, o conforto em que a Justiça brasileira trabalha hoje em dia. São faraós em suas pirâmides do poder. Se a população ao menos pudesse contar com
retorno mais célere, transparente e modesto desse segmento... Deslumbrado com tamanha onipotência física dos tribunais, não me contive e comentei com o colega do lado, todo empolgado com sua máquina fotográfica: – Bicho, se soubesse que trabalhar no Judiciário era esse luxo todo, não teria feito Jornalismo, mas Direito... Exibindo um orgulhoso sotaque lusitano, o jovem que me acompanhava nem titubeou: – Pois bem, lá em Portugal não é assim. De tanta vergonha, não sabia onde enfiar a cara depois de ter feito tal comentário diante de um magistrado português. Mas tive uma grande lição com relação aos nossos homens do Judiciário. Mania de grandeza para mim é sinônimo de pobreza. Mesmo que seja pobreza de espírito. Lúcio Flávio
A vida por uma caução “Faço aqui um parêntese para verberar o atendimento nos hospitais particulares ou conveniados no Brasil. Castello chegou ao Pró-Cardíaco entre 4h30 e 5h da manhã, sozinho, sofrendo dores terríveis, e implorando que o livrassem delas, ainda que pela morte. Pediram-lhe que fizesse uma caução de cinco mil, dinheiro da época. Bastaria assinar um cheque, mas Castello sabia que não dispunha da quantia. Esperou até o amanhecer para ligar para o José Luiz Magalhães Lins, pedindo-lhe socorro. Só quando veio o dinheiro começou o atendimento. E quando penso nisso tenho vontade de dizer todos os palavrões merecidos que sei, o que só não faço porque Castello detestava palavrões.” As palavras são de Élvia Lordello Castello Branco, então ministra do Tribunal de Contas da União, em entrevista a Luiz Orlando Carneiro, do Jornal do Brasil. O Castello, seu
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marido que chegou infartado a um hospital particular de Brasília e não foi atendido porque não quis dar um cheque sem fundos, é o jornalista Carlos Castello Branco, então o mais importante colunista político do País. Isso aconteceu em 1972. Quarenta anos depois, hospitais privados continuam exigindo ilegalmente caução para dar atendimento a pessoas em estado grave, como aconteceu agora com o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira. Castello sobreviveu à exigência, Duvanier morreu no terceiro hospital que procurou. A seu favor, os mercantilistas da medicina, que colocam os lucros acima da saúde, podem dizer que a lei deles vale para todos, mesmo que seja um alto funcionário do governo federal ou um importante jornalista casado com uma ministra. Sem
dinheiro, nada de atendimento. Mas nem isso têm a favor deles. Duvanier e Castello não deram a carteirada tão comum em Brasília e não perguntaram se as atendentes sabiam com quem estavam falando. Hélio Doyle
Solidão coletiva Como de costume, o metrô estava superlotado. O meu relógio apontava dezoito horas e quinze minutos. Horário de verão, sol ainda exposto. Expressões cansadas na estação, entediadas, ansiosas para encerrar a saga diária. Sorrisos? Escassos. A exaustão do dia elimina toda possível cortesia, vira desculpa para falta de educação. Raros são os pedidos de desculpa pós um
acidental pisão no pé ou até mesmo o “com licença” antes de cada esbarrão. Cada um carregando um turbilhão de estórias, ou até mesmo simples acontecimentos cotidianos. Momentos não compartilhados tornando as mentes cada vez mais suscetíveis ao estresse. Lado a lado, cada um com seu pensamento reprimido. Solidão coletiva. Uns com livros, mas a maioria internalizada em seus fones de ouvido. A única comunicação bem-sucedida é a voz que indica a estação. Batalho pra conseguir estar perto da porta na hora de descer e ir solitariamente pra casa, enquanto todos vão solitariamente para as suas. A estação terminal chegou: “Pela sua atenção, obrigada!”, ouço. Ironia ou não, a única expressão educada vem de uma voz automática. Suélen Emerick
Natal
gramados
Quem é o povo dos
A maioria tem onde morar, mas passa o fim de ano nas ruas de Brasília para melhorar a renda. É gente de Goiás, de Minas, da Bahia e daqui mesmo Texto Maryna Lacerda Fotos Nilson Carvalho maryna.lac@gmail.com
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fotografia@meiaum.com.br
uas moradias temporárias são toscas, suficientes apenas para protegê-los das chuvas do verão molhado de Brasília. As barracas são erguidas com lona e papelão e não têm mais que seis metros quadrados. Duas, três, até cinco pessoas dividem o espaço com poucas mudas de roupa, cobertores e, se tiverem sorte, os ansiados donativos pelos quais deixam suas cidades e vêm para Brasília no fim do ano. Em dezembro, se mudam para os gramados do Eixão e para as áreas de Cerrado na L3 Norte e na via que liga a L2 Norte ao Setor de Clubes Esportivos Sul. É Natal, época boa para receber doações. Mas eles só estão na rua nesta temporada de doações. Não podem ser chamados de moradores de rua, já que têm casa, alugada ou própria. Têm um teto garantido em suas cidades de origem. Alguns
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também têm trabalho, ainda que não tão garantido. Em geral, vivem de bicos, sem carteira assinada, sem direito a férias e a décimo terceiro salário. Sem a proteção das leis trabalhistas, pedir na rua é a maneira de conseguirem um extra para incrementar o orçamento doméstico. E assim apelam para a caridade dos que vivem no Plano Piloto e seus arredores, onde está a renda per capita mais alta do País. Não por acaso, na Asa Norte, as barracas ficam a poucos metros de dois hipermercados e de um shopping center e no caminho dos moradores do Lago Norte. Eles ficam ali, à espera de alimentos, de cesta básica, de roupas e de brinquedos. A quinze dias do Natal, as cabanas se multiplicam. É nesse período que mais recebem doações, pois “o coração das pessoas está mais mole”, explica um deles. Vêm de Goiás, da Bahia e de Minas Gerais e evitam passar mais que um mês na rua. Preferem a Asa Norte porque o policiamento é
menos ostensivo, mas a insegurança permanece. Têm medo de chegar gente do governo a qualquer momento. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda diz que não faz remoção desde 2010, agora a função é da Secretaria de Ordem Pública e Social. Esta informa que não fez operação nesse período de festas. Quando as moradias irregulares são desmontadas, é feito o cadastro das famílias. Crianças são encaminhadas ao Conselho Tutelar, pais aos albergues. Se os adultos aceitarem ir para o abrigo público, ganham do governo a passagem para a cidade de origem. Para reaver a guarda dos filhos, precisam acionar a Justiça. De volta à terra natal, passada a temporada em Brasília, espalham a informação de que a capital do País é lugar bom para fazer o pé-de-meia. No ano seguinte, voltam, trazendo mais parentes e agregados e formam pequenos acampamentos. Assim, o sobrinho protege a tia enquanto a avó vi-
De vez em quando, recebem comida de gente que vai aos acampamentos só para ajudar. Quando falta, ficam de prontidão nas lixeiras de restaurantes das quadras comerciais do Plano Piloto.
15 gia a barraca do compadre. É uma forma de minimizarem os riscos a que estão expostos na rua. A socióloga Camila Potyara, doutoranda em Políticas Sociais pela Universidade de Brasília, explica que a mendicância sazonal é uma estratégia de sobrevivência para essas pessoas. É como o imigrante que passa um tempo trabalhando em outro estado, ou em outro país, e depois volta para casa com mais dinheiro para a família. Só que o trabalho, aqui, é pedir. E Brasília, em especial, é chamariz por ter a renda per capita mais alta do Brasil. Aqui, as doações são mais gordas. Os pedintes temporários dizem ganhar R$ 100, R$ 200 durante os quinze dias que antecedem o Natal. O ano que passou, no entanto, não foi muito favorável. Muitos deles disseram que receberam poucas cestas básicas, pequena quantidade de roupas e quase nada de dinheiro em espécie. O diretor de Desenvolvimento Econô-
mico da Administração de Brasília, Luciano Lucas, afirma que a situação é insustentável para o governo. “Aumenta a criminalidade nas redondezas dos acampamentos e também o acúmulo de lixo”, diz. Para ele, a simples remoção das pessoas não soluciona a questão. Lucas explica que o poder público não pode impedir a chegada dos moradores de rua temporários: “A Constituição garante o direito de ir e vir”. Para ele, é preciso um trabalho de conscientização da sociedade para que se evitem as doações e as esmolas. “Falta fazer uma campanha educativa para conscientizar a população e acabar com essa prática”, diz. Dia a dia Vez ou outra, pessoas ligadas a entidades filantrópicas ou religiosas aparecem, de madrugada, para distribuir sopa. Em 25 de dezembro, os que estavam no Eixão receberam refrigerantes e panetones para
De volta à terra natal, espalham a informação de que a capital é lugar bom para fazer o pé-de-meia.
16 comemorar a data, por iniciativa de uma comunidade religiosa. Alimentar-se em condições tão precárias de moradia pode até render algumas gratas surpresas. Eles ficam de prontidão nas lixeiras dos restaurantes das quadras comerciais. Assim que o resto das refeições servidas é depositado, correm aos sacos para tentar reaproveitar o que foi rejeitado. De lá, tiram frutas em quase perfeito estado – apenas com um ou outro amassado – e peixes nobres, como salmão. À noite, se servem do banquete desprezado pelos mais abastados. Por isso o fogareiro a lenha é indispensável e tem dupla função: preparar as refeições e aquecer os corpos debaixo da lona fria. Quando se passa por onde estão acampados, bem no início da manhã, é possível ver a brasa da noite que passou. Lavar as roupas não é problema. Estão a poucos metros da Ponte do Bragueto, e o Lago Paranoá é tanque e banheira. Pela manhã, as mulheres levam as roupas e as crianças para serem lavadas no lago. A água de beber é conseguida nas quadras, em torneiras de prédios ou de construções. Em último caso, compram um galão de 5 litros para passar a temporada. No “quintal” de suas barracas guardam produtos recicláveis. São latinhas, garrafas PET e papelão que os homens recolhem durante o dia. Ao final da estada, vendem todo o material. O fim de ano aumenta a oferta das sobras de festas. Bom para os pedintes temporários, que não ficam inteiramente dependentes das doações. Cada um com sua história É bem comum ver acampamentos com apenas mulheres e crianças. Na via que liga a L2 Norte ao Setor de Clubes Esportivos Sul, por exemplo, Cenira Evangelista de Sousa, 51 anos, montou sua lona com os filhos e a neta. O marido sofre de câncer e não pôde acompanhá-la. Ela veio de Alto Paraíso, em Goiás, mas mora de favor, há
vinte anos, nas dependências de serviço do Iate Clube. A poucos metros de seu teto, ergueu a barraca. Lá pretendia passar as três semanas que antecedem o Natal. Até a segunda semana havia recebido apenas duas cestas básicas. Cenira dividia o tempo entre as duas moradas. Todos os dias, voltava à sua casa, no Iate, para ver como estava o marido. Enquanto a comadre olhava as crianças na barraca na rua, ela, em casa, lavava a roupa da família e preparava alguma refeição para o marido. Isso se havia comida. A mulher conta que quando não recebe marmita ou cesta na rua é obrigada a improvisar. “Se não tem jeito, eu esquento farinha com açúcar pros meninos no fogãozinho”, explica. No dia em que conversou com a meiaum, em meados de dezembro, havia ganhado uvas e bananas de gente que passou por ali. Cenira não está sozinha na rua. A comadre que cuida de suas crianças é Maria Aparecida dos Santos, 49 anos, que montou a barraca ao lado da dela. Maria Aparecida é de Valparaíso, também em Goiás, e já havia ido para a rua três meses antes. Aproveitou as comemorações de Cosme e Damião, em 27 de setembro, para conseguir doações. Passou uma semana e voltou para sua cidade. O Natal, no entanto, a decepcionou. “No Cosme e Damião a gente consegue tanta cesta, mas no Natal está ruim”, reclamou. Poucos metros abaixo do acampamento de Cenira e de Maria Aparecida está o barraco de Nilta Paiva dos Santos, 49 anos. Ela mora há dez anos no Cerrado, desde que veio de Irecê, na Bahia, para tentar a vida na capital. No fim de ano, costuma ganhar vizinhos temporários e garante que não se incomoda com isso: “Eu estou aqui o ano inteiro, ganho doação o ano inteiro, deixa eles tentarem conseguir o deles também, eles só vêm nessa época”. Questionada por que vem para a rua no fim de ano, Dayane Francisca dos Santos,
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Nilta dos Santos vive na rua há dez anos, desde que veio da Bahia. Diz que não se incomoda com os vizinhos temporários: “Ganho doação o ano inteiro, deixa eles tentarem conseguir o deles também”.
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24 anos, é direta. “Quando dá, quando a gente arruma emprego no fim de ano, a gente não vem.” Ela é casada com José Carlos Lopes da Silva, o Danilo, de 31 anos. A meiaum encontrou com os dois em dezembro, nas ruas, e os visitou também em janeiro, para saber qual foi o saldo do fim do ano. O casal mora em Lago Azul, também em Goiás, em uma casa de alvenaria cedida por um conhecido. A residência está comprometida, parte do telhado já caiu e a parede dos fundos também pode vir abaixo a qualquer momento. Danilo sustenta a família fazendo bicos. Ele é pintor, ajudante de pedreiro, eletricista. Ela fica em casa cuidando dos três filhos – de 17, de 4 e de 2 anos – e do bebê que está vindo. Dayane está grávida e o nascimento do quarto filho está previsto para abril. Assim como a maioria dos pedintes tem-
porários, eles vieram para passar a semana anterior a 25 de dezembro. Para marcar a data na moradia improvisada, a mulher montou uma árvore de Natal com latinhas de refrigerantes e sucos. Para ela, é uma forma de entreter as crianças e tornar o ambiente menos hostil. “Os meninos adoram quando a gente monta a árvore”, conta. O saldo da estada foi abaixo do esperado, mas rendeu algum alívio financeiro no início deste ano. Ganharam brinquedos, uma mochila para o filho mais novo ir à creche, cestas básicas e algumas roupas. “O mais novo ganhou até bastante roupa, mas o mais velho, não”, diz. “Estou preocupada com o que ele vai vestir pra ir para a escola.” Dayane revela uma estratégia interessante para fazer render o que ganhou nos gramados da Asa Norte: “Eu escolho as roupas que servem para as crianças, pra mim e pro
Danilo. O que não serve, eu vendo em bazar”. Em sua casa, em Lago Azul, ela mostrou a caixa de roupas que pretendia colocar à venda. “Vendo por 1 real, por 50 centavos. Tem gente que vem e fica querendo pechinchar, pede pra fazer por 25 centavos. Se a pessoa é muito necessitada, até aceito.” O bazar é realizado no início de fevereiro, quando os vizinhos já receberam seus salários. Mas nem tudo é comercializado. Danilo conta que dividiu uma das cestas básicas que ganhou com um vizinho. O amigo passava fome e foi à casa dele pedir auxílio. Danilo, então, entregou arroz, macarrão e feijão. “Ele precisava alimentar a família dele, eu dei os alimentos mesmo. Hoje eu que socorro ele, amanhã é ele que me socorre.” Para eles, o fato de as crianças terem ganhado muitos brinquedos é uma preocupação a menos com o orçamento. Os que vie-
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ram fora da caixa foram direto para as mãos do pequeno Rafael. Os embalados ficaram guardados e só serão entregues no segundo semestre. “Já tem brinquedo garantido pro Dia das Crianças”, comemora Dayane. Danilo conta que é preciso saber quanto tempo ficar acampado nos gramados. Prolongar a estada é prolongar os riscos. “O tempo bom para pegar doação é antes do Natal. Depois disso, ninguém mais tem dinheiro.” O homem sabe o que fala. Na segunda semana de janeiro, não havia mais barracas nos gramados do Eixão Norte. Percebe-se que o acampamento foi desmontado às pressas. Para trás, ficaram mochilas com roupas, tênis em perfeito estado, cadeiras quebradas e restos de comida. Não se sabe por que não houve tempo sequer para terminar de comer a maçã. Sobrou muita coisa. Em dezembro, no entan) to, eles retornarão.
No alto, Danilo e Dayane à espera de doações, em dezembro. Ao lado, no mês seguinte, o filho mais novo se divertia com os brinquedos que ganhou de Natal. Em Goiás, a família vive numa casa de alvenaria.
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Artigo
Saúde mental: a que não ousa dizer seu nome De mãos dadas com a demência no país da política antimanicomial
Texto Alberto Francisco do Carmo Ilustração André zottich albertofcarmo@gmail.com
emaildozottich@gmail.com
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e repente, um senhor sai dando tiros em São Paulo. Atira a esmo, rouba carros, causa enormes sustos e traumas em várias pessoas e finalmente se esconde num esgoto. Preso, se diz perseguido. A cada dia que passa, não só no Brasil, mas no mundo, avolumam-se sinais de que algo não vai bem no tratamento e na prevenção da saúde mental. Casos como o do atirador de Realengo, ou dos atiradores enlouquecidos nos Estados Unidos ou na Noruega, mostram que a política de saúde mental, principalmente a da prevenção, não anda bem das pernas. Neste artigo, por exiguidade de espaço, limitar-nos-emos ao Brasil. Uma breve olhada no site do Ministério da Saúde mostra algo preocupante. Dados de 2010, da mesma fonte, indicam na área da saúde mental um índice de 0,172 leito por grupo de mil habitantes. Para uma população de 200 milhões, a prevalecer esse índice, o Brasil terá algo como 34.400 “leitos”, ou seja, acomodações para pessoas que precisem de internamento em instituições psiquiátricas. É irrisório. E são inócuos todos os programas de prevenção a coisas como drogas, violência doméstica, assédio moral, excessos policiais etc. Tais fatos não são causas, mas efeitos de uma política não preventiva para a saúde mental coletiva. Portanto, tanto precisa de tratamento aquele indivíduo pobre e sofrido que consome crack por não ter tido acesso precoce a um tratamento psicológico ou psiquiátrico como um alcoólico. Consomem drogas e álcool por não terem sido tratados e medicados adequadamente e a tempo. Assim como a truculência dos “Capitães Nascimento” seria evitada, ou pelo menos minimizada, se nossos policiais tivessem assistência semelhante, devido ao estresse profissional extremo. Finalmente, o mundo político também está cheio de desequilibrados e, sem querer citar nomes, nem a Presidência da República escapou. Algumas figuras que por ela passaram simplesmente nunca deveriam ter chegado ali. Congressistas paranoides, ou mesmo com indícios de esquizofrenia, ou transtorno bipolar, são encontradiços. Por exemplo: dar tiros em plenário não é para gente normal, assim como conduta excessivamente agressiva, negativista ou mesquinha e falta de caráter em nível patológico. Nesses casos vemos indícios de transtornos de personalidade que são aqueles em que todo mundo em volta vê que a pessoa está errada, menos ela própria. Há três problemas principais neste quadro. Primeiramente, os tratamentos psiquiátricos ou psicológicos no
Brasil progrediram muito pouco desde o Império, ou ao menos desde a metade deste. Aí entram a falta de interesse ou inadvertência de povo e autoridades de que ter um doente mental nas proximidades é grave problema de saúde, não só individual, mas coletivo, principalmente para os que têm de conviver com uma pessoa nesse estado. Em segundo lugar, um tratamento nas áreas psicológica ou psicopatológica é longo e caro. Só “gente de bem” pode pagar consultas com medalhões da área, não sendo raro se tornarem papéis de renda fixa de terapeutas... O terceiro problema, talvez o mais grave, é a explosiva mistura de falta de informação e preconceito. E disso nem Machado de Assis escapou. A leitura de O alienista mostra um personagem que, longe de “alienista”, é um “curioso” naqueles tempos ancestrais. O erro básico do autor é que Simão Bacamarte internava sem parar qualquer pessoa que apresentasse um traço de transtorno. Não sabia que seres normais, ou dentro de uma faixa de normalidade, podem querer isolar-se ocasionalmente, assim como ocasionalmente cismar com uma pessoa ou gostar de colecionar selos, por exemplo. Mas não é por isso que vamos classificá-los como – na ordem – esquizoide, paranoide ou obsessivo-compulsivo. O problema é o excesso. Isolar-se o tempo todo pode caracterizar um esquizoide; ver um inimigo em cada pessoa “suspeita”, ou interpretar negativa e repetidamente qualquer atitude do próximo, é a característica de um paranoide; colecionar coisas sem saber por quê, ou juntar papéis velhos e inúteis, aí temos um obsessivo-compulsivo. Já o preconceito refere-se àquele contra “remédios para a cabeça”. Toma-se medicamento de uso contínuo para hipertensão, rins, transplantes, mas “para a cabeça”, não. Ignora-se que os remédios de hoje não são os de ontem. Freud repeliu remédios. Não era para menos. Os de seu tempo eram uma porcaria. Ele próprio escreveu algo sobre os benefícios terapêuticos da... cocaína. Mas os de hoje já levam em conta as descobertas das alterações químicas de ordem genética ou de traumas adquiridos em pacientes.
Segundo o Ministério da Saúde, há 0,172 leito na área de saúde mental para cada mil brasileiros. É grave também a explosiva mistura de falta de informação e preconceito.
Conto
Ser humano vento
Precipício
A fragilidade do corpo e a impotência o espantam. A esta altura da vida, ele só quer mesmo contemplar
Texto Hanna Xavier Ferreira Ilustração Míriam Guimarães hanna.xf@gmail.com
Este barulho me ensurdece. Ouvir o próprio coração não é algo comum. Quando era pequeno tinha interesse em escutar parte de mim, mas agora – depois de velho – tal batida incessante me irrita. Não sei desde quando me dei conta da presença desse órgão. Assim que me apercebi dele fiquei um pouco cabreiro. Ter a dimensão constante da vida de si é algo muito estranho. Apenas vivemos sem que a todo o momento algo nos lembre de que estamos vivos. Como posso eu ter essa percepção sem
correiodamiriam@gmail.com
me auscultar? Não sou médico, nem enfermeiro. De hospitais, quero distância. Estar na presença de doentes me causa náuseas. A fragilidade do corpo humano e a impotência espantam-me. Creio que seja por isso que de um tempo pra cá comecei a desejar ser vento para ter a leveza e a rapidez de me movimentar e ser percebido sem ser visto. Iniciei, então, um plano para realizar um pulo sem paraquedas e agora estou diante deste cânion lapidado pelas erosões e pelo tempo. Real-
mente seria interessante ser ar. Não tenho vontade de ser pássaro, pois teria trabalho de procurar alimento e de escolher para onde ir. Nesta altura da vida, quero apenas contemplar. Mas o vento não tem sentidos, alguns me questionariam. Eu seria um ser humano vento. Uma nova categoria de ser. As crianças conseguiriam me compreender melhor. Elas, sim, conseguem colocar olhos, boca e nariz no vento. Este tum-tum constante está começando a precipitar a minha escolha por saltar. Con-
23 tudo, ao olhar a paisagem e me deparar com a vastidão desse longo labirinto de rochas sem ter a dimensão da profundidade do abismo, paraliso a minha decisão: o limite da vida vem dessas escolhas. Podemos nos matar aos poucos ou apenas saltar. Andei até a beira do cânion, um frio na barriga tomou-me, recuei alguns passos e sentei numa pedra, olhei para o alto, as nuvens compunham uma vastidão de desenhos e formas. Haveria de ter algum artista por trás desses desenhos: talvez seja simplesmente o vento ou, quem sabe, um ser enigmático que fica a pincelar as nuvens utilizando o ar como instrumento. Nesse instante, minha memória começou a projetar nas nuvens um trecho de minha infância. Engraçado lembrar os dias que passei em cima de uma árvore observando tudo o que poderia ser contemplado lá do alto. Os raios solares batiam na folhagem e os nervos das folhas permaneciam escuros, enquanto o seu esverdeado tornava-se translúcido com a luminosidade. Quando descia, ia direto até a varanda ouvir as cantigas de minha avó. Ela cantava músicas de sua infância em algum dialeto africano. Filha de escravos, vovó Zica guardava todas as cantigas de memória. Sentava ao seu lado, pegava sua mão e ficava apertando suas veias estufadas – mão magra com veias grossas. Perguntava-me como podiam as ramificações das folhas das árvores serem tão parecidas com as veias das mãos de minha avó. Essa era uma das belas semelhanças que capturava da vida e guardava na memória. Desde menino gosto de cultivar pequenas coincidências. Com isso, colecionei várias observações sem pretensão alguma de compreendê-las, apenas me encantava com as possibilidades que esses olhares me proporcionavam. Só depois vim a amadurecê-las e saber do que algumas se tratavam. Até hoje muitas delas estão sem respostas. Eu era menino de olhar e pouco falar. Isso fazia de mim um ser estra-
nho aos olhos dos outros. Por vezes ouvia alguns familiares dizerem que eu era um menino muito ensimesmado. Achava graça dessa palavra e repetia com orgulho: sou ensimesmado. Era como se eu fosse “eu mesmo” duas vezes e achava isso muito interessante, porque se eu podia ser várias vezes eu mesmo, queria dizer que não me confundiria com os outros. Passei a me achar importante depois de ter ouvido esses fuxicos familiares. Depois dessa regressão à minha infância, o som das batidas do coração principiou uma orquestração mais intensa e acelerada. Parecia que minha cabeça estouraria e não precisaria mais saltar do precipício, devido ao enjoo provocado pela rapidez das batidas do órgão que provavelmente me retiraria a consciência em segundos. Fechei os olhos e tapei os ouvidos para não mais ouvir o coração, mas de nada adiantou tal intenção. Voltei minha visão para as nuvens, seus formatos haviam sido transformados e os raios solares tinham dado cores mais vibrantes àquela arte. Dessa vez, outro trecho da minha memória começou a ser projetado. Duas décadas tinham se passado do momento em que subia em árvores. Agora me encontrava na universidade, envolvido com diversas causas político-sociais. Em um dos momentos de ativismo, conheci uma menina na fila de um refeitório, após várias palestras patrocinadas pelo Ministério da Educação. Eu não morava naquela cidade, tinha viajado vários quilômetros até lá e na fila daquele lugar a vi. Tentei me aproximar de alguma forma e a primeira ideia que me veio à cabeça foi lhe perguntar se ali naquela cidade as pessoas comiam farinha, pois – como bom nordestino – aprecio esse ingrediente. Ela voltou-se para mim e falou: aqui se come farinha, mas como estão servindo strogonoff não há farinha para acompanhar esse prato. Senti-me um idiota. Ela sorriu. Sentamos juntos e desde então compre-
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As batidas do coração tinham se apaziguado. Entendi que minha vida já tinha trilhado passos suficientes.
meava o espaço. Lá chegando começamos a dançar ao som de uma canção demarcada pelas percussões e melodiada pelos violões, um ritmo afro-indígena-europeu, mistura que nos fez. Aos poucos, círculos humanos se formaram e as batidas das alfaias davam a marcação do bailado daqueles que estavam de mãos dadas na corrente humana. Não éramos apenas mais um indivíduo naquela roda. Fazíamos parte de um todo organicamente constituído. Noite repleta de sons e sentimentos. O tempo, inimigo dos apaixonados, correu assoberbado. Voltamos ao hotel, com o céu já claro, lanchamos juntos e cada um seguiu seu rumo. Despertei dessas imagens projetadas nas nuvens. As batidas do coração tinham se apaziguado. Entendi que minha vida já tinha trilhado passos suficientes. Hoje olho a rede que formei durante a vida e vejo que teci um emaranhado colorido. Cada pessoa trouxe um pouco de sua linha, outros fatos compuseram esse tecido. Caminhei sem medo até a beira do precipício e pulei. Assim que saltei, as batidas do meu coração começaram a se acelerar. O vento batia em todo o meu corpo, as vísceras se deslocaram provocando uma sensação vertiginosa. Arrependi-me do pulo. Roguei para que o tempo parasse e mais uma chance fosse me entregue. O coração parou, senti uma pressão descomunal no peito. Um barulho astronômico tomou conta do silêncio do lugar tranquilo. Flutuei no ar e pude contemplar a paisagem no meio do salto. Acabara de acontecer algo inimaginável. No mesmo instante, meus olhos reais se abriram, estava em uma mesa de cirurgia e os médicos carregavam em suas mãos aparelhos de eletrochoque. Tinham-me reavivado. Olhei para o lado e lá estava a máquina que trazia o barulho das batidas do coração, esse soar constante era o único meio que me ligava à realidade durante o tempo em que eu visitara o meu passado. Cada batida sintetizava a possibilidade de ) retomar minha história. )
endemos que tínhamos muito em comum, o que contribuiu para nos aproximarmos. Voltei para a minha cidade e depois de três meses por coincidência nos reencontramos em outro estado da Federação. Estávamos na cidade onde o mar e as montanhas torneiam a sua silhueta. No dia em que cheguei não nos esbarramos. Foi somente no dia seguinte, quando descia para o café da manhã, que a encontrei no elevador. Ambos estarrecidos ficamos ao percebermos que algo desse tipo ocorria na vida real. Eu, cético por natureza, sempre pensei que reencontros inusitados somente ocorressem em filmes de comédia romântica. Seguimos para o café da manhã e comprovei que não era por simples acaso que nos encontrávamos no mesmo lugar. Realmente tínhamos muito em comum: eu estava naquele congresso para apresentar meu trabalho sobre racismo geográfico e ela para apresentar seu projeto sobre educação popular. Durante o dia, cada um expôs seus trabalhos e participou de palestras diversas. Ao entardecer um foi ao encontro do outro. Andamos ao longo da orla, atropelando nossas falas: rimos, discutimos e nos entendemos. Estávamos afobados por dizer tudo o que nos definia, tudo o que demarcava a tênue linha que contornava a nossa identidade, para ver se assim conseguíamos nos seduzir ainda mais. Os pontos de divergência eram transformados, na maior parte das vezes, em um respeito pela capacidade mútua de aceitar o debate e pela riqueza das argumentações, que possibilitavam cutucões interessantes nas “verdades” que defendíamos, gerando certa instabilidade à nossa forma de refletir sobre as coisas do mundo. O tempo corroía as horas rapidamente. Compreendi, em poucos minutos, que aquele era o meu primeiro encantamento efetivo por alguém. Decidimos então tomar um ônibus e conhecer um local tradicional da cidade, em que a música per-
Fora do Plano por NOELLE OLIVEIRA noelleoliveira@meiaum.com.br
Sem estádio em 2012
O ano de 2011 foi marcado por um novo governo no Distrito Federal, sem resultados práticos. A ineficácia das ações, ou a demora em se atingirem os objetivos – como encaram os mais otimistas –, foi justificada pela “herança maldita” das gestões anteriores. Mas se tem uma coisa da qual o governador Agnelo Queiroz se orgulha é a lista de eventos esportivos que virão à capital. Além de sede da abertura da Copa das Confederações, no ano que vem, o Estádio Nacional receberá sete partidas da Copa do Mundo de 2014. Tem também a Copa América em 2015 e os jogos de futebol das Olimpíadas de 2016. O pacote esportivo é a grande aposta da gestão e serve para chamar a atenção diante dos problemas da cidade. Porém, nos bastidores, comenta-se que nem mesmo esse projeto caminha bem. Agnelo já teria sido informado pelo secretário de Obras, Oto Silvério, de que o antigo Mané Garrincha, não ficará pronto a tempo da Copa das Confederações, em junho de 2013. Segundo fontes próximas ao governador, o secretário foi cerimonioso ao dar a má notícia, que irritou Agnelo. Procurado pela coluna, Oto negou a conversa e disse desconhecer o assunto. A preocupação, no entanto, ganha força entre engenheiros que entendem bem da obra e confirmam o provável desacordo entre o prazo e o relógio.
Em tempo, mas irreal O secretário-executivo do Comitê Organizador Brasília 2014, Cláudio Monteiro, é enfático ao afirmar que as obras do estádio serão concluídas até dezembro. Há data e hora para a inauguração: 11 horas de 31 de dezembro. Enquanto isso, a licitação para escolha da empresa que vai gerir a segunda etapa da construção ainda apresenta pendências. O contrato com o consórcio que executa a obra, por sua vez, só termina no fim do primeiro semestre de 2013. Sobrariam seis meses? Em 2011, Monteiro afirmou que a população poderia acompanhar em tempo real a evolução do estádio por meio de câmeras. O prazo para o lançamento do “Big Brother da Copa” era abril
de 2011. Até agora, nem sinal das imagens. Segundo o governo, as câmeras estão sendo realocadas e, ainda, em fase de teste. O novo prazo para o início da transmissão em tempo real é março, quando ficará pronto o anel de concreto que une as colunas do estádio, onde as máquinas poderão ser instaladas em definitivo.
Pendências Após questionamentos, a licitação para escolher a empresa que vai administrar a segunda fase das obras passa pelo crivo do Conselho Regional de Engenharia. Este avalia o critério adotado pelo governo – que atribui 70% da decisão sobre o vencedor a questões técnicas, deixando
30% da escolha ligada ao fator preço. O conselho já expediu as notas técnicas, mas as empresas recorreram. Agora, é esperar. A contratação municiará a obra com profissionais de alta formação em áreas nas quais o governo não tem quadro de servidores. O estádio fechou dezembro de 2011 com 45% das obras concluídas. Em janeiro, Monteiro afirmou à Fifa que 50% estavam prontos. Falta a licitação da cobertura do estádio – que terá o vencedor divulgado neste mês –, a aquisição do gramado e das cadeiras. Uma das ideias é que os assentos sejam feitos de material reciclado. O governo cogita batizar as cadeiras com nomes de moradores de Brasília que fizerem doações de itens reutilizáveis.
TEXTTO
brasil-muitos-em-um
a reinvenção de brasília
precisamos reinventar a brasília que ainda existe no pulso inicial; a outra brasília, nova, extraordinária, ainda mora naquela, na que sempre existiu TexTTo e fotografia TT Catalão ttcatalao@gmail.com
27 depois das dores, o parto; depois da vergonha, a redenção; depois da infâmia, o sol da solidariedade; depois da ferida, a cicatriz; desejamos assim, clamamos assim, queremos assim, a cidade de volta – se possível, na mesma urgência e velocidade com que a rapina atuou; tentamos, assim e assim tem sido desde que a mancha tingiu a terra vermelha; desde que o breu afanou o brio; desde que um fogo vindo dos carpetes nos fez joguetes e devastou o cerrado sem avisar pela chama; assim nos reservamos em estado suspenso – na luta para não virar amargo – desconfiados da esperança enquanto se restaure a redenção; alguma coisa ainda não se revelou, pode ser isso: talvez, até a dimensão do vício, operado pelas transações predadoras, ainda não se mostrou completa; a dor, inteira – mesmo insuportável – facilita a cura mais plena; ainda zanzamos em desorientação cívica porque até a indignação foi domesticada em atenuantes que entorpecem o ânimo e embaçam a definição do grito; ainda falta aquela palavra que não sai só pela boca; ainda insiste a letra impressa sem alma; a imagem que apenas ilustra e o som oco, sem eco – monólogos de monoblocos monolíticos; brasília existiu para proclamar o plural; nesse princípio, sem fim determinado, construímos surpresas, rebeldes ao mais do mesmo, precisamos da mistura constante pelo ato apaixonado de quem decide fazer da vida manifesto; a cidade sobrevive dessa necessidade absoluta de carinho, exige generosa grandeza e comprometimento visceral; proclama a percepção ampla do brasil-muitos-em-um (somos soma) – sintonizar o entusiasmo inicial da origem da cidade: mesmo os figurantes da “grande obra”, os que
despencaram dos andaimes na noite e foram soterrados de dia, criaram a mística libertária da cidade; precisamos reinventar a brasília que ainda existe no pulso inicial; a outra brasília, nova, extraordinária, ainda mora naquela, na que sempre existiu; retomar ritmos sem retornar a velhos ritos, eis o desafio – reaprender com o cerrado como brotar depois de tanta labareda; descobrir onde se abriga a água quando queimam as veredas; reinventar brasília pelo coração dos que não apenas projetam, programam, legislam ou mesmo a explicam; reinventar a cidade com quem ainda ama essa matéria-prima nutriente da nossa brasilidade brasiliense; reinventar as trilhas que nos trouxeram até aqui e nos mostraram a utopia do sertão braço com litoral, rural papo com urbano, arte frater da cultura, pensar irmão do sentir, política legitimada por ética da polis... esta cidade nunca esteve pronta; nenhuma cidade fica pronta; o pronto está acabado; cidades não terminam; nem são exterminadas, facilmente; elas se reinventam e ressignificam suas ruínas por se alimentarem do orgânico que vai soprar vida em suas narinas para existir; cidades brotam e renascem do humano e suas relações para moldar sua cara em matéria e espírito; reinventar a cidade é uma decisão nossa, amorosa, compartilhada, em busca do reatar os fios e do reavivar os fortes e belos filhos de uma utopia abortada, aqueles, sempre sementes, alertas na fermentação do caldo da terra, pronta para renascer assim que acontecer de ser regada pelo dom de cada um, em todos, presentes; e assim voltar à cidade do princípio, sem fim...
28capa
Distrito Federal , Brasil
O que era, o que virou e o que um dia poderá ser esta nossa unidade federativa, a mais peculiar do País Texto Rafania Almeida Ilustração Pedro ernesto rafania@meiaum.com.br
Território: 5.787,784 km². População: 2.570.160 habitantes. Densidade demográfica: 444,07 habitantes por km². Dividido em: 30 regiões administrativas. PIB per capita: R$ 50.438,00 anual, o triplo da média nacional (R$ 16.918,00). Peculiaridades: 1 – É a capital federal (Brasília). 2 – A União mantém o Fundo Constitucional do Distrito Federal, que repassa recursos ao DF para manutenção das áreas de educação, saúde e segurança, esta última de acordo com o estabelecido pela Constituição Federal. Em 2012 o repasse será de quase R$ 12 bilhões.
ernesto@grandecircular.com
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e você conhece o Distrito Federal, sabe que a descrição que abre a reportagem é a identidade desta peculiar unidade da República Federativa do Brasil. Não é estado, não é município, não é território federal. Este DF que você vê hoje começou a ser pensado lá no século 19, quando o então presidente da República, marechal Floriano Peixoto, nomeou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que ficou conhecida como Missão Cruls, para definir a área onde seria construída uma nova capital federal, prevista na primeira Constituição da República. Entre 1892 e 1896, a missão chefiada por Luiz Cruls demarcou um retângulo de 14.400 quilômetros quadrados, o Quadrilátero Cruls, onde a nova sede do poder poderia ser construída. Mapas antigos do Brasil indicavam o quadrilátero como “futuro DF”. Já em 1946, no governo do marechal Eurico Gaspar Dutra, a Comissão Técnica de Estudos de Localização na Nova Capital, chefiada por Djalma Poli Coelho, manteve a demarcação da Missão Cruls como a ideal. Em 1954, no governo de Café Filho, a Comissão de Localização da Nova Capital Federal contratou uma empresa norte-americana, Donald Belcher & Associates, para estudar a área e propor a localização exata de Brasília. A empresa definiu em 1955 uma área de 52 mil quilômetros quadrados, o Retângulo Belcher, que incluía as cidades goianas de Goiânia e Anápolis e a mineira Unaí. Nessas terras, a empresa demarcou cinco sítios, cada um com mil quilômetros quadrados, onde Brasília poderia ser construída. Foi escolhido o Sítio Castanho para ser o centro e daí se definiu a área do DF: um retângulo com menos da metade da porção proposta por Cruls, abrangendo áreas dos municípios goianos de Planaltina, Formosa e Luziânia, mas cinco vezes maior do que o Sítio Castanho. Muita história, muito bonito. Mas para que isso serve? Para mostrar que o DF poderia ser maior ou menor. E ainda há quem queira aumentar ou diminuir o território. Há duas propostas para expandi-lo e uma delas é para os 14.400 quilômetros quadrados da Missão Cruls. Das proximidades de Pirenópolis até uma grande área de Formosa, Luziânia e Corumbá, em Goiás, e Unaí, em Minas. Quem prega essa ampliação é o ex-governador Joaquim Roriz (PSC). A outra amplia o território para 11 mil km², incorporando seis municípios goianos que fazem fronteira com o DF. É o que quer o também ex-governador Rogério Rosso (PSD). Por outro lado, tem gente que acha que 5.787,784 km² são grandes demais para um DF e pensa que é melhor diminui-lo. Só nos interessaria a parte que abriga o poder e o que é preservado pelo tombamento: o Plano Piloto, ligeiramente ampliado. É isso que defende o arquiteto Carlos Magalhães, que representa o escritório de Oscar Niemeyer em Brasília. Algumas cidades daqui seriam “devolvidas” para Goiás. O ex-senador Francisco Escórcio, hoje deputado (PMDB-MA), acha que Goiás não deve ficar com a área “excedente” devido à redução do DF. Essa área, somada a municípios de Goiás e de Minas Gerais, seria uma nova unidade da Federação, o Estado do Planalto Central. Não entendeu? A meiaum desenha todas essas propostas para você decidir qual a dimensão ideal do DF.
“Aumentar a área é puro interesse político. É preciso criar condições para que os moradores da região metropolitana não precisem do DF para sobreviver, como oportunidades de emprego e assistência.”
Aldo Paviani, geógrafo
Alexânia Luziânia
31 Do tamanho do Quadrilátero Cruls Autor
Joaquim Roriz Território: 14.400 km². População: mais de 6 milhões de habi-
tantes, somando-se os do DF com os 3,8 milhões da área agregada. O que abrange: as 30 regiões adminis-
trativas do DF + 11 municípios de Goiás e de Minas Gerais (nem todos por completo). O que muda: retomando a área do Qua-
drilátero Cruls, passariam para o DF, segundo os estudos da equipe de Joaquim Roriz, os municípios de Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso, Novo Gama, Planaltina de Goiás, Padre Bernardo, Cocalzinho, Alexânia, Cidade Ocidental e Corumbá de Goiás, e Unaí, em Minas.
Peculiaridades: 1 – A proposta não diz
se o Fundo Constitucional do DF seria ampliado de acordo com o tamanho da área a ser agregada nem se Goiás perderia parte do orçamento para o DF. 2 – As cidades goianas e a mineira perderiam seus vereadores e prefeitos, uma vez que a Constituição não permite a subdivisão do DF em municípios. Provavelmente, elas se tornariam regiões administrativas, com administradores nomeados pelo governador do DF, e a Câmara Legislativa passaria a ter mais deputados distritais. Justificativa: 14.400 km² foi o tamanho
do DF determinado pela Missão Cruls. Mais de 50 anos se passaram desde a inauguração de Brasília e Roriz acredita que o DF tenha se desenvolvido tanto em meio a loteamentos e invasões que precisa continuar se expandindo. Para onde? Para as vizinhanças, oras. Afinal, era para aquilo tudo ser DF também. O que acontece: de acordo com Roriz,
Planaltina de Goiás
um processo de integração política, econômica e social. Para desenvolver essa área, seriam construídos um aeroporto internacional de cargas, um grande hospital e um polo industrial em Cristalina. “Essa região é um vetor de desenvolvimento”, diz. Na visão do ex-governador, agregar os municípios
possibilitaria criar empregos e fixar as pessoas na região, abrindo oportunidades de investimento também em um mercado mais lucrativo, o imobiliário. Interesses: as últimas eleições compro-
varam que a situação política de Roriz no DF é complicada e dificilmente ele voltará ao Palácio do Buriti como governador. A incorporação de municípios do Entorno, porém, seria um prato cheio para ele. Nascido em Luziânia e adorado por boa parte da população de municípios vizinhos, ele se elegeria mais facilmente com esse apoio. Durante a campanha eleitoral, em 2010, Roriz ameaçou até montar uma barraca em frente ao Congresso Nacional para aumentar a área do DF, mas nunca apresentou proposta formal sobre o tema. Ele considera o tamanho atual insuficiente para promover o que chama de “desenvolvimento” e atender o grande número de migrantes que veio acreditando no sonho da nova capital. Para realizar o projeto ele diz que seria necessária apenas uma lei complementar, não uma reforma constitucional. Afirma estar se apoiando na ideia do ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Humberto Gomes de Barros, que, em 1987, defendeu que toda a extensão do Quadrilátero Cruls pertencia à União e poderia ser incorporada ao DF.
“Hoje isso é inviável . Na época não havia esta praga de loteamento irregular e o DF ainda não vivia este caos de falta de saúde e transporte, além do trânsito impraticável .”
Humberto Gomes de Barros, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça e advogado
32 Apenas seis vizinhos Autor
Rogério Rosso Território: 11 mil km². População: pouco mais de 3 milhões. O que abrange: 30 regiões administra-
tivas do DF + 6 municípios de Goiás. O que muda: passariam a ser do DF seis
municípios que fazem limite com a capital federal: Novo Gama, Valparaíso, Cidade Ocidental, Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto e Planaltina de Goiás. Peculiaridades: 1 – Rosso condiciona a
responsabilidade de assumir essas cidades à ampliação do Fundo Constitucional, mas não fala em valores. 2 – Segundo ele, as cidades poderiam continuar com seus prefeitos e vereadores, mas passariam a ser subordinadas ao DF. Isso não fica bem definido na proposta, que considera ainda rever a composição política e colocar os prefeitos como administradores regionais. Justificativa: “A gente tem que enten-
der que esses municípios já são parte do DF do ponto de vista socioeconômico”, argumenta Rosso. Ele afirma que a distância máxima desses municípios para o Plano Piloto é de
50 quilômetros. Além disso, mais de 65% do eleitorado de lá vota no DF e 95% procura os serviços públicos daqui. Rosso diz que há poucos espaços no DF para novos setores habitacionais, econômicos e industriais. “Alguns desses municípios, como Valparaíso e Novo Gama, são resultado do desmembramento de Luziânia em função do DF”, explica. Com o crescimento de Brasília e o alto custo de vida, muitas famílias foram para Goiás. Formavam aglomerados próximos daqui, com custo de vida menor, sem perder a chance de continuar aproveitando a infraestrutura brasiliense.
vestimentos. Garante que, se fosse aprovado, o projeto daria maior proteção ao DF e controle do Entorno. Mas, de todo modo, provocaria inchaço na capital, com pessoas em busca de melhores serviços e empregos mais bem remunerados. Rosso acredita ser mais fácil criar empreendimentos em um DF maior, dando grandes lucros para o mercado imobiliário. Planeja instalar distritos industriais e comerciais, além de tentar emancipar as regiões administrativas e transformá-las em municípios, o que hoje não é permitido pela Constituição.
Andamento da proposta: a ideia de Rosso foi apresentada à Câmara dos Deputados, em 2009, pelo então deputado Tadeu Filippelli (PMDB). Eles, na época, eram aliados. A Proposta de Emenda Constitucional 422/09 recebeu 190 assinaturas para tramitar no Congresso, mas foi arquivada com o fim da última legislatura. Rosso busca alternativas para colocá-la em discussão novamente. Interesses: “A proposta é transformar
em direito o que é uma situação de fato”, afirma Rosso. Apesar de a Lei Complementar nº 94/98 ter criado a Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno (Ride) e determinado o repasse de recursos do governo do DF para lá, ele considera que não haja uma política de in-
“Temos uma Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno que nunca funcionou. Prefiro que fique como está. Aumentar ou diminuir não fará diferença se não for bem administrado.”
Ivelise Longhi, presidente da Codeplan, ex-vice-governadora do DF
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“A população deveria se manifestar contra a especulação imobiliária e em favor de um desenvolvimento sustentável e da preservação do Patrimônio Histórico Nacional . Permitir os condomínios e a expansão desenfreada do DF é o mesmo que dar o aval para a construção de favelas.”
Cláudio Queiroz, arquiteto e professor da UnB
Águas Lindas
Novo Gama
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Planaltina Padre Bernardao
Gama
Unaí
Estado do Planalto Central
“Resolver o problema social da enorme população que se aglomerou no entorno da capital , atraída pela ilusória proximidade do poder e pelas facilidades oferecidas, é uma questão paralela, a ser discutida e resolvida, seja dando condições ao estado de Goiás para que incorpore essas populações, seja criando um estado. Mas que seja um estado de verdade, com condições reais de se sustentar por seus próprios meios, de criar seus próprios empregos.”
Maria Elisa Costa, urbanista e filha de Lucio Costa
OS OUTROS DFs
De volta ao centro administrativo Autor
Francisco Escórcio Território: cerca de 2 mil km². População: 500 mil habitantes. O que abrange: 10 regiões administra-
tivas do DF. O que muda: a Proposta de Emenda Cons-
titucional (PEC) nº 27, de 2002, previa que o DF fosse composto apenas por Plano Piloto, Lago Norte, Lago Sul, Guará, Sudoeste, Octogonal, Cruzeiro, Park Way, Núcleo Bandeirante e parte do Paranoá. Como outras regiões administrativas surgiram nesse período, o deputado admite que a PEC deva ser revista, para ver o que é possível fazer com regiões como Águas Claras, nascida depois do estudo sobre a criação do Estado do Planalto Central. Peculiaridades: 1 – O Estado do Planal-
to Central seria composto por 41 municípios, sendo 12 regiões administrativas do DF (não existiam 30 na época do estudo) que se tornariam cidades, 26 municípios de Goiás e três de Minas Gerais. A capital no novo estado seria Taguatinga. 2 – Brasília deve ter sua função original respeitada: ser exclusivamente a capital do País, com um governador nomeado pelo presidente da República, sem Câmara Legislativa, que seria substituída por uma comissão do Senado, como foi até 1991. Não haveria mais eleições aqui, a não ser para presidente da República. 3 – O Fundo Constitucional seria reduzido, pois seriam necessários menos recursos para
manter o DF, e os municípios do Estado do Planalto Central seriam autossustentáveis, já que teriam maior capacidade de gerar riquezas e se manter sem depender da União e da infraestutura de Brasília. Justificativa: “A expansão de cidades
como Águas Claras é o claro exemplo de que Brasília precisa ser protegida”, diz o autor. “Foi por não tomarem providências que mais cidades estão germinando diariamente, com esse crescimento desenfreado onde não há condições de crescer mais”, ataca. Apesar de o Plano Piloto ter pouco mais de 300 mil moradores, a cidade sofre com o inchaço provocado pelos mais de 3 milhões de dependentes da capital, vindos das regiões administrativas e do Entorno. Aqui se concentram pelos empregos e pelas políticas públicas. Uma das provas disso é que Brasília, com suas vias extensas, com várias faixas e pistas, vive o caos com engarrafamentos longos que se formam nos horários de pico. “Manter a capital sem tantos dependentes como é hoje será muito mais fácil”, garante. Segundo ele, a cada ano 240 mil pessoas se agregam ao conglomerado formado por DF e Entorno, em busca de melhores condições de vida. Escórcio acredita ser essa a única maneira de preservar o tombamento. Seria feito um plebiscito para a população votar a favor ou contra a proposta. Em 2003, o Instituto Soma divulgou pesquisa em que 43% da população do DF e 63% do Entorno apoiavam o projeto. Escórcio lembra que o DF foi criado para abrigar o centro administrativo do País e não para se tornar uma cidade com todas as suas complicações e problemas. Hoje, diz ele, o Brasil sustenta o DF.
Brasília integra a chamada Aliança das Capitais, com Washington (Estados Unidos), Camberra (Austrália) e Ottawa (Canadá). É um fórum de discussão e troca de experiências entre capitais nacionais planejadas, especialmente no quesito gestão. Mas a brasileira é a que mais destoa do grupo. É a única a enfrentar problemas gritantes com saúde, educação e transportes. É também a dona da maior extensão territorial e a mais populosa. O Distrito de Colúmbia, que se confunde com Washington, tem apenas 177 quilômetros quadrados e quase 600 mil habitantes. A região metropolitana, que engloba cidades dos estados de Virgínia e Maryland, tem 5,5 milhões de habitantes. O DC funciona como centro administrativo do país. Sua representação no Congresso estadunidense é limitada a um delegado sem direito a voto e a um senador. O prefeito é eleito e há um conselho municipal. Camberra tem 805,6 quilômetros quadrados e pouco mais de 345 mil habitantes. É a única cidade do Território da Capital da Austrália e tem uma assembleia legislativa composta por 17 membros, que elegem um ministro-chefe responsável por escolher quatro membros para formar um gabinete executivo, que funciona como um conselho municipal. Ottawa é mais populosa, mas não tanto quanto o DF. São cerca de 860 mil habitantes em seus 2.778 quilômetros quadrados e mais de 1 milhão e 400 mil pessoas na região metropolitana. Tem um prefeito e 21 conselheiros municipais eleitos pela população.
Andamento da proposta: a Co-
missão de Constituição e Justiça do Senado votou, em 2010, pela constitucionalidade do projeto, com poucas ressalvas. Mas o deputado Escórcio acusa o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) de ter feito uma jogada com o então governador José Roberto Arruda e seu vice, Paulo Octávio, ambos do DEM, para arquivar o projeto. Interesses: Escórcio diz não querer
mais saber do projeto, porque hoje está mais preocupado com o estado pelo qual foi eleito, o Maranhão. Mas afirma que a proposta está lá para alguém tomar posse dela e reacender a discussão.
36 Um DF mais protegido Autor
Carlos Magalhães Território: aproximadamente 2.500 km². População: pouco mais de 500 mil habi-
tantes. Dividido em: limitaria o território do
Distrito Federal à Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago Paranoá – do Taquari ao Lago Sul – e à APA Gama Cabeça de Veado – que vai do Lago Sul e Jardim Botânico até o Catetinho. O que muda: o Parque Nacional também
entraria no território, mas sem as cidades que o cercam. Tudo que fica do lado oposto ao do Plano Piloto na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), com exceção do Parque Nacional, fica fora do DF proposto por Magalhães. Peculiaridades: 1 – Com a redução se-
ria extinta a Câmara Legislativa, que na visão de Magalhães não tem função. Voltaria a funcionar a Comissão do Distrito Federal no Senado Federal, para administrar a região. 2 – Tudo o que não estiver dentro da área delimitada pelo arquiteto voltaria para Goiás. Na avaliação dele, algumas regiões administrativas conseguem sobreviver com recursos próprios em Goiás. Justificativa: a proposta do arquiteto é
de 1993, quando ele foi superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele conta que naquela época já percebia as dificuldades para controlar o crescimento desordenado do Plano Piloto e do DF em geral. “As grandes construtoras, a especulação imobiliária e a Câmara Legislativa, com a maioria dos deputados vindos das satélites, viam o Plano Piloto como fonte de recursos inesgotável”, lamenta. Mudar a destinação de terrenos e instalar neles postos de gasolina, burlar o gabarito, aumentar o número de projeções em setores já fixados, como o Sudoeste,
“O único projeto que reflete a opinião do Oscar Niemeyer é o do Carlos Magalhães. Saí de Brasília em 1972 e hoje me perco aqui, pois não reconheço mais a cidade, que foi muito modificada. A proposta dele respeita a capital planejada por Lucio Costa e Oscar Niemeyer.”
Ana Niemeyer, neta de Oscar Niemeyer e diretora da fundação que leva o nome do arquiteto
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Andamento da proposta: o arqui-
teto nunca oficializou o projeto, mas chegou a apresentá-lo ao então senador Jefferson Péres (morto em 2008), que também era relator da proposta de Escórcio. Ele diz que Péres se mostrou favorável às duas sugestões de reduzir o DF. “Mas o senador morreu e parece que os dois projetos foram com ele”, lastima Magalhães, que não vê nova perspectiva para apresentá-lo. Interesses: o arquiteto Carlos Magalhães
afirma que reduzir o Distrito Federal é a única maneira de acabar com a especulação imobiliária, proteger o tombamento e acabar com a politicagem em cima desses dois fatores na capital da República.
Quase tudo mudou
Maria Elisa Costa lembra que, até 1960, quando a capital era o Rio de Janeiro, o DF não aspirava ser “estado” da Federação. “Era o Distrito Federal, primeiro e único, ou seja, um pequeno território destinado a abrigar os Três Poderes federais.” O presidente da República escolhia um prefeito-administrador (não político), que poderia ser demitido caso não fizesse bem seu trabalho. As despesas ficavam por conta da União. O DF, até 1960, era o que é hoje a cidade do Rio de Janeiro. “A ditadura militar no Brasil durou tempo demais (1964-1985) e, quando finalmente terminou, havia no País uma ânsia pelo voto”, explica Maria Elisa. “Assim, foi decidido que o governador do DF, que antes era prefeito, seria eleito.” A denominação “governador” em lugar de “prefeito” foi estabelecida ainda nos governos militares. Para Elisa, essa transformação é a responsável pelos grandes problemas que o DF enfrenta hoje, de política, de administração, de tombamento, de crescimento desenfreado e de políticas públicas. “Tudo mudou, menos o detalhe que a ‘mãe’ União continua arcando com todas as despesas, pois, por definição, o DF não tem como se bancar, não é um ) estado e seu único cacife é terra.” )
e projetar novos setores, como o Noroeste, é, na opinião de Magalhães, imoral e resultado da conivência dos administradores públicos com o malfeito. O DF é, para Magalhães, muito pequeno para ter a estrutura de um estado da Federação e muito grande para depender sempre do governo federal com o Fundo Constitucional. A solução seria, então, reduzir a área e buscar uma nova formulação política. Hoje, o Plano Piloto é a fonte de perspectiva de trabalho de quase toda a população do DF.
“O DF não poder ser essa extensão gigantesca de terras. É por isso que a capital tem os problemas que tem, principalmente em relação ao transporte público e à especulação imobiliária. O governo local não consegue controlar tudo isso. Avaliamos que o território deveria ser limitado à Bacia do Paranoá e a proposta que mais se aproxima disso é a do Magalhães.”
Alfredo Gastal, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no DF
Artigo
As metrópoles e suas múltiplas crises
No DF, o transporte, o desemprego e a habitação tornaram-se problemas estruturais e precisam ser assim atacados
Texto Aldo Paviani Ilustração Rômulo Geraldino paviani@unb.br
romulog2000@yahoo.com.br
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A
o redor do mundo, as metrópoles crescem desmesuradamente. Com o crescimento, surgem problemáticas e crises que exasperam a população e os administradores urbanos. Normalmente, as crises são superadas com medidas ou, então, se transformam em problemas estruturais. A rapidez da evolução urbana tornou-se mais evidente após os anos 1950 e acelerou-se nos últimos anos. O crescimento se deu em “círculos concêntricos”, a partir do centro em direção à periferia. As periferias, sobretudo em países pobres, são extensas e ocupam territórios nem sempre recomendáveis à habitação. Os anéis externos das grandes cidades brasileiras, por exemplo, mostram a precariedade das condições dos que habitam encostas e fundos de vales. Nas encostas, o deslizamento de terra provoca tragédias, que, infelizmente, se repetem a cada período chuvoso como neste começo de ano. Há cidades inteiras avassaladas por enchentes no Nordeste e Sudeste. Portanto, a crise das “enchentes” revela a lentidão por parte dos administradores em atender a população nas cidades atingidas. Em condições normais, as metrópoles brasileiras, inclusive Brasília, não possuem mecanismos para administrar com rapidez as crises – greves, por exemplo. Nem se enfrentam as crises transformadas em estruturais como a dos transportes coletivos. No caso da capital federal, não é de hoje que o gargalo para transportar pessoas para o trabalho e para obter serviços no Plano Piloto não é enfrentado com agilidade. De fato, o trem metropolitano, destinado a desafogar o transporte por ônibus, se mostrou superado pelo volume de pessoas a transportar, nas primeiras horas da manhã e ao fim da tarde. A frota de ônibus igualmente se mostra superada pela idade dos ônibus e pelo número insuficiente de veículos em uso. Outra crise que pode ser considerada estrutural é o desemprego urbano. Como refere o geógrafo Milton Santos, em Metamorfose do espaço habitado, o atual “período técnico-científico-informacional” traz mudanças no panorama das atividades laborais. Cada vez mais, a ciência e a técnica, a serviço da produção e do consumo, retiram do mercado de trabalho número expressivo de trabalhadores. Muitos dos que são retirados do emprego não voltam porque novas técnicas (sobretudo ligadas à informática) liberam mão de obra. A essa liberação, postos são eliminados, o que passei a denominar “lacuna de
trabalho”. Os postos eliminados ou lacunas de emprego são difíceis de detectar, a menos que pesquisas específicas sejam feitas em empresas (indústrias, comércio, bancos, etc.) e órgãos governamentais, nos quais ocorre aumento de aposentadorias não repostas por concursos públicos. No DF, segundo o Dieese, apesar de a taxa de desemprego de novembro de 2011 ser a menor desde que a pesquisa de emprego/desemprego se iniciou, em 1992, o percentual é de 11,9% ou, em números absolutos, 168 mil desempregados, o que equivale a uma cidade como Planaltina totalmente desempregada. É, portanto, um volume expressivo de desocupados. Esse desemprego pode explicar alguns outros fatos como o incremento dos que trabalham em biscates, “faz-tudo”, ambulantes e ocupados em feiras espalhadas nas cidades-satélites. Explica, em parte, o incremento de desocupados capturados pelo tráfico de drogas e, por essa via, o aumento da criminalidade. Assim, para reduzir esse tipo de delitos, faz-se necessário um esforço de empresas e governo para manter mais trabalhadores em atividade. Aumentar o número de vagas se justifica pelo aumento da população economicamente ativa (PEA), no total de 2.256.000 pessoas – um contingente de padrão metropolitano, que exige olhar atento e medidas para a inclusão de maior número de pessoas em atividades sociais e econômicas. Outra questão, a ser atacada nas próximas décadas, é a da habitação popular. No caso de Brasília, ainda são tímidos os programas de longa duração para suprir a demanda de moradia por parte dos habitantes da baixa classe média e pobres. No passado, em vez de políticas públicas efetivas, as autoridades procuraram minimizar esse problema com a doação de lotes. Com isso, os governantes atenderam clientelística e paternalisticamente milhares de famílias, ocasionaram a proliferação de núcleos novos e reativaram as migrações em direção ao DF ou para sua área metropolitana externa – vulgar e pejorativamente denominada “Entorno”.
São 168 mil desempregados no DF, o que equivale a uma cidade como Planaltina. Isso pode explicar o incremento do trabalho informal e, em parte, da criminalidade.
Perfil
É o borracheiro que fica no canteiro entre o autódromo e o depósito do Detran. Não se engane com a cara fechada. Você conhecerá um homem satisfeito com o que aprendeu e conquistou
Texto PAULA OLIVEIRA Fotos NILSON CARVALHO paulaoliveira@meiaum.com.br
fotografia@meiaum.com.br
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“Eu aprendi que tudo o que o Satanás dá, ele toma”, diz o homem que já acreditou que o crime compensaria e hoje prefere viver com pouco, mas feliz.
oi cheia de preconceitos que sugeri escrever sobre o borracheiro que mora e trabalha em uma das antigas bilheterias do Autódromo Internacional Nelson Piquet. O letreiro Borracharia do Pézin – 24 horas no canteiro em frente ao depósito do Detran sempre me intrigou. O preconceito estava em achar que a história seria como a de muitos imigrantes vindos de comunidades pobres. Contar como ele saiu de uma cidadezinha no Rio Grande do Norte chamada Marcelino Vieira, que tem menos de 9 mil habitantes, foi para o interior de São Paulo cortar cana-de-açúcar e chegou à capital da República para consertar pneu e outras coisas já seria interessante. Ao chegar lá, descobri que eu contaria a história de Raimundo Holanda, de 55 anos. Descobri também outro equívoco meu. O de pensar que a trajetória dele teria sido marcada pelas limitações impostas pela deficiência nas duas pernas, atrofiadas desde o nascimento. Afinal, os dois pés bem pequenos e voltados para dentro são a característica física que mais chama a atenção no primeiro momento. Mas nem de muleta ele precisa, equilibra-se com talento. Olhando mais atentamente, o que impressiona naquela figura é encontrar ali um homem que soube analisar e entender as lições que a vida lhe deu. O rosto com a expressão fechada, marcado pelo tempo e pelo sol, dá a primeira impressão de que Pézin seja um cara bronco, daqueles desconfiados e arredios. Mas ele aceitou de forma muito simpática o convite para ser entrevistado. Só pediu uma coisa em troca: um exemplar para enviar para a mãe, que ainda mora em Marcelino Vieira. “Ela vai ficar boba de ver a minha foto na revista.” O norte-rio-grandense chegou a Brasília no início da década de 1980 à procura de trabalho melhor. Cortar cana e carregar caminhão com toras de madeira para sempre não estava em seus planos, mas serviu para ele se sustentar bem. “A vida é muito boa para quem sabe aproveitar do melhor que ela dá”, ensina. Ele se gaba por ter sido o melhor carregador de ca-
minhão entre os funcionários de uma madeireira do interior de São Paulo. Um primo falou bem da capital, disse que aqui não faltaria trabalho. Morou em uma invasão que existia atrás do que hoje é o UniCeub, na Asa Norte, e passou a vender cachorro-quente por ali. Logo começou a trabalhar com o que aparecia, inclusive como ajudante de posto de gasolina. A função de Pézin era calibrar pneus em troca de alguns trocados. Aproveitou esse tempo para observar o trabalho dos borracheiros. Foi assim que aprendeu a profissão que exerce hoje. Só que a invasão foi desfeita e os moradores, transferidos. O destino o levou a morar em Samambaia. Foi lá que Pézin aprendeu outra atividade, muito mais rentável: a de traficante de drogas. “Nunca usei nada, só vendia”, jura. Foram seis anos de fartura e, a princípio, acreditou que o crime compensava. Até que foi preso e passou seis meses encarcerado. Mas quem disse que a pessoa não pode se redimir? “Eu aprendi que tudo o que o Satanás dá, ele toma.” Todo o dinheiro ganho com a venda das drogas foi perdido. Gastou tudo com os honorários dos advogados. Quando foi solto, se viu do mesmo jeito que chegou a Brasília. Sem nada, mas disposto a recomeçar. Precisava de ajuda. Na verdade, tinha de estar sem as restrições judiciais que o obrigavam a comprovar de tempos em tempos que não cometera mais nenhum crime. Essa chance veio um ano depois e o fez rever seus próprios preconceitos raciais. Foi um juiz negro que o chamou ao tribunal e acreditou na palavra do ex-traficante de que nunca mais venderia substância ilícita e que ficaria longe dos antigos companheiros. E foi para o homem negro que Raimundo jurou nunca mais precisar ir a um tribunal. Palavra cumprida há pelo menos 15 anos. “Deus me ensinou também que não devemos julgar pela aparência.” Contato com entorpecentes de novo? Só para comprar de um “maconheiro” o direito de se instalar na antiga bilheteria do autódromo. “Como eu não queria confusão e ele ocupava o lugar para se drogar, paguei com gosto”, lem-
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cheiro em momentos de emergência nos arredores do autódromo ou que estuda ali perto. Quem passa por ali vê, mesmo sem querer, que o negócio funciona 24 horas. “Se me ligam pedindo socorro, atendo na mesma hora para não perder o cliente”, diz. Nos fins de semana, mesmo de plantão, alguns amigos o visitam para conversar ou jogar baralho. Raimundo diz que tem hoje uma vida confortável. Uma recente aquisição foi um Logus. Não é novo, mas está bem conservado. Comprou de um amigo mecânico e pagou à vista. Agora o sono do borracheiro está ainda mais leve. Além de ficar sempre alerta, amarra o veículo ao poste logo do outro lado da rua, em frente ao autódromo. É melhor prevenir, diz.
Para quem já morou em uma casa grande e bonita, como ele descreve, na época do tráfico, ter um quarto pequeno, mas montado de maneira honesta, vale mais do que qualquer mansão. Já foi evangélico, mas hoje se considera apenas um homem de fé e diz que procura seguir o caminho do bem. E vem aqui mais uma lição, desta vez não da vida, mas de Pézin. Ao conversar e conhecer a história desse homem foi possível perceber que ele teve, sim, grandes oportunidades. E aproveitou todas elas. Hoje vive com uma tranquilidade buscada e desejada por muita gente, mas com outros modelos. “Esta é a vida que Deus reservou pra mim e estou muito feliz pelo que sou e por ) tudo que tenho.” )
bra. O antigo “proprietário” nunca mais voltou e a cabine virou a Borracharia do Pézin. Quem olha de fora acha impossível, mas cabe uma cama para ele e a companheira, um fogão, uma televisão e um frigobar. Algumas rodas e ferramentas ficam debaixo da cama. “Tem muita gente rica por aí reclamando da vida e eu aqui, com tão pouca coisa, mas feliz”, reflete. Claro que em uma borracharia não poderiam faltar fotos de mulheres sensuais. A única coisa que falta é banheiro. Mas ele se vira. Raramente Raimundo sai. Quando o faz é para andar de bicicleta, coisa que adora fazer. De resto, fica por ali mesmo. A qualquer hora pode chegar um cliente. Pézin tem muito freguês fiel que conheceu os serviços do borra-
Caixa-preta
por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com
A faca e a lição de Azucena
Diante de generais, brigadeiros e almirantes na Argentina, em dezembro passado, o novo secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, Alfredo Waldo Forti, 61, inovou ao improvisar um novo juramento de posse: — Juro por la pátria, mi madre y los 30 mil desaparecidos! — disse o advogado, na dupla condição de vítima e sobrevivente da ditadura mais sangrenta do Cone Sul. Em fevereiro de 1977, ele e seus cinco irmãos menores foram sequestrados com a mãe, Azucena Forti, ex-guerrilheira montonera, pouco antes de decolar o voo Buenos Aires-Caracas. Forti e os irmãos reapareceram, uma semana depois, vendados e amarrados a uma árvore de um parque na capital argentina. A mãe desapareceu na multidão torturada e morta pelo regime. Sua prisão foi ordenada pelo general linha dura Antonio Domingo Bussi, que comandava o combate à guerrilha na província de Tucumán, aos pés dos Andes, onde nasceu a cantora Mercedes Sosa e desapareceu Azucena. Lá foi instalado em 1975 o primeiro CCD (Centro Clandestino de Detenção) do país. Em 1976, havia 610 deles, 13 só em Buenos Aires, onde estava o maior e mais sanguinário: o CCD da Escola de Mecânica da Armada (Esma), onde entraram 5 mil presos e menos de cem saíram vivos.
Bussi atirava primeiro O primeiro CCD do continente é um privilégio brasileiro: nasceu em 1964, logo após o golpe, num casarão do número 600 da rua Santo Antônio, em Porto Alegre, a quatro quadras do Parque da Redenção, onde foi preso o ex-sargento Manoel Raimundo Soares. Sobreviveu a 152 dias de tortura, inclusive no casarão, conhecido como ‘Dopinha’, até aparecer boiando em agosto num afluente do rio Guaíba, com as mãos amarradas nas costas, no primeiro e chocante caso de violência do novo regime. Um mês depois, o ‘Dopinha’ foi desativado. O general Bussi, ao contrário, estava cada vez mais ativo. Entre 1976 e 1977, auge da sua guerra contra a guerrilha do ERP, aconteceram
371 desaparecimentos em Tucumán. Testemunhas contaram que o próprio Bussi costumava dar o primeiro tiro no preso, obrigando todos os seus oficiais a segui-lo, num fuzilamento em massa que não admitia inocentes, muito menos sobreviventes — como Azucena.
Condenação Um dia, na década de 1990, Forti descobriu que o general, já septuagenário, era seu companheiro casual no voo da Aerolíneas. No meio da viagem, levantou e foi até a poltrona de Bussi. Sem se apresentar, inclinou-se, entreabriu o paletó e mostrou a faca de metal que compunha os talheres servidos na época: — Estás vendo esta faca? Não tenho proble-
ma nenhum em cravá-la cinco vezes em você. Mas a formação que recebi de minha mãe me diz que esta não seria a maneira certa de resolver as coisas. Eu quero te ver apodrecer no cárcere! — amaldiçoou, deixando para trás, tremendo, o homem que fazia a Argentina estremecer de medo nos anos da ‘guerra suja’. Bussi foi condenado à prisão perpétua em 2008 pelo desaparecimento de outras 72 pessoas. Morreu do coração em novembro passado, aos 85 anos, num país onde homens e juízes dizem e sabem resolver as coisas da maneira certa. No Brasil, por enquanto, a discussão é outra: houve ou não um estupro (consentido?) no BBB da Globo?
Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br
Tomas Muscionico
À espera de supresas A data foi confirmada em junho. Os ingressos começaram a ser vendidos em setembro a um grupo restrito e em outubro ao geral. Em fevereiro, o Cirque du Soleil chega pela terceira vez a Brasília, que já recebeu Alegría, em 2008, e Quidam, no ano seguinte. Agora, apresentará Varekai. Desde 2002, o espetáculo visitou mais de 15 países e foi visto por 6 milhões de pessoas. São 170 profissionais e pelo menos mais 150 contratados em cada estada. No figurino, 600 peças feitas à mão. Só para montar o cenário são oito dias. Há quem diga que a fusão precisa de teatro, dança, luzes, acrobacias e música tenha ficado cansativa, mas não é todo dia que Brasília recebe uma produção desse porte. E, depois de 27 anos de estrada, a trupe canadense promete surpreender ainda mais.
Cinema – lançamentos
12 horas Direção: Heitor Dhalia. Estreia do diretor brasileiro em Hollywood. Quando Jill Parrish (Amanda Seyfried) volta do seu trabalho noturno para casa e encontra a cama da irmã vazia, fica convencida de que o serial killer que a raptou dois anos antes voltou para terminar o serviço. A polícia não acredita nela, mas Jill sabe que o tempo está se esgotando. Sem ninguém a quem recorrer, sai em busca de sua irmã. Suspense. Classificação 14 anos. Kinoplex em 24 de fevereiro. 93 minutos.
À beira do abismo Direção: Asger Leth. Um ex-policial procurado pela Justiça (Sam Worthington) resolve se matar pulando do alto de um prédio de Nova York. A polícia da cidade se mobiliza para tentar impedir a tragédia, levando ao local uma policial psicóloga (Elizabeth Banks) especialmente requisitada por ele. O que ela percebe, à medida que conversa
Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 3 de
O filme mostra, por meio de uma série de flashbacks, as ações da dama de ferro durante os 17 dias que precederam o conflito. Drama. Classificação 12 anos. Kinoplex
fevereiro. 109 minutos.
em 10 de fevereiro e Cinemark em 17 de fevereiro.
com o homem no parapeito do prédio, é que tudo o que está acontecendo ali parece cada vez mais um jogo de cena. Ação.
105 minutos.
A Bela e a Fera Direção: Gary Trousdale e Kirk Wise. Relançamento do clássico da Disney de 1991, agora em 3-D. As aventuras de Bela, uma jovem brilhante que vai parar em um castelo com um príncipe transformado em fera. Com a ajuda dos funcionários encantados do castelo, Bela logo aprende a lição mais importante: que a verdadeira beleza está dentro de nós. Animação. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 3 de fevereiro. 84 minutos.
A dama de ferro Direção: Phyllida Lloyd. Margaret Thatcher, vivida por Meryl Streep, foi por mais de dez anos a primeira-ministra britânica e teve uma série de importantes decisões em suas mãos. Algumas foram feitas durante a Guerra das Malvinas, em 1982.
A mulher de preto Direção: James Watkins. Arthur Kipps (Daniel Radcliffe) é um jovem advogado que viaja para cuidar dos papéis de um cliente falecido, mas acaba descobrindo segredos trágicos da vida daquele homem. Suspense. Classificação 12 anos. Kinoplex em 17 de fevereiro e Cinemark em 24 de fevereiro. 120 minutos.
Anônimo Direção: Roland Emmerich. Na Inglaterra da rainha Elizabeth I (Vanessa Redgrave/Joely Richardson), o filme trata de uma questão que intriga acadêmicos e mentes brilhantes: quem realmente criou o trabalho creditado a William Shakespeare? Na trama, ele é vivido por Rafe Spall. Drama. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 17 de fevereiro. 105 minutos.
Laurece Cendrowizc/The Weinstein Company
Arte, Cultura e Lazer
Cinema Aos 83 anos, Nelson Pereira dos Santos segue firme na profissão que o transformou num dos ícones do audiovisual no Brasil. Dono de olhar sensível e atento aos acontecimentos mais importantes da nossa cultura, o cineasta tira da cartola dois projetos que vão mexer com o lado nostálgico e sentimental do público. São os documentários A música segundo Tom Jobim e A luz de Tom. O primeiro está em cartaz na cidade desde 20 de janeiro e conta a trajetória musical de Tom a partir de imagens e, claro, música. Não tem entrevistas, depoimentos, narração ou texto. As imagens
A invenção de Hugo Cabret Direção: Martin Scorsese. Produção em 3-D baseada na obra de Brian Selznick. Hugo (Asa Butterfield) é um garoto de 12 anos que vive em uma estação de trem em Paris no começo do século 20. Seu pai, um relojoeiro que trabalhava num museu, morre momentos depois de mostrar a Hugo a sua última descoberta, um androide. Com a ajuda de uma garota excêntrica (Chloë Grace Moretz), ele busca a resposta para um mistério que liga o pai, o mal-humorado dono de uma loja de brinquedos (Ben Kingsley) e uma fechadura em forma de coração, aparentemente sem chave. O problema é que o menino não consegue ligar o robô nem desvendar o mistério. Aventura. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 17 de fevereiro. 127 minutos.
de grandes vozes da música mundial como Sammy Davis Jr., Sarah Vaughan, Diana Krall interpretando composições do artista, além do próprio Tom ao lado de figuras como Frank Sinatra, o poeta Vinicius e Elis Regina, dizem por si. “É um filme de montagem”, diz o diretor à meiaum. O segundo projeto, ainda sem data de lançamento, traz a intimidade do artista a partir de lembranças das três mulheres mais importantes na vida dele: a irmã Helena, a primeira mulher, Thereza Hermanny, e sua última parceira, Ana Lontra
As idades do amor Direção: Giovanni Veronesi. Três histórias paralelas. Primeira: Roberto (Riccardo Scamarcio) é um jovem e ambicioso advogado prestes a casar com Sara (Valeria Solarino). Extremamente organizado em sua vida, começa a perder o controle quando conhece Micol (Laura Chiatti), provocante mulher de uma vila na Toscana. Segunda: Fabio (Carlo Verdone) é um famoso apresentador de televisão e tem sido o marido perfeito durante 25 anos. Certa noite, numa festa, encontra
Eliana (Donatella Finocchiaro), uma mulher cheia de surpresas. Na única noite em que ficam juntos, ela se recusa a ir embora, complicando a sua vida. Terceira: Adrian (Robert De Niro) é um professor americano de história da arte que se mudou para Roma após o divórcio. É amigo de Augusto (Michele Placido), porteiro do prédio onde mora, cuja bela filha Viola (Monica Bellucci) está prestes a quebrar sua existência pacífica e a reacender sua paixão. Comédia. Classificação 14 anos. Kinoplex em 17 de fevereiro. 125 minutos.
Jobim. “No primeiro filme a gente ouve as músicas do Tom para entender sua história, como ele próprio dizia, a linguagem musical basta”, explica Nelson Pereira. “No segundo, sua infância, o começo da carreira e o sucesso, assim como a fase da maturidade, são contadas por essas três maravilhosas mulheres, com Tom cantando.”
Lúcio Flávio É jornalista e entrevistou o mestre do cinema
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Cada um tem a
gêmea que merece Direção: Dennis Dugan. A história mostra Jack (Adam Sandler) lidando com sua irmã gêmea, Jill (Adam Sandler), que vem para uma visita no Dia de Ação de Graças e se recusa a ir embora. Comédia. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 10 de fevereiro. 91 minutos.
Drive Direção: Nicolas Winding Refn. Um motoristadublê de Hollywood (Ryan Gosling) tenta ajudar sua vizinha Irene (Carey Mulligan) a escapar do perigo, mas acaba se tornando alvo de um dos homens mais procurados de Los Angeles. Para fugir e sobreviver, precisa fazer aquilo que sabe melhor: dirigir. Ação. Classificação 16 anos. Cinemark e Kinoplex em 24 de fevereiro. 95 minutos.
Filha do mal Direção: William Brent Bell. Na Itália, Isabella (Fernanda Andrade) começa a frequentar sessões de exorcismo para tentar descobrir o que realmente aconteceu com sua mãe (Suzan Crowley), que assassinou três pessoas durante um desses rituais e acabou internada em um manicômio. Terror. Classificação 16 anos. Cinemark e Kinoplex em 3 de fevereiro. 86 minutos.
Guerra é guerra Direção: McG. Dois bons amigos e agentes da CIA (Chris Pine e Tom Hardy) travam uma batalha de grandes proporções após saberem que estão saindo com a mesma mulher (Reese Witherspoon). Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex em 24 de fevereiro. 93 minutos.
Histórias cruzadas Direção: Tate Taylor. Skeeter (Emma Stone) é uma garota da sociedade que retorna a Jackson, pequena cidade no estado de Mississipi, determinada a se tornar escritora. Começa a entrevistar as mulheres negras da cidade
que deixaram suas vidas para trabalhar na criação dos filhos da elite branca. Aibileen Clark (Viola Davis), a empregada da melhor amiga de Skeeter, é a primeira a conceder a entrevista, o que desagrada à sociedade. Apesar das críticas, Aibileen continua dando apoio a Skeeter. Drama. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 3 de fevereiro. 137 minutos.
Motoqueiro fantasma 2 – Espírito de vingança
Direção: Brian Taylor e Mark Neveldine. Johnny Blaze (Nicolas Cage) está escondido na Europa Oriental, tentando controlar sua maldição de servir ao diabo. No entanto, acaba recrutado por uma seita para encarnar o diabo, que vai possuir o corpo de seu filho mortal no dia do aniversário do menino. Ação. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 17 de fevereiro. 100 minutos.
O artista Direção: Michel Hazanavicius. O filme, mudo e em preto e branco, se passa na Hollywood de 1927 e conta a história do astro de cinema George Valentin (Jean Dujardin), que, enquanto se preocupa com o futuro de sua carreira com a chegada do cinema falado, se apaixona por Peppy Miller (Berenice Bejo), uma jovem dançarina que busca o sucesso. Comédia. Cinemark em 10 de fevereiro. 100 minutos.
O despertar Direção: Nick Murphy. Em 1921, a Inglaterra sofre com as perdas da 1ª Guerra Mundial. A cética Florence Cathcart (Rebecca Hall), especialista em desvendar supostas aparições de fantasmas, é chamada para visitar um pensionato e explicar as visões do espírito de uma criança. Terror. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 17 de fevereiro. 107 minutos.
O porto Direção: Aki Kaurismäki. Marcel Marx (André Wilms) é um homem de 60 anos que trabalha como engraxate, mora com sua mulher (Kati Outinen) e sua cadelinha Laila. Vivendo com dificuldades, vê sua rotina mudar completamente com a chegada de um jovem imigrante ilegal. Com o auxílio de vizinhos, resolve esconder o menino da polícia. Drama. Classificação 16 anos. Cinemark em 10 de fevereiro. 93 minutos.
Protegendo o inimigo Direção: Daniel Espinosa. Um oficial da inteligência da CIA (Ryan Reynolds) trabalha para proteger um criminoso (Denzel Washington). A casa onde estão escondidos é destruída por um grupo que quer matar o protegido e evitar que ele sirva de testemunha nos tribunais. O agente precisa impedir que ele seja morto na fuga para outro local seguro. Ação. Classificação 16 anos. Kinoplex em 10 de fevereiro. 91 minutos.
Reis e ratos Direção: Mauro Lima. No Rio de Janeiro de 1963, o clima de conspiração afeta uma série de personagens relacionados, de alguma forma, ao cenário político da época. Um deles é Troy (Selton Mello), agente da CIA que vive no Brasil e passa a duvidar de sua fidelidade em relação à terra natal. Com a ajuda de seu comparsa brasileiro, o major Esdras (Otávio Müller), ele planeja uma armadilha para o presidente que pode atrapalhar os planos do Golpe Militar. O filme é uma narrativa em flashback. Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex em 17 de fevereiro. 91 minutos.
Star Wars: Episódio I – A ameaça fantasma
Direção: George Lucas. O filme de 1999 é relançado em 3-D. Obi-WanKenobi (Ewan McGregor), jovem aprendiz Jedi sob a
Jaad Buitendijk/Gk Films
Arte, Cultura e Lazer
Cinema Brasília merece e nós, cinéfilos, mais ainda. Finalmente chegou ao fim a nossa abstinência imagética. De agora em diante, já podemos voltar a procurar pelos bons filmes nas salas da cidade. No finalzinho do ano passado, já deu para a gente se animar, e muito, com a inauguração do Espaço Itaú de Cinema e as suas confortáveis oito salas. Nada melhor do que chegar e poder escolher o lugar onde você quer sentar. Me fez lembrar aquele famoso cinema da rua Augusta, lá de Sampa. Só faltou a livraria! Aproveito para dar a dica das cadeiras das duas últimas fileiras (love seats). Ali você pode levantar o braço da poltrona enquanto assiste ao filme abraçadinho e, ao mesmo
Sete dias com Marilyn Direção: Simon Curtis. O jovem assistente de produção Colin Clark (Eddie Redmayne) documenta a tensa relação entre o diretor e ator Laurence Olivier (Kenneth Branagh) e Marilyn Monroe (Michelle Williams) durante as gravações de O príncipe encantado, que a atriz abandonou por uma semana para se divertir em Blighty, na Inglaterra. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark em 24 de fevereiro e Kinoplex em 10 de fevereiro. 99 minutos.
tempo, divide aquela pipoca. Pelo que deu para perceber, a programação é voltada aos “filmes de arte” (6 salas), mas quem curte um blockbuster (2 salas) não fica decepcionado. Para nossa total felicidade, temos mais quatro confortáveis salas bem ali no coração da cidade. O mais que bem-vindo Cine Cultura Liberty Mall foi recém-inaugurado. A prioridade das salas também são os filmes de arte (independentes),
tutela de Qui-GonJinn (Liam Neeson), é designado a ir com seu mestre escoltar a rainha Amidala (Natalie Portman) a um encontro com os líderes da República. Mas, durante a viagem, a nave tem problemas e acaba por aterrissar no planeta Tatooine, onde encontram o menino Anakin Skywalker (Jake Lloyd). Qui-Gon acredita que o garoto possa ser o líder dos Jedis que ele procura há muito tempo, mas algo o alerta sobre o perigo de torná-lo seu aprendiz. Aventura. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 10 de fevereiro. 136 minutos.
Um método perigoso Direção: David Cronenberg. O jovem psicanalista Carl Jung (Michael Fassbender) começa um tratamento inovador, sob orientação de seu mestre, Sigmund Freud (Viggo Mortensen). Disposto a ir mais a fundo nos mistérios da mente, Jung verá algumas de suas ideias se chocarem com as teorias de Freud. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 10 de fevereiro. 111 minutos.
Viagem 2 – A ilha misteriosa Direção: Brad Peyton. Sean (Josh Hutcherson) capta uma mensagem codificada, que vem de
além dos filmes brasileiros. O lugar ficou muito bonito e aconchegante, mas o melhor mesmo é a localização. Ninguém mais precisa atravessar a cidade para ir ao cinema. A minha sugestão é que haja uma programação para o horário de almoço. Afinal de contas, depois de toda essa seca cultural, nada melhor do que um bom filme para matar essa nossa fome de cinema.
Rose May É cineasta e amiga de muita gente
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Nana Moraes
Retrospectiva do cineasta húngaro Péter Forgács
O cineasta e artista é inventor de um gênero cinematográfico que, a partir de material de arquivo, converte a vida de pessoas comuns em relatos plenos de fascínio. As obras humanizam as vítimas do Holocausto, por exemplo, mostrando seus prazeres, paixões e desejos. A mostra exibirá 17 filmes. O cineasta participará do debate via Skype. Será às 19 horas de 19 de fevereiro. No cinema do CCBB estará, ao vivo, o pesquisador Bill Nichols, especialista na obra do diretor. 7 a 19 de fevereiro, no CCBB. Entrada franca. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura. Telefone: 3108-7600.
Retrospectiva Lars Von Trier
Luiza Possi O show faz parte do 1° Festival Internacional de Artes de Brasília, o Festiarte. A cantora apresenta canções do seu mais recente CD, Seguir cantando, o sexto álbum da carreira. Aparecem canções como Tudo que há de bom e a regravação da música Desculpe o auê, de Rita Lee. 12 de fevereiro, às 20h, no Teatro Nacional. Entrada franca. Classificação 12 anos. Telefone: 3325-6218
São 18 obras do dinamarquês. Os filmes mais populares do cineasta e obras nunca ou raramente exibidas no Brasil. Os filmes conhecidos são os longas Dogville (2003), Anticristo (2009) e Melancolia (2011). A mostra é composta também pelos documentários The humiliated (1999), making of de Os idiotas (1995), e The purified (1995), que trata do movimento Dogma 95. Até 5 de fevereiro, no Cine Brasília e no CCBB. Entrada franca. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura. Telefone: 3108-7600. www.cinemark.com.br
uma ilha onde não deveria existir nenhum tipo de vida. Curioso, decide ir para lá. Incapaz de impedi-lo, o novo padrasto de Sean, Hank (Dwayne Johnson), une-se à busca. Com um piloto de helicóptero (Luis Guzmán) e a filha dele (Vanessa Hudgens), parte para encontrar a ilha. Aventura. Classificação 14 anos. Kinoplex em 3 de fevereiro. 100 minutos.
Cinema – outros
Mostra Jairo Ferreiro –
de cena e jornalista foi figura essencial para a criação de um pensamento crítico do cinema brasileiro. Foi ele o criador do termo “cinema de invenção”. A programação oferece a oportunidade de o espectador assistir à filmografia de Jairo Ferreira (1945-2003), pouquíssimo exibida. São oito filmes – cinco curtas, um média e dois longas-metragens – feitos entre 1973 e 1980. Entre os curtas, O guru e os guris (1973), Ecos caóticos (1975) e O ataque das araras (1975). 22 de fevereiro a 4 de março, no
Cinema de invenção
Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca.
O crítico de cinema, cineasta, ator, fotógrafo
cultura. Telefone: 3108-7600.
Classificação e programação em www.bb.com.br/
www.kinoplex.com.br Não informaram a programação a tempo: www.casapark.com.br/cinema www.libertymall.com.br/lazer/lazer.asp
Música
Federal Music O projeto de música eletrônica está de volta à capital. As atrações são os DJs gregos Steve Angello, integrante do projeto de house music Swedish House Mafia, e AN21, irmão de Steve Angello, além dos DJs de Brasília
Arte, Cultura e Lazer
Nilson Carvalho
Pedro Mariano O filho da cantora Elis Regina e do músico e maestro Cesar Camargo Mariano também é uns dos convidados do 1º Festiarte. Ele já lançou oito álbuns e recebeu grandes prêmios, como o Grammy Latino 2001, na categoria Melhor Disco Pop Contemporâneo Brasileiro, e o Disco de Ouro por 100 mil cópias vendidas com o disco Voz no ouvido (2000). 5 de fevereiro, às 20h, no Teatro Nacional Claudio Santoro. Entrada franca. Classificação 16 anos. Telefone: 3325-6218.
Quadrilátero
1908 – Um Brasil em exposição A mostra é estruturada em módulos temáticos, que abordam o processo da concepção, construção e inauguração da Exposição Nacional, termômetro da globalização do Brasil, há cem anos. O evento permite que o público atual aprofunde seus conhecimentos, não só sobre a história da cidade, mas sobre os hábitos e as instituições culturais da época, no Brasil. Até 26 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural Brasília. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.
Hopper e Mario Fischetti.
12 de fevereiro,
às 16h, no Centro Comunitário da UnB. Ingresso (inteira): Fem. R$ 50; Masc. R$ 70. Classificação 18 anos. Telefone: 8407-0488.
Ney Matogrosso O show de um dos grandes intérpretes brasileiros, que acaba de comemorar 70 anos de vida, também integra a programação do Festiarte. O repertório vem cheio de canções românticas, como Da cor do pecado, Segredo, De cigarro em cigarro e Tango pra Tereza. 3 de
O Brasil das orquestras populares
Quatro grupos promovem o encontro da formação erudita com a sonoridade de canções populares. A criatividade e as inovações musicais vieram de Pernambuco, do Paraná, do Rio de Janeiro e do Amazonas. 2 a 12 de fevereiro, às 21h, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 6. Classificação livre. Telefone: 3108-7600. Orquestra Popular Bomba do Hemetério: 2 e 3 de fevereiro Orquestra à Base de Corda de Curitiba: 4 e 5 de
fevereiro, às 20h, no Centro de Convenções Ulysses
fevereiro
Guimarães. Entrada franca. Classificação 16 anos.
Orquestra Republicana: 9 e 10 de fevereiro
Telefone: 3325-6218.
Grupo Imbaúba: 11 e 12 de fevereiro
Última etapa da série de encontros promovidos pelo saxofonista Leo Gandelman. Para encerrar o projeto, apresentação do Quarteto de Metais, uma união inusitada de músicos conhecidos por suas carreiras solo e diferentes tendências artísticas: Jesse Sadoc (trompete), Paulinho Trompete (trompete), Vittor Santos (trombone) e Serginho Trombone (trombone). 7 de fevereiro, às 13h e às 21h, no CCBB. Ingressos (inteira): Sessão das 13h – entrada franca; Sessão das 21h – R$ 6. Classificação livre. Telefone: 3108-7600.
Timbalada A banda de Salvador, composta por 16 integrantes, vem a Brasília participar da festa Pré-Carnaval 2012. Conhecida pelo seu axé music traz músicas como Beija-flor, Mimar você, Toneladas de desejo, Água mineral e Camisinha. O evento ainda tem as bandas Clima de Montanha e Mitiiê do Brasil. 4 de fevereiro, às 22h, na AABB. Ingressos (inteira): Pista masc. R$ 100; Pista fem. R$ 80; Camarote masc. R$ 140; Camarote fem. R$ 120. Classificação 18 anos. Telefone: 3347-6763.
exposições
60 anos da
telenovela brasileira A mostra já passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Traz objetos e
Lisette Guerra
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Exposição Haja pai reclamando dos filhos que vivem pendurados nos jogos eletrônicos. Mas que atire o primeiro joystick quem nunca foi viciado em algum tipo de game. Oportunidade para unir diversas gerações de apaixonados pela cultura dos jogos eletrônicos, chega a Brasília a exposição interativa Game on: o jogo começou – História, cultura e futuro do video game. O panorama, em cartaz no CCBB até 26 de fevereiro, apresenta desde os primeiros fliperamas até o que há de mais novo na tecnologia em realidade virtual. Idealizada e desenvolvida pelo Barbican Centre, o maior centro de artes da Europa, a exposição contou com a colaboração da City of London Corporation e já passou
Luz de Cuba
por mais de dez países antes de vir para cá. Em Brasília, o público tem acesso a
A mostra é composta por 50 fotografias da jornalista gaúcha Lisette Guerra. Já apresentou as exposições Pai e Mãe, ambas em 2007, em Porto Alegre. As imagens são de várias localidades do interior de Cuba, com diferentes paisagens, que não são aqueles tradicionais de pontos turísticos da capital Havana. Faz parte da programação do Festiarte. Até 15 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional de Brasília. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-6218.
120 títulos, distribuídos entre 11 seções da mostra. O espaço dedicado aos primórdios dos video games é um ponto alto, com jogos como Pac-Man, Defender e Donkey Kong, vícios de quem viveu os anos 80 como eu. A exposição também destaca o trabalho dos criadores envol-
figurinos de personagens que marcaram a história das novelas brasileiras, como da viúva Porcina de Roque Santeiro (1985), trajes de Sinhá Moça (2006), o estilo exagerado de Clô de Passione (2010) e os sáris de Maya de Caminho das Índias (2009). Até 13 de fevereiro,
e por coleções particulares, como obras do acervo de Lucia Kairovsky, viúva do artista. São mais de cem peças, entre gravuras, desenhos, telas e esculturas. Até 26 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural Brasília.
vidos nessa indústria, como projetistas, artistas, músicos e programadores, além de personagens marcantes e da história das revistas especializadas. Porque video game, afinal, também é cultura.
Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.
de segunda a sábado, das 10h às 22h; domingo, das 10h às 20h, na praça central do Shopping Iguatemi. Entrada franca e livre. Telefone: 3577-5000.
Fazer arte – A ordem oculta de Bernardo Cid
A exposição do artista Bernardo Cid (19251982) é composta por um conjunto de peças, espalhadas em acervos de instituições públicas,
Flávio de Carvalho: a revolução modernista no Brasil
O público pode conhecer detalhes da vida e da obra do arquiteto, engenheiro, desenhista e escultor Flávio de Carvalho (1899-1973) em painéis interativos multitouch com imagens, vídeos, documentos, textos escritos pelo próprio artista ou críticas e reportagens
Ana Paula Ferraz É jornalista e já foi viciada em video games
Arte, Cultura e Lazer
Anderson Silva
Os gigantes da era do gelo Fruto do trabalho da equipe de paleontólogos da Paleo Works, que reconstituiu os animais com resina, poliuretanos, couro e fibras naturais. Tudo para reproduzir fielmente os detalhes de cada espécie. São 11 réplicas, : o mamute, o rinoceronte-lanudo, o rinocerontede-chifre-grande, o alce-gigante, o auroque, o urso-das-cavernas, o tigre-dentes-desabre, o castor-gigante, o mapinguariçu, o gliptodonte e o moa. Até 5 de fevereiro, de segunda a sábado, das 10h às 22h; domingo, das 12h às 20h, na área central do ParkShopping. Entrada franca e livre. Telefone: 4003-5588.
Teatro
Acorda Zé, a comadre tá de pé!
Flor de Macambira Uma festa popular que conta a história da jovem Catirina, a mais bela flor da Fazenda Macambira, que sucumbe aos vícios e às tentações mundanas e, para salvar a si mesma e a seu amado, mergulha nas profundezas de sua alma. O coronel sanguinário, o padre mercantilista, o bicheiro corrupto, o triunvirato do capitalismo, o economista ilusionista, o banqueiro especulador e o marqueteiro enganador vão sendo apresentados, quadro a quadro. Texto de Rosyane Trotta, apresentado pelo grupo Ser Tão Teatro. A peça faz parte da programação do 1º Festival Internacional de Artes de Brasília. 10 e 11 de fevereiro, às 21h, no Teatro Nacional. Entrada franca. Classificação livre. Telefone: 3325-6218.
A peça conta a história do boa-vida Zé-diRiba. Maria, sua mulher, escuta no rádio a notícia de um eclipse. Assustada, corre para contar sobre o estranho acontecimento, mas o encontra deitado na rede, na sua preguiça de sempre. Zé aproveita para contar mais um “causo” a sua esposa e, em seguida, sonha que foi levado para a fazenda do “coroné” Leitão. O sonho e a realidade se fundem transformando tudo num grande pesadelo. Encenada pelo grupo Moitará. Texto e direção de Venício Fonseca. 2 a 5 de fevereiro, de quinta a sábado, às 20h; domingo, às 19h, na Caixa Cultural
da época. 7 de fevereiro a 29 de abril, de terça a domingo, das 9h às 21h, no CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.
Game on: o jogo começou
CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3045-4434.
Memória dos meus cem anos A mostra do paulista Julio Villani traz documentos dos séculos 18 e 19 e fotografias antigas, revisitadas pelo artista por meio de colagens com tinta a óleo. Nesta série de pinturas, ampliou as diversas fotografias que garimpou em sebos franceses. A exposição conta ainda com o vídeo Complexo de papagaio, que mostra o processo criativo de Villani. Até 4 de março,
A exposição já passou por mais de dez países, como EUA, China, Austrália, Inglaterra, Holanda e França. O público tem acesso a mais de 120 títulos, incluindo os mais antigos, como Pachinko, Space Wars e Computer Space, além das mais novas tecnologias em realidade virtual (Halo 3, Wii Sports Resort, Rock Band). Visitantes poderão jogar os games. Até 26 de
das 9h às 21h, na Caixa Cultural Brasília. Entrada
fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no
franca e livre. Telefone: 3206-9448.
Brasília. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 12 anos. Telefone: 3206-9448.
A arte de dizer palavrão Uma viagem pelo mundo encantado das “palavras sujas” é o tema da comédia de Alexandre Ribondi.O ator sobe aos palcos para explicar por que os palavrões ocupam lugar nobre no dicionário e no cotidiano dos brasileiros. Com direção de Abaetê Queiroz e texto de Ribondi.Até 26 de fevereiro, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 19h, no Teatro do Brasília Shopping. Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação 18 anos. Telefone: 9117-1071.
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Cisco Vasques
interpretado por Celso Frateschi. O monólogo trata de um homem que vive longe de seus semelhantes e sabe que é ridículo desde a infância, pois sempre foi alvo de desprezo e zombaria. Todos os dias ele deseja colocar fim à sua vida, mas nunca encontra coragem. O real e o sonho se misturam durante a encenação, no ambiente da rua, do cortiço, do paraíso e do inferno. 5 de fevereiro, às 20h, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos. Telefone: 3424-7121.
Sobre trutas,
cibalenas e olhares
A casa amarela O texto escrito e interpretado por Gero Camilo é uma reflexão sobre o sonho de Vincent van Gogh de fundar uma comunidade de artistas onde todos pudessem pintar, trocar ideias e informações, compartilhar técnicas e desejos. Criadores que, juntos, seriam capazes de inaugurar um momento de renovação do olhar do homem. Ela chegou a ser inaugurada pelo pintor, em 1888, mas recebeu apenas um companheiro de trabalho: Paul Gauguin. 24 de fevereiro, às 21h, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14
O espetáculo do BR S.A. – Coletivo de Artistas une o conto Olhar, de Rubem Fonseca – mote para a criação cênica – e os desejos dos intérpretes da companhia. Aborda as escolhas do fazer teatral, a definição de clássico, as paixões e os sonhos dentro e fora do universo literário de Fonseca. 3 a 26 de fevereiro, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h, na Sala Chacovanchi – Escola Teatral Confins-Artísticos (711 Norte). Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação 12 anos. Telefone: 8173-3450
anos. Telefone: 3424-7121.
Outros
Filha, mãe, avó e puta – Uma entrevista
A história de Gabriela Leite, encenada por Alexia Dechamps e dirigida por Guilherme Leme. Ela estudou nos melhores colégios e foi aprovada em segundo lugar para a Universidade de São Paulo. Uma gravidez deu início às mudanças. Punida pela mãe, saiu de casa e partiu para a prostituição. Indignada com os maus-tratos sofridos pelas prostitutas, articulou um movimento pela inclusão social e pela regulamentação da profissão. Fundou a primeira Associação Brasileira de Prostitutas, a ONG Davida e a irreverente grife Daspu. 2 a 5 de fevereiro, às 19h30, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 6. Classificação 14 anos. Telefone: 3108-7600.
O grande inquisidor Inspirado na obra Os irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski. No auge da Inquisição espanhola, um homem representado por Mauro Schames é visto fazendo milagres e sendo seguido pela multidão como se fosse Cristo de volta à Terra. Ele é preso, torturado e condenado à fogueira pelo grande inquisidor, interpretado por Celso Frateschi. Dirigido e adaptado por Rubens Rusche, o romance ganha pela primeira vez montagem no Brasil. 4 de fevereiro, às 21h, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos. Telefone: 3424-7121.
Varekai O Cirque du Soleil traz mais um espetáculo a Brasília, depois de passar por São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Um jovem cai dos céus em uma floresta misteriosa habitada por criaturas de mil metamorfoses e lança-se numa aventura absurda. Nesse lugar onde tudo é possível, inicia-se uma celebração à redescoberta da vida. 23 de fevereiro a 4 de março, de terça a sexta, às 21h; sábados, às 17h e às 21h; domingos, às 16h e às 20h, no estacionamento do ParkShopping. Ingressos (inteira): Terça, quarta, quinta e domingo: Setor Premium R$ 370; Setor 1 R$ 340; Setor 2 R$ 250; Setor 3 R$ 140 – sexta e sábado: Setor Premium R$ 395; Setor
Sonho de um homem ridículo
1 R$ 360; Setor 2 R$ 260; Setor 3 R$ 150. Classificação
Também inspirado em Dostoiévski e
responsável. Telefone: 3362-1300.
livre, menores de 12 anos acompanhados dos pais ou
Banquetes e botecos } ilustração Rômulo Geraldino romulog2000@yahoo.com.br
Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com
Quer comer num lugar bem gostoso? Vá ao Quartier Bistrot
Ilustração feita com café e água em papel canson
12345 Estou falando de um restaurante pequeno, na lateral de um bloco comercial do Sudoeste. Descompromissado, decorado com fotos de pontos turísticos de Paris e com mobiliário de madeira escura que nos remete a qualquer café da França. O único problema é que suas mesas externas ficam na passagem dos pedestres. Isso é meio desaconchegante, mas se não tivesse essas mesas o restaurante ficaria minúsculo, pois o espaço interno é mesmo pequeno. De entrada há várias opções. A especial é a terrine de cogumelo-deparis: amêndoas, peito de frango, lombo de porco e bacon, aromatizada com tomilho e conhaque, servida com pães. Essa terrine é maravilhosa! Depois das entradinhas da casa, você pode escolher entre vários tipos de saladas, com opções de molhos pesto, vinagrete francês e iogurte com nozes. Eu amo a salada verde, com tomatinho cereja e mix de frutas e molho de iogurte e nozes. É super-refrescante! Não faltam opções para o prato principal. Tem filé au poivre com purê de batatas, filé ao molho mostarda com batatas soutè, peito de pato grelhado em molho de tamarindo e batata-baroa grelhada com castanhas, talharim com camarões no molho de ervas... tudo gostoso, e com um preço bom! Tem pratos executivos e combinações de almoço super em conta: salada, prato e sobremesa por 45 reais. O restaurante também oferece dias especializados em camarões e em risotos. Às quartas, qualquer risoto sai por R$ 29,90. Nas quintas, qualquer receita que leve camarão sai por R$ 39,90. Não é demais? De sobremesa tem o petit gateau, mas o que você não pode perder é o crème brûlée. É dos deuses !!! Crocante por fora e leve como uma pluma por dentro, não dá nem para descrever. É um dos melhores que já comi. A carta de vinhos não é de chamar a atenção de ninguém, mas percebese que foi feita com a tendência de oferecer vinhos e espumantes com um bom custo-benefício. Tomei uma vez um espumante “Noturno” com o preço ótimo e um pinot noir muito bem equilibrado também. São bons exemplos desse propósito. Para finalizar, não podemos deixar de falar do serviço. Os garçons são atenciosos e educados, acompanhando a qualidade da casa. Eles têm um jeito especial de segurar a garrafa de vinho com o guardanapo de pano que dá um toque personalizado. Então, se estiver passando pelo Sudoeste, vale a pena conhecer este bistrozinho francês, o Quartier Bistrot. Bon apetit!
CLSW 301 Bloco B – Sudoeste (61) 3341-4214 De terça a sábado: 12h – 16h e 18h – 0h Domingo e segunda: 12h – 16h
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L A G E L A T O N
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