Revista meiaum Nº 11

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Quando o aplicativo não funciona mais

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LIXO

O aterro sanitário não saiu do papel, mas já incomoda

U N°

Para qual lago você vai?

11 Ano 1 | Março 2012 | www.meiaum.com.br

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CONTO


SCS, q. 4, bl. A, nº 256, ed. Apolo. De terça a sexta, das 10h às 19h. Sábado e domingo, das 10h às 18h.

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Correios: Um diálogo com Vilém Flusser

orr eio

Com a abertura do Museu Nacional dos Correios, estamos entregando à sociedade um centro vivo de memória, arte e lazer. Toda a programação será gratuita, de forma a ampliar e democratizar o acesso aos bens da nossa cultura. São os Correios cumprindo o papel social de uma empresa identificada com os valores e os sonhos do povo brasileiro.

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MU SE ON UN DA OV AC CU O E ION LTU ND AL RA ERE DO E D ÇO S C A M DA ORR EM AR EIO ÓR TE, S. IA.

Mestres da Gravura: Coleção da Biblioteca Nacional

A Natureza em Selos: O Meio Ambiente Somos Nós

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DeBRITO

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12

22

28

38

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Papos da Cidade

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Lixo

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Fora do Plano

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Conto – João Pitella Junior

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Brasífra-me

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Artigo – TT Catalão

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Perfil

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Caixa-Preta

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Artigo – Alberto do Carmo

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Arte, Cultura e Lazer

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Capa

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Banquetes e Botecos

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Charges do Gougon

Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

Vicente Marinho (foto) está entre os que terão de ser mudar por causa do aterro

Noelle Oliveira diz que faltam médicos nos hospitais, mas não na política local

Os poemas-enigmas de Nicolas Behr

Cefas Queroìs deixou Ceilândia há três anos e agora vai estudar na Nasa

Histórias que não combinam com nossa política antimanicomial

O Lago Paranoá e suas utilidades

Só faltava o aplicativo para se comunicar com quem estava inalcançável

A missão da Unesco vem aí. E ele já sabe o que virá depois...

Luiz Cláudio Cunha comenta manifesto de militares

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é

Precisa de apresentação?

A MEIAUM ERROU No artigo assinado por Alberto do Carmo na edição de fevereiro, alteramos indevidamente “gente bem” por “gente de bem” (página 21, coluna 2, linha 8). O autor queria dizer “gente bem” mesmo.

ÍNDICE

A expressão, criada pelo falecido colunista social Ibrahim Sued, significa gente rica.



Nilson Carvalho

Nilson Carvalho Alexandre Vasselai

Caroline Vilhena págs. 9 e 28

Durante a apuração da matéria de capa desta edição, escutou de uma fonte a pergunta de sempre: “Então você é irmã do Thales e do Bruninho?” A resposta positiva ela dá com o sorriso mais orgulhoso do mundo. Os músicos são parte do que ela considera sua maior sorte: a família na qual nasceu e a que vai construir a partir de junho com o futuro marido.

Nilson Carvalho

Ana Paula Guerra pág. 22

Graduada em comunicação social – publicidade e propaganda, atua como fotógrafa desde 1996. Seu processo contínuo de atualização inclui vários cursos no decorrer da carreira. Extremamente apaixonada pelo que faz, descreve em uma frase a sua arte: “Eu vejo com os olhos o que seu coração sente!”

Iuri Guerrero pág. 12

Este sul-mato-grossense não tem receio de falar com sotaque carregado nem de dizer que vem de um canto do Brasil que já foi Paraguai. É da guerra que ele se envergonha. Brasília agora é a sua casa e a vontade de fazer jornalismo honesto vai além do Congresso e acaba chegando aonde ninguém compra jornal.

Nilson Carvalho

Daniel Banda pág. 38 Nilson Carvalho

E mais...

Cláudia Dias pág. 8

Designer de interfaces, especialista em design estratégico, apaixonada por fotografia e estampas de poá. Vê inspiração para criação em tudo, desde um livro bem diagramado ao fundo colorido de um copo de acrílico. Uma vez, em uma agência da cidade, escutou uma frase e guardou: “foco no foco do cliente do cliente”.

Colaboradores

É designer por formação, artista plástico por convicção e diretor de arte por precaução. Atua no mercado brasiliense principalmente em publicidade e cinema. Foi premiado como melhor diretor de arte em alguns dos festivais de cinema mais importantes do Brasil, entre eles o de Brasília. Também é músico, cenógrafo e grafiteiro.

Nicolas Behr pág. 20

Poeta, ecologista e proprietário da Pau-Brasília Viveiro Eco Loja. Nasceu em Cuiabá, em 1958, e está desde 1974 em Brasília. Em 1977 publicou Iogurte com farinha, primeiro de muitos livros. Em 1978 foi preso pelo Dops e processado por posse de material pornográfico (seus poemas!), sendo absolvido. Foi redator publicitário, trabalhou na Fundação Pró-Natureza e, em 1990, transformou seu hobby em negócio: produção de espécies nativas do Cerrado. Desde então tem publicado uma série de livros de poesia, tendo Brasília como tema.

Rachel Weber pág. 8 Priscila Praxedes págs. 8 e 46 Lúcio Flávio págs. 9, 47 e 53 Rafania Almeida págs. 10 e 22 Bruna Gil pág. 10 Paula Oliveira pág. 11 Noelle Oliveira pág. 19 Gougon págs. 19, 37 e 45 Alberto do Carmo pág. 26 Werley Kröhling pág. 26 João Pitella Junior pág. 38 TT Catalão pág. 42 Luiz Cláudio Cunha pág. 45 Marcela Benet pág. 54 Rômulo Geraldino pág. 54


Carta dos editores

Drama, comédia, tragédia

M

al sabia JK que alcançar a cota mil não seria o maior desafio do Lago Paranoá. Ele ainda tem de sobreviver à especulação imobiliária e ao desrespeito ambiental que se tornaram crônicos em Brasília. Lucio Costa nem pensou em bairros residenciais no que chamava de “orla da lagoa”. Mas, assim como boa parte do projeto original, o lago não ficou indiferente à realidade social e econômica do Brasil. Os mais ricos trataram de garantir o maior – e melhor – pedaço da margem, tal qual na orla das nossas praias. Apesar da privatização da maior parte do acesso, não dá para dizer que o Lago Paranoá não é democrático. O povo dá o seu jeito. O mesmo lago que é cenário para tentativas de reproduzir um passeio de iate em Ibiza, com direito a champanhe e a um espetáculo de corpos sarados e bronzeados, recebe famílias simples, que fazem o churrasquinho

ali mesmo, na margem, e mantêm a cerveja gelada com o bom e velho isopor. Cada brasiliense desfruta o lago como lhe convém. Enquanto uns madrugam só para praticar esporte e curtir o visual, há quem esteja com a canoa de madeira na água bem cedo para garantir o sustento com a pesca. Caroline Vilhena escreveu algumas dessas histórias. Nesta edição, também trazemos uma reportagem sobre o aterro sanitário que será instalado em Samambaia (difícil dizer quando, uma vez que o lançamento do edital de licitação vive sendo adiado). É para lá que o governo pretende mandar todo o lixo produzido no DF, que hoje vai para o lixão da Estrutural. Iuri Guerrero ouviu as preocupações de quem será diretamente afetado pelas novas instalações. Mais um capítulo do drama do lixo no Distrito Federal. Drama, comédia, tragédia, um pouco de cada

na meiaum. A história meio maluca do ceilandense que largou a vida de professor, passou a se dedicar ao trabalho de assistência e resgate em catástrofes e agora vai estudar na Nasa, nos Estados Unidos. Quem conta é Rafania Almeida. Os poemas enigmáticos de Nicolas Behr, que desafiam você a provar que conhece mesmo Brasília. As charges inteligentíssimas de Gougon – agora com uma página só para ele. Outra novidade é o Prêmio meiaum para Futuros Jornalistas, que estamos lançando neste semestre (saiba mais no nosso site). Neste primeiro ano da nossa revista, descobrimos que muita gente que está começando no jornalismo também adora esse antigo hábito de imprimir e transformar informação em documento.

Anna Halley e Hélio Doyle

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br TIRAGEM 12 mil exemplares Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

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CAPA | Por Cícero Lopes

Imagem manipulada e desenho vetorial Designer gráfico, jornalista, ilustrador e empresário. Já publicou nos jornais e nas editoras mais importantes do País. Não vê limite para a criatividade e diz que o impossível não existe.


Papos da cidade } ilustrações Cláudia Dias

www.claudiadias.com

Atenção, mulheres que dividem as contas! Parem com isso já! Abandonem seus esforços pela independência. Tranquem seus estudos. Vão fazer um curso de culinária. Seus relacionamentos não dão certo? A culpa é de vocês, que vivem frustrando seus príncipes encantados. Quem mandou largar a barra da saia da mamãe antes deles? Quem disse que você poderia trabalhar, ganhar mais que ele,

pagar suas próprias contas? Quem? Vocês não merecem esses homens bondosos, dedicados, esforçados! Para que ter diploma de curso superior, mestrado, doutorado, falar duas ou três línguas, saber organizar uma frase, mexer no computador, jogar video game e entender de futebol? Eles queriam apenas um ovo frito, um arroz soltinho, os sapatos engraxados para irem trabalhar impecáveis e colocar dinheiro dentro de casa. Não! Vocês não podem viajar sozinhas, encontrar as amigas em barzinhos. Estão invadindo o território deles. Que tipo de mulheres são vocês? Modernas? Voltem para o futuro de onde vieram. Os machos alfas do século 21 não estão preparados para vocês, suas devoradoras de carreira, destruidoras de autoestima. Eles têm todo o direito de ser trintões dependentes dos pais, livres para escolher uma boa dona de casa quando bem entenderem. Quem precisa de uma mulher bonita, inteligente, batalhadora, independente e bem resolvida? Os homens dessa geração, não. Quem sabe em uma próxima? Se não querem ficar sozinhas, sejam boas atrizes e disfarcem bem seus dotes moderninhos. Eles definitivamente não estão preparados para a realidade, salvo raras exceções. Rachel Weber

É tudo culpa do dinheiro? Alguns dias depois da morte da cantora Whitney Houston, assisti ao filme O guardacostas. Comentei com um amigo: “Como Whitney se envolveu em tantos escândalos e com as drogas? Deixou a vida acabar aos poucos”. E de repente escuto: “Culpa do dinheiro, ele não traz felicidade pra ninguém, esses famosos e ricos ficam rodeados de pessoas interesseiras, os amigos nem sempre são fiéis e os relacionamentos amorosos não


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são verdadeiros – e mais, fica muito mais fácil conseguir drogas”. Culpa do dinheiro? Eu não concordo. Primeiro porque pessoa interesseira tem em toda a parte, não precisa ser rico para que alguém dessa espécie se aproxime de você, basta ter algo que queira. E o que você faz nesses casos? Afasta-se, lógico! Segundo, nós escolhemos os nossos amigos. Se estamos rodeados de pessoas falsas, uma hora vamos descobrir e nos afastar, certo? Terceiro, problemas com o relacionamento todos os mortais têm, e nem por isso as pessoas ficam se drogando a acabando com a vida por causa dessas fases. Por que seria diferente com as pessoas ricas? Não sei exatamente o que levou a cantora a acabar com a sua vida e carreira, mas tenho certeza de que não foi culpa da sua fortuna. Priscila Praxedes

As pessoas se levam muito a sério em Brasília Outro dia me peguei assistindo, numa dessas madrugadas insones, ao épico Gandhi (1982), filme ganhador de três Oscars. Lá pelas tantas, alguém fala da comoção e perplexidade mundial diante da morte da “grande alma”. Várias celebridades se mostram chocadas, uma delas o cientista Albert Einstein, que deixou registrado para a posteridade: “As gerações futuras não vão acreditar que existiu um dia na Terra um homem como Mahatma Gandhi”. E era verdade. Einstein fazia alusão à humildade divina e à simplicidade quase incômoda de um líder que se afirmava no outro, no próximo. Apesar de sua importância para o povo indiano, que era enorme, e sobretudo para a humanidade naqueles anos de conflitos, Mahatma Gandhi nunca deixou de ser o que sempre

foi em sua essência: um homem do povo. O próprio Albert Einstein tinha urticárias febris quando o tratavam como se fosse um ser superior. No auge da fama, era comum vê-lo fazendo suas viagens de segunda classe. Para o grande homem da ciência, o mais importante era o ser, e não o ter. Jesus lavou os pés dos discípulos. Não me esqueço da vez em que me ligaram na redação do jornal em que trabalhava e do outro lado uma voz educada pedia para falar comigo. Meio mal-humorado, bancando a estrela que eu não era (e não sou), confirmei, secamente: “É ele!” A pessoa do outro lado da linha era o genial Paulo Autran, um dos maiores atores de teatro e televisão que este país já viu e que, humildemente, retornava um pedido de entrevista que deixei na secretária eletrônica. Esbanjando simpatia, o velho Autran conduziu um bate-papo agradável sobre sua carreira e a peça que estrearia na cidade. Naquele dia, tive uma aula de modéstia e simplicidade. Então, um dia desses me lembrei do Gandhi, do Albert Einstein e do Paulo Autran quando esbarrei com uma colega ali no Senado e ela me tratou com se eu fosse um leproso do filme Ben-Hur. Brasília tem dessas coisas. As pessoas por aqui se levam muito a sério e têm relação promíscua com o poder, se acham acima do bem e do mal. Albert Einstein é que tinha razão: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana”. Lúcio Flávio

Só agora, ANS?

Quando fiz a reportagem de capa da meiaum nº 6, sobre os serviços particulares de saúde do DF, a minha maior surpresa (e de toda a nossa equipe) foi descobrir que não há no Brasil órgão regulador da rede

privada. Ouvi diversos casos de negligência e mau atendimento em que os pacientes simplesmente não sabiam a quem recorrer. “Se é particular, procura o Procon”, me sugeriam nos órgãos públicos ligados à saúde. “Como assim o Procon?”, me surpreendi. “Ué, quando você vai a uma loja e é mal atendido, reclama pra quem?”, teve a petulância de me responder um dos diretores do Hospital Brasília. Então é isso? Minha saúde e minha vida não passam de mercadorias? Custei a acreditar e segui checando: Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Conselho Nacional de Saúde, Anvisa, Ministério da Saúde... e muitos outros órgãos e entidades. A resposta era sempre a mesma: “A nós competem apenas assuntos do sistema público de saúde”. E respondiam como se fosse óbvio e minha pergunta (sobre quem faz a regulação de serviços particulares de saúde), burra. Só que, quando o assunto é educação, por exemplo, o MEC regula também a prestação de serviços na rede privada de ensino. Então, não faz sentido que na área da saúde não exista órgão para esse fim. Em janeiro, morreu o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, e, em fevereiro, morreu Marcelo Dino, filho de 13 anos do presidente da Embratur, Flávio Dino. Nos dois casos, amigos e parentes acusam os hospitais de negligência. No dia da morte de Marcelo, o diretorpresidente da ANS, Mauricio Ceschin, declarou que, além de regular as operadoras de planos de saúde, o órgão deveria fiscalizar os prestadores de serviços da rede privada. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que há uma lacuna na legislação de saúde suplementar e que é fundamental uma mudança. Sério? Foram necessários dois escândalos seguidos, envolvendo pessoas públicas, para


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alguém se atentar para o problema? Antes tarde do que nunca. Mas ainda fico puta de pensar que, se fosse a minha mãe ou o filho da vizinha que tivesse morrido, ia continuar igual. E o Estado ia continuar rindo da minha cara quando eu procurasse o óbvio: um órgão regulador da rede privada de saúde. Caroline Vilhena

A equipe segue o mestre Eu não sabia que quando um governo assumia virava dono da unidade da Federação. É assim que se porta parte da equipe do senhor Agnelo Queiroz. Donos das instituições, das informações, do meu dinheiro e até da memória da nossa cidade. Sou jornalista e estou acostumada às recusas de entrevista e de uma ou outra informação que pedi. Mas o bloqueio está demais. Uma coisa é o governo optar por não se manifestar sobre certo assunto ou preferir não adiantar detalhes de um projeto. Sonegar informações básicas, como quanto foi investido em determinado local, ou quantas pessoas trabalham lá, por exemplo, aí já é abuso. E me ofende, porque qualquer cidadão deveria ter direito a dados desse tipo, não só jornalistas. Às vezes acho que esquecem que trabalham para todos nós... O assunto é sério, mas as reações dos nossos empregados no governo chegam a ser ridículas. Pouco antes do carnaval, precisava da foto oficial de um ex-governador para um livro que estamos editando. Como o Arquivo Público está bagunçado e sem gente, tivemos de recorrer diretamente à governadoria. Um colega ligou para lá, explicou o trabalho e pediu a foto. Do outro lado da linha, a funcionária indicada para nos ajudar responde, chateadíssima: – Não temos foto dele não, nosso governador é Agnelo Pacheco. – Queiroz... Pacheco é o publicitário.

– Pois é, se quiser foto de outro vá ao Arquivo Público. Explicamos como está difícil pesquisar lá, insistimos, mas levamos mesmo um passafora. O governador provavelmente diria que não concorda com essa postura e tal, mas acho que a equipe só segue o embananado mestre. Este se ofende à toa, não consegue encarar ninguém por mais de dez segundos e olha para o teto quando dá voltas para explicar o que não tem explicação. Deve ser mesmo difícil esclarecer o que está acontecendo... Anna Halley

Na dúvida, não cite ninguém Virou modinha se passar por esperto e citar uma frase de um escritor ou artista famoso. Pegue um texto de efeito, atribua a um cara que considere um gênio, coloque uma foto dele de fundo e pronto. Você é um intelectual. O problema é que, na maioria das vezes, as citações não pertencem aos autores. Nem à Clarice Lispector, nem ao Arnaldo Jabor, nem ao Luis Fernando Veríssimo, nem ao Johnny Depp. São palavras que assinadas por alguém comum jamais teriam repercussão. Os famosos entram para dar respaldo à frase, causar um efeito. Em tempos de internet, não dá para confiar. Às vezes é uma mulher desiludida que quer mandar recado a um amor não correspondido, sem se revelar. Em outros casos, é um jovem reprimido que nunca foi ouvido. Perdeu-se o bom senso. Os escritores são popularizados, mas suas obras, não. Essas pessoas nem sequer leram um texto do autor utilizado. Jogam no Google sem nem verificar a veracidade da fonte. Não vou fazer meus autores preferidos se revirarem nos túmulos ou lhes provocar um infarto com as horripilantes citações a eles atribuídas. Quer copiar o que o Fernando Pessoa escreveu sobre o amor? Leia pelo menos um poema dele.

Aliás, Pessoa é um ótimo exemplo. Quando não queria (ou não podia) aparecer, usava um de seus heterônimos, como Álvaro de Campos, nome por ele inventado. Pode copiar o método que ele não foi patenteado. Mas só o método. Faça como ele e como eu e dê vida a seus próprios alter egos, como se diz na psicologia. Os revoltados (inclusive eu) se manifestaram e escracharam para mostrar o quanto o movimento das falsas citações é ridículo. Funciona mais ou menos assim: “Segura o tcham, amarra o tcham, segura o tchamtcham-tcham-tcham-tcham” (Machado de Assis). Ainda está em estado experimental. Vamos ver se funciona. Rafania Almeida

Só vim para dançar Sair para a “balada” é muito diferente de sair para dançar. Os amantes das danças de salão têm destinos específicos em Brasília. A maioria que frequenta o Bar do Calaf, o Caribeño, o Barcelona, o Poizé e outros nos dias dedicados aos ritmos de salão só quer parceiros para praticar os passos que aprenderam nas academias de dança. Tem gente que não entende essa lógica e me olha com desconfiança. Mas é a pura verdade. Nesses lugares, os frequentadores precisam até mesmo cumprir regras de etiqueta que não estão expressas em lugar nenhum, mas que existem. Por exemplo, é uma grande ofensa recusar dança. Mulheres muito enfeitadas, com salto alto e bolsa grande, raramente são chamadas para bailar. Ter muita coisa pendurada significa que você não sabe dançar. Também não é “permitido” abusar de bebidas alcoólicas. Quem quer rodopiar pelo salão com uma pessoa cambaleante? Outra coisa importantíssima: o cheiro. Não se pode abusar do perfume nem se esquecer do desodorante. As damas e os cavalheiros agradecem. Paquera até existe, mas pessoas inconvenientes, bêbados escandalosos e


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pernas de pau não têm vez nesse tipo de festa. Você vai lá, baila com um, com outro, não tem confusão, vai pra casa feliz porque saiu apenas para dançar. Bruna Gil

O ritmo das tesourinhas Já ouvi muito por aí que motorista mulher não dá passagem para outros carros. Eu concordo e acrescento. Nem mulher, nem motoristas profissionais. Juro que não sou dessas mulheres. Dou passagem, sim. Mas acho que a nossa fama atrapalha. Às vezes, outro motorista, o que estou esperando passar na minha frente, demora tanto a acreditar na

gentileza que eu desisto e piso no acelerador. Outro dia, conversando com o meu pai, ele chegou a essa mesma conclusão: de que mulher não dá passagem. Eu me defendi, claro, mas foi aí que ele me chamou a atenção para uma característica do trânsito de Brasília em que eu já havia reparado, mas nunca pensado a respeito: a sincronia nas tesourinhas. Entre as seis e as oito da noite, quando todo mundo quer chegar em casa, as tesourinhas só não ficam totalmente paradas por causa de uma ordem de passagem não oficial, mas muito comum. Quem já está na tesourinha deixa o motorista que está entrando passar, o próximo faz a mesma coisa. No fim das contas, é um de cada vez. Um carro passa por

baixo e o próximo deixa o que está entrando passar. A sincronia é quase perfeita, se não fossem alguns impacientes que acham que o espaço de um carro é muito para ele avançar no engarrafamento. Tem gente que acha as tesourinhas complicadas e que elas não têm lógica. Eu, pelo contrário, acho uma solução sensacional de Lucio Costa. Mais sensacional ainda é a ordem de passagem promovida por quem, todos os dias, fica alguns minutos a mais dentro do carro por causa do horário de pico. E, pensando bem, comecei a reparar que, realmente, quando não me dão passagem, é sempre uma mulher. Não entendo, mas é verdade. Paula Oliveira


Lixo


A solução que

já virou problema Texto Iuri Guerrero Fotos Nilson Carvalho iurihg@gmail.com

fotografia@meiaum.com.br

O esperado aterro sanitário, que substituirá o lixão da Estrutural, já incomoda moradores de Samambaia. Reclamam da falta de critérios para a escolha da área e dizem que faltou diálogo. Os pequis direto do pé vão ficar no passado de Maria da Natividade

T

udo que está ruim pode piorar. Quem sabe bem disso são os moradores da área de Samambaia onde existe uma estação de tratamento de esgoto e na qual, agora, será construído um aterro sanitário de 75 hectares com capacidade para receber mais de 8 milhões de toneladas de lixo. Os moradores sabem que têm duas opções: ou deixam o lugar, ou convivem com o fedor e outros problemas do lixo ao lado de casa. Maria da Natividade Pereira mora com o marido, Vicente Soares Marinho, em uma chácara de 2 hectares a poucos metros da maior estação de tratamento de esgoto da América Latina, chamada de Melchior por causa do rio que, antes de a estação existir, era conhecido como “bosteiro”. Maria e sua família têm dor de cabeça e sentem os olhos arderem com frequência por causa

da poeira que vai ao ar com a evaporação das piscinas de tratamento. Ela vive ali há muitos anos e estudou na Escola Classe Guariroba, a curta caminhada de sua casa, sombreada por mangueiras e pequizeiros. Agora, vai ter de sair. Os filhos e o neto de Maria também estudaram na escola, que existe há mais de 50 anos e também vai ter de se mudar. Tem 175 alunos do ensino fundamental e oferece educação integral três dias da semana. Por enquanto, a Escola Classe Guariroba conta apenas com um terreno doado, distante seis quilômetros do atual endereço, mas não há nenhuma previsão para um novo prédio. Naquela mesma região há uma fazenda de 150 hectares cujos direitos de arrendamento foram comprados por Aderbal Jurema há 31 anos. A terra é boa, já deu soja


14 e café, e tem 40 hectares de mata ciliar ao lado do Córrego Melchior. Nela existe uma represa alimentada por sete nascentes. “O aterro vai ocupar parte das minhas terras, não posso mais ficar aqui.” Jurema emprega seis famílias e tem mais de 200 animais: bois, vacas, ovelhas e cavalos mangas-largas marchadores. Ele lamenta: “Tem tanta área de cascalho, terra abandonada em Brasília, e eles insistem em construir o aterro aqui. Isso é uma insanidade”. O marido de Maria da Natividade. o chacareiro Vicente, mora há 40 anos na área. Teme não ter para onde ir. “Tem umas chácaras aqui perto que não têm documentação e foi nelas que os fiscais foram primeiro notificar o pessoal para se mudar”, conta. “Todos dizem que temos de respeitar os animais, não podemos deixá-los no meio da rua. Com o ser humano deveria ser a mesma coisa.” Fernando Gramaccini, colaborador do Movimento em Defesa de Samambaia (MDS), acha que o governo do Distrito Federal erra ao construir o aterro sanitário na região. “Depois do lixão da Estrutural, é mais uma obra sem planejamento”, critica, ressaltando que o lugar é cheio de nascentes. Mas Gramaccini sabe que o governo não vai abrir mão do aterro e por isso defende uma alternativa: “Pelo andar da carruagem, a gente não vai conseguir frear a construção do aterro, mas pelo menos vamos tentar a descentralização, a construção de outros aterros para trabalharem em conjunto”. O MDS propõe que haja pelo menos mais três aterros no Distrito Federal para dividir o lixo com a cidade. A licitação ainda está em fase de elaboração. O MDS informa que conseguiu mais de 5 mil assinaturas em um abaixo-assinado já entregue para o Ministério Público e para a Presidência da República. Os signatários pedem um novo parecer, agora do Instituto Chico Mendes, para atualizar as informações do relatório de impacto ambiental feito pelo governo do DF. “A gente acha que a contribuição que Sa-

mambaia podia dar já deu com a estação de tratamento”, argumenta José Ivaldo Araújo Lucena, professor universitário e membro do MDS. O vice-diretor da Escola Classe Guariroba, Fernando Travassos, diz que os problemas causados pela estação fazem parte do cotidiano. “Tem dia em que o mau cheiro está bem forte, especialmente à tarde; a gente fica com dor de cabeça e os alunos também ficam agoniados”, relata. Em agosto passado, o governo promoveu reunião para dar explicações à população que será afetada pelo aterro. Mas o MDS divulgou carta considerando o encontro apenas de fachada: “A mesa escolhia as questões que seriam discutidas, não houve transparência. Vieram para convencer a população do projeto, e não para discuti-lo”. Para Lucena, a maioria dos moradores afetados pela construção não sabe o que está acontecendo. Será lá mesmo As reclamações e preocupações dos moradores não sensibilizam o secretário de Meio Ambiente do DF, Eduardo Brandão. “As pessoas que são contra o aterro devem se calar”, diz. “Esse projeto já passou por várias audiências públicas e muitos políticos votaram a favor. Tem um monte de empresários que ganham uma fortuna com a atual situação do lixo.” O professor da Universidade de Brasília Gustavo Souto Maior, consultor da Câmara Legislativa e ex-presidente do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do DF (Ibram), diz que “é preciso conscientizar a população da importância de um aterro e explicar que ele é completamente diferente de um lixão como aquele da Estrutural”. Souto Maior também não concorda com a reação dos moradores: “Todo mundo produz lixo, mas ninguém quer gerenciá-lo”. Nos anos 90, o governo planejou construir um aterro no Gama, mas a população protestou e chegou até a invadir a Câmara Legislativa. A construção do aterro em Samambaia


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Aderbal Jurema comprou há 31 anos os direitos de arrendamento de 150 hectares e terá de sair. A terra é boa, já deu soja e café. Acima, uma das sete nascentes da fazenda.


16 vai possibilitar o fechamento do lixão. “O lixão da Estrutural é a maior vergonha ambiental do DF, está bem ao lado do Parque Nacional e muita gente toma a água que sai de nascentes possivelmente comprometidas pelo lixo”, diz Souto Maior. “É preciso fechá-lo o mais rapidamente possível.” O lixão recebe diariamente mais de 300 caminhões com 2,5 mil toneladas de lixo e cerca de 6 mil toneladas de entulho. Em novembro de 2000, quando foi determinada a terceirização da questão do lixo no DF, ficou definido que o lixão deveria ser desativado em 18 meses. No ano passado, a inauguração do aterro era anunciada para abril de 2012, mas o prazo não deverá se cumprir mais uma vez. A extinção do lixão é uma das exigências do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, e condição para que o DF receba do Banco Interamericano de Desenvolvimento os R$ 5 milhões necessários para realizar o estudo de viabilidade e fazer a terraplanagem e as primeiras fundações do aterro de Samambaia. A obra está orçada em R$ 40 milhões. Segundo o responsável pela Assessoria de Planejamento de Projetos Especiais do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Edmundo Pacheco, a área de Samambaia foi escolhida depois de estudos de impacto ambiental, social, econômico e de viabilidade de acesso. “É a área que mais produz lixo no DF e estar ao lado da estação de tratamento de esgoto vai facilitar a construção e a operação do aterro”, explica. “Essa área foi escolhida há muito tempo e a questão ambiental nunca foi empecilho para o projeto”, assegura o ex-superintendente do Ibram Eduardo Freire. O secretário Eduardo Brandão não acha que Samambaia esteja sendo castigada, pois “não existe este impacto todo que estão falando”. “Em São Paulo há um aterro sanitário chamado Bandeirantes e ninguém nem nota que ele está lá.” O fazendeiro Aderbal Jurema discorda.

Diz que o lençol freático ali é bem raso, não ultrapassando 50 centímetros. “Para elaborar o relatório de impacto ambiental, vieram aqui fazer vários furos na minha terra. Quando a água brotava a meio metro, escreviam 2 metros e meio no documento. Os dados foram todos falseados, porque querem construir esse aterro de qualquer maneira”, acusa. Fim do lixão Segundo Delival Lemos, diretor de Operações do SLU, o lixão só deverá ser desativado um ano depois da inauguração do aterro de Samambaia. “A área vai continuar a receber entulhos até que o novo aterro se adapte”, avisa. Ele diz que o SLU estuda a construção de outro aterro nas proximidades de Planaltina. A principal diferença entre um aterro sanitário e um depósito como o lixão é que o aterro tem uma capa de concreto no solo, cinco metros acima do lençol freático. Diz o relatório de impacto ambiental que a impermeabilização da fundação é “um item crítico, tendo em vista o lençol freático e uma vez que a grande maioria de acidentes em aterros sanitários está associada a rupturas nas fundações”. O aterro sanitário de Samambaia será construído a 30 metros do Rio Melchior e em cima de áreas de drenagem de córregos. O relatório de impacto ambiental prevê alterações ecológicas em um raio de dez quilômetros e assim o aterro vai afetar diversas unidades de conservação, como os Parques Três Meninas, Boca da Mata, Saburo Oyama, do Cortado, Gatumé e Metropolitano, além da Área de Relevante Interesse Ecológico JK e do Parque Nacional de Brasília. O fato é que o lixão tem de acabar e o aterro sanitário tem de ser construído em algum lugar. Ninguém questiona isso, mas há uma preocupação quanto à eficiência do aterro. “Conversei com catadores do lixão da Estrutural que me disseram que as empresas molham o lixo antes de passa-

rem pela balança, até pedras já encontraram dentro dos caminhões”, conta Souto Maior, referindo-se às empresas responsáveis pela coleta. Para ele, a questão do lixo no DF virou caso de polícia. “Desde 2000, quando aconteceram as terceirizações, a qualidade do serviço mudou e nós, brasilienses, pagamos muito mais pela coleta e pelo descarte do lixo do que está previsto nos contratos.” Pode não ser diferente com o aterro. O presidente da Comissão de Resíduos Perigosos da UnB, Eduardo Ferreira, diz que a população tem de se mobilizar para garantir o bom uso do aterro. “O local não está preparado para receber resíduos especiais, como pilhas e baterias”, adverte. “Se as pessoas não se conscientizarem e se os administradores não garantirem uma boa seleção desse lixo, o aterro vai acabar se tornando um lixão.” A área do aterro poderá receber mais de 8 milhões de toneladas de lixo e a empresa que vencer a licitação poderá explorá-lo por 15 anos. Eduardo Brandão diz que o DF produz cerca de 9 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 5 mil toneladas são restos de construção civil. São 3 milhões de toneladas de lixo por ano, o que representa uma produção média diária de 1,2 quilo por habitante. Para o secretário de Meio Ambiente, a vida útil do aterro será maior se a coleta seletiva de lixo e as técnicas de reaproveitamento de dejetos forem eficientes. “É preciso fazer riqueza a partir do lixo”, defende. Atualmente, só 100 toneladas das 9 mil produzidas por dia são recicladas e 90% desse subproduto é enviado para fora do DF. Brandão acredita que, se a coleta seletiva for realmente adotada e se o lixo for bem selecionado, apenas 20% dos resíduos coletados chegarão ao aterro. Ele mesmo, porém, não diz como isso será feito. Adiantou apenas que haverá galpões de triagem nas proximidades. Edmundo Pacheco, do SLU, calcula que a operação do aterro vá custar cerca de R$


17 Acesso Rodolfo Alencar é comerciante e morador antigo de Samambaia. Tem duas preocupações principais: a desvalorização de sua casa e o aumento do tráfego de caminhões. Depois de muitos anos pagando apenas taxa de R$ 300 mensais por ocupar área pública, comprou o lote da Terracap por R$ 270 mil, mas acha que após a construção do aterro não valerá nem R$ 30 mil. Diz que a desvalorização atingirá cerca de 500 casas na região. As rodovias BR-060 e BR-070 não suportarão o volume de tráfego de caminhões que o aterro provocará, acredita Rodolfo. Além disso, a DF-180, que liga as duas BRs, não foi duplicada. Por isso, diz, os motoristas vão utilizar

atalhos por dentro de Samambaia e de Taguatinga para chegar ao aterro. “Com este monte de caminhões passando pelas ruas estreitas da cidade, as crianças que hoje brincam na rua correm sérios riscos de serem atropeladas. E imagine o tamanho da fila de caminhões quando um deles quebrar ou em caso de acidente.” O relatório ambiental confirma as preocupações e propõe o redimensionamento da malha viária, para que os caminhões não passem pelas pequenas vias residenciais de Taguatinga e de Samambaia. Brandão garante que isso não acontecerá. Segundo ele, a DF-180 será duplicada com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e todos os caminhões ) serão monitorados por GPS. )

300 milhões ao DF. A empresa que ganhar a licitação deverá também construir a infraestrutura para o gerenciamento do gás metano que resultará da decomposição da matéria orgânica, a partir do terceiro ano de operação. Para Pacheco, seria vantajoso gerar eletricidade a partir do gás, que continuará sendo emitido mesmo depois que o aterro for desativado. “Aproveitar o gás, além de gerar receita, garante os créditos de carbono para a empresa”, explica Brandão. Mas Eduardo Ferreira, da UnB, acha que a destinação do gás ainda é incerta. “A extração é uma fonte de renda, mas não sei, atualmente, qual indústria poderia usar esse tipo de gás”, pondera.

Como é hoje, sem duplicação, a DF-180 teria tráfego complicado com a circulação de caminhões de lixo para o aterro. O governo promete ampliá-la com recursos do PAC.


Srs. candidatos: nós já estamos onde vocês têm que estar. Capa não ser o desejável. Abraçar uma campanha política com um histórico profissional de marketing de produtos de consumo, por exemplo, é algo extremamente complicado: políticos não são sabonetes. Mesmo em caso de vitória do candidato, a campanha perde em conteúdo e a atividade não sai fortalecida. Por outro lado, é difícil encontrar profissionais experientes, disponíveis e, mais ainda, com algum embasamento acadêmico. No Brasil, salvo raras exceções, o tema é alheio à formação universitária. Em pequena escala, cursos de marketing político e eleitoral vêm sendo oferecidos aleatoriamente no País, mas em geral, restringem-se à teoria, não tem a dimensão e a profundidade que deveriam, acabam passando despercebidos e formando profissionais sem experiência de fato em campanha. Falta um ponto de ligação entre a formação acadêmica e o trabalho em campo.

Apesar de a lei brasileira pretender o contrário, uma nova campanha começa assim que a anterior termina Durante as campanhas municipais de 2008, mais de 345.700 candidatos concorreram aos 57.555 cargos disponíveis: 5.563 prefeituras e 51.992 vereanças. As eleições brasileiras são um dos maiores processos democráticos do mundo, mobilizando um universo de mais de 130 milhões de pessoas, ou quase 69% da população. O que já era monumental, este ano deve crescer ainda mais: pesquisa recente da Associação Brasileira de Municípios aponta que entre 3 mil e 7 mil novas vagas serão criadas nas câmaras municipais, incluindo oito em Teresina e dez em São Luís. A

grandeza desses números, entretanto, encontra pela frente um terreno a ser vastamente explorado quando assunto é a comunicação entre candidatos e seus potenciais eleitores. Evidentemente, não há oferta suficiente para dar conta dessa demanda gigantesca. As posições que profissionais de comunicação e marketing deveriam ocupar acabam, quando muito, sendo preenchidas por gente pouco afeitas à atividade, o que contribui para que se forme uma imagem distorcida tanto da atividade

em si como da categoria. Pessoas sem um conhecimento ou capacitação profissional na área, na sua maior parte oriundas da base de apoio dos candidatos, suprem essa carência de mão-de-obra e acabam assumindo posições-chave num processo fundamental, a razão de ser da campanha eleitoral. Às vezes, mas nem sempre, contam com a assessoria de especialistas em setores específicos — como pesquisa, produção ou redação. Mesmo assim, sem que dominem a linguagem e as ferramentas do marketing político, o resultado pode

Outra questão fundamental é sazonalidade das eleições. Espaçadas a cada dois anos, impactam a indústria e contribuem também para a refração do grande público, enfastiado de política partidária. Para piorar o cenário, o Congresso debate a unificação total das eleições a cada quatro anos. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), relatada pelo sempre presente senador Renan Calheiros (PMDB-AL), já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, e deverá ser submetida a duas votações em plenário, ainda sem data definida.

trocesso, ao propor um mandato-tampão de dois anos para os cargos municipais em

2016. A partir de 2018, reúne numa só data o voto para vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente. Além das perdas claras impostas aos profissionais de comunicação política, a PEC mistura num só escrutínio todas as instâncias federativas, contribuindo inevitavelmente para uma perda do parâmetro das eleições como ativo político. Ou seja, o eleitor perde a possibilidade de poder votar contra um determinado partido nas eleições municipais quando ele vem lhe decepcionando na esfera estadual ou federal. Em nenhum outro lugar do mundo tantas variáveis, isoladas e interdependentes, estariam sendo postas à prova a um só tempo. O risco de eventuais transições múltiplas simultâneas é alto. Enquanto as regras não mudam — não para pior, esperamos —, os candidatos precisam, inexoravelmente, estar preparados para outubro. E aí surgem as dúvidas. Qual seria a hora certa de começar? Qual o momento certo para um candidato — ou aspirante — investir na campanha e, principalmente, o que é necessário fazer? Procuramos levar estas e outras questões a alguns profissionais com experiência eleitoral e relacionamos a seguir algumas conclusões.

Embora muito se fale das diferenças entre marketing eleitoral e marketing político, o gerenciamento de imagem do candidato deve ser constante. A próxima campanha começa

no dia em que terminou a campanha anterior. É um processo

contínuo, a despeito de a lei

brasileira pretender o contrário. A cada

dois anos, as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) —que até o fechamento desta edição não tinha se manifestado sobre o pleito de outubro —, podem mudar tudo que era permitido na eleição anterior. Como a divulgação dessas resoluções havia sido prevista para dezembro de 2011 e não ocorreu, a expectativa com as mudanças que deverão trazer é grande.

A legislação eleitoral é confusa, admite Armando Rezende, 55, especialista em direito eleitoral do Instituto dos Advogados de São Paulo. “A Justiça eleitoral não conta com um quadro próprio”, explica. “Ele muda a cada dois anos, falta conhecimento e ficamos sujeitos às resoluções do TSE e às impressões muito pessoais de cada julgador.” Na falta de uma doutrina unificada, os candidatos ficam à mercê do grau de liberalidade ou rigor dos juízes. Umamesma questão envolvendo, por exemplo, algum aspecto da propaganda eleitoral, pode ser interpretada de forma totalmente oposta em locais diferentes.

Demanda alta: candidatos demais para poucos marqueteiros

A proposta, porém, apresenta um claro avanço: altera a esdrúxula data de posse de 1º de janeiro para os membros do Executivo. Prefeitos e vices tomarão posse no dia 5 de janeiro do ano subsequente à eleição; os governadores no dia 10 de janeiro; e o presidente, no dia 15 de janeiro. Ao mesmo tempo, embute um claro re-

termina Apesar de a Durante as campanhas municipais de 2008, mais de 345.700 candidatos lei brasileira concorreram aos 57.555 cargos disponíveis: 5.563 prefeituras e 51.992 pretender o vereanças. As eleições brasileiras são um dos maiores processos democontrário, uma cráticos do mundo, mobilizando um universo de mais de 130 milhões de nova campanha pessoas, ou quase 69% da população. O que já era monumental, este ano começa assim deve crescer ainda mais: pesquisa recente da Associação Brasileira de que a anterior

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Municípios aponta que entre 3 mil e 7 mil novas vagas serão criadas nas câmaras municipais, incluindo oito em Teresina e dez em São Luís. A grandeza desses números, entretanto, encontra pela frente um terreno a ser vastamente explorado quando assunto é a comunicação entre candidatos e seus potenciais eleitores. Evidentemente, não há oferta suficiente para dar conta dessa demanda gigantesca. As posições que profissionais de comunicação e

Capa marketing deveriam ocupar acabam, quando muito, sendo preenchidas por gente pouco afeitas à atividade, o que contribui para que se forme uma imagem distorcida tanto da atividade em si como da categoria. Pessoas sem um conhecimento ou capacitação profissional na área, na sua maior parte oriundas da base de apoio dos candidatos, suprem essa carência de mão-de-obra e acabam assumindo posições-chave num processo fundamental, a razão de ser da campanha eleitoral. Às vezes, mas nem sempre, contam com a assessoria de especialistas em setores específicos — como pesquisa, produção ou redação. Mesmo assim, sem que dominem a linguagem e as ferramentas do marketing político, o resultado pode não ser o desejável. Abraçar uma campanha política com um histórico profissional de marketing de produtos de consumo, por exemplo, é algo extremamente complicado: políticos não são sabonetes. Mesmo em caso de vitória do candidato, a campanha perde em conteúdo e a atividade não sai fortalecida. Por outro lado, é difícil encontrar profissionais experientes, disponíveis e, mais ainda, com algum embasamento acadêmico. No Brasil, salvo raras exceções, o tema é alheio à formação universitária. Em pequena escala, cursos de marketing político e eleitoral vêm sendo oferecidos aleatoriamente no País, mas em geral, restringem-se à teoria, não tem a dimensão e a profundidade que deveriam, acabam passando despercebidos e formando profissionais sem experiência de fato em campanha. Falta um ponto de ligação entre a formação acadêmica e o trabalho em campo.

Para piorar o cenário, o Congresso debate a unificação total das eleições a cada quatro anos. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), relatada pelo sempre presente senador Renan Calheiros (PMDB-AL), já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, e deverá ser submetida a duas votações em plenário,

ainda sem data definida.

A proposta, porém, apresenta um claro avanço: altera a esdrúxula data de posse de 1º de janeiro para os membros do Executivo. Prefeitos e vices tomarão posse no dia 5 de janeiro do ano subsequente à eleição; os governadores no dia 10 de janeiro; e o presidente, no dia 15 de janeiro. Ao mesmo tempo, embute um claro retrocesso, ao propor um mandato-tampão de dois anos para os cargos municipais em

2016. A partir de 2018, reúne numa só data o voto para vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente. Além das perdas claras impostas aos profissionais de comunicação política, a PEC mistura num só escrutínio todas as instâncias federativas, contribuindo inevitavelmente para uma perda do parâmetro das eleições como ativo político. Ou seja, o eleitor perde a possibilidade de poder votar contra um determinado partido nas eleições municipais quando ele vem lhe decepcionando na esfera estadual ou federal. Em nenhum outro lugar do mundo tantas variáveis, isoladas

e interdependentes, estariam sendo postas à prova a um só tempo. O risco de eventuais transições múltiplas simultâneas é alto. Enquanto as regras não mudam — não

para pior, esperamos —, os candidatos precisam, inexoravelmente, estar preparados para outubro. E aí surgem as dúvidas. Qual seria a hora certa de começar? Qual o momento certo para um candidato — ou aspirante — investir na campanha e, principalmente, o que é necessário fazer? Procuramos levar estas e outras questões a alguns profissionais com experiência eleitoral e relacionamos a seguir algumas conclusões. Embora muito se fale das diferenças entre marketing eleitoral e marketing político, o gerenciamento de imagem do candidato deve ser constante. A próxima campanha começa no dia em que terminou a campanha anterior. É um processo contínuo, a despeito de a lei

brasileira pretender

o contrário. A cada dois anos,

as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) —que até o fechamento desta edição não tinha se manifestado sobre o pleito de outubro —, podem mudar tudo que era permitido na eleição anterior. Como a divulgação dessas resoluções havia sido prevista para dezembro de 2011 e não ocorreu, a expectativa com as mudanças que deverão trazer é grande. A legislação eleitoral é confusa, admite Armando Rezende, 55, especialista em direito eleitoral do Instituto dos Advogados de São Paulo. “A Justiça eleitoral não conta com um quadro próprio”, explica. “Ele muda a cada dois anos, falta conhecimento e ficamos sujeitos às resoluções do TSE e às impressões muito pessoais de cada julgador.” Na falta de uma doutrina unificada, os candidatos ficam à mercê do grau de liberalidade ou rigor dos juízes. Umamesma questão envolvendo, por exemplo, algum aspecto da propaganda eleitoral, pode ser interpretada de forma totalmente oposta em locais diferentes.

Demanda alta: candidatos demais para poucos marqueteiros

Outra questão fundamental é sazonalidade das eleições. Espaçadas a cada dois anos, impactam a indústria e contribuem também para a refração do grande público, enfastiado de política partidária.

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Fora do Plano por NOELLE OLIVEIRA noelleoliveira@meiaum.com.br

Saúde no poder

Em falta nos hospitais, sobram médicos na política local. Se a Secretaria de Saúde implora que profissionais trabalhem na rede e a Unidade de Pronto Atendimento de Samambaia é fechada devido à falta deles, na cúpula da administração pública os médicos estão por toda a parte. O governador é médico, o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, também, e já foi diretor do Hospital de Base. Os distritais Arlete Sampaio e Dr. Charles representam a categoria na Câmara Legislativa. Hoje, Agnelo tem renda mensal de R$ 26 mil – quase nove vezes superior à que recebeu durante oito meses em 2007, quando ganhava menos de R$ 3 mil, trabalhando na Secretaria de Saúde. O Hospital do Gama, onde atendeu, foi um dos redutos em que buscou votos para se eleger. Um médico da rede recebe R$ 7 mil para trabalhar 40 horas semanais. Um deputado distrital e um secretário do governo ganham pouco mais de R$ 20 mil. A Secretaria de Saúde ofereceu salários de R$ 14,2 mil para temporários e nem assim conseguiu candidatos suficientes. Além de ganhar mais na iniciativa privada, os médicos não querem enfrentar as condições de trabalho, das quais os políticos da categoria parecem não se lembrar. Se os distritais gastam, por mês, R$ 97,6 mil com pessoal de gabinete, nos hospitais falta esparadrapo.

Dia, noite e atrasado Auditoria divulgada pelo Tribunal de Contas do DF em fevereiro mostra que, como adiantamos na última edição da meiaum, a obra do Estádio Nacional não caminha como deveria, nem como as autoridades anunciam. Um 3º turno de empregados trabalha no projeto desde setembro de 2011. Faltam licitações e contratação de mão de obra. De acordo com o relatório, havia defasagem geral de 7% do total de serviços que deveriam ter sido executados até julho de 2011. No grupo das ações fora do prazo estão sistemas integrados à obra, fundações e estruturas complementares. Quando a arena foi licitada, o governo ainda não havia assumido a responsabilidade

de sediar a Copa das Confederações. Por isso, o cronograma previa a entrega do estádio em julho de 2013. A exigência agora é de que tudo esteja pronto para operar em dezembro. Restam nove meses, ou a Fifa transferirá os jogos para outra sede entre as já escolhidas.

Muita tinta para pouca sucata Finalmente saiu do papel, no início deste mês, a licitação para renovação de 75% da frota de transporte coletivo do Distrito Federal. O processo já havia sido prometido para abril de 2011 e fevereiro de 2012. Enquanto isso, mesmo sem meios de locomoção, faixas exclusivas para cir-

culação de ônibus são inauguradas pela cidade. Das 35 linhas que passam pela Estrada Parque Taguatinga (EPTG), apenas oito são semiexpressas e utilizam as faixas especiais. De que adianta espaço, se não existe transporte? Sem falar na precariedade dos ônibus. Além da Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) e da EPTG, seis vias ganharão corredores exclusivos. A W3 Sul é a próxima. O DF conta, hoje, com cerca de 4 mil coletivos. Falta saber, agora, onde estão os R$ 2 bilhões do PAC Mobilidade, que desde 2011 o governador anuncia enquanto espera o pronunciamento oficial da presidente Dilma Rousseff. Os recursos serão investidos no trânsito rápido de ônibus (BRTs) e no veículo leve sobre trilhos (VLT).


paubrasilia@paubrasilia.com.br

por Nicolas Behr

BRASÍFRA-ME Personagens, lugares e episódios marcantes da história da nossa capital. Desvende estes poemas-enigmas.

2*

já idoso historiador o visconde veio a cavalo e falou: deve ser construída aqui, entre as três lagoas

e assim se fez

trevo de 4 rodas

pra virar à esquerda pegue à direita mas o contrário não

curvas de amolar gramados e postes

corta o asfalto dali corta o meio-fio daqui

1*

3*

uma pista: longa

tenebrosa para bípedes noturnos

enquanto exu brinca de autorama o poeta chega são e salvo na casa da noélia


5* é do boi vaqueiro do asfalto com chapéu colorido e sorriso bordado bem imaterial quase carnaval boi que dá carne e alegria

6* onde as salivas do norte encontram as salivas do sul e as línguas das duas bacias se beijam

apenas uma garotinha era ella? era elle? 7** chegam os passageiros da agonia partem a cruz cruza a encruzilhada ponto de despacho em cima do buraco entre dois cês

Respostas: 1 As tesourinhas – 2 Visconde de Porto Seguro, Francisco Adolfo Varnhagen 3 – O Eixão – 4 O Boi do seu Teodoro – 5 A cantora Cassia Eller – 6 O fenômeno das Águas Emendadas – 7A Rodoviária de Brasília

4**

o som e a fúria

21


Perfil

“Esse é meu nome. Tenho 37 anos, sou formado em física, casado, nascido e criado em Ceilândia, pagão e católico, filho de pais comuns e EU VOU PARA A NASA!”

Texto Rafania Almeida Fotos Ana Paula Guerra rafania@meiaum.com.br

www.anapaulaguerra.com.br



24

E

Em três anos, Cefas mudou de profissão, de cidade, de estado civil. Fez amigos e inimigos. E foi nas catástrofes que encontrou sentido para a própria vida.

le não é cientista nem candidato à vaga latina de astronauta na Nasa – se é que isso existe. É apenas um cara que se propôs a resgatar corpos. E não estamos falando de carcaças alienígenas perdidas no deserto do Texas. O trabalho dele é encontrar mortos em meio a escombros e soterramentos provocados pelas chuvas. “Mas o que esse cara vai fazer na Nasa?”, você deve estar se perguntando. Cefas, 37 anos, professor de física, descendente de gregos, pagão e católico – acredite ou não –, resolveu largar a estabilidade que levou alguns anos para conquistar e ajudar vítimas das chuvas no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. Ele vai para a Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço, a Nasa, nos Estados Unidos, aprender como prevenir e como atuar em grandes desastres provocados pela natureza ou pelo homem. Há uns cinco anos, Cefas diz que estava em uma torre, em Ceilândia, pensando em se jogar por causa de uma desilusão amorosa. Tirava cerca de R$ 10 mil por mês, somando os ganhos em um cursinho onde dava aula e na empresa de mídia que prestava serviço para órgãos públicos e empresas privadas. Por sugestão de um amigo, comprou passagens para a França e garante que se alistaria na Legião Estrangeira Francesa em 20 de dezembro de 2008. “Ganharia R$ 300 mil por ano e ficaria lá por cinco anos.” Na verdade, o salário inicial de um soldado legionário é pouco mais que 1.200 euros. Com alguns bônus, chega a 3.567 euros. Enfim, Cefas não pulou nem virou um legionário. Optou por atender a um chamado da Defesa Civil do DF, em novembro daquele ano, para ajudar as vítimas das chuvas de Santa Catarina. Apenas auxiliaria na triagem dos donativos coletados. Mas estamos falando desse tal moço chamado Cefas, que desde o início do texto vem fazendo uma série de mudanças bruscas em sua vida. Ele não pararia a história vivendo com a consciência tranquila e a sensação de trabalho feito. “Vi um sargento entrar em parafuso e desabar, chorando,

quando duas caixas de leite escorregaram das mãos dele e estouraram no chão.” Pediu então para integrar a missão que entregaria os mantimentos. No Vale do Itajaí, se deparou com o caos e com um senhor de bicicleta que perguntava, aflito: “Filho, vocês estão trazendo comida?” Foi o suficiente para ele decidir não voltar com a missão brasiliense. “Avisaram que eu ficaria por conta própria.” Como ainda estava com aquele dinheiro que juntou para ir para a Legião Estrangeira, nem hesitou. Afirma que gastou quase tudo o que tinha ajudando as vítimas. Abasteceu avião de socorro de um grupo de ajuda, comprou material de salvamento e, no fim, ficou com R$ 50 para sobreviver. Diz que se virava. No município de Ilhota, um dos mais afetados, conheceu os Bombeiros Voluntários, organização com a qual começou a participar de resgates. Entrou para o ramo mais pesado: a busca de corpos. Ajudou a encontrar 22 pessoas mortas sob os escombros em Ilhota. Foram dois meses de trabalho, o suficiente para conhecer e se apaixonar por uma bombeirovoluntária que, em apenas duas semanas de encontros, o convidou para morar com ela e os pais. Em um mês ficou acertado o casamento, que já dura três anos. Algumas pessoas achariam tudo muito suspeito, certo? Um cabeludo (1,28 metro de cabelo), barbudo (de vez em quando ele tira a barba por higiene), que se dedica a ajudar um bando de desconhecidos, inclusive tirando do próprio bolso? E desconfiaram. Segundo Cefas, as pessoas investigavam a vida dele, o perseguiam. “Dizem que aquela região é muito rica em ouro e eu fazia aquilo porque estava interessado em conseguir um lote lá.” Fez inimigos. Pensaram que ele era foragido da polícia. Até que ganhou a proteção de um fazendeiro, um senhor meio truculento, depois de ajudar uma mulher que estava engasgada. “Quebrei três costelas dela, mas a socorri. Sem mim ela teria morrido.” Foi a primeira vida que ele salvou. Depois da experiência, o professor se dedicou mais. Estudava e lia tudo o que encontrava


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a logística, trabalho com máquinas, resgate e comunicações. Ele encontrou os contatos na internet, enviou um e-mail e afirma que toda a experiência adquirida em tragédias no Rio e em Santa Catarina o cacifou para participar do treinamento do Dart. Isso e mais R$ 36 mil que terá de desembolsar. Cerca de R$ 2.500 para cada curso, além das despesas com alimentação e transporte. Atualmente trabalhando como torneiro mecânico, ganha R$ 700 por mês e diz ter juntado só R$ 28 mil. O restante, tenta por financiamento bancário, o que é difícil, pois está no emprego há pouco tempo e será demitido quando for para a Nasa. Só ganhou as passagens, da mãe. Ele partirá em 16 de abril.

Quer “ajudar o Brasil quando voltar”, uma vez que esse tipo de tragédia está cada vez mais comum. Mas pretende cobrar por isso, especialmente porque já investiu tanto em resgates. “Bem, se tiver gente que não tem condições de pagar, claro que ajudarei. Mas o governo precisa de orientação e preparo para esses casos e eu estarei pronto para isso.” Cefas (em grego, “cabeça”, líder, como se autoafirma) diz que retornará como instrutor de resgates em desastres e que há uma lista de espera com 150 inscritos para ser treinados por ele. Se tudo der certo, formará turmas em que cada aluno pagará R$ 1.100 pelo curso. Esperança, força de vontade e inteligência ) para isso ele tem. )

sobre resgate. Em 2009, fez cursos de capacitação. Participou de outros resgates: no Morro do Bumba, em Niterói (RJ), em 2010, quando auxiliou na busca de sete corpos, e na região serrana do Rio de Janeiro, onde resgatou 21 vítimas. Foi nesse mesmo ano que se interessou pela Nasa. Graças a ela, com profissionais e tecnologias, os mineiros chilenos foram resgatados em um prazo bem menor (dois meses) que o previsto (sete meses). Depois de pesquisar, encontrou o Dart – Disaster Assistance and Rescue Team. Descobriu, então (assim como eu e provavelmente você, leitor), que a Nasa não lida apenas com assuntos espaciais. O programa que Cefas vai integrar é uma espécie de preparação para catástrofes. Com toda


Artigo

Saúde mental: a que não ousa dizer seu nome (II) Ou flagrantes da vida real x política antimanicomial

Texto Alberto Francisco do Carmo Ilustração Werley Kröhling albertofcarmo@gmail.com

werleyk@gmail.com


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C

ontinuando sobre o tema do mês passado, descrevemos neste artigo alguns “flagrantes da vida real”, com licença da Seleções do Reader’s Digest. Primeira década do século 20. João sempre se destacara pelas maneiras estranhas. Mas “não fazia mal a ninguém”. Portanto, por que se importar com ele? João enlouqueceu. E, na sua demência, escolheu como alvo a religião e tudo que se referisse a ela. Blasfemava. Apelidou freiras de “baratas” e padres de “formigões”. Dizia que ia matar todos. A mãe, católica fervorosa, convocou um padre para exorcizá-lo por supor ser “coisa do Demo”. O filho, porém, parecia ter aumentado sua força física para um nível descomunal, com a evolução da demência. Agarrou o sacerdote e passou alguns minutos segurando-o fora da janela do sobrado, decidindo se ia jogá-lo. Ajoelhada, a mãe rezava e implorava por clemência. “Está bem, mãe, só não mato este formigão em respeito à senhora.” E libertou o padre, que, segundo as línguas locais, teve de trocar a batina. Urinou de pavor. Mas João não se emendou. Certo dia, nu em pelo, enrolou-se num cobertor (acho que vermelho) e ficou a postos na varanda de sua casa. Ao aproximar-se um grupo de beatas, rumo à sua missa costumeira, e na distância devida, subiu no parapeito e abriu o cobertor: – Eis o Cristo! Nunca foi tratado. E assim morreu.

***

Dias atuais. “Estou triste. Mamãe voltou a piorar. Agora cismou que nosso gato é espião nazista.” A menina iniciou assim sua sessão de psicoterapia. Motivo do tratamento: desajustes e baixo rendimento escolar, tristonha a convivência forçada com uma mãe esquizofrênica...

***

Década de 80. Escola pública estadual. Aluna com baixo rendimento, nervosismo, choro repentino, boletim escolar no vermelho. Chamada pela orientadora, recusa-se a explicar-se ou confidenciar qualquer coisa. “Não posso.” Chama-se a diretora e uma professora. Finalmente a verdade: – Papai está me obrigando a dar para ele todo dia. E diz que me mata se eu contar para alguém! A mãe é convocada. Ouve o relato das educadoras com ar displicente: – Ah, ela acostuma. Foi assim com todas!

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1955. Manhã de domingo em BH. Num apartamento do Centrão, numa época de prédio sem portarias, pais, filho e filha de empregada acabam de abrir os olhos para o dia e as tarefas. Súbito a campainha dispara em toques variados e longos. A dona da casa apressa-se em atender. Abre a porta e é atropelada por um cara, que entra apavorado. Parente distante. – Pelo amor de Deus! Me esconde aqui, me esconde aqui! ELES estão atrás de mim! Querem me matar! Como a zona boêmia não era muito longe, a mulher e a família imaginaram que ele, boêmio, havia se metido em encrenca. – Espere, vou buscar água com açúcar! Calma, fique calmo! E dirige-se para a cozinha. O perseguido dá um salto: – Não!! Eles podem te matar também! Não, não! Você não está ouvindo? Eles já estão aí na porta. E no forro também! Não, eles podem matar vocês todos!! Resumo: a família fica sitiada numa copa de apartamento das sete às 11 da manhã. Num momento de distração, o filho telefonou para um parente, dono de farmácia próxima e aberta. Em uns 10 minutos chegou com uma seringa cheia e com agulha no bolso. O cara acreditou que fosse o “delegado”, que assim pôde entrar. Um pouco de conversa e uma agulhada no braço, por cima do paletó. Em uns 15 minutos, o invasor cambaleia. Cai lentamente e dorme. Antes urina abundantemente. Chama-se a ambulância. Psicose alcoólica ou delirium tremens. Prazer em conhecer? Deus nos livre!

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1892. Fall River, Massachusetts, EUA. Elizabeth Borden took an axe and gave her mother forty whacks/And when the job was nicely done/She gave her father forty one. Elizabeth Borden pegou um machado e deu quarenta machadadas na mãe. E bem terminado o serviço deu quarenta e uma machadadas no pai. Caso real. Lizzie Borden foi acusada, julgada e ABSOLVIDA. Mas nunca se encontrou pista de um possível assassino ou vários. Portanto, o caso Richtofen tem precedentes que podem ser mais coincidentes ainda. Três diferenças: Lizzie parece não ter tido parceiro ou parceiros; na verdade, matou a madrasta. Que, ao contrário da mãe da moça paulista, não era...psiquiatra... Lizzie Borden tornou-se lenda e até folk song de humor negro do Chad Mitchell Trio. Vide web. Parece uma tendência, que a arte se aproveite da tragédia. “Matou a família e foi ao cinema”, “Porto das Caixas”, “Noivas de Copacabana” também se inspiraram em fatos. Seria uma boa ideia para o caso brasileiro? Ou seria melhor adotar políticas públicas, mas públicas meeesmo? Para tornar desnecessárias “inspirações” tão mórbidas?


Capa


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Quantos lagos tem

Brasília? Texto Caroline Vilhena Fotos Nilson Carvalho carolinevilhena@meiaum.com.br

fotografia@meiaum.com.br

Para uns, é diversão. Para outros, escritório. Ele pode ser até motel ou vítima dos ladrões de água. Às vezes, merece só ser contemplado. A seguir, histórias do Lago Paranoá


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Relação de amor regada a champanhe Dejacir Junior veio a trabalho do Rio de Janeiro para Brasília em 2006 e nunca mais voltou. “Eu amo esta cidade, daqui não saio”, declara-se o analista de redes de 29 anos. Em janeiro do ano passado, passeou de lancha pela primeira vez no Lago Paranoá, com um grupo de amigos que praticava wakeboard. “Eu até me arrisquei, mas não consegui nem ficar em pé na prancha.” A diversão virou desafio. Junior decidiu matricular-se num curso para aprender o esporte e comprou uma lancha. Os passeios pelo lago com os amigos tornaram-se mais frequentes e o wake passou a ser a principal atividade da turma. “Todo fim de semana é a mesma coisa, só quando chove ou acontece algum imprevisto é que mudamos a programação.” De praxe, os jovens levam bebida, comida e seleção musical farta para durar o dia inteiro. Depois de umas voltas, a lancha é ancorada perto do Iate Clube de Brasília ou nas proximidades da Barragem do Paranoá, onde fica a maior concentração dos barcos. As mulheres, com modelitos e óculos de marca, cabelos escovados e até de maquiagem, apenas tomam sol, de preferência com uma tacinha de champanhe em mãos, ou arriscam uns passinhos do hit “ai, se eu te pego” – ou de uma música do DJ do momento – em alto volume. Banhar-se no lago que é bom... nem pensar! Os homens exibem corpos marombados enquanto conversam sobre os últimos lançamentos do mundo automobilístico ou a próxima boate que algum amigo vai inaugurar. Os topetes e as camisas estilo polo, também de grifes famosas, figuram em um ou outro que não se arrisca a ficar só de sunga. Mergulham, praticam wakeboard e outros esportes ou dão uma voltinha de jet ski sob o olhar atento do resto da galera da festinha náutica. A lancha que Junior comprou no ano passado custa R$ 96 mil à vista ou R$ 110 mil com financiamento. Para ter uma vaga coberta no Real Marina (Clube da Assefe), o proprietário desembolsa mensalmente R$ 30 por pé. A lancha de Junior tem 23 pés, o que totaliza R$ 690. Ele diz gastar de 1,5 a dois tanques (de 150 litros) de gasolina a cada mês, que significa um custo de R$ 420 por tanque, mais de R$ 800 mensais. Cerca de R$ 1.500 do salário está comprometido com a manutenção da lancha, fora as bebidas e os petiscos com os quais gasta todo fim de semana. “Quando comprei, fiquei preocupado com o custo-benefício, não tinha certeza se ia valer a pena, mas, na hora em que entro com ela no lago, eu me esqueço de tudo!”, diz o analista. Por essa ótica, o lago é para quem pode.


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O lago dos esportistas Motel flutuante O espelho d’água e a vista da Ponte JK compunham o clima de romance. Por R$ 600, casais podiam desfrutar, até o ano passado, uma espécie de motel flutuante. Depois de um passeio romântico a bordo de um barco, os pombinhos passavam a noite – sozinhos, claro! – ancorados nas águas do Lago Paranoá. O condutor da embarcação voltava para seu ponto de apoio em um clube no Setor de Clubes Sul, utilizando outro barco, e só retornava para buscar o casal na manhã seguinte. Só que a Marinha não gostou de saber que pessoas não habilitadas passavam 12 horas sozinhas, e o proprietário do único barco que oferecia o serviço, Thiago Luz Barreto, teve de parar de fazer os passeios. Mas o empresário, de 30 anos, continua a trabalhar com turismo náutico. Desta vez, a aposta é o barco Capitão Océlio, construído para o passeio comemorativo dos 500 anos do Brasil. A embarcação é uma réplica autêntica das utilizadas nas frotas cabralinas à época do descobrimento. Só não tem as velas. Thiago comprou o barco de um ex-deputado há cerca de um ano, investiu em uma grande reforma e desde então o utiliza para a promoção de eventos. Os passeios românticos continuam a ser oferecidos em outro barco, mas os trajetos são mais curtos: cerca de duas horas de navegação. O casal pode escolher um jantar a dois a bordo ou uma parada em algum restaurante às margens do lago. “Mas aqui em cima [na caravela] tem um quartinho que estou querendo reformar para poder voltar a oferecer maior privacidade a quem quiser namorar no barco”, conta Thiago. Mas desta vez ele não sairá da margem, onde está ancorado ao lado de um espaço de eventos, em um clube no Setor de Clubes Sul. A embarcação tem três andares, cozinha, banheiros e um bar com cervejas importadas. Além da caravela, há mesas na estrutura externa para atender os clientes. Para a maior segurança dos passageiros, ela não navega. Além do espaço no píer do clube, o barco pode ser atracado ao píer que o cliente escolher – casa, salão de eventos, hotéis, etc. Tem sido utilizado para ensaios fotográficos e traslado de noivas.

O sol nem tinha nascido e o engenheiro agrônomo Pedro Borges Pizarro, 27 anos, já estava colocando o skiff (barco para a prática de remo) na água. Amante do esporte, Pedro o pratica há 11 anos. Já remou profissionalmente por vários clubes (entre eles Flamengo e Botafogo, do Rio) e hoje integra a equipe profissional do Minas Brasília Tênis Clube, na categoria sênior, a categoria olímpica. Aos 19 anos, foi vice-campeão brasileiro sênior, resultado que lhe rendeu a convocação para a seleção de remo em 2005. Em 2009, foi campeão brasileiro, trazendo o único título nacional que Brasília tem no remo. É presidente da Liga Brasiliense de Remo e vice-presidente da Associação Brasiliense de Remo. Morar em Brasília, diz ele, é um privilégio. “Para quem pratica remo, isso aqui é uma maravilha; no meio da cidade tem um lago show desse, você consegue quebrar a rotina e se colocar em contato com a natureza a qualquer momento.” O Minas Brasília Tênis Clube e a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) oferecem aulas de remo no Lago Paranoá. A escola do Minas dispõe também de aulas de canoa havaiana, stand up paddle e canoagem. O aluno se matricula por R$ 150 mensais em média e pode praticar qualquer uma das quatro modalidades, todos

os dias, das 6 às 20 horas. A escola oferece todo o equipamento. Além do remo, há quem pratique outros esportes náuticos e aquáticos. Até quem nunca pensou em entrar na água tem se aventurado. “Você vê um monte de gente o tempo todo praticando algum esporte naquele lago enorme, superbonito; uma hora dá uma curiosidade de tentar, pelo menos, pra ver o que acontece”, diz Bruno Mendes, que pratica wakeboard há nove meses. Começou de brincadeira, um dia em que um amigo o convidou para passear de lancha. “Cheguei lá e tinha uma galera fazendo wake e parecia superdivertido; mas é muito difícil, apesar de não parecer, aí eu resolvi procurar onde eu poderia aprender”, lembra. Depois daquele dia, Bruno resolveu comprar a prancha e a bota necessárias à prática do esporte – que podem custar entre R$ 800 e 2 mil reais –, se matriculou no curso para iniciantes da Wakescola, no Pontão do Lago Sul, e começou a ter aulas duas vezes por semana. Com o fim do curso, foi treinar com o amigo e profissional Felipe Miyamoto, que foi vice-campeão brasileiro em 2006 e campeão sul-americano da categoria open em 2004. “Aí eu não parei mais, quanto mais você aprende, mais quer aprender”, empolga-se o aspirante a atleta.


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Relação de amor regada a cerveja e churrasco Longe da Barragem do Paranoá e do Iate Clube, o cenário é diferente, mas igualmente animado. No piscinão do Lago Norte, às margens da Estrada Parque Paranoá, nas proximidades do Varjão e das MIs e MLs do Lago Norte, cerca de 80 pessoas aproveitam um dos poucos dias de sol de janeiro. O vigilante Antônio Pio, 42 anos, casado há 15 com a gerente de loja Luciene, 37, levou a mulher e os dois filhos, Kennedy, de 12 anos, e Karen, de 5, para curtir o último dia de férias. O menino empinava pipa e corria de um lado para o outro com os colegas até que todas as pipas caíram no lago e a molecada resolveu continuar a brincadeira dentro d’água. Karen também estava nadando com as amigas e só saiu – com as mãos enrugadas – para pedir à mãe um pedaço de bolo de chocolate. O bolo, em uma vasilha de plástico de tampa colorida, estava bem guardado no isopor que a família levou no porta-malas, com o arroz, o feijão, a farofa e pedaços de carne para o churrasco. Em outro isopor, muitas latinhas de cerveja e refrigerante. Ali mesmo, Antônio armou uma pequenina churrasqueira com um pouco de carvão. Frango, linguiça e carne bovina assavam sob o sol, exalando uma fumaça muito cheirosa. Luciene ajudou o marido a improvisar uma

barraca com um pedaço de lona preta na sombra de uma árvore, amarrada de um lado ao tronco e de outro ao porta-malas aberto do carro. Ali, estenderam uma colcha de cama surrada e sentaram de frente para o lago, para observar as crianças. Luciene lia uma revista de celebridades e Antônio bebericava sua cerveja e vigiava o churrasco, ao som de Michel Teló, Paula Fernandes, Luan Santana e outros sertanejos do momento, que também animavam o dia da galera das lanchas a alguns quilômetros dali. “Querem uma carninha? Tem feijão, arroz... podem comer à vontade”, ofereceu o casal sob o olhar desconfiado de Karen, que devorava um pedaço do bolo. “Isso aqui é maravilhoso, o melhor lugar de Brasília, vem gente de todo lugar passar o dia; no fim de semana você precisa ver, fica lotado”, contou Antônio. Luciene só reclama da falta de cuidado. Diz ser uma tristeza um lugar tão bacana abandonado desse jeito. E aponta: “Olhem o mato como está alto, e você não vê uma lixeira, um banheiro”. Mostrou os sacos de lixo que leva para manter o lugar limpo. “O pior é que não tem opção, se for à Prainha ou à Ermida, é até pior às vezes, porque tem gente usando drogas e a gente não tem segurança alguma”, critica.

Luciene e Antônio com os filhos, num dia ensolarado de janeiro. O piscinão do Lago Norte é o lugar preferido da família, que vive no Paranoá.


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Quebradas e ex-quebradas Os ladrões de água Quem tem menos de 20 anos talvez não se lembre de como era o Pontão ou a Península dos Ministros. Pode até ter ouvido as histórias, visto fotos, mas não tinha idade para frequentá-los na época em que eram exemplos típicos de “quebradas”. “São aqueles poucos lugares que têm acesso livre na beira do lago”, define a portuguesa Ivone Espiñera, 33 anos, moradora da capital desde os 9 anos. “Antes, esses lugares não eram vistos com bons olhos pela população. Quem ia pra lá certamente não ia para fazer boa coisa”, diz. Ivone é sócia-proprietária do restaurante BierFass, um dos primeiros estabelecimentos a se instalar no Pontão do Lago Sul depois que ele foi reformado e inaugurado, em 2002. “Virou obrigatório para quem visita Brasília, além da vista maravilhosa a qualquer hora, isso aqui é um complexo de lazer”, diz a empresária. Para ela, a maior diferença do Pontão de hoje para o antigo, considerado quebrada, são os frequentadores. “Agora você vê famílias, idosos tomando sol, crianças nos parquinhos, noivas tirando fotos... o Pontão não é só gastronomia, tem gente que vem pra ver a lua ou o pôr do sol, pra fazer exercícios, tem de tudo.” O nutricionista Naron Macnamara, 31 anos, sempre foi frequentador das quebradas. É morador do Lago Norte e costuma ir à chamada “quebra da 13”, ao lado da sucursal do Hospital Sarah Kubitschek, entre as QLs 11 e 13. “Eu gosto de ir pra lá de dia, para nadar e pescar; é ótimo ter um lugar público para você praticar exercícios e ficar em contato com a natureza”, diz. De acordo com ele, sempre tem mais gente de manhã do que à noite na quebra da 13 e na da 15 (na QL 15 do Lago Norte). “Acho que são as últimas que ainda existem como ‘quebradas’ mesmo, porque as outras viraram parques.” A preferida de Naron era onde hoje está o Parque das Garças, ao lado do Clube do Congresso. “A gente ia pra lá nadar e curtir o visual do lago, hoje o lugar está mais bonito ainda.” Morador da Península dos Ministros há 14 anos, Jorge Boueres, 48, achou bom quando a quebrada que era sua vizinha foi transformada no Parque da Península, em 2003. “Sempre foi muito seguro, tanto de dia quanto à noite, o problema não era esse, era a preservação mesmo, a sujeira que faziam”, reclama. Para ele, depois da revitalização passou a ser o lugar mais bonito da capital. “Olha a quantidade de gente passeando, praticando esportes, e olha essa vista; é ou não é o clássico de Brasília?” Ele costuma passear com seus cachorros pelo parque quase todos os dias e leva ao local todo hóspede que recebe em casa: “O pessoal fica maluco com isso aqui, é um cartão-postal”, elogia.

No ano passado, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) registrou 130 focos de captação ilegal de água do Lago Paranoá, em maioria mansões residenciais. Não há no Distrito Federal lei específica sobre a captação de água do Lago Paranoá. O que existe de legislação que pode ser aplicada ao lago é a Resolução nº 350 da Adasa, que estabelece os procedimentos gerais para requerimento e obtenção de outorga do direito de uso dos recursos hídricos em corpos de água de domínio do DF e naqueles delegados pela União e pelos estados. Essa resolução proíbe a captação de água superficial do lago, para não comprometer a geração de energia, o consumo humano e a prática de atividades esportivas, lazer e pesca. De acordo com Hudson Rocha de Oliveira, coordenador do Setor de Fiscalização da Adasa, cerca de 90% das captações ilegais de que a agência toma conhecimento são denunciadas por vizinhos dos infratores. “Nós contamos com a cidadania das pessoas, porque não há como acharmos sozinhos todos os focos”, diz. São cerca de dez ligações por mês. “Os fiscais da Adasa vão a cada um desses locais indicados e levam uma notificação para que seja interrompida imediatamente a captação de água”, explica Oliveira. No primeiro contato, os profissionais não costumam aplicar multa ou medidas mais graves, apenas orientam sobre alternativas de obter água para irrigação sem comprometer o meio ambiente. “Nós trabalhamos mais com a sensibilização, para que as pessoas se conscientizem sobre a preservação dos recursos hídricos.” Mas a legislação permite multa imediata, que varia de R$ 100 a R$ 10 mil, dependendo da gravidade da infração. Segundo o coordenador, 90% dos focos visitados no ano passado cessaram a captação de imediato. Depois da visita dos profissionais da Adasa, o proprietário da residência deve mandar a vistoria assinada, na qual se compromete a parar de captar a água, sob o risco de sofrer as penas cabíveis. “Apenas em casos excepcionais, por critérios técnicos, a Adasa estabelece que é permitida a captação, por ser ela menos prejudicial ao meio ambiente do que por meio de poços artesianos”, explica o coordenador do Setor de Outorgas da Adasa, Vitor Guimarães Marques. Esse é o caso do Clube de Golfe de Brasília, que tem uma área muito grande de irrigação e onde o abastecimento por poços poderia causar o rebaixamento do lençol freático. “Não há cobrança de taxa para a captação, ela só precisa ser autorizada”, avisa. Apenas o Clube de Golfe e o Palácio da Alvorada têm hoje essa concessão.


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O lago também é ganha-pão Nem só de lazer vive o Lago Paranoá. Muita gente não sabe, mas há quem garanta o sustento vendendo os peixes que captura naquelas águas. São mais de cem cadastrados na Cooperativa dos Pescadores do Lago Paranoá (Coopelap-DF), entidade credenciada no Ministério da Pesca e Aquicultura. Um deles, Joaquim Rodrigues dos Santos, 55 anos, passa cerca de nove horas por dia e muitas vezes a noite inteira em sua canoa de madeira. Nos melhores dias, chega a levar para casa até 50 quilos de peixe, a maioria tilápias, carás e carpas. São vendidos nas peixarias e na feira de São Sebastião, onde ele mora. “Às vezes a gente vende na rua mesmo, coloca tudo em cima do carrinho e sai anunciando que tem peixe... não sobra um”, conta. A renda mensal varia de R$ 800 a mil reais. Natural de Januária, Minas Ge-

Joaquim e Maria Antônia tiram o sustento da pesca. Tilápias, carás e carpas são a maioria. Nos melhores dias, levam até 50 quilos para casa.

rais, Joaquim veio para Brasília em 1994, acompanhado de Maria Antônia, com quem é casado há 30 anos, e dos dois filhos. Ela trabalha como diarista, mas gosta é da pesca. Acompanha o marido na maioria das jornadas. “Foi a pesca que deu tudo que temos, é o nosso sustento, graças a Deus”, diz Maria Antônia, orgulhosa. “Ah, eu tenho orgulho, sim, somos pescadores desde sempre.” Eles deixam a canoa guardada na Caesb e voltam para casa de ônibus mesmo, carregando o pescado do dia. “Quando é muito peixe, a gente liga pra um colega nosso e paga o frete”, explica a esposa de Joaquim. O apartamento onde a família vive de aluguel é de apenas um quarto, mas é espaçoso e bem equipado. Televisão, aparelho de DVD, geladeira, fogão, armários, móveis, tudo em perfeito estado e limpíssimo. Apenas pescadores filiados à

Coopelap-DF podem exercer a atividade e devem seguir várias recomendações. A Lei Distrital nº 3.066, de 2002, regulamenta a prática da pesca no Lago Paranoá. A pesca profissional está autorizada em toda a extensão do lago, com exceção das proximidades da barragem, áreas perto do Palácio da Alvorada e da Península dos Ministros e águas com concentração elevada de atividades de lazer e prática de esportes náuticos. É proibida a pesca com rede de superfície, rede batida, pesca submarina, a utilização de explosivo e o uso de substâncias que provoquem a morte ou alterações no comportamento dos animais. O desrespeito pode acarretar multa de um salário mínimo e a apreensão do material. Fora a lei distrital, três normas norteiam o trabalho de fiscalização do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA): a Lei Federal

nº 9.605, sobre crimes ambientais, o Decreto nº 6.514, sobre infrações e sanções administrativas ao meio ambiente (artigos 35 a 42) e a Portaria nº 4 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), sobre pesca amadora. Os policiais do BPMA fazem rondas diárias. Quando flagram ilegalidade fazem um trabalho de conscientização antes de aplicar medida repressiva. “As pessoas geralmente desconhecem as leis e quase sempre estão pescando por hobby, sem saber que estão fazendo algo errado”, explica a capitã Isabela Almeida, relações públicas do BPMA. Se for reincidente, autuam o cidadão e acionam o órgão ambiental local para aplicar a sanção. Dependendo do crime, até encaminham para a delegacia. “Mas nós só fazemos isso quando é algum caso recorrente.”


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Vila Amaury e mergulhadores Kubitschek teve de mandar a Guarda Especial de Brasília (GEB) para manter a ordem”, lembra o pioneiro. Ao lugar onde estava formada a invasão deu-se o nome de Vila Sarah Kubitschek, mas era preciso deslocar aquelas pessoas para outro alojamento, um lugar que tivesse luz, água e tudo que desse estrutura para acomodar aquele povo todo. “Foi então que o Amaury Almeida, que era funcionário da Doam e tinha um espírito de liderança incrível, começou a deslocar o pessoal e a acomodar todo mundo ali próximo de onde hoje é o Clube Naval”, conta Vasconcelos. Nasceu a chamada Vila Amaury, a tal que teria ficado submersa. Em 12 de setembro de 1959, aniversário de JK, a obra da Barragem do Paranoá foi inaugurada e a água começou a ser represada. “Não foi rápido que a água começou a subir, mas todo mundo sabia que em algum momento seria preciso sair dali; as pessoas iam se mudando aos poucos, mas tinha gente que não acreditava, que dizia que a água não ia subir. Quando resolveram sair não deu mais tempo e muita coisa foi ficando lá”, confirma o pesquisador. De acordo com ele, eram cerca de mil e quinhentos barracos, uns de madeira, uns de alvenaria, de 5m x 8m, mais ou menos, que abrigavam no máximo 2 ou 3 pessoas cada um. “Não era muita gente, de 5 mil a 10 mil pessoas estourando”, especula Vasconcelos. Mas ele não acredita que existam ruínas debaixo d’água até hoje. “Não tem mais nada lá; não existe essa imagem da cidade inundada pelo lago.” O sargento Marconi, 39 anos, mergulhador de resgate da Companhia de Salvamento Aquático do 1º Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros, garante o contrário. Ele mergulha no Lago Paranoá há 18 anos e conta o que viu nas várias vezes em que foi ao fundo do lago na altura de onde hoje é o Clube Naval e o Motonáutica. “Tem paredes pela metade, alicerces, tem piso, vaso sanitário, um monte de ruínas onde alguma vez já teve gente ) morando com certeza”, conta. )

Lucio Costa fez o desenho do Lago Paranoá entre 1956 e 1957, sem saber do sonho que o padre italiano João Melchior Bosco, mais conhecido como Dom Bosco, relatou ter tido em 1883, segundo o qual “Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago”. O registro aparece no livro Memórias biográficas de São João Bosco, escrito pelo padre Lemoyne. Ele era assistente de Dom Bosco, que se tornaria santo e o padroeiro de Brasília. Para muitos, o sonho é uma profecia da construção de Brasília, já que a cidade está justamente dentro do intervalo de coordenadas geográficas mencionado na visão de Dom Bosco e foi emoldurada pelo Lago Paranoá. Coincidentemente, em 1893, dez anos depois do sonho do padre, o projeto do lago foi concebido pela Missão Cruls, que mais de 60 anos mais tarde serviria de base para o projeto urbanístico de Lucio Costa para o Plano Piloto. Em 1958, Brasília era um canteiro de obras e tinha serviço para quem quisesse. Ônibus com trabalhadores não paravam de chegar, sobretudo do Nordeste, e o Instituto Nacional de Imigração e Colonização (Inic) fazia a triagem para alocar em suas devidas funções os homens que migravam. “Eu cheguei aqui nessa época; no fim de 1958 devem ter chegado aqui umas 40 mil, 50 mil pessoas”, estima Adirson Vasconcelos, jornalista, historiador e pesquisador, autor de mais de 30 livros sobre Brasília. De acordo com ele, na época desse rush de gente rumo à capital, o alojamento dos pioneiros, que se dividia entre a Vila Planalto e a Cidade Livre – onde hoje é o Núcleo Bandeirante –, ficou também superlotado. O Departamento de Organização e Administração Municipal da Novacap (Doam) teve de tomar providências para gerir o surto populacional. “A migração começou a ser tão descontrolada que começou uma invasão do outro lado da rua, onde hoje é o Setor de Postos e Motéis, que o Juscelino


TUDO AUMENTOU,

MENOS NOSSOS SALÁRIOS 54,17% 44,43% 26,93%

Habitação

Saúde

Alimentação

Educação

Transporte

19,58%

Fonte: ICV - Índice do Custo de Vida, Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos)

O custo de vida aumentou, tudo ficou mais caro, mas os salários dos servidores da Justiça não tiveram nenhum reajuste desde 2006. A presidente Dilma desrespeita a autonomia do Judiciário. Deputados e senadores não votam o Projeto de Lei porque o Executivo não quer. O Judiciário continua de joelhos. E os servidores não têm aumento. Até quando? Só nossa luta por um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) é que vai garantir nosso justo aumento.

O Sindicato cidadão www.sindjus.org.br

Salário dos Servidores

31,49%

0%


CHARGES DO GOUGON hgougon@gmail.com


Conto

Falha no aplicativo

Incomunicável O que resta fazer quando os recursos tecnológicos não curam a solidão?

Texto João Pitella Junior Ilustração Daniel Banda pitellajr@globo.com

Naquela manhã de fevereiro, Walter era o oposto do “Eduardo” da Legião Urbana: antes mesmo de abrir os olhos, ele já quis se levantar. Algo na cama provocava um ligeiro desconforto, um traço de angústia que ia perfurando aquele sono vulnerável. Walter ergueu-se e olhou para a esquerda, onde até poderia ver o sol bater na janela do seu quarto, mas só prestou atenção no pequeno objeto que brilhava de um jeito

bandinha.dinelli@gmail.com

soturno sobre a mesinha de cabeceira. Um iPhone branco de traços imaculados, belo fruto do perfeccionismo obsessivo-compulsivo de Steve Jobs. Sim, mas Walter percebeu que nem o iPhone era livre de falhas. Faltava um aplicativo para garantir o contato com aquelas pessoas que, por algum capricho delas próprias ou “do destino”, se tornam inalcançáveis de uma hora para outra. Nada de mensagens, nenhum

registro de ligação. Então, era verdade... Ele nunca mais conseguiria falar com Karina? Melhor não pensar nisso agora. Com o iPhone grudado na mão direita, Walter usou a outra mão para abrir a porta de vidro que dava acesso à pequena varanda do apartamento. “Um lindo dia lá fora, para quem consegue viver lá fora”, pensou. Dali, do fim da Asa Norte, ele podia ver à sua frente os outros prédios da quadra


39 emoldurando elegantemente as árvores. À esquerda, surgia no horizonte a indiscreta figura da Torre Digital, a “flor do cerrado”, que podia ser um belo monumento ou apenas mais um desperdício. A construção nem sequer tinha a aparência de uma flor, se você olhasse bem. Walter só conseguia enxergar o iPhone. No começo, o celular de Walter parecia ser a própria casa de Karina. Era no iPhone que ela morava, bem ao alcance dele, naquele início meio platônico de relacionamento. Escondida em outra superquadra supersolitária de Brasília, ela nunca deixava de atendê-lo, e os dois nem precisavam de um motivo para desenvolver a conversa. Bastava ligar e falar “por horas e horas e horas”, como dizia Renato Russo na música “Eu sei”. Talvez você também saiba – você já deve ter encontrado uma pessoa assim, com quem se pode conversar. É possível. O curioso é que agora, tão pouco tempo depois, Walter nem conseguia lembrar direito da voz dela. Para ouvi-la ressoando de volta em sua mente, ele precisava ordenar à memória que reproduzisse alguma frase específica, geralmente pronunciada entre sorrisos. Karina falava e ria pelo nariz, mas de um jeito charmoso. Ou pelo menos ele achava. Depois de quinze minutos em pé na varanda, Walter percebeu que havia olhado umas trinta vezes para a tela do iPhone. Sentindo falta de ar e secura na garganta, ele acionou um por um os três números de Karina, todos já registrados na discagem rápida do aparelho. As ligações caíam diretamente na caixa postal. Em intervalos cada vez menores – dez, cinco, dois minutos – Walter foi tentando de novo, e o resultado era sempre o mesmo. Chamadas sem resposta. Mensagens de texto lançadas no limbo da indiferença virtual. “Atenda, por favor, só uma vez”; “eu quero ver você só por cinco minutos.” O vazio cibernético. Tecnologia a serviço

da frustração. Sofrimento ilimitado ao alcance do usuário, sem taxas extras. Ele pensou em jogar o aparelho pela janela do sexto andar, mas desistiu. O iPhone ainda poderia dar sinal de vida, e o dia estava só começando. Antes era tudo tão simples. Agora Karina não respondia. Walter não conseguia mais ficar na suíte nem na varanda.

***

Na sala, sentou-se para tomar o café da manhã diante do iPad apoiado sobre a mesa. Era mais fácil lidar com o iPad do que com o iPhone, e de qualquer maneira ele já estava com raiva do celular. Walter pressionou o ícone do e-mail no tablet e, num segundo, apareceu a caixa de entrada. Sem novas mensagens. Com o café esfriando na xícara, ele apoiou a cabeça entre as duas mãos e tentou arrancar os cabelos, mas a força da sua agonia ainda não tinha tantos reflexos físicos. Walter tentou se distrair com as notícias do jornal que era baixado automaticamente no iPad todas as manhãs. Ameaça de greve de policiais. Três sequestros-relâmpago na véspera. Sabotagem no metrô. Acidentes com mortes. Ele se lembrou do título do conto mais perturbador de J.D. Salinger: “Um dia perfeito para o peixe-banana”. O homem-peixe que sucumbia por excesso de conhecimento, excesso de sentimento. Walter se levantou, foi até a janela da sala, deu três voltas em torno da mesa e voltou a se sentar diante do iPad. Como ele tinha se esquecido do Facebook? Poderia haver algum post novo de Karina, algo que desse pistas sobre o seu presente estado. Quem sabe ela não teria mandado uma mensagem? A página da rede social foi surgindo lentamente na tela do iPad, aumentando o seu desespero. Nada, nada. Apenas textos antigos, de duas semanas. Uma eternidade no espaço virtual. Ninguém havia publicado no mural de Karina. Sem fotos novas, sem


***

Há momentos em que pode ser melhor recorrer aos métodos arcaicos. Sem paciência para esperar pelo elevador, Walter desceu correndo as escadas até a portaria do bloco e machucou a mão ao abrir com força a caixa de correspondência. Nenhuma carta. Não que Karina tivesse usado aquele método antes, mas havia sempre uma chance. Ele foi até a extremidade do prédio, sentou-se no chão, com as costas apoiadas numa pilastra, e ficou examinando as placas dos carros que se aproximavam. Cada uma delas parecia ter uma combinação mágica de números. A data do primeiro encontro, o dia do aniversário de Karina, os últimos algarismos do celular. O porteiro se aproximou para perguntar se estava tudo bem, mas deu meia-volta ao captar uma certa fúria nos olhos de Walter. Um ou outro vizinho retornava a pé das compras, babás passeavam com carrinhos de bebês. Uma bola de criança parou perto dos pés de Walter, que não se moveu. Ele só queria ter forças para subir de volta ao apartamento. “É melhor deixar para pescar no pântano amanhã”, dizia o trecho famoso de um conto de Hemingway que agora lhe vinha à lembrança.

***

Walter andou até o Parques Olhos D’água, que ficava ali perto, e tentou se

misturar aos atletas matinais. De calça jeans velha e camiseta amarrotada, ele suava muito e seguia caminhando pelas alamedas estreitas enquanto apertava, cabisbaixo, o iPhone passivamente depositado em sua mão direita. – A ressaca deste aí não é fraca não – cochichou um rapaz ao passar por ele, provocando gargalhadas no companheiro de passeio. O celular continuava inerte. Walter sentou-se perto de uma árvore e usou o aparelho para acessar o Twitter. Nenhum sinal de Karina. Por que tentar logo o Twitter, que ela desprezava? Você conhece a regra de ouro da obsessão: é preciso ir até o fim. Até dois passos depois do fim. E então começar de novo. Ele adormeceu ali por alguns instantes, até ser despertado pelo tremor do iPhone no bolso da calça. Esperança. Havia chegado uma mensagem de texto e o coração disparou: “A fatura do seu cartão de crédito já está disponível na internet”. Se o aparelho não fosse muito resistente, teria se quebrado entre os dedos de Walter. O esperto Steve Jobs deve ter pensado nisso também.

***

No apartamento, onde já era hora do almoço, Walter apenas olhava para o teto, deitado no sofá da sala, em frente à TV, com uma garrafa de cerveja na mão esquerda. Ser feliz é ter tempo para as irrelevâncias, mas da felicidade ele só guardava vestígios gestuais. Em sua mão direita, o iPad listava as últimas atividades dos amigos desconhecidos no Facebook. Ele se lembrou do tempo em que achava aquilo muito interessante. Enfim, a verdadeira e suprema ágora virtual. Mark Zuckerberg era um visionário. Interação. Informação. Instantaneidade. Lixo. Lixo. Lixo digital. Não poluente? Polui a alma.

Walter foi ao banheiro e vomitou com força. Inquietude derramada no vaso. Sem apertar o botão da descarga, deixou-se cair no piso gelado e permitiu que o mau cheiro invadisse as suas narinas. Dormiu ali mesmo, até o entardecer. Agora em pé diante da janela da sala, ele segurava o iPad na mão esquerda e o iPhone na direita, enquanto o sol ia descendo no horizonte. “Vamos ver o pôr do sol abraçados aqui no sofá da TV. O tempo só existe lá fora”, ela disse uma vez. A Torre Digital ainda estava lá, mas não servia para nada. Mais trinta e duas ligações sem resposta. Walter deveria estar com fome, deveria estar com sede. Nada importava, só aquela náusea que ia se tornando mais viva. O peso do silêncio de Karina. A mesa sem pratos, sem os últimos restos do jantar distante. A TV desligada, o DVD jamais visto. Walter pensou em se atirar pela janela, mas simplesmente esparramou-se de novo no chão, depois de espatifar o iPhone e o iPad no piso de madeira. Eles mereceram. Talvez tudo melhorasse agora. Ele pensou que fosse derrotar a insônia outra vez, mas o barulho da porta social sendo arrombada tirou as suas esperanças de dormir. Com a barriga ainda no solo, Walter ergueu a cabeça, olhou para a janela e viu os reflexos de luzes vermelhas piscando lá fora. Sirenes tocavam. Os invasores vestiam roupas iguais. Ele foi agarrado pelas costas e erguido do chão por mãos ríspidas, enquanto os braços de outros homens carregavam o corpo feminino que havia permanecido imóvel por quase vinte e quatro horas na cama da suíte.

***

Walter gostou do seu novo quarto. Só uma cama desolada e uma janela minúscula. Um velho livro esperando por ele, como ) nos bons tempos. Nada de internet. )

comentários. Impossível curtir qualquer coisa. Quando Walter teria, outra vez, o prazer modesto de ver algum movimento dela no Facebook? A foto do perfil quase não tinha mais graça, de tanto ter sido admirada. Ele guardava cópias daquela imagem no celular, no computador, no iPad. E nem era um dos melhores registros do rosto de Karina. Talvez ela tivesse ouvido os conselhos dos amigos profissionais: “A solidão, Karina. Deixe ele sentir a solidão”.


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Mas os princípios do bom jornalismo permanecem. Apuração benfeita, compromisso com a informação, criatividade e respeito à língua portuguesa não ficam ultrapassados. inte ou no papel, produzimos o Na internet conteúdo de que você precisa para se comunicar com o seu leitor.

O JEITO

DE FAZER ENTREVISTA

MUDOU SHIN CA 1 Lote A Sala 349 | Deck Norte Shopping – Lago Norte Brasília/DF | www.editorameiaum.com.br | 61 3468.1466


Artigo Ijaboti – aldeia Moycarakô, etnia Membegrokê (Sul do Pará) – no cortejo TEIA – Pontos de Cultura, novembro 2008, Esplanada dos Ministérios

Não há patrimônio sem a fraternidade humana... Mais uma missão da Unesco vem avaliar o título de Brasília. Depois virão grupos de trabalho para amenizar o vácuo das omissões

Texto e foto TT Catalão ttcatalao@gmail.com


“N

ão se nasce humano, pleno”, dizia Teilhard de Chardin. É na lida que aprendemos a nos humanizar. Também as cidades não são monumentos congelados no tempo e no espaço. Precisam dialogar nas suas relações humanas e ambientais para não se aviltarem como “propriedades individualistas”, modeladas pela cobiça e a fúria de poucos. Renda per capita, sim; mas, por favor, sem cabeças cortadas. É mais uma rodada em que o jogo das aparências entre o técnico e o político não deve prevalecer. Esse falso fla-flu é uma velha armadilha para impedir a discussão mais profunda: não há abismo entre a estrutura condutora da gestão e o fluxo irrigador da gestação. São processos vivos, orgânicos, interdependentes. Só uma autoridade estreita incentiva esse equívoco para, talvez, reinar melhor na incompetência do mando. Tomara o rosário de promessas (pomposamente firmadas como “compromissos”) não caia na gaveta (hoje, é arquivo morto do tablet). Assim que a missão decola se criam grupos de trabalho para amenizar o vácuo das omissões. Nossa imprensa (tão zelosa e atenta enquanto a “notícia” rende leitura e audi(vi)dência), logo abandona o tema. Como enfrentar o desafio dos assuntos recorrentes, daquela “velha história”, incapaz de render pautas novas? Toda pauta é original se o enfoque e o modo de contar a história for ousado. Por isso a cobertura do Patrimônio (tanto material quanto imaterial) vem com ranços da caricatura anterior e o tom do relatório técnico prevalece. O título de Patrimônio da Humanidade é assinar um pacto muito mais amplo sobre o conjunto do preservar. Brasília tem a maior área tombada do mundo: 112,25 km2. Inédito por ser um bem contemporâneo. Aumenta a margem de risco. Aceitamos integrar um processo aberto para manter a essência sem perder a dimensão do crescimento. Aos que, precipitadamente, julgaram o título como engessamento da cidade, confirma-se que, se tal pressão honorífica não existisse, os puxadinhos imorais (mais que ilegais) já teriam contaminado todo o conceito de Brasília. Até os que julgavam que a vida real não fosse ocupar a fortaleza planejada, hoje, constatam a pulsação cultural dos acidentes criativos sempre atuantes para mexer no cotidiano da capital. Antes era só o esquema, esqueleto prancheta do vir a ser, a cidade que seria. Agora é uma rede complexa de relações e serviços. Um sistema com causas e consequências. As tragédias anunciadas continuam em alerta permanen-

43 te, alimentadas por questões estruturais: degradação do meio ambiente (a água está no centro desse futuro colapso); aterramento de nascentes para a ocupação eleitoreira e ilegal do solo e da orla do lago; tratamento ineficaz do lixo; violência decorrente da ruptura social e miséria; falta de educação para o trânsito; sucateamento do transporte público; escárnio e descontrole no uso de verbas públicas; estreiteza conceitual do parlamento; deficiência de meios e equipamentos culturais para que a arte seja possibilidade de expressão de muitos; questões da saúde pública sob a lógica do privilégio privado e a preservação propriamente dita na revitalização de espaços, monumentos e centros vivos da memória. Não faltam relatórios robustos com problemas e soluções. O da UnB, de 2007, ainda vigora como clamor urgente ao analisar 10 pontos críticos da cidade em um festival de infiltrações, corrosões e fadiga de material, rachaduras (alô, Plebe Rude) etc. E nessa exigência de pensar o todo e sentir o conjunto não há como transferir culpas (o buraco é federal ou estadual? o doente é goiano ou brasiliense? o deputado é estadista ou corporativista?). Impõe-se a relação com o entorno. Brasília responde por 70% dos empregos da macrorregião do DF, que tem mais de 3 milhões de habitantes. A famosa região dos transtornos não pode ser desconsiderada como se vivêssemos em uma bolha. A vida não se faz por decreto, mas precisamos de algumas ferramentas institucionais para agir no Estado. O governador Agnelo instituiu 2012 como o “ano da valorização de Brasília, patrimônio cultural da humanidade”. Ótimo. E daí? Vai prevalecer o técnico versus o poético e o político? A cultura só entenderá as artes? A percepção do conjunto regional será relegada a “outras esferas”? O humano será parte ativa na construção coletiva da humanidade? Continuaremos candangos do sistema nervoso da cidade (as relações culturais) na mesma paixão, em dor e júbilo, dos primeiros candangos da maquete imaginária. Bem-vinda missão, maldita omissão! A cidade se dá a quem e doa. Se tem o DOM...reparte COM.

Antes era só o esquema, esqueleto prancheta do vir a ser, a cidade que seria. Agora é uma rede complexa de relações e serviços. Um sistema de causas e consequências.


FOTO: FRANZ TAGORE


Caixa-preta

por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com

O samba atravessado da escola de pijama

Às vésperas da instalação da Comissão da Verdade, que vai dissecar a ditadura, os militares brasileiros continuam atrapalhados em suas fantasias. Atravessaram o carnaval batendo bumbo contra o governo Dilma, usando a bateria dos decadentes clubes militares, concentração nostálgica de oficiais-generais camuflados com o pijama da reserva, sempre reprisando o velho refrão da Guerra Fria e entoando o fossilizado ramerrão da ‘ameaça comunista’. Desta vez, o baticum militar veio na forma de um manifesto, assinado pelos presidentes dos clubes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, contra duas ministras. Reclamaram da ministra dos Direitos Humanos, que explicava que a Comissão da Verdade poderá alimentar processos na Justiça contra os que praticaram a tortura na ditadura. E chiaram contra a ministra das Mulheres, por “críticas exacerbadas aos governos militares” e por atuar, como guerrilheira, para “implantar, pela força, uma ditadura, nunca (...) a democracia”. E ainda sobrou para a “falácia” do PT, criado “quando o governo já promovera a abertura política”.

Arrependimento súbito O alarido militar cresceu quando a bateria mirou a presidente suprema da escola, Dilma Rousseff, vaiada pelos oficiais sem farda por não expressar “desacordo” com suas ministras e seu próprio partido — absurdo que só caberia no enredo esquizofrênico de um samba do crioulo doido. O ensaio de rebelião foi escrito na quinta (16) antes do carnaval, ganhou a avenida na terça-feira (21) de folia e rendeu um puxão de orelhas de Dilma na quarta-feira (22), quando tudo virou cinzas. O manifesto de 49 linhas acabou desautorizado ali mesmo num texto seco, de uma única linha, assinado pela comissão de frente dos clubes, integrada por um general, um almirante e um brigadeiro, os signatários do torpedo original, subita-

mente arrependidos. De tão envergonhado, o recuo sobreviveu apenas 20 minutos no site da internet — e depois se evaporou, como a coragem de seus integrantes. A evolução desastrada e as alegorias de mau gosto dos clubes, que pretendem ecoar o que não pode ser cantado nos quartéis por impedimento constitucional, mostram uma dificuldade crônica do pensamento militar. Posam de democratas tardios, esquecidos de que as ministras que hoje atacam apenas reagiam, nos anos de chumbo, à ditadura sem adereços, sem graça e sem fantasia que eles impuseram ao País por duas décadas — um ‘paradaço’ democrático muito mais dramático e angustiante do que o revolucionário silêncio de dois minutos da bateria da

Mangueira no sambódromo de 2012.

Volta à irrelevância Nos anos que antecederam o golpe de 1964, sintomaticamente, os clubes militares eram as quadras de ensaio para agitação e o foco de conspiração contra o regime constitucional e a democracia. Terminado o longo desfile militar, e com a volta do povo à avenida, os clubes reconquistaram a sua devida irrelevância. Já não falam pela tropa, nem mesmo por seus componentes, desmentidos por líderes que revogam seus manifestos com a mesma leviandade com que revogavam a democracia. O Brasil não pode mais perder tempo com fantasias. O carnaval acabou — e a ditadura também.


Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br

A intimidade de ícones da música brasileira Uma metamorfose ambulante chega ao cinema com o documentário Raul Seixas – O início, o fim e o meio (foto), de Walter Carvalho. A vida pessoal e profissional do cantor é retratada em imagens inéditas de arquivo. Questões como drogas, misticismo e problemas decorrentes da bebida são abordados em cinquenta depoimentos. Entre os entrevistados estão o irmão, Plínio Seixas, amigos e admiradores do artista. Falando em ícones da música, neste mês também tem a mostra em homenagem a Pixinguinha. Conta a história do músico com fotografias e vídeos, e ainda expõe os seus objetos pessoais. Boa oportunidade de conhecer o trabalho de quem marcou a música brasileira, e de formar a sua própria opinião. Melhor do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Cinema – lançamentos

Anderson Silva: Como água Direção: Pablo Croce. O treinamento de Anderson Silva para a luta que pode lhe render o recorde mundial de 12 vitórias consecutivas. Introspectivo e de poucas palavras, Anderson enfrenta uma dura rotina de treinos em Miami e Los Angeles, nos EUA. Com depoimentos de José Aldo, Lyoto Machida, Júnior “Cigano” dos Santos e do presidente do UFC, Dana White. Documentário. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 16 de março. 76 minutos.

A toda prova Direção: Steven Sonderberg. Mallory Kane (Gina Carano) é uma espiã altamente treinada que trabalha para um órgão do governo americano nos lugares mais perigosos do mundo. Após libertar um jornalista chinês de seus sequestradores, é traída e deixada para morrer por sua própria agência. Mallory, no entanto, sobrevive e passa a utilizar todo o seu treinamento na construção de um plano de vingança e redenção. No elenco, Michael Douglas e Antonio Banderas. Ação. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 30 de março. 93 minutos.

A novela das 8 Direção: Odilon Rocha. Passado em 1978, num Brasil ainda sob a ditadura militar do presidente Ernesto Geisel. O País sucumbe à discoteca em razão do sucesso da novela Dancin’ days. Amanda (Vanessa Giácomo) é uma prostituta viciada na novela e foge de São Paulo depois de um incidente. Parte para o Rio de Janeiro com a empregada Dora (Cláudia Ohana). Drama. Classificação 14 anos. Kinoplex em 9 de março. 102 minutos.

Como agarrar meu ex-namorado

Direção: Julie Anne Robinson. Desempregada, Stephanie Plum (Katherine Heigl) aceita o emprego de caçadora de recompensas na firma de um primo esquisito (Patrick Fischler). Seu primeiro alvo é um atraente jovem (Jason O’Mara). Ele está foragido e ela foi apaixonada por ele nos tempos da escola. Agora, Stephanie tem a

oportunidade de se vingar desse homem que a seduziu e nunca mais ligou. Comédia. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 9 de março. 106 minutos.

Fúria de titãs 2 Direção: Jonathan Liebesman. O semideus Perseus (Sam Worthington) leva uma vida pacata de pescador e cria seu filho. Quando surge uma guerra entre os deuses, ela vai exigir a presença do herói. Perseus tem a missão de invadir o submundo para resgatar seu pai, Zeus (Liam Neeson), sequestrado por Kronos, Hades (Ralph Fiennes) e Ares (Édgar Ramírez). Aventura. Kinoplex em 30 de março. Classificação 14 anos. 118 minutos.

Heleno Direção: José Henrique Fonseca. O jogador de futebol Heleno de Freitas (Rodrigo Santoro) era considerado o príncipe do Rio de Janeiro dos anos 40. O filme mostra a vida e morte do galã e jogador de futebol carioca, que, em meio a uma vida de prazeres, acabou abandonado


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Cinema Parecia que a comédia romântica francesa O artista estava fadada ao fracasso, talvez como castigo da ousadia do diretor Michel Hazanavicius, que, em pleno século 21, teve a audácia de realizar um filme todo em preto e branco, mudo e ainda por cima evocando os clássicos musicais da era de ouro de Hollywood. E por que isso, afinal? Ora, porque, assim como os mestres Woody Allen, François Truffaut e tantos outros, Hazanavicius quis prestar homenagem à sétima arte num belo exercício de metalinguagem que é um sopro de sofisticação e nostalgia. Na trama, Jean Dujardin é George Vincent, astro do cinema mudo com pinta de

Fausto

Gene Kelly que está no auge da carreira. Curte o sucesso e adora o assédio das fãs

Direção: Aleksandr Sokurov. Baseado na famosa peça de Goethe. Fausto (Johannes Zeiler) é um velho alquimista que vê sua cidade ser assolada pela peste negra. Vendo tanta morte, começa a pensar sobre sua própria finitude. Ele então evoca Mefistofeles (Emil Jannings), e lhe pede sua juventude de volta e eterna. O demônio a garante, em troca da alma de Fausto. Tudo parecia perfeito, até este se apaixonar por uma jovem italiana (Isolda Dychauk). Drama. Verifique a classificação. Cinemark em 30 de março. 134 minutos.

e da mídia, mas percebe que seus dias de glórias estão contados por conta de uma novidade do balacobaco que promete revolucionar a indústria cinematográfica: o som. Ele desdenha a nova tecnologia, mas, à medida que sua trajetória se afunda na areia movediça do orgulho e da vaidade, assiste com surpresa à ascensão da dan-

em um sanatório. Heleno morreu aos 39 anos, vítima de sífilis. Baseado no livro Nunca houve um homem como Heleno, de Marcos Eduardo Novaes. Drama. Classificação 14 anos. Kinoplex em 16 de março. 116 minutos.

Jogos vorazes Direção: Gary Ross. No futuro, os Estados Unidos estão sob o comando de um regime totalitário. A jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) se oferece para ser a representante de seu distrito, no lugar da irmã Primrose (Willow Shields), em um reality show mortal que conta com participantes de 12 distritos. A partir de então, passa por um período de treinamento

para se preparar.

Ação. Classificação 14 anos.

Cinemark e Kinoplex em 23 de março. 117 minutos.

çarina Peppy Miller (Bérénice Bejo) rumo ao estrelato porque ela é o símbolo do cinema sonoro.

John Carter – Entre dois mundos

Direção: Andrew Stanton. Baseado no livro A princess of Mars e nos personagens de Edgar Rice Burroughs. O soldado americano John Carter (Taylor Kitsch) morreu no planeta Terra, mas ressuscita em Marte. Agora, em meio a uma guerra civil no planeta vermelho, habitado por seres verdes e criaturas gigantescas, ele é visto como a única esperança de ajudar a princesa

Aparentemente banal, O artista mira o passado para construir uma sutil reflexão sobre o futuro dessa arte jovem, mostrando como o cinema pode ser feito com menos barulho e pirotecnia visual e mais conteúdo. Paradoxalmente, um filme sobre o nosso tempo.

Lúcio Flávio É jornalista especializado em cultura


Arte, Cultura e Lazer

Deja Thoris (Lynn Collins) a salvar o seu mundo. Aventura. Classificação 12 anos. Cinemark em 9 de março. 123 minutos.

O grande milagre Direção: Ken Kwapis. Baseado em uma história real. Em 1989, uma família de baleias ficou presa sob o gelo do Ártico e o repórter Adam Carlson (John Krasinski) não se conformava com a situação. Começou, então, uma batalha ao lado de Rachel Kramer (Drew Barrymore), ativista do Greenpeace, para salvar os animais. Juntos, conseguiram mobilizar várias pessoas, como os nativos da região, funcionários de empresas petrolíferas e até americanos e russos, históricos inimigos durante a Guerra Fria. Drama. Classificação 14 anos. Kinoplex em 9 de março. 107 minutos.

O Lorax: em busca da trúfula perdida

Direção: Chris Renaud e Kyle Balda. O menino Ted (Zac Efron) descobre que o sonho de sua paixão, a bela Audrey (Taylor Swift), é ver uma árvore de verdade, algo em extinção. Disposto a realizar esse desejo, embarca numa aventura por uma terra desconhecida, cheia de cor, natureza e árvores. É lá que conhece o simpático e ao mesmo tempo rabugento Lorax (Danny DeVito), uma criatura curiosa preocupada com o futuro de seu próprio mundo. Animação. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 30 de março. 100 minutos.

O pacto Direção: Roger Donaldson. O professor colegial Will Gerard (Nicolas Cage) leva sua vida tranquilamente com a mulher, Laura (January Jones), até o dia em que ela é atacada na rua e termina gravemente ferida. No hospital, Gerard conhece um homem misterioso (Guy Pearce), que oferece ajuda para encontrar o bandido e se vingar dele. A condição é que o professor

mate alguém como forma de pagamento. Algum tempo depois, o homem volta para cobrar a promessa. Agora, Gerard e a mulher precisam arrumar uma maneira de escapar da dívida. Ação. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 9 de março. 97 minutos.

Olivier (Kenneth Branagh) e Marilyn Monroe (Michelle Williams) durante as gravações de O príncipe encantado, produção que a atriz abandonou por uma semana para se divertir em Blighty, na Inglaterra. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 23 de março. 99 minutos.

Para sempre Direção: Michael Sucsy. Page (Rachel McAdams) e Leo (Channing Tatum) viviam uma história de amor, mas um grave acidente de carro provocou grande mudança em suas vidas. Após o acidente, ela não consegue se recordar de nada. Agora, resta para Leo a missão de reconquistá-la. Inspirado em uma história real. Romance. Classificação 14 anos. Kinoplex em 23

W. E. – O romance do século

de março. 104 minutos.

Classificação 12 anos. Kinoplex em 10 de fevereiro.

Direção: Madonna. Duas histórias de amor. Uma, baseada em caso real, tem como centro o conturbado romance entre o Rei Edward VIII (James D’Arcy) e a americana divorciada Wallis Simpson (Abbie Cornish). A outra, contemporânea e fictícia, reúne uma mulher casada e um agente de segurança russo. Romance. 119 minutos.

Projeto X – Uma festa

Cinema – outros

fora de controle

Direção: Nima Nourizadeh. Um grupo de amigos no último ano do colégio decide fazer uma festa de aniversário para ser reconhecido pelos colegas da escola. Porém, no decorrer da festa as coisas saem de controle. No elenco, Thomas Mann e Oliver Cooper. Comédia. Classificação 18 anos. Kinoplex em 16 de março. 99 minutos.

Raul Seixas – O início,

Mostra do filme livre Um grande painel da produção independente nacional, com mais de 200 filmes em exibição, entre curtas, médias e longas feitos em todos os formatos. Pela primeira vez em Brasília, a mostra está na 11ª edição e o homenageado é o cineasta baiano Edgard Navarro. A mostra também promove diversos debates e sessões comentadas com realizadores de todo o Brasil. 27 março a 8 de abril, no Centro Cultural

o fim e o meio

Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação

Direção: Walter Carvalho. Documentário sobre a vida e a obra do ícone do rock brasileiro, desvendando suas diversas facetas. Suas parcerias com Paulo Coelho e os casamentos são retratados no filme.

Telefone: 3108-7600.

Documentário.

Kinoplex

em

23

de

março.

Classificação 12 anos. 120 minutos.

Sete dias com Marilyn Direção: Simon Curtis. O jovem assistente de produção Colin Clark (Eddie Redmayne) documenta a tensa relação entre Laurence

e

programação

em

www.bb.com.br/cultura.

Mostra Léa Pool Serão exibidos 11 longas-metragem, reunindo toda a cinematografia da premiada cineasta suíça Léa Pool. Os filmes abordam o universo feminino em seus vários aspectos, desde a sexualidade até problemas de saúde, como o câncer de mama. Léa Pool realizou seu primeiro longa-metragem, Strass Cafè, em 1980, bastante influenciada pelo trabalho de Marguerite Duras. 20 a 25 de março, no CCBB.


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Entrada franca. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura. Telefone: 3108-7600.

Mulheres alucinadas Ao acompanhar os filmes da mostra é possível ver as loucuras que uma mulher pode cometer. Personagens intensas, passionais, tempestuosas e vulneráveis protagonizam esta mostra. São 32 filmes, com algumas das personagens femininas mais marcantes da história do cinema. Inclui obras como O anjo azul, com Marlene Dietrich (Alemanha, 1930), Bonequinha de luxo, com Audrey Hepburn (EUA, 1961), Cleópatra, com Elizabeth Taylor (EUA, 1963) e Mulheres à beira de um ataque de nervos, dirigido por Pedro Almodóvar (Espanha, 1988). 6 a 11 de março, no CCBB. Entrada franca. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura. Telefone: 3108-7600.

Superando grandes calamidades

Mostra com cinco filmes do Japão que tratam da capacidade do povo daquele país de superar catástrofes, como a bomba de Hiroshima (1945) e o Grande Terremoto do Leste, em 2011. O filme Hula Girls de Fukushima, por exemplo, fala da realidade de um grupo de dança que superou a tragédia com a arte. 13 a 18 de março, no CCBB. Entrada franca. Classificação e

programação

em

www.bb.com.br/cultura.

Telefone: 3108-7600. www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br Não informaram a programação a tempo: www.casapark.com.br/cinema www.libertymall.com.br/lazer/lazer.asp

Música

Asa de Águia A banda se apresenta na festa Ressaca Oficial do Carnaval, com o cantor Tomate e o grupo Psirico. 17 de março, às 19h30, no Pavilhão do Parque da Cidade. Ingressos (inteira): Pista R$ 100; Camarote fem. R$ 240 (open bar); Camarote masc. R$ 280 (open bar). Classificação 16 anos (18 anos nas áreas open bar). Telefone: 7812-2508.

Blitz O grupo volta a Brasília para se apresentar na festa Circo Carioca. Há sete anos, a banda que foi sucesso nos anos 80 é composta por: Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão), Billy (teclados), Juba (bateria), Rogério Meanda (guitarra), Cláudia Niemeyer (baixo), Andrea Coutinho (backing vocal) e Mariana Salvaterra (backing vocal). No show,

ANOS

Fazendo história em defesa da Educação!


Arte, Cultura e Lazer

Mario Canivello

trabalho, além de sucessos como À francesa, Fullgas e Mesmo que seja eu. 20 e 21 de março, às 20h, no Teatro da Caixa. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 12 anos. Telefone: 3206-9448.

The Mamas & The Papas A nova formação do grupo traz o repertório que fez sucesso nos anos 60 e 70. A banda The Fingers abrirá o show. 10 de março, às 21h, no Minas Brasília Tênis Clube. Ingressos (inteira): Mesa R$ 480; Camarote R$ 120; Pista R$ 80. Classificação 14 anos. Telefone: 8272-9035.

Tiê

Maria Bethânia A cantora baiana traz a Brasília um show para comemorar o Dia Internacional da Mulher. No repertório, clássicos de 47 anos de carreira, como Explode coração, Fera ferida, Cheiro de amor e Rosa dos ventos. O show será gratuito e os ingressos deverão ser retirados no mesmo dia, a partir das 9 horas, na bilheteria do Teatro Nacional, por ordem de chegada. 8 de março, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Entrada franca. Classificação 14 anos. Telefone: 3364-9102.

A cantora paulista vem a Brasília mostrar as canções de seus dois álbuns, Sweet jardim, de 2009, e A coruja e o coração, de 2011. O trabalho de estreia rendeu a Tiê uma indicação ao Prêmio Multishow 2010. Entre as canções do álbum, o destaque vai para a versão flamenca de Você não vale nada, sucesso da banda Calcinha Preta. 6 e 7 de março, às 20h, no Teatro da Caixa. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 12 anos. Telefone: 3206-9448.

exposições

Arte radical a banda traz clássicos como A dois passos do paraíso, Mais uma de amor e músicas do seu último disco, Betty Frígida. 9 de março, às 22h, no Clube do Servidor. Ingresso (inteira): R$ 50.

Eduardo Rangel: 24 de março Hélio Delmiro: 28, 29 e 30 de março Paula Nunes: 31 de março

Classificação 18 anos. Telefone: 3347-6763.

Edson & Hudson

Clube do Choro

A dupla sertaneja traz a Brasília um show com seleção das melhores músicas dos seus dez álbuns. 10 de março, às 22h, na Via Stadium –

Começa neste mês o projeto Meu caro amigo Chico Buarque. Serão 120 espetáculos com interpretações e arranjos das melodias do cantor e compositor. às quartas, quintas, sextas e aos sábados a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. Hamilton de Holanda e convidados: 7, 8 e 9 de março Grupo Brincadeira boa: 10 de março Renato Vasconcellos: 14, 15 e 16 de março Grupo 5 a seco: 17 de março Joatan Nascimento e choro livre: 21, 22 e 23 de março

Taguatinga. Ingresso (inteira): R$ 30. Classificação 18 anos. Telefone: 3352-1480.

Marina Lima A cantora vem apresentar o álbum Clímax. É o 19º disco e o primeiro de sua fase paulistana. No show, acompanhada por Fonseca (percussão, bateria e programações) e Martins (baixo, guitarra, teclado e vocal), Marina apresenta as músicas deste último

As telas de grafite foram feitas por 44 artistas de rua, a maioria obras especialmente produzidas para a mostra. Mistura a arte urbana com esportes radicais. No local foram montadas duas pistas de esportes radicais, onde serão realizadas competições. Até 29 de abril, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco). Entrada franca e livre. Telefone: 3327-2027.

A trilogia END, de Carlos Casas Após sete temporadas consecutivas no Rio de Janeiro, a exposição chega a Brasília apresentando uma retrospectiva completa dos dez anos de trabalho do cineasta espanhol Carlos Casas. São 11 obras de fotografias e vídeos. Casas apresenta suas pesquisas de lugares e vidas extremas de nosso planeta,


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um olhar transversal sobre a Sibéria, o Uzbequistão e a Patagônia. 7 de março a 14 de

Entrada franca e livre. Telefones: 3322-2076.

abril, de segunda a sexta, das 11h às 21h; sábados, das

Ferreira

9h às 14h, no Espaço Cultural Instituto Cervantes. Entrada franca e livre. Telefone: 3242-0603.

Entre rios e ruas Vídeos, fotos, objetos e performances mostram a problemática do crescimento urbano acelerado em relação ao meio ambiente. As obras são da artista Isabela Prado, uma das vencedoras do prêmio Funarte de Arte Contemporânea. O destaque da mostra é o filme Lição n: Nessa rua tem um rio. Até 11 de março, de segunda a domingo, das 9h às 21h, no Complexo Cultural Funarte. Entrada franca e livre. Telefones: 3322-2076.

Estrutura volátil O artista paranaense Geraldo Zamproni apresenta sua primeira exposição individual. A mostra já foi apresentada em Granada, na Bienal do Milênio (Museo de la Memoria de Andalucía), em 2011. Uma instalação com almofadas gigantes que aparentemente substituem os 31 pilares que sustentam a marquise. Confeccionadas em material sintético e sob medida, elas medem 36m2 e 2,30m de altura. Até 11 de março, de segunda a domingo, das 9h às 21h, no Complexo Cultural Funarte.

A exposição é do pintor, escultor, ceramista e vitralista pernambucano José Ferreira de Carvalho. São 21 peças que representam da arte pernambucana contemporânea. Ferreira é conhecido pelas cores fortes e por unir o popular ao erudito e o sacro ao profano. Suas pinturas e esculturas são interpretações únicas de dezenas de referências culturais e estilísticas. Até 25 de março, apenas aos sábados e domingos, das 9h às 17h, no Gabinete de Arte da Presidência da Câmara dos Deputados. Entrada franca e livre. Telefone: 3427-2703.

Mestres da gravura

Pixinguinha A mostra percorre a vida do compositor e instrumentista, que começou aos 12 anos, quando compôs sua primeira obra, o choro Lata de leite. A exposição é um projeto idealizado em parceria com o neto do artista, Marcelo Vianna, que colocou à disposição o acervo familiar. A exposição está dividida em 12 salas e o visitante pode ver de perto o saxofone e a flauta usados por Pixinguinha (1897-1973), seus documentos pessoais, gravatas, chapéu, discos, condecorações e principalmente fotografias e vídeos que recuperam imagens de época. 13 de março a 6 de maio, de terça a domingo, das 9h às 21h, no CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.

Teatro

na coleção da Fundação

A mecânica das borboletas

São 171 gravuras de 81 artistas que retratam quatro séculos, do século 15 ao 18. Com obras de mestres como Albrecht Dürer (Alemanha), Rembrandt Harmenszoon van Rijn (Holanda), Giovanni Battista Piranesi (Itália), Jacques Callot (França), William Hogarth (Inglaterra) e Francisco José de Goya y Lucientes (Espanha). Até 22 de abril, de terça a domingo, das 10h às 19h, no

Dirigida por Paulo de Moraes e com elenco formado por Suzana Faini, Eriberto Leão, Ana Kutner e Erom Cordeiro, a peça de Walter Daguerre narra a história de gêmeos que se separam na adolescência quando um foge de casa e se reencontram 20 anos depois, remexendo no delicado terreno do passado e desestabilizando as certezas que cada um criou para si. 15 de março a 8 de abril, quinta a sábado, às

Museu Nacional dos Correios. Entrada franca e livre.

21h; domingo, às 20h, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 6.

Telefone: 3426-2955.

Classificação 14 anos. Telefone: 3108-7600.

Biblioteca Nacional


Arte, Cultura e Lazer

Ronaldo Câmara

é assediada pelo taxista. Um migrante nordestino capaz de passar por todos os reveses da vida conta sua história. E uma morena feia participa do concurso da mais bela loira. No elenco, os atores Camila Guerra, Abaetê Queiroz, Alexandra Medeiros e André Reis, também responsáveis pela direção. Até 1º de abril, sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Brasília Shopping. Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação 18 anos. Telefone: 2109-2122.

Jogo de Cena – Mulher

Zeróis: Ziraldo na tela grande São 44 telas em grandes formatos, resultantes de mais de três anos de trabalho do artista, executadas a partir dos cartuns Zeróis, desenhados por Ziraldo na década de 1960. No local, o público poderá conhecer de perto os personagens que estão transfigurados em pinturas que ampliam seu significado nas releituras de artistas como Picasso, Velázquez, Goya, Dalí, Grant Wood, Hopper, Mathieu, Lichtenstein ou Warhol. Até 29 de abril, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3033-2912.

A poltrona escura Cacá Carvalho dá voz e corpo aos personagens de Pirandello (1867-1936). São três histórias do escritor italiano: a de um solitário viúvo, a do famoso advogado e seu inconfessável prazer e a do homem que tem nas mãos um misterioso poder. 23 de março, às 21h, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos. Telefone: 3424-7121.

Clichê Lúcio Mauro Filho apresenta um monólogo com piadas que explicam a origem de mais de 600 clichês. Uma crítica à tendência do

brasileiro de aderir, quase sem querer, a recursos batidos. A comédia tem texto de Marcelo Pedreira e direção de Rubens Camelo. 16,17 e 18 de março, sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos. Telefone: 3325-6256.

Goiânia – A comédia Um cabeleireiro da alta sociedade encontra-se com a melhor amiga no velório do marido dela. Uma transexual paraguaia cocainômana depõe na Câmara dos Deputados. Uma mulher moderna, independente e mal-humorada vai a um forró em Goiânia e

Sob direção de Welder Rodrigues e Ricardo Pipo, da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo. Dividido em quadros, é aberto às mais diversas manifestações artísticas, fazendo com que cada uma de suas edições seja única. Neste espetáculo apresenta uma programação especial em homenagem ao mês da mulher. Cantando, atuando, dançando e pintando, elas tomam conta do palco. 21 de março, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3206-9448.

JT Leroy Um conto de fadas punk Laura Albert, cantora punk mal-sucedida que ganha dinheiro fazendo disque-sexo há dez anos, resolve escrever um livro e cria o personagem JT Leroy – adolescente de 16 anos, louro, de olhos azuis, gay, travesti, drogado e com problemas mentais. Como o livro é autobiográfico, surge a necessidade de materializar o personagem. Ela convida sua cunhada, Savanah, para ser JT. Enganam editoras, produtores de cinema, estrelas e acabam processadas pelo que foi, até agora, a maior travessura literária do século 21. Texto de Luciana Pessanha. Direção de Paulo José. Até 11 de março, quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 6. Classificação 14 anos. Telefone: 3108-7600.


Time For Fun

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Circo Uma babel formada por 53 artistas de 23 nacionalidades, o canadense Cirque du Soleil é a maior trupe circense do mundo e armou tenda no estacionamento do Parkshopping, até 4 de março, para falar do mito de Ícaro e da alma nômade que existe dentro de cada um de nós. Premissa sintetizada na origem romena do nome, Varekai, que significa: “onde quer que seja”. Em cena, um festival de cores vivas e movimentos arrojados conduzidos por artistas de talento ímpar e números surpreendentes, entre eles o assombroso voo aéreo dos russian swings, apresen-

Bob Esponja: A esponja que podia voar

tação formada por 12 demônios alados

O musical conta a história de conquista, amizade e coragem no mundo subaquático. Bob Esponja sonha em voar com as águas-vivas, algo difícil de acontecer, mas com a ajuda de seus amigos e do público, tentará demonstrar sua coragem e lutará pelo seu sonho. Foi escrito por Steven Banks, escritor e editor da Nickelodeon. As canções são originais e adaptações, criadas pelo compositor Eban Schletter. 31 de março e 1° de abril, sábado às 15h e às

do trio chinês Meteors, na qual três in-

19h; domingo, às 15h, no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira):

alma circense, e são eles que roubam

Poltrona especial R$ 120; Poltrona superior R$ 80; VIP R$ 160. Classificação livre. Telefone: 3364-9102.

a cena em Varekai. Unindo comédia

pendurados em pranchas de metais que desafiam a lei do espaço e dos pássaros. Também impressionante é a performance fantes chineses fazem malabarismos com cordas presas a pesadas esferas. Mas nada tira a magia e o encanto das apresentações dos palhaços, a eterna

pastelão com sofisticada expressão corporal, a dupla Steven Bishop e Mercedez Outros

Camélia O elenco é formado pelos bailarinos Felipe Padilha, Aline Arakaki e a brasiliense Ana Amélia Vianna. A encenação, criada e dirigida por Márcia Milhazes, é composta por três peças e a maior parte da trilha sonora é de Villa-Lobos. O espetáculo também prestigia as artes plásticas, com cenário feito por Beatriz Milhazes, irmã de Márcia. As apresentações são ao ar livre. Até 18 de março, de quinta a sábado, às 20h20; domingo, às 19h20, no CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.

Ikiru – Réquiem para Pina Bausch Em homenagem à coreógrafa alemã Pina Bausch, morta em 2009, o bailarino japonês Tadashi Endo une de forma muito particular referências de Butoh-MA e dança teatro. Ikiru celebra a brevidade da existência e homenageia mestres mortos. Com um mínimo de movimento, o bailarino alcança o máximo de tensões, sensações e emoções, em um trabalho que consegue ser uma síntese entre teatro, performance, improvisação e dança. 16 a 18 de março, sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h, no Teatro da Caixa. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3206-9448.

Hernandez entra em cena para dar vida a um mágico sem talento e sua assistente atrapalhada. Hilário o número em que ele duela pela atenção da plateia e da mira do canhão de luz, sem sucesso. Quando a narrativa dos enredos do Cirque du Soleil abre brecha em meio às superficiais camadas de erudição, a empatia com o público é imediata e espontânea.

Lúcio Flávio É jornalista especializado em cultura


Banquetes e botecos } ilustração Rômulo Geraldino romulog2000@yahoo.com.br

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

Quer comer como se estivesse na praia? Vá ao Nosso Mar

Ilustração feita com café e água em papel canson

1 2 3,5 4 5 Há 26 anos, o carioca Carlos Henrique dos Santos, cuja história tem fortes ligações com o mar, resolveu trazer para Brasília um pouco do litoral. Abriu o Nosso Mar, um restaurante que nos remete a uma praia do Nordeste, tanto pela arquitetura como pelo cardápio. O restaurante fica numa esquina de uma comercial da Asa Norte, com três ambientes, sendo que o principal é um puxadinho coberto com telhas cerâmicas, com mesas de madeira forradas com toalhas de plástico. Tudo muito simples, mas, para quem quer degustar patinhas de caranguejos ao som das marteladas, é perfeito! Tem uma atmosfera litorânea que só sentimos quando estamos de férias, ainda mais tomando uma cervejinha gelada. De entrada, além das patinhas de caranguejo, temos infinitas opções: lula à milanesa, camarão ao alho e óleo, isca de peixe, bolinho de bacalhau, manjubinha frita... Tem algo que lembre mais uma barraca do Nordeste do que manjubinha frita? Ai, ai, ai! Como prato principal, a variação também é grande e com qualidade, reflexo do conhecimento que o proprietário tem sobre pescados. A Peixada Nosso Mar, posta de peixe com molho à base de tomates frescos, leite de coco, batatas cozidas e camarão, acompanhada de arroz branco e pirão, é de babar. E ainda tem a pimenta produzida pela própria casa, que tem um cheiro maravilhoso e dá um toque especial. Os amantes das especiarias marítimas não devem deixar de pedir a Mariscada, mix de frutos do mar composto de lulas, camarões, mexilhão, bacalhau, patinhas de caranguejo e congro-rosa. E eu também não poderia deixar de citar o Arroz de Lívia, um dos pratos mais pedidos. Elaborado pela filha do proprietário, mistura lulas, camarões e bacalhau desfiado. Como se vê, é o lugar perfeito para comer frutos do mar. Durante a semana tem a opção do prato executivo, com preço mais acessível. Apesar da simplicidade do local, a refeição não é barata, mas não poderia mesmo ser, pela qualidade dos produtos oferecidos. De sobremesa, só picolé, Creme Mel ou Kibon. Um pecado! Afinal, sempre faz falta um docinho depois de tanta comilança. O cafezinho? Muito ruinzinho, mesmo sendo espresso. Apesar desses probleminhas, é um lugar muito agradável para matar a saudade da praia. Vale a pena deixar se levar pelo balanço do Nosso Mar!

SCLN 115 Bloco B (61) 3349-6556 Diariamente, das 11h à 0hDomingo e segunda: 12h – 16h


Ações simples ajudam a manter a dengue longe da sua casa, do seu bairro e até da sua cidade. Fique atento e evite que locais e utensílios acumulem água e sirvam como focos do mosquito transmissor.

Faca sua parte. JUNTOS SOMOS MAIS FORTES NESTA LUTA. O SUS está com você no combate à dengue. www.combatadengue.com.br


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Brasília, capital brasileira também dos transplantes. O GDF acredita que é possível transformar esta vontade em realidade. Por isso investe no aperfeiçoamento das equipes médicas, na estrutura dos hospitais e, sobretudo, em organização, que torna tudo isso mais eficiente. É assim que vamos aumentar cada vez mais o seu orgulho de morar aqui.

O mais legal e que Brasilia tem a melhor media de transplantes de coracao do Brasil. E isso da o maior orgulho.

Quem recebe um coracao comeca a vida de novo.


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