Revista meiaum Nº 15

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U + PERFIL

Ele é praticamente o dono da Flor do Cerrado

+ CORRIDA

Você trocaria a badalação por uma?

A difícil decisão de dar um filho

15 Ano 2 | Julho 2012 | www.meiaum.com.br


da série

m otivos para t e r u m a co n t a no brb: É O BANCO QUE INVESTE NO DESENVOLVIMENTO DO DF. O BRB apoia o desenvolvimento regional com linhas de crédito especiais e financiamentos. Um banco que é da nossa cidade entende o que você precisa melhor do que ninguém. Tudo que o BRB faz é voltado para geração de emprego e desenvolvimento da nossa economia.

O BRB É tão PARTE DE brasÍLIA quanto você .

WWW.BRB.COM.BR


DeBRITO

3


12

18

8

Papos da Cidade

12

Perfil

17

Fora do Plano

18 24 28 38

ÍNDICE

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40

Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

Silvestre Gorgulho, o “dono” da torre digital

Faltou quórum na CPI da Arapongagem, mas não na do Cachoeira

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Conto – Nena Medeiros Pedro era mesmo um idiota

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Charges do Gougon

Conto – Patrick Selvatti

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Caixa-Preta

Capa

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Arte, Cultura e Lazer Banquetes e Botecos

Brasífra-me

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Corridas

As competições de rua são cada vez mais badaladas

De qual signo seria o amor da vida de Astrid?

Elas estão grávidas, mas não serão mães de seus filhos

Os poemas-enigmas de Nicolas Behr

Neste mês, ele fala até de amor

Fernando Collor acha justa a derrubada de Fernando Lugo

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é



Nilson Carvalho

Priscila Praxedes

págs. 9, 18 e 47

Típica brasiliense de fins de semana em barzinhos e, às vezes, futebol, esta elétrica jornalista se define cosmopolita. Frequenta rodas de samba, cinema, teatro e perdeu anos de vida em micaretas. É adepta das corridas de rua, tema da reportagem que assina nesta edição. Cuida das redes sociais da meiaum e da coluna Arte, Cultura e Lazer.

Leonardo Arruda

Thyago Arruda

Nilson Carvalho

André Zottich pág. 40

Formado em comunicação social, trabalha como designer gráfico, diretor de arte e ilustrador. Morou no Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Gosta de usar cores, mas prefere o preto e branco. Mistura técnicas manuais e digitais. Teve seu trabalho publicado em revistas e sites especializados e já conquistou alguns prêmios neste início de jornada.

Nena Medeiros

pág. 40

É escritora com dois livros de contos publicados, participação em várias coletâneas e mais de 800 textos em seu site: www.nenamedeiros.com. Premiada em alguns concursos, dentre eles o Desafio Literário da Câmara dos Deputados, também atua como jurada. É tesoureira do SindEscritores-DF e colunista do jornal Alô Brasília.

Patrick Selvatti pág. 24

Paula Oliveira págs. 8 e 28

Ele nunca esteve tão escorpiano. Repleto de energia emocional, sua aparência calma e sociável camufla personalidade soturna e por vezes agressiva. Como todo bom mineiro, come quieto e, de mansinho, vai conquistando seu espaço. Há menos de dez anos em Brasília, trabalhando como assessor de imprensa, já escreveu três romances, vários contos e agora está prestes a lançar uma revista masculina. Com a persistência teimosa do seu ascendente em Touro, tem certeza de que um dia vai escrever novela. Costuma dizer que é jornalista para se f%#&4 e escritor para gozar. Seu pecado capital? A luxúria.

Nilson Carvalho

E mais...

As aparências enganam. O sorriso é de menina e a voz é doce, mas você não sabe com quem está se metendo. Ela é repórter do tipo persistente, não deixa você em paz enquanto não consegue o que quer. Fica no pé da fonte até ter a matéria e perturba a produção por mais espaço. Com tanto charme, consegue o impossível. Tem uma identidade secreta especialmente para perder a linha no baile. Porque repórter também é gente.

Daniel Banda pág. 8 Kátia Morais pág. 9 Estevan Garcia pág. 10 Eleonora Vieira de Mello pág. 10 Gougon págs. 17, 45 e 46 Noelle Oliveira pág. 17 Cláudia Dias pág. 24 Nicolas Behr pág. 38 Luiz Cláudio Cunha pág. 46 Lúcio Flávio pág 48 Hanna Xavier Ferreira pág. 53 Marcela Benet pág. 54 Rômulo Geraldino pág. 54

Colaboradores


Carta dos editores

Notícias do mundo real

A

s reportagens sobre bebês abandonados são de cortar o coração. “Recém-nascido é deixado em terreno baldio; Homem encontra bebê dentro de saco de lixo.” A imprensa divulga, os leitores xingam a impiedosa mãe na internet, os telespectadores não acreditam que largaram uma coisinha assim tão pequena e inocente. Como pode uma mulher colocar em risco um ser indefeso? Como tem coragem de seguir sua vida sabendo que seu filho crescerá longe dela? Aliás, se não queria ter filho, por que engravidou? E aí começa o processo. Procura-se a mãe, agora uma criminosa. Acompanha-se o estado de saúde do bebê. Todos torcem por sua sobrevivência. A equipe do hospital informalmente lhe dá nome, quem o encontrou na rua manifesta o desejo de adotá-lo. E

depois a gente se esquece da história, até que outro neném seja rejeitado e posto em perigo. Quase sempre, porém, os meios de comunicação não completam o ciclo. Esquecem-se de que há leitoras que cogitam fazer a mesma coisa, cada uma por seus motivos, muitas por falta de conhecimento. E deixam de prestar um importante serviço: informar que há alternativa para a mulher que não quer ficar com o bebê. Um caminho que pode não libertá-la de julgamentos morais, que pode ser muito difícil para a criança, mas ao qual a mãe tem direito. E o mais importante: por esse caminho, o bebê por ela gestado não estará em risco físico e, quem sabe, um dia encontrará uma família que cuide bem dele e o ame. Nossa reportagem de capa é, portanto, uma

prestação de serviço. A repórter Paula Oliveira conta a história de três cidadãs brasilienses que viveram o dilema da gravidez indesejada. Num mundo ideal, uma mãe jamais abriria mão de seu filho, mas não vivemos nesse mundo. De acordo com a legislação brasileira, a mulher pode entregar seu filho para adoção em qualquer idade sem ser criminalizada por isso. Ela pode ser arrepender, mas todo ato tem mesmo consequência. Você pode não concordar com essa lei, mas ela existe. Você poderia nunca se valer desse recurso, mas algumas mulheres o fariam. Se mais mulheres souberem desse direito, talvez menos recém-nascidos serão maltratados.

Anna Halley e Hélio Doyle

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Fotografia: Leonardo arruda Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br TIRAGEM 12 mil exemplares Impressão Gráfica Imprima (Brasília) – (61) 3356-7654 Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

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Diretores: Anna Halley e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br

CAPA | Por Pedro Ernesto

Desenho a lápis aquarelado Designer gráfico, atua no mercado brasiliense, é autor de livro infantil e colabora na meiaum desde seu primeiro número. Faz parte do escritório Grande Circular. Veja os trabalhos da equipe em www.grandecircular.com.


Papos da cidade } ilustrações Daniel Banda

bandinha.dinelli@gmail.com

Anarriê! Adoro este clima de festas juninas, que se estende até o fim de julho. Espero o ano inteiro para sentir o cheiro de pólvora, para comer salsichão coberto com farofa, carreteiro no pratinho de plástico e churros em guardanapo de seda que suja mais do que limpa. Tudo faz parte do encantamento que tenho por esse tipo de festa. Amo assistir às apresentações das quadrilhas. Largo tudo o que estiver fazendo para acompanhar os passos dos bailarinos. Nem mesmo a poeira levantada com tanta bateção de pés me incomoda. E olha que sou chata! Só que vou a poucas festas juninas. Restrinjo a minha presença àquelas gratuitas. Não é que eu seja pão-duro, só acho absurdo os clubes cobrarem entrada para uma festa essencialmente de consumo. Não há outra situação em que eu saia para uma festa com o intuito de consumir tanta comida. No ano passado fui convencida por um casal de amigos a ir a uma dessas festas badaladas. Paguei R$ 5 para estacionar e R$ 20 para entrar. Como dizemos: só para sorrir. Entrei e, claro, fui comprar as fichas. Um churrasquinho custava, se não me engano, R$ 7. O caldo, R$ 10. O refrigerante, R$ 4. Cada cerveja, R$ 5. Não havia atrações musicais de peso, a estrutura não era nada elaborada, o estacionamento improvisado em um campo de terra e, pior, não houve apresentação de quadrilha. Não são R$ 51 a menos que me deixarão pobre, mas não valeu a pena. Neste ano estou decidida. Sou fã das festas organizadas nas quadras residenciais do Plano Piloto. Lá, sim, tem cheiro de pólvora, pescaria, gente com roupa caipira, chapéu de palha e bingo! Paula Oliveira


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Bancos para o povo! Iniciativa boa merece registro. A Estrutural ganhou no início de junho seu Banco Popular, a partir de convênio da instituição com o Programa Providência de Elevação da Renda Familiar. O banco disponibilizará para a vila R$ 50 mil do Microcrédito Produtivo Orientado, com a finalidade de gerar trabalho e renda na região. Além de conceder o crédito, o programa acompanhará a execução dos projetos em que os recursos serão aplicados. E entre os 40 mil moradores há demanda de sobra, como a da Associação das Costureiras Artesãs Mãos que Criam, que reúne 270 mulheres. Elas produzem caixas de juta e jornal, bolsas de garrafas PET e panos de prato. Nos primórdios do capitalismo, a principal função dos bancos era financiar a produção – e não viver da ciranda financeira e da especulação. Quais bancos se voltam hoje para o microcrédito, investindo na economia popular e viabilizando a geração de emprego e renda nas camadas mais necessitadas da população? Salvo algumas iniciativas aqui e ali, o que se vê é justamente o oposto. Cheques especiais a juros estratosféricos, empréstimos pessoais pela hora da morte, parcelas absurdas no cartão de crédito, tarifas bancárias altíssimas. Nem um centavo para quem tenta produzir por conta própria, seja adquirindo um equipamento novo, seja reformando instalações para ampliar seu pequeno negócio. Em geral, o pobre que tenta empreender só encontra guarida nas instituições financeiras estatais. O mesmo Estado que a “grande” iniciativa privada busca para financiar suas dívidas ou para conseguir uma graninha fácil via BNDES e ampliar seus investimentos – e que os privatistas insistem em amaldiçoar, quando seus interesses são contrariados ou ameaçados por ele. Em 2006, o economista bengalês Muhammad Yunus venceu o Prêmio Nobel com a fundação do Banco Grameen, o

banco do povo, uma experiência inovadora no enfrentamento da miséria na Índia. Já o Brasil continua tristemente “bem colocado” nos rankings internacionais da pobreza e da corrupção... Kátia Morais

“Rica eu já sou, então não vou roubar” A honestidade na política brasileira é de extremos: ou não existe ou é excessiva e utilizada como estratégia de campanha. Como exemplo, posso resgatar a sinceridade de Tiririca. Em sua campanha afirmou explicitamente não fazer ideia da competência de um deputado federal, além de alegar querer utilizar o cargo para ajudar os necessitados – nesse caso, sua família, que também apareceu em horário eleitoral pedindo votos. Não suficiente, deixou claro não acreditar no sistema político do País, utilizando a expressão “pior do que tá, não fica” como slogan. Filiado ao Partido da República, Tiririca foi eleito pelo estado de São Paulo – o deputado mais votado nas eleições de 2010. Agora é o Partido Social Liberal quem faz sua aposta para 2014: Valdirene Aparecida, hoje Val Marchiori, fez alarde ao disparar que foi convidada a disputar um cargo na Câmara dos Deputados. Afirmou de início estar indecisa, mas logo publicou uma foto em seu microblog, onde mostra a ficha de filiação partidária, seguida de um de seus clássicos “Adoreiii”. Diferente de Tiririca, propostas ela já tem: “Homofobia já seria crime, homem que ameaçasse a mulher ia ser punido e champanhe constaria como item obrigatório nos aviões e na cesta básica do brasileiro, junto do arroz com feijão!” Considerar a homofobia um crime, ótimo. O homem

que ameaça a mulher já é punido (muito sutilmente, em minha humilde opinião, mas é). O champanhe, bem... é um tanto exagerado, mas um político tem de fazer promessas para ganhar, certo? Em seus discursos, Val tem uma evidente linha de defesa feminista por vezes exagerada e, infelizmente, cai no clichê. Por um lado, defende uma reformulação eficaz na Lei Maria da Penha. Por outro, que a mulher deve receber mais que o homem, pois “homem é básico, mulher precisa se produzir, variar nos looks, sapatos...” Não busca eliminar, apenas inverter os preconceitos de uma sociedade sexista. Uma pena, não é a solução. Romário (PSB – RJ), positivamente incisivo em discussões sobre o esporte brasileiro, se mostrou uma grande e ótima surpresa. Mas será que vamos conseguir levar a sério um parlamento em que subcelebridades assumem cada vez mais posições? Será que as subcelebridades têm uma visão mais preparada do que os dinossauros ineficazes no poder? Seguindo a linha de pensamento de Val Marchiori: “Que não nos falte o supérfluo”. Leonardo Arruda

Tem certeza de que o Parque da CIDADE foi feito para Brasília? Que Brasília é seca todo mundo sabe, menos quem escolheu a quantidade e os pontos dos bebedores do Parque da Cidade Sarah Kubitschek. Nos fins de semana, o Parque da Cidade é um dos lugares mais frequentados de Brasília. É uma das principais áreas de lazer da capital, principalmente nos dias de sol. Uns caminham, alguns andam de bicicleta e outros vão para correr, como eu. Todas essas atividades fazem com que a gente tenha muita sede, principalmente em Brasília, em uma


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época de seca brava. Dia desses, ao percorrer o circuito completo, de 10 km, resolvi prestar atenção ao número de bebedores e à distância entre eles. Percebi que antes de chegar a cada ponto, eu já estava com a imensa vontade de beber água. Quando terminei, comecei a analisar... São seis bebedores, mas considero mesmo cinco, uma vez que dois estão concentrados na parada em frente ao Quiosque do Atleta, distantes apenas 50 metros um do outro. Ao longo do percurso, notei que o intervalo de um bebedor para o outro era de 2 km, mas houve um trecho em que tive de percorrer mais de 3 km. Essa é mesmo a distância comum entre os pontos de água nas corridas, mas Brasília não é comum, né? É inaceitável que o principal parque da cidade que enfrenta meses de seca seja tão sovina quando se trata de bebedores. O jeito é carregar a garrafinha e rezar para ela não se esvaziar antes que chegue o próximo ponto de água. Priscila Praxedes

Não há autoridade, aumenta a impunidade O motorista de táxi joga pela janela um pedaço de papel de bom tamanho. A motorista que vem atrás pisca os faróis e buzina, indignada. O motorista mostra o dedo e segue. Dois policiais militares passeiam na calçada. Em um lugar onde há autoridade, esse motorista seria multado e poderia até perder a concessão. Não foi. O carro da Polícia Militar trafega a uns 80 quilômetros por hora, limite de velocidade na via. Vários automóveis o ultrapassam, um deles costurando perigosamente entre os veículos. Em um lugar onde há autoridade, esses motoristas seriam interceptados pela viatura policial. Não foram. O garotão estaciona o veículo em local proibido, fechando uma das duas faixas de

circulação. A menos de cem metros tem um posto policial, e em um lugar onde há autoridade certamente um agente atravessaria a rua e o multaria, ou até chamaria o reboque. Nenhum apareceu. Dois policiais batem papo numa entrequadra. Um carro faz uma bandalha na frente deles. Em um lugar onde há autoridade, um policial apitaria e multaria o faltoso. Os dois continuaram a animada conversa. No Eixão, o carro do DER está estacionado sobre a grama e seus ocupantes fingem fiscalizar o trânsito. Passam motoristas conversando nos celulares e carros em velocidade acima da permitida. Em um lugar onde há autoridade, os agentes – que não estariam sobre a grama – interceptariam esses veículos ou anotariam suas placas. Os agentes, porém, continuaram fingindo que fiscalizavam o trânsito. Dois veículos colidem no horário em que o trânsito é mais confuso. O engarrafamento aumenta e os carros têm de desviar dos acidentados. Na pista paralela, em sentido contrário, passa uma viatura do Detran. Em um país em que há autoridade, os agentes de trânsito desceriam e controlariam o tráfego. Esses fatos corriqueiros referem-se ao trânsito. Mas a falta de autoridade em Brasília se manifesta em diversos aspectos em que a fiscalização finge que não vê irregularidades flagrantes. E assim aumenta a impunidade. Estevan Garcia

Do jeito que o diabo gosta No fim de junho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou dados do Censo 2010 referentes ao perfil religioso da população. O destaque foi para a queda do número de adeptos ao catolicismo, que ainda assim continua dominante, com 64% da preferência. A queda de seguidores da

religião foi de 12% em uma década. No mesmo período, a população evangélica cresceu 44%. Mas a principal conclusão da amostragem é que a pluralidade religiosa é cada vez maior no País. Na sexta-feira em que os dados foram divulgados, as notícias sobre o tema estavam entre as mais comentadas na internet. Provavelmente só tiveram menos manifestações do que as ligadas à gravidez de uma modelo que não diz o nome do pai. Cristãos, que tanto pregam o amor ao próximo, esbravejavam quanto ao resultado, como se fosse uma competição. Associavam o crescimento dos que se declararam sem religião (8%) ao aumento da criminalidade. Evangélicos comemoravam o aumento de pessoas que creem “na verdade” e acusavam a Igreja Católica de não ensinar a Bíblia direito. Diziam que o número de católicos deve ter caído muito mais do que mostram os dados, uma vez que não são “praticantes da palavra de Deus”. Católicos respondiam: os evangélicos são os maiores responsáveis pela inadimplência no Brasil (?). Dão muito dinheiro para os pastores e por isso se endividam. Evangélicos respondiam lembrando quem foi Constantino. Católicos revidavam: o número de evangélicos só cresceu por causa do investimento em marketing. Espíritas (2%) tiravam onda porque são maioria entre os que têm nível superior completo e renda alta. Os céticos pareciam preocupados com a notícia. Lamentavam ser tão grande a quantidade de brasileiros que creem em um ser imaginário. A maioria classificava religiosos como ignorantes e reclamava da exclusão que sofrem ateus e agnósticos numa nação dominada pelos tementes a Deus. O que o IBGE não consegue quantificar é o crescimento da intolerância e do ódio. Eleonora Vieira de Mello


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Ei, esse anel é meu! A cena parecia ter sido precisamente dirigida. A luz do sol entrava no recinto naquele meio de tarde e se refletia na enorme pedra que enfeitava a mão direita da moça. Ela até tentava disfarçar usando um penteado despretensioso e um vestido discreto. Mas aquela brilhante gema não tinha como não chamar a atenção. Não sou daquelas mulheres que têm olhar clínico para diferenciar joia de bijuteria. Mas até eu posso atestar que aquilo era de verdade. A peça valia mais do que tudo o que eu usava naquele dia. Ah, estou querendo

enganar quem? Valia mais que tudo que tenho no meu guarda-roupa... Era uma evidência que doía no estômago. Antes que você me chame de invejosa, explico o motivo de meu ressentimento: aquele anel foi comprado com o meu dinheiro. Com o seu e com o da sua mãe também. Digo isso porque o marido da moça sortuda é um dos políticos mais safados da nossa história e brincou com o dinheiro público, como se já não nos faltasse o básico em saúde, educação e segurança. Não venha me dizer que a reluzente joia poderia ser de família. Se fosse, deveria

estar penhorada para garantir de volta tudo que ele nos tirou. A moça exibia a insultuosa pedra como se não fosse nada demais, mas não disfarçava o orgulho em carregá-la. Nem relaxar os dedos ela conseguia. Meu dinheiro compra joias, mas não vergonha na cara. Viver em Brasília é assim, às vezes temos de estar mais perto dessas pessoas do que gostaríamos. Fala-se muito no futuro político desse senhor, mas o dinheiro que é bom, ele nunca devolveu. E alguém acha que vai? Boa parte dele já está cintilando por aí. Anna Halley


Perfil

Ele já fez muitas coisas, mas agora sua vida se confunde tanto com ela que o chamam de “dono da torre”. Recusa o título, mas vai até lançar um livro sobre a Flor do Cerrado

Texto HÉLIO DOYLE Fotos LEONARDO ARRUDA heliodoyle@meiaum.com.br fotografia@meiaum.com.br



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A

ideia de construir uma torre de TV digital nos altos do Colorado foi dele. Quem pediu o projeto a Oscar Niemeyer foi ele. Saiu da cabeça dele o nome dado à torre, Flor do Cerrado. Foi quem mais batalhou para que a construção recebesse a licença ambiental. Como secretário de Cultura que passou por oito governadores no período de quatro anos, foi quem mais brigou para que a obra fosse realizada, apesar das crises políticas e da inércia delas decorrentes. Sem nenhum cargo no governo, insistiu para que a torre fosse inaugurada neste ano, com dois anos de atraso. Agora, inaugurada, continua ligadíssimo nela. Vai lá várias vezes por semana, leva gente para conhecê-la e verifica pessoalmente como vão as coisas. Sem arrogância, com sua simplicidade mineira, mas eloquência de apaixonado, transita livremente por toda a área, a qualquer hora, com jeito de dono do pedaço. Dono da Torre de TV Digital, a Flor do Cerrado, último projeto feito por Niemeyer para Brasília. Silvestre Gorgulho vai lançar em 31 de agosto um livro sobre a torre, aproveitando a Lua Cheia para fazer um luau com vista ampla para a cidade. Silvestre não gosta que se diga que é o “dono” da torre. Sabe que ciúmes políticos são fatais, e a torre tem dono de verdade, a Terracap. E ele não tem nenhuma aspiração a um cargo público, está bem do jeito que está, como aposentado da Embrapa, editor há 23 anos do jornal mensal Folha do Meio Ambiente e amigo, mas amigo mesmo, de muitas das pessoas mais identificadas com Brasília. O que ele quer é que a obra pela qual tanto batalhou não seja apenas mais um monumento abandonado, malcuidado e até hostil aos visitantes, como tantos – ou quase todos – em Brasília. “Não podemos deixar acontecer aqui o que acontece na Torre de TV”, alerta, referindo-se à que existe no centro da cidade e que se transformou em um belís-

simo exemplo de como não deve ser um ponto turístico em qualquer cidade, muito menos numa capital federal. Ele defende o tombamento da área da torre digital – para evitar a especulação imobiliária e o desvirtuamento da região – e que lá sejam construídos hotéis, restaurantes, museus e um centro cultural. “Se deixarmos solto, vão cercar a área com loteamentos e encher de vendedores ambulantes, quiosques e flanelinhas”, adverte, com a autoridade de quem conhece bem Brasília, o ímpeto que boa parte da população tem de invadir terras públicas, a voracidade dos especuladores imobiliários e a conivência crônica dos governantes com irregularidades de todo tipo. Haveria muito a falar de Silvestre, e de duas de suas características mais visíveis: a facilidade de se relacionar e o entusiasmo que demonstra quando assume um projeto. Tanto entusiasmo lhe rendeu processos, mas ele não se preocupa com isso: “Não roubei nem desviei dinheiro, alguns processos nada têm a ver comigo e todos os gestores que não se omitem de fazer o que tem de ser feito acabam tendo um processo”. A história de José Silvestre Gorgulho começa bem atrás, em 1946, quando nasceu na sul-mineira cidade de São Lourenço. Passa por Belo Horizonte, onde fez um monte de amigos com quem tem contato cotidiano e se formou em Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas na Universidade Federal de Minas Gerais. Chega a Brasília em 1974, trazido pelo mineiro Alysson Paulinelli para trabalhar na Embrapa. Passou por outros órgãos federais, participou da equipe que instalou o então novo estado de Mato Grosso do Sul, chegou até à Secretaria de Imprensa da Presidência, no governo de José Sarney, levado pelo mineiro Toninho Drumond, subchefe da Casa Civil. Mas, antes disso, foi convidado pelo amigo e mineiro José Aparecido de Oliveira para ser o secretário de Comu-

nicação do governo do DF. Silvestre esteve ao lado de Zé Aparecido durante todo o processo para obter a inscrição do Plano Piloto de Brasília no Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade e o tombamento da cidade. Outro de seus inúmeros amigos, o mineiro José Roberto Arruda, elegeu-se governador e o convidou para ser secretário de Cultura. Silvestre relutou, recusou, não queria voltar ao governo. Arruda insistiu, disse que queria atender à indicação de sua então mulher, a atriz Mariane Vicentini, e Silvestre aceitou. Aí começa a história da Flor do Cerrado. E começa na ampla sala que Toninho Drumond, como diretor-geral da Rede Globo em Brasília, ocupa no nono andar do Edifício Varig, na Asa Norte. Toninho sempre recorria a Silvestre quando tinha de resolver alguma coisa no governo do DF. E naquele dia, em fins de 2007, Toninho e Antonio Berbel, diretor de Engenharia da Globo, apresentaram a Silvestre o projeto da torre que a Globo iria construir no Colorado, área escolhida pela Anatel para as torres de TV digital. As emissoras não haviam chegado a um acordo para ter uma única torre, o governo não estava ligando para isso, então a Globo não poderia esperar mais, explicou Toninho. A torre da Globo seria convencional, de ferro. Feia e óbvia. Silvestre, da sala de Toninho, que tem vista para os lados do Lago Paranoá, olhou os altos do Colorado e imaginou o agulheiro que enfearia o horizonte de Brasília com torres de todas as emissoras, uma ao lado da outra. Poucos dias depois, Silvestre foi informado por outro mineiro, Flávio Lara Resende, diretor da TV Bandeirantes, que a emissora também iria construir a sua torre. Também feia e óbvia. O paliteiro no Colorado seria inevitável. Silvestre voltou então à sala de Toninho. Levou-o à janela e perguntou: e se o governo conseguisse que Niemeyer fizesse um projeto para a torre?


15 Toninho achou que o arquiteto não toparia e o governo não construiria com a urgência necessária, mas Silvestre simplificou as coisas ligando dali mesmo para Niemeyer, de quem ficara amigo no governo de José Aparecido. Dr. Oscar, como ele chama o arquiteto, aceitou na hora. “A torre de TV no centro da cidade é um dos poucos monumentos que não é dele, é do Lucio Costa”, explica Silvestre, mineiramente. O governador Arruda gostou da ideia de ter mais uma obra de Niemeyer e queria inaugurá-la no aniversário de 50 anos de Brasília, em 2010. Foi ao Rio em fevereiro para conhecer o projeto e tudo foi rápido, com Silvestre sempre em cima: em 10 de março de 2008 o então governador encaminhou o projeto à Terracap, e aí começou a corrida para inaugurar a torre em 21 de abril de 2010. Uma das maiores dificuldades que Silvestre enfrentou foi obter a licença ambiental do Ibama. Os técnicos do instituto não queriam dá-la sob o argumento de que a torre seria construída em uma rota de aves migratórias. Arruda foi ao presidente Lula e, como ambos se entendiam bem (“Arruda fazia tudo que Lula queria”, explica), a prerrogativa de dar a licença foi transferida ao Ibram, órgão ambiental do governo do DF. E assim saiu, claro. “Se dependesse do Ibama, Juscelino não teria construído nem o Catetinho, quanto mais Brasília”, ironiza Silvestre. Ele acrescenta o Ministério Público na relação de instituições que, por excesso de zelo, inviabilizariam a construção de Brasília. “Uma vez, quando secretário, um promotor disse que me processaria se eu fizesse uma coisa. Saí da sala dele e me encontrei com outro promotor, que disse que me processaria se eu não fizesse. E aí, como é que faz?” Arruda caiu do governo antes que Brasília comemorasse 50 anos, mas não daria mesmo para inaugurar a torre. A cada governador que assumia, Silvestre entregava uma carta de demissão, não aceita. E assim


16 ele continuava insistindo na construção da torre, fazendo suas visitas à obra, levando gente para conhecê-la. Só deixou a Secretaria de Cultura quando o governador Rogério Rosso anunciou apoio à candidata Weslian Roriz. Saiu, mas continuou ligado à torre. Antes mesmo da posse, Silvestre levou os eleitos Agnelo Queiroz e Tadeu Filippelli ao escritório de Niemeyer, no Rio. Queria garantir a continuidade da obra, que acabou sendo inaugurada incompleta e sem um projeto de utilização. Agora, preocupa-se com o que o gDF e a Terracap vão fazer lá: “A torre tem o objetivo de garantir a transmissão digital, mas é um bem cultural, um bem arquitetônico, um ponto turístico. Não é para ganhar dinheiro”. Há quem diga que a torre poderia ser mais imponente, como a recém-inaugurada Tokyo Sky Tree, com 634 metros de altura. Ficou acanhada demais para a capital do Hemisfério Sul. Silvestre responde rápido: “Seria ótimo, só que nunca seria construída. Se com menos de 200 metros foi difícil...” Ele também não dá importância a críticas como serem só três elevadores, com lotação de 12 pessoas cada um. “A torre projetada por Niemeyer é estreita, não cabia mais.” E pronto. Silvestre é um entusiasta, mas é também pragmático e conhece os limites do que faz. Acabou se tornando brasiliense, mas não tem como esconder a origem mineira. Aliás, seu próximo livro, quase pronto, é sobre outro mineiro: Pelé. Mas essa é outra história. )

Há quem diga que a torre poderia ser mais imponente. “Seria ótimo, só que nunca seria construída. Se com menos de 200 metros

)

A Flor do Cerrado Altitude do local: 1.215 metros Altura total da torre: 182 metros (62 andares) Altura da estrutura em concreto: 120 metros Altura do mirante: 110 metros Altura das cúpulas envidraçadas: 60 metros e 80 metros


Fora do Plano por NOELLE OLIVEIRA noelleoliveira@meiaum.com.br

Coincidências de agenda

Fadada ao fracasso desde a criação, a CPI da Arapongagem foi enterrada de vez pela Câmara Legislativa antes do recesso parlamentar. A comissão parlamentar de inquérito iria apurar a suposta utilização de grampos ilegais para investigar políticos locais, inclusive membros do governo. O ponto final veio com a falta de quórum para a eleição do presidente e do vice-presidente do grupo, em 6 de junho. Dos cinco titulares da CPI, só a deputada Celina Leão (PSD), da oposição, apareceu. Não deram as caras os distritais Chico Vigilante (PT), Siqueira Campos (PSC), Cristiano Araújo (PTB) e Luzia de Paula (PPS), todos da base de apoio ao Buriti. O prazo regimental para a realização da eleição terminou em 13 de junho, mas nenhum pleito ocorreu até então. Pudera! Dia 13 estava reservado para compromisso mais importante. Distritais foram acompanhar o depoimento do governador Agnelo Queiroz na comissão parlamentar mista de inquérito que investiga as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados. Lá, sim, tinha quórum. Treze deputados, entre eles Celina, Vigilante e Araújo, a maioria para aplaudir. Diferentemente da apatia perante a CPI no DF, teve até distrital sendo repreendido por parlamentares federais por estar se expressando demais em território errado. Além dos 13, foram lá o secretário de Transparência, Carlos Higino, e os deputados federais petistas Paulo Tadeu e Geraldo Magela. Os dois últimos deixaram, respectivamente, os cargos de secretários de Governo e de Habitação do DF, antes do depoimento, para ampliar a base de apoio a Agnelo no Congresso.

Vaivém Mesmo com a saída dos titulares, o Buriti não discute nomes para chefiar as Secretarias de Governo e de Habitação. Seguem no comando, respectivamente, os ex-adjuntos Gustavo Ponce de Leon e Rafael Carlos de Oliveira, que não têm o peso político necessário para dirigir os postos até o fim do governo. Subentende-se, assim, que Tadeu e Magela voltarão às funções. Segundo a estratégia inicial do governo, o retorno seria alternado, de forma que sempre um dos parlamentares fique na

Câmara. Até o orçamento, deveria permanecer Magela, que já ocupou a posição de relator da peça de 2010. Mas alguns, principalmente na União, não gostaram do resultado da experiência e dizem que Tadeu seria mais eficiente. Além disso, Magela tem projetos sendo tocados no governo local e deve fazer questão de estar próximo para ganhar os louros.

Perdeu Caso a estratégia seja mesmo colocada em prática, o segundo suplente Augusto Carva-

lho (PPS-DF) ficaria fora de vez. Nada surpreendente. O parlamentar recentemente se posicionou pela saída de seu partido da base de apoio ao governo local. Policarpo (PT), o primeiro suplente, também não está confortável. É visto com ressalvas no governo federal, já que, na Câmara, era relator e favorável ao projeto de reajuste aos salários do Judiciário. O governo é contra. Nada pessoal, mas tem gente torcendo mesmo é para que a dupla de ex-secretários fique, de vez, pela Praça dos Três Poderes.


O que você vai fazer

no sábado à

noite?

Eles vão dar uma corridinha. Uma das atividades esportivas mais antigas da humanidade tem cada vez mais status de programa social Texto Priscila Praxedes Fotos Leonardo arruda priscila@meiaum.com.br

fotografia@meiaum.com.br


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udo começou mais ou menos três meses antes, com a divulgação. Para participar, cada um desembolsou de R$ 40 a R$ 150. Esse valor já incluía a camisa que servia como ingresso, entregue um dia antes do evento. Quando chegou a esperada noite de sábado, mulheres se arrumaram, carregando na maquiagem e nos acessórios. Todos usavam a mesma camisa, então as moças desfilavam saias e shorts de cores vibrantes para chamar a atenção. Tênis e bonés de grife eram orgulhosamente exibidos. O evento estava marcado para as 20 horas, mas às 19 horas já tinha gente no lugar marcado, o estacionamento do Shopping Iguatemi Brasília. Estava tudo pronto, com música alta e jogos de luzes. No repertório, músicas de Jack Johnson, Amy Winehouse, Jason Mraz e da banda Red Hot Chili Peppers. As barracas ao redor ofereciam frutas, sanduíches e sucos. E não poderiam faltar os fotógrafos para registrar aquela noite de junho. Podia ser uma daquelas micaretas, mas era uma corrida de rua – na qual se inscreveram 1.022 amadores e uma minoria de profissionais – bem no horário nobre da badalação. Talvez por isso a paquera ali fosse tão natural. “Quando estiver querendo desistir da corrida, olhe para a frente e será estimulada com uma visão dos deuses”, comentou umas das competidoras antes da partida. Quem diria que as mesas de barzinhos seriam trocadas por circuitos de rua? Cheios de disposição, os mais jovens correm e depois vão curtir a noite. “Essas corridas de sábado à noite já me dão a sensação de badalação”, diz o publicitário Marcus Schneider, de 28 anos. “Em vez de ir a um bar fazer um ‘esquenta’ para a festa eu corro e depois encontro com meus amigos, e ainda posso beber sem ficar pensando nas calorias.”

Toda a estrutura descrita no texto ao lado foi cenário da Track&Field Night Run 2012. Para o empresário Ricardo Batista, de 30 anos, a programação noturna estava completa. “Eu considero a corrida uma balada. Lá estão todos os meus amigos e hoje em dia há DJs e tudo mais”, compara. A namorada de Ricardo, a advogada Vânia Santos, de 26 anos, foi só assistir. Aliás, namorados e familiares compõem uma plateia animada nesses eventos. Vânia confessa que não curte o programa, até porque não corre. Mas faz questão de acompanhá-lo e de torcer por ele. “Não entendo como as pessoas em pleno sábado à noite, podendo sair para se divertir, estão correndo.” Durante o aquecimento, uma das palavras mais ouvidas é pace (ritmo, em inglês). É assim que muita gente puxa papo. Competidores comparam o tempo que levam para percorrer cada circuito, se lembram dos resultados em outras corridas. As viagens internacionais também são assunto frequente nesses eventos. É que muita gente vai a outros países para participar de competições de resistência. O analista de sistemas Marcelo Coelho Tolentino, de 43 anos, corre há 15 e já foi a cinco meias maratonas no exterior. A meia maratona tem 21 quilômetros (precisamente 21.097,5 metros), metade da distância que se percorre em uma maratona. “Participo da meia maratona e ainda faço turismo com a minha esposa”, diz Tolentino. “É uma boa oportunidade de conhecer vários lugares.” Foi assim que viajou a cidades como Lisboa, Barcelona, Honolulu, Orlando e Daytona. A turma da “pipoca” Em maio, a Fila Night Run 2012 reuniu ainda mais gente, também em uma noite de sábado. Cerca de 4 mil atletas amadores e profissionais participaram. A largada ocor-

reu no estacionamento do Estádio Mané Garricha, com cenário tão animado quanto o patrocinado pela outra marca esportiva. Artistas faziam malabarismos e havia palco para a premiação e para a apresentação de uma banda de música. Eram duas opções de percurso: 5 km e 10 km. Ao longo do circuito da prova alguns pontos tinham DJs e jogo de luz para animar os atletas. Quem participou da edição anterior da Fila Night Run disse que a estrutura ficou visivelmente melhor. No ano passado, não havia artistas animando os corredores e distraindo os que por eles esperavam, mas o preço da inscrição era menor: R$ 72,50, com direito a camiseta, bolsa e medalha. Em 2012, foram oferecidas duas opções de kits. No primeiro, por R$ 89,90, o participante recebia camiseta, garrafa e bolsa. O segundo tinha todos os itens do primeiro mais um casaco e custava R$ 159. Tem gente que quer participar, mas não faz questão de competir. São pessoas que não estão dispostas a pagar pela inscrição e formam a “pipoca”, como os que vão às micaretas, mas não compram o abadá para ficar perto do trio elétrico. No início, a estudante Renata Lima, de 30 anos, pagava pela inscrição. Hoje, sempre corre na “pipoca”. “Acho os valores das inscrições altos, tudo de que preciso é a água no percurso, e isso sempre consigo”, justifica. E já tem empreendedor pensando nesse público informal dos eventos que se tornaram as corridas de rua em Brasília. Henrique Romano, sócio da Aloha Eyewear, empresa de óculos de sol, está com planos de lançar um kit para a “pipoca”. “Não aceitamos o preço que é cobrado pelas corridas, então estamos pensando em criar esse projeto”, diz. “Nesse kit haveria camiseta, garrafa e toalha, mas com preço acessível.”


21 Cadê minha echarpe de oncinha? Em 1º de abril, no Pontão do Lago Sul, Brasília recebeu pela primeira vez uma edição da WRun, competição exclusivamente feminina. É considerada uma corrida luxuosa, por oferecer comodidade e serviços que agradam às mulheres. Até quem está acostumado ao aparato que as corridas vêm ganhando se surpreende. A programação começou já na véspera da prova, quando as corredoras puderam participar de aulas de ginástica localizada, pilates, dança e spinning. Foram oferecidos ainda serviços de beleza: maquiagem, cabeleireiro e manicure. A prova, em uma manhã de domingo, tinha dois percursos – 4 km e 8 km – e atraiu 800 inscritas. No dia, os paparicos continuaram. O serviço mais procurado era a massagem pós-corrida, especialmente nos pés. O salão fez atendimentos antes e depois da prova. Vai entender, tinha moça que queria correr com cabelos arrumados e maquiagem benfeita. Outras preferiam se embelezar depois de suar muito. “Usamos produtos especiais e resistentes, que duram 24 horas, então a produção pode ser feita antes ou depois da corrida”, explicou Carla Pirez, que cuidava da organização da tenda de beleza. A pedagoga Paula Canabarro, de 33 anos, completou o percurso de 4 km e resolveu se maquiar depois. “Fiquei toda suada da corrida, agora vou fazer uma maquiagem para sair daqui toda linda”, disse. A agrônoma Maíra Teixeira, de 26 anos, e sua companheira de provas, a nutricionista Gabriela Reis, da mesma idade, aproveitaram a manicure depois da prova. “Gostei da estrutura e não achei o valor da inscrição alto, adorei o diferencial”, justificou Maíra. “Achei o preço bom, estamos sendo muito bem tratadas”, complementou Gabriela. O valor da corrida era proporcional a um kit com referências de estampas de oncinhas e diamantes. Eram quatro opções. O mais simples oferecia uma camiseta, um par de chinelos e uma bolsa, por R$ 65. O econô-

As amigas Gabriela (de rosa) e Maíra adoraram a ideia de fazer as unhas depois de completar a prova.

mico trazia camiseta, valise, bolsa e chinelos por R$ 110. Já o kit luxo, além de todos os itens do econômico, acrescentou uma camisa de manga comprida e mais uma valise por R$ 130. O mais luxuoso era o kit queen, de R$ 220. Os diferenciais eram a echarpe de oncinha e uma garrafinha de plástico. Correr está EM ALTA A corrida de rua nunca saiu de moda, mas parece que ultimamente está em alta. O esporte, antes tradicionalmente solitário, ganha cada vez mais força como atividade social. Apesar de ser um esporte barato e sem muitas exigências de horário, local e vestimentas, há um forte mercado dedicado à atividade. Essa indústria gira em torno

de eventos cada vez mais pomposos e mais constantes. Esse mercado gera por ano R$ 26 milhões, de acordo com o CORDF – Corredores de Rua do Distrito Federal. Na capital, a profusão de eventos relacionados ao tema e o aumento da quantidade de participantes materializam os números. Em 2010 foram 35 corridas homologadas pela Federação de Atletismo do Distrito Federal. Em 2011, 47. No calendário de corridas de 2012 estão previstas 49 competições. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) estima que haja no País aproximadamente 1,5 milhão de praticantes regulares de corridas de ruas. O dado é baseado nas inscrições em competições homologadas pela entidade. Em 2011 a CBAt homologou


Papo de corredor A agenda é lotada de compromissos, mas não impede que o diretor-superintendente da Sudeco, Marcelo Dourado, pratique corrida com regularidade. Começou há cinco anos, ao lado da mulher, apenas de brincadeira. Hoje participa de competições nacionais e internacionais e acorda três vezes por semana às seis horas para praticar a sua corrida. Dourado sempre participa das corridas de rua em Brasília. Não vê graça em correr na “pipoca”. “Gosto de receber as medalhas no fim da prova, já tenho 136”, orgulha-se. As medalhas são o certificado de que a prova foi completada. Os primeiros colocados recebem troféu. Dourado já foi premiado com dois desses. Além de corridas na capital, foi a competições em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Também participou da meia maratona de Lisboa. “O meu sonho é correr uma maratona”, conta Dourado, de 52 anos. Ele diz que as corridas de rua no Brasil oferecem a mesma estrutura das corridas de fora, e os preços também são semelhantes. “As organizações e as estruturas montadas para as corridas no Brasil são tão boas ou melhores que as corridas no exterior”, afirma o atleta amador. Dourado foi um dos 3 mil atletas que correram a 13ª Meia Maratona Internacional Caixa Brasília, em 1º de abril, no Eixão Norte. “Gostei da prova e da estrutura, mas é lamentável o valor da inscrição de R$ 70 cobrado pela Caixa Econômica, patrocinadora do esporte nacional”, critica.

39 provas nacionais, duas a mais que no ano anterior. As federações homologaram em torno de 300 provas em 2010 e pelo menos 50 a mais em 2011. “Esse número, com certeza, é maior, porque nem todas são cadastradas”, afirma Aércio de Oliveira, coordenador do Departamento Técnico da confederação. A CBAt explica por que é importante se inscrever em corridas registradas pela confederação. “Temos normas para garantir a segurança do atleta, as corridas que não têm esse registro não seguem as nossas normas e os atletas correm riscos de sofrer algum acidente”, afirma Rodolfo Eichler, técnico de Departamento de Corrida de Rua do CBAt. Até os sites estão aproveitando essa febre. São portais especializados em fotos dos eventos de corrida. Durante o percurso é comum encontrar fotógrafos. E logo depois aparece uma placa com o site em que a foto será publicada. Elas custam de R$ 2 a R$ 15. Logo depois da aprovação do pagamento, elas são liberadas para download. O advogado Fabio Merolla, de 24 anos, que participou

da 6ª Maratona Brasília de Revezamento, em abril, sempre chama a atenção desses profissionais quando está competindo. “Gosto de registrar esses momentos de superação”, diz Merolla. “Depois vou olhar para a foto e lembrar que eu sou capaz de superar os meus limites.” De tão badaladas, as corridas têm cada vez mais espaço nas colunas sociais. E há também uma série de veículos segmentados dirigidos a quem se apaixonou pelo esporte. Algumas revistas esportivas, além de patrocinar, oferecem descontos e vantagens nas corridas, como a O2 e a Wrun. Nas competições sempre montam tendas com frutas, massagens e uma loja com artigos esportivos, mas apenas os assinantes têm direito de usufruir esses benefícios. Assistência profissional Se for ao Parque da Cidade, preste atenção nas pessoas com as camisetas iguais, cones nos gramados e placas chamativas. Há várias espalhadas pelo percurso. São chamadas de assessorias esportivas. Elas dão o

acompanhamento para quem quer se dedicar à prática da corrida de rua. “Esse serviço existe em Brasília há uns cinco anos”, afirma Filipe Brandão, coordenador da equipe Time, criada há dois anos. “Começamos com 15 alunos e hoje reunimos 120”, diz. Esse tipo de serviço é procurado tanto por atletas amadores como por profissionais. “A maioria dos alunos que procura os nossos serviços não é profissional, mas pode se tornar um”, explica Eder Flávio Vilanova, coordenador da equipe Evolua Multisports. Ao adquirir esse serviço, o corredor tem toda a assistência para treinar. Cada aluno tem uma planilha. “Com esse acompanhamento, os atletas evitam lesões e não perdem o estímulo”, explica Vilanova. São oferecidas camisetas e shorts com a marca da equipe. Algumas têm parcerias com lojas esportivas e de suplementação ou academias, que oferecem descontos. Em algumas corridas de rua, os organizadores dão descontos nas inscrições a quem é membro desses grupos. Esse serviço, é claro, tem preço. Paga-se uma mensalidade, como em


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Pronto para correr Na prática, basta uma roupa leve e o par de tênis mais indicado à pisada do praticante. Identificado o melhor modelo, o desembolso médio é de R$ 400 a R$ 600. Muitos corredores têm dois ou três pares de tênis, que usam alternadamente. Não se pode dizer exatamente o tempo de duração do par, depende do atleta, tipo de pisada e intensidade dos treinos. O recomendável é que se programe nova aquisição em mais ou menos um ano – é o tempo comum de desgaste das solas. Se são muitos os quilômetros percorridos diariamente, o tênis terá de ser substituído antes disso. Achou muito? Ainda há detalhes que podem transformar sua corridinha em evento. Existe uma camiseta especial com o tecido poliamidas. Custa de R$ 50 a R$ 200. Esse tipo de malha é melhor para a respiração da pele e dá maior conforto ao correr. Tem a vantagem de secar rápido e de ser resistente ao amarrotamento. Há também as peças que evitam a dorzinha do dia seguinte, as chamadas roupas de compressão, que ajudam na recuperação muscular. Os shorts e as calças geralmente são de compressão,

em média custam entre R$ 100 a R$ 350 a peça. Há também as meias de compressão, no valor de R$ 50 o par. Se quiser ficar de olho na frequência cardíaca, pagará em torno de R$ 200 pelo monitor. Suporte de braço para colocar MP3, MP4 ou celular custa em média R$ 60. Para os atletas que tomam suplementos para dar mais energia, o valor varia para cada produto, mas dificilmente é menor que R$ 100. O analista de sistemas Paulo Eustáquio Franca Junior, de 39 anos, pratica corrida há dois. Por medo de lesões, sempre fez questão de usar o que tem de melhor nas prateleiras. Antes de começar a correr perdeu 40 quilos apenas cuidando da alimentação. “Perdi peso para evitar lesões

nas competições”, diz. Paulo está sempre equipado com os melhores acessórios. Para correr, ele escolhe entre os seus dois melhores tênis. Sempre usa uma viseira, óculos, camiseta da equipe em que treina, feita com o material especial, e bermuda e meias de compressão. Para corridas de longa distância leva a mochila de hidratação térmica, na qual o competidor pode colocar água e beber enquanto pratica o esporte, mas conhecida como camelback, e um cinto para colocar pequenos pacotes de carboidratos em gel, fonte rápida de hidratação que também dá a energia necessária durante o exercício. “Acho importante estar com todos esses equipamentos, de fato melhora o ) desempenho nas competições”, diz. )

uma academia. A tabela varia de acordo com o tipo de treinamento. Vai de R$ 100 a R$ 500.“Alguns alunos chegam por modismo, mas depois começam a gostar de praticar o esporte e continuam”, conta Filipe Brandão, da equipe Time. A psicóloga Beatriz Brandão, de 27 anos, resolveu participar da equipe Evolua por incentivo de um amigo que já fazia parte do grupo. Corre há poucos meses e não pensa em desistir, mesmo viajando muito e não sendo tão presente nos treinos. Persistência e paciência são as palavras-chaves, diz. “Já tentei outras vezes correr, mas tive uma lesão e parei.” Por isso ela considera importante contar com o apoio de uma equipe, o que também lhe serve de estímulo. “Se eu estivesse correndo sozinha, com certeza eu desistiria”, admite.

O analista de sistemas Paulo Eustáquio está sempre com os melhores acessórios. “De fato melhora o desempenho nas competições.”


Conto

Zodíaco

Doze/Seis/Doze

A jornada de uma canceriana com ascendente em Capricórnio em busca de um amor para toda a vida

Texto Patrick Selvatti

Ilustração Cláudia Dias

patrickselvatti@gmail.com

claudiadias@gmail.com

Sempre fui ligada em astrologia. Desde muito novinha consultava o horóscopo. Gostava e queria saber sobre destino, futuro e combinações de egos por meio dos signos. Ainda hoje, recorro à numerologia para orientar minhas decisões e minhas relações interpessoais são todas baseadas na seguinte pergunta: “Qual é o seu signo?” Tanta paixão e devoção fizeram com que eu me tornasse a astróloga que sou hoje. Como profissional, um fenômeno estelar. Mas no campo afetivo... parece que vivo em eterno inferno astral. Neste

Dia dos Namorados, mais uma vez, estou sozinha e deprimida. Eu, Astrid Gonzales, 33 anos, canceriana com ascendente em Capricórnio, tenho muita dificuldade em me fixar em um relacionamento estável. Na data em que apaixonados do Brasil inteiro trocam declarações e presentes, nunca soube o que é isso. Tive meu primeiro relacionamento amoroso de verdade com Bernardo, que tinha exatamente a minha idade: nascemos no mesmo dia, mês e ano. Perdemos a virgindade no dia em que fizemos 18 anos. Não

poderia ter escolhido pessoa melhor. Afinal, o homem canceriano é sensível, delicado, gentil, do tipo que abre portas e puxa cadeiras enquanto conta o quanto foi feliz na infância. O problema é que dois cancerianos juntos não resistiram muito tempo ao excesso de instabilidade emocional e imaturidade pessoal. No carnaval do ano seguinte, viajei a Salvador com minhas primas e conheci o Tiago, desses que passam o rodo na micareta. Trocamos beijos e contatos, tanto físicos como telefônicos. Também nos adicionamos no


25 ICQ (quem lembra?) e decidimos manter o flerte a distância. Terminei com Bernardo e, um mês depois, cá estava o Tiago em Brasília, me visitando pela primeira vez. Hospedou-se na casa de uns amigos no Guará, me encontrou num bar na Asa Sul e transamos a primeira vez em um motel no Colorado. Aquele baiano arretado fazia do sexo um lance divertido. Sagitariano, Tiago tinha muito alto-astral. Era músico, solar, cheio de vida e entusiasmo. Sonhava em ser cantor de axé, tinha suingue gostoso. Mas o que ele queria mesmo era aproveitar a vida da forma mais divertida e descontraída possível. Típico baiano, tranquilo, sossegado, cuca fresca. E como todo bom nativo de Sagitário, era aventureiro e dado a festas e vida social agitada, um perfil bem diferente do meu, mais caseira e dada a reuniões em família. Entre idas e vindas na ponte aérea Brasília-Salvador, me sentia insegura com a enorme necessidade de independência dele, que prezava sua liberdade acima de qualquer coisa. Justamente por isso ele curtia aquele relacionamento a distância. Porque é do sagitariano detestar se sentir preso. Enquanto a canceriana chata aqui buscava um amor para toda a vida, ele deixou claro que preferia caminhar pela vida olhando para os lados e conhecendo todas as pessoas que pudesse. E, na primeira tentativa que eu fiz de manipulá-lo, pulou fora antes mesmo de me entregar o presente de Dia dos Namorados.

***

Com 21 anos, fui para um intercâmbio no exterior. Embarquei para dois anos de estudos no Canadá e lá conheci o Bilal Farid, um estudante turco. Aquele rosto de feições viris, o nariz enorme e o sotaque inusitado me seduziram. Ele era de Touro e, assim como eu, buscava durabilidade, estabilidade, tranquilidade e amor. Ambos nutríamos devoção ao lar e à família e estávamos sempre prontos a ajudar e rece-

ber qualquer um que precisasse de apoio e carinho. Juntos, apreciávamos a refinada cozinha e o bom papo com os amigos estrangeiros. Na cama, tínhamos as mais ousadas experiências sexuais e, fora dela, a minha imaginação fértil completava a capacidade de realização dele. Eu fazia meus primeiros atendimentos astrológicos nos intervalos das aulas e ele administrava o negócio. Com dinheiro no bolso, decidimos morar juntos. Porque amor com taurino só existe quando se sustenta. Aquele Dia dos Namorados estava garantido. O primeiro que eu passaria acompanhada, finalmente. Entretanto, naquele ano de 2002, haveria uma Copa do Mundo de Futebol. Eu não era muito dada a esporte, mas quando o assunto era Brasil, não tinha conversa: era nacionalista, dessas que entram num bate-boca – do qual sempre saio chorando – quando alguém fala mal do meu país varonil. E, por todo o azar do mundo, a Seleção Brasileira jogou contra a Turquia. Bilal, como bom turco taurino, era competitivo, não aceitava perder. A discussão foi feia naquele dia 3 de junho em que o Rivaldo fez um gol de pênalti que desempatou a disputa. Teimoso, Bilal não concordava com a penalidade, estava bêbado, ficou transtornado, me deu um tapa. Enxugando as lágrimas, fiz minha mala e deixei sua casa. Arrependido, ele veio atrás, mas eu estava muito magoada. Ainda bem, porque na semifinal daquela Copa, Brasil e Turquia se enfrentaram novamente. E a vitória brasileira se repetiu. Emendei o intercâmbio no Canadá com alguns meses de estudos em astrologia nos Estados Unidos. Lá, foi a vez de a beleza e a determinação do americano Stuart fazerem meu coração bater mais forte. Ele era ator e estava batalhando por uma oportunidade em Hollywood. O mais belo de todos os homens que conheci na vida. Loiro, de cabelos volumosos e estilosos, olhos azuis, alto e forte. O problema é que ele era do signo de Leão, tinha


26 aquele sério problema de se achar o centro do Universo. Era bom ser amada por alguém vaidoso, mas, conforme o tempo ia passando, fui acumulando ressentimento por não entender tanto egocentrismo. Stuart era expansivo, falante, exibido e individualista. Possessiva e ciumenta, eu me aborrecia facilmente e iniciava minha chantagem emocional. E ele tinha dificuldade em perceber a enorme sensibilidade canceriana. Mas o romantismo sempre foi o ponto de união e de atração entre nós. Teria dado certo, se ele não tivesse recebido um convite para fazer um filme e eu não tivesse que retornar ao Brasil. Hoje o vejo em algumas produções de cinema e fico toda prosa por ter sido sua namorada.

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De volta ao Brasil, foram sucessivas tentativas, a cada ano, de ter um Dia dos Namorados. Meus dois casos seguintes, por exemplo, eram extremamente imaturos e não me passavam confiança. O playboy Fernando Henrique até gostava de mim, mas queria curtir a vida com os amigos e ostentar a riqueza de seu pai, um rico empresário da capital federal. Ariano, tinha excessiva franqueza, fumava muito e seu temperamento explosivo ficava evidente quando bebia. Não aguentei. Tempos depois, me meti em um relacionamento com o universitário Júlio César, que viera de Mato Grosso para tentar a vida em Brasília. Mesmo temendo que a instabilidade emocional de ambos trouxesse problemas, arrisquei. Principalmente porque o geminiano traz em si a semente da dubiedade, que é uma porta de acesso rápido para a infidelidade. E eu, carente e insegura, não suportei quando descobri que ele tinha vida dupla: de dia, fazia faculdade de Odontologia e, nas noites de quinta a domingo, dançava de sunga em uma boate GLS para pagar os estudos. Em 2006, surgiu na minha vida o mais improvável dos parceiros: um aquariano.

Ele era mais velho, mas, mesmo que tivesse em comum comigo o dom de saber ler as tendências do futuro, José Roberto era do signo mais moderno e contemporâneo do zodíaco, enquanto eu sou extremamente apegada ao passado e à tradição. Meu temperamento romântico entrou em choque direto com o sarcasmo e o pragmatismo dele, que era candidato a deputado distrital naquele ano eleitoral e não parava um instante sequer. De trabalhar e de mentir – não por maldade, mas por acreditar em suas próprias invenções. Apesar das promessas, nunca ofereceu a estabilidade que eu procuro no romance. Assim, antes mesmo de iniciar de fato a campanha eleitoreira, enfrentamos uma relação problemática e marcada por muitos desentendimentos que durou apenas três meses. Com o escorpiano Tadeu, a atração foi instantânea. Ele era bonito, sedutor e, como se não bastassem os atributos estéticos de um personal trainer que se cuida – oh, Senhor! –, era fiel e leal, buscava seriedade, entrega e dedicação. Eu já acreditava que, no zodíaco, Escorpião era o meu paraíso astral e fiquei totalmente fascinada com o jeito determinado e sensual de Tadeu, que não me deixava um único dia sem sexo – e de qualidade nunca experimentada. Porém, ambos tínhamos a absurda capacidade de chantagear e manipular o outro para conseguir o que queríamos. Isso fez com que o romance fosse carregado de emoção e sentimentalismo. Dois signos emotivos, sensíveis e loucos por relacionamentos até que poderiam construir uma vida comum interessante. Mas o sonho acabou quando, por um deslize, eu deixei que o ciumento Tadeu acreditasse que havia sido traído quando leu uma conversa minha com o Stuart pelo Orkut. Escorpiano, rancoroso e vingativo, ele me deu o troco. Eu era inocente e não perdoei. Nem a desconfiança nem a traição. Ainda mais carente e ferida, eu conheci, algum tempo depois, aquele que seria

o mais romântico de todos os meus namorados. A identificação com a forma de ver o amor e os relacionamentos foi instantânea. Assim como eu, Olavo – escritor de nenhum livro publicado – era companheiro e sensível – um legítimo pisciano. Eu vivia recebendo flores e e-mails cheios de poesia. Ele tinha alma feminina. Era tanta amizade que, um belo dia, me dei conta de que havia muito amor e quase nenhuma paixão. Poético, atencioso e amigo, faltava algo mais em Olavo: após dois meses, nós nunca havíamos transado. Ele, na verdade, estava tão preso no armário que suas roupas fediam a naftalina. Terminei o namoro e o encorajei a ser feliz como era. Olavo assumiu a homossexualidade e até hoje somos grandes amigos. Mas ele continua vivendo paixões platônicas e eu, bem, vocês estão acompanhando. Na realidade, naqueles tempos, eu também já estava de olho em outro homem. Marcelo era um cara mais velho, mais de 40 anos, charmoso, atraente, responsável, correto. Promotor de Justiça, havia se divorciado recentemente, era pai de adolescentes e não queria ainda se envolver com nenhuma mulher. É típica do signo de Libra a preocupação com a aparência e não se sentir à vontade em meio a manifestações físicas, muito menos a excessos emocionais. Superdiplomática e com uma capacidade de renúncia incrível, eu soube esperar o momento certo. Foram seis meses de paixão sufocada até que Marcelo se sentisse confortável para se envolver novamente. Eu tinha certeza de que, desta vez, daria certo. Em poucos meses, ele já falava, inclusive, em um segundo casamento e filhos comigo. Chegamos a marcar casamento para maio de 2010. Próxima de me tornar uma balzaquiana, eu vivia um sonho dourado do vestido de noiva. Só que, para Marcelo, os conflitos entre vida amorosa e vida familiar existiam, eram fortes e não foram solucionados. Cedeu aos apelos dos filhos e, libriano racional,


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Estava cansada dos homens e exausta de mim mesma. Cheguei aos 30 anos extremamente malsucedida em meus relacionamentos e com a conclusão de que precisava dar uma guinada em minha vida. Até meu horóscopo para aquele ano apontava uma forte transformação na área afetiva. Afinal, na vida profissional, não poderia estar em melhor momento: era uma competente e admirada astróloga, requisitada pelos mais influentes políticos do Brasil e apresentando-me em um badalado programa de entretenimentos de tevê. Quando meu casamento com Marcelo foi cancelado, eu já tinha conhecido a Suzana nos bastidores de uma dessas gravações, no Rio de Janeiro. Ela era psicóloga e a afinidade foi imediata. Ficamos amigas, trocamos telefones e nos adicionamos no Facebook. Ficávamos horas e horas conversando, mesmo a distância, compartilhando experiências vividas e, principalmente, nos queixando dos homens. Aquela relação de amizade tinha tudo para dar certo. Suzana era de Virgem, um signo discreto, prático, que adora o trabalho – assim como Câncer, que não vive longe de um projeto. Fizemos planos de produzir um livro aliando psicologia e astrologia que certamente seria um sucesso. Para aumentar a intimidade e fazer com que o projeto fluísse melhor, ela sugeriu que viajássemos juntas pela Europa. Como boa virginiana, Suzana planejou tudo. Desde o roteiro impecável até o momento em que daria o bote. Estava apaixonada e queria viver um romance comigo. Jamais me senti atraída por mulheres, mas, carente e sensível, a canceriana aqui não resistiu às investidas certeiras da atraente e calculista psicóloga. E, na romântica Paris, pela primeira vez me senti completa. Confesso que vivi intensamente a experiência inédita e jamais imaginada.

Mas, de volta ao Brasil, não me vi num ambiente confortável para seguir adiante em um relacionamento lésbico. Não nego que tenha me apaixonado por Suzana, mas eu precisava voltar a buscar o amor nos braços de um homem. Afinal, eu precisava cumprir meu destino. E esse homem surgiu na figura do Pablo, em setembro de 2011, em Buenos Aires, quando estive na capital argentina para um congresso de astrologia. Médico, argentino, dançarino de tango, apreciador de um bom vinho, do signo de Capricórnio – o único com o qual eu jamais havia me relacionado e justamente aquele que, segundo as análises astrológicas, seria o mais acertado. Segundo os mapas do zodíaco, os capricornianos têm muita segurança para confortar quem está ao seu lado e são ideais para completar os cancerianos. Pablo se apresentou para mim com um estilo conservador, sério, às vezes frio diante do amor, que contrastava com o meu jeito mais romântico e sensível. Mas o amor bateu forte, maduro, sincero, e, com compreensão e carinho, nós superamos as diferenças e vivemos um grande amor. Eu, que sempre acreditei nisso, posso afirmar com certeza que encontrei minha alma gêmea. Nosso casamento foi realizado de forma simbólica no último réveillon, em uma viagem que fizemos à Espanha – o país de nossas origens. Segundo a astrologia, o casal formado por Câncer e Capricórnio certamente fará de tudo para manter o relacionamento até que a morte os separe. Se, de fato, separar. Porque, mesmo após o ataque cardíaco fulminante que Pablo sofreu em março deste ano, tenho certeza de que um está esperando o outro para um reencontro. Neste Dia dos Namorados, estou triste por novamente não ter uma presença física ao meu lado. Mas me sinto feliz por ter recebido hoje a confirmação de que carrego dentro de mim uma vida que jamais me deixará só. E, se tudo correr dentro do previsto, será ca) pricorniano como o pai. )

achou melhor não se comprometer. Propôs adiar o casamento.


Capa

Toma que o

filho é meu

A mulher que fica grávida sem poder ficar, sem ter planejado, sem querer um bebê tem três opções: ficar contrariada e assumir a criança, cometer um crime ou ser vista como insensível por entregar o filho para adoção. E então, mulher, o que você faria? A decisão cabe a você e, seja qual for, virá com consequências

Texto Paula Oliveira

Ilustração pedro ernesto

paulaoliveira@meiaum.com.br ernesto@grandecircular.com


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Agora não, por favor!

Maria Fernanda tem 27 anos, trabalha oito horas por dia como recepcionista e estuda à noite em uma escola longe de casa. Faz um curso supletivo para completar os estudos interrompidos há alguns anos. Uma moça que dá orgulho para a mãe, que ajuda a família financeiramente e que hoje pensa no futuro. Antes só queria saber de festa, mas já viu que a vida deve ser levada um pouco a sério. Fez loucuras, como muitos adolescentes, e passou por essa fase sem grandes consequências, a não ser o atraso na educação. Casar-se? Nem pensar. A mãe sofreu muito nas mãos do ex-marido violento e ela não quer correr esse risco. Prefere colocar a vida no lugar. Terminar os estudos e, quem sabe, fazer faculdade ou um curso técnico para conquistar a tão sonhada independência. Filhos? Um dia, mas não é prioridade. Ela nem tem muita afinidade com crianças. Seus planos são mesmo a conquista de uma profissão e de tudo o que isso possa vir a proporcionar. Uma mulher dita moderna, que não está interessada em ser bonita ou prendada. Quer mesmo chefiar o próprio lar, ter liberdade de viajar, de namorar ou de simplesmente desistir de tudo e recomeçar. Namorado, ela tem. Há algum tempo se encantou por um professor casado. Saiu com ele algumas vezes. Não havia amor, só encantamento. Afinal, o cara tem família e Maria Fernanda não está interessada em estragar a vida de ninguém, muito menos a dela. Só que ela engravidou. Talvez tenha se esquecido de tomar a pílula anticoncepcional por um dia, a camisinha pode ter estourado ou ter sido deixada de lado. O professor deixou a bomba com ela. Não quer saber e a mandou abortar. A mãe morreria de desgosto. Maria Fernanda não sabe o que fazer. Abortar não é opção e, ao mesmo tempo, a gravidez nunca fez parte do que ela quer para a sua vida. Ela está desesperada em pensar que vai pagar por essa falha


31 pelo resto da vida. Sempre ouviu falar que ser mãe é divino, como é que ela não quer isso? Maria Fernanda sente náuseas com a hipótese de cancelar ou de adiar seus planos por causa de um bebê que ela nem queria. Ela não o odeia, só não o deseja. Será que ela está indo contra as leis da natureza? Mas aquela é a natureza dela: a de não querer ser mãe.

Mais um prato vazio

Maria Eduarda é empregada doméstica. Trabalha há 15 anos com a mesma família. Cresceu naquela casa. Aos 25 anos, já tem muito mais experiência na vida do que a filha mais nova do casal, que tem 30. Sim, ela começou a trabalhar cedo demais. É claro que não teve tempo para estudar. De manhã, acorda bem cedo para chegar a tempo de preparar o café da manhã dos patrões. Depois, se encarrega da faxina nos quartos ao mesmo tempo em que cuida das panelas para o almoço. À tarde, limpa a cozinha e a sala e lava os banheiros. Ela sempre morou na casa em que trabalha. Ia visitar a família a cada 15 dias em uma cidade próxima. A saudade era doída, mas a obrigação de ajudar a família falava mais alto. Apesar de nova, tem consciência da importância daquele dinheiro pouco para a sobrevivência de todos. Com o pouquinho de cada um, a família conseguia se sustentar de maneira confortável – sem luxo, mas confortável. Maria Eduarda é assim meio bronca. Foi praticamente criada pelos patrões, que sempre fizeram questão de deixar clara a diferença entre os filhos e a garota. Cresceu se achando inferior, mas de certa maneira era bem tratada. Ganhava roupas, sapatos e tudo o que as filhas do casal não usavam mais. Aprendeu a ler e a escrever com as outras crianças da casa, mas não tem nenhuma formação. Cozinha maravilhosamente bem, mas, na faxina, deixa a desejar. Existe funcionário perfeito? Muito religiosa, casou-se aos 19 anos com

o vizinho dos pais. O homem é bem mais velho, tinha 34 anos na época, e exigiu que Maria Eduarda morasse com ele. Tudo bem. Tudo foi feito sem desagradar ao marido ou aos patrões. Só que nos seis anos seguintes a empregada doméstica engravidou quatro vezes. A despesa com a casa aumentou muito. O marido, nesse meio-tempo, perdeu o emprego e, por estar doente, não consegue mais trabalhar. A família começou a passar por dificuldades. Faltam ingredientes importantes para a dieta das crianças. Recebem ajuda dali e daqui, mas a situação não está boa. E agora, aos 25 anos, Maria Eduarda está grávida pela quinta vez. O desespero chegou com a notícia. Como ela vai criar mais uma criança, se as outras que ela tem já passam por necessidades? O mais velho mora com a tia em outra cidade. O segundo foi “adotado” pela avó materna. Se ela aparece com mais um, quem poderia ajudá-la? Ninguém. Vão todos passar fome. Mais um para dividir pouca comida, pouco dinheiro. O marido a culpa. Como assim ela não se cuidou? Sozinha com aquele problema, pensa em sumir ou, pior, sumir com a criança. O aborto até veio à cabeça, mas ela não tem coragem e ainda por cima teme ser castigada por Deus. Como vai contar aos patrões que terá mais um filho? Corre o risco, na cabeça desinformada dela, de ser mandada embora. Já são meses de sufoco, fazendo planos impossíveis para não ter de abrir mão de mais um filho. Ela não quer se livrar de nenhum dos dois que ainda moram com ela. Mas, para entrar um, outro teria de sair. “Não sei, seja o que Deus quiser”, pensa.

Era ela

Maria Carolina está com 37 anos, é casada há 16 e tem um filho de 10. A vida de dona de casa é imposição do marido machista. Ele faz questão de ser o provedor da família e quer uma mulher para cuidar da casa, dos filhos e – por que não? – dele mesmo. Ela não se


32 importa. Acredita que a vida deva ser aquilo ali mesmo. Cumpre a rotina com alegria e garante gostar do que faz. Ser mãe era o sonho de criança de Maria Carolina. Criada em família grande, tem cinco irmãos e duas irmãs. Os dois menores foram praticamente criados pela mais velha. Era Maria Carolina que os levava ao colégio, lhes dava banho, ajudava com o dever de casa, penteava os cabelos, os colocava para dormir. Quando se casou, viu que não seria tão fácil realizar esse sonho. Por anos, o casal tentou engravidar e nada acontecia. O marido a acusava

de ser incapaz de gerar uma criança. A dona de casa sofria com a situação. Além da frustração de não conseguir engravidar, precisava lidar com a fúria do marido. Aos 27 anos, porém, veio a grande notícia. Maria Carolina estava finalmente grávida! A novidade foi bastante festejada pela família toda. Afinal, todos estavam na expectativa e torciam para que tudo desse certo para o casal. Fernando chegou para a alegria do pai. Claro que a mãe também ficou feliz, mas, no fundo, ela desejava uma garotinha. Quem sabe na próxima gravidez? Era o que a dona de casa esperava. O garoto cresceu ouvindo da mãe que, quando a irmãzinha chegasse, deveria cuidar dela, ser o seu protetor, fazer o papel de irmão mais velho. A vinda de Joana – sim, a garota já tinha nome – era certa na cabeça de Maria Carolina. Ela sonhava com as roupinhas, com a decoração do quarto, com os penteados e com a amizade entre mãe e filha que faria questão de cultivar. Mas os anos foram passando e nada. Problemas físicos não existiam. Deus é que não queria mesmo, pensava. O marido de Maria Carolina precisou ficar fora da cidade por alguns meses por causa de uma ótima oportunidade profissional. Como seria temporário, a família decidiu se separar para não prejudicar Fernando no colégio. Nesse período, a dona de casa assumiu toda a casa e os cuidados com o filho. Joana foi deixada de lado por causa das circunstâncias. Em um dia comum, Fernando estava

Artigo 133 do Código Penal: É crime e passível de aplicação de pena “abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono”.

no colégio e Maria Carolina, em casa. O marido estava havia dois meses fora. A campainha tocou e o rapaz se identificou como funcionário da distribuidora de gás. Ela achou estranho, mas foi atender. Mal abriu a porta, o cara empurrou a dona de casa para dentro e trancou tudo. Em tom rude, exigiu que ela ficasse o mais quieta possível e que lhe mostrasse onde estavam os objetos de valor. Ele começou a arrumar tudo dentro do carro da família – televisão, aparelho de DVD e outros eletrodomésticos. Quando ia embora, parou, olhou para Maria Carolina e a mandou entrar no quarto. Foi lá que a estuprou. Em choque, ela não reagiu. Preferiu atender o bandido com medo de ser morta. Quando o filho chegou, ela contou apenas do assalto. Ligou para o marido e relatou a mesma história. Estava com vergonha, com nojo, queria se esquecer da cena e pensou que a melhor maneira seria não comentar sobre o ocorrido. Tempos depois, o marido voltou. O assunto já estava esquecido na família, menos para Maria Carolina. Ela se sentia estranha. Não sabia explicar o que era. Foi ao médico e, sem acreditar, recebeu a informação de que poderia estar grávida. A princípio ficou feliz, mas, logo que o exame confirmou sua condição, ela se deu conta de que a criança era fruto do estupro que sofrera meses antes. A negação é comum nesses casos. Se contasse ao marido, ele não acreditaria. Se fosse à polícia, seria tarde demais. O aborto, nesse caso, era impossível pelo estado avançado da gestação. O filho não poderia sonhar com aquilo. Que vergonha! A barriga começou a ficar evidente e o marido desconfiou. Ela não teve saída a não ser contar. O mundo dos dois caiu ali naquele momento. Ele acreditou na história, não acusou a mulher, mas sentenciou que não ficariam com a criança. “Como assim?”, questionou ela. “Assim que nascer, entregaremos a um abrigo ou jogaremos no lixo, você escolhe”, respondeu ele. Logo depois, Joana nasceu.


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A legislação brasileira permite que a mulher entregue o filho para adoção em qualquer idade. Para isso, ela deve procurar a vara de infância local e manifestar esse desejo. Qualquer outra forma de abrir mão da criança é ilegal.


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Quantidade de mulheres no Programa Especial de Acompanhamento de Gestante

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Nenhuma até maio Fonte: VIJ-DF.

TOTAL: 80

Dilema Dúvida, desespero e vergonha. Estar grávida e não poder ou não querer permanecer com a criança é um dilema enfrentado por muitas mulheres. É impossível estabelecer estatísticas de quantas sofrem com isso, até porque muitas se questionam de forma silenciosa. O medo da reprovação social faz algumas se resignarem e aceitar a criança. Por pura falta de informação, algumas acabam cometendo um crime. O aborto só é permitido quando a gestação significa risco de morte para a mãe, quando é resultado de estupro ou quando a criança é diagnosticada com anencefalia. O abandono é ilegal em qualquer situação. Somente neste ano, segundo a Polícia Civil, foram cinco casos de abandono de criança nas ruas do DF. Abandono de incapaz é crime. Está previsto no Código Penal, no artigo 133, e inclui negligência com idosos, pessoas com deficiência ou qualquer outra que precise de cuidados. No caso do abandono, dependendo da gravidade da consequência para a criança, desde lesões corporais até a morte, a pena de reclusão pode chegar a 12 anos. É evidente que o julgamento é de acordo com as características de cada caso, mas raramente a mãe é condenada a cumprir a pena presa. Segundo informações do Departamento Penitenciário Nacional, em maio deste ano não havia uma detenta sequer cumprindo pena por abandono de incapaz no Brasil. O abandono, portanto, transforma a genitora em criminosa. Mesmo sendo, aparentemente, uma inofensiva dona de casa como Maria Carolina ou uma estudante sonhadora como Maria Fernanda. Mas as três Marias não chegariam a esse ponto, embora decididas a não ficar com os filhos. Seriam incapazes de machucá-los. Queriam o bem das crianças, mas em outra família. Em alguns casos, quem abandona pode até mesmo recuperar a guarda, se assim desejar. “Toda criança tem o direito de conviver preferencialmente com a família e, se o juiz entender que a mãe se arrependeu e tem


35 condições de proporcionar uma vida saudável e segura para a criança, ele pode devolver a guarda até mesmo em caso de lesão corporal”, esclarece a promotora Leslie de Carvalho, da Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. O dilema moral e social é agravado pela falta de informação da mulher sobre seus direitos e deveres. “O julgamento social a coloca, muitas vezes, numa situação em que a única saída que ela vai enxergar é a de fazer escondido, ou seja, de abandonar a criança”, explica Walter Gomes, supervisor da Seção de Colocação em Família Substituta da Vara da Infância e da Juventude do DF (VIJ-DF). O que muita gente não sabe é que entregar o filho para adoção não é crime nem crueldade. Pode ser um caminho viável e seguro de abrir mão da maternidade minimizando os danos à criança e não a expondo fisicamente. Direito da mãe Desde a publicação da nova Lei de Adoção, Lei Federal 12.010, de novembro de 2009, o Estado tem obrigação de dar apoio psicológico e médico à gestante que manifeste legalmente o desejo de entregar o filho para adoção. O ato não configura crime e a mulher não receberá nenhuma sanção. “Muitas vezes as pessoas cometem atos sem pensar por puro medo, há o estigma de que a Justiça existe para punir, mas, na verdade, também existe para acolher o cidadão”, defende Gomes. O órgão responsável por fazer essa ponte é justamente a Vara da Infância e Juventude de cada município e do DF. Desde 2006, a VIJ-DF mantém o Programa Especial de Acompanhamento de Gestante. De lá para cá, recebeu 80 mulheres com a intenção de entregar o filho para adoção. A metade concluiu o processo. O apoio da Justiça é cuidadoso. A gestante não deve se sentir obrigada a ficar com a criança nem a entregá-la. “Avaliamos todos os aspectos, como possível depressão, pois muitas vezes o sofrimento, seja ele qual for,

afunila as perspectivas”, esclarece Gomes. É recomendado que o acompanhamento da VIJ seja de no mínimo um ou dois meses e um dos objetivos é dar suporte psicológico à mulher para que ela possa superar suas dificuldades ou para que suporte as consequências do ato. Entre as 40 mulheres que entregaram a criança para adoção estão as Marias. As histórias foram baseadas em casos reais que aconteceram aqui em Brasília mesmo. A mulher que procura o programa da VIJ-DF tem direito ao sigilo. Ao mesmo tempo, o pai e os familiares próximos têm o direito de saber da existência da criança. O pai tem a preferência da guarda e os parentes, de ser os tutores. Por experiência no contato direto com essas mães, a enfermeira Gerusa Amaral de Medeiros, gerente de Enfermagem do Hospital Regional da Asa Sul (Hras), observa que a maioria das mulheres que quer doar a criança chega acompanhada por familiares, principalmente pela mãe. Ela é enfermeira obstetra há 19 anos. Raramente o pai do bebê está junto. Apenas 2% delas informam a paternidade – por não terem certeza, por ter sido abandonadas ou porque a criança é resultado de relações proibidas (como incesto) ou estupros –, segundo informações da VIJ-DF. No fim das contas, para garantir o direito e o bem-estar da criança, tudo é feito para que a mãe se sinta confortável para tomar a sua decisão e não se esconder da Justiça. Direito da criança Apesar da previsão legal, é preciso levar em consideração os direitos da própria criança. Afinal, é o destino dela que está em jogo. A mãe não é punida, mas a decisão de entrega para adoção não cabe somente a ela. “A mulher tem o direito de entregar o filho para adoção, mas a criança tem o direito de conhecer a sua origem e de permanecer com a sua família”, pondera a promotora. “Qual direito deve prevalecer?” Na teoria, o da criança prevalece sempre, mas não é tão simples. O juiz deve decidir levando em

consideração o que será mais benéfico para o menor. Se permanecer na família for prejuízo para ele, deve-se prezar pelo seu bem-estar. Mesmo que isso signifique tirar dele o direito de conviver com a família. Desde que o programa foi adotado no DF, nenhuma mulher teve seu pedido recusado. A criança de Maria Eduarda, por exemplo, correria sério risco de passar fome. A de Maria Fernanda, de ser deixada de lado para que a mãe realizasse os próprios sonhos. E a de Maria Carolina carregaria o estigma de filha de estuprador pelo resto da vida. O que seria melhor para elas? Artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente – Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Inciso 3º – A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. Os motivos pelos quais a mãe abre mão da criança são analisados pela equipe do programa de acolhimento. Segundo a VIJ-DF, os principais são os retratados nas histórias das Marias: falta de recursos econômicos, gravidez decorrente de estupro – apesar de o aborto ser permitido nesse caso, muitas vezes o ato é contra os princípios morais ou religiosos – e total ausência de vinculação afetiva com a criança e desinteresse de exercer a maternidade. Qualquer que seja a motivação, deve ser exposta pela interessada e analisada com cuidado. Afinal, uma vez adotada, a família perderá o contato a criança. O processo O primeiro passo é a mãe procurar a VIJ-DF e manifestar oficialmente o desejo de entregar


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Artigo 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente – O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.

a criança. Ela será atendida por uma equipe formada por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos e vai relatar os motivos que a levaram a tomar a decisão. “Não há tentativa de convencimento, o objetivo é proteger a mãe e a criança”, ressalta Walter Gomes, supervisor do programa. A mulher será atendida quantas vezes forem necessárias e a equipe da VIJ-DF fará um estudo da situação social, psicológica e familiar. Serão esgotadas todas as possibilidades de que a criança permaneça com algum familiar. Além disso, a mãe é informada sobre os efeitos jurídicos da entrega. Ou seja, de que perde todos os direitos sobre a criança. Raramente o pai se interessa em assumir a guarda, como o professor de Maria Fernanda. Gomes se recorda de apenas um caso na VIJ-DF. Uma adolescente terminou o namoro e não informou o rapaz da gravidez. Decidiu sozinha entregar a criança e cumpriu o processo até o fim. Quando o bebê já estava no abrigo, o pai descobriu tudo pela família e foi resgatá-lo. O mais comum é o pai rejeitar ou ignorar a criança. Ou seja, ou é negligente ou é negligenciado. A legislação, ao mesmo tempo em que garante o direito pelo reconhecimento de filiação, dá à mulher a anuência para entregar a sua criança para adoção mesmo sem consultar o genitor. Se ela não informar quem é o pai, ele não será avisado sobre o caso. O perfil predominante das pessoas cadastradas no programa de acompanhamento de gestantes da VIJ é de mulheres de baixa renda, com pouca escolaridade, em subempregos e que têm outros filhos. Quando todas as possibilidades são esgotadas, o juiz decide pela entrega para a adoção e a gestante é encaminhada para determinado posto de saúde ou hospital para fazer o pré-natal. Este deve acionar a VIJ-DF assim que a criança nascer. O processo todo termina depois que a mãe é ouvida pelo juiz, já depois do parto, e confirma a decisão. Enquanto isso, a criança fica no hospital. Sendo assim, ela tem alta hospitalar e a criança é cadastrada para adoção. São mulheres com esse mesmo perfil

que muitas vezes abandonam o bebê no hospital em que deram à luz. O que diferencia uma da outra é a coragem e o acesso à informação. “Os profissionais dos postos de saúde e dos hospitais estão preparados para identificar essas pessoas e orientá-las sobre o programa, muitas deixam para a última hora e só informam no momento do parto”, conta Gomes. Chegou a hora Nos hospitais, são basicamente duas situações na entrega para adoção. A pessoa que já foi encaminhada pela VIJ-DF e está sendo acompanhada tanto física quanto psicologicamente e aquela que avisa no momento do parto que não pretende ficar com a criança. Ao se identificar a intenção, a assistência social do hospital é acionada. Um profissional conversa com a paciente e envia um relatório para a Vara da Infância e da Juventude. O atendimento da mulher fica diferenciado até mesmo para preservá-la das outras pacientes. Ela fica em uma sala separada e tem assistentes sociais à disposição. “Geralmente elas ficam caladas, se isolam por conta própria porque é um momento decisivo e bastante sofrido”, explica Cristina Formiga, chefe do Núcleo de Serviço Social do Hras. “Quanto menos elas falarem sobre o assunto, melhor para elas.” Se forem colocadas junto a outras pacientes, certamente se depararão com o tão temido e evitado julgamento social. Imagine só um grupo de mães prestes a dar à luz saber que uma delas não quer a criança? A recriminação pode vir de qualquer lugar, até mesmo dos profissionais do hospital. Por isso, todo cuidado é pouco. “A decisão é dela e ninguém tem nada com isso, é muito melhor ela entregar para quem queira cuidar do que abandonar por aí ou ficar obrigada”, avalia Cristina Scarpelli, também assistente social da unidade. Em 2011, no Hras, foram três casos de entrega para adoção e dois de abandono. Quando a mãe está convicta ou se mos-


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Adolescente – Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Pena – multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) O programa da VIJ e o apoio legal não incentivam a entrega de criança para adoção. O objetivo é justamente proteger o menor de idade contra o abandono. Se a mãe e a família não querem ou não têm condições de criar, vão encontrar outro jeito. E outro jeito, que não seja por meio legal, pode ferir ou até matar a criança. Entre as alternativas estão o aborto, o abandono, o comércio e o infanticídio. Gomes esclarece: doar não é abandonar. “Procurar a Justiça é um ato de cidadania e, por que não, de amor. Isso significa que a mulher está preocupada com o bem-estar da criança e em proporcionar a ela uma vida melhor do que a que ela teria próxima à família de origem.” Mais informações na Vara da Infância e da Juventude do DF: (61) 3103) 3313 ou 3103-3220. )

tra interessada em deixar a criança para ser adotada, o parto, normalmente, é cesáreo, embora isso não seja prática formal. “O sofrimento do parto natural é muito pesado para quem vai sair do hospital sem um filho nos braços”, analisa a enfermeira Gerusa. A mulher ainda recebe medicamentos para secar o leite e evitar que os seios fiquem empedrados com a falta da sucção. O sentimento de vergonha e muitas vezes de dúvida ficam evidentes, mas evita-se tocar no assunto. Depois do parto, o contato entre mãe e filho é evitado, a não ser que a mulher queira. “Mesmo as mais convictas sofrem muito no momento da separação”, relata Gerusa. A alta é dada com urgência para que aquela situação não se prolongue. A média de permanência é de dois dias. Nesse período, muitas não resistem e pedem para ver a criança. É nesse momento que boa parte delas desiste de entregar. “Quando se cria o vínculo, não há dificuldade social ou psicológica que resista”, acredita a enfermeira obstetra. Os profissionais de saúde devem respeitar a decisão da paciente e não julgá-la por isso. Mas, ao conviver com essas situações, é impossível não se comover. As crianças deixadas para adoção são excessivamente cuidadas pelas enfermeiras. Recebem nome e colo. Algumas até pensam em adotar uma ou outra que mais as encantaram, mas é preciso estar cadastrado na VIJ, que tem a prerrogativa exclusiva da adoção. Artigo 258-B do Estatuto da Criança e do


1*

paubrasilia@paubrasilia.com.br

por Nicolas Behr

BRASÍFRA-ME

Personagens, lugares e episódios marcantes da história da nossa capital. Desvende estes poemas-enigmas.

leo and bia loved in a blackmountain sang brasília more than any other

3*

hey, sing a song for me mr. blackmountain

inútil palácio com nome de ave pernalta

2* ou dos remédios une o sul maravilha à ferida federal tem o seu santo nome mas a que tem o nome do algoz do santo é mais bonita

assim como o vice ninguém o vê

avis rara mais rara que arara em araraquara pra que tanta rima se no planalto não tem pantanal?


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4** tão pequenina ave já nos controla metalizada praga urbana faz ninhos em postes e produz filhotes de um olho só não tem pena

5* profetizou mas não acertou

6* correu sangue correu notícia quem não correu morreu rá tá tá tá foram dez foram vinte? mais de cem? jogaram os corpos na vil vala do vale da vila vietnanzinho candango

primeiro o sonho depois o pesadelo

tabu sobre tábuas

agora observa a ferida federal

que a história não se esqueça Respostas: 1 Oswaldo Montenegro – 2 Ponte JK – 3 Palácio do Jaburu – 4 Pardal 5 Dom Bosco – 6 O massacre da GEB

de dentro do pequenino triângulo branco


Conto

Vingança

Presente de aniversário As mulheres sempre mudaram o rumo da vida daquele canalha Texto Nena Medeiros Ilustração André Zottich nena.medeiros@gmail.com

Era um canalha, desde pequeno, o moleque Pedro. Criado na rua, cheio de marra e bom de lábia, não havia garota que não cedesse aos seus encantos. Tanto fez que, aos dezessete, engravidou Dindinha, menina de ouro de seu João e dona Amélia. Os pais quase enlouqueceram. A filha era boa na escola, queria ser professora, a coitadinha, e agora, tudo perdido, por causa daquele traste. Conformados, fizeram o puxadinho nos fundos da casa, para acolher os dois. Meses difíceis para Dindinha: a barriga crescendo, enjoo, tonturas, dores e o marido sempre ausente. Quando Juliana nasceu, o pai estava sumido havia três dias e não voltou antes de a criança completar uma semana. Veio magro, sujo, ressabiado, faminto. E assustado. Foi o único sobrevivente

emaildozottich@gmail.com

da chacina na praça onde costumava dormir com outros garotos porque, naquela madrugada, estava em outro lugar, comemorando o aniversário, gozando a maioridade nas intimidades da negrinha Consuelo. Quando viu os amigos mortos, em meio àquele caos, escondeu-se. Depois, sem alternativa, voltou pra casa. Encontrou o sogro, que saía para o trabalho: – Dindinha está lá em casa, com a sua filha. Entra e vai falar com ela. Depois, vai registrar a menina porque eu não quero minha neta sem pai. E seguiu rumo à estação, rezando para que Pedrinho tomasse jeito. Seu João não sabe se foram suas preces ou os lindos olhos grandes e bem pretos da neta que enfeitiçaram Pedrinho, mas o rapaz mudou completamente desde então.

Alistou-se no Exército, serviu com bravura, estudou muito e conseguiu, num concurso, entrar para a PM. Sempre trazia um agrado para a mulher e a filha. E, depois, para cada um dos outros três filhos. Era preciso reconhecer – ele se tornara um ótimo pai. No entanto, diante de uma Dindinha cada vez mais acabada e amarga, jamais conseguiu ser fiel, amantes sucedendo-se e acumulando-se. Uma, em especial, mudaria sua vida: Consuelo. O reencontro aconteceu numa batida a um bordel. Pedro não resistiu à mulher que lhe salvou a vida anos antes, agora feita e perfeita, apesar das marcas da vida-dita-fácil. Depois disso, sempre que podia, o policial procurava as carícias experientes e o cheirinho perfumado da moça. Dindinha tolerava bem as


41 traições do marido. Aprendera a atender aos seus desejos sexuais com resignação, mas nunca conseguira gostar daquilo. Assim, desde que ele continuasse cuidando dela e dos filhos, preferia mesmo sua ausência, que foi se tornando cada vez mais frequente, até tornar-se definitiva. Quando o pai se aposentou, sem ter mais o que os prendesse, Dindinha mudou-se com a família e as crianças para a chácara de um tio, no interior do Maranhão. Era uma forma de atingir Pedro, pois sabia o quanto ele sofreria sem os filhos. Realmente, o policial sentiu demais a falta deles. Cogitou até seguir a mulher. Porém, a repulsa que ela lhe provocava era mais forte e ele limitou-se a oficializar a separação. Também não conseguia se imaginar sem Consuelo, por quem estava cada vez mais obcecado. Era a única mulher capaz de fazê-lo esperar na sala, ansioso, enquanto ela atendia a algum cliente inoportuno. Foi assim que, numa ocasião, impaciente, ele acabou por invadir o quarto onde ela se entregava a um senhor gordo e resfolegante. Não suportando a cena e o ciúme, puxou a arma e atirou no sujeito. Um tiro certeiro, entre os olhos arregalados de susto, espirrando sangue por todos os lados. Consuelo gritava apavorada, enquanto tentava livrar-se do corpo enorme caído sobre o dela. Pedro trancou a porta, empurrou o cadáver para o chão e sentou-se na cama, a cabeça entre as mãos. Consuelo levantou-se e limpou o rosto no lençol sujo. De fora, batiam insistentemente. Ela olhava o cliente caído no chão, o sangue espalhando-se pelos buraquinhos do piso de vermelhão. – Consuelo? – chamou uma voz conhecida, do lado de fora. A moça deixou entrar Madalena, a cafetina, uma velhota esguia que, ao entrar no quarto, limitou-se a murmurar um palavrão entre dentes, enquanto examinava tudo com frieza clínica, como quem não quer perder nenhum detalhe.

– Vai se vestir, filha. Pegue tudo que é do morto, enrole nos lençóis e queime. A velha olhou para o policial à sua frente, com ódio. Ele não percebeu. Aparvalhado, só se levantou quando a moça, com um puxão, retirou os lençóis da cama, expondo o colchão. – O colchão, mãinha. Sim, o colchão! Novinho! Merda! – Queima também. Pedro parou em frente às mulheres, tentou se desculpar. – Não temos tempo para isso! – a velhota o interrompeu – Ele tinha carro, filha? Consuelo remexeu nos objetos do morto. Achou a chave e os documentos num dos bolsos da calça. Entregou à Madalena. – Passat branco. Carro velho, pobre homem. Melhor assim. Mais difícil se fosse algum figurão. Vai, meu filho, procura o tal carro, põe as luvas e traz ele aqui pros fundos. Ele saiu e, após alguns instantes, ouviu-se o ruído do motor cansado, parando próximo à janela. Pedro entrou em seguida e juntou-se a elas para jogar o corpo no porta-malas. Entraram no carro e a velhota dirigiu até uma rua escura e deserta, próxima a um matagal, ponto conhecido de desova. Deixaram-no lá, nu, e depois estacionaram o Passat em frente a uma oficina de desmanche de carros roubados, cujo dono, frequentador do bordel, vez por outra batia em alguma das meninas. Depois, de volta ao quarto, beberam muito uísque, enquanto limpavam e queimavam tudo o que estivesse manchado. Finalmente, Madalena os deixou a sós. Pedro deu mais uma conferida no quarto e olhou para Consuelo, que terminava de cobrir com lençóis o colchão que elas arrumaram para pôr na cama. Ao abaixar-se o decote deixou à mostra os seios negros e aveludados. Pedro sentiu a onda de excitação fluir pelo corpo. Quando ela se virou de costas para ele, à medida que se movia, o vestidinho curto ia ora escondendo, ora


42 mostrando o finalzinho das coxas, o comecinho das nádegas, firmes e grandes. Ele, silenciosamente, deixou o copo na mesinha, caminhou até ela e, num repente, abraçou-a por trás. Ao sentir-se agarrada, o volume nas calças dele pressionando-lhe as costas, ela tentou soltar-se: – Deixe disso, homem. Ele a apertou mais contra si. – Para, tá me machucando. Com força, segurou-a pelo queixo e, colando seu rosto ao dela, murmurou: – Eu sei do que você gosta. Ela lutava, tentando desvencilhar-se dele. Pedia-lhe que parasse, que a deixasse e, então, desaguando de vez toda a tensão daquela noite, começou a chorar. Ele a jogou sobre a cama, deitando-se sobre ela, sem permitir que os corpos se afastassem. Não queria deixar de sentir aquele calor, de ouvir aqueles murmúrios lamentosos. Segurava-a pelos ombros enquanto com a outra mão procurava forçar passagem para o membro intumescido, primeiro lentamente, depois com força e violência. Quando ela começou a gritar, tapou-lhe a boca com a mão. Mordia-lhe a nuca, puxava-lhe os cabelos. O gozo veio rápido, brusco, deixando-o ainda mais embriagado, o quarto girando, o gosto de uísque azedo na boca. A mulher soluçava, sacudindo todo o corpo sob o dele. Soltou-lhe a boca e levantou-se lentamente, cambaleante, apoiando-se na cabeceira. Ajeitou a roupa e os cabelos, cuidadosamente. Tomou, de um gole, o uísque que restava no copo e saiu. Quando entrou em casa, já estava quase amanhecendo, a lembrança dos acontecimentos continuava a surrar-lhe as têmporas. Tentou dormir, mas revirava-se em pesadelos e, ao meio-dia, levantou-se numa terrível ressaca. Lembrava-se vagamente do estupro, parte de um jogo, o choro, a violência. Tudo tão excitante. Precisava rever Consuelo, tocá-la de novo. Ansiava aquele corpo, aquele cheiro.

No bordel, encontrou o quarto da amante vazio. Uma das prostitutas contou-lhe que a mulher partira cedo, antes do amanhecer, ninguém sabia para onde. – Mãinha tá uma fera! Por dois longos meses, voltava sempre lá, na esperança de encontrá-la, até que a cafetina entregou-lhe a carta. – Esquece, meu filho! Ela fugiu porque tá com aids. Aids?! Aquela doença!? Não pode! Aliviado, agradeceu aos céus por ela sempre obrigá-lo a usar camisinha. Depois, lembrou-se daquela madrugada e entrou em pânico. Com uma identidade falsa, fez o exame. Se estivesse mesmo infectado, não lhe interessava tratamento. Apenas vingança. Quando recebeu o resultado e leu “positivo”, foi como se levasse um soco no estômago. Sem fôlego, leu de novo e de novo e mais uma vez, até certificar-se de que a palavra não mudaria. Enfim convenceu-se e deu início à execução de seu plano. Conseguiu o endereço de Consuelo, num bairro afastado da cidade. Vigiou-a por uns dias, aprendeu-lhe os hábitos. Quando ela entrou em casa e o viu, tentou correr e gritar, mas ele foi mais rápido. Agarrou-a, fez com que se sentasse, amarrou-a e a amordaçou. – Você tinha que me avisar! – gritava. Olhos em pânico tentavam responder o que a mordaça calava. Parado atrás da cadeira, colocou as mãos em volta do pescoço delicado da mulher. Arrepiou-se ao sentir-lhe a pele macia e quente. Cheirosa. Sentiu-se um idiota. Já tivera tantas mulheres na vida, tantas mais bonitas e até melhores do que ela. Por que ela ainda o excitava como um adolescente? Talvez o fato de ela nunca ter sido realmente sua. Ou pior, de saber que já pertencera a alguém. Alguém que ela amou. Alguém com quem foi capaz de dispensar o preservativo, alguém que a infectou. Furioso, apertou as mãos com força,

comprazendo-se com seus estertores, até ouvir um estalo seco e a cabeça dela pender inerte sobre a cadeira. Desamarrou-a, retirou a mordaça e deitou-a no chão, a cabeça desconjuntada apoiada numa parede, simulando queda. Em seguida, encheu um velho lampião com querosene, acendeu-o e o derrubou no chão, provocando uma pequena explosão que espalhou o fogo por todo o ambiente, consumindo tudo em instantes. Noite alta, até que alguém percebesse as chamas, tudo se teria queimado, inclusive o corpo da maldita que uma vez lhe salvou a vida, para depois tomá-la de volta. Nos dias seguintes, monitorou as investigações sobre a morte dela, até o seu desfecho: um trágico acidente. Não comemorou. Sentia-se fraco e doente. Ficou se perguntando quanto tempo a doença levaria para matá-lo. Tinha pressa. Arrependeu-se de não ter ficado com Consuelo. Desejou-a mais uma vez, com toda sofreguidão. Sentiu-se abafado, com dificuldade de respirar. O suor escorria-lhe pela testa, irritando os olhos. Precisava de ar. Saiu. Era chegado o momento de dar início à última parte de sua vingança. Se morreria por causa de uma vagabunda, levaria quantas delas pudesse consigo. E, por meses, seguiu com obstinação a sua missão de vingador: pegava as garotas na rua, recusava-se a usar a camisinha e, quando elas não cediam, usava das suas próprias, cuidadosamente furadas com a pontinha de uma agulha. Naquela noite, procurava alguma coisa especial. Era seu aniversário, merecia algum prazer. Passou em frente ao calçadão, onde as mulheres já começavam a se expor, mercadorias vivas num açougue a céu aberto. Reparou na menina muito jovem a um canto. Parou, abriu a porta, chamou, esperou-a entrar. Ainda no carro, acariciava-lhe as pernas e, ao chegarem ao motel, enquanto subiam as escadas, começou a beijar-lhe a nuca, o pescoço. Depois os


43 brava-se do pai, um policial jovem e bonito que a levava nas costas, de cavalinho, rindo e cantando. Lembrava-se da mãe, sempre chorando de saudade ou rancor. Lembrava-se da viagem para o Maranhão, a luta da família no sítio improdutivo, as mãos arrebentadas na enxada, as bolhas no rosto, sob o sol escaldante, o padrasto levando-os para a fazenda dele. Depois agarrando-a, ainda menina, a mão grossa e áspera, arranhando-lhe a pele. A vergonha, o medo de contar à mãe e ter que voltar à miséria. Lembrava-se da fuga, do caminhoneiro que lhe deu carona em troca de favores. Lembrava-se da gravidez, do aborto, na clínica ensanguentada. Queria arrancar uma a uma as lembranças da cabeça. Queria nunca ter nascido. Olhou-o com mágoa. – A culpa é sua! Ele não sabia o que dizer até que se deu conta de que ela era mulher e, de mulher, ele entendia. Murmurou: – Eu estou doente, filha. Vou morrer. – Bem feito! – Por favor, meu anjo. Preciso do seu perdão! Mentiu-lhe que pretendia procurar a família, mas tinha medo. E, entre lágrimas sinceras e promessas nem tanto, percebeu as feições amargas dela se anuviando, a compaixão se instalando. Enfim, o perdão, num abraço choroso. Seguiram para a rodoviária. Ela apanhou a carteira de identidade, caída a seus pés e, curiosa, examinou a fotografia. Olhou de volta para ele. Tão diferente! Ao ver a data de nascimento, sorriu, infantil: – Ei! Tá de aniversário? O que quer de presente? Sem tirar os olhos da estrada, ele passou o braço por sobre os ombros dela, puxando-a para junto de si. Sabia que, pela segunda vez na vida, aquela menina lhe dava motivos para mudar de vida. – Presente? Você já me deu, querida! Obri) gado! E, desta vez, vou saber aproveitar. )

seios, tirando-lhe o sutiã. Desvencilhou-se das próprias roupas com pressa e sentou-se ao lado dela, admirando o corpo de mulher, as feições de menina, os olhos bem negros. Poderia se perder naqueles olhos. Perguntou-lhe o nome. – Ju. – Ju? Só isso? Quantos anos você tem, Ju? – Não vou dizer – sorriu – você não vai me querer mais. – Você é menor? – Faço dezoito amanhã. – Então já dá! – e, deitando-a na cama voltou a beijá-la, retirando-lhe a calcinha. – Na verdade, fiz dezoito há uma semana, mas meu pai me registrou atrasado – ela prosseguiu, nervosa. – É? – continuava beijando, roçando os lábios na barriga lisinha, a língua penetrando o umbigo... – Por que ele faria isso? – Gostava da voz dela, tímida e vacilante. – Não sei. Acho que ele não me queria. Ele deixou a gente e a gente foi pro Maranhão, morar na chácara com o meu vô João. Pedro parou de beijá-la, o rosto já meio escondido pelo pequeno emaranhado dos pelos púbicos, e levantou-se num pulo, cobrindo-se com o lençol: – Ju-Juliana! É você, Juliana? – Você me conhece? – Esses olhos! Se conheço. Claro que conheço, sou seu pai, minha filha. E vestia-se depressa, envergonhado, obrigando-a a fazer o mesmo. Ela não aceitava que aquele homem velho fosse seu pai. Lembrava-se vagamente dele bem jovem, usando a farda garbosa. Só acreditou quando ele lhe mostrou o documento de identidade. Apesar dos protestos dela, levou-a para casa. Arrumou suas coisas e a arrastou de volta até o carro, enquanto lhe bombardeava com perguntas. Queria saber da família, dos outros filhos, de como ela caiu na vida. – O vô morreu, a vó também. A mãe casou de novo. Os meninos ainda tão lá. Eu fugi. E calou-se, chorando baixinho. Lem-



CHARGES DO GOUGON hgougon@gmail.com


Caixa-preta

por Luiz Cláudio Cunha

cunha.luizclaudio@gmail.com

O pau que bate em Lugo e alegra Collor

Santa ironia: pau que bate em Fernando não dói em Fernando. O notório Fernando Collor, que renunciou à Presidência da República batido pelo único processo de impeachment do Brasil, agora acha justa e legítima a derrubada parlamentar de Fernando Lugo como presidente do Paraguai. A destituição de Lugo, em 22 de junho, é um recorde mundial para os arrastados padrões da política. O processo começou na véspera, 21, na Câmara dos Deputados, por uma maioria esmagadora de 76 votos a um. Acabou 31 horas depois, na tarde de 22, com a aprovação de 39 dos 45 senadores. Apesar da aparência de legalidade, a súbita derrubada de Lugo gerou perplexidade no mundo. Lugo, um ex-bispo católico, é o primeiro governante de esquerda de um dos países mais pobres do continente, que produz no campo metade do seu PIB de US$ 35 bilhões. Num país agrícola onde 2% da população controla 90% das terras, a reforma agrária tem forte apelo — e isso ajuda a explicar a eleição de Lugo e também sua queda. O pretexto para a destituição veio de uma desastrada operação militar contra um acampamento de sem-terra numa fazenda próxima à fronteira com o Brasil, uma semana antes do impeachment. No confronto, morreram 11 agricultores e seis militares.

Golpe no telegrama Esta foi a base legal do processo por “mau desempenho das funções” do presidente — algo que, numa democracia tradicional, se julga pelo voto nos eventos periódicos das eleições. Se o Brasil tivesse esse rigor em abril de 1996, o presidente FHC correria o mesmo risco de demissão: 19 agricultores sem-terra morreram num conflito com a polícia em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, mas ninguém do Congresso brasileiro pensou em demitir FHC por “mau desempenho”. Preventivamente, o Mercosul suspendeu o Paraguai pela travessura parlamentar que só entusiasmou o trovejante Collor. De Brasília

a Buenos Aires, de Havana a Washington, todos ecoaram a surpresa pelo rito sumário e a suspeita pelo golpe legislativo. Mas os Estados Unidos, ao menos, não podem fingir surpresa. Um telegrama de 23 de março de 2009 da embaixada em Assunção para o Departamento de Estado já antecipava a tomada do poder “por meio de instrumentos (predominantemente) legais”, conforme o documento vazado pelo Wikileaks. Três anos depois, aconteceu exatamente isso no Paraguai.

Senhor da razão Os praticantes da destituição precoce souberam trabalhar neste terreno de instabilidade

institucional, já que Lugo não soube criar base sólida no Congresso. Numa Câmara de 80 deputados, tinha só três aliados. No Senado de 45 cadeiras, contava com uma bancada de apenas quatro. A decisão do Congresso foi chancelada pela Suprema Corte, fechando o caixão sobre o mandato de Lugo, que expira dentro de um ano, em agosto de 2013. As próximas eleições presidenciais estão previstas para abril. Collor deveria ir lá, desfilando a camiseta que resumia seus tempos frenéticos de presidente: “O tempo é o senhor da razão”. Terá, então, a chance de explicar qual a razão que justifica um impeachment no tempo restrito, fulminante, suspeitíssimo, de apenas 31 dias.


Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br

Arnaldo J. G. Torres

O mundo nas telas e nos palcos De 12 a 22 de julho, será a primeira edição do Brasília International Film Festival, com 12 longas na mostra competitiva. Haverá ainda mostras temáticas da África, da América e da Europa, além de animações. A homenageada é a atriz e diretora dinamarquesa Anna Karina. Protagonista de diversos filmes da nouvelle vague, ela selecionou uma retrospectiva com seis obras. No teatro, a 13ª edição da Cena Contemporânea – Festival Internacional do Teatro de Brasília, com 21 peças nacionais e internacionais. O evento é uma junção de teatro, dança e música. O artista Kofi Kôkô, um dos maiores nomes da dança moderna na África, apresenta o espetáculo La Beauté du Diable (foto). Na peça, Kôkô se movimenta no ritmo africano com a dança flamenca. A programação vai de 17 a 29 de julho.

Cinema – lançamentos

A casa silenciosa Direção: Chris Kentis e Laura Lau. Uma história real. Policiais encontraram dois corpos brutalmente torturados em 1944 em uma antiga fazenda. As fotografias encontradas no local foram fundamentais para esclarecer o crime. No elenco, Elizabeth Olsen e Adam Trese. Terror. Classificação 14 anos. Kinoplex em 20 de julho. 85 minutos.

A guerra dos botões

Além da liberdade

Direção: Yann Samuell. Adaptação do livro de Louis Pergaud. Na década de 1960, no interior da França, meninos liderados pelo intrépido William Lebrac (Vincent Bres), estão em guerra com as crianças da aldeia vizinha. Para vencer seus inimigos vale tudo, até aceitar a ajuda de uma garota (Paloma Lebeaut). Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex

Direção: Luc Besson. A biografia de Aung San Suu Kyi, figura emblemática da oposição à ditadura militar da Birmânia. O filme conta a história de Aung (Michelle Yeoh) e Michael Aris (David Thewlis), que mantêm o amor apesar da distância que os separa e da hostilidade do regime ditatorial no país.

em 6 de julho. 109 minutos.

julho. 132 minutos.

Drama. Classificação 12 anos. Kinoplex em 20 de


Chuck Zlotnick/Weinstein Company

Arte, Cultura e Lazer

Cinema O que é o cinema senão a arte de nos surpreender? É exatamente isso que faz o cineasta Ridley Scott em Prometheus, um dos destaques do cinema neste mês na cidade. Filmado numa Islândia desolada, totalmente deserta, o filme bebe na fonte do icônico Alien – O oitavo passageiro, um grande sucesso também do diretor, para colocar em xeque a origem de tudo. Da vida, da existência de Deus, da própria raça humana. No distante ano de 2093, a nave Prometheus chega a uma nova lua com 17 tripulantes a bordo. Eles dormiram durante

Aqui é o meu lugar

dois anos e agora despertam do “sono da

Direção: Paolo Sorrentino. Cheyenne (Sean Penn) é um ex-astro do rock milionário que agora está sem motivação. Quando descobre que o pai está doente, decide visitá-lo, pois não o vê há 30 anos. Cheyenne chega tarde e o encontra morto. Decide, então, encontrar o algoz do pai nos tempos de guerra. Drama. Classificação 12 anos. Kinoplex em 27 de julho. 118 minutos.

que ao longo dos séculos atormentam

ignorância” em busca de respostas para aquelas clássicas perguntas existenciais a humanidade. Afinal, quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Igualmente sombrio, mas não tão sujo e caótico do ponto de vista estético quanto seus trabalhos anteriores como o já citado Alien e a obra-prima Blade Runner – O caçador de androides, mais uma vez Ridley

Batman: o cavaleiro das trevas ressurge

Direção: Christopher Nolan. Sequência de Batman – O cavaleiro das trevas. Batman (Christian Bale) tornou-se fora da lei após ter sido acusado de ter matado um homem. Preso, precisa enfrentar o líder terrorista Bane (Tom Hardy), que pretende destruir Gotham City. Ação. Classificação 12 anos. Cinemark em 27 de julho. 165 minutos.

Cosmópolis Direção: David Cronenberg. Adaptação da obra de Don DeLillo. Erick Packer (Robert Pattinson) é um jovem milionário. Ele cruza a cidade para cortar o cabelo, mas no caminho acontecem

várias surpresas. No elenco, Samantha Morton, Jay Baruchel, Paul Giamatti, Kevin Durand, Juliette Binoche, Sarah Gadon, Mathieu Amalric e Emily Hampshire. Suspense. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 13 de

Scott mergulha o espectador numa teia de terror e suspense futurístico para abordar contundentes assuntos metafísicos. Mas faz isso sem abrir mão do espetáculo visual, uma de suas marcas registradas

julho. 108 minutos.

como esteta da imagem.

Na estrada

homem e máquina travado entre a tripu-

Direção: Walter Salles. Adaptação do livro autobiográfico de Jack Kerouac. Na Nova York do fim dos anos 40, Sal Paradise (Sam Riley) conhece o jovem Dean Moriarty (Garrett Hedlund) e sua namorada Marylou (Kristen Stewart), de 16 anos. Juntos, os três partem para conhecer os Estados Unidos numa jornada de altos e baixos. Drama. Classificação 12 anos. Kinoplex em 13 de julho. 137 minutos.

Preste atenção no duelo velado entre lação e o robô David (Michael Fassbender em atuação soberba), a versão humanoide do nefasto computador Hal, do clássico 2001 – Uma odisseia no espaço.

Lúcio Flávio É jornalista especializado em cultura


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Cinema – outros

Brasília International Film Festival

Com seleção de filmes a partir dos festivais de Sundance (EUA), Berlim (Alemanha), Cannes (França), San Sebastian (Espanha) e Veneza (Itália). São 12 longas-metragens inscritos na mostra competitiva e 42 filmes exibidos em mostras paralelas. Será apresentada uma retrospectiva do trabalho da atriz Anna Karina, a musa da nouvelle vague, que estará na abertura do evento. 13 a 22 de julho, nas salas do Cine Cultura Liberty Mall e no Museu Nacional da República. Ingresso (inteira) R$ 16. Classificação e programação em www.biffestival.com. www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br Não informaram a programação a tempo:

Bhava: o universo do cinema indiano Com 30 filmes, a mostra traz diversas vertentes do cinema indiano. A maioria dos filmes foi premiada no Festival Internacional de Goa. No destaque, Harishchandra Factory, de 2009. Em 29 de julho, haverá uma sessão infantil. 24 de julho a 19 de agosto, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura.

www.itaucinemas.com.br www.cinecultura.com.br

Música

Brasília Indoor 2012 Na sexta, o cantor Tomate e a Banda Eva. No sábado, Ivete Sangalo e o grupo Asa de Águia. 13 e 14 de julho, às 20h, no estacionamento do Mané Garrincha. Ingressos (inteira): Sexta-feira

O espetacular Homem-Aranha

Valente

Direção: Marc Webb. Peter Parker (Andrew Garfield) é um estudante rejeitado por seus colegas. Abandonado por seus pais quando criança, foi criado por seu tio Ben (Martin Sheen) e pela tia May (Sally Field). Como muitos adolescentes, Peter tenta descobrir quem ele é e como se tornou a pessoa que é hoje, ao mesmo tempo em que vive sua primeira paixão, por Gwen Stacy (Emma Stone). Tudo muda, porém, quando Peter descobre uma misteriosa maleta e começa uma jornada para entender o desaparecimento de seus pais.

Direção: Mark Andrews. Desenho animado da Disney. O filme conta a história de Merida (Kelly Macdonald), uma habilidosa arqueira, filha do rei Fergus (Billy Connolly) e da rainha Elinor (Emma Thompson). Determinada a trilhar o próprio caminho, desafia antigos costumes. Os atos de Merida desencadeiam a fúria no reino e, quando ela se volta para uma velha feiticeira (Julie Walters) em busca de ajuda, tem um desejo mal-aventurado concedido. Animação.

Ação. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em

Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 20 de

6 de julho. 90 minutos.

julho. 123 minutos.

– Atrás do trio R$ 100; Camarote Fem. R$ 200; Camarote Masc. R$ 240 | Sábado – Atrás do trio R$ 120; Camarote Fem. R$ 260; Camarote Masc. R$ 300. Classificação 16 anos. Telefone: 4141-8007.

Choro & Cia Continuando a parceria entre o Clube do Choro e o CCBB, que começou em junho. Neste mês, o músico Jards Macalé traz no show seu disco de estreia, lançado em 1972. 23 de julho, às 21h, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação livre. Telefone: 3108-7600.

Clube do Choro Mais um mês com homenagens a Chico


Luiz Braga

Arte, Cultura e Lazer

Música A referência a décadas passadas era ainda mais intensa no som de Amy do que em sua estética. Muito maior do que o topete e mais forte que o traço do delineador. Quando ela se foi, há um ano, deixou uma produção autoral pequena – embora em níveis concentradíssimos. Mas acho que sua contribuição para a música não se restringe ao que ela compôs. Ao regravar canções tão antigas, ora com a mágica dos produtores Salaam Remi e Mark Ronson, ora só mesmo com aquela voz cheia de personalidade, Amy atiçou a curiosidade de seu público em relação a artistas incríveis, como The Shirelles, The Specials, Sam Cooke e Ruby & The Romantics. A interpretação de (There is) no greater love – logo no disco de estreia, Frank

Gaby Amarantos

(2003) – é quase uma reencarnação de Billie Holiday e fez muita gente mais jovem

A cantora é conhecida como a rainha do tecnobrega e também como a Beyoncé do Pará. Ela vem à capital por meio do projeto Latinidades – Festival da Mulher Afro-Latino Americana e Caribenha. Vai apresentar canções compostas por ela para o seu primeiro álbum solo, Treme, como Xirley, Gemendo e Merengue. 28 de julho, às 22h, na praça do Museu Nacional. Entrada franca. Classificação 16 anos. Telefone: 3349-3937.

se aprofundar na obra da norte-americana, que também teve problemas com bebidas e outras drogas. Ainda nesse primeiro CD, Amy ressuscitou Moody´s mood for love, intepretada por King Pleasure em meados dos anos 50. Em 2010, quando ela já era mais conheci-

Buarque, que faz parte do repertório de todos os convidados. Na programação de julho, o destaque vai para a cantora brasiliense Renata Jambeiro. Shows às quartas, quintas, sextas e aos sábados a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. | Turíbio Santos: 4, 5 e 6 de julho | Sérgio Magalhães: 7 de julho | Henrique Cazes e Grupo Choro Livre: 11, 12 e 13 de julho | Renata Jambeiro: 14 de julho | Guinga e Sérgio Galvão: 18, 19 e 20 de julho | Tiago Tunes: 21 de julho | Daniela Spielman e Grupo Choro livre: 25, 26 e 27 de julho | Carlos Jansen e Lúcia de Maria: 28 de julho.

Gonzagão, 100 Anos Como parte das comemorações do centenário de Luiz Gonzaga, serão apresentados, com direção musical de Daniel Gonzaga, espetáculos com o repertório do compositor, cantor e instrumentista. Até 15 de julho, sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h, no CCBB. Ingresso

da pelos problemas do que pela música, o produtor Quincy Jones parecia não ter melhor intérprete para a regravação de It´s my party, sucesso com Lesley Gore na década de 60. A última gravação da artista, ao lado de Tony Bennet, veio lá dos anos 30 e faz parte do CD lançado após a morte da inglesa, Hidden treasures (2011). Ouça sua

(inteira): R$ 6. Classificação livre. Telefone: 3108-

interpretação de Body and soul, de Libby

7600. | Otto, Casuarina e Bebe Kramer: 6 a 8 de

Holman, e me diga se Amy Winehouse

julho | Daniel Gonzaga e Chicas: 13 a 15 de julho.

não vai viver para sempre?

Information Society

Anna Halley

A banda volta ao Brasil para a sua turnê

Acha que alguns artistas não morrem


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Todos os sons O último show da série é também o encerramento da Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília. Foram programadas para esta edição as apresentações da cantora Ellen Oléria e do quarteto instrumental Marakamundi, ambos brasilienses. A cantora cubana Yusa, pela primeira vez em Brasília, mostra sua música, que funde ritmos de seu país. 29 de julho, às 17h, no Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.

Zezé Di Camargo e Luciano in love

Paixões privadas Com 70 peças, a mostra reúne telas, desenhos, aquarelas, esculturas e tapeçarias que revelam os gostos particulares de cinco colecionadores. A exposição une coleções diversas, como a do advogado João Maurício de Araújo Pinho, de Jacqueline Finkelstein, do casal Siri e Oswaldo Chateaubriand e da Fundação Roberto Marinho. Obras de Marc Chagall, Pierre-Auguste Renoir, Jean Cocteau, Georges Braque, Giorgio de Chirico, Jean Dubuffet e André Lhote (acima). Até 5 de agosto, de terça a sexta, das 10h às 19h; sábados e domingos, das 12h às 18h, no Museu Nacional dos Correios. Entrada franca e livre. Telefone: 3426-1000.

Apesar de o projeto inicial da turnê ser voltado apenas para os casais, agora está aberto a todos. Canções do CD duplo Double face (2011) e músicas românticas antigas interpretadas pela dupla, que receberam arranjos novos, como Tapa na cara, Ainda ontem chorei de saudade e Telefone mudo. 26 de julho, às 22h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Camarote R$ 40; Setor Branco (mesa para 4) R$ 1.000; Setor Amarelo (mesa para 4) R$ 2.000 . Classificação 16 anos. Telefone: 8299-0009.

exposições

de despedida. Formada em 1982, traz sucessos como Cry baby cry (1980), Running (1989) e Slipping away (1992), que foram trilhas de novelas e projetaram a banda em todo o País. 7 de julho, às 22h, no Opera Hall.

Amado, e Arnaldo Antunes, com a canção Quarto de dormir. 21 e 22 de julho, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 70. Classificação 16 anos. Telefone: 3424-7121.

Ingressos (inteira): Pista R$ 100; Área VIP R$ 160. Classificação 16 anos. Telefone: 3342-2232.

Marcelo Jeneci Pela primeira vez em Brasília, o paulista faz duas apresentações para mostrar o recente álbum Feito pra acabar. A carreira do compositor é marcada por parcerias com músicos como Vanessa da Mata, com

Rebeldes A versão brasileira da banda é originada da novela Rebelde, parceria da Record com a mexicana Televisa. No repertório, canções do primeiro álbum, que leva o nome do sexteto, como Do jeito que eu sou. 6 de julho, às 20h, na Esplanada do Ministérios. Entrada franca e livre. Telefone: 3212-3800.

Max, pan-óptica Obras do espanhol Francesc Capdevilla. A exposição faz parte da programação da Semana do Espanhol e reúne 204 trabalhos do artista. A mostra é divida em quatro fases, dos anos 1970 aos 2000. Personagens antológicos como o Bardín el Superrealista, que protagoniza uma revista homônima, e o trabalho nas publicações Mulheres fatais, A morte úmida e Prolongado sonho do T também estão na exposição. Até 11 de agosto, de segunda a sexta, das 11h às 21h; sábado, das 9h às 14h, no Instituto Cervantes. Entrada franca e livre. Telefone: 3242-0603.


Arte, Cultura e Lazer

Daniel Mordzinski

dos carimbos) e envelopes de primeiro dia (confeccionados especialmente para acompanhar o lançamento de um selo ou de uma série de selos). Até 7 de julho, de terça a sexta, das 10h às 19h; sábado e domingo, das 12h às 18h, no Museu Nacional dos Correios. Entrada franca e livre. Telefone: 3426-1000.

Teatro

CSI: Brasília Da Cia. de Comédia Os Fantásticos. O sumiço do senador Ilúdio Brasil dentro do Congresso abala toda a capital federal. Com a cidade em estado de alerta, uma intensa investigação é iniciada por parte da equipe do CSI Brasília para desvendar os mistérios desse crime. 21 e 22 de julho, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Centro Cultural Sesi. Ingresso (inteira): R$ 40.

Duzentos anos das independências em duzentos retratos de escritores Exposição da obra do fotógrafo argentino Daniel Mordzinski. São 200 retratos de 200 escritores hispano-americanos. A exposição foi idealizada com motivo da comemoração dos 200 anos das independências dos países latino-americanos. No destaque, retrato do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). 3 a 31 de julho, de segunda a sexta, das 11h às 21h; sábado, das 9h às 14h, no Instituto Cervantes. Entrada franca e livre. Telefone: 3242-0603

Classificação 14 anos. Telefone: 3355-9577.

O coração leal Musical infantil. Nina é uma criança curiosa que se encontra em um lugar misterioso. Vivencia situações que a levam a compreender duas verdades: nem tudo é o que aparenta ser e os nossos sonhos devem nos guiar, porém, sem ser fontes de frustração. Dirigido por Cássia Gentile. 8 a 29 de julho, às 17h, no Espaço Brasil 21 Cultural (Setor Hoteleiro Sul). Ingresso

O espelho Inspirada em texto filosófico de Machado de Assis que conta a história de Jacobina. Sentado, o visitante se depara com um grande espelho, que reflete tudo na galeria, menos sua própria imagem. Aos poucos sua imagem surge e se ouvem vozes, como se fossem seus pensamentos. Repentinamente, seu reflexo é sobreposto pelo de um personagem, que conversa como se fosse um observador, sugerindo um diálogo interno. 14 de julho a 16 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no

(inteira): R$ 30. Classificação livre. Telefone:

quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Espaço

de julho, de segunda a sábado, das 10h às 22h,

Mosaico. Entrada franca. Classificação 14 anos.

no Iguatemi Brasília. Entrada franca e livre.

Telefone: 3032-1330. | Seu Bomfim: 5 e 6 de julho |

Telefone: 3577-5000.

Eterno retorno – Erê: 7 e 8 de julho | Sebastião: 12 e

CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.

Sê-lo. Musê-sê

O Pequeno Príncipe

Uma seleção do acervo do museu, incluindo emissões filatélicas com temas referentes a museus brasileiros, marcofilia (estudo

Instalada em uma área de 400 metros

3039-9296.

quadrados, a exposição é composta por nove cenários, que remetem os visitantes à história do clássico infantil escrito por Antoine de Saint-Exupéry. Por exemplo, carneiros para o adorado personagem e deixando mensagens em estrelas. A mostra também traz a réplica do asteroide B612 representando a visão da galáxia fictícia do Pequeno Príncipe. Até 29

Soloteropolitanos O projeto já ganhou o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz. É composto por quatro encenações. Atuação e autoria de Fabio Vidal e Mariana Freire. 5 a 15 de julho, de

13 de julho | Casa número nada: 14 e 15 de julho.

Tormentas da paixão Uma comédia da Cia. Os Melhores do Mundo. Apesar de a peça existir desde


David González

53

Cultura O Espaço Cultural Renato Russo faz parte de um dos momentos mais marcantes da história brasiliense. O prédio, construído na década de 60 e ocupado pelos artistas em 70, abrigou muitos movimentos artísticos da cidade, sendo o primeiro centro cultural de Brasília. A capital do Brasil, ainda embrionária, tinha poucos espaços para a difusão cultural naquele período, momento de efervescência criativa. O espaço, na 508 Sul, serviu de base para a convivência e a formação de artistas locais e foi constituído com base na experimen-

Cena Contemporânea

tação como princípio.

Na 13ª edição do Festival Internacional de Teatro de Brasília, a seleção é concentrada na África e na América Latina, mas há obras de diversos países e do Brasil. Espetáculos de teatro, música e dança. Na foto, a peça Apple Love, da companhia espanhola Iker Gómez.

tamanha potencialidade que possui. O

20 a 27 de julho. Veja a programação completa no site do evento: www.cenacontemporanea.com.br.

estúdios, gibiteca e a Biblioteca de Artes

Apesar de esse lugar ter uma história tão pujante, atualmente é subutilizado pela Espaço Cultural Renato Russo contempla teatros, galerias de exposições, oficinas, de Brasília. Brevemente, entrará em funcionamento o Clube de Leitura, cuja

1996, a produção acrescenta novos desfechos. O espetáculo conta a história da rica e adorável Rebeca Sinclair, que só tem um sonho: casar com o galante capitão de fragata Gregory Stanford. Mas a jovem desaba quando seu amado desaparece nos mares gelados. Será o fim da vida? Do amor? 7 e 8 de julho, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos. Telefone: 3325-6256.

Um rito de mães, rosas e sangue Um ato poético em três quadros traz à cena uma livre adaptação das três tragédias rurais de Federico García Lorca (18981936): Bodas de sangue (1933), Yerma (1934) e A casa de Bernarda Alba (1936). A criação de Lorca é apresentada como um espetáculo ritualístico. A peça traz

no elenco Ana Maria Ramos, Auricéia Fraga, Andrezza Alves, Daniella Travassos, Luciana Canti, Sandra Rino, Lêda Santos, Lano de Lins e Zé Barbosa. O espetáculo é dirigido por Cláudio Lira. 6, 7 e 8 de julho, sexta e sábado, às

20h; domingo, às 17h, no

Teatro Goldoni (Casa D’Itália – 208 Sul). Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 16 anos. Telefone: 3443-1747.

primeira obra a ser lida será Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (mais informações pelo telefone 3443-6528). O Espaço Cultural não está morto, seu pulso ainda pulsa, mas ainda há muito a ser feito: reforma de sua estrutura, um quadro de pessoal compatível, compra de equipamentos, além de sua apropriação pela comunidade, para que retorne ao seu papel de local agregador e in-

Volúpia

dutor da criação e difusão artística, que

As Caixeiras Cia. de Bonecas apresenta a segunda temporada do espetáculo. Atrizes narram as diferentes maneiras de vivenciar a volúpia. 6 a 8 de julho, no Teatro

ao século 21.

Sesc Paulo Autran (Taguatinga Norte); 13 a 15 de julho, no Teatro Goldoni. Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h. Entrada franca. Classificação 16 anos. Telefone: 8402-3120.

possuía até alguns anos atrás, conectada

Hanna Xavier Ferreira É frequentadora do Espaço Cultural Renato Russo


Banquetes e botecos } ilustração Rômulo Geraldino romulog2000@yahoo.com.br

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

Quer comer bem num lugar gostosinho e barato? Vá ao Cantucci Caffè

123 45 Cantucci é um café inaugurado em 2011, no começo da Asa Norte, bem no centro do Plano Piloto. Fica numa daquelas entrequadras pouco atrativas, mas consegue chamar a atenção de quem passa. Um dia, passando de carro, avistei esse café e parei para conhecer. Deparei-me com um local supercharmoso, lembrando a região da Toscana, com luminárias penduradas, mesinhas de madeira, cadeiras de ferro envelhecido e um hall de entrada com piso de azulejos antigos, oriundos de uma construção demolida da fazenda da família dos proprietários do café, em Minas Gerais. Tudo cheio de detalhes e estórias. E para completar o charme, uma vitrine de sobremesas de babar. O ambiente tem capacidade de acomodar em torno de 50 pessoas sentadas. Da primeira vez, só pra matar minha curiosidade, tomei um café e comi um croissant de queijo brie e presunto de Parma. Hum, que delícia! Tinha outros tipos de croissants, empanadas, quiches e várias opções para um lanchinho, o que me fez pensar: tenho que voltar! Voltei já algumas vezes e em todas saí de lá completamente satisfeita. Como sempre muito bem, não gasto muito e ainda tenho o prazer de ouvir seleções de músicas que massageiam os ouvidos e estimulam o paladar. No almoço, cardápio executivo, sempre com três opções – na verdade adaptações do cardápio para facilitar a nossa vida. À noite tem o à la carte, com culinária italiana comandada pelo chef Bruno, ex-Patú Anú. O tortellini de ricota e nozes com damasco ao molho branco é leve e gostoso. O filé au poivre é maravilhoso, e o peixe com camarão ao molho de mel e laranja com arroz com castanha é nota dez. Todos valem a pena. A carta de vinhos é adequada à proposta do local – simples, bem escolhida, com custo-benefício à altura. Você pode tomar um bom vinho, não os melhores, pagando um preço justo. O Cantucci Caffè tem algo especial – as sobremesas. São lindas e gostosas, como o petit gateau com morangos e bola de sorvete, o tiramisu, a mousse de chocolate, as tarteletes e a torta de limão. Mas as trufas caseiras, de chocolate belga com sabores meio amargo, ao leite e cachaça, são tudo de bom. O café? Na primeira vez que fui, fiquei maravilhada, era o Octavio Café, um café com um equilíbrio único e renomado. Uma pena, não tem mais. Disseram que o preço o inviabilizou. Agora temos o Antonello Monardo, um ótimo café.

403 Norte, Bloco E, Loja 3 (61) 3328-5242 Segunda a sexta: 12h –23h Sábado: 17h – 23h



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