Revista meiaum Nº 18

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+ SAÚDE MENTAL

Temos o pior atendimento do Brasil

U N°

Brasília está com medo + CONTO

O crime do jovem barão solitário

Ano 2 | Outubro 2012 | www.meiaum.com.br

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Papos da Cidade

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TTexto – TT Catalão

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Conto – Nena Medeiros Que crime “o pequeno louco” tinha cometido naquele castelo?

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Fora do Plano

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ÍNDICE

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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

Gonzaga não é pouco, não

Vão-se os partidos, ficam os cargos no governo

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Conto – André Giusti Desde que conhecera Lúcia, essas coisas maduras vinham ganhando território em seus pensamentos

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Perfil

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Zines – André Cunha

Artigo – Teresa Leonel Uma reflexão sobre o sistema eleitoral brasileiro

Cidades

Como o DF chegou ao ponto de ter o pior serviço de saúde mental do Brasil

Brasífra-me

Os poemas-enigmas de Nicolas Behr

Um pouco sobre as publicações alternativas do DF

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Charges do Gougon

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Caixa-Preta

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Arte, Cultura e Lazer

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Banquetes e Botecos

Capa

Brasília carece de uma política séria de segurança pública

Lou Menezes criou o orquidário do Ibama e cuida de mais de 3 mil espécies

As penalidades também são flex

Há muitas mercadorias à venda no meio político

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é


UM DEBATE SOBRE OS DIREITOS DE CRIAR E CONSUMIR NO

MUNDO DIGITAL

A revista IMPRENSA vai reunir, em outubro, autores, juristas e jornalistas para debater o papel dos produtores de conteúdo na era digital e os novos rumos da distribuição de informações. O Fórum Direitos Autorais na Era Digital levanta temas como liberdade, acesso à informação, reprodução de conteúdos e direitos autorais.

Participe desse debate!

31 de outubro

Brasília -DF Museu Nacional do Conjunto Cultural da República

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Acesse: portalimprensa.com.br/forumdireitosautorais Iniciativa e Realização

Os fatos mudam. Os princípios não.


Nilson Carvalho

Daniel Banda

Nilson Carvalho

pág. 36

É designer por formação, artista plástico por convicção e diretor de arte por precaução. Atua no mercado brasiliense principalmente em publicidade e cinema. Foi premiado como melhor diretor de arte em alguns dos festivais de cinema mais importantes do Brasil, entre eles o de Brasília. Também é músico, cenógrafo e grafiteiro.

Gougon págs. 17, 45 e 46

É jornalista e artista plástico, mas foi como chargista no Jornal de Brasília e em publicações alternativas que ganhou maior visibilidade. Publicou três livros de charge política. Dedica-se hoje às artes, com foco nos mosaicos, entre os quais os monumentos ao educador Paulo Freire, à frente do MEC; ao líder estudantil Honestino, no campus da UnB; e ao educador Anísio Teixeira, na Escola Parque da 507 Sul.

Irinaldo Morais

Luana Lleras

André Giusti pág. 36

É carioca, nasceu em maio de 1968 e 30 anos depois veio para Brasília. É autor de Voando pela noite (até de manhã), A solidão do livro emprestado e A liberdade é amarela e conversível (7Letras) e Eu nunca fecharei a porta da geladeira com o pé em Brasília (LGE), todos de contos, mas se arrisca também na crônica e na poesia. É jornalista e mantém o blog www.andregiusti.com.br/blog/.

Teresa Leonel pág. 18

Não bastou ser jornalista, cientista social e mestre em comunicação. Foi ser professora de jornalismo e publicidade. Deixou o Recife e a orla mais linda do NE para viver à beira do Rio São Francisco em Petrolina/ PE e olhar para Juazeiro/BA. Entre aulas, textos para a internet e paixão pelo rádio, descobriu que não sabe nada (ainda) sobre a força do povo sertanejo e sua criatividade para enfrentar desafios.

E mais...

Francisco Bronze pág. 8 Priscila Praxedes págs. 9 e 47 Bruna Gil pág. 10 TT Catalão pág. 12 Nena Medeiros pág. 14 André Zottich pág. 14 Chico Régis pág. 18 Kacio Pacheco pág. 20 Nicolas Behr pág. 26 André Cunha pág. 42 Miguel Oliveira pág. 46 Lúcio Flávio pág. 49 Marcela Benet pág. 54 Rômulo Geraldino pág. 54

Colaboradores


Carta da editora

Incompetência também dá medo

A

segurança, não faz muito tempo, era o último bastião dos serviços públicos prestados aos moradores da capital federal. A exemplo do que ocorre na maior parte do País, o ensino gratuito em Brasília é de uma mediocridade escandalosa. Os serviços públicos de saúde são castigo a quem deles depende. O transporte também nunca foi nosso ponto forte. Mas se tinha uma coisa de que podíamos nos gabar para o resto do Brasil era a segurança. Dizíamos por aí ter o privilégio de viver em uma capital com jeito de cidade pequena. Chocávamos os parentes que vinham nos visitar ao parar o carro à noite no sinal com os vidros abertos. Bons tempos aqueles. Descemos ao nível das grandes capitais e agora temos medo de andar nas ruas, nos estacionamentos, nas superquadras. Não importa mais se é dia ou noite. Nosso medo é diretamente

proporcional à confiança que sentem os criminosos, cada vez mais à vontade. Ao produzir a reportagem de capa deste número, a repórter Noelle Oliveira ouviu das autoridades que o nosso medo é, na verdade, “sensação de insegurança”. Culpa dos jornais, que insistem em dar más notícias em vez de divulgar as estatísticas positivas. Como se percentuais de comparação do que é ruim com o que é pior pudessem confortar quem foi vítima da violência. Está claro que há desorganização geral na gestão do setor, que não há projeto claro e coeso, que ainda existem disputas bobas de poder. A Secretaria de Segurança não é capaz de apresentar um plano de ações. Responde com bolos de números e com o anúncio de medidas isoladas, como se câmeras de segurança fossem ter resultado sem estratégias inteligentes. Até hoje os postos comunitários –

aquelas caixinhas verdes das quais os PMs não podem sair – mantêm o modelo do ex-governador Arruda, apesar de Agnelo Queiroz ter prometido transformá-las para que tenham função efetiva. Naturalmente, o que está havendo em Brasília não é culpa deste governo ou do anterior. A criminalidade, com suas motivações psicológicas ou socioeconômicas, é muito mais complexa que isso. Mas a bomba que estamos vendo estourar também é resultado de anos e anos de falta de investimentos, de excesso de politicagem e de sucessivos governos que acham que executar meia dúzia de promessas da candidatura substitui estratégia de segurança. E já deu para notar que ainda não apareceu alguém disposto a lutar contra isso.

Anna Halley

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Conselho editorial: Anna Halley, Carlos Drumond, Hélio Doyle (coordenador), Luana Lleras, Noelle Oliveira e Paula Oliveira Diretora de Redação: Anna Halley Fotografia: Luana Lleras Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br TIRAGEM 12 mil exemplares Impressão Gráfica Imprima (Brasília) – (61) 3356-7654 Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

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CAPA | Por Pedro Ernesto

Siga @revistameiaum | www.meiaum.com.br ISSN 2236-2274

Anna Halley e Hélio Doyle (sócios) SHIN CA 1 Lote A Sala 351 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br

Desenho a nanquim colorido digitalmente sobre arte de Athos Bulcão (azulejos do IDA/UnB) Designer gráfico, atua no mercado brasiliense, é autor de livro infantil e colabora na meiaum desde seu primeiro número. Faz parte do escritório Grande Circular. Veja os trabalhos da equipe em www.grandecircular.com.


Papos da cidade } ilustrações Francisco Bronze bronze@grandecircular.com

Prevenção via SMS Todo ano é a mesma coisa. Semanas antes de as chuvas começarem, no fim do mês de setembro, o governo do Distrito Federal inicia uma campanha de prevenção à dengue. Mais de 1,6 mil agentes comunitários e vigilantes ambientais estão mobilizados na missão deste ano. Mesmo assim, a relação com a sociedade ainda é complicada. Talvez justamente pelo fato de a prevenção se restringir a um curto período de tempo, o que gera mudanças sazonais de hábitos que logo são esquecidos. Tanto é assim que o governo conta com ordens judiciais para entrar nas casas em que os brasilienses se recusem a recebê-los, bem como em terrenos abandonados. Uma população consciente não precisaria disso. Ainda mais se tivesse como informação clara, martelando em sua consciência durante todo o ano, os perigos da doença e os altos índices já registrados na capital do País. Deveriam pensar nisso antes de planejarem seus jardins de bromélias ou de proporcionarem outras opções de criadouros para o mosquito Aedes aegypti – que transmite a doença – dentro de casa. Segundo a Secretaria de Saúde, mais de 90% dos focos de dengue no DF são encontrados em domicílios. Para ter a atenção dos moradores, tenta-se de tudo. Neste ano o governo assinou um termo de cooperação com a empresa Telefônica/ Vivo S.A., que se comprometeu a participar da campanha de prevenção com o envio de 100 mil mensagens de texto por mês para os celulares de moradores até maio de 2013. O objetivo é alcançar 1 milhão de brasilienses – do total de 2,6 milhões –, contando com as 500 mil mensagens já enviadas pela operadora entre fevereiro e maio deste ano.


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Não recebi a mensagem. Conheço gente que recebeu, mas nem prestou atenção. Outros pensaram ser golpe e nem sequer abriram o conteúdo. Independentemente de a estratégia ser ou não a melhor opção, parece que, até agora, não alcançou sucesso. Tomara que isso aconteça antes de a chuva chegar de vez. Isso porque, neste ano, não foi registrada nenhuma morte causada pela doença no DF, mas a lista de casos já chega a 42% do número total dos ocorridos em 2011.

ver o que acontece do lado de fora). Cada um que passa vestindo orgulhosamente a camisa do movimento cola mais um pouquinho. Difícil entender esse sentimento de que, quanto mais sujeira fizer, mais bem-sucedida é uma greve. Quando chega ao fim, ninguém do sindicato aparece para retirar os adesivos, claro. Logo cedo, o moço da limpeza começa o trabalho. “Ah, isso aqui vai levar o dia todo, tem que tirar a cola de um por um. Já pensou se a gente resolvesse fazer greve?” Anna Halley

Noelle Oliveira

Sem sujeira não tem graça No térreo do prédio em que trabalho há duas agências bancárias. Sempre que há paralisação, chama minha atenção a necessidade dos grevistas de grudar aqueles adesivos em branco e vermelho nos vidros da agência, sem deixar um espacinho sequer, e o trabalho que dá depois para limpar. Um diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília me disse que na greve de setembro, que durou dez dias, foram distribuídos à categoria kits com cerca de 4 mil adesivos com a mensagem de greve. Segundo ele, cerca de 400 agências fecharam as portas. Daria, portanto, uma média modesta de dez adesivos por unidade. Até parece. Eles não gastam menos de 50 daqueles grudentos avisos para cobrir todo o vidro de um banco. A ideia do adesivo, segundo o sindicalista, é que sirva de aviso à população – não é incomodar. “Pedimos que coloquem apenas na altura da visão.” Então os bancários devem achar que somos muito burros para não entender a mensagem com meia dúzia de avisos. O que vemos é uma competição adolescente para ver quem gruda mais, até que não se veja o que acontece lá dentro (aliás, que agonia tirar dinheiro à noite e não

Perto demais Confesso. Sou fã de lutas. Prefiro assistir ao MMA a ver futebol na TV. Por isso não pensei duas vezes em aproveitar a oportunidade de fotografar o Lions Cage Fight Combat, que ocorreu em Brasília, em setembro. Apesar do nome internacional, havia predominantemente academias do DF (apenas duas eram de fora, uma de Minas Gerais e outra de Goiás). Fotógrafos e cinegrafistas dividiam o espaço privilegiado, encostado no octógono, com as equipes de apoio dos atletas. Mas a proximidade excessiva também me causou problemas. O sangue ao vivo é realmente mais chocante que pela TV. Foi só um dos lutadores começar a sangrar sem parar para eu me sentir desconfortável. Além disso, as equipes de apoio gritavam incentivos para os competidores. “Vai, mata ele!” e “Ele tá com medinho” foram frases recorrentes. Nas lutas principais, já me sentia em uma rinha: torcida e equipe chegavam mais perto para ver os socos e os chutes. O comportamento foi tão selvagem que fiquei constrangida por estar na frente das pessoas (trabalhando, sim, mas sendo xingada pelos torcedores que avançavam nas grades que cercavam o octógono).

Depois de todos os sustos, na última luta houve um breve momento de descontração. A disputa era pelo cinturão meio-pesado (até 93 kg). Daniel Ruas e Júlio Tribal se enfrentaram no confronto mais esperado da noite. O primeiro entrou ao som de hip-hop, como a maioria dos lutadores. Tribal entrou ao som de música gospel. Demorei um pouco até entender que a letra falava de Deus. E deve ter sido mesmo obra Dele a vitória da noite. Preso em um estrangulamento, parecia que o fiel perderia a luta. Mas, em questão de segundos, aproveitando um erro do adversário, ele conseguiu se soltar e reverteu o quadro. Resultado: Tribal foi o campeão. Com a graça de Deus. Luana Lleras

Todos pagamos a meia-entrada Recentemente telefonei para uns dos pontos de venda de ingressos de um show em Brasília perguntando o valor da inteira. Não sou estudante nem tenho mais de 60 anos, então não tenho direito à meia-entrada, certo? Errado. A resposta foi imediata, sem nenhum pudor: “Não temos inteira”. Como assim? O que era pra ser privilégio de alguns não é mais ou nunca foi. Já imaginei a vendedora pensando: “Se pode pagar mais barato comprando a meia-entrada, por que ela insiste em saber se temos o ingresso no valor da inteira?” Realmente estaria feliz de pagar menos, mas sei que o valor cobrado pela meia é o que seria a inteira. As empresas que cuidam da produção de shows sabem que o seu maior público é formado por adolescentes, por isso, para não ficarem no prejuízo, cobram pela meiaentrada o que cobrariam pela inteira. Quem perde com isso são os estudantes. Injusto, já que o objetivo desse benefício é estimular a cultura, com preços acessíveis. Sempre que vou a shows com o bilhete da


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meia-entrada, nos casos em que não tenho alternativa, não me cobram a identificação de estudante ao comprar o ingresso ou na entrada do evento. Isso quer dizer que realmente não tem controle. Para a Copa do Mundo de 2014, a Fifa promete montar um esquema tecnológico de ponta para evitar que os ingressos sejam comercializados indevidamente. Estou curiosa para saber como será, porque hoje a realidade é bem diferente. Eu só vejo essa lei funcionando nos cinemas e nos teatros. Mais uma excelente ideia descaradamente distorcida na prática. Priscila Praxedes

Festa estranha, ideia legal Quem nunca ouviu ou deu opinião sobre o que fazer para tornar as passagens subterrâneas transitáveis e atrativas levante a mão! Tem gente que quer colocar comércio e obras de arte. Todos querem mais segurança e higiene nos túneis. Eu mesma não vejo solução para convencer o pessoal a utilizá-las. Dia desses recebi um convite que dizia “Forró de vitrola, domingo, na passagem subterrânea da 111/211 Norte”. Pensei na hora como nunca tinham tido essa ideia. Não que fazer uma festa lá vá resolver o problema de atropelamentos no Eixão, mas foi uma sacada muito legal explorar um cenário ocioso e que é a cara de Brasília. Ou pelo menos do Plano Piloto. Melhor ainda, um tipo de evento de que eu gosto, com dança. E fui a pé, porque era perto da minha casa. Mais um ponto positivo. Vou poder dançar, curtir um visual conhecido, porém inusitado, beber uma cerveja e voltar para casa sem transtornos. Ilusão a minha. A ideia era legal, mas as pessoas a estragaram. Quando cheguei, minha expectativa de ver

gente dançando foi por água abaixo. Se cinco casais ocupavam a pista, era muito. O restante das pessoas estava dividido em pequenos grupos espalhados pelo gramado conversando. Nada contra, mas eu queria dançar. “Tudo bem, vou tomar uma cervejinha pelo menos”, pensei. Não, não tomei. Nenhum vendedor ambulante ao alcance das minhas vistas. Uma pena. Fiquei mais alguns minutos e vi que realmente aquele não era o meu lugar. Fui embora frustrada. Pô, eu que adoro forró pé de serra, que adoro festas, que adoro cenários tipicamente brasilienses, me senti totalmente fora de contexto. Mas a ideia foi excelente e espero ter outras oportunidades de curtir uma festa de verdade na passagem subterrânea por onde eu tanto evito trafegar. Paula Oliveira

Quanta dedicação! – O que você faz da vida? – Sou concurseiro! A palavra nem existe no dicionário e já virou profissão de muita gente em Brasília. Eu, que não teria talento para isso, em um primeiro momento logo imagino que o cara (ou a mulher) que se diz um profissional dos estudos está, na verdade, com medo de encarar a iniciativa privada, de trabalhar duro para conseguir um salário bom no fim do mês. Desculpe, mas não posso evitar esse pensamento. Porque eu acho possível ter um ordenado confortável mesmo não sendo servidor público. Ainda mais agora que sabemos os salários do pessoal, dá pra ver que muita gente não está tão melhor assim do que os empregados de fora da esfera pública. Existem os supersalários, claro, mas também os nem tão super assim. Depois dessa primeira impressão, algumas

pessoas me surpreendem. Ficam dois, três anos com esse “emprego” e conseguem o que tanto almejaram. Fico feliz de verdade, mas continuo sem entender tanta dedicação em decorar leis e mais leis para passar em uma prova. Essa energia poderia ter sido gasta no aperfeiçoamento profissional na iniciativa privada mesmo. Seria mais enriquecedor, eu acho. Outro dia, caminhando pelo Eixão em um domingo, me deparei com um rapaz fazendo exercícios com uma apostila nas mãos. Ele estava realmente andando e lendo ao mesmo tempo. Pude ver que se tratava de material de cursinho para concurso e fiquei surpresa. Estava ali diante de uma cena que representava o cúmulo da dedicação aos estudos. Conheço pessoas que abdicam de muitas coisas para ficar em casa estudando. Conheço gente que já fez isso e que hoje está lá, em uma cadeira em um órgão público. E não consigo deixar de comparar quanto apego tinha aos estudos das leis com o desapego à função que deveria estar exercendo. Uma vez lá, esquece-se de que, apesar de se parecer com o paraíso, o emprego público é, na verdade, um emprego. E que é preciso trabalhar e se aprimorar. Sem generalizar. Mas até você, que está me odiando por pensar assim, deve ter um colega concursado folgado trabalhando em uma repartição próxima. Não? Bruna Gil

Ieda, Honestino, Paulo Guerra é guerra. Na guerra há mortos e feridos dos dois lados, e quem entra na guerra sabe que está mais perto de matar e de morrer em combate. Ninguém pode ser condenado por ferir ou matar numa batalha. Torturar e assassinar prisioneiros, porém,


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é outra coisa, completamente diferente. É crime de guerra. Logo, praticado por criminosos. A esses criminosos não cabe anistia ou perdão. Nos nossos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai esses criminosos que torturaram e mataram prisioneiros estão sendo julgados e condenados à prisão. Aqui no Brasil, esses criminosos são nossos vizinhos, andam tranquilamente pelas ruas, até se organizam em grupos que agem ameaçadoramente, ostensivamente ou na semiclandestinidade. Tortura não tem perdão, assassinatos de prisioneiros já subjugados também não. Esse é o mote da homenagem que ex-alunos da Universidade de Brasília prestarão, em novembro, aos três estudantes da UnB mortos em prisões da ditadura: Ieda Delgado, Honestino Guimarães e Paulo de Tarso Celestino. Honestino, aluno da Geologia, é o mais conhecido porque foi líder do movimento estudantil em Brasília e presidiu a UNE. Militava na Ação Popular. Ieda e Paulo, que foram alunos do curso de Direito, atuavam clandestinamente na Ação Libertadora Nacional – ALN. Os três serão homenageados também pela Associação de Pós-Graduandos Ieda Delgado, que nos dias 8, 9 e 10 de outubro promove um seminário intitulado “História e Memória do Movimento Estudantil na UnB”. Os dois eventos serão no Auditório Dois Candangos, lugar histórico na UnB, onde nos anos 1960 se realizavam as assembleias estudantis. São dois eventos importantes para que os mais novos saibam o que foi a luta de resistência contra a ditadura militar, deturpada nos últimos anos por jornalistas, historiadores e analistas que tentam justificar a anistia aos que torturaram e mataram. Hélio Doyle


TTEXTO

gonzaguezagueando por aí

Um fole de muito fôlego pra tanta explicação. Um outro olhar é pouco. Foram outros sons, pensares, dizeres, fazeres e sabores TTexto e foto TT Catalão ttcatalao@gmail.com


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A

sexta 13 de dezembro de 1912 pariu um menino de choro forte e voz solar. Luiz Gonzaga é desses gênios da raça mestiça brasileira. Veio para transbordar em graça e fibra sertaneja o tal Brasil plural. Nas celebrações do centenário pipocam modernas homenagens com a máxima expressão na expo O Imaginário do Rei – visões do universo de Luiz Gonzaga, sob a curadoria de Bené Fonteles. Arteiro ou anartista (como nos chamava Reynaldo Jardim). Bené conviveu com o Lua e tem essa mania estranha de amar o Brasil profundo, além litoral, supramercado, pós-televisivo e intraterreno. Sua curadoria trabalha a imensa iconografia traduzida na obra de Gonzaga e conta com o auxílio luxuoso do texto de Antonio Risério no rizoma do conceito. Antes, a expo já estava encaminhada no livro O rei e o Baião, publicado pelo Minc da dupla caipora Gil-Juca. A expo passou por Pernambuco, Bahia, Ceará e neste mês está na Paraíba. Deve chegar a Brasília em dezembro se as malhas da burocracia forem derrotadas pelo Exu Monumental e segue para Rio e São Paulo. Gonzaga não é pouco, não. Um fole de muito fôlego pra tanta explicação. Realizou além da estética uma cartografia sertaneja capaz de sustentar a dignidade do nordestino pária da pátria: expulso por seca, demagogia e injustiça para virar massa na construção anônima das riquezas alheias e alienantes. Gonzaga fez a ponte entre o Brasil casca-fina, por fora, costas para o sertão, e o Brasil também culto, porém oculto, ou ocultado. Um outro olhar é pouco. Foram outros sons, pensares, dizeres, fazeres e sabores. Incorporado na armadura de couro do vaqueiro (via o orgulho gaúcho e achava bonito), foi ele gonzaguezagueando por aí pra não morrer de susto, bala ou vício. Escapando de piadas, preconceitos, resistindo feito panfleto vivo. A exposição recebe o aporte de artistas convidados em cada região. Contribuo com o texto ao lado, incorporado por Bené na expo, sobre o que significa ver-ouvir-sentir a obra de Gonzaga no meio do nada, árido, estéril, brutal e urbano do operário despatriado do chão telúrico. Sair da honra guerreira de um cabra da peste pra virar um ninguém deposto aturando discriminação e desmaterialização cultural. Claro que a fibra venceu e a afirmação regional (quando não vira dogma e missionarismo fanático) construiu a mestiçagem que somos hoje. Especialmente esta Brasília parida de suores candangos onde Gonzaga brilhava nos serviços de alto-falantes encorajando continuar no ritmo febril dos turnos virados noite-dia, na base de conhaque de alcatrão São João da Barra, carne de sol e muita cantoria iluminada pelo sertão da voz solar de um rei chamado Lua.

Párias na própria pátria, uma legião de nordestinos partia para ser massa na construção das riquezas urbanas. Além do trabalho duro e mal pago, tinham que aturar preconceito, piadinhas e a distância tirana. A cultura ardia por dentro só na espera do sopro incendiário. O chamado veio na chama de um fole. Pela boca solar do vozeirão explícito surge Mestre Lua. O ritmo reatava o cordão umbilical da terra materna e as letras falavam de lugares, rios, pontes, ruas, caminhos, modos de comer, sotaques, vestir, feiras, jeitos de amar, falas reconhecidas que costuravam os cacos da partida. Tudo na obra de Gonzaga. Verdadeiras canções de exílio. Cartografia caatinga e brejeira. Quebra de gueto. Devolução do orgulho do Ser – estranhos que eram – naqueles territórios adversos. Ocupação cultural. Com Luiz, afirmar: “eu posso ser o que você é sem deixar de ser quem sou”. Tudo pela música de Luiz, muito pela atitude de Luiz, essa luz do sertão batia no barraco e rebatia na vida de cada um para mudar o meio, antes hostil, para revelar que somos soma e que há muitas faces de Brasil na mesma cara. Assim nos ensinaram, em respeito e estética, o tanto que ainda temos de trilhar até nos reconhecer brasileiros e fraternos. Pela obra de Luiz.


CONTO

Paixão pelo cinema

O crime do jovem barão Aqueles novos moradores estavam decididos a descobrir o que teria realmente acontecido no castelo de Heatscherst

Texto Nena Medeiros Ilustração André Zottich nena.medeiros@gmail.com

A algaravia das crianças espalhou-se pelos cômodos da ala dos criados do castelo Heatscherst, preenchendo, com sua alegria, mesmo os nichos mais recônditos daqueles sóbrios ambientes, agora completamente reformados para acolhê-las. Após mais de meio século, enfim, havia vida novamente na enorme residência, legada ao governo após a morte do solitário barão Louis de Heatscherst. O palácio acabou por se constituir em um enorme elefante branco, cuja manutenção exigia somas absurdas do erário, e, por isso, permaneceu fechado, até que um concurso definiu seu destino. A proposta vencedora ainda levou uma boa década antes de se concretizar, mas, enfim, a invasão de barulhentos molecotes marcava a última etapa do processo, que se iniciou com a restauração de obras de arte, móveis e tapeçaria nos ambientes mais nobres da construção,

emaildozottich@gmail.com

convertidos em museu e galerias. As enormes alcovas, despidas de todo o luxo, tornaram-se salas de eventos e treinamentos e um moderno centro de convenções surgiu a partir do grande salão de bailes onde, há mais de um século, não giravam arfantes donzelas conduzidas por garbosos cavalheiros. Toda essa estrutura, além de garantir a manutenção do prédio, era o sustento do orfanato, montado na ala dos criados com seus trinta quartos, cozinha, sala de refeições, escola, enfermaria e residência das freiras que cuidavam das crianças.

***

Para os pequenos, a velha construção era o paraíso. Importava-lhes menos o reluzente salão de jogos do que a investigação em busca de passagens secretas que os conduzissem aos tesouros protegidos pelo fantasma do temido barão. Driblan-

do a vigilância das freirinhas, esgueiravam-se pelos cômodos, batucando nas paredes em busca de algum oco, algum estalo que lhes abrisse os portões da fortuna e do mistério. Foi numa dessas incursões que eles encontraram o diário. Estava muito caprichosamente guardado entre duas pedras da parede, escondido por uma terceira pedra que se encaixava perfeitamente ao vão. O caderno pertencia a uma governanta que ali trabalhara, muito provavelmente entre os anos de 1907 e 1920. Nas primeiras páginas, constavam apenas desinteressantes anotações práticas sobre o serviço da casa. Porém, a partir de determinado ponto, ela começa a confidenciar no livreto, em letrinha miúda, suas impressões sobre a vida dos patrões e, mais especificamente, sobre a vida do jovem barão Louis, a quem chamava de “o pequeno louco”. Uma das ca-


racterísticas que mais a convence do pouco juízo do rapaz é sua paixão pelo cinema: “Isso nunca vai dar certo. Imagens em sequência... Quem pagaria para assistir a essa bobagem?”, questionava ela. Num trecho datado de 1918, ela escreve: “O pequeno louco não se farta de me surpreender com suas obsessões. Agora, supõe correspondida sua paixão pela coquete Perla Jojokovich. É mesmo um parvo! A moça é uma estrela, assediada pelos homens mais garbosos e ricos do mundo. O que procurará com tal homenzinho? Ou ele crê que ainda faz figura o seu título roto?” Em várias páginas ridiculariza toda a família, dando especial atenção ao jovem barão, que, pela descrição dela, não passa de um anão, excessivamente romântico e sonhador, mimado pelos pais.

***

O teor das notas muda e o desprezo da governanta cede lugar ao assombro quando o barão filho casa-se com Perla, que abandona sua já consolidada carreira como atriz e se muda para o castelo: “Que feitiços terá ele usado para atrair esta diva até aqui? E como é linda! Não há quem não se renda, embasbacado, quando ela passa”. Porém, o casamento de Perla e Louis não parece muito feliz. “Pobre moça. Está definhando a olhos vistos, reclusa neste mausoléu, oprimida por aquele monstro possessivo, que mandou recolher as cópias de todos os filmes em que ela atuou e fez crer a todos que as destruiu. Mas eu sei onde ele as escondeu, vi quando chegou o projetor que ele mandou instalar em um dos cômodos, para vê-los sozinho.” A situação de Perla vai ficando cada vez mais dramática a cada relato da governanta e torna-se ainda pior com a morte dos pais de Louis. Embora eles não fossem amistosos com a moça, sua presença ainda impunha alguns limites ao barão que, se vendo sozinho, passa a agredir a mulher, também fisicamente. A governanta tinha suas teorias para

esse comportamento dele. “Ou ele pensa que é traído, ou quer destruir a beleza dela para que nenhum outro homem a deseje.” Os espancamentos só cessam quando Perla anuncia a gravidez. Diante da expectativa de tornar-se pai, Louis muda completamente e passa a tratar a esposa com toda a cordialidade e zelo, o que serviu para confirmar as suspeitas da governanta: “Grávida, ela deixa de ser diva, torna-se mãe, ente sagrado. O pequeno louco já não se sente ameaçado. A senhora Perla, porém, não se deixou iludir pela mudança dele e decidiu ir embora. Ele chorou, pediu, implorou, mas ela estava irredutível. Os gritos ecoavam por essas paredes. Ele a acusava de traição, insistia em saber quem era o pai da criança. Eu peguei uma panela de ferro e fui até lá. Desta vez, iria acertá-lo na cabeça se ele ousasse levantar a mão para ela. Não foi preciso. Ela o encarou com firmeza e garantiu que era dele, sim, o filho que esperava. Então, baixou os olhos e, com uma tristeza profunda e muito sincera, completou: – Infelizmente. Aquele pesar calou fundo na alma do barão. Sem alternativas, ele deixou-a ir. Logo em seguida, saiu também”. Dois dias depois, ela escrevia: “Pensei que ele voltaria arrasado. Ou embriagado. Mas o pequeno louco parecia feliz. Estava sujo, mal-enjambrado, mas tranquilo e bem disposto. Carregando latas de filmes sob o braço, trancou-se em sua sala de projeção”. A próxima anotação só aconteceu após três semanas. “Ontem a senhora Jojokovich ligou à procura da filha. Fiquei intrigada. Onde estará a senhora Perla se não foi ter com sua família? Hoje, foi um investigador de polícia. A todos o barão respondeu que permanecera em casa após a saída da esposa. Ninguém me perguntou nada, portanto, eu não podia desmentir. Mas vou investigar.”


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Os meninos contaram o que era o livro e falaram de seu conteúdo. Foi preciso a irmã pedir várias vezes para que se acalmassem, pois todos queriam falar ao mesmo tempo.

– Gina Lombardo? A roteirista? Os meninos se entreolharam. – Sabe aquele filme que concorreu ao Oscar? Do padre assaltante? O roteiro é dela. – Mas como isso veio parar aqui? – perguntou um deles, apontando para o diário. – Talvez ela tenha mesmo trabalhado aqui, nos últimos anos de vida do barão. Ela era enfermeira, eu acho. – Mas será que ele lhe contaria esta história? – Duvido muito. Na biblioteca vocês podem ver a biografia dele. Ele era mesmo um homem pequeno. Mas tinha a saúde frágil e nunca se casou. Duvido que tenha existido alguma Perla Jojokovich. Acho até que essa história foi o enredo de um dos roteiros da Gina. – Podemos falar com ela, irmã? – Infelizmente, não. Ela faleceu no ano passado. A decepção foi geral. – E, agora, vamos todos dormir. Amanhã, podemos pesquisar melhor este assunto – disse a religiosa, acomodando-os em suas camas e saindo do quarto.

***

Pelo caminho, seguia pensativa: – Então foi isso que matou a governanta? O infarto foi consequência da emoção de acreditar que o barão teria assassinado a esposa? Pobre senhora Regina! E sua filha, pobrezinha? Seria apenas um bebê naquela época e perdia a mãe de forma tão tola! Não me admira ela ter se tornado roteirista. Se herdou a imaginação da mãe... Afinal, o barão era um canastrão e, vendo aquelas imagens, eu jamais poderia acreditar em toda aquela encenação, as agressões, o ciúme. E a velha governanta não apenas acreditou, mas ainda conseguiu tornar a situação pior, supondo um assassinato. Assassinato! Rá! O único crime do barão foi afundar a carreira da grande Perla Jojokovich com aquele fiasco. Filme horrível! Tadinha da mamãe, depois da estreia teve que se esconder por algum tempo e nunca ) mais se reergueu! )

No dia seguinte: “Aproveitei a ausência do barão para revistar-lhe os aposentos. Definitivamente, há algo errado. Escondida sob o travesseiro, estava a camisola vermelha, que estou certa de ter colocado na mala da senhora Perla quando a ajudei a arrumá-la. Hoje à noite, irei à sala de projeção. Há algo naqueles filmes que ele não para de assistir.” E estas são exatamente as últimas palavras no diário dela: “Ele a matou! Pobrezinha! O louco a matou e filmou tudo. Agora, eu tenho as provas aqui comigo e as entregarei à polícia. Monstro! Vai receber o que merece!” Quando as crianças chegaram a esse ponto, estavam terrivelmente impressionadas. Algumas choravam, outras queriam ir imediatamente à procura da tal sala de projeção. – Temos que aproveitar agora, enquanto as freiras estão dormindo, para bisbilhotar os quartos – disse uma delas. – Tenho medo! – choramingou a outra. – Não querem descobrir a verdade? A discussão começou a tornar-se acalorada e, de repente, uma das irmãs entrou no dormitório, acendendo as luzes: – O que está acontecendo aqui? – ela quis saber. Ninguém falou nada. Porém, um dos meninos viu o diário jogado sobre a cama e, na ânsia de escondê-lo, acabou derrubando-o no chão. A irmã rapidamente o pegou. Analisando-o, viu que era muito antigo. – Ora, ora... O que temos aqui, seus ladrõezinhos? Vão me dizer que andaram roubando objetos do museu? Os meninos contaram o que era o livro e falaram de seu conteúdo. Foi preciso a irmã pedir várias vezes para que se acalmassem, pois todos queriam falar ao mesmo tempo. Quando eles terminaram de lhe contar toda a história, ela perguntou: – Como é mesmo o nome da governanta? – Regina Lombardo – um dos meninos respondeu.


Fora do Plano por NOELLE OLIVEIRA noelleoliveira@meiaum.com.br

Partidos descartáveis

Todo mundo ouviu alguma vez na vida a máxima: “Vão-se os anéis, ficam os dedos”. É mais ou menos isso que acontece no Distrito Federal quando o assunto é política. Vão-se os partidos, ficam os cargos no governo. A matemática é simples. Se uma legenda resolve se retirar da base de apoio ao governador Agnelo Queiroz, o que fazem seus afiliados que têm cargo no governo? Migram de partido e mantêm a posição. O mais recente exemplo da movimentação peculiar é a nomeação do secretário de Ciência e Tecnologia, Glauco Rojas, hoje do PEN. Rojas, enquanto filiado ao PDT, era secretário de Trabalho na gestão petista. Diante de acusações contra Agnelo, o PDT deixou a base de governo, e Rojas perdeu o cargo. Agora voltou, de partido novo e indicado pelo distrital Israel Batista (PEN), que fez o mesmo movimento para se manter na base do governo. Eles mudam e levam na bagagem seus afilhados. A situação se repete em outros casos, como no de Alírio Neto. Com o cargo de secretário de Justiça, era pressionado pela Executiva Nacional do PPS pela dissidência com a base governista. Saindo do partido, permaneceu no comando da pasta e levou para a nova legenda dois amigos distritais — Cláudio Abrantes e Luzia de Paula, que também eram do PPS. Tudo sem acusações de infidelidade partidária, já que o Partido Ecológico Nacional é recém-criado e a Justiça Eleitoral entende que, nesse caso, o político se coloca “na condição de fundador” e estaria “motivado pela ideologia e não para se beneficiar com arranjos eleitorais”. Quanta ingenuidade.

Questão de estratégia Existem ainda aqueles políticos que, se preciso, criam correntes ideológicas individuais no novo partido. Assim, justificam a proximidade com o governo e, de quebra, sua cota de cargos. É o caso do distrital Washington Mesquita, que deixou o PSDB para se livrar do peso da oposição. Mesmo no PSD – que reúne três distritais da oposição, apesar de se dizer neutro –, tem papel mais governista do que o de muitos petistas. De presente, levou a Administração Regional de Taguatinga. No caso de Raad Massouh, a

mudança foi ainda mais brusca. Constrangido pelas cobranças do DEM para fazer oposição ao governo petista, migrou para o PPL, partido próximo ao vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB). Agora é secretário da Micro e Pequena Empresa.

Esforço perdido Até o fim de setembro, o Tribunal Regional Eleitoral do DF havia julgado 480 prestações de contas de candidatos que concorreram às eleições de 2010. O trabalho não está nem na metade. Faltam 570 passarem por julgamen-

to. Mas os juízes podem ter calma para acabar, já que, hoje, o resultado do trabalho é perdido. Em junho, o TSE interpretou que basta a mera apresentação das contas de campanha, independentemente da aprovação, para que o candidato esteja em dia com a Justiça Eleitoral. A jurisprudência pode até mudar para as eleições de 2014 – com a sucessão do ministro Gilson Dipp, que compartilhava do entendimento vigente, pela ministra Laurita Vaz, defensora da necessidade de aprovação das prestações. Até lá, no entanto, candidatos “conta-suja” podem concorrer.

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Artigo

Cardozo desiste e a Mulher Pera faz de tudo O que tem a ver o ministro da Justiça com a candidata Suelem Aline Mendes Silva? A resposta é o nosso sistema eleitoral Texto Teresa Leonel Ilustração Chico RÉGIS @terezaleonel

regisimagem@gmail.com


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E

xplico melhor. O programa Band Eleições 2012 de 3 de setembro e o Observatório da Imprensa da TV Brasil de 4 de setembro debateram a temática das candidaturas majoritárias e proporcionais, seus efeitos midiáticos e a produção cinematográfica para televisão dos partidos que detêm maior poder financeiro. Inegavelmente, quem tem mais dinheiro tem melhor desempenho midiático na mostração de uma performance emblemática, novelesca, teatralizada, elitizada, contagiante e – por que não dizer? – emocionantemente bela do ponto de vista da plasticidade, da fotografia, dos filtros, das cores, dos takes e da retórica. É o cinema veiculado na TV, no chamado horário eleitoral, ou, como se diz por aqui no Nordeste, “guia eleitoral”. Nos dois programas, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi citado várias vezes em relação a sua desistência de concorrer às eleições em 2010. Na Band, o jornalista Fernando Mitre ressaltou as razões pelas quais o exsecretário do PT teria desistido da corrida à Câmara dos Deputados. Mitre citou expressões usadas por Cardozo como “promiscuidade, descrédito, desestímulo e decepção, assim como o encarecimento gradativo das campanhas”. O Observatório da Imprensa foi mais longe. O jornalista Alberto Dines mostrou uma entrevista do ex-deputado gravada em 2010 para o programa OI na TV, ocasião esta em que justificou a desistência do cargo de deputado federal, exatamente por discordar do processo de produção e captação de recursos praticado no sistema eleitoral brasileiro. Não é a primeira vez que a desistência do ex-deputado José Eduardo Cardozo em concorrer às eleições é pauta na imprensa. O ministro da Justiça parece ser (ainda) uma referência como parlamentar. De modo sempre salutar, o fato virou uma espécie de “case político” para embasar as análises dos jornalistas, sociólogos e pesquisadores que mergulham nas entranhas do nosso sistema eleitoral e tentam desenhar o caminho tortuoso que um candidato percorre para ser eleito. Traçando um paralelo entre a desistência do ex-deputado e a vontade da Mulher Pera em ser vereadora pela cidade de São Paulo, podemos perceber um oceano de questões ideológicas, intelectuais e políticas decorrentes de um sistema eleitoral atrasado, capenga e desacreditado. Sistema este em que os partidos exercem uma permissividade para afiliar candidatos sem questionar o histórico, o perfil político-ideológico e a trajetória profissional. Os partidos contabilizam números e não projetos.

A Mulher Pera, que publicou no seu site oficial a foto de suas nádegas com o seu número de registro, defende a estratégia como forma de divulgação da sua candidatura. Para espanto de alguns, a dançarina alegou em entrevista ao site Yahoo! que “sempre quando publicam minha foto, mostram apenas o meu rosto, mas eu sou conhecida pela minha bunda”. Vale registrar, ainda, que a tal Mulher Bunda, digo, Mulher Pera, foi candidata a deputada federal pelo PNM em 2010 e, pasme, obteve 3.612 votos. Sem querer entender o ditado popular de que todo eleitor tem o político que merece, é importante provocar o debate sobre as consequências das nossas escolhas, ainda que seja dentro desse sistema eleitoral. Nesta eleição, a Procuradoria-Geral Eleitoral já analisou mais de 750 pedidos de indeferimentos de registros de candidatos (prefeitos e vereadores) que trazem em suas fichas, entre outros rótulos, os de traficante, estelionatário, estuprador e homicida. Considerando os mais de 5 mil municípios país afora, é quase incontável o número de candidatos que se apresenta como figuras emblemáticas, jocosas, sem nenhuma condição de representar o município (muito menos fora dele). É um aglomerado de pessoas que desvaloriza e desqualifica o processo eleitoral. A Mulher Pera não está sozinha. Baixaria à parte, isso é um retrato fiel do câncer político que está virando uma metástase na nossa democracia, ainda que ela seja jovem. A ausência de credibilidade nos políticos pode responder em parte (mas não justifica) esse tsunami desastroso que elimina, por tabela, pessoas que têm projetos reestruturadores e que poderiam contribuir com mudanças significativas para as cidades e para sociedade em geral. O modo como o nosso sistema eleitoral está posto abre uma fenda desconcertante na consolidação da estrutura societária. O sistema eleitoral está doente. Precisa ser tratado. Se não acordarmos da inércia que paira sobre a paisagem política eleitoral deste país, estaremos enterrando a nossa democracia, que lutamos tanto para conquistar.

Os partidos contabilizam números e não projetos. É importante provocar o debate sobre as consequências das nossas escolhas, ainda que seja dentro desse sistema eleitoral.


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Com uma rede deficiente de serviços, o Distrito Federal é a unidade da Federação com o pior atendimento em saúde mental do Brasil

Insana realidade

Texto Anna Cristina de Araújo Rodrigues – Aluna do 4º semestre de comunicação social da Universidade Católica de Brasília * Ilustração KAcio Pacheco annamizzu@gmail.com


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O

Distrito Federal ocupa a última posição no ranking das 27 unidades da Federação no que diz respeito à oferta de serviços de atenção à saúde mental. Segundo dados do Ministério da Saúde de julho de 2011, os 2,6 milhões de habitantes do DF são os brasileiros que mais sofrem com a falta de atendimento na área. De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), no DF há seis centros de atenção psicossocial, os chamados caps. A Diretoria de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do DF afirma que são 11, uma vez que os dados do SUS estão desatualizados. Dos cinco caps prometidos pelo governador Agnelo Queiroz, só dois saíram do papel. De qualquer jeito, é insuficiente. Seriam necessários cerca de 50, além de residências terapêuticas, que ainda não existem no DF, para que os usuários tivessem atendimento efetivo. Com um quadro como esse, é fácil entender por que o DF está no vergonhoso último lugar. Nem sempre a saúde mental no DF foi tão abandonada. Iniciativas como a criação do Instituto de Saúde Mental, no fim dos anos 1980, puseram o DF no primeiro lugar do ranking. Na década de 1990, o governo local investiu na criação dos serviços substitutivos, sobretudo na criação dos caps, do hospital-dia do São Vicente de Paulo, de leitos psiquiátricos no Hospital de Base, e tocou para a frente a reforma psiquiátrica. Findos os anos 1990, a saúde mental passou a ocupar posição periférica nas políticas públicas de saúde do DF e a desassistência tornou-se regra. “Brasília é mau exemplo em tudo na área de saúde! Mas na área de saúde psiquiátrica é caso que eu diria de atentado contra os direitos humanos feito pelo Estado.” A frase é do

promotor de Justiça do Ministério Público do DF Diaulas Costa Ribeiro. Ele foi responsável por um dos mais tensos momentos da história da saúde local: o fechamento de uma clínica em péssimas condições em Planaltina. Criada no início da década de 1970, a Clínica de Repouso do Planalto nasceu com o propósito de atender pacientes com transtornos mentais, particulares ou usuários de serviços públicos. O projeto foi posto em prática por um grupo de sete médicos – sendo um psiquiatra, Francisco Alberto Sales – que em um ano viu seu empreendimento já à beira do fim. Quando os outros seis abandonaram o projeto, Sales o levou adiante por alguns anos. A clínica chegou aos anos 1980 em decadência. Vendo a crise agravada dia a dia, o psiquiatra também desistiu e deixou a clínica a cargo dos irmãos Regis Benes Soares de Andrade e Carlos Benes Soares de Andrade, “dois aventureiros”, nas palavras do promotor. São dessa época as primeiras denúncias de abusos na clínica, que mantinha 140 leitos destinados a pacientes do SUS e se transformou no principal destino de pacientes que passavam pela triagem do Hospital São Vicente de Paulo, em Taguatinga, e eram transferidos para internações de pelo menos 30 dias. Ali eram mantidos segregados doentes mentais submetidos a toda sorte de maus-tratos, inclusive discriminação. Os desmandos foram tantos e tão recorrentes que a clínica acabou denunciada e fechada pelo Ministério Público em 2003, depois de terem sido comprovados ali crimes contra a pessoa e contra a vida, entre outros. A operação foi chefiada pelo promotor Diaulas Costa Ribeiro, que lembra com detalhes: “No dia 20 de março de 2003, fizemos uma operação de


22 guerra lá na clínica, com médicos, psicólogos, dentistas, promotores, polícia, vigilância sanitária. A clínica estava sem alvará de funcionamento e licença de saúde havia muitos anos. Não tinha a menor condição de funcionar, não tinha estrutura física nem jurídica, mas mantinha convênios com o DF”. Na época, a Secretaria de Saúde foi forçada a providenciar a alta de 127 pacientes que tinham família e a acolher 26 que já não tinham vínculos familiares ou sociais. O local onde funcionava a clínica se tornou uma unidade de internação de menores de idade que cumprem medida socioeducativa. Quem foi acolhido pelo governo seguiu para o Instituto de Saúde Mental. Nelson Rocha de Oliveira, hoje enfermeiro-chefe do Núcleo de Educação Permanente em Saúde do instituto, trabalha lá há mais de 20 anos e diz que o que acontecia na Clínica Planalto era grave. “Existiam duas alas: a ala particular – VIP – e a ala do SUS – com pacientes tomando banho de mangueira nus no pátio, um tirando a comida do outro, violência física, violência sexual, enfim, todo tipo de problemas.” Ainda hoje, dos 26 pacientes que vieram da Clínica Planalto, 17 vivem em duas residências do Instituto de Saúde Mental – o serviço social conseguiu encontrar a família de alguns e outros morreram. Ali chegaram na mais humilhante situação – piolho, sarna e desnutrição. Pior destino, porém, tiveram cerca de 60 pacientes que são, até hoje, considerados desaparecidos. Uma vez internados na Clínica Planalto, nunca mais deles se ouviu falar. É um retrato lamentável do descaso com a saúde em geral e com a saúde mental, em particular, péssimo exemplo que a então jovem capital da República resolvia dar. “Aquilo era a casa dos horrores e o GDF, naquela época, e hoje talvez não fosse muito diferente, se aliou ao mal exemplo de saúde mental no Brasil. Quer dizer, achava que aquilo era muito bom, enfiava lá o doente e ele ficava lá”, critica o promotor.

Reforma psiquiátrica brasileira A internação de pessoas portadoras de transtornos mentais no Brasil teve início em meados do século 19. A partir daí, tratar doentes mentais foi sinônimo de interná-los em hospitais psiquiátricos. A oferta desse serviço concentrou-se nas grandes cidades, enquanto as demais ficaram carentes de qualquer recurso de assistência em saúde mental. Com a promulgação da Constituição de 1988, criou-se o Sistema Único de Saúde (SUS) e foram estabelecidas as condições institucionais para a adoção de novas políticas de saúde, entre as quais a de saúde mental. Seguindo experiências de reforma da assistência psiquiátrica no mundo ocidental e as recomendações da Organização Pan-Americana da Saúde, o Ministério da Saúde, a partir da década de 1990, definiu uma nova política de saúde mental, que ficou conhecida como reforma psiquiátrica. Mais tarde, já no começo dos anos 2000, a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, também conhecida como Lei Paulo Delgado e como Lei da Reforma Psiquiátrica, instituiu um novo modelo de

tratamento aos transtornos mentais no Brasil. A reforma psiquiátrica tem como objetivo modificar o sistema de tratamento clínico da doença mental, eliminando gradualmente a internação. A ideia é substituir o modelo manicomial por uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, visando à integração da pessoa que sofre de transtornos mentais na comunidade. A rede territorial de serviços proposta pela reforma psiquiátrica inclui centros de atenção psicossocial (caps), centros de convivência e cultura assistidos, cooperativas de trabalho protegido (economia solidária), oficinas de geração de renda e residências terapêuticas – são casas preparadas para receber até oito pacientes que não têm mais laços familiares. A reforma psiquiátrica, portanto, prevê a desativação gradual dos manicômios, ou a desinstitucionalização dos pacientes, para que aqueles que sofrem de transtornos mentais possam se reabilitar para a convivência em sociedade.


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“Em comunidade” As marcas desse tempo infeliz ainda estão muito vivas. Pacientes que passaram por maus momentos deles jamais se esqueceram. Cláudia [o sobrenome não será revelado para preservar sua identidade], de 55 anos, é uma dessas pessoas. Nascida no interior de São Paulo, veio para Brasília aos 3 anos. No parto, teve parte do cérebro esmagada pelo fórceps, o que lhe valeu uma série de consequências, tais como comprometimento dos membros esquerdos, um AVC quando completou 1 ano e 9 meses, meningite aos 5 anos. Só aprendeu a falar aos 3 anos e andou aos 7. Aos 17, teve o primeiro surto esquizofrênico e passou a frequentar o antigo Hospital de Pronto Atendimento Psiquiátrico, famoso HPAP, hoje Hospital São Vicente de Paulo (HSVP). Ela sabe na ponta da língua quando cada coisa aconteceu e conta sua trajetória sem mágoas da vida. São vivas na sua memória as várias vezes que passou por triagem no HPAP/ HSVP e seguiu para internação na Clínica de Repouso do Planalto. Cláudia se lembra de companheiras de internação, de enfermeiras e de médicos. Conta que uma vez a mãe preparou sua mala para a internação e colocou ali seis calcinhas novas. Na clínica, a enfermeira olhou o conteúdo da mala, pegou cinco calcinhas e disse: “Você sabe, aqui vivemos em comunidade”. E foi assim que se viu obrigada a usar a mesma peça íntima por vários dias. Mas o pior, segundo ela, era a comida. Apreciadora da mesa farta, Cláudia não se conformava com a comida tão ruim e escassa. Ela se lembra também dos longos dias de ócio passados ao sol – sonhava em tirar uma soneca depois do almoço, mas nunca obteve

autorização para isso. Uma vez, porém, uma enfermeira disse a ela que permitiria a soneca, desde que ela arrumasse a cama todos os dias. Sua deficiência física tornou-se, assim, castigo – já que não fazia a cama, não podia dormir depois do almoço. As idas e vindas ao pronto-socorro psiquiátrico e à internação duraram quase 20 anos. A última internação na Clínica de Repouso do Planalto foi nos anos 1990. Foi marcante: a companheira de quarto Tânia – a Tatá –, num surto de agressividade, arrancou uma das ripas da cama e acertou o rosto de Cláudia. Com o rosto inchado e um hematoma num dos olhos, ficou impedida de receber a visita da família. Sua irmã, desconfiada da ordem inusitada do médico, insistiu na visita e acabou por dar com um rosto desfigurado pela paulada. “Foi assim que eu tive alta da Clínica Planalto na última internação minha lá”, conta. Oligofrenia, esquizofrenia, distúrbio bipolar e epilepsia. É o que consta no prontuário de Cláudia. Para tratar um quadro tão complexo, hoje ela faz uso de antiepiléticos, antipsicótico e antidepressivo. São doses altas, tomadas com controle de neurologista e psiquiatra e supervisão dos familiares. Uma vez por semana, Cláudia visita seu psicólogo e todos os dias faz caminhada. Ou melhor, fazia. “Ah, eu ando meio desanimada da caminhada.” De fato, a dificuldade de locomoção torna a caminhada cansativa, mas ela sabe que o excesso de peso também não faz bem para a saúde. Essa rotina é cumprida não mais na rede pública de saúde, incapaz de dispor de recursos humanos e infraestrutura para garantir o bem-estar dos pacientes – pelo menos no DF.

A família agora pode pagar pelos cuidados, bem como por todas as demais necessidades de Cláudia. As internações não acontecem mais, pois o tratamento clínico é seguido rigorosamente e a integração familiar garante sua estabilidade. Cadê as boas notícias? A história de Cláudia é exceção. A regra segue em direção oposta: um manicômio que em tudo contraria a reforma psiquiátrica e que mantém pelo menos 30 pacientes internados no pronto-socorro e dormindo em colchonetes no chão, 11 caps que trabalham por 50 e nenhuma residência terapêutica. Para profissionais que trabalham na rede de saúde do DF, lidando diariamente com condições resultantes da inexistência de uma política pública de Estado – e não só de governo –, é preciso tratar o tema da saúde mental no DF com cuidado. Aristóteles de Oliveira Pereira é psicólogo e coordenador de Memória, Intervenção Cultural e Mídia da Diretoria de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do DF. No cargo desde o início do governo vigente, ele diz que “a mídia, em geral, vive de notícias ruins”. E faz questão de destacar que as equipes de servidores da saúde mental estão atentas às necessidades sociais dos pacientes. “Todo serviço de saúde mental tem o serviço social, que cuida da documentação, das aposentadorias, de direitos que estavam perdidos, e a maioria tem hoje a sua aposentadoria, o seu benefício, o seu RG, ou seja, passou a existir”, explica. O psicólogo diz que isso vem sendo feito há anos em Brasília e garante que, no aspecto social, o nível é de excelência. “Isso não é dito, não é


A enfermeira abriu a mala, pegou cinco calcinhas e disse: “Você sabe, aqui vivemos em comunidade”. E foi assim que Cláudia se viu obrigada a usar a mesma peça íntima por vários dias. divulgado. Temos caps funcionando de forma potente e não é visto.” A doutora em psicologia Juliana Pacheco, funcionária do caps do Paranoá, também critica a forma como o tema é tratado: “Existe uma tendência a desqualificar o que se refere à Política Nacional de Saúde, ao SUS, e a mostrar as coisas negativas. Tem que mostrar mesmo, porque a imprensa é para denunciar também, mas sinto falta de reportagens que mostrem experiências que funcionem”. Ao mesmo tempo, reconhece que falta matéria-prima para isso. “Aqui no DF a gente realmente tem um problema porque poucas coisas funcionam.” Os serviços públicos de saúde mental do DF são organizados da seguinte forma: Diretoria de Saúde Mental A Secretaria de Saúde do DF tem, em sua estrutura, a Diretoria de Saúde Mental. Segundo Aristóteles de Oliveira Pereira, a saúde mental no DF segue a Política Nacional de Saúde Mental do SUS e o atual governo vem implementando projetos e ações que solidifiquem os serviços substitutivos – caps, sobretudo – de forma a criar condições para que um dia o tratamento não esteja pautado na internação. “Na verdade, a coisa ainda não está consolidada. Ainda enfrentamos resquícios da política manicomial que estamos tentando desfazer”, afirma o psicólogo. Ele

diz que faltou iniciativa do governo durante pelo menos os últimos dez anos. “Não há como negar que gestões anteriores não eram muito favoráveis à criação de serviços substitutivos. Os serviços de saúde mental ficaram praticamente congelados”, afirma. O atual governo, iniciado há um ano e meio, ainda não conseguiu avançar na solução de problemas crônicos da saúde pública em geral nem da saúde mental: “Se você perguntar: ‘Falta medicação?’ De vez em quando falta! ‘E o que acontece?’ Compromete muito. Complica”, admite o psicólogo. A falta de medicamentos é problema de toda a rede pública do DF. A Diretoria de Assistência Farmacêutica não recebeu a reportagem, mas informou, em nota com data de 4 de maio, que “tem se empenhado para que não ocorra falta de medicamentos na rede pública e para sanar os problemas relacionados a isso. Os motivos da falta de alguns itens são variáveis e, muitas vezes, alheios aos esforços feitos pela SES-DF, tais como atrasos na entrega dos medicamentos por fornecedores”. Hospital São Vicente de Paulo Ocupa importante posição no sistema de saúde mental do DF e dos municípios limítrofes. O complexo hospitalar, em Taguatinga, é constituído por diversos serviços: emergência, internação, hospital-dia, caps,

ambulatório e oficinas de produção. O hospital foi criado em 1976 e concentrava todas as atividades de saúde mental, basicamente, internações. A partir da década de 1990, passou por modificações na forma de atendimento sob a justificativa de avançar na reforma psiquiátrica. Foi nessa época que o atendimento incluiu o hospital-dia, as oficinas de capacitação, as equipes comunitárias, a enfermaria de crise, o acolhimento e o caps. A reforma teve, nessa época, amplo espaço de avanço no DF, em especial no HSVP. Os serviços substitutivos foram adotados com o objetivo de pôr fim ao modelo asilar e excludente do manicômio para, em troca, oferecer serviços de caráter psicossocial. Esses bons ventos duraram pouco. Com o novo governo, que assumiu em 1999, uma reestruturação burocrática da Secretaria de Saúde do DF pôs fim às estratégias psicossociais adotadas na saúde mental. E o modelo asilar recuperou força. Nos dez anos seguintes, o HSVP continuaria sobrecarregado, sem que a reforma psiquiátrica fosse retomada em seus propósitos: desinstitucionalização e reabilitação do usuário por meio dos serviços substitutivos voltados para a humanização do atendimento. O São Vicente, embora alvo constante de críticas, não foi formalmente denunciado por maus-tratos ou crimes contra a vida, o que não basta para fazer dele modelo de atendimento. Hoje, sob a direção do médico Ricardo Lins, o hospital enfrenta sérias dificuldades, mas está em boas condições físicas e sanitárias. Além disso, durante a visita ao hospital, a reportagem pôde observar que o HSVP conta com grupo técnico reduzido, que, por sua vez, depende muito do trabalho de médicos residentes. O diretor do hospital conta que os grandes problemas são falta de leitos e de medicamentos. “No pronto-socorro, temos 43 leitos, só que, em média, nós temos 70 pacientes internados no pronto-socorro. Ou seja, em geral, ficam cerca de 30 pacientes dormindo em colchonetes no chão”, revela. Já a falta de


25 medicamentos é um problema incontornável, pois, segundo Ricardo Lins, “na falta de medicações, aumentam as internações”. Instituto de Saúde Mental Considerado por profissionais da área o melhor serviço de saúde mental pública do DF, o ISM funciona desde o fim dos anos 1980, em uma chácara no Riacho Fundo I. É um lugar agradável, nascido para servir de casa de campo para os presidentes militares brasileiros. O coordenador de Memória, Intervenção Cultural e Mídia da Diretoria de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Aristóteles Pereira, diz que a criação do instituto, em 1987, foi um marco na saúde mental do Brasil. “Brasília estava, de fato, engajada na reforma psiquiátrica, na criação de serviços substitutivos.” Apesar de funcionar em local amplo, bonito e agradável, o instituto enfrenta as mesmas dificuldades da rede: faltam medicamentos, a demanda pelos serviços é maior do que a capacidade de atendimento, falta dinheiro para a conservação dos prédios, etc. Lá, os usuários têm atendimento e participam de oficinas. Caps Principais serviços substitutivos em saúde mental, têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Seu objetivo é “oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários”, conforme conteúdo do Portal da Saúde (www.saude.gov.br). São funções dos caps: prestar atendimento clínico diariamente, evitando as internações em hospitais psiquiátricos; acolher e atender as pessoas com transtornos mentais, procurando preservar e fortalecer seus laços sociais; promover sua inserção social por meio de trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familia) res e comunitários. )

* Esta reportagem foi feita em maio de 2012, sob orientação das professoras Luíza Mônica Assis da Silva e Sofia Zanforlin.

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paubrasilia@paubrasilia.com.br

por Nicolas Behr

BRASÍFRA-ME

quando ali o santo era prefeito fez-se o teste

um-monumento-mosaicolembra-na-unbgougon-fez

tantas perguntas sem respostas

sumiu no smu? sumiu seminu? sumaia também sumiu?

ninguém mais o viu? ouviu?

1*

Personagens, lugares e episódios marcantes da história da nossa capital. Desvende estes poemas-enigmas.

2*

3*

tornaram brasília habitável e este poema legível

um lago uma igreja um bosque sem elas adeus cidade-parque

brasília começou bem longe do quadradinho deveriam estar em toda parte não estão


5** oligoqueta gigante do saber

começa assim em meio à terra virgem desbravada e termina assim nós temos a oitava maravilha brasília capital da esperança no meio desperta o gigante brasileiro

ou bumerangue estático (conhecimento que é conhecimento vai e volta) se não souber pergunte aos universitários

Respostas: 1 Honestino Guimarães – 2 Pampulha – 3 Árvores 4 Hino de Brasília – 5 Minhocão da UnB

4*

curva, no formato do plano piloto, do cérebro e do universo


S o c o

sensação de e de incom Texto Noelle Oliveira Fotos Luana lLERAS noelleoliveira@meiaum.com.br fotografia@meiaum.com.br


o r r o

insegurança mpetência Enquanto aquela Brasília sossegada vai dando lugar a uma cidade violenta, autoridades insistem em tratar pessoas como números, culpam o operacional e anunciam ações isoladas, em vez de estabelecer uma política séria de segurança pública


Bandidos invadem um restaurante no Plano Piloto durante a tarde. Os clientes são rendidos, e o dinheiro do caixa, roubado. A ação é gravada por câmeras internas de segurança, mas a polícia só chega quando os criminosos estão longe. Isso dias antes de uma motorista ter o carro fechado em plena via pública por homens armados que a rendem e levam o automóvel. As ações são rápidas e a pouco mais de 10 quilômetros do Congresso Nacional. São dinâmicas criminosas comuns aos moradores de grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. No caso de Brasília, mais que inovadoras, são táticas que amedrontam. Entidades representativas das classes policiais alertam: a situação tende a piorar caso o governo não se mexa. Isso porque, além do déficit atual, de 4 mil policiais civis e militares, segundo as associações, há número semelhante de aposentadorias previstas para o ano que vem. Sem contar as reduções esporádicas ocasionadas por movimentos grevistas, que deixam gravados nos índices de criminalidade do DF os resultados. Tudo isso um ano antes da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Como Brasília será uma das sedes, receberá turistas e atletas das mais diversas origens. Mais do que de estratégia, os planos para a segurança pública no Distrito Federal carecem de gestão e autonomia, garantem estudiosos do tema. É como se as políticas do setor se mantivessem restritas aos programas e às promessas de candidatos, trazendo poucos resultados práticos para a população.

O governo local divulga índices que mostram a diminuição progressiva de ocorrências violentas, mas não consegue mudar o sentimento dos brasilienses ao circularem pelas ruas. Um sentimento que incomoda a população e que, na linguagem policial, é definido como “sensação de insegurança”. De acordo com o balanço comparativo divulgado pela Secretaria de Segurança, em agosto de 2012 os crimes contra a pessoa – dados de homicídio, tentativa de homicídio e lesão corporal – sofreram redução de 8,6% na comparação ao mesmo período de 2011. Em compensação, de janeiro a setembro foram registrados aproximadamente 550 sequestros-relâmpago. No último mês, a média foi de quase um caso por dia. Foram seis na última semana de setembro. O acumulado do ano mostra que o número de crimes do tipo aumentou 40% de janeiro a agosto em 2012 quando comparado ao mesmo período do ano passado. A “sensação de insegurança” aumenta ao saber que, em pleno fim de tarde de domingo, o filho de um policial militar foi sequestrado no Cruzeiro e salvo pelo próprio pai, que perseguiu os bandidos. A recomendação é clara: “O pai da vítima era um policial militar com muita experiência e sabia exatamente como agir, os cidadãos não devem repetir isso”. O que faz quem não tem a referida experiência? A meiaum buscou estudiosos, policiais e políticos para tentar descobrir a resposta que os brasilienses nem sequer sabem se existe.


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Há quem tenha convicção de que a quantidade de policiais existentes hoje no DF, aproximadamente 20 mil, seja mais que suficiente para garantir a segurança pública em um território de cerca de 5,8 mil quilômetros e 2,6 milhões de habitantes. O governo discorda, mas anuncia contratações tímidas perto das demandas das categorias

elegacias que há cerca de dez anos funcionavam com dez agentes de plantão e duas viaturas hoje contam com três policiais e os mesmos dois carros. Nos batalhões da Polícia Militar, a situação é parecida. Em regiões administrativas como Paranoá e São Sebastião, o efetivo não chega a 200 homens. Os números, no entanto, não convencem o consultor em segurança pública e coronel da reserva da PM José Vicente Filho. O estudioso, que ocupou o cargo de secretário nacional de Segurança Pública em 2002, é conhecido por seus posicionamentos críticos e não deixa de ser enfático no caso do DF: “Podemos tirar uns 3 mil policiais do quadro que não vai fazer diferença nenhuma”, avalia. “É o efetivo dos sonhos, com o salário dos sonhos, mas que enfrenta um problema de gestão.” No estado de São Paulo, o número de policiais por habitante é quase três vezes menor do que no DF. Somando o quadro de civis e militares, há um policial para cada 350 habitantes. Aqui, a proporção é de um para cada grupo de 130. “São Paulo precisaria de 400 mil policiais para se igualar ao DF, sen-

do que lá o salário é quase três vezes menor e o número de homicídios também”, afirma Vicente Filho. Não existe parâmetro mundial que indique o número ideal de policiais, garante a professora e coordenadora do curso de Tecnologia em Segurança Pública da Universidade Católica de Brasília, Marcelle Figueira. “A Organização das Nações Unidas nunca publicou uma proporção de referência, trata-se de lenda urbana”, considera. O que houve, diz ela, foi que certa vez o FBI citou em um documento sobre policiamento nas áreas rurais americanas a proporção de um policial para 250 habitantes e isso foi universalizado. Não se pode esquecer que no DF vivem cerca de 2,6 milhões de pessoas, mas, somando-se a região do Entorno, são quase 4 milhões. Dados da Secretaria de Segurança mostram que um em cada três roubos de veículos na capital é cometido por moradores do Entorno. Brasília abriga, atualmente, 50 adolescentes em conflito com a lei vindos do estado de Goiás. No sistema penitenciário, por sua vez, são 1,1

mil presos oriundos do estado vizinho. Os registros seguem a lógica da violência: o maior número de crimes contra o patrimônio é justamente onde existe patrimônio, da mesma forma que o índice maior de mortes é nas regiões onde há mais conflitos, que são as suburbanas. “Certa vez perguntei a um comandante da PM vizinha sobre os planos para o Entorno e ele afirmou que nem sequer conhecia a região pessoalmente, já que ficava muito longe de Goiânia”, contou uma fonte à meiaum. Para as entidades representantes das polícias brasilienses há, sim, falta de reforço por aqui – mais precisamente 3 mil PMs e mil civis. E já fazem as contas dos prazos para a falta de homens se agravar mais. Em 2013, 3 mil policiais militares – dos 15 mil ativos no DF – terão condições de se aposentar, uma vez que completarão 30 anos de serviço. Trata-se do mesmo efetivo da corporação que trabalha hoje, por dia, no policiamento ostensivo, levando-se em consideração as escalas. Até 2016, o número de aposentadorias de militares pode chegar a 6 mil. “Se não é preciso contratar, qual efetivo fará o policiamento


32 preventivo no DF?”, indaga o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar do DF (Asof), tenente-coronel Sérgio Luiz Ferreira. A última nomeação de policiais militares no DF foi em 2011, quando foram lotados os 1,3 mil concursados do governo anterior que concluíram o curso de formação. De lá pra cá, muitos já se aposentaram. A média é de uma baixa de 300 homens por ano na corporação. Na Polícia Civil, o número de agentes com tempo de trabalho suficiente para encerrar os serviços prestados à comunidade no próximo ano varia de 700 a mil policiais. O último aumento no quadro da corporação foi em 1993, de acordo com o Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF). São 5,1 mil policiais civis na capital. “Durante todo esse tempo sem contratações a população praticamente dobrou”, diz o presidente do Sinpol, Ciro Freitas. Ele afirma que é por isso que há 3 mil laudos periciais atrasados, além de inquéritos que não ganham seguimento, já que faltam escrivães. “A população cobra, o governo cobra e nós, do operacional, precisamos de ferramentas para conseguir responder”, pondera Freitas. O Executivo critica a forma simplista de se comparar efetivo com território e habitantes, mas reconhece a necessidade de reposição como um dos problemas atuais de segurança. O secretário-adjunto de Segurança Pública do DF, coronel da PM Jooziel de Melo Freire, acredita que seja preciso avaliar os números em conjunto com fatores como o tipo de residência adotada pela população e as diferenças socioeconômicas. “Vivemos na terceira maior metrópole do País e temos áreas como Sudoeste, Águas Claras e Octogonal extremamente verticalizadas, o que exige menor quantidade de policiais para a segurança”, analisa. Como exemplo de um lugar onde as pessoas estão espalhadas horizontalmente, o que exige maior efetivo, ele cita Ceilândia. Mais importante do que quantos homens, o que os brasilienses mais querem saber é onde eles estão.

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Não é segredo que alguns policiais aproveitam dias de folga para incrementar a renda com bicos. As chefias já tentaram instituir banco de horas e horas extras para policiais, mas a pressão política falou mais alto

s escalas para policiais militares e civis do DF variam de acordo com o serviço desempenhado. Segundo dados de 2011, apenas um quinto do efetivo da PM está em serviço diariamente nas ruas. “Mas esquecem de dizer que cada policial militar chega a registrar 27 flagrantes por dia e que cabe a ele conduzir os registros, o que faz justamente em suas folgas”, defende o secretário-adjunto Jooziel Freire. A Secretaria de Segurança considera o efetivo “sobrecarregado” com a condução de flagrantes, já que não há banco de horas nem dispensa. “E ainda há aqueles que pegam serviço voluntário gratificado para complementar a renda mensal.” Já houve tentativas de mudar as escalas, com a criação de banco de horas ou horas extras, mas as pressões políticas e das associações de policiais impediram as alterações. As folgas de escalas são oportunidade de aumentar a renda, por meio de trabalhos de vigilância não autorizados pelas corporações. Não é raro ver nos jornais casos de policiais que morreram durante esses bicos. Os policiais acham as escalas justas, mas não aceitam conversar sobre elas a não ser que a identificação seja mantida em sigilo. “Temos de ter, sim, projetos paralelos para aumentar o salário, pois não são os R$ 200

por oito a dez horas de trabalho voluntário na PMDF que vão oferecer isso”, argumenta um PM com dez anos de corporação. O salário-base de um soldado da PMDF varia de R$ 3.072,51 a R$ 4.056,59. Os policiais que não estão nas ruas podem estar cedidos a órgãos públicos ou cuidando de trabalhos burocráticos – sem falar nos afastados. “Em todas as polícias do Brasil são altos os índices de doenças crônicas, cardíacas e do aparelho digestivo. O efetivo é grande, mas tem perdas”, diz Marcelle Figueira. No ano passado cerca de metade do efetivo exercia funções burocráticas, estava cedida ou trabalhava em locais em que a atuação se dá em casos específicos, como o Batalhão de Operações Especiais e o Batalhão de Trânsito. “Isso não acontece só aqui, a agravante é o fato de se tratar da capital federal e os policiais terem de acompanhar movimentações nacionais como as manifestações na Esplanada”, avalia a professora. O governo autorizou a seleção de mil homens para a PM em 2013 e outros mil em 2014. O secretário de Segurança, Sandro Avelar, anunciou a previsão de contratação de 2 mil policiais civis até 2014. No fim de setembro, o comandante da PMDF, coronel Suamy Santana, disse que os primeiros mil novos homens


33 devem estar nas ruas em fevereiro. “Mais um número fantasia. Até sair o edital, o concurso ser feito e os homens serem formados é impossível cumprir esse prazo”, critica um oficial. O curso de formação de praças dura de seis a oito meses. O plano de governo de Agnelo Queiroz prometia a contratação anual de mil PMs. Foram várias reuniões com a categoria para acertar o apoio à candidatura e definir os “13” compromissos com a segurança pública. Hoje os vídeos são usados pelos grupos policiais para cobrar os acertos. “Mais policiamento, mais armamento e mais equipamento é mais do mesmo. Isso não é estratégia de segurança, faz parte da rotina administrava”, critica Marcelle Figueira.

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No DF as corporações policiais não são subordinadas à Secretaria de Segurança, mas sim ao governador. Na Câmara Legislativa, um quinto dos distritais veio da segurança pública. Não bastasse a pressão parlamentar, o governo federal anda dando seus palpites

enhum político do DF ignora o poder de voto das categorias policiais. Estas sabem disso, tanto é que garantem representações na Câmara Legislativa. Dos 24 deputados distritais, cinco são oriundos dessas classes. Wellington Luiz (PPL), Dr. Michel (PEN) e Cláudio Abrantes (PPS), da Polícia Civil. O presidente da Casa, deputado Patrício (PT), é policial militar. Aylton Gomes (PR) é militar do Corpo de Bombeiros e também representa a PM nas decisões legislativas.

A politização, aliada à autonomia das corporações – são subordinadas diretamente ao governador, apenas vinculadas à Secretaria de Segurança, como estabelece a legislação federal –, se reflete em poder de barganha. Para completar o cenário, a segurança local recebe recursos do Fundo Constitucional, o que também acarreta maior liberdade de negociação salarial do que nos estados. Em 2012, o fundo – destinado a segurança pública, saúde e educação – alcançou cerca de R$

10 bilhões. Mesmo assim, a quantia não foi suficiente para as corporações serem atendidas em seus pleitos de carreira, o que as levou a cruzar os braços por diversas vezes. A PMDF declarou em fevereiro a Operação Tartaruga, que retardou atendimentos e fez com que os índices de criminalidade crescessem significativamente. Em março, no auge do movimento – que durou cerca de três meses –, 88 pessoas foram assassinadas no DF, número 46% maior que a média mensal


34 de 2011. Os trabalhos só voltaram à rotina em abril, após o governador derrubar o comando da corporação. “Não somos os mais bem pagos, somos os menos mal pagos do Brasil. Comparando às demais carreiras do DF, somos os menores salários para corrermos os maiores riscos”, justifica um policial militar. A mudança de comando gerou indisposições do governo com a Câmara Legislativa. O presidente da CLDF não tem boa relação com o coronel Suamy Santana. A direção anterior, nas mãos de Sebastião Davi Gouveia, havia partido de indicação do próprio deputado Patrício. No vaivém de comandantes, a corporação teve ainda o coronel Paulo Roberto Witt Rosback, o primeiro da gestão atual. O mesmo número de alterações de chefia teve a Polícia Civil. Mailine Alvarenga, Onofre Moraes e Jorge Luiz Xavier passaram por lá. Todos saíram por decisão de Agnelo Queiroz, após denúncias que envolviam o nome dele e que teriam como base, segundo os próprios policiais, informações vazadas de investigações da corporação. Na primeira troca, Agnelo chegou a exonerar toda a cúpula da Polícia Civil e mais de 40 delegados-chefes, para posteriormente realocá-los. As relações se acalmaram com a boa articulação política de Sandro Avelar. Delegado da Polícia Federal, ele é o segundo secretário de Segurança de Agnelo Queiroz. O primeiro, o também delegado federal Daniel Lorenz, entregou o comando da pasta pouco mais de dois meses após assumir. Os motivos seriam as interferências político-partidárias da Câmara Legislativa. O governador não teria oferecido a blindagem necessária para a continuidade dos trabalhos do ex-secretário, comentou-se nos bastidores. “Existem vários fatores antes do mérito para definir essas escolhas e isso é péssimo”, diz Vicente Filho. Setembro foi a vez de policiais civis cruzarem os braços. O vice-presidente do Sinpol, Ciro Freitas, responde às constantes críticas aos “altos salários da corporação”: “Os estados é que estão errados aos desvalorizar seus policiais”. O salário ini-

cial de um agente é de cerca de R$ 7.500. Diante das negativas de aumento salarial e de diálogo com o governo, policiais civis buscaram de volta para a Câmara Legislativa o deputado Wellington Luiz, que ocupava a chefia da Secretaria de Condomínios. Acabaram, com a ajuda da bancada da segurança e de outros tantos distritais que resolveram aderir à força política da categoria, por aprovar a convocação do gestor do Fundo Constitucional do DF, Paulo Santos de Carvalho, para explicar como o governo vem gastando o dinheiro destinado à segurança. “Não vou mentir, não me sinto seguro, eu tenho medo quando meus filhos saem de casa, por mais que eu saiba que temos colegas muito competentes trabalhando nas ruas”, confessa Wellington Luiz. O governo federal também tem dado a sua contribuição política. Com os policiais civis em greve, tropas da Força Nacional de Segurança Pública foram remanejadas para a capital do País. Desde 11 de setembro, 133 homens atuam nas 39 divisas do DF a fim de coibir sequestros-relâmpago e tráfico de drogas. Tanto integrantes da cúpula do governo local como das corporações confirmam que o reforço não foi requisitado, mas oferecido. Dias antes do anúncio da ajuda à unidade da Federação, tropas federais que atuavam no Entorno desde abril de 2011 haviam deixado os trabalhos, antecipando-se ao encerramento do convênio com Goiás. Membros da cúpula policial afirmam que trazer as tropas para o DF foi um movimento articulado sem a participação da Secretaria de Segurança. “Goiás é território do PSDB, partido do governador Marconi Perillo, e os homens vieram para campo petista, apenas atravessando a rua”, avalia um PM. “Foi uma opção política e econômica, acertada diretamente com o gabinete do governador do DF, já que a ideia seria enviar as forças para o Nordeste”, garante um militar que atua no seleto grupo. A PM não gostou, nem a Polícia Civil. Criou-se uma saia justa. Se as corporações já estavam em descrédito perante a sociedade, sentiram-se ainda mais. “Esse é um tipo de

reação a que já estamos acostumados, mas aos poucos o clima está se desfazendo”, afirma um dos militares da Força Nacional. O secretário de Segurança se esquiva quando indagado sobre a requisição – ou a oferta. “Toda ajuda é bem-vinda”, repete Avelar. O presidente da Asof, tenente-coronel Sérgio Ferreira, não concorda. “A população não é mais tão ingênua para comprar a versão de segurança instantânea. Ajuda é bem-vinda, mas tem de ser planejada, ações sem planejamento são o mesmo que nada.” A Força Nacional de Segurança conta com cerca de 8 mil homens para atuar em necessidades emergenciais, diante de “questões onde se fizerem necessárias a interferência maior do poder público ou for detectada a urgência de reforço na área de segurança”. Neste semestre, além do reforço para o DF, as tropas foram autorizadas a permanecer nos estados do Pará, de Mato Grosso e da Bahia, em que já atuavam para evitar conflitos entre indígenas, moradores e fazendeiros. Também estão no Acre, no Amazonas, no Amapá, em Rondônia, em Roraima, no Tocantins e no Maranhão. Nesses estados, o objetivo é intensificar a fiscalização e prevenção a crimes ambientais, tráfico de drogas, contrabando e furtos de veículos e cargas na Amazônia Legal. Criada em 2004, a Força Nacional é composta por policiais civis e militares e bombeiros cedidos pelo DF e pelos estados para treinamentos específicos a fim de atuar em áreas de conflito do País. As unidades da Federação de origem pagam os salários, enquanto o Ministério da Justiça arca com as diárias, equivalentes às concedidas aos servidores do governo federal em viagens, dependendo da localidade. No fim de cada ano, o governo federal presenteia com recursos de segurança as unidades da Federação que cederam seus homens ao grupo. Segundo a Asof, cerca de 40 policiais militares do DF estão cedidos para a Força Nacional e outros cem estão sendo preparados para atuar no grupo. “A maioria dos instrutores da Força Nacional é do DF”, reforça Sérgio Ferreira.


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ó em 2012, de acordo com a Secretaria de Segurança do DF, os bancos de dados relativos às ocorrências policiais passaram a ser integrados. Até então, a Polícia Militar recebia relatórios da Civil para tomar conhecimento de certos números. Ao mesmo tempo, a PM não atualizava o sistema em tempo real. “As polícias no DF são as que menos cooperam entre si e isso se reflete em péssimo desempenho”, diz o ex-secretário de Segurança Nacional. A integração ainda não atingiu a totalidade dos sistemas, mas o governo garante que caminha adiantado. Outras questões permanecem. É o caso dos postos comunitários de segurança da PM, que não ganharam funções específicas no atual governo, mesmo sem apresentar resultados para o controle da criminalidade. Os postos foram criação do ex-governador Arruda, que não se baseou em nenhuma pesquisa concreta de eficiência. “Para resolver a questão dos postos e tirar os militares de lá precisaremos mudar a função dos espaços, o que está sendo feito junto à Secretaria de Planejamento”, afirma o secretário de Segurança, Sandro Avelar. Desde a campanha eleitoral Agnelo Queiroz promete uma nova função aos postos. A ideia é abrir licitação e contratar uma empresa de vigilância para tomar conta das unidades. Dessa forma, 1,5 mil policiais lotados em 127 postos terão liberdade para atender a

chamados da população – hoje não fazem isso sob a justificativa de que não podem abandonar os postos. O mesmo procedimento será adotado nas guardas dos quartéis, onde cerca de 800 policiais dão plantões fazendo segurança de batalhões. Outra promessa antiga é o monitoramento da cidade por meio de câmeras. O governo afirma que deu início ao processo de compra de 900 equipamentos. Na visão de Marcelle Figueira, é o tipo de tecnologia que só funciona se houver a expectativa da chegada da polícia. “Mesmo em Londres as câmeras não reduziram a criminalidade. Não adianta filmar para guardar de recordação.” A intenção da Secretaria de Segurança é chegar a 2 mil câmeras até 2014. Os equipamentos serão instalados em todas as regiões administrativas e cada uma deverá ter no mínimo 30. As corporações demandam, ainda, reformulação das filosofias das instituições, bem como dos planos de carreira. “Os policias necessitam de formação continuada. Se de todas as corporações se exige nível superior, é preciso oferecer qualificação e possibilidades de crescimento dentro das instituições”, diz Luciano Marinho, vice-presidente do Sinpol. “Da forma atual, as carreiras de policiais no DF acabam se tornando trampolins para outras de maior ) reconhecimento”, complementa. )

S

Investimentos devem ser aliados à capacidade de resposta do policiamento e à cooperação entre as corporações, ou o destino será o fracasso das ações, como ocorreu com os postos comunitários da PM


CONTO

A voz que não era voz

Lúcia

Quanto tempo um cara pode levar para não ter mais certeza de nada na vida?

Texto André Giusti Ilustração Daniel banda giustiandre@hotmail.com

Colocou as duas bolsas de viagem no porta-malas do golzinho mil. Iriam nele até Buenos Aires, esta semana marcariam as férias juntos. Bateu a tampa, rodopiou entre os dedos a cordinha do chaveiro, e em apenas uma passada subiu os três degraus que levavam à varanda do bangalô. Mais dois passos e chegou à porta de madeira grossa, arranjada n’alguma demolição de fazenda. Aberta, ela recebia o sol das quatro da tarde. O clarão começava pelo piso de ardósia, subia pela mesinha de cabeceira, galgava até metade da cama e se tornava sombra a partir daí, não chegava até o espelho em que Lúcia se penteava. Mas a claridade ali era mais que suficiente, destacava até mesmo a penugem branca que campeava coxas, braços e costas de Lúcia. Era de se admirar sua magreza de pernas torneadas e musculatura forte, a nádega redonda e firme, de tamanho pouco provável para uma mulher assim esguia.

bandinha.dinelli@gmail.com

Junto à porta, via-se o mamilo rosado do seio direito buscando o teto. Ela saíra do chuveiro, vestira só a calcinha e corria com o pente por aqueles grossos fios clareados com tintura, sem nem perceber janela e porta abertas. Ele espiou a alameda gramada que levava ao bangalô, o último da pousada. Ninguém passaria por ali, descendo ou subindo o sopé do pequeno monte logo adiante, para roubar a exclusividade daquela visão de delícia e poesia. Quando olhou de novo para Lúcia, teve a impressão de que suas formas se encorparam ainda mais após as horas seguidas de cópula intensa no fim de semana. E, como se não fossem suficientes todos os momentos de conjunção que tiveram em todos os lugares possíveis naquele paraíso de veraneio, como se seu corpo não estivesse exaurido pelo esforço quase ininterrupto do prazer, partiu outra vez em andar lúbrico na direção de Lúcia.

Tocou-a nos ombros e deslizou dedos dobrados em suas costas. Com ela, vinha aperfeiçoando ser delicado, mas não apenas isso. Futuro longo que continuaria bem depois de Buenos Aires. Daqui a dois anos, terminada a pós, um apartamento pros dois, ser pai talvez fosse um de seus talentos. Já tinham quase trinta e, desde que conhecera Lúcia, cinco, seis semanas antes, essas coisas maduras, da idade em que pensamos ser maduros, vinham ganhando território em seus pensamentos. Os dedos prosseguiram em linha reta para baixo, com a intenção inabalável de despi-la da única peça que vestia, e ele agora duvidava se por displicência ou provocação. Em poucos minutos, apressados pela hora do fim da diária da pousada, possuiu-a para se despedir do fim de semana, como a tarde já se despedia do domingo, e nem sequer foi necessária a cama. Desgrudou de Lúcia e veio de


37 carne podre e envenenada que houvesse comido sem sentir o cheiro nem o sabor. Nos mesmos olhos, de repente, já não morava a ternura dos últimos dois dias, das cinco ou seis semanas, a mesma que meia hora antes juraria sentir até o fim da vida. De lá, expulsou-a a sombra cinza da desconfiança. Quantos homens, Lúcia? E em quantos bangalôs ao longo da vida? Soubera de dois namorados, mas aquele “vocês não são fáceis” não carregava um passado com tão pouca gente. “Com tão poucos machos, amantes, você quer dizer”, e na balbúrdia de sua cabeça, a voz estranha que não era voz fazia coro com a sombra cinza da desconfiança e ofendia Lúcia com palavrões calados. Aquela desinibição toda em locais tidos como impróprios, aquele desempenho sexual, quanta quilometragem há nisso! E agora ele entendia o desfile só de calcinha com o bangalô escancarado para quem quisesse ver. Quantos motéis pela cidade, Lúcia? Saunas, piscinas, automóveis! Uma trovoada fez tremer a janela, um raio caiu no pequeno monte e se partiu em seus ouvidos. Nem notara que a tempestade chegara em poucos minutos, o mesmo tempo que um cara pode levar para não ter mais certeza de nada na vida. Imensa nuvem carregada antecipou a escuridão, e desesperadas as andorinhas fugiam procurando abrigo. Tolamente comparou-se a elas. Sentia o corpo enrijecido e um não sei quê gelado anestesiando tudo lá dentro. Estômago embolado, sentia enjoo, quase nojo daquele cheiro de sexo resistindo ao vendaval. Sim, não somos fáceis, né, Lúcia? Todos nós, dezenas. “Vamos?”, ela perguntou tocando-lhe o braço. Vestida, de cabelos molhados, nem assim ocultava a devassidão. “Que foi? Tá tudo bem?” Espantada, quis saber quando reparou finalmente que dos olhos dele surgiam as trevas da tarde. “Lúcia…”, ameaçou dizer algo que nem sabia direito o que era. Calou. O aguaceiro desabou levando pra longe Buenos Aires, ) apartamento, o futuro. )

costas, devagar e um tanto desequilibrado nas próprias pernas, bambas pelos movimentos feitos em pé. Encostou em um móvel que lhe pareceu sem serventia. Queria normalizar a respiração acelerada pelo esforço do ato, que exigira muito porque havia sido um esforço extra naquela maratona de atletismo sexual a que os dois se atiraram de sexta-feira à noite até ali. Tentou caminhar até a calça jeans espalhada à frente, mas ainda não recuperara o equilíbrio de todo. Voltou ao móvel, ficou olhando Lúcia catar a peça íntima e correr para o banheiro, as pernas escorrendo, alguns pingos já pelo caminho. Ouviu o barulho da água da duchinha de mão caindo na privada. Recuperado, vestiu a calça e sacudiu a camiseta amarrotada. Lúcia saiu do banheiro, outra vez só de calcinha. Sorria feliz, parecia-lhe completa, e a luz agora mais fraca da tarde ainda encontrou força para iluminar seu rosto de mulher realizada. “Vocês não são fáceis”, ela disse, sem imaginar que deixara escapar algo que poderia não ter sido dito, algo desnecessário, embora em seu raciocínio nada pudesse ser mais banal que esse comentário imbecil, vazio de qualquer significado real. Inocente, ela jamais se daria conta de que um tonel de óleo com um pequeno furo na borda tombara na beirada do riacho límpido, e de que dali, gota a gota, sairia o vazamento que para sempre contaminaria as águas. Ele, que calçava os tênis, parou de repente e ainda conseguiu flagrar a malícia que ela acrescentara ao sorriso feliz dos segundos anteriores. Malícia de mulher vivida, rodada, e uma voz dentro dele sussurrou, estranha voz que não era dele, nem de Lúcia, nem de ninguém. Voz sem som, apenas fria e cruel voz. E ele a tomou por certeza de uma revelação. Como assim, vocês? Mas não disse nada, ficou com a pergunta na cabeça, muito embora se Lúcia o fitasse certamente a leria em uns olhos que endureceram de uma hora para a outra. Como assim, vocês? E da cabeça a pergunta foi parar no estômago, tomou o fígado e a mais escondida das tripas, como


Perfil

Ela se diz dependente das orquídeas, às quais se dedica integralmente. Esta controversa e nada convencional pesquisadora já catalogou mais de cem espécies e publicou sete livros

Texto Noelle Oliveira Fotos Luana Lleras noelleoliveira@meiaum.com.br

fotografia@meiaum.com.br



E

la é do tipo de mulher sem frescuras ou grandes vaidades. “Não me cuido”, assume logo de cara. Os olhos, no entanto, estão sempre iluminados pelo rímel azul, único item de maquiagem que lhe agrada. Adepta do modelito tênis e calça jeans, Lou Menezes deixa o toque feminino por conta de uma pequena joia pendurada em uma das orelhas. Um brinco em formato de orquídea lilás, pequeno, exclusivo e rico em detalhes. O par dele está guardado. Uma forma de garantir que, caso um se perca, ainda existirá outro lá, imaculado. O cuidado de sempre preservar um sobressalente do que considera raro traz da rotina de pesquisadora. “Sempre tenho que ter mais de um exemplar das flores.” O que não pode duplicar, fotografa. Talvez por isso goste tanto das imagens. Na maioria das vezes, fotos de orquídeas. Em proporção parecida, estão as imagens do filho, Rubinho. “Mas agora que ele é adolescente já não anda achando tão divertido aparecer nas minhas fotos”, diz naquele tom de mãe que vê o filho caminhar rumo à juventude. “Sempre achei a tarefa materna uma responsabilidade que talvez fosse grande demais pra mim, mas acho que dei conta do recado”, orgulha-se. Engenheira florestal, Lou é uma respeitada pesquisadora de orquídeas no País e no mundo. Era bem mais jovem que seu filho, hoje com 17 anos, quando veio do Maranhão morar com o tio Almir Menezes, na época ministro da Aeronáutica. Não consegue precisar a idade que tinha. Também não aceita revelar quantos anos tem. “Não por frescura, mas não quero que pensem quem sou velha e deixem de acreditar que ainda tenho muito para produzir”, justifica. Veio para Brasília estudar. O pai sempre foi disciplinador. Obrigou-a a aprender latim. “Para que, se é uma língua morta e ninguém usa mais?!”, lembra de esbravejar. A intenção era que pudesse se expressar com perfeição. “Ele dizia que era preciso conhecer a língua que deu origem a tudo para escrever corretamente”, conta. Essa seria

apenas a primeira de muitas vezes que Lou se rebelaria diante do tradicionalismo. Em meio a uma família conservadora, formada em sua maioria por médicos – carreira do pai de Lou –, resolveu, em 1982, cursar engenharia florestal na Universidade de Brasília. A escolha foi uma surpresa não muito agradável aos ouvidos dos familiares. “No Maranhão, as famílias tradicionais acreditavam que só existiam três caminhos de profissões: ou você era médico, ou engenheiro, ou juiz. Sem mais”, recorda. O pai não abraçou a causa, mas também não proibiu. “Minha mãe não entendia o porquê de alguém querer estudar ecologia naquela época. Mas a vida é assim, traçada pelos acasos”, reflete Lou. Problemas familiares à parte, tocou o sonho. Com algumas ponderações. Mesmo optando pelo ousado, o fez com pudor. O pai não deixou que trabalhasse até conseguir o diploma do curso superior. Apesar da mudança de percurso, se considera uma pessoa extremamente parecida com a figura do pai. “Sou geneticista por excelência, acelerada, assumo meus erros e acertos e não gosto de trabalhar em grupo”, diz. Insistência A paixão pelas orquídeas só surgiria durante o curso na UnB, mas os primeiros sinais de flertes apareceram bem antes. Após ver pela primeira vez uma flor do tipo – na época em um passeio por uma área de vegetação no Nordeste –, Lou começou uma pequena coleção na casa do tio. Eram alguns poucos exemplares, mas suficientes para maravilhá-la. “Uma coleçãozinha”, define, olhando para a porta do orquidário do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na Asa Norte, administrado por ela. A coleçãozinha foi substituída por um grupo de mais de 3 mil espécies de flores – além de prêmios por todo o mundo. Foi a própria analista ambiental que criou o orquidário do Ibama. Não se acostumava com a burocracia do serviço público e resol-


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cies. “São descobertas de outros pesquisadores que me homenagearam, eu mesma batizar plantas com o meu nome não seria ético”, pondera. São dez “Lous” espalhadas pelo mundo, fora ela mesma. A de carne e osso escreveu sete livros e agora trabalha na oitava obra. “Sou emocionalmente dependente de orquídeas e livros”, repete diversas vezes. A frase parece ser dita com insistência para justificar suas escolhas de vida, como a de não conseguir se afastar um dia sequer do orquidário. “A flor atinge o auge de sua beleza três dias depois que abriu. Se isso acontecer em um fim de semana, preciso estar aqui para ver”, argumenta. No sofá em que se senta para contar essa história à meiaum, o forro com numerosos detalhes de orquídeas dá indícios de que ali é mesmo a casa dela. Apesar do reconhecimento inegável, a re-

putação da pesquisadora não é feita só de flores. E ela sabe disso. Muitos doutores a criticam por, entre outras coisas, não ter títulos. “Se eu fosse doutora talvez não tivesse produzido nenhum livro. Seria algo como a rainha da Inglaterra, como muitos dos autores dessas críticas”, provoca. “Não posso viver sem atrito, é nas adversidades que eu cresço.” Inconveniências à parte, não guarda rancor ou cicatrizes. “Apenas a marca de um tombo que levei uma vez durante uma pesquisa de campo”, brinca. Analisando flor a flor da coleção, é capaz de passar horas contando histórias e convencer muitos, quiçá todos, a ouvi-las. Sobre alguns tantos enredos, por sua vez, prefere não falar. Mas deixa a dica: “Quem sabe um dia escrevo um livro da minha vida para ser publicado décadas após a minha morte e não compli) car a vida de ninguém?” )

veu mostrar que sua paixão pelas flores poderia se tornar um cartão de visita para o órgão do governo. “Criei um projeto, o Orquídeas do Brasil. Ele não existia no papel, mas, de tanto repeti-lo e divulgá-lo, pegou. De repente todos acreditaram nele e hoje é referência em pesquisa no exterior.” O primeiro orquidário do Ibama, criado em 1984, era uma tenda. O novo foi projetado por um arquiteto, se adaptou às necessidades das plantas e, mais ainda, às exigências da dona. Lou Menezes já catalogou mais de cem novos exemplares de espécies, algumas encontradas em expedições e outras resultados de cruzamentos. Para algumas, deu nomes de famosos. A antiga primeira-dama da França, Carla Bruni, e a atual dos Estados Unidos, Michelle Obama, foram contempladas. Ela própria também dá nome a algumas espé-


zines

0 . 3 o ã ç a c i l b u Autop

Sem editoras, sem atravessad ores, sem superego. Um pouc o sobre as publicações independentes de Brasília e comentários de trê s desenhos que saíram na ediçã o nº 4 de Palavrão, revista feita pelos alunos do curso de histó ria da UnB Texto André Cunha

br

andreluizrenato@yahoo.com.

Em Lira Pau-Brasília – Entre fardas e superquadras: poesia, contracultura e ditadura na capital (1968 – 1981), o historiador Tiago Santos conta a história da chamada Geração Mimeógrafo, que publicava livros e revistas com a cara e a coragem naqueles tempos. Títulos como Escrita, Saideira e Grande Circular eram editados e lançados de forma independente. Sem o patrocínio das grandes editoras, poetas como Nicolas Behr, Francisco Alvim, Chacal e Luis Turiba publicavam livros cheios de humor e críticas à ditadura. O tempo passou, veio a internet e a possibilidade de cada um ter seu próprio veículo. Ainda assim, uma circulada por bares e corredores das faculdades prova que há quem faça do jeito antigo. Com nome mais modernoso, zine, mas o mesmo princípio. Títulos como Mosquito e Dejeto confirmam que o interesse comercial é o de menos.

O 2º Anuário de fanzines, zines e publicações alternativas lista ao menos 35 publicações ativas no DF. Essa cena underground conta uma história mais visceral da cidade, que não sai nas idílicas crônicas do Correio, com seus ipês floridos. Um dos incentivadores da autopublicação é Murilo Seabra, autor de Formigas romenas, Filosofia da música – Notas sobre o processo de composição musical, Retrato de um bêbado quando jovem – Uma etnografia intrometida das conversas de bar e Eletroencefalograma de um louco/palavra nenhuma. Em 2006, Seabra organizou um lançamento coletivo em parceria com o Balaio Café. Já em 2007 sai o único e explosivo número do BarZine Capela, feito pelo pessoal da UnB que frequentava o extinto bar, na 408 Norte. O projeto morreu de coma alcoólico. Por essa mesma época e nesse

mesmo circuito (Balaio-Capela), foram lançados: 13, de Sr. Knneip, O doutor, de Nildo Viana, Quebra-Entranhas ou o Diálogo entre os pentelhos encrespados, de Carolzita Barreiro, e Poemas místicos, de Rosa Juna. O único impresso na gráfica, com tiragem superior a mil exemplares, foi Eletroencefalograma de um louco. Num texto em Palavrão (para a qual colaboraram também Tiago Santos e eu mesmo), Murilo adverte: “Não faça como eu, cara, não pague uma porra de uma gráfica para imprimir seu livro (...) Além do mais, olha só para o meu livro. Veja só como é que ficou. Uma bosta, cara. Não serve nem para jogar no lixo, nem para reciclar, a porra da gráfica trocou as páginas de lugar, usou saliva para colar as páginas, dá só uma olhada, é só tentar virar uma página que ela se desprende e sai

voando em liberdade (...) Cara, a verdade é que gráfica dá muita dor de cabeça. A menos que você esteja querendo distribuir seu livro gratuitamente pelas ruas, você vai ter que comprar quatro ou cinco geladeiras para guardá-los. Você tem espaço em casa? A sua privada é pequena, média, grande ou tamanho elefante? Só pague uma gráfica se a sua privada for tamanho elefante”. Depois da experiência traumática, Seabra tornou-se ainda mais entusiasta do livro xerocado, à maneira da antiga Geração Mimeógrafo, sem altos custos e sem atravessadores: “Também não adianta vir com esse papo de que nenhuma editora vai aceitá-lo [o livro], porque está muito revolucionário. Não está revolucionário porra nenhuma, ele está uma bosta mesmo”. Esse grau de autocrítica, só no mercado paralelo.


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Uma cidade suspensa no ar por frágeis hastes feitas de sonho. Em Arquitetura Trágica de Brasília ou Contagem Regressiva, de Patrícia, a cidade aparece de cabeça para baixo, enquanto os prédios e as próprias bacias do Congresso desprendem-se rumo ao infinito. Na superfície, é possível discernir os arcos da Ponte JK, além de aviões que transitam pelo espaço enquanto uma espécie de trem com pernas de centopeia se aproxima da metrópole erguida. As hastes que suspendem a cidade-sonho lembram as pernas quebradiças de elefantes, girafas e outros animais imaginários que carregavam os pesadelos e os delírios de Salvador Dalí. Nos quadros do pintor espanhol, também é recorrente a sensação de que imensas fantasias podem ser erguidas sobre fiapos de pensamento. A citação da música Marcianos invadem a Terra, composta por Renato Russo na década de 80, pergunta se não haverá vida em outro planeta. E imagina se tal vida seria assim tão diferente da vida aqui na Terra.


Em O Observador, Thiago Perpétuo nos apresenta uma figura esguia, vaporosa, que se origina de um ponto de densidade mínima. Uma face cubista emerge do tal ponto, que também pode ser visto como uma gota de esperma, e traz dentro da boca uma interrogação, como um esgar de admiração e espanto. A figura assimétrica, cheia de vãos, espaços vazios e reentrâncias, parece ganhar volume e sair do papel à medida que a observamos. Lembra a iconografia das máscaras africanas e dos desenhos talhados nas cavernas pelos hominídeos. Uma entidade ligeiramente tridimensional, surgida do discreto contraste entre preto e branco, O Observador foi desenhado em outubro de 2005, como atesta a data e a assinatura estilizada do autor, mas poderia ter sido feito em qualquer época.

Uma breve arqueologia dos brasões, das insígnias, dos selos e dos escudos seria o suficiente para provar que O brasão da loucura, de Roque Lattaro, está inscrito numa tradição que perdura há vários milênios. Cunhar – ou forjar em cunha – o símbolo de sua tribo é uma das mais antigas formas de expressão do ser humano. Demarcar território, criar um vínculo identitário – a função dos brasões e correlatos é fundamental na engrenagem da cultura. A entidade zoomórfica que emerge do pentágono inclinado tem corpo de ave e pescoço de flor, muito provavelmente uma tulipa, com suas folhas oblongas, ovais e lanceoladas. O pentágono parece mordido em uma das pontas (lembremos que morder a maçã é sinônimo de obter conhecimento), e no alto um faceiro chapéu mexicano completa o conjunto. A inscrição em latim e o misterioso símbolo onde se lê – EMERGÊNCIA – PUXE – garantem que certos conhecimentos só são acessíveis aos iniciados.


CHARGES DO GOUGON hgougon@gmail.com


Caixa-preta

por miguel oliveira

O mercado político é maior que o “mensalão” Há uma sutil diferença entre os réus do processo chamado de “mensalão” e a maior parte dos políticos brasileiros: o que os distingue é que os réus foram pegos e os outros não. Isso inclui políticos não só de partidos que estão no processo que está sendo julgado pelo STF como os que estão fora desse processo e fingem ser padrões de honestidade e transparência. Não se trata de prejulgar os acusados no “mensalão”, como tem feito parte da imprensa, nem de absolvê-los previamente, como tem feito outra parte da imprensa, menos influente. Mas não há como desconhecer que circula muito dinheiro recebido ilicitamente no meio político. A política hoje é, sobretudo, um meio de ganhar dinheiro, geralmente para benefício próprio, às vezes para um projeto partidário. Há muitas mercadorias à venda no meio político: apoio nas eleições, tempo na televisão, votos, pareceres e apresentação de emendas, convocação ou não de alguém para depor em audiência, obstrução ou apressamento na tramitação de um projeto. Tudo isso vale muito dinheiro no mercado político. Mercado que existe também, com produtos diferentes, nos Poderes Executivo e Judiciário.

Há muito mais O julgamento tem mostrado como o esquema funciona. Para ganhar apoio de outros partidos e pagar contas de suas campanhas, o PT distribuiu dinheiro cuja origem, pública ou privada, é mal explicada. Até os que gostam de repetir o termo disseminado pela verve marqueteira de Roberto Jefferson sabem que não havia um pagamento mensal a parlamentares para votar com o governo. Havia dinheiro entregue a caciques partidários, que com ele fizeram o que bem entenderam. Antes e depois dos episódios agora julgados houve outros iguais e semelhantes. Alguns envolveram o PSDB e o DEM, partidos de políticos e jornalistas que

procuram aproveitar eleitoralmente o julgamento espetaculoso, encabeçado pelo performático Joaquim Barbosa. Fatos ilícitos têm de ser apurados, culpados têm de ser condenados. No caso, não há dúvida de que ocorreram muitos fatos que demonstram a culpa de acusados.

E não há santos Mas todos têm de ser julgados. O “mensalão” do PSDB, embora anterior ao do PT, ainda não foi colocado em pauta pelo Supremo. O relator Joaquim Barbosa preferiu apressar o do PT, que teria mais repercussão na mídia. E é preciso acreditar que jabuti sobe por conta própria em árvore

para achar que foi mera coincidência marcar o julgamento que envolve petistas de peso às vésperas de uma campanha eleitoral. O procurador-geral Roberto Gurgel demorou mais de dois anos para apresentar a denúncia do caso que ficou conhecido como “mensalão” do DEM. E a compra de votos na reeleição de Fernando Henrique Cardoso não deu em nada. Não há santos na política brasileira, em parte porque os sistemas político e eleitoral e o processo legislativo levam a isso. Em parte porque cada vez mais o ambiente político é ocupado por pessoas que querem apenas levar vantagem em tudo, certo? E ganhar muito dinheiro, seja público ou privado. Mas sempre ilícito.


Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br

Thyago Arruda

Faroeste caboclo em 100 minutos Quem ao ouvir Faroeste caboclo não imaginou que a trajetória de João de Santo Cristo, seu romance com Maria Lúcia e o duelo com Jeremias renderiam um filme? René Sampaio (foto) tinha 14 anos quando ouviu a canção de Renato Russo (1960 –1996) pela primeira vez e pensou a mesma coisa. A diferença é que ele fez o filme. O primeiro longa-metragem do diretor brasiliense chega aos cinemas neste mês. As filmagens demoraram um ano, e parte da obra foi gravada no DF. René Sampaio formou-se em comunicação na UnB em 2000. Dirigiu três curtas: Antes do fim (1997), Contatos (2000) e o premiadíssimo Sinistro (2000).

Cinema – lançamentos

007: Operação Skyfall Direção: Sam Mendes. 23º filme do espião James Bond. Em Skyfall, a lealdade de Bond (Daniel Craig) a M (Judi Dench) é testada quando o passado dela volta a assombrá-la. Com o MI6 sob ataque, 007 deve rastrear e destruir a ameaça, mesmo que isso tenha um custo pessoal. No elenco, Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Naomie Harris, Helen McCrory, Javier Bardem, Albert Finney, Berenice Marlohe e Ola Rapace. Ação. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 26 de outubro. 145 minutos.

A aparição

A entidade

As vantagens de ser invisível

Direção: Scott Derrickson. Precisando de inspiração para seu novo livro policial, Ellison (Ethan Hawke) resolve se mudar para uma casa onde uma família foi morta. Lá, descobre uma caixa com vídeos que mostram assassinatos de outras famílias, revelando algo sobrenatural. Com Blake Mizrahi, Cameron Ocasio, Clare Foley, Danielle Kotch, Ethan Haberfield, Fred Dalton Thompson, James Ransone e Juliet Rylance. Suspense. Classificação 16 anos. Cinemark

Direção: Stephen Chbosky. Adaptação do livro publicado em 1999 por Chbosky. Charlie (Logan Lerman), de 15 anos, se recupera de uma depressão. No colégio, começa sua jornada de socialização com a ajuda de Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), que o recebem em seu mundinho à parte dos populares. Romance. Classificação 10 anos.

em 12 de outubro. 110 minutos.

A negociação Direção: Nicholas Jarecki. Às vésperas de vender sua empresa milionária, Robert Miller (Richard Gere), um magnata da bolsa de valores, envolve-se em um acidente causando a morte de uma pessoa. Para preservar sua imagem, ele esconde sua responsabilidade no caso. Mas um investigador (Tim Roth) está disposto a descobrir o verdadeiro culpado, sabotando todos os planos de Robert. Drama.

Direção: Todd Lincoln. Um grupo de investigadores faz uma experiência para provar que fantasmas só existem porque acreditamos. A experiência resulta em um espírito que atormenta o casal Kelly (Ashley Greene) e Ben (Sebastian Stan), integrantes do grupo, e se alimenta do medo da dupla. Patrick (Tom Felton), especialista em atividade paranormal, é a única esperança. Suspense. Classificação 14

Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 19 de

anos. Kinoplex em 26 de outubro. 93 minutos.

outubro. 107 minutos.

Cinemark e Kinoplex em 19 de outubro. 103 minutos.

Até que a sorte nos separe Direção: Roberto Santucci. Tino (Leandro Hassum) tem sua rotina transformada ao ganhar na loteria. Em dez anos, gasta todo o dinheiro com uma vida de ostentação ao lado da mulher, Jane (Danielle Winits). Ao descobrir que está falido, é obrigado a aceitar a ajuda de Amauri (Kiko Marcarenhas), seu vizinho, consultor financeiro nada divertido. Quando Tino descobre que a gravidez da mulher é de risco, resolve esconder a falta de dinheiro, se envolvendo em várias confusões. Comédia. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 5 de outubro. 135 minutos.


Arte, Cultura e Lazer Atividade paranormal 4 Direção: Henry Joost e Ariel Schulman. Cinco anos após Katie (Kathie Featherston) matar a irmã Kristi (Sprague Grayden) e o cunhado Daniel (Brian Boland), ela se muda com o sobrinho Hunter (Brady Allen) para um pacato subúrbio. Na casa ao lado vive a adolescente Alice (Kathryn Newton), que acompanha os passos do garoto sem que ele perceba. Até que estranhos eventos acontecem na casa dela, colocando-a em perigo. Terror. Classificação 14 anos. Kinoplex em 19 de outubro. 95 minutos.

Busca implacável 2 Direção: Olivier Megaton. Após salvar sua filha Kim (Maggie Grace) dos sequestradores, o agente aposentado da CIA Bryan Mills (Liam Neeson) resolve tirar férias em Istambul, na Turquia, e é surpreendido pela ex-mulher, Lenore (Famke Janssen), e por Kim. Mas o pai de um dos sequestradores (Rade Serbedzija) resolve se vingar, sequestrando Bryan e Lenore durante a viagem. Agora, Kim é que vai ajudálos. Ação. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 5 de outubro. 95minutos.

Faroeste caboclo Direção: René Sampaio. Adaptação da música de Renato Russo. João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira) sai de Salvador e vai para Brasília tentar uma vida melhor. Conhece Maria Lúcia (Isis Valverde), por quem se apaixona, mas o envolvimento dele com o tráfico de drogas pode colocar tudo a perder. Jeremias (Felipe Abib) se torna seu grande rival nos negócios e no amor. Drama. Classificação 14 anos. Kinoplex em 26 de outubro. 100 minutos.

Hotel Transilvânia Direção: Genndy Tartakovsky. Drácula convida para seu luxuoso resort alguns dos mais famosos monstros do mundo – Frankenstein e sua esposa, a Múmia, o Homem Invisível, uma família de lobisomens e outros – para o aniversário de 118 anos de sua filha Mavis. Os

planos podem dar errado quando um rapaz comum aparece no hotel. Na versão original, vozes de Adam Sandler, Selena Gomez, Kevin James, Fran Drescher, David Spade, Steve Buscemi, Molly Shannon, Cee Lo Green e Andy Samberg. Animação. Classificação livre. Kinoplex em 5 de outubro. 91 minutos.

Marcados para morrer Direção: David Ayer. Dois policiais, Taylor (Jake Gyllenhaal) e Zavala (Michael Peña), confiscam uma pequena quantia em dinheiro e armas de um cartel de drogas, o que os coloca na mira dos criminosos. Drama. Classificação 18 anos. Kinoplex em 19 de outubro. 114 minutos.

Moonrise Kingdom Direção: Wes Anderson. Em uma ilha na região da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, durante os anos 1960, um garoto (Jared Gilman) e uma menina (Kara Hayward) se apaixonam e decidem fugir, mobilizando toda uma cidade na busca pelos dois, o que acaba virando o lugar de cabeça para baixo. Bruce Willis também está no elenco. Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex em 12 de outubro. 94 minutos.

Relação explosiva Direção: David Brooks Palmer e Dax Shepard. Charlie Bronson (Dax Shepard) abandonou a vida do crime. Adotou nova identidade com a assistência do programa de proteção às testemunhas. No entanto, quando sua namorada (Kristen Bell) precisa de ajuda para chegar a Los Angeles, Charlie coloca em risco sua proteção para socorrê-la. No caminho, é perseguido tanto pelo FBI quanto por sua antiga gangue. Ação. Classificação 12 anos. Kinoplex em 5 de outubro e Cinemark em 26 de outubro. 100 minutos.

Selvagens Direção: Oliver Stone. Ben (Aaron Johnson) e Chon (Taylor Kitsch) são amigos que dividem a namorada, Ophelia (Blake Lively), e cuidam de

um negócio próprio: plantio e distribuição de maconha. Tudo segue bem até o surgimento de um cartel mexicano que lhes oferece sociedade. Como não aceitam, Ophelia é sequestrada. O resgate equivale a toda a grana que ganharam nos últimos cinco anos. Aceitam pagar, mas bolam um plano para ficar com Ophelia e o dinheiro. No elenco, Benicio Del Toro, John Travolta, Uma Thurman, Olivia Wilde, Salma Hayek. Suspense. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 5 de outubro. 131 minutos.

Tudo por um sonho Direção: Michael Apted e Curtis Hanson. Baseado na história de vida do surfista Jay Moriarity (1978–2001). Com apenas 15 anos, Moriarity (Jonny Weston) prepara-se para enfrentar as gigantescas ondas do norte da Califórnia, conhecidas como Mavericks. Ele conhece a lenda local Frosty Hesson (Gerard Butler) e os dois formam uma amizade única além do surfe. Drama. Classificação 12 anos. Kinoplex em 26 de outubro. 91 minutos.

www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br Não informaram a programação a tempo: www.itaucinemas.com.br www.cinecultura.com.br

Cinema – outros

18ª Mostra Internacional de Ciência na TV

Voltada para crianças, a mostra, pela primeira vez em Brasília, apresenta documentários e programas de televisão do País e do exterior. São 32 filmes, entre eles A grande sacada: robôs sociais e Por que os navios naufragam (Estados Unidos); Energia escura e Rota de expansão do universo (Japão); e O mistério dos cristais gigantes (Espanha). 23 a 28 de outubro, no Centro Cultural Banco do Brasil. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura.


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Cinema Escrito, produzido e dirigido pelo espanhol Rodrigo Cortés, o drama Poder paranormal é um trabalho interessante, mas não à altura do talento e da maestria de Robert De Niro. Na fita, ele é Simon Silver, um paranormal cego que após acidente fatal no passado envolvendo seus supostos poderes optou pelo ostracismo. Após anos de reclusão ele está de volta, mas agora esbarra pelo caminho com a especialista em desmascarar charlatões Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy), que guarda um segredo sobrenatural. “Só porque você não pode explicar não

Gonzaga – De pai para filho Direção: Breno Silveira. A relação entre Luiz Gonzaga (1912–1989), interpretado por Adelio Lima e Land Vieira (na adolescência), e Gonzaguinha (1945–1991), vivido por Julio Andrade. Giancarlo di Tomazzio, Alison Santos, Nanda Costa, Silvia Buarque, Luciano Quirino, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro, Olivia Araújo, Zezé Motta e João Miguel também estão no elenco. Drama. Classificação 12 anos. Kinoplex em 26 de outubro. 95 minutos.

quer dizer que é verdade”, rebate ela, toda vez que alguém bate de frente com suas teorias. Contundente ao questionar os limites da fé e da manipulação da indústria do milagre por certos vampiros da dor alheia, o filme se perde da metade da fita para a frente. Isso porque não resiste à ridícula megalomania do cinema de Hollywood de querer explicar o inexplicável com pirotec-

Cartaz – Chegou a Brasília Distribuidoras de filmes alternativos apresentam 14 películas nacionais e estrangeiras que ainda não tiveram estreia comercial em Brasília. Entre elas, o sueco O moinho e a cruz e o brasileiro Amadores do futebol. 9 a 21 de outubro, no CCBB. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura.

Mostra de Cinema B.O. É focada na produção de alunos das faculdades de cinema e audiovisual de Brasília. Os 12 filmes selecionados serão apresentados nos dois primeiros dias da programação. No

terceiro dia será a premiação. O festival foi criado por artistas plásticos da UnB. 23, 24 e 25 de outubro, na Caixa Cultural. Classificação e programação em www.olharmultimidia.com.br/ mostrabo.

Mostra de Cinema Svěrák Homenagem a Jan e Zdenek Sverák, considerada a dupla mais importante da cinematografia tcheca nos últimos 20 anos. Jan se concentra na direção de filmes. Zdenek, o pai, é docente por formação e se dedicou à televisão, ao rádio, ao teatro, escreveu músicas, roteiros de cinema, além de trabalhar como ator. Com nove filmes, a mostra traz obras

nia visual. Na sombra do ótimo Cillian Murphy, o astro Robert De Niro e seus poderes paranormais como ator há tempos deixam muito a desejar aos seus fãs. O que é uma pena, porque o filme, até pelo tema, tinha tudo para deslanchar. Mas não se iluda: o clássico Entre Deus e o pecado (1960) ainda é o registro mais visceral sobre a banalização da fé e toda indústria que impera por trás dos necessitados.

Lúcio Flávio Jornalista especializado em cultura


Arte, Cultura e Lazer

conhecidas no Brasil, como Num céu azulescuro e A minha pequena aldeia, e inéditas como a animação O retorno de Kuki. Até 7 de outubro, no CCBB. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura.

Mostra de Filmes Coreanos São cinco filmes, entre drama, romance e comédia, que abordam temas pessoais e familiares, além de questões sociais. 30 de

Elvis Presley in concert O espetáculo é a coleção de trechos dos melhores concertos e filmes do artista, que morreu há 35 anos. Os sons das gravações foram excluídos, com exceção da voz de Elvis. As imagens são projetadas em um telão de LED. No palco, uma orquestra de 16 músicos, muitos da formação original da banda de Elvis, apresenta-se ao vivo. 6 de outubro, às 21h, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos

outubro a 4 de novembro, no CCBB. Classificação e

(inteira): Arquibancada R$ 50; Cadeira inferior

programação em www.bb.com.br/cultura.

R$ 100; Camarote VIP R$ 150; Mesa Premium R$ 350. Classificação 12 anos. Telefone: 3321-0748.

Música

Banda Uó O grupo tecnobrega é formado pelos goianos Mateus Carrilho, Davi Sabbag e Mel Gonçalves. No repertório, músicas do primeiro álbum, que fizeram sucesso na internet, como Shake de amor, Não quero saber e Búzios do coração. 6 de outubro, às 22h30, na Victoria Haus. Ingressos (inteira): com fantasia brega R$ 25; sem fantasia brega R$ 30. Classificação 18 anos. Telefone: 9552-2891.

Carlinhos Brown O show Romântico ambiente, com músicas dos seus dois últimos álbuns, lançados em 2010. Em Diminuto, ele expressa o seu lado mais melódico em sambas, bossas e boleros. Adobró traz o músico em versão mais pop e dançante. 6 e 7 de outubro, sábado, às 20h; domingo, às 19h, no Teatro da Caixa. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 12 anos. Telefone: 3206-9448.

Chitãozinho e Xororó A turnê em comemoração aos 40 anos de carreira dos irmãos, completados em 2011. O cenário tem fotos que retratam cada momento da história de uma das duplas mais importantes da música sertaneja. 27 de outubro, às 22h, no Opera Hall. Ingressos (inteira): Pista R$ 120; Área VIP R$ 200; Mesa bronze R$ 1.200; Mesa prata R$ 1.400; Mesa ouro R$ 1.600; Mesa diamante R$ 2.000. Classificação 18 anos. Telefone: 3306-2012.

Maria Rita A cantora interpreta sucessos consagrados na voz de sua mãe, Elis Regina (1945–1982), acompanhada dos músicos Thiago Costa, Sylvinho Mazzucca, Davi Moraes e Cuca Teixeira. No repertório canções como Como nossos pais, Águas de março, O bêbado e o equilibrista, Tatuagem e Redescobrir, que dá nome à turnê nacional, que começou em março. 13 de outubro, às 20h30, no estacionamento do Shopping Iguatemi. Ingressos (inteira): Setor Amarelo R$ 180; Setor Verde R$ 300; Setor Azul R$ 400. Classificação 12 anos. Telefone: 3577-4040.

Robert Plant Pela primeira vez em Brasília, a voz do Led Zeppelin retorna ao Brasil após 15 anos, desta vez com a banda The Sensational Space Shifters. O repertório tem de músicas que surgiram nos tempos do Led Zeppelin até as mais atuais, no estilo blues. 25 de outubro, às 22h, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos (inteira): Arquibancada R$ 160; Pista R$ 280; Pista Premium R$ 360. Classificação 16 anos. Telefone: 8432-3661.

Samba Brasília O evento reúne os cantores Thiaguinho, Péricles e Belo e as bandas Sambô, Bom Gosto e Revelação. Será montado o Palco Brasília, onde se apresentarão três bandas surpresas da cidade. 20 de outubro, às 16h, no

estacionamento do Mané Garrincha. Ingressos (inteira): Camarote Fem. R$ 60; Camarote Masc. R$ 80; Premium Fem. R$ 140; Premium Masc. R$ 160; Santo Camarote Fem. R$ 260; Santo Camarote Masc. R$ 320. Classificação 16 anos (18 anos na área open bar). Telefone: 3264-4669.

Sapucapeta O grupo de samba carioca lança o DVD Baile do Sapuca Vivo Rio. Com participação de Preta Gil. 14 de outubro, às 22h, no Espaço Dal Mare (Setor de Clubes Sul). Classificação 16 anos. Informações e preços pelo telefone 9909-2432.

Simple Plan Pela primeira vez em Brasília, a banda canadense apresenta músicas dos seus quatros álbuns: No pads, no helmets… just balls (2002), Still not getting any (2004), Simple Plan (2008) e Get your heart on! (2011). 16 de outubro, às 21h, na orla do Clube de Engenharia. Ingressos (inteira): Pista R$ 160; Pista VIP R$ 240; Camarote Summer Paradise R$ 360. Classificação 12 anos. Telefone: 4003-1212.

Tulipa Ruiz A cantora paulista se apresenta pela terceira vez no Teatro Oi. Desta vez, traz o show de lançamento do segundo álbum, Tudo tanto. 4 e 5 de outubro, às 21h, no Teatro Oi. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 14 anos. Telefone: 3424-7121.

Video Games Live Pela primeira em vez em Brasília, o evento está na sétima edição, sendo que seis já passaram pelo Brasil. É uma série de concertos criada e produzida pelos veteranos da indústria e compositores de jogos eletrônicos Tommy Tallarico e Jack Wall, apresentando músicas de mais de 50 títulos. Cada som é apresentado com imagens projetadas, iluminação sincronizada e momentos interativos entre os personagens e o público. 13 de outubro, às 19h30, no Clube de Engenharia. Ingressos (inteira): Zelda R$ 120; Sonic R$ 160; Super Mario R$ 240. Classificação livre. Telefone: 2109-2122.


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Yanni Pela primeira vez em Brasília, o compositor e tecladista grego retorna ao Brasil com sua nova turnê, An evening with Yanni under the stars. Yanni já lançou 19 álbuns. O espetáculo reúne composições como Seasons, Voyage e Vertigo. 18 de outubro, às 20h30, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Setor Superior R$ 400; Setor B R$ 500; Setor A R$ 650; Setor Premium R$ 800. Classificação 14 anos. Telefone: 4003-5588.

exposições

A figura humana

Roberto Burle Marx São 120 desenhos do artista (1909–1994). O material, pela primeira vez em Brasília, é do acervo do Sítio Roberto Burle Marx. São obras com carvão, grafite, nanquim, lápis de cor, giz de cera, hidrocor e guache. Até 4 de novembro, de terça a sexta, das 10h às 19h, no Museu Nacional dos Correios. Entrada franca e livre. Telefone: 3426-1000.

A Terra vista do céu São 130 imagens do fotógrafo e ecologista francês Yann Arthus-Bertrand. Há 20 anos, ele viaja pelos cinco continentes retratando do alto de um balão, de um helicóptero ou de um avião paisagens inusitadas. Cada painel tem aproximadamente três metros de altura.

Até 4 de novembro, de segunda a domingo, das 9h às 18h, na praça do Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.

Carlinhos Brown

O olhar que ouve Cinco telas de traços exuberantes e cinco instalações. Como na música, o movimento e a energia são as marcas de Brown. A exposição revela um lado do baiano pouco conhecido pelo público. 5 de outubro a 2 de dezembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Corpos presentes O artista britânico Antony Gormley traz 11 esculturas que retratam o corpo e o espaço. Ele é conhecido por suas obras de larga escala, como Critical Mass, composta de esculturas de ferro feitas a partir do corpo do artista. Em 21 de outubro, às 18h, o britânico fará a abertura da exposição e uma palestra. 22 de outubro a 6 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.

Debret – Viagem ao Sul do Brasil

Desenhos e aquarelas do francês JeanBaptiste Debret (1768–1848), com destaque

para os trabalhos produzidos em sua viagem ao Sul do Brasil, em 1827. Dividida em duas partes, a exposição traz também um conjunto de aquarelas produzidas no Rio de Janeiro. As obras retratam a vida na corte, da pompa do Império ao dia a dia dos escravos. Até 18 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Peso e leveza Trabalhos de 15 artistas de seis países da América Latina. As imagens refletem as desigualdades, as situações problemáticas e violentas comuns às nações latinoamericanas. São 73 fotografias, dois vídeos e uma instalação. Até 20 de outubro, de segunda a sexta, das 11h às 21h, no Espaço Cultural Instituto Cervantes. Entrada franca e livre. Telefone: 3242-0603.

Pneumática Esculturas infláveis de papel de seda criadas pelo paraense Paulo Paes a partir do contato com mestres baloeiros do Rio de Janeiro. Com uma pesquisa de todo o universo dessa tradição, o artista fez um resgate de fundamentos tecnológicos e elementos visuais da arte dos balões para criar objetos de caráter efêmero. Até 25 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.


Arte, Cultura e Lazer Transit A mostra traz obras da Fundação Sindika Dokolo, de Angola, que possui a maior coleção de arte contemporânea africana do mundo. São 26 obras, entre instalações, pinturas, gravuras, fotografias e vídeos, produzidas por 15 artistas africanos, um norte-americano e um europeu. Até 18 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Teatro

5º Festival Internacional de Comédia do G7

O festival continua em outubro. Pela primeira vez foi dividido por temas: intimidade, arte e televisão. É internacional porque os espectadores poderão ver estéticas teatrais inspiradas em países como Argentina, Itália, França, Inglaterra, Espanha, Israel, Peru, Chile, Colômbia, República Tcheca, Alemanha e Guatemala. Até 4 de novembro. Classificação 16 anos. Telefone: 8129-4709. Veja a programação em www.simplesmenteg7.com.

Amor de Ahh a Zzz Amor para uns é sexo, para outros, turbilhão de emoções. Há até os que acham se tratar só de ligações químicas, mas para a Cia. Setebelos é comédia pura. 20 e 21 de outubro, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 14 anos. Telefone: 3325-6240.

Antes que o mundo acabe Do projeto Terça Insana. O espetáculo aborda o fim do mundo, que, segundo a profecia maia, se aproxima. Se o mundo vai acabar em dezembro de 2012, vale a pena entrar num consórcio de casa própria? Haverá Copa do Mundo no Brasil em 2014? E o Pan-Americano, como fica? No elenco, Agnes Zuliani, Arthur Khol e

Mila Ribeiro. 6 a 14 de outubro, sábados, às 20h e às 22h; domingos, às 19h, no Teatro dos Bancários. Ingresso (inteira): R$ 80. Classificação 14 anos. Telefone: 3346-9090.

Deus da carnificina, uma comédia sem juízo Texto da francesa Yamina Reza, que já foi apresentado em diversos países e foi adaptado para o cinema por Roman Polanski. A história de dois casais que se encontram para resolver um incidente envolvendo seus filhos pequenos. O que era para ser uma tentativa de reconciliação acaba num caos. No elenco, Deborah Evelyn, Julia Lemmertz, Orã Figueiredo e Paulo Betti. 13 e 14 de outubro, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): R$ 80. Classificação 14 anos. Telefone: 3325-6239.

Dois de paus A comédia conta os encontros e desencontros amorosos de Júlio e Alex, interpretados por Joabe Coelho e Arthur Curado. Eles são jovens, bons profissionais, têm ótima relação com os amigos e a família e estão apaixonados. Mas um encontro casual na internet muda tudo. O texto é do brasiliense Curado. Até 14 de outubro, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h, no Espaço Brasil 21. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 16 anos. Telefone: 3039-8610.

Família Addams

teatro da Escola Parque 307 Sul. Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação livre. Telefone: 8199-2120.

Improvável musical Produzido pela Cia. Barbixas. A diferença do espetáculo de improviso é o novo jogo, no qual os atores criam um musical baseado nas sugestões do público. 26, 27 e 28 de outubro, sexta-feira, às 20h; sábado, às 19h; domingo, às 18h, no Teatro Ulysses Guimarães – Unip (913 Sul). Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos. Telefone: 8144-1514.

Jogo de Cena – Dia das Bruxas Neste mês, a Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo faz um especial com brincadeiras macabras e com o tenebroso visual do Dia das Bruxas. 31 de outubro, às 20h, no Teatro da Caixa. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3206-9448.

O barbeiro de Ervilha Comédia musical para crianças. A ópera O barbeiro de Sevilha, de Gioacchino Rossini, serviu de inspiração para Daniel Herz. A história de uma trupe mambembe de comediantes que encena na cidade fictícia de Ervilha do Norte, no Nordeste. Conta as aventuras de Fígaro, o barbeiro de Ervilha, que acumula as funções de veterinário, farmacêutico e pombo-correio. 12 a 14 de outubro, às 17h, no Teatro da Caixa. Ingresso (inteira): R$ 10. Classificação livre. Telefone: 3206-9448.

A Cia. Teatral Néia e Nando traz uma adaptação das aventuras macabras e divertidas da família norte-americana chefiada pelo patriarca Gomez Addams e sua esposa, Mortícia. Eles são pais do desmiolado Feioso e da sádica Vandinha. Ainda no clã, a vidente Vovó, o explosivo Tio Chico, o mordomo Frankenstein Tropeço e a Mãozinha. Na peça, Vandinha decide se tornar uma grande feiticeira e testa as piores bruxarias em seu irmão, no dia da grande festa organizada por Gomez.

sábados e domingos, às 16h, no Espaço Mosaico.

6 a 28 de outubro, sábados e domingos, às 17h, no

Ingresso (inteira): no primeiro fim de semana a

Quarteto do Cerrado O infantil conta a história do tamanduábandeira (Tamandantonio Bandeiras), do lobo-guará (Lobão), da ema (Ema Winehouse) e da jaguatirica (Lady Gaga). Devido às queimadas e ao desmatamento, se unem para buscar um novo lar na cidade e se envolvem em confusões. Com Daniela Vasconcelos, Guilherme Angelim, Mateus Ferrari, Nathalie Amaral. 6 a 28 de outubro,


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Daniele Ávila

Ricardo Pereira. O suspense de como se encontraram permeia toda a encenação. 26 a 28 de outubro, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): R$ 80. Classificação 14 anos. Telefone: 3325-6240.

Outros

1º Festival do Fundo de Apoio à Cultura

Em comemoração aos 21 anos do FAC, a Secretaria de Cultura promove o evento. O festival está nas Salas do Teatro Nacional, na Biblioteca Nacional de Brasília e no Shopping Popular de Brasília e inclui na programação artes circenses, musicais, teatro, dança e palestras. Até 7 de outubro. Entrada franca. Classificação e programação em www.festfac.net.

III Encontro de Palhaças de Brasília

Depois da queda As reflexões de Quentin, advogado nova-iorquino que decide reexaminar sua vida e, em especial, sua relação com Maggie, personagem declaradamente inspirada em Marilyn Monroe. A história é uma reflexão autobiográfica do autor Arthur Miller, seu casamento com Marilyn e a morte precoce da atriz. Direção e tradução: Felipe Vidal. Elenco: Simone Spoladore, Gabriela Carneiro da Cunha, José Karini, Elia Kazan, Thaís Tedesco, Paulo Giardini, Leandro Daniel Colombo, Talita Fontes, Paula Tolentino e Luciano Moreira. 19 a 28 de outubro, sexta a domingo, às 20h, no CCBB. Ingressos (inteira): R$ 6. Classificação 16 anos. Telefone: 3108-7600.

Estão programadas palestras, oficinas, 14 espetáculos com palhaças nacionais e estrangeiras, quatro cabarés com apresentação das palhaças e um salão de artes visuais. A novidade desta edição é o CineMulheres, mostra com cinco filmes. Após cada sessão, será realizado um batepapo e servido um delicioso Chá Com Palhaças. As sessões serão comentadas pela cineasta e documentarista Ericka Bauer. As apresentações serão em diversos lugares: Teatro Dulcina, praças, ruas e monumentos da cidade. Até 14 de outubro. Entrada franca. Classificação e programação em

entrada será franca, nos outros serão cobrados R$ 15 (inteira). Classificação livre. Telefone: 3032-1330.

Ultra-romântico Releitura do livro Noite na taverna, de Álvares de Azevedo (1831–1852). O Grupo Liquidificador criou um roteiro que funde em uma única narrativa as histórias contadas no livro pelos personagens Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. O condutor da história é Ângela, a representação da musa idealizada do jovem

romântico, a provocação de que o herói precisa para seguir. Até 4 de novembro, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h, no subsolo do Conic. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 16 anos. Telefone: 9633-8711.

Um sonho pra dois Inspirado nos filmes noir dos anos 50, em que nem tudo é o que parece. Fernanda Souza está na pele de Cléo, ex-atriz filha de um empresário milionário. Sem saber o que aconteceu na noite anterior, a jovem acorda ao lado de Edu, jornalista interpretado por

encontrodepalhacas.com.br.

Dia Nacional da Espanha A Embaixada da Espanha e o Instituto Cervantes celebram o Dia Nacional da Espanha. A data é comemorada em 12 de outubro. Entre as atrações estão a exposição Miradas en camino de Santiago, com 70 fotografias, Más que palabras, espetáculo flamenco, e um concerto da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Até 17 de outubro. Classificação, preço e programação em brasilia.cervantes.es/br.


Banquetes e botecos } ilustração Rômulo Geraldino

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

romulog2000@yahoo.com.br

Quer uma comida caseira, num ambiente fofo, e ainda pagar barato? Vá ao Panelinha

123 45 O Panelinha foi inaugurado em dezembro de 2008 pelos sócios Ademir Gudrin, Gelson e Delza Leite. O paulista Ademir Gudrin trabalhou durante anos como assistente social lidando com causas indígenas. Em paralelo, manteve o hobby de cozinhar e se dedicou sempre a sabores regionais. Após concluir o curso de pós-graduação em gastronomia na UnB, associou-se com Gelson e Delza Leite para montar o Panelinha. O restaurante é um desses lugares gostosos que fazem a gente se sentir em casa. Algumas mesas ficam debaixo de árvores, coladas à calçada entre a comercial e a quadra residencial, dando a impressão de que estamos no quintal de uma casa de mineiro. O aconchego, a simplicidade e a hospitalidade são traduzidos de várias maneiras: a decoração, a disposição e o estilo das mesas, os objetos pendurados nas paredes, o jeito de servir, o cheirinho de comida caseira. À noite, as mesinhas são enfeitadas com velinhas que compõem uma atmosfera romântica e simples. Uma das especialidades é o picadinho de filé mignon, servido com arroz, feijão, banana-da-terra frita e farofa de ovo. Pode ser individual ou para dois. Pedi a porção para casal e ainda sobrou. O que mais me chamou a atenção foi a farofa de ovo – estava uma coisa, tinha mais ovo do que farofa. Outra delícia é o risoto de pera com gorgonzola. Hummmmmm, enche a minha boca de água só de lembrar. Todo dia 29 tem nhoque da fortuna. Fui uma vez no dia, por acaso, e pedi. O nhoque estava leve e saboroso. Gudrin não se cansa de procurar ingredientes regionais, seja no Ceasa ou na Feira do Guará. Tudo para empregá-los em pratos elaborados, como o surubim com pesto de jambu sobre mousseline de banana-daterra, assada com leite de coco e manteiga de garrafa, e acompanhado de arroz sertanejo (com castanha de caju e licuri). Ainda não experimentei, mas com certeza será minha próxima opção. Apesar de todas essas opções à la carte, há a alternativa dos pratos do dia. Esse sucesso todo é tanto pela qualidade como pelo preço. De segunda a sexta-feira, são servidas duas versões de prato do dia, cada uma por R$ 19,90. Olhei o cardápio da semana e me empolguei. O Panelinha, com certeza, é uma das poucas opções que Brasília oferece de uma combinação de comida boa, ambiente agradável e preço justo. 316 Norte, Bloco E (61) 3041-5070 Segunda: 12h às 17h Terça a sábado: 12h às 24h Domingo: 12h às 18h


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AQUI NO DF TEM SAÚDE PARA AS MULHERES, TEM SAÚDE PARA TODOS.

Outubro Rosa é um movimento mundial que une todas as mulheres contra um inimigo comum: o câncer de mama. O DF também se juntou a esse movimento e todos os dias deste mês prédios públicos estarão iluminados de rosa. Além disso, toda a rede de saúde estará voltada especialmente para a saúde da mulher e a Carreta da Mulher estará realizando consultas e exames. Aproveite, mais de 20 mil mulheres já foram atendidas e 401 já fizeram reconstrução da mama. Faça mamografia a cada dois anos, se tiver entre 50 e 69 anos de idade.

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