Revista meiaum Nº 5

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Quem visita Brasília fica perdido e sai sem informação

+ FICÇÃO

Os sete pecados numa segunda-feira típica da capital federal

U N°

Muito prazer, excelÊncia

5 Ano 1 | Agosto 2011 | www.meiaum.com.br

+ TURISMO

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Papos da Cidade

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Conto – João Pitella Junior

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Fora do Plano

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Artigo – Juliana Santana

16

Turismo

38

Conto – Patrick Selvatti

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Artigo – Wellington Almeida

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Artigo – Kátia Marsicano

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Caixa-Preta

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Arte, Cultura e Lazer

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Banquetes e Botecos

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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

E se o projeto escolhido para a capital não tivesse sido o de Lucio Costa?

Paola Lima analisa os bastidores da política local

No museu a céu aberto, o visitante fica abandonado

O confronto da ideia da cidade com a realidade do País

Perfil

Luciano Gonzaga (foto), da repressão à caridade com usuários de drogas

Capa

Como funciona a prostituição no Congresso Nacional

A arquitetura precisa se adaptar às novas necessidades do ser humano

Um dia, sete pecados

Brasília não é lugar para caminhar

A política nacional por Luiz Cláudio Cunha

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é

A MEIAUM ERROU Na edição n°4, o último parágrafo da coluna Caixa-Preta (pág. 46), do jornalista Luiz Cláudio Cunha, saiu com erro na primeira frase. Publicamos “A sinceridade levou Ustra a reconhecer que ‘há muito tempo deixou de

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ser comunista’”, só que o colunista escreveu “A sinceridade levou Arida a reconhecer que ´há muito tempo deixou de ser comunista’”.


Investir em Brasília é investir em você.

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A Terracap tem o compromisso público de investir em um futuro melhor para a nossa cidade. E para que isso aconteça ela utiliza recursos arrecadados em licitações de imóveis e promove melhorias para milhões de pessoas, como o Estádio Nacional de Brasília: uma arena multiuso completamente sustentável para 70 mil pessoas, que, além de sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014, será a porta de abertura para os grandes eventos no DF. Investir em Brasília é investir em você.

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E mais...

Thyago Arruda

Thyago Arruda

Pedro Ernesto pág. 8 Paula Oliveira págs. 8 e 16 Marina Simon pág. 8 Morillo Carvalho pág. 9 Ana Paula Ferraz pág. 9 Ana Rita Gondim pág. 10 Kátia Morais pág. 10 Bianca Stucky pág. 10 Lúcio Flávio págs. 11 e 53 João Pitella Junior pág. 12 Rômulo Geraldino pág. 12 Paola Lima pág. 15 Gougon págs. 15 e 45 Thyago Arruda págs. 16 e 42 Wellington Almeida pág. 22 Rafania Almeida págs. 28 e 47 Cícero Lopes pág. 28 Juliana Santana pág. 36 Cláudia Dias pág. 36 Francisco Bronze pág. 38 Luiz Cláudio Cunha pág. 45 Priscila Praxedes pág. 46 Marcela Benet pág. 54 Humberto Freitas pág. 54

Diogo Dawes pág. 49

Kátia Marsicano pág. 42

Thyago Arruda

Carioca e herdeira da desastrada espontaneidade italiana, é viciada numa boa roda de samba e na doçura musical da bossa nova. Convicta da teoria da conspiração divina, é ambientalista xiita confessa, filha de São Jorge e São Francisco e “mãe” de três gatos e um cachorro. Impaciente com a tecnologia, mas será sempre – irremediavelmente – apaixonada por livros. Ah! É jornalista, graças a Deus!

O niteroiense tem em Brasília um refúgio certeiro. Morou em cidades mundo afora, mas sempre retorna à capital, onde pratica sua maior paixão, o ócio criativo. Simpático como poucos, adora reunir os amigos e criticar músicas e filmes de que os menos afortunados insistem gostar. Formado em Artes Visuais, é viciado em cinema e música alta.

Thyago Arruda

Rafael Lemos pág. 22

Em sua casa desenhar sempre foi algo incentivado não com falsos elogios, mas com críticas sinceras e construtivas. Procura agora no curso de Design da UnB conceituação e profissionalismo para o que sempre foi seu maior hobby.

Colaboradores

Nilson Carvalho

Patrick Selvatti pág. 38

Jornalista para se sustentar e escritor para a vida ter sentido. Mineiro de registro e brasiliense de status, acredita que sem ficção a realidade não tem graça. Um romance publicado, outro em edição e um terceiro sendo escrito, além de menção honrosa de um concurso de roteiro de novelas da Record. Escreve a série de contos As Brasilienses no blog Dedo de Prosa, vê novela antiga, pedala, namora e joga conversa fora.

Noelle Oliveira pág. 24

O estilo “mineirinha come quieta” disfarça, na verdade, a jovem brasiliense descolada. A paixão pelo jornalismo é indiscutível, e a agilidade ao escrever intriga amigos. Alguns minutos e surge o texto. De polícia a política, on-line ou impresso, fez de tudo um pouco. Cuidado apenas para não confundi-la: existem duas irmãs fotocopiadas soltas por aí.


Carta dos editores

Sem segundas intenções

C

hegamos à quinta edição da meiaum com a certeza de que estamos fazendo a coisa certa. Não a coisa perfeita, porque aí já seria demais e temos autocrítica. Mas a coisa certa. Ou seja: estamos fazendo o jornalismo que propusemos fazer ao pensar a revista e editar o primeiro número da meiaum, lá se vão quatro meses. Jornalismo de qualidade, independente, isento, plural, sem vínculos políticos ou econômicos. Não adianta enxergar segundas intenções ou interesses escusos em nossas reportagens, artigos e ensaios. Nem nas fotos ou ilustrações. Nossa linha editorial não comporta esse tipo de jornalismo, infelizmente tão praticado em nossa cidade. Se têm qualidade e cabem no nosso limitado espaço, o texto, a foto, a ilustração, a charge serão publicados. As distorções comportamentais tão comuns em Brasília fazem com que alguns procurem enxergar

vínculos entre a publicidade e o conteúdo editorial da nossa revista. Basta folhear as cinco edições publicadas para verificar que isso não existe, para orgulho nosso e dos anunciantes. Queremos mais publicidade, sim – e precisamos muito dela –, mas jamais nos submeteremos a imposições externas. Pode parecer pretensão, e é mesmo. A pretensão de fazer jornalismo sério e à altura de uma capital federal que é, hoje, a capital do Hemisfério Sul. Uma cidade como Brasília não deveria aceitar posturas provincianas e medíocres. Temos, brasilienses por nascimento ou adoção, de ser corajosos e ousados. Na forma e no conteúdo. Nosso projeto chegou à quinta edição graças a uma equipe que já tem quase 60 pessoas. Constituímos, sem querer, a sociedade dos colaboradores da meiaum. Uma sociedade formada pelos profissionais que produzem textos,

fotografias e ilustrações. Reunimos desde lendas vivas do jornalismo, da fotografia, da ilustração e da charge, como Luiz Cláudio Cunha, Orlando Brito, Cícero Lopes e Gougon, até jovens profissionais que mostram muito talento e competência. Todos os nossos colaboradores adotaram a meiaum como sua e se empenham em fazer o melhor. É isso que garante a nossa continuidade e nossa qualidade. E são eles que podem atestar alguns de nossos fundamentos editoriais: a isenção e o pluralismo. Respeitamos o trabalho de cada um, não orientamos a tendência de textos e imagens, não censuramos e aceitamos, com prazer, opiniões diferentes das nossas. Até porque nós mesmos, os editores, temos opiniões muito diferentes.

Anna Halley e Hélio Doyle

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Diretora de Produção: Danielly Alonso Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

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CAPA | Por Cícero Lopes

Diretores: Anna Halley, Danielly Alonso e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br

Desenho digitalizado em vetor Jornalista ilustrador, começou a desenhar profissionalmente aos 12 anos. É editor de infografia do Jornal de Brasília e empresário.


Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto

ped.ernesto.din@gmail.com

Aqui e lá Sou natural do Rio de Janeiro, com muito orgulho, mas moro em Brasília há 30 anos. Cheguei literalmente carregada pelos meus pais, que por algum motivo acharam que a capital seria melhor lar. Cresci lá e cá. Passava pelo menos três meses por ano na cidade maravilhosa. Só não ficava mais porque tinha que frequentar a escola. Mesmo passando a maior parte do tempo em Brasília, minha cultura era a de lá. Dentro da minha casa, os costumes sempre foram cariocas. Até certa idade, eu nem sonhava que existia feijão de outra cor, a

não ser o preto. Não entendia o porquê de a moça da cantina da escola estranhar quando eu perguntava se tinha joelho no cardápio. Para quem não conhece, é um enrolado assado de presunto e queijo. E minhas amigas me achavam fresca quando eu reclamava que se deitar para tomar sol na grama do clube não era tão confortável quanto na areia da praia ou que era esquisito mergulhar e não sentir o salgado do mar na boca. Morando em Brasília, frequentei aulas de natação. No Rio. Assistia a todos os filmes infantis e juvenis no cinema. No Rio. Paquerava o meu vizinho. Do Rio. Em Brasília me sentia (e ainda me sinto) carioca. Mas quando chegava lá, tudo mudava. Eu era brasiliense. O meu jeito de falar, de me vestir, a minha cor pálida, meus gostos musicais... enfim, tudo parecia estranho para os cariocas que conviviam comigo. Essa confusão me acompanha desde sempre. Não me sinto totalmente inserida em nenhum dos dois ambientes. Sempre uma forasteira. Irrita-me profundamente ser chamada de brasiliense, mas sinto o mesmo quando falam mal da cidade em que moro. Dá pra entender? Paula Oliveira

Meia-entrada à francesa Preços abusivos de ingressos de cinemas e eventos culturais tiram qualquer brasiliense do sério. Com poucas exceções, assistir a uma peça ou a um show dói no orçamento. A culpa é da meia-entrada. O que me faz pensar em modelos mais inteligentes, como o adotado na França. Não me entendam mal. Leis estaduais e municipais brasileiras que regulamentam o benefício (não há lei federal sobre o assunto) nasceram com boas intenções. Entretanto, a forma como a meia-entrada é praticada


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hoje prejudica o acesso da população a espetáculos. Como dito certa vez pelo então presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília e Entorno, Luiz Felipe Pereira, durante audiência na Câmara Legislativa: “Hoje não existe meia-entrada no DF. O preço da meia equivale ao da inteira. E o da inteira, na verdade, é o dobro do preço”. Só não vê quem não quer. Não existem controles e critérios adequados. Falsificações de carteirinhas e a banalização do “estudante” (incluindo marmanjos de cursinho para concurso) são recorrentes. Lembrando que o objetivo da meia-entrada era beneficiar jovens alunos sem renda. Empresários rapidamente elevaram os preços dos ingressos, pois perceberam que a maioria paga valor reduzido. A questão suscita debates e polêmicas. Pipocam propostas: restringir idade, adotar selo de frequência, limitar o benefício a alunos do ensino regular. E se fosse o caso de rever a lei? E se os estudantes pagassem não metade do valor, mas cerca de 20% do total? É assim que acontece na França. O ingresso de um cinema por lá custa, em média, 10 euros a inteira e 7,80 euros para estudantes. Essa é a média de desconto para eventos culturais. Bem mais justo, não? Com diferença menor entre inteira e meia, a tentação de falsificar uma carteirinha diminuiria também. Mas isso é do interesse de quem exatamente? No mínimo, do cidadão que não pode pagar 300 reais num show no Centro de Convenções. Aliás, um absurdo maior ainda para uma casa com instalações precárias. Mas esse já é outro papo. Marina Simon

E a vida irrita a arte... Sempre soube, desde que desembarquei definitivamente em Brasília – e isso tem 10 anos –, que essa era a cidade-arte. Mas as

coisas da vida realmente irritam a arte, ou a cidade-arte. O céu de Brasília. Arquitetado por Lucio Costa para ser soberano à vista de quem esteja aqui, é realmente lindo. Na maior parte do ano. Em setembro e outubro, o marrom da fuligem de queimada o torna horrendo, e o ar, poeirento, impertinente a narinas, gargantas e olhos. A Esplanada? Bela e grandiosa, entre novembro e maio. Depois, o gramado, antes verde, tranforma-se em amarelo amarronzado pela poeira vermelha do Cerrado e não, não é bonito aquilo. O verde das inúmeras áreas verdes realmente refresca as monções secas da estação seca. Até a primeira chuva. Logo depois, uma imensa nuvem de cigarras brota do nada, canta em coro e a impressão é a de que todas resolveram entrar por seus ouvidos e gritar, mil decibéis acima da capacidade auditiva humana. Se você gosta de bares, esqueça os com mesa embaixo de árvore: as cigarras mijarão em sua testa, insistentemente, até acertarem o alvo: a sua cerveja. Afora as cigarras, há os passarinhos. São acalentadores os cantos deles. Até que um resolva armar um ninho no bloco vizinho decida cantar às quatro da manhã... E se lhe falta garagem, mais um motivo para amá-los menos: carro na rua e eles, em grupo e sem dó, o bombardeiam de cocô. E o Congresso? Niemeyer foi realmente genial ao pensar nas duas cuias paraenses gigantes de tacacá para o formato da Câmara e do Senado: uma pra cima, a outra virada. Não dá para escrever o mesmo sobre a nova torre de televisão digital. Comentar a forma fálica da própria tem se tornado dos hobbies preferidos de quem vive na cidade-arte. Às vezes a vida imita a arte. Quase sempre, a vida se irrita com a arte. E a vida irrita a arte, sempre. Deixemo-la em paz.

Das coisas que não entendo

Morillo Carvalho

Ana Paula Ferraz

Entre os três bilhões de coisas que eu não entendo, uma que vem me intrigando muito é o tal chá de panela. Uma busca rápida pelo sabe-tudo Google me mostrou que a tradição pode ter surgido como “uma forma de conseguir um dote para as noivas mais pobres”. Sei. Para a parte dos presentes até que faz sentido. Qualquer noiva fica pobre depois do gasto com a festa de casamento e é bacana os amigos ajudarem a montar a casa dos pombinhos. Mas o sentido acaba aí. Foi-se o tempo das brincadeirinhas inocentes, em que pintavam a noiva se ela não acertasse o presente que apalpou. A impressão que tenho é de que o chá de panela se tornou uma espécie de momento sádico entre mulheres. Ou será que alguém acha realmente engraçado fazer brincadeiras com a noiva como “faça cara de orgasmo”? Tem coisa mais constrangedora? Não seria mais útil pedir para a noiva fazer “cara de vai você primeiro” para aqueles momentos em que ambos querem usar o banheiro? Ou “cara de iupi” para a noiva usar quando chega do trabalho e dá de cara com a pia cheia de louça? Se for para treinar uma cara falsa, que ao menos seja pelo bem do casal. Mas minha dúvida não para por aí. Qual o sentido de contratar uma mulher para ensinar a noiva a fazer striptease, meu santinho do pau oco? Sem falar nos chocolates em formatos fálicos. Será um tipo de vingança para as velhas despedidas de solteiro? Ou vai ver é a modernização aos antigos ritos da fertilidade. Vá entender! Depois de tomar conhecimento sobre a existência malévola desses chás de panela humilhantes, entendi por que a maioria das minhas queridas amigas prefere chá bar. Outro nome que não entendo, mas aí é outro papo.


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Respeito, pelo menos, aos fumantes Não quero aqui fazer apologia ao cigarro, muito menos tecer elogios ao vício ou aos viciados. Mas, fumante que sou, me incomodam os narizes torcidos em minha direção ao inalar a fumaça do meu Marlboro Light em lugares permitidos. Nos fumódromos ou em áreas abertas – sou uma fumante respeitosa, mesmo em locais ao ar livre ou em bares sempre olho em volta para ver se quem está mais próximo pertence à tribo em extinção –, há sempre os chatos que gostam de incomodar os outros com o seu incômodo. Não que eles não tenham razão, mas fumódromos são para quê? Por que alguém que odeia cigarro se senta numa área reservada aos fumantes? Pior são aqueles comentários quando se está solitariamente pensando na vida e fumando seu cigarro tranquilamente. “Você é tão bonita para fumar!” “Você não combina com cigarro.” “Você sabe que cigarro faz mal?” Antigamente, perguntas ou afirmações desse tipo ainda me faziam dialogar com a pessoa ou tentar ser educada. Hoje simplesmente ignoro ou dou um sorrisinho amarelo para o indivíduo se tocar do comentário cafona e sair de perto. Pior ainda é se você reparar em quem critica um fumante. Já prometi a mim mesma que se o próximo chato que aparecer for gordo, ele que reze para eu me segurar e não ser obrigada a dizer: “Eu controlo o que você come?” Um é viciado em cigarro e o outro é viciado em comida. Por que diabos então censurando o mau hábito do outro? Nada contra quem está acima do peso, pois eu também preciso enxugar as gordurinhas. Mas, como se diz por aí, cada um no seu quadrado. Uma amiga minha já cumpriu o juramento. Quem sabe eu não me junto ao time. Fumantes, univos! Vamos pedir respeito e nos juntar nos fumódromos, se é que existe um perto de você, porque até isso estão tentando eliminar. Ana Rita Gondim

O golpe inevitável Na correria habitual de uma manhã fui abordada por um homem, numa movimentada comercial da Asa Norte. Mesmo apressada pra resolver o mundo, não resisti em parar e ouvir aquele velhinho. De aparência frágil e simples, como são aqueles do interior, me contou, bastante emocionado, que chegara de uma cidadezinha chamada Três Marias (MG), onde tinha uma chácara, e que sua mulher estava de alta no HRAN, mas ele não podia voltar para casa com ela porque quando vinha da rodoviária para o hospital fora assaltado por um homem, que também estava no ônibus superlotado. Suas andanças por ali tinham como objetivo pedir ajuda financeira a quem encontrasse. Já havia conseguido pouco mais de R$ 50 e precisava de R$ 169 para as passagens. Com os pequenos olhos embargados de lágrimas, desculpou-se por me pedir dinheiro, dizendo que nunca precisou pedir para viver, porque seu pequeno pedaço de chão acabava suprindo as despesas básicas de sua família, mas que aquela situação o transtornara e o deixara sem opção. Transtornada fiquei eu, que quase chorei junto. Sem saber muito que fazer, pois já havia lhe perguntado pelo serviço de assistência social do hospital, que não resolveu o problema, pedi que se sentasse em uma escada que havia por ali que iria em casa ver como poderia ajudá-lo. No caminho para o prédio encontrei um vizinho e o porteiro, para quem expus a situação. Eles, com ares de conversa habitual, tentaram me explicar que se tratava de um golpe, e me relataram mais uma meia dúzia deles, que presenciaram ali mesmo pela quadra. Resolvi rumar para casa. Está bem, todo mundo já sabe disso, só eu, tadinha, ainda caio nessa conversa, pude ouvir momentos depois. Mas a triste história me acompanhou mais a fundo. Verdade ou mentira, o suposto golpe já havia me atingido. E quando histórias desse

tipo forem verdade, quem vai socorrer os mais precisados? Lembrando sempre que não se limitam a dinheiro as necessidades humanas. Ou isso realmente não importa muito nesse mundo cão? Kátia Morais

Quando o julgamento perde a vez Em Sobradinho há o que chamam áreas verdes: as frentes das casas, que em qualquer cidade ficam viradas para as ruas, desembocam em áreas onde realmente há bastante verde, que deveria proporcionar uma vista agradável e bucólica; e uma estradinha, que deveria facilitar os passeios a pé ou de bicicleta. Os fundos das casas, onde geralmente há um quintal, ficam de frente para as ruas, com suas garagens. Acredito que a intenção fosse fazer o morador viajar dentro de seu próprio lar. Levando-o do cotidiano corrido de trabalho para a tranquilidade e a paz dos momentos de descanso. De um lado a cidade grande, as obrigações. De outro a família unida, o contato com a natureza. Teoricamente uma bela ideia. Na prática, nada funcional. São malconservadas, sujas, isoladas e escuras, fazendo com que as pessoas utilizem muito mais os fundos de suas casas, mal vendo as fachadas das próprias. Numa dessas manhãs frescas e ensolaradas, decidi caminhar por uma dessas áreas, onde visualizei um fogão velho abandonado. Logo pensei que as áreas verdes serviam também de ferro-velho. Na volta, fui surpreendida por três crianças brincando ao redor do fogão. Achei a cena tão bonita que passei a observá-la de longe. A menina abria o forno e pedia ao menino que pegasse o bolo, dizia que se ele não se apressasse ia queimar. O menino entrou no forno com metade de seu corpo e reapareceu com o bolo de barro em sua mãozinha. A menina abriu um sorriso e


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exclamou: – Hum! Bem na hora! O terceiro menino logo se aproximou com uma folha e um graveto e pediu o primeiro pedaço. Eu fiquei maravilhada com a sensibilidade infantil. O que para mim não passava de um fogão velho e feio abandonado num lugar malcuidado, para aquelas crianças era um mundo encantado, o universo lúdico se manifestando por meio da ingenuidade. Fiquei louca de vontade de fotografá-las. Mas optei por não distraí-las. Preferi narrar a poesia do momento. Eu que analisei tão criticamente as áreas verdes de Sobradinho, de repente me vi despida do julgamento e coberta pela candura e simplicidade que se permitem as crianças. Bianca Stucky

O fantasma do cinema Eu ainda era aluno de jornalismo quando pegava ônibus para ver filmes no Cine Brasília e na Academia de Tênis. No meu tempo, o Cine Brasília mantinha resquícios da “fase de ouro” que ajudou a construir parte da história do cinema brasileiro e da vida cultural brasiliense. Naquela época, a distante Academia de Tênis tinha apenas duas salas, mas uma programação de luxo: filmes de artes nunca exibidos nos circuitos comerciais. Não demorou muito e um público fiel, interessado, começou a se formar para ver as novidades que eram exibidas na Academia, longe dos tentáculos gananciosos de Hollywood. Assisti a bons filmes europeus numa daquelas salas. E descobri que havia coisas mais interessantes no Oriente Médio do que dromedários, petróleo e fanáticos religiosos. No Cine Brasília, aprendi a amar o cinema nacional vendo obras de mestres como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Vladimir Carvalho. Nossa síndrome de

vira-lata desaparecia toda vez que o Festival de Brasília, a maior e mais importante festa do cinema brasileiro, chegava. O espaço está jogado às traças, vítima do descaso de governantes relapsos e administrações cretinas. Outro dia mesmo fui ver uma comédia lá e pensei que seria devorado por baratas kafkanianas. Daí a revolta quando chega o festival e vemos toda aquela maquiagem de hipocrisia e interesses políticos. De repente, daquelas duas salas de cinema da Academia de Tênis nasceria um imponente complexo de dez salas e, no seu

auge, importante festival, o FICBrasília. Hoje não existe mais depois que um incêndio misterioso destruiu parte do local. Nostálgico, um dia peguei o carro e saí lá. O cenário era desolador, de abandono total, lembrava uma cidade fantasma. Acho que até vi alguns fenos rolando de um lado para o outro. O cartaz do drama argentino O segredo dos seus olhos ainda estava pendurado no mostruário, encardindo com o tempo. Também me senti um fantasma. Não o da Ópera. Mas o do cinema. O cinema em Brasília já teve dia melhores. Lúcio Flávio


Conto

Viagem fantástica

As sete Brasílias

Na véspera de uma data especial, um visitante misterioso chega para descobrir o que deu errado no Plano Piloto

Texto João pitella Junior Ilustração Rômulo Geraldino pitellajr@globo.com

O helicóptero é todo preto, sem marcas nem letras ou números para identificá-lo. O piloto sobrevoa Brasília na altura certa para os seus dois passageiros verem bem a cidade, sem chamar demais a atenção. Eles enxergam os sete grandes círculos que ocupam a margem ocidental do Lago Paranoá, cada um com um raio de 1,2 mil metros. — Curioso. Parecem discos voadores — diz o homem mais velho. — São as unidades urbanas do Plano Piloto. Independentes, mas harmônicas. — “Sem dominantes nem satélites” — recita o visitante, com um certo ar nostálgico.

romulog2000@yahoo.com.br

— O que o senhor achou? — Tão fora de lugar quanto esta barba no meu rosto, Gabriel. E todos aqueles outros círculos mais distantes? Eles parecem... Improvisados, talvez. — Não estavam no Plano Piloto original. O projeto previa sete unidades. Se Brasília crescesse demais, seriam no máximo 14. E sem passar de um milhão de habitantes ao todo. — Quantos círculos são hoje? Não consigo contar. — Vinte e oito. Mais de dois milhões de moradores. Os círculos originais são as áreas nobres, porque ficam perto do lago. Os outros são a periferia.

A tensão social é grande. Ele fica em silêncio, preocupado. — Vamos descer. Preciso ver isso de perto.

***

O helicóptero pousa discretamente no Bosque da História, que de tão malcuidado está virando uma floresta. Outra floresta, aliás, porque a cidade já tem uma, como estava previsto. Gabriel abre caminho no mato para que o seu convidado, agora com um capuz encobrindo a cabeça e parte do rosto, possa andar sem incômodos. Eles passam perto das estátuas desbotadas em homena-


13 gem aos grandes vultos da Nação. O homem mais velho para por alguns instantes para observar as plaquetas com os nomes: Dom Pedro, JK, Tiradentes, Getúlio Vargas e os Irmãos Roberto, autores do projeto do Plano Piloto. — Onde ficam as personalidades mais recentes, Gabriel? — Paramos nos anos 60. O visitante balança a cabeça em reprovação, mas não deixa a diplomacia de lado: — Talvez você esteja sendo pessimista, meu bom rapaz. Eles deixam o bosque, andam mais um pouco e chegam à primeira unidade urbana. Um dos sete círculos originais. Na entrada, faixas maltrapilhas colocadas por políticos enfeiam a paisagem, sob o pretexto de desejar um “feliz aniversário” a Brasília. Dentro do círculo, os pedestres, afoitos, se acotovelam e disputam lugares nas imensas esteiras rolantes, planejadas, assim como o resto, para receber as pessoas “com proximidade, mas sem promiscuidade”. No intervalo entre uma e outra esteira, eles se esforçam para não ser atropelados, porque os carros passam depressa. Constrangido, Gabriel tenta explicar a situação: — Os automóveis deveriam servir só para o transporte entre unidades urbanas diferentes, e não dentro delas, mas a cidade cresceu demais. Ele nem precisava ter dito, pois o seu interlocutor percebe os prédios enormes tapando o horizonte. — Como o senhor vê, todos têm 17 andares. Alguns deveriam ter 2, 3 e 10 pavimentos, mas a especulação imobiliária não permitiu. Resolveram unificar em 17. Assim, o gabarito em tese continua sendo respeitado... O companheiro de jornada mais ouve do que fala. Os dois seguem em frente até chegar a uma das estações de monorails. É difícil achar lugares nos trens, e eles

se acomodam como é possível. A viagem começa na superfície, e logo vem o trajeto subterrâneo. Falta consertar algumas luzes. A escuridão momentânea faz o homem mais velho pensar que está sonhando. Na saída da estação, o céu de Brasília, indiferente à arquitetura e ao urbanismo, mostra que ainda é dia.

***

Eles agora caminham no segundo círculo, onde o movimento é um pouco menor. O homem mais velho se distrai com a paisagem. — O senhor precisa ter cuidado com a carteira. — Eu não ando com muito dinheiro no bolso, Gabriel. — O senhor é precavido. Agora vamos ao Conselho Municipal. Os porteiros abrem o caminho para Gabriel, que mostra a sua carteira de autoridade. O companheiro tira o capuz e anda atrás dele, discreto. Os dois chegam ao gabinete mais importante do prédio e Gabriel se encarrega das formalidades: —Este é o Dr. Oliveira, nosso ilustre visitante. Dr. Oliveira, este é o Dr. Joel Borborema, presidente do Conselho. — Meu caro Dr. Oliveira, é uma honra tão grande recebê-lo — diz de braços abertos o presidente, um homem gordo, de bochechas rosadas, terno apertado e sorriso de vendedor de enciclopédias. — Ora, eu é que me sinto honrado por ser recebido tão repentinamente. Eu gostaria de ter avisado antes, mas... — Por favor, sente-se, vamos tomar um cafezinho. Se o senhor é amigo do Dr. Gabriel, é meu amigo também. — Procuro ter só amigos. Antes mesmo de o cafezinho ser servido, Borborema começa o seu discurso: — O senhor sabe, Dr. Oliveira, essas denúncias contra mim são infundadas. Coisa da imprensa marrom. Covardia. — Ele sabe, Dr. Borborema. Nem preci-


14 nos engarrafamentos de Brasília.

***

Na unidade urbana seguinte, os dois chegam ao Parque Federal, onde ficam a Praça dos Três Poderes, a Praça da Cultura e o Bosque da História, que eles visitaram no início do passeio. — Parece que estamos andando em círculos — diz Oliveira. — Aqui tenho sempre essa impressão — responde Gabriel. — Não vá ficar tonto, rapaz. Na Praça da Cultura, em frente à Biblioteca Nacional, eles se sentam num café aconchegante onde encontram outro amigo de Gabriel, um jornalista de bigode ralo, dentes amarelados, cigarro na mão direita e copo de cerveja na mão esquerda. — Como eu lhe disse, Dr. Oliveira, o nosso querido repórter aqui conhece como ninguém a história de Brasília. Conte tudo a ele, Jacinto! Jacinto limpa o pigarro e se aproxima de Oliveira, falando baixinho para dar um ar de confidencialidade à conversa: — Bem, Dr. Oliveira, ninguém duvida que Brasília tem um belíssimo projeto urbanístico, não? — De forma alguma. Belo projeto. O que não deu certo no plano, então? Jacinto faz pose de quem prepara um pronunciamento solene: — Os políticos, os especuladores, os aproveitadores... Nós deveríamos ter sete unidades urbanas. Sete pequenas Brasílias num grande conjunto. — Sete, não 28. — Sim, mas quem gosta de ganhar dinheiro sempre faz contas mais altas. Tivemos um político que inchou a cidade com distribuição de terrenos. Foram 50 anos em 5 de crescimento desordenado. Oliveira contrai os músculos da face e quase engasga com o café. Gabriel percebe essa reação e fica com a face vermelha.

— Ora, Jacinto, também não precisa exagerar. Assim você assusta o nosso querido Dr. Oliveira. — Sem problemas, Gabriel. Deixe o rapaz falar. Quero mesmo ter informações. Preciso decidir corretamente. Jacinto passa a olhar o interlocutor com mais curiosidade: — O senhor é do governo federal e vai fazer uma intervenção aqui? Oliveira dá uma gargalhada bem espontânea. Ele se diverte com a conversa, mas Gabriel, já aflito, resolve puxá-lo pelo braço. — Você vai nos dar licença, Jacinto, mas o voo do Dr. Oliveira parte em poucos minutos.

***

Os dois se afastam e caminham de volta ao helicóptero escondido no bosque. — Esses jornalistas são perigosos, meu bom Gabriel. Talvez mais do que os políticos. O helicóptero sobe lentamente. Oliveira vê a cidade do alto outra vez e pensa em voz alta: — Bem, se dizem que sou visionário é porque consigo ver o futuro. Esse projeto de Plano Piloto é bom, mas talvez seja melhor adotar o do Lucio Costa. Agora é Gabriel que fica em silêncio por alguns instantes. Ele tira um aparelhinho do bolso e mostra a Oliveira, orgulhoso: — É uma das maravilhas desta época, o iPod. Um minúsculo equipamento de som. Vou colocar o fone no seu ouvido, porque a sua música preferida vai tocar. — Obrigado, Gabriel, você é um anjo de gentileza. Ainda meio desconfiado daquela geringonça de nome esquisito, Oliveira fecha os olhos, reclina a cabeça e enfim ouve os versos familiares: “Como poderei viver, como poderei viver, sem a tua, sem a tua, sem a tua com) panhia...” )

samos falar disso. — Claro, Dr. Gabriel. E o Dr. Oliveira quer conhecer tudo sobre a nossa cidade. Brasília! 50 anos amanhã! Não é emocionante? — Até demais, eu diria — responde Oliveira, com desconforto. Borborema solta uma gargalhada. — O seu convidado é muito agradável, Dr. Gabriel. Querem mais um cafezinho? Ah, com licença, o meu celular está tocando. Oliveira olha com espanto para o pequeno aparelho que aquele grande homem saca do bolso. Com os olhos ligeiramente arregalados, ele aproveita a distração do anfitrião para tirar os sapatos embaixo da mesa. — Ah, me desculpem. Era um jornalista. Os senhores compreendem, eu preciso sempre atender a imprensa. E essas denúncias... são todas infundadas. Ele coloca o celular sobre a mesa e toma outro cafezinho. Gabriel conduz a conversa: — Bem, Dr. Borborema, fale um pouco sobre Brasília para o Dr. Oliveira. Não queremos tomar a sua tarde inteira. — Pois é, Dr. Oliveira. Brasília! O que é Brasília? Um sonho, um conceito. Modelo para o terceiro milênio. Visão de Dom Bosco. Terra do leite e do mel. Brasília de todos os brasileiros. — Sim, mas a cidade está com alguns problemas, não, Dr. Borborema? Excesso de população, criminalidade alta... — É claro, Dr. Oliveira. 50 anos não são 50 dias. Ou algo assim. — O que o senhor acha de toda essa especulação imobiliária, Dr. Borborema? — Bem, Dr. Oliveira... eu sou corretor de imóveis. E as denúncias são todas infundadas. Poucos minutos depois, Oliveira e Gabriel deixam o prédio e seguem para outra estação de monorail. Oliveira parece não ficar muito à vontade nesses trens modernos, mas eles são o meio de transporte mais rápido. Ninguém quer ficar preso


Fora do Plano por PAOLA LIMA

paolamlima@gmail.com

Números que não dizem nada

Na divulgação do balanço do primeiro semestre de 2011 na Câmara Legislativa, o presidente da Casa, deputado Patrício (PT), fez questão de afirmar que o número de projetos votados importa menos que a qualidade das votações. “A Câmara Legislativa não é uma linha de produção”, defendeu, argumentando que é preciso que a Casa promova amplos debates antes de votar. O presidente Patrício tem razão. Pelo menos, em parte. A cidade já se acostumou (e deixou de se importar) com o grande número de proposições aprovadas pela Câmara Legislativa ao longo das legislaturas. São centenas de títulos de cidadãos honorários a cabos eleitorais e autoridades de prestígio, dezenas de praças e ruas batizadas com novos nomes, outras dezenas de novos dias comemorativos e, claro, dúzias de eventos, em sua maioria religiosos, incluídos no calendário oficial da cidade – calendário que, aliás, nem sequer existe de fato na Secretaria de Cultura. Nenhuma delas realmente relevante, ainda que algumas justas. Uma prova incontestável de que quantidade não gera qualidade.

Da palavra à ação Para mudar isso, o Legislativo decidiu investir em discussões. No balanço, 51 audiências públicas e sete seminários, com debates que chegaram a reunir mais de 400 pessoas cada um. Ótimo. Mas depois disso, com qual grande proposta a Câmara Legislativa presenteou a população? Várias respostas podem aparecer. O pacote da Saúde aprovado no início do ano, que abriu mais de 10 mil vagas na rede pública do DF, ou o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU). Mas alguém percebeu melhorias na Saúde ou no Transporte do DF? Os distritais também aprovaram a reestruturação na Terracap, para que a empresa invista na construção no novo estádio para a Copa do Mundo. Aprovaram reajuste salarial para os funcionários comissionados

e para servidores de carreira do Legislativo, além de aumento do tíquete para os servidores do GDF. A vida do cidadão de São Sebastião ou do Gama, de Planaltina ou do Riacho Fundo, mudou com isso?

O que ficou de fora Fora do balanço oficial, as ações que os distritais deixaram de fazer. Os deputados deixaram, por exemplo, de abrir processo de investigação na Comissão de Ética contra o colega Benedito Domingos (PP), indiciado por formação de quadrilha e por suspeita de ter beneficiado empresas da família em licitações. Os distritais adiaram para o segundo semestre o projeto de lei que autoriza a instalação de postos de combustíveis em supermercados. A proibição existe apenas na capital federal, resultado de uma lei de

2000, e tem parecer contrário da Secretaria de Direito Econômico, da Procuradoria-Geral da República e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. A liberação provoca polêmica entre os deputados desde fevereiro. Se aprovada, poderia aumentar a concorrência entre as redes de postos e diminuir o valor da gasolina. Por fim, a CPI da Saúde. Independentemente de ter sido proposta pela oposição, poderia ser um caminho para entendermos as mazelas de que sofre a rede pública há vários governos. A comissão parlamentar, no entanto, morreu antes de instalada. E pensar que os distritais ainda reclamam pela má fama da Casa ter cruzado fronteiras com o relatório do ex-embaixador norte-americano no Brasil John Danilovich, que, em 2004, taxou a instituição de “refúgio para canalhas”...


16Turismo

A

o se deparar com o Museu da República, no Eixo Monumental, a pergunta: “O que é aquela construção?” A dúvida era do músico baiano Antonio Sapiranga Neto, de 33 anos (o rapaz perdido na foto). Quando chegou mais perto, continuou sem saber. A pé, não teve acesso a qualquer placa informativa, desde a Catedral até o museu. “O que é aquela saliência?” Referia-se à passagem externa projetada por Oscar Niemeyer. De novo, continuou sem saber. Curioso como todo turista em primeira visita a uma cidade, Sapiranga subiu a rampa de acesso ao prédio e deu de cara com a porta fechada. A única informação veio de um segurança que gritou, de longe, que o museu estava fechado porque não havia exposição. E bateu a porta sem se importar com a vontade de Sapiranga de conhecer por dentro uma obra arquitetônica tão peculiar. Logo em frente estava a porta de saída. A funcionária do museu que estava por perto também não ajudou. Simplesmente entrou e sumiu. Para eles, o visitante era um indesejável. Sim, a cena aconteceu em um dos principais pontos turísticos da cidade. Tão famosa por causa do acervo arquitetônico a céu aberto, Brasília não dá ao visitante a oportunidade de conhecê-la profundamente. Naquela segunda-feira de julho, Sapiranga foi convidado pela meiaum a fazer um passeio pelo Eixo Monumental. Foi frustrante para o músico e constrangedor para a capital federal. Em menos de cinco minutos, terminou o passeio ao grande museu nacional. Sem informação, sem acesso e sem qualquer atendimento. De longe, Sapiranga viu a Biblioteca Nacional da República. Ele não sabia (e continuou sem saber) que as obras fazem parte do Complexo Cultural da República, idealizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Não havia alguém para contar a ele que ainda há o que se fazer na região central do Plano Piloto. Nem mesmo um folheto. Falta construir, ainda, o Centro Musical, o Conjunto Multiplex de Cinemas e de Lojas e o Cinema 180°, do outro lado da rua, próximo ao Teatro Nacional Claudio Santoro.

Texto Paula Oliveira paulaoliveira@meiaum.com.br


Nilson Carvalho

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e mal-informado Ser turista em Brasília não é fácil. A cidade está inapta a receber bem, imagine na Copa do Mundo. Se você conhece alguém que queira visitar o aclamado museu a céu aberto, se prepare para fazer o papel de guia


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Infelizmente, o baiano não encontrou ninguém pelo caminho para dar qualquer tipo de informação. Nem mesmo um segurança com boa vontade em atender os visitantes. Para fazer justiça, na biblioteca os recepcionistas são atenciosos e informados, mas a construção não despertou a mesma curiosidade que Sapiranga teve com relação ao museu. O jeito foi seguir viagem 15 minutos depois de chegar ao Complexo Cultural. O que mais tomou tempo na visita de Sapiranga à praça foi uma confusão no elevador da biblioteca, que parou mais de uma vez no mesmo andar e fez o visitante se atrapalhar para chegar à saída. O tempo da visita, apesar de curto, é três vezes maior do que o a que têm direito os turistas que utilizam os serviços do ônibus do city tour. Ficam por cinco minutos em cada monumento.

Nilson Carvalho

Superada a frustração de encontrar a Catedral fechada, Antonio Sapiranga foi em busca de informações no mapa ao lado do monumento. Continuou sem entender a lógica do projeto de Lucio Costa.

Próximo ponto: Catedral Metropolitana de Brasília. Ótimo, Sapiranga queria conhecer os anjos suspensos, de Alfredo Ceschiatti, no templo. E as telas de Athos Bulcão que retratam a vida de Maria. Teria a oportunidade de admirar a Via Sacra de Di Cavalcanti. Poderia tocar a cruz da primeira missa celebrada na capital da República. Não, nada disso. Um dos operários da obra de restauração dos vitrais gritou lá de dentro: “Está fechado”. Nem mesmo uma frestinha foi liberada para a visitação nesse dia. Sapiranga e outros turistas ficaram só na vontade. O músico ainda tentou entender o mapa da cidade exposto ao lado da Catedral, mas o esforço foi em vão. Faltou alguém para explicar o que significava o desenho do Plano Piloto. A visita segue para a Praça dos Três Poderes. Até lá, nenhuma placa. “Fica muito lon-

ge?” “Não daria para ir a pé?” Para quem conhece a cidade, as respostas são óbvias, mas Sapiranga nunca tinha vindo a Brasília antes. “Em Salvador, onde moro, por todo lado tem placa indicando o caminho para o Pelourinho, por exemplo, e aqui não vejo nenhuma”, comparou. “Estou me sentindo perdido.” Quando chegou ficou um pouco espantado com a grandiosidade. Reconheceu os prédios que sempre vê na televisão. Sozinho naquela praça ficou sem saber o que fazer primeiro. Foi procurar uma placa. Como chegou pelo lado do Panteão da Pátria, demorou para encontrar as informações, todas voltadas para a via que separa a praça do Congresso Nacional. Tudo bem que todos os monumentos estavam representados na plaquinha, mas são apenas identificados. Exceto um deles, o que abriga um dos dois Centros de Atendimento ao Tu-


19 to se tivesse escolhido o domingo, em vez da segunda-feira, para passear. Nem que tinha de marcar horário para visitar o Itamaraty. Enfim... Mesmo se soubesse, é difícil fazer uma programação completa com tantas disparidades de horário. Segundo dados da Secretaria de Turismo do DF, a média de tempo de visitação a Brasília é de 2,5 dias. Se o turista chegar na quinta-feira para ir embora no domingo, vai perder a visitação ao Palácio da Alvorada, na quarta-feira. Para visitar os dois palácios – Alvorada e Planalto – é preciso ficar, pelo menos, quatro dias na cidade. Não é assim em nenhum outro lugar. Quem mora em Brasília já deve ter sido questionado, alguma vez na vida, se é comum encontrar a presidente da República. Não, não é. Sapiranga esteve perto disso, mas não se deu conta até ser alertado por nós. Enquanto visitava a praça, o helicóptero da presidente Dilma Rousseff decolou do Palácio do Planalto e deixou o músico admirado. Ok, o roteiro agora leva Sapiranga ao Palácio da Alvorada. Alguma informação? Nenhuma. Alguém para atender os visitantes? Ninguém. Nem tanto, pois um guarda fica na portaria da residên-

cia oficial. Sapiranga, meio sem graça, pediu para se aproximar. O soldado foi atencioso, mas não sabia responder às perguntas. “Por que a casa é tão distante?” “Este gramado tão grande é uma questão de segurança?” O rapaz respondeu que era apenas um gramado. Tudo bem que ele matou a curiosidade de Sapiranga ao dizer que há um andar subterrâneo e dois acima do solo, que há visitação todas as quartas-feiras e que a presidente não estava naquele momento. Mas o soldado não é guia turístico, não tem formação necessária e nem é a função dele dar informações a visitantes. Há material sobre informações turísticas de Brasília distribuído em pontos estratégicos da cidade, mas não é suficiente. Está concentrado nos CATs e nos hotéis. No Palácio da Alvorada não tinha nada. Um turista como Sapiranga, que se hospedou na casa de amigos, não tem acesso aos guias tão facilmente. Até porque não há nem mesmo informações sobre onde os centros de atendimento estão. O passeio, que começou às 10 horas e terminou às 15 horas, com pausa para almoço, foi encerrado na Torre de TV. No caminho, a expectativa era grande para ver a cidade de

Thyago Arruda

rista em funcionamento – instalado na antiga casa de chá. O segundo CAT fica na Rodoviária Interestadual do DF. Outros cinco estão em obras, segundo o secretário de Turismo, Luis Otávio Neves. Dois no Setor Hoteleiro Norte, um no Sul, um no Aeroporto Internacional de Brasília e outro na feira da Torre de TV. Sapiranga queria saber sobre a troca da guarda do Palácio do Planalto, mas não conseguiu a informação. Também queria ir ao banheiro e tomar água, mas não encontrou suporte adequado. Nem mesmo no CAT. Ao entrar na sala (por nossa recomendação, pois não há placa indicativa da função do local), foi recebido com um simpático “fique à vontade” de uma guia turística. Provocada por Sapiranga, mostrou alguns mapas, citou os principais pontos de visitação e pronto. Dar uma volta na praça para guiar o turista? Nem pensar. O baiano foi embora da Praça dos Três Poderes sem saber que poderia ter participado um dia antes da solenidade de troca da Bandeira Nacional, sempre no primeiro domingo do mês. Ninguém contou isso para ele. Não disseram também que ele poderia ter conhecido o interior do Palácio do Planal-

A brasiliense Ana Cláudia Matias já visitou diversos países. Ao fazer um passeio pela própria cidade, criticou a falta de informações e a dificuldade de locomoção. “Quando não conseguem o que querem, as pessoas saem com péssima impressão.”


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Thyago Arruda

ÁFRICA DO SUL, 2010

Nome:

Tiago de Andrade Horta Tiago, de 31 anos, foi à Copa do Mundo de 2010 com dois amigos. Ficou 25 dias no país africano e assistiu a 14 jogos. A base do trio era Joannesburgo, mas eles alugaram um carro para ter liberdade e conforto ao se deslocarem entre as cidades-sede. Essa locomoção tomava algum tempo dos torcedores e por isso não sobrava para o turismo. “Em dia de jogo, acordávamos cedo para aproveitar o antes, o durante e o depois das partidas, nada mais interessava.” Para ele, o que prende o turista de Copa do Mundo à cidade-sede é a infraestrutura de bares e restaurantes e a realização de eventos. “O turismo cívico, como é o de Brasília, não vai ser o forte”, avalia. Nem mesmo a rede hoteleira, na avaliação dele, é tão importante. “É um turista que quer alternativas baratas, como pousadas ou até mesmo residências particulares alugadas”, diz. Então a construção de grandes hotéis na quadra 901 Norte seria desperdício. Para Tiago, o fator primordial do sucesso na África do Sul foi o acolhimento dos turistas. “Por isso quero voltar um dia para conhecer melhor o país.”

cima, identificar as asas, a Esplanada dos Ministérios e tudo o mais que a vista do alto proporciona. Era o primeiro da fila para entrar no elevador, mas o segurança foi direto: “Está quebrado, não tem como subir”. O segurança fez graça e disse que estava funcionando bem porque havia quase uma semana não parava. Não teve jeito, Sapiranga foi embora. O secretário de Turismo do DF, Luis Otávio Neves, não nega a situação. Diz que o aparelho é antigo, da época da inauguração da cidade, e que precisa passar por modernização. “Estamos com um projeto grande de revitalização e manutenção da Torre de TV”, diz. Segundo ele, as obras começam agora em agosto, com o a construção de duas escadas de concreto, a instalação de duas escadas rolantes e de um elevador para pessoas com dificuldades de locomoção. Tudo isso para ligar a base da torre à feira de artesanato. A questão do elevador faz parte da segunda etapa. “Isso é mais fácil”, garante. Mas ainda deve demorar de um ano e meio a dois para ficar tudo pronto. A preocupação é a Copa do Mundo de Futebol, em 2014. Até lá, quem quiser fazer turismo de aventura pode arriscar ficar preso no elevador de meio século da Torre de TV. Gringo, aprenda o português Diante do elevador, um turista estrangeiro passou pela mesma frustração. Só que com maior dificuldade para entender o que se passava. O segurança da Torre de TV não soube explicar em inglês o problema, ou não fez questão de fazê-lo. A tradutora brasiliense Ana Cláudia Matias, de 30 anos, também convidada para avaliar os pontos turísticos com a meiaum, percebeu que em poucos lugares há opção além do português. Ela morou no Egito por seis anos. Já viajou a passeio a países como Grécia, Espanha, Portugal e Equador e notou a diferença no tratamento e na assistência ao turista entre os lugares que conheceu e a capital brasileira. O secretário Neves também reconhece a falta de recursos humanos para atender bem. “Quando assumimos o governo, não havia um guia turístico sequer

no órgão”, reclama. Agora, segundo ele, são 30. “Eles ainda estão em processo de treinamento, por isso não os vemos nas ruas.” Ana Cláudia visitou a Torre de TV dois dias depois de Sapiranga. O elevador estava funcionando. Ao subir, ela sentiu falta de pessoas ou informações que orientassem os turistas com relação à paisagem. Para ela, o turista, em geral, não tem o costume de se programar e ligar para saber os dias e os horários de visitação, se tem guia turístico ou se haverá informações acessíveis no idioma que ele compreende. “As pessoas simplesmente vão e quando chegam e não conseguem o que querem, saem com péssima impressão.” A dificuldade de locomoção também é algo que, se não espanta, desanima a circulação. Praticamente todas as cidades que recebem turistas têm o bilhete único. Em Brasília, o turista que quiser tem que pagar a um guia particular (média de R$ 200, o dia inteiro), comprar o bilhete para o ônibus de city tour (R$ 25, por um passeio de 1h30) ou pegar um táxi. Já no Egito, que recebe muitos turistas por causa das pirâmides, há assistência. “Existem preços diferenciados para os turistas, mas, de um jeito ou de outro, todos são atendidos”, pondera. Se o turista optar pelo passeio de ônibus do city tour em Brasília, não pode esperar muita coisa. A parada é de cinco minutos em cada ponto. Se o passageiro quiser aproveitar um pouco mais, não tem a opção de ir no próximo ônibus, a não ser que queira esperar muito. De segunda a quarta-feira são quatro saídas: 10h30, 14h, 16h e 19h. De quinta-feira a domingo há mais duas partidas – 10h30, 12h, 13h30, 15h30, 17h e 19h. Em cinco minutos não daria nem mesmo para ir ao mirante da Torre de TV e fazer umas fotografias. E o próximo ônibus vai demorar. Em todos os pontos turísticos visitados pelos nossos convidados, havia placas explicativas sobre os monumentos em duas línguas: português e inglês. No entanto, as informações se restringem ao ano da inauguração e à função pensada para a construção. Além


Thyago Arruda

disso, as placas estão velhas, enferrujadas e, em alguns casos, com letras apagadas. Quem se interessar em aprofundar os conhecimentos deve procurar outro meio. “O visitante, em muitos casos, vai embora de Brasília sem noção da grandeza e da importância de certos monumentos”, avalia o pesquisador Walter Albuquerque Mello, de 82 anos. O calculista esquecido Fundador do Arquivo Público do DF, Mello também aceitou passear e avaliar os pontos turísticos a convite da meiaum. Ele observou que não se dá a importância que as construções merecem. O Museu da Cidade, por exemplo, foi, claro, projetado por Oscar Niemeyer e está na Praça dos Três Poderes. Assim como tantos outros, o prédio só pôde ser concebido graças ao trabalho do calculista preferido do arquiteto, Joaquim Cardoso. “As invenções de Oscar precisavam se tornar viáveis e esse era o papel do Joaquim”, explica. “Pena que não se dá a importância que esse homem tem para a concretização de Brasília.” Mello procurou no CAT da Praça dos Três Poderes informações sobre o calculista e não encontrou. Perguntou também sobre a pedra fundamental da construção, em Planaltina, e não conseguiu nada. “Não é possível que pontos tão importantes da nossa história não estejam no roteiro turístico”, lamentou. Para ele, falta articulação entre os órgãos do governo. Tão importante quanto estar preparado estruturalmente para receber o turista é fazer com que ele tenha vontade de voltar ou de indicar a viagem. “Dar uma boa impressão é fundamental, mas é preciso mais investimentos em questões básicas, como na infraestrutura dos pontos, transporte adequado e atrativos capazes de segurar o visitante por mais tempo”, avalia o empresário Saulo Da Rós, que atua na área há seis anos. O turismo cívico em si, segundo Da Rós, toma um dia do turista. “Faltam atrações de lazer, mais lucrativas para a cidade”, diz. Um resort bem estruturado ou um parque aquático, por exemplo, ) cumpririam esse papel. )

O pesquisador Walter Mello, fundador do Arquivo Público do DF, lamenta que visitantes deixem Brasília sem saber da importância de certos monumentos.

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Artigo

Provincianismo capital O projeto de cidade que mudou a cara da Nação parece estar irremediavelmente em crise. E para que não se transforme em crise terminal, somente uma nova virada

Texto Wellington Almeida Ilustração Rafael lemos wellingtonalmeid@hotmail.com

rafaellemosnog@gmail.com


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ão muitos os sinais de envelhecimento precoce do projeto inovador, moderno e apaixonante condensado na experiência de criação de Brasília. Esse balanço apareceu sob diversos ângulos na discussão pública sobre o jubileu da cidade, comemorado no ano passado. Meiaum, em sua edição de maio, trouxe excelente análise sobre os limites da utopia lançada pelo plano de Lucio Costa. O confronto dessa generosa ideia de cidade socialmente integrada com a realidade brasileira, porém, já evidenciava seus limites desde o início do processo de construção. A pesquisa sociológica e o cinema documental aqui produzidos mostram com riqueza de detalhes os radicais conflitos dessa jornada de meio século. A impossibilidade de realização completa desse sonho em nada diminui a importância da experiência brasiliense. Ao lado de outros acontecimentos, a transferência da capital marca profundamente a história do País. Não é pouca coisa juntar em uma mesma obra pessoas com enorme capacidade de realização de projetos como JK e Bernardo Sayão, Oscar Niemeyer e o próprio Lucio. Isso para ficar apenas nos “pais” da cidade. Outras figuras geniais tiveram participação marcante em agendas decisivas para a formação da nova capital. Basta lembrar Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira na educação, aí incluída a criação da Universidade de Brasília – UnB. A lista é longa e refazê-la de maneira extensa só aumenta a tristeza diante da qualidade da liderança política e intelectual predominante na cidade nas últimas décadas. Brasília representou uma virada em nossa história, comparável à chegada da Corte Portuguesa em 1808. Aquele acontecimento criou as condições para a consolidação do País a partir da importação de uma burocracia que de fato implanta aqui um determinado tipo de Estado. Permitiu também a consolidação, ao longo do Império, de uma elite que soube garantir a unidade nacional e evitar o processo mais lógico de desintegração que ocorreu em toda a América espanhola. Foi um momento da clara visão estratégica, embora mereça severa crítica pela demora em romper com a escravidão. A mudança da capital do Rio de Janeiro para o centro do País também foi estratégica. Descortinou outros territórios e realidades até então ignorados. Questionou profundamente a ideia hegemônica de um país essencialmente litorâneo que relegava, ao segundo plano, imensas áreas e populações. Propiciou a consolidação de novas alternativas econômicas e culturais. Permitiu experimentos estéticos. Mudou a cara da Nação. Mas o projeto de cidade que sintetizou essa experiência parece estar irremediavelmente em

crise. E para que não se transforme em crise terminal, somente uma nova virada. A deterioração é evidente em diversas áreas cruciais para qualquer proposta de uma pólis minimamente integradora. No mesmo caminho seguido pelas demais regiões metropolitanas, temos uma forte segregação espacial urbana, com respectiva concentração da oferta de trabalho. Em relação aos indicadores de violência, é a mesma toada: Planaltina tem quase o dobro da média nacional de assassinatos por ano, enquanto o Plano Piloto segue com indicadores europeus. Nada diferente da relação entre Jardim Ângela e Sumaré na cidade de São Paulo. Educação pública e saúde com indicadores muito aquém dos recursos per capita investidos (uma fortuna comparada com o recurso médio de qualquer outra unidade federativa). Privatização do espaço público e criação de uma nova modalidade de fortaleza medieval, com grades nas casas e condomínios com muros, câmeras, portarias, muros nas casas internas e.... mais grades. Tudo isso é doloroso e forte sinal de decadência e inviabilidade do projeto original. Mas claro que não podemos culpar toda a população pelas respostas construídas para os problemas que surgem, mesmo que claramente ilusórias quando confrontadas com uma análise minimamente inteligente e racional. Um problema em especial – a violência – é responsável por boa parte dessas respostas regressivas e anticivilizatórias. Essas respostas também podem ser provisórias e novos caminhos ser construídos. Mas para isso é preciso lideranças e instituições capazes de projetar um futuro diferente. É aí que mora o perigo e reside o desânimo. O Brasil melhorou muito nos últimos anos, com todas as ressalvas necessárias. Ficou mais forte economicamente e adquiriu reconhecida influência internacional. Assim, em termos geopolíticos Brasília é uma das principais capitais no sul do planeta. Mas andando em sentido contrário, incorpora a passos largos todas as práticas provincianas em suas instituições políticas, perde dinamismo na sociedade civil e regride culturalmente. Faltam ousadia e novas lideranças.

A deterioração é evidente em diversas áreas cruciais. No mesmo caminho seguido pelas demais regiões metropolitanas, temos uma forte segregação espacial urbana.


Perfil

Conhecido como “Pastor das Polícias”, o ex-policial do Batalhão de Operações Especiais resgata viciados nas cracolândias brasilienses. O homem que um dia reprimiu usuários hoje dedica a vida a tirá-los do submundo

Texto Noelle Oliveira Fotos NILSON CARVALHO noelleoliveira@meiaum.com.br

fotografia@meiaum.com.br



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Os beneficiados recebem o alimento das mãos do mesmo homem que em outros tempos os reprimiu. A função é de líder. Ao mesmo tempo, evangeliza.

m uma das mangas da farda, o símbolo da faca sobre a caveira, representando o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar. Na outra, o ícone da Cruz Vermelha e toda a responsabilidade de salvar vidas. Luciano Gonzaga era policial e também paramédico. Ele não sabia, mas o uniforme usado por parte desse tempo em que trabalhou nas ruas do Distrito Federal, nos anos 90, já representava a dualidade que marcaria a vida do hoje militar afastado. O cearense de 43 anos chegou à capital com a família em 1969, ainda criança. O pai, pedreiro, resolveu criar os filhos no Planalto Central após ver o caçula morrer de inanição. Ainda no início da adolescência, Gonzaga perceberia o que significava viver no centro de poder do País. Foi na Presidência da República que conquistou seu primeiro emprego, o de engraxate, ainda no governo militar regido pelo general João Figueiredo. Das mãos da esposa do general, ganhou o seu único par de tênis e parte da paixão por um estilo de vida: a militar. Como todo jovem, queria revolucionar a realidade. Resolveu colocar o plano em prática logo cedo. A alternativa escolhida foi um distintivo no bolso e uma arma na mão. Em 1988, ingressou na Polícia Militar do DF, onde ficaria até 1995. Começou na corporação como membro do 13º Batalhão. Nas ruas de Sobradinho, cumpriu ordens de prisão, dirigiu viaturas, abordou civis e incriminou usuários de drogas. “Eu via os viciados como inimigos da sociedade, portanto deveriam ser banidos”, lembra. Dessa forma, ele buscava colocar as coisas que considerava erradas em seus devidos lugares. “A estrutura era burra e cega”, acredita. “Eu enxergava o mundo dividido entre militares e paisanos. Nesse cenário, eu era um Robocop, um Rambo da época.” Hoje, quem vê o pastor evangélico todas as sextas distribuindo cerca de 600 potes de sopa para viciados na cracolândia de Ceilândia, desconhece esse passado. Os beneficia-

dos recebem o alimento das mãos do mesmo homem que em outros tempos os reprimiu. Os que aguardam pela comida – muitas vezes garantia de sobrevivência durante toda a semana – não querem saber se o donativo vem de alguém que já usou farda. “Ele é o meu anjo, espero todo dia por essa visita”, resume Francisca Barbosa, de 68 anos, catadora de lixo que vive em um assentamento em Taguatinga Sul. Conhecido como militar linha-dura ainda na época em que atuava nas ruas, Luciano passou pelo Bope e chegou a prender o próprio pai, que, alcoolizado, ameaçava a família com uma faca. Levou-o de camburão para a delegacia. A fama se espalhou pela corporação, mas não é conhecida pelos traficantes que comandam redutos da comercialização de entorpecentes no DF. Eles permitem que Gonzaga entre em lugares onde outros dificilmente se arriscariam. Quando descobrem que já foi militar, a reação é diferente. “Já cheguei a ficar algum tempo proibido de promover ações sociais em determinados lugares, mas aos poucos mostrei a eles qual era o meu papel.” Basta um pouco de atenção para notar a diferença do voluntário entre os demais. A voz firme, não se deixa intimidar. A função é de líder. Ao mesmo tempo, evangeliza. Ele entende o funcionamento do tráfico, reconhece mandantes, olheiros, diferentes tipos de drogas e os valores que orientam aquela realidade. Se é para levar doações de roupas a algum grupo de dependentes químicos, peças maltrapilhas são escolhidas. “Sei que se der qualquer coisa de valor para um deles isso vai se transformar em mais droga.” Traçar um limite sobre até onde fazer vista grossa ou deixar aflorar os princípios da lei é um desafio constante, superado a fim de atingir um objetivo simples: “As pessoas que chegam a uma situação dessas precisam de coisas banais para se reerguer, a primeira delas é ter a oportunidade de voltar a sonhar”. E se a dualidade pastor versus ex-policial se confunde no campo das ideias, se mate-


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evangélico quando, fora da PM, venceu uma forte resistência crítica e começou a frequentar a igreja com a esposa. Aos poucos, ele se envolveu nas missões religiosas. Hoje, o trabalho de Gonzaga é reconhecido entre os próprios militares. Tanto que ganhou o apelido de “Pastor das Polícias”. Ele ministra cursos de evangelização e promove ações sociais entre os integrantes da categoria. “Eu saí da PM, mas ela nunca saiu de mim”, diz. “Hoje sei que não posso resolver as coisas no tapa e busco passar isso para frente.” É a pensamentos como esse que ele atribui seu afastamento da corporação. “A

linha de pensamento que vingava na época era que PM bom era PM burro e que bandido bom era bandido morto. Eu queria mudar o sistema e acabei sendo retirado dele”, considera, com pesar. Em tempos de uma polícia mais esclarecida, hoje conta com apoio dos colegas. Em dia de doação, a ronda noturna da PM que trabalha na área a ser atendida pelo pastor é avisada e gentilmente reforça a segurança do grupo de voluntários que distribui alimentos. Nada de abordagens ou revistas, o grupo já é conhecido das autoridades locais e a in) tenção, ali, é ajudar. )

rializa no dia a dia. Uma das primeiras ações religiosas e sociais de Gonzaga com pessoas em conflito com a lei foi em 2003, num tempo em que morou no Espírito Santo. “Lá, quando não era mais PM, vi pela primeira vez um traficante ao meu lado no qual não podia bater nem prender, foi o primeiro grande impacto.” O mesmo quando foi visitar presidiários que queriam acompanhamento religioso. Um policial afastado não pode entrar naquele lugar, mas um pastor, sim. “Os agentes responsáveis pelo presídio não sabiam o que fazer comigo”, conta. O cearense resolveu se tornar pastor


Capa

Seja

simpática,

faça o que

pedem

Sete histórias mostram como é a prostituição de luxo no Congresso Nacional. Sexo, beleza e poder. E, como não poderia deixar de ser, casos que envolvem dinheiro e empregos públicos

Texto Rafania Almeida Ilustração Cícero lopes rafania@meiaum.com.br

cicero.arte@gmail.com


29

P

olíticos gostam de holofotes, de aparecer. Nem sempre. Também atuam por trás das cortinas, no escuro, debaixo dos lençóis. Em casas noturnas, flats, apartamentos funcionais e até no local de trabalho. Pagando por isso, claro. Como fazem homens em geral, independentemente da atividade profissional, dirão. E especialmente quando têm dinheiro e poder. Por que deputados e senadores seriam diferentes? O problema é que o negócio da prostituição corre solto nos prédios do Congresso Nacional. Em corredores, gabinetes e às vezes no plenário, garotas insinuantes se oferecem, são agenciadas por cafetões de terno e gravata e cortejadas aberta ou discretamente por algumas de Suas Excelências. Não há liturgia do poder que resista. O mais grave é que algumas são pagas com o dinheiro público, contratadas por parlamenta-

res para “trabalhar” em seus gabinetes. Mas nos gabinetes não trabalham, naturalmente. Passam todos os dias pelo Congresso só para bater o ponto e receber horas extras. As tarefas que executam são fora do expediente. A meiaum passou três semanas no Congresso conversando e observando. Garotas de programa só para VIPs abriram suas “caixas de pandora” e revelaram como trabalham. Contaram preferências de políticos que conheceram nos dias de sessões e nas noites de prazer. Agenciadores também falaram sobre suas atividades e tentaram recrutar a repórter. Jovens que acabaram de chegar à maioridade têm rendimento mensal de dar inveja a marajás. Algumas garotas são bilíngues, moram em bairros nobres, têm o corpo aperfeiçoado por dispendiosas cirurgias estéticas e roupas de grife, geralmente presentes de clientes. “Se os políticos fizerem greve, as putas de Brasília quebram as pernas”, afirma uma delas.


30

I

e solteiro procura

Cabelos negros, compridos e olhos marcados pela maquiagem exagerada. A beleza não é de chamar a atenção. Por isso ela usa as roupas justas, muito apertadas na região da paixão nacional, em cores fortes. Quase todos têm histórias dela para contar. Seu trabalho é coletar assinaturas de deputados em projetos de lei. Há muitas meninas fazendo isso nos corredores da Câmara. Ela faz há dez anos, mas não se limita às assinaturas. Não faz cerimônia. Chama muitos parlamentares pelo primeiro nome, com intimidade. Distancia-se para conversar com um deputado, a jornalista espera. Volta e é clara: “Você precisa ser simpática. Sorria. O deputado gostou de você. Vou arrumar uma ‘matéria’ com ele para você”. Ela estava se recusando a dar entrevista e não queria falar nem quanto ganha (“menos de R$ 3 mil”, cedeu). Só aceitou conversar quando o deputado lhe perguntou quem era a moça com quem falava. “Ele mandou dizer que é da bancada evangélica e é solteiro”, cochichou. “Não seja boba! Ele te traz pra cá, para o gabinete dele.” Quando o deputado evangélico e solteiro volta, faz questão de apresentá-lo. Ressalta os olhos claros do homem de 46 anos, 20 a mais

que a jornalista, e seu alto poder aquisitivo. Salienta que era ela a responsável pela apresentação, enquanto ele conferia o “produto”. Ele foi embora e ela repetia que mandaria a jornalista ao gabinete dele, garantindo que poderia “contar” com ela. Foi quando se sentiu à vontade para revelar que um deputado pagou sua faculdade de Direito, mas ela desistiu na metade. “Fazer Direito para quê? Ficar enfiada em uma salinha? Eu amo colher assinaturas. Amo os parlamentares. Quero fazer isso pelo resto da minha vida.” E contou que comprou um apartamento de R$ 200 mil no Guará, valor que não cabe nos R$ 3 mil que diz receber. Um homem observou a movimentação e aproximou-se: “Ela ganha muito mais por fora. Já saiu com deputados. Mas está mais para agenciadora do que agenciada. Se quiser, te consigo uma vaga aqui e você vai parar rapidinho em um gabinete”. Fez a mesma recomendação que a moça da roupa de cores fortes. “É só ser mais simpática e fazer o que pedem. Pode ser amante, mas não precisa ser fixa.” Um bom desempenho poderia render à jornalista até R$ 10 mil por mês, segundo o rapaz.


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II

O charme das assinaturas

Belas e ousadas. Esse é o perfil das garotas das assinaturas da Câmara. O objetivo é conseguir pelo menos 171 assinaturas para um projeto. Em meio às garotas é possível encontrar poucos homens, e há duas ou três senhoras que já estão lá há anos na função. Poucas meninas não chamam a atenção pela aparência. Nem todas vão além do recolhimento de assinaturas, mas não são poucas as que buscam mais do que isso. Uma delas, de pernas grossas e quadril abundante, se destaca pelo tamanho do vestido. A jaqueta jeans esconde um pouco, mas nada desmerece as curvas da pequena moça em cima de seu salto 15 cm. Alguns disfarçam, enquanto outros quase quebram o pescoço para conferir o corpo dessa e o de outras meninas. Há parlamentares que nem assinam, mas fazem questão de dar uma paradinha para cumprimentá-las. A simpatia é mesmo arma de trabalho, às vezes exacerbada. As moças não trabalham todos os dias, apenas em dias de sessão, de terça a quinta-feira. É no banheiro do corredor das lideranças que abrem o bico sobre suas aventuras políticas. “Aquele velho me levou para a tal festinha, como é pegajoso!”, revela uma delas, aos risos. Outra dá dicas para aguentar, pois os “presentes valem a pena”. Contam detalhes sórdidos sobre as atitudes de Suas Excelências, mas sem deixar escapar demais e se queimar no meio. Outra admite: “Eu adoro as festinhas. Vou a todas”. O colega, homem, em desvantagem na corrida pelas assinaturas, aproveita a ausência das meninas para revelar segredos: “Aquela ali mesmo era ninguém aqui. Andava de jeans e camiseta. Hoje posa em cima do salto e vestidinho brilhante, contratada pelo gabinete de um deputado”. Diz que já viu meninas que ganhavam R$ 3 mil sem nenhum contrato com a Casa receberem bônus de até R$ 15 mil. “Deputado não mede esforços para conseguir o que quer, se é que você me entende”, conta o rapaz. “Você não tem vontade de colher assinaturas também? Tem gente aqui que ia gostar de você”, pergunta, no intuito de também ganhar um por fora.


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III

O ponto

das mexericas São 19 horas de terça-feira. O movimento nos Anexos II e IV da Câmara aumenta consideravelmente. É hora de bater o ponto. Pessoas chegam com filhos vindos da escola, vestindo moletom ou roupa de academia, para não perder as horas extras. As meninas se destacam. Há as que chegam de chinelo, correndo para não perder o horário, outras com os cabelos molhados, roupa justa. Entram e não demoram cinco minutos para se afastar. Têm de ser discretas. As mais espertas entram pela parte de trás do Anexo IV e pegam carona na parte da frente. Assim, fica mais difícil desconfiarem da maracutaia. No dia seguinte, a jovem dos cabelos molhados chega religiosamente no mesmo horário. Dessa vez um pouco mais calma. Entra, volta poucos minutos depois e fica sentada no fundo do prédio. Acende um cigarro, lancha, conversa com um comerciante que fica por ali. Em dia de sessão extra, é preciso ficar pelo menos até as

20h30 para ganhar um adicional no fim do mês. Os motoristas das autoridades as apelidaram de mexericas. Recebem uma grana, têm crachá, batem ponto e estão na lista de funcionários, mas trabalho que é bom, nada. A não ser que prestem serviço fora da Casa. “No Anexo IV é mais fácil burlar, no II o serviço é técnico e tem gente de olho”, diz um funcionário há 15 anos lá. Um homem apontado como agenciador de garotas aperta os olhos e reduz o volume da voz para falar: “Cada deputado tem R$ 60 mil para fazer nomeações. Pode chamar quem quiser, inclusive as amantes. Sai mais barato pagar uma garota pra não vir trabalhar do que ter gasto dobrado, não é?” Para ele, bobos são os que se satisfazem com R$ 1 mil mais transporte e alimentação para virarem laranjas. “Elas, não. Ganham muito bem, têm status de funcionárias da Casa e nem ficam aqui. Podem trabalhar por fora.” E finaliza: “Tá interessada?”

Programa bom é programa ilegal Garotas de programa circulam abertamente pelo Congresso, mas deputados e senadores não querem reconhecer a profissão que elas exercem. Em 2003, o então deputado Fernando Gabeira, do Partido Verde, apresentou proposta de regulamentação da profissão, com base em reivindicações de organizações da categoria. Ouviu mulheres que já haviam abandonado o sexo como trabalho e outras que ainda sobreviviam disso. Mas de nada adiantaram os depoimentos dramáticos de mulheres que sofrem nas mãos de cafetões. Em 2007, o relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ACM Neto (DEM-BA), deu parecer contrário e a proposta foi derrotada. Gabeira afirma que ACM Neto tem uma visão equivocada do projeto, achando que aprová-lo seria uma afronta à família. “Essas mulheres usam o corpo para sustentar suas famílias”, diz. O ex-deputado pega no ponto: “É um problema de consciência e contradição no discurso”. O projeto de Gabeira previa fiscalização profissional e, com isso, o risco ao já ilegal emprego de agenciadores, que fazem a intermediação entre os parlamentares e as garotas de programa. Gabeira diz que um grupo de deputados tenta ressuscitar o projeto e colocá-lo em tramitação. As organizações não governamentais envolvidas no assunto tentam fazer um movimento em prol do projeto, mas não há nenhuma garantia de que seguirá adiante. Já o deputado João Campos (PSDB-GO) pretende acabar com a prostituição. Apresentou um projeto de lei que criminaliza o pagamento por serviços sexuais. Outras propostas parecidas já foram apresentadas e arquivadas, como a do então deputado Elimar Máximo Damasceno, eleito pelo extinto Prona em São Paulo. Nem regulamentação, nem criminalização. Para muitos parlamentares é mais conveniente deixar tudo do jeito que está.


Nilson Carvalho

33 Aos 24 anos, Viviane chega a ganhar R$ 30 mil por mês. Não está satisfeita e quer o contato da mulher que promove festas para políticos no Lago Sul.

IV

Esforço

que compensa As duas moças têm beleza e grande poder de sedução. Fazem sucesso no Congresso. A mais famosa é uma loira que já ganhou de jantares românticos nos restaurantes mais caros da cidade a propostas de programa com direito a voo de jatinho. Contratada pela Câmara, desfila pelos corredores com sua beleza estonteante, que deixa até outras mulheres babando. É concorrente forte. Apaixonados sem cacife para passar uma noite com a moça dizem que ela já foi mais humilde. “Cobrava R$ 700, mas, depois de desfilar com o mais cotado dos parlamentares e o maior fã de garotas de programa, já pede R$ 1.200 por uma noite.” Apesar de trabalhar para outras pessoas, escolheu seu preferido e costuma passear com ele pelos corredores da Câmara. Ela é o biótipo de que ele gosta, por isso tem o privilégio de ser a garota eleita. “Ela é tão encantadora que tem homem sofrendo de amor, pagando presentes caríssimos para conquistá-la, mas ela prefere o dinheiro e só satisfaz aqueles dispostos a pagar-lhe”, revolta-se um admirador. A outra não mediu esforços para fazer contatos no Congresso e conseguir uma carteira de clientes de respeito e contas bancárias milionárias. A espertinha conseguiu crachá falso que lhe dava acesso ao plenário, onde podia fazer, literalmente, o corpo a corpo com os deputados. Certa vez, armou uma confusão e foi barrada pelos seguranças, que descobriram a falcatrua do crachá. E quem disse que isso a impediu de conquistar seu objetivo? Já havia tido o tempo necessário de fazer “amizade” com parlamentares e garantir um lugar ao lado deles no elevador de autoridades, onde não importa o crachá, mas o poder do deputado ou do senador. Segurança algum ousa levantar a voz para ela. Fez, aconteceu e conseguiu uma vaga no Senado. Trabalhava no cerimonial, mas foi demitida pelos sucessivos barracos que aprontava. Foi indicada para trabalhar na Procuradoria-Geral da República, onde passava apenas para deixar a bolsa e voltar ao Congresso para dar duro. Bastaram os três meses de experiência para ser demitida e voltar ao Senado, no emprego em que está até hoje. E ainda aproveita para fazer propaganda do negócio que mantém fora, com serviços que custam R$ 1.200 por noite.


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V

A calcinha vermelha

A noite brasiliense é um paraíso para as aventuras de políticos. Os lugares favoritos são a casa de shows Pathernon, no Setor de Indústrias Gráficas, e a boate do Hotel Bonaparte, na Asa Sul. Abrigam as jovens mais bonitas e mais caras e os ambientes mais discretos. Seguranças, motoristas e assessores figuram como amigos, para que ninguém desconfie de nada. Elas comem e bebem do bom e do melhor por conta de Suas Excelências. “Sempre me alimento melhor quando o cliente é político. Eles querem mostrar que podem e nisso não economizam.” Miriam é encantada por eles. Na cama da menina de 18 anos, eles se transformam em pessoas carinhosas, preocupadas, atenciosas: “Está com frio? Eu cuido de você”. Se é governador então, melhor ainda, ela diz. Ela não se esquece do prefeito mineiro que atendeu durante uma das marchas dos prefeitos. “Ele continua me ligando, mesmo não estando aqui.” Diz que o dinheiro dos políticos garantirá a ela, em breve, um apartamento no Sudoeste. Por hora, preocupa-se apenas em se manter bonita e pagar o aluguel de R$ 2 mil do flat no bairro nobre. Em julho, nas férias, aceita fazer programa com pessoas de menor poder aquisitivo. Cobra R$ 400 a hora, dependendo do tipo de trabalho. “É apenas para manter o meu padrão de vida, mas eu gosto mesmo é quando o Congresso está funcionando. Ganho muito mais.” Sem os políticos, diz, “as putas da cidade quebram as pernas”. Foi com um deputado nordestino que teve uma de suas noites mais inusitadas. Achou que a calcinha vermelha rendada que ele tirou do bolso do paletó era presente para ela. Ainda agradecia quando o deputado deixou-a boquiaberta: ele se despiu e vestiu a lingerie. “Ele desfilava pelo quarto como uma lady. Andava na ponta dos pés, sorria, parecia uma miss.” Enquanto ela sorria discretamente e o elogiava, descobriu que seu papel naquela madrugada não seria o da menina inocente e sedutora, mas o do homem da relação. Depois disso, nunca mais o viu.


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VI

A gaveta

das notas de R$ 100 Mesmo recebendo R$ 26 mil por mês, fora verbas indenizatórias, há parlamentares que pechincham muito ao negociar com as garotas de programa da cidade. Viviane, loira de seios naturalmente fartos, não aceitou barganhar com dois deles, que pediram que ela e a amiga baixassem o preço do programa no apartamento funcional. “Nunca faria isso. Deveriam é pagar melhor. Eles roubam dinheiro do povo, incluindo o meu, e não perderia a oportunidade de tirar uma boa verba deles.” Viviane os conheceu em um famoso restaurante da Asa Sul. A sofisticação dela chamou a atenção dos dois parlamentares. Ela bebia um uísque Jack Daniel’s quando foi abordada. Disse que sairia com as duas excelências se eles estivessem dispostos a pagar. Eles aceitaram, mas só reclamaram do preço no encerramento dos trabalhos. A loira prefere sair com altos funcionários do governo. Foi com eles que conheceu uma mansão no Lago Sul, com piso de mármore Carrara e um quarto com uma gaveta de mais de um metro de comprimento, de onde um dos clientes tirava notas e mais notas de R$ 100 para impressioná-la. O grande trunfo da jovem de 24 anos, que chega a ganhar R$ 30 mil por mês, é um lobista famoso. “Ele tira bolos de dinheiro do bolso para pagar tudo”, conta. Já o viu gastar R$ 2 mil em um jantar para quatro pessoas em um restaurante. Viviane ainda não está satisfeita. Quer o contato de uma mulher que promove festas no Lago Sul para políticos, com a presença de mulheres famosas e capas de revista, cujos programas saem por, no mínimo R$ 13 mil. “E ainda quero desfilar no Congresso para incrementar minha renda.”

VII

19 anos,

R$ 25 mil na bolsa Morena, 1,63 metro, 55 kg, cabelos negros, 400 ml de silicone em cada seio, 19 anos. É no Pathernon que Rayka mostra o corpo e o talento para atrair homens. “O segredo é não se atirar. Quem tem dinheiro gosta de seduzir.” Enquanto as colegas partem para cima dos engravatados, ela joga o charme de longe. É quando prefeitos, clientes assíduos da casa quando estão na cidade, não economizam para conseguir uma noite com ela. Cinco meses atrás, morava em Goiânia e ganhava pouco. Hoje tira R$ 25 mil por mês, fora presentes, como R$ 4 mil em roupas em um shopping caro da cidade. Tudo graças aos clientes financeiramente favorecidos, como empresários e parlamentares, além dos “queridos prefeitos” que pagam até R$ 3 mil para uma noite com a moça. “Sou a mulher que eles querem que eu seja. Executiva, moleca, devassa. Eles me pagam para isso.” Já fez papel de namorada, de sobrinha. Para isso, estuda espanhol e inglês. Precisa estar sempre disposta, social e apresentável para não levantar suspeitas. Goianos e gaúchos são os mais seduzidos pelos encantos de Rayka. “Também são os mais exigentes”, assegura. Na hora da fantasia, vale tudo, com pagamento sempre em dinheiro, não importa o valor.


Artigo

Para viver a arquitetura contemporânea A função de criar espaços dignos e satisfazer as necessidades do homem precisa se adequar aos desafios do mundo moderno

Texto Juliana santana Ilustração Claúdia Dias arq.julianasantana@gmail.com

claudiadias@gmail.com


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G

rande parte das representações artísticas se caracteriza por possuir até três dimensões: largura, altura e profundidade. Quando descobriram a perspectiva, no Renascimento, parecia que havia sido resolvida a grande questão de como visualizar um projeto arquitetônico. Porém, a arquitetura se difere das outras artes por ser palco para uma vida integral e orgânica. Para atingir tal objetivo, somam-se as dimensões já citadas a outra que é única e exclusiva da arquitetura: o tempo. O tempo para viver as relações métricas e assim ocupar o vazio entre elas. Para melhor compreender essa dimensão, pegamos o exemplo do cubo, como fez o crítico de arquitetura Bruno Zevi. Se estourarmos o cubo em diversas faces e em seguida começarmos a virá-las, sobrepô-las ou enfileirá-las, criaremos vazios entre essas faces, resultando, assim, em espaços entre elas. Obteremos nesta composição três dimensões bem definidas (largura, altura e profundidade), como numa escultura. Porém, quando começamos a nos movimentar ao redor das faces, quando começamos a perceber as perspectivas geradas por diferentes pontos de vista, quando vivenciamos este espaço através do tempo e da emoção causada pelos limites espaciais, testemunhamos a quarta dimensão arquitetônica. Viver as cenas das nossas vidas. Viver o tempo. A magia arquitetônica acontece com o espaço interior vivido por meio de soluções atraentes, que nos elevam emocionalmente e espiritualmente, representando aspectos sociais do tempo em que a obra está inserida. Importante ressaltar que o espaço interior não se restringe apenas ao que se refere no que está dentro da obra arquitetônica, mas sim todo vazio determinado por limites, podendo ser paredes, tetos ou pisos, como também, numa escala macro, ser edifícios, rodovias e jardins. O fato é que os arquitetos devem cada vez mais cumprir com responsabilidade a função vital da arquitetura, criar espaços dignos de viver. Não podemos avaliar o edifício só por princípios estéticos igualmente analisados na pintura e escultura ou por aspectos formais e econômicos. Uma boa arquitetura deve cumprir seu valor primordial, que é satisfazer as necessidades do homem contemporâneo, ocupando assim seu lugar com propriedade na história da arquitetura e, consequentemente, na história humana. Por volta de 50 anos atrás, vimos o movimento modernista ditar novos padrões e regras, a fim de criar uma arquitetura fácil de produzir, objetiva, fácil de se ocupar.

Verdadeiras máquinas de viver, como dizia Le Corbusier. A importância da volumetria dos edifícios se sobrepôs a qualquer aspecto decorativo sem uma função preestabelecida. Quase um quarto de século depois do movimento moderno, mesmo vivendo uma realidade completamente diferente do pós-guerra, ainda repetimos, revisitamos e até mesmo readequamos as teorias modernistas. A arquitetura precisa se adequar aos novos desafios que o mundo moderno apresenta. E para isso acontecer, os arquitetos e urbanistas contemporâneos devem debater importantes questões, como: “Em que tempo estamos vivendo?” e “Como a arquitetura representará as exigências do homem do século XXI?” Em relação ao tempo que vivemos, é notável que presenciamos uma nova revolução industrial, em que o capitalismo natural caminha para ser o sistema econômico dos países desenvolvidos. Projetos sustentáveis são cada vez mais presentes em variados tipos de segmentos da economia. Grandes empresas, hoje, tem valores ecológicos como um dos seus princípios de gestão, por reconhecerem a importância de renovar a relação com o meio ambiente. No âmbito da arquitetura não pode ser diferente. A arquitetura sustentável deixou de ser assunto de pessoas exóticas e alternativas do meio acadêmico. Não é mais uma tendência, é uma realidade do nosso tempo. A nova vanguarda arquitetônica se concretizará por soluções que respeitem aspectos naturais do meio para proporcionar conforto e bem-estar ao espaço interior. Espaços confortáveis, orgânicos, integrados e dinâmicos. Reconhecimento do sítio onde a obra será inserida, estudo da orientação solar, o uso de tecnologias limpas para reaproveitamento de água, aquecimento solar, gerações alternativas de energia, uso de materiais sustentáveis são exemplos de como uma obra arquitetônica pode proporcionar que o viver contemporâneo se adéque às novas necessidades do homem deste novo século XXI.

A magia arquitetônica acontece com o espaço interior vivido por meio de soluções atraentes, que nos elevam emocionalmente e espiritualmente, representando aspectos sociais do tempo em que a obra está inserida.


conto

Da inveja à luxúria

Os pecados da capital Sim, são sete. Consegue identificá-los nesta história que narra um dia na rotina brasiliense?

Texto Patrick Selvatti Ilustração Francisco Bronze patrickselvatti@gmail.com

Naquela segunda-feira, Eunice levantou da cama antes mesmo de o sol nascer. Despertou o marido, Agenor, que insistia em roncar feito um porco enrolado no cobertor, e foi para a cozinha preparar o café. Enquanto a água fervia, tratou de acordar as três filhas e arrumá-las para a escola. Correu para a cozinha e preparou a marmita do marido enquanto coava o pó de café. Após liberar a família, Eunice se vestiu rapidamente e seguiu para a parada de ônibus. Eram seis e meia da manhã. Ainda enfrentaria uma hora de viagem até o Plano Piloto e um dia de muito trabalho como

bronze@grandecircular.com

empregada doméstica. Entretanto, naquela parada de ônibus lotada de Samambaia, nem sinal de qualquer transporte. Um estudante com o smartphone na mão avisou: os motoristas e cobradores do transporte público fizeram uma paralisação de 30% da frota de veículos. Enquanto caminhava para a estação do metrô, Eunice foi pensando no quanto a vida era injusta. “Já que tinha que ser pobre, como eu queria ter nascido inteligente ou pelo menos bonita para ter arrumado um marido melhor...” Sua prima Lurdinha não teve estudos, mas era formosa, loira, boazuda, e conseguiu

casar com um professor universitário que lhe dava vida de princesa. “Ah, a Lurdinha... Essa sim tem uma vida que pediu a Deus!” Era bem cuidada, usava roupa de boutique, fazia o cabelo e as unhas uma vez por semana e estampava nos olhos a sua felicidade conjugal... E o melhor: morava num bom apartamento no Cruzeiro, não andava de ônibus e seu trabalho era de recepcionista de um hotel de luxo. Esse sim era um emprego que Eunice gostaria de ter. E não passar o dia limpando sujeira da casa dos outros. Como tinha inveja da prima! Eram dez da manhã quando


39 Eunice chegou ao trabalho, no final da Asa Norte. Naquele horário, já deveria estar com o serviço adiantado. Antes de começar a preparar o almoço, limpava a cozinha, colocava roupas para lavar e faxinava parte do apartamento. Naquele dia, todo o processo se atrasaria. Pelo menos os patrões, seu Jairo e dona Irene, já haviam saído para seus respectivos trabalhos. O problema era o filho do casal. Àquela hora, Luís Felipe ainda estava na cama. E ficaria por ali até bem depois do almoço. O rapaz tinha dezenove anos – típico jovem mimado de classe média alta brasiliense – e não estudava. “Pô, eu mereço um pouco de descanso e diversão depois de dedicar quase 90% da minha vida a um banco de escola”, ele argumentava, entre uma saída e outra. A verdade é que Luís Felipe nem mesmo sabia que carreira gostaria de seguir. Qualquer coisa que passasse pela sua cabeça trazia consigo uma carga pesada de chateações. Ideal era ganhar muito dinheiro com pouco esforço. Graças a um bom relacionamento da família com um deputado distrital, estava nomeado com um cargo até razoável no governo. Recebia em torno de R$ 1,5 mil por mês (quase o dobro do salário de Eunice), mas só aparecia mesmo no local de trabalho duas horas por dia para assinar a folha de ponto. E mesmo assim ainda reclamava da burocracia brasileira, que exigia do cidadão certas obrigações muito provincianas. Naquela segunda-feira, Luís Felipe saiu do quarto por volta do meio-dia e meia. E resmungando, irritado porque a empregada estava fazendo muito barulho. Havia chegado quase de manhã em casa, após uma boa noitada com os amigos em uma festa privada numa chácara no Lago Oeste. A cabeça estava pesada, precisava de um tipo de sossego que, não encontrando em seu próprio lar, teria que buscar no clube, só de sunga, tomando um bom drinque na beira da piscina. Deitado na confortável rede da varanda,

Luís Felipe pegou o seu iPhone e chamou o táxi que o levaria ao clube. Não estava a fim de dirigir. Dez minutos depois, o carro já estava na entrada do seu bloco. Do lado de fora, o motorista, um homem negro de óculos de aviador e colar de prata aparecendo da camisa de botões abertos, fumava um cigarro, enquanto do carro vinha o som animado de Zeca Pagodinho. “Vamos lá, meu camarada. Toca pro Iate Clube e pode deixar o som rolando que eu tou na onda do deixa-a-vida-me-levar...”

***

Para uma segunda-feira, Kleber estava muito bem-humorado. Tinha uma razão: a ausência de ônibus circulando fazia os taxistas faturarem bastante. Além disso, estreava seu carro, um belo possante que havia acabado de tirar da concessionária. Não era nenhum carro importado, mas tinha seus méritos: popular zero-quilômetro, com ar-condicionado, trio elétrico, direção hidráulica e DVD portátil. Depois de dez anos de muita ralação pelas ruas do Distrito Federal, muito passageiro chato e muita privação na vida pessoal, o dinheiro poupado finalmente se revertia na realização de seu sonho. Após o deslocamento de aproximadamente dez quilômetros da 215 Norte até o Iate Clube, Kleber retornou ao Plano Piloto passando pela Esplanada dos Ministérios. E a sorte parecia estar ao seu lado: na altura do Ministério da Justiça, um homem trajando terno e gravata estava parado ao lado de um carro com o pneu furado, enquanto seu chofer procedia ao conserto. “Segue para o setor hoteleiro”, ordenou o novo passageiro, aparentemente apressado e impaciente, falando ao celular com alguém que o aguardava ainda mais impaciente do outro lado. Pelo bóton que aquele homem carregava no paletó, Kleber deduziu que se tratava de um deputado. Para lucro do taxista e prejuízo do pas-


40 sageiro sisudo, o trânsito na Esplanada dos Ministérios estava tumultuado naquela tarde. Os carros andavam a passos lentos, parando a cada instante. Numa dessas paradas, em frente à Rodoviária do Plano Piloto, Kleber freou, mas o carro que o seguia não acompanhou o movimento, chocando-se em sua traseira. Kleber soltou um palavrão e desceu do carro, sem se importar com o passageiro que conduzia. No veículo de trás, ainda pôde ver a motorista falando ao celular. Era uma mulher de aproximadamente cinquenta anos, muito bem vestida, de óculos escuros enormes e lenço de seda envolvendo o pescoço. Ao ver o estrago provocado na traseira de seu carro novo, o taxista não se controlou. O sangue subiu e ele começou a brigar com a mulher que havia provocado a colisão. Estava visivelmente transtornado, o rosto vermelho feito pimentão, as mãos tremendo. De sua boca, saíam palavrões impublicáveis. A mulher desceu do carro e, cheia de classe em cima do salto altíssimo, diante do tom agressivo e ofensivo daquele homem, começou a responder com autoridade e altivez. Ambos achavam-se no direito da posição de vítima e ninguém queria assumir o prejuízo do outro. “O senhor, por favor, abaixe o tom de voz que eu não sou surda”, ela foi logo exigindo. “Não mesmo, porque se fosse surda a madame não estaria falando ao celular enquanto dirigia. Mas pelo visto é cega e muito ruim de roda.” “O senhor não sabe com quem está falando!” Silvia Junqueira era uma dessas figuras conhecidas na alta sociedade brasiliense. Era ex-mulher de um ex-ministro da época de ex-presidente do século passado. Teve seu apogeu no período em que Brasília ainda era só o centro da nobreza tupiniquim e, sim, já foi considerada uma locomotiva do high society brasiliense. Mas passou a viver dos recortes de jornais antigos e das inúmeras intervenções cirúrgicas

de caráter estético a que já havia se submetido em nome da vaidade. Entretanto, ainda se sentia como se estivesse no crème de la crème da Corte. Altiva, esnobe, pedante, olhava os outros sempre por cima. Soberba era seu nome. Kleber já estava furioso por causa do prejuízo em seu carro e ficou mais ainda quando aquela mulher esnobe e preconceituosa o ofendeu. A essa altura, o trânsito que, já estava lento, parou totalmente. Enquanto os dois motoristas envolvidos na batida discutiam, os condutores dos outros veículos começaram a buzinar e vociferar: que eles se dirigissem ao acostamento para que a passagem fosse liberada. O caos estava instalado. Em alguns minutos, a polícia militar apareceu para colocar ordem. Alheio às argumentações descompensadas dos dois condutores envolvidos na colisão, o parlamentar identificou-se e disse que estava envolvido inocentemente em uma confusão que estava o impedindo de estar em uma reunião importantíssima com outros pares. Constrangido, o policial pediu desculpas ao parlamentar e prontificou-se a conduzi-lo até seu destino enquanto o colega resolveria o acidente de trânsito. Entrou na viatura sob protestos dos outros condutores, principalmente Kleber, que não receberia um centavo pela sua desastrosa corrida. E tudo indicava que ele ainda teria muita dor de cabeça para garantir o conserto do seu carro.

***

Apesar do inconveniente ocorrido no táxi que o conduziria até seu destino, o deputado federal Álvaro Pimenta conseguiu chegar à reunião com menos de uma hora de atraso ao horário previsto. Na verdade, tratava-se de um encontro secreto com um importante membro do governo do seu estado de origem em uma suíte daquele grande complexo hoteleiro de luxo no início da Asa Sul. O homem – um senhor gor-

do de meia-idade – já estava esperando, impaciente, com um cigarro preso na boca e um copo de uísque na mão. Licurgo entregou então ao deputado uma mala cheia de dólares. Era o pagamento por parte do governo de seu estado de origem por ter votado a favor de um projeto do interesse do partido. “Está tudo aqui”, disse Pimenta, cheirando as cédulas verdinhas, com os olhos brilhando em forma de cifras. “Avise ao governador que mês que vem haverá reajuste de 10%, ok?” Licurgo sentiu-se aliviado ao se livrar de Álvaro. Tinha cumprido a missão que o levara a Brasília. Resolvido seu único compromisso, restava-lhe agora continuar usufruindo o que, na opinião dele, a cidade tinha de melhor: a gastronomia. Do popular ao sofisticado, os cardápios brasilienses não deixavam a desejar. O roteiro gastronômico se iniciou cedo. De táxi, Licurgo seguiu para a Asa Sul, onde pôs fim ao seu jejum – porque amendoim e barrinha de cereal oferecidos pelo catering dos voos não contam – numa requintada padaria. Enquanto lia o caderno de política, degustou diversos tipos de pães doces e salgados, com recheios diversos como manteiga, requeijão, queijo, presunto, patês alternados e ovos com bacon. Na hora do almoço, a dúvida ficou entre churrascaria e cantina, mas foi convencido por um amigo a se render à famosa buchada de bode preparada pelos nordestinos na feira do Núcleo Bandeirante. De sobremesa, lambeu os beiços com o robusto petit gateau de uma famosa lanchonete da cidade. E ainda encontrou espaço no estômago para comer dois pastéis de queijo na rodoviária, com caldo de cana. Para o jantar, Licurgo não pensou duas vezes: o rodízio de churrasco era a melhor opção. Foi caminhando até a churrascaria gaúcha estrategicamente instalada ao lado do seu hotel. Sentou-se em uma mesa sozinho e iniciou o seu ritual de glutonaria:


41 aquele homem de trinta e poucos anos, bonito que só, sentia falta de algo que nenhuma mulher poderia lhe dar. Era inconfessável, mas Guilherme sentia atração por outros homens. O que guardava para si era muito forte e precisava extravasar. E a maneira que encontrava para não se sufocar com seu desejo era justamente aquela: buscando prazer na internet todas as noites, enquanto a esposa trabalhava. Mas não se considerava infiel. Sua safadeza resumia-se exclusivamente ao mundo virtual. Na internet, permitia-se tudo: sem revelar sua verdadeira identidade, despia-se de qualquer pudor e entregava-se ao mais extremo prazer possível por meio de uma câmera acoplada ao computador. Adorava a sensação de seduzir, provocar, dizer obscenidades, acariciar seu corpo visualizando um homem desconhecido que, do outro lado da tela, também se oferecia ao voyeurismo. Após a satisfação física e emocional, adormecia feliz. E pela manhã, quando Lurdinha chegava em casa, Guilherme a recebia com intensa paixão. Era um marido sem defeitos, afinal.

***

Na manhã seguinte, enquanto Lurdinha se debruçava em sua ilusão, na mesma hora, Eunice saía para trabalhar e seguia viagem, de ônibus, em pé. Ao seu lado, estava Kleber, que, sem carro, ia ao encontro de Silvia Junqueira na delegacia onde estava presa por desacato à autoridade. No caminho, lia no jornal popular a notícia de que, antes de morrer, o assessor político Licurgo Castanheira havia confessado a entrega de mensalão para o deputado Álvaro Pimenta. Já no apartamento da Asa Norte em que Eunice trabalhava, Luís Felipe não acordaria tão cedo – havia passado a madrugada trocando obscenidades virtuais com um homem que se identifica) ra apenas como Professor Casado. )

comeu massa e uns quitutes japoneses e, para arrematar, não rejeitou nenhum tipo de carne suculenta que passava pela sua frente, com aquele odor apetitoso. “Pode me servir de tudo: coraçãozinho, frango, picanha, maminha...” Com 56 anos, Licurgo era obeso, consumidor de dois maços de cigarros diários, apreciador do bom uísque e totalmente avesso a qualquer prática esportiva. Hipertenso, diabético e portador de outras bombas-relógio tiquetaqueando dentro do coração. Trabalhando com uma política sempre em crise, então, o infarto era algo iminente. “Por favor, alguém me ajude!”, gritou a jovem recepcionista ao ver aquele homem enorme de gordo caído na entrada do hotel. Lurdinha estava assustada com a cena que havia acabado de presenciar. No chão, ao lado do corpo de Licurgo, golfos de comida. Por sorte, havia um médico entre os hóspedes e o socorro foi imediato. Em instantes, a ambulância chegou, levando-o para o hospital. Enquanto rezava para que o pobre homem não abotoasse o paletó de madeira, ligou para casa. “Estou traumatizada, meu benzinho. Não sei por que, mas senti uma vontade enorme de ouvir a voz do meu maridinho” Por telefone, de casa, no Cruzeiro, Guilherme tranquilizou a esposa. “Meu amor, o plantão está só começando. Há ainda uma noite inteira de trabalho e esse episódio precisa ser esquecido. Fique bem. Estou com saudades, benzinho.” Após encerrar a ligação, Guilherme retornou ao computador. Já havia concluído o trabalho acadêmico, acessou a internet. Guilherme tinha um bom casamento com Lurdinha. Era apaixonado pela esposa e sentia-se realizado sexualmente com ela. Tinha ao seu lado uma mulher bonita, carinhosa, cheirosa e até certo ponto safada. Transavam diariamente, às vezes até mais de uma vez por dia. Entretanto,


Artigo

Das duas, quatro

Uma reflexão sobre o drama de ser pedestre em Brasília, cujos traçados são hostis às caminhadas

Texto Kátia Marsicano Fotografia thyago arruda katiamarsicano@gmail.com

thyagochs@gmail.com


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H

oje, como em vários outros dias, me peguei pensando em como teria sido importante para mim a oportunidade de conversar com Lucio Costa e Oscar Niemeyer juntos. Trocar ideias com mestres da arquitetura e do urbanismo como eles talvez me ajudasse a diminuir a minha ignorância e compreender onde devem estar os pedestres na cidade-patrimônio... Sinceramente, não é minha intenção causar polêmica ou mal-estar. Mas a cada dia me sinto mais e mais compelida a buscar (e, claro, encontrar) respostas para a falta de acolhimento e a quase hostilidade dos traçados da capital em relação a essas criaturas esquisitas de duas pernas, que insistem em querer andar apenas para usufruir a elementar necessidade – e por que não dizer, privilégio? – de se locomover com independência. Que papo mais estranho, né? Revendedoras de automóveis devem fazer careta para uma loucura dessas: como alguém pode se dizer lúcido sem desejar o mais novo modelito sobre quatro rodas? Rejeitar aquelas lindas cores de marca-texto, mais espaço interno, porta-malas gigantesco e recursos tecnológicos incontestavelmente fundamentais ao mundo moderno? Isso sem contar, lógico, o status que um carro novo inspira na vizinhança, entre os colegas de trabalho e até no estacionamento do shopping, onde é possível flagrar até o vigilante parado conferindo os detalhes da modernidade automobilística... É verdade. É esquisito mesmo... Afinal de contas, nem é preciso esquentar muito com os engarrafamentos, porque o próximo governo – sem dúvida – vai abrir mais uma Linha Verde, por cima de áreas de preservação permanente e em troca do espaço de meia dúzia de buritis nativos. Os carros vão ter sempre espaço para circular... A cidade – de vias largas e retas, sonho de consumo de paulistas, por exemplo – é perfeita para isso. Mas, voltando a minha impossível conversa com Lucio Costa, início desta divagação domingueira, tenho certeza de que facilmente eu poderia ter sido convencida de que a concepção de Brasília foi bem-intencionada. O problema talvez tenha sido o que aconteceu depois... Da maquete para a realidade, teve o dedo de muita gente que continua esculachando o projeto da cidade-céu. Tenho que acreditar nisso. Aliás, só acreditando nisso é que posso continuar insistindo em me aventurar por entre os carros, tentando atravessar muitas pistas sem passagem de pedestres ou passarelas, cruzando gramados inóspitos que não devem

ser pisoteados, percorrendo longos trechos sem sequer ter outro pedestre para quem dar um bom-dia ou esbarrar em mim... Dia desses me vi investindo na aventura de ir da rodoviária do Plano Piloto até os prédios da Esplanada. Em respeito à profunda simpatia que tenho pelo projeto do Museu da República, com sua “redondice” imaculada, recebi como retribuição as solas dos meus sapatos em brasa sobre o cimento escaldante e nem sequer uma sombra para aliviar os miolos... Imaginei uma alameda linda, mas era só uma alucinação... Eu era uma formiga andando nos azulejos da cozinha. Sozinha... Sem ninguém com quem pudesse comentar o trabalho que deve ter sido tirar do papel a ousadia arquitetônica de Niemeyer, naquelas paredes curvas... Também já travei a batalha urbana de transpor os parcos três quilômetros que separam a minha casa do trabalho, mas não fui feliz. Enfrentar a Ponte do Bragueto e me encurralar na estreita calçadinha por onde passam centenas de carros em alta velocidade não deu certo... Nada bucólico para quem sonhava em relaxar depois de um dia cansativo. E eu que só queria um pouco do ar puro que ainda temos... Tudo bem. Talvez eu esteja sendo ingrata demais com todas as outras vantagens e benefícios que a cidade oferece, né? Talvez, não esteja sendo justa com a personalidade urbana brasiliense. Afinal de contas, cada cidade tem uma cara, um jeito, um estilo. Assim como as pessoas, nenhuma cidade é igual à outra... Azar o meu... Para que inventar o que não posso ter? Melhor fazer como todo mundo: entrar no carro, fechar os vidros, ligar o ar-condicionado e fazer cara de “estou podendo”, até o momento de tentar estacionar, não encontrar vaga e largar o carro em fila dupla ou nas vagas reservadas. É o preço para se enquadrar: trocar as duas pernas pelas quatro rodas... Desculpem, mas não consigo. Sou ariana movida a paixões e fico imaginando como Brasília pode ser vista e sentida de um jeito muito mais intenso e completo se a velocidade das pessoas for a dos passos e não a do velocímetro...

Imaginei uma alameda linda, mas era só uma alucinação... Eu era uma formiga andando nos azulejos da cozinha. Sozinha...


Caixa-preta

por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com

Sarney e o torturador, Ustra e o presidente

O mais recente desatino de José Sarney veio com data e local predefinidos: a última quarta-feira de julho, 27, no Tribunal de Justiça de São Paulo. Ali, como testemunha de defesa, o presidente do Congresso Nacional louvou o maior ícone da repressão da ditadura – o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra. É o homem que montou e comandou o centro de tortura mais notório do regime, o DOI-Codi do II Exército, na rua Tutóia. Sarney tenta livrar Ustra de uma nova condenação como torturador, agora acusado pela morte, há 40 anos, do jornalista Luiz Eduardo Merlino. Poucos saíam vivos dali. É sempre saudável reavivar a memória de Sarney para a sórdida natureza do ofício de Ustra e para a macabra sina de seu local de trabalho. No DOI-Codi paulista, o ar era insalubre. Nos 40 meses em que ali reinou, Ustra amargou 40 mortes e uma denúncia de tortura a cada 60 horas, segundo a Igreja Católica.

A história inacreditável Merlino, 22 anos, repórter do Jornal da Tarde, foi detido em casa, em 15 de julho de 1971. Passou a madrugada e o dia seguinte sob tortura. Ao lado ficava a solitária, a X-Zero. O único preso ali, Guido Rocha, ouvia os gritos de Merlino. Horas depois, ele foi jogado na X-Zero, todo machucado, as pernas dormentes pelas horas no pau-de-arara. Para ir à privada, Merlino precisava ser carregado por Guido. Na manhã de 17, os presos o ouviram dizer que fora torturado toda a noite e que suas pernas não lhe obedeciam mais. Merlino foi submetido pelo enfermeiro ao teste de reflexo no joelho e no pé. Nenhum respondeu. Tudo o que ele comia, vomitava. Havia sangue no vômito. “Chame o enfermeiro, rápido, eu estou muito mal”, disse Mer-

lino. Foi transferido para o Hospital Geral do Exército. Às 20h do dia 20, dona Iracema recebeu um telefonema do Dops com a notícia: seu filho matou-se ao se jogar embaixo de um carro na BR-116, ao escapar da escolta que o levava a Porto Alegre. O corpo foi entregue à família num caixão fechado. Amigos de Merlino acorreram ao local e não encontraram vestígio do acidente. A censura impediu a notícia da morte de Merlino. Só no final de agosto é que O Estado de S.Paulo conseguiu publicar o anúncio para a missa de 30º dia. Esta é a história que Sarney ouviu. A estória que o coronel Ustra contará foi antecipada por ele no início do mês num site de nostálgicos da ditadura, o Ternuma. Esta é a delirante versão de Ustra: “Na rodovia BR-116, na altura da cidade de Jacupiranga, a equipe

de agentes que o transportou parou para um lanche ou um café. Aproveitando uma distração da equipe, Merlino, na tentativa de fuga, lançou-se na frente de um veículo que trafegava pela rodovia”. Assim, só cuspindo marimbondos de fogo para confiar na versão de uma equipe tão distraída do mais temido DOI-Codi do País e acreditar na agilidade física de um preso capaz de correr numa rodovia e incapaz de alcançar a privada da masmorra pela paralisia das pernas. Nem o imortal Sarney, autor de 22 livros, produziria ficção tão vagabunda. Acreditando no inacreditável e defendendo o indefensável, José Sarney encontrou, enfim, o roteiro e o personagem que podem levá-lo definitivamente ao brejal da desmemória, da inverdade e da injustiça.


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Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br

Os artistas vêm de toda parte Atrações de distintas partes do mundo reúnem-se em agosto aqui em Brasília. Os shows gringos vêm no comecinho do mês, no dia 4: a norteamericana Dionne Warwick (foto), a canadense Avril Lavigne e a dupla britânica Erasure. O brasiliense também poderá apreciar artes visuais de longe, como a exposição que veio de Salamanca (Espanha) e a mostra em homenagem ao escultor grego Nicolas Vlavianos. Tem até objetos que vieram do fundo do mar, na exposição com peças do naufragado Titanic. A Cena Contemporânea 2011 traz peças de teatro da Dinamarca, da Polônia, da Coreia do Sul. Para quem prefere o teatro clássico, o francês Cyrano de Bergerac em montagem brasileira. Lá da China vem o circo que encerra a programação internacional, com o espetáculo Sky Mirage II.

Cinema – lançamentos

A better life Direção: Chris Weitz. Um jardineiro (Demian Bichir) do leste de Los Angeles luta para manter o equilíbrio entre trabalhar com paisagismo para os ricos da cidade e manter seu filho longe das gangues e dos agentes de imigração. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex em 5 de agosto. 100 minutos.

A inquilina Direção: Antti Jokinen. A Dra. Juliet Dermer (Hilary Swank) é uma jovem médica que, ao se mudar para um novo apartamento, descobre que o proprietário tem uma assustadora obsessão por ela. Suspense. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 12 de agosto. 105 minutos.

Alteza nada real Direção: David Gordon Green. Thadeous (Danny McBride) é um príncipe arrogante e preguiçoso. Ele se junta ao irmão mais heroico, Fabious (James Franco), em uma missão. Devem derrotar um mago para salvar Belladonna (Zooey Deschanel), noiva

de Fabious, e acabar com a ameaça ao reino. Aventura. Verifique a classificação. Kinoplex em

marujos em mesas de jogatina e jogam olho comprido sobre os decotes das mulatas.

26 de agosto. 102 minutos.

Drama. Classificação 12 anos. Cinemark em 5 de

Amor a toda prova Direção: Glenn Ficarra. Cal Weaver (Steve Carell) tem ótimo casamento, filhos incríveis e bom emprego. Seu mundo desaba quando descobre que sua esposa, Emily (Julianne Moore), o traiu e quer o divórcio. Há anos sem ter um encontro amoroso, Cal passa as noites em um bar local, curtindo sua infelicidade, até que conhece Jacob Palmer (Ryan Gosling), um homem charmoso que o ajuda a enxergar as várias opções em sua frente. Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex em 26 de agosto. 103 minutos.

agosto. 96 minutos.

Como agarrar meu ex-namorado

Direção: Julie Anne Robinson. Desempregada e divorciada, Stephanie (Katherine Heigl) convenceu o primo Vinnie (Patrick Fischler) a contratá-la como caçadora de recompensas. Já em sua primeira missão, ela tem de capturar o aposentado Joe (Jason O’Mara), ex-policial foragido, o mesmo por quem ela tinha uma queda nos tempos de escola. Comédia. Verifique a classificação. Cinemark e Kinoplex em 5 de agosto. 90 minutos.

Capitães da areia

Confiar

Direção: Cecília Amado e Guy Gonçalves. Adaptação da obra de Jorge Amado, se passa na Bahia de Todos os Santos de 1950. Um bando garotos abandonados incomoda a sociedade. São liderados pelo jovem Pedro Bala (Jean Luis Souza de Amorim). Juntos, planejam furtos, assaltos a mansões, trapaceiam os

Direção: David Schwimmer. Will (Clive Owen) e Lynn (Catherine Keener) presenteiam a filha Annie (Liana Liberato) com um computador. Annie tem 14 anos e conhece um garoto, por quem se apaixona, em um bate-papo. O problema é que, na verdade, o garoto é um homem muito mais velho, que a atrai para


Sony Pictures

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Cinema James Franco é um jovem americano que tinha tudo para ser queridinho em Hollywood, em plenos 33 anos de idade. Bonito, inteligente, charmoso... Mas parece que ainda falta identidade ao indicado ao Oscar no ano passado, por 127 horas. Mesmo com um currículo vasto, não se descobriu ainda. Tinha cacife para ser o sucessor de galãs como Pitt, Cruise e Depp, mas não o fez. Chegou a interpretar o mestre de todos eles: James Dean. A beleza, de certa forma exótica, garante ao ator bons trabalhos. Tanto que menininhas de todo o mundo torceram pelo vilão que interpretou em Homem-Aranha 2, extremamente atraente, em detrimento de um super-herói fraco de Tobey Maguire. Tem talento excepcional para se adaptar aos personagens que constrói e talvez esteja aí o problema. Ele consegue

Os Smurfs

ser qualquer coisa, mas não deixou sua

Direção: Raja Gosnell. O mago Gargamel (Hank Azaria) enfim consegue expulsar os Smurfs de sua pacata vila. Com isso, eles deixam o mundo mágico e aparecem em plena Nova York. É lá que Papai Smurf (Jonathan Winters), Smurfette (Katy Brand), Gênio (Fred Armisen) e os demais precisam viver até encontrarem um meio de voltar para casa. Animação. Classificação livre.

mês, chega às telas com duas produções

Cinemark e Kinoplex em 5 de agosto. 105 minutos.

pe de blockbusters. Quando achamos que

marca nos filmes que fez. Pinta, escreve, dirige, faz o estilo nerd, lê clássicos. Neste com as quais parece não se identificar, a ficção Planeta dos macacos e a comédia Alteza nada real. Um cientista e um prínciele vai evoluir, regride. É como se aceitasse o primeiro papel que vê pela frente, sem

um encontro no qual abusa sexualmente da jovem. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex em 26 de agosto. 106 minutos.

contra a ameaça extraterrestre.

Ficção.

critério.

Classificação 12 anos. Cinemark em 12 de agosto. 101 minutos.

Cowboys & aliens

Dylan Dog e as

Direção: Jon Favreau. Em 1873, um estranho (Daniel Craig) sem memória vai parar em Absolution, cidade dominada pelo medo e comandada pelo coronel Woodrow Dollarhyde (Harrison Ford). As coisas pioram com a invasão de alienígenas, forçando os homens brancos a unir forças com os índios apaches

Direção: Kevin Munroe. Baseado nos quadrinhos Dylan Dog. No filme, o detetive Dylan Dog (Brandon Routh) convive com criaturas do mundo sobrenatural. Quando o pai de uma moça é assassinado por um lobisomen (Ashlynn Ross), ele entra em ação

criaturas da noite Rafania Almeida É jornalista e, nas horas vagas, curte falar mal de atores de cinema


Arte, Cultura e Lazer

para desvendar o mistério. Ao lado do fiel assistente Marcus (Sam Huntington), Dylan vai enfrentar terríveis criaturas: zumbis, lobisomens e até um assustador guardião do inferno. Suspense. Classificação 12 anos. Kinoplex

precisa aprender a lidar com o anel, já que tem de defender o planeta contra Sinestro (Mark Strong) e Hector Hammond (Peter Sarsgaard). Aventura. Classificação 10 anos.

o amigo Zeca (Marcello Airoldi) e a espanhola Milena (Marta Larralde) – a percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, ideal para encontros, reencontros e aventuras.

Cinemark e Kinoplex em 19 de agosto. 105 minutos.

Romance. Classificação 12 anos. Kinoplex em 19 de agosto. 110 minutos.

em 12 de agosto. 107 minutos.

Eu queria ter a sua vida Direção: David Dobkin. A trama acompanha dois amigos que trocam de corpo. Um é um pai de família (Jason Bateman) e o outro (Ryan Reynolds) é preguiçoso e imaturo. Comédia. Classificação 16 anos. Kinoplex em 12 de agosto. 90 minutos.

Henry’s crime Direção: Malcolm Venville. Henry (Keanu Reeves) é condenado injustamente por um assalto a banco de que ele nem sequer participou. Quando sai da cadeia, decide praticar o crime pelo qual foi preso. Ação. Verifique a classificação. Kinoplex em 19 de agosto. 108 minutos.

Jumping the broom Direção: Salim Akil. Sabrina Watson (Paula Patton) e Jason Taylor (Laz Alonso) se conheceram por acaso e acabaram se apaixonando. Ele pertence a uma família simples e ela é rica. Nem a resistência das respectivas mães, a senhora Watson (Angela Bassett) e a senhora Taylor (Loretta Devine), é capaz de inibir o relacionamento. Comédia. Verifique a classificação. Kinoplex em 26 de agosto. 108 minutos.

Lanterna Verde Direção: Martin Campbell. A Tropa dos Lanternas Verdes é formada por guerreiros cujos poderes vêm de um anel. Cada um é responsável por um planeta ou setor do universo. Na Terra o escolhido é Hal Jordan (Ryan Reynolds), jovem piloto de testes e primeiro humano a integrar a tropa. Ao lado de Carol Ferris (Blake Lively), Hal

Marte precisa de mães Direção: Simon Wells. Milo (Seth Green) tem 11 anos e só descobre o valor da mãe (Joan Cusack) quando ela é raptada por marcianos que planejam roubar sua sabedoria materna. Para salvá-la, o menino se alia à rebelde marciana Ki (Elisabeth Harnois). Animação. Classificação livre. Kinoplex em 19 de agosto. 88 minutos.

Melancolia Direção: Lars von Trier. O tempo afastou as irmãs Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg). Quando é anunciado que a Terra colidirá com outro planeta, as duas têm reações bem diferentes. Enquanto a melancólica Claire fica conformada, a exuberante Justine está aterrorizada. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark em 5 de agosto. 130 minutos.

O casamento do meu ex Direção: Galt Niederhoffer. Sete amigos de faculdade se reúnem para o casamento à beira-mar de dois deles. Laura (Katie Holmes) é a dama de honra e uma das melhores amigas da noiva, Lila (Anna Paquin). As duas têm uma coisa em comum: a paixão pelo noivo, Tom (Josh Duhamel). Durante os dias que antecedem o casamento, as amizades são testadas em um triângulo amoroso. Romance. Classificação 12 anos. Cinemark em 5 de agosto. 100 minutos.

Onde está a felicidade? Direção: Carlos Alberto Riccelli. A chef de cozinha Teodora (Bruna Lombardi) embarca em uma jornada que faz dela uma nova mulher. Crises no amor e na vida profissional a levam – com

Planeta dos macacos Direção: Rupert Wyatt. Will Rodman (James Franco) trabalha em um laboratório onde são feitas experiências com macacos. Ele está interessado em descobrir medicamentos para o mal de Alzheimer para curar o pai (John Lithgow). Conta com a ajuda de Caroline (Freida Pinto). As experiências fazem com que a inteligência dos macacos aumente, ao ponto de eles escaparem de suas gaiolas e enfrentarem os humanos. Ficção. Classificação 12 anos. Kinoplex em 5 de agosto. 121 minutos.

Quero matar meu chefe Direção: Seth Gordon. Nick Hendricks (Jason Bateman), Kurt Buckman (Jason Sudeikis) e Dale Arbus (Charlie Day) são amigos que sofrem nas mãos de seus chefes, Dave Harken (Kevin Spacey), Bobby Pellitt (Colin Farrell) e Julia Harris (Jennifer Aniston). Juntos, resolvem pôr em ação um plano para eliminá-los. Comédia. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 5 de agosto. 90 minutos.

Uma professora sem classe Direção: Jake Kasdan. Elizabeth Halsey (Cameron Diaz) é uma professora desbocada que quer conquistar um professor substituto (Justin Timberlake). Para alcançar seu objetivo, terá que passar por cima da namorada certinha do cara (Lucy Punch). Comédia. Verifique a classificação. Kinoplex em 19 de agosto. 92 minutos. www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br


Marcos Hernes

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Música Certa vez um sábio compartilhou com um grupo de amigos seu segredo para (quase) nunca decepcionar um ser do sexo oposto. Manter as expectativas baixíssimas. Tão baixas que a mera presença do referido era digna de uma medalhinha de honra ao mérito. Pois bem, a produção do SWU Music & Arts Festival definitivamente não compartilha de tal filosofia. O grande trunfo da primeira edição do SWU foi seu line up de peso. Rage Against the Machine, Kings of Leon e Linkin Park, entre outros, foram apostas certeiras. Dito isso, a expectativa para o anúncio do primeiro lote de atrações da edição 2011 do festival era alta. A produção do festival chegou a comunicar que traria ao País artistas e bandas que marcaram gerações! Maldita expectativa. Foram anunciados

Maria Gadú

The Black Eyed Peas, Megadeth, Peter Gabriel, Damian Marley e Snoop Dogg.

A artista de “coração carioca” venceu o Prêmio Multishow 2010 na categoria Melhor Álbum e foi indicada ao Grammy Latino 2010 em duas categorias: Revelação e Melhor Álbum Cantor/Compositor. Shows com seus sucessos e covers inéditos, cantados a sua maneira, como Trem das onze, de Adoniran Barbosa, que ganhou nova versão dramática. 21 de agosto, às 20h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Balcão Superior R$ 100; Plateia R$ 160; Plateia VIP R$ 240; Plateia VIP Lateral R$ 180. Classificação 16 anos. Telefone: 3443-9779.

Temos respectivamente duas bandas que mal carimbaram o passaporte na saída do Brasil, o ex-vocalista da banda Genesis, o filho do deus do reggae, Bob Marley, e um rapper americano. O tiro de misericórdia veio com a confirmação do ícone Neil Young no festival. Senhor Young virá sem sua guitarra, porém. Chorai, chorai roqueiros. Ele vem para o fórum de sus-

Música

Avril Lavigne A canadense volta ao Brasil após seis anos. A cantora está em turnê mundial para o lançamento do último disco, Goodbye lullaby, lançado em 2011, o quarto da carreira. 4 de agosto, às 21h30, no ginásio Nilson Nelson. Ingressos (inteira): Setor Superior R$ 160; Pista/Cadeira R$ 180; Pista Premium R$ 260. Classificação 12 anos (até 14 anos deverão estar acompanhados dos pais ou responsáveis legais). Telefone: 2109-2136.

Belô Velloso

tentabilidade.

Cantora e compositora de oito álbuns, o primeiro lançado em 1996, tem um trabalho embasado na mistura da MPB e das raízes nordestinas com o pop. Seu mais recente álbum é Versão brasileira. 13 de agosto, às 21h, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 18 anos. Telefone: 3424-7121.

Caixa Acústica do CasaPark Último show do projeto em que músicos da cidade se apresentam sob a direção artística

Diogo Dawes É músico


Arte, Cultura e Lazer

do maestro Vadim Arsky. Apresenta o Trio Terra Brasiliensis (MPB), com Sidney Maia (flauta), Jaime Enerst Dias (violão) e Hamilton Pinheiro (baixo). 6 de agosto, às 17h, na Praça Central do Shopping CasaPark. Entrada franca e livre. Telefone: 3403-5300.

Céu A cantora e compositora faz o show de seu novo CD, Vagarosa. Responsável pela direção do próprio musical, Céu é acompanhada pelos músicos Guilherme Ribeiro, Lucas Martins, Bruno Buarque e DJ Marco. No repertório estão músicas do novo disco, como Bubuia, Cangote, Comadi e Sonâmbulo, além das canções do primeiro CD, Céu (2005). 26 de agosto, às 21h, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 18 anos. Telefone: 3424-7121.

Clube do Choro Em agosto, o destaque do Clube do Choro é a orquestra popular Marafreboi, composta por 14 músicos e com base em instrumentação de sopro. Os profissionais mostram um repertório de diferentes gêneros, como frevo de rua, maracatu, catira, ciranda e bumba meu boi. Shows às quartas, quintas, sextas e aos sábados a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. Daniela Spielmann & Grupo Choro Livre: 3, 4 e 5 de agosto Orquestra popular Marafreboi: 6 de agosto Alexandre Gismonti: 10, 11 e 12 de agosto Leonel Laterza: 13 de agosto Arthur Maia: 17, 18 e 19 de agosto Carrapa do Cavaquinho: 20 de agosto Vittor Santos: 24, 25 e 26 de agosto

Dionne Warwick A vencedora de cinco prêmios Grammy volta ao Brasil com sua banda, formada por Kathleen Rubbicco (piano e direção musical), Renato Pereira (percussão),

William Hunter (teclados), John Shrock (teclados), Ernest Tibbs (baixo) e Jeffrey Lewis (bateria). Apresenta os clássicos Heart breaker, I will never love this way again e I say a littler prayer. 4 de agosto, às 21h, no Teatro Nacional – Sala Villa Lobos. Ingressos (inteira): Setor 1 R$ 400; Setor 2 R$ 500; Setor 3 R$ 400; Setor 4 R$ 700; Setor 5 R$ 700. Classificação 14 anos. Telefone: 8627-9222.

Erasure De volta ao Brasil após 14 anos, o duo pop composto por Andy Bell (vocal) e Vince Clark (teclados e guitarra) faz série de shows da nova turnê Total pop, que marca o retorno da dupla aos palcos. A nova turnê traz os maiores sucessos – A little respect, Blue savannah, Stop!, Drama, Chorus, Love to hate you, Oh l’Amour, Always, Sometimes, Ship of fools e Star – e músicas do último álbum, Light At the end of the world, lançado em 2007. 4 de agosto, às 21h30, no Pontão do Lago Sul. Ingressos (inteira): Camarote R$ 500; Pista R$ 200. Classificação 16 anos. Telefone: 3364-0580.

exposições

A escultura de Vlavianos A mostra faz homenagem ao escultor grego Nicolas Vlavianos e à sua obra. A exposição traz uma seleção de obras, que começa em Paris, nos anos 1950, passa pela Bienal, até chegar às suas esculturas públicas, de grande dimensão. Até 14 de agosto, das 9h às 21h, na Caixa Cultural Brasília – Galeria Principal. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Aberto Brasília Propõe a ocupação de diferentes espaços da capital, com obras de Paulo Bruscky, Antonio Manuel, Luis Alphonsus, grupo Corpus Informático, Karina Dias, Cirilo Quartin e Fernando Baena, da Espanha, entre outros. O núcleo da exposição é no CCBB, onde há registro fotográfico e em vídeo das intervenções, mas a

exposição se espalha por diversos pontos, como Esplanada dos Ministérios, Lago Paranoá, Eixos Monumental e Rodoviário, Setor Bancário Sul e Universidade de Brasília. Até 21 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.

Anticorpos A mostra está dividida em nove núcleos: Fragmentos, Objetos Trouvés, Nós, Varetas, Híbridos, Planos Flexionados, Objetos de Papel, Agrupamentos e Orgânicos. Dos irmãos Fernando e Humberto Campana, apontados como responsáveis por dar novo sentido à expressão contemporânea do design. Até 25 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.

Coleção Brasiliana Itaú Dividida em núcleos, apresenta farta iconografia sobre o Brasil colonial por meio de mapas, livros, pinturas, gravuras, moedas e objetos, com especial enfoque no Brasil holandês. A última parte contém livros de grande relevância para a cultura brasileira, manuscritos de todos os governantes do País e documentos do período da escravidão. Até 28 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.

Diez años de fotografía

española contemporánea Depois de passar por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, a exposição chega a Brasília antes de voltar para Salamanca, na Espanha. Reúne 25 imagens e cinco vídeos selecionados de um acervo de 380 obras que inclui pinturas, esculturas e instalações de artistas espanhóis e portugueses. Até 20 de agosto, de segunda a sexta, das 8h às 21h; sábados, das 8h às 14h, no Espaço Cultural Instituto Cervantes (707/907 Sul). Entrada franca e livre. Telefone: 3242-0603.


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Gravura em foco Composto por jovens artistas, o grupo de gravadores brasiliense Gravura em Foco foi fundado para fomentar e difundir a produção de gravuras na capital federal e no entorno. Obras que retratam a história de moradores do início da construção de Brasília. Até 4 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 17h, no Museu Vivo da Memória Candanga. Entrada franca e livre. Telefone: 3301-3590.

HJKO – Arquitetura e memória Retrata o início da ocupação do Distrito Federal pelos acampamentos pioneiros e em especial o HJKO – primeiro hospital de Brasília e último conjunto arquitetônico todo em madeira da cidade. Até 21 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 17h, na Sala de Exposições do Museu Vivo da Memória Candanga. Entrada franca e livre. Telefone: 3301-3590.

Mês da fotografia 2011 O evento tem programação diversificada, com a realização de palestras, workshops, oficinas, projeções e exposições. Com fotógrafos internacionais, nacionais e brasilienses. Entre as exposições, uma é dedicada à famosa dança argentina: o tango. Foi trazida pelo Foto Club de Buenos Aires. Outra atração é a oficina Pinhole, que simula uma máquina fotográfica gigante,

onde o visitante pode entrar e entender como funciona o processo fotográfico. Neste ano, o evento amplia a sua programação para as unidades do Gama e da 504 Sul, além de Ceilândia. 1º a 31 de agosto. Entrada franca e livre. Veja os locais e a programação completa em www.sescdf.com.br.

Nosso acervo, seu patrimônio O Memorial dos Povos Indígenas abriga um acervo de 380 peças de artesanato indígena, doado pelo casal de antropólogos Darcy e Berta Ribeiro, reunido em mais de 40 anos de pesquisa pelo interior do Brasil. Permanente, de terça a domingo, das 9h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h, no Memorial dos Povos Indígenas. Entrada franca e livre. Telefone: 3342-1157.

O espaço aberto Com os artistas Eliane Prolik, Cleverson L. Sálvaro, Deborah Bruel e Joana Corona, a exposição utiliza a interferência deles na arquitetura das salas Picolla I e Picolla II para propor a discussão espaço expositivo versus obra de arte. A proposta foi montar uma coletiva em que as obras fossem pensadas para uma estrutura arquitetônica, sem deixar de dialogar entre si. Até 14 de agosto, de terça a domingo, das

Ouro Preto – Olhar poético São 14 telas que retratam a cidade de Ouro Preto e mais um painel de cerca de 3 metros no hall de entrada. O brasileiro Carlos Bracher já expôs em grandes museus e palácios em todo o mundo durante os seus 55 anos de pintura. Até 10 de setembro, de segunda a sábado, das 14h às 21h, no Espaço Cultural Fundação Universa (609 Norte). Entrada franca e livre. Telefone: 3033-8029.

Pintura reprojetada A mostra reúne trabalhos de Alvaro Seixas, Flávia Metzler, Hugo Houayek, Lucia Laguna e Rafael Alonso. As obras destacam o relacionamento da pintura contemporânea com a arquitetura e o design. Até de 3 de setembro, de segunda a sexta das 10h às 19h; aos sábados, das 14h às 18h, no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça – Ed. Sede do Tribunal de Contas da União. Entrada franca e livre. Telefone: 3316-5036.

Sinal vermelho O fotógrafo francês Guy Blanc perambulou por um ano e meio para compor a exposição. Saiu pelas ruas de Brasília, capturando imagens de malabaristas, palhaços e equilibristas que fazem movimentos em frente ao sinal de trânsito. De 17 de agosto a 1º de setembro, de segunda a sexta,

9h às 21h, na Caixa Cultural Brasília. Entrada

das 7h às 18h, na Aliança Francesa. Entrada franca

franca e livre. Telefone: 3206-9448.

e livre. Telefone: 3262-7600.


Arte, Cultura e Lazer Titanic: a exposição Quase cem anos após o naufrágio do maior navio do mundo, a exposição apresenta imagens e destroços do Titanic. Viaje no tempo pelas histórias, aposentos recriados e 248 peças autênticas recuperadas por sete expedições desde a descoberta do navio, em 1985. Até 18 setembro, de segunda a quinta, das 10h às 21h; de sexta a domingo, das 10h às 22h, na tenda externa do ParkShopping. Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação livre. Telefone: 4003-5588.

Vik Muniz 3D Composta pelas exposições Relicário e Verso. Inclui a exibição, todos os dias, do documentário Lixo extraordinário, com classificação livre e sessões às 9h, 13h, 15h e 17h. Até 14 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Ecco. Entrada franca e livre. Telefone: 3327-2025.

Teatro

4º Festival de Comédia Setebelos em Taguá

Mais uma edição do festival em que a Cia. Setebelos trabalha para ampliar o público para teatro, contribuindo para a descentralização da cultura e para a difusão do teatro de comédia. Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h, no Teatro Yara Amaral – Sesi Taguatinga Norte. Ingresso (inteira): R$ 30. Classificação 12 anos.

Telefone: 3034-6560. Programação 5 a 7 de agosto: Qual o seu pedido? – A comédia do improviso 12 a 14 de agosto: Terror – A comédia 19 a 21 de agosto: Stand up ao quadrado 26 a 28 de agosto: O segredo para o sucesso

Cena Contemporânea 2011 Um dos maiores festivais de teatro do País, integra o Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil. Espetáculos do México, da Dinamarca, da Polônia, da Argentina, da Coreia do Sul e de Portugal. 23 de agosto a 4 de setembro. Ingresso (inteira): R$ 16. Classificação e programação completa em www. cenacontemporanea.com.br. Telefone: 3349-3937.

Cyrano de Bergerac Montagem do clássico francês de Edmond Rostand. Com Bruce Gomlevsky, Julia Carrera, Sérgio Guizé, Gaspar Filho, Gustavo Mello, Glaucio Gomes, entre outros. Saiba mais da história na página ao lado, no texto do jornalista Lúcio Flávio.

Diálogo dos pênis Tudo que as mulheres gostariam de saber sobre o que os homens falam delas numa mesa de bar. A comédia retrata uma conversa descontraída entre dois amigos de infância, num momento maduro de suas vidas. Beto e Lula são vividos pelos atores Roberto Frota e Marcos Wainberg, que se entregam ao texto de Carlos Eduardo Novaes. 27 e 28 de agosto, às 21h, no Teatro dos Bancários. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 16 anos. Telefone: 3262-9090.

Mitos do teatro brasileiro O projeto está em seu segundo ano e traz uma apresentação por mês. São homenageados grandes nomes da dramaturgia brasileira. Neste mês é a atriz Lélia Abramo. 16 de agosto, às 20h, no CCBB. Entrada franca. Classificação 12 anos. Telefone: 3108-7600.

O homem nota 10

segundas, sempre às 21h. De 17 a 21 de agosto: de

Nilton Pinto e Tom Carvalho interpretam vários personagens, como marido e mulher, professores, velhos, pais e filhos, cantam paródias, contam piadas. Uma verdadeira sátira do cotidiano. 6 e 7 de

quinta a sábado, às 21h; aos domingos, às 20h.

agosto, sábado, às 21h; domingo, às 20h, na Sala

Em 21 de agosto, sessão extra, às 17h. No Centro

Martins Pena do Teatro Nacional de Brasília.

Cultural Banco do Brasil. Ingresso (inteira): R$ 15.

Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 14 anos.

Classificação 12 anos. Telefone: 3310-7087.

Telefone: 3325-6256.

De 5 a 14 de agosto: sessões diárias, exceto nas


Time for Fun

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Teatro Depois de levar mais de 200 mil pessoas ao teatro com montagem sobre a trajetória do líder da Legião Urbana, em Renato Russo – A peça, o ator e produtor Bruce Gomlevsky volta aos palcos com novo trabalho. Agora na pele de outro personagem romântico, em Cyrano de Bergerac, em cartaz de 5 a 21 de agosto no CCBB. A produção é um desejo antigo do artista, que sonhava encenar a clássica história de amor não correspondido desde que viu a adaptação para o cinema com o francês Gérard Depardieu. Escrita em 1897 por Edmond Rostand (1868 – 1918), Cyrano de Bergerac é o típico caso em que a obra se tornou maior do que o autor. Mas, na época, a peça fez de Rostand uma celebridade nacional. A trama, inspirada num

Sky Mirage II – O Circo da China

episódio real, gira em torno de triângulo

Conhecido mundialmente pelas suas performances, o Circo da China (Shenyang Acrobatic Troupe) é a mais tradicional companhia de artes circenses do país e completa 60 anos em 2011. São 15 números, que mostram a tradição do circo oriental em manifestações como o contorcionismo e o diabolô, além de atos desafiantes, como o mergulho na argola. 31 de agosto, 1°, 2, 3 e 4 de setembro,

busca ajuda no poeta e espadachim

de quarta a sexta, às 21h, sábado, às 17h e 21h, e domingo, às 16h e 20h, no Centro de Convenções Ulysses

declarar. Assim, aproveita-se da situação

Guimarães. Ingressos (inteira): Preços quarta e quinta: VIP Gold R$ 110; VIP A R$ 90; VIP B R$ 80; VIP Superior R$ 70. Preço sexta a domingo: VIP Gold 150; VIP A R$ 130; VIP B R$ 120; VIP Superior R$ 100. Classificação livre. Menores de 12 anos acompanhados dos pais ou responsáveis. Telefone: 2109-2136.

amoroso insólito. Incapaz de expressar seu amor à bela Roxane, um jovem Cyrano. Acontece que ele nutre paixão pela mesma mulher, mas, dono de nariz avantajado, nunca teve coragem de se para estar mais próximo do seu amor. Atual, a história duela entre o cômico e o trágico para expor temas pertinentes como ética, amizade, utopia, amores

Poéticas urbanas

Projeto Quintas Gargalhadas

Projeto da Andaime Cia. de teatro, companhia brasiliense que atua há cinco anos. Inspirada nas poesias e contos do blog entreaberta de Patrícia Del Rey, a peça é encenada nas ruas do Plano Piloto, de Sobradinho, de Taguatinga e de Águas Claras. 27 e 28 de agosto, às 21h, no

A Cia. Buraco do Humor continua com a temporada de comédia, projeto com atrações de stand up comedy. A cada quintafeira, o grupo traz o espetáculo com histórias diferentes a cada apresentação. Até 25 de agosto, às 20h, no Espaço Cultural Brasília

Teatro dos Bancários. Ingresso (inteira): R$ 60.

Shopping. Ingresso (inteira): R$ 30. Classificação 14

Classificação 16 anos. Telefone: 3262-9090.

anos. Telefone: 3045-6111.

idealizados e verdadeiros. Numa época regida pela ditadura da beleza na moda e nas relações afetivas, o nariz gigantesco do nosso herói surge como metáfora à superficialidade.

Lúcio Flávio É jornalista


Banquetes e botecos } ilustração Humberto Freitas

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

cafecatura@gmail.com

Quer ir a um sushi diferente? Vá ao Soho

Ilustração feita com café e água em papel canson

12345 A primeira vez que fui ao Soho foi em Salvador. Fiquei encantada. Estava de férias e saí com a intenção de ter uma noite agradável, tamanha era a minha expectativa em conhecer aquele japonês tão renomado. Tomei uma caipiroska de jabuticaba que já havia sido indicada por umas seis pessoas e comi o nirá de entrada. Inesquecível. A partir daí, indicava o Soho para todos que iam a Salvador. De repente, me chama a atenção uma obra arrojada no Pontão. Quando fiquei sabendo que ali seria aquele Soho de Salvador, comecei a contar os meses e dias para sua abertura. O Soho fica num espaço lindo, à beira do Lago Paranoá, o que possibilita desfrutar uma vista maravilhosa. O restaurante foi projetado pelo arquiteto baiano Adriano Mascarenhas, que usou concreto aparente, vidro e madeira para compor um ambiente moderno, simples e chique. O único problema é que quando sentamos no salão principal o barulho nos deixa loucos, pois os grandes panos de vidro somados ao pé-direito alto resultam em imenso desconforto acústico. Mas temos como alternativa a varanda, supergostosa. Para compor o ambiente, o artista plástico baiano Bel Borba construiu duas esculturas, um rosto masculino e canoas de madeira na parte externa, e um designer brasiliense, Tunico Lages, fez uma escultura de madeira na parede central do restaurante. Tudo de muito bom gosto! Mas vamos ao que interessa. Como é um restaurante novo em Brasília, tive a preocupação de ir quatro vezes para não fazer juízo precipitado ou talvez injusto. A comida é muito boa, sushis diferentes com texturas e sabores inovadores. Há vários tipos de gyozas, robatas, hot rolls e o famoso Soho maki, salmão maçaricado com brócolis, cream cheese e molho levemente picante. E ainda um menu internacional muito bem preparado. Talvez esse seja o problema. Tudo é bom, mas não mata a vontade de comer uma bela comida japonesa. Tenho ficado com desejo de comer em um japa de verdade. E continuo com saudades do Soho de Salvador, porque nem o nirá nem a caipiroska que tanto me encantaram foram importados para cá, e ainda falta um cafezinho para fechar. O Soho tem pratos tradicionais japoneses, mas seu cardápio é tão elaborado que confunde e acabo não pedindo sashimi. Não poderia dizer que é um restaurante ruim, porque não é. É excelente, mas diferente. Vale a pena conferir, mas cuidado com a conta, salgada como o shoyo de uma comida japonesa bem elaborada.

Pontão do Lago Sul (61) 3364-3979 Terça a domingo: 12h – 2h


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e o n r e t a m Doe leite e d a d i v a e aliment . s a ç n a i r c s muita

O aleitamento materno é fundamental para o bebê. Quando você faz uma doação ao banco de leite, você está doando saúde, felicidade e carinho para muitas crianças. A prioridade são os bebês internados. Não custa nada doar e salvar vidas. Doe leite, doe vida.

DOE LEITE, DOE VIDA. O banco de leite dá prioridade aos bebês internados.

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