Revista meiaum Nº 6

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+ VIAGEM

Na trilha para Machu Picchu, tudo é um exagero

+ PERFIL

Mais de 70 filmes e muitas risadas. Este é Andrade Júnior

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U 6 Ano 1 | setembro 2011 | www.meiaum.com.br

Hospitais privados

Eles o maltratam e o Estado não está nem aí


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FACULDADE SENAC-DF TENHA ESTA MARCA FORTE EM SEU CURRÍCULO

GRADUAÇÃO:

PÓS-GRADUAÇÃO:

• Gestão Comercial

• Banco de Dados e Businness Inteligence com Ênfase em Software Livre

• Gestão da Tecnologia da Informação • Gestão de Recursos Humanos • Marketing

• Gestão Empreendedora de Negócios • Gestão Estratégica de Recursos Humanos • Design Digital • Segurança da Informação

www.facsenac.edu.br

Taguatinga: 3354.3325

• Gestão de Projetos

Plano Piloto: 3217.8821


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Na internet, nem tudo é o que parece ser. Acompanhe as atividades dos seus filhos na internet. Sites de jogos, redes sociais e comunidades podem esconder adultos que usam falsos perfis para aliciar crianças e adolescentes para a pornografia ou a violência sexual. Fique atento. Relacionamentos virtuais podem levar a problemas reais. Denúncias online: www.disque100.gov.br

Disque

DISQUE DENÚNCIA NACIONAL DE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES


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Papos da Cidade

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Viagem

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Conto – João Pitella Junior

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Fora do Plano

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ÍNDICE

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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

Machu Picchu, uma jornada de exageros

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Artigo – Alberto do Carmo

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Crônica – Hanna Xavier Ferreira Você não fala mesmo com estranhos?

Artigo – José Tadeu Seixas

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Artigo – Sandra Turcato

Perfil

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Caixa-Preta

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Artigo – Flávio Resende

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Arte, Cultura e Lazer

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Banquetes e Botecos

Delírios que salvam da loucura

Paola Lima analisa os bastidores da política local

Medidas provisórias e imperadores à moda antiga

Andrade Júnior (foto), um ator na contramão

Capa

O atendimento nos hospitais privados está ruim. E ninguém tem nada com isso

Boatos que queremos que sejam verdadeiros e verdades que escondemos

Carboidrato, câmera e cartão de crédito. A rotina de uma mulher de maratonista

A política nacional por Luiz Cláudio Cunha

Uma reflexão sobre os paradoxos da geração de pads e pods

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é


Investir em Brasília é investir em você.

Estádio Nacional de Brasília

A Terracap tem o compromisso público de investir em um futuro melhor para a nossa cidade. E para que isso aconteça ela utiliza recursos arrecadados em licitações de imóveis e promove melhorias para milhões de pessoas, como o Estádio Nacional de Brasília: uma arena multiuso completamente sustentável para 70 mil pessoas, que, além de sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014, será a porta de abertura para os grandes eventos no DF. Investir em Brasília é investir em você.

Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação

w w w. t e r r a c a p . d f. g o v. b r


E mais...

Thyago Arruda

Thyago Arruda

Thyago Arruda

Pedro Ernesto pág. 8 Rafania Almeida pág. 8 Paulo Mesquita pág. 9 Ana Rita Gondim pág.9 Patrick Selvatti pág. 10 Caroline Vilhena págs. 10 e 28 Paula Oliveira pág. 11 Kátia Marsicano pág. 12 João Pitella Junior pág. 18 Rômulo Geraldino pág. 18 Paola Lima pág. 21 Gougon págs. 21 e 42 José Tadeu Seixas pág. 22 Thales Fernando pág. 22 Marina Medleg Simon pág. 24 Thyago Arruda pág. 28 Alberto do Carmo pág. 36 Francisco Bronze pág. 36 Cláudia Dias pág. 38 Luiz Cláudio Cunha pág. 42 Priscila Praxedes pág. 46 Marcela Benet pág. 54 Humberto Freitas pág. 54

Lúcio Flávio págs. 8 e 47

André Zottich pág. 40

Sandra Turcato pág. 40

Mineira, veio para Brasília cursar jornalismo. Aqui, se apaixonou pela profissão, conheceu grandes mestres, fez amigos queridos, encontrou o amor da sua vida. E ficou! Aprendeu com o marido maratonista que viajar é muito mais que uma forma de passar as férias. É um projeto de vida. Faz crescer em todos os sentidos... Faz bem para a saúde, para o corpo, para a mente, para a alma, para o coração!

Formado em comunicação social, trabalha como designer gráfico, diretor de arte e ilustrador. Morou no Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Gosta de usar cores, mas prefere o preto e branco. Mistura técnicas manuais e digitais. Teve seu trabalho publicado em revistas e sites especializados e já conquistou alguns prêmios neste início de jornada.

Arquivo pessoal

Thyago Arruda

Thyago Arruda

Como um daqueles personagens de Woody Allen, desenvolvendo estilo de vida que não necessite de sua existência. Até que leva jeito para a coisa. Outro dia mesmo fez uma prova de filosofia sobre crise existencial e não respondeu a nenhuma questão... Tirou nota máxima!

Hanna Xavier Ferreira pág. 38 Graduada em direito pela UnB. Circundada por palavras seus dias são caracterizados. Sejam palavras líricas, sejam jurídicas. Seja prosa, seja poesia.

Flávio Resende

Werley Kröhling

pág. 44

É capixaba, formado em publicidade e propaganda. Veio para Brasília em 2006 para se arriscar no mercado. Atualmente trabalha como designer gráfico, diretor de arte e ilustrador. Gosta de receber os amigos em casa e adora curtir os fins de semana com sua esposa e seu filho.

Colaboradores

pág. 44

Seu primeiro texto descrevia o “avental surrado e colorido” da avó, de quem é fã. Em letras forçosamente arredondadas pelo excesso de caligrafia, marcou a mudança do curso de sua história, depois de elogiado pela professora. Há dez anos, o brasiliense resolveu dar vazão ao lado empreendedor e abriu uma agência de comunicação. Aos 33 anos, se divide entre a empresa, os amigos, o gato Tucho e, como ninguém é de ferro, o amor da sua vida.


Carta dos editores

Cada um com seus problemas

Q

uando nossa repórter Caroline Vilhena começou a apuração sobre a situação dos hospitais privados do Distrito Federal, nem imaginávamos que chegaríamos à triste conclusão de que, mesmo se podemos pagar, estamos desguarnecidos quando o assunto é saúde. Na rede pública, é aquela vergonha nacional. O Brasil peca na prevenção a doenças que outros países nem lembram que existe. Humilha quem precisa de atendimento. A minoria que pode foge, portanto, da saúde pública. O mesmo Estado que nos força a pagar duas vezes por um direito fundamental – em impostos e na rede particular – vira as costas para o que acontece nos hospitais privados. É no mínimo desrespeitoso, uma vez que o crescimento da assistência particular é reflexo da falta de estrutura pública, no atendimento, na realização de exames,

no tratamento. A responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária restringe-se ao que está no nome. O Conselho Federal de Medicina fiscaliza e normatiza a prática médica. Se o paciente-consumidor for maltratado, receber atendimento indecente, o problema é dele. Não gostou, que vá ao Procon ou torre o dinheiro e a paciência em um processo judicial. A Constituição de 1988, o texto bonito que diz que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”, também diz que “a assistência à saúde é livre à iniciativa privada”. Aliás, não falta liberdade. Difícil de acreditar, né? Durante a apuração, insistíamos com a repórter: “É claro que deve haver uma autoridade responsável, alguém tem de regular uma atividade como essa”. Nada. O Ministério da Saúde não tem nada com isso, nem a Secretaria de Saúde. Ou seja, os hospitais vão continuar tratando

quem os sustenta como bem entenderem. É espantoso, por isso não tínhamos como deixar de tratar do assunto. Mas a meiaum não é feita só de indignação. Temos a beleza dos traços dos nossos ilustradores, os textos gostosos dos diversos colaboradores e a inteligência das charges de Gougon. Uma reportagem que nos transporta à cidade sagrada dos incas. O bom humor do veterano Andrade Júnior, que tem no currículo peças de teatro, filmes feitos com celular, de baixo orçamento, grandes produções globais. Enquanto tivermos saúde, é isto que queremos fazer: uma revista séria, com denúncias consistentes e que promova a reflexão, e ao mesmo tempo agradável e bonita, porque a gente também merece se divertir.

Anna Halley e Hélio Doyle

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Diretora de Produção: Danielly Alonso Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

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CAPA | Por Cícero Lopes

Diretores: Anna Halley, Danielly Alonso e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br

Desenho em vetor e pintura digital Jornalista ilustrador, começou a desenhar profissionalmente aos 12 anos. É editor de infografia do Jornal de Brasília e empresário.


Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto

ped.ernesto.din@gmail.com

Rituais matrimoniais e capilares Tenho ouvido de muitas mulheres que não podem cortar o cabelo porque vão se casar em breve. Não entendo bem a relação entre os fios compridos e a mudança de estado civil. Dizem que é porque não dá para fazer simplesmente nada num cabelo curto para o espetáculo do grande dia. É claro que dá, mas isto aqui não é coluna de beleza. De qualquer forma, uma das coisas boas do cabelo curtinho é o fato de não precisar fazer muita coisa nele, se lhe cai bem. “Ah, minha filha, mas vai sair de joãozinho no álbum de fotografia?” Fico tentando encontrar problema nisso, mas

não tenho a menor ideia de por que é um drama. Será que chanel pode? E franja é proibido também? Já ouvi donzelas dizendo que estavam deixando a franja crescer para o casório. Todo casamento é igual, por acaso? Desde quando aquele bando de chatos dizendo que “isto se usa”, “isto não se usa” tem autoridade para desenhar a noiva padrão? E por que noiva tem que ter padrão? Eu, hein. É sério que você prefere combinar com o vestido ao vestido combinar com você? Ou com o enfeite da cabeça? Não é melhor casar com o cabelo que a faz feliz? Vestido, maquiagem, grinalda, sei lá, eles é que deem um jeito de a deixar ótima de noiva. E fim de papo. Anna Halley

“Tá bem vigiado, tio” Para andar tranquilamente de carro por Brasília não é necessário estar apenas com o IPVA em dia. É preciso ter moedinhas, algumas notas de R$ 2 e de R$ 5 na carteira e, às vezes, de R$ 10 também. Para quê? Para pagar o imposto flanelinha. Isso mesmo. Parar o carro nesta cidade exige que você tenha como arcar com o custo de um “vigia”, sob o risco de ter o veículo maculado pelos famosos autores das frases “Tá bem vigiado aê, tia”; “Tô de olho, patroa”; “Não esquece de mim na volta, amigo”. Certo! Nem todos vão estragar o seu carro, mas concordamos que o pagamento ao flanelinha se assemelha muito aos impostos que pagamos: sabemos quanto nos custa, vemos para onde vai, mas nunca temos certeza do retorno. É mais do que normal em porta de festa, pela falta de segurança da cidade, os flanelinhas fazerem a limpa e cobrarem aos pobres e indefesos contribuintes pagamento de até R$ 10 antecipados para, na volta, o carro estar só e abandonado, sem estepe, como já desabafado nesta coluna, na última edição da meiaum.


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Não seria mais fácil parte da verba arrecadada nos tributos sustentar esses guardadores de carro, em vez de ir para a segurança, visto que segurança está em falta para os contribuintes e seu patrimônio? Pelo menos poderíamos cobrar um serviço de qualidade. É apenas a filosofia de várias pessoas que não suportam mais se sentir acuadas e obrigadas a pagar essa taxa, sem um serviço que exista de fato. Sem uma fiscalização, eles cobram estacionamento até mesmo a moradores de quadras que, desavisados, disputam vagas com baladeiros de plantão. “Desfaz. Assim não dá, tio!” Rafania Almeida

Estacionamento em Brasília é caso de polícia Pego o carro e lá vou eu para o Setor Comercial Sul. O destino é o Pátio Brasil e o compromisso de urgência máxima: comprar presentes para minhas sobrinhas. Mas parto com uma preocupação que já virou rotina. Onde parar o carango? Sim, porque estacionamento em Brasília está pela hora da morte, caso de polícia! Inclusive os pagos. De modo que, no caminho, vou arquitetando o plano B: Setor Hoteleiro Sul, na parte virada para o Parque da Cidade. Claro, o local não estava nenhum Maracanã, mas também não era nenhum deserto do Saara. Rodo daqui, rodo dali, gasolina cara queimando e a paciência por um fio até que... pimba! Entre uma árvore e um latão de lixo, lá está ela, sozinha como um Robinson Crusoé de cinema: a vaga! Animado, dou seta, mas de repente ouço fortes batidas na lataria: “Pera aí, mermão, pera aí...”, diz uma voz distante. A princípio, pensei que tivesse atropelado alguém, mas olho pelo retrovisor e lá está um anão de jardim irado: “Aonde o senhor pensa que vai, moço?”, diz o sujeito, com

autoridade na voz. Surpreso, com cara de quem cometeu infração grave, respondo com aquela ingenuidade de Macunaíma. “Ueeé, estacionar...”, me desvencilho. “E vai demorar?!”, questiona o rapaz novamente. “Acho que não...”, rebato, inseguro. “Ah, bom, porque se for demorar, por favor, avisa, tá?!” Surrealista, o episódio aconteceu assim mesmo, bem ali, numa manhã de sextafeira. Nada contra flanelinhas, acho que o mercado informal é válido quando a falta de emprego nos dá uma rasteira, mas lotear estacionamento como se fosse propriedade privada é demais. A situação é crítica e prefiro acreditar que o governo federal e o GDF estejam cientes, tomando providências o quanto antes. Do contrário, qualquer dia desses vamos fazer que nem aquele personagem do Tommy Lee Jones, em Nova York – Terra de ninguém (1986), um soldado recémchegado da Guerra do Vietnã que, ao se sentir negligenciado, cerca o Central Park inteiro, transformando o cartão-postal em campo minado. Lúcio Flávio

Das coisas admiráveis Façamos um contraponto ao que disse o Morillo Carvalho na última edição desta meiaum: o que todo mundo diz é que nunca aproveitamos as belezas da nossa cidade. Quem mora na praia raramente põe o pé na areia. Os cariocas não vão ao Corcovado. Os belo-horizontinos não admiram a Pampulha. Aqui em Brasília, a nossa ausência de admiração é para com a Esplanada, a Praça dos Três Poderes, o Lago Paranoá, a Ermida, a vista da Torre de TV. Mas há uma coisa que acontece na cidade que não tem como passar em branco. Quer dizer, passa em branco,

sim, mas só mais para o fim do ano. Antes disso, passa em rosa e roxo e depois passa em amarelo. É admirável. É lindo. É vivo. É natural. Começou em julho e, a cada dia, vai nos surpreendendo pela cidade: a floração dos ipês. Você pode andar diariamente pela Esplanada dos Ministérios e não mais se encantar com a suntuosidade arquitetônica dos palácios e do Congresso Nacional. Você pode pegar seu ônibus na plataforma superior da rodoviária e ignorar solenemente a vista, o Teatro Nacional e o movimento das pessoas. Mas ninguém passa incólume ao colorido dos ipês. Acho até que Renato Russo pensou, inicialmente, em falar dos coloridos dos ipês em vez de “luzes de Natal” na letra de Faroeste Caboclo. Mas acho que não ia rimar e ele deve ter desistido. O fato é que a festa da paleta de cores da natureza é pura atração para os olhos. É alegria para a íris e música para a retina. As cores vivas se sobrepõem ao marrom da poeira do cerrado. Tenho certeza de que você já viu algum ipê rosado florido por esses dias. Ou um amarelo. Ao longo do Eixão eles já começam a tomar conta da paisagem. Se não viu, saia e vá ler esta revista lá fora, na sombra de uma árvore. E aproveite para colorir sua vida. Paulo Mesquita

Mulheres ao volante Apesar de ser mulher e defender meu gênero na direção, algumas podiam ser mais atentas e tentar evitar a vergonha que nos causam. Esses dias, vi uma delas subir a calçada de uma quadra comercial na Asa Norte e chegar a milímetros do degrau de um estabelecimento. Nem quis pensar se estivesse passando alguém no momento. Acredito que ela devia ser um daqueles motoristas de domingo (era domingo), pegou o carro – bacana, diga-se de passagem (daqueles grandes de “pai ou


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mãe de família”) – e não sabia se a ré era pra cima, pra baixo ou vou eu lá saber como anda a modernidade automobilística. Fico irritada quando as mulheres fazem barbeiragens nas ruas. Só contribui mais ainda para a máxima “mulher ao volante, perigo constante”. E eu, acredito até hoje, não faço parte desse grupo ameaçador. Nunca bati o carro, mas tive meu automóvel lesado por motoristas homens por duas ou três vezes (uma nunca vou saber, mas um shopping se responsabilizou pelo estrago). Mas admito que careço daquela proteína que dá norte às pessoas. Nasci em Brasília e, até hoje, me perco nas tesourinhas, além de que jamais poderei viajar sozinha. Quem já foi meu (minha) companheiro (a) por aí afora sabe bem do que estou falando. Uma amiga, inclusive, me proíbe de qualquer aventura pelo exterior sem uma pessoa devidamente orientada ao meu lado. Nem um mapa é capaz de me ajudar. Mas, voltando à brincadeira anterior, peço: “Mulheres, controlem-se no banco do motorista”. Nós somos capazes, sim, de dirigir com prudência, assim como mostramos nossa competência em diversas áreas. Contenham-se, por favor! E que eu não “pague a língua” por este papo. Ana Rita Gondim

Divagando no trânsito devagar Brasília possui uma das melhores qualidades de vida do mundo. Temos bons salários, ruas planas e largas, áreas verdes aos montes, parques e um belo de um lago que ameniza a sensação de secura do cerrado. Entretanto, morar aqui, no sentido literal da palavra, não está sendo das tarefas mais fáceis. Temos no centro da capital federal um dos metros quadrados mais caros do Brasil – as despesas de aluguel e condomínio de uma quitinete no Plano Piloto são de, aproximadamente, R$ 650 a R$ 900, dependendo do grau de luxo do local. E residir na periferia não é

mais tão confortável como outrora, desde que os engarrafamentos passaram a ser realidade no Distrito Federal. Nunca se viu tanto carro circulando pelos eixos e asas como agora. Brasília logo chega à estatística de um carro para cada um dos 2,5 habitantes, já que a frota brasiliense já ultrapassou 1,1 milhão de veículos. O trânsito está atingindo níveis estressantes. Conseguir vaga de estacionamento público na região central tem sido uma odisseia. No mês passado, uma marcha de 45 mil mulheres na área central complicou todo o trânsito do DF. E não precisa de tanto: uma leve batida já é capaz de fazer um trajeto de 10 km durar uma hora. O governo diz que o problema do trânsito será resolvido quando as obras dos metrôs e veículos sobre trilhos ficarem prontas, para a Copa. Porém, nada disso terá resultado se não houver consciência da própria população. Sou suspeito para falar, mas a cultura de cada um sair sozinho no seu carro não é a mais consciente. Além do gasto desnecessário de combustível – o que gera, inclusive, dano ambiental –, Brasília está ganhando ares de grandes metrópoles, deixando no retrovisor aquela sensação de morarmos em um paraíso de qualidade de vida. Para piorar, estamos dentro de um quadrado tombado que não permite muita saída. Qual a solução? Rodízio de placas, bicicletas, metrôs mais acessíveis, home office? Só sei que, se algo não mudar, por volta de 2020 teremos que trazer à realidade aquele sonho de criança: os carros voadores do fantástico mundo dos Jetsons. Patrick Selvatti

Vim pra confundir, não pra explicar – Alô, sr. Antônio? – Ele! – Oi, meu nome é Caroline, eu tô aqui no Condomínio Solar de Brasília, onde o senhor tem um lote à venda, e gostaria de

saber quanto ele custa. – Caroline, meu lote tem mil metros quadrados e eu vou fazer pra você um valor mais em conta do que meus amigos do condomínio estão pedindo: 600 mil. – Oi?? 600 mil só o lote?? – Isso. – Nossa! Não tá muito caro, não? – Você tá achando caro? Tem gente vendendo lote aí por 700, 800 mil. Eu mesmo vendi um na QI 26 por 1 milhão na semana passada. – Mas seu Antônio... 600 mil é o valor de uma casa já pronta, não só do pedaço de terra! – Uma casa pronta no Guará, né? Só se for! Nós estamos no Lago Sul, minha filha! – Lago Sul é a QI 26, onde o senhor vendeu seu lote milionário, seu Antônio! Aqui é Jardim Botânico, entre o Paranoá e São Sebastião, duas cidades-satélites, sem contar com a Papuda logo ali. Há dez anos isso aqui era considerado o fim do mundo, um lote não custava nem 50 mil... – Pena que você não comprou há dez anos, então, minha filha. Hoje custa 600 mil, nem um centavo a menos. Se você pensar melhor e se interessar, pode voltar a me ligar. (tu, tu, tu...) Isso foi há dois meses e eu tô de cara até agora. Caroline Vilhena

Propaganda inútil Todos os dias é a mesma coisa. Antes de entrar no meu carro para voltar do trabalho para casa tenho que cumprir um ritual: tirar pelo menos três ou quatro panfletos do para-brisa, alguns do vão da porta do motorista e outro enfiado na maçaneta. Fora quando eu tenho que dar a volta no carro para retirar os que colocaram no lado do passageiro e na traseira. Que raiva! Faço questão de jogar fora sem ler. Num


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dia de muita inspiração e fúria (e sem nada mais importante para fazer) vou ligar para a empresa que está anunciando para descarregar meu vocabulário malcriado sobre o infeliz que teve a brilhante ideia de divulgar uma marca enchendo o saco de quem estaciona o carro na rua. Não sei se existe algum estudo na área de publicidade e propaganda que mostre que a estratégia seja eficaz. Eu duvido. Primeiro: meu carro não é porta-papel. Ele fica estacionado em lugar público, mas é propriedade privada. Ninguém tem o direito de fazer dele um display. Outra, panfletar não é obrigar a receber, é oferecer a propaganda. Pega quem quiser. Eu mesma faço questão de pegar os que me oferecem nos sinais de trânsito por consideração ao trabalho do cara que está ali correndo entre os carros para ganhar uma graninha. Terceiro: em época de seca, além da encheção, não há muito problema. Mas é sacanagem quando chove. Minha porta está manchada há meses. Choveu, secou e o papel grudou na lataria. Quem vai pagar? Eu, claro! O pior de tudo é o risco que corremos ao ter que rodear o carro para retirar os panfletos. Quando saio do trabalho já é noite. O estacionamento geralmente já está meio deserto e o ideal é correr e fechar a porta. Mas não dá... preciso cumprir o ritual. Quando deixo algum para trás por medo ou por não ter visto, o papel voa na primeira curva. E quem faz o papel de porcalhona? Eu, claro. Sem contar com a estratégia burra de algumas empresas. Se eu guardasse esses papéis, já teria estoque para ajudar algumas delas a distribuir os panfletos porque todos os dias a mesma propaganda está lá no meu para-brisa. Empresários, por favor, escolham melhor a forma de divulgar a sua marca! Paula Oliveira


Viagem

Na trilha

tempo do que parou Cinco dias e quatro noites para chegar a Machu Picchu. Uma trilha de 53 quilômetros. Sete graus abaixo de zero. Para esta viajante, porém, o exagero está mesmo nas belezas que viu de perto Texto e fotos Kátia Marsicano katiamarsicano@gmail.com


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C

omo foi de férias? é a inevitável pergunta que todos os cristãos ouvem após os merecidos 30 dias de sumiço do trabalho... As respostas, considerando estatisticamente a média das possibilidades, no geral não variam muito, mas confesso que, no meu caso, o que pode parecer corriqueiro e simples gera uma dúvida existencial profunda. Explico: ou me limito a dizer “muito boas” ou sugiro que o meu interlocutor se sente em uma cadeirinha confortável, relaxe e ouça. Por uma razão simples: férias para mim, ao contrário da rotina de come-dorme, é lidar com o imprevisível, se jogar de olhos vendados em realidades desconhecidas – enfim, aventura pura. Como é rara a constatação de estar de frente com alguém realmente interessado nas nossas peripécias, a única solução é partir para o trivial: “Muito bem, obrigada”. Mesmo com os olhos brilhando e o coração batendo forte, como se todas as emoções aflorassem de novo, com o pensamento satisfeito: “Não sabe da missa a metade...” Bem, como diriam os acadêmicos, “só para contextualizar”, até um mês antes de virar as costas para Brasília a ideia ainda era ir à Índia. Estava preparada psicologicamente para enlouquecer no país dos contrastes mais radicais, na espiritualidade e nos mistérios que sempre me atraíram tanto. O fato é que as monções e o risco


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Taquile, uma das ilhas do Titicaca, preserva personagens e características próprias, especialmente nas roupas.

de ficar ilhado ou boiando com cara de turista desavisado me fizeram desistir – ou pelo menos adiar os planos. E aí? Por que não Machu Picchu, no Peru? A princípio, a ideia não empolgou muito. Confesso. Só considerava essa possibilidade na época de estudante secundarista, quando era uma espécie de onda jogar a mochila nas costas e desembarcar na Cidade Perdida. Aos 47 anos, não tinha parado para me imaginar fazendo isso. Santa ignorância! Pensando bem e olhando de perto para mim mesma, qual era a diferença entre ontem e hoje? Em que alguns muitos cabelos brancos tinham me deixado tão diferente? E aí eu descobri: em nada! Além do mais, soube que a ideia era parte do sonho do meu marido, Paulinho, engavetado havia 30 anos! Sem que eu desconfiasse, ele guardava Machu Picchu entre os cem lugares para conhecer antes de morrer. Resumo da ópera: fomos. As mesmas mochilas e roupas que percorreram com a gente o Caminho de Santiago no ano passado saíram do armário, foram lavadas, pegaram um solzinho para revitalizar as energias e embarcaram mais uma vez. Dentro das mochilas: três mudas de roupas, uma fralda de algodão (faz as vezes de toalha de banho), produtos de higiene pessoal e, no meu caso, um caderninho de anotações e a inseparável máquina fotográfica. De Brasília, algumas poucas providências foram tomadas,

como a reserva de vaga no hostel em Cusco para os primeiros dois dias na cidade. O resto ia ficar por conta das conjunções astrais. A trilha inca oficial que havíamos pensado fazer estava esgotada desde março. A outra possibilidade era o caminho alternativo, que passa por Salkantay, o monte nevado 4,6 mil metros acima do nível do mar, mas achamos melhor deixar para resolver tudo quando chegássemos lá. Indefinição completa. Na pior das hipóteses, seria fazer como todo mundo normal: pegar o trem até Aguas Calientes e o ônibus até Machu Picchu. A chegada Encontramos Cusco em plena festa, no dia 7 de julho. A população inteira estava nas ruas para o primeiro dia de comemorações do centenário de descobrimento de Machu Picchu, mas os efeitos do soroche (o mal da altitude) em Paulinho nos obrigaram a apenas ouvir a movimentação na Plaza de Armas, principal endereço de dez entre dez cidades de colonização espanhola. Eu fiquei ótima com meia dúzia de folhas de coca mastigadas (e engolidas) oferecidas como recepção logo no aeroporto. Só depois fiquei sabendo que deveria apenas mascá-las, mas já era tarde... De acordo com as orientações do Frommer’s, os primeiros dias na região eram de descanso e moderação até que o corpo se ambientasse... Recomendação pouco bem-vinda


para nosso estilo, é bem verdade, afinal nosso programa favorito sempre foi nos embrenhar em vielas e conhecer os hábitos gastronômicos e etílicos da comunidade. Para não perder muito tempo, aproveitamos para descobrir um grupo que fosse fazer a trilha de Salkantay. Era “esta ou esta” a opção que tínhamos para chegar a pé a Machu Picchu. Acertamos a saída para dois dias depois. Éramos 12 pessoas – dez tinham menos de 30 anos. “Tranquilo, tranquilo”, repetia para nós o guia sorridente, com sua serenidade quéchua, mas o frio que enfrentamos de cara na saída do hotel rumo a Molepata, início da trilha, parecia nos prevenir de que era bom estar preparado

porque “o bicho ia pegar” nos 53 quilômetros que tínhamos pela frente. O esquema era bem organizado. As mochilas seriam transportadas em burricos e no fim do dia as barracas já estariam à espera dos sobreviventes no local dos acampamentos, com direito a alimentação reforçada e até a cardápio vegetariano. Além de dois guias, a equipe de apoio tinha um cozinheiro especial – um homenzinho com cara de menino índio, que tinha um toque mágico para preparar a comida, mesmo nos lugares mais inóspitos. Durante cinco dias e quatro noites, eles foram nossos anjos da guarda. E aí não pude deixar de me lembrar de um vídeo do You

Tube que agora endosso totalmente. O jovem que fazia a mesma trilha dizia: “No primeiro dia, pensei que ia morrer. No segundo, eu tive certeza”. Mas, independentemente das queixas do corpo, da falta de ar e da taquicardia, o fato é que estávamos imersos em um cenário em que a diversidade, os altos e baixos do relevo, os cheiros e mais a silhueta exuberante de um gigante de neve à nossa frente eram a motivação para prosseguir. Nosso batismo na primeira noite de acampamento, já aos pés de Salkantay, foi de inimagináveis sete graus abaixo de zero, que dispensam palavras para traduzir quando se está dentro de uma barraca, com o único desejo de que amanheça A trilha inca oficial estava esgotada. O caminho alternativo passa por Salkantay, o monte nevado.


16 A montanha escolhida pelos incas para esconder a cidade sagrada fica a uma altitude de 2,4 mil metros.

logo. Quando às cinco da manhã o guia nos chamou e serviu uma caneca de chá de coca bem quente, foi como se veias e artérias começassem a descongelar e o corpo pudesse novamente se mover. Daí para a frente, foi subir Salkantay pelas estreitíssimas trilhas de gelo à beira do precipício, em constante exercício de equilibrismo até o topo, onde mais uma horda de mortais exultantes comemorava a façanha de ter sobrevivido. Salve, Salkantay! Até Machu Picchu, foram quatro noites de acampamento. Dos montes nevados, nos deparamos com longos trechos pela selva peruana, do mais denso verde, margeando

corredeiras e, claro, subindo e descendo caminhos, para desespero das pernas. Até que, na contagem regressiva dos quilômetros, finalmente entramos no parque arqueológico onde fica Machu Picchu. Mais algumas horas acompanhando a linha do trem, até a surpreendente imagem da montanha escolhida pelos incas para esconder a cidade sagrada. O céu estava completamente azul, mas uma misteriosa nuvem parecia indicar que aquele era o lugar. Finalmente No dia seguinte, às três da manhã, partimos para a última etapa da jornada. Após a noite em Aguas Calientes, restava só

subir (!!!) os últimos 700 metros. A trilha era, na verdade, uma escadaria íngreme na encosta da montanha, de degraus altos e de largura irregular, perigosos para quem sobe na escuridão e sob névoa quase sólida. Mais uma vez, pensamos que íamos morrer... Mas tudo valia a pena para ver o amanhecer em Machu Picchu... Um amanhecer que, depois descobrimos, em nada se parece com qualquer um que já tínhamos visto. À medida que o sol surgia e aquecia o ar, a névoa se dissipava pouco a pouco e de dentro dela as intrigantes edificações foram se desenhando em sua misteriosa existência que atravessou o tempo. E aí, não dá para falar mais

nada... A Machu Picchu que vemos a vida inteira em fotos e livros nem passa perto do real. Depois das emoções da trilha e da chegada à cidade sagrada dos incas, ainda nos restavam alguns dias antes de voltar ao Brasil. Era a hora de mergulhar no cotidiano multicor do povo peruano. Próxima parada, então: o Titicaca, o maior lago navegável do mundo. Aí, mais uma vez, tivemos que nos render e admitir a nossa ignorância sobre a riqueza cultural de uma gente que vive e respeita profundamente as tradições de seus antepassados. De Cusco até Puno, de ônibus, passando pelos vilarejos cinzentos e empoeirados, vimos feiras povoadas por seus


17 tórias e lendas que giram em torno do lago de 8,3 mil quilômetros quadrados. A profundidade máxima é de 280 metros. Uros, as ilhas flutuantes de totora, são um desafio à imaginação. Antes de vê-las e pisar na palha seca que se movimenta sobre as águas, é difícil entender a tecnologia ancestral que descobriu ser possível viver extraindo da palha todo o necessário ao sustento das dezenas de famílias. Há quem diga que as pessoas que encontramos no local vão apenas para receber turistas e vender seu artesanato, mas o que importa é que representam uma cultura que ainda não se perdeu. Taquile, outra ilha do Titicaca, também preserva seus personagens e suas características próprias, principalmente nas roupas. Homens casados, solteiros ou “amancebados” revelam nos trajes seu estado civil, assim como mulheres evidenciam o humor pela cor do pompom dos negros véus.

Mas foi em Amantani que tivemos a chance de entrar na rotina de uma família quéchua. Por quase 24 horas, estivemos hospedados na casa de Julian e Rosa. Prepararam a tradicional sopa de quinoa, experimentamos as várias espécies de batatas da região e, na minúscula cozinha de fogão a lenha, tentamos nos entender em uma conversa sobre nossas vidas... A precariedade quase extrema e as poucas perspectivas de quem mora na ilha os fazem depender basicamente das visitas dos turistas. Saímos com colares de flores “para alegrar o coração” e a promessa de que guardaríamos para sempre a lembrança uns dos outros. Realmente, às terras peruanas é impossível ficar imune. Como último presente de um lugar que representa muito mais do que está nos roteiros das agências de turismo, a chance impagável de ver de perto a magnitude e a soberba do voo do condor, que diariamente mobiliza centenas de

Quer ir também? Para fazer a trilha de Salkantay, a melhor época é a estação seca (maio a outubro), apesar do frio, principalmente à noite, quanto a temperatura chega a 0 ºC. O mais recomendável é que o pacote seja fechado em Cusco, pessoalmente, porque há possibilidade de pechincha. Reservas a distância costumam ser mais caras e ainda se corre o risco de ter alguma surpresa desagradável. A Amazing Adventure é uma das tradicionais do percurso: www.amazingadventureperu.com, mas há várias outras. Oferta é o que não falta. A média de preço por pessoa para as cinco noites e os quatro dias de caminhada, incluído o ingresso para Machu Picchu, é de US$ 280, mas é possível pagar até US$ 220. Para conhecer as ilhas do Titicaca, também é fácil encontrar grupos que organizam o passeio por Uros, Amantani e Taquile. Por pessoa, o pacote custa em média 75 soles. Um boa dica para descobrir os points alternativos é levar o Frommer’s Peru.

pessoas entre as 9 e as 10 horas da manhã em um mirante à espera do momento em que vai abrir as asas e surpreender com seus três metros de envergadura. Só mesmo as montanhas dos Andes sul-americanos para merecerem tão ilustre habitante, que plana sobre as cabeças de mortais extasiados com tamanha delicadeza de criaturas tão grandes. E elas sabem disso, porque deixam a expectativa de todos beirar o extremo, enquanto ameaçam se lançar no ar. Voltei ao Brasil, ainda sob os efeitos da provocadora cultura inca. De tudo, imagens fotográficas podem até reproduzir flashes instantâneos dessa realidade. As percepções, no entanto – estas verdadeiramente perenes – vão ficar não só para mim, como para todo mundo que se dispôs a abrir o espírito com a coragem de olhar através da janela de um universo tão desconhecido e cheio de perguntas ainda sem resposta. ) )

personagens saídos das páginas da National Geographic. Mulheres quéchuas e suas tranças, segurando suas crianças bochechudas e sapecadas de sol, em meio a pilhas e pilhas de pele de lhama, vicunha e alpaca à venda na beira da estrada, com colchões, sacos de sal, móveis, biscoitos. Uma babel de tirar o fôlego, tamanha a quantidade de cenas simultâneas e curiosas aos olhos de qualquer turista. Mais imprevisível ainda seria o que o Titicaca nos reservava. O mar sem fim, nascedouro do império inca, de onde teria saído o grande Manco Cápac, é estarrecedoramente azul e se emenda com o céu em algum ponto que não se pode distinguir. Puno se transforma em apenas um referencial para chegar até ele. Seus números são superlativos: profundidade e extensão são de arrepiar, exceto para peruanos, que, claramente, sentem orgulho sempre que se referem às culturas, his-


Conto

Com vagar e delícia

Ontem estarei nos seus braços

Todas as noites, aquela mulher sem rosto e de mãos mágicas chegava para salvar um velho insone da loucura

Texto João pitella Junior Ilustração Rômulo Geraldino pitellajr@globo.com

— E então, o senhor quer falar mais sobre a Alessandra? — Alessandra? Eu sempre quero falar mais sobre Alessandra. Era agosto e já não estava tão frio, mas Jorge mantinha as pernas sob um grosso cobertor na varanda da casa, enquanto olhava, sem ver, a paisagem do não muito distante Lago Paranoá. Sentado numa antiga cadeira de vime, com os últimos fiapos de cabelo balançando ao vento, ele tinha o canto do olho esquerdo molhado por uma lágrima discreta. — Não, rapaz, não fique com essa cara de pena. Eu não estou chorando. É só um efeito da paralisia facial. Thomaz desviou o olhar da lágrima de Jorge, constrangi-

romulog2000@yahoo.com.br

do. Aquele velho sempre conseguia ler os seus pensamentos. E deveria ser o contrário. Era por isso que ele estava ali. Por isso e por Alessandra. Era preciso saber tudo sobre ela. O jovem Thomaz coçou a barba com o indicador, reclinou-se na sua cadeira e tentou apreciar a vista do segundo andar daquela casa enorme no Lago, mas Jorge o trouxe de volta à sua realidade — que era devaneio. Às vezes, Thomaz duvidava de que Alessandra pudesse ter existido. Para Jorge, todo o resto é que era fantasia. — Um dia, meu garoto, eu pensei: qual é o lugar mais movimentado de Brasília? Você sabe? — O cursinho dos concursos. — Não, filho. Na minha épo-

ca, era a Rodoviária. — Sei, a Rodoviária. — Naquele dia, me deu saudade e fiquei a tarde toda lá, esperando Alessandra. Era uma chance, quem sabe. Tanta gente por ali. Passaram todas as mulheres, menos Alessandra. A única que não passa. Depois de soltar um longo suspiro, Thomaz levantou um pouco para olhar a Ponte JK ao fundo. Uma vista milionária, ele pensou. Tanto desperdício. Jorge só tinha olhos para o delírio. — Alessandra. Alessandra. Ela passava as mãos devagar nas minhas costas, na hora de fazer amor, e gemia baixinho. Thomaz voltou para a sua cadeira em frente à do velho. E estava mais atento agora.


19 — Não, nada de escândalos, meu moço. Isso é para as amadoras. — O senhor acha mesmo? — A garota era sutil. Ficava ali quase quietinha, mas se mexia do jeito certo. Eu nunca me senti tão junto de uma mulher. Sem acrobacias. Sem jogo de cena, compreende? — Para falar a verdade, não. Desta vez, foi Jorge que soprou o ar para fora da boca, impaciente. — Então, vou lhe contar só as coisas mais simples. Não quero forçar demais o seu raciocínio. Thomaz não conseguiu evitar uma risada, mas Jorge nem percebeu. Ele já estava preso em sua história outra vez. — Um dia, aqui nesta mesma casa. Ainda era a casa dos meus pais. O telefone tocou e ninguém tinha bina, celular, nada disso. — Sim, mas tinha o telefone. — O meu pai atendeu. Era a Alessandra. — Claro. — E ele não gostava da voz dela. Dizia: “Dá para ver que não tem educação. Mulher sem classe”. Por isso eu nunca a trouxe aqui. Você acredita? Thomaz fez uma anotação mental para se lembrar daquela parte da história. Poderia ser um detalhe importante. — Todos os dias, vou me deitar imaginando que ela poderia estar aqui, na minha casa, passando as mãos de leve nas minhas costas. É só assim que consigo pegar no sono, com essa imagem. Ela apaga os maus pensamentos. O abismo da depressão. Os fantasmas. O medo. A vontade de não viver. O desejo de não ser nada. As alucinações, as visões das tragédias que são as piores, porque acontecem dentro da minha cabeça. Quando eu canso disso tudo, fico nos braços de Alessandra outra vez, como fiquei ontem. — Ontem? — O ontem de muitos anos atrás. E aí consigo dormir. Sempre assim, com Alessandra. Ela sempre volta para mim.

— Só que a Alessandra nunca veio de fato. — A mentira pode viver sem a verdade, mas a verdade quebra a cara sem a mentira. Desta vez, Thomaz se mexeu por um instante na cadeira e sorriu quase imperceptivelmente. Ele até gostava daquele velho devasso. — Não me deixe fugir da história, rapaz. No telefone, ela me pediu para encontrá-la perto da Rodoviária. Precisava comprar uma calça vermelha e queria a minha ajuda, porque estava sem dinheiro. Thomaz arregalou os olhos e se inclinou para a frente. — Tinha que ser vermelha? — Não é nenhum fetiche, não! Precisava ser vermelha por causa do trabalho dela. Era o uniforme novo do supermercado. Se ela não tivesse a calça certa, perderia o emprego. Talvez fosse de outra cor, mas agora é você que está saindo do assunto. — E o senhor foi comprar a roupa com ela? — Não, porque o meu pai ficou ao lado do telefone fazendo cara feia. Como é que eu iria sair de perto dele e encontrar uma mulher no outro lado da cidade, assim, de repente? Ele nem me deixaria pegar o carro. — Quantos anos o senhor tinha? — Vinte e seis, mas a coisa não era bagunçada, não! Jorge tentou se erguer da cadeira, mas desistiu no meio do trajeto. Faltava ânimo. Daquela varanda, ele olhava para a paisagem mais bela da cidade e só queria vomitar. — Eu não pude ajudar a Alessandra. Ela ficou sem o emprego, então parou de vir para o Plano Piloto. Nós nunca mais nos vimos. O velho fechou os olhos e ficou em silêncio na cadeira. Alessandra já desfilava pela sua mente, competindo por espaço com os outros fantasmas.


20

Thomaz checou se Jorge estava bem coberto e se afastou sem fazer barulho. Antes de sair da varanda, olhou com admiração para o pôr do sol. Ele até gostaria de ficar, mas a sua hora já havia passado. Dentro da casa, o velho secretário de Jorge esperava pelas instruções do jovem psiquiatra. — Aqui está a receita. São quatro remédios. Metade de um comprimido às 8 horas, metade de outro às 14, um inteiro às 19, três inteiros às 21. As alucinações vão melhorar. E tente fazê-lo andar um pouco. Nada de exageros. Os meus telefones estão todos anotados.

***

Antes de voltar ao seu pequeno apartamento na Asa Norte, Thomaz parou no Conjunto Nacional. Na falta de ruas normais como as de sua cidade, esse era o jeito de ver pessoas sadias andando, conversando, vivendo. Ele precisava daquilo. Um pouco de contato humano antes de voltar à solidão. E a Rodoviária estava tão perto. Bastava atravessar a rua. Thomaz se lembrou da tarde que Jorge havia passado lá, esperando por Alessandra, e caminhou automaticamente para a plataforma superior. Espremido pela multidão, desceu a escada rolante. Sem saber direito aonde ia, o médico levava esbarrões dos trabalhadores apressados e até ouvia pequenos xingamentos, mas começava a gostar do passeio. Admirava as longas filas em frente aos ônibus, pois não precisava entrar nelas. Era relaxante andar no meio de pessoas estressadas. Encostado numa pilastra, ele se divertia olhando as moças bonitas que corriam para os ônibus. Será que Alessandra se parecia com alguma delas? Como era o rosto de Alessandra? Tinha o corpo bonito? Ele nunca havia perguntado a Jorge, pois isso não seria nada profissional. E talvez a moça nem tivesse existido. Estava ficando tarde.

***

Era preciso acordar muito cedo na manhã seguinte. Thomaz estava tão fatigado que nem teve forças para tomar banho antes de se deitar. Era melhor dormir logo, para ficar bem disposto no trabalho. E se ele não conseguisse? Pelas suas contas, seriam umas cinco horas de sono. Quase um luxo para um médico iniciante. O suficiente, a menos que a ansiedade não o deixasse dormir. Nesta noite, o cansaço deveria ser maior do que a angústia, sua companheira. E se não fosse? Thomaz mudava de posição na cama, dava socos irritados no colchão. Agora, só restariam quatro horas antes de o despertador tocar. E se ele ficasse tão cansado que não atendesse bem os pacientes? Brasília é uma cidade do interior. Se você erra com um, todos ficam sabendo. Adeus, reputação. Nada de melhorar de vida. Três horas de sono pela frente, se ele dormisse agora. Mais do que muitos dos seus colegas tinham. Seria bom. Thomaz sentiu as mãos de Alessandra deslizando suavemente pelas suas costas, enquanto ela gemia baixinho. Sutil, perfeita, sem movimentos desnecessários. Uma artista. Eles estavam tão próximos agora. Thomaz tinha que encontrá-la na Rodoviária. Aflita, ela esperava por ele encostada numa pilastra, vendo todos passarem, mas Thomaz nunca chegava. Ela não iria conseguir comprar aquela calça. E como ficar sem a roupa certa? Agora, Thomaz corria para chegar a tempo de socorrer Alessandra. Ele desceu a escada rolante da Rodoviária, mas os degraus sumiram sob os seus pés e ele foi escorregando, deslizando, voando, até se espatifar no chão. Viu Alessandra de longe e tentou acenar para ela, mas foi pisoteado, chutado, rasgado pelos saltos altos das outras mulheres. E nenhuma era tão bonita quanto Alessandra, embora ele não pudesse se lembrar do seu rosto.

Ela subiu no ônibus de cabeça baixa, escondendo a cara para não revelar o choro. Seria uma lágrima, ou efeito da paralisia facial? Thomaz correu para entrar também, mas foi atropelado por outro ônibus que arrancava com fúria. Na cama, de lingerie vermelha, Alessandra limpava as suas feridas, colocava curativos, beijava a sua testa. — Thomaz, posso dizer para todas essas pessoas que você é o meu marido? Que você vai cuidar de mim? Ele queria dizer que sim, mas não conseguia. O pai tapava a sua boca, tentava sufocá-lo. Alessandra estava indo embora. Thomaz se levantou para ir atrás dela, pulou a varanda no segundo andar da casa, voou até a Ponte JK usando os braços como asas, mas ficou enforcado nos cabos de aço da ponte. E Alessandra passava lá embaixo, dentro de um ônibus, partindo outra vez. Sim, mas a ponte começou a tremer, rachou e desapareceu sob o lago, como os jornais disseram que ia acontecer um dia. Thomaz e Alessandra estavam juntos no fundo do Paranoá, abraçados, e as mãos dela acariciavam as suas costas. Vagar e delícia.

***

A primeira luz do dia entrou no quarto e brilhou nos olhos de Thomaz, que acordou com um sorriso sereno. Poucas horas de sono agitado, mas ele se sentia pronto para trabalhar por uma semana. Enquanto fazia a barba, o telefone tocou. — Dr. Thomaz, é o secretário do seu Jorge. O senhor tem que vir rápido. É muito urgente. — O que aconteceu? — As alucinações voltaram com força e ele não conseguiu dormir. Está mal demais. — Você não esqueceu nenhum dos remédios? —Eu fiz tudo certo, mas ele disse que... Não entendi bem, ele não consegue falar direito... Parece que nesta noite a dona ) Alessandra não veio. )

***


Fora do Plano por PAOLA LIMA

paolamlima@gmail.com

A eleição municipal do DF

Menos de um ano depois das eleições de 2010, uma nova disputa eleitoral prende a atenção dos políticos do Distrito Federal. Sem eleições municipais para se preocupar, autoridades e parlamentares se voltam para as disputas eleitorais de 2012 no Entorno. A ajuda aos candidatos das cidades vizinhas é tradição. E tem motivações bem pragmáticas. Nenhum político com ambição no DF pode ignorar a pressão provocada pelos 1,2 milhão de moradores do Entorno no dia a dia dos eleitores brasilienses. É preciso ter propostas concretas para a região vizinha, cuja população cresceu cerca de 30% na última década e cujos índices de criminalidade são alarmantes – o Entorno apresenta o triplo da média nacional de assassinatos, por exemplo. É preciso mostrar à população do DF que algo está sendo feito em benefício do Entorno. Não por acaso virou tradição o encontro entre governadores do Distrito Federal e de Goiás no início de seus respectivos governos para tratar dos problemas da região que afetam conjuntamente as duas unidades federativas. Infelizmente, mesmo depois do encontro, pouca coisa muda no Entorno.

Motivo real?

Roriz no páreo

Tímido PT

No entanto, melhorar as condições de vida dos brasilienses e dos moradores das cidades vizinhas não é a única justificativa para levar políticos do Distrito Federal até a campanha municipal do Entorno. Há outro apelo forte para isso: as mais de 120 mil pessoas que vivem nos municípios goianos, mas votam na capital federal. Gente que não assiste a programas eleitorais nem participa de eventos políticos no DF, mas ajuda a decidir as eleições que ocorrem na capital a cada quatro anos. Quem não se lembra daquela disputada campanha ao governo de Joaquim Roriz e Geraldo Magela em 2002, quando o ex-governador venceu o adversário petista com a diferença de apenas 15 mil votos? O Entorno pode fazer essa diferença.

Neste ano, a campanha municipal vem com uma novidade para os políticos do DF: a ameaça do ex-governador Joaquim Roriz de concorrer à prefeitura de Luziânia, sua terra natal e onde começou sua vida política. Apesar das especulações dos adversários de que sua saúde, ou a falta dela, o impedirá de levar adiante a ideia, Roriz tem se reunido com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e com políticos de Luziânia na costura de uma ampla aliança para sua candidatura. O raciocínio no meio rorizista é de que, sem planos políticos para o DF até 2014 – e sabe-se lá como chegaremos à próxima eleição –, o ex-governador pode se manter na política atuando no interior de Goiás (onde, aliás, sempre manteve aliados na ativa).

Outro ponto favorável à investida rorizista é a falta de adversários de peso. Historicamente, o PT não tem atuação forte na região – fato que Agnelo Queiroz e aliados tentam melhorar em 2012, trabalhando para conquistar algumas prefeituras e ampliar o escasso número de vereadores ligados ao grupo. PSB, PTB e PPS também estão nessa missão. Afinal, 2014 promete eleições agitadas para o governo do DF, com o fim das tradicionais rixas partidárias. O domínio eleitoral da região está nas mãos de Perillo, com quem os rorizistas mantêm relações cordiais e de conveniência. Há, inclusive, uma tentativa de filiar o ex-governador ao PSDB goiano, partido de Perillo, apesar dos protestos de tucanos no DF. Sinal de que as articulações políticas do DF estão cada vez mais entrosadas com as eleições goianas.

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Artigo

A casa dos 81 irrelevantes e dos dois imperadores A medida provisória funciona assim: o presidente da República tem poderes para, sempre que “urgente e relevante”, criar uma lei instantânea, quase como um monarca à moda antiga

Texto José Tadeu Seixas Ilustração THALES FERNANDO thalesfernandob@gmail.com


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D

o dicionário, urgente: que é necessário ser atendido ou feito com rapidez; que não pode ser retardado. Relevante: o essencial, o indispensável. Urgente + relevante + submissão são as três palavras que mataram o Senado bra-

sileiro. Hoje, o Senado brasileiro se resume a dois senadores: Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Vana Rousseff. São eles que, com uma coisa chamada medida provisória, mandam no Senado brasileiro. Sim, Lula é ex, mas ainda trava o Congresso com suas MPs. Não acho que seja o caso de dizer que, não fossem eles, o Senado seria melhor ou pior. Mas o fato é que, num país minimamente sério, a realidade seria outra. A medida provisória funciona assim: o presidente da República tem poderes para, sempre que “urgente e relevante”, criar uma lei instantânea, quase como um imperador à moda antiga. Isso, claro, sempre que “urgente e relevante”. Pois na opinião dos senadores Luiz Inácio e Dilma Vana essa necessidade pintou mais de quinhentas vezes. Uma dessas medidas, por exemplo, foi editada para dar um aumento de 400 reais aos médicos residentes. Nada contra, mas o poder de imperador deveria ser usado para coisas, digamos assim, mais urgentes e relevantes. E aí o processo de sangria legislativa prossegue da seguinte maneira. A lei instantânea precisa ser aprovada pelo Congresso para continuar valendo depois de 120 dias. Antes disso, as pautas da Câmara e do Senado ficam trancadas até votar a MP. Tem mais: você é o relator de uma medida provisória sobre médico. Você pode, como relator, colocar ali qualquer outro projeto de lei, como proibir petshops que não usem água reciclada e não façam uma poda sustentável em poodles rosas. Todo o processo legislativo de discutir uma lei, ouvir a sociedade e especialistas, tudo vai para o ralo. E a tal poda passa a tramitar com a urgente e relevante medida provisória, com prazo de validade. Deu para entender como isso mata o Legislativo? Calma, que ainda não acabou. A morte do Senado chega agora, neste último ato. A Câmara recebe uma MP e, como já tem um bilhão de outras MPs trancando a pauta, vai ficando tudo para última hora. Vou dar um exemplo: esse tal de RDC (Regime Diferenciado de Contratações), que flexibiliza as obras da Copa. Depois de muito malabarismo, entrou como “adendo” de outra MP e, com isso, passou a ter a tal “urgência e rele-

vância”. Pois a Câmara, entre todas as discussões, teve meses para debater o RDC. Mas, como estava numa MP, que tem prazo de validade, sobraram ao Senado cerca de 10 dias. Sim, 10 dias para discutir um regime que vai alterar todas as licitações bilionárias da Copa. A merda continua: se os senadores decidirem mudar um AEIOU no projeto, tem que voltar para a Câmara rediscutir. Mas, como o projeto entrou como embuste numa MP, o prazo não permite que haja tempo para o Senado discutir, voltar para a Câmara rediscutir, reaprovar e reenviar para o Senado. Ou seja, chega ao Senado uma MP e a seguinte mensagem: Prezados 81 senadores trouxas, vocês têm 15 dias para aprovar isso sem qualquer alteração. Esse é o Senado brasileiro. E sabe por que os senadores aceitam? Porque, como o governo bem sabe, os senadores são trouxas e topam tudo isso em troca de uma emendinha parlamentar. Fica tudo em casa: Dilma Vana cria as leis, o senador abaixa a cabeça, consegue dinheiro para uma obrinha, você se encanta e o reelege. Aqui em Brasília, os três são Rodrigo Rollemberg, Cristovam Buarque e Gim, o Argello. E aí virá Cristovam, com toda sua inteligência, ou Rodrigo, com a empolgação de quem acabou de chegar, e Gim (melhor não comentar), e vão dizer que o Senado é muito mais que isso. É o Senado, por exemplo, que tem a obrigação exclusiva de sabatinar e aprovar nomes para a cúpula do Judiciário e outros cargos importantíssimos. É de dar dó. A mais recente foi a sabatina de Márcio Fortes, ex-ministro de Lula que vai comandar a estatal da Olimpíada. Sabe aquela sua prova oral da quinta série? Pois ela foi mais difícil do que à que Márcio Fortes se submeteu para convencer meia dúzia de senadores de que fará uma boa olimpíada. Nada contra Márcio Fortes. Mas um senador minimamente decente deixaria muito claras as dezenas de dúvidas e preocupações que temos em relação aos gastos da olimpíada. Ou será que não há preocupações? Esse é o senado brasileiro. Assim mesmo, com S minúsculo.

E sabe por que os senadores aceitam? Porque, como o governo bem sabe, os senadores são trouxas e topam tudo isso em troca de uma emendinha parlamentar. Fica tudo em casa.


Perfil

Autodidata, ele constr贸i o papel a caminho do set. Na vida real, o ator que mais fez filmes em Bras铆lia lembra seus personagens: faz rir bastante. E se diverte pra caramba

Texto Marina Medleg Simon Fotos NILSON CARVALHO marina.simon@gmail.com

fotografia@meiaum.com.br



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A

Não sonha em fazer novelas na Globo. Não tem paciência para técnicas de concentração. “É um de cabeça pra baixo, um com vela acesa. Eu não consigo entender.”

ndrade chama a atenção no meio em que transita, a cena artística da capital. Indiscutivelmente, o motivo é seu carisma. Mas eu me pergunto se não seria também pela idade, pela fisionomia ou pela simplicidade. Ou seria pela trajetória de vida? Tem histórias incríveis pra contar. Diferente da maioria dos colegas, não tem grandes ambições: não sonha em fazer novelas na Globo, não almeja nenhum papel específico, não tem diretor predileto. E mais: não tem técnicas de concentração, odeia passar meses trabalhando numa única peça. Constrói seu papel a caminho dos sets. Simples assim. Olho pra ele e só consigo lembrar de carpe diem. Ao longo da entrevista, fica claro como consegue entreter o público: ele próprio se diverte pra caramba. Não há perigo em dizer que Andrade é o ator que mais filma em Brasília. Se acompanha o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, já o deve ter visto. Ele está em quase todas as produções feitas aqui. Faz pontas, participações especiais, às vezes é o protagonista. Há papéis feitos pra ele sob medida. A agenda é incrivelmente lotada. Acaba de filmar Vidas vazias e as horas mortas, de Pedro Lacerda, e o próximo é o longa Ciclo do ouro, de Pedro Anízio. “Aceito todo trabalho, de graça, pago, de qualquer jeito.” Recentemente, foi homenageado pela Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV). “Como é que foi mesmo? Teve uma estatueta... me avisaram um dia antes. Eu não sei por que fui homenageado.” E morre de rir. No currículo tem de tudo: peças de teatro, filmes feitos com celular, de baixo orçamento, grandes produções globais. “O Santiago [Dellape, diretor] me ajudou outro dia a contar, deu mais de 70 filmes”, revela, displicente. Já viveu de tudo um pouco nas telas. É isso que o atrai na profissão de ator, viver personagens? Pergunto, tentando decifrar este homem de quase 70 anos, com ares de garoto. Responde contando uma história: “No filme O tronco [direção de João Batista de Andrade], eu

era o chefe dos cangaceiros. Quando cheguei lá, me deram a roupa e um cavalo. Mas eu não sabia montar. Aí eu vi a Letícia Sabatella e pensei: ela não vai passar de mim, não. Menina, se você me visse no filme, com rifle na mão, correndo e tudo!” Autodidata, começou a carreira em 1963. Entrou na peça O homem do paletó amarelo para substituir o ator principal. Sabia todas as falas, pois era o assistente de direção. “Eu adoro quando sai algum ator e me chamam. Aí com dez dias, pronto. Aquele processo de seis meses de teatro, não aguento aquilo, não. Mas tem gente que adora, né?” Também não tem paciência pra técnicas de concentração. “Na hora de entrar em cena, os caras gostam de se concentrar. Às vezes eu fico até atrapalhando, porque eu chego e o cara está se concentrando. É um de cabeça pra baixo, um com vela acesa. Eu não consigo entender.” Mas entende muito bem o papel da arte para o Brasil. “O teatro é fundamental e não temos muitos em Brasília. O pessoal da Ceilândia, por exemplo, quase nunca vê. O teatro abre a cabeça das pessoas. A França e a Inglaterra são o que são muito graças à arte, ao teatro”, acredita. Com a mesma desenvoltura, Andrade filma com desconhecidos, recém-saídos das escolas de teatro, e com globais como Thiago Lacerda e Ísis Valverde. Foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos, contracenou com Afonso Brazza. Tem muitas histórias de bastidores. “Fiquei impressionado com Antonio Fagundes, como ele decora rápido as falas. E fica lendo o tempo todo nos sets.” Uma coisa ele tem em comum com outros artistas: o cinema não é sua fonte de renda. “Negócio de filme está dando certo, mas ganhar dinheiro, não”, diz, dando a costumeira boa risada. Paralelamente à vida de ator, é empresário. Uma de suas lojas de foto fica no Minhocão, na UnB. Empreendimento que lhe proporcionou encontros com os músicos da Legião Urbana lá no fim da década de 1970. “Renato Russo, o Dado e a turma toda iam revelar fotos na minha loja. Eles faziam shows no


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Conta que os alunos aprendiam a ler em uma semana. Ele mostrava a imagem de um tijolo, por exemplo, e, a partir disso, ensinava a escrever palavras, ao mesmo tempo em que incitava a discussão. “Para que serve o tijolo? Todo mundo tem casa? Era assim que a gente fazia”, explica. Aliava-se alfabetização e conscientização em 40 minutos de debate. “No final, o negócio pegava fogo”, conta. Lembra-se de outro encontro inusitado, desta vez com JK. Aos 14 anos, Andrade trabalhava na construção do Palácio do Planalto quando o então presidente desceu do helicóptero para saber o que aquele menor fazia ali. Andrade desconversou, dizendo

que estava só no almoxarifado. Antes disso, tocava um comércio perto de sua casa na Vila Amaury, onde hoje é o Lago Paranoá. Foi lá que recebeu o convite de um engenheiro para trabalhar na construção da cidade. E como é o Andrade hoje com mais experiência? “Eu não sou de ter muita experiência, não. Será que melhora?”, devolve a pergunta. “É, realmente, eu lembro quando eu fiz o curta Césio 137, eu falava muito rápido, não dava pra entender. Tem que pausar, né? Agora eu falo mais pausadamente. Isso é experiência?” Agora sou eu que sorrio. Impossível não se divertir ao longo da entrevista. Tal como num ) bom filme do Andrade. )

IDA [Instituto de Artes], tinha só umas dez pessoas. Quebravam os vidros, o segurança ficava puto. Ninguém sabia quem era, não. Era um menino louco. Era bom”, lembra. Coleciona encontros marcantes. Teve o privilégio de trabalhar com Paulo Freire. Participou do programa de alfabetização para adultos em escolas de Sobradinho na década de 1970. Era professor e aplicava a metodologia revolucionária do educador. Os alunos eram operários. “Quando cheguei aqui [a Brasília], era muito novo, mas já era sabido. Vinha de um colégio excelente de Fortaleza. Tinha estudado francês, inglês, latim, grego, música”, conta. Mais tarde, formou-se em química na UnB.


capa

O

problema

é todo seu

Não é só nos hospitais públicos que o cidadão está abandonado. Na rede privada, se você não receber tratamento decente, só reclamando ao Procon ou recorrendo à Justiça Texto Caroline Vilhena Fotos thyago arruda

carolinevilhena@meiaum.com.br

thyagochs@gmail.com


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A

s histórias você conhece bem. Muitas delas. Nos hospitais públicos do Distrito Federal, os relatos de quem só tem o Estado a quem recorrer são a tradução da palavra abandono. Por isso, se você tem sobra no orçamento, por menor que seja, vai garantir sua assistência médica particular. Garantir? Vã ilusão. O problema é que, além de não poder contar com o Estado, não dá para ficar tranquilo pagando, e pagando bem, para ser atendido na rede privada. Quando precisa, o cenário que o cidadão “privilegiado” encontra nos hospitais particulares é exatamente o que quis evitar: absoluto descaso e negligência. Como se não bastasse, há uma parte intrigante nesta história, da qual poucos se dão conta: se quiser reclamar, o paciente só tem o Procon – ou a Justiça. As autoridades viram as costas para o que acontece na rede particular. É. Sua saúde e sua vida não passam de mercadorias. Quando o assunto é saúde, você não tem saída. Com dinheiro ou sem, o Estado o abandona.


30 Depois de fraturar o crânio, Vinícius (à esq.) esperou horas por atendimento. Recebeu tratamento só depois que o irmão Victor jogou computadores do hospital no chão.

Era sábado, 2 de abril de 2011. Durante uma partida de futebol, Vinícius Mendonça Neiva, de 33 anos, teve a parte frontal do crânio fraturada por causa de uma cotovelada. Foi levado imediatamente ao Hospital Santa Helena, na Asa Norte, tonto, com dores, vomitando sangue. Chegando lá, a família foi informada de que o caso era de cirurgia, mas não havia cirurgião no hospital. “Como o aspecto da lesão era muito feio, me colocaram em uma salinha escondida, esperando sabe-se lá o quê.” Na salinha, ele ficou cerca de duas horas esperando atendimento. Quando o irmão dele, Victor Neiva, chegou e viu a situação, tentou logo transferi-lo para outro hospital. Ao ligar para a UTI Vida, ser-

viço móvel com o qual a família tem convênio, soube que, como o paciente já estava no hospital, a ambulância não poderia levá-lo a lugar algum sem uma avaliação do quadro. “Enquanto isso, eu permanecia sem ter sequer a minha ficha de atendimento preenchida”, lembra-se Vinícius. O rapaz fez contato com um amigo médico que trabalha no Hospital Santa Lúcia, para que ele tentasse intervir de alguma forma. No auge do desespero, Victor foi à recepção do pronto-socorro. Aos gritos, começou a perguntar se ninguém iria fazer nada. “É isto mesmo? Vocês vão deixá-lo nesta situação sem tomar nenhuma providência?”, indagava às responsáveis pelo atendimento, enquanto

jogava computadores da recepção no chão. “Foi preciso um ataque, um escândalo, para que os médicos chegassem rapidinho”, diz o irmão de Vinícius. Foi então que o servidor público foi atendido e teve os exames finalmente realizados. O amigo de infância com quem havia feito contato conseguiu uma vaga na emergência do Santa Lúcia, onde o paciente ficou um dia e meio na unidade de terapia intensiva (UTI), mais uma semana internado e teve de ser submetido a uma cirurgia para a reconstrução do osso do crânio. “Tenho dezenas de parafusos na cabeça e os médicos disseram que, se a pancada fosse poucos centímetros para o lado esquerdo, eu provavelmente te-


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ria morrido por falta de atendimento”, diz. Ironicamente, Victor Neiva é presidente da Subcomissão de Saúde da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no DF. “O direito de resistência está previsto na Declaração dos Direitos Humanos; ou seja, se a condição humana é reduzida a tal nível de aviltamento em que o último recurso é a força, ele é legítimo”, explica o advogado, justificando a confusão na recepção do hospital, na tentativa de conseguir atendimento para o irmão. “Se não fosse o quebra-pau do Victor e o apoio do meu amigo médico, não sei o que teria acontecido comigo”, indigna-se Vinícius. Os dois estão decididos a abrir processo contra o Hospital Santa Helena.

Pediatria Histórias com crianças são recorrentes. Quem tem filho pequeno diz que é quase impossível achar um médico pediatra atendendo nos pronto-socorros dos hospitais particulares de Brasília. A falta crescente desses profissionais levou a uma série recente de fechamentos nas emergências pediátricas da rede privada de saúde. “Quem tem criança vai ao pronto-socorro sempre”, diz Milza Santana, de 34 anos. Ela é mãe de Júlia, 6 anos, e de Gabriela, 3 anos. “Mas, se for grave, não dá para arriscar e levar à emergência, porque você nunca sabe se vai ter médico e em quanto tempo seus filhos serão atendidos”, pondera. Só procura o pronto-atendimento para tirar dúvidas e pedir orientação, uma vez que não gosta de medicar as filhas por conta própria. Milza é de Goiânia, morou sete anos em Sorocaba, São Paulo, e chegou a Brasília recentemente. “Das três cidades onde vivi, aqui é, sem dúvida, a pior no quesito atendimento médico”, garante. Neide Lima, de 42 anos, peregrinou por dois hospitais até conseguir atendimento para o filho Davi, de 11 anos, diagnosticado com dengue. “Tivemos de ir embora do Hospital das Clínicas de Brasília (HCB) porque não tinha pediatria no pronto-socorro e nos negaram atendimento na clínica médica.” Conseguiram atendimento no Santa Helena, um dos únicos hospitais particulares em Brasília a ter a especialidade na emergência. Mas nem sempre. “Quando chegamos não tinha pediatra e nos disseram que o Davi não poderia ser atendido na clínica médica porque tem 11 anos e 10 meses, não 12 anos”, relata Neide, em tom irônico. “Ou seja, se seu filho tiver 12 anos, é atendido, se tiver menos e o hospital não tiver pediatra, preferem deixá-lo morrer”, conclui. Eles chegaram ao hospital por volta das 16h30. “Demorou mais de uma hora só para preenchermos a ficha de atendimento e, enquanto isso, o Davi permanecia ardendo em febre e com dores pelo corpo sem que eu pudesse fazer nada”, conta Neide. Apenas às 17h50 o menino foi

atendido e encaminhado para uma bateria de exames. Os resultados? Demoraram mais de duas horas para ficar prontos. No dia em que encontramos Neide e Davi no pronto-socorro do Santa Helena, havia apenas duas atendentes. Os outros seis guichês da recepção estavam vazios. Dos cinco consultórios, só dois funcionavam. Dos dois consultórios destinados à pediatria, apenas em um havia médico. No mesmo dia, no Hospital Prontonorte, um aviso na entrada advertia: “Não temos pediatra”. Dos oito hospitais que a meiaum procurou, dois assumiram não ter pediatra no pronto-socorro: Prontonorte e Hospital Brasília. Os demais (Santa Luzia, Santa Lúcia, Santa Helena, Daher, Anchieta e São Francisco) garantiram oferecer atendimento pediátrico 24 horas. É bom que seja verdade. De acordo com a Resolução nº 1.451/95 do Conselho Federal de Medicina (CFM), “os estabelecimentos de prontos-socorros públicos e privados deverão ser estruturados para prestar atendimento a situações de urgência e emergência, devendo garantir todas as manobras de sustentação da vida e com condições de dar continuidade à assistência no local ou em outro nível de atendimento referenciado”. No artigo 2°, a resolução define que a equipe médica do pronto-socorro deverá, em regime de plantão no local, ser constituída, no mínimo, por profissionais de anestesiologia, clínica médica, pediatria, cirurgia geral e ortopedia. Asa Norte x Asa Sul Levantamento do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) referente às queixas contra hospitais particulares do DF, de janeiro até julho de 2010 e do mesmo período de 2011, mostra os líderes de reclamações. São eles: Alvorada (Taguatinga), Santa Helena (Asa Norte), Santa Luzia (Asa Sul) e São Francisco (Ceilândia). A maioria menciona demora, recusa e mau atendimento. O médico Tarquino Sánchez, um dos diretores do Grupo Leal, proprietário de uma


32 rede de hospitais particulares (Santa Helena, Prontonorte, Santa Lúcia e Maria Auxiliadora), falou em nome do Santa Helena, que figura na lista. Argumenta que os hospitais da Asa Norte têm estrutura menor do que os de outras localidades do DF e atendem parcela maior da população. “As cidades-satélites da Saída Sul, como Taguatinga e Ceilândia, têm hospitais particulares que desafogam os da Asa Sul, enquanto as da Saída Norte, como Sobradinho e Planaltina, não têm, o que faz com que a população migre para os dois hospitais do fim da Asa Norte, superlotando-os.” “A Asa Norte é menos assistida em termos de saúde, é só comparar o nosso Setor Hospitalar com o Setor Hospitalar Sul”, diz Sánchez. Além de hospitais menores, o Setor Hospitalar Norte tem menos opções de centros clínicos e, portanto, menos leitos. Sánchez explica que por essa razão houve recentemente reforma de ampliação do Hospital Santa Helena, o que já está sendo providenciado também para o Prontonorte. Seguindo esse raciocínio, a situação tende a piorar com o aumento populacional prestes a ocorrer com a ocupação do Setor Noroeste. Por isso, o diretor técnico do Hospital Brasília, Renato Cury, contou para a meiaum que a Asa Norte vai ganhar mais um hospital particular. A rede de hospitais Brasília (proprietária também do Hospital Dr. Juscelino Kubitschek, no Sudoeste) comprou o terreno exatamente em frente ao Santa Helena, onde o empreendimento deve começar a ser construído até o fim do ano.

A superintendente assistencial do Hospital Santa Luzia e do Hospital do Coração (Hcor), Marisa Makiyama, concorda com a tese de que os hospitais da Asa Norte estariam em desvantagem em relação aos da Asa Sul, no que diz respeito à estrutura física. “Não conheço bem os hospitais da Asa Norte, mas acredito que a quantidade de leitos seja menor mesmo”, diz a médica. Ela destaca que, além dos grandes hospitais do Setor Hospitalar Sul, existem o Hospital da Unimed, o HCB, o Pacini e clínicas que fazem procedimentos e descentralizam os serviços privados de saúde, que na Asa Norte são feitos em sua maioria apenas pelos hospitais. “Mas não é verdade que atendemos apenas moradores da Asa Sul e das cidades-satélites que ficam para esse lado”, pondera a superintendente. Ela afirma que o Santa Luzia e o Hcor recebem pacientes de toda parte, inclusive da Asa Norte, do Lago Norte e de Sobradinho. O Santa Luzia estar na lista de reclamações do Procon surpreendeu Marisa Makiyama, firme ao se defender. Diz que o pronto-socorro está cheio de pacientes ambulatoriais e com o trabalho de triagem é fácil identificar os casos não urgentes. “Tem paciente que vem trocar receita, vem fazer check-up, vem fazer atestado para entrar em academia... esses vão esperar mesmo”, avisa. O quadro comparativo abaixo confirma em parte a defesa de Tarquino Sánchez. Os grandes hospitais da Asa Norte realmente contam com estrutura menor, mas juntos atendem apenas mil pacientes a mais que os

dois principais da Asa Sul, o que não pode ser considerado uma parcela da população muito maior que a atendida nos demais hospitais do DF. Somados, Santa Helena e Prontonorte têm 280 leitos, 192 a menos que os da Asa Sul (Santa Lúcia e Santa Luzia), com 472. A quantidade de atendimentos, porém, é quase igual. Caos De acordo com o promotor de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde, Diaulas Ribeiro, está havendo uma estatização da rede privada no DF. “A situação é caótica em muitos hospitais particulares, o cidadão paga caro achando que vai ter serviço de melhor qualidade e o que encontra é uma situação muitas vezes até pior do que se vê na rede pública”, define. Ele afirma que esse fenômeno ocorre porque o serviço, os medicamentos e as instalações dos hospitais particulares estão sendo confiscados pela Justiça para compensar as omissões do Estado. “Os hospitais particulares são construídos e mantidos com verba privada e estão sendo compelidos pela Justiça a atender a população e buscar dinheiro no caixa público”, protesta. O promotor diz ainda que o confisco é um atentado contra a Constituição e faz uma comparação irônica: “A alimentação também é um direito fundamental do cidadão, mas ninguém vê um juiz determinando que o Piantella dê comida à população para que depois o governo pague a conta”. Na opinião dele, a consequência disso na rede privada de

Os grandes hospitais – leitos e atendimentos (Asas Norte e Sul) Leitos Atendimentos/ mês

Santa Helena

Prontonorte

Santa Lúcia

Santa Luzia

200

80

300

172

18 mil

15 mil

20 mil

12 mil


33 Pediatria é uma das especialidades obrigatórias em unidades de pronto-socorro, segundo resolução do CFM. Esta foto foi feita na tarde de 4 de agosto, no Prontonorte.

Estatização e confisco

Para o promotor Diaulas Ribeiro, é o que está havendo na rede privada. O fenômeno ocorre porque a Justiça a usa para compensar as omissões do Estado. Ele diz que, se a situação não mudar, os dois sistemas entrarão em colapso.


34 Eles não têm nada com isso A meiaum os procurou para falar do atendimento nos hospitais particulares, mas informaram que não têm competência para responder sobre o assunto: Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Conselho Nacional de Saúde, Secretaria de Saúde do DF, Associação Nacional de Hospitais Privados, Sindicato Brasiliense de Hospitais, Conselho Regional de Medicina (CRM/DF), Associação dos Médicos de Hospitais Privados do DF , União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas).

saúde é a superlotação e a decadência na qualidade dos serviços prestados, agravadas pela falta de pagamento por parte do governo. “A Justiça manda um monte de pacientes para a UTI na marra, lota os leitos dos hospitais particulares – porque a rede pública não dá conta do recado – e depois ainda quer condenar os hospitais por falhas no atendimento; é uma incoerência”, argumenta. Diaulas Ribeiro reclama ainda do que chama de “judicialização” da saúde. Segundo ele, não há qualquer lei que respalde essa prática, as decisões são tomadas baseadas apenas em princípios de direito. “A lei é o critério do juiz, isso é coisa de país socialista, nem em Cuba as coisas funcionam assim, é absurdo”, critica. Ele diz que essa prática é um braço muito forte da falha de gestão do poder público e abre brechas para a corrupção. “O Estado fica dependente da rede privada, o que é uma inversão de valores”, opina o promotor. E completa: “Os hospitais particulares têm se tornado a extensão da incompetência dos hospitais públicos e, se essa situação não for freada rapidamente, os dois sistemas tendem a entrar em colapso”. O pediatra Antonio Lisboa, que tem 84 anos e exerce a profissão há 60, não concorda que o caos nos hospitais particulares seja atribuído aos atendimentos que alguns deles fazem a pacientes do Sistema Único de Saúde. Na opinião dele, houve aumento natural de pacientes na rede privada. Primeiro, porque quem tem a opção foge da rede pública. Ao mesmo tempo, a maioria não pode pagar caro por uma consulta e recorre aos planos de saúde. “São o meio-termo e tem uns bem baratinhos, aí os hospitais ficam lotados.”

Segundo Lisboa, o problema é de sobrecarga no atendimento. “Tem vezes em que não consigo vaga para internar uma criança”, diz. Ele enfatiza ainda outro problema. “Tente marcar uma consulta em qualquer consultório, só vai ter para daqui a seis meses, o que leva as pessoas a procurar os prontos-socorros com maior frequência do que deveriam”, acredita. Ele compartilha da opinião da colega Marisa Makiyama, superintendente do Santa Luzia e do Hcor, e afirma que os prontos-socorros estão cheios de gente que não deveria estar lá, com casos que não são emergência nem urgência e por isso há superlotação. “Se você sobrecarrega, vai ter reclamação”, conclui. Legislação Histórias como as desta reportagem todo mundo conhece. Infelizmente, continuarão acontecendo, porque não há no Brasil quem fiscalize a situação. Não há órgão regulador dos serviços privados de saúde e não há, portanto, para quem reclamar os seus direitos. “A assistência à saúde é livre à iniciativa privada”, diz o artigo 199 da Constituição Federal. De acordo com o estudo Direito à saúde e defesa do consumidor, da advogada Daniela Trettel, isso quer dizer que todo serviço privado de saúde contratado diretamente se transforma em simples relação de consumo. O diretor técnico do Hospital Brasília, Renato Cury, não vê problema nisso. Ao ser questionado sobre a relação comercial estabelecida entre pacientes e hospitais particulares – já que o Procon é o único órgão ao qual recorrer em caso de insatisfação –, ele não hesitou em fazer uma bem-humorada, porém

infeliz, comparação: “Quando você entra em uma loja e é mal atendido, para onde vai?” Claro, porque para os donos dos hospitais privados a saúde tem o mesmo grau de importância e deve merecer o mesmo cuidado que as roupas escolhidas na vitrine. A advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Juliana Ferreira não achou graça. “Saúde não é mercadoria e deveria ser tratada com muito mais delicadeza”, afirma. Ela enfatiza que a liberdade da iniciativa privada para manter hospitais e clínicas não tira da saúde o caráter de direito fundamental e de serviço de relevância pública, conforme previsto na Constituição: “Mesmo que sua execução seja feita por terceiros – pessoa física ou pessoa jurídica de direito privado –, cabe ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle” (artigo 197). Contudo, o paciente brasileiro não tem, além do Procon ou da Justiça, qualquer autoridade a quem recorrer. Não há no País órgão responsável pela fiscalização e pelo controle de hospitais e clínicas particulares, no que diz respeito à qualidade do atendimento. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) faz o controle sanitário dos estabelecimentos e o Conselho Federal de Medicina (com os Conselhos Regionais) tem atribuições constitucionais de fiscalização e normatização da prática médica. Fora estes, a meiaum procurou muitos órgãos públicos e entidades ligados à saúde (veja acima) e de todos eles o que ouviu foi que desconhecem a existência de um órgão específico para esse fim. “Além de ser inconstitucional, eu pessoalmente considero um absurdo a falta de um regulador dos


35 serviços privados de saúde no Brasil”, declara o advogado Victor Mendonça Neiva – aquele do começo da reportagem, que precisou fazer um escândalo para o irmão ser atendido . No próprio Ministério da Saúde, a assessoria do ministro informou que não existe ali alguém com competência para responder por questões que envolvam

é dever do poder público prestar o serviço, que ele cede à iniciativa privada, o uso tem de ser regulado. A título de comparação, a meiaum entrou em contato com o Ministério da Educação, para saber qual a autoridade reguladora das escolas e universidades particulares no Brasil. A pergunta soou um tanto burra e a res-

Para o diretor técnico do Hospital Brasília, Renato Cury, não há problema em o Procon ser o recurso de quem é mal atendido na rede privada de saúde.

posta, óbvia: “Quem regula as instituições privadas de educação no País é o MEC”. E que curioso: o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe/DF) informou que existem hoje cerca de 600 escolas particulares no DF, de acordo com o último censo escolar da Secretaria de Educação. Em contrapartida, segundo levantamento do Sindicato dos Hospitais Particulares do DF, são apenas 20 os hospitais particulares filiados – e esse é o único dado oficial, uma vez que a Secretaria de Saúde do DF não soube dizer se há outros. As escolas são fiscalizadas, os ) hospitais, não. )

hospitais particulares. No Conselho Nacional de Saúde e na Secretaria de Saúde do DF, a informação foi de que lhes competem apenas assuntos do sistema público de saúde. De todos, a mesma sugestão: “Por que você não procura o Sindicato dos Hospitais Particulares?” Na Constituição Federal, o artigo 196 deixa claro: “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. Victor Neiva conclui com um raciocínio lógico simples: “Se é dever do Estado, é obviamente serviço público e é da própria natureza de um serviço público que ele seja regulado”. Na opinião do advogado, a partir do momento em que se declara que


Artigo

Eduardo, Chicos, FHC & DIVA S/A Filhos: legítimos, naturais e artificias: (a)V (b)F (c)NDA. Da calúnia à hipocrisia e ao acobertamento

Texto Alberto Francisco do Carmo Ilustração francisco bronze albertofcarmo@gmail

bronze@grandecircular.com


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L

á estava eu conversando e recordando uma das minhas mais doces lembranças como entrevistador: Nara Leão. Fã dela, passei a adorá-la depois que a conheci, ainda que por pouco tempo. A pessoa me cortou: – Ih, nem te conto! O Vieira me contou que na verdade ela é filha de Danuza Leão, num caso com Fernando Sabino aos 15 ANOS DE IDADE! Fiquei fulo. Por dentro. Consultei Mr. Google e lá estava: Danuza é um tanto mais velha que Nara. Menos de nove anos. Quando Nara nasceu, o futuro escritor tinha 18 anos. Portanto, o boato sórdido ou envelhecia Danuza ou tornava-a um fenômeno de gravidez precoce. E Fernando Sabino seria um pedófilo. Ao reencontrar a pessoa, ela – como diria Chico Xavier – obtemperou: – É mesmo? Que coisa! Então quem sabe foi o Rubem Braga. Enfim, além de não saber fazer contas ou raciocinar, no fundo queria que a coisa fosse verdadeira. Dissonância cognitiva: uma expectativa grupal, contrariada, não é aceita. Reelabora-se a expectativa original para que ela se mantenha. Principalmente se forem sórdidos os expectantes e a expectativa. E o pobre Rubem foi o stand-by. Pensei nisso alguns bons minutos quando um e-mail anunciou que Chico Buarque seria o verdadeiro pai de Eduardo Campos. Mas nem precisei consultar o Google. Em 1964, Chico nem começara a carreira. Estudava arquitetura, tocava seu violão. Via Elis Regina, chegou ao Fino da Bossa, onde tive o privilégio de ver uma apresentação dele. Cantou Pedro Pedreiro, de smoking e acompanhado de um flautista chinês ou sino-brasileiro, Thomas Lee. Isso em 1965, antes de A banda e seu primeiro LP na RGE, em 1966. Se Chico ler isto, vai saber de novo o nome do flautista, que ele esqueceu. Disse-o em entrevista. Eu, não. Taí o nome de novo. Enquanto isso, a família Arraes passava por um momento difícil. Arraes fora preso em 1964 e trancafiado no sinistro presídio da Ilha de Fernando de Noronha. Seria esse o clima para Ana, hoje deputada federal, andar de namorico com um compositor desconhecido? E aí está o governador Eduardo Campos, seu filho e do escritor pernambucano Maximiano Campos, que dá nome até a um instituto e cujos traços se veem no nariz e na cor dos olhos do filho. Mas neste país sem curiosidade, sem bom senso e raciocínio, onde até José Angelo Gaiarsa escreveu um “Tratado Geral sobre a Fofoca”, não me admira se esse boato continuar a circular, como aquele do mapa da Ama-

zônia internacionalizada, ou do filme inexistente Corpus Christi, no qual Cristo seria gay. “A calúnia é como moeda falsa; quem não a fabrica tem coragem de passá-la à frente.” Dito espanhol. Da calúnia passemos à hipocrisia e ao acobertamento, ou seja, o caso FHC e o filho que reconheceu e afinal não é dele. Bom, aqui funciona o título daquela peça de Miguel Falabella, Todo mundo sabe que todo mundo sabe. Falava-se disso abertamente quando cheguei a Brasília em 1993. Inclusive, detalhe: que o affair existira, mas que o menino não era de FHC. Portanto, acho difícil que isso também não tenha chegado aos ouvidos do infiel traído. Ou então sua torre de marfim é tão alta que mal escuta os habitantes de outras torres iguais, mais ou menos da altura da dele. Por ignorar os lá do andar térreo, também não ouviu Lamartine Babo: “Aí, hein, pensa que eu não sei/Toma cuidado pois um dia eu fiz o mesmo e me estrepei”. Sinto-me enojado. A história de pegar saliva de um e outro, para possivelmente forçar o exame via sangue, cheira a mesquinhez e a “Operação Hiena ou Urubu”. Costuma acontecer entre familiares, ao se aproximar o fim do poderoso da família. Alguém deve estar se sentindo como Dona Quita em Incidente em Antares: voltar à casa, como zumbi morta-viva, e encontrar filhas disputando suas joias. E se o rapaz continuar no testamento, será um bom castigo para filhos, que nem de longe têm ou terão o brilho do pai. Basta buscar referências por aí, na web... Ah, os Don Juans velhos! A recém-publicada entrevista de Chico Anysio mostra-o bem. Tantas mulheres e balanço geral: qui potest? Quem lucra? Ele? Certamente não... Lá por 1994, conheci uma velhinha fofa, dona de um lugar bem simpático, que eu frequentava. Ela tinha um marido-problema, mas não infiel. Mas dava trabalho. Até que um dia, depois de mais uma narrativa, de mais um problema, disparei: – Mas Adélia! Por que você nunca se separou dele? Meu Deus, até quando você vai aguentar isto? E ela: – Ah, Alberto! Acontece que eu gosto muito dele. Muito mesmo. E sei que ele também gosta muito de mim e também me dá provas disso, sempre. Por isso estamos e ficaremos juntos. Gostaria de saber se esses conquistadores, além de conquistar, amaram alguém na vida. Mais: se alguma de suas “conquistas” teria dito ou será capaz de dizer isso deles. Em tempo. DIVA? Departamento de Informações da Vida Alheia.


Crônica

Aventuras dialógicas

Comoção pela diferença Dar corda para estranhos pode nos levar a mundos em que nunca estaríamos se não fosse pela palavra do outro

Texto Hanna Xavier Ferreira Ilustração Cláudia Dias hanna.xf@gmail.com

Sentada havia pelo menos trinta minutos no banco de uma parada esperava o ônibus passar. Depois de tanto tempo sozinha, finalmente chega alguém e senta-se na outra extremidade do banco. Era um senhor que aparentava ter em torno de cinquenta anos de idade. Lá estávamos eu e ele silenciosos, em pleno sábado, em um local onde trafegava quase nenhum carro. A espera pelo ônibus me deixava enfastiada, pois a sensação da passagem do tempo era nítida. E quando sinto o tempo passar, como se fosse um conta-gotas, mais vontade tenho de que algo aconteça, para que eu não persista dando conta da presença dos segundos. Foi nesse momento em

claudiadias@gmail.com

que a angústia pela sensação de perda de tempo me tomava que o senhor começou a balbuciar algumas palavras. Ele parecia um louco com o olhar fixo no horizonte, sem perceber que tinha alguém ao seu lado. Do tédio passei ao espanto. Amedrontei-me. Não sabia o que fazer. Se saísse dali, deveria caminhar por muito tempo até achar outra parada, mas, se permanecesse, poderia correr o risco de ser abordada por aquele senhor que me parecia ter algum distúrbio. Parei e me indaguei: qual o problema de uma pessoa falar sozinha? Ele, de repente, olhou para o lado e se deu conta de que eu estava ali. Disse: “Perdão por estar falando sozinho. Não notei sua presença. Estou atordoado pelo

que acabo de ouvir. Há momentos na vida da gente em que não acreditamos ser possível tal tipo de reação, mas acaba acontecendo quando menos se espera. Por várias vezes já fui vetado em entrevistas de emprego. Creio que a cor da minha pele seja um quesito analisado com profundidade por quem me entrevista. Não creem na capacidade de um negro desempenhar alguns tipos de funções. Você nunca deve ter passado por algo semelhante. Mas dói sentir ser apartado pelo outro. Você ser julgado por algo que o caracteriza, que faz parte da sua identidade”. Tentei amenizar a situação dizendo que algumas vezes, pelo fato de ser mulher, já tinha sofrido assédio moral no trabalho por parte de colegas.


39 conseguir sentir esse olhar que o anula e o corrói, sem que você possa fazer muita coisa a respeito”. Então falei pra ele: “Sentir a dor do outro é a melhor forma de não provocar dor”. Foi então que ele olhou diretamente para mim e se pôs a chorar copiosamente. Havia chegado o ônibus desse senhor e então ele se foi. Daí me vieram à mente todos os comentários de pessoas mais próximas que me reprimiam dizendo que eu dou corda pra qualquer maluco que se senta ao meu lado. As pessoas têm medo de dialogar com estranhos. Talvez seja um indício de uma sociedade violenta e desigual, o que faz com que as pessoas se temam mutuamente. Para alguns, qualquer ser humano é suspeito até que ouçam referências sobre ele. Primeiro, têm de saber se a pessoa tem profissão ou se estuda; em seguida, se não é filho de chocadeira. Se a pessoa não tiver dentes nem chegam perto. É a neurose coletiva que deixa os seres humanos mais isolados em suas vivências interiores pouco compartilhadas. Mas nunca tive problemas, nessa trajetória de dar corda a estranhos. Creio que as minhas aventuras dialógicas são acompanhadas por anjos protetores que não permitem qualquer tipo de aproximação de perturbados perigosos. Conversar com pessoas no meio da rua é um risco que se corre, mas se der sorte, pode-se ter momentos inusitados de trocas que nunca se teria se não se abrisse a essa oportunidade. Às vezes, fechamo-nos num círculo tão hermético em que os que não são parecidos conosco não têm acesso ao miolo onde paira a nossa identidade. Os choques são imensos quando não se pensa igual, por isso acaba-se por viver em círculos higienizados, onde a menor sujeirinha é dedetizada com um argumento de ordem. Mas há momentos na vida da gente em que a escuta nos abre a mundos em que nunca estaríamos se não fosse pela ) palavra do outro. )

Afirmei: “Quando se é mulher em um posto de chefia também se sofre preconceitos por parte de alguns”. Ele me interrompeu: “Mas há diferenças entre a raça e o gênero. Não se costumam ver negros – como eu, sem nenhum tipo de miscigenação, como você pode ver sou um negro azulado – desempenhando alguns tipos de trabalhos e quando se vai a uma entrevista é nítido o olhar do avaliador. Hoje superaram esse olhar e verbalizaram o preconceito. Creio que a forma com que fui tratado está no inconsciente de várias pessoas. A sutileza das palavras escolhidas não me deu forças pra contra-argumentar. Falaram-me: ‘A empresa precisa de pessoas com a clareza das funções que deverão ser desempenhadas, fato que não consigo vislumbrar na sua pele’. Depois me pediu desculpas e complementou: ‘Não quis dizer pele, quis sim dizer em você’. Como se a raça fosse pressuposto de vários tipos de funções. Há categorias em que a característica da raça conta menos – lixeiro, por exemplo – e há outras funções em que ela conta mais. Não quero aqui tecer conceitos muito rebuscados da questão da fragmentação da sociedade em identidades pouco transparentes. Mas dói ver a sua preterição pelo fato de ser algo que você não escolheu ser, apenas é. Por exemplo, quando se é homossexual. Basta encenar para os outros que é um heterossexual, para tanto se limam trejeitos e a forma de se vestir, passa-se a ser um personagem em um mundo real. Isso para que os outros o aceitem sem que precise passar pelo que eu passei. Esconde-se a essência para não sofrer em palavras. Talvez, você que é brasileira, branca, provavelmente heterossexual e de olhos claros não consiga sentir na pele essa dor aqui no Brasil. Mas tente viver em um país onde há preconceito contra latino-americanos e que o seu destino se deva a razões econômicas, por isso você tenha entrado no país de forma ilegal. Na mesma hora, você vai


Artigo

Tem que ter quilômetros de disposição! Mulher de maratonista sofre? Um pouquinho... Mas tem suas compensações

Texto Sandra Turcato Ilustração André Zottich sandraturcato@hotmail.com

emaildozottich@gmail.com


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uita gente me pergunta como é ser mulher de maratonista. É algo surpreendente a cada prova, a cada cidade que conhecemos, a cada viagem que fazemos. Ser maratonista foi a melhor desculpa que meu marido poderia inventar para ter um pretexto sério pra viajar regularmente. Eu, que tenho medo de avião, fui para a terapia. Tomo uns remedinhos e consigo embarcar em cada projeto dele. Mas, vejam bem, é importante dizer que a meia maratona escolhida depende sempre do destino. Eu dou pitaco e levo em consideração não só a estrutura da cidade, mas principalmente as opções de compras que teremos. Sem hipocrisia, funciona assim mesmo! Afinal, eu apoio meu marido em cada ciclo de três meses de treinos. Aprendi a fazer massas de todos os tipos e cores que possam imaginar, tudo para nos adequarmos à dieta que ele precisa seguir. Na manhã de cada prova, o dia sempre começa cedo. Ou melhor, de madrugada. Isso porque é sempre necessária toda uma logística para o atleta chegar ao local no horário certinho. Em Lisboa, por exemplo, dá para acordar um pouco mais tarde, tomar café umas 7h e seguir de carro para o local da chegada. De lá, os maratonistas partem de metrô e ônibus próprios para a largada, em uma das belas pontes da cidade. Depois de correrem os 21 quilômetros, a chegada é no Mosteiro dos Gerônimos, um dos principais cartões-postais da capital portuguesa. Os familiares podem ficar nas arquibancadas, a postos para fotografar a chegada. Isso quando é possível identificar nosso atleta em meio a outros tantos milhares de maratonistas. Em Foz do Iguaçu, a largada foi mais cedo. Tivemos de acordar às 6h, com uma sensação térmica de apenas 4 graus. A chegada foi nas Cataratas do Iguaçu. De lá, já seguimos para o passeio pelo parque, algo inesquecível! Em Orlando, no início deste ano, eu fiz a prova de 5 km com meu marido no dia anterior. Para o Marcelo, não deu nem para o aquecimento... E eu quase pedi arrego! Na manhã da prova, acordamos às 3h30, enfrentamos um engarrafamento gigantesco e conseguimos chegar ao local da meia maratona para a largada, às 5h40. Ainda estava escuro, muito frio. Mas eles conseguiram fazer uma prova cheia de surpresas para os corredores. A começar da largada, com fogos de artifício e com transmissão simultânea para o Iraque, onde soldados americanos também correram uma meia maratona.

Lá pelo menos tinha estrutura para os familiares. Eu me senti uma daquelas cheerleaders americanas. Meu kit de acompanhante me dava direito a um farto e engordativo café da manhã em uma superestrutura aquecida, onde conseguíamos acompanhar a posição de cada atleta pelo computador. Depois, com camiseta de torcedora e cadeirinha portátil, eu esperei confortavelmente na chegada, tomando um chocolate quente para aguentar o frio de quase zero grau. O mais legal era ouvir a todo instante o agradecimento pela massiva presença dos brasileiros na prova. As cores da nossa bandeira podiam ser vistas em todo lugar. O mais difícil não é acordar cedo para acompanhar o marido. Nem mesmo levar todos os aparatos para depois da prova. O meu maior desafio é encontrar o Marcelo e registrar sua passagem pela linha de chegada em meio a tantos outros milhares de maratonistas (Só em Orlando foram 26 mil!). Isso porque, às vezes, eles ainda tiram o casaco ou trocam de blusa no meio da prova. É verdade! Atrás dos últimos atletas sempre passam os caminhões recolhendo os milhares de casacos deixados pelo chão. Dá até pena. Eu preciso calcular o tempo médio do meu marido e ficar vidrada na linha de chegada, para não deixar de registrar o momento mais importante. E o Marcelo sempre quer se superar. Então, chego com certa antecedência. Vai que eu perco a quebra do recorde... Depois da chegada ainda tem a foto com a medalha junto à logomarca oficial de cada prova. E ainda ficamos um pouco mais, para curtir aqueles instantes com milhares de outros atletas depois da corrida. É sempre bom, é um clima que mescla emoção e superação, tem música, é muita adrenalina! Prova cumprida. Agora vem a retribuição a mim, ao meu apoio psicológico, técnico e logístico, oras! A parte mais gostosa de toda a viagem: as compras. E assim meu marido – que odeia shoppings, lojas de departamento e outlets – fica tranquilinho me esperando, por horas e horas. É a minha vez de correr quilômetros... só que atrás das melhores promoções! A nossa próxima meia maratona será em Daytona, nos Estados Unidos. Meu marido já deu o start no próximo ciclo de treinos. E eu comecei a pesquisar as maiores lojas e shoppings da região. Já estão no GPS!

Ser maratonista foi a melhor desculpa que meu marido poderia inventar para ter um pretexto sério pra viajar regularmente.


Caixa-preta

por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com

A herança maldita que Amorim ganhou

Na noite de 19 de maio, um soldado de 19 anos fazia a faxina no banheiro de um quartel do Exército na cidade gaúcha de Santa Maria, terra natal do então ministro da Defesa, Nelson Jobim. De repente, foi atacado por quatro soldados, que o jogaram na cama e o violentaram várias vezes, em rodízio. Machucado, o jovem foi transferido em sigilo para um hospital militar, onde ficou internado durante oito dias. Só no quinto dia é que a família foi informada, assim mesmo com uma falsa explicação: “Ele sofreu um mal súbito numa atividade interna do quartel”. A investigação interna do Exército corre sob sigilo militar. Ninguém foi preso, já que não houve flagrante. O general responsável pela investigação diz que a vítima foi isolada e mantida sob guarda pelo temor de que tentasse o suicídio. A mãe do jovem foi ameaçada de prisão, no hospital, sob suposta “insubordinação contra autoridade militares”. O inquérito militar, segundo a família, deve concluir que tudo não passou de uma “luta corporal de brincadeira entre os rapazes”, complementando a divertida versão preliminar do Exército de “sexo consensual” do jovem, embora manietado por outros quatro soldados.

Silêncio em Brasília Esta história escabrosa foi revelada com exclusividade no final de maio pelo Sul21, um site de Porto Alegre que escalou um repórter persistente, Igor Natusch, para acompanhar o caso. Estranhamente, ninguém mais da imprensa se interessou pelo crime cometido dentro de um quartel, em plena democracia. O então ministro Nelson Jobim, procurado com insistência, não deu um pio. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, ficou chocada ao ser informada, no final de maio: “Isso é um crime comum, que deve ser tratado pela Justiça comum. Vou conversar com o Comando do Exército”. Se Maria do Rosário conversou, ninguém sabe, ninguém viu. Em Brasília, o crime foi empurrado para debaixo do edredom.

Sintoma grave Em Porto Alegre, a Assembleia Legislativa gaúcha foi mais corajosa. “O Exército precisa responder à sociedade sobre o que aconteceu”, disse o deputado Miki Breier (PSB), presidente da Comissão de Direitos Humanos. “Não é um caso de mau comportamento. É um fato gravíssimo, que pode manchar a imagem de uma instituição muito importante.” O deputado Jeferson Fernandes (PT) conseguiu vencer o bloqueio em torno do jovem e conversar com ele. Voltou de lá ainda mais preocupado, ao ouvir sua resposta para a alegada tentação ao suicídio: “É o que eu mais penso, todos os dias”, confessou o recruta, segundo o Sul21. A investigação militar patina, apostando na falta de reação popular e na indulgente memória coletiva. No final de julho, o Ministério

Público Militar devolveu o inquérito à Justiça Militar, para novas diligências, desta vez num celular apreendido com cenas de vídeo da violação. Não se sabe, até agora, quais os novos prazos para apresentar a conclusão das investigações. A baixa repercussão e a restrição de informações sobre o crime praticado no Sul, dentro de um quartel, é um grave sintoma deste Brasil covarde: um país que não tem coragem de confrontar os crimes militares do presente não terá, jamais, força moral para resgatar os crimes militares do passado, como as torturas e violências (muitas sexuais) praticadas na longa ditadura de 21 anos instalada em 1964. O caso sigiloso, inconcluso e vergonhoso de Santa Maria é uma herança maldita que Nelson Jobim legou, sem dó nem consciência, ao sucessor Celso Amorim.


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Artigo

Geração da Instantaneidade

Eles pulam as etapas que a própria vida estabelece, mas não querem pagar o ônus inevitável a essa escolha

Texto Flávio Resende

Ilustração Werley kröhling

flavioresende@proativacomunicacao.com.br

werleyk@gmail.com


É

difícil compreender a forma acelerada como os jovens levam a vida hoje. Fazem tudo muito rápido e caminham a passos galopantes. Querem, parecem e precisam pular as etapas que a própria vida estabelece. Assim, temos uma realidade que exige novas respostas. Porque, até que provem o contrário, esse jogo tem bônus, mas, com certeza, ônus também. Ou não? Foi assim que me ensinaram. E, muito provavelmente, há 30, 40, 50 anos, essa premissa fosse levada ainda mais ao pé da letra. Mas, em geral, quem se lança nesse jogo rápido para fazer a vida, tateando para virar gente grande, não quer pagar ônus. Pensa só no bônus e espera tudo em pacotes, se possível, para ficar pronto instantaneamente. Tal como o macarrão que fica pronto em três minutos ou o filme que ainda não entrou em cartaz, mas é baixado da internet sem grandes dificuldades, em questão de horas. O maior paradoxo é que nunca tivemos uma geração tão preparada para lidar com os smartphones, os pads e os pods da sociedade do conhecimento, mas tão despreparada para enfrentar o ônus resultante das vicissitudes do dia a dia. Preparada porque já nasceu sob o advento da tecnologia; consegue fazer mil coisas ao mesmo tempo; teve oportunidade de viajar pelo mundo; e tem acesso à informação. Despreparada porque não sabe lidar com frustrações; despreza o esforço; é imatura; desiste fácil; não pensa a longo prazo e muito menos aposta, pra valer, no que acredita. Na primeira adversidade, muda o foco para algo essencialmente diferente do que há poucas horas tinha todo o sentido. Como estímulo a esse entendimento frenético da vida, coloca-se a pressão pelo sucesso, exercida pelo mundo e por nós mesmos. Afinal, cool é ser bem-sucedido. Nem que para isso valha qualquer postura nas mais variadas situações. Dizer que alguém é esforçado virou ofensa, assim como dar duro para conquistar o que almeja traz, nos dias de hoje, a marca institucionalizada de derrota. Subir de cargo numa empresa só é digno de admiração se for de modo meteórico. Caso contrário, é bem provável que aquele “otário” que passou tanto tempo ralando para endinheirar o patrão seja alvo de crítica e de deboche. Passar em concurso é sinônimo de competência. É o endosso de que se terá a “eterna garantia de menos trabalho em relação à iniciativa privada, em contraposição a um salário infinitamente maior”. Sem desconstruir o esforço de quem estuda, no fim o Estado acaba premiando “os vencedores” com a almejada estabilidade. Mesmo que o dito-cujo escolha ser um profissional mediano para o resto da vida.

Colocar o dedo nessa ferida é necessário, pois a forma como tudo vem ocorrendo é prova contundente de que o problema talvez resida na formação que estamos dando a nossos filhos. O tempo que nos é tirado pelo trabalho se reverte em compensações. Das mais absurdas, muitas vezes. Outro dia, na casa de uma amiga, vi um dos seus filhos condicionando estudar ao tão sonhado celular de última geração. Depois de meia dúzia de palavras, trocadas aos solavancos, a mãe sucumbiu à proposta, meio que levada pelo pacto velado de que “eu o premio se você não me cobrar pelo que eu sinto que deveria fazer, mas que não fiz ou não faço”. Não precisa ir longe para buscar muitos outros exemplos, mas é cada vez mais comum deparar-se com entrantes da vida adulta que se sentem feridos, traídos e decepcionados ao descobrirem que a vida é bem diferente do que preconizaram seus pais, quando ainda eram “promessas de um mundo melhor”. De modo genérico, pode-se dizer que essa geração não foi ensinada a construir e a ressignificar a partir da dor, da perda. Cresceu com a ilusão de que a vida é simples e muito rápida para ser vivida em “doses homeopáticas”. Basta um empurrãozinho daqui, uma facilidade dali, que está tudo certo. Mas, como não poderia deixar de ser, a conta não se fecha! E o que parecia tão concreto acaba por se esvair (sem, em alguns casos, nunca chegar a ser edificado) no pantanoso alicerce do sonho. Na vida profissional, a maioria espera que o trabalho seja extensão da casa, onde o chefe ocupa o lugar do pai complacente; onde vale a pena investir até quando se percebe que ganhará algo em troca. Mas precisa ser rápido, porque lá fora há uma série de possibilidades, gritando em letras garrafais e reluzentes. Que há muito que fazer, há pouca dúvida. Mas, contra todos os prognósticos, acredito que existam saídas. Quem sabe no dia em que os pais de hoje entenderem que tão essencial quanto educar bem seus filhos em escolas de renome, lhes proporcionar viagens fantásticas pelos quatro cantos do mundo ou lhes dar o que não receberam materialmente é dizer: “Te vira, negão. Eu tô aqui, se precisar, mas não conte com isso porque você é capaz...”

Cool é ser bem-sucedido. Nem que para isso valha qualquer postura nas mais variadas situações. Dizer que alguém é esforçado virou ofensa.


Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br

Nilson Carvalho

O HOMEM QUE colocou Brasília no cinema O mais recente filme de Vladimir Carvalho, Rock Brasília – Era de ouro, abrirá o 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que vai de 26 de setembro a 3 de outubro. É a homenagem ao cineasta paraibano, jornalista e ex-professor da Universidade de Brasília, que vive na capital há 41 anos. Testemunha e agente da trajetória cultural da cidade, já realizou duas dezenas de filmes documentários, quatro deles longas-metragens. É o único diretor brasileiro detentor de três Margaridas de Prata, outorgadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Rock Brasília – Era de ouro conta a história dos jovens que, liderados por Renato Russo, depois de longo caminho e obstáculos, veem a consagração e o sucesso nacional de suas bandas de rock. Um filme com a cara de Brasília.

Cinema – lançamentos

30 minutos ou menos Direção: Ruben Fleischer. Chet (Aziz Ansari) é um professor de história do ensino fundamental. Nick (Jesse Eisenberg) é um jovem entregador de pizza. Eles são sequestrados por dois criminosos que exigem que os dois se unam ao bando para assaltar um banco em 30 minutos. Comédia. Verifique a classificação. Kinoplex em 23 de setembro. 90 minutos.

A águia da legião perdida Direção: Kevin Macdonald. 120 a.C. Vinte anos se passaram sem que ninguém soubesse explicar o desaparecimento da Nona Legião nas montanhas da Escócia. Agora, o jovem centurião Marcus Aquila (Channing Tatum), apesar de desacreditado por todos, vem de Roma para tentar solucionar o mistério e restaurar a reputação do pai, comandante daquele pelotão. Acompanhado do escravo Esca (Jamie Bell), cruza as Muralhas de

Hadrian até a parte alta da Caledônia, onde vai enfrentar tribos. Aventura. Classificação 14 anos. Kinoplex em 23 de setembro. 114 minutos.

A missão proibida – Apollo 18 Direção: Gonzalo López-Gallego. A história gira em torno de uma série de vídeos verdadeiros arquivados, encontrados mais tarde pelos russos, de uma missão secreta norte-americana passada a dois astronautas após o fim da missão Apollo 17. Supostamente, a missão teria sido cancelada, mas ficou confirmado que ela ocorreu em 1970. Suspense. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 2 de setembro. 93 minutos.

Amizade colorida Direção: Will Gluck. Uma caça-talentos (Mila Kunis) convence um jovem (Justin Timberlake) a aceitar uma proposta de trabalho em Nova York. Os dois então ficam amigos e a coisa começa a se complicar quando o relacionamento fica íntimo. Comédia. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 30 de setembro. 109 minutos.

Conan – O bárbaro Direção: Marcus Nispel. A nova versão do filme baseado no personagem de histórias em quadrinhos, 19 anos depois. Conan é um escravo (Jason Momoa) que cresce para se tornar um poderoso guerreiro. Na infância, presenciou a morte dos pais. Agora quer se vingar. Ação. Classificação 14 anos. Cinemark em 16 de setembro. 130 minutos.

Conspiração americana Direção: Robert Redford. Na sequência do assassinato de Abraham Lincoln (Gerald Bestrom), sete homens e uma mulher são presos e acusados de conspirar para matar o presidente, o vice-presidente e o secretário de Estado. A mulher é Mary Surratt (Robin Wright), proprietária da pensão onde John Wilkes Booth (Toby Kebbell), assassino de Lincoln, e outros se reuniram e planejaram os ataques simultâneos. O advogado Frederick Aiken (James McAvoy), com relutância, concorda em defender Mary perante um tribunal militar. Percebe que sua cliente pode ser inocente e que está sendo usada como isca


Nada Audiovisual

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Cinema Já foi o tempo em que desenho era coisa de criança. Linguagem estética descolada e aprimorada pelas mãos do mago Walt Disney, em tempos remotos, hoje as animações, com o suporte da tecnologia, configuram uma revolução no mercado cinematográfico, fascinando também adultos nos quatro cantos do planeta. Uma prova dessa paixão mundial é a mostra Anima Mundi, o grande encontro do gênero que neste ano chegou a sua 19ª edição. Depois de passar pelo Rio de Janeiro e por São Paulo no mês de julho, uma versão itinerante compacta do evento, com os 50 melhores filmes da mostra principal, alguns deles premiados, desembarca no CCBB Brasília em temporada curtíssima de 6 a 11 de setembro. É a oportunidade de o público brasiliense

O homem do futuro

conferir produções do mundo inteiro, entre elas o prestigiado longa de anima-

Direção: Claudio Torres. Zero (Wagner Moura) é um cientista genial, mas infeliz. Há 20 anos, foi humilhado na faculdade e perdeu seu grande amor, Helena (Alinne Moraes). Prestes a ser demitido, aciona, antes de totalmente concluído, o acelerador de partículas mais barato do mundo. O experimento fracassa, mas Zero acidentalmente volta ao passado e se vê diante da chance de alterá-lo. Comédia. Classificação 10 anos. Cinemark e Kinoplex em 2 de setembro. 111 minutos.

ção alemã Sonhos roubados, uma alegoria sobre o sonho e o pesadelo, além da mostra Shaum the sheep, que reúne oito episódios inéditos da série para a TV Cultura, inteiramente voltada para o público infantil. Desenhos do Brasil e do vizinho Chile também dão o ar da graça na vitrine Chilemonos.

e como refém, a fim de capturar o conspirador. Drama. Classificação 14 anos. Kinoplex em 9 de setembro. 122 minutos.

Diário de um banana 2: Rodrick é o cara

Direção: David Bowers. Greg Haffley (Zachary Gordon) e seus amigos continuam se metendo em confusão. Desta vez Rodrick (Devon Bostick), o irmão mais velho de Greg, é quem resolve torturar a molecada. Greg precisa manter em segredo –

principalmente longe dos ouvidos do irmão – uma confusão criada por ele. Não será nada fácil, uma vez que está tudo registrado em um diário. Infantil. Classificação livre. Cinemark

Aos mais aventureiros, a versão itinerante

em 16 de setembro. 96 minutos.

cos dos desenhos.

do Anima Mundi traz ainda uma oficina de animação com massinha que ensina os segredos e as técnicas do universo mági-

Família vende tudo Direção: Alain Fresnot. Família com dificuldades financeiras tem uma “brilhante” ideia: fazer com que a filha Lindinha (Marissol Ribeiro) engravide do famoso cantor Ivan Cláudio (Caco Ciocler),

Lúcio Flávio É jornalista


Arte, Cultura e Lazer

o “rei do chique”. Só não contavam com a ciumenta Jennifer (Luana Piovani), mulher de Ivan, e as trapalhadas da própria família. Comédia. Classificação 12 anos. Cinemark

militar secreta, decide embarcar no primeiro carro que encontrar pela frente. Assim o trio se conhece. Willy e Gollings resolvem ajudar Paul e mandá-lo de volta à nave-mãe. Comédia.

e Kinoplex em 30 de setembro. 90 minutos.

Classificação 12 anos. Kinoplex em 30 de setembro.

Manda-Chuva – O filme Direção: Alberto Mar. A história do gato malandro que vive num beco de Manhattan. Ele apronta várias confusões com sua turma (Bacana, Espeto, Gênio, Xuxu e Batatinha) e sempre acaba prejudicando o Guarda Belo, que tenta impedir os planos do bando. Animação. Classificação livre. Kinoplex em 23 de setembro. 90 minutos.

Missão madrinha de casamento Direção: Paul Freig. Lillian (Maya Rudolph) vai se casar e convida a solteirona Annie (Kristen Wiig) para madrinha. A amiga vai fazer de tudo para organizar uma grande despedida de solteira ao lado das damas de honra. A turma parte para Las Vegas e se envolve em muitas confusões. Comédia. Verifique a classificação. Kinoplex em 9 de setembro. 125 minutos.

Monte Carlo Direção: Thomas Bezucha. As amigas Meg (Leighton Meester), Grace (Selena Gomez) e Emma (Katie Cassidy) resolvem realizar um sonho comum e partem de férias para Paris. Vivem uma grande experiência, mas sem o luxo que a cidade oferece. Quando Grace é confundida com a herdeira britânica Cornélia, elas se aproveitam da situação e acabam mandadas para Monte Carlo. Aventura. Classificação 14 anos. Kinoplex em 23 de setembro. 109 minutos.

Paul Direção: Greg Mottola. Graeme Willy (Seth Rogers) e Clive Gollings (Simon Pegg) são dois jovens nerds britânicos que estão nos EUA à procura de óvnis. O alienígena Paul está na Terra há 60 anos e, cansado de ficar numa base

104 minutos.

Pequenos espiões 4 Direção: Robert Rodriguez. Marisa Cortez Wilson (Jessica Alba) é casada com Wilbur (Joel McHale). Ele é um repórter conhecido por desmascarar espiões. O casal tem um bebê e duas meninas, Rebecca (Rowan Blanchard) e Cecil (Mason Cook). O que o marido não sabe é que ela é ex-espiã. Marisa é forçada a retornar à antiga profissão quando surge Timekeeper (Jeremy Piven), vilão com o poder de manipular o tempo, ao mesmo tempo em que tem de administrar problemas com as crianças. Aventura. Classificação livre. Kinoplex em 2 de setembro. 93 minutos.

Premonição 5 Direção: Steven Quale. A premonição de um homem (Nicholas D’Agosto) salva trabalhadores da morte, mas ela está mais perto do que nunca, porque esse grupo não deveria ter sobrevivido. Numa corrida contra o tempo, eles tentam proteger uns aos outros contra a perseguição da morte. Terror. Classificação 18 anos. Cinemark e Kinoplex em 2 de setembro. 95 minutos.

Pronta para amar Direção: Nicole Kassel. Marley (Kate Hudson) é bem-sucedida, independente e alegre. Mas para ela a ideia de apaixonar-se e viver feliz para sempre é uma grande mentira. Tudo muda quando ela é surpreendida por uma grave doença e por seu charmoso e tímido médico Julien (Gael Garcia Bernal). Com uma ajudinha de Deus (Whoopy Goldberg), ela tem a chance de finalmente estar pronta para amar. Romance. Classificação 12 anos. Cinemark em 16 de setembro. 100 minutos.

Sem saída Direção: John Singleton. Nathan (Taylor Lautner) descobre, sem querer e com a ajuda de Karen (Lily Collins), que sua foto estava num site de crianças desaparecidas. Desconfiado, resolve investigar, mas, de uma hora para outra, todos à sua volta começam a morrer e sua vida também está em jogo. Ação. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 23 de setembro. 96 minutos. www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br

Cinema – outros

44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

O Festival de Brasília chega a 2011 reformulado. Desde a data (antecipada) até a criação de mostras (como a Mostra Competitiva para Filme de Animação), a flexibilidade quanto ao ineditismo e o fim da divisão de mostras por bitola (poderão competir, em igualdade, filmes de longa e curta-metragem, em película ou digital). 26 de setembro a 3 de outubro. Veja a classificação dos filmes e a programação completa em www. festbrasilia.com.br.

Anima Mundi É o Festival Internacional de Animação do Brasil. Um festival que visa a informar, formar, educar e entreter utilizando as infinitas possibilidades da linguagem de animação. Em 2011, o Anima Mundi celebra o 19° aniversário. 6 a 11 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Veja a classificação e a programação completa em www. bb.com.br. Telefone: 3108-7600.

Assim Vivemos O festival internacional de filmes sobre deficiência chega à quinta edição em Brasília, depois de passar pelo Rio de Janeiro. Serão exibidos 28 filmes de 12


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países com abordagens e estéticas variadas, curtas, médias e longas-metragens nas categorias ficção e documentário, todos com o tema da inclusão. Além da exibição dos filmes, a programação inclui quatro debates, nos dias 15, 22 e 23 de setembro. 13 a 25 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Veja a programação em www.bb.com.br/cultura. Telefone: 3108-7600.

Cineclube Iesb O evento está vinculado ao curso de cinema. Serve como extensão, para os alunos e para a comunidade cinéfila da cidade, de um entendimento sobre a história do cinema. Filmes de todos os lugares, todas as épocas e todos os gêneros, tentando promover um material abrangente, cuja qualidade é o critério comum.

Quintas, às 11h, no Iesb (SGAS 613/614). Entrada franca. Classificação 16 anos. Telefone: 3340-3747. Programação: Alice das cidades (Alemanha): 1° de setembro. 110 minutos. O medo devora a alma (Alemanha): 8 de setembro. 90 minutos. Cinzas e diamantes (Polônia): 15 de setembro. 105 minutos. Z (Argélia): 22 de setembro. 125 minutos. Le fond de l’air est rouge (França): 29 de setembro. 177 minutos.

Música

30ª Noite Cultural

Adriana Calcanhotto A cantora e compositora gaúcha vem a Brasília para o lançamento do oitavo álbum da carreira, O micróbio do samba. Com canções inéditas, como Eu vivo a sorrir, Beijo sem e Vai saber? 7 de setembro, às 20h, no Teatro Nacional Claudio Santoro. Ingresso (inteira): R$ 160. Classificação 14 anos. Telefone: 3244-4794.

Granja 2011 Com atrações da música sertaneja. Shows com Gusttavo Lima, João Bosco e Vinícius, Humberto e Ronaldo e Maria Cecília e Rodolfo. 2 a 10 de setembro, às 22h, no Parque

O T-Bone promove show de Milton Nascimento, Sandra Duailibe e Célia Rabelo.

de Exposições da Granja do Torto. Ingressos

15 de setembro, às 19h, na comercial da 312 Norte.

R$ 100. Classificação 16 anos. Telefones: 8400-

Entrada franca e livre. Telefone: 3963-2069.

Concurso de Redação do Sinpro-DF O alto índice de violência nas escolas da rede pública do Distrito Federal levou o Sinpro (Sindicato dos Professores no Distrito Federal) a lançar em 2008 a campanha “Quem Bate na Escola Maltrata Muita Gente”. Em 2011 a campanha continua com a segunda edição do Concurso de Redação. O tema desse ano será:“Bullying: essa brincadeira não tem graça” voltado para os alunos do ensino médio (regular e EJA) das escolas públicas. Desta maneira o Sinpro traz à discussão a necessidade de combater uma das mais perversas formas de exclusão e discriminação social, levando a comunidade escolar a refletir sobre o tema. As inscrições para o concurso já estão abertas e podem ser feitas nas escolas ou pelo site: www.sinprodf.org.br/concurso-de-redaçao.

QUEREMOS NOSSA ESCOLA FELIZ!

(inteira): arena R$ 20; área vip R$ 40; Camarote 1880/9147-5727/8417-8897/9150-0901.


Camila Akrans

Arte, Cultura e Lazer

Música “Eu nunca peço desculpas. Sinto muito, mas é assim que eu sou...” Tamanha dose de sabedoria, imbuída de uma cavalar dose de emoção, foi imortalizada pelo não menos animalesco Homer Simpson. Pois bem. Bato o pé no chão, o punho no peito, jogo meu boné longe e o pisoteio com zero discrição, mas não peço desculpas! Nossa última coluna desfilou uma série de aporrinhações e pouquíssimos elogios aos produtores do megafestival SWU. A divulgação do primeiro lote de atrações do evento, que neste ano ocorrerá em Paulínia, interior paulista, concorria apenas com o desfecho de Lost em desapontamento. Foi então que uma enxurrada de bandas e artistas de extrema relevância e bom gosto foi anuncia-

Rihanna

da. Num golpe certeiro, a organização

The Loud Tour é a terceira turnê mundial da cantora. A artista promove o seu quinto álbum de estúdio, Loud, que já vendeu quase 5 milhões de cópias e teve três músicas no topo da parada musical mais importante do mundo. Rihanna já recebeu três prêmios Grammy, quatro American Music e World Music e BET Awards, cinco People´s Choice e Teen Choice Awards, vários MTV VMAs, um Brit Award por Melhor Artista Internacional Feminino em 2011 e nada mais do que 18 Billboard Music Awards. 21 de setembro, às 21h, no Ginásio Nilson

e metaleiros dignos da falta de respeito

Nelson. Ingressos (inteira): Cadeira superior R$ 200; Camarote R$ 600; Pista/cadeira R$ 320; Pista Premium

desculpas? Ora, ora senhoras e senhores...

R$ 500. Classificação 16 anos. Telefone: 8432-3661.

não é óbvia a razão de tamanha reviravol-

confirmou a presença de uma mistureba de ícones alternativos, heróis grunges de qualquer pai e mãe que prezam a boa índole de seus filhos. Faith no More, Stone Temple Pilots, Alice in Chains, Chris Cornell, 311, Down e Duran Duran são alguns dos destaques. Mesmo assim, zero

ta na qualidade do festival? Claramente, a produção teve acesso à última edição da

Gui Boratto

Clube do Servidor. Ingresso (inteira): R$ 100.

ao Brasil para apresentações em quatro cidades. Judas Priest vem com a turnê Epitaph, que marca a despedida do grupo dos grandes shows mundiais. Para celebrar, a turnê conta com um setlist com músicas que fizeram do Judas Priest uma das maiores bandas do gênero. 15

Classificação 18 anos. Telefone: 3347-6763.

de setembro, às 21h, no Ginásio Nilson Nelson.

Depois de muito tempo sem tocar em Brasília, o DJ e produtor está de volta. Ainda conta com um line-up formado pelo DJ argentino Teclas e os paulistas Ferris e Edgard Fontes. 10 de setembro, às 22h, no

Judas Priest e Whitesnake Os dois gigantes do heavy metal voltam

Ingressos (inteira): Setor superior R$ 180; Pista R$ 240; Pista Premium R$ 320. Classificação 16 anos. Telefone: 4003-5588.

revista meiaum. Sem mais. Um roqueiro teimoso, porém feliz.

Diogo Dawes Não pede desculpas e não revela se agora decidiu ir ao festival


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Projeto Sonoro Brasil Com as bandas de congo Panela de Barro, do Espírito do Santo, e Quarteto Colonial, do Rio de Janeiro. Músicas populares em devoção às entidades religiosas. 2 e 27 de setembro, às 15h, no Sesc Presidente Dutra. Entrada franca e livre. Telefone: 3319-4400.

Sesc Sinfonia Concerto ao ar livre com o maestro Joaquim França em comemoração aos 65 anos do Sesc. Com músicas que marcaram épocas em filmes. 3 de setembro, às 20h, em frente à Torre de TV. Entrada franca e livre. Telefone: 3318-9148.

Terraço do samba

R$ 160; Camarote fem. R$ 320; Camarote masc. R$ 360. Classificação 18 anos. Telefone: 3468-1820.

Um Piano pela Estrada – 2011 O projeto itinerante, idealizado pelo pianista Arthur Moreira Lima, está de volta ao Distrito Federal. Durante as apresentações, o artista interage com a plateia, fala sobre suas obras e suas inspirações. Participação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. De 31 de agosto a 7 de setembro. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-6164. Programação: Gama: 31 de agosto, Estacionamento do Estádio Bezerrão, às 20h.

com Elza Soares

Brazlândia: 1° de setembro, Espaço da Feira, às 20h.

Para encerrar o mês e a temporada Terraço do Samba 2011, o Terraço convida a cantora Elza Soares e Trio. Ela interpreta de composições próprias até músicas de Seu Jorge. 28 de

Riacho Fundo II: 3 de setembro, Quadradão Cultural,

Sobradinho II: 2 de setembro, Praça Cultural, às 20h. às 20h. Planaltina: 4 de setembro, Praça São Sebastião, às 20h. Vicente Pires: 5 de setembro, Rua 4 – Área Especial nº

setembro, às 19h30, no Terraço Shopping. Entrada

1, às 20h.

franca e livre. Telefone: 3403-2992.

Brasília: 7 de setembro, na Torre de Televisão, às 17h30.

Trinave Do trio elétrico, Asa de Águia e Banda Eva prometem animar os foliões com seus grandes sucessos. 24 de setembro, às 16h, no Estacionamento do Mané Garrincha. Ingressos (inteira): Atrás do trio

exposições

A arte de Henrique Lemes O artista mineiro radicado na Alemanha Henrique Lemes expõe 75 xilogravuras, comemorando 30 anos de carreira. A mostra

exibe a transição do artista para uma nova fase, com maior variação de cores em suas obras. Até 23 de outubro, diariamente, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Anticorpos A mostra está dividida em nove núcleos: Fragmentos, Objetos Trouvés, Nós, Varetas, Híbridos, Planos Flexionados, Objetos de Papel, Agrupamentos e Orgânicos. Dos irmãos Fernando e Humberto Campana, apontados como responsáveis por dar novo sentido à expressão contemporânea do design. Até 25 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.

Athos Vive Conhecido por seus mosaicos, o artista Sanagê faz homenagem a Athos Bulcão (1918-2008), com estruturas tridimensionais e quadros referentes a cada estrutura. Ele selecionou 12 obras do acervo de Athos e, ao analisar seu conceito estético, estabelece uma nova roupagem, respeitando e mantendo o seu traço. Até 25 de setembro, de segunda a sexta, das 9h às 17h, no Espaço Cultural do Salão Branco do Palácio do Buriti. Entrada franca e livre. Telefone: 3961-1720.


Arte, Cultura e Lazer Dos planos que voam São 21 artistas em fases distintas, mas com um traço comum, o recorte do mundo pelo desenho. Muitos deles nunca tiveram a oportunidade de mostrar seus trabalhos a qualquer tipo de espectador em Brasília. Nanquim, vidro, pastel seco, carvão, canetinha ou café servem ao desenhista tanto quanto um lápis. Até 2 de setembro, de segunda a sexta, das 9h às 17h, na Galeria 10 da Câmara dos Deputados. Entrada franca e livre. Telefone: 3216-0000.

Gravura em foco Composto por jovens artistas, o grupo de gravadores brasiliense foi fundado para fomentar e difundir a produção de gravuras na capital federal e no entorno. Obras que retratam a história candanga de moradores do início da construção de Brasília. Até 4 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 17h, no

PortoCartoon Aviões e máquinas voadoras Trabalhos selecionados pelo júri internacional do XII PortoCartoon, presidido por Georges Wolinski (França). Reúne obras que versam sobre o meio de transporte aéreo, enquanto prestam homenagem à passarola, invenção do padre brasileiro Bartholomeu Lourenço de Gusmão. No destaque, Bélgica nunca só, ilustração de Luc Vernimmen. Até 16 de setembro, de segunda a sexta, das 10h às 18h, no Espaço Chatô. Entrada franca e livre. Telefone: 3214-1350.

Museu Vivo da Memória Candanga. Entrada franca e livre. Telefone: 3301-3590.

Hereros – Angola Sérgio Guerra traz à capital 110 fotos colhidas nas províncias do Namibe e Cunene. Revela um amplo painel da vida, das atividades e dos costumes dos povos Hereros, espalhados entre Angola, Namíbia e Botsuana. Traz, ainda, roupas, adereços, utensílios. Um dos destaques é a holografia Vikuit 3M, em que uma mulher da etnia muhakaona recepciona o público. 14 de setembro a 23 de outubro, de terça a domingo,

Cooperação humanitária

Direitos humanos

Serão apresentadas cerca de 30 fotografias de operações empreendidas pelo Brasil para alívio de populações em situações de crise humanitária. As imagens foram cedidas por embaixadas brasileiras, equipes da Força Aérea Brasileira e agências da ONU que acompanharam as ações. 4 a 30 de setembro,

Projeto de exposição fotográfica itinerante que retrata os principais momentos da história dos direitos humanos no Brasil e o processo de democratização. Narra, por meio de 60 imagens e textos de apoio, a história dessa conquista no País. Até 11 de

internacional

das 9h às 21h, na Caixa Cultural Brasília. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Imagens do Brasil

das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.

Lembranças perdidas

setembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na

Com o artista Sérgio Marimba, expõe fotografias impressas em metal corroído. As obras consistem em placas e imagens oxidadas. Ainda que carregadas de melancolia, estabelecem relação com as lembranças, sujeitas à ação do tempo. Até 2 de outubro, diariamente, das 9h às

Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone:

21h, na Caixa Cultural Brasília – Galeria Vitrine.

3206-9448.

Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.


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Ouro Preto – Olhar poético

Titanic: a exposição

São 14 telas que retratam a cidade de Ouro Preto e mais um painel de cerca de 3 metros no hall de entrada. O brasileiro Carlos Bracher já expôs em grandes museus e palácios em todo o mundo durante os seus 55 anos de pintura. Até

Quase cem anos após o naufrágio do maior navio do mundo, a exposição apresenta imagens e destroços do Titanic. Viaje no tempo pelas histórias, aposentos recriados e 248 peças autênticas recuperadas por sete expedições desde a descoberta do navio, em 1985. Até 18 setembro, de segunda a quinta, das

10 de setembro, de segunda a sábado, das 14h às 21h, no Espaço Cultural Fundação Universa (609 Norte). Entrada franca e livre. Telefone: 3033-8029.

10h às 21h; de sexta a domingo, das 10h às 22h, na tenda externa do ParkShopping. Ingresso (inteira):

Retalhos de fantasias A artista plástica Marysia Portinari traz uma exposição que reúne obras figurativas das fases rural, circense e também quadros abstratos da sua produção atual. Ela já participou de mais de 50 exposições na Argentina, nos Estados Unidos, no México, na Espanha e em Portugal, além do Brasil. Seus primeiros quadros datam de 1955, quando ainda estudava desenho e pintura. Até 30 de outubro, sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h, na Câmara dos Deputados – Salão Verde. Entrada franca e livre. Telefone: 3216-0000.

Pintura reprojetada

R$ 40. Classificação livre. Telefone: 4003-5588.

Welcome home Do artista mineiro Gui Mohallem, traz imagens inéditas, produzidas pelo fotógrafo na terceira visita que fez neste ano ao Tennessee (EUA), com tamanhos que variam de 40 cm x 60 cm a 2 m x 3 m. Esta nova edição privilegia o aspecto espiritual da experiência no Santuário Queer. Até 28 de outubro, de segunda a sexta, das 14h às 20h, no Espaço F/508 de Fotografia (413 Norte). Entrada franca e livre. Telefone: 3347-3985.

Teatro

A ceia dos cardeais

feira, das 10h às 19h; aos sábados, das 14h às 18h,

Pregar o amor. Ensinar o amor e não poder viver o amor. Esse é o ponto crítico da obra de Júlio Dantas, clássico da dramaturgia lusitana, agora encenado e interpretado pelo ator e diretor Alberto Bruno, com o elenco do Grupo Teatral Companhia da Ilusão. Até 4 de setembro,

no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça – Ed. Sede

sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro

do Tribunal de Contas da União. Entrada franca e

CNEC (SGAN 608 – L2 Norte). Ingresso (inteira): R$

livre. Telefone: 3316-5036.

20. Classificação 14 anos. Telefone: 3242-3544.

Séculos indígenas no Brasil

Cena Contemporânea 2011

Apresenta o material artístico e documental produzido ao longo dos 19 anos de existência do projeto, composto por fotografias, desenhos, gravuras, objetos de arte indígena do acervo de Darcy e Berta Ribeiro, vídeos, animações e textos. Até 9 de outubro, de terça a sexta, das 9h

É um dos maiores festivais de teatro do País e integra o Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil. Espetáculos do México, da Dinamarca, da Polônia, da Argentina, da Coreia do Sul e de Portugal dividem as atrações. Até 4 de setembro. Ingresso

Reúne trabalhos de Alvaro Seixas, Flávia Metzler, Hugo Houayek, Lucia Laguna e Rafael Alonso. As obras destacam o relacionamento da pintura contemporânea com a arquitetura e o design. Até 3 de setembro, de segunda a sexta-

às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h, no Memorial dos Povos Indígenas. Entrada franca e livre. Telefone: 3342-1157.

(inteira): R$ 16. Veja a classificação e a programação completa em www.cenacontemporanea.com.br. Telefone: 3349-3937.

Manual de sobrevivência ao casamento

Comédia do G7, os mesmos criadores de Como passar em concurso público. Por meio de um manual de regras sobre a boa convivência no casamento, o grupo conta a história de duas pessoas que decidem se casar no ardor da paixão e depois sofrem as consequências da vida a dois. Até 25 de setembro, sábados e domingos, às 20h, no Teatro La Salle. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 14 anos. Telefone: 8129-4709.

Mitos do Teatro Brasileiro Neste mês, o projeto vai homenagear um dos nomes mais queridos da dramaturgia nacional, Paulo Autran. Ao longo de 50 anos de carreira, o falecido artista se consagrou como um dos mais respeitados das artes cênicas. No palco, o ator J. Abreu vai viver cenas inéditas, criadas pelo dramaturgo Sérgio Maggio, enquanto a viúva Karin Rodrigues e o amigo Elias Andreato vão testemunhar fatos relevantes vividos ao lado do grande artista. 21 de setembro, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação 12 anos. Telefone: 3108-7600.

Volúpia A Cia. de Bonecas, em parceria com o grupo Celeiro das Antas, apresenta este espetáculo. Uma divertida encenação em que atrizes e objetos narram diferentes maneiras de vivenciar o estado de volúpia. Além do prazer sexual, o espetáculo utiliza o teatro de animação e de atores para propor uma brincadeira entre personagens, objetos, luzes, música e plateia. São pequenas cenas criadas a partir de histórias pessoais, textos literários e improvisos, nas quais personagens e objetos vivenciam sentimentos e sensações até o seu limite. 8 a 25 de setembro, quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Mosaico (715 Norte). Ingresso (inteira): R$ 10. Classificação 16 anos. Telefone: 3032-1330.


Banquetes e botecos } ilustração Humberto Freitas

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

cafecatura@gmail.com

Quer ir a um autêntico francês? Vá ao Toujours

Ilustração feita com café e água em papel canson

12345 É um restaurante charmoso, na conhecida Rua dos Restaurantes. Clima parisiense no ar. Não é muito grande, mais um bistrô do que um restaurante propriamente dito, mas confortável. Tem uma parede coberta com trepadeiras, um lustre de cristal em estilo francês e um chafariz que dão o toque romântico à atmosfera do lugar. O salão térreo tem um bar e o mezanino possibilita almoços e jantares para grupos maiores, reuniões e aniversários. Quando me sento naquele ambiente gostoso e abro o menu, com o barulhinho da água caindo e olhando o verde, tenho quase certeza de que estou na França. A sopa de cebola, o steak tartare, o foie gras, tudo me remete a Paris. A sopa de cebola vem com um generoso queijo gruyère dentro, o steak tartare é supertemperado, como deve ser, e o foie gras vem acompanhado de um pão artesanal maravilhoso. Tem ainda a salada Toujours, que leva cinco folhas, shitake, shimeji e cogumelo-de-paris no molho mostarda. Quando você a vê passar na bandeja do garçom, não consegue resistir. O cardápio foi elaborado pelo renomado chef Alexandre Rigon e a cozinha é comandada pelo chef paulista Toninho Morais (ex-LeVin Bistrot, de São Paulo). Como prato principal há várias opções da autêntica culinária francesa. O confit de carnard é uma delícia! O atum vem acompanhado de cuscuz marroquino, os filés são ótimos, tanto au poivre quanto ao molho de mostarda. As batatinhas que vêm como acompanhamento são ótimas. Confesso que só não gostei da comida uma vez, quando fiz a opção pelo prato executivo e pedi o filé à Borgonha, que me lembrou um filé rolê que eu comia quando era criança. Esse eu não recomendo. A carta de vinhos é bem variada e com boas opções. Exemplo disso é o vinho francês Moulin de Gassac Guilhem Rouge, muito bom tanto no preço como na qualidade, custando em torno de R$ 90. E pra fechar, temos o crème brûlèe, a tarte tatin, a torta de maçã caramelizada com sorvete de baunilha, ou o petit gateau. Tudo muito saboroso, além de o serviço ser impecável. Esse é Toujours! E o melhor é o preço, bem acessível para uma excelente comida francesa. Coisa rara em Brasília. 405 Sul Bloco D Loja 18 (61) 3242-7067 Segunda a quinta: 12h – 1h Sexta e sábado: 12h – 2h www.toujoursbistrot.com.br


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Denuncie o estupraDor ou ele fará mais vítimas. Uma das piores formas de violência contra a mulher é o estupro. Por isso, ele é um crime hediondo. Toda mulher que foi estuprada deve denunciar o criminoso, seja ele um homem estranho ou da família. Procure a delegacia mais próxima ou disque 180 e denuncie. Você é mais forte que o preconceito.


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