+ COPA
O que sobrou das promessas para receber o mundial
+ FICÇÃO
Brasilienses vão às compras na capital sentimental do Brasil
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U 7 Ano 1 | Outubro 2011 | www.meiaum.com.br
N°
O destino é igual, mas as histórias são diferentes. Entramos nos centros de internação do DF e conhecemos jovens que fogem às estatísticas e ao senso comum
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Niemeyer, Lucio, Israel, Burle, Athos, Ernesto... Sem eles, JK não construiria Brasília. Uma pessoa tem uma ideia brilhante. Mas é preciso uma boa equipe para executá-la.
WHD Comunicação, 11 anos Consultoria em comunicação e política Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia Produção de conteúdo para todos os meios Relações públicas
61 3468.1466 www.whd.com.br whd@whd.com.br Brasília - DF
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Papos da Cidade
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Perfil
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Brasília
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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília
Hellen di Castro (foto), a eterna miss gay
Das promessas à cara realidade de R$ 3 bilhões em obras
Conto – João Pitella Junior
As aventuras de uma família brasiliense em Orlando, paraíso das compras
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Conto – Rodrigo Fernandes
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Caixa-Preta
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Crônica – Ana Rita Gondim
Fora do Plano
Na madrugada, um pedido muito estranho
A política nacional por Luiz Cláudio Cunha
Quem será aquele homem que perambula pela Esplanada dos Ministérios?
Paola Lima analisa os bastidores da política local
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Arte, Cultura e Lazer
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Capa
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Banquetes e Botecos
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Artigo – João Rafael Torres
Adolescentes fora da lei e fora dos padrões
Os destaques da programação da cidade
Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é
Brasília é o cárcere para a sombra do Brasil
A MEIAUM ERROU Na reportagem de capa da sexta edição (O problema é todo seu, pág. 28), Marisa Makiyama foi identificada como superintendente assistencial do Hospital do Coração (HCor). Ela é, na verdade, diretora
ÍNDICE
técnica do Hospital Santa Luzia e superintendente assistencial do Hospital do Coração do Brasil (HCBr).
FACULDADE SENAC-DF TENHA ESTA MARCA FORTE EM SEU CURRÍCULO
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E mais...
Nilson Carvalho
Nilson Carvalho
Pedro Ernesto pág. 8 Lúcio Flávio págs. 8 e 52 Priscila Praxedes págs. 9 e 47 Alice Yucatán pág. 9 Caroline Vilhena pág.10 Moacyr Oliveira Filho pág. 10 Herculano Pimentel pág. 11 Thyago Arruda págs. 16 e 28 João Pitella Junior pág. 24 Rômulo Geraldino pág. 24 Paola Lima pág. 27 Gougon págs. 27 e 43 Francisco Bronze pág. 38 Cláudia Dias pág. 40 Luiz Cláudio Cunha pág. 43 Ana Rita Gondim pág. 44 Rafael Nogueira pág. 44 Marcela Benet pág. 54 Humberto Freitas pág. 54
Rafania Almeida pág. 16
Rodrigo Fernandes pág. 40
Nilson Carvalho
Carioca do subúrbio radicado na capital, sempre achou o título de escritor pesado demais, uma honraria que não lhe cabia. Por isso se aproximou do teatro, onde trabalhou com pequenos e grandes nomes. Foi ser crítico de música e cinema de pequenos e grandes veículos e, agora, ao acabar de escrever seu segundo livro, descobriu enfim que nunca fez nada na vida senão escrever. Ser um escritor já não pesa tanto.
Ela sonhava em ir a uma Copa do Mundo. Ter a cidade em que vive como sede dos jogos em 2014, no entanto, não está lhe agradando. Dona de senso crítico apurado, é repórter que não se cansa de perguntar onde vão parar tantas promessas. Com faro aguçado, implica com o que considera injusto. Se o tema a provocar, prepare-se: a moça de sorriso doce é capaz de chegar ainda mais longe.
Thyago Arruda
Monique Renne
Noelle Oliveira pág. 28
Ficar sozinha com jovens em conflito com a lei ou chegar ao Caje dias após uma rebelião em que um garoto foi enforcado não assusta a jornalista de fala mansa e rosto delicado. A meiguice e a apresentação impecável, especialmente no modo de se vestir, que causa inveja às amigas, escondem uma repórter persistente. Aos poucos, conquistou a confiança dos garotos para revelar suas histórias para a meiaum.
André Cunha pág. 48
É cineasta, jornalista, músico e escritor. Acredita em transmigração das almas, metempsicose, parapsicologia e meditação transcendental. Criou uma ideologia (o Anarquismo Militante), uma religião (o Hinduísmo Cyberpunk) e escreve com um estilo “místico e criptografado” segundo o espírito de Glauber Rocha, evocado numa sessão mediúnica da Associação Planetária de Magia, Alquimia e Experimentalismo.
Colaboradores
João Rafael Torres pág. 38
É psicoterapeuta, especializado em Psicologia Analítica. Tarólogo de vocação, desde garotinho. Aplica as teorias do velho Jung nas cartas. Nos tempos de jornalismo, já se dedicava às questões do comportamento humano. Hoje, sacia a vontade de escrever com participações especiais em revistas e portais, falando de bem-estar e espiritualidade.
Carta dos editores
Nem tudo é o que parece
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exo masculino, baixa escolaridade, origem humilde, família desestruturada, geralmente o pai ausente. As estatísticas e o inconsciente coletivo nos mostram que esses são os componentes básicos do perfil do adolescente que entra no mundo do crime. Do mesmo modo que há gente que cumpre esses requisitos e não pratica delitos, há internos do Caje, do Ciago e do Ciap que tinham tudo para não estar lá. A dupla Noelle Oliveira e Thyago Arruda foi atrás dessas histórias e revela que, apesar de terem chegado ao mesmo lugar, eles não se encaixam na imagem de menores fora da lei. É mesmo um soco no estômago. O menino que tinha passagem para a Disney e foi sentenciado por latrocínio poderia ser seu filho. A mocinha que tinha todas as vontades atendidas e participou da morte de um homem a facadas poderia ser sua vizinha. O jovem que era o orgulho
da professora só andava armado e está internado por tentativa de homicídio. Como para toda regra há exceção, aquela história de que o crime é um caminho sem volta se desfaz com o relato do moço de terno que trabalha na Justiça Federal. Os colegas não sabem que ele passou um ano e meio no Caje por assassinar um casal. Não imaginam que ele já controlou o tráfico de drogas de toda uma região administrativa. Se soubessem, será que o aceitariam ali, na mesa ao lado? Difícil é achar exceção à regra de que, no Brasil, dinheiro público é para fazer festa. A pretexto de receber a Copa do Mundo, em 2014, se burlam princípios básicos da concorrência. No país em que cidadãos morrem à espera de atendimento hospitalar e em que professores mal remunerados tentam dar aulas em escolas caindo aos pedaços, a urgência é fazer bonito no mundial de futebol. Aqui em Brasília,
o anúncio de que a cidade seria uma das 12 que receberiam os jogos veio acompanhado de promessas e muita euforia. Era a oportunidade de solucionar problemas históricos, como o transporte público vergonhoso, e de criar empregos e mais empregos. De lá pra cá, o maior escândalo de corrupção da história do Distrito Federal e mudanças no governo fizeram os brasilienses caírem na real. A cidade vai receber bem menos do que esperava. No entanto, por causa da falta de planejamento, de clareza e dos habituais atrasos em obras públicas, o gasto será bem maior, como mostra a reportagem de Rafania Almeida. Nós, da meiaum, torcemos para que nossa capital faça bonito ao receber o evento, mas sem que os brasilienses sejam os perdedores dessa jogada.
Anna Halley e Hélio Doyle
( ) MEIA
U
(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Diretora de Produção: Danielly Alonso Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Revisão: Bianca stucky Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br
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Diretores: Anna Halley, Danielly Alonso e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br
Desenho em pintura digital Designer gráfico, jornalista, ilustrador e empresário. Já publicou nos jornais e nas editoras mais importantes do País. Não vê limite para a criatividade e diz que o impossível não existe.
Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto
ernesto@grandecircular.com
Quero ser rato de sebo póstumo “Quando eu morrer não quero ir para o céu, nem o inferno. Quero ir para um sebo.” A frase é um sundae e foi dita pelo jornalista, escritor e biógrafo mor Ruy Castro, durante entrevista que fiz com ele anos atrás. Falamos sobre João Gilberto, a reinvenção da música brasileira, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Nelson Rodrigues e Garrincha e ele até me passou um pito quando eu disse que os Beatles eram tão importantes para o cenário musical mundial quanto a bossa nova. E falamos também de musicais e livros. Foi quando ele proferiu a frase, arrematando: “Já pensou a quantidade de obras que vou poder ler ali?!” Pensei. Tanto que quando eu morrer, vou seguir seu conselho e me chafurdar num sebo, ser rato de livro, uma espécie de
Brás Cuba das letras, minhas memórias póstumas estarão ali, numa dessas catedrais de palavras e ideias. Brasília é uma cidade de sebos. A metrópole do poder também é um depósito de livros usados, antigos e históricos. Claro, no auge de sua jovialidade urbana, ela ainda não tem a mesma quantidade e casas do gênero tão charmosas de centros urbanos como Berlim, Paris, Nova York, mas temos sebos. E a Asa Norte é o point dos sebos em Brasília. As “comerciais” daquela parte do avião abrigam verdadeiras moradas dos livros usados. E são lugares que contam histórias incríveis, surpreendentes, divertidas, e não apenas aquelas que estão em milhares de páginas de livros aboletados em estantes mágicas. Outro dia mesmo me deparei com uma carta do escritor mineiro Fernando Sabino,
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enquadrada na parede do Sebinho (406/407). Como curiosidade não mata, perguntei à proprietária, minha amiga, o que aquela missiva fazia ali. Ela explicou que a carta fora encontrada dentro de um livro por um dos funcionários. Tinha data de maio de 1989, Rio de Janeiro, e foi escrita a uma tal de Janet. Ninguém soube dizer quem era a fulana. Mas não faz mal, não. Quando eu morrer, não tenho um Encontro Marcado com o escritor mineiro, mas mesmo assim vou perguntar a ele quem afinal é essa Janet. Lúcio Flávio
Tá encalhada? Por que toda vez que alguém descobre que você está quase com trinta anos pergunta se está encalhada? Ou se você vai ficar para titia? Quantos filhos você tem? Nunca vi ninguém perguntando para um homem que já está beirando os trinta se ele está encalhado. Ah! Esqueci que o mundo é machista, eles podem tudo, até chegar aos cinquenta anos e casar com uma jovem de vinte e todas as pessoas vão achar lindo e romântico. Qual é o problema de uma mulher pensar em casar apenas com cinquenta anos? Aposto que já fez uma cara feia. Que coisa chata! Parece que somos umas pobres coitadas e infelizes, só porque estamos solteiras, ou pelo simples fato de pensar em casamento mais tarde que o convencional. Os tempos são outros, não casamos mais com vinte anos, queremos viver e curtir o máximo da vida, com um homem ou não. Não preciso de alguém ao meu lado para sentir que a minha vida está completa, que sou uma pessoa feliz, esse blá-blá-blá todo. Sou feliz, sim, mesmo sozinha. Sou totalmente livre, leve e solta e posso tomar as minhas próprias decisões sem medo. Por exemplo, em uma viagem ou quando for ao barzinho
com as amigas, não vou precisar ficar me preocupando se poderei ir, se confio na pessoa, com os horários e principalmente, não vou mentir para agradar a ninguém. Digamos que tenho uma vida mais tranquila. Eu sei, todas as escolhas que fazemos têm o seu lado positivo e negativo, mas ainda prefiro as vantagens de ser solteira. Nada contra os casamentos e namoros, acho lindo quando encontramos alguém para “a vida toda”, mas não é todo mundo que tem essa sorte, ou pelo menos que quer essa sorte. E não tenho nenhum problema em ser apenas titia, pelo contrário, o amor é o mesmo que sentiria por um filho, só que com menos responsabilidade. Priscila Praxedes
Meninas x meninos Eu achava que a concorrência e os joguinhos entre meninas e meninos tinham ficado na década de 80 com o extinto Xou da Xuxa, quando crianças competiam para saber qual era o sexo forte, em troca de brinquedos. No máximo, no Domingo Legal, na década de 90, quando famosos e famosas entravam seminus em uma banheira ao som de “umbaumba-umba-ê” , enquanto o auditório 99,9% feminino berrava “são as mulheres, oba!” Engano meu. As redes sociais estão aí para dar continuidade à disputa, especialmente o Facebook. Ao contrário dos programas de TV, não vale dinheiro, brinquedo ou qualquer prêmio. Começa com alguém enviando uma mensagem só para as mulheres de sua rede, dizendo que elas devem postar algo, geralmente de duplo sentido, em prol de uma campanha contra o câncer de mama, ou outra coisa séria. Elas repassam para as amigas. Porém, os homens não podem participar nem saber do que se trata. Em seus murais virtuais, já colocaram local onde deixam a
bolsa para que eles pensassem que fosse o lugar ideal para o sexo (em cima da mesa, no chão, na cama...). Já publicaram número do calçado somado à palavra “polegadas” (36 polegadas), como se fosse o tamanho ideal do órgão sexual do parceiro. Eles se rebelaram. Começaram a postar “esquerdo” ou “direito”. Elas ficaram loucas, maquinando outra brincadeira inútil como “vingança”. Eles não estavam com duplo sentido. Só explicitando qual dos testículos era maior. Na revolta da calcinha, elas começaram a escrever em suas páginas pessoais o nome de determinados países. Cada um significava estado civil ou desejo sexual, só para promover uma disputa à altura (Alemanha = apaixonada. Tchecoslováquia = quer sexo). Um tédio, na verdade. Eles não sabiam o que era mesmo. Se fosse em prol de algo benéfico, como a luta contra o câncer, seria justo, certo e muito mais eficiente se todos participassem. Mas não passa da boa e velha guerra dos sexos, para instigar o outro, implicar, medir o “grau de esperteza”. Não sei vocês, mas eu preferia ver pagodeiros contra dançarinas de axé estourando balões e crianças em games de pergunta e resposta. O que não era educativo era pelo menos mais divertido. Rafania Almeida
Desespero e ódio São 22h28. Ela está retornando da faculdade. A rua já não está movimentada. Os olhos atentos procuram algo. Dá uma volta, duas, três e nada. Uma luz laranja ilumina um grupo de jovens que tocam descompassadamente violão e fumam o que chamam de “cigarro do capeta”. O desespero dela aumenta. Barulhos estranhos são ouvidos. Ela continua a circular. Teme parar em um lugar qualquer e o pior acontecer. A tensão aumenta quando ela finalmente
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desiste e sobe em uma calçada, muito distante do ponto onde deveria parar. Pula pedaços de ferro e construção espalhados pelo chão. Solta um palavrão bem alto e começa a pensar em vingança. Desiste, pois o escuro, o frio e a fome falam mais alto. Deprimida, desabafa com ninguém: “Eu só queria uma vaga”. Essa sou eu. Essa é minha vida. É a realidade dos moradores da 312 Norte. Alguns prédios da quadra não têm garagem nem vagas marcadas. Alguns moradores têm quatro carros e duas motos. Maldito capitalismo! Aliás, malditas motos que ocupam vagas de automóveis. Enfim. Durante a semana, chegar em casa após as 22 horas significa inventar lugar para parar o carro. Os habitantes disputam com contêineres espalhados desregradamente pela quadra, carros antigos que nem têm condições de circular mais, baladeiros frequentadores das festas do T-Bone (quando o caos se instaura na região, moradores abdicam de suas casas e procuram abrigo bem longe dali), além de síndicos que decidem fazer reformas sem regulamentação – montam andaimes em cima do estacionamento, ocupando pelo menos 20 vagas por um mês inteiro. Triste! Mas andar de ônibus na capital brasileira é impraticável e adotar a bicicleta como meio de transporte está fora de cogitação. Infelizmente, Brasília é uma cidade para carros, mas carros sem-teto, desabrigados, amontoados como em um ferro-velho. Soluções? “Estaremos aceitando sugestões.” Alice Yucatán
A notícia era outra A cada três anos, a Igreja Católica realiza a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), grande encontro de fiéis de diversos países com o papa. Neste ano, de 16 a 21 de agosto, Madri, Espanha, sediou a 26ª edição do evento. Infelizmente eu não estava lá.
Falar sobre a importância da JMJ para a Igreja e para o mundo renderia muito mais do que um papo. Não daria para tratar o assunto aqui com a profundidade de reflexão que ele requer. Como não gosto de papos rasos, limito-me a apenas uma nuance do encontro deste ano, que me causou profunda tristeza e revolta. Muitos amigos meus que estiveram lá garantem que o que se noticiou no Brasil sobre a jornada, sobretudo o destaque dado aos protestos contra a visita do papa, não foi sequer sentido pelos milhões de peregrinos espalhados pela cidade. O que são 5 mil alienados reclamando do uso de dinheiro público (oi?) no evento contra os 2 milhões de jovens que lotaram hotéis, restaurantes, ônibus, metrô, pontos turísticos, etc. e movimentaram a economia do país? O Vaticano garante que a JMJ não custa um centavo sequer à administração pública dos países que a recebem. Tudo é custeado pela própria Igreja, por meio dos peregrinos e de alguns patrocinadores privados. Mas, cá entre nós, mesmo que custasse algo aos cofres públicos, os gastos seriam ínfimos diante dos rios de dinheiro que um evento desse porte deixa em um país! Fico indignada, mas não me espanta. Gente rasa geralmente é alienada mesmo. Para mim, notícia é o testemunho de fé que milhões de jovens deram a um mundo cada vez mais relativista e individualista. Notícia é o silêncio e a atenção deles diante das palavras de Bento XVI. Notícia é tanta gente reunida em espírito de unidade, sem confusão alguma. Em 2013, se Deus quiser, eu estarei no Rio de Janeiro para viver de perto essa experiência. Caroline Vilhena
Uma história de amor em azul e branco Em Brasília, poucas coisas podem se orgulhar de ter quase a mesma idade da cidade. A Associação Recreativa e Cultural Unidos do
Cruzeiro (Aruc) é uma delas. No dia 21 de outubro, completa 50 anos, no apogeu da sua vitalidade. O grupo de moradores do Bairro do Gavião (antigo nome do Cruzeiro) que, reunidos nos fundos da casa de Paulo Costa, na Quadra 14, fundou a Aruc, não podia imaginar que a semente plantada naquela tarde de 1961 iria crescer, frutificar e virar símbolo da capital. Hoje, a Aruc não só é a maior campeã do carnaval de Brasília, com 31 títulos conquistados em 46 desfiles, como referência em todo o País por ser um espaço onde se preserva o samba, se cultua o esporte e se celebra a cultura brasileira. A Aruc se destacou, também, no esporte, montando equipes competitivas de futsal e handebol, que conquistaram importantes títulos nacionais, oferecendo cursos para crianças e adolescentes e desenvolvendo atividades culturais que marcaram época na cidade, como os Concertos Canta Gavião, as Ruas de Arte e Lazer. Atualmente, a Aruc investe na capacitação profissional da cadeia produtiva do carnaval, oferecendo cursos de qualificação em confecção de fantasias, figurinos, adereços, esculturas, entre outros. Em 2009, o GDF, por meio do Decreto nº 30.132, reconheceu a Aruc como Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal. No ano do seu cinquentenário, a Aruc ganhou outro histórico reconhecimento oficial: pela primeira vez uma escola de samba foi convidada pela Presidência da República e pelo GDF para participar do Desfile Oficial de 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, representando o samba brasileiro. Com essa participação, a Aruc entra para a história do samba, seguindo os passos da sua madrinha Portela, que, em 1959, foi a primeira escola a se apresentar no Palácio do Itamaraty, numa festa em homenagem à duquesa de Kent, da família real britânica, e em 2004 foi a primeira a receber em
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sua quadra a visita de um presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no exercício do mandato. Apesar dessa trajetória vitoriosa, a Aruc ainda não pode comemorar sua mais importante conquista: a posse definitiva da área que ocupa há mais de 30 anos. Com o contrato de ocupação vencido desde 2000, espera até hoje uma solução por parte do GDF para a regularização da área, promessa de vários e sucessivos governos. Seria o melhor presente que os cruzeirenses poderiam receber pelos 50 anos de seu maior orgulho. Moacyr Oliveira Filho
Sobre um momento O elevador descia em direção ao térreo. No meio do caminho a porta se abre. Entra um deputado federal. Um velho deputado. O ar descontraído dentro do elevador se torna grave. Ele cumprimenta a todos e pede desculpas a quem dá as costas. A descida continua. Os presentes olham o deputado, depois se olham. É como se o parlamentar assumisse a responsabilidade por aquele momento, por aquelas pessoas, pelas relações que serão travadas ali, até o instante em que o elevador chegar ao térreo. Ele é o início e o fim dos olhares trocados dentro do veículo. Ele é o início e o fim dos pensamentos de quem divide aquele espaço. É uma casa de espelhos, todas as questões humanas batem e rebatem nele, de uma maneira quase infinita. O ar se enche de tensão... ... mas a porta se abre. O térreo surge. O deputado então se coloca em um canto e dá a preferência para uma moça passar, depois dá a preferência para um homem e finalmente para um jovem. Quando percebe que está só no veículo, o deputado sai. Ninguém deu a preferência a ele, a não ser ele próprio. Sai caminhando satisfeito. Mais uma vez participou do instante de vida de algumas
pessoas de maneira coerente com sua categoria de indivíduo. Ele sabe, será lembrado por isso. Assim ele julga. Pedro Ernesto
Marilyns candangas Ah, Brasília! Aliada dos olhares masculinos. Não precisamos de saídas de ar, nem daquelas grades sobre os túneis de metrô para presenciarmos a famosa e sensual cena de Marilyn Monroe, com seu sexy vestido branco levantando e deixando à mostra toda aquela beleza. Temos três companheiros nesse processo: a seca, o calor, os ventos. Basta o clima insuportável chegar para as meninas começarem a tirar de seus guarda-roupas vestidos soltos, curtos, coloridos... Preocupadas apenas com o kit bolsa e
sacolas de compra, elas esquecem que estão à mercê do traiçoeiro ventinho. É nessa hora que os pedreiros, motoristas, lojistas, flanelinhas e outros passantes fazem a festa. “Ô, lá em casa!” O vento parece ter contrato de sacanagem com os moradores da capital e faz manobras que jogam o cabelo das moças para um lado, fazendo-as levar as mãos à cabeça com movimentos rápidos, e deixarem desprotegidos vestidinhos e saias. Um sopro é o suficiente pra beneficiar os marmanjos de plantão. Obrigado, meninas, por seguirem a moda verão e desfilarem compassadas no ritmo dos ventos brasilienses! Nessas horas, nem lembramos que Lucio Costa, Niemeyer e Juscelino esqueceram o mar. Lamentamos apenas a chegada das chuvas e o fim da temporada de Marilyns candangas. Herculano Pimentel
Perfil
Ela foi miss gay nos anos 90, mas é como se nunca tivesse perdido o título. A musa GLS atende os estereótipos que você imagina, mas é, antes de tudo, quem ela quer ser
Texto Anna Halley Fotos NILSON CARVALHO annahalley@meiaum.com.br
fotografia@meiaum.com.br
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Não tem saudades do passado. Ao mesmo tempo, não se importa de trazer na identidade o nome masculino. Aposto que você se pergunta se ela cortou alguma coisa. Não, não cortou.
e acordo com o estereótipo de leitor que temos nas redações, provavelmente você não lerá este texto até o fim. Tudo indica que vai digitar o nome da página anterior no Google, ou em uma dessas redes sociais. Sim, confirmando o estereótipo de pessoas cujo rótulo sexual começa com trans, ela está lá, em fotos exibidas e em sites inadequados para menores de 18 anos. Difícil não cumprir alguns padrões quando se é visto como a encarnação da pouca vergonha. A mesma sociedade que critica é a que impõe que seja assim. Parece que quem é transex, como ela se define, está fora do ambiente socialmente tolerado se não trabalha na noite, não sabe fazer cabelo, decorar ou maquiar. Ou seria extremamente natural encontrar a figura ao lado no balcão da farmácia, atendendo os clientes? Talvez por isso a noite gay seja tão gay, no sentido saxônico da palavra. Hora de ser quem é sem estar sujeito à opinião de gente que acha que todo mundo tem de viver do mesmo jeito. Hora de ser maioria, deixar de ser marginal para ser principal. Deve ser por isso que virou miss. Nada tem tanto glamour, diz ela. Na época, ainda “era menino”. Isso foi nos anos 90, quando o termo montar fazia mais sentido do que hoje no mundo gay. Era uma montagem mesmo, com peruca, peitos de espuma, quilos de maquiagem para esconder os traços masculinos. Não tinha essa facilidade de peeling, botox, laser. A miss era resultado do trabalho de profissionais que a transformavam no exagero de mulher que toda transformista queria ser. Hoje, é quase possível comprar beleza natural, de tantos recursos que há para se construir um mulherão. Atendendo o estereótipo, antes de virar Hellen di Castro, trabalhava em salão. Brincava com as maquiagens, experimentava, tudo brincadeira. Fez shows na boate Garagem. Teve a oportunidade de integrar uma equipe que atuava nos bastidores do concurso que escolhe a miss gay na capital federal. A brincadeira ficou séria e ela resolveu participar. Como Gisele Bündchen, enfrentou a síndrome da se-
gunda colocação. “Eu era a rainha do segundo lugar, mas acho que isso me deu experiência.” A faixa de miss Brasília veio finalmente em 1995. Chegou ao topo ainda naquele ano, conquistando o título de miss Brasil. Ela, que se espelhava em Michele X, Alessandra Vargas, Larissa Divineli e outras divas do mundo gay da capital federal, virou referência. É como se o título fosse mesmo eterno. A miss é reconhecida e admirada na comunidade cheia de siglas, chama a atenção por onde passa. É mais alta do que a maioria dos homens e adora salto alto. Mas está longe do clichê de escandalosa e vulgar. Fala baixo e pouco, é bem mais educada do que a média das pessoas que encontramos aí pelos elevadores de Brasília. Como uma miss deve ser. Fica falante mesmo quando lembra os tempos em que competia. “Ser miss foi demais, e fico feliz de ver o tanto que o concurso cresceu, muita gente trabalha num evento como esse, é uma indústria mesmo”, diz. Neste ano, quando o concurso de Patos de Minas completou 15 anos, voltou à passarela ao lado de outras vencedoras. A última vez tinha sido no comecinho do milênio. Agora, só fica no júri. Eu faço aquela cara de “acho que você está ótima para colocar um traje típico ou de gala” – Helen alerta que miss gay não desfila de biquíni, não. É a única diferença em relação ao concurso tradicional. Ela explica que agora é a vez das meninas de 18 aninhos, “não dá para competir”. Fala isso não com ressentimento, mas com o orgulho de quem as fez chegar lá. “O preconceito era grande, acho que as coisas mudaram porque a gente foi impondo respeito, hoje a aceitação é maior.” Diz que congelaria a vida como está hoje. Não tem saudades do passado. Ao mesmo tempo, não se importa de trazer na identidade o nome masculino. Não quer escondê-lo, só quer ser quem quer ser: uma maquiadora brasiliense de 35 anos. “Tem de decidir o que é”, dirão alguns. Bobagem. “Minha sexualidade é muito bem definida”. Aposto que você se pergunta se ela cortou alguma coisa. Não, não cortou, nem pensa nisso por enquanto.
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com transexuais mostrou que não é fácil, por isso ele não apoiou a transformação de Hellen no início. “Achava que ela não precisava passar por isso, as pessoas mudam, entrar nos lugares é mais difícil, é complicado lidar com esse reencontro com a sociedade”, argumenta. Não é todo mundo que consegue assumir a transexualidade e viver em paz. “A cabeça nem sempre acompanha, muitas se deprimem, vão parar nas drogas, veem que o sonho dourado europeu nem sempre dá certo. Voltam de lá ricas de dinheiro e pobres de espírito.” Você imagina que Hellen tenha problemas com a família. Ela diz que não. Só para não fugir tanto do estereótipo de ovelha negra, é filha
de um militar e de uma evangélica. “É claro que no começo sempre é difícil, mas minha relação com minha família é normal, se preocupam comigo e têm orgulho”, conta. Não é militante, mas sempre vai à Parada Gay “para fazer parte da massa, é um dever”. Só lamenta a passividade desta geração, diz que os jovens não estão muito preocupados em conquistar seus direitos. “A gente teve de lutar muito, mas acho que tudo é uma questão de se dar o respeito para ser respeitada.” Diz que não pensa em casamento, essas coisas, mas, escondida no meio de tantos anéis dourados, está lá a aliança no anelar esquerdo. Tão tradi) cional quanto o sonho de miss. )
E aquele lugar-comum de passar temporadas na Europa? França, Espanha e Itália, Hellen já esteve lá. “O mundo lá fora é diferente, tem menos discriminação, mas minhas raízes estão aqui, sempre volto pelos amigos que tenho em Brasília”, diz. E fica falante novamente. “Amigo você não arruma de uma hora para a outra, tenho muita gente com quem contar, se um cai o outro ajuda.” Uma dessas pessoas é o cabeleireiro Marcos Meireles. Quando Hellen conta como virou Hellen, há uns 15 anos, cita Marquinhos inúmeras vezes. Foi ele o principal responsável por suas produções de miss, inclusive pelos valiosos e trabalhados vestidos. A convivência
Não – O X LI ecer. t n o c a vai
rafania@meiaum.com.br
thyagochs@gmail.com
e tem d a d i nte. c e i A c i f u ade s d i l i b o m
cicero.arte@gmail.com
Texto Rafania Almeida Ilustração cícero lopes Fotos Thyago Arruda
TALVE
Z.
O que está sendo feito para a Copa de 2014 não chega nem perto do prometido em 2007, quando o Brasil ganhou o direito de sediar os jogos. O custo de apenas três obras em Brasília deve passar de R$ 3 bilhões e a cidade não estará preparada
Da euforia à frustração
Brasília
tava pr s e o ã N dá. e u q i a mas v
evisto,
Corredor de ônibus
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Capacitação de profissionais ligados ao setor de turismo
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VLP
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Revitalização da malha viária
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Três trechos de VLT: aeroporto – Asa Sul – Asa Norte 4
Integração do transporte
Acessos para pedestres com reforma e construção de calçadas
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Ciclovias 3
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Ampliação da rede hoteleira
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Ampliação do metrô 2
Reforma do Serejão
Renovação e padronização da frota de táxi
Ampliação do aeroporto
Revitalização do Bezerrão
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Reforma do Mané Garrincha
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Ampliação da capacidade dos hospitais
CE!
leve a m u Só gem. a i u q a m
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18 Quando se anunciou, em 2009, que uma das chaves da Copa do Mundo de 2014 seria em Brasília e que a capital poderia até mesmo receber o jogo de abertura, o então governador José Roberto Arruda prometeu o paraíso aos brasilienses. A cidade não iria poupar recursos para sediar jogos e brigaria pela partida de abertura e para ter aqui o centro de imprensa. Depois da Copa, Brasília seria outra. Tudo se prometia, mas nada se fazia. Eram promessas: transporte coletivo espetacular e integrado, faixas exclusivas, veículos sobre trilhos, ciclovias, acessos fáceis para pedestres, regiões revitalizadas, novos hotéis, centenas de milhares de empregos, preparação de mão de obra, ampliação de hospitais, regularização no fornecimento de energia. Fora um novo estádio, pomposamente chamado de Estádio Nacional de Brasília, sobre os escombros do velho Mané Garrincha. A menina dos olhos de Juscelino Kubitschek passaria a ser, de longe, a melhor cidade do Brasil. A Copa começou a ser vista como a grande oportunidade de Brasília superar velhos problemas e se renovar. Mas veio a Operação Caixa de Pandora, Arruda e Paulo Octávio caíram, políticos e empresários foram flagrados em atos de corrupção explícita. Em um ano, foram quatro governadores. Obras paralisadas, investimentos reduzidos e projetos modificados. E assim sobrou só uma leve sombra daquilo que os brasilienses tanto esperavam. Restaram um estádio em construção, um aeroporto sendo remendado com puxadinhos e dois projetos de transporte público alterados, contestados e paralisados a apenas três anos do evento. O governo do Distrito Federal deverá gastar mais de R$ 3 bilhões só com três obras efetivas: o Estádio Nacional de Brasília, o veículo leve sobre trilhos (VLT) e o veículo leve sobre pneus (VLP), segundo o Ministério Público de Contas do DF. Governo, Terracap e empreiteiras imobiliárias sonham com outra grande obra, que daria muito mais alegria aos cofres da empresa pública e aos especuladores imobiliá-
Governo e imobiliárias sonham com a expansão do Setor Hoteleiro para a 901 Norte. A venda do terreno, estimada em R$ 800 milhões, pagaria boa parte do Estádio Nacional de Brasília.
19 rios do que aos brasilienses: a construção de prédios para hotéis, lojas e escritórios na 901 Norte. Só a venda dos terrenos, pela Terracap, está estimada em R$ 800 milhões e quitaria a maior parte dos gastos com a construção do Estádio Nacional. Inicialmente orçado em R$ 745 milhões, mas com estimativa de que supere R$ 1 bilhão, o novo estádio corre o risco de se tornar um elefante branco entregue às traças, sem eventos que o sustentem, como aconteceu com arenas na África do Sul e até mesmo na Coreia do Sul. A África do Sul gastou mais de R$ 4 bilhões na realização da Copa de 2010 e obteve pouco mais de R$ 500 milhões de retorno, quando esperava pelo menos R$ 900 milhões. Os gastos com a Copa de 2014 devem chegar a R$ 22 bilhões para o governo federal e a estimativa é de que os turistas que vêm para cá movimentem mais de R$ 5 bilhões em receitas adicionais para o País, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas. Isso não paga nem metade dos custos. Terra de gastos Brasília, a cidade considerada a mais adiantada para o mundial e a mais preparada no quesito infraestrutura é a quinta em gastos. De acordo com o Tribunal de Contas da União, a capital federal já tem planilha com gastos estimados em R$ 1,8 bilhão. Perde para São Paulo (que está construindo um novo estádio), Rio de Janeiro (onde será a partida final), Manaus (carente em infraestrutura) e Belo Horizonte (que também sofre de problemas estruturais). Mas com todos os atrasos e aditivos que deverão ser feitos, o custo deverá ultrapassar os R$ 3 bilhões, como avalia o procurador-geral do Ministério Público de Contas do DF, Demóstenes Três Albuquerque. Projetos importantes como capacitação de profissionais, construção de ciclovias, melhorias nas redes de esgoto e de distribuição de energia não foram calculados. O governo de Agnelo Queiroz herdou as expectativas criadas por Arruda, mas decidiu ser mais cauteloso. Apenas o governador
e seu chefe de gabinete, Cláudio Monteiro, podem falar sobre o tema. Monteiro é o secretário-executivo do Comitê Organizador Brasília 2014. O assunto é proibido nas secretarias. Só a Secretaria de Comunicação dá informações. O governo não quer alimentar polêmicas e a desconfiança de que as obras não sejam concluídas a tempo. Brasília, que perdeu o centro de imprensa para o Rio de Janeiro, ainda pode perder a abertura dos jogos para São Paulo ou mesmo para o Rio. Não há nenhum indício de que a capital federal saia vitoriosa e representantes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) já demonstraram preferência pela bem estruturada São Paulo. Na tentativa de evitar um rombo nos cofres públicos e que a população pague por isso, o Tribunal de Contas do DF questionou em 2009 a candidatura de Brasília como sede. “Onde está o planejamento?”, pergunta Albuquerque. De imediato, o governo local apresentou três medidas “urgentes” para sediar o mundial: estádio novo, VLT e três subestações da Companhia Energética de Brasília. Até hoje, só a primeira obra está sendo realizada. “As necessidades são muito maiores”, diz Demóstenes Três Albuquerque. “Não existe informação sobre projetos nas áreas de educação, saúde e segurança”, critica. De Mané Garrincha a mamute branco Os estudos sobre a Copa do Mundo colocam o Estádio Nacional de Brasília (71 mil lugares) – o segundo maior do País, atrás apenas do Maracanã, com 80 mil – como futuro elefante branco, ao lado dos que estão sendo erguidos em Manaus, Natal e Cuiabá. Pela magnitude, está mais propenso a ser um mamute branco. Sem times expressivos, campeonatos importantes ou eventos de grande porte, os estádios nessas cidades não conseguirão se sustentar. Diferentemente de arenas de outros países que sediaram o mundial, não receberam aportes privados, só recursos públicos.
20 Os custos sairão diretamente dos bolsos dos contribuintes, dos cofres públicos, ao contrário do que prometeu o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, quando se anunciou que a Copa seria no Brasil. A arena brasiliense será totalmente paga pelo governo do DF. A estimativa era quitar a dívida com a venda de terrenos da Terracap, mas, com a paralisação do projeto de comercialização do terreno da 901 Norte para hotéis, Agnelo poderá recorrer ao limite de R$ 400 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Se precisar pedir socorro ao BNDES, o valor poderá ser pago em até 180 meses com taxa de juros de, no mínimo, 5% ao ano, sem contar o custo financeiro, que é variável, mas está atualmente em 6%. O Tribunal de Contas da União já questionou o governo local sobre a falta de garantias para arcar com a construção do Estádio Nacional. Desde o início, o Ministério Público do DF e Territórios questionou o número de cadeiras
do Estádio Nacional. Em vez de completar o Mané Garrincha – que tinha 45 mil lugares – fechando seu anel, e adaptá-lo às necessidades da Copa, o governo de Arruda optou pela megalomania e Agnelo a aceitou de bom grado. E assim está sendo construída uma arena com 71 mil lugares. Para o Ministério Público, o número de assentos é muito superior à demanda local, tanto de jogos quanto de eventos. O próprio Agnelo disse, na campanha eleitoral do ano passado, que reduziria os assentos para 40 mil. Alguém o convenceu do contrário. Agora, o governador e Cláudio Monteiro garantem que o estádio conseguirá se manter depois da Copa. O projeto licitado do estádio – cujo valor está em R$ 671 milhões, fora gramado, cobertura, cadeiras e outros itens necessários – não previa acessibilidade para pessoas com deficiência. Foi preciso um aditivo para resolver a questão. “Falam que não será elefante branco, mas também não foi apresentado nenhum planejamento de manutenção e uso para o
A ideia de um estádio de 70 mil lugares é do governo Arruda e foi questionada por Agnelo Queiroz em campanha. O governador agora acha que será possível manter a estrutura.
21 pós-Copa”, diz o procurador Albuquerque. O objeto do contrato é apenas “a execução das obras civis de recuperação estrutural da atual estrutura de arquibancadas, obras civis para adaptação e ampliação das novas arquibancadas, rebaixamento do nível do gramado, construção dos demais ambientes contidos no projeto executivo de engenharia, assim como a execução das instalações e dos sistemas elétricos, hidráulicos, de ar-condicionado e de segurança”. Outras licitações deverão ser feitas para completar a grandiosa obra. Aos olhos do procurador, descaso com o dinheiro público é a única explicação, pois a arena multiuso – denominação usada para o estádio – deverá ser concluída ao custo de mais de R$ 1 bilhão. No primeiro semestre, o TCDF questionou o concreto utilizado, com a mesma qualidade de outros, mas muito mais caro. As empreiteiras voltaram atrás e compraram um mais barato. “O Estádio Nacional de Brasília servirá bem mais do que palco de partidas de futebol”, diz o secretário-executivo do Comitê Organizador Brasília 2014. Cláudio Monteiro afirma que servirá para receber eventos de grande porte, como shows internacionais e convenções. “Não vamos errar como outras cidades que há pouco tempo fizeram reformas grandes e ficaram com estádios que não serviram para nada.” Lojas e restaurantes deverão ser explorados pela iniciativa privada. O aluguel deverá ser caro para chegar aos R$ 10 milhões por ano, pois shows e eventos, tirando o lucro dos artistas e da organização, dificilmente conseguirão alcançar esse montante em Brasília. O cantor Lenny Kravitz teve a oportunidade de fazer show no Mané Garrincha, em 2005, mas se apresentou num espaço vazio, com pouco público, mesmo com a queda do ingresso de R$ 120 para R$ 5 após o início do evento. Shows internacionais na capital costumam reunir, no máximo, 20 mil pessoas, como a banda de rock Iron Maiden, que tocou em 2010. Os mexicanos do RBD foram responsáveis por um dos maiores públicos, cerca de 42 mil pessoas. Uma licitação internacional escolherá uma
empresa de grande porte, especializada em entretenimento, para administrar e pagar o aluguel da arena, “trazendo grandes eventos e shows, gerando visibilidade, emprego, renda e desenvolvimento econômico para a capital federal”. Não há, porém, nenhuma segurança quanto à viabilidade disso. Estudo da consultoria Crowe Horwath RCS, especializada em negócios esportivos, diz que, para um estádio com cerca de 50 mil lugares e custo médio de construção de R$ 500 milhões dar lucro, seria necessário uma receita líquida anual de pelo menos R$ 10 milhões. O ideal seria de R$ 18 milhões a R$ 20 milhões por ano, em 20 anos. No entanto, os jogos locais não rendem mais que R$ 70 mil em um ano. No Brasil, o estádio paulista Morumbi será transformado em uma arena de eventos e já está negociando a exploração do espaço com empresas promotoras de shows por R$ 120 milhões por dez anos. O governo do DF garante que a arena brasiliense está inserida em um calendário internacional de eventos esportivos. Copa das Confederações, em 2013, em seguida a Copa do Mundo; a Copa América, em 2015; e partidas de futebol das Olimpíadas, em 2016. De acordo com o governo do DF, na primeira quinzena de setembro o Estádio Nacional de Brasília estava com 35% da execução concluída e 46% do volume de concretagem finalizado. Da escavação, foram feitos 94%. Dos 288 pilares, 282 foram concretados e 94 dos 96 blocos estão prontos. Sem planejar Nunca foram apresentados aos órgãos fiscalizadores estudos que comprovem a necessidade e a viabilidade das obras. “É assim. Tudo acontece em torno da Copa. O que o povo vai sentir com essas ‘benfeitorias’? Nada. Só estão visando ao lucro. Não tem obra nenhuma voltada para a população.” Quem ataca é o arquiteto Carlos Magalhães, representante do escritório de Oscar Niemeyer em Brasília. Romário, o deputado tetracampeão mundial (PSB-RJ), concorda: “Só eu tive de mudar
Quem já fez Entre os cinco últimos países que realizaram a Copa do Mundo da Fifa estão a França (1998) e a Coreia do Sul (2002). Ambos ganharam a atenção do mundo de forma positiva não apenas durante a realização dos jogos, mas por um bom tempo depois. Stéphane Schorderet, conselheiro de Imprensa da Embaixada da França, e Kyonglim Choi, embaixador da Coreia, avaliam o mundial no país do futebol e na capital federal. Estrutura precária Schorderet – “Indiscutivelmente, o Brasil carece de infraestrutura. Na área de transportes, por exemplo, o trem é um meio fantástico para locomover-se rápido entre cidades com menos de 800 quilômetros de distância. Uma boa rede ferroviária é o que mais faz falta ao Brasil.” Choi – “Sinto a necessidade de construir mais aeroportos nas cidades que vão sediar os jogos com mais urgência, porque a infraestrutura e as condições de transporte atuais das cidades não são suficientes para atender o grande fluxo de pessoas. Portanto, há perigo de se criar um congestionamento grande na Copa. Além disso, Brasília deveria complementar sua rede hoteleira para hospedar os estrangeiros e os brasileiros de outras cidades.” Legado Choi – “A questão mais importante após a Copa do Mundo é o reaproveitamento das infraestruturas. A Coreia está aproveitando os estádios novos e reconstruídos para realização de grandes eventos culturais, concertos, além dos jogos de futebol. Mas ainda não é suficiente para mantê-los financeiramente em algumas cidades. Para resolver esse problema, é importante desenvolver projetos de obra com objetivos de comercialização da infraestrutura existente, para que os estádios sejam multifuncionais e não somente para eventos esportivos.” Deficiências Schorderet – “Infelizmente, Brasília não é uma cidade para pedestres. Não deve ser difícil valorizar os pedestres, com mais calçadas, mais faixas, vias praticáveis permitindo deslocar-se para diversos pontos sem carro. Por exemplo, como você faria para ir da Catedral até a margem do lago, ou da Catedral até as quadras? Além disso, Brasília carece de praças públicas, onde as pessoas poderiam reunir-se, locais de convivência como o Parque da Cidade. As margens do lago também teriam de ser mais valorizadas. Medidas desse tipo dariam mais alma à cidade.” Choi – Enquanto muitos lugares do Brasil são famosos pela natureza exuberante, Brasília é um tesouro arquitetado. Para esse tesouro continuar ao longo do tempo, precisamos preservar e cuidar dele em relação aos aspectos de sustentabilidade e meio ambiente.
R$ 3 bilhões
deverão ser gastos só com três obras para a Copa do Mundo, segundo o Ministério Público de Contas do DF: Estádio Nacional de Brasília, veículo leve sobre trilhos e veículo leve sobre pneus. Projetos como capacitação de profissionais, construção de ciclovias, melhorias nas redes de esgoto e de distribuição de energia não foram calculados.
três vezes de portão ao tentar embarcar no aeroporto de Brasília”, conta o ex-jogador e empresário. Isso porque não estava no horário de pico. “A cidade tem crescido assustadoramente, mas a infraestrutura não acompanha. É um grande problema para os moradores, em primeiro lugar. Imagine em uma Copa.” Ambos são contrários à construção de um estádio (ou melhor, arena) para 70 mil pessoas e temem que a obra fique subutilizada após o evento, pela falta de planejamento, pelo excesso de gastos e pelos riscos. “Brasília pode acabar sediando apenas três jogos, não pensaram no que vai acontecer depois”, avalia Romário. Cláudio Monteiro, que foge dos jornalistas, responde por e-mail: “Estamos tratando disso com planejamento. A Copa dura um mês. Nosso investimento na saúde e segurança é imediato, a médio e a longo prazos, é permanente. O enfrentamento para melhorar esses setores é constante, em respeito ao povo de Brasília e por ser uma política prioritária do governo. Ter saúde, educação e segurança de excelência é uma meta, é um investimento diário”. Romário e Carlos Magalhães discordam. A saúde pública do DF continua precária. Prontos-socorros permanecem lotados.
Faltam leitos. “Não vejo o governo dando importância a isso”, diz Romário, que mora em Brasília. Trem da alegria A maior aposta do governo Arruda era o VLT. Foram muitas as viagens feitas por ele e pelo então secretário de Transportes, Alberto Fraga, para viabilizar o projeto. Rogério Rosso, que completou o mandato de Arruda, também entrou na onda para conseguir apoio da França e da Holanda para o bonde. Porém, os estudos que viabilizariam o transporte que faria a rota Aeroporto – Asa Sul – Asa Norte não eram suficientes para tirar os trilhos do papel. O roteiro inicial previa que as obras começassem em 2009. Além de ter atrasado, o trabalho foi suspenso cinco vezes por suspeitas de irregularidade na licitação, favorecimento na escolha das empresas do grupo Brastram para a execução das obras e falta de estudos. Novembro de 2010 era a nova data para a retomada das obras, até hoje paralisadas. O custo inicial de R$ 1,5 bilhão caiu para R$ 364 milhões, bem como a abrangência da obra, que terá apenas o trecho do aeroporto até o terminal da Asa Sul. Mas os valores podem mudar com a nova licitação.
As obras do VLT foram paralisadas várias vezes por suspeitas de fraude na licitação. A abrangência do meio de transporte teve de ser reduzida para viabilizar o projeto.
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Vai sair, mas vai ser caro O veículo leve sobre pneus (VLP) parece ser a primeira mudança efetiva no transporte
urbano. Após várias contestações e paralisações, o governador Agnelo anunciou, em 25 de agosto, a ordem de serviço para o início das obras, que deverão ser entregues no começo de 2013 ao custo de R$ 530 milhões, R$ 50 milhões a menos que a proposta original. Ao que tudo indica, será a única obra que beneficiará diretamente a população, especialmente das cidades-satélites e das regiões mais carentes, que quiser acessar o centro da capital não apenas na Copa do Mundo. A rota do VLP é de ligação das regiões do Gama e de Santa Maria com o Plano Piloto, via Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). Um transporte passará pela rodoviária interestadual e o outro pelo Jardim Zoológico, até a Rodoviária e a Estação Terminal Sul. Poderá atender 600 mil pessoas. Antes de chegar às obras, irregularidades foram constatadas pelo TCDF. Entre elas a assinatura de contrato com empresa sem o parecer do tribunal, que já havia paralisado o processo por suspeita e exigência de alterações. A redução em R$ 50 milhões foi exigida pelo TCDF na revisão de valores. De acordo com o órgão, a proposta de contrato não respeitava os princípios constitucionais de isonomia e de obtenção de proposta mais vantajosa. A multa de R$ 12 mil foi aplicada ao ex-presidente do Metrô-DF José Gaspar de Souza, que assinou o contrato sem autorização do tribunal e sem sanar as irregularidades constatadas, que passaram dois anos no limbo sem qualquer medida por parte dos responsáveis. O TCDF ainda tem dúvidas de que a proposta apresentada tenha sido a mais interessante, mesmo com a redução do preço, pois as demais empresas concorrentes não tiveram a oportunidade de apresentar novas propostas com ajustes nos valores como a vencedora, o consórcio BRT-Sul. Com isso, não houve igualdade na concorrência. A suspeita do tribunal é de que havia na proposta sobrepreço de R$ 60 milhões. Outro problema foi o licenciamento ambiental. Segundo o procurador-geral do Ministério Público de Contas do DF, o VLP precisa sair do papel em benefício da popu-
lação, mas com ressalvas. Ele acredita que a obra final custará mais de R$ 1 bilhão, com os futuros pedidos e aditivos emergenciais. O fantástico mundo da Copa As informações enviadas pelo governo do DF indicam que o que está sendo feito não chega perto do que a cidade precisa e do que deveria ter sido realizado nos últimos anos. O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, por exemplo, opera acima da capacidade de 10 milhões de passageiros por ano. De acordo com estudo feito pela Fundação Getulio Vargas, já conta com demanda de 12 milhões. As obras ampliarão a capacidade para 18 milhões na Copa. Mas até lá já seria necessário estar apto a operar para quase 20 milhões de pessoas. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, no ritmo que segue a obra só seria entregue em 2017, três anos depois do campeonato de futebol. Devem começar em novembro, próximo ao período de férias. Cláudio Monteiro tenta contornar com outros números. “Hoje, por exemplo, empregamos 2 mil operários na obra do estádio, estamos capacitando outros 2 mil jovens em inglês, francês e espanhol.” Ele prevê a instalação de 2.695 novas microempresas em função do evento, com 8.085 empregos diretos. Segundo Monteiro, Brasília é a única cidade-sede que fará a Copa a pé. Provavelmente ele só considere moradores do Plano Piloto, do Sudoeste e do Cruzeiro, além de turistas maisbem-sucedidos financeiramente que se instalarão em hotéis próximos ao estádio. Ficam de fora os demais moradores, especialmente das cidades-satélites, principais prejudicados pela falta de transporte público de qualidade, e os visitantes hospedados longe do centro. “Temos outras vantagens, como as largas avenidas e a facilidade na mobilidade urbana”, diz Monteiro. Além disso, considera como grande aposta Brasília ser “a capital dos excluídos”. “Nós representamos todas as outras cidades brasileiras que não vão re) ceber os jogos da Copa.” )
O secretário de Transportes, José Walter Vazquez Filho, admitiu que os três trechos não ficarão prontos para a Copa devido às pendências urbanísticas e ambientais. A previsão real é que a ligação para a Asa Sul e a Asa Norte nem sequer saia do projeto. O promotor da Ordem Urbanística Paulo José Leite conta que o projeto foi questionado por sua promotoria e pela do Patrimônio Público. Não previa como o trem seria implementado sem provocar caos, sem afetar o tombamento ou de forma que resolvesse, de fato, o transporte da população. Não foi feita nem a análise de impacto ambiental. Tentou-se instalar então, apenas o trecho da W3 Sul. “Mas isso foge da proposta original, que era facilitar a mobilidade dos turistas”, diz. Além disso, a obra na Asa Sul, via de acesso de ônibus de todas as cidades e bairros do DF, deixaria o local intransitável. O desvio, em um primeiro momento pensado em ser feito para a W2 Sul, é simplesmente impossível. O promotor agora se preocupa em saber quem pagará pelo VLT, uma vez que o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que financiaria parte do projeto, abandonou o trem depois do escândalo da Caixa de Pandora. “Para o Ministério Público, é difícil a implementação se não houver acertos do planejamento da obra e funcionamento da operação”, esclarece. De acordo com o TCDF, a obra custaria mais de R$ 1 bilhão, mesmo incompleta. De onde sairá o dinheiro, nenhum dos dois órgãos de controle sabe. O governo diz que aguarda a liberação do Programa de Aceleração do Crescimento II para isso e para a ampliação da DF-047 (a pista do aeroporto). Só com isso, comemora Cláudio Monteiro, o DF estará recebendo mais de R$ 1 bilhão em recursos públicos federais. A alternativa seria ampliar o metrô até o início da Asa Norte. Mas não há previsão para o início das obras.
Conto
Campo de guerra
Orlando, Distrito Federal
Você pode ser tudo, menos um fraco na capital sentimental do Brasil. É preciso estratégia para não perder tempo e comprar itens das marcas famosas
Texto João pitella Junior Ilustração Rômulo Geraldino pitellajr@globo.com
“Paris jamais acaba”, disse Hemingway, mas para Arnaldo Boavista, morador do Sudoeste, é Orlando, a capital sentimental do Brasil, que nunca tem fim — pelo menos enquanto durarem as liquidações. Arnaldo sabe que essa pequena cidade da Flórida é um campo de guerra. É preciso usar a estratégia certa para não perder tempo e comprar as principais mercadorias das marcas famosas, pelos melhores preços. Antes de qualquer coisa, você não pode ter medo de carregar sacolas pesadas durante toda a viagem e de arrastar malas gigantescas na parte mais dramática da contenda, no aeroporto de volta para casa. Você pode ser tudo, menos um fraco. A covardia é inaceitável. E você precisava ver Arnaldo no Orlando Premium Outlets, “o maior centro de descontos
romulog2000@yahoo.com.br
do país”, na manhã calorenta e chuvosa de 11 de setembro. Como brasiliense, você teria orgulho da bravura daquele general do consumismo insano, daquele arauto da mercantilização da existência. Um líder, um peregrino em busca de brand names que redimem vazios espirituais. Imagine a cena: Tommy Hilfiger, Lacoste, Adidas, Kenneth Cole, Ralph Lauren, Diesel, Calvin Klein — as sacolas das grifes estavam penduradas nas suas costas, braços e ombros como se fossem as armas e equipamentos de um soldado, e o capacete era um boné da Nike. Aquele quarentão de cabelos desgrenhados, ligeiramente acima do peso, era “talvez não uma atração, mas uma vista e tanto”, como os livros de turismo se referem a certos locais exóticos da Flórida. Su-
ado, faminto, com sede, molhado de chuva e queimado de sol no shopping parcialmente descoberto, ele segurava na mão direita um guia das lojas e na esquerda um Nextel. Era com esses instrumentos que Arnaldo, o audaz, mapeava o teatro da operação e fazia contato com a base: — Rô, você viu os preços dos relógios na Michael Kors? Rô não era uma amadora e já tinha visto, mas nem agradeceu ao marido pela dica intempestiva. Ela agora estava ocupada examinando um vestido da Ann Taylor. Ao seu lado, a colega Ju, uma balzaquiana da Asa Sul, conferia nervosamente a sacola de compras da Victoria’s Secret, com medo de ter esquecido alguma coisa. — Rô, olha o corpete sexy que comprei na Vitória. O Du vai fi-
25 car louco. — Amiga, não me desconcentra. Esta hora aqui é muito séria. Irritado com a indiferença de Rô diante do seu contato, Arnaldo se empolgou ao ver a loja da Samsonite. Eles sempre tinham alguma coisa útil para organizar a bagagem, o que era estrategicamente fundamental. Poucos minutos depois, Arnaldo saiu arrastando uma enorme mala de 229 dólares, com quatro rodinhas que giravam 360 graus. — Filhão, olha que pechincha. No Brasil, não custaria menos de R$ 700 — disse Arnaldo, ao ver o adolescente Ricardo no banco em frente à loja, folheando uma revista. Ricardo mal olhou para o novo patrimônio do pai. Usando uma touca velha, óculos grossos e uma camiseta meio amarrotada com o desenho da capa do livro O apanhador no campo de centeio, aquele garoto de 14 anos era o que um amigo pernóstico da família definia como “a antítese da luxúria”. – Ah, pai, você fica nessa de que tudo aqui é barato e sai mais caro no fim. Você vai ter que comprar um monte de coisa inútil pra encher essa mala. Ricardo exagerava no seu desprezo pela religião da família. No templo do capitalismo, era um herege, um pagão. Um insolente. — Cala a boca, menino, você não sabe de nada! Coisa irritante. Rô e Ju interromperam aquele conflito familiar ao surgirem, triunfantes, carregadas de mais sacolas, sem demonstrar cansaço ou fraqueza de espírito. As duas usavam o uniforme do local: camisetas leves, sandálias e shortinhos que revelavam as suas pernas bem torneadas pelas boas academias de Brasília, sem esconder algumas varizes. — Rapazes, o Du está na praça de alimentação. Vamos antes que ele acabe com a comida do shopping — disse Ju, a dedicada esposa de Du. E ela não estava sendo injusta, pois Du já destruía fatias de pizza quando os compatriotas candangos chegaram à food court. — Ainda bem que vocês vieram, porque eu não aguentava mais as conversas fúteis dos
brasileiros aqui nas mesas do lado. Esse pessoal só vem aqui pra comprar. E com tantas opções culturais nesta cidade — reclamou Du. — Opções culturais? — questionou Ricardo. Ninguém prestou atenção ao garoto, pois o almoço do grupo era dedicado aos assuntos adultos: — A Tômi me tira do sério — confessou Arnaldo. — E a Rálfi Lóren? Que preços — disse Rô. — Mas aqui tem brasileiro demais. E quem não é de São Paulo é de Brasília — lembrou Ju. — Eu nunca vi tanta camisa do Corinthians e do Palmeiras. — reforçou Du. — Mas a maioria do pessoal é de Brasília. Hoje eu encontrei aqui a Fê, a Pri, a Flá, a Pati, a Tati e a Dani — contou Rô. — É bom vir a Orlando pra praticar o Português. Lá em Brasília tem muito estrangeiro — lembrou Arnaldo. Ricardo assistia a tudo com perplexidade, mas preferia ficar quieto. O melhor, naquela situação, seria que ninguém se lembrasse dele, mas Du sempre puxava conversa. — E então, rapaz, você vai à Disney ou à Universal primeiro? — Sou velho ou novo demais pra essas coisas. Eu quero ir a uma livraria, mas é difícil achar aqui. Du reagiu com risadinhas grosseiras, antes de voltar a se dedicar aos pedaços de pizza que lambuzavam as suas mãos e ampliavam a gordura da sua barriga. — Esses talheres do shopping não valem nada. Nisso o Brasil é melhor — avaliou Du. — Só que aqui é tudo mais eficiente. Pode ter fila grande, mas você nunca perde tempo. Até na hora de passar o cartão é rápido, não tem aquele negócio de a máquina ficar fora do ar — constatou Arnaldo. — Amiga, você sabia que eu encontrei aqueles óculos da Dolce? Agora estou fashion — informou Rô. — Onde você achou? Na Sângláss Rút? — Ju quis saber. — Na Mêicy’s do Mál éti Milênia — esclareceu Rô.
26
***
Superado o almoço, Rô e Ju estavam prontas para a próxima etapa. Banana Republic, Burberry e Kate Spade seriam um bom recomeço. Rô viu Ricardo no banquinho e o puxou pela gola. — Vem, filho. Você precisa aprender as boas coisas da vida. Ele imaginou que o passeio valeria pela experiência antropológica e foi. No caminho, o vendedor de um quiosque sugeriu: — Ei, rapaz, prova o nosso sorvete. É melhor do que Chica-Bom. É Chica-ótimo. Ricardo fingiu não entender a língua pátria e ignorou a oferta, mas se distraiu e quase perdeu as mulheres de vista. Agora elas estavam numa barraquinha de joias baratas. Ricardo chegou a tempo de participar da conversa puxada pela vendedora americana: — Vocês son brasileirras de onde? — De Brasília. E você fala português? — perguntou Rô. — Aprrendi em dois anos. Se eu non falar, estou morta. — Carrraca, véi. A colonização cultural do Brasil sobre os EUA é amazing — disse Ricardo. — Tenho um relógio bonito parra você, menino. — Time sucks — respondeu Ricardo.
***
Rô e Ju seguiram em frente. Os preços das joias estavam bons, mas as peças não eram de grife e elas não queriam gastar dinheiro à toa. Na loja da Guess, elas esqueceram Ricardo, que continuava observando cada
movimento das ilustres representantes do poderio econômico do DF. Era difícil se movimentar ali, pois os fregueses brasileiros sempre esbarravam em Ricardo. Ele, porém, estava fascinado pelo espetáculo e fazia anotações num caderninho. Trinta minutos depois, Rô e Ju aportaram no caixa. — São trezentos e trinta dólares. Vai pagar com dinheiro ou cartão? — perguntou a balconista. — Cartão. Pode colocar no débito — disse Rô. — A máquina joga automaticamente no crédito. — Ah, no Brasil a gente tem as duas opções — comentou Ju. — Faz tempo que não volto lá — disse a moça do caixa. — Não está perdendo nada, querida — sentenciou Rô. — Você quer fazer uma doação para ajudar as crianças com câncer? Pode ser qualquer valor. — Não, obrigada — falou Rô. Na saída, Ju desabafou com Rô: — Na lojinha do Animal Kingdom, ficaram me chateando com o negócio de dar dinheiro pra salvar os bichos. Entreguei dois dólares. — Você tem mais paciência pra essas coisas, amiga. Você é a boa samaritana — disse Rô.
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À noite, no hotel, Ricardo se movimentava com dificuldade no quarto, tomado pelo entulho das compras. Ao escorregar numa calça jeans da Tommy, ele sentou por alguns minutos no chão para apreciar a vista. Daquele ângulo, Ricardo enxergava uma cordilheira de sacolas de todas as marcas e tamanhos. — Holy fucking shit — disse, entre os dentes. — Você falou alguma coisa? — perguntou Rô do banheiro, onde escovava os dentes enquanto Arnaldo roncava bem alto na cama do casal, com a barriga para cima.
— Sim, mãe. Eu queria saber se vocês podem me levar ao Magic Kingdom. — Claro, Ricky! Ah, finalmente você concordou em ir pra Disney. Que orgulho do meu garoto! — E me diz uma coisa, mãe: posso ficar com algumas dessas sacolas? Elas são tão bonitas… — Lógico, pode pegar todas. Na cama, Arnaldo acordou para reclamar do barulho da conversa, mas voltou a dormir e roncou mais alto. — O seu pai vai ficar elegante com as roupas novas — disse Rô. Na suíte ao lado, Ju experimentava a lingerie sexy da Victoria’s Secret, desfilando cheia de caras e bocas pelo carpete mofado. Du, com a enorme barriga apontada para o teto, roncava de consciência tranquila por ter ajudado a movimentar a economia do país. O dia de batalha no shopping havia sido bastante duro, mas proveitoso.
***
Estava uma bela manhã no Magic Kingdom, onde o casal Mickey & Minnie Mouse recebia os brasilienses de sorrisos e braços abertos. Enquanto Rô e Arnaldo entravam no castelo da Cinderela para tomar o café da manhã mais cobiçado de Orlando, Ricardo se afastava sorrateiramente, carregando na mochila a obra da véspera. Os visitantes de todos os cantos do mundo — de Taguatinga a Campinas, de Águas Claras a Ribeirão Preto — pensaram que fosse mais uma surpresa da Disney. No ponto mais alto do castelo, tremulava a linda bandeira do Distrito Federal, de cujo mastro pendiam, multicolores, os logotipos de grifes que Ricardo havia recortado das sacolas. — What the fuck is that? — perguntou um solitário turista americano. — É uma instalação que eu fiz. O título é “ode ao desperdício” — respondeu casualmente o jovem montanhista e artista plástico, enquanto mastigava um sorvete com o ) formato da cabeça do Mickey. )
— Lá eles têm a Apple. Não posso voltar sem o Ipad 2 — disse Arnaldo. Com ânsia de vômito, Ricardo deixou a mesa e retomou a leitura da revista num dos bancos do shopping. Ju perguntou para a amiga: — Qual é o problema dele, Rô? — Só rebeldia da adolescência. Ele fala que quer ser montanhista e artista plástico. — Que chique! — falou Ju.
Fora do Plano por PAOLA LIMA
paolamlima@gmail.com
Explicações ao povo
Nas propagandas políticas do PT do Distrito Federal, nos últimos dias, o governador Agnelo Queiroz fez mea-culpa sobre a Saúde do DF. Precisou do espaço para explicar à população porque os resultados estão demorando a aparecer na rede pública de Saúde da capital, a despeito do compromisso de campanha do petista de cuidar pessoalmente do setor. A justificativa foi de que os problemas deixados pelos governos anteriores eram maiores do que o esperado na campanha. A explicação para a péssima situação na Saúde não foi o único motivo para levar Agnelo à propaganda partidária. O governo como um todo vem decepcionando a população. A descrença pode ser percebida nas ruas, mas foi registrada claramente em recentes pesquisas realizadas na capital. Levantamento da O&P, de agosto, mostrou que quase 60% dos entrevistados acreditam que Agnelo não está cumprindo as promessas de campanha. O Instituto Mark, em pesquisa de setembro em parceria com o jornalista Cláudio Humberto, revelou que Joaquim Roriz (PSC) seria favorito ao GDF se a eleição fosse hoje. Roriz aparece à frente de Agnelo em pesquisa espontânea (10,6% contra 9,2%) e em estimulada, em que Agnelo, com 15%, aparece só em terceiro lugar, atrás de Roriz (22%) e de Cristovam Buarque (17%) – num claro sinal de que a população preferiria retomar um velho caminho a seguir com o novo.
Batizado de “Agnulo” Se a população anda insatisfeita, mais ainda estão os aliados políticos. Se o povo reclama, por exemplo, de a violência ter crescido 3,4% no primeiro semestre deste ano em comparação ao ano passado, apoiadores políticos reclamam de nunca serem consultados, recebidos ou ouvidos pelo governo. Na Câmara Legislativa, o clima entre Executivo e Legislativo ficou tão pesado que o presidente da Casa, deputado Patrício, petista e um dos primeiros defensores da candidatura de Agnelo ao GDF, tirou de pauta os projetos de interesse do governo. A crise institucional culminou com a troca do secretário de relações institucionais –
de Wilmar Lacerda para José Willeman – e ainda não foi debelada.
Chapa alternativa A troca no interlocutor do governo na Câmara, aliás, não foi a única. Em menos de dez meses de gestão, Agnelo já substituiu pelo menos seis nomes do primeiro escalão do GDF, entre eles os secretários de Segurança e de Educação. Nem assim controlou as crises (internas e externas). Neste mesmo período, o governador enfrentou paralisações e greves de diversas categorias: auxiliares de Saúde, agentes comunitários, professores, auxiliares de Educação, policiais civis, conselheiros tutelares e, a mais recente, rodoviários.
O cenário complicado tem preocupado partidos aliados, que, mesmo a três anos da próxima eleição, começam a se movimentar atrás de alternativas ao governo petista. PSB, PDT e PSol ensaiam uma aproximação para fazer frente a Agnelo em 2014. Nomes são discutidos para uma possível chapa majoritária – com Cristovam Buarque, Reguffe, Rodrigo Rollemberg e Maninha. O movimento ainda é discreto, afinal, muitos apostam que, com os preparativos da Copa do Mundo, se tudo der certo, Agnelo possa conquistar, enfim, os brasilienses. Convencê-los de que o novo caminho foi melhor e, de quebra, emplacar a reeleição.
capa
reincidência
roubo Fo
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vestibular
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família
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Violência
Armado assal
liberdade futuro livros
droga saidão
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a saudade lto crime
29
ei, fora
poder
das regras
Eles chegaram ao mesmo destino, mas cada um tem sua própria história. Com a ajuda dos centros de internação, da Secretaria da Criança e da Vara da Infância e da Juventude, a meiaum conheceu adolescentes em conflito com a lei que não se encaixam nas estatísticas e na imagem que a sociedade tem deles Texto Noelle Oliveira Fotos thyago arruda noelleoliveira@meiaum.com.br thyagochs@gmail.com
arrependimento
preconceito
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João fez questão de escolher o livro com o qual seria fotografado. “Eu ia armado para as aulas, mas ia.”
O
comportamento é parecido. Dos jargões ao jeito de andar. A ideia socialmente construída a respeito de suas personalidades, também. A regra é que os adolescentes em conflito com a lei são socialmente desfavorecidos e, pela certeza da impunidade ou do baixo rigor das medidas aplicadas, cada vez se envolvem mais no mundo do crime. A princípio, a homogeneidade entre jovens que cumprem medidas socioeducativas de internação estrita parece oriunda do próprio sistema e das regras a que estão sujeitos quando vivem em centros de internação. À medida que se conversa com
eles, percebe-se, no entanto, que muito daquelas gírias e padrões de comportamento eles trazem de fora, dos grupos a que tanto quiseram se integrar e que, por tamanha dedicação, acabaram levando-os a estar ali. O andar ensaiado, as mãos para trás, e os olhos que teimam em se fixar no chão fazem crer que todos são iguais. As histórias de vida nos revelam que pode ser mais complexo do que estatístico entender por que muitos deles seguiram esse caminho. Perfil divulgado em maio pela Promotoria de Justiça da Infância e Juventude, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) traça, em números, uma linha geral sobre quem são esses ado-
lescentes na unidade da Federação. A forte presença masculina entre os infratores, a baixa escolaridade e a desestruturação familiar são comprovadas. Segundo dados do MPDFT, em março deste ano havia 481 jovens internados, dos quais 116 foram sentenciados por assassinato e 40 por latrocínio. Conversar com as exceções, no entanto, nos mostra como esses adolescentes podem estar próximos de uma parte da sociedade aparentemente distante dos temerosos números, e que se considera blindada de ver seus filhos como integrantes desse perfil. Um adolescente que morou na Asa Norte, com a família presente, estudou anos no Colégio
Militar e prestou o último vestibular da Universidade de Brasília (UnB) – destacando-se pelo bom comportamento estudantil – fez parte do grupo de jovens que cumpriu medida nos últimos dois anos em centros de internação do DF. Era, justamente, a primeira história selecionada pela meiaum para contar aos leitores. Mas a estatística se antecipou à reportagem e levou Igor* a fazer parte do número de adolescentes já envolvidos com criminalidade assassinados no DF. Ele foi morto no fim de semana anterior ao em que seria entrevistado. Devido ao benefício do saidão, estava em uma rua de Planaltina, de bicicleta. De exceção, passou a representar mais um número.
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90,5% admitem já ter sido reprovados.
João, sentenciado
por tentativa de homicídio, nunca repetiu.
Basta João* entrar na sala de atendimento psicossocial do Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (Ciap) para a imagem do perfil de adolescente infrator se desfazer. Tem fala articulada e atribui tamanho desenvolvimento aos estudos. Acaba de ler O amor bate à porta, de Fernando Pessoa, e prestou o último vestibular da UnB. “Não passei, mas é complicado estudar aqui, né?”, pondera o jovem de 18 anos. O rapaz que antes chorava nos dias de chuva por não poder ir à aula – a mãe o levava a pé – cumpre há nove meses medida privativa. Foi sentenciado por tentativa de homicídio. Atacou com um punhal dois homens. Segundo dados do MPDFT, a maioria dos adolescentes que cometeu atos infracionais no DF está no ensino fundamental: 55%. Mais de 90% já repetiu o ano. “A reprovação é consequência da evasão escolar”, afirma o promotor de Justiça Renato Varalda. “Isso se dá porque eles não se sentem atraídos pelo que o universo escolar oferece.” Com João foi diferente. Chegou ao Ciap no terceiro ano do ensino médio e lá concluiu os estudos, em idade regular. “Nunca deixei de ir à escola, eu ia armado para as aulas, mas ia”, lembra. Adora matemática e sempre se desta-
cou em inglês, disciplina na qual foi monitor. “A professora dizia que eu era um dicionário vivo”, vangloria-se. O que atrapalha seu currículo são, além da passagem que o levou à internação, outras por porte de drogas e de armas e roubo. A primeira arma, achou em um matagal. “Era cromado, troquei por dois e a partir dali nunca mais andei sem arma.” O garoto, que quer ser advogado, não abandonou a paixão pela literatura. Escolhe na prateleira o livro com que quer ser fotografado, Uma escolha, um destino, do general Souto Malan. Explica: “O crime é sujo, mas não aceita falhas. A partir de agora não posso falhar na minha vida”. Diego*, que cumpre medida de internação estrita há dois anos no Centro de Internação de Adolescentes Granja das Oliveiras (Ciago), faz o caminho contrário. Criou gosto pelos estudos após ter a liberdade privada. O menino que já foi expulso do colégio e abandonou os livros agora está concluindo o segundo ano do ensino médio. Foi aprovado para a escola técnica. A intenção é criar uma nova opção de vida e deixar para trás o histórico, que, no seu caso, traz uma sentença por homicídio. “Seja qual for a ordem, o que importa é estudar”, conclui.
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33
17 anos é a idade
mais recorrente. 31% estão nessa faixa etária.
Alan e Pedro
foram precoces. Aos 14 anos tiveram a liberdade restringida.
Alan chegou ao Ciap com 14 anos. Acredita que tenha entrado no crime aos 8. Hoje, aos 17 anos, é representante do módulo em que vive, conhece as regras e sabe os direitos dos internos.
Alan* tem 17 anos, mas chegou ao Ciap com 14. Acredita que tenha começado no crime aos 8. Cresceu na detenção e ainda é conhecido como o caçulinha entre os técnicos. Guarda a inquietude de quem não sabe o que é ser um adolescente livre. Após dois anos em regime fechado, há sete meses pode sair do centro nos fins de semana. Com os olhos voltados ao chão e a cadeira a girar, é assim que revela aos poucos flashes não cronológicos de sua história. O garoto, que parece tímido, é o representante do módulo em que vive no Ciap. Sabe as regras de atendimento, os direitos de seus pares e é convocado pelo grupo para representar todos em busca da ampliação do horário de banho de sol, reduzido recentemente por questões técnicas. Ele mesmo acha difícil explicar como foi parar ali com tão pouca idade. “Quando cheguei era revoltado, furava o chão para arrancar ferro, jogava a xepa [marmita] na cara dos agentes”, admite. Jura que nunca teve arma de fogo. “Só usei arma branca e nunca matei ninguém.”
Foi sentenciado após roubar a um pedestre no Plano Piloto e ter outras passagens por delitos semelhantes. “Não achava que ia cair”, diz. Se o assunto é a família, fala da mãe como o centro de sua vida. Revolta-se ao citar o pai. Nunca o viu. A figura paterna está presa em São Paulo e é matador. “Já deixei de morrer várias vezes porque sabiam que eu era filho dele e depois ia sujar”, conta. A mãe “está por aí” e os irmãos vivem em abrigos, assim como ele viveu um dia. Diferente de Alan, a pouca idade não inibiu Pedro*. Com 14 anos, o adolescente falante cumpre medida no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) há cinco meses. Já morou em orfanato, abrigo e albergue. Conta os crimes que cometeu com desenvoltura. Entre as narrativas, um assalto a banco e o roubo a uma joalheria. Foi apreendido porque sequestrou um homem. Drogado após tomar uma cartela de rupinol (medicamento psiquiátrico), roubou, espancou a vítima e a abandonou em um matagal. Hoje, Pedro divide o quarto com dois adolescentes. Um deles é seu irmão, que completou 18 anos com uma ficha bem mais extensa do que a do caçula. Apesar do exemplo familiar, diz que vai mudar. “Meu irmão tem a mesma cabeça ainda; eu não, vou sair dessa”, afirma. A mãe também já foi ligada ao crime. “Não quero meus irmãos mais novos nessa vida, repito isso toda vez que ligo para eles.” Para o professor Antônio Flávio Testa, especialista em Segu-
rança Pública da UnB, o governo deveria investir em políticas de prevenção no lugar de um único esforço pela reeducação. “Há casos passíveis de recuperação, mas, na maioria, o que vemos são episódios de reincidência, ainda mais quando pegamos adolescentes tão novos e já muito envolvidos”, considera. Destaca, ainda, a falta de políticas públicas voltadas à juventude. “Nesse cenário, fica cada vez mais difícil impor limites a um adolescente de 13 anos”, avalia. A pouca idade de Pedro não o impede de traçar características para indicar quando um adolescente está entrando na criminalidade. “Começou a faltar aula, a trocar de roupa na rua, a frequentar festas em horários estranhos, já pode saber”, revela. Dentro do Caje, pela primeira vez, os papéis se inverteram. “Minha tia me ligou e disse que tinham roubado o carro dela em Taguatinga, fiquei muito nervoso”, conta. Descobriu que o primo do menino com quem divide o quarto era o autor do roubo. “Liguei para ele e falei para devolver, ele deixou o carro abandonado no estacionamento do Hospital de Ceilândia”, conta, com a naturalidade de quem não percebe que, mesmo por trás das grades, permanece ligado ao mundo criminoso. Aproveita o fim da entrevista para, de longe, observar o movimento dos carros em um dia ensolarado. “Só queria estar na rua tomando um sorvete uma hora dessas, me leva?”, despede-se, com um pedido típico de alguém que tem pouco mais de uma década de vida.
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90% são do sexo masculino. Quase
Lígia e Kelly
passaram de princesinhas a acusadas de crimes contra a vida.
O cabelo longo, negro e de fios cuidados esconde um olhar sereno. Lígia* tem 20 anos e é mãe de uma criança de 5. É uma das poucas meninas internadas no DF. Cumpre a medida no Caje, único dos centros que tem ala feminina. A simplicidade da camiseta branca folgada é disfarçada pelo esmalte vibrante e um fino anel dourado. Vivendo em Ceilândia Norte, com os pais e a avó, aos 13 anos começou a namorar e aos 15 engravidou. Foi morar com o namorado, que sempre trabalhou e sustentou a casa. Um ano e cinco meses depois, se separou. Foi aí que passou a fazer parte de um mundo cada vez mais próximo da criminalidade. “Voltei para casa e comecei a conhecer as más influências”, lembra. Festas, bebidas, drogas tornaram-se rotina. Lígia se envolveu em um latrocínio em 2008. Estava com mais uma menina e dois rapazes em um táxi, saindo de uma boate. Sem dinheiro, um dos meninos atirou e matou o taxista. Dos envolvidos no crime, um morreu, um foi liberado e a outra menina fugiu. Para Carlos Salgado, médico psiquiatra e presidente da Associação de Estudos Sobre Álcool e Drogas, as drogas lícitas são umas
das pontas que rapidamente levam o jovem à cocaína, ao crack e à criminalidade. “Não adianta se preocupar apenas com o ilícito, esse é o grande erro dos pais e responsáveis”, considera. Kelly*,de 17 anos, está no Caje há cinco meses. É a mais nova de uma família com cinco moças e um rapaz. A mãe morreu quando ela tinha 9 meses e o pai sempre ficou distante. Foi criada pelas irmãs. Estudava e trabalhava em uma loja na área central da capital. Foi um casal de amigos de infância que a levou para o crime. Antes, já tinha abandonado a família, mas sempre que as coisas apertavam ligava para as irmãs e pedia dinheiro. Ela, uma maior de idade e outro adolescente mataram um homem. “Não ajudei a matar, mas estava lá.” Não conta uma história precisa, mas trechos sem lógica cronológica. Dá a entender que a vítima queria abusar da amiga e o grupo revidou. “Depois ficaram com medo dele e resolveram matá-lo, com facadas”, lembra. Diz que não precisava estar ali, sempre teve tudo. “Minha irmã disse que esperava que eu fosse capaz de qualquer coisa, mas nunca de tirar a vida de alguém.”
Foi com o dinheiro dado pelos pais que Paulo, o playboy, começou a comprar drogas. A família sofre com a saudade e o preconceito de quem se afastou em razão do homicído que o rapaz cometeu.
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Apenas
5,2% têm pai.
Paulo
O pai de ainda chora cada vez que visita o filho condenado por matar uma mulher.
Francisco
O de leva adubo para o filho trabalhar na horta.
Lígia está na ala feminina do Caje por ter se envolvido em um latrocínio. Diz que entrou no crime por causa de más influências.
Paulo* morava em Planaltina, com os pais e os dois irmãos, antes de passar a viver no Ciap. O pai trabalha como maître no Plano Piloto, a mãe também tem emprego fixo. Foi justamente com o dinheiro dado pelo pai para lanches na escola ou para outros pedidos que Paulo começou a comprar drogas, ainda com 15 anos. Tempos depois estava roubando e foi sentenciado por homicídio. Queria matar um homem, devido a rivalidades no crime, e acabou tirando a vida da mulher que acompanhava o alvo. “Eu atirava para matar, para ver cair, não tinha motivo especial, não.” O próprio adolescente, de 16 anos, se entregou à Delegacia da Criança e do Adolescente. Não dá detalhes de sua vida. Conta que usava poucas drogas e que por muitas vezes foi alertado pelos pais para deixar o crime. “Viam que eu estava pegando o caminho errado, tentaram fazer de tudo, mas não adiantou”, lembra. “Fazia pela aventura, achava bonito”, conta. Seus pais se revezam nos fins de semana para
visitá-lo. A família sofre, ainda, com o preconceito. Amigos se afastaram, ninguém imaginava que aquilo poderia acontecer com um jovem tão próximo. No Ciap, a diferença entre Paulo e os demais faz com que o chamem de playboy. O forte vínculo com o pai, faz questão de destacar. “Ele é meu amigo”, diz, com a consciência de quem sabe que é raridade entre os demais. O amor pela mãe está registrado em uma tatuagem, que mostra com orgulho. “Ela chorava muito, meu pai ainda chora, tem dia que eu vejo a lágrima saindo do olho dele”, diz. O pai de Francisco*, de 17 anos, é hoje, ainda mais, um companheiro. Leva adubo para a horta do Ciap, umas das atividades preferidas do filho, internado há sete meses. A mãe, também presente, se encarrega de comprar pizzas e biscoitos recheados. Francisco é considerado exceção em termos de comportamento. É citado por técnicos e professores como bom exemplo. Os olhos atentos não se perdem e a concentração ao res-
ponder demonstra interesse em entender a própria história. O terço no pescoço é adorno. Ele não é religioso, mas acha bonito. “É bacana, não?” Morador do Vale do Amanhecer, Francisco foi sentenciado por participação em um latrocínio no Plano Piloto. Duas passagens por roubo já haviam lhe rendido o cumprimento de um período em semiliberdade. “Eu roubava carros porque achava massa dirigir”, lembra. Se antes o sonho era servir o Exército, agora quer fazer um curso de inglês para trabalhar na Copa do Mundo. “O esquema é mudar de vida, minha mãe é uma pessoa mais triste desde que cheguei aqui, preciso sair”, repete para si mesmo. Já pela vontade de Adriano*, interno do Caje, os pais nunca deveriam visitá-lo. Seus vínculos com a família são tão fortes que ele precisou deixar sua casa para seguir no crime. “Não dava mais, estavam pegando muito no meu pé e hoje vejo que com razão”, diz. Foi aos 17 anos que resolveu morar sozinho. Com a mesma idade, ganhou passagens policiais – por porte de drogas, tentativa de homicídio e roubo – e cometeu um latrocínio, pelo qual foi sentenciado. Hoje, com 19 anos, já cumpriu um ano e cinco meses de medida. “Se não tivesse vindo para cá ou eu estava morto ou estaria lá na Cascavel [um dos setores do Complexo Penitenciário da Papuda]”, diz. Tudo o que quer agora é fazer o caminho contrário e voltar a morar com a família. “Queria que eles não passassem nem aqui na porta, prefiro a saudade.”
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Dos que trabalhavam, 47,1% o faziam por necessidade pessoal e 21,3% pelo sustento familiar.
Alex
tinha passagens para a Disney quando foi sentenciado por latrocínio.
Alex* é tímido e reservado. Tinha passagem comprada para viajar com a mãe e o irmão ao exterior quando foi sentenciado por se envolver em um latrocínio. Não gosta de falar sobre o ato que cometeu, foge do assunto e dos detalhes. Está longe de ser um menino que se envolveu na criminalidade por falta de suporte financeiro. Estudou em colégios particulares do Plano Piloto e cursou parte do ensino regular no Colégio Militar. Deste, foi expulso por mau comportamento. Com 18 anos, já concluiu o terceiro ano do ensino médio e recentemente começou a cursar a escola técnica. Há um ano,
cumpre medida socioeducativa de internação estrita no Ciago. A mãe é servidora pública. “Minha mãe veio para Brasília para trabalhar como doméstica, sem o meu avô querer, e hoje é o meu grande exemplo de vida”, orgulha-se. A matriarca sempre garantiu ao filho mimos como celular, tênis, roupas de marca e computador. Para tanto, fazia questão de que Alex soubesse o valor do dinheiro. “Ela pedia para eu lavar o carro, algo assim, eu achava chato, queria dinheiro fácil”, reconhece o adolescente. Foi no crime que ele encontrou. Pai de uma criança de 1 ano, Alex também foi precoce para se envolver com a criminalidade. Aos 12 anos, amigos de uma região administrativa de classe média, onde morava, lhe apresentaram o novo mundo. Desde então, nunca mais parou. “Como minha mãe sempre trabalhou muito nem via o que estava acontecendo”, diz. Recusa-se a falar do pai e demonstra incômodo ao dizer que passava dias com parentes, sem ver a mãe. Conta os segundos para ter a liberdade de volta. O tempo é ocupado pensando no que pode ser diferente daqui para frente. A mãe, mais uma vez, é o incentivo. “Em uma família com 12 irmãos, que passava fome, ela superou tudo e deu certo, eu também quero mostrar que sou capaz”, planeja. Quer estudar, fazer faculdade de direito e passar em um concurso público para ser juiz. “Vou usar a capa preta”, sonha.
52,6% praticaram atos graves.
Bruno matou
UM comerciante.
Alexandre foi
informante de um roubo. Ambos cumprem medida de internação. O tipo galã logo chama a atenção. Bruno* vai direto ao assunto. Sai todo fim de semana e revela que só anda armado. “Não me sinto seguro sem uma arma, tem muita gente por aí que quer me matar”, justifica. Diz estar determinado a mudar de vida. Cursa a quinta série, não porque goste de estudar. “É a forma de sair mais rápido daqui”, explica. Ainda estava com 11 anos quando começou a se envolver com o crime. Agora, com 19, é pai de uma menina que vai completar o mesmo tempo de vida que o pai tem de acautelado no Ciago: 2 anos. Matou um homem durante um assalto. “Ele tentou tirar a arma da minha mão e eu atirei”, conta. Quem o entregou foi um comparsa. “Tentei matar ele lá no Caje, mas não consegui”, completa. Traficando drogas, chegou a ganhar R$ 3 mil por dia. Comprou casa, carro, moto. “Um cara com 14 anos pegando mulher de 20 fica doido.” Fazia cada vez mais dinheiro. Com R$ 6 mil, comprava 1 quilo de cocaína e “disso tirava R$ 15 mil, sossegado”. Não se lembra, porém, sequer de uma noite
que tenha dormido “com a cabeça tranquila”. Do grupo que andava com ele, dois estão mortos, um se converteu a uma religião e o outro levou um tiro na cabeça, que o deixou com sequelas mentais. A privação de liberdade também foi a sentença de Alexandre*, há oito meses no Ciap. Com 17 anos, participou de um roubo. Sabia o dia a dia de uma casa em que tinha trabalhado e repassou as informações. “Acho meio injusto já puxar logo isso, nem pegar semiliberdade”, diz. Conheceu a criminalidade aos 10 anos, depois de largar os estudos. “Vi meu pai morrer e perdi a vontade de tudo.” Aos 15, começou a trabalhar como estoquista no Plano Piloto porque a namorada havia engravidado. Meses depois, ela perdeu o bebê e a nova decepção o fez mais uma vez abandonar tudo. O atual desafio é aprender a tocar violão. “É difícil, mas estou me esforçando.” De acordo com a Secretaria da Criança, 88 adolescentes cumpriram medida socioeducativa em semiliberdade no DF em 2010, enquanto 2.223 estiveram em liberdade assistida.
46,2% são reincidentes.
Daniel
passou mais de um ano no Caje por matar duas pessoas. Hoje, trabalha em um órgão público. Há quase um ano Daniel*, de 20 anos, trabalha como terceirizado na Justiça Federal. De terno, centrado, ninguém ali sabe a sua história. Ainda se envergonha, por mais que se ache vitorioso. Passou um ano e meio no Caje, onde cumpriu medida de internação após matar um casal por acerto de contas. Já controlou o tráfico de drogas em uma região administrativa e matou para vingar um amigo, assassinado dias
antes. “Nem sei direito quem eram, nem como matei”, diz. Com o salário, paga a faculdade na área de informática, uma televisão e um computador, sua grande paixão. “Desde que saí usei a estratégia de ocupar todo o meu tempo, é o único jeito de não voltar”, diz. Quer mostrar que o caminho tem volta. O rapaz que já perdeu noites de sono com medo de ser preso, hoje chega a acordar de madrugada pensan-
do em trabalhos universitários e provas. “Não é nada diante da perturbação que tinha na cabeça quando estava no crime”, avalia. A família demorou a se acostumar com a ideia, mas apoiou a recuperação. “Esse medo de decepcionar pessoas tão próximas novamente é o que me fez mudar.” Pai, mãe e irmão se engajaram na causa. Morando no mesmo lugar, o jovem, no entanto, ainda teme as “guerras”. Vive atento e planeja, assim que tiver condição, se mudar. “Sei que a minha cabeça ali vale ouro.” A próxima superação é ser capaz de assumir seu passado. “Esses dias quase pulei da janela do ônibus, uma menina da minha rua falou bem alto que eu era um homicida, como se fosse um prêmio”, conta. Em outros tempos foi o prêmio defendido, com armas, por Daniel. ) Hoje, é seu maior segredo. )
Por mais que se considere vitorioso, ele tem vergonha do passado. “Desde que saí usei a estratégia de ocupar todo o meu tempo, é o único jeito de não voltar.”
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.
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Artigo
Brasília e a sombra do Brasil
O poder que emana da capital é a base para todas as virtudes e os problemas de uma nação
Texto João Rafael Torres Ilustração francisco bronze consulta@tarotanalitico.com.br
bronze@grandecircular.com
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O
hino autoproclama Brasília como a Capital da Esperança. Os rocks dos anos 80 a reduziram à capital da corrupção. A cidade é o centro das oportunidades para milhares de jovens que aqui aportam, atraídos pelas chances de altos salários e estabilidade dos empregos no setor público. Na cabeça de milhões, ela é um ente mágico, que projeta sobre os brasileiros uma série de expectativas e de frustrações. O poder que emana da capital é a base para todas as virtudes e os problemas de uma nação. No caso de Brasília, as notícias de falcatruas e descaso com o dinheiro público transformam-na em um gênio demoníaco. A cidade aparece como o reverso de um povo tão alegre, honesto e solidário. A observação apurada que estabeleceu sobre a alma humana fez com que o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung percebesse a presença de um aspecto interessante no dinamismo da psique: uma sombra simbólica, formada por tudo que o ego, o centro da consciência, reprimiu ou nunca acolheu. São muitos os motivos para que um motivo se torne sombrio: a repressão, o recalque, o medo e a falta de energia para se tornar consciente. Na prática, é como se tivéssemos uma casa ampla, com uma bonita fachada e bem mobiliada. No subsolo, longe do olhar dos visitantes, a casa esconde um grande porão. O local é perfeito para abrigar aqueles conteúdos não tão bonitos, nem tão louváveis ou pertinentes, como aqueles que gostamos de ostentar um andar acima. Mas não devemos confundir o porão com um depósito de coisas desagradáveis, somente. Lá também são guardados os elementos que são grandes demais para ocupar o piso térreo. Assim sendo, a sombra não se transforma em algo bom ou ruim, niilista. É o inconveniente, o avesso da alma: por mais esforço que se tenha para ignorá-lo, ele está presente. A sombra acaba sendo enxergada a partir de projeções: os defeitos que nos compõem nos saltam aos olhos quando vistos como “defeitos dos outros”. Incomodam, perturbam e desencadeiam uma série de emoções inegáveis. Geram críticas ferrenhas, despertam o desejo de “correção”: tenta-se eliminar no outro aquilo que se quer eliminar em si próprio. Uma batalha em vão, que acaba por reforçar tais características. Se pensarmos em cada nação, partido, religião etc. como um organismo único, podemos enxergar com nitidez uma sombra que se forma sob seus pés. Nela, encontram-se os preconceitos e dejetos negados pela co-
letividade daquele grupo, tudo aquilo que não é bom de ser reconhecido. Mas que, no fundo, também faz parte do histórico daquela gente. Instituições que combatem ferrenhamente a corrupção aninham ladinos em seu seio íntimo. Na necessidade de pregar a moral exacerbada, cometem-se crimes contra a vida e a dignidade humana. Combatem-se demônios exteriores para punir a própria vontade de exercer o mal. A insegurança sexual que se vive é combatida, a socos e pontapés, quando o que é bem resolvido com seu desejo se coloca à frente. Sombras falam pela intransigência. Deus é brasileiro, mas parece que é o diabo quem habita a cabine de comando do País. Assumir-se brasiliense ainda é um exercício de coragem: seja para lidar com o fascínio daqueles que enxergam essa aura de poder pairando sobre a cidade, ou para lidar com o preconceito de quem a vê como um balcão de recrutamento de trambiqueiros engravatados. Projetar os aspectos sombrios no outro é uma estratégia do ego para isolar a sombra fora do eu. Talvez por isso os brasileiros, de Norte a Sul, enviem para cá grossas remessas de seus porões a cada mandato: coronéis, palhaços, retrógrados, conservadores, aproveitadores, criminosos... Desembarcam aqui a mancheias, a cada mandato, para definir os rumos políticos. Comandam, assim, uma nação ignorante de sua própria sombra. Gente que tenta isolar, nos Três Poderes, os aspectos de si que desagradam e amedrontam. Brasília se transforma no cárcere para a sombra do Brasil – prisão luxuosa e farta, invejável para a maioria dos filhos da terra, que se intitulam “espertos” por natureza. Brasília, enquanto capital, não tem a permissão de simplesmente ser mais uma cidade. Talvez pelo histórico recente, e crescente, de escândalos políticos aqui desencadeados. Talvez pela juventude da cidade, que ainda não a fez aflorar com uma identidade única, não institucional. Talvez por ambos, e por uma série de outros motivos que contaminam os porões da alma do brasileiro.
Deus é brasileiro, mas parece que é o diabo quem habita a cabine de comando do País. Assumir-se brasiliense ainda é um exercício de coragem.
Conto
No meio da noite...
O pedido
Como não responder ao apelo daquela estranha mulher tão confiante e dona de si?
Texto Rodrigo Fernandes Ilustração Cláudia dias oficinadaspalavras@yahoo.com.br
Atravessou a porta de vidro e imediatamente percebeu que nunca pusera os pés num lugar como aquele e nunca o faria, não fosse por pura necessidade. E necessidade – isso ela admitia tranquilamente – era algo com o que não tinha a mais remota intimidade. A intenção era que o ambiente fosse algo acolhedor, mas a falta de cuidado tornara o conjunto apenas cinzento. Havia uma recepção e nela uma jovem de cabelos presos e brincos de discreto bom gosto. Um homem de terno amarfanhado a provocava com gracejos e ela respondia na mesma medida, entrando no jogo, testando-o. Ele então recuava, fazendo rodar a aliança no dedo, lembrando-se da foto na carteira e do casamento que
claudiadias@gmail.com
na medida do possível, ok, ainda era satisfatório. Nenhum dos dois lhe dirigiu qualquer palavra, ficando subentendido que a discrição ali era uma norma. Não havia mais ninguém e ela decidiu esperar, primeiro em pé, depois sentada em um dos muitos bancos vazios. Lá fora, coisas aconteciam na cidade que se fizera grande. Não merecia ser chamada de satélite, era já um mundo complexo. Devia ser o princípio da madrugada, pois o movimento do trânsito diminuíra e apenas alguns táxis continuavam a rodar incansáveis. Um ou outro grupo de bêbados – ali era uma região de bares pobres – passava fazendo algum barulho, mas essa era uma falsa ameaça. Ajeitou o xale
que trazia sobre os ombros. Estava frio, mais lá dentro que na rua, e lembrou-se sem qualquer sobressalto de que aquele era o primeiro dia de inverno no cerrado. O homem do terno fora embora, substituído por um policial que carregava uma metralhadora a tiracolo e ao encostar-se no balcão a jogava de lado, sem o menor cuidado, como se faz com uma bolsa. Apanhou no banco ao lado uma revista há muito esquecida ali, mas não se concentrou sequer nas fotografias. A arma poderia disparar a qualquer momento. Dessa vez a conversa com a recepcionista era num tom baixo e segredável. No momento em que decidiu sair surgiu o delegado trazendo um homem gordo e cabisbaixo
41 pelos ombros e ela pôde ver com detalhes as algemas brilhando. O delegado entregou o homem ao policial e, antes que ele sumisse corredor adentro, a mulher interpelou-o. Delegado, ela disse. Doutor delegado, ela corrigiu-se, mas imediatamente arrependeu-se, pois ele era ainda muito jovem e talvez fosse avesso às formalidades. Num gesto automático ele passou a mão pelos cabelos e alguns poucos fios brancos sobressaíram como elementos estranhos, assim como o colete à prova de balas e a pistola que trazia na cintura. Embora houvesse um notável esforço em parecer que tudo aquilo fosse natural, os apetrechos não combinavam com seus movimentos. — Senhora. Em que posso ajudá-la? O delegado estava desperto e era assim noite após noite desde que trocara de turno. No plantão noturno rendia mais. De dia, quando o calor o amolecia e encharcava-o de suor, teria pouca coragem de parar e conversar com aquela mulher. Também a olhara de cima a baixo, primeiro como um ato inerente ao seu ofício, depois com curiosidade. Mulheres discretas que falavam baixo, pouca maquiagem e apenas uma ideia de perfume – tudo isso ele reparou em segundos – não costumavam resolver seus problemas naquela delegacia, menos ainda àquela hora da noite. Essa constatação era também uma acusação, como se dissesse: ei, que diabos você está fazendo aqui? Bem, ele pensou, talvez valesse a pena perder alguns minutos antes de encaminhá-la para o detetive de plantão. — Vamos até minha sala, sim? Ela havia tirado os sapatos e ele esperou calçá-los, a mulher, porém, nem sequer os procurou e seguiu com ele apenas com uma tornozeleira dourada.
***
Sentada atrás da mesa permanecia muda, observando ora o gabinete, ora o próprio delegado que tentava colocar em ordem alguns papéis antes de acomodar-se. Desistiu. Ela
fixou-se numa reprodução d’A Batalha dos Guararapes que tomava dois terços de uma das paredes. Ele tirou a arma do coldre e guardou-a na gaveta, mas permaneceu de colete. — Não é tão óbvio quanto parece. Ele disse como se defendendo. Militares em combate, armas, história, ufanismo... Não é bem isso. Ela limitou-se a balançar a cabeça. — É sério. Tudo bem, confesso que não caio de joelhos por arte contemporânea, mas o que me interessa é o que está por trás do quadro. — E seria... — Ah, o século dezenove. Sou apaixonado pela época. Fascínio mesmo. Grandes obras, grandes artistas, grandes mudanças e até grandes políticos... Tudo bem, confesso de novo, sou um nostálgico. E antes que você estranhe sou delegado há pouco tempo, recém-transferido, ainda não deu tempo de engrossar o couro. — Artes, homens. Certa vez conheci um homem que adorava ouvir ópera, mas jamais as assistia, nunca ia a um concerto. Tinha medo de se decepcionar. — Por quê? — Ele achava que um nariz torto de um músico, um dente fora do lugar, uma verruga podia macular a boa música. Artes, homens. Ela fez menção de um sorriso, mas algo incidiu sobre seus olhos escurecendo-os. Ele talvez estivesse sendo cordial demais. — Por que está aqui, senhora? — Senhorita. Todos me chamam de senhora, mas de fato nunca me casei. — Quer comunicar alguma queixa? Tentou encontrar algum indício. Manchas roxas nos olhos, no canto da boca, nas têmporas, mas tudo que concluiu, de uma vez por todas, é que era uma mulher de classe. — Não vim por mim, vim por uma moça que eu ajudo. Ela novamente baixou os olhos e as sombras dançaram. — Eu ajudo algumas pessoas, faço o que posso quando me chamam. Temos que seguir nosso destino, não?
42 Mesmo há pouco tempo naquele universo, já sabia de todos os tipos de chantagens, subornos, propinas e acertos, na verdade eram essas as primeiras lições a ser aprendidas, para o bem e para o mal. Havia sexo também, claro. Pela primeira vez despertou para a verdade mais óbvia: dinheiro, sexo, respeito, não havia nada a perder, aquela era uma boa profissão. Sentiu uma incrível necessidade de dar uma gargalhada, mas limitou-se a secar o suor do rosto. — Irei? A senhorita é uma mulher muito dona de si, muito confiante. — Não me julgo, isso está longe de mim. Mas para ser honesta com o senhor estou acostumada a ser atendida, sim. As pessoas confiam em mim, na minha posição, embora só me mostre muito raramente. Ela disse isso com uma segurança que arrepiou o delegado. — Uma mulher poderosa, então. — Uma das coisas mais belas do ser humano é que ele pode acreditar no que quiser. Apenas reforço o pedido: vá pessoalmente a este endereço. O delegado apanhou o pequeno envelope vermelho e de dentro tirou um cartão que trazia uma série de letras e números. Porém, nesse momento, antes de localizar mentalmente o endereço ouviu-se um grito, um início de confusão vindo da recepção. O grito foi respondido por outro como num jogo de perguntas e respostas. Seu ímpeto foi de levantar-se e fazer valer sua autoridade, mas achou que aos olhos dela essa demonstração passaria como algo infantil. Logo os policiais resolveram a questão. Esperava o momento certo de dizer as palavras certas, mas talvez não houvesse um momento certo. Tentou olhar para as pernas da mulher, mas parecia haver algum tipo de ilusão ali, pois ela cruzava e descruzava as pernas e ainda assim era impossível ver algo. Depois de algumas tentativas desistiu, frustrado. O pacote de cigarros de emergência estava ali ao lado, lacrado, promissor, mas conseguiu controlar a tentação de apanhar
um e oferecer outro à mulher, que só agora percebera, ainda não sabia o nome. Teve a estranha certeza de que ela aceitaria o cigarro. Imaginava-a bebendo e fumando, como se sua classe combinasse com essas coisas. Ele por sua vez não sabia se ao colocar o cigarro entre os dedos e desferir algumas baforadas estaria parecendo charmoso ou apenas um idiota. Sempre tivera essa dúvida. — Não posso ficar mais, ela disse. — Desculpe não poder ajudá-la. — O senhor não entendeu, delegado. Ela suspirou algo aborrecida. Eu estou aqui lhe ajudando. — De novo, não entendo. — Hoje ainda, daqui a algumas horas, o senhor receberá um chamado para uma diligência. Nada importante, mas não terá dúvidas em atendê-la, pois é um bom policial. Acredite, não será uma boa ideia. Esse colete não o salvará. Toda aquela estranheza estava tomando um rumo do qual não estava gostando. Alteou a voz apoiando os braços sobre a mesa. — A senhora vem aqui, me conta uma história maluca de um crime que não aconteceu e provavelmente não acontecerá e ainda diz que se eu não for serei vítima de uma bala? Ora, isso está me parecendo uma ameaça. Foi a vez de ela se levantar, arrumar o vestido e ajeitar o cabelo, lentamente, metodicamente. Olhou-lhe nos olhos como se ele fosse uma criança que acabara de brincar na lama. — De fato o senhor conhece a minha voz. Não, não precisa se sobressaltar. O senhor já ouviu minha voz, mas não da minha boca. Você fará o que lhe peço, pois sempre o fez, sonhando ou acordado. Sempre fez e continuará fazendo. Estou aqui também pela sua mãe, você não se lembra do pedido que ela me fez. Mas eu me lembro, eu me lembro sempre. E a mulher desapareceu, antes que ele entendesse qualquer coisa, antes que corresse para fora e só encontrasse a noite fria e po) eirenta rodopiando lá no alto. )
Talvez fosse mais uma dondoca metida à filantropa, coisa muito em moda naqueles dias. Talvez a conhecesse, sua fisionomia não era estranha, mas talvez fosse apenas mais uma mulher bonita. Porém, não se enganara com a voz. Ouvira-a com certeza. Fora há muito tempo, embora não precisasse quanto. Onde era um problema ainda mais insolúvel. — É possível, é possível. Ela respondeu a questão diafanamente não lhe dando qualquer importância. — Essa jovem, ela tem um namorado. Já a aconselhei muitas vezes. Não é um rapaz do bem. Ele será muito violento. — Será? — Eles estão bem, agora. Ele ainda não fez nada, mas fará. Assim que acordar e não a encontrar ao seu lado a perseguirá e tudo vai acabar em tragédia. Então... O delegado interrompeu-a. — Quer dizer que ele ainda vai cometer um crime, é isso? — Sim, é isso. — Ele já fez algo a essa moça? — Não, ainda não e mesmo se eu lhe falasse no que virá ela não acreditaria. Mas é muito importante que o senhor vá pessoalmente vê-la, hoje. — Desculpe, senhora, digo, senhorita. Mas eu não posso evitar um crime que talvez um dia vá acontecer. É ilógico, é contra a lei. A senhora por acaso é vidente ou algo do gênero? Ela enfim sorriu. — Não, delegado, essas coisas não existem, servem apenas para enganar o povo, tirar dinheiro de quem não tem. — Sinceramente, não sei o que a polícia pode fazer neste caso, talvez nada. Talvez, se houver disponibilidade de alguma viatura posso pedir para alguém passar por lá, na casa dessa moça amanhã pela manhã. — Já será tarde. Eu não vim pela polícia, eu vim pelo senhor. — Por mim? — O senhor é um bom homem, sei que atenderá o meu pedido.
Caixa-preta
por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com
Não, o Brasil não é cínico
Não, nada disso, absolutamente, impossível, jamais, nunca. O Brasil, definitivamente, não é cínico. Em novembro passado, os ministros militares enviaram um documento ao ministro da Defesa Nelson Jobim mandando bala na ‘Comissão da Verdade’, que o Planalto tenta aprovar no Congresso. Ali, tiveram o discernimento de autodefinir a ditadura que impuseram ao país por longos 21 anos como um certo “governo chamado militar”. É evidente que os chefes das Forças Armadas não são cínicos. A advogada Taís Gasparian, defendendo o colunista José Simão, da Folha de S.Paulo, alegou: “Tratar o humor como ilícito, no fim das contas, é a mesma coisa que censura”. Pois a mesma advogada representa também o jornal num processo inverso que trata como ilícito o humor dos irmãos Lino e Mário Bocchini, autores de um divertido blog de críticas ao jornal chamado Falha de S.Paulo. O jornal mau humorado contratou a advogada esquecida para dizer agora o contrário do que alegava antes, em circunstâncias absolutamente semelhantes. Evidentemente, nem o jornal, muito menos a advogada, são cínicos.
Terra da impunidade Um soldado foi manietado por outros quatro, num quartel em Santa Maria, RS, e violentado várias vezes, em maio passado. O Ministério Público Militar acaba de concluir que o soldado não é vítima, mas réu, porque praticou aqueles “atos libidinosos” no interior do quartel, sendo apenas cúmplice de uma “relação sexual consentida”, sem qualquer violência, embora tenha sido hospitalizado durante uma semana. Ninguém pode constatar um pingo de cinismo neste caso. O STJ acaba de cancelar o processo da Polícia Federal que investiga o tráfico de influência da família Sarney nos meandros do poder. Os grampos não estavam autorizados, embora eles registrem as vozes dos irmãos Roseana e
Fernando em conversas pouco republicanas com o patriarca José Sarney, presidente do Senado Federal. No vácuo da decisão, reanima-se o ex-governador José Roberto Arruda, pilhado recebendo dinheiro vivo em vídeos gravados também sem autorização judicial. E assim marcha a Justiça nesta terra impune. Sem qualquer cinismo, claro.
O Brasil não existe O mesmo Sarney jurou, só na véspera da audiência na Justiça, que nem mesmo conhecia o coronel Brilhante Ustra, que o convocou como testemunha de defesa em um processo (mais um) em que consta como torturador nas masmorras do DOI-CODI da rua Tutóia, em São Paulo — a obra mais notória de sua ficha como
estrela maior da repressão do “chamado governo militar” da ditadura. Por tudo isso, só um cínico poderia dizer que o senador e o coronel são amigos do peito. E o distraído Sarney esqueceu do que disse em sua biografia autorizada sobre Ulysses Guimarães, definido por ele como “um político menor, sem espírito público, interessado apenas no poder”. No fórum nacional do PMDB, agora, Sarney subitamente lembrou de Ulysses pela “bravura, coragem e determinação”. Jamais se poderá dizer, enfim, que Sarney é um cínico. Por favor, não façam juízo apressado desses fatos e dessa gente. Não há, aqui, nenhum exemplo de cinismo, nenhum exemplar de cínico. O que não existe, na verdade, é o Brasil.
Crônica
Cotidiano
O mendigo da Esplanada Divagações sobre um homem à margem da sociedade que circula entre os prédios do Poder Executivo da capital federal
Texto Ana Rita Gondim Ilustração rafael Nougueira anaritagondim@gmail.com
Quem trabalha na Esplanada dos Ministérios ou vai lá com frequência provavelmente sabe de quem vou falar. Durante os quase dois meses em que prestei serviço num dos prédios ao lado direito de quem segue em direção ao Congresso Nacional, prestava atenção a uma figura que perambulava todos os dias entre os imponentes edifícios. Ao chegar pela manhã, ao sair para o almoço, ao descer para fumar, era raro não me deparar com ele, um homem de uns 35 anos – mas não me levem a sério, sou péssima para chutar a idade das pessoas. Posso dizer que é negro, de barba, nem magro nem gordo, de estatura média.
rafaellemosnog@gmail.com
O que me intrigava neste homem não era o fato de apenas encontrá-lo sempre nas redondezas porque, é claro, sempre vemos aquelas mesmas pessoas no local onde trabalhamos. Seguia-o com o olhar porque sempre o via andando ou deitado no chão da Esplanada, com suas vestes rotas, pés descalços, mas, nunca, nunca mesmo, o vi pedir nada a ninguém que por ali caminhasse. Nem dinheiro, nem comida, nem cigarro. Posso apenas dizer que já o vi pegar as bitucas jogadas ao chão pelos fumantes que passavam próximos a ele. Talvez, em um desses momentos que não presenciei, ele tenha pedido a alguém, pelo me-
nos, um isqueiro emprestado. Nas lentas subidas do elevador e nos rápidos instantes de manutenção do vício da nicotina, divagava sobre aquela figura que via todos os dias. O que fazia da vida? Tinha família? Como comia? Tinha casa? Tinha tido problemas com drogas? Era impossível ter qualquer pista daquele solitário caminhante da Esplanada dos Ministérios. E era sempre só. Não tinha um amigo e tampouco era acompanhado pelo melhor amigo do homem, um cachorro para companhia mútua. Lembrava-me, nesse instante, de uma figura que também atraiu a minha atenção em São Paulo, nas proximidades
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E outra pergunta para que tampouco jamais tive resposta, nem mesmo uma pista: por que não pedia nada a ninguém? Sempre vejo os pedintes pedindo. Sempre vejo os mendigos mendigando. Definitivamente, ele não é um pedinte, pelo próprio significado da palavra. E mendigo? Pelas definições do Dicionário Houaiss, ele não o seria porque não pede esmolas. Mas “valer-se da caridade alheia”? Nunca o vi pedindo, mas talvez ele sobrevivesse da ajuda dos que eram invisíveis aos meus olhos. Como todos, ele precisa comer. E acredito mesmo que provavelmente alguém lhe entregasse um prato ou um pão em determinadas horas do dia. E, por isso, apelidei-o
de o mendigo da Esplanada. Precisei dar nome para saber como me referir a ele. Às vezes o via caminhando com seu cobertor sobre um dos ombros. Às vezes o via deitado – momento em que eu mais fantasiava a respeito de sua história – sob a copa de uma grande árvore, de barriga pra cima, pernas estendidas, olhos abertos, ou fechados. Esse detalhe eu não conseguia ver, pois tinha receio de me aproximar e incomodá-lo com a minha curiosidade. Assim como já quis descobrir quem era ele, mas seu silêncio e sua individualidade impunham tal respeito que me impediam, naturalmente, de qualquer investida. Cabia a mim apenas imaginar como seria a vida dele.
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Já não trabalho mais por lá, mas, de vez em quando, a imagem do “mendigo da Esplanada” volta à minha mente como a me perguntar quem é aquela pessoa tão sozinha, calada, aparentemente autossuficiente e, na realidade, tão próxima, mas ao mesmo tempo tão distante. No centro do poder do Brasil, por onde circulam servidores públicos e autoridades do governo, entre as obras de Oscar Niemeyer que atraem tantos turistas e maravilham os brasilienses, estava ele, com sua simplicidade a se destacar. Quiçá eu tivesse trabalhado mais tempo por lá e soubesse algo de sua vida, tivesse ouvido a sua voz ou mesmo ele me pedisse algo. Ou talvez alguém me contasse causos daquela pessoa que eu via apenas ali, entre os ministérios, andando ou descansando, ou dormindo. Mas um dia outras figuras provavelmente vão me intrigar e o “mendigo da Esplanada” será apenas uma lembrança quieta entre tantas outras inquietas. E é bom que não se fechem os olhos para não enxergá-las (pessoas). O dia em que o mundo estiver completamente cego para figuras como o mendigo da Esplanada e o senhor e seu cão, certamente será o dia em que o mundo não mais se perceberá ) como mundo. )
da Rua Augusta. Este era já um senhor de cabelos grisalhos às margens da sociedade que perambulava sempre acompanhado de seu enorme cachorro. O animal parecia-me doente, pois era carregado numa espécie de carrinho de supermercado. Encontrei-os umas três vezes enquanto estive na metrópole e admirava o carinho entre ambos. Mas com o mendigo da Esplanada nem isso, ninguém, nem um animal, para fazer-lhe companhia, para dividir um prato de comida, para diminuir a solidão. Como ele conseguia viver os dias, as horas, os minutos, sem ter um papo e sem ter um bicho que seguisse seus passos? Aprecio alguns momentos de solidão, mas me incomodam demasiadamente quando se prolongam por vários dias. Acredito que o ser humano não tenha sido feito para ser só porque a vida é uma eterna e constante troca. Mas para ele não parecia fazer falta, ou fizesse e ele precisasse aceitar a sua condição. Talvez alguém já tivesse se aproximado dele e ele tivesse afastado qualquer interação com o mundo que o havia marginalizado ou que ele próprio havia repelido. Talvez ele não aceitasse o mundo da forma como o é e por isso preferiria viver no acostamento a viver na pista principal ou na via de mão dupla.
Na internet, nem tudo é o que parece ser. Acompanhe as atividades dos seus filhos na internet. Sites de jogos, redes sociais e comunidades podem esconder adultos que usam falsos perfis para aliciar crianças e adolescentes para a pornografia ou a violência sexual. Fique atento. Relacionamentos virtuais podem levar a problemas reais. Denúncias online: www.disque100.gov.br
Disque
DISQUE DENÚNCIA NACIONAL DE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Arte, Cultura e Lazer
Daniel Ortiz
Magia e ensinamentos para a vida toda No mês das crianças, brasilienses terão a oportunidade de levar seus filhos a um mundo de fantasias e de ensinar-lhes preciosas lições. Com cores, emoção, acrobacias e imaginação, o grupo Tholl mostra que é preciso acreditar nos sonhos. O espetáculo O circo dos bonecos (foto) valoriza a descoberta dos nossos próprios valores, como a persistência e a compaixão. Sentimentos que também cercam o lançamento do cinema Winter, o golfinho, inspirado na impressionante história real do animal que uniu estranhos para salvar sua vida. No filme, Winter é interpretada por ela mesma. Depois de perder a cauda, tornou-se símbolo de coragem, perseverança e esperança para milhões de pessoas – com deficiência ou não –, tocadas por sua notável história de recuperação e reabilitação.
Cinema – lançamentos
A hora do espanto Direção: Craig Gillespie. Charlie Brewster (William Ragsdale) é um garoto que tem uma vida aparentemente perfeita. Tudo muda com a chegada de Jerry (Chris Sarandon), um estranho vizinho. Quando novos moradores ocupam a casa, a experiência de Charlie não deixa dúvida de que o comportamento estranho é explicado pelo fato de eles serem vampiros. Terror. Classificação 14 anos. Kinoplex em 7 de outubro. 120 minutos.
Alpha e Omega Direção: Anthony Bel e Ben Gluck. Kate (Hayden Panettiere) e Humphrey (Justin Long) são dois jovens lobos com personalidades totalmente diferentes. Ambos são capturados por guardas e levados para um parque nos Estados Unidos, juntos eles terão de superar diferenças e realizar uma longa jornada de volta até o lar. Animação. Classificação livre. Kinoplex em 21 de outubro. 88 minutos.
Atividade paranormal 3 Direção: Henry Joost e Ariel Schulman. O terceiro filme da série explica como tudo começou. Mostra Katie Featherstone ainda criança, no momento de origem às assombrações que a seguiram por toda a vida. Terror. Verifique a classificação. Kinoplex em 21 de outubro. 99 minutos.
Colombiana Direção: Olivier Megaton. Cataleya Restrepo (Zoe Saldana) testemunha o assassinato a sangue frio de seus pais ainda criança, na Colômbia. Mais velha, ela trabalha para seu tio gângster como assassina. O seu cartão de visita – uma orquídea desenhada no peito das vítimas – é uma mensagem para os assassinos dos seus pais. Ação. Classificação 16 anos. Kinoplex em 14 de outubro. 107 minutos.
Contágio Direção: Steven Soderbergh. Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow) está em um avião voltando de uma viagem de trabalho. Começa a passar mal, assim como outros
passageiros. O marido de Beth (Matt Damon) descobre que ela tem vírus transmissível pelo ar que mata em poucos dias. Enquanto a epidemia se espalha cada vez mais rapidamente, médicos de todo o mundo correm contra o tempo para encontrar a cura e controlar o pânico que se espalha mais rápido do que o próprio vírus. Ação. Classificação 14 anos. Kinoplex em 28 de outubro. 105 minutos.
Gigantes de aço Direção: Shawn Levy. Charlie (Hugh Jackman) é um ex-boxeador agora envolvido no ramo de lutas de boxe entre robôs. Ao lado do filho Max (Dakota Goyo), de quem tenta se reaproximar, passa a treinar um robô descartado, no intuito de torná-lo um grande campeão. Aventura. Classificação 10 anos. Cinemark e Kinoplex em 21 de outubro. 127 minutos.
Inquietos Direção: Gus Van Sant. Annabel Cotton (Mia Wasikowska) é uma paciente com câncer
Picture Classic
Arte, Cultura e Lazer
Cinema Pode até parecer, mas cinema não é só câmera parada filmando um monte de gente falar. É também um mergulho no mundo das imagens. O vencedor da Palma de Ouro em Cannes, A árvore da vida, de Terrence Malick, se vale do artifício. Uma experiência autoral de tal magnitude só poderia mesmo atiçar o discernimento dos críticos. O filme foi de “profundo, idiossincrático, complexo, sincero e mágico”, passando por “elíptico, revelador, impressionante”, além de “uma experiência religiosa”, até chegar a “gargantuesco trabalho de pretensão”, “um disparate”, “sem nenhuma estrutura narrativa” e “o equivalente a ver uma árvore crescer”. Malick está tão apaixonado por seus delírios que provavelmente não dá a menor pelota pra o que dizem ou escrevem. Mas, ainda que o filme seja um grande dispa-
A pele que habito
rate, há imagens grandiosas e deliciosamente disparatadas de galáxias, meteoros,
Direção: Pedro Almodóvar. Richard Ledgard (Antonio Banderas) é um cirurgião plástico que após a morte da sua mulher num acidente de carro se interessa pela criação de uma pele com que poderia tê-la salvo. Doze anos depois, consegue cultivar essa pele em laboratório, aproveitando os avanços da ciência e atravessando campos proibidos como os da transgênese com seres humanos. No entanto, esse não será o único delito que o cirurgião vai cometer. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex em 14 de outubro. 120 minutos.
águas-vivas e explosões de plasma e neutrino. Isso pra refletir sobre temas filosóficos como a origem do universo, o segredo da vida e o mistério da morte. Como se nota, obra pipocão e despretensiosa pra se ver sem grandes expectativas. Agora, falando sério, pelo menos Terrence Malick sabe que cinema é uma coisa,
terminal profundamente apaixonada pela vida e pela natureza. Enoch Brae (Henry Hopper) é um jovem que desistiu de viver, depois de um acidente que tirou a vida de seus pais. Quando os dois se encontram em um funeral, acham algo em comum em suas experiências de vida. Romance. Classificação 12
e se vê completamente abalado. A perda do emprego se soma à sua profunda tristeza e o suicídio lhe parece a única saída. Ao entrar em contato com O livro dos espíritos, começa uma jornada de transformação interior rumo aos mistérios da vida espiritual e suas influências no mundo material. Drama. Classificação 18 anos.
anos. Kinoplex em 28 de outubro. 92 minutos.
Kinoplex em 7 de outubro. 98 minutos.
O filme dos espíritos
O palhaço
Direção: André Marouço e Michel Dubret. Bruno Alves (Reinaldo Rodrigues) perde a mulher
Direção: Selton Mello. Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello), pai e filho,
televisão é outra. E faz cinema. Como nos lembra Jean-Claude Bernadet, “um fato básico para evolução da linguagem [cinematográfica] foi o deslocamento da câmera que abandona a sua imobilidade e vai explorar o espaço”.
André Cunha É cineasta, jornalista, músico e escritor
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são os donos do Circo Esperança e lideram uma trupe pelas estradas do País. Entre os espetáculos surgem as cobranças, todas em cima de Pangaré. Ele está exaurido e obcecado pela seguinte ideia: “Eu faço todo mundo rir, mas quem é que vai me fazer rir?” Drama. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 28 de outubro. 96 minutos.
O retorno de Johnny English Direção: Oliver Parker. Johnny English (Rowan Atkinson, conhecido como Mr. Bean) é o último espião britânico e a última esperança da Inglaterra. Ele tenta impedir uma conspiração armada por um grupo de assassinos internacionais. Comédia. Classificação 10 anos. Kinoplex em 28 de outubro. 91 minutos.
Os Três Mosqueteiros Direção: Paul W. S. Anderson. D´Artagnan (Logan Lerman) vai a Paris buscando se tornar membro do corpo de elite dos guardas do rei, os mosqueteiros. Chegando lá, conhece três mosqueteiros chamados Os Inseparáveis: Athos (Luke Evans), Porthos (Ray Stevenson) e Aramis (Matthew Macfadyen). Ação. Classificação 14 anos. Cinemark em 12 de outubro e Kinoplex em 14 de outubro. 110 minutos.
O zelador animal
Música
Direção: Frank Coraci. Griffin Keyes (Kevin James) é zelador de um zoológico. Para ele, nada mais normal do que conviver com leões, elefantes, girafas, ursos e gorilas. Seu problema são as mulheres. Ele tem a ideia de arrumar um trabalho mais respeitável para melhorar a situação. E os bichos entram em pânico e passam a ajudar o zelador a encontrar uma namorada. Comédia. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 7 de outubro. 104 minutos.
Winter, o golfinho Direção: Charles Martin Smith. O longa é inspirado na história real de um golfinho chamado Winter, que perdeu a cauda em um acidente, mas sobreviveu graças à compaixão das pessoas. Um dedicado biólogo marinho (Harry Connick Jr.) e um médico de próteses talentoso (Morgan Freeman) se unem para realizar um verdadeiro milagre que pode não só salvar Winter, mas também ajudar dezenas de pessoas ao redor o mundo. Filme em 3-D. Infantil. Classificação 10 anos. Cinemark em 14 de outubro e Kinoplex em 12 de outubro. 92 minutos.
Anjos tortos, a MPB gauche na vida
A oportunidade de revisitar a obra de Itamar Assumpção (1949-2003), com a sua filha, Anelis Assumpção. 1º e 2 de outubro, às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Ingresso (inteira): R$ 15. Classificação 14 anos. Telefone: 3108-7600.
Camilla Inês A cantora pernambucana traz ao Sebinho um repertório de jazz, soul e bossa nova. Em 2010, lançou seu primeiro CD, Jazzmine, parceria com o pianista Ed Staudinger e o baterista Misael Barros. 5 de outubro, às 19h30, no Sebinho Livraria e Café (406 Norte). Entrada franca e livre. Telefone: 3447-4444.
Clube do Choro Veja a programação de outubro, com grandes nomes da música instrumental. Shows às quartas, quintas, sextas e aos sábados a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. Naiara Morena: 1º de outubro Cristiano Pinho Quinteto: 5, 6 e 7 de outubro
www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br
João Ferreira & Vinicius Vianna: 8 de outubro Regional Luizinho 7 Cordas: 12, 13 e 14 de outubro Grupo é do que Há: 15 de outubro >>
COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA (61) 3326-0831 / 4102-9979 diretoria@af2comunicacao.com.br
www.af2comunicacao.com.br
Arte, Cultura e Lazer
Rui Mendes
do Estádio Mané Garrincha. Ingressos (inteira): Área frente R$ 100; Área VIP masc. R$ 300 (open bar); Área VIP fem. R$ 240 (open bar); Área Premium masc. R$ 600 (open bar); Área Premium fem. R$ 400 (open bar). Classificação 16 anos (18 anos para áreas open bar). Telefone: 8299-0009.
Mulheres do Brasil cantam Chico
No palco, as cantoras Daniela Mercury – a baiana também assina a direção artística do espetáculo –, Elba Ramalho, Roberta Sá, Margareth Menezes e Paula Lima. O repertório do show é composto por canções de Chico Buarque que representam o universo feminino, como A banda e Trocando em miúdos. Solos e duetos dão um toque especial às músicas. 28 e 29 de outubro, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Balcão superior R$ 160; Plateia R$ 200; Plateia VIP R$ 300; Plateia VIP lateral R$ 240. Classificação 12 anos. Telefone: 3214-2712.
RPM
Revival Concert 2011 – Tears For Fears
O grupo de rock nasceu em 1983. Tornou-se uma das mais populares bandas do País. Nos A banda britânica que surgiu no início da anos 80, o grupo bateu todos os recordes na indústria fonográfica brasileira, com mais de 5 década de 80 está de volta ao Brasil. Formada milhões de discos vendidos. 21 de outubro, às 22h, no Opera Hall. Ingressos (inteira): Pista R$ 80; Área por Roland Orzabal (voz e guitarra) e Curt VIP fem. R$ 140; Área VIP masc. R$ 160. Classificação 14 anos. Telefone: 3306-2012. Smith (voz e baixo). As músicas da dupla foram principalmente criadas por Orzabal. 11 de outubro, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Cadeira Humberto Araújo & Grupo Choro Livre: 19, 20 e 21
Ingressos (inteira): VIP R$ 60; Premium masc. R$ 120;
mezanino R$ 200; Cadeira VIP laranja R$ 500;
de outubro
Premium fem. R$ 100; Gold masc. R$ 160; Gold fem.
Cadeira VIP verde R$ 280. Classificação 14 anos.
Orquestra de Senhoritas: 22 de outubro
R$ 140 (Open Bar: uísque, vodca premium, cerveja,
Telefone: 4003-1212.
Turíbio Santos: 26, 27 e 28 de outubro
refrigerante e água). Classificação 18 anos.
Almir Côrtez & Grupo Choro Livre: 29 de outubro
Telefone: 3322-0024.
Despedida do Exaltasamba
Jorge & Mateus
Última chance de assistir ao show do grupo na capital. O quinteto chega ao fim após 25 anos. Outras atrações: Zé Henrique e Gabriel, Carnavália, Jorge Henrique, Brunno & Matheus, Serjão Loroza e Mr. Babão. 22 de
No show, sucessos como Voa Beija-Flor, De tanto te querer, Pode chorar e as novidades do DVD Aí já era. Lançado no ano passado, o álbum emplacou músicas entre as mais tocadas nas rádios, como Chove, chove e Amo noite e dia. 11 de outubro, às 22h, no estacionamento
outubro, às 22h, no Pavilhão do Parque da Cidade.
Roberto Carlos Roberto Carlos traz a Brasília um show com repertório de clássicos das cinco décadas da sua carreira. 1º de outubro, às 21h30, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos (inteira): VIP lateral 1A, 1B, 2A, 2B, 3A, 3B, 4B, 5B R$ 800; Cadeira setor R$ 200; Plateia R$ 100; PNE cadeira setor R$ 200; Setor amarelo R$ 500; Setor azul R$ 700. Classificação 12 anos. Telefone: 4003-1212.
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Sade Pela primeira vez no Brasil, a cantora nigeriana apresenta a turnê do disco Soldier of Love. Traz um repertório com canções como: Smooth operator, No ordinary love e The sweetest taboo.25 de outubro, às 21h30, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos (inteira): Premium R$ 1.180; Cadeiras R$ 780; Plateia superior R$ 300. Classificação 16 anos. Telefone: 3342-1196.
Seu Jorge
entre Angola, Namíbia e Botsuana. Traz, ainda, roupas, adereços, utensílios. Um dos destaques é a holografia Vikuit 3M, em que uma mulher da etnia muhakaona recepciona o público. Até 23 de outubro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.
Marcus Vinícius Resende Gonçalves – Markito
Ingressos (inteira): Pista R$ 40; Premium R$ 50.
Markito – falecido há quase 30 anos – foi um estilista brasileiro e trendsetter das décadas de 1970 e 1980. A mostra traz mais de 40 modelos especiais do estilista. Entre eles peças da atriz Mila Moreira, das jornalistas Marília Gabriela e Joyce Pascowitch e da promoter Alicinha Cavalcanti. Um smoking do acervo pessoal do estilista está em destaque. Até 12 de outubro,
Classificação 16 anos. Telefone: 3342-1196.
de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingo,
O compositor, intérprete e ator traz a Brasília um som com a mistura de estilos e subgêneros do samba, uma renovação musical. O músico já gravou oito CDs, quatro DVDs e atuou em mais de dez filmes. 15 de outubro, às 21h, no Ginásio Nilson Nelson.
exposições
A arte de Henrique Lemes O artista mineiro radicado na Alemanha expõe 75 xilogravuras, comemorando 30 anos de carreira. A mostra exibe a transição do artista para uma nova fase, com maior variação de cores em suas obras. Até 23 de outubro, diariamente, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.
Brassai: o olho de Paris Do húngaro-francês Brassai, fotógrafo e poeta das imagens noturnas, que capturam a beleza de ruas e jardins na chuva e no nevoeiro de Paris durante a noite. A exposição já passou pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR). Até 2 de outubro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.
Hereros – Angola Sérgio Guerra traz à capital 110 fotos colhidas nas províncias do Namibe e Cunene. Revela amplo painel da vida, das atividades e dos costumes dos povos Hereros, espalhados
das 14h às 20h, no ParkShopping (Primeiro piso). Entrada franca e livre. Telefone: 4003-5588.
Maria Bonomi
Projeto barcos do Brasil Com 89 modelos de embarcações tradicionais do País, a mostra tem como objetivo a preservação e a valorização do patrimônio naval brasileiro. Até 18 de novembro, de segunda a sexta, das 9h às 19h, no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sbn Q. 2 Bl. H). Entrada franca e livre. Telefone: 3326-3785.
Retalhos de fantasias A artista plástica Marysia Portinari traz uma exposição que reúne obras figurativas das fases rural, circense e também quadros abstratos da sua produção atual. Ela já participou de mais de 50 exposições na Argentina, nos Estados Unidos, no México, na Espanha e em Portugal, além do Brasil. Seus primeiros quadros datam de 1955, quando ainda estudava desenho e pintura. Até 30 de outubro, sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h, na Câmara dos Deputados – Salão Verde. Entrada franca e livre. Telefone: 3216-0000.
Séculos indígenas no Brasil
Cerca de 250 obras do universo feminino em pinturas, gravuras, esculturas, máscaras para o teatro. Da aproximação com grandes escritoras – foi amiga de Clarice Lispector e Cecília Meireles – até as obras instaladas em grandes capitais, nada escapa a esta retrospectiva de uma das maiores artistas brasileiras. 12 de
Apresenta o material artístico e documental produzido ao longo dos 19 anos de existência do projeto, composto por fotografias, desenhos, gravuras, objetos de arte indígena do acervo de Darcy e Berta Ribeiro, vídeos, animações e textos. Até 9 de outubro, de terça a sexta, das 9h
outubro a 8 de janeiro, de terça a domingo, das
às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h
9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil.
às 18h, no Memorial dos Povos Indígenas. Entrada
Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.
franca e livre. Telefone: 3342-1157.
Paulo Werneck,
muralista brasileiro
Welcome home Do artista mineiro Gui Mohallem, traz imagens inéditas, produzidas pelo fotógrafo na terceira visita que fez neste ano ao Tennessee (EUA), com tamanhos que variam de 40 cm x 60 cm a 2 m x 3 m. Esta nova edição privilegia o aspecto espiritual da experiência no Santuário Queer. Até 28
Com mais de cem projetos para painéis e cerca de 25 fotografias, documentos e ilustrações para jornais e livros infantis. Entre os projetos estão o terraço do Instituto de Resseguros do Brasil feitos em 1942, no Rio de Janeiro, e os painéis laterais da Igreja São Francisco de Assis, de 1943, na Pampulha (MG). Até 23 de outubro, de
de outubro, de segunda a sexta, das 14h às 20h, no
terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural.
Espaço F/508 de Fotografia (413 Norte). Entrada
Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.
franca e livre. Telefone: 3347-3985.
Gustavo Vara
Arte, Cultura e Lazer
Teatro Houve um tempo em que ter um espaço cultural onde a arte de bom gosto e de vanguarda reinasse, soberanamente, estava longe da realidade do exigente público brasiliense. Mas há 12 anos esse sonho se materializa nos palcos, nos cinemas e nas galerias do Centro Cultural Banco do Brasil. Para comemorar, em grande estilo, essas 12 primaveras de muita ousadia e perfeita sintonia com a cidade, o local abre suas portas neste mês para uma programação festiva. Uma das atrações é o grupo de teatro gaúcho Tholl, que monta sua tenda na área externa do centro cultural, com entrada livre, para a apresentação de três montagens. Na primeira semana,
Exotique
nos dias 12, 15 e 16, o destaque é o espetáculo O circo de bonecos, diver-
São malabaristas, acrobatas, equilibristas e palhaços enaltecendo a sensualidade da pantomima do clown. Mostram figurino requintado, inspirado em países variados, peças que ganham toque mágico nos movimentos de cada artista. 29 e 30 de outubro, às 19h, na tenda montada na área externa
tida fantasia que explora os valores e a
do CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108.7600.
criaturas inanimadas. Em cena, 13 ar-
magia da beleza de sonhar dentro da realidade lúdica dessas encantadoras tistas e banda com músicos tocando ao vivo dão vida à narrativa lírica.
Teatro
Amor ou traição Ary Maroto da Silva é um empresário que gosta de curtir a vida viajando. Em uma de suas voltas repentinas para casa, encontra sua mulher, Vanusa, com um amante. Acidentalmente, ela morre. Antes, roga uma praga: “Você nunca será feliz no amor!” Entre bares, mulheres e desilusões, Ary se vê em uma maré de azar. 29 e 30 de outubro, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação 14 anos. Telefone: 9907-1558.
Biliri e o pote vazio Conta uma história do imperador – sem herdeiros – em um reino cinza, devastado
pela guerra, que lança um desafio a todas as crianças que vivem lá. A cada uma ele dá uma semente de flor e ordena que seja cuidada com total dedicação para que a mais esforçada seja a herdeira do trono. 7 a 30 de outubro, sextas
Há oito anos em cartaz, a peça Tholl,
e sábados, às 16h; domingos, às 11h e às 16h, com
A companhia se despede de Brasília
apresentações extras em 12 e 13 de outubro, às 16h, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 15. Classificação livre. Telefone: 3108-7600.
Elizabeth tudo pode Alexandria é uma bibliotecária que vive em sua casa de livros. Ela está relendo e digitalizando obras para salvá-las da perigosa Dona Cesárea, uma traça gourmet de mil anos que adora comê-las. Percebe, então, que seu exemplar mais valioso foi roubado,
imagem e sonho sobe ao palco do CCBB nos dias 22 e 23 misturando arte cênica e o mundo mágico dos circos com acrobacia, contorcionismo e malabarismo. encantando os convidados, nos dias 29 e 30, com a exuberância visual de Exotique, vibrante montagem que valoriza a grandeza dos gestos e movimentos em cena, a partir de nova parceria com o universo circense.
Lúcio Flávio É jornalista
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O diário de Elizabeth I. Enquanto o procura, conta a vida dessa princesa que virou rainha. O espetáculo faz parte do projeto Alexandria Conta e Cria, da Cia. Yinspiração Poéticas Contemporâneas. 8 e 9 de outubro, às 17h, no Teatro Goldoni (208/209 Sul). Ingresso (inteira): R$ 30. Classificação livre. Telefone: 3443-0606.
Medeia A vingança da destemida Medeia contra o esposo Jasão, depois que ele a rejeita para se casar com a filha do rei de Corinto, Creonte. Movida por emoção, paixão e orgulho ferido, Medeia decide fazer justiça com as próprias mãos para Jasão sofrer tanto quanto ela. Mata os próprios filhos e foge para Atenas, onde o Rei Egeu lhe oferece abrigo e proteção. Montagem encenada por Os Paquidermes Cia. de Teatro. 1º e 2 de outubro, sábado às 21h e domingo às 20h, no Teatro Caleidoscópio (SLSW 102). Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 7815-9469.
Mitos do Teatro Brasileiro O quinto encontro faz homenagem a Augusto Boal, ator que se projetou como um dos grandes nomes do teatro do século 20. Com Amir Haddad e Aderbal Freire-Filho. 18 de outubro, às 20h, no CCBB. Entrada franca. Classificação 12 anos. Telefone: 3108-7600
O circo de bonecos Os bonecos descobrem seus próprios valores e formam suas personalidades. Mostra a descoberta do “estar vivo”, o valor da vida, o efeito das mudanças. A peça infantil tem no elenco 13 artistas. A novidade é que é o primeiro espetáculo do Grupo Tholl com música ao vivo, com uma banda com seis músicos. 12, 15 e 16 de outubro, às 19h, na tenda montada na área externa do CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.
Tholl, imagem e sonho Os 20 artistas do elenco desenvolvem variadas técnicas circenses. Aéreas, com tecido, arco (lira), trapézio simples e triplo; de equilíbrio, em bola, pernas de pau, monociclo e equilibrismo de objetos; de acrobacia, com contorcionismo, técnicas de solo e de arremesso, trampolim elástico e corda acrobática; e de malabarismo, com claves, bolas, aros, pirofagia. 22 e 23 de outubro, às 19h, na tenda montada na área externa do CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.
poesia
1ª Bienal do B O T-Bone Açougue Cultural promove a primeira Bienal Alternativa de Poesia, organizada pelo Movimento Viva Arte. Mais
de 50 grandes poetas, dos quais 30 são de Brasília. Também haverá shows de Jorge Mautner, na quarta, de Kiko Zambianchi, na quinta, e de Fernanda Porto, na sexta-feira. 26 a 28 de outubro, às 18h, na comercial da 312 Norte. Entrada franca e livre. Telefone: 3963-2069.
outros
Escritores brasileiros Iniciado em 2010, o projeto segue estimulando o hábito de leitura, com uma série de palestras em que um ator convidado interpreta trechos de textos de um grande escritor da literatura brasileira da atualidade. Neste mês, o escritor Geraldo Carneiro recebe a atriz Irene Ravache para falar sobre os fios da memória na escrita poética de Cora Coralina, Manoel de Barros e Bartolomeu Campos Queirós. 4 de outubro, às 20h, no CCBB. Entrada franca. Classificação 12 anos. Telefone: 3108-7600.
Galinha Pintadinha Com oficina de desenho e pintura e os vídeos da personagem no cineminha. As sessões de 30 minutos contam com a presença da Galinha Pintadinha, que vai dar autógrafos e tirar fotos com as crianças. 30 de setembro a 9 de outubro, das 12h às 20h, na praça central do Brasília shopping, em frente às Lojas Americanas. Entrada franca e livre. Telefone: 2109-2122.
Banquetes e botecos } ilustração Humberto Freitas
cafecatura@gmail.com
Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com
Quer comer carne? Vá ao BSB Grill
Ilustração feita com café e água em papel canson
12345 O BSB Grill é um restaurante especializado em carnes desde 1998 e em toda a sua trajetória manteve a qualidade. Começou na Asa Norte e se expandiu para a Asa Sul. Há tradicionais que preferem a primeira casa e os que preferem a nova, mas há uma unanimidade: a carne é deliciosa nos dois restaurantes. Vou falar sobre o da 413 Sul, espaçoso, muito despojado e nada sofisticado, decorado com capacetes de corrida e um carro de Stock Car pendurado no teto. Qualquer um, principalmente se for criança, fica impressionado com a proeza. Além disso, tem um parquinho infantil que é uma maravilha! Isso é coisa rara em Brasília, pois parece que alguns nunca se lembram de que pais gostam e precisam sair com seus filhos. Você pode ir tanto durante a semana como em momentos de lazer. Executivos de terno, grupos fazendo confraternizações, famílias reunidas ou pessoas saindo do clube, cabem todas as tribos, sem constrangimentos. Chegando lá tem um chopinho gelado numa taça de cristal que dá um sabor todo especial à bebida, sem falar nas caipiroskas de frutas frescas expostas só para atiçar a vontade. Para os mais requintados tem também uma carta de vinhos muito bem elaborada, com várias opções de harmonizações com as carnes e peixes servidos. Fica ao gosto do freguês. Recomendo um chope gelado extremamente cremoso acompanhado das esfirras quentinhas, que os garçons oferecem a todo instante, e que parecem derreter na boca, de tão macias. Depois vem a melhor parte. A seleção de carnes é excepcional, com cortes nacionais, uruguaios, argentinos, australianos e chilenos. O Ancho Kobe chileno é a grande novidade. Além dos tradicionais bife de tira e picanha, acompanhados de arroz de brócolis e farofa de ovos, os carros-chefes da casa. É um escândalo! Para quem gosta de comer uma bela carne é uma refeição para sonhar. Vou ao BSB Grill desde que só existia o da Asa Norte e nunca saio insatisfeita. É um dos poucos restaurantes em Brasília que conseguem manter um padrão de qualidade. Isso porque os donos estão sempre presentes (“o olho do dono é que engorda o boi”), buscando tanto a carne perfeita como o atendimento exemplar. O problema é o preço. Muitas vezes temos que ficar no sonho, porque o bolso não aguenta.
413 Sul Bloco D Telefone: 3346-0036 304 Norte Bloco B Telefone: 3326-0976 Terças a sábados:12h – 0h Domingos: 12h –17h www.bsbgrill.com.br
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CUIDADO COM A
Secretaria de Saúde
DENGUE
Uma grande mobilização contra a Dengue está unindo o GDF e toda a sociedade no combate ao mosquito transmissor dessa doença. As ações serão realizadas nas casas, escolas, empresas e no meio ambiente, onde cada cidadão vai dedicar um pouco do seu tempo para eliminar os focos do mosquito. Prevenir a Dengue é uma questão de atitude.
Faça a sua parte. Isso é cidadania.
TÁ
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