Revista meiaum Nº 8

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+ PARTIDOS

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Muda a cor, muda a sigla, mas é tudo a mesma coisa

+ PERFIL

Conhece Adriana Nunes? Dica: é uma das melhores do mundo

Exageradas, bregas e ricas

8 Ano 1 | Novembro 2011 | www.meiaum.com.br


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Niemeyer, Lucio, Israel, Burle, Athos, Ernesto... Sem eles, JK não construiria Brasília. Uma pessoa tem uma ideia brilhante. Mas é preciso uma boa equipe para executá-la.

WHD Comunicação, 11 anos Consultoria em comunicação e política Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia Produção de conteúdo para todos os meios Relações públicas

61 3468.1466 www.whd.com.br whd@whd.com.br Brasília - DF


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Papos da Cidade

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Capa

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Conto – João Pitella Junior

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Perfil

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Fora do Plano

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Conto – Hanna Xavier Ferreira

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Artigo – Bianca Stucky

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Caixa-Preta

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Arte, Cultura e Lazer

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Banquetes e Botecos

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ÍNDICE

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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

O estilo de vida e os exageros das milionárias da capital

Ela tinha três exigências para o homem ideal. Ele não atendia a nenhuma

Paola Lima analisa os bastidores da política local

As impressões de quem vive em Brasília há pouco mais de um ano

Poder

Insossos e parecidos: assim são os partidos políticos

Adriana Nunes (foto), de Os Melhores do Mundo, jura que não é comediante

Sem aquele ritual, a vida de dona Doca não faria mais sentido

A política nacional por Luiz Cláudio Cunha

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é


Os servidores públicos já foram o elo, a ponte, a ligação

imagem: Hidden

28 de outubro foi o dia do servidor público e não podemos deixar de homenagear os trabalhadores do Judiciário e do MPU que conectam você, e milhões de brasileiros, à Justiça.


E mais...

Nilson Carvalho

Nilson Carvalho

Pedro Ernesto pág. 8 Rafania Almeida págs. 8, 28 e 47 André Cunha pág. 9 Caroline Vilhena págs.9 e 12 Chico Sant’Anna pág. 10 Lúcio Flávio págs. 10, 46 e 49 Paula Oliveira pág. 10 Priscila Praxedes págs. 11 e 46 Luiz Martins pág. 11 João Pitella Junior pág. 22 Francisco Bronze pág. 22 Werley Kröhling pág. 26 Noelle Oliveira pág. 36 Hanna Xavier Ferreira pág. 40 Rômulo Geraldino pág. 40 Marcela Benet pág. 54 Humberto Freitas pág. 54

Gougon págs. 25 e 45

Luiz Cláudio Cunha pág. 45

Nilson Carvalho

Jornalista, gaúcho e gremista. Trocou o sul pelo cerrado em 1980, para se exilar, com prazer, no Lago Norte. Ali trabalha curtindo joias do jazz e da música clássica. É surdo para o resto. Detesta Twitter, Orkut e Facebook, baboseiras que encurtam o mundo e a inteligência. Fã de Churchill, Darwin, Richard Dawkins e de todos que usam a luz da razão e da ciência contra a treva das religiões e dos fanatismos. Vive uma paixão por Inaê, a netinha mais linda do planeta.

É jornalista e artista plástico, mas foi como chargista no Jornal de Brasília e em publicações alternativas que ganhou maior visibilidade. Publicou três livros de charge política. Dedicase hoje às artes, com foco nos mosaicos, entre os quais os monumentos ao educador Paulo Freire, à frente do MEC; ao líder estudantil Honestino, no campus da UnB; e ao educador Anísio Teixeira, na Escola Parque da 507 Sul.

Nilson Carvalho

Baiana, em Brasília desde 1994, quando decidiu cursar jornalismo e mudar de vida. Mudou e descobriu que ser brasiliense lhe parecia ainda mais natural do que ser soteropolitana. Blogueira e colunista, divide o tempo entre os bastidores da política local e as descobertas de Miguel, um brasiliense lindo de quem tem a sorte de ser mãe.

Kacio Pacheco Vianna pág. 12

Avesso a fotos e currículos, este carioca de Niterói, residente em Brasília desde 1970, cristão pela vontade de Deus, como faz questão de destacar, é um dos mais premiados ilustradores e chargistas do País. Trabalha no Correio Braziliense desde 1980 e ganhou vários prêmios nacionais e internacionais, entre eles o de Melhor Desenhista de Imprensa do Brasil, concedido em 1994 pelo I Salão de Humor Henfil, de Belo Horizonte.

Colaboradores

Nilson Carvalho

Paola Lima pág. 25

Bianca Stucky pág. 26

Gaúcha de nascença. Ribeirão-pretana de coração. Brasiliense por opção. Aventureira. Blogueira. Marqueteira. Escritora. Revisora. Sonhadora. Pau pra toda obra. Fala muito. Ouve mais ainda. Ama histórias. Lidas. Contadas. De verdade. De mentira. Adora insights tanto quanto pijamas e esmaltes. Odeia rótulos tanto quanto farofa de jiló.


Carta dos editores

VIPs gastam o deles. Partidos, o seu

P

rovavelmente os personagens da reportagem de capa nem vão tomar conhecimento dela. Afinal, a meiaum está longe de agradar aos chamados VIPs. Não há colunas sociais, seções com “objetos de desejo” ou editoriais de moda. Pra falar a verdade, temos até dificuldade de entender o dialeto deles e não conhecemos as marcas de que tanto falam. Por isso mesmo resolvemos contar como vivem os milionários de Brasília. Nossa equipe esteve em festinhas só para observar. Cumpriu o ritual de acompanhar colunas e revistas que os badalam. Caroline Vilhena conversou com gente “do meio”: fotógrafos, promoters, colunistas. Não com tantos como gostaríamos. A maioria não quis se comprometer. Os que falaram pediram anonimato. Precisam dos socialmente influentes para trabalhar. Constatamos que certos hábitos dos ricos nem fazem sentido para nós. Descobrimos que enfermeiras

são muito mais in do que babás. Que as milionárias malham em grupos muito pequenos, em que dinheiro não é a única exigência para entrar. Que fazem aplicações hormonais para manter o corpo durinho. Aprendemos que há diferença entre ser VIP e “vipíssimo”. As figuras repetidas nas colunas sociais nem sempre são do primeiro escalão. Há os deslumbrados, os vaidosos, os que vivem só de pose, os que tiveram dias de glória e hoje são execrados, os que fizeram um esforço danado para sair na foto. Divertido mesmo é ver que, quando parece que não há mais o que ser feito com tanto dinheiro, sempre há o que inventar. E aí, é uma cafonice danada. Vale construir palácio para o casamento da filha. Usar vários modelos na festa de aniversário como se estivesse no Festival de Cannes. Pena que não exista mais aquele evento de celebração da primavera em que as seletas convidadas usavam

chapéus assustadores. Isso, sim, era diversão. Nem todos são fúteis, esbanjadores ou excêntricos, é claro que não dá para generalizar. Iguais mesmo são os partidos políticos. Nos programas, no discurso e na prática. Nos pequenos, dá pra ganhar dinheiro vendendo vagas a candidatos, apoiando outros partidos ou cedendo tempo de rádio e TV. Os grandes se dão bem assumindo cargos importantes e, do Parlamento, fazendo chantagem para atender a seus interesses. A reportagem é de Rafania Almeida. Enfim, o que os milionários fazem com o dinheiro deles é problema deles, mas o que os partidos fazem é problema nosso. A conclusão a que chegamos é de que, debochando dos ricos e criticando os poderosos, não vamos ser convidados para nenhuma festa.

Anna Halley e Hélio Doyle

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Diretora de Produção: Danielly Alonso Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

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Diretores: Anna Halley, Danielly Alonso e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br

Aquarela digital Designer gráfico, jornalista, ilustrador e empresário. Já publicou nos jornais e nas editoras mais importantes do País. Não vê limite para a criatividade e diz que o impossível não existe.


Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto

ernesto@grandecircular.com

Maldito seja o bairro nobre Se Stephen King conhecesse Brasília e assistisse ao drama do nascimento do Setor Noroeste, já estaria roteirizando sua mais nova obra de horror. É de autoria dele um dos filmes mais assustadores envolvendo terra de índio, Cemitério maldito (1989), baseado em livro que escreveu em 1983. Ele conta a história de uma família que se muda para uma pequena cidade, cercada por fatos assustadores, até que o filho do casal morre e o pai o enterra em um cemitério indígena para que ele ressuscite. Nada bom, como já se pode imaginar. O moleque volta possuído e sai aprontando, leia-se matando. Sobrou até para a mãe. Tudo bem. Ninguém será enterrado no Noroeste e ninguém sabe se realmente existe cemitério de índios por lá. O fato é que, há

alguns anos (sabe-se lá quantos), as etnias Fulni-Ô, Kariri-Xocó, Korubo, Guajajara, Pankararu e Tuxá tomaram conta da área e afirmam que lá é um santuário de pajés. Se é verdade, eu não sei. Só sei que, em 1982, Steven Spielberg teve a genial ideia de fazer Poltergeist, a história da pequena loirinha Carol Anne, cujo doce lar se transforma no reduto do demônio, cheio de manifestações fantasmagóricas. Carol é a principal vítima dos espíritos e desaparece dentro do armário do quarto, arrastada por forças malignas. A casa dela foi construída em cima de um cemitério indígena, vejam só. Era esse o motivo de toda a maldição. Curiosamente, o segundo filme da série tinha como cenário uma casa verdadeiramente construída em cima de um cemitério indígena. Resultado: todo mundo amaldiçoado na vida real. Atores morreram, sofreram, surtaram, até que Spielberg resolveu acabar com a brincadeira, ou melhor, com os filmes, no Poltergeist 3. Qual o interesse dos índios na nobre terra do Noroeste? Eu também não faço ideia. Mas prefiro evitar a fúria de quem, segundo Hollywood, tem o poder de amaldiçoar uma cidade inteira. Rafania Almeida

Eu devia ter ouvido o meu pai... Na última edição, minha colega Priscila Praxedes falou da pressão sobre as mulheres que chegam aos 30 solteiras e sem filhos. Adoraria me preocupar com isso, mas não é o caso. O que me atormente mesmo agora que estou para passar dos 30 é não ter ouvido dois conselhos do meu pai. Tá bom, quando eu era mais nova e morava com ele não soavam como conselhos. Para mim, eram como pragas. A primeira: “Você devia fazer exercício físico


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antes de que precise”. A segunda: “Aproveite para poupar seu dinheiro enquanto eu ainda a sustento”. É claro que continuo sedentária e não estou nem no meio do caminho de ter uma aposentadoria decente. Pois é, esses são meus dramas . Meu pai poderia ter dito “Você devia fazer exercício físico para não ficar com a bunda mole e caída”. Ou quem sabe: “Sua burra, com 30 anos o depósito mensal terá de ser bem maior para você fazer sua aposentadoria, então comece agora. E, não, espertona, com 30 anos você não vai ter mais dinheiro para depositar, porque estará pagando um monte de contas e um aluguel inacreditável para viver em um cubículo no Plano Piloto. Ah, claro, gastará muito com as refeições na rua, porque você também não vai me ouvir e vai se recusar a aprender a cozinhar, filhinha”. Ah, disso nem me arrependo. É, pai, agora ficou mesmo bem mais difícil tomar coragem para acordar cedo e fazer exercício. E já entendi que não é por causa da minha bunda, é porque chegou a hora de cuidar das artérias e tal. Cruzes, que papo é esse? Mais um motivo pra eu correr com esse plano de previdência. Dizem que quando chegamos ao ponto de dar razão aos nossos pais, é porque estamos mesmo ficando velhos. Anna Halley

Filosofia de boteco Em 1981 Josué Samuel Nonato abriu o Bar do Josué na 408 Norte. O botafoguense José Samuel Nonato, seu irmão, trabalhava junto. Depois de alguns anos, José arrendou o bar de Josué e mudou o nome para Meu Bar. É o mais antigo da quadra e um dos mais arcaicos de todo o Plano Piloto. Há trinta anos no negócio de vender cerveja, Zé conta que no início dos anos oitenta era escassa

a circulação de pessoas na Asa Norte. O cerrado predominava em muitos espaços e na 408, quadra destinada a bombeiros e funcionários do Tribunal Militar, não havia mais do que três prédios comerciais. Hoje Zé toca o bar com outro irmão, Valdivino Samuel Nonato (flamenguista), e garante que abre todos os dias do ano. Para ele não há dia santo ou feriado, pois mora em cima do estabelecimento e basta descer um lance de escadas para chegar ao balcão, onde troca alguns dedos de prosa com milhares de amigos e transeuntes. Nesses trinta anos Zé já viu muita coisa, como um sujeito comer na sequência trinta jilós boiando no óleo e dois copos de vidro (se eu não tivesse visto, também não acreditaria), brigas entre sapatas e travecos, crises conjugais ao estilo Nelson Rodrigues, além de conferir a circulação de bicheiros, sambistas e toda a malandragem da Asa Norte – lá é ponto de encontro dos Acadêmicos da Asa Norte. O curioso capitalismo de Brasília faz com que tenhamos a rua das farmácias, a rua dos restaurantes, a rua da informática e assim sucessivamente. Nesse sentido, a 408 N, ou rua dos bares, tem nítida a vocação para o entretenimento. Contribui para isso o fato de ser ao lado da UnB e do Iesb, que somam mais de trinta mil estudantes. Enquanto cada bar tem o seu nicho – há o que toca reggae, outro que vai de rock pesado, e ainda outro café mais arrumado para senhoritas –, o Meu Bar permanece como uma rocha praticando a filosofia de boteco, onde o que vale é a cerveja barata. O pico é nas quintas-feiras, quando chega a vender cinquenta engradados. O que também sai muito é a tradicional pinga 51 e o traçado, feito de conhaque com Cortezano. As mulheres adoram a Xiboquinha, mas para o dono do bar o drink perfeito é “uma genebra e duas

doses de guaranazinho cascudo”. Zé aderiu ao litrão, mas sobre o lançamento da Antártica (cerveja duplamente filtrada), revela: “Ninguém bebe porque tem gosto de água”. Nas imediações, já plantou chuchu e maracujá. André Cunha

Ativistas de sofá Acho engraçado o povo esbravejando nas redes sociais porque a Rede Globo de Televisão não deu a mínima para os Jogos Pan-Americanos deste ano. A propósito, parêntese, ô coisinha incoerente é esse povo que se acha politizado demais, antenado demais, culto demais, a ponto de julgar sua opinião sobre qualquer assunto importante demais. Superficial demais, isso sim. Todo dia tem algum protesto, manifestação, um tal de compartilhe pra cá e pra lá. Coisa mais chata. Que tal tirar a bunda da cadeira e fazer algo de fato ao invés de ficar nessa postura cômoda de ativista de sofá? Tá, fecha parêntese, o papo é outro. Como eu ia dizendo, não acho absurdo a Globo não ter dado imagens e detalhes sobre o Pan-Americano. Pelo menos o Jornal Nacional, único programa a que eu consigo assistir todos os dias, deu notas a respeito dos atletas e das modalidades medalhistas na competição. É o mínimo do comprometimento com a informação e o suficiente. Não houve omissão, mas, se é uma única emissora que tem a concessão da transmissão dos jogos, as outras vão ficar repetindo e fazendo propaganda da concorrente pra quê? Cada uma tem sua programação. Não gostou? Controle remoto tá aí pra isso. Se a Globo não repercute determinado assunto, é boicote por quê? Existem quantas emissoras na TV aberta? Não se pode esboçar


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uma diversificação na mídia que os amantes da “toda-poderosa Rede Globo” – como a chamam, aliás, os politizados e cabeções ativistas de sofá – já começam a fazer campanha. Será que nego não se toca de que são eles mesmos que a consagram assim? Muda de canal, ué! Qual a dificuldade? Dá audiência pra Record e comemora! É o melhor protesto, em vez de ficar fazendo papelão na web e enchendo o meu saco. Caroline Vilhena

Será que vale o custo? Ter Brasília como uma das sedes da Copa foi uma notícia que mexeu com o orgulho de muita gente. A cidade se lançaria na vitrine do turismo mundial, se transformaria num novo portão de entrada do Brasil. Como sede, ganharia benfeitorias, transporte coletivo de qualidade, aeroporto novo, melhorias na sinalização e nas vias no trânsito. A cidade embalada pela cantilena dos governadores Arruda, Rosso e Agnelo sonhou até em ser a anfitriã do primeiro jogo e abrigar aqui toda a mídia internacional. Santa inocência! Com o andar da carruagem, o aeroporto vai ganhar mesmo é um puxadinho. O VLT não estará pronto a tempo para, além de transportar os turistas do aeroporto ao estádio, recuperar a Avenida W3 Sul. As vias expressas da EPTG e a BR-040 no trecho Gama-Plano Piloto também não deverão estar concluídas. Se ficarem prontas, pouco interfeririam na dinâmica dos jogos. Pelo visto, o que ficará pronto mesmo é o mastodonte do novo estádio Mané Garrincha – que perderá seu nome para ser chamado Estádio Nacional de Brasília. Na obra faraônica, deverá ser injetado algo em torno de R$ 1 bilhão, recursos de empréstimos junto ao BNDES e à Terracap. Na capital federal, serão apenas sete jogos da

Copa do Mundo. Numa matemática simples de escola primária, constatamos que, apenas para cobrir os investimentos no estádio, seria necessário vender os ingressos a R$ 2 mil. Certamente os ingressos serão caros, mas a Fifa não deve chegar a tanto. Significa que quem vai pagar mesmo pela obra serão os brasilienses, a custa do sucateamento da saúde, da educação, do transporte e da segurança pública. A pergunta que não quer calar é: será que vale o custo? Com a resposta, Agnelo Queiroz. Chico Sant’Anna

Personagens e coadjuvantes ilustres de Brasília Era 1979 quando o diretor de clássicos do Cinema Novo como Deus e o Diabo na Terra do Sol, Glauber Rocha, causou o maior auê no Hotel Nacional, em pleno Festival de Brasília, palco de grandes manifestações sociais, culturais e políticas. O jornalista Severino Francisco, então um jovem foca ainda com o diploma na mão, estava lá e viu tudo. Cabelos desgrenhados, camisa aberta até o umbigo e bolsa a tiracolo, Glauber andava, na época, às turras com os colegas do cinema nacional, patotinha, segundo ele, responsável por pegar dinheiro do governo e filmar a “bunda da Sônia Braga”. “São uns prostituídos, é o maaangue”, alardeava. Um dos convidados da festa, o amigo e também cineasta francês Jean Rouch, que por ali passava, não seria poupado. “Le espion international, cynique, cynique!”, dizia, numa mistura de francês com baianês. A confusão relâmpago terminou com o diretor baiano arrastado pelos seguranças do hotel, sob protestos. “Sou Glauber Rocha, o maior cineasta do mundo, maior do que Eisenstein.” Com a experiência de trinta anos cobrindo a cena cultural em Brasília, o jornalista

Irlam Rocha Lima já presenciou cenas curiosas. Numa delas, foi coadjuvante de luxo, quando tirou de cima de uma das mesas do Bar Beirute, no início dos anos 80, um alcoolizado Renato Russo, que engatava discurso visceral contra o Brasil da época. Alvejado por bolinhas de guardanapos e vaias estridentes, o líder da Legião Urbana foi poupado de humilhação maior após gesto de altruísmo do jornalista, que o deixou na 303 Sul. Ao retornar ao local, Irlam deixaria um recado. “Sabe o cara que vocês vaiaram e xingaram agora há pouco? É o cantor dessa banda nova que tá tocando no rádio o tempo todo! Vocês vaiaram o Renato Russo”, revelou. Essa história foi contada pelo brilhante jornalista Carlos Marcelo no livro Renato Russo – O filho da revolução. O episódio envolvendo Glauber Rocha breve estará no livro de crônicas Brasilianas, que Severino Francisco está para lançar. Fico imaginado as milhares de histórias como essas que ainda não foram contadas. Lúcio Flávio

É mesmo ou só parece ser? Meu avô paterno dizia: “Não faço dieta porque nunca entendi se devo comê-la antes ou depois das refeições”. Ele era uma figura e, pelo jeito, um gordinho muito bem resolvido! Mas se tem uma coisa que eu aprendi nesta vida é que as aparências enganam muito. Será que ele era mesmo tão desencanado assim? Bom, meu papo não é sobre o meu avô Ícaro, tampouco sobre dietas, mas sobre marketing pessoal. Essa é uma coisa que me intriga muito e é sobre isso que quero escrever. Cansei, não digo de invejar, mas de admirar pessoas que, depois de analisar com atenção, não são tão maravilhosas, felizes, ricas ou competentes como fazem questão de transparecer.


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Concordo com quem diz que é preciso se impor e se valorizar para ser mais respeitado. Ao mesmo tempo, tenho certa restrição quanto a vender a imagem em vez de construí-la com o tempo, com a competência e com os valores realmente necessários para fazer diferença tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Dizer que é sem ser é muito mais feio do que passar quase despercebido e lá na frente mostrar que realmente é. Paula Oliveira

Tudo errado! Os valores estão todos invertidos. Parece aquele discurso de gente velha, mas não é. A falta de respeito está cada vez maior. Hoje, fico assustada em pensar em ter filhos. Quando vou a festas e churrascos, meninas com menos de dezesseis anos estão com roupas minúsculas (detalhe: no frio), fumando e bebendo como umas loucas, como se realmente fosse divertido. Aí eu me pergunto: Cadê os pais dessas crianças? Usar o corpo e ficar bêbada se tornou uma boa forma de viver e de ter histórias para contar

no dia seguinte. Cadê a inocência e a magia da descoberta? Poxa! Com essa idade eu estava começando a sair de casa. Eu sei que os tempos mudaram, mas ainda continuo achando um absurdo toda essa antecipação das fases da vida. É bom receber um elogio por estar com o corpo bonito. Beber com as amigas pode ser divertido. Paquerar é legal. Você pode fazer isso tudo, mas sem exageros, senão corre o risco de ser ridícula. E ainda pode perder as melhores fases da sua vida, podendo ter uma gravidez indesejada ou se viciando em cigarros (que no início era só uma brincadeira e hoje não vive sem). Desculpe! Sei que cada um faz o que quiser do seu corpo, mas garanto que é a vida é bem melhor quando as coisas acontecem no seu tempo certo. Tudo tem a sua hora, respeite o seu limite. O melhor da vida é o efeito de cada momento, não precisa ter pressa, eles vão acontecer. Um dia vai se apaixonar, o sexo vai acontecer e bebidas com responsabilidade e com o amigo da vez ao lado depois dos 18 anos também é permitido... Fico triste de verdade com essa falta de

paciência, temos que ter pressa na vida depois dos trinta, quando ,aí sim, boa parte da vida já passou. É a minha opinião! Priscila Praxedes

O olho do Sol O Sol não é olho de Deus, Mas pode ferir os seus. Mesmo envolto em halo, É Luz em modos de fala. Olhar das civilizações, À Luz que a todos induz, Pensamentos de luscos De que Luz maior nos pensa. Nem a um louco acorreria, Negar ao Sol alegoria, Mirar de tanto disco E ler tão somente faísca. Mais que luz, sentimento, A aquecer, brando e lento, O beijo que a Luz orienta Desde um outro Sol, lá dentro. Luiz Martins da Silva


Capa

Morram de inveja Não é qualquer uma que participa do clubinho restrito da academia, recebe o hormônio da beleza e faz, de jatinho, viagens curtas a Nova York ou Paris. Isso é para as socialites de Brasília: luxo, glamour e um quê de exageros e cafonice Texto Caroline Vilhena Ilustração KaCIO PACHECO carolinevilhena@meiaum.com.br


A

jovem senhora, na faixa dos 40 anos, acorda cedo. Toma café com os filhos, veste um moletom ou sua malha de ginástica e os leva, de carro, ao colégio. Rotina igual à de inúmeras mães de Brasília. Mas apenas nesse curto momento. A partir daí, o dia da jovem senhora é bem peculiar. Afinal, ela não é qualquer moradora da capital federal. É uma das milionárias da cidade. No mesmo bairro, uma senhora que poderia ser mãe da jovem milionária não acorda tão cedo. Afinal, seus filhos já passaram da idade de ir ao colégio. Mas ela também não dorme a manhã toda, a não ser que a noite tenha sido longa, pois tem agenda intensa para o dia: academia, ou exercício em casa com o personal trainer, salão de beleza, almoço com as amigas, visita a algumas lojas muito especiais, lanchinho com outras amigas, lançamento de uma coleção ou abertura de uma loja de grife, jantar – agora, acompanhada do marido –, talvez ainda uma festa. São milionárias de gerações diferentes, o que faz com que a rotina delas tenha diferenças. Mas em essência tanto a jovem como a senhora têm estilo de vida semelhante, se parecem muito. E se encontram, nos mesmos ambientes, algumas vezes por dia. Graças a fortunas gastas nos cuidados com o corpo e com a saúde, há de se reconhecer, nem as jovens, nem as mais velhas, aparentam a idade que têm. Apenas para simplificar, vamos chamá-las de patricinhas, as mais novas, e peruas, as mais velhas. Nada ofensivo, só um clichê. Uma patricinha pode ser perua, uma perua pode parecer uma patricinha. Há patricinhas e peruas em todas as classes sociais, o que muda é quanto se gasta para ser patricinha ou perua. Aqui estamos falando de milionárias, o alto do topo da pirâmide social brasiliense. Poucas, mas poderosas. São, como algumas mais pretensiosas gostam de dizer, “bem-nascidas”. As conversas de patricinhas e peruas também são parecidas. Os assuntos são praticamente os mesmos: roupas, joias, bolsas, sapatos, viagens ao exterior, comidas, hotéis, lanchas, aviões, cirurgias plásticas, festas. Falam também de filhos e netos e, às vezes, do trabalho dos maridos. O que sabem , claro. Como eles não contam tudo e nem tudo pode ser falado em público, sabem pouco. Há casos de herança e de esforço próprio, mas muitas são milionárias graças aos maridos. São empresários, têm grandes negócios no comércio, na indústria ou na agropecuária. Há uns poucos advogados de causas bem-sucedidas

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e lobistas bem articulados, mas que têm suas empresas e assim não ficam à margem do clube. Uns herdaram negócios e fortunas, outros construíram a riqueza a partir do trabalho e há os que começaram a juntar dinheiro com atividades mal explicadas, que em Brasília rendem muito. As milionárias de Brasília torcem o nariz para as colunas sociais. Conversando entre elas, desprezam os colunistas que as bajulam, mas, como gostam de aparecer, retribuem a bajulação e adoram ver seus nomes e fotos nas páginas impressas e na internet. Já têm até blogs especialmente para elas. Conhecem cada fotógrafo das festas e da noite pelo nome. Não perdem uma edição de Caras, que folheiam com desdém, mas prestando muita atenção a cada detalhe. Cabe, porém, esclarecer: nem todas as milionárias são socialites e a maioria das socialites não é milionária. Na vida e nas colunas sociais há outras personagens, bem características de Brasília: as deslumbradas, as vaidosas, as emergentes, as marajás e as penetras sociais. E os iguais a elas, mas no masculino. Essa turma tenta acompanhar as milionárias e seus maridos milionários, copia suas modas e trejeitos, anseia por estar nas mesmas festas e nas mesmas fotos. São socialites do segundo time: empresários de menor porte, executivos de empresas, altos funcionários – especialmente do Senado, da Câmara e dos tribunais, que ganham muito em seus empregos e alguns ainda faturam bastante por fora –, profissionais liberais, políticos. Têm dinheiro e se esforçam, mas estão distantes do estilo de vida dos milionários. Como eles mesmos dizem, falta bala para se igualar a eles. O segundo time faz de tudo por um convite, para entrar nos círculos mais restritos, para aparecer nas fotos. Gastam o que às vezes até podem, mas geralmente não podem, para comprar nas lojas de grife, frequentar os restaurantes caros, ter lancha no Lago Paranoá e carro importado, ir a lugares in no exterior. Podem se endividar, mas mantêm a pose. Generalizar é perigoso e mesmo nos pequenos grupinhos nem todos são iguais. Há diferenças de origem, de formação, de caráter, de personalidade. Há diferenças de geração e até de gênero. Mas dá para sintetizar em poucos qualificativos a média dos milionários de Brasília e seus seguidores do segundo time: são esnobes, fúteis, exagerados, bregas, cafonas, deslumbrados e gastadores. Os homens, particularmente, ainda por cima são machistas. Mas são eles que têm o verdadeiro poder, o do dinheiro.


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Babás de branco são essenciais Voltamos ao início: então as patricinhas levam os filhos à escola? Elas não têm motoristas e uma longa agenda para cumprir durante o dia? Patricinhas procuram ser boas mães, e geralmente são. São da espécie humana e amam seus filhos. Preocupam-se com seus estudos e sua saúde, gostam de estar ao lado deles. Almoços no fim de semana, tomar o café da manhã e levá-los à

escola é uma maneira de estar perto e demonstrar interesse por eles. Como são ocupadas demais, contam com motoristas para transportar seus filhos quando ficam presas nos eventos, e babás. Motoristas de terno e gravata e babás vestidas de branco, naturalmente. Patricinhas não ficam em casa sozinhas com as crianças, nem saem com os filhos sem as babás. Mas não pen-

se que, como na classe média, é uma babá para todos os filhos – é uma para cada um. A família das patricinhas vai almoçar no restaurante caro, mas, enquanto os pais comem, bebem e conversam, são as babás que cuidam das crianças. Mamãe e papai levam os filhos às festinhas de aniversário dos priminhos ou dos coleguinhas. Mas quem fica correndo atrás

dos pimpolhos são as babás. A moda de ir ao shopping e andar na frente enquanto a babá vem atrás com as crianças não é exclusiva das patricinhas milionárias. Chegou à classe média que tem dinheiro para essa despesa. Os milionários, porém, já deram um passo à frente: quando nascem os filhos, contratam enfermeiras para cuidar deles. Sempre vestidas de branco, obviamente.

Como é charmoso meu small group Patricinhas e peruas milionárias raramente aparentam a idade que têm. Frequentam academias, comem bem, vestem-se bem, passam horas nos salões de beleza, vão aos médicos que querem, quando querem e onde querem, para fazer os tratamentos que desejarem. E ainda dormem sem ter de pensar que pode faltar dinheiro no dia seguinte. Muitas peruas adotaram o pilates, mas não dispensam o personal trainer e a academia para fazer também aeróbica e musculação. A academia preferida das patricinhas fica às margens do Lago Sul, perto das mansões em que moram. Frequentá-la é questão de status. Principalmente porque é lá que reina o professor de ginástica preferido de todas elas. Ele dá aulas em quatro horários por dia para as pessoas comuns que podem pagar o preço da academia. A disputa é grande,

pois o segundo time tem de estar onde o primeiro está e patricinha que se preze tem de malhar ali. De preferência, com ele. Patricinhas milionárias, porém, não se misturam tanto assim. Por isso, têm o que chamam de small group: aulas muito especiais, para turmas bem pequenas, nas quais só entram as aprovadas pelo grupo. Não basta ter dinheiro e horário disponível: é preciso receber bolas brancas das participantes para ingressar no circulozinho íntimo. Como se os preços já não garantissem a seleção natural da espécie: R$ 2.400 por mês para a turma de segundas, quartas e sextas e R$ 1.800 para as turmas de terças e quintas. E uma das patricinhas vai além: quando viaja em seu iate, leva o personal do grupo e a mulher dele. Para desolação das que ficam.


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Dinheiro garante a boa forma Não é só pelo trabalho do personal que patricinhas e peruas parecem mais jovens e podem mostrar aqueles corpos perfeitos e quase perfeitos, considerando-se, claro, a idade de cada uma. Elas cumprem, todo ano, um ritual sagrado: receber o implante de hormônios de conhecido médico baiano que, por ganhar muito dinheiro em Brasília, abriu consultório aqui. O hormônio interrompe a menstruação, garante massa muscular e deixa as patricinhas e peruas mais secas, do jeito que elas gostam. Uma aplicação pode custar de R$ 1 mil até R$ 8

mil. Se for pedida uma consulta agora, só haverá data no ano que vem. Dermatologistas e cirurgiões plásticos de patricinhas e peruas são geralmente de São Paulo. Tratamentos menores podem ser feitos em Brasília, mas aquelas intervenções mais complexas exigem que elas peguem seus jatos particulares rumo a Congonhas ou a Guarulhos. Massagens são, de preferência, em casa. Todos os dias, para algumas. Como também são diárias, para muitas, as idas aos cabeleireiros e maquiadores. Patricinhas e peruas costumam

ter compromissos todos os dias e precisam estar com tudo em cima: cabelos, unhas, rosto. As peruas gostam de brilho, joias em excesso, maquiagem pesada. São exageradas, bregas e nada chiques, embora pensem o contrário. Mas quem vai dizer isso a elas? Enfeitam-se para a inauguração de uma loja como se fossem a uma festa de gala. Patricinhas procuram ser mais modernas e se vestem com maior cuidado, mas também não resistem a se encher de joias e maquiagem para os mais simples eventos. Vestem roupas caríssimas, compradas em Paris, para tomar um café espresso.


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O melhor da viagem é contar depois Patricinhas e peruas viajam ao exterior no mínimo quatro vezes por ano. Bem entendido: viagens longas. Passar um fim de semana em Paris, almoçar em Nova York ou dar um pulinho em Barcelona não contam. Como tudo é fácil para quem tem dinheiro, fazem coisas estranhas. Um casal levou seus padrinhos de casamento para a lua de mel na Europa, tudo pago. Os jatos executivos estão sempre a postos no aeroporto, alguns têm iates ancorados no Mediterrâneo. Para outros, nada custa alugar um, por uma semana ou dez dias. Nas viagens, compram muito. Roupas, sapatos e bolsas de grife são muito mais baratos no exterior, e assim elas unem o útil (a economia) ao agradável (as compras). Nada de Louis Vuitton, que está popular demais. Os small groups preferem Stella McCartney, Chanel ou Céline. Elas têm uma explicação óbvia para acumularem bolsas e sapatos (de preferência, Christian Louboutin ou Manolo Blahnik): ora, bolsas e sapatos têm de combinar com as roupas e não podem ser repetidos. Viagens internacionais servem também para se hospedar nos mais caros hotéis, comer nos mais caros restaurantes, badalar nas mais caras casas noturnas, tomando as mais caras bebidas. Patricinhas e peruas milionárias não costumam conhecer as cidades que visitam: conhecem apenas seu circuito próprio, seu mundo muito particular. Não há museu que se compare a uma badalada e restrita casa noturna. Ao museu se vai para poder dizer que já foi. O maior benefício dessas viagens talvez não sejam as compras, ou a badalação. O bom mesmo é que sobra assunto para muitas conversas nos salões, nos jantares, nas festas, nas lanchas...

Gastar e mostrar “Não é preciso ter classe, mas é indispensável ter muito dinheiro, o suficiente para, além de gastar, mostrar”, ensina um colunista social. Ele entrega o jogo: “Não importa quem você seja, se tiver joias caras, roupas de estilistas famosos, sapatos e bolsas de marcas reconhecidas, se fizer pelo menos duas viagens ao exterior por ano e, o mais importante, se souber e gostar de falar muito sobre tudo isso, você será bem aceita”. Um fotógrafo que trabalha para colunas sociais resume: “Brasília é assim, uma grande cidade de interior com

status de capital. O negócio é aparecer, gastar milhões em uma festa e ser considerada influente”. Há as figurinhas carimbadas para o chique e para o brega. “Se fulana de tal estiver na festa, é sinal de que o evento é de altíssimo nível. Se você receber um convite para uma festa de fulana de tal, meu bem, pode dar pulos de alegria, você é vipíssima!” Milionários não são perfeitos. Sempre tem aquele inconveniente, alguém que bebe demais e faz barraco. “Aliás, as pessoas não sabem, mas barraco é o que mais tem em festa de gente fina”, diz o fotógrafo. Há também

mobilidade: muitas figuras que há uns anos não podiam faltar nas listas dos promoters da cidade hoje estão absolutamente banidas. “Sem contar com aquele caso típico do milionário que troca de mulher e ela não é lá da mais alta categoria. Aí já viu, as fofoletes rejeitam mesmo!” O profissional lembra o emblemático caso de um político que chegou a pagar R$ 200 mil a uma famosa produtora da cidade para que ela ensinasse à nova esposa como se vestir e como se portar para ser aceita em sua nova realidade social.


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Vale tudo, tudo para aparecer Milionários, paradoxalmente, não pagam para ir a shows, inauguração de casas noturnas e eventos nos quais as pessoas comuns desembolsam altas quantias. Como são milionários, são convidados VIPs. Se não são convidados, podem se sentir ofendidos e não vão pagar para ir, para desespero dos organizadores. São também chamados para casamentos, festas de aniversário e comemorações em geral. Não exclusivamente dos amigos. Recebem convites daquela turma do segundo time, ansiosa para se mostrar e ascender socialmente. Uma milionária acha graça quando sua filha recebe alguns convites para festas de 15 anos, pois muitas vezes a menina não tem a menor ideia de quem a está convidando. Patricinhas e peruas do segundo time batalham como podem por um convite para os eventos da alta roda brasiliense. Há na cidade dois promotores de festas cujos mailings são valorizadíssimos. Um deles é hoje o xodó das patricinhas, a outra se mantém mais com as peruas. Estar nos mailings deles é estar perto da glória. Mas como ser convidado se não se pertence ao small group dos milionários? Há macetes. Um deles é comprar em lojas caras que, geralmente, pertencem a patricinhas ou peruas. São, na maioria, lojas que vendem roupas e joias. Quanto mais se gasta

nelas, mais chances de entrar nas listas de convidados. Essas lojas, aliás, têm várias funções: sendo proprietárias, as patricinhas e peruas podem dizer que trabalham, e isso hoje é in; como os produtos são caros e a margem de lucro é grande, a renda é boa, embora não essencial; e as lojas favorecem o relacionamento com pessoas que podem frequentá-las. Servem também, em alguns casos, para “lavar” o dinheiro dos maridos ou delas próprias. Outro macete pode sair mais caro: é promover grandes festas e convidar muita gente. Exibir-se, mostrar que não está nem aí para as despesas. Champanhe caro, enxame de empregados, até apresentação de artistas famosos. Para amenizar, basta pensar que esses elevados gastos são investimentos no futuro. O importante é impressionar bem e assim as chances de ser convidado para festas e eventos aumentam. Menos eficaz, mas nem por isso dispensado, é o recurso de se mostrar nas colunas e páginas sociais. Ocupar duas páginas contando como foi seu casamento, ou de um filho, exibindo fotos dos convidados, por exemplo. Há socialites que pagam para aparecer em algumas colunas, há comerciantes que nada cobram de colunistas. Milionários, claro, não precisam disso.


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As noites dos bem-nascidos Brasília tem duas novas casas noturnas feitas para os milionários e seus seguidores endinheirados. Luxuosas, primeira linha, franquias de casas em Nova York e em São Paulo. São daquelas cujos porteiros e promoters, no extremo do pedantismo e do segregacionismo, escolhem quem pode e quem não pode entrar. Há pessoas que gastam R$ 5 mil, R$ 10 mil em uma noite. A primeira está no Gilberto Salomão. É um empreendimento de bem-sucedidos empresários da cidade com fama de festeiros. Na estreia, em setembro, foram 300 convidados

minuciosamente selecionados. A casa não tem camarotes, mas 15 lounges ao valor de R$ 3 mil e R$ 4 mil cada um, e esses preços ainda podem aumentar, dependendo do dia. Dois enormes lustres de cristal sintetizam a proposta do club, que não tem pista de dança, pois se dança onde se quer dançar. A grife suíça de relógios Hublot e a Mercedes-Benz são parceiros da casa. Carros da marca e com valor acima de seis dígitos têm direito a estacionamento fechado. A outra casa noturna é a filial brasiliense de um famoso club novaiorquino e funciona na plataforma flutuante ancorada no Lago.

Resultado de investimento de R$ 2 milhões, o ambiente é superluxuoso, composto, entre outros elementos, por um lustre com mais de 10 mil cristais italianos. A filial de São Paulo, na Villa Daslu, recebeu em 2010 o título de melhor club do Brasil. A boate recebe apenas 450 pessoas por noite. Todos os camarotes para o dia da inauguração foram vendidos com grande antecedência. Os 50 cartões VIPs que o proprietário – conhecido empresário da cidade, dono de outras casas noturnas – colocou à venda, a R$ 3 mil ou R$ 6 mil cada um, se esgotaram em menos de uma se-

mana. O cartão, que dá direito a curtir festas ao longo de um ano, com acompanhante, é uma vitrine para os milionários da cidade e para o segundo time. Há ainda quem pague mais de R$ 6 mil por um cartão, podendo reverter metade do valor em consumação. Em março de 2012 deve ser inaugurada a filial brasiliense de uma famosa danceteria de luxo da ilha de Ibiza, na Espanha. Outra boate e uma casa especializada em música sertaneja estarão em um complexo de lazer orçado em R$ 36 milhões, que está sendo construído às margens do Lago Paranoá.


Histórias de ostentação e breguice Versalhes no Lago Sul

Em setembro de 2010, o casamento da filha caçula de um empresário movimentou o círculo dos milionários brasilienses. Estavam lá 1.400 pessoas nem um pouco constrangidas pelo fato de o pai da noiva ser um dos personagens filmados no episódio conhecido como “mensalão do DEM”. O inusitado é que o empresário comprou, especialmente para o casamento, uma mansão em um terreno de 10 mil metros quadrados. Assim, explicou a amigos, não precisaria usar sua enorme casa nem se submeter aos limites de um salão de festas. Mas não era só por isso. O empresário construiu uma réplica do Palácio de Versalhes, com 2 mil metros quadrados e todos os espelhos e fontes do original. Copos de cristal para as Veuve Clicquot foram fabricados especialmente para a festa. Por aí já dá para imaginar o resto, entre o brega e o chique. A noiva usou uma coroa cravejada de brilhantes do século 18, que pertenceu à família imperial brasileira. Seu vestido, bordado com vidrilhos e pérolas, tinha cauda de 8 metros. Até patricinhas e peruas bem-nascidas e bem vividas se embasbacaram.

O fim da garden party

O “mensalão do DEM”, no qual se envolveu o empresário do casamento, foi o responsável pelo fim de uma tradição cultivada durante seis anos por peruas e patricinhas de Brasília, sempre no início da primavera: uma festa em que todas tinham de ir usando chapéus. A festa era promovida pela mulher de outro empresário nos jardins de sua mansão. A sexta edição, em 2009, foi a última. O clima entre os milionários de Brasília por causa da Operação Caixa de Pandora não recomendava mais a comemoração dos milionários e sua trupe. Até porque os anfitriões eram intimamente ligados a vítimas da operação policial. Da Festa dos Chapéus participavam cerca de 200 mulheres, entre milionárias, socialites, empresárias, embaixatrizes, políticas. Os convites para a garden party eram disputadíssimos, porque recebê-los era sinal de prestígio. Além do que a qualidade das bebidas e comidas era insuperável: Veuve Clicquot, ostras, caviar, lagostas. Havia um lounge especialmente para os doces. No ambiente, muitas flores. Em 2009, a festa foi animada por um pocket show da cantora Wanderléa. Em 2008, a apresentação foi dos Golden Boys.

A vaquinha das patricinhas

Trazer artistas famosos para suas festas é prática habitual dos milionários de Brasília. Quem começou foi um empresário e ex-senador que surpreendeu os convidados para o aniversário de um filho, há muitos anos, com um show do Balão Mágico. Os 600 convidados para a comemoração do aniversário de uma das milionárias da cidade assistiram às apresentações de Ivete Sangalo e do DJ Jack, trazido especialmente de Saint-Tropez. Ivete, segundo se diz, recebeu R$ 600 mil de cachê. Uma bobagem, claro. A anfitriã vestiu dois Balmain, que custam cerca de R$ 30 mil cada um. Antes do megaevento, uma prática muito comum entre peruas e patricinhas: dias antes da festa, a aniversariante visita uma famosa joalheria, que pertence a uma grande amiga dela. Ela se encanta por uma joia caríssima e diz que adoraria ter uma daquelas. A dona da joalheria liga então para as amigas mais próximas da aniversariante e 15 a 20 delas se cotizam – cerca de R$ 2 mil para cada uma – para comprar a joia. Quem ganha, claro, demonstra enorme surpresa. Pois milionárias também fazem vaquinha. E depois fazem questão de contar isso, pois ter participado da “lista” das amigas que se cotizaram é privilégio. Faz a diferença.


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Ruim com eles, pior sem eles Milionários geralmente não gostam de políticos, mas precisam deles. Como obter aqueles contratos fantásticos sem cultivar relações com os políticos, como conseguir concessões de serviços públicos, como garantir decisões favoráveis nos Três Poderes? Eles precisam disso para continuar milionários. Por isso, políticos são cultivados por milionários, e suas mulheres são muito bem tratadas pelas patricinhas e peruas. Há um caso famoso em Brasília: a mulher de um empresário foi formalmente designada pelo marido para introduzir na sociedade a esposa de um político. E ajudá-la a se sair bem nas rodas que passaria a frequentar. Cumpriu bem seu papel. Políticos, geralmente, gostam de ser paparicados por milionários. E não é só com as contribuições financeiras “por dentro” e “por fora” para as campanhas. É com convites para viajar em jatinhos, passear na Europa, tomar um uísque 18 anos. As mulheres e filhas de alguns políticos adoram entrar no círculo fechado das patricinhas e das peruas, os filhos ficam satisfeitos de ingressar no mundo dos altos negócios. E, afinal, para boa parte desses políticos bastam alguns anos de mandato para se tornarem milioná) rios e entrar na roda. )


Conto

Requisitos básicos

A lista de Cláudia

Ao reencontrar sua amiga de juventude, um homem tenta desvendar as sutilezas da alma feminina

Texto João pitella Junior Ilustração FRancisco Bronze pitellajr@globo.com

Chuva e Brasília — parecia um reencontro quase tão impossível quanto o de Cláudia e Paulo. Noite de domingo, dois de outubro, e as gotas batiam devagar na janela daquele apartamento de sexto andar na Asa Sul. Em pé, com a cabeça encostada no vidro para ouvir melhor o raro som da água, Paulo admirava a visão de Cláudia. Difícil de acreditar, mas ela estava outra vez ao alcance dos seus olhos, deitada no sofá da sala, encolhida, se protegendo do frio com um cobertor meio improvisado, tentando

bronze@grandecircular.com

conter um choro indiscreto. No frio, ele ficava menos ansioso. Ela se tornava mais triste. Ele era só um homem, então gostava de pensar em Cláudia como a menina de sorriso naturalmente ingênuo que havia conhecido há dez anos. A moça meio sonhadora que ele imaginava decifrar tão bem. “Garotos são só garotos”, dizia uma certa letra de música. As mulheres são muitas coisas.

***

As luzes estavam todas apagadas, menos a da televisão. Tempo de Rock in Rio e Axl

Rose cantava: “Don’t you cry tonight, don’t you cry tonight…” Paulo se afastou da janela e correu para perto do sofá. Sentado no chão, começou a abraçá-la. Os rostos se tocaram e ele sentiu o longo cabelo de Cláudia escorrendo pelos seus ombros, as lágrimas de Cláudia molhando suavemente o seu rosto. Ele poderia ficar assim até março, quando a chuva parasse. A chuva, o escuro da sala, a música na TV, o frio modesto, mas agradável. Qual seria a única coisa que ele poderia di-


23 zer para Cláudia, baixinho no seu ouvido? — Eu te amo. Nunca vou deixar você chorar de novo. Cláudia pareceu ter ouvido uma ofensa. Ela se ergueu rápido, jogou o cobertor no carpete e sentou no canto mais distante do sofá. — Quanta bobagem. Vocês só sabem falar essas besteiras românticas. “Eu te amo”, “você não vai chorar”. Vocês acham que eu ainda sou adolescente? Que eu preciso de homem pra ter força? Ele se levantou e reagiu com uma surpresa arrebatadora: — Vocês quem!? — Quase todos os homens. Só falam comigo como se eu fosse uma garota frágil, bobinha e bonitinha, e não uma mulher de mais de 30 anos. Não aguento isso. Paulo sentou-se ao lado dela, perplexo, e colocou a cabeça entre as mãos como se tentasse organizar os pensamentos. Não, a Cláudia que ele conhecera na época da Universidade de Brasília não era assim. A verdadeira Cláudia poderia ouvir só dele, Paulo, aquelas declarações especiais, pois os outros homens não eram tão sensíveis. E ela ficaria feliz ao saber que alguém sabia admirá-la com a merecida intensidade. Era assim que deveria funcionar. — Depois da UnB, muitos homens falaram com você desse jeito? Eu pensava que… — Muitos. E eu corri de todos eles. Eu não suporto declarações exageradas. Quem acredita nessas besteiras? Paulo sentiu um ligeiro calafrio. Então, ele se lembrou de um fato da vida: elas nunca acreditam quando você diz a verdade. Você pode ser um mentiroso descarado e ser levado a sério, mas não fale a verdade. Paulo já deveria ter aprendido. Se você realmente gostar dela, não diga. Sim, mas havia um toque doce naquela agressividade feminina. Você precisaria ter os olhos treinados de Paulo para perceber, mas a menina de

22 anos de idade ainda estava ali, guardada naquela mulher agora tão mais bonita, tão mais intensa. Ela deixou escapar a gargalhada da juventude, a mesma que Paulo só tinha ouvido, antes de conhecer Cláudia, de pessoas sem o fardo de grandes posses materiais. Só elas conseguiam ser felizes assim. Elas e Cláudia, sua musa e companheira de fim de adolescência, a única mulher com quem ele se sentia à vontade, sem precisar representar. Cláudia era sua amiga, apesar de ser linda, e era bom poder contar com ela.

***

Paulo não acreditava em horóscopo, mas de repente se lembrou da definição das pessoas do signo de Cláudia que havia lido num almanaque: “Duras na aparência, vulneráveis no interior”. Só agora ele achava que aquilo tinha algo a ver com a sua Cláudia. Ao perceber que ele estava decepcionado, ela passou a mão carinhosamente no seu cabelo. — Ei, moço, pare com isso, olhe pra mim: eu não sou mais aquela garota dos seus sonhos, vivi muito nesses dez anos. Eu sou uma mulher. Não sou uma “menina boazinha”, porque isso é ridículo. Aquela pessoa que você admirava era horrível, entendeu? Horrível. Não é de mim que você vai gostar agora. Paulo beijou de leve a boca de Cláudia, roçando o seu lábio inferior no lábio superior dela. Depois beijou a sua testa, enquanto ela ficava cada vez mais calada. Os dois se fitaram em silêncio, e ele nunca havia visto aqueles olhos tão sérios. Em algum lugar da face, talvez surgissem rugas mais tarde, mas Paulo percebeu que amaria cada defeito daquele rosto. Aquela mão que ele apertava poderia não continuar sempre tão suave, e ele nem pensaria em largá-la. — Ela não era horrível, moça, mas fique sabendo: gosto mais de mulheres do que de meninas.


24 enquanto ela adormecia no sofá.

***

Era contra os seus princípios, mas ainda restava uma curiosidade e Paulo tinha a chance de procurar a tal lista. Ele foi até o escritório onde ela guardava os diários, fotos e outras lembranças. Abriu uma gaveta e lá estava o álbum do casamento de Cláudia. Ela parecia feliz, com sorrisos em todas as páginas. Mesmo sentindo-se desconfortável, Paulo foi escavando outras gavetas e achou o cartão de Natal personalizado que ela havia feito há alguns anos, com uma foto simpática ao lado do ex-marido, em quem tanto apostara. A mensagem de boas festas era assinada pelo casal, mas deveria ter sido escrita só por ela, claro. Aquele homem agora vivia longe dali, talvez feliz por não ter mais uma companheira tão especial. Paulo remexeu mais e viu muitas cartas de amigos e parentes elogiando a generosidade de Cláudia, agradecendo algum favor decisivo, recordando pequenos e grandes gestos solidários daquela mulher que “ajudava todo o mundo”, como definia uma das mensagens. Paulo encontrou até uma foto parecida com aquela que havia acabado de rasgar, mas resistiu à tentação de levá-la e apenas disse “bom te ver de novo”, antes de recolocá-la cuidadosamente no fundo da gaveta. A aliança do casamento estava guardada numa caixa bonita, decorada com flores em relevo.

***

Não dava mais para continuar, e a tal lista nem deveria existir mesmo. Paulo voltou até a sala, onde Cláudia ainda dormia e Axl Rose agora cantava “all we need is just a little patience”. Então, ele tirou uma rosa do vaso e colocou ao lado dela no sofá, junto com um bilhete que deixou apoiado no caule: “Moça má, você sempre vai poder contar comigo”. Paulo deu um leve beijo no rosto de Cláudia e foi embora sem ver a lista que ela escondia no bolso:

“Eu quero um homem que… 1) não me subestime; 2) não me subestime; 3) não me subestime.”

)

— Por que você não gostou de mim naquela época? Seria tudo mais fácil. — Sempre gostei. Você se lembra de quando nós estudamos juntos nas últimas provas da UnB? Lá na biblioteca, abraçados, eu com o rosto encostado no seu, com o braço em volta do seu ombro e segurando a sua mão direita, te admirando com o canto do olho, apoiando o livro com a minha mão esquerda pra você ler. Era um pouco frio assim, como agora. Você queria estudar e eu só queria ficar do seu lado. — Mentira. Foi comigo que você foi embora de Brasília? Não. Você me fez casar com quem eu não deveria. Eu te odeio. Paulo ficou em silêncio. Ele nem imaginava que ela agora pudesse falar assim sobre os tempos da UnB, quando sempre tinha algum namorado. E como ele poderia, antes de ser um homem experiente, ter a confiança necessária para conquistá-la? — Meu amor, vamos pensar no que nós ainda podemos fazer. É o futuro que conta. Quero lutar por você. Lutar junto com você. Ela tentava agir com frieza, mas ria um pouco enquanto ia falando: — Eu não sou o seu amor. Você não está na minha lista. — Que lista é essa? — Uma que escrevi, com as três principais qualidades do homem que eu quero pra mim. Você não cumpre os requisitos. Nem você nem ninguém. — Me deixa ver? — Nunca. — Vou adivinhar: a senhorita quer um cara loiro, de olhos azuis e com muito dinheiro. — Sinto informar que você não está sendo nada criativo, Paulo. É melhor me levar a sério. — Bem, se ele precisa se encaixar nas suas especificações técnicas, é mais fácil procurar um robô. — Boa ideia. — Não vai me deixar ver a lista mesmo? — Claro. Que não. — Então sou eu que vou te mostrar uma coisa. É uma surpresa, pra você escrever uma dedicatória. Paulo tirou da carteira uma velha foto de Cláudia, do dia em que eles se conheceram na faculdade. Lá estava o sorriso espontâneo, emoldurado por um cabelo charmosamente caótico que ele adorava. Ela fez uma careta, arrancou a foto das mãos de Paulo e a rasgou sem que ele pudesse reagir para salvar o seu tesouro. — É ridículo você ter guardado essa porcaria. Tenho pena de você por não perceber que não sou mais essa pessoa. Sim, agora ela havia tido sucesso. Finalmente convencido de que esta não era a sua Cláudia, Paulo se levantou devagar e foi de novo até a janela. Ficou por longos minutos ali, olhando a chuva,

)


Fora do Plano por PAOLA LIMA

paolamlima@gmail.com

De novo, mas diferente

Policial, respondendo a processo na Justiça e disposto a revelar esquemas de corrupção. Mais uma vez, Brasília tem um personagem assim como pivô de uma crise política no Palácio do Buriti. A diferença entre Durval Barbosa, detonador da Caixa de Pandora em 2009, e João Dias, envolvido com a Operação Shaolin, é o alcance de suas provas. Durval deu à Justiça detalhes suficientes para desvendar um esquema de desvio de recursos públicos no GDF a ponto de derrubar o governador e o vice. À imprensa, divulgou vídeos que comprometeram irreversivelmente nomes fortes da política local. João Dias ainda não conseguiu fazer nem uma coisa nem outra. Mesmo com relatos fortes do desvio de dinheiro por meio de convênios com ONGs dentro do Ministério do Esporte, ainda não surgiram provas contundentes para a opinião pública. Para alívio do governador Agnelo Queiroz.

Fatos ajudam Se nenhuma novidade aparecer, é quase certo que Agnelo sobreviverá à crise. Confiante, o governador tem declarado que já esclareceu as denúncias à época da campanha eleitoral e o fará mais uma vez. De forma objetiva, o petista tem alguns pontos em seu favor. O primeiro é não estar diretamente envolvido em nenhum dos fatos relatados até agora. Contando, inclusive, com declarações do próprio João Dias de que não tem provas concretas contra o governador. Além disso, as denúncias atingem essencialmente o PCdoB, partido do qual Agnelo não mais faz parte. O segundo fato importante é que a suposta corrupção ocorreu no Ministério do Esporte e não dentro do governo do Distrito Federal. Apesar de a instância de governo afetada não

diminuir a gravidade do escândalo, reduz, na prática, o impacto das denúncias no público local – que interessa prioritariamente a Agnelo. Por fim, todas as acusações foram usadas contra ele durante a disputa eleitoral ao GDF, o que contribui para os argumentos de uso político dos fatos, ou “terceiro turno”, como o PT vem classificando o caso.

Mácula irreversível Sobreviver às denúncias, no entanto, não significa sair ileso da crise. O governador não poderá mais pronunciar, com a mesma convicção, seu bordão de campanha. Sim, “Brasília não aguenta mais tanta ilegalidade”. Mas um governador que já teve bens bloqueados pela Justiça – por conta de suspeita de superfaturamento em aluguéis durante a realização dos jogos Pan-America-

nos no Rio de Janeiro, quando era ministro do Esporte – e agora é alvo de um inquérito no Superior Tribunal de Justiça por desvio de recursos públicos pode até ser inocentado no futuro. Mas demonstra viver perto demais das “ilegalidades”. A proximidade é potencializada pelas questionadas alianças partidárias que o ajudam a governar a capital federal. E mais ainda pela demora da máquina pública em apresentar resultados satisfatórios aos brasilienses. Agnelo Queiroz pode, sim, chegar com fôlego para a reeleição em 2014. Mas seu discurso de moralidade e novos caminhos terá de ser revisto. O que pode não chegar viva a 2014 é a capacidade do brasiliense de acreditar que o político ficha limpa, tão desejado e aclamado no mundo ideal, exista mesmo na vida real.


Artigo

Do Sul para o Centro-Oeste

Os paradoxos e os encantos da cidade na visão de quem chegou há pouco tempo

Texto Bianca Stucky Ilustração Werley kröhling bianca.stucky@hotmail.com

werleyk@gmail.com


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ara uma gaúcha, que morou dez anos em São Paulo, há um ano Brasília nada mais era que o sonho de Juscelino Kubitschek, arquitetado por Oscar Niemeyer, transformado em realidade por candangos de todas as partes do País. Um museu a céu aberto, como tanto se ouve por aí. Após ter passado mais de 12 meses habitando este avião e suas cercanias, posso afirmar que minhas impressões mudaram e variaram ao longo do tempo. Brasília vive paradoxos, ao mesmo tempo em que o povo acolhe, vive sua vida da porta para dentro. Ao mesmo tempo em que as pessoas podem apenas fazer sinal de vida para atravessar a rua, muitas delas morrem atropeladas por falta de faixa de pedestre nos grandes eixos. Uma caminhada pode ser interrompida pelo surpreendente término da calçada. Os prédios são baixos e uma brisa agradável se faz sempre presente, o que dá um ar praiano. Parece que a qualquer momento surgirá o mar em algum horizonte. O que surge é o Lago Paranoá, com pontos verdadeiramente lindos. Não há esquinas, mas uma quadra virada para a outra. Passear pelo Plano Piloto é como passear por um gigante condomínio fechado. Brasília é tão bonita que até no GPS é gostoso admirá-la. Em vez de jogar livros usados fora, as pessoas os deixam nas paradas de ônibus, formando pseudossebos. A propósito, o vocabulário brasiliense tem muito do gaúcho. Aqui se fala parada de ônibus, não ponto de ônibus como em São Paulo. Fala-se carteira de motorista, não carta de motorista como falam os paulistas. As pessoas usam o pronome “tu” sem conjugar o verbo corretamente, como frequentemente pode ser observado em Porto Alegre e em seus arredores. Há também peculiaridades cariocas. No sotaque, o r não chega a ser como no carioquês, mas tem uma puxada discreta. Digamos que a merrrrda carioca é apenas merrda aqui. Outra forte influência carioca está no futebol, os times pelos quais o povo mais torce são os do Rio de Janeiro. Quanto ao clima, depois de toda a umidade do Sul, com direito a limo e a paredes formadoras de bolhas, foi difícil me adaptar ao clima quente e seco e às queimadas de Ribeirão Preto ou às chuvas diárias da capital paulista, mas nada se compara à secura de Brasília, o clima do cerrado só pode ser avaliado depois de ser respirado. A política está em todo lugar, as pessoas têm partido político tanto quanto time de futebol. Sempre frequentei

salões de beleza onde as mulheres fofocavam sobre a vida dos artistas e o desfecho da novela das 21h, hoje esse papo jogado fora dá lugar a calorosas discussões políticas. Em tempos de eleições, todas, da manicure à madame, têm em quem e por que votar. Realmente creem nas promessas dos políticos. Se bobear, até as crianças têm opiniões mais bem formadas sobre em quem votar que eu mesma. Na música, Legião Urbana deixou forte legado e o que prevalece é de fato o rock’n’roll. Mesmo aquele que curte um sertanejo curte também esse cara. As pessoas pelas ruas não são tão ousadas como em outros pontos do País, mas há os excêntricos, que, diga-se de passagem, podem ser conhecidos também como corajosos. Brasília é conservadora e, apesar de ser a capital do País, carrega forte ar provinciano, exaltado por meio de revistas e programas que envaidecem a sociedade. Ser funcionário público é muito mais importante que passar no vestibular, tanto que os cursinhos os destacam, tornando a UnB não mais que uma universidade pública, se é que isso é desmerecimento. Há fortíssima miscigenação cultural e de etnias. Mesmo dentro de um restrito círculo de amizades, facilmente você angariará amigos cariocas, piauienses, baianos, paranaenses e por aí vai Brasil afora. Brasília é tímida, talvez a pouca idade ainda não lhe tenha dado a segurança que merece sentir. Aos poucos e com jeitinho é possível conquistá-la. Embora ela definitivamente não seja para qualquer um. Viver em Brasília tem, sim, seu charme, um pouco por ser bastante diferente de tudo o que se vive do Centro-Oeste para baixo. Muitos definem Brasília como “a ilha da fantasia”, acredito que porque ela faça sombra à feiura de seus arredores e represente com riqueza um país, na verdade, repleto de pobreza. Quem se permite conhecê-la está longe de conhecer o país que ela representa. Em contrapartida, se permite conhecer parte da história do Brasil lindamente contada pelos pontos turísticos. Um distrito planejado, que abriga milhões de pessoas vindas de um extremo a outro. Um campo energético fortíssimo, um céu sem nuvens e um dos mais lindos pores do sol que eu já vi.

Parece que a qualquer momento surgirá o mar em algum horizonte. Brasília é tão bonita que até no GPS é gostoso admirá-la.


Poder

Muitas letras,

poucas ideia

bons negócio Os partidos são cada vez menos importantes, no Brasil e no mundo. E são os próprios políticos que mais contribuem para isso. As principais legendas nacionais são parecidas na ideologia e na prática e são as instituições públicas que menos inspiram confiança da população Texto Rafania Almeida rafania@meiaum.com.br


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e escolhesse uma canção para contar sua história política, o ex-governador, ex-deputado e ex-candidato a presidente Ciro Gomes talvez optasse por aquela em que o saudoso Noel Rosa pergunta: “Com que roupa que eu vou?” Ao longo de sua trajetória de 31 anos na política, Ciro Gomes usou várias roupas. Começou a vida pública, aos 22 anos, como candidato em uma chapa de direita derrotada nas eleições para a diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE). Aos 25 anos, em 1982, foi eleito deputado estadual, no Ceará, pelo Partido Democrático Social (PDS), criado para suceder a Aliança Renovadora Nacional (Arena), a legenda que dava sustentação política aos governos militares quando havia apenas dois partidos, um do governo e outro de oposição – o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Um ano depois, foi para o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que sucedeu o MDB. Reelegeu-se deputado estadual em 1986, mas dois anos depois já estava entre os fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), no qual, em 1988, elegeu-se prefeito de Fortaleza e, em 1990, governador do Ceará. Em 1994 assumiu o Ministério da Fazenda, no governo de Itamar Franco. Já no governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1996, filiou-se ao Partido Popular Socialista (PPS), denominação dada, desde 1992, ao antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Estava no PPS quando disputou as eleições para presidente da República em 1998 e em 2002. Em 2003, no governo de Lula, filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), sendo nomeado ministro da Integração Nacional. Cinco partidos, do PDS ao PSB, em 21 anos. Mas Ciro Gomes, que se recusou a falar sobre o assunto com a meiaum, não é caso isolado. Ele é apenas um exemplo claro de como os políticos brasileiros transitam de um partido para outro. Há inúmeros na mesma situação. Uma demonstração da falta de importância que os partidos políticos, cada vez mais parecidos e insossos, têm no Brasil.


30 De abril a outubro, 1.885.618 pessoas se filiaram a algum partido. Número de novos filiados em 2011 >>>

79.789 || Partido 73.144 Democratas (DEM) 79.789 Partido Comunista Comunista do do Brasil Brasil (PC (PC DO DO B) B) 73.144

1.401| Partido 20 Partido Comunista Brasileiro (PCB) 1.401| Partidoda daCausa CausaOperária Operária(PCO) (PCO)20

E não é só no Brasil O Tribunal Superior Eleitoral calcula que haja no País 15.381.121 pessoas filiadas a partidos políticos, pouco mais de 11% dos 135.799.132 eleitores. Os dados são de outubro. O Democratas (DEM, antigo Partido da Frente Liberal, PFL) fez uma pesquisa em agosto e concluiu que 91,4% da população não está filiada a partidos políticos, 5,8% é filiada e 2,8% pensa em se filiar. Há distinção, porém, entre filiados – que assinam a ficha partidária, muitas vezes apenas para reforçar a posição interna de um político ou para obter um favor – e militantes, aqueles que realmente trabalham, voluntariamente, pela legenda. Pesquisa do Ibope Inteligência publicada em outubro mostra que, entre 18 instituições públicas, os partidos políticos são as que menos inspiram confiança. No Índice de Confiança Social, a credibilidade dos partidos caiu de 31 pontos, em 2009, para 28, em 2011. E ainda está a 58 pontos de distância do primeiro colocado, o Corpo de Bombeiros. À frente dos partidos estão ainda a Igreja, as Forças Armadas e os meios de comunicação. Os partidos políticos não empolgam os eleitores, que preferem votar em candidatos, independentemente da filiação. Seus programas são parecidos e meramente retóricos. É difícil encontrar diferenças políticas e ideo-

Partido da Mobilização Nacional (PMN) 33.186 | Partido Progressista (PP) 110.075 Partido Pátria Livre (PPL) 12.372 | Partido Popular Socialista (PPS) 62.666


31 108.880 | |Partido 38.309 Partido Democrático Trabalhista (PDT) 108.880 PartidoHumanista Humanistada daSolidariedade Solidariedade(PHS) (PHS)38.309

146.665 Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) 146.665

Wilson Dias /ABr

Em 21 anos de vida política, Ciro Gomes integrou cinco partidos: PDS, PMDB, PSDB, PPS e, agora, PSB. Não gostou nem um pouco de a legenda ter optado por não lançá-lo candidato à Presidência da República em 2010.

Partido da República (PR) 79.157 | Partido Republicano Brasileiro (PRB) 72.786 Partido Republicano Progressista (PRP) 37.932


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Annie Flanagan

A falta de credibilidade dos partidos é fenômeno mundial. A população prefere se manifestar por conta própria, a exemplo dos ocupantes de Wall Street, centro financeiro de Nova York.

lógicas entre eles. No máximo, é possível distinguir os que estão no governo e os que estão na oposição, mas, como disse Holanda Cavalcanti, referindo-se aos partidos no Império, “nada mais parecido com um saquarema (conservador) do que um luzia (liberal) no poder”. A bem da verdade, não é um fenômeno brasileiro. Os partidos vêm perdendo força, importância e credibilidade em diversos países. As maiores e mais importantes manifestações populares no mundo, atualmente, não são organizadas nem dirigidas por eles. Pelo contrário, os partidos e seus representantes são hostilizados por esses movimentos. Tem sido assim com as diversas versões dos “indignados” na Europa, com os estudantes no Chile, com os que ocupam Wall Street e que se espalham pelos Estados Unidos, com as marchas contra a corrupção no Brasil. São movimentos espontâneos, articulados nas redes sociais, encampados, no máximo, por organizações do terceiro setor. O que acontece é que a maioria não vê mais nos partidos instrumento para fazer política no sentido amplo do termo. Não consegue diferenciá-los política ou ideologicamente,

todos acabam ficando parecidos. Acha que são apenas balcões de negócios para os políticos profissionais, fontes de negociatas e corrupção. Os partidos estão desgastados, como mostra a pesquisa do Ibope, e não representam efetivamente a população. O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, é estudioso dos sistemas eleitorais e partidários. Acha que a população deixou de se envolver com os partidos porque estes viraram sinônimos de corrupção. “Praticam essa corrupção onde estão alocados, seja nos cargos para os quais foram eleitos ou naqueles com os quais foram premiados para apoiar o governo.” Ele cita os últimos escândalos e denúncias envolvendo partidos que dominam ministérios no governo de Dilma Rousseff: Partido da República (PR), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Popular (PP) e PMDB. Para o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, professor e advogado Walter Costa Porto, os partidos políticos são apenas “máquinas para ganhar as eleições”, porque sem uma legenda ninguém pode se candidatar

no Brasil. Com ironia, discorda dos que dizem que não existe ideologia nas agremiações: “Claro que têm um ideal. São pessoas que se reúnem ao redor do orçamento para conquistar seus interesses”. O ex-deputado Fernando Gabeira, do Partido Verde (PV), não tem dúvida de que as legendas se afastaram do povo e estão em decadência. “Vivem um mundo próprio e hoje a única militância partidária que existe é a que eles pagam para ter, para aparecerem nas eleições e ganharem votos”, critica. Gabeira militou em uma organização clandestina nos tempos da ditadura, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e foi do Partido dos Trabalhadores (PT) antes de se filiar ao PV. Ele duvida de que os partidos ressurjam se não mudarem. “O que vai garantir a democracia é um movimento social que obrigue a renovação dos partidos, quem vai dar o próximo passo é a sociedade”, acredita. “A política e as campanhas são dominadas pelos negócios, pelo interesse imediato e empresarial”, diz o deputado federal fluminense Chico Alencar, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que também já foi do PT. “Fazer


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Então, para que partidos? A Constituição estabelece que só filiados a partidos podem concorrer a cargos eletivos. Ninguém pode se candidatar, de presidente da República a vereador, se não estiver inscrito. Assim, é assegurado a eles – e a seus dirigentes – o monopólio da representação política. Os partidos são filtros pelos quais têm de passar todos os que querem participar da política institucional. Primeiro, é preciso assinar a ficha de filiação e ter a inscrição aprovada. Depois, submeter-se à aprovação dos dirigentes que dominam as instâncias partidárias para conseguir se candidatar e finalmente se eleger. Para se reeleger é importante estar bem com os dirigentes. Já houve tentativas de permitir candidaturas autônomas, sem a necessidade de passar pelos partidos, como em outros países. Sem

sucesso, claro, pois as propostas teriam de ser aprovadas pelo Congresso Nacional, dominado pelos partidos. Recentemente, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado derrubou proposta que permitia candidaturas sem vínculo partidário, desde que tivessem o apoio de um número de eleitores a ser definido em lei. “Os partidos querem preservar o monopólio e os benefícios de se manterem no poder, pois a legenda serve para garantir as negociações e os cargos”, explica David Fleischer. Para o cientista político, duas coisas mantêm a política partidária: votação de emendas ao orçamento e nomeações de filiados para cargos públicos. Elas são a forma de negociar com o governo e obter vantagens. Com as emendas, os parlamentares agradam aos seus eleitores e às empresas que vão executar as obras e os serviços e financiam suas campanhas. Com as nomeações, garantem o emprego de afilhados políticos e colocam pessoas de confiança em cargos importantes, sob o ponto de vista eleitoral ou financeiro. Partidos políticos têm muito dinheiro. Eles contam hoje com verba de R$ 301,5 milhões do Fundo Partidário e ainda recebem contribuições de pessoas físicas e jurídicas. PT e

PMDB ficam com as maiores fatias. De acordo com a Lei 9.096/95, 5% do Fundo Partidário é distribuído, em partes iguais, a todos os partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Os outros 95% são repassados a cada agremiação na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados. Há controle na utilização do dinheiro, mas há também maneiras de burlá-lo, o que, de modo geral, é o que acontece. Nos partidos maiores o poder interno é mais diluído, mas os pequenos geralmente têm seus donos: políticos que dominam as estruturas decisórias e mandam e desmandam. Escolhem os candidatos, determinam como será aplicado o Fundo Partidário, negociam cargos e emendas, fazem o que querem com os espaços gratuitos no rádio e na televisão. Quando desejam, esses dirigentes fazem bons negócios: vendem vagas a candidatos aos diversos cargos eletivos, negociam financeiramente o apoio a candidatos de outros partidos e a cessão de tempo no rádio e na televisão, assim como indicações para funções nos Executivos. “Pequenos partidos, grandes negócios”, é o que se diz no Congresso. O senador Pedro Simon, do PMDB gaú-

Os movimentos apartidários também ganham força no Brasil. Nas marchas contra a corrupção, organizadas por meio das redes sociais, os políticos e os militantes não são bem-vindos. Em Brasília, 15 de novembro será o terceiro feriado consecutivo em que milhares sairão às ruas para pedir o fim do voto secreto no Legislativo e da impunidade.

Andressa Anholete

política em torno de ideias e causas, estimulando a consciência cidadã, é bem difícil”, diz. Alencar afirma que existe acomodação na sociedade e que o desejo das classes dominantes é que o desinteresse político se amplie. A apatia estimulada é, na opinião dele, um grande entrave para “fazer política”.


34 Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) 29.623 | Partido Socialista Brasileiro (PSB) 119.248

Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Partido social Cristão (PSC) 79.025 | Partido Social Democrático (PSD) 149.586

Cansado de fazer oposição e com o intuito de se aproximar do poder, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e seus aliados criaram o PSD. Foi uma oportunidade para políticos trocarem de legenda sem perderem o mandato. O discurso do novo partido é de independência.

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) 1.101

Partido dos Trabalhadores (PT) 155.715 | Partido Trabalhista do Brasil (PT DO B) 34.340


35 Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) 128.459 | Partido social Democrata Cristão (PSDC) 34.676 Partido Social Liberal (PSL) 47.124 | Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) 17.419

A força do adesismo O troca-troca de partidos, tão comum antes, foi inibido em 2007 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, ratificada pelo Supremo Tribunal Federal: o mandato é do partido, e não do eleito. Quem muda pode perder o mandato, caso o Ministério Público

ou alguém que se sinta prejudicado recorra à Justiça – o que nem sempre acontece. Mas a verdade é que eleitores brasileiros votam preferencialmente nos candidatos, e não nos partidos. Segundo a pesquisa do DEM, apenas 2,7% votam pelo partido e 38,2% levam em consideração apenas o candidato. Os políticos mudavam de partido a qualquer momento, sob qualquer pretexto. As legislaturas começavam no Congresso com um quadro e terminavam com outro. Uma das razões mais comuns era o adesismo: políticos adoram ser governo e detestam ser oposição. E assim aderiam a partidos governistas para receber as benesses do poder. Não à toa, os oposicionistas PSDB, DEM e PPS é que recorreram ao TSE para evitar o troca-troca. Estavam perdendo parlamentares. Neste ano, os políticos que quiseram mudar de partido sem perder o mandato tiveram alternativa: filiar-se ao Partido Social Democrático (PSD), cujo líder maior é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Segundo a legislação, não é possível mudar de partido, a menos que seja para ingressar em um novo.

Vinte partidos tentaram registro para disputar as eleições municipais de 2012. Só o PSD e o Partido Pátria Livre (PPL), formado por antigos militantes do MR-8, conseguiram. Puderam, até o fim de outubro, quando se completou um mês dos registros, receber filiados de qualquer outro partido. A legenda que mais perdeu filiados para o PSD foi o DEM, cujo presidente, senador José Agripino, do Rio Grande do Norte, desabafa: “Partidos viraram hospedaria para pessoas sem compromisso com as ideias daquela legenda. Perderam convicções programáticas”. Diz que as lideranças individuais atuam junto ao poder para atender a seus próprios interesses. Outra maneira de trocar de partido antes das eleições é a abertura de uma “janela”, período determinado em que as mudanças serão aceitas. Depende só do Congresso a aprovação da “janela”. David Fleischer acha que, se isso acontecer, o PSD pode se esvaziar. “Talvez vários políticos que foram para o PSD por falta de alternativa legalmente permitida saiam para realizar suas vontades ) dentro de outras legendas”, diz. )

cho, lembra o caso do PR, resultado da fusão do Partido Liberal (PL) com o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), em 2006. Inexpressivo eleitoralmente, chegou ao poder com Lula porque o empresário José Alencar, então filiado ao PL, era o candidato a vice-presidente da República. “Eles ganharam uma bolada vendendo tempo de TV para o PT e hoje o PR está se tornando independente”, afirma Simon. Ainda como vice-presidente, Alencar mudou de partido: foi para o Partido Republicano Brasileiro (PRB) em 2005. São 29 partidos hoje registrados no TSE. Qual a diferença entre tantas legendas e siglas? “É tudo a mesma coisa, PT, PSDB, PSD, PMDB”, garante Simon. “O que ainda é um pouco diferente é o PSOL, mas o resto é igual.”

Os campeões de filiados Dois terços dos 15.381.121 inscritos em partidos políticos – 10.374.547 eleitores – estão concentrados em sete deles: PMDB – 2.420.327 PT – 1.566.208 PP – 1.436.670 PSDB – 1.410.917 PDT – 1.212.531 PTB – 1.203.825 DEM – 1.124.069

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) 84.609 | Partido Trabalhista Cristão (PTC) 35.028

Partido da Mobilização Nacional (PMN) 32.949 | Partido Verde (PV)

80.334


Perfil

A única mulher do grupo cômico mais reconhecido da cidade não se define como comediante. Diz não ser engraçada o suficiente para ganhar o título. Não gosta de improvisar, precisa de segurança no texto, de ensaio, de roteiro. “Sou atriz.”

Texto Noelle Oliveira Fotos NILSON CARVALHO noelleoliveira@meiaum.com.br

fotografia@meiaum.com.br



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E

Ser a única mulher de Os Melhores do Mundo não despertou nela um senso extremista de mulher moderna. Pelo contrário. Ela busca, diariamente, exercer com perfeição a figura de mãe e dona de casa.

la abre uma fresta na porta de seu apartamento e pergunta: “Alguém aí tem medo de cachorro ou alergia a gato?” As gargalhadas são entendidas como negativa e Adriana dos Santos Nunes se apresenta à reportagem da meiaum. As histórias engraçadas são esperadas ao entrevistar a integrante de um reconhecido grupo de comédia da cidade. Mas as surpresas superam o clichê e, como em todo bom espetáculo, estão reservadas para momentos oportunos. Se a ideia é chamar a atenção do espectador para a trama, um dos diferenciais da artista brasiliense, de 42 anos, está em sua rotina. Nos dias úteis é mãe, aos sábados e domingos viaja apresentando espetáculos pelo País (sem abandonar o papel de figura materna por telefone). Tudo em nome do trabalho: Adriana é a única mulher a integrar a companhia de comédia Os Melhores do Mundo, grupo consagrado em Brasília e reconhecido nacionalmente nos palcos e na televisão. A representante feminina está na trupe desde a formação inicial, há 21 anos, quando o que viria a ser o grupo, na época sem a formação atual, ainda carregava o nome de A Culpa é da Mãe. Ela fincou os pés no teatro bem antes disso, aos 9 anos. A paixão pelos palcos foi despertada pela mãe, Walnízia Santos, aluna da primeira turma de artes cênicas do Teatro Dulcina. A pequena Adriana a ajudou a decorar o texto e acompanhou a prova específica. Até hoje sabe frases do enredo de cor. A partir dali, repetiu que seguiria os mesmos passos artísticos, desejo encarado pela família como sonho infantil. “Meu pai achava tudo muito engraçadinho, até o dia em que falei que ia fazer vestibular para artes cênicas, aí ele começou a se preocupar.” Para convencê-lo, foi preciso mais do que desejo. A paixão pelo teatro poderia ser tocada para a frente, desde que a moça arrumasse trabalho para garantir estabilidade financeira. Adriana topou. Cumpriu funções desde fiscal de shopping e responsável pelo aluguel

de carros no aeroporto até vendedora de loja de festas e desenhista em órgão público. Desde os 16 anos, sempre trabalhou. A morte do pai em um acidente de carro, quando ela estava na metade do curso superior, tornou as coisas ainda mais difíceis. Ela é a mais velha de quatro irmãos. “Passei a ter que arcar com parte das despesas da casa e só concluí o curso porque, diante de minha situação, ganhei uma bolsa de estudos no Dulcina”, conta. Formada, a atriz não decepcionou. Seria ela que, mais tarde, inauguraria uma sala do Dulcina, a Conchita de Moraes, espaço dedicado à mãe da atriz que dá nome ao teatro. “Tenho muito carinho por essa fase da minha vida, ali fui atriz desde o início”, lembra. O fato de ser a única mulher dos seis integrantes de Os Melhores do Mundo não despertou nessa representante do sexo frágil um senso extremista de mulher moderna. Pelo contrário. Ela busca, diariamente, exercer com perfeição a figura de mãe e dona de casa. Daquelas mais exigentes. Leva as crianças à escola, busca, ajuda nas lições, dá banho, conta histórias de dormir e, de quebra, ilustra os livros infantis para os filhos. São três: Ana Terra, 17 anos – filha do primeiro casamento, com James Fensterseifer –, Théo, 9, e Lis, 6, frutos da relação que mantém há 13 anos com o ator Adriano Siri, também integrante da companhia de comédia. “Se antes eu ficava ressentida de não estar em alguma peça, hoje estou feliz quando tenho um tempo maior para a minha família.” Entre um supermercado e outro, a fama dos palcos é reconhecida. “No teatro as pessoas nos veem muito de perto e sentem proximidade grande com a gente.” Filha de pioneiros, a artista se orgulha de fazer parte de um grupo teatral que carrega a identidade brasiliense e é reconhecido por esse estigma. “Quando chegamos ao Rio de Janeiro foi difícil ser aceito ali, eles já tinham os representantes favoritos deles e sabiam bem que o nosso negócio era Brasília”, lembra. O grupo fez nove temporadas na capital carioca até conseguir estourar no terreno alheio.


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e muito. “Não sou o palhaço triste do circo, mas vira e mexe meus filhos chamam: ‘mamãe bravinha’”, conta. Realmente, Adriana passa longe do tipo de figura que fala demais ou tem piadinhas ensaiadas. É mulher de frases curtas. Não se lembra de histórias engraçadas, talvez porque memória não seja seu forte. “Eu desaprendi a dirigir carros manuais quando comecei a utilizar o automático, comigo é assim, minha cabeça tem que apagar alguma coisa para guardar outra.” É complicado, no entanto, se convencer de sua falta de graça. Ainda mais quando o celular toca ao som de latidos de cães: “É o cachorro do meu marido ligando”. Nada

pessoal, que não seja rapidamente abafado por um: “Oi, amor”. A graça é comedida, o suficiente para manter o sorriso, mas longe de chamar para si os olhares do público como quando está no palco. O que ela quer agora é um teatro só dela. Claro, em Brasília. Já procurou por espaços, mas esbarrou na burocracia de tombamentos, planos diretores e preços. “Quero desenvolver um projeto bacana, tocar eu mesma um teatro e fazer o que eu mais gosto sete dias por semana”, resume. Talvez, no seu espaço, ela poderá tirar um tempo para um de seus programas preferidos. Deitar no palco e observar as luzes do teto, enquanto a ) sala está vazia. “É lindo!” )

O DVD de ouro do espetáculo Notícias Populares, emoldurado na parede, comprova o resultado do trabalho. O título de comediante, no entanto, ela afasta. Faz questão de destacar que essa definição não lhe cabe. É atriz. Não gosta de improvisar no palco, precisa de segurança no texto, de ensaio, de roteiro. “Ser comediante é mais complexo e mais difícil do que ser atriz, não me considero tão engraçada, mas pego carona nos bons companheiros”, explica. Ironia do destino ou não, toda a sua trajetória profissional é baseada em comédias. “De cara limpa tenho vergonha, sou tímida”, pondera. Para completar a figura paradoxal, Adriana Nunes se considera mal-humorada. Não sisuda, é feliz. Diverte-se sim,


Conto

Da varanda

Conversa de interiores Todos os dias, no mesmo horário, do mesmo ângulo, Dona Doca registrava o que ela mesma não vivia

Texto Hanna Xavier Ferreira Ilustração Rômulo Geraldino hanna.xf@gmail.com

“Sendo quem é não me surpreendo ao vê-lo passar com aquela mulher que parece ser sua mãe”, pensava dona Doca ao ver um de seus vizinhos caminhar acompanhado na outra extremidade da calçada. O “trintagenário” a olhava com cara de cachorro no cio, acenava com um sorriso provocativo e seguia com a sua acompanhante. Logo em seguida, apareceu seu João na esquina repleto de coleiras em suas mãos, guiando cerca de cinco cachorros para o passeio matinal. E logo a cabeça de dona

romulog2000@yahoo.com.br

Doca se pôs a refletir: “Lá vem esse senhor diariamente distribuir fezes de cachorro pela vizinhança, como se a merda fedorenta desses cães adubasse o asfalto. Incrível a falta de bom senso desse velho gagá. Ajuda a todos caminhando com os cães alheios. O bairro inteiro o tem em consideração pelo fato de prestar esses pequenos favores, mas já que ele tem boa vontade deveria fazer o serviço completo: parar toda vez que um defecasse para recolher a bosta”. Seu João dirigiu-se para

perto da casa de dona Doca, olhou para o alto e disse: – Venha passear um pouco e sair da mesmice dessa varanda, a senhora fica com um dos olhos em seus livros e o outro na calçada. Tem de sair um pouco desse ângulo da vida, para ver outros. Todos os dias faço um caminho diferente com os cães. Acabo passando por situações inusitadas e interessantes. A senhora deveria vivenciar outras paisagens de vez em quando. – Não preciso sair da minha varanda para viver coisas no-


41 vas, os livros me saciam do novo – respondeu dona Doca. – Mas as palavras escritas são insuficientes para lhe dar vida, ora bolas. A vida é construída no contato com outras pessoas, animais... – Principalmente quando eu caminho pela rua e entro em contato com as fezes dos cães que o senhor distribui pelas calçadas, é um contato tão intenso e maravilhoso com a vida. Realmente, o senhor sabe garimpar vida no asfalto das praças... – Hoje tem gente azeda na varanda, chega a estalar a minha boca com o amargor que brota das suas palavras. – Hum... O senhor está poético: amargor que brota das minhas palavras (riso irônico). Se alguma pessoa não se ofendesse com as verdades que eu tenho a dizer, não se dirigiria a minha varanda, pois de mim só saem palavras autênticas. Não vim ao mundo para agradar aos outros com a falsidade que transborda dos que caminham pelas calçadas, estou aqui para dizer o que observo: no caso do senhor, distribuir fezes de cachorro pela rua fere todos os princípios de civilidade. Seguiu seu João cabisbaixo com os cães. No dia seguinte, lá estava ele com os sacos de plástico de supermercado, catando as fezes dos cães. Dona Doca, ao ver a cena, comoveu-se, e mesmo assim, pôs-se a ler o livro que trazia às mãos, fingindo não se dar conta da mudança de postura do vizinho. Quando ele chegou bem perto da varanda, ela amoleceu a sua dureza característica que teimava em persistir traduzida pelo silêncio e fez o comentário, sem transparecer nenhum traço de emoção no rosto: – Parabéns, seu João. Ele a olhou, acenou aliviado e seguiu seu rumo. No mesmo instante, duas moças andando lentamente conversavam descontraídas e uma delas dizia: – Só tive dois amores na vida e os vivi intensamente. Quando acabaram, as dores foram piores do que se tivesse levado

uma surra e me tivessem quebrado todos os dentes, no mais foram paixões que pipocaram aqui e acolá, assim como a pipoca estoura nos iluminando com o seu sabor, a digerimos facilmente e rapidamente... O restante da conversa não pôde ser ouvido, porque as moças se afastaram. Dona Doca então pensou: “Essa seria uma conversa da qual gostaria de participar”. Voltou ao seu livro e adentrou na vida dos personagens. A história era tão instigante que por duas horas seguidas não se deu conta do que se passava na calçada. Saiu da varanda, comeu algo na cozinha, foi ao banheiro, tomou banho, voltou à varanda com a máquina fotográfica nas mãos para tirar uma foto do mesmo lugar em que havia vinte anos fixava sua câmera, para registrar as cenas do mesmo ângulo. O que se modificava naquelas imagens diárias era a presença de transeuntes com suas emoções ou a ausência deles, a luz, o tempo. Todo dia, às dezoito horas, buscava sua polaroide, que ao mesmo tempo tirava a foto e a revelava. Datava a foto e a recolhia aos álbuns identificados por ano e dia. Esse era o único ritual que não admitia faltar em sua rotina. Por causa dele, ela não viajava para conhecer outros países ou o seu próprio país, não visitava ninguém e não aceitava visitas nesse horário. Talvez fosse por isso que se apegava tanto aos livros. As descrições de diferentes lugares lhe permitiam construir outras cidades. Os autores a faziam viajar e acrescentar às descrições pontos imaginados por sua leitura. Isso porque ela sentia que, se não fotografasse as cenas cotidianas sob o mesmo ângulo e horário, a vida não faria mais sentido. Um dia foi ao médico no início da tarde e logo após a consulta, no caminho de volta, entrou em um sebo de livros raros e acabou perdendo a noção do tempo. Deparou-se com livros que sempre tivera vontade de ler, mas, pelo fato de as edições antigas já terem se esgotado, não conseguira até então entrar em contato com aquelas obras.


42 Terão de carregar esse fardo pelo resto de suas vidas? Você nasceu com o nome de Maria Silva, depois que começou sua carreira artística mudou seu nome para Eva Viño. Primeiro: no Brasil não existe esse til em cima do n, isso só existe na língua espanhola. Segundo: nunca entendi essas mudanças de nome, é só para dar um ar de internacionalidade? A atriz virou-se, pediu para a criança ir caminhando e levantou o dedo médio para a dona Doca. Esta, por sua vez, começou a gargalhar: – Acho que depois dessa conversa, você vai pensar duas vezes antes de colocar um nome artístico no próximo filho que você tiver – concluiu. Nesse momento, toda a circunstância de desespero tinha se diluído. A vida dos transeuntes e a compra de novos livros tão desejados trouxeram-lhe paz suficiente para derreter a instabilidade de quase não conseguir tirar a foto com a pontualidade de sempre. A varanda, lugar onde mais poderia se encontrar dona Doca, trazia a leveza e a familiaridade reconfortante para enfrentar a passagem do tempo. Deitou-se na rede, olhou o céu, o fim de tarde proporcionava uma mistura de cores, as nuvens traziam o laranja, o rosa, o violeta e um dourado singular. Dona Doca estava tão maravilhada com aquele espetáculo que pela primeira vez percebeu-se pequena como se fosse uma formiga diante da imensidão das maravilhas que a natureza apresentava. Enquanto isso uns violeiros começavam a se posicionar na sacada da casa do outro lado da rua. Todas as sextas se reuniam para tocar: sambas, bossas, choros. Naquela noite principiaram com uma bossa que nunca haviam tocado antes. A letra da música adentrava a alma de dona Doca e trazia lembranças doídas de duas décadas atrás. A canção vinha suave: A insensatez que você fez/Coração mais sem cuidado/ Fez chorar de dor/O seu amor/Um amor

tão delicado/Ah, porque você foi fraco assim/Assim tão desalmado/Ah, meu coração que nunca amou/Não merece ser amado/ Vai meu coração ouve a razão/Usa só sinceridade/Quem semeia vento, diz a razão/ Colhe sempre tempestade/Vai, meu coração pede perdão/Perdão apaixonado/ Vai porque quem não/Pede perdão/ Não é nunca perdoado. Dona Doca foi tomada por uma melancolia profunda. Sentia-se vazia ouvindo a letra e a melodia daquela canção. Trazia aquela música recordações do momento mais vivaz de sua trajetória. Aquele em que tinha se apaixonado, mas que por causa de sua severidade se desmanchara. A lembrança daquela história seria apenas mais uma foto que ela colecionava, mas essa imagem não a tinha em papel. A canção falava muito bem do seu apego ao vento que ela colhera e fizera dos momentos em que estiveram juntos tempestades de ciúme, de um amor doentio, que procurava na obsessão uma forma de traduzir sentimento. O amor foi transformado em orgulho. O orgulho, em rancor. O rancor, em adeus. A próxima canção cantada pelos violeiros foi um samba de Cartola e Elton Medeiros: A sorrir/Eu pretendo levar a vida/ Pois chorando/Eu vi a mocidade/Perdida/ Fim da tempestade/O sol nascerá/Fim desta saudade/Hei de ter outro alguém para amar/A sorrir/Eu pretendo levar a vida/Pois chorando/Eu vi a mocidade/ Perdida. Essa trazia uma mensagem de esperança que nunca teve. Entendeu que as canções e os livros serviam a ela de grandes aliados para enfrentar o tempo. Uma ansiedade a tomou, seu coração começou a bater muito forte, veio uma dor aguda, as pontas de seus dedos dos pés e das mãos formigavam de forma que não conseguia movê-los. Sua visão tornou-se turva. Passou a não escutar. As canções continuaram. Apenas a va) randa não mais as vivenciava. )

Ficou se deliciando com inúmeros livros, selecionou alguns e os pagou. Somente quando estava saindo do sebo observou o relógio. Quando viu que se aproximava o horário da foto, entrou em pânico. Parecia que parte da sua essência iria se desmanchar caso não chegasse a sua casa a tempo de fotografar a cena do cantinho de sua varanda. Saiu correndo, tomou um táxi, separou a quantia a ser paga no trajeto, pediu que o taxista se apressasse, pagou, pôs-se a correr até sua casa, esbarrou em várias pessoas, subiu as escadas e já com dor de veado alcançou sua porta, pegou a câmera e esbaforida posicionou a máquina no mesmo lugar de sempre e clicou, pontualmente no horário. Chorando, manchou a foto recém-saída da máquina. Sentou-se na rede e se debulhou em lágrimas. Parecia que aquele momento de exacerbação do desespero e a conquista do importante objetivo acabaram por trazer à superfície opressões outras que transbordavam para além de uma simples captura de imagem. Mas, antes que pudesse reconhecer os motivos do seu choro intenso, uma atriz famosa atravessava a rua com sua filha gritando: – Mana Schiva, pare de sair correndo sem me dar a mão, os carros podem te atropelar! Dona Doca não se conteve, enxugou as lágrimas e perguntou: – Ei, você aí! A atriz virou-se, olhou para cima e então disse: – A senhora está falando comigo? – Sim, estou. Gostaria de saber se o nome da sua filha é realmente Mana Schiva – questionou dona Doca. – Sim, senhora. – Mas você não acha que sua filha poderia ter um nome menos esquisito? Não sei o que se passa pela cabeça de vocês, artistas, parece que querem que seus filhos já nasçam com um suposto nome artístico. Oras, e se eles não quiserem ser artistas?


Na internet, nem tudo é o que parece ser. Acompanhe as atividades dos seus filhos na internet. Sites de jogos, redes sociais e comunidades podem esconder adultos que usam falsos perfis para aliciar crianças e adolescentes para a pornografia ou a violência sexual. Fique atento. Relacionamentos virtuais podem levar a problemas reais. Denúncias online: www.disque100.gov.br

Disque

DISQUE DENÚNCIA NACIONAL DE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES



Caixa-preta

por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com

A imprensa pede um ano para se corrigir

A imprensa sempre critica, sob aplausos gerais, a lentidão da Justiça. Mas merece vaias quando posterga decisões justas que poderiam melhorar a qualidade da informação no País. Juristas e jornalistas se reuniram em outubro, em Porto Alegre, num seminário para discutir o vácuo jurídico criado pela revogação em 2009 da Lei de Imprensa, um entulho produzido em 1967 pela ditadura e que não deixou saudades. Como sempre, houve divisão quanto à recriação de uma nova lei. Os jornalistas continuam contra, enquanto os juízes defendem uma legislação específica para regular a mídia. O principal foco da discordância é o direito de resposta, que os veículos só concedem por instância final da Justiça, sempre mais tolerante com o direito do outro lado ser ouvido, sem demora. O próprio consultor jurídico da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Alexandre Jobim, admite: “Ainda se percebe uma falta de iniciativa dos meios de comunicação em relação ao direito de resposta”. É uma opinião relevante, já que a ANJ reúne 155 dos mais importantes jornais brasileiros, responsáveis por 90% da circulação de jornais pagos no país, que chegam a 4,3 milhões de exemplares diários.

Resposta imediata O jornalista e deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) dá a receita mais simples e direta: “O melhor que pode acontecer é o jornal aceitar o pedido de resposta por livre e espontânea vontade, porque ali também há informação. O recurso à Justiça só deve ser feito em último caso”. O vice-presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), Benedito Felipe Rauen Filho, ecoa: “O direito de resposta deve ser imediato, atendido logo após ser solicitado, para que cumpra seu papel”. As chicanas jurídicas que retardam a resposta de quem se acha atingido pela mídia acabam desgastando os próprios veículos de comunicação, que passam ao público uma

imagem de intolerância e prepotência que desconsidera a liberdade de expressão de quem também consome a informação. E, como todos sabem, a imprensa precisa dar e o leitor merece receber a informação mais precisa e verdadeira — sempre.

Censura prévia O viés autoritário ainda é forte no país. Respondendo a uma pergunta do jornal gaúcho Zero Hora sobre a eventual proibição prévia de publicação de matérias, o juiz Teori Zavascki, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e professor de Direito da UnB, conseguiu vacilar: “É difícil responder. A regra óbvia é que não deve haver proibição prévia. Mas há

situações-limite em que pode ser necessário, como num caso reiterado de racismo e discriminação”. O deputado Miro Teixeira ensina: “É censura deslavada. Primeiro, se publica a matéria. Depois, se for necessário, se postula direito de resposta e indenização”. Apesar de tanto bom senso, a ANJ concedeu um ano de prazo para os jornais aderirem a um programa de autorregulamentação. É um capricho indesculpável. Basta copiar agora, já, o Conar que rege a publicidade brasileira, aplicando imediatamente a regulação que protege a informação, os veículos e seus leitores. A imprensa não demanda tanto tempo, tanta hesitação, para corrigir seus erros. O distinto público agradece.


Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br

Damian Dovarganes

O beatle com alma de clown Fevereiro de 1964. Mais de 3 mil pessoas ensandecidas esperam pelos Beatles no aeroporto de Nova York. Um jornalista não perde a chance de ser engraçadinho: “Ringo, por que usa tantos anéis nos dedos?”, dispara. “Porque não cabem no meu nariz”, responde o baterista.Conhecido pelo senso de humor e pela simpatia, Ringo Starr sempre foi a alma clown do fab four. Com John, Paul e George, encantou fãs na maior banda de rock do planeta. É com essa responsabilidade que o ex-beatle desembarca pela primeira vez no Brasil para seis apresentações. Brasília está no roteiro da turnê da All Starr Band. Prepare o coração, porque vai rolar de tudo. Das clássicas canções da fase Beatles, passando por covers sessentistas e sucessos da carreira solo.

Cinema – lançamentos

11-11-11 Direção: Darren Lynn Bousman. O escritor Joseph Crone (Todd Bridges), após a trágica morte de sua esposa e filho, viaja até a Espanha para rever seu irmão e seu pai moribundo. Crone passa a ter alguns encontros sombrios, em que o número 11 sempre está presente. A curiosidade vira obsessão e Joseph descobre que 11/11/11 não é apenas uma data, mas um aviso. Terror. Classificação 10 anos. Kinoplex em 11 de novembro. 90 minutos.

A casa dos sonhos Direção: Jim Sheridan. O bem-sucedido editor Will Atenton (Daniel Craig) deixa seu emprego de importante executivo em Manhattan e se muda com a mulher (Rachel Weisz) e duas filhas para cidade da Nova Inglaterra. Mas, à medida que vão se adaptando à nova vida, eles descobrem que seu lar perfeito foi o local do assassinato de uma mãe e seus filhos. E a cidade inteira acredita que foi pelas mãos do marido, que

sobreviveu.

Suspense. Classificação 14 anos.

Cinemark e Kinoplex em 4 de novembro. 92 minutos.

A chave de Sarah Direção: Gilles Paquet-Brenner. Maio de 2002. Julia Jarmond (Kristin Scott Thomas), jornalista americana radicada em Paris, escreve um artigo sobre os 60 anos do episódio conhecido no país como “a concentração do Vel´ d´Hiv”, um campo de concentração na Alemanha que esteve ativo desde meados de 1936 a abril 1945. Durante a pesquisa, Julia descobre manchas no passado de seus próprios parentes e começa a reavaliar o presente. Reconhece que seu casamento já não existe. Apaixonada por seu colega de trabalho, decide se entregar a essa nova história de amor. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark em 18 de novembro e Kinoplex em 4

(Lúcio Flávio)

tentativa de estar presente na vida da família e salvar o casamento em crise, se prontifica a buscar o bolo de aniversário da sua filha. Mas enfrenta uma noite inusitada, repleta de percalços, acasos e coincidências que vão atrapalhar seus esforços de chegar com o bolo a tempo para a festa. Aventura. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 11 de novembro. 100 minutos.

Amanhecer – Parte 1 Direção: Bill Condon. Após seu casamento, Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson) viajam ao Rio de Janeiro para sua lua de mel, onde finalmente cedem à paixão. Porém, a felicidade dos recém-casados é interrompida quando uma série de traições e desgraças ameaça destruir o mundo deles. Aventura. Classificação 14 anos. Cinemark e

de novembro. 113 minutos.

Kinoplex em 18 de novembro. 130 minutos.

Amanhã nunca mais

Beginners

Direção: Tadeu Jungle. Walter (Lázaro Ramos) é um médico-anestesista que trabalha em excesso e vive sob grande estresse. Na

Direção: Mike Mills. Oliver (Ewan McGregor) é surpreendido por duas notícias. Primeiro: seu pai, Hal (Christopher Plummer), tem


Paramount Pictures

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Cinema A saga do Incrível Hulk continua. Parece que, ao contrário de Robert Downey Jr., que deu uma cara inconfundível para o Homem de Ferro, o verdão não encontrou sua identidade nos cinemas. Na primeira versão, em 2003, os fãs ansiosos saíram frustrados com a brochante atuação de Eric Bana. Roteiro ruim, mesmo em cima de um dos heróis favoritos da Marvel, atuação pior ainda. Em 2008 foi a vez de o sagaz Edward Norton dar vida ao gigante cor de esmeralda. Era um recomeço para os “hulkmaníacos” em O Incrível Hulk. Resgate da história em quadrinhos, efeitos mais elaborados... ganhou um “muito bom”, mas nada que surpreendesse. E daí? Norton resolveu abandonar o papel mesmo, pois fez birra e brigou com a Marvel porque queria uma história

Footloose – Ritmo louco Direção: Craig Brewer. Refilmagem do sucesso de 1984. Um jovem (Kenny Wormal) da cidade grande se muda com a mãe para o interior. Apaixonado por dançar, ele enfrenta sérios problemas quando o conservador reverendo Moore (Dennis Quaid) resolve considerar a dança um grave pecado. Musical. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 25 de novembro. 107 minutos.

mais focada no personagem e menos ação. Mark Ruffalo assume a responsabilidade de interpretar, pela primeira vez na história do personagem, tanto o dr. Bruce Banner quanto o Hulk, graças à tecnologia. Briguem, xinguem, como fiz ao ver o trailer de Os Vingadores, que estreia em 2012, mas Ruffalo não é mais o insosso romântico de E se fosse verdade. Ele é o cara de Ensaio sobre a cegueira,

câncer terminal. Segundo: ele é gay e vive um relacionamento com um homem mais jovem. Comédia. Classificação 14 anos. Kinoplex em 18 de novembro. 105 minutos.

Conspiração Xangai Direção: Mikael Hafstrom. Paul Soames (John Cusack), agente secreto americano que investiga o assassinato de seu melhor amigo, acaba se envolvendo em uma rede de conspiração e mentiras. Com a ajuda do oficial de inteligência japonesa Tanaka (Ken Watanabe), Paul concentra a sua investigação

no carismático gângster da cidade, Anthony Lanting (Ken Watanabe), e sua bela esposa, Anna (Gong Li). Logo, Paul e Anna se envolvem e colocam tudo o que têm em jogo, inclusive suas vidas. Drama. Classificação 14

Ilha do medo e Zodíaco. E também aquele que peitou George Bush, posicionando-se contra o governo dele e a guerra no Iraque. Aguardemos.

anos. Cinemark e Kinoplex em 25 de novembro. 110 minutos.

Corações sujos Direção: Vicente Amorim. Em 1945, o Japão rendeu-se aos Estados Unidos e terminou a Segunda Guerra Mundial. Certo? Errado. Para 80% da colônia japonesa no Brasil,

Rafania Almeida Queria mesmo que o Christian Bale fosse o Hulk, mas ele já é o Batman


Arte, Cultura e Lazer

o Japão havia vencido a guerra. Os poucos japoneses que aceitaram a derrota foram perseguidos e muitos foram assassinados – por seus próprios conterrâneos – e uma nova guerra começou. É neste contexto que vive Takahashi (Tsuyoshi Ihara), casado com Miyuki (Takako Tokiwa). Apesar da relutância inicial, ele entra para o grupo dos que não acreditavam na derrota. Aos poucos, se torna um matador, apesar dos apelos da mulher para que deixe as perseguições de lado. Drama. Classificação 14 anos. Kinoplex em 4 de novembro. 147 minutos.

Happy feet 2: o pinguim Direção: George Miller. A sequência do sucesso ganhador do Oscar de melhor animação em 2007 leva o público de volta às paisagens magníficas da Antártica. Mano e Gloria agora têm um filho, Erik, que se esforça para encontrar seus próprios talentos no mundo dos pinguins. Porém, novos perigos ameaçam a nação pinguim e todos vão precisar trabalhar, e dançar, para salvá-la. Com exibição em 3D. Animação. Classificação 10 anos. Cinemark e Kinoplex em 25 de novembro. 130 minutos.

Imortais Direção: Tarsem Singh. Theseus (Henry Cavil), um jovem príncipe guerreiro, lidera seus homens em uma batalha contra o mal, em que deuses e soldados lutam contra demônios e titãs. Aventura. Classificação 10 anos. Cinemark em 11 de novembro. 107 minutos.

Não sei como ela consegue Direção: Douglas McGrath. Kate (Greg Kinnear) é o exemplo perfeito da mulher moderna: trabalha fora de casa, educa dois filhos, cuida do marido e de si mesma. Tudo vira de cabeça para baixo com a chegada de um novo e charmoso colega de trabalho, Jack (Pierce Brosnan). Comédia. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 4 de novembro. 89 minutos.

O guarda Direção: John Michael McDonagh. Um policial irlandês pouco ortodoxo (Brendan Gleeson) e um agente do FBI (Don Cheadle) se unem para combater o tráfico de drogas internacional. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark em 4 de novembro. 96 minutos.

O preço do amanhã Direção: Andrew Niccol. O tempo se tornou a maior moeda de todas. Os cientistas conseguiram descobrir uma forma de destruir o gene do envelhecimento. Quando uma pessoa chega aos 25 anos para de envelhecer, mas tem apenas mais um ano de vida, a não ser que tenha dinheiro para pagar pelo tempo extra. Na busca por poder e tempo de vida, um homem (Justin Timberlake) é acusado injustamente de homicídio e se vê obrigado a sequestrar uma bela jovem (Amanda Seyfried) para conseguir ganhar mais tempo e provar sua inocência. Ficção. Classificação 12 anos. Kinoplex em 4 de novembro. 105 minutos.

Os 3 Direção: Nando Olival. Três universitários, Camila (Juliana Schalch), Rafael (Gabriel Godoy) e Cazé (Victor Mendes), se conhecem numa festa, viram amigos e vão morar juntos. De tão unido, o grupo ganha o apelido de “Os 3”. Quatro anos se passam, a faculdade chega ao fim e a necessidade de ganhar dinheiro faz com que eles topem transformar o apartamento no cenário de um reality show. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 11 de novembro. 80 minutos.

Potiche: esposa troféu Direção: François Ozon. O filme se passa em 1977. Robert (Fabrice Luchini) é um homem desprezível que só pensa nos negócios e não se relaciona bem com ninguém: funcionários, filhos e esposa. Depois de uma greve em sua fábrica, ele é sequestrado.

Sua mulher, Suzanne (Catherine Deneuve), assume o comando da empresa, mostrando capacidade e dons incríveis de administrar a fábrica melhor do que o marido. Comédia. Classificação 12 anos. Cinemark em 17 de novembro. 103 minutos.

Pronto para recomeçar Direção: Dan Rush. Desempregado, Nick (Will Ferrell) está numa pior. Enfrenta problemas com a bebida, é abandonado pela mulher, que despeja tudo o que é seu no jardim de casa. Na tentativa de recomeçar a vida, coloca à venda, no gramado mesmo, tudo o que tem. Um novo vizinho pode ser a chave para que o cotidiano de Nick volte aos eixos. Comédia. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 11 de novembro. 97 minutos.

Reféns Direção: Joel Schumacher. O casal Kyle (Nicolas Cage) e Sarah (Nicole Kidman) é sequestrado por uma gangue em busca de dinheiro fácil. No entanto, a inesperada descoberta de traição e outras decepções provam que aquele assalto não foi mero acaso. Suspense. Classificação 16 anos. Kinoplex em 11 de novembro. 102 minutos.

Um dia Direção: Lone Scherfig. História de Dexter (Jim Sturgess) e Emma (Anne Hathaway), que se conheceram na noite em que se formaram na Universidade de Edimburgo, em 1988, e concordaram em manter a amizade e visitar um ao outro todos os anos, para ver como estão. Embora ambos passem por diversos envolvimentos românticos, têm uma ligação especial que não conseguem explicar. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 4 de novembro. 108 minutos.

Uma incrível aventura Direção: Debs Gardner-Paterson. A história extraordinária de três crianças de Ruanda


Columbia TriStar

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Cinema No cinema do futuro, você será responsável pelo fim da história. Não só isso, terá oportunidade de interferir nos principais acontecimentos da trama, numa espécie de Você decide pós-moderno. Não, não é o espírito do mago da tecnologia Steve Jobs tirando sarro com ninguém, mas cenas de 12 produções exibidas na Mostra Internacional de Filmes Interativos do CCBB, de 22 de novembro a 4 de dezembro. São longas-metragens interativos de países como Israel, Portugal, Estados Unidos e República Checa. O Brasil participa com quatro projetos, entre eles Maldita escolha, de Jomário Murta, e o recente Labirinto, de Bruno Jareta. Não se surpreenda, mas há filmes com até 11 desfechos diferentes e sessões em que o espectador, munido de controle remoto, pode esco-

Moneyball

lher não apenas o rumo da história, mas qual personagem deve seguir.

Direção: Bennet Miller. Como em muitos esportes, no beisebol as equipes ficam de olho nos times universitários e amadores para ver se conseguem encontrar novos talentos mesmo com orçamento apertado. Billy Beane (Brad Pitt), técnico do time de Oakland, decide investir dinheiro em um sistema matemático que analisa e escolhe os melhores jogadores, inclusive suas posições. Drama. Classificação 16 anos. Kinoplex em 18 de novembro. 133 minutos.

Um dos destaques é o clássico do cinema de autor Um homem com uma câmera, do russo Dziga Vertov, fita de 1929 que contará com a participação do público na composição da trilha sonora. Produção da República Checa rodada em 1967, Kinoautomat envereda pelos caminhos da narrativa experimental e do humor

(Eriya Ndayambaje, Roger Nsengiyumva e Sanyu Joanita Kintu) que, sem dinheiro nenhum, caminham 4,8 mil quilômetros só para assistir à Copa do Mundo na África do Sul em 2010. No caminho, eles enfrentam diversas aventuras com a paisagem africana ao fundo. Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex em 11 de novembro. 88 minutos. www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br

Cinema – outros

6ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

Total de 47 filmes. Uma realização da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira/MinC e patrocínio da Petrobras, o evento é dedicado a obras que abordam questões referentes aos direitos humanos, produzidas recentemente nos países sul-americanos. 14 a 20 de novembro,

negro. O público participa nos rumos tomados pelos atores, adotando esquema de interação usado na época do filme. No israelense Turbulencia¸ o espectador tem a chance de traçar o destino de três amigos judeus que voltam a se encontrar 20 anos depois, em Nova York.

Lúcio Flávio É jornalista


Arte, Cultura e Lazer no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação e programação em www. cinedireitoshumanos.org.br.

Cineclubinho Disney Apresenta a cada sábado um filme diferente. Programação composta tanto por clássicos como por filmes mais atuais. Um evento para toda a família. 5 a 26 de novembro, sempre às 10h30, na Livraria Cultura CasaPark. Entrada franca. Verifique a classificação. Telefone: 3410-4033. Desventuras em série: 5 de novembro Aladdin: 12 de novembro Buzz Lightyear do comando estelar: 19 de novembro Aristogatas: 26 de novembro

Mostra Internacional

de Filmes interativos Exibição de 12 filmes de Israel, do Brasil, dos EUA, de Portugal e da República Checa, pioneiros e atuais. A programação inclui mesas-redondas com pesquisadores e pensadores da interatividade, com o propósito de definir e difundir as possibilidades dessa linguagem inovadora. Bob Gale, roteirista do filme De volta para o futuro, participará da abertura da mostra. 22 de novembro a 4 de dezembro, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Veja a classificação e a programação completa em www. bb.com.br/cultura.

O cinema é Nicholas Ray A mostra é em comemoração ao centenário do cineasta Nicholas Ray (1911 – 1979), lembrado de uma forma muito especial em Brasília. É a primeira retrospectiva completa do cineasta norte-americano no Brasil. Ray dirigiu filmes importantes de Hollywood, como Juventude transviada, de 1955, e Jornada tétrica, de 1958. 1º a 13 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação e programação completa em www.bb.com.br/cultura.

Música

Biquini Cavadão e Titãs Pela primeira vez juntas, duas das melhores atrações do rock brasileiro. Os Titãs apresentam canções de toda sua trajetória e composições mais recentes, presentes no álbum Sacos plásticos (2009). Já o Biquini Cavadão relembra canções de outros intérpretes que embalaram a juventude dos anos 1980 e 1990 presentes no álbum 80 Vol. 2, como Inútil e Bete Balanço. 4 de novembro, às 22h, no Opera Hall. Ingressos (inteira): Pista R$ 80; Área VIP R$ 120 (open bar); Área extra VIP R$ 160 (open bar). Classificação 16 anos (18 anos nas áreas

sarcásticas, que falam de ódio, violência, bebidas e mulheres. Inspirados de certa forma em um ambiente de faroeste americano, entre as influências está Johnny Cash. Em 2005 eles gravaram um álbum baseado no início da carreira do cantor, o To hell with Johnny Cash. 5 de novembro, às 23h, no Clube Cedec (912 Sul). Ingressos (inteira): R$ 20. Classificação 18 anos. Telefone: 8605-6617.

Ringo Starr Vem ao País acompanhado de sua banda All Starr Band, que reúne músicos como os tecladistas Gary Wright e Edgar Winter e o baixista Richard Page. No palco, ele deve misturar músicas de sua época como beatle e também da carreira solo, como It don’t come easy, With a little help from my friends e Yellow submarine. 18 de novembro, às 22h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Superior R$ 300; VIP A R$ 600; VIP B R$ 500; VIP Gold R$ 900; VIP lateral R$ 700. Classificação 16 anos. Telefone: 4003-0848.

exposições

Cinema espanhol,

open bar). Telefone: 3425-3300.

uma crônica visual

Matanza

Um passeio pela história do cinema. O objetivo da exposição é aproximar as imagens já assimiladas, por meio do cinema ou da

O grupo compartilha de letras cínicas e


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Música Amor é PUNK, meu bem. Faz roqueiros da melhor estirpe se meterem em cada absurdo. Vejamos alguns exemplos. Ike e Tina Turner, porrada. Kurt Cobain e Courtney Love, suicídio da melhor parte. Sid Vicious e Nancy Spungen, assassinato sangrento. Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, divórcio, pegação generalizada, amor livre, brigas e ciúmes. Enfim, se para o funcionário público padrão, aquele ser entediado, já é difícil manter um relacionamento saudável com um ser humano dotado de um senso de humor parecido com o do próprio, imagine então músicos, punks, ninfomaníacos, rebeldes, suicidas e com complexo de revolucionários! Alguns são isso tudo! Um pacote completo de incompatibilidade com qualquer coisa que não seja um instrumento, caixa de

Uma vida bossa nova Comemoração dos 80 anos de João Gilberto. No repertório, clássicos imortalizados e canções inéditas. O cantor não se apresenta ao público desde 2008, quando realizou shows no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, e no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 19 de novembro, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Gold R$ 1.400; Gold extra R$ 1.400; Poltrona especial R$ 800; Poltrona superior R$ 600; Poltrona VIP R$ 1.000; VIP extra R$ 1.000. Classificação 14 anos. Telefone: 3429-7600

som ou melodias. Dito isso, me deparei com a notícia de que o show do Sonic Youth, ídolos alternativos, no Brasil, em novembro, deve ser o último da banda. A razão? O casamento dos alicerces da banda, Thurston Moore e Kim Gordon, chegou ao fim, depois de 27 anos. Eu disse 27! Essa é a expectativa de vida de um roqueiro, não da união ESTÁVEL entre DOIS deles. Imagine a felicidade caso John Lennon e Paul McCartney tivessem tanto

televisão, na memória dos espectadores. Serão 80 fotografias, 20 cartazes e um vídeo de 40 minutos, que reúne extratos de filmes que se destacam na filmografia espanhola. Até 10 de dezembro, de segunda a sexta, das 11h às 21h e sábados, das 9h às 14h, no Espaço Cultural Instituto Cervantes (707/907 Sul). Entrada franca e livre. Telefone: 3242-0603.

Coordenadas Com 46 obras em técnica mista da artista greco-brasileira Geórgia Kyriakakis.

A artista mistura livremente técnicas e materiais, como desenho, fotografia e esculturas que se fundem com madeira, plástico, vidro, areia, barbante e pó de metal carbonizado. Foram reunidas nove séries: Coordenadas, Continentes, Deixa Passar, Elevações, Genius Loci, Horizontes Elásticos, Let it Be, Outros Continentes e Por motivos de força maior. Até 27 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco). Entrada franca e livre. Telefone: 3327-2027.

tempo nas mãos para produzir barulho do bom! Agora, pense no terror e pânico caso Joelma e Chimbinha durassem isso tudo. O computador até travou.

Diogo Dawes Relaciona-se com várias bandas para evitar a dor da separação


Arte, Cultura e Lazer Artístico Nacional (SBN Q. 2 Bl. H). Entrada franca e livre. Telefone: 3326-3785.

Ver-me verme A jovem brasiliense Raquel Nava reúne mais de 20 obras produzidas entre 2008 e 2011 em várias técnicas, como pinturas, desenhos e fotografia. A artista se interessa pela hibridez da poética contemporânea, se inspira e interage com elementos comuns do cotidiano, a partir dos quais propõe reflexões e novas ideias. Até 27 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Ecco. Entrada franca e livre. Telefone: 3327-2027.

Teatro

Genésio

Carlos Oswald – O resgate de um mestre Uma retrospectiva com 70 das mais importantes obras do artista que nasceu na Itália (1882 –1971). Trabalhos raríssimos, passando por todas as trajetórias do artista. Os temas mais recorrentes trazem representações religiosas, de paisagens, de figuras humanas e da vida animal. Até 20 de novembro, diariamente, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9892.

Maria Bonomi Cerca de 250 obras do universo feminino em pinturas, gravuras, esculturas, máscaras para o teatro. Da aproximação com grandes escritoras – foi amiga de Clarice Lispector e Cecília Meireles – até as obras instaladas em grandes capitais, nada escapa a esta retrospectiva de uma das maiores artistas brasileiras. Até 6 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.

O realismo fantástico de Vasconcellos

Composta por 30 quadros do artista plástico Vasconcellos, mineiro radicado na Dinamarca

desde a década de 1970, após perseguição pelo regime militar. A obra traz uma carga dramática na construção do tema com percepção crítica da realidade. Uma característica que chama atenção em suas obras é a luz, o contraste entre o claro e o escuro. Até 11 de novembro, de segunda a sexta, das 9h às 18h, no salão do Plenário da Câmara Legislativa. Entrada franca e livre. Telefone: 3348-8000.

Projeto barcos do Brasil Com 89 modelos de embarcações tradicionais do País, a mostra tem como objetivo a preservação e a valorização do patrimônio naval brasileiro. Até 18 de novembro, de segunda a sexta, das 9h às 19h, no Instituto do Patrimônio Histórico e

O espetáculo conta a história do alcoólatra Genésio e de sua relação com Laurinda, sua mulher. Espetáculo teatral de Paulo Russo, com Kacus Martins, Magda Brandão e Ana França. 4, 5 e 6 de novembro, às 20h, no Espaço Cultural Renato Russo. Ingresso (inteira): R$ 30. Classificação 14 anos. Telefone: 3443-6039.

Mitos do Teatro Brasileiro A última apresentação do ano vai homenagear uma das maiores artífices do Teatro de Arena: Dina Sfat (1938-1989). A atriz seguiu uma carreira de coerência nas escolhas dos projetos teatrais e transformou-se numa das intérpretes mais marcantes da segunda metade do século 20. Trabalhou com os grandes diretores de seu tempo, como Antonio Abujamra, Augusto Boal e José Celso Martinez Corrêa, e combateu a ditadura militar. Como atriz e produtora, foi responsável por grandes sucessos nacionais, como As criadas, de Jean Genet (1981), e Hedda Glaber, de Henrik Ibsen (1982). 22 de novembro, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação 12 anos. Telefone: 3108-7600.

Rabequinha toca Mozart O palhaço Rabequinha é um excelente músico, porém muito atrapalhado, e ainda está perdi-


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Amara Hurtado

Taguá Comedy Show Uma série de espetáculos de humor, no gênero stand-up comedy. Esta é a primeira edição do Taguá Comedy Show, que traz a Taguatinga o que há de melhor no cenário humorístico brasileiro, com um espetáculo diferente por dia. 12 a 20 de novembro, às 20h, no Centro Cultural Sesi – QNF 24 – Área Especial – Taguatinga Norte. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 14 anos. Telefone: 3355-9500. Eu, eu, Murilo (Murilo Couto): 12 de novembro Fora do normal (Fábio Porchat): 13 de novembro Então... deu no que deu (Nany People): 19 de novembro Falando a Veras (Marcos Veras): 20 de novembro

Versos profanos No palco, Jeff Moreira, Kelrryane Medeiros e Luis Alberto dão vida aos personagens da trama. Com linguagem refinada e dinâmica, a peça conta a paixão do poeta Reynaldo por Dalila e as peripécias do mordomo Pablito para impedir o relacionamento dos dois. 4 a 27 de

De outro jeito História de um homem apaixonado por caixas e por seu filho. O pai tem dificuldade de expressar o amor que sente pelo menino. Para demonstrar seus sentimentos, ele cria para o filho diferentes brinquedos com as caixas com que ele trabalha. Castelos, dragões, carros, animais são algumas das invenções. Para o pai, as caixas são a representação do amor que sente pelo filho. Novo espetáculo infantil do grupo As Caixeiras – Cia. de Bonecas. 5 a 20 de novembro, sábado e domingo, sempre às 17h, na Escola Parque 304 Norte. Ingressos (inteira): R$ 10. Classificação livre. Telefone: 8171 3731.

novembro, sextas, sábados e domingos, às 20h30, no Teatro Brasília Shopping. Ingressos (inteira): R$ 40. Classificação 14 anos. Telefone: 2109-2122.

Outros

Caixa de Letras do de sua orquestra. Enquanto não encontra seus companheiros de música, o artista diverte o público tocando vários instrumentos. 6 e 20 de novembro, às 15h, na Livraria Cultura do Iguatemi. Entrada franca. Classificação 4 anos. Telefone: 2109-2700.

Serpentes que fumam É o segundo projeto da Andaime Cia. de Teatro e foi elaborado a partir do Manifesto Futurista do italiano Filippo Marinetti, 1909, e também a partir do entendimento sobre dramaturgia aberta. Coragem, audácia, revolta e poesia. Gentilezas espalhadas por todos os eixos.

Pequenas ações realizadas em locais públicos. Real e fictício. Tudo misturado. Não há personagens, há pessoas. Atores e espectadores no mesmo balaio. Um balaio bem pensado. Ingredientes do manifesto futurista, do teatro sintético, do teatro pósdramático, intervenção urbana, velocidade, blog, performance, vídeos, programas. Tudo isso e mais um monte de coisas. 15 e 22 novembro. Entrada franca e livre. Informações em www.andaimeciadeteatro.com.br. Pizza: 15 de novembro, às 18h, na Esplanada dos Ministérios Ensaio geral: 22 de novembro, às 20h, no Teatro Nacional

No nosso dia a dia, observamos várias mensagens escritas, em livros, revistas, nas embalagens dos produtos, fachadas de loja e placas de trânsito. A maioria faz uso de tipografias – impressas ou digitais – que dão forma a cada mensagem. Com exposição, palestras, oficinas e filmes, o projeto Caixa de Letras revela curiosidades deste universo tipográfico, convidando o visitante a apreciar em detalhes as letras que nos cercam. 2 de novembro a 11 dezembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca. A classificação e a programação completa estão em www.caixadeletras.com.br.


Banquetes e botecos } ilustração Humberto Freitas

cafecatura@gmail.com

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

Quer um clima romântico e boa comida? Vá ao Chez Fondue

Ilustração feita com café e água em papel canson

12345 Embora o fondue tenha sido criado pelos humildes camponeses suíços, é um prato refinado e geralmente caro, por causa dos altos preços dos queijos. Mas não no Chez Fondue, que alia qualidade e custo razoável. A casa, especializada na iguaria, mantém a tradição suíça que começou na Segunda Guerra Mundial e, ao mesmo tempo, oferece versatilidade. Lá, você pode se acabar numa série de pecados gastronômicos ou se deliciar sem sair (tanto) da dieta. Aliás, quase que dá vontade de começar pela sobremesa, pois o fondue de chocolate é uma delícia. A versão doce do prato suíço foi criada na década de 1950, pelo chef Conrad Egli, de Nova York, e foi a que tornou o fondue conhecido no mundo inteiro. Voltemos à versatilidade do cardápio do Chez Fondue. Boa pedida, por exemplo, são as porções petit de queijo e de chocolate. Ambas servem duas pessoas sem muita fome. A casa oferece fondues de carne e de frango com várias maneiras de preparo, mas sempre acompanhados de cebolas caramelizadas, diversos molhos e uma batata rostie perfeita. Para as pessoas light, há ainda a opção do fondue na pedra vulcanizada, em que a carne tem cortes especiais. Há quem adore, pois não leva gordura, mas prefiro a tradicional, no óleo mesmo, apesar de mais calórica. A carta de vinhos é muito boa, com várias opções e preços compatíveis com a qualidade. A melhor opção de harmonização com o fondue de queijo é o vinho tinto com pouco tanino, como Pinot Noir, Sangiovese ou algumas opções de Merlot, que também cai bem com o fondue de carne. Minha última experiência no Chez Fondue foi um Sassoaloro, com características bem peculiares dos vinhos italianos, bastante aromático, equilibrado, com acidez e tanicidade moderada e macia, mas sem deixar perder sua potência. Pode degustar que provavelmente você vai gostar. A atmosfera do restaurante, com dois pisos, é bem intimista. Todas as mesas são iluminadas com velas. A parte de cima tem um charme a mais: uma sacadinha com mesas para duas pessoas. Bem inspirador para os casais. Sua decoração é simples, mas acolhedora. Os garçons são atenciosos, em especial o Manuel, que atende como ninguém. Com o passar do tempo, ele sabe exatamente suas preferências. Toda essa atenção não impede que você tenha privacidade, pois eles sabem deixar os clientes à vontade. Se você é apreciador de um bom fondue, em um clima romântico, o Chez Fondue é uma boa sugestão.

407 Sul Bloco C Telefone: 3443-2925 Diariamente, a partir das 19h


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