Revista meiaum Nº 9

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O primeiro ano do governo Agnelo, por Hélio Doyle

+ ANO-NOVO

Em vez de resoluções, que tal uma avaliação?

U N°

9 Ano 1 | dez. 2011 – jan. 2012 | www.meiaum.com.br

+ BALANÇO

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Agora o aluno financia o seu curso em uma faculdade particular e só começa a pagar 18 meses depois de formado. Com o Fies, Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, o estudante conta com uma série de vantagens e facilidades para financiar o curso que quiser: mensalidades fixas, prazo mais longo para pagar e juros ainda mais baixos. Em alguns casos, não precisa nem de fiador. E quem faz licenciatura pode pagar o financiamento ensinando na rede pública após se formar. Inscreva-se em Ministério da Educação

qualquer época do ano.

G O V E R N O

F E D E R A L

Informe-se no portal do MEC – www.mec.gov.br – e faça a sua inscrição.

G O V E R N O

Ministério da Educação

F E D E R A L


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ÍNDICE

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28

38

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Papos da Cidade

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Ensaio – Hélio Doyle Neste primeiro ano de governo, o caminho não teve nada de novo

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Artigo – João Rafael Torres Sobre desejos de ano-novo. E uma mandinga para o dia 31

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Capa

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Perfil

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Conto – Patrick Selvatti

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Conto – Rodrigo Fernandes

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Fora do Plano

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Caixa-Preta

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Crônica – Milena Galdino

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Arte, Cultura e Lazer

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Banquetes e Botecos

Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

Se toda cidade deve ter um livreiro, Ivan da Presença (foto) é o nosso

Livros, realidade e destino

Paola Lima faz um apelo ao Supremo

O melhor da massagem para emagrecer não é o resultado, são as conversas

Abandono e perigo no autódromo

Coincidências de onze do onze de dois mil e onze

Artigo –Alberto do Carmo Desorientação e trapalhadas médicas Luiz Cláudio Cunha fala sobre o anonimato na internet

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é


Região Norte VENCEDORA

Banco Comunitário Muiraquitã

Inclusão Digital da Amazônia - INDIA

Santarém

PA

Redes de Produção Agroecológica e Solidária

Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes - APACC

Cametá

PA

Tarumã Vida: Do Carvão às Tecnologias Sociais

Associação Agrícola do Ramal do Pau Rosa - ASSAGRIR

Manaus

AM

Região Nordeste VENCEDORA

Bancos de Sementes Comunitários

Centro de Educação Popular e Formação Social - CEPFS

Teixeira

PB

Jovem Empreendedor: Ideias Renascendo em Negócios

Acreditar

Glória do Goitá

PE

Rede Cearense de Turismo Comunitário - Tucum

Instituto Terramar de Pesquisa e Assessoria à Pesca Artesanal

Fortaleza

CE

Região Centro-Oeste VENCEDORA

Construção de Habitação em Assentamentos

Associação Estadual de Cooperação Agrícola - AESCA

Campo Grande

MS

Fique de Olho, Pode Ser Câncer Infanto-juvenil

Associação dos Amigos das Crianças com Câncer - AACC/MS

Campo Grande

MS

“Tampando Buraco”: Recuperando Voçorocas

Embrapa Arroz e Feijão

Santo Antônio de Goiás

GO

Agroecologia Urbana e Segurança Alimentar

Sociedade Ecológica Amigos de Embu - SEAE

Embu da Artes

SP

Ecos do Bem: Educação Ambiental no Território do Bem

Associação Ateliê de Ideias

Vitória

ES

Modelos de Acesso ao Crédito para o Terceiro Setor

SITAWI

Rio de Janeiro

RJ

Oficinas de Artesanato e Construção de Identidade

Fundação Parque Tecnológico Itaipu

Foz do Iguaçu

PR

Tribos nas Trilhas da Cidadania

ONG Parceiros Voluntários

Porto Alegre

RS

Visão de Liberdade

Conselho Comunitário de Segurança de Maringá

Maringá

PR

Região Sudeste VENCEDORA

Região Sul

VENCEDORA

Tecnologia Social na Construção de Políticas Públicas para Erradicação da Pobreza VENCEDORA

Fossas Sépticas Econômicas

Prefeitura Municipal de Caratinga

Caratinga

MG

Horta Comunitária - Inclusão Social e Produtiva

Prefeitura Municipal de Maringá

Maringá

PR

Orçamento Participativo Jovem de Rio das Ostras

Prefeitura Municipal de Rio das Ostras

Rio das Ostras

RJ

Participação de Mulheres na Gestão de Tecnologias Sociais VENCEDORA

Investimento Social em Mulheres e Meninas

Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres/ELAS - Fundo de Investimento Social

Rio de Janeiro

RJ

Mulheres da Amazônia

Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia

Juruena

MT

Rede de Produtoras da Bahia

Cooperativa Rede de Produtoras da Bahia

Feira de Santana

BA

Direitos da Criança e do Adolescente e Protagonismo Juvenil VENCEDORA

Fazendo Minha História

Associação Fazendo História

São Paulo

SP

Formação de Jovens Empreendedores Rurais

Casa Familiar Rural de Igrapiúna

Igrapiúna

BA

ViraVida

Serviço Social da Indústria - Conselho Nacional

Brasília

DF

Gestão de Recursos Hídricos VENCEDORA

Água Sustentável: Gestão Doméstica de Recursos Hídricos

Instituto de Permacultura: Organização, Ecovilas e Meio Ambiente - IPOEMA

Brasília

DF

Cisternas nas Escolas

Cisternas nas Escolas

Irecê

BA

Sombra e Água Viva

Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios Ltda - CARPIL

Palmeira dos Índios

AL

Ministério da Ciência, T Tecnologia e Inovação


E mais...

Thyago Arruda

Nilson Carvalho

Pedro Ernesto pág. 8 Paula Oliveira pág. 8 Rachel Weber pág. 9 Caroline Vilhena pág.9 Natalia Emerich pág. 10 Maryna Lacerda pág. 10 Estevan Garcia pág. 10 Naira Trindade pág. 11 João Rafael Torres pág. 16 Cláudia Dias pág. 16 Rodrigo Fernandes pág. 22 Thales Fernando pág. 22 Gougon págs. 25 e 45 Paola Lima pág. 25 Rômulo Geraldino pág. 26 Thyago Arruda pág. 28 Francisco Bronze pág. 34 André Zottich pág. 42 Luiz Cláudio Cunha pág. 45 Priscila Praxedes pág. 46 Humberto Freitas pág. 54

Alberto do Carmo pág. 42

Belorizontino, adotou Brasília em 1993. Estreou na mídia como correspondente brasileiro de uma revista francesa de aviação, em 1967. Desde então, colaborou com jornais e revistas, fez rádio e TV em Minas, sempre nas horas vagas do seu tempo de professor e técnico educacional. Nilson Carvalho

Patrick Selvatti pág. 38

Jornalista para se sustentar e escritor para a vida ter sentido. Mineiro de registro e brasiliense de status, acredita que sem ficção a realidade não tem graça. Um romance publicado, outro em edição e um terceiro sendo escrito, além de menção honrosa de um concurso de roteiro de novelas da Record. Escreve a série de contos As Brasilienses no blog Dedo de Prosa, vê novela antiga, pedala, namora e joga conversa fora.

Milena Galdino pág. 26

Thyago Arruda

Thyago Arruda

É jornalista. Mas esse diploma é quase nada (diria o STF). Ela na verdade corre o dia inteiro para ser, além de jornalista, mãe, dona de casa, amiga, esposa, voluntária e ainda ter as unhas feitas e a malhação em dia (sem levar multas de trânsito, por favor...). Nessa rotina eletrizante é que ouve – no supermercado, no spa ou no Congresso – os melhores papos de Brasília.

Marcela Benet

pág. 54

Conhece quase todos os restaurantes de Brasília. E é uma observadora instintiva, mas cuidadosa, de tudo: do cardápio, da comida, da bebida, do ambiente, do serviço, do clima. Para não receber atendimento especial nos restaurantes que frequenta, Marcela, na verdade, é um pseudônimo. Sua verdadeira identidade é um segredo da meiaum.

Colaboradores

Lúcio Flávio págs. 8, 18, 47 e 53

Como um daqueles personagens de Woody Allen, desenvolvendo estilo de vida que não necessite de sua existência. Até que leva jeito para a coisa. Outro dia mesmo fez uma prova de filosofia sobre crise existencial e não respondeu a nenhuma questão... Tirou nota máxima!


Carta dos editores

Em fevereiro tem mais

Q

uando lançamos esta revista, em abril de 2011, nos propusemos a fazer jornalismo sem apatia e com independência. Houve quem dissesse que um projeto assim não daria certo, que esses conceitos não sobrevivem na imprensa de Brasília, que não resistiríamos às tentações e logo a revista estaria “vendida”. Houve quem achasse que era ingenuidade lançar um impresso em tempos em que o mercado aposta nos tablets. Assumimos como princípio a pluralidade que tantos veículos dizem ter, mas que na maioria das vezes fica no discurso. Isso só foi possível porque, ao longo dessas nove edições, 65 pessoas acreditaram na meiaum e aqui tiveram a liberdade de se expressar em textos e imagens. Muitas nem nos conheciam, mas se apaixonaram pela ideia de fazer jornalismo à moda antiga, assim como nós, e capricharam em tudo o que produziram para as nossas páginas.

São esses colaboradores que fazem com que esta revista tenha personalidade própria. É sério, todo mês planejamos e pensamos a edição, mas sempre nos surpreendemos com o conteúdo que recebemos dos autores dos textos, com as interpretações dos ilustradores e com as coincidências que conspiram para que a publicação tome forma. Tem dado certo assim. E quantas vezes eles nos salvaram no aperto do fechamento... Neste primeiro ano, tivemos momentos de orgulho do que publicamos. Erramos também – nunca por desleixo, sempre por querer fazer diferente, experimentar, chamar a atenção. Só temos duas regras na hora de montar a meiaum: não executar a primeira ideia e sempre aprender com os deslizes. Mas há clichês dos quais é difícil escapar: sem você, leitor, não teríamos chegado até

aqui. Ficamos felizes da vida com os elogios que recebemos, com as sugestões, com os pedidos de mais exemplares – por isso passamos de 10 mil para 12 mil – e até mesmo com a rejeição a alguns temas que abordamos. Afinal, é difícil fazer bom jornalismo sem incomodar. São essas manifestações que indicam que estamos no começo do caminho certo. Tratamos de assuntos delicados com a seriedade que merecem e com bom humor de temas que não há mesmo como levar a sério. Acreditamos nesse equilíbrio entre a reflexão sobre questões importantes para os rumos de Brasília e o prazer de folhear uma revista bonita, colorida e divertida. Em fevereiro tem mais.

Anna Halley e Hélio Doyle

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br TIRAGEM 12 mil exemplares Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

| facebook Acompanhe nossa página | twitter Siga @revistameiaum | www.meiaum.com.br ISSN 2236-2274 CAPA | Por Cícero Lopes

Diretores: Anna Halley e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br

Desenho vetorial Designer gráfico, jornalista, ilustrador e empresário. Já publicou nos jornais e nas editoras mais importantes do País. Não vê limite para a criatividade e diz que o impossível não existe.


Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto

ernesto@grandecircular.com

Não se fazem mais governantes como antigamente Nos anos 50, quando era governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek reinaugurou um hábito dos tempos de prefeito em Belo Horizonte: visitar a periferia da capital estadual e as zonas pobres do interior. As visitas eram rápidas, mas fulminantes, deixando marcas indeléveis na memória das pessoas humildes, que nunca tinham visto de tão perto uma “autoridade”.

Raposa velha, o futuro presidente do País ia seguindo o caminho de difícil acesso cercado de gente, que aproveitava a oportunidade para fazer pedidos, registrar queixas. – Vamos com calma, calma que eu vou anotando tudo isso! – dizia Juscelino, que, tal qual um Moisés de Cecil B. DeMille no Mar Vermelho, ia cortando a multidão formada por homens andrajosos e mulheres desdentadas com crianças a tiracolo, todos cobrando água encanada, vaga na escola, trabalho, luz elétrica, a tapação do buraco na rua, remédios e o que mais fosse. – Anote aí, Dr. Penido, o nome completo dessa senhora e tudo o que ela quer. Fale alto e devagarinho, minha senhora... – dizia, apontando para o chefe da Casa Civil, Osvaldo Penido, que o acompanhava, sempre com um lápis e uma caderneta preta nas mãos. Ao deixar o local, sorridente, acenando para o povo, era aplaudido como uma espécie de anjo salvador. Tempos depois, antes de sair do Palácio da Liberdade para mais uma jornada pelas periferias de BH, JK lembrava ao chefe da Casa Civil: – Não esqueça a caderneta, Dr. Penido, que hoje vamos ter povo! Um dia, ao constatar que a caderneta estava com todas as folhas preenchidas de pedidos, o chefe da Casa Civil pergunta confuso: – E agora, o que faço? – Uai, joga fora e compra outra! – responde JK impassível. A história, divertida e exemplar, quem me contou foi o jornalista gaúcho Flávio Tavares, durante uma simpática entrevista anos atrás. Descrita no seu livro O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder, o episódio me veio à tona diante


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da iminência de mais uma incrível e triste sucessão de governos no DF, com os escândalos envolvendo o atual governador e pelegos. Não se fazem mais governantes como antigamente. Lúcio Flávio

Conveniência X eficiência Como não poderia ser diferente para quem mora no Plano Piloto, em novembro já era possível ver famílias inteiras acampadas nos gramados. E todo ano é a mesma coisa: o pessoal vem atrás de doações. Culpa do espírito natalino ou da faxina no armário para nos livrar de roupas que não usamos mais. Tudo bem, a intenção é ótima. Mas sempre que os vejo lembro que uma vez conversei com uma mulher que estava acampada com os filhos pequenos próximo ao supermercado Extra da Asa Norte. Ela me contou que trabalhava a semana inteira como diarista e passava os fins de semana na barraca da família. O marido dela também trabalhava, só não me lembro em quê. Lógico que não com estas palavras, mas ela deixou bem claro que se aproveitava da bondade de fim de ano para garantir roupas e comida para a família. Não que precisasse muito, mas era conveniente para ela. Sei que todos queremos mais do que temos e que essas famílias são realmente carentes, mas acredito que procurar instituições sérias que fazem a ponte de quem quer doar com quem precisa de doação seja mais eficaz. Afinal, o que importa não é fazer a doação, mas garantir que quem precise realmente dela a receba. Paula Oliveira

Papo de menininha Não sei para vocês, mas manicure pra mim é cargo de confiança. Armada e perigosa,

ela é uma ameaça à sua vida. Sim! Um bife arrancado pode acabar com o seu dia. E como Murphy é onipresente, aquele machucadinho vai virar um maior, pois você vai batê-lo, deixar sal cair em cima dele, entre outras coisas que acabam com o humor de qualquer mulher. E uma mulher mal-humorada pode acabar com o seu dia também. Vai dizer que estou mentindo? Pior é quando seu namorado pega sua mão e diz: “Hum! Tá diferente, né?” Certeza de que ficou uma porcaria. Caramba! Você paga R$ 15 pra fazer a mão, ser uma pessoa apresentável e a filha da mãe vai lá e destrói seu dinheiro, faz picadinho dele, joga no lixo. Não me venha com essa de que isso é papo de mulherzinha fresca, porque até discussão em blog masculinho sobre a brochante francesinha no pé e a imagem suja que uma mulher de esmalte descascado tem eu já vi. Sei bem quantas cervejas R$ 15 compram. Sei que é um lanche no Mc Donald’s. E é por isso que o serviço tem de ser benfeito. Paguei R$ 17 da última vez e sai do salão desejando que o vermelho do meu esmalte fosse, na verdade, o sangue da manicure bandida que fez um serviço porco em minhas mãos. Meia hora uma profissional competente levaria para fazer o serviço e multiplicar a grana por dois. Ela levou uma hora e nunca mais verá meus cascos novamente. Se a área de estética em Brasília é tão valorizada, se eles ganham tanto dinheiro com isso (uma manicure me disse que ganhava R$ 2 mil em um mês fraco), por que não oferecer serviço de qualidade? Por que, por se tratar de um trabalho dito simples, tem de ser feito de qualquer jeito? Um alicate é uma arma. Manuseá-lo é uma arte. Então, senhores e senhoras donas de salão, vamos brincar de profissionalizar isso antes que um pequeno bife vire um processo por amputação. Mulheres vaidosas e desesperadas agradecem e os nossos bolsos também.

Nota 10 para os globais

Rachel Weber

Caroline Vilhena

Aqui estou outra vez para meter o pau nesse bando de pseudointelectual que se acha muito politizado porque passa o dia opinando e protestando sobre tudo no Facebook. Bastou um punhado de globais produzirem um vídeo contra a construção da usina de Belo Monte pro circo se armar na internet. De um lado, uma galera que nem sabe que raios é uma usina, muito menos onde fica Belo Monte, começou a compartilhar o bendito vídeo. De outro, colegas jornalistas se uniram para criticar os frágeis argumentos apresentados pelos artistas, mas o curioso é que ninguém conseguiu apresentar uma razão plausível sequer que justifique a construção da hidrelétrica. A discussão, lamentavelmente, não era sobre a importância (ou não) da maior obra do PAC, mas sim sobre a Globo ser manipuladora de opiniões, sobre não se deixar levar pelo que a grande empresa impõe aos pobres cidadãos sem instrução. Cara, como assim? Essa mudança de foco drástica só prova que o intelecto desses ativistas de sofá é frágil e raso. Não tô aqui para defender ou criticar a construção da usina, isso é outro papo; mas sou paraense (e é no Pará que querem construir a nova hidrelétrica, não bastasse a de Tucuruí) e posso afirmar com toda a certeza que 90% das pessoas que tentaram opinar sobre o assunto nas redes sociais não têm a menor ideia do que estão falando. Na boa, nota 10 para os globais! Mandaram bem demais! Pelo menos despertaram as pessoas para um assunto de suma importância de que muitos não teriam o menor conhecimento se no vídeo figurasse um doutor em engenharia renomado e não a Juliana Paes. Pelo menos motivaram milhares de pesquisas na internet, o Google nunca recebeu tantas procuras por “Belo Monte” na vida, certeza. Curti.


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Guarda o bolso, menina A menos de um mês do recesso parlamentar, a Câmara Legislativa foi destaque na mídia local. Não pela (falta de) rotina dos distritais na Casa, mas pela 11ª edição do Capital Fashion Week, realizada na sede do Parlamento. Depois de muito pensar sobre a semelhança entre política e moda, concluí que: ambas são cíclicas – os deputados eleitos a cada quatro anos e as tendências estabelecidas por estação (a cada três meses) –; e na maioria das vezes geram arrependimento a longo prazo. Quem nunca mudou de assunto ao ser perguntado em qual candidato votou, ou escondeu “aquela” foto da infância ou adolescência durante a confraternização familiar? Pois bem, é no clima de moda, negação e vergonha alheia que decidi fazer uma reflexão sobre os modernos shortinhos com o forro do bolso para fora. Na verdade, não os acho nada modernos, na minha infância já existiam, mas eram considerados descuido e mamãe fazia questão de me manter alinhada. Não faz muito, vi a minha irmã vestida com um e, por impulso, gritei: “Arruma isso, tá para fora”. Ela riu, me chamou de antiquada e saiu rebolando. Confesso: não compro revistas para saber qual é a cor do verão ou a estampa do momento – em menos de um ano passou por zebra, oncinha, poá e até xadrez. Ando mesmo desatualizada, mas a conversa com a minha irmã e a ida à Câmara Legislativa na última semana de novembro renderam mais do que muitas dicas por aí. Ficaram três lições: se eu encontrar alguém com a roupa do avesso, com uma meia de cada cor ou com os botões da blusa nas casas erradas, não vou questionar, pode ser tendência; moda também é arrependimento; é bonito ser feio. Sou adepta do velho jeans e do pretinho básico. Ah, sim, shortinho com bolso para fora, para mim, é descuido! Natalia Emerich

Quando tampão de ouvidos vira produto de primeira necessidade Há épocas do ano em que a poluição sonora fica mais explícita. Pra mim, dezembro é o mês campeão, não bate nem o carnaval. É fim de ano e há quem diga que chegou a época de fraternidade, de alegria e do especial do Roberto Carlos. Também é tempo de se deliciar com o hit parade Noite feliz, Pinheirinhos, que alegria! e Jingle bells. E o que dizer da trilha sonora do trânsito? Como se já não bastasse ter que ouvir o Então é Natal de Simone em todos os lugares, tenho que aguentar o buzinaço irritante de valentões ao volante. Ok, tá todo mundo com pressa, todo mundo cheio de razão. A ordem é fazer barulho para o camarada da frente andar, para segurar a vaga no estacionamento, para justificar a cortada pela direita. As vias de Brasília viraram selva e a lei é conquistar o espaço (apertado) por meio do grito. E dá-lhe barulho. O que quase ninguém entende é que esquecer a mãozinha na buzina não diminui a quantidade de carros nas ruas, não educa o motorista ao lado, tampouco faz chegar mais rápido. Então, sente aí e curta o We wish you a Merry Christmas. Maryna Lacerda

A gente morre na DF-002 Toda vez em que há um acidente com morte no Eixo Rodoviário, por atropelamento, colisão ou capotagem, volta a discussão que existe há pelo menos 30 anos: o que fazer para que a rodovia que corta o Plano Piloto de norte a sul, ou de sul a norte, seja menos perigosa e haja menos acidentes em seus 14 quilômetros de extensão. Nesses momentos, aparecem defensores das mais diversas soluções: erguer muretas ou um canteiro na pista central; instalar

semáforos e mais pardais; ampliar as passagens subterrâneas para pedestres ou mesmo construir passarelas por cima das pistas; reduzir a velocidade máxima permitida; até mesmo cercar as vias, como se faz, em outras cidades, em rodovias que cruzam áreas urbanas. Todas as propostas têm seus defensores, entre especialistas e técnicos e mesmo pessoas que simplesmente acham, porque acham. Discute-se muito e nada acontece. E tudo se repete no próximo acidente e na próxima morte. Alega-se que mudanças não podem ser feitas porque os que zelam pelo tombamento não permitem, que Oscar Niemeyer é contra, que tanto faz colidir a 60 km/h ou a 80 km/h e assim por diante. Daí, nada se faz. Mas finalmente algo foi feito e isso é importante, porque nada vale mais do que uma vida. Quem tomou a frente foi o vice-governador Tadeu Filippelli, que, no exercício do governo, convocou secretários, diretores do DER e do Detran, promotores, o superintendente do Iphan, o presidente do Instituto dos Arquitetos e outras pessoas para discutir o assunto. Foram programadas novas reuniões, mas pelo menos duas decisões consensuais já foram tomadas: serão instalados mais oito pardais (são 23) e haverá fiscalização a cada dois quilômetros. No dia 20 o governo vai anunciar o que mais será feito no Eixão. É natural que haja divergências sobre outras medidas, ou por serem ineficazes, ou por violarem o tombamento do Plano Piloto. Mas o importante é, desta vez, o governo se mexeu. É bom quando o governo se mexe. Estevan Garcia

Crises que viram os anos As comemorações tradicionais em Brasília perdem a graça. Uma praga chamada


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corrupção – que envergonha os amantes desta capital – se entranha nos quatro cantos deste Distrito Federal. Quando penso numa festa bonita cheia de pompa para brindar o Natal, logo imagino o rombo nos cofres públicos para arcar com as recheadas ceias políticas. Uma simples árvore iluminada na Esplanada dos Ministérios vira pauta para investigações do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. O que pensar, então, quando o assunto é a contratação de renomadas bandas “carnavalescas” para embalar a virada do ano? Uma maldade vem à mente: quanto mais cara a contratação, mais cara a propina? Impossível não julgar os que aceitam se envolver com os “contrabandos” comandados por alguns governantes. Desculpem-me as bandas sérias. Mas o fato é que as crises que perseguem nossa capital desde o fim de 2009 e atingem principalmente as passagens de ano tiram a graça das comemorações. Naira Trindade

Surpresa: 31 de dezembro é véspera de ano-novo! Neste ano, não vou cumprir a tradição de passar a virada do ano com os pezinhos no mar. Começarei 2012 aqui mesmo. Não vejo muita graça em gastar centenas de reais para passar o réveillon confinada numa daquelas festas típicas com bufê, banda que toca “de tudo um pouco” e gente chata. Prefiro a energia da multidão no meio da rua, com direito a contagem regressiva em coro, simpatia gratuita entre estranhos só porque é ano-novo e dor no pescoço depois de assistir aos fogos que parecem durar para sempre. Assim, seria natural seguir para a Esplanada dos Ministérios na noite de 31 de dezembro. O Rio tem a Praia de Copacabana. São Paulo tem a Avenida Paulista. Nova York, a Times

Square. Nós temos a Esplanada e é lá que eu deveria encontrar o burburinho para começar o ano de acordo com meus costumes. O problema é que a tradição em Brasília é outra, como diz a minha colega Naira aí do lado. A prática é antiga, mas é uma pena que o senhor de barba que nos prometeu novo caminho tenha mantido a tradição de não presentear a capital da República com uma celebração decente. Hoje é 1° de dezembro e não faço a menor ideia do que vai ter na madrugada que se sucederá em um mês. O pessoal lá da comunicação do governo

garantiu que a programação sai ainda na primeira quinzena do mês, sem falta! Ah, agora fico bem mais tranquila. Quanta eficiência. Em geral, evento bom requer planejamento e organização, além de respeito aos convidados. Então já imagino o constrangimento que será minha noite de ano-novo. Programão. Aproveito para dar um aviso. No ano que vem também haverá réveillon. Anote aí, governador: será em 31 de dezembro. Agora, é só se planejar. Anna Halley


Ensaio

Um ano

Em busca do tempo perdido

O governo de Agnelo Queiroz está mal, mas ele garante que agora vai!

Texto Hélio Doyle

Fotografia thyago arruda

heliodoyle@meiaum.com.br

thyagochs@gmail.com

Talvez Agnelo Queiroz tenha se lembrado, como ex-militante do PCdoB, do presidente chinês Mao Tsetung. Em entrevista ao Correio Braziliense, o governador prometeu um “grande salto” em 2012. Mao não foi muito bem-sucedido em seu “Grande Salto à Frente”, em 1958, mas Agnelo não tem opção: ou esse salto dá certo e representa uma virada radical em seu governo, ou se afunda política e eleitoralmente. E o PT, por tabela, se afunda com ele. Agnelo deve estar preocupado. Qualquer governante se preocuparia ao constatar que sua gestão é aprovada, quase um ano depois da posse, por apenas 15,4% dos eleitores. E

que a soma dos que acham seu governo ótimo e bom não passa de 10%, enquanto 64% o consideram ruim e péssimo. Os números referentes ao governo de Agnelo Queiroz são de uma pesquisa confiável, do instituto O&P Brasil – aliás, um dos poucos confiáveis em Brasília. Qualquer governante se preocuparia com esses números, pelos danos que causam à sua imagem e à sua gestão e pelo que podem representar nas eleições de 2014. Mas em três anos de mandato muita coisa ainda pode acontecer e um quadro negativo, mesmo tão negativo quanto este, pode ser revertido se houver vontade e competência para dar o tal “grande salto”. Mas que tem

de ser dado logo, rapidamente. Eleitores frustrados Agnelo, na entrevista a Lilian Tahan, do Correio Braziliense, atribuiu seu mau desempenho em 2011 ao fato de assumir o governo “em uma situação dramática”. O ano, segundo ele, “foi de arrumação”, de enfrentamento de “situações emergenciais”. É uma explicação, com alguns contornos de razão, mas não é tudo. Os maus resultados podem também ser atribuídos às denúncias referentes aos tempos de Agnelo como ministro do Esporte e às suspeitas de que ainda existem coisas erradas no governo do DF pós Cai-


13 xa de Pandora. Essa interpretação é reforçada com um dado relevante da pesquisa: 63,7% dos eleitores acham que Agnelo deveria se afastar do governo por causa das denúncias. Desses, 33,4% defendem o afastamento definitivo e 30,3% o temporário, voltando à função caso nada seja provado contra ele. Ou seja, as denúncias pegaram. A postura de Agnelo ao se calar e mesmo ao se defender raivosamente não ajuda, pois passa a ideia de prepotência, arrogância. Não cria simpatia por ele, como possível vítima de injustiças. Pelo contrário, a população fica com o sentimento de “aí tem coisa”. O que, é claro, não o ajuda a superar o episódio e seguir em frente. A impressão que se passa é de que as denúncias já feitas e as que se diz que serão feitas intimidam e paralisam o governo. As denúncias e as suspeitas, assim, pesam na avaliação dos brasilienses. Mas o que pesa mais é que o governo não conseguiu cumprir as promessas de campanha e atender às expectativas criadas com a proposta de um “novo caminho”. Não há percepção na população de que houve algum avanço nos métodos de governar, sequer que haja realizações a mostrar. A sensação dos brasilienses – e para constatar isso nem é preciso pesquisa, é só andar e conversar – é de que nada se faz, nada acontece e nada mudou substancialmente em relação aos governos anteriores. Por isso os eleitores de Agnelo estão decepcionados, frustrados. No primeiro turno, em 2010, ele teve 48,4% dos votos. No segundo turno conseguiu dois terços: 66,1%. Votações muito expressivas e que por isso geram altas expectativas, pois um governante eleito com dois terços dos votos inicia seu governo com forte base popular. Mas o governador mal recebe hoje o apoio dos 24% de eleitores fiéis que seu partido, o PT, tem como base mínima no Distrito Federal. Pela pesquisa, Agnelo perderia a eleição para Joaquim Roriz e para “nenhum dos candidatos”, com ape-

nas 22,1% dos votos. O “nenhum candidato” ganharia de Arruda e de Agnelo, que fica em último lugar com 21,8% dos eleitores. Talvez Agnelo não acredite nos números da O&P, pode preferir ser iludido por institutos que trabalharam para os governos de Joaquim Roriz e de José Roberto Arruda, trabalham agora para ele e mantêm o hábito de não desgostar quem os contrata. Pode ser cômodo ouvir apenas bajuladores que o cercam e os que perdem a noção da realidade, imersos nos gabinetes e nos carros oficiais do poder. Mas deveria acreditar, e dar logo o grande salto. Velhos métodos No silêncio que geralmente mantém diante da opinião pública, quebrado pela entrevista insossa ao Correio, Agnelo justifica os problemas do primeiro ano e faz promessas formais como outras tantas já feitas – como a de que a saúde, agora, vai! –, sem tocar no básico: tem de virar seu governo de cabeça para baixo. Porque, do jeito que está, só mesmo com mudanças radicais de métodos, estrutura, prioridades, pessoas e comportamentos. Não é pouca coisa e, para isso, será preciso uma boa dose de autocrítica. Verifique-se, nome a nome, a composição do governo de Agnelo. E, nome a nome, quem são os deputados que lhe dão sustentação na Câmara Legislativa. A conclusão é óbvia: em boa parte são os mesmos dos últimos anos, dos governos de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Não haveria nenhum problema nisso, em princípio. Políticos podem mudar de postura, governos de coalizão têm de ser amplos. Os empresários que hoje apoiam entusiasticamente Agnelo são também os mesmos que bajulavam Roriz e Arruda. Mas aí é outra história: negócios são negócios. Mas essa composição do governo e da base aliada não seria problema se, mesmo com essas presenças – algumas bem nefastas –, o governo de Agnelo mostrasse


14 tural, relevante, que possa ser sentido pela população ávida por um novo caminho, que ainda não apareceu. Aposta na Copa Agnelo cometeu um erro primário na campanha eleitoral: prometeu o que não poderia prometer e, pior, o que não precisava prometer, pois a eleição estava ganha. Essa promessa se reflete até hoje na avaliação que as pessoas fazem de seu governo. O então candidato, que é médico, disse que assumiria pessoalmente a Secretaria de Saúde e resolveria os problemas da área em três meses. Nem assumiu a secretaria, nem resolveu os problemas. Nem poderia resolvê-los mesmo, e ele sabia disso como profissional do setor e funcionário do sistema. A demanda por saúde pública é infinita, especialmente em uma metrópole como Brasília. Resolver seus problemas, ninguém resolve. Pode minimizá-los, reduzi-los, melhorar o nível de atendimento. Mas nem isso aconteceu. Os brasilienses estão fartos de promessas não cumpridas, de marquetagem, de políticos que não conseguem dar respostas efetivas às denúncias que sofrem. Isso está demonstrado em pesquisas e se reflete na desconfiança com que Agnelo e seu governo de coalizão ampla, seguramente ampla demais, são vistos pela população. Talvez ciente das fragilidades de seu governo, Agnelo optou por uma aposta arriscada: a Copa do Mundo. O torneio de futebol será em junho-julho de 2014 e Brasília é uma das cidades que sediarão jogos, inclusive da seleção brasileira. Se tudo der certo, haverá reflexos eleitorais positivos. Mas, e se der errado? Descumprindo um discurso de campanha, Agnelo manteve a construção de um estádio com 70 mil lugares, projeto iniciado por Arruda. O então candidato havia dito que 40 mil assentos seriam suficientes. Os 70 mil lugares eram fundamentais para que Brasília fosse o palco do jogo de abertura da Copa, o que não acontecerá. Agora são essenciais para que Brasília receba jogos da seleção brasileira.

Nessa aposta pela Copa, Agnelo está declaradamente gastando R$ 671 milhões na construção do estádio, mas, na verdade, o gasto chegará a algo como R$ 1 bilhão, pois o valor anunciado não prevê a cobertura, o gramado, os assentos e a urbanização da área externa. Segundo a consultoria BSB – Brunoro Sport Business, o estádio de Brasília se pagará, em um cenário otimista, em 36 anos e meio – e isso custando apenas os irreais R$ 671 milhões. No cenário pessimista, em 167 anos. Outra consultoria, BDO RCS, estima que um estádio que custe R$ 700 milhões pode gerar um faturamento bruto de R$ 140 milhões por ano, com lucro líquido de R$ 13,5 milhões. Se a construção do estádio vier acompanhada de outras realizações de peso, que realmente melhorem a vida dos brasilienses, os gastos com a obra serão bem absorvidos pela população. Mas, se pouco ou nada avançar nas áreas fundamentais, como saúde, segurança e transporte, certamente o forte candidato a elefante branco será um ônus pesado para Agnelo. Na esteira da aposta para a Copa, Agnelo enfrentou outro desgaste: a insistência em ocupar a 901 Norte com um complexo de torres de até 18 andares, destinado a hotéis, escritórios e centros comerciais. A decisão, também herdada do governo de Arruda, violava claramente o tombamento da cidade, tema caro a muitos dos que votaram em Agnelo. Mas era importante para financiar a construção do estádio com recursos da Terracap, que venderia o lote por cerca de R$ 900 milhões a uma construtora. Não deu certo, pois o Iphan vetou o projeto, como se esperava. E assim Agnelo desgastou-se à toa com um segmento importante da população, pois passou a ideia de não se importar com o tombamento do Plano Piloto e de querer agradar às construtoras tidas como responsáveis pela especulação imobiliária que degrada a cidade. O que também não é, certamente, um novo caminho. Vai ser preciso mesmo um grande salto. Só ) um pulinho não vai resolver. )

realmente um novo método de governar, um novo jeito de fazer política, um novo estilo de administrar. Se o governo mostrasse que enfrenta as dificuldades herdadas com dinamismo, ousadia e inovação. Esse seria o anunciado novo caminho. Não é o que acontece, porém. Como os métodos e muitos nomes são os mesmos, o governo parece paralisado, refém de interesses que não sabe ou não tem como enfrentar. Agnelo tinha suficiente base popular para confrontar os interesses políticos e econômicos do passado e marcar um novo estilo. Era o que os dois terços dos eleitores, os que votaram nele, queriam. Mas começou mal, no velho jeito de fazer política, criando mais secretarias do que as muitas que já havia e loteando-as, assim como as administrações regionais, entre os parlamentares. Adotou os velhos e carcomidos métodos de se relacionar com a Câmara Legislativa e com os partidos, com base no fisiologismo, no patrimonialismo, no toma lá dá cá. Esse caminho, seguramente, não é novo. Tal e qual governantes que o antecederam, Agnelo logo de início paralisou a máquina pública, exonerando todos os servidores comissionados de uma só vez. A medida seria positiva se significasse uma redução substancial das funções em comissão, o fim das indicações políticas e a rápida nomeação de técnicos competentes para os cargos realmente necessários. Mas não foi nada disso que aconteceu: continua o excessivo número de cargos de confiança, as indicações políticas dão a tônica do governo e é lento, muito lento, o preenchimento de funções técnicas por técnicos. Isso também não indica um novo caminho. Possivelmente os brasilienses não dariam muita importância a essas questões se o governo mostrasse que está zelando pela cidade e realizando as intervenções necessárias para melhorar as áreas mais críticas para a população: saúde, segurança, transporte, trânsito, ordem urbana. Há realizações pontuais a serem creditadas ao governo, mas nada estru-


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Mas os princípios do bom jornalismo permanecem. Apuração benfeita, compromisso com a informação, criatividade e respeito à língua portuguesa não ficam ultrapassados. inte ou no papel, produzimos o Na internet conteúdo de que você precisa para se comunicar com o seu leitor.

O JEITO

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Artigo

Novos tempos, velhos dias

A passagem do ano soa como boa oportunidade de avaliação e não de prospecção. O que você fez para concretizar os planos?

Texto João Rafael Torres Ilustração Cláudia dias consulta@selfterapias.com.br

claudiadias@gmail.com


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É

estranha a surpresa que muitos demonstram ter ao se deparar com o fim do ano. Tentam crer que, num piscar de olhos, o tempo correu. Daí vêm Papai Noel, champanhe, flores no mar. Renovação de votos, demonstração dos carinhos contidos, planos a definir. Ah, os planos. Deles não há quem fuja. O período de encerramento inspira um quê de feitiço, de transformação instantânea da vida. Dezembro chega e se dá a largada na busca pelo balcão de recall da sorte. E quanto mais se envereda por esse caminho, maior a proximidade com o autoengano. Acompanho de perto essa movimentação, no meu ofício de tarólogo e psicoterapeuta. Vejo pessoas em busca de soluções surpreendentes para questões que se arrastam anos a fio. Nessa peleja, sofrem exponencialmente os perfeccionistas e os ansiosos. Dedicados, vão querer quitar todos os débitos de vida adquiridos para começar o novo período zerado. Ou, preferencialmente, já no lucro. O bom futuro, feliz e livre do sofrimento, é a vontade de todos. No entanto, para garanti-lo, é necessário crescer o empenho no bem-viver do presente. Não é possível ignorar a realidade das coisas: o encadeamento dos fatos é o que nos conduz de um lugar a outro. A cada fim de ano, empilhamos uma série de procedimentos e posturas a reformar. Os mais sistemáticos fazem questão de encadeá-los em listas, devidamente esquecidas no fundo de alguma gaveta. Há também quem, nesse período, aproveite para revisitar os propósitos do ano passado. Muitos deles despertam um riso interno. Quanto foi caminhado até a concretização dos planos? Se algo não deu certo, de quem é a culpa? Os embargos foram resultados de ações de terceiros, de conspirações estelares ou de um baixo empenho diante do que foi almejado? Nas mídias, estatísticas mostram que as histórias de superação dominam a preferência do público em geral nesse período. Todos querem conhecer alguém vindo de uma condição de vulnerabilidade, que, posteriormente, reverteu tal situação ao aproveitar a boa chance. Tais relatos são edificantes, é verdade. Podem inspirar ao embate, encorajar para a resolução dos problemas. Mas podem também servir a uma simplória compensação: “Eu sou feliz com a sua felicidade”. Ou, pior, despertar um sentimento de menor valia diante das próprias vulnerabilidades: “Quem me dera ter a mesma capacidade, assim resolveria minha vida”. Iludidos em nossos sonhos, à espera de soluções má-

gicas, adentramos na via régia da frustração. Ela tem, em sua marginal, a estrada da culpa. Mais cedo ou mais tarde, elas se encontrarão numa pista única. Viver bem, dentro das expectativas que planejamos, é resultado da responsabilidade. Quem não assume o posto de capitão da nau seguirá, mesmo que não queira, os desígnios alheios. O caminho de quem assume o papel de líder de si mesmo é estreito, desconfortável. Espelha o peso dos nossos atos, palavras e pensamentos – ou mesmo a ausência do fazer, do dizer e do refletir. Desejar é um impulso inerente ao humano. O problema está na escolha do que se quer: deve ser condizente com o meu tamanho, nem para maior, nem para menor. O exercício da decisão é, antes de qualquer coisa, fruto do autoconhecimento. Quem desconhece suas verdadeiras potencialidades e expectativas corre um grande risco de sonhar o sonho do outro, e de arcar com as consequências disso. Destituir-se da ilusão, e da culpabilidade, é um valor dos líderes natos. Daquelas pessoas que atraem a inveja pela “sorte” que têm. Nesse movimento, a passagem do ano soa como uma boa oportunidade de avaliação e não de prospecção. A tal felicidade passa pela revisão de valores e pelo questionamento destes. Sem medo, pois há 50% de chance de que eles sejam corroborados sem prejuízo para o que é sonhado. Mas é preciso ser honesto consigo e com o que deseja. Afinal, os valores só existem no olho de quem olha – pergunte a um faminto se prefere um Monet a um banquete e entenderá a premissa. A tal felicidade é um estado efêmero, geralmente percebido quando se perde. Mas é com a atenção plena que cada um descobre o que pode aproximá-la de si. Nessa busca, esqueça de confiar na generosidade do tempo – ele é, na verdade, um deus impiedoso com quem o negligencia. E, infelizmente, tendemos à negligência. Para quem ainda me pede uma mandinga para o próximo dia 31, com o intuito de que todos os desejos se realizem a um passo, costumo prescrever: encare-se no espelho e diga “muito prazer”.

Desejar é um impulso inerente ao humano. O problema está na escolha do que se quer: deve ser condizente com o meu tamanho, nem para maior, nem para menor.


Perfil

Uma das figuras mais emblemáticas e cativantes da cidade, este carioca de alma brasiliense viu a capital crescer à sombra de suas catedrais de livros

Texto Lúcio Flávio Fotos NILSON CARVALHO luciointhesky.wordpress.com

fotografia@meiaum.com.br



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E

“Uma cidade tem que ter três coisas: uma igreja, um bom botequim e livreiro”, diz o mascate das letras, que há onze anos vende e troca obras literárias no Conic.

ra para ser uma manhã qualquer, não fosse o detalhe inusitado. A visita inesperada de uma figura octogenária a um amigo de longa data no coração do Conic. O Sol ainda relutava em aparecer, mas lá estava ele, o ilustre visitante, ninguém menos do que o poeta amazonense Thiago de Mello. A honra de ser reverenciado por singelo gesto de afeição foi do livreiro Ivan da Presença, uma das figuras mais queridas e cativantes de Brasília. As palavras carinhosas do amigo vindo de tão longe ainda calam fundo no coração do baixinho sorridente e bom de conversa. “É emocionante o cara se lembrar da gente”, recorda, emocionado, Ivan. Logo ele, que sempre fez do livro janela para novas amizades, oportunidades e sonhos eternos. “Uma cidade tem que ter três coisas: uma igreja, um bom botequim e livreiro”, ensina, com a experiência de quem sempre levou a vida como mascate das letras. Essa paixão começou cedo, aos 12 anos, ainda no Rio de Janeiro, onde nasceu há 63 anos. De calças curtas e com um horizonte pela frente, foi à cata de coisas novas que despertassem sua alma e a primeira foi uma livraria. Tomou gosto e a perda da ingenuidade se deu lendo as tramas sofisticadas, irônicas, do Bruxo do Cosme Velho. Ao mergulhar no universo de Machado de Assis, acabou criando uma consciência social que o acompanharia pelo resto da vida. “Foi quando comecei a ver o mundo e o Rio de Janeiro de outra forma e a compreender o porquê daquele miserê todo.” Cutucado pela tal consciência social, logo estava metido com o movimento estudantil, reivindicando melhorias para sua escola, em São Gonçalo. Como bom secundarista, sempre almoçava no mítico restaurante Calabouço e perdeu as contas das passeatas de que participou na esquina da Rio Branco com a Presidente Vargas. Em 1966, aos 18 anos, pegou as malas e desembarcou no coração do Brasil com a missão de administrar uma livraria no Hotel Nacional. “Achei bacana porque era tudo

novo, nunca tinha ido tão longe assim”, lembra Ivan, que se entrosou rápido com a cena cultural, política e social da cidade. A militância política só mudaria de CEP. Das praças do Rio direto para a W3 Sul, onde desafiava o Exército com bolinhas de gude e tampinhas de garrafa aboletadas de tachinhas. “Nunca cheguei a ser preso, levava baculejo dos meganhas, mas me safava legal”, conta, lembrando com orgulho do dia em que invadiu a Câmara dos Deputados com amigos secundaristas e universitários. Ficaram acampados três dias no plenário, mas, num domingo, foram “gentilmente” convidados a sair. “Saíam de dois em dois, correndo dali até a rodoviária pelo gramado, e os caras com as metralhadoras lá de cima”, detalha. Em 1969, já vivendo em Goiânia, onde também administrava uma livraria, o famoso Bazar Oió, sentiu o bafo da repressão no cangote quando abria a loja. “Fulano de tal caiu, desaparece!”, alertou um amigo. Mesmo ligado de forma discreta com integrantes da Guerrilha do Araguaia, a fuga seria inevitável e a volta ao Rio de Janeiro também. “Eu dava um apoio mais urbano, minha função era conseguir remédios, roupas, papel, enviar comunicados; o gerente da loja só soube disso anos depois, num livro contando a história da livraria”, ri. O retorno a Brasília seria em 1970, agora administrando uma nova loja de livros na famosa Rua das Farmácias, no Plano Piloto. O sonho de inaugurar a primeira livraria se realizou anos depois, em 1980, bem ali no Conic, em sociedade com dois irmãos. O nome não poderia ser mais sugestivo: Livraria Presença. “Sempre gostei de visitar redações de jornais, revistas, rádios, televisão vendendo livros aqui em Brasília”, conta. “E o nome da livraria surgiu por conta dessas ‘presenças’ constantes nas redações.” O patrono da livraria, que ainda teria filial na 102 Sul, também na Rua das Farmácias, seria o cartunista Henfil, que lançava na cidade o livro Diário de um Cucaracha. De quebra, presenteou o amigo Presença com uma charge bem ao seu estilo, que o livreiro guarda com


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de livros escritos por amigos. Um imberbe Renato Russo sempre aparecia à procura de biografias de artistas do cinema e da música. Com a chegada da era Collor, no início dos anos 90, uma onda de crise econômica assolou o Brasil em vários segmentos da sociedade. As duas livrarias de Ivan da Presença foram atingidas em cheio. De repente, o estoque equivalente a R$ 200 mil em livros virou empecilho comercial e o fechamento foi inevitável. “Outros 1.400 livreiros no Brasil quebraram também”, lamenta. Depois de exercitar sua veia socialista, entre 1995 e 1999, ajudando a colocar em prática o projeto Mala do Livro, no governo de Cristovam Buarque, voltou a fazer aquilo que

sempre soube e de que gosta. Com o estoque remanescente das duas livrarias que teve, montou um sebo no velho Conic. De boina, óculos de armação grossa e, às vezes, de suspensórios, há 11 anos Ivan marca Presença no coração do Plano Piloto, vendendo e trocando artigos ligados à cultura em sua catedral de livros, sempre trazendo a tiracolo sua habitual simpatia. “Fui me adaptando”, desconversa o livreiro, que acalenta, noite e dia, o sonho de um dia ver a sua classe reconhecida como importante peça social. “O governo tem que ter essa visão, encarar o livreiro como figura determinante para a educação e cultura, incentivador do ) ato da leitura”, defende. )

carinho até hoje (reprodução no alto da página). “São os três personagens mais conhecidos dele falando sobre a livraria.” Na livraria do Conic, Presença perdeu as contas de quantas vezes promoveu lançamentos de livros. Às vezes, quase toda semana. Nomes como Leonardo Boff, Rubem Braga, Marcelo Rubens Paiva, os irmãos Paulo e Chico Caruso, Zuenir Ventura e Frei Betto lançaram algumas de suas obras em Brasília ali. O português José Saramago também passou por lá. Lançou dois livros no lugar. Entre as estantes da Livraria Presença, nos anos 80, era comum ver o antropólogo Darcy Ribeiro e o então parlamentar Luiz Inácio Lula da Silva, que ia prestigiar os lançamentos


Conto

À sua espera

O livro

É possível fugir do destino quando este é a própria realidade? Afinal, o que é mesmo realidade?

Texto Rodrigo Fernandes Ilustração Thales Fernando oficinadaspalavras@yahoo.com.br

Você acorda com o barulho dos cupins devorando a madeira e permanece imóvel, imaginando os seres e sua fome. No piso, as pirâmides de pó atestam o relaxamento – você dirá despojamento – deste lugar. Entre um e outro pequeno afazer cumprido de forma metódica e inútil, lembra-se do sonho da noite anterior. O mesmo que se repete há vários anos com pequenas variações e que sempre retorna como alguém que sai para passear

thalesfernandob@gmail.com

e esquece as chaves e volta e as apanha e torna a esquecer. Você está numa floresta, é noite e ouve o som das criaturas, ali, nas redondezas. Não consegue enxergar o que se passa, nem como são, nem o que querem, mas, contrariando sua ignorância, ou antes disso, reforçando-a, sabe que precisa correr. Você tenta dar o primeiro passo e não consegue, está imóvel. Não, enraizado. Você é uma árvore, com galhos, tronco e raízes. Você se esforça

para sair do lugar, exaure suas forças, mas o máximo que consegue é acenar com um farfalhar de folhas. Nesse momento você acorda. É sempre assim, nesse momento. Você imediatamente se esquece de tudo, mas algumas horas depois se recorda e essa lembrança lhe parece uma violência. Pensa, com razão, que talvez seja algo mal resolvido da sua infância. Do céu que escapa pela cortina você percebe que o dia está em seu auge, mas há algo


23 fora do lugar e que precisa ser consertado com urgência. Num sobressalto você calça as meias, os sapatos e procura a gravata no armário, quando, como se tomasse um elixir miraculoso ou um veneno fortíssimo e subitamente ele fizesse efeito, você grita coisas, arremessa os sapatos pela janela, para depois ir buscá-los sob o olhar sonolento do porteiro, que por certo vai se lembrar da cena como um sonho. Reconhece, enfim, que não há nada para fazer em seu dia de folga. E não há qualquer surpresa nisso, mas por que então nunca abrira mão desse dia, como tantos outros faziam? Você liga o computador e consulta o correio eletrônico sabendo o que vai encontrar. Gostaria de ter alguma surpresa, mas isso não acontece. Há o de sempre: pedidos de ajuda, apelos pelo número da sua conta, mensagens em línguas que você desconhece, anúncios e convites para eventos que são o oposto do seu gosto. Em meio às inutilidades está o e-mail dela. Dizendo que não vive sem você, que com você teria alguma sobrevida. As palavras não o assustam ou o comovem como antes. O nome que assina as mensagens – e elas chegam todos os dias, religiosamente – não lhe diz nada. A única coisa familiar ali é seu próprio nome, o texto sempre começa com seu nome e uma vírgula. Você desliga o aparelho e tem o impulso de se dedicar a alguma receita, convidar um amigo, ligar o aparelho de som. Há cheiro de mofo no armário e na geladeira. Não investiga. A rua e o sol o atraem para fora. Você sai. A exposição não lhe apraz e o que fica é a sensação de tempo perdido. Respeita os críticos por isso. É gente que vive de perder tempo. Você gosta de paisagens e possui três ou quatro delas, de nomes esquecidos, mas reconhecíveis; entretanto não compreende a arte contemporânea, nem seus meios, nem seus fins. O pecado dos artistas não está no momento em que decidem ser Deus, mas por se desejarem um Deus enfim perfeito, melhor que o

usual. Há boas ideias ali, mas crê que falta ao artista decisão e vocabulário. Sai contente com esses julgamentos. Não passou muito tempo na sala de exposições, mas o clima se alterou completamente. Venta, as árvores parecem felizes e você espera pelo terror, pois não pode se molhar, sob hipótese alguma. Talvez seja apenas exagero, talvez algum tipo de paranoia, talvez algo ainda não entendido, como o sonho, mas de qualquer forma não deseja discutir consigo mesmo. O estacionamento está distante e começam a cair pingos finos e mornos que prometem uma tempestade. Você aperta o passo e de chofre entra na primeira fenda que se insinua. Abriga-se numa galeria comprida e mal iluminada. Há outros parados ali, mas os ignora solenemente, nem sequer os olha, talvez não tenham rosto, ou os tenham deformados. Ou pior, talvez estivesse ali um amigo e este lhe perguntasse algo. Desanimado com a chuva que desaba (os outros a contemplam, mudos), se põe a olhar as vitrines das lojas e se recorda de que estivera ali algumas vezes. À primeira vista o lugar não lhe dizia coisa alguma, mas talvez um detalhe, um cheiro, o tenha resgatado da lembrança. Alguns letreiros se tornaram luminosos e a maior parte das lojas mudou de ramo. Você sabe e sente que esses lugares – como a própria galeria – não passam de baús estranhos e invisíveis. Não existem no presente e o passado também não está lá dentro, apenas uma falsa sensação dele. Esse entendimento é uma quase alegria que traz consigo. Você para em frente a uma loja e vê que a placa é nova, mas o nome simpático permanece. Você se pergunta se ao mudar um nome tudo muda. Aquela é a hora exata em que o trânsito ultrapassa a fronteira do razoável e não consegue conceber o fim daquela tarde num engarrafamento. É-lhe claro, mais do que nas outras vezes, que nada pode fazer para mudar tal estado de coisas: os automóveis, as ruas estreitas, a cidade. Isso é frustran-


– Geografia da fome? Grande obra. – Na verdade procuro aquele dos homens caranguejos. – Sim, sim. Homens e caranguejos – corrige o velho, apanhando uma bengala que estivera ali o tempo todo, incógnita. Ele a segura com força e você, sem ter qualquer razão para isso, imagina que será atacado. A bengala de madeira, dura e polida, é um artefato perfeito demais para simplesmente servir de apoio. Por certo teria outros usos. – O senhor deu sorte. Temos aqui um exemplar que reservaram, mas não vieram buscar. Deu sorte, de fato. É difícil encontrar um Josué de Castro assim, em bom estado – diz ele, enquanto se arrasta retornando para o fundo da loja. Você o segue e esses gestos sem palavras são uma espécie de reconhecimento mútuo. Nesse mesmo instante você se arrepende de ter sentido pena, depois medo, dele. – O senhor parece um dos nossos clientes. Quando o vi entrar pensei que fosse ele. – Bom cliente? – Bom rapaz. Aqui está. De fato, está lá, posto sem muito cuidado sobre uma das prateleiras. Essa parte da loja é visivelmente pouco frequentada, aqui tudo parece malcuidado. Há uma placa banguela J sué d C stro e uma camada de poeira cobrindo toda realidade. Ao perceber isso, por um momento, você perde o foco e seu olhar percorre primeiro estante acima, depois à esquerda, sempre preso às vigas de madeira, como uma procissão de cupins. Você olha tudo tão atentamente pois percebe que sem sua atenção tudo aquilo vai desmoronar instantaneamente, basta um breve momento de hesitação. A presença do velho desfaz esse fardo. – Fique à vontade. Ele desaparece pela porta lateral, lá está o estoque, você sabe. Ao desembrulhar o volume percebe que o velho mente, mas prefere não dizer nada. Talvez, ainda que quisesse, não poderia, pois você está

cercado de olhos e o que lhe fita a nuca é especialmente incisivo. Porém, apesar de serem olhos sábios e que talvez não o façam mal, é preciso controlar o pânico. O exemplar, de barbas longas e esbranquiçadas, se mostra deveras maltratado. As carnes, muxibentas, mal se fixam sobre os ossos e a pele escama-se ao toque. Seu antigo dono não fora cuidadoso. Os cotovelos e os joelhos possuem ângulos pontiagudos, como se bichos o estivessem roendo há um longo tempo. Com cuidado você retira a fita adesiva que lhe tapa a boca e após uma longa inspiração, o exemplar arregala os olhos, para depois adquirir enfim sua expressão natural. Você não se assusta. Mesmo se comprasse um exemplar novo seria assim. Logo se começa a ouvir a voz pausada do senhor Josué de Castro. – Tudo que aprendi não foi nos bancos da Sorbonne e sim nos manguezais de minha terra. Recife é... Você põe a fita de volta. – Então? – o livro gasto retorna, não traz consigo a bengala e parece ainda mais triste, sulcado por linhas que não estavam ali antes. As traças lhe provocaram muitos estragos, sobretudo em sua lombada, que, segura por uma fita branca e suja, parecia despregar-se naquele momento. Agora a ameaça que provocava era outra, como se a qualquer momento fosse pedir sua ajuda. – Vou levar – você responde apenas tentando livrar-se de tudo aquilo. Não ficará com o exemplar para si, o dará a alguém como distinção especial, como algo raro e severamente procurado pela cidade. Procura e encontra o cartão de crédito em sua orelha. O velho livro sorri, desta vez, finalmente, com sinceridade. – Não é nossa especialidade, mas estamos com um bom acervo de poetas novos. – Para ser sincero os novos não me apetecem, não. – Não gostaria de ver os contistas? – Não, obrigado. Mas o senhor não teria ) um Lima Barreto dando sopa por aí? )

te e libertador. A chuva, que não pode mais ver, cai, afinal, como uma boa desculpa. Você entra tentando seguir os caminhos que guarda na memória. Os corredores, a posição das estantes, a arrumação das seções e tudo mais continuam da mesma forma. Mas ainda assim você está perdido. No fundo da loja, após um umbral dominado por um ventilador de longas pás você observa uma sombra agachada. Ao lado de uma parede onde se penduram, de baixo ao alto, marcadores de página, cartas, bilhetes, fotos, calendários, bulas de remédio, ingressos de espetáculos e toda sorte de coisas encontráveis dentro dos livros, alguém arruma algo sobre uma prateleira envergada pelo peso. Sua memória lhe diz que é o proprietário, velho, mas ágil.Lembra um andarilho de mil viagens debaixo de sol e chuva e noite e dia. Porém, quem o conhece, ainda que minimamente, sabe que ele nunca saiu daquela cidade e que há muito é um prisioneiro do caminho entre a casa e o trabalho. Não há clientes na lugar e ao vê-lo ele se aproxima. Chega ajeitando os óculos, curioso como uma criatura dos abismos, que enxerga apenas a claridade das coisas e não seus contornos. Diz palavras que de tanto serem ditas da mesma forma perderam qualquer sentido. – Bom dia. O senhor procura algo especial? Temos volumes raros e esgotados. Todos autênticos. Ele o olha com ingenuidade e é óbvio que não o reconhece, sequer tem dúvidas disso. Você se sente quase ofendido por não pertencer à memória daquele lugar. Você quer sair, voltar para casa, para suas coisas que o reconhecem ao toque, onde o piso sabe do peso dos seus passos e a cama, sua forma regular. Onde você, ainda que ausente, perpassa todos os cômodos. Talvez se dissesse algo o desejo de se pôr em fuga se desvanecesse. – Não senhor, obrigado, realmente. Mas... Certo... O senhor teria algo do Josué de Castro?


Fora do Plano por PAOLA LIMA

paolamlima@gmail.com

STF, decida logo!

A Lei Complementar 135/2010, a Lei da Ficha Limpa, é resultado de raro momento proativo da sociedade. Com o desejo de moralizar a política, eleitores se uniram para criar, pressionar e aprovar uma alteração na Lei Eleitoral, endurecendo as exigências éticas e legais para que um cidadão se torne político. Seria um lindo capítulo na história popular brasileira, não fosse um porém: a dificuldade do Supremo Tribunal Federal em conciliar o desejo por moralidade da população com os preceitos legais. Deixemos as questões técnicas para os especialistas. Mas, nas eleições de 2010, debates como aquele sobre a irretroatividade da lei – que livraria das novas exigências políticos que pisaram na bola antes da edição da Ficha Limpa – provocaram tantos questionamentos que o primeiro julgamento no STF, às vésperas da votação, terminou empatado. Com um integrante a menos, os ministros preferiram esperar a posse do 11° nome do tribunal para prosseguir com o julgamento. Deixaram candidatos e eleitores incertos sobre o real resultado da disputa. Em março deste ano, o recém-empossado ministro Luiz Fux decidiu a questão. A lei não valeria para as eleições de 2010, o que provocou uma corrida de candidatos barrados à Justiça na tentativa de assumir seus cargos eletivos. Novamente às vésperas de uma disputa eleitoral, candidatos e eleitores seguem com a dúvida: valerá a Ficha Limpa para as eleições municipais de 2012?

Novo empate

Perdendo a paciência

No julgamento em novembro, o resultado no STF voltou a terminar empatado. E, mais uma vez, com apenas dez integrantes na ativa, os ministros decidiram esperar pela nomeação da nova ministra, Rosa Maria Weber, para que ela desempate a questão. A indicação de Rosa Weber tramita no Senado. Deve ser aprovada antes do recesso parlamentar de dezembro. Mas provavelmente não a tempo de que ela possa tomar posse e acabar com o impasse de forma a assegurar que a Ficha Limpa valha para a próxima eleição. De novo.

A possibilidade de mais uma eleição marcada pela indefinição tirou do sério até mesmo o franciscano senador Pedro Simon (PT-RS), conhecido pela intensidade na defesa pela ética e moralidade. Do alto de seus 80 anos, o senador perdeu a compostura em uma reunião no Senado esses dias, ao perceber que os colegas da Comissão de Constituição e Justiça da Casa não tinham a mesma pressa que ele em aprovar a indicação da nova ministra e assegurar que o julgamento ocorresse ainda em 2011.

Simon retratou um desejo sincero da população. A essa altura, importam menos as tecnicidades da lei do que a garantia de que ela efetivamente passe a valer. Conseguiremos sobreviver caso a lei não valha para 2012, infelizmente. Mas será imperdoável chegarmos a 2014 com algum resquício de questionamento ou dúvida sobre a questão. A Lei da Ficha Limpa, por si só, não resolve a mazela da corrupção e desonestidade no nosso corpo político. Longe de ser a solução para isso, era apenas o primeiro passo. E ele não pode demorar tanto a ser dado.


Crônica

Sessões de massagem

Melhor ser gorda e feliz A luta para emagrecer acaba nos levando a ouvir histórias hilárias sobre mortos e vivos, peixes cegos, bacanais e ciúmes doentios

Texto Milena galdino Ilustração Rômulo Geraldino milenapitella@globo.com

Tempos atrás uma personagem de novela interpretada por Deborah Secco soltou esta: “Toda mulher chega a uma idade em que tem de escolher se quer ser magra ou quer ser feliz. Eu escolhi ser magra”. É verdade: ou se é magra, ou feliz. Quer coisa melhor do que abrir a geladeira e “mamar” uma lata de leite condensado goela abaixo? Gordo faz isso e se sente o mais bem-aventurado dos seres viventes. Mas, fora o fato de a comida dar um prazer danado, a própria guerra contra as calorias garante boas risadas. Quer ver? Na tentativa de me livrar dos dez quilos que me apareceram nos últimos dois anos – ok, eu assumo que os procurei – fiz de tudo. Já me matriculei nas aulas de spinning, corrida, hidrospinning, levei choque, fui congelada, sobrevivi ao manthus, fiz dieta integral, tomei chá de todas as plantas que amargam, comi pó de feijão branco, tomei litros de babosa,

romulog2000@yahoo.com.br

usei drogas pesadas como a temida sibutramina e até fui coberta de uma mistura de massa de bolo numa suposta lipo em que te lambuzam de chocolate, te enrolam num plástico filme e depois te colocam para assar (literalmente). Ainda brigada com a silhueta, fui parar numa clínica de massagens estéticas. São sessões de tortura chinesa. E por que eu continuo indo? Não é o tratamento nem seus resultados, mas as conversas impagáveis que ouço (geralmente protagonizadas pelas profissionais da massagem, uma vez que as clientes são temporariamente rebaixadas a seres inanimados anestesiados por dor extrema, um estado de pré-coma). Todas as quintas-feiras torço para ficar no mesmo andar da Maressa. Da maca, consigo ouvi-la falar enquanto trabalha. Veja este trecho de uma conversa dela com a minha massagista na segunda semana de novembro: – Cléo, meu feriado de fina-

dos foi uma correria. Fui ao cemitério de Taguatinga, depois ao da Ocidental. Tudo lotado, menina. Mas eu tinha de visitar os parentes todos, né? – Mesmo, Maressa? Por que você não me ligou da Ocidental para eu ir te encontrar? – Não dava, eu estava com muita gente. Levei os vivos todos para ver os mortos. E além dos da família eu tinha de visitar o túmulo do prefeito da Ocidental, aquele que morreu depois da cirurgia de redução do estomago. Ô homem bonito... – Morreu cinco dias depois da operação, né, que coisa. A essa altura, suspeitei de que as duas tinham combinado a conversa para passar medo nas clientes que consideram a bariátrica boa opção para emagrecer. Marketing deslavado, pensei, querem é fidelizar a clientela fazendo todo mundo ficar com medo de morrer na faca. Resolvi investigar do iPhone mesmo,


27 dentro da água, porque já é difícil de enxergar mergulhando, mesmo quem tem o olho bom. – Ah, nem, Maressa, você tem cada coisa... – suspirou Cléo enquanto espancava minhas costas. – Verdade. Tô aqui fazendo massagem, e de repente penso no peixe. Contei para o meu marido que não consigo esquecer isso e ele disse que só penso em coisa estranha. E o marido da Maressa – preciso revelar – não é qualquer cara. O tal Rafael é mais vigiado que o presidente dos Estados Unidos. Ai do moço se ela suspeitar de que o perfume das suas roupas está diferente, ou se aparecer com um número estranho gravado no celular. As colegas de trabalho da Maressa contam que o ciúme chega ao extremo de ela aproveitar os intervalos para correr no orelhão com uma lista de números tirados do celular dele. – Ela sai ligando, de um a um, tirando satisfação sobre quem era e o que queria com o marido dela. Se for mulher, então, é guerra na certa. Dizem que o Rafael não tem paz nem para trabalhar, porque a “Dona Encrenca” liga de hora em hora para saber onde e com quem está – explicou a Cléo um dia. – Mas eu melhorei, porque antes eu também vasculhava a carteira dele, os bolsos, a pasta, tudo. E também joguei celular dele fora, mas agora não jogo mais – defendeu-se a Maressa lá do outro lado do corredor. Engana-se quem pensa que a Maressa é a única desmiolada. Dia desses tinha uma paciente de 72 anos afirmando que não pode mais ficar grávida porque está tomando remédio forte para alergia. Outra velhinha contava aos berros como achou graça de levar uma amiga virgem e amargurada por nunca ter se casado ao maior bacanal do mundo em Amsterdã. Ou seja, acaba a sessão e estou me contorcendo de dor e de risos. Não sou daquelas que juram viver em paz com a balança e o espelho mesmo tendo dezenas de quilos a mais, no estilo Preta Gil – até porque quem gosta de pneu é borracheiro. Mas vamos lá, Deborah Secco, uma conversa dessas é impagável: melhor ser ) gorda e ser feliz. )

e vi que a triste história do prefeito bonito que queria ser magro era pura verdade. Ele morreu no início de 2008. E a Maressa continuou: – Eu, Cléo, estou avisando pra todo mundo. Quando eu morrer, quero ser enterrada perto daquele moço gato. –Uai, Maressa, o que você vai poder fazer com ele se você vai estar morta? – questionou a sensata massagista. – Nada, mas é que, além de ser bonito, ele está enterrado perto da porta da frente, e não quero ficar sozinha naquele paradão lá do fundo. É muito fim de carreira. É sem graça, o dia demora a passar. Pelo menos lá na frente tem o barulho dos carros, tem gente falando... Bem mais animado. Eu olhei para a Cléo segurando o riso e o meu fígado, que parecia uma “geleca” na mão dela. E a Maressa continuou de lá: – E tá morrendo gente, né? Sabia que duas mulheres do salão aqui da quadra morreram também? – Ué, da Rita eu sabia. Sofreu até com o câncer. Quem mais? – quis saber a Cléo. – A Carmem. A expressão da Cléo mudou. – Meu Deus, a Carmem morreu? Ela é minha amiga! – disse. – Não, não é essa, não. A Carmem sua amiga tá viva. Essa que eu estou falando é outra, lá do salão mais lá perto do Eixo. E Cléo respirou aliviada: – Ah, ainda bem que foi outra. Credo, Maressa, bora mudar o assunto – pediu. E a Maressa, como se já tivesse outra história na ponta da língua, emendou: – Viu a reportagem do peixe no Fantástico? – Não, qual? – Ué, diz que o peixe nasce e vive num buraco, e por causa disso não tem cor nenhuma. É branco da cor do meu jaleco. E o pior: não tem pigmento nem no olho, é cego. – Mesmo? – instigou a Cléo. – Depois que vi essa reportagem eu só fico toda hora me lembrando do pobre do peixe cego. Deve ser muito ruim ser cego, ainda mais


capa

Gigante desprestigiado Abandonado pela administração pública, o Autódromo Internacional Nelson Piquet, no centro de Brasília, vive da paixão dos aficionados pelas corridas. Com médias de público muito acima das conseguidas pelos estádios e com disputas em quase todos os fins de semana, recebeu só 200 mil reais em investimentos em 2011 Texto Nilson Carvalho fotografia@meiaum.com.br


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Arquivo Público do DF

A

corrida da foto ocorreu em comemoração à inauguração de Brasília, em abril de 1960. A pista é o Eixo Rodoviário. A falta de segurança dos pilotos e do público não é muito diferente da que há hoje no Autódromo Internacional Nelson Piquet. Avaliando as condições atuais da pista de Brasília, podemos dizer que diferente mesmo só os carros, hoje muito mais seguros e velozes, e os alambrados enferrujados que, no autódromo, separam o público da pista. Outra cena. Cruzar o Eixo Monumental em altíssima velocidade e sem proteção na via, como nas corridas de rua da década de 1960, é impensável para um mo-

torista ou até mesmo um piloto com bom senso nos dias de hoje. Profissionais de muita coragem desciam o “S do Hotel Nacional”, aquele trecho de acesso ao Eixão, por trás do Conic, com duas curvas fechadas, debaixo de chuva e a quase 80 km/h em um Fusca ou um Gordini. Hoje, no autódromo, disputam posições em uma curva, acima dos 110 km/h, tendo de confiar em um guardrail de 38 anos. Se coubesse ao leitor optar por uma dessas situações, talvez despencar a 130 km/h em um Fusca na pista larga do Eixo Monumental seria melhor. Se perder o controle ali, terá espaço para recuperar o rumo antes de encontrar uma barreira física. No autódromo, perder o co-

mando do carro na “curva da bruxa”, famosa pela dificuldade, mostrará se seu anjo da guarda é um sujeito alerta ou não. Se ele estiver acordado, dará um tapa no carro para que ele saia da pista pela esquerda. Nessa direção, há o gramado e um desnível. Em um carro que segue os padrões de segurança básicos, você sairá zonzo, porém ileso. Se seu guardião estiver dormindo, conte com a sorte. À direita, estão os boxes. Antes deles, os guardrails, peças metálicas utilizadas em autódromos e rodovias para conter veículos desgovernados, reduzindo a velocidade e direcionando-os para longe de riscos enquanto param. Você se pergunta por que deve fugir do que existe para a

sua segurança. Os guardrails do autódromo de Brasília têm uma inscrição indicando inspeção em 1973, provavelmente para a corrida de Fórmula 1 que inaugurou a pista. Desde então, apenas arames e tocos de madeira mantiveram as barreiras de pé. Em alguns pontos, como em um trecho da “bruxa”, as fracas madeiras foram trocadas por peças metálicas, mais resistentes. Porém, pouco à frente os tocos rachados reaparecem. Dependendo da velocidade, você vai encontrar exatamente esses suportes velhos e vai experimentar uma capotagem para dentro dos boxes, garantindo resultados doloridos para você e para as pessoas que trabalham na área.


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O acidente de Antônio Pizzonia, em 2007, mostra por que os pneus das barreiras de proteção precisam estar bem amarrados.

Felipe Maluhy é piloto profissional. Na manhã chuvosa de 16 de outubro, correu a nona etapa da temporada da Stock Car deste ano, no Autódromo Nelson Piquet. Pilotando o carro número 33, terminou a prova na oitava posição, arriscando-se em uma velocidade média que superou os 160 km/h. Em 2001, Maluhy era o piloto que vinha logo atrás do carro de Laércio Justino, o cearense que morreu ao perder o controle na entrada da reta dos boxes durante o treino classificatório. Por não ter o carro contido pelo guardrail, bateu em um guincho estacionado. No dia desse acidente, a Defesa Civil do Distrito Federal interditou o circuito e determinou que reparos nos guardrails fossem feitos

para a liberação da pista para as provas da Stock Car daquele fim de semana. Segundo a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), os responsáveis por circuitos homologados para competições devem emitir relatórios a cada acidente grave, registrando de forma detalhada os fatos. A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) diz que o acidente ocorreu há muito tempo e os responsáveis pela comunicação não sabem informar onde está o documento. Atitudes displicentes atestam a falta de critérios da CBA ao homologar circuitos pelo País. Mesmo com vários problemas de segurança no autódromo, a confederação permite que Brasília faça parte do calendário de pro-

vas nacionais. O autódromo de Goiânia, por exemplo, já não recebe provas da Stock Car por problemas estruturais. Aqui, interesses financeiros e políticos são fortes. Grandes patrocinadores dos campeonatos têm sede na cidade, como a Caixa Econômica Federal, a grande fonte de recursos da Stock Car. O que se diz é que Brasília só está no calendário por fatores como esse. Por causa desses critérios nada confiáveis, Felipe Maluhy é um dos pilotos engajados na segurança da Stock Car. Em 2007, com o piloto Paulo Gomes, fez uma vistoria na pista de Brasília e constatou vários problemas. No relatório, entregue à CBA, pediu medidas como reforma das barreiras de pneus, que


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precisavam ser mais bem amarrados e envoltos por uma manta que obriga o carro a deslizar pelo obstáculo em vez de jogá-lo de volta à pista; aumento das aéreas de escape; e manutenção dos guardrails, além da nivelação das caixas de brita. Apenas a extensão da barreira dos boxes foi feita. A preocupação de Maluhy extrapola os riscos de pilotagem. “A segurança do piloto está em primeiro lugar; porém, na posição zero, antes da nossa, está a segurança do público.” O alerta é válido. Em uma observação rápida, é possível ver a má conservação dos alambrados, muito enferrujados. Além da função natural de delimitar o espaço dos torcedores, em corridas de automóveis as cercas precisam

estar bem conservadas para evitar que partes dos bólidos atinjam o público em caso de acidentes. Em Brasília, além das peças que se desprendem dos carros, as cercas precisam conter os pneus das barreiras de proteção, que estão invariavelmente mal amarrados e são arremessados em todas as direções no momento do impacto. Lições Luciano Burti foi piloto de Fórmula 1. Em 2001, sofreu um grave acidente no tradicional circuito belga de Spa-Francorchamps. Na curva Blanchimont, ao disputar posição com Eddie Irvine, tocou o bico de sua Prost na roda traseira do carro do irlandês e perdeu o

controle, em uma manobra típica de corrida. Chocou-se contra a barreira de pneus a 250 km/h, com a direção e os freios inoperantes. Antes do guardrail, seis fileiras de pneus bem fixados seguraram o impacto da Prost de Burti. O piloto diz que o acidente indicou várias deficiências no sistema de contenção do circuito belga. O fato de não existir uma manta cobrindo os blocos de pneus empurrou o carro para baixo, fazendo com que o piloto batesse a cabeça. A consequência foi hemorragia e concussão cerebral e alguns dias em coma induzido. Depois do acidente do brasileiro, medidas de segurança foram adotadas na curva Blanchimont. No autódromo de Brasília, temos os


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“Melhor derrubar tudo e fazer um conjunto residencial a ter um espaço tão bem localizado e abandonado”, diz Maluhy.

Que vergonha O cenário da nona etapa da Stock Car deste ano, realizada em Brasília em meados de outubro, era decadente. Segundo a Secretaria de Esporte, em 2011 foram investidos 200 mil reais no Autódromo Internacional Nelson Piquet. Parte desse valor, diz a assessoria de imprensa do órgão, foi destinado aos banheiros. Difícil de acreditar, né? A inscrição de inspeção no guardrail assusta, uma vez que data de 1973. O circuito brasiliense, na avaliação dos pilotos, é um dos melhores do País. O estado da pista é outra história...


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dos melhores traçados do Brasil; porém, se a manutenção da pista não evoluir, a cidade corre o risco de perder a Stock Car.” E perder uma etapa da Stock Car significa abrir mão de muito dinheiro. Segundo Maurício Slavieiro, diretor geral da Vicar, empresa responsável pela organização da Copa Petrobras de Marcas e do Campeonato Brasileiro de Stock Car, um fim de semana de corridas movimenta na cidade valores entre 8 milhões e 10 milhões de reais. Na etapa da Stock Car deste ano, debaixo de chuva, 40 mil torcedores foram ao autódromo acompanhar as provas. Superaram as médias de jogos de futebol dos campeonatos nacionais e regionais que ocorreram em Brasília nos últimos anos no

Bezerrão, no Gama, recentemente reformado ao custo aproximado de 50 milhões de reais. Correndo no centro O autódromo de Brasília, ao contrário da maioria dos circuitos brasileiros, é no centro da cidade. Felipe Maluhy o chama de cartão-postal, que deveria ser valorizado como ponto turístico pelo fácil acesso. “Mas, na forma como está, não atende nem ao público nem à cidade.” Para o piloto, a área pode ter utilizações diversas. Pode receber grandes shows e festas, como já houve em outros tempos, além de atividades que usam a pista, como cursos de pilotagem e incentivo ao esporte a motor. Sem saber quão ganancioso é o mercado imobili-

Fotos: Nilson Carvalho

mesmo guardrails desde a inauguração e duas fileiras de pneus apenas para sustentar o impacto dos carros. Grandes acidentes dentro e fora do Brasil – e no próprio Nelson Piquet – nunca serviram de exemplo. Ao ser lembrado da obra bilionária do Estádio Nacional de Brasília, Burti sugere: “Usem no autódromo 10% do valor das obras do estádio e deem valor às grandes médias de público que temos aqui”. Burti, assim como todos os profissionais do automobilismo com quem a meiaum conversou, disse que gosta de guiar no traçado de Brasília. Aliás, foi o último a dirigir um carro de Fórmula 1 ali, em 2008, em uma exibição de patrocinador. “Brasília tem um


34 ário da cidade, Maluhy faz uma sugestão que pode ativar pensamentos nada desportivos na cabeça de empresários da construção civil: “Melhor derrubar tudo e fazer um conjunto residencial a ter um espaço tão bem localizado e abandonado”. Seguindo a mesma linha de pensamento, o presidente da Federação de Automobilismo do Distrito Federal (FADF), Napoleão Augusto Ribeiro, sugere que a área seja utilizada para formação de profissionais em mecânica. “É uma utilização social, com cursos profissionalizantes que iriam suprir as necessidades de contratação do mercado geral, além de formar mão de obra especializada para trabalhar nas competições automobilísticas.” E não falta mercado de trabalho para mecânicos de pista. O calendário de eventos automobilísticos do autódromo, disponível no site da FADF, é repleto em praticamente todos os fins de semana do ano. Folga para a pista, somente no carnaval e no ano-novo. História Antes do autódromo, Brasília era famosa pelas corridas de rua. O estacionamento do extinto Estádio Pelezão, no Guará, se transformava em circuito e sediava provas na década de 1960. Nelson Piquet, tricampeão mundial de Fórmula 1, participou de corridas ali. Na zona central, o Eixo Rodoviário e a região da rodoviária do Plano Piloto eram parte dos traçados desenhados para as provas de 12 horas e de mil quilômetros. O “S do Hotel Nacional” era uma das partes desafiadoras desses circuitos, com duas curvas largas, em direções opostas e próximas uma da outra. Além de Piquet, grandes nomes do automobilismo nacional correram nas ruas de Brasília. José Carlos Pace, com 73 corridas e uma vitória na década de 1970 na Fórmula 1, e Luis Pereira Bueno, que correu em uma prova no calendário oficial da F1 e fez parte da equipe Hollywood, famosa nas pistas do Brasil também nos anos 70, disputaram provas no centro da cidade. Os irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi (Willys), assim

como Chico Landi (Simca), também aceleraram nas ruas da capital. A movimentação dos corredores e entusiastas do automobilismo, aliada à tendência de grandes obras dos governantes na ditadura militar, instigaram a construção de um autódromo na cidade. No começo da década de 1970, com a encomenda da obra da pista pelo governo federal, a construção foi entregue ao Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal. O engenheiro rodoviário Samuel Dias era chefe da Divisão de Estudos e Projetos do órgão. Assim, coube a ele comandar as obras e executar o desenho do traçado. Para assumir a empreitada, Dias teve que enfrentar a oposição de setores da sociedade que não concordavam em entregar um empreendimento tão importante para um engenheiro recém-formado. Dias tinha se graduado em 1969. Teve, porém, o apoio do governador Hélio Prates e iniciou as obras. Especializado em desenhar rodovias, sabia exatamente como posicionar as tangentes da pista dentro do espaço apertado que tinha ao lado da Torre de TV. Para ajudar no desenvolvimento do circuito, viajou à Argentina para conhecer o Autódromo Juan y Oscar Gálvez, que recebia etapas do mundial de Fórmula 1 desde 1952. O resultado foi um traçado possível de ser utilizado em duas formas: a primeira, com a pista completa, em 5.475 metros distribuídos em curvas de média e alta dificuldade que, segundo pilotos, lembra os melhores circuitos europeus; a segunda, em um anel externo de 2.919 metros. Tem quatro curvas fechadas e uma leve, tornando-a muito rápida. É utilizada em provas como a Stock Car e a Fórmula Truck. Segundo dirigentes, o anel externo é mais interessante para a transmissão de televisão, por ser curto, com voltas de menos de um minuto no caso da Stock Car, e por manter os carros muito próximos uns aos outros. Pilotos afirmam que não se corre no anel interno simplesmente pelas condições precárias de segurança, já que as disputas entre os carros seriam muito mais acirradas na pista original.


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3º“Usem no autódromo 10% do valor das obras do estádio e deem valor às grandes médias de público que temos aqui”, recomenda Luciano Burti.

Além de criar um circuito de grande competitividade, Dias aproveitou o terreno plano e construiu uma característica rara em pistas de corrida: é possível enxergar todo o circuito, de qualquer ponto, seja nas arquibancadas ou nos barrancos. Atração à parte, os barrancos que circundam a pista são as áreas mais animadas em dias de corrida. Ao estilo dos torcedores europeus de automobilismo, que acampam nos autódromos nos fins de semana de provas, fanáticos por corridas chegam cedo ao Nelson Piquet e se instalam nos barrancos, especialmente naquele localizado na curva da vitória, e iniciam o churrasco regado a som alto e muita cerveja, que tradicionalmente dura até o fim do dia. Mesmo após a aposentadoria, Dias era consultado e dava o veredicto sempre que eram necessárias adaptações no complexo do autódromo. Ele morreu em 2000 e o filho assumiu o papel de tutor do autódromo. Por coincidência, Samuel Dias Júnior trabalha exatamente no mesmo cargo do pai no DER. Estava na inauguração da pista, em 1974, mas pouco se lembra do evento. Era criança, mas guardou as histórias que o pai contava sobre a obra. Segundo ele, o pai consultava pilotos sobre o traçado. Conversou algumas vezes com Emerson Fittipaldi e deu voltas na pista, ainda sem pavimento, com um piloto de cujo nome não se recorda. “Meu pai disse que o sujeito colocou o carro em duas rodas.” Dias entregou o autódromo para a homologação da Federação Internacional de Automobilismo ainda em 1973. De tão seguro e moderno, foi cotado para substituir o circuito paulistano de Interlagos como sede da Fórmula 1 no Brasil. Em entrevista para a revista Quatro Rodas, na edição de março de 1974, André Richer, na época presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, disse: “Como os organizadores dos circuitos internacionais de Fórmula 1 não permitem a realização de duas provas no mesmo país, talvez no próximo ano Interlagos perca o privilégio para o novo Autódromo de Brasília, sempre em função de uma melhoria da prova no Brasil, levando-se em


Thyago Arruda

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Circuito completo: 5.475 m Anel externo: 2.919 m

conta os aspectos técnicos e as medidas de segurança do novo autódromo brasileiro”. De candidato a sede do mundial de Fórmula 1 de 1975, o Autódromo Internacional Nelson Piquet passou a ser inviável para realização de provas internacionais. A FIA impõe regras que padronizam a construção e a manutenção de pistas no mundo todo. Para serem homologados, circuitos passam por uma primeira avaliação da FIA. As avaliações seguintes são feitas pelas confederações nacionais, no caso brasileiro a CBA, em parceria com a representação regional, que em Brasília é a FADF. Sempre que algum evento automobilístico é programado para a pista, uma avaliação é feita para emissão de autorização atestando as condições de segurança. Todos os tópicos que devem ser observados nessa vistoria estão des-

critos no capítulo 12 do Procedimento para o Reconhecimento de Circuitos para Esportes a Motor de 2011, documento disponível na página da FIA na internet. Napoleão Ribeiro, o presidente da FADF, se lembra de duas homologações para a pista de Brasília. Uma em 1974, para a prova de Fórmula 1, e outra em 1996, quando o autódromo estava arrendado à empresa NZ Empreendimentos, do piloto Nelson Piquet. No discurso de Ribeiro, percebe-se a intenção de demonstrar que o governo do DF está interessado no autódromo. Diz que ouve do governo local como colocar o complexo em condições de receber grandes provas mundiais, como o Campeonato Mundial de Carros Turismo e uma etapa do Moto GP – campeonato mundial de motovelocidade. Fala até de

uma homologação FIA nível 1, que liberaria a pista para receber novamente uma prova de Fórmula 1. No Brasil, apenas Interlagos tem esse aval. Abaixo dos paulistanos, o autódromo de Curitiba (PR), privado, é homologado pela FIA no nível 3, que permite que a pista receba algumas provas internacionais menos rápidas que a Fórmula 1. Mas é difícil acreditar em uma mudança tão grande nas condições do autódromo quando se vê a dificuldade em executar pequenas obras. Fernando Rodrigues é comissário da CBA e diretor comercial da Podium Race, empresa que promove eventos automobilísticos no Nelson Piquet. Para aumentar a segurança da entrada dos boxes neste ano, teve com Ribeiro a ideia de despejar terra atrás do guardrail, para dar maior firmeza para a proteção


Series, hoje chamado FIA GT, o maior campeonato de carros de passeio preparados no mundo. Além de o autódromo estar na época em melhores condições, Nelson Piquet foi figura fundamental para que a corrida ocorresse em Brasília. Em março de 2006, o Tribunal de Contas do Distrito Federal determinou o fim do contrato da NZ Empreeendimentos, devolvendo ao governo do DF a administração da pista. As alegações para a decisão do tribunal foram problemas na prestação de contas das bilheterias e da publicidade e conservação de infraestrutura. Uma das falhas, segundo uma fonte da meiaum, foi uma gambiarra nos guardrails. Em vez de acrescentar uma lâmina às duas existentes, elas foram espaçadas para ficarem mais altas. Esse tipo de adaptação é bastante perigoso para carros da categoria fórmula, como os de Fórmula 3 ou Fórmula 1. Caso o carro bata de frente em um vão desses guardrails, corre o risco de entrar com o bico fino pelo vão, afastando as lâminas e colocando a vida do piloto em risco. Resposta Vagas Circulando pelos boxes da Stock Car, é fácil encontrar figuras do automobilismo nacional que têm histórias para contar sobre a pista de Brasília. Uma delas é Rosinei Campos, conhecido nos boxes como Meinha. Ele participa desde a década de 1970 de corridas de carros e trabalhou pela primeira vez no autódromo de Brasília em 1979, em uma prova da Stock Car. Era da equipe de Raul Boesel, patrocinada pelo jornal O Globo, que corria usando o Opala 250S. Meinha lembra-se da estrutura impecável que a pista oferecia na época. Na mureta dos boxes, embaixo de onde ficam as equipes durante a corrida, existiam dormitórios que abrigavam mecânicos de equipes que não tinham recursos para hospedar funcionários em hotéis. “Depois de algum tempo, fecharam esse espaço onde eu mesmo dormi.” Com razão, se indigna com o que encontra hoje.

“Equipes pequenas, que não têm motor home, precisam dividir apenas um banheiro em condições de uso.” Perguntando-se quanto custa construir um sanitário, acaba julgando ser ridículo não existirem pelo menos dez banheiros funcionando para dar suporte às equipes técnicas. Utilizando dados passados por Napoleão Ribeiro, por volta de cem carros de competição, de três categorias diferentes, ocupam o autódromo em um fim de semana de Stock Car. Em cada carro, trabalham em média oito pessoas. Nesse cálculo rápido, já são 800 pessoas disputando banheiro, tornando essa competição mais emocionante do que as brigas entre pilotos na pista. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Esporte e Lazer do governo do Distrito Federal, em 2011 foram investidos 200 mil reais no autódromo. Uma parte foi usada nos banheiros. Entrando no sanitário da sala de imprensa, o único, servindo a homens e mulheres, fica difícil entender onde esse dinheiro foi gasto. Por volta de 40 jornalistas ficam reféns desse banheiro precário. Outra incógnita fica para um dos itens citados nos gastos de 2011 na pista. A secretaria afirma ter gastado com ampliação dos boxes. O tamanho da área não é alterado há décadas. Napoleão Ribeiro disse que ouviu do governo intenções para um plano de reformas previsto para o fim do ano, com alterações nos boxes. Mas, até o começo de dezembro, nada foi feito. A meiaum procurou novamente a assessoria de imprensa da Secretaria de Esporte e, depois de ignorada por alguns dias, recebeu, por telefone, a recusa de informar a tabela de preços para a locação da pista. Depois pediu 12 dias para que fosse procurada novamente. Após esse prazo e muita insistência, tivemos nossas solicitações respondidas de forma vaga e a tabela de preços, teoricamente pública, apareceu. É definida de acordo com o Decreto 29.598, de 14 de outubro de 2008. As diárias vão de R$ 2.500 para eventos regionais a R$ 7.000 para nacionais. Considerando-se esses valores e um calendário preenchido, era para o autódromo estar em condições melhores. ) )

e evitar acidentes graves causados pela fragilidade da barreira. Em junho, pediu 26 caminhões de terra ao governo do Distrito Federal para a obra. Como a reforma deveria ser feita antes da etapa da Stock Car, desistiram de esperar pelo governo e fizeram a obra por conta própria, contando com a ajuda das construtoras do novo estádio. “O autódromo é um sujeito em coma, em estado terminal”, diz. Para Rodrigues, são urgentes providências para tirar a pista da UTI: “A federação, com a pouca verba que tem, consegue somente manter a pista respirando, medicando aos poucos”. É bom que se lembre que não é função da FADF manter o autódromo – embora ela devesse se preocupar um pouco mais com a segurança, uma vez que, com a CBA, assume a responsabilidade de liberar corridas na pista. A federação tem por obrigação organizar e representar os eventos automobilísticos da cidade. Assim como outras instituições e empresas que têm sede no Nelson Piquet, usa o espaço como locatária. Essas pequenas obras são feitas para deixar a pista um pouco mais segura, diante da letargia do governo do DF em resolver a situação. A terra que pediram ao GDF chegou. Mas, muitos dias depois, após a corrida da Stock Car. Acabou sendo usada em outras partes do circuito que precisavam de reparos. Entre 1995 e 2006, o autódromo quase teve alta. O arrendamento da pista para a NZ Empreendimentos e Investimentos Ltda., de Nelson Piquet, deu sobrevida ao circuito com investimentos estruturais. Durante esse período, foram construídas caixas de brita e áreas de escape. Houve a instalação de 30 mil pneus de proteção, construção do restaurante e a iluminação do anel externo. Áreas do autódromo foram ocupadas por empresas privadas, como kartódromo e a sede da equipe de corridas Amir Nasr Racing. Segundo a Secretaria de Esporte e Lazer do DF, a ocupação desses espaços está atualmente sub júdice, aguardando regularização. Nessa época, a pista conseguiu sediar uma etapa extracampeonato do BPR Global GT


Conto

Uma data inesquecível

Onze

Aquele dia tão especial marcaria a maior coincidência na vida da jornalista Maria Regina Morgado

Texto Patrick Selvatti Ilustração FRancisco Bronze patrickselvatti@gmail.com

Sexta-feira. Onze de novembro de dois mil e onze. Asa Sul, quadra 111, bloco H. Maria Regina terminou de se maquiar no banheiro, amparada por Deusa, sua secretária do lar. Em poucos minutos, desceriam para a entrequadra comercial, em um restaurante onde onze pessoas se reuniriam para comemorar seu aniversário de 29 anos. Seria a maior coincidência na vida daquela escorpiana com ascendente em gêmeos e lua em aquário: 2011 marcava o seu décimo primeiro ano em Brasília e a soma dos dígitos de sua nova idade resultava em 11, assim como as letras de seu nome composto. Era para ser um dia muito especial. Por isso, para se somar a ela naquele almoço, digamos, cabalístico, Regina escolheu a dedo dez pesso-

bronze@grandecircular.com

as extremamente importantes em sua vida naqueles onze anos longe de casa – viera no ano 2000 de Pernambuco para estudar jornalismo na UnB, era solteira e não tinha familiares no Distrito Federal nem nas redondezas. Estavam ali os seus melhores amigos, os quais ela considerava a sua família brasiliense. Antigos colegas de curso, companheiros de trabalho dos jornais e das assessorias pelas quais passou, o cabeleireiro que há anos cuidava do design de sua fisionomia, o ex-namorado que havia assumido sua homossexualidade e até mesmo a Deusa, que trabalhava em sua casa e era considerada a sua mãe candanga. Mas Regina não estava completamente feliz. A família de sangue estava longe em mais um aniversário e o fim do namo-

ro, há duas semanas, ainda lhe causava certa tristeza. A saudade dos pais seria amenizada no dia seguinte; pegaria um avião rumo ao Recife para passar o tão esperado feriado prolongado na beira da praia, tomando caipirinha e petiscando camarões. Por outro lado, não tinha nenhuma perspectiva de reconciliação amorosa. Maria Regina Morgado era uma conhecida jornalista da capital federal. Cobria política nacional para um grande jornal, já tinha uns dois ou três prêmios de reportagem no currículo, muitos admiradores e alguns personagens que não podiam sequer ouvir seu nome sem tremer de alguma forma. Os amigos a tinham como referência e os homens sempre a cortejavam. Entretanto, somente aqueles poucos amigos mais íntimos conse-


39 guiam compreendê-la. A agenda de Regina era um frenesi constante. Não raramente ela furava almoços, jantares, festas de aniversário, casamento, batizado, baladas... E não era por maldade ou falta de vontade. Regina se programava, separava roupa, o cabeleireiro Luã ia ao seu apartamento dar o trato no seu visual, comprava os presentes... Mas, na hora H, sempre estourava algum fato que a impedia de comparecer. Uma sessão no plenário que varava a noite, um anúncio oficial do Planalto, uma reunião emergencial em algum ministério, uma nova prova contra o deputado envolvido no escândalo da vez... Se, para os amigos, a situação era difícil, para os relacionamentos amorosos, insustentável. Era o caso de seu último namorado, o executivo Armando. Estavam juntos havia três anos, mas ele não conseguia se adaptar ao seu frenético ritmo de vida. Reclamava, se queixava... mas, ao contrário dos outros, não a deixava. Tinha um amor obsessivo, quase insano. Dizia que preferia morrer a perdê-la. Tinha muitos ciúmes, brigava, acusava, fazia escândalos. Era um homem maduro, divorciado, também não tinha família no Centro-Oeste. Podre de rico, o que o fazia ser arrogante, usar seu dinheiro para impor suas vontades. Não, desta vez quem não aguentou foi Maria Regina. Apesar da saudade, não estava mais disposta a tanta cobrança, ataques de ciúme e traições. A última briga foi causada pela foto que saiu na coluna social do seu jornal. No close, Armando ostentava um largo sorriso abraçado com sua ex-namorada em uma boate badalada do Lago Sul. O empresário disse que havia encontrado com ela por acaso, conversavam amenidades e ele não estava sóbrio o suficiente para recusar o pedido insistente do fotógrafo. “Se você gosta dele, tente mais uma vez”, aconselhou Deusa, vendo o olhar triste de Regina.

“Não dá”, ela respondeu. “Desta vez será para valer. E nem é por causa da foto. Cansei da agressividade dele. Mas eu estou com medo. Ontem eu cruzei com uma mulher estranha que me disse algo que não sai da minha cabeça.” Maria Regina referia-se ao fato de que na noite anterior, saindo de um shopping no Setor Comercial Sul, ao atravessar a rua para pegar o seu carro no estacionamento público em frente, foi abordada por uma mulher estranha, toda vestida de branco, com os cabelos grisalhos, compridos e maltratados. “Amanhã será o seu aniversário”, foi logo dizendo a mulher. “Como a senhora sabe? Quem é a senhora?” “11.11.11. Essa data será inesquecível. Quando o relógio marcar 11 horas e 11 minutos acontecerá uma tragédia. E você é a única pessoa que poderá impedi-la. Basta um único gesto seu.” A mulher desapareceu sem dar nenhuma explicação. E Maria Regina ficou com aquela história na cabeça. Mal conseguiu dormir. Fritou na cama a noite toda. Nem mesmo o comprimido que tomou antes de se deitar trouxe algum efeito acalentador. “E o que você acha que ela quis dizer?”, quis saber Deusa, já no elevador. “Eu não sei. Mas aqui dentro eu sinto que tem a ver com o Armando. E hoje pela manhã ele me mandou um torpedo, dizendo que até a hora do almoço ele me faria uma grande surpresa.” Maria Regina olhou no relógio. “São onze horas. Vamos apressar o passo. Temos onze minutos para chegar ao restaurante.

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O almoço seria numa cantina italiana recentemente inaugurada na quadra. O crítico de gastronomia do jornal havia tecido vários elogios. Maria Regina entrou exatamente às onze horas e onze minutos. Rapidamente, Deusa juntou-se aos outros nove amigos e, em comitiva, receberam a


40 aniversariante com o tradicional Parabéns pra você. Muitos abraços, beijos, presentes, flashes, desejos de sucesso, paz, saúde, felicidade... e fogos de artifício. Fogos de artifício? “Quem encomendou fogos de artifício?”, perguntou Deusa. Fez-se, então, silêncio. O restaurante estava vazio, apenas com aquelas pessoas. Até que Lúcia, a mais conectada da turma – sempre com um smartphone na mão, atualizando, curtindo e compartilhando –, veio com a resposta aterrorizadora. “Isso não foi fogo de artifício, pessoal. Acabei de ver no Twitter: estouraram uma bomba no Congresso Nacional!” “Fala sério, cara, quem foi que caiu desta vez?”, perguntou Ivan, também jornalista, já deduzindo que viria um novo escândalo político pela frente. Maria Regina já estava pálida quando Lúcia esclareceu o fato: “Estou dizendo que o prédio do Congresso explodiu e está em chamas. O centro do poder brasileiro acaba de sofrer um atentado terrorista!”

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O relógio marcava exatamente onze horas e onze minutos quando se ouviu a explosão e o fogo tomou conta do inigualável e admirável céu de Brasília. O Congresso Nacional estava em chamas. As duas torres, que formavam a letra H – e também o número onze –, estariam completamente destruídas em questão de minutos. O impacto da explosão pôde ser ouvido em todo o Distrito Federal. O que se viu dali em diante foi o caos. Em instantes, toda a corporação dos bombeiros estava dedicada a tentar conter as chamas, mas em poucos minutos toda a estrutura desenhada por Oscar Niemeyer viria ao chão. Nem mesmo as cúpulas invertidas que representavam a Câmara e o Senado seriam salvas da destruição total. Um cinegrafista amador, com um celular na mão, registrou o momento exato em que

as duas torres explodiram. O vídeo foi postado imediatamente no Facebook e compartilhado pelo mundo inteiro em minutos. Houve até quem curtisse a postagem. Comentários surgiram como abelhas em cima do mel. Logo a imprensa de todo o planeta já estava a postos para noticiar a maior tragédia já vista no Hemisfério Sul. Bem ali ao lado do cenário do horror, no Palácio do Planalto, protegida por toda a Segurança Nacional, a presidente da República estava em choque, sem a menor condição de prestar qualquer depoimento público. Logo agora que o Brasil estava tão em alta perante o mundo, uma tragédia daquelas literalmente colocava tudo em ruínas! Nos Estados Unidos, o maior canal de telejornalismo chegou a sugerir que a Copa do Mundo de 2014 no Brasil seria cancelada. Afinal, quem iria se aventurar a investir tanto dinheiro em um país que estava sendo vítima de ataques terroristas? E logo na capital da República, que sediaria sete jogos do mundial e seria sede da abertura da Copa das Confederações em 2013... Um pouco mais distante, mas nem tanto, no Palácio do Buriti, o governador do Distrito Federal entrou em pânico. Na frente da televisão ou do computador, milhões de brasileiros – tão acostumados a ver aquele cenário todos os dias em evidência como centro de discussão política e de escândalos de corrupção – estarreciam-se diante daquelas imagens tão aterrorizantes. No Brasil inteiro, em suas casas, centenas de pessoas se desesperavam, sem saber se seus familiares estavam no interior do Congresso Nacional naquele momento. Era fato que haviam sido atingidos centenas de deputados, senadores, assessores, jornalistas, servidores de carreira e frequentadores de um modo geral daquele conglomerado. Era preciso saber quantos estariam vivos, mortos, feridos... A curiosidade e o desespero tomaram conta da capital federal. Muitos moradores

de todo o Distrito Federal pegaram seus carros e seguiram para a Esplanada dos Ministérios. O tráfego ficou mais intenso e logo se formaram pontos de retenção na região central de Brasília. Algumas colisões leves e logo o trânsito já havia se transformado em um pandemônio. Foi preciso o policiamento isolar o local, fechando todas as entradas de acesso à Esplanada. Maria Regina e seu grupo conseguiram acessar o local do atentado antes do bloqueio. Com seu crachá de repórter, ela chegou até o ponto máximo a que um cidadão civil poderia ter acesso. Perguntou, especulou, mas nenhuma resposta obteve. Ninguém ainda sabia o número de vítimas, menos ainda suas identidades. Está certo que, por ser uma sexta-feira, o fluxo de pessoas a transitar por aqueles corredores do Poder Legislativo brasileiro era bem reduzido, mas o desastre humano não era menor. Era preciso saber ainda como havia acontecido o atentado, sua causa e, principalmente, seus autores. “Quem pode ter provocado este horror, meu Deus?”, a jornalista aniversariante se perguntava, sem conseguir separar a profissional do ser humano que se compadecia daquela tragédia. Nesse momento, uma mão gelada tocou o seu ombro. Maria Regina virou-se para trás e deparou-se com a mesma mulher de cabelo e roupas brancas. “Eu lhe disse que uma tragédia aconteceria. Estava em suas mãos impedir esse horror... mas você não o fez.” Imediatamente, Maria Regina matou a charada. “Armando!”, ela gritou.

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Setor de Hotéis de Turismo Norte, às margens do Lago Paranoá, próximo ao Palácio da Alvorada. Na cobertura de luxo do hotel mais alto, o hóspede solitário Armando Maciel Brandão estava vestido de branco dos pés à cabeça – incluindo os cabelos grisalhos que lhe davam a aparência de mais idade do que


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Ao som de Bethânia, Maria Regina acordou. Suava frio, o coração rompendo, rasgando, gritando, realmente prestes a explodir como sugeria a canção composta por Gonzaguinha. Ainda assustada, olhou no celular e constatou que eram oito horas da manhã de sexta-feira, 11 de novembro de 2011. Deusa entrou no quarto, preocupada. “Meu aniversário... O Congresso Nacional... O fogo... O Armando!!!!” Em um pulo, Regina foi da cama para a janela. Do lado de fora, carros, pessoas, cães, tudo na mais perfeita normalidade.

“A velha de branco...”, ela lembrou. “Ah, minha filha, você ficou impressionada com o que aquela louca te disse. Teve um pesadelo, foi só isso.” “Ela disse que eu poderia impedir uma tragédia. Acho que ela tem razão”, foi dizendo, enquanto pegava seu aparelho celular e buscava na agenda o nome de Armando. Discou, chamou, mas ele não atendeu. “Eu preciso falar com ele, Deusa. Trata-se de um caso de vida ou morte. Tive um sonho horrível que, somado às palavras daquela mulher, só pode ser um aviso. Já sei o que fazer: vou até a casa dele.” Entre o banho, a troca de roupa e o trajeto da 111 Sul ao Lago Norte, Maria Regina gastou quarenta minutos. Quando estacionou em frente à casa de Armando, quase colidiu seu carro com o táxi que o conduzia. Maria Regina saltou do veículo e foi até o ex-namorado, que também saiu para encontrá-la. Armando estava surpreso, não esperava que ela fosse procurá-lo na manhã de seu aniversário depois da briga que tiveram. Estava de malas prontas, embarcaria para São Paulo em cerca de duas horas. “Veja a coincidência: meu voo sairá às 11h11”, ele anunciou, sem imaginar o que aquela combinação numérica poderia ocasionar. “Por tudo o que existe de mais sagrado, não embarque nesse voo!”, ela quase suplicou. Maria Regina se jogou nos braços de Armando, que se abriu todo em sorrisos. Ele não embarcou no voo para São Paulo e seguiu com ela para sua comemoração de aniversário. Às 11h11 na cantina da 111 Sul. E foi lá que, entre massas e vinhos, Maria Regina se informou de que aquele avião que havia saído de Brasília com direção à capital paulista... havia pousado sem nenhum problema no aeroporto de Guarulhos. “Há quem jure que algo grave poderia ter ocorrido se a fileira 11 estivesse ocupada. O único passageiro que reservou assento ali não embarcou”, foi a postagem do ) Twitter @VelhaDeBranco. )

seus reais 38 anos. Na imensa varanda da suíte, na beira da piscina, estourou um champanhe, acendeu um cigarro e, às 11h11, brindou sozinho enquanto assistia ao maior espetáculo de horror que a capital federal havia presenciado em seu meio século de existência. “Eis o seu presente de aniversário, minha doce Maria Regina”, ele brindou ao ar, enquanto via o fogo consumir o Congresso Nacional. Armando virou na garganta a taça de champanhe, tirou um último e profundo trago do cigarro antes de esmagá-lo no chão com a ponta do sapato e citou Augusto dos Anjos: Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que nesta terra miserável mora entre feras sente inevitável necessidade de também ser fera./ Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja. / Se a alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija! Às 11h55, o celular de Armando tocou. Na tela, o nome, a fotografia e a música preferida de Maria Regina. Ele não atendeu. O aparelho disparava a tocar Maria Bethânia cantando Explode coração quando Armando pegou o revólver, posicionou a arma de fogo no meio da própria testa e disparou o gatilho.


Artigo

A coceira dos 7 meses e outras cenas clínicas Caso persistam os sintomas, caro paciente, tome muito cuidado com a desorientação médica

Texto alberto francisco do carmo Ilustração André Zottich albertofcarmo@gmail.com

emaildozottich@gmail.com


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A

coisa começou devagarinho. Uma coceirinha nas chamadas partes pudendas daquele respeitável senhor, razoavelmente bem de vida, ou pouco além disso. Era uma coceirinha pungente. Foi aumentando até que não teve dúvidas: procurou um médico. Este, vendo tratar-se de pessoa de alto padrão, examinou-o. Bastante. E, de acordo com a constatação visual de aparente abastança, receitou-lhe o mais caro antialérgico da praça. E uma pomadinha também cara. Ah! Tudo depois de numerosos exames de laboratório. Nada. A coceira cedeu um tanto. De viagem marcada, novo ataque de coceira, pior ainda. Foi a um dermatologista famoso. Novos testes. Mais uma ligeira melhora. E... de novo a coceira infernal. Ah! O profissional? Doutor em dermatologia. Mais outra batelada de testes. Como também a pessoa tinha lá, digamos, seu lado boêmio, pediu-se um teste HIV. Nada. Mais outros remédios caríssimos. Nova melhora que lhe deu esperanças de estar curado e lá se foi ele para os EUA. Com o frio, a coisa voltou. Um coça-coça abroad. Porém, tinha seguro-saúde no pacote da viagem. Baixou num hospital. Uma médica negra, ar solene, atendeu-o. Olhou, olhou, outros remédios. Mas de lá. Haja dólares! Voltou ao Brasil. Outro arrasador surto de coceira. Católico, não teve dúvidas: fez promessa para seu santo protetor. E... médico, novamente. Foi atendido por outra dermatologista, filha de outro médico, idem. No momento em casa, pois não andara bem. Também católica, comoveu-se com aquele paciente. Mas não o examinou. Convocou o pai ao consultório. O velho doutor veio. Com ar sério, pediu-lhe para tirar a roupa. Examinou-o detidamente. Muito. Viu, com um ar de desprezo, a pilha de exames. Depois opinou: – O senhor está com xptowxyi. Termo médico que o “cocento” não conhecia. – Mas o que é isso, doutor? Grave? Vou ficar curado? – Minha filha lhe dirá – saiu cabisbaixo e soturno. A filha voltou. Entrou na sala e repetiu a palavra que, agora, num furo, revelaremos: – O senhor tem escabiose. Ou seja, sarna. Sete meses... Sim, o pobre enricado tem uma fazenda. Voltara de lá quando a coceira começou. Dessa, vamos a outra. Outra pessoa. Tosse infernal. Otorrinolaringologista. Exame de garganta com videocâmara. Exames. E a tosse continuou

depois de uns remedinhos. Até o nível do insuportável. Internamento em hospital. Remedinhos, nebulizações diárias. Endoscopia. Nada. Melhorou. Teve alta. Uma semana depois, tosse alucinante. Outro médico. Emergência de hospital. A cada cinco palavras, acesso de tosse. Mas deu ao médico um histórico. Aí a pergunta: – O senhor está com alguma coceira no ânus? Por acaso, o paciente sentira algo, mas pensara em alimento picante, mais uma prisão de ventre. O médico “sherlockicamente” diagnosticou: – São oxiúros. Migraram para seu pulmão. Mais remédios, vermífugos, roupa fervida. Mas lá veio a tosse de novo. Num ambulatório público, outra vez um doutor maduro. – Oxiúros? Mas esta radiografia do pulmão não mostra nada! Pelo que o senhor falou, embora não seja minha área, vou tentar. Todos os seus sintomas são de crise asmática e deviam saber disso. Prescrição: antiasmáticos. Em duas baterias, fim. A tosse sumiu. Já não se fazem médicos como antigamente? Bem, há controvérsias. Princípio da década de quarenta. Parturiente. Primípara tardia, gravidez após 30 anos. Vieram a cesariana e as suturas. Mas, em poucos dias, a dita senhora começou a ter febres. Altíssimas. Não havia ainda antibióticos tipo penicilina. Começaram doses de sulfas. E a febre não cedia. E o doutorzão figurão, nem pestanejava. Mais sulfas. E a febre, nada. A freira-enfermeira (alemã, por sinal) alertou a família: pela experiência dela, a paciente ficaria com o fígado arruinado. Aflição geral e a enferma, pensando que ia morrer, convocou a madrinha. Pediu que cuidasse do seu bebê. Choro e ranger de dentes naquele quarto de hospital particular de elite. Por dedo de Deus, ou sorte, o figurão viajou. Entregou a coitada a um assistente. Bem menos metido a besta, resolveu dar uma olhada na cicatriz. Foi apertando até que uma gota de pus espirrou. Correu-se com a paciente ao bloco cirúrgico e praticamente um copo de pus foi drenado. A febre cedeu, ela sobreviveu. Quarenta dias de hospital. O figurão voltou e continuou mascarado até morrer. É bom lembrar tais cenas, num país onde médicos tendem a assumir a postura arrogante. Sobretudo doutorzinhos da nova geração. “O senhor é médico?” Frase usual para calar pacientes que ousem falar de si próprios. Todos os trapalhões anteriormente referidos o eram ou o são. Médicos.



Caixa-preta

por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com

O anarcotráfico do anonimato perde espaço

O maestro Tom Jobim já dizia: “Viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é bom.” Com o anonimato, é a mesma coisa. O Disque-Denúncia, por exemplo, é bom e opera pelo bem. Protegidos pelo anonimato, moradores das favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, nos morros cariocas, ajudaram a polícia a apreender 129 armas, 23 mil munições, 148 explosivos e 350 quilos de droga em apenas três dias de ocupação do território antes exclusivo do narcotráfico. Em uma única casa da Rocinha, a denúncia levou a 16 fuzis e uma metralhadora capaz de abater um avião. O telefone, que não recebia mais do que quatro informes diários, disparou para 308 ligações no domingo e segunda, os dois primeiros dias da ocupação. Já na internet, como diria o sensível Tom, o anonimato é uma merda, e não é bom. Principalmente no território livre dos blogs, a grande rede é exposta à droga dos traficantes de opinião que não ousam dizer o seu nome, como diria Oscar Wilde. Como os narcotraficantes que dominam as favelas pelo terror e pela droga, ocultam o rosto pela máscara covarde do apelido, do codinome, da inicial sem qualquer identificação.

Fim da baixaria Com isso, são encorajados a dizer qualquer bobagem, desencorajando o bom e aberto debate civilizado entre pessoas que não temem expor nome e sobrenome, suas cidades de origem, até mesmo sua condição profissional, detalhes que qualificam a discussão e permitem uma compreensão melhor sobre os debatedores. O manto do sigilo descamba com frequência para a troca de ofensas entre os próprios internautas, despencando numa baixaria que espanta pela virulência e que afugenta os debatedores mais pacientes. Mas, esse anarcotráfico de opiniões que não se sustentam, a não ser pelo capuz do anonimato, pode estar com seus dias contados. Os grandes

portais, os sites sérios e os blogs mais consequentes estão ocupando este território da irresponsabilidade, estabelecendo limites saudáveis para permitir o livre trânsito apenas a quem tem a consciência e a competência para a discussão livre, democrática e assumida.

Nada de apelidos Nem é preciso chamar o Bope para retomar este espaço virtual ocupado criminosamente. Basta estabelecer regras transparentes para identificar devidamente o autor dos comentários, sem qualquer restrição ao seu conteúdo. Os que passarem dos limites sabem que estarão sujeitos à réplica legal e judicial dos que se sentirem atingidos. Uma possibilidade que, de

pronto, calará a grande maioria de quem terá vergonha de assumir o que não diz sem a ajuda de um apelido boboca. Um bom sinal do que pode ser o começo do fim dessa praga é a nova norma adotada pelo portal da Globo.com, agora bloqueado a esta multidão inconsequente de apelidos: “Apelidos em comentários são uma tradição, mas isso está mudando. As duas comunidades virtuais que mais crescem — Facebook e Google+ — não permitem apelidos. É que quando todo mundo assina o próprio nome, a qualidade da conversa melhora. O nível de cortesia aumenta”, ensina Pedro Doria, editor-executivo de Plataformas Digitais da Globo.com. O educado Tom Jobim saudaria esta internet sem merda.


Arte, Cultura e Lazer cultura@meiaum.com.br

Thyago Arruda

Reverência aos mestres Dezembro será tempo de homenagens a nomes que marcaram a música e o cinema. No mês de seu aniversário, um dos mais importantes artistas da música brasileira e do samba carioca, Noel Rosa (1910 – 1937), inspira a exposição Compartilhando rosas (foto), do grupo de artistas Argumento Coletivo, em parceria com a Presidência da República. As obras e a decoração da mostra têm como referência 16 músicas do poeta da Vila. A exposição está no túnel que liga o Palácio do Planalto aos seus anexos. O Centro Cultural Banco do Brasil, por sua vez, reverencia Clint Eastwood, que já tem na bagagem oito indicações ao Oscar. A mostra exibirá 42 filmes protagonizados, produzidos e dirigidos pelo norte-americano de 81 anos.

Cinema – lançamentos

A hora da escuridão Direção: Chris Gorak. Após sair de uma festa em um clube de Moscou, cinco jovens (Rachael Taylor, Emile Hirsch, Olivia Thirlby, Joel Kinnaman e Max Minghella) descobrem que a Terra está sob ataque de uma estranha raça de alienígenas invisíveis. Resta a eles defender o planeta. Terror. Classificação 12 anos. Kinoplex em 30 de dezembro. 108 minutos.

Compramos um zoológico Direção: Cameron Crowe. Baseado em história real. Benjamin Mee (Matt Damon) e sua família encontram uma bela casa no interior, mas são surpreendidos ao descobrir que o lugar é um zoológico abandonado. Ele aceita o desafio e compra a casa, na esperança de restaurar o local. Comédia. Classificação 10 anos. Kinoplex em 23 de dezembro. 95 minutos.

Forças especiais Direção: Stéphane Rybojad. Uma jornalista francesa (Diane Kruger) é sequestrada no

Afeganistão pelo movimento Talibã, que coloca um vídeo na internet, determinando a data para a execução da moça. Uma unidade de elite, composta por seis homens, é enviada para resgatá-la. Ação. Classificação 12 anos. Kinoplex em 9 de dezembro. 90 minutos.

Margin call – O dia antes do fim Direção: JC Chandor. No começo da crise financeira de 2008, um analista de operações (Kevin Spacey) tem acesso a informações que podem levar à queda da empresa onde trabalha, e ainda prejudicar a vida de todos os envolvidos na ação. Drama. Classificação 10 anos. Kinoplex em 9 de dezembro. 109 minutos.

Missão impossível 4

ou apoio. Ethan tem de encontrar uma maneira de limpar o nome da agência e prevenir outro ataque. Ação. Classificação 12 anos. Cinemark em 21 de dezembro e Kinoplex em 23 de dezembro. 135 minutos.

No limite da mentira Direção: John Madden. Em 1997, revelações chocantes atingem ex-agentes do Mossad, serviço secreto israelense. Rachel (Helen Mirren), Stefan (Tom Wilkinson) e David (Sam Worthington) sempre foram venerados em seu país porque capturaram o nazista Vogel (Jesper Christensen). Diante dos novos fatos, a reputação deles é colocada à prova. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex em 30 de dezembro. 113 minutos.

– protocolo fantasma

Noite de ano novo

Direção: Brad Bird. Acusado por um bombardeio terrorista ao Kremlin de Moscou, o agente da IMF Ethan Hunt (Tom Cruise) é desautorizado com os outros integrantes da agência. O presidente dos EUA deixa a IMF sem qualquer recurso

Direção: Gary Marshall. Histórias de casais, de solteiros e de namorados se entrelaçam no réveillon em Nova York. No elenco: Halle Berry, Katherine Heigl, Sarah Jessica Parker, Lea Michele, Robert DeNiro, Zac Efron, Hilary Swank, Michelle Pfeiffer, Ashton


Paramount Pictures

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Cinema Pai do bangue-bangue à italiana, o diretor Sergio Leone dizia que Clint Eastwood, seu ator preferido nos grandes sucessos do gênero, nas décadas de 60 e 70, só tinha duas expressões nas telonas: “Uma com chapéu e outra sem”, brincava. Verdade ou não, o fato é que, com seu jeito caladão, carranca fechada e gestos comedidos, Eastwood foi longe. Aos 81 anos, é um dos nomes mais importantes do cinema norte-americano em atividade, ao lado de mestres como Martin Scorsese, Woody Allen e Francis Ford Coppola. Isso porque, por trás desse estilo durão e implacável que o cinema ajudou a consagrar, Clint Eastwood sempre escondeu a figura de um artista sensível, eterno amante do jazz e homem atento às mazelas da sociedade que o cerca. Tal sensibilidade o levou a realizar filmes

Roubo nas alturas

contundentes como Sobre meninos e lobos, Gran Torino, As pontes de Madison

Direção: Brett Ratner. Um administrador de um edifício de luxo em Nova York (Ben Stiller) reúne-se com outros funcionários que tiveram a aposentadoria roubada por um golpista de Wall Street (Alan Alda). Eles descobrem que o bandido de colarinho branco está em prisão domiciliar no prédio, em seu apartamento privilegiado. O grupo decide então assaltar a cobertura, mas para isso precisa da ajuda de um ladrão de verdade (Eddie Murphy). Comédia. Classificação 10 anos. Cinemark em 16 de dezembro. 104 minutos.

e Bird, todos destaques da mostra que o homenageia, de 13 de dezembro a 8 de janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Serão exibidos 42 trabalhos, protagonizados, produzidos ou dirigidos pelo artista em mais de 50 anos de carreira. Além dos clássicos do spaghetti italiano como Três

Kutcher, Abigail Breslin, Jessica Biel, Jon Bon Jovi, Sofia Vergara, Taylor Swift, Hector Elizondo, Sienna Miller, Seth Meyers, Til Schweiger, Josh Duhamel, Ice Cube e Ryan Seacrest. Romance. Classificação 10 anos. Cinemark e Kinoplex em 9 de dezembro. 97 minutos.

O Gato de Botas Direção: Chris Miller. Um dos personagens mais amados dos filmes do Shrek. O Gato de Botas (Antonio Banderas) mostra suas ousadas, corajosas e valentes aventuras

ao lado de seus amigos Humpty (Zach Galifianakis) e Kitty (Salma Hayek). Juntos planejam roubar a famosa gansa dos ovos de ouro. Animação. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 9 de dezembro. 80 minutos.

homens em conflito e Por um punhado de dólares, os fãs poderão assistir a obras marcantes de sua trajetória como Fuga de Alcatraz – Fuga impossível, O cavaleiro solitário e Dirty Harry – Na lista negra. Imperdível.

O homem que não dormia Direção: Edgard Navarro. Cinco pessoas têm repetidas vezes o mesmo sonho, em que um homem tenta passar uma mensagem entre raios e trovões. São atormentadas pelas imagens e por suas vidas sem sentido.

Lúcio Flávio É jornalista e também escreveu na pág. 53


Arte, Cultura e Lazer Tudo pelo poder Direção: George Clooney. Stephen Myers (Ryan Gosling), membro idealista da equipe do candidato à presidência Mike Morris (George Clooney), cai na real e descobre as sujeiras em torno da política na corrida pela Casa Branca. Drama. Classificação 10 anos. Cinemark e Kinoplex em 23 de dezembro. 102 minutos.

Vou rifar meu coração Direção: Ana Rieper. O documentário faz uma passagem por grandes sucessos da música popular romântica, conhecida como brega, ligando-os a histórias amorosas de pessoas comuns. Elas contam o que seus relacionamentos conjugais têm de semelhante com letras de artistas como Odair José, Agnaldo Timóteo, Waldick Soriano, Evaldo Braga, Nelson Ned, Amado Batista e Wando. Documentário. Classificação 12 anos. Cinemark em 25 de dezembro. 130 minutos.

Bicentenários da América Latina Séculos de convivência O festival traz filmes representativos da cultura latina, como o argentino Un oso rojo, de Adrián Caetano (foto). Mostra a forte relação cinematográfica da Espanha com os latino-americanos. São cinco filmes dos seguintes países: Argentina, México, Chile, Espanha e Uruguai. 12 a 14 de dezembro, às 19h, no Espaço Cultural Instituto Cervantes (707/907 Sul). Entrada franca. Classificação e programação em www.brasilia.cervantes.es. Telefone: 3242-0603.

O epiléptico Vado (Fábio Vidal) apanha do pai, que ainda o deixa preso em uma coleira. Madalena (Mariana Freire), espécie de Dona Flor, é malfalada na cidade. D. Brígida (Evelin Buccheger), a esposa do coronel, está grávida do amante. Práfrente Brasil (Ramon Vane) foi vítima de tortura na ditadura e ficou louco. O padre Lucas (Bertrand Duarte), um sacerdote sem fé, nota que todos estão no mesmo barco. Drama. Classificação 16 anos. Cinemark em 25 de dezembro. 150 minutos.

Redenção Direção: Marc Forster. A trama é inspirada na história de Sam Childers, um extraficante de drogas norte-americano que dedica sua vida e seus recursos para resgatar crianças que vivem na zona de conflito do Sudão. Vivido por Gerard Butler, ele se muda para aquele país a fim de proteger e de salvar crianças forçadas a ser soldados. Ação. Classificação 14 anos. Kinoplex em 16 de dezembro. 125 minutos.

www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br

Cinema – outros

Cinema francês

contemporâneo O Eurochannel apresenta pelo terceiro ano consecutivo sua seleção dos melhores curtas-metragens europeus. Na programação, 45 filmes. 7 de dezembro, às 19h, na Embaixada da França. Entrada franca. Classificação 16 anos. Telefone: 3222-3878.

Festival de Cinema Polonês Andrzej Wadja 2011

Uma filmografia do diretor polonês de obrasprimas como Cinzas e diamante e O homem de mármore, incluindo passagens do cineasta por gêneros como a ficção científica e a comédia.


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Fábio Veloso

Rênio Quintas Trio: 8 de dezembro Renato Vasconcellos Quarteto: 9 de dezembro Roberto Corrêa: 15 de dezembro Jorge Antunes: 16 de dezembro

Clube do Choro Neste mês há apresentações dos alunos da Escola de Choro Raphael Rabello, futuros instrumentistas brasilienses. Shows às quartas, quintas, sextas e aos sábados a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. Carlos Malta: 7, 8 e 9 de dezembro Haroldinho Mattos: 10 de dezembro Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello: 12, 13, 14, 15, 16 e 17 de dezembro

Projeto Guitarríssimo O convidado é o músico mexicano Jorge Fernández. No repertório, do clássico ao folclore do México, característica marcante do violonista. 9 de dezembro, às 20h, no Espaço Cultural Instituto Cervantes. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação livre. Telefone: 3242.0603.

Radicais livres A banda, de Brasília, é composta por um grupo de amigos cinquentões e sessentões. O repertório escolhido mostra um retrato musical da década de 60, relembrando sucessos da Jovem Guarda de Roberto e Erasmo Carlos, Renato e seus Blue Caps, Os Vips, Golden Boys, The Fevers, Os Incríveis, The Jet Blacks, Leno e Lílian, Celly Campelo. 15 de dezembro, às 21h, no Feitiço Mineiro (306 Norte). Ingresso (inteira): R$ 15. Classificação 16 anos. Telefone: 3272-3032.

Com produções feitas entre 1960 e 2009. 6 a 12 de dezembro, no Museu Nacional da República. Entrada franca. Classificação e programação em www.objetosim.com.br.

Retrospectiva da obra de Clint Eastwood

A mostra exibe os 42 filmes mais representativos de sua carreira como diretor e ator. Como ator, destacam-se os icônicos filmes western Por um punhado de dólares (1964), Por uns dólares a mais (1965) e Três homens em conflito. Como direitor, as obras

indicadas ao Oscar Os imperdoáveis (1992) e Menina de ouro (2004). 13 de dezembro a 8 de janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação e programação em

Restart Pe Lanza, Pe Lu, Koba e Thominhas estão de volta a Brasília para o lançamento do CD Geração Z. Além das novas músicas, Recomeçar, Levo comigo e Vou cantar. O evento contará com dois palcos e dois ambientes. Ainda no line-up, bandas da capital e discoteca com o DJ Fiesta. 17 de dezembro, às 17h, no Colégio Notre Dame (914 Sul). Ingressos (inteira): Pista R$ 40; VIP R$ 80. Classificação 12 anos (menores de 12 somente acompanhados dos pais). Telefone: 8612-7022.

www.bb.com.br/cultura. Telefone: 3108-7600.

Música

Brasília, minha música Artistas e canções que ajudaram a construir a identidade cultural brasiliense. Até 16 de dezembro, às 20h, no Complexo Cultural Funarte. Ingresso (inteira): R$ 10. Classificação 14 anos. Telefone: 3202-3277.

exposições

A pele do mundo Instalação estruturada em uma série de 200 fotografias, agulhas de acupuntura e fragmentos textuais a grafite. A obra de Carlos Lin, que é professor de História da Arte na Universidade de Brasília, segue um


Arte, Cultura e Lazer

J A Nibbes

Em um lugar

qualquer – Outeiro Com essa videoinstalação, o artista paraense Dirceu Maués apresenta sua primeira exposição individual em Brasília. O trabalho discute o uso dos aparatos tecnológicos, principalmente dos relacionados ao processo de produção de imagens. A exposição é composta de seis vídeos, que, juntos, formam uma visão 360° da praia de Outeiro, em Belém do Pará. Até 25 de dezembro, das 9h às 21h, no Complexo Cultural da Funarte – Galeria Fayga Ostrower. Entrada franca e livre. Telefone: 3223-2025.

Gabinete de arte, Inos Corradin

Carlitos, estás amando? Do artista plástico Javier Alvaro Asfaduroff Nibbes. O pintor uruguaio apresenta 27 obras que valorizam a arte e a cultura sul-americana. Os gatos, os peixes e os barcos, signos da pintura de Nibbes, compõem um mundo à parte. Até 30 de dezembro, de segunda a sexta, das 9h às 17h, no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares da Câmara dos Deputados. Entrada franca e livre. Telefone: 3215-8081.

percurso poético apaixonado, metáforas de relacionamentos afetivos e as sensações que os acompanham. Até 23 de dezembro, de segunda

Compartilhando rosas

21h; sábados, das 9h às 14h, no Espaço Cultural

Homenagem ao poeta, músico e cronista carioca Noel Rosa (1910-1937). O grupo de artistas Argumento Coletivo foi convidado pela Coordenação de Relações Públicas da Presidência da República e pelo Ministério da Cultura para criar inspirados pela obra do compositor. Interpretam visualmente as canções de Noel, com suportes e técnicas variadas, entre elas maquetes, esculturas, pinturas e desenhos. São 16 peças, em um cenário inspirado na música Pierrô apaixonado, que revela um típico bar carioca dos anos 30. Até 17 de dezembro, de segunda a sexta,

Instituto Cervantes. Entrada franca e livre.

das 9h às 19h, no Palácio do Planalto. Entrada fran-

Telefone: 3242-0603.

ca e livre. Telefone: 3411-2042.

a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 14h às 18h, no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça (Sede do TCU). Entrada franca e livre. Telefone: 3316-5074.

Cinema espanhol,

uma crônica visual São 80 fotografias, 20 cartazes e um vídeo de 40 minutos, que reúne extratos de filmes que se destacam na filmografia espanhola. Até 10 de dezembro, de segunda a sexta, das 11h às

Em comemoração aos 60 anos de carreira do artista plástico italiano. Suas obras retratam músicos, equilibristas, crianças e namorados. Já expôs em países da América do Sul e do Norte, no Oriente Médio e da Europa. Até 22 de janeiro, sábados e domingos, das 9h às 17h, na Câmara dos Deputados – Café do Salão Verde. Entrada franca e livre. Telefone: 3215-8081.

Maria Bonomi Cerca de 250 obras do universo feminino em pinturas, gravuras, esculturas, máscaras para o teatro. Da aproximação com grandes escritoras – foi amiga de Clarice Lispector e Cecília Meireles – até as obras instaladas em grandes capitais, nada escapa à retrospectiva dessa artista. Até 6 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.

Passagem de som Exposição de Rodrigo Paglieri, que nasceu em Santiago do Chile e vive em Brasília desde 1988. O artista embutiu um sistema de som na estrutura de concreto da marquise para conseguir reproduzir a soma de sons que caracterizam a presença humana nos grandes centros urbanos, a partir de passos, vozes e outros ruídos


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Paulo Barbosa

comunidades do Rio Madeira. O segundo núcleo apresenta o registro fotográfico dessas comunidades. A mostra também conta com vídeos produzidos pelo cineasta Pedro Martinelli, com entrevistas realizadas com moradores das comunidades ribeirinhas. Até 18 de dezembro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3325. 5220.

Teatro

6ª Mostra de Dramaturgia de Brasília

Serão apresentados seis textos inéditos para o teatro, com leituras dramáticas dirigidas com a participação de autores, atores e diretores que contribuem para cena teatral brasiliense. 19 a 22 de dezembro, na Funarte – Sala Cássia Eller. Entrada franca. Verifique a classificação no site www.overmundo.com.br. Telefone: 3202-3277. Programação: Balada dos cães raivosos ou ainda bem que os elefantes não são carnívoros, de Valnir Pasquim: 19

Parque Nacional de Brasília – 50 anos

de dezembro, às 20h Da paz, de Manuela Castelo Branco e Tatiana Carvalhedo: 20 de dezembro, às 18h30 Cartas aos pais, de Reinaldo Vieira: 20 de dezembro,

A mostra reúne aspectos naturais, sociais e históricos do Parque Nacional. As imagens são dos fotógrafos João Paulo Barbosa, viajante que já clicou paisagens do mundo inteiro; o vencedor do World Press Photo Olivier Boëls; e do nadador e designer Henry Macario. João Paulo traz fotos da fauna, da flora e da geografia (foto). Olivier dirige o olhar para pesquisadores que trabalham no parque. Henry apresenta um ensaio em preto e branco nas piscinas da Água Mineral. Até 24 de dezembro, de terça a domingo, das 9h às 18h, no Museu da

Até 25 de dezembro, das 9h às 21h,

as mulheres afrodescendentes.

Até 18 de

na Marquise do Complexo Cultural Funarte.

dezembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na

Entrada franca e livre. Telefone: 3223-2025

Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone:

Quieto pelo Fotografias e vídeos que exibem o trabalho de cabeleireiras de diferentes lugares da Colômbia e do México. Um dos objetivos do trabalho foi documentar as tradições e práticas associadas ao cabelo entre

Serpentes que fumam – Natal, da Cia. Andaime com Márcio Menezes: 21 de dezembro, às 18h30 Guetera, de Cássia Gentile: 21 de dezembro, às 20h30 Shirley da Conceição, de Nielson Menão: 22 de dezembro, às 20h

Dingou Béus

República. Entrada franca e livre. Telefone: 9953-5015.

gravados.

às 20h30

3206-9448.

Rio Madeira – Gigante da floresta

A exposição é dividida em dois núcleos. No primeiro, 15 pinturas e desenhos do artista plástico Mikéliton que retratam as

Pelo 14º ano, a Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo apresenta o espetáculo, sempre com texto atualizado. Uma versão diferente do nascimento “do Pequenino”, desde a anunciação até a chegada dos Reis Magos. O Papai Noel também participa com a suas renas sobrepujando o caos da sociedade contemporânea para realizar o sonho de milhões de criancinhas. 17 e 18 de dezembro, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional Claudio Santoro. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 16 anos. Telefone: 3325-6256.


Arte, Cultura e Lazer

Paula Huven

intervir. Jesus observa e avalia tudo. Com Guilherme Piva, Daniela Fontan, Jackson Costa e Bianca Byington. Até 11 de dezembro, de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 6. Classificação 12 anos. Telefone: 3108-7600.

Solos em cena Com espetáculos locais, da Bahia e de São Paulo, todos centrados na figura do ator como instrumento principal da atividade cênica, promove o intercâmbio e a circulação de espetáculos. 7 a 11 de dezembro, às 21h, no Teatro Funarte. Ingresso (inteira): R$ 10. Telefone: 3202-3277. Programação: JK,

com

Murilo

Grossi:

7

de

dezembro.

Classificação livre Vila dos Mistérios, com Anasha Gelli: 8 de dezembro. Classificação 18 anos Sexo aos 60 e outras mentiras, com Alexandre

Breu

Ribondi: 9 de dezembro. Classificação 16 anos Comunicação a uma academia, com Juliana

As personagens Carmem e Aurora se encontram em uma noite numa casa do subúrbio no Rio de Janeiro na década de 70. Carmem, uma mulher solitária e atormentada, sentimento perpetrado pela ditadura militar, aguarda ansiosa para saber o paradeiro do irmão, professor universitário perseguido pelo regime. A jovem cega Aurora transforma essa agonia diante do estranho em ruidoso embate sobre a rotina e o mistério. A montagem tem texto de Pedro Brício e direção de Maria Silvia Siqueira Campos e Miwa Yanagizawa. O elenco traz Andréia Horta e Kelzy Ecard. 8 a 11 de dezembro, quinta a sábado, às 19h30; domingo, às 18h30, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 6. Classificação 10 anos. Telefone: 3310-7087.

Duas ou três coisas que eu sei sobre o amor

Conquista, vivência a dois, perda, sinceridade, desafios e responsabilidade fazem parte das relações amorosas no espetáculo. Murilo Grossi, Alexandra Medeiros, André Reis, Mateus Ferrari e Tati Ramos formam o time de atores. Direção de Nilson Rodrigues. 9 a 11 de dezembro, sexta e sábado, às 20h30; domingo, às 19h, no Teatro Eva Herz – Shopping Iguatemi. Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação 14 anos. Telefone: 2109-2700.

Farsa da boa preguiça A comédia musical de Ariano Suassuna conta a história de Joaquim Simão, poeta de cordel, pobre e preguiçoso, que só pensa em dormir. É casado com Nevinha, religiosa e dedicada ao marido e aos filhos. O casal mais rico da cidade, Aderaldo Catacão e Clarabela, tem relacionamento aberto. Aderaldo é apaixonado por Nevinha e Clarabela quer conquistar Joaquim Simão. Três demônios fazem de tudo para que o pobre casal se renda à tentação e caia no pecado, enquanto dois santos tentam

Galdino e Gê Viana: 10 e 11 de dezembro. Classificação 16 anos.

Outros

Naturalmente – Teoria e jogo de uma dança brasileira

A aula-espetáculo expõe como o pernambucano Antonio Nóbrega tem procurado articular o amplo e versátil vocabulário de passos em torno de uma linguagem brasileira contemporânea de dança. O artista, que integra outras artes corporais à dança, vai conduzir o espectador por uma trilha que passa pelo maracatu e pelo choro de Jacob do Bandolim. Neste espetáculo, os passos e as danças são intercalados por falas sobre questões como a origem das danças populares brasileiras. 15 a 18 de dezembro, de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.


Grupo Magneto

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Teatro Diz um provérbio sueco: “O medo atribui às pequenas coisas grandes sombras”. Montagem dirigida a partir de texto inédito do ator, dramaturgo e diretor teatral Pedro Brício, por Maria Silvia Siqueira e Miwa Yanagizawa, Breu, em cartaz até 11 de dezembro no CCBB investiga a escuridão que habita dentro de nós. O tom sombrio no título está relacionado à cegueira de uma das personagens, vivida pela atriz Kelzy Ecard. No palco, dividindo espaço com a jovem atriz Andréia Horta, ela é Carmen, mulher solitária atormentada pela angústia do desconhecido, sentimento perpetrado pela ditadura militar que fustiga o coti-

Seja zen comendo x-egg bacon

diano da nação. Ela aguarda ansiosa o

O espetáculo do grupo brasilense De 4 é Melhor – Comédia Ilimitada viaja ao futuro pra revelar uma iminente 3ª guerra mundial entre partidários de duas ideologias opostas: workaholics fiéis ao fast-food e ativistas zen e vegetarianos. Tal guerra teve sua origem em 2011, época em que a relação entre dois irmãos diametralmente opostos entra em colapso. A condição piora quando os dois se encontram em disputa pelo coração da mesma mulher. Direção de Flávio Nardelli.

Desse encontro aparentemente banal

10 e 11 de dezembro, sábado, às 20h; domingo, às 19h, no Teatro dos Bancários. Ingresso (inteira): R$ 50.

Carlos, telefonemas não atendidos e reve-

Classificação 14 anos. Telefone: 3262-9090.

paradeiro do irmão, professor universitário perseguido pelo regime. com a jovem Aurora nasce crescente agonia diante do estranho em ruidoso embate sobre a rotina e o mistério. Entre cachorros-quentes, canções de Roberto lações, as duas, aos poucos, desvendam os segredos da alma de cada uma.

Bureau delícias de natal

Caixa de Letras

Confeitando Biscoitinhos de Natal, com visita da

No nosso dia a dia, observamos várias mensagens escritas, em livros, revistas, nas embalagens dos produtos, fachadas de loja e placas de trânsito. A maioria faz uso de tipografias – impressas ou digitais – que dão forma a cada mensagem. Com exposição, palestras, oficinas e filmes, o projeto Caixa de Letras revela curiosidades deste universo tipográfico, convidando o visitante a apreciar em detalhes as letras que nos cercam. Até 11 dezembro, de terça

Mamãe Noel: 10 de dezembro

a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural.

Como fazer um livrinho de Receitas Scrapbook, com

Entrada franca. A classificação e a programação

visitas da Néinha e do Nandinho: 11 de dezembro

completa estão em www.caixadeletras.com.br.

Mistura de oficinas gastronômicas, literárias e teatrais da Cia. Néia & Nando. Oficinas de confeitos e embalagens natalinas. Entre as receitas, docinhos de leite em pó, palha italiana, minipanetones e milk-shakes. A mamãe Noel é uma das convidadas para ajudar a confeitar os biscoitos de natal. Até 11 de dezembro, às 15h e às 17h, no Taguatinga Shopping. Entrada franca e livre. Telefone: 3344-2119.

Intimista, Breu tece misteriosa teia sobre não apenas aquilo que não podemos ver, mas sobre aquilo que não queremos enxergar. “É um espetáculo que conta muito com a cumplicidade do espectador porque a história ganha sentido a partir da percepção de cada um. É uma narrativa permeada de sensações”, avisa Kelzy Ecard.

Lúcio Flávio É jornalista especializado em Cultura


Banquetes e botecos } ilustração Humberto Freitas

cafecatura@gmail.com

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

Quer comer como em São Paulo? Vá ao La Tambouille

Ilustração feita com café e água em papel canson

12345 Agora em Brasília temos o La Tambouille, ícone da boa comida e da tradição paulistana, de linha franco-italiana. Infelizmente, o nosso não é como o original, que esbanja charme e sofisticação. O La Tambouille de Brasília fica na área nova do ParkShopping, no Espaço Gourmet. A sensação que tive quando cheguei a esse novo espaço foi de decepção. Os restaurantes são pequenos e com grande parte das mesas expostas, ou na própria área de circulação do shopping, como vitrines. Tem coisa pior do que sair para jantar e todo mundo que passa te ver? É uma praça de alimentação, só que com bons restaurantes, e isso não me agrada. Quando for ao La Tambouille, peça uma mesa dentro do restaurante e de preferência próxima a uma parede de samambaias que dá aconchego ao lugar. A parte interna é pequena, com um bar em que não é possível acomodar ninguém, pela proximidade das mesas. Mas é muito agradável. Voltando ao restaurante, seus pratos são assinados pelo renomado chef Giancarlo Bolla, um italiano de San Remo radicado no Brasil desde 1956 que passou por vários restaurantes, nos quais aprendeu a arte e o segredo da alta gastronomia. Hoje é sócio também do Grupo Leopoldo em São Paulo e é considerado um melhores restaurateurs do Brasil. Seu esmero na preparação dos pratos e sua capacidade de deixar os clientes extremamente à vontade é a marca desse grande profissional. Sua comida é delicada, sem grandes extravagâncias, e deixa qualquer um com água na boca. As misturas dos ingredientes de qualidade dão o tom perfeito para cada prato. O couvert é servido com pães quentinhos e azeites temperados com diferentes tipos de pimentas. De entrada temos várias opções, mas o carpaccio ao molho Dijon com cubinhos de queijo brie é ótimo. O duro é escolher o prato, tantas são as opções. Recomendo os camarões jumbo grelhados ao molho champagne brut com caviar. O único defeito é o preço! Ou o filé de robalo com molho de camarão, ou o tornedor de mignon grelhado no vinho Bordeaux com ravióli ao recheio de queijo brie, ou o salmão ou o risoto de frutos do mar... Lá, nada será um erro, tudo é maaaaravilhoso! As sobremesas são especiais, mas sinceramente desnecessárias, porque basta pedir um cafezinho que vem acompanhado de chocolates e bolachinhas com geleia de amora e pêssego. Para que mais? Não posso terminar sem mencionar o serviço. Delicadeza, elegância e simpatia são as palavras que o refletem. O La Tambouille de Brasília só peca pelo local, o resto faz jus à sua fama. Espaço Gourmet do ParkShopping Telefone: (61) 3047-5925 Das 13h às 15h e das 19h às 22h. Nos domingos, aberto apenas para o almoço, a partir das 13h


EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO

40.000 EXEMPLARES

Numa feliz coincidência, a Roteiro atinge a marca de 200 edições ao completar dez anos de circulação ininterrupta. Uma década inteira dedicada a garimpar para seus leitores o que de melhor se produz na cidade – na gastronomia, no cinema, no teatro, na literatura, nas artes plásticas, no turismo, no entretenimento em geral. Para comemorar, decidimos presentear os brasilienses, em dezembro, com uma edição muito especial, na qual vamos revisitar os principais assuntos e personagens que ocuparam as páginas da primeira Roteiro, de 29 de novembro de 2001. Melhor ainda: graças a uma parceria com o Grupo Alô de Comunicação, essa edição histórica terá tiragem recorde de 40.000 exemplares, devidamente atestada pela empresa de auditoria e consultoria Moore Stephens International.

Para anunciar, ligue 9988.5360 • Autorização: 01/12/2011• Circulação: 15/12/2011 • Material: 08/12/2011• Data de capa: Dezembro de 2011


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