A Lei das Licitações é rígida, mas permite todo tipo de fraude
+ A GUERRA É OUTRA O Brasil não precisa comprar caças para combater o tráfico
U N°
O que não deu certo no plano O projeto de Lucio Costa para Brasília é obra de gênio, mas em 51 anos a cidade cresceu, muita coisa mudou e há problemas que precisam ser resolvidos sem ferir o tombamento
2 Ano 1 | Maio 2011 | www.meiaum.com.br
+ HIPOCRISIA
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Niemeyer, Lucio, Israel, Burle, Athos, Ernesto... Sem eles, JK não construiria Brasília. Uma pessoa tem uma ideia brilhante. Mas é preciso uma boa equipe para executá-la.
WHD Comunicação, 11 anos Consultoria em comunicação e política Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia Produção de conteúdo para todos os meios Relações públicas
61 3468.1466 www.whd.com.br whd@whd.com.br Brasília - DF
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Papos da Cidade
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Fora do Plano
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Hipocrisia
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Artigo – Clodo Ferreira
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Capa
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ÍNDICE
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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília
Paola Lima analisa os bastidores da política local
A corrupção corre solta à sombra da rigorosa, mas burlada, Lei das Licitações
O público não sabe o poder que tem
Especialistas como Orlando Cariello (fot0) analisam o que deu errado no plano-piloto de Lucio Costa
Artigo – Juliana Santana
A W3 que Brasília merece
Perfil
Anderson Almeida (foto), o engraxate quase oficial da Câmara Legislativa
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Conto – João Pitella Junior Uma noite sem fim na Brasília dos anos 90
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Caixa-Preta
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Artigo – Alberto do Carmo
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Arte, Cultura e Lazer
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Banquetes e Botecos
A política nacional por Luiz Cláudio Cunha
Será que o Brasil precisa mesmo comprar aviões de caça?
Os destaques da programação da cidade
Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é
Na internet, nem tudo é o que parece ser. Acompanhe as atividades dos seus filhos na internet. Sites de jogos, redes sociais e comunidades podem esconder adultos que usam falsos perfis para aliciar crianças e adolescentes para a pornografia ou a violência sexual. Fique atento. Relacionamentos virtuais podem levar a problemas reais. Denúncias online: www.disque100.gov.br
Disque
DISQUE DENÚNCIA NACIONAL DE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
E mais...
pág. 22
Compositor e cantor de música popular brasileira, saiu do Piauí e veio para Brasília na década de 1960. Durante 20 anos dividiu a carreira musical com os irmãos Clésio e Climério. Hoje faz trabalho solo produtivo e continuado. Ao mesmo tempo, é professor de Comunicação na UnB, onde se doutorou em História Cultural. Dedica-se à música, à sala de aula e à convivência com a família e os amigos.
Tuco pág. 44
Arquivo pessoal
O nome é Hemilton Cunha. Pense num designer gráfico completo. Entende tudo de impressão, de papel, de fonte. Vive numa dimensão em que as cores não têm nomes, têm números. Não busca a beleza no design, ela tem de ser consequência de bom planejamento, método e talento, claro. Nunca leu nada de Peter Drucker, mas é fã do cara só por causa da frase “O design move o mundo”.
Nilson Carvalho
Clodo Ferreira
Nilson Carvalho
Nilson Carvalho
Pedro Ernesto pág. 8, Paola Lima págs. 13 e 36, Gougon págs. 13 e 43, Rafania Almeida pág. 14, Cícero Lopes pág. 14, Jéssica Paula pág. 24, Juliana Santana pág. 34, João Pitella Junior pág. 40, Rômulo Geraldino pág. 40, Luiz Cláudio Cunha pág. 43, Alberto do Carmo pág. 44, Priscila Praxedes pág. 46
Francisco Bronze pág. 34
Designer formado pela UnB e típico brasiliense que brincou muito embaixo do bloco e estudou em escola classe. Acredita na felicidade da sua cidade e sabe que sua profissão é de extrema importância para que isso seja possível. Trabalha principalmente com design gráfico e faz experimentalismos na cozinha para seus amigos, que considera cobaias.
Tem 35 anos, é ilustrador e diretor de arte. Alagoano, reside em Vila Velha, no Espírito Santo. Trabalha na agência de Propaganda Bistrô de Comunicação. Dono do blog cafecatura.blogspot.com, em que semanalmente publica suas pinturas feitas com café e água em papel canson, técnica usada para ilustrar a última página desta revista.
Nilson Carvalho
Humberto Freitas pág. 54
Paula Oliveira pág. 24
As aparências enganam. O sorriso é de menina e a voz é doce, mas você não sabe com quem está se metendo. Ela é repórter do tipo persistente, não deixa você em paz enquanto não consegue o que quer. Fica no pé da fonte até ter a matéria e perturba a produção por mais espaço. Com tanto charme, consegue o impossível. Tem uma identidade secreta especialmente para perder a linha no baile. Porque repórter também é gente.
Colaboradores
Carta dos editores
Quantas W3s você conhece?
A
W3 está em vários textos desta edição da meiaum. Não foi deliberado, não houve orientação para isso. Foi coincidência mesmo. Mas uma coincidência facilmente explicável: a meiaum é uma revista de Brasília, como o nome indica, e a W3 é sempre lembrada quando se fala da cidade. A meiaum é uma publicação plural, de vários autores. Então é natural que traga mais de uma visão da W3. Na reportagem de capa, Paula Oliveira mostra os problemas no plano-piloto de Lucio Costa, 55 anos depois de sua aprovação por um júri internacional. E a W3, que era para ser uma via com granjas de um lado e entrepostos do outro, é um desses problemas, claro. A arquiteta Juliana Santana apresenta propostas para melhorar a avenida e torná-la mais agradável. O jornalista
Chico Sant’Anna quer ver turistas circulando na W3. Já no conto de João Pitella Junior, as W3s – Norte e Sul – são quase personagens. Na meiaum, repórteres e colaboradores manifestam seus pontos de vista com a liberdade que muitos órgãos de imprensa apregoam, mas não levam à prática. Alguns leitores manifestaram estranheza com o conteúdo de alguns textos de nosso primeiro número, ou por os considerarem politicamente incorretos, ou por não verem correspondência entre o que pensamos e o que foi publicado. Outros imaginaram que, publicando, estaríamos de acordo com as teses de seus autores. Nós, editores, não estamos de acordo com tudo o que publicamos. Nem no conteúdo, nem na forma. Prezamos a diversidade, o pluralismo e a liberdade de nossos autores, de textos ou de imagens. A
meiaum não tem linha política ou ideológica, não é um veículo para disseminar nossas ideias. Até porque, em muitos aspectos, nossas ideias não coincidem e são até antagônicas. Nesta edição, porém, temos plena concordância quanto à tese central da reportagem de Rafania Almeida: a rígida lei que existe para evitar a corrupção nas concorrências promovidas pelo Estado vem sendo violada cotidianamente, em benefício de empresários, autoridades e servidores públicos que ganham muito dinheiro à custa de todos nós, contribuintes. Nosso objetivo é fazer bom jornalismo e abrir espaço para textos e imagens inteligentes. Sem sermos pretensiosos, estamos conseguindo fazer isso. Anna Halley e Hélio Doyle
( ) MEIA
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(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM – www.meiaum.com.br Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Diretora de Produção: Danielly Alonso Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Revisão: BIANCA STUCKY Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br | facebook Acompanhe nosso perfil | | twitter Siga @revistameiaum |
ISSN 2236-2274
CAPA | Por Cícero Lopes
Diretores: Anna Halley, Danielly Alonso e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br
Desenho finalizado em aquarela Jornalista ilustrador, começou a desenhar profissionalmente aos 12 anos. É editor de infografia do Jornal de Brasília e empresário.
Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto
O ronco da motosserra Ela dormia profundamente quando foi acordada pelo barulho de motosserra dilacerando algo, talvez alguém. Não! Ela não estava vivenciando uma cena sangrenta de Jason em Sexta-Feira 13. Eram as árvores de sua superquadra sendo meticulosamente destruídas por funcionários da Novacap. Essa cena não só poderia acontecer como aconteceu na vida de várias pessoas em Brasília. Ano após ano vemos carros destruídos por árvores mal colocadas, velhas ou ocas, redes de esgoto de prédios ameaçadas pelas raízes profundas de espécies que nem naturais do cerrado são. Fico me perguntando se vale a pena me gabar por morar em uma das cidades mais arborizadas do mundo, se vivemos em um plano de
maquete, onde tudo fica lindo visto do alto, mas na prática o significado é outro. Há dois anos morando na 312 Norte, sou acordada na madrugada ou pela manhã por bombeiros ou pela Novacap tentando salvar carros. Ainda bem que só vi isso acontecendo com carros, e não com pessoas. Poderia ser você, poderia ser eu descendo do carro, atingido por um galho de 12 quilos. Amo a natureza, mas cadê que alguém consegue me provar os benefícios desse plantio de árvores inadaptáveis ao cerrado? Quem em sã consciência planta uma árvore que não suporta nosso clima e fica oca em poucos anos, sem força para se sustentar? Fico triste, pois agora meu carro não desfrutará mais a sombra de uma árvore, as crianças não poderão brincar de pique. Terei de me contentar com o asfalto irregular do estacionamento, com as raízes que ainda estão ali, e com os cotocos deixados pela Novacap – porque fazer serviço benfeito, plantar árvores realmente necessárias, ou limpar sem deixar vestígios dos corpos ali dilacerados pela motosserra não é a melhor característica dos funcionários da casa. Alice Yucatán
Delírios em Nilópolis Um restaurante em Nilópolis. Noite de 19 de outubro de 2009. Na cabeceira da mesa, o capo da Beija-Flor, Anísio Abrahão Davi, fazia as honras da casa aos convidados ilustres: um ministro de Estado, deputados distritais, empresários, secretários de Estado e outros integrantes do primeiro escalão do GDF, alguns acompanhados de suas esposas, um poderoso produtor de eventos, jornalistas, carnavalescos. Logo mais seria escolhido o samba-enredo da escola para o Carnaval de 2010, em homenagem aos 50 anos de Brasília. Na ponta da mesa, a esposa de um importante político de Brasília, de tradicional e histórica
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família, conversava com uma jornalista e o produtor sobre os artistas internacionais preferidos para o show dos 50 anos. – Eu quero o Black Eyed Peas – sonhava a esposa do político. – Muito caro – ponderava o produtor. – Então pode ser a Beyoncé – insistia a esposa. – Vixe, mais caro ainda. Você tem US$ 250 mil pra pagar? – retrucava o produtor. – Isso a gente dá um jeito – admitia, decidida, a esposa. – Quem sabe o Paul Mc Cartney, imaginava. – Esse é muito difícil, tem de ver a agenda dele – alertava o produtor. – Semana que vem tem reunião da comissão, eles não resolvem nada, eu faço parte, mas nunca fui. Dessa vez eu vou pra resolver isso. Vai ser quem eu quiser – sentenciava a esposa, olhando para o marido poderoso, que fingia não escutar. – Senhora, aqui está a sua margarita – interrompia o garçom, com o drink na bandeja. – Margarita? Quem pediu isso? Eu pedi uma pizza marguerita – respondeu, desolada, a moçoila. – Estou morrendo de fome – arrematou. Enquanto isso, os demais comensais já haviam terminado o bacalhau. A final do samba estava para começar, mas ninguém ousou sair da mesa antes que a pizza marguerita da moça fosse servida. O fim da história todo mundo sabe. Semanas depois estourava a Operação Caixa de Pandora, o aniversário de 50 anos de Brasília era um fracasso e a Beija-Flor perdia o Carnaval de 2010. Moacyr Oliveira Filho
Faz um (meiaum) Eu nasci e cresci no longínquo (51). Tudo ia bem, quando uma tragédia me levou para o (16), onde não me adaptei. Passei pelo (12), para estacionar no (11). Foi legal, muito
legal. Diria até ousado. Mas resolvi voltar uns DDDs e tentar mais uma vez. Estabilizei-me no, já citado, (16). Lá me formei e trabalhei muito. Lecionei, revisei e criei. Dei início à trajetória de minha carreira profissional e continuidade à minha vida pessoal. Esta nunca para, mesmo quando a gente se questiona sobre sua calmaria, ela continua. Os anos se passaram e eu surtei. Pensei em acrescentar o (+55). Porém, o que resolvi mesmo e literalmente foi inverter o (16). Junto, toda uma estabilidade. Não porque estivesse ruim, mas porque é necessário enlouquecer de vez em quando. Dá mais graça à vida. Vim parar no (61). Aqui a vida me testou. Cheguei a questionar a loucura e exercitar a depressão. Cheguei, inclusive, a pensar em desinverter a situação. Afinal, o que não era ruim ficou péssimo. Acabei por deixar o tempo passar e aceitar o novo. As ideias se assentaram e resolvi ficar. Finquei meu pé no (61). E não é que vi nascer a (meiaum). Esta revista tem uma proposta que vai ao encontro de tudo do que senti falta desde que me estabeleci por essas bandas. Ela abre espaço a quem tem o que dizer e quer opinar, mas não tinha onde registrar. Ela vende, mas não se vende. Ela debate, discute e escuta. Ela faz perguntas, vai atrás de respostas e tem ligação com a verdade. Posso estar enganada, mas algo me diz que estou no DDD, ops, caminho certo. Bianca Stucky
Caos na saúde privada Que a saúde pública de Brasília e do Brasil não presta todos sabem. Jornais não cansam de mostrar o descaso, a irresponsabilidade, a falta de medicamentos, a péssima estrutura. O que nunca vi foi a denúncia do pouco caso no atendimento particular. Neste ano precisei usar duas vezes a emergência de hospital privado. Cada uma me tomou pelo menos quatro horas. Isso porque tenho
preferência, por estar grávida. A sensação foi de pagar caro pelo convênio e de ser atendida por pessoas insatisfeitas com o trabalho. Começa na recepção, para fazer a ficha. É necessário pegar senha e aguardar a boa vontade da equipe. Enquanto todas as cadeiras na espera estão ocupadas, nos guichês a história é outra. Duas pessoas atendendo, numa estrutura que comporta o dobro. Depois, outra senha para a triagem, que vai dizer se o risco é grave, médio ou zero. Esse procedimento só diminui o tempo que você estaria no consultório e aumenta a impaciência e a espera para a real consulta. Na triagem, imprimem outra senha para o atendimento médico. Pode esperar pelo menos mais 40 minutos. Depois da consulta, precisei de medicação. Mais uma senha e mais espera para a autorização do convênio. Após aprovado o procedimento, fui para a sala de medicações. Chegaram outras pessoas que não sei por que foram medicadas antes e não pareciam ter urgência nem preferência como eu (grávida de nove meses). Quando o soro acabou, meu marido avisou o enfermeiro que me atendeu. O enfermeiro sinalizou que já vinha e foi conversar com outros ali, na porta da sala. Passados 20 minutos, sem a boa vontade do caro enfermeiro que nem olhava para os pacientes, chamamos outra profissional. Ela me liberou para o retorno ao consultório, agora sem senha. Fiquei cinco horas no hospital. Apenas metade do tempo em atendimento. Sei que hospitais e médicos sofrem com o não repasse dos convênios, mas que culpa temos eu e os outros que passam mal? Somos tão destratados quanto na rede pública. A diferença está só nas horas de espera, na estrutura e nos medicamentos à disposição (se o convênio liberar, claro). Danielly Alonso
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A Galinha Pintadinha Da primeira vez, ele não prestou muita atenção. Aos poucos, batia palmas e, em pouco tempo, se recusava a sair do carro se a viagem fosse mais curta que o vídeo. Na tela, a Galinha Pintadinha. Figura meio esquisita, gordinha, de penas azuis e olhos grandes com rímel. A personagem – que lá em casa ganhou o codinome “penosa” para que a simples menção do título não obrigue mais uma exibição do DVD – está revolucionando a cultura infantil brasileira. Como um dia foi o Sítio ou o Balão Mágico. Meninos e meninas dançam, cantam e aplaudem a nova roupagem de clássicos como Alecrim Dourado e Sapo-Cururu. Claro que a repaginada hoje pede o viés politicamente correto: “Não atire o pau no gato-to, porque isso-so não se faz, faz, faz; o gatinho-nho é nosso amigo-go, não devemos maltratar os animais”. Mas traz embutidas mensagens tão antigas quanto a sombrinha da minha bisavó: “A mulher do sapo deve estar lá dentro fazendo rendinha, ô maninha, para o casamento”. Ou: “Pombinha branca, o que estás fazendo? Lavando roupa para o casamento, vou me lavar, vou me trocar, vou à janela para namorar”. A trilha sonora faz qualquer adulto dormir ouvindo que um elefante incomoda muita gente. Meu marido, que antes cantarolava U2, hoje diz quantos indiozinhos estavam na canoa quando o jacaré se aproximou. Dia desses, a apresentação de um grupo cover no Terraço Shopping provocou telefonemas em série de mães que queriam avisar outras a tempo. Os criadores da Galinha Pintadinha, fico imaginando, são pessoas comuns, que param para almoçar e não veem a hora de levar a namorada ao cinema. Mas não deveriam. Escolheram uma missão muito além da vida pessoal. Há milhões de mães e de crianças neste país
dependentes do seu produto, aguardando com desespero a terceira produção da Galinha. Gente mentalmente abalada por uma trilha que toca dia e noite e que precisa de novos clipes. Afinal, o que fizeram da Ciranda, Cirandinha; da Dona Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha (esta também procura marido); e do Pato Pateta? Enquanto houver uma cantiga fora do repertório, teremos esperança de uma nova aparição da Pintadinha... Milena Galdino
Turismo para engravatados O guia de turismo Routard, o mais importante em francês, é categórico: “Brasília é uma cidade para turistas engravatados”. Ele não recomenda a cidade aos turistas normais. Diz que o transporte público é caro, ineficiente e complicado, que os hotéis custam muito e que, para se locomover, só de táxi. Essas recomendações espelham bem a imagem externa de Brasília e mostram como a cidade está despreparada para o turismo internacional. O tão cantado turismo ecológico do Entorno não oferece ao estrangeiro estruturas de deslocamento. Só agora, depois de 51 anos de existência, ônibus executivos, do tipo “frescão”, vão interligar o aeroporto ao centro da cidade. Já chegam com defeito: não estarão interligados ao metrô, nem haverá linhas para as principais cidades-satélites. O DF também não tem hotéis econômicos. Ou são as pousadas proibidas da W3 ou as diárias astronômicas dos Setores Hoteleiros. Um sistema do tipo bed & breakfast, comum em todo o Hemisfério Norte, poderia ser a solução de renda para os donos das pousadas clandestinas e opção para jovens turistas e aqueles que não têm a carteira tão recheada. Cidades como o Núcleo Bandeirante poderiam ser incentivadas a ter uma rede
hoteleira. Assim o NB, que já foi o ponto de acolhida dos pioneiros – quem não se lembra do antigo Hotel Rio de Janeiro, na Avenida Dom Bosco? –, pode vir a ser a base para um turismo classe média. Mas nosso calcanhar de aquiles é mesmo o transporte. Sem interligação, bilhete único e ônibus seguros, pontuais e confortáveis, continuaremos a ser a cidade do turista engravatado. Europeu, por exemplo, gosta de caminhadas, bicicletadas. Bem que poderíamos ter na Esplanada dos Ministérios uma ciclovia com bicicletas e bicicletários públicos. Bom para o turismo, bom para os servidores que não têm onde estacionar, bom para a saúde e o meio ambiente. A Copa do Mundo está chegando. Soluções simples podem ser adotadas desde já. Basta iniciativa e competência. Brasília não pode perder a oportunidade de se firmar no turismo internacional. Chico Sant’Anna
Ser jornalista dá trabalho Duas datas comemorativas: 7 de abril, Dia do Jornalista; e 1º de maio, do Trabalho. Interessante esquina para fazer uma parada e refletir sobre essa categoria, enquanto aguardamos a tramitação de duas PECs que restituem a exigência de diploma para o exercício da profissão, a do deputado Paulo Pimenta e a do senador Antonio Carlos Valadares. Sairá, portanto, de Brasília, onde há quase um profissional a cada metro quadrado, a decisão acerca da questão. Está também em jogo o futuro de uma multidão de estudantes, que, mesmo após a decisão precipitada do STF de cassar o diploma, ainda anseia pelo canudo e pela oportunidade de ingressar num posto de trabalho. O que dizer a esses jovens? Que desistam de seus ideais porque qualquer um pode exercer seu ofício, e que nada valeram
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as lições voltadas para o aprendizado da ética e da competência na profissão? O jornalismo é um dos sustentáculos da democracia e da cidadania, por ter como missão levar à sociedade informações de interesse público. Na universidade, há uma proveitosa vida extra-acadêmica: os debates nos corredores (e nas mesas de bar), a formação políticocidadã nos grêmios estudantis, os namoros, as novas amizades e um universo intelectual e social que se abre ao estudante, momentos que figuram entre as melhores fases da vida e definem em grande parte o ser humano e o profissional que chegará ao mercado. Embora pareça ultrapassado listar esses conceitos no momento em que vivemos, em pleno império da era digital, se faz necessário
recordar os princípios formadores do jornalismo, a fim de facilitar o indispensável trabalho de depuração da informação que nos é ofertada nas redes sociais e na internet. Depurar o luxo do lixo informativo é tarefa para jornalistas profissionais. E ainda não apareceu espaço formador mais adequado para qualificá-los do que a universidade. Ser jornalista não é só uma questão de vocação. Ser jornalista dá trabalho. Kátia Morais
Irritante juventude brasiliense Aos quase 30, pergunto-me aonde vai parar a nossa juventude. Cada vez que vejo roupas e atitudes, ouço conversas e observo o
comportamento de adolescentes pelas ruas e eventos que tentei frequentar, me convenço de que eles estão perdidos. Viver nos anos 80 me deixou mais velha e chata? Talvez sim. Tem sido mais insuportável sair de casa e conviver com aqueles que parecem não se importar com o que se passa à sua volta e vivem na bolha do universo emo colorido. Preconceito? Talvez. Mas a juventude sem ideais me desespera. E o pior é que o mundo está se adaptando a ela. Não há mais espaço para os (quase) balzacos. Para começar, trabalho a semana inteira e a programação da cidade resolve tirar folga nos fins de semana. Ou será que por estar na categoria de quase 30 sou obrigada a frequentar apenas os programas eruditos como livraria, cinema e
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teatro? E se eu não quiser ler um bom livro e estiver com vontade de dançar até não sentir mais meus joelhos (o que não leva mais tantas horas, confesso)? A tarefa de procurar o que fazer no fim de semana tem se tornado difícil nessa Brasília comercial, onde as festinhas a que eu pensaria em ir só acontecem na segunda, na terça, na quinta, voltadas para a “galerinha” de 16 a 22 anos. Até comer fora de casa é difícil, em um sábado, após a meia-noite. A ressaca não me é um benefício semanal. Já não me recupero tão facilmente como aos 20. E o pior, se cada vez que sair de casa tiver de ouvir as perguntas “Em que colégio você estuda? Ah! É jornalista? Tá fazendo faculdade onde?” desistirei mil vezes. Cadê o Juizado de Menores nessas horas? Não que as referências ao jovem rosto que essas perguntas fazem não me agradem, mas por incompatibilidade de pensamentos, vontades e idade. É impossível se sentir à vontade assim. Desculpem! Não finjo ter 18 anos, como boa parte da minha geração brasiliense acredita ter. Eu também teria o direito de ter um mundo adaptado a mim. Recuso-me a me adaptar a este. Onde fica minha liberdade de diversão, Brasília? Rachel Weber
Noroeste uma ova, eu vou pra Miami Outro dia, em um churrasco tipicamente brasiliense – pouca comida, muita bebida –, um amigo contava que certa pessoa próxima a ele compra imóveis para investir e garantia que, em Manhattan (Nova York, EUA), o metro quadrado custa menos do que em Brasília. Abri na hora o navegador do celular e encontrei um apartamento de dois quartos por US$ 369 mil, o equivalente a R$ 590 mil. Isso para viver logo ali, vizinho do Central Park e da Broadway. Com R$ 590
mil, convenhamos, o máximo que o cidadão compra em Brasília é um apartamento em Águas Claras, na planta, para ser entregue daqui a dois anos. Por curiosidade, procurei um imóvel no Noroeste. Tá, eu apelei. Para aliviar o susto, selecionei a opção de busca “ordenar por preço (menor a maior)”. A primeira ocorrência foi um modesto apartamento de dois quartos, à venda por nada menos que R$ 760 mil. O mais caro chegava a R$ 1,70 milhão. Isso sem o privilégio de ter vista para o mar ou proximidade de um grande centro comercial, por exemplo. Donos de construtoras e imobiliárias – inclusive o ex-vice governador do DF, Paulo Octávio, que não tira nunca mais o sorriso do rosto – justificam os R$ 8 mil do m² alegando que o Noroeste é o primeiro bairro ecológico do Brasil. Ah, claro, porque todos os prédios têm de utilizar energia solar, reaproveitar a água da chuva e realizar coleta seletiva, enquanto cerca de 70% do último remanescente de cerrado virgem na área tombada é destruído. Lucio Costa deve estar se revirando no túmulo. Embora tenha previsto a expansão, com certeza jamais imaginou que seu projeto de quadras econômicas (pilotis e três pavimentos) daria lugar a um espaço abarrotado de empreendimentos luxuosos. Para completar minha saga imobiliária, e porque gosto mesmo de sofrer, fiz o tirateima. Em Aventura, Miami, a menos de 5 minutos da praia e a míseros 10 km de Miami Beach, encontrei um dois quartos à venda na internet por menos ainda do que em Manhattan: US$ 125 mil (R$ 200 mil). Não sei se é para rir ou chorar. Só sei que, com R$ 200 mil, não se compra nem uma quitinete aqui. Maldita especulação imobiliária. Tio Sam, here I go. Caroline Vilhena
Nem pense em sair da faixa!
Quando a primeira edição da meiaum circulou, encheram a minha paciência porque o texto que publiquei nesta seção não tratava diretamente sobre a cidade. “Papos da Cidade têm de ser sobre a cidade, pô.” Não concordo, mas só para não dizerem que sou sempre do contra, escrevo desta vez sobre a cidade. Escrevo sobre a cidade das faixas, aquela que caga para quem anda. Tira onda por todo o País dizendo que respeita o pedestre, coisa e tal. Não é mentira, mas só quando o cara está atravessando a rua. Fora das vias, ele é que se vire. Na cidade das faixas de pedestre falta um detalhezinho para que ele seja mesmo respeitado: calçadas decentes. Nas tradicionais superquadras, quem nunca tropeçou ou quase fez o bebê voar quando o carrinho enganchou em uma daquelas rachaduras inconvenientes das calçadas? Em outros pontos do Plano Piloto, elas começam, mas não terminam. Coisa mais esquisita. Na 912 Norte, as crianças que estudam na escola pública têm de praticar equilibrismo no meio-fio para não chegar à aula com o uniforme cor de barro do cerrado. O pipoqueiro que faz ponto em frente à faculdade ali perto, coitado, vai pelo cantinho da rua para se proteger dos carros. São muitos os pontos que carecem de calçada. O pedestre já está tão acostumado a não contar com elas que aproveita para fazer uma das atividades de que o brasiliense mais gosta: trilha. É o que mais tem nos canteiros que dividem as ruas da nossa cidade. Não tem graça. Estão achando que eu sou palhaça? Não quero ficar caminhando em volta de um parque, uma quadra, para não chegar a lugar nenhum. Quero andar pela cidade, ora bolas. É uma gastança interminável com as vias, mas, para as calçadas, estão cagando e andando. Anna Halley
Fora do Plano por PAOLA LIMA
Será que eles conseguem? No primeiro semestre de 2009, os deputados distritais encomendaram ao Instituto Exata pesquisa sobre a imagem da Câmara Legislativa. O resultado foi duro – 44,4% dos entrevistados consideravam negativa a atuação da Casa, contra 43% que a viam como positiva. Já 53% não sabiam o que faz um distrital. Diante da descrença generalizada, os parlamentares decidiram elaborar medidas para tentar reverter esse quadro. Trabalho em vão. No semestre seguinte, antes que a maioria das propostas fosse implementada, o escândalo da Operação Caixa de Pandora terminou de enterrar a imagem da Câmara Legislativa. Diversos deputados foram acusados de corrupção, dois renunciaram (entre eles o então presidente da Casa), um foi preso, uma foi cassada. Não tiveram coragem de repetir a pesquisa. Se repetiram, esconderam a sete chaves o resultado. Em 2011, nova legislatura, novo governo, novo caminho. Um grupo retomou o movimento de recuperação da imagem. A campanha, liderada pelo presidente, deputado Patrício (PT), é realista. Eles sabem que não dá para empunhar a bandeira da moralização – sob o risco de, ali na frente, algum colega respingá-la de lama e jogar por terra todo o trabalho. Mudaram de tática. Querem, ao menos, fazer com que a Câmara Legislativa se torne útil à população. O presidente Patrício tenta criar um sentimento de pertencimento do povo com relação à Casa.
Aberta ao público Um caminho é o investimento em audiências públicas e comissões gerais sobre temas de relevância para a população. Os debates têm repercutido mais do que qualquer projeto aprovado (e foram poucos este ano). O outro é o aproveitamento do prédio da nova sede, mais moderno e amplo que o anterior. O lançamento formal da campanha de reaproximação da população foi marcado para a véspera do aniversário de Brasília, com a abertura da exposição Brasília – meio século da capital do Brasil. A mostra fica na Casa até 3 de julho e já traz uma marca histórica – pela primeira vez, o Legislati-
vo do Distrito Federal ficará aberto nos fins de semana para o público. Haverá também parceria com escolas para que alunos visitem a exposição (e a própria Câmara, em consequência) e a possibilidade de aluguel do auditório da nova sede para eventos particulares, como formaturas e congressos.
Velhos hábitos Os distritais sabem, no entanto, que a missão de melhorar a imagem do Legislativo local junto aos eleitores é quase impossível. Principalmente quando a Casa vive sua própria contradição. Há poucos dias, a Mesa Diretora encaminhou à Corregedoria representação contra o deputado Benedito
Domingos (PP). O distrital tem sido alvo de denúncias por supostas irregularidades em sua gestão à frente da Administração de Taguatinga na legislatura passada e terá de se explicar à população. Das explicações em um processo interno, porém, ficaram livres três parlamentares. Sob o argumento da falta de provas (e de que as denúncias teriam conotação política), a Mesa Diretora arquivou representações contra Celina Leão, Chico Leite e Chico Vigilante, acusados de irregularidades diversas. Mais uma vez a Casa perdeu a oportunidade de se mostrar isenta ao público ao preferir não investigar, ainda que o resultado fosse pela inocência dos parlamentares.
hipocrisia
Cuidado:
esta página A tinta falhou e esta reportagem pode desmoronar a qualquer momento. Assim seria se a meiaum seguisse o exemplo de alguns gestores nas compras e nos contratos públicos. A Lei das Licitações, que deveria assegurar o bom uso dos recursos, está sendo burlada agora, em algum lugar do Brasil Texto Rafania Almeida Ilustrações CÍCERO LOPES
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odos os funcionários conhecem uma figura muito popular nos órgãos públicos: o café comprado por licitação. É tão ruim que muitos servidores levam de casa o pó para fazer um cafezinho melhor. O “café de repartição” ilustra bem uma das maiores hipocrisias cultivadas no Brasil: as licitações públicas. O que acontece com o café é a mesma coisa, guardadas as proporções, que acontece com obras de pequeno e grande porte, serviços de informática e de comunicação, consultorias e cursos, compras de clipes, canetas, papel higiênico, máquinas e equipamentos pesados. Enfim, com tudo o que compram os Três Poderes da República, nos níveis municipal, estadual, distrital e federal. A Lei 8.666, de 1993, estabelece normas rígidas para essas compras – que devem ser feitas por concorrências públicas – e tem objetivos muito nobres. Mas é burlada todos os dias, a cada minuto, em Brasília e em todo o País. As fraudes contra a 8.666 são responsáveis pela maior parcela da corrupção que grassa no Brasil. É fácil entender, a partir do exemplo do cafezinho. A Lei 8.666 define uma série de exigências para que os fabricantes de pó de café possam vender seus produtos a órgãos públicos. Têm de apresentar inúmeros documentos e certidões, mostrar qualificações técnicas e empresariais, comprovar idoneidade. São determinadas, em edital, as especificações do pó de café que se quer comprar, e os fabricantes têm de provar que são capazes de oferecer o produto exigido. As empresas qualificadas apresentam, então, suas propostas de preço. As comissões encarregadas de realizar a licitação recebem as propostas em envelopes lacrados, abertos na presença de representantes de todos os concorrentes. Ou é realizado um pregão eletrônico. Ganha o fabricante que oferece pelo menor preço o produto especificado, e aí o contrato é assinado. Tudo perfeito, de acordo com a Lei 8.666. Se o café adquirido por esse sistema é ruim, é porque não foi exigido pelos compradores produto de melhor qualidade, ou porque a especificação pedida era baixa, para o preço ser menor. De qualquer maneira, o dinheiro público está sendo economizado. Só que não é bem assim, pelo menos na maioria das vezes. O café é ruim porque a Lei 8.666, apesar das boas intenções e das exigências, não impede as fraudes e os roubos. A Polícia Federal, o Ministério Público e os tribunais de contas têm demonstrado isso com frequência, realizando operações, abrindo investigações, promovendo auditorias, processando responsáveis. Punidos, no entanto, são poucos.
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istração “...A Admin prir as m u c s e d e não pod ões do iç d n o c e s norma se acha l a u q o a l, edita lada.... “ u c in v e t n estritame
Como burlar Continuamos com o café, apenas como exemplo. Várias fraudes podem ocorrer nesse processo aparentemente tão correto: – Ao elaborar o edital, convocando as empresas interessadas, o órgão impõe exigências descabidas ou desnecessárias que restringem o número de concorrentes. Assim, uma ou algumas empresas são beneficiadas. – As empresas formam um cartel que divide os contratos entre elas, alternando as vencedoras e aumentando coletivamente os preços. Em alguns lugares, isso se chama de “combinemos”, em outros de “mesa”. Os “concorrentes” estabelecem que preços vão apresentar – sempre jogando os valores para cima – e eles mesmos decidem quem vai ganhar a licitação.
– Alguém da comissão de licitação viola os envelopes lacrados, por meio de técnicas plenamente conhecidas, e avisa à empresa que deve ganhar para abaixar seu preço e enviar outro envelope. Isso é mais raro, mas acontece. – Para verificar se as especificações estão sendo cumpridas pela empresa vencedora da licitação, é preciso que haja fiscalização constante do comprador. Se não há, o fabricante pode alterar a mistura do pó de café, aumentando as impurezas, e assim melhora seu ganho com o contrato. Ou não entrega a quantidade de café contratada. Pode não haver fiscalização por vários motivos: falta de pessoal para isso, desinteresse dos gestores do contrato e corrupção de funcionários encarregados de determiná-la ou realizá-la.
– A licitação foi realizada, o contrato foi assinado. Mas há cláusulas que permitem sua rescisão ou a não prorrogação por várias razões. A decisão é dos gestores do órgão, ou do contrato, ou do setor de compras. Então, o vendedor procura suborná-los para que nada disso aconteça. Ter o contrato rescindido ou não tê-lo prorrogado vai dar prejuízos ao vendedor do café. Se ele prevê isso, compensa ou pelo superfaturamento ou pela entrega de um produto de pior qualidade ou em menor quantidade. Eis porque servidores públicos, de modo geral, abominam o café de licitação. Roubos e trapaças O café é só um exemplo. Essa modalidade usada na compra do café é chamada de “me-
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6 7 o artig o nistraçã i m d A ou em “... A o d o t o ,n rejeitará , serviço ou bra utado c parte, o e x e o ment forneci com o o d r o c a em des o....” contrat
nor preço”. Mas há outras e todas podem ser ainda mais facilmente fraudadas. É esse processo de trapaças, cartas marcadas e jogos de poder que explica as denúncias de superfaturamento, desvio de verbas, obras malfeitas ou paralisadas, equipamentos defeituosos, serviços mal prestados. Quando há fraudes, muitos ganham: empresários e executivos que vendem produtos e serviços, servidores públicos coniventes, autoridades corruptas. Cada um recebe o seu quinhão. Esse é o cenário que coloca em xeque a Lei 8.666. Diariamente, essa legislação é rasgada diante dos olhos dos brasileiros. Mas poucos percebem o que realmente acontece por trás de editais, comissões de licitação e contratos que causam grandes perdas de dinheiro público.
Enquanto a população lamenta a falta de escolas e unidades de saúde, o dinheiro público é transformado em uísque, festas, casas luxuosas e viagens internacionais, entre outras destinações. E, enquanto muitos ganham com o desvio do dinheiro público fraudando a lei, o País tem 1,4 milhão de analfabetos e pouco mais de 55 mil estabelecimentos públicos de saúde para atender uma população de quase 200 milhões de pessoas, de acordo com dados do Censo 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um estudo sobre corrupção feito há dois anos pela Fundação Getulio Vargas revelou que R$ 613 milhões foram desviados da saúde e R$ 479 milhões da educação em apenas quatro anos, de 2003 a 2007. De acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU), os
prejuízos são incalculáveis e irreparáveis. “Não podemos estimar a perda para milhares de crianças que ficaram sem estudar por falta de escola ou de estrutura nas existentes”, lamenta o secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da CGU, Mario Vinícius Claussen Spinelli. “Eles poderiam estudar e gerar riquezas e mão de obra para o País futuramente”, diz. Spinelli lembra casos absurdos, como o das crianças de uma escola no Amazonas que ficavam sem merenda na sexta-feira porque o dinheiro era desviado pela empresa detentora do contrato. Há o de uma escola em Alagoas onde o dinheiro destinado ao lanche dos alunos ia para despesas pessoais de servidores. Um exemplo clássico é o hospital de Santo Antônio do Descoberto, cidade goiana
18 MANUAL DA FRAUDE Existem várias formas de fraudar uma licitação, dependendo da modalidade da concorrência. “É feito de tudo para burlar a lei”, atesta o secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da Controladoria-Geral da União (CGU), Mario Vinícius Claussen Spinelli. Veja algumas maneiras: Dispensa de licitação – Para compras de até R$ 8 mil e obras de até R$ 15 mil. Muitas vezes o mesmo produto ou serviço é comprado de empresas diferentes, mas em acordo, para dispensar a licitação. Ou seja, a compra é fracionada em contratos de pequeno valor. Carta-convite – Essa modalidade existe para compras de menor valor. São convidadas pelo menos três empresas para participar de um processo licitatório por menor preço, sem divulgá-lo, quando o valor da compra não supera R$ 80 mil (ou R$ 150 mil para obras). Na maioria das vezes é um jogo de cartas marcadas, pois antes mesmo de os concorrentes entregarem as propostas já se sabe quem será o vencedor. Geralmente, o que será vencedor é que pede as propostas das demais, chamadas de “coberturas”. “Essa modalidade é terrível, precisa ser eliminada ou revista”, avalia Spinelli. Pregão eletrônico – É feito pela internet. Cada concorrente fica em seu escritório e os lances pelo computador são recebidos por um pregoeiro que eles não veem. A rigor, não teria como ser fraudado, pois é como um leilão ao inverso, em que os concorrentes vão baixando os preços. O que pode acontecer, conta Spinelli, é que um participante, chamado de “coelho”, entra só para baixar o preço ao máximo. Ele vence, mas não assina o contrato alegando alguma razão. Aí é chamado o segundo colocado, que apresentou preço bem maior do que o vencedor com quem estava combinado. Outra maneira de burlar a lei é o pregoeiro, ilicitamente, determinar o fim do pregão quando o menor preço é da empresa que deve ser a vencedora. O processo correto é avisar os concorrentes do início de um período de 30 minutos em que o pregão pode acabar a qualquer momento, aleatoriamente, sem interferência humana. Mas,
pelo próprio programa de computador, o pregoeiro, ilicitamente, determina o fim do pregão quando o menor preço é da empresa que deve ser a vencedora. Técnica e preço – Nem todos os serviços podem ser contratados apenas com base no preço, como nos diversos processos de tomadas de custo. Um trabalho intelectual, por exemplo, não pode ser medido pelo menor valor, é preciso considerar a técnica do concorrente. Por isso há a modalidade em que há ponderação entre a melhor técnica e o menor preço. O problema é que o julgamento da técnica é subjetivo, podendo haver combinação entre os julgadores. Spinelli diz que devem ser utilizados critérios mais objetivos e que os subjetivos podem provocar a suspensão do processo ou levantar suspeita de fraude. “Teve prefeitura que rodou a publicidade de uma licitação em um único exemplar de jornal, só para anexar ao processo, e os órgãos fiscalizadores não identificarem a fraude de beneficiamento de uma empresa por falta de concorrência”, conta Spinelli. Concurso – O julgamento, feito por uma comissão ou conselho, dá notas a diversos itens. Como a avaliação é subjetiva, os julgadores podem combinar o resultado. “O projeto não vem com nome ou logo do concorrente, mas pode vir com alguma marcação, que fará o conselho saber qual é o projeto e dá-lo como vitorioso”, diz Spinelli. Inexigibilidade – Essa modalidade é utilizada quando um concorrente é considerado o único fornecedor do produto ou serviço ou detentor de qualidades que o diferenciam ou superam a de qualquer outro (notório saber). Não há concorrência, pois a escolha do contratado é justificada pela sua exclusividade ou alta qualificação. Essa modalidade é utilizada também para a contratação de artistas. Uma maneira de fraudar é determinar qualificações de menor importância, mas que garantam a exclusividade do escolhido. Outro problema maior é que o detentor do notório saber cobra o preço que quer e como a contratação é direta, muitas vezes quem licita exige “devolução”. Assim, o valor da compra embute o retorno de um percentual ao contratante. A inexigibilidade é utilizada também para contratar organizações sem fins lucrativos que acabam contratando, sem licitação, empresas que prestem os serviços.
19 vizinha a Brasília, cuja obra se arrasta por dez anos. A construção tinha custo previsto em contrato de R$ 26 milhões e hoje já está em R$ 41 milhões. Sob a suspeita de irregularidades e alterações no projeto inicial, a prefeitura terá de devolver mais de R$ 1,4 milhão para a União, enquanto espera mais um convênio de R$ 8,2 milhões para que o hospital seja concluído.
A 8.666 é rasgada diante dos olhos dos brasileiros. Mas poucos percebem o que realmente acontece por trás de editais, comissões de licitação e contratos que causam grandes perdas de dinheiro público.
A lei não é o problema A Lei 8.666 diz que “obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei” (artigo 2º). O artigo 3º determina que “a licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instru-
mento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos”. Bonito de ler, mas não é essa a prática do serviço público e dos políticos em seu comando. Especialistas, autoridades e bons entendedores de legislação reconhecem que a 8.666 não é perfeita, mas afirmam que o problema não está na lei. Está na carência de fiscalização, na falta de controle, no despreparo dos servidores. Resumindo, nas pessoas. “Está claro que quando há a fraude, há má-fé”, esclarece o procurador Demóstenes Tres Albuquerque, do Ministério Público do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). Um dos maiores problemas encontrados nas licitações, segundo o procurador, é a falta de planejamento. “Não é dado o devido cuidado, principalmente nas licitações de obras, à elaboração do projeto básico”, explica. A falta de planejamento resulta em obras caras e malfeitas. “No DF, teremos problemas com o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), com a reforma do Mané Garrincha e com as obras da EPTG, por execução indevida, sem planejamento”, antevê. Albuquerque diz que, para a maioria dos
20 projetos, nem sequer é apresentado estudo de viabilidade. O grande exemplo é o famoso trem-bala de Joaquim Roriz, que ligaria Brasília a Goiânia, carinhosamente apelidado de “expresso pequi” – referência à comida favorita dos goianos. “Foram feitas viagens ao exterior para viabilizar a obra, mas nunca foi apresentado um estudo”, lembra. “Na hora de fazer, viram que era impossível. E aí que a população nunca mais verá esse dinheiro, gasto em uma tentativa frustrada de ligar as duas capitais.” Mario Spinelli concorda que a lei não é a vilã da história: “A lei é muito clara. O problema é da administração pública em geral, que se preocupa com a licitação e não com a fiscalização”. Para ele, não são aplicadas as sanções previstas para quem infringe a norma. “É comum ofertarem uma coisa, cobrarem pelo produto de determinada qualidade e entregarem um de valor muito menor, de qualidade inferior, mas receberem o valor do produto mais caro”, denuncia. O problema é a falta de fiscalização, ou a famosa vista grossa. Um caso clássico da enganação é contado por ninguém menos que o procurador-geral do Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Rocha Furtado. O TCU é o órgão de fiscalização e controle das contas públicas que analisa as licitações e os contratos do governo federal. Durante reunião na Advocacia-Geral da União (AGU), conta Furtado, foram distribuídas canetas, compradas por licitação, para que os participantes fizessem suas anotações. De acordo com o procurador, as três autoridades
presentes, prevenidas, tiraram do bolso suas próprias esferográficas, visto que nenhuma das canetas distribuídas funcionava. Assim como o cafezinho é intragável. Jornalistas, assessores e frequentadores assíduos dos ministérios já descobriram a qualidade, ou melhor, a falta dela nos materiais, frutos
de licitação, usados nesses órgãos. Já ouviu falar em cola que só presta para criar uma camada sobre o papel, mas não o prega em lugar algum? Triste mesmo é ter uma daquelas crises, quando não se consegue mais segurar o número um ou o número dois, e é necessário utilizar o banheiro de um ministério. A dica é: pegue bastante papel para não ficar literalmente na mão. “Economizar para quê? Pode pegar. Tem muito no estoque. Depois a gente compra mais. É dinheiro do governo mesmo.” Quem diz isso (pasmem) é um funcionário público cujo nome será preservado pela
repórter, envergonhada. Como se esquecesse que a verba para comprar canetas que falham, papéis higiênicos que não limpam e cafezinhos que parecem à base de veneno de barata também saiu do bolso dele. Amadores e profissionais Somente em 2010 foram feitas 15 operações da Polícia Federal, em parceria com a CGU, para desbaratar quadrilhas que fraudavam processos licitatórios. O delegado da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal, Marcelo Oliveira, conta que boa parte das operações em prefeituras no interior do País revela esquemas esdrúxulos de organizações criminosas. São criadas empresas-fantasmas para participar de licitações que movimentam grandes volumes de dinheiro. Porém, as propostas apresentadas pelas participantes estão em papéis timbrados com o mesmo logotipo, contêm os mesmos erros de português, entre outros. “Há outras que se especializam e possuem impressores para papel timbrado no quintal de casa”, relata Oliveira. Albuquerque também afirma que já viu esquemas amadores: “Tem proposta que vem até no mesmo formato e fonte. Pode ser proposta de empresas-fantasmas, para beneficiar um determinado empresário, com diferenças mínimas de preço. E já vimos casos em que participavam empresas diferentes, mas com controles societários de parentes, esposa, filhos, irmãos”. São utilizadas diversas artimanhas para burlar uma licitação. Além de projetos mal
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da polícia. É um jogo de estratégia. Se descobrimos o método de atuação, eles buscam outros meios para agir e ganhar mais dinheiro”. Apesar do esforço policial, a impunidade é grande. As leis são interpretadas pelos juízes de maneiras diferentes, a Justiça é muito lenta, os acusados têm dinheiro para contratar ótimos e caros advogados e são pessoas influentes, e às vezes os inquéritos são falhos. Até os processos percorrerem todas as instâncias, são muitos anos. E só com o trânsito em julgado é que os condenados podem ser presos. O procurador Albuquerque acha que o melhor é prevenir: “É preciso fiscalizar e impedir que esses crimes aconteçam. Precisamos de medidas preventivas. Descobrir depois é complicado porque é muito difícil devolver aos cofres públicos o dinheiro perdido, desviado. Os danos são ) irreparáveis”. )
definidos, há problemas na execução dos contratos, que são protelados e tornam-se cada vez mais caros, acordos entre empresas para favorecimento coletivo, licitações direcionadas e por aí vai. “A maneira mais fácil é a declaração de situação emergencial, em que a licitação é dispensada e qualquer empresa pode ser contratada, à revelia da lei”, diz o procurador. Spinelli, da CGU, diz que já investigou um caso em que o prefeito decretava, em todo 1º de julho, estado de calamidade e comprava tudo o que tinha vontade em caráter emergencial. “O caráter emergencial só pode ser utilizado em situações em que não pode ser feito um planejamento e há grande comoção social. O governante não pode fazer esse julgamento como quiser. É preciso comprovar.” Ao falar sobre grandes esquemas na administração pública, em licitações que movimentam milhões em dinheiro, o delegado Marcelo Oliveira é enfático: “É muito difícil um grande rombo na administração pública passar despercebido pelos órgãos de fiscalização. É grande o número de auditorias, julgamentos e projetos parados enquanto licitações e contratos passam por análise”. Para ele, é uma percepção errada achar que essas fraudes passam batidas. “Temos a garantia de que tudo que chega a nossas mãos está sendo investigado, mas os processos são demorados”, afirma. Segundo Oliveira, os esquemas são complexos, envolvem várias empresas e pessoas, volume grande de dinheiro, o que exige investigação minuciosa. A demora ocorre, especialmente, por causa de análises financeiras, medidas judiciais para conseguir interceptação telefônica, mandado de busca e apreensão, entre outros. Mas, na verdade, nem todas as fraudes são descobertas. Além das dificuldades com pessoal e o grande volume de processos que chega para o órgão investigar, a Polícia Federal enfrenta a habilidade das quadrilhas, que aprimoram constantemente seus métodos para a prática criminosa. Diz Oliveira: “Eles também trabalham de acordo com a atuação
“A lei é muito clara. O problema é da administração pública em geral, que se preocupa com a licitação e não com a fiscalização.” Mario Vinícius Claussen Spinelli, da CGU
Artigo
Palmas para o público, que ele merece No Império Romano, a política do pão e circo. Na era do rádio, as macacas de auditório. Nos grandes festivais de TV, a decisão no aplauso e na vaia. Alguma dúvida de que ele manda? Texto Clodo Ferreira
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uma mesa de bar, num debate acadêmico acirrado, ou simplesmente conversando sobre música, fala-se dos autores, daquele cantor especial e, às vezes, até sobra um pouco de atenção para quem fez os arranjos. Caso o assunto vá mais fundo, alguém comentará sobre as gravadoras ou aproveitará para falar mal do que está na moda. Mas, na maioria das vezes, não se perde nem um minuto pensando no personagem indispensável: o público. O público não tem clareza de seu poder, embora a ele se destine tudo que se faz em arte. Era por ele que o Império Romano, com a política do pão e circo, oferecia o espetáculo de jogar pessoas às feras. Isso vem de longe. A cultura ocidental fez a cisão artista-público, uma mania que ela tem de separar as coisas para exercer o poder. Muniz Sodré dá um banho sobre esse assunto no livro Samba, o dono do corpo. Os índios não tinham esse problema. Para eles – aliás, para as sociedades primitivas em geral – não tem nada a ver separar quem produz de quem consome arte. Eles não cantavam ou dançavam para um público. Tudo estava ligado: religião, alegria, trabalho, dor, canto e dança. No Brasil antigo, tanto os indígenas com seus colares coloridos como os escravos que chegaram por navios negreiros vindos forçados da África ficaram firmes na tradição de manter uma integração quase sagrada. Era assim que faziam suas artes os habitantes das matas ou das plantações, enfiados no interior de um Brasil colonial e, mais tarde, imperial. Ninguém se isolava para brincar nas cantigas de roda, nas festas populares e nas noites de batuques. Todo mundo participava, dançando, cantando, sorrindo, e fazendo a verdadeira arte participativa, em que não tinha lugar para o respeitável público. É como se não houvesse palco ou como se todos estivessem no palco, sem nenhuma fronteira, sem qualquer divisão. Mas um dia a princesa Isabel assinou a Abolição e, logo em seguida, algumas cidades foram se inflando até se tornarem centros urbanos, com suas periferias pobres e seus novos hábitos e costumes. A música, antes coletiva e anônima, passou a ser considerada como obra de um autor, e passou a ser endereçada para um determinado público. Na primeira rodada, o aparecimento de um público brasileiro – no sentido moderno – se deu no Teatro de Revista, com as vedetes de pernas de fora e as comédias. Um sucesso de público, agora devidamente separado do artista. O mesmo acontecia debaixo das lonas dos circos. O espetáculo estava começando. E para completar a cena,
logo no início dos anos 1920, eis que o público recém-nascido foi seduzido pelo cinema e pelo rádio. Para começar, os auditórios das emissoras de rádio foram invadidos pelas macacas de auditório, nome um tanto pejorativo que se deu às jovens de classes mais pobres. Mas foram justamente essas pessoas simples e loucas por música que deram sustentação aos programas radiofônicos em que despontou a nata da boa música brasileira. Um passo adiante e começou a febre dos fã-clubes, que abria espaço para uma organização coletiva do público, embora ainda na órbita dos produtores. Só tinham voz para gritar o nome de seus ídolos. Teve um momento, porém, em que o público tomou as rédeas da produção musical. Isso aconteceu nos grandes festivais televisivos dos anos 1960. O aplauso e a vaia viraram armas da intervenção, instrumentos para eleger ou repudiar o que era apresentado. O público se colocava como ator do momento histórico. Paralelamente, algo semelhante aconteceu no cinema, quando os cineclubes projetavam os filmes para alimentar intermináveis e pedagógicas reflexões sobre os problemas da sociedade. Como está a situação atual? Duas coisas estão chamando a atenção. Primeiro, os megaeventos de tecnologia avançada, como Rock in Rio ou feiras agropecuárias com suas celebridades sertanejas. Vem forte, também, a tendência da música ultrapopular, que não pede licença aos meios de comunicação. Ela faz sua própria festa para ser consumida, na sua maioria por quem tem menor poder aquisitivo. As outras camadas sociais fingem que não estão vendo, mas a música ultrapopular desperta o interesse de estudiosos. Nessa mesma linha, funk e rap conseguem uma sintonia estreita com o seu público, que não se comporta como mero receptor. Ele vai à luta, misturando música, dança, pintura e literatura. O público do rap, bem politizado, coloca a música como pedaço inseparável da cultura hip-hop. Enfim, está na hora de pensar na importância do público e de antever possíveis protagonismos a partir do momento em que ele perceber seu potencial. Não é possível ainda definir de que forma, mas o público ativo e participativo pode ser a grande novidade. Palmas para ele, que ele merece.
O público não tem clareza de seu poder, embora a ele se destine tudo que se faz em arte.
Capa
O Plano não é mais
o mesmo
Brasília cresceu, mas não renovou o guarda-roupa e precisa de trajes maiores. Nem tudo o que foi planejado há meio século funciona Texto Paula Oliveira Fotos NILSON CARVALHO
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ão 51 anos de história. Pouco tempo se comparado ao Rio de Janeiro, antiga capital do País, que completou 446 anos. Brasília foi detalhadamente pensada, milimetricamente desenhada, totalmente arquitetada. O autor do projeto vencedor do concurso lançado em 1956, Lucio Costa, propôs à banca examinadora a construção de uma cidade segmentada e organizada de modo cartesiano, inspirada no modernismo. Um projeto revolucionário, que mudava radicalmente a concepção de cidade. Dois eixos que se cruzam, as quadras residenciais separadas em conjuntos, edifícios baixos e sobre pilotis, setores exclusivos para o lazer, para escolas e igrejas, para o comércio, para os bancos, para a prestação de serviços... Tudo muito bem organizado. “Não existe um curso de arquitetura que não tenha Lucio Costa e especialmente Brasília como importantes objetos de estudo”, diz o arquiteto e urbanista Marcelo Baiocchi Villa-Verde, ex-presidente do Sindicato dos Arquitetos do Distrito Federal. O projeto do Plano Piloto de Brasília tornou-se referência em universidades brasileiras e estrangeiras.
Lucio Costa foi um gênio que projetou uma cidade que até hoje preserva as características idealizadas por ele, principalmente graças ao tombamento e ao reconhecimento como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Mas os anos se passaram. O Brasil é outro, a sociedade é outra. Nesse meio tempo, muita coisa mudou em relação ao projeto inicial. Foi preciso fazer adaptações ao crescimento da cidade e à realidade que se impôs. As primeiras mudanças no projeto de Lucio foram feitas ainda na construção: surgiram uma área residencial na W3 Sul e as cidades-satélites. No documento Brasília Revisitada, de 1987, Lucio acrescentou setores residenciais econômicos ao Plano Piloto e permitiu a construção do Sudoeste e do Noroeste. Mas outras alterações não previstas por ele foram feitas, deliberadamente ou por força dos costumes. “Brasília é uma adolescente com
26 roupas de criança”, define o arquiteto José Carlos Coutinho, ex-diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do DF (Iphan-DF). “É preciso adaptar a cidade de acordo com as novas necessidades. Se cresceu, precisa de roupas maiores.” Houve falhas no projeto de Lucio ou as mudanças eram inevitáveis? Mesmo que timidamente, alguns erros chegam a ser admitidos por arquitetos e urbanistas de reconhecida competência. Os tão rotineiros problemas do Eixão, por exemplo. Não raramente acontece um acidente envolvendo carros e pedestres por não haver solução funcional para a travessia. “Lucio Costa errou nesse ponto, havia outras opções de desenho para o Eixão, opções mais seguras e ainda dentro do modernismo”, argumenta o arquiteto e urbanista Luiz Alberto Corrêa, professor e pesquisador da Universidade de Brasília. A disposição do comércio das entrequadras também foi um erro. A lógica do mercado dita que quanto mais visto, mais lucrativo o comércio. Pelo projeto de Lucio Costa, as lojas ficariam voltadas para dentro das quadras e não para as ruas, onde a movimentação é maior. A divisão da cidade em setores também se tornou um problema. Provoca a superlotação de algumas áreas em períodos determinados do dia, mas nos horários contrários se tornam espaços ociosos e vazios. Não se podia mesmo esperar que um projeto idealizado no fim da década de 1950 funcionasse para sempre. Além do mais porque, nesses mais de 50 anos, governos não se preocuparam em cuidar da cidade, não houve planejamento para a conservação e a adaptação às mudanças determinadas por novas realidades, favoreceu-se a especulação imobiliária e os interesses privados. O Estado, em boa medida, omitiu-se de proteger o plano de Lucio Costa. Inscrever a área central de Brasília no Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade foi uma conquista, mas há quem diga que o tombamento engessa a cidade e faz
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Marcelo Villa-Verde, ex-presidente do Sindicato dos Arquitetos do DF, diz que faltou continuação do planejamento.
28 com que muitos problemas urbanos não sejam resolvidos. A questão não é essa. “Desde o início, Brasília tem problemas que não poderiam ter sido pensados e equacionados no papel naquela época”, afirma Orlando Cariello, que foi presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e da Federação Nacional dos Arquitetos. Em muitas situações, faltou a presença do Estado. Logo que a cidade foi inaugurada, os imóveis do Plano não eram vendidos, mas cedidos aos funcionários públicos. Hoje o que impera, com a conivência de governos, é a especulação imobiliária, que fez de Brasília um dos lugares mais caros para morar. A concretização das unidades de vizinhança também dependia da vontade política dos governos posteriores. Existem, ainda, problemas de funcionalidade em alguns pontos do projeto. “Uma cidade, mesmo a nascida de um desenho, sempre será produto da cultura, fruto de processos econômicos e sociais e cabe às gerações que se sucedem adaptá-la às exigências de seu tempo, tratando de maneira consciente e respeitosa o legado histórico que receberam”, diz José Roberto Bassul, mestre em Planejamento Urbano e ex-presidente da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Mesmo assim, o tombamento urbanístico é importante para preservar qualidades essenciais do projeto, que, na opinião de Bassul, “mostram uma força conceitual tão grande que foram capazes de resistir a uma enorme sucessão de atos de desmando do setor público e de cobiça do setor privado”. “Não houve política administrativa eficiente em todos esses anos que garantisse perfeito funcionamento da cidade”, diz Villa-Verde. “Não ter problemas não depende somente do que foi projetado, mas da continuação do planejamento em todo esse tempo”, defende. Urbanisticamente, segundo o arquiteto, Brasília deu certo. Mas o uso da cidade pela população também dita muito do que ela será e o urbanista é somente um instrumento disciplinador.
Enfim, nem tudo saiu como se pretendia ou como deveria. Escolhas malfeitas, adaptações ao plano inicial ou erros no projeto contribuíram para que o Plano Piloto tenha tantos problemas, sejam eles de infraestrutura, de logística ou de aproveitamento dos espaços. Elegemos aqui nove pontos problemáticos da realidade de Brasília. Cidades-satélites O Plano Piloto ainda não chegou ao seu limite de habitantes e tem espaço para crescer. O Plano – e não todo o Distrito Federal, como se diz – foi projetado para ter 500 mil moradores, mas, até a última contagem divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, ainda estávamos em 278 mil. O último bairro previsto, o Noroeste, foi lançado recentemente, mas ainda existem, na Asa Norte, superquadras vazias ou incompletas. Lucio Costa queria que o Plano Piloto, onde viveriam pessoas de todas as classes sociais, estivesse totalmente habitado para que fossem construídas as cidades-satélites. Foi uma ideia romântica. Antes mesmo da inauguração, existiam cidades-satélites para abrigar os trabalhadores mais pobres. “Já em 1958, o governo transferiu milhares de operários, com suas famílias, de acampamentos nas cercanias da cidade para uma área distante e criou a primeira, Taguatinga”, diz Cariello. As primeiras cidades-satélites são bastante distantes do Plano Piloto e isso mostra que a tentativa de segregar os mais pobres era real. Taguatinga poderia ter sido construída onde hoje é o Guará, por exemplo. Em uma cidade idealizada para ser administrativa, bucólica, com vias largas e sem cruzamentos, há quem passe horas no percurso para o trabalho. E tem a volta no fim do dia. As vias que ligam as principais cidades do DF – Taguatinga, Ceilândia, Gama e Sobradinho – ao Plano Piloto estão sempre cheias. Mesmo as obras de ampliação da EPTG (Estrada-Parque Taguatinga) não amenizaram o transtorno. A solução? A
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José Carlos Coutinho, ex-diretor do Iphan/DF, define Brasília como uma adolescente com roupas de criança.
velha história de melhorar o transporte público. O metrô não chega a todas as cidades, a passagem de ônibus é cara e a frota, além de apresentar problemas de conservação, não atende às necessidades da população. “As cidades-satélites deveriam ter estrutura para que a população não dependesse tanto do Plano Piloto, mas a falta de planejamento e o crescimento exagerado fizeram com que muitas delas se degradassem”, analisa Coutinho. Comércio A ideia de ter comércio nas vias que separam as superquadras era para que os moradores tivessem por perto padarias, mercearias, farmácias, lojas de roupas. “Brasília foi pensada para ser diferente de grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo”, observa Coutinho. “Nessas cidades tudo se mistura – moradia, lazer e trabalho – e aqui não deveria ser assim”, diz ele, embora acredite que a setorização exagerada não funcione tão bem por causa da complexidade das cidades. A proposta de Lucio Costa era que esse comércio abastecesse os moradores das superquadras. Com o crescimento da cidade e as exigências de mercado, a ideia do urbanista foi desarticulada. “Apenas as bancas de jornal parecem estar garantidas”, ressalta Cariello. Nem mesmo com rígido controle governamental seria possível manter a organização comercial proposta. As necessidades do mercado acabam por ditar as regras. “Lucio Costa foi um excelente urbanista, um intelectual conceituadíssimo, mas não entendia nada de comércio”, nota Corrêa. As fachadas das lojas, pelo projeto, deveriam ficar voltadas para as quadras e os fundos para a rua, lugar de carga e descarga. Mas os empresários querem ser vistos pelo maior número de pessoas possível e inverteram a disposição. Ainda por cima fizeram puxadinhos nos fundos e nos lados dos blocos comerciais. Paciência. Outra imposição do mercado é a aglomeração de
determinado tipo de serviço ou de produto. Se a proposta inicial era de um comércio que atendesse às necessidades básicas dos moradores, hoje está bem diferente. Algumas ruas tornaram-se especializadas em um ramo de negócio. Rua das Elétricas, Rua das Noivas, Rua dos Restaurantes. Eixão O tal Eixão é um dos grandes problemas do Plano Piloto. Todos os anos a imprensa local publica matérias sobre os vários acidentes envolvendo carros e pedestres. De 2002 até janeiro deste ano, foram registradas 97 mortes na via. É inacreditável que em uma cidade exista uma rodovia com limite de velocidade de 80 quilômetros por hora, mas Lucio fez questão de manter essa característica do Eixão. “Os pedestres podem atravessar utilizando as passagens subterrâneas”, defende Villa-Verde. Mas não há santo que faça com que deixem de atravessar as pistas. Uns alegam pressa, outros insegurança nas passagens. A verdade é que, mesmo com tantas soluções já imaginadas – melhoria da iluminação, da limpeza e da segurança das passagens –, nada deu certo. No Rio de Janeiro, também na década de 1950, foram desenhadas e construídas passarelas, como as do Aterro do Flamengo, no estilo modernista. Foram chamadas de obras de arte na época. A solução encontrada foi descer o nível da avenida e construir a passarela somente um pouco acima do nível da calçada. Dessa maneira, os pedestres não precisam subir escadas ou rampas íngremes para atravessar a rua e a disposição para utilizar a passarela é maior. “Lucio Costa errou porque do jeito que projetou o Eixão ficou inviável a construção de passarelas externas funcionais e as passagens subterrâneas não dão a segurança e o conforto necessários para a travessia”, argumenta Corrêa. Uma solução para evitar acidentes seria transformar o Eixão em avenida, com semáforos e com menor
30 velocidade máxima permitida. Mas o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem recusado qualquer alteração na via. Estacionamentos Brasília é monumental. As vias principais são de trânsito rápido, largas e com poucos cruzamentos. Convite irrecusável para o uso do automóvel. Até aqui, tudo bem. Mas e na hora de estacionar? Aí é que começa um dos grandes dramas enfrentados pelos motoristas brasilienses: a falta de vagas no Plano Piloto. A livre circulação dos veículos é mais do que estimulada pelo projeto da cidade, mas não se previam tantos. Um erro, na visão de Bassul: “Isso acabou por diminuir a importância dos percursos a pé, em que os brasilienses enfrentam obstáculos físicos e descontinuidade de calçadas, por exemplo”. E faltam calçadas. Não é à toa que por onde quer que se passe seja possível encontrar uma trilha no meio de um gramado, ou até mesmo de um mato alto. Em Brasília, é tão fácil circular nas vias e tão difícil se deslocar a pé que, naturalmente, cada um quer ter seu próprio automóvel. Em fevereiro, eram quase 1,3 milhão de veículos registrados no DF. A precariedade dos transportes públicos também coopera para isso. Muitos carros e concentração das atividades no centro da cidade dificultam a vida do motorista. “Mas como imaginar, ainda na década de 1950, que a indústria automobilística brasileira se tornaria o que é hoje?”, questiona Coutinho. Em países da Europa, por exemplo, há controle maior por parte do Estado para restringir a circulação de automóveis nos grandes centros e oferecer transporte público de qualidade. Infelizmente, essa não é a realidade do Brasil. Então, agora que já está feito, qual seria a solução mais viável? Fazer rodízio de placas de automóveis, como ocorre em São Paulo? Construir prédios de estacionamentos ou vagas subterrâneas? Melhorar o
31 transporte público? Tudo isso? “Ainda no começo de Brasília, as garagens sob os edifícios do Setor Comercial Sul deixaram de ser feitas e agora seriam de difícil construção”, acredita o arquiteto e urbanista Cláudio Queiroz, ex-superintendente do Iphan-DF. Mas não é preciso estar no centro da cidade ou nos setores comerciais para se irritar com a falta de vagas ou ser obrigado a lidar com os “donos da rua”, chamados de flanelinhas. O mesmo problema ocorre nas entrequadras comerciais e nas quadras residenciais. “Nos anos 60, havia um carro para cada família de classe média”, diz Bassul. “Hoje, no Plano Piloto, temos um para cada pessoa.”
O professor e pesquisador da UnB Luiz Alberto Corrêa considera o projeto do Eixão um erro. “Havia outras opções mais seguras e ainda dentro do modernismo.”
Rodoviária A Plataforma Rodoviária do Plano Piloto deveria ser ponto de encontro dos brasilienses, um bulevar com cafés e restaurantes, ao estilo de Londres e Paris, com vista para a Esplanada dos Ministérios. Isso na cabeça de Lucio Costa, autor do projeto. Ficou muito longe da ideia. É uma região deteriorada, com prédios decadentes, sem conservação nem segurança para quem passa por ali. “O projeto é genial, é ao mesmo tempo um espaço urbano e um edifício, mas precisa de adaptações”, pondera Corrêa. Como já foi dito, tem coisa que não pega. Pensando bem, a Plataforma Rodoviária é um espaço grande, subutilizado ou mal utilizado durante a noite, está longe de qualquer residência. Poderia ser palco para mais manifestações culturais, por exemplo. Mas não pegou. Quem, morando no Plano Piloto, área nobre, cogitaria frequentar a Rodoviária para se divertir à noite? Setorização Uma das características do urbanismo modernista é a setorização das funções na cidade. Ou seja, a separação de setores distintos, como o Hoteleiro, o Comercial, o Bancário, o de Indústria. Foi assim que Lucio Costa desenhou Brasília. Nada
Quem influenciou Lucio Costa Le Corbusier, considerado o maior inspirador do Plano Piloto de Lucio Costa, é o pseudônimo de Charles-Edouard Jeanneret-Gris. Ele é considerado, como Oscar Niemeyer, um dos mais importantes arquitetos do século 20. Le Corbusier lançou as bases do movimento moderno de características funcionalistas, que influencia principalmente o urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. Na sua perspectiva, as cidades deveriam consistir em grandes blocos de apartamentos apoiados em pilotis. O arquiteto dizia também que, “por lei, todos os edifícios deviam ser brancos”. As estruturas por ele idealizadas são simples e austeras e foram bastante criticadas por ser monótonas e desagradáveis à população. Tanto é que, depois de sua morte, apelidaram-no de inimigo das cidades. Em 1933, o arquiteto participou da elaboração da Carta de Atenas, resultado do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, realizado na capital grega. Nela está previsto o desenho de cidades divididas em ruas e quadras em um zoneamento seletivo, com a setorização das funções. Le Corbusier criou também o sistema viário 7V, que “consiste num sistema de vias de circulação integrado e convenientemente hierarquizado”. Em suas intenções práticas, destaca-se a diminuição de congestionamentos. Nesse sistema, a velocidade e o fluxo das vias diminuem à medida que se aproximam das áreas residenciais ou de intensa circulação de pedestres. Brasília é um grande exemplo dessa organização. Uma via residencial, por exemplo, nunca desemboca em outra de alta velocidade. A evolução é sempre gradual. Chandigarh é uma cidade indiana considerada precursora de Brasília. Foi planejada por Le Corbusier e inaugurada em 1947. Durante 15 anos, Le Corbusier supervisionou pessoalmente as obras de urbanismo em Chandigarh, baseado no conceito de uma cidade dividida por áreas específicas, com setores residenciais, escolares e área industrial. Cada área residencial com suas lojas e outros serviços essenciais. O mesmo princípio que norteou a criação de Brasília.
32 Luiz Philippe Torelly, expresidente do Instituto de Planejamento Territorial e Urbano do DF, diz que nem sempre a realidade se ajusta aos modelos urbanísticos.
de misturar residências com indústrias, por exemplo. No entanto, a vida na cidade ocorre independentemente do que é ditado pelo urbanista. As necessidades surgem e a sociedade se adapta aos espaços. Hoje a setorização é bastante flexível, mas permanece. Não é necessariamente um mal. A rigidez é que pode prejudicar a utilização inteligente dos espaços urbanos. A setorização excessiva deixa ociosas, em certo período do dia, áreas urbanas que têm infraestrutura que poderia ser mais bem aproveitada. “A coexistência de usos compatíveis é saudável tanto do ponto de vista social como do econômico, confere diversidade, movimento e melhor aproveitamento dos investimentos públicos”, diz Luiz Philippe Torelly, especialista em Habitação e Desenvolvimento Urbano e ex-presidente do Instituto de Planejamento Territorial e Urbano do DF. Exemplo é o Setor de Autarquias Sul, vazio à noite e aos fins de semana.
Semáforos Para os mais jovens é quase impossível pensar na W3, no Eixo Monumental ou na L2 sem semáforos. A lógica das tesourinhas, dos balões e dos retornos se sustentava muito bem quando o tráfego não era tão intenso. “Vai chegar uma hora em que as tesourinhas ficarão intransitáveis; alguns retornos da L2, por exemplo, ainda permanecem sem semáforos, mas daqui a pouco não vai ter jeito”, sentencia Corrêa. Os semáforos começaram na W3 Sul quase 40 anos atrás. Resultado do aumento do trânsito por causa do estabelecimento de atividades não previstas, como escolas, escritórios, clínicas e igrejas, nas proximidades. “Mas, independentemente da discussão quanto à conveniência e à qualidade dessa solução, o fato é que a circulação densa de veículos em sentido transversal às asas quebrou a estruturação do fluxo nos moldes hierarquizados e disciplinados da concepção da cidade linear”, argumenta Queiroz.
Com mais trânsito, os cruzamentos tiveram de ser abertos e daí veio a necessidade de semáforos. Unidades de vizinhança A organização de Brasília se baseia no conceito de unidades de vizinhança. Cada conjunto de quatro quadras seria uma minicidade, com clube, igreja, cinema e escolas que atenderiam os moradores próximos. “A ideia era concentrar a convivência nessas cidadezinhas e, caso o morador precisasse se deslocar, utilizaria a rodovia principal, o Eixão”, explica o arquiteto Villa-Verde. Outra ideia que não pegou. Temos só uma unidade, que envolve as quadras 107/108/307/308 da Asa Sul. “O modelo não se repetiu, em parte por falta de demanda e porque nem sempre a realidade se ajusta aos modelos urbanísticos”, diz Torelly. A dinâmica social e econômica da cidade exigiu novos usos e atividades. Existem conceitos bem estruturados que não se aplicam na prática e a unidade de vi-
33 zinhança é um deles. “Não funcionou, não faz parte da nossa cultura e não faz diferença nenhuma para os moradores”, opina Corrêa. Se por um lado não faz falta, por outro é interessante imaginar como seria Brasília se as unidades de vizinhança tivessem sido concretizadas. Ter acesso a um clube sem precisar de carro para isso. Já pensou? Lucio Costa fez o projeto, mas, uma vez pronto, ele deveria ter sido ajustado à realidade para que seu funcionamento se tornasse possível. “Em torno da maioria das superquadras, os usos originais dos equipamentos urbanos tiveram seus destinos corrompidos”, diz Queiroz. “Onde era previsto um equipamento esportivo ou cultural localiza-se mal um templo ou lucra-se muito com um conjunto residencial indevidamente instalado.” W3 Não era para ser uma avenida. Lucio Costa queria ali uma via de trânsito rápido. De um lado da rua haveria granjas e do outro seriam entrepostos, como armazéns. Não seria um lugar de passeio, mas de serviço e quase rural. A criação das quadras residenciais das 700, ainda nos tempos da construção, foi uma das primeiras modificações do Plano Piloto. Foi aí que o problema começou. Por se tratar de área residencial, o trânsito não poderia ser rápido. Transformou-se a via em avenida. E como em toda avenida, o comércio se desenvolveu em cada beirada. No lugar reservado às residências, inclusive. “Desvirtuaram o projeto e depois quiseram consertá-lo na Asa Norte”, diz Corrêa. Queiroz concorda: “A W3 não pode mais ser o que o projeto de Lucio Costa previu, nem voltará a ser o que foi nos primeiros tempos de Brasília”. Hoje a discussão é a revitalização da W3, ou seja, nem o projeto nem as mudanças funcionaram. Na W3 Norte, construída posteriormente, foram erguidos edifícios para o comércio entre as residências das quadras 700 e a avenida, em uma tentativa de adaptar o projeto à reali) dade. (Colaborou Jéssica Paula)
Cláudio Queiroz, ex-superintendente do Iphan/DF, diz que, nas superquadras, os usos originais de equipamentos urbanos foram corrompidos.
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Artigo
Uma reflexão sobre o futuro da W3. Imagine-a com comércio diversificado, hospedagem de qualidade e ciclovias. Com esquinas e cheia de encontros Texto Juliana Santana Ilustração Francisco bronze
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onceituar a rua apenas como um elemento de circulação de veículos e pessoas é de fato ser simplista ao extremo. A rua é o complemento indispensável de uma cidade. Quando bem relacionada com o meio, ela possibilita uma movimentação de agentes variados que lhe conferem diferentes qualidades. É na rua que surge a personalidade coletiva de uma área de vizinhança, de um bairro e, assim, de uma cidade. Jane Jacobs, crítica de arquitetura e urbanismo e apologista de megalópoles, defende que, para atrair pessoas à rua e construir nela o sentimento de segurança, ela deve ter três qualidades: a demarcação nítida entre o espaço público e o privado; a necessidade de ter “olhos”para vigiá-la e a utilização da calçada como um meio de atração. Há tempos discute-se a revitalização de uma das mais importantes ruas de Brasília, a W3. Ela já teve seus tempos áureos, era atraente e movimentada, época em que a cidade não era um celeiro de shoppings como hoje. “Bater perna”, ver vitrine e encontrar pessoas era na W3. Para voltar a ser a grande estrela da cidade, a W3 precisa se abrir para a rua. Seu comércio deve ter maior qualidade em sua arquitetura, em suas fachadas, em vitrines e letreiros, diversificar o mix das lojas. Esses serão os “olhos” da rua, vigiada pelos usuários e principalmente pelos seus proprietários. Hoje, as laterais dos blocos comerciais da W3 são fechadas e intercaladas por corredores de circulação de pedestres, becos escuros e inseguros. Se em vez de paredes cegas tivéssemos lojas voltadas para esses corredores, surgiriam áreas de animação, esquinas rodeadas por pontos de comércio e serviços que atenderiam as pessoas e impediriam o isolamento. Alguns desses pontos deveriam também ficar abertos à noite. Lojas, bares, restaurantes, galerias criam movimento e oferecem segurança à rua. Se andarmos pela cidade, percebemos que existem ruas bem movimentadas com as características descritas acima. No Sudoeste, o movimento acontece ao longo do dia e da noite, seus estabelecimentos que ficam abertos até tarde e a continuidade de seu comércio são um atrativo para a vizinhança. Outros modelos bem-sucedidos em Brasília são as apelidadas de “ruas de restaurantes”. Hoje são várias ao longo do Plano Piloto, todas sempre com o diferencial de terem estabelecimentos preocupados com a arquitetura de suas lojas, com iluminação e segurança. Pessoas sentem-se atraídas por espaços onde podem observar outras pessoas e ser observadas.
Mais um aspecto que interfere no bom funcionamento de uma rua é a relação de confiança entre seus usuários. Esse sentimento se estabelece por meio de diferentes contatos entre os transeuntes em suas calçadas. Atitudes como parar para falar com o jornaleiro, passear com o cão, ver vitrines e comentar sobre um produto pode parecer supérfluo, mas não é. Esses encontros são os que dão propriedade à rua. Carlos Nelson F. dos Santos teoriza a calçada de uma rua como uma praça linear, palco para lazer coletivo com as vantagens de ser mais bem vigiada e a conservação e a limpeza serem mais simples para o poder público, uma vez que é hábito do brasileiro cuidar do trecho em frente ao seu estabelecimento. Ele ainda defende que a calçada tenha diferentes tipos de usos, seja ocupada por mesas de bar, barraquinhas, bancas de revista e ainda contenha ciclovias. A Copa do Mundo está chegando. Foram retiradas as pousadas da W3 e discute-se a possibilidade de lançar um edital para a expansão do Setor Hoteleiro na Asa Norte. Há quem diga que esses novos hotéis quebrarão, pois não haverá demanda para tantos leitos depois do evento esportivo. Por que não incentivar pequenos hotéis, pousadas, albergues e hostels na W3? Com certeza seria incentivo para os comerciantes melhorarem seus estabelecimentos, surgiriam investimentos para área e se criaria uma nova identidade para a rua. Eu adoraria ver a cena de um turista estrangeiro chegar ao aeroporto de Brasília, pegar o VLT e descer numa parada no meio da W3. Sua pousada estaria num bloco com diversas lojas, bares e restaurantes na redondeza. Poderia caminhar pela rua e ver pessoas da cidade fazendo seus passeios rotineiros. Vamos mais além? Esse mesmo turista poderia alugar uma bicicleta e seguir pela ciclovia ao longo da calçada num passeio cheio de surpresas até o grandioso Eixo Monumental, desfrutar uma cidade com esquinas e cheia de encontros.
Para voltar a ser a grande estrela, a W3 precisa se abrir para a rua. É na rua que surge a personalidade coletiva de uma área de vizinhança, de um bairro e, assim, de uma cidade.
Perfil
Há 20 anos, ele lustra sapatos na Câmara Legislativa. Com a experiência de seis legislaturas, o não funcionário mais popular da Casa agora quer ser deputado distrital. Se não for eleito, espera que a tentativa lhe renda um contrato de verdade
Texto PAOLA LIMA Fotos NILSON CARVALHO
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Deputado para ele é apenas deputado. “De doutor só chamo médico ou delegado.” São duas décadas de convivência com os parlamentares.
om histórias políticas completamente diferentes, os ex-distritais José Antônio Reguffe e Luiz Estevão têm algo em comum: foram os únicos entre os quase cem parlamentares que passaram pela Câmara Legislativa sem nunca entregar seus sapatos ao engraxate Anderson Almeida, de 34 anos. Nascido em Sobradinho e criado em Ceilândia, Anderson cresceu com o Poder Legislativo local. Sua história com a Câmara começou em 1991, aos 14 anos, como vendedor de salgados. O garoto que ganhava uns trocados vendendo pão de queijo na rua conheceu a radialista Rose Mary Miranda em plena campanha para deputada distrital (ela integrou a primeira legislatura). Quando ela venceu, Anderson decidiu oferecer seus lanches naquela tal Câmara Legislativa. “Levei 20 salgados e vendi tudo.” À época funcionando com estrutura provisória, com quase nenhum comércio nas redondezas, no fim da Asa Norte, a Câmara precisava de Anderson tanto quanto ele dela. Dos salgados, migrou para a função de engraxate. A primeira caixa foi feita por um amigo. A segunda, que usa há seis anos, foi dada pelo ex-secretário de Segurança do DF Pedro Cardoso. O delegado trabalhava na Câmara Legislativa e lhe perguntou se não gostaria de uma caixa nova. Havia uma na Polícia Civil, abandonada depois de o dono ter sido pego carregando drogas e armas dentro. Pela caixa do engraxate passam sapatos de deputados, assessores, visitantes e jornalistas. Até de mulheres. Anderson engraxa botas e sapatos femininos finos. Tem orgulho de dizer que, das deputadas mulheres, já engraxou os sapatos da petista Erika Kokay. O sucesso no trabalho é mérito também de seu carisma. O engraxate conhece praticamente todo mundo na Casa. Mesmo que um ou outro o ache “enturmado” demais, a impressão geral é de que Anderson é “boa gente”. E não pensem que é fácil lidar com o Legislativo. Por um tempo, na terceira legislatura, ele tentou outra profissão. Foi tra-
balhar no transporte alternativo. Não durou mais que seis meses. “Coloquei um rapaz para trabalhar aqui e não perder o ponto. Ele não aguentou. Disse que o povo era enjoado demais. Eu já conheço o jeito, estou habituado com a Câmara.” Habituado a ponto de não mais se deslumbrar. Deputado para ele é apenas deputado. “De doutor só chamo médico ou delegado”, avisa. Anderson cumpre horário de terças a quintas na Casa – dias em que há movimento – e segundas e sextas segue para a sede da Companhia Energética de Brasília (CEB), na Asa Sul. Consegue tirar, por mês, mais de dois salários mínimos. A vida de autônomo é amenizada pela ajuda de um dos cinco irmãos, que tem uma empresa em seu nome e, em contrapartida, paga seu INSS. A chance de aposentadoria é um conforto para ele, que se preocupa, principalmente, com o futuro do filho Jhonatan, de seis anos. O menino, cujas peripécias fazem brilhar os olhos do pai coruja, é fruto de um amor nascido, indiretamente, na Câmara Legislativa. Anderson e Ivonete se conheceram no ônibus, a caminho de casa. No fim do dia, o engraxate pegava o ônibus da Asa Norte para Ceilândia e esperava animado pela parada do Brasília Shopping, onde uma morena bonita, funcionária do shopping, costumava embarcar. Até a casa dela, no centro da cidade, dava mais de uma hora de conversa. Ivonete, no entanto, era difícil. Foram seis meses de cantadas diárias até ela aceitar sair com o engraxate. Entre paixões e separações, estão juntos há oito anos. Em 2005, Jhonatan nasceu e os pais oficializaram o casamento. Anderson tem planos de melhorar de vida. Planeja começar ainda neste ano o supletivo, em que pretende aprender o que lhe falta de estudo – o engraxate cursou até a quarta série, quando parou para vender salgados. O orgulho pelo trabalho no Legislativo – comprovado pelo crachá de autorizado que exibe no pescoço quando está nas dependências da Casa – lhe rende também um rosário de pedidos de vizinhos e amigos. Tão próximo
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meçam a se juntar e conversar sobre o assunto, saio de fininho. Não escuto nada e falo menos ainda. Senão, me queimo.” Na caixa de engraxate, o adesivo com a bandeira do Brasil era material de campanha. Ele fez questão de recortar a sigla do partido e deixar apenas a bandeira “para a Copa do Mundo”. O distanciamento não quer dizer que ele não entenda, ou goste, de política. Diz sempre ter tido cuidado com a escolha dos candidatos em quem votou, nunca ter anulado voto nem se arrependido. Filiado ao PDT, por intermédio de uma amiga que, claro, trabalhava na Câmara Legislativa, pretende trocar a legenda por uma menor. Para quê? Quer se candidatar a distrital. Se eleito, vai trabalhar para tirar
das ruas crianças e adolescentes drogados. Ele cita trabalhadores que viraram distritais. Era amigo do PM João de Deus, hoje prefeito de Água Fria de Goiás, quando ele era apenas segurança da Casa. João acabou parlamentar por dois mandatos. Conhecia também o produtor Joe Valle, por seu trabalho na Emater, vizinha à Câmara. Hoje, Joe, ao lado de Benício Tavares, é um dos distritais com quem Anderson tem maior afinidade. Se não for eleito, a campanha não terá sido perdida. Anderson quer aproveitar os votos que acredita que terá para mostrar aos deputados seu potencial de “mobilizador social”, o tradicional cabo eleitoral. “Quem sabe assim ) algum deles me contrata de verdade.” )
do poder público, é impossível ficar alheio às misérias da comunidade. “Repasso pedidos, entrego currículos, tem gente que me manda até e-mail pedindo coisa, mas explico que não tenho o poder de resolver. Ultimamente, não consigo nada nem para mim”, brinca. Dos distritais, contou com pouca coisa além dos sapatos para limpeza. Uma vez, um deles conseguiu um emprego para sua mulher no GDF. Com as mudanças de governo, porém, Ivonete foi demitida. O nome do benfeitor ele não revela. Descobriu que discrição é qualidade fundamental para sobreviver na política. Anderson não comenta política, não explicita preferências, não faz campanha para parlamentar. “Quando eles [os distritais] co-
conto
Nas ruas de Brasília
Por que eu já não quero mais voltar Quatro jovens com muitas diferenças e uma coisa em comum. Quem salvou quem?
Texto João Pitella Junior Ilustração Rômulo Geraldino
Duda Sales, neto de senador, filho de diplomata, Príncipe da QI 13, Rei do Desajuste, estacionou em frente à sua mansão no Lago Sul, mas naquela noite não quis entrar. Talvez você já tenha sentido isso. Você olha para a porta, pensa nas coisas boas lá dentro, nos seus livros despencando da estante, nas revistas espalhadas pelo chão, na prancheta com os seus desenhos, nos amigos imaginários que enchem de afeto o seu lar sombrio. Tudo perfeito, a família indiferente à espera do seu desprezo, o palco montado, mas a plateia está vazia. Você, Duda Sales, o dono de tudo isso, cansou do seu reino e a rua o chama. A rua de Brasília com a sua promessa de mais solidão. Da QI 13 ao esconderijo do parceiro de jornadas surreais, o bravo e audacioso Sir Robin do Cerrado, são cinco minutos,
quando você tem um carro pago pelo papai ausente. Duda dirigiu até lá e encontrou o amigo sentado no acostamento na porta de casa – “uma casa abaixo da média numa rua acima da média”, como definiu o seu companheiro F. Scott. O portão estava enferrujado, as janelas com a pintura descascada, o telhado ameaçava ruir. Uma bela morada do Lago Sul, cartão-postal para os turistas de todos os cantos do DF. Lá dentro, você veria móveis destruídos e roupas empoeiradas, há meses sem uso, no armário de alguém que havia ido embora sem ter tempo de arrumá-las. Dezenas de fitas VHS eram guardadas em cima de um estrado de cama velha. Você veria tudo isso, mas Sir Robin não recebia ninguém. Para contrariá-lo, Duda Sales não esperava os convites. Ele parou o
carro a poucos milímetros dos pés do anfitrião na calçada. — Esperando Godot na porta da Casa Desolada? — Esperando você. E Gonô. — Como sabia que eu vinha? — E quando não veio? — Hoje eu dirijo. —“Você tem que morrer de alguma coisa”. Ouvi num filme. — Isso e o resto. Talvez um dia você comece a ler. — Talvez agora eu não precise de literatura. — Vamos atrás do que nós precisamos.
***
Nove da noite, tudo vazio. É para isso que existe a W3 Norte. Mesmo que você more aqui, talvez não conheça essa W3 dos anos 90, se for decente como estou pensando. O comércio fechou e só as prostitutas mais desesperadas já
41 chegaram. Você tem pressa de ir ao fim da avenida para voltar ao começo, mas os sinais ficam vermelhos e você olha, cheio de vergonha, para o motorista ao lado, com medo de ser reconhecido. E ninguém o conhece. É o fim. É a W3: — Eu te falei, não tem ninguém aqui, Duda. — Você sempre fala que vai dar errado. — E precisa falar? Vamos pra fronteira. A “fronteira”, para eles, era a rua estreita entre o Setor Hoteleiro e o Setor Comercial Sul, onde você só vê hotéis e moças tristes na calçada. Duda estava sem paciência para apreciar a paisagem, mas seguia dirigindo. Quando eles passaram pela terceira vez sob o mesmo viaduto, uma garota esquálida meio escondida na pilastra abanou a mão, já conformada com o público gratuito. — Pronto, Duda. Levar tchauzinho de puta já é demais. O motorista soltou a gargalhada histérica, e autocrítica, sua marca, e pisou no acelerador. — Vou voltar pra casa, então. Quando o farol do carro do papai do Duda iluminou de novo o início da W3 Norte, eles tiveram um pressentimento. Parecia que as coisas iam ficar perfeitas outra vez, como nos tempos do De Ville, a casa no fim da Asa Norte onde eram tratados com honras diplomáticas. Bem, pelo menos o Duda Sales tinha recepção de chefe de Estado. Sir Robin, como ajudante de ordens, ganhava a doce alcunha de “PF” (pica fria), pois o lugar estava fora do seu orçamento. A História é injusta. Eles abriram duas latas de Coca-Cola para comemorar o presságio, enquanto recomeçavam a Cruzada. Na altura da 505, apareceram os grupos de meninas prontas para a inspeção, mas ninguém olhava. — Falando em voltar pra casa, você não ia dormir com a sua mãe hoje? Duda engasgou antes de não responder: — Olha aquela ali, Sir Robin. Como dizia a sua mãe, “até que é bonitinha”, se você não olhar de perto. É a regra da W3: se não for feia demais, é travesti. Sir Robin ficou calado e abaixou a cabeça.
Duda jogou o resto da lata de Coca-Cola na cara dele, para ver se o despertava. Sir Robin limpou os óculos com um lenço que morava no seu bolso. As lentes ficaram mais sujas. — Entendi, Duda. Hoje ninguém fala em mães. Você vai dormir na casa do seu pai? — Pai? Você me lembrou de uma coisa! Tenho uma amiga pra te apresentar. Pode ser que dê tempo. — E o que o seu pai tem a ver com isso? — É no comércio da quadra dele. Essa garota seria perfeita depois de um banho de loja. Agora é a sua vez com ela. — Patético. Você acha mais fácil pagar pra transformar alguém em patricinha. Pygmalion da Asa Norte. Depois de mais uma risada nervosa, Duda virou à direita, entrou na 512 e desceu até as 200. Estacionou em frente a um barzinho e saiu correndo, enquanto Sir Robin lutava com a preguiça para alcançá-lo. A amiga havia acabado de deixar o serviço e caminhava até a parada de ônibus, mas foi interrompida por um puxão de braço de Duda. “Muito sensível”, pensou Sir Robin. Ela não gostou do cumprimento. — Sai, Duda! Pensei que era alguém roubando a minha bolsa. — Que fortuna ele ia ganhar! — Deixa de ser irritante. — Então vou te apresentar um cara mais sensível. Sir Robin, esta é Tatiana Brito Veras, com todo esse nome e muitas outras qualidades. Tatiana, este é o meu escudeiro, Sir Robin. — Como é? — Eu sou o Nelson — disse, escondido atrás das lentes pesadas, enquanto estendia a mão pálida para a balconista, que nem olhou direito. Duda precisou entrar de novo na conversa. — Vem com a gente. Você fala com o Sir Robin enquanto eu procuro companhia. Tatiana sacudiu a cabeça, balançou o longo cabelo castanho-escuro com pontas claras, fez uma careta e seguiu na direção apontada por Duda. Sir Robin correu o risco de estragar a noite por uma curiosidade: — Você não ia pegar o ônibus?
***
Foi então que a garota passou na calçada em frente ao bar. Duda já a tinha visto perto das outras meninas na W3, caminhando de um jeito desaforado, com cabelo curto de cor indecifrável, esmalte verde nas mãos e uma tatuagem com o traçado do Plano Piloto no ombro. Era a mulher ideal para ele, pois tinha jeito de quem “acordava ao meio-dia bebendo vodka”. Duda ergueu o copo na direção do seu alvo, num gesto de convite. Ela parou em frente à mesa, colocou as mãos na cintura e bateu o pé direito no chão. — Você acha que eu vou beber esta bosta com dois playboyzinhos de merda? A gargalhada e a resposta de Duda funcionaram: — Então vem beber com a Tati. Ela não aguenta ficar sozinha conosco. — OK, sou feminista. Prazer, Tati, meu nome é Brasília. Duda riu e completou as apresentações: — Este aqui, o noivo da Tati, é o Sir Robin. Desta vez, foi Brasília que soltou uma gargalhada: — Sir Robin, o cavaleiro medroso do filme do Monty Python. Faz sentido. — E como você sabe disso? — Eu sei muito mais do que vocês, seus nerdzinhos. Sei tudo. Sir Robin aceitou o desafio: — Nem tudo. Você não sabe que o Duda acabou de passar pro Itamaraty. — Eu já sabia... — Mesmo? — ... que eles agora aceitam qualquer coisa. Duda Sales ficou quieto, mas Sir Robin riu até quase derrubar os óculos. — Eu detono o seu amigo e você acha bom? — A nossa amizade não é pra confortar, é pra incomodar. — Puta que o pariu, já vi que vou ficar amarradona em vocês. — Então pode começar por mim — disse o Duda, já recuperado da ofensa, enquanto tentava abraçá-la. Ela o empurrou com força. — Esquece, cara. Não vou ficar com um bai-
xinho espinhento. Sir Robin e Tati riram juntos. Duda ficou inquieto: — Mas você não trabalha na W3 com as garotas? — “Trabalho”, porra nenhuma. Eu sou atriz, tô fazendo laboratório. E se eu “trabalhasse” nem o seu papai ia poder me pagar. — Pronto, não tenho mais dúvidas: casa comigo! — Quem sabe... Vamos sair desta merda. Os quatro entraram no carro de Duda, rodaram pela cidade e estacionaram na Praça dos Três Poderes. Sir Robin e Tati ficaram namorando horas no banco de trás, enquanto Duda e Brasília conversavam. — Se a atriz é você, chega de representar. Hoje eu tô triste. — Por que você não quis voltar pra casa? — Eu ia dormir lá, mas vi um cara entrando pra visitar a minha mãe. Brasília passou a mão no cabelo de Duda, que encostou a cabeça no ombro dela e chorou quietamente. Eles ficaram muito tempo assim, até o sol começar a nascer. Os quatro desceram, foram para a Praça e sentaram em círculo. Tatiana, com a roupa amassada e ainda triste, deitou no colo de Sir Robin, que a consolava, carinhoso. — Foi a minha melhor noite, Tati. — Deixa de ser bobo, mas também gostei. Eu não queria ir pra casa, porque era o dia do meu marido ir embora de vez. E você? — A minha mãe morreu ontem. Ela estava há três meses no hospital. Brasília se levantou de repente e começou a se afastar. — Chega de tragédia! Eu amo vocês, mas adeus! Duda deu um pulo. — Tá, mas me conta uma coisa: por que você não quis ir pra casa? Brasília olhou para o sol que nascia bem no centro dos dois prédios do Congresso. Ela sorriu e ergueu os braços, como se agarrasse toda a cidade: ) — A minha casa sou eu! )
— Hoje não vou pra lugar nenhum. — Onde você mora? — Numa invasão na entrada de Luziânia. Satisfeito? — Claro. Com jeito de dono, Duda pegou a primeira mesa no bar e mandou todos se sentarem. Pediu cerveja para os três e deixou de prestar atenção nos companheiros. Era como se Tatiana e Sir Robin estivessem num jantar romântico. Sir Robin não pôde deixar de concordar com o comentário preconceituoso do amigo, embora fingisse desaprovar o seu machismo: “banho de loja” combinava com a moça, que era bonita, mas não tinha dinheiro para se cuidar. Observador, como todos os tímidos, viu que ela usava uma aliança na mão esquerda. E ela, esperta, reparou na careta disfarçada de Sir Robin. — Eu sou casada, sim. É isso que você quer saber? Quando alguém ia direto ao assunto, ele perdia a vergonha. — É, mas larga o seu marido e fica comigo. Você é linda. Duda, que parecia distante, deu um tapa no braço do amigo: — Isso é a última coisa que você pode dizer, idiota! Com um jeito tristonho, ela abaixou a cabeça e levantou os olhos para Sir Robin: — Hoje eu não acho ruim ouvir as bobagens. Tô precisando... O garçom entregou duas cervejas aos rapazes. Sir Robin reclamou: — E a da Tatiana? Você não vai servir só porque ela trabalha aqui? Enquanto o garçom saía constrangido, Sir Robin passou o seu copo para Tatiana, que olhou rindo para Duda. — Não pensei que um grosso como você ia ter um amigo assim! Animado, Sir Robin pegou a mão de Tatiana, ela apertou forte e eles se beijaram. Duda virou o rosto, fingindo nojo. Missão cumprida. Agora ele precisava cuidar de si.
Caixa-preta
por Luiz Cláudio Cunha
O Brasil perdeu a Copa de 2014 Flávio Costa, técnico da seleção quase campeã do mundo em 1950, avisava: “O futebol brasileiro só evoluiu do túnel para dentro do campo”. Seis décadas depois, o alerta continua cada vez mais assustador. Faltando pouco mais de três anos para voltar a sediar um campeonato mundial, o Brasil é o favorito para pagar o maior mico da história do futebol: perder a Copa do Mundo sem entrar em campo. Fora do túnel, nos estádios e nos aeroportos, o País mostra o desempenho amador de quem não tem competência, organização ou seriedade para uma empreitada de tal magnitude. O improviso, a pedalada, a ginga, o drible, a finta, o logro e a malandragem são virtudes de nossos jogadores ovacionadas dentro de campo. Mas, nas mãos ligeiras de nossos cartolas e governantes, tudo isso vira motivo para vaia, escárnio e preocupação. O tom amador que o Brasil dedica à copa antecipa a desorganização, o fiasco e a corrupção que podem levar o desespero à torcida brasileira, que não merece tanta decepção e não deveria pagar pelo prejuízo.
Prontos para a Rússia O ceticismo nasce no próprio governo: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou um trabalho sobre a questão “alarmante” de 10 dos 13 maiores aeroportos das 12 cidades-sedes. Sete, incluído o de Brasília, não passaram da fase de projetos – e um aeroporto exige, até a sua inauguração, passando por licença ambiental e licitação, um prazo de 92 meses, mais de sete anos e meio. Na conta do Ipea, nossos aeroportos só estariam prontos para a Copa de 2018, que vai acontecer na Rússia. São Paulo, que não tem estádio para receber nenhum jogo do Mundial, tem o maior aeroporto do País em estado crítico: inaugurado em 1985 com projeto para quatro terminais e três pistas, Guarulhos fun-
ciona só com dois terminais e duas pistas, que não operam ao mesmo tempo. É a obra mais cara do País: R$ 5 bilhões para um aeroporto que só vai ficar pronto muito depois da copa.
Amadorismo e malandragem Os burocratas querem driblar o problema com o velho jeitinho brasileiro: vão fazer um ‘módulo provisório’ no aeroporto, tradução elegante para o ‘puxadinho’ que vai enganar a Fifa e os 3 milhões de turistas extras que devem arriscar uma viagem ao Brasil em 2014. O País vai gastar R$ 115 milhões em ‘puxadinhos’, nada estranho para a nação que inventou um imposto provisório em 1996, a CPMF, que morreu só 11 anos depois.
Na pressa de cumprir um calendário cada vez mais impossível, o Governo Lula editou uma MP para ‘flexibilizar’ o controle sobre as obras de infraestrutura, sinal verde para o jogo bruto dos vigaristas que sempre faturam mais nas obras aceleradas com controle de menos. O Brasil já conhece esse estilo desde os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio: orçados em R$ 400 milhões, custaram dez vezes mais. A esculhambação endêmica e a corrupção crônica não permitem sonhar com a Copa de 2014. Se ela sair do papel, será tão cara que o País não terá motivos para festejar qualquer vitória. Mesmo que ganhe dentro de campo, o Brasil involuído do lado de cá do túnel estará irremediavelmente derrotado por seu próprio amadorismo e sua genuína malandragem.
Artigo
Os caças sem caça
Como não vamos à guerra, temos de refletir se precisamos mesmo desses aviões que custarão muito ao País. É melhor combater o tráfico de armas e de drogas com Super Tucanos
Texto Alberto Francisco do Carmo Ilustração TUCo
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iante do muito que já se disse e escreveu sobre a compra de caças para a FAB, é bom, primeiro, refletir se precisamos mesmo deles. Se a resposta for sim, se deveríamos projetá-los e fabricá-los ou comprá-los prontos. Na peça musical Camelot, a velha lenda do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, o sábio rei, com a ajuda do mago Merlin, transforma o reino numa utopia. Nenhum problema, nenhuma guerra. Mas os cavaleiros, os militares do pedaço, acabam por se entediar. E entoam a canção “Fie on goodness”, fora com a bondade! Que diabo! Nem uma boa briga, nem uma cidadezinha incendiada, nem uma mulher espancada pelo marido (para decapitá-lo e ganhar os favores da viúva agradecida), nada! A paz, enfim, enchia o saco! Militares de países sem guerras sentem algo parecido. Sentem isso até mesmo militares das grandes potências que esperaram, em vão, pela Terceira Guerra Mundial. Veio a guerrilha, que simplesmente desmoralizou toda a pompa e circunstância bélica. Países que se assanharam, como a Argentina na Guerra das Malvinas, foram brutalmente reconduzidos à sua insignificância ante os “grandes”. Se precisamos mesmo de caças, por que não projetá-los e fabricá-los? Resposta: nações com grande atraso tecnológico, que com muito esforço tentam fazer suas próprias armas, penam. O Egito, com uma mãozinha do alemão Willy Messerchmitt e do austríaco Ferdinand Brandner, mais a ajuda da Espanha franquista, conseguiu construir três caças HA-300 e um motor supersônico, o E-300. A Guerra dos Seis Dias cortou suas asas. O jeito foi comprar caças russos. Sem condições de levar o projeto à frente, o Egito praticamente deu de presente o E-300 para a Índia usá-lo no seu HF-24 Marut. Também deu em nada. A Índia, com tecnologia própria à beça, tem penado para produzir o HAL Tejas. O motor nacional, o Kaveri, está com o programa atrasado. A produção não chegou a pouco mais de duas dúzias. Enquanto isso, em projetos civis, nossa Embraer fabrica jatos aos milhares. O cenário é adequado para nos remeter à realidade dessa obra de Santa Engrácia que é a compra de caças supersônicos pela FAB. Três concorrentes se digladiam em guerras mediáticas e de lobbies. Suecos e franceses estão loucos para vender o que, usualmente, vendem pouco. A Boeing briga, mas não se aperta: só para os Estados Unidos fabricou mais de 600 FA-18. Umas dúzias a mais ou a menos não fazem diferença. A francesa Dassault não
vendeu um só Rafale para exportação. A sueca SAAB vendeu para África do Sul, República Tcheca e Hungria. Compraremos material totalmente importado e a caminho da obsolescência, em termos de projeto. Repete-se o que aconteceu no passado, com os Gloster Meteors, Mirages e F-5. Compramos os Meteors depois de terem levado, nas cores australianas, uma boa tunda dos MiG-15 na Coreia. Os motores dos Mirages são levados à França, de vez em quando, para revisão total. Ganharam na FAB o apelido sinistro de “jaca”, pela facilidade em perder estabilidade e se esborrachar. Os F-5 também colocaram muitos pilotos em caixões. Os Rafales são mais modernos, mas nunca serão páreo para os americanos F-22 e F-35, para o russo Sukhoi T-50 (PAK FA) ou mesmo para o misterioso J-20 chinês. Mais uma vez, vamos comprar material moderno, mas até certo ponto. A tal transferência de tecnologia cheira a muita pipoca por um tostão. Muitas empresas “brasileiras” para as quais a tecnologia seria transferida são, na verdade, empresas estrangeiras estabelecidas no Brasil. Uma boa leva de Super Tucanos da Embraer e alguns aviões de patrulha e helicópteros armados resolveriam melhor a parada quanto aos nossos reais inimigos: tráfico de armas e de drogas. A nação resolveria seus problemas com equipamentos tão despretensiosos quanto eficazes. Caças supersônicos contra o tráfico na fronteira é matar pulga com canhão. Caças seriam úteis apenas se nossos vizinhos quiserem fazer valer a linha divisória do Tratado de Tordesilhas ou se a ONU invalidar as 200 milhas de fronteira marítima. Difícil, não? É bom não termos ilusões quanto a enfrentamento por terra, mar e ar diante de grandes potências, com ou sem pré-sal a “defender”. A cultura da paz, da boa diplomacia, de não comprar brigas dos outros, o uso alternativo das Forças Armadas em missões de paz, ou no Complexo do Alemão e na defesa de fronteiras, são boas alternativas para que nossos cavaleiros de távolas nada redondas não morram de tédio.
A nação resolveria seus problemas com equipamentos tão despretensiosos quanto eficazes. Caças supersônicos contra o tráfico na fronteira é matar pulga com canhão.
Arte, Cultura e Lazer
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A primeira vez de Sublime e Jack Johnson em Brasília Mais um mês de atrações internacionais. Teremos shows de Jack Johnson (foto), com seu estilo havaiano, e do grupo Sublime, que apresenta o novo vocalista, Rome Ramirez. No cinema estreia o filme Piratas do Caribe: Navegando em águas misteriosas, com Johnny Depp, que aceitou o papel antes mesmo de existir roteiro, e a atriz Penélope Cruz, que promete deixar, no mínimo, curiosos todos que acompanham essa aventura desde o início. Para quem gosta de exposição, a Câmara Legislativa apresenta Brasília – meio século da capital do Brasil, que promete um passeio por fotografias, filmes e documentos históricos que retratam a origem e a trajetória da capital da República. No teatro, tem a peça A noviça mais rebelde, comédia cheia de improvisos.
Cinema
Advogado de porta de cadeia Diretor: Brad Furman. Mickey Haller (Matthew McConaughey) é um advogado bem-sucedido. Tudo muda quando ele precisa defender um insuportável rapaz rico de Beverly Hills (Ryan Phillippe), acusado de assassinato. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex em 27 de maio. 119 minutos.
Arthur, o milionário irresistível Diretor: Jason Winer. Arthur Bach (Russell Brand) é um bilionário irresponsável prestes a tomar uma decisão que mudará sua vida: optar por um casamento arranjado com Susan Johnson (Jennifer Garner), que permitirá a manutenção do seu estilo de vida luxuoso; ou ficar com Naomi (Greta Gerwig), a única mulher que amou. Comédia. Classificação livre. Kinoplex em 6 de maio. 103 minutos.
Caminho da liberdade Diretor: Peter Weir. Em 1940, pegos pelo regime stalinista, sete prisioneiros aproveitam-se da nevasca para fugir do Gulag Soviético. Eles têm poucas chances de chegar a um lugar seguro sem ser pegos novamente e correm risco de morte. Drama. Classificação 12 anos. Kinoplex em 13 de maio. 124 minutos.
Corações perdidos Diretor: Jake Scott. A história gira em torno de um casal que precisa enfrentar a morte da filha. Até que conhecem Mallory (Kristen Stewart), adolescente e moradora de rua que ganha a vida se prostituindo. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex em 6 de maio. 110 minutos.
Entre segredos e mentiras Diretor: Andrew Jarecki. A história é inspirada em fatos reais. Um homem milionário (Ryan
Gosling) acaba se apaixonando e se casando com uma mulher humilde (Kirsten Dunst). A mulher desaparece misteriosamente e Ryan se torna o principal suspeito. Suspense. Verifique a classificação. Kinoplex em 20 de maio. 101 minutos.
Força sobrenatural Diretor: James Wan. Uma família tenta impedir que maus espíritos se aprisionem em seu filho em coma. Terror. Verifique a classificação. Cinemark em 13 de maio. 90 minutos.
Hanna Diretor: Joe Wright. Hanna (Saoirse Ronan) é uma adolescente que foi criada pelo pai (Eric Bana), ex-agente da CIA, como uma máquina perfeita para matar. A rotina da jovem sempre foi voltada para cumprir uma missão. Quando o dia chega, ela cruza a Europa à procura do seu alvo e segredos
Peter Mountain/Disney Enterprises
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Cinema Em Conan, o Bárbaro (1982), o herói demonstrava maneira pragmática de encarar a vida. A frase “Vamos proteger nossas mulheres e salvar o mundo” tornou-se, oh, marca registrada. De poucas palavras (quase nenhuma, aliás), a máquina T-101, do filme Exterminador do Futuro, também só tinha uma missão: salvar o planeta. Décadas depois, Arnold Schwarzenegger, hoje com 64 anos, o intérprete dos dois personagens, ainda crê que sua missão é proteger a Terra. Agora, com métodos mais ortodoxos. O dublê de ator e político revela-se um apaixonado pela defesa do meio ambiente e da“energia verde”. Não por acaso, virou a grande estrela da segunda edição do Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus (AM). Um dia antes de sua palestra, Schwarzenegger, acompanhado do cineasta James Ca-
Cinema
meron (diretor de Exterminador, Titanic
Piratas do Caribe: Navegando em águas misteriosas
e Avatar, quer mais?), sobrevoou o Rio Xingu e visitou a comunidade de Altamira. Já em terra firme, ouviu pedidos sobre a
Diretor: Rob Marshall. O capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) reencontra uma mulher de seu passado (Penélope Cruz) e não sabe se está diante de um novo romance ou sendo usado para encontrar a famosa fonte da juventude. Aventura. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em
polêmica construção da Hidrelétrica de
20 de maio. 141 minutos.
que encontrar outras formas de energia,
Belo Monte. Os indígenas, claro, imploraram ajuda para exterminar a obra. “Temos como a solar, a eólica, a biomassa”, disse Schwarza, aderindo à causa. Quem diria...
começam a aparecer, provocando uma revolução em sua vida. Ação. Classificação 12
Comédia
dramática.
Verifique
a
classificação.
Kinoplex em 13 de maio. 90 minutos.
anos. Kinoplex em 27 de maio. 90 minutos.
O noivo da minha melhor amiga
Diretor: Luke Greenfield. Rachel (Ginnifer Goodwin) é uma advogada talentosa e amiga de Darcy (Kate Hudson). No aniversário de 30 anos de Rachel, ela bebe demais e acaba na cama com Dex (Colin Egglesfield), o noivo de Darcy. O acontecimento leva a complicações.
O bom e velho Governator reclama que, nos Estados Unidos, 100 mil mortes prematuras ocorrem a cada ano por causa
Os olhos de Julia Diretor: Guillem Morales. Julia (Belén Rueda) sofre de uma doença degenerativa nos olhos. Após encontrar sua irmã morta, ela decide investigar e descobre um mundo sombrio cheio de mistérios e mortes, ao mesmo tempo em que sua visão começa a piorar. Terror. Verifique a classificação. Kinoplex em 13 de maio. 112 minutos.
da poluição do ar. Pelo mesmo motivo, os hospitais do país recebem 6 milhões de pacientes com problemas respiratórios por ano. Que tal exterminar esses problemas, seu moço? Tanto lá quanto aqui? Chama o Conan. Ou o T-101, ora...
Freddy Charlson É jornalista e recicla o lixo
Arte, Cultura e Lazer
JoJo Whilden
Holmes) foi escolhida como dama de honra e não encontrava o noivo, Tom (Josh Duhamel), havia muito tempo. No passado, eles namoraram por quatro anos, mas agora ele vai se casar com Lila (Anna Paquin). Resta saber se as feridas do passado foram fechadas. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex em 27 de maio. 95 minutos.
Velozes e furiosos 5 Diretor: Justin Lin. O ex-policial Brian O’Conner (Paul Walker) firmou parceria com ex-condenado Dom Toretto (Vin Diesel). Desde que Brian e Mia (Jordana Brewster) tiraram Dom da custódia da polícia, eles vivem fugindo das autoridades. Agora, escondidos no Rio de Janeiro, precisam entregar um último trabalho para ganhar a liberdade. Ação. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 6 de maio. 96 minutos.
Cinemark Iguatemi: 3577-5140; Pier 21: 3223-7506;
Cinema
Reencontrando a felicidade
Diretor: John Cameron Mitchell. Becca (Nicole Kidman) e Howie Corbett (Aaron Eckhart) formavam uma família feliz, mas suas vidas viraram do avesso após a morte do filho, Danny (Phoenix List) em um acidente de carro. Drama. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 6 de maio. 91 minutos.
Padre Diretor: Scott Charles Stewart. Disposto a enfrentar criaturas demoníacas e vampiros para resgatar sua sobrinha sequestrada, um padre (Paul Bettany) põe em risco sua batina e segue em busca de extermínio. A Igreja é totalmente contra e começa a persegui-lo. Ação. Classificação 10 anos. Kinoplex em 13 de maio. 90 minutos
Se beber não case 2 Diretor: Todd Phillips. Depois de uma despedida de solteiro “marcante” e inesquecível em Las
Taguatinga Shopping: 3352-4708 www.cinemark.com.br Kinoplex: 3329-1617 www.kinoplex.com.br
Festival Internacional de Filmes Curtíssimos
Vegas, Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms), Alan (Zach Galifianakis) e Doug (Justin Bartha) fazem uma viagem para a exótica Tailândia. A diferença agora é que eles estão em um país diferente. E a tradicional regra de que “o que acontece em Vegas fica em Vegas” não faz o menor sentido. Comédia. Classificação 14 anos. Kinoplex em 27 de maio. 101 minutos.
The Romantics Diretor: Galt Niederhoffer. Um grupo de amigos inseparáveis se reencontra para o casamento de dois deles. Laura (Katie
Em sua 13ª edição internacional e 4ª no Brasil, o festival exibe uma seleção de aproximadamente 7 horas de filmes curtíssimos, nos mais diferentes formatos e gêneros. 6, 7 e 8 de maio, às 20h, no Museu Nacional – Conjunto Cultural da República. Entrada franca e livre. Telefone: 3327-3844. Programação em www.filmescurtissimos.com.br.
Tá chovendo hambúrguer Diretor: Phil Lord e Chris Miller. Cientista tem intenções de acabar com a fome da população da pequena cidade de Chewandswallow. Tudo parece perfeito, mas começa a chover
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Música
Os shows do cantor (e surfista) Jack Johnson são notórios pela sua capacidade de falar com seu público – como se estivesse entre amigos – para uma performance muito pessoal e intimista. Tal qual entre uma onda e outra, anos atrás, quando ainda era só um surfista e tocava seu violão noite adentro, nas praias do Havaí, rodeado de amigos (surfistas ou não). É esse clima de luau, embalado por surf music com forte apelo pop, que esperamos ver aqui no meio do Planalto Central, no estacionamento do estádio Mané Garrincha, no dia 25. Será o terceiro show do total de oito que o cantor havaiano fará pelo Brasil com a turnê To The Sea. O show leva o mesmo nome do álbum, o quinto, lançado em junho de 2010. O dismúsica
co é tido como um dos mais importantes
Sublime with Rome
e representativos de sua carreira. Muitas das letras foram escritas em homena-
O grupo se apresentará pela primeira vez em Brasília. O show faz parte da turnê de retorno da banda, que havia acabado em 1996, com a morte do vocalista Bradley Nowell. 15 de maio, às 21h, no Opera Hall. Ingressos (inteira): Pista R$ 100; Premium Fem. R$ 160 (open bar); Premium Masc. R$ 200 (open bar). Classificação 16/18 anos (Premium). Telefone: 3306-2012.
gem ao seu pai, que morreu durante as gravações. Certamente não faltarão menções ao seu velho durante a apresentação em solo brasiliense, agradavelmente embalada por uma guitarra acústica e a suave percussão da excelente banda que acompanha o havaiano.
sopa, e, depois, vem uma tempestade de hambúrgueres. Ele só não imaginava que isso iria causar um problema de proporções globais. Animação. Classificação livre. Sessão
ainda inédita no Brasil, presenteia o público com encontros entre artistas que, em suas criações musicais, têm estilos e ritmos vindos da América Latina e da África. 7 a 29 de maio, às
Cineminha da Fnac em 30 de abril, às 14h. 95 minutos.
21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Ingressos (inteira): R$ 15. Telefone: 3310-7087.
Música
Afrolatinidades – Matriz
africana na música latina O projeto musical é uma série de quatro shows compondo um panorama da música afro-latina na atualidade. A programação,
Distintos Filhos A banda lançará seu primeiro disco, que tem a produção do músico e produtor Philippe Seabra (Plebe Rude) e traz 13 faixas, todas inéditas. 27 de abril, às 19h30, na Fnac de Brasília (ParkShopping). Entrada franca. Telefone: 2105-2000.
Em uma cidade que habitam muitos dos chamados “surfistas do Lago Paranoá”, bem que o show poderia ter uma atmosfera mais propícia, à beira do Lago – como no Pontão ou na Concha Acústica. Mas Jack Johnson é daqueles artistas que consegue reunir o apreço de todas as tribos. Surfistas ou não. Vale o ingresso.
Leandro Galvão É jornalista
Arte, Cultura e Lazer Clube do Choro
Sleeping Giant
Em maio, o Clube do Choro está repleto de apresentações que cultuam a música popular brasileira. Serão oito espetáculos. Shows às
Os ex-integrantes da banda XDeathStarX formaram a banda de hardcore Sleeping Giant em 2007, na Califórnia (EUA). A banda tem dois álbuns gravados: Dread champions of the last days e o mais recente, Sons of thunder. Conta com a participação das bandas Lost in Hate e Kout Down. 6 de maio, às 21h, no Blackout
quartas, quintas, sextas e aos sábados a partir das 21h. Ingressos (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. Alessandro Penezzi e Alexandre Ribeiro: Dias 4, 5 e 6 Zé da Guiomar: Dia 7 Alciomar, James Lebens e Grupo Choro Livre: 11, 12 e 13 Praga de Baiano: Dia 14 Diego Figueiredo: 18, 19 e 20 Túlio Borges: Dia 21 SPOK Quinteto: 25,26 e 27 Toninho Maia e Edilenio Souza: Dia 28
Diogo Nogueira O cantor e compositor estará de volta a Brasília para o lançamento do seu DVD Sou eu. 20 de maio, às 22h, no salão da AABB – Setor de Clubes Sul. Ingressos (inteira): Pista R$ 50; Camarote VIP R$ 80; Front stage R$ 160 (Open Bar e Open Food). Classificação 16 anos. Telefone: 8126-9502.
Jack Johnson to
the sea tour 2011 O cantor havaiano Jack Johnson se apresentou apenas uma vez no Brasil, em 2009. Agora, ele está de volta ao País para apresentações em oito capitais. O show será aberto por G. Love. 25 de maio, às 20h, no estacionamento do Mané Garricha. Ingressos (inteira): Pista R$ 260; Pista Premium R$ 500; Camarote lounge R$ 700 (open bar). Classificação 16/18 anos (Camarote lounge). Telefone: 4003-1527.
Quarteto No Balanço Toca clássicos da música brasileira em formato instrumental, com arranjos próprios que sempre abrem espaço para a improvisação. Além de músicas de compositores como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Toquinho, Djavan e Chico Buarque, composições próprias compõem o repertório. 15 de maio, às 17h, na Livraria Cultura CasaPark (mezanino musical). Entrada franca. Telefone: 3410-4033.
Bar (904 Sul). Ingressos (inteira): R$ 20. Classificação 18 anos. Telefone: 8202-4392.
Tulipa Ruiz Show de lançamento do seu álbum Efêmera. As apresentações contam com projeções de desenhos da cantora e de imagens feitas em tempo real pelo grupo Cinema de Mão. 6 de maio, às 21h, no Teatro Oi Brasília (SHTN Trecho 1, Conj. 1B). Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 12 anos. Telefone: 3424-7121.
Vanessa da Mata A cantora e compositora Vanessa da Mata está com CD e show novos: Bicicletas, bolos e outras alegrias. 30 de abril, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): VIP Gold R$ 240; Gold Lateral R$ 200; VIP A R$ 160; VIP B R$ 120; VIP Superior R$ 60. Classificação 16 anos. Telefone: 3364-0000.
exposições
Alma feminina A artista plástica paulistana Ana Rita Videira tem no currículo mais de 65 exposições, entre mostras coletivas e individuais no Brasil e no exterior. Sua arte é um universo paralelo, com formas abstrato-fluídicas e uma realidade cheia de beleza e onirismo. Até 5 de maio, de segunda a sexta, das 9h às 17h, no Espaço Cultural da Câmara dos Deputados. Entrada franca. Telefone: 3216-0000.
Islã – arte e civilização A mostra reúne mais de 300 obras que contam 1,4 mil anos da história do Islã. Já passou pelo
Rio de Janeiro e por São Paulo. Até 3 de julho, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7081.
JK e as personalidades do século XX
A exposição apresenta 20 fotografias que registram os contatos de Juscelino Kubitschek com diversas personalidades da época. Foram reunidas imagens de celebridades da arte, da política e do futebol. Até 31 junho, de terça a domingo, das 9h às 18h, no Memorial JK. Entrada franca. Telefone: 3326-7860.
Luthier: concerto
para cordas e cores Inédita, a exposição de João Reis III inspirase em ambiências sonoras e em instrumentos musicais imaginários. Quadros a óleo e a tinta acrílica, todos com a mesma temática: objetos plásticos inventivos, pseudoinstrumentos musicais que mobilizam o desejo de produzir músicas. 4 de maio a 5 de junho, das 10h às 22h, na Livraria Cultura CasaPark (passarela do mezanino). Entrada franca e livre. Telefone: 3410-4033.
Mulheres, artistas e brasileiras A exposição reúne 80 obras de 49 artistas, todas mulheres. A principal é o Abaporu, de Tarsila do Amaral, trazida de Buenos Aires especialmente para a mostra. São exibidas também pinturas de Anita Malfatti e Djanira.Até 5 de maio, das 10h às 16h, no Salão Oeste do Palácio do Planalto. Entrada franca e livre. Telefone: 3033-2929.
Mundo jurássico A exposição apresenta 22 réplicas em tamanho real de dinossauros encontrados na Ásia, na América, na África e na Europa. O que chama mais a atenção é o Tiranossauro Rex montado em tamanho equivalente à idade adulta: tem 7 metros de altura e 14 metros de
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desenhos de Michelle Cunha. Até 7 de maio, de segunda a sexta, das 11h às 19h, e aos sábados, das 10h às 14h, no Brechó Retrô Ativa (201 Norte). Entrada franca. Telefone: 3273-0272.
Palestras
A importância de idiomas
para a carreira profissional Focada na importância do conhecimento de mais de um idioma e na experiência fora do Brasil para a construção de uma carreira bem-sucedida. Por Frederico Daher, mestre em Marketing de Produtos e Destinos Turísticos. 17 de maio, às 19h30, na Livraria Cultura CasaPark (auditório). Entrada franca. Telefone: 3410-4033.
Como multiplicar a
inteligência do seu bebê Exposição
Brasília – meio século da capital do Brasil
Por meio de fotografias, filmes e documentos históricos, a origem e a trajetória da cidade. Os destaques são: a maquete de Brasília, com 30 metros quadrados; quatro instalações de artistas plásticos locais e a realização de um ciclo de cinema sobre a capital. A mostra já passou por Madri (Espanha) e Lisboa (Portugal). Até 3 de junho, de segunda a sexta, das 9h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h, na Câmara Legislativa – Foyer do Plenário. Entrada franca. Telefone: 3348-8286.
comprimento. Até 5 de maio, de terça a domingo, das 10h às 22h, no Pátio Brasil Shopping. Ingressos (inteira): terça a sexta R$ 40, sábado e domingo R$ 50. Classificação livre. Telefone: 3344-2900.
O cordel Mostra com trabalhos em cordel em homenagem ao mês do livro e a Paulo Nunes Batista, cordelista, advogado e jornalista. Paraibano radicado em Goiás, nasceu em uma família tradicional de cordelistas. É neto de Ugolino, um dos pioneiros do cordel no Brasil.
As crianças são muito mais capazes de aprender do que imaginamos. Sílvia Lobato, especialista em desenvolvimento infantil e diretora pedagógica da Boobambu, academia da criança, ensinará a não desperdiçar os anos mais importantes para o desenvolvimento do seu filho. Aprenda a multiplicar a inteligência do bebê. 12 de maio, às 19h30, na Livraria Cultura CasaPark (auditório). Entrada franca. Telefone: 3410-4033.
Ópera e política Ele é autor de mais de 140 folhetos de cordéis e seis livros e membro da Academia Goiana de Letras. Até 11 de maio, de segunda a sexta, das 7h30 às 23h, e sábado, das 8h às 14h, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília (506/507 Sul). Entrada franca e livre. Telefone: 3244-3015.
Só as cafonas são felizes A cafonice, entre outras coisas, é ausência do medo de ser feliz. Foi pensando nisso e na proximidade que existe entre moda e arte que surgiu o mote para esta exposição. Pinturas e
A música clássica e a ópera permanecem como modelos artísticos obscuros e de difícil penetração, sem nenhum contato com a realidade cotidiana, especialmente em seus aspectos sociais e políticos. Marcelo Barroso Lacombe propõe-se a dirimir essa falsa impressão. Na palestra serão analisadas cinco óperas específicas: Don Giovanni (Mozart), Fidelio (Beethoven), Don Carlo (Verdi), Lohengrin (Wagner) e Boris Godunov (Mussorgsky). 3 de maio, às 19h30, na Livraria Cultura CasaPark (auditório). Entrada franca. Telefone: 3410-4033.
Arte, Cultura e Lazer Pais inseguros, filhos perdidos Ricardo Chagas faz palestras nacionais sobre mídia, tecnologia, segurança e desenvolvimento familiar. Ele falará sobre a importância de saber tudo que acontece com seu filho. A tecnologia ajuda ou prejudica o convívio familiar e social? 13 de maio, às 19h30, na Livraria Cultura CasaPark (auditório). Entrada franca. Telefone: 3410-4033.
A vizinha de Antônio Apresentada pela companhia de teatro Assisto Porque Gosto. À beira da morte, o popular e galanteador Antônio, ex-vocalista de banda de rock, quer se reconciliar com Nica, seu único e grande amor. Para isso, ele se utiliza de todos os artifícios. Até 22 de maio, quinta, sexta e sábado às 20h, e domingo às 19h, no Teatro Sesc Silvio Barbato (Setor Comercial Sul).
Princípios de benefícios
Ingressos (inteira): R$ 30. Classificação 14 anos.
da Kriya Yoga
Telefone: 9999-3330.
Yogacharia Bhadrayu Pandya, líder do centro de Kriya Yoga de Cincinnati, fala sobre os princípios e os benefícios da Kriya Yoga e da sua experiência pessoal com essa ciência sagrada. 10 de maio, às 19h30, na Livraria Cultura CasaPark (auditório). Entrada franca. Telefone: 3410-4033.
Teatro
As bondosas Comédia de Ueliton Rocon conta a história de três carpideiras: Angústia, Prudência e Astúcia, que num velório fazem de tudo, menos rezar. As três aprontam as maiores
confusões, até que no fim desvendam seus próprios segredos. Até 1° de maio, sexta e sábado às 21h, domingo às 20h, na Sala Adolfo Celli na Casa D’Itália (208/209 Sul). Ingressos (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3242-0542.
Como passar em concurso público O grupo G7 apresenta a peça que conta a história de José Brasil, “concurseiro” em busca da aprovação. Desde seu nascimento, Zé Brasil é incitado a se tornar técnico judiciário. O espetáculo transita por todas as etapas que ele enfrenta: a pressão familiar, os momentos de dúvida, a devoção religiosa, todos os obstáculos ultrapassados para alcançar a sua vaga. Até 8 de maio, sábado às 21h e domingo às 20h, no teatro do Colégio La Salle. Ingressos (inteira): R$ 40. Classificação 10 anos. Telefone: 8129-4709.
UM COMPROMISSO QUE LEVA O NOSSO NOME Compromissos da Justiça com você em 2011
Após as sessões de julgamento, publicar os acórdãos em até dez dias.
Julgar mais processos do que a quantidade que entrou na Justiça este ano.
Acabar com o estoque de processos que entraram na Justiça até o fim de 2006 e, quanto aos processos trabalhistas, eleitorais, militares e de competência do tribunal do júri até o final de 2007.
Publicar mensalmente a produtividade dos magistrados no portal do tribunal. Para maiores informações consulte o portal do seu tribunal. Compromisso com a Justiça do Brasil. www.cnj.jus.br
João Caldas
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Teatro No cinema, o norte-americano David Mamet é conhecido pelos roteiros cheios de diálogos ágeis e histórias movimentadas. Entre elas a trama policial de Os intocáveis, filme de 1987 dirigido por Brian De Palma sobre o submundo do crime organizado na Chicago dos anos 20 e 30. Diretor respeitado, roteirista talentoso, Mamet se realiza como homem das palavras no teatro, tendo escrito textos como O bosque, montagem em cartaz até o dia 8 de maio, no CCBB. Escrita em 1977, a trama é focada no casal Nick (Bruno Kott) e Ruth (Cristine Perón), jovens na casa dos 30 anos que desfrutam relacionamento aparentemente maduro e saudável. Situação que será colocada à prova quando ambos passam uma temporada no campo, no bosque idílico do título. Pontuado por belíssimo cenário telúrico, o enredo aposta nos contrastes entre vida
teatro
A noviça mais rebelde
Volta aos palcos brasileiros a Irmã Maria José, interpretada pelo ator Wilson de Santos, uma das personagens do musical Noviças Rebeldes. O texto mistura stand up, improvisação e música. 7 e 8 de maio, sábado às 21h e domingo às 20h, no Teatro Nacional – Sala Martins Pena. Ingressos (inteira): R$ 50. Classificação 12 anos. Telefone: 3325-6256.
urbana e rotina campestre para falar da incapacidade de comunicação no acelerado mundo atual. Questão enfatizada em cena por meio de diálogos abruptos, tensões sentimentais e atmosfera obscura. O diretor Alvise Camozzi parece buscar a sensibilidade intimista dos filmes do italiano Michelangelo Antonioni, mas
Loucas e psicopatas
O bosque
História de Alessa e Danisa, duas atrizes em crise. Duas mulheres tentando ser perfeitas. Elas são mães atenciosas, esposas dedicadas, mulheres competentes e são atrizes que narram o cotidiano feminino em seus espetáculos. Elenco: Alana Ferrigno e Luciana Amaral. Até 1° de
A peça gira em torno da relação entre Ruth e Nick, jovem casal de férias em uma casa no campo, em frente a um lago. Um casal no ápice de uma relação de recente descoberta, que de alguma maneira se põe à prova nessa viagem, longe da cidade. O elenco é composto por Bruno Kott e Cristine Perón. Até 8 de maio,
maio, sexta, sábado e domingo, às 20h, no Espaço
de quinta a sábado às 19h30; domingo às 18h30. No
Cultural Brasília Shopping. Ingressos (inteira):
Centro Cultural Banco do Brasil. Ingressos (inteira):
R$ 30. Classificação 14 anos. Telefone: 2109-2122.
R$ 15. Classificação 16 anos. Telefone: 3310-7087.
está mais para os trabalhos cerebrais de Ingmar Bergman e Tcheckov.
Lúcio Flávio É jornalista
Banquetes e botecos } ilustração Humberto Freitas
Por Marcela Benet
Quer combinar música, arte e culinária? Vá ao Oliver
12345 Quer fugir rapidinho na hora do almoço para dar uma relaxada? Vá ao Oliver. Quer almoçar com a família num ambiente gostoso? Vá também ao Oliver. Ele fica pertinho da Praça dos Três Poderes, em cinco minutos você chega. É um restaurante despretensioso, com decoração simples, peças artesanais que lembram a varanda de uma casa. Você ainda tem o prazer de poder comer contemplando a natureza do Clube de Golfe. A proposta do restaurante Oliver é a combinação de boa mesa, arte e música. À noite, de terça a sábado, tem apresentação musical ao vivo, com repertório superagradável de jazz, blues e MPB, entre outros estilos. É um restaurante tanto para o dia como para a noite. No cardápio, temos a opção do meio prato, coisa rara de encontrar em Brasília. Tanto permite comer bem e voltar a trabalhar como possibilita degustar entradas, pratos e sobremesas saborosas sem pressa alguma. Fui lá em várias oportunidades e sempre sa satisfeita. Quando quero fugir do trabalho para comer rapidinho, quando quero curtir uma boa música à luz de velas, com boa companhia e belo vinho, ou quando quero ir com a família, num almoço de domingo. A sensação que tenho é que o Oliver é um Oliver a cada experiência, mas sempre com comida boa e ambiente gostoso. Há várias opções de entradas, desde o tradicional carpaccio às famosas bruschettas de tomates. Gosto mesmo é da porção de pata negra belota fatiada com 18 meses de cura, que delícia! Acompanhada de um vinho bordeaux, Château Verdignan, vencedor de degustações e altas pontuações, melhor ainda. O cardápio também oferece opções maravilhosas de peixes, massas e carnes. O bacalhau ao Zé do Pipo é muito saboroso – é o lombo do bacalhau grelhado no azeite extravirgem, com purê de batata, brócolis com alho e cebolas. Mas não podemos nos esquecer do prato mais tradicional da casa, a paella. Esse prato da região da Valência, na Espanha, já é tradição nos fins de semana. São de três tipos: a marinera, a de bacalhau e a brasileira, que tem temperos nacionais. A marinera é a melhor. Com camarões VG, alho com casca e temperos tradicionais, é de comer gemendo. Agora só falta decidir: qual Oliver que você quer conhecer? Setor de Clubes Sul, trecho 2 Clube de Golfe (61) 3323-5961 Domingos e segundas: 12h – 18h 3ª a sábado: 12h – 1h30
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