As filmagens de Faroeste Caboclo no Jardim ABC
+ LEGALISMO
Se é certo ou errado, não importa. No Brasil, vale o que diz a lei
U N°
Não dá para pedir seu ingresso de volta As CPIs viraram produções caras com roteiros vazios. Só servem ao jogo político e eleitoreiro dos próprios atores
4 Ano 1 | Julho 2011 | www.meiaum.com.br
+ BASTIDORES
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Niemeyer, Lucio, Israel, Burle, Athos, Ernesto... Sem eles, JK não construiria Brasília. Uma pessoa tem uma ideia brilhante. Mas é preciso uma boa equipe para executá-la.
WHD Comunicação, 11 anos Consultoria em comunicação e política Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia Produção de conteúdo para todos os meios Relações públicas
61 3468.1466 www.whd.com.br whd@whd.com.br Brasília - DF
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Papos da Cidade
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Artigo – José Tadeu Seixas O legalismo que impera no Brasil
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Cinema
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Artigo – Alberto do Carmo
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Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília
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Crônica – Bárbara Semerene A terra da fantasia virou setor hospitalar
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Capa
Perfil
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Crônica – Paulo Rebêlo Tantas áreas verdes, nenhuma criança
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Conto – João Pitella Junior
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Artigo – Juliana Santana
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Fora do Plano
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Caixa-Preta
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Arte, Cultura e Lazer
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Banquetes e Botecos
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Bastidores das filmagens de Faroeste Caboclo no Jardim ABC
Trotes: mau gosto por todo o mundo
Lincoln Carlos Silva (foto), o garçom-amigo
O drama de uma balzaquiana que descobre o seu lado nelsonrodrigueano
Paola Lima analisa os bastidores da política local
Artigo – Freddy Charlson Depois de 200 filmes pornôs, Sasha Grey mudou de ramo
Daniel Dantas (foto) foi um dos atores do espetáculo das CPIs
O turista quer informação
A política nacional por Luiz Cláudio Cunha
Os destaques da programação da cidade
Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é
CARTA PARA MARCELA BENET
ÍNDICE
Quero agradecer a delicadeza com que tratou o Universal Diner (n° 3). É visível que você acompanha o Universal desde o início e pôde vivenciar os diversos momentos da casa, nossos altos e baixos. Fico feliz pelo carinho e pela pontualidade até nas críticas. Realmente passamos um momento de adaptação na casa após a mudança. Fomos pegos de surpresa pelo impacto dessa mudança. A necessidade de readequação operacional, de estrutura e equipe, ultrapassou nossas expectativas, e acabamos “apanhando” um pouco com isso. Mas posso afirmar que há um forte trabalho sendo feito, uma grande preocupação na manutenção do alto padrão com que o Universal se fez conhecer. A sua matéria, inclusive, nos ajuda como material crítico para ser trabalhado com nossa equipe, para mobilização de todos na busca da qualidade e reconquista de todos os nossos clientes. Te peço esse crédito ainda: para que possa retornar à nossa casa, e nos dar sua avaliação novamente sobre o Universal. Esperamos oferecer ainda muitos momentos de satisfação nessa história. Mara Alcamim & Equipe
E mais...
Nilson Carvalho
Thyago Arruda
Arquivo pessoal
Pedro Ernesto pág. 8, Lúcio Flávio págs. 8 e 52, Ana Paula Ferraz pág. 9, Guilherme Martins pág. 9, Chico Sant’Anna pág. 9, Patrick Selvatti pág. 10, Sandra Turcato pág. 10, Laura Násser pág. 10, Paulo Mesquita pág. 11, José Tadeu Seixas pág. 12, Francisco Bronze págs. 12 e 26, Thyago Arruda págs. 14, 22 e 44, Alberto do Carmo pág. 20, João Pitella Junior pág. 26, Gougon págs. 29 e 46, Paola Lima pág. 29, Freddy Charlson pág. 30, Rômulo Geraldino pág. 30, Rafania Almeida págs. 34 e 48, Cláudia Dias pág. 42, Juliana Santana pág. 44, Luiz Cláudio Cunha pág. 46, Priscila Praxedes pág. 47, Humberto Freitas pág. 54
Orlando Brito pág. 34
Marcela Benet
Bárbara Semerene
pág. 54
Thyago Arruda
Conhece quase todos os restaurantes de Brasília. E é uma observadora instintiva, mas cuidadosa, de tudo: do cardápio, da comida, da bebida, do ambiente, do serviço, do clima. Para não receber atendimento especial nos restaurantes que frequenta, Marcela, na verdade, é um pseudônimo. Sua verdadeira identidade é um segredo da meiaum.
Thales Fernando
Morillo Carvalho pág. 14
Jornalista por profissão e crítico por paixão, o insone Morillo divide sua vida entre dois empregos, dois blogs, uma mulher e um filho. Sem preconceito, cantarola o ordinarismo de um É o Tchan, cita Vinicius de Moraes e não esconde o amor incondicional por Nando Reis e FooFighters. Boêmio falso, tem o insuportável hábito de fumar e é viciado na companhia dos amigos, todos jornalistas.
pág. 32
É jornalista. Cresceu em Brasília e “adulteceu” em São Paulo, escrevendo para revistas da Abril e da Globo. De volta ao DF, desenvolveu dupla personalidade: assessora de imprensa durante o dia, transforma-se em professora de jornalismo à noite. Publicou um livro para adolescentes, fruto do trabalho em Capricho. Falta plantar uma árvore, fazer um filho, dar a volta ao mundo, aprender a tocar bateria, pular de paraquedas...
Arquivo pessoal
Ana Rita Gondim pág. 22
Uma pessoa de riso frouxo e de reflexão, que ama viajar e adora o seu cantinho, que ama um samba com cerveja e um filme abraçado, que ama uma salada e uma panela de brigadeiro, que sonha acordada e dorme sonhando, enfim, uma “montanharussa” que acredita em “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. “Moça inteira de caraminholas”, disseram-lhe uma vez...
Thyago Arruda
Thyago Arruda
Foi o primeiro brasileiro na história a receber o prêmio World Press Photo, em 1979. Orlando Brito é referência mundial do fotojornalismo brasileiro. Fotografou em veículos como O Globo, Jornal do Brasil e Última Hora. Editou a fotografia de Veja. São 46 anos de fotografia, com um reconhecido portfólio de imagens da política. Para esta meiaum, cedeu imagens captadas em CPIs.
Paulo Rebêlo pág.42
Natural de Santarém e criado no Recife, Paulo Rebêlo é jornalista e resolveu se mudar para Brasília pela segunda vez. É editor-executivo na AF2 Comunicação e editor-adjunto no Webinsider/UOL, além de colunista e colaborador em publicações diversas com suas crônicas sobre cotidiano e relacionamentos. Saiba mais visitando www.rebelo.org.
pág. 32
Estuda Design na UnB. Entre uma pedalada e outra procura sempre estar produzindo algo novo, e claro, sempre com o bom e velho rock´n´ roll na vitrola.
Colaboradores
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Carta dos editores
Ficção no Congresso e no ABC
E
m duas reportagens desta edição percorremos os bastidores de dois espetáculos que têm a capital como pano de fundo. Uma mostra as filmagens de Faroeste Caboclo, a música que já nasceu para ser roteiro. A outra fala de exibições de péssima qualidade, nas quais canastrões fingem que trabalham e os espectadores fingem que acreditam. Na reportagem de capa, a repórter Rafania Almeida mostra que, na última década, mais de 70 proposições foram apresentadas em comissões parlamentares de inquérito no Congresso. Nenhuma – nenhuma mesmo – foi votada. Muito barulho para nada. Se a população nada ganha com esses espetáculos de mau gosto exibidos no Congresso, apesar de financiá-los, os atores ganham muito. Ganham no jogo político e financeiro, utilizando
as CPIs como instrumento de chantagem e poder, e ganham eleitoralmente, transformando-as em palanques. Quem perde é o Brasil, que tem mais um instrumento de fiscalização desmoralizado e desacreditado. Nas CPIs, os nobres parlamentares falam bonito, dão lições de moral. Mas é apenas um show, como mostram as fotos de um das mais importantes fotógrafos brasileiros, Orlando Brito. Um show com roteiro de má qualidade. Roteiro bom mesmo é o de Faroeste Caboclo, longa-metragem inspirado na música homônima de Renato Russo. Vai dizer que você nunca pensou que essa canção daria um filme? René Sampaio, cineasta formado na UnB, resolveu colocar a ideia em prática, com texto de Marcos Bernstein e Victor Atherino. O jornalista Morillo Carvalho e o fotógrafo Thyago Arruda acompanharam um dia de filmagens
no Jardim ABC, caracterizado como a Ceilândia dos anos 80, onde ocorreu o célebre duelo de João de Santo Cristo e Jeremias, segundo o poeta do rock. A reportagem da dupla traz mais que bastidores das filmagens. Apresenta moradores do vilarejo goiano sem asfalto, esgoto ou qualquer infraestrutura, que acolheram a equipe de produção como se ricos fossem e tiveram a sensação de abandono reduzida pelo movimento das gravações. Enquanto falsos heróis fingem decidir um futuro melhor no Congresso Nacional, o povo do Jardim ABC tem um pouco do Santo Cristo, que só “queria era falar pro presidente pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer”. Talvez por isso Renato Russo questionasse “que país é esse?”. Mas essa é outra história.
Anna Halley e Hélio Doyle
( ) MEIA
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(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Diretora de Produção: Danielly Alonso Editor de fotografia: Nilson Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br Impressão FCâmara Gráfica & Editora – CSG 9 Lote 3 Galpão 3, Taguatinga Sul Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br
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CAPA | Por Cícero Lopes
Diretores: Anna Halley, Danielly Alonso e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br
Desenho finalizado em aquarela Jornalista ilustrador, começou a desenhar profissionalmente aos 12 anos. É editor de infografia do Jornal de Brasília e empresário.
Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto
ped.ernesto.din@gmail.com
Um estranho no (ninho) sebinho Um sebinho da cidade. Tarde de um dia qualquer no Planalto Central. Um homem que um dia teve o poder em suas mãos adentra o local com o segurança a tiracolo. Deixa o guarda-costas plantado na entrada e vasculha o lugar em busca de autores específicos, ele sabe o que quer. Adora literatura, é amante dos livros. Mas é uma tarde atípica, tarde de autógrafo de um escritor local. Surpreendida pelo movimento incomum da casa, essa poderosa figura que um dia caminhava com desenvoltura no meio do povo
se vê visivelmente constrangida. O constrangimento aumenta quando, de repente, do nada, um guri grita em estado de terror: – Ih, mãe, olha lá, aquele cara que aparece todo dia na televisão!!! Envergonhado, o homem que um dia sabia como poucos sair de situações embaraçosas, sobretudo em público, se vê acuado. Ele quer deixar o ambiente o mais rápido possível, assim, apressa a visita, acertando a compra. Mas o valor excede a quantia que carrega no bolso. O homem que um dia foi flagrado por câmeras carregando boladas de dinheiro em esquema de corrupção hediondo se vê sem dinheiro para pagar a conta de um hobby. Vai embora, mas antes deixa a garantia de que o pagamento da compra será feito no dia seguinte. Deixa o local, mas não vai sozinho. Sai acompanhado do compositor e ator Mário Lago e dos romancistas William Faulkner, Jorge Amado e Machado de Assis. Quer dizer, de uma biografia do primeiro e de romances dos três últimos. Do Bruxo do Cosme Velho, leva a coleção inteira. No dia seguinte, o segurança volta ao local para honrar a promessa do chefe. A quantia no valor de quase mil reais não é paga em dinheiro, mas em cheque. Alguns dias depois, o episódio sai numa coluna de prestígio de respeitada jornalista. Cinco linhas apenas, quase imperceptíveis, mas a informação é demolidora. Moralmente demolidora. Algumas semanas mais tarde, quando um funcionário da loja liga para o homem que num passado recente foi a mais importante autoridade do Planalto Central para avisá-lo sobre uma encomenda que chegara, ele declina: – Não, obrigado, nunca mais faço compras aí! Moral da história. Se você tem medo do lobo, não vai à floresta. Lúcio Flávio
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Para meus amigos A coisa a que mais dou valor na minha vida são as minhas amizades. Tenho bons e verdadeiros amigos, e não são poucos. Eu até chutaria que eu tenho os melhores e mais legais amigos do mundo. Dizem, e aí não sou eu que estou dizendo – juro –, que não há amigo como o brasiliense. Sempre ouço isso dos queridos que se mudam daqui. O que sei é que, independentemente da cidade natal deles, às vezes me questiono se eu amo tanto esta cidade porque cada cantinho dela me lembra de algum amigo. Memórias antigas se misturam com as mais recentes e desenham uma paisagem afetiva muito valiosa. Passear de patins ou fazer piquenique no Parque da Cidade. Fotografar os ipês coloridos do Eixão. Começar o fim de semana no Arabesque. Terminar no Bar do Luíz. Comer cuscuz na Torre de TV. Participar de manifestações culturais e políticas na Esplanada dos Ministérios. Amoreiras carregadas nas entrequadras. Nadar nas piscinas da Água Mineral. Pôr do sol no Pontão do Lago Sul. Visitar as tartarugas do Parque Olhos D’Água. Vinho e violão na Praça dos Três Poderes. Assistir às manobras dos skatistas no Setor Bancário Sul. Comer pastel na rodoviária. A Guerrilha do Bom Humor do Esquadrão da Vida. Observar os tucanos nas árvores do fim da Asa Norte. Caminhada pelo Setor de Embaixadas Sul. Festas no Conic, no Setor de Oficinas Sul e na Galeria dos Estados. Sessões de cinema de madrugada na Galeria Karim. Os sininhos do coral da UnB convidando para apresentação de Natal na minha quadra. O aroma dos temperos na Feira do Guará. Molhar-se na primeira chuva depois de um longo período de seca. É. Dedico minhas melhores lembranças de Brasília a vocês, meus amigos – mesmo os que não moram mais ao alcance do Grande Circular. Feliz dia 20 de julho! Ana Paula Ferraz
Todo o resto e eu, e vice-versa Provavelmente era só mais uma tarde normal. Sempre esqueço a hora, e duvido que seja tão relevante, a menos que acredite em carmas astrais e tudo o mais. Era um 4 de novembro, mais um. O milésimo nongentésimo nonagésimo primeiro 4 de novembro existente depois de Cristo, carinhosamente chamado de 1991. Definitivamente, foi um dia normal. Colombo não descobriu o abacaxi ou Obama foi eleito, como em outros dias desses. Mas, apesar de todo o resto do mundo pouco se importar com tal 4 de novembro, é nele que se concentra toda minha existência e vida mortal. Melhor: é ele que inicia tudo isso. Chorei ingenuamente ao chegar aqui, já prevendo o mundo mórbido no qual habitamos. Não queria fazer parte disso, e ainda não o quero. Certa idade fui levado a uma vidente, ainda bem pequeno. Disse-me que seria o presidente do Brasil. Desde então sou parcialmente cético. Ironicamente, mudei-me para uma cidade mais maravilhosa ainda: a capital federal. Em algum ponto me apaixonei pela vida, pelo ser humano. Em algum ponto olhei incrédulo toda hipocrisia e superficialidade impressa em cada um, sem sequer uma exceção. Escolhi moldar-nos, eu e o mundo, simultaneamente, para sobrevivermos juntos. Outros escolheram prevalecer sobre o mundo, atacá-lo. Outros ainda o deixam cair sobre si. Encantei-me pelo jornalismo e vi nele meu escape. Seria assim que eu mudaria – ou tentaria mudar – todos ao meu redor, não importando o custo. Decidi não passar despercebido pelo mundo, bem como decidi percebê-lo. Aprendi a gostar de línguas e estudá-las, mesmo que não o suficiente – e certamente nunca o é. Ainda não amei o trabalho pelo simples fato de não tê-lo,
convertendo tempo em estudos enquanto posso. Cada coisa a seu tempo. Tentaram e ainda tentam vendar meus olhos, e muitas vezes o conseguem. Não me importo. Às vezes, precisamos nos deixar levar para depois sentir o que fizemos. Analisar o passado sempre será mais produtivo, o presente não nos dará um veredito. No fim, sou só uma parte de tudo. Tudo é só uma parte de mim. E tentamos viver em harmonia, todo o resto e eu. Guilherme Martins
Um táxi colorê Responda rápido: qual é a cor dos táxis em Brasília? Enquanto pensa, é bom saber que no Rio e em Nova York eles são amarelos, em Buenos Aires e Montevidéu são pretos e amarelos, em Berlim e Lisboa, pêssego, e em Teerã, verdes ou amarelos. No Recife, são brancos com a porta toda azul. Em Londres, têm cor preta e modelo padronizado. Não conseguiu se lembrar, né? Claro, aqui eles são de todas as cores e modelos. Não existe padronização. Houve um tempo em que eram obrigatoriamente brancos, mas os taxistas conseguiram derrubar a exigência alegando que cor padrão desvalorizava o carro. Mas os taxistas já não contam com reduções de IPI e ICMS que chegam a 50% do valor do carro e vez por outra têm uma taxa especial de financiamento? Não são benesses para compensar a desvalorização? E que atividade econômica não tem seu ativo desvalorizado com o uso e o tempo? Em alguns países da Europa, o taxímetro emite, inclusive, nota fiscal ao passageiro, como se fosse uma caixa registradora. O governo Arruda tentou introduzir uma identificação padrão com uma tímida faixa lateral verde e amarela. Agnelo tornou a faixa ainda mais tímida, limitando-a às portas laterais. Essa é outra caixa de abelha na qual o GDF
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tem que ter coragem de meter a mão. Como sede da Copa do Mundo, ambicionando ser um polo turístico, o DF não pode ser complacente com essa orgia. Táxi padronizado dá segurança ao usuário, identifica com facilidade os piratas e assegura qualidade de serviço. Chico Sant’Anna
Ser brasiliense Brasiliense sabe que é um povo sem sotaque. Que sairá da cidade e será perguntado se já viu o Lula ou a Dilma pessoalmente. Sabe o que é sair de casa, em dia de sol, com casaco e guarda-chuva porque mais tarde pode fazer frio e até chover muito. Que tem que parar o carro na faixa de pedestre se houver gente passando. Que um dia será multado no trânsito por causa dos inúmeros pardais. Sabe como é difícil dizer seu endereço pra quem mora noutra cidade, já que, em vez de nomes de rua, temos letras sem nexo, sem sonoridade. E sabe que, se é domingo, vamos pro clube. Ou que fim de tarde de domingo no Pontão é sempre uma boa pedida. Mas, na segunda-feira, nem adianta ir comprar um filminho pirata ou uma bolsa falsificada Louis Vuitton na Feira dos Importados, porque não abre. Brasiliense sabe o que é sair pra encontrar amigos num barzinho porque é o que tem pra fazer na cidade; estacionar nas quadras residenciais porque não há vaga nas comerciais; e ter que ficar esperando, em pé, uma mesa porque está tudo lotado ou achar uma mesa porque é amigo do garçom. Que encontrar amigos pra beber no Beirute é certeza de encontrar algum político ou um artista que esteja em turnê na cidade – ou pelo menos o Carlinhos Beauty fazendo carão. Que é possível curtir atrações culturais diversificadas e gratuitas nas embaixadas. E sair da balada e comer uma pizza na Molho de Tomate ou uma bomba no Guará.
Brasiliense sabe que encontrar joaninhas no Parque da Cidade lá não é sinal de ganhar presente… Que a criançada adora din-din e que este ninguém coloca na cueca porque é gelado e tem formato obsceno… Que dar o golpe do baú não é casar com alguém por interesse financeiro, mas mentir que atrasou porque perdeu o ônibus… Que andar de camelo não é subir no lombo daqueles animais do deserto e sair pelas quadras da cidade, não, mas sim pedalar! Brasiliense mora em uma capital onde só há três pessoas: eu, você e um amigo nosso em comum. Mas sabe que a capital federal brasileira tem o céu mais bonito do mundo! Patrick Selvatti
Sem estepe e sem esperança Tenho um Ford KA modelo 2010. Há algumas semanas, ao sair de casa para trabalhar, notei um barulho muito estranho no carro quando tentei dar ré. Desci e percebi que havia um ferro caído e uma corrente solta. Estava com tanta pressa que prendi o ferro na corrente e fui embora. Ao contar para o meu marido, ele logo constatou: roubaram o estepe, que no novo modelo do KA fica embaixo do carro. Quando comentamos com o porteiro, ele disse que roubaram todos os estepes externos dos carros do nosso prédio, que fica na 709 Norte e se tornou um dos pontos de venda e consumo de crack do Plano Piloto. No dia seguinte, meu marido começou uma pesquisa de preço para comprar um novo estepe. O funcionário de uma concessionária aconselhou que não investíssemos em um pneu original, porque atrairia nova ação dos bandidos. “Compra um estepe usado, desanima os bandidos”, sugeriu. “Além do mais, não temos estepe aqui, parece que roubaram os de todos os Ford KA da cidade, impressionante!” O que eu acho verdadeiramente impressionante é convivermos com a insegurança e a violência
e já começarmos a nos acostumar com isso. Impressionante é a Polícia Militar se limitar sempre a informar que faz rondas periódicas nas quadras residenciais. Impressionante é o fato de os dois policiais militares daqueles postos inventados pelo governador Arruda ficarem enclausurados dentro de seus caixotes brancos, enquanto os ladrões fazem a festa nas redondezas, pois sabem que os PMs não podem sair de lá, por nada neste mundo! Quando fomos à borracharia no fim de semana, a fila estava enorme. Entrei e logo conheci novas vítimas de roubos de estepe. Todos ali reclamando. E agradecendo por nenhum de nós ter sido vítima de assalto ou sequestro-relâmpago. Impressionante é a gente ser roubado e ainda se contentar por não ter sido pior. Revoltante, isso sim! Sandra Turcato
Instinto profissional 2 Esses dias, fui visitar a filhinha recémnascida de uma amiga e saí de lá assustada. Quanta tecnologia e quanto profissionalismo exigem a maternidade dos dias de hoje! A câmera da babá eletrônica velava o sono da pequena e os movimentos de quem ousasse tocá-la. Duas cobertas a envolviam como uma lagarta no casulo e os pais diziam que ela tinha de ficar sempre assim, na tal da posição fetal e em uma temperatura que imitasse a do útero. Ah, claro! Porque ela ainda não percebeu que saiu da barriga da mãe! Mas o que achei mais bizarro foi a minha amiga contando que acorda a bebê a cada três horas para dar de mamar. Confesso que não entendi essa parte, na minha época as crianças acordavam e choravam quanto tinham fome. Depois de muito álcool em gel nas mãos, eu me aventurei a pegá-la no colo e, com o berreiro que ela abriu, encostei a sua mãozinha na boca (é um reflexo da criança, que nessa idade está sempre procurando o
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peito da mãe, tentar a sucção de qualquer coisa que se aproxime da boca e, assim, parar de chorar). Fui atacada pelos pais em desespero me proibindo de ensinar à bebê aquele movimento, porque ela correria o risco de começar a chupar o dedo ou ter a necessidade da chupeta e largar o peito. Oi? Confesso que também não entendi essa parte. Não bastasse isso tudo, a mãe da minha amiga me contou, frustrada, que tinha ido cedinho à casa da filha ajudá-la a dar o primeiro banho na criança. Foi surpreendida pelas orientações para um tal “banho no balde”, sobre o qual ela nunca havia escutado. “É que banho no balde agora é tendência!”, alguém comentou. Então tá, palmas para as supermães admiráveis do século 21, enquanto a humanidade ganha toda uma geração de seres humanos inseguros, superprotegidos e despreparados para a vida. Quando eu tiver os meus, quero ter ao meu lado as duas únicas pessoas que podem me dar cursos e me ensinar verdadeiramente sobre a maternidade: minha mãe e minha sogra. Elas tiveram três filhos cada uma, maravilhosos, bem-criados e cheios de saúde os seis, frutos de uma época em que não havia quase nenhum dos recursos atuais. Laura Násser
Brasília de interior Dia desses, cozinhando, me deparei com minha frigideira preferida sem cabo. Na hora me veio à lembrança aquele velho que passava pela quadra empurrando um carrinho (e anos depois dirigindo uma Kombi velha) e gritando: “Conserta panela, amola faca, facão, alicate!” Por onde anda esse cara? Há anos não ouço esse grito. Nem o tio do quebra-queixo – aquela iguaria de coco – que passava balançando o sininho e, em plenos pulmões, gritava: “Quebra-queeeiixooooooooo!”. E
eu enlouquecia pedindo dinheiro à minha mãe a tempo de descer e alcançá-lo antes que sumisse. Bateu uma saudade de quando Brasília era uma cidade do interior. Sumiu também o vendedor de alho que passava a tarde gritando: “Vai passando o aaaalhoooooo”. E a molecada, brincando debaixo dos blocos, respondia: “Troco pela cabeça do meu *ar@lhooooo!”. Lá de longe ele nos envergava o dedo médio e todos riam. O caminhão de gás ainda passa, mas não grita mais, nem toca interfone. Eles entraram em acordo com a prefeitura para evitar o distúrbio aos moradores. Agora, quem quer gás avisa o porteiro e ele se encarrega de avisar os vendedores. Tudo muito discreto e sem gritos. Cadê essa Brasília interiorana? Foi substituída pela capital dos mais de 1 milhão de carros. Foi trocada pela cidade violenta, onde a molecada
não brinca mais nos pilotis dos prédios das entrequadras do plano. Hoje, restou apenas o carro da pamonha que toca música gospel entre um anúncio e outro de “pamonha de sal com queijo, de doce com queijo, com queijo e linguiça...” Bateu saudade da minha infância. Tudo por conta de um ovo mexido. Paulo Mesquita
Artigo
Em causa própria com o dinheiro alheio Pouco importa como as coisas deveriam ser, o que vale é o que está na lei. Esse é o legalismo que impera no Brasil
Texto José Tadeu Seixas Ilustração Francisco Bronze bronze@grandecircular.com
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E
xiste uma forma de cinismo e desfaçatez chamada legalismo. Basicamente, essa canalhice significa que, pouco importa como as coisas deveriam ser, o que vale é o que está escrito na lei. Vou dar um exemplo hipotético: roubar é proibido, mas não é porque é errado, é porque a lei não permite. A partir do momento em que a lei permitir ou não vetar, os adeptos do legalismo vão passar a defender que não há nada de errado em roubar. Pois bem. Esse exemplo é exagerado, mas levado à risca por Paloccis da vida. Palocci, por exemplo, poderia fazer escola para juízes que querem vender sentença ou deputados que querem lucrar com projetos de lei. Propina? Não, consultoria, seu ingênuo. Pego então meu primo ou aquele amigo de infância, que vai montar uma PJ de consultoria, com direito a pagamento de imposto, secretária e escritório alugado. E aí o diálogo vai ser mais ou menos assim: “Olha, essa sentença eu te vendo por 800 mil. Por favor, procure fulano que ele vai te emitir uma nota fiscal a título de consultoria. E, por favor, não se esqueça de assinar o termo de confidencialidade do contrato”. E então quando a Polícia Federal for inquirir fulano, a resposta será cínica e cretina, mas rigorosamente dentro das regras: “Seu guarda, eu não posso quebrar a confidencialidade dos meus contratos”. É assim que Palocci ri da sua cara e toma porre de champanhe. É triste que um governo tão bem votado, que sucede outro governo tão bem aprovado, necessite de figuras como Palocci para sobreviver ao jogo da política. Palocci cometeu, no mínimo, abuso de poder para mamar na teta da iniciativa privada. Pouco importa se, de fato, ele depois fez lobby para aqueles que pagaram pela “consultoria”. O caso mais flagrante da cara de pau vem da Amil. Palocci é, há anos, um político e nada mais que isso. É, por formação, médico, mas todo mundo conhece ele mesmo pelos anos no Ministério da Fazenda. Pois vem a Amil e contrata o “sanitarista” Antonio Palocci para falar da gripe aviária. Seja sincero: quanto a Amil pagou por essa consultoria e quanto pagaria para que os dez melhores sanitaristas do Brasil dessem palestras semanais para a empresa? Quem cobrou mais? O sigilo dos contratos nos impede de saber quanto Palocci cobrou, mas você sabe qual a resposta. Vou dar outro exemplo, esse sim real, sobre como o legalismo à brasileira incentiva o sorriso palocciano. Se você
é diretor de uma grande empresa e vai a trabalho participar de um congresso em Nova York, com direito a passagem na primeira classe. O que diriam os auditores externos ou o conselho fiscal dessa grande empresa se, no centro de custos da viagem, você colocasse uma passagenzinha de primeira classe para a sua senhora esposa? Haja sorriso amarelo para justificar. Pois isso acontece, meu caro, mensalmente, e é você quem está pagando a passagem da esposa alheia. O que você acharia se eu e mais quatro pessoas pudéssemos decidir o que nós cinco podemos fazer com o seu dinheiro? Isso é correto? É correto eu e meus quatro colegas termos poderes para dar privilégios a nós mesmos com o dinheiro alheio? Isso aconteceu. Tudo começou em setembro de 2010. Os ministros duma corte fantasiosa se reuniram e decidiram, oras bolas, que mereciam mais privilégios. Então eles pensaram: “Poxa vida, se nós podemos dar mais regalias para a gente gastar o dinheiro público, por que não?” Então foi convocada uma reunião em que os 11 ministros decidiram que, a partir daquele momento, deixaria de ser errado poder levar a esposa nas viagens internacionais bancadas com dinheiro público. Um deputado não pode. Um senador não pode. Nem Palocci pode (!!). Mas, nós, do Judiciário, somos espertos e vamos poder. Por isso, vamos evocar os poderes que temos e vamos criar uma regra que diga que é permitido levar a esposa para viagens ao exterior com dinheiro. Deu-se a essa artimanha o nome de resolução. O nome dessa corte é Supremo Tribunal Federal, que em setembro criou para si o direito de que os 11 ministros podem levar as senhoras esposas a outros países com o dinheiro público. Esse é o legalismo que impera no Brasil. Os 11 ministros ainda riem da sua cara e dizem que não há nenhuma ilegalidade em usar dinheiro público para bancar uma field trip das esposas e esposos – de primeira classe. Afinal, cumpádi, tem uma resolução que permite isso. É com uma suprema corte dessa que se julgam Paloccis no Brasil. Tá tudo em casa.
Os 11 ministros ainda riem da sua cara e dizem que não há nenhuma ilegalidade em usar dinheiro público para bancar uma “field trip” das esposas e esposos – de primeira classe.
CINEMA
As estrelas
dos bastidores
Acompanhamos a filmagem de “Faroeste Caboclo” no Jardim ABC, escolhido para ser a Ceilândia de Renato Russo. Aqui, histórias que não vão ao ar. Fazem parte da vida de quem mora naquele lugar, que de faroeste não tem nada... Texto Morillo Carvalho Fotografia Thyago Arruda morillo.carvalho@gmail.com
thyagochs@gmail.com
15 William cedeu o carro para o filme. Renildo alugou o segundo andar de sua casa para ser camarim da equipe. Ezequiel fez a segurança de uma das casas que serviram de cenário. O lar de Ana Maria foi transformado em refeitório.
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m tiro. Dois. Vários... Gritos na multidão. Ao contrário de querermos nos esconder, tentamos ir ao encontro daquele confronto armado, para registrarmos nestas páginas. No embate, João de Santo Cristo contra Jeremias. Conflito de traficantes que quebrava o marasmo do Jardim ABC, um distrito da Cidade Ocidental, na divisa do DF com Goiás. Um local incomum para episódios como esse. “Vocês não podem entrar aí”, alertou um segurança do local. Mas nós queríamos registrar, afinal ali tínhamos o desfecho de uma novela iniciada há tempos, quando o jovem Santo Cristo deixou pra trás a monotonia de uma fazenda, foi a Salvador e, antes de tocar a vida por lá, acabou por acidente em Brasília. Aqui, foi carpinteiro, virou traficante, viveu um grande amor, foi ao inferno duas vezes e, ali, estava prestes a ser aclamado santo – por saber morrer. Então outro segurança nos autorizou a entrada no local da briga. Imediatamente o primeiro nos interpelou novamente. “Não podem, por favor.” Resolvemos esperar. Em menos de um minuto, surge diante de nós a grávida Ísis Valverde. Ou melhor, a Maria Lúcia, responsável pela carnificina, pivô de um triângulo amoroso com os envolvidos. “Também não podem falar com ela.” Bom, só queríamos saber se ela estava mesmo certa de ser Jeremias o pai...
Os fatos aqui relatados estão menos confusos se você já ouviu Faroeste Caboclo, da Legião Urbana. A saga de Santo Cristo é conhecida pelos imortalizados 195 versos da canção de Renato Russo que tomaram conta do País em 1987 – e obrigaram donos de rádios a se curvarem e executarem os mais de nove minutos. Além de longa, a música tinha dois palavrões e algumas afrontas aos generais do regime militar. Embora a democracia fosse realidade, a censura ainda existia. Faroeste Caboclo, agora, vai ser música para se ver. E nas telonas. Na novela da Legião Urbana, você pôde conhecer personagens como esses, do triângulo amoroso. E tem o Pablo, “peruano que vivia na Bolívia e muitas coisas trazia de lá”. No cinema, vai conhecer outros, como o Saci, um amigo de Santo Cristo, e o seu Quirino, o dono do bar – provavelmente o local onde Santo Cristo gastava todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador. Nesta reportagem, você vai conhecer outros personagens, bem mais reais: José Maluco, Renildo Bispo e Ezequiel Silva. São personagens que participaram da trama, mas que você não vai ver – e talvez, jamais venha a conhecer. Pessoas que auxiliaram na reconstrução da saga, mas que não estarão em frente às câmeras. Ao contrário, são a vida nos bastidores. E estarão sempre lá, no Jardim ABC, local escolhido para ser a Ceilândia do final dos anos 70 na montagem de René Sampaio.
O estalo “Faroeste Caboclo é uma obra completa, a de Renato Russo, e o que estamos fazendo aqui é uma leitura”, diz Bianca de Felipes, produtora executiva da trama. A ideia, porém, talvez já tenha passado pela cabeça de milhares de pessoas que, algum dia na vida, a ouviram com atenção. Mas foi René Sampaio, o diretor, quem resolveu tirá-la do campo das ideias e trazê-la para a realidade: “Sou um cara modelo 73 e em 87 eu tinha 14 anos, quando eu ouvi a música pela primeira vez. Quando eu ouvi, pensei: ‘essa música dava um filme’, como quase todo mundo, mas eu pensei ‘eu vou fazer esse filme’. E, anos depois, estamos aí”. Todos sabemos da licença poética que o autor tem sobre sua obra. Mas, neste caso, quis saber se será possível reconhecer a música no filme. “Eu acho que sim, pelo menos vão encontrar a música que eu escutei”, garante o diretor. “O filme vai narrar os principais eventos da música, com algumas adaptações, mas a gente busca fidelidade na linha emocional, no que a música desperta nas pessoas, no que eu sentia. Sentia raiva do fulano, felicidade pelo sicrano, e eu quero despertar esses mesmos sentimentos, mantendo a linha principal do que é a música.” O Jardim ABC Quando João de Santo Cristo chega a Brasília, fica bestificado com a cidade, iluminada para o Natal. E se instala em
16 alguma cidade-satélite. Por suposição, a Ceilândia, já que é lá o cenário do duelo final da saga. Mas, antes de se envolver com o tráfico, Santo Cristo foi carpinteiro em Taguatinga e, depois de uma suposta pausa nas atividades ilícitas, virou revendedor, em Planaltina, do “contrabando” que Pablo trazia da Bolívia. Faroeste foi composta no período em que Renato Russo se apresentava na cidade como “O Trovador Solitário”, entre o fim da primeira banda, Aborto Elétrico, e o início da Legião – isso durou meses, entre 1981 e 1982. Para que a história ganhasse contornos da época, a produção escolheu o Jardim ABC, bairro distante cerca de 10 quilômetros da sede da Cidade Ocidental. O vilarejo de cerca de 15 mil habitantes, apesar de poucas vezes ser citado pela imprensa, vive a especulação imobiliária com grandes perspectivas, por ser vizinho do Alphaville, condomínio luxuoso em implantação. O lugar pacato, que dispõe de pequeno comércio de portas abertas e sem grades – evidências de não haver problemas sérios de segurança, como relatou um policial militar que rondava a cidade –, é quase todo sem asfalto e saneamento básico, e de construções humildes. “A Ceilândia nos anos 80 era isso aqui”, diz René. “Sem saneamento, esgoto, mui-
tas casas de madeira, algumas de alvenaria e, ao mesmo tempo, urbanizada. É diferente de uma favela num morro do Rio de Janeiro, onde as próprias pessoas fazem as ruas. A urbanização daqui conversa com a da Ceilândia.” O fato é que o marasmo daquele lugar pobre, por ser “talvez o melhor lugar para viver no entorno”, como continuava a lembrar o policial em ronda, não dá a sensação de faroeste, e sim de abandono. Por isso, a chegada do filme àquelas ruas foi tão importante para quem vive lá. E é aí que se revelam os nossos personagens. Personagens bem reais Três moradores da cidade tiveram a rotina especialmente alterada pela produção: Renildo Bispo, dona Ana Maria e o jovem Ezequiel Silva. Eles jamais imaginaram que por aquelas ruas veriam passar (muito menos que entrariam em suas casas) Antônio Calloni (que vive um delegado na trama), Ísis Valverde (a Maria Lúcia), Marcos Paulo (que faz uma ponta no filme) e Fabrício Boliveira (o Santo Cristo). Isso só para citar aqueles que talvez, algum dia na vida, eles viram na televisão. “Este é um lugar que vai crescer, mas eu achava mesmo é que era um lugar esquecido”, confirma o avô de apenas 38 anos Renildo Bispo. Paraplégico há oito, foi no
O motorista Morador de Vicente Pires, José Maluco é motorista de celebridades em Brasília. Trabalhou por mais de 50 dias para a equipe de Faroeste Caboclo, mas já carregou Luciano Huck, Ivete Sangalo e Sidney Magal. “Adorei a Ísis, ela é muito comunicativa e simples”, elogiou.
segundo pavimento da casa onde ele vive há 14 – e que desde do acidente que o levou à cadeira de rodas não teve como continuar a construir – que se instalou o camarim do filme. Isso significou um reforço inesperado na renda familiar, hoje dependente de sua aposentadoria, do salário de diarista da esposa e dos bicos que ele faz. Se participasse do front, talvez Bispo fosse aquele que ensinou Santo Cristo a carpintar. “Eu já estou é chorando muito, gostei demais de todos eles”, disse a doméstica Ana Maria de Souza, de 65 anos, às vésperas da despedida do elenco, que ainda faria cenas na 111 Sul, antes de ir para Paulínia (SP). Ela abriu o portão de casa para, no seu terreno, ser instalada uma enorme tenda que serviu de refeitório para todos. O coração de vovó não se esquivou a preparar enormes quantidades de café ao longo das duas semanas de filmagens no local. Nem de nos oferecer. Se entrasse na adaptação do filme, a vovó seria aquela senhorinha que todo bairro periférico tem: todos a conhecem e a respeitam, e os traficantes da música a protegeriam. “Nasci em Piancó (PB) e moro aqui no ABC há oito meses, eu jamais imaginei na minha vida que um dia eu ia conhecer a Raqueli (personagem de Ísis Valverde na no-
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Moradores do Jardim ABC tiveram o privilégio de assistir às gravações de cenas do filme inspirado na canção de Renato Russo, dirigido por René Sampaio (à esq.). A atriz Ísis Valverde (abaixo), que interpreta Maria Lúcia, foi uma das mais requisitadas para autógrafos.
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Chico Sant’Anna (à esq.) e Andrade Júnior, atores reconhecidos em Brasília, estarão no filme.
vela Beleza Pura, de 2008)”, diz. “Imagina só que ela ia vir aqui na minha casa!”, continua, quase em êxtase. “Mas eu gostei de todo mundo, quero ir embora com eles, todo mundo foi carinhoso comigo, só faltou me colocarem no colo”, completa. Pablo, o parceiro de tráfico de Santo Cristo, ganhou uma casa de verdade no filme – a do protagonista é cenográfica. Um morador alugou o imóvel à produção e saiu de casa para as filmagens. Quando estivemos por lá, ela passava por reforma para voltar a ser a casa do morador e perder a característica de casa do Pablo. Foi lá que encontramos o Ezequiel Silva. Desempregado,
19 anos, ele não perdeu a chance de ganhar um troco enquanto não encontra uma oportunidade no mercado. Ainda teve a chance de acompanhar de perto uma gravação para o cinema. Sim, duas chances teve – o troco e o filme – enquanto a principal – o trabalho mesmo – não aparece. “Sou o segurança da casa do Pablo”, brinca. “Ninguém ia imaginar que um dia isso ia acontecer aqui. Todo mundo ficou muito feliz.” Outros quatro jovens foram contratados para vigiar as instalações dos sets de filmagem enquanto a equipe não estivesse por lá. As cenas eram gravadas entre seis da manhã e cinco e meia da tarde.
Se na trama estivesse, Ezequiel talvez aparecesse nas festas da Ceilândia de outrora. Dos três depoimentos, cabe destacar esse detalhe: nenhum deles tinha qualquer história pessoal para contar com a música Faroeste Caboclo. O personagem do detalhe Não é o caso de William Bezerra. Este é um brasiliense que entrou nos bastidores do filme por acaso: é dono de um Puma vermelho, carro de playboy da época hoje reverenciado como peça automotora vintage. No filme, é justamente um playboy quem convida, de dentro do
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Os personagens do front Três figuras conhecidas da cidade estarão nas telas: Andrade Júnior, Chico Sant’Anna e Rômulo Augusto. Três atores de distintas gerações, que encontramos no andar de cima da casa de Renildo Bispo – ou seja, se preparando para a maquiagem. “Eu não sei o que vou fazer, o que vou falar, eu nunca decoro nada, sou muito escroto [risos]”, brincava Andrade Júnior, despreocupado: “Na hora, sai”. Momentos depois ele daria vida ao seu Quirino, o dono do bar da vizinhança de Santo Cristo. Ao assistir à cena, era impossível referendar o que ele dizia no camarim. Ao contrário, mostrava-se desenvolto e não titubeava em qualquer fala. Pudera... É o 73º filme, entre longas e curtas, da carreira de mais de 40 anos. É dele o recorde em participações em filmes numa mesma edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Em 2008, ele estava em 11 filmes da mostra. Rômulo Augusto, por sua vez, dá vida ao Saci, pelo visto o braço direito do protagonista João de Santo Cristo. É com ele que Saci aparece na cena em que o playboy, dirigindo o Puma vermelho de William Bezerra, faz o convite para a rockonha organizada por Jeremias.
Manfredinis Os Manfredinis Carmem e Giuliano, mãe e filho de Renato Russo (Renato Manfredini Júnior), estão bastante envolvidos com as filmagens. “O Giuliano fez uma participação afetiva, ele entrou em várias cenas, o espectador vai ter que descobrir onde ele está”, avisa Bianca de Felipes, produtora executiva. “Às vezes, ele estava no set e pedia pra entrar. Ou ele começava a ler o roteiro e falava, ‘Ah, essa festa aqui, eu queria estar aqui’, e já começou a entrar em cena.” É a dica para uma cena com ele. Será que é a da rockonha? Metáfora Recentemente, o professor da UnB e especialista em narrativas Luís Gonzaga Motta publicou artigo defendendo que Renato Russo fez em Faroeste a representação de Jesus Cristo moderno. A história, porém, mostra que a própria música viveu a saga de Santo Cristo. Ela passou pelas alterações de letra do autor (como o caso da cocaína que virou contrabando), dando a ela a fúria e a vontade de ser bandida. Cresceu, ganhou envergadura, virou sucesso, destemida no Distrito Federal. Pouco tempo depois, era o alvo preferencial para questionarem a criação de Renato Russo e companhia, depois do fatídico show no Mané Garrincha (1988) que terminou em pancadaria. Como se fosse ao inferno pela primeira vez. O segundo inferno seria o ostracismo em que a música entrou com os boicotes organizados pelos magoados com o show para impedirem sua execução pública. Depois, a ressurreição: quase dez anos depois do largo sucesso, com a morte do autor (1996), se transforma em hino, com ar de romance de geração. E agora, a redenção: finalmente vira filme. Como que mostrando a quem torceu o nariz para ela: dá uma olhada no meu sangue e vem sen) tir o seu perdão. )
carro do William, o Santo Cristo a participar da rockonha – festa típica da época, regada a rock’n’roll e maconha, para relatar só o publicável. “Eu tinha outro Puma, que comprei da irmã da Cássia Eller, e este participou do filme do Renato, já tive dois famosos em casa”, conta, aos risos. A produção o encontrou em uma reunião do Puma Clube. “Eu ofereci o meu na hora, porque a música fez parte da minha vida, eu sou de Brasília e fui até aos shows do Aborto Elétrico”, lembra, brincando que na hora “disse até que eles nem precisavam me pagar”. “Mas tem um contratinho, tem que pagar, então não tem jeito, vou receber.”
Na letra original, revelada pelo disco “Trovador Solitário”, lançado em 2008, o que Pablo trazia da Bolívia era cocaína. O disco é um resgate do produtor musical Marcelo Fróes de uma fita gravada por Renato Russo em 1982. A substituição foi feita, provavelmente, para que a música se tornasse mais palatável à execução.
Artigo
A cultura da crueldade II – trotes O trote surgiu na Idade Média, como se fosse um rito de passagem. Descambou para a barbárie e para o mau gosto
Texto Alberto Francisco do carmo albertofcarmo@gmail.com
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ois brasileiros, maio de 2011, Coimbra. “Uma canção/de sonho e tradição.” Mas numa ruela próxima à universidade, a cena. Duas veteranas, de capas – usam-nas sempre –, obrigavam uma caloura a comer do mato crescido na calçada. Ao verem a cara feia dos brasileiros, disfarçaram. Lá, trote chama-se praxe. Anne Frank, em seu diário, diz ser inútil falar da desgraça alheia quando nos sentimos desgraçados. Mas pesquisei para escrever sobre trotes no Brasil. Precisava comparar. Internet e telefonemas a embaixadas. O trote surgiu na Idade Média, sob a desculpa da “profilaxia”. Calouros tinham a cabeça raspada e as roupas queimadas. Assistiam às aulas nos vestíbulos, não nas salas. Daí o termo vestibulando. Mas, desde o século XIV, tais “ritos de passagem” descambaram para a barbárie. Em Heidelberg, calouros eram rotulados como “feras” a “domesticar”. Como? Bebendo urina e comendo excrementos. Profilaxia... Logo, como se observou, o trote seria um rito de passagem... às avessas. Ainda existe trote no mundo. Mas, se por um lado é prática chata, não é quase nada abusiva. Tende à extinção. Em alguns países, com menor velocidade. Em outros, com providências radicais e bruscas. Cresce substituir-se o sadomasoquismo por atividades realmente integradoras dos calouros, com restrição e repressão ao trote. Há países sem trote. Itália e Áustria, por exemplo. No Peru, Chile, países sul-americanos e na Espanha, há as novatadas. Mas não vão muito longe. Talvez um mechoneo (cortar ou raspar cabelos), tintas, talco. Vestir-se de mulher, ficar de cuecas ou mesmo nu. Ainda acontece na Suécia, onde o trote é o nollning. Havia abusos e bebedeiras. Mas a morte de uma adolescente de 16 anos, em 2007, fez o ministro da Educação lançar uma ação envolvendo polícia, professores e pais. No Canadá há o frosh week. Havia, talvez ainda haja, violência e abuso de álcool. Porém, muitas províncias simplesmente proibiram o trote. Na Universidade de Dalhousie (Halifax-Nova Escócia) a tolerância é zero para álcool e abusos, com rondas policiais preventivas. Nos EUA restringe-se, mas ainda deve haver focos de trote abusivo, o hazing. Havia uma brincadeira de mau gosto: o “ataque das calcinhas”. Estudantes homens, em bandos, invadiam dormitórios femininos para roubar peças íntimas das moças, que resistiam como podiam. Os invasores se retiravam e exibiam seus troféus nas janelas de seus dormitórios. No Reino Unido e na Irlanda a coisa é bem moderada,
tipo bebedeiras, os pub crawls. Por muito tempo, nas public schools (apesar do nome, escolas de elite), não nas universidades, houve a prática do fagging: transformar calouros em criados domésticos. Europa, última escala: França. A bizutage (bizut, calouro) já foi violentíssima, especialmente em Medicina (!?). Até que a morte de alguns alunos gerou a proibição em 1998: penas de seis meses de prisão. Ou multa: 7.600 euros. Bizutage, c’est fini. Há menções a abusos na Indonésia e na Tailândia. Nesta, parece haver algum fagging ou hazing. Dura uma semana, mas o objetivo maior é apresentar aos calouros a cultura da universidade. Todavia, há um caso de suicídio de calouro após trote. Bem, resta-nos comparar. O trote chegou ao Brasil via Portugal. Lá, o trote foi e é abusivo. Recentemente a TV de lá mostrava tudo muito parecido com aqui. “Este país é uma merda”, obrigava-se um calouro a repetir num megafone. A praxe de Coimbra sempre foi das mais violentas. Dura um ano, mais um para repetentes. No canelão, calouro sofre caneladas e maldades. Ex-estudantes brasileiros de Coimbra trouxeram a “novidade.” Mas, já em 1831, num trote da Faculdade de Direito de Olinda, um estudante morreu. Daí em diante, a barbárie é prática crescente. O verbete trote da Wikipedia lista quatro mortes recentes de calouros brasileiros. Mas há casos “abafados”, como um rumor persistente em BH, anos 60: calouro morto por sufocação. Corpo todo pintado de spray. Esqueceu-se: também se respira pela pele. Comas alcoólicos, até em calouros diabéticos. Na Faculdade Anhanguera (Veterinária), além do álcool, obrigaram calouros a rolar numa lona com lama e animais mortos e podres. Lembra Heildelberg, Alemanha. Séculos atrás... No site www.antitrote.org listam-se verdadeiras torturas impostas, por exemplo, aos calouros em Ouro Preto. Até untar com manteiga o ânus de calouros e introduzir neles um cabo de vassoura! O Projeto de Lei 1.023/95 vagueia pelo Congresso desde 2009. Não seria necessário se a população conhecesse o artigo 5º da Constituição em vigor. E o respeitasse.
“Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.” Constituição Federal – Art. 5º, Inciso III
Perfil
O garçom-amigo (ou amigo-garçom) reúne fiéis seguidores do seu bom atendimento tanto na vida real como nas redes sociais. Atender bem o público, além de função deste gentleman, é uma forma de fazer e cativar amizades
Texto Ana Rita Gondim anaritagondim@gmail.com
Nilson Carvalho
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Ele não mantém os amigos só no bar, com doses camaradas e atendimento de primeira. Nas mídias sociais, Lincoln cobra a presença dos sumidos.
amos àquele bar novo que abriu na Asa Norte?” É assim que o jornalista Leandro Martins, de 30 anos, convida, obviamente em tom jocoso, a namorada para um dos bares mais tradicionais da cidade. De mesmo nome, mas mais recente, o Beirute da Asa Norte atrai assíduos frequentadores todas as semanas. O casal e os amigos procuram uma mesa, sempre que possível atendida por um determinado garçom. Não menosprezando os outros, também muito queridos pela turma, mas Lincoln tem todo um serviço especial e chega a mimar seus clientes beirutianos. “Costumo dizer que ele não é apenas um garçom, mas quase uma babá, tamanho é o cuidado que tem em sempre deixar os clientes bem assistidos”, diz Leandro Martins. Quando pode, ele mesmo recebe os amigos (sim, amigos, ele vai aos aniversários quando o trabalho dá uma folga, por exemplo) com um abraço, um aperto de mão e aponta logo a área onde está atendendo naquele momento. Sem nem precisar pedir, chega logo uma Heineken geladíssima, a preferência masculina. Parte desses hábitos Lincoln adquiriu como gerente no restaurante Tucunaré na Chapa e depois como garçom na Choparia Sudoeste. No Beirute, Lincoln completará quatro anos em setembro. São quase 15 anos na função de bem atender o público. Os mimos do goiano de Nerópolis vão desde ciceronear os clientes até servir doses camaradas e cortesia de porçãozinha de queijo coalho e azeitona. Além da festa inicial, é provável que se surpreenda, depois de fechar o bar, quando, a caminho de casa, pode-se levar um susto com a buzinada de Lincoln a se despedir do cliente-amigo. Lincoln virou sinônimo de excelente atendimento. Quando se decide mudar o destino social ou alcoólico da noite, sempre alguém solta uma frase na mesa: “Que saudades do Lincoln!” Até quem não aprecia as mesas grandes, os bancos enormes que
atrapalham na hora do aperto (banheiro) e o preço acima da média se rende ao bom serviço: “É caro, mas vale a pena”, costuma-se dizer. Uma cliente fidelíssima ao atendimento do gentleman é a contadora Fabiana Masaki, de 28 anos. “Tenho certeza de que se um dia ele sair do Beirute, nós vamos atrás, pra onde ele for”, afirma, sem o menor pudor ou pieguismo. A seguidora lincolniana também lembra o churrasco em comemoração ao aniversário do amigo Leandro Martins, a que o garçom e a esposa (a vendedora Maria Isabel, 28 anos) compareceram, além de presentearem o amigo flamenguista com uma caneca do time. Não bastasse a rede de amigos que agrega no Beirute, Lincoln os reúne nas mídias sociais, como o Facebook. Quando a turma demora a aparecer na esquina da 107 Norte, ele os convida carinhosamente com a confissão de saudades que sente dos seus reais e virtuais seguidores. “Lembro que um dia eu estava no Beirute com uma amiga e comentei uma frase engraçada que o Lincoln tinha escrito no Facebook. Minha amiga ficou de cara que eu tinha o Facebook dele. E eu disse que ele era meu amigo”, relata Fabiana. No entanto, ao ir para um concorrente, não se espante se um dia receber a declaração de “traidor” na rede, pois Lincoln prefere seus amigos sempre por perto. “O Lincoln é um cara muito gente boa, que conquistou a galera. É difícil começar uma amizade assim, entre garçom e clientes. Pelo menos eu nunca tinha visto”, confessa. Estar perto dos amigos é um dos motivos pelos quais Lincoln cativa sua freguesia, seja no bar ou na rede mundial de computadores. “Quanto mais você tem contato, fica a amizade. Amigo você não pode esquecer nunca. E esse site ajuda muito você a se sentir mais perto das pessoas de que você gosta”, justifica. Lincoln descobriu o Facebook ao ouvir comentários de seus amigos e logo decidiu entrar para a comunidade. “Achei muito fera, me cadastrei e visito todo dia”, conta.
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Thyago Arruda
Nilson Carvalho
de hoje. Atendendo sempre bem, de bom humor e com alegria, tenho certeza de que logo não terei apenas mais um cliente, mas um grande amigo”, revela o goiano de sotaque forte, apesar de residir em Brasília há quase dez anos. O nome de Lincoln é uma homenagem ao ex-jogador do Goiás – “um craque”, nas palavras do garçom –, conhecido também pela torcida esmeraldina como Leão da Serra. Segundo o garçom, a ideia não foi de sua mãe ou de seu pai, mas de seu irmão mais velho, “completamente apaixonado pelo Goiás Esporte Clube”. Sua mãe aceitou a sugestão ainda grávida e hoje Lincoln se envaidece da forma como é chamado. “Sou muito or-
gulhoso desse nome que ele escolheu e pelo seu amor pelo clube que também sempre amei. Eu o conheci e ele [o jogador] é de um caráter excepcional, boa pessoa e muito trabalhador”, declara. Há locais que atraem o cliente pela comida, pela beleza ou pelo preço baixo. No Beirute, Lincoln é definitivamente um dos maiores diferenciais que mantêm as mesas ocupadas em quase todos os dias da semana. Obviamente que isso não desmerece outros funcionários (como Marcão, André, Cícero e companhia) ou serviços do bar, mas é preciso dar crédito a uma das figuras mais queridas, profissionais e amigas da cidade. ) A capital agradece, Lincoln! )
Para o estudante de Cinema Flávio Geromel, de 31 anos, Lincoln é uma das principais razões que torna o Beirute um lugar especial. “Gosto de me sentir em casa e ser bem atendido. O Beirute virou um desses lugares, já é minha casa. E não tem melhor atendimento que o do Lincon. Ele é bom de papo, divertido e está sempre de bom humor. Onde já se viu um garçom te cobrar em uma mensagem do Facebook o porquê de você estar sumido? Este rapazinho não é apenas mais um garçom, é um amigo, e dos bons”, explica. Modesto, Lincoln diz achar que desempenha razoavelmente bem seu trabalho. “Não procuro ganhar apenas minha gorjeta de hoje e, sim, fazer meu cliente
conto
Pecados na Esplanada
Discreta perdição
Na arte de seduzir, ganha quem mantém o controle – do seduzido ou de si mesmo? Era o que Flávia iria descobrir
Texto João Pitella Junior Ilustração Francisco Bronze pitellajr@globo.com
Naquele dia, Flávia sentiu a dor da sedução que ela espalhava pelo mundo. Começou com uma pontada na barriga, que a fez se dobrar na cama, apertar as mãos sobre o umbigo e chorar baixinho. As lágrimas estragaram a maquiagem tão bem preparada, e até o cabelo impecável saiu do lugar. Essas coisas não podem acontecer, Flávia. Não no seu mundo impecável de sorrisos nas fotos, casamento perfeito, alta classe média feliz. O roteiro não pode ser mudado. Você nunca ouviu Caetano dizer que “alguma coisa está fora da ordem”, nem quis saber qual é a versão rodriguea-
bronze@grandecircular.com
na de um “Álbum de Família”. O marido entrou apressado no quarto, sem olhar direito para ela enquanto arrumava a gravata em frente ao espelho: — Resolveu tirar uma soneca antes de ir pro trabalho, docinho? Vai chegar atrasada, hein... Até mais! Ele saiu assoviando, de pasta na mão, com um orgulho inconsciente da própria insensibilidade. Sozinha, Flávia levantou-se devagar e foi para o closet se arrumar de novo. Já era a terceira vez. Não, a angústia não cabe no seu mundo, Flávia. Não neste mundo onde a tentação nunca assume o controle, onde a per-
dição vive à espreita, escondida nos seus gestos sutis, no seu descarado pudor burguês, incomodando um pouco, mas sem doer demais. Eu falei em controle? Sim, Flávia, você sempre tem o controle. Eles estão liquidados — hopeless, como você gosta de dizer com o seu inglês do Planalto Central. Flávia pegou o carro na garagem, saiu da quadra no final da Asa Sul e dirigiu pelo Eixão até chegar à Esplanada. Era um caminho que ela sabia de cor, talvez não tanto quanto o das ruas de compras em Nova York, mas não dava para se perder. Será? Talvez naquele dia... Quem a visse entrar no mi-
27 nistério, com aquele tailleur alinhado, salto alto e óculos escuros de grife, perceberia apenas o encanto habitual, com um ligeiro rastro de perfume marcando o caminho. Flávia tremia por dentro. Ela chegou dois minutos atrasada para a reunião, mas sem mostrar ansiedade ao ver a mesa com todos os colegas já nos lugares de costume. A mulher bonita tem um pouco de atriz, pois calcula os movimentos para não desperdiçar o efeito dramático na hora errada. Flávia fez um breve aceno de cabeça que servia como cumprimento para todos, mas lançou ao vizinho de cadeira um olhar um segundo mais demorado. Enquanto o secretário-executivo remexia os papéis na cabeceira, as pernas de Flávia roçavam levemente, por baixo da mesa, nas do colega de cabelos grisalhos. Encostavam um pouco, recuavam com estratégia militar, então voltavam ao ponto estratégico. Foi uma reunião muito produtiva.
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Flávia chegou à copa da repartição na hora certa para buscar o cafezinho. Franklin, o homem de cabelos bem pretos, já a esperava, encostado na parede, mão esquerda no bolso, mão direita segurando a xícara, todos os olhos nela. — E então, o nosso almoço está confirmado? É claro que ela não iria responder em voz alta, não numa repartição da Esplanada dos Ministérios, onde nem é preciso ser parede para ter ouvidos, onde as intrigas imaginárias sempre dão um jeitinho brasiliense de se tornarem reais. Uma mulher de 35 anos sabe o que está fazendo. E o que Flávia mais sabia era esconder a insegurança. Ela apenas deu um toque com a ponta dos dedos no ombro de Franklin, enquanto se virava para mexer o café com a co-
lherzinha. Nada mais do que uma saudação casual, se alguém visse de longe. Depois, ficou de frente para ele outra vez, por dois segundos, enquanto lhe concedia um sorriso discreto que durou menos ainda. — Bom trabalho, doutor Franklin — Flávia cantarolou ao sair, enquanto a copeira entrava. Franklin reclinou a cabeça para trás, tentando absorver o último vestígio do perfume. Flávia voltou para a sala, sentou calmamente, colocou os óculos de hastes vermelhas que usava para ler os relatórios, cruzou as pernas, apoiou o queixo nas mãos e começou a marcar o texto — com uma elegante caneta e duas lágrimas escorregadias. Onze e trinta da manhã. Flávia sacou o celular da bolsa, apesar de haver um telefone sobre a sua mesa. Ela era brasiliense. — Amoooor... não vou poder almoçar com você, tenho que preparar um relatório urgente! Trinta segundos de ligação, sem problemas. Sem dramas nem suspeitas. Por que os seus saltos não param de arranhar o chão? Não, Flávia, ninguém percebeu. Compostura. Coluna ereta. Inspire e expire. Era isso o que diziam na escola? Ela lembrava sempre, mas agora não conseguia. O centro da respiração parecia ter mudado de lugar.
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Flávia deixou o relatório de lado e usou o telefone da mesa para pedir socorro, pois agora o celular estava ocupado recebendo mensagens. — Amiga, você pode falar? — Claro, Flavinha. O que foi? — Eu não sei se vou ter coragem. — De quê? — O almoço, lembra? — Ah, Flávia, você não é mais adolescente! — Obrigada, mas seja discreto!
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Meio-dia e vinte. Usando os maiores óculos escuros que tinha, Flávia estacionou na garagem do motel. Franklin parou o seu próprio carro do lado de fora, nos boxes de espera, e foi caminhando despreocupado até a suíte. Usando uma insuspeitada habilidade de contorcionista, ele passou por baixo do toldo da garagem, que ela fechava apressadamente, com medo de ser vista. E foi com mais pressa ainda que ela passou pela escada para o quarto, tirando de Franklin o esperado prazer de vê-la subir lentamente. Quando ele chegou, ela estava sentada na cama, sacudindo a cabeça presa entre as mãos.
— Por que essa correria, Flávia? — Eu não sei por que estou aqui, Franklin. — Ah, mas nós conversamos tanto sobre isso. Planejamos tanto. Pensei que não ia ter problema. — Preciso de alguma coisa para relaxar. — Esta é a ideia mesmo — ele respondeu com voz pausada e tom de sedutor, mas já sem disfarçar uma certa apreensão. Franklin foi até o frigobar, pegou uma bebida para Flávia, sentou-se ao seu lado na cama e passou o braço direito por cima dos seus ombros. — Calma, princesa, tudo vai dar certo. — Será? — Se você relaxar um pouco, já melhora muito — ele disse, enquanto desabotoava a parte de cima do tailleur de Flávia. Só de sutiã, mas com toda a parte de baixo da roupa ainda no lugar, menos os sapatos, ela se levantou e começou a caminhar em círculos pela suíte, com o copo balançando suavemente na mão, tentando beber aos poucos. Ao ver o corpo de Flávia assim, parcialmente descoberto, Franklin já ficou alucinado. Era difícil manter o controle e ele se ergueu e a abraçou com firmeza por trás, enquanto beijava a sua nuca e sussurrava: — Você não vai ser arrepender, garota. Franklin tinha um metro e noventa e mãos fortes, grandes, que agora a envolviam pela cintura. Eram mãos bem maiores do que as do marido de Flávia. Ela sentiu um calafrio agradável, virou-se e aceitou um beijo, que logo interrompeu empurrando o peito de Franklin para trás. — Calma, você precisa ter paciência. É assim que funciona comigo. O meu marido sempre compreendeu. — Entendo, querida, mas nós não temos tanto tempo assim. É só o intervalo do almoço. — Ah, meu Deus, o que eu estou fazendo!? Eu sou casada! — Eu também, princesa! Ninguém é perfeito.
Ela atirou o copo no chão e se jogou na cama chorando, de barriga para baixo. Franklin interpretou o gesto como um convite e tentou se deitar sobre ela, mas desta vez o empurrão de Flávia foi mais forte. — Eu disse que você precisa ir com calma. Era difícil, pois Franklin já estava com tremores de desejo interrompido. Flávia também, mas a diferença é que, nela, isso provocava mais paralisia do que ação. Com toda a sua experiência de 46 anos de vida, Franklin já não sabia o que fazer. Desta vez, foi ele que se levantou em busca de um drinque. “Vou deixá-la sozinha um pouco para ver se melhora”, pensou. Para tentar se concentrar, Flávia colocou a aliança de casamento na mesinha de cabeceira. Franklin voltou para perto dela, abraçou-a com mais delicadeza, diminuiu as luzes e ligou o rádio da cama na esperança de encontrar alguma coisa útil à situação, mas o efeito foi o oposto. — Esta música me lembra do meu marido, do início do nosso namoro. — OK, já entendi. Não vou ficar aqui o dia inteiro ouvindo você falar dele. Tchau. — Franklin, por favor... — Ah, Flávia, não se esqueça de pegar a aliança. Talvez a sua mão caia do braço se você ficar sem ela. Franklin se vestiu rapidamente, bateu a porta e foi embora da suíte. Flávia sentou-se na ponta da cama, deu um suspiro aliviado e pegou o celular: — Amiga, com ele eu pensei que não fosse conseguir, mas resisti outra vez. — Parabéns, Flávia. O que mais eu posso dizer? De volta ao trabalho, pouco depois, Flávia surgiu novamente arrumada, de cabeça erguida, maquiagem irretocável e todos os fios de cabelo nos lugares certos. Ela agora estava no controle outra vez. Controle absoluto. Mais tarde, em casa, Flávia e o marido ) tiveram uma noite inesquecível. )
— Discreto?! Como assim? O que você está falando? — Desculpe, amiga, eu falei em voz alta a resposta que ia digitar aqui no celular. — Para o Franklin? — Não. Foi o Silveira que mandou mensagem de texto. Aquele de cabelo grisalho. Ele estava na reunião de hoje comigo. — Ah, Flávia, tenha paciência! Tchau! Por um instante, ela se esqueceu de ensaiar os gestos e afundou o rosto nas mãos, enquanto a caneta caía ruidosamente. Assim alguém poderia perceber o seu estado, mas os colegas nas mesas próximas estavam distraídos com o trabalho. Acontece. Ela voltou à copa, desta vez porque precisava da água. Na saída, esbarrou no secretário-executivo. — Doutor Lima, me desculpe! — Ah, minha querida, é um prazer! Lima, que tinha pouco mais de sessenta anos, deu um beijo paternal, mas nem tanto, na testa de Flávia. Isso era bem melhor do que despachar com o ministro. Ela se afastou com a rapidez necessária para se manter segura, mas com a lentidão suficiente para não ofender o chefe. E o tempo, que não tem essas sutilezas, continuava passando.
Fora do Plano por PAOLA LIMA
paolamlima@gmail.com
Práticas que não mudam
Distritais de oposição entram com representação contra governador do Distrito Federal junto ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, que, por sua vez, encaminha a denúncia ao Ministério Público Federal por acreditar que existem indícios de irregularidades. Conhecem essa história? Protagonizada mais uma vez no início de junho, ela tem sido repetida por diversas vezes ao longo das últimas décadas no cenário político da capital federal. Desta vez, porém, um detalhe diferente: as parlamentares que assinam a representação não são petistas como no passado, mas autênticas descendentes do rorizismo. E o governador-alvo não é Joaquim Roriz ou José Roberto Arruda, mas o petista Agnelo Queiroz. A representação trata da doação – R$ 300 mil – feita pela empresa M Brasil Empreendimentos Marketing e Negócios à campanha do petista a governador. A doação teria sido feita de forma legal. A existência da empresa e suas relações com a Anvisa, agência reguladora da qual Agnelo foi diretor, é que estão sob suspeita. Mau sinal para a política do DF? Talvez. Mas, com certeza, um momento para fazer o eleitor brasiliense parar para pensar.
Tudo pela campanha Atualmente, as principais denúncias políticas do DF estão ligadas diretamente a financiamento de campanha. A representação contra Agnelo, que inclui o distrital Chico Vigilante (PT), e a possível cassação do mandato da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) por ter recebido dinheiro do ex-secretário do GDF Durval Barbosa. O esquema de distribuição de dinheiro público para campanha política, via Durval, ficou conhecido à época da Operação Caixa de Pandora e foi motivo direto para derrubada de três deputados distritais. Flagrada em vídeo recebendo sua cota de dinheiro vivo, Jaqueline apressou-se em admitir que aqueles maços eram “recursos não contabilizados de campanha”. E, por conta disso, já teve seu
pedido de cassação aprovado na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados.
Mudanças necessárias Os exemplos brasilienses comprovam o que todos já supõem: a forma de fazer campanha no Brasil está errada. A questão agora é descobrir como consertá-la. E não podemos esperar só pelas soluções de longo prazo – educação, cidadania e maior participação política da população. É preciso um primeiro passo, de forma mais imediata. Há quem aposte que esse passo pode vir da reforma política em discussão no Congresso Nacional. Mesmo com a ressalva de que está sendo elaborada pelos próprios beneficiários de seus resultados. A mudança de algumas regras pode ajudar,
pelo menos, a acabar com os esquemas já considerados “normais” dentro da política. O fim da reeleição no Executivo apresenta-se como uma maneira de evitar um mandato inteiro em função do próximo. O financiamento público de campanha poderia encerrar o círculo vicioso de patrocinadores interessados em lucros futuros com os governos, ou de governantes generosos com a iniciativa privada, em busca de apoio nas eleições. Seja qual for a solução encontrada, é preciso que os brasilienses ajudem a capital a encontrar um novo caminho. O voto bem decidido é o primeiro passo para entrar nessa rota. Mas acompanhar, discutir e opinar sobre as novas regras do jogo também se tornou fundamental.
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Artigo
A malícia na pele de Sasha Grey
Aos 23 anos, depois de 200 filmes, a musa intelectual do cinema pornô norte-americano encerrou a carreira
Texto Freddy Charlson Ilustração Rômulo Geraldino freddycharlson@gmail.com
romulog2000@yahoo.com.br
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C
horai, onanistas, chorai. Arrancai vossos cabelos, deixai de passar hidratante nas mãos, rasgai a carteirinha da videolocadora (ainda há videolocadoras neste mundo povoado pelos arquivos baixados na internet, pelas redes de pirataria, pelos ambulantes que perambulam nos botecos da urbe?), procurai o religioso mais próximo – padre, pastor, macumbeiro que seja –, pedi perdão pelos pecados, ide à luta atrás de conquistas reais. Crescei. Multiplicai-vos. É que... ... após alguns anos, muitos anos – sem trocadilhos, por favor – a gostosa musa intelectual do cinema pornô norte-americano, a belíssima Sasha Grey, resolveu não mais abrilhantar as telonas mais picantes da América. Sim, foi. Deu pra ela. Sasha, protagonista de exatos 200 filmes intimistas – digamos, íntimos até demais –, como I Wanna Bang Your Sister, Sasha Grey’s Anatomy, Anal Acrobats 3, Suck It Dry 3 e In Thru the Back Door (entre outros títulos ainda mais impublicáveis, tirem as criancinhas da sala, please!), assumiu sua vertente cabeça típica de quem é fã dos filmes existencialistas de Jean-Luc Godard (um francês), Michelangelo Antonioni (um italiano) e Wladimir Herzog (um alemão) e de quem tem o nome artístico inspirado em Dorian Gray (um inglês, aquele personagem do tal retrato, criado por Oscar Wilde). Sim, a musa nascida na cidade de Sacramento há meros 23 aninhos, batizada como Marina Ann Hantzis e que alcançou fama e glória na indústria que produz 13 mil DVDs por ano, agora vai se dedicar a outro tipo de “arte”, a da leitura, da reflexão, da filosofia. Antes, porém, a moça abrilhantou, com sua imagem – feita à imagem e semelhança de Deus? – os cinemas de São Paulo com o já clássico Malícia no País das Maravilhas. Na obra, ela interpreta uma Alice safadinha em um país ainda mais danadinho (jura?!). O filme foi uma das atrações do festival PopPorn, que reuniu, até 2 de junho, festas, exposições, debates e, claro, filmes, com temática sexual. (Nota do autor: Sasha ficou linda na fantasia de Alice, capaz de despertar outras tantas fantasias nos marmanjos e onanistas de alcova. Fecham-se os parênteses.) Voltando à vaca-fria (no offense, Sasha)... Alva, dona de pernas longas e um corpo irretocável (pasmem, sem silicone) e conhecida por, em frente às câmeras, fazer de tudo – de tudo mesmo, incautos leitores, de tudo mesmo –, a musa XXX decidiu que não quer mais ver seu corpinho de 1,71m tocado por ninguém. Pelo menos garante que, tipo a nossa Bruna Surfistinha, não vai mais cobrar por isso. E agora, meu Deus, o que será dos onanistas? (Recorro a
Deus neste parágrafo porque, bem, porque... ... porque a Bíblia considera o onanismo espécie de coito interrompido, porque a Bíblia é contra a masturbação, porque padres, pastores e rabinos pregam a não utilização do “cinco-contra-um”, porque dizem que isso não é coisa de Deus!) Prontofalei! E nessa ode contrária a Onã – personagem do Antigo Testamento, que, lá, no livro de Gênesis, consta como segundo filho de Judá e neto do patriarca Jacó – o bicho pega, hoje em dia, para todos aqueles que perdem tempo desperdiçando, em homenagem a Sasha Grey e outras musas XXX, o seu (deles) sêmen. Oh, afinal, o citado Onã, diz a Sagrada Escritura, jogou fora o seu esperma ao copular com Tamar – traduzindo direto do aramaico: o jato da parada caiu fora da vagina da pobre Tamar –, viúva de seu irmão Er. A descendência não foi confirmada, Tamar não emprenhou, Deus ficou puto e Onã dançou. Mor-reu! Como dançam (ou morrem um pouquinho), os onanistas fãs de Sasha. E ela, a musa XXX da última década, é categórica ao anunciar o fato de estar voltando a vestir a calcinha e parando de brincar com vibradores: “Está bastante evidente que meu tempo como atriz de filmes para adultos terminou. Mas fiquem tranquilos: não vou ser hipócrita dizendo que encontrei Jesus. De fato, estou orgulhosa de não me arrepender de nada; sinto que consegui tudo o que poderia ter conseguido como atriz XXX”, afirmou, aos fãs, em sua página no Facebook. Descoberta pelo diretor Steven Soderbergh (Traffic e Onze Homens e um Segredo), Sasha estreou no cinema para adultos no filme Confissões de uma Garota de Programa, em que vive uma garota de programa (jura?!) que atende a alta sociedade nova-iorquina. Desde então, o ar cult da moça ficou ainda mais em voga. Tanto é assim que ela interpretou a si mesma na cultuada série Entourage, da HBO, com direito a cenas quentes, porém não explícitas (ah, que peninha!). Ar cult que ganha novos contornos com o lançamento do livro de fotografias Neü Sex, que mistura seus pensamentos reflexivos sobre a vida ao mesmo tempo em que desperta, ainda mais, o voyeurismo de seus fãs, sempre ávidos por conferir o que a moça tem para mostrar (embora seja o que ela mais tenha feito neste século). O livro, aliás, documentou, de forma obsessiva, entre os anos de 2006 e 2009, a vida da estrela pornô em sets de filmagem e festinhas em hotéis. É uma espécie de retrato íntimo da moça, como ela é, bem diferente daquele com o qual os bons e velhos fãs estavam acostumados. A autoria da obra é do sortudo companheiro da moça, um certo Ian Cinnamon (não, nem tive a curiosidade de procurar na Wikipedia algo sobre o moço). Pronto, taí mais um produto prontinho, prontinho, para os onanistas...
Crônica
Nostalgia
Quando o SHLN era terra da fantasia Nos anos 80, o Setor Hospitalar Local Norte foi cemitério de bichinhos de estimação, palco de quadrilha e até camping
Texto Bárbara Semerene Ilustração Thales Fernando babisemerene@gmail.com
Não me esqueço do dia do enterro do Kim. Foi o primeiro de que participei na vida. Kim era um poodle branco de um dos moradores do meu prédio. Morreu atropelado por um vizinho. Era de se esperar que a tragédia um dia acontecesse. O cãozinho vivia solto correndo pelas áreas verdes e pelos pilotis do bloco G. Naquela época, não era obrigatório usar coleira nem catar todas as fezes que o bichinho fazia. Tampouco os condomínios multavam os donos de cachorro por eles pularem nos vizinhos. Então, o pequeno Kim estava sempre entre as 12 crianças que viviam brincando pela 316 Norte. Éra-
thalesfernandob@gmail.com
mos meninos e meninas entre 4 e 12 anos de idade. O enterro foi muito bonito: toda a criançada cavou um buraco bem fundo na extensa área verde que ficava entre o bloco G e o Hospital Santa Helena – a última construção da Asa Norte, que dava para ver da janela do meu quarto. Não havia nenhuma outra nas cercanias. Enterramos o cãozinho, cobrimos com terra novamente. Um dos meninos fez uma cruz de madeira e colocou no lugar, e as meninas fizeram um círculo de pedrinhas brancas ao redor de onde o bichinho fora enterrado. Jogamos flores, dessas que a gente catava na própria
quadra (naquele tempo, não tínhamos consciência ambiental). Os meses iam se passando e vira e mexe íamos fazer uma visita ao túmulo do Kim. Em outra extensa área daquele mesmo pedaço de terra, anualmente montávamos uma grande festa junina. Ficávamos todo o mês de maio ensaiando a quadrilha e fazendo bandeirinhas. Quando chegava junho, véspera do dia D, batíamos de porta em porta em cada apartamento para que os vizinhos nos doassem os brindes que iríamos oferecer na “pescaria”. Cada criança trazia uma comida típica junina de casa. Estirávamos os forros de mesa que
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Meu pai-herói atuou em outro episódio memorável. Estava eu brincando de Barbie com as outras meninas debaixo do bloco quando os garotos nos convidaram para ir “explorar a selva” que ficava atrás do prédio e ver a barraca de camping que eles haviam montado. Empolgadas, abandonamos os brinquedos e fomos todas para a aventura. Ao voltar, haviam sumido as nossas Barbies e todo o patrimônio delas – o carro da Barbie, a banheira da Barbie e até o Bob! Não pensei duas vezes. “PAIÊEEEEEEEEE”, gritei. Contei o que houve, ele saiu em busca dos malfeitores. Encontrou dois rapazes com objetos enrolados em jornais no ponto de ônibus mais próximo – era o último da W3 Norte. Viu uma mecha de cabelo da minha Barbie dando bandeira. Abordou os dois sem medo algum e conseguiu convencê-los a devolver os brinquedos roubados. Em nenhum momento
passou pela cabeça do meu pai que aqueles rapazes poderiam estar armados ou drogados. Crack, nos anos 80, era o Pelé. Aquele extenso pedaço de terra atrás do meu prédio era tão versátil que certa vez também se transformou em passarela de desfile de moda. E as meninas puderam ter um dia de modelo. No rosto, exibiam seus óculos escuros espelhados, de formato gatinho. Nos lábios, batom roxo. Nas unhas, esmalte preto. Tudo conforme ditava a moda punk da época. As famílias assistiram a tudo de “camarote” (das varandas dos apartamentos, que ficavam viradas para aquele lado). Fomos muitíssimo aplaudidas, é claro. Naquele tempo mágico, mais um membro surgiu na minha família. Mamãe ficou grávida e deu à luz no único hospital que habitava o Setor Hospitalar Local Norte, o Santa Helena. Era o começo do fim de um ciclo. Um tempinho depois que o meu irmãozinho nasceu, tivemos de nos mudar de apartamento, pois aquele havia ficado pequeno demais para a nossa família. Acabava, então, a minha primeira infância. E, com ela, ficava para trás a minha terra da fantasia, cenário de tantas lembranças. Uma nova c“asa” – Mudamos para a Asa Sul e eu achava chique dizer que morava lá. Era a parte mais antiga e desenvolvida da cidade. O espaço para as poucas crianças que havia na quadra contava com brincadeiras preestabelecidas: era o parquinho, com balanços, trepa-trepa e gangorra. Atrás do meu novo prédio, nada que lembrasse uma área de lazer. Ali ficava a W3 Sul, com muitas oficinas de carro e outros pontos comerciais. Meu mundo da fantasia, então, ficou restrito ao meu quarto. Só voltei à 316 Norte cerca de 15 anos mais tarde. Estudava na UnB e, um dia, saindo da faculdade, bateu a curiosidade de revisitar o meu passado. A minha terra da fantasia havia se transformado em um setor hospitalar. E não havia nenhuma ) criança brincando atrás do bloco G. )
havíamos pegado emprestado das mães no gramado e montávamos a nossa “mesa” de comes e bebes. E, claro, não poderia faltar a fogueira. Conseguíamos fazer fogueiras altíssimas. Nenhum adulto jamais mostrou qualquer preocupação com queimadas no cerrado ou crianças se acidentando. O mundo era politicamente incorreto, e muito mais espontâneo. Lembro uma vez que uns meninos mais velhos, de outra quadra, invadiram a nossa festa junina e apagaram a fogueira. Ao ver a cena, imediatamente corri para debaixo da janela do meu apartamento e gritei “PAIÊEEEEEEEEEEEEEEEEE” (naquela época, nenhum vizinho reclamava de a gente chamar pela janela em vez de interfonar). Mostrei o ocorrido e ele, sem titubear, desceu correndo atrás dos garotos praguejando “eu vou dar uma surra em vocês”. Os meninos, assustados, foram embora. Todas as crianças bateram palmas. E eu fiquei toda orgulhosa.
capa
Fotos de abertura: Nilson Carvalho
Quanto
vale o show?
(IR)Respeitável público, a companhia de espetáculos Congresso Nacional montou sua tenda na capital para proporcionar aos espectadores uma produção digna de muitos votos: Comissões Parlamentares de Inquérito, que você pode chamar de CPIs
Texto Rafania Almeida Ilustração cícero lopes rafania@meiaum.com.br
cicero.arte@gmail.com
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s espetáculos são, geralmente, de má qualidade. Os atores, salvo exceções, são canastrões, mas alguns até fazem cursos para melhorar o desempenho. Os custos de produção são altíssimos, mais de R$ 6 bilhões por ano de acordo com a organização Transparência Brasil, que calculou o valor gasto com deputados e senadores anualmente. Não há diretor, para cumprir o roteiro, orientar os atores – é cada um por si. E todos querem aparecer, ganhar espaços em jornais e na televisão. Alguns, mais mal-intencionados – porque sempre os há – querem mesmo é ganhar um dinheirinho (ou dinheirão) extra, fazendo merchandising disfarçado, para ninguém notar. Embora ruins, mambembes, esses espetáculos são apresenta-
dos em palcos muito nobres, em prédios belos e luxuosos, com plateias selecionadas e qualificadas. Sempre com a presença de jornalistas, fotógrafos, microfones, câmeras de TV. Afinal, a imprensa gosta de espetáculos e de espetaculosos, especialmente se no enredo há roubos, trapaças, traições, intrigas, dramas e, às vezes, até amor. Assim são as CPIs, as comissões parlamentares de inquérito. Grandes espetáculos, com muito barulho e pirotecnia, farta cobertura jornalística. Um show com 513 atrizes e atores na Câmara dos Deputados e 81 no Senado Federal. O roteiro gira em torno de investigações, depoimentos, quebras de sigilos fiscais e telefônicos, mandados de busca e apreensão, até prisões em flagrante. Mas que, quase sempre, dão em nada. Não deveria ser assim, claro.
Fiscalizar é uma das atribuições essenciais de um parlamentar e as CPIs são importantes instrumentos de investigação. Mas os próprios parlamentares, em tese os mais interessados em que essas comissões funcionem bem e deem resultados, contribuem para sua desmoralização. Fazem das CPIs um palco para que eles brilhem iluminados pelos holofotes da imprensa e das TVs do Senado e da Câmara. Banalizam a instituição e no final fica tudo na mesma, ou quase na mesma. Abrem mão da sua principal função no Congresso, a de legislar. Nos últimos dez anos, em três legislaturas, foram mais de 70 proposições em comissões parlamentares de inquérito. Por incrível que pareça, nenhuma foi votada. Muitas nem chegaram ao plenário, segundo o Instituto CPI Brasil. O espetáculo se esgota em si mesmo.
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Orlando Brito
Em 2007, a CPI do Apagão Aéreo revelou os problemas que o País já enfrentava no setor. Passados quatro anos da aprovação do relatório feito pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), nenhuma recomendação foi atendida e o Brasil vai privatizar três aeroportos para atender à demanda da Copa do Mundo de 2014.
Na última legislatura – 2007 a 2010 –, as oito CPIs na Câmara tiveram gasto de quase R$ 400 mil. O Senado divulgou o gasto de três das quatro comissões que funcionaram no período (Pedofilia, Apagão Aéreo e das ONGs): R$ 564.894,13. Outras quatro foram criadas e extintas. Os custos totais devem ultrapassar os R$ 6 milhões devido a gastos não contabilizados e aos não informados como material de escritório, a cessão de funcionários e o atraso nas votações importantes para o País. Ocorreram, ainda, duas investigações conjuntas, as Comissões Parlamentares Mistas de Inquérito (CPMIs) do Movimento Sem-Terra e dos Cartões Corporativos. Alguém se lembra de alguma? Sabe quem foi punido por causa delas? De 2003 a 2006, foram gastos cerca de R$ 6 milhões com 21 CPIs, segundo dados fornecidos pelas duas Casas. Um deputado, que pediu para não ser identificado, é bem realista: “Quanto menos se investiga, menos o povo sofre”. A estimativa é de que muito mais tenha sido gasto, visto que cada deputado custa cerca de R$ 7 milhões por ano e cada senador, em média, R$ 34 milhões. Quando há CPIs de grande repercussão, os trabalhos no Congresso ficam prejudicados: param as votações, funcionários como escrivães, analistas e promotores são alocados de outros órgãos e continuam recebendo pelo serviço que deixam de realizar. As comissões parlamentares de inquérito são previstas no parágrafo terceiro do artigo 58 da Constituição: “As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das res-
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Comédia sem graça Welder Rodrigues (à esq.) e Ricardo Pipo não perderam um episódio de um dos maiores espetáculos encenados no Congresso: as investigações sobre o mensalão. Os integrantes da companhia de comédia Os Melhores do Mundo escolheram o melhor ator: Roberto Jefferson, que denunciou o esquema e teve o mandato cassado. “A gente viaja muito e, na época, voltávamos correndo para o hotel para ligar a TV Senado e a TV Câmara e saber como terminaria a história”, conta Pipo. “Chorávamos de rir sempre que o Roberto Jefferson aparecia.” Welder chegou a usar a história em uma das peças do grupo, mas eles lamentam se divertir com algo que deveria ser sério. Para Pipo, não passa de circo para o povo. “Os resultados estão aí para mostrar que é muito mais teatro, barganha política do que vontade de investigar e esclarecer algo”, diz. “É fácil manipular as pessoas assim, virou fanfarronice.” A quantidade de denúncias é tão grande e a de soluções tão pequena que, de acordo com Pipo, as pessoas perdem o interesse. “O que nos resta é ridicularizar a política porque não temos outras ferramentas”, justifica. Se um dia tivesse direito de escolher uma CPI, Welder escolheria investigar as próprias CPIs. “A CPI das CPIs seria para descobrir por que elas nunca dão em nada, sempre acabam em pizza. Mas duvido muito que os deputados e senadores a deixassem passar. Provavelmente a impediriam com a criação de outra comissão desnecessária.”
O pão e o circo O deputado paulista José Mentor, do PT, diz tudo em poucas palavras: “As CPIs são um instrumento importantíssimo de ação parlamentar, mas apenas em tese. Concretamente, são um desastre”. Ácido, Mentor afirma que as investigações parlamentares são utilizadas, tanto por deputados quanto por senadores, para defesa e proteção de seus partidos e aliados e para o ataque a adversários. Para ele, a política do pão e circo para o povo funciona muito bem em uma CPI. “É um instrumento para aparecer na sociedade e, com isso, obter bom resultado eleitoral. Vi aqui vários casos de pessoas que não tinham o menor respaldo na sociedade e ganharam votações estrondosas depois de participar de uma CPI.” O deputado recusa-se a apontar colegas que se encaixem nesse perfil. Mas a meiaum tirou conclusões com base na atuação dos parlamentares e na última eleição. Não há como saber quais motivos levam o povo a eleger determinado político. O fato é que o senador Magno Malta (PR-ES) es-
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pectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.” Mais claro, impossível. Não é preciso ter maioria para constituir uma CPI, um direito de minoria, ou de oposição. A CPI pode investigar um fato determinado, e não genérico, como se fosse uma autoridade judicial. Terminado o trabalho, envia suas conclusões ao Ministério Público, a quem cabe denunciar os acusados e acompanhar as recomendações feitas no relatório final. As assembleias legislativas, nos estados, a Câmara Legislativa, no Distrito Federal, e as câmaras de vereadores, em todos os municípios, também têm a prerrogativa de constituir comissões parlamentares de inquérito, nos mesmos moldes do Congresso Nacional.
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Como estratégia para evitar a cassação, Valdemar Costa Neto, então no PL, renunciou ao mandato de deputado federal em 2005, acusado de ser um dos pivôs do mensalão na CPMI dos Correios. Logo em 2006 retornou à cena política, eleito deputado federal pelo PR e reeleito em 2010.
tava desacreditado em seu mandato de oito anos no Senado (2003-2010) após suposto envolvimento com a máfia dos sanguessugas, investigada em uma CPI por desvio de verba pública destinada à compra de ambulâncias. A rádio-corredor e as pesquisas de intenção de voto indicavam que o parlamentar não seria reeleito. No entanto, após vestir a camisa de presidente da CPI da Pedofilia, a mais veiculada na mídia nacional no ano passado, Malta foi premiado com 1.285.177 votos. Entre os exemplos da Câmara está o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), o qual era apenas assessor do então presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005, que renunciou ao mandato para fugir da cassação por suposto pagamento de propina. Fonte está em seu segundo mandato e saltou de 110 mil para 330.520 votos na última eleição, após presidir a CPI das Tarifas de Energia Elétrica. A vitória teria sido fruto de uma campanha com grandes inves-
timentos, que passou de uma receita de R$ 323.344,06 no primeiro pleito para R$ 2,9 milhões em 2010, após sua atuação na CPI, de acordo com a prestação de contas do candidato no Tribunal Superior Eleitoral. Na opinião de José Mentor, a imprensa tem boa parcela de culpa na espetaculização e ineficiência das CPIs, pois se interessa pelo escândalo, agasalha os factoides e dá visibilidade aos que fazem suas representações. “Existe a teatralização, mas a mídia ajuda”, critica. “Quem quer sabe como aparecer.” Mentor foi relator da CPMI do Banestado, que investigou, em 2004, remessas ilegais de dinheiro para o exterior. Promete revelar em um livro, sem previsão de lançamento, os bastidores da CPMI, encerrada sem relatório final. O deputado garante que, passados sete anos da conclusão dos trabalhos da comissão, existem ainda 200 processos para repatriar o capital enviado para paraísos fiscais no exterior, que pode
chegar a US$ 150 bilhões, sob suspeita de desvio de recursos públicos e tráfico de armas, drogas e mulheres. O parlamentar foi investigado por envolvimento no mensalão após ter o nome citado como um dos beneficiários do esquema denunciado pela CPI dos Correios, em 2005. No relatório que fez da CPMI do Banestado, Mentor – supostamente mensaleiro – fez apenas uma menção ao Banco Rural, denunciado, em 2005, como base das contas do mensalão. Na época do Banestado, suspeitas de corrupção já recaíam sobre o banco. O cientista político Murillo de Aragão diz que “a utilização da comissão como palanque, por parte de alguns de seus integrantes, faz parte do jogo em que o objetivo do governo é preservar-se no poder e o da oposição é derrotar o governo em curso para ocupar esse espaço que, por ora, pertence a seu adversário”. Os resultados da apresentação, assim como no teatro, dependem do cenário. Os políticos conseguem lucrar
Orlando Brito
R$ 6 milhões foi o gasto aproximado com 21 CPIs na Câmara e no Senado de 2003 a 2006. O dado é oficial.
Depois de perder o cargo de presidente do PT em 2005, por suposto envolvimento no mensalão, José Genoíno se posicionou contra a lei da ficha limpa em plenário, em 2009, quando era deputado. Não conseguiu se reeleger, mas não ficou sem cargo no governo. É assessor do ministro da Defesa, Nelson Jobim.
eleitoralmente se ocorrerem dois fatos. O primeiro é quando a bandeira da ética, o combate à corrupção, é a principal demanda do eleitorado, como no período do mensalão. O segundo se dá quando a conclusão da CPI é próxima das eleições. “Se esses dois fatos, ou um deles, não ocorrer, sua mensagem pode ficar limitada, pois para a maioria dos eleitores outras bandeiras costumam ser mais atrativas que o palanque conseguido durante uma CPI”, explica. Forte crítico dos governos de Lula e de Dilma, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) não anda satisfeito com o rumo que as CPIs tomaram no Senado, mas considera legítimo o uso delas como palco: “Um parlamentar tem a
angústia de chegar à opinião pública com seu trabalho. Cabe à imprensa distinguir quando é teatro ou realidade. Não basta querer ser notícia”. Dias diz que as CPIs vivem seu “inferno astral” no Congresso. Falta de interesse, temor e negociatas seriam alguns dos principais motivos. Como 2011 não é ano eleitoral, o interesse pelos holofotes é menor. O senador adverte que há desencanto devido ao fato de o governo federal amordaçar as CPIs. “Quebrou-se a tradição, no Congresso, de dividir o comando entre oposição e governo e transformaram as CPIs em chapa-branca”, reclama. Segundo Dias, as decisões costumam “morrer” na Câmara, onde houve banalização da corrupção e “há blindagem deliberada”.
O deputado Domingos Dutra (PT-MA), relator da CPI do Sistema Carcerário (2007 a 2008), explica: “Existe uma deformação na relação do Parlamento com o Poder Executivo. Infelizmente neste país todos os que chegam ao Executivo, de PT a PSDB, manipulam o Legislativo de alguma forma”. Assim, a maioria do governo enterra as CPIs. Dutra conta que nenhuma das proposições feitas na CPI do Sistema Carcerário chegou ao plenário e que a CPI só ganhou quórum depois que a mídia se interessou pelo assunto. O presidente do Instituto CPI Brasil, Wellington Moisés de Oliveira, confirma que nas últimas três legislaturas não houve
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40 rio de 1.198 páginas, após 129 reuniões, 22 viagens, 475 ouvidos, 824 indiciados, 25 recomendações, sete projetos de lei e um projeto de resolução. Muito? Na verdade, nada. Não existem resultados dessa investigação, a não ser a reeleição de Magno Malta, que presidiu a comissão. O show foi tamanho que a imprensa acompanhava todas as reuniões. Com o circo armado, até testemunhas foram presas. Tornou-se prática comum fazer com que indiciados assinassem documentos como testemunhas, pois qualquer contradição ou suspeita de mentira poderia levá-los à cadeia, dando a ideia de satisfação ao público e ação imediata. Bom mesmo é ver como no relatório da CPI, feito pelo então deputado e ex-policial federal Moroni Torgan (antigo PFL-CE), tudo soa tão correto, bonito, fácil e benfeito. Parece uma daquelas películas hollywoodianas em que o narrador deixa a lição para o espectador: “Como resul-
tado final de seus trabalhos, esta CPI não pode deixar sem continuidade tudo o que apurou. É o povo brasileiro que o reclama, em uníssono. (...) O que está em jogo é a própria democracia como forma do estado nacional. O que está em jogo é o futuro do Brasil e de seu povo. Que nossos filhos e netos possam colher os frutos do trabalho desta geração”. Ficou nisso. É pop, é banal José Mentor, Álvaro Dias, Domingos Dutra e Murillo de Aragão concordam em um ponto: a banalização das CPIs tirou sua importância. Em São Paulo, por exemplo, instalou-se a CPI da Dentadura na Assembleia Legislativa no início deste ano. A manobra foi utilizada pela base aliada para impedir investigações sérias que atingissem o governo do Estado. Para evitar a investigação de algum fato, é comum parlamentares, do governo ou da oposição, proporem CPIs so-
Orlando Brito
nenhuma votação fruto de CPI. Oliveira passou dez anos estudando o assunto, já auxiliou na implementação de algumas investigações no Congresso e continua levantando dados, na tentativa de promover maior transparência nas casas parlamentares. No último mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002), foram instauradas 19 CPIs e nelas 27 proposições. No primeiro governo Lula (2003-2006), dez comissões foram montadas, 40 proposições feitas, nenhuma votada. “Todo o esforço, o trabalho de anos e muito dinheiro foram jogados no lixo, porque o objetivo principal de uma CPI é propor soluções, leis e normas que resolvam ou amenizem os problemas apresentados nas investigações”, afirma. “Mas nenhuma delas o fez.” A mais criticada por Oliveira é a CPI do Narcotráfico e Roubo de Cargas, que levou quase dois anos (de 13 de abril de 1999 a 5 de dezembro de 2000), resultou em um relató-
Delúbio Soares (à esq.), ex-tesoureiro do PT, deixou o partido após ser apontado como cúmplice do publicitário Marcos Valério (à dir.) no esquema do mensalão. Ele também foi citado na CPI dos Sanguessugas, em 2006, mas, sem nenhuma condenação, foi readmitido no PT neste ano.
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de, para atender as bases eleitorais. A partir disso, são criadas CPIs sem a finalidade de investigar, de apurar fatos, como a da Dentadura. “Não pode haver banalização das comissões”, adverte Coelho. “Para qualquer crise é criada uma CPI. Esquecem que ela é um instrumento importante não passível de vulgarização.” Ele espera um Congresso mais cauteloso, que faça apenas investigações necessárias. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) completa: “A maioria massacrante do governo repele até a discussão sobre alguma coisa que possa chegar perto do Palácio do Planalto”. José Mentor acredita em um parlamento evoluído, que um dia fará investigações sérias, como já ocorreram, na opinião dele, mas com ressalvas. “Não existe essa de que não ) haverá desvios.” )
bre assuntos sem importância. Álvaro Dias diz que o descrédito é generalizado. Em 2009, ele e colegas da oposição retiraram as assinaturas pedindo a CPI da Petrobras, que deveria investigar irregularidades da ordem de milhões de reais, além de benefícios a empreiteiras, entre outras denúncias. Não deu em nada. Dias aponta como última CPI que deu resultado a mista dos Correios, em 2006, que investigou o mensalão. Por isso, ressalva: “Minimizar o valor das CPIs é coisa de corrupto”. Domingos Dutra garante que a CPI do Sistema Carcerário teve resultados, ainda que mínimos. Porém, o sistema continua problemático: “Presídios foram fechados, diretores demitidos, mas projetos de lei ficaram engavetados e muitas medidas não foram tomadas. Eu sou o único representante daquela CPI que ainda debate o assunto. Caiu no esquecimento. Preso não dá voto”. Mesmo considerando o importante papel das CPIs para o controle dos Três Poderes, Dutra revela bastidores de uma das investigações da última legislatura, a das tarifas de energia elétrica. “Assim como as CPIs dos Bingos e a dos Combustíveis, foi uma denúncia feita para criar uma CPI com o intuito de receber dinheiro das empresas”, acusa. A investigação deu em alguma coisa, explica: “Deu, sim. Teve participante que foi o mais votado de Pernambuco para ocupar uma vaga no Parlamento. Agora, eu que pergunto: A culpa é de quem, se ele está de volta?” O secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinícius Furtado Coelho, avalia que os legisladores não fiscalizam o Executivo porque priorizam a manutenção de uma “relação cordial”, para que consigam a liberação de emendas com maior facilida-
Orlando Brito
O publicitário responsável pela campanha de Lula à presidência em 2002, Duda Mendonça, prestou depoimento à CPMI dos Correios, em 2005, mesmo sem ter sido convocado. Revelou ter recebido mais de R$ 10 milhões pelo caixa 2. Recentemente, assumiu a verba de publicidade do governo do Maranhão: mais de R$ 45 milhões.
“Quanto menos se investiga, menos o povo sofre.” O deputado é sincero, mas não a ponto de permitir que creditemos a frase
Crônica
Uma curiosidade
As crianças de Brasília
Onde estão? Há tanta área verde e terrenos livres para correr, brincar, jogar bola, rodar pião e andar de bicicleta, mas elas não estão lá
Texto Paulo Rebêlo Ilustração Cláudia Dias imprensa@rebelo.org
Quando coloquei os pés em Brasília pela primeira vez – lá se vão quase 25 anos – pensei comigo mesmo: as crianças daqui devem ser muito felizes. Senti uma inveja retardatária. Os anos passam e, durante todas minhas viagens a trabalho para cá, sempre carreguei o mesmo pensamento. Crescer em Brasília deveria ser o paraíso. Contudo, por estar sempre a trabalho, não tinha tempo para nada. Muito menos para observar se as crianças daqui eram mesmo felizes. Hoje, morando no Plano Piloto pela segunda vez, não sei dizer se elas são mais felizes do que as outras crianças. Agora, com tempo para observar mais de perto, sempre me pergunto: onde estão as crianças de Brasília? Não as vejo em lugar algum. Olho para tanto espaço livre e não as encontro.
claudiadias@gmail.com
No Brasil, nunca conheci nenhuma outra capital com tanta área verde e terrenos livres para correr, brincar, jogar bola, rodar pião e andar de bicicleta com segurança. Na minha infância, seria um paraíso. Aliás, na adolescência também seria. Uma das maiores dificuldades, quando adolescente, era achar um descampado para jogar bola sem medo de levar um tiro de sal na bunda, ser assaltado, atropelado ou transformado em almoço de cachorro brabo. E a gente invadia a rua mesmo assim. No meio da pista, entre os carros, ao lado do lixão, atrás da estação de metrô. Em qualquer buraco. O cenário podia ser horrível, mas na imaginação da gente era o Maracanã. Aqui em Brasília, para onde jogo o olhar, já consigo me visualizar com dois chinelos
para fazer a barra do gol, uma bola dente de leite e outros três moleques descalços correndo atrás da gorducha. Uma Seleção Brasileira. É como se cada quadra residencial tivesse o seu próprio Maracanã de verdade. Com gramado e tudo. Só falta jogador. Um cenário impossível de acontecer em qualquer outra cidade. Na primeira vez que vi de perto o Congresso Nacional, não dei a menor bola para a arquitetura do lugar. Só tinha olhos para a imensidão daquele gramado verdão, quase brilhando. Tendo passado a maior parte da minha infância e adolescência no centro do Recife, uma área verde, por menor que fosse, era como um oásis no meio do deserto. Por mais qualidades que a capital pernambucana possa ter, planejamento urbano certamente nunca foi uma delas.
43 De certo modo, tento entender. Também já fui viciado em fliperama de bairro. Mas chegava uma hora em que as moedinhas acabavam e a gente ia para rua fazer qualquer coisa. Às vezes, qualquer coisa significa fazer nada. Porque não tinha nada para fazer. Mas sempre havia uma árvore para subir ou um vira-lata para correr atrás. Hoje, parece que não existe mais criança para subir em árvore em Brasília. Será que todos os funcionários públicos nasceram aqui? Será que eles já se esqueceram de como era difícil achar um gramado para bater uma pelada na cidade onde nasceram? Aposto qualquer coisa que a maioria deles passou a infância inteira sem nunca jogar bola na grama. Será que os pais e avós de Brasília não levam mais as crianças para brincar na rua? Será que em Brasília só existe o Parque da Cidade aos domingos? Não faço ideia de para onde estão levando as crianças de Brasília. De como estão ocupando o tempo delas. Deve haver algum lugar secreto, alguma quadra especial onde as crianças de todas as outras quadras se encontram para escalar dois times e um na reserva. Para fazer olimpíada. Campeonato de peteca e bola de gude. Não sei. Só sei que, se as crianças de Brasília gostam tanto de ficar em casa ou ir para shopping, proponho uma troca. Vocês levam as crianças daqui para cidades com shoppings maiores – até Recife e Salvador têm shoppings maiores e melhores do que Brasília – e nós trazemos as crianças das outras cidades para conhecer essa imensidão de áreas livres e gramados vazios. Depois de um fim de semana, pedimos a opinião delas se é melhor jogar bola e dar cambalhota em Brasília ou no concreto da cidade delas. Para cada dia de brincadeira na rua, elas ganham um dia liberado com esse tal de Playstation. Acho que seria uma troca justa. Um ple) biscito infantil. )
A gente jogava bola na areia da praia, no barro, no cimento, entre pedras, paus e até cacos de vidro. Perdi as contas de quantas vezes cortei os dedos e rasguei o pé por causa de cacos de vidro misturados entre os pedregulhos. Além de dividir parte do descampado com urubus e ferro velho. Em Brasília, para onde olho tem grama. Não é um campo de futebol, mas é grama. Verdinha. Arrumada. Se a grama falasse, diria para todas as crianças: por que vocês não usam a gente depois da escola? O que tanto vocês fazem o dia inteiro? Todos os dias? Às vezes, passo na frente do Congresso só para ver aquele gramado. Vejo um time de futebol... americano. E todos adultos. Vejo (poucos) turistas descendo em tobogã no gramado e até mesmo algumas crianças – de outras cidades – dando cambalhotas. Desconfio que nenhuma delas é de Brasília. Onde será que elas dão cambalhotas e brincam de Jaspion? Talvez no Pontão do Lago Sul. Mas lá só encontro noivas tirando retrato, playboys de camiseta apertada e loiras de shortinhos e minissaia. E crianças que não desgrudam dos pais nem para apostar uma corrida até o coqueiro, dentro de uma rede imaginária de proteção. Nas quadras, não consigo ver meia dúzia de crianças brincando na rua. Se não fosse a diferença na arquitetura, lembraria minhas caminhadas pelas periferias abandonadas da Cracóvia. Talvez me digam que Brasília nunca foi o paraíso das crianças. Que tudo isso é uma grande besteira. Um romantismo barato. Uma frustração que perdeu o prazo de validade. Que os tempos são outros. Verdade, talvez seja apenas o paraíso dos concurseiros e concursados. Mas onde estão os filhos de tantos concursos? Os filhos dos funcionários públicos? Estão todos no shopping? Jogando Playstation em casa? É uma curiosidade minha, talvez egoísta, porém honesta. Uma curiosidade sem a consultoria do Palocci.
Artigo
Reconhecer pra poder receber
O atendimento nos pontos turĂsticos deveria ser simples e didĂĄtico, para o visitante dar valor ao que vĂŞ
Texto Juliana santana Fotografia thyago arruda arq.julianasantana@gmail.com
thyagochs@gmail.com
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C
ada lugar tem características que podem ser grandes atrativos turísticos. Veja os exemplos das cidades brasileiras São Paulo e Rio de Janeiro. Uma é famosa por não dormir, sempre tem algo acontecendo em alguma hora do dia, cedo ou tarde da madrugada. Atrai pessoas que buscam grandes eventos, turistas interessados em cultura nos museus, nas galerias, nos teatros e nos shows. Há os admiradores de uma boa gastronomia, os que querem fazer compras. São Paulo tem todas as características para ser chamada de cosmopolita. O Rio, a cidade maravilhosa, encanta qualquer visitante com sua beleza natural. Lá, estar sentado na orla e admirar o carioca circular despretensiosamente pelo calçadão já faz o turista ter a certeza de que valeu a pena estar ali na cidade mais bossa-nova do Brasil. Quando pensamos em viajar, geralmente procuramos roteiros por diferentes motivos – praias para descansar ou metrópoles para nos entreter. Roteiros históricos para conhecer a evolução humana por meio de suas arquiteturas e cidades. Os exóticos com seus costumes e tradições. O fato é que sempre há um motivo para fazer com que aquele roteiro seja o desejado, o escolhido entre tantos outros pelo mundo. Como atraímos os turistas a Brasília? Qual é o turista economicamente ativo, que se sente interessado em incluir Brasília no seu próximo roteiro de viagens? (Exclua aqueles que vêm por motivos afetivos, familiares.) A resposta pode ser óbvia para alguns: aquele que deseja conhecer a capital do País. Porém, Brasília apresenta fatores tão ou até mais importantes que devem ser cada vez mais valorizados e reconhecidos. O turismo cívico ainda é um dos pontos mais fortes no nosso turismo local. As visitas à Câmara dos Deputados, ao Senado e aos palácios são paradas obrigatórias para qualquer passeio. Porém, convenhamos que, com a imagem da nossa política, atrair turista para conhecer a “casa de seus governantes” não deve ser tarefa fácil para as agências especializadas. Por conta do reconhecimento do trabalho de Niemeyer na fase da construção de Brasília, sua arquitetura monumental tornou-se a prata da casa. Para isso, precisamos aperfeiçoar nossos serviços de atendimento nesses pontos turísticos. Ir além do turismo cívico e fortalecer a importância da arquitetura brasiliense no contexto mundial. No Eixo Monumental, todo palácio, monumento, tem relevância arquitetônica e artística. Grandes gênios da cena cultural moderna contribuíram nos projetos aqui construídos. O atendimento nessas obras deve ser técnico e didático, por meio de guias, além de folhetos e painéis
explicativos. O turista deve obter todas as informações detalhadas sobre cada edificação e, assim, valorizar o que está sendo visitado. O conhecimento gera satisfação. É inaceitável um turista entrar e sair da Catedral sem ter informações sobre os vitrais de Marianne Peretti, sobre os anjos de Alfredo Ceschiatti ou sobre a genialidade da solução estrutural ali adotada. É incompreensível o descaso com a Praça dos Três Poderes. É vergonhoso não valorizar os edifícios residenciais em pilotis das superquadras. É revoltante o circo montado na Esplanada dos Ministérios para grandes eventos. No dia do aniversario de Brasília, não queira apresentar a capital a alguém que nunca a tenha visitado antes. Pode ser traumático. Ao invés da linda perspectiva do gramado livre, o que se veem são barracas, barracas, barracas. Há diversos casos em que a economia de algumas cidades se alavancou por meio do turismo gerado com a instalação de museus que são verdadeiras referências arquitetônicas. Como o caso da virada econômica que o Museu Geggenhein, do arquiteto Frank O.Gehy, causou em Bilbao, na Espanha, ou o impacto positivo causado na imagem de Israel por meio do Museu de Design de Holon, projeto extremamente audacioso do arquiteto Ron Arad. Brasília é um museu ao ar livre, um marco urbanístico com suas superquadras, tesourinhas, balões, pilotis, cobogós, brises-soleil, palácios e monumentos. Temos Portinari, Athos Bulcão, Ceschiatti, Volpi. Passear pela cidade pode ser muito atraente ao visitante que vem em busca de conhecimento sobre a arquitetura e a arte moderna. Ser Patrimônio Histórico Nacional por conta de seu o traçado urbano e sua escala bucólica é um valioso produto turístico. Mais importante, contudo, é fazer o dever de casa: estudar, entender e cuidar da nossa cidade.
Precisamos aperfeiçoar nossos serviços de atendimento nesses pontos turísticos. Ir além do turismo cívico e fortalecer a importância da arquitetura brasiliense no contexto mundial. Passear pela cidade pode ser muito atraente ao visitante que vem em busca de conhecimento sobre a arquitetura e a arte moderna.
Caixa-preta
por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com
Ustra, o torturador: ontem e hoje
O cinismo mais explícito deste cínico Brasil está expresso na cara lavada do incorrigível coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro e único oficial do Exército brasileiro condenado pela Justiça numa ação declaratória por sequestro e tortura durante o regime militar. Com a desfaçatez habitual, Ustra aflorou na Folha de S.Paulo para reclamar de um texto de Pérsio Arida, presidente do Banco Central no Governo FHC. O chilique do coronel visava um lado pouco conhecido do economista: o passado de Arida como membro da VAR-Palmares, grupo guerrilheiro da extrema-esquerda. Em um comovente trabalho — Rakudianai — que ocupou 27 páginas da edição de abril da revista piauí, Arida produziu uma das mais brilhantes e corajosas reflexões já feitas sobre a ditadura, o engajamento político, o medo, o drama e o pesadelo que dominaram o País durante 21 anos. É uma primorosa meditação sobre os caminhos e descaminhos que marcaram o Brasil na sangrenta década de 1970. Pela força literária e pelo conteúdo testemunhal, é uma peça que constrange a esquerda e envergonha a direita.
O inferno Embora não seja ali citado uma única vez, Ustra vestiu a carapuça e tachou de ‘delírio’ o texto de Arida, que relembra a tortura sofrida no DOI-Codi de São Paulo, comandado pelo coronel na fase mais truculenta do regime, o Governo Médici. Conhecido nos porões como ‘major Tibiriçá’, Ustra tenta rebater — sem provas, nem fatos — o relato circunstanciado de uma de suas vítimas. O ofício de violência do coronel fala por si, com a veemência do sangue e a eloquência dos números que gritam em sua turbulenta ficha militar. Ustra operou o símbolo mais estridente do terrorismo de Estado no País: o DOI-Codi da Rua Tutóia, um antro de dor e horror que define a ditadura perante a História. Durante os 40 meses de seu reinado,
entre 1970 e 1974, morreram lá 40 presos O cardeal Paulo Evaristo Arns contabilizou, neste período, 502 denúncias de tortura. Só o casal Maria Amélia e César Teles sobreviveu ali onze meses de 1973 — e a dezenas de sessões de tortura na máquina de moer carne de Ustra. Os filhos, Janaína e Edson, na época com 5 e 4 anos, são testemunhas: “Durante cerca de 10 dias, minhas crianças ficaram no DOI-Codi. Dentro da cela, me viram sendo torturada na ‘cadeira do dragão’, cheia de hematomas, com o rosto desfigurado. Na semana em que meus filhos estavam ali, os torturadores falavam que os dois estavam sendo torturados. Disseram que eu seria morta. Isso foi o tempo todo. Ali era o inferno”, contou Amélia em 2006, quando começou o processo contra Ustra na 23ª Vara Cível de São Paulo.
A hipocrisia Ao condená-lo, o juiz Gustavo Santini Teodoro observou que as testemunhas, que estiveram presas com os Teles, sustentavam que Ustra comandava espancamentos, choques elétricos e tortura psicológica. Das celas, escutavam o berro e o pranto dos presos: “Não é crível que os presos ouvissem os gritos dos torturados, mas não o réu [Ustra]”, sentenciou o juiz. Surdo de novo à voz da razão, o sonso coronel tenta escapulir à responsabilidade classificando o irrefutável relato do economista como “imaginário, fictício e delirante”. A sinceridade levou Arida a reconhecer que “há muito tempo deixou de ser comunista”. A hipocrisia faz Ustra confessar que continua um torturador – agora, da verdade e da História.
Arte, Cultura e Lazer
Warner Bros Pictures
Aventuras nas telas e na cidade Nestas férias, os espectadores despedem-se do feiticeiro que cresceu nas telonas. Depois de 13 anos e sete filmes, a série baseada nos livros de J.K. Rowling chega ao fim, com Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 2 (foto). Quem quer viver uma aventura fora do cinema tem a opção de fazer um tour pela capital por meio da mostra Aberto Brasília, com obras espalhadas por vários pontos turísticos, como Esplanada dos Ministérios, Lago Paranoá, Parque Olhos D’água, Parque da Cidade e Rodoviária do Plano Piloto. Há também a exposição Dinossauros da Patagônia, na praça central do ParkShopping, invadida por seres pré-históricos, com réplicas de animais de até 15 metros de altura. Para relaxar, o projeto Fest Risos, com vários espetáculos no estilo stand up comedy.
Cinema – lançamentos
A melhor festa do ano Direção: Joe Nussbaum. Às vésperas do baile de formatura, os adolescentes idealizam a despedida perfeita da escola. Nova Prescott (Aimee Teegarden) se vê atraída por um jovem (Thomas McDonell), mas as histórias nem sempre são como se espera. É preciso lidar com as inseguranças e frustrações que antecedem a vida adulta. Comédia. Verifique a classificação. Kinoplex em 8 de julho. 103 minutos.
Capitão América:
Cilada ponto com Direção: José Alvarenga Jr. O longametragem é baseado no seriado Cilada. Depois que um vídeo de Bruno (Bruno Mazzeo) com a ex-namorada (Fernanda Paes Leme) cai na internet, ele ganha fama na web. Acaba descobrindo que quem publicou o vídeo foi a própria exnamorada, que queria vingança por ter sido traída. Por causa da desagradável divulgação do vídeo, ele se mete em várias ciladas. Comédia. Classificação 14 anos. Kinoplex em 8 de julho. 124 minutos.
O primeiro vingador
Harry Potter e as relíquias
Direção: Joe Johnston. Steve Rogers (Chris Evans) tem saúde frágil, origem pobre e sonha em fazer parte do exército. O sonho se inviabiliza por causa das questões de saúde. Porém, a dedicação do garoto chama a atenção do general Chester Phillips (Tommy Lee Jones), que o convida para testar o soro radioativo Supersoldado. Saudável, Rogers começa o treinamento para lutar contra o mal à frente do grupo Os Vingadores. Aventura. Classificação
Direção: David Yates. No desfecho da série, a batalha entre as forças do bem e do mal da magia alcança o mundo dos trouxas. O risco nunca foi tão grande e ninguém está seguro. Mas é Harry Potter (Daniel Radcliffe) o escolhido para o sacrifício final no confronto épico com Lorde Voldemort (Ralph Fiennes). Aventura.
livre. Cinemark e Kinoplex em 29 de julho. 104 minutos.
da morte – Parte 2
Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 15 de julho. 125 minutos.
Larry Crowne –
O amor está de volta Direção: Tom Hanks. Larry Crowne (Tom Hanks) era o líder de sua equipe de estrelas da Marinha. Após ser rebaixado, começa uma busca da reinvenção pessoal e volta à sua cidade natal. Lá, Larry desenvolve uma paixão inesperada por sua professora da faculdade, Mercedes Tainot (Julia Roberts). Comédia. Verifique a classificação. Kinoplex em 22 de julho. 99 minutos.
Não se preocupe,
nada vai dar certo Direção: Hugo Carvana. O ator de comédia stand up Lalau (Gregório Duvivier) viaja pelo interior do Brasil. Seu pai, Ramon Velasco (Tarcísio Meira), também é ator e empresário do filho. Certo dia, Lalau recebe uma proposta milionária para fingir ser um famoso guru. Em nome da grana, aceita rapidinho, mas algo não dá certo e Lalau precisa mais uma vez da ajuda do pai, que, nas situações mais complicadas, solta o velho bordão: “Não se preocupe, nada vai dar certo”. Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex em 29 de julho. 111 minutos.
Ique Esteves
Arte, Cultura e Lazer
Cinema Películas de luta nem sempre estiveram entre as favoritas da academia. Em 82 edições, foram oito indicadas ao Oscar e apenas duas vencedoras de melhor filme, Rocky, o lutador, em 1976, e Menina de ouro, em 2005. Todas são sobre o já consagrado e hoje decadente boxe. Muitas baseadas em fatos reais. Por outro lado, temos filmes de lutas diversas como o caratê e a pancadaria tendência do MMA (Artes Marciais Mistas, em inglês). O roteiro é quase sempre o mesmo. Um novato, na escola ou na cidade, conquista a inimizade do cara mau, que costuma ser o mais temido, e o coração de uma mocinha (vide Quebrando regras, 2008), habitualmente uma obsessão do antagonista. O novato – geralmente franzino, com cara de inocente como Daniel Sam no memorável Karatê kid (1984) – toma
Assalto ao Banco Central
uma sova desmotivada do malvadão entre
Direção: Marcos Paulo. Em agosto de 2005, 164,7 milhões de reais foram roubados do Banco Central em Fortaleza, Ceará. Sem dar um tiro, sem disparar um alarme, os bandidos entraram e saíram por um túnel de 84 metros cavado sob o cofre. Um dos crimes mais sofisticados e bem planejados de que já se teve notícia no Brasil virou filme. Quem eram essas pessoas? E o que aconteceu com elas depois? São as perguntas que todo o Brasil se faz desde então. Elenco: Eriberto Leão, Hermila Guedes, Milhem Cortaz (foto), Lima Duarte e Giulia Gam. Ação. Verifique
a orientação de um mestre que insiste em
a classificação. Cinemark e Kinoplex em 22 de julho. 93 minutos.
rival debilitado (cego, manco ou maneta)
os primeiros 20 e 40 minutos do longa. Passa a maior parte da fita treinando sob nos fazer pensar ser por qualquer motivo, menos por vingança. Para quê? Para poder vingar-se no final. O mais interessante é o fato de o malvadão, que batia por nada, apanhar até a quase morte de um e ficar por isso mesmo. Americano é cer-
O ursinho Pooh
Os pinguins do papai
Direção: Stephen J. Anderson e Don Hall. Corujão convoca o ursinho Pooh, Tigrão, Leitão, Bisonho e Abel para salvar o menino Cristovão de um inimigo imaginário. Pooh só quer achar um pouco de mel, mas a turma se mete em altas confusões. Vozes: Craig Ferguson, Jim Cummings, Travis Oates, Bud Luckey, Tom Kenny e Jack Boulter. Animação. Classificação livre. Cinemark em 29 de julho e
Direção: Mark Waters. Sr. Popper (Jim Carrey) é um homem de negócios totalmente sem noção do que fazer quando o assunto são as coisas importantes da vida. Tudo muda quando ele recebe seis pinguins como herança. Apesar de destruírem seu luxuoso apartamento em Nova York, é com eles que Popper aprende valiosas lições sobre família. Comédia. Classificação livre. Kinoplex em
Kinoplex em 8 de julho. 69 minutos.
1° de julho. 90 minutos.
tinho. Se fosse rodado na favela brasileira ou na máfia italiana, famílias ainda estariam pagando pelos dentes quebrados. Violência pra quê, não é?!
Rafania Almeida é uma jornalista que adora lutar, mas nunca deu um soco para se vingar
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Transformers 3:
O lado oculto da lua Direção: Michael Bay. Os Autobots, liderados por Optimus Prime, estão de volta, lutando contra os Decepticons, determinados a vingar a sua derrota. Os Autobots e os Decepticons se envolvem em uma perigosa corrida espacial entre os EUA e a Rússia. Sam Witwicky (Shia LaBeouf), que tentava arrumar um emprego, é chamado para salvar o mundo novamente ao lado dos Autobots. Aventura. Classificação 10 anos. Cinemark e Kinoplex em 1° de julho. 90 minutos.
Uma professora muito maluquinha
Direção: André Pinto e César Rodrigues. Quando era criança, Cate (Paola Oliveira) foi enviada à cidade grande para estudar. Aos 18 anos, retorna à sua cidade natal e passa a lecionar em uma escola primária. Porém, seu comportamento moderno logo incomoda as tradicionais professoras do local, que tentam derrubá-la a qualquer custo. Infantil. Classificação livre. Kinoplex em 1° de julho. 120 minutos. www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br
Cinemark Iguatemi: 3577-5140; Pier 21: 3223-7506; Taguatinga Shopping: 3352-4708 www.cinemark.com.br Kinoplex: 3329-1617 www.kinoplex.com.br
Cinema – outros
artistas. Shows às quartas, quintas, sextas e aos
Mostra cinema árabe
sábados, a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20.
Exibirá 17 filmes produzidos em dez países. Revelam-se ao público as diversas facetas do povo árabe, do idioma a aspectos culturais e religiosos. Até 10 de julho, de terça a domingo, das 9h
Grupo Cavaco e Choro: 2 de julho
às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Veja a classificação e a programação completa em www.bb.com.br/cultura. Telefone: 3108-7038.
Música
Brasília Indoor Shows com Asa de Águia, Tomate, Ivete Sangalo e Banda Eva. Mistura de ritmos como axé e pagode. Conta, ainda, com a participação do DJ Joãozinho Chapéu de Couro, que toca de tudo um pouco. 15 e 16 de julho, às 20h, no Estacionamento do Mané Garricha. Ingressos (inteira): Atrás do trio R$ 120; Camarote Fem. R$ 240 (open bar); Camarote Masc. R$ 280 (open bar). Classificação 18 anos. Telefone: 3542-9941.
Clube do Choro Em julho, a programação do Clube do Choro é uma boa oportunidade para quem está passando uma temporada em Brasília ouvir e conhecer as músicas de grandes
Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. Ulisses Rocha: 6, 7 e 8 de julho Afonso Gadelha: 9 de julho Triunvirato: 13, 14 e 15 de julho Brasília Big Band: 16 de julho Reco do Bandolim e Grupo Choro Livre: 20, 21 e 22 de julho Wilze Carioca: 23 de julho Ivanildo Sax de Ouro: 27, 28 e 29 de julho César de Paula: 30 de julho
Pouca vogal Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii) e Duca Leindecker (Cidadão Quem) tiraram férias de suas bandas principais. Apesar de serem apenas dois instrumentistas no palco, as músicas são apresentadas com arranjos complexos. Para conseguir essa façanha, simultaneamente, Leindecker canta e toca instrumentos de corda e percussão com os pés. Enquanto isso, Gessinger canta e toca instrumentos de corda, teclado, baixo com os pés (através de um MIDI Pedalboard) e ainda faz solos de gaita. 1º de julho, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (inteira): Superior R$ 100; VIP Lateral R$ 160; VIP Frontal R$ 180. Classificação 16 anos. Telefone: 9913-6050.
Arte, Cultura e Lazer
Guto Costa
Ateliê caboclo:
trabalhos em construção Pinturas e desenhos do processo criativo do artista Marcos Araújo, que leva seu ateliê para a galeria e demonstra seu trabalho ao longo de toda a exposição. Até 9 de julho, das 9h às 21h, na Galeria Rubem Valentim do Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Entrada franca e livre. Telefone: 3443-6039.
Brasil boiadeiro Projeto desenvolvido pelo fotógrafo Francisco Pinto. Um documentário fotográfico do homem que lida com o gado, desde os campos do Rio Grande do Sul, a Coxilha Rica, em Lages (SC), passando por São Paulo, pelo nordeste do País, até a Ilha de Marajó, onde o bovino predominante é o búfalo. Até 5 de julho, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional. Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.
Paula Fernandes
Desdobramentos modernos
Cantora e compositora, Paula Fernandes apresenta as canções do novo álbum, Paula Fernandes ao vivo, com músicas que mostram a sua diversidade artística, com temas que passam pela MPB, música pop, country, sertanejo de raiz e os hits que marcaram sua carreira, como Pássaro de fogo. Com abertura de Célia Porto. 1º de julho, às 22h, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos (inteira): Arquibancada R$ 70; Área Premium R$ 140; Pista cadeira R$ 240; Camarote Casa do Cowboy Fem. R$ 200 (open bar); Camarote Casa do Cowboy Masc. R$ 230 (open bar). Classificação 16 anos (Camarote Casa do Cowboy, 18 anos). Telefone: 8429-1197.
Exposição com 38 obras, de 18 artistas, que conta a história da modernidade no Brasil, utilizando parte dos acervos do Museu da República e obras particulares. Entre os artistas, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres e Burle Marx. Até 31 de julho, das 9h30 às 17h30, no Gabinete da Presidência da Câmara dos Deputados, Edifício Principal. Entrada franca e livre. Telefone: 3215-8080.
Projeto Músico de Rua O Café com Bolacha, no Sudoeste, tem mantido parceria com o projeto Músico de Rua, que oferece apoio aos artistas de rua com poder artístico e poucas possibilidades de mostrar o talento ao público. Em julho, com a apresentação do saxofonista João Filho, da banda Meia Boca Band, tocando jazz, bossa nova e MPB. Todas as quintas, a partir das 18h, no Café com Bolacha (CLSW 104). Entrada franca e livre. Telefone: 3344-0112.
exposições
Anticorpos
Dinossauros da Patagônia
A mostra tem nove núcleos: Fragmentos, Objetos Trouvés, Nós, Varetas, Híbridos, Planos Flexionados, Objetos de Papel, Agrupamentos e Orgânicos. Dos irmãos Fernando e Humberto Campana, apontados como responsáveis por dar novo sentido ao design contemporâneo.
Com dez réplicas de fósseis de espécies encontradas na região da Patagônia, na Argentina. Mais de 1,2 mil peças para recriar animais de até 15 metros de altura. São verdadeiros quebra-cabeças que demoram cerca de cinco dias para ser montados. Até 17 de julho, de segunda a sábado,
De 25 de julho a 25 de setembro, de terça a domingo,
das 10h às 22h; domingo, das 12h às 20h, na Praça
das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil.
Central do ParkShopping. Entrada franca e livre.
Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.
Telefone: 3362-1309.
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Diversidade e afinidade: universo x reverso
Obras de 48 artistas nacionais e internacionais que vêm sendo reunidas há quase cinco anos pelo espaço Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco). São esculturas, desenhos, pinturas, fotografias, vídeos e instalações. Até 25 de julho, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Ecco. Entrada franca e livre. Telefone: 3327-2027.
conjunto arquitetônico todo em madeira da cidade. Até 21 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 17h, na Sala de Exposições do Museu Vivo da Memória Candanga. Entrada franca e livre. Telefone: 3301-3590.
Islã – arte e civilização Mais de 300 obras que contam 1,4 mil anos da história do Islã. Já passou pelo Rio de Janeiro e por São Paulo. Até 3 de julho, de terça a domingo, das 9h às 21h, no CCBB. Entrada
Estande 61 – Brasília essencial
franca e livre. Telefone: 3310-7081.
Exposição coletiva de quadros, desenhos e esculturas de artistas consagrados da arte contemporânea brasileira, selecionadas pela marchand Onice de Oliveira. Nomes como Oscar Niemeyer, Emmanuel Nassar, Carlos Vergara, Franz Weissmann, Galeno, Athos Bulcão, Iole de Freitas, Adriana Rocha, Fernando Lucchesi, Luiz Mauro, Paulo Whitaker e Rodrigo Godá integram a exposição. Até 8 de julho, de segunda a sábado,
Labirinto Ver-o-Peso
das 10h às 22h; domingo, das 14h às 20h, na Referência Galeria de Arte, no Shopping CasaPark. Entrada franca e livre. Telefone: 3361-3501.
HJKO – Arquitetura e memória A mostra retrata o início da ocupação do Distrito Federal pelos acampamentos pioneiros e em especial o HJKO – primeiro hospital de Brasília e, atualmente, último
O mercado do Ver-o-Peso, em Belém (PA), inspirou o artista plástico Armando Sobral em seu mais recente trabalho. A exposição reúne xilogravuras em grandes dimensões e esculturas em cerâmica. Até 31 de julho, de segunda a domingo, das 9h às 21h, no Complexo Cultural Funarte – Galeria Fayga Ostrower. Entrada franca e livre. Telefone: 3322-2045.
Laços afetivos:
exposição infância e paz Painéis em tecido, imagens e textos do artista Toni Lucena, que refletem sobre os direitos da criança e a importância dos cuidados na primeira infância. Até 8 de julho, das 9h às 17h, no Espaço do Servidor da Câmara dos Deputados. Entrada franca e livre. Telefone: 3216-0000.
Museu itinerante: um olhar
sobre a natureza das pessoas Coletânea de pinturas, fotos e documentação de instalações espalhadas por grandes museus do mundo, mostra a visão de artistas sobre a relação entre ser humano e natureza. Entre os brasileiros, Candido Portinari, Lasar Segall, Manuel de Araújo, Araquém Alcântara e Tarsila do Amaral. Naura Timm e Cathleen Sidki representam Brasília. Entre os estrangeiros, Vincent Van Gogh, Edward Munch, Claude Monet e Paul Cézanne. Até 15 de julho, das 9h às 21h, no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Entrada franca e livre. Telefone: 3443-6039.
Presentes protocolares Por norma de 2003, presentes dados ao presidente da Câmara dos Deputados fazem parte do patrimônio da Casa. A mostra traz 141 objetos de 64 países de quatro continentes. São peças representativas da história, da cultura e da arte. Até 31 de julho, das 9h às 17h, no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Entrada franca e livre. Telefone: 3216-0000.
Tatiana Blass Acervo de 14 obras – parte delas inédita. São pinturas, tridimensionais e vídeo que compõem um apanhado da produção da
Arte, Cultura e Lazer
Teatro Nos últimos dez anos a força criativa e a experimentação estética do teatro brasiliense têm se mostrado cada vez mais expressivas nos palcos da cidade. Um dos vértices dessa ebulição de ideias cênicas se concentra no trabalho do coletivo Teatro do Concreto, que neste mês comemora sete anos de estrada com várias apresentações em pontos estratégicos de Brasília dentro da mostra Concreto em 7Atos, de 1° a 31 de julho. Ao todo serão sete espetáculos distribuídos em 21 sessões, além de intervenções urbanas realizadas em espaços alternativos da capital, como o Teatro II do CCBB, a Torre de TV e as faixas de
Aberto Brasília
trânsito do Plano Piloto. A experiência é comandada pelo polivalente diretor
Consiste na ocupação de diferentes espaços da capital, com obras de Paulo Bruscky, Antonio Manuel, Luis Alphonsus, grupo Corpus Informático, Karina Dias, Cirilo Quartin e Fernando Baena, da Espanha, entre outros. O núcleo da exposição é no CCBB, onde há registro fotográfico e em vídeo das intervenções, mas a exposição se espalha por diversos pontos da cidade, como Parque Olhos D’Água (foto), Esplanada dos Ministérios, Lago Paranoá, Eixos Monumental e Rodoviário, Setor Bancário Sul e Universidade de Brasília. Até 21 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca e livre. Telefone: 3310-7087.
Francis Wilker. Um dos destaques é a peça Diário do maldito, montagem focada na dramaturgia marginal de Plínio Marcos. Em cena, um poeta é atormentado por seus personagens, que vivem à margem da sociedade quando ele decide parar de escrever. Os labirintos sensoriais da memória norteiam a trama de Borboletas têm vida
artista nos últimos cinco anos. Até 31 de julho, das 9h às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.
Vik Muniz 3D Composta pelas exposições Relicário e Verso, com fotografias de flores industriais captadas com rigor científico, um crânio com nariz de palhaço, uma pluma de mármore Carrara. Com exibição diária do documentário Lixo extraordinário, com classificação livre e sessões às 9h, 13h, 15h e 17h. Até 14 de agosto,
Teatro
A infidelidade ao alcance de todos A infidelidade em diversas classes sociais. Uma história é na área rural, outra em uma família rica e uma terceira aborda a classe média. Direção de Rogério Torquato. Elenco: Humberto Pedrancini, Larissa Mauro, Roustang Carrilho, Samuel Cerkvenik e Tatina Bittar Torquato. 1°, 2 e 3 de julho, às 20h, no Teatro Sesc Newton Rossi (Centro de Atividades Sesc Ceilândia); 8, 9 e 10 de julho, às 20h, no Teatro Sesc
de terça a domingo, das 9h às 19h, no Ecco. Entrada
Paulo Autran (Taguatinga Norte). Entrada franca.
franca e livre. Telefone: 3327-2025.
Classificação 16 anos. Telefone: 3445-4401.
curta, espetáculo que será apresentado na última semana da mostra. Nascido da troca de experiência com o renomado grupo mineiro Galpão, conta a história de Heitor, sujeito que tentar amenizar a dor da saudade e do vazio deixado por uma pessoa querida a partir de suas lembranças afetivas. Saiba mais: www.bb.com.br/cultura ou 3310-7087.
Lúcio Flávio É jornalista
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Daniel Madsen
Surreal
O humorista Léo Lins conta piadas sobre os mais diversos assuntos, com observações muito bem-humoradas. 15, 16 e 17 de julho. !
Dirigido por Claudio Torres Gonzaga, Bruno Motta apresenta material inédito, falando de TV, entre outras coisas. O diferencial está na relação do artista com o pedestal, transformado em quase uma centena de objetos durante a apresentação. Esse jogo cênico é sua marca registrada. 22, 23 e 24 de julho. Meu nome é Victor Sarro
No show solo, Victor Sarro trata de assuntos do cotidiano com uma lente de aumento, na visão de um rapaz de 22 anos, com humor ácido, sacadas rápidas e engraçadas. 29, 30 e 31 de julho.
Manual de sobrevivência ao casamento
Sem sentido Similião Aurélio e Luiza Guimarães dão voz ao diálogo de um casal que sofre com dificuldades de comunicação. Problemas que atravessam as paredes da sala de jantar e se instalam nas salas de reunião, salas de aula, até meios virtuais de chat. Com direção de Daniela Diniz. 1° de julho, às 21h, no Teatro Sesc Silvio Barbato. Entrada franca. Classificação 14 anos. Telefone: 8122-2990
É a nova comédia do G7. Por meio de um manual de regras sobre a boa convivência no casamento, o grupo conta a história de duas pessoas que decidem se casar no ardor da paixão e sofrem as consequências da vida a dois. Até 31 de julho, sábados às 21h; domingos, às 20h, no teatro La Salle. Ingresso (inteira): R$ 50.
Fest riso VIP Série de espetáculos de humor, no gênero stand up comedy. Sempre às 20 horas, no Teatro do Espaço Cultural Brasília Shopping. Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 16 anos. Telefone: 3045-6111. Programação
Stand up universitário
Com direção de Danilo Gentili, o show solo de Rogério Morgado leva esse nome devido a uma piada do comediante que diz que o termo “universitário” está em diversos segmentos da música pra atestar sua jovialidade e qualidade. O show trata de assuntos do cotidiano e de relacionamentos,
Classificação 14 anos. Telefone: 8129-4709.
traz observações peculiares que questionam da existência das girafas até o emprego de um anão, além do autoflagelo, onde fala da própria obesidade. O mais instigante dos temas de suas piadas é uma análise comportamental do apresentador e dono do SBT Silvio Santos. 1°, 2, 3 de julho. Então... deu no que deu
O espetáculo com Nany People satiriza situações do cotidiano, especialmente dos encontros e desencontros afetivos, as diferenças e acertos do universo masculino/ feminino, de total interação com a plateia. 8, 9 e 10 de julho.
Medeia A vingança da destemida Medeia contra o esposo Jasão, depois que ele a rejeita para se casar com a filha do rei de Corinto, Creonte. Movida por emoção, paixão e orgulho ferido, Medeia decide fazer “justiça” com as próprias mãos para Jasão sofrer tanto quanto ela. Mata os próprios filhos e foge para Atenas, onde o Rei Egeu lhe oferece abrigo e proteção. Montagem encenada por Os Paquidermes Cia. de Teatro. 24 a 26 de julho, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h, no Teatro Caleidoscópio (CLSW 102 Bloco C – Sudoeste). Entrada franca. Classificação 14 anos. Telefone: 3344-0444.
Banquetes e botecos } ilustração Humberto Freitas
Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com
artehumbertofreitas@hotmail.com
Quer tomar vinho e ainda degustar uma deliciosa comida? Vá ao Grand Cru
Ilustração feita com café e água em papel canson
12345 O Grand Cru é o local perfeito para apreciadores de vinho. Com mais de mil rótulos, a casa oferece opção de um bom vinho para todos os gostos e todos os bolsos, é só ter paciência de ler a carta, que mais parece um tratado de tantas opções do que ela tem. O ambiente decorado pelas arquitetas Deborah Pinheiro e Elaine Verçosa é superaconchegante! Com poltronas de couro, muita madeira e iluminação no tom certo, o Grand Cru propicia a atmosfera ideal para degustar um bom vinho. Tem ainda uma sala reservada para umas 12 pessoas, o que possibilita reuniões de confrarias ou encontros privados de grupos. Na varanda, as mesas são decoradas com velinhas que dão um toque de romantismo. Realmente, a decoração combina com vinho e boa comida. Percebe-se que a cozinha é pequena e artesanal, mas isso não atrapalha o desempenho da chef Andrea Munhoz. A cada dia ela vem se superando e o que era pra ser uma adega se tornou um restaurante de referência em Brasília. O cardápio nunca é o mesmo, é feito com poucas opções e sempre muda de um dia para o outro. Mas não tenha medo, as opções são sempre maravilhosas. Já comi uma moquequinha de peixe que nunca tinha visto nada igual. Não posso me esquecer de mencionar o cordeiro, que sempre se derrete na boca. E os risotos? O risoto nero, o de grana padano, o de açafrão, todos são fabulosos. Comi uma brandade de aipim que no começo não sabia ao certo do que se tratava, mas só tinha a certeza de que era deliciosa. Chamei a Andrea para que ela me explicasse, foi quando descobri o que era. Minha sobremesa predileta é o mix de brigadeiros. O coberto com erva-doce é diferente e gostoso, mas há outras opções: cake cremoso de chocolate com calda quente e sorvete de creme, pêssego ou figo ao forno com sorvete de canela ou pera caramelada com pudim de nozes e muito mais. Pode ficar com água na boca, porque é tudo gostoso de verdade. Estou há horas pensando num defeito do Grand Cru, porque nada é totalmente perfeito. Para dizer a verdade tive dificuldades, mas acabei me lembrando da conta, que nem sempre é o do tamanho do meu bolso. Eis aí o defeito do Grand Cru.
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*Valores sujeitos à alteração conforme IGPM (base anual). ** Os valores das parcelas estão sujeitos à alteração sem prévio aviso.
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