Revista Novo Rural |Março_Abril 2021

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REVISTA

Ano 4 - Edição 45 Março | Abril de 2021 Exemplar R$ 12,00

TEMPORADA RENTÁVEL PARA A SOJA Fatores como demanda e oferta, custos de produção, clima e câmbio influenciam na margem de lucro do produtor e, portanto, na rentabilidade. Saiba o que as últimas safras podem revelar em relação a tendências para o ciclo 2020/2021 PG 6 A 8

DA LÃ À CARNE: OVINOCULTURA GANHA DESTAQUE NO MERCADO DE PROTEÍNA ANIMAL PG 22 A 23 EMPODERADA, PECUARISTA GAÚCHA É REFERÊNCIA EM GESTÃO RURAL PG 17


Editorial

HORA DE FAZER RESERVA

D Gracieli Verde Editora-chefe

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| NOVO RURAL

ados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – no início de março –, confirmaram a subida do PIB do agronegócio no Brasil, que em 2020 acumulou crescimento de 24,31%. Assim, esse dado participa em 26,2% no PIB brasileiro – em 2019 esse número foi de 20,5%. Esses números ainda mostram que o PIB do agronegócio chegou a movimentar quase R$ 2 trilhões no ano passado e o PIB geral totalizou R$ 7,45 trilhões. Outro fator que chama a atenção é que a alta neste índice foi registrada em todas as áreas do agro. Em um período de pandemia do coronavírus e de impactos para a agroindústria, bem como na forma de consumo, por exemplo, isso é motivo para celebrar – ou pelo menos reforçar a importância de toda a cadeia produtiva para a economia brasileira. É claro que a temporada também é marcada pelo aumento nos custos de produção, especialmente aos pecuaristas, que sofrem com as cotações dos grãos em alta para manter seus plantéis. Ainda sobre o agro, um levantamento recente da Embrapa mostra que o Brasil, além de alimentar a população de 212,235 milhões de pessoas, caminha para ser um grande fornecedor de alimentos para o mundo. Com o crescimento das exportações, o pesquisador Elisio Contini, da Embrapa, acredita que em cinco anos o Brasil deve superar os Estados Unidos nesse quesito, liderando o ranking. De todo modo, isso deve confirmar algumas projeções para os próximos anos e o tamanho da responsabilidade do produtor brasileiro em relação à segurança alimentar, bem como em garantir formas ainda mais sustentáveis de fazer a “roda girar” de olho na manutenção e crescimento da economia, bem como nos aspectos sociais e ambientais. Em meio a tudo isso e com as cotações dos grãos em alta, nesta edição a reportagem traz percepções de analistas sobre a rentabilidade desta safra 2020/2021 ao produtor. O professor Elmar Floss, um dos entrevistados, pondera que mesmo com uma rentabilidade possivelmente recorde nesta temporada, o valor do farelo de soja, por exemplo, está inviabilizando a cadeia produtiva de suínos e aves e isso pode tirar a competitividade destes setores. Ele classifica o momento como favorável para o produtor “fazer gordura”, investindo em reserva econômica e de forma bastante racional. Inclusive, sobre gerenciamento e planejamento das atividades agrícolas e da propriedade como um todo, o colunista Flávio Cazarolli traz mais dicas práticas sobre como organizar a rotina de forma que o produtor seja ainda mais assertivo na tomada de decisão. Isso também repercute na eficiência nos processos e no melhor acompanhamento dos resultados, para que a cada ciclo se possa reavaliar e evoluir do ponto de vista gerencial e econômico. Dito isso, fica o convite para os leitores conferirem outros conteúdos especialmente selecionados para esta edição. Um dos temas é a dessecação de soja, que tem sido amplamente abordado pelo professor Alexandre Gazolla pelo Brasil afora. Ele compartilha orientações sobre como proceder essa técnica de maneira segura e com resultados que favorecem o produtor durante a colheita da soja. Na área de pecuária de leite, a edição traz conteúdos focados na produção de pasto com o intuito de evitar os impactos do vazio outonal, além de ter um case sobre tecnificação da pecuária de leite na região. Deixo um abraço carinhoso a todas as mulheres, pelo mês dedicado a elas, e a todos os demais leitores! Seguimos juntos também em novorural.com!

A comunicação a serviço do agro!

Circulação: Bimestral Fechamento: 12/03/2021 Onde estamos Rua Garibaldi, 147, sala 102-B, Bairro Aparecida Frederico Westphalen/RS CEP: 98.400-000 Rua Raul de Miranda e Silva, 206, Bairro Fátima Erechim/RS CEP: 99.709-270 Fale conosco (55) 2010-4159 (54) 3194-0098 (55) 9-9960-4053 Relacionamento:

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A revista Novo Rural é uma publicação realizada em parceria com

Abrangência: Rio Grande

do Sul, Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná.

PR SC RS

Direção

Alexandre Gazolla Neto

Editora-chefe & Relacionamento Gracieli Verde

Produção de conteúdo Rafaela Rodrigues Débora Franke Samuel Agazzi

Publicidade

Evelise Pandolfo

Capa

Gracieli Verde

MARÇO | ABRIL 2021


E D A R F A S

O N R INVE 021 2 Na hora de planejar sua produção de inverno ou custeio pecuário, conte com quem é especialista no assunto. Já estamos fazendo as contratações. Fale com seu gerente: (51) 3358-4770


INTERAÇÃO

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Novo Rural

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Energia solar: economia viabiliza reinvestimento na propriedade Rafaela Rodrigues

A

Saiba mais:

integração da suinocultura com a pecuária de leite tem possibilitado às famílias rurais incrementar a renda, ter mais qualidade de vida e, ainda, viabilizar a permanência dos jovens no campo com investimentos em tecnologias. A pecuarista Rosane Tenedini Dal Pizol compartilha deste pensamento. Inclusive, ela celebra a escolha dos filhos Flávio e Fabrício em suceder as atividades na propriedade de 57 hectares, localizada no interior do município de Pinhal/RS. “É uma alegria ter eles reunidos, espero que continuem gerenciando a propriedade”, estima Rosane.

Na propriedade, são duas pocilgas com capacidade de alojar cerca de 1.600 suínos. Na atividade leiteira são 28 vacas em lactação. Também trabalham com o cultivo de grãos. Com mão de obra para manter as produções, a família decidiu investir na geração própria de energia. Em 2020, foram instaladas 62 placas fotovoltaicas sobre uma das pocilgas, visando reduzir as despesas com as atividades. “Através da empresa Otimiza Solaris conheci melhor as vantagens do sistema e há praticamente cinco meses já estamos sentindo esses benefícios na conta de energia”, conta Flávio, 27 anos.

N

os últimos anos a Cerealista Taufer, de Machadinho/RS, tem buscado novas possibilidades de negócios através da produção e comercialização de sementes de soja e trigo. Esse novo momento é capitaneado pela direção do Grupo Taufer e com apoio dos colaboradores. – Seguimos o projeto que eles deram início. Sabemos de onde viemos e por isso todos nós da família, que atuamos no negócio, estamos alinhados em fazer o melhor pelos nossos clientes, respeitando os valores que aprendemos em casa. Os mesmos lotes que vão para as lavouras da Taufer também vão para os clientes – destaca o sócio-proprietário Jacson Arsenio Taufer, um dos integrantes da terceira geração da família que gerencia os negócios.

Esse respeito aos valores se dá também no manejo que é aplicado nas lavouras da família, que somam 980 hectares no município, e que também têm sido destinadas para a produção de sementes. “Fazer bem feito” está no sangue. A possibilidade de cultivar essa semente em áreas próprias também é considerada uma vantagem, com total controle do manejo de solo e demais aspectos técnicos que são considerados importantes para esses campos de produção. Ferramentas como a rastreabilidade garantem que o agricultor acesse todos os dados do manejo dos campos de produção, por lote e safra, de modo que esta transparência gere vínculo de maior confiança com os clientes. – Temos um manejo muito cuidado-

Gracieli Verde

Grupo Taufer expande produção de sementes

so há muito tempo e o resultado que vemos hoje é consequência disso. Por isso, investimos em ferramentas como estas para deixar isso documentado e disponível para quem nos prestigia com a sua confiança – reitera Jacson.


Publieditorial

SOJA: SAFRAS eleva estimativa de produção do Brasil para 133,1 mi de t

Por: Dylan Della Pasqua Editor-chefe da Agência SAFRAS

A produção brasileira de soja em 2020/21 deverá totalizar 133,104 milhões de toneladas, com elevação de 4,7% sobre a safra da temporada anterior, que ficou em 127,178 milhões de toneladas. A estimativa foi divulgada por SAFRAS & Mercado ao final de janeiro. No dia 11 de dezembro, data do relatório anterior, a projeção era de 132,498milhões de toneladas.

O analista de SAFRAS & Mercado, Luiz Fernando Roque, lembra que a irregularidade climática tem marcado esta temporada. "Dentro de um mesmo estado existem microrregiões com lavouras em condições distintas. Tal fato deve impedir que atinjamos novos recordes de produtividades médias estaduais na maioria dos estados", ressalva Roque.

Com a colheita em fase inicial, SAFRAS indica aumento de 3,2% na área, estimada em 38,61 milhões de hectares. Em 2019/20, o plantio ocupou 37,43 milhões de hectares. O levantamento indica que a produtividade média deverá passar de 3.415 quilos por hectare para 3.465 quilos.

Apesar disso, de uma forma geral, as condições das lavouras nacionais são consideradas bastante satisfatórias, sem perdas produtivas amplas, mas sim pontuais. "De qualquer forma, devido às irregularidades, apenas o avanço da colheita revelará a verdadeira situação das produtividades de cada estado", afirma o analista. Acesse o QR code pelo celular e confira os cursos online de SAFRAS Educacional para o mercado de soja.

SOJA

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Capa Gracieli Verde

Para 2021, a Conab estima produção recorde de 135,5 milhões de toneladas e um aumento de área cultivada de 4,1%

O que as últimas safras revelam sobre a rentabilidade da soja Por

É complexo quantificar o que as safras 2019/2020 e 2020/2021 revelam sobre a margem de lucro da cadeia produtiva da oleaginosa. No entanto, é possível analisar o cenário e confirmar a tendência altista da rentabilidade da soja para o ciclo atual 6

| NOVO RURAL

Rafaela Rodrigues jornalismo@novorural.com

O

agronegócio, em especial a cadeia produtiva de soja brasileira, vive momentos históricos no que se refere a preços e visibilidade no mercado mundial da oleaginosa. Mesmo com as intempéries climáticas que afetaram a produtividade em regiões do Sul do Brasil, a safra 2019/2020 teve produção superior a 129 milhões de toneladas, um número satisfatório,

segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, registrou preços históricos nas diversas praças de comercialização do grão. Quantificar a margem de lucro por trás das safras 2019/2020 e 2020/2021 é um cálculo complexo. No entanto, a perspectiva otimista que sustenta as cotações firmes para 2021, nova produção recorde e as análises de cenário e mercado revelam um crescimento na rentabilidade no ciclo atual, mesmo com os custos de produção em alta batendo à porta do produtor. MARÇO | ABRIL 2021


O custo de produção aumentou, mas não na mesma proporção do preço. Luiz Gutierrez Roque

Analisando as cotações Após sete safras, o Brasil volta a registrar aumento nas cotações de soja. A última máxima histórica foi na temporada 2011/2012, quando a saca de 60 quilos da oleaginosa foi comercializada a 153,40 no dia 31 de agosto de 2012, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/ USP, com base no indicador Esalq/ BM&FBovespa Paranaguá/PR – principal porto de formação do preço do grão e derivados. Agora, quando considerada a série de preços da soja em Paranaguá – antes da praça se tornar indicador –, o maior valor real é de R$ 169,35 pela saca, registrado no fim de setembro de 2002. Em 2020, vários fatores contribuíram para a elevação e sustentação dos preços no mercado brasileiro. Algumas praças chegaram a registrar valores superiores a R$ 180 por saca de 60 kg no ano. Pesquisadores do Cepea apontam como contribuintes o ritmo acelerado de processamento e demanda externa aquecida, que favoreceram a redução dos estoques domésticos de soja e derivados mesmo em um ano recorde de produção. "Assim, a disputa pelo grão restante foi acirrada e os valores altos de exportação, sustentados pelo dólar valorizado, alavancaram as cotações domésticas", apontou o levantamento do Cepea. Por mais que os custos de produção também aumentaram na temporada, esses números permitem afirmar um aumento na rentabilidade 7

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da soja na safra 2020/2021. O economista e analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez Roque, de Safras & Mercado, ressalta a complexidade de quantificar esse rendimento. No entanto, ele faz um resgate das cotações do primeiro semestre do ano passado, em que era possível observar a comercialização da saca a R$ 90,00 em Passo Fundo/RS. Já em 2021, no dia 11 de março, a saca era negociada a R$ 169,00 na mesma praça gaúcha. – O custo de produção aumentou, mas não na mesma proporção do preço. Na safra passada, fazendo uma média entre os custos de produção e os valores que eram comercializadas as sacas, a rentabilidade da soja ficava em torno de 50%; analisando os custos e os patamares de preços atuais, é possível estimar um aumento de mais de 150% na rentabilidade da oleaginosa – analisa o economista. Como tudo no agronegócio é interligado, o economista traz um contraponto deste cenário. Se por um lado a alta nos preços agradam os produtores, por outro o setor de proteína animal tem seus custos de produção em elevação. Além disso, esse aumento pode refletir no preço do óleo de soja no supermercado, por exemplo. Para 2021, o analista estima preços firmes, com o dólar acima de US$ 5,00. Mesmo com perdas na produtividade por questões climáticas em regiões produtoras, Safras & Mercado projeta produção recorde de 133,104 milhões de toneladas para a temporada. Esse número fica próximo às perspectivas da Conab, que estima produção de 135,5 milhões de toneladas e um aumento de área cultivada de 4,1%.

Registramos preços jamais imaginados pela cadeia produtiva. Elmar Floss

Como gerenciar o momento a favor dos negócios Certamente há muitas estratégias a serem seguidas, tanto no ponto de vista econômico quanto no agronômico, no entanto, a gestão técnica e qualificada – que envolve um pouco de cada ponto de vista – é a chave para o sucesso. É o que aponta o professor e diretor do Instituto de Ciências Agronômicas (Incia), Elmar Luiz Floss, que também acredita no aumento da rentabilidade nesta temporada. Segundo Floss, a demanda por soja deve continuar aquecida. Ele embasa essa tese em dados da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), que projeta que em 2050 o mundo vai precisar de 600 milhões de toneladas de soja e 1,5 milhões de toneladas de milho para abastecer o planeta. Na melhor safra brasileira, que foi há dois anos, segundo o professor, o país produziu 362 milhões de toneladas de soja. “Ou seja, vamos ter que aumentar em quase 240 milhões de toneladas e, por isso, esta é uma das razões porque os preços da soja têm se mantido bons”, analisa o professor. Outro ponto abordado por ele é a demanda chinesa aquecida. Em 2020, o país asiático importou mais soja do que estava previsto, o que reduziu os estoques brasileiros. – Mesmo que os custos de produção tenham aumentado, a rentabilidade da soja deve ser recorde nesta temporada. Registramos preços jamais imaginados pela cadeia produtiva. E, felizmente, as condições climáticas estão contribuindo para esse cenário, inclusive, estão melhores do que as projeções iniciais. Por outro lado, é importante lembrar que sim, as vendas devem permanecer aquecidas, mas os preços podem sofrer alterações. O valor do farelo soja, por exemplo, está inviabilizando a cadeia produtiva de suínos e aves e isso pode tirar a competitividade destes setores, pois o custo está muito elevado e a diminuição das atividades econômicas [em referência à pandemia] afeta o poder de aquisição dos consumidores – reitera o professor. Para ele, o momento é do produtor “fazer gordura” como ele mesmo se refere a reserva econômica e a investimentos racionais. MARÇO | ABRIL 2021


Capa – Se a previsão de colheita é acima de 60 sacas, se tem uma rentabilidade que nenhum outro setor na economia mundial tem. Quem tem mais dificuldades nesse cenário é aquele produtor com muita dívida, muitas vezes com terras, máquinas, suplementos e é isso que precisamos cuidar no futuro. Deve-se investir levando em conta o tamanho da área e, quando se trata de maquinários, o custo benefício, entre outros aspectos. Se tenho dívidas por investimentos, preciso aplicar a melhor tecnologia no custeio para colher mais e poder sobrar para pagar dívida – orienta. Para o professor, é preciso investir também em gestão técnica e de qualidade, até mesmo para vendas e demais negociações. – Quando falo em gestão técnica me refiro a usar os melhores cultivares para determinada região, para época de semeadura, fazer uma adubação racional. Ter uma melhor gestão de vendas quer dizer saber negociar o produto nos períodos certos. Sempre digo: quanto tá a saca de soja? E quanto foi o custo de produção? O preço está bom? Vende, mas não tudo, tira para o custeio. Chega o mês de janeiro, se a lavoura está boa, o clima está favorecendo e as perspectivas de preço ainda estão boas, vende mais um pouco. Dá errado para aquele que espera sempre o preço melhorar e perde o melhor período, como também aquele que vende tudo de uma vez só – ensina Floss.

PRINCIPAIS FATORES E PROCESSOS FISIOLÓGICOS PARA AUMENTAR A RENTABILIDADE Solo: melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas Genética: escolha da melhor cultivar, com alto potencial de rendimento, adaptada a cada região fisiográfica, estabilidade de produção e resistência/tolerância a pragas e moléstias Sementes com vigor: proporcionam germinação rápida, uniforme e a formação de plântulas mais vigorosas que toleram melhor os estresses bióticos e abióticos, apresentam maior crescimento de raízes e ramificação

Qualidade de semeadura: velocidade de 4,5 km/h a 6 km/h, profundidade não maior que 5cm, com condições adequadas de umidade no solo e temperatura do solo superior a 15ºC, visando uma adequada distribuição de sementes na horizontal e vertical Nutrição adequada: baseada na extração e exportação de macro e micronutrientes, em função do rendimento esperado Monitoramento: controle rigoroso de plantas daninhas, pragas, moléstias e condições climáticas

Informações cedidas pelo professor Elmar Floss

PARA APROVEITAR O MOMENTO

Trabalhar a gestão, isso inclui investir em estratégias agronômicas avançadas – algumas podem ser encontradas acima –, administrativas, assistência qualificada, cursos, etc.

Estudar o mercado. Você sabe qual o melhor momento para comercializar o seu produto? Que estratégias utiliza para conseguir a melhor negociação e lucro?

Em casos de endividamento por investimentos, deve-se aplicar a melhor tecnologia no custeio para colher mais e poder sobrar para pagar dívida


Agricultura MERCADO DA SOJA Por

Luiz Fernando Gutierrez Roque luiz.gutierrez@safras.com.br Economista e analista de mercado da consultoria Safras & Mercados

Oferecimento:

Brasil deve confirmar a colheita de uma nova safra recorde

A

produção brasileira de soja da safra 2020/2021 deverá totalizar 133,104 milhões de toneladas, com elevação de 4,7% sobre a safra da temporada anterior, que ficou em 127,178 milhões de toneladas. O novo número também indica uma elevação frente à projeção de dezembro. No dia 11 de dezembro, data do relatório anterior, a projeção era de uma produção de 132,498 milhões de toneladas. Com a colheita chegando próximo da metade da área brasileira, Safras indica aumento de 3,2% na área, estimada em 38,61 milhões de hectares. Em 2019/20, o plantio ocupou 37,43 milhões de hectares. O levantamento indica que a produtividade média deverá passar de 3.415 quilos por hectare para 3.465 quilos/ha. A irregularidade climática tem marcado esta temporada. Dentro de um mesmo Estado existem microrregiões

com lavouras em condições distintas. Tal fato deve impedir que atinjamos novos recordes de produtividades médias estaduais na maioria dos Estados. Apesar disso, de uma forma geral, as condições das lavouras nacionais são consideradas bastante satisfatórias, sem perdas produtivas amplas, mas sim pontuais. Os excessos de chuvas registrados no Centro-Oeste, Nordeste e Norte do país ao longo de fevereiro trazem preocupações relacionadas à qualidade do grão colhido, o que merece bastante atenção daqui para frente. De qualquer forma, devido às irregularidades, apenas um maior avanço da colheita revelará a verdadeira situação das produtividades de cada Estado. Com relação ao quadro de oferta e demanda, o destaque fica por conta da estimativa de exportações bastante fortes em 2021, assim como no ano anterior. As exportações de

soja do Brasil deverão totalizar 83 milhões de toneladas em 2021, acima dos 82,979 milhões estimados para 2020. A previsão faz parte do quadro de oferta e demanda brasileiro, divulgado por Safras & Mercado em fevereiro. No levantamento anterior, divulgado em novembro, os números eram de 83 milhões de toneladas para 2021 e 82,8 milhões para 2020. Safras indica esmagamento de 46,2 milhões de toneladas em 2021 e de 45,480 milhões de toneladas em 2020, representando um aumento de 2% entre uma temporada e outra. Em relação à temporada 2021, a oferta total de soja deverá subir 1%, passando para 133,347 milhões de toneladas. A demanda total está projetada por Safras em 132,85 milhões de toneladas, crescendo 1% sobre o ano anterior. Desta forma, os estoques finais deverão subir 436%, passando de 93 mil para 497 mil toneladas.

ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO DE SOJA - BRASIL - SAFRA 2020/21 Área em mil ha, produção em mil t e rendimento em kg/ha 2020/21 (**)

2019/20 (*)

A/B %

C/D %

Área Plantada (A)

Área Colhida

Produção (C)

R.M.

Área Plantada (B)

Área Colhida

Produção (D)

R.M.

SUL

1

15

12.430

12.368

42.999

3.477

12.250

12.189

37.306

3.061

Paraná

1

-3

5.600

5.572

20.394

3.660

5.560

5.532

21.022

3.800

Rio Grande do Sul

2

44

6.080

6.050

19.964

3.300

5.950

5.920

13.853

2.340

Santa Catarina

1

9

750

746

2.642

3.540

740

736

2.430

3.300

CENTRO-OESTE

4

-1

17.425

17.338

59.915

3.456

16.780

16.696

60.618

3.631

SUDESTE

4

1

2.980

2.965

10.783

3.637

2.865

2.851

10.710

3.757

NORDESTE

3

2

3.520

3.502

12.065

3.445

3.420

3.403

11.786

3.464

NORTE

7

9

2.255

2.244

7.341

3.272

2.115

2.104

6.758

3.211

BRASIL

3

5

38.610

38.417

133.104

3.465

37.430

37.243

127.178

3.415

Estados

(*) Projeção, SAFRAS. (**) Previsão, SAFRAS. Sujeitas a revisão. Fonte: SAFRAS e Mercado. Baseado em pesquisa com produtores, cooperativas e indústrias do complexo soja.

9

| NOVO RURAL

MARÇO | ABRIL 2021


Agricultura Gracieli Verde

Dessecação, uma estratégia que exige maestria

Identificar a maturidade fisiológica ideal para a dessecação é a base para atingir resultados almejados com a prática

Quando realizada de forma correta, além de garantir a antecipação da colheita, a prática contribui para a uniformidade do campo de produção e melhoria do potencial de armazenamento do grão e/ou semente

C

om o mercado mais competitivo, é notório a busca por práticas agronômicas cada vez mais eficientes, que garantam mais assertividade na tomada de decisão e qualidade dos grãos e das sementes. A dessecação na cultura da soja tem se consolidado como um manejo inovador nos campos de produção e se mostrado uma prática aliada daqueles que buscam por mais produtividade e rentabilidade. Sobre o assunto, a reportagem da Novo Ru-

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ral entrevistou o engenheiro-agrônomo e doutor em Sementes Alexandre Gazolla, que tem uma ampla abordagem técnica sobre a prática no Brasil. Segundo ele, identificar a maturidade fisiológica ideal para a dessecação na cultura da soja e avaliar a variabilidade espacial em campos de produção são os aspectos-chaves para obter os resultados almejados com a prática. Confira trechos da conversa:

Além da maturação uniforme dos campos de produção de grãos e sementes, que favorecem a antecipação da colheita, que outras vantagens podem ser apontadas decorrentes da adoção desta prática? Alexandre Gazolla – No âmbito da produção de grãos, a dessecação reduz as perdas durante a colheita bem como o desgaste da máquina e o consumo de combustível, tam-

bém mantém a qualidade dos grãos, aumentando o potencial de armazenamento. Em campos destinados à produção de sementes, as vantagens estão relacionadas à menor exposição destas à danos mecânicos durante o processo de trilha. A antecipação da colheita, inclusive, reduz a exposição das sementes ao ataque de pragas e às variações ambientais, com destaque para as flutuações da umidade relativa e temperatura. Além disso, proporciona a manutenção dos níveis de germinação e vigor obtidos durante o ciclo da cultura.

Quais características são perceptíveis nas plantas e funcionam como indicadores do momento ideal para realizar a dessecação? Alexandre Gazolla – A identificação correta da maturidade fisiológica é essencial para alcançar os resultados almejados com a desseMARÇO | ABRIL 2021


cação, ou seja, não perder peso de grão ou qualidade de semente. Na prática, o ideal é que a aplicação ocorra a partir do estádio fenológico R.7.3, momento em que cerca de 76% das folhas e vagens estão amarelas. Nesta fase, inclusive, os grãos e/ou sementes estão com umidade entre 50% a 54%, estes também estão desligados vagens. Já os nódulos provenientes da interação das raízes com as bactérias estão em processo de senescência. Estes são indicadores precisos da maturidade fisiológica ideal para realizar a dessecação e são estes que precisam ser observados de forma individual e também no talhão.

Tendo em vista que os campos têm desuniformidades influenciadas por questões de solo e clima, que operações devem ser adotadas a campo para dessecar as áreas de forma adequada? Alexandre Gazolla – A dessecação deve ser realizada com base na capacidade de colheita. Por isso, é muito importante realizar uma amostra significativa de toda a área, coletando plantas e observando os pontos de variabilidade desta para tomar a melhor decisão. Por exemplo, iniciar a dessecação pela parte mais adiantada do talhão e deixar a parte mais atrasada para realizar a aplicação em um ou dois dias depois. Também é preciso cuidar as

Na prática, o ideal é que a aplicação ocorra a partir do estádio fenológico R.7.3.

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cultivares, pois têm as de hábito de crescimento determinada, semi e indeterminada, que influenciam na uniformidade de maturação da planta. Também muito cuidado com áreas de bordadura, florestas e com maior concentração de umidade, pois estas costumam apresentar pontos de maturação desuniformes.

A dessecação deve ser realizada com base na capacidade de colheita.

O senhor acredita que é possível aliar o uso de tecnologias disponíveis no mercado para ter mais assertividade na análise de variabilidade dos campos? Como isso influencia na dessecação? Alexandre Gazolla – Sim. Para essa análise da variabilidade no campo existem tecnologias como drones, VANT e, até mesmo, é possível realizar análise de imagens via satélite ou avaliar a variabilidade de biomassa por NDVI. Todos estes servem para tomada de decisão ou para programar uma taxa variável na aplicação.

Sobre a aplicação na prática, quais aspectos devem ser levados em consideração?

verificar a cobertura da aplicação através de papel hidrossensível. É muito importante, inclusive, observar o cobrimento dessa aplicação, pois são plantas de fim de ciclo em que a absorção é reduzida. Lembrando, onde tem mais biomassa é preciso aumentar o volume de calda. Ressalto que devem ser utilizados produtos registrados no Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] e autorizados para essa finalidade, além de todas as outras recomendações estabelecidas para aplicações no campo.

Sobre a realização da prática de forma incorreta, quais são os principais prejuízos? Alexandre Gazolla – Quando realizada antes da maturidade fisiológica ideal, pode resultar em perdas consideráveis na produtividade da soja, interferindo na germinação e no vigor das sementes colhidas. Já a aplicação atrasada não apresentará resultados significativos na antecipação da colheita, frustrando o objetivo principal da operação.

Assista agora!

No canal do Youtube da Novo Rural também tem conteúdo sobre o assunto! Abra a câmera do seu celular, aponte para este código e confira!

Alexandre Gazolla – Atualmente, as duas moléculas disponíveis para esta finalidade são de contato, apresentando baixa ou nenhuma translocação na planta. Volumes de calda elevados em aplicações terrestres apresentam maior eficiência. O aplicador deve priorizar gotas de tamanho médio a grossa, além de MARÇO | ABRIL 2021


Agricultura LAVOURA CONECTADA Por

Antônio Luis Santi

santi@connectfarm.com.br

Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciência do Solo/Agricultura de Precisão, coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão do Sul da UFSM-FW e representante do Fórum dos Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa na Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão junto ao Mapa

Apoio técnico:

Você já parou para pensar na saúde do seu solo?

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or muito tempo se pensou e monitorou a qualidade química do solo com amostragem e aplicação de corretivos, como calcário e fertilizantes. Com o advento da agricultura de precisão, a partir do início do ano 2000 também começaram a ser realizadas avaliações da compactação do solo e da qualidade física. Eis que chegou o momento em que monitorar a qualidade biológica do solo passou a ser uma necessidade para quem busca e almeja altas produtividades, sem perder o compromisso com a qualidade ambiental. Foi pensando nisso que a ConnectFarm inovou e trouxe ao mercado a ConnectBio. Preparada para conhecer e proporcionar aos agricultores informações sobre as associações entre plantas e microrganismos no sistema produtivo, tornando este menos suscetível ao estresse e menos dependente do suprimento de insumos externos para as necessidades das plantas. A microbiota do solo, que compreende o sistema biológico, é composta por bactérias, vírus, protozoários, fungos, minhocas e outros insetos. Estes grupos compreendem mais de 10 mil espécies e, segundo dados da literatura, um hectare de lavoura pode apresentar de 100 kg a 500 kg de organismos considerando a camada de 0 a 10 cm, ou seja, o solo realmente é vivo. Dentre as funções do microbioma do solo pode-se destacar: estruturação do solo, retenção de água, reciclagem de nutrientes, proteção de plantas, aeração do

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solo, promoção do crescimento vegetal e oxidação (degradação) de materiais orgânicos. Ou seja, a saúde do solo ou sua qualidade é dependente da abundância e diversidade desses organismos. Alguns indicadores de qualidade do solo são conhecidos e estudados já a algum tempo como enraizamento das plantas, estruturação e agregação do solo, reciclagem e eficiência na absorção dos nutrientes, degradabilidade de defensivos, incidência de doenças e pragas de solo, mas muita coisa ainda está por ser definida. As análises biológicas do solo são métodos independentes do cultivo, permitem acesso a diversidade microbiana de forma mais acurada. As determinações da atividade enzimática permitem monitorar vários processos que ocorrem no solo como a decomposição da matéria orgânica e o ciclo do enxofre, por exemplo, as quais são diagnosticadas através do monitoramento das enzimas Arilsulfatase e Beta-glicosidase. Esse tipo de avaliação é de extrema importância pois além de permitir monitorar o potencial produtivo do solo também nos ajuda a promover um uso mais sustentável dele. É importante frisar que as enzimas do solo participam das reações metabólicas intercelulares que são responsáveis

pelo funcionamento e pela manutenção da vida no solo, e desempenham papel fundamental ao atuar como catalisadoras de várias reações que resultam na decomposição de resíduos orgânicos; ciclagem de nutrientes (fosfatases, amidases, urease, sulfatase); formação da matéria-orgânica e da estrutura do solo. As avaliações de atividade das enzimas Arilsulfatase e Beta-glicosidase têm se destacado pela sua sensibilidade, coerência, precisão, simplicidade e custo. Muito se fala sobre qual seria a próxima grande revolução na agricultura mundial. Na minha visão a saúde do solo e sua sustentabilidade deverão nortear essa próxima mudança na matriz tecnológica. Atualmente, esse tipo de avaliação que procura entender e avaliar a microbiologia do solo em escala de lavoura já é realizada em rotina pela ConnetBio. Os avanços nas nossas pesquisas já permitem determinar bioindicadores de qualidade do solo com prescrições interpretativas para várias culturas e regiões agrícolas. Assim como para as análises químicas para fertilidade do solo e diagnósticos para monitoramento da qualidade física, estamos prontos para também diagnosticar, interpretar e tomar decisões de manejo baseado nessa fronteira do conhecimento que é a microbiologia do solo. MARÇO | ABRIL 2021


Por

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Agricultura Rafaela Rodrigues

Para o jovem Samuel Basso, 27 anos, o cultivo da pitaia viabilizou a volta para casa, onde também trabalha com bovinocultura de leite e produção de grãos

Agricultores vislumbram oportunidades com a pitaia Uma fruta exótica e com diversos benefícios à saúde, a pitaia tem chamado atenção para investimentos no Norte gaúcho, onde tem ganhado espaço nas propriedades rurais como alternativa de renda e propiciado vislumbrar novos negócios Por

Rafaela Rodrigues jornalismo@novorural.com

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ara aguçar a imaginação e o paladar de quem nunca experimentou, a pitaia lembra muito a textura e o sabor do kiwi, só que menos adocicada. Exótica e

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saudável, a pitaia, também chamada de fruta do dragão por conta da casca escamosa, é uma fruta que tem chamado atenção de agricultores como alternativa de renda e para diversificação de atividades no Rio Grande do Sul, especialmente na agricultura familiar. No Norte do Estado, o mercado para a fruta está em ascensão, mas

tendo em vista o valor agregado desta e o aumento do consumo de alimentos funcionais à saúde pela população, agricultores já estão dando um passo à frente e investindo na cultura, inclusive, o cultivo da pitaia tem chamado atenção de jovens agricultores e para a integração da cultura com outras atividades, a exemplo do turismo rural. MARÇO | ABRIL 2021


Propriedade de Taquaruçu do Sul dá espaço às “Pitayas do Noroeste”

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uma planta sombreie a outra, tendo em vista que a planta precisa de, no mínimo, 8 horas de sol por dia para sua produtividade – explica Basso. Recentemente, ele também investiu em um sistema de irrigação para o pomar. O produtor explica que a pitaia necessita de uma pluviosidade anual em torno de 1.800 milímetros, no município a pluviosidade ultrapassa esse volume, mas os últimos episódios de estiagem na região o fizeram repensar sobre a instalação do sistema. – São períodos de estiagem prolongados. E observei que a planta se desenvolve mais lentamente em fases de pouca chuva. Além disso, as temperaturas de -2°C e -3ºC registradas na região no inverno, por exemplo, podem queimar os ramos mais novos, então a irrigação não deixa formar gelo sobre as plantas e evita perdas nesse período. Também utilizo amendoim forrageiro como cobertura de solo, pois ajuda na absorção de nitrogênio pelas plantas. Faço adubação com esterco das vacas e cama de aviário; também é possível usar químicos, mas em poucas quantidades – conta o jovem sobre os manejos com o pomar. Segundo Basso, os trabalhos ini-

ciais do pomar são os mais exigentes no que se refere à mão de obra, pois nesta fase é preciso conduzir as plantas nos palanques que dão sustentação a elas. Ainda segundo o produtor, o auge da produção se dará a partir do quinto ano. Quanto mais ramos, maior é a área produtiva. – Na safra passada colhi em torno de 250 kg a 300 kg em toda a temporada. Neste ano, na primeira florada, que se deu no início de fevereiro, já colhi esse número, sendo que a colheita vai até meados de maio, então é possível perceber que o aumento na produção é gradativo e bem significativo – analisa Basso, já pensando como serão as próximas safras. A procura por alimentos mais saudáveis e a curiosidade são alguns dos fatores que fomentam o mercado da fruta, segundo o produtor. Sem divulgar o preço que comercializa o quilo da pitaia, Basso ressalta que a sua produção, por mais que ainda pequena, tem mercado na sua região. Já para os próximos anos, tendo em vista o aumento na produtividade, terá que buscar mais mercados, mas está otimista com o futuro, já que o consumo da fruta no Sul do Brasil está em ascensão. Rafaela Rodrigues

jovem Samuel Basso, 27 anos, conheceu a fruta em uma das edições da Expointer. Uma troca de ideias com uns expositores de Novo Hamburgo/RS que exibiam as pitaias foi suficiente para despertar o interesse do jovem no cultivo das frutas. Na época, formado em Engenharia Mecânica, Basso estava residindo e trabalhando na Serra gaúcha, mas as raízes no campo falaram mais alto. “Foi aí que surgiu a ideia de fazer algo por mim. Amadureci a ideia, busquei informações e como eu tinha uma área resolvi implantar um pomar”, relata. Em 2018, ele voltou para a propriedade onde reside os pais e o irmão, que fica localizada em Taquaruçu do Sul/RS, no Norte gaúcho, e apresentou a cultura para a família, que o apoiou no cultivo. Surge então as Pitayas do Noroeste. A área da família Basso compreende 50 hectares no município e o pomar de pitaias foi implantado em um hectare. Eles também trabalham com bovinocultura de leite e o cultivo de soja, milho e trigo, sendo estas atividades as principais fontes de renda da família, até hoje. O pomar de pitaias é para complementar a renda e diversificar as atividades na propriedade. Para o investimento, Basso buscou informações e contou com assessoria dos produtores que lhe apresentaram a fruta, já que tinham experiência de cultivo e de mercado. Segundo ele, os custos mais altos foram nas 2.500 mudas implantadas no local e os palanques de concreto para dar sustentação às plantas – cada palanque conta com três mudas. Ele trabalha com duas variedades, uma de polpa branca e outra de polpa roxa. – As variedades são divididas em fileiras, uma branca e uma roxa, para facilitar o transpasse de pólen. Mesmo que a variedade de polpa roxa seja autopolinizante realizo a prática igual, pois esta aumenta em torno de 30% o tamanho e o peso da fruta. Outra questão é que o florescer inicia no fim da tarde e na manhã seguinte as flores já estão murchas, então tenho só o período noturno para fazer a polinização. No meu cultivo, a distância entre linhas é de três metros e entre plantas de quatro metros, que estão no sentido do sol para evitar que

Também conhecida como fruta do dragão pela casca escamosa, a pitaia tem como um dos benefícios à saúde a manutenção da imunidade

MARÇO | ABRIL 2021


Arquivo pessoal

Agricultura Na terra das pedras ametistas, fruta também pode ser atração turística

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município de Ametista do Sul/RS é conhecido nacionalmente pela extração de pedras ametistas, que fomenta o turismo regional. Por lá, a fruticultura é o alicerce da agricultura e o destaque vai para a produção de uvas, em que o município é considerado um dos maiores produtores da fruta do Médio Alto Uruguai. Nos últimos anos, o setor agropecuário também vem demonstrando protagonismo na diversificação de atividades. Esse movimento pode ser comprovado pela família Isoton, que em 2017 implantou um pomar de pitaias no município e, recentemente, vislumbra novas oportunidades com a fruta aliada ao turismo rural. Tudo começou quando os irmãos Marildo e Vanildo acessaram uma matéria sobre a fruta. Na época, os dois filhos de agricultores tiveram a ideia de aproveitar uma área que tinham no interior do município para implantar o pomar. Depois de muito estudo e planejamento foram destinados 1.500 hectares do local para o plantio das primeiras mudas. Atualmente, são 2.100 pés de oito variedades cultivadas pelos irmãos, sendo que três destas já estão produzindo frutas – duas das variedades de polpa roxa e uma da branca. Nas próximas safras, eles também terão frutas das variedades como a pitaia amarela de polpa branca. Eles também optaram por implantar o sistema de irrigação no pomar e trabalham com a cobertura verde do amendoim forrageiro para o fornecimento de nitrogênio às plantas.

Os irmãos Vanildo [esquerda] e Marildo [direita] estão otimistas com a possibilidade de integrar a produção com o turismo rural em Ametista do Sul

– Nosso objetivo sempre foi o cultivo orgânico das pitaias, por isso, desde o início investimos em insumos e adotamos manejos que respeitem esse sistema de produção para auxiliar no processo de certificação. Nesta temporada, esperamos colher cerca de 3 mil quilos de pitaias – adianta Marildo. É válido ressaltar que a fruta tem um valor agregado no mercado e tendo em vista a exigência dos consumidores nos últimos anos, o cultivo orgânico pode vir a somar nesse valor. O escoamento das frutas da família Isoton também é regionalizado. E sabendo da disponibilidade das pitaias, a propriedade é procurada pela população nos períodos de colheita, onde adquirem e degustam a fruta exótica. Eles enxergam nas pitaias um nicho de mercado promissor e já que estão em município também alicerçado no turismo, eles pretendem estruturar a propriedade para receber turistas no futuro. Para isso, eles participam do Grupo de Turismo Rural, coordenado pelo Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar e administração municipal, que visa fomentar a atividade no município, gerando mais renda e qualidade de vida às famílias rurais. – É uma fruta com diversos benefícios à saúde e chama atenção das pessoas

pelas características visuais e sabor. Acreditamos que aliada ao turismo, a nossa produção alcançará mais mercados e a fruta será mais conhecida na região – acrescenta Vanildo.

Benefícios à saúde Entre as diversas propriedades da pitaia a que mais se destaca é sua propriedade termogênica que potencializa a queima de gordura favorecendo o emagrecimento. São ricas em fibras – em Taiwan diabéticos a usam como substituto para o arroz – e minerais, sendo as amarelas mais abundantes em zinco e as vermelhas em ferro; possuem quantidade significativa de antioxidantes e previnem radicais livres. Há estudos que consideram que o consumo da pitaia pode aumentar a excreção de metais pesados, diminuir o colesterol e regular a pressão sanguínea. Comê-las regularmente alivia doenças crônicas do sistema respiratório.

Fonte: Pitaya do Brasil


Mulheres no Agro

As “Maras” que tornam o setor mais forte

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agro é de todas as mulheres. Elas estão nas lavouras, nas ordenhas, nos laboratórios, nas universidades, no gerenciamento das propriedades e nos mais diversos formatos de negócios do setor. Por mais que o número de propriedades sob a gestão das mulheres ainda seja pequeno no Brasil – 947 mil (19%) mulheres são responsáveis pela gestão de propriedades rurais em um universo de 5,07 milhões, segundo Censo Agropecuário (2017) – o protagonismo delas na administração e na inovação vêm ganhando espaço no agronegócio. Adeptas das tecnologias, muitas vezes, são elas as responsáveis pela tecnificação das propriedades, diversificação das atividades, promoção da qualidade de vida e de mais renda no campo. No Rio Grande do Sul, segundo o IBGE, são mais de 43 mil estabelecimentos rurais gerenciados por mulheres. Uma delas é Gleicimara Motter Drescher, 32 anos, ou Mara, como gosta de ser chamada. Ela é produtora rural e gestora da Granja & Cia, localizada em Três Arroios/ RS, propriedade da família há três gerações. Mara conta que o negócio da família ficou sob seu comando de forma inesperada. Seu pai, Arlindo Motter, foi diagnosticado com uma grave doença e precisou se distanciar do trabalho. “Ele teve que se afastar da noite para o dia, foi bastante complicado”, relembra a empresária rural, que completou 13 anos no gerenciamento da granja. Não só a granja, mas a responsabilidade de conduzir todas as atividades

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Fotos: Arquivo pessoal

Há 13 anos gerenciando a propriedade da família, a pecuarista Gleicimara Motter Drescher, de Três Arroios/RS, tem um história de vida que envolve superação e é referência em empoderamento femino no campo da propriedade foi passada para ela aos 19 anos de idade. Na época, Mara dedicava tempo integral à filha de três anos e não acompanhava a rotina do pai diante da granja. Assumindo o negócio da família em uma circunstância imprevista, ela acredita que aprendeu muito durante a jornada. – Temos provado com nossos resultados que somos capazes de dar conta. Não é fácil, mas é possível. Todas as adversidades, todas as portas que se fecharam em minha cara, foram essenciais para aprender e crescer, por isso, não levo mágoas – revela a produtora. A propriedade abrange 320 hectares. Uma parte é destinada para a produção de grãos; outra para uma pocilga com capacidade de alojar 850 suínos, além da criação de um rebanho de gado de corte, com 50 cabeças das raças Brahman e Americano. “O rebanho de gado de corte é meu

Se sempre crermos em nós mesmas, conseguiremos nossos resultados.

sonho realizado, ainda que em pequena escala, mas tenho uma vontade imensa de crescer neste setor”, diz.

“ Temos uma missão” Para Mara, as mulheres estão sendo cada vez mais protagonistas no campo. Um momento que a fez perceber isso, foi após um encontro, em 2019, em que mulheres de todo o Brasil se reuniram para discutir a agricultura. Após esse momento, a produtora rural passou a ser ainda mais participativa. Atualmente, ela é mais ativa em atividades como plantio, colheita, na vistoria das lavouras, ou seja, possui envolvimento em todo o processo produtivo. “Acredito que todos temos uma missão com o universo e a minha é mostrar que a mulher no agro é capaz”, ressalta. Entretanto, a produtora rural aponta como um dos maiores gargalos a “desconfiança com os serviços prestados pelas mulheres no meio rural”. Mara relata que conhece muitas profissionais que enfrentam uma cobrança desproporcional, até mesmo acompanhada de comentários inadequados na hora de prestar os seus serviços. Ela acredita que a insistência no objetivo é fundamental. – Se acreditamos, temos fé, foco, determinação e sabemos onde queremos chegar, nada é empecilho para alcançarmos nossas metas. Se sempre crermos em nós mesmas, conseguiremos nossos resultados. Não é no “não” em que devemos desistir, mas é neste em que devemos nos fortalecer – reforça. MARÇO | ABRIL 2021


Da ordenha a mão para uma propriedade tecnificada Rafaela Rodrigues

O progresso da família Lapazini na pecuária de leite tem haver com muita persistência. Detentora de uma das melhores estruturas de Compost Barn do Médio Alto Uruguai, no Noroeste gaúcho, eles almejam novas oportunidades com o sistema de confinamento Por

Rafaela Rodrigues jornalismo@novorural.com

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o chegar na Linha Novo Sobradinho, interior de Taquaruçu do Sul/RS, não é difícil encontrar a propriedade da família Lapazini, uma vaca da raça holandesa em forma de estátua na entrada é conhecida pela vizinhança e serve como ponto de referência para encontrar o local na comunidade. A pecuária de leite sempre foi importante para a renda da família. “A mãe [dona Mabile] sempre teve suas oito a dez vaquinhas para vender uns litros e incrementar a renda”, relembra o seu Volnei Lapazini, 53 anos, um dos sucessores da atividade familiar. A propriedade tem 38 hectares e uma parte, ou melhor, 80 metros x 36 metros desta é dedicada às vacas leiteiras. Isso porque, em 2019, ele migrou do sistema de produção a pasto para o sistema de confinamento Compost Barn. Atualmente, são 81 vacas da raça holandesa em lactação na estrutura, que produzem em média 29 litros/vaca/dia. – Já chegamos a 33 litros/ vaca/dia com o fornecimento regular de silagem de boa qualidade. Antes [no sistema a pasto], a produtividade ficava em torno de 20 litros a 24 litros/vaca/dia, não passava disso, ou seja, estou tendo um incremento de oito litros a dez 18 | NOVO RURAL

[Da esquerda para direita] Jakson, dona Claudia e seu Volnei Lapazini

litros a mais por vaca/dia – relata seu Volnei, reforçando que o bem-estar proporcionado pelo sistema aos animais tem contribuição direta neste resultado. O investimento de cerca de R$ 1.700.000,00 – construção, ventiladores, sala de ordenha, etc. –, foi também pensando nos sucessores Alessandra, 16 anos, e Lucas, 9 anos, que dividem a rotina de estudos com as tarefas diárias da propriedade. O seu Volnei também conta com o auxílio da esposa Claudia Miotto da Silva, 40 anos; do irmão Ivonei e do “secretário” Jakson Natali, 22 anos. – Lembro de ajudar a nona [dona Mabile] a tirar o leite a mão no início. Naquela época eu também trabalhava fora para ter uma renda a mais em casa. Com o aumento do rebanho e o investimento no Compost Barn vim trabalhar em casa em tempo integral. É muito bom poder estar aqui diariamente, perto dos filhos e fazendo o que a gente gosta – ressalta Claudia. Há quatro anos trabalhando na propriedade, o técnico em Agropecuária Jakson acompanhou o progresso da família. O jovem, inclusive, tem participação ativa nas tomadas de decisões da atividade. – A pasto tínhamos em média umas 45 vacas. Tudo começou

quando um médico-veterinário que nos prestava assistência apresentou o sistema. O seu Volnei foi resistente no início, o receio de não dar o retorno esperado era maior. Depois de conhecer bem o sistema e com o apoio fundamental do profissional foi feito o investimento. Com o Compost, também começamos a investir mais na genética das vacas – destaca o jovem. A família Lapazini trabalha com a cria de novilhas, visando potencializar a genética dos animais em confinamento. Conforme o tamanho e o peso dos animais, eles são divididos em piquetes, com dieta e demais manejos controlados, até serem transferidos para o galpão de confinamento. Do nascimento até a fase ideal de inseminação tudo é feito minuciosamente, com o acompanhamento da assistência técnica. – Em casa produzimos a silagem e o feno. De fora, compramos o milho, farelo de soja, caroço de algodão, mineral e demais suplementos. O trato das vacas em confinamento é feito três vezes ao dia; também trabalhamos com um profissional que analisa a qualidade da silagem, do feno e demais insumos para alimentação dos animais – acrescenta Natali, o “secretário” do seu Volnei, assim chamado pelo próprio produtor. MARÇO | ABRIL 2021


Rafaela Rodrigues

A construção Conforme mencionado, o médico-veterinário Luis Eduardo Albarello, que presta assistência à família, foi fundamental para a implementação do sistema na propriedade. Foi ele que analisou a propriedade e apresentou o Compost Barn aos Lapazini. Sobre os aspectos da propriedade e da família que o fizeram achar estratégico o sistema de produção no local, Albarello lista: – O principal ponto foi a área suficiente para produção de alimentos para os animais confinados; uma boa estrutura de maquinários e instalações; fonte de água abundante; sucessão familiar; boa linhagem genética dos animais; espaço para construção do Compost Barn e muita motivação para crescimento – frisa o profissional, pós-graduado em Reprodução de Bovinos de Leite e especialista em Compost Barn e Resfriamento de Vacas Leiteiras. A construção demandou tempo, mais especificamente de junho de 2019 a janeiro de 2020, mas o resultado final foi satisfatório, tanto que o galpão é considerado uma das melhores estruturas do sistema na região, segundo Albarello. – Com o aval do seu Volnei, tudo passou pelas minhas mãos, tanto no quesito de decisão quanto no quesito de orientação. Foi um desafio enorme, muitas visitas na propriedade, mas valeu a pena cada esforço, porque ficou da forma que planejamos – enfatiza Albarello. Sobre os animais, o profissional relata que o seu Volnei já tinha uma quantidade razoável produzindo na propriedade, mesmo assim, optaram por investir em mais para fazer a renovação do rebanho, prezando pelo

O médico-veterinário Luis Eduardo Albarello teve participação fundamental para a implementação do sistema na propriedade

potencial genético. – Ainda estamos nesse processo de seleção, trabalhando bastante com a questão das novilhas e retirando os animais de descarte do galpão. Assim, conseguiremos chegar na lotação máxima que é o projeto futuro, ou seja, 100 animais em confinamento com alto potencial genético. Não queremos só quantidade, queremos qualidade também. Sou eternamente grato a família Lapazini por ter confiado no meu trabalho. Conseguimos construir um dos melhores galpões da região, com tudo que precisava – frisa Albarello.

Os desafios também batem à porta das propriedades tecnificadas O nível de tecnificação da propriedade do seu Volnei não deixa ele imune aos desafios que acometem a atividade leiteira. Nesta temporada, o clima e a pandemia têm regido a produtividade e os preços do leite, respectivamente. – Atualmente [fevereiro 2021] esta-

mos enfrentando os efeitos da estiagem e, ainda, a incidência de cigarrinha do milho e, por isso, a tendência agora é que o nível de produtividade das vacas não aumente a curto prazo, pois a silagem está com uma qualidade muito inferior comparada à que tínhamos nos outros anos. Nesta safra, esperávamos colher 180 sacas/hectare e vamos colher somente 50 sacas/ ha – lamenta seu Volnei. Os valores dos insumos para alimentação dos animais e a instabilidade do preço pago pelo litro de leite também assombram o produtor. – O preço do leite não acompanha o trato das vacas. Se os custos continuarem em alta, de sete anos que tinha para pagar o investimento, levarei 14 anos, senão mais – analisa o pecuarista. Para um investimento deste porte, é preciso muito planejamento, mão de obra familiar e técnica, além de muita força de vontade para alcançar os resultados esperados e driblar períodos difíceis. Felizmente, estes são quesitos que não faltam para a família Lapazini.


Vazio forrageiro: como amenizar a escassez de pasto no outono?

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o Sul do Brasil, o período de março a junho caracteriza-se pela fase em que as pastagens de verão estão com baixo valor nutricional e as pastagens de inverno ainda não estão prontas para serem pastejadas, o chamado vazio forrageiro outonal. Nesses meses, há aumento no fornecimento de silagem e feno aos animais, o que segundo dados da Embrapa Trigo dobram os custos de produção de leite. Além disso, a troca de pasto por rações e concentrados no período aumentam os custos em seis vezes para o pecuarista. Sobre este cenário, o pesquisador Renato Fontaneli, da Embrapa Trigo, sugere algumas estratégias para reduzir o impacto do vazio forrageiro na remuneração do produtor, como a antecipação da semeadura de espécies anuais de inverno, nos meses de março e abril. Podem ser utilizadas aveias, centeio, triticale, cevada e trigo. Conforme o pesquisador, quando semeadas logo após a colheita de verão, estas espécies podem produzir forragem durante todo o outono e inverno. “É preciso investir em cultivares destinadas ao forrageamento animal, seja através de pasto, silagem ou colheita de grãos”, ressalta Fontaneli. Ainda conforme o pesquisador, a proposta é usar as

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Rafaela Rodrigues/Arquivo Novo Rural

Com o baixo valor nutritivo das pastagens, característica deste período, pesquisador orienta a antecipação da semeadura de espécies anuais de inverno

áreas que já renderam uma colheita de silagem ou grãos e estabelecer uma safrinha de forragem para ser utilizada de março a maio/junho, até a ocorrência de geadas, em pastejo, colhida verde para fornecimento no cocho ou mesmo ensilada. Uma outra estratégia que pode ser usada nas próximas safras, é a semeadura tardia de forrageiras anuais de verão – dezembro/janeiro/fevereiro, após uma safra de grãos (feijão, milho ou soja) ou silagem –, como milheto, capim-sudão, híbridos de sorgo e milho comum em alta densidade. De acordo com Fontaneli, semear de 150 mil a 300 mil plantas por hectare. – Embora seja inegável o menor potencial produtivo dessas forrageiras do que quando semeadas em setembro/outubro, elas oferecerão forragem de elevado valor nutritivo durante o vazio forrageiro outonal, ideal para suprir as demandas das vacas leiteiras, novilhas de reposição, vacas de primeira cria e mesmo engorda de novilhos – argumenta o pesquisador. Na orientação prática, nas áreas liberadas precocemente (janeiro/fevereiro) pela colheita de grãos, sugere-se semear milheto, sorgos, capim-sudão

ou milho grão em alta densidade – de 150 mil a 300 mil plantas por hectare, algo em torno de 50 kg de grãos de milho por hectare. A sazonalidade produtiva das pastagens está associada tanto às condições climáticas, quanto ao ciclo de crescimento das espécies forrageiras. Em geral, a maioria das pastagens disponíveis na Região Sul é composta por espécies de crescimento na estação quente, quando florescem, frutificam e maturam, chegando ao fim do verão com estrutura fibrosa, plantas com mais colmos do que folhas, que perdem drasticamente o valor nutritivo. Por exemplo, se no início do verão um hectare de Tífton – cerca de 15.000 kg de massa verde – seria referência para produzir 3.000 litros de leite, no fim da estação seriam necessários três hectares para garantir a oferta de pasto de qualidade capaz de assegurar o mesmo volume de produção, segundo dados da Embrapa Trigo. Destaca-se também a importância do planejamento forrageiro. Sob acompanhamento técnico, esta prática propicia aos produtores a oferta de forragens aos seus animais ao longo de todo ano, evitando os períodos de falta de alimentos, como o vazio forrageiro outonal. MARÇO | ABRIL 2021


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/EmaterRS

Emater RS

Vamos falar sobre Planejamento Forrageiro! Por Valdir Sangaletti Coordenador regional de sistemas de produção animal da Emater/RS-Ascar

Rafaela Rodrigues/Arquivo Novo Rural

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uso de pastagens adaptadas regionalmente e bem manejadas é uma ferramenta indispensável para sistemas de produção de leite, produzindo sempre forrageiras em quantidade e qualidade. As pastagens produzidas de forma eficiente podem fornecer de 60% a 100% da dieta volumosa para vacas em lactação. Neste sentido, o conhecimento das forrageiras anuais e perenes, de inverno e verão, e um bom planejamento forrageiro são fundamentais para atingir o objetivo de produzir forrageira de qualidade e em todos os meses do ano.

Aspectos importantes no planejamento forrageiro - Produzir forragem o ano inteiro. - As pastagens devem ser o principal volumoso. - Escolher um número racional de espécies forrageiras. - Um bom planejamento possibilita produzir leite com menor custo.

Estratégias para o planejamento forrageiro - Escolher espécies e cultivares mais adaptadas às condições de transição entre o calor e frio e vice-versa. - Escalonamento do plantio das forrageiras anuais (plantio em duas ou três épocas). - Uso de adubação como ferramenta para antecipar o uso das pastagens ou estender o ciclo das pastagens. - Plantio de forrageiras perenes de verão para reduzir os vazios outonal e primaveril. - Sobressemeadura de anuais de inverno sobre perenes de verão estoloníferas/rizomatosas (Tifton, Jiggs). - Adoção da integração lavoura-pecuária.

Desafios do planejamento forrageiro - Conhecer a quantidade de animais de todas as categorias. - Conhecer as forrageiras existentes na propriedade e sua capacidade produtiva, nas condições oferecidas. - Procurar saber qual é a quantidade de forragem com qualidade para produzir leite, sem muita oscilação, o ano todo. - Conhecer ferramentas como a irrigação que podem auxiliar no incremento, qualidade e estabilidade da produção. - Cultivar uma planta com alto padrão de qualidade para fazer: silagem de pé inteiro, pré-secado e/ou feno, para complementar a falta de pastagens. 21 | NOVO RURAL

Outras dicas importantes - O diagnóstico da situação, através da coleta de dados na propriedade é fundamental para iniciar o processo de planejamento. - Os levantamentos são importantes se tivermos capacidade de transformar os dados em informação, através de uma boa análise. - A leitura da situação atual e usando ferramentas apropriada, nos permite simular e criar cenários do planejamento forrageiro para a propriedade, considerada “Ideal”. - Com as informações da “Situação Atual” e da “Situação Ideal”, pactue com a família produtora de leite, o planejamento forrageiro para a propriedade, que seja viável e exequível para o momento.

Prevendo o vazio outonal O produtor de leite enfrentou muitas dificuldades no ano passado, principalmente pela falta de pasto em função da estiagem. A chuva voltou, as pastagens de verão se recuperaram, mas não podemos esquecer que, daqui a pouco, o pasto começa a diminuir a produção de massa verde e também diminuir sua qualidade nutricional, pois está indo para o fim do ciclo. E é nesse momento que ocorre o chamado vazio forrageiro outonal. É importante o produtor planejar o cultivo de inverno, seja através do plantio de espécies de forma solteira ou utilizando a sobressemeadura nas áreas de pastagem perenes. Esta é uma ferramenta importante e que deve ser planejada sempre considerando, pelo menos, duas áreas com uso de, no mínimo, duas espécies, sendo uma espécie de ciclo mais rápido e outra de ciclo mais longo, já pensando no planejamento para atender as carências do vazio primaveril. É importante também que o produtor faça uma boa adubação do solo, sempre considerando o que aponta a análise de solo. MARÇO | ABRIL 2021


Pecuária Fernando Kluwe Dias/Seapdr

Debaixo da lã, a carne que começa a ganhar espaço Apesar dos gargalos existentes, a ovinocultura tem chamado atenção de produtores gaúchos para a produção de carne. Pesquisa de mercado, acesso a assistência técnica e poder aquisitivo são aspectos a serem analisados antes do investimento Por

Rafaela Rodrigues | Taiane Borges jornalismo@novorural.com

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á muitos anos “sinônimo” de lã, a ovinocultura está conquistando também espaço no mercado de carnes. Os ovinos também são conhecidos pelos alimentos derivados do leite, como o queijo. Geralmente são produtos de alto valor agregado, o que pode ser um grande negócio para aqueles que investem na atividade. Por mais que a ovinocultura represente um leque de possibilidades, especialmente no que diz respeito a alternativa de renda, pois a criação de ovinos é facilmente integrada com outras atividades agropecuárias, alguns gargalos precisam ser trabalhados para fortalecer a cadeia produtiva. Formalizar os abates e viabilizar a operacionalização dos frigoríficos estão entre os mais citados. No Rio Grande do Sul, que conta

com o segundo maior rebanho de ovinos em nível nacional, segundo o IBGE, as criações de ovinos são comuns, especialmente nas regiões de fronteira com o Uruguai. No entanto, a atividade tem chamado a atenção de produtores também no Norte do Estado gaúcho, principalmente para fins de produção de carne – segundo a Radiografia Agropecuária Gaúcha 2020, 37,4% dos rebanhos são para fins de produção de carne; 20% para lã; 30,3% compreende as duas práticas e 0,1% para leite.

Em Vista Gaúcha, Cabanha Lorensini foca na venda de cordeiros A experiência do produtor Felipe Lorensini com a ovinocultura é desde 2013, quando começou a trabalhar na atividade ainda na fronteira gaúcha. Há quatro anos, ele e o irmão MARÇO | ABRIL 2021


Vinícius iniciaram as atividades na Cabanha Lorensini, localizada em Vista Gaúcha/RS. Lá, com a experiência de campo, conhecimento técnico e área para alocação do rebanho, eles trabalham com cria, recria e engorda de ovinos. O sistema adotado na criação é a pasto e em regime de confinamento – intensivo – A partir deste ano, iremos seguir apenas com a criação da raça Texel. Os cordeiros para engorda compramos na fronteira e dependendo do lote utilizamos o sistema semi-confinado, a pasto e com suplementação; outros lotes somente com o sistema confinado. Portanto, a adoção do sistema depende da disponibilidade de alimento, do tipo do lote e do acabamento que esta precisa – explica Lorensini. A maioria dos cordeiros da Cabanha Lorensini são comercializados no Rio Grande do Sul, mas também há mercados em Santa Catarina e como eles vendem matrizes, alguns negócios também são feitos em São Paulo. Segundo Lorensini, o foco é a venda de cordeiros, tanto os da cabanha quanto os que eles compram de fora para engorda, por isso, no momento, eles estão retendo boa parte das matrizes para aumentar o rebanho. – O tempo que leva para efetuar uma venda vai depender muito do estado que esse animal chega na cabanha e que tipo de acabamento o frigorífico demanda. Os cordeiros vão para o abate em torno dos 30 kg a 35 kg, que é o animal que tem mais saída e valorização para nós. A raça Texel, por exemplo, já desmama com peso próximo ao abate, por isso estamos focando mais na cria. Temos uma perspectiva e um planejamento para elevar o número de matrizes na propriedade, justamente para aumentar esse rebanho. Para a alimentação, compramos de fora somente farelo de soja, núcleos e melaço, o resto é tudo produzido em casa. Em relação a pastagem, o destaque vai para aveia – esclarece o ovinocultor. A ovinocultura corresponde por cerca de 30% da renda da propriedade, mas nos próximos anos, os irmãos Lorensini pretendem aumentar esta porcentagem e dedicar boa parte da rotina para a criação de ovinos. – É uma atividade muito trabalhosa. São animais que precisam de muita atenção, no entanto, somos 23 | NOVO RURAL

bem remunerados, enxergamos uma tendência no aumento do consumo e, por isso, vamos continuar investindo – projeta Lorensini.

Pesquisar antes de investir é o primeiro passo A atividade vai exigir muita dedicação, assim adianta o pesquisador João Carlos Pinto Oliveira, da Embrapa Pecuária Sul (Bagé/RS), sobre quais aspectos os produtores devem se atentar antes de investir na criação de ovelhas para fins comerciais. O pesquisador ressalta que é preciso analisar se na região onde será feito o investimento haverá mercado para escoar os produtos. Existem frigoríficos e/ou abatedouros que adquiram animais para o abate? Algum estabelecimento que comercialize lã ou pele? Alguma indústria de laticínios que processe leite de ovinos? Estas são algumas perguntas a serem feitas antes de investir na atividade, segundo o pesquisador. – A mão de obra também é muito importante. É preciso verificar se existem profissionais disponíveis e que saibam conduzir uma criação de ovinos; que saibam tosar ou esquilar. Além disso, é necessário contar com uma assistência técnica qualificada, me refiro à veterinário, zootecnista, agrônomo e demais profissionais que sejam capacitados para prestar atendimento aos rebanhos ovinos. Esses profissionais são fundamentais, especialmente para quem está iniciando na atividade. Eles, inclusive, podem ser responsáveis pelos treinamentos de produtores e de colaboradores – orienta Oliveira.

pode ser repetido quando ovinos e vacas leiteiras utilizam a mesma área – explica o pesquisador. O pesquisador destaca, ainda, que a integração com lavouras temporárias e perenes, a exemplo da produção de frutas, também é uma opção interessante, pois além da produção de cordeiro, os ovinos auxiliam no controle de ervas daninhas e na reciclagem de nutrientes dos pomares. – A presença dos rebanhos ovinos nos meses de abril ou maio para utilizar as pastagens de inverno semeadas após a lavoura de soja, por exemplo, já é uma realidade em algumas propriedades do RS. No caso da produção de frutas, alguns produtores semeiam forrageiras de inverno ou de verão para os ovinos nas entrelinhas das árvores – enfatiza.

Acesse a matéria completa em novorural.com:

Integração com outras atividades agropecuárias Com relação a integração com outras atividades agropastoris, a mais antiga do Rio Grande do Sul é a ovinocultura com a bovinocultura de corte. – Os ovinos e bovinos são ruminantes com hábitos de pastejo diferentes. Costuma-se dizer que os ovinos limpam as pastagens. Espécies como chirca, maria-mole e buva, por exemplo, fazem parte da dieta dos ovinos e, normalmente, não são consumidos pelos bovinos. Por isso, essa é uma das vantagens do pastoreio conjunto. Isso também

Série Ovinocultura no Agro no podcast Prosa do Campo. Ouça agora!

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Negócios

Sicredi disponibiliza recursos para custeios de inverno

Oferecimento:

Sicredi/Divulgação

Valores oferecidos apoiam associados no momento da negociação dos insumos para as culturas, agregando valor e melhorando as margens de rentabilidade no agronegócio

P

ara reforçar sua atenção e contribuir com o desenvolvimento do agronegócio, o Sicredi está disponibilizando recursos para contratação das operações de custeio da safra de inverno 2021. Os valores planejados para operações de custeio na Safra 2020/2021 estão sendo liberados desde julho/2020. O montante está disponível a produtores rurais enquadrados nos programas do Pronaf, Pronamp e Agricultura Empresarial, e as taxas de juros são de acordo com as condições das linhas oferecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os pedidos de financiamento das culturas agrícolas, que têm o período de plantio no primeiro semestre deste ano, estão abertos e podem ser encaminhados até 30 de junho. Os associados podem contar com a segurança e agilidade das linhas de crédito ofertadas para a safra de inverno. O objetivo é oportunizar aos associados a condição de negociar com antecedência o pagamento de seus insumos, tendo assim a possibilidade de conseguir preços melhores e redução de custos para o plantio aumentando, automaticamente a margem de lucro de sua atividade, além de proporcionar tecnologias mais apropriadas a sua necessidade e realidade produtiva, favorecendo a relação custo x benefício. O Sicredi também dispõe de recursos financeiros para investimentos e custeios pecuários das atividades como bovinos de leite, bovinos de corte, entre outros. Para estas finalidades, há possibilidade de contratação nos 12 meses do ano, apoiando, desta forma, os produtores que precisam de ajuda para

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aquisição de alimentação e demais insumos. O foco é atender as demandas e necessidades dos associados, com a oferta de recursos para continuar fortalecendo a atividade agropecuária e impulsionar os negócios locais. Os associados que não têm financiado com o Sicredi e até mesmo os produtores que ainda não são asso-

ciados, podem buscar orientações nas agências de sua cidade, falando com os parceiros de assistência técnica que elaboram os projetos, e também via WhatsApp, através do número (51) 3358-4770, sem precisar sair de casa, mantendo a segurança e a saúde de sua família no período de pandemia.

Pré-custeio Com foco em dar suporte ao agronegócio – setor que fechou 2020 com saldo positivo de 9% no PIB agropecuário – o Sicredi destina R$ 6,9 bilhões em créditos para o pré-custeio da Safra 2021/22. O pré-custeio está disponível para associados que pretendem antecipar a compra de insumos para suas lavouras, garantindo maior rentabilidade dos negócios, por exemplo, adquirindo agora os insumos para o custeio da safra de verão que vai ser utilizado em agosto deste ano. O Sicredi é uma das instituições financeiras com maior representatividade no agronegócio, tendo sido a segunda instituição finan-

ceira que mais liberou crédito rural no ciclo de Plano Safra 2019/2020, com mais de R$ 20 bilhões concedidos. A expectativa é finalizar o Plano Safra 2020/21 com R$ 22,9 bilhões disponibilizados em crédito rural, em mais de 221 mil operações, sendo R$ 17,5 bilhões para operações de custeio, comercialização e industrialização e R$ 5,4 bilhões para operações de investimento que viabilizam o financiamento de benfeitorias, máquinas e equipamentos e novas tecnologias permitindo aos produtores aumentar sua produtividade e reduzir custos de produção.

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Cooperativismo CooperAtivas Por

Pedro Luís Büttenbender

Repórter

plbutten@gmail.com

Doutor em Administração, mestre em Gestão Empresarial, especialista em Cooperativismo e administrador. É professor-pesquisador da Unijuí/RS, assessor e associado a cooperativas.

A Arte da Possibilidade

O

seu futuro é promissor. É e será diretamente resultado do que você está semeando e cultivando. Sabemos, e está mais do que comprovado, que ao fazermos juntos somos capazes de fazer mais e melhor, e até fazer o “antes”, que era considerado impossível. Nestes tempos de pandemia pense, projete e aja em cooperação. Com seus princípios e doutrina solidária, humana, social, mas de profunda organização e geração econômica, as cooperativas possuem em sua essência elementos que as demais organizações não possuem. A capacidade de promover a cooinovação. Afinal, o que é cooinovação? Mais do que a criatividade e inovação colaborativa, as cooperativas têm um ambiente de educação, valorização de pessoas, igualdade, inclusão, solidariedade e compromisso com a comunidade. As cooperativas não são súditas ao capital ou a processos político-eleitorais, partidárias. Nestes novos tempos, as cooperativas vão mais fundo, ou melhor, devem revelar a competência mais profunda, que é a de mobilizar e catalisar seus quadros coletivos, diretivos e técnicos para criar o novo. Promover a cooinovação.

Explicando melhor pelo exemplo

As cooperativas operam negócios, contratam pessoas, rentabilizam atividades cooperativas dos associados, agregam valor a economia, reinvestem suas sobras, valorizam a economia local-regional e justificam a existência e manutenção de lideranças cooperativas e profissionais, equipes técnicas públicas e privadas para atender as cooperativas, entre outros. Boa parte destes profissionais tem relações formais e de trabalho decorrentes das cooperativas. Este coletivo de profissionais cooperativistas, ademais a responderem as suas rotinas regulares de trabalho, estão chamados a contribuírem mais e melhor na elaboração de projetos novos, coletivos e audaciosos para o desenvolvimento sustentável da região. Estamos sendo desafiados a mobilização coletiva, a partir da gestão pelo propósito, cooperativo e da cooinovação constituir um ambiente de intercooperação, articulado, conjunto e em rede para tornar possível e realidade o que antes era “o impossível”. Às lideranças cooperativas da região cabe o protagonismo da liderança e da articulação de quadro coletivo de competências, que através do cooperativismo possui a possibilidade de aportar muito mais do que está. Na segunda fase, a mobilização coletiva abrangerá os demais agentes locais e regionais de desenvolvimento. Na terceira, acontecerá o envolvimento natural de todos os membros das cooperativas e demais cidadãos. Quando em resultado, a região terá produzido um ambiente novo, de prosperidade, de boas perspectivas de futuro e de vida. O que está colocado para todos nós é a arte da possibilidade, do pensar, propor e produzir coletivamente, mobilizando as melhores competências humanas e profissionais que são mantidas e viabilizadas na região através das cooperativas. Isto é também pensar e promover as políticas e programas públicos de inclusão. O cooperativismo é instrumento para a arte da possibilidade. Vamos Cooperar!

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Subestação Pinhal Augusto Moro entra em fase de teste

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Grupo Creluz dá mais um grande passo para a distribuição de energia de qualidade em sua área de atuação. Em janeiro de 2021, em fase de teste, iniciou as operações da Subestação Pinhal Augusto Moro, construída próxima a cidade de Pinhal/RS. A estrutura será responsável por atender 70% dos consumidores da cooperativa, em 17 municípios gaúchos. O complexo tem uma capacidade máxima de 50 MW, sendo uma das maiores subestações do interior do Rio Grande do Sul na atualidade e recebe energia em alta tensão da Usina Foz do Chapecó, através de um linhão que liga Planalto/RS a Constantina/RS. O investimento total na subestação supera a marca de R$ 22,5 milhões – o maior investimento do Grupo Creluz em um único projeto – e representa um marco para o desenvolvimento do Norte gaúcho. O presidente da cooperativa, Elemar Battisti, destaca que a subestação foi projetada para atender a demanda de energia da região no presente e também para o futuro, sendo totalmente operada a distância através de fibra óptica via telecomando, seguindo os altos padrões das engenharias elétrica e civil. A subestação, além de levar o nome do município-sede da cooperativa, também homenageia o associado Augusto Moro, em memória, que passou a residir em Pinhal em 1946, na área onde hoje o complexo está situado. Grupo Creluz/Divulgação

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Juventude Rural GESTÃO PARA O FUTURO Por

Flávio Cazarolli

flavio@focorural.com.br

Engenheiro-agrônomo, especialista em Gestão de Recursos Humanos e palestrante na área de sucessão rural. Gerencia a Foco Rural Consultoria, em Ijuí/RS

O planejamento como ferramenta de gestão

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foco da profissionalização da gestão é a adoção imediata de ferramentas de planejamento. Essa ferramenta gerencial deve ser desenvolvida e passar a ser incorporada no dia a dia dos produtores rurais. É fundamental que os atuais e os futuros administradores acreditem e montem suas rotinas de trabalho baseados no planejamento com visão de curto, médio e longo prazo. O planejamento é o melhor caminho para preparar o futuro e tomar decisões certas. A organização através do planejamento transforma uma rotina exaustiva de solução de problemas em um processo metódico de atuação, melhorando o ambiente do trabalho bem como a produtividade. Um produtor organizado e planejado se antecipará a ocorrência de problemas, as contingências naturais de sua atividade e estará pronto para atuar assim que as condições permitirem. Pensar com antecedência os acontecimentos futuros possibilita o encontro de alternativas mais viáveis do que aquelas usadas normalmente em situação de emergência ou “em cima da hora”. Um ambiente organizado e planejado permite a participação de toda a família nas decisões, melhorando o clima de convivência, inclusive, entre diferentes gerações. Situações pensadas previamente via-

bilizam a troca de ideias com outros produtores e mesmo com técnicos, que poderão orientar para a melhor saída dos problemas. Para o planejamento das atividades agropecuárias, pode-se iniciar avaliando a propriedade e definindo a exploração de cada área através da construção de um croqui, que consiste de um mapa da propriedade com a divisão das áreas exploradas. Depois do croqui, planejar atividade por atividade, definindo os objetivos e metas. É importante para cada atividade a construção de um orçamento detalhando quanto, onde e como serão aplicados os recursos, bem como a origem destes. Deve-se fazer registros sobre a recomendação do uso de insumos para que fique claro a todos os envolvidos a finalidade a que se destinam e, portanto, garantir que sua aplicação se dará dentro da recomendação técnica e trará os resultados esperados. Outro ponto importante do planejamento das atividades agropecuárias é o estudo dos serviços a serem desempenhados durante o desenvolvimento destas. Estabelecer todas as etapas de trabalhos que serão necessários para a produção, bem como definir como e quando serão desenvolvidos os respectivos trabalhos, aju-

da a entender a responsabilidade de cada um no projeto em estudo. Dessa forma, pode-se estabelecer o seguinte método: 1. Elaboração do Croqui da propriedade, mapeamento das áreas, talhões 2. Definição de objetivos e metas e plano de produção 3. Elaboração do orçamento 4. Definição da tecnologia a ser utilizada – recomendação técnica 5. Plano de atividades operacionais – calendário de execução das atividades 6. Acompanhamento dos resultados Por fim, o planejamento é uma ferramenta importante no sucesso da empresa rural, ajuda na antecipação de possíveis problemas, na atuação eficaz do trabalho e do uso dos recursos disponíveis e permite que o ambiente entre os membros da empresa seja mais harmônico e de conjugação de esforços pelo bem comum.


Tecnologia AGRO 4.0 Por

Guilherme Almeida Busanello guilherme@dronagro.com.br

Engenheiro-agrônomo, especialista em agronegócios pela Esalq/USP, CEO da Dronagro, apaixonado por inovação e tecnologia no agronegócio

Ano novo, safra nova!

O

lá, amigos do agro digital! O ano de 2021 está apenas começando, mas o ano safra 2020/2021 vai se aproximando da sua conclusão. Na maioria das regiões do Rio Grande do Sul, as colheitas da primeira safra de milho estão concluídas, a soja encontra-se na transição entre as fases vegetativas e reprodutivas, com algumas áreas em colheita, e a semeadura do milho safrinha ou do feijão está sendo iniciada. A diversidade dessas realidades traz vários desafios para todos, que devem ter uma visão periférica sobre todos os agentes, internos

Um dos objetivos da agricultura digital é justamente facilitar o armazenamento dos dados.

ou externos, que podem ou não causar prejuízos no campo. Com a safra se encaminhando para o fim, cabe a nós, profissionais do campo, refletir sobre o que foi planejado e realizado, o que deu certo e o que não funcionou, e utilizar essas informações para planejar o próximo ciclo. Durante toda a jornada do produtor, quais ações foram assertivas? Quais não foram? Por quê? O que podemos fazer para não cometer os mesmos erros novamente? Até aí, tudo bem. Gostaria de trazer uma questão a todos os leitores da Novo Rural: você costuma armazenar essas informações para ter um histórico da sua lavoura? Se sim, como você armazena esses dados? Se não, por que você não realiza esse trabalho? Um dos objetivos da agricultura digital é justamente facilitar o armazenamento dos dados. A palavra gestão está cada vez mais presente no agronegócio, porém, sem as ferramentas certas, esta se torna falha e por vezes inexistente. Isso acarreta em erros que podem determinar o fracasso de uma atividade. O agro digital oferece aos profissionais ferramentas capazes de realizar a interpretação desses dados e transformá-los em informações so-

bre a sua lavoura. Todos os dados são armazenados no que chamamos de nuvem, que nada mais são do que servidores capazes de armazenar e processar um grande volume de dados rapidamente. O trabalho do profissional é abastecer as ferramentas disponíveis com as informações requeridas. Criando esse banco de dados gradualmente, safra após safra, fica mais fácil planejar os próximos passos, diminuir os erros e prever com mais assertividade os problemas que podem acontecer. As ferramentas do agro digital vêm se tornando cada vez mais acessíveis e mais fáceis de serem trabalhadas. A comodidade em ter as informações necessárias com poucos ou até mesmo com um toque na tela, já é realidade e vêm ganhando mais e mais espaço nas lavouras do nosso país. Estar conectado a essas mudanças torna um profissional do campo diferenciado e com capacidade de entregar mais valor ao agronegócio!


Qualidade de Vida Por

Luciene Duso Extensionista rural

Apoio e mentoria:

Vamos cultivar?!

Suculentas: as queridinhas do momento Gracieli Verde/Arquivo Novo Rural

A

s suculentas vieram com tudo, nos mais variados tamanhos, formas e cores. Assim como as violetas, as suculentas são plantas colecionáveis, possuem mais de 22 mil espécies. Somente no Brasil são mais de mil espécies. São plantas fáceis de cuidar, têm grande apelo estético na decoração e provocam baixo índice de frustração. São plantas originárias do deserto, de lugares áridos e de um modo geral são todas as plantas que possuem água nos seus tecidos, daí o nome suculentas. Preferem solo seco, pois não gostam de muita água, podem crescer bastante e necessitam de sol pelo menos 4 horas diárias. Ao contrário do que muitos fazem, as suculentas não são plantas de dentro de casa, com algumas exceções de espécies mais escuras. Elas adoram tomar um solzinho, mas não suportam geadas, portanto, escolha bem o local. 28 | NOVO RURAL

Cuidados: Solo bem drenado, não pode encharcar. Duas partes de areia e duas partes de terra mais pedriscos. Vaso furado. Adubação com húmus de minhoca, casca de ovo, esterco ou NPK 10.10.20, 4.14.8 ou 8.9.9, a cada seis meses. Regar quando a terra estiver seca. Teste do palito. Em média 1 x na semana no verão e a cada 15 dias no inverno. Molhar bem e deixar escorrer. Folhas murchas e enrugadas representam pouca água. Folhas amareladas significam muita água.

Multiplicação: Estacas: mais arbustivas. Cortar e fazer um pezinho de 1 cm. Passa própolis ou canela na ponta para evitar fungos e bactérias ou deixa 3 dias sem plantar. Plante em recipiente pequeno. Folhas: bandeja de isopor, sem furar embaixo, terra peneirada ou areia. Regar a terra antes de colocar as folhas. Colocar as folhas deitadas em cima. Brotação lateral: o broto tem que estar do tamanho de uma moeda de 1 real. O mesmo processo que por estaca. Batatinha: tamanho de um feijão, com raiz. Coloca na terra as raízes para baixo e a batatinha para cima. Passa própolis nas pontas Decapitação: Fio-dental. Para aquelas que não pegam com folhas. Passar própolis e deixar uma semana a decapitada em local arejado, sem plantar.

Podas somente quando necessário ou para multiplicação. As espécies mais vendidas são as rosas e lilases, echeveria crohma, crassula e as mini coloridas, utilizadas para coleção. Elas funcionam como purificadoras de ar, guardiãs. São lembretes de vitalidade, persistência e integração com tudo que está à nossa volta. Significam abundância e sucesso para qualquer área. Ativam energias positivas, pois contém bastante água.

Saiba mais sobre as suculentas através deste QR Code:

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Rafaela Rodrigues

Combinação de cores em jardins

Já os tons azul, violeta e verde são frios e transmitem impressão de repouso e afastamento. Motivam a vencer desafios.

Saiba mais sobre o assunto através deste QR Code

Se, ao contrário, quiser um jardim mais leve e suave, o uso de cores análogas é mais indicado, que são as cores próximas como: amarelo, laranja e vermelho, verde claro ao verde escuro e vermelho e rosa.

Fazer um jardim bonito e harmônico, utilizando as plantas certas nos lugares corretos não é uma tarefa muito fácil, depende de vários fatores que devem ser levados em consideração na hora de planejar um jardim. A combinação das cores é uma das tarefas mais importantes na escolha das plantas, pois a beleza e a harmonia do espaço vão depender justamente da escolha certa e do enfoque desejado para o jardim. Se o objetivo é causar um impacto, pode-se utilizar as cores complementares, como verde e vermelho, amarelo e roxo e azul e laranja.

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Também pode-se escolher as cores através dos tons quentes ou frios. Os tons de amarelo e vermelho são quentes e dão a ideia de aproximação e ação. Transmitem sensação de bem-estar e aumentam o foco e a energia dos ambientes.

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Qualidade de vida CÁ ENTRE NÓS Por

Gracieli Verde | Interina jornalismo@novorural.com

Apoio técnico:

Ninguém parte na véspera

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Divulgação

E

m praticamente mais de um ano vivendo em um ambiente pandêmico em função da presença do coronavírus e suas variantes entre nós, talvez seja oportuno voltarmos o pensamento para questões que possam somar neste momento, que nos pede que respiremos fundo e levantemos a cabeça. Temos visto no dia a dia pessoas preocupadas e inseguras. É natural, afinal, o vírus ainda é pouco conhecido e apresenta variantes que se mostram bastante persuasivas à saúde humana. Mais pessoas conhecidas de nós se contaminaram nos últimos meses e isso deixa a peste mais perto, não é mesmo?! E cá entre nós, as mulheres têm concentrado grande parte desta preocupação e do medo de contaminar-se ou de ter alguém dos seus afetados por esta situação. É natural que, tendo em vista o nosso modelo de organização social, elas estão sempre envolvidas com o cuidado com a família, com o esposo, com os filhos, com a limpeza da casa – que agora é ainda mais higienizada por causa do vírus. Chega ser estranho estarmos falando disso. Parece um déjà vú, não é?! Sabe aquela sensação de já ter vivido isso antes, pois é! Isso mesmo. Todos reforçam os mesmos cuidados há um ano, mas o vírus tem se mostrado resiliente. Precisamos aprender com ele. Em uma breve conversa com uma jovem cuja mãe e pai foram diagnosticados com Covid-19 em fevereiro – um deles precisou ficar internado, inclusive – ela compartilhou como a enfermidade limitou a rotina na propriedade rural. Todos

sabem, no campo o trabalho vai de sol a sol, de domingo a domingo, e foi preciso rever muita coisa enquanto o pulmão não tinha forças para respirar com o mesmo desempenho de antes. Nessas horas, a família se divide para auxiliar a lida com os animais e com a lavoura, porque nem um e nem outro esperam. Sem contar o aumento nos índices de violência contra a mulher – tema que a titular Dulceneia trata frequentemente por aqui. Cheguei neste ponto porque possivelmente esta seja uma fase em que tenhamos que aumentar a nossa fé, relembrar do que outras pessoas fizeram ou pensaram para superar momentos de dificuldade, de medo, de insegurança. Algo que sempre me vem à memória é uma das entrevistas que o atual papa, o simpático Francisco, disse em uma das primeiras aparições a um canal de televisão brasileira quando assumiu o cargo mais importante e influente da igreja católica, em 2013. Pelo fato de Francisco adotar uma postura diferenciada em relação à sua segurança, bem mais acessível e livre

se comparado com seus antecessores, esse assunto sempre era pauta. E ele foi claro e direto ao entrevistador: – Eu não sinto medo. Sei que ninguém morre de véspera. Quando acontecer, o que Deus permitir, será – declarou. Bom, não se discute aqui a fé de cada um, mas será que isso não pode nos inspirar a ver sob outro ângulo tudo isso? De forma nenhuma desleixar-se em relação a qualquer cuidado que seja recomendado, mas ao mesmo tempo: confiemos mais na nossa missão, no nosso propósito. Esta frase do papa Francisco me acompanha sempre abraçada à minha cautela. É hora de termos pensamentos mais graciosos conosco e com os demais que estão ao nosso redor. Possivelmente isso tornará nossa transição por este momento um pouco mais leve. Fica meu desejo de saúde a todos e a todas, inclusive à titular deste espaço, que precisou de uma pausa neste início de ano, mas logo voltará com suas ideias e percepções sobre o universo feminino rural. MARÇO | ABRIL 2021


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Costela suína com geleia de abacaxi Ingredientes

• 2 colheres rasas de sopa de sal • 5 cravos da índia • 3 un de pimenta de cheiro verde • 1 rodela grande de gengibre • 800 ml de água • 50 ml de azeite • 100 ml de cachaça • 2 un de limão (separar suco e raspas) • 700g de costela suína • 4 un de batatas inglesas em rodelas com casca • 1 un de abacaxi (pequeno) em cubos sem casca e miolo • 10g de manteiga • 5g de açafrão da terra em pó • 100 ml de mel • 1 pimenta dedo de moça picada sem semente • 1 cebola picada.

Preparo

Dica do Chef!

Coloque a costela em um refratário com água, a cachaça e o suco dos limões, o gengibre, o sal e a pimenta e deixe descansar na geladeira por 30 min. Em uma panela, acrescente a manteiga e aqueça bem, coloque o abacaxi, o açafrão, o mel, a pimenta, o cravo e a pitada de sal deixe cozinhar em fogo médio por 5 min, desligue o fogo, acrescente as raspas de limão e reserve. Pré-aqueça o forno a 200°C, retire a costela da geladeira e escorra os líquidos. Em uma forma coloque a costela com os ossos para baixo passe uma camada generosa da geleia de abacaxi por cima, um fio de azeite e cubra com papel alumínio. Leve ao forno na temperatura de 200°C por 45 min, retire o papel alumínio e deixe dourar por mais 10 min ou até ficar dourada. Sirva a costela com a geleia que sobrou e uma salada de folhas verdes.

As costelas normalmente são preparadas com marinadas ou tempero seco. As costelas temperadas com uma mistura de ervas e condimentos são chamadas de secas. Estes temperos devem ser esfregados sobre a carne antes de fazer o churrasco. Para obter melhores resultados, pincele generosamente a marinada durante os últimos 30 minutos de cozimento para evitar que queime. (Fonte: maiscarnesuina.com.br, uma iniciativa da ABCS, com apoio do Sebrae)

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