REVISTA
Ano 4 - Edição 42 Setembro|Outubro de 2020 Exemplar R$ 12,00
SER CAMPEÃO DÁ LUCRO? É possível reproduzir o “manejo campeão” em demais áreas agrícolas da propriedade? Gestores da Fazenda Vila Morena, de Boa Vista das Missões/RS, compartilham detalhes de como chegaram aos resultados campeões da categoria irrigada do Desafio Cesb de Máxima Produtividade PG 12 A 15
DÉFICIT NA PRODUÇÃO DO MILHO REPERCUTE NA ARRECADAÇÃO DO RS PG 16 A 18 GESTÃO EFICIENTE DA PECUÁRIA DE LEITE REFLETE NOS RESULTADOS DA PROPRIEDADE PG 24 E 25
Editorial É PRECISO QUALIFICAR AS PESSOAS E OTIMIZAR OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO
E Alexandre Gazolla Neto
Professor, consultor e empresário do agronegócio
Cada país tem uma vocação e o agronegócio é a vocação do Brasil.
xistem vários desafios associados aos sistemas de produção agropecuários no Brasil: frete, logística, acesso ao crédito, insegurança jurídica, volatilidade do câmbio e falta de policiamento na zona rural. Mesmo assim, o setor conseguiu o que parecia impossível: manter resultados positivos durante a pandemia do novo coronavírus. A prova disso é que o PIB do setor tem uma alta projetada de 2,5% em 2020. A agropecuária brasileira apresentou crescimento de 1,2% no segundo trimestre de 2020 em relação a igual período de 2019, o que pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho de alguns produtos da lavoura, como a soja. O agronegócio representou mais da metade das exportações brasileiras em julho de 2020. Nesse mesmo mês, as vendas externas do agronegócio representaram 51,2% no valor total exportado pelo país, somando US$ 10 bilhões no mês passado, alta de 11,7% em relação ao valor exportado em julho de 2019. Produtos como soja em grão, açúcar, celulose, algodão, carne suína e carne bovina tiveram considerável aumento de volume comercializado. Esse cenário positivo nos faz pensar na necessidade constante de inovar e buscar novos mercados consumidores, investindo em tecnologia, otimizando processos de produção e em qualificação profissional. A agropecuária brasileira do futuro deve estar centrada em investimentos para cada vez mais aumentarmos a profissionalização das atividades, o desenvolvimento de estratégias sustentáveis que proporcionem o uso racional de recursos e a maximização dos rendimentos. Inclusive, a informação estratégica e focada em resultados é uma das ferramentas que precisamos difundir para potencializar esses aspectos. Cada país tem uma vocação e o agronegócio é a vocação do Brasil.
Circulação: Bimestral Tiragem: 8 mil exemplares Fechamento: 04/09/2020 Fone: (55) 2010-4159 Endereço: Rua Garibaldi, 147, sala 102 - B. Aparecida Frederico Westphalen/RS Fale conosco (55) 9-9960-4053 relacionamento@novorural.com jornalismo@novorural.com contato@novorural.com
A revista Novo Rural é uma publicação realizada em parceria com
Abrangência: Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná.
PR
Essas ações só serão possíveis se focarmos em:
SC
• Competitividade e sustentabilidade • Garantir o abastecimento do mercado interno • Ampliar as exportações • Promover a geração de emprego e renda
RS
Um novo momento para a Emater/RS-Ascar
N
este ano a Emater/RS-Ascar tem construído um novo momento para a instituição. Um novo formato de convênio com o governo do Estado permite que a empresa tenha segurança financeira e jurídica para os próximos 60 meses. Com isso, a Emater/RS-Ascar tem cada vez mais um papel de ser uma extensão da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural nos municípios onde está presente. Desde julho de 2020, esse novo contrato está valendo. Dentro disso, a instituição tem reorganizado os recursos humanos e processos diários. Dentro do Programa de Desligamento Incentivado (PDI), são 290 adesões no Estado e na Regional da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen foram 23 adesões. Para homenagear e agradecer a parceria desses profissionais da extensão rural, no portal www.novorural.com você pode conferir um conteúdo especial sobre a atuação deles na região. 2 | NOVO RURAL
Acesse por meio do código QR abaixo!
Direção
Alexandre Gazolla Neto
Editora
Gracieli Verde
Produção de conteúdo Camila Wesner Rafaela Rodrigues
Capa
Gracieli Verde
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Especial
Oferecimento: Gracieli Verde
Anos
Investimento em assistência técnica impacta na rentabilidade na pecuária Ricardo Augusto Stefanello, fundador da indústria
Ao completar 20 anos de atuação na região neste mês de setembro, a Laticínio Stefanello reforça o posicionamento de incentivar os agropecuaristas em buscarem mais eficiência produtiva na propriedade rural
A
Laticínio Stefanello, estabelecida no município de Rodeio Bonito há 20 anos, tem como missão oferecer produtos lácteos com alto padrão de qualidade, através do desenvolvimento contínuo de todos os envolvidos, gerando rentabilidade econômica. No campo, se destaca pela assistência técnica especializada realizada junto as mais de 300 famílias integradas, que recebem orientações e acompanhamento constante a fim de garantir controle e maior eficiência do rebanho, qualidade e integridade da matéria-prima. A assistência técnica especializada oferecida é uma prestação de serviço realizada por profissionais 4 | NOVO RURAL
qualificados da área, que sugerem soluções para as dificuldades que o produtor enfrenta do dia a dia, seja na sanidade animal, produção ou comercialização. Segundo o médico-veterinário Maicon Silvestrin, da Agropecuária Stefanello, é importante ressaltar que para atingir as metas, a assistência não deve ser entendida como uma obrigação, mas uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento para a propriedade rural, especialmente onde há uma matriz leiteira. – É fundamental que esse serviço tenha uma boa receptividade por parte do produtor, que em conjunto com o nosso trabalho poderá gerar resultados muito positivos. Além dis-
Uma propriedade deve ser vista como uma empresa e nesse viés os profissionais que desenvolvem a assistência técnica são fundamentais. Anderson Granela, pecuarista
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
so, para ter sucesso é preciso que a propriedade ofereça condições de trabalho e que tenha o interesse em aprender mais sobre a atividade em que atua – explica.
SERVIÇO AO ALCANCE DO PRODUTOR Quem se preocupa com a questão da qualidade do leite na propriedade, e desenvolve as orientações fornecidas pela assistência técnica, consegue resultados satisfatórios, como é o caso do pecuarista Anderson Granela. O início da atividade na propriedade foi realizado pelos pais, Vilmar e Maristela Granela, há mais de 15 anos. Na época, o conhecimento disponível era pouco, o que limitava o potencial de produção. Ao assumir a gestão, em um trabalho de sucessão familiar e dando sequência aquilo que os pais iniciaram, Granela sempre buscou pela inovação, trazendo para a propriedade novas tecnologias, conhecimentos atualizados, juntamente com o melhoramento genético, o que consequentemente gerou uma maior eficiência da pecuária de leite. Para ele, a grande evolução da propriedade se baseia muito nisso. E não há como falar em eficiência sem falar da importância da assistência técnica especializada, neste caso oferecida pela Agropecuária Stefanello. “Ela é importantíssima na minha propriedade”, afirma Granela. E ele acrescenta: “um dos grandes diferenciais é a acessibilidade em relação aos serviços oferecidos. Às vezes estou aqui no dia a dia com algum problema e preciso dessa assistência técnica de imediato, e eu consigo isso”. Isso reforça a relação de confiança entre o produtor e os profissionais que prestam o assessoramento técnico. Além disso, outro ponto importante quando se fala em crescimento da propriedade é o planejamento realizado com metas a serem alcançadas. Para Granela, é preciso ter novos objetivos, sonhos e metas a serem conquistadas. – Uma propriedade deve ser vista como uma empresa e nesse viés os profissionais que desenvolvem a assistência técnica são fundamentais. O trabalho com um profissional qualificado da área faz toda a diferença, pois consegue fornecer as orientações corretas para mudar o 5 | NOVO RURAL
que não está dando resultado. A assistência técnica oferecida pela Agropecuária Stefanello vem ao encontro desse entendimento, pois é um serviço que se preocupa em encontrar uma solução quando temos um problema – pontua. O trabalho realizado pelos profissionais busca desenvolver um controle rígido de todos os processos
relacionados ao plantel leiteiro. Isso permite melhorar o desempenho reprodutivo das vacas leiteiras, tendo em vista o manejo sanitário adequado. Também é dada atenção para a aspetos como a nutrição dos animais, o gerenciamento e planejamento da propriedade, bem como a qualidade do leite que é vendido para a indústria e, depois, chega ao consumidor.
QUALIFICANDO A ASSISTÊNCIA TÉCNICA Em 2019, a Laticínio Stefanello iniciou um projeto em parceria com a Universidade de Passo Fundo (UPF), que tem cronograma de execução para os próximos 10 anos, com o objetivo de servir como um laboratório experimental para que os profissionais da Stefanello compreendam na prática, através do trabalho de uma gestão eficiente, quais são os desafios do produtor no dia a dia da propriedade. Assim, será possível qualificar ainda mais a assistência técnica especializada que é ofertada aos integrados. Além disso, amplia a possibilidade de realizar testes com forrageiras e medicamentos em geral, sendo possível verificar quais
mostram melhores resultados, para posteriormente estarem à disposição dos produtores. No referido projeto, a Stefanello assumiu o Tambo de Leite da UPF, desde o plantio da pastagem até a colheita da silagem, a produção de leite, a quantidade de animais e os custos para gerir uma propriedade. Através dessa experiência e com o avanço da tecnologia, que traz a necessidade de estar sempre se atualizando para conseguir promover uma maior rentabilidade da propriedade – e assim incentivar a sucessão familiar –, se percebe o quanto é fundamental a assistência oferecida aos produtores integrados.
Para conhecer a história da indústria de laticínios Stefanello, que completa 20 anos em setembro, abra a câmera do seu smartphone, aponte para este código e assista a um conteúdo em vídeo:
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E
m dois cases que já estão no portal novorural.com e que fazem parte da série Pecuária de Elite, a sucessão familiar tem sido recorrente. São famílias que investiram na pecuária de leite, na tecnificação da atividade e na qualidade da matéria-prima vendida para a indústria. Em Taquaruçu do Sul/RS, a Novo Rural entrevistou a família de Alcenor do Santos e da esposa Lúcia, que com o filho Amarildo mantém um amplo plantel na produção a pasto. Neste mês de setembro, o case é da família de Adelar e Mariza Peruzzolo, de Novo Tiradentes/RS,
Gracieli Verde
Sucessão familiar é destaque na série Pecuária de Elite que investiu em um sistema confinado para aprimorar a produção leiteira junto com os filhos Rafael e Roniel. A série Pecuária de Elite é uma iniciativa da AgroElite Agronegócios, distribuidora dos produtos Real H – Homeopatia Animal, e dos aditivos premium ZeroTox e Ápice Lactação. Você acompanha mais sobre o trabalho da empresa no @agroeliteagronegócios, no Facebook e no Instagram. Todos esses conteúdos você pode acessar em www.novorural.com e em youtube.com/novorural.
Família Peruzzolo, de Novo Tiradentes, é uma das personagens da série
ASSISTA:
LEIA DETALHES SOBRE O CASE DA FAMÍLIA DE ALCENOR E LÚCIA DO SANTOS :
Tomate: a busca por tecnologias eficientes e sustentáveis
“E Por
Daniele Fontana
Engenheira-agrônoma, especialista em Agronegócios e doutoranda em Fitotecnia pela Esalq/USP. Trabalha atualmente com inovação tecnológica na área fitossanitária para a cultura do tomate
stamos vivendo em constante evolução no agronegócio brasileiro, alcançando produtividades recordes e nunca se falou tanto sobre otimizar o uso dos recursos naturais a fim de maximizar a eficiência produtiva e garantir sustentabilidade no sistema. A horticultura, que sempre foi um setor com elevada tecnificação, acompanha a evolução tecnológica tanto nos
sistemas produtivos quanto nas técnicas de manejo empregadas. Um dos maiores desafios da produção de tomate é a suscetibilidade da cultura à diversas doenças. Há alguns anos não encontramos novos grupos químicos de fungicidas, os quais constituem as principais estratégias utilizadas no controle de doenças de plantas. Diante disso, a busca por produtos que contenham
moléculas naturais tem avançado. Produtos biológicos, sistemas de alerta fitossanitário, zoneamento agrícola de hortaliças e bioinsumos; como bioestimulantes, indutores de resistência, aminoácidos, óleos essenciais e extratos de plantas tem ganhado espaço no mercado e, por isso, estamos trabalhando para entender melhor sua ação e garantir eficiência nos sistemas produtivos.”
NOVIDADE! Inovadora
Plataforma SAFRAS O primeiro Big Data do Agronegócio Brasileiro Agora está muito fácil acompanhar os mercados agropecuários em tempo real.
São conteúdos em formato de textos, cotações, gráficos, vídeos, podcasts, mapas e tabelas que vão facilitar o seu acompanhamento e entendimento dos movimentos dos mercados agropecuários.
Commodities disponíveis Soja e Soybeans
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Crédito Rural Oferecimento:
Plano Safra 2020/2021 apoia o fortalecimento do agronegócio Sicredi Alto Uruguai RS/SC/MG
Sicredi é parceiro dos associados no aumento da produção agropecuária e na evolução técnica das propriedades
F
omentar o desenvolvimento regional e incentivar investimentos produtivos que agreguem renda e qualidade de vida aos seus associados são compromissos do Sicredi. Mantendo-se sempre ao lado do produtor rural, a instituição financeira cooperativa, por meio do Plano Safra 2020/2021, disponibiliza programas e linhas de crédito diferenciadas aos associados para apoiar as necessidades de custeio, investimento e comercialização. Confiando no potencial e oportunidades geradas pelo agronegócio – considerado a locomotiva da economia nacional –, o Sicredi está preparado para atender com agilidade os associados, inclusive, com a disponibilidade de equipes de colaboradores para dar orientação e consultoria aos produtores. Conheça a história de associados do Sicredi que usufruem do apoio dos recursos do Plano Safra para desenvolverem suas propriedades.
Até o fim do ano, a expectativa é pagar somente a taxa mínima de energia elétrica 8 | NOVO RURAL
Energia sustentável para agregação de renda e ampliação das atividades Reduzir ou zerar o valor pago pela conta de luz era o principal objetivo do agricultor Gilberto Stein, de Pinheirinho do Vale/RS. Para isso, o produtor resolveu investir em energia solar. Há cerca de dois meses instalou os módulos fotovoltaicos e os resultados já estão sendo sentidos. No primeiro mês de uso, a economia no pagamento chegou a 50%, além de estar produzindo energia sustentável. – Gastávamos em torno de R$ 2,2 mil de luz por mês e nos primeiros 30 dias com os painéis solares instalados a conta diminuiu pela metade. Até o fim do ano, a expectativa é pagar somente a taxa mínima de energia elétrica ou talvez nem isso, porque acredito que sobrará crédito nos meses de calor intenso. Eu já sonhava com a energia sustentável há dois anos e estava planejando a instalação. Para isso, contei com o ajuda do Sicredi que financiou o valor que eu precisava. Agora, com a economia na conta de luz, pago as parcelas do financiamento e em cinco anos
quero quitar o investimento. Como as placas têm garantia de 25 anos, por 20 anos terei este valor “sobrando” para aplicar na propriedade. Por isso, acredito que é um projeto viável e que vale a pena – conta Stein. Atualmente, o produtor diversifica as receitas com a produção de suínos e grãos – especialmente nas culturas de milho e soja, que somam 48 hectares em áreas cultivadas. Além da parceria para instalar energia solar, o associado há quase 19 anos do Sicredi também contou com o apoio da cooperativa para outros investimentos. – Desde muito jovem criamos suínos e para ampliar a produção, precisei de financiamentos e a cooperativa sempre me ajudou. Hoje, tenho 400 matrizes em produção, que geram em média 11 mil leitões por ano. Também precisei de recursos para comprar plantadeira e pulverizador, mais recentemente fiz outra ampliação da pocilga, e ainda mantenho os demais negócios com o Sicredi – frisa. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Sicredi Região da Produção RS/SC/MG
Evolução da capacidade produtiva
Sicredi Raízes RS/SC/MG
No município de Sarandi/RS, o associado Lídio Demarchi e a esposa Marivete são parceiros do Sicredi há duas décadas. Todos os anos, eles fazem o custeio de soja, milho e trigo com a instituição cooperativa, mas a principal atividade da família, que já gerou diversos investimentos, é o gado de leite – de onde provém cerca de 90% da renda. Há três anos e meio, a família optou por continuar a atividade no sistema de confinamento compost barn. Para isso, realizaram um investimento, no qual a cooperativa foi novamente parceira. Além deste, ao longo dos anos, a família realizou também o investimento dos animais, de um galpão para máquinas, caminhão, plantadeira, desensiladeira e outros implementos agrícolas. – Se não fosse o Sicredi, com certeza não teríamos chegado onde estamos hoje. O que diferencia a instituição é o relacionamento próximo, além do
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resultado que, por ser uma cooperativa, é dividido entre os associados – afirmou Demarchi. Na propriedade, além do casal, trabalha ainda o filho Leonardo, 21 anos, estudante de Medicina Veterinária. O jovem tem como uma de suas responsabilidades a dieta do gado, e já está envolvido nos negócios, uma vez que
pretende fazer a sucessão familiar. De acordo com ele, hoje, há um total de 94 animais, sendo 52 em lactação, com uma média produtiva de 31 litros/ dia por animal. – O sistema de confinamento tem como grande vantagem o aumento da produtividade: ela mais que dobrou – explicou Leonardo.
Desenvolvimento da propriedade O associado Elberton Trentin Covaleski e sua família, de Boa Vista das Missões/RS, fazem parte da história do Sicredi. Seu pai, Jaime Covaleski, foi um dos sócios-fundadores da cooperativa – Sicredi Raízes RS/SC/MG. Há cerca de 25 anos o produtor rural e empresário conta com o apoio da cooperativa na gestão de sua propriedade. Hoje, são 370 hectares dedicados ao cultivo e produção de grãos como soja, milho, trigo, aveia e feijão. A mão de obra para manter a propriedade funcionando é basicamente familiar, no entanto, em épocas de plantio e colheita oferece oportunidades de trabalho para dezenas de pessoas da região. – Todos sabemos que mais da metade do resultado da colheita é conquistado através de um plantio de qualidade. Então, quando temos a oportunidade de aderir ao Plano Safra conquistamos muitos benefícios. Conseguimos adquirir os pro-
dutos mais indicados e com maior qualidade para o plantio e também realizar uma negociação antecipada dos insumos necessários para a implantação das lavouras. Dessa forma, conquistamos preços justos que auxiliam no crescimento da propriedade. Além disso, através do seguro nas culturas de risco, dispomos de segurança em relação aos efeitos climáticos – conta Covaleski. O desenvolvimento da propriedade é o foco da família, que possui o Sicredi como principal instituição financeira. – Sempre contei com o apoio do Sicredi para realizar os custeios de minhas lavouras e para a aquisição de maquinários, que me dão subsídio para plantio e colheita de qualidade – afirma Covaleski. Dessa forma, o agronegócio é a principal atividade econômica dos municípios desta parte do Estado e o seu progresso está ligado diretamente ao desenvolvimento da região. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Agricultura BOLETIM TÉCNICO Por
Alexandre Gazolla Neto agazolla@novorural.com
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes e empresário do agronegócio
Oferecimento:
Boas práticas de plantio em lavouras de soja: onde tudo começa Um dos desafios é otimizar a qualidade das sementes com a plantabilidade e um ambiente de semeadura adequado
A
semeadura seguida pelo estabelecimento uniforme de plantas com alta performance produtiva é o principal desejo e desafio do agricultor brasileiro. Por isso, entender que pequenos ajustes ao longo do sistema de produção, como a escolha correta da cultivar, utilização de sementes com alta qualidade – genética, física, fisiológica, sanitária e visual –, ambiente de produção e semeadura adequados, solo estruturado e sem compactação, manejo eficiente dos agentes redutores de produtividade, entre outras ações, são cruciais para garantir altos índices de rendimento de grãos. O principal desafio no estabelecimento de campos de produção é construir estandes de plantas uniformemente distribuídos, sem duplas, triplas e plantas limitadas. Neste contexto, se faz necessário durante a semeadura prezar por condições ideais de temperatura, umidade do solo, profundidade correta e uniforme para deposição das sementes no sulco. O sucesso nesta etapa está relacionado a qualidade das sementes utilizadas e ao manejo do sistema de produção ao longo dos últimos anos, fatores que afetam positivamente ou negativamente a plantabilidade, o estabelecimento inicial e, consequentemente, todas as demais fases fenológicas até a colheita. Os principais fatores que devem ser observados estão relacionados a semeadura com profundidade correta e uniforme, a temperatura 10 | NOVO RURAL
Excesso de profundidade de semeadura
do solo na profundidade de deposição das sementes, a disponibilidade de água no solo, o corte da palha e o fechamento e compactação do sulco de semeadura. Neste cenário, diversas limitações aparecem devido a problemas no manejo da palha da cultura anterior ou das plantas de cobertura. Precisamos entender que para o mecanismo de corte da semeadora efetuar um corte preciso da palha, seguido pela abertura do sulco, devemos garantir um período mínimo para decomposição desta massa verde. Diversos resultados de pesquisas têm demonstrado reduzida taxa de coeficiente de variação de sementes e plantas em talhões onde o manejo da palha foi realizado com rolo faca. O período ideal para esta práticas varia em função do tipo de solo, relação C/N da palha e a utilização do rolo faca ou outro mecanismo para acomodar a palha sobre o solo, criando um ambiente favorável à germinação e ao desenvolvimento das plantas. De maneira geral, bons resultados no manejo com rolo-faca em áreas de produção são obtidos com períodos de 40 a 50 dias anterior a semeadura. Após a emergência das plantas na área de produção, o acompanhamento nas fases iniciais é indispensável para identificação de pragas, doenças, plantas daninhas e possíveis limitações que possam comprometer o estande de plantas e, com isso, a rentabilidade da lavoura.
Principais limitações na emergência de plantas de soja • Sementes com baixos índices de vigor e germinação • Excesso de profundidade de semeadura ou semeadura superficial • Solos com compactação superficial • Excesso de ingrediente ativo e calda no tratamento de sementes na fazenda • Deriva de herbicidas aplicados em áreas próximas • Resíduo de herbicidas no solo • Temperatura do solo alta ou baixa • Falta ou excesso de umidade no solo • Escolha incorreta do tipo de disco de corte ou mesmo o desgaste desse equipamento • Excesso de palha sobre o solo, dificultando o processo de corte da palha e distribuição uniforme das sementes pela semeadora • Falta de palha sobre o solo, alterando a temperatura e a disponibilidade de água no solo • Ocorrência de chuvas em um intervalo igual ou menos que 16 horas após a semeadura • Ataque de pragas ou doenças durante o processo de germinação e emergência
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Sementes de qualidade O uso de sementes com alto índice de germinação e vigor são essenciais para evitar falhas, plantas duplas e dominadas. Em se tratando da falta desses dois padrões – vigor e germinação –, os produtores acabam, muitas vezes, aumentando a quantidade de sementes e não conseguem alcançar um estande ideal. Este é considerado um fator preocupante, pois ocasiona redução na produção e, consequentemente, uma menor rentabilidade ao produtor.
Ambiente de produção adequado Além de sementes com alto índice de vigor e germinação, é preciso contar com um solo bem estruturado no que se refere à disponibilidade de água, temperatura adequada, entre outros fatores para que ocorra o processo de germinação e, consequentemente, a emergência dessas plantas. Profundidade: 3 cm de profundidade
Gracieli Verde
Boas práticas de plantio: três passos para plantas de alta performance
Boas práticas de plantio Um dos grandes pilares para ter plantas com alto potencial produtivo é promover um estabelecimento da lavoura levando em conta as boas práticas de plantio. Abra a câmera do seu celular, aponte para este código e assista um conteúdo completo sobre boas práticas de plantio com o agrônomo e doutor em Sementes Alexandre Gazolla.
Temperatura: 22°C a 28°C
Manejo correto da palha A organização da palha permite que esta acelere o seu processo de decomposição e crie um ambiente ideal para o corte da semeadora, assim, facilita o trabalho da máquina em depositar a semente no solo de forma uniforme. Há muitos casos em que a palha é empurrada para debaixo do solo, o que faz a semente, quando depositada no solo, ficar incrustada na palha; ou, ainda, há casos em que há dificuldade no corte da palha, o que acaba gerando variações na profundidade de semeadura. 11 | NOVO RURAL
CONFIRA:
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Capa Gracieli Verde
Gerente-técnico da Vila Morena, Carlos Eduardo Dauve, o consultor-técnico campeão na soja irrigada, Felipe Arthur Baron, e o administrador Vithor Schaedler, um dos sucessores da propriedade, neto do proprietário Eliseu Schaedler
Como reproduzir um “manejo campeão” nas demais áreas? Vencedores da categoria irrigada do Desafio Cesb de Produtividade de Soja compartilham como foi a construção de patamares elevados de produtividade da Fazenda Vila Morena, em Boa Vista das Missões/RS. O gerente da fazenda ressalta: “não se trabalha para ganhar prêmio, nós buscamos a perpetuação do nosso negócio” 12 | NOVO RURAL
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Por
Gracieli Verde jornalismo@novorural.com
A
experiência da convivência com o avô, o agricultor Eliseu Schaedler, é contada com demonstrações de carinho e orgulho pelo neto e um dos sucessores Vithor Schaedler, na varanda da casa da sede da Fazenda Vila Morena, em Boa Vista das Missões/RS. O motivo é especial: em 2020 eles foram vencedores do Desafio Cesb de Produtividade de Soja, na categoria irrigada – um dos mais disputados do país e que teve milhares de inscritos na safra 2019/2020. A premiação deste ciclo foi divulgada em 14 de julho de 2020, em um evento on-line. Já o campeão nacional de sequeiro foi o agricultor Laércio Dalla Vechia, de Mangueirinha/PR. A Fazenda Vila Morena conta com 597 hectares, 300 deles destinados para a soja, e integra o Grupo Schaedler. Na área inscrita no desafio foram alcançadas 111,93 sacas por hectare, e a média do pivô, que abrange 55 hectares, foi de 102 sacas/ha. Quer dizer, resultados significativos mesmo em uma temporada marcada pela estiagem no Rio Grande do Sul. Este é o primeiro prêmio da fazenda, apesar de em anos anteriores já ter alcançado produtividades bastante altas para os padrões – no RS essa média ficou em 51 sacas/ha em 2018, conforme série histórica registrada pela Emater/RS. – Tudo passa por planejamento, por organizar e controlar os processos. Isso leva a gente ao sucesso. Acho que isso influenciou bastante na nossa conquista, porque é um trabalho que vem sendo construído há vários anos, com geração e análise de dados, todo o controle interno sobre o que conseguimos colocar em prática na lavoura – diz Vithor, administrador por formação e que nos últimos anos tem acompanhado de perto a rotina no campo. O Grupo Schaedler é formado pela Fazenda Vila Morena, que produz soja e milho em Boa Vista das Missões, e a Fazenda Bela Vista, em Boa Vista do Cadeado/RS, onde também é mantido um sistema de integração lavoura-pecuária. Ao avaliar o atual momento vivido na propriedade, o olhar atento do gerente-técnico da Vila Morena, Carlos Eduardo Dauve, é direcionado para a evolução da agricultura nos últimos anos e que também ficam retratados na trajetória do empreendimento. – Se pegarmos um histórico da agricultura nos últimos anos, mudou muito. 13 | NOVO RURAL
Nos últimos 10 anos essa mudança foi ainda maior e mais rápida, principalmente no manejo, nas cultivares, nas tecnologias. Se aprendeu muita coisa em um curto espaço de tempo. Temos falado muito que tão importante quanto a tecnologia e o maquinário de ponta é a capacidade execução. Extrair todo o potencial produtivo da cultivar ou do híbrido está diretamente ligado a como essa tecnologia está aplicada e como todos os processos andam durante o ciclo produtivo – defende. Para isso, ele garante que o trabalho em equipe é essencial, com comprometimento no dia a dia. A contribuição de parceiros e consultores também é citada como importante nesse processo. Entre eles, são citados o projeto Construindo e Desafiando a Produtividade, gerenciado por uma multinacional, e a startup ConnectFarm. – Estamos muito felizes com o prêmio, mas sabemos que foi uma consequência. Nós buscamos a sustentabilidade dos nossos negócios sempre. O prêmio é fruto do nosso capricho – reforça Dauve. Junto com a fazenda, o consultor técnico que assessorou a equipe também é reconhecido através do prêmio. O agrônomo e doutorando Felipe Arthur Baron, natural de Condor/RS, que desde a graduação – feita na UFSM-FW – acompanha o trabalho na Vila Morena, também colheu os frutos do trabalho. Ali fez vários projetos, estudos, pesquisas, experimentos. – Buscamos diminuir a variabilidade espacial dessa área e entender como explorar o máximo potencial produtivo de cada parte da lavoura. Trabalhamos muito para fazer o básico bem feito. Priorizamos o uso de plantas de cobertura e banimos o vazio outonal. Claro que o resultado não se deve a um único fator. Buscamos aliar produtos e tecnologias e manter esse conjunto em ação – reforça o profissional. Baron comenta também a influência do Índice de Gestão Ambiental (IGA) na área da Vila Morena. Esse é considerado um algoritmo desenvolvido por uma startup gaúcha da qual ele faz parte, e mostra detalhes sobre as áreas monitoradas. – Esse índice mostra onde há necessidade de correções, onde melhor posicionar cada cultivar, população de plantas, entre outros aspectos. Essa memória que temos de cada talhão, de cada ambiente, junto com o histórico do manejo que vem sendo realizado, nos orienta para as próximas tomadas de decisão – explica o agrônomo.
Tudo passa por planejamento, por organizar e controlar os processos.
Como a irrigação contribuiu para o case de sucesso Neste case da Vila Morena, a irrigação foi fator determinante para os resultados, principalmente na safra 2019/2020, que teve um episódio de estiagem no Estado gaúcho. A irrigação correspondeu a 8,7% do custo de produção da área. – É importante ressaltar que o suporte do pivô não corresponde necessariamente a um ano com chuvas dentro da média. Mas, obviamente permite um manejo mais apurado nesse quesito. Em determinados períodos fenológicos da soja, dependendo da cultivar, são necessários de 8 mm a 9 mm de água por dia para suprir a demanda da planta. Portanto, mesmo com irrigação, precisamos ter um sistema ajustado, um bom perfil de solo, plantas que consigam buscar água e nutrientes em profundidade. A irrigação é um complemento para ajudar nessa falta de chuva – reitera o profissional. Ainda neste quesito, o pivô de irrigação foi fundamental para auxiliar na viabilização de um ambiente mais propício para a semeadura, lá no início do ciclo. – Fizemos uma irrigação antes do plantio para conseguir ter uma qualidade de semeadura mais próxima do ideal. Estava muito seco na época e, para não perder o período de plantio que consideramos que seria o melhor, adotamos essa prática. Após o plantio foi irrigado novamente, porque nos preocupamos com a emergência uniforme de plantas também – detalha Baron. Duas estações meteorológicas auxiliam a tomada de decisão nesse quesito, além de outras análises técnicas que complementam as informações. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Capa
Manejo preciso da cobertura de solo é uma das práticas adotadas na Vila Morena
Safra 19/20 na Vila Morena Área do concurso 111,9 sacas/ha
Posicionamento correto de fungicidas
Ajustes constantes ao longo do desenvolvimento da cultura
Área do pivô (55 sc/ha) 102 sacas/ha
Média geral 2018 (Emater/RS) 51 sacas/ha*
Como chegar ao patamar campeão?!*
Uso da irrigação no pré-plantio para não perder a janela ideal de semeadura
*A média geral considera áreas de sequeiro e irrigadas
Histórico de produtividade da Vila Morena 2015/16:
80,2 sc/ha Planejamentos formalizando o foco da agricultura a ser praticada, definindo quais culturas a serem investidas
Ajustes nas escolhas das cultivares de soja, bem como na população de plantas e na época de plantio conforme os ambientes de produção
2017/18:
81,7 sc/ha
2016/17:
70,2 sc/ha
2019/20:
102,3 sc/ha
Cesb 2019/20: 111,9 sc/ha
(Fonte: Cesb)
* Trata-se do campeão na categoria irrigado. 14 | NOVO RURAL
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Camila Wesner
O suporte da pesquisa acadêmica nos resultados
Manejos que mais impactaram no resultado, conforme análise do Cesb • Qualidade das práticas agrícolas • População de plantas e arranjo espacial
Gracieli Verde
H
á mais de 10 anos o professor Antônio Luis Santi, da UFSM – Campus de Frederico Westphalen, agrônomo e doutor em Ciência do Solo/Agricultura de Precisão, acompanha a área da Vila Morena. – Inicialmente, procuramos resolver problemas básicos de manejo, como correção do solo e ajustes da fertilidade. E, como nós já vínhamos trabalhando técnicas de agricultura de precisão, com mapeamento da produtividade e fertilidade, fizemos o primeiro desafio científico em que a pesquisa conseguiu auxiliar na identificação de ambientes com potencial para chegarmos nas 100 sacas/hectare – revela o pesquisador. A união entre a fazenda e a pesquisa conseguiu acelerar alguns processos, como o entendimento de malhas amostrais e o refinamento do entendimento da variabilidade nas lavouras. – Se começou a fazer um planejamento de rotação de cultura, então se priorizou naquele momento ser um excelente produtor de soja. Foi escolhida a soja no verão e em torno de duas coberturas de solo no inverno, continuando a caminhada de ajustes – conta. Ele ressalta ainda que a pesquisa ajudou no entendimento de aspectos como a biologia do solo. – Prova disso é que na área do pivô vencedor a média ficou em 102 sacas por hectare em 55 hectares. O que a gente começou a construir há mais de 10 anos deu resultado agora. As ferramentas da agricultura de precisão foram aplicadas para eliminar problemas de ordem química do solo,
Professor Santi
além do monitoramento de infiltração de água no solo para resolver problemas físicos – pontua, citando que a irrigação foi implantada em 2010. Segundo Santi, tendo em vista esse monitoramento, hoje a Fazenda Vila Morena detém um dos maiores e mais antigos bancos de dados do Sul do Brasil. “Esse resultado foi construído por muitas mãos”, define. Além disso, fica claro que é possível reproduzir em outras áreas esse manejo campeão, com possibilidades iguais de alcançar produtividades de destaque.
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Custo total de produção R$ 4.776,70 por hectare
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Para cada R$ 1,00 investido retornou R$ 2,10 para a propriedade
15 | NOVO RURAL
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Agricultura Camila Wesner
Milho: RS deixa de arrecadar milhões por não produzir o suficiente De 2019 até maio de 2020, o Estado gaúcho deixou de arrecadar R$ 260 milhões em ICMS por não ter milho suficiente no mercado interno. Isso faz a autossuficiência e a qualidade da produção estarem cada vez mais em pauta 16 | NOVO RURAL
Por
Rafaela Rodrigues jornalismo@novorural.com
P
assada uma das temporadas mais desafiadoras para o setor agropecuário do Rio Grande do Sul, que registrou danos expressivos nas culturas de verão em virtude da estiagem, é hora de se preparar para mais uma safra de milho. Para se ter uma ideia, na safra 2019/2020, apesar do aumento de área de 1,5% – 783.304 hectares –, a produtividade apresentou perda
média de 31,9%, gerando uma redução de 30,9% na produção, ou 1,8 milhão de toneladas a menos do que a estimada pela Emater/RS-Ascar. Com isso, a produção ficou em torno de 4,2 milhões de toneladas na temporada. Para esta safra, a instituição projeta uma área próxima aos 780 mil hectares no RS. Para um Estado que tem ampliado as discussões no que se refere à expansão da área e a produtividade, as perdas causadas pela estiagem tornam ainda mais desafiador o objetivo de tornar a cultura mais atraente aos SETEMBRO | OUTUBRO 2020
olhos dos produtores gaúchos e de alcançar a almejada autossuficiência na produção de milho.
Identificando os principais gargalos Sobre os fatores que impactam na decisão do produtor na hora de investir na cultura, o presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS), Ricardo Meneghetti, comenta que estão o custo de implantação da lavoura, o alto risco da cultura e o preço da soja. Meneghetti também ressalta que os efeitos da estiagem continuam sendo sentidos e devem impactar nesta safra. – Como a renda do produtor foi impactada com a estiagem, eles optaram em aumentar a sua área de trigo para ter um capital de giro mais cedo. Acontece que o fim da colheita de trigo ultrapassa o período de plantio do milho, diminuindo as chances de eles investirem na cultura, o que reduz a nossa projeção de aumento de área nesta safra em nível de Estado – adianta Meneghetti. Nesta mesma linha, o agrônomo e gerente regional da Emater/ RS-Ascar de Frederico Westphalen, Luciano Schwerz, explica que a adoção mais efetiva do sistema de plantio direto (SPD) contribuiria para o aumento da área de milho no Estado. – Nesse processo o produtor teria sempre 30% da sua área cultivada com milho, o que só na nossa região praticamente dobraria a área cultivada. No entanto, entram questões comerciais, estrutura de produção, entre outros fatores que não contribuem para esse cenário. Muitos produtores acabam tendo dificuldade com mecanização, outros em decorrência dos preços e custos de produção optam pela soja – explica Schwerz. A valorização do produto, especialmente se comparado com a soja, está entre os principais desafios da cadeia produtiva do milho atualmente, segundo Meneghetti. – A partir do momento que todos os elos da cadeia entenderem que o produtor rural vai investir no milho se ele tiver garantia de venda, as coisas vão começar a andar. Mas estou contente com as iniciativas que estão sendo tomadas no Estado para fomentar a autossuficiência – acrescenta o presidente da Apromilho. 17 | NOVO RURAL
Mudança de status sanitário deve aumentar a demanda de milho Com o reconhecimento do Rio Grande do Sul como área livre de febre aftosa sem vacinação e o certificado internacional da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), previsto para 2021, o setor de proteína animal gaúcho está otimista, especialmente no âmbito das exportações. Isso porque, segundo informações da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), mercados como o da Coréia do Sul, Japão, Chile, Filipinas e Estados Unidos poderão ser abertos aos produtos gaúchos. Além disso, a China, que hoje só importa carne sem osso do Rio Grande do Sul, poderá abrir espaço para carne com osso e miúdos. Com a demanda aquecida das indústrias processadoras de carnes, a tendência é que as produções de bovinos, suínos e aves aumentem no Estado e, com isso, elevação no consumo de rações. Naturalmente, é neste ponto que a autossuficiência na produção do milho se torna ainda mais importante. Segundo o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), o suinocultor Valdecir Folador, as duas maiores cadeias produtivas de carnes do Estado, suínos e aves, demandam um alto volume de milho – os suínos 2,2 milhões de toneladas e as aves 2,9 milhões de toneladas, segundo o IBGE –, sendo que o Estado produz entre 5 a 5,5 milhões de toneladas “considerando uma produção normal”, como ele se refere ao mencionar uma safra sem adversidades climáticas. – Se olharmos pelo contexto da produção normal, teríamos milho suficiente para as duas cadeias [aves e suínos]. Mas, quando consideramos que somos o primeiro Estado a colher a safra de milho no país [janeiro a fevereiro], outros Estados acabam levando essa produção, a exemplo de Santa Catarina e, com isso, no segundo semestre buscamos milho no Centro-Oeste brasileiro para abastecer os rebanhos daqui – destaca. Na fábrica de rações própria do Abatedouro de Frangos Piovesan – matriz em Frederico Westphalen/ RS –, o milho representa 70% da matéria-prima usada na fabricação. Segundo o proprietário Vanderlei
Piovesan, em torno de 70% do milho é comprado no Rio Grande do Sul e 30% no Mato Grosso. Segundo ele, as exportações firmes em função do câmbio fazem com que os preços fiquem mais elevados no mercado brasileiro, o que torna mais difícil a aquisição do milho a preços mais acessíveis, “em agosto chegamos a pagar R$ 55,00/saca, enquanto em 2019 pagávamos neste mesmo período em torno de R$ 40,00 a R$ 45,00”, relata o empresário. A conta encarece ainda mais quando o milho vem de outros Estados por conta do frete, que fica em torno de R$ 10 a R$ 12 a mais por saca. Por mais que a mudança de status signifique abertura de novos mercados, o empresário lembra da necessidade de “equilibrar as contas” com custos de produção acessíveis. – A autossuficiência na produção de milho trará mais retorno econômicos a nossa produção, agregação de valor aos nossos produtos. Teremos mais equilíbrio nas contas, sem contar que o dinheiro circulará em âmbito estadual, entre vários outros benefícios. Eu acho que este ano será propício para a cultura, tanto pelo valor do dólar quanto em relação aos incentivos que estão sendo direcionados aos produtores – projeta Piovesan. O diretor de Política Agrícola e Desenvolvimento Rural da Seapdr e coordenador do Pró-Milho, Ivan Bonetti, destaca que com a redução na produção de milho na última safra e tendo em vista o volume consumido pelo setor de proteína animal, o Estado terá que importar ainda mais comparado aos anos anteriores, impactando na receita estadual. – Devemos importar mais de 2,2 milhões de toneladas de outros estados para suprir a necessidade do setor de proteína animal. De 2019 até maio de 2020, o RS deixou de arrecadar R$ 260 milhões em ICMS por não produzir milho suficiente. Diante desse fato e também da preocupação em não haver o estrangulamento de um setor tão importante, responsável por 10% do PIB estadual, entre outros motivos, foi criado o Programa Pró-Milho, que tem o objetivo de tornar o Rio Grande do Sul autossuficiente em milho, na relação produção/consumo – salienta Bonetti. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Agricultura Desiquilíbrio entre demanda e oferta Consumo de milho no RS
Produção de milho no RS 2018:
4,57 milhões ton.
2019:
Pecuária, farinhas e outros:
1,4 milhão de toneladas
Aves:
2,9 milhões de toneladas
Suínos:
2,2 milhões de toneladas
5,02 milhões ton.
Total:
6,5 milhões de toneladas
2020:
4,2 milhões ton.
Divulgação
Fonte: IBGE e Emater/RS-Ascar
Ações “Pró-Milho”
O que ganhamos com a produção de milho? e raízes que geram diversidade 1º Palha de microrganismos no solo
Em média, uma raiz de milho leva três anos para ser degradada por completo, então daí vem a ideia de fazermos um sistema para ocupar 30% das áreas com a cultura.
Iniciativas como o Programa Estadual de Produção e Qualidade do Milho (Pró-Milho/RS) surgem como um “degrau” para a escalada à autossuficiência. O programa tem como objetivo geral incentivar, fomentar e coordenar ações que aumentem a produção e a qualidade do milho no Estado do Rio Grande do Sul. As ações previstas estão baseadas nos seguintes subprogramas: Subprograma Aumento da Produção em que estão incluídas ações como capacitação de técnicos e produtores e ampliação da área irrigada de milho no RS; Subprograma Qualidade do Milho e Subprograma Comercialização, Crédito e Seguro Rural em que estão incluídas ações de assistência técnica para o manejo eficiente na colheita, no transporte, na secagem e na armazenagem; e o Subprograma Comercialização, Crédito e Seguro Rural, que visa buscar parcerias com agentes financeiros, públicos e privados, bem como os bancos de fábrica para financiamentos de equipamentos de irrigação, secadores e armazéns. 18 | NOVO RURAL
– Este programa entraria com mais força neste ano. No entanto, com a pandemia gerada pelo Covid-19 os planos tiveram que ser reajustados e estamos seguindo no âmbito digital, com eventos técnicos sobre a cultura. O Pró-milho/RS é uma semente que vai dar muitos frutos, mas que precisa de tempo para que o agricultor se conscientize da importância da cultura do milho no sistema de produção dele e como fonte de renda – defende o presidente da Apromilho, Ricardo Meneghetti. Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/ RS), Carlos Joel da Silva, o fortalecimento do programa é essencial. – O milho é uma cultura estratégica, pois a produção animal é dependente do grão. É importante que o governo fortaleça políticas públicas como o Troca-Troca de Sementes e as voltadas para irrigação, não esquecendo da assistência técnica e de recursos para voltados para a agricultura familiar – destacou em nota publicada no mês de agosto.
de compactação do 2º Redução solo, doenças e plantas invasoras
O milho traz aporte de matéria seca com decomposição muito próxima de 10 toneladas por hectare, isso garante alimento para os microrganismos do solo e faz com que haja acúmulo de matéria orgânica, o que é importantíssimo para a melhoria das condições de fertilidade, estrutura física e microbiológica do solo, reduzindo problemas de compactação, fungos de solo, doenças, plantas invasoras resistentes, etc. da lavoura vão 3º Lucros além da safra colhida
O produtor de soja tem ganhos médios de até 5 sacos/ha em decorrência da rotação com a cultura do milho, logo os lucros da lavoura de milho vão além da safra colhida. É importante compreender o sistema de produção para que possamos estar cada vez mais preparados para produzir bem e com segurança, tendo um solo mais estruturado e preparado para adversidades climáticas decorrentes de estiagens, por exemplo. Fonte: Luciano Schwerz, agrônomo e gerente-regional da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen.
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
LAVOURA CONECTADA Por
Antônio Luis Santi
santi@connectfarm.com.br
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciência do Solo/Agricultura de Precisão, coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão do Sul da UFSM-FW e representante do Fórum dos Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa na Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão junto ao Mapa
Apoio técnico:
Momento de rever conceitos sobre a conectividade no campo
19 | NOVO RURAL
Divulgação
U
ma recente pesquisa realizada pela Embrapa, em parceria com Sebrae e Inpe, revela que fatores como valor de investimentos com máquinas, implementos ou aplicativos (67,1%), problemas ou falta de conexão à internet (47,8%), recursos para a contratação de serviços especializados (44% e) e falta de conhecimento sobre as ferramentas mais apropriadas (40,9%) dificultam a modernização rural em nível nacional. No Brasil, conforme o IBGE, 77% dos produtores se enquadram como agricultura familiar, respondendo por 23% do valor da produção. Essas informações deram margem para a startup ConnectFarm lançar um desafio: auxiliar, pelo menos, 5 mil agricultores familiares nessa travessia. A iniciativa da startup – que integra tecnologia com os fatores de produção – foi chamada de Projeto 5K. A ação iniciará no Rio Grande do Sul e deve, em breve, ser replicada no país. A ideia é disponibilizar uma ferramenta que aprimora a gestão das propriedades, aumenta a produtividade e que pode mudar os rumos da agricultura brasileira. Em uma única ferramenta, com custo acessível, serão reunidas as informações necessárias de vários aplicativos para ajudar na tomada de decisões mais complexas e que resultem no incremento da produtividade. “Esse projeto trará um grande impacto social e ambiental. Com mais gestão, há incremento na renda e otimização de todos os recursos. O agricultor familiar vai encontrar recomendações para a melhor semente, orientações para o plantio e, por consequência, usará menos defensivos”, explica o CEO da ConnectFarm, Rodri-
go Dias. “Quem desconhece essas tecnologias vai poder fazer o melhor trabalho possível. Não é só entregar mais, mas ter uma entrega sustentável”, ressalta o executivo. O projeto-piloto da ConnectFarm deve começar pela região Noroeste do Rio Grande do Sul, em áreas de até 80 hectares, alcançando cerca de mil agricultores familiares na primeira etapa. A região, com 166 municípios, é reconhecida pela produção de grãos, com destaque para o milho e a soja. A estimativa é que com a utilização do recurso, o agricultor familiar tenha inicialmente um incremento de produtividade pelo menos 4 sacas de soja/ hectare – a média da oleaginosa neste segmento fica entre 11 e 13 sacas/ha. Para
aderir ao programa, será preciso apresentar o Documento de Aptidão do Pronaf (DAP). Pesquisas indicam que, a cada safra, o produtor toma pelo menos 50 decisões, e apenas uma avaliação errada pode comprometer todo o resultado. “Hoje, ele é bombardeado com muitas informações, mas nem sempre elas são acessíveis ou simplificadas. O que o agricultor familiar gosta é de estar na lavoura, de cuidar da sua terra. E nós reunimos em um local todas as informações que ele necessita”, ressalta Rodrigo Dias. Mais que uma quebra de paradigmas, esta é uma oportunidade para o Brasil avançar na produção de alimentos para o mundo. Com informações da Agência Critério SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Agricultura MERCADO DA SOJA Por
Luiz Fernando Gutierrez Roque luiz.gutierrez@safras.com.br Economista e analista de mercado da consultoria Safras & Mercados
Oferecimento:
Safra 20/21: Produção brasileira deve superar 130 milhões de toneladas
A
nova safra brasileira de soja deverá registar novamente um aumento na área semeada com a oleaginosa no país, o que resulta em um novo potencial recorde para o país. A sinalização dos produtores de aumento é resultado de um quadro positivo em termos de preços e de demanda crescente pela oleaginosa. Com clima favorável, os sojicultores poderão colher mais de 131 milhões de toneladas. Os produtores brasileiros de soja deverão cultivar 37,804 milhões de hectares em 2020/21, a maior área da história, crescendo 1,8% sobre o total semeado no ano passado, de 37,152 milhões. A projeção faz parte do levantamento de intenção de plantio de SAFRAS & Mercado. Com uma possível elevação de produtividade, de 3.379 quilos para 3.501 quilos por hectare, a produção nacional deve ficar acima da obtida nesta temporada. A previsão inicial é
de uma safra de 131,691 milhões de toneladas, 5,4% maior que o recorde de 124,913 milhões obtido neste ano. Mais uma vez, a ótima rentabilidade anotada na cultura surge como o grande fator de incentivo para a elevação da área brasileira. Com um consumo interno crescente e exportações cada vez mais fortes, a oferta de soja na nova temporada deverá alcançar um novo recorde. Apesar disso, nesta nova temporada o aumento da área de soja poderá não ser tão expressivo como em temporadas anteriores. Isso deve ocorrer porque outras culturas também registraram boas rentabilidades em 2020 devido, principalmente, a forte valorização do dólar frente a moeda brasileira. Além disso, a ótima rentabilidade da pecuária brasileira, também com exportações crescentes neste ano, surge como fator limitante para transferências maiores de áreas
de pastagem para lavouras nesta nova temporada. No Sul, as fortes perdas registradas no Rio Grande do Sul na safra 2019/20 naturalmente diminuíram a capitalização dos produtores. Frente a isso, a área gaúcha deverá crescer em um ritmo mais lento, com os produtores atentos também com a possibilidade da chegada de um novo La Niña. No Centro-Oeste e no Sudeste, permanece a tendência de centralização da produção da safra de verão sobre a soja, com os produtores reservando mais áreas ao milho para a safrinha. No Norte e Nordeste, o avanço da área de soja deverá ocorrer principalmente sobre pastagens degradadas e aberturas de novas áreas, com destaque para o Estado do Pará. A consolidação das exportações pelos portos do Arco Norte também surge como incentivo para os produtores da região. Se o clima permitir, o Brasil irá colher uma nova produção recorde de soja na safra 2020/21, consolidando-se, ainda mais, como o maior produtor e exportador mundial da oleaginosa.
INTENÇÃO DE PLANTIO DE SOJA - BRASIL - SAFRA 2020/21 - Área em mil ha, Produção em mil t e Rendimento em kg/ha 2020/21 (**)
2019/20 (*)
A/B %
C/D %
Área Plantada (A)
Área Colhida
Produção (C)
R.M.
Área Plantada (B)
Área Produção Colhida (D)
R.M.
SUL
0,6
16,2
12.355
12.293
43.133
3.509
12.280
12.219
37.132
3.039
Paraná
0,7
-0,9
5.600
5.572
20.728
3.720
5.560
5.532
20.912
3.780
Rio Grande do Sul
0,3
41,5
6.000
5.970
19.701
3.300
5.980
5.950
13.923
2.340
Santa Catarina
2,0
17,7
755
751
2.704
3.600
740
736
2.297
3.120
CENTRO-OESTE
2,0
-0,9
16.985
16.900
59.637
3.529
16.650
16.567
60.157
3.631
SUDESTE
2,7
-0,6
2.825
2.811
10.223
3.637
2.750
2.736
10.280
3.757
NORDESTE
2,0
7,8
3.490
3.473
11.659
3.357
3.420
3.403
10.814
3.178
NORTE
4,7
7,8
2.149
2.138
7.038
3.292
2.052
2.042
6.530
3.198
BRASIL
1,8
5,4
37.804
37.615
131.691
3.501
37.152
36.966
124.913
3.379
Estados/Regiões
(*) Projeção, SAFRAS. (**) Previsão, SAFRAS. Sujeitas a revisão. Fonte: SAFRAS e Mercado. Baseado em pesquisa com produtores, cooperativas e indústrias do complexo soja. Julho/20
20 | NOVO RURAL
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SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Gracieli Verde/Arquivo Novo Rural
Soja: o que considerar sobre o plantio antecipado? Pesquisadores da Embrapa esclarecem dúvidas e defendem boas práticas na semeadura
E
m nível nacional, há muitas discussões agronômicas sobre a estratégia de antecipar o plantio da soja. No Sul do Brasil, estudos conduzidos em parceria com a Embrapa mostraram que antecipar a semeadura do mês de novembro para o mês de outubro e, por vezes, até setembro, é possível, principalmente pela oferta de cultivares com ciclo mais curto no mercado. Com base nos resultados do Projeto Sucessão Trigo-Soja, divulgados em 2016, o pesquisador Mércio Strieder relatou que em regiões mais frias do Rio Grande do Sul, por exemplo, a prática alcançou ganhos de 20% na produtividade, “embora tivesse tido a necessidade de abdicar da cultura de inverno também nessas áreas”, ressalta. Já em regiões mais quentes do Estado gaúcho, houve registro de perdas na produtividade de 18% e, ainda, dificultou o “encaixe” das culturas de inverno. Sobre o assunto, o pesquisador José Salvador Simoneti Foloni, da Embrapa Soja (Londrina/PR), esclarece que em várias regiões do Sul do país há uma elevada probabilidade de ocorrer veranicos entre janeiro e fevereiro.
21 | NOVO RURAL
Agronomicamente, esse fenômeno se refere aos períodos de vários dias consecutivos em que ocorrerem, de maneira associada, a ausência de chuva e as altas temperaturas, a chamada estiagem, que prejudica o rendimento da soja na estação de primavera-verão. Tendo em vista esse cenário, em algumas áreas é adotada a tática de antecipar a semeadura da oleaginosa, fazendo-a entre meados de setembro e outubro. – Para isso, são utilizadas cultivares de ciclo relativamente mais precoce que finalizarão a maturação dos grãos com menos de 120 dias, para que se consolide uma estratégia de escape dos veranicos. No entanto, a decisão por antecipar ou não a semeadura da soja deve ser feita considerando uma série de fatores que influenciam na produtividade da cultura, como as variáveis climáticas locais, reserva hídrica do solo, manejo fitossanitário, cultivares adaptadas, chuva na colheita, entre outros – alerta o pesquisador. Com embasamento teórico, ele esclarece que na região Sul o clima como um todo é classificado como subtro-
pical sem estação seca definida, com subdivisões denominadas como Cfa (verão quente) e Cfb (verão ameno). – Neste caso, considerando que o inverno é relativamente chuvoso nas regiões Cfa e Cfb, em setembro seria possível fazer a semeadura antecipada da soja em grande parte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, tendo como critério somente a disponibilidade hídrica. Porém, até meados de setembro há predomínio de temperaturas relativamente baixas que, em muitos casos, são restritivas ou limitantes ao desenvolvimento da soja – explica, destacando a necessidade de levar em consideração os fatores que podem afetar a produtividade da cultura. Por mais que as discussões sejam diversas sobre essa prática, em uma questão os estudos são unânimes e precisos: é fundamental prezar pelas boas práticas de semeadura. Considerar o tipo de clima, a estrutura do solo, optar por sementes com alto potencial de germinação e vigor estão entre os fatores que o produtor deve se atentar antes de tomar a decisão que vai definir o rumo da sua lavoura nesta safra. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Agricultura Rafaela Rodrigues/Arquivo Novo Rural
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ano iniciou com boas perspectivas para a cultura do trigo no mercado interno em função da demanda aquecida, e também no externo, por conta da redução na oferta da Argentina, considerado o maior exportador do cereal – o que pode favorecer o interesse dos moinhos no produto brasileiro. No entanto, o episódio de geada ocorrido na segunda quinzena de agosto no Sul do Brasil mudou as perspectivas para a cultura em relação a produção. – Os produtores que estavam buscando uma retomada de renda por conta das perdas que tiveram na safra de verão [com a estiagem] vão ter agora reflexo em sua receita por conta da geada. Mesmo que precipitada, outra questão muito importante é a colheita. Os produtores deverão cuidar para não misturar os grãos afetados com os menos afetados, eles devem priorizar a qualidade, porque esses grãos serão valorizados no mercado – alerta o coordenador da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e presidente do Sindicato Rural de Palmeira das Missões/RS, Hamilton Jardim.
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ntender como é realizado o monitoramento das chamadas "nuvens" de gafanhotos e os possíveis riscos para setor agropecuário gaúcho neste ano foi o objetivo da Novo Rural ao entrevistar o entomologista Jerson Carús Guedes, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador do Laboratório de Manejo de Pragas da UFSM, que auxilia no monitoramento desse fenômeno no Rio Grande do Sul. Por incrível que pareça, este é comum no Sul da Bolívia, no Norte do Paraguai e no Noroeste da Argentina. No Brasil, foram registradas ocorrências com maiores proporções em 1946 e 1947, segundo o pesquisador.
Quer saber mais sobre esse assunto? Acesse a entrevista com o entomologista na íntegra através deste código:
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
A origem do alimento que gera confiança na prateleira
E
m 2019, o agricultor goiano Celiano Alves investiu no Origem Garantida com o objetivo de alcançar novos mercados e de estreitar o relacionamento com os seus clientes, que na época já manifestavam interesse em conhecer a origem dos produtos cultivados e comercializados por ele e a família. Em uma área de 1,8 hectares, localizada na área
rural de Goiânia/GO, eles produzem diversos tipos de hortaliças, entre elas alface, couve, espinafre, manjericão, hortelã, rúcula e cheiro-verde. Tudo produzido em sistema hidropônico. Celiano está conectado com as tendências de mercado e a rastreabilidade tem auxiliado para prosperar nos negócios.
Transparência em destaque nos negócios
Está sendo uma boa experiência, o manuseio da ferramenta é fácil e tem gerado bons resultados no alcance de novos negócios.
A
pedidos dos clientes e por entender que a rastreabilidade é uma forma de estabelecer uma relação segura e confiável com seus consumidores, o produtor de hortaliças Raurício Ferreira do Nascimento também investiu no Origem Garantida. Em Brazlândia/DF, em uma área de 5 hectares, ele produz através do cultivo em solo brócolis, almeirão, alface, alecrim, entre outras variedades de hortaliças. Com a perspectiva de ampliação dos negócios, o Raurício investiu na transparência do seu processo produtivo e está comprometido com a saúde e bem-estar dos seus clientes.
Entre em contato:
Gracieli Verde/Arquivo Novo Rural
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Laranja: uma safra menor para os gaúchos
O
s impactos da estiagem sobre a safra gaúcha de laranja resultarão em queda de produção nesta temporada. Nos Coredes Rio da Várzea e Médio Alto Uruguai, as variedades precoces registraram quebras significativas na produção. Alguns técnicos da Emater/RS-Ascar contatados pela reportagem da Novo Rural explicam que a falta de chuva ocorreu em um período crucial para o desenvolvimento das frutas, comprometendo a qualidade, especialmente no que refere ao tamanho e ao peso tanto para o consumo in natura quanto para a indústria. Os impactos devem ser menores nas variedades tardias, como
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O investimento vale a pena. Eu acredito que garantir a origem e a qualidade dos produtos é uma forma de deixar os meus clientes mais seguros quanto aos produtos que adquirem e consomem.
a valência, que segue em colheita na região. Por isso, as projeções apontam para uma safra com produção menor em 2020. Mesmo assim, há boas perspectivas para a comercialização, tendo em vista a perspectiva de aumento no preço pago pelo quilo da fruta no início de setembro. No âmbito da exportação, novidades devem fomentar a atividade no Norte gaúcho. Em relação a geada na segunda quinzena de agosto, a preocupação se concentra para a próxima safra, tendo em vista que a maioria dos pomares do Norte gaúcho estavam em fase inicial de brotação/floração quando ocorreu o fenômeno.
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SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Parceiros do leite
No interior de Chapada/RS, os Gutheil têm muito a ensinar. Referência em gestão da propriedade rural, eles também são destaque na pecuária de leite do município
O
céu estava nublado. Havia chovido nas últimas 24 horas anteriores à visita. Na Linha Vila Rica, interior de Chapada/RS, barro e umidade. Mas se engana quem acha que o cenário dessa pauta foi todo cinza. Ao contrário, além das flores cultivadas pela família Gutheil, o entusiasmo do seu Anselmo, 80 anos, coloriu uma das quintas-feiras de agosto. Em função dos cuidados exigidos pela pandemia, a reportagem seguiu todos os protocolos para assegurar a saúde e o bem-estar dos entrevistados. Ao ar livre, no quintal da casa, iniciou-se a conversa sobre como aquela propriedade de 14 hectares já era referência em gestão, especialmente na pecuária de leite. Distância recomendada, nada de cumprimentos, uso de máscaras, mas muitas revelações que comprovam a importância do aprendizados entre as três gerações dos Gutheil ali presentes.
A maior herança da família Gutheil O seu Anselmo herdou a propriedade do pai Hugo João Gutheil e da mãe Elsa, ambos em memória. Mais do que hectares, herdou uma premissa considerada crucial: “valorizar o pouco que se tem”, como ele mesmo fala, ao recordar do seu Hugo. Este é conside24 | NOVO RURAL
Rafaela Rodrigues
Gestão: o diferencial da família Gutheil
Na foto [da esquerda para a direita] a Simone, a dona Maria, o seu Anselmo, o jovem Eduardo e o André
rado um dos maiores patrimônios da família para galgar novas conquistas. Quando sucedeu a propriedade, o município pertencia a Sarandi/RS, depois a Palmeira das Missões/RS e, por fim, Chapada/RS foi emancipada em 1959. Inicialmente, eles trabalhavam com o cultivo de grãos – soja e milho – e com a suinocultura. Naquela época o trabalho de semeadura das lavouras não contava com maquinários e nem produtos como os disponíveis no mercado atual. – Naquele tempo fazíamos a semeadura manual. Já plantei uma lavoura de 12 hectares dessa forma. A ureia, por exemplo, era aplicada a lanço. Sem contar que as coisas eram mais em conta – relembra seu Gutheil, ressaltando que em meados dos anos 1990 ele foi campeão em um concurso de produtividade de milho no município, em que foram colhidas mais de 100 sacas/hectare, demonstrando pioneirismo e empenho já naquela época. Atualmente, a principal atividade da propriedade é a pecuária de leite, com sistema de produção a pasto – como a maior parte das propriedades familiares gaúchas. As lavouras de milho e soja são cultivadas para minimizar os custos com as dietas dos animais, o que faz toda a diferença no caixa compartilhado da família. Casado há 54 anos com a dona Maria, 71 anos, o seu Anselmo é uma figura singular na agropecuária de Chapada/RS. Por lá, ele “valoriza o que tem” através
da contabilidade agrícola exemplar. Tudo sempre monitorado na ponta do lápis, premissa que ele passou para o filho caçula, André, 48 anos, que sucedeu a propriedade, e agora para neto Eduardo, 14 anos, que demonstra interesse em continuar na atividade.
Maximizando a eficiência econômica Para a equipe do Escritório da Emater/RS-Ascar local, a família Gutheil é referência quando o assunto é gestão da propriedade rural. Há quatro anos eles são assessorados pela instituição nesse quesito. Para o extensionista rural Erivelton Kreisig, um dos motivos que promovem a permanência do jovem no campo é a viabilidade de renda e, nesse caso, uma boa gestão é mais que um diferencial dentro da propriedade. Na família Gutheil, além de uma contabilidade exemplar, eles compartilham de um ambiente organizado e com perspectiva de ampliação dos negócios. – A família Gutheil tem o menor custo de produção por litro de leite no município, menos de R$ 1,00. Os motivos envolvem questões culturais, o entrosamento da família para as tomadas de decisão, trabalham a soberania alimentar, otimizam o uso da terra maximizando os fatores de produção e, ainda, participam de uma associação para compartilhar o uso de maquinários, o que diminui os SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Parceiros do leite DE PAI PARA FILHO, DE FILHO PARA NETO Ainda muito ativo nas tomadas de decisão, seu Anselmo se orgulha ao falar sobre o interesse do neto, Eduardo, em dar seguimento à atividade. – Eu incentivo o Eduardo. Admiro o jeito que ele tem com os animais. Ele tira o leite do jeito que eu tirava. Eu sempre anotei tudo, desde a quantidade de animais, dietas, insumos e agora esse compromisso ficou para ele – comenta. O comprometimento do jovem com a atividade também é apreciado pelo pai, André, e pela mãe, Simone, 42 anos. A filha mais ve-
Rafaela Rodrigues
custos significativamente – explica Kreisig, salientando que esse “assessoramento contábil” do plano de gestão não invade o âmbito privado da família, apenas orienta com base nas avaliações realizadas visando diminuir os custos e garantir a eficiência econômica das atividades. Os índices de qualidade do leite também são levados à risca pelos Gutheil. Recentemente adotaram o uso de produtos homeopáticos, com o assessoramento da Emater/RS-Ascar. – Uma boa gestão também significa as famílias produzirem um leite de qualidade, de uma forma mais ‘limpa’ – explica a extensionista rural Odete Fink, que assessora a família no uso da homeopatia animal.
Família Gutheil junto dos extensionista rurais da Emater/RS-Ascar, Erivelton Kreisig [esquerda] e Odete Finck [a direita]
lha do casal também é motivo de orgulho, atualmente Bárbara, 20 anos, estuda Agronegócio e nos fins de semana ajuda na lida da propriedade. Com a responsabilidade das anotações, o Eduardo soube listar prontamente os números da produção. A autonomia dada para ele exercer tal função é mérito do interesse e da responsabilidade que demonstra mesmo tão jovem. A experiência de trabalhar com o avô e os pais têm influenciado também em sua decisão de permanecer. – Atualmente estamos renovando o rebanho e contamos com criação própria de novilhas. No momento são 10 vacas em lactação. Em julho, tivemos uma média de 6 mil litros/mês. Em 2019, foram 100 mil litros/ano produzidos. Além de anotar tudo, eu ajudo no trato dos animais, a ordenhar as vacas, no manejo das lavouras e do pasto – detalhou o jovem. E mais, ele põe a “mão na massa” quando o assunto é organização dos arredores da propriedade, inclusive, semeou um canteiro de chás, reaproveitando pneus para acomodar as plantas. A família Gutheil esbanja história, organização e capricho.
Parceiros do leite Assistência técnica: ajustes necessários para produzir com eficiência
D Por
Maicon Silvestrin
maicon_silvestrin@yahoo.com.br Médico-veterinário, especialista em nutrição e reprodução em bovinos leiteiros. Integra a equipe técnica de campo da Laticínios Stefanello.
A assistência técnica assume papel vital para proporcionar aumento da produção e da produtividade, o que possibilita o crescimento da renda do produtor.
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iante da pandemia, todos os setores da economia precisam encontrar formas para se reinventar. Na pecuária leiteira não é diferente. Nesse cenário, temos visto que a produção de leite no país ainda precisa evoluir mais em direção a melhores índices de produtividade, uma vez que assim se favorecerá também a ampliação de renda dos produtores. Nesse sentido, muitos são os fatores que podem ser apontados como limitantes ao crescimento dos índices de produtividade e eficiência da produção de leite. Certamente, um deles está relacionado à dificuldade em aprimorar o manejo do rebanho do ponto de vista técnico e sanitário. Nesse ponto, é fundamental difundir a importância da assistência técnica especializada como alternativa para a busca de melhores resultados. Estudos apontam que em países como Argentina, Estados Unidos e Nova Zelândia essa discussão já evoluiu para uma adoção rotineira de tecnologias consorciadas com a assistência técnica. Toda propriedade tem um profissional que acompanha as decisões relacionadas à pecuária de leite. No Brasil, muitos produtores ainda entendem que contratar um especialista irá onerá-los mais do que seriam capazes de suportar. Esse pensamento é equivocado, uma vez que o que interessa não é o valor gasto, mas o retorno financeiro proporcionado que, certamente, vai superar o investimento. A assistência técnica assume papel vital para proporcionar aumento da produção e da produtividade, o que possibilita o crescimento da renda do produtor. Existe forte relação entre intensidade de assistência técnica e renda na atividade leiteira, ou seja, em média, a renda bruta de produtores que receberam, em um ano, quatro vi-
sitas ou mais de técnicos é cerca de 16 vezes maior do que a média daqueles que não receberam assistência técnica. Mas afinal, o que é uma assistência técnica especializada? Entendemos este aspecto como uma prestação de serviços realizada por profissionais qualificados da área, que oferecem soluções para as dificuldades que o produtor enfrenta. É importante ressaltar que para atingir as metas ela não deve ser entendida como uma obrigação, mas sim como um serviço desejado, esperado e que poderá gerar resultados. Além disso, para se ter sucesso é preciso que a propriedade ofereça condições de trabalho e que se tenha o interesse do produtor. É o mesmo cenário de quando uma empresa urbana contrata um consultor para fazer ajustes, seja na gestão financeira, de pessoas e de processos. É preciso “abrir as portas” para o novo e, com isso, ver onde está a fuga de recursos que, por vezes, sozinhos não conseguimos perceber e direcioná-los para o que realmente é crucial para cada realidade, cada propriedade. Na pecuária de leite, uma assistência técnica especializada busca desenvolver o controle reprodutivo, tendo como meta atingir um espaço menor possível de tempo entre um parto e outro, conseguindo uma melhora de média de produção por animal e, com isso, uma lucratividade maior. Além disso, é feito o manejo sanitário, trabalhado com a nutrição, gerenciamento, planejamento da propriedade e, nessa lógica, como consequência, tem-se a qualidade do leite. Sabe-se que a produção de leite é uma atividade agropecuária complexa, com grande importância econômica e social em diversas regiões do país e de grande impacto no desenvolvimento regional. Por isso, é preciso ter qualidade nos serviços prestados, pois só assim se obtém resultados satisfatórios visando o aumento da renda familiar e o desenvolvimento de eficientes sistemas de produção.
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Pecuária Gracieli Verde
Aviários representam uma “indústria de proteína animal”, com tecnologia agregada em todos os processos
Automatização e tecnologia marcam expansão da produção de frango Por
Gracieli Verde jornalismo@novorural.com
A
expansão da avicultura de corte na região do Médio Alto Uruguai gaúcho tem permitido que famílias retomem com viabilidade projetos sonhados há algum tempo. A família Zik, de Alpestre/RS, estava há seis anos residindo na Serra gaúcha. Seu Aléssio, 71 anos, e a dona Orlanda, 64, moravam em Farroupilha; e o filho Ernanes, 33 anos, e a nora Marisa, 27, em Flores da Cunha. Agora todos eles estão de volta a Alpestre – e o casal mais jovem têm também a companhia dos pequenos Everton, 4 anos, e Ketlyn, que neste mês de setembro completa 9 meses de idade. Esse retorno à terra-natal tem a viabilidade econômica construída em um investimento de cerca de R$ 2 milhões, em dois aviários de 165x18m, que no total têm capacidade para engordar até 120 mil aves por lote. Com a proximidade de várias plantas frigoríficas que abatem frangos, investimentos como esse são recorrentes. 27 | NOVO RURAL
É claro que a experiência adquirida na atividade também somou para tomar a decisão, já que o casal já sabia da vocação em trabalhar com o manejo de aves. – Trabalhamos há seis anos na avicultura de postura como funcionários de uma granja. Então, quando vimos que era possível trabalhar com aves aqui em Alpestre, foi uma oportunidade – comenta Ernanes. Quando da coleta deste conteúdo, as obras ainda estavam em andamento, em especial na parte de acabamentos, encanamentos e instalação dos equipamentos. Com alto nível de automatização, as estruturas primam pela produção de frangos com alta conversão alimentar, conforto térmico e bem-estar animal. Representa, na prática, a transformação de uma propriedade de cerca de 20 hectares, que antes estava improdutiva, em uma “indústria de proteína animal”, com tecnologia agregada em todos os processos. Demandas que o mercado atual exige dos avicultores atualmente. Ernanes e Marisa classificam este momento como um recomeço na vida da família, já
Gracieli Verde
Prestes a alojar o primeiro lote de pintainhos no interior de Alpestre/RS, família Zik viabiliza retorno para a região graças à avicultura
Casal Ernanes e Marisa em uma das estruturas da propriedade
que era um desejo grande dos pais em retornarem para a região. Casados há 10 anos, o jovem casal se mostra otimista. Por mais que a obra teve um atraso de cerca de dois meses, em função de algumas dificuldades em relação ao acesso a materiais – por causa da pandemia do novo coronavírus –, a expectativa que é neste mês de setembro os aviários já tenham alojados os pintainhos do primeiro lote. É o começo de uma nova atividade econômica para a propriedade dos Zik, mas que também representa um novo momento no que diz respeito à convivência da família, que poderá manter os netos próximos dos avós, com uma rotina voltada para a busca por mais qualidade de vida.
Região no “mapa das oportunidades”
A família Zik contou com o apoio do Santander para o financiamento do valor que viabilizou a construção da estrutura. Segundo o superintendente-executivo de Agronegócio do Santander Brasil, Paulo Bertolane, a região é estratégica para este tipo de investimento. – Em nosso “mapeamento das oportunidades” a região Norte gaúcha tem um grande potencial para a expansão da avicultura. Inclusive, apoiamos o desenvolvimento deste setor tão promissor através de projetos a longo prazo por se tratar de um alto investimento, considerando a necessidade e o objetivo de cada produtor – salienta Bertolane. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Rafaela Rodrigues
Pecuária
Na foto, o seu Orestes, de 88 anos, junto dos filhos Sidemar [a esquerda] e Odacir [a direita], da nora Maria Cleci e dos netos Pedro, Salatiel, Gabriel e Felipe
Solidez dos negócios alicerçada na força familiar Por
Em Pinhal/RS, o sucesso dos irmãos Zanetti na bovinocultura de leite e na suinocultura está fundamentado no bom relacionamento estabelecido entre os familiares e na seriedade nas decisões 28 | NOVO RURAL
Rafaela Rodrigues jornalismo@novorural.com
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sucesso nos negócios agropecuários não depende somente de cálculos, estudos e conhecimento técnico na atividade. Quando as propriedades ou empresas são familiares, o bom relacionamento entre todos os integrantes é fundamental para a harmonia e assertividade na tomada de decisão. É esse conjunto que tem permitido a família Zanetti prosperar e se tornar referência na pecuária no município de Pinhal/RS. Os irmãos Odacir, 57 anos, e Sidemar, 51 anos, gerenciam a propriedade de 85 hectares junto às esposas e os filhos e tam-
bém com a sabedoria do pai, o seu Orestes, de 88 anos. Referência na bovinocultura de leite, eles também investiram, há cerca de 15 anos, na suinocultura. A possibilidade de administrar em conjunto as duas atividades têm viabilizado cada vez mais investimentos nessas áreas no município, gerando mais renda e qualidade de vida às famílias rurais e, ainda, incentivando a permanência do jovem no campo. De acordo com os irmãos Odacir e Sidemar, as melhorias realizadas no local são motivadas, inclusive, pelo interesse dos “jovens” da família em seguirem nas SETEMBRO | OUTUBRO 2020
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Pecuaristas investem cada vez mais na suinocultura
O que mais nos motiva a seguir investindo é o interesse dos nossos filhos ficarem na propriedade.
Com cerca de 2,6 mil habitantes, segundo o IBGE, o município de Pinhal/RS, assim como a maioria da região Norte gaúcha, tem a economia alicerçada no setor agropecuário. O destaque se concentra na suinocultura, que representa mais de 70% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de acordo com o poder público municipal. A atividade vem de um movimento crescente no município, o retorno econômico é considerável e a viabilidade de incorporá-la junto a bovinocultura de leite na propriedade são fatores que contribuem para a elevação dos investimentos no setor por parte dos produtores. O interesse em investir na suinocultura também é apontada pelos jovens, especialmente quando é possível administrá-la junto a outra atividade agropecuária. O engenheiro-agrônomo e extensionista rural Sylvio Trentin, do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Pinhal, ressalta que a suinocultura desempenha um papel importante no que diz respeito a geração de renda às famílias rurais, a qualidade de vida e a sucessão rural. – A suinocultura gera um capital considerável e viabiliza que os jovens permaneçam na propriedade, seguindo na atividade e também analisando o investimento em novas áreas do setor agropecuário, agregando em renda – destaca o extensionista rural. Segundo ele, a Emater/RS-Ascar apoia o crescimento da atividade através do auxílio em projetos de crédito e ambiental, gestão dos dejetos e demais manejos fundamentais para o êxito dos pecuaristas na atividade. Rafaela Rodrigues
atividades. São pelo menos quatro jovens auxiliando nas atividades da propriedade, Felipe, 19 anos, e Gabriel, 14 anos, filhos do Odacir; e Salatiel, 19 anos, e Pedro, 9 anos, filhos do Sidemar. Mão de obra é o que não falta, ainda mais que as esposas Maria Cleci, 56 anos, e Tânia, 47 anos, respectivamente, também ajudam nas tarefas diárias. A rotina é agitada para a família Zanetti. Na pecuária de leite são 45 vacas em lactação. Já na suinocultura são duas pocilgas que alojam em média mil suínos cada por lote para terminação. Sem contar as demais ocupações, como a criação de galinhas, ovelhas, os cultivos extras, como hortaliças, estes para consumo rotineiro da família. – Fico feliz em trabalhar junto da minha família, de estarmos progredindo cada vez mais, apesar dos desafios serem grandes. O que mais nos motiva a seguir investindo é o interesse dos nossos filhos ficarem na propriedade – conta seu Odacir, que também já atuou como presidente da Associação dos Suinocultores de Pinhal. O filho Felipe, que atualmente estuda Zootecnia na UFSM-Palmeira das Missões, conta que sempre teve o apoio do pai e dos tios para adquirir conhecimento e aplicá-lo na rotina da propriedade, um dos motivos que o faz querer suceder os negócios da família. – Eu cresci rodeado de bons exemplos. Tenho uma convivência boa com a minha família, eles sempre me ajudam com o que eu preciso e isso também me motiva a ficar em casa. Eles também pedem as nossas opiniões [se referindo ao irmão e aos primos] e isso também é motivador – declara o jovem. Em tom de orgulho, Sidemar ressalta que o fato dos filhos e dos sobrinhos terem interesse em permanecer na propriedade é gratificante, mostra que o trabalho realizado até hoje na propriedade tem sido eficiente e referência para os mais novos. – Sem conhecimento e tecnologia não somos nada, então a gente apoia eles irem estudar, procurar cada vez mais conhecimento e trazer para a propriedade – relata.
Os extensionistas Marivone Sartoretto [a esquerda] e Sylvio Trentin [a direita], da Emater/RS-Ascar, acompanham o progresso da família Zanetti no município SETEMBRO | OUTUBRO 2020
www.emater.tche.br Emater RS
@ematerrs /EmaterRS
Emater/RS-Ascar em prol da segurança e soberania alimentar
P
romover a segurança e soberania alimentar é um dos compromissos que a Emater/RS-Ascar tem com as milhares de famílias de agricultores que vivem no meio rural em todo o RS. Para fortalecer ainda mais esse pensamento, na região Norte do Estado, que abrange 42 municípios, a Emater/RS-Ascar, parceira da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), há cinco anos, desenvolve a Campanha Regional Produza seu alimento e colha saúde, que já beneficiou centenas de famílias rurais e urbanas, escolas e entidades da região. A iniciativa tem a intenção de disseminar o debate sobre a produção saudável e sustentável de alimentos, valorizando a produção local, a melhoria da alimentação e da saúde, a comercialização de produtos, a maior geração de renda para as famílias, potencializar programas de incentivo como o Programa Nacional da Alimentação Escolar (Pnae) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), resgate da biodiversidade, entre outros objetivos. A campanha tem alcançado significativos resultados na região durante os cinco anos de realização. O foco deste projeto, durante todos os anos, é incrementar a produção de hortas e pomares. – Junto ao resultado do cultivo vem a parte do consumo adequado, identificando a necessidade de melhoria nos
hábitos alimentares. É preciso haver a reconexão do urbano com o rural. Portanto, a campanha intensifica o plantio e promove a educação alimentar – salientou a extensionista rural da Emater/ RS-Ascar, Dulcenéia Haas Wommer, responsável pela coordenação desse projeto. Para dar continuidade a essas importantes ações, a campanha seguirá sendo realizada em 2021, com novos focos e destaques. – Queremos continuar fortalecendo a visão da produção de subsistência, estimulando a melhoria dos hábitos de produção, de consumo e de compra. Isso está relacionado com a saúde e com a renda para as famílias – afirmou Dulcenéia. Pela representatividade e pelos excelentes resultados obtidos na região, a campanha foi um dos trabalhos apresentados na III AgUrb (Agriculture and Food in a Urbanizing Society), em 2018, ganhando destaque internacional.
CAMPANHA DESPERTA O PENSAMENTO COLETIVO Em Liberato Salzano/RS, esse trabalho foi além. Incentivadas pela Emater/ RS-Ascar, agricultoras familiares iniciaram, em 2017, o grupo Guardiãs do Futuro, criado com o objetivo de resgatar sementes, mudas frutíferas e nativas, para garantir a saúde da população, o cuidado com o meio ambiente e a qua-
lidade de vida das famílias. – Iniciamos o grupo com 15 participantes, hoje estamos em 45 pessoas. Além das trocas de experiências entre nós, temos a intenção de um moinho para fabricação de farinha e canjica, além de um descascador de arroz, isso tudo pensando na qualidade da saúde das famílias, agregando renda e incentivando os jovens a permanecer no meio rural – contou a agricultora Rosane Cover, presidente do grupo Guardiãs do Futuro. – Através deste projeto, organizamos uma banca de mudas e sementes crioulas na Emater. Da mesma forma, intensificamos os pedidos de mudas e sementes crioulas de alimentos que não possuem disponibilidade no município, como mudas de árvores frutíferas, batata, batata-doce, mandioca, alho, cana-de-açúcar, morango, arroz, feijão, milho, amendoim e também a aquisição de aves caipiras – explicou a extensionista rural da Emater/RS-Ascar de Liberato Salzano, Luciene Duso. A discussão acerca da segurança e soberania alimentar das famílias é um tema mundial. No mês de outubro, no dia 16, é celebrado o Dia Mundial da Alimentação. Esse debate vem ao encontro das ações que a Emater/RS-Ascar realiza em todo o Estado e afirma a relação entre garantia da segurança alimentar e nutricional e sustentabilidade na produção de alimentos e qualidade no seu consumo. Rafaela Rodrigues/Arquivo Novo Rural
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Tecnologia AGRO 4.0 Por
Guilherme Almeida Busanello guilherme@dronagro.com.br
Engenheiro-agrônomo, especialista em agronegócios pela Esalq/USP, CEO da Dronagro, apaixonado por inovação e tecnologia no agronegócio
O agro 4.0 e a relação com os profissionais do campo
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lá, amigos da Revista Novo Rural! É com grande alegria que inicio minha trajetória como colunista da Novo Rural. Neste espaço, vamos falar sobre inovação na agricultura e pecuária e também sobre as novidades que auxiliam todos os profissionais do campo, produtores rurais e técnicos, na rotina de trabalho e na gestão dos recursos aplicados e investidos em seu empreendimento. Hoje o termo agricultura 4.0 é amplamente utilizado por diversos meios de comunicação e também pelos profissionais do agronegócio. Mas afinal, o que é agricultura 4.0? Agricultura 4.0 ou agricultura digital é a um conjunto de tecnologias digitais integradas e conectadas por meio de softwares, sistemas e equipamentos capazes de otimizar a produção agrícola e pecuária em todas as suas etapas. De uma maneira mais simples e direta, a agricultura digital transforma os dados, que são números soltos e dispersos, em informações e diagnósticos interpretados e precisos sobre sua lavoura, que geram soluções de fácil aplicação direta no
O grande objetivo da agricultura digital é tornar atividades essenciais do processo produtivo mais rápidas e mais assertivas.
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campo! Isso é possível graças a união de diversas tecnologias e seu uso em conjunto, como a agricultura de precisão, máquinas inteligentes, drones e satélites, machine learning, internet das coisas (IoT), entre outros. O grande objetivo da agricultura digital é tornar atividades essenciais do processo produtivo mais rápidas e mais assertivas, aumentando a eficiência de todas as práticas no campo, gerando economia de insumos, aumentando a rentabilidade e a produtividade das culturas agrícolas e da produção pecuária. Com poucos cliques ou toques na tela de um smartphone você tem dados relacionados a sua produção disponíveis durante todo o ciclo produtivo, podendo tomar decisões com mais assertividade e tranquilidade. O que é mais fascinante em todo esse processo é a democratização da tecnologia, visto que essas soluções podem ser aplicadas em pequenas ou grandes propriedades, adaptando-se a diversas realidades e diferentes perfis de profissionais que atuam na produção de alimentos. A agricultura é uma ciência em cons-
tante evolução e, por vezes, acompanhar essa evolução e as novas possibilidades que estão disponíveis ao produtor rural é uma tarefa que parece difícil no início, mas com entendimento e acompanhamento técnico de qualidade, e principalmente, presente em momentos chave desse processo, essa tarefa torna-se mais simples e com o tempo, passa a fazer parte essencial do processo de produção. Além disso, as novas gerações de profissionais do campo estão cada vez mais atuantes e familiarizadas com as novas soluções, e são capazes de aplicar todo esse conhecimento na sua propriedade ou em sua carteira de clientes. As novas ferramentas vêm para auxiliar os profissionais do campo em sua rotina de trabalho, mas não substituem e desvalorizam o conhecimento, a vivência e o know-how de quem vivencia o agronegócio todos os dias. Estratégias só são eficientes quando aliam a tecnologia e o conhecimento técnico de todos os envolvidos no processo produtivo, e é com essa união que vamos tornar nosso agro 4.0 cada vez mais forte e mais eficiente em nosso país! SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Juventude Rural
Produzindo mais que alimentos Em Tenente Portela/RS, a produção de alimentos inspira jovens rurais, como Christina Chiele e Deise Machado de Souza, a projetarem o futuro com base no amor que cultivam pelo campo Rafaela Rodrigues
filhos nesse sentido. Eles sabem que a liberdade de escolha para os jovens é essencial e pesa na decisão deles de permanecer ou não no campo. No caso da Christina, essa autonomia só a motiva a escolher um curso em que possa ser aproveitado no negócio da família ou, ainda, em novas atividades agropecuárias. – Me sinto muito apoiada pelos meus pais, tanto para estudar quanto para permanecer na propriedade. Aqui eu tenho liberdade, o que faz eu ter cada vez mais admiração pela vida no interior – salienta Christina.
zinhos – um costume antigo que ainda é mantido na localidade onde moram. Quando questionada sobre os motivos que despertam o seu interesse em permanecer no campo, a jovem de pronto responde: o amor pelos animais e pela terra. – Eu amo os animais, poder mexer na terra, plantar e colher os nossos alimentos. Construir a estufa sempre foi planejado por nós e o recurso foi propício para a materialização deste projeto – ressalta Deise.
Autonomia para pôr em prática as aspirações
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contato com a terra e em cultivar o próprio alimento despertam nas jovens Christina Chiele, 16 anos, e na Deise Machado de Souza, 18, ainda mais admiração pela vida no campo e o interesse em permanecer no meio rural. E não é só isso que elas têm em comum. Ambas moram no interior de Tenente Portela/RS, estudam no ensino médio e em 2019 foram beneficiadas com o Programa Bolsa Juventude Rural, cujos recursos foram aplicados na produção de alimentos. Com a produção de alimentos orgânicos certificada desde fevereiro deste ano, a família Chiele pretende ampliar os cultivos na propriedade de 12,7 hectares. As melhorias no local por parte do seu Gilmar e da dona Leonilda também são motivadas pelo interesse da filha caçula Christina em seguir auxiliando nas tarefas diárias do negócio familiar. A jovem já adianta que pretende cursar o ensino superior quando concluir o ensino médio, assim como o irmão mais velho Christian, 21 anos, que cursa Medicina Veterinária. Poder estudar é considerado algo muito importante para a família e, por isso, os pais apoiam as aspirações dos
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O desejo da família em melhorar os espaços para cultivar o alimento que vai à mesa motivou Deise Machado de Souza investir o recurso do Bolsa Juventude Rural na construção de uma estufa na propriedade de 10 hectares, onde mora com o pai Claudio, a mãe Leonora e a irmã Denise, de 11 anos. Além de ajudar os pais no aviário para frangos de corte – principal fonte de renda da família –, na estufa a jovem cultiva tomate, hortaliças e morango. Por lá, por enquanto, a produção é apenas para o consumo da família e o excedente é distribuído entre vi-
Eu amo os animais, poder mexer na terra, plantar e colher os nossos alimentos. Deisi Machado de Souza
Bolsa Juventude Rural Em 2019, Tenente Portela/RS foi o município que mais contabilizou jovens beneficiados com o Programa Bolsa Juventude Rural no Rio Grande do Sul – tendo em vista que o Escritório Regional da Emater/RS-Ascar também atende o município de Redentora/RS. Ao todo, foram 27 beneficiados. Neste ano, são 40 jovens inscritos. – Essas políticas públicas voltadas aos jovens são muito importantes. Como profissional, é a realização de um sonho poder acompanhar projetos como esses e fomentar a permanência dos jovens no campo – destaca o engenheiro-agrônomo e extensionista rural José Rubens Hermann dos Santos, da Emater/RS-Ascar local. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Juventude Rural GESTÃO PARA O FUTURO Por
Flávio Cazarolli
flavio@focorural.com.br
Engenheiro-agrônomo, especialista em Gestão de Recursos Humanos e palestrante na área de sucessão rural. Gerencia a Foco Rural Consultoria, em Ijuí/RS
Gestão de riscos na empresa rural
A
atividade agropecuária está diretamente vinculada à gestão de riscos, levando o produtor, diariamente, a adaptar os rumos de seus negócios em virtude das mudanças do ambiente natural. Entretanto, além deste, o ambiente de negócios da agropecuária também oferece uma série de outras ameaças ao empresário. Neste e nos próximos conteúdos vamos desenvolver este assunto, tendo como base os mais de 20 anos de experiência em consultorias às empresas rurais e indústrias de transformação dos produtos primários.
Os maiores riscos identificados no agronegócio Risco na sucessão do negócio A ideia de que a sucessão nos negócios familiares rurais seja feita a partir da inserção de herdeiros no negócio tem levado muitas empresas a não dispor de uma linha sucessória estabelecida, pois em muitos casos os herdeiros não se interessam pela atividade, criando uma situação de risco para a continuidade da empresa.
Risco da falta de planejamento tributário A complexidade do sistema tributário brasileiro e o alto impacto financeiro dos impostos cobrados leva a necessidade de se buscar, à luz das possibilidades legais, saídas que minimizem os riscos relacionados com a falta de plane33 | NOVO RURAL
jamento tributário. Este é um dos processos mais importantes, visto que estabelece os alicerces da edificação de uma empresa legal, socialmente justa, capaz de contribuir com o desenvolvimento da sociedade.
cimento e a ação humana. Uma de suas características mais intrigantes é que as pessoas têm a capacidade de ficarem melhores nas suas atividades a cada dia. É fundamental para qualquer gestor cuidar bem das pessoas.
Risco ligados com a área financeira da empresa
Riscos da falta de regularização fundiária
A oferta de crédito “farto e barato” criou um ambiente propício para a alavancagem dos negócios no setor agropecuário. Entretanto, muitos produtores acabaram tomando crédito além da capacidade de retorno das atividades, gerando uma situação de endividamento, exigindo medidas de saneamento do negócio.
Já vivenciamos casos de áreas compradas e não escrituradas ou registradas, cuja posse se deu unicamente por contrato de compra e venda seja do imóvel, de direitos hereditários ou até mesmo de direitos de posse. Outra situação é a compra de imóveis dados em garantia, com gravames de terceiros. Muitas vezes negócios considerados “bons” e “baratos” acabam exigindo um esforço e mesmo despesas financeiras para sua regularização, que fazem o “bom e barato” virar “penoso e caro”.
Risco na área comercial Quando a atividade da empresa é uma “commodity” os riscos são menores. Em se tratando de produtos com certa diferenciação, é fundamental que o produtor adote medidas de reconhecimento dos riscos relacionados à inadimplência, bem como daqueles decorrentes da falta de atendimento dos requisitos do produto, que podem levar ao recolhimento dos produtos e indenizações. Pelo lado das aquisições, a seleção de fornecedores não é uma mera questão de menores preços nos insumos, o serviço prestado deve ser levado em consideração para garantir que o processo produtivo aconteça no tempo certo e com resultados esperados.
Risco na falta de critérios nos processos de seleção e manutenção de pessoas As pessoas são, certamente, o maior bem de um negócio. Toda a atividade empresarial requer o conhe-
Riscos ambientais Garantir que a atividade esteja dentro do enquadramento legal é apenas obrigação, é fundamental que o produtor/empresário adote programas de boas práticas ambientais e que os ganhos destas práticas sejam notados pela sociedade e incorporados a política da empresa. Avaliar os riscos é garantir o futuro do negócio. O melhor caminho é antecipar-se elaborando um estudo sobre os possíveis problemas e com esta avaliação planejar ações de prevenção e solução com a mitigação dos seus efeitos. O sinal está vermelho para os riscos, com ferramentas adequadas de gestão e muito trabalho podemos administrar os riscos do nosso negócio, construindo um ambiente saudável de legalidade e prosperidade. SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Cooperativismo
Norte gaúcho na vitrine do sistema cooperativo Com matriz em solo catarinense, a Cooper A1 consolida novos negócios no RS para ampliar a produção de grãos, uma demanda latente da cooperativa CooperA1/Divulgação
Há 41 anos atuando na presidência da CooperA1, seu Elio Casarin ressalta o carinho que tem pela região ao falar sobre os novos investimentos
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ovos investimentos no setor agropecuário irão fortalecer ainda mais o sistema cooperativo no Norte gaúcho. Há mais de 15 anos presente no Rio Grande do Sul, a Cooper A1, que tem matriz em Palmitos/Santa Catarina, anunciou a aquisição de mais estruturas na região. Trata-se de duas unidades de secagem e armazenamento de grãos, em Frederico Westphalen/RS e Vicente Dutra/RS. Nos próximos meses, mais dois municí-
pios serão contemplados com a expansão da cooperativa, Ametista do Sul/RS e Cristal do Sul/RS. Ao todo, serão 11 unidades em território gaúcho até o fim de 2020. Para o presidente da cooperativa, o agrônomo Elio Casarin, a região é estratégica para a ampliação da atuação da Cooper A1, especialmente no que se refere à produção de grãos, uma das principais demandas da cooperativa, já que possui uma atuação sólida na sui-
nocultura catarinense, com mais 50 mil matrizes produzindo no Estado. A Cooper A1, que conta com quase 10 mil associados, também fortalece a presença na avicultura, possui fábricas de rações próprias, lojas agropecuárias, supermercados, lojas de materiais de construção, móveis e eletros. – O carro-chefe da cooperativa atualmente é a suinocultura, o que torna a produção de grãos, especialmente de milho, estratégica para os nossos negócios. A região tem potencial de crescimento e queremos fortalecer o sistema cooperativo e agropecuário, já que a nossa base é alicerçada na agricultura familiar – destaca Casarin, reforçando o carinho que tem pela região nesses 41 anos atuando na cooperativa, que completa 87 anos de fundação neste ano. A aquisição das duas unidades foi aprovada em assembleia geral extraordinária semipresencial da cooperativa, realizada na primeira quinzena de agosto. As estruturas possuem escritórios, armazéns de insumos, silos metálicos, balança, moegas, sala de máquinas, fábrica de farelo e óleo de soja, laboratório para análises de produtos, entre outros equipamentos. A previsão é que as atividades sejam iniciadas neste início de setembro.
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PROGRAMA
VITRINE RURAL
95
.9 FM
Repórter ESPAÇO COOPERATIVO Por
Marcia Faccin
marcia.faccin@mail.com
Coordenadora da Unidade de Cooperativismo do Escritório Regional da Emater/RS de Frederico Westphalen
Apoio técnico:
O novo normal
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pós lançar o projeto com aplicação de inteligência artificial para atendimento automático através do 0800 510 1818 com a atendente virtual CRIS, em junho deste ano, o Grupo Creluz lançou mais uma novidade. Trata-se do 0800 610 1818, um novo número que facilitará a compreensão e memorização dos associados que, agora, podem fazer contatos telefônicos através de duas opções de forma gratuita. A decisão da cooperativa em adicionar um novo canal visa melhorar e agilizar o atendimento como um todo, foca também nos dias atípicos quando ocorrem temporais que atingem as redes elétricas e geram altas demandas para informar faltas de energia que, por sua vez, podem congestionar o atendimento. Outro fator levado em conta foi a tecnologia de funcionamento possuir topologia de rede diferente da atual, o que mesmo em dias de temporais tornará mais difícil a indisponibilidade total dos canais de comunicação com a cooperativa. É válido ressaltar que a atendente virtual CRIS e os demais atendentes do Call Center passam a atender ligações convencionais gratuitas através dos dois números, 24 horas por dia, sete dias da semana, porém, o atendimento pelo WhatsApp permanecerá de forma exclusiva pelo 0800 510 1818, das 6 horas às 23h59. Nos últimos anos o Grupo Creluz segue ampliando e diversificando os canais de comunicação para ficar mais próximo dos associados. Além do 0800 510 1818 e 0800 610 1818, a cooperativa disponibiliza ainda a ferramenta Agência Virtual, aplicativo Creluz Mobi e o atendimento pelo WhatsApp que possibilitam agilidade, comodidade e independência de onde e quando o associado quiser. Divulgação
ano de 2020 está sendo diferente em vários aspectos, mas o que marcará este período certamente será a pandemia do Covid-19. Tivemos que nos adaptar de uma hora para a outra, ficarmos mais “isolados” e “quietos” dentro dos nossos lares, onde aquele “corre-corre” deu lugar às novas dinâmicas de trabalho e está nos apresentando um novo olhar da forma como vivemos e enfrentamos a vida, em que muitos estudiosos comentam que o “novo normal” será pautado pela cooperação. Isso vem reforçar a tese que defendo sempre, de que o melhor modelo para desenvolver um município, Estado ou país é através do cooperativismo, com participação ativa dos associados e do envolvimento das pessoas de bem em prol de uma sociedade mais justa, fraterna, onde é compartilhado com o conjunto de associados as sobras/lucros do respectivo empreendimento. Comemoramos no primeiro sábado de julho o Dia Internacional do Cooperativismo e mesmo em um momento diferente foi possível acompanhar as inúmeras ações desenvolvidas pelas cooperativas. No Norte gaúcho várias ações foram feitas, entre elas a tradicional pesquisa realizada junto as cooperativas que voluntariamente nos forneceram os dados para tabularmos e apresentarmos para a nossa comunidade regional, dados esses que cada vez mais reforçam o importante papel que as cooperativas têm para o fortalecimento do desenvolvimento local e regional. Quero aqui só trazer dois dados que a referida pesquisa nos traz, disponibilizados voluntariamente pelas cooperativas Sicredi Alto Uruguai RS/SC/MG, Sicredi Região da Produção RS/SC/MG, Sicoob Oestecredi, Cotrisal, Coperametista, Cooperjab, Cooper A1, Cootrepal, Cotrifred, Coopafs, Cooagril, Cooperdom, Coopatrisul, Coopraff, Extremo Norte, Vale das Cuias, Coopersalzano e Coopervale – as quais mais uma vez agradecemos a parceria de sempre. Em 2019, nove das 18 cooperativas que participaram da pesquisa distribuíram mais de R$ 59 milhões de sobras para os seus associados. Outra informação extremamente importante é o valor que sete das 18 cooperativas destinaram aos hospitais em apoio ao combate ao Covid-19: entre os meses de abril, maio e junho de 2020 foram distribuídos mais de R$ 2 milhões diretamente aos nossos hospitais locais e regionais. Apresento aqui apenas duas relevantes informações para reforçar minha tese do importante papel que as cooperativas têm para o fortalecimento do desenvolvimento local e regional. Que possamos viver este “novo normal” como seres humanos em constante evolução em prol de um mundo melhor, que depende de mim, de você e de todos nós, ou seja, da coletividade. Que em nossas atitudes, gestos e ações possamos ser mais cooperativos do que competitivos.
Novo canal promete mais eficiência no atendimento
SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Qualidade de vida CÁ ENTRE NÓS Por
Dulcenéia Haas Wommer dwommer@emater.tche.br Tecnóloga em Marketing e extensionista rural da Emater/RS-Ascar
Apoio técnico:
Qual é o meu lugar? E o seu?
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lá, para estes meses de setembro e outubro! Com a chegada da primavera e renovação da paisagem, vamos falar sobre nosso jardim interno. Onde eu devo ou posso estar? Que paisagem está precisando ser renovada? Você já teve a sensação de querer fazer coisas diferentes, ser diferente? Quem disse que temos que ser sempre e/ou estar sempre do mesmo jeito? Falo de padronização. Conhece alguém que diz: “sempre fui assim”? Mas, será que não dá para mudar? A Bruna Lombardi fala que “a ideia de excluir uma parte tua é uma afronta ao sagrado”. O que ela quer dizer com isso? É não se permitir as várias possibilidades de ser. Por exemplo, posso ser uma profissional séria e comprometida no trabalho e, ao mesmo tempo, ser aquela amiga de bom humor e alto astral nas minhas horas de lazer. Se for uma não posso ser outra? Acho que a vida seria muito chata assim.
Cada mulher que se liberta está libertando também outras mulheres! 36 | NOVO RURAL
Este ano parei mais para observar o outono e a beleza das folhas caindo. Elas davam um show na natureza com suas cores marrom, ouro, cobre, etc. Será as cores da maturidade? Será por causa da (minha) maturidade? Por isso, trago as ideias da antropóloga e escritora Miriam Goldenberg, que fala de envelhecer, da liberdade e da felicidade. Sobre o fenômeno cultural introjetado em cada mulher, a jovialidade. Ela fez uma pesquisa que fala da curva da felicidade. Descobriu que quanto mais a vida passa, a curva da felicidade diminui e as mulheres entre 40 e 50 anos são mais infelizes por falta de tempo, de reconhecimento e falta de liberdade. Que as pessoas são mais felizes no início e no fim da vida. Na pesquisa, a antropóloga descobriu também que o que as mulheres mais invejam nos homens é a liberdade. E nas próprias mulheres elas invejam o corpo, a juventude, a magreza, a beleza e a sensualidade. Ela pediu também: o que
os homens invejam nas mulheres? E a resposta foi: nada! Cá entre nós, vamos nos fortalecer e inspirar umas as outras. Não cair na armadilha da inveja e da comparação. Ao ajudar os outros nossa mente produz uma onda de bem-estar. Nossa luta não é contra os homens e nem contra outras mulheres, mas uma luta interna de superação e mudança de pensamento, da insegurança, de críticas e autossabotagem. Cada mulher que se liberta está libertando também outras mulheres! O estudo de Miriam ainda fala que a liberdade, a independência e as amizades são fundamentais para a felicidade. Aqui quero citar como liberdade as escolhas mesmo estando em um relacionamento, como o casamento. Liberdade de ir e vir, de plantar flores na propriedade onde você quiser, de vestir a roupa que quiser. De independência financeira, de ter amizades para compartilhar dores e risos. Conheço mulheres na região que são privadas de muitas coisas, que assumem papéis submissos na família ou na relação. Mas, vejo também que tem preconceitos entre as próprias mulheres. Precisamos evoluir, estar onde queremos e podemos! E agora a boa notícia: para falar de jardins externos, mas feitos com a alma, teremos um espaço para falar de flores, jardinagem e paisagismo, com a colaboração da nossa amiga e colega Luciene Duso. A amizade são dois corpos em uma só alma. Bem-vinda, Lu! Venha florescer conosco nesta primavera! SETEMBRO | OUTUBRO 2020
Realização:
Colaboração:
Vamos cultivar?!
Luciene Duso, extensionista rural
Margaridas: bem-me-quer, mal-me-quer...
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uem não lembra da brincadeira de criança, quando pegávamos uma margarida e ficávamos desfolhando pétala por pétala e dizendo: bem-me-quer, mal-me-quer. Para saber se o nosso ou a nossa namoradinha gostava mesmo de nós. As margaridas eram abundantes nos jardins das avós. Eram maciços de flores brancas com miolos amarelos que estavam sempre lá, resistindo ao tempo, ao vento, sempre viradas para o sol e sorrindo, com suas pétalas abertas e brilhantes, encantando a paisagem e as pessoas. Então, houve uma época em que elas sumiram dos jardins, foram substituídas pelas flores de estação, folhagens, foram taxadas de flores antigas, comuns até. Mas eis que elas retornam com tudo! Ressurgem nos jardins, nas floriculturas, nos viveiros, com novas cores, variedades e o melhor de tudo, ainda fortes, flores que vieram, novamente, acompanhar gerações. As margaridas (Leucanthemum vulgare) são da família Asteraceae. Hoje já existem espécies da família das margaridas como as margaridas amarelas, azuis, rosas, margaridas-do-Cabo, margaridas-dos-floristas, margaridas-das-pedras, uma variedade de cores, formas e texturas para os mais diversos padrões de jardins e gosto do cliente. São plantas perenes, originária da Europa, África do Sul e Cáucaso. Atingem de 40 a 60 cm de altura, com flores pequenas, reunidas em capítulos grandes, solitários, sobre hastes longas, eretas e firmes, formadas da Primavera ao Outono, sendo que em alguns lugares de clima ameno produzem flores o ano todo. São indicadas para cultivo a pleno
sol, em grupos como bordaduras ou em maciços, tanto para canteiros pequenos ou amplos. O solo deve ser permeável e enriquecido com matéria orgânica. Aprecia climas frios e é uma das plantas mais cultivadas na região Sul do país. Podemos multiplicá-las através de divisão de touceiras, após o florescimento, tomando o cuidado para que as mudas tenham um pouco de raiz e assim plantá-las, com uma pega fácil. As regas devem ser feitas somente quando o solo estiver seco, não sendo uma planta que aprecia muita água. Para que o jardim de margaridas fique sempre bonito, devemos a cada fim de floração fazer uma limpeza no canteiro, tirando as flores secas, podando pés muito altos e adubando os canteiros com composto orgânico. Se optarmos em manter
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as plantas em um porte baixo, devemos fazer uma poda parelha em todo o canteiro, assim elas emitirão brotos novos e muitas flores para colorir os jardins. As margaridas são consideradas as flores do amor, da juventude e da sensibilidade. Por isso, abuse delas nas entradas das casas, em lugares públicos, em espaços de aglomerações como praças e pátios, convidando as pessoas a adentrarem seus jardins para ali se banharem nas vibrações de amor e pureza que elas emitem. Que venham muitas margaridas em nossos jardins, as azuis de fidelidade, as amarelas de amor leal, as rosas são puro impulso, as brancas só beleza e as coloridas, então, de imensa alegria. Uma excelente opção para um jardim perene, bonito, de baixo custo e pouca manutenção. E aí, vamos cultivar bem-me-quer?
Quer saber mais sobre as margaridas? No vídeo disponível através deste QR Code você confere tudo sobre a planta e muito mais!
E para colocar uma planta dentro de casa, você sabe em quais aspectos deve se atentar? Neste outro vídeo disponível através deste QR Code a Luciene fala sobre luminosidade e como acomodar dentro de casa. Confira!
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Gracieli Verde/Arquivo Novo Rural
REALIZAÇÃO:
O que você precisa saber sobre o consumo de lácteos e carnes
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saúde e o bem-estar animal tem pautado muitos debates na internet, especialmente quando o assunto envolve alimentação e o consumo de produtos de origem animal, como o leite e carnes. É comum observar equívocos sobre como estes são produzidos e, em alguns casos, sobre os efeitos à saúde humana. Nas carnes, o Dráuzio Varella, médico conhecido nacionalmente, destaca que não há estudos que comprovam que estes alimentos são prejudiciais ao organismo humano. A afirmação foi feita no 9º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, em Chapecó/ SC, realizada em 2019. Ele aproveitou a ocasião para reforçar a importância da população acessar conteúdos confiáveis, para evitar qualquer distorção sobre o tema. – Não acreditem em tudo que está na internet. A internet aceita qualquer coisa. Procurem fontes seguras de informação – salientou.
Ingestão do leite é indicada pelo Guia Alimentar
No leite, os equívocos são ainda maiores, mas a nutricionista Niséli Maciskoski ressalta que a ingestão do alimento é indicada pelo Guia Alimentar para a população brasileira, um “dicionário nutricional” usado por profissionais da área de nutrição. E o cálcio, presente no leite, é vital para a manutenção da estrutura óssea humana. – O Guia Alimentar indica três porções de leite por dia, sendo que uma 38 | NOVO RURAL
porção seria um copo de 200 ml. Para que o organismo não consuma o cálcio dos ossos o corpo precisa da quantidade adequada deste nutriente, que pode ser obtida através do leite ou seus derivados. Este alimento é essencial em todas as fases da vida por proporcionar vigor, energia, ser fonte de cálcio e de proteínas qualificadas – destaca a nutricionista. Em casos de intolerância a lactose, alergia à proteína do leite ou por outros motivos em que não ocorra a ingestão do alimento, a profissional alerta para o acompanhamento de um profissional da área para orientar o uso de suplementos, se necessário, ou outros alimentos evitando problemas de saúde. Para estas pessoas, a dieta é a base de alimentos ricos em cálcio, como o gergelim, a soja, nozes, vegetais verdes escuros, entre outros.
Intolerância a lactose X alergia à proteína do leite
A nutricionista esclarece um equívoco muito comum e alerta: a intolerância a lactose não é a mesma coisa que alergia a proteína do leite. – A alergia é uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas do leite, por este motivo, seu consumo deve ser evitado. Já a intolerância é quando o organismo tem dificuldade de digerir a lactose, que é o açúcar do leite, devido à deficiência ou ausência de lactase, que é a enzima que a digere o açúcar. O grau da intolerância varia de pessoa para pessoa – explica.
Em novorural.com você encontra um conteúdo com mitos e verdades sobre o leite e, ainda, uma receita especial de pão de queijo para pessoas com intolerância ou com alergia à proteína do leite. Acesse:
VAMOS UNIR O ÚTIL E O AGRADÁVEL?!
FONDUE DE CARNE Para o molho de queijo e cebola • ½ cebola • 100 g de queijo parmesão ralado fino • 6 colheres (sopa) de maionese caseira Modo de preparo Depois de descascar e picar a cebola, coloque-a junto ao queijo ralado no liquidificador e bata por 1 minuto. Após, acrescente a maionese e bata por mais 30 segundos até formar um molho liso. Transfira o creme do liquidificador para um recipiente. Reserve. Para a carne • 1 kg de filé mignon e/ou peito de frango • sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto • 900 ml de óleo vegetal ou azeite de oliva Modo de preparo Depois de cortar a carne em cubos e temperá-la com sal e pimenta do reino, frite-a em fogo médio até dourar. Se optar por mais de um tipo de carne, frite-as de modo separado. Para servir, coloque-a em um recipiente de sua preferência e use palitos para pegá-la e misturá-la ao molho.
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