Revista Novo Rural |Março/Abril 2020

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REVISTA

Ano 4 - Edição 39 - Março /Abril de 2020 | Exemplar R$ 10,00

O QUE VOCÊ FAZ PARA

PERDER MENOS? Cada grão deixado na lavoura é um número a menos na conta. Saiba como ter mais eficiência na colheita PG 14 a 17

ELAS ESTÃO EMPREENDENDO NO CAMPO PG 26 a 31

IRRIGAR PARA GARANTIR A PRODUÇÃO PG 8 E 9


Editorial

Alexandre Gazolla Neto, professor, empresário do agronegócio e diretor da Novo Rural

O agronegócio brasileiro vive uma crescente ascensão em produtividade baseada na sustentabilidade

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os últimos anos os aspectos sustentáveis dos negócios passaram a significar uma maior importância nas decisões estratégicas das organizações. Isso se deu diante das novas tendências de consumo, uma vez que os consumidores passaram a se interessar não apenas pela qualidade do produto final, mas também pela sua rastreabilidade ao longo da jornada produtiva. O agronegócio brasileiro vive uma crescente ascensão em produtividade, resultado de inúmeros esforços de cientistas, professores, estudiosos, técnicos e, principalmente, dos agricultores. A missão de produzir com rentabilidade tornou-se marca registrada dos produtores nos diversos segmentos, servindo em várias oportunidades como referência para o mundo. Esse desafio não está isolado, ele está e deve continuar inter-relacionado com a preservação dos sistemas de produção, da biodiversidade e do manejo eficiente dos recursos naturais. Os últimos dados comprovam que o agronegócio brasileiro é o mais sustentável do mundo. A manutenção deste “título” está nas mãos dos agricultores e de todos os agentes que de alguma forma interagem ao longo da cadeia produtiva nos sistemas de produção agropecuários. Este cenário exige

Circulação: Bimestral Tiragem: 8 mil exemplares Fechamento: 21/02/2020 Fone: (55) 2010-4159 Endereço: Rua Garibaldi, 147, sala 102 - B. Aparecida Frederico Westphalen/RS Fale conosco (55) 9-9960-4053 relacionamento@novorural.com jornalismo@novorural.com contato@novorural.com

A revista Novo Rural é uma publicação realizada em parceria com

Abrangência: Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná.

PR SC RS

Antes da leitura

esta edição da Revista Novo Rural você vai encontrar um conteúdo completo abordando algumas técnicas para minimizar a perda de grãos na lavoura. Também vai poder conferir relatos de produtores que conseguiram manter a produção através da irrigação mesmo com a falta de chuva. Uma matéria exclusiva com a jornalista Kellen Severo, do Canal Rural, promete elucidar como as movimentações internacionais podem interferir no setor agropecuário brasileiro.

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um crescente planejamento e coordenação de ações, iniciando pelos programas governamentais até a educação em seus diferentes níveis de formação. As novas tecnologias aplicadas no campo através das plataformas de agricultura digital possuem um papel crescente na sustentabilidade. O conhecimento de que áreas específicas necessitam ser especialmente fertilizadas, ou a detecção e acompanhamento precoce da ocorrência de pragas e/ ou doenças, são ações que visam a otimização dos recursos produtivos. As preocupações do mercado exterior com o agronegócio brasileiro envolvem ações de desmatamento, emissões de poluentes, trabalho escravo e uso de agroquímicos. Nesse cenário, resguardando-se a responsabilidade de todas as organizações ligadas ao nosso principal pilar da economia quanto a manter ações sustentáveis, é necessário lembrar que o agronegócio vem evoluindo ano a ano e esta evolução não pode parar. O agronegócio brasileiro já superou diversos desafios e se tornou fator fundamental da economia, reconhecido em todo o mundo e inovando em todos os seus aspectos. Continuar evoluindo também na sustentabilidade é uma tarefa muito importante e plenamente alcançável.

E mais, nas próximas páginas você encontra um espaço dedicado a elas, as mulheres, que estão cada vez mais apostando no campo para empreender. A agroinfluencer do momento, Camila Telles, tem muito a dizer sobre o assunto. Outros materiais exclusivos, assinados por especialistas dos mais diversos segmentos, estarão ao seu alcance com o intuito de lhe proporcionar momentos prazerosos de leitura e conhecimento.

Direção

Alexandre Gazolla Neto

Editora

Gracieli Verde

Produção de conteúdo Camila Wesner Rafaela Rodrigues

Relacionamento Juliana Durante

Capa

Uma excelente leitura!

Gracieli Verde

MARÇO | ABRIL 2020


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Gracieli Verde

INTERAÇÃO | ON-LINE

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O mundo agora quer comida e outros países já confessaram que não têm como produzir. Estão precisando de nós, agricultores Alysson Paolinelli, presidente da Abramilho e ex-ministro da Agricultura, durante a 9ª Colheita Oficial de Milho do Rio Grande do Sul, em 7 de fevereiro, em Chiapetta/RS

Convidados conhecem mais sobre híbridos de milho Agricultores e demais parceiros de negócios participaram do encontro Morgan em Campo, no início de fevereiro, em Frederico Westphalen. O dia de campo tratou de temas como confecção de silagem e a influência de híbridos específicos na qualidade final do produto, tratamento de sementes, produtividade em áreas de milho grão e biotecnologia. O intuito era justamente avaliar o desempenho de híbridos da marca, bem como atualizar questões consideradas importantes no manejo das

lavouras. – Hoje temos várias facilidades na agricultura graças à biotecnologia. Isso também foi um fator crucial para o aumento da produtividade da agricultura brasileira nos últimos anos. Mas, precisamos ficar atentos a essas tecnologias que são disponibilizadas no mercado, justamente para não comprometer esse desempenho. Fazer a área de refúgio, por exemplo, é essencial – orientou o responsável pela área de Desenvolvimento de Mercado da Morgan, Pedro Canto.

NOVO RURAL NA ALEMANHA

Assista e saiba como foi a colheita de milho em áreas de Frederico Westphalen, região que sofre grande influência climática da região costeira ao Rio Uruguai. Safra tem sido cheia em maior parte das áreas, que “escaparam” da falta de chuvas

O PASSADO QUE FAZ PARTE DO PRESENTE O vídeo mostrando o amor de Edson Mossmann, de Nova Boa Vista, por artigos antigos repercutiu nas nossas redes. Ele possui no quintal de sua casa uma estrutura toda adaptada para acomodar ferramentas que vão desde louça, eletrodomésticos até equipamentos agrícolas antigos, como um aplicador de produtos químicos, feito em aço inox.

CONFIRA TAMBÉM:

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Um conteúdo veiculado em novorural.com foi parar nas redes do alemão Burkhard Schön, da cidade Kaltenkirchen. Na descrição ele fala da importância do solo e da expertise dos brasileiros no assunto. “Em algumas coisas os brasileiros são muito mais profissionais do que nós. A saúde e a estrutura do solo têm um papel muito importante há anos”, destaca.

MARÇO | ABRIL 2020



INTERAÇÃO | ON-LINE

Oferecimento:

UMA SAFRA DESAFIADORA, LITERALMENTE O tempo seco e quente tem sido desafiador para os agricultores que estão com lavouras de soja estabelecidas na região. Por mais que existem alguns episódios de chuva, são bastante irregulares. Isso tem gerado realidades das mais diversas quando se fala em expectativa de produtividade. A análise é da equipe técnica da Farótti/Agricenter Frederico Westphalen, que está com uma série de lavouras sendo monitoradas através do 3º Concurso de Produtividade da Soja. – Essas lavouras que estão monitoradas por meio do concurso encaminham-se para o final de ciclo e no início de março já deve iniciar a colheita das primeiras áreas.

Algumas delas podem ter perdas acentuadas por causa do estresse hídrico e outras nem tanto, porque tiveram mais chuvas – assinala o coordenador de Vendas da Farótti/ Agricenter, Laudison Lazzari. Quando se fala em controle de pragas, o alerta da equipe é em relação aos ácaros e trips, que têm sido encontrados com maior incidência nessas condições de clima. – É importante que os manejos de controle sejam feitos normalmente, pois o controle dessas pragas e doenças, aliado ao programa de nutrição das plantas, é fundamental para termos uma lavoura sadia e, por consequência, que resista melhor às dificuldades impostas pelo clima – orienta Lazzari.

O concurso O 3º Concurso de Produtividade de Soja Farótti/Agricenter tem monitorado lavouras de mais de 30 produtores participantes, de Frederico Westphalen e demais municípios de abrangência da empresa. São agricultores que aceitaram o desafio e que têm acesso a uma série de informações estratégicas rumo à busca por melhores resultados. A premiação do concurso será realizado durante a Expofred 2020, feira multisetorial de Frederico Westphalen, agendada para o período de 29 de abril a 3 de maio. Os vencedores do concurso receberão prêmios.

RELACIONAMENTO, A FONTE DE RESULTADOS Por

Bruna Ferreira Sousa, de Frutal/MG

Engenheira-agrônoma, atua como consultora técnica de vendas em uma empresa de nutrição de plantas “Trabalhar no campo ao lado do produtor rural sempre foi um dos meus propósitos. Levar a eles soluções, conhecimento técnico e trocar informações e experiências é gratificante. Atuar na área comercial não significa vender somente um produto ou serviço, você vende o seu conhecimento, o tempo que você passa se aprimorando para levar sempre o melhor para os seus clientes, isso faz parte do comercial. O relacionamento, inclusive, é muito importante, ele é construído em cima de todos esses fatores que citei anteriormente, somado à muita dedicação, persistência e força de vontade para fazer acontecer.”

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Agricultura

(Des)Irrigados Apesar dos incentivos técnicos e financeiros e dos episódios de estresse hídrico, o interesse pelo investimento no sistema na região ainda é baixo

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stiagens são recorrentes no Rio Grande do Sul, segundo a Defesa Civil do Estado. Desde 1979, quando teve início a série histórica, praticamente a cada dois anos há um episódio de restrição hídrica relevante. Um período que marcou o setor agropecuário gaúcho foi o da safra 2011/2012 – entre novembro de 2011 e maio de 2012 – quando houve danos irreversíveis na produção agrícola, afetando, especialmente, o rendimento das principais culturas de primavera-verão. Após oito anos, o cenário de apreensão é novamente sentido pelo setor, que já contabiliza perdas significativas nas lavouras, principalmente de milho, a cultura mais afetada até o momento. Até o fechamento deste conteúdo, com base nas informações da Defesa Civil, mais de 100 municípios haviam decretado situação de emergência no Estado. Durante o ano, é comum observar períodos de até 20 dias dentro de um mês sem chuvas. Em dezembro de 2019, segundo um levantamento realizado pelo Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen, com base na estação pluviométrica do Inmet no município, foram registrados somente 81 mm de chuva, ou seja, no período em que a cultura do milho precisava consumir em torno de 7mm/dia e a da soja e forrageiras cerca de 5 mm/dia para se desenvolverem, elas receberam aproximadamente 2 mm/dia apenas. Hoje, algumas tecnologias são capazes de suprir a necessidade hídrica do solo e da planta, a exemplo da irrigação. Aliado a isso, existem políticas públicas que visam o incentivo da instalação deste sistema nas mais diversas culturas, justamente para minimizar os efeitos causados pela estiagem. Mesmo assim, é notório o número de produtores arcando com as consequências deixadas pela falta de água. É claro que para um investimento desse porte é preciso levar em conta diversos fatores, além dos aspectos técnicos. Mas, há de considerar, ainda, que o retorno de um investimento é gradativo e que o manejo correto faz parte do processo para obter bons resultados.

POLÍTICAS PÚBLICAS Nos 42 municípios de abrangência da Emater/RS-Ascar, os programas Mais Água, Mais Renda e o Irrigando a Agricultura Familiar são os que predominam entre os produtores rurais. Destes, mais de 95% são para áreas com produção de pastagens. Cerca de 192 sistemas de irrigação foram instalados por meio do Mais Água, Mais Renda. Criado em 2012, o programa tem como benefícios o incentivo financeiro para a implantação e/ou ampliação do uso de sistemas de irrigação – açudes, equipamentos para irrigação por aspersão e localizada. Junto, fornece o licenciamento ambiental e outorga do uso da água. O financiamento pode ser feito via linha de crédito Pronaf, que reembolsa em 100% a primeira e a última parcela. Já o Irrigando a Agricultura Familiar soma 492 sistemas instalados na região. Lançado em 2011, o programa objetiva incentivar a construção de estruturas que melhorem o armazenamento de água para o abastecimento humano e animal e para a irrigação nos estabelecimentos rurais de base familiar. Segundo o assistente técnico regional de Recursos Naturais da Emater/RS-Ascar, Carlos Roberto Olczevski, o número de projetos diminuiu consideravelmente nos

últimos dois anos. Em 2018, foram realizados pela regional 11 projetos; já em 2019, apenas três e em 2020, pelo menos até meados de fevereiro, nenhum tinha sido encaminhado. O profissional ressalta que o interesse pelo investimento deve partir dos produtores e ainda faz um alerta sobre o mau manejo dos sistemas já implantados – o que traz resultados negativos e pode ser elencado como um dos motivos da redução da instalação do sistema. – Observamos que muitos produtores não estão utilizando o sistema de acordo com o recomendado. A água não deve ser usada somente quando o solo está totalmente seco, pois a planta consome um volume específico diário e cada milímetro a menos pode prejudicar o desenvolvimento. Por isso, muitas vezes não conseguem explorar o total potencial dessa tecnologia”, comentou, adiantando que a instituição pretende realizar capacitações nos próximos meses com foco no manejo correto do sistema. Em 2020, outro programa foi lançado pelo governo e deve beneficiar a cadeia produtiva do milho, o Pró-Milho RS, que com um dos seus subprogramas, mais especificamente o “Aumento da Produção”, promete ampliar a área irrigada da cultura no Estado.

Somos apaixonados pelo agro e queremos compartilhar com você boas práticas de manejo, que podem fazer a diferença na sustentabilidade e na lucratividade do seu negócio rural!


Gracieli Verde Divulgação

REFLEXOS DO SISTEMA EM PERÍODOS DE ESTIAGEM Somando os 42 municípios que compreendem a regional da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen, são cerca de 18.410,43 hectares de área irrigada, contabilizando os mais diversos sistemas de irrigação em diferentes culturas. A maior área se concentra em Palmeira das Missões, com 13 mil hectares com pivô central. Por lá, o sistema é majoritariamente usado para grãos – milho e feijão. O produtor palmeirense Ivo Ribeiro Lautert conta, desde 2014, com dois pivôs instalados com capacidade de atingir cerca 100 hectares. Segundo ele, mesmo com a falta de chuva, conseguiu a produtividade de 240 sacas/hectare de milho nesta safra. Após a colheita, ele aproveitou ainda para plantar feijão e, graças ao sistema, está otimista em relação a produção. Para o investir, seu Lautert fez financiamento através do Mais Água, Mais Renda. “A irrigação trouxe uma série de benefícios, ela representa uma garantia de que água para a minha produção não vai faltar”, enfatiza. Gracieli Verde

No Estado, a produção de leite é predominantemente baseada no sistema a pasto. Nesse sentido, têm grande destaque as pastagens anuais de inverno, utilizadas por 96,28% dos produtores. Na sucessão das lavouras de soja e milho, essas pastagens compõem o alicerce deste sistema de produção e determinam o período de safra da produção de leite no Rio Grande do Sul. Em média, 2.320 produtores usam o sistema de irrigação para este fim, segundo o Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no Rio Grande do Sul. Na propriedade da pecuarista Andreia Trombetta, em Caiçara, o sistema utilizado nos cerca de 3,5 hectares destinados a pastagem é o por aspersão. Este foi instalado em 2014, através do Mais Água, Mais Renda. Segundo ela, é possível observar os impactos desta tecnologia na produção da propriedade. “Não posso dizer que tive aumento de produtividade, mas a irrigação está permitindo que eu tenha água para manter a alimentação do rebanho”, relata.

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O produtor ametistense de uva Elton Mezzaroba implantou, há cinco anos, o sistema por gotejamento em seis hectares destinados à produção. Segundo ele, os benefícios do investimento puderam ser sentidos com mais exatidão nesta safra 2019/2020, especialmente porque a cultura passou por fases críticas em que demandaram mais atenção por parte dos viticultores – no início, desuniformidade na brotação por conta da geada e no fim do ciclo, o déficit hídrico, que comprometeu a qualidade dos frutos e até ocasionou morte das plantas em algumas áreas. – Com a estiagem, observamos o quanto o sistema fez o papel dele, pois não perdemos nenhuma planta, garantimos a qualidade da fruta, inclusive o peso. Acredito que mais vantagens poderão ser sentidas ainda na próxima safra – projeta. O investimento nos equipamentos para instalação do sistema, bem como para a construção do açude de 80m x 50m – três metros de profundidade –, foram realizados através do programa Mais Água, Mais Renda. Sobre os ganhos econômicos com o sistema, Mezzaroba destaca que estes ainda não são significativos, mas o fato de não ter registrado perdas se comparado a outros produtores da região, tornou a estrutura um fator decisivo para garantir a sua produção nesta safra. “Não tive aumento de produção, mas consegui manter a qualidade das frutas e evitar a perda de plantas”, reforça.

CENÁRIO REGIONAL

+ de 95% dos projetos executados na região são destinados para áreas de pastagens

192

492

sistemas foram executados na região, desde 2011, por meio do programa Irrigando a Agricultura Familiar

sistemas de irrigação foram instalados por meio do Mais Água, Mais Renda nos 42 municípios de abrangência da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen nos últimos 8 anos

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Agricultura MERCADO DA SOJA Por

Luiz Fernando Gutierrez Roque luiz.gutierrez@safras.com.br Economista e analista de mercado da consultoria Safras & Mercados

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Impactos do coronavírus devem ser limitados

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anto o mercado internacional quanto o mercado brasileiro de soja não devem sofrer grandes impactos do coronavírus no curto prazo. A questão envolvendo o avanço do coronavírus na China é fator central para os mercados mundiais neste início de ano. Apesar disso, ainda é cedo para se falar em impactos diretos, relevantes e específicos sobre a soja, seja em âmbito doméstico, seja em âmbito internacional. A tendência é que o crescimento da economia chinesa seja, de fato, afetado em 2020, mas alguns pontos precisam ser destacados, quando falamos especificamente sobre soja. ••••••••••••••••••••••••••••••

1)

Por ser um alimento e a maior fonte de proteínas para rações de rebanhos animais, a demanda chinesa por soja pode ser considerada inelástica como fator refletido do crescimento chinês em relação a outros produtos, como petróleo e minério de ferro, por exemplo. Isso significa que dificilmente veremos uma queda relevante na demanda por alimentos na China, mesmo com um possível menor crescimento da economia. É importante lembrar que a China cresceu 6,1% em 2019, uma taxa considerada ainda bastante elevada para um país que já tem o segundo maior PIB do mundo. Mesmo que ocorra uma queda de 1 p.p. no crescimento, ainda estaremos falando em um aumento de 5% no PIB chinês. Em suma, a demanda chinesa por alimentos e por soja não deve recuar devido, especificamente, ao coronavírus.

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2)

A pesar de algumas cidades sofrerem com algumas “paralisações” devido ao vírus, o governo chinês já anunciou que irá incentivar a retomada da atividade econômica de todas as províncias para que os efeitos negativos sobre a economia do país sejam minimizados. Quando falamos em incentivos do governo da China, devemos pensar em algo bastante amplo, como já vimos no passado. Não podemos duvidar da capacidade de um governo que constrói um hospital com 25 mil metros quadrados em apenas 10 dias.

3)

O s line-ups de exportação de soja dos portos brasileiros apontam para embarques recordes para a China no mês de fevereiro. É claro que boa parte destas vendas já estavam programadas antes do surto do vírus, mas não devemos ver um grande recuo na demanda nos próximos meses. Apesar disso, o que poderemos ver são alguns atrasos nos embarques devido ao ritmo mais lento nos trabalhos de desembarque nos portos chineses, mas não cancelamentos de compras.

4)

Mesmo com o acordo comercial entre EUA e China, a estratégia chinesa nesta temporada deverá ser de comprar grandes quantidades de soja na América do Sul no primeiro semestre (como de costume) para apenas no segundo semestre começar a “honrar” a maior parte do acordo com os americanos, migrando sua demanda para os portos dos EUA. Se o surto de coronavírus não for controlado nos

próximos meses, os impactos mais importantes deverão ser sentidos na segunda metade do ano, momento sazonal de menor demanda chinesa pela soja brasileira. Diante desses fatores e com o cenário atual, entendemos que ainda é cedo para se falar em impactos diretos e relevantes do coronavírus sobre o mercado de soja. Apesar disso, é importante destacar que há sim um impacto indireto sobre a oleaginosa via mercado financeiro. Como os contratos futuros de soja negociados em Chicago são os grandes balizadores dos preços internacionais, o mau humor dos mercados mundiais frente ao avanço do vírus leva os investidores a reduzirem seus posicionamentos em ativos de renda variável com maior risco, migrando para aplicações mais seguras. Nesse sentido, os contratos futuros em Chicago sofrem pressão negativa, trabalhando em patamares inferiores. Tal fato impacta, naturalmente, a formação dos preços. Apesar disso, o câmbio caminha na direção oposta, ganhando força como ativo de segurança. Este movimento contrário da moeda norte-americana traz certa compensação para as quedas em Chicago, trazendo algum suporte na formação dos preços da soja brasileira. Em suma: o momento é de atenção para os mercados mundiais, mas não de pânico para o mercado de soja.

MARÇO | ABRIL 2020


Novas variedades de alface no mercado

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Rafaela Rodrigues

procura por variedades de hortaliças que atendam as necessidades dos produtores, bem como as dos consumidores, costuma ser um desafio. É preciso estar atento, principalmente, à qualidade da planta e no seu desempenho enquanto ciclo produtivo. Por serem mais sensíveis, as diferentes con-

dições climáticas podem ocasionar danos significativos, impactando no bolso do produtor. Hoje, graças às tecnologias, é possível encontrar no mercado alfaces adaptáveis a temperaturas mais altas, por exemplo, como as variedades Litorânea e a Moana, lançadas pela Isla Sementes, no 22º Itaipu Rural Show, em Santa Catarina.

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Na foto, visitantes do 22º Itaipu Rural Show conhecem a alface Litorânea

Alface Litorânea Do tipo lisa, a variedade apresenta maior resistência a temperaturas elevadas e maior número de folhas (média 44 folhas por planta). De acordo com o coordenador nacional de vendas da Isla Sementes, Diego Gaspar Diel, o diferencial está justamente na adaptação em temperaturas mais altas, algo inovador no mercado. “Em alguns casos, a temperatura alta pode causar a deficiência de cálcio na planta”, destaca o profissional.

Alface Moana Do tipo crespa, a variedade apresenta alta crespicidade, cabeça grande e volumosa, tolerância a deficiência de cálcio, além de segurança de plantio o ano todo. “A variedade crespa é uma das mais cultivadas no país, deve chegar em torno de 70% do mercado brasileiro, ela se adapta a várias condições climáticas e possui grande facilidade no sistema de venda, pois não machuca facilmente”, ressalta Diel. As duas variedades podem ser trabalhadas no sistema convencional, ou seja, no solo, no sistema de hidroponia e semi-hidroponia. Ainda segundo o profissional, o sistema hidropônico oferece mais vantagens, mas o produtor precisa avaliar qual se encaixa melhor na sua realidade e se atentar em vários fatores importantes para garantir uma boa qualidade. – Na hidroponia ele já consegue uma planta pronta para venda em 25 dias, ou até menos que isso, mas depende de questões de manejo e o tipo da estufa, por exemplo. Em geral, as folhosas são um grande desafio no verão, além da temperatura ambiente, é preciso cuidar a temperatura da água – orienta. 11 | NOVO RURAL

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Agricultura BOLETIM TÉCNICO Por

Alexandre Gazolla Neto agazolla@novorural.com

Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes e empresário do agronegócio

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Colheita: a fase em que os grãos precisam ser protegidos Estratégias de manejo nesta etapa da safra são fundamentais para evitar perdas quantitativas e qualitativas ao produtor

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crescente busca por produzir mais e gerar rentabilidade no sistema de produção é um desafio constante dos agricultores. Esse trabalho inicia no planejamento da semeadura, estabelecimento de plantas, manejo dos agentes redutores de produtividade e na gestão das operações de colheita, com vistas a evitar perdas e redução da qualidade do produto final. A escalada da produtividade desperta a necessidade de aprimorarmos o processo de colheita e as condições de armazenagem de grãos. Uma característica positiva dos grãos é a possibilidade de serem armazenados por longo período de tempo, sem perdas significativas de qualidade. Entretanto, o armazenamento prolongado só pode ser realizado quando se adotam corretamente as práticas de colheita, limpeza, secagem, combate a insetos e prevenção de fungos.

Os produtores e técnicos devem integrar a colheita ao sistema de produção e planejar todas as fases, para que o grão colhido apresente bom padrão de qualidade. Nesse sentido, várias etapas, como a implantação da cultura até o transporte, secagem e armazenamento dos grãos, têm de estar diretamente relacionadas. Após a colheita, a principal preocupação deve estar relacionada à conservação dos grãos. Estes apresentam altos índices de umidade e impurezas na pós-colheita, sendo necessário realizar um processo de limpeza e secagem anterior ao seu armazenamento. No armazenamento os grãos estão sujeitos a diversas transformações, deteriorações e perdas devido a interações entre os fenômenos físicos, químicos e biológicos. Como principais agentes que exercem influência nesse ambiente podemos destacar a temperatura, umidade, disponibili-

Condições climáticas adversas após a maturidade fisiológica Baixa capacidade de secagem e recepção

Atenção para as principais causas da deterioração de grãos

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Colheita em baixos teores de umidade Altos índices de danos mecânicos nos grãos na pós-colheita Cultivares com ciclos similares

dade de oxigênio, microorganismos, insetos, roedores e pássaros, que exigem cuidados especiais na secagem e armazenamento. No caso da soja, a colheita pode ser iniciada com teores de umidade abaixo de 18% no grão, evitando possíveis danos por excesso de temperatura e chuva no campo. Um fator limitante na soja é a presença de folhas e matéria verde no fim do ciclo, fatores que dificultam a colheita por conta dos teores de umidade alta. Já a colheita com teores de umidade inferior a 10% no grão podem gerar perdas por danos mecânicos, deteriorando a qualidade e o potencial de armazenamento. As maiores perdas de produtividade na soja ocorrem em ambientes com alta frequência de precipitações pluviais, altas temperaturas e elevada radiação solar após a maturidade fisiológica da planta.

Ausência de planejamento de colheita associado ao sistema de produção Longas distâncias entre a lavoura e unidade de recebimento Dificuldade de logística eficiente Falta de local apropriado para o armazenamento

MARÇO | ABRIL 2020


LAVOURA CONECTADA

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Por

Antônio Luis Santi

santi_pratica@yahoo.com.br

Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciência do Solo/Agricultura de Precisão, coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão do Sul da UFSM-FW e representante do Fórum dos Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa na Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão junto ao Mapa

Apoio técnico:

Desafios para o sucesso da tecnologia no campo

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em-se vivido tempos de muitas mudanças. Talvez uma das que mais impactaram a humanidade é a forma de as pessoas se comunicar, pois também muda a forma de tomar decisões. Até meados dos anos 2000, a principal forma de notícias era a carta – meio de comunicação mais antigo do mundo. Se pensarmos que o orelhão, criado em 1971 já representava “símbolo de uma outra era” e que o WhatsApp já é mais usado que a própria telefonia móvel, daremos conta que os tempos são outros. Claro que toda quebra de paradigma gera desconforto, ainda mais quando se trata de tecnologias voltadas para a agricultura. Desta forma, quero elencar nesta edição seis desafios que percebo ser importantes superar na agricultura brasileira para, de fato, as ferramentas tecnológicas contribuírem para o sucesso econômico e ambiental.

Gestão da informação no campo

É preciso ser mais detalhista para acertar a tomada de decisão. Isso significa que há necessidade de informação e organização. Nunca houve tanta oportunidade e ferramentas para monitorar a lavoura o ano todo, mas “o importante não é a quantidade de dados e sim o que fazemos com os dados que realmente importam”.

Pesquisa de longo prazo: mais dados e menos “especulação”

É necessário confiar mais na pesquisa. O “assédio comercial” tem se tornado um grande vilão na busca

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pelas altas produtividades, pois nem sempre tem permitido as melhores escolhas e as melhores estratégias de manejo. Uma boa saída é participar de palestras, feiras, dias de campo e interagir com consultores. Nem sempre o que está nas redes sociais é uma dica que agrega valor.

Pessoas: tomada de decisão e o sucesso das estratégias adotadas depende do fator humano

Não há uma ordem nos seis pilares que estou abordando em termos de importância, mas, esse desafio é considerado por muitos produtores e técnicos como o real entrave, não apenas para o avanço tecnológico, mas a própria sustentabilidade da agricultura. São pessoas que tomam decisões. São pessoas que implementam as decisões. São pessoas que colhem os resultados. São pessoas que avaliam o sucesso ou o fracasso.

Visão de sistema de produção: informações isoladas têm pouca ou nenhuma assertividade

A simplificação da explicação dos fatos e fenômenos não é o melhor caminho na agricultura. Segundo vários pesquisadores, são mais de 50 fatores que influenciam e definem a produtividade das culturas. Por isso, é fundamental olhar o todo mesmo que o grau de complexidade seja aumentado. Rotação de culturas, cobertura permanente do solo, minimização da compactação, melhoria na infiltração de água no solo, diversificação da biodiversidade de organismos, por

exemplo, são determinantes para o sucesso. A integração de dados passa ser uma necessidade.

Fazer o básico bem feito: “aplicação localizada de conhecimento agronômico”

Antes de qualquer uso de ferramentas tecnológicas é fundamental resolver e minimizar problemas básicos, mas determinantes e de alta resposta em produtividade como calagem, variabilidade química do solo, boa distribuição de palha na lavoura, diversificação das espécies destinadas à cobertura do solo, respeitar zoneamento agrícola, escolha correta da cultivar/híbrido, qualidade na semeadura, bom manejo de pragas, plantas daninhas e fungicidas, evitar perdas na colheita, além de comprar os insumos e vender a produção nos períodos certos. Gestão é chave para o sucesso.

Gestão do conhecimento: “eficiência e efetividade para organização dos dados e do capital intelectual”

Quanto vale uma tomada de decisão assertiva? As vezes o que separa o certo do errado é uma cerca de propriedade ou mesmo uma estrada. Não há milagres na agricultura. Só iremos avançar em produtividade, ser mais eficiente economicamente e corretos ambientalmente se apostar em pesquisa e em assistência técnica que realmente entregue resultado, ou seja, o capital intelectual, as pessoas, é o que realmente fazem e farão a diferença de qualquer adoção tecnológica no campo.

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Capa Por

Rafaela Rodrigues | jornalismo@novorural.com

Quanto vale o grão que você perde? Mais de 80% das perdas de grãos na colheita estão relacionadas a plataforma de corte da máquina, o que deixa um alerta ao operador quanto a velocidade e a regulagem adequada antes de entrar em ação. São “detalhes” que, se não observados, podem gerar um prejuízo considerável por hectare 14 | NOVO RURAL

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s desafios para garantir altas produtividades que rendam bons negócios no fim da safra são muitos. Alguns mais difíceis de serem driblados, mas não impossíveis de serem minimizados, a exemplo das perdas na hora da colheita, no escoamento e no armazenamento dos grãos. Inclusive, negligência nesses processos podem trazer prejuízos financeiros irreversíveis para o bolso do produtor e no saldo final das empresas cerealistas. De acordo com padrões internacionais e que também são considerados pela Embrapa, a tolerância de perdas é de até uma saca (60kg) por hectare. Acima disso é considerado desperdício. Se considerar uma lavoura de 100 hectares, isso pode

representar um prejuízo de cerca de R$ 8 mil por ciclo (levando em conta preços pagos ao produtor no mês de fevereiro, em praças como Sarandi/ RS e Palmeira das Missões/RS). Se contra números não há argumentos, aí está uma prova de que todo cuidado é válido para minimizar esse impacto no bolso. Em uma colhedora são vários os fatores que podem ocasionar a perda dos grãos, mas os principais, segundo o professor-doutor Marcelo Silveira de Farias, que atua na UFSM-FW, são a velocidade excessiva, a manutenção precária e a má regulagem da máquina. De acordo com ele, são detalhes que merecem muita atenção e garantem melhores resultados na hora de contabilizar a safra.

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Gracieli Verde

Controle de velocidade é fundamental A velocidade excessiva se configura como a grande vilã da história. Segundo Farias, esta deve variar de 1,5 a 6 km/h, mas a ideal deve ser definida em campo, pois depende das condições do terreno e da produtividade da cultura. – As colhedoras de trilha axial suportam maiores velocidades de trabalho em função da maior capacidade de processamento. O agricultor não deve tomar a decisão de aumentar ou diminuir a velocidade de operação em função da capacidade operacional da colhedora (hectares/hora), mas sim em função das perdas, para que estas estejam abaixo dos níveis toleráveis – esclarece Farias. Em relação a manutenção adequada, que envolve os ajustes e regula-

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gens de todos os componentes da máquina, o professor-doutor alerta que esta deve ser realizada no período de pós-colheita ou entressafra, ou seja, logo após o término dessa retirada dos grãos da lavoura, pois se conhece todos os problemas apresentados durante a safra anterior. Após revisada, a máquina pode ser armazenada e estará pronta para a colheita do próximo ciclo. Afinal, ninguém quer ficar “na mão” em plena época de colheita. – Além da manutenção do sistema industrial da máquina, existe a do motor e a do sistema de transmissão e hidráulico, que seguem rigorosamente o cronograma de manutenção periódico, obedecendo a um determinado número de horas de trabalho. Cada fabricante faz as suas recomendações, especifi-

cando todos os intervalos que deverão ser realizadas as trocas de óleo dos sistemas hidráulico e de transmissão, reduções finais e do motor – detalha o profissional. Apesar de haver diversas possibilidades de regulagem, ele recomenda que o agricultor tenha um cuidado maior com a plataforma de corte. – Cerca de 80% a 85% das perdas de grãos durante a colheita ocorrem em função dos mecanismos que compõem a plataforma (barra de corte, molinete e condutor transversal, conhecido como caracol), sendo que o vilão é o molinete (90% destas perdas), único componente que toca na planta fora da máquina, o que pode causar uma debulha grande, nem sempre vista pelo operador – alerta.

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Capa Divulgação

“Ouça” o que a máquina tem a “dizer” Apesar de tanta tecnologia embarcada nos maquinários e equipamentos agrícolas, minimizar esse quadro de perdas continua sendo um dos desafios para os produtores de grãos. Nesse sentido, conhecer o sistema de uma colhedora e suas respectivas regulagens é fundamental. Para Farias, o agricultor deve saber “ouvir” o que a máquina tem a “dizer”. – Existem muitas máquinas antigas, com 30 anos de uso ou mais, que se conservadas e reguladas trabalham bem. Por esse motivo, a capacidade do operador em observar detalhes, escutar ruídos e conhecer as limitações em função do tempo de uso da máquina determinará a condição de trabalho, principalmente, a velocidade em relação às exigências da cultura – salienta Farias. Um dos métodos usados para entender a quantidade de grãos que não está sendo recolhida é o uso do copo medidor volumétrico, desenvolvido pela Embrapa Soja na década de 1980. A metodologia foi adaptada às máquinas e às técnicas de cultivo atuais e é capaz de reduzir perdas e, assim, aumentar a eficiência da colheita. No guia disponível por meio deste QR Code você confere como usar esta ferramenta a favor dos seus negócios.

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Na hora da compra do maquinário, como garantir a melhor eficiência? Hoje já é possível encontrar máquinas no mercado que atendam essa demanda, tendo em vista que cada uma possui suas particularidades. De acordo com o professor Farias, é importante que o agricultor se atente a algumas características, especialmente, no que diz respeito à eficiência da assistência técnica prestada pelo revendedor. – Todas as marcas existentes no mercado hoje são excelentes. Quando me perguntam qual a melhor marca, digo que é a nova. No momento da aquisição devemos atentar para diversos critérios, que podem ser classificados como objetivos ou subjetivos. Aponto como um dos principais a assistência técnica, ou seja, a reputação, a proximidade da propriedade da revenda, bem como o estoque de peças e componentes. Fazer uma visita no almoxarifado do concessionário é uma dica que poucos ou quase ninguém faz, mas é extremamente importante – ressalta Farias.

Agricultores mais conscientes

Toda a tecnologia embarcada de nada servirá se o operador não obedecer as condições de colheita.

Segundo o gerente-geral de vendas da Itaimbé Máquinas, Jean Brasil Barboza da Silveira, as principais características levadas em conta pelos agricultores antes da aquisição de uma colheitadeira são a capacidade de colheita, tamanho da plataforma, graneleiro e motor – itens que identificam a classe da colheitadeira –, além do sistema de trilha, híbrido ou axial, se mantém a qualidade de grão, a assistência do pós-venda, o custo de manutenção e o consumo de combustível. Ainda segundo ele, já é possível observar uma maior preocupação dos consumidores na hora de efetuar uma compra, especialmente no que diz respeito ao índice de perda. – Esse índice é avaliado pelo nível de tecnologia embarcada, pelo monitoramento dos níveis de perda, facilitando a regulagem para as diferentes condições de colheita. O tipo de plataforma utilizada também influencia nos resultados. Atualmente já existe plataforma Draper de 25' a 45', com esteira de borracha, que reduz o índice de perda e os danos mecânicos ao grão – comenta Silveira. Ele ainda salienta que toda a tecnologia embarcada de nada servirá se o operador não obedecer as condições de colheita: velocidade, índice de umidade e produtividade da lavoura. MARÇO | ABRIL 2020


Na estrada 2,4 milhões de toneladas por ano são perdidas no transporte A perda de grãos não ocorre somente na hora da colheita. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), cerca de 206 milhões de toneladas de grãos, como soja e milho, são transportados anualmente no mercado interno e também destinados aos portos. Com base em um estudo de 2018 coordenado pela Companhia e desenvolvido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 2,4 milhões de toneladas, ou seja, 1,5% do volume total, é perdido durante o transporte nas rodovias. Só no escoamento de soja e milho, a conta do desperdício chega a R$ 2 bilhões. No Rio Grande do Sul o desperdício representa 1,7% da produção (355 mil toneladas) e no Paraná são perdidas 461 mil toneladas (1,4%). Para Geverson Pacheco Gazola, do setor de recebimento de grãos da Farótti/Agricenter, de Frederico Westphalen/RS, as perdas se tornam mais significativas nos trajetos entre as lavouras e as unidades de recebimento. “Normalmente os caminhões não possuem uma boa estrutura para acomodar os grãos, o que acaba gerando um volume expressivo de perdas”, acredita.

Uma das medidas que são tomadas pela empresa para minimizar esse quadro é usar graneleiros em vez de carretas-caçamba. “Também solicitamos às transportadoras que vedem as frestas onde há riscos de ocorrer vazamentos”, relata. Já o engenheiro-agrônomo Felipe Bonfanti, da Agrobon, com matriz em Boa Vista das Missões/RS, comenta que um dos métodos utilizados pela empresa para monitorar essa questão é a pesagem dos grãos quando chegam na unidade de recebimento e, após, na chegada ao porto. – Depois que saem da unidade as perdas são menores, justamente pelo uso de carretas e práticas que garantem uma boa vedação, como lonas para proteger a carga. Outra técnica é observar se não há vazamentos no próprio carregamento. A manutenção preventiva da carreta também é fundamental – ressalta Bonfanti. As más condições das rodovias também são apontadas como uma das causas das perdas nas estradas. Entre as demandas do setor cerealista estão a revitalização destas vias, bem como a criação de novos modais de transporte, que podem otimizar os processos de escoamento.

Preparo do solo também repercute na hora de colocar uma colhedora em ação O engenheiro-agrônomo e consultor Alexandre Gazolla Neto alerta para outros manejos, que são feitos ainda antes da semeadura da cultura, milho ou soja, como o mau preparo do solo e a semeadura fora do zoneamento climático. – Esse solo mal manejado ocasiona desníveis no terreno e oscilações na altura de corte. Além disso, quando não é respeitado o período de zoneamento climático ocorre

a baixa estatura ou acamamento das plantas. Cultivares sem recomendação técnica para a região e a presença de plantas invasoras também são fatores indiretos de promoção de perdas – enumera. Outro cuidado é em relação ao nível de umidade. – O teor de umidade dos grãos também está relacionado diretamente com a resistência destes na debulha e ao dano mecânico. A fai-

xa entre 12% e 15% de umidade é a mais recomendada. Claro que isso também depende das condições climáticas adversas anterior à colheita. Nesses casos pode ser necessária uma antecipação, considerando o teor de umidade dos grãos entre 15% e 18%. Com isso, o agricultor deve considerar a necessidade de secagem artificial e se atentar ao risco de deterioração – orienta.

Para uma boa colheita: Prepare o solo já pensando na colheita. Não deixe desníveis no terreno, pois reflete em oscilações na altura de corte das plantas

Não exagere na velocidade. Lembre-se: a velocidade ideal é definida em campo, para isto, observe as condições do terreno e das plantas!

Observe os detalhes. Escute os ruídos, conheça as limitações da máquina em função do tempo de uso. Faça manutenção no período pós-colheita ou entressafra!

Avalie os próprios números. Quanto você está perdendo dentro da lavoura? O que você está fazendo para evitar o desperdício?

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Conte com uma assistência técnica especializada. Na hora da compra de maquinário, opte por concessionárias que tenham um bom histórico na assistência do pós-venda! Na lavoura, peça auxílio profissional para avaliar o quando está “indo pelo ralo”.

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Agricultura

Oferecimento:

1º Show Seed: momento de mostrar inovação e tecnologia ao produtor Gracieli Verde

Fazenda da Taipa, em Condor/RS, recebeu visitantes de toda a região na primeira edição do evento

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om informações sobre conservação e fertilidade de solo, novas cultivares de soja e controle de pragas nas lavouras, o 1º Show Seed, promovido pela Strobel Sementes em parceria com a FT Sementes, foi sucesso. O evento ocorreu no dia 15 de fevereiro. No circuito, os visitantes puderam interagir com diversos especialistas, na sede da Fazenda da Taipa, que integra o Grupo Strobel, em Condor/RS. Profissionais como os professores Maurício Pasini, da Unicruz; e Ricardo Ralisch, da UEL, de Londrina/PR; o fundador da FT Sementes, Francisco Terasawa; o presidente da FT Sementes, Maurício Terasawa, além do responsável técnico da Sementes Strobel, Thiago Strobel, interagiram com o público. Os irmãos Jorge e Daniel Strobel, diretores da Sementes Strobel e do Grupo Strobel, respectivamente, também recepcionaram o público. – Não poderíamos deixar de fazer um encontro para compartilhar não so-

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mente informações sobre os produtos que colocamos no mercado, mas também sobre questões técnicas importantes para quem é produtor rural – assinala Jorge Strobel. Entre os destaques do encontro técnico estava a abordagem sobre conservação de solo, com análises do professor Ricardo Ralisch sobre compactação e fertilidade. – Sempre vamos ter compactação, mas há que respeitar um nível aceitável. Além disso, temos que promover a atividade biológica do solo – reforçou o professor, mostrando como avaliar esse aspecto percebendo a dificuldade de as plantas penetrarem suas raízes no solo. – Se essa raiz não penetra, temos um problema. Para melhorar, temos que usar plantas com sistemas radiculares diferentes, para estimular esse solo de formas distintas. Na prática, isso é tratar a lavoura dentro um sistema de produção, primando pela rotação de culturas e pela cobertura de solo – acrescentou.

MELHORAMENTO GENÉTICO Sobre as novas cultivares de soja, a dobradinha do fundador da FT Sementes, Francisco Terasawa, com o presidente da empresa, Maurício Terasawa – filho do seu Francisco –, fez com que o público conhecesse mais sobre as principais características das sojas que a marca coloca no mercado. Além de opções que já estão sendo usadas em lavouras gaúchas, também foram mostrados lançamentos. – Em um ano bom de clima, todos colhem bem, mas quando há estiagem a gente vê quem tem diferencial. Hoje temos 11 áreas de testes no Rio Grande do Sul e essas pesquisas são feitas há dez anos. Plantamos as variedades em épocas e densidades diferentes e conseguimos visualizar como cada uma se desempenha – comenta Maurício, que é doutor em Genética e Melhoramento de Plantas. As opções vão desde hiperprecoces até os mais tardios, além de cultivares direcionados especificamente para áreas com alta fertilidade e irrigação. – Estamos com foco total no Rio Grande do Sul e empenhados em oferecer cultivares que funcionem bem no clima e solo daqui – reitera Maurício.

QUER SABER MAIS DETALHES DE COMO FOI O EVENTO? Acesse os códigos:

Saiba mais sobre os lançamentos da FT Sementes em novorural.com MARÇO | ABRIL 2020


Tecnologia

Tendências mundiais ao alcance do produtor rural A Arena Agrodigital promete movimentar os cinco dias de programação da Expodireto Cotrijal 2020. Empresas e startups com relevância internacional mostram tendências de produtos e serviços

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ma das novidades que promete movimentar a 21ª edição da Expodireto Cotrijal 2020 é a Arena Agrodigital. Com estrutura circular e medindo 1,7 mil metros quadrados, o espaço da feira promete aproximar ainda mais o produtor rural de soluções inovadoras e tecnológicas para o campo.

Unindo empresas e startups do agronegócio mundial, entre elas a AGCO, Syngenta, Bayer e Basf, o local terá também quatro auditórios com mais de 40 palestras simultâneas, com grandes especialistas do setor. Com auxílio de fones multicanal, os visitantes poderão escolher qual o tema que mais se aproxima da sua realidade.

Grupo Leyzer/Divulgação

Conheça a Arena!

22

estandes com empresas de tecnologias digitais

15

startups

Quatro auditórios com Horário: O espaço estará aberto para visitação de 2 a 6 de março, com programação das 9h às 11h e das 14h às 17h.

80

lugares cada, com telões de projeção de conteúdo e fones multicanal

Programação destaque TERÇA-FEIRA (3 DE MARÇO) 10 horas: palestra com o presidente da John Deere Brasil, Paulo Herrmann. Ele analisa o impacto da inovação e tecnologia em máquinas e equipamentos na produtividade QUARTA-FEIRA (4 DE MARÇO) 14 horas: palestra com o economista e chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins. Ele traça um panorama da Pecuária 4.0 19 | NOVO RURAL

QUINTA-FEIRA (5 DE MARÇO) 10 horas: palestra com o fundador da Hypercubes (empresa norte-americana), Fábio Teixeira SEXTA-FEIRA (6 DE MARÇO) 14 horas: painel com participação dos CIO’s Daniel Misturini (Cooperativa Santa Clara), Ricardo Nizoli da Stihl e Vinicius Malmann (BsBios), mediado pelo gerente de TI da Cotrijal, Luiz Felipe Lopes

Cafeteria gourmet e lounge

Confira a cobertura completa em novorural.com e em nossas redes sociais MARÇO | ABRIL 2020


Negócios

Economia: de olho nas movimentações internacionais Jornalista especializada no setor sinaliza os principais acontecimentos do mercado externo que devem nortear as negociações do agronegócio brasileiro em 2020

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primeiro semestre de 2020 inicia com otimismo para o agronegócio brasileiro, principalmente para o setor de proteína animal, que reagiu depois de quatros anos difíceis e fechou com as exportações em alta no ano passado, especialmente para os produtores de aves e suínos. Essa alta nas exportações se deve a fatores internacionais que influenciam diretamente nas negociações do agronegócio brasileiro, a exemplo da Peste Suína Africana (PSA) que fez a China se tornar o maior cliente de carne suína do Brasil, comprando cerca de 248,80 mil toneladas, volume 61% superior ao que o país importou no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Esta e outras questões externas demandam certa atenção por parte dos produtores, que segundo a jornalista especialista em economia e agronegócio Kellen Severo, devem distinguir os “ruídos” dos “sinais”, principalmente no que diz respeito ao consumo de informações. Ela falou para empresários e produtores rurais no 22º Itaipu Rural Show, em Pinhalzinho/SC, no fim de janeiro.

Coronavírus: como fica o agronegócio? Os possíveis impactos do coronavírus na alta do dólar e, consequentemente, na formação de preço de insumos e produtos do agronegócio, os reflexos da primeira fase do acordo entre Estados Unidos e China e outros aspectos relacionados à macroeconomia e à economia doméstica também são pontos que devem ser observados. Segundo Kellen, quando se fala nos possíveis cenários para este ano e os próximos, não há como deixar de lado algumas consequências já geradas pelo coronavírus na China e em outras partes do mundo. No Brasil, os impactos não devem ser significativos, até porque, a real fonte do aumento das exportações, a peste suína africana, ainda assola o país asiático. – Se o Coronavírus impacta o dólar, interessa ao agronegócio, porque isso reflete diretamente nos nossos preços. Não há dúvidas que economia da China está paralisada em função do vírus e isso pode ocasionar um crescimento menor no próximo trimestre. Ao mesmo tempo, é um país que se recupera rapidamente. Portanto, isso não deve comprometer o agronegócio brasileiro – disse, em tom cauteloso. Nesse cenário, a expectativa é que a demanda do mercado de carnes continue aquecida – o que traz uma certa tranquilidade para regiões produtoras de proteína animal, como o Oeste catarinense e Noroeste gaúcho, por exemplo. “Mas, temos que nos manter competitivos, pois podemos continuar com essa fatia de mercado mesmo depois que a China se recuperar”, acrescenta a jornalista. A partir de algumas conversas com presidentes de frigoríficos brasileiros, como JBS, BRF e Friboi, Kellen também analisa que, em função da insegurança alimentar que pode ser gerada pelo vírus, há expectativa de que o Brasil exporte mais carne congelada nos próximos meses. 20 | NOVO RURAL

Brasil deve sentir os impactos da guerra comercial? Sobre o caso “China x Estados Unidos”, ela acredita que, baseado no que as consultorias têm avaliado, não deve haver recuo significativo no preço da soja. Algum efeito maior poderá ser sentido apenas em 2021. – O acordo ainda é frágil e não nos impacta de forma substancial neste ano, dado que boa parte da soja brasileira já foi comercializada de forma antecipada, quando houve alta do dólar – analisa. Outro fator que traz tranquilidade para o mercado de soja é que a demanda do grão que o país está tendo é adicional, ou seja, já há um volume consolidado com a China que é de 70 milhões de toneladas. A expectativa para este ano é de produzir 123 milhões de toneladas. Caso o Brasil produza esse volume, se tornará o principal produtor de soja do mundo, o que eleva o seu patamar de competitividade. Mas, o que é essa guerra comercial? É justamente quando as duas principais economias do mundo – EUA e China – começam a trocar taxas a fim de dificultar o comércio uma da outra e também diminuir a concorrência do oponente – com isso, o Brasil supriu as necessidades da China. – Isso não significa que as taxas entre os países acabaram, eles só acordaram por um período em que a China se compromete a fazer compras adicionais de produtos dos EUA. Acontece que em janeiro o mercado financeiro não observou nenhuma compra adicional em grande volume feito pela China no país norte-americano, o que demonstra ainda mais a fragilidade do acordo – observa Kellen. MARÇO | ABRIL 2020


Rafaela Rodrigues

Kellen Severo palestrou no 22º Itaipu Rural Show, em janeiro

Novas oportunidades Com a saída do Reino Unido da União Europeia, inclusive fato registrado no dia 31 de janeiro, o Brasil pode ter novas oportunidades, já que o país apresenta potencial para negociações. “O Reino Unido importa praticamente 50% dos produtos agrícolas, então podemos ter novos mercados”, reitera a jornalista.

Os principais alertas da jornalista em relação aos cenários econômicos para 2020

Proteção do ponto de vista dos negócios, ou seja, agir com cautela e fazer reservas nestas épocas de otimismo alto e negócios favorecidos pelo dólar elevado.

Rafaela Rodrigues

Prestar atenção na sanidade das granjas ou nos “boatos” que podem manchar a imagem do Brasil lá fora. Isso é responsabilidade de todos.

Estar de olho na tecnologia que, sem dúvidas, pode potencializar os resultados do setor, mas antes é preciso fazer um “arroz com feijão” bem feito do ponto de vista técnico. Isso exige disciplina para fazer bem feito o que o setor se propõe.

O agronegócio está com o índice de confiança em alta (segundo a Fiesp e OCB), otimismo, demanda crescente e isso gera muitas oportunidades. É preciso estar preparado.

Jornalista especializada no setor é editora-chefe e apresentadora do programa Mercado & Companhia, do Canal Rural

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Para 2020, a comunicação tem um papel importante para o agronegócio justamente para que o produtor possa tomar decisões baseadas em fatos, não boatos ou ruídos

Direto da fonte “O agro virou, de fato, uma identidade” Natural de Uruguaiana/RS, Kellen Severo criou suas raízes no agro através da comunicação. Em 2010, a jornalista formada pela Unifra, em Santa Maria/RS, recebeu a oportunidade de trabalhar como freelancer, o famoso “bico”, no Canal Rural no período de um mês. Ela sabia que seria um momento único para a sua carreira e que era chegado o momento de colocar em prática suas aspirações como profissional da comunicação. O resultado? Trinta dias se transformaram em anos. Em 2020, ela completa dez anos de emissora. Atual âncora e editora-chefe do programa Mercado & Cia, Kellen se especializou em economia e agronegócio, e mais, atuou ao lado de grandes nomes da economia e do jornalismo brasileiro, pessoas que ela considera mentores e que foram fundamentais para a construção do seu perfil como jornalista especializada do setor. “O agro virou, de fato, uma identidade”, declara. Para ela, a comunicação é a peça-chave para sociedade enxergar o agronegócio com outros olhos e, é neste ponto, que a qualidade da informação e profissionalismo do comunicador se tornam imprescindíveis. “O meu desejo é que o Brasil conheça o Brasil e isso passa por uma comunicação eficiente”, reforça a jornalista. Para ela, um dos pilares do agronegócio é o exemplo. Cidades prosperando economicamente com o agronegócio, recorde de produtividade com sustentabilidade ou aquecimento de mercado são bons exemplos apontados por ela. “A gente é mais contagiado pelo exemplo do que pela fala. E contra fatos não há argumentos. Então, que a gente construa fatos, exemplos e que eles falem por si só. Acho que esse é o caminho”, conclui.

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Juventude Rural

Divulgação

Gestão para o futuro Por

Flávio Cazarolli

flavio@focorural.com.br

Engenheiro-agrônomo, especialista em Gestão de Recursos Humanos e palestrante na área de sucessão rural. Gerencia a Foco Rural Consultoria, em Ijuí/RS

Gestão financeira: fluxo de caixa

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erenciar o caixa de uma empresa é função básica de um gestor. Especialmente na área rural, onde as atividades desenvolvidas geram receitas anuais, mas com despesas quase que diárias, conseguir equilibrar entradas e saídas de dinheiro requer muito planejamento, com reflexos, inclusive, nas estratégias de comercialização da produção. A elaboração de um fluxo de caixa orçado é a ferramenta ideal para auxiliar o gestor a se antecipar para atuar nos momentos de desencontro entre disponibilidade de recursos e a necessidade de saldar compromissos assumidos, momentos que geram muita dor de cabeça para o gestor, que sem planejamento precisa recorrer, de última hora, ao mercado financeiro para buscar um adicional de crédito. Nestes momentos, normalmente as linhas de crédito disponíveis são as mais caras, gerando uma despesa financeira adicional ao custo de produção. A estrutura de um fluxo de caixa compreende uma planilha onde nas colunas teremos os períodos de tempo (ex.: semana, quinzena, meses) e nas linhas as receitas e as despesas que farão parte do planejamento e em cada célula da planilha o lançamento dos valores referentes a receitas e despesas alocadas em cada período, conforme compromissos já assumidos ou com previsão de serem realizadas. A última linha é sempre o saldo de cada período analisado. Para elaboração do fluxo de caixa o importante é o gestor utilizar inicialmente os dados levantados no balanço patrimonial. Com as contas de ativo e passivo já contratadas, o gestor inicia a estruturação do fluxo, apropriando em cada período o que já está contratado. Partindo disso, inicia

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as projeções das despesas e custos. De acordo com o saldo verificado em cada período, o gestor vai programando as receitas, sejam elas oriundas de vendas de produtos agropecuários, ou de outras fontes de financiamento. Quando o gestor fizer a previsão da entrada de recursos de financiamentos, não deve esquecer de projetar seu pagamento, com os devidos juros, nos períodos seguintes. Com

Conseguir equilibrar entradas e saídas de dinheiro requer muito planejamento.

este passo a passo, o fluxo vai sendo estruturado para garantir tranquilidade para a empresa quanto ao equilíbrio financeiro, evitando desgastes emocionais e financeiros com situações que poderiam ser previstas. Como ferramenta de gestão, o fluxo de caixa auxilia tanto empresas que precisam ser saneadas como empresas que estão em situação confortável

nas finanças. Para as empresas que enfrentam uma situação difícil, o fluxo de caixa permite se antecipar aos piores momentos, possibilitando a elaboração de uma estratégia que envolve negociação com credores e alongamento das dívidas, corte de despesas e custos, venda planejada de algum ativo. Nestes casos também permite aos empresários analisarem sua situação e ver se existe “luz no fim do túnel”, ou seja, se no longo prazo a situação poderá melhorar. Para as empresas sadias, que não têm problema quanto a disponibilidade de recursos para saldar seus compromissos, o fluxo de caixa serve, especialmente, como ferramenta de planejamento comercial. Dessa forma, permite ao produtor identificar os períodos de maior necessidade de recursos e confrontar isso com as análises de mercado dos produtos agropecuários, fazendo com isto um plano comercial que busque estabelecer o momento da venda pelo estudo do mercado e não simplesmente porque tem uma necessidade de caixa, como verificamos na maioria das vezes, ou seja, o produtor vende quando precisa de caixa e não por estratégia comercial. Nesses casos de empresas com superávit, o fluxo de caixa também auxilia no estudo de novos investimentos. Ao analisar as disponibilidades de caixa o produtor tem uma boa referência para planejar seus investimentos, conseguindo avaliar seus impactos na movimentação financeira e nos resultados do negócio. O fluxo de caixa é uma ferramenta de fácil elaboração para as empresas que possuem os controles financeiros bem organizados, sendo muito útil para controle e, principalmente, como instrumento na tomada de decisões.

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Boas práticas

OFERECIMENTO:

NA PECUÁRIA

Veja os próximos episódios em novorural.com

Um pesadelo chamado brucelose Pecuarista relata como tem sido conviver com a doença. Considerada uma zoonose, que pode ser transmitida dos animais aos humanos, isso tem alterado a rotina do casal Stein Dal Cero

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a linha Alegria, em Cunha Porã, no Oeste de SC, os últimos tempos não têm sido tão alegres assim para o casal Keli, 31 anos, e Eder Stein Dal Cero, 37, e o filho Ezequiel, de 10 anos. Isso porque os planos na pecuária de leite foram freados pela incidência de brucelose no plantel da família, que atua há pelo menos uma década na atividade. Além disso, o que mais tem mudado a rotina é que Keli também contraiu a doença. É de conhecimento que a brucelose é uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida dos animais às pessoas. A contaminação pelas bactérias do gênero Brucella é mais frequente em pecuaristas

que precisam auxiliar os animais na hora do parto e acabam não usando luvas, por exemplo. – Perdi as contas de quantas vacas eu ajudei na hora de parir. É algo comum para quem trabalha com esta atividade. Infelizmente a gente esquece de usar luvas e passa despercebido – comenta a jovem agricultora. – Eu sempre digo que temos que tomar cuidado, porque só eu sei a dor que passo no dia a dia com essa doença. Mesmo com o tratamento, minha imunidade baixa com frequência e fico exposta a febres altas e dores constantes nas articulações. Não há nada que pague a saúde da gente – desabafa Keli. Essas dores relatadas por Keli são alguns dos sintomas da doença, assim como essa instabilidade do organismo, com propensão a ter mais infecções. – Esses são os sintomas que praticamente todos os pacientes em que a doença se manifesta têm. Pode dar febre noturna e esses casos variam muito, por isso que a doença é de difícil diagnóstico – comenta a enfermeira Andreia Costa, da Secretaria Municipal de Saúde de Cunha Porã/SC. O casal Stein conta que em 2008 fizeram exames no plantel e não havia nenhum caso na propriedade. Em 2017,

porém, compraram dez vacas e, por desencontro de informações, esses animais foram registrados como se fossem para engorda – que não têm exigência legal dos exames – e não para produção leiteira. Com isso, eles foram testados para brucelose apenas depois de já estarem na propriedade. Foi em 2019 que todas essas vacas apresentaram a presença da bactéria Brucella. De imediato, o plantel foi descartado e Keli, o esposo e o filho também fizeram os exames. Paralelamente a isso, Keli já era acompanhada por um médico ortopedista na cidade vizinha de Maravilha/ SC, tamanha eram as dores que sentia. Até exame para ver se estava com câncer nos ossos foi feito antes de diagnosticar a brucelose. As dores ainda acompanham a pecuarista, principalmente nas articulações. Níveis de infecção no sangue estão sempre altos nos exames e, mesmo já tendo feito alguns tratamentos, agora aguarda mais uma etapa, uma vez que os últimos exames ainda indicam a ação da bactéria no corpo. Ela tem o acompanhamento da equipe da Secretaria de Saúde de Cunha Porã/SC, um infectologista da cidade de Chapecó/SC e tem acesso aos medicamentos por meio da Secretaria de Estado da Saúde de SC.


Parceiros do leite Pecuaristas trocam plantel de vacas leiteiras por aves de corte Rafaela Rodrigues

Investimentos em outras áreas permitem que produtores migrem de atividade agropecuária, mas não deixem o campo. Em Iraí, família Schnell faz parte deste movimento e trocou a pecuária de leite pela avicultura de corte

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Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite, divulgado em 2019 e que já foi pauta na nossa edição de janeiro e fevereiro, mostra uma redução no número de produtores envolvidos com a atividade na região do Médio Alto Uruguai e Coredes Rio da Várzea. Esse cenário também se repete em nível de Estado. Dentre os motivos elencados estão a falta de mão de obra e sucessão familiar, a baixa escala de produção, a dificuldade em atender os padrões de qualidade exigidos pela indústria e o preço pago ao produtor. Com o otimismo em torno da produção de proteínas animais, a avicultura é uma das atividades que tem estado na mira de pecuaristas que buscam por investimentos que garantam rentabilidade a médio prazo e com perspectiva de crescimento, a exemplo dos irmãos Schnell, da comunidade de Barra Grande, em Iraí. Eles migraram da bovinocultura de leite para avicultura há pouco mais de um ano. O investimento se deu a partir da vontade de Anderson Schnell, 23 anos, e Maicon Schnell, 26 anos, de permanecer em casa. Filhos do seu Vanderlei, 58 anos, e da dona Vânia, 51 anos, os jovens enxergam na avicultura uma oportunidade para ter mais autonomia nos negócios, além de mais qualidade de vida. Os dois aviários que estão sendo construídos, com capacidade para abrigar 60 mil aves, representam um investimento de R$ 2 milhões. Com a conclusão das estruturas, que deve ocorrer em meados de abril, os dois jovens devem gerenciar o empreendimento com o apoio da família, que não mediu esforços para garantir a permanência dos irmãos na propriedade. – Nós queríamos outro negócio que pudéssemos trabalhar em conjunto, investir em tecnologia, aproveitar os nossos 25 hectares e a mão de obra familiar disponível. Acabamos nos identificando com a avicultura. Estamos otimistas com o investimento e temos vários planos para o futuro – adianta Anderson. Os aviários representam o início dos investimentos por parte do município no setor avícola. Os Schnell, inclusive, são um dos primeiros integrados da JBS/Seara de Seberi em Iraí – tendo em vista que maior parte do município ultrapassa o raio (60 km) de abrangência do frigorífico – a área da propriedade em que se encontra os aviários está localizada a exatos 59,5 km de distância. Além da assessoria prestada pela JBS/Seara em todo

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Anderson (esquerda) e Maicon (direita) apostam na avicultura para a permanência no campo

o processo de implantação dos aviários, os irmãos Schnell contaram com o apoio da administração municipal e da Emater/RS-Ascar, que trabalham juntas para fomentar a atividade em Iraí. – Uma das principais atividades agrícolas do município é a bovinocultura de leite, mas também tem um grande potencial para a ampliação da avicultura. A história do Anderson e do Maicon, sem dúvida, servirá de inspiração para outros jovens e produtores que pretendem investir em outras atividades na propriedade – acrescenta o técnico-agropecuário Evandro Schnell, da Emater/RS-Ascar.

Investimento em outras áreas é um dos motivos da saída da pecuária de leite

Esse fenômeno visto na família Schnell, de Iraí, faz parte deste novo contexto socioeconômico, em que muitas das famílias pecuaristas de leite optam por trocar de fonte de renda na propriedade. Os fatores que influenciam essa troca são os mais variados, desde uma questão de afinidade com o segmento, ou até mesmo a necessidade de adaptar a rotina diária de trabalho à mão de obra disponível. – Temos vários casos assim na região e por isso que é preciso ter uma análise muito coerente desse novo cenário que vem se estabelecendo. Em muitos casos, isso faz parte de uma busca por outra alternativa de renda para a família e não necessariamente que esta vai sair do meio rural – avalia o agrônomo Valdir Sangaletti, que atua no Escritório Regional da Emater/RS-Ascar em Frederico Westphalen. Em novorural.com/prosadocampo você confere um episódio do podcast Prosa do Campo com mais análises do agrônomo Valdir Sangaletti, no quadro Parceiros do Leite. Siga também nosso podcast no Spotify

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Parceiros do leite Bezerros exigem atenção na hora de monitorar doenças

A

Gracieli Verde

fase inicial de vida de qualquer animal é um dos períodos que exige maior atenção dos produtores, ou pelo menos deveria ser. Neste caso, os bezerros, durante as primeiras semanas, correm maior risco de adquirir

doenças e infecções. Por esse motivo, é necessário o constante monitoramento para detectar, o mais cedo possível, qualquer sintoma de doença. Compreender as causas e os sintomas no início fazem toda a diferença no ciclo produtivo do rebanho.

PRINCIPAIS DOENÇAS Diarreia Causas: bactérias enteropatogênicas, vírus, sucedâneos lácteos mal formulados, superalimentação, falta de higiene e outras falhas de manejo. Sintomas: Pode provocar, por metástase, o aparecimento de pneumonia, formando um quadro denominado de pneumoenterite. Babesiose Causas: O principal agente transmissor da Babesiose no Brasil é o carrapato Boophilus microplus. Sintomas: Febre alta, falta de apetite, fraqueza, paralisação da ruminação, orelhas caídas, queda na produção de leite, frequência cardíaca e respiratória acelerada e anemia. Anaplasmose Causas: Transmitida através da saliva do carrapato. Porém, se tratando de regiões endêmicas, onde os bezerros são expostos ao

agente etiológico bem cedo, são frequentes perdas econômicas por atraso no desenvolvimento e morte. Sintomas: Febre, perda do apetite, emagrecimento, pelos arrepiados, taquicardia, taquipnéia, redução dos movimentos de ruminação, anemia e icterícia Pneumonia Causas: Corpos estranhos e parasitárias Sintomas: Inflamação dos bronquíolos. Clinicamente manifesta-se por um aumento na frequência respiratória, tosse e sons respiratórios anormais na auscultação. Onfaloflebite Causas: Inflamação do “cordão umbilical”, causada por contaminação quando o bezerro nasce. Sintomas: Aumento de volume no umbigo, com a presença de exsudato, que pode estar ou não exteriorizado.

Homeopatia auxilia no fortalecimento do sistema imunológico A nutrição tem um papel fundamental nesse processo e pode trazer efeitos a longo prazo na vida do animal, como a melhoria do sistema imunológico, o aumento precoce do desenvolvimento mamário, a alteração do funcionamento endócrino, a maior deposição de tecidos magros e produção futura de leite. Aliado a isso, a utilização de produtos terapêuticos naturais, a exemplo da homeopatia, que trabalha para fortalecer rapidamente o sistema imunológico, favorece a redução das diarreias neonatais e outras doenças que podem acometer nas fases iniciais de vida do animal. Essas informações fazem parte de um estudo realizado pelos professores Alexandre Vaz Pires e Ivanete Susin, da Esalq, complementado pelo médico-veterinário e diretor-técnico da Hpharm, César Alberto Coutinho


Especial: Mulheres no Agro Divulgação

Camila Telles divide a rotina como empresária e influencer digital. A Hortaria, criada dentro da fazenda da família, em Cruz Alta, foi o seu primeiro negócio

“Tenho muita gratidão por ter crescido no interior” Nova geração feminina do setor acredita no potencial que a agropecuária tem para fazer a diferença na economia e na qualidade de vida das pessoas 26 | NOVO RURAL

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Por

Rafaela Rodrigues | jornalismo@novorural.com

A

gricultoras, pecuaristas, empreendedoras nos mais variados ramos, empresárias e até agroinfluencers. O espaço das mulheres no setor agropecuário tem sido de protagonismo, seja pela forte atuação nas mais diversas rotinas de trabalho e também nos processos de inovação. Nos últimos anos, o movimento em torno da participação delas nos negócios rurais têm crescido, tanto em números como na mídia. O mais recente Censo Agropecuário do IBGE revelou que 19% dos estabelecimentos brasileiros são gerenciados por mulheres – em 2006 eram 13%. Isso corresponde a mais de 946 mil unidades produtivas em todo o país. Por mais que o ideal, talvez, seja tornar os fatos classificados como “conquistas” cada vez mais naturalizados dentro do setor, não há como deixar passar em branco o Dia Internacional da Mulher. Tratar o assunto nesse tom poderá permitir que novas gerações tenham outras relações com questões de gênero no meio rural, permitindo uma convivência mais saudável e construtiva na família e na comunidade. A reportagem da Novo Rural conversou com algumas mulheres que entendem o quanto podem contribuir com o setor, independente de gênero ou contexto social em que vivem.

Moçada traz outros conhecimentos para a propriedade rural Os passeios a cavalo com o pai, o gosto do avô pela terra e as brincadeiras de capinar com a avó estão guardados carinhosamente na memória da relações públicas Camila Cesca Telles, de 26 anos, gaúcha que hoje mora em Curitiba, mas mantém os vínculos com a fazenda da família, localizada no interior de Cruz Alta – ela é filha do produtor João Augusto Telles, 56, e dona Elisa, 54, e tem também a irmã Letícia, de 20 anos. Filha e neta de agricultores, ela construiu os valores alicerçados na lida do campo, influenciada

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Vi minha mãe, que é uma referência de mulher forte e empreendedora, administrando a parte mais importante, que é o financeiro. também pelo avô Constantino Cesca, 87 anos, e pela avó Rosa, 90. Mesmo depois de cursar Relações Públicas na PUC/RS, em Porto Alegre, segue firme dando suporte nos negócios da família, principalmente na Hortaria, empreendimento que criou com a mãe e hoje fornece hortaliças por meio de venda direta para consumidores. – Tenho muita gratidão por ter crescido no interior, tenho lembranças incríveis dos meus avós e dos meus pais. Foram eles que me ensinaram a gostar da terra. Sempre vi de perto o quanto era difícil e trabalhoso atuar no campo – recorda, ressaltando que sua família sempre fez questão de preservar a essência do rural e também da cultura de seus bisavós, que são imigrantes italianos. A família sempre apoiou as meninas – tanto Camila como Letícia – na formação de suas próprias opiniões e valores, muitos deles colocados em prática no negócio da família – que além da Hortaria tem a produção de soja, milho e trigo. Nas estufas são mantidas produções de verduras e temperos no sistema de hidroponia e semi-hidroponia, de “forma segura e responsável”, como Camila mesmo diz. – Depois de me formar eu acabei voltando para a fazenda, comecei a trabalhar lá e senti na pele como é a vida de uma produtora rural. Pas-

sado um tempo, surgiu a ideia de montar um outro negócio dentro da fazenda, com o intuito de levar um pouco do interior para as pessoas da cidade – declara, comentando sobre a hortaria. As inspirações também vêm da mãe e da avó. – Vi minha mãe, que é uma referência de mulher forte e empreendedora, administrando a parte mais importante, que é o financeiro. Minha avó fazendo toda a parte social da fazenda para manter essência do campo. Mais do que isso, eu pude crescer com mulheres que fizeram total diferença no negócio da família, ou seja, sempre tive referências positivas – declara.

Comunicação como ferramenta estratégica Hoje, além da Hortaria, Camila está envolvida com o seu mais novo projeto, a AGB Comunicação e, por este motivo, passa a maior parte do tempo em Curitiba, no Paraná. Ela também divide a rotina com estudos e a gravação de vídeos, atividade que fez ela ser conhecida nacionalmente – a cantora Anitta que o diga, diga-se de passagem. A relações-públicas/produtora rural/influencer digital está no time dos “defensores do agro” na internet, ou melhor, os agroinfluencers. – Eu defendo o agro há muito tempo. Eu fundei a Comissão Jovem no Sindicato de Cruz Alta, inclusive. Faço parte do Sindicato de Cruz Alta, da Comissão Jovem da Farsul, fiz parte de várias outras comissões jovens ligadas à pecuária e, além disso, antes mesmo de ir para a faculdade, já defendia o agro. Sempre levei essa pauta comigo por onde eu ia – frisa. Com experiência em grandes veículos de comunicação, Camila vislumbrou um gargalo que o campo tinha na comunicação. Foi então que ela começou a se dedicar nessa área. “Eu comecei ministrando palestras, ainda em 2015, abordando justamente em como utilizar a comunicação como ferramenta estratégica para valorizar o agro”, revela

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Especial: Mulheres no Agro Divulgação

“Pre-pa-ra que agora é hora de conhecer o agro!” Em suas redes sociais, a cantora brasileira Anitta, conhecida mundialmente, fez colocações errôneas a respeito da produção de leite, em outubro de 2019. Como um desabafo, Camila teve a ideia de fazer uma paródia, em resposta a cantora. O resultado? O vídeo simplesmente viralizou. – Eu não imaginei que ia ter tanta repercussão assim, só me dei conta quando a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, compartilhou meu vídeo. Foi aí que eu encontrei uma linguagem para falar com esse público que não conhece tão bem o agro, então comecei a desenvolver meu material na internet – explica. Os mais de 75 mil seguidores no Instagram e os mais de 4 mil no YouTube foram conquistados pelos conteúdos dinâmicos e informativos criados por Camila Telles, muitos deles em resposta a conteúdos publicados em veículos de comunicação de relevância nacional ou por pessoas públicas, que interpretam alguns dados técnicos do setor de forma errônea e disseminam como verdade, distorcendo a realidade do campo, segundo ela. “O nosso desafio é comunicar a sociedade em geral para que eles consigam enxergar o agro como uma solução, não como problema”, defende Camila, que usa como fontes oficiais de informação canais disponíveis para todos, como o site do Ministério da Agricultura, Embrapa, entre outros. Ela também ressalta a importância de informar a geração millennium, a “geração da internet”, formada pelos adolescentes e jovens de hoje em dia. “Eles prestam muito mais atenção em um influenciador do que em um pesquisador, por exemplo. Então a internet também é um meio de chegar nesse público, pois eles são o futuro do agro, do país como um todo”, observa. Reprodução-Youtube

Canal: Camila Telles

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Os pilares sempre na “ponta da língua” Questionada pela reportagem da Novo Rural sobre quais são os pilares considerados fundamentais para um agronegócio forte do ponto de vista econômico e sustentável, Camila responde prontamente. – Uma comunicação eficiente, uma agropecuária cada vez mais sustentável, investimentos em pesquisa e em cursos de idiomas, como o inglês, espaço para os jovens e capacitação adequada – citou. Ela também praticamente convocou aos demais profissionais do setor a defenderem o próprio trabalho. – Não deixem de defender o agro, acreditem na sua essência, no seu propósito de gerar um Brasil cada vez melhor e, mais do que isso, transmitam isso para as pessoas. Independente se você for pequeno, médio ou grande produtor, a sua relevância é a mesma para o país e para o mundo – reitera. MARÇO | ABRIL 2020



Especial: Mulheres no Agro

Elas vislumbram no meio rural os negócios da família Adriana Friedrich/Divulgação

Para muitas mulheres, o agro dá a oportunidade de empreender e valorizar habilidades rotineiras herdadas de gerações passadas

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Silvanea na Agroindústria Pipiri

Ambas as propriedades citadas neste conteúdo fazem parte da Rota Turística Caminhos do Pito, lançada recentemente em Três Palmeiras.

O roteiro completo você encontra em novorural.com ou através deste QR Code com a câmera de seu smartphone!

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ara a Silvanea Brembatti, 43 anos, o meio rural representa uma oportunidade de estar perto da família, em especial dos filhos Guilherme, 11 anos, e Bernardo, 9 anos. Natural de Constantina/RS, ela se mudou para Três Palmeiras/RS quando se casou com o Valmir Gomes Ferreira, 41 anos, e desde então trabalha como diarista na cidade. A rotina de Silvanea mudou quando ela e o esposo resolveram utilizar um espaço da propriedade, localizada na Linha Pipiri, para construir uma agroindústria de embutidos, a Embutidos Pipiri. Atualmente, ela ainda concilia a profissão de diarista com a de empresária rural. O negócio recente da família está a todo vapor. Segundo Silvanea, o volume de produção tem superado as expectativas, inclusive, já estão pensando em aumentar a variedade de produtos. Hoje, os principais são copa, costela e salame defumados, além de linguiça, banha e torresmo. Para se ter uma ideia, por semana são comprados 120 kg de carne suína, adquirida em um frigorífico, para produção de salame. Em torno de 80 kg/semana são destinadas para produção de linguiça e 10 kg/semana para produção de torresmo e banha. Para completar, a agroindústria está prestes a aderir ao Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf), que vai permitir a comercialização dos produtos para todo o Estado. – Sempre tivemos vontade de construir um negócio da família, justamente para eu ficar mais perto dos meus filhos, inclusive do mais novo, que precisa de cuidados especiais. Por este motivo, está sendo uma experiência muito boa. Estamos otimistas com agroindústria, já que outros municípios se mostraram interessados em nossos produtos antes mesmo de termos o Susaf – comemora Silvanea, que hoje conta com o apoio do esposo para gerenciar o negócio.

INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA E ESTABILIDADE Para Karina Kopsell, 33 anos, o campo significa um recomeço. Mais do que isso, independência financeira e estabilidade para garantir um futuro melhor para a filha Tatieli, de 12 anos. Não diferente da Silvanea, Karina, natural de Passo Fundo, se mudou para Três Palmeiras depois de casada, em busca de novas oportunidades junto ao esposo Joelson, 35 anos, que é natural do município e sabia que tinha um espaço garantido na propriedade de família, na Linha Caramuru. Na época, eles resolveram investir na produção de leite, mas acabaram não tendo êxito na atividade como o esperado. Com a filha pequena e as contas “apertando”, eles se viram na obrigação de trabalhar fora. Foi então que a Karina conseguiu emprego em um frigorífico, onde trabalhou por MARÇO | ABRIL 2020


quase nove anos. Nessa rotina que ocupava a maior parte do seu dia, ela sentiu que estava deixando de acompanhar o crescimento da filha. Então decidiu que era hora de parar e dedicar-se mais a ela. Passado um tempo, ela começou a trabalhar como diarista na cidade, profissão que garante, até hoje, parte do sustento da família e permite que ela cumpra a função de mãe como sempre quis e também a de empreendedora. Aliando o seu dom e o da sogra Ivani de fazer cucas e bolachas, Karina começou a produzir de forma artesanal esses produtos e comercializá-los em pequenas quantidades. O sucesso foi tão grande que rendeu uma encomenda de 500 cucas para uma festa de comunidade. Para dar conta do pedido, foi preciso investir em um forno de capacidade superior, instalado na própria cozinha de casa. As encomendas começaram a aumentar. Depois de quase cinco anos analisando a ideia, construíram um espaço com o apoio de todos da família que hoje é chamado de Agroindústria Pão Doce. Depois de encaminhados os documentos e realizadas as adequações necessárias para a regularização sanitária da estrutura, os Kopsell são só alegria, inclusive a Karina, que deu o pontapé inicial para o negócio. – A união da família foi muito importante em todo o processo. Hoje produzimos mais de 50 cucas por semana, além de pães, bolos, salgados e doces. Mesmo que a minha filha tenha outros sonhos e objetivos, a agroindústria é algo que vou poder deixar para ela, é uma segurança para nós – afirma Karina.

PARA NEGÓCIOS! PARA VOCÊ!

29 de Abril a 3 de Maio Frederico Westphalen/RS

DA ENTRA ITA U GRDoaAçãTo de 1Ktog en de alimecível não per

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30/04

QUARTA-FEIRA

QUINTA-FEIRA

Adriana Friedrich/Divulgação

30/04

1º/05

QUINTA-FEIRA

SEXTA-FEIRA

2/05 SÁBADO

PATROCÍNIO

O CONHECIMENTO MUDA SUA VIDA

REALIZAÇÃO:

AFRED

Karina na Agroindústria Pão Doce

Associação Frederiquense de desenvolvimento

APOIO:

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Finanças Oferecimento:

Sicredi/Divulgação

Fruticultura é opção para propriedades familiares Cooperativas da região auxiliam produtores a investirem na ampliação do espaço e qualificação da cultura

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omentar as diversas culturas produzidas na região é um dos focos de atuação do Sicredi. E como a fruticultura é um dos setores de maior destaque do agronegócio no país – que possui clima propício para esta produção –, o Sicredi sempre acreditou e impulsionou o setor, que gera oportunidades nas propriedades familiares e resultados financeiros significativos a quem investe. Para atender a demanda de crescimento da fruticultura, o Sicredi oferece várias opções, como custeios e investimentos para serem aplicados e desenvolvidos na propriedade, conforme a necessidade, além de orientações com equipes especializadas, voltadas especificamente ao setor agro, para o associado realizar seus projetos com tranquilidade e segurança. Os recursos são disponibilizados para atividades que incrementam a produtividade, geração de renda, aumento de emprego e/ou melhora nos processos de produção das atividades agropecuárias. Como a região tem clima adequado à produção de frutas, os agricultores apostam anualmente nesta cultura, especialmente em nectarina, pêssego, morango, laranja, figo e uva. Vinculados ao Sicredi, nas três Cooperativas – Alto Uruguai RS/ SC/MG, Grande Palmeira RS e Região da Produção RS/SC – são centenas de produtores, que a cada safra buscam ampliar a área de plantio ou qualificar o cultivo. Entre eles, está o associado Admar Rauch, de São José das Missões/ RS, que trabalha com morango a mais de 16 anos. – Possuo 12,5 hectares de terra e plantava milho, mas com o passar do tempo notei que era necessária a di33 | NOVO RURAL

versificação, então pesquisei e iniciei na fruticultura. Quando comecei, eu tinha apenas um banquinho e vendia às margens da BR e hoje possuo meu próprio negócio, onde comercializo meus produtos e outros coloniais da região. Produzo em média 10 mil quilos de morango por ano e também já estou com dois hectares de pêssegos em produção. O Sicredi foi um grande parceiro. Possuo duas estufas que foram financiadas com recursos da cooperativa e estas instalações melhora-

ram a qualidade da produção. E no fim do ano, com a chegada da maquininha compacta do Sicredi, consegui aumentar muito as vendas e ter melhor controle das minhas finanças. Dessa forma, é possível planejar novos investimentos, pois a cada dia devemos nos aprimorar e seguir diversificando nossa produção. Tenho certeza que no que for preciso o Sicredi estará ao meu lado, me apoiando como sempre fez, desde que comecei na atividade – comenta Rauch.

Já o associado Mauro Josoe Liticoski, de Ametista do Sul/RS, trabalha com a produção de uvas. – A nossa família começou a investir na cultura em 2000, pois éramos pequenos produtores e o meu pai pensou em diversificar, com o propósito de poder proporcionar um futuro melhor para os filhos. Começamos com menos de meio hectare e expandimos a plantação com o passar do tempo. Hoje, temos quatro hectares de videira, entre as variedades bordô, isabel e niágara rosa para comercialização in natura. A Cooperativa sempre foi nossa parceira, nos ajuda através dos programas que oferece – no nosso caso, integramos o Propriedade Sustentável –, e também através do custeio e de financiamento para adquirirmos maquinário e conseguirmos a expansão dos parreirais. O Sicredi nos oferece um apoio que sempre podemos contar para qualquer investimento que resolvermos fazer na propriedade e, para nós, isso é fundamental – relata Liticoski.

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Cooperativismo Espaço Cooperativo

Repórter

Por

Marcia Faccin

marcia.faccin@mail.com

Coordenadora da Unidade de Cooperativismo do Escritório Regional da Emater/RS de Frederico Westphalen

Apoio técnico:

Rafaela Rodrigues

É tempo de participar!

F Novidades na área de atendimento

O

Grupo Creluz está com novidades na área de atendimento. Agora, os associados e consumidores poderão solicitar ou interromper fornecimento de energia,

trocar titularidade da conta, religar a unidade consumidora, acessar cadastro do consumidor, entre outros serviços, por meio do WhatsApp, através do número (55) 9.9685-0468.

Os serviços com foco específico na área comercial foram habilitados para 29 processos da cooperativa e funcionam de segunda-feira a domingo, das 6h

às 23h59min, por meio do call center. A plataforma funciona por mensagens de texto e não identifica mensagens de áudio e vídeo.

Outra novidade que deve agilizar e oferecer comodidade no atendimento é a possibilidade de efetuar o cadastro ou fazer atualização cadastral diretamente no site www. creluz.com.br. Para essa

função, basta acessar o campo Serviços On-line. De acordo com o Grupo Creluz, manter o cadastro atualizado é a garantia de mais eficiência, agilidade e segurança no atendimento ao associado.

oi desencadeado no mês de fevereiro o período mais importante da vida de uma cooperativa, que são as assembleias de núcleos ou as assembleias gerais ordinárias. É o período em que os dirigentes cooperativos apresentam para os seus associados o desempenho que a cooperativa obteve no decorrer de 2019 e o plano de ação para 2020, momento importantíssimo em que os associados são convocados. Isso mesmo, a lei diz que o presidente da cooperativa convoca seu quadro social para participar de sua assembleia geral ordinária ou assembleia de núcleo – utilizadas por cooperativas maiores para oportunizar a participação do maior número de associados. Não quero aqui me reportar apenas a questão legal da convocação, mas falar um pouco da importância de nós, associados, donos da nossa cooperativa, participar deste importante momento. É hora de participarmos ativamente e atentamente, ouvirmos os números que estão sendo apresentados, perguntarmos quando não entendemos e sugerirmos melhorias quando julgamos necessário. É neste momento que devemos opinar, elogiar, criticar, sugerir, perguntar e discutirmos a vida da cooperativa, não é com os vizinhos ou no bar no fim de semana e, muito menos, na esquina com qualquer conhecido, pois se somos sócios da cooperativa, somos parte integrante do processo, se não concordamos com alguma coisa, é nesta ocasião que devemos opinar. Se não quer se expor para todos da assembleia, converse com um dos membros do conselho de administração, do conselho fiscal, pois são eles os nossos representantes que participam das reuniões mensais durante o ano. Não deixe de registrar a sua sugestão. Não vá à assembleia só pelo almoço, janta ou lanche. Vá para escutar, conhecer, participar e contribuir para o crescimento da sua cooperativa e, claro, também confraternizar. Uma cooperativa só é forte quando todos ou a grande maioria dos seus associados trabalham ativamente para o seu crescimento e fortalecimento. Participe, valorize este importante momento de diálogo e troca de informações com os dirigentes. Precisamos cada vez mais fortalecer, valorizar, participar e reconhecer o importante papel que as nossas cooperativas têm no desenvolvimento local e regional. Seja um associado atuante, participe das assembleias e priorize negociar com a sua cooperativa. Até a próxima!

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CooperAtivas Por

Pedro Luís Büttenbender plbutten@gmail.com

Doutor em Administração, mestre em Gestão Empresarial, especialista em Cooperativismo e administrador. É professor-pesquisador da Unijuí/RS, assessor e associado a cooperativas.

Cooperativismo é solução para crise

O

cooperativismo se constitui na fórmula sábia e, por vezes, quase milagrosa para solucionar crises. As mudanças, novas relações sociais, tecnologias, instabilidade e a insegurança, no seu conjunto, produzem crise(s). Esta(s) podem gerar diferentes impactos e durações. As pessoas menos preparadas, neste contexto, facilmente tornam-se mais absolutistas e se apegam a posições fanáticas, radicalizando suas posições, sem conseguir explicar corretamente as razões. A crise pode ser econômica, social, organizacional, técnica, comportamental, ambiental, etc. A sua amplitude pode ser global, nacional, estadual, regional e/ou local. Na dimensão temporal, pode ser no entendimento da situação atual que vivemos e sua comparação com o passado. Mas, principalmente, pela complexidade e desafiadora capacidade de imaginar e projetar o futuro, desde o curto até o longo prazo. Se você, que está lendo esta coluna até aqui e vive alguma crise, lhes parabenizo. Parabenizo, pois colocar-se em crise é abrir-se para a possibilidade do novo, demonstrando a capacidade em reconhecer que estamos todos mudando e evoluindo. O absolutista, o totalitário, o radical não vê crise e tampouco entende crise. Ele vive as consequências de suas posições do “a favor” ou “contra”. A sociedade atual requer um pensar muito mais coletivo do que o mero individual. O individualismo sempre foi nefasto à sociedade, pois atende apenas a alguns poucos, poderosos e concentradores de renda e de direitos. A sociedade colaborativa e do conhecimento, moderna,

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A sociedade atual requer um pensar muito mais coletivo do que o mero individual. das redes sociais, da inteligência artificial e dos desafios da vida cotidiana nos coloca, mais do que nunca, no desafio do pensar coletivo, do pensar propositivo e organizacional, da cooperação. Desta forma, o cooperativismo se coloca como uma estratégia, uma forma de pensar mais coerente para a promoção do desenvolvimento sustentável. Entendemos aqui que desenvolvimento sustentável vai muito além da perspectiva ambiental, contemplando a geração e distribuição da renda, a equidade e justiça social, a solidariedade, a inclusão e a garantida e estabilidade do estado de direito. A tipologia organizacional que tem presente esta perspectiva de desenvolvimento é o cooperativismo. Tenha presente, amigo leitor, que o cooperativismo valoriza e reconhece a importância das atuais organizações sociais e cooperativas da região, do Brasil e do mundo. Mas, o entendi-

mento aqui vai mais além, sendo ele um processo educacional contínuo, onde o cooperativismo se constitui num sistema de organização e de vida, atingindo a todos, mesmo os que dele nem fazem parte. Com os pés no chão, olhe ao seu redor. Nestes tempos minguados, quais organizações se traduzem em esperança, em melhoria e em investimentos. Observe dentre as organizações financeiras, são as cooperativas as que abrem novas agências, se aproximam dos pequenos municípios, integram as pessoas, lhe geram das melhores soluções financeiras e no final ainda lhe devolvem as sobras geradas. Nos investimentos da agricultura e agroindustrial, são as cooperativas que fortalecem a produção, investem em novas plantas industriais, buscam novos mercados e geram alternativas de trabalho e renda no campo e na cidade. Na área de energia, são as cooperativas de infraestrutura que estão liderando os investimentos em geração e na melhoria das redes de distribuição de energia, em todas as regiões. Na saúde, onde querem inclusive desmantelar o SUS, se não são as cooperativas de saúde, que protagonizam os investimentos mais qualificados. Na agricultura familiar, o protagonismo das cooperativas buscando e investindo na educação e qualificação da sua gente, promovendo a inclusão de jovens e mulheres e gerando novas alternativas de trabalho e agregação de valor. Entenda bem os propósitos da campanha da Fraternidade 2020 e contribua na construção de uma sociedade mais igualitária, justa e feliz. Para isto, sigamos em cooperação!

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Realização:

Escolha a saúde, prefira colher! A ingestão de alimentos in natura é a mais recomendada pelo Guia Alimentar da População Brasileira. Mas, também existem os processados, os minimamente processados e os ultraprocessados. Você sabe qual a diferença entre eles?

MINISTÉRIO DA SAÚDE

A

oferta de alimentos cada vez mais artificiais e com adição de conservantes, mas que ao mesmo oferecem uma experiência “divertida”, como a veiculada nos comerciais, e um sabor atraente no paladar de quem sequer sabe o quanto aquele produto pode prejudicar a saúde, tem ganhado espaço e mudado os hábitos alimentares da população brasileira nos últimos anos. Tal (des)avanço rendeu uma readequação do Guia Alimentar da População brasileira, em 2014, quando viu-se a necessidade de conscientizar de maneira incisiva sobre o valor nutricional do alimento que o brasileiro coloca à mesa.

O GUIA Quase como um “dicionário nutricional”, o guia é usado nacionalmente por diversos profissionais da área de nutrição e também é utilizado como base em várias iniciativas, a exemplo das realizadas pela área de extensão social da Emater/RS-Ascar. Segundo a assistente técnica regional social Dulcenéia Haas Wommer, as questões de segurança e soberania alimentar

tratadas pela instituição com famílias rurais, grupos de mulheres e escolas têm um fundo teórico, neste caso, baseado no material disponibilizado pelo Ministério da Saúde gratuitamente. – Trabalhamos com base no guia no sentido de incentivar a ingestão de mais alimentos in natura e menos industrializados. Encorajamos os agricultores a terem pomares e hortas com produtos o ano todo. Aquela parcela que prefere não produzir, seja por falta de mão de obra ou comodidade, estimulamos que consumam de outros agricultores, um destaque para as feiras com produtos da agricultura familiar, o que faz com que a renda circule localmente e se as pessoas se alimentem com produtos de qualidade – orienta Dulcenéia. De acordo com a nutricionista e professora Dionara Hermes Volkweis, da URI – Campus Frederico Westphalen, o guia conta com orientações profissionais em prol da saúde do ser humano. “Ele mostra o que o indivíduo precisa para estar bem com a sua saúde com base no alimento que, por obviedade, precisa dar o suporte nutricional que ele precisa”, explica.

A ESCOLHA DOS ALIMENTOS GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA 2ª edição 1ª reimpressão

Brasília — DF 2014

O guia completo você encontra disponível para download gratuito no site do Ministério da Saúde, ou através deste código:

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De acordo com o guia, o tipo de processamento empregado na produção dos alimentos revela o perfil de nutrientes, o gosto e o sabor que agregam à alimentação, além de influenciar com quais outros alimentos serão consumidos, em que circunstâncias e, até mesmo, em que quantidade. O impacto social e ambiental da produção também é influenciado pelo tipo de processamento utilizado. Os alimentos in natura, aqueles obtidos diretamente de plantas ou de animais, sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a natureza são, sem dúvida, os mais recomendados. Em seguida, vem os minimamente processados, que são, a grosso modo, alimentos in natura que antes de sua utilização foram submetidos a alterações mínimas, como congelados ou moídos. “Estes, são

fundamentais para uma boa alimentação e nunca deveriam faltar na mesa dos brasileiros”, reitera Dionara. Ainda segundo a profissional, os agricultores, ou quem gosta de cultivar a terra, são um dos públicos mais beneficiados com a oferta destes produtos e podem usufruí-los com sabedoria, já que possuem espaço, estrutura e prática para a produção. Isso muitas vezes, também faz parte de uma herança cultural que varia conforme a etnia. – Eles devem refletir na seguinte questão: qual alimento eu posso produzir com o que eu tenho? É importante que ele saiba valorizar o produto como um todo. Os talos da beterraba, por exemplo, podem ser utilizados, ou seja, toda a sua estrutura nutritiva aproveitada. O sal não é o essencial, o interessante é você usar as ervas MARÇO | ABRIL 2020


PARA PRATICAR!

Eles devem refletir na seguinte questão: qual alimento eu posso produzir com o que eu tenho? aromáticas, como manjericão ou salsa como um condimento para a sua refeição – orienta. Já os alimentos que não devem fazer parte da nossa rotina alimentícia, ou que precisam ser ingeridos de forma moderada, são os processados e os ultraprocessados. Embora o alimento processado mantenha a identidade básica e a maioria dos nutrientes do alimento do qual deriva, os ingredientes e os métodos de processamento utilizados na fabricação alteram de modo desfavorável a composição nutricional. O ultraprocessado, não é novidade, é nutricionalmente desbalanceado. – Estes alimentos interferem negativamente em nossa saúde, que deve estar atrelada também a atividades físicas e ao bem-estar como um todo. O alerta fica para os pais, inclusive, que devem começar desde cedo a introduzir alimentos in natura ou minimamente processados nas refeições dos seus filhos, lembrando que o exemplo começa pelos os adultos – ressalta a nutricionista. Essa orientação de Dionara propõe refletir sobre uma questão ainda do passado. Você já deve ter ouvido falar que há um tempo atrás era comum crianças levarem na escola um pedaço de batata-doce ou um pão com melado, por exemplo. Mas, por que esse hábito não perdurou nos dias atuais? Será que por falta de exemplos ou porque um pacote de salgadinho é realmente mais atraente do que uma vida mais saudável? Reflita. 37 | NOVO RURAL

In natura O que são? Alimentos obtidos diretamente de plantas ou de animais e não sofrem qualquer alteração após deixar a natureza. Exemplos: Ovos, leite, milho na espiga, verduras, frutas, mandioca e outras raízes e tubérculos.

Minimamente processados O que são? Alimentos in natura que foram submetidos a processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congelamento e processos similares que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original. Exemplos: Arroz branco, feijão de todas as cores, lentilhas, farinhas de mandioca, de milho ou de trigo e macarrão ou massas frescas ou secas feitas com essas farinhas.

Processados O que são? Fabricados pela indústria com a adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a alimentos in natura para torná-los duráveis e mais agradáveis ao paladar. Exemplos: Pêssego em calda, pepino, cenoura, ovo ou palmito em conserva, queijo, pães feitos de farinha de trigo, leveduras, água e sal.

Ultraprocessados O que são? Formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos, derivadas de constituintes de alimentos ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes). Exemplos: Massas instantâneas, refrigerantes, biscoitos, sorvetes, balas e guloseimas em geral. MARÇO | ABRIL 2020


Qualidade de vida Cá entre nós Por

Dulcenéia Haas Wommer dwommer@emater.tche.br Tecnóloga em Marketing e extensionista rural da Emater/RS-Ascar

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O tempo urge

C

ertamente você já ouviu ou falou esse ditado popular, mas sempre atual. Agora nos encontraremos por aqui a cada dois meses. Por isso, falarei de dois temas, duas datas, para não perder tempo (risos). Vamos para os encontros de mulheres no mês de março? Tens tempo para ir? “Eu sou a geração igualdade: concretizar os direitos das mulheres.” Esse é o tema do ano para ser debatido nas comemorações do Dia Internacional das Mulheres, lembrado em 8 de março. Dia de comemoração sim, pois nós, mulheres, que já temos algumas décadas de vida (quase cinco!), podemos dizer que já temos um estilo de vida diferente das nossas mães e avós. Porém, a ONU Mulheres, que propõe o tema, quer que esta campanha chame a atenção para o fato de que mesmo com os progressos, as mudanças têm sido lentas para a maioria das mulheres e meninas ao redor do mundo. O consenso global emergente é de que hoje nenhum país pode afirmar ter alcançado a igualdade de gênero. As mulheres ainda enfrentam vários tipos de violência em casa e em lugares públicos, são subvalorizadas e, ainda, ganham menos realizando as mesmas funções, além das questões culturais. Só para exemplificar o que aconteceu comigo dias atrás. Fui em uma loja ver um móvel acompanhada de um colega homem, então o homem que me atendeu dava as respostas sobre o produto olhando para meu colega e não para mim, que efetivamente indagava sobre preço e qualidade. Pois é, estamos em 2020! Mas como diz aquela música: “É devagar, é devagar, é devagar, é devagar, devagarinho”.

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Isso me dá certeza que precisamos continuar este diálogo cada vez mais. Precisamos doses diárias de atitudes, coragem, perseverança e, principalmente, autoestima para superar as diferenças que são im-

Precisamos doses diárias de atitudes, coragem, perseverança e, principalmente, autoestima.

postas sobre nossa cabeça. Repito: somos tão diferentes dos homens assim como eles são diferentes de nós! Simples assim! Cá entre nós, quem tem autoestima não se vitimiza, mas enfrenta com altivez e otimismo os fatos do dia a dia. Então, não vamos alimentar este duelo e sim somar no que cada um tem de bom, homens e mulheres na mesma direção: do respeito, do cuidado um com o outro, gentilezas, dividir tarefas, somar as contas no fim do mês e usufruir dessa parceria que se forma. Isso me parece ser o óbvio! E por falar em cuidado, outra data importante que chega é o Dia Mundial da Saúde, em 7 de abril. Para

este ano, a Emater/RS-Ascar está enfatizando muito a saúde do trabalhador rural. Em dezembro de 2019, um meio de comunicação de grande circulação no Estado noticiava que o número de mortes por câncer no Rio Grande do Sul é maior do que a média nacional. Atualmente, 7,6 milhões de pessoas no planeta morrem em decorrência da doença a cada ano. Para 2020, um estudo divulgado pelo Inca aponta que os cânceres mais incidentes no país serão os de pele não melanoma, mama, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago. A campanha mundial #EuSoueEuVou, na qual o Inca é membro, surge como uma iniciativa para aumentar o engajamento social em torno da temática, estimulando a construção da consciência e ações globais. A campanha segue a premissa de que qualquer pessoa tem o poder de reduzir o impacto potencial do câncer na própria vida, na vida das pessoas que ama e no mundo. Portanto, orientação, conhecimento e prevenção são primordiais para saúde daqueles e daquelas que produzem o alimento. Produção de alimento e geração de renda a que custo? Precisamos refletir muito sobre isso. Conhecer as novas tecnologias nos tecidos dos EPIs, mais confortáveis para garantir que realmente seja usado. Proteção ao trabalhar no sol, tendo em vista que somos também o Estado brasileiro com alto índice de problemas de pele. Então, chapéu na cabeça e protetor na pele! “É perdendo tempo que se ganha a vida”. Não adianta só rezar e pedir saúde a Deus. É preciso fazer a nossa parte! E não devagar, devagarinho... Mas, para já! Saúde a todos e até mais!

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3VSBM Ano 4 - Edição 38 - Janeiro /Fevereiro de 2020 | Exemplar R$ 10,00

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Imersão em Agricultura de Precisão reúne profissionais de vårias partes do Brasil FINANÇAS

Dicas sobre investimentos facilitam a organização de recursos em 2020. Sicredi separou algumas orientaçþes

1 | Revista Novo Rural | Janeiro/Fevereiro de 2020


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