consumo REVISTA NU > #33 > MAIO 09
pvp euro 3.0 ISSN 1645-3891
Diogo Lopes + Inês Morão Dias
03
Tiago Borges
04
Joana Ramos + Rosa Bandeirinha
06
Site is Best. Best is Best. Arquitectura e Imagem Corporativa
Raquel Margarido
14
Size Matters O Fenómeno das Megachurches
Mariana Pimentel
18
André Almeida + Diogo Vasconcelos
22
Filipe Madeira + Joana Eira-Velha
24
Margarida Marques + Inês Oliveira
28
Diogo Lopes
30
Pedro Bandeira
31
[editorial]
[edit]
[entrevista] Fernando Guerra
Comer Arquitectura
[enviado Nu] Imagens do Consumo
[contaminações] The Coke Side of Life
[a nu] inconsumível
[quiz]
A NU é a publicação planeada e produzida pelos estudantes do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra (dARQ). Essencial, imparcial e descomprometida, a NU é uma ferramenta de aprendizagem que tem como objectivo a reflexão e debate em diversos temas relacionados com a arquitectura, enriquecida pela colaboração de diversos arquitectos e académicos de todo o mundo.
[maio 2009] 02.03
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editorial
a consumir: Diogo Lopes e Inês Morão Dias*
“Elas (as exposições universais) inauguram uma fantasmagoria onde o homem entra para se divertir, uma ideia que é facilitada pela indústria do entretenimento que o coloca ao nível da mercadoria”, Walter Benjamin in Paris, capital do século XIX. Os relatos dos acontecimentos do início do século XIX descrevem-nos uma ordem social em que o homem deixa de ser chamado e passa a ser numerado. A euforia industrial descobriu a oportunidade de produzir em massa, o que naturalmente exigiria a multidão como clientela. Desta forma, o indíviduo comum seria o produtor e o consumidor do seu próprio produto, o mesmo que permitiria a sua oportunidade de prazer e de poder. O consumo viveria, assim, em três acepções: a literal, em que o homem se apodera de um produto; a social, em que o patronato entende o homem como uma mercadoria no sentido em que precisa dele para activar o sistema; e a metafórica, segundo a qual o homem se consome a ele próprio, visto que promove o seu trabalho como parte do sistema. A sua invenção como organizador das vontades na sociedade confronta os homens, como iguais, numa atitude canibalista, que produz para a seguir inutilizar. A alegoria de Saturno, que come os filhos pela vontade de poder, pode funcionar como ilustração do sistema, desde que não nos esqueçamos do quão saboroso é o alimento! O consumo é, em última instância, a procura pelos estímulos intelectuais e físicos do homem. Consumir significa sentir, e assim se explica a evasão colectiva nas exposições universais. Seja enquanto consumido ou consumidor, o homem pertence a este esquema como aspirador de estímulos, para se ver como é ou para ousar ser mais do que isso. No que compete à NU, “nous sommes des marchands de phrases et nous vivons de notre commerce”, Honoré Balzac in Illusions Perdues. *alunos do 3º ano do dARQ
Barbara Kruger Untitled (I shop therefore I am) Photographic silkscreen/vinyl 1987 [maio 2009] 04.05
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edit Tiago Borges*
I shop therefore I am Uma mão descaracterizada sustenta entre dois dedos o que poderia ser o seu cartão de visita. Em letras sobredimensionadas de cor vermelha e fundo branco lê-se I shop therefore I am. Com Untitled (I shop therefore I am), 1987, Barbara Kruger consegue o feito de condensar em apenas uma frase a condição contemporânea da sociedade de consumo. A provocação através do slogan publicitário, característica dos trabalhos da artista, é uma afirmação inquietante na qual o homem contemporâneo se apresenta como o que consome com o intuito de se completar. A certeza da afirmação leva a crer que o gesto do consumo é deliberado e perfeitamente consciente. Mas sê-lo-á de facto? Hoje, indissociável da nossa “natureza”, o consumo é dos poucos eventos que se mostra capaz de acompanhar a vertigem do nosso tempo. O gesto de consumir evoluiu rapidamente para um comportamento massificado e a velocidade de cruzeiro foi imposta na engrenagem onde o consumo, como escreveu Fredric Jameson, se transformou no motor da cultura de produção.
Do tetra-pak à personalização I’m all lost in the supermarket I can no longer shop happily I came in here for that special offer A guaranteed personality (The Clash, Strummer/Jones)
Na linha de montagem o produto estandardizado é transformado no produto personalizado. O produto único é feito especialmente para alguém, ou ao produto standard são adicionados extras para o tornar excepcional. O consumo da cultura deu lugar à cultura do consumo. E o capital adicional é a personalização. Promover o consumo é torná-lo espectacular (obrigado Guy!), e para isso basta transformar o produto num estilo de vida. O marketing e a publicidade são os agentes
do espectáculo que criam as necessidades que antes se desconheciam e lembram que tudo faz falta. Omite-se de forma ingénua o ponto de equilíbrio entre necessidade e luxo, e quando se reflecte no impacto do hiper-consumo, à semelhança dos produtos light, mascara-se de verde e ecológico, e torna-se a consumir. Sendo que o Consumo é um tema demasiado vasto, a NU Consumo explora e problematiza algumas das mais recentes manifestações do consumo em arquitectura e do consumo da arquitectura, tentando deixar pistas úteis para acompanhar o fenómeno que se acentuou na nossa história recente. Nas páginas que se seguem a NU aborda a imagem como meio massificado de consumo de arquitectura; investiga o salto de escala nas infra-estruturas para acolher o consumo enquanto comportamento de massas; revisita as interacções entre o colectivo SITE e a cadeia BEST, assim como as “outras” formas de consumo da arquitectura.
Nota final Cada NU tem um tempo próprio, o tempo de quem a produz. A NU Consumo começou a ser gerada há mais de um ano e meio, e é publicada num momento em que a conjuntura económica global mergulhou numa crise financeira que coloca em causa o sistema económico vigente. O contexto actual pareceu quase trair o propósito desta NU mas na verdade acreditamos que tem o efeito inverso. A NU Consumo reforça a importância do verbo consumir como acção inerente ao ser contemporâneo e tenta conjugá-lo ao mesmo tempo em que se reformulam os pilares da sociedade de consumo. Enquanto se atravessa a crise, as inquietudes hiperpresentes deixadas sem resposta neste número são vazios engenhosamente montados para estimular a reflexão de quem lê. Com a aparência de produto fora de validade, a NU Consumo está mais fresca que nunca. Bom apetite.
*arquitecto pelo dARQ, editor da NU Consumo enquanto estudante
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entrevista
fernando guerra fotografia
Joana Ramos e Rosa Bandeirinha* Em 2007 a NU, através da Internet, entrevistou Fernando Guerra, arquitecto de formação desde 1993 que, a partir do final dos anos noventa, se dedica por inteiro à Fotografia de Arquitectura, área pouco explorada em Portugal. Trabalhou em Macau durante cinco anos e teve algumas experiências académicas em Lisboa antes de formar o seu atelier e estúdio em conjunto com o irmão, Sérgio Guerra. O seu trabalho é amplamente reconhecido e as suas imagens, mais que documentos, são obras de arte. O trabalho de fotografia, de um modo genérico associado ao uso, à manipulação e à criação de imagens, está também inevitavelmente associado à publicidade. Será esta uma arte para consumo? Arquitectos e alunos de arquitectura utilizam a fotografia de um modo particular e muito intenso, reconhecem espaços através do olhar de outros, constantemente, procurando entrar neles e desconstruir cor e forma. Será a fotografia de arquitectura publicidade ao consumo? Será o consumo publicidade à fotografia de arquitectura? E a imagem, existe só pela imagem? Nesta teia de questões, a fotografia remete sempre para a divulgação de espaços e para a criação de desejos, oscilando entre (ir)realidades. [maio 2009] 06.07
Como fotógrafo, acredita que a arquitectura se está a tornar cada vez mais fotográfica? E fotogénica? Como fotógrafo, até poderia achar que sim mas, como arquitecto, sei que não. Nem gosto da palavra fotogénica, porque pode ser ambígua. Por um lado, posso é ter mais interesse ou prazer em fotografar arquitectura contemporânea do que aquela que já foi feita e fotografada, também porque gosto do sentido de descoberta de uma nova obra. Por outro lado, novos materiais construtivos possibilitaram novas formas de fazer arquitectura, bem como de a revestir e suportar, o que trouxe um novo imaginário plástico que pode ter interesse captar. No entanto, reconheço, muitas vezes, que isto pode criar uma imagem enganadora do que está construído, por ser uma visão parcelar, um bocado do conjunto que faz a obra. A verdade na fotografia é sempre relativa, depende do que vemos, do que queremos ver e do nosso ponto de vista. A percepção de uma obra é um processo pessoal que depende de uma série de condicionantes, quase todos de ordem subjectiva. “There´s no such thing as publishing bad pictures.” Pode a fotografia ser crítica em relação ao que capta? Ou é mais um meio passivo para um determinado fim? Um trabalho é sempre uma encomenda, um instrumento ao serviço do projecto e, por último, a prestação de um serviço, como desenhar uma casa ou vender uma pizza. Na fotografia existe um cliente que tem expectativas em relação ao que faço e objectivos definidos quanto à
finalidade a dar às imagens, sejam elas para publicação ou simplesmente para o portfólio do atelier. A fotografia é sempre crítica em relação ao que capta. É uma forma de ficção. Não sou jornalista nem tento ser. Talvez esteja a entrar em contradição com a minha função actual de fornecedor de imagens para o consumo, que se esperam francas e verdadeiras, mas é o que sinto e o que faço. Não gosto de grandes condicionantes nas minhas sessões, mas aceito orientações dos projectistas. Fruto da minha experiência como arquitecto, é-me mais fácil entender o conceito de determinada obra. Talvez a minha vantagem sobre um fotógrafo seja perceber a obra rapidamente e, sobre um colega arquitecto, perceber quais os botões a carregar na máquina. Por algum motivo os fotógrafos de arquitectura mais conhecidos também têm formação nesta área. Não é essencial, mas ajuda muito. Não acho a fotografia um meio passivo, antes pelo contrário... é um meio bastante interventivo e, pessoalmente, não gosto que as minhas fotografias dêem apenas respostas. Gosto que sugiram perguntas e levem à visita à obra, se possível, e à posterior discussão, tanto das imagens, como do projecto. Não são contentores da verdade que representam fidedignamente a realidade da forma. A selecção do que fotografo passa por uma intensificação da realidade retratada e a decisão do que fotografo ou não numa obra é sempre muito pessoal. Mas, apesar destas ideias, como todas as ideias, serem transmissíveis, é possivel que sejam interpretadas de diversas formas.
Piscina das Marés, Siza Vieira
Como se vê no papel de criador de imagens, se é que se identifica como tal? Fotógrafo é qualquer pessoa com uma máquina na mão. E, felizmente, são cada vez mais as pessoas com o acesso à fotografia, seja com um telemóvel ou com uma máquina digital. Apesar de não vibrar muito com o slogan da Sony do “Shoot more. Think less.”, ele reflecte a época em que vivemos. O mercado, a paciência e o interesse das pessoas encarregar-se-ão de orientar o que vale ou o que não vale a pena ver e consumir. O mercado funciona e a survival of the fitess é a única regra, tanto para o fotógrafo, como para as imagens que são feitas todos os dias. Faço fotografias desde que me lembro e só porque gosto... Criador de imagens? Talvez, mas sem o lado iluminado e pretensioso de um suposto criador. Faço fotografias, ponto final. Algumas terríveis, outras de que gosto muito. O que faço todos os dias é, acima de tudo, um modo de vida sem horários nem grandes pausas, que se tornou indissociável do meu ritmo diário, já que as máquinas, ou melhor, as imagens, até dos momentos de repouso fazem parte. Há 20 anos que tenho uma máquina por perto. De formação sou arquitecto e trabalhei mais de 10 anos em arquitectura depois de terminar o curso. Gosto demasiado de projectar para esquecer esse lado, mas ninguém se reforma da arquitectura como da fotografia. Acaba por ser uma ponte entre as duas actividades que, mais do que profissões, são maneiras intensas de ocupar os dias.
Numa entrevista, Jeff Wall foi confrontado com o facto de a este apenas lhe interessar a imagem pela imagem. Partilha da mesma opinião? Tenho muitas imagens de que gosto que descolam do edifício ou da casa onde foram feitas. São independentes da obra. É raro, mas numa exposição minha ou numa revista podem não estar num contexto que mostre a obra e, aí, a fotografia vive sozinha e conta uma história na qual é a única participante. Neste caso, a imagem vive só pela imagem. Mas confesso gostar de contextos. Gosto de juntar imagens, contar uma história e traçar um percurso na obra. Faço isso nos meus livros, conto a história de um projecto durante um dia, desde manhã até ao pôr do sol, mostrando todas as cambiantes. Até a forma como organizo as imagens no ultimasreportagens, aquelas meras 24 fotos de um projecto, são um percurso narrativo que demora muito tempo a construir, mas que espero eficaz. Muitas vezes, é a única forma de dar a conhecer um projecto. Receia que as imagens fiquem condicionadas pelo olhar do fotógrafo? Não receio e ficam. Não receio porque faz parte do que referi sobre o meu olhar enquanto fotógrafo, mas ficam, porque quando se escolhe um fotógrafo de arquitectura, já se espera um determinado registo. Por muito que tente que as fotografias abranjam um território, as escolhas que faço condicionam o olhar de quem depois folheia uma revista em sua casa. Sou um simples mensageiro, [maio 2009] 08.09
de duzentas imagens que faça de uma casa, apenas cinco ou seis podem ser usadas nas medias impostas. Visto que o espaço nas publicações é sempre finito, o olhar do fotógrafo, que já é, à partida, um resumo da realidade ou uma ficção, acaba por ser ainda mais resumido por um editor. No final de um dia de trabalho meu, três perguntas devem estar respondidas: o que é, como é e para quê. Quais serão os reflexos no panorama arquitectónico? No panorama arquitectónico, o mais perigoso reflexo é contar a arquitectura de forma simplificada. As obras são entidades complexas, portanto, as imagens e os posters são apenas o topo do iceberg. Assim, cabe às publicações ou aos sites, como o nosso ultimasreportagens, a procura da melhor forma de mostrar a obra, o que não depende apenas da fotografia mas também depende do texto e, por vezes, também do vídeo. A actividade de fornecer imagens para revistas, sites e publicidade faz parte da nova era digital e, no meio de um mercado tão recente, é difícil parar para reflectir e o analisar de forma fria e distanciada. O consumo de imagens faz parte da nossa sociedade desde os últimos cem anos e a mudança dos suportes gráficos e visuais alteraram e, consequentemente, continuam a alterar este mundo a uma velocidade vertiginosa. E no trabalho do arquitecto? Mecanismos da percepção da realidade, como a fotografia, são necessários para apreender a relação da obra com a paisagem, assim como são indispensáveis para a
manipulação consciente desta, enquanto realidade a ser experimentada. Então, a percepção está ligada a todos os níveis da realidade: preexistente, conceptual e criada enquanto primeira abordagem e ferramenta implícita para a sua manipulação. “Photography has completely changed the imagination; it is no longer a matter of an imagination retold, but of an imagination supported by real images.” Se com a manipulação não podemos falar do momento real, se com o arranjo cénico do espaço não podemos falar de situação do dia-a-dia na arquitectura, que outras opções pode a fotografia de arquitectura procurar? Na sua opinião, qual o caminho que a fotografia de arquitectura parece querer seguir? “O desenho de arquitectura é interessante, a fotografia é magnífica, o edifício é infeliz mas é uma etapa necessária entre os dois.” H.S. Goodhart-Rendel, 1930 O caminho neste momento para a fotografia de arquitectura ou para toda a fotografia em geral é a procura da comunicação, ou da forma certa de a fazer. Descobrir como ela funciona mais eficazmente. Tenho pensado muito nisso nestes últimos anos e gasto muita energia no desenvolvimento de veículos certos para as mensagens e para as imagens... Comecei com um site que se desdobrou em dois para dar resposta a leitores que queriam as obras contadas e desenvolvidas, prontas a consumir. Iniciámos uma pequena colecção de livros de bolso sobre fotografia e imagem. Faço regularmente diversos [maio 2009] 10.11
Victor Neves Proap, Reordenamento da Marginal de Esposende
slideshows, disponibilizados no ultimas, com sons reais dos espaços fotografados. Insistimos em dossiers especiais sobre obras, suportados por excelentes textos de diversos colaboradores e fizemos agora o primeiro número de uma revista de arquitectura disponível na internet sem custos para o leitor. Tenho cerca de mil visitantes diários no ultimasreportagens, o que me diz que na FG+SG estamos na direcção certa. Estamos a elaborar a primeira biblioteca online de arquitectura contemporânea portuguesa do século XXI, que tem um potencial enorme, no entanto, ainda há muito a fazer. Contamos chegar às duzentas obras antes do final de 2007. Contudo, tenho consciência de que o mercado do rápido consumo de imagens é recente e assenta num verdadeiro mercado global de imagens que já extravasa o simples (ou complexo) banco de imagens. Basta um pequeno passeio no site da Flickr, para percebermos isso. Há que evoluir e, se o temos feito regularmente com o ultimas, tencionamos em 2008 dar mais uns saltos qualitativos, tanto a nível do interface, como a nível da organização e pesquisa de obras. Encara a fotografia de arquitectura como um meio de consumo de arquitectura? Como gere essa relação [arquitectura/fotografia/consumo] e quais as suas preocupações enquanto produtor de imagens? “Para a maioria das pessoas o que não foi fotografado de certa forma não existe, ou existe menos.” (Castello-Lopes 2004). A fotografia de arquitectura tem vindo a tornar-se num ponto cada vez mais imprescindível no exercício
da arquitectura. São já muitas as vezes em que basta um bom fotógrafo orientar a sua objectiva para uma obra, para que esta passe a ser conhecida em todo o mundo. Pelo contrário, uma obra de arquitectura não fotografada torna-se inadvertida. Há cinco dias lancei a ultimasmag 01, a revista já referida de consulta na internet, sobre a Adega Mayor em Campo Maior do arquitecto Álvaro Siza. Em apenas cinco dias, já teve sete mil visitas de todo o mundo, o que confere uma dimensão especial tanto à obra como ao trabalho de imagem. Trata-se de uma presença global que seria impensável apenas há cinco anos. “No domínio do público, o reconhecimento da “excepcionalidade” de um edifício está muitas vezes associado ao seu registo em fotografia. Significa que para chegar a um plano de maior comunicabilidade a arquitectura depende muito de quem a fotografa; principalmente do modo como é fotografada.” Ana Vaz Milheiro, 2005 Por último gostaria que comentasse a seguinte afirmação: “A imagem arquitectónica gera uma arquitectura de imagem.” Beatriz Colomina Estamos no início de uma revolução. Novos suportes digitais para uma sociedade cada vez mais globalizada assente na rapidez e na gratificação instantânea. O futuro é já ali, mas a viagem deve dar tanto gozo como a chegada. Boas fotos! *arquitecta pelo dARQ e aluna do 2º ano do dARQ
SITE IS BEST, BEST IS BEST. Arquitectura e Imagem Corporativa
Raquel Margarido*
Numa era de crescente protagonismo da indústria da arte no contexto norteamericano, em que urge uma confiança na arte enquanto matriz cultural, uma organização nova-iorquina usa a arquitectura como matéria num processo criador de arte, aplicando às convenções do processo de desenho novas propriedades formais que se sobrepõem à própria construção dos edifícios. É com este mote que a arquitectura dos SITE põe termo a uma época, recorrendo ao humor e à desordem, numa atitude que pretende mudar o paradigma do Pós-modernismo, através da livre abertura da imaginação em favor da sensibilidade humana. É, no entanto, ao associar a arquitectura como tema de comunicação, profundamente baseado nas motivações das massas, com imagens corporativistas, que os SITE criam um impacto decisivo, ampliando a arquitectura a dimensões sociais, emocionais e culturais. Tal acontece quando, nos anos 70, o atelier é encarregue de materializar o primeiro armazém retalhista para uma das maiores empresas de vendas por catálogo dos Estados Unidos: a “Best Products Company”.
[maio 2009] 14.15
O projecto pioneiro, intitulado como “Peeling Project”, encabeça uma sequência de construções representativas da imagem “Best” que partem da tipologia standard de armazém-caixa como matéria crua para arte, tratada para interagir com o contexto específico e alterar definitivamente a reacção de um público genérico à significância que tais estruturas comerciais têm na paisagem suburbana. Ali, a estranheza inicial do visitante é despoletada por uma porção da fachada descolada, que revela o suporte e produz um efeito de arquitectura instável, agitada. A ambiguidade visual gerada dialoga com o propósito rotineiro do próprio edifício e permite ao projecto transpor a barreira do mero formalismo para explorar uma relação mais pura entre arte e a arquitectura em si. Para o atelier norte-americano, a arquitectura é a única arte genuinamente pública, ao contrário da pintura ou da escultura, cuja presença no domínio público se dá quer por incidente, quer por escolha deliberada e consciente. Deste modo, seguem uma filosofia de adaptação e de interdependência contextual, aliando ao edifício a noção de auto-suficiência. É de referir que a palavra SITE é senão um acrónimo para “Sculpture In The Environment”, o que reforça o amplo campo de intervenção e influências da organização constituída por arquitectos, designers, cenógrafos – com destaque para James Wines, o escultor, presidente e director criativo do grupo. Mas qual o resultado de uma arquitectura baseada na interdisciplinaridade ao dar corpo e imagem a uma identidade corporativa, enquanto se manifesta como resposta crítica ao corrente estado da produção arquitectónica do século XX? Pode-se dizer que tal facto é uma oportunidade ímpar para criar novas fontes para uma linguagem visual. Sendo que se pretende que
a imagem da empresa seja a representação mental, no imaginário colectivo, de um conjunto de qualidades e valores que definem um estereótipo e uma conduta associada à marca “Best”, a opção de insurgir contra uma arquitectura limitada, demasiado padronizada – e daí, contra o legado do desenho Moderno – é então a melhor alternativa para criar referências sócio-culturais, apelando a uma nova função iconográfica dos edifícios que valoriza a relação exterior. Não é por acaso que o atelier acaba por interpretar o seu trabalho como “Des-arquitectura”: tanto por inverter convenções e preconceitos arquitectónicos, actuando fundamentalmente de fora para dentro, isto é, exacerbando a relação de compromisso entre exterior e lugar de inserção; como por reformular a tradição Moderna de arquitectura como desenho para arquitectura como arte. Isto tem implicações profundas ao nível da comunicação da imagem corporativa, pois uma empresa que vem quebrar com a repetição das fórmulas Modernas cria automaticamente um significado sociológico, psicológico e estético de arquitectura e espaço público dotado de novas hipóteses. A imagem Best passa ela própria a ser produto de circunstâncias únicas, isoladas – enquanto extensão do seu contexto – e veículo de informação, por meio de uma arquitectura de intervenção social. Tome-se por exemplo o projecto “Parking Lot Showroom”, de 1976, no qual dois elementos distintos – armazém e parque de estacionamento – se fundem para criar um novo campo de significação. O edifício aparece soterrado sob um manto de asfalto enrugado, invertendo abruptamente a lógica entre arquitectura e implantação; a sensação é a de que o contexto consome o edifício – ideia que é em si reforçada pelas marcas de estacionamento ao longo da envolvente que cobre construção. O conceito
sugere também que a arquitectura não tem que ser um elemento identificável e tipificável, uma vez que neste caso, o estacionamento e o armazém formam um conjunto surpreendentemente agradável e apelativo. Também concebido no mesmo ano mas finalizado em 1978, o “Tilt Showroom” corrobora uma trilogia de inversão lógica no que concerne a estrutura comercial standard, formalismo e equilíbrio. Aqui, a particularidade da fachada principal ser inclinada permite ao comum visitante estabelecer um diálogo mental despertado pela aparente precariedade construtiva e o propósito rotineiro do armazém. Numa perspicaz crítica à arquitectura Moderna – obcecada pela forma como expressão de função – neste armazém a função não se expressa mas, antes, revela-se, ao destacar o obstáculo entre cliente e mercadoria, isto é, ao destacar a própria parede e oferecendo o seu interior. A sustentabilidade do ambicioso plano inclinado de 450toneladas, cujas dimensões são 61x11m, é garantida por uma estrutura de aço preenchida por um pano duplo de blocos de betão que se apoia por sua vez na estrutura de aço do edifício: uma proeza construtiva que cativa o olhar mais desatento na direcção do estabelecimento Best. Um projecto mais recente, já dentro dos anos 80, em Milwaukee, exemplifica como a inversão permanece aliada à representatividade da corporação Best. O “Inside/Outside Showroom” tem a fragmentação como tema, expresso pela parede exterior partida que revela as camadas construtivas e toda a parafernália técnica, desmascarando de imediato o interior funcional da estrutura retalhista. Assim, explora também a dimensão filosófica da noção de interior/exterior com a intenção de criar uma interface entre estas duas dimensões; entre realidade e ilusão. Criando a noção de edifício
dentro do edifício, inverte o preconceito generalizado de olhar a arquitectura como abrigo e estimula, pela sua ambiguidade objectual, um “pensar a arquitectura” através da experiência alargada – que vai além da tradicionalmente formal e funcional interacção entre espaço e volume – ao pretender que o interior se torne exterior. Também o carácter humorístico é um conceito presente, lido a partir da fachada – ela própria uma narrativa da constituição do edifício. A “Des-arquitectura” dos SITE surge aqui como provocação, no sentido em que pretende demonstrar como o edifício não tem necessariamente que estar acabado para funcionar tal como é. Ao mudar o paradigma da concepção do armazém comercial enquanto estrutura desinteressante, estandardizada, inconsequente, com recurso a acções como inversão, fragmentação, desarticulação, distorções de escala ou invasões do contexto natural, os armazéns Best exploram os domínios social, psicológico e estético da arquitectura numa abordagem que é não só uma estratégia para incrementar o lucro de vendas da empresa mas, essencialmente, um modo de reformar a atitude do público perante o significado que as construções comerciais têm no contexto suburbano. A clara assumpção do compromisso contextual dota as estruturas comerciais Best de características particulares, à partida estranhas para o entendimento comum, num constante apelo a uma imaginação criativa que permita uma experimentação “fresh” da arquitectura e do espaço público.
*estudante do 5º ano do dARQ [maio 2009] 16.17
Size Matters O fen贸meno das MegaChurches
SIZE MATTERS O fenómeno das Megachurches
Mariana Pimentel*
“Just eight years ago, Pastor Lee was known as Lee McFarland, Microsoft Director, World Wide Operations. He had a luxurious job, financial security, and status in one of the world’s most successful companies. Then God called him into the ministry.”1 E o que sucede quando um director de vendas se encontra com Deus?: “We want the church to look like a mall. We want you to come in here and say – dude, where’s the cinema?”2 Perdão, podia repetir? “A mall where you can talk to God”, apregoa igualmente o cartaz publicitário da Grace Church (Minnesota, E.U.A.), sem qualquer pudor ou constrangimento. O slogan sintetiza a ideologia global que sustenta as MegaChurches, esse complexo e promissor fenómeno com especial sucesso nos Estados Unidos da América. A definição pode parecer demasiado simplista e muito pouco ética, mas poucas comunidades (leia-se MegaChurches) escapam a este estereótipo. A realidade desvenda um promíscuo, mas abençoado, (re)encontro entre religião e marketing sob o mesmo véu: “Quanto a lições, a Igreja só pode dá-las. As empresas mortificam os homens medindo a sua produção, enquanto nós sabemos valorizá-los. O marketing? Foi Jesus que o começou, há dois mil anos.”3 [maio 2009] 18.19
What’s the appeal? Back in business, a Igreja adaptou-se convenientemente aos novos tempos. Ao acomodar a celebração do culto num campus que presenteia serviços tão diversos e apelativos como ginásios, cinemas, concert-halls, infantários, restaurantes e outras mais facilidades, a Fé transformou-se também ela num produto (im)próprio para consumo. Sem o discernimento que lhe é usualmente distintivo, a religião colocou Deus e um StarBucks ao mesmo custo. Um prometido cantinho no Céu lado a lado com os produtos dietéticos do gym? Hum… aqui entre nós, acho que vou esperar pelos $aldos! A grande maioria das MegaChurches já não dispensa um gestor de imagem ou um website, e muitas vezes têm o seu próprio canal de televisão. Para atrair o maior número de crentes há cultos específicos para todas as carências, e atracções para todos os gostos e idades. Um leque inesgotável de actividades preenche o calendário dos fiéis num universo onde apenas uma sentença é tida como irrefutável: o entretenimento é o caminho eleito para a salvação, dado que o único sacrifício tem lugar no ginásio: “If you want to lose weight Jesus’ way, you can join the weight-loss program or join a basketball team.”4 Fazer do fiel piedoso um Deus é a chave de ouro para uma casa sempre cheia. E com uma igreja destas, alguém quer ser ateu? Mas será apenas nesta variedade de ofertas que reside a fé? A pregar desde 1959, a comunidade de Lakewood Church (Texas, E.U.A.) começou por se reunir numa pequena loja deixada ao abandono. Mas o grupo cresceu e cedo se tornou na maior comunidade religiosa do país. Hoje gastam, em média, 9 milhões de euros por ano em tempo de antena na televisão americana. Por força das circunstâncias, recentemente a Lakewood Church viu-se forçada a adquirir a Compaq Center Arena, antiga casa dos Houston Rockets (NBA), depois de ver a sua plateia crescer desenfreadamente. A remodelação ficou a cargo de um atelier de arquitectura (Morris Architects of Houston), que nada mais fez senão atender aos desígnios de Joel Osteen - líder da Lakewood Church -, capacitando o pavilhão com 40.000 lugares sentados. “We really want it to feel like a concert,”5 confessava Duncan Dodds, director executivo da comunidade, antecipando a impressionante transformação que se previa. Making churches look like something else Efectivamente, estas novas mega-estruturas renunciam qualquer simbologia religiosa, tanto a nível iconográfico, como arquitectónico. O culto tem que decorrer em
local neutro, apenas suficientemente kitsch para que a comunidade se possa identificar com ele. “We don’t want a traditional church atmosphere. What we are aiming for is the feeling of a mall, a place that’s familiar”6, alega George Rauscher em nome da Faith Community Church (California, E.U.A.), expondo a necessidade de abstracção figurativa que caracteriza as MegaChurches. Moralismos à parte, a concretização física de uma igreja deste género levanta questões que interessam à arquitectura. Não bastava já a sua inserção em megalómanas áreas comerciais, como também o espaço de celebração se vê alterado, disforme. Louvar o sacrifício de Cristo acontece agora num ambiente de deslumbramento e espectáculo, assistido por técnicos de luz, som e imagem. O culto converte-se em encenação, e o espaço que o recebe não figura em nenhuma sebenta da Arquitectura Religiosa. Desde os seus primórdios, a religião desenha um percurso através do qual vem acompanhando a evolução da arquitectura e da própria sociedade. Testemunhámos a transformação das tímidas igrejas românicas em desmedidas catedrais góticas ou renascentistas, pelo que a extraordinária dimensão das MegaChurches não deveria impressionar-nos (evoque-se qualquer catedral de peregrinação). Contudo, a assembleia cresceu ainda mais, abandonou os bancos corridos de madeira e o altar foi substituído por um palco. O púlpito desapareceu e reencarnou em múltiplos ecrãs que levam a mensagem do pastor a todo o campus. E questionamos: Será este novo fenómeno apenas uma actualização da arquitectura religiosa no sentido de angariar mais utentes? Estaremos diante de uma nova tipologia, ou perante a dispensabilidade do desenho arquitectónico? Ter-se-á a Igreja adiantado à História da Arquitectura? Se assim é, leva avanço considerável. Ave Maria Depois do matrimónio entre Deus e McFarland – o abonado director da Microsoft -, imagine-se onde chega a criatividade de Tom Monaghan, um devoto milionário com um antigo desejo de enveredar pela arquitectura. Ave Maria (Florida, E.U.A.) é o projecto visionário deste exmagnata das margheritas. Pseudo-arquitecto actualmente, Monaghan foi outrora proprietário das pizarias Domino’s e também da equipa de basebol, The Detroit Tigers. Hoje coordena o nascimento de uma cidade inteiramente construída de raiz, cujo objectivo passa por acolher a maior comunidade católica norte-americana. 11000 [maio 2009] 20.21
vivendas de luxo, uma universidade, uma catedral, um hospital, e tudo o mais que tem lugar numa cidade - à excepção (óbvia!) de strip-clubs ou sex-shops - dão corpo ao mais recente produto de propaganda por uma mente sã. Algo apenas equiparado a uma outra cidade de faz-deconta: DisneyWorld… Should we be afraid? Numa sociedade irremediavelmente fútil, o proselitismo tira proveito da forte atractividade destes novos espaços de culto. A era da informação/consumismo também globalizou/capitalizou a religião. Mais do que produtos, o marketing vende ilusões e assim a Fé parece aumentar entre os norte-americanos. Mas não se iludam. O vírus MegaChurch não está restrito ao país do Tio Sam, ameaçando extrapolar fronteiras. No Brasil, em 2000, o estádio do Maracanã confessou-se pequeno demais para receber os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Por cá, a polémica compra do Coliseu do Porto, em 2005, não foi concretizada (graças a Deus!) devido à forte contestação pública, mas constituiu uma prova evidente de que urge reinventar os espaços destinados às actividades religiosas. Por enquanto, o sacrossanto ex-líbris do país mantémse apartado dos parâmetros de uma MegaChurch, não obstante a recente inauguração da Igreja da Santíssima Trindade com capacidade para 9000 peregrinos, obra do arquitecto grego Alexandros Tombazis. Todavia, até quando resistirá Fátima? Let us pray…
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www.radiantchurch.com Pastor Lee McFarland cit in MAHLER, Jonathan, “The Soul of the New Exurb” in New York Times, 27 de Março, 2005 3 Monsenhor Ernesto Vecchi cit in BALLARDINI, Bruno, Jesus lava mais branco ou como a igreja inventou o marketing, 2003 4 http://ctlibrary.com/8164 5 www.forbes.com/2003/09/17/cz_lk_0917megachurch.html 6 Pastor George Rauscher cit in LOVELAND, Anne e WHEELER, Otis, From Meetinghouse to Megachurch: a material and cultural history, University of Missouri Press, 2003 2
*arquitecta licenciada pelo dARQ
COMER arquitectura Diogo Vasconcelos e André Almeida* Comer Arquitectura. O que é isto de comer Arquitectura? Quando nos foi proposto desenvolver este tema pensámos: “isto vai ser canja!”. No entanto demos por nós metidos num “buraco” uma vez que a nossa pesquisa teve resultados aparentemente desconexos e quase todos punham em causa a pertinência deste tema no qual mesmo assim acreditámos e levámos avante. Pedimos desde já desculpa se alguma das nossas reflexões for um pouco mais indigesta.
crítica de arquitectura sob o nome de “Home Sweet Home” que ocorreu na Casa da Música no dia 27 de Janeiro de 2007. Aqui a nobre arte da pastelaria era comparada com a reles tarefa do arquitecto. Essa performance teve por base maquetas da casa da música que no final foram consumidas pelo público presente.
Já no séc. XV, Leonardo da Vinci, antigo dono de uma taberna, utilizava massapão e chocolate para apresentar em maquetas comestíveis as suas ideias de modo a serem mais facilmente aceites e digeridas. Cinco séculos depois (séc.XX) o entusiasmo dos arquitectos André Tavares e Pedro Bandeira levou-os a desenvolver uma caixa de chocolate na qual procuraram associar a forma dos próprios chocolates à forma sugerida pela música que a arquitectura de Rem Koolhas emana. A isto deram o nome de “singing chocolates”. O mesmo fizeram com a arquitectura de Frank Gehry que dizem, numa carta enviada ao «Caro Sr. Rem Koolhaas» ter-se apaixonado pelas formas do chocolate swoopy ainda antes de o ter provado. Os resultados foram publicados no livro «Projectos Específicos para um Cliente Genérico» em 2006.
Na actualidade, o lugar da arquitectura comestível é o hipermercado. Aqui a arquitectura não é consumida em termos literais, no entanto a proliferação de imagens com ela relacionadas é capaz de incentivar a compra de determinados produtos. A arquitectura é um potenciador do consumo. Muitas marcas aproveitam-se de um mapa iconográfico para vender os seus produtos, relacionandoos frequentemente a imagens e formas arquitectónicas que são facilmente reconhecidas, credibilizando a sua origem, características e qualidades do produto – é a arquitectura como selo de qualidade. Este mapa mental é constituído por estereótipos, por nós criados, a partir de imagens da TV, de filmes, postais, publicidade... Basta olhar para o Taj Mahal impresso nas embalagens de arroz basmati, para as imagens de monumentos nos doces regionais, ou para os moinhos nas embalagens de farinhas e fermentos. É a própria arquitectura da caixa que torna mais apelativos os produtos nela contidos, e faz com que estes sejam mais facilmente reconhecidos, adquiridos e, em última análise, consumidos.
No mesmo ano, a Cailler, uma marca de chocolates suíça, convidou o arquitecto Jean Nouvel para desenhar a sua linha de chocolates. A reacção dos ambientalistas não tardou argumentando que a quantidade de lixo duplicou e as emissões de CO2 foram sete vezes maiores com a produção desta nova embalagem. Finalmente os arquitectos entram em novos mercados e novos campos. Este tema é novamente discutido numa performance
Tudo isto comprova que há algo na arquitectura que pode ser, de facto, comestível.
Já concluímos que há algo de comestível na arquitectura, mas nem tudo nos “cai bem”. No campo da culinária a reacção ao que ingerimos é imediata. Se for de boa
qualidade ficamos satisfeitos e dormimos uma sesta caso contrário o problema soluciona-se após uma defecação de emergência. Mas se é fácil perceber qual é o limite para uma má cozinha, qual o limite para a má arquitectura? Qual a solução? Uma solução possível seria a proposta pelos mexicanos “Inimigo Colectivo” apresentada na Trienal de Arquitectura de Lisboa em 2007. Esta consistia numa votação para eleger o edifício mais feio com a intenção de o demolir. Essa intenção seria posta em prática, no entanto isto levanta sérias questões ambientais como a impossibilidade de aproveitar grande parte dos resíduos deixados pela demolição. A mesma questão se coloca para o edificado em mau estado de conservação. Tal como não se deve comer seja o que for tendo o seu prazo de validade expirado, também em arquitectura ninguém deverá habitar um edifício que esteja em mau estado de conservação. Mesmo seguindo a máxima de William Morris - «Quando construímos, pensemos que construímos para sempre» - qualquer edifício precisará posteriormente de manutenção ou requalificação, não escapando à produção de resíduos não reaproveitáveis. Isto sugere que o metabolismo de um edifício, que deve permanecer no tempo, devia ser comparado ao metabolismo de um ecossistema. Um ecossistema minimiza os resíduos e consequentemente os impactos sobre o meio que o sustenta. A arquitectura, a arte que concebe a “receita para a transformação da paisagem” deve ter em conta os impactos da construção, na artificialização da paisagem do meio em que se insere. No entanto, hoje em dia existe um fenómeno que se tem vindo a verificar em várias cidades e que começará a tornar-se problemático. O Urban Sprawl consiste no alastrar das novas construções pelo território, extravasando os seus limites, levando por ventura à
sua indefinição. Isto acarreta certos problemas como a criação de novas infra-estruturas que implicam a impermeabilização do solo que por sua vez leva à perda de bio-diversidade, sendo este um processo irreversível. Uma forma de anular os efeitos negativos do Urban Sprawl pode ser através da prática de um edificado literalmente comestível. Deste modo os problemas de impermeabilização dos solos e de destruição de bio-diversidade seriam resolvidos, pois expirando o prazo de validade de um edifício, este poderia vir a ser ingerido pelos seus antigos usufruidores ou até mesmo pela própria natureza. Fazia-se uma festa! Criava-se um feriado nacional para celebrar e devorar pequenas urbanizações e outros aglomerados populacionais. Sim! Vamos construir casas em massapão revestidas a chocolate e com caixilharia em goma e açúcar cristalizado. Com telhas elaboradas com fatias de beringela e claras em castelo no lugar de gesso cartonado. Foie gras no lugar de silicone e grandes smarties em vez da cerâmica tradicional... Uma arquitectura bem ao estilo Hansel e Gretel, os técnicos especializados na área da construção alimentar. *alunos do 3º ano e 4º ano do dARQ
[maio 2009] 22.23
Âť
enviado nu
imagens do consumo Filipe Madeira e Joana Eira-Velha *
No processo deste número estava implícita a abordagem ao tema do Consumo na variante de “arquitectura do comércio”, parecendo-nos o exemplo mais óbvio ser o Centro Comercial. Uma vez que pouco ou nada sabíamos sobre a sua concepção, dispusemo-nos a aprender. Assim, em Maio de 2008, e em colaboração com o Atelier Promontório, a NU organizou uma conferência no Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra em jeito de “aula sobre Centros Comerciais”, tendo como principal objectivo não só saber mais sobre Centros Comerciais, mas tentar também perceber porque sabíamos tão pouco. Paulo Perloiro, a quem voltamos a agradecer, encarregou-se de ser o nosso “professor”. Ao longo dos anos 80, marcados pela entrada de Portugal na CEE, houve uma melhoria significativa da qualidade de vida, assim como um correspondente sentimento comum de esperança e progresso. Sedento de novidade, Portugal foi alvo fácil das grandes marcas de bens de primeiro consumo que já dominavam a maioria dos países europeus, traduzindo-se no aparecimento do primo menor do centro comercial: o hipermercado. Os centros citadinos, onde se situava a maioria do comércio, não estavam preparados para receber grandes superfícies, tanto pela escala do espaço necessário como por verem aí uma ameaça a combater. Remetidos para as periferias, associam-se a outras marcas que não de bens de primeiro consumo mas com maior poder de atracção, justificando a viagem e compensando a monotonia do hipermercado, que sozinho já não satisfazia a ânsia dos consumidores. Assim nascem os primeiros Centros Comerciais que proliferam rapidamente e fora do controlo das autarquias, tornando-se fashion pelo facto de se localizarem longe do centro. Pelo facto de serem um negócio tão rentável e alvo de tanta procura, o processo torna-se desenfreado (tal que Portugal é ainda hoje um case-study para promotores de Centros Comerciais), excluídos dos planos de desenvolvimento das cidades, deixando todas as decisões nas mãos de homens de negócios. Começa aqui a origem do tabu, segundo Paulo Perloiro. [maio 2009] 24.25
Hoje em dia, a cadeia de acções que leva à construção de um centro comercial tem como ponto de partida e ponto de chegada factores económicos, onde um desenho, único contributo do arquitecto, é fracção reduzida e quase final do processo. Quando o projecto chega ao Atelier Promontório, há já um peso de decisões extremamente condicionantes que não podem ser ignoradas (localização, dimensão, posicionamento, etc.), assim como uma pressão arrebatadora para gerir o fim da cadeia: lucro. Por outro lado, a imagem que o Centro Comercial tem junto do cidadão também não é, à partida, positiva. Apontam-se várias razões: porque (alegadamente, diz Paulo), alimentam periferias em vez de dinamizar os centros das cidades, concorrendo com estes; porque as soluções arquitectónicas são normalmente más e/ou atrasadas no tempo; porque nunca houve um arquitecto do estrelato internacional a desenhar um Centro Comercial em Portugal; ou porque existe de antemão um preconceito contra o consumismo. Por outro lado, este não é, no entanto, um equipamento que deva ser desprezado. Paulo Perloiro defende o centro comercial como o equipamento que gera mais alterações a nível urbanístico (sob o exemplo do Vasco da Gama que sozinho manteve viva a zona da ex-Expo 98) e, portanto, de grande importância e potencial tanto para o arquitecto como para o cidadão. Aqui, os Promontório simplificam a problemática e dão-lhe resposta. Se o problema é uma questão de identificação, ou seja, o facto de “as pessoas não se sentirem revistas nos centros comerciais”, a resposta passa por 3 pontos: Visibilidade – indispensável, o mote é “só compramos aquilo que vemos”; Integração – o Centro Comercial tem de estar integrado na paisagem urbana, as soluções devem ter qualidade; Percepção – a sua dignidade perante o cidadão deve estar ao nível dos outros edifícios/equipamentos da comunidade. Toma-se, entre outros, o exemplo do recém construído Dolce Vita de Ovar. Junto da localização planeada para o Centro Comercial estava já prevista uma arena desportiva que iria acolher uma conhecida equipa da região. Assim, a tentativa de aproximar o equipamento ao consumidor dita as regras da abordagem – tratamento interior e exterior baseados na linguagem desportiva
onde figuram elementos da tal equipa. Na intenção de tornar o equipamento reconhecível é-lhe atribuída uma marca, ou seja, a imagem é uma ferramenta de marketing. A implantação, por ser numa área de pinhal, foi também geradora de uma situação excepcional. Adoptando uma política ambiental, os arquitectos optaram por manter áreas de pinheiros, ainda que esta decisão lhes trouxesse um problema de distância entre a porta principal e o estacionamento. A solução encontrada foi, em colaboração com um artista plástico, o desenho de uma estrutura que serpenteia entre os pinheiros e abriga a promenade. Mais uma vez, a arte tem o papel de suavizar o estigma do consumismo. Apercebemo-nos no final que, por um lado, a implantação, volumetria e pontos de acessos são decididos por forças económicas e que, por outro, as regras de organização do espaço interior estão já préestabelecidas. Estratégias como a imposição de percursos com os acessos verticais, corredores angulosos de modo a orientar o movimento sempre contra frentes de lojas, espaços amplos de orientação, etc. limitam o desenho arquitectónico e se, por exemplo, contemplam o conforto espacial, é meramente como meio e não como fim. Resta ao arquitecto, neste caso, usar a imagem como pretexto para subverter da melhor maneira o sistema. Apesar do esforço do Atelier Promontório, que percebemos trabalhar no sentido de tentar restabelecer mais poder para o arquitecto, ficam-nos algumas dúvidas quanto ao valor deste exercício no âmbito da disciplina de projecto. Não menosprezando o facto de terem sido deixados alertas de questões reais para o mundo – nosso – académico e ficcionado, a questão vai para lá do ser ou não tabu, mas sim quais seriam os benefícios de abordar este programa no mundo académico. A inexistência de contextos altamente realistas e portanto condicionantes não é só, como se poderia pensar, prejudicial. Ao repensar o Centro Comercial na sua totalidade, a Escola, ainda que não produzindo um resultado praticável, teria um papel importante e algo esquecido: o de ser um laboratório de ideias. Tanto mais que a sua principal função é a preparação de futuros arquitectos. *alunos do 3º ano e 2º ano do dARQ, respectivamente [maio 2009] 26.27
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contaminações
Welcome to the Coke side of life Margarida Marques e Inês Oliveira*
Sou certamente a pessoa mais religiosa que existe: porque me dizem que “você pode ser o que quiser” (Boticário); porque se o mundo das marcas é uma religião e se a visão do mundo é a visão da marca, então, o meu Deus é o maior de todos e eu visto-me de crenças da cabeça aos pés. Sim, pratico o meu culto, todos os domingos, numa qualquer superfície comercial. Isto é o autêntico “way of life”. Compro divertimento e o sentimento de pertença. Pague um, leve dois. O brinde é a qualidade. “ Encontra-te aqui” (Sagres). Encontro-me todos os dias naquela prateleira, naquele símbolo envolvente que “reforça as minhas defesas” (Actimel). Essa prateleira segura e de confiança que não quer patrocinar a cultura, mas quer ser a própria cultura. Essa bolha do branding, onde eu desfilo com os meus Manolo Blahnik.
Porque “time is what you make of it” (Swatch) e o tempo é escasso, não há tempo para pensar- “Just do it!” (Nike). Vendo-me por essas aldrabices que me fazem esquecer o produto, esse relógio ou sequer o processo que está por detrás. Limito-me a “controlar” o tempo. Sou uma das “The Architects of time” (Ebel – swiss watches). Hail Hollow! “Hollow corporations”! Saúdo o meu concílio. Juntos cultivamos essa fé, que se retém em cada produto. Juntos investimos nesse universo de publicidade e “trade marks”, de slogans e logos. Depressa e bem, não faz ninguém, mas sempre engana alguém! Ou não fosse esta uma cultura de barbies. Frases curtas. Tempos instantâneos. Lê-se. Ouve-se. Vê-se. Repetese. “É fácil, é barato e dá milhões.” (Totoloto). Assim me deixo contaminar pelo mundo da imagem, essa imagem cheia de purpurinas e confettis, cheia de “shine” e “glamour”, de botox e silicone, auto-bronzeadores e anti-rugas. Uma imagem L’Óreal, “porque eu mereço”. Adoro este mundo onde os rótulos são de faz de conta, num cenário de embalagens que fingimos entender. É o gosto do mais bonito. O gosto pelo jingle que passa constantemente na televisão. “ É fácil, é como encontrar o trevo na tromba do elefante” (Jumbo). Depois ainda se insurgem esses “velhos do Restelo”, os novos “verdes” da publicidade, esse movimento ecologista que tanto implora pelo regresso ao que é natural e naturalmente belo. Repete-se a história: Perante o movimento dominante há sempre alguém que se dá ao trabalho de contrariar. A nova onda “real curves” dos anúncios Dove. Mas qual beleza em todas as idades? Quais “curvas reais”? Não me deixo enganar. Não me iludo com esse estilo blasé, com orçamentos baixos, nem com pessoas vulgares. O que é isso de realçar os produtos em vez da publicidade? “Desculpem lá mas vamos continuar com anúncios maus e um óleo bom” (Vêgê). Sim, claro…whatever! Eu promovo a globalização. Sinto-me grata por poder dar oportunidades de trabalho a pessoas do Terceiro Mundo. Sigo à risca o meu lema “Connecting people” (Nokia). No fundo, sempre que calço os meus ténis Nike sei que estou a ajudar esses milhares de crianças a ocupar o seu tempo. Sou, assim, completamente a favor do contacto entre os povos. “Ta ra ta ta ta…I’m loving it” (Mac Donalds). I’ Pod, I’Phone, I’Photo, I’ Book, I’ MAC, I’ PC, I’TV, I’ Stereo, I’Karaoke, I’PDA, I’Games, I’reless, Hi-Tec, Hi-FI,
Hi’ Five…Porque, meu amigo, “se me estás a ouvir”, neste mundo global “se não estás em toda a parte, não estás em lado nenhum”. Sou omnipresente. Sou um modem conectado numa ligação em rede. Ele é 2G, 3G, 4G… só o corpo não viaja! Teletransporto-me à velocidade de anos-luz a custo zero. O corpo? “Para esse há Visa” (Visa). Não me perco. Sou europeia às compras em terras orientais. Compro lá o que posso comprar cá, o que posso comprar em todo o sítio. O mapa urbano redesenha-se e repete-se. Os pontos turísticos assinalados são as catedrais da minha religião. Esta é a lei da oferta e da procura. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” (Fernando Pessoa – Coca- Cola). Sujeitome às oscilações do mercado, um mercado vital que responde bem à especulação, mas que decai quando se confronta com a realidade. Eu tenho aquilo que quero, quando quero, onde quer que vá. E tu? “ Todos nós pagamos por tudo o que usamos, o sistema é antigo e não poupa ninguém, não, somos todos escravos do que precisamos, reduz as necessidades se queres passar bem, que a dependência é uma besta, que dá cabo do desejo…” (Jorge Palma) A matemática nunca foi o meu forte e a vida é hoje. Não me retenho nos custos, o verbo de acção é comprar, adquirir, possuir. O que me faz feliz? O som do cartão a fazer uma transacção. O cansaço depois de um dia a percorrer os meus espaços de culto. Desdobrar-me em mil braços para levar todos os sacos que compro. Sei quem sou. Sou o que posso ser com este bocado de plástico na carteira. Sou como meio mundo com um traço negativo na conta do banco. Não importa. Desde que continue a comprar. E o que seria deste Natal sem esta magnífica forma de viver? Assim como o Carnaval, a Páscoa e todas essas épocas festivas, que já começavam a implorar por algum significado? E essas baixas e edifícios neoclássicos abandonados que ganham hoje esperança de serem um novo aglomerado comercial inundado de clientes esfomeados? Isto sim, isto é fé para os Homens, paz na terra, alegria de viver. Tenho para mim que a pobreza, então, deve ser angustiante. Ver e não comprar é como viver sem respirar. Assim me despeço! Obrigado e “Worten Sempre”.
*alunas do 5ºano do dARQ [maio 2009] 28.29
Âť
a nu
[maio 2009] 30.31
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Pedro Bandeira Pedro Bandeira (1970), arquitecto (FAUP 1996), é Professor Auxiliar no Dep. Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho. A Convite do Instituto das Artes e do Ministério da Cultura representou Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza (2004) e na Bienal de Arquitectura de São Paulo (2005). Publicou na Editora Dafne o livro Projectos Específicos para um cliente Genérico - uma antologia de projectos e desenhos desenvolvidos entre 1996 e 2006. Sob a orientação de Paulo Varela Gomes, concluiu em 2007 a tese de doutoramento intitulada: “Arquitectura como Imagem, Obra como Representação: subjectividade das imagens arquitectónicas”.
Uma cidade Kyoto de bicicleta. Um arquitecto Adam Kalkin. Um artista Beate Gütschow. Um livro Para não pensar muito o último que li: Extremamente Alto Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer.
Uma influência Os Sonic Youth, acompanham-me desde sempre. Um objecto do dia-a-dia Uma esferográfica ou um lápis B qualquer coisa. Um caderno ou uma agenda de bolso. Um vício Chocolate preto acima de 73% de cacau.
Um filme Para não pensar nada o último que vi: Destruir depois de Ler de Ethan e Joel Coen.
Uma palavra Não.
Uma experiência Dormir muito (acontece-me pouco).
Um futuro Sim.
Arte Paixão Desenho Requinte Linha Amor Esboço Detalhe Ódio Vertigem Curva Interesse Paixão Belo Forma Sentimento Projecto Urbanismo Plano Pormenor Qualidade Interior Excelência Habitat Elegância Calor Espaço Traço Arquitectura Cidade
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FICHA TÉCNICA DIRECÇÃO Diogo Lopes, Inês Morão Dias, Diogo Vasconcelos, Filipe Madeira DIRECÇÃO TRANSACTA João Crisóstomo, Inês Lourenço, Maria Barreiros EDIÇÃO Tiago Borges REDACÇÃO Ana Sofia Santos, André Almeida, Diogo Lopes, Diogo Vasconcelos, Filipe Madeira, Inês Morão Dias, Inês Lourenço, Inês Oliveira, Ivo Lapa, Joana Alves, Joana Eira-Velha, João Crisóstomo, João Nunes, Luís Loureiro, Mafalda Maurício, Maria Barreiros, Mário Carvalhal, Margarida Marques, Rosa Bandeirinha, Rui Baltazar, Tiago Borges COLABORADORES Eduardo Nascimento, Fernando Guerra, Mariana Pimentel, Pedro Bandeira, Raquel Margarido EDITOR GRÁFICO Filipe Madeira GRAFISMO Diogo Lopes, Diogo Vasconcelos, Filipe Madeira, Inês Morão Dias, Mafalda Maurício IMPRESSÃO Pedro Batista, Artes Gráficas, Lda. TIRAGEM 500 exemplares DEPÓSITO LEGAL 178647/02 ISSN 1645-3891
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