5 minute read

Os ganhos com a reforma de pastagem

Next Article
OPINIÃO

OPINIÃO

A possibilidade de produzir muito mais arrobas por hectare em sistemas intensivos de produção compensam os investimentos na formação de pastos de alta qualidade

Com a agricultura avançando sobre as áreas de pecuária, por conta da maior rentabilidade, a viabilidade da produção bovina está diretamente ligada ao encurtamento do ciclo produtivo e ao alto desempenho dos animais. Em um país onde cerca de 80% do gado é terminado a pasto, o “pulo do gato” está justamente na qualidade do solo e das forrageiras ofertadas aos bovinos.

Advertisement

Quem tem feito o dever de casa neste quesito consegue atingir taxas mais elevadas de lotação de pastagem, chegando a 10 ou 12 Unidade animal (UA)/hectare em sistemas altamente eficientes. “O grande desafio da pecuária é ter a mesma lucratividade da agricultura, que nos últimos anos tem avançado, com muitos pastos sendo convertidos em lavoura. E trabalhar com alta taxa de lotação é a saída para a fazenda ser eficiente, o que implica em melhoramento de pastagem. O produtor precisa avaliar a eficiência de seu negócio a partir do indicador lucro/hectare. A rentabilidade vai aumentar à medida que o sistema for sendo intensificado”, explica Fernando Andrade, médico-veterinário fundador da empresa de consultoria e administração rural Coar.

Segundo ele, para começar a ser competitiva, a propriedade tem de trabalhar com pelo menos 2 UA/ha, sendo um cenário mais favorável a partir de 3 UA/ha (corresponde a duas vacas e meia/ha, proporcionando dois bezerros por ha/ano, ou a seis bois/ha - 36@ de ganho). Isso para um pasto adubado. Sem adubação, a taxa de lotação deve ser de pouco mais de 1UA/ha.

Por conta da baixa qualidade dos pastos em boa parte do país, a média nacional não passa de 1UA/ha, onde 61,8% dos 152 milhões de pastagens apresentam algum grau de degradação. Nas duas últimas décadas houve uma queda de 13% nesse índice, segundo mapeamento feito pelo MapBiomas, mas ainda há muito o que se avançar.

A degradação de pastagens decorre de uma série de fatores: práticas inadequadas de manejo do pastejo e/ ou da pastagem, ausência de preparo do solo, escolha inadequada da forrageira, baixa qualidade das sementes, pragas de pastagens, problemas fisiológicos etc. “A recuperação de pastagens degradadas e a adoção de boas práticas de manejo representam um verdadeiro ganha-ganha. Ganha o produtor, com o aumento da produtividade do rebanho. E ganha o país, haja vista o maior potencial de pastagens bem manejadas em sequestrar carbono, contribuindo para a redução das emissões e para tornar a atividade pecuária como um todo, mais sustentável”, afirma Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador geral do mapeamento das pastagens.

A manutenção do pasto de qualidade muitas vezes esbarra no custo, levando muitos pecuaristas a adiar o investimento. Com isso, os índices zootécnicos do rebanho não melhoram. O estudo “Custos da recuperação de pastagens degradadas nos estados e biomas brasilei- ros”, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, em agosto de 2022, aponta que quanto mais avançado o nível de degradação, maiores serão as quantidades de insumos e operações demandas para sua recuperação, ocasionando custos incrementais de longo prazo. Segundo o estudo, a estratégia considerada para promover a reversão do processo de degradação foi a recuperação direta de pastagens em estágio moderado de degradação e a reforma de pastagens em estágio severo de degradação.

Os custos de recuperação e reforma entre os estados e biomas brasileiros foram diferenciados através dos preços de calcário e fertilizantes e, adicionalmente, por meio das recomendações de adubação e correção indicadas a cada bioma segundo a literatura especializada. “Em suma, o custo médio para recuperar um hectare de pastagem em estágio moderado de degradação variou entre R$979,42 e R$1.541,37. Por sua vez, o custo médio para reformar um hectare de pastagem severamente degradada variou entre R$1.563,31 e R$2.100,71”, diz o estudo. Esses valores foram baseados nos dados disponibilizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) no primeiro semestre de 2022.

Pelos cálculos de Fernando Andrade, em valores de janeiro de 2023, o custo médio de reforma de um hectare de pasto, com correção do solo é R$ 2.792,00, sendo R$1.172,00 custo de máquinas e R$1.620,00 custo dos insumos.

A Fundação Getúlio Vargas destaca que conhecer os custos de recuperação e reforma por hectare é importante para que os produtores possam avaliar a viabilidade econômica e o ganho potencial ao realizar o processo. “No âmbito do Plano Safra 2022/2023, foram destinados R$6,19 bilhões ao Plano ABC. Supondo que todos esses recursos, ao longo de uma década, fossem utilizados para recuperar pastagens degradadas, ainda assim, seriam necessários entre seis e sete vezes mais recursos que os disponibilizados. Deste modo, ainda há um grande caminho a ser percorrido para que seja possível a recuperação de pastagens no Brasil em sua totalidade”, diz o estudo.

Os resultados obtidos mostram que a implementação de tecnologias de recuperação de pastagens degradadas teria o potencial de gerar receitas mais do que suficientes para compensar os custos incorridos na recuperação de 15 e 30 milhões de hectares de pastagens, em todos os cenários analisados. Há ainda o ganho ambiental. A implementação de ações de recuperação e reforma têm o potencial de promover ganhos ambientais, econômicos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 463,7 Mt CO2eq/ano, segundo estudos realizados.

Reformar ou recuperar?

Essas são duas práticas diferentes, cujas aplicações vão depender do grau de degradação da pastagem. Enquanto a recuperação aproveita a espécie forrageira já existente e utiliza práticas agronômicas e/ou culturais para ajustar a fertilidade do solo e restabelecer o vigor das forrageiras e a qualidade, a reforma vai além. Nela, é realizado o preparo do solo, correções ou reparos e, posteriormente, o plantio da espécie forrageira.

Segundo a Embrapa, existem quatro níveis de degradação, interferindo na decisão de qual prática será a mais recomendada. Caso existam grandes áreas de solo exposto ou com predominância de plantas daninhas, a recuperação da pastagem não é indicada. Nessa situação o ideal é a reforma do pasto. “´É possível recuperar quanto na área existem três plantas de capim por metro quadrado. Menos que isso só a reforma resolve. A recuperação leva mais tempo para concluir, podendo ser de dois a três anos dependendo do grau de degradação. A reforma dura em torno de três meses, com a pastagem atingindo neste tempo alta produção”, explica Fernando Andrade. Segundo ele, caso o produtor tenha recursos financeiros para custear a reforma, essa opção é a mais indicada para os níveis maiores de degradação.

Uma outra alternativa é adotar o sistema de integração Lavoura/Pecuária, que permite recuperar a área de forma mais barata e ainda gerar lucro com a introdução de mais um componente produtivo. Além disso, o número de linhas de financiamento para a agricultura é maior que para pecuária. “Atuo na pecuária desde a década de 70. Até 1994, antes do Plano Real, os pecuaristas me procuravam para fazer a fazenda dar lucro sem investir. Era mais rentável naquela época investir no mercado financeiro do que em melhorar a pastagem. Hoje, isso não funciona mais. Os pecuaristas sabem que se investirem em bons pastos terão retorno”, lembra Andrade.

Reforma passo a passo

A reforma deve ser iniciada entre outubro e novembro. O primeiro passo para a recuperação do pasto, é identificar e calcular as áreas a serem recuperadas. Além da identificação visual do grau de degradação, é essencial realizar a demarcação e o cálculo da área.

Em seguida, é preciso fazer a análise de solo. Com base nesses dados, é possível definir os passos seguintes para atender as reais necessidades químicas da terra analisada. A coleta precisa ser feita em vários pontos do pasto e a amostra deve ser enviada para o laboratório.

Com o resultado em mãos, segue-se aplicação de calcário que irá promover uma maior integridade do sistema radicular da forrageira já degradada, além disso esse mineral melhora as propriedades físicas do solo e aumenta a atividade microbiana e a eficiência dos fertilizantes. Outra etapa importante para garantir o sucesso da recuperação da pastagem é a adubação fosfatada (fósforo), que pode ser realizada a lanço e em cobertura.

Se o produtor fizer um bom nível de correção pode usar uma forragem mais produtiva, como a Mombaça, porém é mais exigente em relação ao manejo e qualidade do solo. A manutenção dos pastos também é importante. Anualmente, deve-se fazer a análise de solo para repor os nutrientes em deficiência.

This article is from: