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Novas lideranças do agro
Importantes associações de criadores do país começaram 2023 sob o comando de novos presidentes, que buscam mais representatividade para o setor
Oano de 2023 começou marcado por mudanças no comando não só dos governos estaduais e federal, mas também em importantes associações de criadores que representam grandes raças de corte e de leite do Brasil. O ponto comum entre as novas lideranças é a necessidade de ampliar os investimentos em melhoramento genético e de políticas públicas voltadas especialmente para os pequenos produtores.
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Na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o paranaense Gabriel Garcia Cid, à frente da entidade desde janeiro, pretende ampliar os investimentos no Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), com foco na genômica. “Nossos investimentos serão principalmente dois: contínua capacitação e treinamento do nosso corpo técnico e levar informações sobre melhoramento aos associados, discutindo os rumos do programa, e principalmente, orientando sobre a forma correta de usar esta ferramenta”, diz Cid, que é neto de Celso Garcia Cid, que no início da década de 1960 importou zebuínos da Índia.
Com mais de 20 mil associados, a ABCZ passa por uma fase de diagnóstico, para identificar as demandas mais urgentes, mas algumas ações já foram definidas. Dentre elas, estão o recadastramento dos associados, a publicação de um relatório administrativo trimestral e a criação de pontos de apoio pelo país para diminuir os custos de atendimento técnico para os associados. Outra decisão é a realização de um evento técnico voltado para a cadeia do leite, no segundo semestre de 2023. A programação contará com exposição e julgamento de animais, leilões, congresso para discussões técnicas, como melhoramento genético, nutrição animal, qualidade do leite e tecnologias voltadas ao setor, além de degustação e comercialização de produtos derivados do leite de zebu.
Em relação à ExpoZebu 2023, a ABCZ pretende fomentar a participação dos pequenos criadores, que terão um espaço para expor seus animais. “Essa é uma medida importante para garantir que todos possam crescer, aproveitando a força da ExpoZebu. Também destaco que as atrações terão momentos muito especiais com temas que valorizam a sucessão no campo e aproximem a sociedade do agro”, reforça o presidente da ABCZ.
O diálogo com o governo federal também será priorizado. No início de fevereiro, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Henrique Fávaro, levou seu gabinete itinerante até Uberaba para receber as demandas de diversas entidades da pecuária. Segundo o ministro, esta foi a primeira de muitas reuniões que serão realizadas pelo Mapa em diversos locais do país para colher as demandas e implementá-las como políticas públicas no Ministério. “Temos que construir pontes, respeitando as posições divergentes. Mas todos aqueles homens e mulheres produtores que querem construir um futuro melhor para o agronegócio terão as portas abertas no nosso governo para que possamos fazer esse setor cada vez mais forte e sustentável. Estamos buscando fortalecimento do crédito rural e já começamos a escrever um novo Plano Safra que incentive a sustentabilidade e reforce recursos para pequenos e médios produtores. Já para médios e grandes, proporcionará investimentos na manutenção de máquinas, construção de armazéns, renovação de pastagens degradadas, para intensificar a produção e gerar oportunidades. Queremos ser um Ministério contemporâneo para abrir mercados”, diz Fávaro.
De acordo com o presidente da ABCZ, esse diálogo é essencial. “A ABCZ vai se posicionar cada vez mais politicamente em defesa dos interesses dos pecuaristas. Esse é um dos nossos mais importantes papéis: garantir que o criador seja respeitado e ouvi- do. Não renunciaremos à democracia e ao diálogo, mas nossa marca de representatividade será reforçada. Com o ministro, já temos várias conversas com algumas solicitações de verbas para auxílio aos pequenos criadores e discussões sobre responsabilidade ambiental”, conclui.
Guzerá e Nelore MT- Outra associação de zebuínos que começou 2023 com novo presidente é a Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil (ACGB), que passa a ser conduzida pelo criador Carlos Fernando Fontenelle Dumans, cuja família seleciona a raça desde 1928, na Fazenda Fontenelle, no município de Baixo Guandu/ES.
Para o triênio 2023/2025, a ACGB pretende fortalecer o banco de dados da raça e, consequentemente, as avaliações genéticas. Haverá incentivo à coleta de dados fenotípicos dos rebanhos dos associados, à participação em provas zootécnicas e em programas de melhoramento/avaliação genética. “Vamos continuar trabalhando em estreita colaboração com a ABCZ, Centro Brasileiro de Melhoramento Genético do Guzerá (CBMG), ANCP, Embrapa e diversas outras instituições de ensino e pesquisa para que possamos continuar gerando informações importantes sobre o desempenho da raça, assim como novas ferramentas de seleção”, destaca Fontenelle. Segundo ele, os méritos da raça obtidos em provas zootécnicas e abates técnicos serão divulgados amplamente ao mercado.
As ações da nova Diretoria ainda terão como foco a maior participação dos criadores no dia a dia da ACGB. Serão desenvolvidas campanhas para ampliar o quadro associativo. A transparência na utilização dos recursos pagos pelos associados é outra prioridade. Para isso, a entidade fará divulgação periódica dos gastos.
Já em relação às exposições de Guzerá a proposta é incentivar a participação dos associados em exposições regionais com contagem de pontos para os Rankings Regional e Nacional. Também será adotada uma taxa de inscrição diferenciada para participação em exposições com julgamento em pista e para apresentação de animais para comercialização. “A raça Guzerá tem grande potencial para contribuir com a pecuária nacional, tanto de corte quanto de leite, o que precisa ser divulgado de forma ampla”, acredita o presidente da ACGB.
Na Associação dos Criadores Nelore em Mato Grosso (ACNMT), quem está agora na presidência é Alexandre El Hage. “Vamos continuar fomentando estudos de melhoramento genético, como temos feito nos últimos quatro anos, com a proposta de contribuir com as tomadas de decisões dos produtores. Além disso, esses dados serão levados ao conhecimento do mercado, de modo a valorizar nossos esforços, e ainda ao consumidor final, queremos ampliar e simplificar a nossa comunicação para que chegue até a dona de casa, por exemplo”, diz Hage, que é zootecnista, pecuarista e empresário em Cuiabá. Segundo ele, a união do setor é importante para a construção de estratégias conjuntas. “A raça Nelore tem um potencial gigante e pesquisas recentes comprovam isso, então, precisamos trabalhar juntos para continuar fazendo o que nós sabemos fazer, que é produzir carne de qualidade e dentro de práticas sustentáveis. Independente do cenário político e/ou econômico, a vocação de Mato Grosso é produzir alimentos para o Brasil e o mundo e é o que vamos continuar fazendo”, conclui.
Angus- Entre as novas lideranças, a única mulher é a criadora e médica-veterinária Mariana Franco Tellechea, titular da Cabanha Basca, referência em bovinos Angus e Brangus e equinos Crioulos. Nascida em Porto Alegre, ela assumiu a Associação Brasileira de Angus, entidade do qual seu pai, Flávio Bastos Tellechea, foi fundador e primeiro presidente.
Segundo ela, o foco será desenvolver projetos para uma pecuária cada vez mais sustentável no Brasil. A iniciativa passa pela criação de programas de seleção que, além de índices de eficiência produtiva e qualidade de carne, permitam a obtenção de animais que, juntamente com práticas e manejos agropecuários, viabilizem uma produção sustentável, regenerativa e que contribua para a conservação do planeta. “O trabalho da associação será buscar parcerias com universidades, entidades de pesquisa e poder público no sentido de alcançar o objetivo de que a produção de carne bovina brasileira seja identificada como conservacionista e capaz de gerar créditos de carbono. É um caminho longo e que exigirá avanços consistentes nos próximos anos”, garante. A linha de fomento à sustentabilidade, a entidade contará com a Prova de Eficiência Alimentar 2023 e o Teste de Mensuração de Gás Metano.
Convicta do avanço das mulheres no agronegócio brasileiro nas últimas décadas, Mariana sabe do desafio de ser a primeira presidente da Angus, mas faz questão de destacar o protagonismo já assumido por muitas criadoras na história de seleção da raça. “A Angus contou com muitas mulheres de fibra em seu desenvolvimento no Brasil. Coube a mim o papel de representá-las, e isso é uma responsabilidade gigantesca. Tenho orgulho e me dedicarei ao máximo para trilhar um caminho de inovação que honre o legado dessa raça fantástica”, conclui.
Girolando – O engenheiro agrônomo e pecuarista alagoano, Domício Arruda, é o novo presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. Ele pretende ampliar os investimentos no Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG), implantar mecanismos que promovam o acesso dos pequenos e médios produtores à genética superior, alcançar a certificação internacional da raça, dentre outros projetos previstos para a gestão.
Selecionador da raça desde 1986, na Fazenda Cachoeirinha, em Major Isidoro/AL, Domício destaca que o Brasil precisa de políticas públicas voltadas para os pequenos produtores para permitir sua permanência no campo. “A raça Girolando responde por 80% do leite produzido no país, sendo que muitos desses produtores são pequenos. Precisamos garantir a essas propriedades o acesso ao melhoramento genético, para que possam produzir com sustentabilidade, mais produtividade e rentabilidade”, diz o presidente da Girolando.
Segundo ele, a cadeia leiteira precisa trabalhar pelo fortalecimento do cooperativismo, avançar na relação indústria/produtor/varejo e nas tratativas de importação de leite, com intuito de evitar que a entrada do produto no país prejudique o mercado nacional. “Ainda vamos trabalhar junto ao Ministério da Agricultura para consolidar o projeto apresentado no governo anterior para reconhecer o Girolando como a Raça Nacional”, conclui Domício.