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Brasil avança na seleção de cavalo Crioulo N

ão é só na pecuária bovina que o Brasil se tornou referência mundial na seleção genética. O país vem se despontando na criação de cavalos Crioulos, seja para competições ou para a lida no campo. A funcionalidade, adaptabilidade aos diversos climas brasileiros e a versatilidade da raça foram características decisivas para o criador Anderson Carlos Nascimento iniciar seu plantel, em 2019, na ACN Agropecuária, em Jataí/GO. “O Crioulo encaixa-se perfeitamente na nossa filosofia de trabalho na pecuária bovina, que é a produção de um genética de resultado, independente da região onde os animais serão criados. É assim que trabalhamos na seleção de Nelore, Gir Leiteiro e Girolando e levamos esse conceito para os cavalos Crioulos”, explica Nascimento.

Para compor o seu rebanho, ele buscou indivíduos das melhores linhagens, nas principais Cabañas do sul do País, berço do Crioulo no Brasil. A seleção foca em animais de funcionalidade, evoluindo as principais características da raça, e leva em conta nos acasalamentos o pedigree, aperfeiçoamento da morfologia e na força de trabalho dos equinos. “Utilizamos nos acasalamentos matrizes e garanhões de genética consistentes e de destaque em diversas competições importantes do país, dentre elas, o Freio de Ouro”, assegura.

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Após uma avaliação criteriosa, alguns exemplares são direcionados ao esporte, e as suas mais variadas modalidades, e passam por doma específica. Os demais são selecionados para trabalho em fazenda. Atualmente, a ACN Agropecuária conta com 40 animais, entre potros e matrizes, e pretende ampliar o rebanho em 2023 para atender a demanda crescente do mercado, especialmente nas regiões Centro-oeste, Norte e Nordeste. A ACN comercializa tanto em leilões quanto na venda direta na fazenda e pela internet.

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), César Hax, destaca que a raça vive um bom momento no país e vem se expandido além das terras gaúchas. “Onde o Crioulo pisou se consolidou. Na América do Sul, é destaque em vários países como Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, dentre outros, mas, sem dúvida, o cavalo mais bonito, equilibrado e funcional da América é o brasileiro”, garante Hax.

Anderson Carlos Nascimento

O desafio da entidade, que completará 91 anos de fundação em 2023 e é a mais antiga de criadores de cavalos do país, é levar a paixão pelo Crioulo para outras regiões do país. “A melhor forma de fazermos isso é por meio do esporte. Já contamos com 14 modalidades esportivas e vamos lançar mais uma, a Prova Vaqueiro. Além disso, realizamos uma pesquisa com os criadores para traçar o perfil mercadológico da raça e com o resultado definimos um plano de ação que está sendo colocado em prática. O objetivo é consolidar a raça e levar mais rentabilidade para os criadores”, anuncia.

Segundo dados da ABCCC, o ano de 2022 encerrou com aumento no número de registros, atingindo um total de 605 mil animais registrados, sendo uma média de 12 mil por ano. Foram feitas 29 mil transferências no ano passado, dado que mostra a valorização da raça no mercado.

O Brasil concentra o maior rebanho de cavalo Crioulo da América Latina. Uma realidade bem diferente da observada pelo fotógrafo Fagner Almeida, ao percorrer o mundo com seu projeto “Em busca do cavalo Crioulo”, iniciado em 2018. “Na Europa, as propriedades contam um número muito reduzido de animais, chegando a ter apenas dois ou três exemplares em algumas, e os próprios donos que comandam o manejo diário. Apesar desta característica, eles participam das competições de forma bem ativa”, esclarece o fotógrafo.

A ideia de registrar a história de seleção do Crioulo pelo mundo surgiu em 2017, ano em que Fagner comemorou 10 anos de atuação na fotografia. Inicialmente, a proposta era fazer um livro, mas no ano seguinte, com o volume de vídeos coletados, ele optou por fazer um documentário para mostrar os locais onde o Crioulo estava chegando fora do eixo tradicional do Brasil. As histórias, em formato de web séries e podcasts, estão sendo mostradas no canal do Youtube Em busca do Cavalo Crioulo. “Essa troca de experiência com criadores de vários lugares tem ajudado a promover a raça. Criadores dos Estados Unidos já entraram em contato comigo para ajudá-los a fundar uma associação lá. O projeto está ligando as entidades e criadores pelo mundo”, destaca Almeida.

A origem do cavalo Crioulo

No século 16, os colonizadores trouxeram para o Brasil equinos Andaluz e Jacas espanhóis da península ibérica, que futuramente deram origem ao Crioulo. Estabelecidos na América, principalmente na Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Peru e sul do Brasil, muitos desses animais passaram a viver livres, formando manadas selvagens que, durante cerca de quatro séculos, enfrentaram temperaturas extremas e condições adversas de alimentação. Essas adversidades imprimiram nestes animais algumas de suas características mais marcantes: rusticidade e resistência.

Foi no século 19 que fazendeiros do sul do continente começaram a tomar consciência da importância e da qualidade dos cavalos que vagavam por suas terras. A nova raça passou a ser preservada, vindo a ganhar notoriedade mundial a partir do século 20. Em Bagé/RS, no ano de 1932, a ABCCC foi fundada com a missão de preservar e difundir a raça no país, trabalho que desenvolve até hoje.

Segundo informações da ABCCC, o Crioulo é um equino caracterizado pela silhueta harmônica e pelo equilíbrio perfeito. Seu padrão racial admite praticamente todos os tipos de pelagens, exceto pintada e albina total. O peso varia entre 400 e 450 quilos e a altura mínima admitida para as fêmeas é de 1,38 metro e nos machos de 1,40 metro, já a máxima para fêmeas é 1,48 metro e para machos é de 1,50 metro. “O cavalo Crioulo é um animal de coragem, ativo, bondoso, inteligente, longevo, e hoje comprovadamente versátil, pois se destaca em todas as exigências que lhe são impostas”, finaliza o presidente da ABCCC, César Hax.

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