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Capiaçu no ponto certo

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OPINIÃO

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Cultivar de alto rendimento para produção de silagem de baixo custo, a BRS Capiaçu tem sido muito usada na alimentação de rebanhos leiteiros, mas exige cuidados no momento da ensilagem.

No cocho da Fazenda Mata Serena, em São Gonçalo do Rio Preto/ MG, a cultivar de capim elefante BRS Capiaçu tem reinado com sucesso o ano inteiro, garantindo boa produção de leite para o rebanho das raças Gir Leiteiro e Girolando. O criador Henrique Vieira da Rocha ganhou as primeiras mudas durante o lançamento oficial feito Embrapa Gado de Leite, em outubro de 2016. Hoje, a área plantada é de 10 ha, sendo 3 hectares irrigados e 7 hectares no sequeiro. “Como não consigo plantar milho por conta da condição climática da minha região, que tem um longo período de seca durante o ano, os custos crescentes do milho têm tornado impraticável o uso do grão para produção de volumoso. Por isso, optei pelo Capiaçu. Sei que não dá para comparar com milho, mas, levando em conta os custos e as condições climáticas daqui, é excelente”, explica o criador.

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A pesquisadora da Embrapa Cerrados, Giovana Alcântara Maciel, explica que o capim BRS Capiaçu é um excelente volumoso para garantir segurança alimentar na fazenda, por ser bem adaptados às condições dos biomas Mata Atlântica e Cerrado. Outra característica favorável dessa cultivar é a sua moderada tolerância ao estresse hídrico, o que a torna alternativa ao cultivo do milho em regiões com alto risco de ocorrência de veranicos. Também apresenta maior teor de carboidratos solúveis e de proteína bruta, comparado a outras cultivares de capim-elefante, o que favorece o seu uso para produção de silagem.

Ela alerta, porém, que, a silagem não tem o mesmo valor nutritivo que a de milho, portanto deve-se usar para vacas seca, novilhas e animais de menor produção. “Outra opção é ajustar a suplementação para garantir bons níveis de produção”, orienta. Na Fazenda Mata Serena, a estratégia é oferecer apenas para os animais jovens da recria, engorda e receptoras, além das vacas em pré-parto.

Apesar do menor valor nutritivo, a cultivar é mais vantajosa em relação ao custo de produção e a maior produtividade, justamente por possibilitar mais cortes no mesmo ano. “Consigo produzir 90 toneladas por hectare na área irrigada, quando a planta atinge 90 a 100 dias. Já no sequeiro, na média do ano, consigo 80 toneladas por hectare, chegando a 90 toneladas por hectare nas chuvas e 70 toneladas no período da seca”, conta Henrique. Segundo a Embrapa, a produção de biomassa do Capiaçu é cerca de 30% superior às demais cultivares do capim elefante.

Uma estratégia adotada na Fazenda Mata Serena foi plantar o Capiaçu consorciado com soja perene, que é uma leguminosa, fonte proteica para o gado. Ela é misturada na silagem para garantir alimento para o período da seca o ou triturada verde junto com o capim, sendo oferecida aos animais nas águas.

Para se ter o melhor resultado com esse capim é importante fazer um planejamento para o plantio, colheita e ensilagem. “Trata-se de um capim muito exigente, por isso a análise de solo é fundamental, para que se corrija o pH do solo e forneçam todos os nutrientes necessários. A saturação por bases (V%) deve ser maior que 60% e a adubação de cobertura com nitrogênio e potássio deve ocorrer quando o capim estiver com aproximadamente 50 cm de altura”, ensina Giovana.

O Capiaçu é uma planta de propagação vegetativa, ou seja, não tem sementes. São os colmos que irão gerar novas plantas. Por isso, é importante a aquisição de mudas vigorosas, com boa qualidade. O plantio deve ser feito em sulcos ou covas. O espaçamento pode ser de 90 cm para corte manual ou 1,50m para corte mecanizado. Recomenda-se plantar a 20 cm de profundidade. A adubação de plantio é essencial e deve ser feita do fundo do sulco. O adubo fosfatado deverá ser usado nesse momento. Já a calagem deverá ser feita 90 dias antes do plantio. A muda pode entrar em contato com adubo.

Cuidados Na Ensilagem

A qualidade da silagem de Capiaçu está ligada ao teor de matéria seca, que aumenta com a idade da planta forrageira. Por outro lado, o capim mais novo tem melhor valor nutritivo, mas sua produtividade será menor e as perdas no silo serão maiores. “A época certa de colheita para silagem é entre 90 e 110 dias com percentual de matéria seca variando de 18 a 20 %. Outro ponto importante é a altura de corte com 10 cm para garantir uma boa rebrota”, orienta a pesquisadora. É sempre necessário adubar a capineira após cada corte.

O número de cortes pode variar em função do clima e solo da região. De modo geral, para a produção de silagem é adequada a previsão de três cortes anuais, sendo recomendado um corte de uniformização na transição seca/águas (quarto corte), com o objetivo de “preparar” a capineira para a época de crescimento favorável.

Caso o capim seja colhido com teor de MS muito baixo, recomenda-se o uso de algum aditivo para diminuir a umidade dentro do silo ou o pré-emurchecimento do capim (corta e deixa secar um pouco a pleno sol).

Sabe-se que o grande desafio de ensilar o capim-elefante é conseguir o teor de umidade ideal para evitar o escorrimento de líquidos pós-fechamento do silo e garantir a boa fermentação. Existem estratégias simples que po- dem contribuir para melhorar o teor de matéria seca na BRS Capiaçu. Uma delas é fazer o corte do capim no período da tarde, quando naturalmente o teor de umidade da planta estará mais baixo. Outra estratégia é evitar ensilar após períodos de chuva intensa, se possível aguardar de quatro a cinco dias pós chuvas.

Para facilitar a compactação e a fermentação, as facas devem estar amoladas e as partículas devem ser cortadas entre 10 e 15 mm. “Use inoculante para melhorar a estabilidade da silagem. Pode-se lançar mão de bactérias homoláticas e enzimas fibroláticas”, orienta a pesquisadora da Embrapa Cerrados. Não deve ser aplicado inoculante com pulverizadores usados com herbicida, inseticida ou fungicida.

Uma opção para reduzir o teor de umidade final do material ensilado é utilizar os aditivos secantes. Essa estratégia permite que a capineira seja colhida um pouco mais nova para aproveitar a maior porcentagem de proteína bruta e fibra de melhor digestibilidade. Os aditivos mais usados com essa finalidade são fubá de milho, milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS), polpa cítrica desidratada, farelo de trigo, raspa de mandioca, ou outro material disponível na região que seja viável economicamente. “Uso inoculante para silagem de capim, e 3% de milho moído para que as bactérias tenham fonte de energia para transformar o capim em silagem, fazendo a fermentação”, explica o criador Henrique Vieira. Com os vários anos de experiência utilizando a cultivar na alimentação de seu rebanho, hoje composto de 120 animais, ele assegura que fez a escolha certa para a realidade de sua propriedade. “Sou o maior defensor do Capiaçu. Tenho certeza de que ele é a saída para o pequeno e médio produtor em regiões de baixa precipitação e com baixa produção de alimentos para o gado”, conclui o criador.

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