8 minute read

O que esperar de 2023?

Next Article
OPINIÃO

OPINIÃO

O setor finalizou 2022 com números positivos em vários segmentos e espera continuar crescendo, apesar dos desafios globais e internos pelo caminho.

Se no mercado externo o ano de 2022 foi marcado por recordes nas ações gerais do agronegócio, inclusive de carnes bovina e frango, o mercado interno sofreu com a elevação do custo de produção, estreitando a margem do produtor, e com problemas climáticos em determinadas regiões. O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 2022 fechou em R$ 1,189 trilhão, segundo maior em uma série de 34 anos de cálculo desse indicador. Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, o faturamento das lavouras foi de R$ 814,77 bilhões e o da pecuária de R$ 374,27 bilhões.

Advertisement

O VBP de 2022 foi marcado por resultados positivos para diversos produtos, crescimento das exportações do agronegócio e dos preços agrícolas. O fator que mais prejudicou o desempenho foi a seca, especialmente na região Sul e parte do Centro-Oeste, que resultou em prejuízos aos agricultores causados por perdas de produção de soja, milho e feijão. A pecuária também foi afetada devido às perdas de suprimento. Os produtos que mais se destacaram foram o algodão, café, milho, trigo e leite.

Nas vendas externas, o agro mais uma vez registrou crescimento. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), foi o maior valor nominal registrado historicamente, da ordem de USD 159,1 bilhões, alta de 32,0% frente a 2021. De acordo com a análise da Radar Agro, consultoria do Banco Itaú, o bom desempenho foi fruto não só do aumento dos preços médios em dólar dos principais produtos do agronegócio, em comparação com as médias registradas em 2021, mas também do incremento (13,1%) do volume total de mercadorias embarcadas no último ano versus 2021.

Mercado de carnes e leite

Na pecuária, as exportações totais de carne bovina em 2022 cresceram 42% na receita e 26% no volume e são as maiores da série histórica do produto no país (carne in natura + carne processada). Aproveitando a boa maré do mercado mundial, principalmente do mercado chinês que representou mais da metade das vendas, tanto nos preços (60,9%) como nos volumes (53,3%), o Brasil obteve uma receita de US$ 13,091 bilhões no ano passado e movimentou 2.344.736 toneladas. Em 2021, a receita foi de US$ 9,237 bilhões e o volume de 1.867.574 toneladas. A China comprou, sozinha, 99.744 toneladas no últi- mo mês de 2022. Depois da China, os Estados Unidos foi o maior comprador da carne bovina brasileira, proporcionando uma receita de US$ 904,1 milhões, com movimentação de 173.141 toneladas. “Com relação aos pontos positivos do ano passado, a exportação recorde de carne é sem dúvida o maior deles. A adoção, em maior escala, de contratos para a entrega futura de boiadas, foi outro fator positivo. Dessa forma o pecuarista que usou essa ferramenta de risco saiu-se bem, garantindo preço, e o frigorífico garantindo a entrega de boiadas. Com relação aos pontos negativos, a concentração das vendas para um só mercado (China) é preocupante, a elevação do custo de produção, estreitando a margem do produtor e, por fim, a aparente mudança do comportamento do ciclo de preços pecuários, cujas cotações indicam que está entrando num ciclo de baixa”, esclarece Alcides Torres, diretor-fundador da Scot Consultoria.

Os pecuaristas tiveram de enfrentar a queda de preço da arroba do boi gordo na entressafra, quando normalmente os preços sobem. Houve também queda do consumo por pessoa, o pior nível dos últimos 26 anos, em função da queda do poder aquisitivo do consumidor.

Na pecuária leiteira, 2022 encerrou com queda de 4,4% na produção formal, após quatro anos de altas consecutivas. “A cadeia produtiva do leite sofreu sérios impactos pelos acontecimentos globais em 2022, intensificando as dificuldades já apresentadas em 2021”, relata a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite Kennya Siqueira.

No segmento de carne de frango e suínos, as exportações tiveram comportamento diferente. Enquanto as vendas externas avícolas subiram 5%, atingindo 4,850 milhões de toneladas, contra 4,610

Fale Conosco

(14) 99141-5777 | florestafazenda

An Lises Cl Nicas Veterin Ria De Ponta

Na liderança de um dos criatórios mais tradicionais de Gir Leiteiro e Girolando, a criadora Roberta Bertin Barros vem inovando na seleção das duas raças. Na Fazenda Floresta, localizada na cidade de Lins /SP, ela conta com um espaço multifuncional com área de criação de gado a pasto, um laboratório de produção in vitro de embriões bovinos (Reproll), um laboratório de análises clínicas veterinárias (Axys), uma loja de medicamentos e nutrição animal (Vetlins) e uma leiteria.

Graduada em Medicina Veterinária, em Administração de Empresas e pós-graduada em Análise Clínica Veterinária, Roberta Bertin acredita no potencial da pecuária leiteira e tem trabalhado na produção de genética de ponta, ofertando ao mercado embriões, vacas prenhes, vacas em lactação e bezerras de alta qualidade.

| 16400-033 | Lins / SP

Zona Rural

milhões de toneladas em 2021, a carne suína sofreu uma queda, embarcando 1,120 milhão de toneladas, 1,5% menor que as 1,137 milhão de toneladas registradas em 2021. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, no caso da carne de frango, o Brasil segue líder nas exportações da carne avícola e deverá incrementar ainda mais as vendas no próximo ano. “A avicultura global tem enfrentado nos últimos anos grandes desafios com relação aos altos custos de produção de alimentos e um quadro complexo de Influenza Aviária em diversas regiões do planeta. O Brasil, que é livre da enfermidade e reforçou seus protocolos de biosseguridade para preservar seu status sanitário, deverá seguir em seu papel de apoio à segurança alimentar das mais de 150 nações importadoras, além de garantir o abastecimento interno de produtos”, ressalta Santin.

Apesar de ter tido queda nas exportações, a produção de carne suína cresceu 6,5%, com até 5 milhões de toneladas produzidas, número recorde histórico para o segmento. As aberturas dos mercados do México e do Canadá deverão gerar novas oportunidades para os exportadores brasileiros, ao mesmo tempo em que se espera o reforço do consumo per capita dos produtos da suinocultura.

Confinamentos – O número de bovinos confinados em 2022 superou o ano anterior. De acordo com o Censo de Confinamento DSM, foram confinados 6,95 milhões de bovinos, aumento de 4% sobre os 6,69 milhões registrados em 2021, mesmo índice de crescimento do ano anterior. Do total de cabeças abatidas no país, 20% vêm de confinamento.

Já nos confinamentos monitorados pelo projeto Confina Brasil, o total de animais confinados ficou em 3,5 milhões de cabeças, contra 2,09 milhões de cabeças em 2021. Esse número representa mais de 60% do total de gado confinado no Brasil, de acordo com as estimativas feitas pela Scot Consultoria. Em 2022, o total de propriedades mapeadas chegou a 256, sendo que 175 delas receberam a visita dos técnicos do Confina Brasil e as demais tiveram acompanhamento remoto e já tinham sido visitadas nas edições anteriores. “Essa alta ocorreu apesar dos desafios vividos pelo setor em meio ao aumento dos custos de produção. Quando comparamos com os dados referentes aos bovinos confinados em 2021, as fazendas visitadas que confinaram nos dois anos aumentaram em 13,2% o volume de gado sob ter- minação intensiva. Tocantins foi o estado com maior evolução: 152,8%. O Pará apresentou o segundo maior crescimento: 70,3%”, informa Júlia Zenatti, coordenadora do Confina Brasil e da equipe de Inteligência de Mercado da Scot Consultoria.

Já em relação à rentabilidade, a média dos confinamentos apresentou queda segundo levantamento da DSM. O índice médio de rentabilidade, ainda parcial (dados de janeiro a novembro), que chegou a ser 5,22% em 2020 e 0,15% em 2021, caiu para -0,17% em 2022. “Faltou chuva nas principais regiões do país e tivemos uma quebra na produção de grãos da safrinha (2° safra). Isso aliado ao aumento nas exportações de grãos, resultou na elevação dos preços das matérias-primas e, consequentemente, no aumento dos custos de produção. Ainda tivemos diversas ocorrências negativas ao longo do ano, como guerra, consumo interno, taxa de juros, políticas e ciclo pecuário, que impactaram na baixa do preço da arroba do boi gordo”, esclarece Hugo Cunha, gerente técnico Latam de Confinamento da DSM.

Grãos – Na agricultura, o milho foi o produto que apresentou o maior crescimento em exportações dentre os principais produtos do agronegócio, sendo que, em 2022, o total embarcado de 43,2 milhões de toneladas representou o maior montante da série histórica brasileira, o dobro do embarcado em 2021. Já a soja teve redução de 8,3%, alcançando 78,9 milhões de toneladas.

Expectativas para 2023

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) está otimista com o setor em 2023. A entidade estima que o Produto Interno Bruto do setor cresça até 2,5% em 2023 em relação a 2022. Mas aponta elementos que precisam ser contornados e solucionados no mercado interno e externo. “Na seara doméstica, a alta dos custos de produção na atividade, as incertezas sobre o controle das despesas públicas e a condução da política fiscal, que devem impactar os custos do setor agropecuário, sobretudo em questões tributárias. Já na esfera internacional, a possibilidade de continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, que em 2022 já impactou a disponibilidade global de grãos e de insumos, além das previsões de desaceleração do PIB mundial podem influenciar o comportamento das exportações brasileiras do agro no próximo ano”, diz o diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi. No caso da pecuária de corte, Alcides Torres destaca a influência do aumento da boiada, queda na reposição e incertezas na economia global. “As projeções para 2023 são de aumento de boiadas causada pela maior participação de fêmeas no abate de bovinos, determinando a confirmação de manutenção ou queda de preços da arroba do bovino gordo. Com relação à economia global, o cenário não está otimista, com gente acreditando em uma retração mundial. Teremos que lidar com isso para manter o bom desempenho da exportação. A cotação dos bovinos para reposição do rebanho deverá cair, favorecendo recriadores e invernistas. A vez da cria, passou. E, como sempre, esse quadro é muito bom para o investimento, desfazendo-se de estoque caros e adquirindo estoques a preços menores, antecipando a retomada de preços e margens futuras”, orienta Torres.

Nos confinamentos, 2023 deve ser de aumento do número de animais confinados e da volta da rentabilidade média. “O principal componente de custo do confinamento, que é o boi magro, segue em baixa em um dos menores patamares, trazendo oportunidade para o confinador”, acredita Hugo Cunha.

Para o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Glauco Carvalho, embora o ano que começa ainda traga muitos componentes de incertezas internas e externas, o mercado brasileiro de leite está se reequilibrando em termos de oferta e demanda. Segundo ele, com a recuperação do mercado de trabalho e melhorias do emprego e renda, espera-se alguma melhoria no consumo de leite e consequências. Outro fator positivo é a produção brasileira elevada de grãos na safra 2022/2023, contribuindo para uma menor pressão nos custos de alimentação das vacas, sobretudo concentrados à base de milho e soja.

Já o Ministério da Agricultura e Pecuária estima que o Valor Bruto de Produção da Agropecuária em 2023 cresça 6,3%, podendo atingir R$ 1,263 trilhão. As lavouras devem ter um aumento real de 8,3%, e a pecuária de 1,9%.

A perspectiva para a safra de grãos 2022/2023 é de um aumento de 15,5%, o que representa 42 milhões de toneladas a mais em relação ao período anterior, podendo chegar a 310,9 milhões de toneladas no total, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Se confirmado, o volume representa um incremento de 39,3 milhões de toneladas a mais a serem colhidas do que na temporada passada. O crescimento da área plantada e recuperação da produtividade da soja, após a seca impactar o Sul do país este ano, podem ajudar na concretização destes números.

Segundo as projeções da ABPA, deve haver crescimento na produção de carne de frango, chegando a 14,750 milhões de toneladas (+ 2% em relação à 2022), além de exportações totais de até 5,2 milhões de toneladas (+8,5%). Já em relação à carne suína, o Brasil poderá alcançar até 5,150 milhões de toneladas (+4% em relação à 2022), com exportações totais de até 1,250 milhão de toneladas (+12%).

This article is from: