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ENTREVISTA
NELSON EDUARDO ZIEHLSDORFF
OTIMISMO, COM CAUTELA, NO SETOR DE GENÉTICA
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ARQUIVO PESSOAL
Depois de um primeiro semestre mais lento nas vendas internas de sêmen no Brasil, a expectativa é de que o mercado retome o ritmo de crescimento apoiado na constante tecnificação da pecuária e da forte demanda por alimentos no mundo. Quem assegura é o novo presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), Nelson Eduardo Ziehlsdorff, eleito em junho. Em entrevista à revista Pecuária Brasil, ele analisa como deve ficar o segmento em 2022 em decorrência dos acontecimentos políticos e econômicos e explica os fatores que mais influenciam os pecuaristas na hora de definir a genética de que touros utilizar. Com larga experiência na pecuária, tanto como criador quanto como empresário, Nelson é membro da Associação dos Criadores das Raças Jersey e Holandês no Canadá, diretor internacional da Abraleite (Associação Brasileira dos Produtores de Leite) e diretor da Associação Catarinense de Criadores de Ovinos (ACCO). Já na iniciativa privada conduz o Grupo Semex, composto da central Semex Brasil, Central Tairana e Cenatte Embriões – além de ser proprietário da SRC Farms e SRC Cordeiros Premium. Confira a seguir o bate-papo.
Revista Pecuária Brasil- O ano de 2022 tem sido marcado por muitos fatores políticos e econômicos, inclusive em nível mundial, que trazem instabilidade ao mercado. Dentro desse cenário, quais variáveis podem afetar mais o mercado de genética, seja positiva ou negativamente?
Nelson Eduardo Ziehlsdorff - Em recente estudo feito pelo Cepea, percebemos uma correlação direta entre os preços do leite, preço de bezerro e preços de arroba com o volume de sêmen comercializado, principalmente para as raças de corte, que mostram também a mesma correlação com o volume de exportação de carne.
As instabilidades econômicas e políticas podem, sim, afetar momentaneamente os volumes, porém a conscientização dos pecuaristas em investir em genética de ponta é cada vez mais percebida. A genética é um dos insumos mais baratos dentro do sistema de produção e um dos únicos que se torna permanente e crescente, já que a reposição de matrizes traz melhores indivíduos a cada ano. Também é através da genética que conseguimos produzir mais, no mesmo espaço de pastagens e com maior velocidade, encurtando, assim, o ciclo de produção.
As expectativas futuras são positivas, baseadas em dados da FAO que consideram um crescimento da população mundial, consequentemente uma maior necessidade de produção de alimentos. O Brasil é um dos únicos países que tem condições (clima, volume de terras, tecnologia e genética) de atender essa demanda.
Revista Pecuária Brasil - O que tem impulsionado o avanço
das exportações de sêmen nos últimos anos? O melhoramento genético das raças bovinas, com avaliações genéticas e genômicas de maior acurácia, também têm contribuído?
Nelson Eduardo Ziehlsdorff - O reconhecimento dos demais países à qualidade da genética produzida no Brasil é evidenciado pela nossa liderança na produção mundial de alimentos, de maneira sustentável, confirmando este crescimento nos volumes exportados. As ferramentas de melhoramento genético, sem dúvida alguma, são grandes protagonistas neste reconhecimento e, somadas às ferramentas de multiplicação dessa genética, como a inseminação artificial, propiciam a democratização e capilaridade desse material. Esses resultados são comprovados pelos números do Index ASBIA 2021, que mostram 4.463 municípios (mais de 80% do Brasil) utilizando a técnica da Inseminação Artificial.
Revista Pecuária Brasil- No primeiro trimestre foi registrada uma queda de 3,4% nas vendas de sêmen. Há expectativa de reverter esse cenário? E o que pode contribuir para isso?
Nelson Eduardo ZiehlsdorffSeparando essa análise por corte e leite, entenderemos mais facilmente este comportamento. No caso do leite, houve um aumento muito grande nos custos de produção que não foi repassado no preço pago pelo produto, fazendo, portanto, que os pecuaristas utilizassem de seus estoques remanescentes nos botijões, eventualmente atrasando as compras para os próximos meses deste ano. No caso específico do corte, observamos um crescimento em 2021 de 50% no primeiro trimestre, entendemos que foi bem além das expectativas, trazendo um grande desafio comparativo para este primeiro trimestre de 2022. Percebemos também que pode ter ocorrido uma antecipação de compras devido aos ótimos resultados do ano passado, sêmen este que foi utilizado neste primeiro trimestre, no final da estação de monta. Em relação à expectativa de crescimento para 2022, qualquer previsão neste atual momento é difícil, pois precisamos ver como vai andar a economia, a política e o cenário de custos de produção.
A expectativa é boa, mas precisamos esperar para vivenciar o mercado e a estação de corte.
Revista Pecuária Brasil- Com base nas vendas por município monitoradas pelo Index Asbia, é possível traçar um perfil dos municípios que mais inseminam no leite e no corte?
Nelson Eduardo Ziehlsdorff - Sem dúvida alguma, aliás este é um dos principais objetivos do nosso Index, proporcionar aos nossos associados uma leitura detalhada e acurada de todo o cenário do agronegócio, principalmente da pecuária, no território brasileiro. Partindo da performance individual das raças, até dos produtos relacionados com a utilização da técnica de IA, afinal onde tem rebanho inseminado, obri-
gatoriamente devem estar presentes as empresas de saúde animal, de nutrição, equipamentos, adubos, pastagens etc.
Revista Pecuária Brasil- No mercado de leite, o que comprador de genética tem buscado nos touros?
Nelson Eduardo Ziehlsdorff- O mercado de leite é extremamente dinâmico e variado. Os sistemas de produção são determinantes na seleção genética e a variedade de opções de touros se deve ao fato da grande diversidade de sistemas, climas e topografias. Podemos afirmar, no entanto que a grande maioria dos produtores buscam touros com equilíbrio entre características de produção, saúde e tipo funcional. O foco tem sido grande em sólidos, volume de leite, vida produtiva, fertilidade das filhas, além das características de tipo que agreguem funcionalidade – sistema mamário, aprumos e força leiteira.
Quando falamos dos touros zebuínos leiteiros, mais notadamente o Gir e o Girolando, as informações de provas ainda não são tão completas quanto as que encontramos no sêmen importado, mas é seguro dizer que os produtores têm buscado touros que representam linhagens com grande capacidade de produção e que tenham histórico de correto tipo funcional. Existe um grande esforço e projeto para ampliar as características avaliadas no Gir e no Girolando e, em breve teremos informações mais completas para auxiliar o produtor nas escolhas de seu programa genético.
Revista Pecuária Brasil- No mercado de corte, que vive um bom momento, o que mais tem pesado ultimamente na decisão do pecuarista na hora de escolher os touros?
Nelson Eduardo Ziehlsdorff- Na verdade, é um conjunto de fatores que leva à decisão da compra de um reprodutor. O equilíbrio em sua régua de DEPs, unindo, peso, precocidade, habilidade materna e fertilidade, ao seu fenótipo. O animal deve ser profundo com costelas amplas e bem arqueadas, musculatura evidente e convexa, possuir bons aprumos, umbigo corrigido, características sexuais secundárias fortes, dentre outros detalhes raciais e funcionais.
Revista Pecuária Brasil- No ano passado, a ASBIA apresentou ao Mapa algumas demandas,
dentre elas a dificuldade logística
que existe em realizar todos os registros de touros em coleta nas centrais de genética e a necessidade de agilizar os processos de importação de genética. As reivindicações já foram atendidas? E como essas questões prejudicam o segmento? Nelson Eduardo Ziehlsdorff -
A ASBIA tem uma relação muito sólida com o MAPA e, todas as nossas demandas estão caminhando muito bem, a quatro mãos e dentro das possibilidades e demandas de equipe do Ministério. Alguns dos assuntos em pauta são: Acordo de Cooperação Técnica para customização do sistema Sipeagro para os centros de coleta; Protocolos com novos países e melhoras nos sistemas LPCO e fiscalizações; Aspectos sanitários e de qualidade dos produtos também estão sempre em discussão, afinal o Brasil atingiu um patamar de excelência e reconhecimento internacional da sua qualidade e da segurança sanitária, portanto, temos a obrigação de mantê-lo.
Revista Pecuária Brasil- Agora à frente da ASBIA, quais demandas pretende priorizar?
Nelson Eduardo ZiehlsdorffNosso projeto de ASBIA já foi construído a muito anos atrás com o envolvimento de vários profissionais do segmento de IA, que agregaram muita experiência e dedicação na busca da excelência e gestão das informações do mercado de inseminação. Nosso objetivo continua no rumo certo para a evolução e consistência da tecnologia e melhoramento genético dos rebanhos. Esse trabalho é feito atrás de um grupo que segue junto à ASBIA. Agregando cada vez mais informações que sejam relevantes nas ações estratégicas de cada empresa ou associações de raça filiadas a ASBIA.
F e r t i l i d a d e , e F u n c i o n a l i d a d e P r e c o c i d a d e
D O N ATA 5 D O K A L U N G A K L G A 8 4 8
B I T E L O D A S S X D O N A T A D A T A M ( F A J A R D O D A G B )
J A N Y T E B A R L I L L 2 0 8 6
B A S C O D A S M X D I J A N Y F I V D O C A R M O ( B I G B E N D A S N )
E S P N M A N S Ã O E S P N 2 9 7 0
B A S C O D A S M X E N D D Y T E D A F O R T. V R ( B I G B E N D A S N )