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DIREÇÃO Gustavo Miguel +55 (34) 9 9142-5081 gustavomiguel.gm@gmail.com Cláudia Monteiro +55 (34) 9 9142-5082 claudiapecuariabrasil@gmail.com
Luciana Corrêa, Manoela Machado, Marianna Cardoso, PecPress, Piar, Renner Cardoso, Rubens Neiva, Seapa, Simone Sabatini, Sindilat, SNA, Texto Comunicação. CONTATO COMERCIAL +55 (34) 3071-1000 / 3071-0600 3313-0371 / 3317-2320
EDIÇÃO Natália Escobar - MTB 19731/MG redacaopecuariabrasil@gmail.com COLABORAÇÃO ABCT, ABCZ, ABHB, ACNB, AgroEffective, Camila Cechinel, CNA, Conab, E-Comunicação, Embrapa, Faeza Rezende, Gabriel Faria, Grupo Publique, Instituto de Zootecnia, Kassiana Bonissoni, Larissa Vieira, LN Comunicação, Loures Consultoria,
JURÍDICO Cláudio Batista Andrade Renato Mendonça Costa CIRCULAÇÃO E ASSINATURAS assinaturapecuariabrasil@gmail.com DIAGRAMAÇÃO Carlos Lopes
FOTÓGRAFOS PARCEIROS Ana Clark (82) 9 8150-2220
Marcelo Cordeiro (31) 9 9946-9697
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CIRCULAÇÃO GRATUITA Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. As matérias publicadas podem ser reproduzidas desde que citada a fonte.
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NOSSA CAPA O Nelore Kalunga estampa brilhantemente nossa capa e nossas páginas com toda genética de excelência do rebanho e com o empreendedorismo da criadora Maria Cecília Brazil Menezes Garcia, que também comanda o haras Cabanha Kalunga. FOTO Gustavo Miguel
APRESENTAÇÃO DIAS MELHORES VIRÃO
CLÁUDIA MONTEIRO
Diretora da Pecuária Brasil
claudiapecuariabrasil@gmail.com
RAÇA
CARNE
Lançamos essa edição da Pecuária Brasil em meio a um delicado momento vivido pela humanidade. Por conta da pandemia ocasionada pelo coronavírus, muitas empresas e fábricas se viram obrigadas a fechar as portas, por hora, e milhares de pessoas se encontram dentro de casa, em quarentena, no mundo todo. Porém, temos orgulho de fazer parte do agronegócio, setor que sabemos não poder parar. Se parar, o Brasil para de comer. Pensando nisso, produzimos mais uma edição, acreditando que nosso conteúdo possa servir a todos aqueles que estão trabalhando ou em casa esperando a situação acalmar. Lembrando que todo nosso conteúdo está disponível on-line, totalmente gratuito, como sempre esteve. Você pode ler todas as edições da Pecuária Brasil no nosso aplicativo, disponível para Android e iOS. Sugerimos que aproveite o momento de isolamento social para adquirir mais informação. E fique de olho nas nossas redes sociais, que continuam sendo atualizadas diariamente. Nesta que é a 34ª edição da nossa revista, trazemos os melhores criatórios e marcas do agronegócio até você. Começando pelo Nelore Kalunga, que estampa nossa capa e nossas páginas com toda genética de excelência do rebanho e com o empreendedorismo da criadora Maria Cecília Brazil Menezes Garcia, que também comanda o haras Cabanha Kalunga. Na reportagem de capa você vai conhecer o trabalho dela, que aos 33 anos cuida de um rebanho com mais de três mil cabeças de nelore e uma tropa de cavalos em treinamento para competição, divididos em quatro fazendas nos estados de São Paulo e Mato Grosso. E ainda: na editoria Criadores você vai conhecer a história de superação e vitória do selecionador de nelore e pecuarista extensivo na Bolívia Jairo de Paulo e Silva, do Nelore SPJ. O brasileiro de origem simples hoje comanda um rebanho com mais de 50 mil cabeças espalhadas em dez fazendas no país vizinho, e é um exemplo de como a pecuária pode ser lucrativa e sustentável. Na próxima edição, traremos uma reportagem sobre os impactos do corona vírus no nosso setor, e acreditamos que será sobre como o agronegócio superou a crise e ajudou o país a continuar crescendo. Aqui na Pecuária Brasil nós seguimos esperançosos e com fé em dias melhores. Continuaremos atendendo nossos clientes on-line e por telefone, e nos mantemos à disposição de nossos leitores e parceiros. Não podemos parar. Esse é o momento para renovarmos energias e empreender como nunca antes, reinventando nossos negócios. E não se esqueça: lave as mãos.
LEITE
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SUMÁRIO
Criadores
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Pecuária 4.0 PG. 52
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SEMPRE NA PECUÁRIA BRASIL 12 . PECUÁRIA EM REDE 14 . PECUÁRIA INDICA 18 . AGRO NO PRATO 20 . PORTEIRA ABERTA 26 . CAPA
Nova IN do Mapa PG. 50
32 . ENTREVISTA 39 . RAÇA 51 . CARNE 59 . LEITE 67 . GENTE 76 . SOCIAIS 78 . PONTO DE VISTA 80 . OPINIÃO 86 . EM FOCO
O leite do futuro PG. 60
Cruzamento industrial PG. 56
Guzerá Jovem PG. 46 MARÇO/ABRIL 2020 | #pecBR
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PECUÁRIA DE ONDE Municípios brasileiros que aparecem nessa edição
BRASILÂNDIA (MS) Abate de cruzado industrial
BAURU (SP) Nelore Kalunga
Areias (SP) Belo Horizonte (MG) Brasília (DF) Cambé (PR) Cascavel (PR) Ceará-Mirim (RN) Londrina (PR) Marília (SP) Nova Granada (SP) Paracatu (GO) Paracatu (MG) Paranaíba (MS) Piracicaba (SP)
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Pontes e Lacerda (MT) Porteirão (GO) Pouso Redondo (SC) Rio de Janeiro (RJ) São Bernardino (SC) São Carlos (SP) São Paulo (SP) Tangará da Serra (MT) Três Lagoas (MS) Uberaba (MG) Uberlândia (MG) Uruguaiana (RS)
DESTINOS INTERNACIONAIS Arábia Saudita Argentina Bolívia China Emirados Árabes Estados Unidos
Grécia Índia Itália Japão México Nova Zelândia
COLABORADORES ANA MAIO
Doutora em Comunicação Social e especialista em Comunicação Face a Face nas Organizações, Ana é jornalista da Embrapa Pecuária Sudeste e nesta edição colaborou com a reportagem sobre a pecuária 4.0 na produção de carne.
CARLA MARTINS DA SILVA
A zootecnista e gerente técnica da Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil (ACGB) sempre colabora com a Pecuária Brasil com a sugestão de pautas relevantes sobre a raça, nesta edição tendo colaborado com a reportagem sobre o grupo Guzerá Jovem.
PAULA SANT’ANA
Jornalista especializada em Agronegócio, Paula é apaixonada pelo mundo dos leilões e ao longo de 18 anos de carreira já apresentou mais de 500 remates de várias raças em 18 estados brasileiros, nesta edição colaborando com a cobertura da ExpoPortobello.
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PECUÁRIA EM REDE Nos siga no Facebook e Instagram, use a hashtag #pecBR e apareça aqui!
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PECUÁRIA INDICA
SOLUÇÃO J.A O antimicrobiano de amplo espectro da J.A Saúde Animal Gentopen é indicado no tratamento das infecções agudas e superagudas em bovinos e equinos, como a mastite ambiental, infecções respiratórias, abdome agudo e septicemias em geral. R$ 36
SABOR DE NELORE
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programa Giro do Boi, com o apoio da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) lançou a série de programas “Cupim, Sabor de Nelore”. O objetivo é valorizar as potencialidades da raça, prestar uma homenagem a todos os neloristas do país e também reforçar junto aos consumidores o reconhecimento da qualidade e do sabor da carne nelore. A série é dividida em seis episódios e está disponível no perfil do YouTube do Canal Rural. Reunindo criadores, especialistas em carne e grandes nomes do setor, a série destaca o papel da raça na história da pecuária brasileira. Os convidados se juntam aos chefs de cozinha Fred Paim, Clarice Chwartzmann e Júlia Carvalho no preparo de pratos especiais a partir do cupim.
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PROTEÇÃO A LONGO PRAZO A Boehringer Ingelheim Saúde Animal trouxe para o mercado brasileiro o Mamyzin S, produto que combina três antibióticos (de curta, média e longa ação), oferecendo tratamento rápido e proteção prolongada contra infecções durante o período seco na pecuária leiteira. Preço sob consulta
STEAK DE CHORIZO Com o intuito de oferecer ainda mais praticidade ao dia a dia de seus clientes, a marca Maturatta Friboi lançou esse ano o steaks de chorizo. As peças agora chegam ao consumidor já porcionadas, com três bifes de cerca de 3 cm de espessura cada e com a quantidade de gordura ideal. Preço sob consulta
A N O S
D E
L E I L Ã O
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A N O S
D E
S E L E Ç Ã O
Foto: Rubens Ferreira
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RETRANSMISSÃO
TRANSMISSÃO
ASSESSORIA
LEILOEIRA
LEILÃO OFICIAL
PARCERIA
2020
02 JULHO
Quinta-feira
21h | Canal Rural
(17) 99151.0572 / 3322.0166 15 MARÇO/ABRILtonicocarvalho@fazendabrumado.com.br 2020 | #pecBR
PECUÁRIA INDICA
CARLOS ALBERTO PEREIRA Jornalista, enófilo e tecnólogo em Turismo e Hotelaria vinhosetal@gmail.com
VINHOS
ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE O VINHO
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vinho é sempre revelador. A cada dia fico mais encantado com a riqueza de informações contidas neste universo. Beber vinho é sempre um ato de aprendizado, pois, além de mexer com todos os nossos sentidos, ele nos leva para o mundo da Arte, da História, da Economia, da Sociologia e da Agronomia, dentre outros! E cada vinho é uma história em si, é único! Mas, além de conhecimento sério sobre vinho, há muitas curiosidades que nos ajudam a melhor aproveitar tudo que o vinho oferece. Por isso, quero trazer neste artigo algumas destas curiosidades. Separei 20 tópicos curiosos que se somarão às muitas outras que, com certeza, você já conhece sobre vinho. 1. O vinho é livre de gordura e livre de colesterol. 2. No Japão, há um SPA onde você pode nadar em chá, café e vinho. 3. A Califórnia tem mais uvas chardonnay do que em qualquer outro lugar do mundo. 4. Os destroços do navio Titanic abrigam a adega de vinhos mais antiga do mundo e, apesar dos destroços e da profundidade, as garrafas ainda estão intactas. 5. Dois novos estudos mostraram que os polifenóis do vinho (e do chocolate) aumentam o fluxo sanguíneo e o oxigênio para o cérebro, aumentando a capacidade cognitiva. 6. A borda de um copo de vinho tinto é inclinada para dentro para capturar os aromas do vinho e entregá-los ao nariz. 7. A mais antiga garrafa de vinho preservada tem quase 1.700 anos e está em exibição em um museu alemão. 8. Colocar gelo e sal em um balde esfriará o vinho branco ou o champanhe mais rápido. 9. O costume de bater em copos com uma saudação de “aplausos” veio da antiga Roma, onde eles usavam esse método para garantir que ninguém tentasse envenenar o outro, pois copos batendo fazem a bebida derramar de um copo para o outro. Essa tradição começou ainda mais cedo na Grécia antiga - onde o anfitrião deveria beber o primeiro copo de vinho para mostrar a seus convidados que
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ele não pretendia envenená-los. 10. Vinho branco pode ser feito a partir de uvas vermelhas e brancas. 11. O cheiro do vinho jovem é chamado de “aroma”, enquanto um vinho mais maduro oferece um “buquê” mais sutil. 12. As mulheres tendem a serem melhores provadoras de vinhos, pois têm um olfato melhor do que os homens. 13. Na Roma antiga, mulheres eram proibidas de beberem vinho. Se um marido encontrasse sua esposa bebendo vinho, ele poderia, por lei, matá-la. 14. Solo de baixa qualidade tende a produzir melhor vinho. 15. Uma garrafa de vinho contém cerca de 1,27 kg de uvas. 16. Intenso medo ou ódio ao vinho é chamado enofobia. 17. Há mais álcool no enxaguante bucal do que no vinho. 18. Um copo padrão de vinho tinto seco contém cerca de 110 calorias, em média, e o branco, 160. O vinho mais doce tem mais calorias. 19. Não mantenha a garrafa de vinho em pé isso pode fazer com que a rolha seque ou encolha, e o oxigênio pode entrar na garrafa. Mantenha as garrafas sempre deitadas. 20. O Beaujolais Nouveau é um vinho tinto jovem e frutado, que é lançado para venda todos os anos no horário da meia-noite da terceira quinta-feira de novembro.
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AGRO NO PRATO
Brutus Assadores profissionais especializados em churrasco rústico @brutus3l
RECEITAS
Cordeiro à parmegiana Brutus
Ingredientes 1 kg de pernil de cordeiro desossado 3 ovos 200 gramas de farinha panko ou de rosca 5 tomates maduros 1 cebola grande 4 dentes de alho 400 gramas de queijo muçarela em fatias ou ralado 1 colher de sopa de açúcar Azeite, pimenta de bode ou de cheiro, sal e cheiro verde a gosto
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novadora, essa receita do grupo de assadores especialista em churrasco rústico Brutus, de Três Lagoas (MS), fica excelente acompanhada de um arroz branco bem soltinho e uma salada de folhas. Ótima opção para impressionar no almoço de final de semana, cai bem com uma cerveja pilsen leve.
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Modo de preparo Para o molho, frite dois dentes de alhos e a cebola picada ou triturada no azeite até dourar. Adicione o tomate picado e sem pele, sal a gosto e a colher de açúcar. Refogue até criar o molho. Corte bifes do pernil de cordeiro com aproximadamente dois centímetros de espessura. Faça um tempero com o sal a gosto, pimenta de cheiro e dois dentes de alho e tempere os bifes. Em seguida, empane os bifes passando no ovo batido e em seguida farinha. Frite no óleo quente. Em seguida, adicione o queijo por cima dos bifes e o molho até cobrir. Leve ao forno em 180 graus por 15 minutos e pronto. Rende três porções.
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PORTEIRA ABERTA Flávia Tebaldi
AÇORES REFORMULA LINHA
Em busca de reafirmar seu compromisso bem-estar animal e humano, a empresa com sede em Cambé (PR), relançará, durante a Expolondrina, toda sua linha de troncos de contenção. Entre as principais mudanças, as cores utilizadas não desorientam os animais, o dimensionamento foi aperfeiçoado, conta com tecnologia antirruído, embarca iOT (internet das coisas), que permite o controle do tronco e dos apartadores eletrôncios a partir do celular, e chega certificado para as normativas de Ergonomia e Segurança no Trabalho.
CONAB TEM NOVO PRESIDENTE
Guilherme Soria Bastos Filho é o novo diretor-presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Ele assume a condução da estatal, no lugar de Newton Araújo Silva Júnior, que ficou no cargo durante um ano e foi exonerado a pedido. Desde fevereiro de 2019, Guilherme havia ocupado o cargo de Diretor de Política Agrícola e Informações da empresa.
MINERVA REGISTRA RECEITA RECORDE
A Minerva Foods, líder em exportação de carne bovina in natura e seus derivados na América do Sul, divulgou sua receita bruta de 2019: R$ 18,2 bilhões, o que equivale a um incremento de 6% em relação ao ano anterior, um recorde para a companhia. A receita líquida foi de R$ 17,1 bilhões, alta de 6% na base anual. Se considerado o biênio 2018-2019, a Minerva Foods apresentou forte geração de caixa livre, equivalente a R$ 1,5 bilhão.
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TEKA VENDRAMINI ASSUME SRB
Graduada em Sociologia e Política , ela é a primeira presidente mulher da Sociedade Rural Brasileira em 100 anos de história. Enquanto diretora de Pecuária, participou de inúmeras discussões relacionadas à cadeia produtiva da bovinocultura no Ministério da Agricultura, colaborou na mobilização dos produtores na Assembleia Legislativa de São Paulo contra a aprovação do Projeto de Lei 31/18 que proibiria o embarque fluvial e marítimo de animais para abate dentro do estado e ainda apresentou os principais questionamentos dos produtores em relação ao Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA).
VENDA DE SÊMEN CRESCE
A Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), divulgaram o Relatório Asbia Index com o fechamento dos dados de 2019. Segundo o levantamento, mais de 18,5 milhões de doses de sêmen foram comercializadas, abrangendo as vendas diretas para clientes, exportações e prestações de serviço. Um aumento de 18% em relação ao ano de 2018, quando 15,6 milhões de doses foram vendidas. As exportações também fecharam em alta. Em 2019, 485,3 mil doses foram exportadas, sendo que em 2018 foram 418,9 mil, crescimento de 16%. Raízes Rurais
VACA ENTRA PARA O GUINNESS
A vaca da raça girolando Marília FIV Teatro de Naylo derrubou um recorde mundial da pecuária leiteira que já durava 39 anos. O Guinness World Records anunciou a fêmea bovina brasileira como a maior produtora de leite em um único dia. Com esse feito, Marília FIV Teatro de Naylo bateu a vaca cubana Ubre Blanca, que em 1981 produziu em um só dia 110,9 quilos/leite em regime de três ordenhas. Marília produziu o total de 127,570 kg/ leite em três ordenhas, no dia 3 de agosto de 2019, durante o 34° Torneio Leiteiro de Areias (SP), o primeiro de que participou. MARÇO/ABRIL 2020 | #pecBR
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PORTEIRA ABERTA TECNOLOGIAS DIGITAIS PARA O AGRO Investidores, representantes de empresas de tecnologia, empreendedores e especialistas acompanharam, no dia 13 de fevereiro, o evento de graduação das 11 startups aceleradas na primeira edição do programa TechStart Agro Digital, promovido pela Embrapa Informática Agropecuária e a Venture Hub. As startups apresentaram soluções digitais voltadas ao setor do agronegócio em áreas como bioinformática, aplicação de defensivos, operações de crédito, agricultura de precisão, manejo de pastagens, irrigação inteligente, gestão da propriedade, uso de drones e cana-de-açúcar. Iniciado em setembro de 2019, o TechStart Agro Digital atraiu o interesse de pelo menos 94 startups de 20 estados brasileiros.
2,3 BILHÕES DE EUROS PARA PESQUISA
A Bayer anunciou os avanços em seu portfólio de Pesquisa e Desenvolvimento para a divisão agrícola no mundo. Com investimentos na ordem de 2,3 bilhões de euros, o dobro do total investido pelos concorrentes diretos, a companhia realizou no último ano mais de 55 avanços em pesquisa e colocou à disposição de agricultores em todo o mundo mais de 450 híbridos de milho, variedades de soja, algodão, frutas e vegetais.
ABATE CERTIFICADO EM SC
Aconteceu no dia 4 de fevereiro o primeiro abate experimental certificado pelo Programa Carne Pampa, da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) do Frigorífico Verdi, localizado no município de Pouso Redondo (SC). Foram reunidos 75 animais das raças hereford e braford oriundos da propriedade do criador Fernando Vigano, localizada no município de São Bernardino (SC). A média das carcaças do lote abatido foi de 200 quilos para as fêmeas e 227 quilos para os machos, com predominância de animais dente de leite (zero dentes) e acabamento de gordura entre mediana e uniforme. O processo de certificação ficou sob a responsabilidade da gerente do Programa Carne Pampa, Fabiana Freitas. 22
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NOVA DIRETORIA DO GIROLANDO TOMA POSSE
Uma das maiores entidades do setor pecuário, a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando está sendo presidida pelo produtor rural e engenheiro agrônomo, Odilon de Rezende Barbosa Filho. A solenidade de posse ocorreu na noite de 14 de fevereiro, em Uberaba (MG), e contou com a presença de mais de 300 pessoas, entre autoridades políticas, lideranças rurais, produtores rurais e profissionais do setor.
BRASIL NO ORIENTE MÉDIO
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), promoveram, de 16 a 21 de fevereiro, uma missão técnica ao Oriente Médio com produtores rurais em busca de mercados para os produtos do agro. Um grupo de dez produtores de frutas, pimenta-do-reino, café e ovinos participaram da agenda de compromissos em Dubai (Emirados Árabes Unidos) e Riade (Arábia Saudita). O objetivo foi proporcionar oportunidade de conhecer e vivenciar as características e particularidades do mercado árabe.
BB ATENDE ABRALEITE
Atendendo pedido da Abraleite, ABCZ e Girolando, o Banco do Brasil disponibilizou o financiamento para retenção de matrizes bovinas de leite e corte, com prazo de até 30 meses, permitindo ao cliente agregar mais produtividade aos seus negócios. O recurso oriundo do financiamento destina-se a cobrir compromissos diversos que o produtor tenha que honrar sem que, para isso, tenha que dispor de parte de seu rebanho. A nova linha de crédito não impede a contratação de custeio da atividade, observado o limite de crédito do cliente. As taxas variam de 7% a 10% ao ano, de acordo com o prazo da operação e o risco.
DIRETORIA DA ABCB SENEPOL TOMA POSSE
A diretoria executiva eleita da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol) tomou posse no dia 31 de janeiro, no auditório do Parque de Exposições Camaru, em Uberlândia (MG). O evento, que contou com a presença de criadores e de lideranças do setor, foi transmitido ao vivo pelo Facebook da entidade. A ABCB Senepol, que atende mais de mil associados e criadores em todo o país, passa a ser presidida pelo pecuarista Itamar Netto que, em um discurso emocionado, relembrou a contribuição das gestões anteriores da associação para o avanço da raça e garantiu que irá trabalhar para ampliar a presença do senepol no país.
ABCZ JOVEM TEM NOVA COORDENADORA
A pecuarista criadora de tabapuã Ana Elisa Ártico assumiu o comando da comissão ABCZ Jovem. O grupo de trabalho foi criado na gestão 2016-2019 e atua incentivando a formação de novos pecuaristas e lideranças para o agronegócio brasileiro. Ana é médica veterinária e compartilha com o pai, Marcelo Ártico, o comando da Fazenda Terras da Ártico. Além dela, integram a comissão Artrur Trivelato Lemos, Marcel Ribeiro Melon e Rivaldo Machado Borges Neto.
INTERGADO COMEMORA CRESCIMENTO
A startup que desenvolve e disponibiliza soluções de pecuária de precisão Intergrado fechou 2019 com um crescimento no faturamento de 39,7%. A empresa, que ao final do ano passado completou dez anos no mercado, chega em 2020 com um novo objetivo: desenvolver soluções para suinocultura, avicultura e gado de leite, sem deixar de lado a especialização em pecuária de corte.
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PORTEIRA ABERTA SNA COMEMORA 123 ANOS
CRÉDITO PARA QUITAR DÍVIDAS
A equalização dos juros para as operações previstas na Resolução 4.755/2019, do Conselho Monetário Nacional (CMN), publicada em 2019, permitirá que produtores rurais procurem o Banco do Brasil ou bancos operadores de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para solicitar a contratação de linha de crédito para quitar dívidas de operações de crédito rural contraídas até 28 de dezembro de 2017. A informação é da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Pela norma, o limite de crédito por produtor ou cooperativa é de R$ 3 milhões, com juros de 8% ao ano e prazo de reembolso de até 12 anos.
NOVO ANTIDERIVA REDUZ PERDAS
Ventos acima de 15 km/h são capazes de carregar as gotas pulverizadas em uma lavoura por uma distância de 30, 40 metros ou até quilômetros. Para diminuir o desperdício de agroquímicos e aumentar a eficiência do controle de doenças e pragas, a Oro Agri Brasil lançou o Airtruck. O novo surfactante antideriva de alta performance é feito à base de extratos vegetais, aumentando o diâmetro mediano volumétrico da gota e a deixando mais pesada, impedindo que seja carregada por longas distâncias.
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Questões relacionadas à produtividade, competitividade, preservação ambiental, comércio internacional e perspectivas para o agro em 2020, foram debatidas na comemoração do 123º aniversário da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), no dia 31 de janeiro. Autoridades governamentais, lideranças do agronegócio, políticos, empresários, produtores e economistas participaram do almoço na sede da entidade, no Rio de Janeiro (RJ). A SNA tem a finalidade de promover o agronegócio brasileiro por meio de ações educacionais e difusão de conhecimentos técnicos específicos nas áreas de Agricultura, criação de animais, meio ambiente, Economia, Direito e capacitação gerencial.
DRONE REGULAMENTADO
A utilização de drones de pequeno porte (até 25 quilos) para pulverizar lavouras no Brasil deverá ser regulamentada ainda no início deste ano. A informação é do Sindicato Nacional da Aviação Agrícola (Sindag). O presidente da entidade, Thiago Magalhães Silva, disse que a expectativa é de que o texto da Instrução Normativa (IN) dos drones entre em consulta pública e seja publicado ainda em março.
PLATAFORMAS DIGITAIS
Mais de 67% das mulheres que atuam na pecuária de leite acreditam que aplicativos e plataformas digitais são importantes na gestão da propriedade. Os dados fazem parte do levantamento realizado pela Roberta Züge, diretora administrativa do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS). Quando perguntadas se tem vantagem usar plataformas digitais na pecuária de leite, 67,3% das produtoras responderam que sim. Já 28,6% responderam que talvez e 4,1% disseram que não. Já em relação às redes sociais mais utilizadas, 42,9% responderam que preferem o Facebook. Outras 29,6% usam mais o aplicativo de mensagem WhatsApp e 20,4% optam pelo Instagram.
Cristiano Bizzinotto
POUPE TEMPO E GANHE MAIS
A empreendedora Daliene Silveira Lacerda (foto) lançou a Dáli Soluções, uma empresa de assistência remota que realiza tarefas administrativas e financeiras. Entre os serviços estão: reserva de passagens e hotéis, faturamento e emissão de recibos, boletos e notas fiscais, cobranças, orçamentos e cotações, relacionamento com clientes e fornecedores, negociação de inadimplentes, entre outros. Os planos de serviço são personalizados de acordo com a necessidade do cliente. Entre em contato diretamente com a profissional através do telefone +55 (34) 99880-4369 ou e-mail (dalisolucoesvirtual@gmail.com).
INDUBRASIL TERÁ PASSE LIVRE NA EXPOZEBU A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) isentou os animais indubrasil da taxa de inscrição para participar da ExpoZebu 2020, com objetivo de alavancar a visibilidade da raça. Com essa decisão, a Associação Brasileira dos Criadores de Indubrasil (ABCI) espera reunir mais de 80 animais no evento. O evento foi adiado por conta da pandemia de coronavírus e ainda não divulgou nova data.
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CAPA
“Onde tem paixão, tem raça” Através de seu trabalho, Ciça Garcia comprova que o lema do Nelore Kalunga é o segredo do seu sucesso GUSTAVO MIGUEL
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Ciça com os pais, Paulo e Cláudia
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aria Cecília Brazil Menezes Garcia nasceu na maior metrópole da América Latina, São Paulo (SP). Porém, a grandiosidade urbana da cidade nunca foi seu cenário favorito. Desde bem jovem ela gosta mesmo é da vida no campo e da lida com os animais. Quando criança, dizia que quando crescesse ia “cuidar dos bichos”. “Você vai ser médica veterinária, então?”, perguntavam, e ela respondia, muito convicta com sua sabedoria da infância: “não, vou cuidar dos bichos”. Hoje aos 33 anos e frente ao criatório Nelore Kalunga, ela cuida de um rebanho com mais de três mil cabeças de nelore e uma tropa de cavalos em treinamento para competição, divididos em quatro fazendas nos estados de São Paulo e Mato Grosso. Ciça, como é conhecida pelos muitos amigos, coordena as atividades em todas as propriedades, comandando uma equipe com 32 pessoas que formam um time muito afinado e bem administrado. O resultado desse trabalho fica nítido nas premiações conquistadas. Uma das condecorações mais recentes que ela recebeu foi o prêmio que homenageia personalidades de destaque da raça e da pecuária brasileira, o “Nelore de Ouro – O Oscar da Pecuária”, na categoria Nova Geração. A honraria foi entregue pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) em dezembro de 2019, durante a Nelore Fest, e coroou um ano cheio de conquistas. “Esse
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DONATA DA TAM
DONATA 5 FIV KALUNGA
SHANKARA 4 FIV KALUNGA
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prêmio é resultado de um trabalho sério e consistente, e mostra que estamos no caminho certo”, diz Ciça. Na ocasião, o Nelore Kalunga também foi premiado pelo Ranking Nacional com a Medalha de Prata Melhor Supremo Nelore, Medalha de Bronze Melhor Expositor Nelore e Medalha de Bronze Melhor Criador Nelore. Para chegar até esse momento glorioso, muito trabalho e muitas premiações vieram antes. A trajetória de sucesso começou com a Donata da TAM, uma das principais matrizes da atualidade, que através do Nelore Kalunga foi coroada com a medalha de ouro como a líder do Ranking ACNB 2009/2010, Melhor Matriz da Copa Paraná e a 2º Melhor do Ranking Nacional ACNB 2016/2017. A matriarca morreu recentemente, mas deixou sua sucessora: Donata 5 FIV Kalunga, uma produtora de campeãs. E entre suas filhas premiadas, outro destaque do criatório: Shankara 4 FIV Kalunga, que sagrou-se Grande Campeã Nacional em 2018. Para Ciça, tudo isso só comprova o lema do criatório: “onde tem paixão, tem raça”. “A paixão é o que move o meu trabalho. Eu amo muito o que faço, e onde tem amor envolvido a motivação para melhorar e continuar trabalhando é maior. O grande lance é ser feliz na sua vida e em tudo que você faz. Quando uma pessoa trabalha no que gosta, faz bem e quer melhorar a cada dia. Ainda mais que esse é um negócio da minha família, tenho enorme orgulho e amor nessa missão que escolhi para mim. A junção de tudo isso é o que me move e me faz acordar todos os dias querendo trabalhar e evoluir cada vez mais”, conta a criadora. História Ciça nasceu em uma família há muito tempo famosa nacionalmente por duas coisas: serem bons empresários e bons corintianos. Ela, que é por essência e paixão as duas coisas, acabou ficando responsável por escrever o nome de sua família com excelência em mais um setor. Filha de Paulo Sérgio Menezes Garcia, ela ainda era criança quando viu com empolgação seu pai seguir os passos do avô materno dele, Manuel Menezes, que era criador de gir leiteiro, e começar a investir na pecuária, em 1995. Desde nova, Ciça amava montar cavalo e estar em contato com a criação. Mais nova e única mulher entre quatro irmãos, somente ela gosta da vida no campo desde cedo. Os outros filhos são totalmente urbanos e trabalham nos outros negócios da família. “Ela desde pequenininha sempre foi muito focada. Desde sempre é isso que ela queria fazer, e por isso a fazenda é a vida dela. Quando nova, assim que chegava ao
Também na fazenda de Bauru está a Cabanha Kalunga, onde Ciça treina os cavalos
hotel fazenda ia correndo para cima dos cavalos, ajudada a lavar, montava sozinha. Sempre muito extrovertida, quando víamos já estava levando os turistas para passear a cavalo. É um orgulho e uma felicidade enorme ver um sonho meu concretizado através dela”, conta Paulo. Quando Ciça tinha apenas 15 anos, Paulo começou a investir com mais força na raça nelore, e fundou a Fazenda Nelore Kalunga, em Bauru (SP). Foi então que ela começou a se envolver mais de perto com a raça, o que germinou uma paixão que dura até hoje. Entrou para faculdade de Medina Veterinária e durante a graduação fez estágio em grandes empresas agropecuárias, como a Fazenda Joia da Índia, Central Bela Vista, Fazenda Pardinho, entre outras, o que deu à profissional uma ampla visão de realidade na pecuária. Depois que se formou médica veterinária na Universidade Anhembi Morumbi, na capital paulista, morou
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Equipe da Fazenda de Bauru (SP)
por algum tempo em Marília (SP), e mesmo assim visitava a propriedade da família todos os dias, a 105 quilômetros de distância. Há dez anos, mudou-se definitivamente para o interior, onde, desde então, se dedica à sua vocação e maior prazer: trabalhar com os animais, promovendo o melhoramento genético preconizando a melhora do rebanho nacional como um todo. “Nós não produzimos animais para o abate, mas produzimos genética para quem o faz. Então, temos consciência de que nosso trabalho interfere na produtividade da pecuária nacional. Por isso, é uma responsabilidade que levamos muito a sério, e isso é refletido nos animais. Participamos do Programa de Melhoramento Genético Zebuíno (PMGZ) e programa da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), assim como fazemos avaliação de carcaça em todos nossos animais, pensando na genética do futuro para carne de qualidade, que não pode ser esquecida. É uma genética nossa, que a gente foi investindo constantemente e deu certo. Hoje, temos o desafio e o prazer de disseminá-la para todo país”. Tanto quanto pelo nelore, Ciça também é apaixonada por equinos e esportes com cavalos. Além de médica veterinária, ela é uma amazona de mão cheia e há cinco anos compete em provas de montaria, reaching short e team penning. Quando não está viajando entre as fazendas e exposições, treina diariamente para competir nas provas de esportes equinos, nas quais concorre com um time de cavalos das raças crioulo e quarto de milha muito bem treinado. Kalunga em 2020 O Nelore Kalunga já começou o ano com o pé direito. Logo na primeira exposição que participou, a Expoinel Minas, em Uberaba (MG), o criatório saiu com premiações. Dos seis animais que levaram para o evento, quatro foram premiados entre os três melhores. “A expectativa para esse ano é muito boa. Há algum tempo
O gerente da Nelore Kalunga Fred Souza com Ciça na entrada da fazenda em Bauru
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temos nos mantido entre os dez melhores criadores do Ranking Nacional, e pretendemos continuar crescendo. Temos boas apostas para as pistas em 2020 e uma nova geração que vem com tudo. Vamos andar com 12 animais, o top da seleção. Tem uma bezerrada muito boa das matrizes Poesia MV, Donata 5 FIV Kalunga (que traz para o time de pista uma irmã própria da Shankara 4 FIV Kalunga) e Emmpa 6 FIV Kalunga, que é a minha paixão e coincidentemente está com a melhor bezerra da nova geração, chamada carinhosamente de Fadelzinha. A expectativa é alta”, conta Ciça. Para além das pistas, outro grande momento do criatório será a promoção do primeiro leilão da marca Nelore Kalunga, que promete ser um mega evento. “O trabalho na fazenda é fazendo, nunca acaba. Assim como a rede de lojas da família, o criatório Kalunga foi crescendo aos poucos e devagarzinho conquistando espaço. Agora, 25 anos depois, acreditamos que chegamos ao momento de promover um grande leilão para ofertar o resultado do nosso trabalho. Será uma ocasião muito importante para nós, e temos certeza que será um sucesso”, diz Ciça, que espera também que o evento seja bienal, intercalado com o já conhecido Leiloshopping Kalunga. O super leilão ofertará animais de elite, genética e depois animais de produção, nos dias 7 e 8 de agosto de 2020, na Fazenda Kalunga, em Bauru.
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ENTREVISTA
ITAMAR NETTO
SENEPOL EM NOVAS MÃOS A nova diretoria da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol), empossada em fevereiro, trabalhará pelo fortalecimento da cadeia da carne bovina sob o comando do pecuarista Itamar Netto, do Senepol ITA GRUPO PUBLIQUE
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ineiro de Uberlândia, Itamar é filho do pecuarista Simonides Netto, de quem herdou o amor pela agropecuária e a vontade de trabalhar no campo. Produtor rural desde 1970, há 14 anos o novo presidente da ABCB Senepol dedica-se às atividades de agricultura de cana de açúcar, soja e milho, e seleção de gado senepol no município de Porteirão (GO). Lá ele começou com apenas quatro vacas e um objetivo de aumentar a produtividade da pecuária de corte, e hoje é referência no assunto. Otimista com o futuro do país, Itamar acredita que 2020 será um ano muito promissor para o agronegócio. “Precisamos acreditar no Brasil e reverter o sentimento de que esse país não tem jeito”, garante.
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Pecuária Brasil . Quais ações serão continuadas e quais são priorizadas pela nova diretoria da ABCB Senepol? Itamar Netto . Nossa diretoria foi escolhida com base no princípio básico de conciliação de ideias dos associados em torno de um objetivo único de imprimir sustentabilidade e continuidade de crescimento da entidade, tanto que convidamos criadores de expressão que nunca haviam participado de uma diretoria, oferecendo tanto a oportunidade de participação executiva na gestão, bem como apresentação de novas ideias, oferecendo oportunidade para que novas lideranças possam contribuir no debate de ações construtivas e democráticas que visam o bem geral de todos associados. Todas as ações em curso da ABCB Senepol, tais como a filiação ao Programa de Melhoramento Genético Senepol (PMGS), o Programa de Avaliação Geneplus Embrapa, investimentos na pesquisa do genoma da raça para conhecer todas características indesejáveis visando a melhora constante de nosso padrão racial, o programa de Carne de Qualidade e as ações de Marketing em curso serão mantidas e, na medida do possível, incrementadas. Ao constituirmos esta diretoria, tivemos como objetivo oferecer meios de uma participação efetiva na gestão operacional da associação para que possamos distribuir tarefas dentro de um projeto previamente desejado e anunciado, que é o de dirigir toda máquina da entidade em benefício geral dos associados de todo Brasil. Esta gestão basicamente vai implantar uma modernização empresarial nos sistemas de ação utilizando ferramentas modernas e eficientes para realizar reuniões virtuais da diretoria por tele-
conferência, permitindo assim a participação de todos os diretores que moram em diversos estados do Brasil. Serão realizadas também reuniões itinerantes de membros executivos e técnicos da associação para ir ao encontro dos criadores de diversas regiões para que possamos levar informações muito importantes para que todos possam usufruir dos benefícios que a ABCB Senepol oferece.
PB . Quais as expectativas da nova diretoria da entidade para esse ano? IN . Mesmo vivendo um período de muita instabilidade econômica no país, com base nestas ações esperamos que nossa entidade possa manter o ritmo de crescimento, levando cada vez mais a raça senepol ao conhecimento geral da pecuária nacional.
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ENTREVISTA
Acreditamos no Brasil e na força de trabalho que nós produtores já provamos que, haja o que houver, não furtaremos com nosso dever de lutar com todas as energias para cumprir nossa missão de produzir alimentos para o mundo. E a raça senepol, com todas suas características de rusticidade, adaptabilidade ao clima tropical e precocidade, está totalmente inserida nesta missão, pois, sabemos que a cada dia que passa mais bocas necessitarão de alimentos de boa qualidade e fartura. Concluindo, nossa diretoria vai imprimir uma gestão moderna e eficiente tal como uma grande empresa privada administra seu negócio, o que certamente trará sucesso na colheita de bons frutos. PB . Como pecuarista, qual tem sido o mais desafio da produção pecuária? IN . A produção é onde tudo começa. E o maior desafio de todo setor produtivo é vencer as suas barreiras procurando ferramentas tecnológicas para produzir mais gastando menos. Nós temos uma carga tributária altíssima, custo de insumo atrelado ao dólar, e, infelizmente, o nosso produto não acompanha na mesma velocidade. Então, o maior entrave é criar um equilíbrio para que a gente possa ter lucro. Porque nenhuma atividade sobrevive sem lucro. Há algum
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tempo o seguimento econômico em geral está amargando pelos desmandos econômicos ao longo da política. Estamos “gastando gordura”, mas, nosso estoque de energia é limitado. Então, o principal desafio é tentar conseguir um equilíbrio para que nossa produção possa ser vendida nos trazendo recurso financeiro para investir e continuar trabalhando.
comigo na fazenda há algum tempo enquanto desenvolve outras atividades como zootencista e consultor, creio que também herdou de mim esse gosto. Mas, criamos os filhos para o mundo, não para realizar nossos projetos.
PB . Se você pudesse tomar um café com cada pecuarista do país, o que gostaria de dizer a eles? PB . Para o senhor, que é filho IN . Acredite no Brasil e no de pecuarista e pai de um seu trabalho. Nós produtores zootecnista que trabalha desde estamos “carregando o piano”, jovem na fazenda da família, participando com 30% do PIB qual o segredo da sucessão faz tempo, e em momento familiar no agronegócio? nenhum reclamamos de nada. IN . A sucessão é algo difícil em Assim continuaremos, acordantodos os setores. Às vezes a gente do cedo com chuva ou sol para almeja ou planeja deixar isso ou cuidar do nosso trabalho. A aquilo para o filho tocar depois responsabilidade é nossa. Após que a gente aposentar, mas, esse é vários anos de baixos preços da um ledo engano. É preciso que o arroba, o que acabou levando filho demonstre que gosta do ne- muitos produtores a abandogócio e tem afinidade. A iniciativa nar a pecuária, agora chegamos tem que partir do sucessor, e não a um bom momento, com o do sucedido. Desde que o munpreço da arroba mais justo. As do é mundo a gente sabe que medidas econômicas tomadas guerras políticas aconteceram por pelo Governo Federal também falta de uma sucessão adequada. devem refletir positivamente na Então, a sucessão é um esforço. economia. Cabe ao produtor Eu particularmente herdei do continuar fazendo a sua parte, meu pai o gosto pela atividade adotando tecnologias para proagropecuária, assim como meu duzir alimentos de qualidade e filho Leonardo, que já trabalha com rentabilidade.
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PECUÁRIA 360
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COPLA CAMPO
As maiores tendências do setor de agronegócios puderam ser conferidas na 6ª Copla Campo, promovida de 10 a 13 de fevereiro, em Piracicaba (SP). Mais de 5,2 mil pessoas estiveram presentes, um aumento de 25% em relação à última edição.
SHOW RURAL COOPAVEL
Um dos maiores eventos de difusão de tecnologia agropecuária da América Latina, o Show Rural Coopavel foi promovido entre os dias 03 a 07 de fevereiro, em Cascavel (PR). A movimentação financeira foi de R$ 2,7 bilhões, crescimento de 23% na comparação com os R$2,2 bilhões alcançados no ano passado. A 32º edição do evento também recebeu recorde de visitantes. Em apenas cinco dias, foram mais de 298,9 mil pessoas, que vieram de diferentes regiões do Brasil e do exterior.
SUPERAGRO
De 21 a 23 de janeiro, Londrina (PR) recebeu a feira Superagro, que registrou a visita de mais de cinco mil visitantes. Nos negócios, crescimento de mais de 50% em relação ao ano passado, de acordo com os promotores do evento, a empresa Agro100.
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MEGALEITE EM UBERABA
A 3ª Exposição Interestadual de Girolando Circuito Megaleite Etapa Uberaba foi promovida entre os dias 3 e 8 de fevereiro. No total, participaram do evento cerca de 140 animais de criatórios de várias regiões brasileiras. O julgamento foi conduzido pelo jurado Juscelino Ferreira.
EXPOINEL MINAS
A Expoinel MG abriu a programação oficial de eventos da raça nelore, de 5 a 8 de fevereiro. Mais uma vez, a mostra promovida pela Associação Mineira dos Criadores de Nelore (AMCN), no Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG), contou com feiras simultâneas das raças guzerá e girolando, promovidas, respectivamente, pela Associação dos Criadores da raça Guzerá do Centro Sul e pela Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. No total, 650 animais participaram.
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RAÇA
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SELEÇÃO . GENÉTICA . CRIAÇÃO . LEILÕES
Brasil na Índia US$ 15 BILHÕES ATÉ 2022 GUZERÁ JOVEM
DE OLHO NO FUTURO MARÇO/ABRIL 2020 | #pecBR
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Brasil de volta ao berço da zebuinocultura 40
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Governos brasileiro e indiano anunciaram compromisso formal que projeta desburocratizar e dobrar o comércio bilateral para US$ 15 bilhões até 2022, o que pode impactar na evolução genética dos rebanhos predominantemente zebuínos dos dois países ALAN SANTOS, DIVULGAÇÃO, CLAUBER CLEBER CAETANO E WENDERSON ARAUJO
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ntre os dias 22 e 27 de janeiro, uma comitiva do Governo Federal brasileiro visitou a Índia, onde foi recebida com festa. O objetivo da visita era prospectar parcerias comerciais com o país berço da zebuinocultura, e deu resultado. Comandada pelo presidente Jair Bolsonaro, o grupo de brasileiros contou com nomes de vários setores, inclusive da agropecuária, representada pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, o diretor de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gedeão Pereira, o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Rivaldo Machado Borges Júnior, e o pecuarista e diretor de Marketing da Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil (ACGB), Eros Gazzinelli. Durante a visita oficial, os governos indiano e brasileiro se comprometeram a dobrar o intercâmbio comercial entre os dois países até 2022, de US$ 7 bilhões para cerca de US$ 15 bilhões. Após a visita, Brasil e Índia divulgaram um comunicado conjunto, disponibilizado pelo Itama-
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RAÇA raty, com 48 pontos, seis na área de agricultura, pecuária e processamento de alimentos. Em 2019, o Brasil exportou US$ 841 milhões em produtos agropecuários para o país asiático. Óleo de soja, açúcar de cana e algodão foram os destaques nas vendas e representaram cerca de 70% da pauta exportadora do agro brasileiro ao país. O acordo sinaliza vantagens futuras para as exportações de outros produtos agropecuários. Para Gedeão, em dez anos o Brasil será um grande fornecedor de alimentos para aquele país. “Hoje, a população da Índia ultrapassa 1,3 bilhão de pessoas e em pouco tempo será a maior do mundo. No médio e longo prazo, ela terá de importar alimento de outros países, uma vez que o campo não está preparado para atender esse consumo interno crescente”, afirma o diretor da CNA.
Presidente da República, Jair Bolsonaro, e primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi
Diretor de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gedeão Pereira
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Tecnologia em pesquisa Para além das vantagens do comércio bilateral, a pecuária foi protagonista de um acordo que prevê transferência de tecnologia em reprodução animal e pesquisa em genômica bovina. Segundo nota do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a declaração “prevê cooperação em sanidade animal (comércio de animais, material genético e produtos de origem animal), que envolve pecuária e pesca; capacitação técnica (assistência técnica, cursos e estágios e transferência de tecnologia em reprodução animal) e pesquisa em genômica bovina e intercâmbio mútuo de germoplasma (material genético)”. Há expectativa, ainda, de que o Brasil coopere na instalação de um Centro de Excelência em Pecuária Leiteira no país asiático. De acordo com o presidente da ABCZ, na Índia a prioridade é o leite. “Lá o produtor começa levando dois litros de leite para cooperativa, que conta com centenas de milhares de cooperados, o que torna a pecuária leiteira deles uma das maiores do mundo. Por isso, conversamos sobre o Centro de Excelência com a ministra Tereza Cristina e ela quer o apoio da ABCZ, pois, afinal, a Índia é o berço do zebu, que foi tão bem selecionado aqui, e agora está na hora de ‘devolvermos’ essa tecnologia para eles”, conta Rivaldo, ressaltando que a atuação da ministra foi excelente e que toda comitiva brasileira foi muito bem recebida. Aproveitando a ocasião, a ABCZ e o governo indiano, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira da Índia (National Dairy
Eros Gazzinelli, Tereza Cristina, Dalci Bagolin e Rivaldo Machado Borges Júnior
Development Board’s - NDDB), assinaram uma Declaração conjunta de cooperação técnica. O documento foi estudado pelas duas instituições nos últimos meses e levado ao país asiático pelas mãos de Rivaldo. O NDDB é a entidade governamental indiana responsável por promover, financiar e fornecer assistência técnica aos pecuaristas e suas cooperativas, bem como conceder apoio a políticas públicas em favor do desenvolvimento de tais instituições. “Sem dúvida, o acordo consagra com chave de ouro nossa viagem técnica à Índia”, comemora Rivaldo, explicando que o objetivo do acordo é aumentar a produtividade, promover o bem-estar e a saúde animal, além de melhorar a condição socioeconômica dos produtores rurais nos dois países. Pelo acordo, as duas entidades se comprometem a empenhar esforços conjuntos para desenvolver a pecuária leiteira no Brasil e na Índia, por meio de pesquisa e desenvolvimento, tecnologia, inovações e extensões que promovam o aprimoramento genético, aumentem a produtividade e melhorem a qualidade da produção leiteira. “Tenho certeza que temos muito a contribuir para o avanço das raças zebuínas. A Índia é o país berço do zebu e o Brasil ficou mundialmente conhecido pelo trabalho de melhoramento genético que desempenha.
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São duas potências mundiais e que, juntas, vão trazer ainda mais progresso para a pecuária”, completa o presidente da ABCZ. O acordo foi chancelado pelo Mapa e pelos Ministérios da Pecuária, Pesca e Lácteos e das Relações Exteriores da Índia. “A ministra Tereza Cristina, e o adido agrícola do Mapa na Índia, Dalci Bagolin, foram fundamentais para a celebração deste termo de cooperação. A eles, nossos sinceros agradecimentos”, acrescenta. Intercâmbio genético Já existia um acordo para transferência de tecnologia entre Brasil e Índia, e as exportações de material genético estavam abertas desde 2010, porém, até então, era uma transação burocrática. “Abordamos essa burocracia durante a visita ao país, e agora acreditamos que será desburocratizado para viabilizar ainda mais negócios. O Brasil pode contribuir muito para o desenvolvimento do rebanho indiano, pois aqui nós evoluímos muito no melhoramento genético das raças zebuínas, em sua maioria de origem indiana. Lá eles não têm, por exemplo, o controle escriturário que a ABCZ já desenvolve há muito tempo. Em contrapartida, a Índia possui um rebanho de 190 milhões de cabeça, que pode dar um ‘choque’ de heterose genética nos nossos animais. Então, só temos a ganhar com essa maior abertura”, pontua Rivaldo. Além de participar da missão oficial a convite da
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Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o pecuarista Eros Gazzinelli, da GenBra Agropecuária LTDA, estendeu sua agenda na Índia para conhecer mais sobre a origem da raça que seleciona, o guzerá, e fazer contato para futuro intercâmbio genético. De acordo com ele, o Brasil tem muito a oferecer ao rebanho indiano no quesito genético, e vice-versa. Por isso, visitou criadores tradicionais da raça, universidades e centros de pesquisa, aumentando sua rede de contatos indianos que já havia começado em 2018, quando visitou a Índia pela primeira vez. Ele foi, inclusive, o primeiro brasileiro do século a visitar a Universidade Agrícola Sardarkrushinagar Dantiwada, instituição que desde 1978 realiza o melhoramento genético para leite do kankrej, a raça mais antiga do mundo, aqui chamada de guzerá. “Voltei para o Brasil muito enriquecido e bem impressionado com o sistema utilizado e os resultados alcançados pela equipe técnica do doutor Harshad, profissional a frente da supervisão geral da Universidade. Eles possuem uma genética diferenciada, que pode acrescentar muito ao rebanho brasileiro”, conta. Para Eros, nos anos recentes, a importação brasileira de genética indiana buscou por indivíduos em outras regiões. “Foi trazido para o Brasil material genético de animais das áreas desérticas, muito rústicos e muito bonitos, por vezes, com funcionalidades diferentes do que selecionamos aqui na maioria dos criatórios. Nossa pretensão é buscar a genética de
excelência para produtividade leiteira que sabemos que a Índia tem. Nosso interesse é no rebanho indiano de alta performance, geneticamente melhorado, avaliado com outras métricas, diferentes das nossas, mas de grande responsabilidade e embasamento científicos. Esses animais podem contribuir para heterose e evolução genética da pecuária de leite no Brasil”, afirma. Em contrapartida, Eros conta que o governo indiano tem um compromisso com a população do campo de, nesta década, aumentar consideravelmnte a renda do pecuarista através da produção de leite, o que pode ser um mercado em potencial para genética brasileira. “Eles estão muito interessados na genética leiteira que conseguimos selecionar aqui, através das forças unidas entre a ABCZ-PMGZ, CBMG e Embrapa com os criadores. Por isso, acredito que a cooperação será muito interessante”, afiança o pecuarista.
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RAÇA
DE OLHO no futuro
Grupo Guzerá Jovem reúne nova geração de criadores que constrói hoje o futuro da raça CARLOS LOPES E DIVULGAÇÃO
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Guzerá Jovem é um grupo que nasceu da percepção da zootecnista e gerente técnica da Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil (ACGB), Carla Martins, que notou a grande quantidade de jovens trabalhando com a raça. Percebendo a relevância dessa nova geração, ela começou a articular, juntamente com o jovem guzeratista Thales Botelho, a criação de um grupo que reunisse esses jovens com objetivo de promover o crescimento do guzerá. Deu certo, e hoje o projeto já conta com mais de 80 participantes, criadores da raça e profissionais da área com idades entre 18 e 35 anos, de todas as partes do Brasil. Na rede social Instagram, o perfil que divulga o trabalho do grupo (@guzerajovem) já tem mais de 16 mil seguidores. “Percebi que atualmente muitos criadores jovens iniciaram o trabalho com o guzerá, muitos deles começando por conta própria, e muitos mais dando continuidade ao trabalho dos pais. Temos muitos casos de sucesso na sucessão entre os criadores, assim como histórias de quem começou do zero na seleção e deu muito certo. Então, pensei que seria produtivo reunir esse pessoal para impulsionar a raça com esse fôlego da juventude”, conta Carla. Um desses criadores que dão continuidade ao trabalho começado pelos pais é o próprio Thales, filho do pecuarista Leandro Botelho Neiva, que fundou o Guzerá LBN no ano de 1991, na Fazenda Poção, em Paracatu (MG). Hoje com 20 anos, Thales trabalha na seleção lado a lado com o pai, e tem a consciência da enorme importância da sucessão na agropecuária. Por isso, aceitou com entusiasmo o cargo de presidente do Guzerá Jovem, com objetivo de inspirar outros jovens a seguirem carreira no campo. “Nossa meta é trazer novas pessoas para pensar a seleção e o futuro da raça. Queremos promover um ‘refrescamento’ de ideias e trazer ‘sangue novo’ para o guzerá”, afirma Thales, que é estudante de Agronomia das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu). Outro membro fundador do Guzerá Jovem é o guzeratista Mateus Santiago, da MS Pecuária, que também participou das conversas iniciais do grupo. Ele é um dos exemplos de criadores que, de maneira pioneira, começaram a selecionar a raça por conta própria. Proprietário de uma fazenda em Extrema,
Primeira reunião oficial do grupo, na Megaleite de 2019, em Belo Horizonte (MG)
Reunião do Guzerá Jovem realizada em janeiro no criatório Guzerá da Capital, em Brasília (DF)
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RAÇA
A zootecnista e gerente técnica da ACGB, Carla Martins, 33 anos, é uma das fundadoras do grupo
Presidente do grupo, Thales Botelho tem 20 anos e trabalha juntamente com o pai no criatório Guzerá LBN
no sul de Minas Gerais, Mateus criava gado comercial para o corte, mas não via os números baterem para o lucro aparecer. Buscando alternativa para aumentar a produtividade, em 2017 ele conheceu a raça de dupla aptidão e resolveu apostar. De acordo com ele, deu muito certo por um motivo em especial: o apoio que recebeu do grupo. “As amizades que fiz no Guzerá Jovem foram muito importantes para minha seleção, porque me deram todo o suporte que um criador novo precisa. Um suporte que não encontrei em nenhum outro lugar. Todo o conhecimento que tenho sobre seleção e melhoramento genético eu ganhei do pessoal, e foi isso que muito me motivou a continuar. Agora, tenho o prazer de participar da diretoria do grupo e poder ajudar outros novos criadores como fui ajudado”, conta Mateus, que hoje consegue manter com sucesso a venda permanente de tourinhos guzerá PO e guzolandos em sua propriedade. Fundado oficialmente em junho de 2019, o grupo vinculado à ACGB já promoveu eventos abertos ao público na Megaleite, em Belo Horizonte (MG), e na ExpoParacatu, em Paracatu (GO), divulgando as qualidades e casos de suces-
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O guzeratista Mateus Santiago, da MS Pecuária, tem 26 anos e seleciona o guzerá desde os 23
so da raça, além de reuniões em outras partes do país. A próxima ação do grupo será na 86ª ExpoZebu, em data a ser definida: o 1º Encontro Técnico Guzerá Jovem, que contará com palestras de especialistas e criadores sobre as qualidades da raça. “A ideia é apresentar o guzerá como opção para uma pecuária mais produtiva, seja na produção de carne ou leite. Vamos mostrar os dados científicos que temos sobre a raça, como provas de ganho de peso e concursos leiteiros, para comprovar o que propagamos sobre o guzerá. Queremos embasar nosso discurso e mostrar porque usar a raça. A programação ainda está sendo definida, mas já garantimos que será um momento muito produtivo e com várias participações especiais”, antecipa Carla. Já estão confirmadas as palestras do superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) Luiz Antônio Josahkian e do presidente da Comissão Nacional da Bovinocultura de Corte da Confederação Nacional da Agropecuária (CNA) e pecuarista Antônio Pitangui de Salvo. Mais informações podem ser obtida pelo telefone (34) 3336-1995.
RAÇA
CORRER O RISCO OU TRANSFERIR O RISCO? Embora ainda pouco utilizado se comparado ao seguro de lavouras, o seguro de animais é uma garantia a mais para os produtores rurais, e está crescendo em adesão
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m busca de melhorar a eficiência e produtividade da fazenda, o produtor pecuário se tecnifica mais a cada ano, investindo principalmente em genética. Porém, nem sempre investe em assegurar seus animais e garantir a proteção dos altos valores investidos. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), dos 214 milhões de animais criados para este fim no país, estima-se que pouco mais de 1% conte com a proteção. Porém, com a conscientização dos produtores e o incentivo do Governo Federal, esse número vem crescendo. De acordo com a corretora especialista em seguro rural da Denner Seguro de Animais Karen Matielli, de 2018 para 2019 a procura cresceu 39%. “Os pecuaristas estão entendendo melhor a segurança e garantia de estabilidade proporcionada pelo seguro. Prova disso é que os maiores selecionadores do país já aderiram”, conta Karen, que além de proprietária da empresa referência no assunto é também coordenadora da Comissão de Seguro Rural (Sincor-SP) e coordenadora de Seguro Rural da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite). Por mais cuidados que o pecuarista tenha com os animais, alguns riscos não são possíveis de prever, como, por exemplo, tempestade com raios, acidentes no pasto ou durante o transporte, picada de cobra, e no caso de doadoras até complicações no parto. Nessas horas, melhor prevenir do que remediar. “Mesmo com todo o cuidado possível, o
rebanho acaba ficando exposto de alguma maneira. Em caso de óbito, além da perda genética há a perda financeira. A vantagem de se contratar o seguro de animais é que por um pequeno investimento você mantém a atividade estável e ganha tranquilidade”, explica Karen. Há mais de 20 anos no mercado e há 14 anos no setor rural, na Denner Seguros os criadores de todo território nacional têm disponível o seguro rural para rebanhos bovinos, equinos muares e asininos. Vale destacar também que no caso dos bovinos, o seguro não é uma exclusividade para o gado de elite que participam de concursos, torneios, exposições ou que são reprodutores. Existem também modalidades que atendem contratos para rebanhos comerciais, confinamentos e gado de leite. Além disso, planos especiais podem garantir a cobertura de vida do animal durante o transporte, reembolso de gastos cirúrgicos, perda de prenhez e até mesmo a perda de fertilidade do animal, a depender do pacote contratado. E ao contrário do que muita gente acha, a contratação dessa modalidade não é cara. As taxas para calcular o valor das apólices são em média apenas 4,5% do valor do animal, que variam conforme a raça, idade e a região onde está a propriedade. “No seguro pecuário de bovinos, ovinos e caprinos, o Governo Federal arca com até 40% desse valor, o que deixa o seguro ainda mais acessível. É um investimento que vale a pena. Percebemos isso porque o principal indicador da importância do seguro pecuário é o interesse do pecuarista em manter o contrato, ou seja, ano a ano estar protegido”, finaliza Karen.
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RAÇA
VALOR
GENÉTICO MÍNIMO Com nova IN do Mapa, ABCZ passa a definir critérios para entrada de touros em centrais DIVULGAÇÃO
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Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou em março uma nova Instrução Normativa estabelecendo as regras e os procedimentos para a avaliação zoogenética, requisito necessário para a inscrição de reprodutores em centrais de inseminação. A partir de agora, o touro precisará apresentar valores genético superiores ao mínimo estabelecido para cada raça. No caso das raças zebuínas, o valor mínimo será balizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Com a medida, o governo pretende garantir a promoção de ganhos genéticos efetivos aos rebanhos nacionais. “A ABCZ desenvolve fortemente seu programa de melhoramento genético e, igualmente, acredita na consistência do registro genealógico e na força das raças puras. Por esta razão, foi alinhado firmemente com o Mapa para que houvesse essa atualização da legislação, que dispõe sobre o ingresso de touros em centrais para comercialização de sêmen. Agradecemos a sensibilidade da Ministra Tereza Cristina Correa da Costa Dias ao entender que quem vivencia as raças é que deve orientar o direcionamento da seleção”, avalia o presidente da ABCZ Rivaldo Machado Borges Júnior. Ele afirma ainda que a entidade postula por uma seleção que contemple a objetividade dos números e das avaliações combinadas com a funcionalidade e a consistência racial. “Ambos são critérios indispensáveis ao avanço da pecuária nacional”, conclui. Os valores mínimos dos índices ou características por raça ou composição racial serão apresentados pela
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Associação de Criadores, autorizada pelo Mapa para execução do Serviço de Registro Genealógico, e publicados pela Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS), até 31 de março de cada ano, com validade até 31 de março do ano subsequente. “Os critérios estão sendo construídos pela área técnica da entidade e serão apresentados ao Mapa brevemente. O conjunto de regras a ser proposto irá valorizar o registro genealógico, sem deixar de contemplar as avaliações de desempenho. A proposta deverá se aproximar bastante do livre mercado, haja visto as diferentes demandas dos sistemas produtivos brasileiros”, informa o Superintendente Técnico da ABCZ, Luiz Antonio Josahkian.
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CARNE
PRODUÇÃO . MERCADO . ARROBA
Conectividade PECUÁRIA 4.0 ABATE BRAHMAN MARÇO/ABRIL 2020 | #pecBR
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PECUÁRIA DE CORTE 4.0 Como a conectividade está revolucionando a produção de carne no Brasil ANA MAIO
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hips eletrônicos, bebedouros e comedouros automáticos, colares de couro com sensores, antenas, drones, termografia infravermelha e estações meteorológicas automáticas não são mais coisas do futuro. Esses são apenas alguns dos equipamentos conectados que transmitem dados para a pesquisa realizada na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), provando que a conectividade chegou ao campo. Muita gente que mora na cidade não tem ideia, mas, aquele bife saboroso e cheiroso, rico em proteína, que brilha na mesa na hora da refeição, é fruto dessa conectividade aplicada à produção de carne. No Brasil, a chamada Pecuária 4.0 já é realidade e contribui para uma produção mais sustentável, ou seja, que cause menos impacto ao meio ambiente, que favoreça a vida de pessoas envolvidas com a cadeia produtiva e que garanta rentabilidade ao homem do campo. O país já tem como, por exemplo, rastrear a carne que chega ao prato do consumidor e saber de que propriedade ela saiu. Para isso, um sistema de rastreabilidade é abastecido com dados de brincos eletrônicos nos bois, uma espécie de RG, que identifica cada animal. A leitura desse chip pode ser feita à distância, desde que a propriedade tenha instalações para transmissão de dados. Na tela do tablet ou do computador aparece tudo em tempo real: idade do animal, vacinas e medicamentos que ele recebeu, se já gerou bezerros, quem foram seus pais, tipo de alimentação que recebeu, enfim, todas as informações relevantes para acompanhar, do campo à prateleira, a história daquela carne. Os dados são armazenados on-line e podem ser acessados de qualquer ponto do planeta. Nas fazendas mais modernas, a pesagem já é feita de forma totalmente automatizada. Já pensou se o pecuarista tivesse que colocar cada boi manualmente numa balança todo dia para saber se ele está ganhando peso ou emagrecendo? O simples deslocamento do animal do campo para o centro de manejo gera estresse, o que faz com que o animal perca peso. “A conectividade também contribui para o bem-estar animal, já que reduz o estresse”, diz o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt.
Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt
Antenas transmitem informações sobre consumo do rebanho
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CARNE Na Embrapa Pecuária Sudeste, as conexões da pecuária 4.0 permitem conhecer o peso dos animais (bovinos e ovinos) com muita facilidade. Ao se aproximar de bebedouros ou comedouros eletrônicos, eles são pesados automaticamente e, mais uma vez, os dados são transmitidos via radiofrequência, wi-fi e bluetooth. Muito além da pesagem Todo o aparato tecnológico disponível na Embrapa ajuda a monitorar o rebanho, não apenas em relação ao peso. Ali existem experimentos que comparam as condições do gado na sombra e a pleno sol, por exemplo, utilizando termografia infravermelha. Por que isso é importante? A resposta é: bem-estar animal. O gado na sombra vai menos vezes ao bebedouro, melhora as condições para reprodução (produz mais embriões) e permanece mais tempo em atividade (com reflexos na produtividade), em comparação com aquele que vive sob o sol. O uso de tecnologia e equipamentos conectados que transmitem dados para a pesquisa permite saber se o animal está em ócio, ruminando ou se deslocando e cada uma dessas atividades significa um tipo de comportamento. O monitoramento permite antecipar decisões e garantir a produtividade do rebanho. É como conhecer a “bio” de cada animal. No campo experimental, estudos também monitoram a quantidade de gás metano emitida pelos bois. E como se mede o gás se ele é transparente? “Um equipamento que mede as emissões individuais de gases de efeito estufa foi instalado no local onde o animal se alimenta em sistema de confinamento. Cada vez que o animal vai comer, sensores identificam e medem essas emissões em tempo real, gerando um conjunto de dados representativo”, explica Alexandre. Essas informações são interpretadas e avaliadas por cientistas. Eles observaram que apenas 0,96% das emissões de gases de efeito estufa no mundo é proveniente das atividades agropecuárias do Brasil. Esse dado foi obtido a partir de levantamentos de emissões que constam no 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, também conhecido como 5º Relatório do IPCC.
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Comida e água sob controle No Brasil, a maioria da pecuária é aquela chamada “a pasto”, ou seja, os animais ficam soltos em uma área cercada, se alimentando de capim. Geralmente bebem água de bebedouros instalados nas propriedades. A conectividade da pecuária 4.0 permite saber quanto cada animal consome de água. Essa informação é relacionada a outros aspectos produtivos como nutrição, genética, sanidade e bem-estar animal, o que leva a uma atividade produtiva mais equilibrada. A gestão hídrica é importante para estabelecer referenciais produtivos e ambientais. A Embrapa Pecuária Sudeste é a única instituição de pesquisa do Brasil que tem como uma de suas linhas temáticas o manejo hídrico quantitativo e qualitativo da produção de bovinos. O centro pesquisa o cálculo da pegada hídrica para produzir carne bovina no Brasil. Para isso faz uso de sensores e equipamentos modernos. Até o momento já elaborou recomendações importantes que reduzem a quantidade de água necessária para produzir carne e leite, colaborando com as políticas de segurança hídrica do nosso país. A mesma eficiência do uso da água pode ser obtida na alimentação. “Animais confinados comem em cochos com sensores, um equipamento chamado GrowSafe, que informa diariamente quanto alimento foi ingerido por animal toda vez que ele encosta ali para se alimentar”, explica Alexandre. Quando a pesquisa junta a informação do consumo com o ganho de peso no período, chega-se à eficiência alimentar, isto é, a quantidade de carne produzida com o alimento que o animal ingeriu.
Equipamento chamado GrowSafe informa diariamente quanto alimento foi ingerido por animal
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Brahman
agrega mais lucro ao cruzamento industrial Abate em Mato Grosso do Sul evidencia a produtividade da raça em cruzamentos F1, que chegam a ser bonificados em até R$12 por arroba
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NICK DALLA
ecuaristas de corte estão em constante busca de uma pecuária mais produtiva e eficiente para produção de carne de alto padrão. E quando o assunto é qualidade, o cruzamento industrial aparece como uma opção cada vez mais procurada. Isso porque a heterose entre duas raças distintas aumenta a eficiência produtiva e, consequentemente, o lucro. Nessa matemática, a raça brahman entra para somar ainda mais. Prova disso foi o último abate de 2019 promovido pelo pecuarista Alexandre Coccapieller Ferreira, em Brasilândia (MS), em novembro último. Foram abatidos 2,5 mil animais provenientes
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de cruzamento F1 de brahman com nelore e brahman com angus. Os resultados bem acima da média nacional comprovam a eficiência e produtividade do brahman. As novilhas de 24 meses brahman x angus, terminadas em 129 dias de cocho com ganho de peso de 1,645 Kg/ dia, tiveram média de 588 kg e rendimento de carcaça de 53,7%, em média. Já os machos brahman x nelore da mesma idade, terminados em 118 dias de cocho com ganho de peso de 1,956 kg/dia, bateram a média de 612 kg com rendimento de carcaça de 56,8%. Embora admiráveis se comparados com a média nacional, esses resultados são comuns na Fazenda Tropical, propriedade onde Alexandre trabalha o melhoramento genético do Brahman Vitória, marca de seu plantel, atualmente composto por uma base de dois mil animais PO que dão origem aos cruzados que fazem sucesso no frigorífico. “A raça proporciona uma heterose muito boa e agrega enorme precocidade ao cruzamento industrial, além de ganhar peso muito bem. Atualmente, desmamamos os bezerros aos oito meses com 250 kg, para se ter uma ideia”, conta o pecuarista. Para chegar a esse saldo tão positivo, muito trabalho foi feito. A família de Alexandre trabalha com pecuária de corte desde a década de 1950, mas, foi ele que, em busca de uma produção mais lucrativa, encontrou o brahman e resolveu apostar na seleção da raça, em 2002. De lá para cá, são 18 anos de investimentos constantes em tecnologia, inovação e genética de ponta. O resultado aparece no gancho. No frigorífico, esses animais são muito bem recebidos e bonificados pela qualidade. Chegam a ser remunerados em até R$12 a mais por arroba. Por isso, o trabalho de melhoramento da Fazenda Tropical se tornou referência. “Vendemos muitos tourinhos na região e temos um retorno excelente com clientes que sempre voltam para comprar de novo, pois sabem que a cruza do brahman produz um animal mais pesado, que na hora do abate rende mais e é vendido mais caro no frigorífico porque tem qualidade”, diz Alexandre. Além disso, como bom zebu que é, o brahman se adaptou com facilidade ao Cerrado, região onde fica a Fazenda Tropical. Mas, não é somente lá que a raça se dá bem. “O brahman é uma raça consolidada em países que são potência em produção e engorda de bovinos, como Austrália e Estados Unidos. Isso porque é uma raça excepcional, tanto em acabamento como em habilidade materna, precocidade e fertilidade”, conta o filho de Alexandre, João Ferreira, que trabalha com o pai na
Alexandre Coccapieller Ferreira, pecuarista em Brasilândia (MS)
administração da Fazenda Tropical. Dona de outras características mais, como docilidade, boa conversão alimentar e consequente velocidade de ganho de peso, a raça é utilizada para o cruzamento industrial em várias partes do planeta. A Austrália, por exemplo, segundo maior exportador de carne no mundo, tem sangue da raça em 70% do seu rebanho. No país que deu origem à raça, os Estados Unidos, existem vários cruzamentos originados dela, como o simbrah (com o simental), brangus (com angus), o braford (com hereford), o charbray (com charolês), o que comprova as qualidades produtivas do brahman. Por lá, a cruza mais comum é entre o zebuíno e o europeu taurino, que gera animais precoces, dóceis, férteis, rústicos, estruturados e com excelentes carcaças. “No Brasil, percebemos que o brahman é uma raça que só tende a crescer, pois é adaptada ao nosso clima, e funciona muito bem, tanto para o pequeno quanto para o grande produtor, sendo ideal para qualquer sistema. Tanto no nosso confinamento como em outros de diversos modelos que utilizam a raça podemos perceber um desempenho superior. É a raça ideal para o cruzamento industrial”, garante João.
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NUTRIÇÃO . PRODUÇÃO . ORDENHA
Mercado O QUE ESPERAR DO FUTURO LEITE A2 NOVO TESTE MARÇO/ABRIL 2020 | #pecBR
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QUAL O FUTURO DO LEITE? Após fechar 2018 com um crescimento pouco expressivo, a pecuária de leite viu os números chegarem aos melhores patamares de preços dos últimos seis anos em 2019, e espera terminar 2020 com crescimento ainda mais significativo DIVULGAÇÃO, GUSTAVO MIGUEL E TONY OLIVEIRA
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esmo não sendo um ano de grande expansão do setor, em 2019 o preço do leite pago ao produtor terminou o ano em torno de R$1,36, o que equivale a 0,33 centavos de dólar, com o câmbio a R$ 4,06 por dólar. De acordo com dados divulgados pela Embrapa Gado de Leite, esse é um preço razoável para o setor, equivalendo-se às cotações internacionais, o que não favorece a importação do produto. O analista informa que lá fora, a tonelada do leite está sendo vendida entre USD$ 3,1 mil e USD$ 3,3 mil, abaixo do preço histórico de USD$ 3,7 mil, o que mostra equilíbrio do mercado mundial em termos de oferta e demanda.
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Ainda que os especialistas não vejam com euforia o ano que se inicia, os sinais de que a crise está ficando para traz ficam mais claros. “As previsões iniciais para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 indicam alta de 2,3%, o que é baixo, mas é a melhor expansão dos últimos seis anos”, explica o analista da Embrapa Gado de Leite Denis Teixeira da Rocha. Por esse motivo, espera-se uma recuperação um pouco mais forte do consumo, possibilitando algum repasse de preços ao longo da cadeia produtiva e melhores margens industriais. A retrospectiva do ano que se passou também mostra mais solidez da atividade leiteira. O pesquisador da Embrapa Glauco Carvalho relata que o primeiro semestre de 2019 fechou com os melhores patamares de preços para os produtores de leite brasileiros, quando comparado a igual período dos últimos sete anos. “Além de receber preços melhores, houve um incremento importante na relação entre o preço do leite e o custo da alimentação dos animais”, afirma. Na avalição dele, o milho e a soja, principais ingredientes utilizados na ração das vacas, permaneceram com preços relativamente baixos no primeiro semestre, o que segurou os custos de produção do leite. A relação de troca ao pecuarista, medida pela quantidade de litros de leite necessária para comprar uma saca de 60 kg de concentrado, ficou em 34 litros, na média do primeiro semestre, queda de 24% em relação ao ano anterior. “Entretanto, no segundo semestre, essa trajetória foi se alterando, com um recuo nos preços do leite e o aumento no custo do concentrado”, diz Glauco. Ainda assim, na média do ano, os preços pagos aos produtores em 2019 ficaram acima do patamar histórico, o que sustentou crescimento da produção. Quanto à indústria, 2019 foi bem mais desafiador, sobretudo para aquelas empresas focadas em linhas tradicionais, como leite UHT, queijo muçarela e leite em pó. “O gargalo do ano tem sido o
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LEITE baixo nível do consumo doméstico e a dificuldade de repasse de preços ao longo da cadeia produtiva”, constata Glauco. Para ele, a elevada capacidade ociosa da indústria nacional leva a uma necessidade de maior captação para diluir os custos fixos, o que muitas vezes se traduz em focar mais na captação do que na própria margem de comercialização. Outro ponto de estrangulamento, segundo o especialista, refere-se à fragmentação da indústria, que acaba dificultando uma estratégia de comercialização com o varejista para sustentar um patamar mais rentável de preços. “O fato é que as empresas estão trabalhando com margens bem apertadas. O pior cenário é o do leite UHT, em que a relação de preços entre o atacado e o produtor ficou quase 18% abaixo dessa mesma relação em 2018”. O que vem por aí
Os especialistas da Embrapa avaliam que 2020 traz componentes de incerteza, tanto no ambiente interno quanto no externo. Internamente, pesa a pandemia ocasionada pelo coronavírus, a articulação política e como o Governo vai tocar a agenda de reformas, que os analistas consideram fundamental para o Brasil retomar níveis melhores de crescimento econômico e distribuição de renda. No contexto internacional, a peste suína ocorrida em 2019 na China pode ter reflexos também em 2020, já que a doença está atingindo outros países asiáticos. O problema na suinocultura chinesa, que reduziu em 40% o número de suínos naquele país, provocou o aumento das exportações de carne para a China – o que elevou a demanda por soja e milho na pecuária de carne. Os preços desses insumos tendem a se manter mais pressionados. Além disso, as exportações brasileiras de milho estão batendo recordes. Glauco informa que se tem ainda uma nova demanda oriunda de plantas de etanol de milho no Centro-Oeste brasileiro. Todos estes fatores colocam uma pressão alta no milho e, consequentemente, no concentrado para as vacas. “Pode haver
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muita volatilidade nos preços do concentrado até que seja definida a safrinha de milho no meio do ano”, diz o pesquisador. Do ponto de vista da oferta e demanda, em linhas gerais, o mercado brasileiro de leite se mostra bem equilibrado. A expansão da produção nacional perdeu força no final do ano passado, na comparação com 2018. Além disso, o volume de importação está relativamente baixo e, apesar do consumo estar fraco, não há excedente de produção que possa levar a uma queda nos preços. Pelo contrário, as cotações se sustentaram no último trimestre do ano, quando geralmente os preços caem. Produtos lácteos cujo consumo está associado a rendas mais altas, como queijos e iogurtes, tendem a ter um crescimento melhor em 2020. Mas o mercado de UHT ainda deve continuar complicado. Glauco acredita, ainda, que as grandes apostas do setor foram adiadas para 2021, quando se espera que o Brasil tenha um crescimento mais robusto, gerando mais empregos e elevando o consumo familiar de leite e derivados. Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa
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Produtividade brasileira
Em 2018, a produção total de leite no Brasil cresceu 1,6%, com as regiões Sul e Sudeste respondendo, cada uma, por 34% da oferta nacional, estimada em 33,8 bilhões de litros. Aquele foi o primeiro ano de crescimento da produção desde 2014, quando foram produzidos 35,1 bilhões de litros. Em relação a 2017, o número de vacas recuou 2,9% enquanto a produtividade subiu 4,7%, chegando a 2.068 litros anuais por animal. Apesar de a produtividade brasileira continuar em patamar ainda relativamente baixo, houve um aumento importante desse indicador. Existem mais de 350 municípios do país com produtividade média superior à da Nova Zelândia, de quatro mil litros por vaca. Em alguns desses municípios, essa produtividade atingiu volumes acima de seis mil litros/vaca, o que equivale ao padrão europeu. Com o atual volume de produção, o Brasil já figura entre os três maiores produtores mundiais, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Para a equipe da Embrapa Gado de Leite, serão os avanços em competitividade que irão melhorar o posicionamento do país no mercado internacional.
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Mais credibilidade para o leite A2 Metodologia desenvolvida pelo Instituto de Zootecnia consegue identificar alelo A1 em leite A2
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leite A2 está se tornando cada vez mais popular entre consumidores e produtores por ser considerado um leite de mais fácil digestão comparado ao leite A1. O mercado tem procurado atender a demanda por esse produto. Estima-se que 6% da população mundial seja alérgica à proteína beta-caseína A1, que está relacionada a uma série de reações alérgicas em humanos. Por isso, as novas tecnologias desenvolvidas no campo estão permitindo a produção de alimentos que podem ser consumidos com segurança por pessoas com necessidades específicas. É o caso do leite não alergênico, oriundo de rebanhos composto por touros e vacas que carregam a proteína A2 em seu DNA. Com essa perspectiva, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Zootecnia (IZ/APTA), desenvolveu dois métodos para detectar o alelo A1 diretamente em amostras de leite e seus derivados comercializados como A2. O resultado do estudo está no artigo científico “New high-sensitive rhAmp method for A1 allele detection in A2 milk samples“, publicado na revista científica internacional Food Chemistry. Esta é a primeira tentativa de desenvolver ensaios para genotipar alelos A1 e A2 do gene CSN2 da beta-caseína diretamente de amostras de leite. A maioria das pesquisas concentrou-se na identificação das frequências desses genótipos apenas nos animais. O teste de identificação do IZ vem agregar credibilidade ao produto. O leite de vaca pode conter dois tipos de proteínas, a beta-caseína A1 e A2. A digestão do A1 está associada à liberação do peptídeo beta-casomorfina-7, que pode causar efeitos gastrointestinais adversos, diferente da intolerância à lactose. A técnica desenvolvida pelo IZ é muito relevante para empresas que comercializam produtos provenientes de animais selecionados A2. Com esses métodos, será possível
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detectar os alelos, fornecendo informações precisas de produtos que serão consumidos por pessoas que só podem ingerir o leite A2 e seus derivados. Participaram dos estudos os pesquisadores do IZ, Anibal Eugênio Vercesi Filho, Luciana Morita Katiki, os assistentes técnicos de pesquisa científica e tecnológica Rodrigo Giglioti e Gunta Gutmanis. Os métodos HRM (High Resolution Melting) e rhAmp (Amplificação dependente de RNase H), desenvolvidos pelo IZ, são capazes de discriminar e detectar de maneira altamente confiável os genótipos A1A1, A2A2 e A1A2 do gene CSN2 em amostras de DNA de animais e amostras de leite e seus derivados. As duas técnicas apresentem 100% de precisão para a genotipagem de animais. Contudo, a detecção por rhAmp é dez vezes mais sensível que o método HRM, sendo indicada para a fiscalização de leite A2, devido a sua alta sensibilidade para detectar a presença de A1 em amostras de A2. Assim, essa metodologia pode ser utilizada para identificar possíveis contaminações da variante alélica A1 em amostras de leite e derivados de leite A2. A metodologia por análise de HRM é indicada para a genotipagem dos animais. A prioridade do IZ, no momento, é desenvolver um teste rápido e de alta sensibilidade para identificação do alelo A1 em amostras de leite A2. Já há parceria com uma empresa privada de tecnologia, e o teste encontra-se em fase de desenvolvimento. Em breve, produtores e indústrias poderão utilizá-lo para detectar a presença de leite A1 em amostras de leite ditas como A2.
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GENTE
PECUARISTAS . ESPECIALISTAS . CRIADORES
Criadores NELORE SPJ ABRE AS PORTEIRAS DA BOLÍVIA PERFIL LUCYANA QUEIROZ MARÇO/ABRIL 2020 | #pecBR
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CRIADORES
A história de sucesso
do Nelore SPJ
Jairo de Paula mostra nas suas dez fazendas bolivianas o resultado de um sonho concretizado através de muito trabalho
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GUSTAVO MIGUEL
atural de Paranaíba (MS), o pecuarista Jairo de Paula e Silva é boliviano naturalizado, com muito orgulho. No país vizinho do Brasil ele construiu um vasto empreendimento pecuário, sendo hoje um dos maiores produtores da Bolívia. Mas, quem o vê hoje comandando dez fazendas de produção extensiva e um rebanho com mais de 50 mil cabeças não imagina a origem
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simples da sua família, que saiu de Minas Gerais para tentar uma vida melhor no Mato Grosso do Sul. Segundo dos cinco filhos dos trabalhadores rurais Sebastião de Paula Adrião e Paulina Leonel da Silva, Jairo só aprendeu a escrever o próprio nome quando entrou para o serviço militar, aos 18 anos. Até então, não tinha tido condições de estudar, pois desde jovem ajudava no sustento da família, começando sua jornada como engraxate. Serviu ao Exército Brasileiro por oito anos, de onde saiu para tentar a sorte no mundo dos negócios. Começou empreendendo no setor supermercadista e acabou por conseguir juntar recursos para investir na agricultura. Foi visitando o norte da Bolívia doze anos atrás que vislumbrou o futuro do seu negócio: a pecuária. Encantado com as possibilidades produtivas do país, resolveu investir e apostou alto. “Escolhi a pecuária porque é uma atividade de enorme importância para o mundo, além de ser um investimento mais seguro e mais rentável que a agricultura. Foram muitos anos de trabalho e muita persistência, mas, valeu a pena, porque deu muito certo. Tudo que eu tenho devo à Bolívia e ao meu trabalho”, conta o pecuarista. Muito trabalho depois, hoje Jairo comanda uma grande empresa, que, apesar do tamanho, mantém o perfil familiar. Sua esposa Geise Santana, por exemplo, é uma companheira para todas as horas. Grande empresária da Moda brasileira, ela divide seu tempo entre a loja multimarcas Bella Ge.Store e os compromissos do marido. Seus dois irmãos, Jânio e Jari, também sempre trabalharam ao lado dele, e foram essenciais para a trajetória de ascensão da família. Assim como o filho Jairo Júnior, formado em Administração de Comércio Exterior, que é o braço direito do pai, juntamente com sua esposa, Kelly Pereira de Paula, que comanda a parte administrativa do grupo com muita maestria. Já a filha Ane Caroline é médica cardiologista e trabalha em Marília (SP), mas, apesar da distância, deixa o pai orgulhoso.“É uma grande felicidade poder
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CRIADORES
envolver quase toda minha família nesse que é o negócio da minha vida. Gosto que cada um deles ande com suas próprias pernas, mas, apesar disso, sei que eles darão continuidade ao meu trabalho”, conta Jairo, que já é avô de cinco netos: Rafael, Ana Luiza e Ana Clara (filhos de Jairo Júnior), e Jairo Neto e Rita (filhos de Ane Caroline). Genética Nelore SPJ Tudo começou com 400 novilhas da raça nelore, adquiridas por Jairo em 2008. Até então, ele não tinha experiência nenhuma com a criação de bovinos, mas, correu atrás de conhecimento, equipe e tecnologia para multiplicar e apurar a genética. Deu tão certo que, em 12 anos, o rebanho cresceu em mais de 12.000% em número e aumentou o valor genético de maneira inestimável. Agora, a genética Nelore SPJ é referência internacional de qualidade e eficiência. Nas dez fazendas bolivianas, cada uma com cinco mil hectares, Jairo soma 50 mil hectares, sendo 30 mil de pastagens altamente produtivas sem adubação. Todo rebanho é alimentado exclusivamente a pasto, e o nelore é abatido com 24 meses e 18 arrobas, em média. Lá eles produzem também cruzado com o angus, que vai para o gancho com 24 meses e 20 arrobas, em média. “O solo e o clima da Bolívia colaboram, mas, isso só é possível com tecnologia e investimento. Inseminamos 100% da nossa vacada usando os melhores touros brasileiros disponíveis no mercado”. Ele também investe em touros melhoradores, tendo adquirindo vários exemplares considerados
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os principais raçadores dessa e das próximas gerações. Entre eles, o recordista de venda de sêmen na Central ABS, Urânio da EAO (REM USP x 8898 FIV da EAO), um condomínio com a tradicional EAO Agropecuária. Também estão no time da Nelore SPJ: o tri-campeão boliviano Alfaro FIV Capiguara (Rambo MN x Thiana FIV Cap); Jordano Neto (1646 MN X Jordania XXVII FIV); o nelore mocho Cedro FR CV (REM USP X Trupi de CV); Ormon da EAO (Backup x 1191 da Jaita), condomínio com EAO, Sementes Passo Ita e Fazenda Paraíso; Stark TE BAR (Alarme EDTO x Jally TE JGarcia), condomínio com a Fazenda Baronesa; Mistério FIV Cass (Kayak TE Mafra x Flagra TE SJ Cocal), condomínio com Roberto Bavaresco e Carlos Eduardo de Paula Alvarez; entre outros. Com toda essa genética e tecnologia somadas a uma equipe profissional composta por 120 funcionários, Jairo consegue uma produção de 30 mil bezerros de qualidade superior por ano. Eles fazem cria, recria e engorda, mas, muitas vezes, a demanda é tanta que não dá tempo nem de irem para recria. “Como a genética é muito boa, os pecuaristas de toda região vem buscar, por vezes já deixando encomendada outra remessa para o próximo ano. É comum vender a produção que ainda vai nascer”, afirma. Tudo isso produzido dentro de uma filosofia de sustentabilidade. Toda água da chuva é captada para irrigação, quando necessária. O gado é criado solto e alimentado só com o pasto, que é rotacionado. A lotação média é de três cabeças por hectare, enquanto a média brasileira é de um para um. Uma das razões para essa produtividade invejável é a cortina de mata preservada que demarca cada pasto das fazendas, todas localizadas na região norte da Bolívia. “Além de colaborar com a qualidade do solo e consequentemente da pastagem, a mata colabora com o bem-estar animal, pois o gado esconde do frio e da chuva lá, além de refrescar os dias quentes”. Nessa toada invejável, o projeto é chegar em 2022 com 60 mil animais produzindo. “Com essa produção, temos o objetivo de girar em um semi-confinamento 40 mil cabeças, e o restante aumentar o rebanho com a produção das fêmeas selecionadas. Hoje já estamos inseminando 20 mil matrizes, e queremos dobrar essa produção em dois anos. Com 60
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CRIADORES
mil produzindo, quero fazer 40 mil nelore e 20 mil angus cruzado. E aí é disseminar essa genética, que acredito ter enorme potencial para aumentar muito a produtividade nacional”, diz Jairo. Estreia Durante a ExpoZebu 2020, Jairo vai escrever mais um importante capítulo da história do Nelore SPJ, participando pela primeira vez como promotor de um leilão. A estreia vai ser em alto nível, no remate Noite do Nelore Nacional, que nesta completa sua 32ª edição. “Fui convidado pela criadora Cláudia Tosta Junqueira, uma grande selecionadora
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e amiga, que muito me incentivou a participar. Achei interessante porque, através do nosso trabalho podemos melhorar cada vez mais a pecuária do Brasil, a exemplo do que já fazemos na Bolívia”, afirma ele. Entre os destaques está o touro Urânio, ofertado em 50% de suas cotas. “O Urânio EAO traz total equilíbrio quando falamos em avaliação genética e fenótipo. Touro com ótimo padrão racial, costelas profundas e muita musculatura distribuída uniforme em sua carcaça, tudo isso sustentado por ótimos aprumos. Já em suas avaliações genéticas Urânio possui excelentes DEPs para habilidade materna, desempenho, fertilidade e AOL. Devido a todas estas características foi contratado pela ABS.
Suas vendas se mantem em ascensão devido à qualidade de suas progênies, que se destacam em diversos rebanhos na América do Sul”, define o técnico de corte da ABS, Arthur Henrique Vieira. Além do Urânio, outros exemplares de excelência genética também estarão disponíveis. “Convidei o Jairo para participar do remate por conta do seu trabalho de grande importância na pecuária extensiva e do seu rebanho de genética de ponta. Os neloristas podem esperar grandes lotes vindos do Nelore SPJ, entre eles a doadora Melinda, neta da Betina I, que já foi Campeã Bezerra na Expoinel Nacional, dona de excelente
genética. Também serão ofertadas: a rês de pista maravilhosa e premiadíssima Caprera da Ouro Fino (vendida em parceria com o Roberto Bavaresco), uma bezerra de cinco meses muito bonita, filha da Tieta da Mundial, e mais dois lotes surpresa”, conta Cláudia. “Gostaria de convidar toda família nelorista para participar no nosso leilão, que será o primeiro de muitos. Vamos fazer um leilão muito bom com uma produção excelente. Esperamos o prestígio de todos os amigos e investidores da raça, e garantimos que será um momento inesquecível e uma oportunidade única”, finaliza Jairo.
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GENTE
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Lucyana Malossi Queiroz
Competência
vence barreiras e fronteiras
A
zootecnista especialista em julgamento de zebuínos Lucyana é uma profissional requisitada internacionalmente. Não é para menos: ela já julgou mais de 18 mil animais em 81 exposições no Brasil e no mundo. Seu passaporte tem os carimbos da Bolívia, Colômbia, México, Costa Rica, República Dominicana, Nicarágua, Honduras, Equador, Guatemala e Venezuela, entre outros. Jurada oficial da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Lucyana é também membro do Conselho Técnico das Raças Zebuínas da entidade, além de ser membro do Conselho Técnico da revista Cebú Mexicano. Com passagens em exposições de expressão como Megaleite, Feileite, Camaru e Expointer, entre outras, ela atuou por cinco anos consecutivos na maior exposição de zebuínos do mundo, a ExpoZebu, em Uberaba (MG). A jurada também foi a primeira e até hoje única mulher a julgar uma Expoinel Nacional. “Tenho certeza que qualquer profissional da área, seja homem ou mulher, almeja esse julgamento. Para mim não poderia ser diferente e foi, sem dúvida, a realização de um enorme sonho profissional. Representar as mulheres nesse universo é sempre uma grande responsabilidade e satisfação”, conta a zootecnista de 32 anos. Mas, o extenso currículo não para por aí. Além dos vários julgamentos que conduz, a especialista dá palestras e participa de seminários
sobre a zebuinocultura de carne e leite em diferentes países. Lucyana também desenvolve assessoria técnica e comercial em várias propriedades da América Latina e Central através de sua empresa Queiroz & Queiroz, fundada por ela e seu sócio Henrique Ferreira Pinheiro com o objetivo de buscar atender ainda melhor as necessidades do mercado de melhoramento genético em todo continente. A empresa atua em sete países da América do Sul e América Central, buscando cada vez mais melhorar o zebu para o mundo. Graduada pela Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu) em 2009, logo em seguida Lucyana buscou a especialização em julgamentos de zebuínos, e encantou-se pelo trabalho de jurada. Hoje, mais de 11 anos depois, não se vê fazendo outra coisa, e sabe bem da importância de seu trabalho. A profissional orgulha-se de nunca ter encontrado barreiras que fossem intransponíveis, e não cansa de buscar novos desafios. O mais recente é a seleção de cavalo quarto de milha em Uberaba (MG), onde investe em uma de suas paixões. A outra tem lugar em sua cidade natal, Tangará da Serra (MT), onde ela mantém sua criação de nelore. Incentivada pelo pai que trabalha com pecuária de corte há mais de 35 anos, iniciou seu plantel em 2016 com objetivo de produzir tourinhos com qualidade genética. Hoje, apesar da agenda apertada e as constantes viagens internacionais, ela orgulha-se em dizer que trabalha com o que ama. “A pecuária é uma paixão que vem de berço. Fico muito realizada em poder fazer dela o meu trabalho”, finaliza Lucyana.
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SOCIAL
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Andre e Lorena
Antônio Ronaldo, Valdir e Marco Aurelio
Beraldo, Paulinha e Gustavo
Boi, Denis, Leandro Paiva, Reinaldo Vilela e Celsinho
Célio Vieira, Gustavo e Daniela
Diogo e Dorival
Dr. Sergio Palomares (Colômbia) e Juan Camilo Diettes (Colômbia)
Edson e Alcineia
Emanuel, Ronaldo e Leondidas
Frederico e Branquinho
Isaac, Henrique, Dr Dante e Cristiano
Jamila, Glória e Alejandro
José, Roger e Luciano
Júnior e Gilmar
Lauro, Alisson, Ana Cláudia, Thales e Paulo Neto
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Leandro e Aline
Linder Toro, Jairo e Janio
Luis Henrique, Márcia, Pedro, João, Fabinho, Luiz Carlos
Marcos, Carla e Leandro
Maria Teresa, Diogo, Rose e Gustavo
Matheus, Heitor, Sara, Augusto e Ana Clara
Otoniel, Saul, Bruno e Celso
Pedro e Itamar
Rodrigo e Luciana
Rose, Gustavo, Jenecy e Mineiro
Sandra, Karina, Priscila, Ana Vitória, Maria Helena e Raissa
Ulisses, Giuliano e Frederico
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PONTO DE VISTA
“Precisamos pensar em políticas transversais de produtividade, reunindo setores que tenham a mesma visão, tanto para a formação de mão de obra quanto para o desenvolvimento da cadeia do agro. É necessário também haver uma visão global de competitividade e continuarmos a nos modernizar, a exemplo da Agricultura 4.0”. Carlos da Costa, secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia
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“Se o criador busca gado para pista, pasto ou melhoramento genético, a solução é uma só. Não existem dois nelores”. Paulo Leonel, pecuarista e selecionador de nelore
“Com planejamento correto, o Brasil, daqui dez ou quinze anos, será a ‘Arábia Saudita’ dos alimentos no mundo. Poderemos usar nossas vantagens comparativas. No entanto, o país ainda é muito carente em matéria de infraestrutura, principalmente em relação aos sistemas de escoamento da safra. Precisamos de investimentos para modernizar o setor”. Marcos Troyjo, secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia Arthur Fujii
“Nos últimos dez anos, o agronegócio brasileiro deixou um saldo na balança comercial brasileira de quase um trilhão de dólares”. “A revolução transformadora do agronegócio brasileiro foi fruto do conhecimento, do planejamento, da organização e do treinamento. Precisamos manter esse avanço”.
Antônio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA)
Carlos Melles, presidente do Sebrae Nacional
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OPINIÃO
Guto Quirós Produtor e proprietário da Quirós Gourmet @gutoquiros
PRODUÇÃO
Qual será a carne do futuro?
Q
uando você pensa em carne, qual a primeira imagem que vem à cabeça? Um delicioso bife acompanhado de batata frita, que certamente foi o prato preferido de muita gente na infância, ou um corte mais suculento preparado lentamente na brasa de uma churrasqueira? Essa referência pode mudar nos próximos anos com a ascensão da carne vegetal, um produto que tem sabor semelhante, cheiro e até textura de carne, mas não é carne. O assunto não é tão novo, pois, há alguns anos, principalmente nos Estados Unidos, já existem muitos movimentos contra e a favor as carnes de laboratório. Fato é que esse mercado tem chamado atenção e ligado o sinal de alerta dos produtores de proteína animal. O estopim desse assunto aconteceu nos últimos meses com a chegada do hambúrguer vegetal no Brasil. O produto feito à base de proteína de ervilha, proteína isolada de soja e de grão de bico, além de beterraba para imitar a cor e o sangue da carne já faz parte do portfólio de pelo menos quatro empresas nacionais. Além disso, já é fácil encontrá-lo em prateleira dos supermercados, de grandes centros urbanos ou em cardápio de lanchonetes e redes de restaurante fast-food. O ponto principal dessa questão é: podemos chamar de carne um produto feito à base de vegetais? Recentemente essa história ganhou um novo capitulo com um projeto de lei que normatiza o uso da palavra “carne” e seus sinônimos em rótulos e publicidade de alimentos. A iniciativa partiu de pecuaristas de Mato Grosso, estado que detém o maior rebanho bovino do país, com mais de 30 milhões de cabeças. A Acrimat, associação que representa os criadores, levou o tema à Frente Parlamentar da Agropecuária e conseguiu apoio. O deputado federal Nelson Barbudo apresentou um projeto de lei. O PL 2876/2019 tem como foco a garantia de “transparência ao consumidor e respeito ao produtor”. O projeto propõe a proibição do uso das palavras “carne”, “bife”, “hambúrguer”, “filé” e “bacon” em quaisquer produtos que não sejam “tecidos comestíveis de espécies de açougue, englobando massa musculares, com ou sem base óssea, gorduras, miúdos, sangue e vísceras, podendo os mesmos ser in natura ou processados”. Descontentes com a iniciativa, 83 empresas lançaram uma campanha contra o Projeto de Lei alegando que o mundo evoluiu, assim como as palavras e seus significados vêm sendo atualizados. Por exemplo, cerveja sem álcool não poderia ser chamada de cerveja? Salgadinhos sabor carne também teriam que mudar a nomenclatura? São perguntas que ainda não têm respostas. Discussões polêmicas como essa não são exclusivas do mercado de carnes, outros mercados também passaram por
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situações semelhantes e tiveram que se adequar. Por exemplo, o setor de curtume teve que se mexer com a chegada dos produtos similares ao couro e aprovou a Lei 4.888, vigente desde 1965 que diz: “é considerado crime no Brasil afirmar que determinado produto é feito em couro sintético ou couro ecológico”. Dizer “couro legítimo” é igualmente proibido. Os produtos devem ser identificados apenas como couro. Expressões como estas infringem a Lei, que proíbe a utilização do termo em produtos que não tenham sido obtidos exclusivamente de pele animal. Sabemos que o mercado de carne de origem animal é gigantesco, e que o segmento de produtos veganos também tem crescido nos últimos anos. Como ainda é um mercado em expansão, não há dados concretos sobre o tamanho desse nicho, mas, estima-se que vá movimentar cerca de US$ 140 bilhões em dez anos no mundo, o que representaria 10% do mercado global de carne. Hoje, esse segmento responde por apenas 1% do mercado internacional de carne. O grande paradoxo disso tudo é que ao mesmo tempo cresce a concentração de pessoas que se consideram vegetariana, também aumenta a oferta de proteína animal. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), somente no primeiro semestre deste ano, o Brasil exportou 827 mil toneladas que garantiram um faturamento de US$ 3,12 bilhões, alta de 16,2% em relação ao ano passado. Graças aos investimentos feitos em genética, equipamentos, e principalmente em tecnologia, o setor tem sido mais eficiente, produtivo e sustentável. Iniciativas como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) a cada dia ganham mais adeptos. Fato é que como todo mercado em potencial, as proteínas alternativas estão na mira das grandes e pequenas empresas que estão buscando um espaço para não “perder a onda do momento”. O posicionamento de muitas delas é se alinhar a filosofia vegana que reitera as preocupações com o suposto impacto ambiental negativo da pecuária e a indignação com as condições de vida impostas aos animais usados nos processos de produção. Existe mercado para tudo, e todos, porém, as proteínas alternativas não devem ser classificadas como carne. Assim como a mistura de outros óleos não pode ser classificada de azeite de oliva e nem materiais sintéticos como couro. O futuro da carne está no melhoramento genético, foco no bem-estar animal, na rastreabilidade, sustentabilidade, preocupação com o meio ambiente e os avanços na tecnologia de produção. Essa é a carne do futuro, ou melhor, do presente, já que todas essas práticas já são realidades em muitas fazendas do Brasil. O resto é apenas um novo mercado que deve buscar seu público por meio dos seus méritos e não criticando um setor que emprega, gera renda e oportunidade de negócios a muitas famílias.
Marcelo Ribas
OPINIÃO
Médico veterinário, doutor em Zootecnia, sócio fundador e diretor executivo da Intergado marcelo@intergado.com.br
TECNOLOGIA
Conectividade no agronegócio é um processo irreversível
A
pesar de ser responsável por um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o agronegócio ainda encontra uma série de desafios, principalmente quando analisamos a questão da conectividade. De acordo com informações divulgadas no Summit Agronegócio Brasil 2019 (maior e mais importante evento do setor que aconteceu em novembro do último ano) cerca de 50 milhões de hectares na área rural do país ainda não tem acesso à internet. Acredito que antes de pensarmos em uma solução para o problema, os produtores precisam entender a verdadeira importância de se investir em tecnologia da informação, buscando conhecer as vantagens e os benefícios que a agricultura digital pode trazer para o seu trabalho, com informações valiosas e em tempo real sobre as operações da fazenda. Informações essas que auxiliam na tomada de decisão e diminuem os custos da produção. Dados da última edição do IoT Snapshot, estudo da Logicalis que analisa a adoção da Internet das Coisas por empresas de diversos segmentos no Brasil e em toda a América Latina, 29% das organizações do agronegócio já utilizam soluções em IoT e 28% estão em processo de transição. Ou seja, o setor está avançando. Por outro lado, de nada adianta as empresas de inovação com foco no segmento oferecerem os mais diversos tipos de serviços se os conhecimentos não forem acessíveis, certo? Apesar do público-alvo da Intergado não sofrer com a falta de conectividade, uma vez que os criadores de gado dependem da internet e naturalmente promovem o acesso por conta própria para negociação de insumos e animais, bem como para ficar de olho no mercado financeiro e nas cotações dos confinamentos, há um buraco que precisa ser tapado. É fato conhecido que o Governo e
as operadoras de telefonias já estão fomentando a implantação das tecnologias digitais no campo, mas ainda há um longo caminho a percorrer. A agricultura 5.0 vem sendo anunciada e abre novas possibilidades. Porém, outros obstáculos já estão sendo questionados, como a preparação e a mudança de maturidade do produtor rural e como será o desenvolvimento de novos produtos - que ao mesmo tempo que serão cada vez mais robustos, vão precisar ser de fácil utilização. Na minha opinião, o acesso à internet é mais importante que a qualidade e a velocidade dela. E nesse momento, devemos encontrar um jeito de atender às necessidades de quem mora e trabalha no campo, refletindo em como a agricultura e pecuária podem produzir com mais eficiência. Estou à disposição para o que precisarem.
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OPINIÃO
José Leonardo Zootecnista da Guabi Nutrição Animal joseleonardo@guabi.com.br
TÉCNICO
Por que é importante fazer a suplementação de bovinos no período das águas?
O
sistema de criação de bovinos baseado na exploração de forragem é preponderante no Brasil. Por este motivo, pecuaristas que não compreendem a relação e a interação (solo – planta –animal), dificilmente utilizarão os recursos disponíveis de maneira eficiente. Bovinos manejados em regime de pasto têm como principal fonte de alimento a forragem, que possui oferta e valor nutricional (qualidade) variável ao longo do ano. A estação da seca (outono e inverno) é marcada pela menor oferta de forragem, consequência da quantidade reduzida de água, baixa temperatura e menor fotoperíodo. Em adição, o valor nutricional desta forragem normalmente é inferior (menores teores de proteína, energia e minerais), pois quase sempre é oferecida aos animais com idade de crescimento mais avançada. Para evitar a perda de bovinos manejados em regime de pasto, neste período, pecuaristas investem em tecnologia de suplementação a pasto e substituem minerais linha branca pelos proteicos, proteico-energéticos ou rações de semiconfinamento. Estes suplementos disponibilizam além dos macros e microminerais, carboidratos não estruturais, proteína e aditivos melhoradores de desempenho. Como resultado, o ambiente ruminal é enriquecido com nitrogênio e nutrientes digestíveis totais fermentescíveis. Os microrganismos se tornam mais eficientes ao degradar fibra, os animais aumentam a ingestão de alimento e ganham mais peso. A suplementação com fontes proteicas na estação da seca é mais disseminada e compreendida no campo, quando comparada ao mesmo procedimento adotado no período das águas. Na estação chuvosa, a forragem se apresenta verde e abundante, o que reduz consideravelmente o uso de suplementos proteicos, proteico-energéticos e rações. Na estação das águas, o fornecimento de 80 g de suplemento mineral contendo macro (cálcio, fósforo, magnésio, enxofre e sódio) e microminerais (manganês, zinco, cobre, iodo, cobalto, selênio e ferro) propiciará aproximadamente 400 a 500 g de peso vivo (PV)/ animal / dia, caso não haja restrição de qualidade e oferta de alimento volumoso. Este é o principal motivo pela menor suplementação proteica nas águas, porém a eficiência alimentar e desempenho dos animais poderiam ser bem superiores. É importante ressaltar que a adoção de suplementos que forneçam somente minerais no verão não é uma prática incorreta, pelo contrário, o não fornecimento destes minerais resultaria em perdas produtivas e reprodutivas. No entanto, a suplementação com fontes adicionais de proteína e carboidratos de rápida degradação ruminal resultam em maior desempenho em pastagens manejadas intensivamente. Estas áreas são normalmente muito adubadas e apresentam elevados teores de nitrogênio. É necessário fornecer carboidratos visando à sincronização com a
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porção solúvel e de rápida degradação ruminal da proteína disponível na forragem. A suplementação com fontes adicionais também resulta em maior desempenho em pastagens manejadas de maneira mais leniente (baixa taxa de desfolha, onde há maior presença de material senescente). Neste caso, é necessário o aporte de proteína verdadeira (aminoácidos), o que resultará em maior consumo e digestibilidade do alimento. O incremento de desempenho é necessário, visto que a constante valorização da terra, maior preço da reposição e o incremento dos custos de produção obrigam a atividade pecuária a se tornar cada vez mais eficiente. Apenas o aumento do teor de proteína bruta e dos nutrientes digestíveis totais (NDT) do capim, no período das águas, não é suficiente para um ganho de peso adicional dos animais. A suplementação resultará em maior investimento, porém, a compensação virá com o aumento de peso (mérito individual) e da produtividade (@/hectare/ano). O período de engorda de um animal suplementado com proteinado, em comparação ao ruminante que recebe apenas mineral linha branca, é inferior. Este sistema acarreta no ganho indireto de poder retirar o animal mais cedo do pasto, disponibilizando o espaço para outro bovino, que iniciará o processo de recria ou engorda. É fundamental que o produtor de proteína de origem animal avalie não somente o quanto investirá na alimentação complementar, mas o retorno do capital investido quando a suplementação é realizada de maneira correta.
OPINIÃO
Carlos Alberto Marino Filho Assessor Pecuário camarinof@gmail.com
GENÉTICA
O que é ser eficiente em pecuária de corte hoje?
E
m tempos de pandemia do Covid-19, o novo e agressivo coronavírus, o mundo vive um momento sem precedentes para a atual geração da humanidade. Riscos de mortes em massa, crises financeiras mundiais eminentes e possibilidade de limitação no abastecimento geral da população assombram todo o globo. Em todos os setores da humanidade é momento de questionamentos e transformações, adaptações e novas diretrizes. Após uma situação tão atípica e grave como esta, sem dúvida o planeta nunca mais será o mesmo. É assim também na pecuária. Há momentos onde mudanças são necessárias no sentido de adaptar os negócios à realidade das situações específicas de cada um. Os objetivos mudam e a necessidade se transforma em realizações para melhores resultados financeiros. A palavra de ordem da pecuária de corte atual é eficiência. Sim, caros amigos, hoje para trabalharmos com pecuária de corte, em qualquer nível, de uma ponta a outra da cadeia, é necessário ter eficiência. Isso porque, as margens dos pecuaristas em geral estão extremamente apertadas, ainda que os preços do boi gordo tenham reagido desde o segundo semestre de 2019. Nós sabemos que a pecuária de corte é cíclica, e quem não tem eficiência em todos os períodos deste ciclo, está fadado a deixar a atividade. Em termos gerais, o que seria eficiência? Tem várias formas e vários parâmetros para se medir isso. Lotação (UA/ha), margem de compra/venda, uso de estratégias de manejo nutricional, quantidade de arrobas produzidas por hectare... São muitos, e cada pecuarista tem seu parâmetro ou parâmetros preferidos. Mas, se tivermos que definir de uma só maneira, em termos gerais, ser eficiente em pecuária de corte hoje seria: produzir uma determinada quantidade de arrobas num determinado espaço de tempo numa determinada área com um determinado “input” de recursos e insumos e obter a maior margem de lucro possível. Perdeu o fôlego? Realmente fica difícil até de ler em voz alta, mas esse é apenas um pequeno resumo dos fatores que influenciam a eficiência de produção de carne. O mais interessante é saber equilibrar esses fatores gerais dentro do sistema de produção. Porque as variáveis são inúmeras e os processos se interligam mutuamente. É muito complexo atingir isso. Mas ao final, o que acontece é que nem sempre o mais rápido é o mais eficiente. Nem sempre o menos oneroso é o mais eficiente. Nem sempre o mais numeroso é o mais eficiente. E assim por diante. Entende a complexidade disso? Então podemos dizer que nem sempre os extremos são os mais eficien-
tes. Esse é um fator fundamental em seleções de plantéis PO e também em unidades produtoras de animais para o abate. No final o que realmente pesa é o bolso do pecuarista. Ele sim tem que pesar. Não necessariamente o animal mais pesado traz a ele a maior margem de lucro, especialmente porque a sua fazenda não é exatamente igual a de ninguém. Ela pode ser limitada em recursos e não ter condições de produzir um animal extremamente pesado. Mesmo com genética. E esse é só um exemplo do que pode acontecer. O recado então é o seguinte: planejar e dimensionar um sistema de produção de gado de corte é tarefa complexa por si só, inserir a fundamental eficiência produtiva então, demanda muito mais conhecimento e mais bom senso na escolha de estratégias. As estratégias são muitas: qual manejo nutricional (variáveis como clima, solo, espaço, disponibilidade de concentrado para dietas intensivas, dentre outras)? Qual ciclo? Qual nível de investimento? E por fim, qual material genético? Dada essa grande complexidade e variações ambientais, vem a discussão sobre os materiais genéticos disponíveis. É de fundamental importância que o pecuarista, seja ele selecionador, criador ou terminador, entenda quais genéticas podem responder de forma mais eficiente no seu sistema de produção. Se a palavra de ordem é a eficiência, é bom conhecer quais genéticas já demonstraram que atingem os níveis precisos de eficiência. Quais delas já tiveram resultados práticos no rebanho de corte brasileiro? Quais têm direta aplicabilidade no gado comercial? Aí vem novamente o que temos levantado nas discussões: quanto mais informações e ferramentas de seleção utilizarmos, melhor vamos decidir. Avaliações genéticas, genômica, eficiência alimentar, ultrassonografia, abates técnicos, avaliações visuais, certificações em geral. Cada uma dessas ferramentas tem sua participação para o melhoramento real do rebanho de corte nacional. Cada uma delas pode ser eleita como a que mais se adequa para um determinado objetivo de uma fazenda. Se tem uma coisa que não existe na pecuária de corte é a solução mágica. Nenhuma informação isolada pode definir qual genética usar. Toda informação deve vir pautada e acompanhada da sua aplicabilidade, inclusive financeira, do senso crítico do pecuarista e do seu técnico, e deve ser usada com sabedoria. E lembrem-se: extremos chamam a atenção, mas o equilíbrio é fundamental. Nada é proibido e ninguém é dono da verdade. Até porque cada um vive uma situação diferente na sua fazenda. E hoje, a melhor decisão é a decisão equilibrada, pautada em eficiência.
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OPINIÃO
Delair Angelo Bolis Médico veterinário e presidente da MSD Saúde Animal
VISÃO
Como o otimismo pode fortalecer o Brasil em 2020
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omeço de ano é sempre uma época oportuna para repensarmos alguns hábitos e adotarmos atitudes que nos ajudem a ir cada vez mais longe. Por isso, refletindo sobre as expectativas para 2020, concluí que a máxima desse ano será o otimismo. Como venho dizendo, o Brasil está preparado para atender cada vez mais ao crescimento do mercado de saúde animal. E digo mais: nosso país está preparado para crescer e se desenvolver como um todo. Acredito que se explorarmos os nossos pontos positivos ao longo dessa jornada e celebrarmos o que temos de mais espetacular, maximizaremos nossa capacidade produtiva e, por consequência, iremos ainda mais longe. Tem um ditado que diz que o otimismo é a fé em ação. Nada pode ser feito sem otimismo. É acreditando, planejando e executando que a gente muda. O pessimismo paralisa e muitas vezes impede a mudança.Eu sou um otimista nato em tudo que eu faço, cresci assim. Paixão e otimismo me guiam em todos os aspectos da minha vida. Li uma vez que o Brasil tem o maior percentual de otimistas do mundo, segundo uma pesquisa encomendada pela Expo Dubai, divulgada em 2019. Segundo o levantamento, 76% dos brasileiros se consideram otimistas, um número consideravelmente superior em relação à média global, que ficou em 56%. A pesquisa também revelou que 89% dos entrevistados afirmaram que a chave para um futuro melhor está no compartilhamento de conhecimento e na comunicação entre indivíduos e sociedade. Pode parecer algo abstrato quando falamos de otimismo, mas ao longo dos anos venho observando que esse fator pode inclusive fazer uma grande diferença na vida profissional, bem como a comunicação transparente e a renovação de conhecimento. Costumam dizer que a visão do profissional otimista é aquela que enxerga “o copo meio cheio” e que preza pelo lema “eu sei que o barco tá furado, mas não paro de remar nunca’’.
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É no meio das crises que surgem as oportunidades e encontramos a nossa força. Eu gosto de falar sempre que eu sou daquele tipo de otimista que ao estar diante de um copo meio cheio, primeiro brindo e comemoro bebendo o conteúdo que está no copo, assim, além de celebrarmos, teremos diante de nós a oportunidade de encher um copo inteiramente vazio. Sempre que viajo gosto de conversar com as diferentes pessoas para entender qual é a visão sobre o nosso país. Eu sei que tem muita coisa boa acontecendo por aqui. Reconheço as coisas ruins, mas sou um otimista que acredita que tudo vai melhorar. O Brasil sofreu muitas mudanças nos últimos 40 anos, e com elas evoluímos. A velocidade foi adequada? Talvez não. Há muita coisa a se fazer? Sim, com certeza, e sempre haverá. Faz parte do processo de evolução continuada. Mas, acho importante refletirmos sobre a imagem e reputação da nossa marca Brasil. Precisamos cuidar dela, já que uma percepção positiva é mais rentável para os negócios e, consequentemente, para o desenvolvimento do país e seu povo. Então, em 2020, prometa que você fará sua parte em construir um Brasil melhor, celebrando o nosso país e torcendo pela nossa nação. Vamos destacar que o agronegócio é um de nossos orgulhos nacionais. Que nos mexemos muito em busca de transparência e excelência. Que sim, somos felizes e sabemos nos reinventar como ninguém. Que nossas praias e nossa natureza são ímpares. Que nosso clima continua sendo abençoado, mas, que acima de tudo, praticamos a caridade individualmente como nenhum outro povo. Que somos um dos países mais produtivos do mundo em muitas áreas e segmentos. Que falamos e focamos em produtividade, não somente em produção. Em 2020, tenhamos a ousadia de ir além do pensar e falar com otimismo: devemos atuar como otimistas. Entre na sua briga para ganhar. Planeje e execute com excelência, pois essa é a única maneira de fazer isso acontecer. Vamos cuidar com otimismo, profissionalismo e garra da nossa marca Brasil.
OPINIÃO
Maria Cristina Rodrigues Gonçalves Advogada de causas cíveis pós-graduada em Direito Tributário krikarg@uol.com.br
JURÍDICO
Os desafios do produtor rural face ao arcabouço legislativo
A
propriedade privada é um direito e uma garantia fundamental disciplinadas pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXII, juntamente com o artigo 1.228 do Código Civil, que asseguram o direito à propriedade, conceituando direitos e garantias fundamentais indispensáveis à pessoa humana e necessários para conceder a todos uma existência digna, livre e igual. Ocorre que nos últimos anos, a intervenção do Estado na propriedade privada tem se intensificado, seja por meio de legislação infraconstitucional, ambiental e decisões judiciais, seja mediante argumentos da função social da propriedade, inserindo limitações ao exercício de propriedade. De fato, a concepção de propriedade como direito real, foi alterada em decorrência de eventos políticos vivenciados, não condizentes com o regime democrático alardeado, colocando o proprietário rural a mercê de penalizações desproporcionais mediante fiscalizações arbitrarias e aplicação de elevadas multas, restringindo o uso e direito da propriedade. Inobstante os proprietários rurais tenham buscado cada vez mais aliar as atividades do campo a preservação da natureza, se vêm tolhidos no seu direito à propriedade em decorrência da intervenção estatal, sendo obrigado a requerer permissão ao Estado para utilizá-la. Vale notar que as inovações trazidas pela Lei 12.651 de 2012, Código Florestal, diminuíram as restrições de uso, gozo e utilização de áreas de preservação permanente. Inobstante mais branda do que a lei ambiental de 1965, a atual legislação mantém a limitação ao exercício do direito de propriedade. Importa ressaltar que a legislação ambiental limi-
tando ou esvaziando o direito de propriedade impõe ao Estado, ou quem suas vezes fizer, o ônus de indenizar o proprietário, haja vista que o direito de propriedade há de ser concreto, efetivo, permitindo o proveito económico, não podendo ser estreitado ao aspecto meramente formal, reduzido a uma escritura ou algo equivalente. Do contrário, a indenização é de rigor, sob pena de se legitimar o esbulho ou o confisco, perpetrados pelo poder público, ao arrepio da ordem constitucional.
MARÇO/ABRIL 2020 | #pecBR
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EM FOCO
Foto Gustavo Miguel
“Segue a boiada mansa Que na estrada avança querendo chegar E eu vou seguindo a vida Que vai amansando o meu coração”
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Fábio de Melo
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CRIATÓRIOS CONFIRMADOS
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