Pecuária Brasil #44

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FECHAMENTO AUTORIZADO PODERÁ SER ABERTO PELA ECT AGORA EM SOLO CARIOCA, NAS FAZENDAS UNIDAS ITA
EDIÇÃO 44 - ANO IX - JANEIRO/FEVEREIRO 2023
A DINASTIA RARA CONTINUA
FOTOS GUSTAVO MIGUEL

EDIÇÃO

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Carlos Dog, Marcus Rezende, Rafael Mazão

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JURÍDICO

Cláudio Batista Andrade Renato Mendonça Costa

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Fazendas Unidas Ita, em Itaguaí/RJ, é a nova casa da grande matriarca do Gir Leiteiro Rara Estiva e de seu clone Rara TN1. Uma genética que vem conquistando premiações importantes nas exposições da raça.

Foto Gustavo Miguel

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 4
FECHAMENTO AUTORIZADO PODERÁ SER ABERTO PELA ECT AGORA EM SOLO CARIOCA, NAS FAZENDAS UNIDAS ITA A DINASTIA RARA CONTINUA EDIÇÃO 44 ANO IX JANEIRO/FEVEREIRO 2023
NOSSA CAPA

CAMPEÃO BEZERRO e Conjunto Reservado Progênie de Mãe Jovem Uberaba/MG

CAMPEÃO BABY

• Rio Verde/GO 2022 • Palmeiras de Goiás/GO 2022

• Sanclerlândia/GO 2022 • Goiânia/GO 2022

• Porangatu/GO 2022

CAMPEÃO BEZERRO

• Campeão Bezerro Jovem e Conjunto Reservado Progênie de Mãe - Brasília/DF 2022

• Campeão Bezerro Jovem Uberaba, Conjunto Reservado Progênie de Pai e Conjunto Reservado Progênie de mãe - Expoinel Nacional 2022

• Campeão Bezerro Jovem São José do Rio Preto, Conjunto Reservado Progênie de Pai e Conjunto Campeão Progênie de Mãe - São José do Rio Preto/SP 2022

CAMPEÃO JÚNIOR MENOR

• Reservado Campeão Júnior Menor, Reservado Grande Campeão de raça Nelore Campeão Conjunto Progênie de pai, Campeão Conjunto de mãe - Expoinel Goiás 2023

BÁLSAMO FIV – IBS6614

Kayak TE Mafra x Releva (Navarro de Naviraí)

José Afonso de Siqueira | (62) 99982-3208 neloreboavista3010@gmail.com FAZENDA BOA VISTA Cidade de Goiás - Goiás

Enfim 2023 começou e já mostrou que a palavra de ordem, assim como nos últimos anos, será Resiliência. Se o ano deve ser ainda mais desafiador do que a média, frente à conjuntura de grandes mudanças políticas internas, instabilidades externas e pela virada do ciclo pecuário, é hora de trabalhar com um olhar atento para as oportunidades e estar preparado para elas.

Diante desse cenário, fomos falar com especialistas do setor para entender quais os cenários possíveis para 2023. A agricultura e as exportações de carnes seguem firmes, enquanto o mercado interno vive oscilações. Mas, como já virou o lema do setor, “o agro não para”. E tem muita coisa boa acontecendo no campo que trazemos nesta edição da revista Pecuária Brasil.

Uma delas é a abertura do mercado de reprodutores da Bolívia, que agora poderá exportar animais de alto valor genético para o Brasil, contribuindo com novas linhagens para os rebanhos de nosso país. Outro destaque é o ganho em produtividade e rentabilidade que o pecuarista consegue quando investe em um pasto de qualidade. A possibilidade de produzir muito mais arrobas por hectare em sistemas intensivos de produção compensam os investimentos na formação de pastos de alta qualidade.

E falando de produção a pasto, trazemos uma estratégia “verde-amarela” interessante: a Terminação Intensiva a Pasto (TIP). Ela busca produzir uma arroba mais barata, potencializando o ganho de peso dos animais em épocas de boa disponibilidade de forragem, ajudando a fugir dos custos mais elevados do confinamento. Nesta edição, você ainda confere o artigo do nosso especialista Marcus Rezende sobre o planejamento nutricional na entrada da estação seca, uma estratégia que na opinião dele dá lucro. Quem se planeja não sofre com a seca!

No leite, trazemos dicas para produção de silagem de BRS Capiaçu, cultivar de alto rendimento que tem sido muito usada na alimentação de rebanhos leiteiros, mas exige cuidados no momento da ensilagem. Também mostramos dicas sobre o fornecimento de alimentação sólida para bezerras. O ideal é que a introdução do alimento sólido seja feita já nos primeiros dias de vida.

Nas novidades das raças, a revista destaca a aplicação da DEP Caráter Mocho, lançada pela ANCP e que apresenta alta acurácia. A tecnologia é a aposta de criadores de Nelore Mocho para elevar a previsibilidade do fenótipo a índice superior a 90%. Na raça Sindi, o debate é sobre a dupla aptidão. Técnicos e criadores destacam qual deve ser o futuro da raça nesta questão. Ainda trazemos resultados das principais exposições de zebuínos nos últimos meses e os rumos das principais associações de criadores, que em 2023, passam a ser presididas por novas lideranças.

E tem mais. O uso de drones para aplicação de fertilizantes nas lavouras vem crescendo, trazendo outras possibilidades do equipamento dentro da pecuária, como monitoramento da área visando identificação de possíveis problemas. E ainda temos uma reportagem especial sobre os cavalos Crioulos, que, além da beleza, vêm conquistando as pistas esportivas e as lidas no campo. Nosso entrevistado especial é o recém-empossado presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion, que disse estar pronto para os desafios à frente da entidade. Ele adianta que o setor precisa de mais espaço na sociedade. “Queremos menos discurso ideológico e mais pensamento técnico e lógico nos noticiários.” É o que reforça Lupion.

Mas tem muito mais nesta edição. Confira nas páginas a seguir.

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GUSTAVO MIGUEL E CLÁUDIA MONTEIRO Diretores redacaopecuariabrasil@gmail.com
APRESENTAÇÃO
RAÇA
GENTE
ZONA RURAL

79 Criadores

Sinal verde para os touros da Bolívia

PG. 43

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 8
SUMÁRIO

SEMPRE NA PECUÁRIA BRASIL

mocho com

Drones facilitam a vida do pecuarista

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 9
para os desafios da Frente Parlamentar da Agropecuária
Pronto
28
PG.
10 . PECUÁRIA EM REDE 14 . PECUÁRIA INDICA 17 . AGRO NO PRATO 20 . PORTEIRA ABERTA 28 . ENTREVISTA 31 . PECUÁRIA 360 37 . RAÇA 49 . CARNE 61 . LEITE 69 . ZONA RURAL 79 . GENTE 92 . SOCIAIS 98 . PONTO DE VISTA 100 . OPINIÃO 105 . EM FOCO
PG. 74
“Com os pés no presente, mas de olho no futuro”
acurácia
Caráter
alta
PG. 86 PG. 38

PECUÁRIA EM REDE

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 10
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PECUÁRIA DE ONDE

Municípios brasileiros que aparecem nessa edição

UBERABA-MG

Expoinel Minas

DESTINOS INTERNACIONAIS

Alegrete (RS)

Aparecida do Rio Doce (GO)

Araçatuba (SP)

Arapongas (PR)

Avaré (SP)

Barretos (SP)

Bauru (SP)

Bela Vista (MS)

Belo Horizonte (MG)

Birigui (SP)

Bocaiúva (MG)

Bom Jesus (PI)

Botucatu (SP)

Britânia (GO)

Brotas (SP)

Campinas (SP)

Campo Grande (MS)

Conceição das Alagoas (MG)

Conceição de Macabu (RJ)

Coromandel (MG)

Cuiabá (MT)

Curvelo (MG)

Curitiba (PR)

Dourado (MS)

Fortaleza (CE)

Franca (SP)

Frutal (MG)

Funilândia (MG)

Goiânia (GO)

Governador Valadares (MG)

Gurupi (TO)

Guará (SP)

Ibitiúva (SP)

Ilha Solteira (SP)

Inhaúmas (MG)

Itapetinga (BA)

Itaquirai (MS)

Jaboticabal (SP)

Ji-Paraná (RO)

Lençóis Paulista (SP)

Londrina (PR)

Luís Eduardo Magalhães (BA)

Maracaju (MS)

Maceió (AL)

Marília (SP)

Maringá (PR)

Medianeira (PR)

Morrinhos (GO)

Natal (RN)

Nova Crixás (GO)

Passos (MG)

Paulo de Faria (SP)

Patos de Minas (MG)

Piracicaba (SP)

Pompéu (MG)

Ponta Porã (MS)

Porangatu (GO)

Porto Murtinho (MS)

Quirinópolis (GO)

Ribeirão Preto (SP)

Rio de Janeiro (RJ)

Rio Pardo (RS)

Rio Preto (SP)

Rio Verde (GO)

Sacramento (MG)

Santa Maria da Serra (SP)

São Gotardo (MG)

São Paulo (SP)

Soledade (RS)

Salvador (BA)

Terenos (MS)

Três Passos (RS)

Uberaba (MG)

Uberlândia (MG)

Vale do Paraíba (SP)

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Austrália Bolívia Camboja China Estados Unidos Fazendas Unidas Ita ITAGUAÍ - RJ Índia Japão México Uruguai França

RESERVADA GRANDE CAMPEÃ E CAMPEÃ BEZERRA

SAFIRA FIV PARAZIN - NPZ2

Kayak TE Mafra x Doha FIV Giber (Lux Lanceada)

PERTENCENTE A DINASTIA DA SOBERANA:

LUX LANCEADA

Paysandu de Nav. x Fênix (Ganhoso)

@nelore.parazim @neloregarrote
AVÓ
FOTOS GUSTAVO MIGUEL

PECUÁRIA INDICA

MISTURADOR DE RAÇÃO

C

asale Equipamentos lançou o misturador de ração total RX270 TechBull, para confinamentos. Altamente tecnológico, ele tem sistema antiquebra e orienta o operador para não perder produtividade e evitar paradas indesejadas para correções. Através de sensores, o equipamento conta com um software, que toma decisões de maneira autônoma durante a operação, orientando o operador para que não cause danos à máquina e à componentes. Possui um computador de bordo funcional e moderno para acompanhamento dos dados técnicos do funcionamento da máquina, , além de proporcionar uma visão ampla dos principais processos do trato, ao transmitir a imagem de três câmeras que ajudam na execução do carregamento e mistura de ingredientes, na realização de manobras e visualização do processo de descarga, entre outras. Além de aumentar a segurança na operação.

SÉRIE PREMIADA

Protagonizada pela pecuarista Carmen Perez, a série “Quando Ouvi a Voz da Terra” pode ser assistida pelo YouTube, no canal de Quando Ouvi a Voz da Terra. São quatro episódios que retratam as cadeias produtivas de cacau, café, mel e pecuária leiteira, mostrando as questões humanas de quem vive o campo, seus desejos e desafios. Ao mostrar as viagens de Carmen pelo Brasil, foram debatidas questões importantes como a liderança feminina, as tradições familiares, a importância da maturidade; a produção em harmonia com a natureza e o bem-estar dos animais. Quando Ouvi a Voz da Terra é um projeto idealizado por Carmen, em parceria com a jornalista Flávia Tonin e o documentarista Nando Dias Gomes.

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CAMPEÃO DE VENDAS

Na lista dos 25 maiores best-sellers entre os leitores brasileiros, o livro “O homem mais rico da Babilônia”, de George S Clason, é um clássico sobre como multiplicar riqueza e solucionar problemas financeiros. Baseando-se nos segredos de sucesso dos antigos babilô nicos ― os habitantes da cidade mais rica e próspera de seu tempo ―, o autor mostra soluções ao mesmo tempo sábias e muito atuais para evitar a falta de dinheiro, como não desperdiçar recursos durante tempos de opulência, buscar conhecimento e informação em vez de apenas lucro, assegurar uma renda para o futuro, manter a pontuali dade no pagamento de dívidas e, sobretudo, cultivar as próprias apti dões, tornando-se cada vez mais habilidoso e consciente.

RAÇÃO PARA POTROS

Os potros precisam de todos os nutrientes. O mais importante é o alto nível de proteína da ração, que é essencial para que eles cresçam, e a energia, que faz os animais engordarem e ficarem com o pelo bonito. Se receberem ração com muita energia e pouca proteína, ficarão lindos mas podem não crescer, pois o que importa é o nível de proteína e a qualidade dos aminoácidos que vêm a partir da proteína, e também os macro e microminerais, importantíssimos para o seu desenvolvimento. A Guabi oferece quatro tipos de rações para potros, todas contendo 100% dos microminerais orgânicos: duas peletizadas, uma multipartícula e outra 100% extrusada. Por ser uma ração 100% cozida, permite uma absorção muito maior dos nutrientes pelo trato gastrointestinal do animal. Na fase após o desmame, é recomendável usar probiótico e prebiótico para os potros conseguirem manter o equilíbrio da flora intestinal.

VERMIFUGAÇÃO NA PRÉ-DESMAMA

A pré-desmama exige cuidados especiais com a verminose e demanda protocolo de vermifugação estruturado. Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), em parceria com a Zoetis, mostrou que os bezerros tratados com moxidectina 10% desmamaram com 9,4 kg a mais que o grupo não tratado. Eficaz para o tratamento dos parasitas internos e externos de bovinos, Onyx proporciona proteção contra futuras infecções parasitárias em até 150 dias após o tratamento. Uma pequena dose do medicamento, a base de moxidectina 10%, assegura controle efetivo dos principais parasitas, tanto na forma adulta quanto imatura.

Os 10 vinhos de maior valor em 2022

A Wine Spectator, prestigiada revista norte-americana especializada em vinhos, tem como grande atrativo de suas publicações, a eleição anual dos 10 melhores vinhos do mundo: considerando qualidade x preço! Esta revista, com mais de 40 anos no mercado editorial, é considerada a mais importante e influente no meio da indústria do vinho. Foi fundada por Bob Morrisey em 1976, e três anos depois foi adquirida por Marvin R. Shanken. São mais de 200 mil vinhos avaliados das mais variadas regiões produtoras do planeta Terra.

Top 10 Wine Values de 2022 da Wine Spectator

No ano de 2022, o resultado da avaliação chegou à

seguinte classificação: Seis vinhos dos Estados Unidos e mais quatro da Espanha, Argentina, França e Itália. Os dez vinhos mais valorizados pela Wine Spectator concentram-se naqueles que consideram a bebida com a melhor relação qualidade/preço.

Para ser incluído na lista, uma série de requisitos devem ser atendidos, tais como: pontuar 90 ou mais na escala de 100 pontos da Wine Spectator, custar US$ 40 ou menos e ser feito em quantidades grandes o suficiente para serem amplamente disponíveis. Sendo assim, a equipe de editores da Wine Spectator, com base nos critérios mencionados, elegeu os melhores vinhos com a melhor relação custo-benefício em 2022.

1. Beaulieu Vineyard

Cabernet Sauvignon Napa Valley 2019

92 pontos | US$ 33 | Califórnia, Estados Unidos | 44.700 caixas fabricadas

2. Decoy Limited Red Napa Valley 2019

91 pontos | $ 30 | Califórnia, Estados Unidos

3. Antinori Toscana Villa Antinori 2019 90 pontos | $ 20 | Itália

4. Bodegas Marqués de Murrieta Rioja Finca Ygay Reserva 2018 91 pontos | $32 |Espanha

5. Joel Gott Sauvignon Blanc Califórnia 2021

91 pontos | US$ 16 | Califórnia, Estados Unidos

6. Domaine Bousquet

Malbec Tupungato 2021

90 pontos | US$ 13 | Argentina

7. Mumm Napa

Brut Napa County Prestige NV

90 pontos | US$ 24 | Califórnia, Estados Unidos

8. Kendall-Jackson

Merlot Sonoma County Vintner’s Reserve 2019

90 pontos | US$ 24 | Califórnia, Estados Unidos

9. Montinore

Pinot Noir Willamette Valley Red Cap 2019

90 pontos | US$ 25 | Óregon, Estados Unidos

10. Drouhin Vaudon Chablis 2020 90 pontos | US$ 27 | França

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 16 PECUÁRIA INDICA VINHOS
Fontes : Wine Spector, Tecnovino
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CARLOS ALBERTO PEREIRA Jornalista, enólogo e tecnólogo em Hotelaria e Turismo mktcap@gmail.com

FILÉ APIMENTADO A LA ESTÂNCIA TRADIÇÃO

Com filé Angus de estrela e um acompanhamento que é uma verdadeira explosão de sabores, a criadora Gabriela Assis, da Estância Tradição, de Santa Vitória do Palmar/RS, garante na mesa o mesmo sucesso que a fazenda obtém nas pistas de julgamento ao longo do ano. Confira sua receita especial de medalhões grelhados com risoto de pera e queijo brie.

RECEITA:

Filé Angus Certificado

Pimenta preta e pimenta rosa

Mostarda em grãos

Manteiga Sal

Azeite

Alho

Tomilho

MODO DE PREPARO:

Selecione a peça de filé e corte os medalhões grossos; Em um pilão, coloque as pimentas preta e rosa, mostarda em grãos, sal e triture bem; Em uma chapa ou frigideira, aqueça 2 colheres de sopa de azeite, 2 colheres de sopa de manteiga, 2 dentes de alho e um galho de tomilho, deixe esquentar e coloque os filés para grelhar; Para um filé malpassado, deixe 3 minutos de cada lado; Assim que virar a primeira vez, cubra com a mistura de pimentas.

DICA DA CHEF

Misturar ao suco do filé, que já está na frigideira, um pouco de creme de leite para fazer um molho e servir sobre o arroz

RISOTO DE PERA COM

QUEIJO BRIE:

1 litro de caldo de legumes 2 colheres de sopa de manteiga 540g de arroz arbóreo 150ml de vinho branco seco 140g de queijo brie ralado fino 3 peras (uma corada em lâminas para grelhar e as outras duas picadas para incorporar ao risoto) sal a gosto

MODO DE PREPARO:

Em uma panela levar o caldo a ferver;

Em uma panela wok, colocar a manteiga, em fogo baixo, adicionar o arroz e fritar cuidadosamente; Adicionar o vinho branco seco e deixar soltar todo o aroma; Quando o vinho secar, começar a adicionar o caldo de legumes e mexer ininterruptamente; Sempre que secar, ir adicionando mais caldo, até o risoto estar completamente macio; Quando o fundinho estiver crocante, adicione o queijo brie, a pêra e misturar bem. Adicione sal a gosto se necessário. Está pronto!

RECEITAS
NO PRATO
AGRO
Gabriela Assis
GABRIELA ASSIS
JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 17
Criadora de Angus na Estância Tradição

RANKING NACIONAL NELORE E NELORE MOCHO 2021/2022

Medalha de Bronze Melhor Criador Nelore Mocho

Medalha de Bronze Melhor Expositor Nelore Mocho

SUPER COPA 2021/2022

Medalha de Prata Melhor Criador Nelore da Super Copa

COPA INTER-REGIONAL - COPA DO ATLÂNTICO 2021/2022

Medalha de Ouro Melhor Criador Nelore - Copa do Atlântico

Medalha de Ouro Melhor Expositor Nelore - Copa do Atlântico

Medalha de Bronze Melhor Expositor Nelore - Copa do Atlântico

RANKING REGIONAL NELORE E NELORE MOCHO 2021/2022

Medalha de Ouro Melhor Expositor Nelore - Ranking regional Espírito Santo

Medalha de Ouro Melhor Criador Nelore - Ranking regional Espírito Santo

Medalha de Ouro Melhor Criador Nelore Mocho - Ranking regional Espírito Santo

Medalha de Ouro Melhor Expositor Nelore Mocho - Ranking regional Espírito Santo

Daltinho, Daniel, Eny, João e Pedro

FAMÍLIANelorista

PORTEIRA ABERTA

CONTRA MUDANÇAS NO MAPA

A transferência do Serviço Florestal Brasileiro e do Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Ministério da Agricultura e Pecuária para o Ministério do Meio Ambiente, realizada pelo novo governo federal, vai gerar insegurança entre os produtores rurais, em função das diretrizes que vierem a ser criadas. A avaliação é da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). Em nota enviada à imprensa, o presidente da Faesp, Fábio de Salles Meirelles, disse que o Serviço Florestal está interligado com as secretarias estaduais de Agricultura e conhece efetivamente o processo do CAR, para que se possa fazer o equilíbrio sustentável da produção. Com a mudança pode haver uma dificuldade de interpretação e comprometer a implantação do Código Florestal Brasileiro.

NOVOS CURSOS DA FAZU

A Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba) promoveu em janeiro o evento “Up Fazu” para lançar oficialmente os Cursos de Licenciatura em Pedagogia EAD e Tecnólogo em Produção Sucroenergética, além de apresentar o Fazu Tech Show, dia de campo que será realizado em março de 2023. Na vertente do Agronegócio, a nova graduação da Fazu em Produção Sucroenergética oportuniza a formação para atuar no setor da cana-de-açúcar, álcool e energia, passando por áreas como campo, laboratório, agroindústria e gestão.

Já o “Fazu Tech Show”, dia de campo que será realizado em março, em parceria com grandes empresas da região e aberto à comunidade, tem como objetivo capacitar produtores rurais e pecuaristas, bem como valorizar o agronegócio perante toda a sociedade.

AUTOCONTROLE

O Projeto de Lei 1293/21 – PL do Autocontrole, que aprimora a legislação atual de defesa sanitária por um novo modelo de fiscalização agropecuária, baseado em programas de autocontrole executados pelas próprias empresas, foi sancionado em dezembro de 2022 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O texto prevê a obrigação dos agentes privados a atender critérios mínimos na ampliação das responsabilidades na cadeia produtiva. Na prática, a proposta possibilita que o Estado concentre suas ações no controle e na fiscalização de atividades de maior risco, além de permitir maior dinamismo e liberdade às atividades econômicas. Segundo a proposta, os agentes privados passarão a desenvolver programas de autocontrole para garantir a identidade, a qualidade e a segurança dos seus produtos. O programa não é obrigatório para agentes da produção primária agropecuária, mas esses produtores poderão aderir voluntariamente a programas por meio de protocolo privado de produção.

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 20

REGISTROS DE ULTRABLACK

Com cinco anos de Brasil, a raça Ultrablack teve expansão de 74,8% nos registros definitivos em 2022. O levantamento, realizado pela Associação Brasileira de Angus, aponta que, enquanto em 2021 foram computados 270, em 2022 somaram-se 465. Já os provisórios, contabilizados no período entre 01/07/2021 e 30/06/2022, tiveram aumento de 72,22%, passando de 692 para 1.210. No total, são 124 criadores cadastrados no Serviço de Registro Genealógico (SRG). Os números em ascensão são reflexo do espaço que a raça vem ganhando entre os criadores desde 2017, quando o Ministério da Agricultura delegou à entidade os registros. A projeção para a próxima safra é de crescimento na casa dos 40% nos registros, considerando uma taxa de nascimento de 60%. A alta também deve ser de 40% nos animais de segunda geração (filhos de exemplares Ultrablack), chegando a cerca de 200 bovinos filhos da raça. Em 2023, a expectativa é que exemplares passem a ter DEPs enriquecidas pela avaliação genômica, a exemplo do que vem sendo feito com a raça Angus, bem como devem ser iniciadas provas de eficiência alimentar.

PROVA DE EFICIÊNCIA BRAHMAN

Com a participação de cerca de 60 touros e fêmeas da raça Brahman, a 2ª Prova de Eficiência e Performance Brahman/Boi com Bula premiou os melhores exemplares em qualidade de carcaça, desempenho, morfologia e eficiência. A competição ocorreu no Centro Tecnológico da Central Bela Vista, em Botucatu/SP, e teve duração de 90 dias, com a participação de 10 criatórios do país, sendo encerrada em novembro. As fêmeas foram desafiadas precocemente, sendo que a taxa de prenhez foi de 32,5% com apenas uma inseminação, sendo que 50% delas responderam ao protocolo de pré-indução. Elas emprenharam aos 12 meses, comprovando que a raça é fértil e precoce. Já os machos passaram por exame andrológico e apresentaram grande potencial para serem reprodutores de campo ou contratados por central para produção de sêmen. A terceira edição da prova acontecerá no segundo semestre de 2023. Poderão participar machos nascidos entre 1º de junho de 2021 e 30 de novembro de 2021.

AUMENTO DE REGISTROS ZEBUÍNOS

A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) teve aumento do número de animais registrados entre os anos de 2020 e 2022. Pelo levantamento, entre Registros Genealógicos de Nascimento (RGNs) e Registros Genealógicos Definitivos (RGDs), foram realizados 1.919.672 registros. A quantidade representa um crescimento de mais de 15% em relação ao mesmo período anterior. Já o número de associados fechou com 2.040 novos membros e quase 1.200 novos criadores no PMGZ.

PORTEIRA ABERTA

RECORDE DE PRODUÇÃO

O Programa Carne Angus Certificada atingiu seu recorde de produção no Brasil em 2022. Dados fechados do ano indicaram produção de 35.828,4 toneladas, alta de 16,74% em relação ao resultado de 2021. O abate anual somou 461.615 cabeças, ganho de 19,34% em relação ao ano anterior e o segundo maior da história do programa, atrás apenas de 2016, que recebeu 487.378 animais. O recorde de produção em toneladas, deve-se ao maior índice de certificação de carcaças, que atingiu 72%. Além disso, há um melhor aproveitamento das carcaças, com certificação de um maior mix de cortes. Os números de exportação de 2022 ainda não foram finalizados, mas a estimativa é de que 4,5% do total produzido no Brasil tenha como destino os clientes internacionais. O programa Carne Angus Certificada completa 20 anos em 2023. Atualmente, opera com abates em 42 unidades frigoríficas, pertencentes a 22 indústrias, em 11 estados brasileiros.

LANÇAMENTOS PARA 2023

Em razão do aumento do número de genótipos, a ANCP ampliará de quatro para seis as avaliações genéticas em 2023, a fim de oferecer ao criador uma atualização mais rápida das informações. A entidade também disponibilizará uma avaliação multirracial genômica, uma grande novidade para as raças zebuínas que permite uma melhora na confiabilidade das raças que possuem uma menor quantidade de dados. Outra grande novidade para 2023 é a atualização do MGTe, o usual índice bioeconômico da entidade, que passará por uma renovação das características e ponderações que o compõem, fruto da atualização dos componentes de variância, preços de mercado e indicadores zootécnicos utilizados para os cálculos dos ponderadores. Um aguardado lançamento é a DEP para Facilidade de Parto de Novilha, que chega ao mercado com o propósito de facilitar o dia a dia dos criadores. Ainda está prevista a reformulação do ANCPNet e a liberação do novo aplicativo para smartphones, que trabalhará de forma mais moderna e interativa.

PARCERIA ACNB E GRUPO MATSUDA

A Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) e a Matsuda Sementes e Nutrição Animal anunciam extensão da parceria por mais dois anos. O presidente da ACNB, Nabih Amin El Aouar, e o diretor da entidade Victor Miranda assinaram o acordo com os diretores da Matsuda, Leonardo Matsuda e Leonardo Cerise, na Nelore Fest, em São Paulo. A Matsuda é parceira estratégica da ACNB. A empresa apoia as diversas iniciativas da entidade, incluindo o Circuito Nelore de Qualidade e o Ranking Nacional Nelore. Juntas, a entidade e a empresa de insumos atuam lado a lado com os criadores, contribuindo para a constante evolução do Nelore e da pecuária nacional.

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NELORE DE OURO

O OSCAR DA PECUÁRIA 2022

DEDICAÇÃO AO NELORE

VICTOR PAULO SILVA MIRANDA Diretor da ACNB e Gerente de Pecuária da Nelore Heringer

SEGMENTOS DE INSUMOS

Os segmentos de insumos e de defensivos agrícolas no Brasil chegam a 2023 com expectativa de crescimento. Segundo o CEO da Cultura Agromais, César Oliveira, as tecnologias destinadas à agricultura regenerativa estão entre as que vêm apresentando avanço significativo. Dados do Programa de Regeneração do Solo (Regenera), desenvolvido em diversas propriedades atendidas pela Cultura Agromais, apontam uma maior captação de carbono e redução de temperatura no solo nas lavouras onde foram aplicadas soluções regenerativas, como as plantas de cobertura. A temperatura é uma das principais causas da diminuição da atividade biológica do solo, afetando diretamente o desenvolvimento das culturas. A regeneração, por meio da massa-verde das plantas de cobertura, consegue trazer mais conforto térmico para o ambiente, pois evita a incidência direta do sol no solo. Além disso, melhora a condição físico-química da área, dentre outros benefícios. as soluções da agricultura regenerativa ainda contribuem para a redução dos gases de efeito estufa.

EXPANSÃO PELO PAÍS

Este ano, a Cultura Agromais manterá seu plano de expansão no país. A empresa tinha inaugurado quatro unidades em 2022 e agora, em 2023, acaba de abrir uma unidade em Iturama/MG, totalizando 11 unidades em Minas Gerais e São Paulo. Até 2026, a estimativa é contar com 15 lojas da distribuidora de insumos no Brasil. O CEO da Cultura Agromais destaca que esse crescimento é focado na filosofia de atuar sempre próximos ao cliente, com um atendimento individualizado, e com soluções direcionadas para a saúde do solo, que é o grande patrimônio do agricultor. Desde 2005 atuando no segmento de distribuição de insumos, a Cultura Agromais oferece modernas soluções agronômicas e tecnológicas para lavouras, desde cuidado do solo, nutrição das plantas, combate a pragas e análises, além de oferecer soluções financeiras aos produtores rurais.

EXPORTAÇÃO PARA INDONÉSIA

O Ministério da Agricultura e Pecuária anunciou a habilitação de 11 plantas frigoríficas para a Indonésia, além da possiblidade de derrubada da suspensão da exportação de três plantas para a China. O Brasil está desde 2019 sem habilitar novas plantas frigoríficas para a China. A possibilidade de retirada da suspensão é para uma empresa de abate de bovinos e duas de aves, que estavam com as exportações para a China suspensas desde 2022. No caso da Indonésia, todas as novas habilitações são para plantas bovinas. Também foi anunciada a primeira abertura de mercado registrada pelo Brasil em 2023, que é a de algodão em pluma para o Egito. As negociações para a abertura do mercado iniciaram em 2006 sendo intensificadas a partir de 2020, resultando finalmente agora na abertura do mercado.

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CARNE DE LABORATÓRIO

A Embrapa Suínos e Aves está à frente de um estudo pioneiro no Brasil para desenvolver carne de frango cultivada em condições controladas de laboratório. O novo produto deve estar pronto para análises nutricionais e sensoriais até o final de 2023. Também caracterizada como proteína alternativa, a tecnologia recria tecidos animais em laboratório a partir de células animais, proporcionando carnes análogas às naturais. Trata-se de uma inovação que atende às atuais tendências de consumo e agregação de valor. Para produzi-la, células são extraídas de um animal e cultivadas (crescidas), primeiro em um meio nutritivo em escala laboratorial, depois em grandes biorreatores. O resultado se traduz na ampliação da capacidade de produzir proteína, diversificando as fontes de produção. O produto pode ser utilizado para produzir alimentos não estruturados, como hambúrgueres, embutidos e almôndegas ou estruturados, como filés e bifes. Entre os países que já estudam a carne de frango cultivada estão Canadá, República Tcheca, Estados Unidos, Japão, Israel, França, África do Sul e Suíça.

CARNE ORGÂNICA PROCESSADA

Para ampliar sua atuação com alimentos de origem reconhecida, sustentável e certificada, a Marfrig passou a processar carne orgânica em sua unidade, localizada em Hulha Negra, no Rio Grande do Sul. A matéria-prima chega ao Brasil por meio da operação da companhia no Uruguai, país onde a Marfrig é a maior processadora de carne bovina. A carne orgânica é proveniente de animais alimentados exclusivamente a pasto, livres de fertilizantes sintéticos, hormônios anabolizantes e estimulantes de crescimento. O produto também apresenta um menor nível de gordura intramuscular e de colesterol, contribuindo para uma alimentação mais saudável. No início de 2022, a unidade recebeu a certificação USDA Organic, da empresa IBD - maior certificadora de produtos orgânicos e sustentáveis da América Latina. Atualmente, a planta de Hulha Negra é a única da Marfrig no Brasil com certificação orgânica para produtos processados.

CRESCIMENTO NO GIROLANDO

A Associação Brasileira dos Criadores de Girolando encerrou o ano de 2022 com aumento no número de registros genealógicos efetuados no país. Segundo o Departamento Técnico, 93.551 mil registros foram efetuados. Com isso, o banco de dados da entidade chega a 2.131.370 registros, entre 1989 e 2022. O Serviço de Registro Genealógico da Raça Girolando tem como objetivo assegurar a identidade, a procedência e o desempenho dos animais, visando a formação da raça, e é considerado a base para o melhoramento genético do rebanho.

PORTEIRA ABERTA

CURSO ESTAÇÃO DE MONTA

A Embrapa Gado de Corte disponibilizou a capacitação “Fazendo Certo: como organizar a estação de monta em propriedades de gado de corte”, com inscrições gratuitas diretamente pela plataforma de cursos on-line da Embrapa, e-Campo. Nos três módulos disponíveis, divididos em 13 vídeos, são apresentadas as vantagens de se organizar a estação de monta, os aspectos fisiológicos e sanitários de fêmeas e machos, os índices zootécnicos e a relação com direta com a produtividade do rebanho, estratégias de acasalamento, como inseminação artificial (IA) e inseminação artificial em tempo fixo (IATF), dentre outros temas. Os vídeos duram em média, 15 minutos, e o objetivo é permitir ao participante do curso, fazê-lo em seu tempo, conforme sua disponibilidade. Como material de apoio, há indicação bibliográfica.

ÁREA IRRIGADA

Em 2022, o produtor rural passou a investir ainda mais em soluções de irrigação, com foco no aumento de produtividade. Desta forma, o segmento enfrentou um mercado aquecido e com muita demanda, não apenas pelo pivô central como também por tecnologias que o tornam ainda mais eficiente. Dentre as culturas que mais implementaram novas soluções de irrigação, vale destacar os grãos e a pecuária. De acordo com Sandro Rodrigues, Gerente Comercial Brasil da Valley Irrigation, a irrigação saiu do patamar em que crescia 150 a 200 mil hectares por ano e agora está crescendo na casa de 400 mil hectares/ano. Hoje, existem cerca de 8 milhões de hectares irrigados no Brasil e com aproximadamente 28 mil pivôs instalados. Os grãos seguem liderando em termos de crescimento, porém, a irrigação de pastagem ganhou um espaço até então novo. Aproximadamente 5% das vendas de irrigação da Valley foram destinadas à pecuária, um número expressivo, pois anteriormente esse mercado não representava nem 1% de vendas.

VAXXINOVA REFORÇA A ÁREA DE PECUÁRIA

A Unidade de Negócios Pecuária da Vaxxinova reestruturou sua equipe de trabalho em 2023, para reforçar o atendimento ao cliente e atender ao desenvolvimento do segmento de negócio da companhia. Na Gerência Nacional de Vendas, Luiz Carneiro Braga Júnior é o novo responsável pela estrutura comercial e como Gerente de Assuntos Estratégicos. Moura Junior será o encarregado do planejamento, execução e gestão dos assuntos mais relevantes, dando suporte as áreas de Vendas, Marketing e Técnica, bem como interface com outros departamentos da empresa como PCP, Financeiro, TI, Jurídico e P&D.

Pronto para os desafios da Frente Parlamentar da Agropecuária

ano de 2023 começou agitado em Brasília/DF e prome te levar muitas demandas para a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que congrega mais de 300 deputa dos federais e senadores ligados ao agronegócio. A partir de fevereiro, quem assume a presidência da entidade é o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), permanecendo no cargo até 2024. Produtor rural e empresário ligado ao cooperativismo, ele é deputado federal desde 2019. A tradição no agro e na política vem de família. Seu pai é o pecuarista e ex-deputado federal Abelardo Lupion, que já presidiu a FPA, e o bisavô, Moysés Lupion, já governou o Paraná. Em entrevista exclusiva à revista Pecuária Brasil, Pedro Lupion destaca os desafios que a bancada ruralista, a maior do Congresso, terá neste primeiro ano de governo PT. Ele ainda aborda os projetos que terão destaque e os avanços conquistados recen temente, como a adoção do Autocontrole, a Lei do Agro e o Fiagro. Com formação em Comunicação Social, o presidente da FPA tem consciência de que a imagem do setor perante a população precisa evoluir. “Queremos menos discurso ideológico e mais pensamento técnico e lógico nos noticiários”. É o que defende. Confira o bate-papo na íntegra:

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 28 ENTREVISTA
PEDRO LUPION
O

Pecuária Brasil - Quais as principais pautas devem entrar em discussão na FPA nesses primeiros meses do ano?

Pedro Lupion - Temos uma preocupação muito grande com relação ao desmantelamento do Ministério da Agricultura e Pecuária, que perdeu o Abastecimento. A Conab foi para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, assim como a agricultura familiar. O CAR, Cadastro Ambiental Rural, foi para o Meio Ambiente, entre outras mudanças. No Congresso Nacional, temos as pautas prioritárias do agro: o licenciamento ambiental, a regularização fundiária, a questão da demarcação de terras indígenas - há o processo do marco temporal no STF e um projeto de lei tramitando na Câmara para colocarmos em lei a questão.

Pecuária Brasil - Como a Frente parlamentar chega em 2023 dentro da nova configuração do Congresso Nacional? Estará mais fortalecida?

Pedro LupionSão grandes os desafios, mas nossa bancada ainda é a maior

do Congresso Nacional para fazer a força que o agro precisa nas duas Casas Legislativas. Temos algo em torno de 315 parlamentares. Esperamos mais força no Senado, onde houve mais dificuldades nos últimos anos. Teremos parlamentares lutadores, preparados para defender o setor, que conhecem o campo e com capacidade política para fazer articulações e nos ajudar a vencer os temas que interessam ao produtor rural.

Pecuária Brasil - O senhor disse que em 2022 a FPA avançou muito em projetos difíceis e estruturantes do setor. Quais seriam e qual o impacto desses avanços para o setor?

Pedro Lupion - Vou citar dois: tivemos o Autocontrole, conquista importante para a defesa agropecuária. Também aprovamos uma segunda Lei do Agro, texto também de minha autoria, a lei nº 14.421/2022, que ajudou ainda mais a desburocratizar o acesso ao crédito rural e facilitou a vida de muitos produtores rurais. Ela complementa nossa primeira Lei do Agro, a lei nº 13.986/2020. Outro avanço recente foi o Fiagro, os Fundos do Agronegócio do Brasil, que funcionam como fundos imobiliários e geram uma nova forma de financiar as atividades agropecuárias no país.

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Teremos parlamentares lutadores, preparados para defender o setor, que conhecem o campo e com capacidade política para fazer articulações.

ENTREVISTA

Pecuária Brasil - O PL Autocontrole foi sancionado nos últimos dias do governo Bolsonaro. Foi um projeto questionado pelos auditores fiscais, mas defendido pela FPA. O setor está preparado para se autorregular? Quais serão os benefícios?

Pedro Lupion - O Autocontrole foi um projeto que tive a honra de relatar na Câmara, uma iniciativa que contou com apoio da própria defesa agropecuária, dada a dificuldade de fiscalização do órgão. No Paraná, nossos frigoríficos vivenciam esses problemas, com, às vezes, apenas um fiscal para cobrir frigoríficos em uma área de milhares de quilômetros. Isso atrasa as autorizações, gera perdas na produção. Com o autocontrole, não tiramos o poder de polícia do estado. Apenas otimizamos os processos, ao permitir que as etapas mais técnicas do processo sejam feitas de maneira terceirizada. É menos burocracia e mais oportunidade para os produtores rurais, que estão preparados e desejam essas mudanças.

Pecuária Brasil - Como será a relação da FPA com os novos ministros ligados ao agro, do MAPA, Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente? Quais são as principais demandas que a FPA pretende levar ao atual governo?

Pedro Lupion - O ministro Favaro tem se demonstrado um parceiro do agro brasileiro. Ele foi presidente da Aprosoja, sabe os desafios do campo. Temos conversado bastante com ele e com a equipe. Temos membros do Instituto Pensar Agro (IPA) dentro do ministério e estamos conseguindo um bom diálogo. Nos preocupa muito o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Lá, está o deputado Paulo Teixeira que, logo na posse, disse que quem mandava eram movimentos como MST, Via Campesina, CONTAG. Não posso entender que vá haver responsabilidade, fazendo valer e respeitando os interesses dos produtores rurais brasilei-

ros. No Meio Ambiente, a ministra Marina Silva, historicamente, em suas gestões, causou prejuízos enormes ao agro. Nos preocupa muito. Cabe ao Ministério da Agricultura a responsabilidade de ser o grande embaixador para que essa equação funcione direito e o Brasil não pare. Para que sejamos respeitados à altura da nossa importância.

Pecuária Brasil - Uma das primeiras ações do governo Lula foi extinguir a Diretoria Agrícola do Ministério de Relações Exteriores. Acredita que essa situação poderá ser revertida?

Pedro Lupion - Depois de uma crítica contundente que nós da FPA fizemos sobre o fim da Secretaria de Agricultura no Itamaraty, responsável pela abertura de mais de 200 novos mercados no governo passado, conversei com o ministro Mauro Vieira. Ele me disse que, apesar do fim da secretaria, os adidos agrícolas e comerciais vão continuar, mas preocupa muito que a gente só perde espaço, só perde força e é tratado como inimigo neste governo.

reverter essa situação junto à população em geral?

Pedro Lupion - Há uma certa dificuldade em dar ao agro a atenção e o destaque positivo que merece no noticiário nacional. Pelo contrário, historicamente o setor sempre foi tratado como um pária, o “rico fazendeiro que agride índios, sem-terra” e outros absurdos. Com o tempo e o trabalho da FPA, temos obtido espaço para apresentar o contraditório, e explicar algo que o novo governo ainda não entendeu: tanto o pequeno como o grande produtor rural querem gerar oportunidade, emprego, renda. Querem exportar, alimentar o mundo. Aí quando você separa e coloca o pequeno agricultor no MDA e os demais no MAPA, você cria um cenário de conflito no campo entre grupos que têm os mesmos objetivos. Isso gera preocupação. Queremos menos discurso ideológico e mais pensamento técnico e lógico. O agro é fundamental para o desenvolvimento do país. E por isso fazemos a defesa intransigente dos produtores rurais.

Pecuária Brasil - Como vê a responsabilidade de assumir a FPA, entidade que dá suporte a uma das bancadas mais fortes do Congresso?

Pecuária Brasil - O senhor tem formação profissional em Comunicação, uma área considerada um ponto fraco do agro. Como

Pedro Lupion - Uma responsabilidade imensa de representar o agro e os produtores rurais. De continuar o grande trabalho desempenhado, mais recentemente, pela hoje senadora Tereza Cristina, pelos deputados Alceu Moreira, Sérgio Souza, e outros que lhes antecederam. Inclusive o meu pai, o ex-deputado Abelardo Lupion. Somos mais de 300 parlamentares no Congresso dispostos a fazer a defesa intransigente dos produtores rurais.

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O agro é fundamental para o desenvolvimento do país. E por isso fazemos a defesa intransigente dos produtores rurais.

EXPOSIÇÕES DE GIROLANDO

A agenda de exposições e eventos nos primeiros meses de 2023 com a presença da raça Girolando será aberta pela 3ª Exposição Ranqueada de Gado Jovem Girolando, que acontecerá de 23 a 26 de março, no Parque de Exposições de Resende Costa, no estado de Minas Gerais. O julgamento da raça está previsto para o dia 24 de março. De 10 a 15 de abril, acontecerá em Leopoldina/MG, a Exposição Interestadual de Girolando - Circuito Megaleite 2022/2023Etapa Sul/Sudeste. Quem comandará o julgamento será o jurado Fábio Fogaça. A XXXIII Exposição Agropecuária e Industrial de Oliveira está marcada para o período de 18 a 20 de maio e será ranqueada pela Girolando. O jurado será Gustavo Sousa Gonçalves. Já de 29 de abril a 7 de maio acontecerá a Exposição Interestadual de Girolando - Circuito Megaleite 2022/2023Etapa Uberaba. O evento integra a programação da 88ª ExpoZebu.

EXPOZEBU 2023

Com inscrições abertas até o dia 21 de abril, a 88ª edição da ExpoZebu será realizada de 29 de abril a 7 de maio, no Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG). Uma novidade será a adoção do julgamento da categoria “Nelore Pelagens”, com avaliação separada de Nelore e Nelore Mocho de pelagens vermelha, malhada ou pintada de vermelho, malhada ou pintada de preto, amarela, malhada ou pintada de amarelo e preta totale baeta (cinza). Outra novidade é que, para as raças com até 100 animais inscritos, a modalidade de julgamento será de jurado único. Para as raças com mais de 100 animais inscritos, a modalidade de julgamento será de Comissão Tríplice.

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VALORIZAÇÃO DO GIR LEITEIRO

As Fazendas Unidas Ita, em Itaguaí/RJ, sediaram um encontro entre criadores de raças Gir Leiteiro e Girolando da região do Rio de Janeiro e Zona da Mata, que ocorreu no final de setembro. Durante o evento, eles debateram sobre a possibilidade de promover as raças por meio da realização de exposições regionais e leilões. O anfitrião do dia Felipe Raunheitti apresentou aos criadores presentes exemplares de seu plantel e encerrou o encontro leiloando uma bezerra de seu criatório, Importância FIV. Metade de sua posse foi vendida ao criador Pedro Meireles, pelo valor de R $80 mil.

EXPO GOIÂNIA

A 3ª Exposição Internacional do Gir Leiteiro de Goiás ocorreu de 6 a 12 de dezembro, no Parque de Exposições Agropecuárias Pedro Ludovico Teixeira, com torneio leiteiro, circuito acadêmico, workshops, julgamentos e leilões. As competições da raça reuniram mais de 200 animais de 22 expositores. A Grande Campeã foi Lacuna FIV Wadi, do expositor Luiz Eduardo Branquinho, também agraciado com o título de Melhor Expositor. O Grande Campeão foi Teórico FIV F Mutum, do expositor Leo Machado Ferreira, que levou para a casa o troféu de Melhor Criador. No torneio leiteiro, a Grande Campeã foi Indaiá F Recreio, que produziu 230.580 kg/leite, com média de 76.860 kg/leite. Ela pertence a Luiz Eduardo Branquinho. A realização do evento foi uma iniciativa do Núcleo Goiano dos Criadores de Gir Leiteiro (Gir Leiteiro Goiás). “O Brasil, que um dia importou o Gir da Índia, hoje é um exportador de genética da raça. Alguns dos principais criatórios do País estão em Goiás. Nosso objetivo com o evento foi mostrar esse crescimento da raça no Estado e impulsionar ainda mais seu desenvolvimento, promovendo o intercâmbio com criadores de todo o País e da América do Sul”, afirma o presidente da Gir Leiteiro Goiás, Claudio Gonzaga.

PECUÁRIA 360O

NELORE FEST

A tradicional premiação anual dos melhores da raça, a “Nelore Fest”, reuniu criadores de todo o país, na capital paulista, no dia 12 de dezembro. Durante o evento, a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) premiou os campeões do Ranking Nacional Nelore e do Ranking Nacional Nelore Mocho e os vencedores do 24º Circuito Nelore de Qualidade. A novidade da edição de 2022 foi a premiação dos campeões do Circuito no Paraguai e na Bolívia, que tiveram suas contabilizações separadas das etapas nacionais. “Os campeões dos rankings merecem o nosso reconhecimento, pois se manter em alto nível e vencer diferentes exposições durante todo o ano é um enorme desafio. O mesmo vale para os campeões do Circuito Nelore. Por isso, aplaudimos os líderes de cada competição, mas não apenas eles. A raça Nelore é composta por milhares de criadores e todos contribuem para o sucesso da raça”, disse o presidente da ACNB, Nabih Amin El Aouar.

PREMIADOS

No Nelore Fest, os criadores foram agraciados em diversas categorias. Dentre elas, a Grande Final Nelore - Ranking Nacional Nelore 2021/2022 premiou a Rima Agroflorestal Ltda (Medalha de Ouro Melhor Expositor Nelore da Liga dos Campeões). Já a Grande Final Nelore Mocho - Ranking Nacional Nelore 2021/2022 foi vencida por Udelson Nunes Franco (Medalha de Ouro Melhor Expositor Nelore Mocho). Na categoria Super Copa, venceram: Henrique e Juliano Produções e Eventos (Medalha de Prata Melhor Expositor Nelore da Super Copa do Ranking); Paulo de Castro Marques (Medalha de Ouro Melhor Expositor Nelore da Super Copa do Ranking); José Antônio Furtado (Medalha de Ouro Melhor Supremo Nelore da Super Copa do Ranking). No Ranking Nacional Bolívia 2021/2022, Osvaldo Monasterio Rek venceu como Melhor Criador Nelore e Melhor Expositor e Melhor Criador Nelore Mocho, enquanto a Cabanha Santiago foi o Melhor Expositor Nelore.

52º EMAPA AVARÉ 2022

Mais uma vez a Exposição Municipal Agropecuária e Industrial de Avaré (Emapa) levou diversas raças bovinas para o parque de exposições da cidade. O evento aconteceu entre os dias 2 e 11 de dezembro. Na raça Nelore, participaram 19 expositores de São Paulo, Minas Gerais e Pará, com 147 animais em julgamento conduzido pelos jurados Fabio Eduardo Ferreira, Lucyana Malossi Queiroz e Rafael Mazão Ghizzoni. A Emapa sediou a 6ª Exposição Regional do Gir Leiteiro de Avaré, com 16 expositores e 140 animais para julgamento e torneio leiteiro. O jurado Carlos Matheus Arantes Pereira conduziu a escolha dos campeões. Já na raça Guzerá quem julgou foi Roberto Vilhena Vieira. Participaram 39 animais de sete expositores dos estados de Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No Tabapuã, o jurado José Augusto de Barros conduziu os trabalhos em pista. Participaram 51 animais de sete expositores dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Amazonas. Outras raças participantes foram Simental leiteiro, Sinlandês, Girolando e Santa Gertrudes.

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 33

CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DO AGRONEGÓCIO

No dia 29 de março, acontecerá a 3ª edição do Congresso Brasileiro de Direito do Agronegócio (CBDA), que tratará de quatro temas fundamentais para sustentar a missão do setor de produzir alimentos nutritivos, fibras e energia com produtividade e sustentabilidade, a fim de contribuir para diminuir a insegurança alimentar e a crise energética no mundo. São eles: Mercado de Carbono – Regulamentação Setorial, Reforma Tributária e Regimes Fiscais Especiais, Investimento Estrangeiro e Direito de Propriedade – Proteções e Restrições e Bioeconomia e o Futuro das Cadeias Agroindustriais. O evento terá formato híbrido – presencialmente, em Brasília/DF, para convidados, e transmitido virtualmente, de forma gratuita, pelo site da entidade (https://congressodireitoagro.com.br/).

MEGALEITE

Maior exposição da pecuária leiteira da América Latina, a Exposição Brasileira do Agronegócio do Leite (Megaleite) já tem data definida em 2023. A 18ª edição do evento acontecerá no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte/MG, entre os dias 7 e 10 de junho de 2023. A expectativa da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando é que a Megaleite supere o número de animais participantes, já que voltará a contar com a presença de bubalinos. A Associação Brasileira dos Criadores de Búfalo anunciou que, durante a exposição, realizará torneio leiteiro e julgamento, além de Encontro Anual. Também são esperadas as participações das principais raças bovinas leiteiras do país, como Girolando, Gir Leiteiro, Holandês, Simental, Simbrasil, Jersey, Jersolando, Guzerá, Guzolando.

AGRISHOW

A 28ª edição da Agrishow já tem dias e horários definidos. O evento será realizado em Ribeirão Preto (SP) de 1º a 5 de maio, com movimentação de visitantes das 9h às 18h. De acordo com os organizadores, o horário — que será diferente em relação a edições anteriores — visa ajudar na mobilidade, tanto de expositores quanto do público em geral. Ainda segundo os organizadores, a nova edição da feira contará com atividades que visam levar conhecimentos aos profissionais que movimentam o agronegócio brasileiro. Para isso, algumas ações realizadas no ano passado serão mantidas na programação. Serão os casos, por exemplo, de três espaços: Agrishow Pra Elas - dedicado às mulheres do agro; Agrishow Labs - com a participação de startups que incrementam produtividade e qualidade às lavouras brasileiras; Arena de Drones - para exposição de equipamentos do tipo. Em 2023, a Agrishow contará com a participação de mais de 800 marcas — nacionais e internacionais — que irão apresentar novidades e recursos em prol do agronegócio.

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 34 PECUÁRIA 360O

PREMIAÇÃO MELHORES FAZENDAS

As melhores fazendas leiteiras que participam do Alta Cria foram premiadas em dezembro. A grande campeã foi a fazenda Santa Rita Agrindus, de São Paulo, produtora do leite Letti; o 2º lugar ficou com a Agropecuária Gabriel, da Bahia, seguido pelas propriedades mineiras: Fazenda Sertãozinho, Fazenda Cobiça e Haras Primavera. Durante o evento, foi apresentado o resultado do Alta Cria em 2022, que contou com 138 fazendas participantes de 13 estados brasileiros. Em seis anos de programa já foram coletados dados de 36 mil bezerras leiteiras no Brasil. O levantamento revelou que a falha na transferência de imunidade passiva é um dos principais fatores relacionados à morte de bezerras. De acordo com o estudo, a mortalidade das bezerras do programa caiu de 8% para 6% em 2022. A primeira colocada no ranking Alta Cria, por exemplo, chegou a 1% na taxa de mortalidade.

IMPÉRIO LEILÕES COMPLETA UM ANO

Um dos maiores recintos de comercialização de bovinos do Brasil, a Império Leilões completou um ano de operação no mês de dezembro e comemorou a data com mais um leilão realizado. Foram ofertados cinco mil exemplares Nelore, anelorados e cruzamento industrial para cria, recria e engorda, atingindo quase 99% de vendas. Já em janeiro o recinto, localizado em Uberaba/MG, sediou mais um pregão de 2 mil bovinos para confinamento. Segundo Marcelo Cunha Farah, um dos proprietários da Império Leilões, o momento é de forte demanda por bovinos de qualidade. “O mercado pecuário segue firme. Em todos os remates que realizamos em 2022 tivemos liquidez média de 94%. Para o próximo ano, nossa expectativa é abranger um número ainda maior de compradores em todo Brasil. Esse crescimento é resultado de um trabalho com responsabilidade e respeito ao bem-estar animal, e com transparência nas pesagens do gado”, assegura.

BIOINSUMO PARA CANA-DE-AÇÚCAR

Duas bactérias identificadas pela Embrapa em seu banco de microorganismos, que podem aumentar a absorção de fósforo pelas plantas, mostraram ganhos comprovados no cultivo da cana. Segundo dados da pesquisa da Embrapa, o ganho de produtividade foi de 20% com o primeiro inoculante solubilizante de fósforo desenvolvido no Brasil com recomendações agronômicas validadas para o cultivo da cana-de-açúcar, batizado de Omsugo ECO e comercializado pela multinacional Corteva Agriscience. O novo bioinsumo reduz a necessidade de aplicações de fertilizantes fosfatados, resultando em ganhos econômicos e maior sustentabilidade ambiental. A solução tem como foco aproveitar o fósforo retido no solo e melhorar significativamente o uso do fertilizante fosfatado, contribuindo para um salto de produtividade e longevidade do canavial.

MERCADO DE TRABALHO

NOVIDADE NO CEPEA LEITE

Atendendo a uma antiga reivindicação do setor leiteiro por maior clareza quanto ao período de referência de sua pesquisa, o Cepea realizará um ajuste na nomenclatura do preço do leite cru a partir de janeiro de 2023. No lugar de nomear a informação de acordo com o mês em que houve pagamento (como vem sendo feito desde 2004), o Cepea passará a adotar o mês de captação do leite cru como referência para nomear os dados divulgados. Essa mudança se refere apenas à nomenclatura do dado, não ao processo de coleta de informações e cálculo das médias.

Levantamento realizado pela consultoria de recrutamento Michael Page mostra que o agronegócio foi destaque positivo no mercado de trabalho brasileiro em 2022. Segundo a pesquisa, 100% dos cargos mapeados do setor tiveram aumento salarial em 2022. Duas funções apresentaram os maiores ganhos salariais no país ao decorrer do ano passado. Ambos os cargos apresentam o mesmo nível de liderança e, além disso, tiveram o mesmo percentual de aumento médio dos vencimentos: gerente de fazenda e gerente de produção, com valorização de 15%. Apesar de destacar que todos os cargos do setor analisados registraram aumento salarial, o levantamento aponta que profissionais do agro do país podem ser mais bem valorizados. Isso porque, no geral, registra-se espaço para o crescimento de serviços relacionados à tecnologia e, principalmente, à sustentabilidade.

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 36

RAÇA

Dupla aptidão

CRIADORES DE SINDI DEBATEM O FUTURO DA RAÇA

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 37
DEP
NELORE MOCHO
DE CARÁTER MOCHO COMEÇA A SER UTILIZADA PELOS CRIADORES
SELEÇÃO
. GENÉTICA . CRIAÇÃO . LEILÕES
#pecBR

Caráter mocho com alta acurácia

DEP lançada pela ANCP é a aposta de criadores de Nelore Mocho para elevar a previsibilidade do fenótipo a índice superior a 90%

Apróxima safra de bezerros da Fazenda Santa Gina, localizada no município de Presidente Epitácio/ SP, está sendo muito aguardada por um motivo especial. Pela primeira vez o criatório CV Nelore Mocho utilizou nos acasalamentos a DEP para o caráter Mocho, lançada no final de 2022 pela Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP). “Antigamente, para saber se o animal era realmente mochador homozigoto, era preciso ter um

monte de filhos dele para avaliar. Agora, já é possível ter a informação com bastante acurácia, com índice de acerto muito grande”, conta o criador Carlos Viacava, cujo rebanho é composto por cinco mil animais, entre matrizes, reprodutores, bezerros e animais em fase de recria.

Na safra de 2021, o criatório já tinha utilizado informações genômicas sobre o caráter mocho no momento do acasalamento de um lote de bezerras. O resultado foi um nível de acerto na predição dos fenótipos superior a 95%. “A ferramenta facilita

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muito a tomada de decisão na hora de um acasalamento dirigido. Acho que vai ser uma revolução, pois irá valorizar ainda mais os animais mochos que possuem DEPs altas para essa característica”, comenta.

A nova DEP atende a uma demanda antiga dos criadores de Nelore Mocho, que sempre buscaram formas de acasalar uma fêmea para produzir um animal mocho. “Naquela época, nos baseávamos apenas nas informações visuais e nos pedigrees para tentar acertar os acasalamentos que gerassem o maior número de animais mochos. Por vezes, acabávamos escolhendo um animal para ser o pai da próxima geração apenas por este critério” explica o criador.

O CEO da marca CV Nelore Mocho, Ricardo Viacava, reforça que a nova DEP é importante para produção de animais mochos, pois ajuda a identificar um touro que vai mochar uma grande parte ou toda a produção, e até os cruzamentos.

A base de dados da CV, assim como da Marca OB, dois grandes criatórios da raça no país, foi utilizada para o desenvolvimento da DEP. A pesquisa avaliou mais de 6 mil dados fenotípicos de animais das duas propriedades, nas variedades mocho, mocho heterozigoto, calo ou batoque e padrão. Além disso, foram avaliados mais de 21 mil genótipos de animais mochos e aproximadamente 50 mil animais no pedigree. “Os resultados foram muito expressivos, uma vez que a DEP alcançou previsibilidade do fenótipo com acurácia acima de 90%. São números fantásticos e superaram nossas expectativas”, diz o diretor de Pesquisa e Inovação da ANCP, Fernando Baldi.

O pesquisador explica que existem no mercado vários marcadores genéticos para ausência ou presença de chifres nas raças taurinas, mas que no caso dos zebuínos, algumas empresas até começaram a desenvolver esses marcadores, mas devido a sua aplicabilidade em nível comercial muito restringida, os trabalhos não avançaram. “As poucas informações que existem sobre as raças zebuínas dão conta que os genes que influenciam a característica mocho são

Fernando Baldi Carlos Viacava
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diferentes dos taurinos e que quando são incluídas as variantes batoque e calo (que não é mocho e nem chifre), os mecanismos de herança se tornam ainda mais complicados para se desenvolver um painel de marcadores, considerando essas variações fenotípicas”, ressalta.

Segundo ele, os trabalhos existentes e as pesquisas da ANCP comprovam que são vários os genes que afetam a presença de mochos. Isso levou a entidade a criar a DEP, que prevê qual o percentual que um touro ou matriz poderá produzir de filhos mochos, com utilidade para termos comparativos.

Valorização do mocho no mercado

Com o mercado de carne bovina aquecido nos últimos anos, especialmente as exportações que cresceram 26% em volume em 2022, a maior oferta de animais mochos melhoradores beneficia a pecuária brasileira em geral. Para atender os critérios dos programas de qualidade de carne, como o do Angus, por exemplo, os bovinos têm de ser totalmente mochos. Nos confinamentos, a predominância é da genética zebuína, inclusive nos cruzamentos com outras raças. O levantamento feito pela Scot Consultoria, para o projeto Confina Brasil, apontou que, em 2022, 34,1% das cabeças confinadas eram aneloradas, o maior percentual entre as raças utilizadas.

Entre os benefícios do caráter Mocho estão o bem-estar animal, a segurança para os colaboradores, com a diminuição dos cortes e hematomas e os programas de bonificação. “Além desses benefícios, o Nelore Mocho pode contribuir com a produção de carne de qualidade. São animais bem avaliados para as características frigoríficas, garantindo carcaças bem-acabadas e de bom ganho de peso”, destaca João Arnaldo Fernandes Moreira, responsável pela parte de pecuária da Marca OB, cuja propriedade está localizada em Pontes e Lacerda/MT.

Considerado o berço do Nelore Mocho, o criatório, fundado por Ovídio Miranda de Brito, foi o primeiro do país a ter animais registrados pela ABCZ, nessa variedade: o touro Caburey e a vaca Simpatia.

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Primeiro registro de uma vaca Nelore Mocho no Brasil ocorreu em 1969 na OB
RAÇA

Mais de 50 anos depois desse feito histórico, a OB dá mais um passo importante na evolução da variedade, incorporando a seu sistema de seleção a nova DEP. “Temos um trabalho muito sólido de melhoramento, com a utilização somente de touros mochos, o que vem nos permitindo zerar o nascimento de animais com chifre em nosso rebanho. Nesta próxima estação de monta, já vamos utilizar a DEP nos acasalamentos, pois acreditamos que, unindo ciência e conhecimento prático, poderemos aumentar o ganho genético consideravelmente”, diz Moreira.

Segundo ele, a ferramenta contribuirá para agregar valor ao Nelore Mocho, já que tem alta acurácia. “Inicialmente, a DEP servirá para sinalizar a intensidade na utilização de reprodutores de outros criatórios em nossos acasalamentos e vai permitir diminuir as chances de erro nos acasalamentos e com o tempo teremos uma acurácia ainda maior nesta avaliação”, diz.

Para o comprador será uma garantia maior de que realmente está levando para seu rebanho essa característica. “É a confiabilidade que o mercado exige”, acrescenta. A OB ainda utiliza a genômica em sua seleção. Outras características que valoriza são fertilidade, leite, conversão alimentar, umbigo corrigido, além de desenvolver trabalhos pioneiros de identificação de linhagens para produzir carne de qualidade, culminando em marcadores moleculares para identificação dos genes da Maciez e

Raysildo
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Família Nunes Franco comemora as premiações conquistadas com o fechamento do Ranking Nacional 2021-2022

UNFF728 AGRA FIV ANGICO

Kayak TE Mafra x Agra FIV Angico (Cartucho MBA)

UNFF1355 LINDA FIV ANGICO

Cartucho MBA x Santista TE Angico (Siso FC)

Udelson Nunes Franco

Campina Verde MG

+55(34) 3412-2050

+55(34) 9 9964-1133

fazendaangico@uol.com.br

Medalha de Ouro

Melhor Expositor Nelore Mocho - Racking Nacional ACNB 2021/2022

Medalha de Ouro

Melhor Criador Nelore Mocho - Racking Nacional ACNB 2021/2022

• RANKING REGIONAL NELORE E NELORE MOCHO 2021/2022

Medalha de Ouro Melhor Fêmea Jovem Nelore Mocho com MIKAELA FIV ANGICO

Medalha de Bronze Melhor Fêmea Jovem Nelore Mocho com MELISSA FIV ANGICO

Medalha de Bronze Melhor Fêmea Adulta Nelore Mocho com MAJU FIV ANGICO

Medalha de Ouro Melhor Matriz Nelore Mocho com AGRA FIV ANGICO

Medalha de Bronze Melhor Matriz Nelore Mocho com LINDA FIV ANGICO

Medalha de Ouro Melhor Macho Jovem Nelore Mocho com NILO FIV ANGICO

Medalha de Bronze Melhor Macho Jovem Nelore Mocho com NEVAL FIV ANGICO

• RANKING NACIONAL NELORE E NELORE MOCHO 2021/2022

Medalha de Ouro Melhor Expositor Nelore Mocho - Ranking Minas Gerais

Medalha de Ouro Melhor Criador Nelore Mocho - Ranking Minas Gerais

O melhor da genética da Fazenda Angico, em seus 55 anos de seleção e que detém o título atual de Melhor Criatório do Ranking Nacional ACNB Nelore Mocho, estará disponível ao mercado, sem reservas durante a ExpoZebu.

AG UAR D EM !

Sinal verde para os touros da Bolívia

Com a recente abertura do protocolo sanitário entre os dois países, a expectativa é de que as primeiras importações ocorram ainda neste primeiro semestre de 2023

ABolívia prepara-se para enviar touros zebuínos para o Brasil. Os dois países assinaram protocolo sanitário que permite a importação, ampliando o comércio bilateral de genética que contemplava o embarque de sêmen. Na visão do gerente geral da Associação Boliviana de Criadores de Zebu (Asocebu), Fernando Baldomar, o protocolo trará ganhos para a pecuária local. “É uma conquista importante para os selecionadores bolivianos, que agora poderão provar a qualidade de seus animais em um mercado de grande escala, como o brasileiro. Ambos os países avançaram muito nos últimos anos em termos de qualidade genética e essa ampliação da parceria só beneficia a pecuária da América Latina”, afirma. Entre os criatórios que já iniciaram as negociações com o Brasil está a Cabaña Moxo, situada a 110 km ao norte de Santa Cruz de la Sierra. Fundada em 2004 pelos irmãos Marcelo e Carlos E. Muñoz, a marca é uma grande fornecedora de reproduto-

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LARISSA VIEIRA
RAÇA

res Nelore e Nelore Mocho em seu país. Para a formação de sua base genética, utilizou em seus acasalamentos a genética de touros consagrados do Brasil. “Em 2022, essa foi a conquista mais importante para a nossa pecuária. Vamos poder exportar a genética selecionada na Bolívia. Tenho certeza de que será uma excelente contribuição para a melhoria da pecuária do Brasil”, acredita Carlos Muñoz.

Entre os animais do criatório que devem ser importados estão Poker FIV Moxos e Palermo FIV Moxos. “São touros jovens de excelente pedigree, diferentes do padrão habitual do Brasil”, explica Julio Nacif Olhagaray, proprietário da Corvet (Corporación Veterinaria), empresa que comercializa sêmen e produtos veterinários na Bolívia.

Filho de Bronce FIV Camparino em vaca Bitelo DS, Palermo é um reprodutor com destaque nas pistas e conquistou um grande campeonato em exposição boliviana aos 13 meses de idade. Apresenta muita precocidade de carcaça. Já Poker (Épico RG x Campeón MN) foi campeão terneiro jovem aos 8 meses, muito precoce e com um pedigree mais aberto para o Nelore Mocho.

A aposta de todos é que a abertura do protocolo contribuirá para o maior uso da genética boliviana pelos pecuaristas brasileiros, já que poderão ver pessoalmente os touros nas centrais. “Os dois processos de exportação, sêmen e animais vivos, são burocráticos. No caso dos reprodutores, será preciso fazer quarentena em local autorizado, cumprir uma série de requisitos zoosanitários e realizar exames para diversas doenças. Mas, para o comprador, é mais interessante ter a oportunidade de ver o touro em coleta na central do que por fotos ou vídeos”, informa Olhagaray.

Um dos especialistas brasileiros de maior atuação na Bolívia, Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, lembra que os dois países sempre tiveram uma relação estreita na pecuária zebuína. “A ABCZ e a Asocebu possuem um

histórico de parcerias em prol do Zebu, sendo a primeira delas a do início do registro genealógico do rebanho boliviano na década de 70. Mais recentemente, em 2017, foi firmada a parceria para o PMGZ Internacional, permitindo aos criadores bolivianos o incremento de produtividade, por meio das ferramentas do programa, como o Sumário de Touros, e também do Produz e do PMGZ Comercial”, esclarece o vice-presidente da ABCZ.

A Bolívia foi o primeiro país a aderir ao PMGZ Internacional, sendo também o primeiro a ter uma edição do Sumário de Touros do programa, publicado em 2018, com avaliações genéticas de reprodutores Nelore dos criatórios daquele país. Outra parceria de longa data é com a faculdade Fazu, que vem recebendo estudantes bolivianos. Além disso, várias empresas brasileiras atuam por lá, oferecendo serviços e tecnologias para a pecuária.

Segundo Arnaldo Manuel, o mercado pecuário do país vem se consolidando por conta do avanço genético do rebanho nos últimos anos, sendo exportador de carne bovina para Chile, Equador, China, dentre outros.

“A Bolívia tem um rebanho Nelore Mocho excepcional, bem como de Nelore, e vem avançando em outras raças, como Brahman, Sindi e Gir Leiteiro”, informa.

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Carlos Muñoz

Os rumos da dupla aptidão do Sindi

Técnicos e criadores debatem as perspectivas para a raça e o melhor aproveitamento de suas potencialidades para produção de carne e de leite

Adupla aptidão é uma característica peculiar de determinadas raças bovinas, incluindo algumas zebuínas, que vem sendo explorada na pecuária brasileira com bons resultados. Mas, dentro da história da seleção do zebu no país, cada raça tem trilhado um caminho diferente. No caso do Guzerá, a dupla aptidão é valorizada como um diferencial, porém, ao longo dos últimos anos, há uma tendência por selecionar linhagens de corte separada da de leite. Na raça Gir, que, no início da sua seleção no Brasil, foi usada largamente para a produção de carne, o direcionamento mudou nas últimas décadas, tornando-se referência em genética zebuína leiteira, porém há manutenção da dupla aptidão, com determinados rebanhos selecionando linhagens de corte.

A raça Sindi também trilha o caminho da dupla vocação. Com menos tempo de seleção no país do que Guzerá e Gir, o gado vermelho importado do Paquistão vem apresentando bons resultados nas duas vertentes. Os rumos da raça neste quesito ainda não é uma unanimidade, apesar de boa parte dos criadores defenderem a continuidade da dupla aptidão. “O Sindi exterioriza essa dupla aptidão de forma nata, com carcaça belíssima, ótimo úbere e uma produção a baixo custo de carne e de leite, esse em volume menor que outras raças, mas com sustentabilidade. Isso é muito salutar para a raça”, assegura o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Sindi (ABCSindi), Orlando Procópio.

Segundo ele, a raça passa por um crescimento expressivo em todos os aspectos. As vendas de sêmen subiram 565% entre 2018 e 2022, saltando de 35.503 doses para 236.230. “O carro-chefe do Sindi é a dupla função”, garante.

É o que pensa também o médico-veterinário e membro do Colégio de Jurados das Raças Zebuínas, Antônio Carlos de Souza. “O Sindi apresenta resultados muito bons em cruzamentos, imprimindo uma padronização dos produtos, sem deixar de lado a produção de leite. Essa vocação da raça deve prevalecer”, destaca.

O criador Adaudio Castilho faz coro à preservação da dupla aptidão. “Assim como todas as raças zebuínas tiveram evolução, o Sindi também tem avançado e deve continuar sendo melhorada geneticamente tanto para corte quanto para leite. Ela conquistou espaço no mercado brasileiro justamente por essa particularidade”, opina Castilho.

Dupla aptidão na prática

O pecuarista Alberto Rodrigues da Cunha Júnior cria a raça há dois anos e meio em Três Lagoas/MS, onde está baseado seu criatório Sindi Aroeira. Como trabalha com engorda de gado a pasto na região do Chaco paraguaio, viu na rusticidade do zebuíno vermelho uma alternativa para melhorar o desempenho de seu rebanho comercial. O Chaco tem grandes oscilações de temperatura, com verões mais quentes e invernos bem frios, parecido com a região de origem do Sindi, no Paquistão. Por conta disso, o gado cruzado apresenta muita infestação de carrapatos.

No ano passado, o criador inseminou a vacada cruzada com Sindi para melhorar a rusticidade, a docilidade e a precocidade de abate. “A raça caiu como uma luva para o Chaco, pois lá é difícil de encontrar mão de obra qualificada para manejar animais que não tenham temperamento tão dócil como o Sindi”, explica.

Como também pretende atender a pecuária leiteira do Paraguai, Alberto está selecionando linhagens mais leitei-

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RAÇA

ras de Sindi. “O leite é um fator que vem a acrescentar na pecuária comercial de corte, mas é preciso saber como ele funciona a campo neste tipo de rebanho, ou seja, o que fazer com esse leite. Acredito ser desnecessário um gado direcionado ao corte com tanto leite ofertado pela mãe. Sem falar que exige funcionários preparados para manejar os animais de dupla aptidão. Vai chegar uma hora que o Sindi terá de separar as aptidões”, defende.

Melhoramento da dupla aptidão

A raça participa do PMGZ Corte e do PMGZ Leite e conta com vários touros avaliados para ambas as aptidões. O superintendente Técnico da ABCZ, Luiz Antonio Josahkian, explica que a dupla aptidão é um duplo desafio. “Se o criador sabe aonde quer chegar, o passo seguinte é definir como chegar lá, quais são os critérios de seleção. Na dupla aptidão, é preciso medir carne e leite. O melhoramento deve ocorrer de forma equilibrada. Além disso, é preciso entender que os ganhos genéticos são proporcionalmente menores quando as duas aptidões são trabalhadas juntas” diz Josahkian.

A gerente do PMGZ Leite, Mariana Alencar, defende a importância do controle leiteiro para a evolução da raça, pois gera dados oficiais de desempenho dos animais que podem contribuir para a seleção de exemplares de

melhor produção leiteira. “Futuramente, se forem identificadas e selecionadas linhagens leiteiras, os criadores que quiserem atender o mercado de cruzamento para leite terão de se preocupar também com a conformação leiteira dos animais. Esse direcionamento da seleção deve ser dado pela associação”, alerta.

Fausto Pereira Lima, um dos nomes mais importantes da pesquisa pecuária, defende que, para produzir leite, o Sindi deve ser separado da seleção para corte. “Sindi para leite tem que modificar o sistema mamário e, com isso, o períneo ficará mais curto e o traseiro na sua parte interna ficará com pouca musculatura. Um trabalho de longo prazo, onde precisa escolher touros que transmitam esta característica. Achamos que o Sindi é A2A2 por natureza, sendo assim, o leite da vaca Sindi poderá ser muito valorizado. Seleção para gado de leite é diferente de seleção para corte”, atesta.

Segundo ele, o Sindi é um gado muito uniforme, com conformação definida, e os criadores não deveriam modificar essa característica. “O que queremos do Sindi agora, em um gesto mais profundo, não é o Sindi de cada um, mas o Sindi de todo mundo”, finaliza o pesquisador.

A dupla aptidão foi debatida durante o “Fórum e Encontro Técnico – Cenários e Perspectivas para a Raça Sindi”, realizado nos dias 2 e 3 de fevereiro, em Uberaba/MG.

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De volta às competições

Expoinel Minas abriu o calendário de exposições na pista mais concorrida o país

capital do zebu voltou a receber os criadores de Nelore para um dos eventos mais concorridos do Ranking Nacional da raça. De 1º a 4 de fevereiro, a Expoinel Minas 2023 levou para a pista de julgamento do Parque Fernando Costa, em Uberaba/ MG, 457 animais, de 57 expositores. Eles foram julgados pelos jurados Célio Arantes Heim, Gilmar Cerqueira de Miranda e Otávio Batista Vilas Boas.

De acordo com o gerente Executivo da Associação Mineira dos Criadores de Nelore, Loy Rocha, a pista refletiu o bom momento da raça, com animais de alto valor genético disputando as premiações. “A Expoinel Minas é o primeiro grande evento do ano da pecuária nacional e teve resultados extremamente relevantes que nos fazem crer que 2023 será um ano de plena recuperação das exposições. Os grandes criatórios estavam presentes com animais na melhor forma, mostrando como a raça tem evoluído”, diz Rocha.

A Casa Branca Agropastoril, de Silvianópolis/MG, terminou o evento com vários prêmios conquistados, dentre eles o Grande Campeonato das Fêmeas. JPN FIV Eva sagrou-se Grande Campeã. O criatório ainda conquistou o título de Reservado Grande Campeão com Cedro Mper-

boni. O titular da Casa Branca, Paulo de Castro Marques, foi o Melhor Expositor da Expoinel Minas 2023.

Já a CRL Agropecuária Ltda., de Belo Horizonte/ MG, conquistou o prêmio de Reservada Grande Campeã com a fêmea Estilosa FIV CRL.

Entre os machos, o Grande Campeão foi Rima FIV Sudão, da Rima Agropecuária, em Várzea da Palma, que também levou para a casa a premiação de Melhor Criador da Expoinel Minas 2023.

Leilões - Durante a exposição, foram realizados dois leilões oficiais. O primeiro deles foi o Leilão Nelore Elite Terras de Kubera, ocorrido no dia 2, na Fazenda Terras de Kubera, em Uberaba. Com 30 lotes ofertados, o mais valorizado foi a prenhez da doadora Íris 8 FIV Valônia, vendida por R$540 mil.

O leilão Elite Nelore Classic, ocorrido no dia 3 de fevereiro, no Tatersal Rubico Carvalho, também contou com 30 lotes. A fêmea Alisha FIV Ibaneis, parida do touro Bélgio FIV CMF e prenhe do KAYAK TE Mafra, foi o lote mais valorizado, 50% da posse vendida por R$ 630 mil. A promoção foi dos criatórios JR Ibaneis, Grupo Monte Verde e Agropecuária Napemo.

2024- No próximo ano, a Expoinel Minas será realizada entre os dias 31 de janeiro e 9 de fevereiro, em Uberaba.

RAÇA
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ALARISSA VIEIRA
JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 49 ESTRATÉGIA QUE DÁ LUCRO PLANEJAMENTO NUTRICIONAL NA ENTRADA DA ESTAÇÃO SECA CARNE PRODUÇÃO . MERCADO . ARROBA #pecBR Reforma de pasto INVESTIMENTO PERMITE ELEVAR A QUALIDADE DA PASTAGEM, COM GANHOS NA PRODUTIVIDADE DO REBANHO

Os ganhos com a reforma de pastagem

A possibilidade de produzir muito mais arrobas por hectare em sistemas intensivos de produção compensam os investimentos na formação de pastos de alta qualidade

Com a agricultura avançando sobre as áreas de pecuária, por conta da maior rentabilidade, a viabilidade da produção bovina está diretamente ligada ao encurtamento do ciclo produtivo e ao alto desempenho dos animais. Em um país onde cerca de 80% do gado é terminado a pasto, o “pulo do gato” está justamente na qualidade do solo e das forrageiras ofertadas aos bovinos.

Quem tem feito o dever de casa neste quesito consegue atingir taxas mais elevadas de lotação de pastagem,

chegando a 10 ou 12 Unidade animal (UA)/hectare em sistemas altamente eficientes. “O grande desafio da pecuária é ter a mesma lucratividade da agricultura, que nos últimos anos tem avançado, com muitos pastos sendo convertidos em lavoura. E trabalhar com alta taxa de lotação é a saída para a fazenda ser eficiente, o que implica em melhoramento de pastagem. O produtor precisa avaliar a eficiência de seu negócio a partir do indicador lucro/hectare. A rentabilidade vai aumentar à medida que o sistema for sendo intensificado”, explica Fernando Andrade, médico-veterinário fundador da empresa

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Fernando Andrade

de consultoria e administração rural Coar.

Segundo ele, para começar a ser competitiva, a propriedade tem de trabalhar com pelo menos 2 UA/ha, sendo um cenário mais favorável a partir de 3 UA/ha (corresponde a duas vacas e meia/ha, proporcionando dois bezerros por ha/ano, ou a seis bois/ha - 36@ de ganho). Isso para um pasto adubado. Sem adubação, a taxa de lotação deve ser de pouco mais de 1UA/ha.

Por conta da baixa qualidade dos pastos em boa parte do país, a média nacional não passa de 1UA/ha, onde 61,8% dos 152 milhões de pastagens apresentam algum grau de degradação. Nas duas últimas décadas houve uma queda de 13% nesse índice, segundo mapeamento feito pelo MapBiomas, mas ainda há muito o que se avançar.

A degradação de pastagens decorre de uma série de fatores: práticas inadequadas de manejo do pastejo e/ ou da pastagem, ausência de preparo do solo, escolha inadequada da forrageira, baixa qualidade das sementes, pragas de pastagens, problemas fisiológicos etc. “A recuperação de pastagens degradadas e a adoção de boas práticas de manejo representam um verdadeiro ganha-ganha. Ganha o produtor, com o aumento da produtividade do rebanho. E ganha o país, haja vista o maior potencial de pastagens bem manejadas em sequestrar carbono, contribuindo para a redução das emissões e para tornar a atividade pecuária como um todo, mais sustentável”, afirma Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador geral do mapeamento das pastagens.

A manutenção do pasto de qualidade muitas vezes esbarra no custo, levando muitos pecuaristas a adiar o investimento. Com isso, os índices zootécnicos do rebanho não melhoram. O estudo “Custos da recuperação de pastagens degradadas nos estados e biomas brasilei-

ros”, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, em agosto de 2022, aponta que quanto mais avançado o nível de degradação, maiores serão as quantidades de insumos e operações demandas para sua recuperação, ocasionando custos incrementais de longo prazo. Segundo o estudo, a estratégia considerada para promover a reversão do processo de degradação foi a recuperação direta de pastagens em estágio moderado de degradação e a reforma de pastagens em estágio severo de degradação.

Os custos de recuperação e reforma entre os estados e biomas brasileiros foram diferenciados através dos preços de calcário e fertilizantes e, adicionalmente, por meio das recomendações de adubação e correção indicadas a cada bioma segundo a literatura especializada. “Em suma, o custo médio para recuperar um hectare de pastagem em estágio moderado de degradação variou entre R$979,42 e R$1.541,37. Por sua vez, o custo médio para reformar um hectare de pastagem severamente degradada variou entre R$1.563,31 e R$2.100,71”, diz o estudo. Esses valores foram baseados nos dados disponibilizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) no primeiro semestre de 2022.

Pelos cálculos de Fernando Andrade, em valores de janeiro de 2023, o custo médio de reforma de um hectare de pasto, com correção do solo é R$ 2.792,00, sendo R$1.172,00 custo de máquinas e R$1.620,00 custo dos insumos.

A Fundação Getúlio Vargas destaca que conhecer os custos de recuperação e reforma por hectare é importante para que os produtores possam avaliar a viabilidade econômica e o ganho potencial ao realizar o processo. “No âmbito do Plano Safra 2022/2023, foram destinados R$6,19 bilhões ao Plano ABC. Supondo que todos esses recursos, ao longo de uma década, fossem

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utilizados para recuperar pastagens degradadas, ainda assim, seriam necessários entre seis e sete vezes mais recursos que os disponibilizados. Deste modo, ainda há um grande caminho a ser percorrido para que seja possível a recuperação de pastagens no Brasil em sua totalidade”, diz o estudo.

Os resultados obtidos mostram que a implementação de tecnologias de recuperação de pastagens degradadas teria o potencial de gerar receitas mais do que suficientes para compensar os custos incorridos na recuperação de 15 e 30 milhões de hectares de pastagens, em todos os cenários analisados. Há ainda o ganho ambiental. A implementação de ações de recuperação e reforma têm o potencial de promover ganhos ambientais, econômicos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 463,7 Mt CO2eq/ano, segundo estudos realizados.

Reformar ou recuperar?

Essas são duas práticas diferentes, cujas aplicações vão depender do grau de degradação da pastagem. Enquanto a recuperação aproveita a espécie forrageira já existente e utiliza práticas agronômicas e/ou culturais para ajustar a fertilidade do solo e restabelecer o vigor das forrageiras e a qualidade, a reforma vai além. Nela, é realizado o preparo do solo, correções ou reparos e, posteriormente, o plantio da espécie forrageira.

Segundo a Embrapa, existem quatro níveis de degradação, interferindo na decisão de qual prática será a mais recomendada. Caso existam grandes áreas de solo exposto ou com predominância de plantas daninhas, a recuperação da pastagem não é indicada. Nessa situação o ideal é a reforma do pasto. “´É possível recuperar quanto na área existem três plantas de capim por metro quadrado. Menos que isso só a reforma resolve. A recuperação leva mais tempo para concluir, podendo ser de dois a três anos dependendo do grau de degradação. A reforma dura em torno de três meses, com a pastagem atingindo neste tempo alta produção”, explica Fernando Andrade. Segundo ele, caso o produtor tenha recursos financeiros para custear a reforma, essa opção é a mais

indicada para os níveis maiores de degradação.

Uma outra alternativa é adotar o sistema de integração Lavoura/Pecuária, que permite recuperar a área de forma mais barata e ainda gerar lucro com a introdução de mais um componente produtivo. Além disso, o número de linhas de financiamento para a agricultura é maior que para pecuária. “Atuo na pecuária desde a década de 70. Até 1994, antes do Plano Real, os pecuaristas me procuravam para fazer a fazenda dar lucro sem investir. Era mais rentável naquela época investir no mercado financeiro do que em melhorar a pastagem. Hoje, isso não funciona mais. Os pecuaristas sabem que se investirem em bons pastos terão retorno”, lembra Andrade.

Reforma passo a passo

A reforma deve ser iniciada entre outubro e novembro. O primeiro passo para a recuperação do pasto, é identificar e calcular as áreas a serem recuperadas. Além da identificação visual do grau de degradação, é essencial realizar a demarcação e o cálculo da área.

Em seguida, é preciso fazer a análise de solo. Com base nesses dados, é possível definir os passos seguintes para atender as reais necessidades químicas da terra analisada. A coleta precisa ser feita em vários pontos do pasto e a amostra deve ser enviada para o laboratório.

Com o resultado em mãos, segue-se aplicação de calcário que irá promover uma maior integridade do sistema radicular da forrageira já degradada, além disso esse mineral melhora as propriedades físicas do solo e aumenta a atividade microbiana e a eficiência dos fertilizantes. Outra etapa importante para garantir o sucesso da recuperação da pastagem é a adubação fosfatada (fósforo), que pode ser realizada a lanço e em cobertura.

Se o produtor fizer um bom nível de correção pode usar uma forragem mais produtiva, como a Mombaça, porém é mais exigente em relação ao manejo e qualidade do solo. A manutenção dos pastos também é importante. Anualmente, deve-se fazer a análise de solo para repor os nutrientes em deficiência.

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Terminação intensiva a pasto: estratégia “verde-amarela”

Ela busca produzir uma arroba mais barata, potencializando o ganho de peso dos animais em épocas de boa disponibilidade de forragem

Para fugir dos custos mais elevados do confinamento, uma alternativa para engordar o gado para abate que tem atraído muitos produtores por conta dos resultados apresentados é a Terminação Intensiva a Pasto (TIP). Um estudo desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) em parceria com a Embrapa Gado de Corte comprovou os bons resultados da técnica no campo.

As pesquisas foram promovidas com o uso de um núcleo completo com minerais e proteínas específico para essa fase da produção, além de uma combinação de aditivos que devem ser misturados com farelos energéticos. A suplementação de ração no cocho ocorreu, pelo menos uma vez por dia, é aliada ao pasto. Os resultados mostraram que os animais ganharam mais peso e mais carcaça, apresentando rendimento de ganho em torno de 75%, ou seja, de cada kg de peso vivo ganho pelos animais, 750 g foi em carcaça. “O tratamento permitiu a deposição de gordura de acabamento e aumento do

ganho em carcaça, sem a necessidade de fechar os animais em confinamento, oferecendo economia com uma tecnologia acessível aos pecuaristas”, explica o diretor de Operações da Connan Marcio Bonin. A empresa foi parceira do projeto, fornecendo a suplementação dada ao gado.

Segundo ele, a TIP tem um manejo mais simples, amplia o índice de lotação global da propriedade, aumenta a taxa de desfrute e de abate da fazenda, disponibiliza maior área de pastagem para outras categorias, intensifica o ganho médio diário global e, com isso, adiciona receita líquida por hectare/ano na propriedade.

No modelo TIP, o animal consome no pasto a mesma quantidade de ração que é fornecida quando está confinado. A diferença é que o próprio pasto passa a ser a fonte de volumoso. O menor custo operacional, a fácil adaptação e índices mínimos de refugo de cocho proporcionam ainda maior bem-estar animal e alta eficiência. “O custo da estrutura e mão de obra são fatores que impactam diretamente no valor de produção do sis-

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tema de confinamento, enquanto na terminação intensiva a pasto o produtor utiliza da estrutura da fazenda e investe apenas em ração e suplementação, que ajudarão no processo de engorda do animal”, ressalta.

Geralmente, a TIP é desenvolvida no período de águas, o que possibilita o abate de animais antes da entrada da seca, aliviando a lotação da fazenda no período no qual a disponibilidade de pasto é reduzida, abrindo a oportunidade para chegada dos bezerros a serem recriados, os quais exigem menor quantidade de alimento. Com essa estratégia, é possível produzir de forma economicamente sustentável. “Bons resultados são alcançados na TIP quando são cumpridos os horários de fornecimento de ração e a correta formação de lotes, considerando peso dos animais e tamanho da área disponível para o desenvolvimento da atividade. Evitar que os animais tenham a necessidade de competir por alimento e água é fundamental. O bovino busca rotina, que lhe traz sensação de segurança, aliviando o estresse e permitindo que ele expresse normalmente seu comportamento; esses fatores influenciam diretamente em seu desempenho”, explica Felipe Pelícia Luiz, zootecnista e consultor técnico da Premix.

O sistema pode ser aplicado em qualquer propriedade rural, cujo objetivo seja a engorda de bovinos de corte. Para Matheus Moretti, gestor Técnico de Bovinos de Corte da Agroceres Multimix,

cido que, na média, deve ficar entre 1,5 a 2% do peso vivo dos animais. Se a técnica for bem aplicada e trabalhada, os ganhos conquistados em termos de produção em carcaça são muito próximos aos do confinamento”, acrescenta.

Recomenda-se também que os animais estejam com desenvolvimento completo da estrutura da carcaça, visto que o aporte nutricional fornecido na TIP tem como objetivo promover o desenvolvimento muscular e posterior cobertura de gordura e não o seu crescimento. Animais em fase de crescimento poderão ter o desenvolvimento de carcaça comprometido ao receberem dietas de alta energia.

COMO FUNCIONA A TIP

A estratégia da terminação intensiva a pasto vai variar conforme a época do ano. Vejas orientações do zootecnista Felipe Pelícia Luiz:

No período de águas, geralmente existe maior disponibilidade e qualidade de forragem, portanto, a necessidade de ração para complemento da nutrição é menor em relação ao período da seca, pois a forragem, além de fornecer fibra, irá contribuir com proteína e energia na dieta. Já no período de seca, a qualidade e a disponibilidade da forragem são reduzidas e a contribuição do capim na dieta será basicamente como fonte de fibra, havendo a necessidade de complementar praticamente em sua totalidade as exigências dos animais para mantença e produção via ração.

No período das águas, o fornecimento de 1% a 1,3% do peso animal em ração é o suficiente para complementar a nutrição, quando o objetivo é incrementar o desempenho. O restante da ingestão diária para completar os 2,3% do peso vivo virá via pasto, que deve ter boa disponibilidade e qualidade de folhas.

No sistema TIP águas o ideal é que a ração seja fornecida uma vez ao dia, nos horários mais quentes, pois os animais já pastejaram e estão em descanso, o que contribui para evitar o efeito substitutivo do pasto pela ração.

Já no sistema TIP seca temos a situação inversa, quando a necessidade de fornecimento de ração aumenta e o pasto entra somente como fonte de fibra. Nesse sistema, recomenda-se o fornecimento de ração duas vezes ao dia.

É importante destacar que, com o aumento no fornecimento de ração, é necessário que seja realizada a adaptação dos animais, pois eles são essencialmente preparados para consumir e processar forragens ricas em fibra.

Para implementação de ambos os sistemas é necessário ter o mínimo de estrutura, principalmente de cocho para alimentação e bebedouro. A recomendação é que o espaço linear de cocho seja de no mínimo 33 cm por animal e que estes cochos fiquem posicionados próximos ao ponto de bebida.

Um bovino ingere diariamente entre 4 e 6 litros de água por quilograma de massa seca consumida. Portanto, a ingestão de água é fundamental para o consumo correto de alimento. Sendo assim, qualquer fator que dificulte a ingestão ou cause qualquer mal-estar ou repulsa ao ingerir a água influenciará diretamente no resultado.

Exemplos de sucesso com a TIP- Entre as inúmeras propriedades monitoradas no Centro-Oeste pelo projeto Confina Brasil, da Scot Consultoria, no ano de 2022, a intensa utilização da TIP foi verificada pelos zootecnistas da expedição. Em Rondonópolis/MT, a Fazenda Novapec é gerida a partir da intensificação a pasto, com produção de até 100 arrobas por hectare.

“A terminação a pasto proporciona bem-estar aos animais, desde a chegada à área até a locomoção dentro do sistema. O manejo do rebanho é pensado

de forma estratégica, para que haja o maior conforto possível para o gado”, informa Olavo Bottino, médico-veterinário e técnico do Confina Brasil.

Alta produtividade de arrobas por hectare, assim como a opção pela TIP, são escolhas estratégicas, motivadas inclusive pelo clima quente da região. Há abundância de capim, em razão dos bons índices de chuva ao longo do ano, além de luminosidade privilegiada, o que facilita a oferta de um pasto de qualidade para o rebanho no período das águas.

A Terminação Intensiva a Pasto também foi observada como a melhor estratégia de engorda dos animais na Fazenda Netolândia, localizada em Tangará da Serra/MT. O sistema produtivo instala cochos e coloca os animais em piquetes de boa pastagem, de forma que cada pasto tenha um cocho para fornecimento de dieta concentrada. Dessa forma, há intensa ingestão de concentrado, além de oferta de volumoso para alimentação dos bovinos.

Cuidados prévios- Antes de adotar a TIP, é recomendado ao pecuarista a realização de um detalhado planejamento, considerando mão-de-obra disponível, fluxo e capacidade de caixa e adequação de infraestrutura ou otimização da já existente.

GENÉTICA FUNCIONAL E PRODUTIVIDADE A CAMPO AVALIAÇÃO | RAÇA | ESTRUTURA | CARCAÇA VENDAN FIV DE NAVIRAÍ -CSCQ 310 Calibre FIV Camparino x Naviraí Horário iABCZ DECA 24,69 1 IQG 35,81 MGTe TOP 18,88 1% Fábio Duda - Gerente (82) 98165-5005 @neloresantanazare santanazareagropecuaria@gmail.com

TOP: 0,1% PARA TM

7,6 KGS NO GENEPLUS

DECA: 1 PARA PESO À DESMAMA

DECA: 1 PARA PESO AO ANO

DECA: 1 PARA PESO AO SOBREANO

DECA: 1 PARA PESO À FASE MATERNA

DECA: 1 PARA STAYABILITY

DECA: 1 PARA PERÍMETRO ESCROTAL AOS 365 DIAS

DECA: 1 PARA ÀREA DE OLHO DE LOMBO

DECA: 1 PARA PERÍMETRO ESCROTAL AOS 450 DIAS

Planejamento nutricional na entrada da estação seca

estratégia que dá lucro

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 58

Quem se planeja não sofre com a seca! Essa é uma máxima já consolidada entre muitos pecuaristas que aprenderam a aproveitar as falhas de manejo de alguns, para abocanhar boas oportunidades na compra de animais baratos para a engorda no período da seca. Mas em plena curva de tendência onde entramos no ciclo de baixa e de abate de matrizes, isso deverá se repetir?

Apesar do ciclo de baixa que iniciamos, a lógica não se altera. Ela é bastante simples e recorrente. Com dias mais curtos e noites mais longas os pastos apresentam menor crescimento vegetativo. Com menos chuvas e mais vento, a qualidade da forragem diminui consideravelmente. Ou seja; a partir do final das chuvas o pecuarista brasileiro tem que enfrentar um momento de menor oferta de pasto e o que sobra, se sobrar, é de pior qualidade. Mas, por mais que muitos refute a ideia, esse é um momento de oportunidade. Mas só para aqueles que se profissionalizaram na atividade. Vejamos como fazer.

AJUSTE NA LOTAÇÃO DE PASTAGEM

O ajuste da lotação de pastagem à quantidade de forragem disponível é o ponto de inflexão entre a dificuldade de manejo e a oportunidade de mercado. Ajustar a pressão de pastejo à velocidade reduzida de recuperação das pastagens na estação seca tornou-se obrigatório, e se não for feito, pode resultar na falta de pasto. O produtor deve ajustar sua lotação considerando o pior momento da

seca. Fazendo isso, as chances de faltar pasto serão bem reduzidas.

Negligenciar o manejo de pastagem pode resultar em áreas de sobre-pastejo (baixar muito o capim) que pode evoluir para áreas descobertas, com capim fraco, surgimento de pragas invasoras e o consequente processo de degradação da pastagem. O prejuízo dessa imperícia no manejo de lotação pode exigir um desembolso considerável para recuperar as áreas degradadas por erros de manejo ou falta de orientação. Não adianta relutar, a conta pode tardar, mas ela sempre chega!

TRANSIÇÃO DAS ÁGUAS PARA A SECA

No primeiro momento em que o capim começa a secar o pecuarista raramente observa os animais perderem peso. No máximo a redução no GMD (ganho de peso médio diário) e pelos menos viçosos, mas nada de animais escorridos e magros. Mas ao não observar isso o pecuarista também não observa que os animais estão lançando mão de suas reservas energéticas, do seu equilíbrio metabólico para sua mantença, e essa conta vai chegar em poucas semanas.

Ao saírem do pasto abundante e viçoso para uma pastagem menos farta e mais fibrosa, os animais diminuem gradativamente seu ganho de peso e, sem ajuste na suplementação nutricional, involuem até que apresentem perda de peso, menores taxas reprodutivas e o consequente prejuízo para o pecuarista.

Como estratégia para evitar esse prejuízo, o pecuarista pode vedar suas pastagens, oferecer feno, silagem ou outras formas de oferecimento de volumoso. Mas além do volumoso, devemos ajustar a suplementação nutricional para que a microbiota ruminal seja capaz de degradar os alimentos mais fibrosos e convertê-los em ganho de peso para os animais.

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 59

Já passou o tempo em que se entendia a suplementação nutricional ou mesmo a sanidade como gasto. Hoje sabemos que se trata de investimento, e como todo investimento ele deverá trazer um retorno considerável ao final do processo.

E se a ciência e a prática comprovam que o investimento em suplementação nutricional orientada por uma boa assistência técnica dá retorno econômico.

“Quem somos nós na fila do pão” para fazer ou dizer o contrário?

A EXTINÇÃO DO BOI SANFONA

No passado, a baixa produtividade nos meses secos era tolerada graças à baixa produção e qualidade das forragens. No entanto; em pleno Séc. 21, com a evolução das pesquisas em produção e manejo de forragens, com novas tecnologias em nutrição para criação a pasto, semiconfinamento, confinamento convencional e alto-grão, isso não é mais admitido; sobretudo na pecuária moderna e sustentável que buscamos. É o fim do “boi sanfona”? Eu penso que sim, pois hoje é possível o ganho de peso contínuo, mesmo nos períodos mais secos do ano, por qual motivo ainda nos permitiremos perder dinheiro ao calor da já conhecida e previsível variação climática?

Em uma pecuária moderna e lucrativa, não se pode ad mitir perder dinheiro em momento algum, e animal que perde peso está jogando dinheiro fora! Não há por que continuar perdendo dinheiro por falta de planejamento e falta de ajuste na dieta.

Bora lucrar?

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 60
Marcus Rezende paixões: a veterinária, a produção animal e a comunicação.

LEITE

Silagem de Capiaçu

A CULTIVAR TEM ALTA PRODUTIVIDADE E VEM CONQUISTANDO ESPAÇO NOS COCHOS

ALIMENTAÇÃO SÓLIDA PARA BEZERRAS

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#pecBR
NUTRIÇÃO . PRODUÇÃO . ORDENHA SAIBA QUANDO INICIAR O FORNECIMENTO

Capiaçu no ponto certo

Cultivar de alto rendimento para produção de silagem de baixo custo, a BRS Capiaçu tem sido muito usada na alimentação de rebanhos leiteiros, mas exige cuidados no momento da ensilagem.

No cocho da Fazenda Mata Serena, em São Gonçalo do Rio Preto/ MG, a cultivar de capim elefante BRS Capiaçu tem reinado com sucesso o ano inteiro, garantindo boa produção de leite para o rebanho das raças Gir Leiteiro e Girolando. O criador Henrique Vieira da Rocha ganhou as primeiras mudas durante o lançamento oficial feito Embrapa Gado de Leite, em outubro de 2016. Hoje, a área plantada é de 10 ha, sendo 3 hectares irrigados e 7

hectares no sequeiro. “Como não consigo plantar milho por conta da condição climática da minha região, que tem um longo período de seca durante o ano, os custos crescentes do milho têm tornado impraticável o uso do grão para produção de volumoso. Por isso, optei pelo Capiaçu. Sei que não dá para comparar com milho, mas, levando em conta os custos e as condições climáticas daqui, é excelente”, explica o criador.

A pesquisadora da Embrapa Cerrados, Giovana Alcântara Maciel, explica que o capim BRS Capiaçu é um

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 62 LEITE
LARISSA VIEIRA

excelente volumoso para garantir segurança alimentar na fazenda, por ser bem adaptados às condições dos biomas Mata Atlântica e Cerrado. Outra característica favorável dessa cultivar é a sua moderada tolerância ao estresse hídrico, o que a torna alternativa ao cultivo do milho em regiões com alto risco de ocorrência de veranicos. Também apresenta maior teor de carboidratos solúveis e de proteína bruta, comparado a outras cultivares de capim-elefante, o que favorece o seu uso para produção de silagem.

Ela alerta, porém, que, a silagem não tem o mesmo valor nutritivo que a de milho, portanto deve-se usar para vacas seca, novilhas e animais de menor produção. “Outra opção é ajustar a suplementação para garantir bons níveis de produção”, orienta. Na Fazenda Mata Serena, a estratégia é oferecer apenas para os animais jovens da recria, engorda e receptoras, além das vacas em pré-parto.

Apesar do menor valor nutritivo, a cultivar é mais vantajosa em relação ao custo de produção e a maior produtividade, justamente por possibilitar mais cortes no mesmo ano. “Consigo produzir 90 toneladas por hectare na área irrigada, quando a planta atinge 90 a 100 dias. Já no sequeiro, na média do ano, consigo 80 toneladas por hectare, chegando a 90 toneladas por hectare nas chuvas e 70 toneladas no período da seca”, conta Henrique. Segundo a Embrapa, a produção de biomassa do Capiaçu é cerca de 30% superior às demais cultivares do capim elefante.

Uma estratégia adotada na Fazenda Mata Serena foi plantar o Capiaçu consorciado com soja perene, que é uma leguminosa, fonte proteica para o gado. Ela é misturada na silagem para garantir alimento para o período da seca o ou triturada verde junto com o capim, sendo oferecida aos animais nas águas.

Para se ter o melhor resultado com esse capim é importante fazer um planejamento para o plantio, colheita e ensilagem. “Trata-se de um capim muito exigente, por isso a análise de solo é fundamental, para que se corrija o pH do solo e forneçam todos os nutrientes necessários. A saturação por bases (V%) deve ser maior que 60% e a adubação de cobertura com nitrogênio e potássio deve ocorrer quando o capim estiver com aproximadamente 50 cm de altura”, ensina Giovana.

O Capiaçu é uma planta de propagação vegetativa, ou seja, não tem sementes. São os colmos que irão gerar novas plantas. Por isso, é importante a aquisição de mudas vigorosas, com boa qualidade. O plantio deve ser feito em sulcos ou covas. O espaçamento pode ser de 90 cm para corte manual ou 1,50m para corte mecanizado. Recomenda-se plantar a 20 cm de profundidade. A adubação de plantio é essencial e deve ser feita do fundo do sulco. O adubo fosfatado deverá ser usado nesse momento. Já a calagem deverá ser feita 90 dias antes do plantio. A muda pode entrar em contato com adubo.

CUIDADOS NA ENSILAGEM

A qualidade da silagem de Capiaçu está ligada ao teor de matéria seca, que aumenta com a idade da planta forrageira. Por outro lado, o capim mais novo tem melhor valor nutritivo, mas sua produtividade será menor e as perdas no silo serão maiores. “A época certa de colheita para silagem é entre 90 e 110 dias com percentual de matéria seca variando de 18 a 20 %. Outro ponto importante é a altura de corte com 10 cm para garantir uma boa rebrota”, orienta a pesquisadora. É sempre necessário adubar a capineira após cada corte.

O número de cortes pode variar em função do clima e solo da região. De modo geral, para a produção de silagem é adequada a previsão de três cortes anuais, sendo recomendado um corte de uniformização na transição seca/águas (quarto corte), com o objetivo de “preparar” a capineira para a época de crescimento favorável.

Caso o capim seja colhido com teor de MS muito baixo, recomenda-se o uso de algum aditivo para diminuir a umidade dentro do silo ou o pré-emurchecimento do capim (corta e deixa secar um pouco a pleno sol).

Sabe-se que o grande desafio de ensilar o capim-elefante é conseguir o teor de umidade ideal para evitar o escorrimento de líquidos pós-fechamento do silo e garantir a boa fermentação. Existem estratégias simples que po-

dem contribuir para melhorar o teor de matéria seca na BRS Capiaçu. Uma delas é fazer o corte do capim no período da tarde, quando naturalmente o teor de umidade da planta estará mais baixo. Outra estratégia é evitar ensilar após períodos de chuva intensa, se possível aguardar de quatro a cinco dias pós chuvas.

Para facilitar a compactação e a fermentação, as facas devem estar amoladas e as partículas devem ser cortadas entre 10 e 15 mm. “Use inoculante para melhorar a estabilidade da silagem. Pode-se lançar mão de bactérias homoláticas e enzimas fibroláticas”, orienta a pesquisadora da Embrapa Cerrados. Não deve ser aplicado inoculante com pulverizadores usados com herbicida, inseticida ou fungicida.

Uma opção para reduzir o teor de umidade final do material ensilado é utilizar os aditivos secantes. Essa estratégia permite que a capineira seja colhida um pouco mais nova para aproveitar a maior porcentagem de proteína bruta e fibra de melhor digestibilidade. Os aditivos mais usados com essa finalidade são fubá de milho, milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS), polpa cítrica desidratada, farelo de trigo, raspa de mandioca, ou outro material disponível na região que seja viável economicamente. “Uso inoculante para silagem de capim, e 3% de milho moído para que as bactérias tenham fonte de energia para transformar o capim em silagem, fazendo a fermentação”, explica o criador Henrique Vieira. Com os vários anos de experiência utilizando a cultivar na alimentação de seu rebanho, hoje composto de 120 animais, ele assegura que fez a escolha certa para a realidade de sua propriedade. “Sou o maior defensor do Capiaçu. Tenho certeza de que ele é a saída para o pequeno e médio produtor em regiões de baixa precipitação e com baixa produção de alimentos para o gado”, conclui o criador.

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 64
Henrique Vieira

Quando fornecer alimentação sólida para bezerras?

O ideal é que a introdução do alimento sólido seja feita já nos primeiros dias de vida

Atrasar a idade de desmame e fornecer protocolos de redução de leite longos e graduais tornaram-se comuns para evitar desa fios de produção e saúde pós-desmame. No entanto, determinar como equilibrar adequadamente as quantidades de energia e pro teína fornecidas em alimentos líquidos e sólidos e sua qualidade mostra-se de grande importância para o desenvolvimento do rúmen, a melhora da saúde e o crescimento da bezerra.

Os primeiros trabalhos de investigação dos efeitos do fornecimento de dife rentes dietas sobre o desenvolvimento ruminal dos bezerros foram realizados por Brownlee, 1956 e, desde então, vários estudos reconheceram que o início da ingestão e a composição dos alimentos sólidos podem afetar vários aspectos do desenvolvimento dos bezerros.

O ideal é que a introdução do alimento sólido seja feita já nos primeiros dias de vida. A partir do sexto dia, os bezerros devem ser encorajados a consumir a ração inicial, pois a transição de pré-ruminante para ruminante funcional está alicerçada na capa cidade do rúmen em suportar a fermentação, e essa capacidade é dependente de quatro elementos-chave: disponibilidade de substrato, estabelecimento da microbiota no rúmen, habi lidade absortiva do tecido ruminal e fluxo de material do rúmen para o intestino.

Assim, a alimentação de rações iniciais torna-se fundamental para o desenvolvimento de um rúmen ativo e funcional. Os produtos finais da fermentação de concentrado podem ser encontrados no rúmen de bezerros a partir da segunda semana de idade, como o ácido graxo butirato e em menor grau o ácido graxo

Elissa Forgiarini Vizzotto Zootecnista e coordenadora Técnica de Leite da Premix

propionato, que induzem a expressão de genes (acetoacetil-CoA tiolase; 3-hidroxi-3metilglutaril-CoA sintase; β-hidroxibutirato desidrogenase), responsáveis pela diferenciação das células epiteliais do rúmen e atividade metabólica, sendo o butirato o principal estimulador para o desenvolvimento das papilas ruminais.

As principais funções das papilas ruminais são aumentar a área de superfície de absorção do rúmen e absorver os ácidos graxos de cadeia curta, os quais irão prover energia para o animal. O comprimento médio de uma papila de um bezerro recém-nascido é de aproximadamente 1 milímetro. No entanto, devido a alimentação sólida elas crescem e atingem de 5 mm a 7 mm na oitava semana de vida.

O desenvolvimento morfológico do rúmen refere-se principalmente às características das papilas, à espessura do músculo e ao tamanho do órgão. Na primeira semana de vida dos bezerros, o retículo-rúmen compreende 38% do trato gastrointestinal (TGI), enquanto o abomaso, 49%. Já na 8ª semana de idade, o rúmen compreende 60% do TGI, e o abomaso, 27%. A ingestão de forragem e alimentos sólidos de textura grosseira são os principais fatores responsáveis por promover o desenvolvimento muscular do rúmen, além de estimular a ruminação e produção de saliva.

Comparamos o desenvolvimento das papilas ruminais de um bezerro de 6 semanas alimentado apenas com sucedâneo lácteo contra um bezerro alimentado com sucedâneo e concentrado de livre consumo a partir dos 4 dias de idade. O bezerro alimentado com concentrado e sucedâneo demostra maior desenvolvimento de papilas e parede ruminal muito mais espessa, escura e vascularizada (Figura 1, A e B). Agora, compare um

boa qualidade a partir dos 4 dias de idade (Figura 1, C). Apesar de comer quantidades moderadas de feno, as papilas não são desenvolvidas e a parede do rúmen é bastante fina. Isso ocorre porque os produtos finais da digestão do feno incluem mais ácido acético, que não é usado para o crescimento e desenvolvimento das papilas. Bezerros alimentados somente com feno e leite têm o rúmen com grande desenvolvimento muscular, mas com papilas pouco desenvolvidas, impossibilitando o adequado desaleitamento, o que confirma a importância da utilização de rações para bezerras nas primeiras semanas de vida.

Dessa maneira, para um excelente desenvolvimento ruminal um bom concentrado para bezerras da raça holandês deve apresentar as seguintes características:

Ser palatável; Sem ureia;

Proteína Bruta = 20 a 22% na MS correspondente a 18% PB na matéria original

NDT = 80% na MS

FDA = superior a 6% e inferior a 20% na MS

FDN = 15 a 25% MS

EM = 3.68 Mcal/kg

Concentrações de vitaminas e minerais na faixa recomendada conforme o NRC (2021);

Em geral, o teor de gordura dos concentrados iniciais é baixo (de 3% a 4%). Níveis mais altos estão geralmente associados com ingestão reduzida e redução de

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 66

Além do concentrado, os microorganismos existentes no rúmen precisam de água para crescer adequadamente e engolfar as partículas dos alimentos. Se a água não for fornecida ao bezerro no início da vida, o crescimento microbiano no rúmen é limitado. A água consumida como água pura entra no rúmen e fica disponível para uso dos microorganismos. No entanto, a água consumida em outros alimentos, incluindo leite ou sucedâneo do leite, não está prontamente disponível para os microorganismos do rúmen, porque entra no abomaso. Assim, as bezerras devem ter à disposição água limpa e fresca durante todo o tempo.

As rações iniciais para bezerras possuem alta quantidade de amido (22% a 38% MS) e alta digestibilidade, resultando em fermentação rápida, podendo resultar em altas concentrações de lactato no rumén e pH ruminal frequentemente baixo. Consequentemente, esses animais ficam mais expostos a acidose ruminal e às oscilações de consumo.

O fornecimento de rações de alta qualidade, com adequado teor de fibra, resulta em redução dos casos de acidose e paraqueratose, pois a fibra pode ajudar a evitar a queda drástica do pH, estabilizando o consumo e a saúde do rúmen. Além do adequado teor de fibra, os concentrados podem conter aditivos que aumentam a produção de ácidos graxos e são eficientes em controlar o pH ruminal, ajudando, assim, o desenvolvimento do rúmen.

As fontes de amido, quantidade de amido consumido, tamanho do grânulo de amido (1 a 38 μm), forma (lenticular, poliédrico ou esférico) e interações entre a amilose e os compostos do liquído ruminal podem alterar a taxa de digestão enzimática de cereais, consequentemente afetando a concentração de ácidos graxos de cadeia curta e o desenvolvimento do rúmen.

O processamento de grãos (por exemplo, descamação a vapor, laminação a vapor, laminação a seco e moagem) pode fraturar o pericarpo do grão, romper a matriz amido-proteína, e aumentar a área de superfície para ação enzimática e assim aumentar a taxa de fermentação. Embora a literatura disponível indique que o processamento pode ser usado para aumentar a digestão do amido no rúmen, alguns pesquisadores citam que não está claro quão diferentes fontes de amido e processamento afetam a digestão do amido e contribuem para satisfazer as necessidades energéticas dos bezerros em desenvolvimento. Entretanto, dados mais recentes demostram que o processo de floculação a vapor aumenta o ganho médio diário e a eficiência alimentar de bezerras em relação a concentrados somente moídos.

Pesquisas recentes sugerem que as rações iniciais devem conter mais de 75% de partículas >1.190 μm de comprimento. Ghaffari Morteza, em sua meta-análise, analisou os estudos publicados entre os anos de 1938 a 2021 sobre as diferentes formas de concentrados iniciais para bezerros. Seus resultados indicam que bezerros que consomem ração texturizada apresentaram maior consumo, o qual pode estar relacionado ao menor risco de acidose como descrito por Jones e Heinrichs. Como a variação em estudos com bezerros é grande, na meta-análise não houve evidência suficiente para uma forma física inicial recomendada para melhorar as taxas de crescimento de bezerros leiteiros.

A maximização do consumo de concentrado é fundamental neste período para que o desmame ocorra mais cedo. Estimular o consumo através da palatabilidade é essencial. O conceito palatabilidade pode ser estendido para abordar a real preferência por consumir determinado ingrediente.

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A pesquisadora Emily K. Miller-Cushon e sua equipe conduziram testes de preferência para a alimentação de bezerros e descobriram que o farelo de trigo era a matéria prima mais aceitável, seguida pelo farelo de sorgo. O farelo de cevada e o farelo de milho foram igualmente classificados, ficando abaixo do farelo de trigo e do sorgo. A alimentação com glúten de milho e farinha de arroz foram classificadas como sendo de menor grau de preferência pelos bezerros. De acordo com esse método de comparação, o farelo de soja foi o ingrediente de alta proteína melhor classificado, seguido pelo grão seco de destilaria. O farelo de glúten de milho foi o ingrediente de pior aceitabilidade.

É importante salientar que nem todas as fontes de energia e proteína fornecerão as quantidades necessárias para o crescimento das bezerras. Além disso, as matérias-primas possuem diferentes taxas de degrabilidade ruminal. Se houver aumento de amido saindo do rúmen, pode representar um problema para a digestibilidade do amido no intestino delgado devido à baixa produção de α-amilase pancreática durante o período pré-desmame, podendo ocassionar aumento de diarreia nas bezerras, assim, torna-se importante consultar o nutricionista para fazer a troca de matéria-prima nas rações.

Um modo simples que na prática vem sendo usado para induzir o consumo de concentrado precocemente consiste em colocar uma pequena quantidade de ração no fundo do balde, ao final da refeição líquida, para estimular os bezerros a consumirem a ração.

Vieira e Costa juntamente com seus grupos de pesquisa observaram que o ato de alojar os bezerros em

pares estimula o consumo de alimentos sólidos mais cedo durante a fase de aleitamento em comparação a bezerros alojados individualmente.

Em relação a aumentar o consumo de concentrado, resultados de diversas pesquisas demostram que o desaleitamento de forma gradual e não abrupta se faz necessário, pois estimula o consumo de concentrado e permite que os bezerros mantenham suas taxas de crescimento.

O tempo do desmame recomendado é baseado em uma quantidade definida de consumo inicial. Por exemplo: em raças grandes, as bezerras podem ser desmamadas ao consumir de 1 kg a 1,50 kg de concentrado diariamente por três dias consecutivos. Vale ressaltar que a desmama tem como vantagens a redução do período de dieta líquida, o que diminui o tempo gasto com mão de obra para o fornecimento de leite e a redução dos custos com alimentação de leite ou sucedâneos lácteos.

Em suma, podemos concluir que o processo de crescimento das papilas do rúmen é autogerado e permite que bezerros alimentados com concentrados tenham desenvolvimento ruminal em idade precoce (de 3 a 4 semanas), o que promove o desmame precoce. Bezerros que começaram a comer concentrado tarde ou aqueles que consomem pouco concentrado em uma idade jovem estão em desvantagem definitiva.

Para otimizar o início de consumo precoce de alimentos sólidos, devemos ficar atentos à qualidade dos concentrados, como sua palatabilidade, fatores de manejo (por exemplo, agrupamento com colegas ou separadamente) e o método de desmame.

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 68
Bezerros alimentados apenas com leite A Bezerros alimentados com leite e concentrados B Bezerros alimentados leite e feno C
As referências bibliográficas estão com a autora: elissa.forgiarini@premix.com.br (Fonte: PeenState Extension)

ZONA RURAL

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 69
GESTÃO . TECNOLOGIA . SUSTENTABILIDADE . MERCADO #pecBR CAVALO CRIOULO RAÇA ENCANTA E CRESCE NO BRASIL E NO MUNDO
na agricultura
AS VANTAGENS DE UTILIZAR O EQUIPAMENTO
Drones
SAIBA

ZONA RURAL

O que esperar de 2023?

O setor finalizou 2022 com números positivos em vários segmentos e espera continuar crescendo, apesar dos desafios globais e internos pelo caminho.

Se no mercado externo o ano de 2022 foi marcado por recordes nas ações gerais do agronegócio, inclusive de carnes bovina e frango, o mercado interno sofreu com a elevação do custo de produção, estreitando a margem do produtor, e com problemas climáticos em determinadas regiões. O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 2022 fechou em R$ 1,189 trilhão, segundo maior em uma série de 34 anos de cálculo desse indicador. Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, o faturamento das lavouras foi de R$ 814,77 bilhões e o da pecuária de R$ 374,27 bilhões.

O VBP de 2022 foi marcado por resultados positivos para diversos produtos, crescimento das exportações do agronegócio e dos preços agrícolas. O fator que mais prejudicou o desempenho foi a seca, especialmente na região Sul e parte do Centro-Oeste, que resultou em prejuízos aos agricultores causados por perdas de produção de soja, milho e feijão. A pecuária também foi afetada devido às perdas de suprimento. Os produtos que mais se destacaram foram o algodão, café, milho, trigo e leite.

Nas vendas externas, o agro mais uma vez registrou

crescimento. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), foi o maior valor nominal registrado historicamente, da ordem de USD 159,1 bilhões, alta de 32,0% frente a 2021. De acordo com a análise da Radar Agro, consultoria do Banco Itaú, o bom desempenho foi fruto não só do aumento dos preços médios em dólar dos principais produtos do agronegócio, em comparação com as médias registradas em 2021, mas também do incremento (13,1%) do volume total de mercadorias embarcadas no último ano versus 2021.

Mercado de carnes e leite

Na pecuária, as exportações totais de carne bovina em 2022 cresceram 42% na receita e 26% no volume e são as maiores da série histórica do produto no país (carne in natura + carne processada). Aproveitando a boa maré do mercado mundial, principalmente do mercado chinês que representou mais da metade das vendas, tanto nos preços (60,9%) como nos volumes (53,3%), o Brasil obteve uma receita de US$ 13,091 bilhões no ano passado e movimentou 2.344.736 toneladas. Em 2021, a receita foi de US$ 9,237 bilhões e o volume de 1.867.574 toneladas. A China comprou, sozinha, 99.744 toneladas no últi-

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mo mês de 2022. Depois da China, os Estados Unidos foi o maior comprador da carne bovina brasileira, proporcionando uma receita de US$ 904,1 milhões, com movimentação de 173.141 toneladas. “Com relação aos pontos positivos do ano passado, a exportação recorde de carne é sem dúvida o maior deles. A adoção, em maior escala, de contratos para a entrega futura de boiadas, foi outro fator positivo. Dessa forma o pecuarista que usou essa ferramenta de risco saiu-se bem, garantindo preço, e o frigorífico garantindo a entrega de boiadas. Com relação aos pontos negativos, a concentração das vendas para um só mercado (China) é preocupante, a elevação do custo de produção, estreitando a margem do produtor e, por fim, a aparente mudança do comportamento do ciclo de preços pecuários, cujas cotações indicam que está entrando num ciclo de baixa”, esclarece Alcides Torres, diretor-fundador da Scot Consultoria.

Os pecuaristas tiveram de enfrentar a queda de preço da arroba do boi gordo na entressafra, quando normalmente os preços sobem. Houve também queda do consumo por pessoa, o pior nível dos últimos 26 anos, em função da queda do poder aquisitivo do consumidor.

Na pecuária leiteira, 2022 encerrou com queda de 4,4% na produção formal, após quatro anos de altas consecutivas. “A cadeia produtiva do leite sofreu sérios impactos pelos acontecimentos globais em 2022, intensificando as dificuldades já apresentadas em 2021”, relata a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite Kennya Siqueira.

No segmento de carne de frango e suínos, as exportações tiveram comportamento diferente. Enquanto as vendas externas avícolas subiram 5%, atingindo 4,850 milhões de toneladas, contra 4,610

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ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIA DE PONTA

Na liderança de um dos criatórios mais tradicionais de Gir Leiteiro e Girolando, a criadora Roberta Bertin Barros vem inovando na seleção das duas raças. Na Fazenda Floresta, localizada na cidade de Lins /SP, ela conta com um espaço multifuncional com área de criação de gado a pasto, um laboratório de produção in vitro de embriões bovinos (Reproll), um laboratório de análises clínicas veterinárias (Axys), uma loja de medicamentos e nutrição animal (Vetlins) e uma leiteria.

Graduada em Medicina Veterinária, em Administração de Empresas e pós-graduada em Análise Clínica Veterinária, Roberta Bertin acredita no potencial da pecuária leiteira e tem trabalhado na produção de genética de ponta, ofertando ao mercado embriões, vacas prenhes, vacas em lactação e bezerras de alta qualidade.

| 16400-033 | Lins / SP

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Rod. SP 387 Maximiliano Biondo Mengato, Via de acesso Lins/Getulina Km 3+520m Caixa Postal 93 Alcides Torres

ZONA RURAL

milhões de toneladas em 2021, a carne suína sofreu uma queda, embarcando 1,120 milhão de toneladas, 1,5% menor que as 1,137 milhão de toneladas registradas em 2021. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, no caso da carne de frango, o Brasil segue líder nas exportações da carne avícola e deverá incrementar ainda mais as vendas no próximo ano. “A avicultura global tem enfrentado nos últimos anos grandes desafios com relação aos altos custos de produção de alimentos e um quadro complexo de Influenza Aviária em diversas regiões do planeta. O Brasil, que é livre da enfermidade e reforçou seus protocolos de biosseguridade para preservar seu status sanitário, deverá seguir em seu papel de apoio à segurança alimentar das mais de 150 nações importadoras, além de garantir o abastecimento interno de produtos”, ressalta Santin.

Apesar de ter tido queda nas exportações, a produção de carne suína cresceu 6,5%, com até 5 milhões de toneladas produzidas, número recorde histórico para o segmento. As aberturas dos mercados do México e do Canadá deverão gerar novas oportunidades para os exportadores brasileiros, ao mesmo tempo em que se espera o reforço do consumo per capita dos produtos da suinocultura.

Confinamentos – O número de bovinos confinados em 2022 superou o ano anterior. De acordo com o Censo de Confinamento DSM, foram confinados 6,95 milhões de bovinos, aumento de 4% sobre os 6,69 milhões registrados em 2021, mesmo índice de crescimento do ano anterior. Do total de cabeças abatidas no país, 20% vêm de confinamento.

Já nos confinamentos monitorados pelo projeto Confina Brasil, o total de animais confinados ficou em 3,5 milhões de cabeças, contra 2,09 milhões de cabeças em 2021. Esse número representa mais de 60% do total de gado confinado no Brasil, de acordo com as estimativas feitas pela Scot Consultoria. Em 2022, o total de propriedades mapeadas chegou a 256, sendo que 175 delas receberam a visita dos técnicos do Confina Brasil e as demais tiveram acompanhamento remoto e já tinham sido visitadas nas edições anteriores. “Essa alta ocorreu apesar dos desafios vividos pelo setor em meio ao aumento dos custos de produção. Quando comparamos com os dados referentes aos bovinos confinados em 2021, as fazendas visitadas que confinaram nos dois anos aumentaram em 13,2% o volume de gado sob ter-

minação intensiva. Tocantins foi o estado com maior evolução: 152,8%. O Pará apresentou o segundo maior crescimento: 70,3%”, informa Júlia Zenatti, coordenadora do Confina Brasil e da equipe de Inteligência de Mercado da Scot Consultoria.

Já em relação à rentabilidade, a média dos confinamentos apresentou queda segundo levantamento da DSM. O índice médio de rentabilidade, ainda parcial (dados de janeiro a novembro), que chegou a ser 5,22% em 2020 e 0,15% em 2021, caiu para -0,17% em 2022. “Faltou chuva nas principais regiões do país e tivemos uma quebra na produção de grãos da safrinha (2° safra). Isso aliado ao aumento nas exportações de grãos, resultou na elevação dos preços das matérias-primas e, consequentemente, no aumento dos custos de produção. Ainda tivemos diversas ocorrências negativas ao longo do ano, como guerra, consumo interno, taxa de juros, políticas e ciclo pecuário, que impactaram na baixa do preço da arroba do boi gordo”, esclarece Hugo Cunha, gerente técnico Latam de Confinamento da DSM.

Grãos – Na agricultura, o milho foi o produto que apresentou o maior crescimento em exportações dentre os principais produtos do agronegócio, sendo que, em 2022, o total embarcado de 43,2 milhões de toneladas representou o maior montante da série histórica brasileira, o dobro do embarcado em 2021. Já a soja teve redução de 8,3%, alcançando 78,9 milhões de toneladas.

Expectativas para 2023

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) está otimista com o setor em 2023. A entidade estima que o Produto Interno Bruto do setor cresça até 2,5% em 2023 em relação a 2022. Mas aponta elementos

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que precisam ser contornados e solucionados no mercado interno e externo. “Na seara doméstica, a alta dos custos de produção na atividade, as incertezas sobre o controle das despesas públicas e a condução da política fiscal, que devem impactar os custos do setor agropecuário, sobretudo em questões tributárias. Já na esfera internacional, a possibilidade de continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, que em 2022 já impactou a disponibilidade global de grãos e de insumos, além das previsões de desaceleração do PIB mundial podem influenciar o comportamento das exportações brasileiras do agro no próximo ano”, diz o diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi. No caso da pecuária de corte, Alcides Torres destaca a influência do aumento da boiada, queda na reposição e incertezas na economia global. “As projeções para 2023 são de aumento de boiadas causada pela maior participação de fêmeas no abate de bovinos, determinando a confirmação de manutenção ou queda de preços da arroba do bovino gordo. Com relação à economia global, o cenário não está otimista, com gente acreditando em uma retração mundial. Teremos que lidar com isso para manter o bom desempenho da exportação. A cotação dos bovinos para reposição do rebanho deverá cair, favorecendo recriadores e invernistas. A vez da cria, passou. E, como sempre, esse quadro é muito bom para o investimento, desfazendo-se de estoque caros e adquirindo estoques a preços menores, antecipando a retomada de preços e margens futuras”, orienta Torres.

Nos confinamentos, 2023 deve ser de aumento do número de animais confinados e da volta da rentabilidade média. “O principal componente de custo do confinamento, que é o boi magro, segue em baixa em um dos menores patamares, trazendo oportunidade para o confinador”, acredita Hugo Cunha.

Para o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Glauco Carvalho, embora o ano que começa ainda traga muitos componentes de incertezas internas e externas, o mercado brasileiro de leite está se reequilibrando em termos de oferta e demanda. Segundo ele, com a recuperação do mercado de trabalho e melhorias do emprego e renda, espera-se alguma melhoria no consumo de leite e consequências. Outro fator positivo é a produção brasileira elevada de grãos na safra 2022/2023, contribuindo para uma menor pressão nos custos de alimentação das vacas, sobretudo concentrados à base de milho e soja.

Já o Ministério da Agricultura e Pecuária estima que o Valor Bruto de Produção da Agropecuária em 2023 cresça 6,3%, podendo atingir R$ 1,263 trilhão. As lavouras devem ter um aumento real de 8,3%, e a pecuária de 1,9%.

A perspectiva para a safra de grãos 2022/2023 é de um aumento de 15,5%, o que representa 42 milhões de toneladas a mais em relação ao período anterior, podendo chegar a 310,9 milhões de toneladas no total, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Se confirmado, o volume representa um incremento de 39,3 milhões de toneladas a mais a serem colhidas do que na temporada passada. O crescimento da área plantada e recuperação da produtividade da soja, após a seca impactar o Sul do país este ano, podem ajudar na concretização destes números.

Segundo as projeções da ABPA, deve haver crescimento na produção de carne de frango, chegando a 14,750 milhões de toneladas (+ 2% em relação à 2022), além de exportações totais de até 5,2 milhões de toneladas (+8,5%). Já em relação à carne suína, o Brasil poderá alcançar até 5,150 milhões de toneladas (+4% em relação à 2022), com exportações totais de até 1,250 milhão de toneladas (+12%).

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Drones facilitam a vida do pecuarista

Equipamento vem sendo utilizado amplamente para pulverização de pastagens e lavouras para produção de silagem

Um drone de pulverização sobrevoa pela primeira vez a lavoura de mi lho da Fazenda Olhos D’Água, localizada em Pompéu, região central de Minas Gerais. Como as chuvas foram intensas na região nos me ses de dezembro e janeiro e a lavoura já estava alta, o criador Alexandre Freitas optou por não pulverizar com trator para não correr o risco de as plantas serem amassadas e, consequentemente, ter a produção reduzida. “Nesta época do ano, sempre encontramos muita dificuldade em fazer as pulverizações com trator nos momentos mais adequados, seja pela ausência de dias com sol, seja pelo fato de as lavouras já estarem com uma altura muito elevada. A opção foi utilizar os drones para pulverizar parte da lavoura. O resultado tem sido surpreendente e certamente será mais uma tecnologia que utilizaremos na propriedade”, assegura Freitas, que é selecionador da raça Girolando.

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LARISSA VIEIRA Alexandre Freitas

Dos 32 hectares de lavoura, o drone pulverizou em 10 hectares. Foi feita a aplicação de adubo foliar e de inseticidas para lagarta e cigarrinha. A colheita está prevista para início de março e a expectativa é de produzir 50 toneladas por hectare. Toda a safra de milho vai para a produção de silagem, para alimentar o rebanho da Olhos D´Água, que hoje conta com um plantel de 400 animais Girolando registrados. “Como temos maquinário, a pulverização com trator fica mais barata e consigo jogar mais produto. Mas, analisando as perdas que teria em não pulverizar as áreas inviáveis para uso do trator, como o aparecimento de pragas, por exemplo, o custo de uso do drone é totalmente viável”, garante o criador.

Os preços variam conforme a região e o tipo de serviço prestado, mas, em média, a pulverização com drone em Minas Gerais está entre R $140,00 e R$180,00 por hectare.

Na visão do coordenador de Graduação em Agrocomputação e de Pós-graduação em Agricultura de Precisão das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), Matheus Oliveira Alves, as diversas vantagens da tecnologia compensam o investimento. “Os drones vêm ganhando espaço entre os pecuaristas porque dão uma visão ampla da lavoura e do pasto, permitindo identificar com antecedência os pontos que precisam de maior atenção”, diz Alves.

Entre os vários usos do equipamento, está o mapeamento. Com base nas imagens precisas coletadas de vários pontos da fazenda, o profissional consegue rela-

cioná-las com os outros dados, obtidos por meio de satélites ou mapeamento digital da lavoura. Com isso, é possível identificar precocemente problemas na plantação, como falhas de plantio, pragas e doenças. “Por fazer um monitoramento rapidamente, mesmo em áreas maiores, o drone dá mais agilidade e precisão ao diagnóstico que as imagens de satélites, por exemplo. Assim, o agricultor pode tomar medidas com maior assertividade, visando o bom desenvolvimento das plantas e a produtividade da safra”, diz o professor da FAZU, que, em 2016, ganhou um prêmio internacional na Drone Show Latin America por ter desenvolvido metodologia para identificar falhas em lavouras de cana-de-açúcar.

As imagens capturadas ainda permitem definir estratégias de plantio e os locais mais propícios para a semeadura. O uso do equipamento ainda facilita a identificação de falhas no plantio. Isso permite que o produtor decida sobre estratégias de replantio, ajuda definir o número de mudas que devem ser plantadas e em quais áreas esse replantio deve ocorrer. Como consequência, o agricultor evita a queda da produtividade da safra provocada por essas falhas.

Nesta área de mapeamento, alunos da FAZU realizaram um estudo sobre o uso de drone na identificação de falhas na área de grãos que será publicado em breve em um evento internacional.

A Prefeitura Municipal de Uberaba, por meio da Secretaria do Agronegócio, tem utilizado drones para ma-

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ZONA RURAL

peamento das áreas agrícolas, tanto na pecuária quanto na agricultura. O serviço é gratuito e tem contribuído para que os produtores locais possam elevar a produtividade de suas lavouras.

Pulverização de pastos e lavouras

Assim como o criador Alexandre Freitas, outros criadores têm adotado o drone para pulverização. Neste caso, é um equipamento específico para este trabalho, com capacidade de carga, de defensivos agrícolas, como inseticidas, fungicidas, herbicidas e nematicidas. A grande vantagem desse método de pulverização é que a aplicação ocorre de forma localizada, rápida e precisa, evitando o desperdício do produto e diminuindo o impacto ambiental. Além de controlar problemas fitossanitários, como a presença de pragas, o uso de drones otimiza o número de pessoas envolvidas na operação.

Já na pecuária o drone pode ser um aliado para o mapeamento das pastagens, podendo apontar o nível de degradação, as áreas que precisam ser reformadas, a qualidade da pastagem, dentre outros pontos. “Na FAZU, estamos utilizando o equipamento também para a aplicação de fertilizantes na pastagem, alcançando uma maior eficiência no uso do produto. Ainda estamos desenvolvendo um estudo para monitorar a lavoura, plantada para produção de silagem para o rebanho da FAZU”, explica o professor.

Ele destaca que o drone é uma ferramenta complementar. É como vê também o criador Alexandre Freitas. “Aqui na Fazenda Olhos D’Água sempre tentamos utilizar as melhores tecnologias disponíveis, tanto no tocante ao melhoramento genético, bem como para a parte gerencial, nutricional, sempre contando com assistências de especialistas do setor, e, pelo visto, neste tocante à utilização dos drones foi mais uma tecnologia que veio para ficar”, conclui o criador de Girolando.

Novo curso de drone

No Brasil, a utilização do drone é regulamentada pelo Ministério da Agricultura (MAPA), que admite seu uso

na aplicação de defensivos, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes. Apesar de popularmente ser conhecida como drone, o termo técnico da tecnologia é Aeronave Remotamente Pilotada (ARP), direcionado para classificar as aeronaves não tripuladas de caráter não recreativo.

Originalmente, esse equipamento surgiu para fins militares. Porém, por conta da sua praticidade e ampla possibilidade de aplicação, passou a ser utilizado em outras áreas, como na agricultura.

O professor da FAZU lembra que para operar o drone é preciso ter um curso específico reconhecido pelo Ministério da Agricultura. Para atender a grande demanda do mercado pelo serviço, em 2023, a FAZU ofertará em sua grade curricular o curso de operação de drone. A duração do curso será de uma semana, com aplicação de prova ao final, para obtenção do certificado. “É um grande diferencial para os profissionais de Ciências Agrárias, principalmente, pois muitas empresas dão preferência a quem tem o curso de operação de drone”, conclui o professor Matheus Alves.

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Matheus Alves.

Brasil avança na seleção de cavalo Crioulo

N

ão é só na pecuária bovina que o Brasil se tornou referência mundial na seleção genética. O país vem se despontando na criação de cavalos Crioulos, seja para competições ou para a lida no campo. A funcionalidade, adaptabilidade aos diversos climas brasileiros e a versatilidade da raça foram características decisivas para o criador Anderson Carlos Nascimento iniciar seu plantel, em 2019, na ACN Agropecuária, em Jataí/GO. “O Crioulo encaixa-se perfeitamente na nossa filosofia de trabalho na pecuária bovina, que é a produção de um genética de resultado, independente da região onde os animais serão criados. É assim que trabalhamos na seleção de Nelore, Gir Leiteiro e Girolando e levamos esse conceito para os cavalos Crioulos”, explica Nascimento.

Para compor o seu rebanho, ele buscou indivíduos das

melhores linhagens, nas principais Cabañas do sul do País, berço do Crioulo no Brasil. A seleção foca em animais de funcionalidade, evoluindo as principais características da raça, e leva em conta nos acasalamentos o pedigree, aperfeiçoamento da morfologia e na força de trabalho dos equinos. “Utilizamos nos acasalamentos matrizes e garanhões de genética consistentes e de destaque em diversas competições importantes do país, dentre elas, o Freio de Ouro”, assegura.

Após uma avaliação criteriosa, alguns exemplares são direcionados ao esporte, e as suas mais variadas modalidades, e passam por doma específica. Os demais são selecionados para trabalho em fazenda. Atualmente, a ACN Agropecuária conta com 40 animais, entre potros e matrizes, e pretende ampliar o rebanho em 2023 para atender a demanda crescente do mercado, especialmente nas regiões Centro-oeste, Norte e Nordeste. A ACN comercializa tanto em leilões quanto na venda direta na fazenda e pela internet.

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), César Hax, destaca que a raça vive um bom momento no país e vem se expandido além das terras gaúchas. “Onde o Crioulo pisou se consolidou. Na América do Sul, é destaque em vários países como Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, dentre outros, mas, sem dúvida, o cavalo mais bonito, equilibrado e funcional da América é o brasileiro”, garante Hax.

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País é referência na seleção da raça que vem conquistando mercado por sua versatilidade e beleza
LARISSA VIEIRA

O desafio da entidade, que completará 91 anos de fundação em 2023 e é a mais antiga de criadores de cavalos do país, é levar a paixão pelo Crioulo para outras regiões do país. “A melhor forma de fazermos isso é por meio do esporte. Já contamos com 14 modalidades esportivas e vamos lançar mais uma, a Prova Vaqueiro. Além disso, realizamos uma pesquisa com os criadores para traçar o perfil mercadológico da raça e com o resultado definimos um plano de ação que está sendo colocado em prática. O objetivo é consolidar a raça e levar mais rentabilidade para os criadores”, anuncia.

Segundo dados da ABCCC, o ano de 2022 encerrou com aumento no número de registros, atingindo um total de 605 mil animais registrados, sendo uma média de 12 mil por ano. Foram feitas 29 mil transferências no ano passado, dado que mostra a valorização da raça no mercado.

O Brasil concentra o maior rebanho de cavalo Crioulo da América Latina. Uma realidade bem diferente da observada pelo fotógrafo Fagner Almeida, ao percorrer o mundo com seu projeto “Em busca do cavalo Crioulo”, iniciado em 2018. “Na Europa, as propriedades contam um número muito reduzido de animais, chegando a ter apenas dois ou três exemplares em algumas, e os próprios donos que comandam o manejo diário. Apesar desta característica, eles participam das competições de forma bem ativa”, esclarece o fotógrafo.

A ideia de registrar a história de seleção do Crioulo pelo mundo surgiu em 2017, ano em que Fagner comemorou 10 anos de atuação na fotografia. Inicialmente, a proposta era fazer um livro, mas no ano seguinte, com o volume de vídeos coletados, ele optou por fazer um documentário para mostrar os locais onde o Crioulo estava chegando fora do eixo tradicional do Brasil. As histórias, em formato de web séries e podcasts, estão sendo mostradas no canal do Youtube Em busca do Cavalo Crioulo. “Essa troca de experiência com criadores

de vários lugares tem ajudado a promover a raça. Criadores dos Estados Unidos já entraram em contato comigo para ajudá-los a fundar uma associação lá. O projeto está ligando as entidades e criadores pelo mundo”, destaca Almeida.

A origem do cavalo Crioulo

No século 16, os colonizadores trouxeram para o Brasil equinos Andaluz e Jacas espanhóis da península ibérica, que futuramente deram origem ao Crioulo. Estabelecidos na América, principalmente na Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Peru e sul do Brasil, muitos desses animais passaram a viver livres, formando manadas selvagens que, durante cerca de quatro séculos, enfrentaram temperaturas extremas e condições adversas de alimentação. Essas adversidades imprimiram nestes animais algumas de suas características mais marcantes: rusticidade e resistência.

Foi no século 19 que fazendeiros do sul do continente começaram a tomar consciência da importância e da qualidade dos cavalos que vagavam por suas terras. A nova raça passou a ser preservada, vindo a ganhar notoriedade mundial a partir do século 20. Em Bagé/RS, no ano de 1932, a ABCCC foi fundada com a missão de preservar e difundir a raça no país, trabalho que desenvolve até hoje.

Segundo informações da ABCCC, o Crioulo é um equino caracterizado pela silhueta harmônica e pelo equilíbrio perfeito. Seu padrão racial admite praticamente todos os tipos de pelagens, exceto pintada e albina total. O peso varia entre 400 e 450 quilos e a altura mínima admitida para as fêmeas é de 1,38 metro e nos machos de 1,40 metro, já a máxima para fêmeas é 1,48 metro e para machos é de 1,50 metro. “O cavalo Crioulo é um animal de coragem, ativo, bondoso, inteligente, longevo, e hoje comprovadamente versátil, pois se destaca em todas as exigências que lhe são impostas”, finaliza o presidente da ABCCC, César Hax.

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ZONA RURAL
César Hax Fagner Almeida

GENTE

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PECUARISTAS . ESPECIALISTAS . CRIADORES #pecBR PERFIL BRAZ PERES NETO
CRIATÓRIO INVESTE NO APRIMORAMENTO DA GENÉTICA GIR LEITEIRO
Fazendas Unidas Ita

CRIADORES

Felipinho com parte das matrizes Gir Leiteiro
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RARA ALTO ESTIVA - SQP 326

A dinastia Rara continua, agora em solo carioca

Com 44 anos de seleção, as Fazendas Unidas Ita, em Itaguaí/RJ, é a nova casa da grande matriarca do Gir Leiteiro, Rara Alto Estiva, e de seu clone, Rara TN1. Uma genética que vem conquistando premiações importantes nas exposições da raça

Ahistória de qualquer raça bovina é marcada por animais notáveis, raçadores e matriarcas capazes de contribuir para o avanço genético de inúmeros rebanhos. Na raça Gir Leiteiro não é diferente. São muitos exemplares de destaque nas últimas décadas, dentre eles a matriarca Rara Alto Estiva, cuja progênie vem dando continuidade à carreira promissora da matriz, apresentando grande qualidade genética e conquistando premiações importantes. Ao longo dos seus 20 anos, Rara esbanja um invejável vigor e desempenho superior à média da raça, características que levaram o selecionador Henrique Figueira, da Fazenda Figueira, em Uberaba/MG, a cloná-la, dando origem à Rara TN1. Agora, as duas estão de casa nova. Elas já chega-

ram às Fazendas Unidas Ita, em Itaguaí/RJ, distante 73 km da capital do estado, com a missão de contribuir para a consolidação da genética selecionada pelo criador Felipe Raunheitti Gomes. “Quando decidimos investir pesado

Felipe Raunheitti Gomes e seu filho Felipinho GUSTAVO MIGUEL

CRIADORES

na raça, optei pelos animais da Fazenda Figueira, mas não imaginava que conseguiria comprar a própria Rara. Fiquei surpreso quando o Henrique disse que enviaria a Rara e a Rara TN1 para o mim. Nem consegui dormir naquela noite. Fiquei acordado e pensando. Parecia que tudo era um sonho”, lembra o criador.

O tradicional criatório está comemorando 44 anos de seleção neste ano

de 2023. Os irmãos Felipe e Ricardo são a terceira geração à frente do negócio, dando continuidade, com muito afinco, à história da família no agro. Tudo começou com o avô materno, Fábio Raunheitti, que em 1979 adquiriu a primeira propriedade. Em 1998, Felipe assumiu a gestão da propriedade, com o apoio dos pais Nilson e Lídia Raunheitti Gomes. Hoje, o trabalho é desenvolvido em parceria com a es-

posa Simone, os filhos Felipinho (um apaixonado pela pecuária) e Luiza, que apesar de ter apenas sete anos é a responsável pela escolha dos nomes dos animais. Além disso, o irmão Ricardo acompanha o dia a dia das fazendas, sendo responsável por gerenciar os outros negócios da família.

Atualmente, as Fazendas Unidas Ita concentram todo o rebanho leiteiro do criatório em Itaguaí/RJ. Trata-se de um

Importância FIV Teatro de FRG – FRGI35 Teatro da Silvania x Sala FIV F Mutum (Fardo FIV F Mutum) Imagem Teatro FIV de FRG – FRGI44 Teatro da Silvania x Xizuki Vila Rica (Jaguar TE do Gavião) Delegado FIV Teatro de FRG – FLPM18 Teatro de Silvania x Saliente FIV Cabo Verde (Fardo FIV F Mutum) Equipe Fazendas Unidas Ita
#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 82

local de natureza exuberante que abriga as cachoeiras do Rio Onça. A mata ciliar é totalmente preservada, chegando a 35% de toda a área. Neste belo cenário, a matriarca Rara e seu clone ganharam um piquete especial e um espaço histórico. As obras do memorial, que reunirá toda a trajetória de sucesso das duas fêmeas, estão sendo finalizadas.

Outro projeto em andamento é a realização de dois pregões, sendo um deles o tradicional Leilão Raridades, cedido por Henrique Figueira para as Fazendas Unidas Ita. “Estamos muito empolgados e trabalhando duplamente para os dois remates, onde iremos ofertar a melhor genética do Gir Leiteiro”, assegura Felipe. Segundo Henrique Figueira, as Fazendas Unidas Ita levarão adiante a importância da genética da matriarca Rara, mostrando a força da raça e trazendo o estado do Rio de Janeiro novamente para o protagonismo nacional do Gir Leiteiro. “Como não poderia ser diferente, Felipe retomará a promoção do leilão Raridades do Gir Leiteiro, idealizado e promovido por nós, da FIGO Genética, um evento que se firmou como um dos maiores e mais importantes remates da ExpoZebu. Com certeza, o leilão voltará com

toda sua força e qualidade”, diz Figueira.

Para dar sequência à seleção de Gir Leiteiro, Felipe escolheu, além da matriarca, a linhagem do touro Teatro, muito utilizado em cruzamentos para formação da raça Girolando por ser altamente produtivo e por ter filhas recordistas em torneios leiteiros. Com ampla experiência em gestão pecuária, o assessor das Fazendas Unidas Ita, JCN Netinho, contribuiu para levar a genética da Fazenda Figueira para o rebanho do criatório fluminense. “Depois de conhecer o projeto da Ita e realizar a primeira visita para uma pré-seleção para pista, indiquei a compra do touro jovem Figo FIV Nakan, recém-contratado pela Alta e que está no Pré-Teste de Gir Leiteiro. Ele estreou em pista conquistando os títulos de Campeão Júnior Menor, em Cordeiro/RJ e em Araruama/RJ”, afirma Netinho.

Desde a Megaleite 2022, a família Raunheitti Gomes decidiram intensificar os investimentos na seleção da raça Gir Leiteiro. Após a aquisição do touro Nakan, foi adquirida a matriz Tiffany 2B, essa em parceria com o criatório Gir Leiteiro 2B, que se sagrou Grande Campeã Nacional na Megaleite e Melhor Úbere aos dez meses de parida,

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 83
EQUIPE FAZENDAS UNIDAS ITA NA 100a EXPO DE CORDEIRO-RJ 2022

CRIADORES

isso menos de 12 horas após a sua aquisição. Ela foi uma aposta do patriarca da família, Dr. Nilson Gomes.

“A Tiffany foi uma aquisição assertiva e me deu muita satisfação, gostei do animal, mirei na genética e o Grande Campeonato veio para coroar e nos dar mais certeza de que estamos no caminho certo”, assegura Dr. Nilson Gomes. Também durante a Megaleite a propriedade comprou Babilônia FIV de Brasília, uma filha da Rayala com o Diamante de Brasília.

Outro animal destaque adquirido pelo criatório, desta vez em parceria com a Estância K e a Fazenda Mutum, é a Tigresa F Mutum, considerada uma das melhores novilhas da atualidade, consagrada na ExpoZebu como Melhor Novilha. Também foram adquiridos 30 embriões dos melhores acasalamentos, quatro machos e 26 fêmeas, da Fazenda Figueira que já nasceram. Essa genética será a base da seleção das Fazendas Unidas Ita.

Outras parcerias importantes foram firmadas com os criatórios Monte Verde e na parte internacional, com o criador colombiano Alberto Gonzales, da Ganadería GC, integrando o Condomínio Brascol.

Hoje, o plantel Gir Leiteiro conta com 300 animais, sendo 40 doadoras oriundas das principais famílias da raça. Para a próxima estação de monta, está programada a produção de 250 embriões Gir Leiteiro e 250 de Girolando. As doadoras de destaque são: Rara Alto Es-

tiva, Rara FIV Espelho Roland, Rara FIV Roland, Figo FIV Nayama, Tiffany FIV 2B, Banusha FIV Aroeyra, Tigreza FIV Mutum, Sala FIV Mutum, Seda FIV Mutum, Tona FIV Mutum, Nefrita FIV da Palma, Jurema JGVA, Saúva 1 Monte Verde, Lamela Monte Verde, Ervilha Agrocopa, Fanta FIV Villarejo, Diorama FIV do Basa, Domadora FIV do Basa, Darliana FIV do Basa. Com investimentos em tecnologias de reprodução, a fazenda tem investido em acasalamentos direcionados para um Gir Leiteiro produtivo e eficiente. No gado Gir Leiteiro e Girolando, a FIV é utilizada para multiplicar a genética selecionada. Todo o rebanho, é avaliado pelo PMGZ e participa do Teste de Progênie da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), será feita a genotipagem para diversas características, sendo que para Beta-caseína já é realizada há bastante tempo. “Por ser uma fazenda escola, temos um hospital veterinário a nosso dispor, e estamos montando toda uma estrutura para apresentação dos animais e para atender os cursos das agrárias, permitindo o desenvolvimento de pesquisas no local, tanto na parte de pastagem, análise de solo, saúde animal, sanidade e genética”, destaca Felipe.

CONQUISTAS NAS EXPOSIÇÕES

Com olho clínico para exposições, o assessor pecuário JCN Netinho vem selecionando o time de pista das

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Dr. Nilson Gomes, Felipe Raunheitti Gomes, Luiza, Dra. Simone, e Felipinho

Fazendas Unidas Ita, ele tem o apoio técnico do veterinário Bernardo da Silva Cantizani e de toda equipe das Fazendas Unidas Ita. “Vivi muitos anos em exposições e escolho o animal pelo olho. Sinto que ele vai ter bom resultado na pista e sigo esse instinto. Com o Nakan e tantos outros animais foi assim e deu certo. Os resultados estão aparecendo rapidamente. Na 100ª Exposição de Cordeiro, a mais tradicional do estado, levamos cinco exemplares, fizemos oito Campeonatos”, assegura Netinho.

Já na 1ª Exposição Estadual Fluminense de Gir Leiteiro de Araruama/RJ, o criatório terminou como Melhor Expositor, conquistando 18 premiações, tanto em pista quanto em Torneio Leiteiro. Para 2023, a fazenda vai intensificar as participações nas exposições em nível nacional, dentre elas a ExpoZebu.

NELORE

Na raça Nelore, o foco da seleção é a produção de animais altamente produtivos para a venda de tourinhos. A base do rebanho conta com animais de pedigree consistente de linhagens como: Marca Taça, Sabiá, Mata Velha, Rima. Para a próxima safra, serão produzidos 500 embriões. Nos cavalos, as Fazendas Unidas Ita detêm um plantel com cerca de 150 animais da raça Mangalarga Marchador com destaque para o reprodutor Diamante, um cavalo extremamente lindo e exótico e é o xodó do Felipinho.

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Com os pés nomaspresente, de olho no futuro

O produtor rural e empresário Braz Peres Neto une tradição e inovação para garantir o avanço da pecuária no Vale do Araguaia

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ma geração conectada com tudo que acontece no mundo, mais atenta às questões ambientais e sociais, ciente do poder de incorporar informações e novas tecnologias ao processo de produção. Esse é um perfil atribuído aos jovens profissionais que estão agora no auge de suas carreiras, a chamada geração Millennials. No agronegócio, essas características são muito bem-vindas, contribuindo para o avanço do setor.

Aos 32 anos, o pecuarista e empresário, Braz Peres Neto, tem incorporado a inovação e a diversificação aos negócios que comanda. Desde 2014, assumiu a gestão das propriedades da família, a Agropecuária Sucuri, no Vale do Araguaia, no Mato Grosso. Lá, trabalha com lavoura, irrigação e melhoramento genético da raça Nelore. A formação em Direito pela USP foi vencida pela paixão pelo agro. “Os produtores têm consciência da necessidade de desenvolver uma pecuária sustentável, eficiente e produtiva. No Vale do Araguaia, estamos colocando em prática vários projetos nessa linha, inclusive voltados para a preservação ambiental”, diz Neto, que é presidente da Liga do Araguaia.

Nos últimos anos, a entidade vem incentivando a adoção de práticas de pecuária sustentável no Vale do Araguaia mato-grossense. O objetivo é promover o desenvolvimento econômico e social da região, por meio do aumento da produtividade e renda, respeitando a legislação vigente e os limites dos sistemas naturais.

“O pagamento por serviços ambientais está aos poucos se tornando realidade, vai se tornar uma nova fonte de renda para o pecuarista. No Programa Conserv no Araguaia, que realizamos em parceria com Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), os produtores que mantêm preservadas as áreas excedentes de Reserva Legal estão sendo remunerados”, informa Braz Neto. A Liga do Araguaia conta atualmente com a participação de 62 fazendas, que correspondem a 149.000 hectares de pastagens com 47.000 hectares em processo de intensificação e um rebanho estimado de 130 mil cabeças.

Ciente da importância das tecnologias, sejam elas tradicionais ou recentes, para garantir as práticas sustentáveis dentro da pecuária, Braz destaca que o melhoramento genético é um grande diferencial para a eficiência

das propriedades. Ele é diretor da CIA de Melhoramento, entidade que reúne pecuaristas que difundiu o Certificado Especial de Identificação e Produção (CEIP) da raça Nelore. Segundo Braz, a intensificação do uso de tecnologias de melhoramento genético, como as avaliações genéticas e genômicas, aliada ao racial do Nelore garantiu avanços na produção de touros. “Os produtores perceberam a necessidade de convergir essas duas linhas de trabalho, o que tem garantido animais mais eficientes e bonitos”, acredita.

Outra face do trabalho de Braz Neto é o mundo digital. Ele é investidor do Agro App, aplicativo idealizado pelo engenheiro agrônomo Murilo de Freitas Iossi e pelo produtor rural Fernando Rossi de Oliveira e desenvolvido para integrar quem trabalha na agropecuária com as mais modernas tecnologias de informação. O Agro App disponibiliza gratuitamente informações sobre as principais culturas, como cana-de-açúcar, café, citros, feijão, milho, soja, sorgo, pastagens, girassol, algodão, arroz e trigo, além de pragas, doenças, variedades e híbridos, defensivos, deficiências nutricionais, estádios fenológicos e fertilizantes. Lançado em 2020, ainda conta com acervo sobre máquinas, defensivos, uma comunidade para troca de informações, além da oferta de crédito. Segundo ele, os pilares da iniciativa por trás do Agro App são a democratização da informação e respeito à Ciência e conhecimento técnico. Braz ainda é sócio-fundador da Planalto Capital, gestora de fundos de investimentos com foco em uso intensivo de tecnologia e em estratégias sistemáticas/quantitativas. Para desenvolver com eficiência todas as suas atividades, Braz entende que é preciso estar sempre bem informado, ter a flexibilidade para perceber as novas demandas da pecuária e estar sempre de olho no futuro na tentativa de antecipar as decisões. “Muitos produtores vêm desenvolvendo bons projetos, colocando o Brasil como referência na produção de carne bovina no mundo. Estamos vindo de um ano difícil, que teve influência negativa das questões políticas e coincidiu com o ciclo de baixa da pecuária. A estimativa é de que o ano de 2023 seja mais promissor para o agro. É o momento de o produtor organizar a casa, voltar a investir em genética para ter mais eficiência e rentabilidade”, finaliza Braz Neto.

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Novas lideranças do agro

Importantes associações de criadores do país começaram 2023 sob o comando de novos presidentes, que buscam mais representatividade para o setor

LARISSA VIEIRA OUTUBRO/NOVEMBRO 2022 GENTE

Oano de 2023 começou marcado por mudanças no comando não só dos governos estaduais e federal, mas também em importantes associações de criadores que representam grandes raças de corte e de leite do Brasil. O ponto comum entre as novas lideranças é a necessidade de ampliar os investimentos em melhoramento genético e de políticas públicas voltadas especialmente para os pequenos produtores.

Na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o paranaense Gabriel Garcia Cid, à frente da entidade desde janeiro, pretende ampliar os investimentos no Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), com foco na genômica. “Nossos investimentos serão principalmente dois: contínua capacitação e treinamento do nosso corpo técnico e levar informações sobre melhoramento aos associados, discutindo os rumos do programa, e principalmente, orientando sobre a forma correta de usar esta ferramenta”, diz Cid, que é neto de Celso Garcia Cid, que no início da década de 1960 importou zebuínos da Índia.

Com mais de 20 mil associados, a ABCZ passa por uma fase de diagnóstico, para identificar as demandas mais urgentes, mas algumas ações já foram definidas. Dentre elas, estão o recadastramento dos associados, a publicação de um relatório administrativo trimestral e a criação de pontos de apoio pelo país para diminuir os custos de atendimento técnico para os associados. Outra decisão é a realização de um evento técnico voltado para a cadeia do leite, no segundo semestre de 2023. A programação contará com exposição e julgamento de animais, leilões, congresso para discussões técnicas, como melhoramento genético, nutrição animal, qualidade do leite e tecnologias voltadas ao setor, além de degustação e comercialização de produtos derivados do leite de zebu.

Em relação à ExpoZebu 2023, a ABCZ pretende fomentar a participação dos pequenos criadores, que terão um espaço para expor seus animais. “Essa é uma medida importante para garantir que todos possam crescer, aproveitando a força da ExpoZebu. Também destaco que as atrações terão momentos muito especiais com temas que valorizam a sucessão no campo e aproximem a sociedade do agro”, reforça o presidente da ABCZ.

O diálogo com o governo federal também será priorizado. No início de fevereiro, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Henrique Fávaro, levou seu gabinete itinerante até Uberaba para receber as demandas de diversas entidades da pecuária. Segundo o ministro, esta foi a primeira de muitas reuniões que serão realizadas pelo Mapa em diversos locais do país para colher as demandas e implementá-las como políticas públicas no Ministério. “Temos que construir pontes, respeitando as posições divergentes. Mas todos aqueles homens e mulheres produtores que querem construir um futuro melhor para o agronegócio terão as portas abertas no nosso governo para que possamos fazer esse setor cada vez mais forte e sustentável. Estamos buscando fortalecimento do crédito rural e já começamos a escrever um novo Plano Safra que incentive a sustentabilidade e reforce recursos para pequenos e médios produtores. Já para médios e grandes, proporcionará investimentos na manutenção de máquinas, construção de armazéns, renovação de pastagens degradadas, para intensificar a produção e gerar oportunidades. Queremos ser um Ministério contemporâneo para abrir mercados”, diz Fávaro.

De acordo com o presidente da ABCZ, esse diálogo é essencial. “A ABCZ vai se posicionar cada vez mais politicamente em defesa dos interesses dos pecuaristas. Esse é um dos nossos mais importantes papéis: garantir que o criador seja respeitado e ouvi-

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OUTUBRO/NOVEMBRO 2022
Carlos Fontenelle

do. Não renunciaremos à democracia e ao diálogo, mas nossa marca de representatividade será reforçada. Com o ministro, já temos várias conversas com algumas solicitações de verbas para auxílio aos pequenos criadores e discussões sobre responsabilidade ambiental”, conclui.

Guzerá e Nelore MT- Outra associação de zebuínos que começou 2023 com novo presidente é a Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil (ACGB), que passa a ser conduzida pelo criador Carlos Fernando Fontenelle Dumans, cuja família seleciona a raça desde 1928, na Fazenda Fontenelle, no município de Baixo Guandu/ES.

Para o triênio 2023/2025, a ACGB pretende fortalecer o banco de dados da raça e, consequentemente, as avaliações genéticas. Haverá incentivo à coleta de dados fenotípicos dos rebanhos dos associados, à participação em provas zootécnicas e em programas de melhoramento/avaliação genética. “Vamos continuar trabalhando em estreita colaboração com a ABCZ, Centro Brasileiro de Melhoramento Genético do Guzerá (CBMG), ANCP, Embrapa e diversas outras instituições de ensino e pesquisa para que possamos continuar gerando informações importantes sobre o desempenho da raça, assim como novas ferramentas de seleção”, destaca Fontenelle. Segundo ele, os méritos da raça obtidos em provas zootécnicas e abates técnicos serão divulgados amplamente ao mercado.

As ações da nova Diretoria ainda terão como foco a maior participação dos criadores no dia a dia da ACGB. Serão desenvolvidas campanhas para ampliar o quadro associativo. A transparência na utilização dos recursos pagos pelos

associados é outra prioridade. Para isso, a entidade fará divulgação periódica dos gastos.

Já em relação às exposições de Guzerá a proposta é incentivar a participação dos associados em exposições regionais com contagem de pontos para os Rankings Regional e Nacional. Também será adotada uma taxa de inscrição diferenciada para participação em exposições com julgamento em pista e para apresentação de animais para comercialização. “A raça Guzerá tem grande potencial para contribuir com a pecuária nacional, tanto de corte quanto de leite, o que precisa ser divulgado de forma ampla”, acredita o presidente da ACGB.

Na Associação dos Criadores Nelore em Mato Grosso (ACNMT), quem está agora na presidência é Alexandre El Hage. “Vamos continuar fomentando estudos de melhoramento genético, como temos feito nos últimos quatro anos, com a proposta de contribuir com as tomadas de decisões dos produtores. Além disso, esses dados serão levados ao conhecimento do mercado, de modo a valorizar nossos esforços, e ainda ao consumidor final, queremos ampliar e simplificar a nossa comunicação para que chegue até a dona de casa, por exemplo”, diz Hage, que é zootecnista, pecuarista e empresário em Cuiabá. Segundo ele, a união do setor é importante para a construção de estratégias conjuntas. “A raça Nelore tem um potencial gigante e pesquisas recentes comprovam isso, então, precisamos trabalhar juntos para continuar fazendo o que nós sabemos fazer, que é produzir carne de qualidade e dentro de práticas sustentáveis. Independente do cenário político e/ou

GENTE #pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 90
Presidente do Angus Mariana Tellechea

econômico, a vocação de Mato Grosso é produzir alimentos para o Brasil e o mundo e é o que vamos continuar fazendo”, conclui.

Angus- Entre as novas lideranças, a única mulher é a criadora e médica-veterinária Mariana Franco Tellechea, titular da Cabanha Basca, referência em bovinos Angus e Brangus e equinos Crioulos. Nascida em Porto Alegre, ela assumiu a Associação Brasileira de Angus, entidade do qual seu pai, Flávio Bastos Tellechea, foi fundador e primeiro presidente.

Segundo ela, o foco será desenvolver projetos para uma pecuária cada vez mais sustentável no Brasil. A iniciativa passa pela criação de programas de seleção que, além de índices de eficiência produtiva e qualidade de carne, permitam a obtenção de animais que, juntamente com práticas e manejos agropecuários, viabilizem uma produção sustentável, regenerativa e que contribua para a conservação do planeta. “O trabalho da associação será buscar parcerias com universidades, entidades de pesquisa e poder público no sentido de alcançar o objetivo de que a produção de carne bovina brasileira seja identificada como conservacionista e capaz de gerar créditos de carbono. É um caminho longo e que exigirá avanços consistentes nos próximos anos”, garante. A linha de fomento à sustentabilidade, a entidade contará com a Prova de Eficiência Alimentar 2023 e o Teste de Mensuração de Gás Metano.

Convicta do avanço das mulheres no agronegócio brasileiro nas últimas décadas, Mariana sabe do desafio de ser a primeira presidente da Angus, mas faz questão de destacar o protagonismo já assumido por muitas criadoras na história de seleção da raça. “A Angus contou com muitas mulheres de fibra em seu desenvolvimento no Brasil. Coube a mim o papel de representá-las, e isso é uma responsabilidade gigantesca. Tenho orgulho e me dedicarei ao máximo para trilhar um caminho de inovação que honre o legado dessa raça fantástica”, conclui.

Girolando – O engenheiro agrônomo e pecuarista alagoano, Domício Arruda, é o novo presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. Ele pretende ampliar os investimentos no Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG), implantar mecanismos que promovam o acesso dos pequenos e médios produtores à genética superior, alcançar a certificação internacional da raça, dentre outros projetos

previstos para a gestão.

Selecionador da raça desde 1986, na Fazenda Cachoeirinha, em Major Isidoro/AL, Domício destaca que o Brasil precisa de políticas públicas voltadas para os pequenos produtores para permitir sua permanência no campo. “A raça Girolando responde por 80% do leite produzido no país, sendo que muitos desses produtores são pequenos. Precisamos garantir a essas propriedades o acesso ao melhoramento genético, para que possam produzir com sustentabilidade, mais produtividade e rentabilidade”, diz o presidente da Girolando.

Segundo ele, a cadeia leiteira precisa trabalhar pelo fortalecimento do cooperativismo, avançar na relação indústria/produtor/varejo e nas tratativas de importação de leite, com intuito de evitar que a entrada do produto no país prejudique o mercado nacional. “Ainda vamos trabalhar junto ao Ministério da Agricultura para consolidar o projeto apresentado no governo anterior para reconhecer o Girolando como a Raça Nacional”, conclui Domício.

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Presidente da Girolando Domício Arruda

SOCIAL

André, Paula e Felipe Carlos, Graciela, Alessandra e Osvaldinho Luiz Adilson, Marcos e Dr Fernando Família Nunes Franco Familía DACAR João, Mariana e Bruno Edina e Bruno Priscila, Fernando, Márcio, Maria Isabel e João Guilherme Gary, Juliano, Marcelo, Fernando, Nacif e Rivaldo Juliana, Daltinho e Eny Leonardo, Melissa, Leonardo e Leonardo Cerise Paulo, Fabiana e Felipe Marcelo e Daiana Vivian, André e Luísa Leonardo Cerise, Leonardo Matsuda, Nabih e Victor Mayara, Suellen e André Júnior Baiano e Cláudio Bruno e Paula Gerson, Felipe, Machadinho, Gilson, César e Felipe Carlos, Júnior, Ixchel, Heitor, Eder e Yesmine Gustavo, Felipe, Pedro, Gabriel, Paulo, Anderson, Leonardo e ACN Alisson, Paulo, Douglas, José Emanuel, Raul e Júnior Ana Lúcia, Franco e Nega Bruno, Maurício, Zé Furtado, Tatá e Valere Arnaldinho e Branquinho Angelo, Orlando e Juliano Caio e Mônica Branquinho, Camila e Carla Betão, Marcelo e Cristiano Gerson, Rodolfo, João e Gilson Beto, Alfredinho, Júnior, Beka e Felipe Daltinho, João, Felipe, Caio e Victor Fábio, Jimmy, Mazão, Lucyana, Marino e Luis Guilherme, Karen, Denner, Denner Junior e Junior Lussari Karen, Iara e Paula Francisco e Márcio Kátia, Valentina, Victória, Leonardo, Barbara, Leonardo, Luiz Equipe jornalismo ABCZ Aciole, Edmundo e Caroline Jovelino e Bento Rodrigo, Reinaldo, José Afonso e Flavinho Maresha, Marci, Herica e Hans Nilsão, Júnior, Aurelio e Paulinho Ney, Luiz, Cristina e Barata Renato e Kiki Marcelo e Daniela Daniel, Jéssica, Marcelo, Ana Cláudia e Lucas Pedro, Rubens, Jonada, Luiz Fernando, Branquinho, Tatiane, Rodrigo, Marcos e Marcelo Luiz Humberto, Osvaldinho, Abílio, Francisco e Arnaldinho Celso, Vinicius e Fred Roberto, Virginia e Mari Rodrigo e Luciane Leonora e Machadinho Taíssa e Luiz Guilherme Sandra, Silvestre e Leiliane Totó e Kauê Leonardo, Marcelo, Reinaldo, Bruno, José Eduardo e Tadeu Tonico e Osvaldinho Udelson, Zoller, JC, André e Augusto Silvio, Toninho, Daniela, Renata e Cau

PONTO DE VISTA

“Apesar dos avanços na produção agrícola, seguimos enfrentando o desafio do desmatamento, cujas taxas têm crescido nos últimos anos. No entanto, isso não está associado à produção agrícola. O desmatamento que vemos crescer no Brasil é uma prática ilegal, praticada principalmente por invasores de terras públicas, que chamamos de grileiros. Isso agora vai acabar.”

“O problema hoje que mais nos aflige, principalmente, é o econômico. Corrigir o preço da arroba que está muito baixo, muito aquém do preço de custo. Hoje, o pecuarista está pagando para trabalhar.”

“Alguns fatos do agro para acompanhar neste início de 2023 são: Clima sobre a safra brasileira de grãos 2022/23 e o desenvolvimento das lavouras; Olhar para os custos de produção da 2ª safra e também dos cultivos de inverno; Início do novo governo no Brasil; Macroeconomia e conjuntura global.”

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“O maior perigo em tempos de turbulência não é a turbulência em si – é agir com a lógica de ontem”
Peter Drucker, Pai da Administração Moderna
Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat)
Marcos Fava Neves, professor da USP

Polioencefalomalácia em bovinos.

Quais os riscos?

Apolioencefalomalácia é uma doença caracterizada por necrose com amolecimento da substância cinzenta do encéfalo, causando incoordenação motora e a morte do animal, quando não atendido em tempo hábil.

Durante muito tempo acreditou-se que a deficiência de tiamina (vitamina B1) era a única causa da doença, uma vez que boa parte dos animais apresentam melhoras quando tratados com essa vitamina.

No entanto, hoje é sabido que a doença também possui outras etiologias, entre elas a intoxicação por enxofre ou chumbo, uso de amprólio, intoxicação por sal concomitante à privação de água e infecção por herpesvírus bovino tipo-5.

É uma das principais doenças neurológicas que acometem os ruminantes, podendo causar grandes prejuízos na produção de bovinos. Tem predominância em animais jovens e bem nutridos e sua ocorrência vem sendo bastante notada nos confinamentos, gerando perdas ao confinador quando o animal não é diagnosticado e tratado rapidamente.

Como grande parte dos animais tratados com essa vitamina apresenta boa recuperação, optou-se por entender melhor o metabolismo e a sua atuação.

A tiamina é uma das vitaminas do complexo B sintetizada no rúmen durante o processo de fermentação realizado pelas bactérias ruminais e, posteriormente, ab-

sorvida e metabolizada, não sendo armazenada no organismo. Uma vez absorvida, atua em diferentes vias metabólicas, indo desde a atuação indireta na manutenção e proteção dos neurônios até a participação importante no metabolismo de carboidratos, onde atua como cofator de várias enzimas importantes no Ciclo de Krebs.

Neste contexto, por atuar diretamente na síntese de ATP (adesonina trifosfato), a carência de tiamina resulta em diminuição da eficiência da bomba de sódio e potássio, resultando em retenção de sódio, aumentando a pressão osmótica no interior da célula e, consequentemente, alterando o volume celular devido a maior atração de água. Estes distúrbios são responsáveis pelas alterações comportamentais observadas durante a ocorrência da doença, tais como incoordenação motora, isolamento, cegueira, ataxia, bruxismo, tremores musculares, movimentos de pedalagem, pressão da cabeça contra obstáculos e convulsões.

De modo geral, a deficiência de tiamina pode acontecer de duas maneiras: pela menor produção no rúmen ou pela degradação da tiamina a partir do crescimento de bactérias ruminais (Bacillus thiaminollitycus e Clostridium sporogenes) que sintetizam a enzima tiaminase. Ambas as situações parecem ser consequência de alterações no ambiente ruminal que resultam em queda de pH, muitas vezes devido ao uso de dietas com alta inclusão de grãos (amido) associadas a baixa inclusão de fibra efetiva.

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 100 OPINIÃO

É importante ressaltar que os bovinos evoluíram para consumirem alimentos fibrosos (volumoso), que, em sua maioria, apresentam baixos teores de amido, ou seja, são alimentos que mantém o pH ruminal mais próximo da neutralidade, entre 6,5 e 6,8. O uso de dietas mais energéticas, ricas em amido, tem por objetivo promover a aceleração do crescimento do animal e reduzir o ciclo produtivo, tornando não só o animal, mas todo o sistema, mais eficiente.

No entanto, ao utilizar essas dietas mais “quentes” modificamos o metabolismo ruminal e isso pode resultar em distúrbios metabólicos no animal. Por isso a importância de um acompanhamento técnico dentro da produção, principalmente quando os sistemas são mais tecnológicos. E pensando no confinamento, é fundamental fazer uma boa e gradual adaptação nos animais para consumirem a nova dieta. Da mesma maneira, após o período de adaptação, é importante manter um manejo de cocho eficiente e ficar atento à dieta fornecida e à qualidade dos insumos utilizados.

Outra causa bastante comum da ocorrência de polioencefalomalácia é a intoxicação por enxofre, na forma de sulfatos, sulfitos e sulfetos. A intoxicação pode ocorrer via pastagens contaminadas com subprodutos industriais ou fertilizantes ou pelo consumo de água ou de dietas com altos teores de enxofre. O uso de DDG (grãos secos de destilaria) e WDG (grãos úmidos de destilaria) em confinamentos vem aumentando, e esse alimento apresenta em sua composição teores mais elevados de enxofre, por isso é importante ficar atento ao seu nível de inclusão nas dietas.

Uma vez presente na dieta, os sulfatos produzem o gás sulfeto de hidrogênio, o qual possui três caminhos no organismo animal: pode ser destoxificado pela produção microbiana de aminoácidos sulfurosos; eructado ou absorvido pelos epitélios ruminais e intestinais. O excesso desse gás também inibe a atuação de importantes enzimas envolvidas na produção de ATP, resultando

em alterações no metabolismo energético do animal, conforme explicado anteriormente. Segundo o NRC (2016) a exigência de enxofre na dieta para bovinos é de 0,15% na matéria seca da dieta total até o limite tolerável de 0,5%.

Por outro lado, a doença também é percebida quando os animais estão em pastejo. Nesses casos, a deficiência de tiamina pode ser resultado da ingestão de plantas que podem sintetizar tiaminases, como a samambaia (Pteridium aquilinum), a cavalinha (Equisetum arvense) e o trevo-de-água (Marsilea drummondii). É recomendável que os animais não tenham acesso a essas plantas, mantendo-os em pastos limpos e sem invasoras.

Com relação ao tratamento, quando a doença é manifestada pela deficiência de tiamina, recomenda-se a aplicação de tiamina e anti-inflamatórios esteroidais. Já quando a causa é por intoxicação por enxofre ou por herpesvírus bovino tipo-5, esse tratamento não é eficaz, sendo recomendado controlar os níveis de enxofre da dieta e eliminar a fonte causadora da intoxicação.

Como últimas recomendações, vale lembrar que dietas altamente energéticas e com pouca fibra efetiva podem levar à acidose ruminal, condição que pode reduzir a síntese e a absorção de tiamina. Sendo assim, é fundamental evitar mudanças bruscas de dieta, principalmente em sistemas de confinamento, além de fazer uma adaptação bem-feita, mantendo o fornecimento adequado de fibra na dieta para diminuir o risco de manifestação da doença.

Em caso de alterações na dieta, a mudança deve ser gradual, a fim de garantir adaptação da população microbiana e manter a produção de ácidos graxos voláteis com menor proliferação de microrganismos produtores de tiaminases. É importante também ficar atento às quantidades adequadas de minerais na dieta dos animais, sendo necessário observar os níveis de sulfetos, acesso à água de qualidade e restrição do acesso a locais contaminados.

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Josilaine Lima Zootecnista, doutora em Ciência Animal e consultora técnica da Premix

OPINIÃO

Frame Score como ferramenta adicional de seleção O

mercado consumidor tem exigido um sistema pecuário cada vez mais eficiente, baseado em um regime de ciclo curto de produção que otimize os recursos ambientais. Nas últimas duas décadas, a produtividade da pecuária de corte brasileira aumentou 159%, o que possibilitou a redução do ciclo pecuário e impulsionou a produção de carne de qualidade e sustentável, através de tecnologias associadas ao melhoramento genético que permitem acelerar os ganhos genéticos dos rebanhos em consonância com os recursos disponíveis na propriedade e objetivos de produção.

No melhoramento genético de zebuínos há uma preocupação crescente em relação à seleção para crescimento e peso vivo em idades jovens e seus impactos no tamanho adulto, composição da carcaça, fertilidade e produtividade do rebanho. Em vista dessa demanda e da necessidade de medidas complementares às DEPs para peso em diferentes idades, o Frame Score (frame) mostrou-se uma ferramenta adicional de seleção. Específico para cada raça, o frame é a descrição numérica do tamanho do esqueleto do animal em função da idade, sexo e altura, estando indiretamente associado com o potencial de crescimento, composição corporal, tamanho na maturidade e exigência nutricional.

Apesar das vantagens de sua utilização, o frame não era habitualmente utilizado no Brasil, pois até então as equações de predição para frame eram adequadas para animais taurinos, tornando impraticável a sua utilização

em animais zebuínos. Diante disso, um grupo formado por pesquisadores da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), em parceria com pesquisadores da Embrapa Cerrados, da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Universidade de Davis da Califórnia, Estados Unidos, desenvolveu equações de predição para classificar animais da raça Nelore para frame, utilizando medidas de carcaça obtidas por ultrassonografia, altura na garupa, idade e sexo dos animais, a partir de dados oriundos do programa Nelore Brasil da ANCP.

Essa pesquisa deu origem a um artigo recém-publicado na revista Animal Production Science, intitulado de “Critérios de seleção para frame score e sua associação com crescimento, reprodução, eficiência alimentar e características de carcaça em bovinos Nelore” (em inglês: Selection criteria for frame score and its association with growth, reproductive, feed efficiency and carcass-related traits in Nellore cattle). Neste trabalho, foram quantificadas as associações genéticas entre o frame Nelore e características relacionadas ao crescimento, reprodução, carcaça e eficiência alimentar. Além disso, foi estimado o impacto da seleção para o tradicional índice bioeconômico MGTe (MGTe: Mérito Genético Total Econômico), assim como para os quatros novos índices bioeconômicos de seleção da ANCP para sistemas de cria, recria e engorda sobre o escore de frame (MGTe_CR; MGTe_RE, MGTe_CO e MGTe_F1).

Os resultados da pesquisa publicada indicaram que a

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 102

característica frame é um critério apropriado para monitorar o peso ao nascimento (PN) e peso adulto (PA) da vaca, como consequência da maior associação genética entre frame e os pesos nestas idades, sendo que a seleção para maior frame deve aumentar o peso ao nascimento e peso adulto da matriz. Contudo, para os pesos e perímetros avaliados após a desmama, a magnitude das associações genéticas com frame foi baixa. Portanto, a seleção para maiores pesos e perímetros após desmama não deve envolver animais de maior frame. Isso implica que, se a finalidade é a adequação do frame ao sistema de produção e objetivos do criador, este deve ser incluído ou utilizado como critério de seleção para obtenção de maiores respostas, em conjunto com outras DEPs de interesse produtivo. Ainda de acordo com o estudo, o frame não se mostrou uma característica apropriada para melhorar a precocidade sexual, a fertilidade e a produtividade das matrizes, em virtude de sua baixa associação genética com estas características, indicando que, se o objetivo do criador é melhorar a precocidade e produtividade das matrizes, a estratégia mais apropriada é utilizar as DEPs diretamente indicadoras às mesmas, disponíveis nas avaliações genéticas, como o caso da DEP para 3P, STAY e PAC.

Em relação às características de carcaça, a área de olho de lombo (AOL) apresentou associação positiva com frame, indicando que a seleção para aumentar o frame levaria a melhorias no rendimento dos cortes de carcaça e no valor comercial. Já a associação genética obtida entre frame e espessura de gordura na garupa (P8) foi de alta magnitude, porém negativa, sugerindo que a seleção para maior frame diminuiria a P8. A deposição de gordura é associada com a curva de crescimento dos animais, pois o início da deposição está relacionado com a redução do crescimento muscular e a maturidade fisiológica. Dessa forma, animais mais altos apresentam desenvolvimento muscular e deposição de gordura subcutânea tardios.

Para as características relacionadas com a eficiência alimentar, como o consumo de matéria seca (IMS)

e consumo alimentar residual (CAR), podemos afirmar que, como era de se esperar, a seleção para adequação do frame não interfere na expressão do CAR, mas a seleção para aumentar o frame deve acarretar aumento na IMS. Neste trabalho, os pesquisadores também avaliaram o impacto da seleção para os índices bioeconômicos de seleção para sistemas de ciclo completo (MGTe), cria (MGTe_CR), e recria e engorda (MGTe_RE, MGTe_ CO e MGTe_F1) sobre a DEP de frame. A seleção para maior MGTe e MGTe_CR resultou em menores impactos sobre o frame: apenas 8,3% e 9,7%, respectivamente, do ganho genético obtido, se a seleção fosse diretamente pela DEP para frame. Já para os índices de recria e engorda a pasto (MGTe_RE) e recria e engorda em confinamento (MGTe_CO e MGTe_F1), que incluem maior ponderação nas características de composição de carcaça, a mudança correlacionada ao frame foi 15%, 16,5% e 13,6%, respectivamente, do ganho genético obtido, se fosse selecionado diretamente pela DEP para frame. Desta forma, a seleção usando os índices MGTe e MGTe_CR, customizados para sistemas de produção menos intensivos, não influenciam o frame, em curto prazo, o que significa que esses índices de seleção apresentam menor impacto no tamanho maduro, composição da carcaça e exigências nutricionais dos animais.

Os resultados dessa pesquisa demonstram que a característica Frame Score foi favorável à seleção e relevante para ser considerada no atual cenário do melhoramento genético da raça Nelore, podendo ser utilizada como critério auxiliar ou complementar para os programas de melhoramento genético, visando melhores decisões de reprodução e acasalamento para diferentes condições de mercado e produção. A classificação de frame não é importante apenas para sistemas de cria Nelore, mas também para sistemas de recria e terminação, devido a potenciais antagonismos genéticos entre características de crescimento, reprodução, eficiência alimentar e características de carcaça.

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 103
Maria Paula de Negreiro Médica-veterinária e mestre em Ciências. Atua na Base de Dados ANCP

OPINIÃO

Tempo das “vacas magras” ou das grandes oportunidades?

Em um cenário de commodities se desvalorizando, apreensão com o novo governo, inflação mundial em 2 dígitos, juros altos levando à retirada de recursos da produção para investimentos mais seguros e até no exterior, como vislumbrar o futuro?

Em abril de 2021, escrevi um texto aqui nesta revista Pecuária Brasil sobre os períodos de “vacas gordas” e de como acreditava que deveríamos guiar nossas decisões. Na época tínhamos uma @ de R$320,00, soja a R$175,00, e milho a R$98,00, bem diferente dos dias atuais. Hoje, estamos com R$277,00, R$174,00 e R$85,00 (cotações em 26/01/23), respectivamente, quase dois anos depois.

Junte-se a isso o fato de que, na pecuária, temos a baixa do ciclo que ocorre aproximadamente a cada seis anos e que encontra agora, um terreno “fértil” para grandes baixas. Resumindo, nossos ativos do agro caíram muito, seja nos valores nominais, seja na inflação do período. Na época, comentei sobre construirmos uma reserva financeira para os períodos difíceis que viriam. Parece que chegou a hora!!!

Com o novo presidente eleito, as diretrizes do país mudam de rota de um governo não centralizador, política liberal e foco na produção para um governo centralizador e baseado no consumo. Isso altera “visceralmente” todo o planejamento do agro com expectativa de diminuição de financiamento do Plano Safra e novas taxações, como já verificado no estado de Goiás. Vamos aguardar quão intenso será este impacto.

A pandemia, que ceifou milhões de vidas ao redor do mundo, em 2020 e 2021, trouxe a conta em 2022, por meio do recuo do PIB de grandes potências, até negativo, e uma inflação mundial nunca vista, acima de 10%, retraindo mercados, fechando empresas, diminuindo empregos e necessitando políticas de auxílio aos mais afetados.

Com os juros altos para conter a inflação, retira-se muitos recursos da produção para colocá-los em investimentos mais seguros com rentabilidade garantida, neste momento turbulento, o que agrava a situação do setor produtivo que dispensa funcionários e enxuga custos para manter os negócios de pé. Vemos, inclusive, um movimento de deslocamento de recursos ao exterior aumentado de maneira exponencial feito por desacreditados da nova política.

Com todos estes desafios, o que faremos, caro leitor?

Historicamente, é exatamente neste cenário de crises que encontramos grandes oportunidades, “enquanto uns choram, outros vendem lenços”.

São vários os exemplos, cito aqui alguns como no corte, a compra de bezerras para ficar no pasto 2 anos e começar a entregar bezerros desmamados a partir de 2025, quando o ciclo pecuário deverá retomar sua força na valorização dos bezerros. A compra de genética como touros melhoradores e embriões, na maioria das vezes indexados em @, está muito interessante também. Em nosso setor de FIV (Fertilização In Vitro), nunca foi tão barato contratar os serviços de uma central de receptoras de embrião, que você envia o embrião e recebe a prenhez com 90 dias de gestação, já que também o preço é indexado em @ e que caiu 23% em um ano, enquanto todos os outros insumos subiram muito como diesel, adubos, sementes, defensivos etc.

Com a nossa @ 19% mais barata que os grandes players exportadores mundiais e mais plantas frigoríficas autorizadas a exportar, nossos frigoríficos e o MAPA poderiam atingir novos e bons mercados lá fora.

O maior ativo do agro, a terra, mostra sinais de desaquecimento e pode se transformar em uma tremenda oportunidade de aquisição.

No caso do leite, a continuação das políticas de auxílio à população de baixa renda deve estimular o consumo de produtos da cesta básica, entre eles o leite, com ótimas expectativas de aumento de consumo e de preço para este ano. Além desses, uma infinidade de novos negócios surgirá para ocupar a lacuna daqueles que desistem ou de novos nichos que surgem.

Com os recursos nas carteiras mais conservadoras e garantidas, a atividade produtiva recua, mas no primeiro faro de oportunidade, eles mudam de ativo e aceleram setores com alto potencial de crescimento em nosso país, como é o caso do agro, capaz de alimentar seis “Brasis”.

A crise sempre se mostra uma bela oportunidade que nunca deve ser desperdiçada.

Quem se preparou antes, está com a faca e o queijo na mão. Mas, para todos, haverá novos caminhos. A vitória cabe aos persistentes e aos que se arriscam mais em tempos de escassez.

Vamos às compras!

#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2023 104

EM FOCO

“Eu fico com a pureza da resposta das crianças. É a vida, é bonita. E é bonita”.

Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha)

JANEIRO/FEVEREIRO 2023 | #pecBR 105
Foto: Cláudia Leonel

UMA HISTÓRIA DE TRABALHO E DEDICAÇÃO

MELHOR EXPOSITOR NELORE - RANKING NACIONAL NELORE BOLÍVIA 2021/2022
João Leopoldino Neto entrega premiação as irmãs Ribera: Yesmine, Janaína e Estefani

RANKING NACIONAL NELORE ACNB 2021/2022

Medalha de Prata Melhor Fêmea Adulta

Nelore com UNIQUE FIV DO MURA

UNIQUE FIV DO MURA - MURA 15276 Kayak TE Mafra x Prata FIV do Mura (Alarme Edto) IRMÃS RIBERA Beni e Santa Cruz de la Sierra - BO @cabanasantiagobo Cabaña Santiago Yesmine, Janaína, Eliane, Felipe, Fabiana, Paulo, Maria, Leonardo, Heitor, Ronaldo e Victor

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