Penas Especial #01: XII SEMANAU

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Foto: Daniel Paulo, 2008 (Editada)


sumário Visões da Cidade: reforma urbana, arquitetura e tecnologia por Flávia Assis

[04] Minha cidade é cenário! O marketing turístico e as configurações cenográficas em Natal.

[10] Projeto de Requalificação Urbana em uma Fração do bairro das Rocas.

[16] Política de habitação de interesse social do campo no RN: embates e contribuições.

[20] “Construindo” Barreiras: uma analise dos contrastes entre Areia Preta e Mãe Luíza.

[26] Ecletismo em Ceará – Mirim: Herança do estilo em edificações da Rua Heráclito Vilar.

[30] Plano Urbanístico – Capim Macio.

[36] Arquitetura Moderna nas Rocas: um estudo sobre os processos de introdução, afirmação, e descaracterização dos elementos modernos no cenário popular.

[40] Os olhos que não vêem... As placas? – A busca por uma metodologia de avaliação de paisagem urbana baseada num estudo realizado na área comercial do bairro Alecrim, Natal-RN.

[46] Proposta arquitetônica conceitual com vistas a bioclimatologia e racionalização.

[52] Habitação de Interesse Social no Campo: Uma alternativa à Reforma Urbana. – Habitação provisória para os acampamentos rurais do MST/ RN.

[58] Sobre a SEMANAU de 2009, por Bárbara Felipe

[63] Expediente Foto: Daniel Paulo, 2008, da banca composta por Jesonias Oliveira, Marizo Vitor Pereira, Eunádia Cavalcante e Haroldo Maranhão.

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Foto: Oficina de taipa. Daniel Paulo, 2008

visões da cidade: reforma urbana, arquitetura e tecnologia por flávia assis A Semana de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte é um evento de cunho acadêmico que já deixou a sua marca, com a ocorrência de várias edições ao longo dos anos. Contudo, a continuidade de realização do projeto nunca foi uma de suas características mais marcantes, e, até o ano passado, a sua última edição datava de 2005. O Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da UFRN decidiu, então, fazer da retomada deste projeto um dos focos da gestão 2007/2008. É claro que o apoio – tanto institucional quanto financeiro – de várias empresas e entidades foi fundamental para os preparativos e a realização do evento. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mais especificamente as figuras do Departamento de Arquitetura e do Curso de Arquitetura e Urbanismo, não somente deram abrigo à semana acadêmica como ainda forneceram todos os meios de infra-estrutura necessários para o decorrer das atividades. Foi, ainda, através dos contatos do GEHAU (Grupo de Estudos em Habitat, Arquitetura e Urbanismo) que os dois convidados nacionais que vieram fortalecer e abrilhantar a SemanAU puderam se fazer presentes: primeiramente, a Profª. Dra. Lúcia Maria Moraes (Univ. Católica/GO), Relatora Nacional pelo Direito Humano à Moradia de Qualidade e Terra Urbana; e em seguida o Prof. Dr. Mário Braga (PUC/MG), arquiteto e fundador da ONG Usina Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado.


Foto: Palestra. Daniel Paulo, 2008

Com o apoio também da Universidade Potiguar e de seu curso de arquitetura, a paralisação das aulas nos dois cursos foi deliberada com o intuito de facilitar e incentivar a participação da maior parte dos estudantes. O resultado foi que os alunos se inscreveram em massa, gerando um número de envolvidos nunca esperado. No total, entre organização, participantes e os convidados, incluindo aí os professores dos dois cursos, palestrantes e oficiantes, somouse um total de mais de 450 pessoas. A repercussão da XII Semana de Arquitetura e Urbanismo do RN foi tão grande, e tão maior do que o esperado, que o material produzido serviu de inspiração e apoio técnico para a realização de outras semanas acadêmicas nos mesmos moldes em outros estados do nordeste, como em Fortaleza/CE e em Maceió/ AL, ainda em 2008, e em Teresina/PI agora em abril próximo. Para tanto, os materiais de divulgação colocados na internet antes e após a efetivação da SemanAU e a participação dos membros do Centro Acadêmico em diversos eventos relacionados à arquitetura e urbanismo, ao ensino e ao movimento estudantil foram muito importantes para essa troca de experiências, possibilitando esse intercâmbio de informações com diversos outros Centros e Diretórios Acadêmicos. No XXXII Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura em Belém/PA, em julho passado, tanto a semana em si quanto a temática da reforma urbana e o meio como foi abordada foram citados e elogiados como exemplo a ser seguido no Conselho Nacional de Entidades Estudantis (CoNEA) que aconteceu no encontro.

Abarcando a temática “Visões da Cidade: Reforma Urbana, Arquitetura e Tecnologia”, a 12ª edição da SemanAU procurou abordar todas as áreas de estudo relacionadas ao longo do curso como pertinentes à formação do profissional arquiteto e urbanista, voltando o foco para a reforma urbana e a demanda de debate dela advinda. Tem sido percebida, nos últimos anos, uma necessidade de discussão muito grande em cima dessa temática ao mesmo tempo tão específica e tão abrangente; e a reforma urbana vem aparecendo então como ponto de pauta constante nos Conselhos de Entidades Estudantis de Arquitetura (CoREA’s e CoNEA’s) e nos Encontros de Estudantes (EREA’s e ENEA’s), além de estar presente também em outros locais de debate, como o Fórum Social Mundial que aconteceu em janeiro deste ano em Belém/PA. Foi a partir daí que veio a idéia de trabalhar a semana de arquitetura em cima desse tema.


Foto: Oficina de estruturas geodésicas. Daniel Paulo, 2008

Praticamente todas as atividades de cunho mais teórico – palestras, mesas redondas e grupos de discussão – abordaram a problemática urbana de alguma forma. Planos diretores, habitação de interesse social, políticas públicas, intervenções em áreas centrais, impactos no meio ambiente, direito à moradia, uso dos espaços públicos, assessoria técnica e movimentos sociais foram alguns dos temas discutidos. Além disso, diversas outras atividades, essas de caráter mais prático, também aconteceram; porém com uma postura mais flexível quanto às suas essências, atingindo desde o lado mais criativo e artístico dos participantes, com oficinas como croqui, origami, fotografia e grafiti, até a construção de uma estrutura geodésica em bambu e de uma casa de taipa; passando por visitas orientadas e até mesmo momentos culturais com apresentações de grupos musicais. A integração entre os estudantes, tanto entre as duas universidades como entre seus próprios colegas de curso, foi também um enfoque dessas atividades. Aconteceu, do mesmo modo, a segunda edição do Congresso de Iniciação Científica em Arquitetura e Urbanismo do RN, com apresentações orais e de banners de alunos de arquitetura e urbanismo tanto da UFRN quanto da UNP. A banca examinadora foi composta por professores e arquitetos convidados da cidade, e os trabalhos permaneceram ainda expostos no prédio dos Laboratórios de Arquitetura da UFRN por algum tempo. A palestra de abertura, com a Profª. Dra. Lúcia Maria Moraes, foi fruto da missão da Relatoria Nacional do Direito Humano à Moradia Adequada e Terra Urbana de monitoramento e controle social em Natal, nas comunidades da Vila de Ponta Negra, Mãe Luiza, Comunidade do Maruim, Brasília Teimosa, Loteamento Boa Esperança, Comunidade do Detran, Passo da Pátria e Comunidade África. Essa missão de investigação foi efetivada em função das denúncias feitas contra os direitos humanos nessas localidades, e foi composta então de visitas in loco e de audiências públicas para a verificação de tais fatos. O resultado dessa missão foi devolvido para as comunidades na forma de um relatório entregue às mãos do então prefeito da cidade, o Sr. Carlos Eduardo Alves, e de um livro. O lançamento desse relatório se deu justamente na palestra de abertura da XII SemanAU, com a presença da imprensa potiguar e dos representantes das diversas entidades e comunidades envolvidas, inclusive a própria UFRN. Foi um dos pontos altos do evento, senão o momento mais extraordinário. Na verdade, o mais importante é que, independente do que quer que se tenha visto ou participado, a vivência e o aprendizado que vieram com a realização desse projeto com certeza foram de grande contribuição para todos. E, principalmente, que continue servindo de exemplo e de fonte de inspiração, e que o movimento estudantil organizado possa perceber que ainda pode se dar ao desfrute de abrandar um pouco suas lutas e discussões para proporcionar momentos como esse para os estudantes e para a classe acadêmica. Flávia Assis é estudante da graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN, Diretora da Regional Nordeste da Fenea (gestão 2008-09), e era presidente do CAAU-UFRN na época da XII Semanau.


Foto: Felipe Musse, 2008

Foto: Felipe Musse, 2008


Foto: II CICAU-RN. Daniel Paulo, 2008


O II CICAU-RN ocorreu durante a XIII SEMANAU, na manhã do dia 05 de março de 2008, no auditório da Reitoria da UFRN. Foi organizado por Nathália Pereira, membro do CAAU-UFRN. A comissão avaliadora foi composta pela Profª. Eunádia Cavalcante (UnP), Prof. Jesonias Oliveira (UFRN e UnP), Prof. Marizo Vitor Pereira (UFRN) e pelo arquiteto convidado Haroldo Maranhão. Foram inscritos trabalhos tanto advindos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte quanto da Universidade Potiguar. São eles (em ordem alfabética, pelo nome do apresentador): Estudo de conforto térmico ambiental do Shopping de vizinhança Sun Way. Apresentado por: Ana Catarina Martins de Souza Minha cidade é cenário! O marketing turístico e as configurações cenográficas em Natal. Apresentado por: Ana Paula Campos Gurgel Projeto de Requalificação Urbana em uma Fração do bairro das Rocas. Apresentado por: Carolina Azevedo Bezerra Política de habitação de interesse social do campo no RN: embates e contribuições. Apresentado por: Cecília Marilaine Rego de Medeiros “Construindo” Barreiras: uma analise dos contrastes entre Areia Preta e Mãe Luíza. Apresentado por: Débora Nogueira Pinto Ecletismo em Ceará – Mirim: Herança do estilo em edificações da Rua Heráclito Vilar. Apresentado por: Julita Fernandes de Morais Plano Urbanístico – Capim Macio. Apresentado por: Lorena Lamartine Lopes Rocha Arquitetura Moderna nas Rocas: um estudo sobre os processos de introdução, afirmação, e descaracterização dos elementos modernos no cenário popular. Apresentado por: Marcela de Melo Germano da Silva Os olhos que não vêem... As placas? – A busca por uma metodologia de avaliação de paisagem urbana baseada num estudo realizado na área comercial do bairro Alecrim, Natal-RN. Apresentado por: Maria Gabriela de Oliveira Sales Projeto Arquitetônico e Paisagístico de uma Estação Rodoferroviária para o Alecrim. Apresentado por: Mateus Capolina Proposta arquitetônica conceitual com vistas a bioclimatologia e racionalização. Apresentado por: Natália Ferreira de Queiroz Jangadas ao Mar. Apresentado por: Orpheo Fráguas Resende Habitação de Interesse Social no Campo: Uma alternativa à Reforma Urbana. – Habitação provisória para os acampamentos rurais do MST/RN. Apresentado por: Sarah de Andrade Os trabalhos “Proposta arquitetônica conceitual com vistas a bioclimatologia e racionalização”, “Arquitetura Moderna nas Rocas: um estudo sobre os processos de introdução, afirmação, e descaracterização dos elementos modernos no cenário popular” e “Minha cidade é cenário! O marketing turístico e as configurações cenográficas em Natal”, foram premiados com menções, no dia 07 de março de 2008, ainda dentro da programação da XII Semanau. Nesta edição especial da Penas virão publicados integralmente os artigos referentes aos trabalhos enviados em tempo hábil ao e-mail estabelecido pela organização do evento.


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cidade cenário minha cidade é um cenário! o marketing turístico e as configurações urbanas cenográficas em natal. ana paula gurgel e gabriela fonseca brito

O trabalho visa compreender o papel de uma nova forma de vender a cidade de Natal na dinâmica de composição de seu espaço urbano, além de averiguar seu funcionamento no contexto da cidade; A primeira hipótese especula que, diretamente com o incremento da atividade turística em Natal observa-se um aumento dos marcos cenográficos no meio urbano. A outra proposição é de que a disposição desses elementos na cidade desenvolve uma nova identidade visual para Natal. Através de signos que fazem relação ao nome da cidade e a festa homônima, Natal vem sendo palco de uma “teatralização”. Também se pode destacar outro tipo de imagem na qual Natal tenta se enquadrar: a miragem de um paraíso tropical com suas belas praias. Foi realizada uma pesquisa nos diversos materiais publicitários, utilizados na comercialização turística, como panfletos e mapas turísticos, bem como entrevistas realizadas com receptivos e funcionários de hotéis, que têm contato direto com esse marketing turístico. Buscando fornecer a base teórica necessária para o desenvolvimento deste trabalho, realizou-se também uma revisão bibliográfica sobre os temas levantados. Com esta fundamentação teórica foi possível encontrar diversas informações e dados de grande valia para compreender melhor os resultados das pesquisas, gerando os critérios para avaliação dos marcos.Percebe-se, entre outras coisas, que a criação de cenários, de imagenscapitais e de cartões-postais têm afetado a configuração da cidade e cada vez mais alterado a paisagem existente. Criouse uma cidade-cenário, onde a fragilidades da cidade real são maquiadas e escondidas dos turistas e dos moradores. Palavras-chaves: Marketing turístico, cenário, desenvolvimento urbano.

resumo elaborado pela equipe da Penas Especial XII Semanau


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imagem, cenografia e turismo

introdução

Numa reflexão sobre a paisagem urbana de Natal nos deparamos com uma série de imagens que não são representações reais da cidade ou conseqüências naturais do seu crescimento, elas são fruto da criação de cenários e de um processo global que tem afetado diretamente a cidade em que vivemos. Compreender o papel da nova forma de vender a cidade na dinâmica de composição do espaço urbano de Nata é o objetivo deste trabalho. Também procurar-se-á averiguar como funciona esta dinâmica de composição do espaço e como ela está inserida no meio urbano de Natal; pesquisar como é feito o marketing turístico para a cidade de Natal, identificar e classificar os tipos de identidades visuais e culturais representadas através destes marcos cenográficos; e, investigar os principais agentes envolvidos neste processo. A motivação para realizar este trabalho surge da inquietação que se verifica ante a nova imagem da cidade, onde se percebe a criação de uma “cidade-imaginária”. Seja por ação direta do marketing turístico, pelo enfoque econômico, ou por ambos, a recriação de espaços e a concepção de uma nova identidade deve ser estudada, pois somente assim se pode criar uma legislação própria. Deve-se a ausência deste elemento norteador a disposição destes enxertos cenográficos, alterações irresponsáveis e algumas vezes danosas para a história da cidade. Para melhor analisar esta questão, foram formuladas duas hipóteses. A primeira hipótese especula que, diretamente com o incremento da atividade turística em Natal observa-se um aumento dos marcos cenográficos no meio urbano. Desse modo, indaga-se que com o desenvolvimento da cidade como centro turístico ocorre uma transformação desta com o intuito de agradar e deslumbrar o visitante. A outra proposição é de que a disposição desses elementos cenográficos na cidade desenvolve uma nova identidade visual para Natal, que pouco ou nada remete àquela de sua origem cultural. Através de signos que fazem relação ao nome da cidade e a festa homônima, Natal vem sendo palco de uma “teatralização”. Também se pode destacar outro tipo de imagem na qual Natal tenta se enquadrar: a miragem de um paraíso tropical com suas belas praias. A fim de averiguar a validade das hipóteses levantadas foi realizada uma pesquisa nos diversos materiais publicitários, utilizados na comercialização turística, como panfletos e mapas turísticos, bem como entrevistas realizadas com receptivos e funcionários de hotéis, que têm contato direto com esse marketing turístico. Estas pesquisas e entrevistas serviram de base para identificar e classificar os marcos turísticos da cidade. Através da bibliografia indicada foi possível fazer uma breve análise sobre estes – como se inserem na cidade, de onde surgiram, e como afetam a imagem da cidade. Foram obtidos, ainda, dados relativos à expansão turística fornecida pela Secretaria de Turismo – SECTUR e pareces técnicos sobre a utilização dos recursos cenográficos. Buscando fornecer a base teórica necessária para o desenvolvimento deste trabalho, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre os temas levantados. Com esta fundamentação teórica foi possível encontrar diversas informações e dados de grande valia para compreender melhor os resultados das pesquisas, gerando os critérios para avaliação dos marcos.

Esta indiscutível mudança que está ocorrendo na cidade, principalmente na sua dimensão estética, é influenciada pelo crescimento do turismo, e conseqüentemente do marketing que o sustenta. O meio urbano passa por uma adequação para corresponder às expectativas criadas pelos visitantes; uma imagem que pouco corresponde à realidade ou a história, mas que certamente traz vantagens econômicas para Natal. Ao perceber-se a importância da propaganda e da visibilidade para o aumento do turismo, se observa que estas acabam por gerar determinadas imagens-símbolos das cidades. Dentro deste contexto, que aparece como uma tendência mundial, Giandomenico Amendola explica em seu livro La Ciudad Postmoderna: Para el extranjero y el turista uma imagen sintética de La ciudad es indispensable, dado que le permite organizar de una forma selectiva La percepción y ver La ciudad aun disponiendo de poco tiempo, de pocos puntos de observación o de pocas aperturas para entrar em la lógica de la ciudad. (AMENDOLA, 2000. p. 288).

O marketing turístico deve ser destacado neste processo, pois desde que tem como principal objetivo atrair o máximo de visitantes possível, surge como maior usuário do uso de imagens-capital. O turismo desponta como a indústria do pós-modernismo. Ao visitante passageiro que não vai criar vínculos permanentes com a cidade, a imagem é o principal elemento na decisão do destino. Para tanto as intervenções pontuais e estratégicas são igualmente importantes para a compatibilização da imagem vendida sendo uma característica do “turismo de massa”. Para criar uma imagem-capital é necessário muitas vezes criar uma cidade-imaginária, que desperta a emoção do visitante, mas que não deixe transparecer seus problemas e questões sociais. A partir dessa estratégia que Amendola (2000) chama de “la apariencia”, se gera uma cidade-cenário dentro de uma cidade real. Dentro de uma visão pós-moderna, o controle sobre a imagem que vai ao mundo é mais importante do que se ater a realidade propriamente dita. Sobre isso Silva fala: A remodelação de cidades por vezes implica na camuflagem e remoção de elementos “indesejáveis”; da mesma forma, aspectos “desejáveis” são enfatizados ou simplesmente inventados, sem qualquer relação com a história e cultura locais. A criação dessas novas paisagens para o consumo turístico toca em uma delicada questão: até que ponto tais empreendimentos contribuem para a manutenção e sobrevivência da paisagem e da cultura local? E ainda mais: qual o limite a ser imposto entre o “real / autêntico” e o “imaginário / falsificado”? (SILVA, 2004. s.p.)

No paralelo proposto pelo trabalho, buscaram-se várias definições de cenografia. Muito se tem escrito e discutido sobre o que é cenografia e qual seu papel no mundo teatral. O Dicionário Aurélio (Ferreira, 1988) define cenografia como “a arte e a técnica de projetar e dirigir a execução de cenários para espetáculos teatrais”; limitando ao teatro e ao espetáculo este conceito. Segundo Gianni Rato (2001), cenografia pode ser definido como “o espaço eleito para que nele aconteça o drama ao qual queremos assistir” (RATO, 2001. p. 22). Partindo dessa significação, se pode fazer um paralelo com o planejamento urbano, cuja intenção é a de organizar de forma funcional e esteticamente agradável as diferentes funções de uma cidade. De forma simplista, se pode afirmar que uma cenografia adota signos para dar representatividade a sua dimensão ilusória; à realidade que se deseja representar. Para tanto, os principais meios utilizados na criação de cenários são a luz e as formas. Avalia-se que a cenografia no meio urbano pode ser mais um elemento de valorização do natural e existente colaborando e até fortalecendo as bases culturais de uma cidade, ou pode ser a responsável pela criação de uma cidade falsa que se distancia


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da realidade em que está inserida. Em Natal, a utilização de recursos de caráter cenográficocores, luzes, volumes- nos saltam aos olhos nas principais avenidas da cidade. Através da criação de novos marcos e de uma nova proposta estética, a cidade tem se assemelhado cada vez mais a um espetáculo teatral, onde os espectadores são os turistas e os próprios cidadãos natalenses.

ação superficialista em pintar somente as fachadas do entorno imediato da praça. A segunda vertente, mais complexa, ocorre no Forte dos Reis Magos, e prima pela simplificação de um elemento histórico de fato. Quanto à iluminação, primeiramente poder-se-ia imaginar que esta fosse apenas um item de infra-estrutura, entretanto mais do que isso, exerce grande influência no cotidiano das pessoas. Entretanto, a maior crítica ao novo sistema de iluminação decorativa implantado em Natal, cujo representante maior é o entorno do Estádio Machadão, é sua artificialidade, como explica Valença quando trata de Natal “a Cidade Celofane - predominantemente verde - corrige tudo isso: se Natal não pode ser verde de dia, que seja verde de noite!” (VALENÇA, 2007. p.6).

turismo em natal

De acordo com dados cedidos pela Secretaria Municipal de Indústria Comércio e Turismo – SECTUR a cidade do Natal recebe por volta de dois milhões turistas por ano, e está com o fluxo ascendente com 25% de aumento por ano. Deste total, cerca de 30% (aproximadamente 600.000 mil pessoas) constitui-se de turistas estrangeiros, sendo este percentual formado pelas seguintes nacionalidades: em primeiro lugar estão os portugueses (30%, cerca de 180.000 mil pessoas), em segundo lugar estão os holandeses (17%, cerca de 102.000 mil pessoas), seguidos dos espanhóis (9,7%, cerca de 58.200 mil pessoas) e os argentinos (7,22%, cerca de 43.320 mil pessoas). No campo da publicidade turística, vende-se Natal como a Cidade do Sol, com 300 dias de sol durante o ano; como a Capital Mundial do Buggy, onde são realizados passeios “maravilhosos” de Buggy por dunas, praias e lagoas uma das maiores atrações turísticas; e como Terra do Camarão, Natal é o maior produtor e exportador de camarões do país e onde se saboreia “sua grande e rica variedade gastronômica”. Os principais roteiros turísticos da cidade são: roteiros de praia e aventura, roteiros históricos e religiosos, roteiro de festividades e eventos, roteiros de atividades noturnas e roteiros regionais.

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cenários de natal

Foram estudados sete mapas de divulgação turística de Natal, distribuídos em hotéis, agências de turismo e receptivos da cidade, bem como os mapas turísticos disponíveis na internet em sites de empresas de turismo, identificando-se neles os principais marcos turísticos da cidade. Com finalidade de melhor diagnóstico estes marcos foram agrupados em quatro grupos de análise: o patrimônio histórico, a iluminação, a paisagem tropical e os monumentos. No grupo referente ao patrimônio histórico percebeu-se duas vertentes. Primeiramente existe a “tradicional preservação do patrimônio histórico” caracterizada pela falta de autenticidade e pela inserção de elementos falsos que possam remeter a idéia de históricos. Esta prática, bastante comum, foi encontrada na Ribeira, e acredita-se que com a conclusão das obras de reforma e ampliação da Praça Augusto Severo, transformando-a no agora denominado Largo do Teatro este espaço terá potencialidade de tornar-se o maior exemplar da cenografia “histórica” de Natal. Desde já alguns elementos comprovam esta hipótese, como os postes decorativos à feição de candelabros antigos, distorcidos em uma escala gigantesca (solução encontrada no teatro comum em espetáculos infantis); ou na

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Ao se falar em “paisagens tropicais” se utiliza um apelo diferente ao turista: de belezas exóticas que estes não encontram em suas terras natais. Em Natal, o principal marco cenográfico dentro deste grupo é o Morro do Careca, principalmente por seu caráter simbólico, uma marca já indissociável de Natal. Assim como o Forte dos Reis Magos, o Morro da Careca não foi fruto de uma intervenção direta, mas sim da banalização de sua exposição, deixando de ser uma paisagem natural e se tornando o símbolo da “tropicalidade” de Natal. Pode-se ver sua representação simplificada em quase todas as propagandas referentes à cidade e até mesmo na logomarca da prefeitura da cidade.

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A última categoria trata da disposição de monumentos no espaço urbano como meio não só de embelezar a cidade, mas também como forma de lhe conceber uma imagem marcante. O que aqui denominamos de monumentos são os obeliscos, pórticos, estátuas e obras de arte que se encontram no traçado da cidade. Destacam-se neste grupo o Pórtico dos Reis Magos e o Pórtico da Rota do Sol.

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conclusões

Através desta divisão dos marcos foi possível perceber que Natal tenta alcançar diversas parcelas do turismo mundial, indo desde patrimônio histórico à paisagem de “praias selvagens”. A importância econômica do turismo para a cidade é indiscutível e seguramente este tem sua parcela na mercadorização das imagens de Natal. A atenção dispensada pelo Governo do Estado a esta atividade evidencia seu poder nas decisões referentes às intervenções que vêm acontecendo. É importante acrescentar que apesar de várias críticas e apelos dos urbanistas potiguares estas modificações continuam a ocorrer. Ao citar a administração pública se deve destacar um agravante na situação de Natal: a vaidade de seus administradores. Desejosos de serem lembrados pelos cidadãos cada administrador têm descaracterizado um pouco mais a cidade, não trazendo melhoras na qualidade de vida e aumentando o apelo cenográfico de Natal. Percebe-se que a criação de cenários, de imagens-capitais e de cartões-postais têm afetado a configuração da cidade e cada vez mais alterado a paisagem existente. Criou-se uma cidadecenário, onde a fragilidades da cidade real são maquiadas e escondidas dos turistas e dos moradores. Faz-se absolutamente imprescindível a criação de uma legislação que acompanhe este padrão e que possa regularizar e impedir que determinados abusos sejam cometidos, primando pelo desenvolvimento urbano, sem, contudo exacerbar imagens e cenários em detrimento do que é naturalmente belo e próprio dos aspectos inerentes à cultura, aos usos e costumes do povo potiguar.


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referências (resumido)

figuras

Figura 01 e 02: Teatro Alberto Maranhão e Rodoviária Velha Presidente Kennedy. Fonte: http://canais.digi.com.br/media/teatrook.jpg Arquivo Pessoal, 2007. Figura 03: Complexo viário do Quarto Centenário. Foto: Felipe Musse Fonte: Arquivo pessoal, 2007. Figura 04: Morro do Careca Fonte:http://www.pcrentacar.com.br/site/fotos/pontanegramorro.jpg Figura 05: Pórtico dos Reis Magos Fonte: http://www.natal.rn.gov.br/fotos/view.php? gal=culturais&pag=4 Figura 06: Pórtico de Ponta Negra. Fonte: http://www.natal.rn.gov.br/fotos/view.php? gal=culturais&pag=4

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trabalho minha cidade é um cenário! o marketing turístico e as configurações urbanas cenográficas em natal. autoras ana paula campos gurgel e gabriela fonseca brito profª. orientadora profa. drª. angela lúcia de araújo ferreira ano 2007 Instituição vinculada ufrn


Foto: Daniel Paulo, 2008

Foto: Daniel Paulo, 2008


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requalificação urbana projeto de requalificação urbana em uma fração do bairro das rocas carolina azevedo bezerra, andresa christine bezerra, karen álvares pinto, marcela de melo germano

O presente trabalho consiste em uma proposta de intervenção urbana em uma fração do bairro das Rocas. O objetivo geral é articular unidade e identidade espacial através do reconhecimento dos potenciais urbanísticos do local proporcionando o bem comum. Para tanto foram avaliadas as diferentes interações entre a forma do local objeto de estudo e seus moradores, considerando os aspectos relativos às atividades econômicas, o uso social, sua relação com o ambiente natural, a percepção espacial, a legislação urbanística e a história do bairro. As intervenções são de caráter pontual (vias de automóveis, vias de pedestres, mobiliário, espaços livres, acessibilidade), relacionadas com a escala de abrangência da fração. O projeto foi desenvolvido buscando suprir a carência de espaços e equipamentos públicos e de arborização, integrando os espaços através do uso, da tipologia, e da paginação de piso, a fim de garantir uma unidade ao local.


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introdução

Este trabalho foi realizado no primeiro semestre de 2007 e é resultado das atividades de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN que tiveram como foco de estudo no período referido o bairro das Rocas. A metodologia utilizada no processo de planejamento é resultado de uma mistura de diversas metodologias usuais (Lynch, Del Rio, Lamas, e outros) que se complementaram garantindo uma base mais consistente às propostas de intervenção. De forma geral ela pode ser dividida em três etapas: levantamentos de dados – foram levantados os aspectos morfológicos, bioclimáticos, sócio-econômicos, legais, históricos, e realizados estudos de percepção espacial e ambiental; Análise dos dados e formulação de problemas – foram identificadas as potencialidades e fragilidades da fração; e diretrizes e desenho urbano – foram definidas as estratégias de intervenção e elaboradas as propostas. Antes da descrição das propostas é necessário uma breve apresentação do bairro abordando especificamente a realidade local durante o processo de planejamento. O bairro das Rocas é um dos mais antigos da cidade de Natal, surge no início do século XX como morada de alguns pes-

cadores. Está localizado ao lado do bairro da Ribeira, centro histórico da cidade, possuindo assim uma relevância histórica e cultural. Na fração objeto de estudo estão inseridos dois edifícios de grande relevância para a história da cidade: a antiga estação ferroviária – hoje desativada, mas com mais de um projeto de re-uso elaborado; e uma antiga oficina do Complexo Ferroviário – uma grande galpão em estado de degradação física. A proposta buscou requalificar o espaço do entorno dessas edificações e propôs um novo uso para a antiga oficina, requalificando ainda as relações que os habitantes mantêm com esse espaço, contemplando todos os segmentos sócio-culturais a fim de garantir a todos um canal de identificação com a cidade, estimulando também as práticas de lazer e turismo. O bairro é dotado de boa infra-estrutura, serviços, e equipamentos públicos, na fração em estudo têm-se: duas praças, três escolas públicas, e duas vias de tráfego de transporte coletivo. O grande problema observado é o quadro de degradação física não só dos edifícios históricos como dos equipamentos urbanos - fruto da negligência do poder público, bem como a fragmentação dos espaços, a deficiente acessibilidade, e a falta de uma identidade local. É na intenção de mudar esse quadro que o trabalho pretende requalificar a área, pelo seu valor histórico e sentimental para a população, e incentivar o resgate da cultura e história locais através de intervenções urbanas localizadas: requalificação dos equipamentos existentes e um novo desenho urbano, respeitando a morfologia do local e suas peculiaridades comportamentais e ambientais.

proposta

O Projeto de reurbanização desenvolvido para um trecho do bairro das Rocas trata de articular unidade e identidade espaciais através do reconhecimento dos potenciais urbanísticos do local. O estudo tem por objetivos específicos: valorizar o patrimônio histórico e a memória da cidade de modo a contribuir para revitalização da área central; elevar a auto-estima dos moradores do bairro através da criação de um espaço público integrado de lazer; modificar as características físicoambientais dos espaços públicos que compõem a área; otimizar o uso da infra-estrutura instalada no bairro; valorizar as funções sociais e econômicas do bairro; ressaltar as potencialidades do bairro.

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O conjunto objeto dessa proposta consiste em quatro partes diferenciadas: a primeira – a praça Prof.° Acrísio Freire, se configura como um espaço de permanência; a segunda – a praça Mestre Francisco Valentim, com características marcantes de lugar; a terceira – canteiro central da rua Silva Jardim, com acentuado sentido de percurso; e a quarta – o entorno do Galpão, antiga oficina do Complexo Ferroviário, um importante vazio urbano no bairro com grande potencial urbanístico. Dentre os principais problemas observados estão a inexistência de equipamentos públicos adequados e de espaços públicos suficientes para suprir a necessidade local, além da fragmentação desses espaços e da ausência de uma identidade local. O projeto foi desenvolvido buscando suprir essa carência e alcançando um sentido de totalidade através da criação de uma paginação de piso para as calçadas e da integração de uso entre os espaços. A tipologia adotada se repete em todos os espaços contribuindo para a garantia de uma identidade ao local. Observaram-se poucas árvores de grande porte nos locais de maior concentração de pessoas, como praças e canteiros, o que prejudica a permanência dos usuários durante o dia, a preservação e inserção de áreas verdes que contribuam, principalmente, para o sombreamento dos espaços públicos propostos, são os principais objetivos da intervenção quanto ao aspecto paisagístico.

sos e jovens, um recanto sombreado por um caramanchão, equipado com mesas para jogos. Outro elemento inserido na praça é uma parada de ônibus, que foi re-locada para maior conforto dos usuários do transporte e da praça. A arborização original foi mantida, acrescentando áreas gramadas, arbustos, e um Flamboyant escolhido por sua cor quente para sombrear o playground. Embora não tenha sido detalhado no trabalho, pensou-se na criação de brinquedos temáticos para o playground, inspirados no transporte ferroviário, a fim de criar elementos diferentes que atraíssem usuários ajudando a construir a identidade do bairro fazendo uma referência histórica ao complexo ferroviário que havia no bairro.

canteiro da av. silva jardim

praça acrísio freire 4

2 A praça está localizada em frente a Escola Estadual Izabel Guindem, sendo utilizada por seus alunos como espaço para recreação e permanência, no entanto não há equipamentos adequados a tais atividades, e o local apresenta problemas de acessibilidade. Propõe-se, portanto, um requalificação do espaço. Sugere-se a re-locação de uma lanchonete da calçada da escola, que impedia a circulação de pedestres para a praça, acrescentando mesas e bancos. O desenho final foi conseqüência de uma preocupação com a insolação e em manter a arborização existente, resultando em duas áreas distintas, uma central onde se concentram as atividades de permanência; e uma destinada à circulação, contornado o espaço central.

praça mestre fco valentim

Por se caracterizar principalmente como área de passagem, o canteiro foi trabalhado como tal em seu desenho, ele foi dividido, criando um retorno a fim de facilitar o tráfego na via. Foram preservadas todas às árvores existentes, sendo realizado um trabalho paisagístico utilizando as espécies: hera-roxa, chanana e bromélias. O trailer que funcionava como lanchonete, já existente no local, foi mantido.

galpão e entorno

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3 Para a praça Mestre Fco Valentim é proposta uma redefinição do seu desenho. O novo desenho é orgânico e pretende aproveitar melhor o espaço livre, criando áreas distintas conforme o uso. Dentre as atividades inseridas na nova configuração da praça estão: a criação de um espaço destinado à recreação infantil, com playground; e a criação de um espaço destinado aos ido-

A proposta arquitetônica e paisagística para o espaço que abrange o galpão e seu entorno teve como princípio fundamental trabalhar estes espaços como um “todo” favorecendo a implementação de uma área de convívio comum aos moradores do bairro e usuários da cidade. Buscou-se primeiramente melhorar os acessos à área já existentes e promover novos acessos, sendo prevista na proposta uma reordenação viária. O programa elaborado para este espaço está estruturado com base na revitalização e re-uso do galpão. O local funcionará como barracão da Escola de Samba do bairro, “Malandros do Samba”, uma oficina de confecção de fantasias e alegorias da escola; e ainda como um pequeno museu, para preservação da história do bairro.


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6 Para o entorno do galpão é proposta uma paginação de piso e paisagismo que garante destaque à edificação e induz a entrada do usuário no espaço. Dentre os usos destinados ao renovado espaço estão atividades simples como passear, conversar, ler. Junto a estas atividades novos usos são propostos a fim de potencializar a utilização desse espaço como: a inclusão de atividades culturais e comerciais. Estes usos estão distribuídos de forma a criar duas áreas distintas dentro da praça: uma destinada à feira de artesanato e à lanchonete, equipado ainda com banheiros e com um caramanchão que sombreia algumas mesas; e outro destinado à manifestações sócio-culturais, um amplo espaço livre e aberto equipado apenas com um coreto e canteiros com bancos.

análise bioclimática como ferramenta para intervenções em centros históricos: estudo de caso no bairro da Ribeira em Natal / RN. Bianca Carla Dantas de Araújo. São Carlos, 2004. p. 161. DEL RIO, Vicente. Uma proposta metodológica. In: DEL RIO, Vicente. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo: Pini, 1990. cap. 05, p. 67 – 106. INSTITUTO DE PLANEJAMENTO DE NATAL – IPLANAT. Perfil dos Bairros de Natal. Natal,1998 MACHADO, Wênya D. R. Parque Ferroviário das Rocas: Proposta de intervenção urbana, 2006. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. SEMURB: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Natal. Disponível em: <http://www.natal.rn.gov.br/semurb/>. Acesso em: 20 jun. 2007.

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considerações finais

A proposta apresentada pretende requalificar a área para a sua população residente, renovando a auto-estima dos moradores, melhorando os equipamentos e serviços urbanos, e criando espaços de sociabilidade. Visa ainda atrair moradores da cidade toda como referência histórica e cultural. Espera-se com ele proporcionar o bem estar de todos transformando a imagem atual do bairro, humanizando-o. Pode-se concluir que as transformações espaciais, sociais e ambientais a serem realizadas podem corresponder aos anseios da população, alcançando padrões e urbanidade que incluam a todos (crianças, jovens, adultos, e idosos). Uma fase a complementar o trabalho seria a apresentação da proposta à comunidade do local para que as propostas fossem discutidas, em um processo participativo. Com isso os moradores confirmarão o sentimento de pertencer ao local.

figuras

Figura 1. Localização das áreas em estudo. Fonte: Produção própria. Figura 2. Proposta Praça Acrísio Freire. Fonte: Produção própria. Figura 3. Proposta Praça Mestre Fco Valentim. Fonte: Produção própria Figura 4. Proposta Canteiro da Av. Silva Jardim. Fonte: Produção própria. Figura 5. Proposta Galpão e Entorno. Fonte: Produção própria. Figura 6. Proposta Galpão e Entorno. Fonte: Produção própria. Figura 7. Proposta Galpão e Entorno Fonte: Produção própria

referências

ARAUJO, Bianca Carla Dantas de. Aplicação de método de

projeto projeto de requalificação urbana em uma fração do bairro das Rocas autores andressa christine bezerra, carolina azevedo bezerra, karen alvares pinto, marcela de melo germano prof. orientador profa. dra. maria dulce picanço bentes sobrinha ano 2007 Instituição vinculada ufrn


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política de habitação política de habitação de interesse social do campo no rn: embates e contribuições. cecilía marilaine rego de medeiros, amadja henrique borges, vivianne mafra soares.

Ao analisar a política de habitação social no campo, encontramos pouca compreensão de suas especificidades. Considerando a negociação entre movimentos e o Governo Federal para a complementação do Crédito Habitação de responsabilidade do INCRA, através da CAIXA, multiplicam-se os conflitos entre movimentos e órgãos envolvidos. Como pano de fundo, verificam-se dois grandes entraves: a luta pelo crescimento dos aliados por parte de militantes responsáveis por setores envolvidos e a falta de adequação do financiamento habitacional à fragilidade dos movimentos sociais, sem capital e estrutura para enfrentar grandes esperas e demandas burocráticas. Em 2006, já havia metodologia participativa para o planejamento e construção das habitações do MST no RN, sob a coordenação da UFRN, através do GERAH, e diante da expectativa de ser atendido com tal recurso, cria-se uma coordenação MST/GERAH para gerir a produção de cerca de 3.000 habitações, cabendo à UFRN coordenar os projetos de arquitetura e urbanismo, adaptando sua metodologia à nova demanda, selecionando profissionais de arquitetura e engenharia sob contratados de risco. Quanto ao Movimento, caberia proporcionar o suporte político e organizativo ao trabalho técnico e a infra-estrutura através da AESCA, que se tornou sua entidade organizadora. Com acordos feitos e desfeitos, prazos restabelecidos e muitas exigências burocráticas, os encaminhamentos e prazos eram renegociados. Enquanto isso, os profissionais contratados continuavam aguardando suas remunerações e os assentados suas moradias. Ao avaliar esses fatos, questionamos a necessidade de adaptar uma metodologia iniciada desde 1994 e experimentada desde 2004 à reformulação das planilhas e exigências da CAIXA, que pela primeira vez financia projetos de habitação no campo. Ou, ainda: como se conformar às normas do INCRA quanto à distribuição de recurso em oposição à necessária assistência técnica? Diante de tantos embates, de que forma estaríamos contribuindo com uma política habitacional do campo? Palavras-chaves: Política de habitação de interesse social do campo; Movimentos sociais do campo; e Assessoria técnica.


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introdução - situação geral

A limitação das políticas para os projetos de reforma Agrária – PAs e o crescimento de famílias assentadas, insere o desenvolvimento dos assentamentos, coordenado pelos movimentos, em suas pautas de reivindicações, promovendo uma maior compreensão do significado das suas conquistas que refletem uma transformação, ao enfrentarem a ordem estabelecida e, ao mesmo tempo, reprodução das contradições inerentes ao modo de produção capitalista da sociedade brasileira. Entre essas novas necessidades, aparece a demanda crescente por infraestrutura e serviços, por moradia, trabalho, lazer, escola e organização de seus moradores. Apesar da inclusão dessa nova temática, sua compreensão é ainda restrita, precisando de projetos sociais que a solidifiquem e complementem, como a noção de cidadania conquistada, envolvendo direitos a uma moradia digna, à preservação de sua cultura (o vivido), à organização (o presente); ao meio ambiente sustentável e a seus projetos coletivos e individuais de trabalho, lazer e vida familiar (sonhos e expectativas). Em um país com tantos arquitetos urbanistas, são poucos os que compreendem e encontram campo de atuação nessas novas configurações, onde parâmetros precisam ser criados e propostas definidas. Ao analisar a política de habitação social para os assentamentos rurais, encontramos pouca compreensão de suas especificidades, também por parte do estado, de outras organizações envolvidas e de alguns expoentes das direções dos próprios movimentos. Nos assentamentos do maior e mais organizado movimento rural do País, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), as lideranças atuam junto às suas bases, sobretudo nas chamadas frentes de massa, ao conquistar novas adesões e no momento do acampamento. Seus documentos e ações refletem um considerável avanço, nas questões de desenvolvimento dos seus assentamentos. De um lado, há as estruturas já organizadas pelos governos passados, como o Ministério da Reforma Agrária e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que implementam os programas e projetos dirigidos aos assentamentos rurais. Quanto à política habitacional, de responsabilidade do Ministério das Cidades, investe em algumas diretrizes que também contemplem as populações rurais. Como cabe ao INCRA a coordenação de todas as políticas, programas e projetos voltados para os assentamentos rurais, a administração do Crédito Habitação também é de sua competência. Enquanto um está mais voltado para o urbano, o outro, voltado para políticas agrícolas e, em conseqüência, com muitos engenheiros agrônomos, continua sem um quadro técnico que lhe dê suporte para implementar as ações voltadas para o planejamento físico-ambiental, nele incluída a política habitacional. Apesar dessas dificuldades, algumas exceções justificam a regra, possibilitando trabalhos interdisciplinares quando há um maior comprometimento político de técnicos e dirigentes, como a questão da reforma agrária e/ou com outras mudanças que envolvam a estrutura desses espaços.

a contribuição do gerah na construção de uma referência de assentamento rural no rn A UFRN, através do Grupo de Estudos em Reforma Agrária e Habitat – GERAH – desenvolve, desde 1994, um trabalho de assessoria ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST – na construção dos habitats dos assentamentos no RN. Em mais de dez anos de experiência na construção dos assentamentos rurais, a metodologia desenvolvida pelo Grupo para a construção desses assentamentos tornou-se referência para o Estado e, atualmente para o País. Ela cria parâmetros para o desenho dos assentamentos, enquanto reflexo do vivido e das expectativas de organização do Movimento, através de um processo de planejamento participativo. Em 2006 o GERAH organiza, juntamente com o MST, o I Colóquio Habitat e Cidadania, que leva à discussão a temática da Habitação de Interesse Social no Campo. O encontro, que reúne cerca de cem pesquisadores, instituições públicas, militantes e assentados do Movimento, aponta realidades e necessidades dos assentamentos rurais do País, sobretudo as carências dos seus habitats. A partir dessas discussões, coletivizam-se objetivos no sentido de se criar as bases para um programa nacional do habitat do campo para os assentamentos rurais, fundamentado na experiência do GERAH no RN. Considerando-se que o habitat do campo contempla a casa, a infra-estrutura de saneamento, energia, água e estradas, bem como o acesso aos equipamentos sociais de lazer e serviços, tais como: educação, saúde, centros comunitários, praças e embelezamento; ele também assume seu papel estruturante de integração da vida cotidiana nos assentamentos, suas relações familiares, o trabalho e a organização política do grupo social envolvido. Sua dimensão representa um elemento fundamental para acessar-se à cidadania no campo e a sua elaboração requer: a percepção das realidades culturais, econômicas, físico-ambientais e de organização dos sujeitos coletivos; o respeito às práticas culturais, aos usos e costumes e ao saber popular de cada realidade, sem deixar de atender aos princípios, diretrizes e parâmetros técnicos, na configuração do espaço construído e na adequação das técnicas construtivas de cada lugar.


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Baseando-se nesses princípios elaborados, mais recentemente o INCRA, com a colaboração do GERAH, promoveu a I Oficina Habitat do Campo com o propósito de formular um novo programa de Habitat do Campo, tendo como base as experiências desenvolvidas pelo GERAH no RN e de outras assessorias existentes no País. A partir daquela Oficina, os parâmetros já pré-dimensionados no Colóquio foram desenvolvidos e aguarda-se a sua formulação oficial, a partir das decisões do INCRA. A proposta coletiva do Programa parte do pressuposto que a questão habitacional requer uma política que contemple o habitat e sua infra-estrutura, a moradia e a cultura de seus moradores e que envolva os diversos agentes que constroem a organicidade daquele assentamento. Seu processo de construção, portanto, requer um trabalho coletivo e assessoria técnica que assegure a qualidade dos projetos, e especialmente, adaptação de indicadores, variáveis e parâmetros referentes ao desenvolvimento dos assentamentos rurais, assim como aqueles formulados para áreas urbanas de interesse social, reestruturando e adequando os projetos, planos, programas e créditos na perspectiva de que estes se articulem com o programa e alimentem uma proposta de reforma agrária. No Estado do RN, a parceria estabelecida entre o INCRA, o MST e o GERAH, desde 2003, possibilita a participação do órgão em experiências de aplicação de metodologia diferenciada, o que possibilita seu envolvimento com propostas destinadas ao planejamento físico-ambiental dos assentamentos do Estado. Essa metodologia tem como principais referências metodológicas H. Léfèbvre, C. Brandão e as teses desenvolvidas pelo Grupo, criando parâmetros para o desenho de assentamentos rurais, enquanto reflexo do vivido e das expectativas de organização do Movimento, através de um processo de planejamento participativo. Na sua concepção, pensar o assentamento enquanto parte importante no processo de reforma agrária significa, também, considerar melhores condições de vida daqueles que tiveram a oportunidade de conquistar

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a terra, assegurando assim os direitos sociais fundamentais: habitação, saúde, educação, trabalho e lazer. Ao trabalhar com movimentos sociais, o GERAH requer, também, a compreensão de suas características, potencialidades e limites, além da capacidade de espacializar seus ideários. Como resultado da referida parceria – desenvolvida, sobretudo, a partir de 2003, com o projeto de pesquisação no Assentamento Maria da Paz - configura-se, atualmente, a formulação de um programa nacional, o Habitat do Campo, a partir da metodologia do GERAH.

discussões - a inserção da caixa e suas conseqüências

A introdução da CAIXA no financiamento de construções e reformas de moradia exige, também, técnicos e infra-estrutura para fiscalizar e acompanhar as diversas experiências que o mesmo ainda não possui. Essas dificuldades, aliadas à grande demanda de assentamentos rurais, configura uma necessidade do Estado em viabilizar e oficializar a participação de assessorias técnicas específicas, cabendo ao mesmo o papel de fiscalizador, além de outras iniciativas que possibilitem a criação de mecanismos e recursos necessários para a mudança efetiva dos rumos de sua política, assumindo como princípio do órgão o planejamento participativo, os projetos elaborados a partir da troca de saberes científicos e populares e o novo campo profissional, entre os ramos de atividade que caracterizam o quadro técnico responsável pela reforma agrária no País. Muitos desses técnicos não têm identidade com a reforma agrária, processos de mutirão e autogestão, dificultando novas relações e metodologias dentro dos assentamentos. Os conflitos advindos das suas ações têm sido, inclusive, responsáveis pela destruição de importantes experiências, atrapalhando o desenvolvimento de muitos projetos no RN.


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No Colóquio Habitat e Cidadania foram traçadas propostas para a sua atuação, referendadas pela I Oficina Programa Habitat do Campo que o próprio INCRA promoveu em sua Sede Nacional, em Brasília. Entre eles, destacamos, 1. A concepção coletiva de que os assentamentos constituemse como locais de vida, de moradia e de trabalho e que o HABITAT deve ser considerado nos seus aspectos plenos para além da moradia, incluindo infraestrutura de saneamento, energia, água e estradas; bem como o acesso aos equipamentos sociais de lazer e serviços, tais como: educação, saúde, centros comunitários, praças e embelezamento; elemento estruturante de integração entre os aspectos da moradia, trabalho e meio ambiente do campo; e que a autogestão é o instrumento de autonomia dos trabalhadores e trabalhadoras no campo e exercício da cidadania plena; e 2. Como Linhas Políticas Gerais: a construção e regulamentação de políticas públicas específicas para o HABITAT do campo elaborada em conjunto com os movimentos sociais; a criação de um programa de HABITAT DO CAMPO que congregue: programa, crédito, autogestão e assessoria técnica; e que a regulamentação do crédito específico para habitação deve considerar as diferenciações regionais, a possibilidade de adoção de materiais diversificados, associado à contratação de assessorias técnicas especifica para acompanhamento dos projetos; a articulação e qualificação dos órgãos responsáveis pela reforma agrária e moradia para gerenciar um programa específico sobre o HABITAT DO CAMPO, envolvendo capacitação e contratação de técnicos específicos para o tratamento do tema do HABITAT; uma nova política de HABITAT associada em sua origem aos Planos de Desenvolvimento do Assentamento (PDAs) de modo a compatibilizar e potencializar projetos e investimentos nos assentamentos; assegurando um plano provisório de habitação para que o pré-assentado tenha condições mínimas de vida para participar do planejamento do assentamento e a adoção de uma metragem mínima/per capta, qualidade técnica e conforto ambiental em conformidade com parâmetros internacionais como referência para o financiamento dos projetos de arquitetura em cada localidade. Apesar da possibilidade de criação de um novo programa que atenda às expectativas acima expostas e de algumas outras experiências de parceria entre superintendências locais do INCRA com universidades, organizações não governamentais e cooperativas técnicas e populares, há, também, a necessidade de ampliarem-se os de recursos financeiros para atender ao sentido pleno do habitat. Na realização dessas experiências, incorporam-se infra-estrutura e pequenos recursos de financiamento de pesquisa e/ou extensão para possibilitar transportes para as áreas, pessoal especializado, projetores e outros recursos que, na ampla maioria dos projetos em execução, não tem outras fontes. Além disso, o próprio Estado contribui com melhores condições para projetos que tenham a participação de outros agentes, como fornecendo transporte para compra de materiais, assessores ou busca de novas parcerias complementares. O fato é que, mesmo que os recursos financeiros se restrinjam às unidades habitacionais (passou de a R$5.000,00 para R$7.000,00 para cada casa) não contemplam variáveis consideradas importantes para a sua qualidade, como o planejamento participativo - da sua concepção à sua construção – soluções criativas, com conforto ambiental, programas condizentes com as necessidades de seus usuários e, sobretudo, a autogestão acompanhada por profissional qualificado. Também não possibilita a elaboração de projeto de saneamento básico, infra-estrutura e, principalmente, não se adequando às condições físico-ambientais e sociais desse habitat. Mesmo que o acesso a parcerias possibilite a incorporação de novas variáveis, como relativas ao planejamento e à educação ambiental, de reuso das águas servidas, dos costumes e sonhos

de seus moradores, suas atuais organizações, entre outras possibilidades, a resistência às mudanças ainda é muito sedimentada nos meios institucionais, sendo necessário um amplo trabalho de capacitação e conscientização de seus corpos técnicos. O acesso a este benefício, no entanto, tem sido diferenciado entre os diversos estados da federação brasileira: em alguns locais a CAIXA atende aos interesses de um movimento, em outros não se interessa pelo convênio ou tem procedimentos distintos nas exigências quanto à aprovação dos projetos. O próprio INCRA, também procede diferentemente em cada Estado, visto que suas superintendências têm uma certa autonomia. Esses procedimentos diferenciados de estado para estado, com multiplicidade de informações e condutas, acarretam dificuldades de atuação das entidades organizadoras (ligadas aos movimentos) e suas parcerias, gerando expectativas e conflitos entre vários movimentos do campo, entre eles e o Estado (CAIXA, INCRA e Ministério das Cidades) ou com suas assessorias e entre suas direções e bases, causados pela inexistência de regras claras e idênticas para todos. Porém, é preciso ter uma estrutura organizacional que permita os movimentos acompanhar os diversos processos que coordenam, assim como recursos financeiros e de infra-estrutura operacional. Outras possibilidades são criadas quando os mesmo já desenvolvem parcerias e/ou financiamentos, o que lhes permitem o atendimento às inúmeras exigências da CAIXA, como ter projetos de arquitetura e de engenharia, assim como assinatura de responsáveis técnicos pelas obras, antes que estas sejam aprovadas e os recursos que poderiam ser utilizados para pagamento desses profissionais sejam liberados.

a condição do rn: entraves e contribuições para a construção de uma política habitacional no campo

No caso do RN, onde já havia metodologia participativa para seus habitats e habitações, a Direção do MST estabelece, em abril de 2006, que também buscaria a obtenção desses recursos para ampliar o atendimento às suas bases. Em outubro do mesmo ano a Universidade, através do Grupo de Estudos em Reforma Agrária e Habitat (GERAH) é chamada a participar, cabendo-lhe adaptar sua metodologia às novas exigências, assim como coordenar os projetos de arquitetura e urbanismo, realizados por profissionais contratados, que só seriam remunerados após a aprovação e pagamento da CAIXA. Ao MST caberia dar suporte político e organizativo ao trabalho técnico e infra-estrutura. Diante das dificuldades de informação anteriormente explicitadas, há o primeiro conflito entre o Movimento e o GERAH: enquanto o primeiro prioriza o atendimento de todos os assentamentos passíveis de serem beneficiados, a Universidade propõe que fosse realizado projeto a projeto, de forma a possibilitar uma mudança gradativa da dimensão da atuação no Estado. Estabelecendo-se o entendimento do Movimento (apesar de suas enorme exigências aos profissionais contratados sem retorno financeiro em curto prazo e precárias condições de operacionalidade, como transporte, equipamentos técnicos), chega-se ao final de 2006 com muitos levantamentos realizados, alguns projetos iniciados e outros abandonados por profissionais capacitados pela Universidade, mas sem a possibilidade de arcar com suas despesas por longo prazo. Ao mesmo tempo, o Governo Federal (Ministério das Cidades e CAIXA) resolve redirecionar seus recursos para outra parcela da sociedade, os pequenos proprietários de terra autônomos e, em dezembro de 2006, a CAIXA deixa de receber novos projetos dos assentamentos.


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Quanto à política de habitação de interesse social do campo no RN, atualmente observam-se os seguintes embates: há pouca compreensão de suas especificidades, tanto por parte do Estado, quanto de outras organizações envolvidas com a temática no urbano. Considerando a negociação entre movimentos e o Governo Federal para a complementação do Crédito Habitação de responsabilidade do INCRA (atualmente de R$7.000,00 para construção e R$5.000,00 para a melhoria e reforma), através da CAIXA (que inclui R$4.000,00, fundo perdido), multiplicam-se os conflitos entre movimentos e órgãos envolvidos. Como pano de fundo, verificam-se dois grandes entraves: a luta pelo crescimento dos aliados por parte de militantes responsáveis por setores envolvidos e a falta de adequação do financiamento habitacional à fragilidade dos movimentos sociais, sem capital e estrutura para enfrentar grandes esperas e demandas burocráticas. Em 2006, já havia metodologia participativa para o planejamento e construção das habitações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST no RN, sob a coordenação da UFRN, através do Grupo de Estudos em Reforma Agrária e Habitat – GERAH. A Direção daquele movimento considerou que seria contemplado com os referidos recursos, criando esperanças em suas bases. Cria-se uma coordenação MST/ GERAH para gerir a produção de cerca de 3.000 habitações, cabendo à UFRN coordenar os projetos de arquitetura e urbanismo, adaptando sua metodologia à nova demanda, selecionando profissionais de arquitetura e engenharia sob contratados de risco. Quanto ao Movimento, caberia proporcionar o suporte político e organizativo ao trabalho técnico e a infra-estrutura através da Associação Estadual de Cooperação Agrícola do Rio Grande do Norte - AESCA, que se tornou sua entidade organizadora. As atribuições e responsabilidade eram muitas, enquanto os órgãos governamentais discutiam como e se atenderiam aos acordos e prazos constantemente alterados. Perante muitas contradições, os conflitos cresciam, também, dentro do próprio Movimento, pela dificuldade de suas bases entenderem a demora e parte de sua direção não considerar a questão como prioridade. Concomitantemente, agentes do Estado visitavam as bases do Movimento e as desestimulavam. Com acordos feitos e desfeitos, prazos restabelecidos e muitas exigências burocráticas, os encaminhamentos e prazos eram renegociados. Enquanto isso, os profissionais contratados continuavam aguardando suas remunerações e os assentados

suas moradias, sendo este fato a principal causa da desistência da maioria das famílias que sonhara com habitação de melhor qualidade. Diante desta expectativa perduram, ainda, os conflitos entre os órgãos parceiros, INCRA e CAIXA, fomentados pelas diferenças normativas e pelas dúvidas de gestão. Como conseqüência, apenas um assentamento do RN conseguiu o financiamento para construção de suas moradias (a outra entidade, com financiamento e apoio de órgãos governamentais, dedicou-se a melhoria de outras habitações, enquanto o MST/GERAH optava por não utilizar os recursos da CAIXA para aquela modalidade, que utiliza somente os recursos do INCRA). Portanto, das 3000 unidades iniciais e das 254 acordadas nas negociações entre os representantes nacionais de todos os movimentos e órgãos governamentais envolvidos - após mais de um ano de conflitos, apenas o Assentamento Bernardo Marim (Pureza/RN), com 47 habitações, foi contemplado. Mesmo assim, deste total somente 38 famílias foram aprovadas pelas normas da CAIXA. Portanto, os entraves continuam. Para minimiza-los, o GERAH propõe e o Movimento acata atender às 09 famílias rejeitadas pela CAIXA, através do crédito inicial do INCRA, adaptando à redução dos valores o projeto e o processo construtivo das demais famílias. Dá-se início, então, ao atual conflito: o INCRA aceita mudar a metodologia quando entra a CAIXA, mas quando ela se retira, não permite às nove famílias o mesmo tratamento: seriam contempladas com o curso de pedreiros, o mesmo projeto (sem área de serviço e com menos 1 quarto), mesma remuneração e pagamento proporcional à assistência técnica.

considerações finais

Ao avaliar esses fatos a partir da realidade apresentada, algumas questões atravessam a nossa análise: questionamos a necessidade de adaptar uma metodologia iniciada desde 1994 e experimentada desde 2004 em detrimento a reformulação das planilhas e exigências da CAIXA, que pela primeira vez financia projetos de habitação no campo. Ou, ainda: como se conformar às normas do INCRA quanto à distribuição de recurso em oposição à necessária assistência técnica? Diante de tantos embates, de que forma estaríamos contribuindo com uma política habitacional do campo? Dessa forma, até que ponto os moradores dos assentamentos rurais são considerados como passíveis de políticas habitacionais?


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figuras

Figura 1: habitação de interesse social do campo – Pernambuco. Ano: 2006 Figura 2: Oficina de desenho do habitat – GERAH. Ano: 2006 Figura 3: Reunião GERAH/INCRA/MST/Assentados. Ano: 2005 Figura 4: Reunião de apresentação do projeto para financiamento com a CAIXA, pré-assentamento Roseli Nunes - Ielmo Marim. Ano: 2007

referências

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projeto política de habitação de interesse social do campo no rn: embates e contribuições. autora cecília marilaine rego de medeiros co-autoras amadja henrique borges e vivianne mafra soares prof. orientador profa. dra. amadja henrique borges ano 2008 Instituição vinculada ufrn


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“construindo” barreiras “construindo” barreiras: uma análise dos contrastes entre areia preta e mãe luíza débora nogueira pinto

A temática do estudo trata dos contrastes sociais e físicos na cidade de Natal, a partir da criação de prédios de luxo próximo ao litoral, no bairro de Areia Preta, prejudicando a ventilação na cidade e impedindo a visibilidade do maior patrimônio natural de que o bairro, de baixa renda, Mãe Luíza detém. A partir da evolução histórica dessas localidades, este estudo objetiva questionar o bem-estar e as necessidades da população do bairro de Mãe Luíza e parte de Areia Preta, já que estes espigões localizam-se próximo a orla, transformam a paisagem urbana numa grande segregação sócio espacial e prejudicam o conforto urbano da cidade de Natal. Com a criação desses espigões, verificou-se que alterou a permeabilidade da ventilação para o bairro de Mãe Luíza, já que os prédios formaram uma grande barreira. Palavras-chave: verticalização, segregação, conforto urbano.


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introdução

Em vista ao processo de formação dos bairros foi possível analisar os contrastes entre Areia Preta e Mãe Luíza, relacionado ao que diz respeito à segregação sócio espacial e Conforto Urbano. Areia Preta, uma das praias urbanas de Natal, era a mais longínqua das terras para o leste e o acesso a ela, era difícil. Em agosto de 1912, os bondes elétricos se estenderam até Petrópolis e desciam, vindo pelos morros, até a praia a partir de agosto de 1915. Segundo CASCUDO (1999), Areia Preta era um recanto de pescadores até 1920. Com o tempo, os pescadores foram vendendo suas casas e novas construções apareceram. Somente a partir de 1970, verificou-se um povoamento substancial em Areia Preta: antigos moradores muraram suas casas com medo de invasões.

desenvolvimento

As construções surgiam da noite para o dia; primeiro eram feitas em taipa, para marcar a ocupação, e depois substituídas por alvenaria. A frágil disposição das ruas era proposta pelos próprios moradores. As ocupações desordenadas suplantaram os próprios aspectos fixos, cobriram boa parte das dunas que cercavam a praia. E, assim, Areia Preta perdeu seu referencial. Chega à década de 80, armações políticas engrenam num programa de rearranjo urbano-estrutural, paliativos que só conseguem mascarar a dura realidade. Começaram com o calçamento, trouxeram linhas de ônibus, posteriormente asfaltaram, facilitaram os acessos; os moradores tentam colocar as casas no novo nível da rua, a especulação ganha consideráveis proporções. A construção da Via Costeira, avenida litorânea que une o lado sul ao leste da cidade, dá um novo passo para a criação de acessos, aumentando a fluidez no bairro. As crises sociais que alastram o país não imunizam Areia Preta,e o padrão social médio das casas cai ainda mais.Apenas as casas da orla e das proximidades conservam o alto padrão, antigas casas residenciais mudam de função e prédios comerciais de diversos níveis e finalidades surgem em todo o bairro. O bairro de Areia Preta, com suas virtudes paisagísticas de melhor qualidade, foi criado para servir de balneário. A partir dos anos 90, passou a ser alvo de intensos investimentos, em obras de infra-estrutura e serviços públicos. No início do século XXI, as obras de grande porte, encampadas pela iniciativa privada para fins habitacionais, se avolumaram. Dessa maneira, atualmente, o bairro vivencia a substituição de antigas estruturas, dando lugar a um impactante processo de verticalização. Com este quadro social, político e urbano, Areia Preta chega a nossa época como um bairro de contrastes que busca se firmar em meio às conjunturas. Os aspectos ambientais no bairro se mostram evidentes através de dados do IBGE, Censo Demográfico 2000 (SEMURB, 2006), o qual diz que 99,71% dos domicílios possuem, como forma de abastecimento de água, a rede geral; e que apenas 0,29% possuem água oriunda de poços ou nascentes. Areia Preta localiza-se na região administrativa leste da cidade do Natal e tem seus limites: ao Norte com Petrópolis e praia do Meio, ao Sul com Mãe Luiza, ao Leste com o Oceano Atlântico e ao Oeste com Mãe Luiza e Petrópolis. O bairro é parte integrante da Área Adensável I e contém uma Área Especial de Controle de Gabarito. Segundo prescrições estabelecidas pela Lei Complementar nº. 07, de 05 de agosto de 1994, que dispõe sobre o Plano Diretor de Natal (PDN/94), tais áreas são passíveis de adensamento, entretanto, as prescrições estabelecidas, visam a proteger o valor cênico-paisagístico do trecho que compreende a orla marítima. A legislação existente sobre urbanização em Natal é considerada modelo, mas, mesmo assim, não impediu a construção de prédios à beira-mar de Areia Preta, retirando dos moradores de Mãe Luiza não só o direito à belíssima vista do mar, como

também parte da ventilação, pois o plano deixou uma “brecha”, onde as empresas avançaram. Além dessas “brechas”, a falta de fiscalização também não evita a proliferação de ocupações ilegais de terrenos e usos irregulares de edifícios. Hoje, a área construída apresenta um dos metros quadrados mais caros de Natal, com edifícios residenciais de alto padrão e que conseguiu encobrir a visão do mar e do Farol de Mãe Luiza, um dos marcos da capital. Recebeu a construção de três espigões a partir de 2001 visando, supostamente, proteger as encostas da erosão e revitalização da área.E a partir daí tantos outros. As humildes casas do morro de Mãe Luíza foram perdendo aos poucos a visão do mar. Os grandes edifícios imperam majestosos na velha praia (foto 1). O trecho apresentado se destaca, em termos sociais, por apresentar uma grande segregação sócio espacial (foto 2). De um lado encontra-se uma parcela que, muitas vezes, parece ter sido esquecida pelo poder público, e, do outro, uma parcela abastada da população que vive protegida por sistemas de seguranças privados. Contudo, é notório que essa diferença cause um temor aos mais ricos, por Mãe Luíza ser conhecida como um bairro violento.

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Esse contraste socioeconômico pode ser verificado através de dados retirados do site oficial da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, onde nota-se que os residentes de Areia Preta detêm um rendimento médio de 11,26 salários mínimos, acima da média municipal que é de 6,09 salários mínimos e também acima da própria média da Região da Administrativa em que se encontra, que é de 9 salários mínimos. E mesmo com a 8a maior arrecadação do município, com o valor acima citado, a arrecadação mediana da população mais carente pode chegar a 3,87 salários mínimos. Com essa disparidade econômica verifica-se a valorização da área com relação à especulação imobiliária que atrai investidores por ser uma área atrativa, por estar na orla e comportar prédios de alto padrão existentes. A principal forma de manter as casas confortáveis em Natal é orientá-las para onde vem à ventilação com grandes aberturas. O que acontece atualmente em Areia Preta é que os prédios da orla da praia estão criando uma barreira que prejudica a ventilação para os moradores de Mãe Luiza. O vento, que antes corria naturalmente em direção as casas do bairro, agora bate nos altos prédios de Areia Preta e vai para os lados, deixando as casas detrás e a cidade de Natal abafadas, favorecendo a formação de ilhas de calor, como ocorre, por exemplo, no bairro de Petrópolis, que também se localiza na zona leste da cidade. Na orla (ver figura 3), foram medidas altos índices de ventilação correspondentes a uma média 2,9m/s e 2,3m/s. Já atrás dos prédios a ventilação foi de 1,4m/s devido ao desvio da ventilação causado. Foi também feito uma medição no meio do bairro, no qual a ventilação é de 0,7m/s, contudo sabe-se que essa pouca ventilação não é só provocada pelos prédios, mas por outros fatores, como adensamento e permeabilidade.

tilação, é necessário analisar as possíveis variações presentes na rosas dos ventos, para assim determinar que a ventilação não só afeta a região posterior aos prédios, como também as laterais. Assim, mesmo considerando a forma cúbica para cálculos, recomenda-se a forma com o comprimento maior que a largura para criar menores áreas com redirecionamento da ventilação. Com relação à porosidade, estes deveriam estar implantados de forma intercalada para permitir maior permeabilidade da ventilação. Diferentemente do que ocorre em Areia Preta, no qual a porosidade é de prédios localizados com pequenos recuos laterais e num mesmo alinhamento (figura 5). Como o recuo entre os prédios são pequenos, criam-se zonas de estagnação de ar, o que prejudica a ventilação do bairro atrás do “paredão”, causando impactos de mudança na direção da ventilação nas proximidades (ver figura 6). De acordo com Oliveira (2006), para clima quente-úmido é apropriada rugosidade alta ou muito alta – visando conforto higrotérmico, qualidade do ar e conservação de energia, para maior captação e difusão turbilhonar dos ventos e brisas dentro da forma urbana.

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3 O distanciamento ideal entre os prédios deveria permitir a passagem do vento, para com provar tal afirmação, foi realizado um estudo(ver figura 4) que demonstra a relação altura, largura e profundidade, com relação à ventilação entre prédios. A fim de estudo, adotando-se a forma da edificação com largura igual ao comprimento (cubo), o gráfico demonstra que o distanciamento entre os prédios, deve ser aproximadamente o dobro da altura do mesmo que está barrando o vento. Como deve-se levar em consideração a variação na direção da ven-

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figuras

Para confirmar os problemas de ventilação existentes, foram realizados medições em 4 pontos. Com isso foi verificada que a barreira dos prédios diminui a ventilação que adentra o bairro. Assim, também deve-se levar em consideração a altura da edificação, já que se pode influenciar no direcionamento do vento, conforme figura 7.

7 Percebe-se que com relação à rugosidade, a ventilação também é prejudicada, pois na área só existem 2 níveis de altura, que corresponde a altura dos prédios, que são praticamente iguais, e a altura das residências que variam principalmente de térreo a 2 pavimentos. Uma outra questão importante a ser tratada é a respeito da acessibilidade. Na fração urbana estudada, percebe-se que não há nenhuma preocupação em relação a este aspecto, pois há desníveis acentuados nas calçadas prejudicando o passeio dos pedestres que muitas vezes são obrigados a caminharem no meio da pista. Também não há a presença de estacionamentos obrigando as pessoas a deixarem seus carros nas calçadas, prejudicando mais uma vez os pedestres. O acesso à praia é feito através de duas rampas – que se localizam uma na Praça da Jangada e outra mais à frente (no sentido Via Costeira/Praia dos Artistas) – e o acesso dos moradores de Mãe Luiza à Av. Gov. Sílvio Pedroza é feito através de duas escadas públicas – inclusive uma encontra-se “esmagada” entre dois prédios.

Figura 1: Espigões na orla. Fonte: da autora, 2007 Figura 2: Contrastes entre os bairros. Fonte: MUSSE, 2005. Figura 3: pontos de velocidade do ar. Fonte: SEMSAS, 2005, modificada pela autora Figura 4: gráfico de proporções de ventilação. Fonte: SANTAMORIS, etal Figura 5: fluidez da ventilação. Fonte: SANTAMORIS, et al Figura 6: sombra de ventilação. Fonte: SANTAMORIS, etal Figura 7: ventilação vertical. Fonte: ASHRAER, 2001

referências

CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. 3 ed. Natal: 1999. MUSSE, Felipe. et. al. Areia Preta. Trabalho de graduação. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2005. REGINA, Cleide. et. al. Areia Preta. Trabalho de graduação. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 1995. SEMURB. Areia Preta: Conheça melhor o seu bairro. Disponível em: <http://www.natal.rn.gov.br/semurb/bairros/ leste/areia_preta.php> Acessado em: 10 de Jun. 2006. SANTAMORIS; KLITSIKAS; NIAHOU. Ventilation of street canyons and its impact on passive cooling design. University of Atenas. OLIVEIRA, Paulo Marcos Paiva. Medição de atributos bioclimatizantes da forma urbana – rugosidade e porosidade – como instrumento de avaliação da ventilação, visando conforto térmico, conservação de energia e qualidade do ar no ambiente climático urbano, 2006.

conclusão

A partir deste trabalho, pretendeu-se refletir sobre as conseqüências que uma lacuna no plano diretor pode causar aos moradores e analisar a real necessidade destes, como é o caso dos moradores de Mãe Luíza. Esses terrenos deveriam proteger a paisagem cênica da orla, contudo, os investidores aproveitando-se de uma lacuna na legislação, ou seja, legalmente era permitido embora cause problemas a população ali residente. Para isso, foi analisada a evolução, o processo de segregação espacial, caracterizado pelas alterações morfológicas nitidamente notadas quanto da mudança no padrão das habitações, e da verticalização das edificações em sua orla. Percebe-se também a coexistência no bairro de duas realidades distintas, uma de alto padrão que segue tomando a orla, e uma de baixo padrão na parte alta do bairro. Logo esse trabalho abordou os contrastes sociais e físicos claramente vistos, nos quais acabam por alterar a qualidade de vida dos moradores pelos privilégios tidos por alguns.

projeto “construindo” barreiras: uma análise dos contrastes entre areia preta e mãe luíza autora débora nogueira pinto prof. orientador dra. françoise dominique valéry ano 2007 Instituição vinculada ufrn


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ecletismo ceará mirim herança do estilo em edificações da rua heráclito vilar danielle c. silva spínola, débora cabral rodrigues, isa simonetti bousquet, julita fernandes de morais, raíssa de medeiros ribeiro.

Diversos fatores interferem na formação e podem transformar a configuração espacial do patrimônio arquitetônico de uma cidade. Silva (2004) apresentou um estudo relacionando configuração espacial e estado de preservação do Centro Antigo de Ceará-Mirim a partir das transformações na sua estrutura viária. Para isso, utilizou técnicas de análise sintática, verificando os efeitos que essas transformações exercem sobre a formação, modificação e renovação do conjunto construído. A autora concluiu que quanto maior o grau de integração da via, mais propensa ela será a concentrar edificações de uso comercial, geralmente resultando na descaracterização do estilo original do imóvel. Ao contrário, quanto menor o grau de integração, maior probabilidade de se encontrar o uso residencial, e este favorece a preservação estilística dos edifícios. No entanto, em sua monografia “O patrimônio arquitetônico do Centro Histórico de Ceará Mirim”, Silva (2004) verificou que a Rua Heráclito Vilar é umas das vias mais integradas do Centro Antigo de Ceará-Mirim e, apesar disso, apresenta predominantemente edifícios de uso residencial em bom estado de preservação, indo de encontro à ocorrência geral. Portanto, o trabalho desenvolvido propõe-se a averiguar se, após três anos, a Rua Heráclito Vilar continua mantendo esse caráter de integração e preservação concomitantemente. Para isso, foram reinventariadas as fachadas de dez edificações ecléticas desta rua. Palavras-chave: Ecletismo. Ceará-Mirim. Reinventário.


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Ao final, a autora concluiu que quanto maior o grau de integração da via, mais propensa será ela a concentrar edificações de uso comercial, geralmente resultando na descaracterização do estilo original do imóvel. Por outro lado, o menor grau de integração gera maior probabilidade de se encontrar o uso residencial, o qual favorece a preservação estilística dos edifícios.

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introdução

A Arquitetura relaciona-se estreitamente com a história e a evolução econômico-social de um local. No caso do Brasil, fatores como escravidão, produção agrícola, situação econômica da população, influências estrangeiras, dentre outros, foram determinantes na sua produção arquitetônica. As transformações urbanas, em especial da malha viária, têm também efeitos na formação e transformação do desenho espacial do patrimônio arquitetônico de uma cidade. Com base nesse princípio, o trabalho final de graduação de Edmilza Borges da Silva, intitulado O patrimônio arquitetônico do Centro Histórico de Ceará-Mirim (2004), apresentou um estudo sobre as relações da configuração espacial e o estado de preservação do patrimônio arquitetônico do centro histórico do município de Ceará-Mirim a partir das transformações na sua estrutura viária. Dentre outros, o trabalho teve como objetivos estudar os efeitos da formação da configuração espacial de Ceará-Mirim sobre a conservação de seu patrimônio arquitetônico, avaliar os fatores que influenciaram a sua descaracterização e analisar as edificações quanto ao uso, estado de preservação e filiação estilística. A metodologia adotada baseou-se em técnicas de análise sintática do espaço desenvolvida por Bill Hillier e sua equipe (HILLIER, 1996 apud SILVA, 2004), pelas quais é possível verificar os efeitos que transformações na estrutura viária exercem sobre a formação, modificação e renovação do conjunto construído. Logo, é necessária a construção de mapas axiais, que são a representação da malha viária através da reprodução linear. Silva (2004) utilizou como mapas-base os mapas de CearáMirim do século XIX, de 1960 e 1999. A partir daí construiu os mapas lineares de cada época e os aplicou no para o programa ArcView, através do qual é possível visualizar o mapa axial processado e hierarquizado cromaticamente, com as cores dos eixos variando do vermelho (mais integrado) ao azul escuro (menos integrado) (figura 1). Silva confeccionou também mapas demonstrando a tipologia do uso do solo, o período estilístico e o estado de preservação das edificações do Centro Histórico de Ceará-Mirim quando da época do seu trabalho.

No entanto, Silva (2004) verificou que a Rua Heráclito Vilar é umas das vias mais integradas do Centro Antigo de CearáMirim e, apesar disso, apresenta uma combinação de edifícios de uso residencial e em bom estado de preservação, indo de encontro à ocorrência geral. Sendo assim, o trabalho desenvolvido pelo grupo propõe-se averiguar a permanência desse caráter de integração e preservação das edificações simultaneamente na Rua Heráclito Vilar, após um período de três anos. Para isso foram reinventariadas as fachadas de dez imóveis dessa rua, cujos números são 881, 929, 959, 967, 973, 981, 982, 1002, 1016 e 1054 (figura 2).

procedimentos metodológicos

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Para o desenvolvimento deste trabalho fez-se necessária uma revisão bibliográfica dos temas relacionados, como o ecletismo, o histórico de Ceará-Mirim, bem como preservação do patrimônio arquitetônico. A seguir, foi elaborada uma ficha para o reinventário das edificações, na qual constam os itens: data da construção, tombamento, estado de conservação (ótimo – bom – regular – ruim – precário), estado de preservação (preservado – modificado – descaracterizado), número de pavimentos, filiação estilística, coberta (número de águas e presença ou não de platibanda), número de volumes, descrição de elementos da fachada, usos e implantação do edifício no lote. Partiu-se então para campo a fim de se selecionar as edificações a serem reinventariadas e avaliá-las de acordo com os itens pré-definidos. Em seguida, os dados coletados foram analisados e confrontados com os resultados obtidos por Silva (2004).


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breve histórico de ceará-mirim

O município de Ceará-Mirim está na zona litorânea do Rio Grande do Norte, limitando-se ao norte com Maxaranguape, ao sul com São Gonçalo do Amarante, a leste com Extremoz e a oeste com Taipu. Segundo o censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística - de 2000, há no município 62.424 habitantes, sendo 30.839 na zona urbana (SEMURB, 2003). O município compõe, desde janeiro de 1997, a região Metropolitana de Natal (SEMURB, 2003) e dista 33 km da capital. Em Ceará-Mirim os engenhos de açúcar surgiram tardiamente, quando comparados às outras áreas canavieiras do Estado. A concorrência da pecuária durante a ocupação holandesa foi fator decisivo para marcar esse atraso (SOUZA, 1999, apud SILVA, 2005). Porém, com a crise da pecuária, em 1845, produção canavieira entra em ascensão. No início do século XX, os senhores de engenho construíram suas residências na cidade. Os grandes proprietários tinham casa no campo e na cidade e exerciam funções de políticos, comerciantes ou industriais (SOUZA, 1990 apud SILVA, 2005). Com o declínio do açúcar, retraiu-se a economia da cidade, substituindo gradativamente os engenhos por usinas, que se tornaram a principal unidade econômica da zona canavieira. Porém, na década de 70 as usinas entram em crise, levando alguns proprietários vendê-las. No entanto, entre o engenho e a usina se estabelece uma diferença importante: “enquanto os engenhos se vinculam socialmente à sede municipal vizinha, as usinas se vinculam diretamente com a Capital do Estado” (Castro, 1992 In SILVA, 2005), deslocando assim o fluxo do capital produzido. A história do Município de Ceará - Mirim vem, portanto, desde o período colonial, e ao longo desse tempo foram produzidos exemplares arquitetônicos que complementam e/ou contam essa história, compondo o acervo do patrimônio históricocultural da cidade e do Estado. São exemplares desse legado: a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, o antigo Solar dos Antunes, a casa grande do Engenho Guaporé, entre outros.

o ecletismo

O termo ecletismo denota a fusão de vários estilos em uma única obra. Tal método foi recorrente na Europa, principalmente após a revolução cultural, que resultou na utilização e aperfeiçoamento de novas técnicas e materiais a serem aplicados no ramo construtivo. Essa revolução tornou possível um maior conhecimento acerca dos estilos que a antecederam para que, agora, fossem selecionados elementos de um ou outro estilo a ser seguido. A partir da vinda da família real ao país o cenário brasileiro foi alterado da riqueza em torno da lavoura e homogeneidade arquitetônica, para um quadro de início à modernidade. Somente através da missão artística francesa, que chegou ao Brasil em 1816, foram introduzidas inovações que se mantinham desconhecidas para o país até então. D. João contratou na Europa pessoas habilitadas que pudessem vir a ensinar os brasileiros todas as novas manifestações artísticas e, principalmente, as recentes técnicas e decorrentes aperfeiçoamentos de mão-de-obra (LEMOS, 1979: 108). Porém, à medida que iam se conhecendo e aprimorando as técnicas construtivas, se desenvolviam modos particulares de construir, sem que fosse seguido ou estabelecido um tipo. A essa liberdade de criação e fusão de estilos se entende o ecletismo no Brasil. Segundo Silva (2004), na fase de disseminação por todo o Brasil, o ecletismo combina influências formais revivalistas correntes na Europa do século XIX, com influências de vanguarda, que apontam para o século XX (Art Nouveau e ArtDéco), e ainda, com tentativas de recriação de uma linguagem estilística nacional de inspiração neocolonial. Citando Edja

Trigueiro: Como se disse a respeito do pensamento liberal, a adoção do ecletismo no Brasil, onde este não representava um ressuscitamento de tradições passadas nem refletia um conflito de classes nos moldes europeus, foi considerada deslocada. Mas, aqui, como na Europa, acompanhava a segunda etapa da ordem capitalista de dimensões internacionais, cumprindo a função de reestruturar a arquitetura aos requisitos de uma sociedade que se urbanizava e transformava, ainda que persistissem muitas práticas de tempos coloniais. (Trigueiro, 1989:30-32)

Para alguns autores, como Carlos Lemos, o “ecletismo” brasileiro, nada tinha a ver, de modo direto, com o ecletismo filosófico que tolerava a coexistência de modos de pensar diferentes, conciliando correntes e comportamentos [...] Na verdade, somente se aliou essa miscelânea estilística, que invadiu nossas cidades em fins do século XIX, com o progresso, com a abastança, com a liberdade de escolha, como se a obediência a um só estilo fosse sinal de atraso próprio de outras épocas. Ainda segundo ele, o ecletismo retrata uma falta de identidade. (LEMOS, 1989: 50) Considerando as divergências de opiniões, entende-se por ecletismo a liberdade criativa e maior aproveitamento daquilo que se conhece e se pode utilizar. Através do ecletismo a liberdade projetual desprendida de convenções acadêmicas é atingida, bem como a utilização daquilo que mais convém e/ ou agrada.

resultados e discussão data de construção

A maioria das edificações reinvetariadas marca uma arquitetura eclética tardia em relação ao resto do país e, mais ainda, em relação à produção mundial. Datam aproximadamente da terceira década do século vinte, quando a economia açucareira do município estava no apogeu, teve sua produção fortemente vinculada aos senhores de engenho – elite local – que, provavelmente, construía essas residências urbanas como forma de ostentar seu poderio econômico.

tombamento

Nenhum dos prédios é tombado.

estado de conservação

Todas as obras, exceto o prédio da Biblioteca Municipal, são mantidas em ótimo estado quanto à estrutura, inteireza dos elementos decorativos, pintura e etc. No caso da biblioteca, único caso em estado regular, foi assim considerado por apresentar esquadrias quebradas, reboco e pintura danificados. Estados ruins e precários, que dizem respeito ao comprometimento da estrutura, não foram registrados.

estado de preservação

Entende-se por preservadas todas as obras que mantêm as características sem alterar a leitura do estilo ao qual elas pertencem. Aplicações de novas camadas de pintura, texturas, ou outras alterações de pequena magnitude não foram consideradas modificações. A descaracterização foi considerada o nível mais alto de modificação, comprometendo as características fundamentadoras do estilo.Foram notificadas somente pequenas modificações, como o acréscimo de toldos, fechamentos e/ou introdução de algumas aberturas, não comprometendo, assim, a leitura do estilo.

número de pavimentos

Ao ser observado o item “número de pavimentos”, fez-se uma ressalva em algumas fichas com relação ao porão alto. Dentre as edificações analisadas, houve duas em que se constatou a presença de um porão alto não habitável. Reis Filho (1978) elucida que as casas de porão alto tinham o


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va, ou Castelinho.

coberta

primeiro pavimento elevado em relação às vias públicas, com a finalidade de proteger a intimidade do interior da vista dos passantes. Essas casas representavam uma transição entre os velhos sobrados e as casas térreas e que indicavam a moradia dos grandes proprietários rurais ou de pessoas que viviam de rendas. Essa elevação conferia imponência e status à edificação, separando a elite de pessoas comuns (rua), e o que pode ser percebido nas edificações analisadas é que mesmo o porão alto sendo inabitável, as finalidades de preservar a privacidade e conferir status foram mantidas. Ainda segundo Reis Filho (1978), a presença do porão alto “... era muitas vezes denunciada pela existência de óculos ou seteiras com gradis de ferro, sob as janelas dos salões”. Foi a presença destes elementos que denunciaram a existência dos porões.

Em algumas edificações foi possível constatar com clareza o número de águas, mesmo com a presença da platibanda, devido a esta não encobrir totalmente o telhado ou a presença da empena lateral. Em geral, nesses casos, havia duas águas. O sistema de telhado em duas águas com empenas laterais é utilizado desde o período colonial no Brasil. Dessa forma, lançava-se uma parte da chuva recebida sobre a rua e a outra sobre o quintal nos fundos do lote. Nos exemplos com esse sistema de cobertura, é possível que a platibanda tenha sido acrescida em período posterior à construção do edifício. Os casos de duas águas com caimentos laterais são mais condizentes com as inovações da implantação do ecletismo. Nesses exemplares, a platibanda encobre quase totalmente a cobertura.

5 3 A introdução do porão alto nas residências trouxe também outras características, como a transferência da entrada para a fachada lateral e o surgimento de uma pequena escada, elementos que acabavam por separar ainda mais essas residências dos espaços públicos.

Existiram ainda casos em que foi presumível a quantidade aproximada de águas através da platibanda, no entanto, sem poder afirmar com certeza. Corroborando com esse fato, Reis Filho (1978), comenta que o uso da platibanda talvez se devesse à falta de clareza dos desenhos dos telhados, excessivamente complicados.

usos

filiação Estilística

Como a intenção deste trabalho é reinventariar as edificações ecléticas da rua em questão, todas elas se enquadram nesse estilo. No entanto, existem variações quanto a algumas características, fazendo com que os prédios enquadrem-se em tipos diferentes de ecletismo, como Neocolonial, Bolo de Noi-

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O uso residencial foi predominante, sendo apenas uma institucional, onde funcionava a biblioteca municipal e uma de serviços, utilizada como cartório.

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Ao se comparar esse estudo com o inventário utilizado como parâmetro, verifica-se que o uso das edificações não foi alterado de forma significativa. Casos que merecem destaque são os edifícios sob n °1016 e 1054, que encontravam-se fechados na ocasião do estudo anterior e agora têm uso residencial. Esses edifícios receberam tratamento de pintura e troca de esquadrias sem alterar suas peculiaridades estilísticas.

implantação do edifício no lote

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Na arquitetura urbana o tipo de lote em que a construção está inserida geralmente tem relação direta com o contexto e o estilo no qual foi concebido. Por esse motivo, a implantação foi um dos itens observados. Silva (2002) considera como característica do ecletismo a construção recuada em relação à testada do lote, os recuos podendo ser frontal-lateral, frontal-bilateral ou, menos freqüentemente, apenas frontal. Para Reis Filho (1978), “Foi sob a inspiração do ecletismo e com o apoio dos hábitos diferenciados das massas imigradas, que apareceram as primeiras residências urbanas com nova implantação, rompendo com as tradições e exigindo modificações nos tipo de lotes e construções.” Ainda segundo o autor, a introdução dos jardins particulares nas residências brasileiras iniciou-se no século XIX, conseqüência dos recuos. Foram encontrados no estudo recuos unilateral, bilateral, frontal-lateral e, ainda, frontal-bilateral. Também existiram edifícios ocupando a totalidade do lote. Não foi identificado recuo apenas frontal, confirmando a declaração de Silva (2002).

referências

ARRAIS, Raimundo P. A. et al (Org.). Ceará-Mirim: tradição, engenho e arte. Natal: SEBRAE/RN, 2005, 91 p. il. BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1991. 398 p. FABRIS, Annateresa; PATETTA, Luciano et al. Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel; EDUSP, 1987. LEMOS, Carlos A. C. Alvenaria Burguesa. 2 ed. São Paulo: Nobel, 1989. 205 p. ________________ . Arquitetura Brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1979. 158 p. LIMA, Glênio Leilson Ferreira. Bolo de Noiva: produto nacional? 1999. Trabalho Acadêmico. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. LIMA, Pedro de. Arquitetura no Rio Grande do Norte: uma introdução. Natal: Cooperativa Cultural Universitária, 2002. 120 p. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 1978. 211 p. (Coleção Debates). SILVA, Edmilza Borges. O patrimônio Arquitetônico do Centro Histórico de Ceará-Mirim. 2004. Trabalho final de graduação. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. TRIGUEIRO, E. “Oh de fora!”. 1989. Dissertação de Mestrado, Recife: UFPE-Mestrado de História.

considerações finais

Diante do exposto, percebe-se que os resultados encontrados foram compatíveis com os de Silva (2004), na medida em que os edifícios analisados permaneceram no mesmo estágio de preservação. Isso confirma a proposição de que a rua Heráclito Vilar é uma exceção à regra da integração. Além disso, ratifica-se o uso residencial como o mais compatível com a preservação de edificações. Essa condição parece ser, inclusive, determinante no estado de preservação, visto que se sobressai ao princípio da integração das vias.

figuras

FIGURA 01. Mapas axiais de Ceará-Mirim. Fonte: SILVA ( 2004). FIGURA 02. Mapa das edificações reinventariadas. Fonte: SILVA (2004), modificado pelo grupo. FIGURA 03. Casa nº 881, detalhe dos óculos do porão. Fonte: acervo do grupo (2007). FIGURA 04. Casa nº 1016 Fonte: acervo do grupo (2007). FIGURA 05. Casa nº 1002 Fonte: acervo do grupo (2007). FIGURA 06. Mapa de uso do solo Fonte: SILVA (2004), modificado pelo grupo. FIGURA 07. Casa nº 1016, em 2004 e atualmente Fonte: acervo do grupo (2007).

projeto ecletismo em ceará-mirim: herança do estilo em edificações da rua heráclito vilar autores danielle c. silva spínola, débora cabral rodrigues, sa simonetti bousquet, julita fernandes de morais, raíssa de medeiros ribeiro. prof. orientador dra. edja trigueiro ano 2007 Instituição vinculada ufrn


Foto: Daniel Paulo, 2008

Foto: Daniel Paulo, 2008


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plano urbanístico plano urbanístico- capim macio aquiles alberto pina de oliveira; camila furukava; lorena lamartine lopes rocha; raissa ferreira

O presente trabalho tem por objetivo descrever um Plano Urbanístico para o bairro de Capim Macio, na cidade de NatalRN, baseado em diagnósticos técnicos e sociais do espaço em estudo. Sendo esta uma área da cidade que vem sofrendo uma forte especulação imobiliária, o plano urbanístico propõe um adensamento adequado onde serão considerados aspectos tais como dinâmica de fluxos e usos, conforto ambiental, assim como a legislação vigente. A proposta apresenta um plano de massas da área analisada, resultado de um planejamento minucioso de localização e tipo de edificação, promovendo a rugosidade e diversificação local, respeitando os limites da densidade “ideal”. Palavras-chave: Verticalização. Adensamento. Plano de massas


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Diante do acelerado crescimento da cidade de Natal, acompanhado pela pressão imobiliária que esta capital vem sofrendo, temas tais como adensamento e verticalização cada vez mais fazem parte da nossa realidade. Tal processo, ocorrido sem um planejamento prévio, pode vir a comprometer o bem estar do meio urbano. O planejamento urbanístico para o bairro de Capim Macio propõe um adensamento benéfico, onde serão considerados aspetos tais como dinâmica de fluxos e usos, conforto ambiental, considerando a legislação e a tipologia da área. Baseado nos levantamento de uso de solo e gabarito obtidos foi desenvolvido uma análise urbanística assim como o estudo da legislação incidente na área. Calculada a densidade local, e com base nas diretrizes do Plano diretor de 2007, foram implantadas, nas áreas identificadas com potencial construtivo, edificações verticais com tipologias diversas respeitando limites de recuos e índices de aproveitamento. Localizado na região administrativa sul da cidade de Natal, Capim Macio tem sua ocupação a partir da década de 70, com a construção do conjunto habitacional Mirassol que veio a proporcionar infra-estrutura ao local, permitindo a fixação dos seus primeiros moradores, passando a caracterizar-se um bairro habitacional (ver Figura 1 e Figura 2). O crescimento da cidade acarretou numa rápida e recente expansão urbana para a região sul, assim como a difusão da moradia vertical. Atualmente o bairro de Capim Macio é caracterizado como uma área de moradia nobre e vive um momento de intensa especulação imobiliária, refletindo numa crescente verticalização.

2 A partir da análise do uso de solo, destaque se dá a freqüência de terrenos desocupados, muitas vezes resultado do remembramento de lotes o que qualifica a área como detentora de um forte potencial construtivo assim como explicita a forte especulação imobiliária incidente no local. Numa visão geral do bairro, a verticalização resulta em quase 30% das edificações variando dentre 3 e 22 pavimentos. Neste âmbito vale salientar que a maioria deste tipo de construção desenvolveu-se a partir da década de 90. Baseado em estudos de algumas capitais nordestinas, onde é considerado adensamento ideal aquele que atinge 150ha/hac, foi mantido este valor como parâmetro de comparação para o plano de verticalização ideal, enquanto a densidade atual calculada chega à 68,85ha/hac, onde foram consideradas 3,58 pessoas por habitação, relativo á uma área de 282,85 há (Figura 3).

3 De acordo com as diretrizes do plano diretor de 2007, este bairro é considerado área de adensamento básico o que limita a sua densidade estritamente ao coeficiente de aproveitamento, sendo este de 1,2. Dessa forma, fica impossibilitado o uso de recursos extras como a outorga onerosa. Seguindo tais recomendações, foram inseridas edificações nos terrenos identificados como portadores de potencial construtivo (total de 36 unidades), seguindo a tipologia local, indo desde condomínios horizontais a condomínios verticais de 18 pavimentos (Figura 4) distribuídos de maneira a preservar a ventilação, mantendo a porosidade e rugosidade entre as edificações. Enfim a densidade alcançada ao final do plano, onde foram inseridas 1914 habitações chegando a um total de 7053, é de 93,08ha/hac.

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4 Aspectos como uso e dinâmica de fluxos também foram considerados, de maneiras que uma das fragilidades observadas na área foi o acesso dos transportes públicos já que tanto os alternativos quanto os ônibus não passam por dentro do bairro de Capim Macio. Visando solucionar essa situação, uma segunda rota de transportes foi proposta passando pelo centro do bairro, diminuindo as distâncias a serem percorridas pelos moradores (Figura 5). A densidade final está aquém daquela inicialmente desejada, mas foi mantida como sendo a melhor opção para a ocupação da área, pois, em conformidade com o que se propunha no início, a distribuição das novas edificações, bem como de seus portes baseiam-se não só no valor de adensamento desejado, mas sim no local ideal para cada tipo de empreendimento. Finalmente, ratificando a hipótese de um adensamento ideal de 93 há/hac para o bairro de Capim Macio, podendo haver uma aproximação para 95 ou 100 há/hac, tem-se as premissas de que o bairro precisa de uma configuração espacial mais aberta, intercalando edificações de grande, médio e pequeno porte, de forma a deixar a superfície com porosidades permitindo a pene-tração dos ventos bem como, na distribuição pontual de edifícios nas proximidades de praças ou áreas verdes preferencialmente. Sabe-se que desenvolvimento da verticalização em determinada área foge às possibilidades de um arquiteto ou urbanista, de maneira que este trabalho tem o intuito destacar as vantagens de um adensamento previsto, e prima pelo bom senso dos profissionais, destacando que a legislação restringe o adensamento até certo ponto.

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figuras

Figura 1: Mapa de localização do bairro Capim Macio; Fonte: www. natal.rn.gov.br/semurb.

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Figura 2: Mapa temporal do crescimento de Natal; Fonte: www.natal.rn.gov.br/semurb. Figura 3: Tabela de densidade atual da fração do bairro Capim Macio; Fonte: Arquivo do grupo Figura 4:Tipologia local; Fonte: FURUKAVA,Camila Figura 5: Marco do percurso de transporte público proposto; Fonte: Arquivo do grupo Figura 6: Plano de Massas inicial; Fonte: arquivo do grupo Figura 7: Plano de Massas final; Fonte: Arquivo do grupo

referências

SEMURB: Diponível: http: //www.natal.rn.gov.br/semurb. Acesso: 11 set.2007 NATAL: INSTRUMENTOS DO ORDENAMENTO URBANO DE NATAL. Plano Diretor. Natal, Prefeitura de Natal, 1994. PREFEITURA DE NATAL: Diponível: http: //www.natal. rn.gov.br. Acesso: 08 set.2007. CONHEÇA MELHOR SEU BAIRRO: http://www.natal. rn.gov.br/semurb/bairros.php; CONHEÇA MELHOR NOSSA CIDADE: http://www.natal. rn.gov.br/semurb/nossa_cidade.php; PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE NATAL 2007. SALVIANO. Raissa. Notas de aula da disciplina de Planejamento e Projeto Urbano 04, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, 2007.2.

projeto plano urbanístico - capim macio autores aquiles alberto pina de oliveira; camila furukava; lorena lamartine lopes rocha; raissa ferreira prof. orientador mariana bonates ano 2007 Instituição vinculada ufrn

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arquitetura moderna arquitetura moderna nas rocas: um estudo sobre os processos de introdução, afirmação, e descaracterização dos elementos modernos no cenário popular. marcela de melo germano da silva, andressa christine bezerra, carolina azevedo bezerra, karen álvares pinto.

Este trabalho analisa a produção arquitetônica do bairro das Rocas que apresenta alguns vínculos formais com o modernismo. Foi realizada uma leitura do processo de assimilação do vocabulário moderno pelas edificações residenciais e a perda do mesmo, através da análise dos elementos de composição das fachadas em três momentos distintos: primeira metade do século XX - predominantemente protomoderno; anos 50 – auge do modernismo popular; e pós anos 60 – modificações e descaracterizações da arquitetura moderna no bairro. Foi possível ainda identificar um padrão do modernismo popular característico das Rocas, bem como perceber algumas distorções entre o modernismo erudito e o modernismo popular encontrado no bairro. Palavras-chave: Arquitetura Moderna, Rocas, Modernismo Popular.


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entre 1930 e 1955, com características mais ou menos homogêneas, distintas, no entanto, do ecletismo historicista do início do século, como também, das experiências dos pioneiros do modernismo no Brasil. (ANDRADE apud EDUARDO, 1998). As edificações classificadas como protomodernas enquadramse nas definições apresentadas acima, permitindo uma associação entre a morfologia das fachadas e a produção arquitetônica da primeira metade do século XX, em especial à década de 30. Dentre as características observadas nestes exemplares têmse: platibandas escalonadas, motivos geométricos com funções decorativas, bem como ranhuras e saliências, conferindo variedade e ritmo às fachadas, marquises que adornam as janelas de canto e cores contrastantes. Ainda nas primeiras décadas do século XX, se desenvolve no âmbito nacional os ideais do Movimento Moderno. Em 1929, o manifesto de Gregori Warchavichik difunde as idéias de Le Corbusier no Brasil, provocando uma revolução estética que rompe com a influência da tradição, estabelecendo um novo vínculo com as correntes vivas da arquitetura internacional (BRUAND, adaptado). O movimento surge da necessidade de adaptação arquitetônica às novas necessidades do homem, à era da máquina, e do anseio dos artistas por uma identidade nacional. Os projetos buscavam o racionalismo e o funcionalismo, apresentando como características comuns: formas geométricas definidas - sem ornamentação; fachada livre - com a separação entre estrutura e vedação; uso de pilotis – liberando o espaço sob o edifício; panos de vidro horizontais – em fita; e integração entre arquitetura e o entorno. Segundo Cavalcanti esse processo de revolução atinge seu auge no final dos anos 30 e início dos 40 quando são construídas algumas obras referenciais do movimento: o MES - Ministério da Educação e Saúde(1936) e o projeto da Pampulha(1942-1943). O novo estilo se desenvolve no nordeste na década de 30, primeiramente em Recife, com Luís Nunes, que insere no repertório moderno alguns elementos observados no conjunto em estudo, como os cobogós, que refazem os brise soleil corbusianos. Esse elemento, bem como os brises, as venezianas, e os telhados de telha canal com grandes beirais, são decorrentes da preocupação do Movimento com o conforto ambiental, com a adaptação da nova arquitetura às características climáticas locais. Os revestimentos em azulejo, segundo Bruand, fazem parte dessa adaptação, como solução para o problema de manutenção constante das fachadas devido ao clima quente e úmido da região. Nos anos 50, período de relativa estabilidade política e econômica do país, o novo estilo, que inicialmente foi uma proposta de elite, penetra, segundo Lara, em todos os estratos sociais até a classe média baixa, sendo assumido por esta como paradigma estético apesar das diferenças regionais ou discrepâncias sociais. A mídia tem importante participação na divulgação da arquitetura moderna, como afirma Lara:

introdução

O artigo foi construído com base em uma amostragem representativa da arquitetura do bairro das Rocas. A proposta consiste numa leitura das imagens levantadas a fim de compreender o processo de inserção e perda dos elementos definidores do estilo moderno. Dada a implantação da maioria das construções do bairro, locadas em lotes muito estreitos, a frente da edificação é mais valorizada, com a lateral e o fundo recebendo um tratamento menos prestigiado. Devido a isso as fachadas são as que mais apresentam elementos característicos do movimento moderno. É a análise formal e de composição dessas fachadas que permitirá essa leitura. Fundamentada em estudos já realizados que abordam a arquitetura no Brasil, e mais especificamente o modernismo popular no nordeste. Foram pesquisadas ainda informações sobre a história do bairro e da cidade de Natal.

desenvolvimento e discussão

O bairro das Rocas é um dos mais antigos da cidade de Natal, nasce das atividades dos pescadores e dos trabalhadores das obras do porto. É oficializado em 1947 e seus limites são redefinidos em 1993. Começa a se desenvolver a partir dos anos vinte, marcantes no processo de modernização da cidade de Natal, quando são realizadas diversas obras de ordenação e embelezamento do espaço urbano. No início da década de 30 o dinamismo econômico advindo da produção de algodão permite que esse processo de modernização seja incrementado. Nessa década, O art déco foi o suporte formal para inúmeras tipologias arquitetônicas (...) conquistava adeptos populares ao ser adotado, em linhas mais simplificadas, nas vilas operárias em singelas moradias conhecidas como “porta-e-janela”, em todos os quadrantes do Brasil. (SEGAWA, 2002 :72) Segundo Pedro de Lima nesse período pode-se notar a presença do art déco na arquitetura da cidade, especialmente nas residências. O estilo situa-se em meio à transição das arquiteturas ainda referenciadas nos padrões clássicos para uma nova arquitetura que, definindo-se como racional e funcional e desprovida de adornos, buscará a beleza, principalmente, nas formas geométricas puras. No Brasil, o estilo pode ser entendido como uma das derradeiras manifestações do ecletismo assim como uma das primeiras expressões do Modernismo. Alguns estudiosos o definem como “tardoecletismo” ou “protomodernismo”. Muitos dos exemplares encontrados preservam características do estilo art déco, estes foram classificados como protomodernos e datam da primeira metade do século XX. Paulo Raposo Andrade com o texto “Um outra cultura da modernidade” classifica o protomodernismo como uma manifestação arquitetônica que ocorreu em diversas cidades brasileiras,

“paradigma de estilo” e “de forma direta e mais próxima do contexto popular, a publicidade da época usa e abusa da arquitetura moderna para vender de tudo. Aparelhos domésticos, materiais de construção, automóveis, roupas e até produtos de limpeza a usam como cenário ideal para a sedução publicitária. O resultado é que a arquitetura moderna de uma forma ou de outra invadiu os lares brasileiros na década de 50 com um glamour e um status dignos daqueles “anos dourados”. (Lara apud Delmonico e Rego; 2003: 183).

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As casas reunidas nesse estudo, construídas ou com suas fachadas reformadas nas décadas de 50 e 60, apresentam características da arquitetura modernista da primeira metade do século, apropriando-se do vocabulário formal do estilo e adaptando-o às circunstâncias. Em se tratando de uma bairro residencial de classe média baixa, alguns dos possíveis motivos dessa apropriação e da difusão de suas características são: a negação a tudo que fosse tradicional ou passado, de forma a se construir uma imagem moderna que estava “na moda”; e a mímese, ou “contaminação virótica” (termo adotado por Lara), traduzida como imitação ou repetição que permitiu a disseminação dos modelos das casinhas “modernosas” de “porta-e-janela”. Dentre os principais elementos modernistas de composição de fachada incorporados às casas do bairro estão: - As marquises, que passam a desempenhar a função das tradicionais varandas, marcando a transição entre o dentro e o fora, entre o privado e o público, são um indício da construção moderna, ainda que acopladas a estruturas de desenho convencional.(REGO, 2003 p.182) Além disso, ampliam o espaço interno, alargando a proporção da composição e evidenciando a linha horizontal e, conseqüentemente, a regularidade do conjunto. (Rego e Delmonico, 2007 p. 182) Constatou-se que se trata de um dos primeiros elementos modernos a serem inseridos no cenário eclético. Isso foi possível a partir da observação do conjunto de elementos das fachadas que apresentavam esse elemento. A maioria delas possuem traços da decoração característica do Art Déco, como platibandas escalonadas adornadas com figuras geométricas, datam, portanto, das primeiras décadas do século XX. Estas exemplificam o protomodernismo, ou modernismo inicial já citado anteriormente. -As platibandas, que transmitem uma ilusão de laje, de coberturas planas, remetem à composição cúbica proposta por Le Corbusier. Na grande maioria dos casos levantados escondem o telhado tradicional. (Como já esclarecido acima, a implantação das casas favorece esse modernismo de fachada). A platibanda reta é a mais recorrente, destacando a linha horizontal. Aparecem ainda a inclinada e a invertida ou “borboleta”, semelhante à utilizada por Niemeyer no Iate Clube do Complexo da Pampulha. As platibandas já eram utilizadas tanto no ecletismo quanto no protomodernismo, estas diferem da platibanda “moderna” pelo excesso de ornamentação e recortes em sua forma. Embora seja um dos elementos mais recorrentes no conjunto em estudo, que melhor caracteriza o modernismo das Rocas, algumas casas com telhado aparente foram classificadas como modernas. Geralmente possuem as duas águas desencontradas, ou apenas uma água inclinada, em negação ao estilo colonial que persiste até a década de 30. - A questão da horizontalidade é uma preocupação latente na produção moderna do bairro, ressaltada pela aplicação de frisos emoldurando as platibandas e esquadrias, e pela utilização de janelas horizontais. Cabe destacar a adaptação de alguns elementos como os frisos, que outrora seriam rechaçados por seu caráter ornamental e, portanto, nada funcional aos olhos dos modernos – às necessidades de se afinar com a nova estética, salientando na fachada a intencionada horizontalidade da edificação moderna. (DELMONICO, RENATO 2003 adaptado). Outros exemplos de elementos de decoração encontrados que perdem sua funcionalidade original, contradizendo alguns dos princípios modernos, são: as pequenas aberturas circulares, que eram comumente utilizadas para ventilação, e, no entanto, recebem aqui apenas utilidade ornamental; e o aca-

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bamento em “réguas” à semelhança das casas americanas, adotado pela arquitetura moderna local. Ambos se valem apenas da intenção estética. - As texturas, outra prática comum nos exemplares estudados, também são aplicadas em locais estratégicos, buscando essa horizontalidade. São utilizadas como decoração e garantem uma aparência mais rústica, atenuando a imagem da composição cúbica, geométrica e abstrata. (REGO, 2003 adaptado). - O uso de cerâmicas no revestimento e decoração de fachadas também garante uma identidade às casas modernistas identificadas, segundo Lara: “As casinhas modernistas adotaram a cerâmica como material preferido de revestimento externo. Empregados extensivamente na arquitetura portuguesa e redescobertos pelos arquitetos modernistas, azulejos e pastilhas foram usados em profusão. Impulsionadas pela indústria de materiais de construção (o que se revela também nas inúmeras propagandas na mídia impressa), cerâmicas de revestimento estavam disponíveis em forma de pastilhas (2 x 2cm) ou azulejos decorados (12 x 12 ou 15 x 15 cm). Combinados na composição das fachadas, pastilhas e azulejos tornaram-se marca registrada desse período na arquitetura residencial brasileira. “(LARA, 2005: 176).

Vale ressaltar que a aplicação de cerâmica nas fachadas, em muitos dos casos levantados, descaracteriza a edificação moderna. Garantindo à esta um aspecto de banheiro (cômodo comumente revestido por cerâmica para evitar infiltração). Esse fenômeno se inicia depois dos anos 60, e é um processo sem dúvida caro, mas que permitia evitar as grandes despesas com manutenção das fachadas. (BRUAND, 1997 adaptado). - Embora poucas, algumas casas inventariadas preservam seu muro original, geralmente baixo, favorecendo a integração da casa - espaço privado, com a rua - espaço público. Característico do movimento moderno que pregava a continuidade espacial integrando o edifício com o entorno. - As esquadrias encontradas são, em sua maioria, venezianas em madeira, adaptadas ao clima local, permitindo a ventilação dos ambientes internos. Diferem apenas formalmente da utilizada nos períodos anteriores, principalmente no colonial. As aberturas antes quadradas (colonial), ou verticais (art déco) tornam-se horizontais. As mais comprometidas com o movimento, provavelmente de moradores com poder aquisitivo superior aos demais, apresentam vidros, comuns nas esquadrias da época, no entanto mais caros que a janelinha tradicional. A ausência de vidros poderia ser explicada ainda pela fragilidade do material. Quando preservada a esquadria original, a composição predominante são 4 folhas, as duas centrais em vidro e as duas laterais com venezianas. Muitos dos exemplares modernos substituíram suas esquadrias, modificando suas fachadas, preservando em alguns casos a abertura, mas na maioria ampliando-a para torná-la mais funcional. - Outros elementos que contribuem para o conforto térmico da edificação, observados também dentro desse contexto, são o cobogó e os brises. Segundo Rego o primeiro seria um novo estágio do “muxarabi”, natural de nossa arquitetura colonial que os portugueses assimilaram da arquitetura moura. Garante a ventilação e a iluminação natural, sendo utilizado também, como foi observado em vários exemplares, como elemento decorativo. são recorrentes, estão presentes nos exemplares mais fiéis aos modelos da arquitetura moderna, e funcionam como interceptadores dos raios solares. (CORONA e LEMO, 1989 adaptado).

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5 - A volumetria das edificações é predominantemente simples, no entanto percebe-se através das platibandas invertidas, ou seccionadas por algum elemento, ou ainda através das varandas, um jogo de volumes, ou pelo menos a intenção desse jogo, característico do movimento moderno, que o difere das fachadas ecléticas e coloniais simples. Devido à limitação imposta pelos lotes, as edificações térreas não desenvolvem essa característica, apenas a simulam. Nas casas de dois pavimentos, entretanto, este jogo se torna claro, o volume superior salta além do inferior, construindo uma “fachada-livre”, e, quando não, o pavimento superior apresenta grandes aberturas, como varandas que provocam a sensação de volumes distintos. Uma das principais causas da descaracterização das edificações modernas do bairro foi o acréscimo de volumes à volumetria original. A fachada, principal elemento de identificação do estilo, se esconde atrás de grades de varandas com telhadinho aparente, semelhantes à alpendres, ou ainda atrás de um novo cômodo fechado - muitas vezes a garagem, inserido na parte frontal da casa, sendo possível identificar sua época apenas pela platibanda, última sobrevivente. Alguns desses elementos foram combinados, criando modelos de fachadas, que hipoteticamente por mímese se reproduzem por todo o bairro, permitindo a identificação de alguns padrões. Dentre os padrões, predomina a casinha modernosa de porta-e-janela com platibanda emoldurada por frisos e abertura horizontal - uma releitura da casinha de porta-e-janela com telha colonial em duas águas. O padrão apresenta algumas variantes relativas à forma da platibanda, retas, inclinadas, ou invertidas. Esse padrão caracteriza a arquitetura das Rocas predominante na década de 50, vindo a sofrer modificações depois dos anos 60.

discussão e considerações finais

Este trabalho pôde levantar as edificações com características modernistas e de transição dos estilos que o precederam e sucederam e notar o processo de inserção e perda dos elementos definidores do estilo. A reforma nas fachadas foi o principal meio para a compreensão desse processo de assimilação da arquitetura moderna no bairro das Rocas. Elas registram os modismos de várias épocas permitindo a leitura de sua história. O processo de modificação da arquitetura do bairro das Rocas acompanha o ritmo da cidade, conforme Marques e Melo: “Segundo MARQUES E MELO (2002) a prática da arquitetura moderna em Natal, especialmente a residencial, ocorreu em três fases: década de 30, momento de inserção dos modelos modernistas pelo Escritório Saturnino de Brito; década de 50, período de ruptura das alusões ao passado através da disseminação e consolidação das idéias modernistas; e, por fim, década de 60, considerada a fase de dispersão do idéario modernista” (RIBEIRO apud LIMA et al; 2006: 30).

6 De maneira geral o que pôde ser observado é que durante as primeiras décadas do século até a segunda Guerra Mundial a arquitetura do bairro foi predominantemente protomoderna, uma arquitetura de transição, com características do estilo Art Déco e colonial. Na década de 40 começam a ser inseridos alguns elementos modernos como as marquises, e os elementos de decoração das fachadas são simplificados, há ainda uma negação do estilo colonial. Nos anos 50, o modernismo popular atinge seu ápice, são inseridas as platibandas, as janelinhas horizontais, os elementos de proteção solar, dentre outros. Após os anos 60 as fachadas sofrem algumas modificações ou descaracterizações, são revestidas com pedra, possível influência do movimento brutalista, com cerâmica, ou ainda possuem sua volumetria alterada por justaposição. Pôde-se perceber que a Arquitetura Moderna se espalha como estilo, tornando-se paradigma estético. Passando a ser incorporado pelo bairro como necessidade e modismo, segundo Lara os fragmentos da arquitetura moderna davam o status almejado. A produção modernista do bairro apresenta um vasto repertório de elementos modernos baseados num pequeno conjunto compositivo, aplicado de forma a afinar as casas com a estética de então. Revelam uma engenhosa adaptação ao vocabulário moderno, no entanto, desviam-se de alguns preceitos do modernismo ortodoxo, erudito e inicial.

figuras

Figura 01 Edificações protomodernas do bairro das Rocas: ficha A9, E4, D44, B64, B52 respectivamente. (Fonte: Acervo da turma/Data: Maio/2007) Figura 02 Edificações protomodernas do bairro das Rocas: ficha, E67, B24, E12, B14 respectivamente. (Fonte: Acervo da turma/Data: Maio/2007) Figura 03 Algumas marquises e platibandas encontradas no bairro: ficha C22, D32, B30, B5, A54 respectivamente. (Fonte: Acervo da turma/Data: Maio/2007) Figura 04 Alguns elementos decorativos e algumas texturas encontradas no bairro: ficha C63, B2, B3, C45, C40 respectivamente. (Fonte: Acervo da turma/Data: Maio/2007) Figura 05 Alguns revestimentos em cerâmica típico dos anos 50 e posteriores aos anos 60 encontradas no bairro: ficha E61, B27, D60, C10, A38, respectivamente. (Fonte: Acervo da turma/Data: Maio/2007) Figura 06 Alguns muros baixos, esquadrias e protetores solares encontrados no bairro: ficha E12, C13, D32, C27 e E86 respectivamente. (Fonte: Acervo da turma/Data: Maio/2007) Figura 07 A primeira imagem apresenta uma ilusão de volumes distintos, a segunda apresenta esse jogo, e a seguinte é um exemplo de descaracterização encontradas no bairro. As três últimas são algumas variações do padrão identificado: ficha E66, B63, A59, B26, B58, e B39, respectivamente. (Fonte: Acervo da turma/Data: Maio/2007)

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Foto: Felipe Musse, 2008

Foto: Felipe Musse, 2008


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as placas? os olhos que não vêem... as placas? – a busca por uma metodologia de avaliação de paisagem urbana baseada num estudo realizado na área comercial do bairro alecrim, natal-rn. carlos eduardo lins onofre e maria gabriela de oliveira sales

O Alecrim é um bairro da cidade de Natal com uma forte vocação comercial; conseqüentemente, a paisagem de parte desta área revela tal caráter, sendo permeada de sinais publicitários e comerciais de diversas naturezas – caracterizando um panorama chamado por alguns autores de signscape. A questão da paisagem de áreas comerciais levanta opiniões divergentes entre diferentes estudiosos, envolvendo principalmente: conceitos de beleza, questões de percepção ambiental, poluição visual e identidade de áreas urbanas. O estudo procurou investigar a relação da paisagem “comercial” com a percepção de diferentes grupos de habitantes da cidade: um constituído de indivíduos com um vínculo necessariamente estabelecido com o comércio da área, e outro de indivíduos que não necessariamente apresentariam tais vínculos. Baseando-se na pesquisa bibliográfica e de campo, portanto, foi possível analisar os resultados colhidos e fazer uma análise crítica dos métodos de análise de paisagem urbana, incluindo o próprio método adotado e adaptado para o estudo específico, de modo que contribuísse para trabalhos futuros. Palavras-chave: Percepção ambiental, Paisagem urbana, Alecrim.


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que a população, ou parte significativa dela, os considerariam importantes subsídios de constituição da identidade da mesma, considerando seu devido valor estético.

sobre os objetivos do estudo

introdução

Nos “caóticos” espaços das áreas comerciais do Alecrim, onde podem ser percebidas uma quantidade significativa de empresas, os carros e pedestres se apinham nas vias e lojas. Esta situação de alta densidade de estabelecimentos e pessoas culmina em uma espécie de disputa entre os comerciantes, para identificar suas lojas. O resultado é uma profusão de placas e sinais dos mais variados, que dominam a composição da paisagem de muitas ruas do bairro, numa alegoria capitalista. É o que se chama comumente de poluição visual, um termo que carrega algo além de condicionantes concretos e palpáveis (tais quais outros tipos de poluição – como o esgoto nos rios ou o lixo nas ruas). Na prosa coloquial, a expressão ganha um fundo abstrato e pessoal. Poluir, segundo o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999), significa sujar, macular. Poluição visual, portanto, seria algo como uma sujeira que afeta principalmente o sentido da visão, se expusermos o óbvio utilizando o dicionário como base para uma definição. Então, poderiam ser as placas, faixas, letreiros, pichações - todos esses sinais que se fazem presentes em muitas paisagens das cidades afora – considerados definitivamente sujeira, e conseqüentemente, poluição? A visão de todos a respeito disso seria idêntica? Tomando-se uma rua, por exemplo, todos os seus usuários, independente de seus graus de vínculo com a mesma, construiriam uma imagem idêntica do “lugar”, e por conseqüência, de sua paisagem? Afinal, de que maneira os vínculos pessoais com uma “popular” rua comercial influenciam na visão social sobre a aparência do local? Ao considerar o pressuposto que, nem todas as percepções do panorama estético de uma rua comercial seriam idênticas, de acordo com a situação física e pessoal que cada pessoa ou grupo de pessoas que freqüentam/habitam o espaço, têm-se as seguintes hipóteses: 1) O vínculo do habitante com uma área comercial influenciaria a sua percepção em relação à aparência da paisagem da mesma. Aqueles indivíduos que mantêm vínculo mais forte com a área, em especial, desempenhando a atividade de empresário, teriam maior tendência a aprovar o aspecto da paisagem que aqueles que não mantivessem vínculo forte com a área. 2) Os elementos de marketing e sinalização para identificação de empresas (tais como placas, letreiros, faixas, etc.) seriam tão típicos e intrincados com o caráter de uma área comercial,

O estudo “Os olhos que não vêem... As placas?” tem entre os objetivos iniciais a compreensão do papel da imagem sócioambiental de ambientes construídos no posicionamento da população frente à problemática da poluição visual. Foi ainda estipulada a necessidade da observação das razões simbólicas que podem interferir na apreensão da paisagem urbana, no caso, a de uma rua comercial; a compreensão dos motivos que levam alguém a aprovar ou desaprovar uma paisagem permeada de sinais e seu relacionamento com os conceitos de “lugar” e “espaço”. O estudo visou também contribuir para a ampliação dos conceitos de beleza ante diferentes apresentações de paisagem no ambiente construído. Durante o desenvolvimento da pesquisa, o próprio processo metodológico de investigação se mostrou permeado de aspectos muito interessantes, algo observado já no processo de levantamento de dados e de referencial teórico-metodológico. Foi constatado que são poucos os estudos voltados para a paisagem urbana de áreas comerciais, principalmente no que toca à publicidade ao ar livre – situação que se agrava mais no caso de referências brasileiras; Criou-se então um novo, e muito importante “pilar-objetivo” ao presente relatório: analisar criticamente os procedimentos metodológicos a serem utilizados experimentalmente, a fim de se apresentar contribuições a futuras pesquisas de apreensão (principalmente social) das paisagens urbanas de áreas comerciais, ou sinalizadas de maneira expressiva. Baseando-se nessa prerrogativa, a pesquisa apresentou uma estrutura metalingüística, a fim de contemplar simultaneamente os principais objetivos que viriam a ser sanados de maneira paralela: responder às hipóteses iniciais, e contribuir no campo metodológico.

referenciais teórico e metodológico

O estudo específico demandou uma leitura de diversos conceitos que envolvem os temas abordados; foi muito importante também elencar uma série de procedimentos metodológicos referentes à apreensão da paisagem urbana e de áreas empresariais, de modo que a metodologia adotada no estudo fosse discutida de maneira contextualizada.

entre os conceitos estudados, pode-se enumerar:

1) Comunicação visual, à luz de MUNARI (2003), onde o autor estabelece um conceito abrangente de Comunicação Visual, e apresenta a diferenciação entre comunicação visual casual e intencional; 2) Vínculo, sob a ótica de TUAN (1980) onde foi possível ter-se um panorama sobre vínculo afetivo a determinados lugares, e Imagem por LYNCH (2006), esclarecendose o processo de construção de imagens de áreas urbanas no imaginário coletivo. 3) “As Fronteiras da beleza” por SUASSUNA (2007), onde foi possível analisar reflexões de diferentes filósofos sobre a beleza, detectando inclusive, na teoria kantiana da beleza, subsídios para o embasamento das hipóteses do estudo. 4) O debate sobre a convivência entre “poluição visual” e a paisagem urbana, à luz de MELO (2005), GUIMARÃES JÚNIOR (2001) e MINAMI (2001) – algo de especial relevância para o estudo, ao passo que expõe diferentes linhas de pensamento, por parte de diferentes autores, sobre a convivência entre a paisagem urbana e a difusão da publicidade ao ar livre. 5) A visão pós-moderna de VENTURI, BROWN e IZENOUR (2003), em “Aprendendo com Las Vegas”, onde um exemplo emblemático de um “novo” conceito de cidade - e consequentemente, de paisagem-, é discutido. No que tange à pesquisa sobre o referencial metodológico, que serviu como um lastro para o “pilar” referente ao assunto contemplado no estudo, enumera-se:


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Quaresma, em especial um trecho dela. Tal escolha se deu pelo fato deste eixo possuir todas as características necessárias desejadas para o propósito do trabalho, que seriam: um ambiente totalmente comercial, sem residências e lojas que possuíssem placas, marquises e muitas informações visuais. 1) O estudo sobre Imagem Sócio-Ambiental de Áreas Urbanas, de ELALI (2006), um importante subsídio para a elaboração da metodologia que viria a ser adotada pelo estudo, servindo como referência principal neste aspecto prático; 2) Análise Visual e Percepção Ambiental por CULLEN [1983?] e LYNCH (2006), a análise da obra de dois autores que, para realizarem seus estudos de apreensão da área edificada utilizam princípios praticamente opostos (a percepção individualizada versus a percepção coletiva); 3) A análise do método de ABUGAZZEH (1997), um dos poucos estudos disponíveis, específicos sobre paisagem de áreas comerciais, que expõe uma metodologia menos intuitiva que a dos demais autores estudados, numa ótica sistematizada; 4) E finalmente, a pesquisa de NASSAR (1988), sobre signscapes (conceito aplicado às paisagens permeadas de sinais, que foi adotada pelo estudo) – uma pesquisa específica sobre o tema, e que utiliza-se de imagens e entrevistas com diferentes segmentos da sociedade, para a avaliação da paisagem de áreas empresariais. Constituiu-se numa das principais referências para a metodologia aplicada no estudo.

o trecho estudado

Para a escolha da fração a ser aplicado o estudo, foi almejado encontrar um lugar da área comercial do Alecrim no qual existissem vários estabelecimentos comerciais, além de necessariamente apresentar aspecto visual, condinzente com os objetivos da pesquisa, ou seja, deveria ser permeada de sinais. Em uma visita de campo à área comercial do Alecrim, foram percorridas algumas ruas e avenidas do bairro, e posteriormente, foi definida como a via-referência de estudo a Rua Presidente

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procedimentos metodológicos específicos

A pesquisa proposta pelo estudo procedimentos metodológicos que delimitassem de maneira clara impressões pessoais de uma amostra populacional. Para isso, foram necessários instrumentos que colham e exprimissem de maneira objetiva e imparcial estes dados tão peculiares e voláteis, compostos por valores subjetivos. O instrumento mais apropriado para respaldar esta pesquisa seria aquele que colhesse a informação pessoal de maneira individual – portanto, foi escolhida a entrevista, a exemplo do método proposto por Kevin Lynch (2006), que utilizava o instrumento (entre outros) para levantar dados sobre a imagem sócio-ambiental de áreas edificadas. O método de Lynch, entretanto, não seria aplicado integralmente, pois envolve estudos bem mais amplos, abarcando fortemente a coleta de dados relacionados ao caráter morfológico das áreas urbanas, aspecto que não será abordado no presente estudo. Para tanto, o uso da metodologia de Lynch será feito de maneira adaptada, inspirado fortemente no instrumento da pesquisa de Elali (2006), sofrendo simplificações que a façam condizente com uma escala reduzida, e ao tema da Paisagem, o escopo deste estudo. O questionário, portanto, estruturou-se em perguntas sobre o perfil dos entrevistados, uma vez que fatores como sexo, idade, local de moradia, etc., poderiam influenciar o resultado final; vínculo com a área, um dos principais pontos de avaliação e possíveis cruzamentos de dados para que fosse respondida a questão central do estudo; e perguntas que gradavam da generalização sobre a imagem da área, até as especificides de paisagens de áreas comerciais (entrando neste momento a adaptação do estudo de NASSAR [1988]). Isto é, as perguntas generalistas sobre a imagem da área foram postas em um primeiro momento, para ser possível avaliar a real importância da paisagem dentro de todo o universo da área comercial do Alecrim (incluindo problemas ambientais, sociais, etc.), e, para que os resultados não fossem tendenciosos, procurou-se posicionar as questões específicas ao fim do estudo. As entrevistas foram feitas com dois grupos amostrais:os comerciantes e trabalhadores da rua Pres. Quaresma, e os estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFRN – i.e, envolvendo um grupo de indivíduos com um vínculo necessariamente estabelecido com o comércio da área, e um grupo de indivíduos que não necessariamente apresentariam tais vínculos; desta maneira seria possível trazer a discussão sobre a paisagem de áreas comerciais para um âmbito local, além de ser possível avaliar criteriosamente se haveria ou não, diferenças entre os resultados colhidos com ambos os grupos.

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exemplo de resultado

Sobre os resultados obtidos no que toca à avaliação da paisagem da área em estudo, foi possível constatar que existiram sim, diferenças significativas entre a imagem da área comercial do Alecrim, se confrontadas as respostas dos grupos estudados. Um exemplo que pode ilustrar estas diferenças é o da anáilise dos resultados da última questão, a mais restritiva sobre signscape: A figura 04 foi mostrada ao entrevistado, e este deveria marcar qual a paisagem que mais o agradasse visualmente. Depois, deveria justificar sua resposta. Esta questão foi inteiramente baseada na metodologia de NASSAR (1988).

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Para ambos os grupos amostrais, a paisagem “A” foi eleita como a mais agradável visualmente. Neste ponto, pode-se dizer, há concordância geral entre os dois segmentos da sociedade pesquisados. Entretanto, a percentagem de votos à paisagem “A” para os estudantes de Arquitetura e Urbanismo foi quase unânime, enquanto que, para os comerciantes/trabalhadores apresentou-se em fração menor. Pode-se concluir que, de fato, o grupo “de dentro” do Alecrim é mais flexível no que toca ao seu juízo de gosto frente às paisagens urbanas. Há uma propensão à maior aceitação, por parte dos que vivem do comércio, do signscape mais dominado pelos sinais. Este fato indica uma tendência a se comprovar as hipóteses elaboradas antes que o estudo fosse concluído. Entretanto, se pode especular, os estudantes de Arquitetura e Urbanismo são mais propensos a terem uma opinião formada de acordo com os paradigmas de beleza da Academia, algo que possivelmente influenciou as respostas. Entretanto, fazendo-se um balanço geral, cabe dizer que as sensações de “amplidão”, “organização”, e “simplicidade”, para qualquer um dos grupos entrevistados, é melhor que uma situação paisagística que exalte o poder do comércio, se couber aqui uma generalização. È afirmável até que, a Arquitetura de uma loja, por exemplo, é mais relevante que o letreiro com o nome do estabelecimento, na opinião de ambos os segmentos. Sobre o papel desta pergunta para o estudo, pode-se dizer categoricamente, que foi muito importante, útil, e atendeu de maneira adequada às necessidades e objetivos da pesquisa. Talvez por ser a única que é diretamente ligada ao tema, rendeu respostas mais precisas, indicou tendências efetivas de negação ou confirmação das hipóteses, e mostra um potencial claro para composição de método de avaliação de opinião coletiva sobre a publicidade ao ar livre, que poderá servir como respaldo à elaboração de legislação específica. Além de tudo, a pergunta se mostrou de fácil compreensão, e foi respondida com entusiasmo por alguns dos entrevistados, que se mostraram realmente estimulados pelo impacto visual que as imagens causaram. A questão inspirada pelo estudo de Nassar (1988) também é um indicador seguro de que diferentes opiniões podem ser construídas até mesmo sobre paisagens estáticas e virtuais, sem diferenciações de ambiência (como temperatura, ruído, cheiros, horário, etc.).


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conclusões

Foram obtidos, ao fim do estudo, resultados e tendências conclusivas que, principalmente, respaldaram observações acerca de processos metodológicos de pesquisa sobre apreensão/ formação da imagem de paisagens de áreas comerciais. Foi possível afirmar, então, que as pesquisas que foram utilizadas como referências – assim como a própria elaborada para o trabalho – carregam em si a “imprecisão” inerente aos temas subjetivos, que colhem informações sobre sensações e visões particulares. Não há como apontar uma metodologia ideal, mas sim, apontar tendências metodológicas adequadas a diferentes objetivos, e, em função destes, combiná-las. Para o objetivo da pesquisa específica, que criou lastro para a análise dos procedimentos utilizados, foi percebido que faltaram mais perguntas direcionadas ao tema do signscape, em particular. As perguntas genéricas geraram dados realmente interessantes sobre a paisagem da área em estudo, mas não indicaram de maneira significativa as impressões dos entrevistados sobre as peculiaridades do signscape – dispersando-se assim dos objetivos específicos. Portanto, constatou-se que é necessário ter muita cautela ao elaborar-se o instrumento de pesquisa acuradamente de acordo com os objetivos almejados, assim como devem ser pensados os cruzamentos de dados mais importantes previamente de modo que as perguntas selecionadas para o contato com o entrevistado estejam equilibradas (ou não) entre as genéricas e as específicas sobre o tema estudado, pois os efeitos que elas conferem nos resultados finais podem ser bastante diferentes.

figura

FIGURA 01. Trecho-referência do estudo. Foto: CAERN, 2005, modificado pelos autores, 2007. FIGURA 02. Vistas de ângulos diferentes da Rua Presidente Quaresma. Fonte: Acervo dos autores, 2007. FIGURA 03. Vistas de ângulos diferentes da Rua Presidente Quaresma. Fonte: Acervo dos autores, 2007. FIGURA 04. Imagens utilizadas na questão 11 do questionário. Fonte: Elaboração dos autores, 2007. FIGURA 05. Figura 5: Resultados da questão 11 do questionário. Fonte: Elaboração dos autores, 2007.

referências

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Foto: Daniel Paulo, 2008

Foto: Daniel Paulo, 2008


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proposta conceitual proposta conceitual de uma casa em clima quente e úmido de natal, com vistas à bioclimatogia e à racionalização do projeto. natália ferreira de queiroz

Este trabalho descreve o desenvolvimento de uma proposta arquitetônica conceitual de uma residência em clima quente e úmido com ênfase na racionalização do projeto, na aplicação de princípios bioclimáticos e na integração com paisagismo, considerando aspectos como segurança e privacidade. A proposta tem área projetada e um programa de necessidades compatível com ao de uma habitação de interesse social, com sala, cozinha, dois quartos e área de serviço. O partido arquitetônico foi desenvolvido em dois blocos independentes com conexão interna, formada por um jardim. Os blocos independentes possibilitaram as divisões bem marcadas das áreas sociais, íntimas e de serviço. No bloco íntimo adotou-se um pé direito mais baixo, dando um caráter mais introspectivo. Na área social o pé direito amplo proporciona um ambiente convidativo e interativo. Esse recurso trouxe várias outras vantagens: diferenciou-se os espaços conforme seu uso e os integrou visualmente, proporcionando ambientes com transparência e compartilhado com o exterior. Além disso, sem as visuais indesejadas de terceiros ao interior da edificação, proporcionou-se mais privacidade e segurança. Como conseqüência do partido adotado, houve a maximização da área de envoltória, aumentando a permeabilidade à ventilação e iluminação natural. Foi utilizado um sistema de cobertura de alta refletância (alumínio) e baixa transmitância térmica (poliestireno expandido). O jardim central é uma extensão do paisagismo externo, integrado ao interior da residência. Ele circundeia a casa, inclusive por baixo, uma vez que ela está sobre pilotis, aumentando assim a área de solo permeável e diminuindo as intervenções no terreno. As plantas colaboram com o sombreamento, a evapotranspiração e a redução das temperaturas radiantes médias, contribuindo para o conforto térmico no interior da casa. Palavras chaves: bioclimatologia, racionalização, paisagismo


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introdução

O projeto de residências pode ser variáveis, como as necessidades racterísticas do clima e do sítio, o orçamento, a disponibilidade de sistemas construtivos, as referências arquitetônicas, dentre outras. Neste trabalho, é apresentado uma proposta conceitual de uma casa para a cidade de Natal – RN que enfatiza a linguagem apropriada à cidade e ao clima, com base num programa de necessidades simplificado. Na proposta, não se considera um cliente específico ou um terreno em especial. Em vez disso, adota-se um programa adequado para um hipotético casal ou família de classe média composta por até quatro pessoas, com um terreno plano ou mesmo irregular de 15 X 20 metros. O ante-projeto sugere a aplicação de conceitos que buscam uma relação harmônica com o meio e o clima de Natal-RN em conjunto com ideais de racionalização do projeto e princípios de uma arquitetura de baixo impacto ambiental. Para isso, faz-se uma breve análise do clima, de normas e do contexto em que se apresenta a cidade de Natal, à fim de propor as estratégias projetuais, sistemas construtivos e o resultado final da proposta. A motivação do trabalho é decorrente da falta de elementos regionais das edificações de Natal, que tampouco se mostram apropriadas ao clima quente e úmido. Como resultado, observa-se uma cidade com crise de identidade arquitetônica.

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T B S [°C]

Os critérios de aceitação de um projeto residencial unifamiliar em Natal segundo a NBR 15220-3 são para a zona bioclimática 08. As aberturas devem ser grandes e sombreadas com área maior ou igual a 40% da área do piso. Os sistemas construtivos devem ser leves, uma vez que a inércia térmica não é uma estratégia recomendada ao clima quente e úmido. O fator de calor solar deve ser inferior ou igual a 4,0%, obtido com superfícies claras e sombreadas. As paredes devem ser leves e refletoras com transmitância térmica menor ou igual a 3,6 W/ m²K. A cobertura deve ser leve e refletora com transmitância térmica menor ou igual a 2,3.FT W/m²K. Os habitantes de Natal tendem a importar diversas tipologias arquitetônicas que freqüentemente chocam com as referências regionais e com as estratégias bioclimáticas. Pouco se leva em consideração a adaptabilidade dos sistemas construtivos e a geometria da envoltória ao clima. Como remediação, tem-se o gradativo aumento indiscriminado de uso de ar-condicionados nos ambientes. “A arquitetura potiguar hoje é, muito mais, resultado de um exercício de desenho de projeto. Isso sem falar naqueles “desenhadores” que não sabem sequer a diferença entre conceber e copiar; na multidão de arquitetos adestrados em “escolinhas Pavlov” se acotovelando nas bancas de revista e nas “Casa Cor” da vida. Perseguimos “cardápios” e lançamentos da especulação. Somos vítimas de um funcionalismo mecanicista que assassina a arquitetura. “(Pereira, 2007)

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U F S C - E C V - L a bE E E - N P C

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recomendações

A proposta é para a cidade de Natal-RN, que se localiza no litoral nordestino próximo ao equador, possui latitude de 5º 47’S e um clima quente e úmido, com temperaturas que variam entre 19 e 33°C e umidades freqüentemente acima de 60%, o que torna a ventilação natural a principal estratégia de conforto térmico a ser considerada. O vento é disponível na maior parte do ano, com predominância de incidência entre 90 e 180° de azimute (Figura 1).

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U [g/kg]

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1 . Co n fo rto 2 . Ve n tila c a o 3 . R e sfria me n to E v a p o ra tiv o 25 4 . Alta I n é rc ia T é rmic a p / R e sfr. 5 . Ar Co n d ic io n a d o 6 . U mid ific a ç ã o 2o 0 la r 7 . Alta I n é rc ia T é rmic a / Aq u e c ime n to S 8 . Aq u e c ime n to S o la r P a ssiv o 9 . Aq u e c ime n to Artific ia l 1 5 1 0 .Ve n tila ç ã o / Alta I n é rc ia 1 0 influenciado por diferentes 1 1 .Ve n t./ Alta I n é rc ia / R e sf. E v a p . 1 2 .Alta I n é rc ia / R e5 sf. E v a p . dos seus usuários, as ca-

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desenvolvimento da proposta

O desenvolvimento da proposta-conceito da residência seguiu as estratégias bioclimáticas e buscou a adoção de elementos presentes na arquitetura vernacular nordestina em conjunto com um layout modulado baseado em peças pré- fabricadas. Partindo-se da casa vernacular típica de baixo custo, com coberta de duas águas, de geometria compacta, optou-se pela cessão em dois blocos independentes a fim de criar um espaço semi-externo. Aos poucos os dois volumes foram se afastando do solo e diferenciando-se de alturas para atender o uso diferenciado. Caixa d´água, banheiros e grande parte dos encanamentos foram concentrados num único volume. A envoltória foi pensada para ser permeável ao vento, com jardim interno, para ser protegido da chuva e de olhares externos (Figura 2). O partido adotado é composto por dois volumes independentes erguidos sobre pilotis e ligados por uma conexão central formada por um jardim. Cada volume tem uma coberta de uma água e uma varanda ampla. Sua separação permite a diferenciação das áreas sociais, íntimas e de serviço. A área de serviço foi locada abaixo do bloco íntimo que está erguido por pilotis 2,60 metros acima do chão. No bloco íntimo adotou-se um pé direito mais baixo, dando um caráter mais introspectivo. Na área social o pé direito amplo proporciona um ambiente convidativo e interativo. Esse recurso trouxe várias outras vantagens: ampliou-se a sensação de espaço habitado e os integrou visualmente, proporcionando ambientes com transparência e compartilhado com o exterior. Entretanto, sem as visuais indesejadas de terceiros ao interior da edificação, considerando que grande parte da área de aberturas se voltam ao jardim interno da edificação, garante-se mais privacidade e segurança.


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3 O programa de necessidades é composto por uma sala de estar integrada a sala de jantar e ao escritório; cozinha americana; lavabo social; suíte com closet; suíte simples e área de serviço. A resultante das áreas desses ambientes é 72,60 m², sem considerar o jardim central. Depois da constatação da pouca área final, a casa ganhou duas varandas amplas dispostas transversalmente. Uma servindo à sala e a outra à suíte principal, aumentando as áreas de convívio e a qualidade de vida dos hipotéticos moradores. Para conseguir a maximização da envoltória com permeabilidade da iluminação natural e ventilação cruzada, os blocos tipo galpão ganharam um layout com grande área de aberturas, umas de vidro do tipo maxi-ar sombreadas pela cobertura e outras de venezianas móveis de madeira que possibilitam um maior controle sobre a entrada da radiação solar direta e dos ventos. A residência foi erguida sobre pilotis que possibilita o aumento da área permeável do terreno e foi envolvida por plantas para diminuir o impacto das temperaturas radiantes do entorno até o interior da edificação. A vegetação contribui para o conforto térmico, pois em decorrência do fenômeno da evapotranspiração sua temperatura superficial é amena e em alguns

casos menores que a temperatura do ar. Foi pensado um paisagismo com plantas nativas de pouca manutenção ao redor da casa, entre os blocos e embaixo da edificação. Para diminuir os ganhos térmicos, foi utilizado uma cobertura com baixa transmitância térmica. Utilizou-se uma telha do tipo sanduíche. Esse tipo de telha proporciona leveza, rapidez de montagem na obra, possibilidade de inclinações variadas, e alta refletividade da radiação solar. Ela é composta por camadas que intercala o alumínio de alta refletância e isolante térmico, o poliestireno expandido (isopor), proporcionando um baixo fator de calor solar. As vedações são parcialmente sombreadas e por isso foi escolhido o concreto celular espumoso, fabricado pela DoisA engenharia. Trata-se de um tipo de argamassa leve composta de cimento, agregados finos e água, em conjunto com espuma de Neopor 600R, afim de obter um composto com alta porcentagem de poros esféricos distribuídos uniformemente. Para racionalizar a construção foi pensado o uso dos painéis de argamassa armada pré-fabricados e modulados, aplicados em construções de habitações de interesse social. Os painéis são leves, auto-portantes, delgados (8 cm de espessura) e que atendem as recomendações para a zona Bioclimática de Natal

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estabelecida pela norma NBR 15220-3, pois possui a transmitância térmica de 3,03 W/m²K, menor que 3,60 W/ m²K. São estruturados com uma armação em aço em forma de grelha, com embutimento de tubulações de água e esgoto assim como dutos para as instalações elétricas. O fabricante recomenda módulos com dimensões múltiplas de 60 ou 80 centímetros. A escolha de módulos de 80 cm se deu por se tratar da largura mínima de uma circulação recomendada pela ABNT, resultando em painéis de 80 centímetros em planta e 2,45 metros em corte. A estrutura usada para casa baseia-se no sistema de pórticos de madeira com tesouras para distribuir os esforços da cobertura. Para aumentar o pé-direito da área social foram adicionados aos painéis, janelas do tipo maxi-ar de 65 centímetros de altura. A área social ficou mais exposta à luz difusa e ganhou um aspecto mais convidativo e interativo. O sistema de peças pré-fabricadas reduz o tempo de construção e reduz o resíduo na construção. O cano de distribuição da água sobe para caixa d’água e desce através de uma parede de alvenaria estrutural que também é responsável pela alimentação dos banheiros das suítes, área de serviço e do ponto de água que alimenta o jardim.

considerações finais

A proposta apresenta uma linguagem repleta de referências regionais e de projetos arquitetônicos para o clima quente e úmido de outros países, sintetizadas na envoltória sombreada e permeável ao vento e à luz natural. É compatível com recomendações bioclimáticas e normas de desempenho térmico, e se destaca pela combinação de racionalização do projeto, com a ênfase na qualidade dos espaços internos e na privacidade dos seus usuários.

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figuras

Figura 1. Carta psicrométrica e rosa dos ventos para Natal. Fonte: Software Analysis 1.5 e luz do sol 1.1. Data: 02/2008 Figura 2. Processo criativo. O partido arquitetônico foi pensado em conjunto com estratégias bioclimáticas e elementos formais da arquitetura regional. Fonte: autora. Data: 03/2008 Figura 3. Partido arquitetônico adotado. Fonte: autora. Data: 03/2008 Figura 4. sistema construtivo. Laje com tabuados e barrotes de madeira. Paineis e janelas moduladas. Respectivamente. Fonte: autora. Data: 03/2008 Figura 6. Representação da proposta final. Fonte: autora. Data: 03/2008 Figura 5. planta do primeiro pavimento e do pavimento térreo respectivamente. Em vermelho ver-se a parede em alvenaria estrutural. Fonte: autora. Data: 03/2008 Figura 7. Representações da proposta final. Fonte: autora. Data: 03/2008

referências

CUNHA, Leonardo J. B. F. Anteprojeto de uma Habitação de Interesse Social segundo as recomendações de Conforto Térmico. 2005, 86p. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação) Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2005 Pereira, M. V.. Palavra do Arquiteto. Revista digital RN. Consulta 9 de março de 2008.http://www.arqrn.com/index. php?option=com_content&task=view&id=39&Itemid=120 Stang, Alana; Hawthorne, Christopher. The Green house: newdirections in sustainable architecture. Nacional Buiding Museum. Fromonot, Françoise. Glenn Murcutt: buildings + projects 1962 – 2003. Thames e Hudson.

trabalho proposta conceitual de uma casa em clima quente e úmido de natal, com vistas à bioclimatogia e à racionalização do projeto. autora natalia ferreira de queiroz prof. orientador prof. dr. aldomar pedrini ano 2008 Instituição vinculada ufrn


Foto: Felipe Musse, 2008

Foto: Felipe Musse, 2008


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habitação social habitação de interesse social no campo: uma alternativa à reforma urbana – habitação provisória para os acampamentos rurais do mst/rn. sarah de andrade e andrade, cecília marilaine rego de medeiros, maria isabel da costa menezes da rocha e sara cibele rego de medeiros

Com a discussão da realidade nos assentamentos rurais do País, em 2006 ocorreu o I Colóquio Habitat e Cidadania no Rio Grande do Norte, envolvendo o MST e pesquisadores de todo o País, apresentando um documento apontando diretrizes para a Habitação de Interesse Social no Campo, sobretudo, as necessidades do seu habitat. No RN, existem 29 acampamentos rurais coordenados pelo MST onde famílias se organizam em abrigos em lona plástica ou materiais perecíveis, na esperança de ocupar terras passíveis de reforma agrária. Quando passam à condição de pré-assentados as famílias continuam sem condições de trabalho e moradia adequada, seja no que tocante à insalubridade do material dos quais suas habitações são construídas ou mesmo da ausência de infra-estrutura de abastecimento de água, energia e saneamento. Diante disso, foi apresentada, uma proposta de habitat provisório, que assegurasse melhores condições de moradia, vida e convívio coletivo, possibilitando o planejamento e construção do assentamento seguindo uma metodologia participativa, e propiciando, o escambo de saberes técnico e popular e a autogestão na construção do seu habitat, local de vida social, moradia e trabalho dos assentados. Por outro lado, como evitar que o provisório se tornasse definitivo? Definimos que esse habitat precisaria ser móvel, de fácil transporte para outro pré-assentamento. A idéia vale-se de ônibus não mais utilizados por empresas de transporte, adaptando-os para uso como dormitórios para cada família. Complementar às necessidades de vida e morada, seria imprescindível a construção de equipamentos de uso coletivo, como cozinha, refeitório, banheiros, vestiários e ciranda infantil, que posteriormente seriam incorporados ao assentamento como centro comunitário, alojamento ou local de eventos. Pressupomos, portanto, que as políticas públicas devem considerar as necessidades imediatas das famílias, instaurando financiamento para infra-estrutura inicial do assentamento. Palavras-chave: Habitação de interesse social do campo; MST; Habitat Provisório.


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No ano de 1996, a Federação Nacional dos Arquitetos (FNA) e Urbanistas apresentou, na conferência Brasileira para o Habitat II, propostas e deliberações pelo direito à moradia e à cidade, que recomendavam a aproximação entre as lutas pela Reforma Urbana e a Reforma Agrária. O plano, que se dirigia à cidade, também se desdobrou para o campo, exigindo Reforma Agrária imediata (FNA, 1996). Para isso os arquitetos urbanistas deveriam se adequar a essa nova realidade, definindo princípios, diretrizes, parâmetros e partidos arquitetônicos na construção de habitações de interesse social também no campo, compreendendo sua importância para os trabalhadores do meio rural. Diante do processo de expansão do meio rural impulsionado pelo auxílio do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que se consolidou em meados da década de 1980, promovendo o movimento e a luta pela terra, e conseqüente avanço do planejamento dos habitats rurais, desenvolve-se, em decorrência da grande quantidade de terra inutilizada ou subutilizada e de um grande contingente excluído do processo de acesso a terra, os modelos de organização do espaço rural sob o termo de assentamento rural designando: criação de novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas governamentais visando o reordena mento do uso da terra, em benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra. (BERGAMASCO, 1996, p.7).

Esse tipo de organização espacial pode promover certa amenização do inchaço urbano, uma vez que cria condições favoráveis para que o contingente populacional com afinidade agrícola e participação do êxodo rural tenha a oportunidade de regressar a este meio com uma propriedade na qual trabalhar, no recomeço da luta pela terra. O espaço destinado para o habitar rural passa a ser considerado assentamento quando existe um “pressuposto de algo coletivo, ainda que existam projetos com explorações individuais” (STÉDILE, 1997, p. 160).

Atualmente as políticas públicas que atingem meio rural são construídas com parâmetros dirigidos para realidades urbanas. São destinados limitados créditos - de R$5.000,00 passou para R$7.000,00 em 2007 - para habitação nos projetos de assentamentos rurais (PAs) que contemplam somente a moradia e portanto não abrangem equipamentos coletivos, assessoria técnica e mão-de-obra, que possibilitem a garantia do planejamento e gestão participativa, o desenvolvimento ambientalmente sustentável, a qualidade condigna de habitabilidade e as características culturais e organizativas de cada grupo social. A política habitacional para os assentamentos rurais é de responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), através do Crédito Habitação. Essa política não incorpora variáveis relativas às especificidades do campo, aos costumes, sonhos de seus moradores, suas atuais organizações e as demais necessidades do mundo rural. Ao invés disso o que se faz é reproduzir, através de projetos padrões, moradias de 48 m² (até o ano 2000, uma vez que hoje é de apenas 36m²) construídas pelos próprios moradores – como acontece na maioria dos assentamentos - ou por construtoras, muitas vezes sem observar a qualidade dos materiais e profissionais envolvidos na construção.

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A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por meio do Grupo de Estudos em Reforma Agrária e Habitat - GERAH atua através de projetos de Extensão e Pesquisa junto ao MST nos assentamentos rurais do Rio Grande do Norte. Essa atuação significa uma contribuição para a construção dos habitats do MST e tem origem com a defesa da tese MST: Habitats em Movimento, da Profa. Dra. Amadja Henrique Borges. A partir desses projetos, o GERAH pode construir uma proposta metodológica de organização do espaço físico-territorial dos assentamentos rurais coordenados pelo MST, atualmente referência para o Movimento e para o INCRA. Tendo como principais referências metodológicas teses desenvolvidas pelo Grupo e conceitos de H. Léfèbvre, a metodologia adotada pelo GERAH cria parâmetros para o desenho de assentamentos rurais, enquanto reflexo do vivido e das expectativas de organização do Movimento, através de um processo de planejamento participativo. A metodologia é complementada com ações em parceria com o INCRA/RN e o MST/RN.


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Esta metodologia, portanto, articula diversas ações na construção de uma proposta de organização do espaço, compartilhando a ciência em projetos populares, na construção de alternativas às necessidades específicas dos projetos de assentamento coordenados pelo MST. Ao desenvolvê-la, pretendeu-se colaborar com a construção de assentamentos rurais de grupos específicos de famílias que precisam produzir, consumir e se organizar em espaços limitados ou contíguos: um assentamento, seus habitats, assim como conjuntos de assentamentos vizinhos. A partir da crescente discussão acerca da realidade existente nos assentamentos rurais do País, em setembro de 2006 ocorreu o I Colóquio Habitat e Cidadania, evento promovido pelo GERAH, que envolveu movimentos sociais (o MST) e pesquisadores do campo de todo o País, apresentando um documento (1) que apontou diretrizes para a Habitação de Interesse Social no Campo, sobretudo, as necessidades do seu habitat: Compreendemos que o Habitat de um Projeto de Assentamento chamado de Reforma Agrária contempla a casa, o lote de moradia e/ ou o lote de trabalho familiar, áreas de produção coletiva, de reserva legal, de preservação permanente, entre outras. Ele corresponde à maioria dos projetos de habitação de interesse social do campo. (BORGES, 2007, slide 4)

Em 1996 o número de famílias assentadas no País era de 161.556 em 1.460 PAs, nos 26 estados brasileiros (BERGAMASSO, 1997, p. 36). Esses assentamentos rurais representam, sob o ponto de vista das famílias hoje assentadas, uma nova forma de produzir, um novo controle sobre o tempo de trabalho, a realização de atividades que até então não faziam parte de suas atribuições nas relações sociais anteriores. (idem,1997, p.47)

E mais, assentamentos rurais representam também para essas famílias o acesso à própria moradia que, para o trabalhador do campo é tão importante quanto para o da cidade. No Estado do Rio Grande do Norte, atualmente, existem 29 acampamentos rurais coordenados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; é um conjunto de abrigos feitos em lona plástica ou materiais perecíveis, com famílias que se organizam na esperança de ocupar terras passíveis de reforma agrária.

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4 Na condição de pré-assentados – quando a propriedade já é legalmente ocupada, mas ainda sem infra-estrutura – as famílias continuam sem condições de trabalho ou moradia adequada. Como na maioria dos PAs, seja na fase de acampamento ou no próprio assentamento, as condições dos habitats são precárias, tanto das próprias habitações, no que diz respeito ao material, à técnica empregada, e sobretudo, qualidade no projeto e conforto ambiental e na ausência de infra-estrutura básica: abastecimento de água, energia elétrica e sistemas de saneamento. À primeira vista, os acampamentos parecem ser ajuntamentos desorganizados de barracas. Todavia, possuem determinadas disposições conforme a topografia do terreno e as condições de desenvolvimento da resistência ao despejo e das perspectivas de enfrentamento dos jagunços. Podem estar localizados em fundo de vales ou nos espigões. Os arranjos dos acampamentos são predominantemente circulares ou lineares. Nesses espaços existem lugares onde, muitas vezes os sem terra plantam suas hortas, estabelecem a ‘escola’ e a ‘farmácia’, bem como o local das assembléias. Um olhar de fora dificilmente pode reconhecer a organização existente nessa desordem aparente. É neste momento que o MST, através de membros da liderança, prepara os futuros beneficiários para a organização do assentamento através da conscientização política. Nos últimos dois anos, seis novos assentamentos foram criados, unindo-se aos 45 assentamentos consolidados de organização do MST. A consolidação do assentamento se dá com a construção das moradias definitivas e a cultivo da produção com perspectivas de sustentabilidade produtiva, planejando-se a criação de cooperativas para o beneficiamento da produção. O Projeto de Assentamento Roseli Nunes está localizado no Município de Ielmo Marinho, a 54 km da Capital. Durante três anos, 70 famílias estiveram acampadas como forma de pressão para a desapropriação da terra com fins para a Reforma Agrária.

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O Projeto de Assentamento Roseli Nunes, atualmente contempla 40 famílias – das 70 envolvidas, pouco mais da metade foi contemplada - que vivem em habitações de tipologias diversas: estruturas em madeira retirada das proximidades e revestidas com barro socado (taipa), lona de plástico preta ou materiais diversos, como papelão, palha de coqueiro ou resto de materiais de construção, tornando-se, portanto, estruturas frágeis e precárias para habitação humana. Apesar dessas dificuldades, os moradores aguardam o financiamento da CAIXA, para que seu projeto – realizado por arquitetos, representantes do MST e assentados em pesquisa participante - seja finalmente construído e o Plano de Desenvolvimento do Assentamento (PDA) finalizado. Assim, desde o Colóquio anteriormente citado, os arquitetos envolvidos com a temática defendem a implantação de um habitat provisório adequado para que esse período de planejamento e espera possa fazer parte de um escambo de saberes e conhecimento entre aqueles que construirão este novo tipo de vida comunitária, que congrega trabalho, moradia e lazer. Diante do exposto, foi apresentada para o Concurso de Idéias para Reforma Urbana, promovido pela FENEA em 2007, uma proposta de habitat provisório que possibilitasse às famílias envolvidas condições para construir seu futuro sem preceder do presente. Melhorando as condições estruturais do habitat provisório, o temor que surge é que o que foi pensado como temporário vire permanente... Nossa contribuição, parte do pressuposto que esse habitat provisório precisa ser móvel, fácil de ser transportado para outro pré-assentamento, descartando assim o fantasma da casa improvisada. A proposta vale-se de ônibus não mais utilizados por empresas de transporte coletivo, sendo adaptados à utilização como dormitórios: uma unidade atendendo cada família. Com o objetivo de atingir melhores condições de salubridade e conforto ambiental das unidades habitacionais, o ônibus reutilizado seria acrescido de varandas para proporcionar o sombreamento de suas aberturas, com a mesma técnica comumente empregada pelos assentados: a “puxada” com cobertura em palha, ou lona, sem que isso implique na diminuição da qualidade da proposta. Com isso, a relação entre a casa e o quintal, intrínseca ao morador do campo, estaria ali representada.

Como complemento às necessidades de vida e morada, seria ainda imprescindível a construção de alguns equipamentos de uso coletivo, como cozinha, refeitório, banheiros com vestiários e ciranda infantil (2) . Esses equipamentos utilizados como apoio durante o processo de planejamento e construção coletiva e participativa do assentamento, seriam facilmente incorporados como parte do assentamento já pronto, como centro comunitário, equipamento de apoio ou beneficiamento da produção, alojamento ou mesmo centro de eventos e assembléias. O planejamento do assentamento deve considerar alguns pressupostos à realização plena dos desejos e sonhos, e, sobretudo, a qualidade de vida dos assentados, deve-se considerar: 1. o meio natural e Plano de Desenvolvimento do Assentamento (PDA) na construção do Parcelamento do Solo; 2. os percursos diários entre os lotes de produção e a moradia, o acesso aos serviços de fornecimento de água e energia e as condições do meio natural na localização do habitat (agrovila – local de construção das habitações e equipamentos coletivos); 3. o processo participativo em todas as etapas de elaboração de projetos; 4. a autogestão ou gestão compartilhada no processo de construção do habitat e das moradias; 5. a participação de assessoria técnica necessária ao planejamento e construção do assentamento (onde o arquiteto urbanista se torna fundamental). Para aqueles que integram o GERAH esta proposta significa a realização de um sonho, uma vez que através de sua metodologia, as famílias assentadas podem viver em condições dignas, em um espaço planejado por eles e para eles; significa também a construção de uma utopia, pois têm encontrado, ainda, muita dificuldade em colocar, de fato, essa metodologia em prática porque essas famílias não podem participar do processo de planejamento de seu habitat vivendo em condições desumanas. Por isso elas desistem de sonhar mais alto, ou melhor, desistem de optar por algo de qualidade porque não conseguem mais esperar. Definimos, portanto que as políticas públicas devem considerar as necessidades imediatas das famílias assentadas, instaurando financiamento para infra-estrutura inicial do assentamento, assegurando melhores condições de moradia, e consequentemente condições de vida, trabalho e convívio coletivo, para que se possa iniciar o trabalho de planejamento e construção do assentamento seguindo uma metodologia participativa, que propicie o escambo de saberes técnico e popular e a autogestão na construção do seu habitat, local de convívio social, moradia e trabalho dos assentados.

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figuras

Figura 1: Casa Padrão INCRA até 2000 Ano: 2000 Figura 2: Projeto Padrão INCRA Figura 3: Assentamento Roseli Nunes/RN Ano: 2007 Figura 4: Habitat provisório no Assentamento Roseli Nunes/ RN Ano: 2007 Figura 6: Meio natural do Assentamento Roseli Nunes/RN Ano: 2007 Figura 7: Volumetria esquemática da proposta Figura8: Vista da proposta

referências

BERGAMASCO, Sonia Maria Pessoa Pereira. A realidade dos assentamentos rurais por detrás dos números. Estudos. Av. Set./Dec. 1997, vol.11, no.31, p.37-49. ISSN 0103-4014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v11n31/ v11n31a03.pdf. Acessado em 28 de junho de 2007. BORGES, Amadja. H.; BERTOLINI, Valéria A.; MEDEIROS, Cecília M. R. de. Habitação de interesse social nas universidades. In: XXIV Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo, 2006, Goiânia. Anais do XXX COSU - ABEA e XXIV ENSEA. 2006. BORGES, Amadja H; LUCAS FILHO, Manoel; PAULA, Hiramisis P. de; PAIVA, Irene A. de. Metodologia do Habitat do Campo. I Oficina Habitat do Campo – Promovida pela Diretoria de Desenvolvimento dos Assentamentos de Reforma Agrária do INCRA. Brasília, junho de 2007. BORGES, Amadja Henrique. MST – Habitats em movimento: tipologias dos habitats dos assentamentos originários do MST nos estados de SP e RN. SP, Tese de doutorado. FAU/USP. 2002. _______. Necessidades, expectativas e sonhos no desenho do possível: proposta metodológica de organização do espaço físico-territorial dos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Projeto de Pesquisa. Departamento de Arquitetura da UFRN. Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRN. Financiado pelo CNPq. _______. O desenho do possível na construção de uma referência. Projeto de Pesquisa. Departamento de Arquitetura da UFRN. Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRN. _______. O desenho do possível: a UFRN e o MST na construção de um projeto-referência de assentamento de reforma agrária. In: Ilza Araújo Leão de Andrade (Org.). Metodologia do trabalho social: a experiência da extensão universitária. 1 ed. Natal: EDUFRN, 2006, v. 1, p. 57-72. COLÓQUIO HABITAT E CIDADANIA. Manifesto Colóquio Habitat e Cidadania. I Colóquio Habitat e Cidadania: Habitação de Interesse Social no Campo. Ceará Mirim-RN. 2006. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS ARQUITETOS E URBANISTAS. Conferência Brasileira para a Habitat II. Assentamentos mais humanos. Rio de Janeiro: 1996. CERQUEIRA, Maria Cândida Teixeira. “Assentamento Margarida Alves: contribuição para o processo de criação de uma metodologia para o desenho de habitats concentrados de assentamentos rurais do MST”. Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2003. STÉDILE, João Pedro (org.). “A Reforma Agrária e a luta do MST”. 2ª ed. Rio de Janeiro: Vozes. 1997.

trabalho habitação de iInteresse social no campo: uma alternativa à reforma urbana – habitação provisória para os acampamentos rurais do mst/rn. autora sarah de andrade e andrade. co-autoras cecília marilaine rego de medeiros, maria isabel costa menezes da rocha e sara cibele rego de medeiros. profª. orientadora profa. drª. amadja henrique borges ano 2007 Instituição vinculada ufrn


sobre a semanau de 2OO9 por bárbara felipe

Vídeo de divulgação: http://www.youtube.com/watch?v=hhW7pep6mkI

Bárbara Felipe é Diretora Geral do Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo - UFRN (gestão 09/10)

símbolo da SEMANAU 2009, desenvolvido pela empresa Gama Comunicação.

A SEMANAU é um evento organizado anualmente pelos Centros Acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo do RN, com o intuito principal de promover discussões acerca de temas atuais e de interesse na formação profissional e social do Arquiteto e Urbanista. A intenção é conscientizar os futuros profissionais da área sobre a situação da cidade em que vivem e atuarão; promover debates que incitem a descoberta do meio social em que estão inseridos; informar acerca das novidades tecnológicas e construtivas de mercado; e identificar as potencialidades de cada nicho de trabalho e desenvolver atividades que explorem a criatividade e sociabilidade do participante.O público alvo do projeto são estudantes e profissionais da área da Arquitetura e Urbanismo e de outros cursos que abranjam a temática do evento, que abordará assuntos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável . Esse ano terá como tema “Arquitetura, Meio Ambiente e Sustentabilidade”. O evento conta com apoio do setor de Marketing da Universidade Potiguar na pessoa do Coordenador de Comunicação Frederico Gurgel, além do apoio da Prefeitura do Natal, do IDEMA-RN, do CREA-RN, do IAB-RN e da GAMA, para divulgação e realização do evento. As Atividades ocorrerão entre os dias 17 a 21 de Março de 2009, durante às 08h00min às 18h00min no Bosque das Mangueiras e na UnP, na Av. Nascimento de Castro. Abrangendo palestras, mini-cursos, oficinas, mostras de vídeo, vivências e grupos de discurssão, ao preço de R$25,00. A abertura será na Terça-Feira (17/03) às 19:30 , no auditório da Casa da Indústria (FIERN) na Av. Salgado Filho, com a presença do presidente da IAB/RN (Instituto de Arquitetos e Urbanistas do Brasil) Lúcio Costa, o vice presidente do CREA-RN -José D’Arimateias Fernandes e o Diretor do IDEMA/RN Estevão Antônio Lúcio, além da mesa de discurssão “Arquitetura, Meio Ambiente e Sustentabilidade” com o secretário da SEMURB/RN o Eng. Civil Kalazans Bezerra; o Arquiteto e Urbanista e Diretor do Idema Diretor do IDEMA Estevão Antônio Lúcio e a Profª Dra. Arquiteta e Urbanista Maísa Veloso e o Profº Drº Eng. Civil e Presidente da Abes Cícero Onofre e do Lançamento do livro “Efetivação do direito a moradia na cidade do Natal” Profª Drª Arquiteta e Urbanista Dulce Bentes.


Show de encerramento da XII Semanau, Rani. Foto: Daniel Paulo, 2008


Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor| José Ivonildo do Rego Centro de Tecnologia Diretor | Manoel Lucas Filho Departamento de Arquitetura Chefe | Marcelo Tinôco Vice-chefe | Aldomar Pedrini Coordenador do curso de Arquitetura | Marizo Vitor Pereira Vice-coordenadora do Curso de Arquitetura | Mônica Fernandes

Penas Especial nº 1 - XII Semanau ISSN 1984-3798 março de 2009.

Editores | Carlos Onofre e Natália Queiroz Prof. orientador | Aldomar Pedrini Capa | Foto de Daniel Paulo, 2008 (editada). Colaborararam para esta edição: Amadja Henrique Borges, Ana Cláudia Mendonça, Ana Paula Gurgel, Andresa Christine Bezerra, Aquiles Alberto Pina de Oliveira, Bárbara Felipe, Camila Furukava, Carolina Azevedo Bezerra, Cecilía Marilaine Rego de Medeiros, Danielle C. Silva Spínola, Débora Cabral Rodrigues, Débora Nogueira Pinto, Eduardo das Virgens, Flávia Assis, Gabriela Fonseca Brito, Isa Simonetti Bousquet, Julita Fernandes de Morais, Karen Álvares Pinto, Lorena Lamartine Lopes Rocha, Marcela De Melo Germano, Maria Gabriela de Oliveira Sales, Maria Isabel da Costa Menezes da Rocha, Raíssa de Medeiros Ribeiro, Raissa Ferreira, Sara Cibele Rego de Medeiros, Sarah de Andrade e Andrade, Vivianne Mafra Soares. Fotos de Daniel Paulo e Felipe Musse. Ilustrações, informações e referências bibliográficas são de responsabilidade dos autores dos artigos. Publicação de divulgação de trabalhos acadêmicos, sem fins lucrativos. contato | revistapenas@yahoo.com.br



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