Penas #02

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editorial Aos estudantes de Arquitetura da UFRN

Esse segundo número da Penas traz assuntos preferencialmente relacionados com a sustentabilidade na arquitetura, no projeto urbano e no paisagismo. O tema foi escolhido porque é cada vez mais recorrente nos trabalhos de final de curso e porque vem recebendo muita atenção da mídia leiga e da especializada em arquitetura devido às mudanças climáticas global. Entretanto, é importante considerar que a preocupação com o uso racional dos recursos naturais é muito mais antiga que o sensacionalismo atual, porque se trata de uma questão filosófica, tanto individual como coletiva. O assunto é muito extenso e compreende inúmeras formas de abordagens, com diferentes níveis de complexidade e de comprometimento. A Penas 2 mostra um pouco disso. Além dos projetos e das recomendações dos alunos de graduação, aumentaram as contribuições dos pós-graduandos, professores e há uma entrevista muito oportuna. As ilustrações estão ainda mais elaboradas, assim como a editoração gráfica. É estimulante ver a capacidade de realização de alguns dos alunos no Departamento de Arquitetura, que conseguem fazer tanto, com a doação pessoal de tempo e de recursos. E é através de uma revista especializada como essa que serão lembrados por muito tempo pela qualidade dos seus trabalhos e principalmente pela maneira que influenciaram outras pessoas.

Aldomar Pedrini


sumário Entrevista: Viviane Teles 04 Na Internet 09 Apresentação 11 Habitação de Interesse Social 14 Torre Alva Empresarial 16 Escola de Artes 17 Educação e Conforto 18 Plano de Arborização 19 Espaço Cultural Amarante 20 Flat Eficiente 21 Onda Flat 22 Alojamento Móvel 24 Arquitetos-trapezistas 26 Nas Pegadas de Burle Marx 28 Habitar X Preservar 30 Rotas Para a Mobilidade 32 Paisagem e Urbanbidade 34 Habitação Popular 36 Spa da Mente 38 Vilas de Cotovelo 40 Escola de Cinema 42 Habitação e Clima 44 Monumento Natural Morro do Careca 46 Árvores 48

Foto: Felipe Musse de Oliveira


Uma das mais renomadas arquitetas de Natal, Viviane Teles, formada em 1985 pela UFRN, imprime em sua obra e em seu discurso preocupações em relação ao meio ambiente e às posturas sustentáveis, desde antes do assunto virar moda. Viviane recebeu a Penas para uma entrevista, em 2007, e falou sobre sua formação profissional, a Arquitetura que vem fazendo, e suas preocupações em relação ao futuro da cidade.

Penas: A gente percebe que em seus trabalhos você utiliza muitos materiais alternativos, ventilação natural... Viviane Teles: Eu tenho um problema com isso - porque sou uma profissional experimental. Meus projetos são um pouco mais difíceis de executar. Estou fazendo um projeto relativamente grande agora, e me perguntaram: “você projeta para ser executado rapidamente”? Projetar pra ser executado rapidamente é uma coisa. Projetar e experimentar, criar identidade, criar diferencial, é mais difícil. Nem sempre eu consigo isso. Como eu tenho 22 anos de formada, e tenho credibilidade, as pessoas não reparam e nem sabem como é difícil. Quando eu fiz o projeto do Camarões eu encontrei um cliente que encarou. Eu tinha feito um estudo com materiais naturais. Biotectura sempre foi a minha praia, desde que eu era estudante, só que eu não sabia nomear. Não era uma coisa tão falada na universidade há 27 anos atrás, mas a minha curiosidade e meu ideal profissional sempre foi esse. Eu ainda não me realizei, eu tenho 22 anos de formada e ainda me sinto como vocês. Eu tenho uma curiosidade eterna, e leio, e capturo, tenho pena por não ter tempo de estudar como gostaria. Abracei uma vida profissional muito prática, que amo de paixão, mas sobra pouco espaço para a parte acadêmica, porque a parte prática exige dedicação, exige conhecimento, exige pesquisa, técnica... Para que você consiga cumprir as etapas direito. Mas eu adoro estudar. Amo estudar. Compro pilhas de livros, que às vezes nem consigo ler, porque não tenho tempo. Semanalmente vou à livraria comprar livros. Comprei um sobre cidades, estou lendo muito sobre cidades. Aparecem uns projetos numas áreas malucas que o povo quer fazer. Área para 8000 pessoas. Gente, 8000 pessoas é uma cidade! A cidade onde minha mãe mora. Não é assim! Existe um compromisso com ambiência social, com um monte de coisas que ninguém está prestando atenção. Eu peguei um recentemente, que disse: “Não faço não. Não sou urbanista!”. Não consegui juntar uma equipe, eu tentei juntar uma equipe e não consegui. Fazer um projeto de um lugar para 8000 pessoas é uma cidade, eu não faço isso, eu não sou urbanista. Isso exige um conhecimento urbanístico que eu não tenho. Aí parece que a coisa vai voltar, e se voltar, daí eu tento reunir uma equipe maior, multidisciplinar.


Penas: Falando em cidade, em sua opinião, o espaço urbano de Natal está se desenvolvendo de maneira sustentável? VT: Não, não, não. Nem termine a pergunta. Infelizmente a nossa administração pública não é regida por uma equipe competente, e se é regida, porque eu sei que existem pessoas competentes, não conseguem trabalhar, porque a máquina administrativa é truncada. Compromisso político não existe. Então, é uma pena. Daqui a dez anos nosso litoral vai ser uma bosta. Desculpe a expressão, mas vai ser uma bosta! Eu tenho viajado muito pra fora do país, e tenho visto coisas... Não diria coisas lindas, mas diria corretas. Corretas em termos de gabarito, corretas em termos de partilha de espaço. Na Espanha, é obrigatório por lei usar aquecimento solar. Na Itália também. Então existem realmente prescrições urbanísticas. Elas são reais em países bem mais desenvolvidos. Não diria desenvolvidos porque o conceito de desenvolvimento é bem amplo. Mas pelo menos no conceito sustentável, são reais as medidas sustentáveis. Penas: E quando você vai aplicar isso em seus projetos, e os clientes não têm consciência técnica das medidas sustentáveis, você se vê no papel de educadora? VT: Eu me faço ouvir. Hoje eu tenho segurança, pode sentar quem for na minha frente, eu me faço ouvir. Quem me procura, me procura porque eu tenho experiência, respaldo profissional, e porque quer me ouvir. Quem não for, nem entra pela minha porta, porque de outra forma, não passa. Eu não vou me comprometer. Então eu me coloco no papel esclarecedor, educativo... Tudo o que você possa imaginar. Só vai funcionar você só vai ter respaldo, se for assim. Se não for assim, não é comigo que a pessoa quer trabalhar. E hoje, quem vem de fora, esta “invasão” estrangeira que vem acontecendo aqui, aconteceu inicialmente por uma classe social baixa. Agora é que estão vindo investidores com mais conhecimento e experiência. Mas compromisso, nenhum deles tem. Isso aqui não é terra deles. Eles querem fazer, ganhar, faturar muito e ir embora. Mas não querem fazer sujeira. Não só porque não é bom para eles. Mas é porque eles sabem que é mais correto que eles vão ter um produto que lá fora eles vão conseguir vender melhor, se eles tentarem fazer isso de forma sustentável. Só que eles não fazem, não fazem mais, porque a legislação não pede. Penas: A gente ouve muito nas ruas comentários tocando nesse assunto, como: “Natal está sendo vendida”... VT: Mais de 60% dos imóveis não pertencem à gente. Pertencem a estrangeiros. Isto é um dado de dois anos atrás. Mais de 60% dos imóveis dessa cidade pertencem a estrangeiros. Penas: E você já parou para refletir sobre o que pode acontecer com a cidade por causa disso? VT: Nossa cidade morreu. Eu estou presenciando uma mutação generalizada, você vai vivenciar isso mais do que eu. Nós vamos passar - e estamos passando - por uma transformação completa. Uma miscigenação cultural; não digo se é melhor ou se é pior, se é boa ou ruim, só é diferente. O que nós vamos ter lá na frente é uma miscigenação cultural, uma miscigenação de hábitos e costumes... O trânsito! Você já está vendo como está o trânsito, insuportável. Isso é produto de quê? Os empresários que mexem com o turismo, que mexem com imóveis, solicitaram, pediram, imploraram, catucaram a administração pública para que ela se preparasse para esta invasão.

E a administração publica acatou. Então nós estamos com um problema de segurança grave, e um problema de fluxo de trânsito terrível. Por falta de gestão urbana. Então, nós vamos ter que mudar. Vai mudar. Vai nascer uma nova geração, que daqui a vinte anos vai ser diferente: alta, loira dos olhos azuis, falando três ou quatro idiomas.Então, o que a gente viveu, o que a cidade foi, acabou. O que vai ser lá no futuro, Deus sabe. Penas: Agora pensando nessa nova geração de arquitetos que vai sair da faculdade, e vai ler o que você diz agora... Se você fosse fazer um apelo aos estudantes de arquitetura, para o futuro - tem alguma coisa que você acha que precisa mudar na postura profissional do arquiteto, de modo que possa vir a melhorar a situação? VT: O planeta mudou. Isso é uma realidade. Eu não enxergo de forma caótica, eu não posso, porque eu tenho dois filhos e tenho que achar que o mundo vai sobreviver de alguma forma. Os arquitetos novos têm que pensar em bioclimatologia, em ecotectura, em permacultura, em sustentabilidade. Porque o mundo, no futuro, não vai ser diferente disso. Quem não estiver informado ou especializado nisso, vai morrer na praia. Então, eles têm que se informar, se especializar e buscar conhecimento, técnicas sobre isso - como o ar que respira. Se não, eles vão ser os “mais um”. E no futuro isso não vai poder ser diferente, porque em função da mudança globalizada, em função da mudança do clima, em função do caos planetário, o que vai se projetar no futuro vai ter que seguir isso. No futuro a gente vai ter que pensar em renovação de energia, vai ter que pensar me renovação de água, vai ter que pensar porque não vai ter jeito! É isso que eu digo: tem! Mesmo que a vida acadêmica, as universidades, não mudem de uma hora para outra, porque os cursos fazem parte de um sistema como um todo, eu sei que não é: “hoje é assim, amanhã é assim”, leva tempo. Mesmo que a universidade não tenha no currículo.A Universidade Federal já tem, pelo que eu sei, embora faz tempo que eu fiz uma pósgraduação, um mestrado incompleto, mas eu converso muito com Eugênio, e eu sinto, pelo menos o corpo docente altamente digamos... Ligado, em tudo o que eu falei. Então mesmo que não tenha, as disciplinas complementares têm que existir. Eu não enxergo de outra forma. E eu lamento que eu ainda não consiga aplicar.


Essa área que eu peguei, uma gleba, uma coisa em hectares, enorme, pra fazer um projeto, eu disse: “Gente, isso precisa se reconstruir, um biossistema... Isso é um outro conceito”. Vocês não vão poder botar 8000 pessoas num lugar sem pensar no futuro disso! Mas é difícil, porque primeiro me olham como se eu fosse um extraterrestre: “O que essa doida quer?”. Então eu não consigo quorum, eu tento, mas eu ainda não consigo. Lá fora não é assim. Porque a desgraça, o caos climático, o mundo lá fora vive mais do que nós. Mas ainda temos um biossistema, ainda tem um planeta, um país, um continente. Caótico, cheio de problemas, mas ainda tem um natural mundo por aqui. Lá fora não tem. Penas: Na época do início do Movimento Moderno, vinha de certo segmento da sociedade um apelo por algo novo, em vários sentidos. Mas o Movimento Moderno foi, por muitos, sendo absorvido não como um ideal, ou como uma providência a ser tomada, mas como um estilo. Você tem medo que a Arquitetura Sustentável vire um estilo, estético? VT: Não, não tenho. Porque a situação globalizada é diferente da época do Movimento Moderno. Ela é muito mais complicada, muito mais complexa, e ela exige muito mais responsabilidade, então não tenho medo não. O que se fala em Sustentabilidade não se resume à Arquitetura. É uma conceituação muito maior, e que tem respostas e conseqüências que o instante do Modernismo não tinha como agora, que o povo assiste a terra tremer acolá, e um vulcão explodir com uma potencialidade maior, e ver um verão insuportável, então, esse instante planetário a gente não tinha no Movimento Moderno, e a necessidade de Sustentabilidade é muito maior, muito mais ampla, e muito mais diversificada. Eu acho que o instante do Movimento Moderno era muito mais artístico, era muito mais intelectualizado, digamos assim, como ideologia, antes que ela acontecesse. O termo, a conceituação, o instante sustentável, é geral! É absolutamente generalizado. Você pensava em uma conceituação Modernista quando ia para a agricultura? Não, você não pensava. Então é muito mais sério, é muito mais amplo. Agora, a arquitetura que irá ser gerada por isso pode se tornar simbólica. Pode virar um símbolo, pode virar um signo, pode virar o retrato de uma época como foi ao longo da História toda, e vai ser gerida por restrições urbanísticas, por inserção de mercado, por condição do mercado, por um monte de coisas, como foi ao longo da História toda. Então ela vai ser um símbolo, mas eu acho que a conceituação é mais ampla. Penas: Dentre os vários atores que produzem o espaço urbano, neste contexto da Sustentabilidade, qual a fatia do arquiteto? Nesse momento de urgência, ele toma uma proporção maior, ou é mais uma peça? VT: Eu acho que ele é uma peça, até porque é muito mais ampla essa conceituação, mas ele tem uma responsabilidade muito maior. Porque a gente estuda o modo de vida. A gente tem a obrigação, o compromisso, de esclarecer, de pesquisar, de promover. Então, a nossa responsabilidade é maior. Isto não cabe a outros profissionais, um ato sustentável isto não caberia a um engenheiro. A gente tem um compromisso com isso porque a gente estuda isso. Um sociólogo trabalha com o social porque tem um conhecimento prévio para isso. Penas: A gente vê a bandeira do meio ambiente levantada sem contexto. O que você acha sobre a questão da banalização do meio ambiente, como pode ser observado por parte de alguns segmentos da publicidade? VT: A vulgarização é rejeitável, uma coisa insuportável. Mas quanto mais se fala, mais se conscientiza. Mais a conscientização é generalizada. Então não acho ruim. Mesmo que ela esteja banalizada, ou vulgarizada, ou que todo mundo tire proveito próprio. Mas e daí? Eu abomino. Mas acontece que, quanto mais se fala, quando mais é lembrado, melhor é para a situação generalizada. Porque se fala mais, se diz mais, se olha mais, se escuta mais, e se tem mais curiosidade sobre o assunto. Quanto mais dito, mais lembrado será.

Penas: Vamos voltar para o passado e lembrar sobre sua época de faculdade. O mundo não estava no “penhasco” que está hoje. Mas você já via alguém – em alguma disciplina, ou professor, falar sobre isso [sustentabilidade]? VT: Já. Eu estava, acho que no primeiro ano de Arquitetura, e vi uma palestra sobre climatologia urbana. Foi um alemão para a faculdade, foi uma novidade: “vamos ter uma palestra com um alemão”, e ninguém falava inglês direito. A palestra foi dada no auditório, que estava entupido, entrando gente pelo ladrão, sobre climatologia urbana. A vinte e sete anos atrás ele falou sobre o sustentável - tinha um pesquisador. Uma das palestras mais iluminadas que eu já ouvi. E ele já falava sobre essa previsão, o que iria acontecer com a cidade, o que iria acontecer com o planeta. Quando eu voltei, para a minha pós-graduação, acho que faz uns sete anos, o termo “sustentabilidade” tinha virado moda no mundo acadêmico. O assunto já era mais real, tinha um nome, que na época da faculdade não tinha, e tudo que é falado gera uma idéia muito mais firme, muito mais forte. Aí eu enlouqueci para estudar. Eu voltei de forma pesada aos meus estudos de materiais alternativos, que não são alternativos porra nenhuma, eles são vernaculares, eles são o que é correto. E eu tenho um eco com o estrangeiro. E a minha postura que eu chamo acadêmica, é encontro com o mundo estrangeiro porque eles vivenciam muito mais. Penas: Então quer dizer que você encontrou na pós-graduação aquele nível de informação que não teve na época da graduação... VT: Não, não tive [nível de informação], porque o que eu encontrei? Encontrei um nome, encontrei uma base acadêmica, digamos, com roteiro, com começo meio e fim, gente para quem eu podia perguntar, e que podia me indicar uma bibliografia, que na época não existia, e que tem muito mais hoje que há sete anos atrás, mas tem muito mais. O que eu queria saber, eu sabia onde encontrar. Eu conseguia gente pra me instruir, eu tinha a quem perguntar. Eu não tinha isso na época da faculdade. Eu pensava, apenas. Mas meu pensamento não tinha eco, não tinha parceiros. E agora tem. Agora, não são muitos arquitetos com essa consciência não. A sua geração sim, porque vocês estão sendo bombardeados.


Penas: Como seria possível um cliente identificar um arquiteto realmente preocupado com a questão sustentável, e diferenciá-lo do charlatão que vai com a moda, mas tem o discurso vazio? VT: Isso é muito difícil para o cliente identificar. Porque não tem consciência para isso. E tem muito charlatão, eu identifico porque eu sei o que perguntar. Mas o cliente não. É difícil identificar, ele vai perceber mais adiante. O profissional que tiver um bom discurso, ganhou. Não que isso seja absolutamente generalizado, não. O cliente estrangeiro tem um pouco mais de informação do que o brasileiro. Então, ele consegue identificar melhor, porque está acostumado com o profissional, mais capacitado e que dá o respaldo e o diferencial. Penas: Hoje em dia, em seu trabalho, você já aplica medidas de aproveitamento de energia natural, materiais vernaculares... Mas como você conseguiu chegar a usar? No começo de sua carreira, você já tentava, ou o mercado não deixava? VT: Sempre tentei. Eu nunca me conformei em projetar qualquer espaço que você tenha que ligar a luz às duas horas da tarde. Nunca me conformei com isso. Ou que você tenha que ligar ar-condicionado. E quando eu comecei não existia preocupação com consumo energético, com a energia, como existe hoje. Mas eu nunca me conformei. Eu moro numa cidade que venta, que tem sol o ano inteiro, que tem um clima maravilhoso, porque eu tenho que enfiar o cara num buraco, trancar à chave, e ligar uma luz artificial? Nunca me conformei com isso. Na minha época eu não tinha a quantidade de softwares que existem hoje. A gente teve aula de conforto térmico, mas não como vocês têm hoje. Então fui sempre intuitiva. Eu me lembro que - eu era bem novinha - cheguei numa casa o cara disse “não consigo resolver a minha ventilação”. Na época a gente não tinha conhecimento de ventilação zenital, mas eu fiz intuitivamente, eu consegui abrir um captador de vento, e o cara resolveu a ventilação. Eu sempre fui inventando cobertura. E agora tenho mais experiência do que eu tinha antes, e muito mais respaldo. Me frustro. Claro que me frustro. Eu fiz um projeto numa praia aí, para estrangeiros, um grupo de pessoas que mora numa geladeira durante noves meses do ano. Então pelo o que imaginei e conversei, e me disseram assim: “que bom que a gente pudesse ter uma casa onde eu possa abrir a janela em qualquer época do ano e olhar para cá”. Então fiz o projeto todo para isso. Embora não tenha feito cálculo, eu sei intuitivamente, eu sei como funciona. Então a casa ficou lindamente com ventilação natural, extremamente agradável, mas, depois de tudo pronto, eu esbarrei numa coisa que eu não tinha pensado: na cultura. Eles passam nove meses do ano trancados. Completamente trancafiados. Porque a temperatura externa é muito fria e eles fecham a casa. Eles passam três meses sem luz diurna, passam três meses com luz diurna, entre duas e cinco horas de luz diurna, e depois eles têm um pouco mais. Mas eles estão acostumados, e vivem de luz acesa vinte e quatro horas do dia. Então eles não sabem, não têm o hábito, de abrir as portas e as janelas. Todo o projeto que fiz foi por água abaixo por este fato. Então me frustra. “Acordem! Deixem a janela aberta para o vento entrar”. Então eles chegam, fecham as cortinas, e ligam a luz e o arcondicionado. É impressionante (risos).

Penas:Vamos dizer assim, ao invés de seguir a maré, você resolveu começar seguindo seus instintos. É esse o conselho que você daria? Seguir os instintos? VT:O conselho que dou é: siga a técnica, siga o conhecimento, conheça a tecnologia, faça corretamente. Os instintos eu aprimorei porque eu tinha recurso. E hoje os projetos não me deixam com tempo. Eu tenho que fazer tudo que quero, e “eu quero para a semana passada”.Ou seja, você tinha que ter começado mês passado. Eu não tenho tempo para fazer todo o processo que eu deveria fazer em termos acadêmicos. Eu faço o eu estou acostumada. Às vezes pego um, e tenho que fazer estudos -agora tem o Sketchup que ajuda. De vez em quando eu pego um, e esbarro em outra coisa. Eu peguei um projeto muito interessante para uma monja budista. Na Chapada Diamantina, uma coisa, uma maravilha, um paraíso. Procurei elencar todo o processo de metodologia, de medição de clima, de temperatura. Fiz tudo. Fiz tudo para chegar no ideal de construção... Fiz com Mônica, da Universidade... Fiz o projeto. Agente fez como deveria funcionar. Porque tem uma diferença de temperatura. Durante o dia faz 30º, e à noite faz 10º. Cai muito quando o sol vai embora. Ai eu fiz o projeto pra isso.A gente fez a casa para ter uma temperatura de, digamos, 25º o ano inteiro dentro de casa. 24º, 26º.... Aí a monja virou e disse: “E quem disse a você que eu não quero sentir frio? Eu quero sentir frio”. E eu olhei para Mônica, Mônica olhou para mim, e eu fiquei passada! (rindo). Ou seja, é importante demais... Essa confusão que passo diariamente daria uma tese de doutorado: não basta conhecimento técnico, aplicação técnica, é necessário... – a gente sabe na teoria, mas vivencia isso na prática – você considerar a cultura. Os hábitos de cada um. Como funciona ambiente pessoal é fundamental. Então, a Universidade Federal critica terrivelmente quem trabalha com interiores. Realmente tem o lado futilérrimo de tudo isso, claro que tem. Mas é muito importante, é fundamental que os ambientes tenham dimensionamento de dentro pra fora. O arquiteto não pode ser simplesmente formalista. A gente tem que ser funcionalista mesmo! Eu não posso fazer uma sala para mim onde eu não tenha meia-luz. Minha casa é uma casa de pouca luz. Eu não suporto excesso de luz, eu tenho fotofobia. Eu tenho que ter um som baixo, eu tenho que ter uma luz baixa. A gente tem obrigação de perceber isso. Obrigação de perceber, de captar, de fazer o papel nosso. De ter a preocupação com a forma que aquilo vai ser usado. O uso. Seja do que porra for. O uso tem que ser considerado muito mais do que você imagina. Tanto quanto o uso correto tecnológico. É fundamental o uso posterior. A APO [Avaliação Pós-Ocupação]. Eu faço APO dos meus projetos até hoje. Não há um projeto que eu faça, que não faça APO. Eu não vou lá com um papel, com uma lista de perguntas, não faço isso mais, não preciso. Mas eu faço APO de tudo o que eu faço. Eu faço um mês depois, faço seis meses depois, faço um ano depois. . Pergunto ao cliente: “O que faltou em sua casa? Faltou o quê aqui?” “Ah, não faltou nada”. Quando eles dizem que não faltou nada eu fico tão feliz! Os materiais que eu uso. Eu avalio depois de um ano como é que eles estão. Porque não é uma preocupação da cultura brasileira, mas é uma preocupação geral e isso é um problema quando eu faço com materiais naturais. Porque eles são muito mais perecíveis, muito mais frágeis, eles criam vida, graças a Deus. Eu acho maravilhoso uma telha cheia de lodo, acho lindo, mas o povo não gosta, o que eu posso fazer? (rindo). Penas: Quer dizer que você tem coragem de fazer APO de seus projetos, ao contrário de muitos arquitetos... VT: Não, tenho coragem não, eu faço! E todo mundo deveria fazer obrigatoriamente


Penas: A sustentabilidade está muito ligada às relações pessoa-ambiente? VT: Totalmente. E se você vai para um ângulo muito mais amplo, tem que pensar no uso e no ambiente. Porque uso não é personalizado, é generalizado. Eu vejo pessoas com um futuro muito prático, mas é o uso a que você destina. Você criar um ambiente personalizado é uma coisa. E se é uma multidão, um mundo de pessoas que vai usar, você tem que gerar uma identidade para ele, para aquilo. Para que todo mundo que chegar saiba como se comportar. Mas o uso e o ambiente têm que estar juntos. Têm que andar juntos, isso é sustentável. Penas: Sustentabilidade seria também resgatar o conceito inicial de programa de necessidades, que vem se perdendo, que não é necessariamente “ambiente”, mas “uso”? VT: Uso. É importante demais, é importante. Eu não me conformo – conversei isso com um arquiteto baiano essa semana – com a arquitetura minimalista. Não me conformo. Eu tive numa exposição na Espanha recentemente, e entrei num ambiente enorme, amplo, branco da cabeça aos pés, e lá no fundo da sala, na diagonal, tinha uma bolinha, de, sei lá, sessenta centímetros de diâmetro, no chão. E uma palavrinha, que eu não sei o que era, porque era de um escultor, acho que holandês, uma palavrinha deste tamanho. Eu fiz, gente, eu vou me esforçar, bem muito, para entender o que esse cara quis dizer com isso. O que ele quis dizer com isso? Com esse espaço tão minimalista, com essa proposta de arte tão minimalista? Tão... Nada. Nada. Penas: Você vê essas propostas como algo “egoísta” dos arquitetos, que querem fazer só “obra de arte gratuita”, e não “criar espaços” para outras pessoas? VT: Não... Me dá até preguiça em falar nisso. Então, a obra, o espaço arquitetônico seco, caixote, não quer dizer nada. Não representa absolutamente nada. Não cria uma identidade urbana, não gera um ritmo, não gera nada! É só uma coisa mínima. Não existe, a gente precisa de símbolos, o ser humano precisa de simbologia, nós não somos “nada”, nós somos uma coisa maluca, cheia de informação genérica, cheia de informação embutida, a gente precisa de simbologia. Se eu olhar um prédio “nada”, caixotão, não que eu seja contra, eu só questiono completamente. Você olha uma obra “nada”, e você olha uma igreja gótica, o que você lembra? O que você vai lembrar? Aquilo é lindo demais! Impossível de fazer hoje - é um outro instante histórico, claro que é, mas é uma coisa maravilhosa! Monumental! Um caixote de 200 metros de altura por quinhentos de largura, sem nada... Não significa nada. Então, o instante minimalista que aconteceu, ainda acontece, eu entendo, é uma negação a um milhão de coisas. Tem toda uma formação histórica, mas pra mim não diz porra nenhuma! Quando eu entrei neste lugar, eu e um bando de gente atrás, esperando, porque você tinha que ir em fila, para sentir o espaço em branco que você não vê. O que me passou? A idéia do não-orgânico. Do infinito, da não-dimensão, me passou uma série de sensações, mas eu tenho conhecimento técnico para isso, mas e uma pessoa comum que está do lado de fora? O que aprende com aquilo? Não consegue nem sentir, porque é nada! Então nós somos nada, eu acho que a gente não tem que fazer isso. O mundo é nada, então, porra, vamos fazer alguma coisa! Gente, como o minimalismo é bobo. Como não é nada. Como a gente precisa que seja alguma coisa. Não devia nem estar falando isso para uma revista da Universidade Federal, meu Deus do Céu (rindo)! Entrevista feita novembro de 2007. Ilustrações de Cicero Marques Design de Carlos Onofre


especial sustentabilidade

about.com http://architecture.about.com/od/greenarchitecture/Ecology _and_Green_Architecture.htm “Green Architecture é um termo usado para descrever o desenvolvimento sustentável econômico, com redução de energia e amigo do meio ambiente. Estes estudos exploram a relação entre a arquitetura e a ecologia, e mostra como se podem usar conceitos de Green Design no seu projeto.” Neste site você poderá encontrar diversos links que tratam do assunto, dentre eles associações, ONG´s, conselhos, conceitos, e instituições. (inglês)

university of michigan http://www.umich.edu/~nppcpub/resources/compendia/arc hitecture.html Esta página descreve documentos atuais sobre Arquitetura Sustentável. O site encontra-se subdivididos em módulos: Introdução da Arquitetura Sustentável, Design Sustentável, Materiais para a construção sustentável, Reciclagem e Re-uso e Estudo de Caso (NEXT 21 - Japão). Você poderá fazer downloads dos artigos gratuitos e imprimi-los. Você pode também solicitar o envio de uma cópia, havendo a cobrança de uma taxa para cobrir despesas. (inglês)

green design institute http://gdi.ce.cmu.edu/ “Trabalhando Parceiras pelo ambiente sustentável e economia” “A principal idéia do instituto é formar parcerias com companhias, agências do governo e fundações para desenvolver de projetos (design), gerência, manufaturado e processos regulatórios pioneiros que podem melhorar a qualidade do meio ambiente.” (inglês)

university of missouri http://extension.missouri.edu/edninfo/sustain.htm Este site reúne links de associações, centros, institutos que tratam de diversos assuntos como, edifício energeticamente eficientes, Urbanismo, tecnologia sustentável, catálogos de materiais e construtores, entre outros. (inglês)


architecture week http://www.architectureweek.com/topics/green.html A biblioteca virtual relacionado a Green Architecture deste site reúne projetos, programas, software, entre outros. (inglês)

sustainable abc http://www.sustainableabc.com/index.html Neste site você poderá encontrar artigos, entrevistas, projetos, livros, produtos e outros links que tratam do mesmo tema. Além de que você pode se inscrever para receber por e-mail um jornal informativo sobre edifícação Eco e Green, casas saudáveis, manutenção e projetos, dicas e outros.(inglês)

green home building http://www.greenhomebuilding.com/sustainable_architecture. htm Dentre as informações sobre arquitetura sustentável você pode encontrar tópicos como: aqueça com o sol, use energia renovável, conserve água, use materiais locais, use materiais naturais, recicle materiais, entre outros, e a partir deles você encontra muita informação, vale a pena dar uma olhada. Reúne ainda artigos sobre: Princípios da Arquitetura Sustentável, Como Construir Green. (inglês)

arqrn.com http://www.arqrn.com O ArqRN pode não ser um site especial sobre sustentabilidade, mas é uma novidade muito interessante que surgiu em 2007, principalmente para os arquitetos e estudantes de Arquitetura do Rio Grande do Norte.O foco do ArqRN é a Arquitetura potiguar,oferecendo inclusive várias notícias sobre eventos e mercado locais, com atualizações freqüentes.

Se você tem alguma sugestão de sites interessantes sobre arquitetura e urbanismo, design, construção, paisagismo, ou assuntos relacionados, envie para a equipe da Penas no revistapenas@yahoo.com.br


Imagens e Consultoria Arq. Verner Monteiro Edição de Texto Marina Medeiros Cortês

Como o Google Sketchup® aliado a outros softwares pode render resultados incríveis de apresentação de maquetes eletrônicas

Passo 1: Modelar todas as edificações no programa Sketchup, sem blocos, apenas os volumes dos elementos construídos, com texturas básicas de piso e materiais. O céu também precisa ter alguma cor, mesmo que seja a branca para que o Piranesi reconheça a superfície a ser pintada.

Passo 2: Exportar a imagem para o Piranesi.

Passo 3: Inserir os blocos “fotorrealísticos” de vegetação, automóveis, pessoas, etc. O programa tem a capacidade de ler perspectivas através de uma imagem em 2d, de forma que quando se coloca os blocos eles ficam menores de acordo com a distância e maiores de acordo com a proximidade.


Passo 4: Com auxílio da ferramenta BRUSHES - transformar os objetos fotorrealísticos em artísticos, dando cores e texturas de pincéis. Com auxílio da ferramenta EDGES - avivar os limites dos desenhos, deixando-os com aparência de nanquin. Assim como nos blocos, em elementos distantes, as pinceladas ficam mais fracas e em elementos mais próximos as pinceladas ficam mais fortes.

Passo 5: Recortar e enquadrar imagem final no Photoshop, ajustando também as cores, brilho e contraste.



habitacao de interesse social Abordagem bioclimática e sustentável Autores Leonardo Jorge Brasil de Freitas Cunha, Natália Ferreira de Queiroz, Marcelo Bezerra de Melo Tinoco, George Santos Marinho e Aldomar Pedrini Diagramação e ilustração Natália Ferreira de Queiroz

O projeto Rede de Pesquisa em Eficiência Energética de Sistemas Construtivos-REPEESC foi criado em 2004 por pesquisadores da UFRN, UFGC e UFPI, e empresas de Natal-RN. É mantida principalmente com recursos do edital FINEP-Habitare e seu objetivo inicial foi o estudo do comportamento térmico e energético de sistemas construtivos locais, visando contribuir para que as edificações sejam confortáveis termicamente com o menor uso possível de ar condicionado. No decorrer de seu desenvolvimento, vislumbrou-se a possibilidade de desenvolver um projeto arquitetônico bioclimático com desempenho térmico otimizado, compatível com um sistema construtivo com baixa produção de resíduos e pouco tempo de execução, da 2A Construtora. Esse artigo descreve a evolução do projeto arquitetônico e seus desdobramentos. Está prevista sua construção no Campus da UFRN e monitoramento do seu desempenho térmico, com medições de temperaturas do ar interno e externo, de temperaturas das superfícies e de fluxo de calor através dos principais fechamentos. Os resultados obtidos serão empregados para diagnosticar a contribuição de cada elemento construtivo e de ocupação no desempenho térmico, assim como para calibrar e validar modelagens computacionais voltadas para simu lações.

Bioclimatologia, eficiência energética e sustentabilidade O projeto pode ser classificado como arquitetura sustentável porque visa diminuir o impacto da edificação no ambiente. A proposta emprega princípios de arquitetura bioclimática, fazendo uso dos recursos passivos do clima quente úmido para obtenção do conforto térmico. Em conseqüência, reduz a necessidade do uso de ar condicionado e o consumo de energia elétrica. O sistema construtivo das paredes se assemelha a uma argamassa armada de baixa densidade e transmitância térmica, pré-fabricada a partir de um projeto paginado. Por isso é caracterizada por não ter desperdício ou resíduos.

Análise da proposta original Inicialmente, analisou-se o projeto padrão da construtora 2A através de programas de simulação, enfatizando o estudo do sombreamento, ventilação e do seu desempenho térmico. O objetivo foi identificar as principais fontes de cargas térmicas e seus impactos sobre as temperaturas do ar interno. A análise apontou limitações projetuais que não seriam viáveis de correção no projeto original. Por isso, foi proposta a elaboração de um novo projeto.

Desenvolvimento de um novo projeto Os esboços seguiram o mesmo programa projetual da proposta original (caso base) e as atenções se voltaram preferencialmente para o estudo do local e as decisões arquitetônicas que potencializassem a ventilação natural, o sombreamento e a minimização da incidência das cargas térmicas da envoltória. Por isso, enfatizou-se o estudo das formas e da implantação. Privilegiou-se o uso de estratégias passivas, para manter as condições de conforto, visto que o condicionamento artificial não seria uma prioridade dos prováveis usuários desse tipo de edificação. Em seguida comparou-se o desempenho do novo projeto com a casa padrão da construtora (ver quadro de resultados). Foi avaliado também a influência de algumas variáveis na edificação, como orientação, geminação, sombreamento e cor. O isolamento térmico das paredes laterais não mostrou impacto positivo, pois a casa não conseguiu perder o calor para o exterior à noite quando a temperatura externa diminui.


Resultados projeto padrão da construtora

Temperatura

proposta otimizada zona de conforto térmico

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Gráfico mostrando a temperatura interna dos cômodos pelo tempo em meses

Considerações sobre a proposta otimizada As recomendações de baixa transmitância para a coberta e indiferente valores para as paredes proposta pela ASHRAE 90.2 mostraram-se mais condizentes com o clima local segundo os resultados da simulação computacional.

Projeto padrão da construtora Todos os meses havia períodos em que a temperatura dos cômodos estava fora da zona de conforto térmico, com picos de temperatura ultrapassando os 35 ºC (ver gráfico ao lado). Ventilação cruzada era dificultada com as portas fechadas, devido ao fato de não haver aberturas de saida de ar nos cômodos.

A proposta é muito sensível à orientação. Como se trata de um protótipo de habitação popular, que pode vir a se tornar o projeto padrão da construtora e desta forma multiplicar-se aos milhares, qualquer tentativa de implantação deve considerar esse aspecto. Portanto, o projeto urbanístico deve considerar a orientação do traçado, assim como outras propostas projetuais com diferentes orientações podem ser estudadas. O uso da simulação computacional durante o processo projetual permitiu quantificar o impacto das decisões e das alternativas. A possibilidade de testar o impacto de cada decisão durante o processo projetual estimulou a reflexão sobre os fenômenos físicos envolvidos.

Futuras abordagens A construção do protótipo abrirá possibilidades de integrar outras abordagens de sustentabilidade, como o re-uso da água e aproveitamento da água de chuva, o desenvolvimento de um paisagismo com espécimes locais projetado para reduzir as cargas térmicas, a produção de energia solar através de células foto-voltaicas, o aquecimento de água através de coletores solar, o estudo de componentes isolados como poliuretano de mamona, dentre outros.

Proposta otimizada Projeção de redução de 67% do consumo de energia para um hipotético aparelho de ar-condicionado mantendo a temperatura abaixo dos 29°C. Redução na temperatura interna em todos os períodos do ano, apresentando períodos fora da zona de conforto térmico, apenas nos meses mais quentes, possuindo temperaturas inferiores a 31 ºC. (ver gráfico no alto da página.) Layout permeável que facilita a ventilação cruzada. Verificou-se uma pequena redução de consumo de energia com iluminação, inferior a 2%. Porém o aumento na carga térmica ocasionada pela mesma alteração foi maior que 35%.

o bom

o ótimo

O resultado final do projeto foi classificado pelo presidente e fundador da empresa interveniente, Flávio Azevedo, como ótimo porque se assemelha ao ideal, atendendo o maior número possível de questões (conforto, custo, exeqüibilidade, etc). Entretanto, outros aspectos foram considerados para que o protótipo tivesse melhor aceitação. Dentre elas, a questão cultural é a de maior impacto. Segundo o mesmo, seu público alvo tem rendimentos entre 3 à 5 salários mínimos e almeja um lar de tipologia mais tradicional, isolada no lote (ausência de recuos) e facilmente ampliável. Foi destacado que as ampliações ocorrem no sentido longitudinal do lote e que não deve haver água do telhado voltada para trás. Por isso, o projeto poderia ser repensado, ainda que seu desempenho térmico se tornasse apenas “bom”. É mais importante um projeto bom do que o ótimo, porque o bom é comercialmente mais viável.


PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

torre alva empresarial

Soluções simples para eficiência energética texto Thiago Alexandre Câmara de Oliveira ilustrações Thiago Alexandre Câmara de Oliveira

Partindo como tema projetual de uma torre empresarial para bairro de Tirol, foi adotado no ante-projeto diretrizes de conforto térmico para o clima quente-úmido afim de garantir baixo consumo energético. A implantação do prédio no sentido leste-oeste garante pouca insolação nas fachadas de maior área, contudo, essa opção fez com que as sombras geradas pelo edifício fossem insignificantes para o projeto paisagístico. Como solução adotou-se tendas translucidas em áreas como o play- ground, o anfiteatro e a área de convivência. O estudo de ventilação interna do edifício baseia-se no princípio de ventilação cruzada. O ar em movimento entraria pelos brises da fachada sul, seria conduzido sob a laje e distrubuído por aberturas no forro, para que vento circule também nos ambientes até sair por uma abertura na fachada norte. Outro fator importante é que todo ar quente da circulação subirá por convecção pelo vazio central até sair por um domus no topo do edifício. sendo assim, a circulação não precisaria ser refrigerada artificialmente. O estudo de eficiência energética foi realizado com base em um sistema de condicionamento de ar com rendimento de 3.1, para manter uma temperatura ideal de 27°C. O ambiente estudado é o de um escritório com 50m² de àrea construída. a fachada frontal volta-se para o sul e a posterior foi considerada totalmente sombreada pois volta-se para o corredor. As paredes laterais também foram consideradas totalmente sombreadas pois seriam outros escritórios. A comparação entre as duas alternativas mostra que a proposta adotada reduz 60% dos gastos com refrigeração de ar.

Proposta hipotética

projeto torre empresarial para o bairro de tirol autoras tiago alexandre câmara de oliveira prof. orientador fabrício leitão/ aldomar pedrinni/paulo nobre tema verticalização ano 2006 local natal, rn

Proposta adotada

Soluções adotadas no ante-projeto 01 - Pintura com absorvidade de 20% 02 - tijolo cerâmico de oito furos trasmitância termica (U) de 2,49 03 - adoção de brises, proteção de 50% 04 - vidro verde de 6 mm, transmitância térmica (U) de 6,30 e fator solar de 61% Consumo reduziu de 49 kwh/m² na proposta hipotética para 29 kwh/m² na proposta adotada. Corte esquemático mostrando ventilação cruzada

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escola de artes PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

projeto de uma instituição de ensino técnico para natal Texto e Ilustrações Clara Ovídio

Perspectiva interna

Motivado pelas discussões das mudanças climáticas globais, pelo incentivo à redução do impacto ambiental das edificações e pelo uso mais racional dos recursos naturais foi desenvolvido uma Escola Técnica de Artes que permitisse a associação do desempenho térmico eficaz e da utilização da iluminação natural nas reflexões projetuais desde as primeiras fases do projeto. Buscou-se um contexto sustentável do ponto de vista energético, adaptado às necessidades do clima quente e úmido da cidade de Natal/RN, utilizando-se assim das estratégias bioclimáticas pertinentes, mais especificamente, o sombreamento das aberturas e a ventilação e a iluminação natural. A Escola foi implantada em um antigo pátio de manobras de trens, em terreno limítrofe dos bairros Ribeira e Rocas, de forma que os profissionais formados prestigiem e atuem nesse cenário histórico e cultural. As características arquitetônicas visam suprir as necessidades dos cursos de artes circenses, artes cênicas e fotografia, além de integrar a escola à comunidade, buscando uma linguagem contemporânea.

projeto escola técnica de artes autora clara ovídio profs. orientadores bianca araújo e aldomar pedrini tema projeto arquitetônico ano 2007 local natal, rn

Perspectiva externa

Corte transversal

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PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

educação&conforto proposta de escola para santos reis Texto e Ilustrações Maria Caroline Diógenes projeto escola de ensino fundamental autora maria caroline diógenes prof. orientadora bianca araújo tema projeto arquitetônico ano 2006 local natal, rn

A metodologia adotada para o projeto desta escola foi o Sócio-construtivismo, neste sentido além das salas normais existem as especiais servindo de ferramenta extra para qualificar o aprendizado. Projetada para dois turnos em tempo integral, revezando as salas normais e as especiais.O edifício escolar toma partido das varandas cobertas de telha colonial, por ser essa a tipologia de uma casa litorânea Norte Riograndense. Com isso objetivase dar um aspecto de residência familiar às crianças, já que passarão a maior parte do dia na escola. Neste sentido temos ao final um volume principal escalonado composto por varandas também escalonadas. Toda a escola será composta de alvenaria aliada a estruturas de madeira juntamente com telha colonial, configurando assim a construção tipo da nossa região, sendo este tipo o mais adequado aos nossos níveis de insolação e ventilação. O complexo escolar possuirá piscina com arquibancada de concreto, sendo protegida de insolação por

uma parede de cobogó contornando-a. Seu piso assim como o de toda a área externa da escola é de pedra de São Tomé, mais indicada pelo seu baixo índice de variação térmica, demorando a absorver calor assim como a resfriar. Situação ideal para o clima quente, principalmente considerando a latitude da região, a qual possui raios solares incidentes quase que perpendicularmente.Cada bloco de sala agrupa 2 salas intercaladas com jardins, tendo uma sala no térreo e outro no 2° pavimento. O sistema de intercalação com os jardins ajuda na circulação viabilizando a ventilação cruzada em todas as salas, impede a passagem de ruídos além de ambientar estes espaços.

Vistas externas

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PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

plano de arborização diretrizes paisagísticas para o centro histórico de caicó, rn Texto Cecília Medeiros Ilustrações Ana Paula Gurgel, Cecília Medeiros, Gabriela Brito

A importância da arborização urbana está em produzir sombra, filtrar ruídos, melhorar a qualidade do ar, amenizar a temperatura, dentre outros. Nos Centros Históricos a arborização é uma questão ainda não abordada, apesar de apresentar relações distintas dos centros urbanos modernos. Através de levantamento realizado in loco, percebeu- se que a arborização de Caicó está em conflito com o cenário arquitetônico, ocultando fachadas históricas, além de causar problemas no ordenamento viário, pois em sua quase totalidade estão dispostas dentro dos limites das vias, próximo as calçadas. O objetivo desta proposta foi encontrar um ponto de concordância entre a valorização do patrimônio edilício e a adequação das condições de conforto ambiental por meio da arborização urbana. Fachada em Caicó

Ilustração do Plano de Arborização

As diretrizes propostas relacionam o condicionante conforto ambiental com o desenho urbano, implicando em mudanças qualitativas no trânsito de pedestres, de veículos, na habitabilidade das praças e, sobretudo, na paisagem como um todo - ambiental e construída. A proposta aponta diretrizes para adequações das espécies, do porte e da implantação da vegetação, que resultam em melhorias ambientais, sobretudo porque garantem a sustentabilidade do ecossistema local; no fl uxo de pessoas e veículos, regularizando os passeios e orientando o tráfego; na habitabilidade do centro, quando proporciona conforto por meio do sombreamento das calçadas, praças e locais de estacionamento; e, em destaque, na paisagem, na medida que o natural e o construído não confl itam entre si, dando ao centro histórico sua legibilidade merecida. As espécies escolhidas devem ser adaptadas ao clima quente e seco, sendo sempre que possível nativas da região seridoense, contribuindo, desta forma, para a sustentabilidade ambiental da cidade. Preferencialmente devem ter copa densa, com formato mais ver-

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ticalizado quanto se tratar da localização próxima das fachadas históricas. Desse modo, o patrimônio arquitetônico do Centro Histórico de Caicó, dialogaria com a paisagem ambiental, integrando os elementos patrimoniais arquitetônicos e naturais.

projeto diretrizes para arborização do centro histórico de caicó,rn autoras ana paula gurgel, cecíia medeiros e gabriela brito prof. orientador heitor andrade tema paisagem urbana ano 2007 local caicó, rn

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PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

espaço cultural amarante

suprindo carências em são gonçalo do amarante Texto e Ilustrações Sanderson Carvalho projeto espaço cultural amarante autor sanderson carvalho prof. orientador marcelo tinoco tema projeto arquitetônico ano 2007 local são gonçalo do amarante, rn

Perspectiva interna|Fonte: Clara Ovídio

Perspectiva externa

Corte

A verificação da falta de espaços culturais foi o motivo da escolha do tema do projeto “Espaço Cultural Amarante” em São Gonçalo do Amarante. Assim como a carência de cultura, a população daquela área sofre de várias outras carências como a própria pobreza. Por isso, o espaço foi pensado de forma que tivesse uma postura sustentável. A proposta é de ensinar arte e produzi-la a partir do conhecimento lá gerado, podendo, assim, manter o espaço com a renda das exposições, peças e filmes. Sustentar-se é o objetivo principal, por tratar-se de um espaço aberto à comunidade – público - que normalmente cairia no esquecimento dos governantes. Em relação a seu entorno, a edificação destaca-se pela altura e forma arrojada da cobertura, e mantém uma linguagem arquitetônica com o seu vizinho, outra edificação que se destaca, um supermercado. A estrutura é composta por 2 blocos de concreto armado sob pilotis - um pedagógico e outro administrativo - uma cobertura metálica curva que envolve todo o cineteatro, os blocos e o salão de exposições. A cobertura é apoiada por treliças, de onde saem estais que suspendem o vão do salão. A idéia foi de propor uma estrutura que remetesse às aeroportuárias, pois o terreno localiza-se no caminho para o aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante em construção. Os estais fazem alusão à nova ponte sobre o Rio Potengi.

Perspectiva interna do salão

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PROJETOS

flat eficiente

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

Envoltória inteligente para um baixo consumo de AC Texto e Ilustrações Natália Queiroz

Com o tema “Verticalização”, esse exercício de projetação combinou o programa de um flat de vista panorâmica, com estratégias bioclimáticas e de eficiência energética para o clima quente e úmido. Os estudos partiram da definição de seis apartamentos por andar, todos com vista direcionada a praia de Ponta Negra e uma envoltória eficiente do ponto de vista energético. Isto é, com grandes aberturas sombreadas, lay-out permeável ao vento, e sistemas construtivos com alto desempenho térmico. Foram analisadas diversas alternativas, entretanto as formas mostravam limitações decorrentes das repetições das soluções empregadas no pavimento tipo e nas fachadas.

O brise solei sombreia a vidraça do apartamento em 100% apartir das 09:00 am

Com a solução funcional definida, a forma foi depurada gradativamente. Evitou-se a monotonia das repetições dos andares e buscou-se a unidade formal somando um volume cruciforme regular com outro mais orgânico, criando assim, o efeito do encontro. Os resultados finais mostraram que o projeto é capaz de reduzir em até 86% do consumo de energia anual do ar condicionado, no modo ativo. No modo passivo (sem ar condicionado), a ventilação natural é abundante, atingindo até 450 trocas de ar/hora.

Ilustração do funcionamento dos brises

Esquema de ventilação cruzada nos apartamentos

projeto flat eficiente para o bairro de ponta negra autoras natalia f. de queiroz prof. orientador fabrício leitão/ aldomar pedrinni tema verticalização ano 2007 local ponta negra, natal, rn

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onda flat PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

uma proposta de residência multifamiliar para ponta negra Texto e Ilustrações Nathália Braga

O projeto foi desenvolvido desde o inicio de modo que proporcionasse aos seus moradores conforto, esse principalmente térmico e visual, e que também fosse funcionalmente bem distribuído e resolvido. Um dos principais condicionantes do partido e implantação da edificação foi a direção dos ventos, esses de orientação Sudeste. Conciliar boa ventilação (direta) com a visualização da praia de Ponta Negra foi o objetivo principal do projeto. Tendo em vista as belezas naturais pertencentes ao Bairro onde a edificação seria implantada tentou-se facilitar o diálogo entre interior e exterior do edifício, por esse motivo foram adotadas esquadrias de tamanho considerável em praticamente todos os pavimentos. Contudo, o conforto térmico dos ambientes foi também levado em consideração, adotando-se desse modo formas de proteção solar nas aberturas diretamente expostas aos raios solares. O pavimento tipo foi pensado de modo que fosse bastante permeável aos ventos, justificando assim o uso da varanda e do corredor de circulação aberto entre os apartamentos. A presença da área verde e do paisagismo foi um ponto também importante na evolução do partido. Numa tentativa de dinamizar a área de lazer, utilizou-se da topografia do terreno, este com desnível de até 4 metros.

Imagens em sentido horário: Solução de proteção solar para os apartamentos-tipo; volumetria do flat; Apartamento Tipo B

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projeto flat autora nathália braga profs. orientadores fabrício leitão e aldomar pedrini tema projeto arquitetônico ano 2007 local natal, rn

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Foto: Natรกlia Queiroz


Cecília Medeiros é aluna da graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN desde 2003, e bolsista do GERAH (Grupo de Estudos em Reforma Agrária e Habitat, da base de pesquisa Estudos do Habitat), desde 2004. A proposta do alojamento móvel foi inscrita no Concurso Nacional de Idéias para a Reforma Urbana, promovido pela FeNEA (Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil) em 2007.

Em 1996, a Federação Nacional dos Arquitetos (FNA) e Urbanistas apresentou, na Conferência Brasileira para o Habitat II, propostas e deliberações pelo direito à moradia e à cidade, que recomendavam a aproximação entre as lutas pela Reforma Urbana e a Reforma Agrária. O plano, que se dirigia à cidade, também se desdobra para o campo, exigindo Reforma Agrária imediata (FNA, 1996). Isto significa que arquitetos urbanistas deveriam se adequar a uma nova realidade, definindo princípios, diretrizes, parâmetros e partidos arquitetônicos na construção de habitações de interesse social também no campo, compreendendo sua importância para os trabalhadores do meio rural. Atualmente existem algumas políticas públicas que também atingem o campo, porém com parâmetros dirigidos para realidades urbanas. No entanto, são destinados créditos para habitação nos projetos de assentamentos rurais (PAs) somente para a moradia. Estes são reduzidos (de R$5.000,00 passará para R$7.000,00 em 2007) e insuficientes para contemplar equipamentos coletivos, assessoria técnica, mão-deobra, que possibilitem a garantia do planejamento e gestão participativa, o desenvolvimento ambientalmente sustentável, a qualidade condigna de habitabilidade e as características culturais e organizativas de cada grupo social. A partir de projetos padrão, as moradias de 45 m² são reproduzidas por construtoras ou pelos próprios assentados (situação de muitos assentamentos). A partir da discussão da realidade existente nos assentamentos rurais do País, em setembro de 2006 ocorreu o I Colóquio Habitat e Cidadania, evento que envolveu movimentos sociais (o MST) e pesquisadores de todo o País, apresentando um documento (1) que aponta diretrizes para a Habitação de Interesse Social no Campo, sobretudo, as necessidades do seu habitat: “Compreendemos que o Habitat de um Projeto de Assentamento chamado de Reforma Agrária contempla a casa, o lote de moradia e/ou o lote de trabalho familiar, áreas de produção coletiva, de reserva legal, de preservação permanente, entre outras. Ele corresponde à maioria dos projetos de habitação de interesse social do campo.” (BORGES, 2007, slide 4)

Em 1996 o número de famílias assentadas no País era de 161.556 famílias beneficiárias em 1.460 PAs, em 26 estados (BERGAMASSO, 1997, p. 36). Esses assentamentos rurais “representam, sob o ponto de vista das famílias hoje assentadas, uma nova forma de produzir, um novo controle sobre o tempo de trabalho, a realizaçã de atividades que até então não faziam parte de suas atribuições nas relações sociais anteriores.” (idem, 1997, p.47)

E mais, assentamentos rurais representam também para essas famílias o acesso à própria moradia que, para o trabalhador do campo é tão importante quanto para o da cidade.

A PROPOSTA Este projeto significa a realização de um sonho e a construção de uma utopia. O habitat provisório possibilitará as famílias envolvidas condições para construir seu futuro sem preceder do presente. Por outro lado, como evitar que o provisório se torne definitivo? Nossa contribuição, portanto, parte do pressuposto que esse habitat provisório precisa ser móvel, fácil de ser transportado para outro pré-assentamento (e descartado o fantasma da casa improvisada).

Texto| Cecília Medeiros Ilustrações| Cecília Medeiros (originais do projeto) e Igor Magno Cabral Design| Igor Magno Cabral


A proposta vale-se de ônibus não mais utilizados por empresas de transporte, sendo adaptados para utilização como dormitórios. Com o objetivo de atingir melhores condições de salubridade e conforto ambiental das unidades habitacionais, o ônibus reutilizado seria acrescido de varandas para obter-se o sombreamento de suas aberturas, com a mesma técnica comumente empregada pelos assentados: “puxada” com cobertura em palha, ou lona; sem que isso implique em diminuição na qualidade da proposta. Com isso, a relação entre a casa e o quintal, intrínseca ao morador do campo, estaria ali representada. Cada unidade atenderia uma família. Como complemento às necessidades de vida e morada, seria ainda imprescindível a construção de alguns equipamentos de uso coletivo, como cozinha, refeitório, banheiros com vestiários e ciranda infantil. Esses equipamentos utilizados como apoio durante o processo de planejamento e construção coletiva e participativa do assentamento, seriam considerados como parte do assentamento a ser construído, podendo da mesma forma serem reutilizados como centro comunitário, equipamento de apoio ou beneficiamento da produção, bem como alojamento ou mesmo centro de eventos e assembléias. A idéia parte do pressuposto de que as políticas públicas devem considerar as necessidades imediatas dessas famílias assentadas, instaurando financiamento para infra-estrutura inicial do assentamento. Assegurada melhores condições de moradia, e conseqüentemente condições de vida e convívio coletivo, pode-se iniciar o trabalho de planejamento e construção do assentamento seguindo uma metodologia participativa, que propicie o escambo de saberes técnico e popular e a autogestão na construção do seu habitat, local de vida social, moradia e trabalho dos assentados. Em outra instância, o planejamento do assentamento deve então considerar alguns pressupostos à realização plena dos desejos e sonhos, e sobretudo, a qualidade de vida dos assentados, deve-se considerar: 1. o meio natural e Plano de Desenvolvimento do Assentamento (PDA) na construção do Parcelamento do Solo; 2. os percursos diários entre os lotes de produção e a moradia, o acesso aos serviços de fornecimento de água e energia e as condições do meio natural na localização do habitat (agrovila – local de construção das habitações e equipamentos coletivos); 3. o processo participativo em todas as etapas de elaboração de projetos; 4. a autogestão ou gestão compartilhada no processo de construção do habitat e das moradias; 5. a participação de assessoria técnica necessária ao planejamento e construção do assentamento (onde o arquiteto urbanista se torna fundamental);

BERGAMASCO, Sonia Maria Pessoa Pereira. A realidade dos assentamentos rurais por detrás dos números. Estudos. av.,Set./Dec. 1997, vol.11, no.31, p.37-49. ISSN 01034014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v11n31/v11n31a03.pdf. Acessado em 28 de junho de 2007. BORGES, Amadja. H.; BERTOLINI, Valéria A.; MEDEIROS, Cecília M. R. de. Habitação de interesse social nas universidades. In: XXIV Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo, 2006, Goiânia. Anais do XXX COSU - ABEA e XXIV ENSEA. 2006. BORGES, Amadja H; LUCAS FILHO, Manoel; PAULA, Hiramisis P. de; PAIVA, Irene A. de. Metodologia do Habitat do Campo. I Oficina Habitat do Campo – Promovida pela Diretoria de Desenvolvimento dos Assentamentos de Reforma Agrária do INCRA. Brasília, junho de 2007. BORGES, Amadja Henrique. MST – Habitats em movimento: tipologias dos habitats dos assentamentos originários do MST nos estados de SP e RN. SP, Tese de doutorado. FAU/USP. 2002. _______. Necessidades, expectativas e sonhos no desenho do possível: proposta metodológica de organização do espaço físico-territorial dos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Projeto de Pesquisa. Departamento de Arquitetura da UFRN. Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRN. Financiado pelo CNPq. _______. O desenho do possível na construção de uma referência. Projeto de Pesquisa. Departamento de Arquitetura da UFRN. Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRN. _______. O desenho do possível: a UFRN e o MST na construção de um projeto-referência de assentamento de reforma agrária. In: Ilza Araújo Leão de Andrade (Org.). Metodologia do trabalho social: a experiência da extensão universitária. 1 ed. Natal: EDUFRN, 2006, v. 1, p. 57-72. COLÓQUIO HABITAT E CIDADANIA. Manifesto Colóquio Habitat e Cidadania. I Colóquio Habitat e Cidadania: Habitação de Interesse Social no Campo. Ceará Mirim-RN. 2006. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS ARQUITETOS E URBANISTAS. Conferência Brasileira para a Habitat II. Assentamentos mais humanos. Rio de Janeiro: 1996. COLÓQUIO HABITAT E CIDADANIA. Manifesto Colóquio Habitat e Cidadania. I Colóquio Habitat e Cidadania: Habitação de Interesse Social no Campo. Ceará Mirim-RN. 2006.


Num número de trapézio, todos os movimentos precisam ser coreografados: o salto, o número de voltas no ar, o tempo de saída, a velocidade pendular da barra, o posicionamento da rede de segurança. Tudo deve estar em harmonia, para que a falta de ritmo não custe a vida ao artista. Ativo, o corpo do trapezista permanece em estado de prontidão. A estratégia é aguçar os sentidos para aumentar a percepção do que está a seu redor. O conceito de Sustentabilidade possui um ideal semelhante. Ele visa à elaboração de estratégias para nos manter no ar, sobrevivendo ao longo do tempo, como faz o trapezista. O desafio da atitude sustentável, para o arquiteto, perpassa, ao menos, duas dessas estratégias: a interdisciplinaridade e a adaptabilidade das noções do Conforto Ambiental ao projeto arquitetônico.

Arquitetos-trapezistas duas estratégias para a sustentabilidade Por Lis Vilaça

Ilustrações e Design | Carlos Onofre

A interdisciplinaridade Diante do desafio da Sustentabilidade, a Arquitetura é uma poderosa ferramenta, pois pode utilizar e sugerir métodos técnico-construtivos que reduzam as agressões ao meio ambiente e consumam menos recursos. No entanto, precisa-se ter em mente que a Arquitetura deve atuar conjuntamente a outras áreas do saber, enriquecendo as soluções aos problemas ambientais do nosso tempo. Para o arquiteto Denis Kern Hickel (2000), o modelo arquitetônico atual parece estar fundado nos preceitos da supervalorização tecnológica, e precisa ser revisto. A solução para esse tema reverbera na questão do ensino e formação dos profissionais. É preciso abandonar a visão da Arquitetura como disciplina isolada e buscar somar conhecimentos, dentro de equipes interdisciplinares. O projeto de Arquitetura, numa proposta sustentável, deve levar em conta sua complexidade. Além disso, é saudável reorientar o ensino de Arquitetura, para desprendê-la do estigma de disciplina meramente instrumental. O arquiteto Luis Bentancor (2001) traça um paralelo do conceito de cidades-jardins (1) com a lógica das cidades sustentáveis. O intuito é entender de que forma é possível adaptar as cidades atuais a esse modelo sustentável interdisciplinar. Segundo Bentancor (2001), medidas como: acessibilidade aos espaços verdes e aos pedestres, transporte público adequado, junção de usos mistos, além do reaproveitamento de resíduos sólidos podem representar o casamento de diversas áreas num esforço de pensar a cidade de maneira ecologicamente correta. O autor alerta, ainda, que essas medidas não requerem um aumento no custo da obra. Pelo contrário, podem expressar uma redução na mesma. Manter-se no ar exige dos arquitetos – assim como dos demais trapezistas - a vontade rever antigas posturas, a fim de dar saltos mais amplos. (1) Cidade-jardim foi uma proposta idealizada por Ebenezer Howard, na Inglaterra, que buscava o equilíbrio entre o crescimento econômico e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem. A visão de Howard era a de que a cidade-jardim resolveria os problemas de insalubridade, pobreza e poluição nas cidades por meio de uma nova relação entre elas e o campo. Ele acreditava que essa estreita relação cidade versus campo poderia assegurar uma combinação perfeita entre as vantagens da vida urbana com a beleza e prazeres do campo. Hoje, muitas capitais do Brasil possuem bairros espelhados nesse conceito. É o exemplo de Belo Horizonte, São Paulo e Natal.


Adaptabilidade às noções do Conforto Ambiental A utilização das noções do Conforto Ambiental no projeto de Arquitetura auxilia na Sustentabilidade. Quando arquiteto e cliente discutem novas posturas para construir, sem agredir o meio ambiente, pode-se utilizar melhor os recursos que a natureza fornece. A escassez de recursos tem alertado para as estratégias do Conforto Ambiental. A necessidade da eficiência energética, nas edificações, cria estratégias como retrofits (2), que visam um equilíbrio racional entre consumo de energia e o bem-estar dos usuários. Já se sabe que reduzir as áreas de transparência na edificação, ajuda a limitar a entrada de calor, que o uso de janelas próximas ao teto auxilia na iluminação natural, e que fazer opção por cores claras e brises decresce o consumo de energia. Na prática da reciclagem, aplicada à Arquitetura, surgem outras soluções como: iluminação natural feita com inserção de garrafas “pets” cheias d’água, incrustadas nas telhas; e o uso de plástico moído, moldado na forma de tijolos. Conhecimentos como esses possibilitam a revisão da “postura-automática”, ou seja, evita que os arquitetos utilizem soluções anti-ambientais, como privilegiar a estética em detrimento da condição sustentável: abrir mão das fenestrações que garantem a ventilação natural e optar por resfriar o ambiente com ares-condicionados, por exemplo. Alguns profissionais de Arquitetura aderiram à soluções sustentáveis, lançando mão das noções do Conforto Ambiental, com visões deturpadas. Preservar o meio ambiente, algumas vezes, acaba ganhando a conotação de sofisticação e estilo. A bio-construção – utilizada há décadas – é vendida como novidade, a um alto custo. Optar pelo uso de sanitário compostável (3) e super-adobe (4), nessa inversão de valores, tornou-se um modismo, que tem como pano de fundo a divertida ameaça do colapso global. A crítica mora no seguinte fato: a escolha pelo emprego das noções do Conforto ambiental deveria priorizar a preservação ambiental e não o interesse econômico. Uma outra visão deturpada refere-se a uma fração do mercado que permanece alheia a necessidade de Sustentabilidade. É comum vermos, nos meios de comunicação, a descrição da vida-futura repleta de regalias tecnológicas, excessivamente dependentes do consumo de energia. É o que ocorre com a “casa interativa do futuro”, descrita por Colavitti (2006). Nela, poder-se-á jogar videogame em qualquer ambiente, projetar filmes no teto, possuir mesas que acessam a internet e apetrechos eletrônicos que controlam todos os aparelhos da casa com apenas um clique. Trata-se da supervalorização tecnológica, descrita por Hickel (2000). Como essa casa funcionaria com um consumo consciente de energia? Essa noção distorcida de futuro nos impede de agir de forma pró-ambiental. Além disso, não faz sentido pensar nesse tipo de habitação, tendo em vista que a nossa previsão para o futuro aponta uma outra realidade. O desafio da Sustentabilidade requer abrir mão da rede de segurança lá embaixo, posto que, no futuro, talvez não se possa contar com ela. É preciso atingir o estado de prontidão daquele trapezista que busca se manter no ar, treinando sempre novas posturas.

REFERÊNCIAS ANDRADE, L. O conceito de Cidades-Jardins: uma adaptação para as cidades sustentáveis. UFMG, 2001. BENTANCOR. L. Desflorestamento e arquitetura. Artigo revista virtual Vitrúvius. Disponível em < http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp313.asp>. Consultado em 22 de junho de 2007. HICKEL. D. (2000) A (in) sustentabilidade na arquitetura. Artigo. FAU. 2000. Disponível em < http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp328.asp>. Consultado em 22 de junho de 2007. COLAVITTI, F. Futuro do interativo. Revista Galileu. São Paulo. NO18. pp. 50-51. Ago/2006 DEL CARLO. Arquitetura Sustentabilidade Meio Ambiente e Economia. Universidade de Guarulhos, SãoPaulo, mimeo, 1999. LOMARDO. L. Retrofits financeiramente viáveis de prédios comerciais no Brasil projetados com base em simulações realizadas em visual DOE. Anais do XV Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica 1999. Foz do Iguaçu – PR. Disponível em < http://www.itaipu.gov.br/xvsnptee/xvsnptee/stc/stc06.pdf. Consultado em 22 de junho de 2007.

(2) Denominação recente, atribuída às reformas de prédios e seus equipamentos, visando objetivo de conservar energia (Lomardo, 1999) (3) Sanitário que utiliza os dejetos para produzir adubo. (4) Técnica milenar, em que sacos de polipropileno são preenchidos com barro e utilizados na construção civil.

Lis Vilaça é Arquiteta e Urbanista formada pela UFRN, e mestranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia, UFRN.


Penas

Número 02, segundo semestre de 2007.

Na década de 1970, houve a retomada das ações de planejamento urbano em Natal: Em 1974, foi aprovado o primeiro Plano Diretor da cidade; dois anos mais tarde, o arquiteto Luís Forte Netto foi contratado pelo governo do estado e dois anos depois (em 1977) apresentou o anteprojeto da Via Costeira, no seminário Política de Desenvolvimento Urbano – uma intervenção que visava ligar Areia Preta a Ponta Negra pela beiramar, e potencializar o uso turístico das praias virgens da cidade. Ao passo que preservaria as dunas e melhoraria as condições de vida dos moradores, proporcionaria um melhor aproveitamento das praias. Entretanto, o projeto foi alvo de diversas críticas, principalmente por parte dos ecologistas: seu detalhamento teria sido pouco claro; ocorreria soterramento da cidade, epidemias e poluição; havia pouco interesse em se discutir as implicações ambientais da intervenção; além da crítica à localização das unidades turísticas do projeto. É nesse panorama que, em 1979, Roberto Burle Marx vem a Natal, contratado para colaborar no planejamento da Via Costeira, com a elaboração do projeto paisagístico de arborização do Parque das Dunas e de ajardinamento da face do parque que ladeava a Via, desde as dunas de Mãe Luiza, até a praia de Ponta Negra. A imprensa local tratou com grande alarde a vinda de Burle Marx, como um importante respaldo ao projeto – por ser ele um profissional de credibilidade, inclusive no que tange ao respeito ao meio ambiente.

As idéias de Burle Marx para Natal

Tribuna do Norte, 24 de outubro de 1979. p.05 (editado)

Tribuna do Norte, 21 de novembro de 1979. p.01 (editado)

Função Social | “Vou fazer uma coisa que seja útil para a coletividade” (Tribuna do Norte, 12/07/1979), disse Burle Marx. Entretanto, os espaços públicos previstos foram, ao longo do tempo, sumindo – sendo loteados e privatizados. Os acessos públicos à beira-mar não foram construídos, e a população acabou sendo excluída – ocorrendo assim, um efeito contrário à intenção projetual. Uso da Flora local | “O projeto será desenvolvido lentamente e mais importante ainda é que será aproveitada toda a flora da região... será montado em Natal um horto experimental para que seja acentuada a vegetação existente e não trazer de outras regiões” (Tribuna do Norte, 12/07/1979). O horto experimental foi montado na beira-mar e ali foram desenvolvidos ensaios com espécies nativas, especialmente as mangabeiras (Hancornia speciosa). Inventário Botânico | Um levantamento das espécies nativas da região, especialmente do tabuleiro litorâneo, foi solicitado por Burle Marx. O botânico Luiz Hemydio de Mello Filho prestou consultoria para a equipe local, que concluiu a atividade em dois anos. Somente depois de realizado este trabalho, foi desenvolvida a proposta.


Penas

Número 02, segundo semestre de 2007.

Chanana (Turnera ulmifolia), espécie nativa cuja ocorrência espontânea encantou Burle Marx. Foto: Os autores (editado)

Preservação das dunas | “Seria contrário se fossem devastadas as dunas, mas ocorre exatamente o contrário” (Tribuna do Norte, 12/07/1979), declarou Burle Marx. No entanto, ele não sabia que o elevado, previsto na proposta original e que evitaria cortes nas dunas de Mãe Luiza, seria descartado. Como conseqüência, houve deslizamento de areia e aterramento parcial da via, além de erosão na praia de Areia Preta. Ecologia e Apreensão da Paisagem| Segundo a edição de 13 de julho de 1979 do jornal Tribuna do Norte: “Burle Marx disse que jamais teria aceitado o convite caso sentisse que a obra envolveria ricos à preservação natural e alertou que a devastação está ocorrendo com a retirada de lenha, além de areia e barro, destinados à construção civil”. Esta devastação, despercebida pelos ecologistas locais, foi constatada por Marx ao sobrevoar e percorrer a área para uma análise inicial.

As informações sobre as propostas de Burle Marx para Natal são escassas. A possibilidade do uso político do nome do paisagista parece ter sido mais forte que a valorização das propostas em si – tanto que há, atualmente, um desconhecimento de sua importância entre as instituições que deveriam zelar pela memória urbana. Além disso, até onde se constatou, não houve o devido intercâmbio de informações entre Burle Marx e a sociedade local. O paradeiro dos projetos é desconhecido, e importantes atores do processo, como o próprio Roberto Burle Marx e o botânico Luis Emydio de Mello Filho, já saíram de cena - o que torna mais desafiador o resgate das informações. O trabalho dos professores sobre a contribuição de Burle Marx para Natal foi apresentado no encontro "Paisagem na História jardins e Burle Marx no Norte/Nordeste" realizado no Recife, em junho de 2007, quando eles passaram a integrar uma rede que visa realizar o inventário da obra de Burle Marx na região até 2009 (centenário de seu nascimento). A pesquisa, portanto, ainda está em andamento, e busca novos colaboradores.


ESTUDOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

habitarXpreservar um estudo sobre assentamentos precários em dunas

Texto e Imagens Amanda Kellen Medeiros

Este Trabalho Final de Graduação, orientado pela Prof. Dulce Bentes, teve como tema a ocupação irregular para fins de moradia em áreas de preservação ambiental. O objetivo foi desenvolver uma caracterização dos assentamentos precários implantados em ecossistema de dunas na cidade de Natal e a construção de procedimentos metodológicos para sistematização de dados e informações, visando facilitar e agilizar as ações do projeto urbano e a socialização da informação junto aos diversos segmentos sociais envolvidos na intervenção. Em termos específicos, buscou identificar o perfil social dos moradores a partir da variável renda familiar; caracterizar o contexto histórico de formação do assentamento (tempo de moradia); caracterizar o ecossistema dunar em estudo; os padrões de ocupação dos assentamentos delimitados para estudo quanto à morfologia e sitio físico; estudar as tipologias de ocupação predominantes; identificar a legislação urbana e a ambiental que incidem sobre a área.

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Assentamento precário conhecido como “Favela da Torre” |Fonte: Amanda Medeiros

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ESTUDOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

A construção de procedimentos para projetos de regularização fundiária nos assentamentos delimitados para estudo, tem como base a noção do Direito à Cidade, relacionando-se o direito à moradia ao direito ao meio ambiente, na perspectiva sócioambiental. Os principais produtos dessa pesquisa consistiram na base de dados e informações levantadas sobre assentamentos precários situados em dunas, sendo estudados 10 dos 15 assentamentos situados nesse tipo de ecossistema, em Natal, bem como a associação desses dados e informações aos instrumentos de registro, sistematização e difusão da informação: o Banco de Dados (ArcView 3.2 GIS) relacionado à Ficha Técnica (ver imagens).

estudo “habitarXpreservar:Caracterizaçã o tipológica de assentamentos precários em dunas – dados metodológicos para regularização fundiária em Natal.” autora amanda kellen silva de medeiros prof. orientadora dulce bentes tema estudos urbanos ano 2007 universo de estudo natal, rn

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ESTUDOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

rotas para a mobilidade a sintaxe espacial como subsídio para o planejamento de um novo sistema de transportes urbanos para natal Texto Mariana B. M. do Vale

O trabalho intitulado Rotas para a Mobilidade consiste em uma pesquisa a respeito de possibilidades de melhoramento nas estrurturas viária e de transportes da cidade de Natal, através da implantação de um novo meio de transporte de massa, o VLT – Veículo Leve Sobre Trilhos. O objetivo é investigar alternativas de rotas para tal sistema ferroviário intra-urbano, de forma a proporcionar sua integração com os meios de transporte já existentes e com a estrutura atual da cidade, reduzindo as desigualdades na distribuição espacial da acessibilidade, contribuindo para o aumento da mobilidade urbana e induzindo a formação de novas centralidades. Assim, através de relações da malha viária, modeladas por ferramentas de representação e quantificação, com base na metodologia da Sintaxe Espacial, foram levantados pontos positivos e negativos do sistema de trens atual, a fim de reconhecer critérios para o bom funcionamento do VLT.

Mapa axial de parte da Região Metropoliana de Natal, gerado por ferramentas de representação e quantificação, com base na metodologia da Sintaxe Espacial Fonte: elaboração própria, com base no mapa axial da base MUsA (DARQ - UFRN)

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ESTUDOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

Exemplo de Veículo Leve sobre Trilhos na Europa Fonte: http://www.railway-technology.com/ projects/lightrailsystems_gallery.html

Como resultado das análises realizadas, contatou-se a importância em se considerar a possibilidade de uma integração multimodal, articulando o sistema ferroviário com os demais meios de transporte, sendo estes capazes de distribuir os passageiros pelos demais eixos, tanto dentro da área de influência dos raios de acessibilidade potencial, como além dela. Desse modo, pressupõe-se que o sistema ferroviário não mais atenderia somente a áreas periféricas de Natal, uma vez que funcionaria como um importante vetor na distribuição dos usuários pelos demais meios de transporte, e, conseqüentemente, pela cidade. Nas condições analisadas no corpo do trabalho, o VLT se mostrou potencialmente capaz de proporcionar um aumento da acessibilidade, diminuindo a segregação espacial do sistema viário de Natal - vale destacar mais uma vez sua importância como vetor de mobilidade urbana. Entendeu-se que, aumentada a mobilidade, há uma melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, visto que seus desejos de deslocamento segundo modos adaptados aos motivos de viagem são atendidos. Por sua vez, acredita-se que o aumento da mobilidade é capaz de potencializar o dinamismo do ambiente urbano, fator considerado essencial à própria definição de espaço urbano como espaço de congregação e confronto de diferenças.

estudo rotas para a mobilidade: estudos para a implantação de um novo sistema de transporte urbano em natal autora mariana b. m. do vale prof. orientadora edja trigueiro tema estudos urbanos ano 2007 universo de estudo natal, rn

ANO1#2 Exemplo de Veículo Leve sobre Trilhos na Europa Fonte: http://www.railway-technology.com/ projects/lightrailsystems_gallery.html

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PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

paisagem e urbanidade retrato de uma cidade em transformação

Texto e Imagens Maria Isabel C. M. da Rocha

São Miguel do Gostoso

Este trabalho teve por objetivo o estudo da paisagem e sua transformação na sede do município potiguar de São Miguel do Gostoso. E, a partir de tal estudo, fornecer diretrizes para que as transformações urbanas continuem a ocorrer, porém de uma maneira sensata, de modo a promover a qualidade de vida da população, a preservação ambiental e a manutenção e valorização de uma paisagem urbana singular – que integra o natural e o construído – que é a identidade da Cidade. O trabalho chama a atenção para o tipo de paisagem que está sendo formada no município – e com base em que valores isto se dá – sabendo-se que tende a ser profundamente marcada pelo desenvolvimento da atividade turística, que se intensificou nos últimos dez anos, período definido para a pesquisa. Foi visto que o período escolhido, de fato, contém momentos cruciais de transformação urbana, e esta ocorre nos três eixos que foram estudados – sócio-econômico, físico-ambiental e político-administrativo – de modo a formar a paisagem da Cidade. Quanto ao primeiro eixo, a mudança mais significativa foi a admissão de novos atores sociais (veranistas, turistas e investidores) que vieram se relacionar tanto com o espaço do município quanto com a sociedade já existente (moradores). No terceiro eixo, a emancipação veio marcar o início das transformações mais significativas, pois com um poder público municipal, a Cidade pode responder por si e por seus interesses. Entre eles está o turismo: bastante estimulado na região, passou a ter um foco especial na natureza de São Miguel do Gostoso. Estes dois eixos, no entanto, convergem para o eixo central, onde toda a mudança é expressada de modo a tornar possível um entendimento da realidade local com base na paisagem e na conformação espacial.

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ESTUDOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

São Miguel do Gostoso

Todo o estudo foi desenvolvido observandose o modo com que os diversos atores sociais – e isto inclui o poder público – intervêm no espaço de uma localidade. Por ser um meio bastante heterogêneo, principalmente, no tocante a estes atores sociais, percebe-se a presença de visões bastante diversas quanto se trata da necessidade de urbanização, porém o anseio por qualidade de vida, tranqüilidade, respeito e equilíbrio com a natureza vem uni-los, pois apresentam uma noção de urbanidade comum. O respeito para com a cultura e a natureza do lugar deve se dá no momento da proposta de intervenções para o espaço da Cidade, notadamente pelo poder público e pelos investidores no turismo (por apresentarem tanto interesse na paisagem local), observando-se sempre que tais intervenções refletem na paisagem – o elemento-chave tanto para atrair investimentos e promover o desenvolvimento da Cidade, quanto para afirmar a presença de uma identidade sóciocultural do lugar. São Miguel do Gostoso

estudo paisagem e urbanidade: retrato de uma cidade em transformação autora maria isabel costa menezes da rocha prof. orientador rubenilson teixeira tema paisagem urbana ano 2007 universo de estudo são miguel do gostoso, rn

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São Miguel do Gostoso


PROJETOS

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habitação popular uma alternativa de moradia economicamente acessível

Texto Camila Santiago

O problema habitacional muito presente na história brasileira vem sendo trabalhado por especialistas no assunto, os quais tentam analisar as causas e em alguns momentos propor soluções. No âmbito da Cidade do Natal esta realidade não é diferente, existem vários estudos sobre o assunto, abordando suas causas, conseqüências e possíveis possibilidades de mudança. O trabalho que tem como tema Habitação de Mercado Popular, pretende estudar a questão do acesso à moradia, entretanto não deseja ser mais uma análise, e sim uma proposta de empreendimento habitacional integrado com as características e condicionantes do entorno e do lote a ser trabalhado.

Entrada do complexo

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PROJETOS

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Área de lazer

Com base nos estudos elaborados foi possível definir uma proposta racional, econômica e preocupada com a qualidade de vida dos seus usuários. Para isto, além da unidade de moradia propôs-se uma área de convívio entre os blocos, um espaço destinado ao lazer recreativo, contemplativo e esportivo, uma área para estacionamento, um setor de serviço que atenderá ao empreendimento e um espaço destinado a implantação de um centro comercial e de serviços. Mesmo com tantas possibilidades de usos pensou-se no empreendimento de forma única, na qual os equipamentos deveriam se integrar entre sim e com a vegetação existente. No que se refere às habitações elas foram pensadas de forma a racionalizar a construção devido à necessidade de redução de custos para a concretização da proposta, entretanto não se queria elaborar um projeto sem atrativos formais. Para isso adotaram-se formas retilíneas e um jogo de cheios e vazios, gerando maior movimentação nas fachadas, além da possibilidade da exposição das estruturas metálicas e vedações de alvenarias estrutural - definidas após vários estudos comparativos. Essa intenção formal refletiu na elaboração de plantas diferenciadas por pavimento, que conseqüentemente possibilita a concretização da forma. Em relação às outras edificações elas seguiram o mesmo partido formal e estrutural, caracterizando o empreendimento. É importante ressaltar que apesar destas necessidades de integração com o meio e de adequação as funções solicitadas, este trabalho teve como eixo norteador a elaboração de uma proposta que satisfizesse as necessidades sociais e principalmente econômicas do público alvo deste tipo de empreendimento. Desta forma, procurouse sugerir possibilidades de uso, ambientes, formas e materiais de maneira a baratear a obra, sem perder seu valor estético; buscando propor uma solução que refletisse as análises dos estudos elaborados.

Plantas-tipo

Vista externa

projeto habitação de mercado popular autora camila santiago prof. orientadora amadja henrique borges tema projeto arquitetônico ano 2007 local natal, rn

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spa da mente

equipamento direcionado a tratamentos psicológicos específicos Texto Priscila B. Fidelis

Vista da implantação

Este TFG (Trabalho Final de Graduação) apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo, da UFRN (2007.1) foi desenvolvido na área de projeto de arquitetura, onde foram explorados dois temas distintos, respectivamente, a clínica de atendimento psicológico (equipamento de saúde) e SPA. Trata-se de uma proposta arquitetônica, em nível de anteprojeto, de um SPA direcionado a tratamentos psicológicos específicos destinado a atender a demanda do Município de Caicó-RN e municípios vizinhos, no qual por meio da sua localização estratégica, zona rural, e sua estrutura física planejada associada aos demais tratamentos e serviços que nele seriam oferecidos, objetiva disponibilizar a seus clientes: saúde, conforto e conseqüente sensação de bem –estar.

Vista da piscina

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PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

O empreendimento encontra-se dividido em três setores: setor clínico/administrativo, setor terapêutico/serviço e setor de hospedagem, onde todo o partido arquitetônico faz referência ao estilo rústico. Porém para se chegar a este resultado final de maneira que, a relação pessoa/ambiente, a funcionalidade, a estética, as condicionantes de conforto físico ambiental, as condicionantes legais e a acessibilidade a portadores de necessidades especiais fossem atendidas da melhor forma possível, algumas etapas tiveram que ser vencidas, como: a construção de um referencial teórico em torno dos temas; o levantamento e análise de edificações de usos semelhantes, onde nesta fase foram realizados tanto estudos diretos como indiretos, os quais se tornaram evidentes pontos positivos e negativos, fundamentais na definição das diretrizes que foram seguidas; e principalmente um estudo direcionado as características particulares do clima semiárido e sua respectiva vegetação, a caatinga. Acrescentando-se, ainda, como ponto importante no decorrer deste trabalho, a definição de limites que tal proposta teve que levar em consideração como foi o caso do público alvo que iria atender, dos transtornos mentais que seriam tratados em tal empreendimento, as terapias e serviços a serem oferecidos, assim como, uma estimativa do corpo de funcionários e enumeração do programa de necessidades. No entanto, com todos esses pontos já bem demarcados partiu-se para o desenvolvimento em si, da proposta preliminar (o metaprojeto), que subidiou a proposta definitiva, o Spa da Mente, encontrando-se esta apresentada graficamente em pranchas e por meio de um memorial descritivo e justificativo.

projeto spa da mente autora priscila benício fidelis prof. orientador josé jefferson de souza tema projeto arquitetônico ano 2007 local caicó, rn

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exemplos de edificações do projeto

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PROJETOS

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vilas de cotovelo

equipamento turístico de hospedagem Texto Gabriela Belarmino

O trabalho está inserido no contexto do crescimento da atividade turística no Rio Grande do Norte, intensificada nos últimos anos com a presença de turistas estrangeiros, que refletiu na ampliação da produção imobiliária em nosso estado. O “Condo-Hotel”, termo pouco conhecido em nosso País, surge como numa nova tipologia de alojamento turístico, e constitui um empreendimento com características mistas, compreendo num condomínio residencial que dispõe de serviços hoteleiros.

Implantação do empreendimento com pátio central de lazer.

Localizado à beira-mar da Praia de Cotovelo, com principal acesso feito pela Rota do Sol, o Vilas de Cotovelo Condo-Hotel foi inserido numa área de 2,1ha, onde foram implantadas 22 casas tipo, área de lazer, lobby, restaurante, e instalações para apoio administrativo e de serviços.

Vista para o mar a partir do empreendimento.

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PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

Lobby e Restaurante – destaque para a cobertura de piaçava.

O partido arquitetônico pode ser sintetizado num pátio central de lazer, circundado pelas principais edificações do empreendimento. A proposta faz referência às casas de veraneio típicas brasileiras, a partir da exploração de terraços e varandas nas edificações. Tratando-se de um empreendimento com grande impacto ao meio ambiente, o desenvolvimento da proposta arquitetônica buscou soluções mediadoras entre dois aspectos quase sempre conflitantes: desenvolver e preservar. Sendo assim, a proposta contempla alguns princípios básicos de sustentabilidade ambiental, como o respeito à inclinação natural do terreno, conservação máxima da vegetação existente no local e de áreas livres, o uso de materiais renováveis, a utilização de aquecimento solar para água e o aproveitamento de recursos naturais de ventilação e iluminação nas edificações. Entre os materiais utilizados destaca-se o eucalipto autoclavado cultivado em área de reflorestamento, que foi empregado nas principais edificações.

projeto vilas de cotovielo - condo-hotel autora gabriela belarmino prof. orientadora maísa veloso tema projeto arquitetônico ano 2007 local cotovelo, parnamirim, rn

Casa Tipo – destaque para a estrutura de eucalipto aparente.

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PROJETOS

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escola de cinema

um equipamento inédito na cidade Texto Charles Ramos

Implantação

A elaboração da proposta da Escola de Cinema Arte e Vídeo Norte se estruturou em dois aspectos: o zoneamento e a estrutura. O primeiro foi fator importante na locação das edificações no terreno, e o segundo, elemento diferencial na composição do edifício principal. Buscou-se projetar uma edificação que “fugisse” dos atuais partidos arquitetônicos das escolas de cinemas existentes no Brasil, respeitando, no entanto, o entorno no qual se insere. Para tanto, utilizou-se materiais que convergissem para uma linguagem dinâmica e contemporânea, como o alumínio galvanizado, telhas metálicas, concreto armado e o vidro. Enfim, a idéia principal foi dá unidade arquitetônica ao conjunto, transpassando para o leitor uma linguagem construtiva clara e definida da proposta. Vista externa

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PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

projeto escola de cinema arte e video norte autor charles da silva ramos prof. orientadora maísa veloso tema projeto arquitetônico ano 2007 local potengi, natal, rn

Vista externa

Vista interna

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PROJETOS

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habitação e clima

uma idéia adaptada às condições de mossoró Texto Sandra Renúzia de Pontes

Idealizando uma moradia popular que otimizasse a qualidade de vida no semi-árido mossoroense, apresenta-se aqui o resultados de idéias que foram cuidadodamente unidas por uma arquitetura relacionada ao homem e ao meio.Levando em consideração a preocupação com o conforto dos ocupantes de forma passiva e o repertório adquirido nos estudos de referência pretendeu-se assegurar a diversificação visual da paisagem urbana e aplicar soluções dessemelhantes às produzidas na cidade de Mossoró. A moradia não foi pensada isoladamente, mas sim, como uma resposta ao indivíduo em sua comunidade.

Conceito de Macroquadra: elemento estruturador do espaço e possibilidade de vida em comunidade. Pátio Central: Analogia aos pátios internos das casas construídas em climas áridos, criando uma área de sombra para refrescar o ar.Este espaço admite que nenhum morador seja dono do seu próprio terreno, e sim integrante de um amplo espaço público.

Bolsões de Estacionamento: Priorização das vias de pedestres em contraposição às vias para veículos. Tratamento Urbanístico: Estacionamento para bicicletas e motos; passeio para pedestres; canteiros verdes; espelhos d’água; playground sombreado; área de convivência e jogos; postes; telefones públicos; lixeiras seletivas; bancos; tudo isso obedecendo as normas de acessibilidade.

Massa de Vegetação: Funciona como protetores solares para as edificações. Criação de microclima local com a aplicação do resfriamento evaporativo. Privilegiou-se o uso de espécies adaptadas ao clima.

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PROJETOS

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Super Adobe e Laje de Concreto : Materiais com atraso térmico elevado, possibilitando o retardo da penetração do calor do dia.

Planta simples : Parede hidráulica e possibilidade de ampliação do 3º quarto.

Casas superpostas e semigeminadas : Aumento da densidade populacional com maior índice de utilização do solo. Barateamento da estrutura urbana. Tipologia de aspecto singular e volumetria recortada, a qual, sendo construída junto as demais assegura a diversificação visual da paisagem urbana.

projeto habitação popular bioclimática no semi-árido mossoroense autora sandra renúzia de pontes prof. orientador marcelo tinoco tema projeto arquitetônico ano 2007 local mossoró, rn

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PROJETOS

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

monumento natural morro do careca

Uma proposta de uma unidade de conservação texto Milena Sampaio Cintra ilustrações Milena Sampaio Cintra e Rodrigo Oliveira

Pórtico de entrada

O desejo de fazer das ruas alamedas, de se vestir de azul turquesa e recolher material excedente para reciclagem; a indignação que se apresenta com mais força diante do cinismo do mercado imobiliário mobilizavam um desejo apelativo de interferir na organização urbanística das cidades de modo que os cidadinos recuperassem o contato próximo com a natureza em espaços existentes no meio urbano. A corrida a um progresso desenfreado, com um planejamento às avessas nos distanciou de tal maneira do convívio com a natureza que nos assombramos com o quadro de destruição ambiental que se apresenta na atualidade. Desta forma, não há como exercer qualquer profissão sem antes despertar para o papel importante que cada um deve exercer na sua tarefa de recuperar, preservar e aprender a com-viver de forma integrada ao meio natural. Após diversos conflitos que a cidade de Natal passou e ainda esta passando, no que diz respeito ao confronto entre a proteção das áreas verdes e “desenvolvimento” urbano, surgiu inquietações configuraram-se em encaminhamentos para elaboração de um projeto de uma Unidade de Conservação (UC) para área da ZPA 06 juntamente com a área da Barreira do Inferno. Após realizar estudos sobre desenho ambiental, áreas protegidas, parques urbanos, e ainda fazer um levantamento da legislação pertinente ao tema foi definido como proposta uma UC, da categoria Monumento Natural de acordo com o SNUC (Sistema Nacional de Unidade de conservação), devido a característica de

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excepcional beleza cênica do Morro do Careca. Foi definido também um zoneamento de uso para toda a área proposta, definindo a área de visitação e dando subsídios para a elaboração do Plano de Manejo. Este zoneamento foi elaborado por meio de observações in loco e de fotos de satélites, seguindo o Roteiro Metodológico de Planejamento de Parques Nacional, Reserva Biológica e Estação Ecológica, elaborado pelo IBAMA (2002).

Viveiro

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PROJETOS

A área de visitação configura-se como um parque Tem como objetivo a reutilização e preservação da área, a partir de uma proposta ecológica na qual os espaços são pensados de forma que os usuários entrem em contato com aspectos da natureza em níveis perceptivos, sensitivos e simbólicos. Dessa forma propõem-se equipamentos distribuídos de forma integrada a proposta ambiental, com materiais ecologicamente corretos. Foram desenvolvidos sete equipamentos que fizessem os usuários transitar do “centro da terra” à copa das árvores, sentindo a natureza em toda sua amplitude, fazendo sentir-se de “homem-bicho” à “homem-deus”. O equipamento central, o centro de visitantes, faz referência a mãe-terra composta de cúpulas de tijolo adobe fazendo referência também a forma uterina. Chegando à superfície terrestre temos o Restaurante, Comando Ambiental, os quais remetem à terra porém de forma mais leve, com espaços abertos onde se possa contemplar a paisagem. Nos elevando, encontramos as portarias, apoios de trilhas (área de descanso e banheiros) e viveiro de mudas, onde prevalece a leveza dos materiais e formas. E chegando às copas das árvores estão as lanchonetes, localizadas em pontos mais elevados do terreno, servem de mirante onde os usuários podem contemplar a beleza cênica do parque como da cidade, podendo apreciar a amplitude da mãe terra. Assim, o trabalho desenvolvido tentou ponderar questões ambientais frente às contradições políticas de modo que o desenvolvimento urbano não venha ferir ao éthos planetário, na qual deve estar inserida ética humana, transformando nossas realizações em uma trajetória de luta. Afinal, é “tanta vida pra viver, tanta vida a se acabar, com tanto pra se fazer, com tanto pra se, salvar” (Geraldo Vandré).

PENASREVISTA DA GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN

Centro da terra, centro de visitantes

Mapa do zoneamento de uso para área proposta

projeto monumento natural morro do careca autora milena sampaio cintra prof. orientador marcelo tinoco tema desenho ambiental/ projeto urbano/ projeto de arquitetura ano 2007 local natal, rn

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Há uns dois bilhões de anos atrás alguns organismos desenvolveram a habilidade de transformar a energia do sol em alimento deixando como resíduo o oxigênio. Simples, não? Mas como isso foi dar em árvores é parte de uma aventura bem mais complexa e extraordinária.

Vagando nos mares primitivos como algas, esses seres alcançaram as costas enxutas e ali fixaram raízes pela primeira vez. Essas raízes, por sua vez, como pés foram saindo por ai e levando seu proprietário nas costas, costa afora adentrando terra firme até que um dia começaram a não voltar mais à praia. Volta! Recapitulando: essas algas estavam sob a água e fixaram raízes nas pedras e rochedos costeiros. No vai-e-vem das águas às vezes ficavam expostas à atmosfera e à radiação solar das marés baixas. Isso era compensado pelas mesmas marés que as hidratavam novamente durante as altas. É possível que as mais ousadas e entediadas com aquele vai-evem tenham resolvido se aventurar costa adentro (aos poucos, é claro) por conta própria. Muito tempo depois dessa ousadia primitiva, terminaram por desenvolver uma série de complexas reações e elaborados sistemas de adaptação que as capacitou a se transformarem naquilo que hoje conhecemos como vegetação superior (até hoje não entendo o que seria uma vegetação inferior). Nenhuma das reações desenvolvidas por essas algas ousadas foi mais importante para a configuração e... formatação do planeta Terra como conhecemos hoje do que a elaboração da fotossíntese (isso não foi fácil, lembremos que levou um bilhão de anos). A fotossíntese não é somente uma reação que a planta expressa quando dá de cara com o sol e fica verde. Na verdade, é uma habilidade de refinar a energia solar absorvida em energia própria e expelir como resíduo... o oxigênio! Mas também é uma reação que garantiu à planta energia suficiente para se fixar e se alimentar de nutrientes do solo e resíduo suficiente para criar a atmosfera como a conhecíamos até pouquíssimo tempo atrás. O resto da história já sabemos: começaram a desenvolver mecanismos de adaptação tão singulares quanto a imaginação pode conceber. Cansadas de ser algas e andar para aqui e acolá ao sabor das correntes oceânicas e já fixadas por raízes, desenvolveram “peles” de proteção, abriram ramagens intuindo que quanto maior a área foliar maior a absorção de energia solar e, é claro, um sofisticadíssimo sistema de acasalamento: a reprodução sexuada.

Normalmente quando as pessoas olham uma árvore imaginam uma coisa inerte, apesar de produtiva (parte da humanidade sequer suspeita que árvores sejam seres vivos). Mas elas são seres complexos (as vezes complicados) que realizam diversas funções sem as quais sequer estaríamos aqui. Primeiramente foram elas que ao liberarem seus resíduos oxigenados e ozonizados criaram a atmosfera, depois foram elas também que propiciaram uma fonte inesgotável de matéria-prima (atualmente chamado de capital natural) para que os animais (o que nos inclui) evoluíssem e vivessem.


O processo de alimentação das árvores é bem singular. Elas captam a energia solar e o dióxido de carbono transformando-os em açúcares, energia e oxigênio. Parte do dióxido vai para o solo onde se dissolve na água retida no solo e transformando-se em acido carbônico que dissolve os minerais do solo numa deliciosa sopa que as raízes absorvem como alimento e energético que sobe pela arvore e vai para a copa. Na copa esses minerais vão ser codificados e reagrupados nas diversas partes da planta. Isso é meio complicado, mas pode ser explicado assim: a árvore tem uma tremenda trabalheira para fabricar mini componentes que agrupados de diversas maneiras formam diversos elementos. Folhas, flores, frutos, etc.

Mas o que faz uma árvore na cidade? A idéia de arborizar cidades não é novidade. O Egito Faraônico tinha uma noção muito precisa do que era calor e desconforto e a sensação de bem estar sob qualquer sombra, sem sombra de dúvida que deve ter despertado arquitetos egípcios para a criação de residências (isso inclui palácios e templos – a residência dos deuses) onde os jardins abundavam de árvores e pérgulas com trepadeiras e videiras. Para os gregos o jardim era tão importante que era chamado de paradeisos – que quer dizer jardim. Esse paradeisos deles, ou paraíso nosso, era concebido como um inebriante lugar de deliciamento dos sentidos, um lugar idealizado como a presença do melhor de dois mundos: o efêmero deste e o permanente do outro. Com árvores, claro. Os Romanos capricharam na criação de jardins que aturdia os sentidos: odores, sabores, os aspectos visuais que tanto era caro àquela sociedade insaciável por apelos, com mais árvores ainda. Se Genserico e Alarico deram um corte nessa essa orgia sensorial a Idade Média a exterminou definitivamente, não só removendo as árvores dos jardins internos para os pomares externos como removendo também as árvores de entorno das cidades-fortalezas para remover os obstáculos visuais ampliando ao máximo a visão de entorno. Durante as Cruzadas Eleonora de Aquitânia resolveu acompanhar a Cruzada do marido (criatura sem brilho e insignificante) e deslumbro-se com as maravilhas Islâmicas, dentre as quais os jardins geométricos. Não deu outra, na volta encheu a França de menestréis, fontes e jardins de rosas, inventou a língua francesa moderna, reintroduziu as árvores nos jardins e ainda pariu Ricardo Coração de Leão. O Romantismo idealizou um passado idílico e, óbvio, isso acabou em jardins românticos, cheios de alusões a um passado enigmático e lírico (dos poetas e fazedores de jardins), e arquiteturas lotadas de emblemas e esoterismos e ligações com a redescoberta do oriente como fonte instigadora e inspiradora de temas que iam do mórbido ao feérico. E tudo isso no jardim! Se o Romantismo foi tão idealista o Rococó soube tirar todo o partido possível da frivolidade e do erotismo tão ao gosto da época, assim como o Barroco fez da paisagem criada um monumento à vaidade e à arquitetura grandiosa. O

urbano nunca foi separado do poder e onde está o poder está a criação de grandes planos, imensas perspectivas e o apelo ao conforto na cidade. Haussman que o diga!


Foi o século XIX quem inventou arborização urbana tal como a conhecemos hoje. Grandes naturalistas (o nome de época para estudiosos de coisas da natureza) se empenharam em trazer para suas cidades o mais exótico e mais pomposo não somente para os jardins botânicos como para ruas e residências. Estudavam cuidadosamente as espécies e demonstravam um real interesse naquilo que faziam. Mas esse afã terminou em modismos e as infelizes criaturas, além de arrancadas de sua seara natural passaram a ter uma função meramente decorativa e antinatural. O exemplo mais distorcido disso é a topiaria que inicialmente usada como complemento arquitetônico do barroco, chegou ao extremo no kistch dos Mickeys vegetais da Disneylândia. Entretanto, esse ser que inventou a nossa atmosfera e forneceu alimento, fibras para todo tipo de uso além de medicamentos, cobertura e até armas, continua desconhecido. Desaparecendo esse ser, acredite quem quiser, desapareceremos juntos.

Apesar da coisificação da árvore no ambiente urbano ela é muito mais do que somente uma coisa inerte à inteira disposição das modas loucas e dos rompantes irados do estresse urbano. Suas folhas, graças à ceratina, fixam os particulados aerossóis (poeiras, partículas de fumaça, gotas diversas em suspensão, etc.) e depois os devolve ao chão onde são absorvidos. É exatamente essa capacidade de fixação de particulados que torna as árvores tão importantes no meio urbano: elas não somente filtram os componentes aerossóis que descendem na cidade como também absorvem as emissões poluentes que dela ascendem. Suas raízes e a potencialização das químicas gerais fixam grande parte do dióxido de carbono no solo e das físicas gerais, fixam o próprio solo impedindo vários tipos de erosão (eólica, pluvial, hídrica e humana) e mantendo aquela umidade essencial para o bom clima urbano. Nos milhões de anos de evolução contínua criaram formas e elementos de adaptação às diversas mudanças e ambientes onde estavam. Sua reprodução mais sexuada do que se imagina, criou argumentos, sutilezas e baixezas para que esta acontecesse. Inventaram flores! Como recurso extremo e intrigante aparelhou suas flores, das primitivas magnólias às sofisticadas orquídeas e cactos, com minúcias inimagináveis de argumentos, tentações, truques e seduções. Criaram perfumes de exóticos e competitivos a fétidos e horripilantes, cores de violentas e cálidas a cândidas e inexpressivas. Tudo para atrair, seduzir e induzir parceiros de transporte (nada tão RNA): animais que andam, voam, se arrastam e até os que nadam. Modificaram suas formas para criar modelos exclusivos para transportadores exclusivos, adicionaram o pagamento, a troca e até a chantagem para negociar a exclusividade da corte. Criaram consórcios, sindicatos, grupos de orgias, swing, hermafroditismo e em alguns casos, o travestismo. Enfim, nada de novo!

As mais volúveis e trepadeiras criaram argumentos e tegumentos, cabelos e pontas, grampos e gavinhas para se agarrar e se fixar em algo. Inventaram armas, venenos, espinhos e espinhas, tocos e pitocos para se proteger e atacar se necessário. Mas, nada se compara a eficiência com que requintaram a arte de lidar com o equilíbrio ambiental. E o fizeram de tal modo que basicamente sem árvores o meio ambiente passa a não existir. Adaptadas ao meio urbano além da já mencionada função de limpeza e remoção de particulados, fixação do solo e da umidade deste, elas também combinam a mitigação do calor e do equilíbrio térmico antropogênico (veículos, motores e gente mal-humorada) e natural (sol). Não entram nesta categoria vulcões ou radiação extrema. Acima dos 14 no índice de UV, elas desaparecem. O último elemento a ser considerado por elas é a estética humana. Aquilo que para nós é belo ou de caráter estético são somente as pontas de uma enorme trama evolutiva e adaptativa de economia de recursos com fins de levar adiante o gene. Desprovidas de poesia intrínseca (deixa isso aos poetas e amantes) as árvores desenvolveram um requintado e sofisticado sistema de economia adaptativa, onde cada folha ou flor é pensada como parte de uma economia de trocas. Nenhuma folha ou flor existe meramente para a satisfação do humano. Ledo engano! Elas existem com função única e exclusiva de continuar a espécie. Lamentavelmente em meros 25 anos, os 2.5 bilhões de anos de evolução adaptativa estão sendo transformados pelos modismos urbanísticos e o esplendor especulativo em uma paisagem lunar.

Eugênio Medeiros é graduado em Composição Paisagística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo PPGAU-UFRN, e professor do DARQ-UFRN.


expediente Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura Curso de Arquitetura e Urbanismo Chefia do DARQ: Prof. Marcelo Tinoco Prof. Aldomar Pedrini Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo: Prof. Marizo Vitor Pereira Profª. Mônica Maria Fernandes _______________________________________________________ Revista Penas nº02 Editores: Carlos Onofre e Natália Queiroz (discentes da graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN) Prof. Orientador: Aldomar Pedrini contato: revistapenas@yahoo.com.br______________________________ Ainda foram colaboradores diretos e indiretos: Amanda Kellen Medeiros, Ana Claudia Souza, Ana Paula Gurgel, Camila Santiago, Cecília Medeiros, Charles Ramos, Cicero Marques, Clara Ovídio, Eugênio Medeiros, Felipe Musse de Oliveira, Gabriela Belarmino, Gabriela Brito, George Santos Marinho, Igor Magno Cabral, Leonardo Cunha,, Lília Pong, Lis Vilaça, Luiza Tavares, Marcela Germano, Marcelo Tinoco, Maria Caroline Diógenes, Maria Isabel da Rocha, Mariana B. do Vale, Marina Medeiros Cortês, Marizo Vitor Pereira, Milena Sampaio Cintra, Nathália Braga, Patricia Fidelis, Paulo José Lisboa Nobre, Sanderson Carvalho, Sandra Renúzia de Pontes, Thiago Alexandre de Oliveira, Verner Monteiro, Viviane Teles.

Capa e verso: Parte do projeto “Monumento Natural Morro do Careca”, de autoria de Milena Sampaio. Ilustração de Milena Sampaio e Rodrigo Oliveira.Design da logo “Penas” de Renata Gabriela de Matos e Carlos Onofre. Fonte da Logo: Das Reich Gut Regular (http://www.netfontes.com.br). Design da capa nº2 de Carlos Onofre.



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