Revista Pilotis # 27 - agosto/setembro de 2014 Produção interna dos alunos e educadores do Colégio São Luís
TECNOLOGIA “Labmóveis” chegam às salas de aula DITADURA 50 anos da Ditadura Militar no Brasil ARTIGO Uso de animais em pesquisa: Sim ou Não?
PIONEIRISMO EM COMEMORAÇÃO AOS 147 ANOS DE FUNDAÇÃO DO COLÉGIO SÃO LUÍS, UM PRESENTE: O LANÇAMENTO DE UM LIVRO QUE RESGATA UMA EXPRESSIVA E CONSISTENTE TRAJETÓRIA DAS ATIVIDADES DESPORTIVAS DO CSL, DESDE SUAS ORIGENS PIONEIRAS ATÉ A ATUALIDADE.
EDIÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL Marcia Guerra - DECOM Departamento de Comunicação (MTB 2435) DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO André Cantarino - DECOM REVISÃO Departamento de Publicações REPORTAGEM Acidiniz Silva - assistente pedagógico do EM Eloiza Centeno - coordenadora da Ed. Infantil José Francisco Conte de Sacadura Cabral professor do Período Estendido
SEGUNDO TEMPO
Laez Barbosa - assessor técnico pedagógico do CSL Marcelo Martins - coordenador do DTA
No final do primeiro semestre e início das férias escolares, o clima de Copa do Mundo agitou a nossa comunidade educativa e mobilizou todo o País!
Myrta Biondo - coordenadora do CETAE Orientadoras de Est. do Maternal II e Pré I do Integral Silvia Andrade - coordenadora da Educação Infantil
Dentro da sua programação anual, o Colégio São Luís lançou o livro Pontapé
Paulo Goulart - pesquisador e escritor. Autor do
Inicial para o Futebol no Brasil, um presente de aniversário pelos nossos 147
livro Pontapé Inicial para o Futebol no Brasil
anos. O autor Paulo Cezar Alves Goulart deixa claro que a origem do futebol
Paulo Sutti - professor de História do EF
por aqui precisa de 2 capítulos para ser bem contada: 1) A primeira partida
Pilar Baptista - estagiária do DECOM
de futebol foi jogada no pátio do CSL em Itu, já que a novidade recreativa foi
Renata Rogé - antiga aluna do CSL
introduzida pelos jesuítas; e 2) A contribuição de Charles Miller para o desenvolvimento profissional desse esporte só veio mais tarde.
COLABORAÇÃO Tuna Serzedello - DECOM
Mas 2014 não é somente o ano da Copa! Aliás, frustrações e polêmicas à parte, precisamos continuar refletindo sobre temas relevantes para a nossa
DIREÇÃO-GERAL
sociedade de hoje e de amanhã. Nossos educadores analisam alguns desses
Pe. Eduardo Henriques, SJ
assuntos nesta edição. DIREÇÃO Além disso, vocês lerão sobre dois momentos fundamentais na vida dos nos-
Benedita de Lourdes Massaro
sos estudantes: 1) O processo de alfabetização das crianças; e 2) A decisão
Jairo Nogueira Cardoso
por um projeto de vida com sentido, que inclui a busca da própria vocação, a
Luiz Antonio Nunes Palermo
escolha de uma profissão e, para alguns, até uma experiência internacional. Descubram muito mais nas páginas que se seguem! Por intercessão especial de São José de Anchieta, canonizado pelo Papa Francisco em abril, e fundador do colégio jesuíta que deu origem à cidade de São Paulo, tenhamos um abençoado SEGUNDO TEMPO!
Rua Haddock Lobo, 400 - Cerqueira César CEP 01414-902 / São Paulo, SP Tel.: 11 3138 9600 / www.saoluis.org
Com um abraço fraterno, A Revista Pilotis é uma publicação
Pe. Eduardo Henriques, SJ Diretor-Geral do Colégio São Luís
interna do Colégio São Luís.
Revista Pilotis # 27 - agosto/setembro de 2014
4 TECNOLOGIA
PIONEIRISMO Pontapé Inicial para o Futebol no Brasil
16
“Labmóveis” chegam às salas de aula
6 ARTIGO
10
Uso de animais em pesquisa: Sim ou Não?
10 EDUCAÇÃO INFANTIL Muito mais que B + A = BA
13 INTEGRAL Experimente e diga se gosta!
14 OPINIÃO Quem não tem pecados que dê o primeiro chute
20 ASPAS O que é ser livre para você?
25 FÓRUM DE PROFISSÕES Hora da escolha
ANTIGO ALUNO De cabeça para baixo
30
26 FAÇA VOCÊ MESMO Enfeitando com retalhos
28 CULTURA
NA WEB Leia mais matérias completas no site www.issuu.com/revistapilotis
DITADURA 50 anos da Ditadura Militar no Brasil
22
TECNOLOGIA
“LABMÓVEIS” CHEGAM ÀS SALAS DE AULA
CARRINHOS COM NETBOOKS ATENDEM A EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO FUNDAMENTAL I E OTIMIZAM O TEMPO DAS AULAS.
POR MARCELO MARTINS, COORDENADOR DO DTA, E MYRTA BIONDO, COORDENADORA DO CETAE. FOTOS TOM DIB E DTA
4 | REVISTA PILOTIS
TECNOLOGIA
“Equipamentos modernos como esses propiciam usos pedagógicos diferenciados.”
O
Colégio São Luís, na busca da
TAE. O carrinho que atende a Educação
ou de mouse. Os maiores, além do tecla-
inovação e das melhores práti-
Infantil no prédio da Bela Cintra conta,
do físico, podem utilizar canetas espe-
cas em tecnologia educacional,
no total, com 24 máquinas. Já o “labmó-
ciais, que acompanham o equipamento,
adquiriu, para o ano de 2014, dois labo-
vel” do Fundamental I coloca à disposi-
para escrever na superfície da tela, como
ratórios móveis.
ção dos alunos 38 computadores.
se esta fosse um caderno.
Com essa novidade, o Colégio aumentou
É importante salientar que, ao dinamis-
a capacidade de atendimento às aulas
MÁQUINAS ESPECÍFICAS
mo das aulas e ao aspecto lúdico que as
que demandam equipamentos de infor-
A escolha dos equipamentos foi determi-
reveste por conta do uso desses equipa-
mática, pois agora dispõe de quatro la-
nante para o sucesso do projeto. Buscá-
mentos, alia-se o preparo cuidadoso das
boratórios equipados com máquinas de
vamos máquinas inovadoras e preparadas
atividades por parte da equipe pedagó-
última geração.
para o uso infantil. A empresa escolhida
gica. Como qualquer outro recurso tec-
foi a MGB, multinacional portuguesa
nológico, os netbooks são vistos como
EQUIPAMENTOS À DISPOSIÇÃO EM SALA
com fábrica em Salvador e escritórios em
instrumentos de mediação que facilitam
Brasília e em São Paulo.
o processo de ensino-aprendizagem e o
Os “carrinhos” – ou “labmóveis”, como
Os computadores possuem processador
tornam mais atrativo para as crianças.
os dois novos laboratórios são carinhosa-
Intel, 4 G de memória RAM e 300 G de
O sucesso entre os pequenos é unâni-
mente chamados pelos alunos – são leva-
HD; o sistema operacional é o Windows
me! As equipes do DTA (Departamento
dos às salas por uma das orientadoras de
8. As telas são reversíveis (giratórias), o
de Tecnologia e Audiovisual, que cuida
estudos do CETAE (Centro de Estudos de
que faz com que o netbook possa ser usa-
da parte técnica) e do CETAE (Centro de
Tecnologias Aplicadas à Educação). Dessa
do como um tablet, sem o teclado físico.
Estudos de Tecnologias Aplicadas à Edu-
maneira, sem a necessidade de desloca-
cação, que desenvolve e acompanha as
mento de alunos e de professoras, o tem-
GANHO PEDAGÓGICO
atividades junto à equipe de professores e
po de aula foi otimizado.
Equipamentos modernos como esses pro-
alunos) continuam trabalhando em con-
Cada “labmóvel” está equipado com ne-
piciam usos pedagógicos diferenciados,
junto para que esse sucesso seja efetivo
tbooks suficientes para o trabalho indivi-
já que é possível adequar melhor a ma-
e duradouro.
dual das crianças, além de um notebook
neira como cada atividade será desenvol-
que se conecta aos televisores já existen-
vida. Alunos menores, em fase inicial de
ACOMPANHE NA TV SÃO LUÍS
tes nas salas e que é usado para as ex-
alfabetização, por exemplo, conseguem
A TV São Luís registrou algumas das atividades
plicações iniciais, dadas pelas professoras
reproduzir imagens nas telas apenas com
desenvolvidas com os “Labmóveis”.
ou pelas orientadoras de estudos do CE-
os dedos, sem a necessidade de teclado
Confira em www.youtube.com/tvsaoluis
REVISTA PILOTIS | 5
ARTIGO
USO DE ANIMAIS EM PESQUISA:
6 | REVISTA PILOTIS
ARTIGO
POR LAEZ BARBOSA DA FONSECA, FILÓSOFO, PEDAGOGO E PSICOPEDAGOGO. ASSESSOR TÉCNICO-PEDAGÓGICO DO COLÉGIO SÃO LUÍS E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO. MEMBRO DA COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS DA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.
O
uso de animais em experiências
gredir, sobretudo as ciências biológicas,
nhecer que muitos dos medicamentos e
científicas, procedimento co-
sem essas experiências? Os animais são
tratamentos que hoje conhecemos, que
mum até pouco tempo atrás,
dotados de uma espécie de consciência e
aumentaram nossa expectativa e qualida-
vem levantando sérias questões e envol-
sentido da vida? O que nos autoriza cau-
de de vida, só foram possíveis mediante
vendo diversos segmentos da sociedade.
sar dor e sofrimento aos animais sujeitos
tais experimentos.
Um dos exemplos mais recentes foi a
às diversas experiências? É ético usar ani-
invasão, por ativistas, do Instituto Royal,
mais em experiências científicas?
“SOMOS TODOS PARTE DA MESMA FAMÍLIA.”
EVOLUÇÃO DA MEDICINA E LONGEVIDADE
Entretanto, as reflexões e os estudos so-
bro de 2013. Na época, mais de 200 cães da raça beagle foram resgatados de um
Essas questões nunca foram um proble-
cia moderna, associados aos avanços das
cativeiro, sob alegação de maus-tratos.
ma para a ciência moderna, sobretudo
ciências humanas e às novas descobertas
Na ocasião, uma ativista relatou que vá-
para as ciências da natureza. O ponto
a respeito da vida trazidas pela psicolo-
rios cachorros tinham tumores e muti-
de partida da pesquisa científica era o
gia, pela neurociência, pela biologia e
lações, incluindo um que estava sem os
de que a ciência tinha como meta final
pela filosofia, têm questionado o modo
olhos (Folha de São Paulo, 18/10/2013.
a produção de bens para os seres huma-
tradicional de se fazer ciência. Hoje, sabe-
Caderno “Cotidiano”).
nos, e a natureza, incluindo aí os diversos
-se que a natureza não é uma fonte ines-
O caso ilustra o que vem acontecendo
animais, estava à disposição para a con-
gotável de recursos e que não podemos
com a pesquisa que envolve o uso de
secução de tal finalidade. A conveniente
manipulá-la sem critério e racionalidade.
animais. Pesquisadores, professores, alu-
associação entre a ciência e a técnica per-
Conhecemos também os malefícios da
nos, sociedade civil, organizações não
mitiu a exploração dos recursos naturais,
aplicação da ciência que não considerou
governamentais, movimentos protetores
entendidos como fontes inesgotáveis.
a humanidade e a singularidade do ser
dos animais, instituições religiosas e ci-
Assim, utilizaram-se animais com a finali-
humano (citemos, como exemplos, as ex-
dadãos em geral se vêm envolvidos com
dade de, a partir da experiência científica
periências nazistas com humanos e o uso
as seguintes perguntas: justifica-se o uso
com eles, se encontrarem medicamentos,
de armas químicas e atômicas em guer-
de animais para a pesquisa e o desenvol-
tratamentos e cura para os humanos e
ras). Temos consciência, hoje, de que ha-
vimento da ciência? Pode a ciência pro-
para os próprios animais. Devemos reco-
bitamos a mesma casa e de que devemos
que trabalha para farmacêuticas no interior de São Paulo (São Roque), em outu-
bre as possibilidades e os limites da ciên-
REVISTA PILOTIS | 7
ARTIGO
“Os critérios do bem-estar animal, da ausência de dor e sofrimento, do significado e relevância da pesquisa devem ser considerados na decisão.”
todos cuidar dela, uma vez que somos
com a questão do uso de animais em ex-
pertencentes à mesma família.
periências científicas sob uma perspectiva
Cresce a percepção de que fazemos par-
largamente ampliada a respeito do signi-
te de uma totalidade de sentido, na qual
ficado de vida, de consciência, de valor,
todos os seres vivos tendem naturalmen-
de dignidade e de direito. A ciência, a bio-
te à vida, esforçando-se, cada um deles
logia, a medicina, o direito e a ética rea-
PARA SABER MAIS
à sua maneira, para atingir tal finalidade.
gem positivamente a esses novos apelos.
Uma boa reflexão sobre o modo tradicional de
Nesse contexto, aumenta o número de
O surgimento de uma nova consciência
se fazer ciência e suas novas alternativas pode
pessoas que, de uma forma ou de ou-
acerca da vida, as novas descobertas das
ser encontrada na obra Contra o Método, de
tra, acreditam que os animais (e não nos
ciências biológicas e humanas e a atual
Paul Feyrabend. Editora UNESP.
esqueçamos de que somos animais), de
reflexão ética convidam a sociedade a re-
maneiras diferentes, sentem e buscam a
pensar a relação entre a ciência e a vida
vida e, se pudessem, evitariam dor, sofri-
e a rever o uso de animais em pesqui-
mento e morte. Embora pareça, para al-
sas. Esse movimento resultou, no Brasil,
guns, não existirem argumentos racionais
na elaboração de uma lei que procura
e científicos suficientes a esse respeito, o
regulamentar a pesquisa envolvendo
mundo contemporâneo parece consentir
animais. Trata-se da Lei Arouca (Lei N.º
que exista uma nova consciência a respei-
11.794, de 8 de outubro de 2008), que
to da vida, que inclui todas as formas de
estabelece procedimentos para o uso
vida animal, reconhecendo em todas elas
científico de animais. No capítulo III, a lei
o desejo e o direito de viver.
regulamenta a criação das Comissões de Ética no Uso de Animais: “É condição in-
8 | REVISTA PILOTIS
A CIÊNCIA E A ÉTICA
dispensável para o credenciamento das
Diante desse novo posicionamento, cres-
instituições com atividades de ensino e
ce um ramo do saber, a Bioética, que, ao
pesquisa animal a constituição prévia
trabalhar com os conceitos de vida, bem,
de Comissões de Ética no Uso de Ani-
valor, justiça, sentido e finalidade, lida
mais – CEUAs” (Art. 8.º). Tais comissões
ARTIGO
devem ser constituídas por médicos ve-
nho que equalize a necessidade do pro-
a ciência, para progredir, utiliza-se de ou-
terinários e biólogos, representantes do
gresso da ciência, a utilização de animais
tras formas de vida, no caso, da vida ani-
corpo docente e discente, representan-
em pesquisas e as novas exigências éticas.
mal? A Ética, outra construção humana,
tes da sociedade civil e de uma entidade
Como participante dessa atual comissão,
pode nos ajudar a resolver esse impasse.
protetora dos animais. Essas comissões
senti-me muito bem-acolhido. Percebo e
Como ciência que reflete sobre a vida
devem reunir-se periodicamente e, à luz
reconheço a qualidade dos membros par-
humana e que a regulamenta em busca
da Bioética, avaliar, liberar ou impedir
ticipantes e a seriedade e envolvimento
do bem comum, ela pode nos orientar a
pesquisas que envolvam o uso de ani-
de todos no exercício de suas funções.
respeito do uso de animais em pesquisas
mais. Os critérios do bem-estar animal,
Cabe a cada membro da comissão ana-
científicas. Para isso, a Ética precisa (e o
da ausência de dor e sofrimento, do sig-
lisar previamente vários projetos, sob a
está fazendo) ampliar o seu horizonte, in-
nificado e relevância da pesquisa devem
ótica da ciência e da ética.
cluindo nele as outras formas de vida ani-
ser considerados na decisão.
Os nossos desafios são muitos. A ciência
mal. Ao fazer isso, ela convida as demais
A Faculdade de Medicina Veterinária e
é uma construção humana, resultado do
ciências a fazer o mesmo e a considerá-
Zootecnia da Universidade de São Paulo
nosso engenho, inteligência e desejo de
-las em seus projetos de pesquisa.
(FMVZ/USP), atendendo ao disposto na
conhecer o mundo e a verdade e de en-
Na Comissão de Ética para o Uso de
lei, constituiu, em 2012, a sua Comis-
contrar melhores condições para nossa
Animais da Faculdade de Medicina Ve-
são de Ética no Uso de Animais (CEAUs),
existência, que só tem sentido se for vivida
terinária e Zootecnia da Universidade de
tendo como finalidade “nortear e regu-
em comunidade. Portanto, toda pesquisa
São Paulo (CEUA da FMVZ/USP) todos se
lamentar os fundamentos da utilização
e descoberta científicas só têm sentido se
empenham com o que de melhor temos
racional dos animais nas atividades de
tiverem como finalidade a promoção e a
a oferecer quando as diferenças se apre-
ensino, pesquisa e extensão no âmbito
dignidade da vida humana. No amanhe-
sentam e diante de um novo desafio: o
desta Faculdade”. Desde então, a comis-
cer de uma nova visão de mundo, de um
diálogo, nesse caso, entre ciência e éti-
são analisa todos os projetos de pesquisa
novo paradigma, em que o conceito de
ca. Se não temos respostas conclusivas às
envolvendo a utilização de animais, com
vida se expande e passa a incluir todas
perguntas que são formuladas quando
poder de veto. Sob a direção da Dra. De-
as formas de vida, torna-se necessário in-
se trata do uso de animais em pesquisas
nise Tabacchi Fantoni, tal comissão vem
cluir todas elas nos benefícios da ciência.
científicas, pelos menos encontramos um
se esforçando para encontrar um cami-
Nesse novo cenário, o que fazer quando
caminho promissor. REVISTA PILOTIS | 9
EDUCAÇÃO INFANTIL
MUITO MAIS QUE
COMO ACONTECE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA NA CRIANÇA.
POR ELOIZA CENTENO E SILVIA ANDRADE, COORDENADORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL FOTOS TOM DIB
10 | REVISTA PILOTIS
EDUCAÇÃO INFANTIL
C
onsidera-se que aprender a ler e escrever
o ambiente influenciam o interesse dos pequenos
é o acontecimento mais significativo dos
que têm, desde cedo, contato com livros, lápis e
primeiros anos da vida escolar de uma
papel para rabiscar, ou que ouvem muitas histó-
criança. Por isso, esse assunto gera muitas discus-
rias. Esses são fatores que muito contribuem para
sões, pois há uma preocupação grande, especial-
a alfabetização.
mente das famílias, em saber quando a criança vai aprender a ler e escrever.
ALFABETIZAÇÃO
Vivemos em uma sociedade letrada, em que a
Hoje o termo alfabetização é muito mais abran-
língua escrita está presente de maneira visível e
gente do que era há tempos, quando se alfabe-
marcante nas atividades cotidianas. Sendo assim,
tizava pela cartilha, com a fragmentação de pa-
podemos afirmar que o caminho da conquista da
lavras sem um contexto, como em “O vovô viu
leitura e da escrita inicia-se a partir do momento
a uva”, totalmente sem sentido. Com muitos de
em que a criança começa a interagir com o mun-
nós, adultos, foi assim. Mas o mundo foi se trans-
do letrado, ou seja, quando ela procura, fala, se
formando, as pesquisas nessa área aumentaram,
comunica e se mostra curiosa por descobrir, ex-
apareceram mudanças na concepção de ensino e
perimentar e vivenciar o mundo que a cerca, de
aprendizagem, e a alfabetização passou a se ca-
maneira espontânea e com a ajuda dos adultos.
racterizar como um processo ativo, por meio do
Aos poucos, a criança vai atribuindo significado às
qual a criança, desde os seus primeiros contatos
palavras e às imagens que a cercam. Começa por
com a escrita, constrói e reconstrói hipóteses sobre
reconhecer os escritos mais significativos, como
o funcionamento da língua escrita nas diferentes
seu nome, uma marca, um rótulo, uma palavra em
práticas sociais de leitura e de escrita.
“Orientamos a criança para que ela aprenda a ler e escrever na perspectiva do contato com práticas reais de leitura e escrita”
um conto, etc. A escrita se manifesta pelo desejo zar os sinais gráficos com que constantemente se
COMO O SÃO LUÍS TRABALHA A ALFABETIZAÇÃO?
depara, reproduzindo-os, ainda que de maneira
O São Luís proporciona aos seus alunos um am-
não convencional. Daí que o incentivo dos pais e
biente alfabetizador desde as séries iniciais, com o
que a criança tem de descobrir, reconhecer e utili-
REVISTA PILOTIS | 11
EDUCAÇÃO INFANTIL
ALGUMAS DICAS QUE PODEM AJUDAR OS PAIS A COLABORAR NA ALFABETIZAÇÃO DAS CRIANÇAS: • Compartilhar atividades que envolvam a escrita: circulação de bilhetes entre os membros da família, ou pedir a ajuda da criança para fazer listas de compras. • Brincar com palavras é estimulante. Isso pode ser feito no caminho de casa, dentro do carro, por meio de situações lúdicas nas quais as crianças observem placas ou sinais. Além disso, pode-se inserir no seu cotidiano jogos simples que envolvam a descoberta de letras e palavras e que despertem a curiosidade. • Deixar livros, gibis e passatempos ao alcance das crianças. • Vivenciar com os filhos a importância de ler e contar histórias, visualizar as imagens, continuar a história no dia seguinte, retomando-a de onde se parou. • Um fator que muito contribui para a alfabetização é o incentivo que a criança recebe dos pais. O ambiente influencia e desperta o interesse para a leitura e a escrita. Pais que leem para as crianças despertam nelas o gosto pela leitura.
“Cada criança é única e deve ser respeitada e atendida em suas necessidades.”
estímulo ao desenvolvimento cognitivo, de manei-
o contato com o gênero textual que será utilizado
ra desafiadora e possível de ser realizado.
para apresentá-los: nesse caso, o informativo. Fi-
Orientamos a criança para que ela aprenda a ler
nalizamos o projeto com a apresentação do seu
e escrever na perspectiva do contato com práti-
produto final para a família e a comunidade.
cas reais de leitura e escrita, oferecendo-lhe uma
Ao final do primeiro ano do ensino fundamental,
diversidade de textos que circulam socialmente e
nossa prioridade é que os alunos alcancem a base
escritos que fazem sentido para ela, como: bilhe-
alfabética, ou seja, que adquiram habilidades para
tes, textos de tradição oral, listas, receitas, textos
ler e escrever de maneira convencional.
informativos, nome próprio, o mural, a rotina
Tudo isso é somado ao estímulo, à afetividade e à
diária, o calendário, entre outros. Essa é apenas
integração, privilegiando-se o lúdico, o simbólico e
uma parte do processo de alfabetização, em que
as brincadeiras do universo infantil.
as escritas baseadas nos textos conhecidos de me-
12 | REVISTA PILOTIS
mórias, a diversidade de práticas de leitura e as
PEDAGOGIA INACIANA
oralidades são amplamente valorizadas. Todo esse
A proposta pedagógica da Educação Infantil no
processo é mediado pelo professor e enriquecido
Colégio São Luís é inspirada nos documentos nor-
por diferentes estratégias e recursos, buscando-se
teadores da Educação Jesuíta e na Pedagogia Ina-
escutar o que as crianças têm a dizer e instigá-las
ciana. Sendo assim, temos como princípio o fato
para que queiram saber mais, ampliando, assim, o
de que cada criança é única e deve ser respeitada e
seu conhecimento.
atendida em suas necessidades, buscando-se des-
Para contextualizar essa prática, desenvolve-se, nas
pertar nela a iniciativa, o sentimento de respon-
diferentes séries, um projeto didático com base em
sabilidade, solidariedade e gratidão, por meio de
um tema ou em um gênero textual específico para
experiências que incentivem o diálogo, a interação
a série, com o objetivo de construir novos saberes
e o respeito mútuo entre as pessoas.
e reflexões sobre o sistema de escrita e a aquisição
No planejamento de todas as atividades, estão
da linguagem usada para escrever. Por exemplo,
presentes as cinco dimensões do Paradigma Peda-
no caso de um projeto sobre insetos, as palavras
gógico Inaciano: contexto, experiência, reflexão,
com os nomes dos respectivos insetos serão recor-
ação e avaliação. É através destas cinco etapas que
rentes e se tornarão estáveis. Além disso, haverá
o ensino é orientado em nossas salas de aula.
INTEGRAL
EXPERIMENTE E
DIGA SE GOSTA! VIVÊNCIA DAS TURMAS INICIAIS DO INTEGRAL OFERECE OPORTUNIDADE PARA AS CRIANÇAS PROVAREM FRUTAS E LEGUMES DIVERSOS. POR ORIENTADORAS DE ESTUDO DO MATERNAL II E PRÉ I DO INTEGRAL.
D
esde 2013, os alunos das turmas
as crianças têm a oportunidade de expe-
do Maternal II e do Pré I do Inte-
rimentar diferentes sabores e sensações.
gral participam de um momen-
As famílias têm uma participação impor-
to muito especial e importante para seu
tante nesse processo quando perguntam
crescimento, aprendizagem e vivência: a
às crianças, em casa, como foi a atividade.
degustação de frutas. Por conta do re-
Para facilitar esse diálogo, sempre que há
sultado positivo da iniciativa, neste ano
a degustação, o aluno leva na agenda um
aconteceu uma ampliação na atividade:
bilhete que informa a fruta ou o legume
a inclusão de legumes.
experimentado e se a criança gostou ou
Com o intuito de contribuir para o desen-
não do que provou. Desse modo, é possí-
volvimento de uma alimentação balance-
vel ampliar a prática em casa, junto com
ada e saudável, uma vez por semana, a
as famílias, e torná-la um hábito para as
degustação de uma fruta ou de um legu-
crianças que, desde pequenas, podem
me é realizada com base na escolha feita
experimentar os diversos sabores que a
por um colega do grupo. Dessa maneira,
natureza oferece.
REVISTA PILOTIS | 13
OPINIÃO
QUEM NÃO TEM PECADOS QUE DÊ O
PRIMEIRO CHUTE UMA REFLEXÃO SOBRE OS CASOS QUE SE MULTIPLICAM, NO PAÍS, DE PESSOAS QUE DECIDEM FAZER JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS. POR JOSÉ FRANCISCO CONTE DE SACADURA CABRAL, PROFESSOR DO PERÍODO ESTENDIDO.
14 | REVISTA PILOTIS
OPINIÃO
“Não era um marciano, era um menino do nosso povo. Eu me lembrei de Jesus: Que diria se fosse o árbitro ali? ‘Quem não tem pecados que dê o primeiro chute’? Foi uma cena dolorosa. ‘Fuenteovejuna’, disse a mim mesmo. Senti os chutes na alma. Tudo doía em mim, sentia dor pelo corpo do garoto, pelo coração dos que chutavam. Pensei: ‘Esse garoto foi feito por nós, cresceu conosco, se educou entre nós. O que falhou?’. O pior que podemos fazer é esquecer essa cena. E que o Senhor nos dê a graça de poder chorar... chorar pelo menino delinquente e também por nós mesmos.” – PAPA FRANCISCO, EM CARTA A RODOLFO Y CARLOS LUNA.
E
ssa declaração foi dada pelo Papa
A questão levantada pelo Papa Francisco
vejuna, de Lope de Vega. O clássico da
Francisco em abril deste ano, em
me parece essencial. O perdão é mais do
literatura espanhola conta a história de
resposta às imagens que circula-
que uma das bases do pensamento cris-
um povoado que se une para assassinar
vam em seu país natal de um bandido
tão, é também uma das bases da própria
um comendador que abusava de seu po-
sendo linchado na cidade de Rosário,
justiça e da vida em sociedade. Seria pos-
der. No desfecho da peça, as autoridades
Argentina. Desde o início de 2014, tanto
sível fazer justiça sem o perdão? Creio que
interrogam a população para saber quem
na Argentina quanto no Brasil, depara-se
não, pois, sem a capacidade de perdoar,
foi o responsável pelo crime, porém todos
com um elemento novo no contexto da
que em Deus é infinita, a justiça se con-
os interrogados respondem “Fuenteove-
segurança pública: multiplicaram-se os
verte em vingança e em sede de sangue.
juna”, mostrando que todo o povo era
casos em que um grupo de pessoas de-
Outro ponto interessante na declara-
responsável por aquela morte.
cide fazer justiça com as próprias mãos
ção do Pontífice é o trecho em que diz:
Recentemente, a onda de linchamentos
e passa a agredir supostos delinquentes.
“Pensei: ‘esse garoto foi feito por nós,
atingiu seu ápice. No estado de São Pau-
Ambos os países vivem situações seme-
cresceu conosco, se educou entre nós’”,
lo, uma tentativa de fazer justiça com as
lhantes: alta desigualdade, elevados níveis
ressaltando que, por trás da delinquên-
próprias mãos resultou na morte, por es-
de corrupção e caos na segurança pública. Justamente por essas semelhanças, penso que essa carta deveria ser lida com um pouco mais de atenção aqui no Brasil. A colocação do Papa é simples, porém
pancamento, de Fabiane Maria de Jesus,
“Afinal, do que se vingavam os justiceiros?”
profunda. A carta se inicia com uma alu-
de 33 anos. Depois de consumado o fato, descobriu-se que a mulher era uma mãe de família que fora confundida com uma suposta sequestradora de crianças cuja foto circulava na Internet.
são ao relato bíblico no qual Jesus livra
cia, existe também um aspecto que é
Finalizo esta breve reflexão com o mesmo
uma mulher do apedrejamento, dizendo:
coletivo, social. De alguma forma, a pró-
questionamento do Pontífice: “O que fa-
“Se algum de vocês estiver sem peca-
pria sociedade criou esses delinquentes
lhou?” O que fizemos para que a sede por
do, seja o primeiro a atirar pedra nela.”
e deve se responsabilizar por isso. Existe
justiça chegasse a um nível de desespero,
(João 8,7). Por que o Papa cita esse tre-
uma parcela de culpa que é de toda a so-
capaz de influenciar pessoas a cometerem
cho quando fala de tais episódios de vio-
ciedade, e é necessário reconhecer que,
atrocidades como as mencionadas? O
lência? Apesar de não me considerar um
se a violência chegou ao ponto em que
que acontece com nossa sociedade para
profundo estudioso da Bíblia, parece-me
se encontra atualmente, algo falhou no
que homens e mulheres supostamente de
evidente que o episódio alude à impor-
meio do caminho. Talvez, mais violência
bem realizem atos de tamanha barbarida-
tância do perdão, elemento central da fé
não seja a melhor forma de resolver esses
de? Afinal, do que se vingavam os justi-
cristã. Jesus sempre perdoou aos peca-
problemas, pois, como o próprio Jesus
ceiros? Do que se nutriam, além da irra-
dores; inclusive, já crucificado, perdoou
disse, “todo aquele que vive pecando é
cional sede de vingança? Na ausência do
ao ladrão Dimas, assim como se colocou
escravo do pecado.” (João 8,34).
direito à defesa e do direito a declarar-se
contra a filosofia do “olho por olho, den-
Essa dimensão coletiva da questão tam-
inocente, a “justiça” se torna uma conde-
te por dente” (Mateus 5,38-39).
bém está evidente na citação de Fuenteo-
nação sem sentido, portanto injusta. REVISTA PILOTIS | 15
CAPA
PIONEIRISMO PONTAPÉ INICIAL PARA O FUTEBOL NO BRASIL
POR PAULO GOULART, PESQUISADOR E ESCRITOR FOTOS CENTRO HISTÓRICO DO CSL
16 | REVISTA PILOTIS
CAPA
“O início do futebol no Colégio São Luís ainda não utilizava as 14 regras inglesas que então orientavam a modalidade.”
A
s atividades físicas praticadas nos
panhia, ganha maior evidência a partir
os recreios do Colégio, tornaram-se um
colégios sempre mereceram uma
de 1817, quando, conforme anais do
objeto de especial atenção pelos jesuítas.
atenção dos jesuítas. Essa visão
Colégio da Comuna de Saint Acheul, os
Era preciso criar mecanismos que incenti-
não foi diferente no Colégio São Luís,
educadores jesuítas passam a recomen-
vassem todos os alunos a praticarem espor-
desde Itu, a partir de 1867, tanto em rela-
dar a prática de jogos, especialmente nos
tes – já que até 1880 a prática era optativa.
ção à educação física e esportes em geral,
internatos onde havia numerosos alunos.
Que incentivo seria esse? Oferecer a cada
quanto especificamente ao futebol. É so-
Durante quase 60 anos, os colégios fo-
aluno um maior número de modalidades
bre essa questão que trata o livro Pontapé
ram instituindo diferentes práticas que
de esportes entre as quais pudesse haver
inicial para o futebol no Brasil – O bate-
favorecessem os exercícios corporais.
uma com a qual mais se identificasse.
-bolão e os esportes no Colégio São Luís:
Dois padres jesuítas, Nadaillac e Rousse-
Os jesuítas encontraram a solução ao
1880-2014, editado pelo Colégio São
au, compilaram os jogos praticados nos
disponibilizar uma imensa variedade de
Luís e lançado dia 12 de maio, em evento
colégios para editar, em 1875, o livro Les
jogos aos alunos. Como chegar a estas
comemorativo dos 147 anos de fundação
jeux de Collège. O livro seria também
modalidades?
do Colégio, o livro resgata uma expressi-
uma forma de incentivar e organizar os
Decidiram empreender viagens à Euro-
va e consistente trajetória das atividades
padres prefeitos a instituírem práticas es-
pa entre 1879 e 1881. Em contato com
físicas, dos esportes e dos jogos no São
portivas em seus colégios.
colégios europeus, encontraram um esti-
Luís, desde suas origens até a atualidade.
mulante ambiente para as práticas esportivas: a tradição e o incentivo aos jogos,
“Na educação physica dos alumnos [...]
A VIAGEM: RAZÕES PARA IR, O QUE VIRAM E O QUE TROUXERAM DE LÁ
não se esqueceu a Companhia de recom-
Fundado em 1867, em Itu, o Colégio São
com mais de 80 modalidades de jogos.
mendar o bom tratamento do corpo em
Luís teve rápido crescimento com a pre-
Um prato cheio para oferecer aos alunos
benefício do espírito.”
sença do Padre Mantero, seu novo Reitor
do Colégio São Luís.
Assim se refere o padre José Manuel de
a partir de 1877. Dos 119 matriculados em
Madureira no livro A liberdade dos índios
1878, chega-se a 360 em 1882. Essa nova
– a Companhia de Jesus – sua pedagogia
realidade obrigou o Colégio a construir
CHEGANDO: MULTIPLICIDADE DE ESPORTES
e seus resultados (1927, p. 613-614) à vi-
e ampliar suas instalações. Além de aco-
De volta a Itu, os padres jesuítas passa-
são dos jesuítas em relação às atividades
modar fisicamente esse contingente cres-
ram a apresentar aos alunos o que viram
físicas nos colégios.
cente de alunos, era preciso reorganizar
e trouxeram dos colégios europeus. Os
Essa atenção, que gradualmente se ex-
algumas dinâmicas. Assim, as atividades
jogos, os esportes e as atividades físicas
pandia por diferentes colégios da Com-
esportivas praticadas nos pátios, durante
– que passaram, então, a ser obrigatórios
JESUÍTAS E ESPORTES
entusiastas padres e reitores, e o livro Les jeux de Collège. – singular compêndio
REVISTA PILOTIS | 17
CAPA
ESPORTES 1 – ATÉ 1960 Se o futebol passou a ser o esporte preferido pelos alunos do Colégio ao longo do século XX, diversas outras modalidades foram praticadas nos pátios do São Luís, ganhando adeptos e incentivadores. Desde a sofisticada esgrima, no início do século XX, à introdução do pingue-pongue, na década de 20, o Colégio sempre procurou atualizar a (inserção) de novas modalidades, mas não só. Surgem, já com o Colégio instalado na avenida Paulista, as primeiras formas de organização, incluindo alunos, que passam a definir regras, formação das equipes, jogos, campeonatos, como a Associação Athletica do Colégio São Luís. E, como representante do efetivo vínculo entre ex-alunos e Colégio,
dos jesuítas no meio dos alunos, os quais
O FUTEBOL: DE ITU PARA O PAÍS
passaram a conviver com novidades:
E assim começou o futebol no Colégio
mni, a Associação dos Antigos Alunos dos
exercícios militares, ginástica alemã, lan-
São Luís. Alguns anos depois, em 1887,
Padres Jesuítas. O ponto alto do desen-
çamento de disco e dardo, malha, salto
passou a ter o caráter inicial de competi-
volvimento das modalidades esportivas
em altura e distância, corrida com obstá-
ção: dois lados do campo, duas equipes
passou a ser, a partir da década de 1930,
culos e futebol. Futebol?
de futebol e uma área delimitada na pa-
os Jogos Olympicos Colégio São Luís. A
a partir de 1880 – tinham a participação
é criada a ASIA-Antiqui Societati Iesu Alu-
rede, indicando o local exato para onde
importância do evento pode ser avaliada
FUTEBOL: BATE-BOLÃO
os chutes deveriam direcionar a bola. A
pela cobertura feita pela imprensa local,
O Padre Mantero, que esteve também na-
bola passava a ser disputada entre os alu-
como O Estado de S. Paulo e Gazeta Es-
quele período na Europa, não esqueceu
nos. Em 1894, um ano antes de Charles
portiva. Durante a II Guerra, alunos eram
de trazer um artigo que mudaria a cena
Miller disputar aquela que é considera-
treinados com rigor e disciplina por te-
dos jogos e esportes no Colégio: o ballon
da a primeira partida oficial de futebol
nentes, sargentos e professores, e dividi-
anglais ou, simplesmente, bola de futebol.
(15.4.1895), o reitor Luis Yabar introduz
dos em companhias e pelotões. O futebol
E um exemplar de Les jeux de Collège.
novas regras no Colégio: campo com di-
do Colégio chega ao Pacaembu, então
O início do futebol no Colégio São Luís
mensões próximas às do tamanho oficial,
maior estádio do País. Deu empate de 1 x
ainda não utilizava as 14 regras inglesas
demarcação da grande área, equipes de
1 com o Colégio Arquidiocesano; e chega
que então orientavam a modalidade.
11 jogadores uniformizados e traves, no
na TV Record, onde participa do Campe-
Mais modestamente, os primórdios da-
lugar da tinta na parede. Ocorre o primei-
onato Colegial de Futebol; e em outras
quilo que seria o futebol nasceu com o
ro torneio e, no ano seguinte, o primeiro
cidades, como o Rio de Janeiro, em com-
uso da bola somente com os pés (dife-
‘Campeão de Futebol’ do Colégio: Arthur
petições com outros colégios jesuítas. Ex-
renciando-se do rugby, em que o uso das
Ravache. Com os alunos se formando,
-alunos, professores e pais de alunos tam-
mãos era permitido) e chutes em direção
muitos deles interessados na divulgação
bém participam de atividades esportivas.
às paredes do Colégio – embrião do que
do futebol, ao retornarem às suas cidades
Mas, o grande momento, sem dúvida, foi
viria a ser o gol. A essa prática denomina-
e seus estados, participam da fundação
a inauguração do Ginásio de Esportes, em
ram de bate-bolão.
de clubes, da dinamização do esporte.
1967, além da piscina, em 1968.
18 | REVISTA PILOTIS
CAPA
LIVRO COMPLETO ! Confira o livro “Pontapé Inicial para o Futebol no Brasil” na íntegra no site www.issuu.com/revistapilotis
ESPORTES 2 – 1970 A 2014
Jogos Jesuítas) e os Jogos Interamizade,
de destaque na área esportiva participam
Com a entrada das meninas no São Luís,
em 1987, mantidos até a atualidade. O
de eventos no Colégio. A Ong britânica
fato em sintonia com os questionamentos
futsal feminino começa a ser praticado no
Spirit of Football vem, em 2012, ao Colé-
sociais e políticas da época, o Colégio tem
Colégio em 1992. Alunos e professores
gio cujos alunos, por sua vez, continuam
sua primeira equipe feminina participan-
ganham prêmios em campeonatos e tor-
a participar anualmente de copas ama-
do de competições em 1979. A partir de
neios; esportes nem tão populares como
doras no continente europeu. Enquanto
1980, alunos passam a participar das pre-
badminton, beisebol, taco e golbol con-
isso, vai sendo erguida a Casa da Cultura
liminares de clubes do campeonato pau-
tribuem, ao lado das inúmeras outras mo-
e dos Esportes, síntese de uma evolução
lista, de excursões para o interior do esta-
dalidades, para fazer “você amadurecer e
do reconhecimento da importância dos
do e de competições internacionais. Mas
criar um sentimento de coletivo, de tra-
esportes na formação escolar dentro do
os anos 80 tiveram alguns especiais des-
balho em equipe, respeito ao próximo e
Colégio. Enfim: uma singular conquista,
taques: a inauguração do campo de fute-
consciência do próprio corpo”, conforme
um novo marco na trajetória pedagógica
bol do prédio da Bela Cintra, a realização,
mensagem de Victor Naves (revista Pilotis,
e esportiva do constante aprimoramento
a partir de 1986, do Torneio Jesuíta (ou
ago./set. 2007). Ex-alunos com atuação
da missão jesuíta para a educação.
FALARAM DO LIVRO Pontapé Inicial para o Futebol no Brasil teve a sua repercussão na mídia como um verdadeiro contestador da versão de que Charles Miller seria pai do futebol no Brasil. Em matéria na Veja SP (“Colégio São Luís alega ser o verdadeiro berço do futebol brasileiro”), tanto o livro de Paulo Goulart quanto o CSL foram destaque principal. Já em outros veículos, como na Folha de S.Paulo, que traz matéria com trecho do livro do jornalista italiano Luca Caioli, Neymar: O último poeta do futebol, o papel dos jesuítas do colégio em Itu é colocado como um acontecimento com seu lugar já consolidado nas páginas da história do futebol no Brasil.
REVISTA PILOTIS | 19
ASPAS
O QUE É SER
LIVRE
PARA VOCÊ?
20 | REVISTA PILOTIS
ASPAS
#SERLIVRE
“Ser livre é libertar as pessoas e passear no fim de semana. Libertar um passarinho é ser livre
Compartilhe a sua resposta conosco
também porque daí ele se sente livre para voar; quando ele está preso na gaiola, ele não é livre.”
no Twitter com a hashtag e cite o nosso perfil @colegio_saoluis!
LUCA FORONI E HELOISA RIBEIRO, PRÉ II
“Ser livre é você ter o poder de escolher o que você vai fazer, mas, para ser uma pessoa livre – uma pessoa que está bem consigo mesma – é preciso ter um balanceamento de ética, do que é certo e do que é errado e, ao mesmo tempo, fazer com que as suas escolhas sejam levadas em conta também. Eu me sinto livre quando faço alguma coisa que eu quero e isso dá certo, porque, quando você faz algo que quer, mas não dá certo, é como se a sua liberdade tivesse falhado.” MAITÊ GUILLARD, 3.ª SÉRIE EM
“Para mim, ser livre é ter liberdade, é não ser preso a alguém ou a alguma coisa. Eu me sinto livre quando estou feliz e quando estou solto em relação a alguns bens materiais ou pessoas.” DAVI GARCIA NUNES, 6.º ANO EF
“Eu me sinto livre na hora do recreio, porque eu estou brincando. Na minha casa eu não me sinto livre porque fico preso lá, sem fazer nada – às vezes eu coloco um monte de brinquedos na minha casa e finjo que estou passeando, aí me sinto livre.” LEONARDO ROCHA, 2.º ANO EF
REVISTA PILOTIS | 21
DITADURA
DA DITADURA MILITAR NO BRASIL DE 64 A 2014 – O QUE ACONTECEU NO MUNDO E NO BRASIL ANTES, DURANTE E DEPOIS DO GOLPE MILITAR.
POR PAULO SUTTI, PROFESSOR DE HISTÓRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL
22 | REVISTA PILOTIS
DITADURA
CENÁRIO MUNDIAL
espalhados por toda América Latina, mi-
da violência por parte dos militares contra
Fim da Segunda Guerra Mundial. Depois
litavam em partidos de esquerda, fato
grupos e pessoas que resistiam ao novo
da derrota dos países do Eixo (Alemanha,
que preocupava as autoridades latino-
regime, instalado por meio do golpe.
Itália e Japão) pelos Aliados, o mundo
-americanas aliadas ao capitalismo norte-
conheceu uma nova ordem mundial, a
-americano e ao próprio governo dos
AS FACES DA VIOLÊNCIA
Guerra Fria – marcada pela bipolaridade
EUA. Assim, o governo de John F. Kene-
O governo militar inaugurado pelo ge-
ideológica entre comunismo e capitalis-
dy, em nome da hegemonia no continen-
neral Hugo Castelo Branco foi marcado
mo, dos quais URSS e EUA eram repre-
te, lançou as bases para uma integração
por uma sucessão de Atos Institucionais,
sentantes, respectivamente. O mundo
dos países latino-americanos nos aspec-
com o objetivo de punir, censurar, extin-
passou, então, a ser uma grande área de
tos político, econômico, social e cultural
guir partidos políticos e exiliar cidadãos
influência desses modelos.
frente à ameaça soviética no continente.
que eram tidos como ameaça ao novo
Situada a 174 Km da Flórida, Cuba viveu
Esse projeto, promulgado na Carta de
regime. Entre esses Atos Institucionais,
uma experiência revolucionária liderada
Punta del Leste, em 1961, levou o nome
o mais violento foi o Ato Institucional
por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara
de Aliança para o Progresso.
no 5, assinado em 13 de dezembro de
na derrubada do governo, pró-Estados
1968 pelo então presidente, General Ar-
Unidos, de Fulgencio Batista. Um modelo
COMO ESTAVA O BRASIL?
thur da Costa e Silva. As prerrogativas do
socialista foi implantado na Ilha, que logo
No Brasil, o governo de João Goulart
AI-5 suspendiam os direitos políticos de
passaria a ter laços econômicos e diplo-
(1961-1964) defendia as reformas de
qualquer cidadão por 10 anos em caso
máticos com a URSS. Cuba passou a ser
base. Tratava-se de mudanças estruturais
de manifestação contra o regime. Nesse
um exemplo para todos os movimentos
nos setores bancário, fiscal, urbano, ad-
caso, também seria suprimido o direito
de esquerda na América Latina.
ministrativo, agrário e universitário. Essas
a habeas corpus, o que na prática signi-
Cuba obteve notoriedade no cenário in-
mudanças eram vistas pelos segmentos
ficaria a prisão efetiva de manifestantes
ternacional após a derrubada do governo
mais conservadores da sociedade brasi-
sem que eles pudessem recorrer aos seus
de Batista e com o episódio da Baía dos
leira como sendo vinculadas à ideologia
direitos constitucionais.
Porcos, quando da invasão da Ilha por
socialista. Dessa maneira, tais reformas
A sociedade brasileira, mesmo antes
mercenários, mariners e anticastristas,
marcaram o início da articulação entre
do AI-5, vivia diante de atos arbitrários,
financiados pelos EUA. A derrota norte-
alguns segmentos da sociedade civil e os
como prisões e torturas. Considerado a
-americana naquela ocasião resultou no
militares para a derrubada de João Gou-
primeira vítima da ditadura, o estudante
embargo econômico a Cuba, que dura
lart da presidência da República.
Edson Luis de Lima Souto foi assassinado
até os dias atuais.
Em 31 de março de 1964, o golpe foi
pela polícia militar no dia 28 de março de
Alguns jovens da época passaram a ter
concretizado e se instaurava no Brasil
1968, no restaurante Calabouço, no Rio
na figura de Che Guevara um modelo de
um período de exceção de liberdades e
de Janeiro. Esse restaurante tinha um ca-
aventura, audácia e ação. Esses jovens,
de predominância, cada vez mais intensa,
ráter popular e era mantido pelo governo
REVISTA PILOTIS | 23
DITADURA
para atender estudantes carentes. Ali, as
terói, da Transamazônica e do complexo
abril de 1985. Em seu lugar, assumiu o
manifestações contra a má qualidade da
nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Ja-
vice-presidente José Sarney, encerrando-
alimentação eram constantes. E foi em
neiro. No entanto, esse crescimento, que
-se, assim, o regime militar no Brasil. Em
uma dessas manifestações que Edson
levou o Brasil a ocupar o lugar de 8.ª Eco-
1988, foi promulgada a nova Constitui-
Luis foi assassinado, o que causou grande
nomia do mundo, não chegou à maioria
ção brasileira, o marco de uma nova era
comoção social.
da população, ou seja, não houve distri-
na política nacional, que garantia a par-
Nesse momento, as ruas passaram a ser
buição de renda e se tornou uma herança
ticipação mais efetiva da população na
palcos de manifestações contra o regime
inflacionada para o próximo presidente,
política brasileira, com a instituição do
militar e todos os abusos contra a popu-
General Ernesto Geisel.
voto para pessoas a partir de 16 anos e
lação. Em 26 de junho de 1968, o Rio de
da realização de eleições diretas para pre-
Janeiro foi o cenário de um protesto con-
INÍCIO DA MUDANÇA
sidente em 1989.
tra as mortes, as prisões políticas e a pri-
Responsável por dar início ao processo
Ao passo que a passeata dos Cem Mil,
vatização do ensino. Esse protesto ficou
de abertura política no Brasil, com a volta
em junho de 1968, levou para as ruas pa-
conhecido como a Passeata dos Cem mil,
do pluripartidarismo, Geisel ainda viveria
lavras de ordem contra o regime militar e
que tinha à frente intelectuais, artistas,
dias de terror no seu mandato, nos quais
todas as suas barbaridades, as manifes-
religiosos e estudantes.
ocorreram os assassinatos do editor che-
tações de junho de 2013 apontaram um
Tamanho descontentamento com o regi-
fe da TV Cultura, Wladimir Herzog, e do
novo rumo no que se refere à participa-
me resultou na luta armada organizada
líder sindical Manuel Fiel Filho. Esses atos
ção do cidadão na política nacional; des-
por setores de partidos políticos que vi-
brutais foram atribuídos aos militares
sa vez sem o engajamento em partidos
viam na ilegalidade, como MR-8, PC do
pertencentes à “linha dura” do Exército.
políticos, mas alerta a todas as carências
B, ALN, entre outros.
Inconformado com tais ações, Geisel de-
que atingem a sociedade brasileira. O
Eram tempos de clandestinidades e de-
mitiu o ministro das Forças Armadas. O
movimento começou contra o aumen-
senvolvimento econômico. Na música,
último presidente militar, João Batista de
to de R$ 0,20 nas passagens de ônibus,
Chico Buarque de Holanda muitas vezes
Oliveira Figueiredo, garantiu a Anistia de
mas tinha muito mais a dizer, além das
apresentava suas letras sob o pseudônimo
presos políticos e exilados e entregou o
questões referentes ao transporte públi-
de “Julinho da Adelaide”, para driblar os
governo a um civil. Porém, ainda não foi
co. Espera-se que tal iniciativa não seja
censores da Polícia Federal. No esporte, a
daquela vez que o povo brasileiro votou
ofuscada pela violência praticada por
conquista do Tricampeonato Mundial de
para escolher seu presidente.
grupos que tentaram desestabilizar esse
Futebol foi utilizada pelo governo do pre-
A emenda constitucional que pedia elei-
movimento, que teve início nas redes so-
sidente, General Emílio Garrastazu Médi-
ções diretas, encaminhada ao Congresso
ciais e que assumiu um caráter pacífico,
ci, para camuflar a Guerrilha do Araguaia
Nacional pelo deputado Dante de Olivei-
envolvente e cívico.
e as operações da OBAN (Operação Ban-
ra, não foi aprovada pelos parlamentares,
Os novos protagonistas que ocuparam
deirantes), órgão militar de combate à
mesmo depois de uma série de comícios
as ruas do País em 2013 têm pela frente
guerrilha urbana. Com uma propaganda
realizados por todo o país, que levaram
uma longa jornada para garantir a justiça
ufanista, baseada em frases como “Esse
milhões de pessoas às ruas. O voto foi
e a liberdade. Cabe a essas novas gera-
é um país que vai pra frente” ou “Brasil,
indireto e o Congresso Nacional elegeu
ções lembrar do golpe militar de 1964
ame-o ou deixe-o”, o País vivia o chama-
o primeiro presidente civil, o mineiro
não como um simples fato histórico, mas
do Milagre Econômico, com a construção
Tancredo Neves, que, no entanto, não
como uma oportunidade de reflexão
da hidrelétrica de Itaipu, da ponte Rio-Ni-
assumiu o cargo, pois faleceu em 21 de
que busque a preservação de ideais que garantam a democracia no Brasil. Que aqueles que tombaram em nome da liberdade durante a ditadura militar sejam sempre lembrados como cidadãos que deram início à reconstrução da cidadania do povo brasileiro.
24 | REVISTA PILOTIS
FÓRUM DE PROFISSÕES
HORA DA
ESCOLHA
O EVENTO PROCURA ESCLARECER DÚVIDAS E MOSTRAR A REALIDADE DOS CURSOS MAIS PROCURADOS DAS UNIVERSIDADES, BEM COMO DO MERCADO DE TRABALHO. POR ACIDINIZ SILVA, ASSISTENTE PEDAGÓGICO DO ENSINO MÉDIO. FOTO RONALDO HIPÓLITO
O
s colégios da Rede Jesuíta de
São Francisco Xavier. As escolas convida-
- O processo de escolha da profissão para
Educação de São Paulo realiza-
das são a E.E. Caetano de Campos, a E.E.
o vestibular (durante o Ensino Médio);
ram, neste primeiro semestre, a
Alexandre de Gusmão, a E.E. Visconde de
- Escolha da universidade;
13.ª edição do Fórum de Profissões, divi-
Itaúna e a E.E. Nossa Senhora da Glória.
- Experiências na faculdade, durante a
dido em três ciclos que englobam as áreas
Essa troca de experiências busca esclare-
graduação;
de Exatas e Tecnologias / Humanas e Artes
cer dúvidas e fornecer informações para
- Mercado de trabalho;
/ Biológicas e Saúde. O evento, que ocorre
uma escolha consciente quanto à carreira
- Competências e habilidades para de-
todos os anos, é uma das etapas da orien-
profissional, à universidade e ao projeto
sempenhar um papel na sociedade, como
tação profissional no Ensino Médio.
de vida. Os convidados abordam questões
agente de transformação social, por meio
Seu intuito é convidar antigos alunos,
como o processo de escolha da profissão,
da profissão.
pais de alunos e profissionais de algumas
a formação e as atribuições do profissio-
faculdades para conversar com estudan-
nal, as possibilidades de atuação e tendên-
VEJA MAIS NO FLICKR
tes do Ensino Médio, que se veem diante
cias do mercado de trabalho, entre outras.
Confira todas as fotos dos três dias de Fórum de
do desafio da sua escolha profissional. Os
Durante a conversa com os alunos, são
Profissões em nosso álbum especial no Flickr:
colégios participantes são o São Luís e o
discutidos alguns tópicos:
www.flickr.com/saoluis/sets
REVISTA PILOTIS | 25
FAÇA VOCÊ MESMO
ENFEITANDO COM
1
2
3
Rasgue pequenas porções das folhas de
Uma vez escolhido o pedaço de tecido,
Coloque algumas bolinhas de papel no
jornal com as mãos e, com esses pedaços,
desenhe, com a caneta esferográfica e
centro do quadrado de tecido e feche-
faça pequenas bolinhas.
com o auxílio da régua, um quadrado de
-o, formando uma pequena trouxa. É
10 cm. Recorte-o.
importante lembrar que a quantidade de bolinhas de jornal que preencherá a trouxinha varia de acordo com o tamanho das
PASSO A PASSO DETALHADO NO FLICKR
bolinhas de papel produzidas – o impor-
Para visualizar todas as fotos do passo a passo, acesse
tante é que ela esteja cheia o suficiente
o álbum “Colar de retalhos” no nosso Flickr:
para fechar.
www.flickr.com/photos/saoluis/sets
26 | REVISTA PILOTIS
FAÇA VOCÊ MESMO
Nesta edição, as equipes da revista Pilo-
VOCÊ VAI PRECISAR DE:
tis e do Integral prepararam um passo a
- folhas de jornal;
passo superdivertido e fácil para ser fei-
- pedaços de tecido (com texturas e
to em casa: um colar de retalhos! Em-
estampas a sua escolha);
barque conosco e divirta-se produzindo
- 1 tesoura sem ponta;
esse acessório que pode ser usado em
- 1 rolo de barbante;
festas infantis ou como componente de
- 1 caneta esferográfica;
uma fantasia.
- 1 régua.
4
5
6
Corte um pedaço de barbante de aproxi-
Repita o processo para fazer outras trou-
Ao amarrar a última trouxinha, certifique-
madamente 1 m (o tamanho do barbante
xinhas, e amarre-as ao mesmo fio de bar-
-se de que haja uma sobra de aproxima-
depende do comprimento desejado do
bante, sempre deixando uma distância
damente 5 cm até a última ponta. Basta
colar – aconselhamos medir antes de re-
de aproximadamente quatro dedos entre
amarrar as duas pontas do barbante e o
alizar o corte, lembrando que o barbante
as trouxinhas. Para o seu colar ficar mais
seu colar está pronto!
vai diminuindo conforme o colar vai sen-
colorido, você pode utilizar diferentes es-
do feito). Meça aproximadamente 5 cm
tampas de tecido!
de uma das pontas e, nessa localização, amarre a primeira trouxinha – lembrando-se de sempre dar nós duplos. REVISTA PILOTIS | 27
CULTURA
NA NATUREZA SELVAGEM A história de Christopher McCandless, um jovem recém-formado, passa-se no início da década de 1990. Decidido a buscar a liberdade, ele resolve fazer uma grande viagem ao redor dos Estados Unidos, apenas com a mala e a roupa do corpo, conhecendo pessoas que acabam mudando sua vida, da mesma forma que a sua presença também modifica as delas. Após dois anos de estrada, ele resolve ir ao Alasca e viver consigo mesmo. Baseado em fatos reais, a história de Chris traz um questionamento importante sobre o que é liberdade e felicidade dentro e fora de uma vida em sociedade. Título original: Into the wild QUAL A
Gênero: Drama
VELOCIDADE QUE
Classificação: 12 anos
UM TIRANOSSAURO REX ATINGIA? Lembra-se da cena do filme O Parque dos Dinossauros em que o Tiranossauro Rex persegue um jipe cinema. O biólogo
VOCÊ SE FOI... MAS ESTÁ EM MEU CORAÇÃO
John Hutchinson, da
Julia nunca conheceu seu avô materno. Mas há
Universidade Stanford,
um lugar especial reservado a ele em seu cora-
e o engenheiro
ção. Essa história trata de uma pequena garota e
Mariano Garcia, de
das pessoas que estão ao seu redor. Elas a amam
Cornell, garantem
muito e estão sempre lhe ensinando coisas novas.
que o mais famoso
Porém, Julia pensa em seu avô, aquele que não co-
carnívoro era tão
nheceu. Mesmo nunca tendo ensinado nada a ela,
rápido como uma
mesmo não sabendo exatamente como ele era, Ju-
galinha: a velocidade
lia o ama, pois ele amava sua vovó e sua mamãe.
do animal extinto era
Se não fosse por ele, ela não existiria, e ela sabe
de, no mínimo, 16
que ele também a ama e que a está protegendo
km/h (como a de um
de onde estiver.
a 80 km/h? Coisa de
camundongo), e de, no máximo, 40 km/h
Autor: Sanja Pregl
(a mesma que a de um
Ilustração: Maja Lubi
cachorro).
Editora: Bicho Esperto
28 | REVISTA PILOTIS
CULTURA
PARA GRANDES, PEQUENOS E PEQUENINOS Houve uma época mágica em que as crianças corriam quintal afora, subiam em árvores e faziam novos amigos, enquanto seus pais jogavam conversa fora, esperando um bolinho caseiro sair do forno. O espaço Mamusca busca resgatar esse ambiente, procurando integrar pais e filhos em brincadeiras no jardim e próximas à jabuticabeira, ou na área interna, que lembra bastante uma casa de vovó. Trata-se de um espaço de brincadeira para toda família, com oficinas e cursos a serem realizados tanto pelos adultos quanto pelas crianças, como atividades de circo, culinária, marcenaria, relaxamento e artes. O local ainda conta com café e acesso à internet gratuito. MAMUSCA De terça a sábado, das 9h às 18h. Rua Joaquim Antunes, 778 - Pinheiros. Ingressos: de R$ 15 a R$ 75 (aceitam-se cheques e os cartões Diners, MasterCard e Visa). Tel: (11) 2362-9303. Classificação: recomendado para crianças de 3 meses a 6 anos. Evento permanente.
COMIDINHAS DIRETO DO TRAILER Para quem é fã de “comidinhas de rua”, há uma grande novidade no bairro do Butantã. No final de maio, chegou à região o Butantan Food Park, um espaço que reúne trucks, trailers e barracas que servem comidas e bebidas por até R$ 25. Com capacidade para até 25 expositores, a novidade funciona como uma praça de alimentação bastante agradável: além das barracas, oferece mesas e bancos de madeira com ares de piquenique para os clientes. As comidas são muito variadas – desde os clássicos cachorros-quentes até opções mais requintadas, como os temakis. BUTANTAN FOOD PARK De segunda a quarta, das 11h às 16h; de quinta a sábado, das 11h às 22h; domingo, das 11h às 20h. Rua Agostinho Cantu, 47, Butantã. Preços: até R$ 25
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BAIXO DE CABEÇA PARA
“UMA VIAGEM É UM BOM MOMENTO PARA REPENSAR ALGUMAS COISAS DA VIDA. MAS, QUANDO DECIDI FAZER UM INTERCÂMBIO DE UM ANO NO JAPÃO, COM DIREITO A MOCHILÃO PELA ÁSIA, NÃO SABIA O QUANTO EU REPENSARIA MINHAS ESCOLHAS.”
POR RENATA ROGÉ, ANTIGA ALUNA DO CSL E ESTUDANTE DE JORNALISMO DA USP.
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“Comecei a pesquisar que países tinham convênios com a USP e ficava imaginando como seria visitá-los.”
E
ram três da manhã quando Danilo
“Não temos lugares abertos vinte e qua-
nos disse, já quando decidíamos esperar
me acordou. As luzes já estavam
tro horas”, dizia um deles, em um inglês
na minúscula “rodoviária” (um ponto de
acesas e todos pegavam suas ma-
quebrado. “É melhor vocês ficarem em
ônibus apenas com um telhado e uma
las e desciam do ônibus apressados.
um hotel, meu amigo tem um muito
luz). “Uma senhora faz samusas (espécie
“Chegamos” – ele me disse.
bom, não é caro...”
de pastéis recheados com uma mistura
“Hmmn...?” – foi minha resposta, mas ele
A essa altura da viagem, estávamos can-
condimentada de batata, ervas aromá-
já estava de pé com a mochila nas costas.
sados de “hotéis de amigos muito bons,
ticas e vegetais) e as vende no café da
No escuro, enquanto éramos aborda-
que não são caros” – nossa experiência
manhã para pessoas que acordam muito
dos por dezenas de pessoas oferecendo
nos ensinou que eles não eram bons e
cedo. Ela tem de começar a fritá-las ago-
transporte e hotel aos recém-chegados,
eram caros.
ra, então estará acordada. Lá vocês po-
tentávamos decidir o que fazer.
Estávamos em Nyaung Swhe, a maior
dem comer e esperar o Sol nascer.”
“Eu não entendo os ônibus noturnos de
cidade à beira do famoso – e enorme
Uma viagem é um bom momento para
Myanmar. Por que todos saem às 19h se
– Lago Inle, na região de Shan, leste de
repensar algumas coisas da vida. Mas,
vão chegar no meio da noite?”
Myanmar. O lago, com mais de 100 qui-
quando decidi fazer um intercâmbio de
“Não sei, mas é o que é, né? Temos que
lômetros de extensão, é povoado pelo
um ano no Japão, com direito a mochilão
ver o que vamos fazer até amanhecer.”
grupo étnico Intha, que quer dizer lite-
pela Ásia, não sabia o quanto eu repen-
Negociávamos com os homens que nos
ralmente “filhos do lago”. E filhos são,
saria minhas escolhas.
ofereciam transportes – usavam saias
de fato: em toda sua extensão, pessoas
Vir para cá foi uma escolha com um ob-
compridas (chamadas longyi, a roupa tra-
vivem em vilas flutuantes cujas ruas são
jetivo oficial bastante específico: escre-
dicional do País) e tinham as bochechas
canais, carros são barcos, e quintais, “pis-
ver meu trabalho de conclusão de curso
pintadas com uma espécie de tinta bran-
cinas”. Além disso, o lugar é famoso por
(TCC), uma dissertação sobre jornalismo
ca (“maquiagem” tradicional para pro-
ser casa de um nascer e de um pôr do Sol
de viagem, usando o Japão como exem-
teção contra o Sol). Tentávamos explicar
que são dos mais bonitos do País.
plo prático. Precisava ser assim, do con-
que não precisávamos de hotel, apenas
“Eu conheço um lugar que está aberto”,
trário seria difícil justificar um intercâm-
de um lugar para esperar o Sol nascer.
um rapaz não muito diferente dos outros
bio tão tardio – normalmente a USP
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mais diferente possível. Após algumas tentativas frustradas com convênios com a China, Turquia e Coreia, e depois de muita burocracia e noites ansiosas, em claro, finalmente consegui uma vaga no convênio perfeito: um curso sobre língua e cultura japonesa para alunos estrangeiros em Kyoto. As aulas seriam contadas para minha graduação no Brasil, e eu poderia aprender tudo sobre a língua e culprefere selecionar alunos dos primeiros
pouco mais como o mundo funciona fora
tura japonesas durante o próprio curso, o
anos para as vagas dos convênios, a fim
do Brasil. Além disso, foi lá que descobri
que facilitaria meu TCC.
de que eles voltem com tempo de divi-
o jornalismo de viagem de alto nível, com
Às vésperas da viagem, eu não podia estar
dir o que aprenderam fora do País com a
reportagens profundas e mais focadas
mais nervosa. Antes de morar em Nova
comunidade universitária. Eu, em pleno
em outros aspectos de viagem que não o
York, eu já havia visitado a cidade, então
quarto ano de faculdade, e faltando ape-
turismo: o mesmo que queria retratar em
sabia o que esperar. Mas, Kyoto, Japão?
nas um para me formar, não me encaixa-
meu TCC e que eu não encontrei nas re-
Nunca havia sequer considerado morar
va nesse perfil.
vistas brasileiras em que trabalhei quando
aqui antes de a oportunidade surgir. E se
Mas não era isso que iria me impedir:
voltei para o Brasil. O intercâmbio seria
eu não me adaptasse? E se eu não gos-
eu precisava daquela mudança. Já ha-
então uma espécie de escapatória de um
tasse? Mas eu não conseguia nem consi-
via morado fora do Brasil antes, quando
curso e de um mercado de trabalho de-
derar desistir de tudo e deixar a ideia de
tranquei a faculdade para passar alguns
cepcionantes, e uma experiência emocio-
lado. Se eu tinha alguma certeza, era a de
meses em Nova York estudando inglês,
nante que poderia me ajudar e me esti-
que era aquilo que eu queria fazer.
depois de me decepcionar com o curso
mular a fazer o tipo de jornalismo que eu
E, quando cheguei ao Japão, o tempo
já no primeiro ano, e senti que estava
queria fazer.
voou. Foram alguns dos momentos mais
na hora de mais uma experiência como
Comecei a pesquisar que países tinham
divertidos, interessantes e felizes que já
aquela. Eu aprendi tanto durante aqueles
convênios com a USP e ficava imaginan-
tive. A Universidade de Estudos Estran-
meses – não só inglês, mas a viver sozi-
do como seria visitá-los. Eu queria ir para
geiros de Kyoto (KUFS), na qual estou
nha, superar meus medos, entender um
longe, o mais longe possível, no lugar
estudando, é uma faculdade de língua
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“Se eu tinha alguma certeza, era a de que era aquilo que eu queria fazer.” estrangeira onde alunos japoneses esco-
Terminado o primeiro semestre, eu estava
No Peru, ela estudou Direito por 3 anos,
lhem entre inglês, francês, alemão, chi-
prestes a embarcar para minha viagem
mas decidiu que não era o que ela queria
nês e até português, e alunos de diversos
de dois meses pela Ásia durante as férias
fazer e mudou para Sociologia, com foco
países vêm aprender japonês. Por isso,
de primavera. O roteiro que passei meses
em sistemas educacionais. Veio para o Ja-
conhecer pessoas novas foi muito mais
planejando com amigos que, como eu,
pão meio a turismo, meio a estudo: que-
fácil do que tinha imaginado e fiz gran-
queriam aproveitar o tempo para viajar
ria aprender sobre a cultura e o sistema
des amigos, de vários países.
seria o seguinte: dez dias no Nepal e 4 no
educacional japoneses. Entre passeios pe-
Mas, ao longo do tempo, percebi que,
Butão com Elva, uma amiga peruana; 2
los mercados de Kathmandu, pelas trilhas
apesar de eu ter me divertido e aprendi-
dias sozinha em Hong Kong e Macau; 10
do parque nacional de Chitwan nas cos-
do muito com eles, nossa relação não era
dias na Indonésia, onde encontrei Danilo,
tas de um elefante, de barco no lago de
como a que tenho com meus grandes
niteroiense da Universidade Federal Flu-
Pokhara vendo a cordilheira do Himalaia,
amigos no Brasil. É claro que não poderia
minense, que me acompanhou no resto
conversávamos sobre a vida no Japão, so-
ser – meu grupo de amigos no Brasil se co-
da viagem; 11 dias nas Filipinas com ele e
bre como seria voltar a nossos países de
nheceu no São Luís em 2007 e 2008, e é
Ada, nossa amiga espanhola; 10 dias no
origem e sobre o que planejávamos fazer.
muito próximo até hoje. Além disso, já es-
Vietnã, 5 no Camboja, 5 em Bangkok e 8
Ela, que só fez um semestre de intercâm-
tava sentindo muitas saudades da minha
em Myanmar. Para finalizar, uma conexão
bio, voltaria ao Peru dentro de um mês.
família, mesmo depois de eles terem vindo
de apenas um dia em Kuala Lumpur an-
“Como você está se sentindo, tão perto
me visitar durante o Natal e Ano-novo.
tes de voltar ao Japão.
de voltar para casa?”, perguntei a ela
Quando conversava sobre isso com meus
Logo antes de embarcar, no entanto, eu
quando decidimos descansar um pouco
amigos do Japão e contava a eles que
comecei a pensar novamente em meu
em meio à subida da montanha do mo-
meus fins de semana no Brasil eram cheios
TCC e no fato de, já na metade do inter-
nastério de Taktsang, em Paro, Butão. O
de almoços de família e noitadas de pizza,
câmbio, não ter nem começado a fazê-
trekking, que dura três horas, chega ao
cerveja e vinho com meus melhores ami-
-lo. Isso trouxe de volta toda minha vida
lugar mais icônico do País, apelidado de
gos, muitos me diziam que não tinham
no Brasil, da qual até agora, com tanta
Tiger’s Nest. Segundo a lenda, o santo
esse contato frequente com suas famílias
coisa acontecendo, eu nem me lembrava
budista Guru Padmasambhava expulsou,
ou um grupo tão extenso de amizades du-
mais. E acabei levando isso comigo para
montado em um tigre alado, um demô-
radouras. Foi quando comecei a perceber
a primeira parada do roteiro: Kathmandu.
nio que aterrorizava a montanha. Apro-
que o que eu achava normal e corriqueiro
Pelos nossos caminhos entre Nepal e Bu-
veitávamos a vista do vale e matávamos
talvez não fosse tão comum assim.
tão, Elva e eu conversávamos sobre tudo.
a sede com a neve que havia caído na REVISTA PILOTIS | 33
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noite anterior e que, agora, com o calor
Kong e Macau para pôr os pensamen-
chegamos à beira do enorme lago, en-
do Sol, derretia no topo das árvores. Ela
tos em ordem. Decidi começar a prestar
tramos apressados no barco comprido e
respondeu, num inglês misturado com
atenção no porquê de eu estar viajan-
estreito que nos levaria para o tour da fa-
espanhol: “Renatiña, vai ser diferente
do – se não era para escrever a respeito,
mosa vila flutuante da cidade. Em pouco
agora, né?”.
então para que era? E a cada aventura
tempo, chegamos a um ponto propício. O
“Como?”
que tínhamos – dirigindo uma moto pela
Sol já estava visível, e tingia o céu e a água
“Eu não tinha certeza da minha escolha
primeira vez para ver um templo incrível
de laranja. Pescadores faziam seu traba-
por Sociologia. Não sabia se abandonar o
e pegando uma tempestade tropical no
lho em pé em seus pequenos barcos, com
Direito seria a melhor escolha. Mas, ago-
meio de uma estrada de terra minúscula
estranhas redes cônicas de pesca.
ra, vivendo no Japão e viajando pela Ásia,
no interior de Yogyakarta, na Indonésia;
“De fato, é o nascer do Sol mais bonito
pude ver várias coisas que aprendi na
nadando com tubarões-baleia e tentan-
que eu já vi”, pensei. E, junto com isso,
prática, e isso me deixou muito animada com a minha profissão.” Isso me fez pensar se eu me sentia assim com o jornalismo. Algo que estava me incomodando muito era o fato de que eu nem havia pensado em fazer nada rela-
pensava que talvez o jornalismo não seja
“Agora, de volta ao Japão, me sinto de cabeça para baixo.”
cionado a jornalismo durante todo o tem-
mesmo para mim, como o Direito não era para Elva, e que eu não sabia o que eu queria fazer no lugar dele. E que o que eu queria mesmo era poder achar algum jeito de incluir em memórias incríveis minhas pessoas queridas, e que era impor-
po em que estive viajando, tanto no Ja-
do lidar com a polícia filipina em Cebu,
tante preservá-las.
pão como na Ásia. Quer dizer, eu sempre
quando roubaram meu celular; apren-
Agora, de volta ao Japão, me sinto de ca-
pensei que minha falta de empolgação
dendo a mergulhar no Vietnã e entrando
beça para baixo. Não sei o que quero fa-
com o curso e com as possibilidades de
em choques culturais um pouco assusta-
zer da vida profissionalmente, nem como
emprego existia porque eu não conseguia
dores em Myanmar – eu chegava à con-
incluir as pessoas que eu quero manter
fazer o jornalismo pelo qual eu realmente
clusão de que o porquê não importava. O
em minha vida nos meus sonhos. Viajar
tinha interesse. Mas, agora, estando aqui
importante era que eu estava lá.
não te livra de seus problemas. Viajar te
exatamente para isso, com todo o tempo
Quando o Sol estava perto de nascer,
sacode e acaba com todas as suas cer-
e recursos a meu dispor, se isso fosse real-
agradecemos com sorrisos a senhora das
tezas. Mas, de algum jeito, isso te mos-
mente o que eu quisesse fazer, eu já não
samusas – cujo nome nunca descobrimos
tra que há muitos caminhos para seguir,
teria começado?
porque ela não falava uma palavra em in-
além daquele em que você começa, e te
Quando encontrei o Danilo, em Bali,
glês – e entramos no jeepney do rapaz
ajuda a enxergar mais claramente o que
havia tido um tempo sozinha em Hong
que nos havia indicado o local. Quando
você quer – e o que você não quer.
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