DEZEMBRO DE 2020 // ANO 9 // NÚMERO 18 REVISTA-LABORATÓRIO DOS ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA ESPM
HISTÓRIA LEVANTAMOS OS PRINCIPAIS NOMES DE NEGRAS E NEGROS QUE AJUDARAM A CONSTRUIR O BRASIL SOCIEDADE CONHEÇA AS EMPRESAS QUE ADOTAM AÇÕES AFIRMATIVAS NA CONTRATAÇÃO DE NEGROS ENTREVISTA HÉLIO DE LA PEÑA DIZ QUE NÃO BASTA NÃO SER RACISTA, É PRECISO SER ANTIRRACISTA
Foto: Luca Carloni
LUTA CONTRA O RACISMO COMO A SOCIEDADE REAGE AO PRECONCEITO
e
REVISTA-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA ESPM-SP Nº18 - 2º SEMESTRE DE 2020
EDITORIAL
Presidente Dalton Pastore Jr. Vice-presidente Acadêmico Alexandre Gracioso Vice-presidente Administrativo-Financeira Elisabeth Dau Corrêa Diretora Nacional de Operações Acadêmicas Flávia Flamínio Diretor de Graduação-SP Rodrigo Cintra Coordenadora do curso de Jornalismo-SP Maria Elisabete Antonioli Responsável pelo Centro Experimental de Jornalismo Antonio Rocha Filho
COMBATE AO RACISMO O quanto uma pauta tem potencial de mobilizar vozes dissonantes em prol de uma causa comum? Muito! É isso que esta revista propõe: ao apresentar de forma rígida em seu rigor racional e emocional, em sua sensibilidade para com debates raciais, os textos apresentam os dilemas institucionais e debates abertos sobre o racismo estrutural. Falar do racismo estrutural em uma revista da ESPM é mais que uma obrigação, é necessário. A proposta dos textos que o leitor irá encon-
Revista Plural revistaplural-sp@espm.br Editora - Revista Plural Profa. Cláudia Bredarioli Editor - LabFor Prof. André Deak Editor - Fotojornalismo Prof. Erivam De Oliveira Revisão Prof. Antonio Rocha Filho Profa. Maria Elisabete Antonioli
trar nesta 18ª. edição da Plural abre-se para as margens do pensamento,
Alunos colaboradores Alice Labate Salas, Ana Vitória Leal Graziano, Anna Morais Atsuhiko Moraes, Catarina Moura, Chloë Dubois, Duda Cambraia, Enzo Alexandre de Almeida, Gabriela Soares, Giovanna Ruzene, Giulia Pontes, Giullia Reggiolli, Gustavo Fongaro, Helena Fortunato, Iasmin Paiva, Isabella Nobre Tiezzi, Isabelle Bulla, Luana Cataldi, Luca Ioni, Malu Ogata, Marcelo Kawamoto dos Santos, Maria Clara Bispo, Maria Luiza Baccarin, Matheus Marcondes, Pedro C. Guarache, Pedro Carvalho, Pedro Lopes, Sergio Miguel, Sophia Olegário, Vitor Alves Altino, Wenderson Matheus da Silva
nossa história, aquilo que não foi retrato como uma estrutura do racis-
CEJor, Centro Experimental de Jornalismo da ESPM-SP agenciadejornalismo-sp@espm.br Rua Dr. Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana São Paulo, SP Tel. (11) 5085-6713
em que ele diz: “Não basta não ser racista, devemos ser antirracistas”. A
Projeto gráfico e direção de arte Marcio Freitas A fonte Arauto, utilizada nesta publicação, foi gentilmente cedida pelo tipógrafo Fernando Caro.
nos leva às periferias dos espaços, dos corpos marginalizados, das ideias periféricas. Ao apresentarem nos textos muitos dos dilemas das questões raciais, ficará evidente o poder que tem a palavra ao encontrar na liberdade de expressão um contexto para fazer democracia. A preocupação com o tema internacional Black Lives Matter traz para o leitor uma visão global do racismo em sua estrutura geopolítica e nos obriga a olhar novamente para nossa realidade local a partir das raízes. Neste ponto, os textos nos fazem ver o que sempre esteve exposto em mo epistemológico que durante muito tempo restringiu as falas negras a meras interpretações da ciência e do discurso branco e eurocêntrico. A delicadeza dos textos fala sobre afetos e emoções, que também fazem parte dos modos de ser negro no Brasil. “A solidão da mulher negra” é um destes fatores emocionais que falam aos nossos afetos e nos permitem de forma afetada entender que o racismo que estrutura as bases da nossa sociedade também estrutura nossas emoções e afetos. As narrativas, os dados estatísticos e as emoções de cada texto são em si uma oferenda aos leitores “despachada nesta encruzilhada” de pensamentos e que levam os leitores a alimentarem suas almas com banquete dos orixás. Ali, por meio dos textos, irão incorporar não apenas informações, serão guiados às possibilidades de pensar uma sociedade antirracista, como bem apresenta a entrevista realizada com Hélio de La Peña, fala de Hélio nos remete a um olhar de esperança. A terra de todo homem negro brasileiro com consciência racial é a diáspora africana, mas sabe-se também que é seu próprio corpo o primeiro lugar de habitação fora da África. Se ao fim de cada texto entendermos que o racismo é estrutural e um impedimento para o desenvolvimento da nossa própria humanidade e para o desenvolvimento sustentável do nosso bem comum, poderemos então dizer que estamos avançando em nossa educação antirracista. Se o racismo é estrutural, as mudanças devem ser também estruturais, por isso convidamos os leitores a “entrar na roda”, “gingar”, “incorporar” e fazer a travessia no combate ao racismo que cada texto propõe. MARCOS DA SILVA E SILVA, EDITOR CONVIDADO DA PLURAL
ÍNDICE
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página 18
página 18
VIDAS NEGRAS IMPORTAM Movimento Black Lives Matter se espalhou pelo mundo e chegou também ao Brasil, trazendo à tona a discussão sobre o racismo estrutural. Aponta para um amadurecimento da sociedade no sentido de perceber e criticar com mais força a exclusão racial e a discriminação contra os negros. Movimentos como esse alcançaram a sociedade para mudá-la para melhor. A luta é unificada. Países de diferentes polos estão lutando contra a violência, contra a necropolítica, contra a violência policial.
página 16 TERMOS RACISTAS A Plural listou os termos que devemos evitar para não utilizarmos a língua portuguesa para reforçar o racismo estrutural. Confira a lista e veja quais palavras ou expressões precisam sair do seu vocabulário.
página 22 PERFIL Marielle Franco, assassinada em 2018, foi uma mulher que mudou o jogo. Conheça mais sobre essa lésbica, negra e guerreira, que passou a vida lutando para que outros se sentissem mais amados e mais seguros.
página 24 CRIANÇAS A complexidade de criar crianças antirracistas começa desde a primeira infância. Essa questão fica ainda mais relevante para uma família negra, que precisa lidar com os desafios do racismo estrutural todos os dias.
Foto: Luca Carloni
Foto: Arquivo pessoal
página 34
Foto: Divulgação
página 6
Foto: Maria Luiza Baccarin
página 10
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ENTREVISTA
TEMOS VAGAS
TRANSIÇÃO
Hélio de La Peña sempre se destacou por ser um dos únicos negros em seu meio profissional. Nesta entrevista exclusiva, ele defede que “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
Empresas adotam ações afirmativas para ampliar a quantidade de negros nos seus quadros funcionais e em programas de trainee, como fez o Magazine Luiza, que criou um projeto só para negros.
A autoaceitação das jovens negras tem passado pelo processo de transição capilar, como nos conta a aluna Franciellen Rosa, que atravessa esse processo e discute as dificuldades e prazeres nele envolvidos.
página 26 HISTÓRIA O Laboratório de Formatos Híbridos do curso de Jornalismo fez um levantamento de grandes nomes de negras e negros brasileiros que entraram para a história. Confira e tente verificar quantos deles você conhece.
página 32 EXCLUSÃO As mulheres negras formam a maioria da população brasileira. Elas somam quase 60 milhões (28%), mas apenas 0,4% do quadro executivo das maiores empresas do Brasil é composto por esse grupo social.
página 36 DICAS DE LEITURA Pensando em desmistificar o racismo e colaborar no consumo de conteúdo produzido por pessoas negras, separamos obras como livros, filmes, séries, documentários e podcasts. Veja as indicações.
Veja mais fotos da manifestação Black Lives Matter. Basta apontar o celular para este QR code.
p&r
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ENTREVISTA: HÉLIO DE LA PEÑA ATOR, ROTEIRISTA E HUMORISTA
NÃO BASTA NÃO SER RACISTA, DEVEMOS SER ANTIRRACISTAS
rata, no qual percebeu sua vocação para GABRIELA SOARES GIULIA PONTES
o meio humorístico. Foi responsável pela roteirização e direção de seu progra-
»»» A luta antirracista não é nenhu-
ma, na maior emissora do Brasil, e logo
ma novidade. Mas, dadas as circuns-
se tornou uma personalidade de grande
tâncias e mudança de gerações, o mo-
influência para diversos jovens negros,
vimento ganha cada vez mais voz. A
que sonhavam em conquistar o meio ar-
presença de celebridades e influencia-
tistico, sempre liderado majoritariamen-
dores do assunto para levantar a ban-
te por brancos. Sua notoriedade se ba-
deira do combate ao racismo se torna
seia na posição de destaque que marca
referência no debate e engaja as novas
seu currículo, não apenas ganhando es-
gerações para reivindicar a discrimi-
paço nas telinhas brasileiras, o ator e di-
nação racial, mesmo que veleda. Um
retor preenche, também, a idealização e
exemplo é o ator, comediante, escritor
produção por trás das câmeras, trazen-
e diretor Hélio de La Peña. Conhecido
do consigo, um novo olhar à televisão.
por seu trabalho, atuando no progra-
“A discussão do racismo está aberta
ma humoristico Casseta & Planeta, da
agora, mas quando eu era um artista pre-
Rede Globo por mais de 18 anos, sem-
to da Globo, a minha presença por si só já
pre se destacou por ser um dos únicos
representava uma situação atípica. Mas
negros em seu meio profissional.
em situações nas quais eu não sou re-
Hélio conta que começou sua traje-
conhecido, eu continuo sendo vítima de
tória quando ainda cursava engenharia
ataques racistas. Neste ano mesmo, eu
na Universidade Federal do Rio de Ja-
estava abrindo um show para um ami-
neiro (UFRJ), após ser um dos idealiza-
go comediante, em um teatro dentro de
dores da revista independente Casseta
um shopping. Quando fui buscar meu
Popular e participar do programa TV Pi-
carro no estacionamento, o funcionário
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
não me reconheceu e me barrou”, contou De La Peña, sobre situações de discriminação que sofre até os dias de hoje. Atualmente, sua trajetória se tornou grande inspiração e por isso ele aproveita seu espaço de destaque nas redes sociais para abordar questões importantes, como as cotas raciais, racismo estrutural e o caso de George Floyd. De La Peña, também, aproveita sua fama e rede de contatos para discutir pautas raciais com outros artistas e até especialistas negros. Confira mais detalhes da entrevista exclusiva com o humorista, na qual ele revela sua relação com a luta antirracista em meio sua grande representatividade histórica no meio audiovisual e cultural.
Como foi sua jornada até chegar aonde você está hoje? Tudo começou quando eu cursava Engenharia na UFRJ, e decidi junto de outros colegas desenvolver um jornal acadêmico de humor, o Casseta Popular. A revista foi ganhando fama, até que fomos convidados para trabalhar profissionalmente como humoristas na TV Pirata, no qual um produtor da Rede Globo percebeu que a produção tinha futuro no audiovisual e surgiu a ideia do programa Casseta & Planeta Urgente, que ficou ao ar de 1992 até 2012, sempre líder de audiência.
Você lembra da primeira vez que sofreu algum tipo de ataque racista ? Uma situação que foi muito marcante pra mim foi quando eu estava apresentando o show Casseta & Planeta para o
RAIO-X Hélio Antonio do Couto Filho Origem: Rio de Janeiro Formação: Graduado em Engenharia de Produção pela UFRJ, onde fundou a revista de humor Casseta Popular, dando origem ao grupo Casseta & Planeta, anos mais tarde
teatro na capital de São Paulo. Quando a
cista mesmo depois de ganhar reconhecimento do público e fama ?
olhar o tíquete do carro, para provar que
do lado de fora conversando com a mãe
Depois que me tornei uma figura po-
bar. Foi o fim da picada. O cara ainda de-
do meu colega e artista Beto Silva, quan-
pular, me tornei menos alvo desse tipo
pois percebeu quem eu era e fiquei até
do fui abordado pelo segurança do local
de ataque, mas em situações nas quais
com pena dele, de tanta vergonha que
me acusando de ter roubado a bolsa de-
eu não sou reconhecido, eu continuo
ele estava sentindo.
la. Quinze minutos antes eu estava em
sendo vítima de ataques racistas. Neste
cima de um palco em um teatro lotado,
ano mesmo, eu estava abrindo um show
mas quando saí na rua eu era só mais um
para um amigo comediante, em um te-
negro sujeito a esse tipo de tratamento
atro dentro de um shopping no Rio de
de ser sempre suspeito de alguma coisa.
Janeiro. Quando fui buscar meu carro
No auge da fama do programa Casseta & Planeta, como era a representatividade de ser um negro na maior emissora de televisão do Brasil ?
no estacionamento, o funcionário não
A discussão do racismo está aberta
apresentação terminou, eu estava na rua
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Como você enxerga o racismo e a luta racial no Brasil?
eu não estava tentando entrar para rou-
me reconheceu e me barrou de entrar.
agora, mas, quando eu era um artista
Ele colocou a mão no meu peito e exigiu
preto da Globo, a minha presença por si
Por toda minha vida, sempre fui a mi-
só já representava uma situação atípica.
noria. Eu era o único negro da minha sa-
Eu nunca fiquei conhecido por papéis de
la na escola e essa situação percorreu até
ladrão, bêbado ou policial. Eu fazia par-
a vida adulta, e por isso sempre estive exposto a esse tipo de situação de dis-
Foto: Divulgação
te do grupo de escritores e produtores, o que me dava mais autonomia para po-
criminação. Esse assunto não era toca-
der escolher representar o que eu quiser,
do por ninguém. Não era como agora,
e essa situação era totalmente privile-
que existe essa discussão. Antigamente
giada. Dessa forma, vários comediantes
era debatida mais uma questão de dife-
negros viram em mim a possibilidade de
renças de classe, a questão social esta-
seguir essa carreira, sem medo de não ter
va muito mais em pauta do que a racial.
liberdade para ser o que quiser. Acredito
Eu acho que a questão racial é mais pre-
que essa nova geração de negros artistas
sente hoje, não apenas por conta do epi-
me veja como uma referência.
sódio do George Floyd, mas também por conta do resultado bem sucedido das cora as universidades, o que gerou um cen-
Qual a importância de debater e levantar a luta antirracista na mídia, já era presente desde o ínicio da sua carreira ?
tro de reflexão. As pessoas começaram a
Eu diria que hoje em dia falo muito
se identificar com o assunto, a se apro-
mais sobre o assunto do que em toda a
ximar, conversar a respeito, forçar mais
trajetória do Casseta, porque minha in-
a barra.
fluência se dá pelo fato de ser eu, estar
tas raciais, que levou muitos negros pa-
ali já era completamente inédito na his-
Você já sofreu algum tipo de ataque ra-
Cartaz do novo filme de De La Peña
tória da TV. A sociedade está avançando, dando passos à frente. O ativista está sempre falando daquilo, acaba sendo chato mas é um chato necessário, para colocar aquilo em discussão.
Como você vê a importância de escalar negros em papéis de destaque na mídia?
“ACREDITO QUE ESSA NOVA GERAÇÃO DE ARTISTAS ME VEJA COMO REFERÊNCIA”
Na população brasileira, mais de 50% se declara negra. Mas não tem esse mesmo número de marginais, bandidos e traficantes, ou seja, tem negros ocupando diversas funções na sociedade. Porque então você restringe um negro a papéis
“AS PESSOAS COMEÇARAM A SE IDENTIFICAR MAIS COM O ASSUNTO, CONVERSAR A RESPEITO”
como policial, bandido e traficante. Estava no ar até há pouco tempo, na novela Totalmente Demais, da Rede Globo, fazendo um papel de advogado. Uma si-
“A REPRESENTATIVIDADE É MUITO BAIXA E ISSO SEMPRE FOI TRATADO DE UMA FORMA NORMAL”
soa não percebe situações culturalmente enraizadas e se você comenta, a pessoa se sente até mesmo ofendida. As pessoas têm que entender a questão do racismo estrutural e sua presença em toda a
“ESTAMOS NO BRASIL, UM PAÍS COM A MAIORIA NEGRA, MAS NÃO OS VEMOS PORQUE ESTÃO SEMPRE EM UMA SITUAÇÃO INFERIORIZADA”
sociedade, ouça e aprenda com isso. Se questione sobre as pequenas coisas, esse é o princípio para mudar a sociedade. A piada que sacaneia o branco no palco não é racismo inverso, porque essa piada não tira o emprego de ninguém, não barra e nem impede nada. O racis-
“ O RACISMO ACONTECE QUANDO A POLÍCIA INVARIAVELMENTE ME PARA NA RUA SEM EU TER FEITO NADA”
mo acontece quando a polícia invariavelmente me para na rua sem eu ter feito nada, quando eu entro em um prédio e sou mandado para a entrada de serviço, quando em uma entrevista de emprego, as oportunidades são menores para os negros simplesmente por sua aparência, por sua cor. O racismo inverso não existe, porque essas coisas não acontecem com brancos e o crescismento da luta antirracista não tem nenhuma relação com
tuação diferente na televisão, que não
em uma rede social aberta ao público.
isso. Não basta não ser racista, devemos
deveria ser diferente. Chegando novem-
Uma coisa é o público e outra os profis-
ser antirracistas, devemos escutar o que
bro, a quantidade de propagandas, revis-
sionais. Nós profissionais nos zoamos, o
aquela pessoa tem a dizer. Neutralizar é
tas e jornais que acrescentam a figura de
stand-up mesmo é baseado em uma coi-
anular aquele comentário e mantém as
uma pessoa negra. Acabando o período
sa de você se autossacanear, temos uma
coisas como elas são. As coisas têm que
da consciência negra, volta tudo ao nor-
liberdade e uma tolerância maior. Mas
mudar agora.
mal. A representatividade é muito bai-
ainda existem pessoas que fazem piadas
xa e isso sempre foi tratado de uma for-
inconvenientes. No entanto, no meio hu-
ma normal. Hoje, por conta de toda essa
morístico não vejo tanto problema quan-
discussão acontecendo, algumas pesso-
to eu vejo na sociedade de uma maneira
Em novembro lancei um filme chama-
as têm prestado mais atenção. Estamos
geral. Eu acho inclusive que esse tipo de
do Correndo Atrás, esse filme é baseado
no Brasil, um país com a maioria negra,
piada preconceituosa vem perdendo es-
em um livro que eu lancei há um tempo
mas não os vemos porque estão sempre
paço, não só por pressão, mas as pessoas
chamado Vai na bola do Anderson, é uma
em uma situação inferiorizada, decaída.
não acham mais graça. Ainda têm alguns
comédia mas tem a ver com a questão ra-
As artes acabam refletindo o que é socie-
nichos em que pessoas riem dessas pia-
cial. Não por levantar a bandeira antirra-
dade, espero que a transformação se dê
das de “tiozão”, mas já alcançaram sua
cista, mas por ter um elenco, comando,
na sociedade, e assim, refletirá na arte.
validade. A piada que ninguém ri o hu-
direção majoritariamente negra. Temos
Estão impondo à arte um papel de van-
morista deixa de fazer.
que passar desta etapa, que é importan-
guarda, desta mostrar algo que na ver-
Você tem algum projeto para o futuro que aborda o assunto?
te porém insuficiente, de só ter negro na televisão quando o assunto é racismo. Eu
ações não tão perceptíveis, é a bolha em
Qual é o papel do artista, de usar sua influência e alcance de público, para falar sobre o racismo ?
que as pessoas vivem.
É importante você ter figuras de refe-
sível porque tinha pretos no comando.
dade não está acontecendo. É isso que chamamos de racismo estrutural, situ-
acho que esse filme que estou lançando aponta para esse lado, e ele só foi pos-
rência para trazer essa discussão, até pe-
Montamos uma equipe de pessoas talen-
Existe desigualdade racial velada em forma de piada dentro do meio humorístico? Qual sua opinião do “politicamente correto” dentro do meio humorístico?
la falta de contato com as pessoas negras
tosas e negras. Para dar espaço para essa
em seu convívio. Hoje em dia, tem a ima-
mudança e furar essa bolha você preci-
gem do racista como supremacista bran-
sa de pessoas negras em posições-chave
co da Ku Klux Klan, às vezes você não se
para a sociedade, nas camadas superio-
O meio dos humoristas tem muito
considera racista mas a sociedade te co-
res da sociedade para também incluir e
mais liberdade e noção de interpreta-
loca em situações e ali você acaba sendo
dar espaço para mais pessoas pretas co-
ção de texto, diferentemente de estar
racista em coisas do seu dia a dia. A pes-
mo um todo.
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Somente 4,7% dos cargos de direção são ocupados por negros FOTO: CHRISTINA/ UNSPLASH
O COMBATE AO RACISMO ESTRUTURAL As medidas afirmativas que têm sido tomadas pelas empresas no Brasil
IASMIN PAIVA LUANA CATALDI MARIA CLARA BISPO MARIA LUIZA BACCARIN MATHEUS MARCONDES
isso é quase instantâneo. Penso que a
amplamente elogiado, mas também
diversidade é o maior ativo intangível
gerou polêmica e sofreu críticas de polí-
que uma empresa possa ter”, opina.
ticos, parte da população e até magis-
Para Paixão, é necessário um olhar
trados.
mais profundo para reconhecer o poten-
Além do MagaLu, diversas outras
»»» O Brasil é um país onde 50,94% da
cial de uma pessoa. “Devemos reconhe-
empresas desenvolveram políticas de
população se declara preta ou parda,
cer pela força de vontade, pela verdadei-
inclusão em seu departamento de recur-
mas apenas 5% dos executivos são
ra intelectualidade e sabedoria, pelo bom
sos humanos. Em junho deste ano, o
negros. Várias empresas têm tomado
caráter. Sempre há espaço para desenvol-
coletivo Bock, movimento negro dentro
iniciativas para modificar esse cenário.
ver e abrir as portas, ajudar esses jovens
da Ambev, criou um comitê de diversida-
De acordo com Edson Paixão, presi-
a romper suas próprias barreiras e pro-
de racial na empresa. Com diversos com-
dente da Ultragenyx Brasil Farmacêu-
mover um mundo mais diverso”, afirma.
promissos como “ampliar a representa-
tica, a diversidade é importante para a
Um dos exemplos mais recentes de
tividade de pessoas negras em processos
própria empresa promover inteligência
projetos para inclusão de negros em
seletivos e contratações, bem como em
e criatividade na sua produção, além
cargos de relevância dentro de empre-
promoções, capacitando profissio-
de respeito e crescimento pautado no
sas foi o programa de trainee do Magazi-
nais com potencial”, o comitê acabou
desempenho. “Um time plural tende
ne Luiza, que disponibilizou vagas exclu-
ampliando um projeto de estágio cria-
sempre a atuar em alta performance e
sivamente para negros. O programa foi
do no fim do ano passado, o Representa.
A CONTINUIDADE E A EFICÁCIA DESSAS MEDIDAS AFIRMATIVAS DEPENDEM DO ENGAJAMENTO DE TODA A EMPRESA DE MODO GLOBAL
considerando o contexto do nosso país.” O processo para formular políticas afirmativas, no entanto, pode se deparar com algumas dificuldades. Gisele Rosa, coordenadora de DHO da Raízen, afirma que uma das principais dificuldades para definir uma ação para promover a diversidade é a falta de informação. “Não temos em cadastro dados autodeclarados e isso traz uma miopia sobre eles”. Mesmo em etapas mais avançadas do processo, as empresas lidam com pressões populares contra as medidas, como a Ambev, que foi acusada de racismo reverso, principalmente nas redes sociais, depois de expandir seu
Executivas negras durante reunião de trabalho |
FOTO: CHRISTINA/ UNSPLASH
programa Representa. A continuidade e desenvolvimento dessas medidas, portanto, dependem
“Sabemos que as desigualdades sociais
Grupo Tático, são representados predo-
de uma articulação de toda a empresa,
são um problema estrutural e que, infe-
minantemente por funcionários pretos
“não somente com a alta liderança, mas
lizmente, se refletem no mercado de tra-
e pretas, para que seja possível exerce-
também com todos os colaboradores é
balho. Entendendo isso, o Representa foi
rem seus lugares de fala e protagonismo”
fundamental para construção de uma
criado com a ótica de derrubarmos as
afirma Wilson Marcondes, líder do pilar
cultura inclusiva e um ambiente madu-
barreiras ocultas e ampliar a represen-
na Accenture. O Colour Brave acabou por
ro para inclusão”, conta Patrícia Leung.
tatividade dentro da companhia”, decla-
impulsionar diversas ações na empresa,
Outro ponto levantado por ela são as
rou a Ambev em nota. Também destacou
como o programa de estágio AddVentu-
parcerias com consultorias especializa-
que o programa não conta com restrições
res2Go, que teve mais de 3 mil inscritos
das, que permitem o fortalecimento na
de cursos ou instituições de ensino, além
logo na primeira semana de publicação
conscientização e no desenvolvimento
disso, o candidato não precisa ter expe-
e recrutou 24 jovens negros.
de lideranças inclusivas.
riência profissional prévia e nem conhe-
O debate público gerado a partir da
Pedro Jaime, professor da ESPM, é
cimento em língua inglesa, critérios que
implementação das medidas, por si só,
doutor em Antropologia Social pela USP
geralmente são os principais na hora de
já é uma conquista apontada por Patrí-
e autor do livro Executivos negros: racis-
acentuar as desigualdades nos proces-
cia Leung, líder de Relacionamento Uni-
mo e diversidade no mundo empresarial.
sos. A empresa afirma ainda que ficou
versidade & Onboarding na Bayer Bra-
“Ele (o racismo) se atualiza no presen-
positivamente surpresa com o resulta-
sil. A executiva acredita que, desde que
te, dentre outras formas, por meio de
do imediato das medidas: “O programa
foi criado o grupo que promove uma
padrões estéticos que resultam em este-
atingiu um número elevado de inscrições
série de ações para desenvolver e discu-
reótipos raciais e fazem o negro não se
o que nos mostra o interesse e a quanti-
tir políticas de igualdade étnico-raciais
encaixar no perfil de executivo”, explica.
dade de talentos que temos no mercado”.
dentro da companhia, o BayAfro, em
“As empresas privadas e instituições
A empresa de consultoria e TI Accen-
2015, alguns dos principais objetivos já
públicas podem contribuir [para a dimi-
ture também tem implantado medi-
tenham sido alcançados. “Provocar refle-
nuição da desigualdade racial] adotan-
das afirmativas. Foi criado um comitê
xão sobre as nossas estruturas e sobre
do políticas com metas e ações planeja-
de representatividade racial dentro da
a necessidade de políticas de inclusão
das para a promoção da inclusão racial
empresa, o Colour Brave. “Tanto o spon-
voltadas para valorização étnico-racial;
nos seus diferentes níveis hierárquicos,
sor, que é um executivo de carreira da
e avançarmos com iniciativas inclusi-
especialmente nos postos de direção e
Accenture, quanto os integrantes do
vas através de práticas intencionais,
gerência”, afirma.
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HÁ NEGROS NO PODER? Em um país com 55% da população negra, os cargos de poder não refletem sua diversidade étnica
da vida em sociedade, provocada pelas IASMIN PAIVA MARIA LUIZA BACCARIN MATHEUS MARCONDES
diferenças de classe social, gênero, defi-
»»» “Se a gente não acessa os espa-
em beneficiar toda a população. Para o
ços de poder, o negro no Brasil sempre
mestrando em Ciência Política pela UFPE
será a figura subalternizada e invisi-
Bhreno Vieira, a falta de representativi-
bilizada.” A discussão sobre repre-
dade da diversidade social brasileira nas
sentatividade racial pode ser sinteti-
instituições públicas é um “forte sinto-
zada na frase de Anderson Severiano,
ma de que a nossa democracia não está
diretor de escola municipal em São
funcionando tão bem, pois ela não atende
Paulo. Diversificar os olhares nas
em termos de interesse ou preferências
posições de poder é superar a norma-
de uma parcela majoritária do país, que
tiva branca, predominante no país.
é a população afro-brasileira”. Custódio
ciência, raça e entre outros”, explica. Sendo assim, falar em inclusão é falar
Mas também é ampliar as perspecti-
reforça que um Congresso não represen-
vas acerca da realidade. “Quem perde é
tativo da diversidade racial do país signi-
quem está linearizando esses olhares”,
fica “tomar decisões que estão distantes
conclui o professor. Em última instân-
de atender o anseio da população”.
cia, Cintia Araujo, professora e pesquisa-
O racismo estrutural das instituições
dora sobre diversidade em empresas, diz
brasileiras tem histórico de longa data.
que superar essa visão pautada no olhar
O cientista político define esse processo
branco “cria uma sociedade mais iguali-
a partir de três elementos: “O primeiro é
tária onde essas diferenças não sejam tão
a escravidão, seguida da ausência de um
gritantes como a gente vive hoje em dia”.
Estado capaz de reduzir as desigualdades
Tendo isso em vista, é importante que
e clivagens nacionais, seguida de estrutu-
em uma democracia a sociedade pense
ras dominantes (instituições públicas ou
coletivamente. Para tanto, a represen-
privadas) que refletem ainda uma domi-
tatividade é fundamental nesse siste-
nação que teme uma maior autonomia da
ma. A advogada Karen Custódio defen-
população preta e parda do Brasil”.
de que ela gera a sensação de ser incluída
A origem disso é o mito da democra-
na sociedade, de que seus anseios serão
cia racial, a teoria que nega a existência
atendidos. Além disso, por meio dela é
da desigualdade racial. Karen Custódio
possível alcançar algo essencial: a inclu-
explica que “a diversidade cultural por
são social. “O conjunto de meios e ações
aqui é sinônimo de desigualdade social,
que combatem a exclusão aos benefícios
que se assevera pela perpetuação do
NO CONGRESSO BRASILEIRO, SÓ
17,8% DOS POLÍTICOS SÃO NEGROS
“A diversidade cultural por aqui é sinônimo de desigualdade social, que se assevera pela perpetuação do elitismo branco como forma de manutenção de poder” Karen Custódio, advogada pós-graduada em Direito Público
A diferença salarial entre brancos e negros com ensino superior é de 31% FOTO SHIRONOSOV/ISTOCK
o #VoteEmPreto, são um caminho para enxergarmos a identidade racial como uma pauta política poderosa para enfrentar as estruturas de poder, quase intocáveis desde o período colonial. Há a necessidade de campanhas de conscientização e monitoramento permanentes que possam fomentar debates sobre como a população afro-brasileira pode se enxergar pertencente ao cenário político. “Parte de iniciativas como essas são realizadas por movimentos e coletivos negros, mas também poderiam receber algum apoio financeiro ou moral por parte do Estado. Seria algo como cotas internas, núcleos de assuntos afro-brasileiros ou a intensificação das garantias recém-aprovadas pelo TSE e referendadas pelo STF, por exemplo”, diz Vieira. No ambiente empresarial, o racismo também é um grande problema. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos elitismo branco como forma de manu-
(TSE) havia definido que candidatos
em 2020 aponta que, no Brasil, os negros
tenção de poder”. Anderson Severiano
negros têm direito a distribuição de ver-
ocupam apenas 4,7% dos cargos executi-
complementa: “No Brasil, o racismo é
bas públicas para financiamento de cam-
vos e 6,3% dos gerenciais. A professora e
velado, ninguém é racista. Nós vivemos
panha e tempo de propaganda eleitoral
pesquisadora Cintia Araújo acredita que
um apartheid invisível, um processo de
gratuita no rádio e na televisão em pata-
essa realidade existe por causa da falta de
divisão e separação invisível”.
mares mínimos e proporcionais.
estímulo ao estudo nas famílias negras.
Para se ter melhor ideia da pouca
“O povo negro, em sua maioria, tra-
“O teto de vidro é um termo que desig-
representatividade dos negros na polí-
balha para prover sua sobrevivência, e
na essa dificuldade de grupos de mino-
tica brasileira, basta analisar os núme-
não possui condições financeiras para se
rias entrarem nessas empresas, porque
ros. Nas eleições de 2014, embora 9.274
candidatar a um cargo político”, afirma
não existe uma regra ‘não entram mulhe-
candidatos a deputado tenham se auto-
Karen. A advogada acredita que a falta de
res, não entram negros nessas posições’”,
declarados negros, apenas 384 foram
representatividade racial pode ser mar-
declara.
eleitos. De acordo com O Globo, em 2018
cada por cinco pontos: o histórico social
De acordo com um estudo do Institu-
essa desigualdade se manteve. O núme-
do negro no Brasil; a baixa escolaridade;
to Locomotiva, a diferença salarial entre
ro de senadores e deputados negros cor-
a falta de recursos para investimento
brancos e negros com ensino supe-
responde a 27% do total de parlamenta-
financeiro; a falta de tempo para dedica-
rior completo é de 31%. “Eu creio que,
res, bem menor que a proporção racial
ção exclusiva às campanhas; e a inexis-
pelo estereótipo, as pessoas negras não
do país, que alcança os 54% de habitantes.
tência de ação afirmativa no sentido de
estão inseridas em alguns círculos que
promover a equidade racial na política.
são interessantes, então você não cria as
Para tentar modificar esse cenário, uma decisão do ministro do Supremo
Só haverá um avanço na luta antirra-
relações, e as vagas para emprego não
Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewan-
cista quando houver um número expres-
circulam, eles não têm acesso a vagas de
dowski determinou que a cota financei-
sivo de negros ocupando cargos de des-
emprego”, diz Cintia. Apesar disso, ela
ra para candidatos negros fosse aplicada
taque na política. A advogada conclui
afirma que as discussões sobre diversi-
ainda nas eleições municipais de 2020.
dizendo que campanhas e movimen-
dade ajudaram na inclusão de pessoas
Em agosto, o Tribunal Superior Eleitoral
tos começados nas redes sociais, como
negras em processos de trainee.
14/15
INICIATIVAS PARA INCLUSÃO RACIAL NO BRASIL
instituição. As empresas atuantes são, por exemplo, Coca Cola Brasil, GPA, Magalu, Ambev, Petrobrás, Cargil, Banco do Brasil, Bradesco, Carrefour, Itaú, Eureca, Pwc, Natura, Movida, Santander, Correios, Google, OAB, P&G e tantas outras dos mais variados segmentos. Com um olhar voltado para o futuro, buscam aumentar em 5,6% a participação de afrodescendentes no quadro das empresas. O impacto estimado seria mais
Projetos promovem acesso do jovem negro ao ambiente corporativo
de 4 mil jovens, com contratação de 2 mil por meio de um banco de talentos. Outra iniciativa é a do ID_BR, como é conhecido o Instituto Identidades do Brasil, que possui como finalidade a mudança efetiva das culturas corporativas,
GIOVANNA RUZENE GIULLIA REGGIOLLI
tendo em vista a ampliação do número de pessoas negras em cargos de lideran-
»»» Instituições e eventos têm pro-
ça. Para eles, a igualdade racial deve se
movido iniciativas a fim de amenizar
tornar uma causa de todos na prática,
o abismo construído pela desigualda-
sendo assim, realizam diversas ações
de racial, devido ao racismo estru-
para promover a igualdade.
tural na sociedade brasileira. Entre
A ação mais reconhecida é seu evento
elas está a Iniciativa Empresarial pela
anual “Sim à igualdade racial”, no qual
Igualdade Racial, movimento forma-
busca, por meio de premiação, reconhe-
do por instituições e empresas, que
cer os principais nomes, instituições e
busca a promoção da inclusão racial
iniciativas que atuam em favor da igual-
e o comprometimento com a supera-
dade racial no Brasil. O prêmio tem 11 ca-
ção do racismo no ambiente corporativo, assim como em toda sua cadeia
Credencial do evento Jornadas da Diversidade | FOTO DIVULGAÇÃO
de valor, visando também a revisão e
tegorias, divididas entre educação, empregabilidade e cultura. Neste ano, as indicações aconteceram nos meses de
o aprimoramento da cultura empre-
janeiro e fevereiro e, segundo o Insti-
sarial, segundo a declaração da ins-
e relacionamentos inclusivos, criativos
tuto, houve mais de 17 mil nomes e pro-
tituição. As empresas parceiras re-
e inovadores.
jetos inscritos.
presentam mais de R$ 1,3 trilhão em
O movimento é formado por 73 gran-
O evento Afro Presença também evi-
faturamento, num total de 800 mil
des empresas nacionais e tem compro-
denciou o protagonismo negro ao re-
pessoas, atingindo alcance global.
misso com a promoção da diversidade
alizar painéis de debate com grandes
Segundo afirma Raphael Vicente, co-
étnico racial, por meio de programas de
empresas e oficinas para dicas de con-
ordenador da Iniciativa Empresarial, “o
desenvolvimento, aceleração de carrei-
sultoria de recrutamento e seleção. Os
objetivo do projeto é promover a equi-
ra e preparação de profissionais negros
painéis eram divididos em temáticas
dade e a pluralidade, compartilhar de-
para alta liderança, inclusão e equida-
como sociedade, mercado e carreira,
safios e aprendizados na promoção da
de dos trabalhadores por meio de for-
ocorrendo simultaneamente nos dias
diversidade e da inclusão racial, com
mação, desenvolvimento e acesso dos
30 de setembro a 2 de outubro.
foco na população negra”. Ele reforça
empreendedores negros a compra di-
O evento virtual foi promovido pelo
que o compromisso é com a valoriza-
recionada, inclusão tecnológica e fer-
Ministério Público do Trabalho, junto
ção da diversidade, relações pautadas
ramentas de gestão, de acordo com in-
ao Pacto Global da ONU, além do apoio
pela ética e a construção de ambientes
formações disponibilizadas no site da
da iniciativa privada.
soas, além de incluir mulheres de várias etnias em suas embalagens, mostrando a diversidade feminina no Brasil. Segundo o site oficial da empresa, o respeito é tão importante quanto os cosméticos, visando alcançar as mulheres comuns de todos os tipos. Mesmo com esse esforço, percebe-se que nem todas as pessoas têm acesso a essas marcas inclusivas. Uma olhada no site de uma rede de comércio de produtos de beleza mostra que os únicos tons
Cartaz da Fenty Beauty em loja de produtos de beleza |
FOTO: MARIA LUIZA BACCARIN
de base e corretivo com desconto são os mais escuros. Quando perguntamos para
COMO AS MARCAS ESTÃO INCLUINDO OS NEGROS Empresas focam esforços em produtos e serviços para atrair este público
uma vendedora o porquê disso, ela respondeu que, apesar de algumas pessoas acharem que os preços de produtos para pele negra foram reduzidos por causa dos movimentos antirracismo, como forma de apoio, na verdade a loja abaixa o preço desses produtos para tentar vendê-los, uma vez que há uma baixa procura por eles diante de seu preço elevado e pouco acessível a grande parte da população. De acordo com uma funcionária que gerencia as reclamações da empresa pelo site, poucas pessoas negras entram em contato insatisfeitas com os produtos.
negros também estão ganhando visibi-
“Por não ter tantos tons iguais aos que
LUANA FERNANDEZ CATALDI MARIA LUIZA BACCARIN
lidade, como é o caso do PretaHub, que
têm para as peles mais claras, pessoas
há 18 anos incentiva o empreendedoris-
com o tom de pele clara nos procuram
»»» No ano de 2020, o assassinato de
mo preto no Brasil.
muito mais”, informa ela.
George Floyd, nos Estados Unidos, re-
A Fenty oferece uma gama de cores de
O estudante de psicologia da Unifesp
sultou na intensificação de lutas antir-
base e corretivo que tem como objetivo
Leonardo Santiago, contudo, diz não se
racismo ao redor do mundo. Com isso,
incluir pessoas de todos os tons de pele,
sentir representado por marcas e, espe-
várias marcas, filmes e até mesmo mu-
algo incomum em diversas outras marcas
cialmente, pela propaganda. “Pode até
sicais que visavam a inclusão de pesso-
de maquiagem, além de disponibilizar
ter um tipo de inclusão, dependendo de
as negras ganharam destaque.
cores de batons, blushs e iluminadores
como você enxerga isso, mas eu vejo que
Algumas marcas se posicionaram a fa-
que teoricamente se encaixam com todas
o espaço que os negros têm acaba sen-
vor das lutas antirracismo, como a Fen-
as mulheres. De acordo com Rihanna, em
do de forma que reforça estereótipos ra-
ty Beauty, do segmento de maquiagem,
uma entrevista para a Vogue, a intenção
cistas”, diz. Santiago afirma ainda que o
fundada pela artista Rihanna, e a Lola,
da marca é que todos sejam incluídos,
movimento Black Lives Matter deu muita
uma empresa de cosméticos nacional
“pessoas de todas as cores, personalida-
visibilidade para a população negra, mas
que mesmo antes dos movimentos já
des, atitudes, culturas e raças”.
isso não é o suficiente, já que não deu
apresentava diversidade em seus pro-
A Lola criou produtos para cabelos que
dutos. Além disso, marcas fundadas por
podem satisfazer todos os tipos de pes-
espaço para os negros falarem de tema que não o preconceito sofrido por eles.
Foto:Maria Luiza Baccarin
tempo. “A partir do momento em que começamos a ter conhecimento da língua portuguesa, nós apenas a reproduzimos e consequentemente reproduzimos a carga racista presente na língua”, declara a professora. Ainda assim, a língua é algo vivo, que
16/17
está em constante mudança e sofre alterações junto com a sociedade. Marcos Silva explica que, mesmo que o racismo esteja enraizado no cotidiano dos cidadãos, a democracia pode reverter esse cenário, ela pode “modificar algumas situações e condições sociais que nos
O RACISMO NA LÍNGUA PORTUGUESA
permitam viver em um modelo demo-
Saiba por que alguns termos usados no cotidiano precisam cair em desuso
ou pardas, conforme o IBGE. A União de
crático que de fato integre a todos”. Bettyna acredita que o primeiro passo para a mudança é se assumir racista. “Algumas coisas não são tão óbvias, como é o caso do criado-mudo, mas outras são tão escancaradamente racistas que é impossível não perceber. Isso foi naturalizado, mas precisamos desnaturalizar”. O conceito de “negro” é definido pelo Estatuto da Igualdade Racial como o conjunto de pessoas que se declaram pretas Negros pela Igualdade (Unegro), apesar de aceitar as regras do IBGE, afirma que o mais adequado é usar o termo negro.
vocrata do Brasil fez com que os precon-
Na coluna de Afro Igualdade do iG, diver-
ceitos linguísticos fossem incorpora-
sas pessoas foram entrevistadas para dis-
dos ao cotidiano. “Os sentidos culturais
cutir qual é o termo mais aceitável. Para
»»»O racismo está enraizado na his-
de uma língua são transmitidos todo o
Maurício Poeta, vocalista do Puro Acaso,
tória tanto brasileira quanto mundial.
tempo por um instrumento que influen-
negro é o mais adequado, uma vez que se
Desde a época da Grécia Antiga “criou-
cia a percepção de dezenas de milhões de
refere à raça, mas preto não está errado
-se uma visão monstruosa da África”,
pessoas, sendo que ele é integralmente
porque a raça oposta teoricamente seria
de acordo com o professor de filoso-
controlado por membros do grupo racial
a branca.
fia Marcos da Silva e Silva, da ESPM.
dominante”, comenta o professor.
LUANA FERNANDEZ CATALDI MARIA LUIZA BACCARIN
A modelo Bia Moreno diz que não se
Essa ideia foi repassada para as narra-
A professora assistente de língua por-
ofende com nenhum dos dois termos.
tivas religiosas islâmicas e para o cris-
tuguesa da escola Móbile Bettyna Frei-
“Eu aprendi na minha primeira esco-
tianismo e fundou o motivo de subju-
tas acredita que a língua é um elemento
la que o correto é preto. Na escola que
gar e escravizar os negros no período
essencial na cultura de um povo. Dessa
estou agora me ensinaram que o corre-
colonial. Esse contexto histórico criou
maneira, assim como Silva, julga que os
to é negro.” A maioria dos entrevistados
o Brasil racista e segregado que conhe-
300 anos de escravidão no Brasil impac-
teve uma opinião parecida com a de Bia,
cemos hoje.
tam diretamente na maneira como o
dizendo que o termo não importa, e sim
português se desenvolveu ao longo do
a entonação e o objetivo da fala.
Silva diz acreditar que o passado escra-
MESMO COM O RACISMO NO COTIDIANO, A DEMOCRACIA PODE MUDAR O CENÁRIO
ESTAMPA ÉTNICA Expressão que considera exóticas estampas usadas por povos negros. Visão eurocêntrica.
GLOSSÁRIO
Termos racistas que você não deve usar A COISA ESTÁ PRETA Significa que algo está ruim, mais uma vez trazendo preto como algo negativo. A DAR COM PAU Expressão que vem dos navios negreiros, em que muitos preferiam a morte em vez da escravidão e, por isso, faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para reverter isso, foi criado um “pau de comer”, com a finalidade de jogar angu, sopa e outras comidas pela boca dos negros. CABELO RUIM/PIXAIM/DURO/DE BOMBRIL Cabelos considerados “rebeldes”, “cabelo duro”, “carapinha”, “mafuá”, “piaçava”, termos que inferiorizam os cabelos negros, tratando-os como ruins, por serem diferentes do liso dos padrões de beleza. COR DE PELE Entende-se que essa cor seria algo entre o bege e o rosa, do tom de pele de pessoas brancas, sendo que esse tom não representa a cor de pele da maior parte dos brasileiros. CRIADO-MUDO Termo usado para definir um móvel que fica do lado da cama e surgiu de uma atividade feita pelos escravos, segurar objetos, enquanto eram proibidos de falar. DA COR DO PECADO Expressão usada principalmente por brancos e remete ao tempo da escravidão, em que o corpo negro era sensualizado. Assim, o tom de pele negro seria considerado pecaminoso. DENEGRIR Esse termo significa fazer algo ruim que manche sua reputação. Dessa maneira, seria como dizer que algo de cor mais escura é inferior ou pior.
FAZER NAS COXAS Acredita-se que a expressão teve origem do hábito dos escravos de moldarem telhas em suas coxas, que, por não se encaixarem corretamente em suas coxas, seria mal feita. INVEJA BRANCA Usada para falar de uma inveja que não faz mal. Mais uma vez exaltando que o branco é positivo e o negro, negativo. MEIA TIGELA Quando os negros não conseguiam atingir suas metas nas minas de ouro, eram punidos recebendo apenas meia tigela de comida. Assim, o termo ofensivo. “Moreno” embranquece a pessoa, o que “amenizaria” a forma de definir sua cor de pele, portanto, é racista. MERCADO NEGRO, MAGIA NEGRA, LISTA NEGRA Expressões que trazem a palavra “negra” como algo pejorativo e ruim. MORENO Termo usado por pessoas que acham “negro” uma palavra ofensiva. “Moreno” embranquece a pessoa, o que “amenizaria” a forma de definir sua cor de pele, por tanto, é racista. MULATA Expressão que vem de “mula” (cruzamento entre égua e burro), referia-se às filhas de senhores de engenho com escravas, mulheres negras. NÃO SOU TUAS NEGAS Refere-se à mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo”, criando a visão de que se pode tomar quaisquer liberdades com ela, como na época da escravidão, em que ela era propriedade do senhor de escravos. NEGRO(A) DE TRAÇOS FINOS Usado para se referir ao que seria uma “beleza exótica”, por ser diferente dos padrões europeus. Traços finos seriam os traços comuns aos brancos. OVELHA NEGRA Também remete à palavra negra algo ruim, inferior.
DIA DE BRANCO Refere-se ao dia do trabalho, subentendendo-se que o branco trabalha, enquanto o negro é um vagabundo.
PÉ NA COZINHA: Na época da escravidão, mulheres negras escravas trabalhavam na cozinha dos casarões e eram impedidas de frequentar outros cômodos da casa. Nesse contexto, a expressão sugere a segregação de mulheres negras.
DOMÉSTICO Vem de “domesticar” e era usado como uma forma de se referir a escravos que deveriam ser controlados por meio da tortura.
SERVIÇO DE PRETO Expressão usada para diminuir o trabalho de alguém, que desqualifica a competência dos negros.
18/19
O MOVIMENTO QUE ENTROU PARA A HISTÓRIA
BLACK LIVES MATTER des nos Estados Unidos. Estima-se que
nasceram com o intuito de formar cone-
entre 15 milhões e 26 milhões de pesso-
xões, de aproximar as pessoas. As lutas
as tenham participado dos protestos e
sociais agora alcançam muito mais espa-
»»» O movimento Black Lives Matter
que houve mais de US$ 500 milhões em
ço do que o bloqueio de avenidas, agora
(do inglês Vidas Negras Importam)
prejuízos ao patrimônio, apesar de o The
as pautas migram de país em país. A luta
ganhou força em maio deste ano, quan-
Washington Post ter calculado que 96,3%
é unificada. Países de diferentes polos
do imagens do assassinato de George
dos protestos não causaram nenhum tipo
estão lutando contra o racismo, contra
Floyd viralizaram na internet. Floyd
de dano.
a violência, contra a necropolítica, con-
GIULIA PONTES, GIULLIA REGGIOLLI, MARIA CLARA BISPO E MATHEUS MARCONDES
era segurança, tinha 46 anos e vivia em
O movimento aponta para um ama-
tra a violência policial. “O fato de você
Minneapolis, cidade mais populosa do
durecimento da sociedade no sentido
poder se apropriar dos dispositivos digi-
estado de Minnesota. Ele foi abordado
de perceber e criticar com mais força a
tais, de colocar isso em âmbito interna-
por policiais, acusado de possuir uma
exclusão racial e a discriminação contra
cional e de criar uma consciência política
nota de US$ 20 falsa, e logo foi imo-
os negros. Caminha ao lado de evoluções
a partir da distribuição desses conteúdos,
bilizado: Derek Chauvin, um policial
como as iniciativas para empregar mais
mudou a realidade. Não é que o racismo
branco, pressionou seu joelho contra
pretos e as ações de instituições para a
ficou pior, mas agora está sendo filma-
o pescoço de Floyd – que repetia “não
valorização deles dentro das empresas,
do”, complementa Juarez Xavier, jorna-
consigo respirar” (I can’t breathe) e
especialmente os jovens.
lista negro especializado em afrodescen-
“você vai me matar” – por cerca de nove minutos.
Movimentos como esse alcançaram
dentes e mídia racial.
a sociedade para mudá-la para melhor.
Embora os especialistas avaliem que
Nas semanas seguintes, protestos se
Podemos afirmar que esse, sim, é o “novo
essa onda de protestos seja a maior da
espalharam por mais de duas mil cida-
normal”. As tecnologias e redes sociais
história da luta racial norte-americana –
Protesto do movimento #VidasNegrasImportam FOTO: LUCA CARLONI
de acordo com o The New York Times mais
cidades anunciaram cortes e reformas
Brasil ela era segregacionista, mas havia
de 40% dos condados do país tiveram pro-
estruturais, que foram ganhos conquis-
um discurso oficial de que isso não acon-
testos ligados ao Black Lives Matter até
tados pelo movimento. Mas depois de
tecia, essa ideia de uma democracia racial
3 de julho – o movimento já tem pouco
novos assassinatos de pessoas negras,
anestesiou a consciência crítica da popu-
mais de sete anos. Foi iniciado em julho
como o de Breonna Taylor, os protestos
lação negra e também anestesiou a cons-
de 2013 por três ativistas, que se conhe-
seguem acontecendo.
ciência crítica da população não-negra
ceram na Organização Negra para Lide-
O movimento também ecoou interna-
rança e Dignidade, como forma de reta-
cionalmente. Protestos contra a discrimi-
Seis dias antes da morte de Floyd, o
liação pelo assassinato do jovem Trayvon
nação racial e a brutalidade policial ocor-
menino João Pedro Mattos, de 14 anos,
Martin, de 17 anos, morto a tiros ao vol-
reram nas principais cidades da Europa e
foi morto em uma operação no Complexo
tar da casa da noiva do pai.
da Oceania, bem como em muitos locais
do Salgueiro, no Rio. Na ocasião, o meni-
no Brasil”, analisa Xavier.
Desde então a comunidade negra nor-
na África e até mesmo no Brasil. O movi-
no brincava com os primos na casa do
te-americana tem usado o Black Lives
mento teve uma grande manifestação
tio, quando os policiais entraram atiran-
Matter como forma de protesto contra a
entre os brasileiros. Xavier explica, con-
do. Foram mais de 70 disparos. Seu corpo
morte de muitos inocentes. Alguns dos
tudo, que o contexto histórico no Brasil é
foi levado de helicóptero pelos policiais,
casos de maior destaque foram os assas-
outro. “Há um histórico de enfrentamen-
e os pais só puderam localizá-lo 17 horas
sinatos de Michael Brown, Eric Garner,
to racial nos Estados Unidos, que nós não
depois, no IML.
Tamir Rice, Sandra Branda e mais recen-
tivemos no Brasil. Nos EUA desde o final
Um dia após a morte de João Pedro, no
temente George Floyd.
da escravização há a política de encroa-
dia 20 de maio, João Vitor da Rocha, 18
Como forma de apaziguar as tensões,
chment do sul da região, sempre foi uma
anos, também foi assassinado em uma
os departamentos de polícia de várias
política abertamente segregacionista. No
operação da PM na Cidade de Deus, tam-
ANOS bém no Rio. No momento da morte, um coletivo chamado Frente Cidade de Deus distribuía cestas básicas para os afetados
NEGROS
67
73 ANOS
BRANCOS
EXPECTATIVA DE VIDA BRASIL
FEMINÍCIDIO: CRESCEU 12,4% ENTRE AS NEGRAS
BRASILEIRA
61% NEGRAS
pela crise da pandemia, quando os policiais chegaram atirando. As mortes dos
2,7X
dois meninos chamados João se somam
20/21
às milhares de crianças, jovens e adultos negros no Brasil. Como a menina Agatha, 8 anos, baleada dentro de uma Kombi escolar. Ou o caso de Cláudia Silva Ferreira, de 38 anos, que foi baleada em 2014 quando comprava comida para seus quatro filhos e, após ser colocada morta na
MAIS CHANCES DE SEREM VÍTIMAS DE HOMÍCIDIO QUE OS BRANCOS
2 EM CADA 3 DETENTOS SÃO NEGROS NO BRASIL, EM 15 ANOS,
PROPORÇÃO DE NEGROS CRESCEU 14% ENQUANTO A DE BRANCOS CAIU 19%
32,3% 66,7%
TOTAL É O DOBRO DOS EUA NO MESMO PERÍODO
860
NOS EUA OS NEGROS SÃO MORTOS PELA POLÍCIA 2 X MAIS QUE OS BRANCOS
NEGROS
OS NEGROS SÃO MENOS DE 13% DA POPULAÇÃO
IDADE: 26 ANOS QUANDO: 13 DE MARÇO PROFISSÃO: PARAMÉDICA COMO: DENTRO DE SUA CASA. PELO MENOS 5 TIROS CAUSOU PROTESTOS? SIM ASSASSINO PRESO? UM POLICIAL PAGOU FIANÇA E OUTROS DOIS ENVOLVIDOS NÃO FORAM INDICIADOS
IDADE: 8 ANOS QUANDO: 20 DE SETEMBRO PROFISSÃO: ESTUDANTE COMO: BALEADA DENTRO DE UMA KOMBI COM SUA MÃE CAUSOU PROTESTOS? APENAS DURANTE SEU ENTERRO ASSASSINO PRESO? CONTINUA TRABALHANDO COMO PM
215
NÃO NEGROS
viatura da PM, foi arrastada por cerca de 350 metros quando a porta traseira do veículo se abriu. Ou ainda a morte recente de João Alberto Freitas, por seguranças do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. BLACKOUT TUESDAY Com a grande movimentação ao redor do mundo iniciada com o movimento Black Lives Matter, principalmente pela repercussão causada com a publicação
IDADE: 46 ANOS QUANDO: 25 DE MAIO PROFISSÃO: SEGURANÇA COMO: ASFIXIADO PELO JOELHO DE UM POLICIAL BRANCO CAUSOU PROTESTOS? SIM ASSASSINO PRESO? FOI SOLTO APÓS PAGAR UMA FIANÇA DE UM MILHÃO DE DOLÁRES
IDADE: 14 ANOS QUANDO: 19 DE MAIO PROFISSÃO: ESTUDANTE COMO: BALEADO DENTRO DE CASA, ELA FOI ALVO DE 70 TIROS CAUSOU PROTESTOS? NÃO ASSASSINO PRESO? LAUDO INCONCLUSIVO, MAS FAMÍLIA DIZ QUE FOI POLÍCIA
Fontes: Ipea, Observatório da Segurança, Palmares.gov
de vídeos e hashtags na internet e nas redes sociais, portas se abriram para a luta antirracista, que ganhou visibilida-
to de silêncio para a conscientização das
ação bastante eficiente do ponto de vista
de e mais adeptos. “Criou-se uma nova
questões raciais, iniciado por artistas e
da ação performática, em atingir milhões
possibilidade de conectividade entre essa
grandes empresas, que tomou conta das
de pessoas, pautar a mídia global, a mídia
população jovem negra que experimen-
mídias e, com certeza, marcará a histó-
corporativa e a mídia radical”.
ta esse novo momento de enfrentamen-
ria. Artistas e esportistas como Lebron
to à violência racial”, afirma Xavier sobre
James, Michael Jordan, Rihanna, Anitta
DERRUBADA DE MONUMENTOS
o movimento.
e Preta Gil, apoiaram a campanha postan-
A violência policial já é marca de paí-
São jovens que se reúnem em coleti-
do uma foto preta em suas redes sociais,
ses que têm raízes escravocratas. Ape-
vos para modificar os espaços universitá-
mobilizando assim, pessoas de todo o
sar de ter ganhado notoriedade com a
rios em busca de igualdade racial, lutam
globo. Mas muitas críticas foram desen-
luta antirracista, atos brutais, principal-
por equidade dentro e fora das faculda-
cadeadas junto à ação. Há quem diga que
mente contra a população negra, estão
des em que estudam, se assumem negros
a homenagem atrapalhou o ativismo, ale-
presentes desde a fundação de muitos
em diversas atitudes até mesmo em rela-
gando que o “apagão” das imagens de
estados. Xavier recorda bases do racis-
ção aos seus cabelos, que deixam de ser
cor preta teria atrapalhado na identifi-
mo que moldaram a sociedade atualmen-
alisados e passam a ser crespos.
cação de informações úteis das hashta-
te. “Analisando no Brasil da escraviza-
Esses jovens, junto a uma multidão,
gs, como denúncias de violência policial,
ção, do colonialismo e do apartheid, são
em julho deste ano, mais especificamen-
protestos, entre outras coisas. O jornalis-
situações que criam uma visão sistêmi-
te no dia 2, uma terça-feira, levantaram
ta especializado em questões raciais dis-
ca do racismo”.
o Blackout Tuesday, movimento repre-
corda. “Os pesquisadores e ativistas do
O passado colonial ainda tem efeitos
sentativo para simbolizar um momen-
afrofuturismo consideram que foi uma
por todo o globo, conforme destaca Aisla
PROTESTOS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E A BRUTALIDADE POLICIAL OCORRERAM NA EUROPA, OCEANIA, ÁFRICA E NO BRASIL
até então era única e eurocentrista.” No que tange à polêmica de ser parte ou não da pauta dos movimentos antirracistas, a pesquisadora diz: “Acredito que nunca foi pauta dos movimentos sociais a depredação de monumentos históricos, pura e simplesmente”. Ela explica o que esses grupos defendem. “Basta acompanhar a história dos movimentos sociais que são muito maiores que isso: o direito ao voto, igualdade civil, acesso à educação básica, escola básica de qualidade, denúncia e combate da violência do estado, cotas sociais e étnicas no ensino superior e concursos públicos, fim da sexualização dos corpos negros”.
Derrubada de estátua de Cristóvão Colombo em Minnesota, EUA |
FOTO: PEEXELS
Entretanto, políticas efetivas devem ser tomadas para garantir uma mudança na maneira como são lidos os monumen-
Renata, advogada, especialista nas áreas
tos. É o que argumenta a pesquisadora,
civil e de políticas públicas. “Os efeitos
que propõe: “Um projeto com sociólogos
do contexto da herança escravagista,
e historiadores que organizasse uma sim-
da segregação racial e da desigualdade
ples placa de referência sobre o contexto
racial norte-americana ainda são senti-
em que a obra foi criada, e como a socie-
dos pelo país.” No entanto, além dos pro-
dade encara esses valores hoje, já seria
testos notórios do Black Lives Matter, a derrubada de estátuas e a renomeação de prédios que homenageiam antigos senhores de engenho ou pessoas envolvidas com a escravidão têm sido outra vertente do movimento que tem gerado discussão. Essa luta por revisão histórica, porém, não começou em 2020. No ano de 2013, no Brasil, ocorreu uma manifestação indíge-
“Essa ideia de uma democracia racial anestesiou a consciência crítica da população negra e também a consciência crítica da população não-negra no Brasil” Juarez Xavier, jornalista negro especializado em afrodescendentes e mídia racial
de grande valia”. Outra prática é defendida por Juliana. “A criação de novos monumentos, com heróis e heroínas de outros contextos sociais e políticos, que são aclamados pelos movimentos sociais, também equilibraria, os símbolos, homenagens e valores que acreditamos”. Além das ações envolvendo os monumentos, em resposta aos movimentos antirracistas nos últimos anos, alguns
na questionando a consagração aos ban-
setores da sociedade brasileira têm pro-
deirantes com o Monumento às Bandei-
curado criar oportunidades de inclusão da população negra. Entre essas inicia-
ras, localizado em São Paulo. Já em 2017, nos Estados Unidos, a marcha racista de
gógica Juliana de Souza Ramos analisa a
tivas estão, por exemplo, a Lei das Cotas,
Charlottesville foi desencadeada pela
questão. “É uma reação violenta direcio-
de 2012, que permitiu maior acesso ao
remoção da estátua de um general escra-
nada a uma das consequências de anos
ensino superior, e também iniciativas
vagista, conhecido como Robert Lee.
de um processo mundial de exploração e
empresariais recentes como a do Maga-
O debate divide opiniões entre quem
silenciamento de povos nativos e escravi-
zine Luiza, que criou um programa de
acredita que a derrubada e renomeação
zados”. Ela também explica por que essas
trainee só para negros. Assim, aos pou-
seria reparação histórica e quem defen-
figuras estão sofrendo represálias. “Esses
cos, o Brasil caminha para o enfrenta-
de a manutenção das peças. A professo-
monumentos representam uma versão
mento dessa questão social latente com
ra, pesquisadora e coordenadora peda-
da história, de verdade e vencedores que
respostas propositivas.
HELENA FORTUNATO SOPHIA OLEGÁRIO
»»» Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe? O assassinato de Marielle Franco revelou uma face de um país que tenta silen-
22/23
ciar as vozes de quem luta por mudança. Marielle Franco, nascida em 27 de julho de 1979 e criada no Complexo da Maré, dedicou sua vida ao acolhimento das minorias desprezadas pela sociedade. Por trás de uma figura tão emblemática e empoderada como vereadora, existia a filha da dona Marinete, a mãe da Luyara, a esposa da Mônica e a amiga da Taliria, da Dani e da Renata - as três foram eleitas deputadas do Rio e carregam o legado de Marielle como inspiração. O desejo de retratar não só a morte brutal, expondo as falhas do sistema político do Rio de Janeiro, mas também de registrar quem era Marielle no dia a dia, criou a ideia de produção da série-documental Marielle: o documentário, lançada pela Rede Globo no dia em que o assassinato dela completou dois anos. Eliane Scardovelli, roteirista da série e repórter do Profissão Repórter, pôde mergulhar na intimidade de Marielle e, mesmo não tendo a chance de entrevistá-la, traçou seu perfil de forma fiel, a partir do olhar de carinho e respeito de seus familiares e amigos. “Foi a primeira vez que conheci uma pessoa depois
p
PERFIL: MARIELLE FRANCO
A MULHER QUE MUDOU O JOGO
de morta. Eu tinha a sensação de que conhecia Marielle, mas comecei a entender muito além do símbolo que ela se tornou. Passei a entendê-la como mulher quando conheci seus ambientes de intimidade.” A irmã de Marielle, Anielle Franco, contou à Plural que sua irmã era uma mulher forte e, ao mesmo tempo, afetuosa, que não dava nenhum passo atrás na defesa dos ideais dela – “característica de muitas mulheres negras” –, mas
Conheça mais sobre Marielle Franco, lésbica, negra e guerreira, que passou a vida lutando para que outros se sentissem mais amados
MARIELLE CONTRIBUIU PARA A MELHORIA NA VIDA DE MULHERES E MINORIAS DA PERIFERIA DO RIO DE JANEIRO
que sempre recebia todos com um sor-
de conversas com o intuito de levantar
decretada uma nova prisão, a de Josi-
riso enorme. “Uma memória muito forte
pautas que julgava necessárias. “Não
naldo Lucas Freitas, acusado de escon-
que tenho dela foi do dia que uns meni-
sou livre enquanto outra mulher for pri-
der as armas usadas no crime. Em maio
nos não queriam me deixar jogar vôlei e
sioneira, mesmo que as correntes dela
de 2020, o Supremo Tribunal de Justiça
ela entrou na quadra, tirou a bola deles e
sejam diferentes das minhas”, citou
(STJ) decidiu que o caso não deveria ser
os isolou longe para dar um recado bem
Marielle em sua frase final em um desses
federalizado, já que isso poderia facili-
dado. A gente se divertia muito juntas e
eventos, que estava sendo transmitido ao
tar interferência política na investigação.
cuidava muito uma da outra”, completou.
vivo nas redes sociais. A frase pertence a
O crime teve repercussão interna-
A vida política de Marielle começou
Audre Lorde, escritora americana, negra
cional, e a prisão de Élcio e Ronnie foi
quando ela ainda era muito jovem. Logo
e lésbica. Marielle foi assassinada com
matéria de diversos veículos jornalísti-
depois de perder uma de suas amigas,
quatro tiros na cabeça minutos depois.
cos no exterior, como por exemplo o The
vítima de bala perdida num tiroteio entre
Na noite do dia 14 de março de 2018,
New York Times, que inclusive identifi-
policiais e traficantes no Complexo da
uma quarta-feira, Marielle estava vol-
cou o crime como sendo um “descarado
Maré, Marielle decidiu se dedicar à mili-
tando de um evento na Casa das Pre-
assassinato político”. Desde a morte de
tância pelos direitos humanos e contra
tas quando o carro em que ela estava foi
Marielle, todos os seus amigos e fami-
a violência policial. Socióloga formada
atingido por 13 tiros. Anderson Gomes,
liares, assim como uma grande parte do
pela PUC-Rio e mestra em Administra-
o motorista do carro de Marielle, tam-
Brasil, esperam por uma resposta. Elia-
ção Pública pela Universidade Federal
bém foi morto. Um ano depois do assas-
ne, produtora do documentário sobre
Fluminense (UFF), Marielle integrou a
sinato, foi descoberto que o crime esta-
a vereadora assassinada, ainda ressal-
equipe da Comunidade da Maré, parti-
va sendo planejado havia cerca de quatro
ta que “infelizmente, desde que o docu-
cipando ativamente, em 2006, da cam-
meses. O sargento Ronnie Lessa foi apon-
mentário foi produzido até agora, pouco
panha do deputado Marcelo Freixo
tado como autor dos tiros, e o ex-policial
se encaminhou”. Ela reforça também que
(PSOL-RJ), considerado o seu padrinho
Élcio Queiroz, acusado de ser o motoris-
o documentário serve para as pessoas
político. Com a posse de Freixo, Mariel-
ta do carro de onde foram dados os dis-
que atrelam Marielle e seu assassinato
le foi nomeada assessora parlamentar do
paros. Ambos foram presos em março
a uma pauta de esquerda - por conta das
deputado, continuando no cargo pelos
de 2019. Em outubro do ano passado, foi
bandeiras que abraçava e representava - mudem o olhar e reconheçam a bruta-
dez anos seguintes. Em 2016, pela coligação Mudar é Pos-
lidade envolvida no crime. “É uma vida,
sível - formada pelo PSOL e pelo PCB -
uma mulher incrível, independentemen-
Marielle venceu sua primeira disputa
te da sua orientação política”, acrescenta.
eleitoral, e foi eleita vereadora na capi-
Mas a trajetória de batalha de Marielle
tal fluminense. Com 46 mil votos, foi a
não se encerrou com o crime que acon-
segunda mulher mais votada do Brasil
teceu no dia 14 de março de 2018. A sua
em 2016. Durante o cargo, ela presidiu a
luta levantou pautas necessárias sobre
Comissão da Defesa da Mulher e integrou
mulheres, negros, comunidade LGBT e
também uma comissão que tinha como
favelas, colocando-as em evidência em
objetivo fazer o monitoramento da inter-
meio a uma sociedade tão desigual. Sua
venção federal no Rio de Janeiro. Além
execução não arrancou as sementes que
disso, Marielle redigiu e firmou 16 pro-
havia plantado. Dessa forma, o seu lega-
jetos de lei, como por exemplo #assédio-
do permanece intacto. Inspirou mulhe-
naoépassageiro, Lei das Casas de Parto,
res como Talíria Petrone, Renata Souza
Espaço Coruja/ Espaço Criança, Pra Fazer Valer o Aborto Legal no Rio e a inclusão do Dia da Visibilidade Lésbica no calendário oficial do Rio (reprovado por apenas dois votos). Marielle promovia e organizava rodas
Marielle era doce e assertiva, quando ela chegava em algum lugar, era como um furacão Eliane Scardovelli
e Dani Monteiro a ocuparem cargos de poder dentro da política e outros incontáveis jovens a reconhecerem seus direitos e lutarem por eles. Ainda hoje espera-se por uma resposta: quem mandou matar Marielle?
GABRIELA SOARES MARIA CLARA BISPO
»»» A decisão de ter um filho faz parte do sonho de milhares de casais que planejam aumentar a família, mas isso requer muito mais planejamento do
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que se imagina. Essa questão fica ainda mais relevante para uma família negra, que precisa lidar com os desafios do racismo estrutural todos os dias. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), crianças brasileiras pardas e negras de até 5 anos de idade têm 67% a mais de chance de morrer do que uma criança branca no país. O estudo ainda aponta que as chances de mortalidade para uma criança negra no Brasil são maiores do que em países do continente africano. A taxa de mortalidade para os brasileiros de até 5 anos é de 76 para a cada mil nascidos vivos. No Zimbábue, a taxa de mortalidade é de 67
Adriel lê livro apoiado em tijolo |
FOTO REPRODUÇÃO INSTAGRAM
para cada mil crianças de até 5 anos, de acordo com os dados das Nações Unidas. Crianças negras não podem correr na rua, andar com a mão no bolso, usar touca ou boné durante a noite em lugares públicos e fazer movimentos bruscos na multidão, pois cada passo interpretado errado pode causar uma tragédia. “Meu maior sonho era que meu filho tivesse uma infância livre e normal, e no momento ele não pode. Sou obrigado a ensinar diversas coisas para o meu filho que pais brancos não precisam ensinar. Nem se passa na cabeça de uma pessoa branca, que um menino preto precisa levar iden-
CRIANÇAS ANTIRRACISTAS PARA VALORIZAR A DIVERSIDADE
tidade até para ir na padaria, pois ele está sempre correndo risco de ser abordado e ‘confundido’ com um meliante de rua, por causa da cor da pele”, conta Humberto Baltar, professor de inglês do ensino público há 20 anos, diretor da Humberto Baltar Consulting, idealizador do coletivo Pais Pretos e pai de Apolo, de 2 anos. Humberto tem como missão levar mais
Um ambiente que rompa com os hábitos do racismo estrutural é essencial para formação de pequenos ativos por um mundo melhor
O ANTIRRACISMO TEM SIDO UMA PAUTA CONSTANTE, COM PAIS DEMANDANDO UM MELHOR ENSINO SOBRE A HISTÓRIA NEGRA
tica visto que as gerações passadas não foram tão bem instruídas sobre o racismo. Mas isso tem mudado, o antirracismo tem sido uma pauta constante entre as gerações mais novas, com pais demandando um melhor ensino sobre a história negra. No Brasil, o estudo sobre história africana é previsto em lei desde 2003, mas muitas escolas ignoram a legislação. Essa mudança de atitude, mesmo desde jovem, tem se tornado cada vez mais incentivada na atualidade. Como o caso do menino Adriel Silva, de 12 anos, influenciador digital de conteúdo literário, que sofreu ataques racistas na internet e decidiu se pronunciar publicamente em suas redes sociais. Na publicação em sua página oficial do Instagram, @livrosdodrii, ele respondeu ao ataque de forma respeitosa e que surpreendeu artistas do mundo inteiro, por sua postura madura ao enfrentar os xingamentos. “Quando
Menino participando de estudo realizado pelo casal Clark |
FOTO REPRODUÇÃO
eu vi as mensagens maldosas pela primeira vez, fiquei muito assustado, chorei e pensei até em desistir das redes so-
visibilidade sobre a criação antirrascista
Um estudo sobre o tema foi realizado
ciais. Minha mãe sempre teve medo de
e desmitificar a imagem do pai negro au-
pelo psicólogo Kenneth Clark e sua es-
eu sofrer com a exposição na internet e
sente e insensível. “Uma verdadeira edu-
posa Mamie Clark, no final da década de
pediu para eu apagar os comentários e
cação antirracista é aquela que não é feita
1930, no qual foram colocadas duas bone-
ignorar. Mas não consegui. Respondi ao
para o negro, mas sim incluindo a diver-
cas exatamente iguais, diferentes apenas
agressor, sem expor seu perfil, pois que-
sidade em todos os hábitos do pequeno.
no tom de pele, para serem analisadas
ria que meus seguidores soubessem que
Ver filmes e desenhos com personagens
por crianças em idade escolar. No tes-
não devemos deixar passar esse tipo de
negros, livros com histórias negras e as-
te era perguntado qual boneca elas pre-
ataque em pleno século 21”, conta Adriel,
sim criar um ambiente que a criança pos-
feriam e até qual achavam mais bonita.
que após a polêmica acabou ganhando
sa se identificar como parte do mundo. E
Foi observado, mesmo em crianças pre-
ainda mais destaque e engajamento nas
é mesma coisa para uma criança branca.
tas, uma enorme predileção pela bone-
redes sociais. Famosos como Bruno Ga-
Como ela vai entender que o amigo com a
ca branca, e até mesmo uma repulsa pela
gliasso e Neymar Jr. prestaram apoio ao
cor da pele diferente está na mesma posi-
outra. A conclusão dos autores foi de que,
garoto, que hoje tem mais de 735 mil se-
ção, se ela cresceu vendo somente bran-
mesmo sem ter a intenção, as crianças es-
guidores no Instagram. “Não existem
cos no poder e em lugares de destaque?
colhiam a boneca branca pois sabiam que
muitos influenciadores como eu, que
Essa atitude não pode começar somente
essa era a cor preferida pela sociedade.
falam abertamente sobre racismo, e por
no início da vida escolar, pois até lá serão
“A segregação é a maneira como a socie-
isso acho importante seguir com meu
6 anos em que aquele ser humano viveu
dade diz a um grupo de seres humanos
trabalho. Quero ajudar e levar mais in-
em um ambiente sem multiplicidade de
que eles são inferiores”, afirma o psicó-
formação para as crianças e jovens que
cores e raças”, questiona Humberto, so-
logo no estudo.
me seguem, e assim construir uma re-
bre a dificuldade na criação dos pequenos voltada para diversidade.
É necessário que tenhamos pais antirracistas, fato que se torna uma problemá-
ferência positiva”, diz o garoto, que planeja publicar um livro no próximo ano.
26/27 Ação da Frente 3 de Fevereiro realizada em 2019 espalhadas pela cidade de São Paulo |
FOTO: DANIEL LIMA /FRENTE 3 DE FEVEREIRO
ONDE ESTÃO OS NEGROS? LabFor ESPM, Design Lab ESPM, UNEafro e Wikipedia juntaram-se para montar uma lista com afro-brasileiros e afr0-brasileiras notáveis. Aqui, um making of do processo
ATSUHIKO MORAES, CHLOË DUBOIS, GUSTAVO FONGARO, ISABELLE BULLA, LUCA IONI, MALU OGATA, PEDRO C. GUARACHE, PEDRO CARVALHO, PEDRO LOPES E SERGIO MIGUEL / LABFOR
conhecemos suas histórias. Por que
seleção significativa em sua Lista de Afro-
não os conhecemos?
-Brasileiros: apenas 125 pessoas estão na
Estas primeiras perguntas surgiram
principal enciclopédia da web. Desses, 64
logo que iniciamos o projeto, a princípio
nomes são da música e 42 dos esportes, a
unificando as listas de personalidades
maioria do futebol. “Além da nossa igno-
»»» A ideia parecia simples: o Labora-
negras disponíveis na web, para depois
rância, por conhecermos tão poucas per-
tório de Formatos Híbridos e o Design
selecionar 50 delas e criar um jogo de car-
sonalidades negras importantes, perce-
Lab da ESPM juntos para produzir uma
tas que pudesse ser utilizado em escolas.
bemos que existem negros e negras com
lista com os nomes de pessoas negras
Enquanto corria a pesquisa, fomos
grandes realizações em todas as áreas
que transformaram e transformam
ouvir gente que ajudasse a ancorar o tra-
de conhecimento, que ficam invisíveis”,
a história do nosso país. Talvez você
balho. Bianca Santana, jornalista, ativis-
conta Sergio Miguel, aluno que coorde-
possa citar de cabeça nomes mais uni-
ta, pesquisadora e autora do livro Quan-
nou parte dos trabalhos do LabFor.
versais, como Machado de Assis, Pelé
do Me Descobri Negra, fez a conexão com
Nossa lista crescia, com mais de 500
ou Marta. Talvez se lembre de alguns
a Wikipedia e a UNE-afro, um movimen-
nomes, na medida em que incluímos
cantores, cantoras, atrizes ou atores
to com atuação em diversas áreas, com o
os 120 nomes do catálogo Intelectuais
da Globo. Mas o Brasil foi construído,
trabalho mais conhecido sendo os cur-
Negras Visíveis, organizado pela pesqui-
também na educação, na ciência, na
sinhos pré-vestibulares comunitários
sadora Giovana Xavier, e aqueles do livro
inovação social, no direito, na arqui-
que já atenderam mais de 10 mil jovens e
Afro-Brasil Reluzente: 100 personalidades
tetura, na política, por afrodes-cen-
adultos vindos de escolas públicas, prio-
notáveis do século XX, do músico e pes-
dentes. Milhões de pessoas, em todos
ritariamente pessoas negras.
quisador Nei Lopes, com quem inclusi-
os campos. Entre esses, muitos são
Desde o início, notamos algumas coi-
ve fizemos uma live. “Essa lista não tem
de importância histórica, mas não
sas. A própria Wikipedia não tem uma
fim, o céu é o limite. A estratégia é não
pensar em limites”, nos disse. Mas se nossa WikiAfro, página que a UNEafro instalou em seus servidores para receber nossa pesquisa, poderia ser infinita, precisávamos escolher apenas 50 nomes para o jogo de cartas. Com ajuda da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as), do Centro Esportivo de Capoeira Angola João Pequeno de Pastinha, da própria UNEafro e da Universidade de Princeton,
Jogo Baobá, criado pelo LabFor ESPM, Design Lab ESPM e UNEafro. Regras e download disponíveis no QR Code na página 29. O Design Lab ESPM teve a participação de Artur Merino Loes, Gustavo Fragão Timoteo da Silva, Júlia Dias Pereira, João Vitor Rossetti Alves, Lucas Sitta Paganelli, Luisa Gomes Rodrigues, Luíza Paternez Costa Soares, Maria Julia de Oliveira e Nicole Abe. Mizutani.
nos EUA, chegamos aos que teriam seus nomes impressos. O Design Lab ESPM trouxe a ideia do nome do jogo: Baobá - Personalidades Negras que Você Precisa Conhecer. Baobá
Carta da UNEafro aos alunos da ESPM
é uma árvore típica de regiões africa-
»»» Enunciar nomes e histórias, ins-
e aliados se manifestam para escanca-
nas que pode viver milhares de anos, e
crever no mundo a vida de quem se
rar as desigualdades provenientes do
por isso símbolo de força e resistência.
dedica ou se dedicou ao seu povo é
racismo estrutural, que reflete no dia
“Estamos honrados em poder fazer parte
tarefa coletiva. Saudar quem veio
a dia de uma sociedade contaminada
de um projeto que tem o peso e significa-
antes, quem está e quem virá. O movi-
pela violência de raça.
do que o assunto nos impõe e, acima de
mento negro social tem essa tarefa em
Nesse sentido, é uma grande satisfação
tudo, muito felizes em poder participar e
mãos, utilizando como impulso para
contribuir a essa iniciativa do Labo-
em trazer uma base conceitual de design
o rompimento das estruturas racis-
ratório de Formatos Híbridos de Jor-
forte para um projeto que demanda um
tas. Assim também se constrói a UNE-
nalismo e do Design Lab ESPM, suas
ní-vel elevado de pesquisa e comprome-
afro Brasil, rede de cursinhos popula-
alunas e alunos. Apresentar persona-
timento”, disse Luíza Soares, coordena-
res para jovens negros e periféricos,
lidades negras brasileiras de forma
dora do projeto no Design Lab ESPM.
que através da educação emancipado-
lúdica, a diferentes públicos, negros e
ra rememora a verdadeira história do
não-negros, é uma ação antirracista
Brasil.
importantíssima. É reavivar a memória
Giovanna Fontenelle, gestora de projetos da Wikipedia Brasil que organizou
da diáspora africana.
para os alunos do LabFor ESPMuma aula
Nesse sentido, participar do pro-
online sobre edição da wiki, comentou
cesso de curadoria de 50 personalida-
Todo o processo tem sido rico. De
no mesmo tom: “Este projeto conseguiu
des negras, de diferentes territórios,
maneira coletiva e colaborativa, desde
uma grande façanha: não apenas loca-
profissões e atuações na luta contra o
a curadoria de nomes até o design do
lizou e entendeu uma demanda comu-
racismo no Brasil, e da co-criação do
jogo, a diáspora africana e as conflu-
nicacional vigente do nosso tempo, que
jogo Baobá – Personalidades Negras
ências territoriais e identitárias no Bra-
é a falta de re-presentação de pessoas
que Você Precisa Conhecer, é contribuir
sil têm sido respeitadas e valorizadas.
pretas, como também ativamente traba-
com a reconstrução do passado ao qual
Aguardamos ansiosas e ansiosos
lhou para mudar e corrigir essa desigual-
todos os afro-brasileiros estão ligados,
pelos caminhos que serão abertos por
dade. São raras as iniciativas que reali-
projetando um mundo onde negras e
esse projeto, assim como seus fru-
zam ambas tarefas e ainda conseguem
negros sejam todos lembrados pelas
tos. Que ações antirracistas como essa
ins-tigar a imaginação, divertir, servir
suas reais contribuições, talentos, faze-
sejam cotidianas nas universidades do
de entretenimento, misturar os meios
res e sonhos.
Brasil e na ESPM.
impresso e digital e, por fim, até fazer
Em época de ações antirracistas
parte de uma formação educacional.
tomando as ruas de várias cidades no
Feliz de ter feito parte desse processo!”.
mundo, e também a internet, aliadas
Jessica Ferreira, Wellington Lopes e Rafael Bantu / UNEafro Brasil
28/29
Abdias do Nascimento | Abel Neto | AD Junior | Adriana Barbosa | Adriana Lessa | Agnaldo Timóteo | Aída dos Santos | Aílton Graça | Alaerte Leandro Martins | Alceu Collares | Ale Santos | Aleijadinho | Alexandra Montgomery dos Santos | Aline Dias | Aline Midlej | Aline Motta | Aline Newman | Aline Silveira | Aline Valentim | Allan da Rosa | Allyne Andrade e Silva | Alzira Rufino | Amanda de Almeida Sanches | Amauri Mendes Pereira | Ana Carbatti | Ana Flávia Magalhães Pinto | Ana Giulia Zortea | Ana Lucia Mathias | Ana Maria Gonçalves | Ana Paula Brandão | Ana Paula Freitas dos Santos | Anderson Silva | André Luiz Miranda | André Rebouças | Angela Ramos | Animal | Anna M. Canavarro Benite | Antonilde Rosa Pires | Aza Njeri Viviane Moraes | Babu | Beatriz Nascimento | Benedita da Silva | Benjamim de Oliveira | Bernadete Figueiroa | Beth Beli | Bezerra da Silva | Bia Onça | Bianca Santana | Black Alien | BNegão | Bruna Cristina Jaquetto Pereira | Cacau Protásio | Cafu | Camila de Moraes | Camila Pitanga | Candeia | Canguru Brasileiro | Carla Ramos | Carlinhos Sete Cordas | Carlos Alberto Caó De Oliveira | Carlos Alberto Torres | Carlos Eduardo Tadeo | Carlos Mariguella | Carolina de Jesus | Caroline de Paula Bitencourt Quaresma | Caroline Moreira | Cartola | Celia Cristo | Celso Athayde | Celso Pitta | Cida Bento | Cidinha da Silva | Claudete Alves | Claudia Campos | Claudielle Pavão | Clementina de Jesus | Clemilda Martins Serafim de Souza | Conceição Evaristo | Criolo | Cris Vianna | Cristiane Sobral | Cristina Almeida | Cristina Lopes | Cruz e Souza | Cuti | D . José Maria Pires | Daiane dos Santos | Dandara | Dandara Mariana | Dani Ornellas | Dara Ribeiro | Darlan Cunha | David Junior | Debora Maria da Silva | Deise Benedito | Denise Marinho | Denize de Almeida Ribeiro | Déo Garcez | Deusdeth Gomes Do Nascimento | Diane Lima | Didi | Didi Couto | Diego Moraes | Diogo Silva | Diva Pereira | Dj Marky | Dj Patife | Djamila Ribeiro | Djavan | Djonga | Domício Proença Filho | Domingos Biohó | Don Filó | Dona Ivone Lara | Dora Santana | Dona Tiana | D’origem | Douglas Belchior | Dragão do Mar |
QUANTAS PESSOAS DESSA LISTA VOCÊ CONHECE? ATSUHIKO MORAES, CHLOË DUBOIS, GUSTAVO FONGARO, ISABELLE BULLA, LUCA IONI, MALU OGATA, PEDRO C. GUARACHE, PEDRO CARVALHO, PEDRO LOPES E SERGIO MIGUEL / LABFOR
»»» Talvez você possa citar de cabeça nomes mais universais, como Machado de Assis, Pelé ou Marta. Talvez você se lembre de alguns cantores, cantoras, atrizes ou atores da Globo. Mas o Brasil foi construído por afrodescendentes. Milhões de pessoas. Entre estes, muitos são de importância histórica - mas qual história? E quem define o que é importante para a História? Não há lista capaz de publicar todos os nomes de afrobrasileiros importantes para o país. Por isso publicamos aqui um primeiro recorte, baseado apenas em listas que encontramos na web, alguns livros e entrevistas. Os nomes em negrito foram escolhidos pela UNEafro para serem impressos no jogo Baobá - Personalidades Negras que Você Precisa Conhecer, feito em parceria com o Design Lab ESPM. Pesquise sobre estes nomes. Aprenda quem são. Conforme diz a pesquisadora Sueli Carneiro, “o antirracismo passa pela reposição da verdade histórica do país”.
Dríade Aguiar | Dulce Maria Pereira | Dulcinéia Novaes | Ed Motta | Edi Rock | Edilene Rodriguez | Edimilson De Almeida Pereira | Édison Carneiro | Edmeire Exaltação | Edna Roland | Edson Cardoso | Elaine Marcelina | Eliana Alves Cruz | Elinay Melo | Elisa Lucinda | Elizabeth Viana | Elizandra Souza | Ellen Paes | Elza Soares | Emanoel Araújo | Emanuelle Goes | Emicida | Enedina Alves Marques | Erica Malunguinho | Érico Brás | Erlon Chaves | Esperança Garcia | Estêvão Silva | Eunice Cunha | Everton Machado | Fabiana Cozza | Fabiana Lopes | Fabriccio | Fátima Santiago | Fernanda Felisberto | Fernanda Oliveira | Fernanda Quevedo | Firmino Monteiro | Flávia Oliveira | Flávia Rodrigues Lima da Rocha | Flávio Bauraqui | Flavio Jorge | Floriano Teixeira | Fofão do Vôlei | Formiga | Francy Junior | Francy Silva | Frei David Santos | Gabriela Ziriguidum | Geisa
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ESTES SÃO 512 NOMES DE PERSONALIDADES NEGRAS IMPORTANTES PARA A HISTÓRIA DO BRASIL. HÁ MUITO MAIS. ONDE ESTÃO?
Jéssica Ellen | Jhe Oliveira | Jô | Joana D’arc Félix | João do Pulo | Joaquim Beato | Joaquim Barbosa | Joel Luiz Costa | Joel Rufino Dos Santos | Joel Zito Araújo | Johnny Alf | Joice Berth | Jonathan Azevedo | Jonathan Haagensen | Jonathan Neguebites | Jorge Ben Jor | Jorge da Silva | Jorge Lafond | José Adão Silvério | José Correia Leite | José do Patrocínio | José Vicente | Josi Lopes | Jovelina Pérola Negra | Joyce Cursino | Joyce Ribeiro | Julia Moraes | Juliana Alves | Juliana Barbosa | Juliana Barreto Farias | Juliana Borges | Juliana Lima | Juliana Vicente | Jurema Batista | Jurema Werneck | Karol Conká | Katia Santos | Ketleyn Quadros | Kond (Kondzilla) | Larissa Fulana de Tal | Larissa Santiago | Laudelina de Campos Melo | Laura Astrolabio dos Santos | Lázaro Ramos | Leandro Firmino | Leci Brandão | Leila Aparecida da Silva | Lélia Gonzalez | Lena Frias | Leônidas Da Silva | Letícia Parks | Lia Vieira | Lídia Lisboa | Lígia dos Santos Ferreira | Lilian Rosa Marques da Rocha | Lima Barreto | Liniker | Lisiane Niedsberg Corrêa | Lívia Casseres | Lívia Lima da Silva | Lobo De Mesquita | Lorenne Teixeira | Lucia Cabral | Lúcia Xavier | Luciana Barreto | Luciana Mello | Luciane Reis | Luciene Lacerda | Lucy Ramos | Ludmilla | Luedji Luna | Luis Gama | Luiz Antonio Pilar | Luísa Mahin | Luiz Carlos Da Vila | Luiza Helena Bairros | Lumena Aleluia | Luzes Souza | Machado de Assis | Madá Negrif | Mãe Menininha do Gantois | Mãe Senhora | Mãe Stella de Oxóssi | Maguila | Maicon Rodrigues | Maju Coutinho | Mané Garrincha | Mano Brown | Mano Heitor / Mestre Heitor dos Prazeres | Manuel Querino | Marcello Melo Jr | Marcelo D2 | Marcelo D’Salete | Marcelo Falcão | Marcelo Paixão | Marcia Alves | Marcia Cristina Brasil Santos | Maria Cristina Ferreira dos Santos | Maria d’Apparecida | Maria da Ilha | Maria da Penha Silva Gomes | Maria de Lurdes Vale Nascimento | Maria do Carmo Oliveira dos Santos | Maria do Rosário | Maria Firmina dos Reis | Maria Isabel de Assis | Maria Júlia Ferreira | María Remedios Del Valle | Maria Rita Casa Grande | Marialira Marques Borges | Mariana de Matos | Marianna Campos | Marielle Franco |
Mariene de Castro | Marilene Felinto | Marília Gabriela Souza | Marina Ribeiro | Marina Sant’Ana de Souza | Marina Silva | Mário Lúcio Costa | Marisa Gurgel | Marli de Fátima Aguiar | Marta | Marta Aparecida Muniz Bento | Marta Arruda | Martinho da Vila | Mateus Aleluia | Matilde Ribeiro | Maurício Pestana | Maurício Vicente Ferreira Jr . | Mel Adun | Melvin Santhana | Mercedes Baptista | Mestre Bimba | Mestre Didi | Mestre Moa do Katendê | Mestre Valentim | Milton Barbosa | Milton Gonçalves | Milton Nascimento | Milton Santos | Miriam Alves | Moacir Santos | Mônica Francisco | Monique França da Silva | Muniz Sodré | Mussum | MV Bill | Nara Couto | Naruna Costa | Nega Duda | Nego do Borel | Negra Li | Negra Linda | Nei Lopes | Nelson Prudêncio | Nelson Triunfo | Neusa Maria Pereira | Neuza Maria Alves Da Silva | Nilma Bentes | Nilo Peçanha | Nilze Carvalho | Nina Silva | Norton Nascimento | Núbia de Oliveira Santos | Nzinga | Odailta Alves | Olívia Santana | Onisajé | Orlando Silva | Oswaldo de Carmargo | Padre José Maurício | Paola Belchior | Pastor Henrique Vieira | Pathy Dejesus | Patricia
Aponte sua câmera de celular para esta imagem QRCode. Você poderá acessar a wikiafro, pesquisa do LabFor em andamento com mais de 500 perfis de pessoas negras, instalada nos servidores da UNEafro. A lista é colaborativa. Coloque nomes você também.
Santana | Patrícia Sodré | Paula Inara Rodrigues Melo | Paula Lima | Paulinho da Viola | Paulo Cézar Caju | Paulo Gabriel Nacif | Paulo Lauro | Paulo Lins | Paulo Nazareth | Paulo Renato Paim | Pelé | Péricles | Petrônio Domingues | Phellipe Haagensen | Pixinguinha | Preta Rara | Pretinho Da Serrinha | Preto Zezé | Prince Aqualtune | Priscila Marinho | Prof. Gustavo Forde | Projota | Rafael Pinto | Rafael Silva | Rafael Zulu | Rafaela Silva | Raull Santiago | Renata Aparecida Felinto dos Santos | Rene Silva | Ricardo Aleixo | Rico Dalasam | Rivaldo | Robson Caetano da Silva | Robson Nascimento | Rocco Pitanga | Rodrigo Pitta | Rogério Brito | Romário | Ronald Sheick | Ronaldinho Gaúcho | Ronaldo Fenômeno | Rosa Luz | Rosana Paulino | Rosane Borges | Rosangela José da Silva | Rosangela Gomes | Rosemar Gomes Lemos | Rui De Oliveira | Ruth de Souza | Ruth Guimarães | Sabotage | Sabrina Fidalgo | Salgado Maranhão | Sandra Beatriz Morais da Silveira | Sandra de Sá | Sandra Regina Ribeiro | Santa Rosa | Sérgio Malheiros | Sérgio Menezes | Seu Jorge | Sheila de Carvalho | Shelida Ayana Dias Machado | Sheron Menezes | Silvana Bahia | Silvio Almeida | Simone Sampaio | Solange Rocha | Sonia Gomes | Sonia Guimarães | Stephanie Ribeiro | Sueli Carneiro | Suely Bispo | Susane Souza | Tago Oli | Taiasmin Ohnmact | Taís Araújo | Tarcízio Silva | Tenka Dara | Tereza de Benguela | Theodoro Fernandes Sampaio | Theodosina Rosário Ribeiro | Thiaguinho | Thiane Neves | Thogun Teixeira | Thula Pires | Tiago Barbosa | Tião Macalé | Ticiane Simões | Tiganá Santana | Tim Maia | Tomaz Aroldo Da Mota | Toni Garrido | Tony Tornado | Tula Pilar | Ubirajara Fidalgo | Valeriane Nascimento | Valquiria Pires | Vanessa Da Mata | Vaneza Oliveira | Vera Lopes | Veríssimo de Freitas | Vilma Reis | Virgínia Rodrigues | Viviane Ferreira | Waldomiro de Deus | Walter Firmo | Wanderlei José Maria | Wania Sant’Anna | Wilson Simonal | Winnie Bueno | Winnie de Campos Bueno | Yasmin Thainá | Ynaê Lopes dos Santos | Zacimba Gamba | Zelia Amador de Deus | Zezé Motta | Zezeh Barbosa | Zileide Silva | Zózimo Bulbul | Zumbi de Palmares
“Uma mulher negra não faz teste para ser mãe, empresária, professora ou qualquer outra coisa. Ela faz o teste para ser a pessoa negra” Milena Lúcia, atriz
dar 110%, 120%, 100% nunca vai ser o suficiente”, conta Israel. O posicionamento é reforçado por Ellen Paes, codiretora e roteirista do documentário #EuVocêTodasNós, ao explicar que “na escolha por um profissional, na maioria das vezes se dá preferência a candidatos brancos. É impressionante como, para ter um profissional negro à frente de alguma produção, é preciso especificar que tem que ser negro”. O racismo fica
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evidente sobretudo nas escolhas do elenco. “Quando se solicita apenas uma pessoa, o escolhido acaba sendo branco. É preciso deslocar o pensamento de que
O racismo também afeta o audiovisual FOTO COTTONBRO/ PEXELS
a humanidade é branca. Essa normalização não faz o menor sentido, sobretudo no Brasil”, diz Ellen. Enquanto brancos ocupam papéis de protagonistas, o padrão de representação de negros no audiovisual é marcado pelos
CINEMA FEITO POR BRANCOS “A única coisa que separa mulheres de cor de qualquer um é a oportunidade”, disse Viola Davis no Emmy 2015
papéis subalternos. “Vemos um padrão repetitivo por anos, em que papéis em que a pessoa é boa, bem-sucedida, bonita, ou qualquer adjetivo positivo são relacionados a uma pessoa branca. Enquanto pretos estão representando a classe trabalhadora, corpos hipersexualizados, bandidos”, reflete a atriz Milena Lúcia. “Eu só faço testes para papéis já criados para pessoas negras. Uma mulher negra não faz teste para ser mãe, empresária, professora ou qualquer outra coisa. Ela faz o teste para ser a pessoa negra daquele trabalho”, diz Milena. Ela ainda afirma que durante o casting, sempre compete com outras meninas negras. Em uma pesquisa realizada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), a maioria de homens brancos produzem majoritariamente narrativas sobre homens brancos. Segundo dados analisados, três quartos das obras possuem menos de 20% de pessoas negras. Entretanto, quando há a presença de um diretor ou roteirista negro aumentam as possibilidades
GIOVANNA RUZENE GIULLIA REGGIOLLI
de que a produção contenha pessoas negras. Quando o diretor de um título é negro, a chance de o roteirista também
»»» “A única coisa que separa mulheres de cor de qualquer
ser negro aumenta 43,1%. Com relação à produção, a mesma
um é a oportunidade”, evidenciou Viola Davis em 2015, no
pesquisa mostra que os diretores brancos representam 75%,
seu discurso como ganhadora do Emmy de Melhor Atriz.
enquanto os negros, apenas 2,1%. Entre os produtores e ro-
O racismo estrutural intrínseco nos setores sociais afeta
teiristas, os homens brancos são 59,9% e os negros, 2,1%; en-
também o cinema e escancara uma realidade de desigual-
quanto mulheres brancas correspondiam a 2,7%, mulheres
dades sofrida por negros.
negras diretoras correspondiam a 0%.
Segundo o ator e modelo Israel Cipriano, a luta de negros
Indo na contramão dessa inerência de representativida-
no audiovisual é árdua e não é de agora. Para ele, esse grupo
de estão obras como Pantera Negra (2018) e Corra! (2017). O
deve se esforçar bastante para alcançar seus objetivos. “Eu
primeiro conta a história de um super-herói de ascendência
acredito que meu tom de pele afeta na questão de eu conseguir
africana. O elenco do filme exalta negros em papéis de pro-
um papel. Como eu sempre falo, as pessoas têm sempre que
tagonistas. O longa-metragem de terror Corra! conta com um
demonstrar os 100%, a gente [os negros] não, nós temos que
elenco majoritariamente negro e também aborda o racismo.
“Quando falam que não existe racismo no Brasil é porque não sentiram na pele. Falo por conhecimento, o Brasil é o país que mais discrimina no mundo” Marcelo Harassen treinador de futebol
poderia ser bailarina do Municipal. “Para mim, não existia essa possibilidade, eu só via bailarinas brancas e magras no palco. Na minha cabeça, aquele não era espaço para mim.” Mas por que não? A falta de oportunidade e de incentivo começam antes mesmo de a pessoa iniciar a prática. “Veem nossa pele e cabelo antes mesmo de nos verem dançar”, diz Mariah. O bailarino Leonardo Brito, do Ballet Hispánico, companhia de balé sediada em Nova York, conta que muitas vezes um bailarino negro é impedido de representar um papel
O Bailarino Leonardo Brito no metrô de Nova Iorque FOTO MR. NYC SUBWAY
porque a cor de sua pele não é igual à do personagem. “Ótimos bailarinos são restritos a certos papéis por causa de seu perfil. São escolhidos para papéis de bobo da corte, escravos, no lugar de príncipe, por exemplo”, conta ele.
O QUE VOCÊ VÊ PRIMEIRO? Da conquista à sobrevivência, o esporte também é um espaço em que a cor da pele fala mais alto que o talento
Assim como é difícil conseguir um espaço no palco, qualquer cargo de liderança fora dele também é majoritariamente branco, e quando essa barreira racial é furada, ainda há necessidade de impecabilidade, já que qualquer erro é motivo para falas e atitudes racistas. “Antes de estar no Ballet Hispánico, estava na maior companhia negra do mundo, mas a gerente da companhia era branca”, comenta Leonardo. Assim como no balé, a situação em cargos superiores de times de futebol, por exemplo, foge desse padrão majoritariamente negro. Na história, raros são os diretores, e até mesmo treinadores não-brancos. Marcelo Harassen hoje é treinador de futebol em um centro de formação de Curitiba. Ele conta com um grande histórico como jogador, incluindo passagens pela Europa e pela China. Mesmo assim, já sofreu com episódios relacionados à sua cor. “Eu escutei de um diretor de um clube em que eu trabalhei aqui no Paraná que o meu grande problema, aqui na cidade, era a cor da minha pele. São coisas
GIULIA PONTES SOPHIA OLEGÁRIO
assim que machucam, você ser reconhecido pelo tom da sua pele e não pela sua competência”, conta Harassen.
»»» Em esportes como atletismo, boxe, futebol ou bas-
“Quando falam que não existe racismo no Brasil é porque
quete, o anormal é não encontrar alguma figura negra
não sentiram na pele. Eu tive passagem por vários países, jo-
em jogo. Há quem diga até que não existe racismo nesses
guei na China também. Falo por conhecimento, o Brasil é o
esportes pela presença marcante desses atletas negros.
país que mais discrimina no mundo. É algo que está enrai-
Friedenreich, Leônidas, Pelé, Garrincha, Marta e Neymar
zado, é cultural, é disfarçado”, manifesta Harassen. É pre-
são apenas alguns dos jogadores brasileiros que alcança-
ciso falar sobre o assunto, é preciso dar espaço e entender a
ram o reconhecimento como melhores do mundo. Todos
importância disso e das diferenças de oportunidade, é es-
eles são negros. Mas esses esportes são exceções à regra.
sencial. A atleta Natalia Lima joga no Cowley, um time de fu-
Mariah é atriz, bailarina e professora da Escola de Dan-
tebol norte-americano, e pondera o mérito ligado a conquis-
ça Petite Danse – instituição profissionalizante e responsá-
ta e superação apesar dos obstáculos. “Se você vir um negro
vel pelo ingresso de bailarinas em companhias de dança –
ou alguém de classe baixa no esporte, o incentive porque ele
e ela mesma afirma que desde pequena já sabia que nunca
chegou ali”, destaca ela.
Apenas 0,4% do quadro executivo das maiores empresas do Brasil é composto por mulheres negras Fonte: Instituto Ethos
A SOLIDÃO DA MULHER NEGRA
consequências. Mesmo naquele período, as mulheres mais escuras trabalhavam no campo, enquanto as com traços miscigenados trabalhavam na casa grande”, completa a advogada, que acredita que o tema da solidão está atrelado à hipersexualização da mulher negra.
Os efeitos da invisibilidade causada pelo patriarcalismo, sexismo na profissão, relacionamentos e afetividade
de que deveríamos nos embranquecer”, afirma Nádia, explicando o motivo de até homens negros, que também sofrem com o racismo estrutural, acabarem pre-
GABRIELA SOARES HELENA FORTUNATO
gente querendo manter seus privilégios”,
ferindo mulheres brancas para estabe-
explica Daniela Ferrugem, professora da
lecerem relacionamentos. “Toda pessoa
Universidade Federal do Rio Grande do
negra sonha em ser uma pessoa branca,
»»» Apesar dos avanços para a des-
Sul e autora do livro Guerra às drogas e a
não no sentido literal, mas no sentido de
construção do papel da mulher peran-
manutenção da hierarquia racial. Daniela
ser considerado humano, o tipo de pes-
te a sociedade, conquistados pelo
ainda aponta que por conta dessa compe-
soa universal”, completa.
movimento feminista, barreiras socio-
tição velada, a falta de opção emerge do
econômicas, expectativa de relaciona-
cenário socioeconômico para o afetivo.
Vale ressaltar que mulheres negras compõem o maior grupo da população
mentos e construção do autocuidado
Segundo a advogada piauiense Nádia
brasileira, elas somam quase 60 milhões
continuam fortemente impactantes
Nádila, o nível de solidão é proporcional
(28%). Quase 20% das que estão empre-
na vida da mulher negra. Isso aconte-
ao tom de pele. “Quanto mais escura você
gadas trabalham com serviços domésti-
ce pois além da estrutura patriarcal
é, você nem é desejável. Tenho amigas
cos. Esse cargo ocupa a primeira posição
que rege as vidas das mulheres como
de pele retinta que nunca estiveram em
de emprego, seguido por 7,6% que traba-
um todo, as mulheres negras encaram
um relacionamento. Quanto mais clara,
lham na limpeza de estabelecimentos. “A
uma realidade de múltiplas invisibili-
mais próxima de padrões eurocêntri-
mulher preta está na base da pirâmide
dades e, com isso, a possibilidade de
cos, mais desejável você é.” Nádia afirma
social”, explica Nádia. E, mesmo quan-
estabelecer relacionamentos amoro-
que esses ideais vêm de uma construção
do ocupam cargos de destaque, são asso-
sos também é afetada.
social advinda do período colonial e que
ciadas a cargos subalternos, expondo a
Segundo pesquisa do Instituto Ethos,
prevalece até os dias de hoje. “O processo
naturalização dessa opressão social.
de 2015, apenas 0,4% do quadro executi-
de escravização de quase 400 anos teve
“Quando estou no escritório, alguns
vo das maiores empresas do Brasil é com-
clientes já chegaram e me falaram ‘estou
posto por mulheres negras, o dado sobe
esperando a Nádia’”, conta a advogada.
para 13,6% quando inclui mulheres de todas as cores. Quando o assunto é ensino superior completo, 19% das mulheres brancas possuem diploma – quase o dobro das mulheres negras, com 10%.
Foto: Reprodução Internet
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“A gente foi construído com a ideia
A luta da mulher negra também abrange o combate contra os paradigmas e estereótipos ainda presentes na sociedade. “O corpo feminino negro, tem seu maior expoente na época do Carnaval,
“É possível ver pessoas se posicio-
em que é possível ver exposições com
nando nas redes sociais de forma muito
base na imagem hipersexualizada que
agressiva. Se o momento que estamos
foi criada pela sociedade”, enfatiza a
vivendo no Brasil é de acirramento da
professora Daniela. Para ela, as mulhe-
desigualdade racial, consequentemente, as pessoas vão se revoltando pela perda de oportunidades que achavam ser garantidas. Enquanto tem gente querendo pautar diversidade, sempre vai ter
» Daniela Ferrugem é autora do livro “Guerra às drogas e a manutenção da hierarquia racial” » Editora Editora Letramento, 200 páginas
res já apresentam uma carga de trabalho maior, além da vida voltada aos cuidados dos filhos ou dos pais. Segundo o Censo de 2010 realizado pelo IBGE, 52,89% das mães negras são mães solteiras.
Ilustração que representa a afetividade entre homens gays negros
bém para sobreviverem e para serem vistos como humanos, porque nós somos duplamente animalizados ao carregarmos o fardo de macaco e viado”. Foi assim que o estudante de biologia Alef Rodrigo explicou as diferentes lutas na comunidade LGBTQI+. Esse preconceito vai além do homem gay, mas também envolve a violência contra a transexualidade. Segundo o Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais, da AssociaIlustração: Marcos Wandebaster
ção Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), em 2018, 163 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, dentre essas, 82% eram negras. O estudante de Ciências Sociais Marcos Wandebaster afirma que costuma partir de uma questão racial para entender as questões de gênero e sexualidade. “A gente teve uma sociedade que foi dividida na colonização pela questão racial. As outras questões como gênero e sexuali-
“ MACACO E VIADO” Negros dentro do movimento LGBTQI+ enfrentam duplo preconceito: o racismo e a LGBTfobia
dade foram construídas a partir daí, da racialização. Por isso que não é a mesma coisa ser uma bicha preta e uma bicha branca”, afirma. Além disso, Marcos diz que as pessoas pretas não se veem no mesmo espaço. “Essa bandeira de arco-íris não me pertence, minha bandeira é preta. Nunca me pertenceu, nunca me deixaram acessar esse arco-íris, essa
nidade LGBTQIA+ é uma causa fomenta-
gaylândia que todo mundo ama”.
DUDA CAMBRAIA
da no garoto branco, gay e cisgênero. “É
O duplo preconceito pode ser um gati-
»»» “A gente está jogando glitter e
como se tivessem colocado uma placa de
lho para inúmeros transtornos mentais.
confete em cima de um sangue que
desvio e falado branco pra cá e preto pra
“Essas questões não necessariamen-
está sendo derramado e ninguém fala
lá”. O músico, que já sofreu o preconcei-
te têm a ver com características espe-
sobre”, desabafa a médica veteriná-
to racial vindo de homossexuais bran-
cificamente orgânicas e biológicas dos
ria Caren Lopes. A mineira fala sobre
cos, diz que se sentia como uma mão de
indivíduos, mas com relação aos fatores
negritude e lesbianidade nas redes
obra para levar prazer para a vida dessas
sociais. Então afeta em vários sentidos,
sociais, na academia e no mercado de
pessoas e conta como já foi sexualizado:
problemas cardiovasculares, de alergia,
trabalho, mas conta que apesar de ser
“Meu ex-parceiro falou assim: ‘Mas ter
ansiedade, depressão, uso e abuso de
homossexual, não se sente perten-
um relacionamento com você? Um negão
álcool e outras substâncias como forma
cente à comunidade LGBTQI+. “O que
desses que eu só posso transar? Por que
de enfrentamento dessa realidade ter-
representa a comunidade são os gays
eu vou te conhecer pra gente namorar?’”.
rível, que é a realidade do racismo e da
brancos e eu acho que a luta deles não
LGBTfobia”, explica a psicóloga e ativis“Bicha negra, bicha branca”
ta Jaqueline Gomes, a primeira mulher
Quem também se sente assim é o cario-
“Enquanto brancos lutavam para ter o
trans a chegar a um doutorado na Uni-
ca Edigar Bravo. Ele acredita que a comu-
direito de casar, pretos gays lutam tam-
versidade de Brasília (UnB).
tem nada a ver com a minha”, afirma.
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A ACEITAÇÃO DO MEU CABELO É A RESISTÊNCIA DAS MINHAS RAÍZES Desafio foi vencido com persistência e amadurecimento
No ensino fundamental eu come-
um pouco maior, no qual tinha o desafio
cei a me comparar com algumas meni-
de me aceitar, interagir e ser segura de
nas brancas que tinham cabelo liso e me
mim. É óbvio que para uma adolescen-
»»» O encontro com o nosso “eu” na
sentia inferior no quesito da aparência. O
te da minha geração esses motivos não
passagem do período da adolescên-
meu cabelo sempre foi enrolado e muito
eram tão claros na época, o que fui enten-
cia para o desenvolvimento da fase
armado, e para ir para escola a minha
der depois de muitos anos.
adulta modifica os nossos pensamen-
mãe sempre trançava. Eu lembro quan-
tos perante a nossa natureza den-
do era o dia de tirar a foto de final de ano,
comecei a tentar me enquadrar nesse
tro da sociedade. A partir das vivên-
os fotógrafos pediam para eu destrançar
padrão de beleza para escapar da inse-
cias e do entendimento das questões
o meu cabelo, quando eu soltava eu fica-
gurança criada por ele. Feito, fiz minha
raciais, começamos a compreender o
va tão brava porque estava me sentido
primeira progressiva, embora seja algo
nosso papel como indivíduos em um
“feia” e a maioria das fotos eu saía com
comum e muitas das vezes desconside-
grupo étnico. A professora assistente
a cara emburrada.
rado como problemático durante a ado-
FRANCIELLEN ROSA
Quando entrei para o ensino médio,
de Língua Portuguesa da escola Móbi-
Essa cobrança também vem um pouco
le Bettyna Freitas acredita que a língua
da minha família materna, que sempre
é um elemento essencial na cultura de
teve um cuidado maior com o cabelo.
Durante todos os anos que usei a pro-
um povo. Dessa maneira, julga que os
Minha avó, por vir de uma geração pas-
gressiva, comecei a me tornar dependen-
uqase 400 anos de escravidão no Bra-
sada em que o racismo era mais eviden-
te daquilo. Às vezes quando o produto já
sil impactam diretamente na maneira
te, sempre alisou os cabelos crespos das
estava saindo dos fios e tinha algumas
como o português se desenvolveu ao
minhas tias e da minha mãe. Até hoje há
partes enroladas, já era um dos motivos
longo do tempo. “A partir do momento
uma exigência por parte dela de estar
para me sentir inferior a quem estava
em que começamos a ter conhecimen-
com o cabelo alisado ou com penteados.
com o cabelo lisinho. E foi assim até 2018,
to da língua portuguesa, nós apenas
E virou um costume familiar passar ali-
quando comecei a me conhecer além das
a reproduzimos e consequentemente
sante nos fios ou fazer tranças para dei-
aparências.
reproduzimos a carga racista presente
xar “arrumado”.
na língua”, declara a professora.
lescência, me senti aceita, estava conseguindo me socializar mais.
O período da graduação foi o marco
Por estar todos os dias de trança na
para entender a importância da minha
Foi nessa passagem de reconhecer o
escola e notar que eu era diferente, criei
aceitação. Embora, o meu maior proble-
mundo externo e o desenvolvimento cul-
uma insegurança que me gerou uma
ma tivesse sido com o meu cabelo natu-
tural do meu grupo racial familiar, que
timidez em socializar com algumas pes-
ral, após o entendimento das minhas
bati de frente com alguns questionamen-
soas durante o período escolar e com
origens raciais comecei a enxergar que
tos que me alertaram sobre quem eu sou.
isso a aceitação se tornou um obstáculo
precisava quebrar muito mais que uma
“TIVE ALGUMAS CRISES DE IDENTIDADE, EM CERTOS MOMENTOS, POIS COMECEI A ME COBRAR ESSA ACEITAÇÃO POR INTEIRO “ Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
barreira criada pela minha insegurança,
certos momentos, pois comecei a me
mas sim muitos estereótipos que foram
cobrar essa aceitação por inteiro. Foi
enraizados na sociedade.
quando, conversando com alguns ami-
Resolvi então parar de passar os ali-
gos, entendi que esse processo de acei-
santes e de uma vez por todas aceitar o
tação não é de um dia para o outro, e
meu cabelo enrolado e armado. Só que o
está tudo bem se um dia eu quiser ali-
processo da transição capilar não é fácil,
sar o meu cabelo ou enrolar e até mesmo
e durante o período continuei escovan-
raspar, até porque a aceitação vai além de
do os meus fios, pois usar o cabelo com
quem eu sou esteticamente. É sobre não
várias texturas me deixava com baixa
depender de um padrão de beleza, sobre
autoestima.
amar o meu natural e respeitar minhas
Em julho de 2019 cortei as partes que
A padronização da beleza impunha o
tinuei passando chapinha, pois não me
que uma mulher com o cabelo enrolado,
acostumei com ele curto e enrolado.
crespo e afro devia fazer para se encai-
Só no primeiro semestre de 2020 que
xar na sociedade. Hoje com as vozes que
entendi o quão necessário era concluir
representam os negros e as mulheres
essa transição capilar. Comecei a estudar
negras na mídia e na internet, esse assun-
sobre a simbologia do cabelo afro para o
to se tornou pauta e a transição capilar
meu trabalho de conclusão do curso e foi
passou a ser adotada por muitas pesso-
aí que eu comecei a entender a impor-
as. Uma das influencers que me inspirou
tância de me aceitar e de abraçar minhas
nesse processo foi a Rayza Nicácio, que
raízes.
concluiu o processo e usa o seu cabelo
Todos os livros que eu li para concluir o
Todos os livros que li aprimoraram meu entendimento sobre meu grupo racial e abriram meus olhos para a luta Franciellen Rosa
raízes.
estavam lisas do meu cabelo, mas con-
em várias versões e penteados.
meu projeto sobre a resistência das tran-
Algo que a Rayza falou em seu Ins-
ças africanas nos dias atuais aprimora-
tagram e me marcou muito foi sobre
ram o meu entendimento sobre o meu
como forjamos muitas vezes algo físi-
grupo racial e abriram os meus olhos
co/material específico da nossa iden-
sobre quem eu devo ser para honrar a
tidade, exemplo: “Eu me aceitei com o
luta dos meus ancestrais que resistiram
cabelo cacheado, se eu alisar vou perder
para que hoje eu estivesse aqui. Então,
minha identidade” e essa era cobrança
a aceitação de quem eu sou vai além da
que tive em alguns momentos até mesmo
estética, é uma fase de grande simbolo-
de outras pessoas, pois após a conclu-
gia familiar que tem como desfecho ser
são da transição continuo usando várias
a representação como indivíduo de um
outras texturas na intenção de variar, e
povo em um todo.
em um dia uma pessoa perguntou para
Com a quarentena, aproveitei para
mim: “Você não tinha parado de alisar o
fazer um cronograma capilar com o intui-
cabelo e agora está alisando por quê?”.
to de fortalecer os meus fios naturais. E
E aquilo ficou me martirizando sobre a
em duas semanas o meu cabelo tinha
representação de quem somos e como
voltado por inteiro. Durante esse perío-
as pessoas ligam algo a nós.
do de isolamento do mundo, usei todos os
E é sobre isso, a aceitação de quem
dias o meu cabelo enrolado. O meu maior
nós somos vai além de quem as pesso-
medo era quando tudo voltasse ao nor-
as gostariam de ver. Aceitar o meu cabe-
mal ou aos poucos não conseguir expor
lo não quer dizer que eu não possa usar
essa minha verdade para “todos”.
de outro jeito, é sobre amá-lo quando ele
Tive algumas crises de identidade em
está natural e entender quão bonito ele é .
A ARTE TAMBÉM É NEGRA Pensando em desmistificar o racismo e colaborar no consumo de conteúdo produzido por pessoas negras, separamos obras como livros, filmes, séries, documentários e podcasts. Confira as indicações! Giovanna Ruzene Giullia Reggiolli
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LIVROS O Genocídio Negro Brasileiro
Um defeito de cor
Uma das maiores referências na defesa dos direitos dos negros no Brasil, possuindo testemunhos pessoais, reflexões e críticas, opondo-se ao discurso oficial sobre a condição do negro e desconstruindo o mito da “democracia racial”.
Trajetória de uma idosa africana, que viaja da África em retorno ao Brasil, atrás de seu filho perdido. A obra conta sobre seu caminho desde que foi raptada e tornada escrava no Brasil, a obtenção da carta de alforria, a volta para África, até o retorno ao Brasil em busca de seu filho.
• Abdias Nascimento
Quem tem medo do Feminismo Negro?
• Ana Maria Gonçalves
Na Minha Pele • Lázaro Ramos
• Djamila Ribeiro
Abrange temas desde a intolerância religiosa com relação a matrizes africanas, cotas raciais, celebridades negras como Maria Júlia Coutinho, até origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil.
A redução sociológica • Guerreiro Ramos
O livro defende uma sociologia engajada, que consiga romper a condição da cultura colonizada dos negros, buscando difundir e apoiar os valores que são inerentes às tradições dos diferentes grupos sociais, principalmente os negros.
A cor púrpura • Alice Walker
Escrito pelo ator, o livro se trata de uma narrativa reflexiva, embasando temas como: ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação.
Racismo, sexismo e desigualdade no brasil • Sueli Carneiro
O livro reúne reflexões e mostra como o racismo e o sexismo estruturam as relações sociais e políticas do país.
Vozes negras
• Amanda Condasi, Flor, Priscila, Isa Souza, Maria Ferreira e Pétala Souza
Conta a história de uma mulher negra no sul dos Estados Unidos nos anos 30, que foi abusada desde criança pelo padrasto e marido, focando temas como a desigualdade social entre as diferentes etnias.
O livro representa a resistência das vozes femininas que tentam ser silenciadas pelo gênero e pela cor, mas permanecem vivas. O protagonismo é ampliado por meio da escrita com histórias de ficção que narram trajetórias das personagens nessa busca por representatividade.
Quando me descobri negra
Quarto de despejo: diário de uma favelada
• Bianca Santana
Desdobra assuntos sobre o racismo velado no cotidiano dos brasileiros, sendo reproduzidos nos processos desde alisamentos no cabelo, até opressão policial e profissões subjugadas. A partir de experiências próprias de autoconhecimento e libertação.
• Carolina Maria de Jesus
Escrito por uma das escritoras negras mais importantes do Brasil, uma autobiografia de Carolina, que registra fatos importantes da vida social e política do Brasil, mostrando as condições extremamente precárias da favela.
FILMES, SÉRIES E DOCS Afroflix
Negrum3
Plataforma digital colaborativa que veicula conteúdos assinados e produzidos por pessoas negras.
Visa a relação mútua de gênero, raça e sexualidade, exibindo a vida de jovens negros na cidade de São Paulo. É um ensaio sobre a cultura LGBTQ+, negritude e aspirações espaciais. A fase de pesquisa foi baseada em entrevistas com personalidades negras que usam estética como ferramenta política.
Dentro da minha pele
Infiltrado na klan
• Yasmin Thayná
• Diego Paulino
• Toni Venturi
• Spike Lee
Conta a história dele como homem branco, privilegiado e indignado. Mostrando seu desconforto diante do racismo estrutural, contribuindo para sensibilizar espectadores brancos, descendentes de imigrantes italianos, privilegiados.
A trama conta a história de um policial negro no Colorado, Ron Stallworth, o qual se infiltra na Ku Klux Klan da região em 1978. A comunicação com o grupo era feita por telefonemas e cartas, mas nos encontros, ele enviava um policial branco em seu lugar. Com esse método, Ron se torna o líder do grupo e passa a sabotar crimes de ódio elaborados pela seita racista.
Empoderadas
Kbela
Mostra toda a pluralidade das mulheres negras e sua criatividade. Ampliando a representação de mulheres negras, tanto diante, quanto por trás das câmeras, em todas as etapas de produção, sendo também um projeto educomunicativo de formação audiovisual.
Conta como é ser mulher no Brasil e se entender enquanto negra. Aprofundando em assuntos sobre transição capilar, luta e resistência com relação ao direito de utilizar sua beleza natural negra, sem intervenção da indústria.
• Yasmin Thainá
• Renata Martins Joyce Prado
Cores e botas
O caso do homem errado
Falta de representatividade em programas, para meninas crianças negras (conta sua história de como queria ser paquita porém não possuía nenhum traço parecido com elas)
A história de Júlio César de Melo Pinto que foi executado em 1987 pela Polícia Militar gaúcha depois de ser confundido com um assaltante. “O caso do Homem Errado” venceu o troféu de melhor filme no Festival Internacional de Cine Latino, Uruguayo y Brasileiro.
PODCASTS
• Juliana Vicente
• Camila de Moraes
História preta
Lado black •@ladoblack
Compartilha vozes negras, colocando suas perspectivas presentes no mundo.
Podcast narrativo apresentado por Thiago André que busca trazer para a superfície histórica da população negra no Brasil e no mundo.
Ideias negras • @ideiasnegras
Afro pausa • @afropausa
• @historia_preta
Podcast de comunicadores pretos feito para compartilhar vivências e experiências.
Papo preto
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Apresentado por Yago Rodrigues, discute desafios e obstáculos enfrentados pelos negros
Pretas na rede •@pretasnarede
Feito por mulheres pretas que se propõe sob seu ponto de vista falar sobre a vida, o universo e tudo mais.
Série de entrevistas com personalidades negras que estão transformando nossa sociedade que busca contribuir com a repercussão dessas vozes incríveis.
A TRAJETÓRIA DE MICHELLE OBAMA
um escritório de advocacia. Foi lá que ela conheceu Barack Obama. Michelle e Barack se casaram em 1992. Mais tarde tiveram duas filhas: Malia e Sasha. Foi na mesma época que ela trabalhou como assistente do prefeito de Chicago.
De um bairro de classe média à casa mais famosa do mundo
Já em 1993, foi diretora-executiva de uma ONG chamada Public Allies, fundada em Washington D.C. e focada em construir uma sociedade mais justa e igualitária, desenvolvendo capacidades de lideranças nos jovens. Sob a tute-
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Foto: Reprodução
la de Michelle, o programa teve recordes de arrecadação de fundos e foi expandi-
MATHEUS MARCONDES
do para mais três estados norte-ameri-
»»» Michelle Obama é sem dúvida
canos. Além disso, o então presidente,
uma das mulheres mais populares
Bill Clinton, nomeou o projeto como um
das últimas décadas. Em 2010, a pri-
modelo de serviço nacional, segundo o
meira primeira-dama negra dos Esta-
jornal The New York Times.
dos Unidos foi eleita pela revista For-
De 1996 a 2008, ela trabalhou como
bes como a mulher mais influente do
diretora-assistente da Universidade de
ano, continuando na lista como uma
Chicago. Em 2002 assumiu como direto-
das dez mulheres mais influentes
ra-executiva dos hospitais e logo depois
pelos cinco anos seguintes. É consi-
se tornou vice-presidente para assuntos
derada um modelo a ser seguido por
externos. Suas conquistas foram maté-
sua ética, caráter e integridade.
rias do jornal University of Chicago Chronicle.
“Graças aos que vieram antes de mim, graças ao seu suor, à sua labuta
De acordo com suas declarações de
e ao seu sangue, tenho sido capaz de
Imposto de Renda, em 2006, Michelle
viver a promessa de um país mais justo
ganhava cerca de US$ 120 mil a mais que
[...] Enquanto George Floyd, Breonna
seu marido, já senador.
Taylor e uma lista interminável de pes-
Em 2008, como conta o The Wall Stre-
soas negras inocentes continuam a ser
et Journal, Michelle tirou uma licença
mortas, declarar o simples fato de que
para ajudar seu marido na corrida pre-
uma vida negra importa ainda é enca-
sidencial. Durante a campanha, a pre-
rado com desdém pelo mais alto cargo
sença de Michelle foi considerada uma
desta nação”, disse Michelle Obama, ao
peça-chave, chegando a participar de 33
Comitê Nacional Democrata de 2020.
comícios em apenas oito dias.
Mas ela nem sempre esteve debaixo
Como primeira-dama, ela foi conside-
dos holofotes. Michelle nasceu em 17 de
rada moderna e renovadora. Frequen-
janeiro de 1964, em um bairro de operá-
temente visitava abrigos de moradores
rios em Chicago. De família humilde, ela
de rua e se posicionou abertamente a
já demonstrava um papel de liderança
favor do casamento homoafetivo. Além
na escola: tirava notas altas e foi tesou-
disso liderou o Let’s Move, uma cam-
reira do conselho estudantil, conforme
panha pública que tinha como objetivo
conta o The Washington Post.
reverter a tendência à obesidade infan-
Em 1981 ingressou no curso de Socio-
til no país, talvez um de seus projetos de
logia na Universidade de Princeton, uma
maior repercussão.
das mais conceituadas do mundo. Logo
Dois anos depois de seu marido deixar
depois se graduou em direito em Har-
o cargo de presidente, Michelle publicou
vard. Após se formar, segundo o The
seu livro de memórias, Becoming, o best-
New York Times Michelle voltou para
Michelle Obama, ex-primeira dama norte-americana|
-seller mais vendido nos Estados Unidos
Chicago, onde começou a trabalhar em
FOTO: REPRODUÇÃO
naquele ano.
DEZEMBRO DE 2020 ANO 9 NÚMERO 18
COLABORADORES
DESTA EDIÇÃO
Alice Labate Salas, Ana Vitória Leal Graziano, Anna Morais Atsuhiko Moraes, Catarina Moura, Chloë Dubois, Duda Cambraia, Enzo Alexandre de Almeida, Gabriela Soares, Giovanna Ruzene, Giulia Pontes, Giullia Reggiolli, Gustavo Fongaro, Helena Fortunato, Iasmin Paiva, Isabella Nobre Tiezzi, Isabelle Bulla, Luana Cataldi, Luca Ioni, Malu Ogata, Marcelo Kawamoto dos Santos, Maria Clara Bispo, Maria Luiza Baccarin, Matheus Marcondes, Pedro C. Guarache, Pedro Carvalho, Pedro Lopes, Sergio Miguel, Sophia Olegário, Vitor Alves Altino, Wenderson Matheus da Silva