Plural #17

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JUNHO DE 2020 // ANO 9 // NÚMERO 17 REVISTA-LABORATÓRIO DOS ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA ESPM

JORNALISMO AUMENTO DO CONSUMO DE NOTÍCIAS IMPULSIONA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA SOCIEDADE UM NOVO NORMAL DEVE TOMAR LUGAR DENTRE OS HÁBITOS DE CONVÍVIO SOCIAL ENTREVISTA INFECTOLOGISTA COMENTA COMO EM POUCOS MESES O BRASIL SE TORNOU EPICENTRO DA CRISE

COVID-19:

Foto: Thais Fullmann

UM NOVO COTIDIANO PÓS-PANDEMIA



REVISTA-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA ESPM-SP Nº17 - 1º SEMESTRE DE 2020

Presidente Dalton Pastore Jr. Vice-presidente Acadêmico Alexandre Gracioso Vice-presidente Administrativo-Financeira Elisabeth Dau Corrêa Diretora Nacional de Operações Acadêmicas Flávia Flamínio Diretor de Graduação-SP Rodrigo Cintra Coordenadora do curso de Jornalismo-SP Maria Elisabete Antonioli Responsável pelo Centro Experimental de Jornalismo Antonio Rocha Filho

e

EDITORIAL

UMA REVISTA NA PANDEMIA Num momento sem precedentes como o que vivemos, esta 17ª. edição da Plural também foi desenvolvida como nunca antes: completamente a distância. Uma experiência inovadora para

Revista Plural revistaplural-sp@espm.br Editora - Revista Plural Profa. Cláudia Bredarioli Editor - LabFor Prof. André Deak Editor - Fotojornalismo Prof. Erivam De Oliveira Revisão Prof. Antonio Rocha Filho Profa. Maria Elisabete Antonioli Alunos colaboradores Revista Plural: Ana Carolina Bilato; Iasmin Rao Paiva; Julia Boarati; Leticia Ferreira; Luana Cataldi; Manuela Ravioli; Maria Luiza Baccarin; Matheus Marcondes; Nikolas Ambrosano; Renan Gabriel; Sophia Olegário LabFor: Catarina Bruggemann; Juan Cuela; Lena Motta; Lucas Bastos; Pedro Trigo Fotojornalismo: Ana Lu Rigatto; Ana Vitória Leal; Andre Cirri; Enrico Sordili; Gabriella Lodi; Isabella Galvão; Isabelle Bulla; Laura Cavalari; Leonardo Scudere; Letícia Denoni; Maria Caltabiano; Patrícia Martins; Richel Piva; Sérgio Miguel; Thais Fullmann CEJor, Centro Experimental de Jornalismo da ESPM-SP agenciadejornalismo-sp@espm.br Rua Dr. Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana São Paulo, SP Tel. (11) 5085-6713 Projeto gráfico e direção de arte Marcio Freitas

todos publicarmos a revista sem nossos encontros presenciais semanais. Mas a Plural que está aqui tornou-se viável graças à tecnologia. Tivemos reuniões por videoconferência e mantivemos contato por redes sociais e on-line ao longo de todo o semestre. Devemos também à tecnologia a forma adaptada de fazer jornalismo, no contato com as fontes, nas entrevistas, na diagramação das páginas. Uma nova maneira de estarmos juntos e aplicarmos os processos de ensino e aprendizagem que envolvem a produção da revista. Em isolamento, vimos que não haveria outra possibilidade que não a de publicarmos a Plural sobre um tema diferente dos efeitos que a pandemia de Covid-19 trouxe ao nosso dia a dia. E as próximas páginas mostram que não é exagero dizer que não seremos os mesmos quando a situação finalmente se aproximar da normalidade. Desde 11 de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia do novo coronavírus, a vida mudou radicalmente. Tivemos que enfrentar um colapso na saúde, como mostra a entrevista da página 34; vimos o consumo de notícias crescer, como discutimos na reportagem que começa na página 18; e começamos a pensar sobre como será o mundo pós-pandemia, na matéria de capa que está na página 6. Esses e outros temas relacionados à Covid-19 presentes nesta Plural permeiam uma das maiores crises da história recente da humanidade. Mostram que tudo tem se transformado, à medida que velhos hábitos deixam de fazer sentido, enquanto novos recursos e comportamentos emergem para conduzir a sociedade. Boa leitura! CLÁUDIA BREDARIOLI,

A fonte Arauto, utilizada nesta publicação, foi gentilmente cedida pelo tipógrafo Fernando Caro.

EDITORA DA PLURAL


ÍNDICE

4/5

página 6

Foto: Erivam de Oliveira

página 6

BRASIL PÓS PANDEMIA Quais são os maiores impactos da Covid-19, que marcou todos os pilares da nossa sociedade? Discutimos os efeitos da doença na nossa relação com o tempo, com a economia, com a política, com o meio ambiente e com as artes

página 14 ANSIEDADE Como o isolamento social afetou o estado psicológico das pessoas, potencializando distúrbios emocionais que muitas vezes já estavam latentes antes do início da quarentena

página 16 EVENTOS Para evitar aglomerações, vários eventos, shows, festas e festivais foram adiados ou cancelados. Em São Paulo, mais de 25 eventos de grande magnitude foram postergados

página 22 PERFIL Conheça a vida de Adolfo Lutz, pai da medicina tropical e pioneiro na área de epidemiologia e de doenças infecciosas, que hoje dá nome ao antigo Instituto Bacteriológico em São Paulo


Foto iStock/Mihajlo Maricic

Fotos: Isabelle Bulla

página 18

Foto Reprodução

página 22

CORREÇÃO Na edição número 15 (junho de 2019), a Plural publicou duas fotos da aluna Isabelle Bulla sem que seu nome acompanhasse as imagens. Veja acima as fotos com o devido crédito.

página 18

PAPEL DO JORNALISMO Pandemia trouxe aumento no consumo de informações e notícias produzidas pela imprensa tomaram lugar de conteúdos falsos nos hábitos de leitores, internautas e telespectadores

página 24 ESPORTES Com o adiamento dos Jogos Olímpicos, prioridade passou a ser a saúde dos atletas, mas treinamento deverá ser afetado em países mais expostos à Covid-19, como ocorre no Brasil

página 34 ENTREVISTA Infectologista Naihma Salum Fontana comenta sobre como o Brasil se transformou em poucos meses em epicentro da pandemia e qual o impacto disso para o futuro próximo no país

Veja a galeria de fotos produzidas para a Plural usando a câmera do seu celular. Basta apontar para o QR Code acima.


6/7 Arte desenvolvida por Bisoro e divulgada no Instagram do Museu do Isolamento |

FOTO ISMAEL PENA/DIVULGAÇÃO

COVID-19 QUE SOCIEDADE IRÁ NOS DEIXAR?

IMPACTOS DE UMA DOENÇA QUE MARCOU TODOS OS PILARES DA HUMANIDADE


“TEMOS 55% DA POPULAÇÃO TRABALHANDO INFORMALMENTE E ISSO MOSTRA QUE A MAIOR PARTE DO POVO É INVISÍVEL PARA O ESTADO” Leonardo Trevisan, jornalista e especialista em economia

queda para um mês de março desde 2003, ANA CAROLINA BILATO IASMIN RAO PAIVA MANUELA RAVIOLI

segundo dados do IBGE. Nas vendas de

»»»A pandemia da Covid-19 foi uma

de básica, por exemplo, aumentaram em

boa oportunidade para refletirmos so-

14,6%. Como consequência, o mercado de

bre o tempo. O pouco tempo em que a

bens duráveis esfria e tem declínio de 42%

doença surgiu e se espalhou pelo mun-

para vendas de roupas e 25,9% para mó-

do afora. O excesso de tempo em ficar

veis e eletrodomésticos.

supermercados, produtos de necessida-

em casa que permite pensar sobre di-

Além de enfatizar a importância da

ferentes coisas que antes não passa-

presença do estado brasileiro, Trevi-

vam pela cabeça das pessoas. O tempo

san também destaca que é preciso olhar

incerto que nos resta para passar essa situação. E o tempo que a gente tinha com o mundo da forma como costumá-

Leonardo Trevisan, doutor em ciência política política pela USP e professor da ESPM | FOTO ARQUIVO PESSOAL

para as pequenas empresas. “Noventa por cento do mundo empresarial brasileiro é composto por pequenas e médias.

vamos olhar para ele. Tempo este que

Estas precisam ser melhores observadas

acabou, porque agora viveremos em

pelo estado porque representam 70% dos

outro tempo, com novos paradigmas

empregos”, completa.

e novas perspectivas. O que nos leva a

Como medida de longo prazo, porém,

pensar: como será esse tempo?

eficiente, o especialista sugere a constru-

Durante esse momento isolados, sem

ção de uma economia mais sólida e fiel a leis e regras. “Economia informal não é

gas, além de distantes da rotina diária,

Quem vai pagar pela conta da crise?

é normal que essa e outras perguntas

Depois da vida e da saúde pública, a eco-

o estado”, finaliza.

dominem nosso pensamento, deixando

nomia é uma das questões mais pautadas

espaço para a o medo daquilo que ainda

durante o isolamento social ocasionado

pode acontecer. Sidnei Pacheco, empre-

pela pandemia porque afeta diretamente

O Brasil pode ficar mais polarizado?

sário, resume esse sentimento ao afirmar

o bolso das pessoas. O professor da ESPM

No Brasil, a crise do coronavírus interfe-

que a humanidade viveu outros momen-

Leonardo Trevisan, jornalista e especia-

riu em um quadro político-social já muito

tos apavorantes que já se passaram, as-

lista em economia, entende que esse mo-

conturbado, marcado por desigualdade

sim como “a pandemia atual também

mento de pandemia escancara algumas

e polarização política muito fortes, fato-

vai passar e a vida seguirá seu curso”.

mazelas que o Brasil vive. Ele comenta

res que são determinantes para a recu-

No entanto, para Pacheco, a diferença é

sobre a “parcela invisível da população”

peração do país. Como indicado antes,

que “na crise atual ainda temos o com-

que provavelmente será mais afetada pe-

pelo professor Leonardo Trevisan, a Co-

ponente incerteza, o que nas passadas

los números apresentados acima. “Temos

vid-19 escancara o quanto o Brasil é um

não existe mais”.

55% da população brasileira trabalhando

país desigual, algo que a população em si

contato com familiares, amigos ou cole-

saudável porque a pessoa não existe para

É certo, contudo, que após uma crise

informalmente e isso mostra que a maior

não prestava tanta atenção. Essa caracte-

tão intensa e generalizada, o mundo não

parte do povo é invisível para o estado”,

rística pode ser responsável por provocar

será o mesmo. Os pilares culturais, eco-

comenta Trevisan.

consequências mais profundas durante

nômicos, sociais e políticos que susten-

O desemprego no Brasil cresce desen-

tam a sociedade como conhecemos hoje

freadamente atingindo 11,6% até final de

Segundo a professora de Ciência Políti-

estão sendo colocados em xeque e, ainda

fevereiro, em pesquisa feita pelo Insti-

ca da ESPM-SP Paola Gonçalves, a emer-

que não ocorra uma ruptura total deles,

tuto Brasileiro de Geografia e Estatística

gência da situação pareceu fazer com que

é muito possível que sejam rearranjados

(IBGE). Segundo o Ministério da Econo-

os parlamentares deixassem de lado an-

de forma a se adaptar às novas necessi-

mia, 7 milhões de trabalhadores tiveram

tigas polarizações para solucionar o pro-

dades humanas. Diante disso, é impor-

seu salário reduzido ou contratos sus-

blema de saúde. Contudo, a professora

tante indagar: quais aspectos serão alte-

pensos, ainda sem citar a informalida-

alerta que “não é possível prever o que

rados? E como essa mudança acontecerá?

de. Já o comércio experimentou a pior

ocorrerá com as polarizações após a crise,

a crise que enfrentamos.


mas sabemos que a crise econômica exigirá ainda muito esforço coletivo”. Ainda, a falta de sintonia entre o governo federal e os governos estaduais e municipais foi algo mencionado pela cientista política como um fator que confunde a popu-

8/9

lação. “Mesmo com a gravidade da crise, diversas lideranças políticas ainda estão fazendo cálculos eleitorais”, lamenta. Monica Andersen, vice-chefe e professora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, acredita que iremos valorizar mais a saúde e as nossas relações pessoais, tanto dentro como fora de casa. Por esse motivo, Mônica prevê um fu-

Avenida Paulista vazia |

FOTO LAURA CAVALARI

turo mais altruísta: “As crianças de hoje vão ser adultos no futuro lembrando do que elas vivenciaram, e os adultos vão

por conta de fazer parte da lista de profi-

em relação ao meio ambiente, provavel-

lembrar por muito tempo o que foi pas-

laxias contra a Covid-19. Já se prevê um

mente não estaríamos passando por tudo

sar semanas dentro de casa sem o direito

aumento entre 10% a 20% nos valores das

isso nessa intensidade. A reação da natu-

de sair, e não sair por conta da preocupa-

contas deste serviço, segundo a Agência

reza é normal e somos nós, seres huma-

ção com o próximo. Então, sim, acredito

Brasil.

nos, que interferimos.”

que seremos um planeta melhor, e isso

Professor e coordenador do Centro de

O especialista em sustentabilidade

é pelo menos uma das lições que a gen-

Desenvolvimento Socioambiental (CEDS)

acredita que o momento vivido traz li-

te tira”.

da ESPM-SP, Marcus Nakagawa acredita

ções que servirão de exemplo e experiên-

De maneira semelhante, Paola Gonçal-

que se houvesse uma relação mais sóli-

cia, caso outra pandemia afete o mundo

ves lembra que, para existir uma nação, a

da de respeito entre humanos e nature-

novamente. “É um aprendizado para que

proximidade física não é necessária, por-

za, os impactos da Covid-19 seriam me-

nós possamos lidar com a natureza de

que depende de um sentimento de per-

nos gritantes. “Se a gente pensasse no

uma forma mais homogênea e síncrona,

tencimento e união provocado por dife-

nosso ecossistema, nos animais, inclu-

pensando em questões ligadas aos nos-

rentes aspectos, como cultura, história e

sive nos vírus, se tivéssemos educação

sos impactos, consumo, poluição e carbono”, complementa Nakagawa.

costumes. E dessa forma conclui: “Uma

“Espero que as empresas e instituições

crise como essa tem grande potencial de

públicas comecem a levar em considera-

ampliar esse sentimento nacional”.

ção medidas sustentáveis e que eles te-

Teremos um desenvolvimento

nham um planejamento que não se baseie somente em âmbitos econômicos e

mais sustentável?

de curto prazo”, recomenda para o futuro.

A pandemia não chegou ao fim e já é pos-

A arte será valorizada?

sível identificar impactos ambientais e marcas na natureza que o coronavírus vem deixando. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a região metropolitana de São Paulo apresentou redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio entre março e abril, comparando com o ano anterior. Já o consumo de água tem aumentado

“Acredito que seremos um planeta melhor, e isso é pelo menos uma das lições que a gente tira” Mônica Andersen Professora e vice-chefe do Departamento de Psicobiologia da Unifesp

A cultura muitas vezes é considerada um gasto secundário. Enquanto houve alta em mercados e farmácias, o número de gastos com cinema, teatro, exposições caíram. Os artistas tiveram que se reinventar, apesar de já existir plataformas online para livros, filmes e séries, al-


Museu do Isolamento, iniciado por Luiza Adas, com o objetivo de mostrar trabalhos de artistas que não são conhecidos. Manifesta Arte em Rede também é novidade, e reúne mais de trinta coletivos de artistas e projetos culturais de São Paulo que fará apresentações online. “Agora mais do que nunca, as pequenas ações podem fazer muita diferença na vida dos artistas, dos produtores de conteúdo cultural, das instituições. Você compartilhar, publicar, comentar, indicar são pequenas ações que acabam ajudando muito”, completa Luiza.

Construção civil em obras mesmo durante a pandemia |

FOTO THAÍS FULLMANN

Ainda há esperança? O historiador Leandro Karnal refletiu em guns escultores, artesãos e outros artis-

entrevista à CNN: “Quem tem esperan-

tas plásticos têm dificuldades e, às vezes,

ça age”. O papa Francisco também se po-

sequer conseguem acesso à internet. “Os

sicionou em relação a esse sentimento.

mais prejudicados serão aqueles que tra-

“A esperança de um tempo melhor, no

balham diretamente com a cultura, em

qual também nós possamos ser melho-

especial em atividades que dependem

res, finalmente libertados do mal e des-

de aglomeração como teatros e shows”,

ta pandemia”.

diz João Luiz Figueiredo, coordenador do

A estudante Sophia Acquaviva tem uma

Mestrado Profissional em Gestão e Eco-

visão otimista para o futuro. “Acredito,

nomia Criativa da ESPM, em entrevista

que nós nos tornaremos pessoas mais

para a Folha de S. Paulo. Segundo o IBGE, as empresas desse ramo representavam 5,2 milhões de pessoas em 2018. Pesquisas realizadas pela

empáticas, gratas e resilientes porque

Luiza Adas, administradora dos perfis no Instagram Florindo Linhas e Museu do Isolamento | FOTO ARQUIVO PESSOAL

agora nossas atitudes, mais do que nunca, influenciam na vida de todos”, diz. “O cenário está caótico, algumas pesso-

Secretaria de Cultura e Economia Criati-

as estão passando necessidade, e aqueles

va de São Paulo, durante a quarentena,

que são privilegiados estão percebendo o

apontaram que o prejuízo para a indús-

Florindo Linhas no Instagram, voltado

quão sortudos são e quanto até as peque-

tria cultural pode chegar até R$ 34,5 bi-

para cultura e arte, afirma: “O impacto

nas coisas têm valor”, completa.

lhões, equivalente a 1,7% do PIB estadual.

do coronavírus na cultura acontece na

Já Larissa Rocha, também estudante,

A Secretaria de Cultura e Economia

medida em que as atividades culturais

afirma: “O mundo ainda estará em esta-

Criativa do Estado de São Paulo e o Fun-

são feitas exclusivamente na forma físi-

do de choque e com medo de algo pare-

do Social fizeram distribuições de cestas

ca e presencial, e claramente todo mundo

cido acontecer de novo e ao mesmo tem-

básicas para circos na capital. Apesar de

está sendo afetado na crise. A gente vive

po buscando compensar tudo que não

iniciativas de artistas que optaram por re-

uma sociedade que gira em torno do capi-

foi vivido durante esses dolorosos me-

alizarem shows e performance em lives

tal e fica difícil de as pessoas comprarem

ses”, diz. “Muita gente estará desempre-

nas redes sociais, plataformas que libe-

coisas consideradas secundárias, infeliz-

gada, sem dinheiro, muitas famílias ain-

raram livros e filmes gratuitos, e museus

mente a cultura entra nessa categoria“.

da vivendo o luto, a rotina vai demorar

que criaram exposições virtuais, ainda há um buraco nesse segmento. Luiza Adas, administradora do perfil

Contrapondo a visão negativa que tive-

para se restabelecer totalmente, as mar-

mos durante esse “filme de terror”, inú-

cas ficarão para sempre em quem viveu

meros projetos foram criados, como o

esse cenário”.


10/11 Metrô de São Paulo vazio durante o período de quarentena |

FOTO ERIVAM OLIVEIRA

UM NOVO CONVÍVIO SOCIAL Hábitos adotados durante o distanciamento podem se tornar comuns quarentena, a Plural entrevistou várias

todos não vão parar de ir a festas e sho-

LUANA FERNANDEZ CATALDI MARIA LUIZA BACCARIN

pessoas para tentar prever como vai ser

ws até o final do ano”, opinou.

o comportamento social das pessoas

Eles também falaram sobre os novos

»»» Lembra aquela última festa a que

após a pandemia. A universitária Luísa

costumes que esperam adquirir após

você foi antes do distanciamento so-

Monteiro contou que iria sair logo que

o fim do distanciamento social. Entre

cial? Lotada, onde você cumprimenta-

acabasse a quarentena, talvez esperando

eles, o uso mais constante de álcool em

va seus amigos com beijos e abraços

duas semanas para ter certeza. Já Sophia

gel e lavar as mãos com mais frequên-

calorosos e aproveitava para tomar

Moyen, estudante da Escola Politécnica

cia, evitando colocá-las sujas no rosto.

um gole do que quer que eles estives-

da Universidade de São Paulo, afirmou o

Além disso, tomar cuidado ao ingerir be-

sem bebendo? Ou aquela vez que você

contrário. “Vou demorar para sair como

bidas de copos de amigos. Sophia dis-

saiu para comer fora e sentou em uma

saía antes”, disse.

se que até tentaria chegar menos perto

mesa cheia de colegas de trabalho? Ou

Gabriel Sorpreso disse que vai voltar

como era comum para você ficar cer-

com sua vida normal após o fim da qua-

cado de pessoas em situações cotidia-

rentena, pois “não há por que parar a

Sobre aglomerações, a maioria dos jo-

nas, como no transporte público, em

vida e seus costumes para sempre”. A

vens responderam que não vão ter pro-

uma sala de aula ou em seu ambien-

estudante de administração Maria Edo-

blemas em meio a multidões, e muitos

te de trabalho?

arda Mammana Milani compartilha des-

afirmaram que ficarão contentes com

Você acha que tudo voltaria a ser como

sa ideia, acreditando ser um pensamen-

isso. Poucos disseram que evitariam

antes do coronavírus? Durante essa

to geral entre os jovens. “Acredito que

grandes concentrações de pessoas por

das pessoas, pelo menos por um período de tempo.


um período, uma vez que, para isso, te-

entre os familiares também pode mudar

riam que evitar encontrar seus amigos

durante a quarentena, uma vez que “al-

nos ambientes que os jovens frequen-

gumas pessoas têm redescoberto as pes-

tam comumente.

soas com quem convivem agora com o

A realidade de outras pessoas é bem

isolamento e isso tem sido muito bom”.

diferente. O médico Renato Sorpreso ex-

Entretanto, nem todas as relações são

plicou que precisa conviver com o novo

positivas entre os seus pacientes e, se-

olhar que a população tem sobre se a sua

gundo ela, muitos descobriram relacio-

profissão. “Por um lado, as pessoas co-

namentos tumultuados com a própria

meçaram a perceber que ser médico é se

família.

expor a doenças no trabalho, trazendo

Muitos lugares ao redor do mundo já

um lado negativo, mas por outro, come-

estão vivendo o declínio do coronavírus

çam a reconhecer e respeitar mais esta

e podem servir de base para prevermos

doação profissional”, declarou.

o que acontecerá no Brasil a curto prazo.

Ele disse que, apesar de ser ortope-

Em locais nos quais já ocorreu uma flexi-

dista, o fato de frequentar o hospital em

bilização da quarentena, como é o caso

que trabalha regularmente faz com que

de Wuhan, na China, ponto de origem do

a maioria de seus vizinhos e conheci-

coronavírus, muitas pessoas ainda sen-

dos tenham cuidado ao ter contato com

tem medo de sair de casa. Além disso, os

ele. “Quando vamos pegar o elevador no

habitantes devem continuar mantendo

condomínio onde moramos, os vizinhos

distância entre si nas ruas e, nas esco-

evitam passar do nosso lado ou entrar no

las, a temperatura corporal de cada alu-

mesmo elevador”, afirmou. Apesar dis-

no é medida todos os dias.

so, Sorpreso acredita que depois da qua-

rentes no fim da quarentena. “Tem apa-

Tem aparecido muita gente ajudando o outro, ajudando os velhinhos que não fazem compras, fazendo marmitas para os desabrigados. Está havendo uma preocupação maior com o outro

recido muita gente ajudando o outro,

Paula Furtado, psicopedagoga

rentena tudo vai voltar ao normal, uma vez que “as pessoas vão se acostumando e até mesmo se esquecendo”. A psicopedagoga Paula Furtado tem sua própria visão de como o futuro vai ser, com base no que seus pacientes dizem durante as consultas. Ela afirmou que as relações humanas vão ser dife-

Negócios em diversos lugares da Europa já estão voltando a funcionar e as pessoas estão lentamente começando a sair pelas ruas. Na Bélgica, por exemplo, grupos pequenos que não moram na mesma casa estão autorizados a saírem e se encontrarem em ambientes abertos, como parques. Na Espanha, as crianças podem sair na rua durante uma hora por dia, e as pessoas estão frequentando bares e restaurantes com uma placa de vi-

ajudando os velhinhos que não fazem

dro atuando como divisória, para evitar

compras, fazendo marmitas para os de-

contato direto. A estudante de relações internacio-

sabrigados. Está havendo uma preocu-

nais Maria Victória Cincurá mora em

pação maior com o outro”, explicou.

Haia, na Holanda, e disse que áreas de

Além disso, Paula também deu a sua

lazer para crianças reabriram por lá.

opinião em relação ao atendimento psicológico online, popularizado durante

Silva, orientador educacional do Colégio

Ela também contou que a circulação de

a pandemia. “Ele funciona quando não

Visconde de Porto Seguro, concorda com

pessoas na rua não é proibida. “Aqui as

tem outra alternativa, mas só quando

a visão de Paula, e acrescentou: “A pre-

pessoas estão dentro de casa, mas não

você já tem um vínculo com o paciente,

sença humana nunca vai ser substituí-

é como se você não pudesse sair. Você

aquele primeiro momento presencial de

da pelo online, mas eu acho fundamen-

pode sair, só tem que ficar a 1,5 m de dis-

se conhecer e sentir a pessoa na presen-

tal como ferramenta desse momento”.

tância das outras pessoas. Eu saio tam-

ça é essencial”. João Roberto de Souza

A psicóloga disse que o convívio social

bém, para tomar sol e andar”, afirmou.


12/13 Idosos têm se adaptado melhor ao isolamento social |

FOTO: LIDERINA/ISTOCK

COMO DIFERENTES GERAÇÕES LIDAM COM A PANDEMIA De que maneira nossa herança social pode interferir na percepção da crise e dos valores

nossas atenções se voltam para o mundo

be, que se surpreendeu positivamente

interconectado das mídias digitais, um

com a adaptação. “Está tranquilo, con-

dos pilares da atualidade. Para se adap-

sigo até ajudar o professor da matéria

»»» “Você está acostumada a uma ro-

tar no universo virtual, o antropólogo e

que eu sou monitor”, afirma. Pedro Ai-

tina acelerada na qual não paramos

professor da ESPM-SP Fred Lucio prevê

zemberg passou por uma transição se-

por um segundo e, de repente, preci-

uma tendência a reiterarmos nossas re-

melhante. Além do ensino a distância,

sa mudar complemente, desacelerar,

lações sociais nesse novo espaço. Além

ele conseguiu se ambientar a uma roti-

tudo é adaptação, é sobre você lidar

disso, chama atenção para as gerações

na de exercícios também. “Peguei uns

com a situação”, afirma a universitá-

mais atuais, que cresceram no ambiente

treinos com amigos que já fizeram aca-

ria Tatiana Foster, quando questiona-

da tecnologia digital. “Elas acabam en-

demia e estou me virando aqui”, conta.

da sobre como lidar com a quarente-

contrando mais alternativas na solução

No entanto, nem é necessário entrar

na. O sentimento que ela traduz pode

desse problema do isolamento”, ponde-

em questões como o acesso pouco de-

ser compartilhado por muitas pessoas

ra, destacando que nem sempre as gera-

mocrático à educação no país para per-

jovens que, acostumadas às suas roti-

ções mais velhas acompanham esse mo-

ceber que a facilidade em lidar com as

nas, de uma hora para outra, jogaram

vimento.

tecnologias não é regra para a geração

IASMIN PAIVA JÚLIA BOARATI

tudo para os ares, para se adaptar a

De fato, é esperado que jovens en-

Z. Isadora Carneiro afirma que se acos-

uma sociedade cujo estilo de vida e va-

contrem mais facilmente novas possi-

tumar com uma rotina 100% online, de

lores estão sendo colocados à prova.

bilidades para atividades diárias dentro

uma hora para outra, foi “muito ruim”.

de casa. Esse é o caso de Vinicius Ára-

Da mesma forma, Tatiana concorda que

Ao falar de mudança de paradigmas,


tempo isolada. “Dá aflição por não poder abraçar os netinhos e as amigas”. Defende ainda que a chave para sofrer menos com o isolamento é ocupando-se de maneira significativa, sem “ceder à tentação da cama nem dos jogos ou papos infinitos na internet”. Quaisquer que sejam as dificuldades e facilidades nesse momento, a espera pelo fim da quarentena é algo compartilhado por todos, porém, quando se fala em recuperação da sociedade, a atenção se volta para a população mais jovem. O professor da ESPM-SP acredita que, por existir uma parcela da juventude mais

Jovem em aula online |

antenada nas questões do mundo, com

FOTO THAIS FULLMAN

a ajuda das tecnologias, os jovens podem colaborar com as mudanças que ainda se adaptar às aulas em casa foi um de-

Fred Lúcio defende que o mais impor-

estão por vir. “Acho que podemos espe-

safio. “Quando vira obrigação você es-

tante é tranquilizá-los de que, embora

rar soluções mais criativas do que têm

tar conectado o tempo todo, a história

haja um perigo real, não é uma sentença

vindo por aí, em termos de mercado e

muda”, defende.

de morte. “Acho que informação é a prin-

para as pessoas”, pondera Lucio.

Tais insatisfações na quarentena po-

cipal chave”, afirma o professor, acres-

Se perceber como um indivíduo com

dem provocar uma frustração com o

centando que “as pessoas também estão

tantos direitos quanto deveres pode ser

ritmo de desempenho. Isadora resume:

promovendo várias ações para a popula-

um exercício essencial para jovens. As

“Parece que quanto mais você tenta ser

ção idosa nas mídias sociais, o que é algo

reflexões podem ser variadas, Pedro Ai-

produtivo menos você é, você sempre

bastante interessante”.

zemberg conclui que o período “foi im-

tem a sensação de que está sendo im-

Por outro lado, os idosos têm uma van-

portante para entender que as pessoas

produtivo”. A psicanalista Ana Fachin-

tagem nesse processo, pois muitas vezes

têm que ceder o próprio tempo por um

ni explica que por serem os jovens um

já estão mais acostumados a uma roti-

bem maior e que cada pessoa tem sua

grupo mais preocupado com o momen-

na caseira. Waldete Tristão justifica que,

responsabilidade”. Daniela Carlucci nota

to futuro, seja por uma perspectiva pes-

por estar aposentada, sua rotina não mu-

a importância de um pensamento coleti-

soal ou global, eles “têm uma preocupa-

dou muito. “Moro sozinha há anos, em

vo. “É esse direito à quarentena que apa-

ção e uma dúvida muito grande e isso é

um lugar fantástico, e estou acostuma-

rece né, assim como o direito à proteção,

muito angustiante”.

da a ter contato a distância com famí-

então é importante reconhecer o seu papel na sociedade”.

Do ponto de vista de quem já viveu ou-

lia e amigos”, afirma. Contudo, mesmo

tras crises, pode parecer que o momen-

já tendo enfrentado diferentes crises na

Ana Fachinni acredita que a situação

to é apenas mais um dos vários em que

política e economia, reforça que esse é

atual poderia ajudar o jovem a se envol-

a tensão mundial está latente. Os maio-

o momento mais crítico de sua vida. “É

ver de maneira afetiva com as coisas. “O

res de 60 anos provavelmente passaram

triste saber o sofrimento que estão pas-

amadurecimento é isso: a gente se envol-

mais tempo de suas vidas com medo de

sando ou vão passar milhares ou quem

ver com as coisas que nos cercam”, com-

bombas nucleares do que de vírus con-

sabe milhões de pessoas, por perderem

pleta. Por isso, mesmo diante dessa cri-

tagiosos. Contudo, por se encaixarem

seus entes queridos”, completa.

se, essa geração, que já é taxada pelos

como principal grupo de risco, é im-

Eliane Pimenta concorda que o costu-

mais diferentes valores, tem a oportuni-

prescindível protegê-los, mesmo quan-

me com a vida de aposentada foi útil para

dade de desenvolver um olhar mais am-

do não há grande preocupação por par-

se adaptar à quarentena mas, mesmo as-

plo para o mundo que a cerca e, talvez,

te dos mesmos.

sim, nunca pensou que fosse ficar tanto

reinventar sua própria imagem.


14/15

ISOLAMENTO SOCIAL PODE DESENCADEAR ANSIEDADE Sentimento de vazio é um dos sintomas da depressão |

FOTO FERNADO CABRAL / UNSPLASH

Como a quarentena afetou o estado psicológico das pessoas ou outro evento que não se tem conheci-

físicos, psíquicos e emocionais em decor-

JULIA BOARATI MATHEUS MARCONDES LETÍCIA FERREIRA

mento prévio pode gerar medo e estresse

rência de o portador ter sido vítima de si-

nos indivíduos; e este medo gerado pelo

tuações traumáticas.

»»» Mudar de rotina pode ser difícil,

desconhecimento da doença acaba por

No isolamento, o fato de não poder

mas ao contrário do que muitos pen-

trazer graves consequências emocionais.

chegar perto de quem se ama, a perda

sam, sair de um estilo de vida agitado e

O medo é uma reação natural ao des-

do social e do toque fazem com que uma

sociável para ficar em casa é ainda mais

conhecido; é a defesa instintiva frente às

sensação de desamparo se torne cada vez

complicado. Ficar em casa alguns dias

ameaças reais ou potenciais vivenciadas

mais presente. O desamparo reforça cada

pode parecer ótimo, mas saúde men-

no cotidiano, segundo Pupo. Assim, em

vez mais a falta de controle sobre a reali-

tal é a chave para enfrentar um tem-

meio à pandemia, acredita-se que a an-

dade vivida, o que acaba por aumentar os

po de isolamento de forma saudável.

siedade pode ocorrer pela existência des-

sintomas da ansiedade, explica Pupo. É

“O confinamento é uma situação sur-

te medo. A situação da Covid-19, aumenta

importante para os que estão isolados em

preendente que não estava nem progra-

insegurança e a sensação de perigo imi-

casa que procurem utilizar de recursos

mada nem calculada. Ela se encaixa den-

nente, fatores que causam ansiedade.

tecnológicos disponíveis para ocupar o

tro do inesperado, as pessoas estão muito

Os efeitos da ansiedade também po-

tempo com coisas positivas. Fixar-se por

pouco preparadas para lidar com o ines-

dem deixar marcas traumáticas na vida

demasiado em notícias da doença o tem-

perado, embora ele seja tão real ou até

das pessoas. Dados da revista East Asian

po todo tende a só aumentar a ansiedade.

mais real do que o esperado”, diz o psi-

Arch Psychiatry apontam que entre 2002

Bruna Neupman, estudante universitá-

quiatra Ricardo Pupo.

e 2003, quando o vírus causador da Sars

ria, explica como está encarando a ansie-

Toda esta situação tem o poder de sen-

matou 800 pessoas no mundo, 42% dos

dade durante o período de quarentena.

sibilizar a saúde mental das pessoas, au-

sobreviventes acabaram desenvolvendo

“Estou tentando lidar do melhor modo

mentando os níveis de ansiedade, já que

algum tipo de transtorno mental. Mais

possível, respirando fundo quando co-

fatores desconhecidos e incertos fazem

da metade das pessoas sofreu com o

meçam as crises, tentando praticar exer-

com as pessoas se sintam inseguras,

transtorno de estresse pós-traumático,

cícios físicos em casa para me sentir me-

principalmente em casos como esse, de

um distúrbio da ansiedade caracteriza-

lhor e tentando fazer o que me relaxa”.

nível mundial. Qualquer tipo de doença

do por um conjunto de sinais e sintomas

Segundo o G1, portal de notícias da Glo-


A meditação diminui o estresse e a ansiedade |

FOTO AVRIELLE SULEIMAN / UNSPLASH

bo, uma pesquisa conduzida pelo psicó-

nos impossibilitando de nos concentrar

logo Alberto Figueiras, do Instituto de

com muita coisa a não ser os pensamen-

Psicologia da Universidade do Estado do

tos ruins e pessimistas. O sentimento de

Rio de Janeiro (UERJ), mostra que a inci-

medo por nós mesmos e por todos à nos-

dência de ansiedade e depressão nos bra-

sa volta toma conta em alguns momen-

sileiros dobrou entre a primeira e a quar-

tos. Luiza conta o que faz para sentir-se

ta semana de quarentena por conta da

uma tendência para compulsão, têm uma

“Ninguém fica com distúrbios só na quarentena, a pessoa já tem uma predisposição para isso”

preocupação exagerada, neste momen-

Ricardo Pupo, psiquiatra

pandemia do novo coronavírus. Ricardo Pupo esclarece a questão dos emergentes problemas psicológicos que vêm surgindo. “As pessoas que já têm

melhor em momentos como esse: “Gosto de pensar que isso vai acabar logo, sei que vai voltar tudo ao normal. Quando eu fico triste olho para o lado e vejo que tenho minha família que eu amo mais que tudo, vejo que tenho minha casa, uma cama para dormir, e vejo a quantidade de coisas

to potencializam essas condições que já

que temos para fazer mesmo tendo que

existiam. Ninguém fica com distúrbios

ficar em casa, então eu fico bem”.

só na quarentena, a pessoa já tem uma

O psiquiatra Pupo explica também

predisposição para isso, um nível de an-

que não devemos encarar esse momen-

siedade, preocupação excessiva, dificul-

to como algo inteiramente ruim, deve-

dade de sono e é lógico que em uma situ-

mos tirar um aprendizado dessa situa-

ação como essa tudo isso se potencializa”.

Estou rezando muito mais, agradecen-

ção e assim nos fortalecermos. “Esse é

Para evitar o agravamento de proble-

do muito mais, lendo livros de autoajuda

um momento que vai trazer um reforço

mas emocionais, a estudante do curso

e de energia. Estou meditando, fazendo

muito grande para situações futuras. As

de Comunicação Social da ESPM Luiza

ioga e aproveitando o tempo com minha

pessoas que passarem por isso vão estar

Audi está utilizando o tempo de qua-

família. Também, estou fazendo espor-

mais seguras para passar por outras situ-

rentena para se cuidar, fazer atividades

te para cuidar de mim, não só para ema-

ações da vida. Então temos que ser criati-

que a permitam se sentir bem e conec-

grecer”, conta Luiza.

vos nessa hora, não entender isso como

tada consigo mesma. “Estou meditando

Muitas vezes não podemos controlar

uma limitação, como algo horrível. É um

muito mais, estou muito mais conecta-

o que sentimos, e nossos sentimentos

fato da vida como qualquer outro, quanto

da com a minha religião, com minha fé.

misturam-se dentro de nossas cabeças,

mais levarmos a vida assim, melhor”, diz.


16/17

EVENTOS ADIADOS Para manter o distanciamento social, shows, festas e festivais foram postergados, muitos ainda sem previsão de data para acontecer

gresso, uma vez que ainda poderá as-

o reembolso do ingresso, esse outro di-

JULIA BOARATI LUANA FERNANDEZ E. CATALDI MARIA LUIZA BACCARIN

sistir o festival mesmo no final do ano.

nheiro não vai voltar. Meu voo de Minas

Entre os shows que ela mais aguardava

para São Paulo não foi cancelado, então

»»»A necessidade de manter o distan-

estavam Guns N´ Roses, Lana Del Rey e

vou perder esta passagem já que não terá

ciamento social fez com que diversas

Travis Scott.

mais show”.

atividades culturais ao longo do ano

Mas não foram só eventos no Brasil

O jornalista José Norberto Flesch, do

fossem canceladas ou adiadas, como

que sofreram alterações e desapontaram

jornal Destak, conhecido como o “cara

shows, festas, festivais e até a Olimpí-

fãs. Um exemplo disso é o festival Coa-

que anuncia shows”, diz que, no início,

ada. Em São Paulo, mais de 25 eventos

chella, evento mais importante da mú-

havia uma grande “choradeira” por par-

de grande magnitude foram poster-

sica pop nos Estados Unidos, que acon-

te do público cada vez que um show era

gados, porém a maioria não teve no-

tece anualmente na Califórnia e foi um

adiado, mas agora essa mudança de data

vas datas divulgadas até o momento.

dos primeiros a anunciar seu adiamen-

é esperada. Ele ainda conta que, antes da

O Lollapalooza, porém, que acontece-

to. Representantes do festival anuncia-

vacina, não será possível que tudo volte

ria no primeiro fim de semana de abril,

ram a decisão no dia 10 de março, que foi

ao normal, pois os eventos terão que ter

foi adiado para dezembro, o que decep-

tomada a partir do esforço para a dimi-

uma capacidade reduzida e será exigido

cionou e até revoltou muitas das pessoas

nuição da contaminação. Em junho, po-

que as pessoas mostrem um teste nega-

que pretendiam comparecer. Além dis-

rém, o evento foi cancelado.

tivo para coronavírus e usem máscara.

so, só os headliners do evento (Guns N’

Quando um evento é cancelado, por

“A pandemia derrubou a indústria da

Roses, Travis Scott e The Strokes) foram

mais que o motivo seja plausível e ex-

música ao vivo com público, mas o mer-

mantidos e diversas bandas e artistas

tremamente necessário, os prejuízos po-

cado descobriu que lives podem ser um

serão substituídos, ou seja, as atrações

dem ser enormes tanto para produtores

bom negócio. Só que produtoras e em-

mudaram praticamente por inteiro, frus-

e músicos, quanto para o público. Mes-

presas que vendem ingressos passam

trando alguns dos espectadores.

mo com o reembolso integral do valor

por uma enorme crise por falta de ati-

Luísa Monteiro, estudante de Dese-

do ingresso do show da cantora Billie Ei-

vidade. São inúmeros funcionários que

nho deAnimação na Belas Artes, disse

lish, que aconteceria no dia 31 de maio

dependem do show business ativo para

que ficou muito triste com o adiamen-

no Allianz Parque, em São Paulo, Leticia

ter seu ganha-pão. A torcida é para que,

to do Lolla. “É o evento que eu mais es-

Rodrigues conta que o cancelamento do

na reabertura, ninguém tenha quebra-

pero no ano e este ano eu finalmente ia

evento, além de uma grande decepção,

do”, declara Flesch sobre os impactos so-

nos três dias”. Mesmo com a decepção,

gerou prejuízos: “Eu já tinha comprado

fridos na indústria da música.

ela afirmou que pretende manter o in-

passagem e reservado hotel. Mesmo com

Bandas em ascensão também sofre-


A Sala São Paulo, por exemplo, teve suas atividades suspensas no dia 14 de março. “Estamos empregando todos os esforços para que as apresentações aconteçam a partir do momento em que as medidas de isolamento social não forem mais necessárias”, afirma a assessoria de imprensa da Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). A Osesp ainda declara que “certamente a organização de eventos, bem como todas as atividades do mercado de bens e serviços, e até as relações humanas, carregarão mudanças em seus processos após a pandemia”. Além disso, diz que o público foi muito compreensivo e que frequentemente manda mensagens de apoio pelas redes sociais. Comparado com outros países, a pandemia demorou para ser reconhecida oficialmente no Brasil. Ainda assim, desde o anúncio do início da quarentena, representantes da Atlética ESPM resolveram adiar a Sleepover, uma das maiores festas do meio universitário. O evento acontece semestralmente, e a primeira edição deste ano contaria com 24 horas de

Show (acima) e a banda Blue Traffic (à dir), que divulga um EP durante a quarentena

festa. “Nós tínhamos vários países como

FOTOS CESARE FERRARI/ISTOCK (ACIMA) E DIVULGAÇÃO

soas, então decidimos anunciar o adia-

exemplo e sabíamos que a situação do Brasil iria piorar. O que mais importava no momento era a segurança das pesmento de março para setembro, desde o começo”, diz Letícia Prado, gestora de eventos da Atlética ESPM. Alguns países da Europa já estão saindo da quarentena depois de quase qua-

ram com a pandemia da Covid-19, como

“em um primeiro momento, num show

tro meses, como Itália, Bélgica, Holanda

é o caso da Blue Traffic, que tinha dois

com mil pessoas, a pessoa pode não que-

e Alemanha. Pensando nisso, talvez seja

shows marcados para a divulgação de

rer ir, mas é questão de tempo para ela

seguro acreditar que o pior está perto do

um EP antes de o isolamento social ser

voltar”. Para o vocalista Christian Meyer,

fim no Brasil e os shows e eventos que

determinado. “Basicamente, a gente teve

as lives não continuarão quando a situa-

foram adiados para o segundo semestre

que mudar o nosso foco de divulgar esses

ção se normalizar, mas sem dúvida per-

de 2020 realmente aconteçam sem maio-

shows para só divulgar o EP”, disse Da-

manecerão como um marco nesse mo-

res problemas, mesmo que ainda contem

niel Ferreira, baixista da banda.

mento de crise.

com medidas de prevenção, mas agora

Em relação ao futuro dos shows, Maria

Outro setor cultural que sofreu com o

Carani, baterista da banda, acredita que

início da pandemia foi o dos concertos.

temos apenas que ter paciência e esperar o que vem pela frente.


LETÍCIA FERREIRA MANUELA RAVIOLI

»»» O consumo de notícias e informações se tornou mais recorrente durante o isolamento social ocasionado pela pandemia da Covid-19. Segundo o Ins-

18/19

tituto Kantar, que realizou uma pesquisa em março de 2020, mais de um terço (34%) dos entrevistados de todo o mundo dizem que os motivos estão atrelados à vontade de se manter bem informado e preparado. O tempo gasto com notícias entre os brasileiros aumentou em até um terço, segundo o Instituto Kantar. Na China, o tempo gasto assistindo a programas de

Redação vazia em razão da quarentena | FOTO: ISTOCK / JOHNNYGREIG

notícias mais do que dobrou nos primeiros três meses do ano, de 9 horas em 2019 passou a 18,5 horas em 2020. Com 235 milhões de acessos e 71 milhões de visitantes apenas em março (até o dia 28), O Globo atingiu o pico histórico de audiência. Outros jornais e portais de notícias também registram aumento expressivo no consumo de notícias, como o site da Folha de S. Paulo, por exemplo, que registrou 73,8 milhões de acessos em abril, em comparação com 69,8 milhões no mês anterior. Na televisão, o Jornal Nacional superou audiência de novela

O JORNALISMO EM TEMPOS DE PANDEMIA

das 21h atingindo 50,3 pontos na medição de audiência do Ibope. O cenário atual mostra que os brasileiros amadureceram em relação ao consu-

Audiência e o consumo de notícias crescem durante o isolamento social

mo de notícias, desconfiando de conteúdos falsos – conhecidos como fake news – e dando mais valor ao que é divulga-

apontados como mais confiáveis pelos

Adaptação e novos formatos

do pela imprensa. Segundo pesquisa Da-

entrevistados. Cientistas e médicos tam-

A crise do coronavírus exigiu de todos

tafolha do fim de março, apenas 12% dos

bém aparecem como fontes com maior

uma reinvenção e adaptação à situação

entrevistados disseram confiar em infor-

credibilidade. Pessoas de dez países, en-

de quarentena. Muitas mudanças em re-

mações que recebem por Whatsapp ou

tre eles o Brasil, foram ouvidas no início

lação aos formatos e plataformas jorna-

Facebook.

de março. Outro estudo, do Pew Research

lísticas também aconteceram. Os meios

O Observatório da Ética Jornalísti-

Center, mostra que quem usa as redes so-

de comunicação se reinventaram para

ca (Objethos) trouxe dados do Barôme-

ciais como principal fonte de informação

atender, informar e conscientizar diver-

tro de Confiança, levantamento produ-

está mais desinformado do que quem re-

sos públicos, que já perceberam algumas

zido pela Edelman, que mostram que

corre ao jornalismo. Os dados são rela-

mudanças. “Informações sobre teatro,

os meios jornalísticos tradicionais são

tivos aos EUA.

cinema foram substituídos por progra-


ção de qualidade para a população é a Folha de S. Paulo, que no dia 12 de março, liberou o acesso de não assinantes a informações relevantes sobre o novo coronavírus. Revista televisiva semanal da Rede Globo, o Fantástico está sendo quase 100% produzido seguindo o modelo de home office. Em suas casas, os repórteres do programa estão produzindo as matérias, nas quais eles mesmos escrevem os textos, gravam, entrevistam e editam. Já a Mural, agência de notícias que cobre regiões periféricas da Grande São Paulo, uniu forças para adaptar as práticas presenciais da agência para reuniões online e produção home office. Além disso, a Mural trouxe em um podcast chamado Em Quarentena, histórias de moradores, dia a dia das periferias e notícias mações de lives, um mundo que eu des-

em primeira mão.

conhecia”, diz a consumidora de inforBusca por informação

mações Isamara Cossoy. Para adaptar-se à realidade de sua audi-

São diversos motivos que influenciam o

ência, O Globo procurou apostar em con-

maior consumo de conteúdos jornalísti-

teúdos diversificados para que assim pu-

cos, entre eles o aumento de tempo livre,

desse atingir todos os tipos de público. Lançou até um festival de música, com o nome de #tamojunto, que chegou a 1,5 milhão de visualizações em seu primeiro fim de semana de evento (20 a 22 de março). Para democratizar conteúdos, o jornal também publicou uma coleção de guias em PDFs, com temas que vão de dicas para encarar a ansiedade na quarentena até o que fazer com as crianças em casa. Os arquivos, que foram pensados

“É muito importante produzir informação de qualidade, precisa, equilibrada e com responsabilidade, especialmente quando pode ter impacto direto na saúde e vida das pessoas” Maria Pia Palermo, diretora da Agência Reuters no Brasil

preocupações, conhecer sobre profilaxias da doença, além das diversas curiosidades. Para o antropólogo, psicanalista e professor da ESPM Eduardo Benzatti, uma das causas dessa vontade de se informar está intimamente ligada à necessidade de sobrevivência. “Se há uma maior procura de consumo de notícias e recomendações de comportamento, é porque há sim uma preocupação maior com a vida”, comenta Benzatti.

para facilitar a distribuição via WhatsA-

O sentimento de esperança, notícias

pp, ultrapassaram 300 mil downloads e

boas e dias melhores também estão as-

foram compartilhados para milhões de

sociados ao jornalismo. “Até para que a

pessoas em duas semanas. O jornal tam-

gente encontre em algum lugar uma luz”,

bém criou uma área com conteúdo 100%

comenta Isamara Cossoy, que sempre se

gratuito com serviços sobre a Covid-19,

preocupou em se manter a par das no-

possibilitando a oferta de informação ao

tícias. Hoje, ela confessa que essa práti-

leitor não assinante.

ca é ainda mais recorrente e reconhece a

Outro meio de comunicação que pos-

importância da profissão. “Sem o jorna-

sui a preocupação de entregar informa-

lismo, nós não teríamos acesso a metade


COM A EMERGENTE ONDA DE FAKE NEWS, A IMPORTÂNCIA DO CONSUMO DE INFORMAÇÕES CHECADAS E DE FONTES CONFIÁVEIS SE TORNOU ESSENCIAL

das coisas que acontecem. Além disso, ele traz opiniões e pontos de vista diferentes,

NÍVEL DE CONFIABILIDADE DE NOTÍCIAS

eu acho isso muito importante”, finaliza. O ineditismo dessa doença também influencia nesse maior consumo, já que o

O gráfico mostra que a confiabilidade é maior quando a fonte é televisão e menor quando são redes sociais, segundo a pesquisa

jornalismo de hoje se preocupa em con-

20/21

tar sobre o que está acontecendo, situação que se estabelece como novida-

61%

TV

de para todo o mundo. “Acredito que as pessoas passaram a buscar informações para tentar saber mais sobre algo nunca visto no mundo, sobre um vírus cujos efeitos ainda estão sob estudo, que afe-

56%

JORNAL IMPRESSO

tou radicalmente a saúde, a dinâmica das cidades, as relações pessoais e a economia”, conta Maria Pia Palermo, diretora

RÁDIO

50%

da Agência Reuters de notícias no Brasil. Novos hábitos Há jovens que também fazem parte dessa parcela da população mais infor-

MÍDIAS SOCIAIS

12%

mada em tempos de pandemia. Existem aqueles que já possuíam o costume de se informar e outros que fizeram virar hábito depois do isolamento social. Julia Sco-

Fonte: Datafolha; Pesquisa realizada durante a pandemia de Covid-19

diero, estudante de ciências sociais e do consumo da ESPM-SP, não tinha o hábito de ler notícias e de assistir a telejornais. Com o cenário da pandemia, a situação de Julia mudou. “Agora no momento da

Confiabilidade e notícias falsas

pandemia do coronavírus comecei a con-

A pandemia e o isolamento social tam-

Agência Brasil, uma pesquisa desenvol-

sumir mais as informações dos jornais,

bém auxiliaram a comprovar que as

vida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fio-

pois acho que é de extrema importân-

mídias sociais se estabelecem como veí-

cruz) mostra que o Whatsapp foi a rede

cia estarmos ligados às medidas que são

culos menos confiáveis de informações.

social com a maior disseminação de no-

passadas pela OMS ou pelas novas notí-

Uma pesquisa feita pela Pew Resear-

tícias falsas sobre o novo coronavírus.

cias para nos conscientizarmos”.

De acordo com o portal de notícias

ch Center com 8.914 norte-americanos

Com 73,7% das informações falsas, What-

Já a estudante de relações públicas

nesse momento comprova que mais da

sApp é seguido pelo Instagram com 10,5%

Mariana Finelli tinha o hábito de consu-

metade (57%) daqueles que dependem

e 15,8% no Facebook.

mir notícias, mas não tanto quanto hoje.

das mídias sociais para se informar sobre

Com a emergente onda de fake news

Ela dá sua opinião sobre a importân-

notícias políticas dizem ter encontrado

que se agravou na época da crise da Co-

cia do jornalismo durante a pandemia:

notícias falsas sobre a Covid-19. Os canais

vid-19, a importância do consumo de

“Sempre valorizei o trabalho dos jorna-

de mídia nacionais, como televisão e jor-

informações checadas e de fontes con-

listas, mas agora aprecio ainda mais. Pas-

nais em todo o país, ainda são vistos como

fiáveis se tornou essencial na vida das

sar informação e conhecimento para a

uma das fontes de informação mais con-

pessoas. Um levantamento da MindMi-

população é muito necessário principal-

fiáveis, com 54% das pessoas identifican-

ners - plataforma de pesquisa digital - re-

mente neste momento de pandemia e

do-os como uma fonte confiável, segun-

alizado a pedido da agência Leo Burnett,

isolamento social”.

do o instituto Kantar.

aponta que sites de notícias e TV aber-


Reuters de notícias, acredita que a crise das fake news dá ainda mais credibilidade ao jornalismo de qualidade. “É muito importante produzir informação de qualidade, precisa, equilibrada e com responsabilidade, especialmente quando pode ter impacto direto na saúde e vida das pessoas”, afirma. Valorização Exibindo informações de qualidade e conscientizando a população de medidas importantes, o jornalismo recebeu diversos elogios por seu profissionalismo. “Se tem uma fatia da sociedade que tem se comportado de maneira bastante exemplar nessa história toda, é a boa imprensa, a imprensa séria”, opina Benzatti. A jovem Mariana Finelli elogia os profissionais: “Sempre valorizei o trabalho dos jornalistas, mas agora aprecio ainda mais. Passar informação e conhecimento pra população é muito necessário principalmente neste momento de pandemia

Jornalistas se adaptam para a prevenção do coronavírus |

FOTO FREEPIK.COM

e isolamento social”. Além de incentivar seus alunos, Maria Elisabete Antonioli, coordenadora do curso de Jornalismo da ES

ta são os maiores fornecedores de infor-

PM, elogia o trabalho que vem sendo rea-

mações verídicas.

lizado por jornalistas em relação ao coro-

A jornalista Carol Mager conta sobre o

navírus. “A imprensa está com foco nes-

perigo e a ameaça que são as fake news.

sa situação e fazendo muitíssimo bem

“Desde um pouco antes do atual governo entrar, e isso é fortemente revelado nas eleições, ocorreu uma divisão entre as pessoas. Muito pelas fakes news que cresceram e que ainda estão por aí aterrorizando muita gente que acredita”. Julia Scodiero explicita sua opinião sobre o consumo de notícias de fontes confiáveis. “Acredito que nesse momento te-

CONTEÚDO FALSO Porcentagem de disseminação de fake news por redes sociais WHATSAPP

toda a cobertura, mesmo com todas as dificuldades que o isolamento social impõe, para que a sociedade possa acompanhar realmente o que está acontecendo”. Maria Elisabete ainda enfatiza a im-

73,7%

portância dessa profissão levando em

INSTAGRAM

nalismo é a referência para quem quer

consideração o cenário de desinformação que vive o Brasil atualmente. “O jor-

está vindo aquele conteúdo que estamos

51%

consumindo pois as fake news vêm cres-

FACEBOOK

nalista continue honrando sua profissão

cendo cada vez mais e é de extrema im-

15,8%

e produzindo informações precisas so-

Fonte: Agência Brasil

sunto”, complementa.

mos que checar cada vez mais de onde

portância estarmos sempre atentos.” Maria Pia Palermo, diretora da Agência

estar informado corretamente. O mais importante, neste momento, é que o jor-

bre a pandemia ou qualquer outro as-


SOPHIA OLEGÁRIO

»»» “O que sempre desejei em criança e, sem refletir devidamente, ainda o desejo agora é ser pesquisador em ciências naturais. (...) Também penso

22/23

muitas vezes que talvez seja preciso um estudo para ganhar o pão. Ocorre-me a medicina. (...) De minha parte, contentar-me-ei em viver muito modestamente se puder ser um bom pesquisador”. Esse é um trecho de uma carta escrita por Adolpfo Lutz e enviada à sua mãe, quando ele tinha apenas 15 anos, registrado no livro Adolfo Lutz e a entomologia médica no Brasil, de Jaime Benchimol. De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde Adolfo Lutz, ele nasceu em 1855, em uma Rio de Janeiro insalubre, e com doenças como a febre amarela e a devastadora epidemia de cólera, que ocorreu nesse mesmo ano, a vida de Adolfo foi marcada por muito estudo e dedicação no campo da saúde. Com dois anos de idade, se mudou para Suíça, país de origem de seus pais, Gustav Lutz e Matihild Oberteuffer. Os Lutz eram uma família

p

PERFIL: ADOLFO LUTZ

tradicional de Berna. Eles possuíam, diferentemente da maioria, direito ao voto e também ao porte de armas. Em 1866, enquanto seus pais e outros familiares retornaram para o Brasil, Lutz permaneceu na Europa. Nos anos que morou na Basileia, parte alemã da Suíça, enviou cartas para sua irmã, em que deixava claro sua paixão pelas pesquisas de ciências naturais. Com 18 anos, iniciou seus estudos de medicina na Universidade de Berna, que concluiu em 1879. As universidades alemãs, na época, estavam no auge em termos de ensino, de prestígio e de pesquisas. Durante sua faculdade e até sua volta para o Brasil, em 1881, Lutz frequentou universidades em outros lugares como Leipzig, em busca de ensino biológico

O PAI DA MEDICINA TROPICAL Conheça a vida do pioneiro da área de epidemiologia e na pesquisa de doenças infecciosas


AS DESCOBERTAS DE LUTZ CONTRIBUÍRAM PARA O ESTUDO DA MEDICINA, HISTÓRIA, ANTROPOLOGIA E GEOGRAFIA DO BRASIL

mais consistente e novas técnicas, além

ameaça mas ao mesmo tempo eram fru-

de verminoses, e realizou investigações

de procedimentos de grande avanço para

tos da modernização, do crescimento do

sobre a fascíola hepática. Ainda no Havaí

a embriologia e estruturas microscópi-

comércio e da navegação e da implanta-

verificou plantas capazes de armazenar

cas, principalmente parasitas. Estudou

ção de ferrovias. Além disso, as campa-

água que serviam de habitat para peque-

também em Estrasburgo e Praga. Nesta

nhas abolicionista e republicana estavam

nos seres vivos, e que o ajudaram em

última, realizou um estágio em gineco-

sendo disseminadas, levando à abolição

seus estudos sobre a malária silvestre.

logia e obstetrícia.

da escravidão e à proclamação da Repú-

Em março de 1893, logo após chegar

Em 1880, após concluir seus estudos,

blica, em 1888 e 1889, respectivamente.

em São Paulo com sua esposa, foi nome-

Lutz continuou viajando pela Europa,

Depois de tentar e falhar em se estabe-

ado diretor do Instituto Bacteriológico,

com o objetivo de avançar suas pesquisas

lecer em Petrópolis, Lutz se juntou à sua

que é conhecido como Instituto Adolfo

em diversas áreas. Esteve em Viena, que

irmã, Helena, e se mudou para Limeira,

Lutz desde 1940, em sua homenagem.

na época era um dos maiores centros de

no interior de São Paulo. Atuou como clí-

Durante os anos que dirigiu o instituto,

medicina do mundo. No começo do ano

nico, conquistando fama de exímio diag-

ele exercia algumas atividades laborato-

seguinte, viajou a Londres e Paris, onde

nosticador, sempre chamado para aten-

riais e também participava das “missões

acompanhou cirurgias no hospital do

der em regiões distantes e fazendas, da

científicas”, trabalhos de campo explo-

King’s College, e supostamente conhe-

região cafeeira e canavieira.

ratórios para estudo e aprofundamen-

ceu o cientista francês, Pasteur.

Nomeado Físico do Governo para o

to da epidemiologia de doenças emer-

Logo em seus primeiros trabalhos,

estudo e tratamento da lepra, ele se

gentes ou crônicas. Logo que assumiu, o

Lutz já deixava transparecer seu interes-

mudou para o Havaí em 1889 e atuou na

instituto conseguiu intervir na saúde da

se por diversas áreas, tanto no âmbito da

Receiving Station de Kalihi, supervisio-

população, além de controlar e comba-

história natural, quanto no da medicina.

nando também o tratamento mais amplo

ter surtos em quase todo o país.

Em 1878, enquanto ainda era estudante,

no leprosário de Molokai, onde conheceu

Atualmente, de acordo com o próprio

fez uma descrição da Alona verrucosa,

Amy Marie Gertrude Fowler, com quem

Instituto Adolfo Lutz, os pesquisadores

uma espécie que foi coletada nos lagos

se casou em 1891. Durante esse perío-

do Centro de Bacteriologia coordenam

de Berna, o que o levou a ser premiado

do, também prosseguiu seus estudos

redes de monitoramento de doenças

pela Sociedade de Ciências Naturais de

bacterianas de veiculação respiratória,

Berna e ter seu texto publicado nos Anais

veiculação hídrico-alimentar como diar-

da Sociedade de Ciências Naturais.

reias bacterianas e leptospirose, e infec-

Após se formar, trabalhou no Hospi-

ções relacionadas à assistência à saúde,

tal Cantonal de St. Gallen, na Suíça, onde

juntamente com demandas levantadas

ficou por um ano como interno enquan-

pelo Sistema de Vigilância Epidemioló-

to fazia sua tese de doutorado. Nesse

gica Estadual. O Instituto foi responsável

mesmo ano, ele publicou seu primeiro

pela liberação dos 24 primeiros testes do

artigo de medicina, que consistia em um

novo coronavírus, todos negativos, feitos

estudo sobre bronquite fibrinosa.

em brasileiros, e também pelo sequen-

Em 1881, ao desembarcar no Rio de

ciamento genético completo do primeiro

Janeiro, Lutz encontrou um cenário caó-

caso de Covid-19, feito apenas dois dias após o diagnóstico.

tico. As epidemias faziam um número crescente de vítimas na cidade, em especial a febre-amarela, a tuberculose e as enfermidades que afetavam o intestino. Nessas circunstâncias, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro se renovava e aderia ao ensino prático e à pesquisa, influenciada pelas ideias de Pasteur e outros estudiosos da microbiologia da época. As doenças eram uma

Em março de 1893, logo após chegar a São Paulo com sua esposa, foi nomeado diretor do Instituto Bacteriológico, que é conhecido como Instituto Adolfo Lutz desde 1940, em sua homenagem

Com mais de 50 anos de idade, em 1908, Adolfo Lutz foi convidado para ingressar no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Nessa nova, e última, fase de sua vida, ele se dedicou inteiramente à pesquisa e ao ensino de jovens, continuando, assim, a contribuir com um legado seguido até hoje, 80 anos após a sua morte.


24/25

Seleção brasileira de nado sincronizado

Foto: Divulgação

SAÚDE DOS ATLETAS É PRIORIDADE Mudança de data dos Jogos Olímpicos pode prejudicar esportistas de países mais afetados pelo vírus

benefício de que qualquer dano que seja causado ao calendário esportivo internacional possa ser reduzido ao mínimo. Além disso, o adiamento fornece mais tempo para que seja concluído o processo de qualificação dos atletas. O treinador de maratona olímpica Fernando Possenti comenta: : “Um treinador planeja o auge da carreira do atleta para culminar com os Jogos. Uma vez que o treinador tenha que postergar isso, os danos podem ser grandes. Após a quarentena, será necessário ter mais controle sobre a carga de treinamento. Alguns

124 anos que uma Olimpíada é adia-

atletas continuaram treinando, mas não

SOPHIA OLEGÁRIO

da, embora tenham sido canceladas

dentro da especificidade da modalida-

»»» Os Jogos Olímpicos de Tóquio

em 1916, 1940 e 1944, durante as duas

de”. Na opinião do treinador, a chance

2020, que tinham início previsto para

guerras mundiais.

de esses atletas estarem muito fora de

24 de julho deste ano, foram adiados.

A medida foi tomada pelo Comitê

forma é enorme, o que aumenta o risco

A previsão é de que eles aconteçam

Olímpico Internacional (COI) junto ao

de lesão. “É a última coisa que um espor-

de 23 de julho a 8 de agosto de 2021,

Comitê Organizador de Tóquio 2020,

tista olímpico pode ter na reta final.”

ainda sendo sediados na capital japo-

resguardando a saúde dos atletas e dos

Ainda de acordo com Possenti, que

nesa. Essa é a primeira vez em seus

organizadores. Proporciona também o

foi eleito o melhor treinador de 2018


AS RECOMENDAÇÕES SÃO PARA QUE OS ATLETAS ESTABELEÇAM UMA ROTINA DE TREINOS E LIMITEM A QUANTIDADE DE NOTÍCIAS CONSUMIDAS

pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB),

passam por momentos muito angustian-

vamos ter tempo para nos cuidar, para

o maior problema vivenciado agora no

tes de incerteza. Com isso, de acordo com

depois voltarmos com foco total e reto-

mundo competitivo é o fato de o desem-

a Organização Mundial da Saúde (OMS),

mar o ritmo de treino, após a quarente-

penho não ter uma equidade. Ele comen-

foi disponibilizada aos atletas uma carti-

na, até as competições.”

ta que atletas de países menos afetados

lha com algumas dicas para controlar o

A atleta Anna Veloso, da seleção bra-

pelo coronavírus podem ter mais chan-

estresse e a ansiedade que podem acon-

sileira de nado artístico, diz que apesar

ce de treinar e aumentar sua capacidade,

tecer diante dessa situação. As princi-

de estar tendo dificuldades para lidar

enquanto outros atletas, devido ao iso-

pais recomendações são para que os atle-

com toda essa situação, achou pruden-

lamento social, necessitam interromper

tas estabeleçam uma rotina de treinos e

te o adiamento do evento, já que como

seus treinos por muitos meses.

limitem a quantidade de notícias consu-

ela mesmo afirma, a saúde, tanto física

midas diariamente.

quanto a mental, vem em primeiro lugar.

A Olimpíada é a meta de todo um trabalho e de um esforço de quatro anos,

O treinador de corredores de longa

“Durante a quarentena estou cuidando

e a mudança no cronograma dos Jogos

distância Jorge Luis da Silva conta que

muito da minha saúde mental, que para

de Tóquio está fazendo treinadores do

estava com uma viagem marcada para

mim é a coisa mais importante. Tenho

mundo inteiro ajustarem seus planos.

Madrid, para acompanhar seu atleta

refletido sobre minha vida e meus obje-

O termo competição-alvo é comumen-

Daniel Chaves em uma corrida. Porém,

tivos. Acho que é normal a gente mudar,

te usado no esporte de alto rendimento

foi preciso desistir da viagem, pois viu

tanto fisicamente quanto mentalmente,

e significa que a preparação do atleta é

que a situação era pior do que o imagi-

está sendo uma rotina totalmente dife-

feita para que ele esteja no ápice da sua

nado e poderia comprometer a saúde

rente, mas o objetivo é se cuidar para

capacidade de rendimento em um deter-

do esportista e de sua família. Os dois

conseguir voltar com foco total.”

minado campeonato. No caso dos Jogos

viveram dias de aflição, enquanto o

“Acho que a decisão de adiamento dos

Olímpicos, é mais do que a competição-

futuro dos Jogos era incerto. “A notícia

Jogos foi prudente, pois não faz sentido

-alvo de apenas uma temporada.

nos trouxe um alívio. Com a nova data,

manter um evento tão grande em meio

Para os atletas não ficarem comple-

ao caos que o mundo está vivendo. Nem

tamente parados, alguns deles têm se

mesmo os atletas conseguiriam se pre-

exercitado em casa, mesmo na falta do

parar e estar em sua melhor forma para

ambiente adequado. A esportista Rafa-

competir com tudo que está acontecen-

ela Garcia, que pratica o nado sincroni-

do”, afirma Maria Bruno, nadadora artís-

zado, lamenta que todo o trabalho que

tica. Independentemente dos danos,

estava sendo feito desde dezembro do

econômicos e sociais, causados pela

ano passado foi perdido, mas diz que está

mudança da data da Olimpíada, há um

tentando treinar, mesmo dentro de casa.

consenso de que essa foi a melhor opção.

“Eu não tenho piscina em casa por isso

Uma vez que os atletas e os treinadores

não estou treinando dentro da água, mas

estão se adaptando a essa realidade tem-

nosso preparador e nossa técnica estão

porária, em meio aos treinos e as angús-

preparando treinos adequados para a

tias, a surfista Silvana Lima, lembra tam-

gente manter a forma. Eu faço dois trei-

bém que a pandemia pela qual estamos

nos por dia, que são bem adaptados para

passando vai além dos esportes, e que

eu conseguir fazer em casa, e às vezes, a equipe combina um horário pra conver-

Foto: Water Dancer Photos CC BY-SA 4.0

que o adiamento começou a ser discuti-

“Essa é a hora de a gente se unir, amar o próximo e poder respeitar, de alguma forma, essas pessoas que estão tendo que trabalhar fora de casa”

do pela comissão, atletas e seus técnicos

Silvana Lima, surfista

sar, normalmente pelo zoom, só para não perder contato total.” Além de uma rotina de treinos, é essencial que os esportistas mantenham uma boa saúde mental. Desde

esse é um momento de reflexão. “Não sei quando isso vai acabar, está sendo um momento muito difícil. Essa é a hora de a gente se unir, amar o próximo e poder respeitar, de alguma forma, essas pessoas que estão tendo que trabalhar fora de casa, correndo risco de vida. Temos que orar e pensar positivo, para logo a gente se encontrar novamente.”


Das

11.231  pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado brasileiro  36%  da população refugiada com registro ativo no Brasil são sírios,  15%  são congoleses e  9%  são angolanos Fonte: Agência da ONU para refugiados (Acnur)

26/27

REFUGIADOS NA PANDEMIA A quarentena para os que são obrigados a vivê-la longe de seu país

IASMIN PAIVA MATHEUS MARCONDES

»»» A população de refugiados, mesmo possuindo todos os direitos definidos pela Constituição, encontra-se tradicionalmente em condição de maior vulnerabilidade por diferentes motivos, como a falta de reconhecimento de diplomas acadêmicos, que acaba obrigando essas pessoas a exercer funções com salários menores. Sendo assim, com relação à Covid-19 não é diferen-

Avó e neto refugiados

te, pois essas pessoas ficam expostas

FOTO : ADITYA VYAS

tanto fisicamente – parte dos refugiados vive em moradias sem condições sanitárias adequadas – quanto psicologicamente.

à Covid-19 é que esse, por ser um vírus,

ção fica ainda mais complicada quando

Embora os refugiados sejam assegu-

não discrimina ninguém. Porém, sabe-

eles não são reconhecidos pelo Estado,

rados pela Constituição Federal, tendo

mos que a questão não é essa. A questão

pois estão em condição de proteção tem-

direito a educação, cultura e saúde, o

é quem pode de fato aderir à quarente-

porária. Muito embora nossa lei preveja

Centro de Direitos Humanos e Cidada-

na, quem tem condições de se proteger

o atendimento pelo SUS independente-

nia do Imigrante (CDHIC) – uma organi-

e quem tem condições de buscar e rece-

mente da documentação, na prática essas

zação não governamental que tem como

ber auxílio médico, uma vez infectado”.

pessoas têm o acesso negado.

proposta articular ações que visem à

Um exemplo disso são os diversos refu-

Em artigo do site MigraMundo, a cien-

construção de uma política migratória

giados que trabalham na indústria têxtil

tista política Patrícia Nabuco Martuscelli

respeitosa dos direitos humanos de imi-

e, muitas vezes, vivem e trabalham em

explica que é possível classificar os refu-

grantes e pessoas em situação de refúgio

locais com muitas pessoas, o que colo-

giados em três categorias: imigrantes e

– declara que os problemas enfrentados

ca suas vidas e a de muitas outras pesso-

refugiados desempregados, com doen-

são de origem socioeconômica, e a xeno-

as em risco todos os dias. Por terem uma

ças crônicas ou idosos - esses seriam os

fobia impacta diretamente na qualidade

relação trabalhista informal, também

mais vulneráveis; imigrantes e refugia-

da proteção dos refugiados e imigrantes.

não podem abrir mão de seus empregos,

dos que conseguiram se inserir no mer-

“Um dos argumentos falaciosos quanto

já que sem eles passariam fome. A situa-

cado de trabalho; imigrantes e refugia-


O BRASIL, ENQUANTO SIGNATÁRIO DAS CONVENÇÕES DA ONU DE PROTEÇÃO AOS REFUGIADOS, TEM O DEVER DE GARANTIR A SEGURANÇA DESSAS PESSOAS

Jovem venezuelano: em janeiro de 2020, cerca de 40 mil venezuelanos já haviam sido reconhecidos pelo governo brasileiro como refugiados, enquanto outros 100 mil pedidos estavam sendo analisados | FOTO : DMEPHOTOGRAPHY dos que abriram negócios próprios, pois

migrante poder fazer leitura de informa-

a xenofobia: “Muitas empresas estão

chegaram ao país com algum capital -

ção adequada”, acentua. Além de ter difi-

demitindo seus trabalhadores e na hora

os menos expostos. Patrícia ainda frisa

culdades para entender a dimensão da

da escolha, dá-se preferência para que os

haver “uma preocupação especial em

pandemia, esse grupo muitas vezes fica

brasileiros sejam mantidos e os imigran-

relação aos recém-chegados que não

estagnado quando se trata de burocracias

tes demitidos, um critério nada técnico”.

possuem domínio do idioma português”.

e medidas técnicas para receber o auxílio

Além de impactar nas questões práticas,

A questão da língua movimentou, há

emergencial do Estado, ficando sujeito a

muitas vezes a autoestima daqueles que

alguns anos, estudantes e pesquisado-

medidas assistencialistas para consegui-

vivenciam a xenofobia na pele fica aba-

res da Universidade Estadual Paulista

rem até os itens mais básicos de higiene.

lada, pois se sentem indignos daquele

(Unesp) de Araraquara em parceria com

Aluna do quarto ano de Letras, Luiza

direito e acabam por não acessar os diver-

a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos

Da Roz auxilia nas preparações das aulas

Últimos Dias e a prefeitura da cidade, que

das crianças no Plac, e acredita que a

O parágrafo 1 do Art. 14 da Declaração

começaram o projeto Português como

renda mensal dos imigrantes não deva

Universal dos Direitos Humanos afirma

Língua de Acolhimento (Plac), que tem

ser suficiente para manter as contas da

que “toda pessoa sujeita a perseguição

como objetivo o ensino de português a

casa, as compras de alimento e, além

tem o direito de procurar e de beneficiar

imigrantes e refugiados recém-chegados.

disso, comprar equipamentos como

de asilo em outros países”. Nesse senti-

Doutoranda em Linguística e Língua Por-

máscara e álcool em gel para poder pro-

do, as pessoas reconhecidas na condição

tuguesa na Unesp, Lígia Sene coordena a

teger a família toda. Isso porque a maio-

de refugiado têm direito a tudo aquilo

iniciativa desde março do ano passado.

sos serviços disponíveis.

ria deles faz trabalho informal. “Sem o

que qualquer outro cidadão nativo do

Ela ressalta que um dos principais

auxílio para obter álcool em gel e infor-

país tem. O Comitê Nacional para Refu-

motivos para a vulnerabilidade dos refu-

mação, para serem alertados com rela-

giados (Conare), entretanto, informa que

giados é a barreira linguística: “Há difi-

ção a tudo o que está acontecendo, eles

um pedido de refúgio leva em média três

culdades de achar informações precisas”.

podem estar sim bastante expostos”,

anos para ser protocolado, ou seja, nesse

Segundo a pesquisadora, as fake news são

complementa Luiza.

período de trâmite as pessoas ficam vul-

uma das razões. “Isso a gente vivencia

O CDHIC afirma que os imigrantes

até com brasileiros, imagina para um

também têm que lidar diretamente com

neráveis, pois não são reconhecidas pelo Estado.


28/29

AUMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHER Confinamento ampliou exposição à agressão física e psicológica dentro de casa

Polícias Civil e Militar. A cada dois minu-

violentas ou acessar ordens de proteção

ANA CAROLINA BILATO

tos, uma mulher é vítima de violência

que salvam vidas e/ou serviços essenciais

»»» A violência doméstica contra a

doméstica. Sendo diariamente 180 víti-

devido a fatores como restrições ao movi-

mulher teve um aumento durante

mas de estupro.

mento em quarentena.”

o período de quarentena. Devido ao

Segundo a Agência Senado, entre os

No documento também é citado que

confinamento, muitas famílias come-

dias 1º e 16 de março a média diária de

muitas mulheres continuam com o agres-

çaram a ficar em suas casas e as mulhe-

ligações recebidas foi de 3.045, com 829

sor por causa da dificuldade de se manter

res estiveram mais expostas à agressão

denúncias registradas. Já entre os dias

financeiramente, mostrando que devido

física ou psicológica.

17 e 25 de abril foram registradas 3.303

a essa pandemia há uma redução nas ati-

ligações recebidas, com 978 denúncias

vidades econômicas do país.

Somente na primeira semana da quarentena, em março, a central de atendi-

registradas.

De acordo com a psicóloga Renata Sie-

mento do Governo Federal para casos

A ONU Mulheres criou um novo docu-

bert, nesse momento as mulheres devem

de violência doméstica registrou um

mento que pontua alguns impactos para

rever o que realmente querem, “fazer

aumento de 8% no número de ligações

as mulheres durante a pandemia. “(Os

coisas que nunca fizeram por si mesmas,

e 18% em denúncias. Em muitos Estados

riscos) aumentam devido ao aumento

até porque, no momento em que esta-

houve um aumento de 15% nos registros

das tensões em casa, e também podem

mos, os conflitos entre casais tendem a

de violência doméstica pela Polícia Mili-

aumentar o isolamento das mulheres”,

aumentar”.

tar no primeiro final de semana da qua-

afirma o documento. “As sobreviven-

rentena. Sendo o Rio de Janeiro o com

tes da violência podem enfrentar obstá-

maior incidência, atingindo um aumento

culos adicionais para fugir de situações

Apoio para denunciar Entre os canais de denúncias, foi cria-

de 50%. A Ouvidoria Nacional dos Direitos

do um projeto chamado Justiceiras, ide-

Humanos (ONDH) também anunciou um

alizado pela promotora de Justiça Maria

crescimento de 17% das denúncias aten-

Gabriela Prado Manssur. O Justiceiras foi

didas pelo Ligue 180.

o primeiro projeto do Brasil de atendi-

Esse número poderia ser ainda maior

mento de vítimas pelo WhatsApp, em

se for considerado que muitas mulheres

que formaram uma rede com mais de

não têm como fazer essa denúncia, pois

700 voluntárias para orientar e dar for-

estão o tempo todo sob a vigilância de

ças para mulheres que se encontram em

seu agressor. Lembrando que a maioria

situações de violência doméstica, com

dos agressores é composta por maridos, namorados e ex, segundo pesquisas realizadas durante esse período pela ONU Mulheres. No Brasil, sete a cada dez vítimas de feminicídio são mortas dentro de casa, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e Corregedorias das

Eu estou atendendo 30% mais ocorrências pelo WhatsApp. Presencialmente elas estão evitando denunciar por conta do isolamento social Sueli Amoedo, voluntárias do Justiceiras e líder jurídica do projeto

atendimento nas áreas jurídica, psicológica, assistencial e médica. A iniciativa da sociedade civil é uma parceria entre o Instituto Justiça de Saia, Instituto Nelson Wilians e o Instituto Bem Querer Mulher. Uma das voluntárias do Justiceiras e líder jurídica do projeto, Sueli Amoedo, conta que durante o período de


quarentena ampliou seus atendimentos via redes sociais. “Nas minhas páginas, Instagram e Facebook mantivemos a coordenadoria atendendo normalmente, e fiz uma ampla divulgação de que os serviços estavam normais, delegacia da mulher, medidas sendo expedidas e com os serviços disponíveis”, conta. “Eu estou atendendo 30% mais ocorrências pelo WhatsApp. Presencialmente elas estão evitando denunciar por conta do isolamento social. Infelizmente está havendo uma subnotificação, mas é importante deixar claro, que, se houver agressão, elas devem registrar a ocorrência mesmo online”, afirma Sueli. Segundo ela, o número de casos aumentou muito mais do que o número de denúncias. Em sua participação do projeto, Sueli orienta as voluntárias da área jurídica. “Se o caso é grave nos reunimos através de plataformas online e discutimos os casos, Já temos mulheres atendidas de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Quem busca ajuda confia plenamente nas orienta-

Campanha contra a agressão física e de apoio às vítmas |

FOTO: DIVULGAÇÃO

ções dadas”. Outra voluntária do projeto, Luciana Terra é advogada especialista em Direitos das Mulheres e líder do apoio jurídico do projeto. Ela conta que os casos são 94% violência psicológica, 52% ameaças, 43% violência física e 22% violência sexual. Fala ainda sobre como é o processo do atendimento online: a vítima recebe um formulário sobre qual apoio ela precisa, é encaminhada para uma voluntária especialista e já se inicia o processo necessário. “A violência contra a mulher aumenta devido ao estresse, à tensão e ao isolamento, até porque as questões de violências já são preexistentes e a quarentena desencadeou o crescimento desse número.” Joseane Andrade da Silva Bernardes, coordenadora da casa Bem Querer Mulher e que trabalha no enfrentamento da violência doméstica por mais de dez anos, também é voluntária. “Em tempos de quarentena e isolamento social, cresceu o número de mulheres sofrendo de violência doméstica. Não queremos que sejam esquecidas ou subnotificadas, considerando que, o momento é de solidariedade e empatia às pessoas em situa-

Sueli Amoedo tem atendido vítimas pelo WhatsApp |

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

ção de vulnerabilidade”, conta Joseane.


DADOS DA COVID-19 EM SETE PAÍSES Desde o dia em que atingiram 100 casos até o dia 4 de junho (à esquerda, escala linear; à direita, escala logarítmica)

700,000

EUA (casos)

650,000 600,000

Brasil (casos oficiais)

550,000 500,000 450,000 400,000

Espanha (casos)

300,000 250,000

Itália (casos)

200,000

Alemanha (casos) França (casos)

150,000

EUA (mortes)

100,000 50,000

Itália (mortes) Brasil (mortes) França (mortes) Espanha Coreia do Alemanha (mortes) Coreia do Sul Sul (casos) (mortes)

0

Di Dia Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Da6 DDi iia 7 Diaa 89 Di a 1 Dia 10 D 1 Diiaa 112 Dia 13 Dia 14 Dia 15 Dia 16 Dia 17 Dia 18 Dia 29 Dia 20 Dia 21 Dia 22 Dia 23 Dia 24 D 5 Diiaa 226 Dia 27 Dia 28 Dia 39 Dia 30 Dia 31 Dia 32 Dia 33 Dia 34 Dia 35 Dia 36 Dia 37 D 8 Diiaa 349 Dia 40 Dia 41 Dia 42 Dia 43 Dia 44 Dia 45 Dia 46 Dia 47 Dia 48 Dia 59 Dia 50 D 1 Diiaa 552 Dia 53 Dia 54 Dia 55 Dia 56 Dia 57 Dia 58 Dia 69 Dia 60 Dia 61 Dia 62 Dia 63 Dia 64 D 5 Diiaa 666 Dia 67 Dia 68 Dia 79 Dia 70 Dia 71 Dia 72 Dia 73 Dia 74 Dia 75 Dia 76 Dia 77 D 8 Diiaa 789 Dia 80 Dia 81 Dia 82 Dia 83 Dia 84 Dia 85 Dia 86 Dia 87 Dia 88 Dia 99 Dia 90 Dia 91 Dia 92 Dia 93 Dia 94 D a 95 DDi iia 967 Diaa 98 Dia 199 Dia 100 Dia 101 Dia 102 Dia 103 Dia 104 Dia 105 Dia 106 Dia 1007 D 1 Diiaa 1089 Dia 110 D 1 Diiaa 11121 Dia 113 Dia 114 Dia 115 D 1 Diiaa 11167 Dia 118 Dia 1 19 Dia 120 Dia 121 Dia 122 D 2 Diiaa 11234 Dia 125 Dia 126 a 1227 128 9

30/31

350,000

COMO LER A COVID-19? Diante da subnotificação de casos e as diferentes representações numéricas e gráficas, como podemos compreender, e acompanhar, a maior pandemia dos últimos 100 anos?

CATARINA BRUGGEMANN, JUAN CUELA, LENA MOTTA, LUCAS BASTOS, PEDRO TRIGO

»»» Infográficos são feitos para simplificar o entendimento de dados complexos. Misturam informação e imagens para que o leitor possa rapidamente saber mais sobre determinado assunto. O Laboratório de Formatos Híbridos dedicou-se neste semestre a tentar entender mais sobre a evolução do coronavírus no Brasil e no mundo a partir dos dados disponíveis. Nem os infográficos são tão simples, nem os dados estão tão disponíveis. Marcelo Soares, jornalista de dados e criador do Lagom Data, desenvolveu uma cobertura específica para o coronavírus, focando em informações notificadas a

Veja a gravação da live com Marcelo Soares no YouTube usando a câmera do seu celular. Basta apontar para o QR Code aqui ao lado

partir de banco de dados municipais, em que confronta diversas fontes, entre números divulgados pelos municípios e os publicados pelo Governo Federal. A subnotificação é um grande desa-


3,000,000 2,000,000

EUA (casos)

1,000,000 900,000 800,000 700,000 600,000 500,000 400,000 300,000 200,000

Brasil (casos oficiais) Espanha (casos) Itália (casos) Alemanha (casos) França (casos) EUA (mortes)

100,000 90,000 80,000 70,000 60,000 50,000 40,000 30,000 20,000

Itália (mortes) Brasil (mortes) França (mortes) Espanha Coreia do Sul (casos) Alemanha (mortes)

10,000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 900 800 700 600 500 400 300 200

Coreia do Sul (mortes)

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 9 8 7 6 5 4 3 2

Di Dia Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Da6 DDi iia 7 Diaa 89 D Diiaa 110 Dia 1 1 Dia 12 Dia 13 Dia 14 Dia 15 Dia 16 Dia 17 Dia 18 Dia 29 Dia 20 D 1 Diiaa 222 Dia 23 Dia 24 Dia 25 Dia 26 Dia 27 Dia 28 Dia 39 Dia 30 Dia 31 Dia 32 D 3 Diiaa 334 Dia 35 Dia 36 Dia 37 Dia 38 Dia 49 Dia 40 Dia 41 Dia 42 Dia 43 Dia 44 D 5 Diiaa 446 Dia 47 Dia 48 Dia 59 Dia 50 Dia 51 Dia 52 Dia 53 Dia 54 Dia 55 Dia 56 D 7 Diiaa 558 Dia 69 Dia 60 Dia 61 Dia 62 Dia 63 Dia 64 Dia 65 Dia 66 Dia 67 Dia 68 D 9 Diiaa 770 Dia 71 Dia 72 Dia 73 Dia 74 Dia 75 Dia 76 Dia 77 Dia 78 Dia 89 Dia 80 D 1 Diiaa 882 Dia 83 Dia 84 Dia 85 Dia 86 Dia 87 Dia 88 Dia 99 Dia 90 Dia 91 D 2 Diiaa 993 Dia 94 D a 95 DDia 96 Diiaia 978 Dia 199 Dia 100 Dia 101 Dia 102 Dia 103 Dia 104 Dia 105 Dia 106 Dia 1007 D Diiaa 11089 D 1 Diiaa 11101 Dia 112 Dia 113 Dia 114 Dia 115 D 1 Diiaa 11167 Dia 118 Dia 1 19 D 2 Diiaa 11201 Dia 122 Dia 123 Dia 124 Dia 125 Dia 126 a 1227 128 9

1

Gráficos elaborados no website Flourish Studio. Fonte dos dados: worldometers.info

fio na medida em que não se sabe exatamente quantos são os casos reais de coronavírus. Uma saída é olhar internações e mortes registradas também como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que tiveram um aumento expressivo entre 2019 e 2020, ou tentar ao menos ver a diferença entre o número de mortes totais entre um ano e outro. “A partir da média de mortes num dado mês e local, verifica-se quantas mortes a mais aconteceram. Lógico que aí nesses excedentes não estarão apenas casos de coronavírus. E vai levar meses para sabermos a mortalidade excedente.” Comparar países também é complexo. As subnotificações em cada país são diferentes. No Brasil, por exemplo, em maio, eram cerca de 3,4 mil testes por milhão de habitantes. Nos EUA, os testes nesse mesmo período eram 37 mil por milhão, dez vezes mais. Na Espanha, quase 65 mil por milhão.

SOBRE ESTES INFOGRÁFICOS O primeiro passo foi descobrir onde estão os chamados dados primários, ou seja: qual é a fonte confiável de informação para os países que escolhemos. Usamos o site worldometers, que tem sido adotado também por vários veículos de comunicação brasileiros. Partimos também do número de casos em cada país a partir do centésimo caso. O eixo horizontal é uma contagem de dias, e não datas específicas que não serviriam para comparar estágios diferentes entre os países. Dois tipos de gráficos de casos e mortes acumuladas circularam na imprensa: um linear, em que os pontos do gráfico têm a mesma distância entre si

(página anterior) e outro, logarítmico, em que o eixo da quantidade de casos está ajustado em valores multiplicados por 10. Neste gráfico, quanto mais próximo de uma reta, mais o comportamento dos dados se aproxima de um comportamento exponencial. O Brasil teria assim um crescimento exponencial de contaminação se, por exemplo, o número de pessoas infectadas duplicasse a cada quantidade determinada de dias. O Brasil está próximo disso no gráfico acima. No primeiro gráfico, apesar de vermos os picos subirem, fica difícil notar qualquer diferença entre os padrões da curva - apenas Brasil e EUA têm muito mais habitantes, por isso a curva é maior. Já no segundo caso, no gráfico logarítmico, apenas o Brasil tem uma espécie de reta diagonal, indicando que não se atingiu nenhum estágio de estabilização - seguia-se no crescimento próximo ao exponencial em maio.


32/33 Entregadores tomaram as ruas de São Paulo, na cidade vazia por causa do isolamento social |

FOTO: THAÍS FULLMANN

SOBRE DUAS RODAS Uma das profissões mais atuantes no isolamento, entregadores se arriscam nas ruas há outra categoria que muitas vezes

com a economista Paula Sauer, professo-

é esquecida no Brasil, a dos entrega-

ra da ESPM. “Tem uma frase na econo-

dores, que trabalham o tempo inteiro

mia que usamos muito que é a seguinte:

»»» Enquanto parte da população

nas ruas, se arriscando com a missão

‘Enquanto uns choram, outros vendem

tem a possibilidade de ficar em casa

de levar compras de supermercado,

lenço’. Pode parecer cruel, mas a realida-

para se proteger do novo coronavírus,

produtos de higiene pessoal, ou qual-

de é que muitas empresas estão ‘venden-

muitos trabalhadores precisam ir às

quer outra compra online até as nos-

do lenço’, e aproveitando essa oportuni-

ruas, colocando sua vida em risco por

sas casas.

dade para crescer.” Paula também afirma

NIKOLAS AMBROSANO RENAN GABRIEL

necessidade. É comum e necessário

Com a maioria dos comércios fecha-

que as empresas que não estão se ade-

darmos destaque aos grandes heróis

dos, muitas empresas têm optado pelo

quando a essa realidade, serão muito pre-

dessa pandemia: os profissionais de

e-commerce, utilizando dos serviços de

judicadas. “As empresas que conseguem

saúde, que vivem diariamente uma

entrega em domicílio, o que tem dado

se adequar rapidamente ao home office e

rotina árdua nos hospitais. Porém,

resultado para muitas delas, de acordo

ao serviço de televenda, saem na frente.


HÁ UMA CATEGORIA DE HERÓIS QUE MUITAS VEZES É ESQUECIDA NO BRASIL, A DOS ENTREGADORES

No início de abril, por exemplo, o aplicativo de delivery iFood conseguiu uma liminar contra a decisão da Justiça do Trabalho que o obrigava a pagar entregadores afastados pela Covid-19. Essa decisão decretou que a empresa pagasse um salário mínimo para os colaboradores que estivessem com suspeita da doença, infectados ou no grupo de risco. No entanto, a desembargadora Dóris Ribeiro Prina derrubou a liminar, que vigorou por apenas dois dias. Segundo Prina, a relação entre o aplicativo e os entregadores não pode ser caracterizada como trabalhista, pois eles podem escolher utilizar a plataforma ou não, a depender das suas necessidades. Para a advogada Paula Camargo, as empresas têm o dever de assegurar a segurança dos seus funcionários, seguindo as orientações da OMS com relação à higiene e esterilização. Aplicativos como o iFood e 99 Food disponibilizam para os entregadores kits de higiene, com más-

A cidade possui cerca de 30 mil cliclistas entregadores |

FOTO: THAÍS FULLMANN

caras e álcool em gel para se protegerem. Ainda segundo Paula, cada caso deve ser analisado de maneira isolada, e quem se

Estão em situação extremamente delica-

eu fazia em média cinco entregas, agora

sentir lesado deve reivindicar os seus

da aquelas que não conseguem oferecer

faço aproximadamente dez por dia. O que

direitos. “Nesse momento todo caso tem

a entrega em domicílio, principalmente

me motiva é saber que estou ajudando as

que ser analisado individualmente. Caso

os prestadores de serviço”, disse a eco-

pessoas a ficarem em casa, podendo levar

algum trabalhador se sinta lesado, este

nomista.

o alimento em seu conforto.”

deve procurar um advogado para maiores orientações”, explicou.

Mas para levar o produto até as nossas

Já o entregador carioca Guilherme

casas, os entregadores precisam estar nas

Silva relatou ter havido uma redução no

Vale ressaltar que alguns desses apli-

ruas. Só que eles estão ganhando menos

número de pedidos durante a pandemia.

cativos de delivery possuem uma relação

do que antes, e trabalhando mais. É o que

Ele contou ainda que se sente muito ame-

mais afastada dos entregadores. Segun-

aponta a pesquisa realizada pela Rede

drontado, mas precisa buscar estímulos

do os termos de uso do iFood, a empresa

de Estudos e Monitoramento da Refor-

para continuar trabalhando. “Minhas

se considera uma plataforma tecnológi-

ma Trabalhista (Remir Trabalho). Foram

motivações são as contas que eu tenho

ca e não uma empresa especializada em

entrevistados mais de 250 entregadores,

para pagar e minha esposa, que sempre

transporte ou operação logística, logo,

e desses, 60% relataram uma queda na

me incentiva a continuar trabalhando”,

os entregadores são os responsáveis por

remuneração desde o início da pande-

disse. Por fim, relatou que está se cui-

qualquer perda ou prejuízo nas entre-

mia.

dando – utilizando máscara e álcool em

gas. Os entregadores ganham em média

gel, e revelou o desejo de conseguir um

R$ 1 mil por mês. Esse valor é para os que

emprego.

trabalham 12 horas por dia, os que traba-

O entregador Felipe Nunes, de Campinas, disse que o número de entregas quase dobrou, e contou qual é a sua moti-

Há uma série de polêmicas no auxílio

vação para seguir trabalhando. “Antes

das empresas para esses trabalhadores.

lham de seis a oito horas, ganham cerca de R$ 750 por mês.


p&r

ENTREVISTA: NAIHMA SALUM FONTANA ESPECIALISTA EM INFECTOLOGIA

34/35

UM PAÍS EM ALERTA COMO O BRASIL EM POUCOS MESES SE TRANSFORMOU EM UM DOS EPICENTROS DA PANDEMIA E QUAL O IMPACTO DISSO PARA O FUTURO

das de segurança da Organização MunNIKOLAS AMBROSANO RENAN GABRIEL

dial da Saúde (OMS), a situação fica ainda mais alarmante, e o futuro do país corre

»»» A humanidade não estava pre-

sérios riscos. Especialista em Infectolo-

parada para um vírus tão poderoso

gia pela Sociedade Brasileira de Infecto-

e que se espalha tão rápido, deixan-

logia (SIB), Naihma Salum Fontana, que

do em poucos meses mais de um ter-

trabalha no Hospital São Camilo de Itu

ço da população mundial em quaren-

e no Ambulatório Médico de Especiali-

tena, para evitar o contágio da doença

dades de Itu como coordenadora do Ser-

que já vitimou milhares de pessoas e

viço de Controle de Infecção Hospitalar,

infectou outras milhões ao redor do

alerta sobre os cuidados que devemos

planeta. Um dos maiores desafios para

tomar, a possibilidade de uma vacina e

os profissionais de saúde e cientistas

principalmente, explica sob o ponto de

ao lidar com o coronavírus, de alta dis-

vista profissional, os impactos da doen-

seminação, é o tempo curto para iden-

ça na sociedade brasileira.

tificar os sintomas, especialmente em

A infectologista classificou como “su-

grupos de risco, e encontrar o trata-

cateado e negligenciado” o sistema pú-

mento mais adequado. Além disso, em

blico de saúde brasileiro, além de se po-

uma situação em que milhares de pes-

sicionar contra possíveis medidas para se

soas são infectadas ao mesmo tempo, o

adotar um isolamento vertical, pois a po-

sistema de saúde de nenhum país com-

pulação que mais morre é a idosa. “Mas

porta tantas internações, o que tem le-

existe uma população que cuida dessa

vado a uma triste situação, na qual os

população idosa, que são os jovens, en-

médicos têm que escolher quem fica-

tão como vou conseguir isolar totalmen-

rá internado ou não.

te a população de risco?”, questionou.

No Brasil, onde enfrentamos um sério problema de educação e conscientização das pessoas para respeitarem as medi-

Como você imagina o Brasil após a pandemia?


“NÃO TEMOS TEMPO HÁBIL PARA AUMENTAR OS LEITOS DE UTI DENTRO DA NOSSA CAPACIDADE”

“QUEM ESTÁ NA LINHA DE FRENTE, QUEM ESTÁ DENTRO DOS HOSPITAIS, ESTÁ VIVENDO UM PERÍODO DE EXTREMA EXAUSTÃO, NERVOSISMO E ANSIEDADE POR ESTAR EXPOSTO O TEMPO TODO A UM VÍRUS POTENCIALMENTE LETAL”

RAIO-X Naihma Salum Fontana Origem: São Paulo Formação: Graduada em Medicina; Especialista em Infectologia; Especialista em controle de infecção hospitalar; Mestrado Stricto Sensu FOTO: REPRODUÇÃO/ARQUIVO PESSOAL


Eu vejo com bons olhos essa questão da valorização da saúde, do que é básico, e mais do que nunca nós vemos quais são as áreas básicas para a nossa sobrevivência neste planeta, e principalmente, o quanto nós somos frágeis, o quanto as

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10 trilhões de células do nosso organismo são frágeis frente ao microrganismo invisível. Então, talvez essa pandemia tenha chegado para nos ensinar e para nos mostrar que nós não somos onipotentes. Por muito tempo o ser humano dominou o planeta e as outras espécies, mas é bom um caldo de realidade: “basta estar vivo para morrer”. Eu espero que continue toda essa sensação de solidariedade, FOTO: REPRODUÇÃO/ARQUIVO PESSOAL

e que a humanidade caminhe para essa conscientização para que possamos ter um futuro mais harmonioso.

A medicina e a ciência sairão mais fortes dessa pandemia?

dos hospitais é realmente impossível de controlar?

trabalhamos sempre em regime de 90%

Estou vendo um movimento muito po-

O sistema público já é lotado, sucate-

intensivista que trabalha no sistema pú-

sitivo em prol da saúde, que deveria ter

ado, negligenciado, e isso não é de hoje.

blico é essa, escolher quem vai, e quem

sido visto há muito tempo, e só agora es-

Essa negligência e esse sucateamento no

não vai.

sas mazelas e falhas estão sendo expos-

sistema público vêm de décadas, que os

tas, porque precisamos muito da saúde

governantes e os seus sistemas públicos

nesse momento. Mas o que me preocu-

sempre deixaram como a última prio-

Qual a sua visão sobre a estrutura hospitalar brasileira?

pa, estritamente em relação à saúde, é

ridade, e agora vamos sentir toda essa

Acredito que diversas fragilidades e

que estamos vendo hospitais sendo fei-

negligência, todo esse abandono. Mes-

décadas de negligência, que nós que tra-

tos e aparelhados, leitos sendo aumenta-

mo que a gente tenha um investimento

balhamos na área da saúde verificamos

dos, mas a questão é: quem vai trabalhar

massivo na área da saúde, nós não va-

diuturnamente dentro dos hospitais, es-

nesses hospitais? Nós não temos intensi-

mos conseguir. Não temos tempo hábil

tão sendo ajustadas neste momento. Es-

vistas nesse número em nosso país. Eles

para conseguir a quantidade de leitos de

tamos vendo o conserto de leitos, mo-

têm uma formação longa, complexa, é

UTI que nós precisamos, devido ao tem-

nitores, ventiladores e aparelhagem

uma das áreas mais complexas da me-

po. Atualmente nós temos aproximada-

hospitalar que estava obsoleta há muito

dicina, que exige “expertise” do médico

mente 42 mil leitos de UTI no Brasil in-

tempo, dentro do próprio hospital.

não só em medicina, mas em matemáti-

teiro, sendo que mais da metade desses

ca, física, para entender complacência,

leitos se encontram na região sudeste.

elasticidade pulmonar, pressão de pico,

Temos “diversos brasis” dentro do nos-

A construção de novos leitos de UTI é uma solução viável?

e todos esses conceitos básicos para sa-

so próprio país, cada região tem as suas

Não temos tempo hábil para aumentar

ber mexer no ventilador respiratório, o

carências, necessidades, tradições e essa

os leitos de UTI dentro da nossa capaci-

que me deixa preocupada.

desigualdade será sentida nas próximas

dade. Façamos uma conta rápida: exis-

semanas. A superlotação é uma realida-

te uma estimativa que 80% da população

de, nós teremos que escolher quem vai

vai se contaminar, ou seja aproximada-

para a UTI e isso não foge muito da nos-

mente 150 milhões de pessoas. Desse nú-

sa realidade atual. As UTIs já são super-

mero, sabemos que cerca de 7% irão apre-

lotadas, pelo menos na área pública. Nós

sentar um quadro mais grave, e mais da

Este momento pode servir para as autoridades entenderem a necessidade de um maior investimento na saúde pública ou uma possível superlotação

da lotação das UTIs, então a realidade do


“NINGUÉM TINHA UMA IMUNIDADE PRÉVIA A ESSE VÍRUS, A POPULAÇÃO TODA ESTÁ SUSCETÍVEL”

“AINDA NÃO SABEMOS QUAL VACINA VIRÁ, COMO ELA VIRÁ, QUAL A FORMA DE APLICAÇÃO, MAS, QUANDO ELA VIER, O PIOR JÁ VAI TER PASSADO”

“ESTOU VENDO UM MOVIMENTO MUITO POSITIVO EM PROL DA SAÚDE, QUE DEVERIA TER SIDO VISTO HÁ MUITO TEMPO, E SÓ AGORA ESSAS MAZELAS E FALHAS ESTÃO SENDO EXPOSTAS, PORQUE PRECISAMOS MUITO DA SAÚDE NESSE MOMENTO”

metade irá precisar de UTI, sendo que

Brasil, não fácil de resolver, porque nós

temos 42 mil leitos. Mesmo que sejam

batemos sempre em ganância, corrup-

expandidos para cerca de 50 mil leitos,

ção, políticos que não querem abrir mão

a conta ainda não fecha. Existem esta-

de seus salários, que não querem abrir

dos fortes, como o de São Paulo, onde es-

mão dos seus luxos, em prol da popula-

tamos vendo um posicionamento mui-

ção mais carente.

to proativo em prol de ajudar, fortalecer e fomentar a saúde, no sentido de aumentar leitos e garantir fornecimento de equipamentos de proteção individual e outros materiais. Mas existem regiões muito pobres e desprovidas de recursos, onde está morrendo muita gente.

Devido ao período de quarentena, na China 20% da população apresenta sinais de estresse pós-traumático. Quando o vírus não estiver mais circulando no Brasil, essa deve ser a principal preocupação na área da saúde? Essa questão psicológica com certeza

Vivemos em um país no qual 48% da população não têm acesso a saneamento básico. Como controlar um vírus tão contagioso nesse cenário?

vai ser uma das mazelas que a pandemia

Nós vivemos em um país pobre. Se

já têm transtornos psiquiátricos, trans-

nós formos olhar só para o estado de São

tornos de humor, transtornos esquizo-

Paulo, quem mora no estado de São Pau-

freniformes, elas estão tendo uma des-

lo, especialmente na cidade de São Paulo,

compensação dos seus quadros devido

não sabe a realidade do resto do país. Eu

a essa questão que a gente está vivendo.

já morei na região norte, em Manaus, e é

Quem está em casa está sofrendo de an-

uma realidade completamente diferen-

siedade por estar em casa, por estar no

te da que a gente tem aqui, muitas pes-

ócio. Nós estamos verificando também

soas moram na ribeira, à beira do rio, e

o aumento do alcoolismo, da ingestão de

não têm acesso a um sabonete, um xam-

bebida alcoólica, devido ao ócio.

vai deixar, e nós já estamos vendo. Meu irmão é psiquiatra, eu converso com ele, realmente está ocorrendo. Pessoas que

pu, itens básicos de higiene, então com certeza isso é um problema. Além disso (da questão de saneamento e da falta de higiene pessoal), noções básicas de higiene pessoal, muitas vezes eu me vi

Em relação a uma possível vacina, quanto tempo poderia levar para produzi-la e como funcionaria a sua distribuição em território nacional?

ensinando mães a dar banho em crian-

Existem várias vacinas em desenvolvi-

ças. E com certeza a questão das aglome-

mento. Têm pelo menos três que estão

rações, pois o pobre não tem esse luxo

em desenvolvimento, mas isso só será

de isolamento social. Primeiro que ele

possível comercializar e distribuir no fi-

não consegue se isolar do resto da fa-

nal do ano. E quando for, isso será am-

mília dele, e segundo que ele não se dá

plamente distribuído para todas as fai-

o luxo de não ter que trabalhar. Ele tem

xas etárias, e grupos de risco dependem

que trabalhar, ele tem que se virar, mui-

do tipo de vacina que eles vão produzir.

tas vezes para conseguir o que vai comer

Se for uma vacina de vírus vivo inativado,

no dia. Sim, isso é um problema sério no

não terá restrição para gestantes, lacten-

nosso país. E é dever dos governos pegar

tes, imunossuprimidos, será irrestrito.

o dinheiro dos nossos impostos, que es-

Agora, se a vacina que eles desenvolve-

tão injetados em outras áreas, e focar no

rem for de vírus vivo atenuado (como é o

apoio financeiro a essas famílias. Então,

caso das vacinas de febre amarela, den-

sim, esse é um desafio que nós temos no

gue, varicela e herpes) há restrições.


ISOLAMENTO SOCIAL COMPROMETE A SAÚDE FÍSICA

detectam e destroem invasores, sejam vírus, bactérias e mesmo células cancerígenas. Por isso, pacientes com obesidade estão entre os grupos de risco para a infecção do novo coronavírus. “Quando nós temos mais tempo livre, comemos mais. Se tornou praticamente impossível controlar o número crescente de casos de obesidade em meio à situação do coronavírus e isso é perigoso”, atesta o endocrinologista. A estudante de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM Julia Scodiero pos-

38

Prática de exercícios é difícil em tempos de isolamento, mas beneficia corpo e mente

suía o hábito de se exercitar pelo menos três vezes por semana antes de entrar em quarentena. Com o isolamento, a estudante diz que não conseguiu fazer exercícios em casa. “Não tinha mais tempo de me exercitar, muitas vezes preferia descansar, deitar, meditar ou fazer qualquer coisa menos me exerci-

JULIA BOARATI LETÍCIA FERREIRA

tar. Sentia que não era a mesma coisa do que fazer exercício na academia, aca-

»»» Endocrinologistas apontam que,

bei ficando um pouco desmotivada”,

em meio à pandemia do coronavírus,

conta Julia.

o aumento da obesidade na quarente-

Maria Eduarda Pozzi, estudante de

na se tornou fator agravante, já que as

Publicidade e Propaganda, conta que

pessoas deixaram de lado seus exer-

aproveitou este tempo para ficar em

cícios, e a ansiedade de ficar preso

forma. A estudante praticava vôlei e

dentro de casa aumentou a fome e a

handebol, tendo uma rotina regra-

vontade de comer. “Em tempos difí-

da, exercitando-se em quatro dias da

ceis, todos devem tomar cuidado

semana, mas não pretendia ficar para-

com a saúde, já que esta é facilmen-

da mesmo com o isolamento. “Eu fazia

te colocada em um segundo plano”,

o que eu conseguia e o que eu tinha

diz Bruno Halpern, médico endocri-

vontade. Não conseguia treinar como

nologista graduado pela Universida-

antes dentro de casa e nem usar bolas,

de de São Paulo.

mas todos os dias eu procurava fazer

A quarentena alterou drasticamen-

agachamentos, flexões e ainda tentava

te a vida de todos; pela primeira vez,

sair para correr pelo condomínio. Achei

foram experimentadas a perda de contato social e a quebra da rotina. No dia a dia, praticar esportes e ter uma ali-

isso essencial para mim mesma”, afir-

Rotina de exercícios diminui estresse e ansiedade | FOTO ANNA SHVETS/PEXELS

ma Maria Eduarda. Segundo Everton Annunziata, perso-

mentação saudável pode parecer costu-

nal trainer formado pelo Centro Educa-

me, mas estes fatores se tornaram desa-

cional Anhanguera, se todos tivessem

fios quando se estava em isolamento.

seguido o exemplo de Maria Eduarda,

Bruno Halpern acrescenta que o núme-

além de terem desenvolvido uma rotina

ro de pessoas sofrendo de obesidade só

mais saudável, teriam sido mais felizes.

aumentou. “É muito mais difícil impor

o corpo saudável. O recomendado pela

“O exercício, além de ser extremamente

uma disciplina quando você está den-

instituição é cerca de 150 minutos por

importante para o corpo neste período,

tro de casa, sem uma rotina regrada”,

semana. Assim, o país lidera o ranking

alivia a ansiedade e angústia. A endorfi-

diz o médico.

de sedentarismo na América Latina e

na engana a fome, então se todos fizes-

é o quinto mais sedentário do mundo.

sem o mínimo de exercício diário, além

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase metade da

A obesidade diminui a imunidade.

de sentirem menos vontade de comer e

população brasileira (47%) não prati-

Pessoas com obesidade têm uma menor

ficarem em forma, ficariam mais cal-

ca o mínimo de exercícios para manter

atividade citotóxica das células que

mos e felizes”.



COLABORADORES DESTA EDIÇÃO

REVISTA PLURAL  Ana Carolina Bilato; Iasmin Rao Paiva; Julia Boarati;

JUNHO DE 2020 ANO 9 // NÚMERO 17

Leticia Ferreira; Luana Cataldi; Manuela Ravioli; Maria Luiza Baccarin; Matheus Marcondes; Nikolas Ambrosano; Renan Gabriel; Sophia Olegário LABFOR  Catarina Bruggemann; Juan Cuela; Lena Motta; Lucas Bastos; Pedro Trigo FOTOJORNALISMO  Ana Lu Rigatto; Ana Vitória Leal; Andre Cirri; Enrico Sordili; Gabriella Lodi; Isabella Galvão; Isabelle Bulla; Laura Cavalari; Leonardo Scudere; Letícia Denoni; Maria Caltabiano; Patrícia Martins; Richel Piva; Sérgio Miguel; Thais Fullmann


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