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reportagem de capa O rádio está morto? Nos últimos anos o meio perdeu popularidade e receitas em relação aos seus áureos tempos, mas ainda assim é cedo para declarar a sua extinção. O rádio está muito vivo. Reanimado pelos telefones celulares e pela internet, agora mira a digitalização, que permitirá aumentar o número de emissoras, melhorar a qualidade do som e até transmitir textos.
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coisas que você não sabia sobre o rádio Clésio Oliveira, terceiro semestre
Notívago.
Monoglota.
Teste de peso.
Rock alienígena.
Algumas frequências de
Em 1958, durante a Copa da
Em 1948, Chico Anysio par-
É possível sintonizar um
rádio pegam melhor à noite.
Suécia, Garrincha apaixo-
ticipou dos concursos para
bom rock ‘n roll em Plutão!
Normalmente, as ondas de
nou-se por um rádio Tele-
locutor e radioator da Rádio
Antenas de radiotelescópios
rádio se propagam em linha
funken. Mané entrou na
Guanabara. No teste para
conseguem captar ondas
reta, e, por isso, jamais con-
loja com o companheiro
locutor, ficou em segun-
eletromagnéticas a bilhões
seguiriam acompanhar a
de seleção Orlando Peça-
do lugar; perdeu para Silvio
de metros de distância. As
curvatura da Terra.
nha, que resolveu aprontar.
Santos. Para radioator, ter-
ondas AM, ao contrário das
À noite, porém, os átomos
“Bobagem, Mané”, disse
minou em sétimo lugar. O
FM e das de TV, podem se
são menos afetados pela
Orlando. “Esse rádio só fala
concurso foi ganho por Fer-
propagar por essas distân-
ionização do sol e se pro-
em alemão.” Garrincha
nanda Montenegro.
cias. Mas o solo das guitar-
pagam melhor. Com isso,
desistiu da compra.
dá para captar sinais até de outros países sem precisar da ajuda de satélites.
ras chegaria ao planeta com atraso de mais de 5 horas.
Antena humana. Já teve a impressão de que o sinal melhora quando você se aproxima do rádio? É verdade. Captar ondas eletromagnéticas é um dos “superpoderes” do corpo humano. As ondas o atravessam e se concentram, servindo como uma “antena” eletromagnética.
Nanorádio. Cientistas e engenheiros da Universidade de Berkeley (EUA) já construíram uma estação de rádio que media 100 centésimos de milímetro. Ela poderia, entre outras funções, transmitir informações sobre a pressão sanguínea diretamente do interior das artérias. A peça é capaz de vibrar conforme as ondas de rádio que passam por ela e sintoniza frequências em Mega-hertz. Quando ligada, a estação tocou a música Layla, da banda Derek and The Dominos.
Onda fantasma. Em 1987, durante a construção de um prédio em São Paulo, operários se assustaram quando raios comeFoto Everett Collection/Shutterstock
çaram a sair de um guindaste. Em seguida, vozes e sons ecoaram pelo prédio.
Precoce.
Assalto ao vivo.
Os trabalhadores saíram
Em julho deste ano uma
Radialistas vs. lenhadores.
Segundo o Livro dos Recordes, o mais jovem apresen-
rádio em Fortaleza foi
Por mais apaixonados que
verdade, aquilo acontecia
tador de rádio tinha 5 anos
assaltada durante um pro-
sejam os radialistas, o site
porque os metais e sintoni-
quando estreou ao micro-
grama ao vivo. O ladrão
americano CareerCast.com
zadores do edifício capta-
fone. O programa foi trans-
invadiu o estúdio armado e
classificou o trabalho de
vam o sinal da Rádio Ban-
mitido nos Estados Unidos
fez a limpa. Mesmo descon-
Locutor de Rádio como um
deirantes (que tem uma das
em 1998.
certados, os apresentado-
dos 10 piores do mundo.
mais potentes antenas de
res continuaram o progra-
Lenhadores e produtores de
São Paulo e ficava ao lado
ma. O assaltante fugiu sem
leites seriam os profissio-
da construção). O guindas-
ser incomodado, e as ima-
nais mais infelizes.
te captava energia e descar-
imediatamente do local. Na
gens foram transmitidas
regava raios e faíscas. Já os
pela internet.
sons vinham de uma grua que vibrava e fazia o papel de um alto-falante gigante.
já ouviam e era como um ritual que reunia toda a família e os vizinhos na sala”, conta. A aposentada, que ouve rádio desde a década de 1960, teve a sua história marcada pelo aparelho. “A gente mandava recadinhos pelo rádio. Um deles me fez encontrar o homem que é meu marido há 54 anos.” Como Maria e João, inúmeros outros casais se conheceram pelas ondas do rádio (leia mais na pág. 28). Mas, com o tempo, o rádio, que já disputava espaço com o impresso, recebeu a concorrência da televisão e da internet. A tecnologia e a interatividade o fizeram sentir um baque. Há quem diga até que ele não irá mais se recuperar. “Em termos de conteúdo e pessoas, acho que não tem mais jeito. O rádio nunca mais terá grandes nomes como Osmar Santos e Eli Correa [famosos locutores das décadas de 1970 e 1980]”, afirma Rosan Camilo Bento, operador da Rádio Globo há 37 anos. A competição com as plataformas rivais acirrou-se nas últimas décadas e até mesmo emissoras tradicionais encontram dificuldades para se manter. “O pior momento do rádio é o de agora. Boa parte das rádios históricas foram extintas, pois o mercado mudou de uma tal forma que não suporta mais uma emissora de música pop no Brasil, por exemplo”, afirma o professor do departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação da Unicamp Eduardo Paiva. Essa transformação se reflete diretamente na arrecadação publicitária do meio. Atualmente, o rádio recebe apenas 3,93% do investimento publicitário em mídia no país. A TV já Clésio Oliveira, terceiro semestre Giuliana Tenuta, quarto semestre Paula Saviolli, quarto semestre
se distancia e abocanha 65%. A própria internet, mesmo com muito menos tempo de existência, já abocanha 5,08% dessa verba no país, segundo o Projeto Inter-Meios, (iniciativa em
»»»O rádio morreu? O meio, que surgiu
conjunto entre os principais meios de comu-
no Brasil em 1922, acostumou-se a mover
nicação do país, que visa calcular o quanto se
multidões, reunir todos na sala e despertar
investe em propaganda no Brasil).
paixões. Sua história se atrelou à do país e,
Outro dado que aponta o declínio do rádio
em certos momentos, até se confunde com
é o “share”, ou participação no mercado de
a dos brasileiros. Assim foi na família de
mídia. Desde o ano 2000 ele cai continuamen-
Maria Lourdes de Matos, 74, que cresceu
te, até ter atingido, em 2011, a menor marca
sob a influência do aparelho. “Meus pais
dos últimos 15 anos: 3,97%.
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os 90 anos do rádio no brasil
Números da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão)
encontrar dificuldades por oferecer salários –
mostram que o rádio continua em forma. Atu-
em média – inferiores aos de outras mídias.
almente o país possui mais de 4.500 emisso-
“Os novos que chegam ao rádio aprendem um
ras comerciais. Entre elas, apenas 150 decla-
pouco e já partem para outra, principalmen-
ram faturamento, que chega a R$ 1,1 bilhão
te para a televisão. E acho que isso se deve
por ano. Porém, a Abert acredita que conta-
à falta de visão e incentivo do pessoal que
bilizando todas as estações esse valor deve
administra”, diz Rosan Camilo Bento, ope-
superar os R$ 3,2 bilhões.
rador da rádio Globo.
Outro fator importante foi a incorpora-
Mas há exceções, como o caso do locutor
ção do rádio à rotina do brasileiro. A mídia
esportivo José Silvério, que diz ser o homem
está presente em nove de cada dez lares. “Ele
mais bem pago do rádio brasileiro (leia box
não parou no tempo e hoje está presente na
na pág. 16).
internet, nos celulares, Ipod’s, MP4 e tablets,
Bruno Vicari, 29, é um dos que usou o
grandes aliados para ganhar novos ouvintes
aprendizado do rádio para conseguir uma
e anunciantes.” afirma Emanuel Carneiro,
vaga na TV. Ele começou na Jovem Pan ainda
presidente da Abert.
durante a faculdade como estagiário e, com o tempo, foi ganhando espaço no jornalismo
Escola
esportivo da emissora, até que, em 2011, foi
Devido ao seu dinamismo e agilidade, o rádio
convidado para ser comentarista esportivo do
é considerado uma boa escola de iniciantes no
SBT. “Foi uma transição bem diferente entre
jornalismo. Para reter talentos, contudo, pode
os dois meios. No rádio, as notícias vão para
Falsa “invasão de marcianos” levou pânico a ouvintes »»»“Senhoras e senhores, interrompemos o nosso programa de música e dança a fim de transmitir um boletim extra da Intercontinental Radio News. Às 19h40 de hoje o professor Farrel, do observatório do Monte Jennings, em Chicago, Illinois, informou ter observado, sobre a superfície do planeta Marte, em intervalos regulares, várias explosões de gás incandescente. O espectroscópio indicou que o gás em questão é hidrogênio e que suas partículas se deslocam rumo à Terra com velocidade fantástica.” O histórico anúncio de uma invasão de marcianos à Terra foi feito na rádio norte-americana CBS às 20h do dia 30 de outubro de 1938. O locutor era o então quase desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles. “Senhoras e senhores, esta é a coisa Infografia Clésio Oliveira
mais assustadora que eu já testemunhei”, Welles continuou. Os ouvintes saíram às ruas, apavorados. Três cidades ficaram paralisadas de medo, e o pânico se alastrava principalmente pelos arredores de Nova Jersey, local de onde a rádio CBS
o ar de uma maneira mais instantânea. Já na
irradiava e onde Welles ambientou sua
TV existe uma preocupação maior com o pla-
história. Muitos estavam convencidos
nejamento”, explica Vicari.
de que era o fim do mundo. Mas, na verdade, a “notícia em boletim extra”,
Ele acredita que o rádio forma profissio-
era o começo de uma radionovela. O
nais da comunicação que acabam se proje-
que foi para o ar, no caso, era a adapta-
tando em outras mídias. “A base da TV e do rádio é a mesma, mas no segundo você tem mais espaço para experimentar e aprender mais. Quando você sai do rádio está preparado para tudo”, diz. Esse fenômeno migratório não é algo só da nova geração de radialistas; profissionais experientes também optaram por essa diversificação. Um exemplo é Joseval Peixoto, que se consagrou como locutor na Copa de 1970, narrando o tricampeonato do Brasil. Mesmo com mais de 57 anos como radialista, ele sonhava terminar a carreira na televisão. Joseval, porém, não esconde que ainda
Trabalhar com a câmera é uma arte que eu ainda estou aprendendo. Se eu disser que eu a domino, estaria mentindo.
ção do famoso livro de H. G. Wells, “A
Joseval Peixoto, âncora do SBT Brasil e da Jovem Pan
época. A “invasão dos marcianos” não
Guerra dos Mundos”, história de ficção-científica que relatava a chegada de centenas de marcianos à cidade de Grover’s Mill, em Nova Jersey. Horas depois que o programa terminou e de os ouvintes perceberem que a invasão marciana não era real, o público ficou indignado. O caso evidencia o poder que o rádio detinha na só fez com que Orson Welles se tornasse famoso como é considerado um dos
não se acostumou totalmente ao novo meio.
programas mais marcantes de rádio
“Trabalhar com a câmera é uma arte que eu ainda estou aprendendo. Se eu disser
do século 20.
a classe C é a que mais ouve rádio atualmente. A audição acontece simultaneamente a outras atividades e ao consumo de outras mídias
que eu a domino, estaria mentindo.” Segundo ele, mesmo aos 74 anos, esse
professora do curso de Jornalismo da ESPM
aprendizado não o faz pensar em parar.
e autora do livro ‘História do rádio no Brasil’
“Como bom pescador, sigo o lema de que a
(ed. Livros de Safra).
vida é rio abaixo. Não penso em aposentadoria por enquanto”, brinca.
Segundo dados de estudos realizados pela Ipsos Marplan, a classe C é a que mais ouve
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rádio atualmente. A audição acontece simulConvergência
taneamente a outras atividades e ao consu-
O rádio hoje possui novas linguagens e ouvin-
mo de outras mídias. O maior exemplo disso
tes, o que acaba alterando também suas for-
é quando se assiste a um jogo de futebol pela
mas de transmissão e recepção. “O rádio
televisão e ao mesmo tempo acompanha-se
surge feito para a elite, para as classes A e B.
a narração pelo rádio. Essa sincronia aconte-
Com a chegada da propaganda ele vira um
ce especialmente entre os jovens.
veículo de massa. A partir daí reinventa-se e
Apesar dessas mudanças, o rádio ainda
começa a falar com diversos públicos, dando
mantém sua função original, a da comu-
voz para todo mundo”, explica Magaly Prado,
nicação rápida. “As maiores qualidades do rádio são portabilidade, preço, abrangência, inclusão e facilidade tecnológica”, diz Eduardo Paiva, da Unicamp. E essas características podem ser percebidas até hoje. É relati-
Polêmica cerca primeira transmissão AM
vamente fácil ouvir rádio atualmente, pois é possível fazê-lo estando em qualquer lugar. “Se a pessoa estiver em um ônibus, trem
»»»“A primeira transmissão do
como meio comercial, e outra,
ou no meio do mato ela tem acesso”, afirma
AM no Brasil é uma farsa”, afir-
como meio educativo”, afirma o
Magaly Prado.
ma o professor Luiz Beltrão Caval-
autor de “Raízes do Rádio”.
cante, autor do livro “Raízes do
Já o professor doutor do curso
Mas o que fica em discussão é a permanência do rádio diante dos desafios impostos pelo
Rádio”, que reacende uma polê-
de Rádio e TV da USP Eduar-
fenômeno da convergência de mídias. Mais
mica quase centenária. Segun-
do Vicente discorda da ocorrên-
do que mudança tecnológica, é um proces-
do ele, antes do carioca Edgar
cia, alegando que a Rádio Clube de
so essencialmente cultural, em que a trans-
Roquette-Pinto realizar sua trans-
Pernambuco fazia apenas radio-
missão de conteúdos transcorre e se adapta
missão, a Rádio Clube de Pernam-
telegrafia. “Quando pensamos em
a múltiplos suportes e públicos. “Eu acho que
buco teve experiências bem suce-
rádio, pensamos na transmissão
a tendência da comunicação para esse sécu-
didas com ondas curtas em 1919.
de sons, mas a invenção patente-
lo é ser um produto extremamente conver-
ada por Marconi em 1896 era, na
gente, onde tudo se junta para criar um outro
ria da Escola de Eletricidade de
verdade, um telégrafo sem fio,
modo, um outro canal, um outro paradigma
Recife adaptaram um transmis-
e não foi isso que aconteceu no
de comunicação”, conta Eduardo Paiva.
sor de telegrafia para que emitisse
Recife em 1919.” Segundo o espe-
ondas de rádio. No dia 6 de abril
cialista, a transmissão de rádio
sempre aconteceu e foi essencial no processo
de 1919, segundo Cavalcante, teria
só se consolidou em 1920. “Ela
de evolução. “No campo da comunicação, as
ocorrido a primeira transmissão
foi instalada nos EUA por Frank
inovações não teriam sido possíveis se cada
em Modulação de Amplitudes, o
Conrad, a partir de investimen-
nascimento de um meio resultasse na morte
AM. O evento está registrado nos
tos da Westinghouse, corporação
de um mais velho. Se não houver adaptação,
editais dos fundadores da rádio.
que depois ajudou na implantação
o meio tende a desaparecer”, diz Nelia Del
Porém, a comunidade científica
carioca. Por isso, acredito que a
Bianco no livro “O Rádio Brasileiro na Era da
não deu importância ao feito.
afirmação sobre a transmissão em
Convergência” (ed. UFRB).
Nesse ano, alunos de engenha-
“Foi uma jogada de poder, pois uma parte queria usar o rádio
Recife não merece crédito”, conclui Eduardo Vicente.
A convergência das mídias não é novidade,
A tendência do rádio é se apropriar das novas possibilidades que vêm das mídias
Com rádio digital, setor discute o fim das AMs »»»Se o início do rádio AM divide opiniões, seu final não é diferente. Com a evolução da tecnologia, as estações vêm melhorando sua qualidade sonora. A partir da implantação da rádio digital no país, a frequência FM ficará disponível, já
andrea pinto, 39 “Eu ouço CBN pela manhã. Eu gosto e preciso ouvir rádio, já que não tenho tempo e meus filhos dominam a televisão.”
josé dos santos anicete, 37 “Eu ouço só músicas pelo rádio. Notícias só vejo pela televisão.”
que as emissoras migrarão paulatinamente para o novo espaço. Surgiu então uma corrente que defende que as emissoras das ondas de Modulação de Amplitude devam ocupar esse espaço. “Por uma questão de custo, esses rádios começaram a ser menos comercializados. Hoje até se encontra um aparelho desses, mas custa caro. Um rádio AM bom custa R$ 250, enquanto um rádio FM custa menos de R$ 10. As pessoas não têm mais onde ouvir”, diz Rosan Camilo Bento, operador da rádio Globo. Porém, a ala mais conservadora do meio discorda, pois acredita que isso tiraria suas principais características: “As pequenas rádios
edinaldo viana, 36 “O rádio é muito importante para ficar bem informado rapidamente. Gosto desde pequeno e hoje eu tenho até uma webrádio.”
davilson nogueira, 51 “O rádio me acompanha dia e noite, ouço no carro e em casa. A informação é muita rápida, quase que com a velocidade da internet.”
não podem ser extintas simplesmente porque o Brasil quis adotar a modernidade do digital. É preciso fazer um caminho onde a rádio digital seja socialmente aceito, e não imposto”, contesta Eduardo Paiva, professor do departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação da Unicamp. O que é certo até o momento é que a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) estuda a mudança com o governo. “A migração das rádios AM, afetadas por interferências crescentes, para a faixa FM é uma de nossas prioridades. A medida já está em estudo no Ministério das Comunicações, que concorda
simone gomes, 71 “Não gosto muito de acompanhar as notícias. Quando preciso, vejo pela televisão.”
gloria viccario, 60 “Quando meus filhos eram pequenos, eu ouvia rádio Jovem Pan todos os dias. Mas eu perdi o hábito. Agora, a primeira coisa que faço é ligar a televisão.”
com ela, e será determinante para melhorar a qualidade do som dessas emissoras”, afirmou em nota à Plural o presidente da Abert, Daniel Slaviero.
“Todas as redes sociais se integram na rádio, da mesma forma que a rádio se integra a elas. É uma força de mão dupla”
um pode acessar a programação em qualquer
na rádio, da mesma forma que a rádio se inte-
parte do mundo. Ainda mais acessíveis são os
gra a elas. É uma força de mão dupla”, afirma
podcasts ou audiocasts, em que uma pessoa
Paiva. Isso permite que haja uma interação
grava seus próprios áudios, tendo liberda-
mais dinâmica com os ouvintes, por permi-
de total para fazer sua própria programação.
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mais recentes, principalmente da internet. “Todas as redes sociais se integram
tir que várias plataformas trabalhem juntas.
Talvez a maior revolução do rádio este-
Redes sociais como o Facebook e o Twitter
ja nos dispositivos móveis, como celulares,
podem ser usadas para que ouvintes parti-
tocadores de MP3 e tablets. No Brasil, o rádio
cipem diretamente das transmissões. Além
está presente em 40% dos celulares. Nos Esta-
disso, o conteúdo disponibilizado nos sites
dos Unidos, por lei, 100% dos celulares têm
das emissoras faz com que o público tenha
receptor de rádio – uma medida para faci-
mais acesso à programação, inclusive a pro-
litar o acesso a transmissões de emergência
gramas anteriores. “Você junta diversas coi-
em caso de catástrofe.
sas. Antes a mídia era uma coisa ou outra.
A interação dessas duas ferramentas trou-
Hoje não. Agora a mídia é tudo e esse tudo
xe mais comodidade ao ouvinte e aumentou
forma uma coisa única”, completa Paiva.
ainda mais a portabilidade do rádio. Hoje é difícil conhecer quem não tenha um celular
Mobilidade
– há mais de 258 milhões de linhas ativas no
A internet não trouxe só os benefícios que
Brasil, mais de uma por habitante.
as redes sociais proporcionam. Mais do que
“Esses aparelhos trazem uma audiência
interação, ela trouxe uma nova plataforma:
muito forte. As pessoas querem ouvir músi-
as webrádios. O que as diferencia das rádios
cas novas e o noticiário também. É prático”,
tradicionais é seu alcance potencial: qualquer
afirma Magaly.
“Aprendi a imaginar as coisas pelo rádio” »»»José Silvério começou sua carrei-
ficava imaginando como era. O rádio
Você se considera uma celebridade?
ra no rádio ainda jovem. Veio de uma
me transportou pelo mundo inteiro.
Silvério - Minha voz é muito conhe-
cidade pequena, do interior de Minas
Era a principal forma de comunicação.
cida em São Paulo. Uma pesquisa da
Gerais, e em 1975 começou a trabalhar
Eu me apaixonei pelo rádio e até hoje
Veja apontou que eu tenho a voz mais
na rádio Jovem Pan, onde ficou até
sou apaixonado. Até uso os outros
conhecida com o rosto menos conheci-
2000. Hoje trabalha na Bandeirantes.
meios, mas só quando quero algo dife-
do em São Paulo.
Em pesquisa da revista Veja, foi con-
rente. A TV fantasia algumas coisas.
siderado a voz mais conhecida da cida-
O rádio perdeu a sua importância?
de. Em entrevista à Plural, Silvério
Por que não trocar o rádio pela TV?
fala da sua paixão pelo meio.
Silvério - A TV Manchete, a SporTV e
Silvério - As pessoas falam que o rádio morreu. Não morreu nada!
a ESPN tentaram me contratar, mas eu
Nunca houve tantas emissoras de
Qual é a sua relação com o rádio?
não quis. Sou muito apaixonado pelo
rádio como hoje e a qualidade técni-
Silvério - Talvez eu tenha apren-
rádio. Se for para pensar em termos de
ca de qualquer rádio é infinitamente
dido a imaginar as coisas pelo rádio.
dinheiro, eu ganho muito mais do que
melhor do que a própria rádio 20 anos
Eu morava em uma cidade do interior
imaginei que iria. Acho que sou o pro-
atrás, por exemplo.
de Minas que, na minha época, nem
fissional mais bem pago do rádio. É
energia elétrica tinha. Quando a gente
um salário muito bom, mas não chega
fortíssimo. Tanto é verdade que a tele-
conseguia ouvir um jogo pelo rádio,
a assustar ninguém.
visão, admitindo que esta seja a mídia
O rádio é muito forte, um veículo
digital Da mesma forma que o FM surgiu para aumentar a qualidade sonora do rádio AM, as rádios digitais aparecem para melhorar a transmissão do som, a partir da modulação digital (as ondas passam a ser transmitidas de forma digital, e não analógica, como ocorre no padrão atual). Assim, a AM passaria a ter a qualidade que a FM já tem, e a FM teria a qualidade de som de um CD. “Hoje nossa transmissão é analógica. Se você olhar, não cabem mais rádios ali no dial. Isso tem que ser ampliado, e o sistema de transmissão tem que ser melhorado. Todas as vantagens do mundo virão quando tivermos um sistema digital”, pondera Patrícia Bezerra, coordenadora do curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco e professora de rádio na ESPM-SP. No Brasil, o sistema digital ainda é um projeto em estudo. É um processo demorado, já que não adianta ter a tecnologia se os ouvin-
Bruno Vicari gravando um comentário esportivo no SBT | foto Clésio Oliveira
tes não tiverem o aparelho receptor. ”Calculo que, em uns 10 anos, isso vá ser uma revolução. É um investimento caríssimo, mas é uma coisa que vai ser feita. O rádio digital pode talvez até resgatar essa perda que está acontecendo com o rádio atual. É um processo lento e não acontece da noite para o dia”, diz Rosan
mais importante, é um rádio com ima-
Camilo Bento, da rádio Globo.
gem, com uma tecnologia maior e com
Patrícia concorda: “É muito caro porque
rostinhos mais bonitos. E esses ros-
vão ter que mudar todos os transmissores –
tinhos nem sempre significam maior
e receptores também”. Por outro lado, a pes-
qualidade. O rádio tem muito conteú-
quisadora questiona: “Será que por causa
do, essa é a sua grande diferença.
O rádio compete com a televisão? Silvério - Nós não podemos discutir o rádio com a televisão. A televisão você liga, tem uma pessoa ali, e seu rosto já fica imediatamente conhecido. No rádio esse processo demora um pouco mais porque ele tem maior dificuldade de penetração. É claro que temos que respeitar
A televisão é um rádio com imagem, com uma tecnologia maior e com rostinhos bonitos.
José Silvério, locutor da Rádio Bandeirantes.
disso o rádio não vai perder sua principal capacidade, que é a de ser popular?” O rádio digital pode contar com o apoio de imagens e textos, deixando de ser exclusivamente sonoro. Se o aparelho receptor possibilitar, o ouvinte lerá na tela gráficos com cotações, previsão do tempo e textos curtos, explica Patrícia Bezerra. Outro ponto é a abrangência; a cobertura poderá ser nacional, se a emissora desejar. Em alguns receptores será possível inclusive
muito a televisão e sua força, mas o
pausar a programação ao vivo, como já acon-
rádio também é muito forte.
tece em alguns serviços de TV a cabo.
um olhar sobre o processo de reportagem
bastidores
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ALTA FREQUÊNCIA
Esta edição da Plural é resultado de três meses de trabalho em ritmo acelerado, cheio de percalços – e também de descobertas
A aluna-repórter Paula Drummond nos estúdios da Band News FM |
foto ana beatriz resende
A reportagem de capa investigou justamenAna Beatriz Resende, terceiro semestre Barbara Souza, terceiro semestre Paula Drummond, terceiro semestre
te a ligação do rádio com três gerações distintas: a anterior à nossa, que teve no meio uma de suas principais fontes de informa-
»»»O tema da segunda edição da revista
ção; a nossa, que prefere consumir rádio na
Plural aproximou os alunos de um univer-
internet e nos celulares; e as gerações futu-
so que já não seduz tanto o olhar dos jovens
ras, com ouvidos (e olhos) já no rádio digital.
quanto antes. Por vivermos em uma época
Entrevistar grandes nomes do jornalismo e
em que a cada segundo uma nova tecnolo-
dessa mídia, como Joseval Peixoto e José Sil-
gia é criada, o rádio acabou tornando-se,
vério, não foi uma tarefa fácil. O leitor nunca
para muitos, um meio um tanto ultrapas-
faz ideia de quantos “nãos” e quantas por-
sado. Porém, durante o processo de apu-
tas fechadas encontramos pelo caminho. Mas
ração das matérias, nossos horizontes se
insistimos. E todas as frustrações foram com-
abriram. E, ao término dos trabalhos, ficou
pensadas ao conseguirmos enfim as entrevis-
a vontade de trabalhar futuramente no
tas que queríamos, que foram gratificantes.
meio, tão dinâmico e apaixonante.
Outra matéria que nos cansou bastante,
o leitor não faz ideia de quantos “nãos” tivemos de ouvir pelo caminho
em todos os sentidos, foi a das 24 horas na rádio. Uma ideia a princípio maluca: passar a manhã, a tarde, a noite e a madrugada inteiras, em três turnos ininterruptos de oito
Barbeiro. A ansiedade e o nervosismo foram
horas de observação e reportagem, em uma
grandes. Ficar frente a frente com um profis-
rádio. Quando definimos a pauta imagináva-
sional desse calibre exige sangue frio.
mos que marcar a visita seria relativamente
Talvez sabendo disso, o entrevistado aju-
fácil. Não foi. Por alguns instantes chegamos
dou nosso repórter de primeira viagem em
a pensar em desistir, já que o tempo estava
diversos momentos, instruindo-o quanto à
apertado e nenhuma rádio aceitava receber
sua posição em relação à câmera, além de dar
nossas três duplas de estudantes que se reve-
dicas sobre como se portar em entrevistas.
zariam ao longo de 24 horas. Por fim, conse-
Mais uma lição valiosa.
guimos uma resposta positiva da rádio Band-
Todos conhecem o Heródoto, mas você sabe
News FM e, para a nossa sorte, o dia foi de
que o pai do rádio é um brasileiro chamado
muitos imprevistos.
Roberto Landell de Moura? Muitos não sabem disso, então contar um pouco sobre os pri-
Polêmicas
mórdios do rádio no Brasil era matéria indis-
Visitas a rádios foram importantes também
pensável. Por isso, entramos em contato com
para a execução de outras matérias. A pira-
o Movimento Landell de Moura para esclare-
taria e o jabá, assuntos bastante polêmicos,
cer a questão, e fomos muito bem recebidos.
exigiram apurações cautelosas. O maior problema em conhecer uma
Percalços
rádio pirata foi o fato de termos de ocul-
Mas nem tudo são flores: muitas pautas sim-
tar os verdadeiros nomes de nossas fontes,
plesmente são abandonadas ao longo do
pois ninguém queria se identificar. Todas
tempo sem que o leitor nunca tenha conhe-
as fotos que tirávamos no local eram con-
cimento disso. Foi assim com a reportagem
troladas. Apesar disso, fomos surpreendi-
que discutiria a propaganda eleitoral gra-
das com a excelente infraestrutura da rádio
tuita, um tema explosivo, que opõe governo
clandestina, que tinha funcionários satis-
e emissoras. Por falta de fontes, e de tempo
feitos e equipamentos modernos.
hábil para explorar o assunto direito, opta-
Conseguir aspas para a matéria sobre jabá
mos por “engavetar” o material.
exigiu cuidados com os quais não tínhamos
Outra matéria que sofreu reveses foi a de
lidado ainda. A forma como o assunto seria
rádios segmentadas. O plano original era
abordado e quem seria questionado foram
dedicar duas páginas ao tema, mostrando ao
alguns deles. O jabá é um tabu, e poucos que-
leitor que hoje existem rádios inteiramente
rem falar sobre isso. Mesmo assim, consegui-
dedicadas a temas muito específicos: gospel,
mos entrevistar desde um produtor musical
trânsito, notícias, rock, sertanejo etc. Mas
e um músico até um advogado. O desafio de
apenas uma de muitas emissoras contata-
levantar dados e opiniões sobre o tema nos
das retornou nossas ligações. As duas pági-
tornou mais alerta, e aprendemos a escrever
nas viraram, assim, um box dentro do texto
a respeito de assuntos mais delicados.
sobre jabá.
Amor
as fotografias. A busca pela imagem de capa
Em contraposição a esse tema, abordamos
renderia um bastidor por si só: fomos a anti-
outro, mais leve. Mas nem por isso menos
quários, à feira da Benedito Calixto, procura-
difícil. A matéria sobre o amor nas rádios foi
mos entre colecionadores. Muitas fotos foram
complicada, mas por outra razão. Nos tem-
refeitas mais de uma vez: luz, foco, ângulo,
pos em que “ficar” é mais comum que namo-
relevância e postura dos personagens, tudo
rar, achar um casal cujo romance tivesse sido
era levado em conta para que levássemos o
intermediado por programas de rádio não foi
melhor resultado possível ao leitor.
Outra fonte constante de percalços foram
fácil. E apenas duas semanas antes do fechamento da revista é que encontramos duas histórias de amor ligadas ao rádio. Nossa edição traz também uma entrevista especial com o renomado jornalista Heródoto
Esperamos ter conseguido.
plural em números
12
Alunos participaram desta edição da revista Plural, distribuídos pelo segundo, terceiro e quarto semestres do curso.
2.000 exemplares é a tiragem desta edição da revista, distribuída gratuitamente.
20/21 No ar desde 2005, a rádio BandNews FM cobre desde esportes até política |fotos ana beatriz resende
24 horas de notícia A equipe da revista Plural passou 24 horas ininterruptas nos estúdios de uma das principais rádios noticiosas de São Paulo, a Band News FM
Chegamos às 10h do dia 3 de outuAna Beatriz Resende terceiro semestre Barbara Souza terceiro semestre Ezio Jemma terceiro semestre Paula Drummond terceiro semestre Taís Godói terceiro semestre Thobias Marchesi segundo semestre
bro e partimos no mesmo horário do dia seguinte. Desde o início percebemos que o cotidiano dos profissionais de rádio é pesado. Não faltaram imprevistos. O encon-
»»»Não há descanso. O ritmo é frené-
tro com o candidato à prefeitura, José
tico. Desde o amanhecer até a madru-
Serra, o inesperado cancelamento do
gada a redação não para. Vista de fora,
clássico Brasil x Argentina e até o rigor
a rádio BandNews FM parece funcio-
com que o jornalista Ricardo Boechat
nar sozinha, como um relógio. Por
se atenta a detalhes foram exemplos
dentro, porém, a pressão para que
de acontecimentos marcantes num
tudo seja perfeito é constante. Para
ambiente que respira informação a todo
entender seu funcionamento, a equi-
instante. A cada momento surgia uma
pe da revista Plural acompanhou a
surpresa; afinal, em 20 minutos tudo
rotina da emissora por 24 horas.
pode mudar.
Boechat e Barão em momento de descontração no estúdio
Eduardo Barão se prepara para anunciar as manchetes do jornal
10h-12h
inclusos em toda a programação. Com
A nossa chegada à BandNews, já na
a saída de José Serra, nos acomodamos
metade da manhã, às 10h, pareceu atra-
no estúdio e o dia começou para nós.
palhar a movimentação do ambiente,
Ao meio-dia o clima voltou a ficar
tumultuado pela presença do então can-
tenso. Durante o noticiário das 12h os
didato à prefeitura de São Paulo José
estúdios ficaram sem energia. Os locu-
Serra. Estávamos na semana que prece-
tores e radialistas que estavam traba-
dia as eleições, e Serra dava uma entre-
lhando do lado de fora imediatamente
vista de última hora.
entraram para desligar as quatro tele-
Marília Juste, chefe de criação e pro-
visões que ficam ligadas dia e noite,
gramação, foi quem recebeu a Plural
mudas, em vários canais noticiosos,
em meio ao caos matutino. A entrevis-
para evitar que queimassem. Foram
ta já chegava perto do fim quando fomos
apenas dois minutos sem luz, mas, na
apresentadas ao ambiente da rádio, e as
rádio, dois minutos são preciosos: equi-
coisas começavam a se acalmar. Logo
valem ao tempo de uma matéria inteira.
de cara percebemos que estaríamos
Graças a um gerador próprio, durante esse curto
dinamismo
20
minutos é o tempo de duração de cada jornal. O slogan da emissora é um reflexo da realidade da rádio: “Em 20 minutos tudo pode mudar”.
período sem luz a rádio não saiu do ar, e a radialista que estava transmitindo as notícias não parou seu trabalho nem por um instante.
12h-14h
22/23
O programa “É Brasil Que Não Acaba Mais”, veiculado todos os sábados às 13h, com reprises ao longo da semana, é comandado por Maiara Bastianello e Marcelo Duarte. Durante a visita pudemos ver a gravação – para a nossa surpresa, o programa não é transmitido ao vivo. Ao contrário do que fazem parecer, os convidados não ficam na linha em contato com os apresentadores durante o programa inteiro, pois os locutores o gravam em fragmentos. Uma vez que todas as partes do programa já estão gravadas, a própria jornalista se encarrega de editar tudo.
No horário nobre da manhã, às 7h, a redação já está cheia
Maiara deu à convidada uma lista de três virais brasileiros famosos e pediu para que ela os citasse durante a participação como se tivessem sido escolhidos por ela mesma. “Nada se cria, tudo
das 17h às 19h. O programa conta com a
se programa”, brincou a apresentadora.
participação de convidados que perma-
O relógio se aproximava das 13h30
necem o tempo todo no estúdio. Tudo
quando fomos convidados a acompa-
acontece ao vivo, com a participação dos
nhar a apuração de uma pauta fora
ouvintes, que comentam e questionam
da rádio. Acompanhamos a jornalista
os entrevistados.
cronômetro
Maria Teresa Cruz na busca por informações sobre uma nova avenida no
19h-2h
bairro do Morumbi que foi pavimenta-
Às 19h30, a equipe esportiva que
da com árvores no meio da rua, literal-
transmitiria o jogo entre Brasil e Argen-
mente. A profissional, além de apurar,
tina já estava a postos para a narração,
também edita e grava a matéria – e até
que começaria às 22h – a transmissão
mesmo dirigiu o carro de reportagem.
foi aberta por volta de 21h20.
14h-19h
Centenário, na Argentina, a equipe da
No retorno à emissora, por volta das
rádio teve de improvisar. Das 21h20 às
16h30min, fomos apresentados a quase
23h20, enquanto aguardavam uma defi-
todos os funcionários do turno e, logo
nição sobre o cancelamento do jogo, os
em seguida, voltamos ao estúdio para
locutores tiveram de preencher a pro-
acompanhar o programa Alta Frequ-
gramação com comentários e notícias
ência, que acontece de segunda a sexta
sobre as eleições americanas, o apagão
Graças a uma queda de luz no Estádio
» Ricardo Boechat, âncora do jornal da manhã da Band News FM, é o único jornalista da casa com a liberdade de ultrapassar o horário pré-definido de seu programa. Cada minuto na rádio é valioso e controlado com precisão.
“Não podemos ter essa margem de erro”, cobrou Boechat da Redação ao perceber informações desencontradas no jornal têm 20 minutos, o que explica o slogan da rádio: “em 20 minutos, tudo pode mudar”. Além disso, ele comenta que a BandNews é a única rádio em que ele trabalhou na qual o controle da mesa é feito pelos próprios locutores. Faltava pouco para as 5h quando Érico Oyama chegou à rádio. Ele é responsável pelas manchetes do jornal local e também pelo jornal ancorado por Ricardo Boechat, transmitido em rede nacional das 7h às 9h.
6h-10h Por volta das 6h, Olivares deixou a redação após apresentar o primeiro jornal do dia. Logo mais, às 6h19min, é transmitido o primeiro comercial na rádio – a programação da madrugada não tem inserções comerciais. Às 7h20min, Ricardo Boechat, principal âncora da rádio, chega à emissora. Nesse momento, o estúdio tem seu horário de maior movimentação, com cerca de 14 pessoas, entre locutores, técnicos e jornalistas na redação.
Locutora também opera a mesa de som, pela qual é transmitida a informação; ao lado, as manchetes do primeiro jornal, que ficam prontas às 5h | fotos ana beatriz resende
ocorrido no Brasil e outras, com muito
Um incêndio na av. Marquês de São
jogo de cintura. “Vocês são ‘pé frio’,
Vicente é noticiado às 8h. Boechat fica
não?”, brincou o comentarista André
nervoso, porque na primeira trans-
Coutinho, ao contar que foi a primei-
missão ele disse que o acidente acon-
ra vez que um jogo foi cancelado desde
teceu na av. Norma Pieruccinni Gia-
que a rádio passou a transmitir futebol.
notti (continuação da Marquês), e, na segunda transmissão, falou em Mar-
2h-6h
quês de São Vicente. Os dois nomes esta-
Só há duas pessoas na redação, Elaine
vam corretos, mas o âncora achou que
Silva, editora, e Marcos Olivares, jor-
fossem lugares diferentes, e que a con-
nalista e locutor da madrugada. Elai-
fusão prejudicaria a sua credibilidade.
ne não para um minuto; faz as man-
Irritou-se com a confusão: “Não pode-
chetes e fica de olho nas atualizações
mos ter essa margem de erro”, cobrou
de órgãos como a Polícia Militar e o
da Redação, incisivo.
Corpo de Bombeiros. Ela se encarrega
O programa de Boechat tinha previ-
de todas as manchetes para o primeiro
são de término para as 9h, porém aca-
jornal da manhã.
bou às 9h37. Segundo a redação, ele é o
Olivares explica que a BandNews FM tem um formato padronizado, come-
único jornalista da rádio que pode ter esse atraso.
çando com as notícias e terminando
Outro dia começava. De igual, só o
com um colunista. Todos os jornais
ritmo, frenético, e a busca por notícias.
p
perfil: landell de moura
Giovanna Mazzeo, segundo semestre
»»»Em setembro de 2012 o Brasil comemorou 90 anos de rádio e os brasileiros festejaram a invenção do padre e cientista brasileiro Roberto
24/25
Landell de Moura. Mas demorou bas-
o rádio é nosso
tante para o reconhecimento de Landell, pois o mérito dessa invenção, por muitos anos, ficou para o físico italiano Guglielmo Marconi, presente em grande parte da bibliografia sobre o tema como inventor do rádio.
Padre e cientista, chamado de “bruxo” pelos que viam misticismo em suas experiências, o brasileiro Roberto Landell de Moura é o verdadeiro pioneiro na transmissão de voz por ondas eletromagnéticas
Landell foi pioneiro na transmissão à distância, sem fios, da voz humana por meio das ondas eletromagnéticas. “Ter feito a primeira transmissão de rádio no mundo fez com que ele fosse considerado patrono dos radioamadores do Brasil e o pai brasileiro do rádio”, declara o pesquisador Hamilton Almeida. Já Marconi conseguiu a transmissão de sinais telegráficos, sem fios, em código Morse, denominada radiotelegrafia. Apesar de pouco conhecido, Landell construiu equipamentos de rádio que foram patenteados em 1901 no Brasil e em 1904 nos Estados Unidos. Esses aparelhos possibilitaram que ele transmitisse a voz humana por meio de ondas e suas experiências iniciaram entre 1892 e 1893 em Campinas e em São Paulo. bruxo As autoridades brasileiras da época não reconheciam o trabalho de Landel. O jornal “La Voz de España”, que era editado em São Paulo, em 1900 publicou: “quantas e que amargas decepções experimentou padre Landell ao ver que o governo e a imprensa de seu país, em lugar de o alentarem com aplauso, incentivando-o a prosseguir na carreira triunfal, fez pouco ou nenhum caso de seus notáveis inventos”. Quando morava em Campinas, Landell teve a porta de sua paróquia
O padre gaúcho Roberto Landell de Moura |
foto reprodução
em Campinas, Landell teve sua paróquia invadida e seu laboratório destruído. A população o acusava de “herege”
arrebentada e seus instrumentos e
inventos que revolucionariam a comu-
janeiro de 1861 em Porto Alegre. Seus
laboratório destruídos. A população da
nicação. O assistente do presidente,
pais, Inácio José Ferreira de Moura e
época o acusava de “herege”, “impos-
assim como muitos, preferiu interpre-
Sara Mariana Landell de Moura, eram
tor”, “bruxo”, “louco” e “feiticeiro peri-
tá-lo como louco e negou os pedidos.
descendentes de tradicionais famílias
goso” por causa de seus experimentos,
Landell não conseguiu nenhum tipo
do Rio Grande do Sul. Estudou em sua
principalmente a transmissão de voz
de financiamento para continuar as
cidade natal e no Colégio dos Jesuítas,
que aconteceu em São Paulo.
suas pesquisas nem para construir
em São Leopoldo.
Frustrado, foi morar por três anos nos
equipamentos de rádio em escala indus-
Aos 18 anos, em 1879, foi para o Rio
Estados Unidos e, ao voltar para o Bra-
trial Problemas com a Igreja que fize-
de Janeiro e cursou a Escola Politécni-
sil, em 1905, enviou uma carta para o
ram com que ele fosse transferido para
ca. Poucos anos depois se mudou para
então presidente Rodrigues Alves. Na
lugares sem energia elétrica, dificultan-
Roma com seu irmão, que o convenceu
carta, solicitava dois navios da esqua-
do suas pesquisas.
a seguir a carreira sacerdotal. Lá, fre-
dra de guerra para demonstrar os seus
Landell de Moura nasceu no dia 21 de
quentou o Colégio Pio Americano e, logo depois, na Universidade Gregoriana, estudou física, eletricidade e química. Em 1886, formou-se em teologia e foi ordenado sacerdote. Ao voltar para o Brasil, instalou-se no Rio de Janeiro, onde celebrou sua primeira missa na Igreja do Outeiro da Glória. O imperador Dom Pedro II e sua corte estavam presentes. Nos anos seguintes, atuou em paróquias no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Como autodidata, chegou a realizar experiências públicas na cidade de São Paulo, no fim do século XIX. Viveu modestamente em Porto Alegre até morrer em 30 de junho de 1928. Faleceu de tuberculose aos 67 anos no hospital Beneficência Portuguesa. Herói No dia 21 de janeiro de 2011 foram comemorados os 150 anos do nascimento de Landell. A ocasião, que relembrou a importância do cientista, possibilitou que o nome dele entrasse para o livro dos Heróis da Pátria. A Lei foi sancionada em 27 de abril de 2012 pela Presidência da República. O livro destina-se ao registro perpétuo de nomes de brasileiros ou de grupos de brasileiros que tenham oferecido a vida à pátria, para sua defesa e construção, com dedicação e heroísmo. A distinção só pode ser concedida no mínimo 50 anos depois da
Patente do “telégrafo sem fio”, em nome de Landell |
foto reprodução
morte do homenageado.
“Amo trabalhar aqui. É ilegal, mas somos uma família. todos se conhecem”, afirma João Manuel, locutor dE uma rádio pirata encontramos na estação da Mooca.
rádio pirata com rádio comunitária
Igual a uma rádio normal, ela apresen-
(Verificar box ao lado).
ta estúdio de gravação, equipamentos
A fiscalização das rádios piratas é
de ponta, um ambiente grande e arru-
feita pela Anatel (Agência Nacional de
mado e tem até secretária.
Telecomunicações). Por meio de denún-
“A rádio pirata funciona como qual-
cias anônimas ou pessoas infiltradas,
quer outra rádio, mas os lucros são
o órgão descobre uma possível rádio
maiores”, diz João. O fato de a rádio
pirata. Os agentes de fiscalização vão
não pagar impostos e de os funcioná-
até a região e verificam se a frequência
rios não possuírem carteira assinada
é clandestina ou não. Em caso positi-
diminui as despesas, logo, a margem
vo, eles entram na rádio, interrompem
de lucro é maior. Alguns funcionários
a transmissão, apreendem os equipa-
chegam a receber mais do que o piso
mentos e a rádio é fechada.
o que é rádio comunitária?
Também se engana quem pensa que
o maior número de rádios piratas. Nos
a qualidade do som é muito inferior. Os
anos anteriores, São Paulo liderava. É
próprios ouvintes dizem não perceber
impossível saber quantas rádios piratas
que a Rádio Gospel Jeová é pirata. “ Não
existem atualmente, o único dado docu-
me incomodo de ouvir uma rádio pirata,
mentado diz respeito a rádios fechadas.
na verdade eu não sei quando a rádio é
Em 2005 a Anatel fechou 1.543 rádios
pirata ou não”, diz Lucas Colisse. Para
irregulares, e em 2012, foram 478. A
ele o sinal dessa rádio é igual ao de todas
queda drástica, segundo a Anatel, é
» Pequenas estações de rádio com participação de comunidades, dedicadas a um público local. » Deve ter alcance limitado, no máximo, um quilômetro a partir de sua antena transmissora. » Não apresenta fins lucrativos » Não pode ser ligada a nenhum partido político » Não apresenta propaganda comercial, com exceção de apoio cultural » Não pode emitir programação de outra emissora » As rádios comunitárias só podem ser abertas por brasileiros maiores de 18 anos e que moram na comunidade do local.
as outras.
uma tendência por causa da migração
Fonte Abert
salarial da categoria, que hoje é de R$
Segundo a Abert (Associação Brasilei-
1.050. João Manuel diz receber três
ra de Emissoras de Rádio e Televisão),
vezes mais do que se fosse locutor em
manter uma rádio pirata é crime previs-
uma rádio oficial. “Não pretendo sair
to na Lei 9.472/97, artigo 183, com pena
daqui, ganho muito bem e faço o que eu
de detenção e multa. O Código Penal
gosto, se estivesse em outra rádio pro-
também prevê o delito em seu artigo 336.
vavelmente ganharia menos e não teria o meu espaço.”
Para escapar da fiscalização, conta
De acordo com a Anatel, nos anos de 2011 e 2012 o Estado de Minas Gerais teve
do rádio para a internet.
João Manuel, a emissora chega a cor-
De acordo com a Abert, as piratas
tar o sinal durante a veiculação da pro-
prejudicam as transmissões de rádios
paganda eleitoral gratuita – assim, não
legais, pois “reduzem suas áreas de atu-
levanta suspeitas por estar emitindo
ação e influenciam na audiência dessas
com a programação normal no ar.
estações”. “Essa operação clandestina também oferece riscos a toda a socieda-
História
de, pela interferência que provoca nos
As rádios piratas surgiram na Ingla-
serviços de comunicação de aviação,
terra na década de 1960. O objetivo era
dos táxis, da polícia e de ambulâncias.”
fazer oposição ao governo conservador
O sistema de aviação acaba sendo o
inglês. A primeira rádio pirata, deno-
mais prejudicado, pois “quando uma
minada “Caroline”, era um espaço de
rádio não outorgada interfere no Ser-
resistência.
viço Móvel Aeronáutico (SMA), afeta a
Atualmente, as rádios piratas existem por outra razão: o lucro. É importante que não se confunda
operação de aeroportos, colocando em risco a segurança dos voos”, afirma a Anatel.
*Nomes trocados a pedido dos entrevistados.
28/29
O amor nas ondas do rádio Além de informar e entreter, o meio é usado também para reunir casais apaixonados – ou mesmo para aproximar desconhecidos em busca de um par
Mariana Benvenido, terceiro semestre Taís Godói, terceiro semestre
»»»Do matemático Blaise Pascal (“o coração tem razões que a própria razão desconhece”) ao físico Albert Einstein (“como a ciência poderia explicar um fenômeno tão importante como o amor?”), todas as maiores mentes da humanidade se declararam impotentes frente aos mistérios e caprichos da paixão. No rádio, um dos meios de comunicação mais populares e democráticos que existem, os mistérios do amor rendem
sobre eles nas páginas 28/29].
“Psychology of Music” comprovou que
Fernando Borges é radialista do pro-
canções românticas deixam as pessoas
grama Paquera Nativa, da rádio Nativa
mais favoráveis a desenvolverem rela-
Antigamente, a presença de progra-
RJ, que promove o encontro de casais
cionamentos.
mas radiofônicos que promoviam o
por meio do rádio. Homens e mulhe-
Ou seja, ao ouvirem músicas bem
encontro de casais era mais comum.
res se inscrevem em busca de sua alma
românticas as pessoas são motivadas e
Emissoras promoviam o encontro de
gêmea, e em seguida a equipe da rádio
influenciadas pelas canções e se permi-
pessoas que não se conheciam. Hoje pro-
tenta combinar perfis semelhantes.
tem um envolvimento maior.
gramas como esses são mais raros, uma
“Pessoas de todos os tipos se inscrevem
O resultado do estudo mostrou que
vez que a internet substituiu em parte o
no programa, mas mais especificamente
52% das mulheres, após ouvirem músi-
rádio nesse papel. Ainda assim é possí-
as mais carentes”, afirma Borges.
cas de amor, passaram seu número de
audiência e unem casais.
vel encontrar em pleno século 21 decla-
Que músicas marcam grandes pai-
rações de amor nas ondas do rádio, como
xões para o resto da vida também não
aconteceu com o casal Mariana Camargo
é nenhuma novidade. O fenômeno
No Paquera Nativa as pessoas pro-
e Guilherme Bandeira e Maria de Lour-
até ganhou ares científicos: pesquisa
curam normalmente uma relação
des Matos e João Tomazeli [leia mais
publicada em junho de 2010 na revista
mais duradoura, que não conseguem
telefone para desconhecidos ao serem paqueradas.
eu não fosse romântico não conseguiria ser verdadeiro no ar”, afirma Borges. Questões do amor mexem com a psique do homem, e quando não se conhece a pessoa a imaginação flui. A pessoa passa a se apaixonar pela sua fantasia, e não por quem está do outro lado. É o que explica a psicóloga Patrícia Oliveira. Para ela, amor no rádio é um caso de amor platônico. “Uma pessoa que se apaixona por alguém pelo rádio, na verdade se apaixonou pelo que a voz do outro foi capaz de fazê-la sonhar e não pela pessoa em si”, afirma Patrícia. Nesses casos o que vale é o carisma da pessoa. “Se tiver um bom papo, saber conversar sobre tudo, será bem mais fácil de agradar”, conta Patrícia. Para ela, por não haver um contato direto com o outro, são os detalhes do que se está falando que vão despertar interesse. A beleza fica em segundo plano, o que importa é o que e como se fala. Ela ressalta que a mentira é um fator muito comum em casos como esses. “Veículos de comunicação permitem que as pessoas expressem aquilo que elas gostariam de ser”, diz a psicóloga. De acordo com Patrícia, a mulher tem mais facilidaIlustração José Wallison
de de se envolver em um relacionamento assim. Isso ocorre porque a natureza feminina é mais sonhadora.
encontrar pessoalmente. Algumas delas
Nativa e irá se casar com o amado. “Par-
são tímidas e preferem um amor platô-
ticipei do paquera e agora estou amando
Hoje em dia os encontros promovidos
nico. Muitos dos participantes retornam
e vou até me casar. Estou muito feliz! Foi
pelo rádio foram substituídos pela inter-
para a rádio para agradecer por terem
através de uma amiga que me cadastrei
net. Em pleno século 21 os chats promo-
encontrado a metade da laranja, afirma
e consegui arrumar uma pessoa mara-
vem encontros de casais. Existem salas
o radialista.
vilhosa”, escreveu Valéria no mural de
específicas, divididas por idade, interes-
recados do site da Nativa.
ses, regiões. Assim como no rádio, quem
O programa vai ao ar de segunda a sexta das 20h às 22h e já promoveu o
Um aspecto importante é a trilha sono-
participa desses chats busca sua alma
encontro de casais do mundo inteiro. “As
ra, que faz com que os participantes se
gêmea e também pode mentir. A dife-
pessoas buscam o amor, fazem declara-
sintam à vontade. Segundo Borges, os
rença é o trabalho com a imagem: existe
ções e eu me sinto muito feliz em mediar
cantores mais pedidos são Marisa Monte,
a possibilidade de colocar fotos e vídeos e
esses encontros”, diz Borges, que é uma
Thiaguinho, Paula Fernandes e Victor e
com isso conhecer melhor o outro. “Acho
espécie de cupido moderno dos apaixo-
Leo. Tanto homens como mulheres escu-
que a internet não tem o mesmo roman-
nados.
tam o programa e têm vontade de parti-
tismo do rádio, porém ela funciona sim
Valéria dos Santos Bispo conheceu
cipar. Para o radialista o romantismo é
como forma de promover o encontro de
Cristiano Guedes pelo programa Paquera
a chave para o sucesso de audiência. “Se
futuros casais”, opina Borges
Hoje os encontros via pelo rádio foram substituídos pela internet. é nos chats virtuais que os tímidos buscam um par
30/31
Foto Taís Godói
Era hora do intervalo, e a ex-aluna do colégio Liceu Coração de Jesus Mariana Camargo, hoje com 20 anos,
com: Quer namorar comigo?
que nunca havia namorado, muito
cabeça, seria um jeito mais difícil para
menos recebido uma declaração de
ela dizer não”, afirma Guilherme.
amor publicamente, não imaginava
Após Mariana finalmente aceitar o
que o então colega de classe Guilher-
pedido começaram a namorar, e estão
me Bandeira, 20 anos, estava prestes a
juntos até hoje. “De certa maneira, ele
surpreendê-la.
estava certo, pois depois que ele falou
“Eu desconfiava que ela também gostava de mim, então preferi me declarar pela rádio, que, na minha
lo das aulas acontecia no colégio a
ram tocadas e me pressionaram a acei-
transmissão da rádio dos alunos,
tar. Não que eu não gostasse dele, por-
que tocavam as músicas mais pedi-
que eu gostava, mas estava em dúvida
das, anúncios da direção e declara-
já que nunca tinha namorado”, com-
Eu desconfiava que ela também gostava de mim, então preferi me declarar pela rádio
ções românticas, que, por sinal, foram
plementa Mariana.
Guilherme Bandeira
Todos os dias, durante o interva-
introduzidas pelo casal. Guilherme, então com 17 anos, usou o rádio para esconder a timidez de ficar cara a cara com Mariana e também não usou muitas palavras para atingir seu objetivo. Preferiu tocar a música Beauty and the Beasty, de Celine Dion, e finalizar
na rádio, todas as minhas amigas fica-
ao ouvirem músicas românticas as pessoas são motivadas e influenciadas pelas canções e se envolvem mais Foto Acervo Pessoal
Há 54 anos Maria Lourdes Matos casou-se com João Tomazeli, e o amor do casal só aconteceu por causa do rádio.
ela ouviu no rádio sobre um baile de
Na época, existia um programa de
que estava tocando.”
marcar encontros pelo rádio. “A gente
casamento que iria acontecer em um sítio. “Eu ouvi pelo rádio sobre o baile, fui lá e conheci meu [futuro] marido, João era músico, cantava em uma
Maria. Mesmo quando a música ter-
A gente mandava recadinho pelo rádio e oferecia música
minou eles continuaram a dançar até
Maria Lourdes Matos
mandava recadinho e oferecia músi-
banda junto com seu irmão. Ele tocava
ca”, diz Lourdes, que mandou um
trombone no dia do baile de casamen-
recado para se encontrar com o futuro
to. Quando Tomazeli viu Maria, des-
marido. Ela morava afastada da cidade
ceu do palco e foi falar com ela. Os dois
e foi até a rádio para mandar o recado,
dançaram valsa, a dança preferida de
avisando que queria ver João. Os jovens iam para a rua, as moças andavam de um lado para o outro e os moços permaneciam parados na cal-
começar a próxima música. “Fui nesse baile porque eu ouvi pelo
çada, observando. “João ficava na cal-
rádio e quem estava tocando era ele.
çada, e eu passava em frente”, lem-
Ouvi no rádio que eram os Tomazelis
bra Maria. Ela conta que o programa
que iriam tocar. Depois disso eu nunca
dedicava música e passava os reca-
mais desisti dele.”
dos somente aos sábados e domingos.
Maria Lourdes e João Tomazeli
“Aquele tempo era muito divertido,
vivem juntos até os dias de hoje. Com
era muito bom.”
netos e filhos, ela afirma que sempre
O romance começou de fato quando
foi muito feliz ao lado do marido.
36/37 Sem apoio de gravadoras e sem o pagamento do jabá, bandas têm dificuldade para tocar na rádio |foto Val Thoermer/shutterstock
O preço do sucesso Apesar de não ser proibido, o jabá, espécie de taxa cobrada para que uma música toque na rádio, cria polêmica e compromete a ética do mercado fonográfico
Folha de S.Paulo, André Midani, um dos Ana Beatriz resende, terceiro semestre Ezio Jemma, terceiro semestre
maiores executivos da história da música brasileira, conta histórias sobre rumores
»»»O jabá existe e todo mundo da
da existência do jabá desde a década de
indústria sabe como funciona: é pagar
1970. Ao lançar os Novos Baianos, deixou
para tocar.” A frase, do empresário e
de participar do programa do Chacrinha,
autor do livro “Música Ltda”, Leonardo
porque foi cobrado por isso.“ Achei por
Salazar, traz à tona uma das maiores
bem denunciar. Disse à imprensa que
polêmicas da relação entre emissoras
Chacrinha queria cobrar jabaculê. Isso
de rádio e músicos: a cobrança do jabá.
me custou caro. Rádios e outros progra-
Jabá é uma espécie de propina recebi-
mas de TV aderiram à causa e passaram
da pelas rádios para inserir artistas na programação. Em entrevista ao jornal
a cobrar [jabá] também”. Os meios de conhecer e ter acesso a
O jabá existe e todo mundo da indústria sabe como funciona: é pagar para tocar Leonardo Salazar
novas músicas e artistas estão diferen-
conta da relação entre a emissora e as
esse direito de irradiar, que é público,
tes hoje em dia. As novas mídias digitais
gravadoras. “Se de alguma forma ficar
de forma ilegal”.
ampliaram o cenário de divulgação e as
constatado que o consumidor acaba
Álvaro Gonzaga, que é filósofo e pro-
bandas têm a oportunidade de alcançar
sendo ludibriado, até pode haver algu-
fessor de direito na PUC-SP, comenta
possíveis ouvintes de formas diferentes
ma condenação na Justiça. Mas, since-
que, se algo é pago para entrar na pro-
das rádios. Segundo o produtor musical
ramente, como advogado, acho muito
gramação, vira publicidade. “Se você
Horácio Silveira, “o mercado fonográ-
difícil provar que isso acontece”, relata.
cobrar para uma música entrar na rádio
fico está passando por transformações
O advogado diz que os críticos do jabá
e não avisar o ouvinte, isso acaba se tor-
significativas. Acho que surgirão novas
defendem que as rádios funcionam ape-
nando antiético. Ético seria se você colo-
maneiras via internet para ditar o que
nas com concessão pública, ou seja, o
casse essa música na rádio avisando que
deve ser executado nas rádios”.
direito de transmissão da rádio é dov
ela só está na programação porque foi
governo federal. Portanto, se algum
paga. Afinal, quando se tem publicidade
LEI
órgão cobrar para que sua música seja
no rádio eles logo dizem: ‘’Agora vamos
Não existe uma lei no Brasil específica
tocada, sem informar aos ouvintes, ele
para os nossos comerciais’”.
contra jabá, mas um projeto de lei tra-
perde seu caráter público. “O Governo
mita no Congresso desde 2003.
autoriza empresas particulares a explo-
Vida de músico
Segundo o advogado Evandro Grilli,
rar este direito de fazer funcionar uma
Leo Richter é músico e foi integrante do
para o jabá ser considerado ilegal, uma
rádio, divulgar uma programação musi-
grupo Twister, que fez muito sucesso
hipótese remota, o ouvinte teria de afir-
cal etc. Na medida em que alguém paga
nos anos 2000. “Nós sempre tivemos
mar que foi pressionado a ouvir deter-
para que uma rádio possa tocar músi-
uma boa relação com as rádios, mas
minada música na programação, por
cas de seu interesse, estariam usando
para estar na programação na maioria
“Se você cobrar para uma música entrar na rádio e não avisar o ouvinte, isso acaba se tornando antiético.” delas você tem que fazer promoções e shows gratuitos para as emissoras. Dificilmente você vai tocar na programação só pelo fato de a música ser boa. Tem que ter investimento. Então, depois de um tempo, a música faz sucesso”, diz. Com o fim do grupo, ele fundou a
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banda La Madre, e comenta que dificilmente uma banda de rock entra na programação das rádios hoje em dia. “A La Madre, por ser mais rock, não tem muito espaço para tocar na rádio. Com meu CD solo, que é mais pop, eu cheguei a fazer muitas rádios no Sul sem jabá, porém se toca muito pouco, se quiser tocar mais vezes tem que pagar, não tem outro caminho”, completa. Leo ainda diz que o jabá fez com que Ilustração José Wallison
os artistas perdessem o amor pela arte, e que os músicos se preocupam
Para se destacar, rádios apostam em nichos
mais com quanto vão investir do que realmente com a qualidade da música. “Certamente se os artistas voltassem
»»»A segmentação de rádio começou
Unidos tenham mais rádios seg-
a acreditar em sua própria essência e
no exterior e chegou ao Brasil no iní-
mentadas, porém, vê “mercado a
deixassem de fazer‘modinha’, a quali-
cio da década de 90, mais de trinta
ser explorado” no Brasil. “Resta aos
dade da obra seria diferente e a cabe-
anos depois da chegada do FM.
meios de comunicação ousar, como
ça do público mudaria também”, opina
se faz por aqui, e, aos anunciantes,
o músico.
Felipe Bueno, diretor de conteúdo da rádio SulAmérica Trânsito,
acreditar em projetos que fujam do
listou as diferenças entre as rádios
convencional.”
segmentadas e as rádios normais. “A
“Evidentemente uma rádio assim
proposta editorial/artística e o públi-
vai atingir um público limitado,
co-alvo, tanto em termos de volume
dependendo de sua proposta artís-
quanto em termos de perfil, são as
tica. Além disso, se for customiza-
principais.”
da e levar o nome de uma empre-
Segundo a autora do Livro “90 anos do rádio no Brasil”, Magaly Prado,
sa, o mercado, no setor da marca em questão, fica naturalmente fecha-
segmentações por classe social, por
do. Tivemos sucesso na SulAméri-
faixa etária e por gênero são as mais
ca Trânsito ao criar alguns mode-
comuns. Quando comparado aos Esta-
los de entrega comercial não usuais
dos Unidos, o Brasil tem bem menos
em rádios tradicionais, já que somos
rádios segmentadas. O dial americano
uma rádio que conversa diretamen-
tem mais de 100 FMs, enquanto o Bra-
te com quem está na rua. Exemplo:
sil tem em torno de 30.
com as restrições da lei municipal à
Bueno acredita que as dimensões
propaganda por outdoor, passamos a
econômicas e a tradição são os moti-
fazer esse papel de ‘outdoor falado’”,
vos que fazem com que os Estados
completa. GIOVANNA MAZZEO