no feminino
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PONTOS DE VISTA NO FEMININO
É TEMPO DE CELEBRAR A LIDERANÇA DAS MULHERES
Vamos por partes, a Liderança assume-se como um conceito que assenta em diversos pilares, que é como quem diz, várias definições, embora o «trajeto» mais comum desta conceção assente na simples expressão, «Liderança é a capacidade que temos para motivar e influenciar as pessoas de uma forma positiva em prol de algo».
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ste domínio de uma Liderança de estilo positivo assenta numa dinâmica que é vista no seio das organizações como absolutamente necessária, até porque as mesmas são constituídas por pessoas, sendo que a grande metodologia nesse habitat assenta na capacidade de liderança. Quem nunca ouviu dizer que o estilo de Liderança entre Mulheres e Homens é completamente distinto? Provavelmente até é, mas só se pode comprovar isso mesmo se assumirmos essa função, que é como quem diz, que lhes seja dada, a elas, essa oportunidade. A partir daqui surge a denominada Liderança no Feminino. Sim, Elas hoje têm uma maior preponderância nas organizações. Assumiram a conquista de um espaço no mercado do trabalho e hoje a presença das Mulheres no seio das organizações começa a ser um panorama cada vez mais evidente e assim começa a surgir um novo modelo de gestão Feminina.
APESAR DE TUDO… UM LONGO CAMINHO A PERCORRER
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Que as Mulheres começam a assumir um lugar de maior relevância no universo empresarial disso não existem dúvidas, mas… o que ainda falta? Os números, as chamadas estatísticas são reveladoras e transparentes de um cenário que nos transporta até para um patamar de alguma discriminação. Porquê? Porque elas conseguem igualar os homens no âmbito da sua formação académica e de gestão laboral, mas continuam a ser olhadas com algum ceticismo, aquela desconfiança
que roça a inveja, e continuam a não ser recompensadas devidamente e a ter dificuldades em ascender a cargos de topo. Sobre se uma Mulher é capaz de ser melhor a liderar que um Homem. Não existem factos que comprovem isso, mas que são capazes do melhor, lá isso são. A verdade é que quando elas lá chegam, conseguem de facto provar os seus dotes e capacidades e afirmar a sua Liderança num trabalho competente, rigoroso e eficaz. Os ambientes organizacionais mudaram, sendo que as mutações ao nível de lideranças acompanharam esses novos paradigmas, onde as Mulheres assumem um papel vital. As empresas são pessoas e as pessoas fazem as empresas, logo é vital que exista uma capacidade de proximidade vincada e acentuada na relação que o topo de uma empresa perpetua perante os recursos humanos. E salvo algumas exceções, todos sabemos que uma Mulher consegue ter uma maior sensibilidade no momento de lidar com as vicissitudes comuns do ser humano, tao repleto de emoções. Que não subsistam dúvidas, as Mulheres e a sua Liderança assumem, sem dúvida, um fator diferencial competitivo para as empresas e não é «apenas» pela capacidade de lidar com as pessoas. Parece que paira uma nova dinâmica no ar. A chamada constante superação que elas assumiram. Uma espécie de pacto de alguém que além de ter assumido sempre a sua jornada no seio do ambiente familiar, hoje também o quer fazer no seio empresarial. E estão a fazê-lo… as Mulheres fazem-no. Provavelmente não no ritmo desejado, mas paulatinamente e de uma forma compassa-
da as Mulheres vão conquistando o seu espaço e assumem sem medos a vontade de superar qualquer desafio. As Mulheres não são fracas, não são mais pequenas e não são menos inteligentes. Elas conseguiram desenvolver as suas capacidades para a Liderança e diariamente o provam, demonstrando que são capazes, como os homens, de realizar qualquer função/tarefa, provando assim a sua capacidade e competência.
ELAS PROVAM O CONTRÁRIO!
Esqueçam o tempo em que elas eram «somente» esposas, mães e donas de casa. Isso acabou e ainda bem. Elas hoje são independentes e competentes, assim lhes seja dada a oportunidade de provar que merecem o cargo que ocupam. Temos de afastar esta matriz cultural, onde o estilo de gestão masculino é mais premiado. A ideia não é discutir se uma Liderança feminina é melhor que uma Liderança no Masculino. Com isso iriamos enveredar por um rumo repleto de lugares comuns que em nada fomentam a positividade desta «discussão». Acabemos de vez com estes labirintos complexos e que se permita que o número de oportunidades seja semelhante para os dois géneros, rompendo de vez contra os vestígios de preconceitos sobre as Mulheres. É importante quebrar conceitos. Romper preconceitos. Abalar ideias pré-definidas. Derrubar a pequenez e a mesquinhez que continua a assaltar o Ser Mulher num país e num mundo onde está instaurado que os Homens é que devem mandar. Elas provam o contrário! ▪
FICHA TÉCNICA
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Editorial A Revista Pontos de Vista apresenta-se como uma publicação editada pela empresa de comunicação empresarial Horizonte de Palavras, sendo de frequência mensal, assume-se como um meio de comunicação que pretende elevar as potencialidades do tecido empresarial em Portugal. Assumimos o compromisso de promover paradigmas práticos e autênticos do que de melhor existe em Portugal, contribuindo decisivamente para a sua vasta difusão.
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“SOMOS TODOS SERES ÚNICOS E DE EXCEÇÃO” “Tenho como propósito de vida gerar O Efeito Borboleta na sociedade levando a mudança para a sociedade através do meu trabalho nas organizações”, afirma Cristina Maldonado, Diretora Geral da Leader2Be, que em entrevista à Revista Pontos de Vista abordou um pouco mais do seu percurso profissional e de como uma Mulher vê o mundo empresarial e profissional.
"SOMOS PERFEITOS NA DIMENSÃO DA NOSSA IMPERFEIÇÃO"
Cristina trabalha enquanto formadora internacional especializada em comportamento organizacional e desenvolvimento, gestão e administração, liderança e habilidades de comunicação há mais de 20 anos. Fale-nos um pouco sobre o seu trabalho. Sou consultora internacional em Desenvolvimento Organizacional e Liderança, baseada em Moçambique há seis anos. Trabalho com e para pessoas há mais de 20 anos, e é essa a minha paixão de vida. Comecei a dar formação no ensino técnico profissional, com 22 anos. Desde então, trabalho na área de desenvolvimento humano. Hoje em dia, faço projetos de Cultura Organizacional e Desenvolvimento de Liderança em organizações nas áreas da Banca, do Oil & gás e outras. Ao longo da minha carreira, que começou na área de Marketing e Comunicação, investi sempre muito na minha formação académica e profissional. Acredito que a formação contínua é a base de crescimento de qualquer profissional, pelo que, independentemente da nossa idade e estágio de vida, deve fazer sempre parte do nosso percurso. Nunca é tarde para aprender. Tenho como propósito de vida gerar O Efeito Borboleta na sociedade levando a mudança para a sociedade através do meu trabalho nas organizações. Ao longo desses 20 anos com certeza que houve episódios que a marcaram. Que história lhe ficou na memória e porquê? A líder que, depois de um workshop de comunicação com a sua equipa, onde se promoveu o feedback aberto e honesto sobre os comportamentos da equipa, usou esse mesmo feedback para penalizar os seus colaboradores nas avaliações intermédias. Um líder deve saber dar e receber feedback sobre si próprio, como sendo a única forma de melhorar e de trabalhar em equipa. O que considera que é mais difícil no exercício de liderar pessoas? O mais complexo é lidar com as emoções das pessoas e ensiná-las a gerir a sua inteligência emocional. As emoções são a base de todos os nossos comportamentos e atitudes. Movem o ser humano no sentido positivo ou negativo e condicionam os nossos resultados em termos de desempenho e eficácia de vida. Devemos ter sempre presente que “SOMOS TODOS PERFEITOS NA DIMENSÃO DA NOSSA IMPERFEIÇÃO”. Aceitar as nossas imperfeições e abraçar a diversidade, recebendo o que cada um tem de bom para contribuir para os destinos das organizações.
Daquilo que tem vindo a observar ao longo do seu trabalho, quais são as piores práticas que muitas vezes são exercidas nas organizações? As piores práticas estão muitas vezes ligadas à ausência de comunicação de uma visão clara sobre o que se pretende para a Organização e da partilha dos valores e missão da organização. A não aplicação da “Teoria em Ação”, que consiste em praticar o que se advoga em teoria. O exercício errado dos cargos de poder, que leva a que se adotem comportamentos com um impacto negativo na eficácia das equipas. Um líder deve ser carismático, humilde, comunicativo, impulsionar o crescimento dos outros. Na prática, isso não acontece. Promove-se a punição e castigo de erros, o que leva a que se criem regras dentro das regras com medo de falhar. A ausência de feedback positivo e construtivo e incentivo de comportamentos ligados ao exercício do poder. Não se estimula o pensamento crítico e criativo no seio das equipas. A maior parte das vezes, os colaboradores sabem o que a liderança espera deles. Mas os líderes não abrem espaço para saberem o que é esperado de si no exercício desses cargos de liderança. Em 2013 um estudo comprovou que apenas 25 por cento das mulheres em Moçambique ocupavam posições de liderança nos setores privado e público. Passados seis anos, o panorama mudou? Não mudou muito, infelizmente. Na sua opinião, qual é o caminho a percorrer para que se dê uma maior paridade de género? O caminho passa por gerar novas crenças e perspetivas sobre o papel de cada um dos gêneros na sociedade e na família. Empoderar as jovens e desenvolver as suas capacidades de liderança através de programas de capacitação e muita formação. E em simultâneo, empoderar os homens, para que passem a ter um novo olhar sobre as mulheres e sobre si próprios na sociedade, na família e nas organizações. Passa também por mudar a forma como estamos a educar os nossos filhos no que respeita a estas questões. São eles quem, no futuro, podem mudar o estado das coisas e viver com uma maior consciência sobre a equidade dos géneros. Antes de sermos homens e mulheres, somos seres humanos. Com tudo o que isso implica no que respeita aos sonhos e expectativas de vida. E acredito que é esta a nova consciência que deve ser criada nas novas gerações. “SOMOS TODOS SERES ÚNICOS E DE EXCEÇÃO”. É essa unicidade e capacidade de fazermos coisas excecionais que nos deve caracterizar, muito para além do género. ▪
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CRISTINA MALDONADO
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ILHA DE SANTIAGO
DAS PRAIAS E DAS DUNAS AO TURISMO INCLUSIVO E DIVERSIFICADO Marvela Rodrigues, Gerente da PraiaTur - Agência de Viagens e Turismo, é uma mulher de projetos. É uma mulher empreendedora. E é uma mulher de causas. Para Cabo Verde, com o foco na Ilha de Santiago, quer promover o desenvolvimento do turismo. Para as suas gentes quer promover a inclusão, quer promover a sua história e a educação cultural.
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epois de assumir a gerência da PraiaTur - Agência de Viagens e Turismo, há três anos, Marvela Rodrigues começou a trabalhar no sentido de implementar na Ilha de Santiago o que há muito ambicionava e idealizava: um turismo histórico e cultural. Santiago é a maior ilha de Cabo Verde e é conhecida pelas praias e pela cultura crioula portuguesa/africana. É aqui, na Ilha de Santiago, que Marvela sabe que ainda há muito a fazer no que diz respeito ao turismo e que ainda existem muitas valências por explorar. “Santiago não é só praia. Santiago é muito mais. É história e cultura”, diz-nos Marvela Rodrigues. Santiago é uma das ilhas com melhores condições para um turismo inclusivo e diversificado. Santiago, a primeira ilha de Cabo Verde a ser descoberta, em 1460, tem praias, uma cultura rica e muita história para contar. Na IV Edição do Somos Cabo Verde 2018, Marvela Rodrigues foi pré-nomeada na categoria de Turismo pelo trabalho que tem feito no sentido de desenvolver o turismo na Ilha de Santiago, com vários projetos turísticos que têm essa ilha como foco. Falemos do “Projeto Darwin”, a partir do qual desenvolveu o circuito turístico Charles Darwin, evocando a sua passagem por Cabo Verde em 1844. Esse circuito deu origem a um livro da autoria de António Correia e Silva e Zelinda Cohen, “Cabo Verde, o despertar de DARWIN”, que foi lançado em 2017 no Grémio e na BTLFeira de Turismo, em Lisboa, com uma boa aceitação. Em Cabo Verde, foi lançado na presidência da República em Abril do mesmo ano. Este projeto vai ao encontro da forte pesquisa que tem feito para desenvolver um turismo histórico e cultural em Santiago, tendo por base a qualidade e veracidade dos dados. Em Cabo Verde poucas pessoas têm conhecimento da passagem de Charles Darwin pelo país e é este turismo cultural e histórico que Marvela quer promover e desenvolver, quer para os próprios cabo-verdianos quer para quem visita o arquipélago. “Em Cabo Verde temos muito mais para contar”. Para o ano de 2019/2020 este circuito, que precisa de ser requalificado, estará pronto para receber grupos turísticos. Neste ponto questionámos Marvela Rodrigues sobre as vantagens da nova medida que visa cidadãos da União Europeia a estarem isentos de visto para Cabo Verde em 2019. Esta é uma medida que acarreta vantagens para o turismo em Cabo Verde? Já se fez sentir os efeitos desta medida? “Para já ainda não, até porque a emissão do visto não exigia uma burocracia demorada, não sendo, por isso mesmo, um entrave para quem quisesse visitar Cabo Verde. Quanto
MARVELA RODRIGUES
às vantagens desta medida, ainda é cedo para se saber se a isenção de visto trará ou não um aumento do turismo”, diz-nos Marvela Rodrigues. Mas continuemos a falar dos seus projetos. Outro dos projetos em mãos e pronto para arrancar é de cariz sócio educacional. Direcionado para a camada mais jovem, e sabendo que é em criança que se incute valores, Marvela tem já uma parceria com uma escola de Santiago para desenvolver um projeto sobre o turismo nas escolas, desde a pré-primária. O objetivo é ensinar e mostrar aos mais pequenos as mais-valias e as vantagens do turismo para Santiago e para Cabo Verde, e como se pode receber e acolher turistas.
Por outro lado, Marvela Rodrigues também se destaca nos projetos de âmbito social. Tem, igualmente, em carteira, um novo projeto social com mulheres reformadas, visando aproveitar o know-how destas e ajudar jovens mulheres em várias vertentes. Juntamente com outras associações, tem desenvolvido um trabalho junto da comunidade no que diz respeito à inclusão, sobretudo de mulheres. Tem conhecimento que, chegado o momento da reforma ou em casos em que mulheres se ocupam inteiramente das tarefas domésticas, acabam por atravessar situações difíceis ou estados de saúde frágeis. Este projeto, que arranca este ano, servirá para apoiar essas mulheres. Servirá para apoiar as gentes da Ilha de Santiago, não fosse Marvela Rodrigues uma mulher de causas. ▪
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“A VIDA ENSINA-NOS A SABER QUAIS SÃO AS PRIORIDADES” Maria Manuela Cruz Cunha é Professora e Investigadora da Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, e afirma que o que a atrai no que faz é “conhecer, diariamente, talentos com novas motivações que nunca me tinham ocorrido”. Venha connosco conhecê-la. MARIA MANUELA CRUZ CUNHA
Autora e editora de mais de 30 livros e 150 artigos, é, ainda, o rosto e a voz de conferências internacionais na área das tecnologias, uma área ainda muito associada ao sexo masculino. Numa sociedade que impõe limites às mulheres, é fácil conciliar a vida pessoal com uma carreira profissional de sucesso?
Sou da geração de engenheiros informáticos com formação de banda larga. Hoje o paradigma é outro. O curriculum dos cursos tecnológicos é muito mais convergente e as outras áreas do conhecimento dependem da informática para o seu desenvolvimento. Temos de pensar de forma integrada com a humildade de aceitar outros conhecimentos que não passaram por nós. O que me atrai no que faço é conhecer diariamente talentos com novas motivações que nunca me tinham ocorrido. Por isso a troca de ideias é tão fundamental! As conferências em cuja organização participo e os livros que produzo surgiram desta necessidade. Realmente não existem muitas mulheres nesta área. O Fórum Económico Mundial em 2016 salienta o grave problema que isso representa para o crescimento económico sustentável da sociedade, considerando os benefícios que talento, inovação e tecnologia têm como pilares essenciais da Quarta Revolução Industrial. Apenas 30% das mulheres trabalham em tecnologias e a esta escassez acresce o seu persistente desinteresse por esta área. O desafio será mostrar às jovens os novos horizontes da economia digital e o interesse de escolherem carreiras ligadas à ciência, tecnologia engenharia e matemática (STEM) para não ficarem excluídas deste novo modelo económico. Nunca senti limites por ser mulher, mas sei que existem em outros contextos. Quando passei pela indústria, no final dos anos 80, conheci a realidade das mulheres em profissões pouco qualificadas e com salários desiguais. Por sinal, no IPCA a representação feminina na gestão é elevada; a presidência é ocupada por uma mulher e a vice-presidência é atribuída a um homem e a uma mulher. Tenho a sorte de ter uma excelente retaguarda na minha vida pessoal, que me dá liberdade para fazer
aquilo que gosto. Os homens com quem trabalho são cheios de qualidades, altamente competentes, e devo-lhes grande parte dos meus resultados. Tento dividir o tempo entre o trabalho, a família e o lazer. No início da minha carreira o trabalho esteve em primeiro plano, chegando mesmo a estar antes de mim... Mas a vida vai-nos ensinando as prioridades. O IPCA comemora 25 anos de Ensino Superior Público. São 25 anos de…? Somos a mais jovem instituição pública de ensino superior. Hoje temos mais de 4500 estudantes que se dividem por quatro Escolas, em cursos de TeSP, Licenciatura e Mestrado. Em 25 anos o IPCA tornou-se uma referência nacional e tem uma dinâmica importante para o desenvolvimento da região, em grande medida fruto da visão do recém-desaparecido Professor Doutor João Carvalho, que presidiu ao IPCA até 2016. Em particular a Escola Superior de Tecnologia (EST) foi pioneira em cursos como a Engenharia e Desenvolvimento de Jogos Digitais. Que atividades tem previstas ao nível de temas como a transformação digital, indústria 4.0, cibersegurança? O grande desafio da EST é, atualmente, o reconhecimento pela FCT do Laboratório de Inteligência Artificial Aplicada – 2Ai, um centro de investigação que vai albergar as atividades nesses temas. Vamos iniciar uma pós-graduação em Cibersegurança e Informática Forense, organizamos a Semana Industry 4.0, coordenamos a edição de 2019 do International Symposium on Digital Forensic and Security e participo na organização da CENTERIS 2019 a ter lugar na Tunísia em outubro próximo. ▪
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professora e investigadora em Informática na Escola Superior de Tecnologia do IPCA. Quem é a Maria Manuela Cruz Cunha? Estudei Engenharia de Sistemas e Informática na Universidade do Minho (UM) quando um computador ocupava uma sala. No início trabalhei ligada à universidade, mas as empresas e a produção industrial atraíam-me muito, e montei uma empresa informática, fui engenheira numa empresa têxtil, consultora de empresas industriais e gestora de uma organização de interface da UM. O meu doutoramento em Engenharia de Produção e Sistemas foi, por isso, uma escolha natural e fi-lo com um orientador da UM e outro da Universidade de Massachusetts. Era essencial para mim a dimensão internacional (por pouco não fiquei em Boston). Só no final dos anos 90 optei pela vida académica, atraída pela possibilidade de ajudar a construir uma escola de tecnologia numa instituição de ensino superior que se começava a desenhar na região do Cávado e do Ave e por acreditar verdadeiramente no poder das tecnologias para ajudar as pessoas. Nasci em Luanda e vim para Portugal com 10 anos. Por isso gosto tanto do mar e de música com ritmo para dançar. Diz, quem me conhece bem, que sou distraída, que passo horas intermináveis ao computador, mas acham graça ao meu sentido de humor e ao facto de gostar, ainda e sempre, de Fellini e dos clássicos da literatura.
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“NÃO É SÓ TRABALHAR, É ACREDITAR NO QUE FAZEMOS” Desde 2006, ano em que nasce a Cooltra, o crescimento da empresa tem vindo a ser uma constante, tendo chegado à liderança europeia da mobilidade em duas rodas. Almudena del Mar Muñoz Corredor, PR & Communications Manager do Grupo Cooltra para Portugal, Espanha, França e Itália, fala-nos mais sobre o sucesso desta empresa de negócios de scooters.
ALMUDENA MUÑOZ CORREDOR
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Cooltra é uma empresa especializada no aluguer de motas e mobilidade sustentável. Fale-nos um pouco sobre a empresa. A Cooltra é uma empresa nascida em Barcelona no ano de 2006 com o objetivo de fornecer soluções de mobilidade para empresas, indivíduos e instituições públicas. Há uns anos atrás, a Cooltra lançou duas novas empresas dentro do grupo: a eCooltra, empresa de scooters elétricas para utilização por minutos, que atualmente podemos encontrar em Lisboa, e a Ecoscooting, empresa de entregas sustentáveis ao domicilio. Com mais de 15 mil scooters e 700 trabalhadores, a empresa está atualmente presente em seis países (Portugal, Espanha, França, Áustria, Itália e Brasil) e é considerada a líder europeia no seu segmento.
Em Portugal, concretamente, que posição a Cooltra assume atualmente no mercado? A Cooltra instalou-se em Portugal no ano 2016, com o negócio de aluguer de scooters para turismo na cidade de Lisboa. Pouco tempo depois, começamos a desenvolver o ramo de negócios B2B, fornecendo frotas de veículos para empresas. Atualmente, a Cooltra fornece scooters elétricas a empresas como a Domino’s Pizza, em cinco cidades do país. A evolução do negócio no país é contínua e exponencial, sendo um dos mercados de maior sucesso para a empresa de duas rodas. A mobilidade elétrica e a sustentabilidade são, sem dúvida, o foco da Cooltra. A eCooltra e EcoScooting são os primeiros dos muitos projetos neste sentido? A Cooltra lançou as empresas eCooltra e Ecoscooting como um desafio interno voltado para uma nova mobilidade. Ambas as marcas, uma focada no consumidor final e a outra nas empresas, cumprem as premissas de: mobilidade elétrica, sustentável e conectividade. A Cooltra está atualmente a consolidar estas linhas de negócios nas cidades em que opera, mas é claro que haverá mais projetos de diferente índole, todos de carácter sustentável. Almudena del Mar Muñoz Corredor foi nomeada PR & Communications Manager do Grupo Cooltra para Portugal, Espanha, França e Itália. Em que momento da sua vida surge este desafio? Como o encarou? Juntar-me à família Cooltra foi um desafio que apareceu no meu caminho num momento em que eu estava com vontade de mudança. Tinha trabalhado na gestão de projetos de mobilidade, comunidade e sustentabilidade, e quando me falaram na ideia, foi como amor à primeira vista. Na Cooltra têm como principal objetivo alterar a ideia que temos de mobilidade e eu quis juntar-me ao projeto e pôr nele o meu cunho pessoal. Almudena del Mar Muñoz Corredor é apaixonada pela inovação, pelas tendências tecnoló-
gicas, mas também pela cultura empresarial. Que verdadeiros desafios acarreta uma posição de liderança e de gestão de pessoas? Acho importante mencionar que tem havido uma mudança de mentalidade empresarial nos últimos anos, as pessoas querem trabalhar em ambientes dinâmicos, em empresas com projetos apaixonantes e queremos trabalhar todos os dias para aprender algo novo. Não é só trabalhar, é acreditar no que fazemos. Nesse sentido, toda a mentalidade e maneira de fazer as coisas mudou muito, as hierarquias tendem a desaparecer, as barreiras caem, as equipas são cada vez mais multidisciplinares para assim poder partilhar conhecimentos e habilidades, as formas de comunicarmos mudam, agora existem cada vez mais e mais ferramentas para nos conectarmos e para que as relações seja mais próximas, e até mesmo, a disposição de como estamos sentados num escritório. Todos esses pontos interferem muito sobre a gestão do trabalho e penso, portanto, que é essencial, quando se trabalha em equipa. Tem a seu cargo a liderança da estratégia de comunicação da empresa e a afirmação do posicionamento das três marcas do grupo – Cooltra, eCooltra e EcoScooting. Paralelamente à complexidade deste cargo, o facto de ser mulher acrescenta-lhe adversidades? A desigualdade de género é uma realidade para si? Infelizmente, esta é uma pergunta que muitas vezes me perguntam, e tenho certeza de que se fosse um homem, nunca me tinham perguntado. Existem áreas em que o facto de ser mulher é desvantajoso, criticado ou simplesmente não aceite. Este não é o meu caso, trabalhar num ambiente tecnológico garantiu-me igualdade perante os meus semelhantes. Não foi assim quando, por diferentes razões, interagi com pessoas de outros setores, onde encontrei comentários ou gestos ocasionais que não deveriam acontecer nesta altura do século. Nem a idade nem o género devem ser motivo para julgar nem o trabalho, nem o valor de uma pessoa. ▪
“AS DIFICULDADES DEVEM IMPELIR-NOS À AÇÃO” Fundadora e Vice-Presidente da Associação Ser Contigo e Diretora Técnica do Centro Comunitário de Estoi, Dora Valério afirma que é uma líder democrática e próxima das pessoas. “Gosto de partilhar responsabilidades e de dar abraços”. Venha connosco conhecer a sua história.
Dora Valério é Fundadora e Vice-Presidente não executiva da Ser Contigo. Em que momento da sua vida surge este desafio? Este desafio surge numa altura de reflexão sobre a minha identidade e o meu papel na sociedade, bem como sobre os nossos ambientes sociais que são, tantas vezes, promotores da doença mental. Dora Valério é também Diretora Técnica do Centro Comunitário de Estoi, uma IPSS com 20 anos de existência. O que significa para si estar ao serviço de uma IPSS com duas décadas de trabalho comunitário e numa associação recém-criada? No que toca ao Centro Comunitário de Estoi, sinto diariamente a responsabilidade de desempenhar um trabalho que faça a diferença na vida dos utentes. Trata-se de um trabalho que só se pode fazer com amor, apesar de o amor ter em cima de si um estigma quase tão grande como a doença mental. Ninguém fala de amor no trabalho, parece anti profissional. É uma conceção triste do profissionalismo! Fala-se de competitividade, competência, currículos profissionais, mas não se fala de amor. Como se, no currículo da profissão e da vida, o amor pudesse estar ausente… No que concerne à Ser Contigo, a dimensão da minha representatividade é outra, porque tenho uma palavra a dizer na filosofia da asso-
ciação. Isso faz com que sinta uma responsabilidade acrescida relativamente à maneira como tocamos nas fragilidades do ser humano. Na nossa cultura não estamos habituados a expor as nossas fragilidades. Somos incentivados a escondê-las. Há rostos que, nas redes sociais, se apresentam numa gargalhada permanente. Como se fosse possível e obrigatório estar sempre feliz. Não existem gargalhadas permanentes. E qual é o problema? Nenhum… é preciso apenas deixar cair a aparência de super-heróis e assumirmos a essência humana! Quem é Dora Valério, líder, profissional e mulher? Sou uma mulher determinada, a quem a vida deu alguma sabedoria para conseguir transformar problemas em oportunidades. Uma mulher com muitas ideias. Tenho a responsabilidade de ser mãe, mas não me esforço por ser a melhor mãe do mundo! Educo de forma muito persistente as minhas filhas e o meu filho para não tolerarem injustiças e para lutarem pelos seus sonhos. Sou uma líder democrática, próxima das pessoas, gosto de partilhar responsabilidades e de dar abraços. O número de mulheres em cargos de liderança está a aumentar. No entanto, ainda não é suficiente. Para si, que obstáculos são colocados às mulheres durante o seu percurso profissional? Esta é uma realidade para si? A questão da desigualdade de género preocupa-me, pois ainda que esta realidade injusta tenha vindo a ser alterada, existe um caminho por fazer. Um exemplo: há dias ouvi uma conversa em que um pai tentava convencer o seu filho a não se divorciar, porque “se te separares, quem é que te vai passar a roupa e fazer a comida?”. Fiquei sem saber se havia de lamentar mais o facto de o filho ser rotulado como incapaz para as lides domésticas, se o facto de as lides domésticas serem as únicas competências reconhecidas à nora! Ao fazer uma retrospetiva, encon-
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Associação Ser Contigo é muito recente. No entanto, já captou muito interesse por parte da comunidade, talvez pelo seu propósito... A Ser Contigo é uma associação de intervenção socioeducativa que se propõe a desconstruir preconceitos e combater o estigma relativamente à questão da Saúde Mental. Não vai ser fácil, mas as dificuldades devem impelir-nos à ação. Não podemos tolerar que as pessoas com experiência de doença mental sejam consideradas fracas, inúteis ou incapazes. Porque não o são! É preciso mudar mentalidades!
DORA VALÉRIO
tro situações em que senti essa discriminação, curiosamente nunca em contexto profissional. Recordo-me de na minha infância me tentarem dissuadir de jogar à bola, pois não era coisa de meninas. Na adolescência, lembro-me de só poder sair à noite se o meu irmão também saísse. Na idade adulta, lembro-me de um evento no qual estive com o meu marido e no qual ele foi apresentado de acordo com o seu grau académico e eu como a “esposa de…”. Nunca aceitei essas
prisões! Talvez por isso, nas minhas histórias, as protagonistas sejam sempre mulheres! O facto de haver cada vez mais mulheres a ocupar cargos de prestígio é um bom indicador! Não obstante, continuar a educar os mais novos para a igualdade (leia-se equidade) é essencial e, nesse aspeto, temos um grande poder, pois ainda somos nós, mulheres, as principais educadoras das nossas filhas e dos nossos filhos. ▪
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INTEGRIDADE
O PILAR DA PAHLCONSULTING Como se constrói o sucesso de uma empresa ou de um negócio nesta era das novas tecnologias da informação? Venha conhecer a PahlConsulting, uma empresa de consultadoria de gestão e que surge com a ambição de inovar e acrescentar valor aos serviços prestados aos seus clientes. Cristina Ferreira, Managing Partner da PahlConsulting, conta-nos mais.
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em abril de 2018 que surge a PahlConsulting, uma ramificação da PahlData, uma empresa que conta já com mais de 30 anos de presença em Portugal nas áreas das tecnologias e das telecomunicações. Recentemente, a Pahldata, de origem espanhola, sofreu uma profunda reestruturação e foi adquirida por um grupo que viu uma empresa com nome no mercado, com uma base de clientes sólida e um conjunto de certificações que lhe conferem um enorme prestígio. Direcionada para as grandes empresas e de índole tecnológica, surge a ambição de crescer em termos de valor acrescentado para os seus clientes. É aqui que surge Cristina Ferreira, Managing Partner da PahlConsulting. Com uma carreira consolidada na área da consultadoria de gestão, e após ter deixado, no final de 2017, a liderança da área de estratégia e de operações de outra empresa, por sentir que a sua missão estava cumprida, surge a proposta a Cristina Ferreira de abraçar o desafio de criar a PahlConsulting. Este projeto surge exatamente num momento da sua vida em que sentia a necessidade de uma mudança. A PahlConsulting nasce, assim, em abril de 2018, como um braço de consultadoria de gestão da PahlData. Com uma prestação de serviços diversificada, nas áreas de transformação digital, inovação, segurança de informação, incentivos, controlo interno, entre outros, teve um forte crescimento em apenas oito meses. “Começámos com a certeza de que sabíamos o que queríamos e o que não queríamos fazer”, começa por referir Cristina Ferreira. O objetivo era construir um projeto que fosse para todos e, por isso mesmo, sabia o que não queria numa empresa que iria liderar, bem como queria ter a garantia de que a sua equipa e os acionistas estariam de acordo com a sua visão. “Estava à procura de criar uma empresa com uma visão a médio e longo prazo. É assim que as empresas conseguem alcançar
do futuro como a transformação digital e a segurança da informação. “Vivemos num mundo cada vez mais digital. Nunca se produziu tanta informação como agora e nunca as empresas e as pessoas estiveram tão vulneráveis relativamente a questões como a segurança de informação, proteção de dados ou ataques cibernéticos. Estas são, tendencionalmente, áreas de investimento e a PahlConsulting quer estar, claramente, na linha da frente nestas áreas”.
“AQUILO QUE NÃO SERVE PARA MIM TAMBÉM NÃO SERVE PARA OS OUTROS”
CRISTINA FERREIRA
o sucesso”, acrescenta Cristina Ferreira. Cristina Ferreira explica, ainda, que uma empresa de serviços como a PahlConsulting - que vive das pessoas, das suas competências e know-how -, vende conhecimento, credibilidade e confiança. “Isto significa que não posso olhar apenas para o retorno do acionista. Tenho que ter uma equipa motivada, empenhada e comprometida com o projeto. Tenho de ter clien-
tes que confiam em nós, na nossa capacidade e que é connosco que querem trabalhar”, reforça a nossa entrevistada. Sendo a PahlConsulting uma empresa que acabou de ser criada e que ainda está a construir o seu caminho e a sua marca, Cristina Ferreira já sabe qual é o seu caminho: criar uma empresa com uma equipa motivada e qualificada, investindo em formações, certificações e com foco em áreas
A liderança e a gestão feminina nas empresas têm vindo a crescer nos últimos anos em Portugal. No entanto, estudos demonstram que cargos de direção continuam a ser dos homens e que só nas áreas da qualidade e dos recursos humanos é que o comando feminino é mais notado. Relativamente às dificuldades/obstáculos que as mulheres ainda enfrentam durante o seu percurso profissional e tendo em atenção os diferentes estilos de liderança, Cristina Ferreira acredita que o género não faz uma liderança ser melhor ou pior, mas sim os valores e a formação. “Existem pessoas que veem a liderança como um todo e numa perspetiva de conjunto e outras que a encaram como uma projeção pessoal”, diz-nos Cristina Ferreira. Licenciada em Economia, Cristina Ferreira teve um percurso profissional bastante enriquecedor, contactando com diferentes pessoas que lhe permitiram criar a visão sobre liderança que hoje tem. “Há um princípio que aplico no meu dia a dia: aquilo que não serve para mim também não serve para os outros. A liderança implica tomar decisões difíceis e tomar posições rígidas, mas também implica espírito de equipa e compreensão pelos problemas de cada um e aí talvez o lado maternal que as mulheres detêm, faça alguma diferença. Acima de tudo aquilo que me move do ponto de vista da liderança é a justiça e a construção de algo em equipa”, conclui a nossa entrevistada. ▪
PONTOS DE VISTA NO FEMININO
DIZER «EU NÃO QUERO ISTO PARA MIM» É UM ATO DE CORAGEM Ligia Ramos é Master Coach, Master Trainer e Client Experience Director na In2motivation, uma empresa internacional que oferece sessões de treino, coaching, palestras e eventos em equipa, com o objetivo de fornecer experiências de aprendizagem positivas e de promover o máximo potencial de cada indivíduo e empresa. Venha connosco saber mais.
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ser eficaz em qualquer área, seja ela profissional, familiar ou pessoal. O coach está focado em reconhecer padrões e em promover alterações de padrões que possam facilitar o coachee a ir do ponto A para o ponto B, levar a pessoa de onde ela está para onde ela quer ir. “Um bom coach será bom em qualquer área na vida de um individuo ou equipa”, afirma a nossa entrevistada.
O “BICHINHO” PELAS PESSOAS
LIGIA RAMOS
transformado numa ferramenta que pode ser utilizada no dia a dia de adultos, jovens ou crianças.
“UM BOM COACH SERÁ BOM EM QUALQUER SITUAÇÃO”
Até há bem pouco tempo o coaching era um conceito pouco falado em Portugal. O que é, para que serve, que transformação provoca nas pessoas, eram as questões mais colocadas. Só agora é que se tem verificado um aumento na procura de sessões individuais e/ ou formações em coaching em Portugal. Contudo, e talvez devido ao seu crescimento significativo, ainda existe alguma confusão ou desco-
Esta forma de estar e de ser, esta vontade de ajudar os outros é algo que tomou o seu rumo naturalmente. Sendo licenciada em Filosofia e tendo exercido a carreira de docente, Ligia Ramos desde cedo que conseguia ver para além da pessoa que estava à sua frente, conseguia ver o seu potencial. “O «bichinho» pelas pessoas e a vontade de as querer conhecer e perceber já cá está há muito tempo. As áreas de psicologia e de filosofia sempre despertaram o “O «bichinho» interesse em pelas pessoas e a mim e, mais vontade de as querer tarde, quando trabalhei conhecer e perceber já cá na área dos está há muito tempo. As áreas recursos de psicologia e de filosofia humanos, sempre despertaram a motivao interesse em mim" ção pelos processos de desenvolvimento aumentou”, explica a nossa entrevistada. nhecimento sobre o que é, efetivaLigia queria saber qual era o talento de cada uma das pessoas mente, coaching. “Às vezes tenho a com quem trabalhava e desenvolsensação que ainda se confunde muito o coach com o mentor, ou o ver o seu potencial. “Quero acreditar psicólogo ou mesmo com o amigo que posso contribuir para melhorar com quem vamos desabafar. O e auxiliar o percurso das pessoas. Coaching é a facilitação de um Isso é o que me faz feliz”, diz-nos. processo, coaching é autonomia”, “Toda a gente tem um talento, explica Ligia Ramos. muitas vezes temos que facilitar a No entanto, na Holanda esta readescoberta desse talento e como ele pode ser vivido todos os dias. lidade é um pouco diferente. O Existe duas perguntas essenciais e coaching é algo ao qual as pessoas que exigem muita coragem: Estou recorrem, não só quando têm um a fazer o que quero estar a fazer? E, problema, mas, muitas vezes, quano que quero estar a fazer? Não deido querem criar para si próprias uma outra perspetiva, em geral. xando, claro, de também ser capaz de dizer, com a mesma firmeza e Um bom coach não tem uma área sem culpas: “isto eu não quero”, cononde esteja mais apto para auxiliar do que outras. Um bom coach pode clui Ligia Ramos. ▪
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que faço? Como o faço? E porque o faço? Estas são algumas das questões às quais Ligia Ramos nos responde. Mas tudo se resume a uma maneira de ser e de estar: Ligia Ramos treina pessoas e equipas para serem a melhor versão delas mesmas. A trabalhar entre Portugal e Holanda durante algum tempo, Ligia Ramos fixou-se em Amesterdão há cinco anos, o lugar onde encontrou o seu verdadeiro “eu” e onde se sente completamente realizada. Mãe de três filhos e quando chegou a altura de escolher onde é que os seus filhos iriam crescer, a decisão da família foi que seria na Holanda que queriam viver. A In2motivation já existia na sua vida, mais precisamente há 12 anos quando o seu marido, Peter Koijen, decide fundar a empresa com a intenção de “criar momentos que deem às empresas e aos indivíduos mais liberdade e formas de criar mudanças, escolhas e motivações positivas, num mundo em mudança”. Na In2motivation, coragem é a palavra de ordem e o foco é o desenvolvimento pessoal e profissional. Desde 2006 que a In2motivation trabalha em contexto internacional tendo como princípios básicos a experiência, a liberdade e a simplicidade. O foco é criar experiências que promovam em cada pessoa ou equipa a oportunidade de escolher. A In2motivation tem a ambição de que as pessoas sejam autónomas e independentes, e que usem todas as ferramentas entregues e experimentadas durante as sessões de formação para aumentar a escolha individual. “Queremos que sejam elas a escolherem por onde e como querem fazer o seu caminho. Queremos criar autonomia. Este é, para nós, o ponto principal do desenvolvimento pessoal. Queremos que tomem consciência das suas próprias decisões e do que é melhor para si, sem estarem dependentes de algo ou alguém”, afirma Ligia Ramos, salientando que tudo aquilo que fazem, bem como todo o conteúdo que entregam, é sempre
PONTOS DE VISTA NO FEMININO
“QUANTO MAIS TRABALHO MAIS SORTE TENHO" Margarida Gonçalves já sabia no nono ano aquele que viria a ser o seu caminho. Afirma que teve sempre muita sorte a acompanhar o seu trabalho e que Portugal é um paraíso para se ser mulher apesar de todas as dificuldades que possam existir. Dona de uma boa disposição contagiante diz que só se trabalha bem quando se gosta daquilo que se faz. Conheça esta consultora que escolheu a qualidade de software como carreira.
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MARGARIDA GONÇALVES
É
engenheira e desde cedo que está envolvida em projetos de tecnologia e de telecomunicações e hoje dedica-se à consultoria. Que história pode ser contada sobre o seu percurso e quais são as suas motivações? No nono ano descobri logo qual seria a minha vocação. Um dos resultados de testes psicotécnicos que fiz na época indicava que seria boa enquanto analista de sistemas. Pedi logo ao meu pai que me levasse a ver um computador ao LNEC e assim que vi o primeiro computador apaixonei-me, estávamos na década de 80. Como sempre gostei de coisas diferentes, andei sempre a dizer aos meus amigos que seria analista de sistemas. Quando entrei na faculdade ingressei em matemática aplicada, algo que até preocupou a minha família: “afinal, o que é que ela vai fazer em matemática”? Tive a sorte de, em 1990, sair do primeiro curso que existiu no Instituto Superior Técnico
de Lisboa, o de Matemática Aplicada à Ciência de Computação. Ingressei logo na banca e tive sempre um excelente enquadramento. Comecei em ciência da computação e rapidamente cheguei a chefe de equipas e foi aí que percebi que adorava gerir pessoas. Quando decidi criar a minha empresa já tinha arrecadado contactos e conhecia bem o mercado. O meu pai já era empresário e quando disse que seria a minha vez não foi algo inesperado, aliás, na área de consultoria é uma evolução normal. Criar a própria empresa é um dos dois caminhos possíveis. Acredito piamente que as coisas se fazem melhor com qualidade e daí a minha paixão pela consultoria na qualidade do software. Se tivermos um bom processo, escalamos de forma diferente e criamos valor aos clientes. Era uma área onde já era reconhecida e por isso abrir a minha empresa foi fácil. Considero que tive sorte quando comecei ciência da computação, em 1990, quando nin-
guém sabia o que isso era. A componente da matemática sempre me foi fácil, a abstração e a formalização agradam-me. Fui realizando projetos enquanto gestora de projeto para organizar a entrega e acabei na consultoria porque gosto de organizar/ajudar a reorganizar as empresas dos outros. Acredito que as metas são importantes e, por isso, liguei a minha consultoria aos standards para haver uma certificação no fim. Deste modo, fui-me dedicando à certificação em qualidade de software, que é a minha área de origem. Gosto de trabalhar com pessoas e a consultoria de processos implica a gestão de mudança da vida das pessoas que executam ou são afetadas por esses processos. O que a levou a escolher uma área como a tecnologia para construir uma carreira? Na minha família “Letras são tretas”, venho de
têm resultado. A pirâmide não é alimentada de baixo, por isso, a probabilidade é baixa mesmo admitindo que não há discriminação. Talvez faltem mais incentivos para que mais mulheres escolham a tecnologia como carreira.
Como surgiu a Quasinfalível que hoje já conta com nove anos de existência? A Quasinfalível surge do meu gosto pela engenharia de software e pelo facto de, tendo sido consultora/gestora de projeto ao longo de 20 anos, conhecer bem o mercado e ter boa imagem junto dele. As grandes empresas na altura não se preocupavam em ter departamentos dedicados à engenharia de software e daí ter querido apostar nisto. No entanto, não me lembro de acordar e de pensar “vou criar a minha empresa”. Foi algo muito natural, quase como um passo que tinha que ser dado. Nunca tive medo porque tinha contactos e até tive a sorte de, logo no início, ter tido um grande projeto para começar. Qual foi o maior desafio profissional que já enfrentou? Os projetos trazem-nos sempre desafios. O maior desafio foi enfrentado na Nigéria, em Lagos, que não é uma cidade fácil. Uma mulher em África - sinónimo de vida muito restringida -, nem à rua podia sair sem ser de carro. A falta de respeito no ambiente de trabalho foi das coisas mais difíceis de gerir. Outro episódio que me marcou também, embora de forma diferente, foi no Brasil, onde estive envolvida num projeto de reestruturação de uma equipa de consultoria em que a minha missão era despedir e contratar outras pessoas, e depois ter que deixar tudo a funcionar; foram nove meses repletos de stress. Na sua opinião, o acesso a cargos de topo ainda são lugares mais vedados às mulheres? Sim, pelo menos no meu meio, que é um meio de engenharia, onde os homens são claramente a maioria. Existem programas internacionais como o girlsintech (https://girlsintech.org/) para combater essa tendência, mas que não
Construam uma empresa assente em coisas de que gostam realmente de fazer, porque se faltar o dinheiro, pelo menos, divertem-se; aprendam os básicos de contabilidade, vocabulário destas matérias, proficiência com números; trabalhem em rede; troquem serviços com outros consultores e avaliem os vossos valores. Trabalhem com pessoas que partilhem desses valores, senão não vai funcionar bem
Que características elege como as principais para se alcançar o sucesso? 99% de transpiração, 1% de inspiração. E sobretudo estar atento. Quanto mais treino mais sorte tenho, - este é claramente um lema de vida - o sucesso vem, indubitavelmente, do trabalho. Tudo o que alcancei foi sempre através de muito trabalho e não conheço outra realidade. Como é que se define enquanto empresária? Sente que é diferente de quando trabalhava noutras empresas? Obviamente que é muito diferente ser empresária do que ser assalariada. A responsabilidade de ter dinheiro para pagar salários é a grande diferença. Ter de pensar no futuro enquanto se garante o presente não é fácil. Gosto de pensar que me preocupo com as pessoas com quem trabalho, que tento criar ambientes que são propícios a uma pessoa acordar de manhã e ter vontade de vir trabalhar. Foi difícil dar este passo? Que conselho gostaria de deixar a quem está a pensar fazer mudanças a nível profissional? Não foi muito difícil o primeiro, mas há muitos que custam muito mais do que o primeiro. Tudo aquilo que temos de fazer é sair da nossa zona de conforto. Conselhos... Preparem-se para o pior. Existirão dias que tudo vai ser ainda pior. Construam uma empresa assente em coisas de que gostam realmente de fazer, porque se faltar o dinheiro, pelo menos, divertem-se; aprendam os básicos de contabilidade, vocabulário destas matérias, proficiência com números; trabalhem em rede; troquem serviços com outros consultores e avaliem os vossos valores. Trabalhem com pessoas que partilhem desses valores, senão não vai funcionar bem. ▪
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uma família de engenheiros e militares. Pais engenheiros químicos, irmão mais velho químico, irmã agrónoma, lá acabei no IST. Penso que não poderia ser de outra forma…
PONTOS DE VISTA NO FEMININO
“PORQUÊ ADAPTARES-TE SE NASCESTE PARA TE DESTACARES?”
HELENA PATACÃO
Helena Patacão é Sócia Fundadora da Helena Patacão Investments. Detém um Master em Gestão e Administração de Empresas, é uma empreendedora e empresária na área da gestão e eficiência energética, com recordes de vendas anuais enquanto consultora sénior no segmento corporate (grandes contas, clientes empresariais). Venha connosco conhecê-la.
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sua empresa é especializada no estudo de perfis de energia, integração de sistemas e gestão de consumos de grandes instalações elétricas. Este projeto surgiu na sua vida num momento em que sentiu a necessidade de dar o próximo passo. “Construí a minha carreira profissional de forma a conseguir obter a experiência e os conhecimentos fundamentais para fundar a minha própria empresa”, começa por nos dizer Helena Patacão. Nessa altura, relembra, o país atravessava uma crise financeira e económica. Mesmo assim, decidiu arriscar e dar este passo. “A minha filha tinha apenas quatro anos. Sendo eu mãe solteira, este foi, sem dúvida, um grande desafio quer na minha carreira profissional quer na minha vida pessoal”, diz-nos. Conta com 14 anos de experiência neste mercado, é líder na criação de novas estratégias de negociação focadas no mercado elétrico, e já foi distinguida com 7 prémios de liderança desde 2004. Podemos dizer que a veia empreendedora já nasceu consigo? Questionámo-la. Helena Patacão acredita que sim. Sabe desde pequena que o seu perfil a indicava como líder e lembra-se, ainda na escola primária, de começar a liderar trabalhos e grupos. “Quer o sentido de
responsabilidade quer o sentido de independência chegaram muito cedo à minha vida, pois desde sempre ambicionei a liderança. Acredito que é uma capacidade inata, e que um bom líder tem de reunir determinadas características na sua personalidade. O bom carácter, o sentido de responsabilidade e de justiça, e a independência na tomada de ações e decisões são fatores determinantes no meu sucesso como líder e empreendedora”, realça. A sua ânsia pela independência levou-a a querer começar a trabalhar cedo e ir viver sozinha. Queria ser autónoma, e aos 21 anos já tinha a cargo uma equipa de 30 pessoas. Como é que concilia, no seu dia a dia, ser mãe solteira, sem ajuda de familiares, com a sua vida de empresária? “Acima de tudo é necessária muita disciplina, rigor na gestão de tempo, espírito de sacrifício e a capacidade de saber gerir prioridades. Sou guiada pelo sucesso e não me permito falhar como mãe. Ser mãe todos os dias, mimar, dar banho, cozinhar, acompanhar os trabalhos escolares, brincar, e observar a evolução da minha filha, que é o grande amor da minha vida. Sacrifico muitas vezes o tempo que seria necessário para realizar algumas reuniões ou para terminar algum trabalho importante, mas sendo ela a minha prioridade, opto por depois
de um dia cansativo, e após ela já estar a dormir, ficar até altas horas da noite a trabalhar para poder cumprir com as metas que estabeleço e as responsabilidades que assumo”. Praticante e treinadora de Karaté, a nossa entrevistada não tem dúvidas que as artes marciais, as quais fazem parte da sua vida desde os sete anos de idade, também influenciaram na sua maneira de ser e na sua capacidade para liderar. “O espírito de luta e de competição, o espírito de equipa e os desafios associados ao Karaté e às artes marciais vão ao encontro da pessoa que sou. Capacidades desenvolvidas como a perseverança, necessária para nunca desistir, a superação dos limites físicos da dor e cansaço, bem como a capacidade de concentração, tornaram-se um modo intrínseco à minha forma de estar na vida e à minha personalidade. É desta forma que me é possível superar as dificuldades e adversidades da vida sem lamentações e vencer qualquer obstáculo”. Mas quem é, afinal, Helena Patacão, enquanto mulher e enquanto profissional? “Em qualquer circunstância sou sempre grata e humilde, quer na aprendizagem quer no relacionamento com o próximo. Sou exigente comigo mesma e estou em constante auto análise, auto crítica e melhoria evolutiva, porque acima de tudo é
HELENA PATACÃO Helena Patacão estimula a versatilidade por considerar que enriquece a personalidade e fortalece o carácter. É Treinadora de Karaté e fundou a classe KAMAE de defesa pessoal para mulheres que ensina a prática de movimentos e técnicas de reação utilizadas para preservar a integridade física e emocional da mulher. É também adepta participante em diversos eventos de competição do desporto automóvel, onde também já conquistou alguns prémios.
DE PORTUGAL PARA OS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS
Depois de uma restruturação e adaptação da empresa, Helena Patacão irá agora apostar na sua internacionalização e integração em mercados estrangeiros, com grande foco nos Emirados Árabes Unidos, onde terá sede própria, mas sem descurar o trabalho em Portugal. Especializada em gestão eficiente de energia de edifícios na indústria, Helena Patacão tem tra-
balhado, em Portugal, para grandes empresas e clientes de renome e alerta para a responsabilidade sócio-económica-ambiental: “é imperativo a construção de sustentabilidade e independência energética, como medida de responsabilidade sócio ambiental e mudança de mentalidades”. Irá agora aplicar os seus conhecimentos e desenvolver projetos nos Emirados Árabes Unidos. O Dubai, que será o centro de operações para trabalhar com o médio oriente, foi a escolha natural por reunir as melhores condições dentro da conjuntura atual económica mundial e pelo seu potencial de desenvolvimento e crescimento. “Identifico-me com as suas estratégias, cultura, leis e metas, e admiro as práticas de liderança da família real do Dubai. Reúnem todas as condições que necessito para ser melhor e mais criativa, e acredito que o meu perfil, conhecimentos e experiência, sejam uma mais-valia e que possa fazer a diferença numa sociedade que incentiva e apoia a mulher empreendedora”. Dentro da evolução do próprio mercado elétrico, e uma vez que a legislação já permite a produção de energia elétrica para autoconsumo, existem cada vez mais empresas no mercado que apresentam propostas e soluções aos clientes. “Torna-se crucial analisar, apurar e estudar o perfil energético, introduzir medidas de alteração de práticas comportamentais, observando as condições técnicas e legais, para que as empresas, face à oferta tão diversificada e disparidade de preços com que se deparam, obtenham as garantias necessárias para a execução dos seus projetos”. É aqui que a Helena Patacão Investments lidera, pois além de viabilizar a negociação, defendendo os interesses do cliente e garantindo o melhor rácio-performance de qualquer medida a ser implementada, viabiliza financeiramente a operação evitando o investimento de capitais próprios por parte do cliente. “Garanto sempre que o cliente está a obter a melhor solução técnica e financeira”, diz-nos. Para Helena Patacão, as empresas portuguesas sentem cada vez mais as dificuldades financeiras
que advêm das exigências da competitividade dos mercados e das imposições fiscais. “Estas dificuldades levam à procura incessante por parte dos gestores a repensarem as suas estratégias por forma a se adaptarem a um ciclo de sobrevivência que estrangula a liquidez financeira”. O desenvolvimento de projetos nos Emirados Árabes Unidos terá os seus desafios, uma vez que cada mercado tem as suas especificidades. No entanto, para Helena Patacão, é necessário adaptar o modelo de negócio às necessidades e realidades de cada mercado, e ganha-se quando se descobre a necessidade em falta e se preenche uma lacuna. “Aplico a minha técnica em que identifico «o que está em falta e o que está errado». É com base na resposta que proporciono a estas duas questões, que assento a base das minhas estratégias e realizo operações de negócio de sucesso”. Assim, o maior desafio será mesmo ser bem-sucedida no Dubai, emirado que conquista inúmeros prémios de liderança mundial em diversas áreas. “Este é um desafio ambicioso e que exige alguma coragem. Numa das minhas visitas ao Dubai, uma personalidade notável mundialmente reconhecida, que se tornara meu bom amigo, disse-me, utilizando uma frase do conhecido Dr. Seuss… “Porquê adaptares-te se nasceste para te destacares?” (“Why fit in when you were born to stand out?”). “Esta é agora a minha principal diretriz, e, sem dúvida, o maior incentivo para acreditar que esta aposta tem tudo para vencer”, conclui a nossa entrevistada. ▪
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um dever dar o exemplo, como mulher, mãe e profissional”, realça Helena Patacão. Para a nossa entrevistada, um líder tem de ser uma pessoa humana, com capacidade para perceber que os negócios e as empresas são feitas de pessoas. Mas que características julga cruciais para alcançar o sucesso? Desde sempre que Helena usa a expressão “o dinheiro é a recompensa do trabalho e o sucesso é a recompensa de um excelente trabalho”. Partindo desse seu princípio, diz-nos que é importante definir que posição pretendemos ocupar no mercado de trabalho, se queremos ser mais um número ou queremos atingir a excelência. “No entanto, para atingir a excelência é preciso saber identificar o elemento diferenciador e aplicá-lo no meio que nos rodeia, sabendo como utilizar e aproveitar as próprias capacidades”. E que verdadeiros desafios enfrenta uma mulher líder e empreendedora nos dias de hoje? Para a nossa entrevistada existe uma dificuldade acrescida e os desafios são muito maiores pelo facto de se ser mulher, sobretudo nesta área: uma área técnica e associada, maioritariamente, ao sexo masculino. “Já vemos algumas mulheres com alguma influência em cargos de liderança, no entanto, quando falamos de administração de empresas, esta, ainda é exercida em grande parte por homens. É gratificante ser respeitada, reconhecida e distinguida neste meio, mas precisamos de mais mulheres empreendedoras”, realça.
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EI! ASSESSORIA MIGRATÓRIA A PRIMEIRA AGÊNCIA MIGRATÓRIA EM PORTUGAL Gilda Pereira fundou a primeira agência migratória em Portugal, a Ei! que tem como missão tornar a vida mais fácil a quem pretende entrar ou sair de Portugal. Em entrevista, revela as motivações para criar um negócio que não existia em Portugal até à data e o que procuram os estrangeiros neste cantinho à beira mar plantado.
GILDA PEREIRA
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oda a sua vida profissional foi em torno da consultoria empresarial e fiscal, na área da internacionalização. Então, em que momento da sua vida surge este projeto, o Ei! Assessoria migratória? Trabalhava como consultora em Angola, e enquanto emigrante senti na pele todas as dificuldades que uma pessoa nessa condição sofre. Quando fui para Angola, trabalhei não só em consultoria, como também auxiliei expatriados a fixarem-se lá e isso deu-me as bases para o que viria a criar no futuro. A ideia de criar a empresa surgiu quando comecei a pensar em regressar a Portugal. Procurei saber que negócio poderia criar e, como sempre gostei da área do Direito dedicada aos estrangeiros e do tema das migrações, após uma pesquisa, verifiquei que cá não existia nenhuma agência migratória. Nos países anglo-saxónicos já existiam as chamadas migrations agencies e foi inspirada nesse modelo que criei a Ei!.
Afirma-se uma cidadã do mundo. Como cidadã do mundo o que mais a choca/preocupa nos dias de hoje? Neste momento existem muitos problemas no mundo que me preocupam, como por exemplo a questão da Síria e dos refugiados. A tendência é assistirmos a uma maior globalização, por isso mesmo me sinto uma cidadã do mundo mas espero que os meus filhos e as gerações futuras sintam isso ainda de uma forma mais natural. Espero que vivam num mundo com menos barreiras migratórias, que possam estudar e trabalhar onde quiserem, sem grandes problemas. Não deveriam existir tantas barreiras nem tantos preconceitos, tento transpor isso na educação dos meus filhos e aplico esses valores e convicções no meu trabalho. Na sequência das necessidades geradas pela mobilidade geográfica dos dias de hoje, a Ei! tem como objetivo facilitar a vida a todos os que decidam procurar novos desafios. Com
A tendência é assistirmos a uma maior globalização, por isso mesmo me sinto uma cidadã do mundo mas espero que os meus filhos e as gerações futuras sintam isso ainda de uma forma mais natural
que principais entraves/dificuldades ou obstáculos se deparam mais as pessoas que vos procuram? Se pertencerem a um país que não faça parte do espaço schengen, as dificuldades começam logo com a obtenção do visto. Existem vários tipos vistos. Mas qualquer um deles tem de ser obtido no consulado português mais próximo da área de residência – isto para um estrangeiro. Depois, as dificuldades começam logo com o tipo de visto deve solicitar, que documentos são necessários. Após a obtenção do visto tudo se torna mais fácil mas até aí é complicado… Para os cidadãos da EU, a barreira linguistica e o lidar com as burocracias portuguesas são de longe o mais difícil em todo o processo. Desde
PORQUÊ PORTUGAL?
Portugal reúne algumas condições que são procuradas por diferentes requisitos. No caso dos brasileiros, as preocupações principais são a educação dos filhos e estabilidade social e
a segurança. Os norte-americanos procuram, essencialmente, cuidados de saúde a um custo aceitável. Os reformados de países da EU procuram benefícios fiscais, o que lhes permite ter uma vida mais desafogada do que no país de origem. Os portugueses estão sempre a reclamar e, na minha opinião, não valorizam o país que têm. Uma cliente brasileira contou-me há uns tempos que deixou tudo o que tinha no Brasil – que não era pouco – mas que nada era mais valioso do que poder ir até a um café à noite e caminhar pela rua com a filha tranquilamente sem medo de ser assaltada ou morta. Por isso, penso que está na hora de os portugueses perceberem que aquilo que temos neste pequeno país é grande, bom e não tem preço.
UMA HISTÓRIA PARA PARTILHAR…
É tão difícil escolher uma… são imensas e nem todas podem ser partilhadas. Mas talvez a de um casal norte-americano que procurou Portugal por motivos de saúde. O senhor sobreviveu a quatro cancros e praticamente foi à falência nos EUA por causa disso, uma vez que lá os cuidados de saúde são pagos a peso de ouro. Decidiram vir para Portugal porque depois de exaustas pesquisas percebeu que se lhe acontecesse alguma coisa sabia que iria ser assistido e que para isso não teria que ficar totalmente sem dinheiro. ▪
Uma cliente brasileira contou-me há uns tempos que deixou tudo o que tinha no Brasil – que não era pouco – mas que nada era mais valioso do que poder ir até a um café à noite e caminhar pela rua com a filha tranquilamente sem medo de ser assaltada ou morta. Por isso, penso que está na hora de os portugueses perceberem que aquilo que temos neste pequeno país é grande, bom e não tem preço
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ir à repartição das finanças para requisitar um NIF, depois obter o certificado de residência de cidadão da EU, inscrição no centro se saúde. Como nem sempre os vistos são aceites, preferimos trabalhar de uma forma preventiva. Em primeiro lugar, analisamos o perfil da pessoa e vemos se reúne as condições necessárias. No caso de não serem aceites, a deceção é grande mas a nossa lei prevê a possibilidade de recorrer dessa decisão. A nossa lei dos estrangeiros é equilibrada e humana o que torna Portugal um dos países do mundo que mais e melhor recebe os imigrantes. Receber bem é, por exemplo, permitir que filhos de imigrantes que não estão legalizados ou que estejam em processo de legalização, tenham acesso ao ensino público e que todos possam ter acesso também a cuidados de saúde. Os nossos hospitais públicos não recusam ninguém e isso não acontece em muitos países. Este é um forte motivo que eleva a procura de viver em Portugal… Neste momento os brasileiros são o maior número de imigrantes em Portugal. A questão da instabilidade económico-social e da dos elevados índices de criminalidade são os principais motivos.
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DONA BOLACHA
JÁ NÃO É PRECISO ESPERAR PELO VERÃO PARA COMER A DELICIOSA BOLACHA AMERICANA Dona Bolacha une tradição e inovação com receitas criadas para uma bolacha conhecida de todos, a bolacha americana. Filipa Bastos, Sócia-Fundadora do projeto, conta como nasceu e cresceu esta ideia de fazer crescer água na boca. FILIPA BASTOS
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Quais foram as suas principais preocupações na hora de criar um negócio em que o produto é tão tradicional e conhecido de todos? A nossa principal preocupação foi fazer a bolacha da nossa infância sem a desvirtuar. Fazer a bolacha que nos estava na memória. Mas fazê-la com o máximo de qualidade possível e adaptá-la ao conceito que pretendíamos criar. Para isso houve necessidade de rever e afinar receitas. Houve também necessidade de selar e rotular a bolacha para ser vendida em diversos pontos de venda e durante todo o ano.
Em 2016 lançaram a bolacha americana salgada. Como foi introduzir esta gama ao mercado? Foi uma espécie de “primeiro estranha-se e depois entranha-se”? Pretendíamos fazer algo de novo e diferente. Algo que não existisse. Então surgiu a ideia de criar uma bolacha americana salgada, um produto inovador. Tentámos dissociar a bolacha americana dos momentos de praia, com sol, mar e calor. Tentámos associar esta nova bolacha a outros ambientes. Eventualmente a um jantar, a acompanhar um queijo, ou mesmo um copo de vinho. Quisemos antes de mais criar algo novo, mas também chegar a outro tipo de público e a outra posição no mercado. E foi isso mesmo que aconteceu. Hoje a Dona Bolacha Salgada é um sucesso. Estão pensados, como forma de estratégia empresarial, eventos de marketing e parcerias comerciais. Pode falar-nos um pouco sobre isto? A Dona Bolacha tem realizado a sua atividade comercial através de vários canais de distribuição. A empresa vende a revendedores selecionados e também diretamente ao cliente final (particular e empresarial). Em simultâneo, participa também com frequência em mercados e mercaditos, feiras e eventos. Estas participações têm um propósito duplo: a promoção da marca e realização de vendas.
com os sabores original, canela, cacau e alfarroba. E uma gama salgada, com sabor de queijo de cabra e de água e sal. Quanto a novidades, podemos desde já adiantar que o dia dos namorados vai servir para apresentar a bolacha especial em forma de coração. Qual é o maior segredo da Dona Bolacha? O segredo para o sucesso da Dona Bolacha, reside na verdade num conjunto alargado de fatores. O facto de termos conseguido criar uma receita própria e diferenciada de Bolacha Americana, sem perder ou desvirtuar a bolacha da nossa infância, a da memória coletiva, revelou-se fundamental para o sucesso do projeto. A Dona Bolacha criou um novo conceito, a Bolacha Americana selada e embalada com um prazo para consumo um pouco mais alargado, o que permitiu retirar a bolacha das praias e trazê-la para o consumo do dia-a-dia. Uma novidade! Também a dedicação e a atenção prestadas levam a que a Dona Bolacha seja muito acarinhada não só pelos nossos clientes, mas por todos. Com tudo isto, conseguimos de alguma forma associar tradição a inovação e revitalizar a bolacha Americana, transformando-a num produto Gourmet, mas acima de tudo num produto querido e desejado pelas pessoas. ▪
Desde 2015 que a Dona Bolacha está no mercado e que nos habituou a formatos e sabores diferentes da tão tradicional bolacha americana. Vem aí uma nova receita, o que podemos saber? Desde que o projeto iniciou a Dona Bolacha lançou três Bolachas de diferentes tamanhos e seis sabores. Atualmente estão em comercialização duas gamas de bolacha. Uma gama doce,
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E
la cresceu e agora é uma senhora, a Dona Bolacha! Devidamente embalada e rotulada”. Como surgiu este projeto na sua vida e que balanço pode ser feito acerca do crescimento da marca de uma das bolachas mais famosas do mundo? O projeto Dona Bolacha surgiu em 2015, pela mão de três primas, que tinham vontade de trazer para os dias de hoje uma recordação da sua infância - a bolacha americana. É um produto incontornável de tradição e recordação dos verões da nossa infância. Cresceu connosco e, por isso, é hoje uma senhora, a “Dona Bolacha”. Ao longo dos quatro anos de atividade, tem-se revelado um projeto inspirador e desafiante. Inspirador, uma vez que as novas gerações parecem ter o mesmo olhar que nós tivemos enquanto crianças para a Bolacha Americana. Desafiante, dado que procurámos inovar, criando novos sabores para a tradicional Bolacha Americana. O projeto teve uma excelente aceitação desde o início. O carinho dos clientes pela Dona Bolacha é evidente e enche-nos de orgulho. A marca tem crescido na sua oferta e em volume de negócios.
PONTOS DE VISTA
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PONTOS DE VISTA NO FEMININO
PRODUTOS SAUDÁVEIS E DELICIOSOS QUE PROPORCIONAM MOMENTOS DE PURO PRAZER
FOTO: DIANA QUINTELA
A DHC Food Experience antecipa as tendências de consumo e procura disponibilizar um leque de produtos saudáveis e deliciosos que ofereçam momentos de prazer, quer no momento da preparação das refeições quer no seu consumo. Quem dá a cara pela DHC Food Experience é Ana Paula Teixeira, a sua fundadora, e Carla Martins, irmã e sócia na DHC. Venha connosco saber mais.
ANA PAULA TEIXEIRA E CARLA MARTINS
FOTO: DIANA QUINTELA
rentes mercados o que nos levou a querer conhecer sempre coisas novas e a querer experienciar produtos diferentes”, partilha connosco Ana Paula Teixeira. Mas foi a partir do momento em que teve o primeiro contacto com a distribuição, e quando constituiu a sua própria família, que o prazer que tinha de encontrar coisas novas, não só em Portugal como nos países que visitava, motivou-a a querer proporcionar essa satisfação aos portugueses. Ana Paula queria facilitar o acesso a esses produtos no mercado nacional o qual, há 22 anos, tinha uma oferta escassa. Apesar de hoje o mercado nacional estar ao nível de vários mercados europeus, há sempre novidades a ser lançadas noutros países e a a DHC, sempre atenta a esses mercados, procura justamente continuar a trazer novidades e novas tendências para o mercado português. Esta no ADN da DHC estar atenta ás novidades e coloca-las á disposição dos consumidores portugueses. Foi a DHC quem lançou pela primeira vez no mercado português uma gama de massas frescas culinárias sem glúten, com a marca Pasta do Dia, bem como a variedade de Massa para Pizza sem Glúten, sob a marca francesa Croustipate. A aceitação e a procura
por estes produtos surtiram efeitos imediatos e correspondeu às expectativas da DHC. A verdade é que setor de produtos sem glúten tem vindo a conquistar um espaço cada vez maior nas prateleiras dos supermercados, bem como são já produtos com uma presença diária à mesa dos portugueses. A DHC procura, assim, ter produtos com essas características em todas as categorias em que se posicionam. “Queremos ter uma oferta variada no que diz respeito a estes produtos, não só para celíacos, mas também para pessoas intolerantes ou para o grupo de pessoas que optam por escolher este tipo de alimentação. Os hábitos mudaram e hoje as pessoas procuram cada vez mais um estilo de vida saudável. Temos essa consciência e temos vindo a aumentar significativamente a nossa gama nesse sentido”, explica Ana Paula Teixeira. A procura por produtos vegans e sustentáveis do ponto de vista social e ambiental tem aumentando consideravelmente e são cada vez mais os portugueses que optam por uma alimentação saudável, o que abre portas ao crescimento dos produtos free from: sem açúcar, corantes, conservantes, sabores artificiais, organismos geneticamente modificados, glú-
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DHC Food Experience foi fundada em 1997, mas foi em 2013 que ganhou uma nova dinâmica e identidade na categoria das massas frescas. Trata-se de uma aposta ganha num nicho de mercado em clara expansão e cada vez com mais adeptos. Hoje a DHC, sinónimo de delicious, healthy e comfort, é também sinónimo de inovação, diz-nos Carla Martins, e sinónimo de satisfação, afirma Ana Paula Teixeira. “É importante conseguir agregar todos estes produtos saudáveis, free from ou biológicos a um momento de prazer que é a refeição. Seja uma refeição social, individual ou familiar, queremos trazer satisfação no momento da preparação das refeições e no momento do consumo dos nossos produtos. O ato de cozinhar deve ser, igualmente, um ato de prazer e de satisfação” refere Ana Paula Teixeira. Ana Paula conta-nos que sempre gostou de cozinhar, mas, sobretudo, sempre gostou de inovar no momento de elaborar refeições. “A cozinha rotineira não é para mim. Preciso de agregar criatividade à elaboração de refeições. Esta já é uma paixão de infância. O nosso pai viajava bastante e trazia-nos produtos de dife-
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ten, lactose, antibióticos ou hormonas. Este é um segmento de mercado que parece ter um futuro promissor e onde existe grande espaço para a inovação. Neste sentido, a DHC prepara-se para reposicionar as suas massas com zero aditivos. Visando as questões da saúde, da alimentação saudável e da sustentabilidade, a DHC colocará no mercado produtos sem corantes nem conservantes e com óleo de palma, produzido de forma sustentável.
“MARÇO SERÁ UM MÊS FORTE E REPLETO DE NOVIDADES”
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
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Ana Paula Teixeira prometeu trazer novidades ao nível das refeições prontas para o ano de 2019. Aqui estamos nós para lhe revelar as novidades e os projetos que tem em cima da mesa. Março será um mês forte e repleto de novidades. “É o nosso mês, o mês da mulher e o mês dos nossos aniversários”, diz-nos Ana Paula Teixeira. Por isso mesmo, vai ser lançada no próximo dia 9 de março a massa tenra Pasta do Dia. Na semana seguinte a dinâmica continuará com o lançamento da massa filo, igualmente sob a marca Pasta do Dia. Em simultâneo, vão ser lançadas saladas mediterrâneas de origem belga, à base de produtos naturais sem corantes e sem conservantes, característica transversal a todos os produtos da DHC. Para as lojas irão quatro referências sob o conceito de Grab and Go. “Queremos estar à frente das grandes tendências: a conveniência, ready to eat e saudável. Acompanhar e estar à frente das tendências do consumo faz parte da estratégia da DHC que apostará agora também e ainda durante o mês de Março em refeições rápidas, prontas a comer. Dentro do conceito da conveniência a DHC está a preparar o lançamento de uma gama de refeições pré-cozinhadas como sejam lasanhas bolonhesa, salmão, Bio e Vegan, cannellonis de carne e vegan e tagliatelle. Tratam-se de massas italianas produzidas na Bélgica, país da Europa por excelência na produção de refeições pré-cozinhadas. “Queremos apostar fortemente nesta gama de refeições pré-cozinhadas e de refeições biológicas, um mercado a crescer significativamente”, acrescentam as nossas entrevistadas.
“MAIS DO QUE ACOMPANHAR QUEREMOS ESTAR À FRENTE DAS TENDÊNCIAS DE CONSUMO”
Ana Paula Teixeira é CEO da DHC Food Experience, uma marca que está sempre em cima da constante mudança do mercado. Olhando para trás voltaria a fazer exatamente tudo igual ao que fez até agora? Questionámo-la. “Seguramente não faria tudo igual até porque agora tenho uma aprendizagem acumulada e penso que teria feito melhor algumas coisas. Mas se me arrependo do percurso que fiz? Não. Estou muito satisfeita e sobretudo grata pelo percurso percorrido e o seu resultado”, adianta Ana Paula Teixeira. “Juntamente com a minha irmã e toda a nossa equipa, temos conseguido alcançar resultados que nos permitem consolidar e sustentar o crescimento da empresa, agregando uma enorme satisfação por ter conseguido criar na DHC uma cultura empresarial muito focada na satisfação do cliente e ao mesmo tempo com uma componente humana e social bastante
forte”, acrescenta ainda a nossa entrevistada. Para Ana Paula Teixeira é uma enorme satisfação olhar para a DHC e ver tudo o que foi construído à sua volta, acima de tudo pela confiança dos clientes e dos seus parceiros. “Estou muito grata por todo este processo, pelo caminho percorrido e pela confiança e reconhecimento que nos motivam a continuar e a procurar sempre fazer melhor”, afirma Ana Paula Teixeira. Sob a máxima “não vender o que nunca compraria”, Ana Paula Teixeira sabe que o mercado português está bem posicionado a nível europeu, no entanto há sempre algo para inovar mas para isso é preciso estar atenta às novidades, viajar e auscultar os clientes e consumidores, afinal são eles que devem conduzir a nossa rota. “As expectativas são boas para a aceitação destes produtos, mas temos de ter sempre em atenção as necessidades e o que o mercado nos pede para podermos procurar os produtos adequados lá fora, mas com características que assentem nos nossos valores e princípios. Temos de saber seguir as tendências, este é o segredo. Não podemos forçar nada nem
tentar introduzir um produto que o mercado não esteja a pedir ou para o qual não esteja recetivo”, esclarece a fundadora da DHC. Aqui, os clientes da distribuição têm um papel determinante para conseguirem auscultar o mercado, com base no conhecimento de quem tem o contacto direto com o consumidor. “A opinião dos nossos clientes institucionais é fundamental importante para nós para saber qual é o momento certo para trazermos, ou não, determinados produtos”, acrescenta Ana Paula Teixeira. Para a DHC o desafio passará, portanto, por continuar a ter esta dinâmica, bem como a capacidade de inovação, a palavra-chave da DHC. “Estamos confiantes de que iremos continuar a corresponder às necessidades e exigências do mercado, mas não deixará de ser um desafio constante. Por vezes temos de saber dar um passo atrás para depois dar dois em frente. Temos de ter a capacidade de reconhecer quando um produto não é bem aceite pelo mercado e retirá-lo por falta de performance”, refere Ana Paula Teixeira. “Felizmente a nossa taxa de sucesso de produtos
A cozinha rotineira não é para mim. Preciso de agregar criatividade à elaboração de refeições. Esta já é uma paixão de infância Ana Paula Teixeira
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Queremos colocar à disposição dos portugueses produtos que permitam a criatividade e a conveniência sem deixar de cuidar das pessoas e de proporcionar bons momentos na hora de cozinhar e à mesa. Queremos entrar na vida dos portugueses para facilitar o seu dia e as suas refeições Carla Martins
é bastante elevada e estamos muito satisfeitas com os resultados que temos obtidos, mas estamos sempre conscientes dos riscos e das falhas que podem acontecer”, acrescenta.
IRMÃS POR DESTINO, AMIGAS E SÓCIAS POR OPÇÃO
Ana Paula Teixeira já nos contou que quando fundou a DHC, o facto de ser jovem e mulher foi muitas vezes encarado como vulnerabilidade. Hoje, olha para trás e sabe que foi um desafio importante para o seu crescimento pessoal. “Homens e mulheres são diferentes, mas ambos os géneros são igualmente competentes”, refere Ana Paula Teixeira. No entanto, sabe que, pelo facto de ser muito jovem quando criou a DHC, teve de trabalhar muito mais para conseguir transmitir a confiança e credibilidade necessárias. “Felizmente, consegui construir o meu percurso assente nestes fatores. Hoje ainda me questionam, muitas vezes, se fui mesmo eu quem criou, do zero, a DHC”. Somos duas mulheres a dar a cara pela empresa e aprende-
mos a focar-nos no que realmente importa”, afirma Ana Paula Teixeira, referindo-se à sua irmã. Carla Martins é licenciada em Maketing e Publicidade e o gosto pela vertente comercial levou-a a abraçar o projeto da DHC, após o término da sua formação em 2001. Numa altura em que a empresa estava já com um crescimento significativo era altura de se focarem na sua solidez, mas também na sua expansão. Hoje é com orgulho que diz que abraçou um projeto pelo qual tem uma verdadeira paixão e pelo qual vive intensamente. Durante os 18 anos que já faz parte da empresa sabe que o mercado teve as suas mutações e que a DHC teve o desafio constante, mas também a capacidade, de acompanhar a evolução do mesmo. Hoje disponibiliza um leque maior e diversificado de produtos inovadores. Mulheres, amigas, esposas, mãe, entre tantos outros papéis, Ana Paula e Carla Martins sabem que cada vez mais as pessoas precisam que o dia tenha mais de 24 horas para cumprirem com todas as suas tarefas. A DHC pretende, por isso mesmo, assumir
um papel no mercado de forma a facilitar o dia a dia de cada um de nós. Facilitar no que diz respeito à utilização prática dos seus produtos e surpreender pela qualidade. “Queremos colocar à disposição dos portugueses produtos que permitam a criatividade e a conveniência sem deixar de cuidar das pessoas e de proporcionar bons momentos na hora de cozinhar e à mesa. Queremos entrar na vida dos portugueses para facilitar o seu dia e as suas refeições. É um dos nossos grandes objetivos e é o que nos move”, dizem-nos as nossas entrevistadas. Para 2019 têm desenhado um forte plano de marketing para ativação e divulgação da marca Pasta do Dia, com o objetivo de se focarem na marca, fazê-la crescer e continuar a representar marcas prestigiadas. “A nível de DHC é importante termos a nossa própria marca, mas o nosso ADN é a representação de marcas que correspondem aos nossos ideais e que muito no orgulham de representar em Portugal”, concluem Ana Paula e Carla Martins. ▪
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“A MINHA EQUIPA É A MINHA SEGUNDA FAMÍLIA” Carla Sofia Estêvão é Gerente do Bricomarché dos Carvalhos, Vila Nova de Gaia, e foi há um ano que decidiu abraçar este projeto e abrir uma loja Bricomarché sozinha. Um ano depois a Revista Pontos de Vista esteve à conversa com Carla para saber mais sobre este desafio.
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pesar de ser formada em enfermagem, Carla Sofia Estêvão teve sempre o bichinho pela bricolage. Lá em casa é Carla quem gosta de “meter a mão na massa”. Filha única e, talvez, por influência do avô com quem passava a maior parte do tempo, Carla Sofia Estêvão já ajudava, em pequena, nas pequenas tarefas às quais o avô se dedicava em casa e no campo. Este é um ensinamento, mas também uma paixão. “Gosto de ser eu a fazer as coisas. Desde sempre que gosto de bricolage e de decoração”, começa por nos dizer. No entanto, a sua outra paixão leva a nossa entrevistada a tirar o Curso Superior de Enfermagem. “Foi sempre o que quis fazer e dei o meu melhor enquanto exerci a profissão”. Mãe de dois filhos, é por opção que decide colocar uma pausa na carreira para se dedicar inteiramente aos filhos, à sua educação e a acompanhá-los durante o seu crescimento. Mais tarde, é a vez de o marido de Carla Sofia Estêvão abraçar um desafio promissor para a sua carreira levando-o a mudar-se para a Arábia Saudita. A escolha natural foi, sem dúvida, a família acompanhá-lo neste novo projeto. Durante os quase quatro anos que Carla viveu na Arábia Saudita dedicou-se à família, mas também abraçou novos projetos. Como nunca foi uma mulher de cruzar os braços aceitou o convite para dar aulas de matemática neste país. Durante este tempo sabia que as condições eram as mais favoráveis, no entanto, as questões culturais do país entraram em conflito com a forma como Carla queria que os filhos, sobretudo a sua filha, fossem criados e educados. Num país onde as mulheres sofrem várias limitações, chegara a altura de Carla Sofia Estêvão regressar novamente a Portugal com os seus filhos. “O choque cultural para nós mulheres na Arábia Saudita é muito grande”. Natural da Figueira da Foz e a residir na Marinha Grande, e após um período de transição e de adaptação para os seus filhos, Carla começa a debater-se com o seu
As pessoas que aqui trabalham são pessoas dedicadas e que trabalham muito bem. Tento retribuir a sua dedicação o máximo que posso
percurso profissional. Entre conversas com amigos que pertencem ao grupo Mosqueteiros (Intermarché, Bricomarché e Roady), e quase que de forma natural, surge a possibilidade de abrir a sua própria loja Bricomarché. Deixado o bichinho para esta possibilidade, Carla decide avançar. Segue-se um processo complexo e demorado até se tornar num membro do grupo Mosqueteiros. A abertura da loja acontece nos Carvalhos, Vila Nova de Gaia. Dá-se uma nova e abrupta mudança. “Sabia que indo para o grupo Mosqueteiros tinha de ter esta disponibilidade de área. Quando iniciamos este processo não sabemos para onde vamos, só o sabemos depois de uma fase de entrevistas e de seleção e após um ano e meio de estágio, de trabalho e de aprendizagem daquilo que é o grupo, o seu funcionamento, a sua posição no mercado e dinâmica comercial”, explica a nossa entrevistada.
“SÃO AS PESSOAS QUE FAZEM O NOSSO NEGÓCIO”
A 23 de março Carla Sofia Estêvão já comemora um ano da abertura da sua loja. Comemora um ano de desafios e de sucesso, mas sempre ciente de que existem aspetos para melhorar todos os dias. Comemora um ano de empreendedorismo e de um projeto de uma vida, mas comemora também um ano de
CARLA SOFIA ESTÊVÃO
luta diária para conciliar a sua vida profissional com a sua vida pessoal que está a quilómetros de distância do seu local de trabalho. “A minha equipa é a minha segunda família. Não tenho mais ninguém aqui, é com eles que passo os meus dias”, diz-nos. Sabe que agora o desafio que tem pela frente é o de fazer a loja crescer e conseguir dar um cunho à marca nesta zona do país, onde a concorrência é grande. Mas o desafio agora passa também por ter a capacidade de liderar e de gerir pessoas. “Ainda estou a aprender a liderar. Aprendo todos os dias com a minha equipa e sei que este é o fator mais importante, pois são as pessoas que fazem o nosso negócio, sem elas não conseguimos andar para a frente”,
afirma a nossa entrevistada. Carla Sofia Estêvão quer que as pessoas acreditem no projeto e que estejam ao seu lado. Mas sabe que cada pessoa é diferente e que cada equipa também é diferente, por isso mesmo o trabalho de liderança é constante e diário. “As pessoas que aqui trabalham são pessoas dedicadas e que trabalham muito bem. Tento retribuir a sua dedicação o máximo que posso”, adianta a nossa entrevistada para quem o facto de ser mulher e mãe, e talvez por estar ligada à enfermagem, lhe confere a sensibilidade para perceber as necessidades pessoais da sua equipa, quer das mulheres, quer dos homens, enquanto mães e pais que precisam de conciliar a vida familiar com a carreira profissional. ▪
Estudei para ajudar a criar oportunidades e, nos dias de hoje embora por outras linhas, tenho traçado um caminho nesse sentido: dar oportunidade a todas as pessoas com quem me cruzo e onde vejo que existe potencial para crescerem VÂNIA DELGADO
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“ESTAVA GRÁVIDA DO SEGUNDO FILHO QUANDO FUI NOMEADA DIRETORA-GERAL E O MÉRITO É DE QUEM ACREDITOU EM MIM” Vânia Delgado é portuguesa e mudou-se para Angola em 2009 para trabalhar na Ucall, uma empresa líder em serviços de contact center angolana, e também com Operações em Portugal. Afirma-se apaixonada pelo que faz e rejeita qualquer tipo de feminismos. Diz nunca ter sentido reprovações pelo facto de ser mulher e, de Portugal, sente saudades das manhãs de inverno. Não é dada a saudosismos porque Angola já é sinónimo de casa, afinal, foi lá que cresceu profissionalmente e que quis constituir família.
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oje é diretora geral da Ucall. Entrou em 2009 e foi subindo de patamar até ao lugar que ocupa atualmente. Que história pode ser contada sobre o seu percurso? A história de um caminho que percorri com muito esforço e com as pessoas certas ao meu lado. Fui nomeada diretora-geral em 2018 e desde a minha entrada em 2009 que olho para a Ucall com respeito de quem me faz crescer e e aprender todos os dias. Cá em Angola chama-nos a empresa-escola, e eu também sou “aluna” desta escola. Ainda em Portugal comecei como tantas pessoas, como assistente de Call Center num part-time conciliável com a faculdade, e aí iniciei o meu percurso e evolução. Já na Ucall, comecei por gerir uma única conta de um cliente e por essa razão vim para Angola. Depois, fui crescendo de acordo com o trabalho que ia demonstrado. Cometi erros que me ajudaram a melhorar sempre. Há dez anos, altura da minha entrada, conheci colegas que estavam no atendimento telefónico e hoje partilham a direção da empresa comigo. Este é sem dúvida um dos meus maiores motivos de orgulho: ter percebido o potencial deles e ter o prazer de hoje estarem a meu lado na direção e de aprender com eles.
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VÂNIA DELGADO
O que é para si gerir pessoas, liderá-las? Tenho uma equipa direta que ao todo lidera uma organização de 2000 mil pessoas. Gerir pessoas baseia-se, sobretudo, em estarmos movidos pela mesma emoção e paixão por aquilo que fazemos, e que nos entregamos nos projetos. Gosto de ter diversidade nas equipas de forma a evoluir, não quero ninguém formatado à minha imagem mas preciso de ter as pessoas envolvidas a 100%. Sentir o frio na barriga sempre que existe um desafio para superar… Liderar pessoas é gerir as competências mais fortes de cada um, torna-las cada vez mais relevantes, e tirar enquanto gestora o maior partido da diversidade de competências que tenho na Ucall, e que nos fazem entregar projetos com a qualidade que os nossos parceiros de negócio nos reconhecem. Que características devem ter as pessoas que fazem parte da sua equipa? Para 2019 nomeámos algumas características que são entendidas por nós enquanto motores de um melhor desempenho. São elas: o valor: valorizar aquilo que já construímos; a atitude;
energia positiva; a partilha, com quem trabalha connosco e mesmo com o contexto sociocultural; melhoria; praticar o feedback, dar e receber, amanhã tem de ser incansavelmente melhor que hoje; a ousadia: liderar pela inovação e não pela tradição e o sucesso: que não é medido apenas pelos resultados financeiros, mas também pelo impacto que conseguirmos ter nas nossas pessoas e nos projetos sociais em que nos envolvemos. Ao viver em Angola, do que mais sente falta de Portugal? Dia 27 de março faço dez anos de Angola e desde que cá cheguei que aconteceram muitas coisas, quer a nível profissional, quer a nível pessoal. Fui mãe duas vezes, alcancei muitas metas no trabalho… em Portugal, apesar de ter família e amigos, nunca senti que quando saí estava a deixá-los, eles sabem que esta é a vida que escolhi, e todos “vivemos bem esta experiencia”. Estamos unidos. Angola, sinto-a como a minha casa e isso é o mais importante. Gosto do frio de Portugal e sinto saudades das manhãs de inverno… quando estou em Portugal aproveito o tempo da melhor forma com aqueles que gosto. A Ucall tem também clientes e Operações em Portugal, e por isso consigo não perder a pegada… mas estar em Angola é estar em casa e penso que se estivesse constantemente com saudades de Portugal isso não me fazia feliz a mim, à minha família de cá, e à que tenho em Portugal.
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Alguma vez sentiu que o facto de ser mulher é um entrave no universo empresarial? Nunca senti que ser mulher Nunca senti fosse um entrave ou um tirar porque queque ser mulher benefício. Aquilo que conria construir algo fosse um entrave ou segui foi fruto da minha de melhor para atitude perante o trabatodos. Hoje, não um benefício. Aquilo que lho. Todos os dias acordo trabalho atraconsegui foi fruto da minha com a responsabilidade vés de polítiatitude perante o trabalho. de demonstrar mais e cas sociais mas Todos os dias acordo com melhor. Penso que tive tento fazer a a responsabilidade de sorte no meu percurso ao minha parte atracruzar-me com as pessoas vés do meu trademonstrar mais e certas e de elas terem acredibalho. Estudei para melhor tado em mim, e também penso ajudar a criar oportuque essa sorte me deu muito tranidades e, nos dias de balho. Quando engravidei do meu hoje embora por outras segundo filho fui nomeada diretora-geral linhas, tenho traçado um camida Ucall. Esta foi uma das coisas mais bonitas nho nesse sentido: dar oportunidade a todas as que me aconteceram e pela qual sou extremapessoas com quem me cruzo e onde vejo que mente grata… Acreditaram em mim e, por isso, existe potencial para crescerem. o mérito não é meu mas sim de quem apostou em mim. Dia 8 de março assinala-se o Dia Internacional da Mulher. Sobre as mulheres, o que é que Qual foi o momento mais difícil da sua carreia preocupa mais no mundo? ra e como é que lidou com ele? São muitas as coisas que me preocupam, Muitas vezes existem decisões difíceis de porém, existe algo que se destaca: a falta de tomar pelo impacto que elas possam ter na oportunidades para que as mulheres prospevida das pessoas. Sempre que tenho que tomar rem, não só a nível profissional mas também a decisões difíceis são os momentos mais duros. nível pessoal, em qualquer caminho que elas Mas é aí que a nossa liderança é testada e para tracem. A violência, os conflitos, descriminação isso é necessária uma grande dose de resistênpor género, questões políticas e sociais fazem cia. com que as mulheres, muitas vezes, sejam travadas e impossibilitadas de avançar. Licenciou-se em política social. Como é que Esta é uma das minhas missões pessoais, onde olha para o que é ser mulher nos dias de hoje reconheço que posso fazer ainda mais. Consiem sociedade? Na sua opinião, faltarão mais dero que se todos fizermos um pouco, dentro políticas sociais que melhor as mulheres? daquele que é o nosso contexto, esse pouco Política social foi o curso que sempre quis tornar-se-á muito e fará a diferença. ▪
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SUSTENTABILIDADE, MOBILIDADE E SEGURANÇA: PESSOAS E ORGANIZAÇÕES Fátima Pereira da Silva traz do passado um percurso enriquecedor, projetos e causas. No presente é homenageada e premiada na categoria “Empreendedorismo” pela Associação da Mulheres Empreendedoras Europa & África. Para o futuro tem já em cima da mesa novos projetos e parcerias fulcrais no âmbito da sua causa: segurança na mobilidade.
FÁTIMA PEREIRA DA SILVA, NO SOLAR DA CERCA DO MOSTEIRO
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no mês da mulher que lhe damos a conhecer uma história e um percurso de mulher assente na persistência e determinação. Queremos felicitar, neste mês, todas as mulheres com história e percursos de reconhecimento. Fátima Pereira da Silva é filha de Alcobaça e leva a sua terra de paixão, sempre consigo em cada evento, conferência e palestra ao nível internacional. Coimbra é a sua segunda cidade. Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC). Dedica-se à atividade docente desde o ano de 2000 na ESEC. ISLA (Leiria) e IPL foram também percursos que regista como docente. Possui estudos avançados em Psicologia das Organizações do Trabalho e Recursos Humanos; é Mestre e Especialista por defesa de provas públicas no IPC; Especialista em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). Integra o grupo de trabalho da OPP que visa definir as competências e atribuições do Perfil do Psicólogo de Psicologia do Tráfego e foi Vogal/ Membro da Comissão Técnica Ad hoc para Adaptação da norma NP ISO 39001: 2017-“Gestão da segurança rodoviária nas organizações” Membro Diretivo de vários Comités e Associa-
ções Internacionais e Nacionais, foi recentemente eleita para a Direção do International Council on Alcohol, Drugs and Traffic Safety (ICADTS), sendo a única mulher europeia neste organismo mundial, com responsabilidades nos Comités de Marketing e Educação. Assume, ainda, funções diretivas no Consortium of Adolescent Road Safety, Inc (CADROSA- Austrália) como Public Relations Officer (EU), bem como no European Workplace Drugs Testing Society – EWDTS, onde integra, o comité de Networking desde 2015. Internacionalmente, assume ainda a coordenação das relações públicas no Traffic Psychology International, (TPI) e é membro da German Society for Traffic Psychology (DGVP- Deutsche Gesellschaft Fur Verkehrspsychologie, E. V) e ICTCT-International Co-operation on Theories and Concepts in Traffic Safety. “O Traffic Psychology International foi a alavanca internacional. Mais de 20 países e uma relação de amizade e elevado profissionalismo com todos os colegas de trabalho do TPI. Já estiveram em Alcobaça, em Coimbra e em Lisboa e irão concerteza voltar. Será em Portugal que em 2020 concretizarei o maior desafio de todos: Portugal será o palco dos fatores humanos, segurança e mobilidade nas suas várias vertentes onde peritos internacionais e algumas das organizações internacionais a que pertenço estarão seguramente presentes”.
PRÉMIO DE MÉRITO
“Ter sido honrada com um Prémio de Mérito e galardoada com o Prémio de Empreendedorismo pela Associação das Mulheres Empreendedoras Europa & África foi a valorização de três décadas de percurso. É e será sempre um momento nobre ao estar ao lado de outras mulheres que igualmente se destacaram nos seus percursos de vida. O Galardão de Mérito na Categoria de Empreendedorismo traduz determinação, persistência, resiliência e sobretudo a crença que devemos aliar pessoas, organizações, equilíbrio e qualidade”. Ao longo destes anos, investiu num percurso único como perita, consultora, docente e investigadora. Estreitar parcerias, partilhar conhecimento, aplicar novas metodologias, novas tecnologias, novas formas de intervenção nas organizações nacionais e internacionais no âmbito da sustentabilidade, qualidade e segurança das pessoas e organizações em contextos de mobilidade são a sua determinação de vida. “Olho para trás e tenho a clara consciência que só aqui cheguei porque fui persistente e lutadora e essa crença acompanha-me no dia a dia. Mas encontrei entraves e pessoas sem ética e formação. Esta é a face da “dor” do Empreendedor”.
PERCURSO CONSTRUÍDO E PROJETADO PARA O FUTURO
“Todos nós estamos conscientes de que muito há a fazer quando falamos de sinistralidade no cená-
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(ITS)”. Com orgulho, sou hoje uma das revisoras internacionais nos dois maiores congressos que irão decorrer em 2019: 26th ITS World Congress -Smart Mobility, Empowering Cities (21 a 25 de Outubro em Singapura), bem como do 13th ITS European Congress of Brainport-Eindhoven (3-6 de junho de 2019). Daqui “bebo” a atualização permanente dos desafios e contextos mundiais, permitindo partilhar com as organizações em Portugal, o saber e implementação de novos modelos numa lógica de sustentabilidade no presente e no futuro. A consultoria nestas áreas é um desafio atual projetado para o futuro, onde se ligam indiscutivelmente lógicas de cooperação entre o turismo, a mobilidade, a economia circular, entre outros desafios. Nas organizações e nas políticas públicas, temos a obrigação de fazer de Portugal um lugar de excelência em todos os contextos de mobilidade onde, os peões, devem também ter a primazia da nossa atenção”. “Campanhas de sensibilização sobre os perigos no consumo de álcool, drogas e condução, para crianças, jovens e adultos, fazem parte, também da minha atividade profissional, atuando numa lógica inovadora e introduzindo modelos formativos criativos, práticos e motivantes São disso exemplo, a utilização de materiais de simulação de álcool e drogas, bem como a utilização das mais recentes tecnologias de despiste de álcool no local de trabalho. Estar na direção do ICADTS e EWDTS é fundamental para partilhar em Portugal o que de melhor se faz no mundo. Assumir as funções de Public Relations Officer no Consortium Mundial com sede na Austrália (Cadrosa) e focar a intervenção nos comportamentos dos jovens condutores
e perigos a eles associados é um desafio permanente. Novas ações estão já definidas com vários parceiros e clientes. Por último: mulheres de referência que formam outras mulheres, que ajudam a definir percursos, entre tantas outras competências, são igualmente outros projetos que surgirão num futuro muito próximo. “Formação e Consultoria de Excelência com parceiros de referência são o suporte da minha atividade. O apoio incondicional do Crédito Agrícola sempre foi uma das referências e incentivo. Também a parceria com o Solar da Cerca do Mosteiro (Alcobaça) assume-se como um desafio de futuro. O Solar da Cerca do Mosteiro é uma referência local, nacional e internacional no âmbito do turismo. Com uma vista privilegiada para o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (património da UNESCO desde 1989), inspira naturalmente qualquer processo formativo. Chairperson no 11th EWDTS Symposium de expressão mundial (em Londres- Maio de 2019) e a coordenação do painel “Towards best practices for drug, alcohol, mobility and work”´será mais um dos desafios emergentes.
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O seu percurso baseia-se em modelos estruturantes nos quais cresceu e que a incentivam todos os dias. Uma família que sempre a apoiou: um pai modelo como profissional, como homem e como pai. “No universo, acompanha-me todos os dias”. Uma mãe que esteve e está sempre a seu lado, como mãe e
como avó. Os seus filhos que são e serão sempre o seu incentivo permanente e que lhe dão a força para continuar. Um irmão que traçou há muitos anos um percurso internacional onde tem feito um caminho brilhante, de excelência e internacionalmente reconhecido. “O meu percurso acontece com base nestes pilares estruturais e no equilíbrio entre a vida familiar, profissional e social. Este equilíbrio torna-se o nosso motor energético. Somos o que construímos ao longo de uma vida e o brilho nos olhos conquista-se todos os dias. Ser profissional é permanentemente a aprender com os melhores e para os melhores”. ▪
Fátima Pereira da Silva, vestida por Noivas Belina
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rio rodoviário. Os acidentes rodoviários são responsáveis pela morte de 1,35 milhões de pessoas, anualmente e são hoje a principal causa de morte de crianças e jovens entre os cinco e os 29 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) Organizei conferências internacionais em Portugal, sensibilizei até ao momento mais de 4 000 jovens relativamente aos perigos de condução sob o efeito de álcool e drogas. Foram mais de 10 000 avaliações psicológicas de condutores, múltiplas intervenções como consultora nas organizações, ligando o fator humano, a gestão de pessoas, a liderança, a qualidade, entre outras áreas de consultoria… mas não chega”. Tem que haver apoio, incentivo, um discurso alinhado para a cooperação entre entidade públicas e privadas. Tem que haver controlo do que se faz e como se faz. Temos tantos países na Europa a fazer bem. Trabalho com esses colegas, conheço a forma como se faz e muitas vezes pergunto: Porque em Portugal as organizações trabalham de forma isolada? Em 2018 e exatamente com esse objetivo, frequentei o Curso Superior em Estudos Superiores para a Implementação de Políticas Públicas em Segurança na Universidade Rey Juan Carlos/ Pons Seguridad Vial. Como colega e formador estava o atual Diretor Geral da DGT e outros colegas de renome Internacional com os quais frequentemente partilho informação. Como consultora e perita esta é e será uma área que, cada vez mais, importa atuar numa lógica de parceria/cooperação internacional e benchmarking. Desenvolvi a minha tese de Mestrado, já em 2004, sobre “Mental workload, aprendizagem, condução e Intelligent Transport System
FÁTIMA PEREIRA DA SILVA https://www.linkedin.com/ in/f%C3%A1tima-pereira-da-silva71b01014/
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26 PERSONALIDADES DISTINGUIDAS NA III GALA DE MÉRITO DAS MULHERES EMPREENDEDORAS EUROPA & ÁFRICA A Associação das Mulheres Empreendedoras Europa e África (MEEA) promoveu a III Gala de Mérito das Mulheres Empreendedoras Europa & África. O mais emblemático evento anual do Grupo “MEEA” realizou-se no passado dia 22 de fevereiro no Hotel Palácio Estoril, Lisboa, para galardoar mulheres empreendedoras.
D FÁTIMA PEREIRA DA SILVA
urante o jantar de Gala assistimos à entrega de Prémios de Mérito (Óscar) das Mulheres Empreendedoras Europa & África em diferentes categorias. Da saúde, às artes, passando pelo empreendedorismo, a política, o desporto ou a literatura, foram várias as mulheres que viram o reconhecimento do seu trabalho e do seu contributo para a sociedade com a atribuição do Prémio Mérito na III Gala de Mérito das Mulheres Empreendedoras Europa & África. O evento contou com momentos musicais das artistas Sofia Hoffmann, Monáxi e Salomé Pais Matos, com um desfile da nova coleção da estilista Zaineb El Kadiri e com a peça “Como salvar um casamento”, uma comédia encenada por Lídia Franco, com texto original de Bruno Motta. “Porque o amor é um assunto que nunca se esgota, esta comédia é uma aula séria sobre relações amorosas”. Lídia Franco foi uma das mulheres distinguida com o prémio Mérito na categoria “Representação”.
ISABEL DE NASCIMENTO
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III GALA DE MÉRITO DAS MULHERES EMPREENDEDORAS EUROPA & ÁFRICA
A bailarina Carolina Costa, de apenas 12 anos, venceu o Prémio Mérito na categoria “Arte”, tornando-se na mais jovem mulher de sempre a ser galardoada com este prémio. Na categoria “Empreendedorismo” foi a vez de Fátima Pereira da Silva, Helena Centeio e Patrícia Vasconcelos de verem o seu trabalho reconhecido. “A Associação Mulheres Empreendedoras Europa & África saiu mais encorajada para continuar a valorizar o papel da mulher nas mais distintas áreas profissionais pelo conjunto do seu trabalho”. A MEEA é um grupo de mulheres independentes, que ajudam criar sinergias entre mulheres de várias áreas sociais. O prémio é uma iniciativa da Presidente e Fundadora da Associação Mulheres Empreendedoras Europa & África, Isabel de Nascimento, empresária e ativista social e cultural na Bélgica e Portugal. ▪
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“LIDERO PELO EXEMPLO” “Posiciono-me enquanto parte integrante da equipa, lidero pelo exemplo, faço parte da solução e vejo os problemas como oportunidades”. Quem o afirma é Paula Ferreira de Almeida, Diretora Comercial da FactorChave, uma Mulher Líder que deu a conhecer à Revista Pontos de Vista um pouco mais do seu percurso profissional e da realidade geral da posição das Mulheres no universo dos negócios.
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aula Ferreira de Almeida é Diretora Comercial da FactorChave, sendo uma função que exige um elevado nível de profissionalismo e competência. Desta forma, dê-nos a conhecer um pouco mais do trajeto profissional e como chegou até ao cargo que ocupa atualmente? A FactorChave é uma agência de Marketing integrado com 19 anos de experiência, especializada na área da saúde. Paula Ferreira de Almeida é gestora com mais de 30 anos de industria farmacêutica. Iniciei a carreira como delegada de informação médica num laboratório nacional, evoluí para as multinacionais, para a carreira de marketing, tendo ocupado todos os cargos até à liderança de unidades de negócio onde permaneci cerca de oito anos. A passagem para a agência era desde há muito tempo ambicionada e aconteceu em 2011, alicerçada pelo conhecimento do mercado e das necessidades da Industria Farmacêutica, coincidindo com o crescimento da FactorChave até então liderada em exclusividade pelo Vasco Noronha. Orgulhamo-nos de estar a construir uma PME líder, com uma estrutura de 12 pessoas, de possuirmos para além da certificação ISO9001, o certificado n1 de qualidade em Congressos em Portugal.
Liderança Feminina ou Liderança Masculina? Existe alguma diferença entre ambas ou a questão da liderança nada está relacionada com a vertente do género? Liderança pelo talento. As capacidades de liderança não dependem do género. No seio da FactorChave, que análise perpetua das oportunidades dadas ao sexo feminino? É uma instituição que promove essa igualdade? Somos uma equipa maioritariamente jovem e feminina. Sempre que estamos a contratar, as pessoas mais criativas, com as características que queremos na equipa tem sido mulheres. PAULA FERREIRA DE ALMEIDA
buição de lucros quando os objetivos são superados. Quem é Paula Ferreira de Almeida como Líder de pessoas? Posiciono-me enquanto parte integrante da equipa, lidero pelo exemplo, faço parte da solução e vejo os problemas como oportunidades. Adoro a partilha e o saborear das vitórias, motivo a aprendizagem com os erros diários. Defendo sempre que só não comete erros quem nada faz. Tenho muito orgulho quando a equipa diz que somos inspiracionais. A desigualdade do género assume-se como um obstáculo à evolução. Durante a sua carreira, alguma vez sentiu ou enfrentou
obstáculos pelo simples facto de ser mulher? Quem nunca sentiu? A experiencia baseia-se exclusivamente na passagem pelas multinacionais onde apesar de todas as politicas de igualdade de género, senti sempre que pela mesma tarefa ainda que com maior competência, formação e resultados a remuneração era sempre inferior. Nunca senti quaisquer obstáculos à evolução pelo facto de ser mulher e mãe. O que falta, na sua opinião, para que a igualdade de oportunidades seja cada vez mais uma realidade? As oportunidades estão lá! Dá muito trabalho gerir tudo, é necessário um planeamento elevado,
Que mensagem gostaria de deixar a todas as Mulheres que irão ler a sua entrevista? Para acreditarem que são seres fantásticos e que conseguem tudo o que quiserem alcançar! Tudo começa com um sonho, deste para o planeamento e para a concretização depende do nosso trabalho, perseverança, resiliência e espirito positivo, o sucesso está no final. Numa dinâmica mais empresarial, o que podemos esperar de si e da FactorChave de futuro? A FactorChave quer ser reconhecida enquanto o parceiro preferencial para a concretização e superação dos objetivos dos nossos clientes quer estejam a organizar o lançamento de um produto novo ou de um congresso. Da Paula e do Vasco, continuarem a inspirar a equipa a superar objetivos. ▪
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Num mercado de trabalho onde as questões ligadas à liderança e à gestão de talentos são cada vez mais fulcrais, que características indicaria como sendo fundamentais para um líder e gestor de pessoas? Um líder tem de estar disponível para a equipa, as empresas são as pessoas que lá trabalham. Se tivermos uma equipa comprometida e alinhada teremos melhores resultados. Trabalhamos de porta aberta, somos interventivos e participativos. Lideramos pelo exemplo. Ouvimos as pessoas, acatamos as suas sugestões e implementamos muitas das mudanças que sugerem. Somos adeptos de quanto maior a liberdade, maior a responsabilidade. No final do dia, somos generosos, reconhecemos e recompensamos, fazemos distri-
uma estrutura de apoio pessoal e familiar para hoje em dia ser profissional, mulher e mãe. Tenho por lema que o único local onde o Sucesso vem antes do Trabalho é no dicionário. É mais cómodo e mais fácil muitas vezes ficar na argumentação de género, do não posso e do não consigo do que ir à conquista dos sonhos e dos objetivos. Falta às mulheres sentirem e acreditarem que são capazes! Acreditar em si mesmo, no ‘eu vou conseguir’, no milagre do ‘eu posso’ e ‘eu quero’. A maior parte dos obstáculos existem apenas dentro da nossa cabeça.
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UMA RAINHA NA HOTELARIA Sandra Menezes é a criadora da marca HOMELAB, uma marca direccionada para o sector de Têxteis lar, com foco principal em Hotelaria. Apesar de ser uma marca recente é já um sucesso no meio, um negócio até aqui liderado maioritariamente por homens. Em entrevista à Revista Pontos de Vista, a nossa interlocutora falou um pouco mais deste projeto e do seu percurso profissional.
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omo justifica este sucesso e o relaciona com o facto de ser mulher? Nos dias de hoje ser mulher é sinónimo de determinação, isto aliado à sensibilidade natural das mulheres traz resultados muito positivos para as empresas. O sucesso das empresas são as pessoas, deve haver um equilíbrio, um ambiente misto e não um mundo só de mulheres nem só de homens porque é inegável que se complementam. Como mulher encontrou muitas barreiras pelo caminho? Admito que para chegar ao mesmo patamar que os homens é mais difícil, encontrei mais obstáculos mas, com dinamismo e perseverança chegamos lá e depois encontramos igualdade nos pares. Só precisamos das mesmas oportunidades!
Porque a sua empresa é considerada especial? É difícil vender algo em que não se acredita ou não se gosta, acredito muito no nosso produto, o tratamento com o cliente é bastante diferenciador, não somos meros fornecedores, somos parceiros, conselheiros, consultores. Os nossos clientes aumentam as críticas positivas
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O meu objectivo principal é trazer mais cuidado, qualidade e luxo à hotelaria na área dos têxteis que, muitas vezes são esquecidos e deviam ser considerados como dos mais importantes SANDRA MENEZES
dos clientes deles porque adaptamos o artigo às necessidades do cliente, tendo em conta ambiente inserido, características da unidade e dos próprios consumidores. Temos uma excelente relação qualidade preço, é muito importante sermos competitivos. O meu objectivo principal é trazer mais cuidado, qualidade e luxo à hotelaria na área dos têxteis que, muitas vezes são esquecidos e deviam ser considerados como dos mais importantes porque a roupa de cama e banho são considerados os verdadeiros cartões-de-visita de um hotel, pois o seu uso reflecte-se directamente no conforto e satisfação do hóspede. Como lidera a sua equipa? O desafio é incluir toda a equipa e, fazer acreditar que quando a empresa cresce crescemos todos, e funcionários felizes e motivados são mais produtivos.
Que mensagem deixaria a outras mulheres? Convidava todas as mulheres a acreditarem no seu potencial, a serem independentes e determinadas. Mesmo com os desafios da vida moderna, que fazem com que as mulheres estejam verdadeiramente assoberbadas, não vamos desistir agora e perder o estatuto que tão difícil foi conseguir! ▪
31 2019
É licenciada em psicologia, isso ajuda na sua posição enquanto líder? Penso que sim, deu-me algumas ferramentas para poder pôr em prática enquanto líder. A liderança ainda é associada à capacidade de ser assertivo, dominante e ter autoridade mas, quando associamos isso a mulheres, pensamos na liderança de forma diferente. A liderança feminina é inclusiva, encoraja a participação, partilha o poder e informação com todos por isso tende a criar grupos mais fortes. O estilo da mulher é inovador, assenta na qualidade, flexibilidade, comunicação e persuasão, assim como conseguem gerar altos níveis de empatia.
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“SER MULHER AJUDOU-ME IMENSO NUM MUNDO MAIORITARIAMENTE MASCULINO” A Revista Pontos de Vista conversou com Cristina Sousa Conduto, Administradora da Lock Corporate Spaces, uma marca especialista em Design e Construção de espaços interiores, onde ficamos a conhecer um pouco mais do percurso da nossa entrevistada e da sua paixão pela arquitetura.
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administradora da Lock Corporate Spaces, uma empresa especialista em Design e Construção de espaços interiores. Como surgiu este projeto na sua vida? Comecei desde muito cedo a trabalhar, fiz inicialmente projeto, mas cedo descobri que o que gostava mesmo era da obra, de ver acontecer. Fui aprendendo, e tive a imensa sorte de trabalhar em empresas que me permitiram crescer profissionalmente, mas, trabalhando por conta de outrem, os procedimentos e as formas de trabalhar, por muito que aportemos o nosso estar e conhecimento, são sempre formas impostas que, quer concordemos ou não, temos que cumprir. O projeto LOCK permitiu-me liberdade de atuação, sair da rotina e conseguir trabalhar em algo que gostava. Procurei um novo projeto que me desse liberdade na definição de objetivos, na decisão de quando e como trabalhar, na definição de estratégias e na escolha de equipas. Procurei fazer aquilo que sempre gostei de fazer, sem monotonia. Fazer o que me dá prazer. É desafiante e exigente, mas o esforço é claramente recompensado. Mas como é impossível criar um negócio e ter sucesso sozinho, foi extremamente importante criar uma equipa com pessoas talentosas, com competências que eu não possuía. O projeto Lock surgiu naturalmente, somos três sócios que já trabalhávamos juntos numa empresa com o mesmo core business, mas com a qual não partilhávamos exatamente os mesmos valores.
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Que motivos a levaram a escolher arquitetura? Acho que já era arquiteta antes de saber... de miúda adorava construir cidades e casas em Lego. Acho que era a única altura em que gostava de brincar com bonecas! Não tinha especialmente muito jeito para o desenho, mas adorava imaginar espaços e analisar a forma como se interligavam e funcionavam. Na arquitetura, adoro o mundo multidisciplinar que tem de se gerir. É como um puzzle que tem de se montar, não descurando nenhuma das suas peças. O exercício de Arquitetura é difícil, mas também bastante divertido e empolgante por causa do dinamismo da sua experiência. Como todas as profissões, a arquitetura é uma forma de saber. Ser arquiteto é partilhar uma certa forma de ver o mundo, capaz de tirar partido do espaço, das tecnologias construtivas, dos instrumentos de representação e de outros aspetos do
origem na pessoa que os vive, sendo os indivíduos todos diferentes será natural que as respetivas arquiteturas tenham determinadas identidades e caraterísticas, independentemente do género. Comecei a trabalhar no segundo ano de arquitetura na FAUTL. Trabalhava no gabinete de projeto de um professor da faculdade que era maníaco com o rigor da representação do espaço e na organização do mesmo. Aprendi imenso. Nunca senti, neste período qualquer tipo de segregação de género... ganhava o mesmo que os meus colegas e tinha as mesmas obrigações que eles! Depois de acabar a faculdade, comecei a trabalhar num gabinete de projeto de uma multinacional que fazia essencialmente Shopping Centers! E aí, entrei diretamente para o mundo Não considero da obra. Não tive tempo de teorizar CRISTINA SOUSA CONDUTO existir uma arquitetura muito o conceito masculina e/ou uma de arquitetura, conhecimento disciplinar, arquitetura feminina, era tudo muito contribuindo para uma ou sequer que existam racional e rápisociedade mais culta e especificidades em arquiteturas qualificada. do, deparei-me com tudo aquifeitas por mulheres e em O que mais a apaixona no lo que não nos arquiteturas feitas por seu trabalho? tinham ensinado homens O que mais me apaixona é na faculdade. Histoa contínua aprendizagem, o ricamente, o mundo conhecimento do mundo que nos da obra foi aprendido rodeia, a transformação do impossível. como sendo duro e fisicaO desconforto da saída da nossa zona de mente exigente, dando origem a conforto, que nos faz aplicar teorias e conhecitodo um imaginário sobre os papéis adequados à profissão, papéis esses associados ao género mentos de outras áreas. Considero que todos masculino. Contudo, considero que tive muita esses conhecimentos são muito bem-vindos sorte, nunca senti qualquer tipo de discriminadentro da arquitetura, e essas outras fontes de conhecimento podem ser tão variadas como ção e sempre tive o respeito de todos com quem relações sociais, geografia, filosofia e economia. trabalhava! Acho mesmo que ser mulher ajuAdoro a relação entre o espaço, a gestão das dou-me imenso num mundo maioritariamente expectativas do cliente, os condicionamentos masculino, conseguia melhores resultados que espaciais e técnicos. A análise das partes para os meus colegas homens. construir um todo! Um conselho a quem gostaria de construir Onde encontra inspiração para realizar os carreira em arquitetura. seus trabalhos? Que o façam com paixão, que sejam (muito) No mundo que me rodeia... nos detalhes, na persistentes e que acreditem que como arquitecnologia, nos novos materiais, na racionalizatetos temos uma grande arma, apercebemo-nos do todo. ção do estar, na procura do sentido estético do Que como arquitetos empreendedores prenecessário. cisamos de tomar a dianteira, propor projetos, explicar porque é que eles fazem sentido e ir em Na sua opinião, as arquitetas têm uma visão busca das soluções necessárias e das compemuito diferenciada dos arquitetos? Não considero existir uma arquitetura mascutências para os realizar. Que precisamos muitas vezes de descer um pouco à terra, deixar a bolha, lina e/ou uma arquitetura feminina, ou sequer observar, falar e, sobretudo, ouvir. Só assim conque existam especificidades em arquiteturas feitas por mulheres e em arquiteturas feitas por seguimos juntar uma série de ferramentas, uma homens. O exercício da arquitetura resulta num série de competências que podemos usar e conjunto de vivências e experiências, que têm interligar para agir. ▪
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OPINIÃO DE ISABEL HENRIQUES, FUNDADORA DA MENTAL HEALTH CLINIC ISABEL HENRIQUES
A QUESTÃO DA PSICOLOGIA E A DOENÇA MENTAL NAS MULHERES A figura da mulher, outrora um elemento secundário, passou a ser extremamente importante na sociedade atual, onde ela exerce cada vez mais um papel de protagonista, embora ainda sofra com as heranças históricas do sistema social no seu dia a dia.
para conflitos não resolvidos no nível da consciência. As bases dos mecanismos de defesa são as angústias. Quanto mais angustiados estivermos, mais fortes os mecanismos de defesa ficam ativados. (Freud) A ansiedade é um dos transtornos mentais mais comuns, principalmente em mulheres. Pode ser um desdobramento da depressão, mas também aparece muitas vezes sozinha e pode causar complicações na vida de quem desenvolve esse tipo de transtorno. Os transtornos mais comuns nas mulheres são a depressão, transtorno de ansiedade, transtorno disfórico pré-menstrual (SPM), distúrbios alimentares e o transtorno de stress pós-traumático.
Segundo a OMS em Portugal, a prevalência de sintomas de depressão (ligeira e grave) nas mulheres é de (13,59%). Várias pesquisas mostram uma maior vulnerabilidade feminina aos transtornos mentais, isto pode ser devido às alterações no sistema endócrino que ocorrem no período pré-menstrual, pós-parto e menopausa. Pode até parecer que estamos a falar da tensão pré-menstrual, a famosa TPM, mas o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual é algo mais forte e mais sério. Este pode atingir até 10% das mulheres e apresenta sintomas muito parecidos com os de uma Transtorno Pré-Menstrual convencional, porém, muito mais fortes. Alguns de-
les são, ansiedade, dores intensas nos seios, retenção de líquidos, irritabilidade e distúrbios de apetite e do sono. A principal causa do transtorno disfórico pré-menstrual é a alteração de transmissão de neurotransmissores, os responsáveis por fazer a comunicação entre os diversos setores do sistema nervoso. Entre os neurotransmissores, o mais afetado é a serotonina, que, quando alterada, deixa de inibir os sintomas que causam o transtorno. O Transtorno de stress pós-traumático é, também, um tipo de transtorno que atinge diversas mulheres por diferentes motivos, violência doméstica, abuso, etc, neste tipo de transtorno especificamente, além do fator hormonal, também existe o fator social. Os principais sintomas do transtorno e stress pós-traumático são, agitação e agressão, ataques de pânico, stress agudo, pensamentos suicidas e tensão extrema. Apesar do fator social ser de extrema relevância para o número de mulheres que desenvolvem este transtorno, muitas mulheres também desenvolvem o transtorno de stress pós-traumático após um parto difícil/traumático, que pode afetar até mesmo uma próxima gravidez. Felizmente, quase todos os transtornos têm um tratamento tranquilo, que apesar de envolver acompanhamento psicológico e medicamentos, mostram resultados e proporcionam melhoras significativas na vida de quem os faz. A melhor forma de prevenir a depressão é cuidando da mente e do corpo, com alimentação saudável e prática de atividades físicas regulares. Saber lidar com o stress e compartilhar os problemas com amigos ou familiares é outra alternativa, que pode ser aliada à prática de alguma atividade integrativa e complementar, como yoga, por exemplo. Ajudam a prevenir a depressão leitura, aprender coisas novas, ter hobbies, viajar e se divertir. Essas práticas mantém a cabeça ativa e a ocupam com pensamentos positivos. ▪
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om o tempo, foi abandonando a figura de mera dona de casa e assumindo postos de trabalho, cargos importantes de variadíssima ordem, os quais lhe foram dando um papel menos submisso. Atualmente, apesar das desigualdades entre géneros serem menores, esta continua a carregar, ainda, todo o tipo de obrigações inerentes ao seu papel de mulher, ser esposa, mãe e dona de casa, o desgaste e a fadiga vão-se acumulando, ficando assim mais vulneráveis a doenças mentais, tais como ansiedade, depressão, fobias, pânico, insónias e diminuição do desejo sexual. Entre os transtornos mentais os mais comuns nas minhas pacientes são a depressão, a bipolaridade, Estado-Limite da personalidade e problemas relacionados com ansiedade. As causas de cada um dos distúrbios variam de mulher para mulher e cada caso é avaliado individualmente. Os transtornos mentais são disfunções no funcionamento da mente, que podem afetar qualquer pessoa e em qualquer idade e, geralmente, são provocados por complexas alterações do sistema nervoso central. Charles Darwin, o brilhante naturalista britânico, famoso por ser o pai da teoria da seleção natural e da evolução, percebeu a importância de compreender a forma como nos emocionamos. Do ponto de vista evolutivo, o estudo das expressões de Darwin sugere que todos os organismos dispõem de mecanismos emocionais primordiais, inatos e conservados, que nos ajudam a sobreviver. Esta “sobrevivência” a que este se refere retrata, no entanto, ações psicológicas (mecanismos de defesa) têm por finalidade reduzir qualquer manifestação que pode colocar em perigo a integridade do ego, onde o indivíduo não consiga lidar com situações que por algum motivo considere ameaçadoras. São processos subconscientes ou mesmo inconscientes que permitem à mente encontrar uma solução
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A PRESENÇA FEMININA NO UNIVERSO DA ALD AUTOMOTIVE Devido às capacidades de facilitação, dinamização e monitorização dos projetos, temos vindo a assistir à transferência para um conjunto de mulheres da gestão estratégica das empresas. A presença de um conjunto de mulheres na gestão de topo das empresas espelha a ALD Automotive, empresa líder europeia de gestão de frotas que tem vindo a apostar num crescimento de cargos femininos na direção da empresa em Portugal. A Revista Pontos de Vista foi conhecer as Mulheres Líderes da ALD Automotive. Saiba quem são e qual a sua importância na organização. SUSANA JACINTO, CARLA CARVALHO, MARTA LOPES DE ARMADA E PATRÍCIA SANCHES
DIREÇÃO DE RECURSOS HUMANOS CARLA CARVALHO
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omo chegou até à ALD Automotive e quais diria que são as suas motivações de futuro? A minha presença dentro do Grupo Société Generale é vasta e a minha passagem para a gestora de frotas do Grupo acabou por ser natural. Sendo o nosso core business a gestão de frotas, trabalhar sobre a mobilidade dos nossos Clientes e dos nossos colaboradores em particular, de uma forma corporativa, coerente e justa, é talvez o meu maior desafio futuro. Outra missão importante e pertencendo o Renting a um setor fortemente competitivo, passa por integrar os nossos colaboradores numa transição energética responsável, promovendo a experiência e formação para o conhecimento destas novas tecnologias. É importantíssimo desenvolver internamente as competências de futuro, só assim conseguiremos acompanhar as novas formas de mobilidade e de inovação existentes a grande velocidade no nosso setor. Um exemplo recente foi a disponibilização aos nossos colaboradores da Electric Mobility station, que lhes permite conhecer uma forma de mobilidade interna, elétrica, atual e disruptiva. Sendo a Diretora de Recursos Humanos da marca, a sua função assenta na relação com as pessoas. O que é para si mais difícil neste exercício de gerir pessoas? Vivemos numa época de rápido avanço tecnológico nas organizações e gerir relações humanas nestas alturas é realmente desafiante. Neste contexto dar a devida valorização aos nossos colaboradores que são a alavanca principal do crescimento do nosso negócio é essencial. Pessoas que têm a capacidade de inovar e de pensar “fora da caixa” e que são capazes não só de desempenhar a sua função, mas de criar, surpreender e fazer a diferença. Por essa razão, criámos o ano passado um grupo de inovação, composto por colaboradores que trabalham em conjunto para trazer projetos diferentes e inovadores para a empresa. Sente que ainda existe preconceito relativamente a Mulheres Líderes no universo dos negócios? As mudanças implementadas em conjunto com
as políticas de recursos humanos funcionam como agentes de mudança da cultura da empresa. A ALD Automotive aposta numa forte cultura de igualdade e inovação, onde as pessoas têm a capacidade de se adaptar rapidamente e agarrar o sentido de oportunidade, assumindo assim um papel vital e crucial no crescimento da empresa, seja Homem ou Mulher. Como exemplo, a empresa tem mais de 100 colaboradores com um grande equilíbrio, de 46% sexo masculino e 54% do sexo feminino. Acreditamos que valores humanistas como a liberdade de trabalho, a igualdade de género e de direitos, a autonomia e responsabilidade têm um peso essencial nas organizações. Que mensagem gostaria de deixar a todas as Mulheres que irão ler a sua entrevista? As lutas e conquistas dos direitos de género são notórias para toda a humanidade, mais liberdade e mais igualdade. Hoje em dia o perfil das Mulheres é muito diferente daquele do começo do século, e felizmente existe um maior equilíbrio em termos de género, quer no âmbito familiar, quer no mundo do trabalho. Atualmente, as mulheres têm maior destaque no mundo dos negócios, por exemplo, os Membros da Direção da ALD Automotive Portugal são compostos por 50% de mulheres, e existem políticas nacionais e internacionais que incentivam a diversidade e a igualdade de géneros nas equipas. Já está mais do que provado que as mulheres são profissionais e perfeitamente capazes de conquistar aquilo que ambicionam e de efetuar transformações profundas no curso da história. Bem sei que ainda existem realidades muito diferentes da nossa, onde as lutas em busca da salvaguarda de direitos das mulheres é crucial. É preciso acreditar na mudança e continuar a lutar por uma vida condigna para todos.
DIREÇÃO DE PARCERIAS PATRÍCIA SANCHES
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atrícia Sanches é, atualmente, Diretora de Parcerias da ALD Automotive, sendo um cargo de enorme responsabilidade. Como analisa o seu trajeto até aos dias de hoje? O meu trajeto foi sempre muito ligado à área
comercial, num percurso enriquecedor nesta área tanto em Portugal como a nível internacional, que me permitiu assumir este recente desafio e contribuir de forma positiva, assim o espero, para o desenvolvimento e crescimento da área de parcerias e do produto de Renting em Portugal. Há um enorme potencial de clientes que pretendem um Renting e que não o procuram necessariamente junto de uma gestora de frotas. Aqui o nosso papel é fundamental para selecionar e dotar os nossos parceiros de ferramentas para converterem essas oportunidades eficazmente. O meu objetivo passa por dar continuidade à imagem de liderança e notoriedade da marca ALD Automotive na distribuição indireta, fortalecendo a relação junto dos atuais parceiros, bem como abordar novas soluções de parcerias. As mulheres empreendedoras têm vindo crescer e a conquistar o seu espaço. Mas é suficiente? Existem as mesmas oportunidades para mulheres e homens? Sim, sem dúvida. Sou talvez a mais recentemente nomeada para um cargo de direção na ALD Automotive Portugal. Cresci no Grupo ALD Automotive e sempre senti a igualdade entre homens e mulheres como ponto estratégico de atuação da empresa. Se assim não fosse, o convite para desempenhar funções e adquirir experiência internacional na sede da empresa em Paris, e agora como parte da direção em Portugal, não teria sido possível. De igual forma, a presença feminina é cada vez maior no mundo dos negócios. É fácil ser-se mulher no mundo dos negócios? Alguma vez sentiu dificuldades ou enfrentou obstáculos pelo facto de ser mulher? Falamos muitas vezes entre nós, sobre a igualdade e a presença das mulheres no mercado automóvel, num mundo que era até há uns anos quase que exclusivo do perfil masculino. A verdade é que nunca senti dificuldades/condescendência pelo facto de ser mulher, talvez por pertencer a uma empresa onde claramente essas diferenças não existem. No entanto, é nitidamente um setor de negócio dominado por homens.
Se pudesse mudar algo imediatamente de forma a tornar um mundo melhor para o universo feminino o que seria? O equilíbrio entre a família e o trabalho é fundamental para que o percurso nas duas áreas seja bem-sucedido e complemente a mulher enquanto ser individual/ mãe/ profissional. Numa perspetiva mais abrangente, em termos universais, o acesso à educação, liberdade de expressão e de escolhas mais do que essencial, é uma questão de justiça. É desolador que nalguns países ainda seja um direito a alcançar, parece uma realidade tão distante da nossa, só temos de estar gratas às feministas que conquistaram a igualdade. É um longo caminho a trilhar e começámos com alguns séculos de atraso. Que mensagem gostaria de deixar a todas as Mulheres que irão ler a sua entrevista? Serem otimistas à partida, e acreditarem que pelo facto de sermos mulheres já estamos dotadas de capacidades que nos permitem estar em clara vantagem!
DIREÇÃO FINANCEIRA MARTA LOPES DE ARMADA
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que considera que no seu trabalho é mais desafiante? Assumindo uma função de responsabilidade numa multinacional de relevância como é a ALD Automotive e sendo a marca e o Grupo em que se insere cotados em bolsa, surgem naturalmente desafios diários para garantir o controlo da atividade, minimizando todos os riscos inerentes ao negócio. A minha posição exige uma aprendizagem constante e uma visão muito atenta e abrangente face à complexidade da dinâmica do negócio, numa empresa onde a inovação é uma prioridade. Como caracteriza o seu percurso até ao momento na empresa? O meu percurso na ALD Automotive foi sempre marcado por desafios dentro da área financeira, criando processos e estruturando funções e equipas ao longo do tempo. Ter tido a oportunidade
de criar as fundações do Reporting, Controlo de Gestão e Análise de Risco, assumindo também a responsabilidade pela Contabilidade, permitiu-me ter as bases essenciais para manter o equilíbrio entre os pontos críticos do departamento financeiro e do negócio. O que é mais difícil quando se é mulher e se constrói, também, uma carreira? Assumindo uma função de Direção e tendo um foco absoluto no rigor da informação e no cumprimento de prazos e de reporte ao acionista, a gestão familiar é sem dúvida um desafio. A chave passa por manter o equilíbrio entre os objetivos da esfera pessoal e profissional, formando e atribuindo autonomia e sobretudo, confiando nas equipas que me acompanham. Se pudesse mudar algo imediatamente de forma a tornar um mundo melhor para o universo feminino o que seria? Na verdade, sinto-me privilegiada por pertencer a uma empresa onde existe igualdade de oportunidade entre géneros. Penso que a criação de uma plataforma de partilha de realidades como a ALD Automotive, poderá estruturar as bases para as empresas seguirem os casos de sucesso e implementarem medidas de oportunidade para a valorização pelo mérito, independentemente do género. Que mensagem gostaria de deixar a todas as Mulheres que irão ler a sua entrevista? A confiança em desempenhar qualquer função e acreditar na capacidade de adaptação são as bases para eliminar barreiras. Acredito que a mudança de mentalidade passa pela atitude. Atitude para informar, atitude para agir e atitude para mudar.
DIREÇÃO QUALIDADE SUSANA JACINTO
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um mercado de trabalho onde as questões ligadas à Qualidade e serviço ao cliente são cada vez mais fulcrais, que características indicaria como sendo
A desigualdade do género assume-se como um obstáculo à evolução. Durante a sua carreira, alguma vez sentiu ou enfrentou obstáculos pelo simples facto de ser mulher? Com mais de 20 anos de experiência profissional, metade dos quais como elemento da Direção da ALD Automotive, posso afirmar que o facto de ser mulher nunca constituiu um obstáculo na minha evolução profissional na empresa. Ter tido a oportunidade de evoluir na função, de ter atualmente a meu cargo áreas que requerem um elevado grau de ética, exigência, rigor e conhecimento, como a gestão de risco e controlo interno, a gestão da qualidade e a conformidade, evidenciam o reconhecimento e a confiança que a empresa sempre depositou em mim ao longo do meu percurso profissional. O que falta, na sua opinião, para que a igualdade de oportunidades seja cada vez mais uma realidade? A igualdade de oportunidades já é uma realidade dentro da ALD Automotive, foi sempre um tema presente, e promovido de forma recorrente pelo Grupo (que tem origens francesas). Em Portugal, como empresa que presta serviços, apesar de estarmos ligados a um setor que poderíamos dizer como “tendencialmente masculino” - o setor automóvel, sempre vi as oportunidades surgirem, tanto para a evolução na função, como para a mobilidade interna e externa. Exemplo disso é o número de mulheres que temos em cargos de responsabilidade na empresa, que entraram nos programas de mobilidade, inclusive dentro do Grupo. Se pudesse mudar algo imediatamente de forma a tornar um mundo melhor para o universo feminino o que seria? Não é uma questão fácil. Estamos numa era de grande mudança cultural e evolução tecnológica onde as questões de género já não deveriam ser questões e onde deveríamos poder evoluir de forma natural, sem ser “por decreto”. Que mensagem gostaria de deixar a todas as Mulheres que irão ler a sua entrevista? A competência, o profissionalismo, a responsabilidade, a ética, a perseverança e o compromisso, aliados a um equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal, são os fatores chave para o sucesso em qualquer atividade. De qualquer forma, devemos celebrar o facto de, mesmo com todos os desafios com que nos deparamos no dia-a-dia, conseguirmos estar, conseguirmos ter presença, conseguirmos Ser Mulheres! ▪
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FOTO: DIANA QUINTELA
fundamentais para um líder e gestor desta área? O Cliente procura cada vez mais um serviço de qualidade prestado com a máxima eficiência. Por isso, diria que a experiência, o conhecimento, o profissionalismo, a competência, a dedicação, aliados a uma atenção ao detalhe, a uma maior exigência, e capacidade de inovação, são talvez as características fundamentais para um gestor nesta área. Assegurar um processo em melhoria continua e focado na satisfação do Cliente fazem parte das competências necessárias, numa área cada vez mais competitiva e onde o Cliente é cada vez mais atento à qualidade do serviço que lhe é prestado.
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“CUSTA MUITO SAIR DA ZONA DE CONFORTO, MAS É FUNDAMENTAL PARA O CRESCIMENTO” Falar de Edite Ten Jua, atual Assessora dos Assuntos Petrolíferos do Primeiro-Ministro e Chefe de Governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe, é falar de uma mulher que acredita que nada é impossível e que utiliza as plataformas e as oportunidades que a vida proporciona para crescer e servir de exemplo para as gerações mais novas. Venha connosco saber mais.
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o longo da sua experiência profissional já acumulou experiência como advogada, mediadora, jurista, consultora e Ministra da Justiça, Administração Publica e Assuntos Parlamentares de S. Tomé e Príncipe. O que a motiva e a inspira diariamente para alcançar os projetos e objetivos a que se propõe? Sou uma mulher de fé, acredito que aprendo todos os dias e, sobretudo, gosto de superar-me. O conhecimento é dinâmico, o que sabíamos ontem já foi melhorado hoje; então, inspiro-me nessa perspetiva dinâmica dos acontecimentos.
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Edite Ten Jua é também uma mulher empreendedora e dona da marca TEN JUA Collection, um dos seus sonhos desde criança. Em que momento da sua vida surge este projeto? Que valor aporta para si? A Ten Jua Collection surge de três fatores fundamentais ao longo da minha vida. De uma mãe que embora de origem humilde sempre teve bom gosto e sempre valorizou a qualidade sobre a quantidade. Na adolescência tive alguns amigos ligados a moda e que através dos mesmos comecei a ir ao Moda Lisboa e aos desfiles de moda. Estávamos na década de 90, início dos anos 2000 e é a altura em que surgem as icónicas modelos como a Naomi Campbell, a Claudia Schiffer, Christy Turington, a Cindy Crawford entre outras e na moda portuguesa as fantásticas Ana Marta Faial, a Sofia Aparício, a Nayma. A tudo isto acresce a minha ida à Nigeria em 2004, por razões profissionais, onde me deparo com uma vivência diferente. A riqueza dos panos africanos, no contexto dos mercados cheios de cores e aromas tropicais. As diversas
EDITE TEN JUA
línguas locais e sobretudo a história por detrás do pano africano. Aprendi que os panos caracterizam diversas etnias e são utilizados em cerimónias específicas, servindo como elemento unificador e representativo de respeito. A TEN JUA Collection surge em 2006, tendo aberto a primeira loja em S. Tomé no ano de 2007, seguiu-se uma segunda loja em Abuja (capital da Nigeria) em 2010 e em 2017 abrimos uma pop-store no Chiado, em Lisboa. Neste momento estamos a abrir novamente em S. Tomé. A moda tem relevância, na medida em que é uma forma de comunicar, ela exprime quem somos ou o que queremos projetar, ela contém em si uma mensagem. Ao mesmo tempo, a moda conta uma história, seja no corte, seja nos tecidos utilizados. E sobretudo a moda representa uma área de investimento em crescente expansão. Como se definiria enquanto profissional? Diria que a veia de empreendedora já nasceu consigo? Enquanto pessoa posicionei-me em ser uma solução, uma resposta, e transporto isso para a minha vida profissional. Acredito que sim, que a veia empreendedora já nasceu comigo. Acredito que essa vocação foi reforçada pela minha mãe que era, efetivamente, uma grande empreendedora, uma mulher que estudou somente até à 4a classe, mas que era avançada para o seu tempo, no sentido dos princípios que ela valorizava: a educação, as boas maneiras, o diálogo. Igualmente, acredito que, enquanto africana que veio para Portugal em 1976, fiz parte de uma geração que tinha de se superar, porque viemos sem nada e tínhamos de enquadrarmo-nos numa sociedade
diferente e em que tínhamos de vencer. Enquanto Cristã acredito que todos temos em nós o poder criativo de Deus. Tanto quanto sei, Deus não faz cadeiras, mas fez árvores e delas o ser humano cria objetos infindáveis, então nós temos a capacidade de criar. Defende que é importante sair-se da zona de conforto e ir atrás do que realmente se gosta de fazer. É este lema que tem pautado o seu percurso? Custa muito sair da zona de conforto, mas é fundamental para o crescimento e para que possamos abrir novos horizontes. Gosto de ilustrar que o próprio processo de nascer é extremamente doloroso e stressante quer para mãe, quer para o filho. Mas se a criança ficar no conforto do útero materno nunca será a pessoa que deveria ser. O desconforto, a dificuldade e até os fracassos são elementos propulsores para o crescimento e o sucesso. É ainda escritora e autora de histórias infantis como o livro “Tita Catita” e defensora do empoderamento das mulheres e dos direitos das crianças. Que projetos tem ligados a estas causas? Escrevo livros infantis porque acredito que só se consegue ser grande sonhando e idealizando. E as histórias são, de facto, um meio de dar a conhecer estórias, hábitos e costumes, ao mesmo tempo que se incute o hábito da leitura. Cada vez lemos menos. Nunca tivemos uma sociedade com tanto conhecimento disponível, ao toque de um dedo, de uma tecla. A era digital é, sem dúvida, uma grande aquisição, mas também nos tornou seres mais isolados, alimentados por imagens predefinidas, em que
Em 2004, quando integra os quadros da organização internacional Autoridade Conjunta Nigéria - S. Tomé e Príncipe, exercendo funções na unidade Jurídica (que dirigiu entre 20082010), torna-se na primeira mulher advogada santomense no setor do Petróleo e Gás. Este foi, na altura, um verdadeiro desafio para si? Foi um grande desafio. Vinha de um background de advocacia em Portugal e Moçambique. Estava, na altura, a dirigir o Departamento de Tax & Legal da KPMG Angola, através do qual tive a oportunidade de passar pela KPMG Africa do Sul e KPMG Moçambique. Angola apresentava-se um espaço profissional interessante, após a guerra civil, despertando um enorme interesse às grandes empresas internacionais. Tinha sido convidada para criar de raiz a prática jurídica e fiscal da KPMG Angola e formar jovens quadros talentosos para os desafios empresariais que se avizinhavam. Foi uma época profissional muito interessante, em que tive como grande mentora a saudosa Isabel Serrão, então Sénior Partner da KPMG Angola, alguém que me incentivou imenso na minha carreira e que me mostrou que as mulheres podem e devem empoderar outras mulheres no contexto profissional. Na mesma época recebo um convite para dirigir a Polícia de Investigação Criminal de S. Tomé e Príncipe, convite que declinei devido a esta grande responsabilidade profissional que se me apresentava em Angola. Mas, anos antes S. Tomé e Príncipe começara a surgir no contexto da exploração petrolífera,
sobretudo na Zona de Desenvolvimento Conjunto com a Nigéria; e eu havia-me candidatado para preencher uma vaga como advogada na organização internacional Nigeria-São Tomé e Príncipe e, em 2003, recebo a oferta de trabalho. Foi, efetivamente, um grande desafio, que me tornou na primeira mulher jurista no setor do Petróleo e Gás. Vinha de um background de advocacia em Portugal e Moçambique, onde exerci advocacia nas firmas Macedo Pinto & Pedrosa Russo e a sociedade António Vasconcelos Porto & Associados. Num país com uma língua diferente (o inglês), com um sistema jurídico diferente, numa indústria eminentemente masculina. Foram anos em reuniões em que eu era a única mulher. Devo reconhecer o cavalheirismo dos colegas, mas no estágio da progressão o mundo profissional ainda é muito masculino. No entanto, há que reconhecer da mesma forma a presença feminina transversalmente nos diversos setores profissionais da sociedade; embora ainda tenhamos um longo caminho a percorrer no sentido da consolidação da nossa presença. Temos de continuar a advocacia por salários iguais para funções iguais, maior representatividade nos Parlamentos e maior oportunidade para as meninas e mulheres. Durante o seu percurso profissional enfrentou obstáculos pelo facto de ser mulher? A desigualdade de género é uma realidade para si? Não e sim. Não, porque pertenço a uma classe profissional com muitas mulheres, porque tive o privilégio de abraçar projetos pioneiros, o que logo, à partida, me colocou na primeira linha de os desenvolver. Mas sim, no que concerne à progressão na carreira. No início da minha carreira senti que ser mulher, jovem e negra criou alguns entraves a uma maior progressão. Parece-me que a sociedade permite, acede à capacidade da mulher para iniciar, para maturar projetos, mas, muitas vezes, quando é o momento de reconhecer o trabalho, o empenho e as escolhas recaem nos homens. Em alusão ao dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, desejo que as mulheres sejam mais unidas e que assumam o papel de mentorar outras meninas e mulheres, ao mesmo tempo em que educam os rapazes a serem fortes e decididos, mas reconhecedores do valor de uma mulher. No essencial, que a sociedade progride de modo mais sustentável se tiramos partido das capacidades próprias e inerentes, quer dos homens quer das mulheres. ▪
QUEM É EDITE TEN JUA Atualmente exerço as funções de Assessora dos Assuntos Petrolíferos do Primeiro-Ministro e Chefe de Governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Fui convidada a colocar os conhecimentos adquiridos ao longo de quinze anos no setor petrolífero ao serviço do país. São Tomé e Príncipe está estrategicamente localizada na zona do Golfo da Guiné, a qual é efetivamente uma das regiões geológicas mais
ricas do mundo em hidrocarbonetos. O setor do Petróleo e Gás é a par do Turismo, da Agricultura e das Pescas um dos sectores de grande importância para São Tomé e Príncipe, a qual possui duas grandes áreas com grande potencialidade em petróleo e gás: a Zona Económica Exclusiva e a Zona de Desenvolvimento Conjunto com a República Federativa da Nigéria, ambas têm despertado grande interesse internacional.
Foi, efetivamente, um grande desafio, que me tornou na primeira mulher jurista no setor do Petróleo e Gás. Num país com uma língua diferente (o inglês), com um sistema jurídico diferente, numa indústria eminentemente masculina. Foram anos em reuniões em que eu era a única mulher. Devo reconhecer o cavalheirismo dos colegas, mas no estágio da progressão o mundo profissional ainda é muito masculino 37 2019
em vez de se procurar a autenticidade se cultiva o copiar a história do outro. O querer ser o outro. O livro, na minha opinião, alarga a imaginação. Potencia a curiosidade e a aprendizagem. No âmbito dos direitos das crianças tenho através da minha Fundação El-Shaddai feito ações com crianças desfavorecidas em África, onde o acento tónico é a escola, a educação e a importância da estruturação familiar. Quanto as mulheres tenho tido a oportunidade de participar em colóquios e debates sobre a temática da mulher, no contexto do combate à violência doméstica, a necessidade de maiores oportunidades laborais e a representatividade, sobretudo política. Mas, considerando sempre que as mulheres, sobretudo mães e encarregadas de educação, devem promover, incentivar o conhecimento das meninas e mulheres de modo a que adquiram efectivamente as competências necessárias para preencher lugares chaves na sociedade.
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“SOU QUEM ESTAVA DESTINADA A SER, MULHER E ADVOGADA” “É a própria sociedade em si que se encarrega do reconhecimento do profissionalismo, independentemente do género”, afirma Manuela Silva Marques, Of Counsel na Ilime Portela & Associados e advogada especialista em Direito Fiscal e Direito Penal Tributário, que em entrevista à Revista Pontos de Vista abordou a sua carreira e um pouco sobre o papel das mulheres no universo do direito.
Q
uem é Manuela Silva Marques? O que a inspira e motiva diariamente? Exatamente a pessoa que estava destinada a ser, mulher e advogada há mais de duas décadas. Numa sociedade baseada no respeito pelo primado da lei, motiva-me poder desempenhar um papel ativo na defesa dos direitos e na afirmação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, colocando, com honestidade, probidade, retidão, lealdade, cortesia e sinceridade, todo o saber e conhecimento adquirido ao longo do tempo na busca de uma melhor interpretação e aplicação das leis. Em suma, pugno por uma boa administração da justiça, por uma sociedade mais justa. Assumo o gosto e empenho pela profissão, num consciente soft style. Todavia, tendo em conta que a prestação de serviços jurídicos evoluiu de forma extremamente dinâmica com os fenómenos da globalização e da evolução tecnológica, há que aceitar dos desafios da comunicação social e o assumir de um comportamento público e profissional como instrumento e elo de contacto entre cultura jurídica e a comunidade. Um advogado não deve ser apenas um pleiteador de causas e o conselheiro do seu cliente, deve assumir a sua função como uma condição essencial para a garantia do Estado de Direito Democrático.
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MANUELA SILVA MARQUES
Existem cada vez mais casos de sucesso de mulheres de negócios e empreendedoras. Mas, na sua opinião, o caminho ainda continua a ser bastante dificultado para as mulheres ascenderem a cargos de topo? A História, como sabemos, escreve-se no masculino. Mas, a História também no diz, por exemplo, que na Grécia Antiga as mulheres, embora sequer tivessem o estatuto de cidadãos, não podendo participar nos debates públicos nem decisões políticas e vivendo na dependência dos pais e dos maridos, eram elas precisamente quem tinha o poder de os influenciar. Desde então e até aos dias de hoje, a evolução histórica dos Direitos da mulher revela uma marcante trajetória. Ora, se olharmos para dados atuais sobre o número de mulheres que hoje se encontram nos bancos das universidades, não será difícil fazer um prognostico muito favorável sobre a ascensão e sucesso do papel e poder feminino na sociedade. A construção de uma sociedade igualitária implica necessariamente uma mudança de mentalidades, na qual o Direito desempenhará o seu papel fundamental. Temos como exemplo recente a Lei n.º 60/2018, de 21 de Agosto, que entrou em vigor no passado dia 21 de Fevereiro, visando promover um combate eficaz às assimetrias salariais entre mulheres e homens e aprovando medidas de promoção da igualdade remuneratória por trabalho igual ou de igual valor. No plano da advocacia, este é por si só um ecos-
sistema competitivo, desde sempre com uma predominância masculina. Às mulheres licenciadas em Direito apenas foi permitido “o exercício da profissão de advogado” há pouco mais de 100 anos (pelo Decreto n.º 4676 promulgado em 19 de Julho de 1918Curiosamente, facto é que o universo da Justiça é hoje já maioritariamente feminino, conforme se pode constatar pelo número de Juízas, Procuradoras da República, Ministras e agentes da justiça. Ou seja, temos uma Justiça tramitada por mãos femininas, uma justiça provida de uma diferente competência emocional, resiliência e aptidão para o chamado work life balance.
Manuela Silva Marques é Of Counsel na Ilime Portela & Associados e advogada especialista em Direito Fiscal e Direito Penal Tributário. Atualmente, que assuntos ou temas suscitam uma verdadeira preocupação aos advogados nesta área do Direito? Nestas áreas do Direito a contraparte é necessariamente o Estado. Em discussão e julgamento encontra-se a legalidade e a exigibilidade de atos da administração pública ou a procedência da acusação pública, sendo por sua vez o Estado representado em juízo pela Representação da Fazenda Pública nos tribunais fiscais e pelo Ministério Publico nos tribunais administrativos e tribunais criminais. O que nos leva para o patamar da necessária articulação, nem sempre fácil, entre a defesa dos direitos dos cidadãos e a prossecução do interesse público. Em conflito encontram-se, na maioria dos casos, a defesa de interesses privados e defesa dos interesses patrimoniais do Estado, sendo que todas as atuações têm, necessariamente, de se pautar por critérios de legalidade, imparcialidade e objetividade, seguindo os ditames da boa fé, sob pena de vício autónomo de violação de lei e incursão do Estado em responsabilidade civil extracontratual. Com efeito, o princípio da boa fé não se esgota nos atos praticados no exercício de poderes discricionários, devendo ser colocada a possibilidade da sua aplicação em caso de atos praticados no exercício de poderes vinculados. Por estas razões, os assuntos ou temas que suscitam uma verdadeira preocupação prendem-se com as violações do direito de defesa e do princípio da presunção da inocência, assim como com a violação do segredo de justiça. O fenómeno atual de necessidade de contenção orçamental e arrecadação de receita determina o máximo alerta na salvaguarda das garantias de defesa e um maior foco nos princípios da proteção da confiança e do processo justo e equitativo. Não se pode aceitar que a apreciação do julga-
do seja apenas uma questão técnica do julgador. Há que captar o real sentido e alcance dos textos normativos na subsunção dos factos às normas, sob pena de sermos confrontados com a instrumentalização do Direito e vermos os nossos tribunais convertidos em mero instrumentos de política orçamental. Dito de outro modo, impõe-se uma visão esférica da realidade e sistémica do processo ajustado à realidade social e económica. A análise do contexto político, económico e social vividos à data dos factos em discussão, são fundamentais para enquadrar as condutas em juízo. Há que flexibilizar o paradigma até aqui observado interligado à inflexível exigência das obrigações fiscais. Há que prognosticar as consequências das dificuldades enfrentadas pelos cidadãos. Há que atender às circunstâncias envoltas ao caso concreto, à realidade e estrutura organizativa do tecido empresarial português. E, em particular, porque no âmbito específico do direito fiscal e direito penal tributário, ao facto de estarmos perante uma administração fiscal inatuante e incapaz de cobrar as dívidas aos seus respetivos devedores permitindo que revertam e deem azo à instauração de constantes e sucessivas imputações criminais, o que conduz a um deficiente funcionamento do sistema de justiça. Tendo em conta o enquadramento de criminalidade ocupacional e white collar a que respeita, esta realidade tem um impacto extremamente negativo nos cidadãos, estes, na sua generalidade pessoas com uma correta inserção social e um passado sem mácula criminal, passam a ver a sua vida tornar-se completamente impossível como consequência de uma “salamização” processual. Impõe-se colocar a questão de saber se não será de reavaliar a hermenêutica jurídica, os critérios de imputação e de juridicialidade, se não será de nos afastarmos de uma conceção maniqueísta, onde só existem os bons e os maus. É atentatório à dignidade da pessoa humana que assim não
Há que flexibilizar o paradigma até aqui observado interligado à inflexível exigência das obrigações fiscais. Há que prognosticar as consequências das dificuldades enfrentadas pelos cidadãos
seja. É atentatório à dignidade da pessoa humana que assim não seja. Com efeito, é a nossa Lei Fundamental um texto de cariz humanitário, protetor dos princípios da solidariedade (entre o Estado e os seus administrados), da dignidade da pessoa humana (que impede que sejam os administrados circunstanciados a realidades que lhe determinam uma vivência abaixo de um mínimo existencial) e da capacidade contributiva (no sentido de que só podem ser exigidos dos contribuintes impostos nos estritos termos da sua condição económica). Como dispõe o Artigo 266.º, n.º 2 da Constituição da República Portuguesa: “Os órgãos e agentes administrativos estão subordinados à Constituição e à lei e devem atuar, no exercício das suas funções, com respeito pelos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da justiça e da imparcialidade.” Só com o respeito pelos mesmos se alcançará a verdade material e fará Justiça. Que retrato podemos fazer da advocacia em Portugal? Como antecipa o ano de 2019 no que diz respeito aos desafios e oportunidades? Temos uma advocacia que, em busca da excelência, deverá desenhar um plano de atuação sustentável, debruçando-se sobre a problemática da necessidade de medição da eficácia e avaliação das chances de sucesso. Ou seja, a concepção e posicionamento estratégico são fundamentais. Entre muitas outras possíveis, fica a pergunta, em que clientes nos deveremos concentrar e porquê? ▪
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Esta é uma realidade para si? Enfrentou obstáculos durante o seu percurso profissional pelo facto de ser mulher? Pelo facto de ser mulher, não. É a própria sociedade em si que se encarrega do reconhecimento do profissionalismo, independentemente do género. Para além das competências técnicas, há qualidades que são essenciais, que determinam o estatuto de advogado e a afirmação da sua liberdade e independência. Em minha opinião, o apelo não será pela igualdade mas sim pelo conjunto de valores ético-deontológicos que claramente distingue esta profissão das outras, assegurando a dignidade e o prestígio dos advogados, quer sejam estes homens ou mulheres.
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PORTUGAL HOMES
UMA REFERÊNCIA NO UNIVERSO EMPRESARIAL Mais do que uma marca, a Portugal Homes é um player sem medo de falhar e que assume na sua forma humana uma mais valia no contato direto com o cliente, o grande parceiro e aliado da marca. A Revista Pontos de Vista foi conversar com Andreia Leite, Business Development Director, Verónica Rosa, Operations Director e com Mariana Lemos Vieira, After Sales Director, três Mulheres que assumem o rosto da marca, entre outros, e que perpetuam um «carimbo» feminino à orgânica e dinâmica da Portugal Homes
ANDREIA LEITE
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Portugal Homes é um dos principais players no domínio do mercado imobiliário em Portugal, apresentando também uma nova visão sobre o setor. Neste sentido e apenas para contextualizar, de que forma é que a Portugal Homes se tem vindo a assumir como um parceiro de confiança e credibilidade no setor? Andreia Leite (AL) Inovação e diferenciação são as palavras chave. Inovamos na forma como captamos os nossos clientes e em todo o procedimento para os trazer a Portugal. Somos dotados de uma atitude ativa ao viajar pelo mundo inteiro para reunirmos com os nossos clientes um a um no seu país de origem. O objetivo passa por criar uma relação de confiança desde o 1º minuto num ambiente familiar aos clientes. Diferenciamo-nos pela forma como damos continuidade à relação estabelecida com esses mesmos clientes através do nosso departamento de After Sales, pois pretendemos que essa ligação se prolongue no tempo, sem esquecer a produção de estudos de mercado especializados e feitos à medida de cada investidor. Sim! Um dos departamentos da Portugal Homes é o de Análise de Mercado que produz estudos de mercado e analisa possibilidades de investimento. Aliás, tudo na Portugal Homes é feito in house, um fator de extrema relevância no que toca à qualidade e personalização dos serviços que prestamos e, por conseguinte, à excelente reputação que estamos neste momento a construir com objetivo último de sermos cada vez mais uma referência no mercado.
MARIANA LEMOS VIEIRA
VERÓNICA ROSA
A vossa filosofia assenta neste vetor, ou seja, “Compreender os nossos pontos fortes e aceitar nossas fraquezas”. O que significa este lema e de que forma é importante na orgânica diária da empresa em prol do vosso cliente? Mariana Lemos Vieira (MLV) Essa é uma frase tirada do nosso site e brochura, vejo que fez trabalho de casa. Poderíamos ignorar as nossas fraquezas e focar-nos somente nos nossos pontos fortes, mas é exatamente na análise e compreensão das nossas fraquezas que nos tornamos mais fortes. Fazemos de tudo para perceber onde podemos melhorar, trabalhamos muito para que os erros não se repitam e tentamos ao máximo que essas mesmas fraquezas se transformem e se tornem em pontos fortes. Esse lema é importante porque nos permite não ter medo de falhar, mas sobretudo saber o que fazer caso se erre e repetir o processo quando encontramos a fórmula correta.
nós como Mulheres sabermos lidar com o estigma e vencê-lo, minimizando-o e reduzindo-o à sua mais ínfima importância. Como Líder cabe-me a mim ajudar uma colega ou amiga a fazer o mesmo. Ninguém merece viver com estes estigmas, a narrativa é nossa só nós a podemos escrever.
Pelo facto de serem Mulheres e Líderes, algumas vez sentiram, ao longo da vossa carreira, algum estigma pelo facto de serem Mulheres num universo que até há bem pouco tempo estava “reservado” aos Homens? Verónica Rosa (VR) A liderança é um percurso de aprendizagem constante, percurso esse que nem sempre é fácil, principalmente neste sector que se encontrava reservado para Homens até há bem pouco tempo. Recordo vários episódios em que fui olhada como uma “boneca” ou silenciada numa reunião, tudo isto são alguns exemplos dos estigmas existentes. Mas cabe-nos a
MLV A minha entrada no mercado imobiliário é também recente, mas confesso que nesta e noutras áreas, ainda sinto alguma desigualdade entre o papel do homem e da mulher no mundo empresarial. O caminho que nós mulheres temos que percorrer para criarmos uma relação de confiança com um cliente é algo moroso. Muitas vezes, do lado do recetor, não ouvir uma voz grossa e grave pode alterar a forma como percebe e interpreta a mensagem. Por vezes esquecemo-nos, mas a forma é sempre mais importante do que a própria mensagem. Nessa perspetiva, e para combater o estigma, sinto que temos que ser mulheres muito assertivas e determinadas, só assim conseguimos conquistar positivamente a confiança dos nossos clientes. Na vossa dinâmica, como é que a personalização que colocam em cada processo é importante para criar essa relação de confiança com o cliente? AL A personalização é um dos nossos fortes, motivo pelo qual somos a única agência imobiliária em Lisboa com um serviço completo de After Sales. A nossa relação com o cliente não
O QUE ELAS DIZEM...
DE FUTURO, O QUE PODEMOS ESPERAR DA PORTUGAL HOMES? Numa só palavra, revolucionar. As ideias existem e algumas já estão a ser colocadas em prática com sucesso, como é o exemplo do nosso departamento de After Sales e do departamento de Análise de Mercados, outras ainda estão no papel, por assim dizer. Mas da Portugal Homes poderão esperar sempre o melhor, uma empresa consolidada e uma referência não só no sector imobiliário, mas no mundo empresarial em geral.
"Inovação e diferenciação são as palavras chave. Inovamos na forma como captamos os nossos clientes e em todo o procedimento para os trazer a Portugal. Somos dotados de uma atitude ativa ao viajar pelo mundo inteiro para reunimos com os nossos clientes um a um no seu país de origem. O objetivo passa por criar uma relação de confiança desde o 1º minuto num ambiente familiar aos clientes" ANDREIA LEITE
"Esse lema é importante porque nos permite não ter medo de falhar, mas sobretudo saber o que fazer caso se erre e repetir o processo quando encontramos a fórmula correta" MARIANA LEMOS VIEIRA
"Mas cabe-nos a nós como Mulheres sabermos lidar com o estigma e vencê-lo, minimizando-o e reduzindo-o à sua mais ínfima importância. Como Líder cabe-me a mim ajudar uma colega ou amiga a fazer o mesmo. Ninguém merece viver com estes estigmas, a narrativa é nossa só nós a podemos escrever" VERÓNICA ROSA
No dia 8 de março comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. Em 2019, por que direitos, na sua opinião, ainda têm de lutar as mulheres? VR É alarmante a diferença salarial existente para os mesmos cargos entre homens e mulheres, inclusivamente assustador que nos dias que correm uma mulher continue a ser penalizada profissionalmente pela sua escolha de ser Mãe, igualmente assustador são os inúmeros casos de assédio sexual que ouvimos falar todos os dias nas notícias. Tudo isto são razões para continuar a lutar e com o tempo mudança virá. A Portugal Homes é o perfeito exemplo disso, uma empresa com, não uma mas sim, três mulheres em cargos de chefia. Trabalhar numa empresa que promove este ideal é algo que me enche de orgulho. ▪
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termina após a assinatura de uma escritura, vai muito para além disso. Vai desde representação fiscal, a verificarmos com periocidade se está tudo bem com o imóvel, conectarmos água, luz e gás, entre outros. Esta “personalização” foi um dos pilares do crescimento da Portugal Homes enquanto organização e queremos que continue a ser ao sermos constantemente referenciados por clientes a familiares e amigos. Foi assim que o nosso negócio começou. No caso de clientes investidores, o importante são os números, e ter um departamento que possa prestar uma análise detalhada sobre o mercado e potenciais investimentos é sem dúvida um fator crítico de sucesso.
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“ACREDITAMOS QUE O QUE NOS DIFERENCIA É A NOSSA EQUIPA COMERCIAL” Paula Moreira é a pessoa por detrás da criação da PMR Imobiliária. O projeto surge na sua vida num momento em que nada fazia prever que a veia de empreendedora teria de vir ao de cima. Hoje, orgulha-se da equipa que a acompanhou neste projeto e orgulha-se de estar no mercado com um perfil vincadamente humano, onde a técnica se alia ao forte conhecimento e experiência da sua equipa.
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C
om o mercado em crescimento exponencial existem cada vez mais negócios e empresas ligados ao ramo imobiliário. Consequentemente, é necessário existirem fatores diferenciadores e diretrizes que levem uma imobiliária a conseguir fazer a diferença no mercado. Paula Moreira lembra-se que quando começou a trabalhar neste setor, enquanto comercial, a primeira coisa que aprendeu, e que faz toda a diferença, é que “temos de ser bons ouvintes. Este é um dos princípios que procuro incutir na minha equipa e que aplico diariamente na PMR Imobiliária”, diz-nos Paula Moreira. Mais tarde, relembra, um dos conselhos profissionais que lhe deram e que fez a diferença na pessoa que é hoje é que, neste setor, quem for mais genuíno e estiver verdadeiramente disponível para a sua equipa e para os seus clientes,
vai conseguir, efetivamente, fazer a diferença. Com uma equipa constituída maioritariamente por mulheres, a PMR Imobiliária nasce em novembro de 2017 como resultado da necessidade de dar continuidade a um projeto que teve o seu início há quase duas décadas. O encerramento da imobiliária que Paula Moreira representava, como diretora comercial, juntamente com a sua equipa, levou a nossa entrevistada a optar por avançar com um projeto em nome próprio. “Depois da forma como terminou a experiência anterior, decidi não me associar a nenhuma marca já existente no mercado. Surgiu a oportunidade de avançar em nome próprio e, incentivada pela minha equipa, criei a PMR Imobiliária”. Grande parte da equipa manteve-se, bem como os valores e a estratégia que sustentam o posicionamento da PMR no mercado. “Feliz-
mente, na PMR Imobiliária, como na empresa que representámos anteriormente, temos muito pouca rotatividade de pessoas, quando comparado com o setor da mediação imobiliária em geral. Algumas das pessoas da nossa equipa estão nesta casa há 18 anos, outros há 12 anos, eu própria há mais de dez anos”, elucida-nos Paula Moreira. Fruto da relação humana que têm com os seus clientes e da primazia que dão aos mesmos, a PMR teve uma boa alavanca para iniciar este projeto com a totalidade da carteira de imóveis que tinham angariados à data da criação da PMR, a renovar a confiança nesta equipa com a celebração de novos mandatos para venda dos seus imóveis. “É com bastante orgulho e satisfação que digo que tivemos um excelente início de atividade e um excelente ano de 2018 e tal só foi possível pela confiança que os nos-
sos clientes mantiveram em nós e, depois, pelo excelente trabalho e pela dedicação de toda a equipa ao longo deste primeiro ano”, afirma Paula Moreira. No entanto, assumir este projeto foi um desafio. “Não começámos do zero porque começámos com anos de experiência acumulada e com um forte know-how. Tínhamos o espaço físico, a carteira de clientes, mantivemos a mesma forma de trabalho, bem como a grande maioria dos serviços para o cliente, no entanto para que tal fosse possível foi necessário criar uma empresa e colocar tudo a funcionar em menos de um mês, o que tornou o desafio ainda maior”, salienta a nossa entrevistada. Hoje identificam como grande diferença a melhor capacidade de resposta que conseguem dar aos seus clientes, fruto das sinergias criadas através de parcerias que a PMR Imobiliária e os seus comerciais têm criado com outras mediadoras para encontrar o imóvel que o cliente pretende, para além dos imóveis que a PMR tem em carteira.
CONHECIMENTO TÉCNICO, FERRAMENTAS DE MARKETING E COMPONENTE HUMANA
O facto da equipa da PMR Imobiliária ser constituída, maioritariamente, por mulheres aconteceu de forma natural, sem que fosse essa a intenção de Paula Moreira. Questionada pelas diferenças nos estilos de liderança de homens e mulheres, ela que ao longo da sua carreira teve sempre como responsáveis diretos homens, acredita que os estilos de liderança de homens e mulheres não são assim tão diferentes. “Somos pessoas diferentes e por isso temos estilos de liderança diferentes, não por sermos de um ou outro género. É tudo uma questão de valores, de experiência e do nosso percurso profissional. Tenho a certeza que a líder que sou hoje, ou o estilo de liderança que diariamente me acompanha, tem uma forte influência do excelente líder que me acompanhou nos últimos anos da minha vida profissional”, diz-nos Paula Moreira. Ainda que acredite que os homens podem ser mais práticos e objetivos, o que é bom quando o contexto assim o exige, as mulheres podem ter uma maior sensibilidade em muitos momentos, aspeto também ele necessário em diversas situações. Na PMR Imobiliária, a forte vertente humana é conciliada com o conhecimento e com as competências técnicas da sua equipa para se diferenciar no mercado, aspetos que diariamente têm o cuidado de reforçar. “O nosso negócio, o nosso trabalho é muito mais do que vender casas. O nosso foco tem obrigatoriamente que ser o cliente, a perceção das suas necessidades e vontades e a procura e apresentação de soluções, tanto para proprietários como para com-
pradores, com o desafio acrescido de ser nossa função conciliar estas vontades”. Na PMR acreditam que o que os diferencia são as pessoas que fazem parte deste trabalho diário. “Preocupamo-nos em ter ferramentas de marketing de qualidade e em trabalhar com parceiros que acrescentem valor, mas sabemos que na mediação estes são fatores que por si só não fazem a diferença. Podemos ter as melhores ferramentas de marketing do mercado, mas se a isso não aliarmos a verdadeira preocupação com o cliente, o nosso sucesso será efémero.” A formação da equipa, o acompanhamento da evolução e das alterações do mercado, sejam elas legislativas, comerciais ou de qualquer outra natureza, são uma preocupação de Paula Moreira e da sua equipa. E estes são também fatores que acabam por fazer a diferença na forma como a PMR Imobiliária está na mediação imobiliária, que persiste em prestar um serviço cada vez mais completo ao cliente. Nesta linha, a PMR Imobiliária foi das primeiras mediadoras a nível nacional a credenciar-se junto do Banco de Portugal como intermediário de crédito, para continuar a prestar todo o acompanhamento nos processos de crédito habitação aos seus clientes. “Privilegiando a capacidade dos nossos consultores em estarem dotados de conhecimentos para darem uma resposta imediata ao cliente, temos a consciência que um dos fatores que nos diferencia no mercado é o nosso departamento processual, que, sem descurar a vertente humana, transmite ao cliente toda a serenidade, confiança, conhecimento e profissionalismo, fundamentais no momento da compra e venda da sua casa”, conclui Paula Moreira. ▪
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Somos pessoas diferentes e por isso temos estilos de liderança diferentes, não por sermos de um ou outro género. É tudo uma questão de valores, de experiência e do nosso percurso profissional
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“IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E NÃO IGUALDADE DE GÉNERO”
FOTO: DIANA QUINTELA
Advogada há mais de três décadas, Dulce Franco, trabalhou numa das maiores sociedades de advogados portuguesas, tendo, em 2008, constituído a prestigiada sociedade de advogados AAA. Foi vogal do Conselho Distrital da Ordem dos Advogados, secretária de estado da Economia, é membro de várias organizações profissionais e autora de escritos para publicações do setor da advocacia. Recentemente foi eleita pela revista especializada Iberian Lawyer uma das 50 advogadas que mais se destacam na advocacia empresarial na Península Ibérica, reconhecimento atribuído pela sua ética profissional, competência técnica, relações interpessoais, capacidade de mentoring e de liderança.
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advocacia é uma vocação que surge já na Universidade (Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa) e que começa a exercer em 1983. Com uma história e currículo extenso, diz que ainda tem “muito para fazer”. Considera indispensável para ser advogado “a rectidão de caracter a par da ética profissional, o conhecimento e a independência.” Estes são os seus princípios “partilhados entre todos os advogados da AAA”. Foi com base neles que um grupo de advogados que trabalhavam em conjunto há muitos anos, constituiu a AAA, “uma business law boutique não só pelas áreas de direito em que trabalha, mas também pela sua dimensão e métodos de trabalho”. Tais princípios valeram a Dulce Franco a distinção Top 50 Women List a nível ibérico. Da lista constavam 42 espanholas e oito portuguesas,
eleitas por mais de 1.000 pares. Foram reconhecidas como notáveis nas suas carreiras, inspiradoras das novas gerações. “O momento mais marcante até agora foi a constituição desta sociedade.” Diz que “foram muitos anos na PLMJ, aprendi muito, fiz muitos amigos, conservo muitos e outros tenho pena de não conservar. Foi uma grande mudança e foi difícil sob o ponto de vista afetivo, mas um desafio novo é muito motivador”. O início da sociedade AAA “não foi difícil do ponto de vista do lançamento do escritório. Os clientes com quem trabalhávamos quiseram seguir-nos e a dinâmica do escritório faz o resto”. Passaram 11 anos desde a sua fundação. Com humor, a advogada diz “somos uma sociedade relativamente jovem mas somando a experiência de todos temos quase um século”. E continua, “os princípios são os mesmos e ter êxito nesta
Os géneros não são iguais, há algumas questões na família que são, naturalmente, mais da mãe e outras mais do pai, se há bom espírito, tudo se resolve
FOTO: DIANA QUINTELA
imprevistos, exige muita flexibilidade. Não quero dizer que não seja exigente para os pais advogados, mas mesmo com muito boa vontade as mães são mães e os pais são pais. Os géneros não são iguais, há algumas questões na família que são, naturalmente, mais da mãe e outras mais do pai, se há bom espírito, tudo se resolve". Olhando para o passado, “a verdade é que nunca senti facilidade ou dificuldade no meu trabalho por ser mulher. Devo ter encontrado sempre pessoas inteligentes que nunca tenham olhado para mim nessa perspetiva, mas pelas capacidades que me atribuíram”. Sobre se a advocacia foi um sonho diz “Nunca tive uma visão particularmente romântica da profissão. Acho que fui sempre talvez um pouco argumentativa e tenho tendência para causas, defender aqueles que seja por que circunstâncias for precisam de ser defendidos ou de fazer valer os seus direitos. Acho que anda perto do que é ser advogado”. A nossa entrevistada explica “as enormes diferenças entre o que era a advocacia quando comecei e como é agora. Para já, há a questão do tempo, quase tudo é urgente e urgente quer dizer instantâneo. Depois, há as tecnologias aplicadas à profissão, que nos ajudam e nos poupam tempo para pensar. E os próprios advogados são diferentes. O que vou dizer são generalizações, se me puser a pensar em pessoas em concreto, merece muitas excepções! Nas gerações anteriores, os advogados eram uns humanistas habilitados em direito, sabiam direito e muito mais, e trabalhavam em todos as áreas. A minha geração, embora mais dedicados a certas áreas, é bastante de generalistas, com o que isso também tem de positivo. As gerações mais novas começam cedo a definir linhas de especialidade, tentamos que não seja demasiado cedo, uma boa formação não se coaduna com uma especialização prematura. Tudo dito, sempre continuarão a existir brilhantes advogados, pessoas de excepção, que engrandecem a nossa profissão”. ▪
Somos uma sociedade relativamente jovem mas somando a experiência de todos temos quase um século Nunca tive uma visão particularmente romântica da profissão. Acho que fui sempre talvez um pouco argumentativa e tenho tendência para causas, defender aqueles que seja por que circunstâncias for precisam de ser defendidos ou de fazer valer os seus direitos. Acho que anda perto do que é ser advogado
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sociedade depende das capacidades de cada um, estudo, trabalho, dedicação em todos os planos, mas todos têm as mesmas oportunidades. Os mais jovens, têm a possibilidade de crescer, sem barreiras”. E acrescenta: “Há um tempo, uma revista especializada considerou a nossa sociedade no top 10 das sociedades de advogados portuguesas que mais oportunidades de crescimento oferecem aos advogados mais jovens. Nem nos passa pela cabeça que esse crescimento dependa do género”. O escritório AAA é constituído na sua maioria por mulheres, um pormenor que descarta como intencional, “as pessoas que aqui estão valem absolutamente pelo seu caráter e pelo seu trabalho, como deve ser em qualquer ambiente profissional”. O escritório tem vindo a crescer, mas não pensam crescer muito. “As sociedades grandes e as sociedades pequenas têm características diferentes, nem todas boas, nem todas más. Não queremos ser uma sociedade grande, interessa-nos muito mais a qualidade dos serviços que prestamos e a agilidade da organização que uma maior dimensão. Fazemos aquilo que acreditamos que os nossos clientes sabem que fazemos bem.” Questionada sobre as características especiais que um bom advogado deverá ter, Dulce Franco é pragmática: “Ter paciência, é essencial! Lidamos com muitas pessoas, muito diferentes, as solicitações são muitas, as questões são quase sempre urgentes e bastante absorventes, muitas vezes imprevistas, obrigando-nos a reavaliar prioridades. Todos os dias são exigentes, é uma profissão exigente”. Quando referimos o facto de ser mulher e advogada, Dulce Franco diz “Sempre tentei, com o apoio incondicional da minha família". E acrescenta "as advogadas que têm uma estrutura familiar disponível ou outro tipo de apoio em casa, conseguem conciliar a vida profissional com a familiar, e mesmo assim com muita ginástica, caso contrário é praticamente impossível. Assegurar uma disponibilidade quase permanente e estar presente na família, que também tem
PONTOS DE VISTA NO FEMININO
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“A PRESENÇA DA MULHER NA ADVOCACIA É HOJE UM DADO ABSOLUTAMENTE INCONTORNÁVEL” A Sérvulo & Associados é uma das principais sociedades de advogados em Portugal e que tem vindo a manter uma posição de prestígio e credibilidade. Ana Luísa Guimarães, Sócia da Sérvulo & Associados – Sociedade de Advogados, SP, RL, fala-nos do papel da mulher no setor da advocacia e na sociedade, tendo por base a sua experiência e percurso profissional.
D ANA LUÍSA GUIMARÃES
e que forma é que a marca consegue manter este posicionamento e quais são os verdadeiros desafios que enfrentam atualmente as sociedades de advogados? A Sérvulo tem sabido manter um posicionamento de coerência no mercado jurídico, optando por uma aposta clara pelos serviços jurídicos de alta complexidade e não massificados e, ao mesmo tempo, pela elevada qualificação dos seus advogados em vista da produção de um output de excelência. O maior desafio das sociedades de advogados hoje é a eficiência, é encontrar um equilíbrio entre a relação meios utilizados/resultados pro-
duzidos que dê resposta à crescente pressão dos clientes em matéria de honorários. E a mulher? Que papel assume atualmente a mulher num setor associado até há bem pouco tempo, maioritariamente, ao sexo masculino? A presença da mulher na advocacia é hoje um dado absolutamente incontornável. As advogadas são, em geral, muito dedicadas e batalhadoras e isso ppermitiu-lhes merecer hoje o reconhecimento pelos pares e pelos clientes da qualidade do trabalho jurídico que executam. Mas, infelizmente, ao nível dos lugares de topo e de gestão nas sociedades de advogados e
Há um caminho que está a ser feito há muito tempo e que irá continuar. Acredito que as desigualdades tendem a ser atenuadas. E aceito instrumentos normativos corretivos, mas vejo-os com um mal necessário. Isto é, não me revejo intrinsecamente na sua essência, mas concordo que pragmaticamente são importantes e que sem eles a evolução é muito mais difícil
também ao nível da escolha, pelos clientes, do advogado a quem entregar a responsabilidade para tomar conta de um problema/assunto jurídico seu, os resultados ficam aquém, havendo claramente uma preponderância masculina. Este é o passo que falta dar. Está na SÉRVULO desde 2008, e é sócia do departamento de Público. Olhando para a sua vasta carreira, o que a motiva e inspira diariamente? Dei-me conta agora que me licenciei há precisamente 20 anos, em 1999. Mas não vejo estes 20 anos como uma vasta carreira. E sinto-me ainda uma aprendiz, no Direito e na vida. Estou numa fase ótima da minha vida profissional também por isso, entre duas gerações de advogados de quem beneficio muito. O que me motiva diariamente é resolver os problemas do cliente e fazer tudo o que está ao meu alcance para que decidam o melhor possível.
De que forma é que podemos caracterizar Ana Luísa Guimarães enquanto mulher e profissional? Os últimos anos, desde a aproximação aos 40, têm sido muito enriquecedores, a nível pessoal e, reflexamente, também a nível profissional. É uma profunda tomada de consciência sobre a finitude, as pessoas, o bem e o mal e o mundo à nossa volta. Até então, era tudo uma brincadeira…E, fruto desse processo, a serenidade é hoje um valor que conquistei, tanto a nível pessoal como profissional. Mas continuo a ser muito emotiva, com o que isso tem de bom e de menos bom. Não sou indiferente. A minha visão do Direito, apesar do grande enfoque nos últimos anos, no Direito Público, nunca foi verdadeiramente afunilada e cada vez menos pretendo que o seja. O Direito, para se realizar, tem de ser poroso. Tem de estar perto da vida real, compreender as pessoas, as organizações e aproximar-se dos centros de decisão. Por isso, decidir fazer um MBA, que estou a concluir na AESE Business School, que me despertou para um conjunto de realidades que me eram muito mais distantes. A desigualdade de género é uma questão que continua a merecer a devida atenção de todos nós, com as mulheres a continuarem a
ser alvo de discriminação económica e social. Esta é, de facto, uma questão que iremos conseguir mudar ou combater? Há um caminho que está a ser feito há muito tempo e que irá continuar. Acredito que as desigualdades tendem a ser atenuadas. E aceito instrumentos normativos corretivos, mas vejo-os com um mal necessário. Isto é, não me revejo intrinsecamente na sua essência, mas concordo que pragmaticamente são importantes e que sem eles a evolução é muito mais difícil. Liderança feminina ou masculina? Existe realmente alguma diferença entre ambas ou não é uma questão de género? As mulheres são, regra geral, mais emotivas, melhores gestoras das suas emoções e mais atentas às emoções alheias. Se tivesse de eleger uma característica diferenciadora na liderança masculina e feminina seria a inteligência emocional a favor das mulheres. Alguma vez, ao longo da sua carreira, já sentiu essa desigualdade do género? Se lhe dissesse que não, não estaria a ser sincera. A terminar, que mensagem deixaria a todas as mulheres? Que acreditem mais e mais nelas próprias e que sejam livres nas suas escolhas, sem cedência a preconceitos e moralismos de qualquer espécie. ▪
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Sinto-me ainda uma aprendiz, no Direito e na vida. Estou numa fase ótima da minha vida profissional também por isso, entre duas gerações de advogados de quem beneficio muito
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ADALBERTO HÁ 50 ANOS A TORNAR O MUNDO MAIS COLORIDO De empresa familiar a líder europeia na arte de estampar tecidos, a Adalberto conta já com 50 anos de história, com 50 anos de um percurso pautado pela inovação, criatividade e liderança. Susana Serrano, Chief Operating Officer da Adalberto, fala-nos desta empresa do ramo têxtil que produz 12,5 milhões de metros de tecido por ano.
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mundo está a mudar e nós também estamos a mudar” é a premissa para a estratégia de rebranding da Adalberto que teve início em 2017. Com clientes espalhados pelos cinco continentes e com um forte posicionamento no mercado internacional, o foco da Adalberto é agora alargar o portefólio dos seus serviços. Mas o que é que impulsionou esta mudança na empresa? Comecemos pela história da sua fundação em 1969 pelos avós do atual CEO da Adalberto. Depois da morte do fundador da empresa, a filha assume a liderança, juntamente com a sua mãe, da Adalberto. Mais tarde, a filha dos fundadores casa-se e ficam ambos a gerir a empresa. Do casamento resulta o nascimento de três filhos e é o filho mais velho que, em 2016, quando assume o cargo de CEO, decide fazer uma reestruturação da marca. É em 2017 que se dá um rebranding da até então Adalberto Estampados, posicionando-se no mercado como Adalberto, com foco na oferta de um serviço mais alargado ao mercado. É formada uma nova equipa de gestão da empresa constituída pelo CEO e por três administradores para a comissão executiva: para a área das vendas, financeira e de operações. “Foi, efetivamente, nessa altura, que mudámos a forma de encarar o negócio. Dada a competitividade e a oferta crescente, a empresa procurou diferenciar-se de alguma forma. Não era viável continuarmos naquele modelo. A ideia era diferenciarmo-nos não só na forma da gestão como através da apresentação de novas soluções no mercado”, começa por referir Susana Serrano. Hoje, com o mais avançado equipamento de estamparia digital do mundo, são líderes europeus em design, inovação e produção nas áreas de moda e têxteis lar, atingindo a maior rentabilidade líquida do setor. Com um departamento criativo bastante dinâmico e um departamento de inovação e desenvolvimento, a Adalberto orgulha-se de poder dizer que cerca de 30% dos estampados são criados em parceria com os clientes e 70% resulta de criação própria. Com o core business da empresa a incidir na tinturaria e estamparia, a Adalberto está agora preparada para oferecer um serviço mais alargado ao mercado. A criação deixou de ter limites com o recente investimento na máquina de estamparia digital mais avançada do mundo (existem apenas três máquinas no mundo, pertencendo uma delas à Adalberto) e estão sempre cientes de que a inovação e a tecnologia são, sem dúvida, o ponto fulcral para qualquer setor singrar atualmente. Com três áreas de negócios suportadas por um serviço de design, a empresa sempre pautou pela criatividade. “Apesar da aquisição de novos equipamentos que nos permitem uma maior rapidez
Hoje, com o mais avançado equipamento de estamparia digital do mundo, são líderes europeus em design, inovação e produção nas áreas de moda e têxteis lar SUSANA SERRANO
O EQUILÍBRIO ENTRE A VIDA PROFISSIONAL E PESSOAL
Sendo a indústria um setor onde, até há pouco tempo, os cargos de topo eram exercidos, maioritariamente, por homens e sendo Susana Serrano Chief Operating Officer da Adalberto, questionámo-la sobre o que é mais desafiante para si e o que a motiva e inspira diariamente no seu trabalho. Com 400 trabalhadores integrados na Adalberto, diz-nos que o desafio passa por motivar diariamente as pessoas. “Hoje existe uma competitividade muito grande, o que nos impele a continuar com o papel diferenciador e de inovação. Mas se não fizermos um bom trabalho interno não nos é possível virarmo-nos para o mercado”, adianta Susana Serrano. Para a nossa entrevistada é importante ter todas as pessoas alinhadas com os
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na produção e entrega do produto, sabemos que o cliente de hoje não procura preço nem rapidez, procura qualidade. O cliente de hoje quer diferenciação”, explica a nossa entrevistada. Assim, o departamento de inovação e desenvolvimento da Adalberto propõe ao cliente peças novas, únicas e diferenciadoras. “Estamos a falar, por exemplo, de peças feitas a partir de materiais reciclados ou peças com novos tipos de acabamentos que proporcionam qualidade, conforto e bem-estar ao cliente. Este é o nosso foco, a diferenciação”, elucida-nos Susana Serrano. A rapidez é importante no nicho de mercado de fast fashion que assim o obriga, pois trata-se de um mercado de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados rapidamente. Contudo, o core business da Adalberto são as marcas. “A missão da Adalberto é ser líder mundial e ser reconhecida pelas principais marcas como parceiro de excelência de desenvolvimento de produtos de moda. É para isso que estamos a trabalhar e é para onde estamos a caminhar. Todas estas mudanças que se deram na Adalberto assentam num plano estratégico que vão ao encontro desta missão”, afirma a Chief Operating Officer da Adalberto. Sendo a Adalberto uma empresa vertical que integra todas as fases da produção, desde a obtenção da matéria-prima, a transformação da mesma à venda do produto, fazem trabalhos de branqueamento, tingimento, estamparia, tinturaria e acabamentos. Com o alargamento da área de negócio hoje vendem tecido a metro, dedicam-se ao segmento têxteis lar, têm uma marca própria ‘Gamanatura’ de têxteis lar produzidos com fibras naturais 100% algodão, e uma fábrica integrada, a AdStyle, de fornecimento e distribuição de peças confecionadas para marcas de gama média-alta.
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mesmos objetivos e este é, sem dúvida, o maior desafio. “A comissão executiva da Adalberto acredita que quem faz as empresas são as pessoas. Se não tivermos as pessoas certas, nos cargos certos e motivadas, com uma forte aposta na sua formação e na responsabilidade social, e se não considerarmos este conjunto de valores não é possível fazer um bom trabalho”, diz-nos, ainda. E mais, para Susana Serrano temos de ter noção que estamos interligados, que não conseguimos ser pessoas diferentes no trabalho e em casa. “Sou muito exigente com a minha equipa tal como sou muito exigente com as minhas filhas porque quero que eles consigam alcançar um determinado resultado. Tal como tento manter as minhas filhas felizes e motivadas, também tento fazer o mesmo com a minha equipa. Não consigo separar estas duas vertentes da minha vida”, acrescenta Susana Serrano. Afirma que as duas grandes paixões que tem são exatamente o trabalho e a família. Dedica-se às duas a 100% e as duas têm de andar equilibradas. Admite que sempre gostou muito de desafios e que sempre foi uma apaixonada pelo trabalho. “O facto de ser mulher e os paradigmas associados ao meu género não me levaram a ter de abdicar da minha vida pessoal e de ser mãe por causa da minha carreira ou vice-versa. Durante o meu percurso profissional, e estamos a falar de quase duas décadas, sempre procurei fazer mais do que me era pedido. E isto é algo que está relacionado com a minha maneira de ser e não pelo facto de ser mulher”, explica a nossa entrevista. Diz-nos, ainda, que sempre quis mais para si e que sempre quis trabalhar por objetivos, pois quando os alcança é uma vitória para si. “Quando temos objetivos e os conseguimos alcançar temos de ser reconhecidos por tal e sempre consegui isso ao longo da minha carreira. Sempre me dediquei com paixão e tento transmitir esse sentimento à minha equipa. Tenho de ser o exemplo e eles têm de conseguir sentir o mesmo que eu sinto”, realça.
Apesar da aquisição de novos equipamentos que nos permitem uma maior rapidez na produção e entrega do produto, sabemos que o cliente de hoje não procura preço nem rapidez, procura qualidade. O cliente de hoje quer diferenciação
Afirma que um líder não é uma pessoa, mas sim uma equipa que trabalha para o mesmo objetivo, mesmo que tenham pontos de vista diferentes, o que é ótimo para se chegar a ideias novas. “Um líder é um conjunto de pessoas competentes, motivadas e em formação contínua. Todos os dias aprendemos algo novo, seja com os erros que cometemos seja através da formação que damos às nossas equipas. Estes são os dois pontos fulcrais, a motivação e as competências”, acrescenta a nossa entrevistada. Susana Serrano tem noção que quando iniciou o seu percurso profissional, naturalmente, exigiram muito mais de si e que surgiram alguns contratempos, no entanto nunca sofreu qualquer discriminação pelo facto de ser mulher e ao longo da sua carreira foi mesmo exercendo diferentes cargos de liderança. “Os contratempos não me assustam, temos de olhar para eles como oportunidades tal como os desafios e os maus momentos. Tudo serve para aprender e para crescer, tanto profissionalmente como pessoalmente”, acrescenta. Enquanto Chief Operating Officer sabe que o que lhe é mais exigente é a capacidade de resposta à estratégia delineada pela empresa. “É garantir que conseguimos executar o que temos planeado da melhor forma, o que muitas vezes não acontece. Por vezes pensamos que estamos a seguir o melhor caminho, mas, muitas vezes, temos de dar dois passos atrás para dar um passo em frente. Este é um dos desafios”, refere. Por sua vez, olhando para a sua posição na Adalberto sabe que o que é mais desafiante é, sem dúvida, conseguirem fazer a diferença e criarem mecanismos e equipas capazes de fazer a diferença. “O que nos define são apenas três palavras: inovação, sustentabilidade e responsabilidade social. Mas desenvolver cada uma delas de forma a que os clientes e as equipas a percecionem é o verdadeiro desafio”, conclui Susana Serrano. ▪
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ENFERMEIRA PORTUGUESA É DESTAQUE NO REINO UNIDO. CÁ, NUNCA CONSEGUIU EMPREGO NA ÁREA Sílvia Nunes foi nomeada a melhor enfermeira de cuidados continuados do Reino Unido e melhor enfermeira da região leste de Inglaterra. Em Portugal nunca conseguiu uma oportunidade. Conheça na primeira pessoa esta história digna de um conto de fadas.
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que a levou a escolher a enfermagem como carreira profissional? O gosto pela enfermagem surgiu durante a minha experiência nos bombeiros. O contacto com outros enfermeiros e com algumas situações mais delicadas fizeram-me perceber que a enfermagem seria o caminho ideal para mim. Em 2009, decidi fazer o acesso pelos maiores de 23 na Escola Superior de Saúde Vale do Ave, em Vila Nova de Famalicão.
Chegou a Inglaterra sem saber falar inglês, além deste, quais foram os maiores obstáculos que teve que ultrapassar desde que mudou de país? Além da língua outros obstáculos foi adaptar-me à cultura e à legislação inglesa. A cultura foi relativamente fácil, uma vez que sou curiosa e gosto de saber acerca de outras culturas. E a interação com colegas de trabalho e residentes foi essencial para me adaptar. Mas a legislação foi mais complicada, e tive de fazer um esforço redobrado em compreender a legislação e adaptar a minha forma de trabalhar. Apesar das dificuldades foi nomeada a melhor enfermeira de cuidados continuados do Reino Unido e melhor enfermeira da região leste de Inglaterra. Qual é o sentimento de ser, finalmente, reconhecida? Este prémio reconhece o importante papel que os enfermeiros que atuam no setor de cuidados têm na promoção da saúde emocional, física, psicológica e social das pessoas que cuidamos e ser capazes de demonstrar como as habilidades de enfermagem se integram. Como enfermeira devo fazer tudo aquilo que esta ao meu alcance para cuidar do outro. Acima de tudo, devo respeitar a dignidade humana, e cuidar da pessoa como um todo, a nível físico, psicológico e emocional, social e espiritual. Mas para o fazer, devo ser consciente
SÍLVIA NUNES
Gostava muito de um dia poder voltar a Portugal e poder partilhar todo o conhecimento que adquiri
das minhas capacidades e habilidades técnicas e utilizar todo o conhecimento teórico adquirido para este cuidar. Acho que foi tudo isto que originou as nomeações para os prémios. Estive nomeada para duas competições distintas. Uma foi o National Care Awards, onde não existe fase eliminatória e dos milhares de candidatos, são selecionados os cinco melhores para ir à final, infelizmente não ganhei mas fiquei muito lisonjeada por ter chegado ao Top 5 pelo segundo ano consecutivo. A outra competição são os Great British Care Awards onde se começa por uma fase regional e os vencedores regionais vão a uma final nacional. Como ganhei a fase regional, fui à final e ganhei! Ter sido nomeada pelos residentes e familiares, colegas e superiores foi uma surpresa enorme, nunca imaginei que isto pudesse acontecer comigo, mas quando realmente ganhei o prémio foi um orgulho enorme. Foi uma alegria chegar ao lar e puder partilhar com todos os residentes, familiares e colegas o prémio. Este prémio, é sem dúvida o reconhecimento de todo um trabalho que tenho vindo a desenvolver como enfermeira, mas especialmente como pessoa, e para mim, significa que estou no caminho certo. Tem tido uma progressão exponencial desde que chegou a Inglaterra. No primeiro lar onde trabalhou foi promovida a diretora clínica e,
entretanto, no lar onde trabalha atualmente, é já subgerente. Sente que em Inglaterra as oportunidades surgem, ao contrário do que se passa em Portugal? Na sua opinião, a que se deverá isso? Como enfermeira, eu acho que o meu trabalho é respeitado e que as pessoas confiam no que faço. Mas acima de tudo, acho que ser sincera, honesta e calma, facilita bastante. Em Inglaterra o papel do cuidador é muito respeitado pelas pessoas em geral. Em Inglaterra confiaram e apostaram em mim. Deram-me oportunidade de mostrar as minhas capacidades. Tive a felicidade de encontrar uma chefe que me apoia diariamente em atingir os meus objetivos e acho que aqui está uma grande diferença. As constantes supervisões com os superiores e uma avaliação contínua foi essencial para que eu pudesse traçar o meu caminho profissional e seguir o meu sonho. Em Portugal fui considerada uma pessoa sem experiência e que não valia a pena ser dada uma oportunidade, enquanto em Inglaterra deram-me todas as oportunidades e ajudaram-me a evoluir profissionalmente. Consegui realizar os meus sonhos e muito mais, porque nunca imaginei chegar onde cheguei e ganhar um prémio nacional. Sobre um possível regresso, existe o desejo de um dia voltar a Portugal? Gostava muito de um dia poder voltar a Portugal e poder partilhar todo o conhecimento que adquiri, mas neste momento vou continuar por cá. Profissionalmente, eu quero continuar a estudar e a apostar na carreira. Estou atualmente a estudar gestão e liderança de unidades de saúde para que num futuro próximo, possa gerir um lar, e assim continuar a evoluir profissionalmente. Ao mesmo tempo, contínuo a atualizar os meus conhecimentos a nível de enfermagem. ▪
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A certa altura tomou a decisão de emigrar para Inglaterra porque em Portugal nunca conseguiu trabalhar na sua área. Esta foi uma decisão fácil? Deixei Portugal em Agosto de 2014. Vim de carro com a minha cunhada. Foi uma experiência inicial para ver se me adaptava e se conseguiria arranjar trabalho. Assim, que cheguei a Inglaterra comecei a tratar da documentação necessária e a procurar trabalho. Entre setembro e dezembro regressei a Portugal mais duas vezes, para tratar da mudança e também para trazer as minhas gatinhas. Em dezembro o meu marido chegou a Inglaterra. Foi uma adaptação difícil, porque estava fora da minha zona de conforto, mas ao mesmo tempo tive todo o apoio da família do meu marido.
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Sendo mulher, e principalmente neste setor, existe sempre desconfiança e eventualmente alguma falta de “tato” para algumas reações, conclusões e decisões. E porque normalmente sou a única mulher, ou das poucas mulheres, por vezes torna difícil ser ouvida, ou pelo menos compreendida PONTOS DE VISTA NO FEMININO
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“UM LÍDER É AQUELE QUE NÃO PRECISA DE SE AFIRMAR COMO LÍDER” Rita Dória, Diretora da Toyota Caetano Portugal, fala-nos sobre o seu percurso profissional na Toyota e no Grupo Salvador Caetano, dos desafios, mas também das suas motivações e do papel da mulher na sociedade e nos setores associados, maioritariamente, ao sexo masculino. Venha connosco saber tudo.
RITA DÓRIA
Que momentos ou aspetos considere fulcrais para o seu crescimento pessoal e profissional retira deste seu percurso dentro de uma marca de renome como Toyota Caetano Portugal? Foram vários como deve imaginar, mas o mais recente foi a minha última ida ao Japão (em fevereiro deste ano), onde estive cerca de dez dias a “mergulhar” na cultura japonesa do “omotenashi” (hospitalidade), e no Toyota Way (kaizen). Aqui consegui, mesmo após quase 25 anos na Marca, trazer para a minha vida profissional e pessoal valor acrescentado de enorme retorno e valor. É um percurso marcado pela ascensão e aprendizagem e, certamente, marcado por muitos desafios e dificuldades. Consegue referir-nos alguns? Sim, alguns desafios marcados pelas crises do setor, e principalmente por alguma resistência à mudança que este mercado acarreta. Mas na filosofia da nossa empresa, as dificuldades transformam-se em oportunidades, e é assim que queremos sempre pensar, e agir. Numa altura em que se debate cada vez mais questões relacionadas com a desigualdade de género, como diria ter sido o seu percurso profissional neste sentido? A desigualdade de género é uma realidade para si? Sim e não. Sim, porque sendo mulher, e principalmente neste setor, existe sempre desconfiança e eventualmente alguma falta de “tato” para algumas reações, conclusões e decisões. E porque normalmente sou a única mulher, ou das poucas mulheres, por vezes torna difícil ser ouvida, ou pelo menos compreendida.
Não, porque no Grupo Salvador Caetano e na Toyota, não se sente diretamente estas questões, e porque talvez como qualquer mulher em lugares de liderança, marcamos sempre a nossa presença de uma forma muito assertiva e contundente. É diretora da Toyota Caetano Portugal. O que é mais desafiante para si neste cargo? Manter o nível de motivação da equipa, gestão de pessoas e conflitos, a criação contínua, e a procura de mais e melhor. A sociedade ainda impõe bastantes limitações à mulher e ao seu papel na sociedade. Ter uma carreira profissional de sucesso significa abdicar do sucesso na vida pessoal ou vice-versa? Acho que sim, mas acredito que é possível se houver partilha entre os casais, e mais igualdade. Ainda não estamos lá, mas também cabe aos educadores, mães, pais, sociedade, meios de comunicação, etc., criar seres humanos que não vejam a diferença de género como uma diferença de oportunidades e responsabilidades. Assim teremos uma sociedade onde todas as mulheres podem ter o seu espaço e usufruir na plenitude do seu potencial e capacidades. Pode partilhar connosco o seu exemplo? É fácil conciliar uma carreira profissional de sucesso com a vida pessoal e familiar? Como não tenho filhos, imagino que torna as coisas eventualmente um bocado menos desafiantes, mas a constante necessidade de viajar e estar muito tempo fora de casa, torna as coisas mais complicadas. Hoje as organizações debatem-se com múltiplos desafios relacionados com a transformação digital, mas também com a liderança, a gestão de pessoas ou a retenção de talento. O que é para si um bom líder? Que características a definem enquanto líder? Um líder é aquele que não precisa de se afirmar como líder. É aquele que consegue que o acompanhem, e que acrescente sempre valor (quer profissionalmente quer pessoalmente). Que construa. Um líder precisa de agir com paixão e com determinação. ▪
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m primeiro lugar, parabéns pelo seu excelente percurso. São 25 anos de Toyota Caetano Portugal, são 25 anos de…? Completo 25 anos de Toyota Caetano Portugal este ano de 2019. São 25 anos de paixão, de relações, de Kaizen (melhoria continua), de batalhas, de dedicação, retorno, satisfação. A Toyota e o Grupo Salvador Caetano são um exemplo de persistência, de nunca desistir, e de muito trabalho.
PONTOS DE VISTA NO FEMININO
A PRESENÇA FEMININA NUMA INDÚSTRIA ONDE OS HOMENS AINDA ESTÃO EM MAIOR NÚMERO
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FOTO: DIANA QUINTELA
Olga Baptista é Diretora do centro de serviços da Chassis Brakes International em Lisboa. À conversa com a Revista Pontos de Vista, fala sobre como é trabalhar na indústria automóvel e de como encara os desafios que todos os dias enfrenta.
OLGA BAPTISTA
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Chassis Brakes International é uma das maiores fabricantes mundiais de soluções de travagem automóvel que com o seu espírito empreendedor e inovador, está presente em 23 localizações e conta com mais de 5.500 colaboradores a nível global. Em 2014, o grupo decidiu criar em Lisboa, um centro de serviços contabilísticos e financeiros para as suas empresas europeias. Olga Baptista aceitou o desafio de construir de raiz toda esta estrutura empresarial representativa do grupo.
BMW, SIEMENS E CHASSIS BRAKES…
Nascida em terras do Mondego, Olga Baptista licenciou-se em Economia pela Universidade de Coimbra. Iniciou a sua vida profissional na BMW na área de marketing, e pouco tempo depois entrou na gigante multinacional Siemens onde se desenvolveu até entrar para a grande fabricante de travões.
“Quando me juntei à Chassis Brakes International, o objetivo era criar uma equipa de 15 pessoas para fazer os serviços financeiros das empresas europeias do grupo. O sucesso do projecto e a competência da equipa que conseguimos criar, levou a uma muito maior aposta e contributo de Lisboa para o grupo. Hoje temos uma empresa com cerca de 70 pessoas que trabalham desde a área financeira e de contabilidade, à de compras a fornecedores, e suporte de vendas a clientes, que para além da Europa trabalham também com as Americas. Recentemente criámos um departamento de IT que, para todas as empresas do grupo a nível mundial, suporta, mantém e desenvolve soluções tanto ao nível de infraestrutura como de software, tais como SAP, Business Intelligence e Workflow Management.” O nível de responsabilidade tinha aumentado significativamente. Diz ter aceite, pela vontade de se desafiar ainda mais. “Esta oportunidade fez-me
questionar se seria altura de mudar. O desafio de criar uma empresa e toda uma equipa do zero, deu-me uma responsabilidade e frio na barriga que na altura achei interessante.”, explica. Questionada acerca daquilo que define a profissional que hoje se tornou, a diretora garante que a educação e formação que teve foi o mais importante: “Penso que a nossa base está bastante lá atrás. O que marca muito daquilo que sou, devo-o à minha família e educação que me deram. A partir daí vem a formação e a experiência. As situações que mais me desenvolveram foram aquelas em que a mudança aconteceu e sempre que me desafiei a sair da minha zona de conforto. Começou quando vim morar para Lisboa, o ter passado largos meses a morar em Bruxelas e na Índia também me marcaram bastante, e por último o ter vindo para a Chassis Brakes. Estas experiências foram altamente enriquecedoras, desafiaram-me bastante e trago delas bons ensinamentos pessoais e profissionais".
Acredito mesmo que a evolução está muito associada à mudança O QUE É INTERESSANTE NA INDUSTRIA DOS SERVIÇOS
Numa empresa onde impera o bom ambiente de trabalho, as pessoas ajudam-se e trabalham em equipa não só pela necessidade processoal mas para o desenvolvimento delas próprias. Com uma equipa com mais de 6 nacionalidades e onde a língua base é o Inglês, no dia a dia é comum falar-se línguas tão diferentes como Italiano, Turco, Polaco ou Francês. Como nos comenta Olga Baptista: “É muito aliciante representar uma multinacional com esta diversidade e multiculturalidade. Trabalhamos em Portugal mas para o Mundo, o que nos põe diariamente em contacto com outras culturas e ideias. Algo que também me atrai neste tipo de serviços é a busca contínua pela melhoria, levando ao aumento de eficiência e da qualidade pela aprendizagem constante.”
redução de emissões, assim como a condução autónoma, são temas da actualidade e que me atraem, e isso não tem nada a ver com o género mas sim com o gosto pelos desafios e por perceber o impacto que as mudanças têm na vida em sociedade. No fundo, é entender como o mundo está a evoluir.” Apesar de ser um mundo ainda muito dominado por homens, em termos de liderança e de operações, o centro em Lisboa contraria as estatísticas até do proprio grupo Chassis Brakes ao ter mais mulheres do que homens a ocupar funções de gestão, mas Olga esclarece que nada tem a ver com sexismos ou feminismos, “é pura meritocracia”. E é assim que encara toda a indústria: “Não existe nenhuma dificuldade ou obstáculo por haver mais homens, é apenas um facto”, explica.
“Acredito que o estereótipo de para liderança ter de se ser homem, branco, e com mais de 50 anos já passou de moda. Hoje o que se procura é a diversidade a todos os níveis: cultural, de raças e género… Obstáculos de género não tive, até acho ter tido bastantes oportunidades e soube agarrá-las da melhor forma. Situações constrangedoras tive algumas sim mas felizmente já no passado e talvez mais pela idade. Algo que, mal provava a minha capacidade de trabalho, a questão de género deixava de fazer parte da equação". ▪
O que as grandes empresas querem são pessoas competentes e com visão
Hoje é responsável por gerir uma equipa de 70 pessoas e afirma que o seu estilo de liderança assenta na adaptação perante as personalidades e necessidades de cada um. “Gerir e liderar equipas foi algo que me apareceu como desafio sem o procurar, mas que rapidamente se tornou uma das minhas maiores vontades. O meu estilo de liderança depende da pessoa que está à minha frente e da situação concreta que estamos a passar".
Para mim tem de haver uma adaptação às necessidades. Gosto de desenvolver equipas autónomas e dar liberdade de escolha. No entanto, autonomia não é abandono e por isso o apoio é crucial 2019
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Com uma delicadeza assertiva, Olga, acredita que só através da superação de desafios se evolui. Afirma que os seus actuais desafios se prendem em duas vertentes: “ Por um lado fazer com que a empresa em Lisboa tenha um grande impacto para o grupo Chassis Brakes International e constantemente perceber como podemos contribuir para o seu crescimento. Por outro lado é motivar as pessoas que fazem parte desta grande equipa de especialistas e fazer com que cada uma consiga o seu melhor no dia a dia.”
“A indústria automóvel é super intereressante nos dias de hoje, além de ser um mercado bastante competitivo, está numa mudança constante e é otimo acompanhar e trabalhar neste meio. O futuro da mobilidade, a electrificação e
FOTO: DIANA QUINTELA
TRABALHAR NUMA INDÚSTRIA TIPICAMENTE MASCULINA
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BEFASHION
LUTAR SEMPRE, VENCER TALVEZ E DESISTIR NUNCA Às vezes o que precisamos é somente de alguma inspiração e confiança. Esta frase preconiza realmente a interlocutora que temos aqui, Patrícia Ferreira, CEO da BeFashion Textile Agency, uma marca que nasceu da dinâmica desta mulher de garra e dedicação a tudo o que faz. Porque para se vencer, é necessário que nunca se deixe de lutar e a nossa entrevistada assim o fez e conseguiu.
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PATRÍCIA FERREIRA
eFashion Textile Agency, surgiu no mercado há cerca de cinco anos, sendo que o grande desiderato da mesma passa por promover a inovação e a melhoria de processos de uma forma contínua e regular, criando uma relação sustentada e duradoura com clientes e parceiros, acompanhando sempre as ultimas e novas tendências do mercado global, e mantendo a qualidade como vértice superior da sua dinâmica ao nível de serviços e celeridade na vertente da competitividade dos preços. Mas quem é Patrícia Ferreira? “Acima de tudo sou mãe e empresária que veio de raízes humildes e que lutou muito para alcançar aquilo que tenho hoje”, afirma a nossa entrevistada, que está no setor do têxtil há quase duas décadas, mais concretamente há 18 anos e que ao longo do seu percurso esteve quase sempre em posições de liderança e chefia, algo que “é muito prestigiante para mim”, assegura, salientando que foi o seu lado curioso e sua capacidade para línguas que permitiu que a mesma continuasse a crescer ao longo de todos estes anos, sempre por conta de outrem e sempre com patrões do sexo masculino, “por quem tenho muito respeito e consideração pela forma respeitosa e valorizada como me trataram e que fizeram um pouco do que sou atualmente”, salienta Patrícia
Quando edifiquei a marca não fui eu que procurei os clientes, mas eles é que me procuraram. Para muitos clientes não é a BeFashion, mas a Patrícia e isso deixa-me orgulhosa
BEFASHION É PATRÍCIA…
Até que chegou 2014 e o momento e que a nossa entrevistada percebeu que esse era o momento para apostar no seu próprio negócio e projeto. “Estava numa idade e maturidade estável que me permitiram avançar por conta próprio e criei a BeFashion Textile Agency”, refere, salientando que estes cinco anos da marca no mercado têm sido bastante positivos. Com um longo percurso no universo do têxtil, a nossa interlocutora foi reunindo conhecimentos e estofo para ultrapassar qualquer obstáculo e trabalhou sempre com fabricantes, embora o seu objetivo fosse tornar-se uma agente neste mercado, pois reconhecia que os players existentes no mercado tinham um défice elevado de conhecimentos técnicos ao nível dos agentes e “então achei que se conseguisse marcar pela diferença e enveredar por um caminho de agente, tinha todos os conhecimentos técnicos para marcar pela distinção e agora posso dizer que marquei pela diferença”, assevera a nossa entrevistada, referindo algo que a orgulha muito. “Quando edifiquei a marca não fui eu que procurei os clientes, mas eles é que me procuraram. Para muitos clientes não é a BeFashion, mas a Patrícia e isso deixa-me orgulhosa”, salienta, não deixando de afirmar que os agentes no mercado atual são mais do que capazes e revelam enorme profissionalismo e conhecimentos, “mas marco também a diferença pelo conhecimento que adquiri ao longo da minha carreira. Por isso é que apostei numa equipa pequena porque não precisamos de ser muitos para fazer um trabalho de excelência, o mais importante é gostarmos do que fazemos e ter um bom ambiente de trabalho e isso temos”, afirma convicta a nossa entrevistada. Assegurando que na BeFashion ninguém depende do fabricante para dar uma resposta ao cliente, “tudo porque reunimos conhecimentos técnicos que nos permite apresentar ao mesmo propostas e soluções”.
“A BALANÇA ESTÁ EQUILIBRADA E EXISTE RESPEITO MÚTUO”
Num passado recente, o mundo do têxtil era composto, maioritariamente por homens, principalmente em cargos de liderança e chefia, algo que ao longo dos tempos foi mudando e para a qual
as mulheres muito contribuíram. “Não tenho a mínima dúvida que as mulheres foram importantes para essa mudança. Isto sem desfazer dos homens que fazem parte deste setor, por quem tenho uma relação de carinho e respeito por tudo o que me ajudaram”, refere a nossa interlocutora. Mas haverá uma liderança feminina e uma masculina ou essa vertente de um líder não passa pela questão de género? “Naturalmente que não. Acredito sinceramente que a balança está equilibrada e existe respeito mútuo. A única coisa que encontro algumas diferenças é na forma de resolver um problema, porque as mulheres têm uma forma de pensar diferente perante um obstáculo e procuram imediatamente por soluções, enquanto que o homem se limita a colocar o problema. No fundo é tudo uma questão de pragmatismo”, afirma a nossa entrevistada. Mas será que Patrícia Ferreira, ao longo de 18 anos de carreira, alguma vez sentiu alguma barreira em crescer pelo facto de ser mulher? Segundo a nossa entrevistada “as dificuldades de ser jovem mulher em cargo de liderança foram sempre superadas pela capacidade de resolver e decidir assertivamente face a qualquer adversidade. Fazendo uso da capacidade de fazer diversas tarefas ao mesmo tempo, e assumindo-me como mulher profissional muito nova fez-me ganhar o respeito pelos meus pares masculinos”, salienta e reconhecendo que alguns setores da sociedade e do universo empresarial a questão da igualdade salarial ainda seja distinta para homens e mulheres, “algo que acredito que irá mudar no futuro, pois já demos passos enormes e positivas nesse equilíbrio”:
O MERCADO FRANCÊS E UMA LOCALIZAÇÃO ESTRATÉGICA
A BeFashion atua somente no mercado internacional, em mercados como França, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Bélgica e outros, sendo que é no mercado gaulês que se materializa o volume superior de negócios por parte da marca, cerca de 70% e porquê o francês? “Porque quando edifiquei a agência a grande procura de clientes foi desse mercado e acabei por conquistar uma parte desse mercado”, assevera Patrícia Ferreira, recordando que os mercados internacionais e nacionais são bastante díspares. “Cá dentro ainda existe uma preocupação muito grande com o que se vai faturar com determinada empresa, enquanto que a nível externo valorizam a presença e isso faze-
HOJE EM DIA O HOMEM DITA TENDÊNCIAS DA MODA Será que a moda é um vetor importante para a afirmação da Mulher? “Sem dúvida”, afirma a nossa entrevistada, lembrando, contudo, que hoje o homem tem uma palavra a dizer neste domínio. “A mulher sempre procurou estar na moda e conhecer as tendências e o homem, num passado recente, estava desligado disso, algo que atualmente mudou, e até me arrisco a afirmar que hoje em dia, em vários casos, é o homem a ditar as tendências da moda, algo que até para mim que conheço a fundo o mercado e tenho uma mente aberta, me surpreendeu e que considero ser bastante positivo e gratificante”, conclui a nossa entrevistada.
mos diariamente, pois a cada três semanas vou a Paris visitar os meus clientes e perceber quais as motivações, quais as preocupações e consigo dar soluções para isso mesmo”, lembra, assegurando que tem construído relações profissionais no mercado francês que já estão neste momento numa fase de relação de amizade e isso além de ser francamente positivo, permite-nos ter maior confiança por parte do cliente e assegurar novos clientes que nos conhecem pela forma como trabalhamos com os nossos atuais parceiros”. Localizada no coração do têxtil do norte do país, Guimarães, esta também foi uma estratégia da nossa interlocutora. “Estamos aqui há dois anos e apesar de ser natural de Guimarães, não foi esse o vetor mais importante para estarmos aqui, mas sim pela proximidade que nos permite ter com os melhores fabricantes do têxtil em Portugal, que para mim estão nesta cidade. Aliado a isso, também cumpro um desejo, ou seja, contribuir para o crescimento económica da minha cidade”, revela, lembrando que o desiderato mais
próximo é o de crescer no mercado italiano e alemão. “Já trabalhamos com estes mercados, mas o nosso volume ainda é bastante reduzido e queremos inverter isso em 2019, se calhar até ao final desta estação, que é em agosto”, afirma Patrícia Ferreira, lembrando o lema da empresa, “Lutar sempre, vencer talvez e desistir nunca”. Não pretendemos terminar sem ter a visão de uma empresária/ mulher experiente e conhecedora do mercado do têxtil em Portugal que, num passado não muito longínquo, “estava morto. O têxtil morreu por um vasto conjunto de cenários onde se encontra a não aposta na inovação e no fazer diferente. A mudança surgiu quando os criadores das empresas começaram a passar essa pasta aos filhos e filhas que tinham e têm uma visão mais inovadora e mais virada para o futuro e começaram a apostar em novos equipamentos, em novas técnicas de produção e em mercados novos e foi esse o click para que o têxtil regressasse e marcasse um crescimento assinalável e positivo”, revela a CEO da BeFashion. ▪
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Ferreira, que com o intuito de atingir novos objetivos, novas metas, foi sempre ela a tomar a iniciativa e decidir assumir novos cargos, nunca tendo sido despedida.
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“A DISCRIMINAÇÃO COMBATE-SE (…) COM DEDICAÇÃO E PROFISSIONALISMO” A Abel Cardoso, Catarina Carvalho, Esteves De Aguiar & Associados (ACCE), Sociedade de Advogados foi uma das primeiras sociedades de advogados a surgir em Portugal. Rosário Coimbra e Catarina Carvalho, Advogadas na ACCE, falam-nos mais deste setor e do papel da mulher na advocacia e na sociedade.
ROSÁRIO COIMBRA E CATARINA CARVALHO
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Abel Cardoso, Catarina Carvalho, Esteves De Aguiar & Associados, Sociedade de Advogados foi uma das primeiras sociedades de advogados a surgir em Portugal. O que mudou desde então? Que verdadeiros desafios enfrentam atualmente as sociedades de advogados? RC - A prática da advocacia tem passado por alterações profundas. Ao anacronismo do advogado generalista alia-se a crescente complexidade económica e social e o fenómeno da internacionalização do Direito, com a consequente complexificação legislativa que impõe a especialização dos advogados. A advocacia de negócios tem conquistado um importante espaço no mercado face à advocacia tradicional de “barra” – o que, creio, suscitará na nossa Ordem uma reflexão sobre o modelo de formação dos advogados, ainda muito ligada às competências
forenses. Creio, quanto às sociedades de advogados, que os clientes empresariais procuram hoje o apoio jurídico junto de estruturas mais leves, logo mais competitivas e habilitadas para dar resposta rápida e personalizada às suas solicitações. CTC - Desde 1992 muita coisa mudou na advocacia em Portugal. Passou-se da prática isolada ao trabalho em equipa que é uma mais valia do exercício da advocacia em sociedade, sobretudo hoje com a jurisdificação do mundo em que vivemos. Ocorreram ainda grandes alterações tecnológicas, e o Direito não podia ficar de fora, as quais trouxeram grandes benefícios não só como ferramenta de trabalho, mas também no relacionamento com os clientes, permitindo uma atualização constante da informação. O grande desafio que hoje enfrentamos é o da especialização, a formação continua e a internacionalização.
Olhando para o panorama atual do setor da advocacia em Portugal, que papel assume hoje a ACCE Sociedade de Advogados no mercado? RC - A ACCE integra advogados experientes em diversas áreas do Direito que lhe tem permitido conquistar a confiança de empresas de vários setores económicos e de clientes institucionais públicos. Oferecemos aos nossos clientes serviços orientados para a resolução de necessidades novas (o caso da proteção de dados pessoais e do copyright). Prestamos apoio à internacionalização e ao investimento no mercado nacional por clientes estrangeiros. Orgulhamo-nos da fidelização que conquistamos dos nossos clientes, sustentada na disponibilidade, na personalização da relação advogado-cliente e na prontidão da resposta às solicitações. CTC - A ACCE está bem posicionada no mercado pois abrange
uma franja de clientes empresariais e individuais com características próprias, de vários sectores de actividade. A nossa dimensão faz alguma diferenciação na proximidade com o cliente. Basta ver que temos clientes há mais de 20 anos, alguns desde o início, o que é um sinal da confiança em nós depositada. Convivemos bem com as grandes sociedades. Aliás, vezes houve em que já trabalhámos em parceria com uma ou outra, num determinado contexto, o que é muito salutar. E a mulher? Que papel assume atualmente a mulher num setor associado até há bem pouco tempo, maioritariamente, ao sexo masculino? RC - Há hoje mais mulheres do que homens no ensino superior, o que altera o rácio de mulheres vs. homens no mercado de trabalho, mas não creio que o aumento do número de advogadas cause por
O QUE ELAS DIZEM...
Rosário Coimbra e Catarina Carvalho são advogadas na ACCE Sociedade de Advogados e contam já com um vasta experiência profissional. O que as motiva e inspira diariamente? RC - Motiva-me a procura de soluções criativas para problemas difíceis e as abordagens inovadoras. Os clientes empresariais procuram pragmatismo nos advogados, orientado para soluções cujas variáveis ultrapassam a perspetiva jurídica das solicitações que nos dirigem. A minha experiência como advogada “in house” em duas das maiores construtoras portuguesas contribuiu decisivamente para o meu perfil profissional. CTC - Tenho já 28 anos de advocacia e continuo a exercê-la com entusiasmo. Gosto de argumentar, de estudar, de ensinar, e de aprender. A solução para uma questão pode exigir muito de nós, quer a
nível técnico-jurídico, quer apelando à experiência e intuição. Mas tenho o privilégio de trabalhar numa sociedade, da qual fui fundadora, onde se preza muito a interajuda, a troca de conhecimentos e a boa disposição. Temos um excelente ambiente de trabalho, o que é essencial. O que diriam que vos define e carateriza enquanto mulheres e profissionais? RC - Gosto do debate e da controvérsia. Confio nas vantagens da troca de ideias como método para alcançar soluções para problemas concretos e irrepetíveis. Os melhores momentos da minha carreira passaram-se em estimulantes debates ou negociações. Dá-me gozo a retórica e a aptidão que nós, juristas, desenvolvemos na desconstrução de um conceito até ao núcleo mais irredutível. E atravesso a vida e a profissão com humor – talvez o mais complexo e sedutor aspeto da existência. CTC - Como advogada preocupo-me em dar o melhor, em estudar bem as questões, defender o interesse do meu cliente com profissionalismo, empenho e dedicação. Só sei ser advogada assim e é isso que me move. Como mulher não sei bem sintetizar o que me define, mas prezo muito a lealdade, a alegria e o sentido de humor. A desigualdade de género é uma questão que continua a merecer a devida atenção de todos nós, com as mulheres a continuarem a ser alvo de discriminação económica e social. Esta é, de facto, uma questão que iremos conseguir mudar ou combater? RC - A realidade mostra que as mulheres ganham menos e ascendem com menor frequência a posições de direção, mas esse status quo não se altera pela imposição de modelos sociais
paradoxalmente desigualitários, em que os homens deixam de ter direitos. Recuso a ideia de quotas, vagamente humilhante por “bastar ser mulher” para exercer um cargo. Sou crítica da hipercriminalização e da normatização de comportamentos, que retiram espontaneidade às relações sociais e afetivas. É pela evolução social que se alcança a igualdade de oportunidades e o recuo das situações discriminatórias. CTC - A discriminação económica e social ainda existe em determinados sectores de actividade, mas é cada vez mais frequente encontrarmos mulheres em lugar de topo e com salários iguais aos do homem em idêntico cargo. A desigualdade é uma questão cultural que se deve combater mas só com a mudança de mentalidades. Mas forçar a paridade pode levar a situações indesejáveis em que não se contrata pelo mérito mas para agradar às estatísticas. A desigualdade de género foi ou é, de alguma forma, uma realidade para vocês? RC - Durante duas décadas estive ligada a empresas cujos quadros eram maioritariamente homens e nunca tive qualquer experiência que possa qualificar de discriminatória. Acredito que a discriminação se atenua pela adoção de posturas de paridade, mas reconheço nem toda a discriminação pode ser debelada de forma evolutiva e que a sua erradicação é difícil, por depender de fatores que demoram décadas. CTC - Nestes anos de profissão não conheci nunca qualquer discriminação por ser mulher. Aliás, fundei a sociedade em igualdade de circunstâncias com o meu primeiro sócio Abel Cardoso, e mais tarde com a entrada do sócio José Esteves de Aguiar mantive a mesma posição, sem me ter sentido ultrapassada. ▪
Há hoje mais mulheres do que homens no ensino superior, o que altera o rácio de mulheres vs. homens no mercado de trabalho, mas não creio que o aumento do número de advogadas cause por si só modificações no exercício da profissão: o que releva é o mérito ROSÁRIO COIMBRA
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si só modificações no exercício da profissão: o que releva é o mérito, e o mérito não é mais ou menos recorrente em função do sexo. A discriminação combate-se antes de mais com dedicação e profissionalismo. CTC - Atualmente, temos mais advogadas inscritas do que advogados. Por isso há já bastante tempo que advocacia deixou de ser associada ao sexo masculino. O conhecimento, a aprendizagem e o rigor que a profissão exige, não estão condicionados ao sexo masculino ou feminino. Na ACCE acontece exatamente o inverso pois somos mais advogadas do que advogados. A única dificuldade que poderá ser sentida pelas advogadas, e falando genericamente, seja a de conseguir conciliar o exercício da profissão com a organização da vida familiar, o que obriga a uma gestão criteriosa do tempo, nem sempre fácil de conseguir.
O conhecimento, a aprendizagem e o rigor que a profissão exige, não estão condicionados ao sexo masculino ou feminino. Na ACCE acontece exatamente o inverso, pois somos mais advogadas do que advogados CATARINA CARVALHO
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“A GESTÃO DE PESSOAS NÃO É SÓ UM TEMA IMPORTANTE COMO, PARA MIM, O MAIS IMPORTANTE” Filipa Montalvão, co-fundadora da White Way - agência de Estratégia de Marca e Criatividade que fundou em 2006 com outros sócios, em entrevista fala sobre os desafios diários que fazem parte da sua agenda. Não tem hobbys porque afirma que o estar com a família, em especial com a sua filha Maria, é o que a melhor preenche quando está fora do trabalho. Conheça-a na primeira pessoa.
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omo surgiu a White e o que veio trazer de novo ao mercado? A White surgiu na sequência de um percurso de 14 anos com um convite para fazer mais e melhor – nesta perspetiva é sempre aliciante. Depois de oito anos com um projeto do qual também fui responsável, fiz o que por vezes é impensável: arrancar com uma nova agência, novos sócios, nova equipa e a bagagem de experiência do que tirei de melhor e menos bom do que já tinha desenvolvido até à data. A realidade é que gosto de desafios, considero-me uma doer – do verbo to-do – ou em português alguém que gosta de fazer acontecer. A White surgiu em 2006 numa época em que o mercado estava sobrecarregado de agências, nacionais e multinacionais, os Clientes procuravam na altura um serviço e uma maior proximidade que se tinha perdido nas agências de maior dimensão. Com um foco em Estratégia de Marca e Criatividade, nascemos com uma equipa inicial onde os partners – ambos com formação em design - assumiam uma presença constante no Cliente, apoiando e discutindo as suas opções e estratégias de comunicação. Esta presença trouxe relações de confiança, que juntamente com uma entrega criativa de grande qualidade fizeram da White a agência que este ano celebra 13 anos.
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Quais são os maiores desafios de estar à frente de uma agência de Estratégia de Marca e Criatividade? Se juntarmos aos desafios “habituais” de todo o processo empreendedor, os desafios de estar em constante atualização, inovação e criatividade, temos desafios para os próximos 13 anos! A constante exigência com a entrega é um desafio diário, a construção de relações de confiança com atuais e novos Clientes e claro a motivação da equipa que todos os dias está pronta para abraçar novos desafios, apresentar soluções criativas e fazer sempre aquele extra-mile. Como é um dia normal para si? Não sei se consigo definir um dia normal, gosto que não sejam todos normais! De manhã não bebo café - penso que se o fizesse ninguém me aturava – a minha energia matinal faz-me sair da cama sempre com vontade trabalhar – e que continue assim. Eu gosto do que faço. O meu dia é organizado com algum detalhe. Sou control freek pelo que, de véspera tento prever onde vou estar, onde e com quem. Para além da gestão da agência - que partilho com o meu sócio - sou responsável pelo business development, supervisão de contas dos Clientes estratégicos e da equipa de serviço a Cliente. Entre telefonemas com Clientes,
FILIPA MONTALVÃO
passagem de briefings, discussão de projetos, gestão de recursos, planeamento – tudo faz parte de um dia a dia muito dinâmico. A gestão de pessoas é para si um tema importante? Que princípios coloca em prática com as pessoas que fazem parte da agência? A gestão de pessoas não é só um tema importante como, para mim, o mais importante. A agência entrega serviços de estratégia e criatividade que são desenvolvidos por pessoas com uma capacidade criativa extraordinária. Todos os projetos e a relação com o Cliente é gerida por pessoas com uma capacidade relacional extraordinária. A gestão de pessoas é um dos maiores desafios que uma agência tem em mãos, a captação, retenção e constante motivação da equipa é fundamental. Como queremos fazer um bom storytelling de uma Marca se a própria agência não tem uma boa história para contar? Pelo menos uma vez por mês, tento almoçar com uma pessoa da agência, implementei esta iniciativa e percebi que falar com as pessoas fora do nosso habitat é por vezes muito mais produtivo e conhecemos melhor as pessoas à nossa volta. A gestão das pessoas e equipas é para mim um tema sensível, estou constantemente a tentar aprender mais sobre liderança e gestão de pessoas, workshops, formações, bootcamps, tento ir a todas… é um desafio diário e a palavra motivação assusta-me por ser usada vezes demais em muitas questões relacionadas com recursos humanos. Quando não está a trabalhar, o que é que gosta mais de fazer? Não tenho nenhum hobby, não leio livros todos
Não sei se consigo definir um dia normal, gosto que não sejam todos normais! De manhã não bebo café - penso que se o fizesse ninguém me aturava – a minha energia matinal faz-me sair da cama sempre com vontade trabalhar
os meses, não faço ginástica tão regular quanto devia, não sou assídua dos últimos lançamentos do cinema... na realidade também fora do trabalho não tenho uma rotina. O que me motiva e me inspira fora do trabalho é estar com a família, com os amigos, combinar um jantar, abrir um bom vinho, fazer uma tenda de princesas com a Maria é sempre um programa vencedor! Em casa não vejo muita televisão, optei por acompanhar o mundo por outros meios e assim selecionar melhor as notícias, não ficando influenciada por algumas notícias dramáticas que fazem manchete. Assim, ao fim de semana, jogar um mikado, um jogo da glória, ver as novidades do 1º ano da escola ou simplesmente fazer palhaçadas a dançar músicas do YouTube, tudo serve para um verdadeiro quality time. Como seria para si ter um emprego em que a rotina e a mesmice do dia-a-dia imperassem? Não imagino, mas como sou uma pessoa que gosta de desafios, quem sabe? ▪
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“O MUNDO DA HOTELARIA É FASCINANTE” Marta Mendes é Diretora-Geral do Palácio São Silvestre, em Coimbra. Começou a trabalhar em hotelaria aos 16 e não mais parou. Conheça a sua história!
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omo é que se apaixonou pela gestão hoteleira? A paixão surgiu desde muito cedo, uma vez que trabalho desde os 16 anos, conciliando sempre os estudos com o trabalho. O mundo da hotelaria é fascinante, o contacto com as pessoas, a superação das expectativas dos hóspedes é empolgante, tornando cada dia num dia único!
Quais são, para si, as competências essenciais para se ser boa naquilo que faz?
MARTA MENDES
Estarmos apaixonados pelo que fazemos, só assim conseguimos realizar todas as tarefas, sem que as mesmas representem um sacrifico, mas sim um prazer. Necessitamos ainda de gostar de pessoas (todo o nosso trabalho depende das pessoas, primeiro enquanto colaboradores e a seguir enquanto clientes). Para além disso, a disciplina e foco são fundamentais, para conseguirmos superar os desafios diários que nos são colocados. “Fascinante pelo seu histórico, autêntico pelo seu charme”, é assim conhecido o Palácio São Silvestre. Conte-nos o que torna este boutique hotel tão único e especial? O Palácio São Silvestre, constituiu uma imponente habitação barroca, construída no século XVIII, mas infelizmente a casa viria a sofrer diversas obras e transformações
nas centúrias seguintes, chegando ao final do século XX arruinada no espaço interior, contudo felizmente foi recuperada, permitindo a todos a descoberta deste maravilhoso espaço. Pelas mãos do empresário Alcides Louro, o Palácio voltou a ganhar vida, sendo atualmente um dos Hotéis mais bonitos e completos da Região Centro. Composto por 41 quartos, (Nobres, Deluxe, e Suites Temáticas), um restaurante – PALATIVM, uma área de relaxamento e bem-estar (ginásio, sauna, banho turco, sala de tratamentos e uma sala de relaxamento), quatro salas de reuniões, uma sala de eventos, uma piscina exterior, um parque infantil, 14 hectares de área verde, uma horta biológica e uma capela. Todo o espaço, se encontra luxuosamente, decorado permitindo aos nossos clientes embarcar numa autêntica viagem histórica e sen-
Pala além do alojamento, têm no Restaurante PALATIVM uma grande aposta… Pelas mãos da chef Rita de Oliveira, e a sua equipa, o Restaurante PALATIVM, tem como principal objetivo proporcionar uma experiência gastronómica única, harmonizando uma cozinha de imaginação, na qual os sabores tradicionais portugueses são interpretados e apresentados num estilo contemporâneo. Permite-nos apresentar a enorme variedade de peixes, carnes e produtos frescos, bem como a diversidade de especialidades gastronómicas regionais. Com uma abrangente lista de vinhos, o restaurante dá especial atenção à conjugação do vinho com a gastronomia. O Restaurante PALATIVM, abrirá diariamente, para hóspedes e não hóspedes, ao almoço e jantar. Qual é o segredo para o sucesso de qualquer unidade hoteleira? A primeira ferramenta para o sucesso é o envolvimento de toda a equipa no projeto, de modo a que cada um sinta fazer parte integrante do mesmo. Só com a união da equipa é possível alcançar o rigor, a excelência do serviço, o melhor desempenho de cada um, a simpatia e o bem receber, a procura da inovação e distinção do negócio, de modo a apresentarmos algo para o cliente diferenciador das restantes unidades hoteleiras. ▪
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Desde 2009 que já passou por algumas unidades hoteleiras. Como foi o caminho até se tornar diretora geral do Palácio São Silvestre? Com a conclusão do curso na EHTC (sem dúvida, uma das melhores, se não a melhor, neste setor, a nível nacional), tive a oportunidade de estagiar na região do Minho, numa Unidade de quatro estrelas, felizmente e por lá fiquei durante dois anos e meio, exercendo as funções de comercial. Nessa altura, senti a necessidade de sair da minha zona de conforto, pelo que decidi abraçar um novo desafio em Inglaterra, durante um ano, exercendo as funções de assistente geral de um hotel com restaurante, tendo sido uma experiência bastante enriquecedora. Mais um desafio superado que me permitiu solidificar todos os conhecimentos adquiridos até à data. Decidi então voltar para a o Minho, para o Hotel Porta do Sol, onde estive durante um ano como assistente de direção, e apesar de muito jovem, em 2013, fui promovida a diretora geral do hotel, onde tive uma experiência completa e multifacetada, exercendo as minhas funções até setembro de 2018. Mas irremediavelmente, movida pelo amor e pela paixão por novos desafios, decidi abraçar um novo projeto – A abertura da Unidade Hoteleira – Palácio São Silvestre Boutique Hotel, localizada a cerca de dez quilómetros de Coimbra.
tir o verdadeiro luxo, em tempos reservado exclusivamente a quem cá residia.
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“A INDÚSTRIA PASSOU A SER UMA PARCEIRA NA CONSTRUÇÃO DE SOLUÇOES TERAPÊUTICAS”
FOTO: DIANA QUINTELA
É em 2016 que a Mundipharma chega a Portugal. Com ela traz dois produtos inovadores: um para o tratamento da asma e um para o tratamento da diabetes. É também em 2016 que Sofia Ferreira assume o cargo de direção, Business Intelligence e CRM da Mundipharma Portugal, iniciando uma nova etapa da sua vida. Venha connosco conhecê-la.
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omecemos pelos três valores pelos quais a Mundipharma se rege: espírito guerreiro, coração prestativo e atitude de diversão. São estes valores que também Sofia Ferreira traz consigo e que faz transparecer. Quando, em 2016, a multinacional americana decide abrir uma filial em Portugal, é criada uma equipa de raiz, iniciando a sua atividade na linha respiratória com o lançamento de um medicamento para o tratamento da asma. O objetivo, esse, é aumentar a qualidade de vida dos doentes respiratórios e diminuir a despesa pública para o Serviço Nacional de Saúde. O que começou com uma estrutura pequena rapidamente ganhou dimensão, novos projetos e novos desafios. É então que Sofia Ferreira é convidada para o cargo de direção comercial, assumindo a responsabilidade de toda a equipa comercial, e é lançado um novo produto na
área da Diabetes. Tratam-se de dois produtos completamente inovadores e únicos. Em 2018 a equipa da Mundipharma Portugal abraça um novo desafio para desenvolver e lançar produtos na área hospitalar, uma área em desenvolvimento e onde já foram lançados três produtos para o mercado, na área da dor e na área da toxicodependência, e um medicamento biossimilar. Uma vez mais Sofia Ferreira recebe a proposta para abraçar este projeto. Paralelamente, é iniciado um processo de seleção para o cargo de Country Manager de Portugal e Sofia Ferreira é indicada para este processo de seleção.
AUTONOMIA E RESPONSABILIZAÇÃO
É em dezembro de 2018 que Sofia Ferreira é selecionada para exercer a função de Country Manager de Portugal da Mundipharma. “Tem sido um desafio”, afirma. “Mas o meu
percurso pela empresa permitiu-me ter um forte conhecimento de negócio e de gestão de equipa apesar de não ter experiência anterior enquanto diretora geral”, diz-nos Sofia Ferreira. No entanto, não deixa de ser um desafio. Um duplo desafio. “Por um lado, porque já estava nesta empresa enquanto colega de equipa e passei a assumir funções de liderança. Por outro lado, por ainda estar em fase de adaptação e por ter de conseguir deixar a operacionalidade do negócio. Tinha funções muito operacionais e agora tive de aprender a ter uma visão estratégica”, elucida a nossa entrevistada. Sofia Ferreira sabe que é um processo de aprendizagem, mas afirma que tem tido muita sorte pelo forte suporte que tem recebido por parte da sua equipa. “Tenho de ser uma pessoa diretiva, mas não sou uma pessoa de impor a minha forma de pensar. Tento levar a equipa comigo, ao meu lado, para juntos alcançarmos
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de apresentar resultados e corresponder às exigências da inovação, temos de ter conhecimentos no seu todo do negócio em que estamos envolvidos, isto implica muito conhecimento, aprendizagem e um trabalho de casa constante. É uma área que exige disponibilidade e trabalho diário para alcançar resultados”, realça a nossa entrevistada. Quanto aos desafios desta área, esses, são bastante claros. “A indústria deixou de ser apenas prestadora de informação. Estamos na era da transformação digital e big data, onde a informação está acessível a todos. Claramente interagir nesta área é apresentarmo-nos como parceiros das instituições e dos profissionais de saúde de forma a apresentar estratégias e produtos inovadores”, alerta Sofia Ferreira. A indústria tem de estar preparada para as exigências dos profissionais de saúde e para os pacientes que são eles próprios cada vez mais conhecedores e mais informados e que procuram e exigem mais destes profissionais. “Temos de estar envolvidos com os nossos parceiros de uma forma diferenciadora e ajudá-los na construção de ferramentas e de soluções inovadoras”. Relembrando os valores pelos quais a Mundi-
pharma se rege – espírito guerreiro, coração prestativo e atitude de diversão – Sofia Ferreira afirma que quer que todas as pessoas se sintam felizes aqui e que consigam alcançar o seu equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. “Somos guerreiros para trabalhar, queremos atingir os nossos objetivos, comemoramos as nossas vitórias e queremos ajudar o próximo, os nossos colegas e ter um espírito de equipa. E são nas pequenas coisas que fazemos diariamente que conseguimos espelhar estes valores”, conclui.
“QUE A ASMA NÃO TE PARE”
Desde 2016 que a Mundipharma juntamente com a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clinica (SPAIC), Grupo de estudos Respiratórios da Sociedade Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (GRESP), Associação Portuguesa de Asmáticos (APA) e Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), apoia esta iniciativa. É uma ação que assinala o Dia Mundial da Asma e a nossa campanha “Que a asma não te pare” tem por objetivo a prevenção e tratamento desta patologia. ▪
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os objetivos que a Mundipharma se propõe a alcançar. Procuro que exista sempre uma envolvência por parte de todos, levando todos temas a discussão”, explica Sofia Ferreira, tendo em conta a filosofia da empresa que é a total transparência de informação. Na Mundipharma as pessoas são todas envolvidas nas tomadas de decisões e no pré-lançamento de produtos. “Temos um modelo de gestão que permite que a equipa tenha autonomia para tomar decisões que considerem ser as mais corretas naquele momento. Se errarmos serve para experimentar, aprender e continuar. Este modelo permite-nos ser bastante ágeis”, acrescenta a nossa entrevistada. A verdade é que, em termos de aprendizagem, a Mundipharma é uma empresa bastante enriquecedora. “Aqui conseguimos facilmente ascender a diferentes funções, cargos e passar por diferentes experiências que nos ajudam a crescer pessoal e profissionalmente”, realça Sofia Ferreira. Com uma estrutura que tem resultado e que a transformou numa empresa mundialmente conhecida, a Mundipharma é hoje companhia de referência em Portugal na área respiratória, “num mercado que é bastante conservador e com players fortes”. Por outro lado, o lançamento do produto inovador na área da diabetes, veio consolidar a sua posição nos cuidados de saúde primários. O resultado deve-se a este modelo de negócio, uma organização “horizontal e sem burocracia”, características que lhe permitem “agilidade, rapidez de resposta às necessidades do mercado, flexibilidade e capacidade de adaptação à mudança”. “Sabemos selecionar muito bem aquilo que queremos fazer, onde queremos e como o queremos fazer. Medimos e analisamos os resultados constantemente, o que nos permite saber o que estamos a fazer bem, mas, sobretudo, o que estamos a fazer mal para melhorarmos”, diz-nos, ainda, Sofia Ferreira. Na Mundipharma não esperam que as coisas melhorem por si. “O nosso sentido de autonomia e responsabilização permite-nos tomar decisões estratégicas, mas também nos obriga a medi-las e a avaliar o trabalho feito para perceber como é que está a correr o nosso negócio e se estamos num bom caminho. Sente-se que a equipa está totalmente envolvida neste projeto e que encaram o negócio como o seu próprio negócio”. Com um percurso profissional ligado à área da saúde, um setor bastante desafiante, Sofia Ferreira iniciou a sua carreira como delegada de informação médica, uma profissão “que se ama ou se odeia”. “Eu apaixonei-me imediatamente”. Sofia explica que começou a trabalhar na área da psiquiatria, lidando com uma realidade onde percebeu que tinha a possibilidade de contribuir todos os dias para melhorar a qualidade de vida das pessoas e fazer a diferença. “Sabia que os medicamentos faziam, de facto, a diferença na vida das pessoas, que garantiam resultados e traziam felicidade. Trabalhar numa área onde podemos dar soluções às pessoas e melhorar a sua qualidade de vida é bastante gratificante e motivador”, afirma. Paralelamente, Sofia Ferreira sabe que esta é uma área de constante aprendizagem, “o que é bastante enriquecedor”. “Sendo a Mundipharma uma empresa muito orientada para o negócio e uma «plataforma comercial» onde temos
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“APRENDI QUE, NA VIDA, O NOSSO HERÓI SOMOS NÓS PRÓPRIOS” Numa sociedade onde o papel da mulher ainda é condicionado pelo preconceito, desigualdade de género ou paradigmas, há casos de sucesso que se destacam e que merecem ser partilhados. Venha connosco conhecer Miriam Mateus, Sócia Proprietária do LF Gym Body Solutions e Consultora Imobiliária na EasyGest Premium, que, afirma, foi com a sua própria experiência pessoal que vingou no mundo dos negócios e foi como mãe que aprendeu muita coisa: a organização de tempo, a gestão financeira, a relação interpessoal e a resolução de conflitos.
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MIRIAM MATEUS
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iriam Mateus conta já com um vasto percurso no mundo do empreendedorismo. Queremos conhecê-la melhor. Quem é Miriam Mateus enquanto mulher e enquanto profissional? Sou uma mulher positiva. Encaro os problemas como desafios e tento sempre ver o lado positivo das coisas. Sou muito trabalhadora, não tenho medo de arregaçar as mangas e lutar. Os meus pais sempre trabalharam muito e aprendi a fazer o mesmo. Nunca paro, nunca baixo os braços, nunca desanimo mesmo quando o desânimo se tenta apoderar de nós. Aprendi
que, na vida, o nosso herói somos nós próprios, o nosso eu. Devo igualmente muito ao meu marido, que desde sempre confiou em mim e me ajudou. Ele é uma peça muito importante no meu puzzle, tem sempre muitas ideias. Quando essas são boas avançamos em conjunto, sem medos. O que a motiva e inspira diariamente? Sempre me inspiraram as grandes mulheres da história e sempre quis deixar a minha própria marca. Hoje sei que há pessoas que se sentem inspiradas por mim e fico muito feliz e orgulhosa por isso, sei que já faço parto da história de
alguém. Atualmente a minha maior motivação é o meu filho, o seu bem-estar e felicidade. E essa é a minha maior marca, a minha sucessão, e nele espero incutir o respeito pelos outros e a determinação para chegar longe na vida. Que características diria serem fulcrais para se singrar no mundo dos negócios? É necessária determinação, organização e muita vontade em ter sucesso. Há quem defenda que os estilos de liderança, feminina e masculina, são diferentes e que a liderança feminina é importante dentro das
A igualdade de género continua a ser um tema bastante debatido e o qual merece a nossa devida atenção. Durante o seu percurso profissional enfrentou obstáculos pelo facto de ser mulher? Sim, nunca é fácil. Parece que nós mulheres temos sempre que provar o nosso valor e que há cargos exclusivos para homens e outros para mulheres. No entanto, penso que isso tem vindo a mudar e cada vez mais as pessoas são avaliadas pelo que são e pelo que fazem e não tanto pelo seu género. Fico feliz por ver tantas mulheres em cargos importantes. Os desafios são maiores quando é uma mulher que decide enveredar pelo mundo dos negócios ou do empreendedorismo? Sente-se sempre alguma dificuldade, algum
descrédito, mas depois deixamos que os resultados falem por si. Foi proprietária de uma conceituada padaria em Cabo Verde. Atualmente é sócia do Ginásio LF Gym Body Solutions e consultora na Imobiliária Easy Gest Premium na Av. da República em Lisboa. Porquê o mercado imobiliário e a Easygest Premium? Porque é um mercado que continua em franco crescimento e tem muitos desafios e dificuldades. Gosto do contacto com as pessoas e de poder ajudá-las a realizar sonhos. Todos os dias são diferentes, um dia é sempre diferente do outro. Escolhi a Easygest Premium porque é uma empresa 100% nacional e já está no mercado há alguns anos e continua a ter um vasto crescimento. É uma empresa que é virada para as pessoas e não apenas para os números, inclusive pagam acima da média. É uma empresa na qual confio e que me tem apoiado, deixando-me à vontade para novos desafios. É uma área que exige esforço, dedicação e vontade. Devido aos limites que a sociedade ainda impõe, é fácil para uma mulher conciliar uma carreira profissional de sucesso com a vida pessoal? Ou é necessário abdicar ou descurar de uma em detrimento de outra? Não é propriamente fácil, apenas temos que definir muito bem as nossas prioridades. Não é necessário abdicar de nada, apenas precisamos ter um grande foco no que queremos e conseguimos arranjar tempo para tudo. No meu caso nunca estive sozinha, sempre trabalhei em equipa com o meu marido e sem ele não teria chegado onde cheguei. ▪
Sempre me inspiraram as grandes mulheres da história e sempre quis deixar a minha própria marca. Hoje sei que há pessoas que se sentem inspiradas por mim e fico muito feliz e orgulhosa por isso, sei que já faço parto da história de alguém
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organizações. Concorda? Homens e mulheres têm, de facto, estilos de diferença diferentes ou o estilo de liderança prende-se apenas com as características da pessoa? As características da pessoa são fundamentais para ter ou não sucesso mas, mesmo assim, penso que também são diferentes dependendo do género. As mulheres e os homens veem o mundo de forma diferente e resolvem os problemas de forma diferentes. Ainda existem homens que acham que a liderança deve ser sempre exclusivamente masculina mas esquecem-se que as mulheres têm outras experiências. No meu caso, como mãe, aprendi muita coisa com a minha experiência pessoal que me ajudou a vingar no mundo dos negócios: a organização de tempo, a gestão financeira, a relação interpessoal e resolução de conflitos. Como também tive sempre o apoio do meu marido tive a vantagem de saber ambas as perspetivas dos problemas, masculina e feminina.
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50 ANOS DE HELIFLEX:
“SER UM DOS ELEMENTOS ATIVOS NESTA VIAGEM TEM SIDO UM PRIVILÉGIO” Há 50 anos que a Heliflex se apresenta como uma empresa de referência no mundo dos tubos e das mangueiras, pela experiência ímpar na transformação de polímeros e na apresentação ao mercado de uma gama diversificada de produtos. O rigor na seleção das matérias-primas, a criatividade e inovação dos seus produtos, a par da sua performance, têm permitido a esta empresa adaptar-se facilmente à evolução dos mercados. Destacam-se pela forma como desenvolvem a sua atividade empresarial, orientada para uma estratégia de penetração nos mercados globais. Cláudia Ribau, Diretora de Marketing e RH Estratégico, esteve à conversa com a Revista Pontos de Vista e fala sobre as estratégias e crescimento ao longo das cinco décadas. Não perca!
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o ano em que a Heliflex completa os 50 anos como vê as áreas de Marketing e Recursos humanos na empresa, enquanto responsável pelas mes-
CLÁUDIA RIBAU
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mas? A minha história com a Heliflex tem cerca de 20 anos, mas a Heliflex tem outros tantos, completando este ano um número carismático: 50! Falar em responsabilidade na Heliflex é algo maior do que a função descrita pelos cargos. Na Heliflex todos somos responsáveis pela marca, independentemente das funções desempenhadas e do grau de responsabilidade assumida. As duas áreas estratégicas que dirijo são complementares para a gestão interna e externa de uma empresa, e na Heliflex essa complementaridade é praticada. É usual responder a questões de ‘quantas pessoas trabalham no marketing da Heliflex’, questões essas que me são colocadas em visitas de estudo de alunos universitários (de referir que somos uma empresa de ‘portas abertas’ à partilha e formação de jovens estudantes, como verdadeiras aulas em ‘ambiente industrial’), com o número total de colaboradores que a Heliflex tem. Acresce a este número todos os envolvidos com a marca, mesmo que indiretamente. Hoje vivemos numa altura em que se fala muito de criação de conteúdos, de engagement e estímulos à proximidade das relações. Contudo, eu sempre defendi que os produtos são facilmente copiáveis, mas as pessoas, as relações e tudo o que envolve o valor da marca são intangíveis valiosíssimos e únicos, impossíveis de replicar! São estes recursos que fazem a diferença numa marca. Chamar a isto espírito de marca interno, team building ou endomarketing é indiferente. O que importa é que se construa diariamente este espírito. Uma história que se vai construindo, sem fim à vista. Foi-me dada a oportunidade de ajudar a construir este espírito na Heliflex, muito fruto dos cofundadores da Heliflex: Anselmo Santos e Acácio Vieira, admitindo que foram de vital importância na definição da minha postura
Nestas duas áreas quais são os maiores desafios enfrentados diariamente? Manter esta never ending story requer que estejamos sempre em permanente redefinição de competências e responsabilidades, procurando dar respostas ao ritmo dos mercados. O nosso capital humano é essencial e valorizamos cada contributo com a mesma importância, trabalhamos para um todo. Gerir uma equipa com diferenças geracionais, culturais, linguísticas e formativas faz com que tenhamos que identificar (muitas vezes despertar) e desenvolver skills em todos os nossos pares. Procurar com equilíbrio e criatividade, mostrar que temos de operacionalizar um plano maior que depende de cada pequena atividade é um desafio constante. Reter e captar cada elemento desta cadeia é garantir a sua felicidade, apoiar nas ambições e valorizar as suas ações, sabendo que na sua diferença cada um requer uma abordagem própria e um plano dedicado. Acredito no trabalho de equipa. Uma equipa alinhada numa estratégia definida é reflexo de eficiência na operacionalização e alcance dos objetivos. A Heliflex está inserida num setor bastante concorrencial, no entanto, afirmam que “é um conjunto de elementos que nos identificam em qualquer suporte”. De que fatores diferenciadores falamos? No core business da Heliflex, bem como em qualquer setor onde uma marca esteja e queira projetar a sua presença global, a competitividade, diferenciação e o reconhecimento têm que ser sólidos. Procuramos comunicar convenientemente para os diferentes setores, países e especificidades sem nunca deixar interligar essa comunicação à marca Heliflex. Alguns elementos são aspetos gráficos, outros são apenas
reflexo da nossa forma de estar, fazer e construir as relações. O mercado evoluiu e com ele trouxe novos estímulos e tendências como é o caso da tecnologia. Qual foi a estratégia que a Heliflex adotou neste sentido? A muito em voga temática da indústria 4.0 também o é na Heliflex. Procurámos nestes 50 anos de história acompanhar os avanços tecnológicos e ofertas formativas para produzir com mais competitividade. Hoje temos controlo em real time da nossa operação e conseguimos analisar e discutir dados de forma mais célere, implementamos diariamente metodologias Lean e fomentamos o espírito critico de melhoria. Nos nossos planos estratégicos têm vindo a ser contemplados vários investimentos ao nível da investigação e desenvolvimento tecnológicos. Acompanhamos esses estímulos e tendências também ao nível da comunicação e apostamos cada vez mais no digital. Enquanto diretora de marketing o que é para si mais interessante na área em que trabalha? No início da minha carreira profissional na Heliflex fui convidada um certo dia para fazer uma apresentação a alunos de Licenciatura de Marketing. No final da apresentação, um desses alunos perguntou-me se numa empresa de tubos se podia fazer marketing. Sorri! Pois está aqui a resposta à sua questão: o mais interessante é ter tido a oportunidade de aplicar as várias estratégias de marketing a um produto ‘fora do vulgar’. Hoje já é normal produtores de produtos muito técnicos investirem em marketing. Há 20 anos atrás não era assim ‘tão usual’. Muito por convicção e motivação da parte dos cofundadores, com uma visão à frente do seu tempo, desde tenra idade a Heliflex teve dedicado uma parte do seu orçamento anual ao plano estratégico de marketing. Para a Heliflex, a honestidade é o valor que vem em primeiro lugar. Na sua opinião, este é um valor que tem vindo a perder terreno? Os nossos valores, refletidos em www.heliflex.pt, podem ser resumidos em quatro pilares: qualidade, saber-fazer, inovação e solidez. Foram definidos na origem da Heliflex pelos seus fundadores. A honestidade encaixa-se na solidez. Desde sempre pautamos por atitudes de honestidade e transparência, de outra forma não teríamos 50 anos de História e não estaríamos convictos que estaremos nos próximos 50! Não se pode estar nos negócios ou na vida de outra forma, simplesmente não resulta… a mentira e desonestidade são a prazo, na Heliflex estamos para a vida! Os valores estão no nosso ADN e por muitas gerações que passem na Heliflex serão transmitidos, porque estão intrínsecos ao nosso comportamento. Para si, o que significa liderar pessoas? Eu não gosto do termo ‘liderar’ e muito menos ‘chefiar’ ou pior ainda ‘mandar’, ‘ordenar’. Eu prefiro o termo ‘trabalhar em equipa’ e o ‘nós’ vamos fazer, ‘nós’ atingimos os objetivos, ‘nós’ completámos a tarefa com sucesso ou com insucesso e, nesse caso, perguntamo-nos onde ‘nós’ fizemos menos bem e como ‘nós’ podemos ultrapassar a situação.
Nos nossos planos estratégicos têm vindo a ser contemplados vários investimentos ao nível da investigação e desenvolvimento tecnológicos. Acompanhamos esses estímulos e tendências também ao nível da comunicação e apostamos cada vez mais no digital A honestidade encaixa-se na solidez. Desde sempre pautamos por atitudes de honestidade e transparência, de outra forma não teríamos 50 anos de História e não estaríamos convictos que estaremos nos próximos 50! Não se pode estar nos negócios ou na vida de outra forma, simplesmente não resulta… a mentira e desonestidade são a prazo, na Heliflex estamos para a vida!
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profissional. 50 anos depois a marca apresenta-se ao mercado de forma irreverente. Fomos pioneiros e criámos história na comunicação das ‘indústrias de tubos’, marcámos a forma de comunicar tubos, com linhas comunicacionais um pouco arrojados reconheço (para a altura e dentro do core business que nos encontramos), mas ‘muito nossas’, quando pela primeira vez (há cerca de 12 anos atrás) recorremos a rostos femininos para dar ‘corpo’ a cada área de negócio: casa-jardim, agro, tecno-indústria e construção. Rostos estes ‘muito nossos’, porque todos eles pertenciam direta ou indiretamente à família Heliflex: sobrinhas, primas, afilhadas, filhas dos nossos colaboradores. Todos sentimos esta linha de comunicação como sendo nossa, envolvendo a casa de cada um na Heliflex e a Heliflex na casa de cada um, numa simbiose saudável. Comunicamos de pessoas para pessoas! Esta família está agora a ser evocada em nove episódios, um episódio por mês, entre janeiro a setembro, culminando na apresentação do episódio final no aniversário dos 50 anos da Heliflex. Tem sido uma viagem interessantíssima. Conhecer e recordar momentos que constroem uma marca, que marcou e continua a marcar vidas, almas! Ser um dos elementos ativos nesta viagem tem sido um privilégio. Por isso afirmamos com toda a convicção: tud(b)o que fazemos tem a nossa alma. Por isso o nosso slogan: Heliflex – tubos com alma! Esta é a forma de ser Heliflex(iano)!
Mesmo se uma tarefa foi desempenhada por uma única pessoa, essa tarefa reflete a Heliflex e a Heliflex é uma equipa constituída por mais de 100 pessoas. Por isso, o ‘eu’ não é nada, comparado com o ‘nós’. Cada ‘eu’ representa uma marca maior, que é reflexo de um conjunto de pessoas que desempenham tarefas interligadas, gerando valor e influenciando o processo de construção da marca. Três características que considere indispensáveis nos colaboradores. Confesso que não gosto muito de categorizar assim o capital humano. Pela individualidade de cada colaborador não podemos simplesmente nomear três, seria de forma redutora categorizar. Temos que olhar ao todo e ao detalhe e trazer para a nossa cadeia genética mais valias sinérgicas. Se alguns de nós já temos competências neste sentido, outros vão adquirindo-as e é esse todo que procuramos! ▪
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SUZANNA DE COSTER
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“O DESAFIO ESTÁ EM OUVIR E PERCEBER COMO CADA UM FUNCIONA, PARA ENTÃO SABER COMO AJUDÁ-LOS A ATINGIR O SEU POTENCIAL MÁXIMO” Suzanna De Coster trabalha na Grünenthal Financial Services, é especialista em serviços financeiros partilhados mas afirma-se, em primeiro lugar, como gestora de pessoas. Perceba porquê.
Confio nas pessoas e dou-lhes empowerment e ownership para serem empreendedores e crescerem como profissionais
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Grünenthal Financial Services está presente em Portugal há uns anos. Qual é o próximo passo para a empresa? Estamos a viver tempos muito interessantes, de mudança e crescimento. Temos um novo CFO desde Janeiro deste ano: Fabian Raschke. A nível de GFS, vamos transferir mais serviços para Portugal num futuro próximo. E a médio prazo, a visão e o plano são de crescimento contínuo. É especialista em finanças mas afirma que em primeiro lugar é uma gestora de pessoas. Porquê? Acredito que em primeiro lugar gerimos pessoas e não departamentos. As pessoas são quem fazem a equipa e acredito que colaboradores motivados dão mais de si e tornam-se em high performers. Confio nas pessoas e dou-lhes empowerment e ownership para serem empreendedores e crescerem como profissionais.
Na sua opinião o que é mais difícil no exercício de liderar pessoas? E o mais gratificante? Gerir pessoas é sem dúvida desafiante e por isso mesmo gratificante. Cada pessoa é única e sui generis, com a sua própria personalidade, opiniões e sensibilidades. O desafio está em ouvir e perceber como cada um funciona, para então saber como ajudá-los a atingir o seu potencial máximo. Não acredito num one size fits all approach. O mais gratificante é, sem dúvida, ver as pessoas felizes no trabalho. Toda a gente gosta de vir trabalhar e isso deve-se ao sentido familiar que demos à empresa e ao mote que vivemos: Workiness, uma conjugação de work e happiness. Qual diria que é a sua missão na Grünenthal? Continuar o bom trabalho que começámos. Construímos uma empresa com uma cultura de liderança e pessoas excecionais. É o que nos distingue e é a nossa força. Quero contribuir
para o nosso crescimento enquanto empresa e oferecer mais serviços, ir para além do que fazemos hoje. Mas sempre mantendo o nosso “Workiness” que é o que define na perfeição o Great Place to Work que construímos. Fala seis idiomas: holandês, inglês, francês, alemão, português e espanhol. Quais foram as maiores vantagens que o multilinguismo lhe trouxe profissionalmente? As línguas que falo sempre me abriram várias portas a nível profissional. A maior vantagem é a variedade de trabalhos e profissões que já me permitiram executar. Atualmente, uma grande vantagem é poder comunicar com vários colegas e parceiros nas suas respetivas línguas. Quebra o gelo, ajuda na comunicação e acima de tudo evita situações de “lost in translation”. Do seu currículo fazem parte cargos como relações públicas no Rock in Rio ou tradutora e hoje trabalha com números e gere pessoas numa empresa farmacêutica. O que guarda destas diferentes experiências? Todas essas experiências foram enriquecedoras e fizeram de mim a pessoa e a profissional que sou hoje. Aprendi com todas e com toda a gente com quem trabalhei. Valorizo o facto de ter uma experiência tão diversificada. Permitiu-me viver realidades diferentes e trabalhar com pessoas das mais diversas áreas: desde show business a tradução ou farmacêutica. Ao longo da sua carreira que história lhe ficou na memória como “uma boa história para partilhar”? Tenho tantas. Conhecer vários artistas como o Sting e Ivete Sangalo enquanto trabalhei no Rock in Rio sem dúvida ficou na memória. Mas a melhor história foi quando comecei a trabalhar para a Grünenthal. Aqui tive a oportunidade de montar um Shared Services Center e duas equipas de raiz. Agora a empresa está prestes a dar os próximos passos da sua história. É como criar um bebé, vê-lo crescer e a dar os primeiros passos. Tenho uma ligação muito forte à empresa e sinto-me muito realizada profissionalmente por poder contribuir diretamente para o crescimento e o sucesso deste projeto. ▪
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Cada pessoa é única e sui generis, com a sua própria personalidade, opiniões e sensibilidades. O desafio está em ouvir e perceber como cada um funciona, para então saber como ajudá-los a atingir o seu potencial máximo
Pensamos em unidades integradas comerciais com modelos desenvolvidos por nós, com conceitos inovadores e adaptados à região. Pesquisamos vários mercados para «pegar» nas boas práticas dos outros países e desenvolver um modelo que permita um retorno rápido para o investidor, que assente numa construção simples e bonita, com materiais económicos e com durabilidade e que prima pela inovação. Não queremos levar modelos fixos para os nossos projetos e sim apresentar ao investidor formatos de negócios de comércio integrados que o farão ter o retorno do seu investimento a curto prazo e que garantam uma boa gestão operacional e financeira corrente SOLANGE ROCHA
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AKTUS:
A GESTÃO QUE GARANTE O SUCESSO DOS PROJETOS DE COMÉRCIO INTEGRADO E CENTROS COMERCIAIS EM ANGOLA Solange Rocha começou o seu percurso profissional em Portugal, como Diretora de Marketing no Fórum Aveiro, mas a busca por novos desafios levaram-na para o mercado angolano. Liderou vários projetos, projetos com uma forte amplitude, mas, uma vez mais, a ânsia por novos desafios e a vontade infinita de crescer e aprender colmataram na criação da sua própria empresa, a Aktus. Venha connosco saber mais.
FOTO: DIANA QUINTELA
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to de projetos de grande dimensão que liderou e depois de uma análise que lhe permitiu perceber que, após um período de forte construção em Angola, o país precisava de empresas de gestão porque o mercado assim o iria exigir. Ademais, a isenção advinda de uma empresa sua iria permitir-lhe trabalhar de acordo com os seus valores e ideais. O resultado foi, portanto, a abertura de uma empresa, há quatro anos, especializada em gestão de empreendimentos. Na Aktus conta agora com uma equipa interna especializada, mas também com o trabalho de colegas através de parcerias externas para dominar todas as áreas necessárias, desde a engenharia à arquitetura, para projetos de grandes empreendimentos.
“O MEU FOCO E A MINHA PAIXÃO SEMPRE FORAM OS MEUS PROJETOS”
Solange Rocha confessa que durante o seu percurso profissional sentiu algumas dificuldades pelo facto de ser mulher, tanto em Angola como em Portugal. Dificuldades essas que se prenderam com a credibilidade e com o esforço para demonstrar as suas competências, mas também para chefiar equipas. “Sendo eu mulher senti alguma relutância nas equipas,
quer da parte dos homens como das mulheres. É preciso ter muita resiliência, mas também saber moldar-nos às circunstâncias”, afirma. Quanto à complexidade em conciliar a vida profissional com a vida pessoal, Solange admite que é possível conciliar ambas mas que, por vezes, é difícil pelo que constata à sua volta. “No entanto, no meu caso, o meu foco e a minha paixão sempre foram os meus projetos desde muito cedo. Por isso mesmo, lidar com o sucesso e conciliar tudo quando se tem 20/30 anos é muito duro. Depois, quando se é mais velho e se olha para trás, para os resultados e para o sucesso alcançados, percebemos que, de repente, a vida aconteceu”, diz-nos Solange Rocha. Explica, ainda, que uma carreira profissional não impede uma mulher de ser mãe, mas que uma carreira profissional que obriga a viajar constantemente, que ocupa muito tempo, que obriga a despender de horas nos fins-de-semana, já nos leva a ter de saber bem o que queremos.
LIDERANÇA
Solange Rocha acredita que o estilo de liderança está relacionado com o género e que a liderança feminina, seja em que papel for, ainda
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rabalha desde os 15 anos e sempre lutou para alcançar os seus objetivos. Hoje é uma mulher de negócios, é uma mulher empreendedora num país onde a cultura empresarial se distancia muita da cultura europeia. No entanto, não tem medo dos desafios, nem da mudança. Afirma mesmo que a nossa zona de conforto deve incluir a mudança. “Devemos sentir-nos bem a mudar senão, enquanto profissionais, não conseguimos posicionar-nos. Venho de uma família de comerciantes e, desde que me lembro, todos trabalhávamos juntos, por isso, sempre dei muito valor ao trabalho e ao esforço para alcançar qualquer objetivo. Nunca nada foi um dado adquirido, antes pelo contrário”, realça. Começou o seu percurso profissional como Diretora de Marketing no Fórum Aveiro e, quatro anos depois, é convidada pelo Grupo Amorim Imobiliária para inicialmente liderar a área de Marketing no Porto. Aqui, naquela que considera ser a sua verdadeira escola da vida, aprendeu o significado da palavra resiliência. “Esta fase da minha vida profissional foi das mais difíceis mas também foi das mais felizes até aqui. Abracei e liderei diferentes áreas ao mesmo tempo e, inclusive, aceitei o convite para dar aulas de marketing no IPAM”. Foi, ainda, responsável pela área de Market Corporate Center, que envolvia todas as áreas de negócio de imobiliário do grupo e um trabalho mais institucional e comercial com marcas e entidades, o que lhe permitiu desenvolver um trabalho muito mais estratégico para o grupo. É nesta altura, depois de alguns anos a ser contactada e desafiada para abraçar um projeto mixed-used do empreendimento Comandante Gika, o maior projeto imobiliário de Angola, que decide entrar numa nova aventura enquanto Diretora Geral do Luanda Shopping. “O projeto era desafiante e queria marcar a diferença. A gestão portuguesa e os profissionais portugueses são bastante valorizados neste mercado”, explica-nos Solange Rocha. “Apesar da minha decisão, orgulho-me de ter criado e de continuar a manter uma excelente relação com os amigos que fiz no Grupo Amorim”, acrescenta. Já passaram oito anos desde que foi convidada para trabalhar como especialista na área dos centros comerciais e se mudou para Angola. A Aktus surge depois de passar por um conjun-
PONTOS DE VISTA NO FEMININO enfrenta alguma oposição social por parte do sexo masculino, o que, a seu ver, torna as mulheres muito exigentes. Contudo, admite que a sua vivência em Portugal foi muito feliz no que diz respeito à liderança e gestão de equipas. “Como líder sou muito de delegar e procuro ajustar as pessoas aos cargos de acordo com as suas competências. Independentemente do cargo da pessoa numa organização não nos podemos fixar às funções inerentes a esse cargo porque o perfil da pessoa pode ser uma mais-valia e acrescentar valor noutras áreas”, explica a nossa entrevistada. “A liderança para mim é isso, é saber olhar para as pessoas e perceber onde é que elas são uma mais-valia e, sobretudo, prepará-las para trabalhar em equipa. E ainda, a informação deve ser transparente, pois uma equipa que sabe plenamente para o que está a trabalhar, veste mais facilmente a camisola da casa e sente-se mais valorizado por se sentir incluído no foco, objetivos e estratégia da organização”, acrescenta.
UMA EMPRESA DE GESTÃO DE CENTROS DE COMERCIAIS QUE PENSA DIFERENTE
FOTO: DIANA QUINTELA
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Angola viveu um forte período de construção de infraestruturas e de investimento privado e público em estruturas comercias e hotelaria. No entanto, grande parte da construção e dos projetos, inclusive residenciais, careceram de acompanhamento e de uma gestão profissionalizada devido, em muito, à cultura empresarial bastante enraizada em Angola, onde os projetos são geridos pela própria equipa interna. “É preciso realçar a importância de se ter uma gestão profissional e a grande necessidade das empresas promoverem e perceberem que é essencial fazer uma aposta em gestores e em empresas de gestão profissional, assumindo esse custo como um investimento imprescindível para o sucesso dos projetos, à semelhança do que acontece na Europa e noutras economias desenvolvidas”, explica Solange Rocha. Durante todos esses anos verificou-se, portanto, um boom de construção de edifícios de vários níveis, mas chegou a altura de fazer a gestão desses empreendimentos para se tornarem rentáveis e possibilitar um rápido período de recuperação ao investidor. Esse é o foco da Aktus. A par da gestão de empreendimentos, a Aktus executa projetos de raiz, desde a compra do terreno até à sua gestão. “O nosso know-how e o nosso leque de serviços permite-nos abranger o ciclo de um empreendimento. Temos ido à procura dos melhores profissionais e de estabelecer relações com várias entidades nacionais e internacionais para complementar os serviços prestados. Além disso, conheço todos os projetos de centros comerciais em Angola, conheço os preços, os modelos, os sistemas, as dificuldades e os desafios, o que nos tem aberto portas para outros mercados”, esclarece Solange Rocha. Outro ponto que claramente diferencia a Aktus no mercado, é o facto de terem projetos comerciais e mix-used que são desenvolvidos propositadamente para África e para o cliente e Spot específico. “Pensamos em unidades integradas comerciais com modelos desenvolvidos por nós, com conceitos inovadores e adaptados à região. Pesquisamos vários mercados para «pegar» nas boas práticas dos outros países e desenvolver um
A ÁREA DO RETALHO
Apesar de considerar ainda não ser fácil para os estrangeiros investir em Angola devido a vários entraves e dificuldades, incluindo as administrativas para se constituir empresas, a Aktus decidiu apostar numa nova unidade de negócio, o retalho. Juntamente com o seu sócio, Paulo Silva, Solange Rocha iniciou a aposta no trading. “Recentemente fechamos um negócio que nos levará a ser os representantes oficiais da marca de cosméticos e suplementos alimentares «SUTA Spirulina Technology» em Angola e introduzir os seus produtos no país. Já temos uma experiência direta em retalho alimentar e não alimentar em Angola há cerca de seis anos o que nos permite alargar a oferta de produtos e criar e trabalhar nichos de mercado onde encontramos oportunidades”. Está, ainda, a trabalhar na atividade de venda para o mercado informal, tendo por base a experiência e o know-how da Aktus no desenvolvimento de centros comerciais e no setor do retalho. “De momento já temos duas lojas próprias e armazéns de logística para a sua distribuição”, realça a nossa entrevistada.
PROJETO MDC SHOPPING Com um portfólio de projetos em mãos, Solange Rocha mostra-se particularmente entusiasmada com o desafio de projetar um plano de expansão de um centro comercial integrado na apaixonante e alegre cultura africana, o MDC Shopping Center, um dos projetos da Aktus. “O projeto já existe como loja stand alone – a MDC Mundo da Casa – a qual também está a ser melhorada ao nível de layout, imagem e diversificação de produtos. A MDC Mundo da Casa vai crescer, nesta 1ª fase, cerca de 3.000 m2 o que consolidará, sem dúvida, a mesma como a maior e melhor ao nível de oferta de produtos para casa em Angola. Coube à Aktus proceder ao rebranding desta loja, que será a âncora principal do Centro Comercial, bem como prestar serviços complementares - category management, entre outros - de forma a obterem o upgrade desejado pelo cliente proprietário da estrutura. “O Centro Comercial que estamos a desenvolver à volta desta mesma âncora terá um espaço multiusos de Lazer com mais de 1.500 m2, com bares, restaurantes, área reservada para festas infantis, um espaço com mais de 300 m2 com um palco/ecrã gigante e auditório. Neste espaço haverá uma gestão de eventos com muita dinâmica e que abrangerá todos os públicos”, explica Solange Rocha. Por outro lado, o Shopping contará com a presença de vários serviços, entre os quais Bancos, Seguradoras, Beleza e Bem-Estar e Ginásio. Um espaço de 1.300 m2 está reservado para área de Supermercados. “A estratégia Comercial do MDC Shopping Center é claramente a de apoiar os lojistas. As lojas já estarão praticamente prontas para entrada dos mesmos, de forma a que o seu investimento inicial seja muito baixo e assim, até porque as próprias rendas são de muito baixo risco, o Lojista poderá começar logo a
ter uma excelente operação. Por estes motivos, vamos escolher bem quais os lojistas a entrar, para que o Tenant Mix seja o certo e o sucesso global do empreendimento seja imediato”, reforça a nossa entrevistada. A Aktus já deu início à comercialização no princípio do mês de junho, de forma a ter já o arranque da obra do Shopping a acontecer. “Já temos várias reservas, pois, mesmo numa fase em que o mercado está difícil, as condições que oferecemos são bastante vantajosas: já existe uma forte operação a decorrer (a Loja MDC com cerca de 8.000 m2), o que já garante um forte tráfego, a presença de Lojas com Fit Out praticamente pronto, e despesas mensais baixas para o Lojista”, adianta Solange Rocha. O MDC ficará localizado na Via Expresso, em Luanda, Angola, e estender-se-á por mais de 15.000 m2 de ABL total, com quase 1000 m2 de área de lazer e entretenimento para crianças e adultos, Drive In, tradicional e Fast Food restaurantes, e bares. A previsão é que este projeto esteja concluído até junho de 2020. Seguindo as oportunidades de mercado e a disposição de oferecer mais serviços aos seus clientes, o futuro plano de expansão da MDC inclui a criação de um Home Center no Shopping Center e a abertura de mais três Shopping Centers MDC nos próximos dois anos. Todos estarão baseados em Angola, dois em Luanda e um na cidade de Benguela, com a ideia principal de abranger outros países africanos num futuro próximo. A MDC faz parte do Grupo Yewhing e abriu as portas no mercado angolano há cinco anos. Este Home Center conta já com 45 mil clientes regulares, que estão fidelizados à marca e ofereceu soluções a mais de 250 mil famílias. Tendo em conta que a família angolana tem uma média de seis pessoas, este valor representa mais de de 1.5 milhões de angolanos e residentes. 73 2019
modelo que permita um retorno rápido para o investidor, que assente numa construção simples e bonita, com materiais económicos e com durabilidade e que prima pela inovação. Não queremos levar modelos fixos para os nossos projetos e sim apresentar ao investidor formatos de negócios de comércio integrados que o farão ter o retorno do seu investimento a curto prazo e que garantam uma boa gestão operacional e financeira corrente. Como exemplos temos os «Mercados», que são projetos com foco na venda de produtos alimentares, restauração lazer e serviços e os Car Shoppings que são projetos de enorme sucesso em vários países, especialmente na América do Sul”, adianta Solange Rocha.
PONTOS DE VISTA NO FEMININO
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Outro projeto empolgante de Solange Rocha é a representação da marca de dermocosmética, SUTA Spirulina Technology, em Angola. “A aposta nesta marca, cujo sucesso está a superar qualquer expectativa, prende-se com o facto de a mesma ser 100% natural. Com excelentes resultados e a um preço médio bastante vantajoso, muitos angolanos já estão a render-se à marca e a comprar os produtos em Portugal. A vantagem é que agora poderão ter acesso aos produtos em Angola e comprá-los em Kwanzas”, afirma Solange Rocha.
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O nosso know-how e o nosso leque de serviços permite-nos abranger o ciclo de um empreendimento. Temos ido à procura dos melhores profissionais e de estabelecer relações com várias entidades nacionais e internacionais para complementar os serviços prestados
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FOTO: DIANA QUINTELA
A marca entrou recentemente no mercado português e conta já com uma parceria com os Spas dos hotéis Pestana ao mesmo tempo que começa a marcar posição noutros países como Angola. Mirela Suta, médica dermatologista, é a criadora da marca e encontrou na Spirulina o elemento base da sua própria marca de dermocosméticos. A sua infância foi marcada por uma forte ligação à terra. O fascínio pelas plantas, e pelo que podia obter delas, levou a que Mirela Suta, e
o irmão, transformassem a cozinha da mãe num laboratório de experiências. “Aos 9 anos de idade fiz o meu primeiro sabonete”, conta a mentora e criadora da marca Suta Spirulina Technology. Na Roménia dos anos 80, na época comunista, as famílias tinham de produzir tudo o que necessitavam. Não era opção ir ao supermercado comprar sabonete, champô, detergente para a loiça ou outros artigos. Foi uma aprendizagem de vida que conduziu Mirela Suta a um sonho, ao sonho de querer
criar uma marca diferenciadora e mundialmente reconhecida. Formou-se em Medicina e especializou-se em Dermatologia e, em 2000, mudou-se para Portugal, onde se tornou empresária na área dos dermocosméticos e cosméticos. Em abril de 2018, após nove anos de intensas pesquisas em busca de ingredientes diferenciados, ‘encontrou’ a Spirulina, o diferencial da SUTA - a primeira marca de dermocosméticos portuguesa com uma gama de cuidados para a pele à base de Spirulina. A marca entra no mercado e dá início à sua comercialização online, quer através da sua própria loja digital (sutacosmetic), quer dentro da sua rede de clínicas - as Clínicas Sorria. A consolidação da marca e o aumento das vendas permitiram que, desde maio deste ano, dois grandes sites de marketplace - Sweet Care e Beauty Shop – passassem também a comercializar os produtos SUTA, bem como deram início ao processo de abertura de mais espaços físicos, nomeadamente na região norte do país. ▪
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“O QUE ME REALIZA É SABER QUE COM O MEU TRABALHO FAÇO PARTE DA EQUIPA DO CLIENTE E O AJUDO A CRESCER E A FAZER SEMPRE MELHOR” Dona de uma atitude inigualável Margarida Roda Santos recusa qualquer conversa que envolva uma guerra de géneros porque acredita que muito do que se conquista (ou não) está intimamente ligado às escolhas e ao mérito de cada um. Líder de equipa desde a sua entrada em 2005, tornou-se sócia da FCB em 2017, altura em que assumiu a área de Life Sciences em conjunto com a Propriedade Intelectual e o Consumo.
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e Lisboa para o mundo”. É assim que se pauta a FCB Glocal, uma rede de escritórios com ADN internacional. E o que levam, de facto, de Lisboa para o mundo? Quais são as caraterísticas do vosso ADN? Apostámos em Angola e em Moçambique e, dessa aposta, nasceu em 2017 a FCB Glocal, uma aliança entre três sociedades de advogados que trabalham em colaboração: a FCB, a EVC Advogados em Angola e a AG Advogados em Moçambique. É assim que partimos de Lisboa para o mundo, acompanhando sempre os nossos clientes nos seus desafios internacionais - o facto de fazermos parte de networks internacionais também contribui para esta internacionalização. Uma das nossas principais preocupações é acompanhar os nossos clientes como um parceiro, muito além da mera assessoria jurídica, e por isso acompanhamos os nossos clientes na internacionalização. Foi assim que surgiu a vontade de estarmos presentes em Angola, no ano em que entrei na FCB, e, mais tarde, em Moçambique. Hoje vemos clientes que iniciaram a sua atividade em Angola e Moçambique, com os escritórios locais da FCB GLOCAL, expandirem a sua actividade para o mercado europeu e fazerem esse caminho connosco, beneficiando do nosso conhecimento do seu negócio e da nossa experiência local. Levamos para o mundo a experiência, um conhecimento profundo das áreas de negócio que trabalhamos, uma especialização acentuada que nos permite estar sempre em constante atualização, antecipar dificuldades e pôr ao serviço do cliente a experiência e também, porque não, alguma criatividade em encontrar soluções à medida.
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MARGARIDA RODA SANTOS
A atuar em diferentes jurisdições e com “um mundo de soluções”, qual tem sido o foco da FCB? O que não pode deixar de ser evidenciado no vosso modo de atuação? O que nos distingue, e que temos conseguido transportar para outras latitudes, é o facto de para nós ser indispensável conhecer Tenho a carreira por dentro a atividade dos que sempre quis nossos clientes, pois só assim e nunca senti qualquer conseguimos antecipar problemas, entender o que é discriminação, quanto pretendido a cada momento, muito se existe propor as melhores soluções é pela positiva e manter o cliente informado sobre o que pode ter impacto na sua atividade. Mais do que procurar ganhar
notoriedade da forma tradicional, gostamos de deixar os clientes falar por nós e para isso focamo-nos no conhecimento, no rigor e em trabalhar os projetos em que sabemos que podemos ser uma mais-valia e que nos trazem a experiência para a cada dia sermos melhores que no dia anterior.
É Coordenadora dos Departamentos de Propriedade Intelectual, Consumo e Life Sciences da FCB. O que é mais desafiante para si? O que a fascina mais neste mundo? Os maiores obstáculos destas áreas acabam também, em certa medida, por ser o que mais me fascina. O elevado nível de conhecimento técnico que se requer a um advogado destas áreas, a constante atualização, as normas técnicas que vão muito além do direito e que se cruzam com áreas totalmente diferentes, requerem valências, estudo técnico e curiosidade que nos obrigam a manter focados e motivados. São áreas onde a criatividade e a inovação estão sempre na ordem do dia, onde o diálogo com os clientes tem toda uma linguagem própria – quase em código - que leva o seu tempo a enraizar e onde o advogado acaba por dar um contributo. Fazer parte desta constante inovação torna o meu dia-a-dia um constante desafio. Por outro lado, o que a preocupa mais nestas áreas do Direito? A que verdadeiros desafios os advogados têm de responder, atualmente, no que diz respeito ao universo do Direito e da Justiça? Não é de agora, mas é um passado relativamente recente, que um dos principais desafios a que os advogados e juízes têm que responder é a velocidade com que as leis são alteradas e remendadas, muitas das vezes com pouco critério. Isto gera insegurança jurídica; hoje é quase impossível estar a dar uma opinião, sobre algo em que não se mexe há 6 meses, sem se ir verificar se não terá havido alterações, pois o mais provável é ter havido. Por outro lado, a proliferação de regulamentação, que muitas vezes se cruza e duplica, obriga a um esforço de enorme “descodificação”. Tenho um cliente que usa a expressão “advoguês”, para descrever o quão complexo é o nosso emaranhado de leis que obrigam necessariamente à sua interpretação por advogado, que acho que diz tudo. Mas o Direito não se faz apenas de leis, mas também de execução no dia-a-dia e, não obstante
algumas melhorias claras em áreas específicas – o simplex na área dos registos foi seguramente uma delas -, a máquina do Estado é pesada e muito burocrática e isso é transversal. Conta já com uma vasta carreira profissional. Enquanto mulher, numa área associada até há bem pouco tempo, maioritariamente, ao sexo masculino, teve de lidar com questões relacionadas com a desigualdade de género? Na verdade, não. Tenho a carreira que sempre quis e nunca senti qualquer discriminação, quanto muito se existe é pela positiva. Se me pergunta se os meus sócios e colegas me tratam por igual, não hesito em dizer que sim, mas se me perguntar se a presença de uma mulher numa sala de reuniões torna as coisas algo diferentes, diria que sim, pois modera-se a linguagem, mas a isso chamo educação e não desigualdade. Não diria que o Direito é até há bem pouco tempo associado ao sexo masculino. Quando eu entrei para a faculdade em 87, no curso diurno já eramos em número muito idêntico. Hoje claramente as mulheres são a maioria. Há que ter em conta que, porventura ao contrário de outras áreas, no mercado da advocacia, o mérito é o factor essencial para o sucesso profissional. Na magistratura, desde 2007 que se encontram mais mulheres que homens, sendo que em 2018 as mulheres eram quase o dobro dos homens, segundo os dados Pordata. Porque é importante (ainda) evidenciar o papel das mulheres no mercado de trabalho, em geral, e nas áreas do Direito e da Justiça, em específico? O que importa assegurar é que homem ou mulher que tenha um desempenho superior a outrem que tem a mesma função é devidamente compensado e premiado pelo seu mérito. A advocacia é uma área muito exigente onde no percurso profissional podem por vezes surgir desequilíbrios entre a vida profissional e a vida pessoal ou familiar, mas isso cabe a cada um gerir e identificar quais são as suas prioridades e procurar o equilíbrio que precisa. As mulheres estão devidamente evidenciadas e estou em crer que não necessitam de ajuda para se destacar e liderar, sempre que as suas qualificações, mérito, empenho e compromisso, tal como as dos homens, assim o determinem. É autora de artigos em Propriedade Intelectual, Tecnologias da Informação, Proteção de Dados e
assuntos relacionados com as Life Sciences. Conceitos como inteligência artificial, transformação digital ou simplesmente as novas tecnologias vão ditar o futuro da advocacia? De que forma? Já estão a ditar, mas com moderação. De resto a tecnologia e a inovação, se excluímos os desastres naturais, sempre foram o motor das maiores alterações na humanidade. O mundo da advocacia viveu, nos últimos 20 anos, a massificação do e-mail, e agora também o WhatsApp ainda mais imediato (quando até então se vivia entre cartas e faxes), a digitalização dos processos e as plataformas como o Citius. Salvo muito raras excepções, os advogados souberam adaptar-se à nova realidade, sob pena de também em termos pessoais perderem a evolução do mundo que passou a ser digital. Na FCB entendemos a tecnologia como uma ferramenta e não como um capricho ou um desígnio prioritário. Já estamos a implementar ferramentas de inteligência artificial na nossa prática e têm, efetivamente, nos últimos tempos, surgido soluções muito úteis. Há muito que na advocacia se usam ferramentas de gestão documental e processual. A FCB não é diferente e conta com os seus parceiros tecnológicos para investir e implementar no que faz sentido e traz valor acrescentado. A tecnologia teve historicamente impacto no mercado de trabalho e é potencialmente eliminadora de necessidades de recursos humanos. Não obstante, na FCB entendemos que não existem organizações sem pessoas e são estas que fazem a diferença. Não é novidade para ninguém que o Direito está longe de ser uma ciência exata, e quer-me parecer que ainda vamos precisar de bons advogados (humanos) durante muito tempo. ▪
Margarida Roda Santos - Sócia da FCB Advogados.
www.fcblegal.com
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Margarida Roda Santos entrou na FCB em 2005 e é sócia desde 2017. Enquanto sócia que marca quer deixar? E na área do Direito? O rigor, a organização e o foco em ser sempre uma mais-valia para o cliente. Sou intransigente com o facilitismo e com o desleixo procurando com a minha equipa sempre chegar ao melhor. Isto sempre conjugado com um equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional, porque a vida é feita de ambas as realidades e sem o equilibro certo não funciona. Eu própria tenho três filhos ainda pequenos e não abdico de estar presente quando acho que é fundamental estar e incuto o mesmo na minha equipa. Estamos quando é preciso, substituímo-nos quando assim é necessário, mas também estamos ausentes quando a vida pessoal assim nos exige. Nesta profissão o que me realiza é saber que com o meu trabalho faço parte da equipa do cliente e o ajudo a crescer e a fazer sempre melhor. Sentir que faço parte desse processo é um desafio muito gratificante.
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NOVA LOJA MIXPÃO EM CASCAIS A Mixpão, uma marca reconhecida a nível nacional pela sua vocação para o fabrico de croissants, lanches e jesuítas, criou este ano o projeto de franchising “Abre o teu Mixpão” tornando a expansão da marca bastante notória com a abertura de várias unidades. Mafalda Silva, sócia-gerente, abraçou este projeto juntamente com mais dois sócios, Hugo Neto e Ricardo Martins, e juntos prometem fazer as delícias dos seus clientes na nova loja Mixpão em Cascais.
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Mafalda Silva é neste momento sócia-gerente da 3ª loja franchisada em Lisboa-Cascais, da marca Mixpão, com um conceito de croissanteria, reconhecida pelos seus deliciosos croissants, jesuítas e lanches salgados. Porquê a aposta na escolha desta marca? Tanto eu como os meus sócios já conhecíamos a marca, no entanto, a escolha está relacionada com a forma como este tem sido trabalhada. Numa vertente de produto, pela sua diversidade de recheios únicos e também pela qualidade que apresenta. Na vertente de marketing, compreendemos que a marca cedo percebeu a necessidade de criar uma imagem jovem e fresca bem como a importância das redes sociais enquanto poderosa ferramenta de angariação de clientes. Por outro lado, relativamente ao nosso papel, facilmente percebemos que com uma escolha acertada na localização de loja numa zona de forte passagem pedonal e com o devido foco no serviço, facilmente conseguiríamos gerar a vontade de compra e ser bem sucedidos com a conjugação de todos estes ingredientes. Que história pode ser contada sobre esta ideia empreendedora? Era já um sonho antigo? Posso dizer que abrir um negócio era um sonho de há alguns anos. Esta ideia não vem desde sempre, pois acredito que a nossa veia empreendedora como tantas outras coisas vem dos nossos genes e das nossas inspirações, da forma como crescemos e somos influenciados. Venho de uma família onde todos adoram criar coisas novas ou pensar em novas formas de fazer as coisas, de reinventar, e isso teve uma enorme peso nas minhas tomadas de decisão em relação ao presente e ao futuro. Porque o empreendedorismo é isso mesmo, ter vontade
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MAFALDA SILVA
A mulher é vista, cada vez mais, como um elemento forte dentro de uma empresa que procura o seu espaço para tal e que sabe perceber as suas fragilidades e aliar-se das pessoas certas que de alguma forma as colmatem
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Até agora, quais foram os principais obstáculos/desafios que enfrentou quando decidiu lançar-se no mundo do empreendedorismo com a Mixpão Cascais? Houve claramente alguns obstáculos, no entanto, o maior de todos e o que mais sentimos quando decidimos abrir este negócio foi o Networking. Quando arriscamos tanto e fazemos um investimento, seja ele de que valor for, temos uma grande necessidade de obter informação fiável que minimize a nossa margem de erro e nos dê confiança para tomar decisões. O Networking hoje é uma ferramenta fundamental, que tem de ser trabalhada, que exige experiência e exige “calo” até porque não deixa de ser uma relação recíproca de dar e receber, e portanto a outra parte procura também em nós essa fiabilidade e confiança que ainda estamos trabalhar e a aprender a transmitir. Por isso, precisamos de ter as pessoas certas do nosso lado e de ir absorvendo o seu conhecimento, a sua informação e a sua própria rede de contactos para podermos expandir a nossa. Considera que os desafios são maiores quando é uma mulher que decide enveredar pelo mundo dos negócios ou do empreendedorismo? Sim, acredito que há mais desafios para as mulheres seja no empreendedorismo ou em qualquer papel de liderança. A mulher é associada até de forma cultural a uma figura sensível, frágil, a uma figura “com os pés mais assentes na terra”, que tem que lidar com as responsabilidades em casa. Também não é possível negá-lo
quando analisamos o número de mulheres que gerem empresas ou quando nos apercebemos que existem apoios diretamente direcionados ao empreendedorismo feminino. No entanto, acredito que esse paradigma está a mudar e que a mulher sente que tem cada vez mais, ferramentas à sua disposição para tomar esse tipo de decisões e estar à frente de um negócio, e que o papel em casa é dividido, o que propicia a sua dedicação aos negócios. A mulher é vista, cada vez mais, como um elemento forte dentro de uma empresa que procura o seu espaço para tal e que sabe perceber as suas fragilidades e aliar-se das pessoas certas que de alguma forma as colmatem. O que a inspira e motiva diariamente enquanto mulher e profissional? Desenvolver projetos ambiciosos, diferenciadores e impactantes. Acredito que em termos profissionais é isso que motiva qualquer pessoa: acreditar que faz a diferença, que toma decisões que fazem crescer a sua empresa e que têm um impacto positivo naqueles que a rodeiam e na sua evolução. Ter a noção que a informação que transmito aos outros é fiável e os inspira. E reciprocamente, perceber que esses projetos me trazem crescimento e satisfação e que a minha tomada de decisão é cada vez mais natural, espontânea e instintiva. Que características diria serem fulcrais para construir uma carreira profissional nesta área? Acima de tudo, diria que é preciso ser um verdadeiro analista de informação, apesar de eu não o ser de forma natural. Sou uma pessoa mais dedicada à ação, direcionada para a vertente humana mas senti a necessidade de desenvolver estas competências. Seja por gosto ou por verdadeira necessidade em se tornar um, é preciso sê-lo e essa capacidade deve estar aliada a uma excelente capacidade de organização. Não se pode abrir um negócio, seja ele qual for, sem a capacidade de análise de informação a todos os níveis, sem a capacidade de desenvolver um bom plano de negócios devidamente fundamentado, sem uma boa previsão de vendas e custos, sem desenvolver uma conta exploração
e prever diversos cenários, sejam eles, otimistas, pessimistas e realistas. Estas características são fundamentais para garantir a sustentabilidade de um negócio, no entanto, há outras características que têm também um impacto positivo como a curiosidade para procurar sempre mais fontes de informação ou a capacidade de comunicação e a capacidade de antecipação. A abertura do próximo espaço será em Cascais, ainda neste mês, sendo que estão previstas mais três aberturas no próximo ano em Lisboa e mais duas em 2021. Que expectativas para estas inaugurações e de que forma é fundamental continuar com esta política de expansão? A Mixpão Cascais está integrada no projeto expansão Mixpão que conta já com 36 aberturas previstas no País de Norte a Sul para 2019, 2020 e 2021 negociadas em 5 meses, o que nos permite compreender a dimensão do projeto de que estamos a falar. Teremos, por isso, um papel preponderante na expansão da marca na zona de Lisboa e à nossa responsabilidade algumas das zonas de maior peso do País como Cascais, Baixa de Lisboa, Picoas ou Saldanha, Oriente e possivelmente Campo Grande. Sabemos que cada loja que abre tem um grande impacto na marca como um todo e a localização e serviço são dois dos pontos que continuaremos a trabalhar, dando continuidade ao trabalho desenvolvido pela marca no que toca a produto e marketing. Esperamos, por isso, que os nossos clientes correspondam de forma positiva e que sejam o nosso maior veículo de informação e de marketing Para quem não conhece, visitar a Mixpão Cascais, é…? Saborear os nossos croissants, jesuítas e lanches, num conceito nobre e premium. É uma nova experiência sensorial em que cada detalhe é desenvolvido a pensar no cliente, desde o design de tubagem, à cor da árvore ou ao serviço e atendimento. Todo o enquadramento é preparado a pensar no cliente com o objetivo de o fazer experienciar momentos de prazer e que este tenha vontade de os repetir e partilhar. ▪
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de desenvolver um projeto e de criar algo de novo. Aliado ao crescimento profissional e à aquisição de conhecimento, às minhas experiências profissionais e à forma como me fui sentindo mais capaz de estar à frente de um negócio foram criadas as circunstâncias para que tenha surgido a ideia de abrir a Mixpão Cascais. Com dois sócios fantásticos, claro! O Hugo Neto e o Ricardo Martins, cada um com o seu conhecimento e com a sua área de domínio acabaram por criar as condições para a criação deste negócio.
“O MUNDO DO DIREITO TEM DE SAIR DAS SUAS ÁREAS DE CONFORTO E TEM DE OLHAR PARA O MUNDO DAS NOVAS TECNOLOGIAS, DA NOVA FORMA DE ESTAR NO MUNDO E ENTENDER QUE O FUTURO NÃO SERÁ NADA DAQUILO QUE CONHECEMOS, E IRÁ ABRAÇAR-NOS DE UMA FORMA MUITO RÁPIDA E IMPLACÁVEL” SARA MACIAS, SÓCIA DA MACIAS Y ASSOCIADOS
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“A REALIZAÇÃO PESSOAL E PROFISSIONAL PASSA POR SABER QUE A MINHA INTERAÇÃO COM AS PESSOAS FAZ A DIFERENÇA” “Os clientes manifestam positivamente a diferença no nosso acompanhamento, no nosso cunho pessoal e na humildade de colaborar com colegas de outras áreas, ou mesmo profissionais fora do mundo do Direito para ajudar em pleno as questões a nós suscitadas”. Quem o afirma é Sara Macias, Sócia da Macias y Associados, escritório de advogados que foi criado em 2016 e que, desde então, tem vindo a perpetuar uma linha de atuação distinta aos olhos do direito e, acima de tudo, do acompanhamento dos clientes. Conheça mais da nossa entrevistada, uma Mulher Líder que, ano após ano, tem feito o seu percurso e assumido uma relevância superior no domínio do direito em Portugal.
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xplica que a Macias y Associados, criada em 2016, resulta de um projeto ambicioso de duas sócias, cada uma com uma perspetiva particular no que ao mundo do Direito concerne. Qual é, portanto, a sua perspetiva sobre o mundo do Direito? A Macias y Associados aconteceu naturalmente em 2016 por saída de duas advogadas que trabalhavam juntas há alguns anos e que decidiram criar um projeto autónomo e nas áreas que lhes eram mais confortáveis. A ambição destas advogadas era criar uma Law Boutique, onde o cliente sente que o problema é ouvido, entendido e todas as soluções jurídicas lhe são apresentadas após best / worst scenario; onde não há tempo programado e nos perdemos em conversas infindáveis, pois a comunicação entre advogado (conselheiro/ padre / amigo / confessor e sempre mediador) e cliente não pode ter limites de conforto, espaço ou tempo. Hoje em dia na Macias, após estes jovens três anos, os clientes manifestam positivamente a diferença no nosso acompanhamento, no nosso cunho pessoal e na humildade de colaborar com colegas de outras áreas, ou mesmo profissionais fora do mundo do Direito para ajudar em pleno as questões a nós suscitadas. O conceito de Law Boutique é fazer o nosso cliente sentir-se num espaço de partilha de preocupações, definição de estratégias e elaborar planos de defesa, de ataque ou de prevenção, seja no âmbito de corporate ou pessoas singulares. Com a experiência de 25 anos no mundo do Direito e a humildade de estarmos sempre a superar as nossas dificuldades e a atualizar os nossos conhecimentos fazemos da Macias Law Boutique um espaço de soluções, estratégias, procura de novas soluções e interação com profissionais multidisciplinares para servir o nosso cliente na sua plenitude.
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O que a motiva e inspira diariamente? As pessoas! Definitivamente as pessoas! Hoje o trabalho funde-se inequivocamente com a nossa forma de estar na vida, e estes 25 anos no mundo do Direito trouxeram a capacidade de ouvir, escutar, querer saber mais pormenores, e
dos e marcar a sua presença. Eu própria, desafio e lanço-me para novas temáticas e procuro atualizar-me em áreas que não me são confortáveis, pois só assim vamos acompanhando este nosso mundo híper globalizado, onde a ÚLTIMA informação é poder, pois tudo muda a uma velocidade galopante. O Mundo do Direito tem de sair das suas áreas de conforto e tem de olhar para o mundo das novas tecnologias, da nova forma de estar no mundo e entender que o futuro não será nada daquilo que conhecemos, e irá abraçar-nos de uma forma muito rápida e implacável. O que prende a sua atenção ou o que a preocupa mais neste domínio do Direito? DISRUPÇÃO! Definitivamente o Direito tem de assumir que existiu uma interrupção nos padrões dos nossos comportamentos e na forma de estar na vida e nos negócios entre as pessoas, e temos de nos adaptar a novas questões que até agora eram ficção científica. Os meios alternativos de resolução de conflitos, a mediação e a arbitragem, a prevenção de questões divergentes através de smart contracts, a consciência e o compromisso de contratos flexíveis com previsão de fins diferentes, entre outras questões irá ser a área do Direito que temos maior atenção. O Domínio do Direito deixou de ser aquele curso teórico que era lecionado nas Faculdades com recurso a teorias obsoletas. Hoje quem vive no mundo do Direito, tem de saber conceitos de gestão, estratégias de marketing, novas e disruptivas formas de negócios pois a globalização impõe conhecimentos mais diversificados e soluções mais abrangentes. Definitivamente adotei a filosofia de observar as novas tendências dos comportamentos e pensar em novas soluções, sabendo que pertenço à última geração passível de se adaptar a esta velocidade de partilha de conhecimento, cuja duração já não é importante, pois em breve tudo voltara a mudar. ▪
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O que é mais importante para si no que diz respeito à área do Direito? A prevenção de conflitos hoje em dia tem de ser a primeira forma de estar nos negócios, e só se alcança com experiência de vida, sabedoria e humildade para trabalhar com equipas multidisciplinares e assim prevenir ou mitigar o risco do que pode não correr bem. A prevenção Um cliente que confia de conflitos hoje em nós um negócio, em dia tem de ser a primeira tem de ter a certeza forma de estar nos negócios, que entendemos e só se alcança com experiência ou tudo procuramos fazer para bem de vida, sabedoria e humildade entender a sua área para trabalhar com equipas de atuação, e que multidisciplinares e assim Os jovens têm outra estamos atentos às prevenir ou mitigar ligação ao mundo, ligações com os seus o risco do que pode não aos negócios, aos invesfornecedores, concorcorrer bem timentos e são eles o rentes, clientes ou demais motor desta disrupção com intervenientes. O advogado o mundo que nós conhecíadeve aprender sobre o negócio mos. Já nada será igual ao que estuou atividade dos seus clientes tanto dámos e vivemos, e é a geração dos 50 que quanto estes, pois só assim entenderá os riscos tem de mudar o mind set e adaptar-se a este a mitigar, as oportunidades que surjam e as novo mundo. consequências dos seus conselhos ou orientaExemplo desta alteração de comportamenções. tos é a tradicional Banca, onde tudo era igual Não quero com isto dizer que não me alimenhá 50 anos atrás, e nos últimos cinco anos teve to de uma bela disputa judicial e de preferência de adaptar-se a outros registos, outras necessicom os mais bem preparados colegas na parte dades e a olhar para a juventude como a fonte contrária, pois a luta pelo melhor argumento, de inspiração a fazer diferente, porque pensam a convicção de bem conhecer toda a situação diferente. material controvertida de uma causa, são os O mundo do Direito tem também de se adapdesafios de qualquer advogado. tar a alterações nos padrões de comportamento, à forma de resolução de conflitos, pois esta Do seu percurso profissional, que lição ou juventude não entende uma solução judicial aprendizagem traz e guarda consigo? após dez anos de enfadonhos processos. O meu percurso profissional foi sempre acompanhado pela Banca e pelo Imobiliário, e o facto Sabemos que até há bem pouco tempo a de termos vivido a ultima crise associada ao área do Direito era um mundo associado, subprime de 2008, ajudou a ver o Direito nesmaioritariamente, ao sexo masculino? No tas duas áreas com mais cautelas e ter a certeza entanto, esse estigma ainda acarreta reperque cada negócio tem de estar sustentado em cussões? algum pilar basilar, pois toda a atividade vive Ou por defeito de caráter ou por feitio pessoal, em ciclos e contra ciclos, e é fácil ser bom em nunca senti que o mundo do Direito fosse assoépocas de economia favoráveis, mas temos ciado ao género masculino. Nunca sofri qualde estar atentos e criar soluções para evitar ou quer constrangimento associado a esse tema estar melhor preparados para os contra ciclos. e não acredito que dentro do Direito existam Dado estar muito relacionada com o Imobiliááreas de Homens ou de Mulheres, continuo a rio e com a Banca, aconselho sempre a diversifilidar com excelentes profissionais e não faço cação de investimentos, seja de location seja de esse tipo de distinção, nem nunca me senti rentabilidade, seja na maturidade das decisões, excluída. de forma a que um eventual mau resultado não influencie toda uma atividade comercial. Mas qual é, efetivamente, a importância de A última grande lição que este mundo me uma presença cada vez maior de mulheres no ensinou foi o de olhar como a nossa geração de universo do Direito e da Justiça em Portugal? jovens perspetiva a vida e adaptar as novas atiAs mulheres sentiram que tinham de quebrar vidades comerciais a esta geração e não à nossa essas barreiras, se é que existiamm, e apontar os onde tudo acontecia predestinado, certinho e seus objetivos para novas áreas, novos mercade preferência igual à geração passada.
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viver de forma apaixonada cada situação que nos é colocada. A realização pessoal e profissional passa por saber que a minha interação com as pessoas, nos vários estádios das suas vidas, faz a diferença, e as demonstrações de carinho e de amizade profunda que se criaram após meras consultas ou depois de duras batalhas, são a certeza que este é o caminho correto, e que o conceito de Law Boutique foi alcançado e o cliente ( sempre amigo e companheiro) tem sempre o seu lugar guardado junto dos meus conselhos.
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"É IMPORTANTE QUE EXISTA REPRESENTAÇÃO EQUILIBRADA NO PODER" O perfil profissional de Ana Mendes Godinho levou o primeiro-ministro António Costa a entregar-lhe para as mãos, as pastas mais desafiantes, a do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Atualmente, o Governo, reconhece-lhe a exigência e a sua capacidade de gestão. Em conversa com a Revista Pontos de Vista, Ana Mendes Godinho, abordou temas como o seu novo cargo politico, liderança, igualdade de oportunidades e ainda o aumento do salário mínimo para 2020. Saiba mais.
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Ana Mendes Godinho, é atualmente a nova ministra do Trabalho e Segurança Social. Regressou a uma área em já trabalhou, depois de dar cartas no Turismo. Que história pode ser contada sobre o seu percurso? A minha vida profissional tem sido multifacetada, em torno das áreas do trabalho e do turismo, como Inspetora do Trabalho ou diretora da Atividade Inspetiva da Autoridade das Condições do Trabalho ou na administração do Turismo de Portugal, da Turismo Capital e da Turismo Fundos. Há quatro anos assumi a pasta do Turismo no Governo, sempre com o espírito de missão com que tenho feito tudo na vida. Foi inspetora do Trabalho e diretora dos Serviços de Apoio à Atividade Inspetiva da Autoridade para as Condições do Trabalho. Que balanço faz destes anos de atividade ligados a este setor? Que mudanças conquistou e que considera como mais importantes?
Foram anos muito intensos, de que destaco campanhas conjuntas com os parceiros sociais para auto-regulação e combate de fenómenos como trabalho não declarado, campanhas de promoção de segurança e saúde no trabalho, nomeadamente ao nível dos riscos psicossociais, e a grande aposta no acesso fácil à informação, quer através de criação da linha telefónica de informação da ACT em todo o país, quer através do desenvolvimento do simulador para permitir que as pessoas saibam as indemnizações a que têm direito quando cessa um contrato de trabalho. É uma das três secretárias de Estado que António Costa decidiu fazer subir a ministra. Que significado tem para si este facto? Foi com um grande espírito de missão que desempenhei o cargo de Secretária de Estado do Turismo nos últimos quatro anos. Conseguimos abrir o mapa turístico de Portugal, promover o alargamento da atividade turística ao longo do ano, diversificar os mercados de ori-
gem, inovar na oferta, qualificar pessoas, com o envolvimento de todos. O turismo foi um dos grandes responsáveis pela criação de emprego nos últimos 4 anos e foi sempre esse um dos nossos grandes objetivos em tudo o que fizemos. Também por isto, é com especial entusiasmo que abraço esta missão no Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. O que mais gosta no seu trabalho? Ouvir as pessoas, perceber o que podemos fazer para responder aos problemas e desafios e planear com objetivos concretos. E depois ver os resultados. É muito apaixonante ver a capacidade de fazer acontecer e ver os resultados na vida das pessoas e das empresas. Com a convicção permanente de que podemos sempre fazer melhor. O que é mais difícil no mundo da política para as mulheres? Qual é a sua estratégia para lidar com essas dificuldades?
Não tenho sentido nenhuma dificuldade por ser mulher. Mas isso acontece porque, em termos pessoais e familiares, tenho um enquadramento que me garante uma partilha e gestão do tempo e da disponibilidade que nem todas as mulheres têm. Há ainda muitos ambientes de evidente desigualdade, quer em termos de familiares quer profissionais. É essencial continuarmos este caminho para que estas situações de desigualdade acabem e que sejamos todos exigentes para o garantir. A participação das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os aspetos políticos, tornou-se uma meta ‘quase’ global. Segundo a sua análise, qual é o panorama em Portugal relativamente às oportunidades que são dadas às mulheres? Há sinais muito positivos. Este Governo, por exemplo, tem o maior número de ministras de sempre, oito. Já demos passos de gigante, mas ainda temos muitos para dar. Faço sempre o exercício de verificar em sessões públicas quantas mulheres estão na plateia e quantas estão no palco ou são oradoras e a desproporção continua a ser grande. Num congresso em que estive, em 12 palestrantes havia 2 mulheres, sendo eu uma delas e a outra a Secretária Regional de Turismo dos Açores. Desafiei as mulheres que estavam na plateia para subir ao palco e a plateia ficou reduzida a um terço... Considera que o poder é diferente quando ministrado por homens ou por mulheres? Porquê? É importante que exista representação equilibrada no poder, porque permite visões e experiências diferentes que influenciam as perspetivas e fatores de decisão.
flexibilidade do mercado de trabalho, pelo reforçar da lei e pelo crescimento da capacidade de reivindicação? O principal desafio neste momento no mercado de trabalho é a falta de recursos humanos e é nesse sentido que todos temos de trabalhar para atrair e fixar recursos humanos qualificados, criando condições para os valorizar. As empresas sabem que o seu ativo mais importante são os trabalhadores, e são as principais interessadas em valorizá-los. Naturalmente que é fundamental o diálogo social, aos vários níveis, para garantir a capacidade de reter talento e das empresas se afirmarem pela capacidade de inovação, diferenciação e produtividade. O que podemos esperar de si no futuro? Que mensagem gostaria de deixar aos portugueses? O que tenho feito até hoje: sempre em missão de serviço público, com a ambição de dinamizar relações de equilíbrio que garantam condições para que Portugal se afirme pela inovação e capacidade de valorizar as pessoas. O melhor país para viver e trabalhar. ▪
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Muito se tem discutido sobre o aumento do salário mínimo para 2020. Neste sentido, quais as metas e medidas traçadas pelo Governo para o próximo ano? O Programa do Governo aponta como objetivo atingirmos o salário mínimo de 750 euros em 2023, o que reprede vigência do sentará um crescimento de 50% O Programa “novo” Código no total das duas legislaturas, do Governo aponta do Trabalho. desde 2015. como objetivo atingirmos Que alteraEste valor resulta das preo salário mínimo de ções foram visões de crescimento da 750 euros em 2023, o que reforçadas produtividade e da inflação neste novo e da necessidade de valorizarepresentará um crescimento regime do ção do salário mínimo como de 50% no total das duas Código do instrumento importante no legislaturas, Trabalho? combate à pobreza. Para 2020, desde 2015 Houve várias após auscultação dos parceiros mudanças que sociais, aprovámos o valor de 635 entraram em vigor euros. com esta alteração ao Paralelamente, lançámos já as bases, Código do Trabalho. Destaem sede de concertação social, para a discaria que essas alterações resultam cussão de um acordo de rendimentos e comde um acordo tripartido, alcançado na Concerpetitividade a médio prazo, para um comprotação Social, com o objetivo de combater a premisso global relativamente à valorização dos cariedade no mercado de trabalho e melhorar salários e dos jovens qualificados, conciliação a produtividade das empresas, reforçando a da vida pessoal, familiar e profissional, qualifisegurança e as expectativas de vida dos trabacação e formação, criação de condições para lhadores, em especial dos mais jovens. aumento da produtividade e competitividade das empresas, simplificação da relação EstadoConsidera que a entrada em vigor da Lei n.º -cidadãos-empresas e combate à precariedade. 93/2019, a 1 de outubro de 2019, indiciam que os próximos tempos vão ser de menor O dia 1 de outubro de 2019 marcou o início
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“UM BOM LÍDER É O QUE LIDERA PELO EXEMPLO”
SANDRA RESENDE
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“Tenho um estilo de liderança muito inclusivo, acho que as grandes decisões da empresa têm que ser tomadas levando em consideração as opiniões da minha equipa”. Quem o afirma é Sandra Resende, Diretora Geral da IVECO Portugal, e que em entrevista à Revista Pontos de Vista nos deu a conhecer um pouco mais sobre a sua visão em relação ao universo empresarial e à posição das Mulheres no mesmo. Saiba mais de uma Líder que faz a diferença e que reconhece que as pessoas são a chave do sucesso.
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m abril deste ano, foi eleita como a nova diretora da IVECO em Portugal. Antes de tudo, que significado teve para si esta nomeação e que balanço é possível perpetuar destas funções? Esta nomeação para mim foi um reconhecimento por parte da IVECO e do Grupo CNHI do trabalho que tenho vindo a executar desde a minha entrada na organização. Foi um voto de confiança e uma enorme responsabilidade, pois o mercado dos pesados é extremamente exigente e competitivo e predominantemente masculino. O balanço destas novas funções é extremamente positivo. A equipa da IVECO Portugal aceitou a minha liderança de uma forma natural e juntos temos vindo a definir a estra-
tégia que preconizamos para o mercado português de acordo com os valores e orientações do Grupo. Ao nível dos nossos clientes tenho igualmente sido bem recebida. Quais foram as valias que aportou à marca com a sua Liderança? De que forma é que diariamente procura marcar a diferença e ter assim impacto no quotidiano da marca e das pessoas que compõem a mesma? Tenho um estilo de liderança muito inclusivo, acho que as grandes decisões da empresa têm que ser tomadas levando em consideração as opiniões da minha equipa, só se os colaboradores sentirem que fazem parte da estratégia, se envolverão efectivamente no sucesso da
mesma. Gosto de ter uma relação próxima com todos os meus colaboradores e envolver-me directamente mesmo nos assuntos do dia a dia. Por outro lado, tenho um background financeiro, de gestão, ao contrário dos meus antigos homólogos que vieram quase sempre de cursos de engenharia e com experiência na área comercial. Isso permite-me ter uma visão mais ampla do negócio que passa não apenas pela venda dos nossos veículos, peças e serviços, mas de toda a estrutura financeira, de marketing e de RH que obrigatoriamente tem que ser igualmente considerada. Antes da sua chegada à IVECO Portugal, passou por outras grandes marcas como a Candy
É diretora da IVECO Portugal. O que é mais desafiante para si neste cargo? Depende. Se estivermos a falar de desafio no sentido do que mais me motiva, sem dúvida a gestão da minha equipa. É um verdadeiro desafio liderar pessoas com personalidades diferentes, envolvê-las, motivá-las e conseguir que trabalhem para um único objetivo comum. Se falarmos de desafio no sentido da tarefa mais difícil, diria que é lidar com um mercado complexo, altamente competitivo e saturado de veículos comerciais novos e usados.
Para mim um bom líder é o que lidera pelo exemplo. Um bom líder tem que ensinar, motivar a sua equipa e sentir um enorme orgulho no crescimento profissional dos seus colaboradores. Penso que o sucesso de um líder se mede pela qualidade da sua equipa. Numa empresa com uma boa equipa o líder pode ausentar-se que não se sente a diferença. Liderança Masculina ou Feminina? Ou a liderança de qualidade não tem qualquer relação com o género? A liderança de qualidade não está relacionada com o género, mas com a qualidade e valores do líder. E em minha opinião também não é algo intrínseco, mas algo que se aprende e melhora com o tempo. ▪
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Hoover Portugal, a Mercedes Comercial, a DHL Portugal e a Entreposto. De que forma é que estas experiências foram essenciais para ter chegado à posição que ocupa hoje? Em todas essas grandes marcas aprendi e vivenciei culturas organizacionais diferentes, com os seus pontos positivos e negativos. Foi a variedade de culturas e de formas de liderança que me levaram a adotar o que eu considerei mais eficiente. Penso que o de mais importante aprendi foi que, independentemente do negócio, as pessoas são a chave do sucesso. Que momentos ou aspetos considera fulcrais para o seu crescimento pessoal e profissional e de que forma foram os mesmos fundamentais para que hoje tenha capacidade de responder aos desafios diários na liderança da marca italiana de veículos pesados? Não posso dizer que tenha havido um momento ou aspeto fulcral, penso que o meu crescimento pessoal e profissional foi algo de natural e ao longo do tempo. Sou uma pessoa que
A sociedade ainda impõe bastantes limitações à mulher e ao seu papel na sociedade. Ter uma carreira profissional de sucesso significa abdicar do sucesso na vida pessoal ou vice-versa? Em alguns casos diria que sim. Ainda existe uma ideia muito enraizada de que quem tem que educar e estar mais presente na vida dos filhos é a mulher. Felizmente isso tem vindo a mudar, de forma um pouco lenta é verdade, mas mesmo assim existem já algumas mudanças, até na mentalidade dos homens quanto ao seu papel e responsabilidade na educação dos seus filhos. Pode partilhar connosco o seu exemplo? É fácil conciliar uma carreira profissional de sucesso com a vida pessoal e familiar? No meu caso é fácil, sou uma mulher de sorte, tenho um enorme apoio familiar, desde o meu esposo, que é um companheiro e um pai extraordinário, até aos avós que estão muito presentes na vida dos netos. Tenho dois filhos pequenos e isso nunca me impediu de ter ambições a nível profissional e de as alcançar. É óbvio que estar longe, quando estou em viagem, sempre destabiliza um pouco a vida familiar, mas com cooperação e boa vontade tudo se resolve. Hoje as organizações debatem-se com múltiplos desafios relacionados com a transformação digital, mas também com a liderança, a gestão de pessoas ou a retenção de talento. O que é para si um bom líder? Que características a definem enquanto líder?
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Numa altura em que se debate cada vez mais questões relacionadas com a desigualdade de género, como diria ter sido o seu percurso profissional neste sentido? A desigualdade de género é uma realidade para si? Como a podemos ultrapassar e contornar? Estamos no bom caminho? Pessoalmente eu nunca senti a desigualdade de género no meu percurso. Sei que infelizmente existe e, que apesar de se terem introduzido algumas melhoras, é ainda uma realidade muito presente. Posso dar o meu exemplo, sou a única Diretora Geral mulher no setor de veículos comerciais. Contudo, no meu caso concreto, felizmente, nunca me deparei com qualquer obstáculo relacionado ao meu género.
Penso que o sucesso de um líder se mede pela qualidade da sua equipa. Numa empresa com uma boa equipa o líder pode ausentar-se que não se sente a diferença
O QUE PODEMOS CONTINUAR A ESPERAR DE SI DE FUTURO? QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS E DESIDERATOS QUE PRETENDE PARA A MARCA EM 2020? No futuro podem esperar de mim que continue a ser uma mulher dedicada à família e ambiciosa a nível profissional. Que tem como primeiro objetivo reforçar a imagem de profissionalismo e de qualidade da marca IVECO. O ano de 2020 vai ser extremamente exigente. É um ano no qual queremos alavancar a nossa quota de mercado no setor dos rígidos e dos veículos movidos a gás natural. Queremos igualmente reformular e melhorar a nossa rede e os nossos serviços de pós-venda. Queremos ser uma marca reconhecida pela sua integridade no relacionamento com os seus parceiros.
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adora desafios, extremamente exigente, e que procura constantemente a mudança. Não gosto de estar estagnada, procuro sempre desafios, ultrapassar-me a mim mesma e ter uma aprendizagem constante. Penso que foi essa minha resiliência e gosto pelo desafio que me conduziram onde estou.
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ANGOLA
TEM CADA VEZ MAIS MULHERES A DESEMPENHAR FUNÇÕES DE LIDERANÇA Ana Zulmira da Silva Ramalheira Camota é a atual Administradora da Autoridade Reguladora da Concorrência - Ministério das Finanças. É uma mulher angolana, apaixonada pela humanidade e pela vida. Jurista, escritora, mãe, esposa e sobretudo, uma cidadã comprometida com o desenvolvimento do seu país e da sua gente. Saiba mais.
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FOTO: BRÂULIO BACC
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omo em todas as histórias, vamos começar pelo princípio. Como é que surge o direito surge na sua vida? O Direito surgiu na minha vida de forma muito natural. Talvez tenha a ver com a minha personalidade. Sou e sempre fui um ser muito inquieto, que questiona, contesta e aprecia um bom argumento. Por outro lado, o conceito de Justiça, mais do que uma virtude, é para mim um princípio de vida, que apesar de abstrato no sentido lacto, no dia-a-dia é materializado com critérios objetivos. Nas sociedades existem normas que definem direitos e obrigações e é justo assegurar a cada um o que lhe é devido.
É atualmente administradora da Autoridade Reguladora da Concorrência - Ministério das Finanças. Desta forma, como tem sido estar numa posição de relevo? Trabalhar na Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC), como membro do Conselho de Administração, tem sido um desafio muito interessante. A ARC é uma entidade com uma missão ambiciosa e um caminho árduo a percorrer. Estar no primeiro Conselho de Administração de uma entidade tão importante para a melhoria do ambiente de negócios em Angola e participar da sua fase de implementação está a ser uma experiência extraordinária e muito valiosa. Sinto-me honrada e a cada fim de expediente vejo reforçada a certeza de que todas as horas de trabalho árduo e de reflexões profundas, sobre aspetos complexos e de extrema responsabilidade, valem a pena. ANA ZULMIRA RAMALHEIRA
O tipo de liderança predominante na ARC, com o qual me identifico plenamente, é o de proximidade, empatia e diálogo aberto com os liderados, um género de liderança muito baseado no respeito e na tolerância
Para si, o que é mais difícil no mundo do direito/política para as mulheres? Qual é a sua estratégia para lidar com essas dificuldades? O mundo profissional é difícil para todas as mulheres, sobretudo em sociedades mais conservadoras em que as próprias normas e instituições não estão, ainda, adequadas às necessidades das mulheres. O mais difícil para mim é sentir que tenho sempre algo mais a provar e sentir-me muitas vezes pressionada a ocultar qualquer tipo de vulnerabilidade para não parecer fraca ou demasiado delicada, mas isso, no meu entender, é uma realidade de grande parte das mulheres líderes e profissionais, que, em certa medida, têm que abdicar de alguns direitos e preterir algumas obrigações, como mães, esposas ou companheiras, para estarem à altura das funções que lhes são incumbidas. Sente que a presença feminina é cada vez maior neste universo? Com certeza. Felizmente, em Angola, há cada vez mais mulheres a desempenhar funções de liderança, com grande ênfase para os cargos públicos e políticos. No entanto, ainda há um caminho longo a percorrer, é preciso que seja feito um trabalho amplo a nível das instituições e das famílias para que, por um lado existam maiores garantias do exercício dos direitos das mulheres, e, por outro, exista maior suporte familiar para que as mulheres possam desempenhar as suas funções, dando o seu melhor e explorando o seu potencial, sem culpa ou afli-
ção pelos períodos de ausência ou distanciamento, que são, muitas vezes, inevitáveis. Que significado tem uma mulher no poder? Difere muito de um homem? O significado de uma mulher no poder, objectivamente, não difere do significado de um homem no poder, ambos têm obrigações claras enquanto gestores de determinada instituição e líderes de uma equipa. Entretanto, numa perspetiva meramente subjetiva, eu diria que uma mulher líder tende a ser mais compreensiva, flexível e organizada, pela sua própria natureza e atendendo aos padrões sociais e ao tipo de tarefas que ao longo da história foram sendo atribuídas às mulheres, mesmo no contexto familiar, assumindo a função de gestoras do lar, incluindo nessa gestão, para além de tarefas domésticas, controlo financeiro e resolução de conflitos entre os liderados. O ser mulher foi, em algum momento, um entrave ao seu crescimento profissional? Penso que não. Não me lembro de uma situação evidente em que o meu género tenha sido um entrave ao meu crescimento profissional. No entanto, confesso que em certo momento, sobretudo durante e após a minha gestação, senti-me um pouco pressionada a preterir de alguns direitos para estar à altura das funções que me tinham sido confiadas. Não houve nenhum obstáculo ou impedimento que me tivesse sido directamente imposto, porém, o contexto e as circunstâncias levaram-me a pen-
sar que estava em desvantagem por ser mulher, por isso tinha que me manter totalmente disponível e não podia ser menos útil do que os outros colegas, independentemente das batalhas hormonais que enfrentava ou das noites mal dormidas, não podia falhar. Daquilo que tem observado ao longo dos anos e, dada a sua experiência, de que forma caracteriza as empresas angolanas em termos de género? Em Angola existem alguns setores em que as empresas ainda demonstram alguma resistência em contratar mulheres, fundamentando os seus receios, muitas vezes insensíveis e infundados, com questões de tecnicalidade e força, as quais são facilmente ultrapassadas, com as necessárias adaptações. Porém, têm sido desenvolvidas políticas que visam salvaguardar algum equilíbrio de género nas empresas, logo essa questão tem sido, gradualmente, ultrapassada, pelo que posso arriscar afirmar que, no geral, as empresas em Angola, quanto ao género, são equilibradas. Que mensagem gostaria de deixar às nossas leitoras para as suas vidas profissionais e pessoais? Quero dizer as leitoras que sejam fiéis a si mesmas e leais as causas e as instituições que representam, independentemente das circunstâncias. Mais ainda, que não abdiquem de dar sempre o seu melhor, que sejam honestas e não permitam que se perca a sua essência, que sejam firmes e fortes nas suas convicções, enfrentando os desafios, sempre que possível, com subtileza e empatia. ▪
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Como é que definiria o seu género de liderança? O tipo de liderança predominante na ARC, com o qual me identifico plenamente, é o de proximidade, empatia e diálogo aberto com os liderados, um género de liderança muito baseado no respeito e na tolerância. A ARC é suportada por uma equipa muito jovem e coesa, que integra profissionais experientes e muito dedicados que, apesar das opiniões fortes e de uma tendência elevada para o debate, reconhece e respeita a hierarquia e entende a importância de assegurar que as discussões mantidas na Instituição sejam respeitosas, assertivas e produtivas.
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Quero dizer as leitoras que sejam fiéis a si mesmas e leais as causas e as instituições que representam, independentemente das circunstâncias
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"A PRESENÇA FEMININA TEM VINDO A SER CADA VEZ MAIS NOTÓRIA EM DIFERENTES SETORES DAS ECONOMIAS MUNDIAIS" A Revista Pontos de Vista foi conhecer Fátima Monteiro, Presidente da Comissão Executiva do BIC Seguros, uma Mulher que assume o dia a dia como um desafio e que ao longo da sua carreira foi ultrapassando todos os obstáculos até aos dias de hoje. O que faz desta Mulher uma Líder excecional? Saiba mais ao longo desta entrevista.
L FÁTIMA MONTEIRO
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ado a lado com o crescimento do BIC seguros, está Fátima Monteiro, Presidente da Comissão Executiva. Como e quando é que esta instituição, surge na sua vida? O BIC Seguros passa a fazer parte da minha vida quando os acionistas do Banco BIC decidiram criar uma seguradora de raiz assente numa estratégia de Bancassurance. Eu já fazia parte do Universo BIC desde o ano de 2008 e quando em 2013 foi decidido avançar com a Seguradora ou seja, cerca de um ano e meio antes do início da sua atividade começo, de forma gradual e crescente, a participar no desenvolvimento do projeto até que a 15 de Outubro de 2014 o BIC Seguros iniciou de facto a sua atividade, tendo eu assumido a Presidência da Comissão Executiva. Devido à responsabilidade que acarreta esta posição, esta pode ser considerada um dos seus maiores desafios profissionais? Considero que a nossa vida profissional é sempre repleta de desafios, em diferentes escalas é certo, mas, a responsabilidade está sempre inerente a qualquer função ou cargo que em determinado momento assumimos. Sempre defendi que não são as posições que assumimos que nos definem, mas sim cada um de nós a imprimir o seu cunho pessoal ao cargo que ocupa. Não é o facto de ser CEO do BIC Seguros que me define como pessoa ou como líder. Ao longo de toda a minha vida profissional, enfrentei todos os projetos em que estive envolvida, como um desafio e com a ambição de fazer bem. E encaro o desafio de ser CEO do BIC Seguros como um projeto igualmente exigente em que, naturalmente, acarreta um elevado grau de responsabilidade para com a equipa, os acionistas, o setor e a sociedade em geral. Que balanço faz da sua carreira profissional e que mudanças conquistou que considera como mais importantes? Olhando para trás mudaria alguma coisa no seu percurso? É uma pergunta interessante sobretudo porque tenho por hábito revisitar, de vez em quando, o meu percurso profissional. Sempre que faço esta viagem ao passado concluo sempre, que não mudaria absolutamente nada no meu caminho profissional e nas opções estratégicas que fui tomando ao longo dos anos. Como qualquer carreira profissional, tive dias bons e dias menos bons mas, o balanço que faço destes últimos 30 anos é bastante positivo. É a soma de todas as etapas pessoais e profissionais (e foram muitas
Em que projetos está ou esteve envolvida e que gostaria de partilhar connosco? Ao longo dos últimos 30 anos já estive envolvida em vários e diferentes projetos e em alguns momentos da vida, em simultâneo. Durante vários anos, o meu dia começava às 8h30 e terminava às 23 horas. Não querendo de forma alguma alongar-me sobre este percurso apenas gostaria de partilhar que os diferentes ambientes pelos quais passei (empresarial, formação profissional, académico) acabaram por exigir de mim a necessária flexibilidade e acima de tudo um elevado nível de foco. Caracterizo-me como uma pessoa extremamente focada em fazer mais e melhor a cada dia que passa, independentemente da função ou cargo que possa estar a desempenhar. Como define a presença feminina na área de atuação em que se encontra? Do meu ponto de vista é perfeitamente natural a presença feminina na gestão das organizações indepentemente da área de atuação. No BIC Seguros, a presença feminina é maioritária em termos de gestão executiva e é equitativa em termos do Capital Humano da empresa. Tenho, no entanto, a perfeita convicção de que, a presença feminina, é ainda incipiente face à presença masculina. O setor segurador quer a nível nacional quer a nível internacional, em termos de cargos de gestão executiva é dominado pela presença masculina, mas, teríamos que viajar pela História para explicar este fenómeno o que implicaria tornar esta entrevista demasiado longa e para alguns, mesmo maçadora.
Do meu ponto de vista é perfeitamente natural a presença feminina na gestão das organizações indepentemente da área de atuação. No BIC Seguros, a presença feminina é maioritária em termos de gestão executiva e é equitativa em termos do Capital Humano da empresa. Tenho, no entanto, a perfeita convicção de que, a presença feminina, é ainda incipiente face à presença masculina
As empresas procuram cada vez mais a diferenciação, a criatividade, a relação humana e a fluência na comunicação. Por estas razões, diz-se que as competências de liderança que as empresas procuram são mais facilmente encontradas nas mulheres. Concorda? Não sou tão categórica nessa afirmação. É um facto que a diferenciação, a criatividade, a relação humana e a fluência na comunicação são denominadores comuns ao sucesso. Agora, se estes denominadores são mais facilmente encontrados nas mulheres é que já tenho dificuldade em afirmar. As mulheres são diferentes dos homens? Claro que sim. São melhores do que os homens? Não consigo afirmar isso. Mais uma vez recorro à História para provar que o facto de as mulheres terem tido sempre mais dificuldade em obter a igualdade de género e a mesma legitimidade que os homens, talvez as tenha dotado de mais recursos, tornado mais resilientes, mais focadas nos seus objetivos e ao mesmo tempo mais capazes de gerirem, em simultâneo, situações completamente dispares. Mas, tal não implica afirmarmos que as mulheres são melhores líderes que os homens. Não sou apologista desse fundamentalismo ou de qualquer outro. É indiscutível que o número de líderes homens é substancialmente maior que o número de líderes mulheres, mas, atribuo esse facto, sobretudo a razões históricas e não a razões de meritocracia. Existem vários exemplos de grandes líderes homens e grandes líderes mulheres (em menor número é certo, mas apenas por razões históricas e de probabilidade) sendo que o contrário também é verdade, isto é, também existem muitos maus líderes quer sejam homens quer sejam mulheres. Considerando a realidade dos outros países membros da CPLP, em Angola, o acesso das mulheres, enquanto profissionais altamente qualificadas, a posições de decisão em organizações privadas e publicas, é fácil de encontrar ou deve ser mais fomentado? Considero que cada vez mais se vai assistindo à presença de mulheres enquanto profissionais altamente qualificadas em cargos que tradicionalmente eram ocupados por homens. A presença feminina tem vindo a ser cada vez mais notória em diferentes setores das economias mundiais e Angola não foge à regra. Mas considero ser um fenómeno natural e fruto da evolução dos tempos e das mentalidades. O acesso universal à educação, a alteração drástica do papel da mulher na sociedade em que deixou de estar circunscrita e “colada” ao papel de doméstica, permite que cada vez mais a mulher concorra em igualdade de circunstâncias com os homens. Não pretendo ser ingénua e ignorar que muitas vezes, em igualdade de circunstâncias, a mulher é preterida face ao homem, mas, felizmente, estas situações têm vindo a diminuir, talvez não com a celeridade desejada, mas já se observa alguma mudança. Claro que as políticas de qualquer país devem fomentar esta participação e sobretudo a equidade das oportunidades, mas, considero que tal não basta. Há que querer, há que ter atitude e acima de tudo lutar pela excelência em tudo aquilo que fazemos. Acima de tudo é a cultura do mérito que deve ser fomentada e se for esse o caso, não tenho dúvidas que a ascensão das
ACREDITA QUE EM ANGOLA COMEÇAM A MUDAR MENTALIDADES E COMPORTAMENTOS NO QUE CONCERNE ÀS MULHERES E OS CARGOS DE LIDERANÇA? O QUE AINDA FALTA? Como se sabe, as mentalidades são o fator que mais tempo leva a alterar e esta realidade não se restringe somente a Angola. Angola é um país muito jovem e como tal essas mudanças vão-se fazendo de acordo com o crescimento do país. No entanto, considero que apesar desta juventude, já se assiste a uma presença feminina cada vez mais forte em diferentes áreas de destaque da sociedade. Penso que há ainda um longo caminho a percorrer (quer em Angola, quer a nível internacional), mas as mulheres também têm uma grande responsabilidade neste percurso.
mulheres altamente qualificadas vai ser uma decisão de gestão perfeitamente natural. É a favor de políticas que acelerem mudanças no que diz respeito à inclusão de mais mulheres nas empresas? Sou um pouco suspeita nesta questão, porque nas minhas decisões de gestão, a questão do sexo nunca foi fator diferenciador, tendo as mulheres e os homens concorrido sempre em perfeita igualdade de circunstâncias. Como já referi, faço parte do Universo BIC em Angola há 14 anos, primeiro no Banco, como Diretora de Recursos Humanos e como CEO no BIC Seguros desde 2014, e tanto numa Instituição como noutra, o número de mulheres sempre foi equitativo ao número de homens e existem momentos em que é mesmo superior. Pode questionar-se se é porque considero que as mulheres são melhores que os homens? Concerteza que não. Avalio a candidatura e as competências (profissionais e pessoais) para o exercício de uma determinada função, independentemente do sexo. Se as mulheres estiverem sempre à espera de estímulos externos para obterem os seus objetivos, a probabilidade de que eles se concretizem é mínima. A motivação que precisamos para o sucesso, tanto pessoal como profissionalmente é única e exclusivamente da responsabilidade de cada um, embora tenha plena consciência que, em determinadas circunstâncias, a ajuda de políticas poderá ser fundamental no derrube de preconceitos ainda existentes. ▪
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e algumas difíceis) que contribuiram para o meu atual perfil de gestora. Naturalmente que diariamente procuro equilibar as minhas caracteristicas pessoais e profissionais com o objetivo de melhoria contínua do BIC Seguros.
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“NUNCA SE ESQUEÇAM: OS OBSTÁCULOS SÓ EXISTEM PARA TESTAREM A NOSSA PERSISTÊNCIA" Muito recentemente, o CTIE, da Católica Lisbon School of Business and Economic, lançou o Prémio Women Entrepreneurship Award, iniciativa onde Lina Gomes, CEO da Mindflow e Mestre em Psicologia Social e das Organizações, foi uma das três finalistas. O que sentiu a nossa entrevistada? “senti-me muito feliz por poder dar visibilidade a um projeto cujo objetivo é oferecer formação gratuita para promover a igualdade de género.”, afirma, satisfeita lembrando que hoje nunca foi tão favorável para a Mulher assumir novos desafios e lideranças, embora ainda haja um caminho a percorrer.
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ara promover o denominado empreendedorismo feminino, o CTIE, da Católica Lisbon School of Business and Economic, lançou o Prémio Women Entrepreneurship Award. Antes de tudo, interessa compreender qual a sua opinião sobre estes reconhecimentos e iniciativas no âmbito da promoção do Empreendedorismo Feminino? Quando existe uma competição em que os inscritos são maioritariamente homens, a probabilidade de uma mulher chegar ao podium é reduzida. E como só os vencedores têm visibilidade, fica a sensação de que é preciso ser-se homem para ganhar. A Universidade Católica apresentou um estudo que revelou que entre os seus estudantes de Gestão apenas uma em cada 13 raparigas admitia a hipótese de se tornar empreendedora, enquanto o número era bem maior entre os rapazes. Repare que a corrida ainda nem começou e elas já nem se inscrevem na competição! É preciso mostrar que existem mulheres que decidem criar a sua própria mesa para garantir um lugar à mesa das decisões. E é preciso mostrar que esse caminho é possível. Por isso considero tão importantes estas iniciativas de promoção do empreendedorismo feminino. Esteve presente como uma das três finalistas. Qual o seu sentimento por ter conseguido marcar presença no pódio desta iniciativa? Alegria e surpresa, sobretudo. Nós, mulheres empreendedoras, estamos muito pouco habituadas a que repararem que existimos. Sobretudo, senti-me muito feliz por poder dar visibilidade a um projeto cujo objetivo é oferecer formação gratuita para promover a igualdade de género. Através da mindflow, pretendemos oferecer formação gamificada online, que
Mesmo não tendo ficado no primeiro lugar, de que forma é que este projeto se vai concretizar e quais as suas expectativas para o mesmo? Neste momento estamos numa fase inicial para definirmos um protocolo com um movimento global que tem por objetivo uma liderança equilibrada de género através de desenvolvimento profissional e network. Ainda não posso identificar a organização, mas acredito que em breve estaremos em condições de divulgar esta parceria e começar a disponibilizar as primeiras formações gratuitas online. A par desta potencial colaboração, está também em cima da mesa a possibilidade de contribuirmos para o desenvolvimento de raparigas na Nigéria. Este é um país com o qual já trabalhámos e que mostrou uma excelente adesão à nossa metodologia.
LINA GOMES
permita às mulheres de Portugal e de outros países, desenvolver conhecimentos que as preparem para a Liderança e o Empreendedorismo. A sua presença fica marcada pelo desiderato de lançar o Women Empowerment, que consiste numa plataforma de mobile App para formação gratuita de mulheres. Explique-nos um pouco mais sobre este produto. Quais as valias do mesmo? A Mindflow, a empresa que lidero, desenvolveu um conjunto de soluções de aprendizagem e desen-
volvimento com muito sucesso na retenção do conhecimento e na motivação para a aprendizagem. Através de aplicações móveis já formámos pessoas em 20 países (Europa e África) nas mais variadas áreas de conhecimento. É uma forma barata e eficaz de divulgar conhecimento. E esse foi o sonho com o qual procurei contagiar a audiência: usar a nossa plataforma de jogos de formação em aplicações móveis para o desenvolvimento gratuito das mulheres em áreas de conhecimento como Desenvolvimento pessoal e social, Liderança e Empreendedorismo.
Em que moldes é que este projeto se irá desenvolver no futuro? A nossa visão é começar por Portugal e outros países da Europa e estender tão breve quanto possível esta possibilidade a países em vias de desenvolvimento, nomeadamente de África. Até aos primeiros mil utilizadores temos a oferta de formação gratuita assegurada. Entretanto, precisaremos de divulgar e procurar parceiros para que a formação possa continuar a acontecer de forma gratuita. Ao longo do desenvolvimento do projeto, estamos muito abertos à contribuição de Universidades, especialistas e empresas que queiram contribuir com os seus conhecimentos para a criação de mais conteúdos de formação. O facto de este produto não ser somente a nível nacional, mas também a nível internacional é uma grande vantagem? Qual a importância deste além-fronteiras do produto? Sabemos que os especialistas
estão mais concentrados numas regiões geográficas do que noutras, mas como se trata de uma aplicação móvel, acessível a partir de um telemóvel, os custos de o proporcionar a uma mulher em Portugal, na Roménia, em Angola ou no Brasil são os mesmos. Então podemos facilitar o conhecimento a mulheres que têm menos acesso a ele e podemos facilitar laços sociais e profissionais pelo mundo fora.
O objetivo do prémio passa por sensibilizar para o preconceito de género no empreendedorismo e dar visibilidade ao Empreendedor Feminino de sucesso em Portugal para inspirar as gerações futuras. Sente que estes géneros de iniciativas são de facto o caminho do futuro em prol do Empreendedorismo Feminino? Sinceramente, acredito que sim. Estudos da BCG mostraram que, embora nos últimos 25 anos o número de mulheres com formação académica e 10 anos de experiência profissional tenha aumentado mais de 60%, a quantidade de mulheres na liderança nem 10% aumentou; que os investidores investem menos de metade em empresas lideradas por mulheres do que em empresas lideradas por homens, apesar dos dados revelarem que as empresas lideradas por mulheres geram mais receita do que as lideradas por homens. Por isso sim, ainda há muito a fazer. Aumentar a visibilidade dos casos de sucesso é particularmente importante, não só para apoiar essa minoria de mulheres, mas também para dar às jovens, modelos femininos que lhes permitam sonhar com novas oportunidades, que lhes permitam acreditar que é possível. Olhando um pouco para a globalidade, sente que hoje é mais fácil para um Mulher apostar no
Empreendedorismo? Sente que hoje o cenário é mais favorável para a Mulher Líder ou ainda temos de continuar a eliminar e a ultrapassar obstáculos? Nunca foi tão favorável. Porém, tão longe estamos de que seja, de facto, favorável. Embora a investigação demonstre que quando há mais diversidade de género na liderança de uma empresa a faturação proveniente da inovação aumente 30%, em Portugal há apenas 22% de mulheres em cargos de Direção e menos de 10% em comissões executivas. Há ainda muito caminho a fazer na mudança social. E, na minha opinião, essa mudança passa por aumentar a consciência do que todos temos a beneficiar (homens, mulheres, empresas, economia, política), passa por continuar a estimular a educação das mulheres (nomeadamente em competências que
não são desenvolvidas pela escola) e passa por definirmos objetivos específicos para atingir objetivos de equilíbrio de acesso à liderança. É por isso que sou a favor das quotas de género e é por isso que defendo iniciativas de desenvolvimento da network profissional das mulheres. O que podemos continuar a esperar de si para o futuro? Continuar a contribuir para aplicar a Psicologia ao desenvolvimento e à Felicidade das pessoas. Porque continuo a acreditar que aprender pode ser divertido, que é mais eficiente quando respeitamos a forma como as emoções influenciam a memória, a aprendizagem, a motivação... E porque considero que o desenvolvimento e a felicidade são os ingredientes para transformar o nosso mundo num mundo melhor. ▪
QUE MENSAGEM LHE APRAZARIA DEIXAR A TODAS AS MULHERES, PRINCIPALMENTE AQUELAS QUE TÊM NO SEU SEIO UMA VEIA EMPREENDEDORA? Sejam empreendedoras em algo que realmente gostem, algo que tenham prazer em fazer, porque haverá momentos difíceis e terão que trabalhar muito, mas a paixão aumenta-nos a força para resistir e a criatividade para encontrar a solução. E, sobretudo, nunca se esqueçam: os obstáculos só existem para testarem a nossa persistência.
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Esteve na final com Ana Palmeira de Oliveira, Cofundadora da Labfit e com Joana Rafael, Cofundador da Sensei. Que sentimentos e sensações por ter partilhado este palco com estas duas intervenientes de valor? Simplesmente fantástico. A Ana Palmeira de Oliveira tem criado e distribuído novos medicamentos para a saúde feminina (tem três patentes!) e a Joana Rafael está à frente de um projeto altamente tecnológico (para mim, verdadeira ficção científica!) e tenho a certeza que será uma inspiração para tantas jovens que partem do princípio de que a tecnologia é um mundo masculino.
Aumentar a visibilidade dos casos de sucesso é particularmente importante, não só para apoiar essa minoria de mulheres, mas também para dar às jovens, modelos femininos que lhes permitam sonhar com novas oportunidades, que lhes permitam acreditar que é possível
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“TRILHAR UM CAMINHO ONDE LIDERAMOS OS PROJETOS QUE CRIAMOS É SEM DÚVIDA UM DESAFIO” A Revista Pontos de Vista estve à conversa com Apolónia Rodrigues, a Mentora e Criadora da marca destino Dark Sky e Dark Sky Alqueva. Atualmente é também a Presidente da Associação Dark Sky, Presidente da Rede de Turismo de Aldeia do Alentejo e ainda coordena a Rede Europeia de Sítio da Paz desde 2010. Saiba mais.
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polónia Rodrigues, é licenciada em Gestão e Planeamento em Turismo pela Universidade de Aveiro. Foi através desta formação que surge a paixão pelos desafios na criação de novos destinos e das tendências futuras do turismo sustentável? Sim, a formação que recebi na Universidade de Aveiro contribuiu muito para o percurso que segui. Desde pequena que gostava de contar histórias e desenvolver coisas novas, imaginar sem limites. Quando ingressei na Universidade iniciei os estudos em Informática de Gestão, mas percebi que não seria a melhor forma de colocar em prática o meu lado mais criativo e em boa altura mudei para a Universidade de Aveiro, para o curso de Gestão e Planeamento em Turismo. A conjugação das várias componentes científicas do curso permite-nos obter os conhecimentos necessários para evoluir sem comprometer a criatividade. Para trabalhar tendências futuras é preciso conjugar várias áreas de conhecimento e estar atento à evolução da sociedade, mas de uma forma descomprometida e aberta. É a mentora e criadora da marca destino Dark Sky e Dark Sky Alqueva. Atualmente é também a Presidente da Associação Dark Sky, Presidente da Rede de Turismo de Aldeia do Alentejo e ainda coordena a Rede Europeia de Sítio da Paz desde 2010. Que história pode ser contada sobre o seu percurso profissional até
Turismo de Aldeia do Alentejo/ Genuineland para poder desenvolver a Rede Europeia de Turismo de Aldeia e o Turismo do Imaginário. No entanto já em 2007 e na sequência do trabalho que estava a desenvolver a partir de 2005 no Tourism Sustainability Group da Comissão Europeia, surge a ideia de criar o Dark Sky Alqueva. Em 2008, o Dark Sky® Alqueva passa também a incorporar os desafios da Genuineland e surge o conceito Dark Sky® como ferramenta de desenvolvimento integrado e sustentável de destinos. A par deste trabalho surge em 2010 o desafio da European Network of Places of Peace, outro tema que merece uma abordagem diferente e com um grande potencial de médio e longo prazo, e que ao lado de um Presidente muito dinâmico e com visão, Eduardo Basso, seria possível acrescentar valor à Rota Places of Peace.
APOLÓNIA RODRIGUES
aos dias de hoje? Trilhar um caminho onde lideramos os projetos que criamos é sem dúvida um desafio, especialmente quando o nosso campo de intervenção passa pela criação, gestão e desenvolvimento de destinos. Mas mais do que um desafio profissional e uma responsabilidade tem sido um desafio de vida. Comecei numa entidade pública em 1998 e a partir de 2008 assumi a liderança da Rede de
O que é para si mais interessante na área em que trabalha? O desafio de trabalhar com tendências futuras é o risco de não acertar e por isso é muito importante abordar os temas de uma forma assertiva e com os conhecimentos técnicos necessários, mas com capacidade para avaliar e corrigir o caminho sempre que necessário. É na prática um misto de racionalidade, criatividade e imaginação. Como é que surgiu o interesse pelo mundo da astronomia? O céu noturno começou por ser o recurso a
Este ano conquistou através do projeto Dark Sky Alqueva, recebeu o Bronze CTW Chinese Welcome Award e ainda um Óscar do Turismo nos World Travel Awards, como Europe´s Responsible Tourism Award 2019. Qual é o sentimento de ver o seu trabalho reconhecido? É muito bom sentir que cada vez mais organizações internacionais reconhecem o nosso trabalho. Quando iniciei o projeto tive muitos obstáculos que mesmo após tantos anos não deixaram de existir, apenas mudaram de forma. A equipa que me acompanha há anos ajudou-me a superar esses obstáculos, esteve nos bons e maus momentos e por isso estes reconhecimentos são uma forma de sentirmos que todo o nosso esforço, dedicação, empenho e capacidade de superação têm sido valorizados a nível internacional. Durante os World Travel Awards foi possível honrar algumas das pessoas que de uma forma mais direta têm estado sempre ao meu lado ao longo dos últimos anos, seja na astrofotografia, Miguel Claro, seja no apoio informático e logístico, Samuel Coelho e Fernando Martins, seja na investigação científica, Áurea Rodrigues, seja na ligação dos vinhos ao céu noturno, João Passos e Cecília Cristóvão, seja no apoio dos media, José Miguel Piçarra, seja na nossa maravilhosa equipa técnica Nuno Santos e Rebecca Slade. Poderia ainda referir mais nomes como o Raúl Lima que tem estado sempre ao nosso lado na luta contra a poluição luminosa, ou Eduardo Basso, com o seu entusiástico apoio, entre outros. Já no mês de novembro tivemos a honra de receber um Reconhecimento na categoria
Astroturismo, durante a entrega dos I Prémios Internacionais Starlight atribuídos pela Fundação Starlight. Existem cada vez mais mulheres a liderar empresas em Portugal, no entanto, apesar dos progressos conquistados nos últimos anos, Portugal ainda está longe da paridade de géneros. A Apolónia Rodrigues passou por obstáculos relacionados com a desigualdade de género? Neste momento, parece-me que os obstáculos diretos relacionados com a desigualdade de género só começaram a perturbar o meu trabalho a partir de um determinado nível. Por trabalhar com tendências futuras os obstáculos são e sempre foram imensos, muito em parte devido ao não reconhecimento imediato da importância de determinado projeto que estava a desenvolver ou o seu tema. Mas a partir de um certo nível, ou seja, quando o projeto atinge o reconhecimento internacional ao ponto de começar a receber prémios, é percetível que os obstáculos começam a surgir quase do nada e sem razão aparente, mas também que têm um denominador comum. Afirma-se que existem diferenças, vantagens e perspetivas que aportam as mulheres em posições de liderança, trazendo ganhos efetivos às organizações. Concorda? Que caraterísticas são fundamentais para se ser um bom líder? Sempre que me fazem esta pergunta explico que tanto homens como mulheres podem ser bons líderes e usar o seu género para acrescentar mais valor pois somos diferentes na nossa maneira de pensar, agir e sentir. A diferença deve ser entendida como uma mais valia para as organizações. Um bom líder, para além das suas competências técnicas, deve ser capaz de criar empatia com as suas equipas, contribuir para um ambiente favorável ao crescimento e fortalecimento dos membros da equipa e proporcionar um ambiente interno que favoreça o respeito entre todos, a cooperação e a criatividade. Mas também deve ser o elemento capaz de, em caso de crise, garantir a coesão da sua equipa e capacidade de resposta. Aquela imagem/ ideia de que o líder sabe tudo, dá ordens, controla e trata mal as suas
equipas tem de ser eliminada das organizações, tanto públicas como privadas. Sente que hoje vivemos um período em que existe maior consciência relativamente às Mulheres e à posição que as mesmas podem ocupar no domínio da Liderança? Sim, sem dúvida, mas ainda temos um grande caminho pela frente. O ambiente ideal será aquele em que as pessoas, sejam mulheres ou homens, ascendam a lugares de liderança com base nas suas competências e não com base no seu género. O que podemos esperar de si no futuro? Quais são os grandes desideratos para 2020? Os desafios não vão ficar por aqui, mas contrariamente ao expetável os obstáculos são cada vez maiores, mas infelizmente é ainda o mundo onde vivemos. No entanto os desafios que me esperam para 2020 serão sobretudo relacionados com o crescimento do conceito Dark Sky® em Portugal, e com tudo o que está relacionado com o combate à poluição luminosa, e com o desenvolvimento da rota internacional Places of Peace. Mas haverá muitas novidades que ainda estão a ser trabalhadas e muitas ideias que estão na “gaveta” prontas para sair. ▪
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trabalhar, mas é impossível desenvolver um destino a este nível, assente num produto tão apaixonante, sem acabar por haver interesse na temática chave que neste caso é a astronomia. O maior contributo para o destino, enquanto planeadora e gestora em turismo, é conseguir pensá-lo de uma forma integrada, conjugando todas as peças e tornando-o atrativo para os mercados alvo e com valor acrescentado para a região e comunidades. Parece tudo muito direto, desprovido de emoção, tudo muito racional. Mas não é. Um destino é pensado para pessoas muito diferentes entre si e tem de ser o mais inclusivo possível. Significa que temos de entender, de “sentir”, de respeitar e de interiorizar para quem estamos a criar, o que estamos a edificar e as comunidades em que estamos a intervir. E assim nasceu o interesse por tudo o que está ligado à astronomia, astrofotografia e exploração espacial. Os meus conhecimentos destas matérias são os suficientes para o meu trabalho de criação, desenvolvimento e gestão dos destinos, os quais vou melhorando por conta da equipa qualificada que me acompanha e que nos permite chegar cada vez mais longe. A astrofotografia tem sido sem dúvida um dos temas que mais me tem fascinado, e que tem permitido dar a conhecer o Dark Sky por esse mundo fora. Felizmente tem sido possível acompanhar o astrofotógrafo Miguel Claro no seu trabalho. Confesso que às vezes fico no quentinho ou a descansar no carro porque é um trabalho duro, mas sempre que consigo estar presente dou cada vez mais valor à beleza das suas fotos e à maneira como consegue capturar a magia do céu noturno.
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“A EXCELÊNCIA SIGNIFICA AQUILO QUE ULTRAPASSA, É O IR MAIS ALÉM” Quase a realizar uma década de existência, foi edificada em 2010, a Golden Muxima Realty é hoje um player de sucesso, que assenta a base da sua atuação na qualidade, excelência e credibilidade. Quisemos saber mais e fomos conversar com Karina Cymbron de Carvalho, CEO da Golden Muxima Realty, que abordou o crescimento da marca e como a mesma assume a preocupação diária de satisfazer os seus clientes/parceiros.
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KARINA CYMBRON DE CARVALHO
uando é que foi edificada a Golden Muxima Realty e de que forma é que a marca tem vindo a perpetuar um percurso assente na excelência e na satisfação dos seus parceiros/clientes? A Golden Muxima é uma marca criada em janeiro 2010, ou seja, fará dez anos em janeiro 2020. Muxima significa ‘Coração’ na língua tradicional angolana Kimbundo, pelo que, Golden Muxima significa ‘Coração Dourado’. É uma marca idealizada por mim, em homenagem à minha avó materna nascida na Ilha de Luanda em Angola, que comprava casas para acolher as pessoas sem abrigo, e que dormiam na rua, fizesse sol ou chuva. Foi em homenagem ao coração de ouro da minha avó que atribuí o nome à empresa, que atua hoje no ramo imobiliário, e assim foi criada a marca Golden Muxima. O ser uma marca de excelência tem que ver com o quão rigorosos e exigentes somos com a própria marca. Em primeiro lugar escolhemos ser uma marca de excelência no ramo imobiliário. Sempre foi essa a nossa ambição, embora controlada e equilibrada. Decidimos trabalhar com o melhor que se possa oferecer no mercado imobiliário do luxo quer habitacional, hoteleiro, turístico e de investimento. Em segundo plano, tudo tem por base os princípios éticos e estéticos que incutimos na marca, na própria cultura empresarial da empresa, e consequentemente esperamos que os nossos clientes, parceiros, e até mesmo os nossos colaboradores, se identifiquem com esses mesmos princípios. Com base nessa fidelidade, trabalhamos afincadamente no follow-up, ou seja, no acompanhamento personalizado das necessidades dos nossos clientes e parceiros, tentando propor-lhes soluções ‘taylor made’ que sejam práticas e sustentáveis. O subterfúgio da ambição impele-me a caminhar para frente e continua a motivar-me até chegarmos aos momentos em que temos de nos reinventar. Tudo isso, tendo a certeza de não esquecermos de sermos feli-
zes, seguindo os nossos princípios, o nosso caminho, o que queremos e fazermos coisas grandes. Atingir o grau de marca de excelência é igual a atingir o horizonte e, a finalidade do mesmo não significa apenas chegar até ele, é impedirmo-nos de parar de atingir o fito. A base da ideia de excelência, para quem deseja estar no topo, é ser o horizonte e fazer com que caminhemos em direção à excelência. Portanto, as mais valias não são o lugar onde se chega, excelência é um horizonte. A Golden Muxima desde a sua génese que está empenhada em apresentar as melhores soluções e oportunidades de negócios para os seus clientes, procurando e apresentando os melhores produtos, serviços e soluções do ramo imobiliário e apresenta uma curva ascendente graças às parcerias que foram sendo conquistadas e que se mantêm e aos clientes fidedignos até à data. Contudo, a excelência não se limita à uma atuação egoísta ou única no mercado, ela pode ter uma outra perspetiva que é não nos limitarmos em permanecer na posição em que nos encontramos. Nós procuramos mais e melhor. Podemos atribuir a esse aspeto o nome de ‘Ambição’, querer mais e melhor, o qual em circunstância alguma deve ser confundido com ganância, querer só para si e a qualquer custo, ultrapassando inclusive regras éticas e morais. A excelência significa aquilo que ultrapassa, é o ir mais além. É fazer mais do que a nossa obrigação. Fazer mais do que a obrigação não é não ter recurso, não ter retorno. Fazer mais do que a obrigação é fazer mais como ponto de partida e não como ponto de chegada para satisfazer os nossos clientes e parceiros colocando em simultâneo Portugal num lugar de destaque no universo da perfeição e com um olhar apurado a setores tão distintos como o da moda, calçado, mobiliário e joalharia. Com o mercado em crescimento exponencial existem cada vez mais negócios ligados ao ramo imobiliário. Consequentemente é necessário existirem fatores diferenciadores
Acredita que o sucesso nesta área passa pela capacidade em ser genuíno e estar verdadeiramente disponível para a sua equipa e para os seus clientes? Com certeza! Uma equipa feliz e motivada será muito mais empenhada e vai querer transmitir esse mesmo empenho ao cliente, indo mais além. Vou parafrasear algo que ouvi, dito por um grande empresário brasileiro Abílio Diniz e com que me identifico plenamente. Dizia esse empresário que para se ter sucesso é preciso adotar o estado de espírito de um ‘Capitalismo consciente’, ou seja, o ter um objetivo para além do lucro. De facto, o sucesso resume-se a uma mistura de valores, seriedade ética e
compromisso com os clientes e com os membros da minha equipa, com os membros ou sócios do grupo. O lucro é o fator mais importante numa empresa. Temos de ter ganhos e muito, caso contrário não faz sentido termos empresa. Sem benefícios não temos empresa. Agora o foco é ter-se algo mais para além do lucro. Temos de ter orgulho no que fazemos, algo que nos dê satisfação e que sejamos comprometidos com todos os acionistas, parceiros, colaboradores, com todos aqueles que estão a volta da empresa. Adoto uma atitude de matriarca, olhando para todos eles, para os fornecedores, para as pessoas que trabalham dentro da empresa ou prestam serviços à empresa, para os acionistas, olho para o meio ambiente, implementando ações e estratégias de marketing focadas em ações que beneficiem o meio ambiente, que protegem o nosso planeta no modo de produção dos produtos com que trabalhamos. Temos de ter um compromisso com a própria sociedade em que nos inserimos. Tudo isso se inclui no tal capitalismo consciente. Temos o lucro em primeiro lugar, mas temos algo mais para além do lucro, alguma coisa que nos dê orgulho. Tenho por isso orgulho em participar regularmente em ações de apoio à famílias desfavorecidas, que apresentam condições habitacionais precárias em suas casas, nos bairros mais complicados e com isso ajudamos na reconstrução, reformulação de casas dessas pessoas, oferecendo melhores condições a essas pessoas para que elas vivam com dignidade, para que as suas crianças cresçam num ambiente de maior conforto e de higiene. Por tudo isso, coloco-me ao serviço da remuneração do lucro dos acionistas, mas sinto-me orgulhosa por que estou incondicionalmente comprometida com a sociedade, com o planeta e procuro fazer com que as pessoas com as quais nos envolvemos sejam pessoas felizes e satisfeitas connosco, com o nosso trabalho. Que análise perpetua do mercado imobiliário em Portugal atualmente? Quais os desideratos que pretendem atingir enquanto marca neste setor? Li recentemente um artigo de Novembro de 2016 “Portugal está falido, avisam economistas alemães” que nos diz que chegam sérios avisos a Portugal e críticas ao atual governo pela voz de dois reputados economistas, em que um defende que Portugal está ‘falido’ e que a saída do Euro poderá ser a única alternativa de salvação. Tendo hoje a concordar que para melhorarmos o cenário económi-
co do nosso país, temos de adotar outras medidas, como mais horas de trabalho, mercados de trabalho mais flexíveis, talvez uma taxa de desemprego mais alta temporariamente, conforme sugeria o ex-economista chefe do Deutsche Bank, Thomas Mayer e o mesmo criticava o fim das reformas iniciadas pelo governo de Passos Coelho, alinhado pelo discurso do ministro alemão das Finanças Wolfgang Schäuble O mercado imobiliário está de facto em plena ascensão, fruto do forte investimento estrangeiro na área habitacional, hotelaria e turismo de luxo, está inclusive em ascensão o acolhimento Airbnb, bem como alguns incentivos fiscais. Tudo isto trará enormes benefícios para a economia de Portugal. É importante que o governo veja a área do imobiliário onde se inclui a área de hotelaria e turismo, como sendo uma das áreas de maior relevância para a economia do nosso país e que nos ajudará a tornarmo-nos autónomos em tempos de crise. Somos poucos, mas somos bons naquilo que fazemos. Temos absoluta capacidade e condições para superar qualquer dificuldade, temos um dos melhores climas da Europa, somos a única capital europeia que tem Mar e de onde saíram os nossos Heróis do Mar. Não é a toa que somos considerados o País da Luz por isso somos os Lusitanos. Somos um povo de Luz. Temos uma das melhores gastronomias europeias; temos paisagens e características que propiciam o Turismo; somos um povo super acolhedor e dinâmico. Precisamos apenas de aproveitar genuinamente essas características a nosso favor e tornarmo-nos melhores a cada dia que passa. Sermos amanhã melhores do que fomos hoje. Façamos o mais para benefício de todos. Quem é Karina Cymbron de Carvalho? O que a inspira e motiva diariamente? Nasci em Angola, em Luanda em 1977. Meu bisavô materno, Augusto Cymbron Borges de Sousa, nascido em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, nos Açores, licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra, foi um médico dedicado à sua carreira tendo sido médico na Corte que assistia o Rei D. Carlos. O seu filho, Augusto de Chaves Cymbron Borges de Sousa, meu avô materno, nascido na Figueira da Foz, foi um engenheiro electrotécnico que foi fundar a Companhia Portuguesa de Rádio Marconi S.A., em Luanda nos anos 40, onde conheceu a minha avó angolana. Foi posteriormente Director da Companhia Portuguesa de Rádio Marconi em Ponta Delgada de 1953 a 1966. Foi inclusive Professor de Electrotecnia no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa de 1967 a1977.
Tive uma formação católica e fiz os meus estudos primários no Colégio São José do Cluny em Luanda, antigo colégio de freiras, onde também tinha estudado a minha mãe na altura em que era ainda um colégio interno. Em 1989 mudei-me com a minha mãe para Bona, antiga capital da Alemanha Federal onde ela cumpriu a primeira missão da sua carreira diplomática para o Estado angolano, e foi lá onde concluí os meus estudos secundários num liceu britânico (British High School, Bonn), hoje BIS (Bonn International School). Mudei-me posteriormente para Paris em 1994 onde vivi até 2006 com o meu Pai, militar de carreira, que estava gravemente doente. E foi em Paris que concluí toda a formação universitária, Bacharel em Direito pela Universidade Paris X Nanterre e Diplomada em Comércio Internacional pela segunda melhor (Grande École de Commerce) em França seguindo a HEC, a ESSEC Business School. Fui contratada logo de seguida à conclusão do diploma em Comércio Internacional por uma empresa do ramo da alta engenharia para-petrolífera norueguesa a Stolt Offshore hoje mais conhecida por Subsea 7, onde trabalhei durante 3 anos. Não era meu objectivo viver definitivamente em França, pelo que decidi então viver em Portugal e aqui retomar os estudos de Direito, em 2006. Trabalhei durante 4 anos no escritório de advogados Miranda Correia Amendoeira & Associados, onde tive o privilégio de contar com dois grandes mentores, o Dr. João Afonso Fialho e o Dr. Rui Amendoeira, ambos ‘Partners’ daquele escritório e excelentes advogados, enquanto frequentava a faculdade de Direito da Universidade Católica. Entretanto concluí recentemente uma formação para executivos em Gestão de Turismo (PAGETUR) na Católica Lisbon School of Business & Economics por considerar uma formação útil tendo em conta as características do mercado imobiliário actual. Foi uma formação coordenada pelos Professores Drs. Pedro Celeste e Nuno Fazenda e leccionada por Professores de excelência, que é característica inegável da Universidade Católica Portuguesa, e por profissionais de grande relevo na área do Turismo. Recomendo vivamente essa formação, que é um complemento profícuo para o ramo do imobiliário em hotelaria e turismo. Continuo a frequentar a faculdade de Direito da Universidade Católica de modo a completar os módulos que me faltam para concluir o grau de licenciatura em Direito em Portugal. A escolha de continuar os estudos de Direito aqui em Portugal foi natural, por ser o local onde resido definitivamente e pretendo crescer empresarialmente e contribuir de forma assertiva no ramo imobiliário. São
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e diretrizes que levem uma imobiliária a conseguir fazer a diferença no mercado. Quais são os vossos? O ser empreendedor(a) num mundo competitivo implica conseguir fazer alguma coisa que realmente faça a diferença e traga alguma contribuição no mercado. Trabalhamos apenas com o topo da pirâmide. O mercado do luxo é o nosso principal e único foco. E de modo a destacarmo-nos no seio da competitividade, propomo-nos trabalhar com produtos e marcas de alto luxo que sejam exclusivas no nosso mercado. A exclusividade, a originalidade, a garantia de qualidade dos produtos, o atendimento profissional altamente personalizado em todo o percurso, desde a conceção à manutenção do investimento, são as principais diretrizes com que trabalhamos e que propomos como fatores diferenciadores num mercado competitivo e em crescimento. Não somos mediadores imobiliários nem pretendemos funcionar como tal. Participamos em fundos de investimento imobiliário em vários países; compramos oportunidades de investimento imobiliário; construímos de raiz ou restauramos os imóveis para revenda. A seleção dos imóveis, oportunidades de investimento imobiliário, não se cinge à quantidade, mas sim na grande qualidade dos produtos, nomeadamente na aplicação de materiais de construção de qualidade superior, inovação e design. No âmbito do processo de reformulação e revenda de imóveis, propomos ainda a consultoria em arquitetura de interiores e exteriores, onde se juntam os nossos parceiros com suas marcas de grande qualidade e exclusividade. Estamos aliás neste momento a negociar a representação para Portugal de uma marca de mobiliário de luxo italiana muito conhecida, e essa é também uma das nossas caraterísticas de reinvenção, o que nos permite mais uma vez fazer a diferença no mercado.
PONTOS DE VISTA NO FEMININO características que me acompanham ao logo da minha experiência como empresária, a humildade, a ambição e a disciplina. Estou em permanente competição comigo mesma, à procura da melhoria constante, seja a nível pessoal, seja a nível profissional, pois estão interligados. Sou uma mulher empreendedora que quer deixar a sua marca no sector imobiliário, ajudando os nossos clientes a alcançar os seus grandes sonhos, muito embora não seja o único ramo em que coloco na prática essas características. Em termos associativos, sou membro fundadora da Federação Angolana de Desportos Motorizados, FADM, onde cumulava durante 5 anos a função de Presidente do Conselho Disciplinar com a Direcção do Departamento Jurídico & Relações Internacionais. Participo enquanto coordenadora de uma associação de profissionais liberais executivas, a Simples Assim, cujo objecto é o intercâmbio de ideias, networking e informações entre profissionais das mesmas áreas. Fazem hoje parte dessa Associação, 152 sócias, provenientes de vários países: Brasil, Estados Unidos, Portugal, Alemanha, Reino Unido, Espanha, França, Suíça e China. Detenho para além da GOLDEN MUXIMA duas outras empresas, uma no ramo do Marketing & Comunicação, XIIKS, e outra no ramo da Engenharia Ambiental, Clean Energy & IT, TECHLOG SOLUTIONS. Existem cada vez mais casos de sucesso de mulheres de negócios e empreendedoras. Mas, na sua opinião, o caminho ainda continua a ser bastante dificultado para as mulheres ascenderem a cargos de topo?
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De maneira alguma! Atualmente grandes executivas, Presidentes de empresas são mulheres. Nós estamos num mundo cada vez mais equilibrado nesse aspecto e nalgumas áreas já é dominado economicamente pelas mulheres. Há cada vez mais mulheres que assumem a liderança enquanto Presidentes de grandes empresas, vindo-se a destacar em todas as áreas e em todas as categorias. Elas inventam produtos, desde as novas tecnologias à medicina, portanto não considero nada de transcendente o facto de haver cada vez mais mulheres a ascenderem a cargos de liderança, muito menos considero que tem sido dificultado o caminho para elas. Estamos numa época em que Marte e Vénus aprendem a conviver quando se trata de criar valor para a sociedade. Já na mitologia romana, Marte tinha amor à deusa Vénus e com ela teve um filho, o Cupido e uma filha, a Harmonia. Desde logo é uma combinação perfeitamente harmónica. Há que atender às qualidades de
trei nenhum preconceito, nem homens machistas. Aliás as reuniões tendem a ser bem mais produtivas e estruturantes quando ambos trabalham com um foco, com objectivos bem definidos. O grande prazer que retiro do brainstorming e das reuniões, são os resultados concretos. A minha credibilidade, a confiança que transmito é o meu cartão de visita. O cartão de visita é acreditar no que faço e isso transmite confiança aos meus clientes, por isso a minha trajectória não teve entraves motivados pelo facto de ser mulher.
cada um e retirar o melhor partido de cada um. São as características pessoais dos líderes que devem ser privilegiadas e não o sexo feminino ou masculino de um líder. Julgo que temos vindo a melhorar bastante essa mentalidade da distinção de géneros quando se fala em liderança. Antigamente as mulheres eram de facto penalizadas por terem filhos e ainda são de certa forma desvalorizadas, o que é francamente antiquado. Cada vez há mais mulheres a dar cartas no mundo empresarial e não posso deixar de referir que nalgumas situações persiste ainda, diria eu, uma ‘deselegância da diferença salarial’, que infelizmente ainda se faz sentir nalguns sectores, quando na realidade muitas mulheres acabam por se superar perante os homens. Elas têm atualmente uma capacidade evoluída, como consequência das novas exigências da sociedade, exigências por vezes até demasiado tecnológicas para o meu gosto. Muito se tem falado nos estilos de liderança e nas diferenças entre a liderança feminina e masculina. Uma é melhor do que a outra? Qual é a sua opinião sobre as mulheres líderes e/ou empreendedoras? Não se trata de um estilo de liderança ser melhor do que o outro. Trata-se sim de líderes que cativam e influenciam. A priori, no mundo empresarial em particular, liderança é sinónimo de influência, logo liderar é influenciar. E para se conseguir influenciar as pessoas é preciso cativar as pessoas de modo que se alcance o coração dessas pessoas. É preciso conquistar o coração dessas pessoas para que se consiga ter uma boa influência sobre elas. A mulher tem mais intuição e faz uma leitura mais rápida do panorama, do comportamento humano, chama-se a isso instinto feminino, elas têm liderança, têm uma capaci-
dade inata de gerir e formar grupos de trabalho e liderar sem conflitos. Têm a capacidade de ter uma visão mais abrangente face a um determinado problema, a capacidade de pensar nos outros que as rodeiam e nos stakeholders em geral e não tanto de se focar unicamente no problema. Julgo que os homens têm um foco mais profundo sobre os temas e nós mulheres temos a capacidade intuitiva de avaliar os temas de forma mais abrangente. A nossa agenda acaba por ser uma agenda talvez mais preenchida, não é uma agenda tão individual tão focalizada unicamente nos nossos objectivos. Como é, nos dias que correm, ser uma Mulher Líder e Empreendedora? É desafiante, mas é maravilhoso! A título pessoal consigo administrar a minha vida pessoal e profissional e a minha vida de contribuição e solidariedade. Ser empreendedora é ter influência sobre as pessoas, mas isso exige de nós determinadas características, nomeadamente o saber conciliar um sem número de tarefas; ser acessível; as pessoas precisam ter fácil acesso ao nosso contacto como empresárias, ainda que isso represente ter uma assistente pessoal. Observo que normalmente as pessoas tornam-se por vezes mais exigentes perante uma mulher empreendedora. Espera-se que se faça tudo pelos outros e isso poderá desmotivar de várias maneiras e é por isso que sentimos com frequência que somos obrigadas a provar a nossa real capacidade enquanto empreendedoras. Quais foram ou são as grandes dificuldades que sente ao longo deste trajeto? Ser Mulher foi, em algum momento, um fator impeditivo para ir mais além? Não, de modo algum. Nunca encon-
Atualmente, sente que hoje é mais fácil ser uma Mulher no universo dos negócios? Quais são as caraterísticas que um verdadeiro líder deve ter e como se define como Líder? Obviamente que sim e muito mais do que no tempo da geração dos meus pais. Num mundo cada vez mais competitivo, quando o assunto é trabalho e reconhecimento quem realmente pratica a verdadeira liderança tende a ganhar destaque, destacando-se da concorrência. Liderança resume-se na habilidade de conduzir um grupo e de motivá-lo a colaborar de maneira voluntária. Um bom líder consegue despertar nas pessoas a vontade de fazer a diferença. De qualquer maneira a função da liderança é conseguir criar um ambiente em que as pessoas tenham bom resultado, satisfação e empenho. A importância da liderança no universo corporativo passa sobretudo por tornar o ambiente organizacional mais saudável e agradável para todos. Não é necessário usar fato e gravata para comandar uma grande empresa. Isso já está provado. Um(a) líder autoritário(a) toma decisões por conta própria e não consulta os seus subordinados; como líder democrática, abro discussões com o meu grupo, ouço opiniões. Considero-me uma líder democrática. Fazer brainstorming com os meus colaboradores, assessores e parceiros é sempre estimulante. Retiram-se dali várias ideias e estratégias. Nunca é monótono cogitar sobre diversos temas. Tenho sempre um plano de acção e faço sempre um ‘assessment’ para de seguida surpreender os clientes com informações privilegiadas. Nunca estou preocupada com a concorrência, porque é um jogo de xadrez constante. O meu cliente é que me motiva e move o meu negócio, a satisfação do meu cliente faz com que eu busque o tipo de imóveis que vai satisfazê-lo, que corresponde aos seus desejos e sonhos. Cliente satisfeito é sinonimo de lucro e de mais clientes. E pergunto-me sempre onde poderei fazer melhor e diferente. Esta é a minha marca. ▪
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“O PAPEL DA ADVOCACIA É CADA VEZ MAIS IMPORTANTE” Alexandra Bordalo Gonçalves, Advogada na “Bordalo Gonçalves e Associados”, eleita Presidente do Conselho de Deontologia de Lisboa para 2020-2022, revela, em entrevista à Revista Pontos de Vista, um pouco sobre a atualidade da justiça e do direito em Portugal e assume que temos de mudar mentalidades, pois “tem-se vindo a criar e a divulgar uma convicção generalizada da desnecessidade de advogado”.
É
advogada, com experiência na área empresarial. Que verdadeiros desafios enfrenta atualmente com a sua profissão? Antes de mais não trabalho apenas na área empresarial, mas também com clientes individuais. Tendo uma pequena sociedade é possível partilhar experiência e conhecimento e assim abranger mais áreas do Direito. É um desafio advogar para pessoas singulares e mesmo para empresas face aos elevadíssimos custos da justiça. As taxas são a primeira provisão do cliente, o qual tem, não raras vezes, de poupar ou pedir emprestado para a taxa. Há uma manifesta dissuasão de acesso à justiça e aos tribunais devido às taxas de justiça!
Como assim? Os que trabalham sozinhos são desafiados nas suas competências perante o elevado número de áreas do direito, nas deslocações para os tribunais, na dificuldade tecnológica face ao número absurdo de plataformas desconectadas entre si, e tudo isto na solidão da prática isolada. Os advogados de empresa lidam com o peso da subordinação jurídica e económica perante o seu principal, ou único, cliente. Os advogados em parceria ou sociedade têm de lidar com concorrência interna, com questões complexas de conflito de interesses e incompatibilidades. Os advogados que também actuam no âmbito do SADT lidam com um constante rótulo de incompetência no exercício do patrocínio. Some-se a tudo isto a concorrência com os advogados de outros países. Do que tem observado, quais são as piores práticas que muitas vezes são exercidas na advocacia?
ALEXANDRA BORDALO GONÇALVES
Não creio que exista um conjunto de piores práticas, o que existe são situações pontuais de más práticas de alguns. Foi candidata à Presidência do Conselho de Deontologia de Lisboa Triénio para 20202022, tendo ganho as eleições. Que desafios se enfrentam quando se toma uma iniciativa destas? O desafio é fazer melhor. Prosseguir o que está bem, melhorando-o se possível e fazer melhor. No caso do Conselho de Deontologia de Lisboa, aquele que tem sob a sua competência maior número de advogados, a questão é a gestão de oito queixas diárias, a triagem das mesmas, e a necessidade de imprimir celeridade aos processos. Neste sentido, quais são as suas estratégias? Organizar, triar, tratar como urgentes alguns processos, as idoneidades por exemplo, e chamar a colaborar todos os intervenientes, de forma a que a tramitação seja mais expedita, pois a justiça para ser justa tem de ser célere. E comunicar. O que pretende com a comunicação? A competência dos Conselhos de Deontologia é o exercício da ação disciplinar, instauração, instrução de processos disciplinares, aplicação de sanções, bem como o arquivamento de processos quando se conclui inexistir infração. Mas é possível e necessário comunicar. Comunicar
as informações respeitantes à estatística, às pendências, o tipo de infracções, tornar pública a jurisprudência do Conselho. Dar a conhecer as dificuldades da tramitação e explicar a necessidade de alteração do Estatuto. Só assim é possível à Advocacia ter a verdadeira percepção dos Conselhos de Deontologia. ▪ 99
OLHANDO PARA O PANORAMA ATUAL DO PAÍS, QUE PAPEL ASSUME A ADVOCACIA EM PORTUGAL? O papel da advocacia é cada vez mais importante. Vivemos numa sociedade em que a existência de direitos nos é intrínseca e imanente, porém há muita dificuldade em aceder aos direitos, em fazê-los concretizar. Nesta sociedade de informação galopante e imparável a desinformação é assustadora. Cada vez mais a consulta ao advogado deve tornar-se num hábito, numa rotina. Atenta a quantidade constante de legislação, de requisitos e imposições legais, o recurso ao advogado impõe-se e não apenas quando os problemas surgem, mas também de forma preventiva, prévia ao assinar do contrato, ao início das obras, à aceitação de propostas.
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E para além do elevado custo da justiça? Tem-se vindo a criar e a divulgar uma convicção generalizada da desnecessidade de advogado. Porque são caros, porque são dispensáveis. Acrescido das competências subtraídas, com os vários balcões de self-service para divórcios, partilhas, empresas, entre outros, em que tudo funciona com base em minutas inalteráveis que, supostamente, servem para todos os casos. E não servem! Há ainda um movimento de diminuição da esfera do advogado, para os contabilistas, os solicitadores, os notários o que é um problema para a manutenção na profissão de muitos, mas também é fator de insegurança para o cidadão, visto que não é inédito que venho depois a precisar de advogado… e com menos probabilidade de sucesso. Há, ainda, desafios específicos, conforme o modo de exercício da advocacia.
PODEM COPIAR AS NOSSAS IDEIAS, MAS O TALENTO...
JAMAIS!
www.pontosdevista.pt