Revista Pontos de Vista Edição 84

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Publicação da responsabilidade editorial e comercial da empresa Horizonte de Palavras Edições, Lda. MAIO 2019 | EDIÇÃO Nº 84 - Periodicidade Mensal | Venda por Assinatura - 4 Euros

SOLANGE ROCHA

CENTROS COMERCIAIS E RETALHO EM ANGOLA EM DESTAQUE NA EDIÇÃO DE JUNHO

FUNDOU A PRIMEIRA AGÊNCIA MIGRATÓRIA EM PORTUGAL, A EI! CONHEÇA UM NEGÓCIO QUE NÃO EXISTIA EM PORTUGAL ATÉ À DATA

FOTO: ALMA ANG

GILDA PEREIRA


PONTOS DE VISTA

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MAIO 2019

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» ELEIÇÕES EUROPEIAS – 26 DE MAIO

ELEIÇÕES EUROPEIAS: PORQUÊ VOTAR? O PARLAMENTO EUROPEU NA NOSSA VIDA

A 26 DE MAIO, NAS ELEIÇÕES EUROPEIAS, OS PORTUGUESES ESCOLHEM OS SEUS 21 REPRESENTANTES NO PARLAMENTO EUROPEU

O PONTOS DE VISTA

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fim do roaming e a redução do uso de plástico, os limites nas taxas dos cartões bancários ou a internet gratuita nos locais públicos. Estes são apenas alguns exemplos de decisões tomadas pelo Parlamento Europeu (PE) nos últimos cinco anos com impacto positivo na vida dos cidadãos. As Eleições Europeias são a 26 de maio. Vale a pena votar? Durante a última legislatura, desde 2014, os eurodeputados aprovaram, em Bruxelas e em Estrasburgo, quase 1000 leis europeias com impacto no nosso dia a dia. A 26 de maio, nas Eleições Europeias, os portugueses escolhem os seus 21 representantes para os próximos cinco anos, que irão continuar este trabalho. Viajar sem pagar roaming Em 2017, o Parlamento Europeu deu o último passo para o fim do roaming, permitindo aos cidadãos que viajam na União Europeia (UE) pagarem o mesmo preço pelas chamadas telefónicas, mensagens e dados móveis de internet do tarifário no seu país. Também em benefício da “carteira” dos cidadãos, a UE impôs limites nas taxas cobradas por pagamentos com cartões de débito e crédito, permitindo assim fazer pagamentos sem gastos. Além disso, os pagamentos online - seja de viagens, compras ou qualquer produto -, tornaram-se mais seguros graças à UE, protegendo assim os direitos dos consumidores na Internet. Não ao plástico, sim ao ambiente Na área do ambiente, o PE aprovou importantes decisões, procurando assegurar um mundo sustentável para as próximas gerações. A redução do uso de sacos de plástico é uma legislação europeia de sucesso, que foi recentemente complementada com as restrições nos plásticos descartáveis como pratos, talheres, cotonetes e palhinhas, que representam cerca de 70% do lixo marinho. Os eurodeputados avançaram ainda na legislação de promoção de energias renováveis e eficiência energética, da redução da emissão

de CO2 e de combate às alterações climáticas. Em 2018, o Parlamento Europeu aprovou a mobilização de 50,6 milhões de euros do Fundo de Solidariedade da União Europeia para ajudar Portugal na sequência dos incêndios florestais que assolaram o país. E apostou no reforço do Mecanismo Europeu de Proteção Civil para prevenir novas catástrofes. O QUE A EUROPA FAZ POR MIM Estes são exemplos concretos de legislação aprovada nos últimos anos com impacto na vida das pessoas. Mas a UE está presente nas nossas vidas em muitos aspetos e nem sempre damos conta. Por isso, o Parlamento Europeu criou uma página na internet – www.o-que-a-Europa-faz-por-mim.eu –, que está também disponível em formato de aplicação para telemóvel (Citizens’ App), onde os utilizadores podem consultar exemplos de projetos financiados pela UE na sua região ou ler sobre o que a Europa faz por si em várias áreas – por exemplo, enquanto pais, trabalhadores, viajantes ou até amantes de vinho ou chocolate. DESTA VEZ EU VOTO Nas últimas Eleições Europeias, votaram apenas 33,7% dos eleitores portugueses (apenas 18% entre os mais jovens), pelo que o PE decidiu lançar uma plataforma - www.destavezeuvoto.eu - para criar uma comunidade de cidadãos interessados no projeto europeu. Procurando reduzir a abstenção, o PE incentiva todos os cidadãos não apenas a irem votar, como a convencerem os seus amigos, famílias e comunidades a irem também às urnas. A plataforma já tem mais de 271 mil inscritos, que recebem informações regulares sobre a UE, e 24 mil voluntários que realizam eventos e ações de divulgação das Eleições. ▪


FICHA TÉCNICA

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DIRETOR: Jorge Antunes

ÍNDICE DE TEMAS

EDITOR: Ricardo Andrade Rua Rei Ramiro 870, 2º J 4400 – 281 Vila Nova de Gaia PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS: Ana Rita Silva | Elisabete Teixeira PAGINAÇÃO: MÓNICA FONSECA GESTÃO DE COMUNICAÇÃO: João Soares | Miguel Beirão | Vítor Santos | Ana Carolina Durante FOTOGRAFIA: Diana Quintela - www.dianaquintela.com Rui Bandeira - www.ruibandeirafotografia.com Assinaturas Para assinar ligue +351 22 092 68 79 ou envie o seu pedido para Autor Horizonte de Palavras – Edições Unipessoal, Lda Rua Rei Ramiro 870, 2º J, 4400 - 281 Vila Nova de Gaia E-mail: assinaturas@pontosdevista.pt

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JÁ OUVIU FALAR DE BUILDING INFORMATION MODELLING (BIM),

6 A 9 O NOVO MODELO QUE ESTÁ A REVOLUCIONAR O SETOR DA CONSTRUÇÃO? VENHA CONHECER

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FRANCISCO RIBEIRO TELLES, SECRETÁRIO EXECUTIVO DA CPLP, E

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DS SMITH, DESDE 2016 EM PORTUGAL, É HOJE LÍDER DE

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SOFIA BRAZÃO, RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS

10 A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

28 E 29 MERCADO NO SETOR DO PACKAGING

Preço de capa:

4,00 euros (iva incluído a 6%) Assinatura anual (11 edições): Portugal: 40 euros (iva incluído a 6%), Europa: 65 euros Resto do Mundo: 60 euros

Os artigos nesta publicação são da responsabilidade dos seus autores e não expressam necessariamente a opinião do editor. Reservados todos os direitos, proibida a reprodução, total ou parcial, seja por fotocópia ou por qualquer outro processo, sem prévia autorização do editor. A paginação é efetuada de acordo com os interesses editoriais e técnicos da revista, exceto nos anúncios com a localização obrigatória paga. O editor não se responsabiliza pelas inserções com erros, lapsos ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes. Quaisquer erros ou omissões nos conteúdos, não são da responsabilidade do editor. Editorial A Revista Pontos de Vista apresenta-se como uma publicação editada pela empresa de comunicação empresarial Horizonte de Palavras, sendo de frequência mensal, assume-se como um meio de comunicação que pretende elevar as potencialidades do tecido empresarial em Portugal. Assumimos o compromisso de promover paradigmas práticos e autênticos do que de melhor existe em Portugal, contribuindo decisivamente para a sua vasta difusão.

30 E 31 PORTUGAL & DISTRIBUIDORES DO LESTE DA EUROPA NA GILEAD SCIENCES, EM ENTREVISTA

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DIA EUROPEU DO MAR 2019 - LISBOA ACOLHEU UM DOS

42 E 43 MAIORES EVENTOS MUNDIAIS SOBRE O MAR

5 MAIO 2019

Propriedade, Administração e Autor Publicação da responsabilidade editorial e comercial da empresa Horizonte de Palavras Edições, Lda.


» BIM - BUILDING INFORMATION MODELLING

“O TRABALHO COLABORATIVO É UMA VANTAGEM INTRÍNSECA DO BIM” Já ouviu falar de Building Information Modelling (BIM), o novo modelo que está a revolucionar o setor da construção? Laura Esteves, Engenheira Civil e Responsável pela implementação do BIM, na Teixeira Duarte – Engenharia e Construções, S.A., explica-lhe tudo.

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e forma a contextualizar o nosso leitor, o que é o Building Information Modelling (BIM)? O BIM é uma abordagem tecnológica inovadora que está a revolucionar o setor da Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC). Consiste em replicar a edificação num modelo digital 3D que centraliza toda a informação – arquitetura, estrutura, redes de água, eletricidade, instalações mecânicas, etc. Esta inovação permite, pela primeira vez, manter a informação atualizada e acessível, simultaneamente, a todos os participantes no processo (donos de obra, projetistas, empreiteiros, gestores de exploração) e em todas as fases de vida de uma edificação: desde o início do projeto ao planeamento da obra, construção, operação e manutenção.

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A que desafios vem responder o BIM e, sobretudo, porque se tornou crucial na Indústria da Arquitetura, Engenharia e Construção? O imperativo da evolução BIM nasce dos avanços tecnológicos dos últimos anos, de uma maior competição do mercado, das crescentes exigências dos Donos de Obra e das imposições da legislação. De facto, as metodologias tradicionais vão deixando de dar resposta adequada à evolução do setor; a construção baseia-se ainda em projetos de especialidade distintos, desenvolvidos por entidades diferentes, sequenciais, pouco colaborativos e integrados, e que facilmente apresentam indicações divergentes. Exemplificando, é frequente surgirem incompatibilidades entre estrutura (pilares, vigas) e instalações (canalizações, ar condicionado, etc.). A integração de toda a informação é uma etapa imprescindível no final do projeto, implicando um considerável consumo de tempo e recursos, e não dispensa a compatibilização dos projetos durante a construção. A metodologia BIM ultrapassa estes condicionalismos. Recorrendo a softwares interoperacionais e complementares, atuando em processos controlados, possibilita o desenvolvimento sincronizado das várias especialidades, com deteção automática de incompatibilidades (clash-detection), permitindo a rentabilização dos recursos, a redução dos imprevistos e consequentes aumentos de custos e prazos. O impacto desta metodologia estende-se muito para além da conclusão da obra. O projeto e a construção significam apenas 20% do custo total da vida do edifício, enquanto a sua exploração e manutenção atingem 80%. Um projeto BIM proporciona uma gestão centralizada eficaz, com efetiva redução dos custos de operação. Estas vantagens tornam a adoção do BIM uma tendência generalizada e uma exigência cres-

cente de Donos de Obra, particularmente em mercados internacionais. A par dos edifícios eficientes, o trabalho colaborativo é também o foco do BIM. Mas que outras vantagens ou mais-valias, igualmente fulcrais, apresenta o BIM? O trabalho colaborativo é uma vantagem intrínseca do BIM, pois permite o envolvimento de diversas entidades, ainda que geograficamente

LAURA ESTEVES

dispersas, no projeto; uma mais-valia significativa num mundo cada vez mais especializado e global. Contudo, a característica fundamental e diferenciadora da metodologia BIM é a centralização de toda a informação num modelo único, validado e em permanente conexão, que abrange todos os intervenientes em todas as fases da vida de uma edificação. Este modelo fornece acesso seguro a informação atualizada, melhorando a comunicação e gerando uma dinâmica de distribuição de tarefas por equipas altamente especializadas, partilha de experiências, deteção de conflitos e resolução de problemas, que conduz a uma maior eficácia do processo e promove a obtenção de projetos mais funcionais e sustentáveis, com economia de meios. A utilização de objetos paramétricos/inteligentes, que possuem uma geometria 3D associada a propriedades (modelos, números de série, datas de validade, etc.) e regras específicas, incrementa a automatização e permite a disponibilização de informações essenciais. Atinge-se, assim, uma otimização da produção - por ex., as peças desenhadas são geradas automaticamente, libertando as equipas para tarefas mais especializadas; a extração de quantidades é possível em qualquer momento; a análise das atividades no espaço e no tempo, face às necessidades de enquadramento, equipamento e aprovisionamento, possibilita uma gestão de obra mais eficaz. Qual será o futuro do BIM e, principalmente, dos setores onde opera?


Com a experiência de quase um século, de que forma a Teixeira Duarte tem respondido aos desafios da transformação digital na construção? A Teixeira Duarte, enquanto empresa empenhada na inovação tecnológica, procurou desde sempre integrar as metodologias mais avançadas para garantir a qualidade do seu processo de produção. A evolução para a digitalização não constituiu exceção, tendo-se consolidado na implementação do BIM a partir de 2016, com a formação específica das equipas, a conceção de procedimentos, o desenvolvimento de projetos e divulgação. Entre os trabalhos executados pela empresa nesta metodologia contam-se obras públicas e privadas, hospitais, estruturas marítimas e rodoviárias, em diversos países. Como reconhecimento da sua atividade nesta área, a Teixeira Duarte foi distinguida com o 1º lugar no Prémio de Excelência BIM 2017 na categoria de “Construção e Coordenação”, promovido pela Comissão Técnica BIM Portuguesa (CT 197 – BIM). Fundada em Portugal, a Teixeira Duarte –

A característica fundamental e diferenciadora da metodologia BIM é a centralização de toda a informação num modelo único, validado e em permanente conexão, que abrange todos os intervenientes em todas as fases da vida de uma edificação

Engenharia e Construções, S.A. atua atualmente em que mercados internacionais? A Teixeira Duarte - Engenharia e Construções, S.A. é uma empresa portuguesa constituída em 1934 com uma estrutura e experiência que remontam ao início de atividade do seu fundador, Eng.º Ricardo Esquível Teixeira Duarte, em 1921. Atua nas áreas de Geotecnia e Fundações, Reabilitação, Obras Marítimas, Edificações, Infraestruturas, Metalomecânica, Obras Subterrâneas e Obras Ferroviárias, com um total de cerca de 4.000 colaboradores. Para além de Portugal, a empresa está presente em 16 países: Angola, Argélia, Brasil, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos da América, França, Gabão, Koweit, Macau, Marrocos, Moçambique, Peru, Reino Unido e Venezuela.

Pioneira na construção e com uma reconhecida capacidade na conceção, inovação, construção e gestão de grandes projetos e empreendimentos, a Teixeira Duarte está a dois anos de festejar o centenário. São cem anos de Teixeira Duarte, são cem anos de…? … cem anos de Engenho, Verdade e Compromisso, valores estruturantes na conduta dos colaboradores da Teixeira Duarte e que têm permitido à empresa cumprir a sua missão: Fazer, contribuindo para a construção de um mundo melhor. Qual a importância da Construção no Grupo Teixeira Duarte? A Construção é a génese e a base do Grupo Teixeira Duarte, sendo a Teixeira Duarte – Engenharia e Construções, S.A. a empresa do Grupo de referência neste setor. Para além da Teixeira Duarte - Engenharia e Construções existem outras sociedades participadas que operam em áreas específicas, nomeadamente nas obras subterrâneas e ferroviárias. O constante e sustentado crescimento desta atividade dotaram a Teixeira Duarte de uma capacidade empresarial forte, com meios e recursos que lhe permitiram múltiplos processos de internacionalização e a diversificação da sua atividade a outros setores. Hoje, para além da construção, o grupo atua nas concessões e serviços, imobiliária, hotelaria, distribuição e automóvel, operando em 19 países, em quatro continentes, com a colaboração de mais de 11.000 colaboradores. Em termos consolidados, a construção representou, em 2018, 58% do volume de negócios do grupo, tendo a atividade desenvolvida nos mercados externos um peso de 73%. Em termos não consolidados, acrescenta-se que os proveitos operacionais alcançados pelas empresas do grupo no setor da construção em 2018 atingiram o valor global de 636.061 milhares de euros, um aumento de 4,5% face a 2017. ▪

7 MAIO 2019

O setor AEC é uma das indústrias menos eficientes da atualidade: a maioria dos processos não está automatizada e a generalidade das edificações é um protótipo sem replicação. Numa época em que a gestão de recursos é imperativa, a estandardização inteligente do setor é essencial para garantir a otimização da produção com aumento da qualidade e segurança. O BIM será certamente protagonista neste cenário. A sua poderosa capacidade de simulação de cenários diversos, de alcançar as soluções mais vantajosas, já a tornam na metodologia state-of-the-art para o setor AEC. As possibilidades de gestão centralizada das construções, através da integração de equipamentos inteligentes, tornarão o BIM na pedra basilar da transformação digital do setor.


» BIM - BUILDING INFORMATION MODELLING OPINIÃO DE JOSÉ OLIVEIRA, FUNDADOR DA DIROOTS ESPECIALISTA EM BIM

DESMISTIFICAÇÃO DO BIM Building Information Modeling (BIM) é uma sigla popular nas indústrias de design, construção, gestão de instalações e fabricação. Apesar da popularidade do termo, o conceito ainda não é totalmente compreendido, visto que o BIM é principalmente uma metodologia e não uma nova forma de modelagem 3D. tor de vários livros acerca do BIM gosta de dizer (Randy Deutsch): 10% do BIM baseia-se em tecnologia e 90% baseia-se em processos. Portanto, a perceção geral do conceito está errada, visto que grande parte considera que 90% é tecnologia e 10% é metodologia. Em Portugal, esta perceção errada do BIM é um cenário real. O crescimento global do BIM começou em 2011, quando o Reino Unido decidiu implementar o BIM nos seus projetos superiores a cinco milhões de libras. No Reino Unido, a implementação do BIM proposta é definida por nove pilares que começaram a ser definidos desde 2011 e estão em constante evolução. No entanto, a documentação produzida até ao momento define vagamente os processos que devem ser executados e carece do lado prático da estruturação e organização do desenvolvimento do modelo digital, que é uma parte importante do processo.

AS VANTAGENS E OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO BIM

PERFIL

JOSÉ OLIVEIRA

FUNDADOR DA DIROOTS ESPECIALISTA EM BIM

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e facto, o setor académico e a indústria têm várias interpretações do conceito de BIM: alguns definem o BIM como um software; outros, como um processo para projetar e documentar informações relativas à construção; e outros, como uma abordagem totalmente nova para a prática e o avanço da indústria, o que requer a implementação de novas políticas, contratos e relacionamentos entre os diversos stakeholders. Essencialmente, como um velho amigo e au-

São inúmeros benefícios associados direta ou indiretamente ao BIM e, com base na minha experiência, o BIM tem um impacto positivo em todas as fases do ciclo de vida de um projeto, podendo melhorar a capacidade colaborativa das equipas e usar ferramentas inovadoras, desde a pré-fabricação até à criação de modelos virtuais no terreno e minimizar o desperdício decorrente dos processos tradicionais. De facto, acredito que são os empreiteiros e os clientes que podem beneficiar mais de uma correta implementação do BIM, porque: 1. O projeto pode ser facilmente compreendido e revisto ajudando a garantir a sua precisão e integridade. 2. As alternativas podem ser visualizadas e avaliadas em termos de custos e outros parâmetros do projeto. 3. Podem ser facilmente realizadas análises de sustentabilidade e cálculos para a otimização de espaços e quantidade de materiais utilizados.

4. Pode ainda ser incluída informação relevante para a fase de pós-construção, como por exemplo, toda a documentação relativa à operação e manutenção das estruturas e equipamentos, necessária à estratégia de gestão das instalações. A plataforma colaborativa (CDE) é uma das principais bases BIM Nível 2, do Reino Unido. É uma plataforma colaborativa conhecida como a única fonte de informação usada para coletar, gerir e partilhar documentação, modelos gráficos e dados não-gráficos entre as equipas dos projetos. Esta centralização da informação facilita a colaboração e ajuda a evitar duplicações e erros. Os dados relacionados ao projeto são, sem dúvida, o aspeto mais importante de todo o ciclo de vida do BIM. É amplamente reconhecido que, dado um período de 30 anos, o custo de projeto e construção de um edifício constitui aproximadamente 20% do custo total e os restantes 80% dizem respeito à operação e manutenção.

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL OS PRÓXIMOS PASSOS

As tecnologias digitais permitem que todos os envolvidos no projeto tomem decisões inteligentes, em estágios críticos, aumentando assim a produtividade e a eficiência. Não existe uma solução tecnológica única para desenvolver, coordenar e partilhar os dados necessários em qualquer projeto. Para alcançar os resultados esperados é, na maioria das vezes, necessário utilizar diversos softwares, o que levanta grandes desafios para a indústria ao nível da interoperabilidade e dispersão dos dados. Em 2017 fundei a DiRoots, uma start-up internacional, sediada no Reino Unido com a missão de ajudar as empresas nesta transição para o digital, através do desenvolvimento de soluções customizadas para a indústria da construção. A DiRoots já tem alguns softwares disponíveis no mercado e vai lançar até ao final do ano um novo produto de gestão de dados para ajudar as empresas de design e construção a retirar o máximo benefício dos seus modelos digitais. ▪


BIM - BUILDING INFORMATION MODELLING

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OPINIÃO DE CLÁUDIA ANTUNES, CONSULTORA BIM NA STRATBOND CONSULTING

BIM

O PONTO DE VIRAGEM NO SETOR DA CONSTRUÇÃO lecionados face às mais recentes e importantes transformações do setor, retirando competitividade aos futuros profissionais, prestes a integrar um mercado de trabalho altamente competitivo e globalizado. Ao nível empresarial, algumas entidades sentem a necessidade de formar quadros em ferramentas de modelação paramétrica, principalmente aquelas ligadas ao projeto de arquitetura e engenharia, como forma de otimizar os seus processos internos de trabalho. No entanto, salvo algumas exceções motivadas pela atuação em mercados internacionais, onde é já um requisito obrigatório, este conhecimento continua ainda a não estar presente, seja por falta ou incapacidade de investimento das empresas em formação continua, seja pela resistência à mudança por parte dos profissionais ligados ao setor ou ainda pela pouca oferta formativa qualificada. Por estes motivos, a implementação generalizada da metodologia BIM tem ainda um longo caminho a percorrer. É importante consciencializar o mercado para a importância do BIM para o setor da construção em Portugal e criar canais de comunicação que levem a todos os profissionais exemplos e testemunhos reais que os esclareçam e consciencializem para a emergência da adoção BIM. Assim, face aos desafios impostos pelas mudanças tecnológicas e de modernização, impõe-se uma estratégia integrada de divulgação, bem como de requalificação e adaptação dos recursos humanos, onde a formação assume um papel fundamental e prioritário. Importa ainda realçar que esta modernização da indústria AEC, envolve não só uma mudança organizacional, mas acima de tudo cultural. Conclui-se, portanto, que a digitalização da construção assume hoje, uma importância decisiva na implementação de novas formas de pensar e de fazer, abrindo o setor a novos modelos de negócio, onde a inovação e a competitividade têm um papel fundamental e devem estar presentes em toda a cadeia de valor. Trata-se de um cenário de ganho inquestionável, que merece por parte das lideranças políticas e empresariais nacionais, uma abordagem estratégica comum e assertiva para a real transformação digital do setor, rumo à “Construção 4.0”. ▪

PERFIL

CLÁUDIA ANTUNES

CONSULTORA BIM NA STRATBOND CONSULTING

9 MAIO 2019

À

semelhança de diversos países desenvolvidos no mundo, também a Europa e particularmente Portugal, estão num processo de adoção BIM. Com pontos de partida e contextos diferenciados, os países da União Europeia apresentam estados de maturidade BIM bastante assimétricos. Nesta Europa pouco homogénea, que enfrenta um conjunto de desafios políticos, económicos, ambientais e sociais, o setor da construção, com a importância que lhe é reconhecida, está a procurar assumir o seu tradicional papel de motor do crescimento económico, num quadro mais tecnológico, inovador e competitivo. Considerado tradicionalmente lento na adoção de tecnologias digitais em comparação com outras indústrias, o setor da construção define o seu ponto de viragem através da implementação da Metodologia BIM - Building Information Modelling. Neste contexto, o BIM assume-se como o novo paradigma no contexto da transformação digital da indústria AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção, representando uma nova e diferente forma de trabalhar e pensar no setor da construção, onde a transparência, comunicação e a colaboração entre as partes são fatores decisivos. A integração de um novo paradigma que se baseia na digitalização e utilização da tecnologia, servirá deste modo, para reduzir erros de projeto e construção por via da simulação em ambiente virtual, permitindo uma maior facilidade de colaboração e troca de informação entre os intervenientes, bem como na diminuição de erros e omissões que em regra resultam em prazos de execução e custos dilatados. Porém, apesar de esforços pontuais vindos dos mais diversos quadrantes, todo o setor da construção apresenta um grau de desconhecimento considerável no que se refere à metodologia BIM, que pode ser analisado segundo duas perspetivas, académica e empresarial. No plano académico, o BIM continua a não ser assumido pela maioria das instituições de ensino superior como matéria prioritária a integrar no plano curricular de cursos diretamente ligados à indústria AEC. Esta realidade, tem como principal consequência, o desajuste dos conteúdos


» COOPERAÇÃO CPLP OPINIÃO DE FRANCISCO RIBEIRO TELLES, SECRETÁRIO EXECUTIVO DA CPLP

DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA E DA CULTURA NA CPLP Em 2009, institucionalizou-se o dia 5 de maio como o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Pretendia-se, dessa forma, promover a afirmação da Língua Portuguesa e da diversidade cultural existente no espaço da nossa Comunidade, bem como impulsionar a visibilidade da CPLP nos contextos nacional, comunitário e internacional.

D PERFIL

FRANCISCO RIBEIRO TELLES SECRETÁRIO EXECUTIVO DA CPLP

PONTOS DE VISTA

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esde então, têm-se multiplicado a cada ano as celebrações do 5 de maio, por meio de iniciativas promovidas pelos Estados da CPLP, tanto membros como associados, pelas respetivas missões diplomáticas, pelas universidades e leitorados de português, pelas associações das diásporas e por muitos cidadãos apaixonados pela nossa língua e pela nossa cultura. Em 2019 não foi diferente. Ao longo das últimas semanas, o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP tem sido comemorado em diversas cidades em todo o mundo, inclusive na sede da CPLP, em Lisboa, onde decorre, em colaboração com numerosos parceiros da sociedade civil, um importante calendário de eventos públicos que se prolongarão até ao mês de junho. A língua portuguesa é hoje falada por cerca de 260 milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes. É a língua mais falada no hemisfério Sul, e é também uma das línguas mais usadas na internet e nas redes sociais. As projeções demográficas das Nações Unidas preveem que o número de falantes de português poderá aumentar para 500 milhões até ao final do século, o que indica um crescente valor geoestratégico. Mais do que um mero instrumento de comunicação, toda a língua carrega consigo valores, modos de pensar e a herança do universo cultural onde se desenvolveu. Nesse sentido, a Língua Portuguesa é um património comum dos nossos países, que foi sendo alimentado ao longo dos séculos com as contribuições de todos os seus falantes, e que hoje manifesta e reflete toda a diversidade do nosso espaço. A nossa língua comum é também um importantíssimo recurso,

capaz de gerar riqueza e criatividade nos planos simbólico e material, para nós e para as gerações futuras. É essa língua diversa que possibilita e favorece o estabelecimento do diálogo entre os Estados-membros da CPLP. Partilhar o mesmo idioma facilita o nosso entendimento na esfera política, a nossa troca de experiências e de conhecimentos na área da cooperação, e pode ser ainda uma eficiente ferramenta para alavancar negócios e investimentos. Por tudo isto, a promoção e a difusão da Língua Portuguesa adquirem especial relevância no âmbito da nossa Organização. As três conferências internacionais sobre a promoção do português no sistema global, promovidas pela CPLP, indicaram já os principais elementos a trabalhar, salientando-se, entre outros, a pluricentralidade da Língua Portuguesa, o ensino e a formação em língua portuguesa em contextos multilingues, o potencial económico da língua portuguesa e a promoção da cultura, da ciência e da inovação em língua portuguesa. Em paralelo, é indispensável que continuemos a fortalecer a atuação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), instituição vinculada à CPLP com sede na Cidade da Praia, que tem a missão de prestar apoio técnico à CPLP no que diz respeito à elaboração e implementação de políticas e planos de promoção e difusão da língua portuguesa. Ao abordar a problemática da Língua, haverá igualmente que ter presente que, dentro dos próprios países que integram a CPLP, a utilização da Língua Portuguesa não é homogénea. Nesse sentido, é preciso, com base na situação concreta de cada país, desenvolver estratégias para a difusão e o fortalecimento da língua a nível nacional. E temos que valorizar também a promoção da Língua Portuguesa junto das nossas diásporas, ao mesmo tempo que se incentiva a promoção e a difusão da língua portuguesa em países terceiros, ou seja, o ensino do português como língua estrangeira. Finalmente, a adoção da Língua Portuguesa como língua oficial e de trabalho em organizações internacionais, especialmente no âmbito das Nações Unidas, é uma área muito discutida e de grande visibilidade. Trata-se de um processo gradual, que exige um esforço conjunto, desde logo financeiro, de todos os Estados-Membros da CPLP. É importante, assim, reiterar que a Língua Portuguesa não é apenas um traço identitário original do espaço da CPLP. É sobretudo um ativo geopolítico, económico e cultural com um potencial para o futuro cada vez mais promissor. ▪


COOPERAÇÃO CPLP

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“NÓS EXISTIMOS PARA LEVAR AS JOVENS EMPRESAS ALÉM-FRONTEIRAS” “Formar para Inovar...Esta tem e terá que ser cada vez mais a tónica para os jovens empresários que querem singrar dentro e fora de portas”, revela Filipe Lourenço, Presidente da União das Jovens Empresários e Empreendedores dos Países da CPLP - UJEEP-CPLP, que em entrevista à Revista Pontos de Vista deu a conhecer um pouco mais de uma instituição que tem potenciado relações entre os países que perfazem a CPLP.

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Qual é, na sua opinião, o verdadeiro potencial de novos projetos e sinergias no domínio dos Estados-Membros da CPLP? O verdadeiro potencial futuro reside na nossa língua que serve fundamentalmente para comunicarmos uns com os outros e com isso sermos facilitadores de relações. Temos a vantagem de falarmos a mesma língua para termos “caminhos facilitados” para os negócios que tenhamos em mente fazer. Alias a CPLP é uma comunidade da língua portuguesa que potencia relações entre os vários países que a compõem. Que barreiras ainda faltam ultrapassar para que este potencial seja verdadeiramente aproveitado? A maior barreira ou obstáculo a este “Gigante

Sente que atualmente, com a UJE CE-CPLP, a internacionalização deixou de ser um problema para ser uma solução? Esta pergunta acaba por rematar o que eventualmente ficasse por responder da anterior questão. A UJE CE-CPLP é efetivamente um bom veículo para internacionalizar as empresas. O desafio de internacionalizar PME’s é visto como uma alavanca natural para o crescimento empresarial e como forma de nos distinguir de outros organismos. Nós existimos para levar as jovens empresas além-fronteiras. FILIPE LOURENÇO

Adormecido” chamado CPLP, é a livre circulação de pessoas e bens. Esta é a nossa maior luta junto do poder político, para que este sonho se torne realidade ano após ano. Só com livre circulação de pessoas e bens dentro da CPLP, poderemos ser verdadeiramente uma potência económica nesta era global. Temos de continuar a lutar para que nos anos vindouros, a circulação de pessoas e de bens, seja uma realidade alcançada. Nesta vossa senda, qual a importância das parcerias no sentido de promover um maior apoio aos jovens empreendedores dos países da CPLP e, consequentemente, de fomentar uma rede de negócios? Parcerias são o caminho para o sucesso. Dois dos vetores que destaco para o sucesso empresarial é o da internacionalização e outro o da inovação. Estes dois vetores conjugam-se em perfeita simbiose quando falamos em fazer negócios na comunidade CPLP. Estabelecendo uma linha de raciocínio lógica, são as parcerias que permitem aos jovens empresários internacionalizar e inovar, aliás estes conceitos estão interligados de forma quase automática.

De que forma é que a formação e a inovação são dois vetores importantes na vossa orgânica e no potencial de crescimento dos jovens empresários? Formar para Inovar...Esta tem e terá que ser cada vez mais a tónica para os jovens empresários que querem singrar dentro e fora de portas!!! A UJE CE-CPLP existe para ser uma referência a nível da formação empresarial, pois só com competências as empresas poderão superar desafios no contexto global e nós somos o parceiro Como presidente da instituição, que mensagem lhe aprazaria deixar a todos os Jovens Empresários e Empreendedores dos Países da CPLP? Estar à frente da UJE CE-CPLP é, para mim, ter a missão de fazer acontecer... Ter uma equipa que está alinhada com o nosso propósito e que tem em si o espírito empreendedor e facilitador. Quero dizer aos jovens que podem contar connosco para assumir desafios de relevo nas suas vidas e que não deixem de acreditar nos seus sonhos, porque o sonho comanda a vida!! JUNTOS SEREMOS MAIS FORTES... ▪

11 MAIO 2019

e que forma é que a União das Jovens Empresários e Empreendedores dos Países da CPLP - UJEEP-CPLP, tem vindo a promover uma dinamização clara e concreta das relações entre jovens empresários e empreendedores no quadro da CPLP? Vou tentar responder da forma mais sucinta a uma questão tao abrangente. Temos promovido as relações entre os jovens empresários dos países da CPLP, através do networking que umbilicalmente une os países da CPLP. O nosso evento de lançamento em dezembro de 2018 foi um sucesso e uma marca forte da nossa essência, na representatividade da franja empresarial no seio da CPLP. Nesse mesmo evento, a assinatura do protocolo com a CE-CPLP (Confederação Empresarial da CPLP), conferiu-nos o estatuto oficial de único organismo com a chancela CE-CPLP com a representatividade da franja empresarial dos jovens empresários da CPLP, algo que nos distingue de quaisquer outros organismos.


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“MOÇAMBIQUE TOMOU UM LUGAR MUITO IMPORTANTE NA MINHA VIDA” Empresário, empreendedor e Administrador Delegado East África do Grupo Salvador Caetano, Paulo Oliveira tem um longo historial de ligação a Moçambique. Moçambique é para Paulo Oliveira como um casamento: aquela pessoa que escolhemos para ficar. Venha connosco saber mais.

Q PAULO OLIVEIRA

PONTOS DE VISTA

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ue papel assume atualmente o mercado moçambicano no continente africano? Efetivamente a minha ligação a Moçambique passou de um mercado onde eu tinha uma ligação meramente profissional e com uma presença residual a nível de investimentos para ser a minha terra de adoção. Moçambique tomou um lugar muito importante na minha vida, e fazendo a analogia com as mulheres da minha vida, Portugal é como a minha Mãe - ama-nos, não escolhemos - e Moçambique como uma esposa - aquela pessoa que escolhemos para ficar. Moçambique assume hoje um lugar muito importante como um dos principais produtores de gás natural. A exploração do gás natural é uma realidade, as empresas Eni/ Exxon Mobil e Anadarko já começaram a construir as infraestruturas com vista à extração, a produção do GNL está prevista começar em 2022. As reservas de gás são muito grandes sendo esperado que a ENI/ Exxon Mobil venha a produzir cerca de 3,5 milhões de toneladas com a plataforma flutuante, aumentando para 10 milhões em Onshore enquanto a Anadarko espera uma produção de 12 milhões de toneladas por ano. Por outro lado a exportação do carvão, setor liderado pela Brasileira Vale, tem vindo aumentar, atingindo este ano de 2019 o recorde 14 milhões de toneladas. Mas Moçambique não é só o carvão e gás, tem um potencial enorme na Agricultura, Turismo e serviços. É Administrador Delegado East África do Grupo Salvador Caetano. Que importância assume, efetivamente, a ligação e cooperação do grupo com estes países do continente africano? Em 2013 a Renault lançou um concurso internacional para atribuição do mercado do East Africa, a estratégia do GSC foi criar dois Hub´s, um a Norte no Quénia, Nairóbi para servir os países da Tanzania e Uganda e outro a Sul, Moçambique, para servir os mercados da Zâmbia, Zimbabue e Malawi. Foi graças ao plano bem delineado e a um investimento fundamentado que o GSC conseguiu este importante contrato. Sendo assim um Pais muito importante para a estratégia escolhida. Hoje temos operação nos sete países do East Africa, com investimento direto em Maputo e em Nairobi, continuando a investir em ambos os países. Recentemente ganhamos o contrato da importação da Hyundai e a Volvo para o Quénia, Volkswagen para Moçambique, para o Uganda e Tanzânia ganhámos a Volvo.


Neste momento temos contratos de distribuição em 32 países e já iniciamos a expansão das nossas empresas de mobilidade para o continente africano, sendo Moçambique um dos próximos mercados a apostar nessa área. Que estratégia o grupo tem delineado para África Oriental num futuro próximo? A estratégia delineada para estes mercados passou pela criação de uma estrutura em Portugal, a Salvador Caetano África, onde tem uma equipa focada nas necessidades de cada mercado e que todos os dias tem contacto com os mesmos. Continuar a reforçar a nossa presença, trazendo mais marcas, quer seja do setor automóvel quer sejam produtos ou serviços de eventuais parceiros, que se queiram juntar ao GSC nestas geografias. Contamos com uma larga experiência de conhecimento dos mercados onde estamos a atuar, podendo alagar o nosso portfólio de produtos se estes se adequarem.

Que outros fatores deverão ser tidos em conta para promover esta cooperação e a expansão dos negócios do tecido empresarial dos países-membros? Do lado dos empresários precisamos fomentar mais a mentalidade e preparação para oportunidades através de políticas de governança corporativa, etc. Pensamos que faltam também ferramentas institucionais por parte dos governos para permitir essa expansão. Do lado dos nossos governos faltam políticas transversais e estratégias claras que favoreçam a meritocracia e eliminem a interferência política, bem como incentivo e financiamento aos setores produtivos. O presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP) afirma que os governos não estão a dar atenção ao potencial económico da CPLP. E os empresários? Qual é a sua opinião? Concordo que não se está a dar atenção suficiente, e prova disso é que ainda temos muitos desafios no que diz respeito à mobilidade, livre circulação, instituições económicas, fundos da CPLP, entre outras iniciativas que dinamizariam

o nosso potencial económico. É verdade que tem havido muitas discussões, que revelam cada vez maior preocupação dos governos da CPLP relativamente ao nosso potencial económico, mas é preciso que estas discussões se materializem em ações concretas o mais urgente possível. Que mais-valias, mas também que verdadeiros desafios acarreta a aposta nos mercados da comunidade? Os desafios residem nas nossas diferenças geográficas, culturais, e de desenvolvimento, mas que certamente podem ser ultrapassadas e aos poucos começam a ficar para trás. Um exemplo são os acordos de abolição dos vistos que temos vindo a acompanhar, e que no último ano de 2018 foram significativos entre países da CPLP. As mais-valias encontram-se nas oportunidades: mesma língua, falada por aproximadamente 274 milhões de pessoas (o que reduz custos operacionais e tempo com, por exemplo, as traduções), possibilidade de promover em conjunto, como um bloco económico e coeso, assim como a nossa presença em diferentes mercados regionais, através dos países-membros. A possibilidade de entrada em outros mercados onde os países da CPLP estão inseridos, como o caso do Mercosul, ASEAN ou União Europeia. ▪

As mais-valias encontram-se nas oportunidades: mesma língua, falada por aproximadamente 274 milhões de pessoas (o que reduz custos operacionais e tempo com, por exemplo, as traduções), possibilidade de promover em conjunto, como um bloco económico e coeso, assim como a nossa presença em diferentes mercados regionais, através dos países-membros

13 MAIO 2019

Questões como a mobilidade e a livre circulação de pessoas entre os países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) estão a ser colocadas em cima da mesa como questões urgentes. Estes são, sem dúvida, aspetos fulcrais para fomentar a cooperação económica na CPLP? Sem dúvida. A mobilidade e a livre circulação permitem aos empresários a possibilidade de se focarem menos em questões burocráticas para fazer negócios e concentrarem-se mais no investimento. Se hoje um empresário cabo-verdiano entende deslocar-se para Portugal, Moçambique ou Brasil, ou movimentar a sua mercadoria ou capitais para um desses países com vista a satisfazer uma necessidade de negócio urgente que seja sua ou de um outro empresário situado nesse outro país irmão, havendo políticas de mobilidade e livre circulação de pessoas, bens e capitais torna-se mais célere a realização desta operação. O timing é um elemento fundamental nos negócios. Estas políticas vão melhorar e muito os timings.


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“DEDIQUEI A MINHA VIDA A AJUDAR QUEM PRECISA” “Acredito que o facto de ter trabalhado como advogado durante 40 anos em quase todas as áreas de Direito e de ter estado, como advogado, envolvido nalguns dos grandes litígios das últimas décadas, continuará a fazer de mim um melhor árbitro, tal como ser árbitro me fez melhor advogado”, afirma José Miguel Júdice, Advogado e Árbitro independente.

A

JOSÉ MIGUEL JÚDICE

dvogado desde 1977, José Miguel Júdice é um dos sócios fundadores da PLMJ, uma das principais sociedades de advogados do país, e um nome incontornável na arbitragem comercial nacional e internacional. São mais de 40 anos de um percurso profissional complexo. São mais de 40 anos de…? Foram muitos anos de trabalho em equipa e de investimento na formação de jovens advogados, muitos deles hoje sócios da PLMJ e de outras sociedades de advogados reputadas em Portugal. Foi começar com quatro advogados portugueses em Lisboa e agora sermos mais de 300 em vários continentes e com mais de uma dezena de nacionalidades.

PONTOS DE VISTA

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A partir de 2020 passará a dedicar-se exclusivamente à arbitragem, a sua atual paixão profissional, e afirma que a advocacia para uma pessoa como você “é um monstro que ocupa o tempo todo”. Mas o que leva consigo do mundo da advocacia? Há mais de 20 anos que parte substancial da minha atividade profissional é servir como árbitro em Portugal e, sobretudo, na América Latina, África e Europa Latina. A minha opção de passar a ser apenas “árbitro independente” pressupõe deixar de exercer a advocacia como fiz toda a vida e sair de PLMJ, a sociedade que criei com três outros colegas (o “P”, o “L” e o “M”). Irei continuar a investir nesses mercados como árbitro e também como mediador e conciliador. Acredito que o facto de ter trabalhado como advogado durante 40 anos em quase todas as áreas de Direito e de ter estado, como advogado, envolvido nalguns dos grandes litígios das últimas décadas, continuará a fazer de mim um melhor árbitro, tal como ser árbitro me fez melhor advogado. Na tabela divulgada pelo Negócios, José Miguel Júdice foi considerado o #43 dos mais poderosos de 2018. É verdade que com o poder acresce a responsabilidade? Não sinto que tenha qualquer poder, mas sei que tenho responsabilidades. Dediquei a minha vida a ajudar quem precisa, como fazem todos os advogados. Sempre foi assim e sempre será assim até minha morte. Sou um homem livre, não tenho nem nunca tive donos, nunca rastejei para obter fosse o que fosse.

Mediação, conciliação e arbitragem. Qual é a diferença entre elas? Precisaria de várias páginas para explicar. Direi apenas que são formas de resolução de litígios alternativas à solução judicial. Todas pratiquei na minha vida profissional e continuarei a praticar Este são verdadeiros instrumentos de apoio às empresas na resolução de litígios nacionais e internacionais? Essenciais, ainda que por vezes esquecidos. E ainda mais quando empresas portuguesas atuam em mercados em que o Judiciário não é independente e honesto. Os empresários devem meter no seu planeamento estratégico que infelizmente há muitos países em que os juízes não são como os portugueses e incluir cláusulas arbitrais nos seus contratos internacionais, como fazem as empresas de países mais desenvolvidos

A língua é um instrumento de soberania e de proteção. Só quem nunca esteve numa arbitragem em que o idioma não é o da lei aplicável poderá ter dúvidas disso" E na CPLP? Porque é que a utilização dos Meios de Resolução Extrajudicial de Conflitos (REC) se assume como um fator crucial para o investimento e o aumento das relações económicas na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)? A língua é um instrumento de soberania e de proteção. Só quem nunca esteve numa arbitragem em que o idioma não é o da lei aplicável poderá ter dúvidas disso. Cada vez mais apelo a que as empresas e advogados de países lusófonos exijam que os seus contratos sejam redigidos em português ou tenham uma versão oficial na nossa língua comum. Tenho presidido a tribunais arbitrais internacionais em que não foi assim e sei que as empresas de países de língua portuguesa não ganharam nada com isso, antes pelo contrário. Mas isso seria bom tema para desenvolver numa outra entrevista … ▪


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LNEG

E O UNIVERSO LUSÓFONO Teresa Ponce de Leão, Presidente do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), deu, em entrevista à Revista Pontos de Vista, a sua visão sobre a CPLP e a importância da mesma, abordando ainda o crescimento da instituição.

TERESA PONCE DE LEÃO

O

LNEG é uma instituição de investigação sustentável e para a sustentabilidade através da geração do conhecimento do território. Quais são neste momento os maiores desafios que enfrentam em matéria de energia? O LNEG desenvolve e transfere conhecimento científico e tecnológico, em Energia e Geologia, e contribui com soluções concretas para apoio às políticas públicas, concretamente no que se refere aos recursos renováveis energéticos e aos recursos e riscos geológicos, no quadro da transição energética. Na área da geologia impõe-se como Serviço Geológico Nacional. Na área da energia salienta-se a atividade na bioenergia, no solar, no eólico, na energia no ambiente construído, na eficiência energética e na integração de sistemas. Tendo competências importantes no conhecimento dos recursos endógenos e potencial para contribuir para o desenvolvimento sustentável está apto para apoiar as políticas públicas na utilização dos nossos recursos em estrito respeito pelo ambiente e pelo desenvolvimento económico e social. Por via das suas ligações internacionais, que tem vindo a construir de forma consolidada, está a par das melhores práticas dos seus pares com quem trabalha em parceria. Falando de desafios, Portugal promove a descarbonização da economia e a transição energética com vista à neutralidade carbónica em 2050 e tem, para tal, estabelecidas metas ambiciosas no seu Plano

Recentemente participaram na conferência sobre “Transição Energética” que colocou em debate: PNEC 2030 e Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Quais são as maiores oportunidades que Portugal tem nesta temática atualmente? Temos participado em várias conferências onde o tema da “Transição Energética” tem sido alvo de discussão e onde procuramos levar o nosso conhecimento e a nossa visão para acelerar essa transição. Acreditamos que a Transição Energética deve ser feita através de duas vias, (i) apoio à disponibilização de energia com baixa intensidade carbónica, através da exploração do potencial renovável abundante no nosso país e ii) da disponibilização da promoção de medidas para a eficiência energética. Portugal é rico em recursos endógenos que permitem mitigar a intensidade carbónica. Como oportunidades salientamos o setor eólico e respetivo potencial de crescimento para aproximadamente 8500 MW de potência instalada por via de tecnologia mais avançada, o setor solar PV que está em franco crescimento tendo em conta o baixo custo da tecnologia e o potencial que atrai o interesse de investidores em novos projetos. Está ainda em marcha a implementação do Plano para as Biorrefinarias e Biomassa que contribuirá para a Eficiência Energética na indústria e produção de eletricidade e calor a partir da biomassa. A análise integrada destes recursos renováveis em conjunto com políticas desenhadas em função do projeto será uma mais-valia para o cumprimento dos objetivos em Energia e Clima. O laboratório está constantemente a apostar em novas parcerias nacionais e internacionais. No universo dos países de língua portuguesa por onde passa esta aposta? A primeira mensagem é de responsabilidade. O LNEG orgulha-se de ter na sua missão a obrigação de produzir contributos úteis para a sociedade numa perspetiva de

desenvolvimento sustentável. Assumindo este princípio procuramos sempre transferir o conhecimento que acumulamos e que é o nosso património. Temos a decorrer um projeto de cartografia geológica em Angola que permitirá ao governo Angolano conhecer melhor o seu território e assim contribuir para o desenvolvimento sustentável deste país. Este projeto resulta de uma parceria público privada com a consultora Impulso e o Instituto Geológico e Mineiro de Espanha. A nível de investimento nos países que pertencem à CPLP quais são as áreas mais apelativas neste momento e em que países? Neste momento o ponto alto de

atividade na CPLP é o projeto PLANAGEO e a participação no projeto Europeu PanAfGeo que tem como principal objetivo desenvolver competências e capacitar os serviços geológicos do continente africano, estando Portugal a apostar nos serviços geológicos dos países de expressão portuguesa. Na sua opinião, em termos de cooperação, como avalia a relação entre Portugal e os restantes países lusófonos relativamente ao mundo empresarial? O governo português tem apostado na diplomacia nomeadamente em Angola onde as relações são amigáveis. A nossa relação baseia-se na confiança e nas parcerias entre iguais. ▪

15 MAIO 2019

Nacional de Energia e Clima que por sua vez se alinham com os compromissos Europeus para 2030.


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“FINANCIAMENTO” E “AÇÕES DE FORMAÇÃO” SÃO OS MAIORES ENTRAVES À CRIAÇÃO DE TRIBUNAL ARBITRAL DA CPLP José Alves Pereira é advogado na Alves Pereira, Teixeira de Sousa & Associados e também árbitro internacional. Tem uma carreia marcada pela dedicação à arbitragem, mediação e meios alternativos de resolução de conflitos. Em entrevista, explica a importância desta atividade quer em Portugal quer na CPLP. Saiba tudo.

É

mediador e árbitro a título individual. Quais são os maiores desafios desta atividade? Qual é o principal papel do advogado neste âmbito? A atividade de mediador e árbitro consiste, no essencial, numa intervenção privada, voluntária e acordada com as partes em litígio, visando mediar ou resolver um conflito existente, de forma célere e imparcial. Os desafios fundamentais que se colocam a um mediador ou árbitro escolhido pelas partes em litígio residem, no primeiro caso, em assegurar e manter uma neutralidade absoluta enquanto procura facilitar um acordo das partes tendente à solução do litígio e, no segundo, em atuar com total independência, imparcialidade e bom senso, respeitando os princípios fundamentais da igualdade das partes e do contraditório e proferindo uma decisão justa, em tempo oportuno e sem custos excessivos. O papel do advogado consiste sempre na defesa intransigente dos interesses do seu cliente. Consequentemente é e deve ser parcial e o seu papel não se confunde com o do mediador ou árbitro em que a característica fundamental é, precisamente, a imparcialidade. Dito isto, a sua atuação representando uma parte, quer no processo de mediação quer no de arbitragem, reveste-se sempre de manifesta utilidade, assegurando um contraditório que levará o mediador ou árbitro à ponderação adequada dos direitos ou interesses relevantes para a resolução do litígio.

PONTOS DE VISTA

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Os conceitos: mediação e arbitragem diferem. Quais são as diferenças entre si? Sendo ambos métodos ditos alternativos ou complementares da justiça estadual na resolução de litígios são, no entanto, fundamentalmente diferentes. Na mediação não há uma adjudicação das partes quanto ao poder de decidir. Em todo o processo, o litígio permanece sempre no total controlo das partes, limitando-se o mediador a ajudar as mesmas a atingir um acordo mas não tendo o poder de decidir qualquer solução do litígio. A arbitragem, pelo contrário, implica uma decisão adjudicatória: As partes conferem ao árbitro ou árbitros o poder de decidir o litígio. Daí que, por um lado, a mediação se concentre mais nos interesses das partes e a arbitragem nos respetivos direitos. Daí, também, que, por outro lado, na mediação se exija uma completa neutralidade do mediador o qual, conduzindo a mediação, não pode ou não deve interferir na decisão das partes e na arbitragem o enfoque já não seja na neutralidade mas antes na independência e imparcialidade do árbitro para proferir uma decisão que as partes lhe confiam. Estas diferenças são fundamentais para a escolha

JOSÉ ALVES PEREIRA

de um ou de outro método atendendo às circunstâncias do caso concreto. Em Portugal, a mediação e arbitragem têm assumido um importante papel na resolução de conflitos, principalmente, em períodos de crise. É possível traçar uma evolução desta atividade ao longo dos anos? É correto afirmar que a arbitragem voluntária, dispondo agora em Portugal de uma lei moderna e funcional, tem conhecido um incremento crescente na resolução de relevantes litígios comerciais. A celeridade na resolução e a especialização desses litígios assim o exigem. A mediação, por outro lado, continua confinada primacialmente aos litígios familiares ou de consumo e aos que ocorrem na área dos Julgados de Paz. A sua afirmação e o reconhecimento pleno da sua eficácia na área dos grandes conflitos comerciais tem ainda um longo caminho a percorrer. Na arbitragem o desafio fundamental reside agora na afirmação das instituições que a promovem de forma a conseguir que a arbitragem institucional se imponha relativamente à arbitragem ad/hoc que continua a ser a regra. Na mediação impõe-se a divulgação da sua eficácia, já internacionalmente reconhecida na área comercial como meio mais adequado quando a composição dos interesses se sobrepõe á definição dos direitos e se deseja preservar e manter os interesses comerciais interligados. Mediação e arbitragem são temas que deverão fazer parte de muitas relações e os países da CPLP não são exceção. Na sua opinião é importante que seja criada uma instituição a este nível dentro dos PALOP? Desde há muito que venho defendendo a criação e desenvolvimento de uma estrutura não-governamental dedicada à prevenção e resolução de conflitos na área da lusofonia. Na minha opinião, a lusofonia traduz-se numa maneira especial de estar no mundo e na vida, veiculada não só pela

língua comum mas, sobretudo, por um passado cultural e civilizacional de tolerância, de ausência de estratos sociais rígidos, de facilidade de contactos e miscigenação, de gosto pela improvisação e pela aventura, de busca de soluções novas, de paz e de alegria de viver. Essas características informariam a estrutura a ser criada a qual beneficiaria, por um lado, da já adquirida sofisticação e experiência em arbitragem e mediação existente em países como o Brasil e Portugal mas, por outro, respeitaria os diferentes estádios de desenvolvimento jurídico, cultural e socioeconómico dos diferentes países lusófonos, colaborando e contribuindo para que se adquirisse uma competência e experiência comum em todos eles, através de programas de formação adequados. Quais serão os grandes entraves à criação de uma instituição que absorva e que crie resoluções entre estes países? Os entraves são, desde logo, as necessidades de financiamento para a criação e desenvolvimento das ações de formação necessárias. Isso passaria necessariamente pela vontade política de todos os países, pela harmonização dos diversos interesses nacionais e pelo reconhecimento, por parte dos países menos desenvolvidos, de que, por um lado, os instrumentos de realização da justiça de que dispõem se mostram insuficientes e inadequados para a solução de conflitos comerciais provenientes de investimentos relevantes e, por outro, de que a existência de uma estrutura comum arbitral e de mediação lusófona evitaria o recurso às grandes instituições de arbitragem internacionais como as da Câmara de Comércio Internacional ou da Associação de Arbitragem Americana, as quais, além de caras, não partilham a mesma cultura jurídica e social da área da lusofonia. Por outro lado, quais serão as maiores vantagens? As vantagens são evidentes. Por um lado, a condução de uma mediação ou arbitragem em língua portuguesa feita por personalidades de reconhecida independência e prestígio dos diversos países lusófonos, conhecedoras do ambiente sócio-económico-cultural em que o litígio se desenvolve. Por outro um custo significativamente reduzido relativamente a outras estruturas internacionais já existentes. Finalmente, uma maior celeridade no reconhecimento e execução das sentenças arbitrais proferidas resultante não só da língua e conceitos jurídicos comuns, mas ainda de regras específicas que poderiam ser criadas em complemento das da Convenção de Nova York já ratificada por todos os países lusófonos. ▪


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“O PORTUGUÊS É MESMO UMA LÍNGUA DO FUTURO” Mónica Machado é licenciada em Tradução, Diretora da Mónica Machado Translation Services e Vice-Presidente do ITI (Instituto de Tradução e Interpretação no Reino Unido), em entrevista, aborda os desafios e a importância da tradução nos negócios. Saiba tudo.

É tradutora de inglês - português europeu em várias áreas técnicas e em áreas jurídicas viradas para os negócios. Trabalha para Portugal e para outros PALOP como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Como descreveria a importância do seu trabalho nas relações empresariais? Muitos dos projetos em que tenho trabalhado contribuem ativamente para aumentar o PIB desses PALOP, como é o caso, por exemplo, de projetos hidroelétricos e de petróleo e gás em Angola e Moçambique, desenvolvimento turístico em Cabo Verde, e proteção ambiental na GuinéBissau e em São Tomé. Todos esses projetos têm de ser apresentados aos diversos governos e partes interessadas. Assegurar que a tradução é exata em termos de conteúdo e registo linguístico é por isso do interesse dos proponentes dos projetos, já que em projetos internacionais a tradução pode ajudar a fechar negócios ou dificultar negociações. Os tradutores devem ser invisíveis, mas na realidade são uma ponte importantíssima no mundo dos negócios, já que num país estrangeiro a tradução é o rosto da empresa. Hoje em dia existem plataformas digitais de tradução grátis mas não são o mesmo que o trabalho de um tradutor. Porquê? Num mundo cada vez mais automatizado, a tradução automática surge como uma consequência normal do desenvolvimento. Porém essa máquina ainda não oferece o serviço acrescentado prestado por um bom tradutor humano. Um bom tradutor analisa o texto, as circunstâncias e o país em que o mesmo vai ser utilizado e o registo mais adequado e depois produz uma tradução que tem isso em conta, que é fácil de ler e que não é um decalque do original. Por exemplo,

volvimento de grandes países, como Angola, Brasil e Moçambique, a língua de Camões tem um enorme potencial empresarial, até porque as empresas querem cada vez mais pessoal nacional mas também pessoal estrangeiro que domine o português. Esta é uma vantagem de crescimento muito importante e que as instituições de ensino fora dos PALOP não deveriam descurar. Para mim, o português é mesmo uma língua do futuro. Entre todos os países com quem trabalha existem diferenças de índole multicultural evidentes em termos de negociação que possa partilhar connosco? Penso que as diferenças têm mais a ver com os conhecimentos de “Com o cada um a respeito da tradução desenvolvimento de e do trabalho do tradutor. Muigrandes países, como Angola, MÓNICA MACHADO tas vezes é preciso informar Brasil e Moçambique, a língua de os clientes sobre o trabalho e Camões tem um enorme potencial tempo necessários e a minha empresarial, até porque as experiência acumulada permiatualmente empresas querem cada vez mais alguns dos te-me ajudá-los a decidir sobre PALOP usam o que é melhor para os seus pessoal nacional mas também oficialmente projetos. Este serviço acrescenpessoal estrangeiro que o antigo acortado, com um toque humano e domine o português” pessoal, é imprescindível, porque do ortográfico num mercado estrangeiro um propelo que o português europeu não duto ou serviço dependerá sempre da é neste momento todo tradução para ter sucesso e o processo de igual, variando consoante o tradução quando mal gerido poderá ter grandes PALOP em questão. Um bom tradutor tem tudo consequências financeiras e reputacionais. isto em conta e produz uma tradução de qualidade, sempre em contacto com o cliente, para Além de ser tradutora sente que, por vezes, garantir que a mensagem é bem transferida e os precisa de ser também uma diplomata? Porresultados empresariais finais são atingidos. Tem quê? também autoconfiança para questionar decisões Sem dúvida. Nem sempre se pode traduzir exalinguísticas dos autores e aconselhar sobre o que tamente conforme o original e muitas vezes é é melhor para o país a que a tradução se destina. preciso contactar o cliente para lhe explicar que aquele termo ou aquela frase em especial pode A língua portuguesa está entre as mais faladificultar determinada negociação ou causar más interpretações. O tradutor acaba por ser um das no mundo inteiro. Qual é, na sua opinião, o consultor o que é fantástico. É muito gratificanpotencial dela no mundo dos negócios? Em 2016 a língua portuguesa contava com te, quando um cliente nos contacta por sermos 223 milhões de falantes nativos e 20 milhões o elo de que ele precisa para fechar um negócio, de falantes de segunda língua e em 2017 era a retomar uma negociação ou desenvolver uma 6ª língua mais falada no mundo. Com o desenparceria. ▪

17 MAIO 2019

T

rabalha há 21 anos como tradutora. O que diria que é mais importante no exercício desta profissão? Para mim, o mais importante é dominar ambas as línguas de trabalho, conhecer bem o assunto em questão e a audiência e, acima de tudo, ter integridade e agir sempre de forma profissional.


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O PAPEL DO ADVOGADO É FUNDAMENTAL E INSUBSTITUÍVEL ENQUANTO SUJEITO ATIVO DA EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CIDADÃOS” Carlos Carneiro Gomes da PMCG – Advogados, em entrevista, fala sobre as áreas de atividade da sociedade que já conta com uma extensa presença internacional e aborda a questão da mediação e arbitragem na CPLP.

A

PMCG – Advogados é uma sociedade portuguesa que tem também uma forte presença a nível internacional. Além de Portugal, em que outros países disponibilizam os vossos serviços? A atividade da PMCG a nível internacional resultou da necessidade de garantir aos nossos clientes, o acompanhamento da sua actividade empresarial desenvolvida fora de Portugal. Por esse motivo desenvolvemos desde o início da nossa atividade, uma rede de parcerias profissionais que garantem aos nossos clientes a satisfação das suas necessidades de acompanhamento legal em diferentes jurisdições, dentro dos padrões de qualidade e de serviço que impomos na nossa prática. Esta experiência tem sido para nós particularmente gratificante porque dela tem igualmente resultado, um fluxo significativo de solicitações de acompanhamento de clientes e empresas estrangeiras no nosso mercado. Trabalhamos em parceria com sociedades congéneres e outros profissionais em quatro continentes, mas com maior incidência no mercado europeu, América Latina e PALOP´s.

PONTOS DE VISTA

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Neste segmento internacional quais são os serviços que a PMCG tem prestado e as áreas de atividade em que tem trabalhado? Como já referi, a nossa experiência é o resultado acumulado das solicitações dos nossos clientes para acompanhamento da sua atividade internacional. Os serviços que prestamos diretamente abrangem a assessoria jurídica a iniciativas de investimento das empresas nacionais no estrageiro, tomada de participações em empresas de capital estrangeiro, o acompanhamento e negociação de contratos comerciais diversos, protecção de direitos da propriedade intelectual, etc. Na defesa de interesses dos clientes portugueses nos mercados exteriores, recorremos sempre à colaboração de profissionais locais, parar representação forense dos nossos clientes quando tal se mostre necessário. Neste segmento, a nossa atividade estende-se a todas as áreas de contencioso com especial incidência para os procedimentos de restruturação de empresas e, de recuperação de crédito e, em particular em matéria de insolvência onde temos vindo a acompanhar diversos procedimentos de âmbito comunitário. De outra parte e em resultado da recuperação da imagem de Portugal enquanto destino de

CARLOS CARNEIRO GOMES

investimento que se tem registado nos últimos anos, sentimos de forma notória um aumento de solicitações provindas dos nossos parceiros exteriores, para acompanhamento dos seus clientes em território nacional. Neste segmento, e para além das áreas que já mencionei, temos atuado com particular incidência na área da contratação pública, em todas as fases dos concursos públicos, em particular para a atribuição de concessões públicas. Não posso também deixar de mencionar a área do direito Fiscal, que já era uma das nossas áreas de especialidade, tanto na vertente contencio-

Trabalhamos em parceria com sociedades congéneres e outros profissionais em quatro continentes, mas com maior incidência no mercado europeu, América Latina e PALOP´s


A sociedade é ainda membro de diversas Associações Empresariais e Câmaras de Comércio estrangeiras estabelecidas em Portugal assim como de Associações Internacionais de Profissionais Forenses. Qual a importância deste tipo de ligações? A PMCG desde o início da sua atividade, tem procurado estabelecer relações com outros profissionais forenses de outros países, seja a nível individual ou no seio de organizações internacionais da classe, tendo em vista a aquisição de conhecimento e, experiencia resultante do contacto com profissionais de profissionais forenses de outras culturas e geografias. Estar aberto ao mundo e as diferenças culturais é imperativo para qualquer profissional que desenvolva a sua prática em contexto internacional, pelo que pretendemos continuar a desenvolver no futuro mais iniciativas deste tipo. Qual diria que é o principal papel da advocacia nos países lusófonos? Não apenas nos países lusófonos, como em qualquer outra sociedade democrática, o papel do Advogado é fundamental e insubstituível enquanto sujeito ativo da efetivação dos direitos fundamentais dos cidadãos, e por essa via da afirmação do próprio Estado de Direito. Este papel é ainda mais relevante nas sociedades que experimentam uma vivência recente em regime democrático, tal como sucede não apenas em países do continente africano, como em diversos países de outros continentes. Neste sentido naturalmente se compreende que o advogado acaba por representar um papel fundamental na própria consolidação do regime democrático enquanto motor e agente do funcionamento das instituições e em particular dos tribunais, que devem assumir-se como o garante em última linha dos direitos fundamentais dos cidadãos, perante o próprio Estado e a sociedade. Com a crescente cooperação e desenvolvimento de relações empresariais cada vez mais sólidas entre os países lusófonos considera importante a criação de um Tribunal Arbitral da CPLP? Porquê? A arbitragem enquanto meio alternativo de resolução de conflitos, apresenta indesmentíveis vantagens quando comparada com a solução oferecida pelos Tribunais Judiciais. É comum identificar-se a este título as vantagens advindas da maior celeridade no julgamento do caso, a especialização dos árbitros eleitos pelas partes, e a natureza confidencial do procedimento, entre outras que poderiam referir-se. As vantagens apontadas tornam-se ainda

mais atrativas quando se atente à especial sofisticação apresentada em muitos litígios e em particular nos ocorridos no contexto de transações internacionais, o que tem motivado os interessados a encontrar soluções alternativas às formas tradicionais de resolução de conflitos pelos tribunais, Um dos maiores especialistas na matéria em Portugal dizia que a arbitragem é uma “justiça de comerciantes”, particularmente adequada à resolução de conflitos de natureza empresarial, o que explica o interesse crescente dos operadores de mercado na adopçao de cláusulas de arbitragem nos seus contratos. No contexto do espaço económico representado pelos países da CE da CPLP, a instituição de um mecanismo de arbitragem comercial poderá alem do mais contribuir para a o reforço do sentimento de confiança por parte dos diversos operadores de mercado, quanto à efetividade de mecanismos de resolução de conflitos entre empresas dos países membros, num fórum que se apresenta neutro e equidistante das jurisdições das partes envolvidas. Por via desta solução, obviar-se-ia além do mais á necessidade de submeter a resolução de litígios entre empresas da CECPLP em fóruns internacionais (por exemplos junto da CCI, LCIA ou outros), com óbvia redução dos custos de arbitragem. Também neste particular a adoçao da língua portuguesa como língua do processo arbitral não poderá deixar de ser considerada como uma significativa mais-valia. Quais seriam os maiores desafios ou mesmo entraves à criação desta instituição? Independentemente da diversidade politica e cultural apresentada no seio da CPLP, não antecipo que a proposta de criação de um Tribunal Arbitral com as características avançadas possa vir a deparar-se com a oposição a nível das instituições nacionais dos seus membros, até porque se verifica existir já em muitos deles soluções de arbitragem instituídas por lei, como sucede em Angola, Moçambique, e Cabo Verde Obviamente que é de esperar que processos desta natureza possa vir a deparar-se com as dificuldades naturais na obtenção de consensos e entendimentos no seio de uma organização com a natureza e a dimensão da CPLP. Mas mais do que uma adversidade devemos ver neste processo uma oportunidade para Portugal e para a advocacia nacional, na medida em que poderá conduzir à promoção da arbitragem em língua portuguesa num espaço económico relevante correspondente ao mercados dos países da CPLP, contribuindo por essa

via para o desenvolvimento da actividade nessa área dos escritórios de advogados nacionais que apresentam já uma experiencia consolidada na arbitragem doméstica e internacional, e quem sabe também promover Portugal como local de eleição para a realização de arbitragens neste âmbito. A globalização da economia assim como os progressivos avanços tecnológicos têm que impacto na atuação da PMCG? Tal como em qualquer outra atividade, a advocacia não pode deixar de estar exposta à evolução tecnológica, e beneficiar da inovação que dela resulta. Em qualquer escritório é hoje comum fazer-se uso de soluções informáticas para tarefas básicas como sejam as de pesquisa de informação, revisão classificação, e arquivo de documentos, com inegável economia de tempo e de custo na execução de tarefas. Esta mutação de paradigma tornará inevitável o desaparecimento de algumas funções nas organizações que estavam antes cometidas a profissionais forenses, à semelhança do que se regista em muitas áreas de atividade Noutros casos a tecnologia tornou-se- uma valiosa ferramenta de trabalho dos advogados ao facilitar a execução de tarefas e procedimentos, com acrescida segurança e eficácia, como por exemplo na condução de processos de auditoria /due diligence de índole legal ou na preparação de documentos contratuais e peças processuais. Num nível seguinte de complexidade, encontramos já soluções de IA usadas para a antecipação do resultado de procedimentos legais, discutindo-se até a possibilidade de automatização na decisão de procedimentos judiciais de natureza mais simples Trata-se naturalmente de um processo atual, e dinâmico para o qual devemos estar atentos, aceitando as mudanças que dele resultam como parte integrante do processo evolutivo em que nos encontramos. Esta constatação não impede ainda assim que coloquemos os nossos focos e principal atenção nos nossos clientes, e que elejamos como prioridade da nossa actividade a satisfação das suas necessidades. É por esse motivo que mantemos e privilegiamos uma cultura de proximidade e de personalização na relação profissional que mantemos com os nossos clientes, adaptada à constante evolução dos meios tecnológicos, de modo a responder à permanente mutação das suas exigências bem como à mobilidade das pessoas e dos seus negócios. ▪

www.pmcg.pt

19 MAIO 2019

sa (contencioso tributário e da segurança social) como na assessoria jurídico tributária, e que na atual conjuntura de mercado ganhou significativa importância na nossa pratica, em resultado do crescente fluxo de solicitações de clientes para o acompanhamento do estabelecimento à sua residência em Portugal, através dos procedimentos de ARI e RNH. Desenvolvemos igualmente atividade regular de representação de empresas estrangeiras em procedimentos de reestruturação e recuperação de empresas e insolvência, bem como na recuperação de créditos de origem transfronteiriça emergentes de relações “B2B”.


» WORKSHOP TECNOLOGIAS E PROFISSÕES DO FUTURO

PODEM AS MÁQUINAS SUBSTITUIR OS HUMANOS? A Casa Municipal da Cultura de Coimbra foi palco do workshop sobre “Tecnologias e profissões do futuro” organizado pela Academia Jovem Aliança. Carla Silva, Professora e Investigadora em Sistemas de Inteligência Artificial, foi uma das oradoras do painel que abordou a área de Data Science.

ACADEMIA JOVEM ALIANÇA

PONTOS DE VISTA

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A

s novas tecnologias, as respostas da Europa às profissões do futuro, a revolucionária tecnologia de Blockchain ou a Inteligência Artificial foram alguns do temas debatidos ao longo do dia neste workshop que se pautou pela diversidade e pela partilha de opiniões, que enriqueceram quem esteve presente e quis saber mais sobre os novos conceitos bem presentes nesta era da transformação digital. O workshop foi constituído por quatro painéis de oradores entusiastas nos temas abordados e contou com um discurso de abertura de Carolina Paixão, do Núcleo de Estudantes de Psicologia, Ciências da Educação e Serviço Social da Associação Académica de Coimbra. “É um orgulho ter jovens como a Carolina interessados por estes temas, que são atuais e têm de começar a ser pensados, pois mais cedo do que esperamos vamos ter grandes alterações nos nossos empregos, devido à robótica e às novas tecnologia”, referiu Cristiana Gonçalves, Coordenadora da Academia Jovem Aliança. Durante a manhã o primeiro painel, constituído pelo Prof. Norberto Pires (UC), Prof. Pedro Lima (IST), Prof. Jorge Conde (IPC) e moderado pela Presidente da Associação de Estudantes do

ISEC, Ana Rita Gomes, debateu a Inteligência Artificial e a Robótica. Foi proposta uma reflexão sobre as novas tecnologias, a inteligência artificial e a importância da aquisição de competências para responder aos novos desafios. “Nos últimos 40 anos verificou-se uma evolução tecnológica e dos sistemas. Profissões que deixaram de existiram, outras que nasceram e outras, ainda, que se reinventaram. A interação com máquinas permite-nos evoluir e fazer coisas até então impossíveis No entanto, não nos podemos esquecer da importância da interação humana”, elucidou-nos o professor Norberto Pires Seguiu-se a área de Data Science e Aplicações sob a perspetiva do Prof. Ricardo Mendes Ribeiro (UM) e da Profª. Carla Silva (FCT) que levou consigo para a sua intervenção a robot Pi. “Este é um projeto baseado em Inteligência Artificial e modelado por um algoritmo de aprendizagem. A Pi, nossa robot, é uma interface desse mesmo projeto, no qual pretende dar resposta à interação existente entre os nossos computadores, a mesa interativa e as plataformas digitais com conteúdos criados para os óculos VR e AR”, explica Carla Silva.

CARLA SILVA


PAULO ALMEIDA SANDE

PI

DATA SCIENCE SCHOOL

O Data Science School, que incorpora uma Metodologia Pedagógica e Científica Inovadora, é um projeto que se encontra inserido no ISCIAC na Universidade Atlântica pelo seu Centro de Estudos e Investigação em Inteligência Artificial e Ciências Comportamentais (CEII-ACC) através do núcleo de investigação Inteligência Artificial e Aplicações e o núcleo de Educação, Intervenção e Desenvolvimento Comportamental. “Associado à Investigação e Inovação desenvolvemos produtos com tecnologia diferenciadora para o mercado de software educacional, de gestão e supervisão educacional, comercializando também soluções integradoras na área de educação especial numa lógica de Inteligên-

cia Artificial”, explica-nos a professora e investigadora Carla Silva. Neste âmbito a ISCIAC Software Technologies tem desenvolvido algumas plataformas de conteúdos para óculos de Realidade Virtual e Realidade Aumentada de modo a colaborar de forma integradora neste projeto no qual se insere a PI e outros formatos de Inteligência Artificial. “Como Cientista e Professora, acredito que a modelação de dados e sua análise e interpretação figura na base de muitas das novas profissões do futuro, que ainda nem sequer são faladas agora, mas numa década o futuro muda exponencialmente”, conclui Carla Silva. ▪ PAULO ALMEIDA SANDE E PEDRO SANTANA LOEPES

PEDRO SANTA LOPES

21 MAIO 2019

Durante a tarde e num ambiente de descontração, curiosidade e partilha, o público recebeu o presidente do partido Aliança, Pedro Santana Lopes, e o cabeça de lista do partido às Europeias, Paulo Sande para falarem sobre as respostas da Europa às profissões de amanhã. O worshop foi finalizado com a chamada tecnologia do futuro: a Blockchain. Foi a vez do Prof. Miguel Pupo Correia (IST), Prof. Dário Rodrigues (IPS), Fred Antunes (APBC) e Nuno Lima Luz (CTSU/Deloitte Legal) debaterem as oportunidades da Blockchain. “O workshop correu muito bem. Tivemos ótimos painéis com excelentes oradores. O público que estava na sala mostrou-se muito interessado nos temas debatidos, intervindo positivamente. A presença da “PI” dinamizou imenso o evento e estava tudo muito entusiasmado por poder estar em contacto com uma realidade que ainda não é nossa, mas que, muito em breve, vai ser”, disse-nos Cristiana Gonçalves.


GILDA PEREIRA

FOTO: ALMA ANG

NESTE MOMENTO ESTAMOS A VIVER UM BOOM DE IMIGRAÇÃO COMO PORTUGAL NUNCA TEVE. AS CONSERVATÓRIAS ESTÃO CHEIAS DE PROCESSOS DE LUSO-DESCENDENTES A PEDIR NACIONALIDADE PORTUGUESA, DE EMIGRANTES A REGRESSAREM AO SEU PAÍS E O SEF CHEIO DE PROCESSOS DE AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA DE ESTRANGEIROS SEM QUALQUER VÍNCULO A PORTUGAL


TEMA DE CAPA

“QUERO QUE A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL SEJA VISTA COM OUTROS OLHOS”

«

Gilda Pereira é Fundadora da Ei! Assessoria Migratória, a primeira agência migratória em Portugal. Quisemos conhecer a pessoa que está por detrás desta empresa que trata de todos os assuntos e ajuda, passo a passo, quem quer mudar-se para Portugal ou viver no estrangeiro.

Teve receio? Não pensei muito nisso. Pela minha cabeça só passava a ideia de que “agora meti-me nisto e tenho de seguir em frente. Só tenho uma saída: dar certo!”. Vivia num país estrangeiro onde tinha um emprego estável quando decidi criar esta agência migratória. Estava a trocar o certo pelo incerto

Se pudesse voltar atrás faria alguma coisa diferente? Foi a escolha certa, sem dúvida. Não mudaria nada. Estou muito feliz com o rumo que a empresa tomou. Começámos em 2014 com quatro pessoas e neste momento temos 16 pessoas a trabalhar na Ei! e dois escritórios a funcionar, um em Lisboa e outro no Porto. No início foi difícil e tivemos de trabalhar muito para a introdução do conceito em Portugal e junto das pessoas. Quando a Ei!, nasceu o país estava a passar por uma crise económica que levou a um pico de emigração e era esse o nosso público-alvo: os portugueses que precisavam de ajuda na sua transição para outro país. Na altura, lembro-me, fiz um estudo e vi que um quarto das pessoas que conhecia através do Facebook estava emigrada em vários países, por isso decidi começar por oferecer serviços às pessoas que conhecia. E resultou. Depois foi uma questão de “passa a palavra” até a aumentar a procura pelos nossos serviços. Hoje, a Ei! é uma empresa que cresce todos os dias. O que a motiva e inspira diariamente? Neste momento estamos a viver um boom de imigração como Portugal nunca teve. As conservatórias estão cheias de processos de luso-descendentes a pedir nacionalidade portuguesa, de emigrantes a regressarem ao seu país e o SEF cheio de processos de autorização de residência de estrangeiros sem qualquer vínculo a Portugal, como os norte-americanos, que encontraram no nosso país um paraíso para a sua reforma, com uma qualidade de vida que não conseguem ter no seu país. Por isso, o que me inspira todos os dias é ajudar as pessoas a mudarem de vida e a ser a pri-

GILDA PEREIRA

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rismo? Os principais desafios prenderam-se, sobretudo, com o facto de, inicialmente, as pessoas não perceberem bem o conceito da empresa. Como era algo novo e que ainda não existia em Portugal as pessoas não percebiam, nem mesmo a minha família, o que pretendia quando decidi criar a Ei!.Era necessário explicar que as pessoas que estão em trânsito, que vão ou vêm para um país novo, precisam de um conjunto complexo de serviços que passam pela obtenção de vistos, de autorização de residência, abertura de conta bancária, inscrição no serviço nacional de saúde e/ou escolas ou, simplesmente, de papéis que precisam de ser traduzidos ou autenticados. A ideia era, de facto, criar uma agência especializada nestes serviços. Este é um conceito que já existia e que, inclusive, já está bastante enraizado nos países anglo-saxónicos, sobretudo nos EUA. Por isso mesmo, qualquer americano que pense mudar de país procura, em primeiro lugar, por uma agência migratória para facilitar este processo. Em Portugal este conceito não existia. No entanto, devido à demanda que estamos a assistir de entrada de estrangeiros no nosso país, a procura por este serviço começou a aumentar significativamente, principalmente por parte de cidadãos brasileiros e norte-americanos. Eu própria senti essa necessidade de procurar uma empresa que me ajudasse nas questões burocráticas e que tratasse das minhas coisas em Portugal quando estava emigrada em Angola. Coisas tão simples como reencaminhar o meu correio, pagar as minhas contas ou ir às reuniões de condomínio enquanto meu representante. Precisava da prestação de um serviço profissional que na altura não existia.

e a estabilidade que tinha. Por isso mesmo tinha de dar certo. Tinha de me focar e não podia ter tempo para arrependimentos, receios ou olhar para trás.

FOTO: ALMA ANG

Q

ue principais obstáculos/ desafios enfrentou quando decidiu lançar-se no mundo do empreendedo-


» TEMA DE CAPA meira mão amiga que elas têm em Portugal. Passámos a ser uma família para cada uma destas pessoas e isso é bastante gratificante. São aqui criados vínculos emocionais com os nossos consultores que se envolvem plenamente nos processos. Os imigrantes, eles próprios, acabam por nos envolver em cada etapa ou em cada passo importante dado na vida delas no seu novo país. São os postais que nos enviam, as mensagens, as fotografias com os elementos da família, os convites para jantares ou convívios ou, simplesmente, para celebrar o seu primeiro aniversário em Portugal. Não conseguimos desligar a vertente profissional da emocional e, por vezes, torna-se difícil conseguir aceitar todos os convites.

PONTOS DE VISTA

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E o que a define enquanto líder? Ou que principais características considera que um líder deve assumir? Falar de mim própria é sempre mais difícil. Já tinha assumido cargos de liderança anteriormente e penso que sempre os encarei com alguma naturalidade. Mas o que sinto é que a minha liderança não é por imposição, que o meu estilo de liderança passa pelo exemplo e que é através dele que a equipa me quer seguir. Sou a primeira a avançar, a motivar, a abraçar os desafios e atirar-me de cabeça, de tal forma que as coisas acabam por ser feitas de forma natural. As pessoas que aqui trabalham são pessoas que já trabalharam comigo noutras empresas, penso que isso significa muito. Sou bastante tolerante com a equipa, apesar de ser bastante exigente. Se acontece algum erro sou eu quem dá a cara, quem assume o erro perante o cliente e pede desculpa em nome de toda a equipa. Acho que existem muitas situações onde as pessoas trabalham sob a cultura do medo e, na Ei!, prezo muito que as pessoas se sintam bem, sejam felizes e tenham liberdade de horário para conseguirem conciliar a sua vida profissional com a vida pessoal. Se hoje alguém precisa de sair mais cedo ou chegar mais tarde, não há problema. No dia seguinte compensa de forma a terminar o seu trabalho. Há liberdade com responsabilidade. O facto de ser mulher é, de alguma forma, um desafio acrescido no mundo do empreendedorismo e da liderança? Nunca senti que fosse um entrave para mim. Ao longo do meu percurso profissional fui assumindo cargos de liderança, formei equipas, tive de lidar com a gestão de pessoas, muitas vezes num meio empresarial maioritariamente masculino e acho que as coisas correram bem e fui sempre respeitada.

EQUIPA DA EI! ASSESSORIA MIGRATÓRIA

Mas, sobretudo, adoro trabalhar e acho que isso faz toda a diferença para conseguirmos, de certa forma, superar desafios ou obstáculos. Sempre trabalhei e me dediquei muito, mesmo quando as empresas não eram minhas. Por isso, fazer o mesmo que já fazia antes, mas com a minha empresa, só tornou as coisas mais fáceis porque tenho mais liberdade para fazer as minhas escolhas. Contudo, existe aqui um aspeto essencial e que não posso deixar de o referir: o apoio incondicional da minha família e do meu marido que teve de assumir, muitas vezes, os papéis de pai e mãe. Nunca se coibiu de fazê-lo. É ele quem leva os nossos filhos à escola e quem os vai buscar. É ele quem assegura tudo até eu chegar a casa, por volta da hora do jantar. A partir daí é o momento para a família, tal como os fins de semana que tento que sejam exclusivamente para a família, embora, no início da Ei!, não tenha sido possível ter fins de semana nem feriados, o que me levou a estar muito ausente. No entanto, essa ausência compensou-se com um pai muito presente e, apesar de a sociedade ainda impor muitos limites às mulheres e ao seu papel, é possível conciliar uma carreira profissional de sucesso com a vida familiar e pessoal. Muitas vezes as limitações estão na própria cabeça das mulheres e cabe-nos a nós, mulheres, ultrapassar esses entraves. Nos primeiros anos de vida desta empresa houve, de facto, muito sacrifício por parte da família, mas também muita compreensão e, hoje, existe tempo para tudo: para a empresa, para a família, para os filhos e para o marido. Penso que hoje todos reconhecem o sacrifício inicial que valeu a pena! O que mudou na sua vida, para além do óbvio, com a Ei!? Tornei-me mais poupada, sem dúvida. Hoje tenho famílias inteiras a dependerem de mim e do sucesso desta empresa. Por isso todas as contas têm de ser analisadas ao pormenor. Todos os gastos e todos os ganhos têm de ser ponderados porque o que hoje é garantido, amanhã pode não ser. Não recorri a financiamento para este projeto, foi tudo feito com as minhas poupanças, com o que arrecadei enquanto trabalhei fora. Hoje sou uma pessoa mais poupada.

E o que quer mudar com esta agência migratória? Quero que a imigração em Portugal seja vista com outros olhos. Quero que seja olhada com a arte do bem-receber. Portugal sempre foi um país de emigrantes e existem portugueses espalhados pelo mundo. Agora os papéis inverteram-se e é a nossa vez de saber receber pessoas que procuram melhores condições de vida para si e para as suas famílias, tal como os portugueses foram bem recebidos lá fora. Não nos podemos esquecer que a migração é cíclica e que podemos voltar a precisar de sair do nosso país à procura de melhores condições. Aquilo que vejo e que sinto é que ainda existe muita discriminação por parte dos portugueses em relação aos imigrantes que não entendem as mais-valias que eles representam para o país. A imigração está contribuir com muita mão-de-obra qualificada e necessária para o desenvolvimento do nosso país. Tem dado também um excelente contributo para povoar o interior do país, para combater o envelhecimento e para aumentar a taxa de natalidade. Deparamo-nos, diariamente, com senhorios que não querem arrendar casas a estrangeiros, negando-lhes uma oportunidade de, muitas vezes, recomeçarem a sua vida no nosso país. Os imigrantes não vêm “tirar” o trabalho a ninguém. Muitos deles vêm criar postos de trabalho ou empreender, contribuindo para o desenvolvimento do país, pois não nos podemos esquecer que quando a crise se instalou em Portugal a massa laboral saiu à procura de trabalho no estrangeiro, ficando apenas as camadas mais jovem e idosa. São os imigrantes que estão a preencher, agora, essa lacuna. Quero que Portugal seja conhecido como um país que bem recebe e que entenda que esta multiculturalidade é enriquecedora. Que principais problemas iremos enfrentar com a globalização no que diz respeito à migração? Ou, na sua opinião, ao que iremos assistir? Em Portugal estamos a assistir a falta de infraestruturas e de organismos públicos para receberem tantas pessoas. Por exemplo, não existem vagas nas escolas e as

listas de espera já são bastante extensas. Os centros de saúde não estão a conseguir atribuir mais médicos de família aos imigrantes. Aceitam as inscrições, mas avisam que não existem, de momento, médicos de família disponíveis. As filas de esperas no SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) são enormes, as conservatórias e as finanças estão cheias e carecem de recursos humanos para fazer face ao elevado número de processos. Se o país quer continuar a receber imigrantes tem de se adaptar e essa adaptação passa, em muito, pela reestruturação destas infraestruturas básicas. De que forma a Ei! se diferencia? Que verdadeiro papel pretende assumir no país e junto às pessoas? Na vertente humana. Aqui temos um tratamento muito personalizado e muito humano. As pessoas aqui dentro não têm um número, têm nome. As pessoas que aqui trabalham foram emigrantes, ou são filhos de emigrantes, e são imigrantes. A nossa equipa é constituída por profissionais da Moldávia, do México, do Irão e do Brasil e só temos a ganhar com isso. Passaram pelo processo da emigração/imigração e quem passou por isso só tem muito a acrescentar à nossa empresa, aos processos e ao contacto com o cliente. Qual é agora a grande aposta da Ei!? A empresa ganhou um rumo que superou, em muito, as expectativas. Depois da primeira edição da Web Summit em Portugal e com a transformação do Porto e de Lisboa em polos tecnológicos, as empresas de TI depararam-se com a falta de recursos humanos qualificados nesta área, tendo de optar por procurar e contratar pessoas lá fora. Começámos, por isso mesmo, a ser procurados por empresas de TI que solicitam os nossos serviços para a obtenção de vistos para contratos de trabalho. Neste momento, este é o maior departamento da Ei! e representa cerca de 50% da nossa faturação. Futuramente, o percurso da empresa passa por criar um novo departamento de legalização de profissionais para a falta de mão-de-obra que sentimos existir no setor da hotelaria e restauração. Já fomos procurados por grandes cadeias de hotéis e por restaurantes de renome, já temos bastantes solicitações e por isso mesmo vamos agora focar-nos nesse departamento. Uma vez mais digo que não tive medo, segui em frente e deixei-me levar, mas sempre muito focada. ▪



» RGPD – UM ANO DEPOIS OPINIÃO DE ANA MENEZES MONTEIRO, CIPP/E, CIPM, CIPT E FIP

UM ANO DE RGPD UMA ANÁLISE

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epois da tentativa falhada de aprovar uma nova lei de proteção de dados em 2018 continuamos em 2019 à espera da Lei. O que podemos esperar? De acordo com dados da União Europeia 4 países ainda não publicaram leis ao abrigo do RGPD: Bulgária, Grécia, Malta e Portugal. O anteprojeto de lei foi “chumbado” pela CNPD por violar o RGPD em inúmeras das matérias tratadas. Esta semana, espera-se aprovação da Proposta de Lei por parte da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. E que matérias podemos esperar ver reflectidas na nova legislação? Alguns exemplos do que pode vir a ser regulamentado: • Autoridade de Proteção de Dados; • Outras sanções aplicáveis em caso de violação do RGPD, nomeadamente crimes; • Conciliação do direito à proteção de dados e a liberdade de expressão e informação; • Tratamento de dados no contexto laboral; • Obrigações de sigilo.

PONTOS DE VISTA

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E quanto à não aplicação de coimas às entidades públicas? Neste ponto, estou completamente de acordo com a Dr.ª Filipa Calvão que invoca o princípio da igualdade para manter a posição de que tanto as entidades privadas como as publicas devem cumprir com o RGPD (e a Lei 67/98 que está em vigor há mais de 20 anos). De facto, desde a primeira lei de Proteção de Dados (Lei 10/91) que as entidades públicas estão sujeitas a esta lei. Não faz sentido agora “desresponsabilizar” as entidades públicas que deveriam estar conforme com a lei. Relembro que o atual RGPD não é muito diferente da anterior Diretiva, nem da atual Lei de Proteção de Dados. Este ano de GDPR foi marcado por uma aplicação das primeiras coimas: 1. Alemanha - 20.000 euros a primeira coima aplicada pelo LfDI – Autoridade de supervisão de Baden-Wuerttemberg. A coima foi imposta a uma empresa de social media por violação das

Barreiro €400.000 por, entre outros, permitir que pessoal não clínico tivesse acesso a dados de saúde dos titulares dos dados. Fale-nos um pouco mais da coima do Hospital do Barreiro Montijo por violação do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD)

obrigações de segurança dos dados. Até à data, a coima alemã mais elevada foi de €80,000 aplicada a uma entidade que permitiu que categorias sensíveis de dados (dados relativos à saúde dos titulares) fossem vistos publicamente. 2. Áustria impôs uma coima de €4.800 em resultado de atividades ilegais de videovigilância 3. Itália: O Garante (Autoridade de Supervisão Italiana) aplicou uma coima de €50.000 a um subcontratado (subcontratante na acepção do RGPD) por este não ter aplicado várias medidas de segurança dos dados. 4. França: O CNIL (Autoridade de Supervisão Francesa) aplicou uma coima de €5.000.000 à GOOGLE LLC, por falta de transparência, informação inadequada e falta de consentimento válido relativamente à personalização de anúncios. Esta foi a coima mais elevada ao abrigo do GDPR até à data. 5. Polónia. O montante da coima foi de €220.000 e o motivo para a mesma foi o não cumprimento da obrigação de fornecer a informação prevista no artigo 14º aos titulares dos dados. 6. Portugal: aplicou uma coima ao Hospital do

A CNPD constatou na ação de fiscalização que realizou que a política de atribuição de credenciais permitia que funcionários administrativos usufruíssem do nível de acesso reservado ao grupo Médico, o que se traduzia na possibilidade indiscriminada de consulta de processos clínicos de todos os utentes dos hospitais. Por outro lado, as credenciais de acesso permitiam a qualquer médico, independentemente da especialidade, a qualquer altura aceder aos dados dos pacientes de um hospital. A CNPD também constatou que eram mantidos perfis inúteis respeitantes a médicos que já não prestavam serviços aos hospitais e por último o sistema não permitia a sua auditabilidade, ou seja, o registo de entrada e saída numa aplicação fornecia uma informação muito limitada sobre a sua utilização.

O GDPR EM NÚMEROS

De acordo com a infografia da European Data Protection Board de janeiro de 2019 tinham sido apresentadas 96.180 queixas por parte de titulares de dados que consideraram que os seus direitos tinham sido violados, em concreto através de ações de telemarketing, emails publicitários e câmaras CCTV. Em Portugal, de acordo com a Presidente da CNPD, as queixas são sobretudo sobre “telemarketing, spam, envio de e-mails não solicitado”. Relativamente a violações de dados comunicadas até janeiro deste ano, deram entrada nas autoridades de supervisão europeias 41.502, o que nos dá uma visão de como as entidades não estão a proteger os nossos dados. Em seis meses de aplicação do RGPD a CNPD já tinha recebido 147 notificações de violações de dados. ▪


RGPD – UM ANO DEPOIS

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E UM ANO DEPOIS DO RGPD… O QUE É QUE MUDOU? Um ano depois da implementação do RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados) tão temido por muitos, a Revista Pontos de Vista foi tentar perceber o que mudou, de facto, para as empresas e se o balanço até à data é positivo. Fernando Fevereiro Mendes e Rui Soares, da Focus2Comply, explicaram-nos tudo.

QUEM AINDA NÃO COMEÇOU AINDA VAI A TEMPO?

Sim! Se precisa de acompanhamento deve procurar uma empresa com forte conhecimento processual, organizacional e tecnológico e com parceria na área jurídica, como é o caso da Focus2Comply. Posteriormente, haverá um diagnóstico

FERNANDO FEVEREIRO MENDES E RUI SOARES

da empresa para mapear dados pessoais e encontrar a melhor forma de os tratar. Tudo isto a par de formação a todos aqueles que formam a empresa porque e, segundo os nossos entrevistados, “não adianta ter um projeto implementado se os colaboradores não tiverem formação para entenderem o que é o RGPD. O elemento humano é o elo mais fraco no controlo da segurança da informação e privacidade”, alertam. “Quando fazemos o diagnóstico de conformidade com o RGPD utilizamos como base a norma britânica BS 10012, que trata a parte da privacidade, mais a norma ISO 27001 – que trata da componente geral de segurança da informação. Casando as duas temos a visão completa, o casamento perfeito”, explica Fernando. Hoje, passado um ano, existem empresas que ainda têm pouco ou nada em conformidade. Até à data ainda não há registo de coimas aplicadas - e para já, o que se sabe é que as entidades que não estejam a cumprir o RGPD terão um prazo de seis meses para legalizarem pro-

cedimentos, sem que sejam alvo de qualquer penalização.

COM O RGPD ESTAMOS AGORA MAIS SEGUROS?

“Não existe segurança ou conformidade a 100% mas atingimos um patamar de políticas essenciais para que o regulamento seja cumprido”, revela Rui Soares. “Houve uma corrida quando a data se aproximou – o que resultou em respostas mal dadas. As pessoas precisam de entender que o RGPD veio trazer um modo de sistematização no tratamento da informação – não faz sentido guardar-se dados que não são necessários, por exemplo –“, explica.

O CASAMENTO PERFEITO

Fernando Fevereiro Mendes conta que “o regulamento dá azo a interpretações, e leva as pessoas a ligar o «complicómetro». Daí ser tão necessário ligar a parte jurídica à técnica. Existem processos que estão bem estruturados e que auxiliam mesmo as empresas mais pequenas a implementar para descomplicar”. De forma a acompanhar os clientes,

a Focus2Comply, criou um serviço que auxilia as empresas na manutenção do tratamento de dados: o DPO Assistance. “É de máxima importância haver uma pessoa dentro da organização que seja responsável pelo tratamento dos dados. Não basta implementar um projeto e parar por aí, o tratamento de dados é constante. Como forma de dar resposta a esta necessidade criámos o DPO Assistance, um serviço de assistência para ajudar esse responsável designado. Muitas vezes vemos que as pessoas que foram nomeadas para fazerem o trabalho de DPO não têm os conhecimentos necessários para tal e este serviço dá-lhes a orientação necessária para realizarem o seu trabalho. Funciona como um canal privilegiado com essas pessoas seja presencialmente ou remotamente via diversos canais com tempos de resposta acordados previamente”, comentam os especialistas. “O tecido empresarial português reagiu, de forma geral, ao RGPD como sendo um aborrecimento, mas hoje já há empresas que entendem a importância e veem nestas mudanças uma boa oportunidade até para incrementar a sua reputação e inclusive ganhar dinheiro, afirma Rui Soares. Se ainda não tratou de colocar a sua empresa em conformidade com o RGPD saiba que ainda vai a tempo. Mas não se esqueça que esta é uma medida obrigatória e não facultativa, ou seja, trate dos seus dados e, ao mesmo tempo, aproveite a oportunidade de acrescentar valor à sua empresa. ▪

27 MAIO 2019

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feedback dos nossos clientes é positivo e realmente verifica-se que houve uma das fases de trabalho que serviu para elevar a maturidade dos nossos clientes relativamente ao tratamento de dados e da privacidade. Houve muito ruído no mercado e as pessoas estavam assustadas sobre como seria… Conseguimos minimizar o susto e implementamos um conjunto de projetos com os quais estamos muito satisfeitos”, começa por revelar Fernando. “No entanto, por outro lado, encontramos algumas organizações cuja sensibilidade para a proteção de dados era quase nula”, avança. O regulamento é de aplicação direta e o que assustou mais as empresas, de acordo com os nossos interlocutores foram as coimas. A par disto, o medo de ter em sua posse dados de terceiros levou as empresas a eliminá-los, no entanto, aquilo que o regulamento diz é para tratarem licitamente os dados e não deixar de os usar. Em Portugal, o regulamento veio trazer algumas dores de cabeça devido à desinformação ou informação passada de forma errada e este foi um dos grandes desafios à sua implementação.


» DS SMITH PORTUGAL

“QUANDO UM CLIENTE PENSA EM ALGO DIFERENTE, QUEREMOS QUE PENSE NA DS SMITH”

AMÉRICO ROCHA

PONTOS DE VISTA

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Líder de mercado em Portugal no setor do Packaging, a DS Smith orgulha-se do seu percurso e do papel que tem vindo a assumir no mercado nacional. Em entrevista à Revista Pontos de Vista, Américo Rocha, Diretor Geral da DS Smith Packaging Portugal, explica as mais-valias das soluções de embalagem/packaging para as organizações e para a cadeia logística.

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omecemos por falar um pouco sobre a presença da DS Smith em Portugal. Que papel e que posição assume atualmente no mercado português? É com imenso orgulho que em menos de três anos assumimos a posição de líder de mercado. A DS Smith entrou em Portugal no final de 2016 com a aquisição da Gopaca e da P&I Displays e hoje, após a recente aquisição da Europac, conta com o maior número de unidades fabris comparativamente com qualquer outro fabricante. É notável termos atingido tal proeza em tão curto espaço de tempo. Saliente-se que o Grupo DS Smith é líder em cartão ondulado na Europa e especialista em packaging em todo o mundo, opera em 37 países e emprega cerca de 32.000 pessoas. E que posição procuram alcançar junto dos clientes?

O nosso objetivo é sermos líderes em soluções de embalagem recicláveis graças a um excelente serviço, qualidade, inovação e soluções ambientalmente sustentáveis para os nossos clientes. Queremos que os clientes vejam na DS Smith o seu parceiro ideal para tudo o que envolve o Packaging, desde o seu desenvolvimento ao impacto ambiental, não esquecendo as novas tendências como as vendas online ou a divulgação nos pontos de venda. Com as nossas inovadoras soluções de embalagens e displays oferecemos valor às marcas que procuram diferenciar-se, valor esse que queremos manter, personalizar e potenciar todos os dias em cada cliente. A nossa filosofia passa também por adotar novos desafios, é isso que pretendemos; quando um cliente pensa em algo diferente, queremos que pense na DS Smith.

Colocam a questão “porque é que o packaging deveria ser uma prioridade na sua agenda?”. E porquê? A embalagem sofreu uma grande transformação quanto ao papel que ocupa na cadeia de fornecimento. Antigamente era vista como um “mal necessário”, hoje é vista como algo essencial não só para o transporte, mas também para promover o seu conteúdo. Hoje em dia o cliente final não dá segundas oportunidades, se o produto não impressiona à primeira vista, dificilmente voltará a fazer parte das suas escolhas. Com as vendas online, o primeiro que se vê é a embalagem! A embalagem chega a casa do consumidor, desempenhando um importante papel ao gerar a primeira impressão que o cliente tem do produto. Por isso, se a embalagem é tão importante e influencia diretamente a decisão de compra final, porque não ser prioritária?


Queremos que os clientes vejam na DS Smith o seu parceiro ideal para tudo o que envolve o Packaging, desde o seu desenvolvimento ao impacto ambiental, não esquecendo as novas tendências como as vendas online ou a divulgação nos pontos de venda

O packaging tornou-se num elemento fulcral para afirmar os produtos perante consumidores cada vez mais exigentes e cercados de estímulos à compra?

O cliente valoriza o modo como um produto é embalado, o que influencia diretamente a decisão de compra; na verdade, há uma inter-relação direta entre o modo como um produto é embalado, a aquisição e a retenção de clientes pelas marcas

Efetivamente estamos num mundo cada vez mais exigente e conectado, tudo o que possamos comprar é avaliado e o consumidor irá comentar a sua experiência realçando detalhes que muitos nem reparam. A exigência é elevada! O cliente valoriza o modo como um produto é embalado, o que influencia diretamente a decisão de compra; na verdade, há uma inter-relação direta entre o modo como um produto é embalado, a aquisição e a retenção de clientes pelas marcas. As embalagens progrediram nos últimos anos, deixaram de ser usadas unicamente para transporte, transformaram-se num meio muito potente de Marketing, com o intuito de estimular a compra. A DS Smith é líder de mercado em Portugal no setor do Packaging. Hoje em dia que verdadeiros desafios enfrenta num mercado cada vez mais competitivo e exigente? O verdadeiro desafio é criar meios para que os nossos clientes consigam aumentar as suas vendas, reduzir os custos e minimizar os riscos. Parece algo fácil, mas não o é, para isso temos de ter em conta todas as fases do ciclo de fornecimento e captar informações essenciais dos processos. Considerando que os produtos

atravessam uma cadeia de fornecimento cada vez mais complexa e, competem para captar a atenção do consumidor em ambientes cada vez mais lotados, o grau de exigência a que se submetem as embalagens nunca foi tão grande. Com base nestes pressupostos, pretendemos inaugurar dois centros de desenvolvimento em 2020, algo inédito em Portugal que irá inovar a forma de trabalhar o Packaging. E o próprio tecido empresarial, a que desafios tem de responder nesta era onde conceitos como transformação digital, inteligência artificial, economia digital ou sustentabilidade imperam? Qualquer empresário pretende estar na linha da frente de qualquer inovação ou tendência. Na minha opinião o grande desafio é como conceber as nossas empresas face à rápida alteração de rumo. Vivemos numa sociedade cada vez mais frenética em termos de consumo e isto faz com que tenhamos de ser ágeis e estar o mais preparados possível para atender às expectativas. Atualmente as palavras mais usadas no setor do Packaging são sustentabilidade e e-commerce, quais serão as tendências seguintes? Sejam quais forem, temos de ser rápidos e estar sempre atualizados para dar o melhor e mais completo serviço aos nossos clientes! O ambiente é um tema que continua na ordem do dia. Quais as preocupações da DS Smith ao conceber embalagens sustentáveis? Como comentado, a DS Smith tem um firme compromisso com o caráter sustentável das suas embalagens e com o respeito pelo meio ambiente. Por esta razão, trabalhamos diariamente no sentido de desenvolver e fornecer embalagens adequadas para os nossos clientes, que estejam totalmente ajustadas ao produto que está no seu interior, de modo a garantirem a sua proteção, a reduzir-se o excesso de material de embalagem e resíduos, os custos de transporte e as emissões de CO2 e a salvaguardarmos a imagem das marcas dos nossos clientes. É, por isso, nossa preocupação reduzir ao máximo a nossa pegada de carbono e contribuir para uma economia circular com soluções respeitosas e inovadoras. ▪

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Que mais-valias as soluções de embalagem/ packaging apresentam para as organizações e para a cadeia logística? Uma das nossas prioridades é a redução de custos para a cadeia logística. Oferecemos aos nossos clientes diversas soluções que os ajudam a reduzir os custos de transporte e por consequência o impacto ambiental. O nosso slogan “The Power of Less” vem realçar precisamente a necessidade de redução de fibras na embalagem, permitindo às empresas transportarem o mesmo produto, por um preço mais económico. No entanto, creio que o nosso maior contributo para as organizações e o mundo que nos rodeia é o facto de sermos um Grupo que trabalha em parceria com os clientes, no sentido de desenvolver embalagens sustentáveis, todas elas produzidas com papel 100% reciclável. Cada vez mais somos confrontados pelos nossos clientes para os ajudarmos a encontrar soluções que substituam o plástico. Há uma preocupação séria em relação a este tema e a DS Smith pode ajudar na redução do consumo de plástico.


» RECRUTAMENTO NO SETOR DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

“O ECOSSISTEMA ESTÁ A MUDAR E NÓS ESTAMOS A MUDAR EM HARMONIA COM ELE” O que está a mudar nos Recursos Humanos em Portugal? Estão as empresas preparadas para os desafios inerentes à captação e retenção de talentos ou para atrair a geração Millennial? Sofia Brazão, Responsável de Recursos Humanos Portugal & Distribuidores do Leste da Europa na Gilead Sciences, responde-nos a estas e outras questões.

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omprometidos com a missão de melhorar a vida dos pacientes que usam os vossos produtos, a Gilead é, sobretudo, uma organização de pessoas para pessoas? Sim diria que a Gilead é uma empresa de pessoas para pessoas, embora considere que qualquer organização o deva ser. Posso, todavia, concordar que sendo a nossa missão encontrar soluções terapêuticas para necessidades médicas não preenchidas, a responsabilidade é ainda maior, pois esta missão permite-nos ter um propósito comum, que nos dá outra energia para nos levantarmos da cama todos os dias para fazermos o nosso trabalho, independentemente das complexidades e dificuldades do mercado. Por isso mesmo podemos dizer que enfrentam um duplo desafio no que diz respeito ao capital humano e à sua gestão? O desafio pode ser duplo, triplo, enfim… Preocupamo-nos em ter as pessoas certas nos lugares certos, para contribuirmos para entregar as nossas soluções terapêuticas do modo mais eficiente possível. Nesse sentido, e em tempo de super-heróis, diria que com uma “missão destas” vem sempre uma grande responsabilidade. Para cumprirmos aquilo a que nos propusemos temos de assegurar que as pessoas se sentem bem a trabalhar connosco, sentem que estão a crescer, a evoluir, porque pessoas satisfeitas e felizes dão mais, aprendem mais depressa, dedicam-se mais. Sem esquecer que são as pessoas que representam a nossa marca e que a sua forma de estar no mercado é a forma de estar da Gilead, para quem interage connosco.

PONTOS DE VISTA

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SOFIA BRAZÃO

Com o capital humano a influenciar cada vez mais nos resultados da empresa, como é que a Gilead tem procurado responder a este desafio? A Gilead procura encontrar oportunidades de futuro no seu negó-


Com a transformação digital e com os novos conceitos a ela associados, o recrutamento e seleção de recursos humanos nas organizações ganhou uma nova dimensão e complexidade? Diria que ganhou uma nova dimensão, que tem muito a ver com o diagrama em rede que subjaz a qualquer rede social de recrutamento ou outra. Não considero que tenha ficado mais complexo, ficou menos padronizado. As descrições de função estanques deixam de fazer sentido pela velocidade a que o mundo evolui e pelo natural princípio da incerteza com que todos vivemos nos dias de hoje, as competências e as inteligências emocional e moral ganham protagonismo. Se o futuro do trabalho para situações padronizadas e não só, está na robótica, temos de investir naquilo que nos diferencia dessa força de trabalho, não numa perspetiva de competitividade e de se ser insubstituível, mas numa perspetiva de diferen-

A Gilead é também pela sua idade uma millennial, e tem procurado flexibilizar o seu modo de funcionamento para facilitar a retenção de talento. Introduziu aulas de yoga semanais, protocolos vários com ginásios, restaurantes, entre outros

ciação, de apostarmos naquilo que torna o ser humano diferente e naquilo que nos faz sentir bem. Estas características vêm de processos de aprendizagem contínuos e de raciocínios indutivos e dedutivos que nos libertam “endorfinas” na resolução de problemas, muitas vezes entre pessoas e para as pessoas, cujas variáveis não são padronizáveis. Assim, a intuição ganha nesta transformação um peso ainda maior, nomeadamente no recrutamento das pessoas certas para as necessidades presentes e futuras do negócio. A geração ‘Millennials’ veio revolucionar a forma de consumir, mas também o mercado de trabalho. Estão as empresas preparadas para a geração que cresceu no mundo da Internet? Atrevo-me a dizer que esta é uma evolução natural e as empresas têm de antecipar esta evolução, mais até do que se adaptar à mesma. As empresas em geral estão em processo de mudança, subjacente a isto está a tão velha lei da oferta e da procura. Os Millennials são os trintões do momento e, portanto, uma importante força de trabalho e determinantes como consumidores, logo para as empresas continuarem a ter sucesso, necessitam de ter pessoas motivadas e empenhadas e para isso, têm de encontrar forma de as atrair e reter. Assim, de repente fala-se mais de equilíbrio pessoal e profissional, de benefícios de formação em vez do automóvel e fundo de pensões, de pequenas licenças sem vencimento para permitir aos nossos colaboradores fazerem voluntariado do outro lado do mundo e fala-se menos de hierarquia, de estatuto e de poder. Procura-se mais o projeto, a empresa que seja sustentável, mas que ofereça diversidade de oportunidades para poder continuar a aprender. Sobretudo, não devemos ter soluções padrão, mas soluções adaptadas à realidade de cada um. Se pensarmos bem, esta necessidade surge de forma marcada com

esta geração, mas nós, que fazemos parte das gerações anteriores também conseguimos perceber o benefício destas mudanças e tirar proveito delas, razão pela qual as apoiamos e implementamos. De que forma a própria Gilead tem procurado receber estes novos talentos que são mais ligados à qualidade de vida, ao mundo tecnológico e ao empreendedorismo e que, segundo um estudo, com 35 anos, começam a assumir cargos de liderança e já estão a mudar o ecossistema das empresas? A Gilead é também pela sua idade uma millennial, e tem procurado flexibilizar o seu modo de funcionamento para facilitar a retenção de talento. Introduziu aulas de yoga semanais, protocolos vários com ginásios, restaurantes, entre outros. Importa, todavia, reiterar, que as medidas de horários flexíveis, possibilidade de trabalhar a partir de casa alguns dias por semana, a ausência de controlo de ponto, as sextas-feiras com jornada mais curta são medidas também apreciadas pelas gerações mais velhas, pelo que estas alterações, ainda que tenham implicado algum tempo de adaptação natural, são hoje valorizadas por todos e em benefício de todos. O ecossistema está a mudar e nós estamos a mudar em harmonia com ele, o que torna todo o processo mais natural. ▪

A GILEAD EM PORTUGAL A Gilead Sciences é uma empresa biofarmacêutica que investiga, desenvolve e comercializa terapêuticas inovadoras em áreas da medicina com maior necessidade. A missão da empresa é a de proporcionar tratamento a doentes com doenças potencialmente fatais, em todo o mundo. A Gilead em Portugal está em funcionamento desde 1996. A empresa iniciou a sua atividade como Nexstar Farmacêutica, Lda. e em 2001 tornou-se oficialmente Gilead Sciences Lda. A filial da Gilead em Lisboa proporciona suporte de vendas, marketing, médico e regulamentar aos produtos da Gilead em Portugal.

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cio atual. O nosso objetivo é que o peso do nosso capital humano para a Gilead como um todo seja consideravelmente maior que o peso das nossas vendas. O facto de não sermos grandes em número de pessoas ainda que, por vezes, implique alguma sobrecarga de trabalho, permite que o nosso trabalho seja sempre em equipa. Quando há novos projetos, e há muitos, ou não fossemos uma empresa de biotecnologia, todos dão um pouco mais do seu tempo para preparar a entrada de uma nova área terapêutica, por exemplo. E assim exploram-se áreas que não fazem parte do nosso quotidiano profissional, descobrindo, desse modo, possíveis evoluções de carreira para funções diferentes das que se exercem agora, tornando o nosso espectro de competências cada vez mais abrangente. Apesar da nossa pequena dimensão incentivamos, também, as rotações internas nacionais e internacionais. Arranjamos forma de, através de trainees, colmatarmos essas ausências e, ao mesmo tempo, aumentamos a diversidade geracional das nossas equipas, dando oportunidades de desenvolvimento a jovens saídos da faculdade, e beneficiando do maior conhecimento e motivação de quem fez a rotação. Reconhecemos o trabalho bem feito e comunicamos sobre ele, o que coloca os elementos das nossas equipas em evidência, quando há recrutamentos internacionais. Acreditamos que o nosso exemplo pode ser benchmark e procuramos sempre fazer diferente e melhor.


PONTOS DE VISTA NO FEMININO

“A INDÚSTRIA PASSOU A SER UMA PARCEIRA NA CONSTRUÇÃO DE SOLUÇOES TERAPÊUTICAS” É em 2016 que a Mundipharma chega a Portugal. Com ela traz dois produtos inovadores: um para o tratamento da asma e um para o tratamento da diabetes. É também em 2016 que Sofia Ferreira assume o cargo de direção, Business Intelligence e CRM da Mundipharma Portugal, iniciando uma nova etapa da sua vida. Venha connosco conhecê-la.

PONTOS DE VISTA NO FEMININO

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AUTONOMIA E RESPONSABILIZAÇÃO

É em dezembro de 2018 que Sofia Ferreira é selecionada para exercer a função de Country Manager de Portugal da Mundipharma. “Tem sido um desafio”, afirma. “Mas o meu percurso pela empresa permitiu-me ter um forte conhecimento de negócio e de gestão de equipa apesar de não ter experiência anterior enquanto diretora geral”, diz-nos Sofia Ferreira. No entanto, não deixa de ser um desafio. Um duplo desafio. “Por um lado, porque já estava nesta empresa enquanto colega de equipa e passei a assumir funções de liderança. Por outro lado, por ainda estar em fase de adaptação e por ter de conseguir deixar a operacionalidade do negócio. Tinha funções muito operacionais e agora tive de aprender a ter uma visão estratégica”, elucida a nossa entrevistada. Sofia Ferreira sabe que é um processo de aprendizagem, mas afirma que tem tido muita sorte pelo forte suporte que tem recebido por

FOTO: DIANA QUINTELA

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omecemos pelos três valores pelos quais a Mundipharma se rege: espírito guerreiro, coração prestativo e atitude de diversão. São estes valores que também Sofia Ferreira traz consigo e que faz transparecer. Quando, em 2016, a multinacional americana decide abrir uma filial em Portugal, é criada uma equipa de raiz, iniciando a sua atividade na linha respiratória com o lançamento de um medicamento para o tratamento da asma. O objetivo, esse, é aumentar a qualidade de vida dos doentes respiratórios e diminuir a despesa pública para o Serviço Nacional de Saúde. O que começou com uma estrutura pequena rapidamente ganhou dimensão, novos projetos e novos desafios. É então que Sofia Ferreira é convidada para o cargo de direção comercial, assumindo a responsabilidade de toda a equipa comercial, e é lançado um novo produto na área da Diabetes. Tratam-se de dois produtos completamente inovadores e únicos. Em 2018 a equipa da Mundipharma Portugal abraça um novo desafio para desenvolver e lançar produtos na área hospitalar, uma área em desenvolvimento e onde já foram lançados três produtos para o mercado, na área da dor e na área da toxicodependência, e um medicamento biossimilar. Uma vez mais Sofia Ferreira recebe a proposta para abraçar este projeto. Paralelamente, é iniciado um processo de seleção para o cargo de Country Manager de Portugal e Sofia Ferreira é indicada para este processo de seleção.

SOFIA FERREIRA

parte da sua equipa. “Tenho de ser uma pessoa diretiva, mas não sou uma pessoa de impor a minha forma de pensar. Tento levar a equipa comigo, ao meu lado, para juntos alcançarmos os objetivos que a Mundipharma se propõe a alcançar. Procuro que exista sempre uma envolvência por parte de todos, levando todos temas a discussão”, explica Sofia Ferreira, tendo em conta a filosofia da empresa que é a total transparência de informação. Na Mundipharma as pessoas são todas envolvidas nas tomadas de decisões e no pré-lançamento de produtos. “Temos um modelo de gestão que permite que a equipa tenha autonomia para tomar decisões que considerem ser as mais corretas naquele momento. Se errarmos serve para experimentar, aprender e continuar. Este modelo permite-nos ser bastante ágeis”, acrescenta a nossa entrevistada. A verdade é que, em termos de aprendizagem, a Mundipharma é uma empresa bastante

enriquecedora. “Aqui conseguimos facilmente ascender a diferentes funções, cargos e passar por diferentes experiências que nos ajudam a crescer pessoal e profissionalmente”, realça Sofia Ferreira. Com uma estrutura que tem resultado e que a transformou numa empresa mundialmente conhecida, a Mundipharma é hoje companhia de referência em Portugal na área respiratória, “num mercado que é bastante conservador e com players fortes”. Por outro lado, o lançamento do produto inovador na área da diabetes, veio consolidar a sua posição nos cuidados de saúde primários. O resultado deve-se a este modelo de negócio, uma organização “horizontal e sem burocracia”, características que lhe permitem “agilidade, rapidez de resposta às necessidades do mercado, flexibilidade e capacidade de adaptação à mudança”. “Sabemos selecionar muito bem aquilo que queremos fazer, onde queremos e como o que-


saúde de forma a apresentar estratégias e produtos inovadores”, alerta Sofia Ferreira. A indústria tem de estar preparada para as exigências dos profissionais de saúde e para os pacientes que são eles próprios cada vez mais conhecedores e mais informados e que procuram e exigem mais destes profissionais. “Temos de estar envolvidos com os nossos parceiros de uma forma diferenciadora e ajudá-los na construção de ferramentas e de soluções inovadoras”. Relembrando os valores pelos quais a Mundipharma se rege – espírito guerreiro, coração prestativo e atitude de diversão – Sofia Ferreira afirma que quer que todas as pessoas se sintam felizes aqui e que consigam alcançar o seu equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. “Somos guerreiros para trabalhar, queremos atingir os nossos objetivos, comemoramos as nossas vitórias e queremos ajudar o próximo,

os nossos colegas e ter um espírito de equipa. E são nas pequenas coisas que fazemos diariamente que conseguimos espelhar estes valores”, conclui.

“QUE A ASMA NÃO TE PARE”

Desde 2016 que a Mundipharma juntamente com a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clinica (SPAIC), Grupo de estudos Respiratórios da Sociedade Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (GRESP), Associação Portuguesa de Asmáticos (APA) e Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), apoia esta iniciativa. É uma ação que assinala o Dia Mundial da Asma e a nossa campanha “Que a asma não te pare” tem por objetivo a prevenção e tratamento desta patologia. ▪

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remos fazer. Medimos e analisamos os resultados constantemente, o que nos permite saber o que estamos a fazer bem, mas, sobretudo, o que estamos a fazer mal para melhorarmos”, diz-nos, ainda, Sofia Ferreira. Na Mundipharma não esperam que as coisas melhorem por si. “O nosso sentido de autonomia e responsabilização permite-nos tomar decisões estratégicas, mas também nos obriga a medi-las e a avaliar o trabalho feito para perceber como é que está a correr o nosso negócio e se estamos num bom caminho. Sente-se que a equipa está totalmente envolvida neste projeto e que encaram o negócio como o seu próprio negócio”. Com um percurso profissional ligado à área da saúde, um setor bastante desafiante, Sofia Ferreira iniciou a sua carreira como delegada de informação médica, uma profissão “que se ama ou se odeia”. “Eu apaixonei-me imediatamente”. Sofia explica que começou a trabalhar na área da psiquiatria, lidando com uma realidade onde percebeu que tinha a possibilidade de contribuir todos os dias para melhorar a qualidade de vida das pessoas e fazer a diferença. “Sabia que os medicamentos faziam, de facto, a diferença na vida das pessoas, que garantiam resultados e traziam felicidade. Trabalhar numa área onde podemos dar soluções às pessoas e melhorar a sua qualidade de vida é bastante gratificante e motivador”, afirma. Paralelamente, Sofia Ferreira sabe que esta é uma área de constante aprendizagem, “o que é bastante enriquecedor”. “Sendo a Mundipharma uma empresa muito orientada para o negócio e uma «plataforma comercial» onde temos de apresentar resultados e corresponder às exigências da inovação, temos de ter conhecimentos no seu todo do negócio em que estamos envolvidos, isto implica muito conhecimento, aprendizagem e um trabalho de casa constante. É uma área que exige disponibilidade e trabalho diário para alcançar resultados”, realça a nossa entrevistada. Quanto aos desafios desta área, esses, são bastante claros. “A indústria deixou de ser apenas prestadora de informação. Estamos na era da transformação digital e big data, onde a informação está acessível a todos. Claramente interagir nesta área é apresentarmo-nos como parceiros das instituições e dos profissionais de

FOTO: DIANA QUINTELA

PONTOS DE VISTA NO FEMININO


PONTOS DE VISTA NO FEMININO

“APRENDI QUE, NA VIDA, O NOSSO HERÓI SOMOS NÓS PRÓPRIOS” Numa sociedade onde o papel da mulher ainda é condicionado pelo preconceito, desigualdade de género ou paradigmas, há casos de sucesso que se destacam e que merecem ser partilhados. Venha connosco conhecer Miriam Mateus, Sócia Proprietária do LF Gym Body Solutions e Consultora Imobiliária na EasyGest Premium, que, afirma, foi com a sua própria experiência pessoal que vingou no mundo dos negócios e foi como mãe que aprendeu muita coisa: a organização de tempo, a gestão financeira, a relação interpessoal e a resolução de conflitos.

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34 MIRIAM MATEUS

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iriam Mateus conta já com um vasto percurso no mundo do empreendedorismo. Queremos conhecê-la melhor. Quem é Miriam Mateus enquanto mulher e enquanto profissional? Sou uma mulher positiva. Encaro os problemas como desafios e tento sempre ver o lado positivo das coisas. Sou muito trabalhadora, não tenho medo de arregaçar as mangas e lutar. Os meus pais sempre trabalharam muito e aprendi a fazer o mesmo. Nunca paro, nunca baixo os braços, nunca desanimo mesmo quando o desânimo se tenta apoderar de nós. Aprendi que, na vida, o nosso herói somos nós próprios, o nosso eu. Devo igualmente muito ao meu marido, que desde sempre confiou em mim e me ajudou. Ele é uma peça muito importante no meu puzzle, tem sempre muitas ideias.

Quando essas são boas avançamos em conjunto, sem medos. O que a motiva e inspira diariamente? Sempre me inspiraram as grandes mulheres da história e sempre quis deixar a minha própria marca. Hoje sei que há pessoas que se sentem inspiradas por mim e fico muito feliz e orgulhosa por isso, sei que já faço parto da história de alguém. Atualmente a minha maior motivação é o meu filho, o seu bem-estar e felicidade. E essa é a minha maior marca, a minha sucessão, e nele espero incutir o respeito pelos outros e a determinação para chegar longe na vida. Que características diria serem fulcrais para se singrar no mundo dos negócios? É necessária determinação, organização e muita vontade em ter sucesso.

Há quem defenda que os estilos de liderança, feminina e masculina, são diferentes e que a liderança feminina é importante dentro das organizações. Concorda? Homens e mulheres têm, de facto, estilos de diferença diferentes ou o estilo de liderança prende-se apenas com as características da pessoa? As características da pessoa são fundamentais para ter ou não sucesso mas, mesmo assim, penso que também são diferentes dependendo do género. As mulheres e os homens veem o mundo de forma diferente e resolvem os problemas de forma diferentes. Ainda existem homens que acham que a liderança deve ser sempre exclusivamente masculina mas esquecem-se que as mulheres têm outras experiências. No meu caso, como mãe, aprendi muita coisa com a minha experiência pessoal que me ajudou a vingar no mundo dos negócios:


A igualdade de género continua a ser um tema bastante debatido e o qual merece a nossa devida atenção. Durante o seu percurso profissional enfrentou obstáculos pelo facto de ser mulher? Sim, nunca é fácil. Parece que nós mulheres temos sempre que provar o nosso valor e que há cargos exclusivos para homens e outros para mulheres. No entanto, penso que isso tem vindo a mudar e cada vez mais as pessoas são avaliadas pelo que são e pelo que fazem e não tanto pelo seu género. Fico feliz por ver tantas mulheres em cargos importantes. Os desafios são maiores quando é uma mulher que decide enveredar pelo mundo dos negócios ou do empreendedorismo? Sente-se sempre alguma dificuldade, algum descrédito, mas depois deixamos que os resultados falem por si. Foi proprietária de uma conceituada padaria em Cabo Verde. Atualmente é sócia do Ginásio LF Gym Body Solutions e consultora na Imobiliária Easy Gest Premium na Av. da República em Lisboa. Porquê o mercado imobiliário e a Easygest Premium? Porque é um mercado que continua em franco crescimento e tem muitos desafios e dificuldades. Gosto do contacto com as pessoas e de poder ajudá-las a realizar sonhos. Todos os dias são diferentes, um dia é sempre diferente do outro. Escolhi a Easygest Premium porque é uma empresa 100% nacional e já está no mercado há alguns anos e continua a ter um vasto crescimento. É uma empresa que é vira-

Sempre me inspiraram as grandes mulheres da história e sempre quis deixar a minha própria marca. Hoje sei que há pessoas que se sentem inspiradas por mim e fico muito feliz e orgulhosa por isso, sei que já faço parto da história de alguém 35

da para as pessoas e não apenas para os números, inclusive pagam acima da média. É uma empresa na qual confio e que me tem apoiado, deixando-me à vontade para novos desafios. É uma área que exige esforço, dedicação e vontade. Devido aos limites que a sociedade ainda impõe, é fácil para uma mulher conciliar uma carreira profissional de sucesso com a vida pessoal? Ou é necessário abdicar ou descurar de uma em detrimento de outra? Não é propriamente fácil, apenas temos que definir muito bem as nossas prioridades. Não é necessário abdicar de nada, apenas precisamos ter um grande foco no que queremos e conseguimos arranjar tempo para tudo. No meu caso nunca estive sozinha, sempre trabalhei em equipa com o meu marido e sem ele não teria chegado onde cheguei. ▪

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a organização de tempo, a gestão financeira, a relação interpessoal e resolução de conflitos. Como também tive sempre o apoio do meu marido tive a vantagem de saber ambas as perspetivas dos problemas, masculina e feminina.


PONTOS DE VISTA NO FEMININO

50 ANOS DE HELIFLEX:

“SER UM DOS ELEMENTOS ATIVOS NESTA VIAGEM TEM SIDO UM PRIVILÉGIO” Há 50 anos que a Heliflex se apresenta como uma empresa de referência no mundo dos tubos e das mangueiras, pela experiência ímpar na transformação de polímeros e na apresentação ao mercado de uma gama diversificada de produtos. O rigor na seleção das matérias-primas, a criatividade e inovação dos seus produtos, a par da sua performance, têm permitido a esta empresa adaptar-se facilmente à evolução dos mercados. Destacam-se pela forma como desenvolvem a sua atividade empresarial, orientada para uma estratégia de penetração nos mercados globais. Cláudia Ribau, Diretora de Marketing e RH Estratégico, esteve à conversa com a Revista Pontos de Vista e fala sobre as estratégias e crescimento ao longo das cinco décadas. Não perca!

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o ano em que a Heliflex completa os 50 anos como vê as áreas de Marketing e Recursos humanos na empresa, enquanto responsável pelas mes-

CLÁUDIA RIBAU

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mas? A minha história com a Heliflex tem cerca de 20 anos, mas a Heliflex tem outros tantos, completando este ano um número carismático: 50! Falar em responsabilidade na Heliflex é algo maior do que a função descrita pelos cargos. Na Heliflex todos somos responsáveis pela marca, independentemente das funções desempenhadas e do grau de responsabilidade assumida. As duas áreas estratégicas que dirijo são complementares para a gestão interna e externa de uma empresa, e na Heliflex essa complementaridade é praticada. É usual responder a questões de ‘quantas pessoas trabalham no marketing da Heliflex’, questões essas que me são colocadas em visitas de estudo de alunos universitários (de referir que somos uma empresa de ‘portas abertas’ à partilha e formação de jovens estudantes, como verdadeiras aulas em ‘ambiente industrial’), com o número total de colaboradores que a Heliflex tem. Acresce a este número todos os envolvidos com a marca, mesmo que indiretamente. Hoje vivemos numa altura em que se fala muito de criação de conteúdos, de engagement e estímulos à proximidade das relações. Contudo, eu sempre defendi que os produtos são facilmente copiáveis, mas as pessoas, as relações e tudo o que envolve o valor da marca são intangíveis valiosíssimos e únicos, impossíveis de replicar! São estes recursos que fazem a

diferença numa marca. Chamar a isto espírito de marca interno, team building ou endomarketing é indiferente. O que importa é que se construa diariamente este espírito. Uma história que se vai construindo, sem fim à vista. Foi-me dada a oportunidade de ajudar a construir este espírito na Heliflex, muito fruto dos cofundadores da Heliflex: Anselmo Santos e Acácio Vieira, admitindo que foram de vital importância na definição da minha postura profissional. 50 anos depois a marca apresenta-se ao mercado de forma irreverente. Fomos pioneiros e criámos história na comunicação das ‘indústrias de tubos’, marcámos a forma de comunicar tubos, com linhas comunicacionais um pouco arrojados reconheço (para a altura e dentro do core business que nos encontramos), mas ‘muito nossas’, quando pela primeira vez (há cerca de 12 anos atrás) recorremos a rostos femininos para dar ‘corpo’ a cada área de negócio: casa-jardim, agro, tecno-indústria e construção. Rostos estes ‘muito nossos’, porque todos eles pertenciam direta ou indiretamente à família Heliflex: sobrinhas, primas, afilhadas, filhas dos nossos colaboradores. Todos sentimos esta linha de comunicação como sendo nossa, envolvendo a casa de cada um na Heliflex e a Heliflex na casa de cada um, numa simbiose saudável. Comunicamos de pessoas para pessoas! Esta família está agora a ser evocada em nove episódios, um episódio por mês, entre janeiro a setembro, culminando na apresentação do episódio final no aniversário dos 50 anos da Heliflex. Tem sido uma viagem interessantíssima. Conhecer e recordar momentos que constroem uma marca, que marcou e continua a marcar vidas, almas! Ser um dos elementos ativos nesta viagem tem sido um privilégio. Por isso afirmamos com toda a convicção: tud(b)o que fazemos tem a nossa alma. Por isso o nosso slogan: Heliflex – tubos com alma! Esta é a forma de ser Heliflex(iano)! Nestas duas áreas quais são os maiores desafios enfrentados diariamente? Manter esta never ending story requer que estejamos sempre em permanente redefinição de competências e responsabilidades, procurando dar respostas ao ritmo dos mercados. O nosso capital humano é essencial e valorizamos cada contributo com a mesma impor-


A Heliflex está inserida num setor bastante concorrencial, no entanto, afirmam que “é um conjunto de elementos que nos identificam em qualquer suporte”. De que fatores diferenciadores falamos? No core business da Heliflex, bem como em qualquer setor onde uma marca esteja e queira projetar a sua presença global, a competitividade, diferenciação e o reconhecimento têm que ser sólidos. Procuramos comunicar convenientemente para os diferentes setores, países e especificidades sem nunca deixar interligar essa comunicação à marca Heliflex. Alguns elementos são aspetos gráficos, outros são apenas reflexo da nossa forma de estar, fazer e construir as relações. O mercado evoluiu e com ele trouxe novos estímulos e tendências como é o caso da tecnologia. Qual foi a estratégia que a Heliflex adotou neste sentido? A muito em voga temática da indústria 4.0 também o é na Heliflex. Procurámos nestes 50 anos de história acompanhar os avanços tecnológicos e ofertas formativas para produzir com mais competitividade. Hoje temos controlo em real time da nossa operação e conseguimos analisar e discutir dados de forma mais célere, implementamos diariamente metodologias Lean e fomentamos o espírito critico de melhoria. Nos nossos planos estratégicos têm vindo a ser contemplados vários investimentos ao nível da investigação e desenvolvimento tecnológicos. Acompanhamos esses estímulos e tendências também ao nível da comunicação e apostamos cada vez mais no digital. Enquanto diretora de marketing o que é para si mais interessante na área em que trabalha? No início da minha carreira profissional na Heliflex fui convidada um certo dia para fazer uma apresentação a alunos de Licenciatura de Marketing. No final da apresentação, um desses alunos perguntou-me se numa empresa de tubos se podia fazer marketing. Sorri! Pois está aqui a resposta à sua questão: o mais interessante é ter tido a oportunidade de aplicar as várias estratégias de marketing a um produto ‘fora do vulgar’. Hoje já é normal produtores de produtos muito técnicos investirem em marketing. Há 20 anos atrás não era assim ‘tão usual’. Muito por convicção e motivação da parte dos cofundadores, com uma visão à frente do seu

tempo, desde tenra idade a Heliflex teve dedicado uma parte do seu orçamento anual ao plano estratégico de marketing. Para a Heliflex, a honestidade é o valor que vem em primeiro lugar. Na sua opinião, este é um valor que tem vindo a perder terreno? Os nossos valores, refletidos em www.heliflex.pt, podem ser resumidos em quatro pilares: qualidade, saber-fazer, inovação e solidez. Foram definidos na origem da Heliflex pelos seus fundadores. A honestidade encaixa-se na solidez. Desde sempre pautamos por atitudes de honestidade e transparência, de outra forma não teríamos 50 anos de História e não estaríamos convictos que estaremos nos próximos 50! Não se pode estar nos negócios ou na vida de outra forma, simplesmente não resulta… a mentira e desonestidade são a prazo, na Heliflex estamos para a vida! Os valores estão no nosso ADN e por muitas gerações que passem na Heliflex serão transmitidos, porque estão intrínsecos ao nosso comportamento. Para si, o que significa liderar pessoas? Eu não gosto do termo ‘liderar’ e muito menos ‘chefiar’ ou pior ainda ‘mandar’, ‘ordenar’. Eu

prefiro o termo ‘trabalhar em equipa’ e o ‘nós’ vamos fazer, ‘nós’ atingimos os objetivos, ‘nós’ completámos a tarefa com sucesso ou com insucesso e, nesse caso, perguntamo-nos onde ‘nós’ fizemos menos bem e como ‘nós’ podemos ultrapassar a situação. Mesmo se uma tarefa foi desempenhada por uma única pessoa, essa tarefa reflete a Heliflex e a Heliflex é uma equipa constituída por mais de 100 pessoas. Por isso, o ‘eu’ não é nada, comparado com o ‘nós’. Cada ‘eu’ representa uma marca maior, que é reflexo de um conjunto de pessoas que desempenham tarefas interligadas, gerando valor e influenciando o processo de construção da marca. Três características que considere indispensáveis nos colaboradores. Confesso que não gosto muito de categorizar assim o capital humano. Pela individualidade de cada colaborador não podemos simplesmente nomear três, seria de forma redutora categorizar. Temos que olhar ao todo e ao detalhe e trazer para a nossa cadeia genética mais valias sinérgicas. Se alguns de nós já temos competências neste sentido, outros vão adquirindo-as e é esse todo que procuramos! ▪

37 MAIO 2019

tância, trabalhamos para um todo. Gerir uma equipa com diferenças geracionais, culturais, linguísticas e formativas faz com que tenhamos que identificar (muitas vezes despertar) e desenvolver skills em todos os nossos pares. Procurar com equilíbrio e criatividade, mostrar que temos de operacionalizar um plano maior que depende de cada pequena atividade é um desafio constante. Reter e captar cada elemento desta cadeia é garantir a sua felicidade, apoiar nas ambições e valorizar as suas ações, sabendo que na sua diferença cada um requer uma abordagem própria e um plano dedicado. Acredito no trabalho de equipa. Uma equipa alinhada numa estratégia definida é reflexo de eficiência na operacionalização e alcance dos objetivos.


PONTOS DE VISTA NO FEMININO

SUZANNA DE COSTER

PONTOS DE VISTA NO FEMININO

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“O DESAFIO ESTÁ EM OUVIR E PERCEBER COMO CADA UM FUNCIONA, PARA ENTÃO SABER COMO AJUDÁ-LOS A ATINGIR O SEU POTENCIAL MÁXIMO”

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Suzanna De Coster trabalha na Grünenthal Financial Services, é especialista em serviços financeiros partilhados mas afirma-se, em primeiro lugar, como gestora de pessoas. Perceba porquê.

Grünenthal Financial Services está presente em Portugal há uns anos. Qual é o próximo passo para a empresa? Estamos a viver tempos muito interessantes, de mudança e crescimento. Temos um novo CFO desde Janeiro deste ano: Fabian Raschke. A nível de GFS, vamos transferir mais serviços para Portugal num futuro próximo. E a médio prazo, a visão e o plano são de crescimento contínuo. É especialista em finanças mas afirma que em primeiro lugar é uma gestora de pessoas. Porquê? Acredito que em primeiro lugar gerimos pessoas e não departamentos. As pessoas são

quem fazem a equipa e acredito que colaboradores motivados dão mais de si e tornam-se em high performers. Confio nas pessoas e dou-lhes empowerment e ownership para serem empreendedores e crescerem como profissionais.

O mais gratificante é, sem dúvida, ver as pessoas felizes no trabalho. Toda a gente gosta de vir trabalhar e isso deve-se ao sentido familiar que demos à empresa e ao mote que vivemos: Workiness, uma conjugação de work e happiness.

Na sua opinião o que é mais difícil no exercício de liderar pessoas? E o mais gratificante? Gerir pessoas é sem dúvida desafiante e por isso mesmo gratificante. Cada pessoa é única e sui generis, com a sua própria personalidade, opiniões e sensibilidades. O desafio está em ouvir e perceber como cada um funciona, para então saber como ajudá-los a atingir o seu potencial máximo. Não acredito num one size fits all approach.

Qual diria que é a sua missão na Grünenthal? Continuar o bom trabalho que começámos. Construímos uma empresa com uma cultura de liderança e pessoas excecionais. É o que nos distingue e é a nossa força. Quero contribuir para o nosso crescimento enquanto empresa e oferecer mais serviços, ir para além do que fazemos hoje. Mas sempre mantendo o nosso “Workiness” que é o que define na perfeição o Great Place to Work que construímos.


Confio nas pessoas e dou-lhes empowerment e ownership para serem empreendedores e crescerem como profissionais Cada pessoa é única e sui generis, com a sua própria personalidade, opiniões e sensibilidades. O desafio está em ouvir e perceber como cada um funciona, para então saber como ajudá-los a atingir o seu potencial máximo

Fala seis idiomas: holandês, inglês, francês, alemão, português e espanhol. Quais foram as maiores vantagens que o multilinguismo lhe trouxe profissionalmente? As línguas que falo sempre me abriram várias portas a nível profissional. A maior vantagem é a variedade de trabalhos e profissões que já me permitiram executar. Atualmente, uma grande vantagem é poder comunicar com vários colegas e parceiros nas suas respetivas línguas. Quebra o gelo, ajuda na comunicação e acima de tudo evita situações de “lost in translation”. Do seu currículo fazem parte cargos como relações públicas no Rock in Rio ou tradutora e hoje trabalha com números e gere pessoas numa empresa farmacêutica. O que guarda destas diferentes experiências? Todas essas experiências foram enriquecedoras e fizeram de mim a pessoa e a profissional que sou hoje. Aprendi com todas e com toda a gente com quem trabalhei. Valorizo o facto de ter uma experiência tão diversificada. Permitiu-me viver realidades diferentes e trabalhar com pessoas das mais diversas áreas: desde show business a tradução ou farmacêutica. Ao longo da sua carreira que história lhe ficou na memória como “uma boa história para partilhar”? Tenho tantas. Conhecer vários artistas como o Sting e Ivete Sangalo enquanto trabalhei no Rock in Rio sem dúvida ficou na memória.

Mas a melhor história foi quando comecei a trabalhar para a Grünenthal. Aqui tive a oportunidade de montar um Shared Services Center e duas equipas de raiz. Agora a empresa está prestes a dar os próximos passos da sua história. É como criar um bebé, vê-lo crescer e a dar os primeiros passos. Tenho uma ligação muito forte à empresa e sinto-me muito realizada profissionalmente por poder contribuir diretamente para o crescimento e o sucesso deste projeto. ▪


» VOLVO CAR PORTUGAL

VOLVO CAR PORTUGAL PROMOVE CULTURA DE INCLUSÃO “Para nós, na Volvo, é perfeitamente natural abraçar todas as pessoas independentemente de tudo o resto. Os valores que nos unem serão sempre mais importantes que qualquer característica diferenciadora que nos pudesse separar”, afirma Aira de Mello, Diretora de Marketing e Comunicação da Volvo Car Portugal.

AIRA DE MELLO

A PONTOS DE VISTA

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Volvo anunciou o alargamento do tempo e pagamento da licença parental para mães e pais. De quanto tempo beneficiarão, agora, pais e mães da Volvo? Qual é a extensão desta iniciativa? A Volvo Cars oferece agora seis meses de licença com pagamento a 80% não fazendo qualquer distinção de género. A medida é inicialmente aplicável a todos os colaboradores da região EMEA (Europa, Médio Oriente e Africa). Trata-se de um programa piloto que poderá levar, mais tarde, a uma globalização que beneficiaria mais de 43.000 colaboradores da Volvo Cars em todo o mundo. Em que se traduz esta medida para a estratégia atual da Volvo e da posição que quer assumir no mercado? A medida é mais generosa e inclusiva que a maioria das licenças existentes na Europa e a primeira deste tipo dentro do setor automóvel. Faz parte da estratégia de Recursos Humanos da Volvo Cars que procura, com esta e outras iniciativas, não só atrair mas também reter os melhores colaboradores. Ao oferecer um pack de licença parental muito atrativo a Volvo posiciona-se como empresa de referência para os seus colaboradores futuros e atuais. Afirmam que é “um pequeno passo para a Volvo Cars, mas um grande salto para a igualdade de géneros”. No entanto, esta é uma medida que terá, de facto, repercussões imediatas e positivas nos colaboradores. Correto? O que muda? A nova política foi buscar inspiração à legislação existente na Suécia, país de origem da Volvo Cars, e nação que se distingue pelas suas generosas licenças de paternidade generosas. A maio-

ria dos países da região EMEA já oferece algum tipo de licença parental paga. No entanto, é frequente a existência de largas discrepâncias entre o que é oferecido a homens e a mulheres, com prejuízo dos primeiros. A Volvo Cars acredita que, a igualdade das licenças parentais faz todo o sentido dando igualdade de oportunidades no acompanhamento dos seus bebes a homens e mulheres e um maior equilíbrio na carreira de homens e mulheres. Que outras iniciativas da Volvo vão ao encontro da cultura inclusiva que a empresa está a promover? Mais que a igualdade de género, na Volvo promovemos a todos os níveis, a igualdade, na diferença. Promovemos escritórios onde diferentes nacionalidades, etnias, crenças ou orientações se misturam harmoniosamente. Para nós, na Volvo, é perfeitamente natural abraçar todas as pessoas independentemente de tudo o resto. Os valores que nos unem serão sempre mais importantes que qualquer característica diferenciadora que nos pudesse separar. Com o foco no capital humano a aumentar cada vez mais, é inevitável para as empresas do futuro repensarem a sua cultura? Sem dúvida. Felizmente a Volvo foi sempre (desde há mais de 90 anos!) uma empresa muito centrada nas pessoas - as que aqui trabalham e aquelas às quais se destinam os nossos produtos. A vocação social e humana foi sempre fortíssima para nós, por isso não deixa de ser com muita naturalidade que agora encaramos o presente e o futuro. Concluímos que estávamos certos, apenas muitos anos antes! ▪


EDI – ELECTRONIC DATA INTERCHANGE

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“A ADOÇÃO DO EDI É UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA NO MERCADO” Rui Fontoura, CEO da Saphety apresenta o EDI, solução de intercâmbio eletrónico de dados que permite que as empresas possam enviar e receber documentos de forma desmaterializada, tais como ordens de compra, guias e faturas. Dentro do conceito de EDI inclui-se a Faturação Eletrónica.

A

Saphety assume-se como uma a empresa internacional portuguesa líder em Contratação Pública e Faturação Eletrónica, que apresenta um portfólio específico de soluções, como, por exemplo, o EDI - Electronic Data Interchange. Quais são as mais-valias que o EDI proporciona às empresas? Em primeiro lugar é preciso clarificar que a Faturação Eletrónica está incluída dentro do conceito de EDI. Sendo EDI o envio/receção de documentos comerciais de uma forma que permite a sua integração automática nos sistemas ERP das empresas, a Faturação Eletrónica é a aplicação do EDI ao documento “fatura”.

Que alterações surgem a nível interno e externo nas empresas com a colocação em prática do EDI? A nível interno, veio acelerar processos com a entrada da encomenda eletrónica e a possibilidade da mesma seguir diretamente para a produção ou para a logística; Dinamizar entregas ao ritmo just in time; Melhorar a relação

RUI FONTOURA

comercial com os clientes, com o processo da faturação eletrónica; E, acima de tudo, reduzir custos, com papel, impressão e correio para envio das faturas. A nível externo, a ligação direta entre cliente e fornecedor permite, a este último, ter informação de forma rápida e quase imediata sobre qual o stock e volume de vendas em cada um dos seus clientes e assim garantir que a produção se ajusta ao consumo dos mesmos. Será legítimo afirmar que a grande mais valia do EDI passa pela ampliação das plataformas de comunicação empresarial e logística, permitindo, portanto, o incremento de parceiros de negócios? Neste momento o EDI já está tão

difundido que as empresas que não implementaram soluções deste tipo começam a ter dificuldades em conduzir normalmente os seus negócios. Por isso a adoção do EDI é neste momento mais uma questão de sobrevivência no mercado do que um incremento ao nível dos parceiros de negócio. Analisando o mercado internacional e o luso, sente que no capítulo do EDI, Portugal está bem posicionado? As empresas portuguesas estão recetivas a esta solução? Estamos no meio da tabela. Há países com taxas de adoção mais elevadas, mas acreditamos que com a obrigatoriedade da Faturação Eletrónica com a Administração Pública portuguesa a taxa de

De que forma é que o EDI permite que haja maior eficiência e agilidade na tomada de decisão? O EDI permite ter uma visibilidade em tempo real do status das transações. Isto, por sua vez, possibilita uma tomada de decisão mais rápida e melhor capacidade de resposta às mudanças e necessidades do cliente e do mercado, além de permitir que as empresas adotem um modelo de negócios impulsionado pelo consumo, ao invés de um modelo baseado na oferta. Encurta os prazos de entrega, permite melhorar os produtos e acelera a entrega de novos produtos. Simplifica a capacidade de entrar em novos territórios e mercados. O EDI fornece uma linguagem de negócios comum que facilita a integração de parceiros de negócio em qualquer lugar do mundo. Promove a responsabilidade social corporativa e a sustentabilidade, substituindo processos baseados em papel por alternativas eletrónicas. Isto reduz custos e reduz também emissões de CO2. De futuro, podemos esperar novas melhorias e alterações no âmbito do EDI por parte da Saphety? O EDI / Faturação Eletrónica é o “core business” da Saphety. Continuaremos a apostar na evolução da nossa oferta, quer a nível tecnológico quer a nível do apoio e suporte aos nossos clientes. Lançámos recentemente uma nova solução denominada Flexcash, em parceria com a Caixa Geral de Depósitos, que oferece soluções de financiamento aos fornecedores com base nas faturas eletrónicas enviadas. Outras soluções de valor acrescentado que utilizam os documentos EDI serão lançadas a curto prazo. ▪

41 MAIO 2019

De que forma é que o EDI veio “revolucionar” a dinâmica das empresas no domínio da transformação digital? O EDI veio otimizar a execução de tarefas rotineiras, poupar tempo e evitar erros: - Poupar tempo, com a receção da encomenda por email em PDF obrigava a fazer copy/paste para o software de gestão; - Evitar erros, no envio da fatura ao cliente temos a confirmação que a mesma está correta, que contém todos os elementos necessários, que os preços e condições comerciais são os acordados e, principalmente, que a fatura foi aprovada pelo recetor.

adoção em Portugal irá crescer substancialmente.


» EVENTO

DIA EUROPEU DO MAR 2019: LISBOA ACOLHEU UM DOS MAIORES EVENTOS MUNDIAIS SOBRE O MAR Nos dias 16 e 17 de maio, Lisboa foi palco do European Maritime Day and Oceans Meeting 2019 – um dos maiores eventos sobre o setor do mar. Representados estiveram 64 países e 47 delegações. O evento juntou mais de 300 participantes e organizações como a ONU, a Comissão Europeia ou a IMO.

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capital foi escolhida pela Comissão Europeia como lugar para discutir temas atuais sobre os oceanos à escala global, no Centro de Congressos de

Lisboa. O European Maritime Day é um evento anual promovido desde 2008 pela Direção-Geral dos Assuntos Marítimos e das Pescas (DG MARE) da Comissão Europeia que reúne mais de um milhar de intervenientes nas diferentes fileiras da economia do mar. Apresentado como a “WebSummit do Mar”, este palco internacional de debate do mar esteve este ano focado no empreendedorismo, pesquisa, inovação e investimento, com vista a aumentar as tecnologias sustentáveis e cadeias de valor emergentes na vasta economia do mar. O Comissário Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas, Karmenu Vella, o Diretor-Geral da DG MARE (Direção-Geral dos Assuntos Marítimos e das Pescas), João Aguiar Machado, e o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, foram outras presenças ilustres neste evento, organizado pela Comissão Europeia, com o apoio do Ministério do Mar de Por-

tugal e da Câmara Municipal de Lisboa, e que conta já com a 12.ª edição das comemorações do Dia Europeu do Mar, sendo esta edição a primeira que se realiza em Portugal. No seu discurso de abertura do European Maritime Day e satisfeita com os números associados ao evento que contou com a maior adesão de sempre, 1.400 participantes, a Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, não pode deixar de realçar que estes números são demonstrativos da importância do Oceano, da alta dinâmica em que se encontra a economia do mar e do papel central que a União Europeia tem vindo a desempenhar no seu sucesso. “Por isso o tema desta 12ª edição do European Maritime Day não poderia ser mais adequado: Empreendedorismo, Investigação, Inovação e Investimento Azuis. Com efeito, este é um dos vetores centrais da estratégia estruturada pela Comissão, e por isso cumprimento o Comissário Karmenu Vella, e igualmente prosseguida pelo governo português, através do Ministério do Mar”, disse a Ministra do Mar durante o seu discurso. Salientou, ainda, que o Mar poderá ser, sem

dúvida, o motor de desenvolvimento sustentável de Portugal, a via para construir prosperidade com sustentabilidade. “Quando avançámos com a implementação da estratégia de governação inteligente do mar no início desta legislatura, lançámos um conjunto de iniciativas destinadas a efetivar um melhor ordenamento do espaço marítimo, desenvolver modelos de negócio de baixo carbono na economia azul e suplantar os constrangimentos dos custos de contexto do investidor, da fraca oferta de financiamento e de um ecossistema de inovação ainda incipiente”.

GOVERNAÇÃO INTELIGENTE DOS OCEANOS

Nos mesmos dias, na Gare Marítima de Alcântara, realizou-se a 4.ª edição do Oceans Meeting, evento promovido pelo Ministério do Mar de Portugal e que vem ganhando prestígio ao longo dos anos. Este ano, a edição do Oceans Meeting incidiu sobre o tema central “Governação Inteligente dos Oceanos”, propondo cinco painéis para reflexão: Governação dos Oceanos e Partilha de


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Dados; Inovação, Startups Azuis e Financiamento; Tecnologias de Limpeza dos Oceanos; Governação dos Oceanos – Desafios dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento; Governação Inteligente dos Oceanos - Cooperação para Soluções Práticas. No discurso de abertura do evento, a Ministra do Mar alertou para os desafios do mar. “O Oceano está no centro dos desafios globais que a Humanidade enfrenta. Desafios como o lixo marinho, as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a segurança alimentar e, claro, a sustentabilidade. Enfrentar estes desafios globais e ao mesmo tempo desenvolver estas novas oportunidades de riqueza implica indubitavelmente uma governação do oceano assente na exploração e utilização sustentável dos recursos marinhos. O aproveitamento dos recursos só será benéfico se for sustentável”. É por isso que a sustentabilidade é o centro de uma governação inteligente do oceano, o tema do Oceans Meeting 2019, organizado pelo Governo através do Ministério do Mar. “A governação inteligente do oceano é um foco estratégico que se encontra alinhado com

a Agenda 2030 da ONU: agir para promover a prosperidade, protegendo o planeta. Ou seja, a erradicação da pobreza tem de estar de mãos dadas com o combate às alterações climáticas e à proteção ambiental. E o Oceano é a principal arma de combate aos efeitos nefastos das alterações climáticas”, realçou a Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

O Oceans Meeting contou com a presença de organizações Internacionais como a ONU, Comissão Europeia, IMO, entre outros, e, em números revistos estiveram presentes e representados 64 países, 47 delegações, 1 chefe de Estado, 22 Ministros, 8 Secretários de Estado, 7 organizações Internacionais, 203 participantes internacionais, 100 participantes nacionais. ▪


» MAR, MAIS VALOR

YILPORT

UM PARCEIRO QUE POTENCIA AS VALIAS DO MAR A Revista Pontos de Vista esteve à conversa com Diogo Marecos, Administrador da YILPORT em Portugal, que nos deu a conhecer um pouco mais do atual panorama do sistema portuário português e da posição da YILPORT no mesmo, marca que é hoje o 12º maior operador portuário do mundo, o 2º maior europeu e aquele que apresenta um crescimento mais rápido a nível mundial.

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PONTOS DE VISTA

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YILPORT IBERIA é um dos principais players a atuar em Portugal no que concerne à economia do mar e a tudo o que está relacionada com a mesma. Neste domínio, e apenas para contextualizar o nosso leitor, qual o balanço que é possível realizar da presença da YILPORT IBERIA em Portugal? A YILPORT IBÉRIA, S.A. é uma das empresas que integra a YILPORT Holding, que é um Operador Portuário Internacional, mundialmente reconhecida como sendo o Operador Portuário em mais rápido crescimento. É uma subsidiária do Grupo Yildirim (presente em cinco continentes e em quatro países em setores como o Imobiliário, Energia, Minas, Carvão, Fertilizantes, Construção Naval, entre outros), com sede em Istanbul, Turquia. Remotando a 2004, a YILPORT Holding está presente em nove países, nomeadamente Turquia, Suécia, Noruega, Malta, Espanha, Portugal, Peru, Equador e Guatemala. Em breve irá instalar-se também em Itália e E.U.A.. Emprega mais de 5.000 pessoas, com um portfolio de 20 terminais e de cinco terminais secos. Em 2018, apresentamos uma capacidade de dez Milhões de TEUs. Como é do conhecimento público há cerca de três atrás, em 19 de fevereiro de 2016, a YILPORT concluiu o maior investimento turco alguma vez feito em Portugal, ao comprar 100% das ações da Tertir. A aquisição da Tertir permitiu passar a controlar dez terminais portuários na região Ibérica: sete em Portugal, dois em Espanha e um no Peru. Em Portugal os terminais portuários incluem as concessionárias Liscont e Sotagus, no Porto de Lisboa; TCL no Porto de Leixões (Porto); Socarpor em Aveiro com duas concessões; Sadoport em Setúbal; e uma operação Liscont na Figueira da Foz. No portfolio encontra-se ainda uma participação minoritária na Tersado em Setúbal. Os terminais portuários em Espanha incluem o Container Terminal Ferrol na Galiza, e Huelva na Andaluzia. No Peru, a YILPORT assumiu uma participação muito relevante no Porto de Paita, o segundo maior porto em termos de movimentação de contentores, e o principal porto no norte do país. Com a aquisição, a YILPORT passou a ser um parceiro estratégico referenciado na economia portuguesa. Já para Portugal, a aquisição permitiu o uso das sinergias internacionais que o Grupo YILPORT detém, com um incremento da posição nacional nas operações portuárias europeias, influentes tanto nas rotas comerciais do Norte como no Atlântico Sul. De destacar ainda que a exploração de terminais portuários pela YILPORT na América Latina passou a permitir gerar oportunidades comerciais significativas para Portugal.

DIOGO MARECOS

e alterar a legislação para que as concessões sejam mais longas. E os custos de uma estratégia como esta para o país são reduzidos, dado que podem ser os privados, como a YILPORT a efetuar os investimentos. A extensão do periodo das concessões portuárias, que em muitos países europeus, e agora até na Região Autónoma dos Açores, podem atingir os 75 anos – atualmente em Portugal continental o prazo máximo é de apenas 30 anos – pode permitir aos privados efetuar maiores investimentos em equipamento, formação, instalações logísticas, e outros, e obter durante o prazo da concessão o dinheiro investido de volta. Em Espanha, por exemplo, as concessões podem ter 50 anos de duração, atingindo, com a realização de mais investimento por parte dos privados, os 75 anos. Uma estratégia como esta poderá recolocar Portugal nos mapas de decisão dos grandes operadores logísticos mundiais, permitindo aos portos portugueses concorrer em situações paralelas com outros portos Europeus, e assumir-se como uma porta giratória para os mercados americano e africano.

Quais são as grandes lacunas que ainda identifica no domínio do setor logístico portuário? Mais de 80% do comércio global em volume, e mais de 70% do seu valor, é realizado a bordo de navios e distribuidos por portos marítimos em todo o mundo. Só na União Europeia, quase 90% das trocas externas de mercadorias e cerca de 40% das suas trocas internas são efectuadas por via marítima, sendo que os portos europeus movimentam 74% do volume do comércio de mercadorias com o resto do mundo. Sabendo-se que a movimentação de mercadorias tem sido efetuada em prevalência com recurso à contentorização de mercadorias, Portugal pode e deve fazer muito mais nesta matéria. O que temos em meios naturais, não tem correspondidos em meios técnicos. Habituámo-nos a ver Espanha como um concorrente, e quase sem darmos por isso, Marrocos tem nos últimos anos feito muito importantes investimentos no setor portuário, quer a nível legislativo, social, e de meios técnicos, como a aquisição de equipamentos modernos, oferecendo serviços para a colocação de mercadorias na Europa. Portugal ainda está a tempo de poder competir e tirar melhor partido das nossas condições naturais. Para tanto, cremos que deveremos diminuir a burocracia, devemos modernizar as nossas infraestruturas portuárias, aumentando a sua profundidade (os fundos junto aos cais de acostagem de navios) para podermos atrair e receber os grandes navios,

Sendo o mercado luso único e com uma estrutura portuária singular e de sinergias entre portos, como é que foi realizada a vossa estratégia de adaptação? A YILPORT encontrou vários desafios, a que tem procurado corresponder. Em deterimento de sinergias, encontramos um mercado muito competitivo entre terminais nacionais, em que os próprios terminais portuários competiam entre si, e algumas situações incorretas do ponto de vista do capital humano, com maior incidência em Setúbal. Tirando partido da sua experiência global, a aposta da YILPORT tem sido a de inverter aquela situação, e desde 2016 que podemos dizer que já temos efetivamente sinergias entre portos, e estamos ativamente envolvidos numa mudança das relações laborais. Não obstante as alterações já realizadas, importa salientar que a decisão final de utilização de um porto é sempre das linhas. São as linhas que decidem que infraestruturas portuárias pretendem utilizar, de acordo com vários critérios, como o destino das cargas, a estabilidade e confiança do porto, entre outros. Também nestas últimas temos encontrado desafios singulares pelo menos nos portos de Lisboa, Setúbal e Figueira da Foz. A estratégia da YILPORT passa precisamente por procurar trazer de volta às cadeias logísticas onde os portos se inserem, a estabilidade e a confiança necessárias a que todos possam entregar e levantar as suas cargas no dia e hora expectáveis.


De que forma é que têm promovido a modernização dos terminais, por onde entram e saem as exportações? Existe diálogo, por exemplo, com as autoridades portuárias? A YILPORT não é alheia à revolução tecnológica que vimos assistindo neste século XXI, pelo contrário. Concretizando o nosso lema que é assumirmo-nos como um GAME CHANGER, a YILPORT encontra-se a implementar o software NAVIS para as operações em Portugal e Espanha. Este sistema é usado entre os maiores e os mais eficientes portos e terminais do mundo, e é essencial à modernização dos terminais europeus. Por outro lado, não é apenas em IT ou Sistemas de Informação, que a YILPORT tem efectuado investimento em meios técnicos. Também novo equipamento portuário, como novas gruas, e renovação do atual equipamento através de conversão electrica, ecologicamente mais sustentável está já em desenvolvimento em alguns dos terminais portugueses. Estes investimentos procuram não só melhorias de eficiência, como ganhos de produtividade, e ainda acrescentar valor à indústria. Importa ter presente que o sistema portuário português está assente num modelo de concessão, o que implica que todos os investimentos a realizar têm de ser negociados e autorizados pelas autoridades portuárias que são públicas, o que determina que sejam cumpridos os processos burocráticos que lhes estão associados, e leva algum tempo. O diálogo com as autoridades portuárias é constante e diário, não só pelas necessidades de investimento que a YILPORT já identificou e já mostrou disponibilidade para fazer, como a própria regulação da operação portuária exige reporte permanente às diversas autoridades portuárias. Mas não se cinge às diferentes autoridades portuárias: a YILPORT mantém diálogo com os seus principais stakeholders, como as empresas, as comunidades portuárias, os sindicatos enquanto representantes dos trabalhadores, os municípios, entre outros. Muito recentemente anunciaram um investimento de 43,4 milhões de euros no Porto de Lei-

xões, com o prazo da obra a estar previsto terminar em março de 2021. Quais são os grandes desideratos com este investimento? No segundo maior porto português, o de Leixões, a YILPORT já está a realizar um investimento de 43,4 milhões de euros, integralmente suportado por si, contra uma extenção do contrato de concessão em cinco anos. Com uma área de influência de 14 milhões de habitantes, o porto de Leixões é a maior infraestrutura portuária no norte de Portugal, sendo responsável por 6% do PIB nacional. Só em 2018, o porto de Leixões movimentos 660 mil TEUs. Composto por três terminais de contentores, a YILPORT irá investir no Terminal Sul, no qual se concentram cerca de 68% da capacidade total de contentores, e que tem actualmente uma capacidade de movimentação de 450 mil TEUs. Tendo como prazo Março de 2021, o investimento da YILPORT tem como objetivos principais aliviar o congestionamento do terminal, operar de modo mais eficiente, aumentar a capacidade do terminal, e permitir projetos de desenvolvimento como o controlo remoto para automação supervisionada. O investimento de 43,4 milhões de euros concretizar-se-á na extensão da plataforma com, entre outros, a aquisição de novos equipamentos, reconfiguração do terminal para aumentar a área de operações, e repavimentação. Com este investimento a YILPORT mantém a sua estratégia de crescimento, reforçando o seu compromisso com o Porto de Leixões, o mais eficiente na sua escala na Península Ibérica, além de Algeciras e Valência, procurando dotá-lo com os meios técnicos e humanos que lhe irão permitir aumentar a sua competitividade, e procurar concorrer com os mais importantes terminais ibéricos, sendo os seus dividendos desde logo distribuídos pelos trabalhadores portugueses, pela indústria nacional situada a norte do rio Mondego, bem como pela generalidade da população que reside e/ou trabalha nas cidades diretamente abastecidas pelo Porto de Leixões (como Matosinhos, Porto, Vila Nova de Gaia, entre outras). No domínio da vossa intervenção e atuação, é fundamental que se aposte num Centro Global de Logística? De que forma é que pode oferecer soluções eficazes para os navios que usam os vossos portos? É possível adaptar este método, já existente na Turquia, em Portugal? Simultaneamente com a implementação do NAVIS, a YILPORT já se encontra a fazer planeamento centralizado na Peninsula Ibérica, através do “Global Logistics Center (GLC)”. Este conceito, que a YILPORT introduziu na Turquia, permite uma conexão em tempo real entre aqueles que fazem o planeamento num determinado local, (como um escritório situado fora de um terminal), e os operadores nos terminais. E permite-se mesmo que num só local se proceda à centralização do planeamento de vários Terminais, independentemente da sua localização no mundo. Entre a modernização promovida pela YILPORT na Península Ibérica, encontra-se a criação de um GLC, que já se encontra em pleno funcionamento. Devido ao GLC, situado em Lisboa, Portugal está já entre os principais grupos operacionais portuários globais com centros de planeamento centralizados. Esta melhoria tecnológica e organizacional traz a capacidade de gerir terminais tanto fora de Portugal, como operações YILPORT localizadas em Espanha ou América do Sul.

Actualmente as operações situadas em Setúbal, em Ferrol (Espanha), e em Huelva (Espanha) estão já a ser planeadas a partir de Lisboa, Portugal. Atualmente são o 12º maior operador portuário mundial, sendo que um dos principais desideratos passa por estar no top-10 até 2025. Só é possível lá chegar com uma estratégia de investimento sólida? A YILPORT é o 12º maior operador portuário do mundo, o 2º maior europeu e aquele que apresenta um crescimento mais rápido a nível mundial. Atualmente opera em nove países, nomeadamente Turquia, Suécia, Noruega, Malta, Espanha, Portugal, Peru, Equador e Guatemala. Em breve irá instalar-se também em Itália e EUA. O Grupo YILPORT assumiu como objectivo estratégico posicionar-se no Top 10 dos Operadores Mundiais de Terminais Portuários até 2025, o que só pode ser materializado através de investimento nos terminais portuários onde estamos, procurando dotá-los com os meios técnicos e humanos que lhe permitam introduzir níveis mais elevados de movimentos de contentores, aumentar a sua competitividade, e concorrer com os mais importantes terminais mundiais, bem como através da aquisição de novos terminais para o portfólio da YILPORT. A YILPORT está atenta ao mercado e vai continuar a apostar num crescimento sustentado e numa presença entre os maiores players mundiais. Sente que ainda não aproveitamos devidamente as potencialidades do mar? Na sua opinião, qual o rumo a seguir para crescer neste domínio? Portugal tem uma localização geo-estratégica muito favorável. Possui uma área terrestre de cerca de 91.763 km, o que corresponde ao 110.º lugar na ordenação dos países em termos de dimensão. Possui soberania ou jurisdição sobre uma área marítima que corresponde a cerca de 18,7 vezes a área terrestre nacional. Possuimos a 11ª maior área mundial de águas jurisdicionais, incluindo mar territorial e ZEE, à frente de países como a Índia, Argentina e China. Na União Europeia, Portugal é o país com a maior vastidão de águas jurisdicionais, com excepção das zonas marítimas dos territórios ultramarinos de França e do Reino Unido. Com uma história profundamente ligada ao cluster marítimo, a costa de Portugal ocupa uma posição privilegiada no oceano Atlântico, onde confluêm rotas marítimas internacionais de mercadorias. Atraí-las e reter aquelas mercadorias – mesmo que o seu destino final não seja Portugal – é uma das melhores formas de aproveitar as potencialidades do mar. Para além destas, a utilização do mar como uma fonte de energia renovável é outra das potencialidades que Portugal pode ainda desenvolver e tirar melhor proveito. Por outras palavras, os desafios identificados há pouco no domínio do setor logístico portuário (burocracia, necessidade de investimento e modernização das infraestruturas e equipamentos portuários, legislação semelhante à de outros países europeus, entre outros) se forem ultrapassados, podem contribuir decisivamente para o aumento do peso da economia do mar na PIB português, para a criação de emprego estável, diminuição dos picos de trabalho que caracterizam a atividade portuária, afirmação de Portugal como uma nação marítima, entre outros. A YILPORT, na parte que lhe cabe, está fortemente comprometida em ajudar a obter, de modo sustentado, as melhores potencialidades que o mar pode ofertar a Portugal e ao mundo. ▪

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Na vossa estratégia de crescimento, de que forma é que a YILPORT tem aproveitado o capital de conhecimento em Portugal? Este tem sido essencial para o vosso crescimento? O sistema portuário português é essencial para a entrada e saída de mercadorias, sendo através dos portos nacionais que o país é abastecido, assim como é por estas infraestruturas que a maioria das exportações portuguesas chega aos seus destinos. Este sistema em regra é similar nos países onde estamos presentes. A integração em 2016 dos terminais portuários da Ibéria representou um desafio, pelas necessidades de investimento que encontrámos, mas também pelo muito que ainda há a fazer. Estamos comprometidos com Portugal, onde também encontrámos capital humano único, quer na disponibilidade, quer no conhecimento técnico, ao nível da manutenção, por exemplo. Temos trazido para Portugal as melhores práticas de gestão do Grupo, que nos permitiu expandirmo-nos e internacionalizarmo-nos. Mas também temos sido influenciados muito positivamente pelas nossas pessoas em Portugal, pelas nossas equipas, a quem temos recorrido, até para ajudar na resolução de situações noutras geografias onde estamos presentes. Portugal tem por isso ajudado a YILPORT a crescer e a afirmar-se.


» TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO INSTITUTO DE ANATOMIA PATOLÓGICA E PATOLOGIA MOLECULAR:

TRABALHAR EM MISSÃO PARA OS DOENTES O que são centros de investigação? O que fazem? Qual é o seu contributo para a sociedade? Estivemos à conversa com Lina Carvalho, Diretora do Instituto de Anatomia Patológica e Patologia Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, e com a sua equipa, para nos responder a estas e outras questões.

T

endo como missão universidade, o ensino e investigação e com capacidade para estar no topo do conhecimento da Europa e da América do Norte em termos de prestação de cuidados de saúde diferenciados, o Instituto de Anatomia Patológica e Patologia Molecular (IAP - PM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra assegura o ensino da Anatomia Patológica a estudantes de Medicina Dentária e de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Açores e Cabo Verde, bem como suporte científico e orientação de Teses de Mestrado e Doutoramento, com ou sem desenho dos Projetos de Investigação. Paralelamente, mantém o serviço à comunidade no âmbito da Histopatologia, Citopatologia, Imunohistoquímica e Patologia Molecular. E o que é a Anatomia Patológica? A Anatomia Patológica é uma especialidade médica, sendo, por isso mesmo, a equipa dos laboratórios de Anatomia Patológica e Patologia Molecular constituída por médicos “com uma formação de cinco anos como qualquer outra especialidade”. Com uma equipa composta por quatro patologistas, dois internos de Anatomia Patológica,

PONTOS DE VISTA

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GRUPO DE TRABALHO DO IAP – PM

duas técnicos de Anatomia Patológica e três biotécnicas, o IAP - PM tem procurado cativar estudantes e internos para a carreira docente. “Somos médicos hospitalares e temos trabalho diário assistencial ao qual somamos o ensino e a investigação, o que exige uma desmultiplicação de tarefas. A par disso somos docentes de carreira na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e gostaríamos que eles também fossem”, diz-nos Lina Carvalho, acrescentando que nos laboratórios de Anatomia Patológica

trabalham médicos de Anatomia Patológica, que agregam áreas de formação afins: técnicos de Anatomia Patológica e biotécnicos que fazem trabalho diferenciado na componente universitária da Patologia Molecular e técnicos de secretaria, na interface com a comunidade, quer seja a comunidade científica ou a comunidade estudantil. No IAP - PM é feito, diariamente, um trabalho complexo. “Como estamos na universidade, para além de fazermos diagnósticos também


TRABALHO DE SAÚDE DIFERENCIADO

A dirigir o Instituto de Anatomia Patológica e Patologia Molecular desde 2003, Lina Carvalho partilha connosco algumas das mudanças efetivadas na Anatomia Patológica e Patologia Molecular e dos desafios enfrentados. Realça, por exemplo, que a medicina viu o número de autópsias anátomo-clínicas realizadas a diminuírem drasticamente devido aos meios complementares de diagnósticos bastante avançados que permitem saber as causas da morte. “Hoje o número de autópsias de cadáveres de adulto no serviço hospitalar chega a ser cerca de 12 por ano. Até há vinte anos atrás, o número de autópsias rondava as 200 por ano, o que ocupava bastante do nosso tempo em laboratório. Hoje, esse tempo é dedicado ao que é a perspetiva da especialidade: a prevenção através dos rastreios, o diagnóstico precoce e, em caso de doenças avançadas, diagnóstico e definição de terapêuticas para o aumento da esperança de vida. Permite-nos dedicar mais tempo à área relacionada com o microscópio e técnicas complementares, nomeadamente a genética do cancro, a base da Patologia Molecular”, explica. Desde 2003, desenvolvem-se trabalhos de Investigação Científica em áreas diversas da Anatomia Patológica e com aplicação da Patologia Molecular, particularmente relacionados com Patologia Pulmonar e Digestiva e Patologia Experimental, reconhecidos com prémios nacionais e internacionais. “Em 2004 fomos bafejados com a Patologia Molecular. Iniciámos a colheita de ADN de pequenos fragmentos de biopsias incluídos em parafina (e a biopsia liquida atual), começando uma nova fase à qual chamamos de terapêutica personalizada, ou seja, hoje algumas alterações genéticas presentes nas células tumorais ou nas células de doenças degenerativas / inflamatórias são passíveis de serem bloqueadas por fármacos, aumentando a sobrevivência e qualidade de vida dos doentes”, refere Lina Carvalho. Relembra também que foi, na altura, um forte desafio assumir a direção de um Instituto com um número elevado de estudantes e pronto para ser dinamizado. “Com uma herança bastante enriquecedora do Professor Renato Trincão desenvolvemos um serviço que alargámos à comunidade, introduzindo o serviço de Patologia Molecular. Foi uma altura em que tivemos de, simultaneamente, dinamizar os laboratórios, adquirir equipamentos novos, cativar alunos e patologistas, instituir os laboratórios de Patologia Molecular e lecionar. Investimos, como é missão da universidade, nos testes diferenciados, nos serviços à comunidade médica e tam-

Hoje, esse tempo é dedicado ao que é a perspetiva da especialidade: a prevenção através dos rastreios, o diagnóstico precoce e, em caso de doenças avançadas, diagnóstico e definição de terapêuticas para o aumento da esperança de vida. Permite-nos dedicar mais tempo à área relacionada com o microscópio e técnicas complementares, nomeadamente a genética do cancro, a base da Patologia Molecular

bém na investigação, para a Universidade e para os Hospitais”, acrescenta a nossa entrevistada. Com as portas abertas para os investigadores de outras áreas e para os pedidos de design e desenvolvimento de projetos, Lina Carvalho admite que o IAP - PM não tem tempo para dizer que “existe”. A este trabalho complexo acresce as parcerias e a relação estreita com a indústria farmacêutica. “A indústria farmacêutica aproxima-se bastante de nós, sendo mantida uma colaboração estreita entre os médicos e a indústria farmacêutica para a obtenção de respostas laboratoriais em atualização constante, para inclusão de resultados nos relatórios de Patologia Molecular, nas publicações e na divulgação de resultados em congressos nacionais e europeus”, realça, dando ênfase ao papel do IAP – PM e à sua integração universitária. Os desafios, esses, passam ainda pela exigência da indústria farmacêutica, da medicina e dos centros de investigação no que diz respeito à inovação e às novas tecnologias para esta demanda da transferência de conhecimento científico. “Existe uma mudança de paradigma em termos de diagnóstico. Hoje temos de prestar um serviço de medicina personalizado, pois para além do diagnóstico das patologias temos de dar informação que seja importante para a decisão terapêutica e para uma terapêutica direcionada. Para isso, para continuarmos a desenvolver um trabalho de excelência com resultados de excelência, temos de investir constantemente em novas tecnologias e em tecnologias cada vez mais diferenciadas, mas que acarretam custos elevados, para além de pessoas com formação e conhecimento integrado”, diz-nos Vítor Sousa do grupo de trabalho do IAP – PM. A Anatomia Patológica é, de facto, uma das áreas mais importantes da medicina, na charneira com a clínica. Com visibilidade discreta, utiliza conhecimentos das mais diferentes áreas para estudar uma doença e fazer um diagnóstico que traz grandes implicações para a vida de um doente, para um prognóstico ou para o tratamento mais adequado. Todas as especialidades precisam de interagir com a Anatomia Patológica, pois qualquer intervenção que seja necessária num doente precisa de diagnóstico e definição de prognóstico/terapêutica, suportados nos relatórios emitidos pelos Médicos Anátomo – Patologistas. ▪

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fazemos ensino aos estudantes de medicina e de biotecnologias, com a formação prática respetiva; a Anatomia Patológica é uma unidade curricular da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra”, explica a coordenadora do IAP - PM. Note-se que a Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra – FMUC – foi inaugurada em 1956 e a unidade curricular de Anatomia Patológica teve início de lecionação em 1863 – também datação aproximada de alguns exemplares do Museu do IAP – PM, muito valorizado na Europa.


» CYBERBULLYING: PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO

O FENÓMENO DO CYBERBULLYING E A SUA INCIDÊNCIA EM PORTUGAL Segundo dados divulgados pela UNICEF em 2017, em aproximadamente 150 milhões de jovens com idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos, metade referiu ter sido vítima de violência entre pares, dentro e fora da escola, e mais de 1/3 indicou ter sido vítima de bullying ou ter estado envolvida em confrontos físicos. Ainda de acordo com dados da UNICEF, apenas um terço dos jovens entre os 15 e os 24 anos em todo o mundo (cerca de 346 milhões) não utiliza a Internet, sendo a proporção de utilizadores na Europa de 24 em cada 25 adolescentes.

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pesar dos diversos benefícios associados à utilização das plataformas digitais, nomeadamente o aumento do bem-estar pessoal dos indivíduos, existem também novos tipos de riscos inerentes. Entre os quais o envolvimento em situações de violência entre pares, seja enquanto observador, vítima ou agressor, que tem vindo a ser cada vez mais frequente entre os adolescentes. O cyberbullying, em particular, corresponde a um destes fenómenos, descrito pela comunidade científica como uma extensão do bullying que é realizado através de meios digitais, correspondendo a um comportamento cruel, intencional e repetido. Algumas especificidades do cyberbullying, tais como a possibilidade de o agressor ser anónimo, a distância física existente entre os intervenientes e o facto de as agressões permanecerem online por tempo indeterminado, contribuem para a complexidade deste fenómeno e ainda para o agravamento dos efeitos negativos nas vítimas. Quanto à incidência do cyberbullying entre os jovens portugueses, os resultados preliminares de estudos realizados no âmbito dos projetos desenvolvidos pela equipa da Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa (FP-UL) indicaram que, em 1607 adolescentes portugueses, 82.3% da amostra referiu ter observado este tipo de incidentes, 47.1% indicou ter sido vítima de cyberbullying e 39.9% mencionou ter sido agressor. Verificou-se ainda uma tendência para o aumento da observação de incidentes de cyberbullying a partir dos 13 anos de idade e da totalidade dos comportamentos observados, 63.9% corresponderam a boatos, 68.7% a comportamentos de gozo e 69.4% a insultos. Fatores de risco e impacto do cyberbullying nas vítimas e sinais de alerta em agressores e vítimas Existem importantes fatores de risco que têm sido associados ao envolvimento em incidentes de cyberbullying, nomeadamente o envolvimento em experiências anteriores de bullying, problemas comportamentais, isolamento social e a falta de monitorização e de envolvimento por parte dos pais. O cyberbullying apresenta efeitos negativos na saúde física e psicológica das vítimas, assim como ao nível do seu ajustamento e desempenho escolar. Em particular, a comunidade científica tem identificado sintomas de depressão e de ansiedade, abuso de substâncias, comportamentos autolesivos, queixas físicas e decréscimo no envolvimento e desempenho escolar, bem como absentismo escolar. Em última instância, o cyberbullying pode conduzir ao suicídio por parte das vítimas. Apesar das diferenças individuais e também

INVESTIGADORES DO PROGRAMA DE ESTUDOS DE CYBERBULLYING. SOFIA OLIVEIRA, ANA MARGARIDA VEIGA SIMÃO (INVESTIGADORA RESPONSÁVEL), PAULA PAULINO, NÁDIA PEREIRA, SOFIA FRANCISCO E PAULA COSTA FERREIRA

das diferenças que podem ser encontradas de caso para caso, existem importantes sinais de alerta que têm sido associados aos agressores e vítimas de cyberbullying. No caso dos agressores, tem sido identificado um conjunto de comportamentos característicos, tais como evitar falar sobre as atividades que são feitas no computador ou no telemóvel; apresentar agitação quando não é possível ter acesso a estes dispositivos; utilizar os mesmos de forma excessiva; e ter diversas contas ou perfis. No caso das vítimas, um dos sinais de alerta remete para sentimentos de zanga, tristeza, frustração ou raiva quando utilizam o computador ou o telemóvel. Outros sinais incluem o evitamento do uso de meios tecnológicos, a presença de ansiedade marcada aquando a sua utilização e ainda, a resistência em ir à escola ou em sair de casa.

O PAPEL DOS ADULTOS NA CONVIVÊNCIA ONLINE ENTRE OS JOVENS

É fundamental os adultos orientarem os jovens em relação a conteúdos e comportamentos adequados em contexto online, tanto em casa como nas escolas. Assim, os pais e outros familiares, assim como os professores devem procurar manter-se atualizados relativamente às pla-

taformas e aplicações que são mais utilizadas pelos jovens. Em família, é essencial promover um diálogo aberto, interessado e positivo sobre a utilização das tecnologias e das redes sociais. Além disso, a família deve manter-se a par das atividades dos adolescentes no computador e no telemóvel. Por exemplo, é importante que os pais conheçam as configurações de privacidade e a rede online da criança ou adolescente. Outro aspeto fundamental é o estabelecimento de regras sobre os comportamentos, conteúdos e aplicações que os pais consideram apropriados, bem como o tempo de utilização dos dispositivos tecnológicos. Os resultados de um estudo recente, publicado em 2017 na revista Journal of Adolescence por investigadores da equipa da FP-UL, indicaram que, apesar de os adolescentes reportarem mais frequentemente experiências de vitimização de cyberbullying a amigos ou aos pais, quando contam aos professores, tendem a indicar uma perceção mais positiva em relação ao ambiente escolar. Neste sentido, o papel da escola na prevenção e intervenção no cyberbullying é essencial. Em particular, o desenvolvimento de ações de sensibilização por parte de psicólogos e de outros profissionais com forma-


ção na área, pode contribuir não só para informar os pais, mas também os professores sobre formas de prevenir este fenómeno e estratégias de intervenção eficazes. Existem medidas imediatas que podem ser tomadas numa fase precoce, tais como bloquear o agressor, denunciar na rede social e guardar provas. Além disso, as vítimas devem ser desencorajadas de retaliar de forma agressiva e incentivadas a procurar ajuda junto de adultos de confiança. É ainda importante que se tenha consciência sobre o papel dos observadores, uma vez que os mesmos podem alterar o rumo destas situações, ao intervirem de forma pró-social, nomeadamente através de comentários positivos que apoiem a vítima. Em casos mais graves, por exemplo, quando existem ameaças à integridade física das vítimas, a situação deve ser reportada junto das autoridades.

PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO NO CYBERBULLYING EM PORTUGAL: INTERVENÇÕES COM@VIVER

Com o avanço das tecnologias de informação e de comunicação, a violência entre os jovens tem vindo a assumir novas formas e também uma maior visibilidade, nomeadamente através da partilha de conteúdos nas redes sociais. O desenvolvimento de novos fenómenos de violência entre pares, entre os quais o cyberbullying, tem conduzido à necessidade de maior atuação por parte das autoridades e dos decisores políticos. Sendo a escola um espaço central de convivência entre os jovens e de aprendizagem de conteúdos académicos e competências socioemocionais, este é um contexto prioritário para desenvolver ações de sensibilização face a este tipo de fenómenos. As intervenções Com@viver têm em vista a promoção da convivência saudável entre os jovens e referem-se a três tipos de ações primárias e/ ou secundárias, em contextos socioeducativos, nas áreas do bullying e do cyberbullying. Estas intervenções foram desenvolvidas no âmbito de projetos de investigação-ação financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) por investigadores do Programa de Estudos de Cyberbullying (PEC) do grupo de investigação ProAdapt do Centro de Investigação em Ciência Psicológica (CICPSI), da FP-UL. É essencial que o desenvolvimento de comportamentos pró-sociais seja promovido em idades precoces para que as crianças aprendam desde cedo a importância de estabelecerem relações interpessoais positivas no seu meio ambiente. Neste sentido, o programa Com@Viver no 1º ciclo destina-se à formação de professores, tendo em vista a promoção de estratégias de prevenção e de intervenção em relação ao bullying e ao cyberbullying. Esta intervenção tem como objetivo promover comportamentos pró-sociais e competências socioemocionais em alunos do 1º ciclo do ensino básico, considerando o aumento da incidência de fenómenos de violência entre pares que também se tem verificado neste ciclo de ensino. A formação académica dos professores pode, assim, beneficiar deste tipo de instrução explícita que lhes permita garantir a sua infusão curricular e desenvolvimento de competências nos seus alunos. O programa envolve um total de oito horas de formação para professores, organizadas em quatro sessões, centradas em metodologias ativas, permitindo o envolvimen-

to de todos os formandos e a co-construção de conhecimentos, adaptados às especificidades de cada contexto. O jogo Com@Viver resulta do projeto O Efeito do Observador no Cyberbullying: a responsabilidade e a tomada de decisão interventiva através da regulação do comportamento (SFRH/ BPD/110695/2015), coordenado pela FP-UL, em parceria com o Intelligent Agents and Synthetic Characters Group (GAIPS) do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC-ID), Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa (IST-UL). Este jogo foi desenvolvido para adolescentes do 7º e 8º anos de escolaridade e envolve um ambiente escolar fictício. Os jogadores organizam uma visita de estudo hipotética e durante o jogo convivem com agentes sociais e com os seus colegas de turma numa rede social. Em cada uma das quatro sessões desta intervenção existe um caso de cyberbullying do qual os jogadores são observadores, podendo comunicar com os seus pares (fictícios e reais), colocando “gosto”, “não gosto” fazendo posts e respondendo a mensagens através de comentários pré-concebidos, com a finalidade de promover a empatia e comportamentos pró-sociais. Num estudo longitudinal do projeto realizado com 221 alunos do 7º e 8º anos de escolaridade verificou-se um aumento dos comportamentos pró-sociais dos alunos que utilizaram este jogo, como também um acréscimo de empatia cognitiva. Por último, a aplicação Com@Viver Online foi desenvolvida no âmbito do projeto Cyberbullying: A regulação do comportamento através da linguagem (PTDC/MHCPED/3297/2014), em parceria com o Spoken Language Systems Lab, INESC-ID, IST-UL e com a Altice Labs, S.A. Esta intervenção corresponde a uma aplicação de telemóvel que ajuda os adolescentes a regularem o seu comportamento através da linguagem, de forma a prevenir e intervir no cyberbullying. Esta aplicação permite utilizar a rede social Twitter, ao mesmo tempo que disponibiliza conteúdos psicoeducacionais que promovem o autoconhecimento e a autorreflexão sobre a utilização das redes sociais e o cyberbullying, assim como a autorregulação do comportamento. Estes conteúdos são aleatoriamente apresentados no feed da rede social sob a forma de tweets, podendo também ser consultados pelos utilizadores no menu da aplicação. Estes conteúdos são conjugados na aplicação com um sistema de deteção automática de potenciais situações de cyberbullying que possam ocorrer entre os utilizadores, baseado na deteção de linguagem agressiva, conflitos e ataques. Nestes casos, os utilizadores recebem um alerta automático com o objetivo de promover a autorreflexão sobre o comportamento, sendo-lhes apresentadas opções para intervir positivamente na situação, por exemplo, reescrever o tweet no caso do emissor e ligar a um contacto de emergência no caso do recetor. Além disso, sempre que a aplicação identifica estas situações, é aumentada a exposição dos utilizadores envolvidos aos conteúdos psicoeducacionais. Num estudo do projeto realizado com 218 alunos do 9º ano de escolaridade de um agrupamento de escolas da área de Lisboa, verificou-se uma diminuição da agressividade dos alunos que utilizaram a aplicação, o que sugere que a mesma pode contribuir para a diminuição de comportamentos agressivos entre os jovens. ▪


BREVES BREVES

KONICA MINOLTA

IDC nomeia a Konica Minolta como líder em multifunções inteligentes A Konica Minolta foi classificada como líder em equipamentos multifunções inteligentes no mais recente relatório MarketScape do IDC, que faz a Avaliação do Fornecedor desta categoria na Europa Ocidental. De acordo com o IDC, a empresa tecnológica demonstra a força da sua estratégia e capacidades, e é “reconhecida globalmente como uma importante fornecedora destes periféricos multifunções inteligentes”.

PONTOS DE VISTA

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MUNDO

BIOGRAFIA

Historiador pede a Lisboa que reconheça Jerusalém como capital de Israel

Uma biografia ilustrada de Freddie Mercury é editada em Portugal

O historiador israelita Guy Bechor apelou hoje aos governos de Portugal e Espanha que reconheçam Jerusalém como “capital bíblica” de Israel, recordando o sofrimento da comunidade judaica no tempo da Inquisição. “Os governos de Portugal e Espanha não reconhecem Jerusalém como capital de Israel, depois dos horrores que fizeram [na época da Inquisição] ao povo judeu. Uma parte da expiação dos seus pecados devia passar por aqui. Pelo menos reconheçam a capital bíblica de Jerusalém”, defendeu. Guy Bechor falava através de uma mensagem de vídeo dirigida aos participantes da segunda Conferência Internacional Presença Judaica em Portugal - Valorizar e recuperar a Herança Perdida, que decorre até domingo em Castelo de Vide, no distrito de Portalegre. O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou em dezembro de 2017 a decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e de transferir a sua embaixada de Telavive para Jerusalém, contrariando a posição da ONU e dos países europeus, árabes e muçulmanos, assim como a linha diplomática seguida por Washington ao longo de décadas. Em maio de 2018, Portugal foi um dos países ausentes na cerimónia de inauguração da embaixada norte-americana em Jerusalém, iniciativa promovida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita.

Um livro ilustrado que traça “de modo literal e metafórico um retrato do enorme Freddie Mercury”, dos Queen, assinado pelo autor espanhol Alfonso Casas, é editado este mês em Portugal. “Este livro não pretende explorar os recantos mais profundos da vida privada de Freddie Mercury (...), também não é uma obra de consulta sobre os Queen. (...) [É] uma pequena homenagem ao que a sua música e a sua pessoa significaram (e significam) para muitos, incluindo para aqueles que talvez não tenham nascido sendo já fãs dos Queen, mas o serão quando morrerem”, escreveu o autor na introdução. Com selo da Suma de Letras, o livro conta a vida de Freddie Mercury de forma cronológica, desde o nascimento a 05 de setembro de 1946 em Zanzibar, até à morte em Londres a 24 de novembro de 1991. Profusamente ilustrado, o livro apresenta capítulos ordenados como se fosse os vários segmentos do tema “Bohemian Rapsody”, uma das mais conhecidas músicas do grupo, a que “rompeu com todos os esquemas da música rock até então”.


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