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OS ENGENHOS E O REGATÃO

Jorge Machado

OS ENGENHOS E O REGATÃO

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O REGATÃO É UMA JORNADA QUE AINDA ESTÁ PARA SER CONTADA NOS SEUS DETALHES. REPRESENTOU A MAIOR DINAMIZAÇÃO COMERCIAL DO MUNICÍPIO (E DE TODO O BAIXO-TOCANTINS) EM TODA SUA HISTÓRIA E FOI O RESPONSÁVEL PELA CIRCULAÇÃO DE RIQUEZAS ENTRE O BAIXO-AMAZONAS E O BAIXO-TOCANTINS, BENEFICIANDO A PRODUÇÃO DOS ENGENHOS.

Das relações com a natureza amazônica, ao mesmo tempo pródiga, ciclópica e às vezes opressora, nasceram as necessidades de sobrevivência em um meio hostil, que em Abaetetuba inicialmente se estabelecem sobre a agricultura de subsistência e o extrativismo e, posteriormente, sedimentam-se na indústria primitiva e em trocas comerciais seguindo as “ruas amazônicas”, os rios, que unem livremente as comunidades ribeirinhas da Amazônia. Dois exemplos de empreendimentos de abaetetubenses que marcaram a história do município são os engenhos de aguardente (que possibilitaram ao município a alcunha de “Terra da Cachaça”) e o comércio de regatão, autênticas “mercearias” que percorriam os rios da região e que foram, em certa época, importantes atividades econômicas.

O SISTEMA DE AVIAMENTO E OS ENGENHOS DE CACHAÇA

No entender de Roberto Santos , o sistema de aviamento foi instituído como um sistema de crédito capaz de induzir à progressiva monetarização da economia amazônica, que era essencialmente de escambo até então. Foi forma de ampliar as fronteiras econômicas da região, junto com estímulos externos (oriundos da explosão na demanda por borracha a partir de 1895) e a superação de dois

estrangulamentos regionais: o primitivo sistema de transportes e a escassez de mão-de-obra. A rigor, o aviamento do século XIX era a adaptação regional em miniatura do que ocorria no Brasil. Em Abaeté esse sistema perdurou praticamente em toda a existência dos engenhos de cachaça. O centro das operações de aviamento era uma casa comercial que funcionava anexada ao engenho, onde uma primitiva contabilidade registrava no “caderninho” as retiradas dos trabalhadores do engenho e a sua produção na forma de um salário combinado com o dono do engenho. No final do mês havia o acerto de contas onde as retiradas eram abatidas do devido ao trabalhador. O estímulo inicial de ter e poder usar o dinheiro era, porém, uma ilusão para o trabalhador. Seu isolamento e a quase absoluta exclusividade do seu vínculo com o dono do engenho (reforçada por um paternalismo que oferecia apadrinhamentos e atendimentos

ACERVO JORGE MACHADO médicos de emergência como pequenos curativos, afomentações, aplicação de injeções, etc.) faziamno perder a liberdade de usar o que ganhava, se é que sobrava algo além do estritamente necessário à subsistência. A moeda praticamente só servia como meio de cálculo, pois o escambo persistia, embora disfarçadamente. Euclides da Cunha, em seus ensaios amazônicos (p.109) chama esse sistema de “a mais criminosa organização do trabalho que ainda engenhou o mais desaçamado egoísmo”. Sobre o seringueiro que era submetido ao aviamento, declara o jornalista-escritor: “O homem, ao penetrar as duas portas que levam ao paraíso diabólico dos seringais, abdica as melhores qualidades nativas e fulmina-se a si próprio, a rir, com aquela ironia formidável. (...) O seringueiro realiza uma tremenda anomalia: é o homem que trabalha para escravizar-se.” Esses sistema econômico primitivo suportou quase um século da principal atividade econômica de Abaeté, atividade sem paralelos na história do município, importante suporte ao comércio de regatão (e por ele suportada numa perfeita simbiose) que gerou muita riqueza, embora não tenha necessariamente distribuído essa riqueza, mas a concentrado nas mãos de poucas famílias de empresários, que com os lucros capitalizados posteriormente mudaram de ramo ou de cidade . Os engenhos funcionaram sempre de acordo com uma concepção primitiva de produção e de relação econômica. Os mesmos maquinários do século XIX que iniciaram a produção ainda eram utilizados no seu ocaso ao final dos anos 1960. Nenhum melhoramento tecnológico nos equipamentos ou genético na matéria-prima foi introduzido e, talvez, aí esteja a razão de sua decadência.

Costuma-se atribuir à Justiça e a relações trabalhistas mais sofisticadas o fim dos engenhos de cachaça. Tal representa um grande equívoco, uma vez que a decadência dos engenhos devese principalmente ao atraso tecnológico e ao apego ao sistema de aviamento em detrimento de práticas financeiras mais modernas. No entender de Roberto Santos , o sistema de aviamento foi instituído como um sistema de crédito capaz de induzir à progressiva monetarização da economia amazônica, que era essencialmente de escambo até então.

Costuma-se atribuir à Justiça e a relações trabalhistas mais sofisticadas o fim dos engenhos de cachaça. Tal representa um grande equívoco, uma vez que a decadência dos engenhos deve-se principalmente ao atraso tecnológico e ao apego ao sistema de aviamento em detrimento de práticas financeiras mais modernas. Com a abertura econômica da Amazônia ao grande capital, nos anos de 1960, as bebidas destiladas produzidas no nordeste e no sudeste do país invadiram a região, amparadas por financiamento bancário, por uma publicidade implacável e por preços sem concorrência. Essa invasão destruiu a indústria local, incapaz de reagir com o vigor necessário, o que dependeria de financiamento e medidas de planejamento econômico estratégico, ações que nunca vieram. Os engenhos surgiram inicialmente de pequenas moendas familiares onde se fabricava a rapadura, o mel, o açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente, com a linha do Amazonas, teve caminhos para o escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará. Às moendas familiares coube continuar a fabricação do mel e da rapadura (uma vez que o açúcar refinado passou a ser importado) que ainda assim tinham mercado garantido, embora agregassem pouco valor ao produto, num processo rústico de produção que condenava à estagnação quem nele permanecia. Bem diferente era o que acontecia com a cachaça. O Estado, percebendo os grandes lucros oriundos dessa atividade econômica e as inúmeras possibilidades de sonegação fiscal, depressa estabeleceu coletorias que cuidavam da arrecadação de impostos e da emissão de “selos” a serem colocados so

bre as tampas das garrafas de cachaça numa prova de que o produto nada devia à fazenda estadual. Na virada do século XIX para o XX e até mesmo depois de 1912, ano que em geral tem sido estabelecido para demarcar o final da belle époque amazônica - período de riqueza e delírio para uma elite pretensamente afrancesada que gravitava em torno da exportação do látex coagulado da seringueira e que teve seu mundo radicalmente modificando quando o látex produzido a partir de seringueiras cultivadas na Ásia passou a ser comercializado e desbancou o produto extraído penosamente de seringais naturais da amazônia, levando a região à falência - os engenhos de Abaeté continuaram produzindo e sustentando, ainda que em menor escala, certa elite local que chegava a importar lanchas de ferro e maquinário para os engenhos. Com as linhas fluviais do Tocantins e do Amazonas, o produto - de excelente qualidade, aliás - era exportado e isso garantiu a sobrevivência dos engenhos até o início dos anos 1970, tendo o último dos engenhos vindo a encerrar sua produção regular já no século XXI.

O COMÉRCIO DE REGATÃO

O regatão foi a mais notável aventura comercial dos abaeteenses, uma jornada que ainda está para ser contada nos seus detalhes. Representou a maior dinamização comercial do município (e de todo o Baixo-Tocantins) em toda sua história e foi o responsável pela circulação de riquezas entre o Baixo-Amazonas e o Baixo-Tocantins, beneficiando a ambos. Esse tipo de atividade comercial funcionou com a instalação de verdadeiros armazéns à bordo de embarcações dos mais diversos tipos e calados, que saíam de Abaeté rumo ao Baixo-Amazonas indo geralmente até Santarém, embora algumas se aventurassem até o Peru. O início da atividade ainda era em embarcações a vela, passando depois para barcos movidos a motores diesel. Contam os que participaram dos primeiros anos do regatão que quando faltava vento e a maré corria conta o movimento do barco era necessário que os marinheiros, ladeando o rio, puxassem o barco de terra através de um grande cabo, o que demandava um esforço físico enorme

que extenuava a todos. Na ida, os comerciantes levavam os produtos de Abaeté, principalmente a cachaça, os refrigerantes (os mais famosos eram o guaraná Amazônia, o guaraná Abaeté, o guaraná e a cola Alvorada) o mel e a rapadura, bem como querosene, sal e açúcar refinado, medicamentos e produtos industrializados adquiridos de atacadistas em Belém do Pará. Na volta, traziam os produtos da região, principalmente o pirarucu salgado, as peles de animais silvestres e a juta, importante fibra vegetal que abastecia os teares da CATA (Cia. Amazônia Têxtil de Aniagem) em Belém, na fabricação de sacos de aniagem. A criação da zona franca de Manaus, em 1967, implantou uma zona de livre comércio de importação e exportação na Amazônia e abasteceu os viajantes que retornavam “do Amazonas” (na verdade, como já dito, a maioria ia somente até Santarém, mas de lá recebiam os produtos da zona franca de Manaus) para Abaetetuba com produtos importados, aparelhos eletro-eletrônicos, brinquedos, perfumes (como o famoso Artimatic ou o Reve d’or e o Ramage, que muito sucesso faziam nas festas e nas tardes de domingo) ou cortes de seda importada

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que alegravam as costureiras e as jovens às vésperas da Festa de Conceição. Aproximadamente na mesma época houve a proibição da caça e comercialização da pele de animais silvestres, embora os regatões ainda tenham continuado a trazer as peles, principalmente as de jacaré, que atingiam alto preço no mercado exportador. A decadência do regatão deve-se a dois fatores principais: a abertura das grandes rodovias amazônicas, como a Belém-Brasília, a Santarém-Cuiabá e a Brasília-Acre, e a elevação dos custos de operação das embarcações, principalmente devido ao choque do petróleo de 1973. No primeiro caso, os produtos começaram a entrar direto do centro-sul para o Baixo-Amazonas sem o custo de ir até Belém para só depois chegarem àquela região. No segundo caso, a elevação dos custos de manutenção e operação das embarcações tornava inviável a competição com outras formas de comércio direto com o Baixo-Amazonas, notadamente a praticada por grandes armazéns atacadistas do Centro-Sul, como aqueles do interior de Minas Gerais que, em caminhões, depressa dominaram o mercado da região com bons preços e prazos maiores, uma vez que financiados por grandes bancos, o que não acontecia com os regatões, que não dispunham de qualquer forma de financiamento para oferecer crédito aos clientes além do caderninho de contas e do ajuste destas durante a viagem de volta, cerca de 30 dias depois da ida. Muitos comerciantes praticaram o comércio de regatão intensamente, com mais vigor no final dos anos 50 e toda a década de 1960. Ao perceberem o início da decadência, procuraram mudar de ramo, geralmente estabelecendo-se como comerciantes em Abaetetuba ou em cidades vizinhas. Alguns ainda praticam o regatão até hoje, no início do século XXI, embora realizando essa atividade comercial de forma bastante diferente, valendo-se daquilo que a tecnologia coloca hoje à disposição. Sobre esta, aliás, vale ressaltar que a precariedade das comunicações na época dos regatões era impressionante. Os viajantes valiam-se principalmente do telégrafo sem fio, serviço prestado pelos correios. Havia as cartas tradicionais e as mensagens pelo rádio (um serviço conhecido como “alô interior”) De Santarém era possível telefonar aos berros para os poucos aparelhos que a COTELPA (Companhia Telefônica A decadência do regatão deve-se a dois fatores principais: a abertura das grandes rodovias amazônicas, como a Belém-Brasília, a SantarémCuiabá e a Brasília-Acre, e a elevação dos custos de operação das embarcações, principalmente devido ao choque do petróleo de 1973.

Paraense) instalara em Abaeté. Rádios, somente os de ondas médias e ondas curtas instalados em poucas cidades do interior, além das estações de Belém. Deixar as famílias em casa e sair para comercializar pelo rio Amazonas de cidade em cidade era, como vimos, uma aventura, uma história de coragem ainda por ser contada.

DEABAETETUBA CACHAÇA

A CACHAÇA INDIAZINHA É PRODUZIDA NA DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, NA CIDADE DE ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ. INDÚSTRIA PRODUTORA DE CACHAÇA. PRIMEIRA DESTILARIA QUE PRODUZ A CANA E FABRICA A CACHAÇA NO ESTADO DO PARÁ.

Abaetetuba tem mais de 200 anos de tradição na produção de Cachaça Artesanal de Alambique. Devido a excepcional qualidade das Cachaças produzidas aqui, obteve no passado reconhecimento nacional e internacional. Fato comprovado no Brasão da cidade que simboliza; os canaviais; os engenhos e o meio de transporte predominante da época, os regatões, barcos à Vela responsáveis pelo transporte da Cachaça pelos rios da floresta. De acordo com o historiador Jorge Machado “Os engenhos funcionaram sempre de acordo com uma concepção primitiva de produção e de relação econômica. Os mesmos maquinários do século XIX que iniciaram a produção ainda eram utilizados no seu ocaso ao final dos anos 1960. Nenhum melhoramento tecnológico nos equipamentos ou genético na matéria-prima foi introduzido e, talvez, aí esteja a razão de sua decadência. Com a abertura econômica da Amazônia ao grande capital, nos anos de 1960, as bebidas destiladas produzidas no nordeste e no sudeste do país invadiram a região, amparadas por financiamento bancário, por uma publicidade implacável e por preços sem concorrência. Essa invasão destruiu a indústria local, incapaz de reagir com o vigor necessário, o que dependeria de financiamento e medidas de planejamento econômico estratégico, ações que nunca vieram. Os engenhos surgiram de pequenas moendas familiares onde se fabricava rapadura, mel, açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente teve escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará.

A CACHAÇA INDIAZINHA

É produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, na Cidade de Abaetetuba no Estado do Pará.

Os engenhos surgiram inicialmente de pequenas moendas familiares onde se fabricava a rapadura, o mel, o açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente, com a linha do Amazonas, teve caminhos para o escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará. Às moendas familiares coube continuar a fabricação do mel e da rapadura (uma vez que o açúcar refinado passou a ser importado) que ainda assim tinham mercado garantido, embora agregassem pouco valor ao produto, num processo rústico de produção que condenava à estagnação quem nele permanecia. Bem diferente era o que acontecia com a cachaça antigamente, o empresário Omilton Quaresma após estudo de viabilidade de mercado e no intuito de manter a tradição do seu município, resolve criar a CACHAÇA INDIAZINHA, produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA. A Modernidade chegou e a Tecnologia avançou

consolidando a produção na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, que ainda sim, mantem viva e guardada a Sete Chaves, a Arte da Produção de uma Cachaça Única e Especial! Tradição passada de gerações em gerações para produção da Cachaça Artesanal genuinamente amazônica. Para a produção da Cachaça Indiazinha, o cuidado com a qualidade começa desde a lavoura. O plantio de cana-de-açúcar é realizado sem o uso de agrotóxicos e a colheita ocorre no ponto Ótimo de maturação, com corte realizado de forma manual, sem o uso prévio de queimadas.

A cachaça INDIAZINHA OURO de Abaetetuba está entre as 50 MELHORES CACHAÇAS do Brasil. No resultado do III Ranking Cúpula da Cachaça analisada pelos maiores especialistas do Brasil. A cachaça INDIAZINHA OURO ficou em 19 lugar. Na fase final, "Degustação às cegas", os 12 especialistas do Brasil se reuniram e analisaram aspectos visuais, olfativos e sensoriais de cada uma dessas maravilhas da produção brasileira, estabelecendo pontuações para uma série de quesitos, sem saber as marcas que estão provando. A média estatística das notas de cada amostra definiu as posições no Ranking e a "Cachaça do Ano".

A FERMENTAÇÃO É NATURAL E SEM ADITIVOS QUÍMICOS.

A Destilação é lenta e harmoniosa. Realizada em alambiques de Cobre que reproduzem a combinação perfeita entre aromas e sabores Amazônicos, reafirmando o poder da terra em que é obtida a Cachaça Indiazinha. Após destilada, segue para descanso por meses e até anos em tonéis de madeiras nobres, em especial amazônicas que dão um toque original e genuíno para a Cachaça Indiazinha. Após o descanso a Cachaça Indiazinha é então filtrada e engarrafada. Fruto do rigoroso processo de Controle de Qualidade tem-se, então uma Cachaça especial que traz dentro da garrafa os Sofisticados Aromas e Sabores da Floresta mais Magnifica e Encantadora do mundo, a Amazônia. A CACHAÇA INDIAZINHA é produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, na Cidade de Abaetetuba, no Estado do Pará.

Funcionamento:

Das 8h às 18 hrs - segunda a sexta Contato: Omilton Quaresma:(91)98368-6237 Instagram: @cachacaindiazinha Facebook: https://www.facebook. com/cachacaindiazinha

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