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TRADIÇÕES
Jones da Silva Gomes
A Tiração de Reis em Abaetetuba
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Janeiro, para alguns grupos de Tiração de Reis na cidade de Abaetetuba, é o mês de se distribuir e receber “dons”. Movidos pelo imaginário do nascimento de Cristo, a rememoração da imagem do menino Deus, que desceu dos céus e tornou-se homem para salvar a humanidade partilhando o amor; e dos Reis magos que seguiram a estrela guia, no intuito de conhecer e dar oferendas à criança- Salvador do Mundo- é atualizada nos cortejos pelas ruas e casas da cidade de Abaetetuba, renovando o símbolo da comunhão entre os devotos. Em 378 d. C, o Papa Júlio I fixou a data de 25 de dezembro, solstício de verão no hemisfério norte, momento em que sol prolonga o dia, para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, ficando a data de 6 de janeiro como dia de Reis (encontro dos Reis com o Menino). Por volta do ano de 1600, esta simbologia do encontro passou a fazer parte das comemorações católicas em toda a Europa e já na América colonizada. Em Portugal, em meados do século XVII, as Folias tinham a finalidade de divertir o povo, uma dança rápida acompanhada de pandeiro, inspirada num grupo de mulheres chamado de As Pastorinhas, que no natal batiam as portas esmolando- símbolo de humildade- em homenagem ao Espírito Santo. As festas da Natividade, pouco a pouco, foram sendo acrescidas de elementos diversos que caracterizam cada uma dessas manifestações no resto do Brasil, adquirindo o espírito religioso que conserva até hoje. A Folia quando revive uma narrativa iniciada em Mateus, capítulo 2, 1-12 descreve a visita dos três reis magos: Baltazar, Gaspar e Belquior, que, segundo a lenda, foram do Oriente à Judéia para adorar Jesus Cristo, o fazem reafirmando aos mesmos con
Tiração de Reis em Abaetetuba
teúdos dramatizados em torno do símbolo da luz, a estrela de Belém é um guia na escuridão. Segundo Srª. Hélia Quaresma professora graduada em Ciências das Religiões, e, uma das organizadoras do evento, a ideia é enfatizar o fato religioso: “O objetivo é mostrar, levar a palavra de Deus, porque Deus se materializou e a importância de estar no meio de nós aqui na terra, o que foi que ele veio fazer? Qual a finalidade? A visita aqueles homens, aqueles sábios, que eram conselheiros de reis, então, eles tinham esse conhecimento, porque fizeram esse percurso a pé?” O ano de 2006 é considerado importante marco para a retomada do movimento de Reis na cidade, onde realizaram-se cortejos em conjunto que depois se dispersavam pelas casas de moradores de diversos bairros. É o que mostra a reportagem do jornal o liberal: “Grupos culturais do municipio de Abaetetuba,
fazem hoje e amanhã a Tiração de Reis, uma versão amazônica da tradição que lembra o nascimento do menino Jesus”. Segundo a Srª. Hélia atualmente “O percurso é livre e distribuído por bairros como era antigamente”, nele pode-se ouvir ao longe um grupo de músicos e cantadores, trajando um colorido com chapéus de palha e fitas de cetim, entoando versos que anunciam o nascimento do Menino Jesus e homenageando os Reis Magos, acompanhados geralmente de fogos e curiosos que vão se aglomerando em torno da pequena romaria. O evento na cidade é de longa data, Dona Hélia que organiza a 27 anos a Tiração de Reis- através do grupo Nossa Senhora da Conceição no Bairro de São Lourenço- onde exerce o papel de mestra da folia, nos conta que também existem outros Grupos, tais como: Grasom, Menino Deus, Nazaré, Girassol. Nossa Senhora da Conceição e São Dimas. O músico e com
As festas da Natividade, pouco a pouco, foram sendo acrescidas de elementos diversos que caracterizam cada uma dessas manifestações no resto do Brasil, adquirindo o espírito religioso que conserva até hoje.
positor Luiz Barros Sena que coordenou anos atrás o grupo Gaspar, em entrevista ao jornal declara sua participação na Folia: Comecei tirando Reis com os meus pais. Quando conheci a festa, morava no interior, onde meus pais foram trabalhar com lavoura, e voltei para cá, aos 12 anos. Mas lá a barra pesava! Eu viajava na canoa, a festa começava dia 5, ao meio dia
e a gente tirava Reis à noite inteira. Às vezes chegava na casa do cara mais dormindo do que qualquer outra coisa. (O LIBERAL, 05 jan. de 2006, p. 12). Nesses últimos anos acompanhamos essas pequenas romarias que estetizam o olhar comum e permitem as famílias que recebem, rememorarem trajetórias de vidas, recontarem histórias sagradas. A imagem da bandeira e o estandarte, o presépio feito especialmente para aquele momento, revelam um rompimento com o cotidiano Os instrumentos utilizados geralmente são o violão, reco-reco ou chocalho, cavaquinho, banjo, triângulo, pandeiro; em outros grupos destacam-se as tubas, saxofone, trompetes e trombones e mesmo a sanfona, muito utilizado no nordeste. Grande parte do cortejo é acompanhado de músicas na entradas e saídas das casas, esta fodia é bastante conhecida pelos foliões: Meu senhor dono de casa Dê licença para entrar Vinde ver o santo Reis que acaba de chegar. Quando o tempo é chegado Isto é por devoção Este Reis que a vos pedimos É pra dar de coração. O senhor dono de casa Por favor queira ouvir Mandar dar ao santo Reis O que nós viemos pedir.
Ao adentrar as casas geralmente tocam-se alguns outros pedidos musicais de foliões ou familiares, incluindo repertórios regionais, carnaval, músicas românticas e religiosas. Estas canções são uma diversão a mais para os foliões, uma forma
de animá-los na jornada noturna do ir e vir de casa em casa. A bandeira e os estandartes são outros elementos cenográfico e símbolos dessa caminhada, por levar o nome do grupo que fará a homenagem, geralmente ao lado de uma criança que carrega o Menino Deus no presépio confeccionados por artesãos da cidade. A indumentária varia conforme o gosto e posses de cada grupo, não havendo uma constante quanto ao tecido, feitio e cores. Alguns componentes do grupo trajam roupas coloridas geralmente as primarias: azul, vermelho, amarelo, com chapéus enfeitados e fitas coloridas, camisas padronizadas com imagens do grupo. Os personagens somam geralmente doze pessoas a 15 pessoas, sendo elas: mestre, contramestre, os três reis magos, e, foliões. Noite adentro o evento ocorre, no dia seguinte- o6 de janeiro- também visitam outras comunidades completando mais um ciclo de homenagens ao Menino Deus.
puxirum das artes Jones da Silva Gomes
UMA POÉTICA DA RESISTÊNCIA NAS MARGENS DE ABAETETUBA
Antônio Brito de Souza (Mestre Toti) Nasceu em 23/11/1944. Cantor e compositor do grupo trovadores do céu, membro do grupo da 3ª idade do CRAS São Sebastião, seu Toti foi capitulante de ladainha na região de ilhas de Abaetetuba de onde é sua origem. Com o dom faceiro das narrativas que emanam de sua imaginação criadora, é, um exímio versista para as rodas de carimbo e outras cantigas.
Com o objetivo de compartilhar atividades artísticas de discentes e docentes da Faculdade de Formação e Desenvolvimento do Campo,
UFPA/ Campus de Abaetetuba, realizou-se o “II Puxirum das Artes” promovido pelo
Museu do Tocantins, no dia 14 de dezembro no Ginásio de Esporte. Além de atividades extensivas, também foi entregue um prêmio como reconhecimento aos artistas locais que compõem o território do Baixo Tocantins. Em
Tupi, “Puxirum” significa ajuntamento de um dia para realizar alguma tarefa e os ribeirinhos tomaram esse significado como sendo um mutirão, atividade que tem por base a ajuda mútua no trabalho das comunidades. Trata-se, portanto, de um Mutirão das Artes que contou com produções dos discentes da turma de Educação do Campo/2018 com colaboração de arte educadores. Houve também a entrega de um título simbólico (certificado) e uma escultura em miriti criada pelo artesão Valdeli Costa. Segundo o coordenador do Evento Prof. Dr. Jones da Silva Gomes coordenador do Museu do
Tocantins, este ano o Prêmio Puxirum das Artes contemplou três músicos que são referências na cidade.
José Raimundo Quaresma Fonseca (Zezé) nasceu no dia 29/08/1966, nos idos dos anos de 1980 participou do grupo experiência, ocasião em que ganhou sua primeira bateria do consagrado e lendário Laque da banda Muiraquitãs, desde então passou a participar de grupos de jovens como GEN, sempre atrelado a música ajudou a criar o grupo musical Voo Livre, Joelho de Camarão e a Banda Metrópole. Zezé como instrumentista e arranjador participou da composição de muitas músicas em festivais na região e capital do Estado, como professor é membro criador do curso de música reponta da maré, como baterista atualmente faz parte do grupo Pérola Negra.
Raimundo Claudio Lobato (Ney Viola): Nasceu no dia 18/08/1966, desde a década de 1980 compõe e interpreta canções populares e de seu repertório regional é Arte Educador no (CEU), Participou de inúmeros festivais de música na cidade e região com músicas autorais, produziu eventos de arte como Cesta de Música, Projeto Maresia, Mostra de Teatro, Pau e Corda e Piracema. Compôs e Lançou o CD experimental “A cara do meu Canto” 2002, parcerias com tantos outros artistas como Alexandra Sena, Priamo Brandão, Nego Nelson, Adenaldo Cardoso, Miguel Boboca, Mestre Vieira. Atualmente coordena a produtora Mundiando E organiza e produz formações sobre os métodos musicais no curso (Reponta da Maré).