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HISTÓRIA DE MARABÁ POR MARIA VIRGINIA MATTOS

a literatura em pinacoteca pedro marabá e o projeto morbach e a escola tocaiunas de bico de pena de marabá

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MARABÁ

Acidade de Marabá, no sudoeste do Paráalém deapresentar umagrande riquezaartística ecultural daamazônia é ponte parao desenvolvimento ECONÔMICO DA REGIÃO

HISTÓRIA

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FOTOGRAFIA

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LITERATURA l DOCUMENTÁRIO

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INDÚSTRIA l

ARTES VISUAIS www.revistapzz.com.br 1


Banzeiro Comunicação

Programa AGIR EFC

Contém: 22 negócios sociais 220 empreendedores bene ciados 11 localidades no Pará e Maranhão Geração de trabalho e renda Lindinalva Frazão, 31 anos, agora é uma empreendedora

Transformando vidas Pela Estrada de Ferro Carajás passam pessoas e muitas histórias de vida. Algumas destas histórias nos inspiram, como a da Lindinalva Frazão, de Marabá. Ela é uma das participantes do Programa de Apoio a Geração e Incremento de Renda (Agir), desenvolvido pela Fundação Vale. Há mais de um ano, Lindinalva e as outras mulheres que vendiam alimentos às proximidades da ferrovia receberam quali cação e viraram empreendedoras. Agora, elas integram a Associação das Boleiras da Vila Itainópolis. Para a Vale, é um orgulho contribuir com iniciativas que geram trabalho e renda e transformam vidas.

Conheça as histórias de quem cresce lado a lado com a gente. Acesse vale.com/ladoalado vale.com/brasil 2 www.revistapzz.com.br


FOTO DE CAPA:JORDÃO NUNES

ITINERÁRIO

Marabá HISTÓRIA

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A História de Marabá por Maria Virginia Mattos

INDÚSTRIA SENAI Marabá 38 anos presente no Sudoeste do Pará

LITERATURA Poesofia de Airton Souza Poesofia de Ademir Braz Poesofia de Charles Trocate Projeto Literário Tocaiunas Antologia: 100 poemas & prosas por Marabá Conto: As Lavadeiras por Ana Maria Martins Barros

ARTES VISUAIS

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ARMA - Associação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará

ARTE

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A Arte de Augusto Morbach

ESPECIAL

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Fundação Casa da Cultura de Marabá - FCCM A Pinacota Municipal Pedro Morbach A Escola de Bico de Pena em Marabá por Cátia Weirich Pedro Morbach por Patricícia Padilha

FOTOPOESIA

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Edição 25| JUNHO 2016

Diretoria Executiva Carlos Pará e Fábio Santos Editor Responsável Carlos Pará 2165 - DRT/PA Produção Executiva Carlos Pará Diagramação Carlos Pará Editora de Fotografia Adriana Lima Fotógrafias A.Bastos Acervo Miguel Pereira Fundação Casa de Cultura de Marabá Jordão Nunes Revisão Final: Elias Teles Impressão: Gráfica Sagrada Família Distribuição Belém, Pará, Brasil Contatos (91) 3229-2670 / (91) 98335-0000 email revistapzz2016@gmail.com Twitter @revistapzz Facebook https://www.facebook/revistapzz

cartas A Revista PZZ é uma publicação bimensal da M.M.M. Santos Editora EPP - Av. Magalhães Barata, 391, Belém, Pará, Amazônia, Brasil Cep 66093-400 Cnpj : 07.015.922/0001-11 Issn: 2176-8528 site: revistapzz.com.br Parceiros

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Fotocidade de Marabá por Jordão Nunes

ECONOMIA

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GOVERNADOR APRESENTA O PROJETO “PARÁ 2030”

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HISTÓRIA

MARABÁ Por Maria Virgínia Bastos de Mattos

M

uitos livros de História re- tunidades para os filhos. Quisemos espelhar servam ao povo comum um neste artigo a vida do povo de Marabá, suas papel secundário, passivo; lutas, suas vitórias. os destaques vão para os “grandes homens”, os líde- PRIMEIROS HABITANTES res, os governantes. Antes do Chico aqui chegar, Ao traçarmos a história de Marabá, po- Habitavam povos de outras raças, deríamos cair no mesmo erro, apontando Que dominavam terras, rios e matas: nomes de autoridades ou líderes políticos Gavião, Xicrin, Suruí, como os únicos agentes desta história. Ora, Paracanã, Arara e Assurini”. todos sabemos que Marabá cresceu e se (Ananias Pereira) desenvolveu graças às ações de todo o seu povo, de todas as pessoas que vieram para A parte Sudeste do Pará, onde se localiza cá ou que aqui naso município de Marabá, foi ceram ao longo despovoada apenas por indítes cento e poucos A história de Marabá é a história genas até fins do século anos. de nossos pais e avós; é a história passado. Muitas pessoas A história de Maque os indígenas do mais humilde castanheiro, do pensam rabá é a história de constituem um só povo, nossos pais e avós; pescador, do carregador do cais, da com uma única cultura e é a história do mais mulher que quebra o coco babaçu uma mesma língua; outros humilde castanheireferem a eles como ou pila o arroz, do lavrador que se ro, do pescador, do pessoas do passado, igluta na terra, do garimpeiro, do carregador do cais, norando que, somente na da mulher que que- piloto, do comerciante, do marinheiro, porção Sudeste do Pará, bra o coco babaçu ou vivem hoje 28 povos, disdo motorista, do professor, do pila o arroz, do lavratribuídos em 46 aldeias e dor que luta na terra, carpinteiro, da lavadeira da beira do totalizando 4300 pessoas. do garimpeiro, do piTocantins. loto, do comercianQUANTOS ERAM OS INte, do marinheiro, do motorista, do profes- DÍGENAS DESTA REGIÃO, NO FINAL DO sor, do carpinteiro, da lavadeira da beira do SÉCULO XIX? Tocantins... Foram eles, em sua luta diária, Não existem dados exatos sobre a população que tentaram tornar esta terra melhor para indígena antes da chegada dos chamados citodos. Eles são tão importantes quanto os vilizados, mas pesquisas históricas e arquegrandes proprietários, os chefes políticos, ológicas indicam que o número de aldeias e os líderes que têm seus nomes gravados nas pessoas era muitíssimo maior que o de hoje. placas das ruas e dos monumentos. Em nossa região, como em todo o Brasil, O que nós almejamos é que cada leitor houve uma redução rápida da população destas páginas sinta nelas a presença viva indígena, um verdadeiro extermínio, provode seus familiares, dos vizinhos e amigos, cado por vários fatores: epidemias de molésde tantos que vieram para Marabá em bus- tias trazidas pelos brancos, apresamento de ca de terra, de trabalho, de estudo e opor- índios para o trabalho escravo, assassinato 4 www.revistapzz.com.br


MARABÁ - PRIMEIROS TEMPOS O Pontal do Cabelo Seco /1992 Domingos Nunes Acervo Pinacoteca Municipal Pedro Morbach

“Vencemos o rio, transpusemos as cachoeiras, navegamos o impossível, vasculhamos o leito rochoso à procura de gemas preciosas. Extraímos o cristal, garimpamos o ouro. Penetramos nas matas, subjugamos a natureza, rasgamos estradas, transformamos o ambiente, criamos o boi e plantamos a riqueza. Extraímos o caucho e colhemos a castanha. Vencemos batalhas contra as doenças, as febres, as pragas, as adversidades que eram grandes. Tudo sem anúncios, sem alardes, sem trombetas. Depois vieram os outros, brasileiros também, mas a luta maior, a batalha principal estava vencida, a natureza domada. Agora, somemos todos na multiplicação da riqueza, na expansão do bem comum, na busca de melhores dias nesta terra de lindas praias, de manhãs de luz e poentes de fogo”. (Raymundo Rosa) www.revistapzz.com.br 5


HISTÓRIA

de populações inteiras que se encontravam em áreas de interesse para o aventureiro branco (seringais, castanhais, ares de pastagens naturais, áreas ricas em minérios). Assim, desde o século XVI, muitos indígenas moradores das margens do rio Tocantins foram escravizados por grupos de aventureiros que, saindo de Belém e Cametá, subiam o rio em grandes barcos a remo. Vinham para esta região em busca de homens para trabalhar nas lavouras que abasteciam as cidades litorâneas. Grande parte dos indígenas capturados morria durante a viagem, ou logo depois, pelo contágio com doenças e pelo excesso de trabalho a que eram submetidos. Evidentemente esse tipo de contato, cujo objetivo era explorar a força de trabalho indígena, não permitiu qualquer

Poucos anos depois, por volta de 1920, foi a castanha-do-pará que atraiu os brancos para o interior da floresta, provocando novos conflitos e mortes. Em todas essas lutas o homem branco era vencedor. Vivendo dispersos, os índios não tinham formas de se unir para enfrentar o invasor; além disso, suas armas eram rústicas – arcos, flechas, bordunas – enquanto os brancos utilizavam armas de fogo. Um exemplo da terrível redução da população indígena é a que ocorreu com o povo Kaiapó: antes de 1910 calculava-se que somavam 6 a 8 mil pessoas; em 1918 já estavam reduzidos a 500 pessoas e, em 1929, a apenas 27 pessoas: ou seja, de cada 222 indivíduos restou apenas 1, no curto intervalo de 20 anos!

A HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS Os grupos indígenas que sobreviveram e conseguiram manter suas culturas são hoje testemunhas de uma história de sofrimentos, mortes e muita resistência. Veremos alguns aspectos da história de quatro povos que ainda vivem nas proximidades de Marabá: os povos Suruí Aikewara, Gavião, Parakanã e Xicrin do Cateté. Esses povos são, em nossos dias, exemplos de como é possível usufruir dos recursos naturais sem causar a destruição do meio ambiente. Além do mais, eles nos mostram como se pode viver em comunidades onde cada um produz de acordo com sua capacidade e todos desfrutam observação das culturas e das línguas na- dos recursos obtidos, não havendo, em tivas. Em nossa região, como em todo o suas aldeias, nem pobres, nem ricos. País, as diversas culturas nativas foram sufocadas pela cultura do homem branco. Também os religiosos, como Francisca- AGRICULTURA INDÍGENA nos e Jesuítas, reuniram indígenas, com Um dos problemas da moderna agrio intuito de convertê-los ao cristianismo cultura é o empobrecimento do solo e e adaptá-los ao modo de vida dos “civili- o aumento de pragas e doenças. Isso se zados”, o que significava colocá-los para deve à monocultura, que exclui a heterotrabalhar em roças, sem qualquer respei- geneidade natural do meio, onde diversas to por costumes, crenças e tradições dos espécies animais e vegetais garantem o autóctones. equilíbrio ecológico. Nesse processo de extermínio dos in- A forma de agricultura praticada por grudígenas somente se salvaram os grupos pos indígenas de nossa região não agride que, penetrando nas matas, seguindo o a natureza. Uma pesquisa realizada entre curso dos igarapés, foram para regiões de os índios Kaiapó da aldeia Gorotire, no sul difícil acesso aos colonizadores. No en- do Pará, ilustra como é possível cultivar a tanto, a partir dos últimos anos do século terra sem prejuízo do ecossistema, pelo XIX, descobriu-se nesta região o caucho, emprego de técnicas que respeitam as e os índios voltaram a ser confrontados características de cada área e estimulam com os brancos, que adentravam a mata a diversidade. em busca das árvores da goma elástica. Ao plantar, os Kaiapó parecem imitar

Os grupos indígenas que sobreviveram e conseguiram manter suas culturas são hoje testemunhas de uma história de sofrimentos, mortes e muita resistência. Veremos alguns aspectos da história de quatro povos que ainda vivem nas proximidades de Marabá: os povos Suruí Aikewara, Gavião, Parakanã e Xicrin do Cateté.

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a natureza. Quando iniciam uma roça, introduzem grande quantidade de espécies; no princípio plantam espécies de vida curta; a seguir, árvores frutíferas; finalmente cultivam espécies florestais de grande porte, como a castanha-do-pará, que legam a netos e bisnetos. Para o plantio dessas árvores, os kaiapó trazem material orgânico das áreas próximas, promovendo assim uma adubação do solo. Os autores dessa pesquisa acreditam que outros povos indígenas – Xavante, Canela, Gavião, Xicrin e Apinajé – utilizaram formas semelhantes de cultivo, interferindo positivamente no ecossistema. (Fonte: Anderson & Posey, 1978). O POVO SURUÍ, OU MELHOR, AIKEWARA Um dos povos encontrados na região de Marabá é o Suruí, nome dado pelos brancos, pois eles mesmos se autodenominam Aikewara, que significa simplesmente “Nós”. Os Aikewara se expressam num dialeto tupi-guarani. Em 1892 esse povo foi visto pelo pes-


quisador francês Henri Coudreau, próximo à região onde posteriormente seria a cidade de Marabá. Mais tarde, em 1923, um grupo foi avistado nos arredores da cachoeira de Santa Isabel, no rio Araguaia, por Frei Antonio Sala. Nessa época o branco começou a fixar-se na região, passando a ocorrer conflitos com os indígenas. Em certa ocasião, por exemplo, alguns índios, tendo saído para caçar, fecharam animais domésticos criados pelos brancos em uma fazenda. Isso aconteceu porque eles não entendiam que alguém criasse aqueles animais, nem tinham a noção de propriedade particular. Eles não imaginavam que estivessem prejudicando alguém, sendo surpreendidos pela violenta reação dos brancos: alguns índios Aikewara foram mortos e os demais se refugiaram no interior da floresta. A busca de castanha fez com que os brancos penetrassem nas matas, atingindo territórios ocupados pelos Aikewara, resultando daí novas violências de parte a parte.

Com tantas agressões, os Aikewara tornaram-se arredios, evitando qualquer aproximação. Somente na década de 1950 o padre Frei Gil Gomes Leitão, da Ordem dos Dominicanos, preocupado com o destino dos indígenas, conseguiu ser aceito pelos Aikewara, passando a auxiliá-los e a protegê-los das agressões dos brancos.

A busca de castanha fez com que os brancos penetrassem nas matas, atingindo territórios ocupados pelos Aikewara, resultando daí novas violências de parte a parte. Algumas vezes, aproximações aparentemente inofensivas causavam aos indígenas resultados tão trágicos quanto os ataques e agressões. Em 1960, por exemplo, estando Frei Gil ausente da aldeia, ocorreu que um grupo de homens sem

REMANESCENTES Os grupos indígenas que sobreviveram e conseguiram manter suas culturas são hoje testemunhas de uma história de sofrimentos, mortes e muita resistência. escrúpulos aproximou-se dos Aikewara, ganhou a confiança deles e convenceu-os a caçar animais selvagens, para lhes fornecer as peles. Com tal atividade, muitos índios afastaram-se da vida tribal e dos trabalhos de preparação de roças; a par disso, o contato com os brancos provocou um surto de gripe que matou grande parte da população indígena. Avisado da tragédia, Frei Gil retornou à aldeia, expulsou os aventureiros e lutou pela sobrevivência e pela restauração da dignidade dos restantes Aikewara. Foi ainda Frei Gil quem conseguiu, através de um decreto presidencial, a interdição da área indígena aos demais moradores da região. Por essa época – www.revistapzz.com.br 7


HISTÓRIA

fins dos anos 60 – a região sofria uma ocupação acelerada, por parte de pequenos lavradores oriundos de Goiás, Maranhão, estados do Nordeste e do Leste. O contato entre brancos e índios aumentou, havendo frequentes trocas de produtos e pequenos negócios. Na década de 70 os Aikewara foram envolvidos pela movimentação militar, em função da Guerrilha do Araguaia. Quatro índios foram obrigados a trabalhar como “batedores”, ou guias do Exército. A região foi cortada por várias estradas, sendo que uma delas, a OP-2, atravessou o território Aikewara no sentido Norte – Sul. Em agosto de 2010 a TV Globo mostrou um vídeo sobre o projeto “Crianças Suruí – Aikewara: entre a tradição e as novas tecnologias na escola”, desenvolvido pela UNAMA (Universidade da Amazônia) e patrocinado pelo projeto “Criança Esperança”. A população atual dos Aikewara é de pouco mais de 300 habitantes, vivendo na “Área Indígena Sororó”, próximo à Serra das Andorinhas, às margens da BR-153, entre os municípios de São Geraldo e São Domingos do Araguaia. MODO DE VIDA DOS AIKEWARA A “Área Indígena Sororó” é motivo de orgulho para os Aikewara, pois abriga uma floresta nativa bem conservada; eles se definem como povo da floresta. Apenas pequenas áreas são reservadas à agricultura. Por estarem situados próximo de uma estrada de rodagem, sofrem sérios problemas de incêndios criminosos, provocados provavelmente por cigarros jogados pelos ocupantes dos veículos que ali trafegam. Em 2010 um desses incêndios causou grandes prejuízo à vegetação nativa, aos cursos d’água, à criação de abelhas e às roças. No território dos Aikewara cada família tem sua roça, onde cultiva dois tipos de mandioca, dois tipos de milho, arroz, algodão, batata, cará, inhame, cana-de -açúcar e vários tipos de banana. Criam gado, galinhas e abelhas. Apreciam também a carne de caça, realizando caçadas no período de dezembro a maio, época em que há menos trabalho nas roças. Fazem coleta de frutos da floresta: castanhas-do-pará, cupuaçu, bacaba, cacau do mato, abiu, ingá, babaçu, mamão do mato, almescão, pequi. No verão utilizam o açaí. Cultivam limão, lima, laranja, manga, goiaba, maracujá, caju. 8 www.revistapzz.com.br

A atividade agrícola constitui, hoje, tarefa basicamente masculina. As mulheres participam do plantio da mandioca, mas a confecção da farinha é encargo dos homens. OS POVOS GAVIÃO Diferentes grupos Timbira, que pertencem ao tronco linguístico Jê, receberam a denominação “Gavião”, mas os indígenas dessa etnia, localizados na “Reserva Indígena Mãe Maria”, próximo a Marabá, pertencem a três subgrupos: a. Os Parkatêjê, “povo da jusante”; b. Os Kyikatêjê, “povo da montante”, porque foram morar a montante do rio Tocantins, no Estado do Maranhão (sendo conhecidos também como “grupo do Maranhão”); c. Os Akrãtikatêjê, “turma da montanha” que morava na cabeceira do rio Capim, no município de Tucuruí. Vamos falar um pouco sobre cada um desses subgrupos, dando maior destaque aos Parkatêjê, que são em maior número e lideraram as principais lutas pela preservação de sua cultura. a.OS PARKATÊJÊ Os Parkatêjê sempre foram temidos, mas na verdade eram desconhecidos dos brancos. Estes passaram a atacá-los a partir de 1920, quando o interesse pela castanha levou à exploração das matas da margem direita do rio Tocantins. À medida que crescia a importância econômica UMA TRADIÇÃO PRESERVADA Os Gavião procuram preservar certos costumes, como o do preparo do berarubu ou kuputi, iguaria tradicional em que arrumam, dentro de folhas de bananeira, duas camadas de mandioca ralada, entremeadas de carne de caça ou peixe; esse preparado é assado sob pedras quentes, num forno coberto de terra, improvisado no quintal das casas. Um peixe muito apreciado para compor o berarubu é o poraquê, o famoso “peixe elétrico”. Os Gavião mantém organizações que agregam cada um dos subgrupos: Associação do Povo Indígena Krikatêjê Amtáti (APIKA) Associação Indígena Parkatêjê Amijip Tár Kaxuwa ( AIPATAK) Associação Indígena Te Mempapytárkate Akrãtikateje da Montanha (AITMAM)


REMANESCENTES O contato com a população branca trouxe surtos de pneumonia, gripe e sarampo, que dizimaram grande parte dos indígenas. os que sobreviveram passam por um processo de aculturação e procuram manter sua identidade cultural

da castanha, aumentavam os conflitos, a tal ponto que, nas décadas de 1930, 1940 e 1950 as autoridades e donos de castanhais organizavam expedições para extermínio do povo Parkatêjê. Relatos encontrados nos jornais de Marabá, nos anos de 1949 e 1950, descrevem vários ataques de índios a castanheiros e a moradores de Ipixuna, mas não falam sobre as expedições de extermínio perpetradas pelos brancos; a exceção é um artigo na revista Itatocan, de janeiro de 1953, que denuncia um “massacre de parte de uma tribo Gavião no lugar Marrecos, pouco abaixo de Saranzal, pelos moradores deste local”. A descrição traz trechos impressionantes: “a índia, como implorando misericórdia, apresentava o filhinho na sua frente. Nada comoveu ao bárbaro assassino, que com um golpe no rosto tirou-lhe metade da cabeça, degolando em seguida o colomi...”. O autor do relato informa ainda que os Parkatêjê eram inofensivos e que se aproximavam das margens do Tocantins, em certas épocas do ano, em busca de alimentos: “E os moradores de Marabá ainda se recordam do velho Coronel Messias, que recebia os Gavião em sua propriedade de Mãe Maria, todos os anos, não sendo molestado por eles em seus trabalhos extrativos na mata”. Os primeiros contatos de paz, já com os Parkatêjê esfacelados e empobrecidos, deram-se em 1956, através de expedição organizada por Frei Gil Gomes Leitão em companhia de Hilmar Harry Kluck, um militar reformado a serviço do SPI (Serviço de Proteção aos Índios, hoje FUNAI). Eles levaram alimentos e remédios para os indígenas. Nessa época os Gavião se concentravam nas proximidades de Itupiranga. O contato com a população branca trouxe surtos de pneumonia, gripe e sarampo, que dizimaram grande parte dos indígenas. O líder, então, era o jovem e valente Krohokrenhum. Quando ele viu seu povo morrendo, pegou as crianças órfãs e deu-as aos brancos, dizendo: www.revistapzz.com.br 9


HISTÓRIA “Vocês podem tomar conta, vocês criam; eu vou ficar só, porque eu sei que vou morrer”. Mais uma vez a assistência de Frei Gil salvou o povo Parkatêjê do extermínio. Quem conta é Krohokrenhum: “Frei Gil chegou, aí começou... leva “rancho”, leva tudo, café, açúcar, farinha... ih! Muita farinha. Ele levou quatro “caras” lá, eles fizeram a roça. Oito “linhas” que os caras fizeram, queimaram, plantaram mandioca, banana. Só uma vez. Aí nós começamos (no outro ano), fizemos roça, plantamos...”. Em 1964, sob orientação do Serviço de Proteção aos Índios, mudaram-se os Parkatêjê para o local denominado Mãe Maria, em área de 62.000 hectares, concedida a esse povo desde 1943, através de decreto governamental. Eles estabeleceram sua aldeia na altura do Km 30 da rodovia BR332. Assim, os Parkatejê passaram a ser o grupo indígena mais próximo do núcleo urbano de Marabá. Krohokrenhum chamou de volta os Parkatêjê que estavam dispersos, e recebeu indígenas de outras etnias, que se encontravam isolados. A atual aldeia dos Parkatêjê é composta de casas de alvenaria dispostas em círculo, forma tradicional das aldeias Timbira. Na escola da aldeia ensina-se aos jovens e crianças, além do currículo habitual, o dialeto e a história do povo Timbira. Todos participam de cantos e danças tradicionais, realizam jogos de flechas e corridas de toras; gostam também de assistir à televisão, usar computador, filmadoras e, principalmente, jogar futebol. Em 2010 o subgrupo Parkatêjê reunia 450 indivíduos (Fonte: FUNASA).

forçada trouxe muitos problemas. Afinal, em 2001, os Kyikatêjê saíram da aldeia Parkatêjê e formaram sua própria aldeia, na altura do Km 25 da BR 222, dentro da mesma Reserva Mãe Maria.

cisão judicial que permita a aquisição de área própria, para refazerem sua aldeia e tentarem resgatar suas tradições. (Disponível em< http://merciogomes.blogspot. com>. Acesso em 02 maio 2011).

PRESERVANDO A CULTURA, MAS AGREGANDO OUTRAS Como os demais Gavião, os Kyikatêjê preservam a tradição da Corrida de Toras. Em revezamento, as equipes correm carregando pesados troncos de buriti nos ombros. Para nós, habituados a competir sempre para ver quem é o melhor, eles oferecem uma preciosa lição: não consideram importante valorizar o primeiro lugar, o que mais vale é o divertimento e

O POVO PARAKANÃ, ou melhor, AWAETÉ

Em 1964, sob orientação do Serviço de Proteção aos Índios, mudaram-se os Parkatêjê para o local denominado Mãe Maria, em área de 62.000 hectares, concedida a esse povo desde 1943, através de decreto governamental. Eles estabeleceram sua aldeia na altura do Km 30 da rodovia BR332. Assim, os Parkatejê passaram a ser o grupo indígena mais próximo do núcleo urbano de Marabá.

a participação: fazem uma grande comemoração quando as equipes conseguem chegar juntas ao ponto final! Mas quando é para competir, eles sabem fazer bonito: gostam muito de futebol e participam do campeonato paraenb. OS KYIKATÊJÊ se com o GAVIÃO KYIKATÊJÊ FUTEBOL CLUBE, primeiro time indígena do futeNo final da década de 60 o grupo Kyi- bol brasileiro. Também o técnico, Zeca katêjê encontrava-se na região do Igara- Gavião, é o primeiro indígena a ter essa pé dos Frades, em conflito com os civili- profissão, no Brasil. zados na disputa por terras. Funcionários da FUNAI convenceram os Kyikatêjê a morar na Reserva Mãe c. OS AKRÃTIKATÊJÊ Maria. Eles haviam se afastado do grupo Parkatêjê no início do século 20 por moOs Akrãtikatêjê, ou Gavião da Montivo de guerra entre esses grupos; assim, tanha, ocupavam umas terras altas, que ao retornarem, formaram uma aldeia se- consideravam sagradas, mas foram deparada, chamada “Ladeira Vermelha”, na salojados dali para a construção da Hialtura do Km 34 da BR 332. drelétrica de Tucuruí, no início da década A partir da instalação dos projetos gover- de 1970. A expulsão de sua terra ancestral namentais que afetaram as terras dos Ga- trouxe muito sofrimento, com perdas de vião, os Kyikatêjê foram obrigados a reu- vidas. Hoje os Akrãtikatêjê vivem na Área nirem-se aos Parkatêjê. Essa convivência indígena Mãe Maria, esperando por de10 www.revistapzz.com.br

O povo Parakanã se autodenomina Awaeté, que significa “gente de verdade”. A língua dos Parakanã pertence à família Tupi-guarani. Os Parakanã sempre se situaram entre os rios Xingu e Tocantins, em área do atual município de Tucuruí. A construção da Estrada de Ferro Tocantins, a partir da década de 1920, trouxe os primeiros conflitos dos indígenas com os brancos. Anos mais tarde, quando ainda se processava a lenta tentativa de construção da ferrovia, tais confrontos provocaram uma crise entre o Marechal Rondon e o político paraense Magalhães Barata. Em 1944, o engenheiro-diretor da Estrada de Ferro Tocantins, Carlos Teles, estando em presença de Magalhães Barata, autorizou os funcionários da empresa a atirarem nos índios, assim que os avistassem na ferrovia. Uma incursão de 30 homens armados, chefiados por Teles, não encontrando os Parakanã, destruiu sua aldeia. Em 1949, Magalhães Barata enviou telegrama AP Marechal Rondon, reclamando que o representante do Serviço de Proteção aos Índios, em Tucuruí, estava impedindo os policiais de afugentarem os Parakanã, os quais, “armados com rifles, ameaçavam os moradores da cidade”. Em resposta, Rondon negava que os Parakanã usassem armas de fogo e declarava que os ataques indígenas eram uma resposta às violências que sofriam e às chacinas “em que se destacavam as perversidades do paranoico “Pá Virada” contra indefesos curumins assassinados pelo infame processo de esfacelar-lhes os crânios de encontro aos troncos das árvores”. “Pá Virada” ou “Pá Torta” era um bandido famoso pelas crueldades e violência que empregava contra os índios. Na década de 1970, com a abertura da Rodovia Transamazônica e a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, iniciaram-se os contatos da FUNAI com os Parakanã, que viviam dispersos, formando grupos isolados. Somente em 1984 foi contatado o último grupo. Hoje os Parakanã habitam uma Terra Indígena de 351 mil ha, nos municípios de Repartimento, Jacundá e Itupiranga. Ali mantém cinco aldeias. Há outra área dos Parakanã nas proximidades


do rio Xingu, municípios de Altamira e São Félix do Xingu. A população indígena Parakanã, que em 1984 era de 347 pessoas, passou em 2004 a somar 900 indivíduos. O POVO XIKRIN DO CATETÉ Os Xikrin do Cateté pertencem ao grupo Kaiapó, nome do povo e da língua que utilizam. Localizam-se atualmente nas proximidades do rio Cateté, afluente do rio Itacaiúnas, em área de mata rica em mogno e castanheiras. Antes da ocupação do homem branco, os Xikrin do Cateté viviam numa área mais extensa, ocupando temporariamente diversas aldeias espalhadas pelo sul paraense. Com a entrada de caucheiros e castanheiros iniciaram-se as hostilidades, que culminaram com o massacre de 180 índios, em 1930. Os Xikrin mudaram-se, então, para os arredores do rio Bacajá e cabeceiras do rio Itacaiúnas; mas como essa área também era rica em castanheiras, em breve novos choques ocorreram, obrigando o grupo indígena a retornar para o rio Cateté. A partir de 1966 os padres dominicanos Frei Gil Gomes Leitão e Frei José Caron passaram a viver entre os Xikrin, dando assistência médica e orientação sobre formas de sobrevivência econômica. A terra ocupada pelos Xikrin passou a ser invadida por madeireiros, a partir de 1977; mas como nessa época a área já estava delimitada e demarcada, pertencendo legalmente aos índios, houve processo judicial para retirada dos invasores. Apesar das muitas violências sofridas, os Xikrin conseguem, hoje, manter as tradições, o emprego da língua kaiapó e o respeito pela natureza. Em 2010 a população Xikrin era de 1.631 pessoas (Fonte: FUNASA). Em abril de 2008 as festas do Dia Nacional dos Povos Indígenas, realizadas na Aldeia Xikrin do Cateté, duraram quatro dias e foram testemunhadas por jornalistas e outros convidados. Houve casamentos, danças religiosas e a Festa do Marimbondo, tradicional rito de passagem dos jovens guerreiros Xikrin. XIKRIN DO CATETÉ O contato com a população branca trouxe surtos de pneumonia, gripe e sarampo, que dizimaram grande parte dos indígenas. os que sobreviveram passam por um processo de aculturação e procuram manter sua identidade. www.revistapzz.com.br 11


HISTÓRIA

PELO RIO TOCANTINS, DESDE 1590

cantinas, onde deságua o rio Itacaiúnas, os primeiros habitantes não indígenas. É o que Os rios Tocantins e Araguaia eram co- veremos a seguir. nhecidos dos brancos desde 1590, quando os bandeirantes paulistas Domingos Luiz O BURGO DO ITACAIÚNAS E A DESCOGrou e Antonio de Macedo realizaram uma BERTA DO CAUCHO expedição até esta região. Depois deles, muitos viajantes aventura“Foi assim que uma catástrofe política poram-se por estes rios em busca das chama- voou o deserto” (Carvalho, p. 229). das “drogas do sertão”: canela, baunilha, pau-brasil, plantas medicinais, peles de VAMOS NOS SITUAR animais, aves ou penas, e também ouro e pedras preciosas. Em 1889 o Marechal Deodoro da FonseSeguiram-se muitas expedições de ca proclamou a República brasileira, sendo aventureiros em busca de riquezas ou apre- eleito presidente em 1891, tendo como seu samento de índios, e viagens de padres je- vice o candidato da chapa oposicionista, suítas que desejavam catequizar e atrair tri- Marechal Floriano Peixoto. No final de 1891, bos indígenas para as missões situadas nos Deodoro da Fonseca renunciou ao cargo, arredores de Belém. assumindo a presidência o Marechal Floriano Peixoto. Este tratou imediatamente de A CRIAÇÃO DE GADO LEVA AO PO- destituir os governadores que eram fiéis a VOAMENTO Deodoro, causando com essa medida uma grande agitação política em todo o País. A pecuária teve início no Brasil a partir Veremos agora como essa agitação afedo Nordeste, onde o gado bovino era cria- tou a história de Marabá – uma cidade que do para dar apoio à indústria açucareira: ele ainda nem existia. servia para transportar a cana, movimentar as moendas, fornecer a matéria-prima para A REVOLUÇÃO DE BOA VISTA DO TOa confecção de utensílios de couro, alimen- CANTINS tar os trabalhadores e usineiros. Aos poucos a procura por carne e couros foi aumentanNo Estado de Goiás os seguidores de Flodo, o que provocou a expansão da pecuária. riano Peixoto eram liderados por Leopoldo Inicialmente a criação de gado dependia de Bulhões, enquanto seus opositores reuda ocorrência de pastagens naturais, pois niam-se em torno de um partido católico conão se pensava ainda no cultivo de capim. mandado pelo cônego Inácio Xavier da Silva. Por esse motivo os rebanhos foram se espaBem ao norte de Goiás (hoje Estado do lhando pelas áreas de campos, atingindo o Tocantins) localiza-se a cidade de Tocansul do Maranhão, região denominada “Ser- tinópolis, então denominada Boa Vista do tão dos Pastos Bons”, em meados do século Tocantins. Em Boa Vista dominava o Coronel XVIII. Carlos Gomes Leitão, florianista, que tinha o As primeiras cidades do sul do Mara- apoio de Leopoldo de Bulhões. Mas a oponhão e da antiga parte norte de Goiás, hoje sição ao Coronel Leitão também era forte, Estado do Tocantins, começaram a surgir reunindo-se em torno do Prefeito (na época no século XIX: Carolina, Grajaú, Boa Vista denominado Intendente) Francisco Maciel do Tocantins (atual Tocantinópolis), Barra Perna. do Corda, Porto Franco, São Vicente (atual As hostilidades entre os grupos do CoroAraguatins) e Imperatriz, que se chamava nel Leitão e de Maciel Perna aumentaram a inicialmente Santa Tereza da Imperatriz. partir de 1892, resultando em sérios confronA partir de 1873 foi aberto um “caminho tos armados. O padre dominicano Frei Gil de de gado”: uma estrada que, beirando o rio Vilanova, que residia na cidade de Porto NaTocantins, ligava o sul do Maranhão a Be- cional, foi chamado para intermediar a paz. lém. Na verdade essa estrada era simples- Por infelicidade, no momento das negociamente uma trilha, que permitia o transpor- ções um seguidor de Maciel Perna, exaltado, te das boiadas, a pé e apenas durante os matou Alexandre Gomes, irmão do Coronel períodos de seca. Carlos Leitão. A situação agravou-se, com E Marabá? lutas e mortes em toda a região. Bem, nossa cidade ainda demorou alConseguindo o apoio de forças federais gum tempo para surgir. Mas, no final do vindas do Maranhão, o Coronel Leitão toséculo XIX, fixaram-se nestas margens to- mou o poder em 1893; mas grande parte da 12 www.revistapzz.com.br

população de Boa Vista juntou-se a Maciel Perna, cercou a cidade e conseguiu um tratado de paz, lavrado com a autoridade policial. Leitão discordou, provocou a substituição da autoridade policial e retomou o controle da cidade. Novas lutas ocorreram em 1894; os seguidores de Maciel Perna cercaram Boa Vista durante um mês, e a fome obrigou o grupo liderado por Carlos Leitão a capitular, em setembro de 1894. O ÊXODO PROVOCADO PELA REVOLUÇÃO As lutas de Boa Vista provocaram, a partir de 1892, o êxodo de muitas famílias que buscaram lugares mais calmos para viver e produzir, sem os riscos de ataques de


A FUNDAÇÃO DO BURGO Burgo do Itacaiúna / 1926 Fotografia de A. Bastos Acervo Fotográfico Miguel Pereira bandos armados. Essas famílias mudaram-se para cidades próximas, como Imperatriz e Grajaú, ou seguiram para regiões ainda pouco habitadas, nas margens dos rios Tocantins ou Araguaia. Dessa forma surgiram Santa Maria das Barreiras, em 1892, Conceição do Araguaia, em 1897, e Itupiranga, fundada em 1892 por Lúcio Antonio dos Santos. Após a capitulação, em 1894, o Coronel Carlos Leitão seguiu para Belém, conseguindo o apoio financeiro do governador Lauro Sodré para fixar-se com cerca de 100 pessoas nas proximidades do rio Itacaiúnas, onde planejava instalar uma colônia agrícola.

A FUNDAÇÃO DO BURGO Muitos dos seguidores do Coronel Leitão já se encontravam nas proximidades do rio Itacaiúnas, onde tentaram se estabelecer no local denominado “Quindangues”. Mas como ali foram frequentes os casos de febres (provavelmente devido à malária), o grupo resolveu mudar-se para as margens do rio Tocantins, num local que dista dezoito quilômetros da atual cidade de Marabá. Instalou-se ali o “Burgo Agrícola do Itacaiúnas”, no dia 5 de agosto de 1895. Um relato do escritor Ignacio Baptista de Moura informa que, em 1896, havia no Burgo do Itacaiúnas 222 habitantes; as roças estavam produzindo e iniciava-se a

criação de gado. Um fato interessante relatado por Ignacio Moura: nesse ano de 1896 uma “extraordinária enchente” atingiu o Burgo, inundando barracas construídas mais próximo ao rio Tocantins. Talvez por esse evento Moura tenha encontrado os 222 habitantes instalados em apenas 28 barracas. No ano seguinte, porém, o viajante francês Henri Coudreau encontrou no local apenas 80 moradores, e atribuiu o fracasso da colônia agrícola à atração dos moradores pela exploração do caucho e coleta da castanha-do-pará.

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HISTÓRIA

A DESCOBERTA DO CAUCHO

abaixo, por homens que as conduziam com forquilhas às mãos, para desviar de Em busca de campos naturais para a pedras, remansos e ilhotas. criação de gado, os habitantes do Burgo A borracha do caucho é inferior à da Agrícola do Itacaiúnas empreenderam vá- seringueira; além disso, seu processo de rias incursões através dos igarapés, rios e exploração tem uma característica cruel: matas que cercavam a região, sem, entre- em vez de se fazer incisões no caule, o que tanto, alcançarem resultados satisfatórios. permitiria a exploração de cada árvore por Dois criadores de gado, os irmãos Her- anos e anos, como é o caso da seringueira, mínio e Antonio Pimentel, naturais de o caucho é sangrado a golpes de machadiRiachão, no Maranhão, ao trazerem uma nha e depois a árvore é derrubada, extrainboiada, de Carolina para a feira anual do do-se então o restante do látex. O motivo Pará, foram obrigados a permanecer al- alegado para a derrubada do pé de caucho gum tempo no Burgo, pois ali chegaram é a sua fragilidade: uma vez golpeada, a pelo final do ano – no inárvore morre, ou deverno, portanto – e o rio No final do ano de 1896, descobriram finha por longo temTocantins estava cheio, po, não renovando a impedindo a travessia que certas árvores muito comuns seiva. Ao extrair todo dos animais. Entusias- nas margens dos rios Itacaiúnas e o látex da árvore, era mados com a ideia de Tocantins eram pés de caucho, ár- possível obter até 30 descoberta de campos quilos do produto. naturais, organizaram vores produtoras de látex, à semelIsso fazia com que algumas expedições. hança das seringueiras. Iniciou-se, a o caucheiro (o hoNuma delas, no final do que coletava o partir daí, a exploração sistemática mem ano de 1896, descobrilátex do caucho, às ram que certas árvores do látex, que estava tendo aceitação vezes denominado muito comuns nas mar- crescente no mercado externo, sendo também seringueiro) gens dos rios Itacaiúnas se deslocasse conse Tocantins eram pés de usado na fabricação de pneus e de tantemente, em buscaucho, árvores produ- aparelhos para laboratórios. ca de novas árvores, toras de látex, à semepara extrair delas lhança das seringueiras. todo o látex. E é por Iniciou-se, a partir daí, a esse motivo que não exploração sistemática do látex, que esta- existem mais, nas áreas remanescentes de va tendo aceitação crescente no mercado mata do sul e sudeste do Pará, nem um só externo, sendo usado na fabricação de exemplar de caucho! pneus e de aparelhos para laboratórios. Quanto à castanha-do-pará, bem mais UM ERRO HISTÓRICO abundante na região, não tinha naquela O pesquisador francês Henri Coudreau época grande valor comercial, sendo co- empreendeu a exploração do rio Itlhida apenas para o consumo local. acaiúnas, no ano de 1897. No relatório da viagem concluiu que “o rio Itacaiúnas é um A EXPLORAÇÃO DO CAUCHO caminho que não leva a lugar algum (...); O caucho é uma das espécies vegetais nada pode oferecer que não seja a pouco produtoras de látex, como também o são rendosa castanha e um caucho de baixa a seringueira, a mangabeira, a maçarandu- cotação” (Coudreau8, p.91). ba ou balata, dentre outras. Agora, imaginem só! O rio Itacaiúnas e O nome científico do caucho que era seus afluentes formam-se e banham toda encontrado em Marabá é Castilloa elás- a Serra dos Carajás: simplesmente a maior tica, árvore que alcança de quinze a vinte província mineral do Planeta! metros de altura, tendo seu tronco cerca Que “fora”, seu Coudreau! de meio metro de diâmetro. O látex extraído dos pés de caucho coagulava e era em seguida recolhido, lavado e prensado, formando as pranchas. Essas pranchas, amarradas umas às outras com cipós, denominavam-se “miricicas” e eram transportadas como se fossem balsas, rio 14 www.revistapzz.com.br

A DESCOBERTA DO CAUCHO O Caucho / 2011 Artista: Domingos Nunes Acervo Pinacoteca Municipal Pedro Morbach


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HISTÓRIA

MARABÁ, PRIMEIROS TEMPOS: DA ajuda de parentes de Carlos Leitão, foi residir no Burgo. No entanto, desejando ter mais liORIGEM A 1920 berdade para realizar seus projetos, saiu do

Burgo e instalou-se no Pontal, em 1898. “Lá em baixo, no Marabá O Barracão Marabá era um comércio, onde Houve um grande barulhão; Francisco Coelho vendia tudo aquilo que os Mataram Ludugério homens que trabalhavam com a extração do De faca e rifle na mão; caucho necessitavam. Alem disso, o Barracão Escapou Celso Bandeira era um açougue. O proprietário trouxe conPor debaixo de um caixão”. (SAMPAIO,Antonio. Revista Itatocan, sigo 70 bovinos acreditando encontrar pastos naturais, achando ia fazer bons negócios mar.1967, p. 12)

A exploração do caucho na região próxima ao Burgo do Itacaiúnas atraiu multidões de homens, vindos principalmente do Maranhão e do norte de Goiás, mas também do Piauí, do Ceará e de outros Estados nordestinos. Entre os aventureiros destacavam-se, desde o início, os comerciantes, muitos deles originários de Grajaú, importante centro de comercialização de gado e peles, naquela época. Eram os comerciantes que traziam para os caucheiros os equipamentos e suprimentos necessários para adentrarem as matas; eram eles, também, que compravam o látex coletado e transformado em pranchas. Foram os comerciantes que fizeram surgir Marabá na foz do rio Itacaiúnas, ponto estratégico para o escoamento da produção de látex do rio Itacaiúnas, seus afluentes e rio Tocantins. Conta a tradição que, a 7 de junho de 1898, o maranhense Francisco Coelho da Silva, originário de Grajaú, inaugurou um barracão comercial, no ângulo formado pelos rios Tocantins e Itacaiúnas, local denominado Pontal, em alguns documentos antigos. Também se diz que o nome Marabá foi dado, por Francisco Coelho da Silva, à sua casa comercial: era uma homenagem ao grande poeta maranhense Gonçalves Dias, autor do poema denominado “Marabá”.

com o rebanbo. (Guerra. 2004, p. 55). Além de vender bebida alcoólica, o estabelecimento contava ainda com mulheres solteiras que ficavam a disposição daqueles homens que passavam tanto tempo na mata. Com a notícia de que havia no povoado do Pontal um barracão de divertimentos para os trabalhadores da mata, o comércio de Francisco Coelho aumenta a freguesia, e consequentemente, o povoado do Pontal ia crescendo cada vez mais.* (Arão Marque da Silva, 2010). Logo o nome do ponto comercial passou a designar a pequena vila que ali se foi formando. Marabá surgiu e cresceu rapidamente, pois a notícia dos lucros com a exploração do caucho correu pelo sertão maranhense e nordestino. A historiadora Carlota Carvalho, em seu interessante livro O Sertão, assim relatou: Desde o Piauí, todo o sertão exportou víveres, carne de porco; toucinho, farinha seca e de puba, açucar, rapadura, cachaça, tabaco, doces, queijos, galinhas, ovos, bois vivos, porcos e vacas paridas, até laranjas, abóboras e inhames para a fantástica e maravilhosa Marabá, surgida de repente, como obra de magia, na AS LUTAS E AS ENCHENTES DOS foz do escuro rio Tacai-una”. (CARVALHO, p. PRIMEIROS TEMPOS 221).

O Coronel Carlos Gomes Leitão faleceu no Burgo de Itacaiúnas no dia 13 de abril de 1903, em situação de grande penúria. Esse fato possivelmente assinalou o fim do Burgo e a mudança dos últimos moradores para o pontal do Itacaiúnas. No ano seguinte, 1904, uma briga entre patrões de caucheiros e seus capangas permaneceu na memória dos antigos marabaenses. Antonio de Araújo Sampaio assim escreveu:

Francisco Coelho da Silva Em O Sertão, de autoria de Carlota Carvalho, lê-se que Francisco Coelho era ex-sargento do Exército e que havia trabalhado como seringueiro no Estado do Amazonas, às margens dos rios Purus, Juruá e Javari, onde conheceu também o caucho. Contraindo malária, voltou para o Maranhão, casou-se e instalou açougue em Grajaú. Espírito aventureiro, sentiu-se atraído pelo povoamento do Itacaiúnas e, com 16 www.revistapzz.com.br

MONUMENTO À FRANCISCO COELHO DA SILVA

“As brigas e os atritos se originavam por qualquer discussão sem importância. A lei, o direito, eram ditados pela voz do ‘44’ de papo amarelo. A autoridade era o patrão que dispusesse de maior número de seringueiros ou capangas às suas ordens. Os tiroteios e as desordens eram constantes. Mas a que alcançou maior repercussão e proporções aconteceu em 1904, entre dois grupos armados que travaram um intenso tiroteio, apoiados pelos patrões Francisco


MARABÁ - Gonçalves Dias Eu vivo sozinha; ninguém me procura! Acaso feitura Não sou de Tupá? Se algum dentre os homens de mim não se esconde, — Tu és, me responde, — Tu és Marabá! — Meus olhos são garços, são cor das safiras, — Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar; — Imitam as nuvens de um céu anilado, — As cores imitam das vagas do mar! Se algum dos guerreiros não foge a meus passos: "Teus olhos são garços, Responde anojado; "mas és Marabá: "Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, "Uns olhos fulgentes, "Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!" — É alvo meu rosto da alvura dos lírios, — Da cor das areias batidas do mar; — As aves mais brancas, as conchas mais puras — Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. — Se ainda me escuta meus agros delírios: "És alva de lírios", Sorrindo responde; "mas és Marabá: "Quero antes um rosto de jambo corado, "Um rosto crestado "Do sol do deserto, não flor de cajá."

BARRACÃO DE DEPÓSITO Barracão de depósito / 1926 Fotografia A. Bastos Acervo Arquivo Fotográfico Miguel Pereira Casimiro e Celso Bandeira. Este último fugiu com seus homens depois de ferido, deixando um deles, de nome Ludgério, morto no local da luta. Celso Bandeira escapou à fúria de seus adversários refugiando-se em casa do coronel Atanásio Gomes, onde ocultou-se sob uma caixa de madeira.” (SAMPAIO, Antonio. História de Marabá. Revista Itatocan, mar. 1967, p. 12).

Talvez para controlar brigas como essa, o governo do Pará transferiu, pelo Decreto nº 1344-A, de 23 de dezembro de 1904, a sede da Circunscrição Judiciária e Subprefeitura do Burgo para Marabá. Nesse decreto apareceu, pela primeira vez em documento oficial, a denominação “Marabá”. Por esse tempo Marabá chegava a ter 1500 habitantes, porém mais da metade era constituída por pessoas que ali viviam por temporadas, para o trabalho nas matas de caucho. Em 1906, e depois novamente em 1910, enchentes mais violentas destruíram os casebres e barracões comerciais de Marabá. Alguns comerciantes pensaram em mu-

dança da povoação para lugares mais altos, mas a localização era excelente, do ponto de vista comercial, e tudo foi reconstruído. Um grave conflito ocorrido em Marabá ficou conhecido como “Rebelião dos Galegos” e teria ocorrido em 1908. A questão envolveu interesses do comerciante goiano Norberto de Melo, estabelecido em Marabá desde os primeiros tempos, em oposição a comerciantes sírios e libaneses, denominados “galegos”. Foi tão sério o conflito que, diz a tradição, o governo do Pará enviou um representante para mediar a questão. A queda nos preços da borracha provocou outro conflito, em 1917. Alguns caucheiros chegaram a Marabá para vender a borracha coletada, mas, não encontrando comprador, resolveram saquear o comércio local. Os comerciantes reagiram à bala, causando várias mortes. Em 1919, com a crise da borracha, houve mais um conflito, desta vez de cunho político: o coronel João Anastácio de Queiroz,

— Meu colo de leve se encurva engraçado, — Como hástea pendente do cáctus em flor; — Mimosa, indolente, resvalo no prado, — Como um soluçado suspiro de amor! — "Eu amo a estatura flexível, ligeira, "Qual duma palmeira, Então me responde; "tu és Marabá: "Quero antes o colo da ema orgulhosa, "Que pisa vaidosa, "Que as flóreas campinas governa, onde está." — Meus loiros cabelos em ondas se anelam, — O oiro mais puro não tem seu fulgor; — As brisas nos bosques de os ver se enamoram, — De os ver tão formosos como um beija-flor! Mas eles respondem: "Teus longos cabelos, "São loiros, são belos, "Mas são anelados; tu és Marabá: "Quero antes cabelos, bem lisos, corridos, "Cabelos compridos, "Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá." E as doces palavras que eu tinha cá dentro A quem nas direi? O ramo d'acácia na fronte de um homem Jamais cingirei: Jamais um guerreiro da minha arazóia Me desprenderá: Eu vivo sozinha, chorando mesquinha, Que sou Marabá!

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HISTÓRIA alegando perseguição política, depôs o Intendente, Pedro Peres Fontenelle, acusando-o de autoritário. O coronel Queiroz armou a população e conseguiu um acordo com o chefe do destacamento militar, enviado pelo governo do Estado; dessa forma ele tomou o poder. Este conflito marca o momento do declínio do caucho e o início da exploração da castanha-do-pará. “O então humilde povoado foi-se transformando em tumultuoso aglomerado humano, onde a lei era quase desconhecida e se primava pelo rápido enriquecimento, sendo válidos todos os recursos. Mas, já naquela época, o pequeno vilarejo também hospedava homens de relativo conhecimento, o que provocou as primeiras ideias de independência”. (MARABÁ, p.99)

compradores. Com a queda nas vendas, a crise foi terrível em toda a Amazônia, com graves reflexos nas capitais, Manaus e Belém. Marabá teve a sorte de encontrar uma saída: a exploração da castanha-do-pará, que começava a apresentar interesse no mercado mundial. Adiante veremos, com detalhes, como se processou o importante ciclo da castanha-do-pará.

A INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO: CINCO DE ABRIL DE 1913 Marabá crescia, mas não tinha escola, nem correio, nem autoridades. Dependia de Baião para todas as decisões, e nem sempre os marabaenses eram atendidos em suas petições e necessidades. Pedidos de desmembramento do município foram encaminhados ao governo do Pará, mas não foram aprovados. Os comerciantes então se uniram e, orientados por João Parsondas de Carvalho, advogado provisionado, iniciaram entendimentos com o governo de Goiás para que Marabá fosse incorporada àquele Estado. Foi uma atitude astuciosa, pois serviu para alertar o governo paraense que, afinal, atendeu à reivindicação, sancionando a Lei nº 1278 que criou o município de Marabá, a 27 de fevereiro de 1913. A instalação do município de Marabá ocorreu pouco tempo depois, no dia cinco de abril de 1913. Em 1914 Marabá passou a ser sede de Comarca, pelo Decreto nº 3057, de sete de fevereiro de 1914. O primeiro Juiz de Direito, doutor José Elias Monteiro Lopes, procedeu à instalação da Comarca a 27 de março de 1914

ELEVAÇÃO DE MARABÁ À CATEGORIA DE CIDADE: 1923 A vila de Marabá, sede municipal desde cinco de abril de 1913, foi afinal elevada à categoria de cidade, a 27 de outubro de 1923, pela Lei Estadual nº 2207. A solenidade de instalação, em Marabá, deu-se no ano seguinte, a 13 de maio de 1924. Nessa época a população local chegava a 2.000 pessoas. Um fato importante ocorrido no ano anterior, 1922, foi a extinção do município de São João do Araguaia, que passou a pertencer ao município de Marabá, por decreto, a partir de 29 de dezembro de 1923.

O DECLÍNIO DA EXPLORAÇÃO DO CAUCHO A exploração do caucho na região de Marabá iniciou-se quando a produção amazônica estava no auge, em fins do século XIX. Pouco depois, a partir de 1912, os preços começaram a cair, o que se acentuou com o final da Primeira Guerra Mundial, em 1919. O motivo desse desinteresse pelo látex brasileiro foi o início da produção racional da borracha em seringais cultivados, na Malásia e outros países asiáticos. A borracha cultivada entrou no mercado mundial com preços mais baixos, conquistando os países 18 www.revistapzz.com.br

MARABÁ, DE 1923 A 1940 “Apesar de tudo, a cidade guarda muito do seu caráter provisório, dado o fato do predomínio praticamente absoluto de uma atividade sazonal, não permitir que boa parte da população se fixe em definitivo” (VELHO, p. 57)

ACONTECIMENTOS E PROGRESSOS Em 1925 formou-se em Marabá a Associação Marabaense de Letras, reunindo as pessoas cultas da cidade. Essa Associação publicou três números de uma revista intitulada “Marabá”. Os principais membros da Associação Marabaense de Letras foram: o juiz Doutor Ignacio de Souza Moitta, o dentista Francisco de Souza Ramos, o secretário municipal Arthur Guerra Guimarães, o jovem professor Antonio Bastos Morbach, o farmacêutico Manoel Domingues, o poeta e microscopista Lauro Paredes, o químico Arthur de Miranda Bastos, o médico e poeta João Pontes de Carvalho, e ainda: Antonio de Araújo Sampaio, Afro Sampaio, Guilherme Bessa de Oliveira, Olímpio Fialho, Maria Salomé Carvalho, Aprígio Ottoni, João Montano Pires, Alfredo Rodrigues de Monção. Em 1926 uma grande enchente inundou a cidade, destruindo casas e expulsando todos os moradores. No mesmo ano, o preço da castanha sofreu forte desvalorização, reduzindo ainda mais a renda dos moradores. Passada a enchente, a cidade foi reconstruída no mesmo local.

TRANSPORTE DE CASTANHAS Baldeação de Castanhas/ 1926 Fotografia A. Bastos Acervo Arquivo Fotográfico Miguel Pereira


PRODUÇÃO DE CASTANHAS Castanheiros a espera do Barco / 1926 Fotografia A. Bastos Acervo Arquivo Fotográfico Miguel Pereira A partir de 1927 Marabá passou a ser o maior produtor de castanhas da região tocantina. Em 1928 foi fundada a primeira “loja maçônica” de Marabá: “Firmeza e Humanidade Marabaense”, com 22 membros. No ano de 1929 a cidade recebeu iluminação, através de uma usina de geração de energia, à base de lenha. No dia 3 de outubro de 1931 foi inaugurado o Mercado Municipal, na Rua 5 de abril, ao lado da Igreja de São Félix de Valois. Ainda em 1931 chegou a Marabá o primeiro hidroavião, um “Catalina” da empresa Condor. Nesse mesmo ano veio a Marabá, de barco, o Coronel-aviador Lysias Augusto Rodrigues, permanecendo na cidade por uma semana. Sua missão foi a de escolher uma área adequada para o aeroporto, e entabular negociações com as autoridades municipais para o preparo do terreno. Somente quatro anos depois, a 17 de novembro de 1935, inaugurou-se o aeroporto de Marabá – na ocasião apenas uma pista de terra – com o pouso do avião monomotor Waco CSO C-27, do Correio Aéreo Militar, pilotado pelo mesmo Coronel Lysias. Marabá em 1935 Nessa ocasião era prefeito de Marabá o Dr. “Marabá constitui um acampamento de Francisco de Souza Ramos. arrendatários de castanhais, de comerEm 1935, conforme relato do Dr. Júlio Paciantes e de apanhadores de castanha. É ternostro, no seu livro Viagem ao Tocantins, a cidade de Marabá tinha 460 casas, a maioum centro com todas as características ria construída de palha. A população fixa era sociográficas da produção extrativa de 1.500 habitantes, número que dobrava vegetal. Os arrendatários controlam o no período da safra da castanha. Não havia produto que desce pelos dois rios, os cais, nem arborização nas ruas, nem água comerciantes fiscalizam os indivíduos encanada, nem hotéis. A cidade contava aos quais forneceram mercadorias para com um pequeno posto de saúde do Estao trabalho na safra e os apanhadores de castanha encontram, em Marabá, aguar- do, como único recurso médico. No ano de 1939 foi inaugurado o Grupo dente, mulheres e jogo, que não existem Municipal José Mendonça Vergolino, com nas matas. (...) “O comércio de castanha, de fazendas e seis salas de aula e um salão. Marabá recebeu a visita de membros gêneros alimentícios está nas mãos de da família real brasileira, em setembro de sírios, que são também os proprietários dos ‘motores’, o principal meio de trans- 1937: D. Pedro de Orleans e Bragança (filho do Conde d’Eu e da Princesa Isabel; era, porporte da região. (...) tanto, neto de D. Pedro II), seus filhos Pedro “Durante a minha estada, realizava-se Gastão (então com 24 anos) e Maria Frano festejo do ‘boi’ e, à noite nas barracas cisca (com 23 anos). Integrava a comitiva do largo, reuniam-se homens, mulheres real o fotógrafo austríaco Mário Baldi (1896 e crianças. Cachaça à larga e mesinhas – 1957), que em diversas viagens ao interior para o sete e meio. Mal se percebiam as brasileiro registrou a vida de índios Bororo fisionomias dos indivíduos com a fraca e Carajá. iluminação elétrica obtida de um locoEm 1940 a população fixa de Marabá era móvel, consumidor de lenha”. (PATER- de 2.984 habitantes. NOSTRO, p. 107-110). Ainda em 1940, o Tenente Umberto Perwww.revistapzz.com.br 19


HISTÓRIA CONHEÇA ANTES QUE ACABE A castanha-do-pará é o fruto da castanheira, Bertholetia excelsa, árvore de porte majestoso, que atinge mais de 50 metros de altura e quatro metros de diâmetro. Uma castanheira pode viver até 800 anos. As flores da castanheira abremse em outubro, sendo polinizadas por insetos denominados mangangá ou mangagá (em outras regiões mamangaba, mamangava), himenóptero cujo nome científico é Bombus sp. Somente depois de 12 a 15 meses o fruto da castanha, denominado ouriço, está plenamente formado. Estando maduro, o ouriço cai, o que ocorre no período chuvoso, o inverno, que vai de dezembro a março. O ouriço é um fruto esférico, medindo de 11 a 14 cm de diâmetro, com peso variando entre 700 e 1500 g; a casca é lenhosa, dura, abrigando, em seu interior, de 10 a 25 amêndoas ou “castanhas”. Note-se que o que denominamos “castanha” não seria tecnicamente uma castanha, e sim uma semente. Uma árvore nova produz anualmente de 30 a 50 ouriços; mas quando a castanheira atinge entre 200 e 400 anos chega a produzir 1.000 ouriços por ano.

canos conservaram a liderança na importação da castanha brasileira, através dos portos de Nova York e Los Angeles. CASTANHEIRA Castanheira/ 1979 Fotografia Noé von Atzingen Acervo Arquivo Fotográfico Miguel Pereira

egrino, pousando em Marabá num avião Lockeed, observou que a cidade: “é um aglomerado flutuante, não há nenhum vínculo, nenhuma solda à terra. Quando termina a safra, ao entrar a seca, para tudo, Marabá murcha e esvazia-se de milhares de sertanejos. Por isso que Marabá não tem colégios, nem hospitais, nem clubes, nem cinemas, nem estradas. Tem ‘bares’ e desenvolvida prostituição, ativos ou paralisados, segundo o ritmo da castanha.” Vamos, agora, voltar um pouco no tempo, para traçarmos o percurso do ciclo da castanha-do-pará. O CICLO DA CASTANHA-DO-PARÁ “O castanheiro era um explorado em todo o processo, trabalhando por preços vis, comprando mercadorias a preços avultados, e ainda sendo ludibriado na medida do produto”. (Hilmar Kluck. Os castan20 www.revistapzz.com.br

heiros. Marabá, 1984, p. 176). Muitos foram os produtos extraídos nas matas desta parte da Amazônia: caucho, castanha-do-pará, óleos de copaíba e andiroba, peles de animais, madeiras, plantas medicinais, coco babaçu. Dentre todos, a exploração da castanha-do-pará foi a atividade extrativista preponderante em Marabá, até meados dos anos 80 do século XX. Essa atividade foi responsável pelas grandes fortunas dos proprietários de castanhais e pelo crescimento da cidade. Os homens que trabalham na coleta e quebra dos ouriços são chamados “castanheiros”. A castanha era exportada, até o início da 2ª Guerra Mundial, principalmente para a Inglaterra e a Alemanha. O porto inglês de Liverpool era o principal receptor. Durante a 2ª Guerra (1939 – 1945), os Estados Unidos passaram a ser os únicos compradores estrangeiros. Após esse período, os ameri-

O INÍCIO DA EXPLORAÇÃO, A PARTIR DE 1920 Nos primeiros anos de existência de Marabá, a castanha-do-pará era coletada apenas para o consumo local. Depois, no período que vai de 1913 a 1920, já ocorria alguma exportação, embora de pequeno impacto na economia local. Em 1913, por exemplo, Marabá exportou apenas 20 hectolitros. O ano de 1920 marca o início da exploração da castanha-do-pará em grande escala, coincidindo com a desvalorização da borracha. Assim, em 1921, a produção já chegava a 27.965 hectolitros e, em 1923, alcançava 61.700 hectolitros de castanha. Depois, em 1927, Marabá passa a fornecer 60% de toda a castanha do Estado, suplantando as regiões de Alenquer e Óbidos. Toda a castanha ia para Belém e de lá era exportada. A Europa descobria o valor da castanha-do-pará, empregada na fabricação de doces e na extração do óleo para fins medicinais e cosméticos. Se, na época do caucho, Marabá tornara-se importante mercado consumidor de produtos do sertão, com o ciclo da castanha intensificaram-se tais impor-


tações. Mais que isso, Marabá transformou-se em porto de intercâmbio comercial com todo o médio Tocantins, servindo às localidades do norte goiano e do sul do Maranhão. A partir de 1920 desenvolveu-se mais amplamente a navegação em barcos a motor, o que favoreceu o transporte de mercadorias, trazidas de Belém no retorno dos barcos que levavam a castanha; essas mercadorias eram então distribuídas, rio acima, para as cidades ribeirinhas, e delas para o sertão. SISTEMA DE EXPLORAÇÃO E COMÉRCIO DA CASTANHA No início a castanha-do-pará foi explorada no sistema de extração livre; não havia patrão, as terras não tinham dono. Com a crescente valorização do produto, pessoas mais abonadas – geralmente os comerciantes – passaram a contratar castanheiros, ou financiá-los. Aos poucos esses patrões, valendo-se de apoio político, obtiveram, do governo estadual, direitos sobre os melhores castanhais, e passaram a exercer o monopólio comercial. Como num círculo vicioso, o poder econômico trouxe a esses patrões o domínio da política local. Foi assim que surgiram os grandes donos de castanhais,

chefes políticos que controlavam a cidade, o comércio e a produção de castanha, desde a extração até a exportação. Por volta de 1925 implantou-se o sistema de arrendamento de castanhais: era uma espécie de aluguel, os castanhais eram entregues pelos chefes políticos a determinadas pessoas, para serem explorados durante uma safra. O TRANSPORTE DA CASTANHA O principal sistema de transporte da castanha era o fluvial. No trajeto entre os castanhais e Marabá empregavam-se, inicialmente, os batelões, grandes barcos impulsionados por ganchos e forquilhas, com auxílio do remo e da voga. Álvaro de Barros Lima conta que: “A aproximação dos batelões era anunciada pelo tan-tan cadenciado dos calcanhares dos barqueiros, batendo o convés da embarcação, acompanhado de quadrinhas alusivas às suas vidas, seu trabalho e seus amores”. Posteriormente passou-se a usar também os “pentas”, barcos com motores de popa e capacidade para nove a dez toneladas. Para o transporte entre Marabá eTucuruí, ou Belém, usavam-se os “motores”, barcos de maior calado, dotados de motores a die-

sel instalados no centro da embarcação. Havia nesse trecho do rio Tocantins perigosas cachoeiras e corredeiras, especialmente nas proximidades das antigas povoações de Jacundá e Jatobal. DONOS DE CASTANHAIS, CHEFES POLÍTICOS Na década de 1920 intensificou-se no Pará a formação de latifúndios. A posse de grandes áreas foi decisiva para a consolidação do poder econômico e político de alguns grupos ou famílias. Esse poder concentrado nas mãos de poucos é denominado oligarquia. Na região castanheira do rio Tocantins o poder oligárquico, a partir de 1920, passou a ser exercido pelo político e comerciante de castanha Deodoro de Mendonça, juntamente com familiares e amigos. Nascido em Cametá, Deodoro de Mendonça era sócio da firma Dias & Cia. que, representada por seu cunhado, Lusignan Dias, fixou-se em Marabá no ano de 1927. Aqui a empresa contratava os arrendamentos de castanhais, tendo a posse de muitos deles e dominando a compra e o transporte da castanha. Em 1930, com a chamada “Revolução de 30”, de cunho militar, assumiu o governo do Pará o interventor Magalhães Barata. Este deu forças a uma firma de comerciantes de castanha denominada A.Borges & Cia., que www.revistapzz.com.br 21


CemitĂŠrio dos Castanhais - Domingo Nunes Acervo Pinacoteca Municipal Pedro Morbach

HISTĂ“RIA

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passou a controlar os melhores castanhais e a comercialização do produto. No entanto, em 1935, passando o governo estadual às mãos de José da Gama Malcher, e exploração dos castanhais voltou às mãos de Deodoro de Mendonça. Nesta segunda fase, porém, o domínio não foi absoluto, pois havia a concorrência da firma A. Borges & Cia. De seu titular, Antonio Borges, partiram violentas acusações contra Deodoro de Mendonça, no ano de 1938. Embora abalado por denúncias de “negociatas escandalosas”, o poder de Deodoro de Mendonça resistiu até fins dos anos 40. “Negociatas Escandalosas” Em documento encaminhado ao presidente da República, Antonio Borges denunciou as “negociatas” que Deodoro de Mendonça e outros políticos realizaram para apropriar-se de castanhais e dominar o comércio de castanha. Borges afirmou que parentes e amigos de Mendonça requeriam áreas de castanhais para exploração e, a seguir, repassavam essas terras para ele, ”em pagamento de dívidas”. Posteriormente tais apropriações passaram a ser feitas sem qualquer intermediário; os castanhais de serventia pública, ou “castanhais do município” passaram para as mãos de Deodoro de Mendonça; áreas arrendadas para opositores políticos eram simplesmente transferidas para Mendonça, seus parentes e correligionários. O GRUPO MUTRAN Vinda de Grajaú, a família de sírios liderada por Nagib Mutran fixou-se em Marabá no final da década de 1920. Trabalhando inicialmente como “aviados” da firma A. Borges & Cia, os Mutran passaram a arrendar ou comprar castanhais, firmando-se economicamente e entrando na política local. Na década de 1940, com a retirada da firma Dias & Cia. do comércio marabaense, o grupo que passou a se destacar no controle econômico da castanha foi o de Mutran. Ligando-se ao governador Gama Malcher, Nagib Mutran liderou, em Marabá, o partido político UDN e, após duas tentativas frustradas, conseguiu eleger-se prefeito municipal, em 1958. Nessa época os castanhais pertencentes à oligarquia Mutran somavam mais de 45 mil hectares. COMO SE PROCESSAVA A EXTRAÇÃO DA CASTANHA... E A EXPLORAÇÃO DOS HOMENS No processo de extração da castanha trabalhavam, diretamente, os castanheiros, os tropeiros, os barqueiros e os estivadores. Indiretamente outras categorias de trabalhadores eram envolvidas: armadores e operários de estaleiros, pequenos comerciantes, lavradores e criadores de

O Castanheiro/1996 - Domingos Nunes Acervo Pinacoteca Municipal Pedro Morbach gado. Dominando tudo estavam os pa- que fossem as retiradas de mercadorias trões, ou donos dos castanhais, e os ex- no “barracão” do patrão, o encarregado portadores que adquiriam a produção e conseguia provar que o saldo do castaencarregavam-se das transações com os nheiro era mínimo; algumas vezes ficacompradores estrangeiros. va até com dívidas! Como era possível Os castanheiros, ou extratores, pene- isso? travam na mata no início do inverno, asOcorre que os preços das mercadosim que as cheias permitiam a navegação rias fornecidas eram determinados pelo nos igarapés. O patrão, dono do casta- patrão, bem como o valor da castanha, nhal, fornecia as mercadorias necessárias que era pré-fixado, muitas vezes bem e dava um adiantamento financeiro, para abaixo do valor de mercado. Havia aino sustento das famílias que ficavam na ci- da a fraude na medida da castanha codade. Esses gastos iam para a “conta” do letada, que era o hectolitro, uma caixa castanheiro: era o sistema de aviamento, de madeira com capacidade para 100 ou, como se dizia, a “aviação” . litros. Quando o patrão, ou o encarregaTerminada a colheita da safra, iam os do, ia medir a castanha colhida, enchia castanheiros ao acerto de contas com o hectolitro com uma enorme “cabeça”, o patrão. Quase sempre, por mais que o e assim cada caixa, em vez de conter castanheiro trabalhasse, ou por menores 100 litros, carregava 150 litros ou mais! www.revistapzz.com.br 23


HISTÓRIA

Havia também casos de castanheiros que enganavam os patrões, fugindo com o adiantamento recebido antes do início da safra. Era, pois, um regime selvagem, não havendo compromisso nem respeito de parte a parte. Inicialmente os castanhais explorados situavam-se a pouca distância dos rios e igarapés. Mais tarde, ampliando-se a exploração para o interior, houve a necessidade de emprego de tropas de burros, para a retirada da castanha coletada. Como consequência, abriram-se rústicas estradas e foram construídas pontes de madeira em alguns trechos. O DIAMANTE A busca por diamantes no leito dos rios Tocantins e Araguaia, iniciada desde as cabeceiras, em Goiás, foi avançando rios abaixo e acabou chegando a Marabá. A primeira notícia da descoberta de diamante refere-se a meados da década de 1920, quando chegou a Itupiranga o baiano Miguel Novaes, ou “Miguel Mutengo”, que fez explorações nos rios Cametá Grande e 24 www.revistapzz.com.br

Cametauzinho. Um dia, subitamente, foi embora, depois de vender um diamante a um comerciante local. Esse garimpeiro deixou, entre seus contemporâneos, a suspeita de que tenha encontrado outros diamantes de maior valor. Somente anos depois, em setembro de 1937, uma descoberta de diamantes na Praia Alta, próximo à embocadura do rio Tauiri, desencadeou a febre do garimpo. Essa descoberta é atribuída ao piloto de barcos Jorge Francisco, oriundo de Porto Nacional. No ano seguinte, 1938, Nicolau Gaby iniciou a exploração no rio Tocantins, mais abaixo, no Puraquequara, e Deusdedith Pinheiro explorou o canal do Capitariquara. A partir daí a população regional passou a dedicar-se alternadamente à coleta de castanha, no inverno, e à garimpagem de diamantes, no verão. Inicialmente a garimpagem foi feita apenas nos pedrais; em seguida passou-se a usar bombas para secar canais, encontrando-se nesses leitos muitas pedras valiosas. Pouco depois, em 1940, iniciou-se a garimpagem dentro d’água, com o uso de

escafandros, surgindo então os destemidos mergulhadores que arriscavam a vida na correnteza do rio Tocantins, com equipamentos precários. No período de 1941 a 1944 estima-se que cerca de dez mil garimpeiros produziram, ao longo de 220 km do rio Tocantins, aproximadamente 68 mil ct ( ), sendo mais de 50% pedras lapidáveis. Cerca de 10% da produção brasileira, nesse período, era fornecida pela região de Marabá. O garimpo do diamante destacou-se durante os anos da 2ª Guerra Mundial (19391945), salvando Marabá de uma crise financeira, pois a exportação da castanha sofria as consequências da guerra: preços baixos e entraves no transporte marítimo para a Europa ou para os Estados Unidos. Com o surgimento dos garimpos, novos lugarejos se formaram: Tauiri, Ipixuna, Bagagem, Sumaúma, São Pedro. As vilas de Jacundá e Itupiranga ganharam movimento, com a abertura de casas comerciais e a chegada de muitos aventureiros. No bairro de São Félix e na vila de Espírito Santo foram fundadas escolas primárias, mantidas pela Fundação de Assistência aos


Marabá chegou, em 1946, a 162.773 quilos, mas no ano seguinte reduziu-se quase à metade: apenas 86.051 quilos. Essa segunda fase da exploração do caucho não teve grande importância para a economia de Marabá, pois nessa época a castanha já dominava. Também em âmbito nacional, e apesar do apelo dos Estados Unidos, a produção de borracha foi, nesta fase, muito pequena. DIVISÃO TERRITORIAL EM 1947 Em dezembro de 1947 foi criado o município de Itupiranga, desmembrando-se de Marabá as áreas dos distritos de Itupiranga e Jacundá (a antiga vila de Jacundá, situada às margens do rio Tocantins). A instalação do município de Itupiranga deu-se a 14 de julho de 1948 e o primeiro prefeito foi Gentil Bittencourt Cohen. Com essa divisão, Marabá ficou com um território de 46.159 Km².

Garimpeiros (FAG), órgão do Ministério do Trabalho. Com o fim da guerra as atividades garimpeiras continuaram, mas aos poucos os veios diamantíferos se esgotaram. O CRISTAL DE ROCHA O cristal de rocha começou a ser explorado na região durante a 2ª Guerra, especialmente entre os anos de 1940 a 1944. A exploração iniciou-se nos garimpos de Xambioá, a beira do rio Araguaia, e posteriormente estendeu-se até a embocadura daquele rio. Um garimpo muito citado e o da Chapada do Chiqueirão, de onde foi retirado, em 1959, bloco de cristal de 286 quilos! A vila de Apinagés, no município de São Joao do Araguaia, também foi centro de uma rica lavra de cristal de rocha. Como o diamante, também o cristal de rocha era uma atividade garimpeira feita no verão, sem maiores conhecimentos técnicos, nem equipamentos. OS ANOS DE 1940 e 1950

OS ”SOLDADOS DA BORRACHA”: NOVA FASE DE EXPLORAÇÃO DO CAUCHO No decorrer da 2ª Guerra Mundial, os seringais cultivados do Oriente foram ocupados pelos japoneses. Os Estados Unidos viram-se então obrigados a recorrer à borracha brasileira, o que provocou nova corrida aos seringais e cauchais da Amazônia. O governo federal criou então o Banco de Crédito da Borracha, em 1942, estimulando todos os amazônidas a participarem do “esforço de guerra”: o banco passou a comprar toda a borracha produzida, exportando a maior parte e atendendo também à indústria nacional. Na região de Marabá iniciou-se então nova fase de exploração do látex do caucho, planta que ainda era abundante na região de Itupiranga. Instalou-se em Marabá um escritório de representação da “Rubber Development Corporation”, encarregada de adquirir toda a produção. Falava-se na “batalha da borracha” e os caucheiros eram denominados “soldados da borracha”. A produção de caucho exportada por

OS ÚLTIMOS ANOS DA DÉCADA DE 1940 Em 1945 instalou-se um posto de saúde do SESP (Serviços Especiais de Saúde Pública), em Marabá. Dois anos depois, em 1947, foi fundado pelo SESP um Clube de Saúde, no Grupo Escolar, com a finalidade de desenvolver atividades educativas de saúde e fornecer a merenda escolar (o que ocorreu a partir de abril de 1948). O Clube de Saúde contava com uma biblioteca, promovia reuniões, competições esportivas e concursos. Uma grande enchente cobriu Marabá, em março de 1947. Foram atingidas 750 casas da Marabá Pioneira, obrigando a população a transferir-se para o bairro do Amapá, abrigando-se em barracões de palha. Terminada a enchente, todos os moradores voltaram à velha península e, mais uma vez, reconstruíram a cidade. O jornal A Safra noticiou, em 1949, a liberação de uma verba federal de “um milhão de cruzeiros” para que a Prefeitura construísse um hospital. Somente em 1952, pelo mês de outubro, foi concluído o primeiro bloco do antigo hospital da Fundação SESP, na Rua Cinco de Abril. Ainda em 1949 foi inaugurado o Curso Santa Teresinha, das Irmãs Dominicanas; com as pioneiras Irmãs Colomba, Maria Deodata, Celina Teresa e Domingas iniciava-se o depois famoso Colégio Santa Teresinha. O final da década de 1940 marca o surgimento de alguns movimentos classistas em Marabá. Em janeiro de 1949 os pilotos de barcos a motor reuniram-se e estabeleceram condições para o trabalho nos rios Tocantins e Araguaia: aceitavam os preços estipulados pela Capitania de Portos, desde que fossem obedecidas as normas do Ministério do Trabalho (8 horas diárias, repouwww.revistapzz.com.br 25


HISTÓRIA so intermediário, ajuste de contas mensal); caso contrário, ou seja, trabalho dia-enoite, travessia de perigosas cachoeiras, enfim, a “rotina costumeira”, exigiriam preços estipulados por eles. (Manifesto assinado por 35 pilotos, em A Safra, 1(42):3, de 9.01.1949). Na mesma data os ferroviários da Estrada de Ferro Tocantins pleitearam várias reivindicações, como “abono de Natal e liquidação dos salários atrasados”. ACONTECIMENTOS DOS ANOS 50 Com os trabalhadores se organizando e cobrando direitos, os patrões se alertaram: em 1951 os donos de castanhais criam uma associação de classe, que anos depois vai se transformar no Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá. Aliás, por essa época a maior parte dos “castanhais do município” já está em mãos de particulares; e em 1954 a Lei de Arrendamento de Terras é modificada, permitindo o Aforamento perpétuo: isso leva a um aumento de investimentos nas áreas rurais. O ano de 1957 registra uma nova enchente de grandes proporções, o que não impede que todos voltem para suas casas quando as águas se retiram. A POSSE DA TERRA E O INCREMENTO DA PECUÁRIA Em 1954 o governo do Estado do Pará introduziu modificações na Lei de arrendamento de terras: castanhais, após curto tempo de arrendamento, passavam às mãos dos arrendatários de forma definitiva, numa forma de aforamento perpétuo. Nessa época, também, muitos dos chamados “castanhais do município” ou castanhais de serventia pública já estavam em mãos de particulares, graças a aforamentos concedidos pela prefeitura. A certeza da posse veio trazer modificações no uso das terras. Os proprietários passaram a investir, abrindo estradas, fazendo roças e, principalmente, aumentando a criação de gado. Outro fator contribuiu para o incremento da pecuária: o aumento da população urbana de Belém e das grandes cidades paraenses, formando dessa maneira um bom mercado consumidor. Também Marabá crescia: se em 1950 tinha menos de 5.000 habitantes, em 1955 já atingia cerca de 6.000 habitantes. Marabá passou então a ampliar suas áreas de pastagens, atendendo ao consumo local e exportando para Belém. Para esse fim, o governo do Estado instalou uma linha de aviões que fazia o transporte do gado abatido. 26 www.revistapzz.com.br

CHEGAM AS ESTRADAS... E TUDO COMEÇA A MUDAR Em 1960 foi construída a rodovia Belém – Brasília, que provocou a ocupação e o adensamento populacional do sul do Pará. Para a região de Marabá abriram-se novas possibilidades comerciais, diminuindo a dependência do mercado de Belém. Os produtos do sul do Brasil passavam a chegar por estrada, até Imperatriz, e a seguir por via fluvial, em barcos que desciam o rio Tocantins, desembarcando em Marabá. Depois, em 1969, abriu-se uma nova estrada: a antiga PA-70, hoje denominada BR-222, ligou a Belém – Brasília a Marabá; embora a estrada fosse precária, possibilitou o tráfego rodoviário e a chegada de ônibus interurbanos. A ligação com Belém deixou de ser feita exclusivamente por via fluvial ou aérea. Quase ao mesmo tempo abriu-se a famosa rodovia Transamazônica, ou BR-230, que pretendia ligar o Nordeste à Amazônia. Em fins de 1971 entregava-se ao tráfego o primeiro trecho, que vai do rio Araguaia (Porto da Balsa) até Marabá, com extensão de 126 quilômetros. Sem manutenção ou asfaltamento nos trechos que atravessam o Pará e o Amazonas, a Transamazônica, no período das chuvas (outubro a março), torna-se um grande atoleiro, pesadelo de motoristas e moradores que até hoje lutam para torná-la

transitável. O AUMENTO DA CONCENTRAÇÃO DE TERRAS Em 1966 o governo federal criou a SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, e o BASA – Banco da Amazônia, que passaram a aplicar recursos em nossa região, através dos chamados “incentivos fiscais”, sob a forma de crédito a grandes empresas do sul do País e a grupos internacionais. Surgiram os projetos agropecuários, ao lado da expansão de empresas de extrativismo de madeira. A partir daí acelerou-se a destruição das florestas e a transformação de castanhais e áreas de cultivo de roças em pastagens para o gado. Reduziu-se drasticamente a possibilidade de trabalho para muita gente: a pecuária ocupa grandes áreas, mas emprega um pequeno número de pessoas, os vaqueiros e peões; e as empresas madeireiras também geram poucos empregos. Essa política governamental deu continuidade à concentração das terras nas mãos de poucos. Surgiram novos latifúndios e muitos pequenos lavradores foram expulsos de suas terras, iniciando-se assim um período de graves conflitos fundiários. Em conclusão, podemos constatar que


Abertura da rodovia PA-70. Óleo sobre tela de Augusto Morbach. Acervo da Câmara Municipal de Marabá. A rodovia PA-70, inaugurada em 1969, foi o primeiro acesso por terra à capital do Estado, Belém, à capital do País e ao restante do Brasil, fazendo a ligação de Marabá com a rodovia Belém-Brasília (ou rodovia Bernardo Sayão), denominada BR-010. Hoje a rodovia PA-70 denomina-se BR-222, estrada de 1.800 km que liga a capital do Ceará, Fortaleza, a Marabá, passando por importantes cidades do Piauí, do

os recursos públicos usados nos financiaa) Estratégicas – por ser pouco hamentos não geraram o desenvolvimento bitada, a região poderia abrigar organizaregional, nem melhoraram a vida do povo; ções inimigas do regime ditatorial; pelo contrário, houve o acirramento da viob) Econômicas – era uma área de lência, da miséria, do desemprego. grandes riquezas vegetais e minerais; c) Sociais – sendo pouco povoada, MARABÁ E O CONTROLE FEDERAL poderia servir como polo de atração para Em 1970 um decreto federal criou uma milhares de nordestinos que, em virtude área para fins de reforma agrária, ao longo das grandes secas, buscavam o sul e o suda rodovia Transamazônica. Logo depois, deste, aumentando naquelas regiões os em abril de 1971, o Decreto-lei nº 1.164 de- problemas urbanos; clarou “indispensáveis à segurança naciod) Políticas – foi essa uma época de nal” as terras devolutas situadas numa faixa grandes projetos governamentais, desende 100 quilômetros de largura, de cada lado volvidos graças a empréstimos obtidos no das estradas da Amazônia Legal. exterior (aumentando consideravelmente Essas decisões federais afetaram sobre- a nossa dívida externa). Nada mais granmaneira o nosso município, pois grande dioso que povoar a Amazônia, conhecida parte de sua área passou para o controle internacionalmente! federal. Marabá, situada no limite da floresta, Outra interferência do governo federal representou uma das “portas de entrada” foi o Decreto-lei nº 1.131, de 30 de outubro dos projetos governamentais. Por tal mode 1970, que declarou o município de Ma- tivo foi esta região alvo de tantas intervenrabá “área de segurança nacional”. A partir ções federais. dessa data os prefeitos passaram a ser nomeados pelo Governo do Estado, com apro- A COLONIZAÇÃO OFICIAL vação do Conselho de Segurança Nacional. Esse decreto vigorou até 1985. O governo federal, adotando o lema Por que tantas interferências do governo “segurança e desenvolvimento”, procurou federal? ter maior controle da Amazônia. Foram Acontece que o governo militar instalado duas as linhas de ação do governo: por um em 1964 voltou suas atenções para a Ama- lado, o favorecimento do grande capital, zônia, por várias razões: que obteve vastas extensões de terra a

preços irrisórios, além de financiamentos a juros baixíssimos e mesmo a fundo perdido; por outro lado, a atração de mão de obra barata, especialmente homens do Nordeste, aos quais foram oferecidos lotes de 100 hectares. Enquanto os grandes proprietários, valendo-se dos “incentivos fiscais”, instalavam serrarias ou enormes fazendas de gado, levas de nordestinos eram trazidos, de avião, pelo INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – e instalados nos lotes demarcados ao longo das rodovias. O governo federal lançou o lema que ficou famoso nos anos 70: “AMAZÔNIA: TERRA SEM HOMENS PARA HOMENS SEM TERRAS”. Os nordestinos recebiam seus lotes, mas não tinham recursos, nem técnicas agrícolas adequadas, nem equipamentos, nem conhecimento desta região que, pela primeira vez, enfrentavam. De sua experiência anterior, pouco traziam que servisse para resolver os problemas encontrados no espaço conquistado com a derrubada da floresta. Sobreviventes da seca, deparavam-se com uma região onde o excesso de chuvas carregava os nutrientes de um solo já pobre. A malária e outras doenças tropicais levavam à morte aqueles homens, enfraquecidos pela constante miséria. Na década de 70, descrevia-se a trágica experiência dos nordestinos na Transamazônica com o seguinte trocadilho: Itinerário do colono De JUAZEIRO parti, Passei por IMPERATRIZTE, Cheguei na MARABAGUNÇA, Me alistei no INCRAVADO, Viajei pela TRANSAMARGURA, Terminei na ALTAMISÉRIA. O governo, tão generoso com os granwww.revistapzz.com.br 27


HISTÓRIA des capitalistas, não cuidou de financiar os colonos da Transamazônica. Sem reservas financeiras, eles não tinham como sobreviver ao fracasso do primeiro ano e vendiam seus lotes a outras pessoas, saindo em busca de outros meios de sobrevivência. Com esse tipo de política de ocupação, podemos perceber que não houve estímulo à fixação do homem à terra. Não houve, também, incremento à produção de bens de consumo e alimentos, abrindo-se uma exceção apenas à carne bovina. Nós exportamos nossos produtos “brutos”, isto é, pouco ou nada beneficiados (castanhas, madeiras, minérios) e importamos quase tudo de que necessitamos, até mesmo frutas, verduras e cereais. CRESCIMENTO URBANO DE MARABÁ ATÉ 1980 A ligação rodoviária de Marabá com outras partes do País provocou, como já vimos, grande afluxo populacional. Logo em seguida ocorreu a colonização oficial, a distribuição de incentivos fiscais a projetos agropecuários, e o desenvolvimento dos “Grandes Projetos”, como a Hidrelétrica de Tucuruí e o Projeto Carajás. Esse conjunto de alterações provocou o aumento populacional de Marabá, que se concentrou principalmente na área urbana. Entre 1960 e 1970 a população aumentou de forma assustadora, mas depois dobrou de tamanho na década seguinte, entre 1970 e 1980. O aumento populacional no decênio de 1960 a 1970 só não foi maior porque houve o desmembramento dos distritos de São João do Araguaia e Santa Isabel, para criação do município de São João do Araguaia. Por outro lado, nota-se nesse período a importância da abertura da rodovia PA70, quando se verifica o desenvolvimento do bairro de São Félix: em 1965 havia ali apenas três casas, mas em 1970 já se contavam 297 residências. Podemos verificar o crescimento de Marabá pelos dados oficiais da Fundação IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ ANO 1950 1960 1970 1980

NÚMERO DE HABITANTES 11.130 20.089 24.474 59.915

concentrou-se na sede urbana? Para responder a essa questão, basta recordar alguns pontos tratados nos capítulos anteriores: as dificuldades enfrentadas pelos colonos, a concentração de terras nas mãos de poucos, os conflitos fundiários... Essa alta concentração populacional provocou a expansão territorial da zona urbana. Na margem esquerda do rio Itacaiúnas, o bairro do Amapá cresceu e a população se estendeu por um novo bairro, a Cidade Nova. ANO ZONA ZONA POPULAÇÃO Do outro lado da cidade, a SUDAM (SupeDISTRIBUIÇÃO POPULAÇÃO URBANA DA RURAL TOTAL NO rintendência do Desenvolvimento da AmaMUNICÍPIO DE MARABÁ 1950 4.920 6.210 11.130 zônia) desapropriou uma área de 1.650 há. 1960 8.772 11.317 20.089 Para implantação do “plano de expansão 1970 14.585 9.889 24.474 urbana de Nova Marabá”. 1980 41.657 18.258 59.915 O projeto da Nova Marabá foi preparado por um escritório de arquitetura do Rio de Janei(Fonte: FIBGE. Censo Demográfico do Pará) ro e apresentado às autoridades municipais no final de 1975. As primeiras famílias fixaram-se no novo bairro em 1977. Esse crescimento populacional não se distribuiu de maneira uniforme por todo o município: concentrou-se na zona urbana do município de Marabá. Dados da Fundação IBGE mostram que, até 1960, havia maior população na zona rural do que na cidade de Marabá; a partir do censo de 1970 notamos que essa relação se inverte, passando o perímetro urbano de Marabá a concentrar maior população que o restante do município. Vejamos os números:

OS ANOS DE 1980

(Fonte: FIBGE, Censo Demográfico do Pará)

Por que a população saiu da zona rural e 28 www.revistapzz.com.br


A ESTRADA DE FERRO CARAJÁS

Trem de Minério sobre a Ponte de Marabá por Jordão Nunes

“Qual será o futuro de Marabá, que ficou com quase 70% da população localizada na Sede, sem a menor perspectiva de renda?” (Boletim do Cepasp, nº 2, p. 4, maio 1988). NOVO AUMENTO POPULACIONAL Serra Pelada foi o principal motivo de um grande crescimento populacional em nosso município, a partir de 1980. No período que vai de 1980 a 1985 houve um aumento extraordinário da população. A Fundação IBGE constatou que o crescimento populacional do município de Marabá ocorreu a uma taxa de 18,5% ao ano, numa contagem que não incluiu a população de Serra Pelada. Já a Fundação SESP fez uma contagem do número de habitantes e incluiu a Serra Pelada, constatando um crescimento maior: a taxa passou a 27% ao ano.

Para o transporte de minérios, da Serra dos Carajás até o litoral, onde é embarcado para outros países, a Vale construiu uma estrada de ferro com 890 quilômetros de extensão. No trajeto a ferrovia atravessa o rio Tocantins, na altura de São Félix, bairro de Marabá; ali foi construída uma ponte rodoferroviária com 2.310 metros de comprimento. A Estrada de Ferro Carajás, cuja construção foi iniciada em 1978, entrou em funcionamento em 1984, com transporte de minério de ferro e cargas. Para a travessia do rio Tocantins construiu-se uma ponte na altura da Nova Marabá até o bairro de São Félix, com extensão de 2.310 metros. Sua construção deu-se em tempo recorde: 780 dias. Posteriormente, com a participação de recursos federais, foram construídas as pistas para veículos, com uma peculiaridade: a mão inglesa. A Estrada de Ferro e a ponte foram oficialmente inauguradas em fevereiro de 1985, quando passou a operar também uma linha para transporte de passageiros. Atualmente a Estrada de Ferro Carajás transporta principalmente minério de ferro, ferro-gusa, manganês, cobre, carvão e combustíveis, além de passageiros.

Taxa de crescimento = 18,5% ao ano. Ou: 1985 .............................205.000 habitantes (FSESP, com inclusão de Serra Pelada) Taxa de crescimento = 27% ao ano.

Brejo do Meio.................................... 1.201 habitantes Matrinchã..................................... 798 habitantes

(FIBGE, contagem rápida, julho de 1985). Serra Pelada provocou ainda a formação de novos aglomerados urbanos: Curionópolis, no km 30 da rodovia PA-275; Eldorado, no km 2 da mesma PA-275, no entroncamento desta com a PA-150. Esses dois núcleos, tendo surgido em função do garimpo, cresceram rapidamente, enfrentando enormes problemas de violência, altos índices de prostituição e precariedades infraestruturais de toda espécie. INÍCIO DOS CURSOS UNIVERSITÁRIOS EM MARABÁ Em 1987 A Universidade Federal do Pará (UFPA) instalou O Campus de Marabá e deu início aos cursos por etapas, voltados ao aprimoramento dos professores de ensino fundamental e médio. NOVAS DIVISÕES DO MUNICÍPIO DE MARABÁ: 1988 Em maio de 1988 foram desmembrados de Marabá mais de 26 mil km², para a criação dos municípios de Curionópolis e Parauapebas (que incluía a área de Eldorado de Carajás, emancipado em 1991, Água Azul, também tornado município em 1991, e Canaã dos Carajás, emancipado em 1994). A área do município de Marabá passou a ser, então, oficialmente, de 15.128 km². Além disso, deixou de receber a maior fatia do Imposto Único de Minerais (IUM) que a Vale passou a pagar a Parauapebas. O jornal Correio do Tocantins, em 29 de abril de 1988, encerrava seu editorial sobre o tema, refletindo o seguinte: “O que torna um país, um estado ou um município desenvolvidos, é a produção industrial, de bens, de serviços, de capital, enfim, produção. Aqui, nunca fomos produtivos. Sempre extraímos nossas riquezas, de maneira predatória, esgotando paulatinamente esses recursos naturais que nos alimentaram até agora. Se sairmos com inteligência desse estágio para tornarmo-nos uma unidade produtiva, então nem sentiremos a dor da mutilação desse espaço agora perdido”. (Correio do Tocantins, 6 (18): 3, 29.04 a 05.05.1988).

Como a população de Serra Pelada era temporária, muito flutuante e constituída apenas por homens, sem as famílias instaladas no local, parece-nos mais adequado o índice da FIBGE. A população continuou crescendo, após 1985; uma pesquisa domiciliar, encomendada pela Prefeitura em 1988, revelou que a população urbana, na área da sede do município de Marabá, passava de 90 mil habitantes. Além do crescimento da população da ALGUNS ACONTECIMENTOS DOS sede, outros núcleos habitacionais sofre- ANOS DE 1990 ram aumento populacional. Em 1985 teTemos assim os seguintes dados: mos os seguintes dados: A Lei Orgânica de Marabá foi promulga1980 ...............................59.915 habitantes da em 5 de abril de 1990. 1985 ..............................140.073 habitantes Morada Nova...................................... 3.577 habitantes Como relatamos anteriormente, o muMurumuru ........................................ 798 habitantes nicípio de Marabá sofreu a partir de 1980 (FIBGE, sem inclusão de Serra Pelada)

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HISTÓRIA

um crescimento populacional vertiginoso, mas com oscilações: passou de 59.915 habitantes, em 1980, para 140.043, segundo contagem do IBGE feita em 1985, sem a inclusão de Serra Pelada (que nesse ano teria, conforme levantamento realizado pela Fundação SESP, 65.000 pessoas). Entretanto, em 1991, o Censo registrava um decréscimo populacional em relação a essa contagem: 123.668 habitantes no município de Marabá, sendo 21.233 na zona rural e 102.435 na área urbana. Depois, em 1996, uma contagem feita pelo IBGE revelou a retomada do crescimento: 150.095 habitantes. Em 1992 foi realizada, pela primeira vez, a FICAM – Feira da Indústria, Comércio e Arte de Marabá. No final da década, em 1999, no dia 26 de junho, foi inaugurado o Parque de Exposições Agropecuárias de Marabá, no km. 10 da Rodovia PA-150. No aspecto cultural a década trouxe vários avanços. Em 1992 tiveram início os cursos regulares do Campus da UFPA em Marabá. Em 1993 criou-se a Escola Municipal de Música. Nesse mesmo ano a Prefeitura fez o tombamento do Mercado Municipal, da Igreja de São Félix de Valois e do Palacete Augusto Dias, garantindo dessa forma a preservação de edifícios de valor histórico. Afinal, em 1999, foi oficializado o Núcleo de Arqueologia de Marabá, que já vinha desenvolvendo trabalhos de pesquisa desde 1978. OS ANOS DE 2000 A 2011 População No ano 2000 Marabá ultrapassou a marca dos 200 mil habitantes: conforme o IBGE, 214.908 pessoas residiam em Marabá, ocupando 48.308 domicílios. A população da área urbana era enorme: 155.597 habitantes; nas vilas e povoados concentravam-se outros 19.037 moradores, espalhando-se os restantes 40.274 habitantes na zona rural do município. A década que então se iniciava não sofreu um crescimento populacional muito impactante; o censo de 2010 registrou uma população de 233.669 habitantes no município. Ocupando uma área de 15.128,368 Km², a densidade populacional é de 15, 45 habitantes por km². Bairros, Vilas, Assentamentos Atualmente o município de Marabá é composto do núcleo urbano, formado pelos bairros: Marabá Pioneira, Nova Marabá, 30 www.revistapzz.com.br

Complexo Integrado Cidade Nova, São Félix, Novo São Félix e Morada Nova. Em sua zona rural formaram-se muitas vilas, assentamentos e projetos de assentamento. As vilas do município de Marabá são as seguintes: Vila Alto Bonito (Itacaiúnas, Açu – Fazenda Gameleira), Vila Alto Bonito (PA 150 – Garimpo das Pedras), Vila Barro Vermelho, Vila Boa Esperança, Vila Boa Vista, Vila Brejo do Meio, Vila Café, Vila Canaã, Vila Capistrano de Abreu, Vila Cupu, Vila Deus Quer, Vila Espírito Santo, Vila Geladinho, Vila Imbaúba, Vila Itainópolis, Vila Josinópolis, Vila dos Maranhenses, Vila Maravilha, Vila Matrinxã, Vila Monte Sinai, Vila Murumuru, Vila Nova, Vila Nova Esperança, Vila Nova Conquista, Vila Pau Seco, Vila Planalto, Vila Quatro Bocas, Vila Rio Branco (Assentamento Rio Branco), Vila Rio Preto Vila São Domingos, Vila Santa Fé, Vila Santa Maria, Vila Santa Marta, Vila São Francisco (Assentamento Bandeirantes), Vila São João (Estrada do Rio Preto, Km 74, penetração 9 km), Vila São João (Serra do Encontro, Km 54, Rio Preto: PA Tartaruga), Vila São José , Vila São Pedro, Vila São Raimundo,

Vila Sapecado, Vila Sarandi, Vila Sororó, Vila União. Os assentamentos e Projetos de Assentamento (PAs) mais conhecidos são: PA Volta do Tapirapé (após a Vila Capistrano de Abreu, 22 km), PA Volta do Tapirapé (após a Vila União, 45 km), Assentamento Escada Alta (Pa 150, Km 33), Assentamento Cabaceiras (Pa 150, Km 22), Assentamento Cedrinho (Pa 150, Km 46), Assentamento Cigano dos Palmares (Vicinal 4), Assentamento Castanheira Cachoeira (Pa 150, Km 70, Penetração 18 Km), PA Antônio Carlos Magalhães – Km 45, Penetração 23 Km , Assentamento Patuá (Fazenda Revemar , 9 Km da Pa -150, sentido COSIPAR), PA Quilombo dos Palmares, PA Lajedo (Vila Sapecado, Estrada Vila Itainópolis). Vida cultural No aspecto cultural vários eventos ocorreram: - A Universidade Estadual do Pará (UEPA) inaugurou em 2000 sua sede pró-


com 30 cadeiras destinadas a autores da região que tenham obras publicadas; - A Orquestra Sinfônica de Marabá foi criada em 2009; - A Casa da Cultura promoveu a escolha popular de um nome para o Espaço Cultural a ser instalado no Palacete Augusto Dias, sendo mais votado o nome de Francisco Coelho. Foram dispostas quatro urnas, que recolheram a votação popular durante um mês, entre setembro e outubro de 2009. No ano seguinte – 2010 – a Câmara Municipal deixou o antigo Palacete, mudando-se para a Agrópolis Amapá. Indústria

Guseira de Marabá por Jordão Nunes

pria, na Agrópolis Amapá; - Os II Jogos dos Povos Indígenas foram realizados em Marabá, na Praia do Tucunaré, reunindo 25 tribos, em outubro de 2000; - A Fundação Casa da Cultura de Marabá inaugurou a “Aldeia da Cultura”, complexo cultural na Folha 30, Nova Marabá, em 2002; - Nesse mesmo ano foi criado o Conselho Municipal do Meio Ambiente, tão necessário diante das agressões à natureza; - Um museu com peças históricas e de cunho militar foi trazido para Marabá em 2005, pelo “Regimento Floriano”, o primeiro grupo de artilharia de campanha de selva: trata-se do “Espaço Cultural Floriano Peixoto”, aberto para visitação; - O Mercado Municipal foi restaurado, passando a abrigar uma biblioteca pública. Foi inaugurado no dia 20 de setembro de 2008 recebendo a Biblioteca o nome de “Orlando Lobo”; Nesse mesmo mês e ano (26 de setembro de 2008) ocorreu a fundação da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense,

No aspecto da industrialização, em 2004 a produção de ferro gusa no distrito industrial de Marabá atingiu 1.674.720 toneladas; e em 2010 já tínhamos 10 indústrias produzindo ferro gusa; no entanto, os problemas de emprego de mão de obra escrava e péssimas condições de trabalho na produção de carvão levaram várias entidades a uma tomada de posição: a Procuradoria da República, o Campus da UFPA em Marabá e a Comissão Pastoral da Terra elaboram a “Carta de Marabá” com propostas para enfrentamento do trabalho escravo contemporâneo e a reinserção social dos trabalhadores (29 de novembro de 2010). Em 2007 registrou-se o início da implantação do Projeto Salobo, com produção de cobre, ouro, prata e molibdênio. A ALPA (Aços Laminados do Pará) iniciou em 2010 as obras de infraestrutura para sua fábrica, que pretende produzir anualmente 2,5 milhões de toneladas de placas de aço. Economia No aspecto econômico, o Cadastro Geral de Empresas trazia, em 2009, o registro de 3.000 empresas no município de Marabá, que contava com 12 agências bancárias.

tamento Praialta/Piranheira, município de Nova Ipixuna (24 de maio de 2011). Sobre o casal assassinado, declarou o delegado Marcos Augusto Cruz: “Eram pessoas que estavam inseridas em um contexto de lutas sociais. Eles eram ambientalistas, viviam em um assentamento e têm uma história de conflitos de interesses com madeireiros e fazendeiros da região” . (Disponível em: < http://oglobo.globo.com/pais/para-delegado-dizque-extrativistas-foram-mortos-em-tocaia-2765698>. Acesso em: 12 jan. 2012) Em dezembro de 2011 um plebiscito realizado no Pará verificou o interesse da população em dividir o Estado em três: Estado de Carajás. Estado de Tapajós e Estado do Pará (remanescente). Venceu o “não” à divisão do Estado, mas o debate foi útil para o reconhecimento da desatenção dos governantes em relação ao interior paraense. Constatou-se também que a participação dos habitantes não deveria limitar-se à opinião dada nas urnas: seria necessário que todo o processo fosse discutido e construído pela população. Outros aspectos Outros temas de destaque são: a inauguração, em 2003, das obras da orla do rio Tocantins, na Marabá Pioneira, permitindo a preservação da beira do rio, dando mais segurança e espaço de lazer para a população; a inauguração do novo Fórum “Dr. Elias Monteiro Lopes”, sede da Comarca de Marabá, em novembro de 2004, e sua reinauguração, após reformas e a divulgação de graves falhas na construção inicial; a homenagem ao jornalista João Correa da Rocha, dando seu nome para o aeroporto de Marabá, no ano de 2010. Em 2011 a Infraero registrava um fluxo médio mensal de 20 mil passageiros, que viajavam em aeronaves de 4 empresas aéreas, operando 15 voos diários.

Política No campo político, em 2004 houve a redução do número de vereadores com assento na Câmara Municipal: passou de 17 para 12 o número de parlamentares. Em 2006 o Tribunal Eleitoral divulga o número de eleitores do município: 111.481 votantes. Em 2011 os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva são assassinados no assen-

* Maria Virgínia Bastos de Mattos, paulista, mudou-se para Marabá em 1978. Trabalhou por muitos anos na Casa da Cultura. Foi redatora nos periódicos Penta e Pedra Escrita. Atualmente reside em Goiania mas participa das edições do Boletim Técnico da Fundação. mariavmattos@ig.com.br www.revistapzz.com.br 31


HISTÓRIA

DATAS IMPORTANTES DA HISTÓRIA DE MARABÁ (1590 - 2010) 1590 – Navegando pelos rios Araguaia e Tocantins, passam por esta região os primeiros aventureiros de origem europeia. 1873 – A região começa a ser percorrida por terra, graças a um “caminho de gado” que liga o sul do Maranhão a Belém do Pará. 1892 – Lutas sangrentas em Boa Vista do Tocantins levam várias famílias a buscarem outros lugares para viver. 1894 – Carlos Leitão, com um grupo de seguidores, vem para as proximidades do rio Itacaiúnas, onde pretende instalar um “Burgo Agrícola”. O local, porém, é considerado insalubre, obrigando o grupo a escolher outra área, a 18 km desta, na margem esquerda do rio Tocantins. 1895 – A 5 de agosto é instalado o “Burgo Agrícola do Itacaiúnas”. 1896 – Descobre-se que as matas são ricas em árvores de caucho; tem início a sua exploração. 1897 – O Burgo já está semiabandonado. Henri Coudreau explora o rio Itacaiúnas e conclui que não há nele nada que represente interesse econômico para o Estado... 1898 – FUNDAÇÃO DE MARABÁ: no dia 7 de junho de 1898 Francisco Coelho da Silva inaugura um barracão comercial no pontal de terra onde o rio Itacaiúnas lança suas águas no rio Tocantins. O nome do barracão é “Marabá”. 1903 – A 3 de abril o falecimento de Carlos Leitão assinala o fim do Burgo. 1904 – Luta entre caucheiros, liderada pelos patrões Celso Bandeira e Francisco Casemiro. A denominação “Marabá” aparece pela primeira vez em documento oficial: trata-se da transferência da subdelegacia de polícia, do Burgo para o pontal. Marabá chegava a ter 1.500 habitantes, nos períodos de safra do caucho. 1906 – Uma enchente destrói as casas da pequena Marabá, mas logo tudo é reerguido. 1908 – Ocorre a “Rebelião dos Galegos”. É criado o município de São João do Araguaia, desmembrado 32 www.revistapzz.com.br

de Baião. 1913 – INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ: a data da festa de instalação é 5 de abril de 1913; a Lei nº 1278, de 27 de fevereiro de 1913, estabelece o desmembramento do município, que se torna também Comarca de Primeira Entrância. O povoado de Marabá é elevado a vila. Imprime-se o primeiro jornal de Marabá, chamado “O Itacayuna”. 1914 – Marabá torna-se sede de Comarca; a instalação da Comarca de Marabá dá-se a 27 de março. A cidade ganha a primeira agência dos Correios, a 19 de agosto de 1914. 1916 – Chega a Marabá o primeiro barco a motor: o “Pedrina”. 1920 – A castanha-do-pará passa a ser explorada em grande escala. 1922 – O município de São João do Araguaia é extinto e seu território é anexado ao de Marabá em 1923. O município de Marabá fica enorme: 73.247 km². 1923 – ELEVAÇÃO DE MARABÁ À CATEGORIA DE CIDADE. 1924 – SOLENIDADE DE INSTALAÇÃO DA CIDADE DE MARABÁ, a 13 de maio de 1924. 1925 – Funda-se a Associação Marabaense de Letras, a 21 de abril de 1925. 1926 – Uma grande enchente destrói todos os prédios de Marabá, obrigando a população a mudar-se para Itupiranga (então chamada Lago Vermelho). 1927 – Marabá passa a ser o maior produtor de castanha-do-pará da região tocantina. 1928 – É fundada a primeira Loja Maçônica de Marabá. 1929 – A cidade recebe iluminação, graças a uma usina movida a lenha. 1931 – O Mercado Municipal é inaugurado, no dia 3 de outubro. Chega a Marabá o primeiro avião: um hidroavião “Catalina”, que pousa no rio Tocantins. Viajando de barco, chega a Marabá o aviador Lysias Augusto

Rodrigues e orienta o início da construção da pista de pouso para aviões de uma linha do Correio Aéreo Militar. 1935 – No dia 17 de novembro pousa um monomotor WACCO, pilotado por Lysias Augusto Rodrigues, na pista de terra recém -aberta. Marabá em 1935 tem 460 casas e 1.500 habitantes. 1937 – Inicia-se a garimpagem de diamantes nesta região. É inaugurado o Palacete Augusto Dias, construído para abrigar os Poderes Executivo e Legislativo Municipais, além do Poder Judiciário. 1938 – O Estado promulga uma lei que permite o arrendamento de terras devolutas. O Príncipe D. Pedro, neto de D. Pedro II e filho da Princesa Isabel, visita Marabá. 1939 – É inaugurado o Grupo Municipal José Mendonça Vergolino. Começa a ser explorado, no rio Araguaia, o cristal de rocha. 1940 – Marabá tem uma população de 2.984 habitantes. 1942 – É retomada a exploração do caucho: são os “soldados da borracha” participando do “esforço de guerra”. 1944 – Encerra-se a construção da Estrada de Ferro Tocantins, com 117 quilômetros de extensão. 1945 – Instalado em Marabá o primeiro Posto de Saúde. 1947 – É criado o município de Itupiranga, desmembrando-se de Marabá os distritos de Itupiranga e Jacundá. Uma grande enchente atinge Marabá e a população se refugia no atual bairro de Amapá. 1949 – Tem início a construção do Hospital da Fundação SESP, no Núcleo Pioneiro. Instala-se o “Curso Santa Teresinha”, embrião do Colégio Santa Teresinha, das Irmãs Dominicanas. Pilotos de barcos reúnemse e estabelecem seus direitos. Também os ferroviários da Estrada de Ferro Tocantins fazem suas reivindicações. 1950 – A população do município é de 11.130 habitantes, sendo que a

zona urbana abriga 4.920 pessoas. 1951 – É criada uma associação da classe dos Castanheiros (patronal), semente do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá (15 de julho de1951). 1953 – É inaugurada a capela de Nossa Senhora das Graças, no bairro Santa Rosa. 1954 – A lei de arrendamento de terras é modificada, permitindo o aforamento perpétuo. Aumentam os investimentos na zona rural. A maior parte dos antigos “castanhais do município” já está em mãos de particulares. 1955 – A área urbana de Marabá já tem 6.000 habitantes. 1957 – Uma enchente atinge novamente a cidade. 1960 – A construção da rodovia Belém-Brasília amplia as possibilidades de comércio para Marabá. A população salta para 20.089 habitantes, sendo 8.772 na zona urbana. 1961 – É criado o município de São João do Araguaia. 1967 – Têm início as pesquisas minerais na Serra dos Carajás. Começam a se instalar na região militantes do Partido Comunista do Brasil. 1969 – Inaugurada a rodovia PA70 (atual BR-222), que liga Marabá à rodovia Belém-Brasília. 1970 – Inicia-se a colonização ao longo da rodovia Transamazônica. O município de Marabá é declarado “Área de Segurança Nacional”; os prefeitos passam a ser nomeados pelo governo militar. O decreto vigora até 1985. A população do município atinge 24.474 habitantes, e a maior parte concentra-se na área urbana: 14.585 pessoas. 1971 – Inaugurado o primeiro trecho da rodovia Transamazônica, entre Porto da Balsa e Marabá. Instala-se em Marabá um departamento do Movimento de Educação de Base – MEB. 1972 – Tem início a Guerrilha do Araguaia, que perdura até 1974.


1973 – Iniciada a construção da Hidrelétrica de Tucuruí. Em Marabá é inaugurada a Biblioteca Municipal. A Prefeitura desapropria uma grande área para a formação do bairro Nova Marabá, entregando a administração do empreendimento à SUDAM. No final de janeiro chega a Marabá o primeiro grupo de militares, que formará o 52º Batalhão de Infantaria de Selva. 1974 – Mais uma vez Marabá sofre com a enchente dos rios. 1975 – A SUDAM apresenta às autoridades municipais o projeto “Nova Marabá”. 1976 – Conflitos pela posse de terras acentuam-se em todo o sul do Pará. É criada a Diocese de Marabá, sendo seu primeiro bispo D. Alano Maria Pena. É criada a 23ª Brigada de Infantaria de Selva, subordinada ao Comando Militar da Amazônia. Realiza-se a primeira Feira Agropecuária de Marabá, no antigo Parque de Exposições, localizado no Km 2 da Rodovia Transamazônica, na entrada da Nova Marabá. 1977 – A reserva de cobre do Salobo é descoberta. Nova Marabá começa a ser habitada. É criada a Associação dos Municípios do Araguaia-Tocantins – AMAT – primeira associação regional do Estado do Pará. 1978 – A Comissão Pastoral da Terra – CPT – inicia suas atividades em Marabá. A enchente chega às portas do Palacete Augusto Dias. O aeroporto de Marabá, reformado e ampliado, é reinaugurado a 20 de maio de 1978. 1979 – Tem início a construção da Estrada de Ferro Carajás. 1980 – O governo federal cria o Projeto Grande Carajás. Funda-se o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá. O município tem 59.915 habitantes, sendo 18.258 na zona rural e 41.657 no perímetro urbano. Marabá sofre a maior enchente de sua história. É descoberto o ouro de Serra Pelada. 1981 – A ponte sobre o rio Itacaiúnas é inaugurada a 13 de novembro de 1981. 1982 – Funda-se a primeira organização urbana de moradores: Associação de Moradores da Nova

Marabá. Gabriel Pimenta , advogado de posseiros, é assassinado. Um grupo de jovens forma o GEMA, semente da Fundação Casa da Cultura de Marabá. 1984 – Entra em funcionamento a Estrada de Ferro Carajás, apenas com trens cargueiros para transporte de minérios e mercadorias em geral. É fundada a Casa da Cultura de Marabá e o Museu Municipal. 1985 – Com a volta da Democracia, Marabá deixa de ser Área de Segurança Nacional e são realizadas eleições diretas para prefeito. É oficialmente inaugurada a Estrada de Ferro Carajás, com 890 km de extensão, contando com trem de passageiros. Tem início a exploração de manganês, no igarapé Azul. A população do município saltou para 205.000 habitantes! Ocorrem trágicos assassinatos na zona rural, mas os responsáveis não são punidos. A Fundação Casa da Cultura de Marabá traz o Balé Stagium, de Belo Horizonte, para uma apresentação no Estádio Zinho Oliveira. 1987 – Em dezembro, um grave conflito entre garimpeiros e a Polícia Militar, na Ponte Rodoferroviária, resulta em vários garimpeiros mortos. A Universidade Federal do Pará instala o Campus de Marabá. Criada a Procuradoria da República (Ministério Público Federal) em Marabá (18 de dezembro de 1987). 1988 – Em março, instala-se a COSIPAR, na área do Distrito Industrial; é a primeira indústria siderúrgica instalada em Marabá. A área urbana de Marabá chega a ter 90.000 habitantes. Após quatro anos de lutas, os moradores do bairro Liberdade obtêm a legalização da posse. Com a criação dos municípios de Parauapebas e Curionópolis, a área do município de Marabá reduz-se a 15.128 km². 1989 – Funda-se o Grupo Espeleológico de Marabá – GEM. 1990 – O censo do IBGE registra uma população de 138.588 habitantes no município, sendo 105.258 no perímetro urbano e 33.330 na zona rural. A Lei Orgânica do Município de Marabá é promulgada, no dia 5 de abril de 1990. A cheia dos rios Tocantins/ Araguaia e Itacaiúnas mais uma vez prejudica o Núcleo Pioneiro.

1992 – Formam-se as primeiras turmas (Letras e Matemática) do curso por etapas de Licenciatura plena da UFPA em Marabá. Têm início os cursos superiores regulares da UFPA em Marabá. Realizada a primeira Feira da Indústria, Comércio e Arte de Marabá (FICAM). 1993 – É criada a Escola Municipal de Música. A Universidade Estadual do Pará – UEPA – traz alguns cursos para Marabá (Educação Física e Enfermagem). Expande-se o número de pequenas propriedades: 25 % da área rural são ocupados pela agricultura familiar. É feito o tombamento de três patrimônios do município de Marabá: o Palacete Augusto Dias, a Igreja de São Félix de Valois e o Mercado Municipal (5 de abril de 1993). 1995 – Iniciadas as primeiras explorações de cobre do igarapé Salobo. 1996 – O massacre de dezenove trabalhadores sem terra na Rodovia PA 150, em Eldorado de Carajás, causa grande comoção nacional (17 de abril de 1996). Os corpos são trazidos, em caminhão, para o IML de Marabá. A Justiça Federal instala a Subseção Judiciária de Marabá (21 de junho de 1996). 1997 – Nova enchente atinge o Núcleo Pioneiro. O Fórum Trabalhista é instalado pelo TRT. São inauguradas a Praça do Pescador, na Velha Marabá, e a Praça do Paço Municipal, na Nova Marabá. 1998 – Marabá tem 157.884 habitantes, segundo o IBGE. Em 17 de dezembro de 1998, funda-se o Consórcio Público Intermunicipal de Saúde do Araguaia e Tocantins (CISAT) 1999 – Criado oficialmente o Núcleo de Arqueologia de Marabá (NAM), que já estava em atividade desde 1978. É inaugurado o Parque de Exposições Agropecuárias de Marabá, no Km. 10 da Rodovia PA 150 (26 de junho de 1999). 2000 – A população de Marabá é estimada, pelo IBGE, em 173.375 habitantes. A UEPA inaugura sede própria na Agrópolis do Amapá. A praia do Tucunaré é o palco do segundo “Jogos dos Povos Indígenas” (15 a 21 de outubro de 2000), com a participação de 25 tribos.

2002 – A Fundação Casa da Cultura de Marabá inaugura a “Aldeia da Cultura”. 2003 – As obras da orla do Tocantins são inauguradas. 2004 – A Câmara Municipal tem seu quadro de parlamentares reduzido, de 17 para 12 vereadores. É inaugurado o novo Fórum de Marabá “Doutor Elias Monteiro Lopes” (5 de novembro de 2004). A produção de ferro gusa no distrito industrial de Marabá atinge 1.674.720 toneladas. 2005 – A população de Marabá, segundo o IBGE, é de 195.807 habitantes. Instalado em Marabá o 1º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva, ou “Regimento Floriano”, que mantém o “Espaço Cultural Floriano Peixoto”. 2007 - Tem início a implantação do Projeto Salobo (cobre, ouro, prata e molibdênio). 2008 – O Mercado Municipal é restaurado, passando a abrigar uma biblioteca (20 de setembro de 2008). Fundação da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense (26 de setembro de 2008). 2009 – É criada a Orquestra Sinfônica de Marabá. A Casa da Cultura promove a escolha popular de um nome para o Museu a ser instalado no Palacete Augusto Dias, sendo mais votado o nome de Francisco Coelho. 2010 – O Censo do IBGE revela que a população de Marabá é de 233.669 habitantes. O aeroporto de Marabá passa a chamar-se “Aeroporto João Correa da Rocha” (12 de abril de 2010). A Procuradoria da República, o Campus da UFPA em Marabá e a Comissão Pastoral da Terra elaboram a “Carta de Marabá” com propostas para enfrentamento do trabalho escravo contemporâneo e a reinserção social dos trabalhadores (29 de novembro de 2010). A Câmara Municipal deixa de ocupar o Palacete Augusto Dias e instala-se em novo prédio, na Agrópolis Amapá.

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INDÚSTRIA

senai marabá REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

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SENAI MARABÁ 38 ANOS PRESENTE NO SUDESTE DO PARÁ Reconhecido pela ampla variedade e pela qualidade dos programas de educação profissional de Marabá, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) iniciou suas atividade neste município em agosto de 1978 com os Cursos de Aprendizagem Industrial Básica. Ao longo deste período, já qualificou mais de 60 mil pessoas, contribuindo para o desenvolvimento de ações voltadas para a qualificação de mão de obra e de educação para o trabalho e cidadania, proporcionando melhor qualidade de vida para a população que vive no Sudeste do Pará e, por meio de consultorias e serviços nas áreas de tecnologia e inovação, que viabilizam o aumento da competitividade das indústrias nesta região. A atuação da unidade SENAI em Marabá abrange empresas e a população que buscam aprimoramento técnico profissional em outros municípios tais como Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Itupiranga, Jacundá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Palestina do Pará, Rondon do Pará, São Domingos do Araguaia e São João do Araguaia. “Durante esses 38 anos de história no município de Marabá e região, mais de 700 empresas industriais foram atendidas. Em 2015 foram quase 12 mil matrículas. Nos primeiros 6 meses deste ano já foram capacitadas quase 7 mil formações profissionais para o mercado”, comenta Carliane Saraiva da Silva, diretora do SENAI Marabá. REFORMA E AMPLIAÇÃO

SENAI Marabá Ao longo deste período, já qualificou mais de 60 mil pessoas, contribuindo para o desenvolvimento de ações voltadas para a qualificação de mão de obra e de educação para o trabalho e cidadania, proporcionando melhor qualidade de vida para a população que vive no Sudeste do Pará e, por meio de consultorias e serviços nas áreas de tecnologia e inovação, que viabilizam o aumento da competitividade das indústrias nesta região.

A partir de 2009, o SENAI MARABÁ iniciou um processo de reforma e ampliação, concluído em fevereiro de 2014, quando a escola foi reinaugurada com a capacidade para atender as novas demandas tecnológicas regionais, com o aumento de mais de 100% da sua área construída. Atualmente, a unidade possui quase 5.000 m2 de área construída, recebendo aproximadamente 1.500 alunos por dia, triplicando a capacidade de atendimento nos turnos, matutino, vespertino e noturno. Os principais segmentos industriais atendidos por esta unidade do SENAI são os relacionados às áreas da Construção Civil, Energia, Metalmecânica, Automotiva, Química, Alimentos, Vestuário, Informática, Refrigeração e Gestão. Com a nova reforma e ampliação, que foi finalizada em fevereiro de 2014, o SENAI Marabá passou a atender todas www.revistapzz.com.br 35


INDÚSTRIA essas demandas e, com isso, aumen- grama Nacional de Acesso ao Ensino tou mais o portfólio e a capacidade de Técnico e Emprego – PRONATEC, vincuabrangência maior de atendimento no lado ao Ministério do Desenvolvimento, município e região. “O diferencial do SE- Indústria e Comércio Exterior (MDIC), NAI Marabá está na estrutura, que atu- com o Programa de Qualificação de Mão almente possui quase 5.000 m2 de área de Obra do Projeto Alumina Rondon: Voconstruída. Sua capacidade de atendi- torantim Metais e Prefeituras de Rondon mento chega aproximadamente a 1.500 do Pará. “O SENAI Marabá contribuiu alunos por dia, atendendo nos 3 turnos para o desenvolvimento em mão de obra (manhã, tarde e noite). Além disso, os nessa região para preparação do atendilaboratórios possuem os equipamentos mento a projetos industriais de pequeno, mais modernos e tecnológicos do mer- médio e grande porte como o S11D, da cado industrial”, comenta José Conrado Vale; ALPA; Correias Mercúrio e o AluSantos, presidente do Sistema Federa- mina Rondon, principal investimento da ção das Indústrias do Estado do Pará. Votorantim Metais no Brasil, que prevê Há laboratórios nos segmentos indus- a construção de uma refinaria de alumitriais de Mecânica Industrial, Mecânica na integrada a uma mina de bauxita no de Auto (Leves município de Rondon e Pesados), O SENAI MARABÁ é um ambiente fun- do Pará, assim como Eletroeletrônitambém a preparação ca, Hidráulica damental na formação, no aperfeiçoa- da comunidade para o e Pneumática, mento e na qualificação de profissionais mercado e região como Soldagem, Intodo”,comenta Dápara atender grandes projetos que estão um formática, Mario Lemos, diretor renutenção de instalados e os que estão previstos para gional do SENAI Pará. Computadores a região sudeste do Pará. e Redes, MeCom o suporte do Latrologia, Vestuboratório de Hidráulica ário, Construção Civil, Alimentos e Saúde e Pneumática, o SENAI Marabá iniciou e Segurança no Trabalho. a parceria com a indústria Correias MerParalelamente à programação de cur- cúrio, inicialmente por meio do curso de sos na unidade fixa, o SENAI Marabá tem Formação em Tecnologia da Borracha, estrutura para atender fora do município no período de 10 a 20 de maio deste ano, através dos kits móveis, estruturas mon- capacitando 58 pessoas com o objetivo tadas que se tornam laboratórios para o de gerar conhecimento e empregabilidadesenvolvimento de cursos nas áreas de de no segmento da borracha. “Com essa Vestuário, Alimentos, Mecânica de Auto- nova tecnologia, agora, me qualifiquei móveis e Motocicletas, Construção Civil, para atender também esse segmento Energia, Refrigeração e Informática. tecnológico na nossa região e a indústria

JOSÉ CONRADO SANTOS

“O diferencial do SENAI

Marabá está na estrutura, que atualmente possui quase 5.000 m2 de área construída. Sua capacidade de atendimento chega aproximadamente a 1.500 alunos por dia, atendendo nos 3 turnos (manhã, tarde e noite). Além disso, os laboratórios possuem os equipamentos mais modernos e tecnológicos do mercado industrial .

ATENDIMENTO A GRANDES PROJETOS O SENAI Marabá é um ambiente fundamental na formação, no aperfeiçoamento e na qualificação de profissionais para atender grandes projetos que estão instalados e os que estão previstos para a região sudeste do Pará. Nos anos de 2010 a 2012, o SENAI Marabá participou da qualificação de mais de 7 mil profissionais, para atendimento à implantação do projeto Aços Laminados do Pará – ALPA. Naquele período, várias vertentes tecnológicas foram atendidas e alguns cursos realizados em associações de bairros com foco no atendimento de pessoas com baixa renda. Nos três últimos anos foram realizadas, em média, 3.000 matriculas para as comunidades dos municípios de Rondon do Pará e Abel Figueiredo, em parceria com o Governo Federal através do Pro36 www.revistapzz.com.br

O SENAI Marabá é um ambiente fundamental na formação, no aperfeiçoamento e na qualificação de profissionais para atender grandes projetos que estão instalados e os que estão previstos para a região sudeste do Pará.


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INDÚSTRIA que demandou o curso não precisa buscar mão de obra de fora. Estamos preparados para atender esse mercado localmente”, relatou Douglas Raiol de Vasconcelos, um dos alunos concluintes da capacitação. Mercado – A indústria Correias Mercúrio, líder no mercado brasileiro de correias transportadoras, já iniciou as obras de instalação de uma unidade em Marabá, sudeste do Pará. O complexo industrial está sendo instalado em um terreno com área aproximada de 100.000,00 m² e contará com 40.000,00 m² de área de implantação e 12.000,00 m² de área construída inicialmente. Só a fase de construção deve gerar 200 empregos diretos e indiretos. Quando em funciona-

Em Marabá, o interesse inicial é na siderurgia. Lá, serão gerados produtos como ferro-gusa, tarugos grandes, tarugos, bobinas a quente e trilhos. O diretor geral da CEVITAL destaca que a empresa em Marabá será grande produtora de trilhos para ferrovias italianas e que vai ser a primeira siderúrgica da América Latina neste seguimento. A pretensão da empresa é produzir anualmente entre 2,7 e 3 milhões de toneladas de aço, sendo que deste número 2 milhões seria destinados à exportação. mento, atenderá diversos clientes que atuam nos segmentos de Mineração, Siderurgia, Construção e Agronegócio, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. Retomada - No dia 21 de junho de 2016, uma comitiva formada por representantes da Fiepa, do Governo do Pará, da empresa Cevital, Associação Comercial e Industrial de Marabá e da Associação Comercial do Pará esteve em Marabá, visitando o terreno onde a empresa argelina vai retomar o projeto da siderúrgica.“Este é um projeto industrial fundamental na retomada para o desenvolvimento de Marabá”, declara Dário Lemos. Durante a visita, o grupo foi guiado por engenheiros da Vale, antiga responsável pelo empreendimento, que explicaram aspectos técnicos do projeto. À 38 www.revistapzz.com.br

DÁRIO LEMOS - Diretor Regional do SENAI Pará.

“O SENAI Marabá contribuiu

para o desenvolvimento em mão de obra nessa região para preparação do atendimento a projetos industriais de pequeno, médio e grande porte como o S11D, da Vale; ALPA; Correias Mercúrio e o Alumina Rondon, principal investimento da Votorantim Metais no Brasil, que prevê a construção de uma refinaria de alumina integrada a uma mina de bauxita no município de Rondon do Pará, assim como também a preparação da comunidade para o mercado e região como um todo .

tarde, a comitiva participou de um debate no auditório do SENAI, aberto à sociedade local, quando foi apresentado o projeto da nova siderúrgica. Na oportunidade, as instalações do SENAI CEP-Marabá foram apresentadas para o diretor geral da Cevital, Sr. Adam Iskounem, que se impressionou com as estruturas e com a capacidade de atendimento em relação à capacitação de mão de obra local. Com a chegada da empresa no município de Marabá, serão gerados, na fase de implantação, 30 mil postos de emprego; e, na fase de produção, serão disponibilizados de 2.500 a 8.000 empregos diretos e indiretos.

O grupo CEVITAL possui empresas que trabalham com a produção de veículos e máquinas pesadas com agroindústrias, redes de distribuição e supermercados, geração de energia e mineração, entre outras. Em Marabá, o interesse inicial é na siderurgia. Lá, serão gerados produtos como ferro-gusa, tarugos grandes, tarugos, bobinas a quente e trilhos. O diretor geral da CEVITAL destaca que a empresa em Marabá será grande produtora de trilhos para ferrovias italianas e que vai ser a primeira siderúrgica da América Latina neste seguimento. A pretensão da empresa é produzir anualmente entre 2,7 e 3 milhões de toneladas de aço, sendo que deste número 2 milhões seria destinados à exportação. ACESSIBILIDADE ÇÕES

NAS

CAPACITA-

As formações do SENAI Marabá envolvem todos os públicos da sociedade, sendo reconhecido nacional e internacionalmente no campo da educação profissional inclusiva, na oferta de oportunidades de profissionalização para todos, independentemente de qualquer limitação pessoal ou social. O SENAI Marabá atende, por meio do Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI) nas seguintes vertentes: Etnia, Gênero, Idoso e Pessoas com Necessidades Especiais. Em 2015 foram atendidos mais de 44 alunos com Deficiência auditiva, 16 com Deficiência visual, 21 com Deficiência física, 3 com Deficiência intelectual (mental), 1 com Deficiência múltipla, 395 Negros, 10 Índios, 4.165 do gênero feminino, 5.178 masculinos, 596 Idosos, 23 em situação de vulnerabilidade social, 34 Egressos do Sistema Penal, entre outras inclusões. A presença do SENAI Pará no sudeste do estado há 38 anos reafirma seu compromisso com o desenvolvimento regional por meio da qualificação de profissionais especializados e de consultorias e serviços que potencializam a competitividade das indústrias nesta região. “Além dos cursos profissionalizantes, o SENAI disponibiliza consultorias tecnológicas, em inovação para produtos e processos e ensaios metrológicos para a indústria”, comenta Regina Noronha, gerente de Mercado do SENAI Pará.


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POESOFIA

airton souza

o poeta Airton Souza foi criado pelas redondezas do bairro Laranjeiras, no Núcleo Cidade Nova. Ali cresceu e viveu grande parte de sua juventude sob o estigma daquela área ser uma das mais perigosas e violentas de Marabá e foi onde ENCONTROU NA ARTE A TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE.

N

ascido na cidade de Marabá, no Pará, no ano de 1982, no período de maior efervescência aurífera do garimpo de Serra Pelada, época em que sua mãe Maria Barbosa veio do Maranhão somente com a cara e a coragem para essa região e, aqui se encontrou com Raimundo Gonçalves, o mundico, vindo também sobre as notícias da febre do ouro, de uma região do antigo Estado do Goiás, que hoje é Tocantins, o poeta Airton Souza foi criado pelas redondezas do bairro Laranjeiras, no Núcleo Cidade Nova. Ali cresceu e viveu grande parte de sua juventude sob o estigma daquela área ser uma das mais perigosas e violentas de Marabá. Um menino meio pacato e centrado, que pouco a pouco foi compreendendo a importância da escola e, sobretudo dos livros. A vida do menino que se tornaria um dos grandes poetas marabaenses, porque seu currículo artístico o credencia para esse título, foi criado em uma família muito pobre, residindo em casa alugada, à família só não passou fome devido os pais e o próprio Airton terem enfrentado o trabalho como maneira de sobreviver. Seus primeiros escritos remontam por volta dos anos de 1995 e 1996, ainda era experiências escrituradas sem o acesso ao

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livro e a leitura, mas que o desejo maior de se tornar escritor o fazia acredita que um dia conseguiria, Airton Souza produziu diversos inscritos em prosa e também e versos. A primeira publicação em livro solo se consolidou somente no ano de 2009, com a publicação do livro “Incultações Noturnas”, edição artesanal, editada por uma

A primeira publicação em livro solo se consolidou somente no ano de 2009, com a publicação do livro “Incultações Noturnas”, edição artesanal, editada por uma gráfica em Marabá e que teve a tiragem de somente 65 unidades, que foram distribuídas aos amigos em Marabá. gráfica em Marabá e que teve a tiragem de somente 65 unidades, que foram distribuídas aos amigos em Marabá. Nove anos antes disso, o poeta viu pela primeira vez um de seus poemas publicados em um importante jornal de Marabá, em sua edição

de número 510, de outubro de 2000, na edição histórica sobre os Jogos Indígenas, que aconteceram em Marabá nesse período, o poema “Sextilha do Nordeste”, uma narrativa poética que traz à tona a saga da seca no nordeste. Desse período em diante o poeta passou a encarar a poesia como um trabalho diário. Assim, dois anos depois publicou o livro “O cair das horas”, uma coletânea de 30 poemas que foram publicadas em jornais e revistas locais. A publicação do livro foi pela Editora Scortecci, de São Paulo, onde Airton publicou logo em seguindo o seu terceiro livro, o “Habitação Provisória”, com poemas voltados a temática sobre os moradores de ruas. Todos esses livros foram publicados de maneira independentes, ou seja, custeados pelo próprio autor. Foi também a partir de 2010, quando ingressou no curso de Licenciatura em História, pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci e, no curso de Licenciatura em Letras- Língua Portuguesa, pela então Universidade Federal do Pará, hoje Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, que Airton Souza passou a compreender seu papel social como escritor. Entendendo que nesse sentido, o processo de escrita e leitura também está voltado para o papel social de tentar promover o livro e a leitura


JORDÃO NUNES

em Marabá e região. A partir disso ele passou a realizar visitações em escolas públicas e privadas da cidade, realizando palestras, rodas de leituras, lançamentos de livros, exposições de suas publicações, saraus, papos literários e muitos outros projetos que visavam mostrar a importância do livro e da leitura para a formação de cidadãos mais conscientes de seu papel no mundo. Outro marco para essa trajetória no que concerne ao processo de incentivo e a promoção do livro e a leitura na vida de Airton Souza, foi quando em 2014 foi convidado para assumir a coordenação da Biblioteca Municipal de Marabá Orlando Lima Lobo. A nesse momento o poeta passou a inten-

O poeta Airton Souza atua hoje como professor efetivo, no ensino fundamental, no município de Itupiranga, como coordenador da Biblioteca Municipal de Marabá. É membro efetivo da Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará, com o patrono o poeta Max Martins, membro efetivo da Academia de Letras de Marabá, com o patrono o poeta Aziz Mutran Filho, membro da Associação dos Artistas Plásticos do Sul e Sudeste do Pará e, membro fundador da Associação dos Escritores do Sul e Sudeste do Pará, da qual foi eleito o seu primeiro presidente. sificar ainda mais seus projetos em torno do livro e no incentivo a leitura, criando diversos projetos que hoje já estão consolidados dentro do cenário regional da literatura de toda a região de Carajás. Mas, em 2012, em parceria com outros poetas e artistas de vários segmentos de Marabá criou e coordenou o que é hoje considerado o maior Sarau do Estado do Pará promovido de maneira independente e, sem incentivo nenhum de qualquer esfera da sociedade, o já conhecido Sarau da Lua Cheia, que completou três que vem sendo realizado mensalmente nos vários bairros de Marabá. Além do Sarau da Lua Cheia, o poeta Airton Souza em parceria com a poeta e professor Eliane Soares coordenam hoje um dos maiores projetos da Amazônia de Literatura Independente, que é o Projeto Tocaiunas,

POETA AIRTON SOUZA

que já alcançou marcas expressivas em menos de três anos que foi criado por esses dois poetas. Hoje, o poeta Airton Souza, que além de ser reconhecidamente ser um dos maiores ativistas literários das regiões do Sul e Sudeste do Pará, soma ao seu currículo de escritor mais de 15 anos publicando livros, participando de antologias literárias, publicando em revistas importantes e em jornais, além de organizar antologias importantes no cenário da poesia paraense, a exemplo das antologias Rio (di) Versos, voltada aos escritores das regiões do Sul e Sudeste do Pará, o livro 100 Poemas e Prosas por Marabá, que publicou somente escritores de Marabá e o projeto Anuário da Poesia Paraense, voltada para todos os poetas do Estado do Pará e, que conta com edição

anual. Sua marca expressiva em termo de publicações ultrapassou recentemente o número de 20 livros publicados, grande parte em auto publicação, custeados pelo próprio poeta e, outra parte através dos editais de prêmios literários e edições por editoras, como a Penalux. Conta ainda com participação em mais de 60 antologias literárias publicadas no Brasil nesses últimos anos. é ainda colunista na revista Foco Carajás, escreve para alguns jornais locais e, colabora em importantes revistas virtuais, a exemplo da Revista de Literatura Contemporânea Mallarmagens. Também tem se destacado por meio de suas leituras, e seus conterrâneos o consideram um leitor em potencial. Quanto aos prêmios, o poeta Airton Souza é hoje o maior vencedor de prêmios literários da região de Carajás, no Sul e Sudeste www.revistapzz.com.br 41


POESOFIA ALGUMAS PUBLICAÇÕES DEAIRTON SOUZA

do Pará, isso porque todos os anos ele vem figurando entre os vencedores de diversos prêmios literários organizados no Brasil. Nesses últimos anos venceu importantes prêmios nacionais, desbancando escritores de todo o país, o que acaba por mostrar a importância desse poeta dentro da poesia amazônica contemporânea. Já venceu diversos prêmios literários importantes, entre eles: menção honrosa no Prêmio Proex de Literatura, Prêmio Cannon de Poesia, menção honrosa no Prêmio LiteraCidade, com o livro Face dos disfarces, primeiro lugar no Prêmio Dalcídio Jurandir de 2014, um dos mais importantes da Estado do Pará, com o livro de poemas Ser não sendo, um dos vencedores do IV Prêmio Proex de Arte e Cultura, com o livro de poemas manhã cerzida. Em 2015 venceu alguns prêmios, entre eles o III Prêmio de Literatura da UFES, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo, com o livro cortejo & outras begônias, na categoria poesia, que tinha 95 livros inscritos, o Prêmio Nacional Machado de Assis, na categoria poesia, promovido pelo Canal 6 e, recentemente venceu o Prêmio Nacional de Poesia Novos Autores, promovido pela Editora Cem Nomes, de São Paulo, recebendo uma medalha em ouro 18k e prêmio em dinheiro pela reconhecida vitória em primeiro lugar no certame literário nacional. Em meados de 2015 recebeu em Caxias, no Maranhão uma grande homenagem, no Sarau na Pele da Palavra, recendo o título de Honra ao Mérito, pelo reconhecimento de seu trabalho literário. já dezembro do mesmo ano, em uma noite memorável, recebeu na Câmara dos Vereadores de Marabá o Título de Honra ao Mérito em reconhecimento aos relevantes serviços prestados até aqui pela literatura, ao livro e ao incentivo a leitura, através do decreto legislativo nº 1 323/2015, através da propositura da Vereadora Irmã Nazaré. Recentemente foi traduzido para o inglês, com a edição do livro “aurorescer”, que será lançado bilíngue, pela Editora Penalux, de São Paulo, casa editorial que Airton Souza faz parte desde 2013, junto com importantes poetas brasileiros, traduzido ainda para o alemão e para o espanhol. O poeta Airton Souza atua hoje como professor efetivo, no ensino fundamental, no município de Itupiranga, como coordenador da Biblioteca Municipal de Marabá. É membro efetivo da Academia de Letras do Sul e Sudeste do Pará, com o patrono o poeta Max Martins, membro efetivo da 42 www.revistapzz.com.br

Academia de Letras de Marabá, com o patrono o poeta Aziz Mutran Filho, membro correspondente das academias de Letras de Goiás Velho, da Academia de Letras e Artes de Fortaleza, membro da Associação dos Artistas Plásticos do Sul e Sudeste do Pará e, membro fundador da Associação dos Escritores do Sul e Sudeste do Pará, da qual foi eleito o seu primeiro presidente. Outro marca de sua carreira foi quando coordenou no início desse ano, em duas noites duas edições do Mural Cultura, que é promovido pela RBA, com o patrocínio da Vale e, que reuniu em duas noites no Cine Teatro Cine Marrocos, mais de 60 artistas marabaenses, dos segmentos, dança, tea-

tro, literatura e música com uma homenagem voltada diretamente aos músicos marabaenses. Até o fim de 2016 o poeta Airton Souza terá lançado 27 livros, pois, recentemente assinou contratos com a Editora Penalux, de São Paulo para publicação de um livro de poemas, outros dois contratos com a Editora Twee, de Belém do Pará, para a publicação de seus primeiros livros infantis, além de outros livros que serão publicados via editais literários, a exemplo de “Cortejo & outras begônias”, que será publicado pela EDUFES, por ter sido a obra vencedora do III Prêmio UFES de Literatura 2015.


POEMAS DO LIVRO: CORTEJO & OUTRAS BEGÔNIAS renuncia o desgastado sândalo, enfrenta a travessia do labirinto, destemendo a enrugadez de tuas mãos repleta de símbolos, indecifrado dia ainda por afluir, acrobata nuvem de anil

a verdade trina indecifrada melodia na impossibilidade semovente de cirandear

sacia tua sede de sacrilégio sacrossanto é um lobo no covil à espera da morte.

põe deposto o remorso reinventa a canção ergue a estrutura de teus ossos em riste & uma vez mais alimenta teu jardim atado prestes a ganhar a forca.

* a travessia tem sempre algo de trágico

*

exilar-se na outra margem a esquecer de si sem reter o abandono atravessar é sempre tragicômico ainda mais quando não se tem uma mão a que segurar para o gesto da ida

pendular tuas retinas ocres transmutam o acre comovem o oboé sem nota inclinam no exímio acridão então teu corpo escoreografa uma telúrica geografia do ritmo funda a fenda cinge a renda em um passo apunhala o peregrino coração.

fica o sabor da não despedida. * * na impávida linha rabiscos inconscientes da tragédia içam a fonte de ofertar séculos visto que a pele enreda uma caligrafia comovente na linha tênue o ócio amargo cinge entre outras coisas mil enganos nega a possibilidade de rever a intensidade silenciosa de teus olhos. * sob a mesa ancora o desvelado alforje almeja um ramo de girassóis amurchecendo para disfarçar a densa cerração que alimenta para além da fixidez da janela a paisagem rugosa nesse outono de carne estranha folhas descampam árvores & entrecortadas consomem silêncios sob a mesa o alforje e a ausência. * pelos gumes abertos em teu peito

é sob a tragédia armadura tingida de aço deambula tristeza infinita de homens diários nos hilários olhos passeiam distâncias em ânsias sôfregos jardins desconversam a importância das borboletas arraigando os hediondos passos antigos a não encerrar quintais estranho o combate desfaz a carne de ontem num percurso impossível de abandonados dias homens sabem dos sóis das sombras das pedras mas a primavera sempre vem avisar-lhe do objeto final: morrer. * dentro do golpe proverbial modular indumentária no que tange ao longe o jardineiro desconsolado incendiando sumárias flores é triste a tristeza da cidade destribalizada

& germinar mitologias sabe semear paredes curar soluços guiar silêncios encher o silente verbo anônimo diante das pedras a cIDADE sempre amanhece mistérios ouvindo a cega saudade. * os ossos quintais talhando o medo disforme a marcha do verso em coro roça similidade na angústia de mastigar vermes ratificados no drama os quintais impedem ramagens nos gritos que envelhecem túmulos imensos sulcam vazios compreendendo exílios. * de tropel a tênue saudade é uma mísera ressonância enclausurada inútil o rosário abandonado na parede à vigília incrédula a reza murmurada meio a clarividência é topografia de várzea e manejo a perder o chão a sina é triste no entalhe da vigilenga & essa maré que só avisa o castigado retorno do lembramento. * pelos dias sabe dos mitos e histórias ruminando os ossos com clareira acendendo iras diante da verdade nenhuma lira passará a dócil língua no que tange o dia sem ênfase brutal a terra que milagrou o homem & a mesma que desfaz a rudez das coisas.

a c(idade) ainda sabe reinventar a imensidão www.revistapzz.com.br 43


POESOFIA

ademir braz

Já não te amo mais, não te amo mais. Um gigantesco mar nos põe ao largo e singro, em velames, a esquecer teu cais.

nos castanhais. Ouço-o, sinto-o ainda, e tanto!, cidade minha... Já, em tuas ruas não anda mais a triste e doida Zabelona a cavalgar ao luar sua porca de bobs, nem sobre as casas ressoa, pela madrugada, o agourento presságio do rasga-mortalha. Invés, na calha dura avulta a gosma rubra de teus pobres, catados à margem de trilhos e soltos na veia líquida de março. São pobres peixes tangidos da sombra insalubre dos brejais. Sujos de ferrugem e fuligem, vomita-os o dragão chinês na gare de abandonos na periferia. São lambaris que no mormaço vagam. Cegos, vagam. Famintos, comem o paul do paiol apodrecido. Para onde irão a seguir (além da cerca do latifúndio e da cova anônima de indigentes sem luto), sob o céu encauchado no forno das siderúrgicas? Quem sabe os espera, ao acaso, numa esquina, a perpendicularidade exata e única de uma bala?

Já não te amo mais, cidade minha. Não faz sentido o amor, quando cegos conduzem cegos, quando o pássaro perde o canto, e tudo se precipita para lugar nenhum.

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Já não te amo mais, cidade minha.

Quando, nas dobras da minha lembrança, tange solitário um tropeiro a tropa ruidosa dos meus desenganos, sinto que não te amo mais: desgosta-me o suor-néctar que exalas por entre as pernas, se me enlaças e roças no rosto teus seios imaturos de vestal; trinco irado os dentes se me acenas doce, etérea e sedutora, dentre as aves de rapina que se fartam em tuas entranhas. Aborrecem-me tuas ruas ensolaradas ou noturnamente desertas e melancólicas. Ralam-me o cristal das chuvas de dezembro e o odor de frutas claras na água de verão.

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ao largo (Para Charles Trocate, no seu caminho)

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Para além dos vidros, a mangueira pejada de frutos róseos, de um lado, e do outro a caramboleira a desfazer-se em milhares de botões e flores de ametista. Sobre o telhado enegrecido pelo tempo, entre um e outro bloco maciço de esmeralda, por trás do ancião e por sobre sua cabeça o bando de pombos pousou em toda a extensão da parabólica formando uma espantosa coroa de suplícios.

Se navego teus rios, ouço vozes afogadas de crianças e o canto deslembrado de pássaros; vejo encantarias apanhadas em tarrafas VELHICE e garimpeiros presos ao farracho de sonhos cravejado de diamante e turmalinas; O ancião cochila junto à escrivaninha, ouço adiante o canto sombrio da aldeã ilhada de frente para a porta de entrada do gabinete em balsa de buritis a descer sem timoneiro e de costas para o janelão do segundo andar. a voraz correnteza da memória, e o estrondo infindo de um avião a retorcer-se em chamas, Por ali se vê ao fundo uma nesga da manhã. facho imenso aceso sobre águas negras, É quase meio-dia da sexta-feira. farândola insana para um deus insano. Meu povo sumiu na mata e morreu à míngua .... .......... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .................................................................................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 www.revistapzz.com.br


charles trocate avenidas. Não quero um Drummond Nessa cidade O livro é um objeto fraco O pensar É inútil como o mendigo e seu horizonte! A poesia Foi sentenciada Supérflua Ignota vastidão de formas O país Que habito apenas noticia no jornal! Prossigo A elegância das coisas morde e dissipa Talvez eu esteja faminto Mas pode ser apenas uma hipótese Aos donos do Ibope Um só céu E um só amém batizam cifras, números, mercados Na feira de gravatas tecnocratas vendem O saciável O paladino de todas as manhãs! Tergiverso... A economia tem mais sotaque Que pessoas A vida comentada segue em um só compasso [em um só desespero! A cidade perfura O intestino das horas Com mitos e desleixos Suas classes Seus pés e seus sapatos impactam o planeta. Nos olhares Nem imaginava A tristeza é um dogma Um lapso sem delírio Onde o fantasma habita sem pudor Não é guarda na multidão de automóveis Impacientes! Êta Geração hedonista O umbigo é um piercing O corpo uma tatuagem despreparada O ócio é negócio E a propriedade, aliança Da mão que não é para carícias Desse cacto O homem reflui E salta. Do alto de uma ideologia precária, Escapado da morte, Caminha (indivisível) solitário. Plantado Na arte do nada. A solidão Das coisas

(sempre elas) Arrepia o estomago, a beleza E o aço dos arranha-céus não admite [a mentira? A lírica pública A quem se interessar Está enforcada nos autdoors da existência Que comercializam! Comercializam! Comercializam! Íngreme cidade, Quem te saúda nesse sepulcro? Aos meus vizinhos de sempre, falo O mundo é arte em grego Filosofa em alemão (foi um poetinha brasileiro que chegou a essa síntese) Dança em africano, o trabalho ficou escravo e está nas tuas riquezas imberbes Se corrompe com a América que tu és parte, O império coloca bomba na cabeça do mundo! E sabe do vermelho alguma coisa Pela China! Enquanto vale o jejum Penso nas distancias e na crise mundial novamente do capitalismo Que em Marabá já fechou duas bocas do seu inferno Sei da minha cidade pelo poeta Ademir Braz Que não a ama mais, como eu. Sou hospede cansado Desses acontecimentos! (Charles Trocate, São Paulo, out.2008) http://quaradouro.blogspot.com.br/2008/10/ poesia-feroz-de-charles-trocate.html

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Sobre a cegueira Passo a passo vou lento a lugares dispersos Arrancando-os da nostalgia O chá é uma invenção tão antiga! Depois uma mania esnobe e agora coisa iníqua de si mesma. A política está deserta E sem geografia. O chá esquenta A cidade de concreto à minha frente se desfaça Aestética Do frio engole a minha Voz Nas mãos planejo O rumo que os olhos imploram. (Não sou mais um entre teus seios, Paulicéia! Tenho pátria e planeta e nele não habitas. Eu julgo o que é mágico! E se tive necessidade de amor, entenda, fui amante) Estou invisível O gesto que faço é descaso a todos A barba enorme Herança genética do meu pai (já desmoronado na historia) Não imita o Papai Noel Farsa que a paciência namora Segue o rótulo O peso monetário que muitos se fartam A polêmica sobre isso e aquilo Não vem ao baile do presente! Recorro à tua medicina de dólares Entre médico e medicina não há rima, O café amargo indica o calvário Teses não nos dão primavera e outras festas Sirvo-me de tuas comidas Indústrias E postulo uma idéia O dragão da hipocrisia está solto e vadia em tuas clinicas. Meu glaucoma É um patrimônio, um monumento calado em tuas

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poesia feroz de trocate

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PROJETO LITERÁRIO

Airton Sousa

projeto tOcaiúnas

Nascido sob a insígnia dos dois maiores rios que perpassam pela geografia de Marabá, os rios Tocantins e Itacaiuas, resultando desses dois importantes rios o nome para o Projeto Literário Tocaiunas, vem se consolidando nos últimos anos como um dos maiores projetos de literatura independente na região amazônica brasileria.

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ideia inicial de se criar um projeto literário veio através da professora Doutora em Linguística, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e poeta Eliane Soares e, do poeta e professor Airton Souza, através de uma conversa informal, em meados do ano de 2014. Inicialmente o projeto previa inicialmente a publicação de livros de bolso, os chamados pocket, para facilitar o acesso ao livro e a produção local, além é claro de torna acessível, por meio dos valores unitários dos livros a serem revendidos, com o custo aos leitores de somente R$ 5,00. Outra perspectiva que o projeto poderia promover era construir um coletivo de autores, formando assim, uma espécie de comunidade de escritores locais, fazendo com que outra iniciativa diretamente pudesse, por meio do projeto, promover o acesso a leitura de escritores marabaenses junto à comunidade dessa e de outras regiões do Estado do Pará. Assim, inicialmente o Projeto Tocaiunas previa a publicação, através do auto financiamento dos próprios participantes, onde cada qual iria arcar com os cus-

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tos da edição de seu livro solo, formando uma espécie de coleção, pois, o projeto previa que todas as capas dos livros teriam a mesma cor, sendo alterada somente a imagem central da capa de cada livro, para assim, serem identificados os

Nascido sob a insígnia dos dois maiores rios que perpassam pela geografia de Marabá, os rios Tocantins e Itacaiuas, resultando desses dois importantes rios o nome para o Projeto Literário Tocaiunas, vem se consolidando nos últimos anos como um dos maiores projetos de literatura independente na região amazônica brasileria. livros. Essa imagem de capa é escolhida pelo próprio autor participante. Contudo, foram definidos alguns parâmetros aos participantes. A tiragem de todos os livros seria igual; a cor das

capas, conforme vimos; a quantidade de páginas de todos os livros solos, publicados dentro do projeto e outras questões estéticas. Laçando o convite, por meio das redes sociais, o Projeto Tocaiunas, logo em sua primeira edição conseguiu proposituras nunca imaginadas pelos poetas Eliane Soares e Airton Souza, coordenadores do mesmo. Dez escritores se propuseram a participar do projeto, seguindo os parâmetros definidos pelos organizadores. A primeira edição do Tocaiunas foi lançado em outubro de 2014, no espaço cultural Toca do Manduquinha, às margens do Rio Tocantins, em uma noite memorável para a história da literatura regional. Ao todo, na primeira edição do projeto foram publicados os seguintes escritores: Airton Souza, Eliane Soares, Lusa Silva, Paulo Nunes, Evilangela Lima, Adão Almeida, Creusa Salame, Glecia Sousa, Katiucia Oliveria, Lara Borges. Dos dez escritores participantes da edição inicial do Projeto Tocaiunas, nove eram de Marabá e um de Belém do Pará, nesse caso, o poeta e professor universitário Paulo Nunes. Ao todo foram pro-


FOTO: LUIZA CAVALCANTE

NOITE DE LANÇAMENTO DO PROJETO TACAIÚNAS - 1 EDIÇÃO duzidos três mil livros, com a tiragem de 300 unidades de cada livro solo e, a edição ficou por conta da Editora LiteraCidade, antes de Belém do Pará e, hoje instalada em Marabá, também no Pará. Com o sucesso da primeira edição do Tocaiunas a ideia dos organizadores foi dar continuidade ao projeto e dessa vez expandi-lo ainda mais. A segunda edição, lançado em maio de 2015, na Biblioteca Municipal de Marabá Orlando Lima Lobo, nas comemorações do aniversário da cidade de Marabá, contou com o apoio da Vale, que custeou a impressão dos livros. Dessa vez, o projeto em sua segunda edição contou com a participação somente de escritores de Marabá. Sendo que os nove que participaram da primeira edição do Tocaiunas já garantiram automaticamente a participação nessa segunda edição, já os demais selecionados foram escolhido a partir de uma seletiva, por meio Prêmio Literário Tocaiunas, que contou com a participação de mais de 30 livros inscritos. Assim, os escritores selecionados foram: Javier Di Mar-y-abá, Airton Pereira, Marisol Nascimento, Vania Andrade,

Francisco Duarte, Francisca Cerqueira Nessa segunda edição do Projeto Tocaiunas foram editados 15 livros solos e com uma tiragem de 500 exemplares de cada título. Parte dos livros foram para os escritores participantes do projeto e, uma grande parte foi doada para bibliotecas públicas, bibliotecas universitárias, bibliotecas comunitárias, escolas públicas de Marabá, instituições culturais locais, galerias de artes e outras instituições. A terceira edição do Projeto Tocaiunas, que foi lançado na noite do dia 28 de maio de 2016 o consolidou como um dos maiores projetos literários independetes dentro do território amazônico, com a participação de 22 escritores, de algumas cidades brasileiras, entre elas: Marabá, Nova Ipixuna, Belém, todos no Pará e Rio de Janeiro, com a participação do poeta carioca Otavio Luiz Oliani. Essa edição do projeto, a exemplo da primeira edição, foi totalmente custeada pelos escritores participantes e, a tiragem dos exemplares foi 200 unidades de cada livros, a produção dos livros foi realizada pela Cromos Editora, de Belém do Pará, em edição de luxo, em capa dura.

O projeto Tocaiunas teve a sua logo produzida por Camilo Dennis Tadeu Vieira Santos, que trabalha com web designe, e criou uma arte/logo que traz a tono a simbologia das cores verde e amarela, dos dois principais rios que perpassam pela cidade de Marabá e com um desenho que faz referência a bandeira da cidade. Hoje o Tocaiunas conta com a parceria da Associação dos Escritores do Sul e Sudeste Paraense, com sede em Marabá, mas, continua sendo coordenado pelos poetas Airton Souza e Eliane Soares, que foi quem idealizaram o projeto. Um dos objetivos é que o projeto seja realizado anualmente, seguindo critérios que possam está de acordo com outros objetivos maiores do projeto, que é torna o livro algo acessível, com um valor simbólico, incentivar a produção literária e promover o acesso ao bem cultura, através da leitura. Além disso, os participantes do projeto desenvolvem ações para divulgar suas obras em escolas públicas e particulares, o que é chamado de Circuito Tocaiunas nas Escolas, com realizações de palestras, mesas de debates, rodas de leituras, parwww.revistapzz.com.br 47


PROJETO LITERÁRIO ALGUMAS PUBLICAÇÕES DO PROJETO TOCAIÚNAS

ticipam de saraus nas escolas e nas comunidades e expõem seus livros em eventos escolares e comunitários. PROJETO TOCAIUNAS EM NÚMEROS Ao todo participaram do projeto 47 escritores dos municípios de Marabá, Nova Ipixuna, Belém do Pará e Rio de Janeiro. Foram publicados 47 livros solos nos gêneros poemas, contos, crônicas, cordéis e livros infantis. Totalizando a tiragem de 15 mil exemplares. TERCEIRA EDIÇÃO Na noite do dia 28 de maio de 2016 o Projeto Tocaiunas, lançou na Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo a terceira edição, que reuniu 22 escritores, sendo dezenove de Marabá, um de Nova Ipixuna, um do Rio de Janeiro e um de Belém do Pará. Abaixo a relação dos 22 escritores que participaram da terceira edição do Projeto Tocaiunas e publicaram seus livros solos, por meio do projeto, que em novembro de 2015 recebeu da Câmara Municipal dos Vereadores de Marabá a comenda de Honra ao Mérito em reconhecimento ao seu valor histórico dentro da literatura amazônida, sendo considerado hoje o maior projeto de literatura independente da Amazônia. Airton Souza Airton Pereira Glecia Sousa Lara Borges Javier Di Mar-y-Abá Joelthon Ribeiro Francisco Duarte Eliane Soares Evilangela Lima Arlethe Silva Francisca Cerqueira Lusa Silva Vânia Ribeiro de Andrade Agmael Lima Nilva Burjak Creusa Salame Luiz Otávio Oliani Nessa terceira edição do Projeto Tocaiunas quatro escritores lançaram pela primeira vez seus livros, sendo esse um dos grandes objetivos desse projeto, além de divulgar a leitura está o incentivar a produção literária, que são eles: Anderson Damasceno Walquiria Sampaio Gouveia Ana Mereiles Cláudia Chini Avelino Rodrigues 48 www.revistapzz.com.br


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BIBLIOTECA ORLANDO LIMA LOBO

prédio onde hoje está instalada a Biblioteca Municipal de Marabá Orlando Lima Lobo foi construído no início do século XX, entre os anos de 1927 a 193o, no governo do então Coronel João Anastácio de Queiroz, intendente municipal, cargo hoje compreendido como o de Prefeito Municipal. Logo depois, no Governo Intendente Magalhães Barata o prédio recebeu uma reforma para que assim fosse instalado no espaço o então mercado municipal da cidade. Porém, como a cidade de Marabá foi crescendo aceleradamente, devido à existência dos ciclos econômicos e, a forte migração de diversas pessoas para essa cidade, cada vez mais o mercado municipal foi perdendo força em sua utilização, porque já estavam surgindo muitos comércios e feiras em todos os bairros da cidade. Porém, o Mercado Municipal de Marabá foi desativado e, a partir daí o espaço ficou completamente abandonado. O que resultou logo depois na sensibilização de artistas marabaenses que empreenderam um grande movimento, com protestos e, diversas apresentações no espaço e nas proximidades dele para que o governo local tomasse providências e, sobretudo, pudesse fazer do local um importante espaço cultural. Dos protestos o que resultou foi na construção de uma Biblioteca Pública Municipal, que recebeu o nome de Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo, que homenageia um comerciante local, que segundo contam, passou a incentivar a

leitura dentro de seu estabelecimento comercial. A inauguração da Biblioteca Municipal aconteceu na noite do dia 20 de setembro de 2008, com um show do cantor Nilson Chaves e apresentações de artistas locais. Aos longos dos anos iniciais a biblioteca foi sendo estruturada e passou a realizar alguns eventos literários, na tentativa de tornar o espaço um local vivo. Essa efervescência veio ano a ano se consolidando e, a partir de 2014, sob a coordenação do poeta e professor Airton Souza o espaço que antes recebia uma média anual de 4 mil visitantes, recebeu neste ano mais de 10 mil visitantes. Ainda em 2013 a Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo que era administrada pela Secretaria Municipal de Educação, passou a ser coordenada pela Secretaria Municipal de Cultura, em consonância ao que vinha acontecendo em nível nacional, onde as bibliotecas públicas passaram a serem administradas pelos órgãos ligados ao Ministério da Cultural e não mais ao Ministério da Educação. Sob a coordenação da Secretaria Municipal de Cultura o espaço foi ganhando outro conceito de dinamização, ligado a concepção de “Biblioteca Viva”, do MinC. A partir desse conceito passaram a ser desenvolvidos diversos projetos que tinha como objetivos aproximar os artistas marabaenses e de outras regiões a comunidade com uma vivência diretamente ligada ao espaço da Biblioteca Municipal. Assim, foram criados projetos que passaram a acontecer dentro da pro-

gramação mensal. Entre os projetos criados estão: Papo Literário; Roda de Leitura; Projeto Escritor na Escola; Cine Lobo Só nesse início de ano de 2016 já foram realizados na Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo mais de 35 lançamentos de livros, aqui inclui o lançamento na noite do dia 28 de maio de 22 livros solos, por meio do Projeto Tocaiunas. Todos esses trabalhos são realizados por meio de diversas parcerias com as instituições artísticas e culturais de Marabá e Região, entre as quais estão a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, por meio da Proex, a Universidade Estadual do Pará, a Associação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará – ARMA, a Associação dos Escritores do Sul e Sudeste do Pará – AESSP, a Academia de Letras do Sul e Sudeste do ParáALSSP, a Academia de Letras de Marabá – ALMA, a Galeria Vitória Barros, o Instituto Cultural Hosana Lopes de Abreu e a Biblioteca Comunitária Hosana Lopes de Abreu e muitas outras. Em números o acervo da Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo é hoje um dos maiores de Marabá, ultrapassando os mais de 15 exemplares, além de um possui uma Biblioteca Acessível, com o projeto Livro Acessível, um grande acervo audiovisual e, com livros e revistas voltados aos mais diversos temas e áreas. Além disso, possui ainda internet WIFI gratuita e a está localizada no centro da cidade, às margens do Rio Tocantis, em frente à Praça São Félix do Valois. www.revistapzz.com.br 49


ANTOLOGIA

Airton Souza Eliane Soares

100 poemas & prosas

por

marabá

Antologia Literária 100 Poemas & Prosas por Marabá reúne a maioria dos atuais escritores marabaenses apresentando um panorama da literatura CONTEMPORÂNEA DESSA REGIÃO.

A

Antologia Literária 100 Poemas & Prosas por Marabá, que tem como organizadores os poetas Airton Souza e Eliane Soares e, conta com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Marabá, através da Secretaria Municipal de Cultura. O livro reúne se não todos, mas a maioria dos Escritores Marabaenses com algo publicado já, seja em jornais, revistas ou livros e a temática central do livro é a cidade de Marabá. O projeto que foi idealizado pela SECULT Marabá foi lançado na noite do dia 30 de abril de 2016, encerrando as comemorações dos 103 anos de Marabá, na Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo. Esse livro é o que reúne a maioria dos atuais escritores marabaenses apresentando um panorama da literatura desse tempo dessa terra. A antologia foi editada pela Cromos Editora, de Belém do Pará. Trata-se de uma antologia literária com os mais variados gêneros, entre contos, crônicas e poemas e conta com a participação de mais de 60 escritores só de Marabá. É hoje uma das antologias mais completas da região em termos de textos que visam homenagear a cidade de Marabá. O evento aconteceu no espaço exter-

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no da Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo e fez parte da programação oficial do aniversário da cidade encerrando as comemorações aos 103 anos de Marabá. Todos os autores participantes receber am de presente e como forma de contribuição ao que estão fazendo pela literatura local, dois exemplares do livro que tam-

Antologia Literária 100 Poemas & Prosas por Marabá reúne a maioria dos atuais escritores marabaenses apresentando um panorama da literatura contemporânea da região. bém será doado a espaços públicos, como Bibliotecas, associações, a Academias de Letras entre outras instituições culturais da cidade. ”O livro é um projeto que existe há mais de três anos e possui gêneros variados. São contos, crônicas e poemas. Com certeza, é umas das antologias mais completas da região”, afirma Souza. Participam desse livro, Adão Almeida, Abílio Pacheco, Aldemira Aguiar, Apolia-

na Costa, Arlethe Ferreira, Adalberto Marcos, Cezamar Oliveira, Francisco Xavier Pereira Dos Santos, Joelthon Ribeiro, Lara Borges, Lívia R. Mesquita, Lusinete Bazerra, Marcos Mascarenhas, Valdir Araújo, Anderson Damasceno, Chagas Filho e Vânia Andrade. Há ainda a presença de Ronaldo Giusti Abreu, Walquiria Gouveia, Glecia Sousa, Francisco DE Assis Santana Duarte, Francisca Cerqueira, Cley Araújo, Flaviano Biano, Clauber Martins, Weliton Moreira, Laercio Ribeiro, Evilangela Lima, Victor Haôr, Ademir Braz, Reunivan Tocatins, Rose Pinheiro, Fabiane Barbosa, Clei Souza, Cláudia Borges e outros nomes da literatura marabaense. A publicação da “Antologia Cem Poemas e Prosas por Marabá” também ganhou destaque durante a reunião da Associação dos Escritores do Sul e Sudeste do Pará (AESSP), na semana passada. Na ocasião, os presidentes da AESSP, Francisco Duarte e Francisca Cerqueira, parabenizaram a iniciativa da Secult e o projeto dos idealizadores, Airton Souza e Eliane Soares, que mais uma vez permite que a literatura do sul e sudeste se torne um monumento de arte.


ADÃO ALMEIDA Lembranças do Centenário Marabá, terra bendita. Terra de um povo que acredita Aqui, jorra leite e mel. Deus abençoou tuas nascentes Para o sustento dessa gente É mesmo um pedacinho do céu Terra do paraense, do africano, Do maranhense, do paulistano, Do Indígena, do alagoano. Terra de gente carinhosa Terra do bom samaritano A princesinha dengosa Por ela nos apaixonamos Um belo centenário ficou marcado Com histórias do presente e do passado Desde o caucho e da castanha Agora do ouro e do gado Enfim, tudo isso deu-lhe a fama Terra de planícies e de montanhas Sim, um paraíso tropical. Vai estar sempre, Sempre no berço. Pois tu és especial. Victor Haôr Sobre cidades e rios Rios e portos. Barcos, mãos e braços. Gritos e risos, soltos, desdentados. Barcos parados, atracados, semi-inundados. Rua estreita, casas feias, dias parados, longo tempo... Nos barcos, nos portos, nas casas os galpões, riquezas, cicatrizes no mato. Mãos calejadas, corpos cansados, olhos tristes, bolsos vazios, miséria, cachaça, morte sem lágrimas... Aviamentos, tormentos... Rios e portos, barcos, motores, diesel, travessias, viagens, florestas. O homem redescobria caminhos, rotas, riquezas, famílias, filhos, jogos, lazer. Elite, construções e cidades. Cobiças, reuniões, políticos e poder. Pactos, pratos e talheres, copos, corpos e bebidas. Centro e periferia... Rio, correnteza, banhos e sarã. Escola, aulas mortas. Pontinhas, quebra de borbulhas. Sorrisos, olhos vermelhos, calção molhado, prainha, soluços, mãos e dedos enrugados. Manga verde, sal, castanha podre, orelhas puxadas, pêia, choro, soluço, sorriso, cores e corridas, quedas... muitas quedas! Dente doendo, remédio. Rios em movimentos, cheios, sujos. Rios, ruas, barcos, carros, cidade. Água, casas, calçadas, asfalto. Mudanças, móveis quebrados, gritos, força, homens e mulheres, crianças e velhos. Caminhões, caçambas, roupas sujas, cães e gatos, panelas guardadas, pratos quebrados. A cidade em movimento, o rio em movimento, a vida em movimento. São dois rios, uma floresta, uma imensa floresta. São dois rios, uma vila, uma cidade... uma pequena cidade

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Participam desse livro, Adão Almeida, Abilio Pacheco, Aldemira Aguiar, Apoliana Costa, Arlethe Ferreira, Adalberto Marcos, Cezamar Oliveira, Francisco Xavier Pereira Dos Santos, Joelthon Ribeiro, Lara Borges, Lívia R. Mesquita, Lusinete Bazerra, Marcos Mascarenhas, Valdir Araújo, Anderson Damasceno, Chagas Filho e Vânia Andrade. Há ainda a presença de Ronaldo Giusti Abreu, Walquiria Gouveia, Glecia Sousa, Francisco DE Assis Santana Duarte, Francisca Cerqueira, Cley Araújo, Flaviano Biano, Clauber Martins, Weliton Moreira, Laercio Ribeiro, Evilangela Lima, Victor Haôr, Ademir Braz, Reunivan Tocatins, Rose Pinheiro, Fabiane Barbosa, Clei Souza, Cláudia Borges e outros nomes da literatura marabaense. Nesta edição especial da PZZ sorteamos aleatoriamente alguns autores. ••• A Antologia Literária 100 Poemas & Prosas por Marabá, que tem como organizadores os poetas Airton Souza e Eliane Soares, conta com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Marabá, através da Secretaria Municipal de Cultura. A antologia está sendo editada pela Cromos Editora, de Belém do Pará.

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ANTOLOGIA

riquezas, cicatrizes no mato. Mãos calejadas, corpos cansados, olhos tristes, bolsos vazios,

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Seus filhos ficaram, lutaram e sofreram: Os valores humanos e monetários Rio, correnteza, banhos e sarã. Invernos violentos alargam os caminhos Escola, aulas mortas. Pontinhas, quebra de São incalculáveis Durante muitos e muitos dias do ano, borbulhas. Sorrisos, olhos vermelhos, calção Dificultando a vida dos andantes, molhado, prainha, soluços, mãos e dedos en- Desde os primórdios desbravadores Homens, mulheres, crianças, alunos. rugados. Manga verde, sal, castanha podre, Deste rincão marabaense, o celeiro orelhas puxadas, pêia, choro, soluço, sorriso, De produtos naturais diversificados Marabá de ontem, Marabá de hoje! cores e corridas, quedas... muitas quedas! Ultrapassam fronteiras com notoriedade Marabá de ontem, calmo, tranquilo, Nas transações comerciais entre diferentes nações Dente doendo, remédio. Mas recebendo os andantes do Amapá. Rios em movimentos, cheios, sujos. Nossos alunos de ontem e de hoje Rios, ruas, barcos, carros, cidade. Água, casas, Marabá descendência Tupiniquín Aventuravam-se na travessia, Travessia tão temida pelas mães, pelos que não calçadas, asfalto. Mudanças, móveis queb- Consistência deste emergente país rados, gritos, força, homens e mulheres, cri- Colossal. Solo de imensurável nadam. anças e velhos. Caminhões, caçambas, roupas Capital, imponência ecológica Todo dia um temor, todo dia uma espera aflita. sujas, cães e gatos, panelas guardadas, pratos Com deslumbrante mananciais Ao meio-dia um voltar cansado, demorado, quebrados. A cidade em movimento, o rio em a fome a devorar. Marabá teu regaço sempre movimento, a vida em movimento. Vai e vem, todo dia, toda noite, Ritual antigo, repetido por todos em várias ger- São dois rios, uma floresta, uma imensa flores- Será o posto desejado dentre ta. São dois rios, uma vila, uma cidade... uma Aqueles que de ti se aproximam ações. Acalantado de igual modo aos pequena cidade. Teus filhos, em volta a tua Marabá de hoje, transformado, superlotado, Mesa participante de todas as iguarias CLAUBER DOS SANTOS Seus filhos espantados, sem saber o que fazer, Que propícias sem divergências Perdidos na multidão que aumenta dia a dia, Velha Marabá tu és Cidade Ímã Multidão infinita, de outras paragens, E continuará sendo multicultural. Correndo para o ouro, para a terra, Marabá, A terra prometida! És casa, sim e me desvelas EDUARDO B. FERNANDES à beira do teu abismo. Hoje também acabou. O ritual acabou. A espera És casa, fui e voltei, Nativa-idade acabou. Sinal afoito de um reparo no assoalho O Itacaiúnas chorou, suas águas toldaram-se, (tábua amarela e preta): O Itacaiúnas perdeu seus velhos companheiros, Situação de incursão do destrato como anúncio de algum fato Companheiros de fortes músculos, seus queridos fruto da mangueira e o paneiro para pegá-la. Onde emerge a quimera do teu algoz barqueiros. Semeias na cratera do apego a cinza de tuas queimadas Os barqueiros choraram, os barqueiros perderam, Cidade ímã Envolve em tuas manchas marcadas de tensão a geografia do facão Cá de baixo e lá de cima Perderam as travessias de todos os dias Mitigas em tuas paginas riscadas as dores do teu grilhão Da aurora ao entardecer, entre o céu e as águas Arrimo grande da mina Num ritual mais belo e mais certo. Menina mama de fé Nas enchentes repentinas de tuas chuvas finas O Itacaiúnas chorou, o sonho acabou: Macunaíma,squindangue, lamparina Es!! Comunidade, diversidade, necessidade A ponte ligou as duas moradas. Me arruma o rumo da rima Submete-se aos apelos carnais como prova de tua conduta Que eu te ensino a ser mulher Como filho de branco, de índio, de puta Agora começa um novo caminho Matéria-prima, pai, mãe, irmã e tia Sem travessia, sem espera, Digere as vísceras do poder oficial aceso nas tuas pastagens Credo cruz Ave-Maria Sem barqueiros, sem maresia, És!! mata, morte e terra estuprada Valha-me meu valois (Valoá) Mas também sem poesia... Cabelo-seco secando o chão do vermelho No fervor de sua cultura marginal o teu centro é periférico Com as barbas de Chico Coelho Victor Haôr O nosso tempo é atual Mar aqui mar acolá... Esculpe nos acontecimentos dos dias a tua força social Sobre a cidade Marabalança nos banzeiros desses rios O salão do teu quintal decorando essa paisagem Agoniza, goza e guarda Utopias de enredos A Rios e portos. Barcos, mãos e braços. Gritos Espinheiras e jasmins Anúncios de miragens e risos, soltos, desdentados. Barcos parados, Protagoniza drama, romance e comédia atracados, semi-inundados. Rua estreita, casas Conduzindo o Itacaiúnas E continuará sendo multicultural. feias, dias parados, longo tempo... Nos barcos, nos portos, nas casas os galpões, A beijar o Tocantins...

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Quem é ela? Não a conheço, mas sei quem é a cada dia Utopia Palácio sobre rocha e mangue Cabana em diamante e concreto Amazona, solitária, irmã de sangue. Minhas palavras não mudarão seu destino: - Tu não pertences a ninguém mas somos todos teus filhos teus amantes, teu harém, tua espécie, tua tribo, teus consentidos reféns!

FABIANE BARBOSA O outro lado do rio Do outro lado da ponte Foi onde eu nasci e cresci Houve, há e haverá quem conte Um pouco daquilo que vivi. Do outro lado da ponte O sol é mais reluzente De seus raios a gente se esconde Mas é bom saber: aqui é seu nascente. Do outro lado da ponte A vida é um tanto diferente

JOÃO BRASIL MONTEIRO FILHO Braseiro e morte Derrubam nossas matas Inclusive castanhas Sem aceiro na maldade Tocaram fogo ilegal Esse ao se alastrar Mutuns de cá avisaram os de lá Que as labaredas ardiam Sobre o vento soprado no ar Animais apavorados Correndo voavam pra longe Outros emitindo a dor da morte Pelas baixadas e montes Os besouros entristecidos Foram embora e nunca mais Apagando nossa história De muitos anos atrás Gostaria que um dia Essa agressão fosse reparada Replantada toda a mata Reproduzindo a passarada Este habitar depredado Temos que censurá-lo Aparando os animais Evitando serem matados.

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Obra surrealista: Flor escarlate que desabrocha no asfalto Criança mestiça sobre nuvens amarelas Rosa mística a exalar sons e cores Índia de arasóia transformada em Barbarela.

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ANTOLOGIA

Cidade do caucho, Da castanha, do garimpo, Do comércio, da pesca, Da usina de força e luz... Cidade da pecuária, Da guerrilha do Araguaia, Da Serra Pelada, Dos garimpos de diamante... Cidade das enchentes, Dos rios Tocantins e Itacaiúnas, Das canoas, das embarcações, Das praias... Cidade das festas, Do Canela Fina, Dos arraiais, Dos cordões Da Orla e do pôr-do-sol... Cidade das lendas, Da Matinta, da Boiúna, Do Boto, do Nego d’água, Dos causos de assombração... Cidade do Sol, Tão encantadora, Pedaço da minha infância! Cidade dos encantos, Do Círio de Nazaré, Das festejos, das promessas... Inestimável dádiva, Das marabaenses, De nascimento ou coração. Marabá, Do ritmo frenético, Do vai e vem do trem; Vai e vem de sonhos, De pessoas, de costumes, De falares. Colônia de exploração, Nos trilhos de minérios, E nas trilhas de projetos ambiciosos; Desfaz-se, Cresce desordenada, No soar de bala. E os meninos queimados, Gritam nas margens dos rios, E brincam nas águas. E as mulheres batem roupas, Em cimas de tábuas lodosas, E falam...

E o sol radiante, Reflete na areia, Na terra, sob a poeira. E na chuva, As águas sobem E a lama rosada. Minha cidade, Marabá de histórias, De pessoas, de muitos lugares; De sonhos, Um novo lugar, Um bom recomeço...

FRANCISCO DUARTE Poligono dos Castanhais A natureza Reclama em flor É um menino Um passarinho Que se libertou. Polígono dos castanhais Riqueza que te consagrou. Adentrar nas brenhas Pelas serras, matagais Recanto de imigrantes Homens valentes Na busca do eldorado Ou de outros metais. Na terra dos Carajás O tesouro brota em flor. Águas barrentas Tão violentas Veio de chuvas temporais Tem um encanto Um acalanto De tempos que não voltam mais. Praia do Tucunaré Nem a enchente te levou Praia do Tucunaré Nem a barragem te mudou.

Lara Borges Encantos de Marabá Marabá, entre rios e florestas Identidade de um povo Entre sonhos e promessas São celebradas em todas as festas

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Marabá, De gente hospitaleira Impulsionada por forças De suas crenças e sonhos...

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Lusa Silva

Marabá em Cordel Reescrever tua história Pra falar de tua beleza Dando destaque especial Pra toda a tua riqueza. Falaremos de questões sociais, Mas com muita sutileza. Esta é uma cidade boa, Pra quem sabe amar Lugar lindo pra se viver, Melhor pra quem sabe cuidar. Com tanta beleza e riqueza Só nos resta preservar. Aqui o Rio Tocantins Tem uma praia espetacular! Venha ver. Sentir, curtir! Lugar bom pra acampar, Pois é aqui que acontece A festa do Maraluar. Às vezes o Rio sobe, E causa inundações Esse é um assunto, Que causa preocupação As pessoas saem das casas E vão morar num barracão.

E a coisa fica feia Semeando riquezas ........... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ................................................................................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 www.revistapzz.com.br


Temos o círio de Nazaré A padroeira do Pará Tem a festa do Divino No bairro do Amapá E o padroeiro daqui É São Félix de Valois Temos orlas, praças, Parque de exposição Belas casas de show E muita diversão Festa pra todo gosto Temos muita curtição. Katiucia Oliveira Ser pense, serpente, ser gente Sangra ao descer da serra para vales Atravessa o Tocantins e porfia com o Mearim Envolve-os com abraço letal Lançada foi à sorte Ao ranger em polia zombeteira O trilho em maresia De Parauapebas a fluir Para destino triunfante Entrega para os gigantes toda nossa valia Trezentos e trinta vezes por dia Em cada passar inocula-nos Orgia, política e descomunaleza Carnaval, conjunção e mentira Ao cingir lugarejos e vilas A erma e não lembrados Nesse seu passar escarra veneno estonteante Range, rosna e desliza A vil serpente fumegante Poluta, moderna e intrigante Das entranhas da terra regurgitar: Ouro e hematita... Na Ponta da Madeira para os gigantes Engordar navios cargueiros Que hoje substituiu os Negreiros Para os Estados Unidos, China e Canadá Pagam bilhões em dinheiro Dólar, iene e cruzeiro Mas, o progresso não sabemos onde foi parar Essa lama movediça Que não permite as pessoas simples prosperar Deles retira mais que a calma e o silencio Ao ver seus sonhos afogar Educação, trabalho e alegrias Chicoteados dia-a-dia Vendo na estrada da vida O trem da Vale passar. cheias deste Rio que teima em crescer

Marabá de água, sol e paixões Magalhães tá cheia d’água No varjão tem pajeú, Imbaúba, folha branca, Que nem a neve no sul; E os caminhões vão seguindo Como bando de marrecos, Muié cum os minino iscanchado Carregando os cacarecos E pra muitos não tem volta, Não suportam a aflição Morrem de fome ou de febre Em casebres d’outro varjão... Mas o rio que banha as ruas Lava também corações E leva nas águas suas Todas as desilusões. Em maio o vento-geral Traz um sopro de esperança Vem julho trazendo a lua Viola, seresta e magia... E a praia do tucunaré Volta a beijar as Marias! A “pelada” tá de volta Na pracinha, no granito, São dez minutos de grito, Cara-ou-coroa ou porrada; Êta vida paid’égua... Marabá de sol bonito. GLECIA DA SILVA SOUSA Cem anos de histórias Marabá... Quem te conhece não te esquece Aprende a te valorizar Cidade tão grandiosa Que aprendi a amar Diante da tua história Descobri tuas riquezas Tua imensidão e tua beleza Cem anos faz agora Cem anos de história Cem anos que deu origem A sua trajetória Terra bendita e produtiva Que vem sendo explorada Por matas devastadas E minérios corrompidos Sua beleza é sem igual Sua gente é tão carente Com seus belos traços faz agora Cem anos de história.

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Mas, essa terra é rica. Começou com seringueiro Já teve belos castanhais. Garimpo e garimpeiro. Agora temos as usinas Ferros gusa e o guseiro.

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CONTO

Ana Maria Martins Barros *

AS LAVADEIRAS

Ana Maria Martins Barros - nasceu em Marabá na conturbada década de 60. Trabalha no INCRA desde os 18 anos, e’ formada em historia pela UFPA. Já escreveu muitos textos do Projeto Ver-a-Cidade e de Exposições de artistas da região. Ganhou recentemente o 1o lugar de contos no Concurso Literário Inglês de Sousa.

Obra: Lavadeira / 1988 Autor: Pedro Morbach Técnica: Nanquim em papel Tamanho: 45cm x 60cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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N

ão me recordo qual, mas tinha um dia da semana quando todos ainda dormiam em casa, Francisca, a nossa lavadeira, chegava com sua voz vigorosa, acordando a casa inteira, ao que minha mãe meio sonolenta ouvia com atenção seus lamentos que versavam sobre o marido Zildo que bebia a semana inteira e “não dava um prego numa barra de sabão”, dizia ela lastimando-se da sorte, enquanto amarrava a trouxa de roupa sempre com a pressa e a determinação de quem tinha seis filhos para sustentar, praticamente sozinha. Genoveva a filha primogênita, transpirando coragem, era quem comandava a casa simples e sem enfeites de um reboco mal feito no bairro Francisco Coelho. Apesar da pouca idade, era uma segunda mãe para os irmãos menores que recorriam a ela quando sentiam fome ou desejo de afagos. O pai que não conhecera, fora substituído no coração, por Zildo, quando ainda era criança, talvez por falta de opção, pois de nada lhe servia aquela paternidade sem qualquer expectativa. Era com um nó na garganta que Genoveva explicava, entre soluços, porque aos dezesseis anos perdera o gosto pelos estudos. Precisava acordar cedo para ajudar a mãe que, juntamente com Lena, a irmã do meio, ganhava a vida lavando roupa das famílias ricas de Marabá. O tempo ainda frio diminuía o enfado da primeira trouxa de roupa, que era ensaboada e “jogada” nas pedras para quará, razão pela qual Francisca saía cedo com Lena. Antes, porém, passava severas ordens nos outros filhos que deviam obedecer a irmã mais velha, imbuída de desmedidas tarefas domésticas. Só então ela descia com sacrifício os degraus da ribanceira irregular e escorregadia, rumo ao Rio Itacaiúnas. A rodilha de pano ajudava a equilibrar a enorme bacia de roupa na cabeça. Quando a fome apertava, o almoço era logo ali. Bastava subir a ribanceira, que a fava com toucinho das mãos de Genoveva já vinha fumegando. A carne de porco frita acompanhada com banana branquinha e farinha de puba bem caroçuda, completavam o cardápio que trazia a sustância necessária para aquela provedora de família que comia e trabalhava como se fosse um braçal. O sabão de potassa, feito de fatos de boi, que o marido Zildo nos momentos de lucidez, trazia do matadouro do bairro Santa Rosa, era feito pelas mãos de Fran-

cisca. Quando o sabão esfriava, as barras eram cortadas com uma faca peixeira, um pouquinho maiores do que as barras de sabão convencionais, na descida para o rio eram colocadas numa velha panela amassada e sem aro, onde não podia faltar a bucha de melão-são-caetano e a pedra de anil, que faziam a diferença nas roupas das patroas, tanto no cheiro quanto na cor meio azulada. A tardinha, os becos apertados do bairro ficavam apinhados de varais coloridos onde as roupas postas para secar eram vigiadas com zelo. Qualquer ameaça de vento de chuva as crianças corriam numa fuga alegre de seu triste fado, pegando as peças e dobrando uma a uma que, sob uma enorme samaumeira, eram dobradas e colocadas em cima de uma tábua. Enquanto as lavadeiras trabalhavam, um dos filhos geralmente brincava ou tomava banho nas imediações, mas bastava um sinal, a criança já estava de prontidão para fazer pequenos mandados que

O sabão de potassa, feito de fatos de boi, que o marido Zildo nos momentos de lucidez, trazia do matadouro do bairro Santa Rosa, era feito pelas mãos de Francisca. incluía subir e descer a ribanceira várias vezes por dia, tanto para estender como para pegar a roupa do quarador ou mesmo buscar sabão em casa, quando este não era suficiente. Os bairros Francisco Coelho e Santa Rosa, eram na época, os únicos da cidade. Como eram rodeados de generosa hidrografia, abrigavam as melhores lavadeiras da pequena ilha. Na falta da máquina de lavar, a profissão, embora não fosse valorizada, era uma das mais necessárias, assim, cada família de boas condições tinha a sua. Durante a semana, frequentemente Zildo estava cheirando a álcool, embora negasse de pés juntos ter bebido uma única dose. Aos domingos então era mais difícil segurá-lo, já que Zildo se “mudava” de malas e cuias para o Bar do Orlando, na esquina da Avenida Antonio Maia. Ali, bebia umas e outras e passava todo o dia, adentrando pela noite, enquanto Francisca dedicava seu domingo ao velho catecismo amarelado pelo tempo, já que era seu dia de folga. Aproveitava também para ir à santa missa e caprichava na marizabel bem soltinha com piau cabeça

gorda frito, cujo cheiro exalava por todo o bairro, banquete compartilhado apenas com os filhos. Aos domingos, a folga das filhas Genoveva e Lena, era para Francisca um dia sagrado. Assim, as meninas festejavam com cangapés e pontinhas cinematográficas no rio Itacaiúnas, observadas pela mãe, que observava da janela. Ao mesmo tempo Francisca mantinha os olhos bem atentos também nos filhos pequenos que brincavam na velha calçada esburacada na eminência de um tombo a qualquer momento. Ao cair da tarde de domingo, apesar dos pesares, lá estava Francisca com o semblante alegre. A felicidade sem causa aparente contrastava com as mãos enrugadas, completando o conjunto com as varizes salientes nas pernas e os cabelos avermelhados pelas tentativas de pintura sem sucesso, olhando o horizonte a espera de Zildo. Quando as crianças dormiam, apenas Francisca e Genoveva esperavam sem palavras, olhando uma para a outra, sonolentas, no sofá da sala. O silêncio de repente era quebrado pelo latido de um cachorro açoitado por um vulto que zanzava no escuro,esbravejando em completo desalinho, ao que as duas se entreolhavam confundindo os próprios sentimentos, pois já não sabiam se eram cúmplices ou vítimas daquela negação da vida. Zildo era trazido apenas pelo instinto, já que o teor etílico extrapolara todos os limites do bom senso. Assim, as duas encontravam sempre uma força extra que elas guardavam num cantinho do peito, e arrastavam Zildo que era literalmente jogado no velho sofá da sala. Na manhã seguinte as enormes trouxas de roupas já estavam prontas para descer a ribanceira e Francisca lastimava-se do marido que “não dava um prego numa barra de sabão”.

Ana Maria Martins Barros - nasceu em Marabá na conturbada década de 60. Trabalha no INCRA desde os 18 anos, e’ formada em historia pela UFPA. Já escreveu muitos textos do Projeto Ver-a-Cidade e de Exposições de artistas da região. Ganhou recentemente o 1o lugar de contos no Concurso Literário Inglês de Sousa.

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ARTES VISUAIS

Ederson Oliveira

ARMA

Associação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará foi fundada em 1998 no município de Marabá com o nome de Associação dos Artistas Plásticos de Marabá, tendo como sigla a palavra “Arma” proveniente da junção de “Artistas de Marabá”, nascendo assim com a função de ser uma nova “Arma” de Cultura e Paz contra a violência e mazelas sociais recorrentes na região.

A

ssociação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará funcionou por muitos sua sede no Galpão de Artes de Marabá (GAM) no centro da cidade onde desenvolveu inúmeros projetos e ações que contribuíram para a capacitação dos artistas locais. Com o crescimento da cidade de Marabá que se tornou uma das mais promissoras da Região Norte a Arma acompanhou este desenvolvimento e tornou-se referência Artística e Cultural no Sul e Sudeste do Pará. No ano de 2011 a Arma resolveu alterar e modernizar o seu estatuto adequando a instituição a sua nova realidade e campo de atuação não só em termos geográficos, mais principalmente incorporando outras linguagens visuais, agregando assim novos profissionais da área cultural sem representatividade. Depois de um grande diálogo entre seus membros surgiu então a Associação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará (Arma) que com o mesmo Cnpj e adotando ainda a sigla de fundação da instituição, representa além das artes

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plásticas outras categorias como a fotografia, audiovisual, web design, cinema, animação, arte digital, dentre outras linguagens. Arma tem ano histórico em Marabá em 2015 O ano de 2015 para Associação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará (ARMA) ficara marcado na história dos 17 anos da instituição, com um dos mais produtivos com inúmeros projetos e ações realizadas que tornou a instituição referência artística e cultural em Marabá e região. A organização sem fins lucrativos sediada no bairro Novo Horizonte em Marabá atendeu cerca de 10 mil pessoas diretamente através das exposições, cursos, oficinas, palestras, workshops, saraus literários, cine clube, dentre outros eventos culturais, que colocaram a instituição no mapa das artes estadual. Ao longo do ano a instituição promoveu 06 exposições artísticas locais, 16 cursos de formação cultural atendendo 1.000 jovens através de oficinas de dança, tea-

tro, violão, pintura, desenho, audiovisual e fotografia. A instituição através da sua Biblioteca das Artes recebeu a visita de centenas de leitores e promoveu o lançamento de 05 livros de escritores regionais, dezenas de rodas de leitura em sua sede e escolas parceiras, além da realização de edições do Sarau da Lua Cheia evento literário mais importante do município. Com o Clube de Fotografia de Marabá criado pela Arma em 2013 para abrigar fotógrafos amadores e profissionais encontraram na instituição um local de capacitação e troca de experiência, através de cursos de formação e passeios fotográficos que contribuíram para a preservação da memória regional. “Foi um ano fantástico onde conseguimos atender milhares de pessoas sendo que mais de 60% desse público e formado por jovens, contribuindo assim não só para a valorização da cultura marabaense mais também para o protagonismo juvenil”, afirmou Gilzane Moraes uma das coordenadoras da instituição. Participante ativo nos fóruns e conferên-


cias de cultura locais a instituição hoje possui dois representantes no Conselho Municipal de Cultura (Consult) contribuindo assim para o fomento e desenvolvimento da cultura local, propondo projetos e ações que vem beneficiando toda a sociedade. Dentre as principais parcerias firmadas pela Arma em 2015 destacam-se o Conselho Municipal da Criança e Adolescente (CMDCA), Fundação Biblioteca Nacional e Associação de escritores e Academias de letras regionais. “O ano de 2015 foi muito bom é para 2016 pretendemos dar andamento aos projetos desenvolvidos especialmente os voltados para a cultura digital, como cursos de vídeos, fotografias e arte digital, vamos intensificar essas ações e contribuir para que Marabá e região seja conhecida como celeiro de grandes artistas e eventos culturais”, afirmou Ederson Oliveira. Projetos Permanentes Biblioteca das Artes Estimular o prazer pelo livro e leitura através de ações artísticas e culturais e o que vem fazendo a Arma com uma biblioteca específica voltado para as artes, com livros nas mais diversas linguagens a disposição do artista e sociedade. A biblioteca realiza lançamento de livros, rodas de Leitura e saraus com escritores da região em sua sede e escolas parceiras da instituição para estimular a formação de novos leitores. Em 2010 a biblioteca tornou-se Ponto de Leitura quando foi premiada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro devido aos trabalhos prestados em prol da valorização da literatura regional, o que a credenciou a fazer parte da “Rede Biblioteca Viva” do Ministério da Cultura. Clube da Fotografia de Marabá Reunir fotógrafos profissionais e amadores para trocarem experiência e conhecimento, e com esse objetivo que a Associação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará (Arma), resolveu criar em 2013 o Clube de Fotografia de Marabá e Região. O clube promove desde então regularmente oficinas de capacitação na sede da instituição e passeios fotográficos com objetivo de registrar através das lentes o cotidiano e o legado cultural amazônico. Para dar visibilidade aos trabalhos fotográficos a instituição já realizou várias exposição coletiva intitulada “Marabá Visual” que reuni na galeria de artes da Arma trabalhos dos fotógrafos marabaense, além do projeto Retratos Visuais onde fotógrafos de Marabá já registraram as cidades vizinhas como Itupiranga, Bom Jesus e Nova Ipixuna. Galeria de Artes de Marabá No espaço é realizado periodicamente exposições de artistas visuais do Sul e Sudeste do Pará com objetivo de fomentar e democratizar o acesso à produção visual regional, www.revistapzz.com.br 59


ARTES VISUAIS

possibilitando a visibilidade de artistas já consagrados e a descoberta de novos talentos. A galeria recebe diariamente a visita de turistas, estudantes e sociedade em geral que buscam maior conhecimento sobre a cultura local. O público visitante é guiado por profissionais qualificados que aprofundam os aspectos formais e temáticos sugeridos pelos artistas em seus trabalhos. Formação Artística Gratuita para Jovens de Baixa Renda Contribuir para a garantia dos direitos de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social através de atividades artísticas e culturais, é o que vem realizando a Associação dos Artistas Visuais do Sul e Sudeste do Pará – Arma, desde 2005 com projetos sócios culturais realizados em Marabá e região. Inscrito no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente (CMDCA) a Arma promove regularmente cursos de artes visuais, dança, teatro e música, além de atividades de contação de histórias na biblioteca da instituição, bem como acesso a internet no laboratório de informática da Arma. Cine Clube Carajás Com uma programação bem diversificada e dedicada aos fãs do cinema, o “Cine Clube Carajás” realiza em sua sede nas as escolas públicas de Marabá sessões gratuitas de cinema com objetivo de democratizar o acesso à produção audiovisual brasileira. Com filmes independentes a proposta é exibir e discutir produções que estão fora do circuito comercial e privilegiar o debate sobre a produção cinematográfica sempre ao final de cada exibição gerando assim conhecimento para os espectadores. 60 www.revistapzz.com.br

Prêmios e Títulos • Em 2005 foi selecionada como Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura a instituição ampliou seu raio de atuação para os municípios vizinhos, atendendo a artistas e produtores culturais de toda região que procuraram na instituição um ponto de apoio para a promoção e visibilidade de seus trabalhos. • Em 2010 a instituição conquistou o Prêmio de Ponto de Leitura da Fundação Biblioteca Nacional onde ganhou mobiliário e equipamentos para implantação oficial da Biblioteca das Artes; • Em 2010 a instituição também conquistou o Prêmio Asas da Cultura concedido pelo Ministério da Cultura as instituições de excelências na prestação de contas e execução dos seus projetos. • Em 2011 a instituição conquistou o Prêmio de Cultura Digital concedido pelo Ministério da Cultura; • Em 2012 a instituição conquistou o Prêmio Itaú Unicef concedido a instituições que possui projetos de excelência voltada para crianças e adolescentes; • Em 2013 a instituição conquistou o Título de Utilidade Pública Municipal devido aos serviços prestados em prol da cultura local. • Em 2014 conquistou o Prêmio de Leitura novamente concedido pela Fundação Biblioteca Nacional para organizações do terceiro setor para desenvolver o projeto Biblioteca das Artes. • A instituição também possui dois representantes no Conselho Municipal de Cultura de Marabá nas cadeiras de Artes Visuais e Audiovisual. • Arma também possui uma cadeira no Conselho Municipal de Turismo.


ALGUNS DOS ARTISTAS DA ARMA

CREUZA SALAME Com trabalhos que exploram a criatividade e inovação em suas produções artísticas, “Dona Creusa” como é conhecida sempre está se reinventando com novos obras e olhares, destacando-se hoje como artista visual que mais vem produzindo e expondo em Marabá. Com projetos de pesquisas na área e diversas exposições que atraem um grande público de admiradores, a artista vem reutilizando objetos descartados, que são jogados no lixo das construções civis estimulando assim a reciclagem, educação ambiental e a sustentabilidade. A artista utiliza a arte da reciclagem com instalações em seus mais diversos formatos e cores que despertarão a imaginação do público presente.

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ARTES VISUAIS

ELTON LOBO

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Morador do bairro São Felix em Marabá o artista começou a se interessar ainda cedo pelo mundo das artes, iniciando sua trajetória cultural aos cinco anos por influência de seu pai que era desenhista na cidade de Tucuruí. Mestre das cores o artista retrata em seus trabalhos a realidade regional através de personagens históricos como garimpeiros, castanheiros, pescadores e caboclos, que contribuíram para o desenvolvimento econômico da região. O artista que já participou de várias exposições em Marabá e outros estados trabalha com pintura e Desenho e também Arte-educador na Arma.


LÍRIS PIMENTEL

A artista em seu projeto experimental utiliza fotografias em grandes dimensões, para revelar através de uma linguagem contemporânea e inovadora o interior de frutas, legumes e peixes que são descartados pelos comerciantes das feiras livres. As imagens da exposição retratam o que normalmente não é percebido pelo olhar apressado do dia-a-dia e que foi facilmente captado pelo olhar da artista, que percebeu no que foi descartado uma beleza singela e ao mesmo tempo marcante em sua luz, cores e formas. Nas obras da artista há um espaço limiar, não orgânico, simbólico e intersticial, que nos leva ao fundo da arquitetura da fruta e não vemos o que queremos ver, mas sim aquilo que ela nos faz ver. Nesse território do olhar não vale o olhar disciplinado o efeito do que é visto está em quem vê, sedutora e sensual a imagem esta estruturada pelo conceito daquilo que pensávamos ser ela a fruta um fruto desestruturado.

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ARTES VISUAIS

JORGE BRITTO Jorge Britto, membro da Associação dos Artistas Visuais (ARMA), com um olhar diferenciado e apontado como uma das mais novas promessas das Artes Visuais marabaense, o jovem fotógrafo Jorge Britto de 25 anos conquistou seu espaço no meio artístico com trabalhos autorais que revelam o cotidiano, a realidade social e histórica da região. “Vejo o mundo ao meu redor através da minha lente, é através dela que expresso meus sentimentos e emoções, é meu grande amor e profissão. Ela também eterniza momentos únicos, através da foto consigo voltar no tempo, sentir o aroma, o gosto, lembrar do som e sentir saudades” revela o fotógrafo.

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ANTONIO MORBACH O Artista plástico Antônio Morbach vem inovando em Marabá com suas gravuras digitais que são feitas no celular na palma da mão, e que vem chamando atenção do público pela beleza plástica de suas obras que mesmo não utilizando pincel e tinta, mergulha em um grande universo de cores e formas sem esquecer a regionalidade. O projeto que vem sendo desenvolvido desde 2013 pelo artista foi batizado de “Nanquim Digital” homenagem feita aos percussores das artes visuais de Marabá Pedro e Augusto Morbach. Antônio Morbach dando continuidade ao pioneirismo da sua família resolve trocar a tela em tecido pela tela digital o que trouxe algumas vantagens como a

democratização do acesso as suas obras com valores mais acessíveis devido ao baixo custo de matéria prima, pois o trabalho quando é finalizado pode ser impresso em lona ou no papel que o apreciador das artes desejar. Para produzir as obras o artista utiliza aplicativos que são facilmente encontrados em diversos modelos de aparelhos celulares que através de canetas digitais touch screens recebem as suas pinceladas. Com muita inovação e criatividade Morbach vem retratando pontos turísticos como a Igreja de São Felix, Orla na Marabá Pioneira, além de personagens históricos como os ribeirinhos e caboclos que marcaram época na região.

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ARTE

Gileno Müller

augusto morbach

AUGUSTO MORBACH FOI O INTRODUTOR DA TÉCNICA DO BICO DE PENA EM MARABÁ. UM HOMEM SIMPLES DE ALMA INQUIETA DEIXOU UM LEGADO ARTISTICO INCONFUNDÍVEL COM SEUS TRAÇOS FIRMES DE NANQUIM RETRATANDO AMIGOS, A REALIDADE E A NATUREZA FÍSICA E IMAGINÁRIA DE MARABÁ

AUGUSTO BASTOS MORBACH deiEm Morbach vida e obra se fundiram xou-nos emoções e sentimentos puros no entusiasmo pelas descobertas de nonascidos e cultivados nas originais experi- vas opções para expressar os seus (nosências concretas da vida real e vivida. Re- sos) temores e o futuro imprevisível dos teve (as)certas visões do passado, marca- mais legítimos valores regionais. das de surdas e intermináveis incertezas, Registraremos, com especial carinho para despertar-nos nas necessidades pre- pelos originais, que tudo – ou quase – foi sentes. Nos seus impulsos criativos, mais dito, há mais de quarenta anos, o que disdo que formas, tons e pensa as nossas delinhas, encontramos a duções, definições Em Morbach vida e obra se compreensão e a sae adjetivos, mesfundiram no entusiasmo pelas tisfação substitutiva mo nesta edição ao que para ele foi im- descobertas de novas opções para artesanal e para portante e necessário reduzido consumo no vale do Tocantins expressar os seus (nossos) temores afim. Desse modo, e o futuro imprevisível dos mais mesmo dispondo, – Araguaia. Exteriorizando agora, de um valegítimos valores regionais. com autenticidade lioso referencial, e rara nobreza imagens interiores, en- não objetivamos violar a simplicidade volveu-nos com a sua arte de temática do artista, ou promover-lhe a modéstia. inquietante para que, deliberada e cons- Adotaremos as origens, os depoimentos cientemente, ficasse o criador em paz. mais sinceros e conseqüentes, por saberEm Morbach, vida e obra se fundiram no mos menos oportuna a nossa tentativa entusiasmo pelas descobertas de novas de revelar Augusto Bastos Morbach, por opções para expressar os seus (nossos) todas as reticências recolhidas em nostemores e o futuro imprevisível dos mais sos encontros incompletos. legítimos valores regionais. 66 www.revistapzz.com.br

Augusto Morbach Técnica: Nanquim em papel Acervo: Galeia Elf


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ARTE

ARTISTA PLÁSTICO Em Nanquim sobre papel - vagueando do nanquim propriamente dito ao desenho com lápis, ou até mesmo a caneta - como se verifica em alguns esboços Morbach foge as definições mais usuais, devido a criatividade e diversidade de materiais improvisados como em Óleo sobre tela ou Óleo sobre Eucatex - Morbach também utilizava a face áspera: Óleo sobre madeira - conhecemos pinturas em cedro, mogno, piquiá, acapu, sucupira, angelim-pedra e muiracatiara. A madeira convencional não exercia sobre Morbach maior motivação, porquanto preferia descobrir harmonias nas veias das madeiras duras, ou nas rajas da muiracatiara e do angelim-pedra. Algumas obras, como “Acará Bandeira”, “Uirapurú” e “Retirante” apenas revelam a ilustração das cores da natureza. A madeira lhe permitia comunicação mais direta, na medida em que dispensava a moldura como proteção ou forma de adaptação da obra no contexto. Esboços - As artes emocionavam Morbach, com a mesma intensidade que os símbolos do “vale”. Todavia, ainda que os esboços, sempre feitos em papel de qualidade inferior, possam identificar projetos recusados pelo artista, neles se identifica técnicas e sensibilidade.

Algumas obras, como “Acará Bandeira”, “Uirapurú” e “Retirante” apenas revelam a ilustração das cores da natureza. A madeira lhe permitia comunicação mais direta, na medida em que dispensava a moldura como proteção ou forma de adaptação da obra no contexto. 68 www.revistapzz.com.br


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ARTE

• 1911 - Filho de Frederico Carlos Morbach e Rosa de Lima Bastos Morbach, nasce em 9 de fevereiro , em Santo Antonio da Cachoeira, hoje município de Itaguatins, no norte do Estado de Goiás, na casa do coronel Augusto Cezar de Magalhães Bastos, seu avô. • 1917 - Órfão aos seis anos passa ao convívio de Arthur Guerra Guimarães casado com sua tia Vicência Bastos Guimarães. Nessa dependência, enquanto a tia ensina-lhe as primeiras letras, o tio recusa os desenhos que tira, a carvão, pretendendo que o ascendrado realismo temático seja substituído pela alegoria, por motivos alegres. • 1913 - Os trabalhos de Augusto Morbach não são estimulados pelo tio, secretário do Conselho Municipal de Marabá por este não julgar conveniente a divulgação de imagens negativas da região. • 1919 - Aos oito anos de idade, incorporado à família de Arthur Guerra Guimarães, passa a residir na sede do município de Marabá. • 1920 - O juiz Ignácio de Souza Moitta – em Marabá desde o ano anterior – instala e mantém o educandário Arthur Porto, que terá como discente Augusto Morbach. No educandário cultiva estreita amizade com o seu diretor, juiz Ignácio Moitta – seu padrinho de crisma – e com sua esposa, a professora Arzuilla Horta de Souza Moitta. Enquanto o juiz, como intelectual, incuti-lhe o gosto pelos clássicos, a esposa ensina-lhe as únicas noções que recebeu de ritmo, forma, espaço, luz e sombra. • 1925 - retrata a lápis o “querido mestre amigo”, juiz Ignácio Moitta, no que se constitui a sua mais antiga criação de que se tem noticia. • 1932 – casa-se com Doralice Fontenelle Morbach, em 12 de novembro, em Porto Franco, no Estado do Maranhão, a quem, quando monitor no educandário Arthur Porto, havia ensinado História e Geografia, com quem teve 4 filhos: Frederico, Pedro, Carlos Arthur e Rômulo. Nessa época, como registrou, “hiberna na vida da castanha”, como intermediário entre o castanheiro e o aviador, ainda amargurando a negativa do Secretário Geral do Estado, que recusou sua matricula nos estabelecimentos de ensino da capital. • 1935 - ingressa no serviço público ocupando, em curto período, o cargo de administrador das feiras e mercados da Prefeitura Municipal de Marabá. Neste 70 www.revistapzz.com.br

mesmo ano, morre seu tio Arthur Guimarães, em 12 de novembro, e ele assume os encargos de chefe da família. • 1939 - com o comercio dos castanhais arruinado pela Segunda Guerra Mundial, passa a dedicar-se ao garimpo e extração de madeira. Mal sucedido no garimpo, perde três fazendas em Goiás e hipoteca o castanhal “Balão”, para saldar os compromissos. • 1940 - conhece, acidentalmente, em Marabá, Libero Luxardo, a quem retrata num esboço. Descobrindo o artista, Líbero Luxardo pede-lhe que ilustre o seu poema Tocantins, Rio de Três Estados. E, antes de editado o poema, em Belém, promove exposição, das 14 ilustrações realizadas por Augusto Morbach, as quais emocionam a intelectualidade da época , reunida em torno das revistas Novidade e Terra Imatura. • inicia colaboração na revista Novidade, de Otávio Mendonça e Inocêncio Machado Coelho, na forma de ilustrações, capas e artigos; ilustra Terra Imatura, revista dirigida por Cléo Bernardo de Macambira Braga. • Publica, na edição de agosto da revista Novidade um poema de sua autoria, intitulado “Dentro da noite à luz clara do luar.” • participa do I Salão Oficial de Belas Artes, realizado na Biblioteca e Arquivo Público do Estado, sob a inspiração do diretor da mesma, Dr. Osvaldo Viana, obtendo segundo prêmio. • 1941 - concorre no II Salão Oficial de Belas Artes, obtendo o primeiro lugar com o desenho “A admiração do índio”. • 1954- retorna ao serviço público, desta vez como secretário da Prefeitura Municipal de Marabá, cargo no qual permaneceu até 1961, quando vem residir com a família em Belém e assume a função de procurador da Prefeitura Municipal de Marabá. • 1962 - realiza com João Pinto, mostra de desenhos na sede social do Clube do Remo. Como registrou o escultor João Pinto, além de ceder-lhe espaço, divulgou e vendeu seus trabalhos. • 1963 – colabora com “O Cinqüentenário”, número único do jornal comemorativo do cinqüentenário da criação do município de Marabá, editado em 5 de abril peal tipografia Rocha.

• 1964 – ingressa, em 1 de março, no Jornal do Dia, como ilustrador, atendendo ao convite de Cláudio Sá Leal. • Finda a relação de emprego com o Jornal do Dia, a 1 de abril, quando encerra a sua circulação. • 1966 – figura como chefe de redação do jornal O Democrata, de Marabá, cujo primeiro número circula a 1 de novembro, sob a direção de Helius Monção e de propriedade de Aziz Mutran Neto. • 1968 – juntamente com um de seus irmãos, Antonio Bastos Morbach, edita a revista Itatocan. • 1973 – com Pedro Morbach, seu filho, inicia a 15 de janeiro, mostra de desenhos na Galeria Angelus , sob o patrocínio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Pará, presidido por João Batista F. Marques. • 1974 – Aposenta-se do serviço público municipal de Marabá. Os proventos foram transferidos, posteriormente, à viúva, sem maiores formalidades. • 1976 – Inicia, a 14 de maio, mostra de desenhos na Galeria Angelus, sob o patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, e com a coordenação de Eduardo Abdelnor. • 1978 – É incluído na coletiva 17 artistas do Pará, inaugurada a 14 de fevereiro, na Galeria Theodoro Braga, como parte das comemorações pelo primeiro centenário de fundação do Theatro da Paz. • 1979 – Inicia, em 25 de abril, na Galeria Theodoro Braga, mostra de desenhos e pinturas, sob o patrocínio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SEMEC. • Atendendo ao convite da Secretaria Municipal de Educação e Cultura SEMEC faz dez desenhos em nanquim sob papel, com vistas ao projeto de natal. • 1980 – É incluído na coletiva “13 anos de arte em Belém”, coordenada por Sebastião Godinho e realizada nas galerias Angelus e Theodoro Braga, simultaneamente, no período de 10 a 18 de junho. • Inaugura, a 1 de outubro, mostra de desenhos e pinturas na galeria Theodoro Braga, sob o patrocínio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. • 1981 – falece no Hospital São Luiz – em conseqüência de insuficiência respiratória e cardíaca e enfisema pulmonar – a 22 de fevereiro.


MORBACH PINTA COMO QUEM FAZ VERSOS Por Otávio Mendonça

E eu não quis nem o pude deixar de trazerlhe meu entusiasmo leigo pela sua grande arte espontânea e desconheccida. Arte que brotou de repente e trouxe logo ineditamente toda a força original e desconcertante de seu ambiente peculiar. Arte onde se agita como num cromo, cheia de colorido a mais difícil paisagem tropical e onde desponta quase em contraste, uma estética profunda e definitiva. Quando, em 1940, Líbero Luxardo trouxe como um garimpeiro, o primeiro diamante de nanquim que Morbach apresentava, Belém se extasiou, assustada de possuir aqui perto, o maior de seus artistas do gênero, e até então ignorado. É que Augusto Morbach tem na personalidade o mesmo traço íntimo e distante que imprime aos seus desenhos. Ele nunca desceu o Tocantins... Não vejo jamais a Cametá. Só sabe do pincel o que Deus lhe ensinou. E perdido no Castanhal, sujo, pobre, ankilosado, faz, por distração, os traços do mais vigoroso lápis paraense. A gente não sabe afinal se não é melhor assim. E chega a supor que talvez ele se tivesse diminuído com a civilização e se esvaísse no rumo das capitais a grande natureza que é o inédito e o sublime de sua arte. Chega-nos agora um ano depois a sua fotografia e no rosto magro, nos olhos fundos, na fantasia de Lampião, ninguém consegue ver mais do que o típico e clássico tapuio da Amazônia, atestando, num relance, o destino inteiro de sua epopeia de maior porque mais abandonado homem brasileiro. Augusto Morbach é hoje o caso mais sério da arte paraense. O Primeiro Salão de Belas Artes, deu-lhe um segundo prêmio que é uma ironia, quando os trabalhos que apresentou foram os únicos que realmente ewram novos, próprios, inventivos do certame. Ilustrador sem mestre e sem escolas tirando do mato e do rio os segredos de sua harmonia, MORBACH, é espontâneo como a Castanheira que trabalha e representa o maior fruto nativo da nossa cultura de hoje. Por isso, eu lhe quis prestar de repente, no meu nome e no de NOVIDADE, esta homenagem, sem pretexto nem explicação, que é todo o símbolo de nosso agradecimento e de nossa admiração.

AUGUSTO MORBACH

Texto de Otávio Mendonça, extraído da Revista Novidade, 1941.

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ARTE

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EXPOSIÇÕES 1. Libero Luxardo menciona que Augusto Morbach fez 14 ilustrações, em nanquim sobre papel, para seu poema Tocantins, Rio de três Estados e que as mesmas foram expostas em Belém. Todavia, não encontramos maiores indicadores sobre a mostra. 2. Particpa, em 1940, do I Salão Oficial de Belas Artes, realizado na Biblioteca e Arquivo Público do Estado, obtendo o segundo prêmio. 3. Concorre no II Salão Oficial de Belas Artes, realizado na Biblioteca e Arquivo Público do Estado, em 1941, obtendo o primeiro lugar com o desenho “A admiração do índio”, o qual integra a coleção de Maria Lúcia De Souza Moitta Koury. 4. Em 1962 – juntamente com o escultor João Pinto – realiza exposição na sede social do Clube do Remo, quando, inclusive, dois de seus trabalhos foram adquiridos pela Universidade Federal do Pará. 5. Em 1963, participa, sem concorrer, do I Salão de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará. 6. Em 1973, no período de 15 a 30 de janeiro, com seu filho Pedro expõe desenhos na galeria Angelus, sob o patrocínio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Pará. 7. De 14 a 24 de maio de 1976, volta a galeria Angelus, sob o patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, e mostra organizada por Eduardo Abdelnor. 8. Em 1978, é incluído na coletiva 17 artistas do Pará, que marcou a inauguração da Galeria Theodoro Braga. 9. Em 1979, realizou mostra de desenhos e pinturas na galeria Theodoro Braga. Nesta oportunidade, apresenta, pela primeira vez, trabalhos em óleo sobre madeiras nobres da amzônia. 10. É incluído na coletiva 13 anos de Arte em Belém, realizada simulteneamente nas galerias Angelus e Theodoro Braga, no período de 10 a 18 de junho de 1980, sob a coordenação de Sebastião Godinho. 11. Na última mostra realizada na vida, expõe - na galeria Theodoro Braga, de 1 a 8 outubro de 1980 – desenhos e pinturas, sob o patrocínio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

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ARTE

“Agora mesmo o autor do filme "Aruanã", Libero Luxardo descobriu em Marabá um desenhista fabuloso mesmo. Chama-se Morbach. Seus desenhos têm muita coisa de "terreur", de bruto, de essencialmente amazônico. Aquele grande amigo que é Nunes Pereira, insatisfeito e vigoroso Nunes Pereira com a sua dispersão e os seus pés infatigáveis, rompendo todos os caminhos da Amazônia, metido com índios, peixes, selvas e febres, Nunes achou em Morbach aquilo que ele entendia como verdadeira interpretação da paisagem e da humanidade na Amazônia”..... Dalcídio Jurandir em Tragédia de um escritor do Norte.

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ARTE

“MARABÁ” O Livro MARABÁ de Líbero Luxardo teve a ilustração da capa feita por Augusto Morbach. Nesse romance Morbach é personagem que dialoga com Aldo, alter ego de Líbero.

E

m 1940 Morbach conhece, acidentalmente, em Marabá, Líbero Luxardo, a quem retrata num esboço. Descobrindo o artista, Líbero Luxardo pede-lhe que ilustre o seu poema Tocantins, Rio de Três Estados. E, antes de editado o poema, em Belém, promove exposição, das 14 ilustrações realizadas por Augusto Morbach, as quais emocionam a intelectualidade da época, reunida em torno das revistas Novidade e Terra Imatura. Além disso, o Livro MARABÁ de Líbero Luxardo teve a ilustração da capa feita por Augusto Morbach. Nesse romance Morbach é personagem que dialoga com Aldo, alter ego de Líbero. Alguns trechos do romance: (...) e aquelas morosas caminhadas ao lado de Morbach, ouvindo a sua história angustiada de artista insatisfeito. Morbach surgiu numa noite de inúteis discussões. Haviam terminado o jantar. Benjamim aparecera no salão com o seu indefectível guarda-chuva. O chapéu de feltro claro , sombreando os olhos escuros. Trazia as últimas notícias do rádio. Por esse tempo, a heróica França ainda lutava. Os ânimos erguiam num desusado calor, até que

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os choques apaixonados afugentavam os tímidos que se iam "peruar" a "sinuca", ou expor a cabeça escaldada, ao frescor da noite, na praça que fica defronte da Prefeitura. Morbach não falava. Nervoso, policiava o pensamento. Os olhos pisca-que-pisca atrás das lentes de aumento, dirigiam-se, irrequietos, de canto a canto, de um a um. Ria-se, às vezes, e ia queimando cigarros sobre cigarro. Ele e Aldo, saíram, dando demorada volta pela praça . Foram à sinuca. Jogaram, Aldo perdeu. Já era tarde. Rumaram ao café da Bebela. Quase meia noite. No dia seguinte, um menino levou à pensão um embrulho que Aldo abriu, verificando, surpreendido, que era o seu retrato. Desenho a pincel, com tinta azul, comum, na entrecapa de um livro de contas-correntes. Num grosseiro papel de embrulho estava escrito: É um esboço. Não sei se presta. Rasgue-o, se não gostar. - Morbach" . . . . Aldo identificou-se, desse modo, com o extraordinário artista, que é Augusto Morbach. Um contemplativo. Um receptor de profunda sensibilidade e aguda penetração. Sua arte refletia

grande tortura, e um desejo quase divino de atingir a própria perfeição. Arte estranha e sugestiva. Seus traços seguros, demonstravam uma consciência definida, uma organização completa e clara, orientada num sentido novo, o qual sem ser revolucionário , possuía um poder de interpretação tão lúcido, de maneira que, mesmo invertendo totalmente a cor da coisas, os contornos plasmados segundo a sua sensibilidade criadora, não modificava, na essência , o sentido emocional da paisagem original. Morbach era simples. Um temperamento bucólico. Calmo,lento no andar, pausado no falar, parecia uma paisagem amazônica vista em superfície, porque em verdade é ela um tumulto díspar que avassala e enlouquece. Sua vida era uma epopéia. Um correr incerto , atrás da estabilidade, numa tentativa para abandonar a vida prosaica de pequeno negociante, e conseguir dedicar-se, um dia, inteiramente,à sua arte. Pobre, de seu trabalho rústico na castanha, arrancava o pão para o lar. E nem sempre os fados lhe eram propícios. Os anos bons serviam apenas para tapar os buracos abertos pelos maus ... E assim ia vivendo. o artista era feliz, porque encontrava na sua arte meios para esquecer as próprias agonias. Assim vivia Morbach. As vezes . . . a selva tornava-se amiga. Ele a compreendia muito bem. . . As coisas iam mal? Não havia remédio ? - Então, embrenhava-se nas matas . Espingarda ao ombro, absorto, "siderando" na espera, sondando uma onça, um tapir, ou um caetetu. O tempo passava . .. Nem sempre o artista dispunha de dinheiro para o papel , os pincéis e a tinta . . . Custavam tão caros ! ••• Foi do Dr. Abílio que boiou a ideia, Morbach ilustraria um poema que Aldo escrevera sobre o rio Tocantins. Feliz ideia, porque foram esses desenhos que o tornaram conhecido mais tarde em Belém do Pará. Morbach fez sucesso. Os intelectuais paraenses não lhe regatearam encômios. Fizeram, aliás, a justiça que era de esperar-se e Morbach, que hoje procura a fortuna nos aluvionais diamantinos do Tocantins, entregue à rude garimpagem, por certo agradecera as palavras de admiração e estímulo da culta mocidade que formou a brilhante plêiade de "Terra Imatura", revista da época.


GARIMPEIROS

MORBACH ESCREVE DE MARABÁ PARA NOVIDADE Novidade, Fevereiro, 1941

N

o "Brasil de minha alma atormentado e aflito" - fica essa Amazônia, verde, grandiosa e rica. Todo mundo sabe disso mas, o que o resto do mundo não sabe nem conhece, é a mizéria em que vive essa milionária. O braço mestiço que tentou desbravá-lo no tempo dos cauchais, feriu-o de mnorte em vez de domá-lo. A Amazônia surgiu aos olhos do mundo maravilhado, brincando com o dinheiro, um fausto que causava inveja - mas, aquela época nos fez recordar a magnificência da corte portuguêsa ao tempo de Napoleão - Os fidalgos cobriam a peruca

com poeira de ouro das minas brasileiras. E vestiam seda e se afogavam em rendas maravilhosas e eram lestos no minueto, românticos na gavota. E tinham a graça exigida pelos salões aristocráticos. Daí, veio Junot, em nome do ilustre, mostrar-lhes a verdade da coisa, o reverso da me... O rumor dos votos franceses, com aquele mundo elegante, sem trabalho, sem sangue. Vem o ardor de um combate. Aquilo era sonho... Quando a crise veio, dissolveu também com um sopro apenas, a magnificência dos nababos Amazônicos. Porque o caucheiro matou a árvore

da vida Amazônica. E os guias da terra dominam afogados em ouro e a vida era fácil. O inglês levava as sementes carinhosamente e o caboclo mutilava os cauchais. Agora que a guerra exige mais pneumáticas e apresenta mil e uma aplicação para o látex - só a lembrança perdura, nos monumentos nque ficaram como testemunhas daquela vida que o vento levou - O caucho não existe mais. Veio a castanha. E já se passaram trinta anos dessa outra fase - desapareceram os botes a remo, morosos e inseguros. Vieram os motores rápidos. Tudo no Brasil envolve com o tempo - A castanha continua sem amparo, como o caucho, e qualquer vento virá como esse que ameaça lá das bandas da Europa fará desaparecer tudo. A garimpagem, por exemplo, que nada aproveita aos cofres do Estado, ameaça a castanha - Há uma das charadas amazônicas - Ao lado de uma riqueza, outra maior e por isso mesmo a região paradoxalmente ameaçada de sofrer as agruras de uma crise desastrosa. O braço mestiço, cansado de sofrer, encontrou no garimpo a porta de saída da jaula em que sempre viveu. E a ameaça continua, porque ninguém cuidou, durante tanto tempo, de arredar as pedras do caminho por onde se segue, sem saber para onde, esse jeca-tatu, pançudo, triste e humilde, quando não é por demais arrogante e agressivo. Uma advertência de Bruno de Menezes: "as flores dos lagos, orquídeas da mata, não servem ao homem que a febre acabou". Infelizmente até hoje, da Amazônia, só tem feito propaganda das flores dos lagos e orquídeas da mata. A "Brasil Vuts" aparece agora no resto do Brasil como na amendoa vinda dos confins da oceania ou das costas d'África, numa propaganda tardia. De Bruno, outra advertência que deve estar presente nas carteiras governamentais: "Agora que o tempo da inercia vai longe, voltemos ao homem escravo na terra, que espera o futuro mas não despertou!

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ESPECIAL

casa

da cultura

A Fundação Casa da Cultura de Marabá - FCCM é uma referência para pesquisadores, turistas estudantes, artistas, enfim para todos que quiserem conhecer melhor este Sudeste paraense. Como surgiu a Fundação Casa da Cultura de Marabá: A FCCM surgiu em 1982 com o Grupo Ecológico de Marabá (GEMA). A organização do GEMA veio da preocupação com as grandes transformações que iriam ocorrer na região com a implantação do Projeto Grande Carajás (PGC). Os grandes projetos do PGC indicavam um cenário critico e de alerta para a preservação da Memória Regional. As pesquisas sobre meio ambiente e antropologia exigiam um espaço adequado para serem desenvolvidas. Assim, em 15 de novembro de 1984 o prefeito de Marabá, Bosco Jadão, converteu o GEMA transformando-o em Fundação Casa da Cultura de Marabá, dando-lhe novas atribuições e assentando-o na escola José Mendonça Vergulino (onde mantinha sua sede). O local onde hoje se assenta sua sede, na Nova Marabá, foi doado á instituição em 1987 pela CVRD atual VALE . A Casa da Cultura, a partir de sua criação ampliou suas atividades para captação de materiais tanto da cultu78 www.revistapzz.com.br

ra material como imaterial, ampliando ainda mais o acervo e salvaguardando a memória não só de Marabá, mas de toda a região. Características Como instituição de pesquisa pautada principalmente no resgate histórico, a FCCM está subdividida em diversos setores como Arquivo Histórico,

A Casa da Cultura, a partir de sua criação ampliou suas atividades para captação de materiais tanto da cultura material como imaterial, ampliando ainda mais o acervo e salvaguardando a memória não só de Marabá, mas de toda a região. Arquivo Fotográfico, Botânica, Biblioteca, Escola de Música, Núcleo Arqueologia, Núcleo Espeleólogo, Pinacoteca Municipal, etc. A FCCM tem o apoio e orientação do Museu Paraense Emílio Goeldi e tam-

bém trabalha em conjunto com as universidades UNIFESSPA e UEPA. Como Museu Histórico, natural e antropológico, a FCCM abrange cinco setores: 1. Antropologia; 2. Arqueologia; 3. Botânica; 4. Geologia; 5. Zoologia. RECONHECIMENTO Durante os 30 anos de Fundação Casa da Cultura, muitos foram os gestos de reconhecimento prestados à Instituição, por seus serviços e ações que engrandeceram a cultura regional. Mas, provavelmente o maior de todos tenha sido o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, recebido em 1999. Noé von Atzingen, presidente da Fundação na época e coordenador do projeto vencedor, “Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural”, foi pessoalmente receber as honras pelo trabalho. Ele explica o significado daquele dia, na história da Casa e da ci-


Noé von Atzingen recebendo o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

dadede Marabá: “Foi muito importante, para nós, o reconhecimento nacional da Casa da Cultura, pois levou o nome de Marabá a nível nacional, já que só se falava de Marabá sobre enchentes, violência, mortes; a visibilidade ainda era muito negativa. Então isso ajudou bastante a divulgar a Casa da Cultura e o trabalho que nós temos feito, como também divulgou a cidade de Marabá de uma maneira positiva”. Além do reconhecimento momentâneo, ao receber as honras e o dinheiro em Brasília, o melhor do prêmio veio depois: o reconhecimento pelo trabalho sério e de qualidade que a Casa sempre desempenhou rendeu-nos muitas parcerias e projetos que só tiveram as portas abertas após o ano de 1999, e que hoje basicamente mantêm o funcionamento da instituição. Desde então houve uma ampliação da visão e das ações, no sentido de preservação da cultura e da memória. As atividades se intensificaram ao ponto de, mais uma vez, 15 anos depois da primeira honraria, a Casa da Cultura de Marabá estar concorrendo nova-

Fundação Casa da Cultura de Marabá - FCCM Durante os 30 anos de Fundação Casa da Cultura, muitos foram os gestos de reconhecimento prestados à Instituição, por seus serviços e ações que engrandeceram a cultura regional.

mente ao prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade: “Agora com 30 anos de Casa da Cultura conquistamos novamente o Premio através do projeto “Balsa de Buriti”, é uma honra pra todos nós, declara Noé.”

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ESPECIAL

Artistas maranhenses reunidos na Exposição Marabaense Nanquim Amazônico - São Luiz/MA.

Pinacoteca Municipal

Pedro Morbach Por Cátia Weirich

N

ascida após uma exposição realizada no Clube da Maçonaria em 09 de outubro de 1984, a Pinacoteca Municipal Pedro Morbach assim foi nominada em homenagem ao ilustre poeta e artista plástico marabaense. Com a doação de dez obras de sua autoria, todas elaboradas com a técnica bico-de-pena em nanquim, iniciou-se o acervo da primeira instituição de arte marabaense. Criada oficialmente pelo Decreto Legislativo nº 340/98 de 22 de junho de 1998, atualmente a PMPM possui um acervo de 786 obras, dentre as quais se encontram trabalhos elaborados nas mais diversas técnicas, tendo como destaque sua maior coleção, na técnica bico-de-pena em nanquim. Exposições periódicas, individuais e coletivas, com obras dos artistas regionais são as principais atividades da Pinacoteca Municipal Pedro Morbach. Ademais, orientações de pesquisas sobre arte, empréstimo de obras para órgãos e instituições publicas, promoção de oficinas de artes visuais (desenho, pintura, escultura) e monitoração de visitantes complementam as tarefas do setor. A Pinacoteca Municipal Pedro Morbach conta hoje com cerca de 90 artistas plásticos das mais variadas linhas de trabalho, cadastrados em nosso sistema, com os quais mantemos parcerias para desenvolvermos oficinas, exposições, rodas de conversa e palestras em Marabá e região.

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Desenvolvemos vários projetos de apoio à disseminação e desenvolvimento das artes plásticas, principalmente o Bico de pena/nanquim, a respeito do qual temos o orgulho de dizer que somos uma Escola. Dentre estes projetos estão “Rede Pará-Maranhão de Artes Visuais”, financiada pela FUNARTE, o qual levou a São Luiz e a Imperatriz, no estado do Maranhão, uma exposição com 42 obras de 7 artistas marabaenses, bem como oficinas referentes a esta técnica. Dentre seus objetivos e finalidades principais estão: 1. A difusão da cultura e produção artística regional, com a utilização de obras que integram um significativo acervo; 2. O fomento à criatividade e ao exercício da cidadania através da arte; 3 O estímulo aos visitantes e público em geral a tornarem-se conhecedores, pesquisadores, admiradores e colaboradores do saber artístico-cultural de Marabá e região.


RODA DE LEITURA COM O ESCRITOR ADEMIR BRÁS

Entrega de certificado da Oficina de Nanquim no Museu Histórico do Maranhão.

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ESPECIAL

Cátia Weirich

bico de pena em marabá

A arte do bico de pena EM MARABÁ TEVE sua introdução por Augusto Morbach (1911-1981), E a difusão dESSA técnica entre os artistas marabaenses formou uma verdadeira escola artística, com destaque para O grupo de teatro encenação interpreta o ato da Pedro Morbach, Antonio Morbach, Domingos Nunes, Rildo cabanagem, com ação e romance. Belém em seus 400 Brasil, China, Barros e Milhomens, Walney Oliveira e Wendas Mirandada COM Temáticas anos revive na peça um dos atos mais importantes recorrentes a realidade regional e a inovações quanto ao suporte. história amazônica.

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FOTO: AFRÂNIO BRITTO

Obra: Beira Rio / 1995 Autor: Rildo Brasil Técnica: Nanquim em papel Acervo: Pinacoteca Municipal Pedro Morbach

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ESPECIAL

O INÍCIO DO BICO-DE-PENA EM MARABÁ A técnica bico de pena chegou em Marabá com Augusto Morbach (1911 - 1981) o qual tinha uma alma simples e extremamente bonita. Dentro da alma, bem no amago desta, tinha um caleidoscópio magico, que ele representava com desenhos que se multiplicavam com seus traços firmes de nanquim. Retratava tudo o que Ihe causava admiração: pessoas, prédios antigos, animais, igrejas... A criação lhe exigia esforços sobre-humanos quando o esmero se fazia vital a conclusão da obra. Nascido em Santo Antônio da Cachoeira, atual Itaguatins, no Estado de Goiás hoje Tocantins, Augusto chegou ao Pará no ano de 1919 e fixou residência no município de Marabá. O contato que manteve com o povo da região foi determinante em sua obra que iniciou através dos ensinamentos que Dona Arzilla Moitta, esposa do Juiz Inácio Moitta, lhe ministrou. Morbach ficara órfão aos 6 anos de idade e desde então viveu com sua tia Vivência Bastos Guimarães esposa de Arthur Guimarães. Inácio o encaminhou a literatura clássica. Morbach já nutria há algum tempo uma sede por conhecimento não somente no campo da literatura, mas também da pintura. Os reveses econômicos, no entanto, atrapalharam os anseios do pintor, que se viu após a morte de seu tio Arthur, com maiores responsabilidades em casa. Tempos depois, já casado com Doralice Peres Fontenelle, teve o encontro com Líbero Luxardo, escritor e poeta paraense, que o convidou a ilustrar um de seus poemas que já seriam editados, o “Tocantins, rio de três estados”, do aceite do convite resultaram 14 ilustrações que compuseram uma exposição em Belém. Daí por diante, começou a destacar-se com suas obras retratando a beleza da natureza, a gente, as conquistas e o sofrimento do povo local. Redator-chefe do jornal “O Democrata” de Marabá, Morbach foi uma das figuras mais queridas e admiradas das artes do nosso Estado. Augusto Morbach faleceu em 1981, em Belém, onde residia desde 1961. (Jornal O Liberal/ 1990) Curiosamente esse talento familiar continuou, pois temos Pedro Morbach, nascido em 1935, filho de Augusto e, sem dúvida nenhuma, o maior herdeiro dos dotes artísticos do pai. Pedro vive exclusivamente de sua arte, com vitoriosas exposições realizadas pelo Brasil. (em 1969, no Teatro 84 www.revistapzz.com.br

Obra: Corrida de toras Autor: Rildo Brasil Técnica: Nanquim em papel Acervo: Pinacoteca Municipal Pedro Morbach


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ESPECIAL Nacional de Brasília; em 1973, na Galeria Angelus, em Belém juntamente com o pai; em 1975,197 1984 novamente em Belém; em 1978, em São Paulo; em 1974 e 1987, em Marabá; em 2008 e 2009, na Elf Galeria, em Belém). Já dizia em 1987 Pedro Morbach, em uma de suas entrevistas ao Correio do Tocantins: “A pintura faz parte da minha vida. Creio mesmo que eu antes mesmo de engatinhar já fazia alguns rabiscos no chão da minha trajetória. Hoje, embora não tenha seguido nenhuma escola de artes, faço do meu trabalho um reviver das raízes culturais da minha região. Talvez a denúncia de todos esses crimes que estão sendo cometidos à sua ocupação irracional. Quero ver se pelo menos esses registros

“A pintura faz parte da minha vida. Creio mesmo que eu antes mesmo de engatinhar já fazia alguns rabiscos no chão da minha trajetória. Hoje, embora não tenha seguido nenhuma escola de artes, faço do meu trabalho um reviver das raízes culturais da minha região. Talvez a denúncia de todos esses crimes que estão sendo cometidos à sua ocupação irracional.” servirão para marcar um tempo muito bonito que já é saudade. Antigamente eu e alguns companheiros de minha infância saíamos por aí, como diz Casemiro de Abreu, de camisa aberta ao peito e pés descalços, braços nus, correndo atrás dessa natureza maravilhosa que agora estão destruindo. Para mim, o ingresso de Marabá no ciclo industrial é o começo da agonia de uma vida que já foi vivida e que agora vai ser somente retratada nos trabalhos dos artistas e dos poetas da região. Que pelo menos esses prevaleçam”. Posteriormente, o neto de Augusto Morbach, Antonio Morbach, nascido em 27/02/1959, também reproduz suas interpretações da realidade regional em obras incomparáveis, inicialmente em bico de Pena e, em seguida, utilizando outras técnicas. Essa continuidade da técnica pela familia Morbach fez com que em muitas salas de famílias de Marabá haja uma obra do Augusto ou do Pedro Morbach, difundindo e valorizando ainda mais a técnica do bico de pena/ nanquim. 86 www.revistapzz.com.br

Com o intuito de entendermos melhor o amor, a criatividade e acima de tudo, o talento dos artistas locais, conversamos com Domingos Nunes. Ele no relata como e quando percebeu e, consequentemente, desenvolveu suas habilidades com o desenho e a técnica bico de pena em nanquim. "Desde o tempo de primário já fazia desenhos a lápis, inspirado nos filmes faroeste e espadachins que costumavam ser exibidos nos matines de domingo no Cine Marrocos. Ainda no primário, pelos meus 9 ou 10 anos, percebia que me destacava entre meus colegas pelas capas de trabalhos bem desenhadas. Passei, então, a desenhar com caneta "bic". Com 13 anos comecei a pintar com tinta a base d’água. Mas algo me encantava, as obras de Augusto Morbach, as quais eu observava atentamente, em visitas ao palacete da Prefeitura Municipal onde meu pai trabalhava. Consegui então dinheiro para comprar minha primeira caneta- tinteiro e iniciei meus trabalhos com bicode-pena aos 19 anos. Passei a vender meus trabalhos e fui descoberto pela Fundação Casa da Cultura. Realizei minha 1ª exposição com apoio do Prof. Noe Von Atzingen, grande articulador da cultura em nossa cidade e região. Essa exposição teve grande repercussão popular, o que expandiu o conhecimento da população e fez com que eu vendesse muitas obras. Pouco tempo depois, minhas obras, juntamente com a de outros colegas, foram levadas para o exterior, mais especificamente para a Alemanha, onde passaram um ano em exposições. E gratificante ver um sonho se realizando. Hoje pinto telas em óleo, que tem boa aceitação no mercado, e dessa forma vou galgando degraus em minhas conquistas." O que nos chama atenção e nos causa admiração nesses artistas e sua capacidade de adaptação da técnica, de forma autodidata. Podemos citar como exemplo disso os artistas Ronaldo Pimentel, que utiliza fundos de caixas de fosforo como base em seu miniaturismo com bicode-pena; Netinho da Princesa, com sua técnica mista em bico de pena e giz de cera; Walney Oliveira e Herval Rossano, que trabalham com o desenho em bico-de-pena/nanquim sobre folhas desidratadas, um trabalho esplendoroso e descoberto por acaso, como nos relata o artista Walney Oliveira: “No ano de 1999, quando ainda trabalhava na Fundação Casa da Cultura de Marabá como técnico em administração da Pinacoteca Municipal Pedro Morbach, descobri por acaso uma de minhas melhores habilidades, a de desenhar na superfície de folhas colhidas nas árvores. Ocorreu que em um determinado dia, ao desenhar em uma folha de Clitória fui aconselhado pelo Biólogo Noe Von Atzingen a explorar mais essa técnica.

Obra: Bajaú Breu / 2012 Autor: Antonio Morbach, Arcevo do artista.


Obra: A Derrubada / 1993 Autor: Barros e Milhomen Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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ESPECIAL

Obra: Pesca IndĂ­gena Autor: Domingos Nunes Ano: 1997

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Obra: Enchente em Marabá / 1996 Autor: Rildo Brasil Acervo: Pinacoteca Municipal Pedro Morbach

Os primeiros trabalhos foram feitos em folhas prensadas em livros. Com o apoio do Professor Noé, foi possível identificar e catalogar inúmeras folhas da região, além de melhorar o processo de desidratação das folhas em estufa apropriada e o acondicionamento correto das mesmas. Os primeiros trabalhos foram todos adquiridos pelo Professor Noé, como forma de incentivo a produção de outros, com cada vez mais qualidade. Hoje, já é possível encontrar alguns desses trabalhos em várias cidades do Brasil, e até mesmo em outros paises, como Alemanha na cidade de Berlim, no Canadá, em Portugal e na Itália. Os motivos pelos quais ainda continuo a desenhar com nanquim em superfície de folhas previamente desidratadas, e para manter uma linha de trabalho com uma característica própria, e também para denunciaras agressões feitos pelo homem à fauna, à flora e ao meio ambiente como um todo. O projeto “Amazônia em Folhas”, criado em 2004, foi desenvolvido justamente para retratar a realidade da nossa região e ajudar a preservar, mesmo que folhas, parte das nossas florestas, de nossos rios e de nossa cultura.” O nanquim, em Marabá, teve e ainda tern seus periodos, pois ainda hoje surgem novos talentos reprodutores dessa tecnica e, consequentemente, admira-dores dos grandes precursores. A predominancia de obras com a arte em bico de pena/nanquim na Pinacoteca Municipal Pedro Morbach e indiscutivel: encontramos 263 obras de varios artistas locals, de diferentes gerações.

4 - Considerações Finais Atualmente podemos encontrar 237 obras na técnica bico de pena em nanquim registradas na Pinacoteca Municipal Pedro Morbach. As primeiras notícias de obras em bico de pena em Marabá remontam a 1932, com Augusto Morbach. A partir de 1976, Pedro Morbach passa a produzir também com essa técnica. Quase quarenta anos depois, nas décadas de 60 e 70, surgem quatro novos talentos - Domingos Nunes, Antonio Morbach, Junior China e Rildo Brasil; na década de 80, aparecem oito novos artistas na arte bico de pena - Waldimar Lopes, Walney Oliveira, Jose Ireno, Washington Marcks, Jonas Barros, Herval Rossano, Netinho da Princesa e Danilo Bastos. Finalmente, na década de 90, surgem oito novos talentos - Ronaldo Pimentel, Wendas Miranda, Barros e Milhomem, Evertom M.N., Arilson Ferreira, Lucia Fecuri e Rita Corrêa. Com isso podemos citar 21 artistas que trabalharam ou trabalham com bico de pena na região. Considerando que atualmente Augusto Morbach é falecido, e Pedro Morbach deixou de produzir devido a problemas de saúde, as obras existentes destes grandes artistas estão cada dia mais valorizadas. A perspectiva de crescimento da técnica de bico de pena é incontestável, pois alguns artistas, como Walney Oliveira seguem ministrando cursos para jovens e adultos admiradores dessa arte, para que aprimorem seus dons, e quem sabe, mantenham viva essa técnica tão rica e interessante. www.revistapzz.com.br 89


ESPECIAL

Patrícia Padilha

pedro

morbach

Um dos percursores das artes visuais nesta região e de renome internacional na técnica do nanquim, o artista Pedro MorbacH começou a desenhar ainda criança influenciado por seu pai, augusto morbach, retratando em óleo sobre tela fatos importantes de nossa região, e´ característica de Pedro Morbach obras retratando a vida de ribeirinhos, castanheiros, pescadores, trabalhadores rurais e o folclore. PEDRO MORBACH nasceu em Marabá/PA, no dia 25 de julho de 1935, filho de Augusto Bastos Morbach e Doralice F. Morbach. Começou a desenhar ainda criança e dedicou-se ao nanquim, recebendo neste particular muita influência de seu pai. Embora não tenha participado de nenhuma escola de arte, fez do seu trabalho um reviver das raízes da sua região. Pedro Morbach retrata em seus nanquins a vida do povo ribeirinho, o folclore, o castanheiro, o posseiro e a paisagem humana dessa região tão conhecida pelo artista. Foi um dos precursores das artes visuais na região e conhecido internacionalmente por suas obras em nanquim. Suas obras já foram expostas em Belém/ PA, Brasília/DF, São Paulo/SP, Tucuruí/PA, Marabá/PA, São Luis/MA e Imperatriz/ MA. Ganhou o prêmio aquisição da Telepará quando um de seus desenhos foi escolhido para a capa da lista telefônica 90 www.revistapzz.com.br

do Sul do Pará. Foram Expostos na Universidade de Berlim/Alemanha, em exposição promovida pela Fundação Casa da Cultura e Instituto Cultura Brasileiro em Berlim. Pedro Morbach também é homenageado com seu nome, batizando a Pinacoteca Municipal de Marabá, onde

Pedro Morbach retrata em seus nanquins a vida do povo ribeirinho, o folclore, o castanheiro, o posseiro e a paisagem humana dessa região tão conhecida pelo artista. se encontram 37 obras de bico de pena/ nanquim e esferografía, no acervo da Pinacoteca Pedro Morbach, 09 obras na câmara municipal de vereadores, 03 na casa de Marilene (Irmã de Iris Mobarch), 05 na casa da Iris Morbach, 12 no CCBEU

-Belém, 05 na casa do Noé von Atzingen-Fundador da Casa da Cultura, 02 na casa de Deise (irmã de Antonio Botelho), 02 na casa de Antonio Morbach(seu sobrinho), 21 obras na Elf Galeria, 10 obras com o Marcone Moreira, 01 na Galeria Vitória Barros. Foi casado já em idade madura, ele não teve filhos e também ficou viúvo prematuramente. Veio a falecer em Castanhal no dia 30 de abril de 2012, após uma parada cardiorespiratoria, ele tinha 76 anos e teve uma vida pautada pela simplicidade e pelo registro da história do seu tempo por meio de quadros em nanquim. Também retratou em óleo sobre tela, fatos importantes de nossa região como a abertura da rodovia Transamazônica (1974).


Obra: Roda de Samba na Joana Bandeira. TĂŠcnica: Nanquim em papel Rg.: 032 Ano: 1987 Tamanho:41cm x 55cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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ESPECIAL

Obra: Descarregando Barco. Técnica: Nanquim em papel Ano: 1997 Acervo: Noé von Atzingen

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E

Obra: Enchente em Marabá Técnica: Nanquim em papel Rg.: 001 Ano: 1992 Tamanho: 33cm x 47cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

m comemoração aos seus 18 anos de criação oficial, a Pinacoteca Municipal Pedro Morbach lança o Catálogo de Obras do Pedro Morbach, pertencentes a Fundação Casa da Cultura de Marabá, onde será retratado imagens das Obras do Patrono da Pinacoteca Municipal Pedro Morbach, homenagen a esse ilustre poeta e artista plástico marabaense. Em sua coleção é possível observar os ricos detalhes das paisagens históricas do nascimento de nossa cidade desde a coleta de castanhas, o transporte de castanhas pelos rios Itacaúnas e Tocantins, bem como a devastação de nossa mata, a exploração de nossos rios com a garimpagem de diamantes, mulheres lavadouras de roupas à margem do rio que banha nossa cidade, abertura da transamazônica, festas do divino, as enchentes e por ai vai. Hoje já não nos brinda mais com sua presença, mais seu talento está enraizado na história da arte marabaense, deixamos nossa admiração e reconhecimento por tanta dedicação e apego por nossa região, composta de uma rica miscigenação de povo e cultura A Pinacoteca Municipal Pedro Morbach é uma galeria ou um museu de obras de arte. O termo deriva do vocábulo latino pinacothēca, mas com origem etimológica mais remota na língua grega. A pinacoteca, por conseguinte, é um espaço destinado à exposição de obras artísticas de diversos caráteres como: gravuras, esculturas, xilogravuras e artes plásticas em geral . Com o objetivo de incentivar e divulgar os trabalhos dos artistas locais e regionais, bem como conservar o patrimônio artístico cultural, a Fundação Casa da Cultura de Marabá instituiu a Pinacoteca Municipal ‘‘Pedro Morbach’’ em 1984. A mesma foi oficializada em 22 de junho de 1998, por meio do Decreto Municipal nº340/98. Tudo começou quando um grupo de jovens idealizadores da Casa da Cultura de Marabá, realizou em 1984, uma exposição no clube da maçonaria. Nesta ocasião formava-se a Pinacoteca Municipal de Marabá, tendo

como obras inaugurais, 10 obras em nanquim produzidas e doadas pelo artista Pedro Morbach, daí o nome Pinacoteca Municipal ‘‘Pedro Morbach’’ em homenagem ao ilustre artista plástico marabaense. Atualmente a pinacoteca conta com um acervo amplo, nas mais variadas técnicas. Encontrase com 823 obras de vários artistas regionais e técnicas. Comporta obras nos planos bidimensional e tridimensional. Hoje temos cadastrados mais de 90 artistas regionais, os quais enriquecem a pinacoteca com suas obras de arte. A Pinacoteca realiza exposições periódicas (mensais) no salão de exposição FCCM, Galeria e eventualmente exposições externas, com o intuito de divulgar as artes plásticas de marabá e região. Em 1997, trabalhos em nanquim de alguns artistas marabaenses foram expostos em Berlin na Alemanha. Em 2012 o nanquim viaja pelo nordeste, indo à São luiz (MA) e Imperatriz (MA) através do Prêmio Funarte. As exposições procuram retratar a cultura e a diversidade da nossa região em diversas formas de arte, procurando sempre apresentar para sociedade toda a sua criatividade. Para a Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM ) instituição que tem como presidente Noé von Atzingen, e que é uma referência para pesquisadores, turistas estudantes, artistas, enfim para todos que quiserem conhecer melhor este Sudeste paraense, os 18 anos da Pinacoteca e´ algo de extrema importância para a fundação pois sem duvidas este é um dos setores da FCCM que muito contribui para a difusão da cultura e produção artística regional.

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ESPECIAL

PEDRO MORBACH

Em sua coleção é possível observar os ricos detalhes das paisagens históricas do nascimento de nossa cidade desde a coleta de castanhas, o transporte de castanhas pelos rios Itacaúnas e Tocantins, bem como a devastação de nossa mata, a exploração de nossos rios com a garimpagem de diamantes, mulheres lavadouras de roupas à margem do rio que banha nossa cidade, abertura da transamazônica, festas do divino, as enchentes e por ai vai. Hoje já não nos brinda mais com sua presença, mais seu talento está enraizado na história da arte marabaense, deixamos nossa admiração e reconhecimento por tanta dedicação e apego por nossa região, composta de uma rica miscigenação de povo e cultura.

Obra: Barco de carregar castanha Técnica: Nanquim em papel Rg.: 121 Ano: 1983 Tamanho: 32cm x 44cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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Obra: Lembrança do Tauarizinho TÊcnica: Nanquim em papel Rg.: 068 Ano: 1984 Tamanho: 45cm x 60cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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ESPECIAL

Obra:Cargueiro Comendo Técnica: Nanquim em papel Rg.: 069 Ano: 1984 Tamanho: 46cm x 60cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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Obra: Pescando de Cacéia Técnica: Nanquim em papel Rg.: 050 Ano: 1988 Tamanho: 38cm x 50cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

Obra:Divino Espirito Santo Técnica: Nanquim em papel Rg.: 051 Ano: 1988 Tamanho: 48cm x 60cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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ESPECIAL

Obra: Um Castanheiro Técnica: Nanquim em papel Rg.: 057 Ano: 1988 Tamanho: 31cm x 43cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach 98 www.revistapzz.com.br


PEDRO MORBACH “A pintura faz parte da minha vida. Creio mesmo que eu antes mesmo de engatinhar já fazia alguns rabiscos no chão da minha trajetória. Hoje, embora não tenha seguido nenhuma escola de artes, faço do meu trabalho um reviver das raízes culturais da minha região. Talvez a denúncia de todos esses crimes que estão sendo cometidos à sua ocupação irracional. Quero ver se pelo menos esses registros servirão para marcar um tempo muito bonito que já é saudade. Antigamente eu e alguns companheiros de minha infância saíamos por aí, como diz Casemiro de Abreu, de camisa aberta ao peito e pés descalços, braços nus, correndo atrás dessa natureza maravilhosa que agora estão destruindo. Para mim, o ingresso de Marabá no ciclo industrial é o começo da agonia de uma vida que já foi vivida e que agora vai ser somente retratada nos trabalhos dos artistas e dos poetas da região. Que pelo menos esses prevaleçam”. Pedro Morbach, em uma de suas entrevistas ao Correio do Tocantins em 1987. Obra: Pescando Mandi Técnica: Nanquim em papel Rg.: 154 Ano: 1981 Tamanho: 30cm x 45cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach www.revistapzz.com.br 99


ESPECIAL

Obra: O Massacre dos Sem Terra Técnica: Nanquim em papel Rg.: 004 Ano: 1992 Tamanho: 44cm x 59cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

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Obra: A Terra que Querias neste Latifúndio Técnica: Nanquim em papel Rg.: 066 Ano: 1992 Tamanho: 40cm x 54cm Acervo: Pinacoteca Pedro Morbach

Obra: Sem título Técnica: Nanquim em papel Acervo: Galeria Elf

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ESPECIAL

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Um dos percursores das artes visuais nesta região e de renome internacional na técnica do nanquim, o artista Pedro Morback começou a desenhar ainda criança influenciado por seu pai retratando em óleo sobre tela fatos importantes de nossa região, e´ característica de Pedro Morbach obras retratando a vida de ribeirinhos, castanheiros e o folclore.

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FOTOPOESIA

Carlos Pará

FOTOCIDADE Jordão Nunes, autodidata na fotografia, aprende-ensina com seu próprio esforço particular de intuir seus sentidos a buscar o que lhe fascina na realidade tão vasta e tão complexa de Marabá, cidade em que nasceu e onde trabalha no RS Estúdio de Fotografia. Jordão sempre busca o inusitado, a paisagem em longas exposições, a pintura de suas emoções.

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Rios, ruas, barcos, carros, cidade. Água, casas, calçadas, asfalto. Mudanças, móveis quebrados, gritos, força, homens e mulheres, crianças e velhos. Caminhões, caçambas, roupas sujas, cães e gatos, panelas guardadas, pratos quebrados. A cidade em movimento, o rio em movimento, a vida em movimento. São dois rios, uma floresta, uma imensa floresta. São dois rios, uma vila, uma cidade... uma pequena cidade. Trecho do poema: Sobre cidades e rios por Victor Haôr

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FOTOPOESIA

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A lua e o rio Tocantins

A lua pende o seu sorriso Refletindo sobre as รกguas Tocantins fica mais bonito Da orla Eu canto a alegria da vida.

Airton dos Reis Pereira

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FOTOPOESIA

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FOTOPOESIA

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FOTOPOESIA

A ponte

Tão sonhada, tão esperada e tão falada, Um elo a ligar duas moradas em nossa terra; Tantos que sonharam e lutara¬m já se foram, Foram antes do grande sonho acontecer. Seus filhos ficaram, lutaram e sofreram: Invernos violentos alargam os caminhos Durante muitos e muitos dias do ano, Dificultando a vida dos andantes, Homens, mulheres, crianças, alunos. Marabá de ontem, Marabá de hoje! Marabá de ontem, calmo, tranquilo, Mas recebendo os andantes do Amapá. Nossos alunos de ontem e de hoje Aventuravam-se na travessia, Travessia tão temida pelas mães, pelos que não nadam. Todo dia um temor, todo dia uma espera aflita. Ao meio-dia um voltar cansado, demorado, a fome a devorar. Vai e vem, todo dia, toda noite, Ritual antigo, repetido por todos em várias gerações. Marabá de hoje, transformado, superlotado, Seus filhos espantados, sem saber o que fazer, Perdidos na multidão que aumenta dia a dia, Multidão infinita, de outras paragens, Correndo para o ouro, para a terra, Marabá, A terra prometida! Hoje também acabou. O ritual acabou. A espera acabou. O Itacaiúnas chorou, suas águas toldaram-se, O Itacaiúnas perdeu seus velhos companheiros, Companheiros de fortes músculos, seus queridos barqueiros. Os barqueiros choraram, os barqueiros perderam, Perderam as travessias de todos os dias Da aurora ao entardecer, entre o céu e as águas Num ritual mais belo e mais certo. O Itacaiúnas chorou, o sonho acabou: A ponte ligou as duas moradas. Agora começa um novo caminho Sem travessia, sem espera, Sem barqueiros, sem maresia, Mas também sem poesia... Marabá, 12 de novembro de 1981 (véspera da inauguração da primeira ponte sobre o rio Itacaiúnas). Maria Sulamita de Sousa

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Jordão Nunes, autodidata na fotografia, aprende-ensina com seu próprio esforço particular de intuir seus sentidos a buscar o que lhe fascina na realidade tão vasta e tão complexa de Marabá, cidade em que nasceu e onde trabalha no RS Estúdio de Fotografia. Jordão sempre busca o inusitado, a paisagem em longas exposições, a pintura de suas emoções. No início que encontrava apenas nas flores e insetos. O olhar em busca ao microcosmo, além das aparências e das manifestações naturais, culturais e sociais o levou ao mundo pequeno de criaturas, dos insetos. Uma dimensão que habita seres coloridos e de uma complexidade de formas e mimetismos extraordinários. O microcosmo era o seu Universo do ponto de vista pessoal e subjetivo, por oposição ao macrocosmo que posteriormente passou a fotografar em vistas aéreas, em quadros amplos de um universo do ponto de vista coletivo e objetivo. Da cidade, extraiu imagens aéreas como um pássaro que procura a beleza e a distância do caos. Procurar a cidade é procurar a si mesmo, buscar nos detalhes da tessitura urbana e passear seu olhar cativante sobre a multidão de pessoas ocultas. A fotografia panorâmica tem uma visão mais ampla do objeto ou espaço e isso se consegue de várias formas atualmente, seja através de uma lente grande angular ou mesmo com várias fotografias em sequência para depois todas elas serem agrupadas em um só arquivo através de um programa de computador. Técnicas que

compartilha com grupos e amigos. Atualmente ele é um dos líderes de um Clube de Fotografia que tem outros nomes com grande potencial. Além de ilustrar livros, capa de revista e mais recentemente, nos corredores do Pátio Shopping Marabá. Também é dele a imagem que venceu o concurso “Foto Centenário”, promovido pela TV Liberal no início deste ano. Gerente de suporte em uma empresa de sistemas de informação, sempre gostou de tecnologia, por isso a fotografia sempre o chamou atenção. jordao@depneus.com.br

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ECONOMIA

PARĂ 2030

metas para crescimento da economia com sustentabilidade

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GOVERNADOR APRESENTA O PROJETO

“PARÁ 2030”

PLANO DE ESTADO “Não é um plano de governo. É um plano de Estado, que define metas e apresenta determinados princípios”. Assim definiu o governador Simão Jatene o programa “Pará 2030”, lançado na manhã desta quarta-feira (29), no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. Entre as principais propostas do programa, Simão Jatene destacou o incentivo ao crescimento da produção de minerais e de recursos de solos, da floresta e biodiversidade, a partir de processos sustentáveis de integração.

ECONOMIA NO PARÁ A economia do Pará está dividida em três eixos: projetos de desenvolvimento de energia, mineração, agronegócio e infraestrutura; economias tradicionais do extrativismo, agricultura familiar, pesca artesanal, economia de subsistência; e inovação, da economia criativa, do turismo, biotecnologia e todo o potencial de desenvolvimento de setores menos tradicionais e mais modernos da economia. É nesse sentido, e a partir desses três eixos, que o governo estadual buscou contribuições de cada setor de gestão e produção para elaborar o Plano Pará Estratégico 2030 que foi lançado a sua versão para um público de empresários, políticos e da sociedade cível na manhã do dia 29 de junho no Hangar, numa palestra proferida pelo Governador do Estado, Simão Jatene. Entre as principais propostas do programa, Simão Jatene destacou o incentivo ao crescimento da produção de minerais e de recursos de solos, da floresta e biodiversidade, a partir de processos sustentáveis de integração. O lançamento da implantação oficial do “Pará 2030” teve a participação de representantes da sociedade civil, federações, sindicatos, associações, autoridades e diretores de órgãos estaduais da administração indireta e direta. Durante a solenidade, o governador assinou também 17 medidas que oficializam ações de investimento e incentivos para 12 importantes setores ligados ao desenvolvimento do Estado, considerando a vocação do Pará, com destaque para agronegócio, agricultura familiar, pesca e aquicultura, atividade florestal, biodiversidade, mineração, serviços ambientais, logística, energia, turismo e gastronomia. As ações específicas envolverão secretarias e órgãos estaduais, vistos como decisivos para o propósito de elevar a renda per capita do Estado em 5,3%, a cada ano, até 2030. Esse plano estratégico tem impacto em todas as regiões paraenses. Queremos desenvolver o Estado agregando valor, verticalizando a produção e tendo como base a sustentabilidade. Para isso analisamos detalhadamente cada potencialidade que foi traduzida em metas e ações que iremos desenvolver nos próximos anos, que contribuirão para a geração de emprego e renda. Um retorno mais do que justo para os paraenses”, afirmou o governador Simão Jatene. Para alavancar a economia e o desenvolvimento www.revistapzz.com.br 115


ECONOMIA

social, o projeto elegeu 12 cadeias produtivas prioritárias. Os pilares levaram em consideração a vocação do Estado, com destaque para os setores como agronegócio, agricultura familiar, pesca e aquicultura, atividade florestal, biodiversidade, mineração, serviços ambientais, logística, energia, turismo e gastronomia. “Diagnosticamos vinte e três oportunidades de valor e elegemos doze prioritárias, com foco em um crescimento da economia paraense em torno de 5.3% ao ano, para que até 2030 possamos igualar a renda per capita do Pará à da média nacional”, afirmou o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Adnan Demachki. “Além disso, o Pará 2030 é um planejamento dinâmico e, como tal, leva em consideração as contribuições de todos nele envolvidos”, acrescentou. Entre as ações estão o investimento em pesquisa e desenvolvimento, capacitação técnica, melhoria dos métodos de produção e atração de novos negócios. A coordenação dos estudos e discussões para implantação é da Sedeme, em par116 www.revistapzz.com.br

ceria com a consultoria empresarial da McKinsey, especializada em projetos estratégicos. O “Pará 2030” visa desenvolver e transformar o Estado em um espaço atrativo para novos investimentos, principalmente os oriundos da iniciativa privada, garantindo maior agregação de valor à produção, e também estimular processos que garantam incremento do turismo e da consolidação da “marca” Amazônia. Entre as metas traçadas, o programa visa melhorar a renda da população paraense, fazendo com que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita - a soma das riquezas produzidas no Estado, dividida pela população – cresça de forma sustentável e permanente. CONSTRUÇÃO DO PLANO O esforço incansável do Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Adnan Demachki e de sua equipe, foi fundamental para viabilização do plano. A elaboração das diretrizes do “Pará 2030” envolveu 130 profissionais, que participaram de 12 oficinas de trabalho,

cinco fóruns públicos com audiência e três visitas a unidades de concessões e de parcerias público-privadas de sucesso no Brasil. Além disso, 50 organizações foram entrevistadas, para que os profissionais conhecessem mais de perto a realidade e as necessidades do mercado; 55 casos de sucesso internacionais foram estudados, e mapeados 43 perfis de possíveis investidores. Os planejamentos estratégicos das secretarias estaduais produtivas também foram levados em consideração. O resultado de todo este minucioso trabalho está na concepção de 1.400 metas para o desenvolvimento estadual para os próximos anos. Todas as 17 medidas assinadas nesta terça-feira pelo governador direcionam para ações de inovação, geração de renda, verticalização da produção, geração de riqueza, integração, inclusão e sustentabilidade. Mudança de modelo - Hoje, o PIB per capita do Pará é de R$ 15,2 mil, enquanto a média nacional é quase o dobro: R$ 26,5 mil. O Estado pulou do 8º lugar no ranking nacional (na década de 1940) para o 19º (em 2013). “Em quase 70 anos tivemos crescimento da população e da exploração de nossas riquezas naturais, mas sem que com isso tivéssemos qual-


quer ganho nos indicadores sociais, ou mesmo na renda da população. O modelo precisa mudar, e é isso que estamos propondo”, destacou Simão Jatene. A taxa da população também interfere na renda per capita de um estado. De acordo com o governador, mesmo o Pará crescendo 1,2% a mais que o Brasil, entre 1960 e 2015, a renda continua baixa. E a tendência, assegurou, é que esse movimento aumente ainda mais, uma vez que o Estado corresponde a 24% do território da Amazônia e 14% do Brasil, se tornando uma vitrine para muitos setores. Atualmente, a população paraense corresponde a 4% do total de habitantes do Brasil e 30% da Amazônia. O território tem 62% da sua extensão coberto por água doce, detendo 40% do estoque nacional e 3,2% de todo o planeta. O Pará oferece ainda 20 mil quilômetros de vias navegáveis e 25% de todo o potencial hidrelétrico brasileiro, dos quais 85% ainda não foram aproveitados. Em termos territoriais, são 87,5 milhões de hectares, sendo 70% só de florestas. “O Estado do Pará não aceita mais ser um grande produtor de recursos naturais, grande produtor de matérias-primas e, lamentavelmente, ter indicadores so-

ciais precários. É isso que nós queremos, que as riquezas do Pará sirvam ao Brasil, mas sirvam também, e particularmente, a nossa gente, ao nosso povo. Só tem uma forma para o Pará contribuir para o desenvolvimento brasileiro: é através do seu próprio desenvolvimento”, enfatizou Simão Jatene. Com o “Pará 2030”, o governo quer utilizar suas riquezas para atrair investimentos, além de sua localização privilegiada, que encurta as distâncias com os mercados europeu, norte-americano e asiático, a fim de consolidar o Pará como porta de entrada para a Amazônia. Com a chegada de novos investidores, mais empregos serão gerados, com melhores índices rentáveis. O “Pará 2030” visa desenvolver e transformar o Estado em um espaço atrativo para novos investimentos, principalmente os oriundos da iniciativa privada, garantindo maior agregação de valor à produção, e também estimular processos que garantam incremento do turismo e da consolidação da “marca” Amazônia. Entre as metas traçadas, o programa visa melhorar a renda da população paraense, fazendo com que o Produto In-

ESFORÇO INCANSÁVEL O esforço incansável do Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Adnan Demachki e de sua equipe, foi fundamental para viabilização do plano.

terno Bruto (PIB) per capita - a soma das riquezas produzidas no Estado, dividida pela população – cresça de forma sustentável e permanente. Setor produtivo - Para Carlos Xavier, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), o Pará tem uma potencialidade imensa, e tudo converge para um resultado positivo. “Nós temos condições de ser um dos maiores produtores, não só minerais, mas também nos agronegócios. Nós temos clima, temos água, temperatura média, condições vantajosas. Eu não tenho dúvida que, com essa iniciativa, e se a sociedade estiver voltada para isso, nós vamos dar um passo definitivo. Podemos tornar os grandes projetos daqui competitivos no cenário mundial”, apostou. www.revistapzz.com.br 117


ECONOMIA

O pecuarista Mauro Lúcio Costa, diretor do Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas (município do nordeste paraense), fez questão de vir a Belém assistir ao lançamento do “Pará 2030”. “Para qualquer negócio, o principal é ter planejamento. Quando se tem planejamento, se cria metas. É isso o que o Estado está fazendo. Está olhando para frente, para o futuro”, afirmou. Já pensando em suprir a demanda de mão de obra que será necessária diante deste novo cenário, a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) vem investindo em qualificação e capacitação profissional, por meio do Sesi (Serviço

Para os próximos 12 meses já estão previstas ações do programa: a instalação da Chapleau Mineradora e da Refinaria RBM. A primeira empresa é canadense, e viu no Pará “rigidez locacional”.

JOSÉ CONRADO SANTOS

“Já pensando em suprir a

demanda de mão de obra que será necessária diante deste novo cenário, a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) vem investindo em qualificação e capacitação profissional, por meio do Sesi (Serviço Social da Indústria) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). “Estamos, desde o começo, alinhados com este projeto”, garantiu José Conrado Santos, presidente da Fiepa .

Social da Indústria) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). “O Sistema FIEPA é um dos parceiros que ajudou a construir o Plano Pará 2030 e está preparado para atender as demandas do setor produtivo baseadas neste novo posicionamento do governo do estado, que valoriza a verticalização industrial na busca de uma economia mais dinâmica e inclusiva”, declara José Conrado vo da empresa ao fechar esta parceria Santos, presidente do Sistema Fiepa. com o Estado e a Chapleau é abrir mais Ações em execução – Para os próxi- uma opção de mercado para o Pará: o mos 12 meses já estão previstas ações do de fabricação de joias. “Vamos facilitar programa: a instalação da Chapleau Mi- o trabalho da cadeia produtiva, sendo neradora e da Refinaria RBM. A primeira intermediários do processo, agregando empresa é canadense, e viu no Pará “ri- valor ao produto”, reiterou. gidez locacional”. “Estamos no Brasil há Outras medidas assinadas pelo goalgum tempo fazendo pesquisas de lu- vernador Simão Jatene: gares onde pudéssemos nos instalar. No Pará, percebemos que o Estado, o setor - Decreto de Instituição do Programa privado e a sociedade civil andam jun- Pará 2030, que planeja e define a ecotos, e isso é muito importante”, destacou nomia paraense nos próximos 15 anos, Luís Maurício Azevedo, representante da em cadeias econômicas prioritárias. O Chapleau. O empreendimento será ins- programa quer solucionar entraves e talado em Novo Progresso, município do permitir que o Pará aumente seus níveis sudoeste paraense, e deve gerar cerca de de produção. 500 postos de trabalho. - Decreto de Alteração do Sistema de Desenvolvimento Econômico, Social Para Waldemir Melo Junior, represen- e Sustentável (Sidess), para criação, no tante da refinaria paulista RMB, o objeti- âmbito do Sidess, do Fórum do Progra-

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ma Pará 2030, integrado pelo Poder Público e a sociedade civil, visando a discussão do andamento do programa. - Acordos de resultados para serem assinados pelos secretários de estado e dirigentes de órgãos - compromisso firmado entre cada gestor e o governador, destinado a garantir os 1.400 marcos de implementação, que são as iniciativas e ações do Programa Pará 2030, com metas e prazos que vão até 31 de dezembro de 2018, data que encerra o mandato de Simão Jatene. - Projeto de Lei do Estatuto das Micro e Pequenas Empresas - institui o estatuto paraense que dá tratamento diferenciado, simplificado e favorecido às micro e pequenas empresas. - Protocolo para implantação de uma refinaria de ouro –marca um novo momento na permissão de exploração das riquezas minerais. - Protocolo de Intenções para Implantação de um Parque Aquático em Salinas - instalação de um complexo turístico no município de Salinópolis (região nordeste), incluindo parque aquático e torres hoteleiras, com investimento aproximado de R$ 250 milhões e geração de 900 empregos na fase de construção, e 300 na fase de operação. O Estado prospectou e está apoiando o empreendimento, a ser construído na estrada de acesso à Praia do Atalaia, concedendo a redução de impostos na aquisição dos equipamentos e o apoio da Secretaria de Estado de Turismo (Setur) na divulgação institucional. - Assinatura do Edital de Licitação para reforma e ampliação do Aeroporto de Salinópolis - para estimular o turismo no município, viabilizando novos empreendimentos, como o parque aquático. O aeroporto é visto como indispensável no desenvolvimento turístico da região do salgado (onde ficam as praias oceânicas). Serão feitos serviços de recapeamento asfáltico e ampliação da pista de pouso, construção de estação de passageiros e proteção da pista com a instalação de cercas, além do registro e legalização do aeroporto. - Decreto que cria o Programa Voe Pará - o objetivo é criar incentivos à aviação regional para atender às empresas Azul, TWO, Pema, MAP e Piquiatuba, para que mantenham suas atuais linhas aéreas e criem novas linhas para o interior, iniciando com 13 novos destinos/rotas. Algumas linhas sairão de Belém para cidades que já possuem voos regulares, como Marabá, e


seis novas linhas para municípios que não dispõem de transporte aéreo regular de passageiros, como Soure e Breves, no Marajó; Ourilândia do Norte e Redenção, no sul; Tucuruí, no sudeste, e Paragominas, no nordeste.

mentar o fluxo turístico para a região do Marajó a partir de novos roteiros e produtos de turismo gastronômico. A iniciativa potencializa o transporte entre Belém, Soure e Salvaterra, com a lancha rápida, além de incorporar o percurso que interliga Salvaterra a Cachoeira do Arari via - Ato Expedido pela Arcon viabilizan- PA-154, que se encontra em fase final de do as lanchas rápidas para o Marajó - A pavimentação. partir deste ano, mais duas linhas estão autorizadas a operar até o Arquipélago - Autorização para publicação de edido Marajó: Belém/ Cachoeira do Arari e tal de concessão florestal - o Instituto de Belém/Camará, distrito de Salvaterra. As Desenvolvimento Florestal e da Biodiverlanchas rápidas para o Marajó, a partir do sidade (Ideflor-bio) abrirá concorrência Terminal Hidroviário de Belém, garan- pública para concessão florestal no Contem mobilidade, encurtam pela metade junto de Glebas Mamuru-Arapiuns, que o tempo de viagem e oferecem conforto abrangem os municípios de Santarém, aos passageiros, e ainda estimulam o de- Juruti e Aveiro, no oeste paraense, com senvolvimento do turismo na região. área de 102.468,18 hectares. A finalidade é outorgar direito para a exploração - Aprovação do Programa de Estado Rota Turística do Queijo do Marajó - programa de governo que objetiva incre-

ALCANCE E INTEGRAÇÃO Durante a solenidade, o governador assinou também 17 medidas que oficializam ações de investimento e incentivos para 12 importantes setores ligados ao desenvolvimento do Estado, considerando a vocação do Pará, com destaque para agronegócio, agricultura familiar, pesca e aquicultura, atividade florestal, biodiversidade, mineração, serviços ambientais, logística, energia, turismo e gastronomia

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ECONOMIA

de produtos florestais, de acordo com as normas ambientais e sociais, trazendo legalidade para o setor florestal, com geração de empregos e desenvolvimento para região. - Projeto de Lei que cria o Programa Pará Profissional - o programa está voltado ao estabelecimento de uma política consistente e eficaz de formação profissional e tecnológica em todas as regiões paraenses. Tem como principal finalidade dinamizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica, nas suas diversas modalidades, nos níveis de formação inicial e continuada, qualificação e certificação de habilidades profissionalizantes, técnico, tecnológico superior e de pós-graduação. - Dispensa da licença de outorga de água para aquicultura – criadores de peixe e camarão que utilizam até 35.000 m³ por ano de água serão dispensados da permissão do uso de água dos rios estaduais. - Ato que autoriza a revitalização dos Distritos Industriais – o governo autoriza a revitalização dos Distritos Industriais de 120 www.revistapzz.com.br

Icoaraci (em Belém), Ananindeua, Marabá e Barcarena, com a construção de pórticos, recuperação asfáltica e aberturas de novas vias de acesso.

PROTOCOLOS FIRMADOS - Protocolo para implantação de uma refinaria de ouro –marca um novo momento na permissão de exploração das riquezas minerais.

- Projeto que pleiteia ao governo federal a criação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em Marabá rios Científicos (PRO-LAB) e o Inova Pará. -projeto técnico que solicita à União a Durante a solenidade, o governador criação de uma Zona de Processamento assinou também 17 medidas que oficialide Exportação na cidade de Marabá. zam ações de investimento e incentivos para 12 importantes setores ligados ao - Incentivos fiscais para empresas que desenvolvimento do Estado, consideraninvestirem em pesquisa – a resolução visa do a vocação do Pará, com destaque para conceder incentivos fiscais para empre- agronegócio, agricultura familiar, pesca e endimentos que investirem em projetos aquicultura, atividade florestal, biodiverde pesquisa científica, tecnológica e ino- sidade, mineração, serviços ambientais, vação. logística, energia, turismo e gastronomia. As ações específicas envolverão se- Repasse de recursos do Estado para cretarias e órgãos estaduais, vistos como a Fundação Amazônia de Amparo a Es- decisivos para o propósito de elevar a tudos e Pesquisas (Fapespa) para inves- renda per capita do Estado em 5,3%, a timentos em pesquisas direcionadas às cada ano, até 2030. cadeias econômicas do programa Pará 2030 - O governo assume o compromisso Todas as ações previstas no planejade repassar R$ 11 milhões para a implan- mento estratégico do “Pará 2030” e as tação de três programas estruturantes demais informações sobre o programa nas áreas de ciência, tecnologia e inova- estão disponíveis no site www.para2030. ção - Programa Polos de Conhecimento; com.br. Programa de Estruturação de Laborató-


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GRIFFO

O PARÁ ABRE NOVOS CAMINHOS PARA O FUTURO SUSTENTÁVEL.

Pará não quer deixar o futuro pra amanhã. O Governo do Estado lançou o programa Pará 2030 com as bases para a construção de uma economia forte e sustentável no curto, médio e longo prazos. Um plano estratégico de desenvolvimento, capaz de dinamizar a economia, gerar empregos e renda e melhorar os indicadores sociais do Estado. Já no lançamento, foram assinados 17 atos que colocam o programa em ação. A partir daí, o Pará 2030 começa a acontecer, atraindo investimentos em áreas prioritárias como logística, pecuária sustentável, florestas plantadas, biodiversidade, agricultura familiar, turismo e gastronomia, aquicultura,

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exploração mineral, palma de óleo, grãos, cacau e açaí. O Pará 2030 não acontece sozinho, mas com a sua participação, fundamental para que Governo e sociedade encontrem juntos os meios para melhorar a infraestrutura e logística, atrair investimentos, garantir incentivos e desenvolver mais e melhor suas cadeias produtivas, vencendo entraves e avançando rumo a um futuro de crescimento. O programa Pará 2030 pensa e prepara o Pará do presente e do futuro, estruturando vida melhor, mais digna, para os paraenses.


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