BRASÍLIA É CENÁRIO DE DOIS FILMES QUE ESTREIAM EM AGOSTO
Ano XV • nº 250 Abril de 2016
R$ 5,90
O “Viva Brasília” é um verdadeiro compromisso. A cada mês, novas entregas renovam a certeza de que a cidade está voltando a pertencer ao cidadão local. Em fevereiro, por exemplo, 120 novos policiais foram nomeados com o objetivo de recompor os quadros da Polícia Civil. Recentemente, a Central Integrada de Atendimento e Despacho (CIADE) descentralizou seus despachos para permitir uma maior capacidade de atendimento dos números 190 e 193. Além disso, houve uma modernização do sistema e um aumento no número de atendentes. A segurança foi fortalecida também com a entrega do posto policial fixo da Estrutural, com atendimento 24 horas e suporte para os 60 policiais militares na região. Já a inauguração da nova iluminação do Setor Comercial Sul transformou um local por muito tempo perigoso em mais um ponto de encontro e ocupação urbana da cidade. Essas e outras entregas mostram que nosso pacto continua forte e que a união entre governo e população segue como ponto principal para que Brasília se torne um lugar mais seguro para viver. Saiba mais em www.vivabrasilia.ssp.df.gov.br.
EMPOUCASPALAVRAS
Quem disse isso, em 6 de agosto de 1993, foi ninguém menos que Lucio Costa (1902-1998), autor do projeto vencedor do Plano Piloto de Brasília. Era um reconhecimento à arte de Marianne Peretti, a franco-brasileira de 88 anos que só agora recebe da cidade a justa homenagem na forma de exposição em cartaz até 5 de junho no Museu Nacional da República. Logo na entrada, a escultura em ferro laqueado Árvore da vida convida o visitante a desvendar o universo dos vitrais de Marianne, sua marca registrada, e seu limite com a escultura, uma constante em sua obra exemplar. Leia na seção Galeria de arte (página 18). Até 5 de junho, também, o brasiliense terá a chance de mergulhar na vida e na obra de Frida Kahlo (1907-1954), a mexicana que tirou dos dramas pessoais força para sua arte e virou um ícone pop. A exposição em cartaz na Caixa Cultural apresenta óleos sobre tela e obras em papel, desenhos, colagens e litografias de Frida, além de trabalhos de 14 artistas nascidas ou radicadas no México que tiveram relação com ela ou com o surrealismo, linguagem na qual se considera que sua obra foi inserida (página 20). Uma terceira exposição importante ocupa a galeria do CCBB até 4 de julho: Mondrian e o movimento De Stijl. Lá estão criações do holandês Piet Mondrian (1872-1944) e de outros artistas ligados ao neoplasticismo, movimento conhecido como De Stijl, ou “o estilo” (página 22). Além dessa recheada programação de arte, nossa Roteiro 250 apresenta, na página 4, matéria sobre um patrimônio culinário suíço ainda pouco conhecido por aqui. Trata-se da raclette, um ritual gastronômico ideal para encontros animados entre amigos unidos pela mistura de queijo alpino colocado sobre fatias de pão, batatas cozidas e outros acompanhamentos, tudo combinado com bons vinhos. Finalmente, uma correção necessária. Em nossa última edição, de março, grafamos em nossa capa Ano XV, nº 248, quando o certo seria Ano XV, n° 249. Como não existe o verbo “desimprimir”, pedimos desculpas pela falha aqui, nesta edição 250. Boa leitura e até maio! Maria Teresa Fernandes Editora
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“Tive afinal o prazer, depois de tanto tempo, de conhecer pessoalmente a artista que soube tão bem ‘dar à luz’ o interior da Catedral de Brasília, problema difícil que somente uma alma como a sua e um saber como o seu seriam capazes de resolver. Em nome da cidade, o inventor dela agradece a você”.
24 artederua Muita gente deve perguntar quem são Toys, Omik e Pomb, os artistas do grafitti cujos inspirados desenhos, como este aí acima, estão espalhados por todo o DF.
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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares.
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ÁGUANABOCA Felipe Menezes
Patrimônio culinário suíço POR LÚCIA LEÃO
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ocê sabe o que é raclette? Se está na turma de Zeca Pagodinho – “nunca vi, não comi, eu só ouço falar” – relaxe: o prato suíço ainda é muito pouco difundido, mesmo entre brasileiros com boa cultura gastronômica. Mas quem conhece, principalmente os que apreciam queijos, amam! Pelo menos essa foi a conclusão de uma breve pesquisa que fizemos com nossos amigos nas redes sociais, quando o assunto foi posto à mesa da Roteiro. Mais ou menos a metade dos pesquisados desconhece. A outra metade saliva só de ouvir falar! Para quem não conhece, a raclette – raspa, em tradução literal do francês – é, mais do que uma receita, um ritual gastronômico que conta-se ter surgido por acaso nos abrigos de pastores nos alpes suíços. O queijo deixado perto da fogueira derreteu e, para não perder o alimento, a parte derretida foi raspada – daí “raclette” – e colocada sobre as fatias de pão, batatas cozidas e picles que completavam a matula de resistência do grupo de trabalhadores em vigília dos rebanhos. E foi nesse formato que o prato desceu as montanhas e chegou aos cantões suíços no início do Século XX para rapidamente se tornar,
ao lado do foundue, patrimônio culinário daquele país. “Não é um prato do dia a dia, mas certamente o preferido para confraternizações, encontros de famílias e reuniões de amigos. Fica-se ali em torno da mesa durante horas, derretendo o queijo, preparando cada um a sua porção, bebendo um bom vinho e conversando”, explica Cornélia Casotti, secretária da Embaixada da Suíça em Brasília. Uma das principais difusoras da raclette na nossa capital, Cornélia é casada com Stephan Gaehwiler, o imigrante que em 1990 instalou uma pequena queijaria artesanal numa também pequena fazenda aqui pertinho, em Corumbá de Goiás, e hoje é reconhecido como produtor de um dos melhores queijos suíços do Brasil. Ele conta que não pensava na raclette quando começou a produzir o queijo Alpino, mas foi por acaso, combinando segredos de fermentação e maturação que trouxe da terra natal, que chegou à excelência. “Nós aplicamos as melhores técnicas para adaptar a produção do típico queijo suíço a condições climáticas tão diferentes. E constatamos que, quando o queijo chegava a um determinado ponto de maturação (dois meses de câmara frigorífica
e escovação diária com água e sal) ele ficava perfeito para derreter”, conta, alegre, o queijeiro. O queijo típico para raclette deve derreter facilmente sem ficar liguento, com aquele puxa-puxa da mussarela. “E, acima de tudo, deve ser saboroso!”, completa a estudante de gastronomia Alessia, filha de Cornélia, que prepara raclettes em eventos contratados. Junto com a irmã, Antonietta, ela leva racleteiras elétricas e o queijo Alpino para as casas ou locais de recepção e prepara a iguaria durante algumas horas de deleite dos comensais. O serviço custa R$ 200 mais R$ 60 por quilo de queijo consumido. O contratante se incumbe dos complementos que serão utilizados. E os complementos, que inicialmente limitavam-se à batatinha cozida e picles, ganharam uma enorme gama de acompanhantes, entre embutidos, legumes, carnes e até frutas. No restaurante La Bonne Fondue, o prato está conquistando cada vez mais aceitação dos clientes, atraídos pela fartura e variedade dos complementos postos sobre a mesa para montagem das porções individuais. Mas lá o queijo – ou queijos, de vários tipos – é servido já fatiado, para ser disposto em pequenas espátulas e aquecido, junto com fatias de pre-
Du Valais AOC
sunto de Parma, salame, blanquet e outros embutidos, pequenos pedaços de camarão, peixe, pepinos, abobrinhas, tomates, shitaki... (são quase 20 opções de complementos) em um réchaud apropriado. “É um prato para ser degustado vagarosamente, ser apreciado por todos os sentidos, porção a porção. Cada pessoa escolhe a combinação de cores e sabores que vai aquecer de cada vez e assim, entre uma degustação e outra, o tempo vai passando, com muito prazer”, descreve a pro-
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prietária do restaurante, Sonia Fujimoto. O prato custa R$ 146 e serve oficialmente duas pessoas. Mas, pela fartura, pode certamente fazer a alegria de um grupo maior. Outra casa brasiliense que oferece a raclette é o Chez Fondue, mas numa versão bem mais simplificada: o queijo já chega à mesa derretido e acompanhado apenas de batata picles. Normalmente é pedido como entrada do fondue, o prato principal. Está vendo como a raclette não é um prato assim tão exótico? Ao contrário.
Tendo bons ingredientes, é até bem fácil de fazer. E como ele é preparado na hora, na medida do paladar de quem vai consumir, não tem como não gostar. Quem sabe numa próxima pesquisa você participe assinalando aquele ícone do coraçãozinho do facebook. La Bonne Fondue
SCES, Trecho 2 (3223.0005). De 3ª a sábado, das 19 às 24h; domingo, das 19 às 23h.
Chez Fondue
407 Sul, Bloco C (3443.2925). De domingo a 5ª, das 19 às 24h; 6ª e sábado, das 19 à 1h.
TEMOS ATÉ MUSCULAÇÃO. Circo, natação, balé, lutas, aeróbica, programação para crianças, além de instrutores formados e capacitados para cuidar de você. Afinal, temos tudo para a sua família, até o que as outras academias têm. www.companhiaathletica.com.br/unidade/brasilia
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Thomas BF
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Tapas e paellas POR VICTOR CRUZEIRO FOTOS ANDRÉ DUSEK
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ocê vai ter que colocar no cardápio que jamón é presunto cru”, disse um amigo, que em seguida ouviu de sua interlocutora um enérgico “mas isso não é o suficiente!”. Ao relatar essa conversa, a jornalista catarinense Simone Garcia repete, enfática, que “jamón não se limita ao presunto cru”. De fato, o jamón não é só um sinônimo. Ele abarca duas principais variedades, o ibérico e o serrano, cada qual com sua denominação de origem controlada, assim como muitos vinhos. É uma verdadeira instituição de um país de cuja cozinha pouco se conhece por aqui além da paella. Foi essa inquietação que moveu Simone a brindar Brasília com o seu Jamón Jamón. O pequeno e curioso restaurante da 109 Norte, inaugurado no final do ano passado, traz para a cidade uma proposta totalmente nova que pode ser chamada de, no mínimo, íntima, com um ambiente aconchegante, poucas cadeiras e um cardápio reduzido, sempre sob os cuidados da dona. O carro-chefe são os tapas, aqueles petiscos ou pequenas refeições que, quentes ou frias, prezam por uma simplicidade no preparo,
inseparável de um sabor único. Mais do que isso, são um ponto cardeal da gastronomia espanhola. Gastronomia? Perdão! Eu quis dizer cozinha, como bem frisa Simone, que tampouco se autointitula chef, mas cozinheira. “Esse é o meu capital. É o sabor que as coisas têm”, diz a jornalista, cuja experiência vem dos 15 anos vividos na Espanha. Ela se mudou para lá ainda jovem, em 1990, aproveitando-se de sua ascendência e do seu afã de conhecer o mundo, tão típico dos 20 e poucos anos. Foi de posse desse sentimento – ou seria possuída por ele? – que deixou a Espanha tomar conta de seu coração, de sua mente, de seus sonhos. Enquanto cursava um doutorado em novas mídias, buscou vários meios de se manter, e encontrou nos trabalhos noturnos em restaurantes a maneira mais rentável de se sustentar e ter o dia livre para os estudos. De garçonete a auxiliar de cozinha, ela se viu inserida num meio de restaurantes informais, com um público devotado e ávido por essa cozinha tão particular. Segundo Simone, a cozinha espanhola é fiel e familiar, ligada aos pequenos produtores e aos produtos regionais, que são feitos da maneira mais descomplicada possível. Não há o fantasma do gourmet,
e tampouco da haute-cuisine. É essa a cozinha que Simone quer apresentar ao público brasiliense com seu Jamón Jamón. E efetivamente está conseguindo, com a cozinha bem à vista, graças ao espaço reduzido da loja, um antigo salão de beleza. “É minha catarse”, diz a empresária. O cardápio do Jamón Jamón serve iguarias como os montaditos, sequência de pães com acompanhamentos diversos – variando de acordo com o dia – que formam uma porção visualmente primorosa (R$ 30), além da paella, que adorna os almoços de sexta e sábado. Ao preço
Simone Garcia: cozinha espanhola fiel e familiar.
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PICADINHO Ao gosto de Frida
Jamón Jamón
109 Norte, Bloco D (3032.2595). De 3ª a 5ª feira, das 18 às 24h; 6ª e sábado, das 12 às 16 e das 19 às 24h.
Reforço no cardápio
Filé quase nos 20 Assim foi batizado pela chef Mara Alcamim, em homenagem aos 19 anos de seu restaurante, o Prato da Boa Lembrança 2016 do Universal Diner (210 Sul, Bloco C, tel. 3443.2089). Trata-se de um macio e saboroso filé mignon ao molho de vinho e fondue de gruyère, acompanhado de risoto de castanhas. Quem consumir o prato, que custa R$ 120, leva para casa uma réplica de cerâmica, pintada à mão.
Angus no Giraffas Divulgação
Uma agradável surpresa para os frequentadores da rede Giraffas foi o lançamento da linha de bifes Angus, em quatro versões – grelhado, acebolado, a cavalo e a parmegiana (os três primeiros custam R$ 18,90 e o último um real a mais). Além de 140 gramas de carne, os pratos levam três acompanhamentos e um molho à escolha do cliente (vinagrete, madeira, ao alho e acebolado). Outra boa novidade: quem for a qualquer restaurante da rede acompanhado de outra pessoa ganha um desconto de 25%.
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Telmo Ximenes
Especializado em carnes preparadas no forno a lenha, o Bartolomeu (409 Sul, Bloco C, tel. 3442.1169) acaba de agregar ao seu cardápio algumas novidades, entre elas o canelone com pato desfiado, o salmão grelhado com arroz e brócolis e o mix de frutos do mar da foto acima. O menu-degustação é farto: salada tropical, frios, foccacia, mortadela, salames, linguiça especial, leitão, fraldinha, galeto, cordeiro, bacalhau ou salmão, lasanha e sobremesas – tudo a R$ 78 no almoço e R$ 88 à noite. Mas o carro-chefe da casa, claro, continua sendo o leitão à pururuca, bem torradinho, sem gordura.
Daniel Zukko
de R$ 120, duas pessoas podem desfrutar da clássica paella marinera, de frutos do mar, ou da versão de carne de porco e coelho (tradicional na cozinha espanhola), por R$ 110. “Lá na Espanha, dia de paella é quinta-feira!”, lembra Simone, que também evoca o hábito do vinho nas refeições espanholas. Ela colocou na carta de vinhos três rótulos espanhóis pouco conhecidos no Brasil, ao preço médio de R$ 70 a garrafa e R$ 15 a taça. O Jamón Jamón também conta com outro carro-chefe do paladar espanhol: a sangria. A clássica bebida de vinho tinto seco, vermute, suco de laranja, limão siciliano, ameixa e maçã verde é servida em uma jarra, por R$ 68, ou meia jarra, por R$ 38. Para a sobremesa, outro clássico: a crema catalana, creme de gemas aromatizado com canela e limão siciliano, coberto com uma camada de açúcar queimado, tão delicada quanto saborosa. A iguaria, única no cardápio pelo minimalismo necessário ao Jamón Jamón, custa R$ 12. Sin duda, há muito o que experimentar e conhecer no Jamón Jamón. A começar pela própria Simone, que sempre estará lá! “Não tenho sócio”, ela diz, orgulhosa. Afinal, a paixão é dela e, como tal, o zelo e a dedicação. “Sou eu quem faz as compras”, diz. E, ao me ouvir perguntar se não é muito trabalho carregar batatas e cebolas pela Ceasa, ela responde: “Poderia ser pior... eu poderia estar numa reunião”.
As comidinhas prediletas da mexicana Frida Kahlo serão servidas, até o final do mês, no festival gastronômico da rede El Paso (404 Sul, Bloco C, tel. 3323.4618; 110 Norte, Bloco B, tel. 3349.6820; Terraço Shopping, tel. 3233.5197). Para preparar as iguarias, o restaurater David Letchig foi buscar no México a chef Mari Carmen Saenz, que ajudou a gastronomia de seu país a se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Outras duas paixões de Frida – arte e moda – marcam presença nos três restaurantes, onde estão expostas obras do artista plástico Flamarion Vieira e da Galeria Urban Arts, além de modelitos da estilista Fernanda Ferrugem inspirados no colorido das obras da artista mexicana Aulas de culinária ministradas por Letchig e Mari Carmen (foto), degustações de tequila e vinhos mexicanos e uma feira embalada por música latina completam a programação do “Festival Frida Pop”.
Menu de outono Esse peixe prego acompanhado de purê de berinjela (R$ 95) é uma das estrelas do cardápio de outono do Rubaiyat (SCES, Trecho 1, tel. 3443.5000), elaborado pelo chef espanhol Carlos Valenti com ingredientes leves, pequenas porções de massa e legumes. Foccacia crocante coberta com queijo de cabra, cebolas glaceadas, tomate seco e azeitonas (R$ 35), tutano de palmito com ossobuco (R$ 40) e Baby Pork (R$ 90) completam o cardápio.
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
Voltar pode ser perigoso
lrecena@hotmail.com
Volver. Voltar e ver. Lembrar e relembrar, reencontrar velhos amigos. As neves do tempo deixaram prateados os cabelos ainda resistentes. Volver, assim, é um paradoxo. A alegria é de ouro, mas a prata do tempo vai marcando os temas do retorno. O ouro é o enredo de cada história, com o brilho avivado pela memória. Partículas são conduzidas pelo calor da conversa, viram detalhes, mínimos pedaços de casos e causos. O detalhe do detalhe, o nome do apelido ou o apelido do nome, pequenas peças que se encaixam no universo maior daquela história. O ambiente se anima outra vez e a história volta a ser real. Risos, comentários novos sobre a mesma história que se perdera no tempo, no ouro de um tempo de ouro. Dourada prata aparece sem ser convidada. Não precisa: ela faz parte da história e aparece para lembrar que o ouro é memória. Ela é que é o presente. Então damos os polimentos, todos os polimentos necessários. Longe de serem os que foram dados às histórias de ouro. O suficiente para lembrar que a prata é real. É a realidade. A dura constatação de que o tempo passou. No mesmo instante todos se juntam: ouro, prata, detalhes, histórias e memórias. E nós também. Na mesa do velho Roma de ouro e prata, dois, três, quatro filés a parmegiana ou mais desfilam e enchem os pratos. Ah! O velho Roma, na W-3 Sul. Mais de 50 anos servindo Brasília com dignidade, bons pratos e boas, muito boas histórias. Foi lá o ponto de encontro de mais ou quase 300 anos de jornalismo na capital da República, nem sempre agitados como agora, nem sempre calmos e medrosos igual aos tempos da ditadura militar. Além do nosso faminto e sedento grupo, colegas mais jovens passavam por outras mesas. Claro que os temas do momento estiveram em pauta. O que reinou, no entanto, foi a saudade, o molho especial da saudade. Das pessoas, de nós e do Roma.
As garfadas...
O cubano Pablo Milanés cantou, em tempos que a santa ignorância garantia Fidel e Chico na condição de unanimidade, que “todo es lo mismo, pero no es igual”. Assim nós e o velho Roma. A excelência do filé a parmegiana, essa sim, é igual e ainda unânime. Carne alta, queijo, molho, porção mais que generosa. Um garçom do nosso tempo, o Luís, outros nem tanto, todos inclinados à surdez, para não ouvir bobagens, sandices, bravatas políticas ou sexuais. Não foi baile da Ilha da Fiscal, longe disso. Estava mais para encontro de músicos no convés do Titanic. Lá fora, caía a tarde feito o viaduto das esperanças de mais um populismo irresponsável.
... e os goles
O prato famoso está em promoção e algumas bebidas também.
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Vinhos que atravessam o túnel do gosto, antigas flores do campo, eternos sabores. Periquita, Concha y Toro. Nada que lembrasse o gosto esnobe e novo rico do sindicalismo de ocasião e resultados. Os ortodoxos, sempre eles, seguiram tarde afora caminhando com o Joãozinho, aquele escocês que entrou em nossa vidas e continua mais fiel do que qualquer político de esquerda. Salud!
Final mitológico
Do Roma para a Grécia é um pulo entre dois goles. A nossa vitória sobre as forças inimigas (bebida, comida, governo, não necessariamente nessa ordem) foi insofismável. Por não perdermos nenhum de nossos generais, não foi uma vitória de Pirro. Portanto: todos os caminhos (e copos) levam ao Roma!
PÃO&VINHO
Quanto mais velho melhor? Este é um ditado muito utilizado, inclusive de diversas formas jocosas, baseado na ideia de que o vinho tem que envelhecer para ganhar qualidade, precisa de tempo de descanso em barricas de carvalho e mais tempo ainda de descanso na garrafa, e como conclusão automática se pensa que, para um vinho, quanto mais velho melhor. Será? A ideia em sí, a princípio, tem valor, mas há que se observar uma série de detalhes em cada caso prático para se verificar a veracidade ou não desse adágio. Antes de mais nada, devemos separar os vinhos brancos dos tintos para essa análise, pois, embora haja alguns vinhos brancos que conseguem envelhecer bem, a maioria não tem a estrutura necessária para isso, e se insistirmos em aguardar muito para seu consumo acabaremos por beber no mínimo um vinho ruim, se não um bom vinagre. Já os vinhos tintos, que têm como grande diferença na sua composição, em relação aos brancos, no que tange a sua estrutura e capacidade de envelhecimento, os taninos, estes sim podem ter, mais comumente, condições de envelhecer bem, ou seja, de melhorar, de evoluir com o tempo. Mesmo entre os tintos, o tempo de envelhecimento adequado para cada um varia muito. A priori, qualquer vinho de boa qualidade ( que não seja “vagabundo”) deve ter condições para aguentar um envelhecimento entre três e cinco anos, nem sempre, inclusive, se aprimorando com isso. Há quem diga, ainda, que o máximo de envelhecimento que um vinho pode aguentar com ganhos de qualidade seria de 25 anos. Na verdade, como já dei a entender acima, tudo isso é muito relativo. Tudo depende da “qualidade” da produção do vinho: da casta utilizada, da condução dos vinhedos, da colheita, da prensagem, da vinificação, do armazenamento, enfim, de todo o processo que levou à obtenção da garrafa que iremos abrir, eventualmente com décadas de idade. Os vinhos que se prestam ao envelhecimento são chamados “vinhos de guarda”. Embora não exista um conceito formal quanto a isso, em minha opinião um vinho só pode ser considerado “de guarda” quando seu consumo só seja aconselhável após dez anos de garrafa. Aliás, note-se, o vinho de guarda, na contramão dos demais, se consumido muito cedo será, invariavelmente, ruim de se beber, pois
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
apresentará poucos aromas e uma boca excessivamente tânica, tornando-se desagradável, se não intragável. Vale ainda observar que, pelos motivos descritos de alta qualidade em todo o processo e muito tempo de espera para o consumo, a consequência automática é de que os vinhos de guarda são sempre muito mais caros que os demais. Além disso, o vinho de guarda bem envelhecido evolui, de fato, nas suas características, tornando-se ao longo do tempo, em geral, cada vez mais leve, com aromas menos pungentes, embora sempre mais complexos, com álcool mais suave e boca mais elegante. E certo é que este não é o gosto preferido pela maioria, que quase sempre dá preferência aos bomb wines com aromas e sabores explosivos. Poderíamos discorrer páginas e páginas sobre o tema, mas prefiro, em vez disso, descrever a minha recente degustação do vinho tinto seco mais velho que já provei. Em almoço recente que ofereci em minha casa para uns poucos amigos, decidi abrir uma das maiores preciosidades que mantinha em minha adega: uma garrafa do Gran Vin de Chateau Latour 1969. Com nada menos que 47 anos! Pretendia aguardar os 50 anos, mas não resisti, afinal a vida é curta... Obviamente, um vinho caro, cotado para colecionadores à volta dos R$ 8 mil, mas claro que não paguei esse preço, pois tratou-se de um achado que fiz em Bordeaux há vários anos, e que guardei para este momento. Como não é incomum para vinhos tão velhos, tive dificuldades para sacar a rolha, que acabou por se esfarelar, me obrigando a coar o vinho antes de consumi-lo. Mas, após essa dificuldade, lá estava aquela maravilha às taças. De tons castanhos, como é próprio à sua idade, ainda se apresentava em perfeito estado. O nariz, como previsível, não era tão vivo, mas muito complexo e interessante, com algum cacau e leve chocolate na largada, frutas vermelhas em geleia, cassis marcante, cedro, tabaco e ainda mais. Na boca, um vinho de taninos já bem suaves, mas presentes, saboroso, a confirmar as frutas vermelhas, e o que mais impressionou: uma acidez ainda perfeita e gastronômica. Para quem gosta de vinhos envelhecidos, estava perfeito. Inesquecível!!!
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HAPPY HOUR
Baixa gastronomia? Ernest Hemingway, escritor norte-americano
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Não acho simpático quando as pessoas se referem à culinária de bar como sendo de “baixa gastronomia”. Mas reconheço que a nomenclatura surgiu com a boa intenção de separar ou diferenciar a chamada “alta gastronomia” – sofisticada e às vezes luxuosa – daquela popularmente reconhecida como gastronomia de bar. Ainda assim, é importante esclarecer que a “categoria” gastronômica chamada de “baixa” não inclui os fast-food e lanchinhos rápidos. A vantagem dessa nomeação é ser um artificio didático, apesar do inevitável tom pejorativo. O que importa é que essa culinária de bar e de rua é muito popular, cheia de tradições, riquíssima em alternativas e repleta de apelos sensoriais. Os ambientes mais visíveis dessa cultura gastronômica são os bares em todos os seus formatos: botequim pé sujo, bar, pub, choperia e, recentemente, o gastropub – um tipo de bar sofisticado que oferece grande variedade de bebidas e uma ponte com a alta gastronomia. Essa “onda” dos gastrobares se iniciou nos Estados Unidos, gestada dentro do movimento microcervejeiro, no final do século passado. No Brasil chegou por volta de 2010, tomou conta da cena noturna paulistana e se espalhou pelo país lentamente. Mas, nas terras brasileiras, o tradicional boteco ainda é o campeão do segmento da baixa gastronomia. Desde os bares mais simples, com suas mesas de plástico e copos descartáveis, passando pelos tradicionais e conservadores botecos, incluindo as choperias modernas e até os mais sofisticados gastrobares. As alternativas são milhares, sejam elas regionais (carnes, bolinhos, pasteis, coxinhas, frutos do mar etc), sejam internacionais (tapas, fish&chips, burguers, bruschetas etc). Há para todos os gostos, climas, ambientes e harmonizações com a bebida preferida.
www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado
Comida di Buteco Diz um velho ditado da boemia que “um bom botequim atrai seus clientes pela boa bebida, mas os retém pela boa comida”. Pensando assim, há mais 20 anos um grupo de amigos de Belo Horizonte resolveu fazer um concurso entre os melhores bares para escolher os que serviam os melhores tira-gostos na cidade. Nascia ali o que se tornou, a partir do ano 2000, o principal concurso sobre culinária de bar no país: o Comida Di Buteco. Ultrapassando as fronteiras da cidade em 2006, o concurso se tornou regional e acabou ganhando abrangência nacional. Brasília participou pela primeira vez em 2015. Este ano são 20 botecos localizados na Asa Sul, Asa Norte, Vila Planalto, Águas Claras, Guará, Taguatinga e Núcleo Bandeirante. Cada um criou um tira-gosto especialmente para a ocasião e ao preço máximo de R$25,90. Até 8 de maio o público terá a oportunidade de conhecer os bares participantes, degustar os pratos propostos para o concurso e dar nota em alguns quesitos relativos ao prato e ao bar, que incluem higiene. A novidade deste ano é que, além de escolher o melhor da cidade, pela primeira vez será realizada uma competição nacional. São 20 cidades a competir pelo título de melhor buteco do Brasil. A lista dos bares participantes e maiores detalhes podem ser conferidos no site www.comidadibuteco.com.br/brasilia.
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“Não consigo pensar em comer algo sem beber uma cerveja”
RONALDO MORADO
Bolinho de mexidão da Confraria Chico Mineiro
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brasília56 O aniversário da cidade será comemorado com muita música durante os dias 21 e 22. O gramado da Torre de TV abrigará o palco por onde vão se apresentar, no dia 21, o quarteto carioca Taryn, às 17h, a banda brasiliense Scalene, às 18h, a banda carioca 13.7 (Chico Chico), às 19h, e a brasiliense Plebe Rude, às 20h20. Para fechar a programação do dia do aniversário foi convocada a banda pernambucana Nação Zumbi (foto), fundada há 22 anos por Chico Science, que se apresenta às 21h50. No dia seguinte será a vez do jovem violonista brasiliense Pedro Martins subir ao palco, às 18h, seguido pela dupla caipira Zé Mulato e Cassiano, que se apresenta às 19h20. Depois virão o baiano-brasiliense Renato Mattos, às 20h20, o multi-instrumentista Dillo D’Araújo, às 21h20, e, por último, a banda Móveis Coloniais de Acaju. Todos os shows serão gratuitos.
Emília Silberstein
São escritores, roteiristas, jornalistas e compositores que têm uma coisa em comum: ganham a vida contando histórias. Acaba de ser lançado o www.projetolupa.com, um site que reúne esses profissionais em depoimentos sobre sua relação com a escrita e a relação entre as dimensões práticas e subjetivas da criação. Já estão no ar os depoimentos da jornalista e cronista da Roteiro Conceição Freitas (foto), do cineasta Iberê Carvalho, do compositor Clodo Ferreira e do poeta Nicolas Behr. A jornalista Naiara Leão, idealizadora do portal, tem planos de expandir seu conteúdo para além de Brasília. “No Rio, por exemplo, a proposta é entrevistar imortais da Academia Brasileira de Letras e críticos de arte, especialidade pouco desenvolvida no DF, e em São Paulo falaremos com professores do curso de Estudos Literários da Unicamp, único no Brasil voltado para a formação de escritores em diferentes plataformas numa mesma graduação”. Os perfis são pensados para leitura na internet, mas escritos no estilo do jornalismo literário, formato que foge do padrão objetivo das reportagens comuns, tornando a leitura mais dinâmica e poética. Os registros da fotógrafa Emília Silbertein reforçam o caráter artístico do projeto e ajudam a revelar um pouco mais da personalidade do entrevistado. A cada mês um dos profissionais entrevistados fará uma palestra em escola pública, seguida de atividade educativa. Escritores da comunidade, amadores ou profissionais, também serão convidados a participar de debates e oficinas de criação. 12
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osdonosdashistórias
picnik Arte, moda, música, gastronomia. No dia 21 de abril, aniversário da cidade, o estacionamento 4 do Parque da Cidade vai receber o Picnik, uma mistura de mercado alternativo com roupas e objetos de decoração, gastronomia, música ao vivo e exposições, que comemora seu quarto aniversário. Entre as novidades estão áreas para jogos de tabuleiro, para a disseminação da alimentação vegana, encontro de fanzineiros e oficina de histórias em quadrinhos. Das 13 às 22h, com entrada franca. Programação em www.facebook.com/PicnikNoCalcadao.
Mauro Kury
pratodafamília Para comemorar 20 anos de teatro, dança, música e dez montagens autorais que já circularam pelo Brasil e até pelo exterior, a Cia. Os Buriti Teatro de Dança lança seu primeiro CD, Cantos de encontro, e realiza temporada na Funarte com quatro espetáculos – O marajá sonhador e outras histórias (dia 30), Cordas e contos (dia 1º), Cantos de encontro (dia 7) e Blima – Imagens do sagrado (dia 6) – e a Oficina de Dança Teatro com Eliana Carneiro (dia 5), que oferecem ao público a oportunidade de uma síntese do trabalho desenvolvido pelo grupo brasiliense. A proposta do CD, assim como do espetáculo, é ser um produto que toda a família pode apreciar. “As composições abordam temas e gêneros musicais variados e privilegiam o uso da imaginação, do hábito de contar e ouvir histórias e a pura diversão de cantar e dançar”, explica Naira Carneiro, diretora do espetáculo. Naira, Marília Carvalho, Diogo Vanelli e Daniel Pitanga assinam e interpretam as composições. “O CD Cantos de encontro é dedicado às crianças e a tudo o que elas representam. É também uma forma de agradecimento e celebração destes 20 anos de andanças, projetos e sonhos desta tribo-família brasiliense”, comemora Daniel Pitanga. Teatro Plínio Marcos, da Funarte, com ingressos a R$ 20 e R$ 10. Programação em http://osburiti.com.br/
interferência Divulgação
É de Toninho Euzébio o trabalho que ilustra a campanha publicitária atualmente veiculada em comemoração ao aniversário de 19 anos do respeito à faixa de pedestres na cidade. Com formação em direção de arte e ilustração, ele é um nome conhecido no mercado publicitário de Brasília. Até 2 de maio, o brasiliense poderá ser apresentado ao trabalho de Toninho, que tem sua primeira exposição individual no ParkShopping. Selecionados entre mais de uma centena de imagens, os 24 trabalhos que compõem a exposição revelam o olhar crítico, astuto e por vezes cheio de bom humor de Toninho Euzébio. No entanto, quatro imagens foram feitas especialmente para a mostra do ParkShopping, sendo que três delas são resultado de uma parceria com o fotógrafo profissional Nicolau El-Moor. “A fotografia amadora com o celular limita um pouco o trabalho, especialmente na questão do foco. Por isso, resolvi experimentar o processo usando uma máquina profissional e com uma lente especial que permite conseguir maior nitidez em dois planos diferentes”, explica Toninho, que se orgulha do resultado atingido Sempre munido de seu moleskine, uma caneta nanquim e um celular, Toninho separa alguns minutos do seu dia para desenhar e fotografar, simultaneamente, cenas do cotidiano. De segunda a sábado, das 10 às 22h, e domingos e feriados, das 12 às 20h.
coemergência Paulo Pena
artedacidade Até 30 de abril os brasilienses podem visitar a mostra Rodrigo Rosa – A forma e arte da cidade, em cartaz no Museu da República, e conhecer desenhos inéditos do artista falecido há dois anos, assim como todo acervo doado ao museu por meio do Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, da Funarte. Bacharel e mestre em Artes pela Universidade de Brasília, Rodrigo Rosa foi premiado pela coerência, economia e rigidez de seu trabalho relevante para o conjunto da arte contemporânea brasileira. Sua trajetória vai das gravuras e pinturas com aplicação de finas camadas de pó de grafite até as grandes instalações em aço carbono, mármore, mdf ou argila, em que fazia as conexões do espaço físico com o ilusório. “O espaço como fundamento, o tempo como ferramenta,” costumava explicar Rodrigo Rosa. De terça a domingo, das 9h às 18h30, com entrada franca.
Assim está intitulada a exposição de fotos de Paulo Penna em cartaz no Espaço Cultural STJ de 27 de abril a 20 de maio. Com curadoria de Leliane Macedo de Souza, apresenta 55 fotografias inéditas, em quatro séries, que ilustram quatro técnicas e perspectivas alternativas. Cada uma delas tem sua própria identidade e proposta conceitual. Representam anos de estudo, pesquisa e experimentação em fotografia contemporânea, na busca pela ruptura de paradigmas e da originalidade na forma e no conceito. A linha de trabalho do fotógrafo Paulo Penna prima por construir as imagens na máquina fotográfica com os recursos da fotometria e pintando com a luz. “A experiência da coemergência é uma prática ligada a estudos de meditação. Tive o primeiro contato com esse conceito filosófico num curso com um lama tibetano chamado Padma Santem, que ministra muitas palestras em Brasília pelo instituto que fundou. Basicamente, coemergência é uma propriedade exercida na mente humana, onde existe uma dimensão construtora luminosa, que vai dando significado às coisas em plena liberdade natural, habilidade de que todos nós dispomos, mas que não exercitamos”, finaliza o artista. De segunda a sexta-feira, das 9 às 19h, com entrada franca. Informações: 3319.8460.
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Em 2007 ele realizou a mostra Brasília iluminada, uma homenagem ao centenário do arquiteto Oscar Niemeyer, que ficou exposta ao ar livre na praça dos Três Poderes durante dois meses. Em 2012 fez imagens aéreas da cidade, a pedido do Governo do Distrito Federal, e assim nasceu o livro Brasília vista do céu. Dois anos depois lançou o livro Do céu, Brasília, com 200 fotos mostrando a capital do alto, publicação de arte que se tornou a mais vendida no Distrito Federal. Agora, o fotógrafo Bento Viana apresenta Bendito Brasil, uma exposição resultante de suas andanças pelo país. São imagens feitas ao longo de 20 anos, em diversas regiões e aldeias indígenas da Amazônia, Xingu, Grande Sertão Veredas, Maranhão, etc. Fotógrafo, produtor premiado de cinema e vídeo e geógrafo de formação, Bento Viana tem 22 anos de carreira e um portfólio que inclui trabalhos para diversas organizações, entre elas o WWF-Brasil e o Greenpeace Brasil. Bendito Brasil ainda estará em cartaz de segunda, 28, a quarta-feira, 20 de abril, as 9 às 19h,no Espaço Cultural STJ, com entrada franca.
Bento Viana
benditobento
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Jennifer Glass
DIA&NOITE
juízofinal Antonin Artaud (1896-1948) foi poeta, ator, escritor e dramaturgo francês de aspirações anarquistas. Preso em 1937 na Irlanda, foi deportado para a França, onde passou muitos anos internado em hospícios e só foi libertado no fim da 2ª Guerra Mundial. Em 1947, escreveu Pra dar um fim no juízo de Deus para uma transmissão de rádio que foi censurada pelo diretor da Radiodifusão Francesa. Sua peça foi adaptada pelo diretor Zé Celso Martinez e pela Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona pela primeira vez em 1996, numa encenação no Museu de Arte de São Paulo para a comemoração dos 100 anos de nascimento do autor. Devido à grande repercussão, ganhou temporada de três meses no Teat(r)o Oficina. Quase 20 anos depois, Zé Celso retoma sua encenação mais radical, em temporada de duas semanas na Caixa Cultural. O que é a consciência? O que é crueldade? Deus é um ser? Essas questões são colocadas em cena pelos diversos Artauds, que ganham corpo na carne dos atores Pascoal da Conceição, Marcelo Drummond, Camila Mota, Sylvia Prado, Artaud Beatrice Cenci, Roderick Himeros e do próprio diretor. Para dar um fim no juízo de Deus fica em cartaz de quinta, 21, a domingo, 24 de abril, com ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 3206.6456.
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domingosemchuva Na virada do ano de 1954 para 1955, quatro amigos fizeram uma promessa: que se cuidariam por toda a vida. Passados 60 anos, Laila, Antônio, Clarice e Mário estão no palco do Teatro Dulcina de Morais para contar essa história no espetáculo Domingo sem chuva, a mais recente montagem do Grupo de Teatro Celeiro das Antas. A ideia da peça, dirigida por José Regino, surgiu após pesquisa do grupo em abrigos para idosos, com o objetivo de recolher histórias e aprofundar o olhar sobre seu cotidiano. Com cenas inspiradas na rotina diária do abrigo, a história é contada com muito humor e poesia, fazendo uma reflexão sobre o universo dos idosos que são deixados de lado por seus familiares, tendo que lidar com suas limitações. A proposta é evitar uma visão estereotipada da velhice, buscando compreender a necessidade real desses homens e mulheres, refinando o olhar sobre essa realidade. A trilha sonora é composta por músicas autorais que fazem menções a hits que marcaram época. É executada ao vivo pelos atores no estilo à capela, ou seja, sem acompanhamento de instrumentos musicais. Os atores usam a própria voz para reproduzir diferentes instrumentos, compondo uma variável de ritmos e melodias que vai do rock a canções populares. Na Sala Conchita, subsolo do Teatro Dulcina de Moraes, de sexta-feira, 22, a domingo, 24 de abril, às 20h. Ingressos a R$ 30 e R$ 15. Classificação indicativa: 12 anos. Mais informações: 8334.7617.
Atores, músicos e bonecos contam a história de Benedita Cipriano Gomes, a Santa Dica, líder comunitária que criou em Lagolândia, na região de Pirenópolis, entre os anos 20 e 30 do século passado, uma comunidade que dividia a terra por igual e eliminou a circulação do dinheiro. O novo espetáculo da Cia. Burlesca, Bendita Dica, faz parte da programação de ocupação promovida pelo Movimento Dulcina Vive. A narrativa vai desde sua fama nos sertões, atraindo cada vez mais seguidores, passa pela perseguição por parte das autoridades insatisfeitas com suas atitudes revolucionárias, evoca seu dom em conversar com anjos e o episódio conhecido como "o dia do fogo". Tudo isso contado com leveza, comédia e responsabilidade. O projeto idealizado pelo diretor do grupo, Mafá Nogueira, levou seis meses de ensaio para chegar aos palcos. A dramaturgia foi construída coletivamente, a partir de pesquisa bibliográfica, filmográfica e também de relatos de moradores de Lagolândia ouvidos pelo elenco. Sala Conchita de Moraes, sábado, 23, e domingo, 24 de abril, às 15h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
“Quem verdadeiramente ama Deus ama tudo o que é bom, quer tudo o que é bom, favorece tudo o que é bom; louva todo o bem e com os bons se junta sempre para apoiá-los e defendê-los.” Essa é uma das frases de Santa Teresa D’Ávila, mais conhecida como Teresa de Jesus (1515/1582), inspiração do dramaturgo espanhol Juan Mayorga para escrever A língua em pedaços, espetáculo que comemorou os 500 anos do nascimento da santa, completados em 2015. A trama, de forma ficcional, enfoca o embate entre a monja carmelita espanhola que realmente enfrentou a igreja e um arauto da Inquisição que põe em xeque sua fidelidade religiosa. Com direção de Elias Andreato, tem no elenco Ana Cecília Costa e Joca Andreazza. A peça ficará em cartaz de 18 de maio a 12 de junho, no CCBB. Não recomendado para menores de 12 anos. Ingressos a R$ 10 e R$ 5. Mais informações: 3108.7600.
Laércio Luz
teresadejesus
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benditadica
Jardiel Carvalho
GRAVES&AGUDOS
Sons de outono M
e dê motivo pra sair de casa, bem que poderia dizer assim aquela canção do Tim. Pois, olha: a temporada outono/inverno de shows musicais em Brasília está com cara mesmo é de alta temporada. Bom sinal, já dizia o mercado, uma vez que a música e a alegria em volta funcionam como remédio contra o mau humor reinante. E movimentam a economia, graças! Tem para todos os gostos, desde que o bolso não seja pequeno. Do luxo sentimental clássico dos mitos Ângela Maria e Cauby Peixoto, passando pelo rock do Capital Inicial e da Legião Urbana (acreditem!), até o reggae de Julian Marley e os Wailers, segue um guia básico de alguns (são muitos) dos shows agendados na temporada e o que esperar dos artistas relacionados. Ângela Maria & Cauby Peixoto (20 de
abril, 21h30, no NET Live Brasília) – Abrindo a maratona, o raro encontro de dois grandes (bota grande nisso) astros de nossa música popular. Ardentes defensores da interpretação da canção em seu mais alto estilo, os amigos Ângela Maria (86 anos) e Cauby Peixoto (85 anos)
juntam forças em turnê comemorativa dos 60 anos de carreira artística de cada, daí que o show tem o singelo nome de 120 anos. Cauby, seguramente um dos maiores cantores que este país já conheceu, abre o espetáculo, desfilando pérolas de seu repertório. Depois, a Sapoti – uma das maiores cantoras que este país já conheceu – bota o trinado de pássaro formoso para funcionar. Na sequência, a dupla divide o palco. Numa palavra: imperdível.
ma, nossa música tem soul, aliás, nosso samba, nosso funk têm soul e esse som tem suas primeiras damas, como é o caso da cantora Paula Lima, que vem da Sampa até a capital como atração do projeto Executiva no palco. Tem uma música por aí chamada Fiu-fiu. Saiba que ela é só a ponta do iceberg de canções que se escondem no repertório chique da cantora. Paula Lima é herdeira legítima do mais fino samba-rock e das baladas matadoras que deram fama a Di Melo, Cassiano, Tim Maia e Hyldon. Para curtir e namorar.
Paula Lima (20 de abril, 19h30, no Terra-
ço Shopping) – Sim, nossa música tem alDivulgação
POR HEITOR MENEZES
Capital Inicial (29 de abril, 22h, no NET Live Brasília) – De volta a Brasília, desta vez com o som do Acústico NYC, óbvio, cd/dvd/blu-ray etc. gravados em Nova York. Fê Lemos, baterista do Capital, afirma que esse projeto é o encerramento de um ciclo para a banda, no momento um dos mais bem-sucedidos grupos de rock do Brasil. Quer saber? O Capital merece nossa admiração porque está na batalha há 35-40 anos, desde que mandava um som na sitiada Brasília, sob a alcunha de Aborto Elétrico, grupo do qual faziam parte os irmãos Fê e Flávio Lemos e um certo Renato Russo. Acústico NYC, o mais recente trabalho, repete a iniciativa de desplugar a eletricidade (mas nem
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Fagner (7 de maio, 21h, no Centro de
Convenções Ulysses Guimarães) – Se o cearense Fagner soubesse o quanto é querido pelo público, talvez não ficasse assim tanto tempo ausente de Brasília e do Brasil que nunca deixou de curti-lo. Mas fato é que o cara que nos deu clássicos do tipo Mucuripe (em parceria com Belchior), Canteiros (em cima de poema de Cecília Meireles), Revelação (Clodo/ Clésio) e Noturno (Graco/Caio Silva), entre tantas outras, sucessos onipresentes nos anos 70, 80 e 90, tem mais de 40 anos de estrada e de canção nos quais embarca a grande poesia. Fagner verteu
tanto), tal qual ocorreu com o Acústico MTV (2000). Nesses últimos 15 anos, a banda ampliou repertório, consolidou a formação de integrantes, arrebanhou novos fãs e manteve os fiéis ao alcance. E acima de tudo: pop/rock de alta qualidade. O que virá em seguida, a maturidade?
Fotos: Divulgação
Oswaldo Montenegro (29 de abril, 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães) – O carioca, cidadão honorário de Brasília, tem público cativo e é porta de entrada para milhares de novos seguidores, principalmente aqueles que se interessam pela arte da canção, o mais perfeito suporte para a veiculação de discursos musicados. Sim, o cara é um bardo de mão cheia, tanto intérprete como autor, que abriu caminhos distintos, apontando ora para o teatro, ora para o cinema, ora para a televisão, ora para musicais. Tem sido assim desde que emplacou Bandolins em terceiro lugar no saudoso festival da canção da extinta TV
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Tupi, em 1979. Aliás, lembra quem ficou em primeiro nesse? Foi Quem me levará sou eu (Dominguinhos/Manduka), na interpretação de Fagner. E em segundo? Canalha, de e com Walter Franco. Oswaldo Montenegro nos traz, desta vez, o show A porta da alegria. Seus sucessos estão de roupa nova e se notarem o peso do rock’n’roll é tudo verdade.
Maria Rita (6 de maio, 21h, no NET Li-
ve Brasília) – Depois do enorme sucesso da turnê Coração a batucar, Maria Rita reservou 2016 para dar vazão a um projeto mais intimista. “voz: piano” privilegia o canto mais limpo, sem os arranjos completos para banda repleta de instrumentos. Neste, Maria Rita encarna totalmente o lado intérprete, fazendo seu um naipe de canções filé mignon, tipo Romaria (Renato Teixeira), Madalena (Ivan Lins/ Ronald Monteiro de Souza), Águas de março (Antonio Carlos Jobim), Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá) (Baden Powell/ Paulo César Pinheiro). Isso, sucessos da Elis Regina, mas o show é da Maria Rita.
em música, além de Cecília Meireles, as palavras de Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Bob Dylan, John Lennon, assim como os nossos Gonzaguinha, Dominguinhos, Fausto Nilo, Abel Silva, Capinam. É muita bagagem. Fagner ainda manda muito bem. Legião Urbana (7 de maio, 21h30, no NET Live Brasília) – Você não está enganado. Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá estão juntos, honrando o nome e o grande repertório da Legião Urbana. Depois de muito bla-bla-blá entre os responsáveis pelos direitos de uso das músicas que levam o nome de Renato Russo, finalmente os remanescentes da banda têm a oportunidade de levar adiante projeto no qual revisitam o primeiro disco da Legião, aquele que tem Será, Índios e Ainda é cedo. E são justamente as três décadas do primeiro álbum o mote do show Legião Urbana XXX Anos. Dado e Bonfá vão ter a ajuda de músicos que batalham no rock nacional: na segunda guitarra tem Lucas Vasconcellos (Letuce); no baixo, Mauro Berman (Cabeza de Panda e Marcelo D2); e nos teclados Roberto Pollo (Cirque du Soleil). No vocal, desta vez a grande responsabilidade será
Filho do lendário Bob Marley, Julian Marley comanda os vocais na reunião dos não menos lendários The Wailers, a banda que nos áureos tempos acompanhava o rei do reggae mundo afora. Estão nessa sumidades do reggae, como o baixista Aston Barrett, os guitarras Donald Kinsey e Owen Reid e o tecladista Tyrone Downie. Quando mandarem clássicos do tipo Is this love, você entenderá do que estamos falando.
do ator e cantor André Frateschi. Não, Wagner Moura não vai estar nessa. Matanza (7 de maio, 20h, no Centro Co-
munitário da UnB) – Para não dizer que não falei das flores (pisoteadas), que tal uma dose de countrycore em sua vida? É o que nos trazem os meninos cariocas do Matanza, banda que mescla o punk, o hardcore, o country e o heavy metal, não necessariamente nessa ordem. Sim, é rock’n’roll desembestado ladeira abaixo. Sim, é preciso coragem para encarar A casa em frente ao cemitério, Matadouro 18, Conversa de assassino serial e outras do mais recente Pior cenário possível, disco de 2015 que nomeia a atual turnê. Se achou tudo isso muito pesado, niilista, um aviso: não tem refresco, pois no setlist entram as sempre pedidas músicas dos discos Música para beber e brigar (2003), To hell with Johnny Cash (2005), A arte do insulto (2006) e Odiosa natureza humana (2011).
(ex-Dream Theater), o guitarrista Richie Kotzen (ex-Poison, ex-Mr. Big) e o baixista Billy Sheehan, que tem no currículo trabalhos com estrelas do porte de Steve Vai, David Lee Roth e a banda Mr. Big. Sucesso inesperado com o primeiro álbum, homônimo, lançado em 2013, o Winery Dogs repetiu a dose com Hot streak, disco de 2015 que fornece as bases para a atual turnê mundial. Dos três, Richie Kotzen é o único que já passou por Brasília. Este é para os amantes do rock progressivo e do hard rock virtuoso. Julian Marley & The Wailers (15 de maio, 16h, no Aloha Day Club – Net Live Brasília) – Em pleno domingão, lance legal é cair no reggae de raiz jamaicano, com as maiores autoridades no assunto.
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The Winery Dogs (14 de maio, 21h, no Clube do Congresso) – Rock internacional da melhor qualidade é o que promete o power trio norte-americano The Winery Dogs, na verdade uma superbanda formada pelo baterista Mike Portnoy
Exaltasamba 30 Anos (20 de abril, 22h, Estádio Nacional Mané Garrincha) – Alô, pagodeiros, galera do samba romântico, isso, o samba só no sapatinho: véspera do feriado de 21 de abril tem Exaltasamba no Mané Garrincha. Mas como assim, se o Exaltasamba acabou? Acabou, mas não acabou, sabe como é, o show tem que continuar. Oficialmente, a banda debandou em 2012. Os ex-vocalistas Péricles, Thiaguinho e Chrigor, ao que consta, seguiram bem-sucedidas carreiras-solo, mas agora, nos 30 anos de fundação do grupo, os três resolveram juntar os microfones e celebrar um dos mais festejados grupos de pagode que este país já viu. Nas redes sociais há fãs exaltados nos dois sentidos: a favor e contra a reunião, bem de acordo com esses tempos de incerteza em que o pior é ficar em cima do muro.
Matanza
The Winery Dogs
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GALERIADEARTE
Arte e fantasia de
Marianne Peretti
TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
S
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abe aquela brincadeira de andar sem pisar nas linhas que desde sempre diverte e encurta os caminhos da infância? Então imagine ver um corpinho mignon octogenário, saltando serelepe sobre a réplica dos vitrais da Catedral de Brasília, evitando as linhas da estrutura de metal e comemorando a cada “vidro” alcançado: “Esse também não quebrou”! Era Marianne Peretti, apoiada pelos fiéis escudeiros, a curadora Tatiana Braga o produtor Laurindo Pontes, brincando de saltar linhas ao fim da vernissage da primeira exposição de sua obra monumental, que pode ser vista até 5 de junho no Museu Nacional da República. Ela estava realmente feliz! É quase inacreditável, mas este é mesmo o primeiro grande reconhecimento da cidade, a primeira compilação e mostra da arte dessa excepcional artista franco-pernambucana de 88 anos que figura ao lado Henri Matisse, Marc Chagall e
Fernand Leger no panteão dos grandes vitralistas da modernidade. Única mulher da equipe convidada por Oscar Niemeyer para vestir Brasília de arte e “fantasia” (é a definição predileta de Marianne), presenteou a cidade com inúmeros vitrais, painéis e esculturas que, mais do
Árvore da vida
que todas as obras dos outros artistas – e isso sem desmerecer em nada nosso preciosíssimo acervo monumental –, se integraram à arquitetura do mestre, emprestando leveza e cor às edificações, junto com belíssimas soluções arquitetônicas de iluminação, ambientação e circulação. Foi assim, por exemplo, na capela do Palácio do Jaburu, sua primeira intervenção na cidade, em 1976, que recebe uma iluminação mutante através da sua parede de vitral; no painel Araguaia, que divide ambientes no Salão Verde da Câmara dos Deputados; e no vitral sobre a urna mortuária do presidente Juscelino Kubitschek no Memorial JK. “O projeto inicial previa uma edificação com a cobertura reta. Mas eu não poderia fazer um vitral com a luz incidindo diretamente. Então o Oscar criou aquele elemento arquitetônico oval para produzir uma iluminação zenital (técnica arquitetônica de iluminação natural através de ângulos de parede vazados) na sala onde ficaria a urna. Isso provocou uma certa reação, porque
o projeto já estava aprovado”, lembrou a artista durante um passeio com jornalistas pelos salões do Museu Nacional, antes da abertura da exposição. E o vitral ficou assim: “Oscar reservou no projeto uma sala redonda, preta, com iluminação zenital lateral para diminuir a força da luz que atravessa o vitral que criei para a cobertura da urna, que fica no centro da sala. Em cima do túmulo, esse vitral tem um anjo todo branco que as pessoas chamam de ‘alma de JK’. Esse anjo segura uma coroa de louro. Fiz também uma forma oval branca, para contrapor com o vermelho e o roxo, para romper com as cores escuras. Essa combinação de vermelho, roxo, branco e preto cria uma ambiência dramática. As pessoas declamam, choram...” (trecho do livro A ousadia da invenção, de Marianne Peretti). Mas a mudança no projeto do Memorial JK não foi a única nem a maior das polêmicas provocadas pelas exigências de Marianne Peretti em suas parcerias com Niemeyer. Na verdade, não passou de uma rusga perto do que aconteceu quando ela impôs duas condições para fazer, em 1987, os vitrais da Catedral: trocar os vidros externos, então marrons, por incolores, e pintar as suas colunas de branco. “Foi uma grita geral! De arquitetos, de governantes, até do padre!!! Havia aquele conceito formado de que o concreto armado deveria se manter na cor natural, sem pintura. Mas a cor dos trópicos é o branco, a luz tropical é branca. Então eu insisti. Lembro de uma senhora da sociedade que disse que se as colunas da Catedral fossem pintadas ela sairia de Brasília. Eu respondi: pode fazer as malas”, diverte-se a artista. E já que chegamos à Catedral, vamos nos ater mais um pouco nos seus vitrais, onde não só a polêmica foi superlativa. É a obra – nesta humilde opinião leiga – mais majestosa e expressiva de Marianne Peretti. Seja pela beleza que ficará ad eternum, seja pela extrema liberdade e ousadia que transparecem tão límpidas como a luz que a atravessa, seja pela aventura quixotesca que foi sua execução. Elemento central da exposição do Museu da República, a gênese dos vitrais da Catedral dá dimensão ao comentário de Oscar Niemeyer: são comparáveis, pelo seu valor e esforço físico, às monumentais obras da Renascença. Estendido sobre o piso do salão central do museu, e cercado pela reprodução onde Marianne
brincou de pular linhas, o visitante pode ver um bom pedaço do desenho original do conjunto de 16 vitrais, cada um com 10 metros de base e 30 metros de altura. É desenho livre, feito no chão do Ginásio Nilson Nelson, onde a artista trabalhou com dois auxiliares, ao longo de três meses, dividindo o vitral em 150 pedaços. “Cada pedaço tinha o nome de um amigo”, comenta baixinho Marianne, como se falando para ninguém, enquanto observa o desenho. Mais tarde, lembra outra passagem da gênese: “Quando o desenho ficou pronto, eu tinha que pendurar o papel na Catedral para ver se estava tudo certo. Liguei para os bombeiros pedindo apoio, porque ia ter que me pendurar lá em cima. Responderam que só atendiam emergências de incêndio. Eu disse: então avise a seu comandante que daqui a duas horas haverá fogo na Catedral”! Mas há outras, muitas outras, obras com as quais os brasilienses convivem muitas vezes sem identificar a criadora. De duas, especialmente, Marianne reclama o reconhecimento: o Pássaro, escultura em bronze de 800 quilos que está no foyer do Teatro Nacional – “foi cartão postal de uma coleção de cartões oficiais da cidade sem que se mencionasse o nome dela”, reclama a curadora Tatiana Braga – e a fachada de colunas do prédio do STJ, que a artista define em seu livro como “uma poesia” e hoje lamenta a omissão da autoria. “Falam dela como se fosse obra do Niemeyer”. Outro importante resgate da exposição – e este não memorial, digamos, mas material, físico – é o de um painel feito para o Senado e que, durante uma reforma
no local, foi parar no almoxarifado, todo desmontado, quebrado e deteriorado. A obra foi resgatada, restaurada e será devolvida ao Senado depois da exposição. Artista de muitas décadas de produção tão rica e intensa – ela começou a desenhar aos 15 anos, em Paris –, Marianne Peretti segue, aos 88 anos, sua rotina de criação e ousadia na casa-ateliê onde vive em Olinda. Sua obra mais recente exposta no Museu da República é a Árvore da vida, uma escultura de 12 metros de altura que, finda a exposição, ficará na frente de uma escola de Recife. Foi para o que nasceu essa mulher extraordinária: para dar forma e cor à poesia.
A arte monumental de Marianne Peretti Até 5/6, no Museu Nacional da República. De 3ª feira a domingo, das 9h às 18h30.
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Gerado Suter
GALERIADEARTE
A noiva que se espanta ao ver a vida aberta (óleo sobre tela, 1943)
A arte e as tragédias de
Frida Kahlo
POR ALEXANDRE MARINO
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s tragédias vividas pela artista plástica mexicana Frida Kahlo marcaram profundamente sua obra, a ponto de transformá-la em ícone cultural que propaga a si mesmo ao longo dos tempos. Ela morreu em 1954, aos 47 anos, mas até hoje o interesse por sua obra e sua biografia não para de crescer. Exemplo disso, em vários sentidos, é a exposição Frida Kahlo: Conexões entre mulheres surrealistas do México, que fica em cartaz na Caixa Cultural de Brasília até 5 de junho e só poderá ser visitada mediante agendamento prévio, feito pela internet (frida.ingresse.com), com a posterior retirada de senha na bilheteria. Nascida Magdalena Carmen Frieda
Kahlo y Calderón, em 6 de julho de 1907, na pequena cidade de Coyoacán, era filha de um alemão (Carl Wilhelm Kahlo) e uma mexicana de origem indígena e espanhola (Matilde Gonzalez y Calderón). Sua forte identidade começou a se moldar aos seis anos, quando contraiu a poliomielite que, ao deixar lesões em sua perna direita, mais tarde a levou a adotar longas e exóticas saias coloridas, de motivos florais, que se tornaram ícones de estilo e marcaram uma tendência da moda entre as mulheres de seu país. Influenciada pelo pai, que tinha a pintura como passatempo, Frida estudou desenho, modelagem e gravura, mas não pensava em fazer carreira como artista. Pode-se dizer que seu mergulho nas artes foi forçado pelo terrível acidente
que ela sofreu em 1925, aos 18 anos, quando o ônibus em que viajava se chocou com um trem. Uma barra de ferro atravessou seu corpo, ela sofreu múltiplas fraturas, ficou muitos meses presa a uma cama e sofreu 35 cirurgias. Posteriormente, ao longo dos anos, teve que se hospitalizar várias vezes para tratar de consequências tardias desse acidente. “Meu corpo carrega em si todas as chagas do mundo”, dizia ela. Presa à cama, Frida passou a pintar desesperadamente, e sua pintura retratava um mundo de angústias e frustrações. No entanto, também refletia em cores fortes o contexto cultural em que vivia e com que se identificava, feito de tecidos coloridos, joias e objetos de devoção, santos populares, comidas fortes e api-
Gerado Suter
de suicídio jamais foram totalmente desfeitas. Anotadas num diário, suas últimas palavras foram: “Espero alegre a minha partida, e espero não retornar nunca mais.” No entanto, ela permanece viva graças a sua obra, que desperta interesse a ponto de invadir a seara da cultura pop, a seu comportamento e à forma como enfrentou os dramas que a perseguiram. Além dos óleos sobre tela e obras em papel, desenhos, colagens e litografias assinados por Frida Kahlo, a exposição na Caixa Cultural oferece a oportunidade de se conhecer o trabalho de outras 14 ar- Autoretrato com colar (óleo sobre metal, 1933) tistas, nascidas ou radicadas mostra de filmes, uma litografia assinada no México. São autoras que tiveram relapor Diego Rivera, além de vestimentas, ção pessoal com Frida ou com o surreaacessórios, documentos, registros fotolismo, linguagem na qual se considera gráficos, catálogos e reportagens ligados que sua obra está inserida. A curadora a Frida Kahlo. A exposição foi idealizada Teresa Arcq, historiadora de arte, ex-cue coordenada pelo Instituto Tomie radora chefe do Museu de Arte Moderna Ohtake, de São Paulo. da Cidade do México, selecionou 136 obras. Lá estão representadas, além de Frida Kahlo – Conexões entre Frida, a inglesa Leonora Carrington, a mulheres surrealistas do México francesa Alice Rahon, a espanhola RemeAté 5/6, de 3ª feira a domingo, das 9 às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca, mediante dios Varo, a alemã Olga Costa e a fotóretirada de senhas. Agendamento de visitas: grafa húngara Kati Horna, entre outras. frida.ingresse.com. Mais informações: 3206.9448. A exposição também conta com uma
Divulgação
mentadas. Fiel ao passado pré-hispânico, Frida tinha como fontes de inspiração os símbolos, mitos e divindades indígenas, as máscaras dos rituais. Mulher de personalidade forte, Frida enfrentou as sequelas da poliomielite e depois as do acidente acentuando um estilo próprio, na arte e na vida. Ela era o reflexo da cultura de seu país, com sua diversidade étnica, e também da mulher mexicana, ao enfrentar os preconceitos e se impor como personalidade feminista. Seu casamento com o pintor e muralista Diego Rivera, grande amor de sua vida, foi marcado por brigas violentas, casos extraconjugais e a frustração de não poder ter filhos, devido às consequências do acidente. Grande parte da obra de Frida Kahlo é feita de autorretratos, mas sob um ponto de vista quase sempre inusitado e influenciado pela fantasia, o que a aproximou do surrealismo. O poeta francês André Breton, um dos principais teóricos desse movimento, dessa forma classificou sua obra, num ensaio que escreveu para a galeria Julien Levy, de Nova Iorque. Frida, no entanto, declarou mais tarde: “Não sou surrealista. Nunca pintei sonhos, mas a minha própria realidade.” Frida foi encontrada morta em 13 de julho de 1954, em consequência de uma embolia pulmonar, de acordo com a informação oficial. No entanto, as suspeitas
Obras de outras 14 artistas nascidas ou radicadas no México, que tiveram relação pessoal com Frida Kahlo ou com o surrealismo, estão presentes na exposição. Uma delas é essa aí ao lado, Artes 110 (óleo sobre tela, 1942), da inglesa Leonora Carrinton.
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GALERIADEARTE
Exposição no CCBB apresenta um panorama do De Stijl, com enfoque nas obras de Mondrian. POR PEDRO BRANDT
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s criações do holandês Piet Mondrian (1872-1944) e de outros artistas ligados ao neoplasticismo, movimento artístico também conhecido como De Stijl (“o estilo”), tornaram-se extremamente populares com o passar das décadas, influenciando a publicidade, a moda, a arquitetura, a fotografia, o design gráfico, de mó-
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veis e objetos e o modo de pensar as artes, em especial a arte moderna, deixando um legado indelével, tal sua permanência na contemporaneidade, tanto em uma infinidade de produtos baseados em seus padrões estéticos, quanto nos trabalhos de incontáveis seguidores. Afinal de contas, as pinturas de Mondrian, com largas linhas retas entrecruzadas e espaços quadrados e retangulares tomados por cores primárias, guardam em sua simplicidade uma complexidade cabal, resultando em um apelo ao olhar que se comunica e encanta um público vasto e diversificado. De 21 de abril a 4 de julho, o CCBB recebe uma exposição que permitirá ao visitante apreciar e ampliar sua percepção sobre o neoplasticismo. Mondrian e o movimento De Stijl é o mais completo apanhado já exposto no país de obras
Fotos: Gemeentemuseum Den Haag
Simples complexidade
desse período (concentrado originalmente nas três primeiras décadas do século 20). Poderão ser vistas cerca de 100 obras, das quais 30 de autoria de Mondrian, num panorama das possibilidades criativas do holandês e alguns de seus colegas, como como Thijs Rinsema, Gerrit Rietveld, Jacoba van Heemskerck, Piet Zwart, Vilmos Huszár, Piet Klaarhamer, Cornelis van Eesteren, Gerrit Rietveld, Bart van der Leck, Paul Schuitema e Vilmos Huszár. Criada por Theo van Doesburg e publicada entre 1917 e 1928, a revista De Stijl era o veículo em que os artistas do neoplasticismo expunham suas ideias. Mondrian, por exemplo, acreditava numa arte despida de superficialidade e excessos, sintética, simétrica e dinâmica, dotada de um poder de crítica social e cultural e ainda um diálogo com o divino. Integram a exposição criações como pinturas, maquetes, mobiliários, fotografia, documentários, fac-símiles e publicações de época. Presente na exposição, a pintura Composição com grande plano vermelho, amarelo, preto, cinza e azul, de 1921, é mais icônica do Mondrian. Até chegar à inspiração que resultou na obra – e que ditaria sua produção a partir dali –, Mondrian experimentou outros estilos, influenciado por outras escolas artísticas, como a pintura flamenga do século 19 e o cubismo. Muitos desses trabalhos também integram a exposição, justamente para mostrar o desenvolvimento do pintor até chegar ao estilo que o tornaria um nome essencial das artes a partir de então.
Mondrian e o movimento De Stijl
De 21/4 a 4/7, de 4ª a 2ª feira, das 9 às 21h, no CCBB Brasília (Setor de Clubes Sul, Trecho 2). Acesso livre. Informações: 3108.7600.
No Fabian
QUEESPETÁCULO
Magia e sedução POR SÚSAN FARIA
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las lidam com véus, espadas, taças com velas, candelabros e snujs (instrumentos de percussão de origem egípcia). Mostram agilidade, equilíbrio e maestria. Usam roupas coloridas, cheias de brilho. Encantam, hipnotizam, com o balançar do corpo como se fossem najas, exibindo movimentos ondulantes, batidas e tremores. A magia e a sedução da dança do ventre se sedimentaram em Brasília em mulheres de todas as idades que não só dançam, mas participam de festivais, feiras de artesanato e de roupas árabes, shows e seminários. Mulheres que sentem benefícios no corpo e na mente, a partir de uma dança que as faz mais conscientes do corpo, belas e seguras. No dia 1º de maio, a partir das 10h, a Dalilah Companhia de Dança do Ventre realiza o II Festival da Dança das Arábias, ao ar livre, na área verde da 313 Sul. Espera-se cerca de cinco mil pessoas, principalmente moradores das redondezas, bailarinas e professoras do DF, empresários e microempreendedores. O evento inspira-se nas comemorações do Dia da Cultura Árabe, realizadas na mesma data, em Buenos Aires. “Estava no hotel, ouvi música árabe, pensei que era um casamento. Fui ver e foi uma maravilha, na Avenida 9 de
Julio. Até hoje me comunico com aquelas pessoas”, conta Dalilah Lopes, brasiliense de 31 anos e mais da metade de sua vida – 17 anos – envolvida com a belle dance. Dalilah pediu autorização ao GDF para mostrar em área pública algo parecido com o que viu na capital portenha: estandes com comida árabe, danças competitivas e não competitivas, feira de artesanato e uma banda de músicos marroquinos, brasileiros e egípcios. Bailarina do Noites do Harém Khan el Khalili, de São Paulo, Dalilah realiza mensalmente uma happy hour de dança do ventre em que as alunas interagem com o público, e está à frente de uma excursão que partirá dia 8 de julho para Dubai, Líbano e Egito, para aperfeiçoar a dança e a cultura árabes durante 18 dias. “Tenho pela dança do ventre uma inexplicável paixão, desde que, aos quatro anos, vi na televisão uma atriz dançando e movimentando as mãos, de modo diferente”, diz, assegurando que essa arte agrega saúde, resgate da feminilidade, autoestima e consciência do corpo. A dança do ventre ganha espaço não apenas em academias específicas do estilo, mas em outras academias brasilienses, como as de dança de salão ou até mesmo de flamenco, caso do Stúdio de Dança Capricho Espanhol, no Setor de
Clubes Sul, onde a brasiliense Ana Raquel Garcia, de 39 anos, dá aulas. Na sua opinião, a sensualidade não é um fim, mas uma consequência dessa dança, que, a seu ver, “resgata o domínio do corpo, a delicadeza e a feminilidade e onde a mulher se conecta com algo maior”. Para Luana Caetano, 32 anos, bailarina e psicóloga, a dança do ventre é uma ferramenta de crescimento pessoal. Começou a dançar aos 13 anos e entende que a vivência com a belle dance traz mudanças: “Trato a dança como uma pessoa, alguém que me apoia, me traz desafios, colore os meus dias, me transforma. Aumenta minha sensibilidade feminina e minha capacidade de comunicação”. Luana dançou como bailarina profissional três anos em restaurantes de hotéis cinco estrelas de Barein, Dubai e outros países dos Emirados Árabes Unidos. “Foi uma experiência maravilhosa, pessoal e profissional. Aprendi um pouco do idioma árabe, a trabalhar com música ao vivo e a me comunicar muito com a plateia”. Hoje, ela dá aulas particulares e tem coluna fixa na revista Shimmie (que significa vibração), de São Paulo, especializada em dança do ventre. II Festival da Dança das Arábias
1/5, às 10h, na área verde da 313 Sul.
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Bruno Aguiar
ARTEDERUA
Colorindo a cidade POR PEDRO BRANDT
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primeira cena do filme Wild style, de 1983, mostra o grafiteiro Zoro esgueirando-se sorrateiramente pelos trilhos do metrô de Nova York até chegar ao local onde os trens permanecem estacionados durante a madrugada. A pouca luminosidade não é empecilho para que ele imprima na lateral de um dos carros sua marca: um enorme desenho do personagem mascarado de quem pegou emprestado o apelido. A ação precisa ser rápida, antes que chegue alguém. Se tudo der certo, no dia seguinte, sua nova obra estará circulando por toda a Grande Maçã. Zoro ouve um barulho e se assusta. Seria um vigia? A polícia? Nem um, nem ou-
tro, apenas um xereta que o perseguiu até ali na tentativa de descobrir o autor daquelas fabulosas imagens. Tal qual o curioso do longa-metragem dirigido por Charlie Ahearn – um clássico do cinema underground americano, pioneiro em retratar a cultura hip hop em todos os seus elementos –, muitas pessoas em Brasília devem se perguntar quem são Toys, Omik e Pomb. Afinal de contas, tornou-se impossível não ver um, dois, três, quatro, enfim, dezenas de desenhos assinados por esses artistas do graffiti espalhados pelas paredes da capital federal. A Roteiro conversou com o trio, que, além de dividir as paredes que grafita, compartilha a mesma base, um estúdio na 305 Norte.
Bruno Aguiar
As artes de Toys, Omik e Pomb são quase uma onipresença pelos muros de Brasília
Divulgação
prio graffiti, foi o Mauricio de Sousa, criador da turma de Mônica”, conta. Talvez por isso, a presença de adoráveis figuras Divulgação
Omik Os graffitis que via nas ruas ou em revistas sempre fascinaram Mikael Guedes, 23 anos, conhecido como Omik. Aprendeu sozinho, primeiramente com pincéis e tinta de parede. Há cincos anos, aprendeu a dominar o uso do spray. Ele cita os grafiteiros Snoopy, Anjo, Hiper, Etam Cru e Aryz como algumas de suas inspirações. “Mas a base de tudo, antes do pró-
Divulgação
Toys Formado em publicidade, Daniel Morais dos Santos Bezerra, o Toys, 24 anos, trabalha como ilustrador, artista plástico e designer. Sua marca registrada são os personagens Gatoys, Toyszim e Totoys. “Comecei a pintar com 11, 12 anos de idade. Andava muito de skate e foi assim que conheci o graffiti. Não existe uma escola, aprendi sozinho, pintando e trocando experiências com outros artistas de rua. É algo que só depende da sua vontade”, afirma. Toys busca inspiração visual em desenhos animados, vídeo games, pop art e histórias em quadrinhos. Seus desenhos têm chamado a atenção e rendido diversos convites. “Pintar uma parede na costa do Oceano Pacífico, vendo leões marinhos em Santiago, no Chile, ou pintar a casa de um nativo da Floresta Amazônica é algo muito interessante para ter no currículo de vida. Me sinto um cara privilegiado por viver do que amo”, comemora.
femininas, com grandes olhos e cabelos envolventes, seja uma constante em seus trabalhos – assim como estampas, natureza (particularmente flores) e animais. Pomb Pomb é o codinome de Thales Fernando, 27 anos, artista multimídia formado em Desenho Industrial pela UnB. A vontade de passar seus desenhos do papel para as paredes começou em 2002. “Desde então, isso se tornou um vício que venho carregando comigo e tento espalhar pelas cidades que visito”. Fã de quadrinhos (em especial novelas gráficas, ele detalha), Pomb também se interessa por misticismo. “Andei pesquisando sobre os índios Wauja do alto Xingú, que têm uma crença forte com simbolismos e máscaras. Estou nessa fase agora de desconstrução do 2D para chegar no 3D, com esculturas e máscaras em madeira”. Toys
instagram.com/toysdaniel
Omik
instagram.com/mikaelomik
Pomb
instagram.com/pomb
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ARTEEDUCAÇÃO
Rir é preciso
POR VICTOR CRUZEIRO
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eu recente encontro com a multitalentosa Adriana Nunes – atriz, artista plástica, escritora e professora de teatro – valeu-me uma grande lição: “É preciso reencontrar o que te conecta com a arte, o que te conecta com a vida.” É seguindo essa filosofia, esse mantra, que a brasiliense, com uma atuação de mais 25 anos no teatro, aventura-se agora, ao passar adiante sua experiência na arte de atuar – e fazer rir. Foram abertas, no começo deste ano, as portas da Escola de Teatro e Comédia Adriana Nunes. A premissa é simples: reconectar crianças, jovens e adultos com a capacidade de rir. Rir das situações cotidianas, dos outros, com os outros e de si mesmo. O excesso de cobrança a que somos submetidos hoje em dia, com a exigência ininterrupta de perfeição e de produtividade, anula (ou pelo menos esconde) o lado
lúdico de cada um. “É preciso lembrar do que você ri e por que você ri”, diz Adriana. A ideia da Escola de Teatro, portanto, vem como um respiro na rotina. E, ao adicionar a comédia, o respiro torna-se lúdico. “Fiquei em dúvida se seria escola de teatro ou escola de teatro de comédia, e acabei por me decidir pela escola de teatro e comédia”. Muito acertadamente, o foco é na comédia, mas não só. Uma coisa não anula a outra, mas tampouco elas são a mesma. São forças complementares atuando juntas no combate a essa rotina que massacra imaginação, humor e contato. O contato também é um dos objetivos da escola. Além do reencontro com o que faz cada um rir, a ETC pretende colocar seus estudantes em contato com o coletivo. Afinal, como bem lembra Adriana, o teatro não é feito apenas de atores. Tudo na escola, dos figurinos ao próprio texto, é desenvolvido pelos próprios alunos, em grupo. “Porque a comédia vem do cotidiano”, ressalva Adriana.
Além disso, abrem-se possibilidades de novas experiências no teatro para cada um dos alunos. “Nem todo mundo quer ou vai se tornar ator ou atriz. É possível que alguém se descubra na cenografia ou na dramaturgia, que são igualmente importantes para o teatro”. A Escola de Teatro e Comédia funciona, portanto, como uma plataforma de contato dos alunos com eles mesmos, os outros e os vários profissionais do teatro da cidade. “Quero criar uma rede, trazer o [Alexandre] Ribondi, o Edinho [Edson Duavy], por exemplo, criar um espaço de troca de experiências”. A ETC já conta com quatro turmas (crianças, adolescentes, adultos iniciantes e adultos avançados), cada uma com suas particularidades, conforme conta Adriana, lembrando ainda que esta é a sua primeira experiência com o ensino de teatro. “Já havia dado alguns workshops, mas nada contínuo, com metodologia, conceitos e conexão”, diz, empolgada.
Fotos: Divulgação
Neste primeiro momento – a escola iniciou suas atividades há pouco mais de um mês, no final de fevereiro – o método ainda está em construção. O trabalho de Adriana, ao lado da outra idealizadora do projeto, Luciana Amaral, da Estupenda Trupe, está se estruturando aos poucos, com o desenvolvimento de apostilas e exercícios que permaneçam e sirvam para as próximas turmas.
As aulas estão sendo realizadas nos espaços do Instituto Claude Debussy, na Asa Sul e na Asa Norte. Foi a instituição, com mais de 50 anos de tradição na formação em música, dança e teatro na capital, que sugeriu a parceria para a formação da ETC. Adriana comemora sua boa fortuna: “Há muito tempo eu procurava um lugar para fundar um teatro de bolso, mas não há lugares no Plano Pilo-
to com uma estrutura pronta para esse tipo de atividade”. Bons ventos parecem soprar para a Escola de Teatro e Comédia, pois, como bem lembra sua idealizadora, “rir é preciso!”. Escola de Teatro e Comédia Adriana Nunes Instituto Claude Debussy – 716 Norte, Bloco C (3349.0506) e 513 Sul, Bloco C (3245.3537) Aulas às terças, quintas e sábados.
29, 30 de Abril e 1º de Maio 29no, 30 de AbrilShopping e 1º de Maio Brasília 29no, 30 de Abril e 1º de Maio Brasília Shopping no Brasília Shopping Atividades Palestras Shows Atividades Palestras Shows Atividades Palestras Além de exposição com mix variado de segmentos:Shows Saúde, Lazer, Alimentação,
Além deCultura, exposição com mix variado de segmentos: Saúde,Esporte, Lazer, Alimentação, Turismo, Inovação, Moda, Transporte, Capacitação, entre outros. Além de exposição com mix variado de segmentos: Saúde, Lazer, Alimentação, Turismo, Cultura, Inovação, Moda, Transporte, Capacitação, Esporte, entre outros. Turismo, Cultura, Inovação, Moda, Transporte, Capacitação, Esporte, entre outros.
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DIÁRIODEVIAGEM
Na antessala
do Polo Norte
TEXTO E FOTOS CLÁUDIO FERREIRA
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ma ilha enorme, com vulcões que podem entrar em atividade a qualquer momento, somente 1% de cobertura florestal e temperaturas abaixo de zero durante boa parte do ano não parece, à primeira vista, um destino turístico atraente, certo? Errado. A Islândia recebe voos diretos de boa parte da Europa e Estados Unidos e tem centenas de estrangeiros dispostos a enfrentar todas as adversidades – incluindo os altos preços – para conhecer, principalmente, o que a natureza não mostra em outras partes do mundo.
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Ao contrário de outros destinos gelados, a Islândia não fica vazia de turistas no inverno. São multidões de visitantes, boa parte deles ingleses (Londres fica a duas horas e meia de viagem) e boa parte da terceira idade. No verão, os jovens chegam em maior quantidade, atraídos pelos passeios radicais e por famosos festivais de música e arte em geral. A porta de entrada é a capital, Reikjavik (o “j” tem som de “i”), cerca de 200 mil habitantes, que correspondem a mais de 60% da população do país. Uma cidade de bonecas, com telhados coloridos, muitos museus e ruas comerciais. O islandês é uma língua impraticável para quem
é de fora, mas todo mundo fala inglês. O aeroporto é pequeno, mas eficiente – só é recomendável, ao comprar a passagem aérea, já contratar o transfer do aeroporto para o hotel, já que a viagem do terminal aéreo até o centro da capital dura cerca de 40 minutos e as opções de transporte são difíceis para um estrangeiro. É recomendável também trocar um pouco de dinheiro no aeroporto. A Islândia não usa o euro, mas a coroa islandesa. O câmbio é em média de 140 coroas por euro, o que dá no viajante uma imediata sensação de “riqueza”. Ledo engano. Uma refeição em um restaurante simples não sai por menos de duas mil coroas.
Feita a conversão dos preços para euros, nota-se que a Islândia é mais cara do que outros países europeus. Então, esqueça a conversão e vá ser feliz! Aproveite, por exemplo, para comer bem. O islandês adora peixe e bacalhau, lá, é como frango aqui, tem em todo lugar. Desde o “fish and chips” (peixe com batatas fritas), prato tradicional da Inglaterra, até receitas mais elaboradas. Para quem aprecia sabores mais exóticos, e menos politicamente corretos, é possível encontrar de carne de cavalo a hambúrguer de baleia mink. Para beber, cervejas locais e bebidas globalizadas. Além de passear pela cidade, admirando as paisagens surpreendentes, que alternam montanha e mar, o turista deve dar atenção especial a alguns pontos turísticos. Um deles é a Hallgrímskirkja, a maior igreja de lá. É um prédio monumental, mas não espere a riqueza de detalhes de outras igrejas europeias: a arquitetura islandesa, aliás, em geral prima pela austeridade. Exceção é outro ponto interessante, o Harpa Concert Hall, majestoso e contemporâneo, que merece uma visita só para conhecer o prédio – mas é bom checar a programação na internet, sempre cheia de atrações. Vulcões e gêiseres Apesar de Reikjavik ser uma cidade bonita e agradável, o forte do turismo islandês são os passeios pelo resto do país, para conhecer as belezas naturais. As viagens de ônibus duram pelo menos uma hora e meia e há circuitos que levam o dia todo, com várias atrações. Não há transporte público para esses locais (o táxi pode ser uma opção). Algumas empresas fazem excursões diariamente, mas é preciso ficar atento na hora de contratá-las para se certificar do ponto de partida, verificar se o ônibus pega o turista no hotel ou não e se acostumar com pequenos atrasos na hora combinada. Paisagens naturais deslumbrantes compensam eventuais problemas logísticos. No Parque Nacional Þingvellir (o som dessa primeira letra é equivalente ao “th” do inglês), o visitante se depara com um desfiladeiro que, na verdade, é o intervalo entre duas placas tectônicas, a da Eurásia e a da América do Norte. O movimento geológico da região explica a intensa atividade vulcânica – as placas estão se afastando dois centímetros a cada
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ano. A sensação no desfiladeiro é de que você está em outro planeta. Outro passeio concorrido é a Gulfoss, uma cachoeira em parte congelada e em parte líquida, que também parece saída de outro ponto da Via Láctea. As estrelas para as câmeras dos turistas são os gêiseres, que correspondem a tudo o que a gente já viu na televisão: estão lá quietinhos, e de repente explodem, deixando um rastro de vapor e um cheiro de gás. Não importa que a temperatura esteja abaixo de zero. Com os dedos congelados, dezenas de estrangeiros esperam ansiosamente a próxima explosão, e os “paus de selfie” fazem sucesso por toda parte. Em todos esses pontos turísticos sempre há uma grande lanchonete, banheiros e, é claro, uma lojinha para vender casacos e outros produtos do frio. O turista que não se contentar em ver e fotografar deve reservar um tempinho para conhecer a Lagoa Azul. Tem pouco a ver com o filme de sucesso do final dos anos 70, seria mais uma versão gelada de Caldas Novas. Um complexo de piscinas de águas termais ao ar livre (com fumaça saindo da água), só que no meio da “friaca” e das montanhas nevadas. A água tem sílica (mineral utilizado na fabricação do vidro) e, por isso, adquire aspecto meio leitoso. Ninguém se importa: é só não colocar a cabeça dentro
d´água, para evitar irritações nos olhos e cabelos danificados. No meio da piscina, um quiosque distribui uma lama branca para passar no rosto e rejuvenescer (é o que prometem, mas ainda não senti a diferença). Para completar, vestiários organizados e movimento intenso dia e noite. Aurora Boreal Escolha se você quer enfrentar possíveis “micos” turísticos. Um deles é a promessa de ver a Aurora Boreal, o fenômeno típico das regiões próximas ao Polo Norte que dá uma coloração especial ao céu. Diariamente, dezenas de turistas partem de Reikjavik em ônibus que procuram um lugar ermo, longe da luz artificial da cidade – e à noite, claro. Descem todos num descampado perto do mar, enfrentam frio e vento para contemplar o que seria a aparição da Aurora. Você combinou com ela? Pois é, ela não deu as caras quando eu fui e não há garantias de que dará, mas as empresas de turismo consultam as previsões meteorológicas e torcem para que o céu brilhe de maneira diferente para as câmeras. Do céu para o mar, já que a Islândia é uma ilha. Há inúmeros passeios chamados watching whales, ou “observação de baleias”. Depois do mico com a Aurora Boreal me perguntei se as baleias também seriam avisadas de que chegaríamos lá na
hora estipulada pelas excursões e desisti. Do mesmo jeito, não arrisquei um encontro com os pássaros puffin, que vivem em uma ilhota próxima aos islandeses e cuja imagem estampa todo tipo de souvenir. Pensei: e se eles não forem pontuais? Excesso de precaução, talvez. É possível, no entanto, evitar os “micos” e fazer passeios inesquecíveis. Para quem tem joelhos resistentes, uma das excursões leva a um período de três horas nas geleiras, com sapatos especiais e paisagens deslumbrantes. Para quem tiver mais tempo, recomenda-se um pulo na segunda maior cidade do país, Akureyri, no norte da ilha – dizem que é ainda mais bonita do que Reikjavik. Andando a pé pela capital, no entanto, pode-se descobrir pequenos tesouros. Um deles é a Casa do Vulcão, misto de lojinha e cinema. Um documentário exibe as proezas mais recentes dos vulcões islandeses: em 2010, quando um deles espalhou cinzas pela Europa inteira, interrompendo o tráfego aéreo por dias, e em 1973, quando outro espirrou lava e quase soterrou uma cidadezinha. Na lojinha, a lava é matéria-prima para alguns souvenirs. E apesar do perigo que pode representar um vulcão, convenhamos, as imagens de uma erupção são simplesmente fantásticas, efeitos especiais da natureza sem a ajuda da computação gráfica.
LUZCÂMERAAÇÃO
Filmes de Brasília em Lisboa Divulgação
POR SÚSAN FARIA
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ineastas brasilienses ou radicados em Brasília terão curtas-metragens exibidos durante o Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin), de 4 a 11 de maio, no Cinema São Jorge, em Lisboa. Os curtas são De repente, de Bruno Caldas, Fragmentos, de Adriana Vasconcelos, Encantadores de histórias, do Coletivo Ora Bolas, Meu amigo Nietzsche, de Fáuston da Silva, e Frágil, de Luiz Vicente da Costa Braga. A sétima edição do FESTin apresentará 74 filmes, entre curtas e longas-metragens de ficção e documentários, de um total de 543 inscritos de nove países – Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Timor-Leste. De repente traz no elenco João Campos, Bruna Martini, Felipe Triaca, Larissa Sarmento e Kamala Ramers. A história fala de João, que conhece Cacal, após ela discutir com a namorada. A nova amizade leva João a uma complexa verdade interior. O diretor e publicitário Bruno Caldas é roteirista, produtor e montador de filmes, entre eles Colapso (2013) e O bloquinho mágico (2015). A atriz Adriana Vasconcelos realizou Fragmentos, com Júlia Seixas, Mazé Portugal, André Deca e Davi Uchôa. Na periferia de Brasília, em 1968, enquanto o país enfrenta a ditadura militar, a garota Sônia, de oito anos, sofre com a desestruturação familiar. Opressão nas ruas e dentro de casa. Fragmentos ganhou o prêmio de melhor roteiro na mostra competitiva do Fest’Afilm de Montepellier (França). Já Encantadores de histórias, realização do Coletivo Ora Bolas, mostra através da música personagens inspirados no livro As mil e uma noites. Percorre uma atmosfera mágica onde reinam gênios e humanos viajantes por terras infinitas e inimagináveis. O Coletivo Ora Bolas é um grupo de artistas que trabalha com a animação clássica tradicional, com foco no desenho animado e na poética visual e experimental.
Meu amigo Nietzsche
Com 15 minutos de duração, Meu amigo Nietzsche, com André Araújo Bezerra, Juliana Drummond e Abaetê Queiroz, fala do improvável encontro entre Nietzsche e o garoto Lucas, morador da Estrutural. Recebeu prêmios na Suíça, França, Espanha, Argentina e de melhor roteiro, diretor e filme de curta-metragem pelo júri popular e júri técnico do 46º Festival de Cinema de Brasília. Formado em audiovisual pela Universidade de Brasília, Fáuston da Silva dá aula de cinema em comunidades carentes. A sessão competitiva de longas-metragens do FESTin exibirá 11 filmes, entre elas os brasileiros Por trás do céu, história de amor e solidão num cenário apocalíptico; Ausência, exibido no Festival de Berlim de 2015; o lírico A família Dionti
(prêmio do público no último Festival de Brasília); e a obra caboverdiana Zenaida, que trata do tráfico de mulheres e prostituição. O filme de abertura, Cartas de amor são ridículas, conta a história de cinco noivas à espera de casamento cujos encontros e desencontros são marcados pelos poemas de Fernando Pessoa. A Mostra de Inclusão Social, uma das mais tradicionais do FESTin, apresentará o longa cearense A lenda do gato preto, inédito no Brasil e na Europa, que recentemente recebeu o Troféu Ouro de Direitos Humanos pelo World Human Rights Awards (WHRA), um dos eventos mais importantes do mundo em difusão e promoção dos direitos humanos. O FESTin homenageia desta vez a Comunidade dos Países de Língua
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LUZCÂMERAAÇÃO Alex Vidigal
Portuguesa (CPLP). A Festinha CPLP levará alunos do 1º e 2º ciclos do ensino básico à sede desse organismo internacional, em Lisboa, para assistirem aos curtas-metragens e contos que representam os países de língua portuguesa. O FESTin é organizado pela Associação Cultura e Cidadania da Língua Portuguesa com o apoio financeiro da Câmara Municipal de Lisboa, em coprodução com o Cinema São Jorge. Quem está a frente do festival é a jornalista Léa Teixeira, que morou vários anos em Brasília e há 15 anos se radicou em Lisboa. Ela destaca que Portugal é a sede, onde tudo começou: “As pessoas que vão a festivais já conhecem o FESTin. Sempre abrimos os eventos com salas lotadas”. No Brasil, Lea tem apresentado mostras do FESTin dentro de outros festivais, como o de Gramado, no Rio Grande do Sul. “Nossa ideia é fazer em Brasília uma mostra itinerante do FESTin. O festival tem sido muito bem recebido. As pessoas comparecem, comentam os filmes e o festival. Em 2015, fomos ao Timor Leste, Guiné Bissau, Angola e Brasil. E no dia 25 de maio próximo estaremos em São Tomé e Príncipe”.
O filho do vizinho
Intervalo cinéfilo Caixa Cultural exibirá curtas brasileiros na hora do almoço
POR PEDRO BRANDT
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Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin)
Divulgação
De 4 a 11/5 no Cinema São Jorge, em Lisboa. Mais informações: www.festin-festival.com, www.facebook.com/festin.lisboa e www.twitter.com/festinlisboa
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Por trás do céu
om estreia marcada para 19 de abril, o Cine Curta Brasil é uma sessão gratuita de cinema de curta-metragem que, até novembro, ocupará uma vez por mês o teatro da Caixa Cultural, sempre às terças-feiras, entre 13 e 14 horas. A ideia é que o espectador tenha tempo para almoçar e, antes de voltar para o trabalho, possa assistir aos filmes. “As sessões na hora do almoço possibilitam uma pausa na rotina, um alívio ao estresse”, diz Carina Bini, produtora do projeto. Ao longo de 2016 serão exibidos 27 curtas. O Cine Curta Brasil se propõe a ser uma janela para o curta-metragem brasileiro, indo ao encontro da necessidade cada vez maior desses filmes por possibilidades de exibição. A programação será totalmente nacional. O curta, etapa primordial na formação de qualquer cineasta, tem poucas oportunidades de projeção em tela grande fora dos concorridíssimos festivais de cinema. Coordenadora do festival, Ana Arruda é a responsável pela curadoria dos títulos que compõem a programação. Sobre a seleção, ela detalha que, além da
qualidade cinematográfica, a diversidade geográfica e de temas foi um critério importante. “O enfoque será na produção mais recente, mas também teremos curtas clássicos de diretores já consagrados”, adianta a curadora. As sessões serão temáticas, abordando assuntos como empoderamento, pertencimento, mobilidade urbana e outras questões relacionadas à vida moderna no campo e na cidade. “Também teremos sessões apenas com curtas dirigidos por mulheres, por exemplo. A ideia é que os filmes instiguem alguma reflexão no público”, afirma Ana Arruda. Para a sessão de estreia, aproveitando a proximidade com o aniversário de Brasília, foram escolhidas três produções da cidade: Braxília (2011), de Danyella Proença, O filho do vizinho (2010), de Alex Vidigal, e Zé do Pedal – Acima da Terra e abaixo do céu (2012), de Márcio Garapa e Viça Saraiva. Após a sessão serão sorteados DVDs de curtas brasilienses. Cine Curta Brasil
De abril a novembro de 2016, no teatro da Caixa Cultural (SBS, Quadra 4). Sessões uma vez ao mês, das 13 às 14h, com entrada franca limitada à lotação do teatro. Estreia dia 19/4. Mais informações: 3206.9448
PARTINDO DE BRASÍLIA
PARIS
3 VOOS
DIRETOS SEMANAIS
AIRFRANCE.COM.BR
CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
O bom
de tudo isso
H
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á algo de bom em tudo de ruim que está acontecendo. Nunca antes neste país tanta gente discutiu política, por mais arriscado que esteja sendo quem não vai na onda dos grandes da mídia. Como aquela barista que, num workshop, foi questionada porque escolheu uma caneca vermelha para servir o café. Ou a adolescente que foi abordada por um grupo também adolescente porque sua bike tinha a cor da infâmia, aos olhos dos que se arvoram os defensores da Pátria – em que pese o patriotismo ser um sentimento perigoso e sujeito a manipulações as mais danosas para a civilização, como a história já provou repetidas vezes. Nunca se discutiu tanto política, muito embora as discussões não sejam das mais proveitosas. Eu cá tenho tirado bom proveito dos tristes dias que vivemos, num clima que me lembra os movimentos pela restauração da democracia, entre o fim da década de 1970 e o começo da década seguinte. Foi quando aprendi um bocado sobre o Brasil, acompanhando a resistência dos bravos de-
mocratas e lendo ensaios, entrevistas, artigos, reflexões que me fizeram mais brasileira e, ao mesmo tempo, menos xenófoba. Não foi com a ajuda dos grandes jornais que aprendi a pensar o Brasil, a América Latina, o mundo. Foi lendo os tabloides de esquerda – Pasquim, Movimento, Opinião, Cadernos do Terceiro Mundo. Nunca li tanto. Estudante de jornalismo, queria entender o que acontecia e, de pronto, percebi que os jornalões não me davam respostas nem me instigavam o pensamento. Por pior que estejam sendo esses tempos, eles têm renovado o pensamento político no Brasil. Quanta gente boa está ajudando os desavisados a entender melhor o que se passa, mostrando o que há de farsa no reino da Dinamarca, comparando o momento atual com outros da história desse triste país sempre subordinado aos mesmos interesses e aos mesmíssimos atores. O que mudou foi o palco da batalha. A imprensa alternativa está toda ela na internet. Não mais meia dúzia de tabloides, mas uma infinidade de
blogs, sites e portais, pessoais ou coletivos, com um fôlego inacreditável, uma capacidade de produção incansável e uma bem-vinda dose de bomhumor, porque senão ninguém aguenta. Não é preciso mais esperar uma semana, quinze dias, um mês para ler a informação alternativa, reflexiva, séria, destemida, desbravadora. Todos os dias, o dia inteiro, há algo novo estalando na tela. Pode-se discordar pontualmente disso ou daquilo, questionar essa ou aquela avaliação, mas o leque de blogueiros é tamanho e de tão boa qualidade que dá um alento no peito dos que temem um tenebroso retrocesso na Pátria mãe gentil. A internet uniu os imbecis, já disseram alguns graves pensadores. Mas também une a gente atenta, independente, democrática, que quer um Brasil menos desigual, mais inclusivo, mais tolerante. Os empreendedores do jornalismo alternativo estão nos alimentando para a luta. Qualquer que seja o resultado, sairemos mais fortes, mais lúcidos. Disso eu tenho certeza.
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